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PISCICULTURA TANQUES-REDE INSTRUTOR: NIVALDO AP. BERTELLI

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PISCICULTURA

TANQUES-REDE

INSTRUTOR: NIVALDO AP. BERTELLI

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SUMÁRIO Histórico....................................................................... 04 Introdução.................................................................... 04 Regularização do Projeto............................................. 06 Documentação de Regularização................................ 06 Características e estruturas do tanque-rede................ 06 Água............................................................................. 07 Quantidade e Qualidade............................................... 07 1. Temperatura da água................................................ 07 1.2 Oxigênio dissolvido e gás carbônico....................... 08 1.3 Alcalinidade total, dureza total e pH........................ 08 1.4 Amônia e nitrito........................................................ 09 1.5 Turbidez mineral...................................................... 09 2.1 Renovação de água no interior dos tanques-rede.. 09 2.2 Tanques-rede de pequeno ou grande volume........ 10 2.3 Capacidade de suporte em tanques-rede............... 10 SISTEMA DE CULTIVO................................................ 12 Produção de tilápias em tanques-rede......................... 14 ALIMENTAÇÃO............................................................ 16 MANEJO E MONITORAMENTO................................... 16 Alimentação dos peixes nos tanques-rede ou gaiolas.. 16 Tipos de rações............................................................. 17 Taxa de alimentação..................................................... 17 Técnicas de alimentação.............................................. 18 PRINCIPAIS DOENÇAS............................................... 22 Fungos.......................................................................... 29 Protozoários.................................................................. 30 Problemas comuns na produção de peixes em tanques-rede e gaiolas.................................................. 35 Colmatação das malhas................................................. 36 Peixes indesejáveis........................................................ 36 Animais predadores........................................................ 36 Desuniformidade de tamanho no lote............................. 37 Roubo, vandalismo e curiosos........................................ 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................... 39

HISTÓRICO

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INTRODUÇÃO

A aqüicultura, ou cultivo de organismos aquáticos, na qual está inserida a piscicultura, é o segmento da produção animal que mais cresce no cenário mundial atual, tendo superado as taxas de crescimento da bovinocultura, da avicultura e da suinocultura na última década. A produção mundial de pescado proveniente da aqüicultura que representava cerca de 10,1 milhões de toneladas em 1984, passou a 32,9 milhões de toneladas em 1999, com 60% desta produção cultivada em água doce. No mesmo período, a aqüicultura mundial apresentou uma taxa média de crescimento da ordem de 12% ao ano.

Este fato, aliado à tendência de declínio dos estoques pesqueiros mundiais e à conseqüente estagnação da oferta de peixes capturados, tem tornado a piscicultura uma atividade fundamental para a manutenção da oferta destes produtos.

O Brasil reúne condições muito favoráveis ao desenvolvimento da piscicultura. Além do enorme potencial dos mercados nacional e mundial, conta ainda com clima favorável ao cultivo de inúmeras espécies de peixes nas diferentes regiões, possui boa disponibilidade de área, grande produção de grãos e outros ingredientes usados nas rações, um parque industrial bastante desenvolvido nas áreas de insumos e beneficiamento, grande números de técnicos especializados em todos os segmentos da cadeia produtiva e acima de tudo um invejável potencial hídrico.

Com cerca de 8.500km de zona costeira e 5,3 milhões de hectares de água doce em reservatórios naturais e artificiais, conta ainda com uma extensa rede hidrográfica, que pode ser parcialmente aproveitada na produção de organismos aquáticos.

Dentre os diversos sistemas de produção empregados na piscicultura de águas interiores, o cultivo de peixes soltos em viveiros e barragens de terra é o mais difundido no mundo, assim como no Brasil. Entretanto, estimulado pelo crescente déficit de peixes nos mercados nacional e mundial, tem aumentado muito o interesse pelo cultivo de peixes marinhos e de água doce em tanques-rede, aproveitando ambientes aquáticos já existentes como o mar. estuários, rios, grandes reservatórios (sobretudo de hidrelétricas) e lagos naturais. Apesar de bastante difundida em todo o mundo, a piscicultura em tanques-rede é relativamente recentemente no Brasil, tendo sido praticada de forma mais intensiva nas regiões Sudeste e Nordeste do país.

A produção de peixes em tanques-rede possibilita o pronto aproveitamento de parte dos recursos hídricos disponíveis, o que abre grandes perspectivas para uma rápida expansão da piscicultura industrial no Brasil.

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Adicionalmente, o estabelecimento da atividade contribuiria muito para o uso sustentável dos recursos hídricos, por ser uma atividade totalmente dependente da qualidade do ambiente para alcançar resultados satisfatórios.

REGULARIZAÇÃO DO PROJETO DOCUMENTAÇÃO DE REGULARIZAÇÃO

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O projeto visa instalar piscicultura em grandes reservatórios ou

mesmo em represas ou viveiros. Quando em águas públicas, somente se consegue a concessão

quando não é reservatório para uso humano, sendo os mais comuns as hidroelétricas.

Quando se trata de reservatórios particulares ou viveiros, segue procedimento idênticos ao de tanque escavado.

Hoje existe a SEAP PR (Secretaria Especial de Aqüicultura da Presidência da Republica) que está agilizando processos de cultivo em Tanques-rede em águas publicas.

Um dos requisitos para o cultivo em tanques-rede é a certidão de Aqüicultor que será obtida junto ao IBAMA , juntando se ao projeto de instalação e seguindo normas que visam a utilização de no máximo 1% do total de espelho de água das represas publicas. Sendo em viveiros a lotação dos tanques-rede não deverá ultrapassar a capacidade de carga do viveiro. Quando for locado em águas com navegação, deverá ser baseado em carta náutica, para evitar acidentes com embarcações. CARACTERÍSTICAS E ESTRUTURAS DO TANQUE-REDE

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Tanques-rede é empregada às unidades de cultivo que utilizam, para a contenção dos peixes, materiais que se comportem como uma rede na hora da colheita. Geralmente são usadas redes de multifilamento de poliamida, sendo a malha com ou sem nó Outros materiais comumente usados e bastante resistentes são as telas de aço galvanizado revestido de PVC, ou as telas de aço inoxidável, trançadas no formato de alambrado, que podem apresentar comportamento retrátil como uma rede, dependendo da orientação em que forem arrumadas na confecção dos tanques-rede.

Em contrapartida, gaiolas são estruturas fabricadas com material de contenção rígido, geralmente telas de aço, ou quando todo o perímetro da estrutura é rígido mesmo usando material flexível para o fechamento das laterais e do fundo. Telas plásticas também são usadas na contenção de peixes em gaiolas, muitas vezes com armação de madeira ou barras e tubos de aço. Em alguns países é comum a confecção de gaiolas de madeira ou de bambu, com arranjo das laterais e do fundo na forma grade.

Normalmente, há maior preferência pelo uso de tanques-rede sobre as gaiolas, pelo fato dos primeiros serem mais fáceis de manejar, sobretudo durante a colheita e a movimentação para manutenção e limpeza, gaiolas de grandes dimensões são pesadas, de difícil manejo e tem elevado custo de construção, além de exigirem equipamentos especiais para o seu manuseio. ÁGUA QUANTIDADE E QUALIDADE 1. Temperatura da água

A variação da temperatura da água ao longo do ano deve ser

conhecida. Isto permite definir quais espécies melhor se adaptam às condições locais, além de ajudar no planejamento da produção.

A temperatura da água apresenta efeito direto sobre o consumo de alimento e a atividade metabólica dos peixes. Dentro da faixa de temperatura tolerável para uma espécie, a taxa de crescimento aumenta com o aumento da temperatura até que esta atinja a faixa ótima para o crescimento. Qualquer incremento na temperatura acima da faixa ótima resulta em redução no consumo de alimento e, conseqüentemente, no crescimento.

De um modo geral, o conforto térmico das espécies tropicais é alcançado dentro da faixa de temperatura entre 26 a 30°C. 1.2 OXIGÊNIO DISSOLVIDO E GÁS CARBÔNICO

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As concentrações de oxigênio dissolvido (OD) e gás carbônico (CO2) dentro do tanque-rede podem variar em função da biomassa de peixes estocada e da concentração destes gases na água do ambiente onde os tanques-rede estão instalados.

A capacidade de renovação de água no interior dos tanques-rede depende de diversos fatores. A concentração de OD no interior dos tanques-rede devedor superior a 60% da concentração de saturação (ou seja, próximo a 4,0 mg de O2/litro, a 28°C), de forma a assegurar adequado crescimento e eficiência alimentar. A concentração de gás carbônico no interior dos tanques-rede não deve ultrapassar 10 mg de Cd/litro. As principais fontes de gás carbônico são a respiração dos organismos aquáticos e a decomposição aeróbica da matéria orgânica.

Em equilíbrio com o ar, a concentração de gás carbônico na água está em torno de 0,5mg/L a 25°C. Quando o CO2 está presente em altas concentrações na água, os peixes podem apresentar dificuldades na respiração. Concentrações acima de 25mg/L de CO2 prejudicam o desempenho produtivo dos peixes, principalmente sob baixas concentrações de oxigênio dissolvido. 1.3 ALCALINIDADE TOTAL, DUREZA TOTAL E PH

O piscicultor deve conhecer a alcalinidade total, dureza total e o

pH da água do viveiro ou represa onde serão instalados os tanques-rede. Os valores ideais de alcalinidade total e dureza total na produção de peixes em viveiros são aqueles acima de 30mg/L CaCO3. A faixa de pH mais adequada ao crescimento da maioria das espécies de peixes de água doce está entre 6,5 e 8,0. Porém, a variação do pH ao longo do dia deve ser a menor possível. Variações de pH bruscas podem prejudicar o desempenho dos peixes. O ideal é que a variação diária do pH não exceda a duas unidades e permaneça dentro da faixa de conforto. A correção da alcalinidade, dureza e pH pode ser feita através da calagem, sendo viável apenas em pequenas represas e viveiros, com baixa renovação de água em grandes reservatórios ou em represas e açudes com intenso fluxo de água, a correção destes parâmetros é Impraticável. Recomenda-se, portanto, bastante atenção na escolha do local para a instalação dos tanques-rede em grandes reservatórios, buscando áreas onde estes parâmetros, principalmente o pH, não prejudiquem o desempenho dos peixes. 1.4 AMÔNIA E NITRITO

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A amônia é um produto da excreção nitrogenada dos peixes e da decomposição microbiana da matéria orgânica.

Concentrações de amônia tóxica entre (3,7 a 2,4mg/L podem ser letais para os peixes, mesmo sob exposição por curtos períodos.

O nitrito (NO2) é um composto intermediário da oxidação da amônia a nitrato, sendo mais comumente observado em águas muito eutrofizadas ou nas camadas de água mais profundas, onde a ausência de oxigênio leva a uma degradação anaeróbica da matéria orgânica, resultando no acúmulo de amônia e nitrito. O crescimento e a resistência dos peixes às doenças são prejudicados sob concentrações de nitrito acima de 0,3mg/L. Concentrações superiores a 0,7mg/L NO2 podem ser letais para a maioria dos peixes de água doce. A toxidez dos peixes por nitrito é marcada pela "Síndrome do Sangue Marrom", onde ocorre a formação de metehemoglobina (combinação da hemoglobina com o nitrito), a qual desfavorece o transporte de oxigênio no sangue, e confere a este uma coloração marrom. 1.5 TURBIDEZ MINERAL

A turbidez mineral nos corpos d’água geralmente tem origem na

erosão das margens dos lagos e reservatórios, causada pela ação do vento e das chuvas, e no transporte de sedimentos pelas enxurradas. Nos rios e outros cursos d'água a correnteza é normalmente o agente causador da erosão das margens e da resuspensâo dos sólidos depositados no fundo.

Elevadas concentrações de sólidos minerais na água podem trazer prejuízos a produção em tanques-rede, pois causam danos físicos às brânquias dos peixes, deixando-os mais vulneráveis ao ataque de agentes patogênicos; Adicionalmente, para aquelas espécies que dependem da visão para a captura do alimento, a baixa transparência da água provocada pela turbidez mineral freqüentemente causa redução no consumo de ração, atrasando o crescimento dos peixes. Para a maioria das espécies cultivadas, concentrações de partículas sólidas em suspensão de até 80mg/L não prejudicam o crescimento. 2.1 RENOVAÇÃO DE ÁGUA NO INTERIOR DOS TANQUES-REDE

Outro importante fator determinante da produtividade no cultivo

de peixes em tanques-rede é a taxa de renovação da água no interior dos tanques-rede. A renovação da água é promovida pelas correntes naturais e pela movimentação dos peixes dentro dos tanques-rede. A facilidade de renovação de água depende, em grande parte, do tamanho dos tanques-rede e da resistência das malhas à passagem de água.

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2.2 TANQUES-REDE DE PEQUENO OU GRANDE VOLUME

Os tanques-rede ou gaiolas são freqüentemente agrupados em

duas categorias, de acordo com sua capacidade volumétrica e produtiva: os tanques-rede de pequeno volume/alta densidade (PVAD) e os tanques-rede de grande volume/baixa densidade (GVBD).

O Dr Holmer, professor emérito do Departamento de Pescas e Todas Aqüaculturas, no Alabama, Estados Unidos é um dos nomes de maior destaque no mundo no que diz respeito ao desenvolvimento de técnicas de produção de peixes em tanques-rede de pequeno volume/alta densidade.

Tanques-rede com volume superior a 18m3 são considerados de grande volume/baixa densidade, com biomassa econômica variando entre 20 e 80kg/m3.

No Brasil e em outros países muitos produtores utilizam tanques-rede de tamanhos intermediários, entre 6 e 18m3, atingindo produtividades entre 50 e 100kg/m3.

No Amazonas há uma iniciativa pioneira onde estão sendo usados tanques-rede de grande volume (50 e 350m3) para a produção do pirarucu (Arapaima gigas) atingindo biomassas de 70 a 10Okg/m3. Entretanto, biomassas elevadas como estas em tanques-rede de grande volume somente são possíveis porque o pirarucu utiliza o oxigênio diretamente da atmosfera, não tendo, portanto, o seu desempenho prejudicado pelas baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água. A produtividade observada com o pirarucu provavelmente não é possível em tanques-rede de grande volume usando uma espécie de peixe que não tenha a mesma habilidade respiratória. 2.3 CAPACIDADE DE SUPORTE EM TANQUES-REDE

Capacidade de suporte é o termo utilizado para definir a máxima

biomassa sustentável dentro de uma unidade de cultivo. Quando a capacidade de suporte é atingida o ganho de peso ou

de biomassa da população estocada é zero, ou seja, os peixes param de crescer. Na capacidade de suporte, algum fator limitara restringe a continuidade da produção. Na piscicultura em tanques-rede, como em qualquer outra modalidade de piscicultura intensiva, a concentração de oxigênio dissolvido na água é o primeiro, fator limitante ao aumento de produção nas unidades de cultivo.

No cultivo de peixes em tanques-rede, a capacidade de suporte, expressa em quilos de peixe por metro cúbico (kg/m3) em geral, está relacionada de maneira inversa ao volume (tamanho) das unidades de

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produção. Os tanques-rede de PVAD permitem alcançar uma maior capacidade de suporte comparados aos tanques de GVBD. A principal razão disso é a maior taxa de renovação de água, e conseqüentemente maior aporte de oxigênio, em tanques de pequeno volume.

São apresentadas estimativas da capacidade de suporte de tilápias em tanques-rede de 4m3, 25m3 e 100m3, com base na disponibilidade de oxigênio, onde a troca é promovida através de correntes de água com diferentes velocidades. Os cálculos foram feitos a partir das seguintes suposições:

- Consumo de 02 das tilápias: 300g de O2/tonelada/hora - O2 dissolvido na água que entra no tanque-rede = 7mg/L - O2 na água que deixa o tanque-rede = 3mg/L - O2 disponível para consumo =7-3=4 mg/L ou 4g/m3. No entanto, os peixes estocados nos tanques-rede não podem

depender da existência de correntes naturais de água para garantir seu suprimento em oxigênio. De fato, muitas vezes não há correntes em represas e açudes, bem como nas baías de grandes reservatórios. Sendo assim, qual seria a explicação para as produções bem sucedidas de peixes em tanques-rede sob alta densidade em locais onde não há correntes?

O deslocamento de água promovido no interior dos tanques-rede pela natação dos peixes é responsável pela troca de água e a reoxigenação do interior dos tanques-rede. Desta forma, quanto menor for a massa de água contida no interior dos tanques-rede, em relação à biomassa de peixes estocada, mais facilmente ocorre a renovação da água nos tanques-rede. Em tanques-rede de grande volume, a distância do centro às laterais é maior, comparado aos tanques-rede de pequeno volume. Isto faz com que os peixes consigam deslocar apenas parte da massa de água da região central para fora dos tanques-rede, não realizando, portanto, uma renovação e oxigenação tão eficaz.

Apesar das inúmeras vantagens observadas com o uso de tanques-rede de pequeno volume e alta densidade, estes não são aplicáveis ao cultivo de todas as espécies de peixes tampouco são recomendados para determinados tipos de ambientes. Sendo assim, alguns aspectos importantes devem ser considerados na escolha deste sistema, como exemplo:

a) Alguns peixes, principalmente aqueles de hábito pelágico, que

exercem grande atividade natatória e/ou são comercializados com grande porte não se adaptam a tanques-rede de pequenas dimensões. Salmões e atuns são exemplos de peixes que são cultivados em

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tanques-rede de grandes volumes, freqüentemente acima de 1.000m3. O pirarucu é uma espécie comercializada com grande porte e também não se adapta em tanques-rede de pequeno volume nas fases avançadas do cultivo;

b) No planejamento de empreendimentos visando uma grande escala de produção deve ser feita uma análise detalhada das vantagens do uso de tanques de pequeno volume, pois, a necessidade de trabalhar com um número muito grande de unidades de produção demanda um maior gasto operacional com a alimentação, movimentação e colheita dos peixes;

c) Em ambientes pouco protegidos, onde ventos intensos ocorrem com freqüência, o uso de tanques-rede de pequeno volume é pouco vantajoso porque a alimentação que normalmente é feita com auxílio de barcos fica prejudicada ou até mesmo impedida devido à formação de ondas;

SISTEMA DE CULTIVO

O cultivo de peixes em tanques-rede na forma mais comumente

empregada é um sistema de produção intensivo no qual os peixes são confinados sob altas densidades, dentro de estruturas que permitam grande troca de água com o ambiente e onde os peixes recebem ração nutricionalmente completa e balanceada. Algumas exceções a esse padrão podem ser vistas em cultivos onde peixes de hábito alimentar filtrador (ex. carpa cabeça grande, Hypophthalmichthys nobilis, e carpa prateada, H. molitrix) são confinados em tanques-rede para se alimentar apenas do plâncton presente na água. Sendo assim, as discussões apresentadas ao longo desta publicação serão referentes ao modelo intensivo de produção.

A produção de uma grande biomassa de peixes por unidade de volume (30 a 250 kg/m3) é possível neste sistema devido à alta taxa de renovação de água dentro das unidades, que supre a demanda de oxigênio dos peixes e remove os dejetos e metabolitos produzidos. Além da qualidade do ambiente aquático onde estão instalados os tanques-rede, o desempenho do cultivo depende da qualidade dos insumos (alevinos e ração), das técnicas de manejo da produção e, sobretudo, da dedicação e capacidade técnica e gerencial do produtor.

Entre as diversas características da produção de peixes em tanques-rede, vale destacar:

a) O aproveitamento de ambientes aquáticos existentes, dispensando o desmatamento de grandes áreas e a movimentação de terra, evitando problemas de erosão e assoreamento de rios e lagos;

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b) O baixo conflito pela ocupação da terra e pelo uso dos recursos hídricos;

c) O reduzido custo de implantação e a rápida montagem da infra-estrutura de produção, quando comparado ao sistema tradicional de viveiros escavados e barragens;

d) A possibilidade de uma rápida expansão na capacidade de produção, de forma a atender o aumento na demanda do mercado;

e) A mobilidade do sistema de produção, podendo ser deslocado para outros locais, conforme a necessidade;

f) O controle facilitado dos estoques de peixes e das colheitas; g) A maior proteção contra predadores naturais (aves, répteis,

mamíferos e outros peixes); h) A alta afinidade com a cultura dos pescadores, apresentando

em comum o peixe e o ambiente aquático como parte de seu cotidiano, tornando-se assim uma atividade econômica alternativa em regiões onde a pesca está em declínio;

i) A obtenção de um produto diferenciado, com baixa incidência e intensidade de problemas com o mau sabor ou "off-flavor" no pescado.

Em linhas gerais, o processo de planejamento e implantação da

produção de peixes em tanques-rede deve ser iniciado pelo estudo das vias de comercialização e das formas de apresentação final demandada (peixe vivo ou abatido, inteiro ou em filés, tamanho do peixe preferido, etc), para que então possa ser definida a espécie a ser cultivada. De posse dessas informações, complementadas com os preços de venda, os custos dos principais insumos e dos demais custos de produção, além do montante de capital necessário para investimento fixo e custeio, deve se elaborar um projeto de investimento para o empreendimento, para verificar a sua viabilidade econômica. Paralelamente ao estudo econômico, é recomendado que seja feito um estudo sobre os locais disponíveis para a implantação dos tanques-rede, levantando se existem restrições legais à sua ocupação e verificando se as características ambientais atendem às necessidades da espécie e do regime de produção planejado. A escolha do local apropriado para a instalação das unidades de produção é fundamental, pois influencia diretamente os custos de produção e o risco do empreendimento. Adicionalmente, a correção da qualidade da água em grandes reservatórios e rios é impraticável. Portanto, o local escolhido deve apresentar condições ambientais adequadas para a espécie a ser cultivada.

PRODUÇÃO DE TILÁPIAS EM TANQUES-REDE

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O cultivo de tilápias em tanques-rede ou gaiolas vem crescendo consideravelmente no Brasil e em diversos países onde existem grandes reservatórios. Algumas vantagens podem ser atribuídas ao uso de tanques-rede:

a) Menor investimento inicial para a implantação do empreendimento, quando comparado à construção de viveiros e raceways;

b) Possibilita o aproveitamento de recursos aquáticos já disponíveis (grandes reservatórios, açudes e rios), onde a piscicultura tradicional não seria possível;

c) Permite o cultivo de diferentes espécies em um mesmo corpo d'água, sem mistura dos estoques;

d) Assegura maior controle do estoque e melhor observação dos peixes do que o cultivo em viveiros;

e) Menor custo no tratamento de doenças comparado ao cultivo em viveiros;

f) Geralmente reduz a incidência de problemas com mau sabor ("off-flavor") nos peixes;

g) No cultivo de tilápias, elimina os problemas associados à reprodução excessiva e à dificuldade de despesca, freqüentemente encontrados em viveiros;

h) Pode ser uma excelente alternativa em áreas onde existem conflitos quanto ao uso da água.

As principais desvantagens do uso de tanques-rede são: a) O acesso dos peixes ao alimento natural é limitado,

demandando o uso de rações nutricionalmente completas e de custo mais elevado, onerando a produção;

b) Maior chance de ocorrência de problemas nutricionais e maior estresse, aumentando a ocorrência de doenças e a mortalidade dos peixes. No cultivo de tilápias, em particular, a pequena contribuição do alimento natural e os episódios de alta mortalidade aumentam o custo de produção em tanques-rede quando comparado ao cultivo em viveiros;

c) Facilidade para roubos e vandalismo; d) Risco de fuga dos peixes por rompimento das redes e telas. A disponibilidade e o acesso das tilápias ao alimento natural são

produzidos no cultivo em tanques-rede. Isto aumenta a dependência do crescimento e saúde dosa peixes no uso de rações completas. No entanto, quando os tanques-rede estão posicionados em viveiros ou açudes eutrofizados, as tilápias são capazes de aproveitar o plâncton como alimento. Armbrester (1972) observou que as tilápias mantidas em gaiolas e sem alimentação, porém em viveiros fertilizados, atingiram

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peso equivalente a 38 a 70% do peso alcançado por tilápias alimentadas com ração completa, dependendo da abundância de plâncton nos viveiros.

No cultivo de tilápias em tanques-rede a produção por ciclo pode variar de 30 a 300kg/m3, dependendo principalmente do tamanho do tanque-rede utilizado. Por exemplo, tanques-rede de baixo volume (até 6m3) permitem produzir 200 a 300kg de peixe/m3 por ciclo. Alguns recordes de produção foram estabelecidos em tanques-rede (gaiolas) de baixo volume/alta densidade. Na China 680 kg de carpas foram produzidos em gaiola de 1-m3 (Schmittou, comunicação pessoal). No Brasil, a biomassa de tilápias em gaiolas de 4-m3 pode chegar a 480kg/m3 (Ivantes, comunicação pessoal). Estes valores devem estar muito próximos à capacidade de suporte em tanques-rede de baixo volume. Em outro extremo estão os tanques-rede de maiores dimensões (acima de 10m3), nos quais a produção pode variar entre 30 a 100kg/m3. Esta diferença em produtividade se deve á maior taxa de renovação de água em tanques-rede de baixo volume comparado aos de grande volume, permitindo a manutenção de uma qualidade de água melhor no interior dos tanques-rede. O Dr. Holmer foi o idealizador do sistema de tanque-rede de baixo volume e alta densidade, hoje bastante popular no cultivo de tilápias em diversos países, notadamente na China e no Brasil.

Aplicação do conceito de capacidade de suporte ao cultivo de peixes em tanques-rede ou gaiolas. Os limites de capacidade de suporte e os níveis de arraçoamento estabelecidos para o cultivo em viveiros servem como referência para definir os limites de capacidade se suporte em represas com gaiolas. Não é possível que a biomassa de peixes, produzida nos tanques-rede ou gaiolas, exceda a capacidade de suporte dos viveiros e represas onde os mesmos foram instalados. Na realidade, a capacidade de suporte para cultivo em tanques-rede ou gaiolas tende a ser menor do que em viveiros, pois os peixes em confinamento têm sua movimentação restrita, o que os impede de explorar o alimento natural e de se dirigirem a áreas com maior disponibilidade de oxigênio em momentos de emergência. Boa parte dos peixes em confinamento não conseguem acesso à superfície em busca de uma água mais rica em oxigênio durante as condições de hipoxia (níveis reduzidos de oxigênio dissolvido) e podem morrer por asfixia. Por exemplo: um açude suporta 6.000kg de peixes/ha e um arraçoamento de até 60kg de ração/ha/dia quando os peixes são cultivados soltos. Se optarmos pelo cultivo em gaiolas, a biomassa de todos os peixes confinados não deveria exceder estes limites. Por segurança, a capacidade de suporte nos viveiros com gaiolas é considerada a um valor abaixo dos limites para peixes soltos. Para pequenos açudes e viveiros utilizados na

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piscicultura em tanques-rede, é recomendável que a biomassa econômica seja mantida entre 2.500 a 3.500kg/ha quando a renovação de água for limitada. Os níveis de arraçoamento devem ser mantidos entre 30 a 40kg/ha/dia. No caso do uso integral de grandes reservatórios (reservatórios para geração de energia elétrica e regularização da vazão de rios), a biomassa de peixes confinada não deve ser maior do que 300kg/ha e os níveis de arraçoamento devem ser mantidos ao redor de 3 a 5kg/ha/dia.

ALIMENTAÇÃO MANEJO E MONITORAMENTO ALIMENTAÇÃO DOS PEIXES NOS TANQUES-REDE OU GAIOLAS

Os peixes confinados estão submetidos a uma condição única de adensamento, interação social intensa e não são capazes de buscar outras áreas de maior conforto em situações de inadequada qualidade da água. Os peixes confinados também apresentam acesso restrito ao alimento natural disponível no ambiente. Portanto, a ração utilizada no cultivo em tanques-rede deve ser nutricionalmente completa, suprindo todas as exigências em nutrientes dos peixes. Diante destes agentes causadores de estresse e da impossibilidade dos peixes em complementar sua dieta, a deficiência de um único nutriente na ração pode comprometer o crescimento e a conversão alimentar, ou mesmo a tolerância ao manuseio, ao transporte e a resistência às doenças e parasitoses, resultando em inadequado desempenho produtivo e alta mortalidade.

Inúmeros empreendimentos pioneiros em tanques-rede experimentaram baixos índices de desempenho e elevadas mortalidades devido ao uso de rações de baixa qualidade ou inadequadas para atender a demanda dos peixes confinados. O grande interesse e o crescimento das iniciativas de piscicultura em tanques-rede fizeram com que diversos fabricantes disponibilizassem rações nutricionalmente completas e adequadas ao cultivo de peixes em sistemas intensivos como os tanques-rede e "raceways". As exigências nutricionais de muitos peixes brasileiros cultivados em tanques-rede ainda são pouco conhecidas. No entanto, resultados satisfatórios têm sido alcançados com as rações disponíveis no mercado que têm suas fórmulas baseadas nas exigências nutricionais de outros peixes. Porém, para melhorar ainda mais os índices de produção, será necessário que as rações passem a ser formuladas especifica mente para atender as exigências de cada espécie, o que só será possível com a realização de mais trabalhos de pesquisa envolvendo as espécies nativas.

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TIPOS DE RAÇÕES

As rações extrusadas flutuantes são as mais utilizadas em

tanques-rede. Este tipo de ração, além de apresentar maior digestibilidade e aproveitamento pêlos peixes, facilita a observação do consumo, permitindo minimizar as perdas de ração e ajustar de forma mais precisa a taxa de alimentação.

Hoje poucos produtores utilizam rações peletizadas de alta densidade (e que afundam) no cultivo de peixes em tanques-rede. No entanto, há alguns anos, em função do menor custo e da não disponibilidade de rações extrusadas flutuantes, alguns produtores usavam rações peletizadas. Estas rações geralmente tinham baixa estabilidade na água e não possibilitavam uma boa visualização do consumo e das sobras. Adicionalmente, as rações peletizadas são menos digestíveis que as rações extrusadas flutuantes. Estas características negativas prejudicam o aproveitamento da ração, aumentando as chances de desperdício das rações, prejudicando consideravelmente o crescimento e a conversão alimentar dos peixes e aumentam o potencial poluentes da produção. Para reduzir estas perdas, os produtores lançam mão de uma alimentação mais restrita, o que acaba estimulando uma maior competição e acentua a diferença de tamanho entre peixes. TAXA DE ALIMENTAÇÃO

A taxa de alimentação diária dos peixes (expressa em % do peso

vivo) é definida em função da temperatura da água, da espécie e tamanho dos peixes e do tipo de ração utilizada. Nesse caso da ração flutuante, definir uma taxa de alimentação diária não é tão importante porque a resposta alimentar dos peixes pode ser observada e a ração é oferecida quase que à vontade, em níveis próximos ao consumo máximo dos peixes. No entanto, nas fases de recria e terminação é recomendável que o nível de alimentação seja restrito a 80-90% do máximo consumo de ração, de forma a obter melhor conversão alimentar e peixes com menor deposição de gordura visceral.

Com o uso da ração que afunda o manejo da alimentação é mais complexo, pois é difícil avaliar o consumo dos peixes e visualizar as sobras de ração. Neste caso, a taxa de alimentação é definida em função da espécie, do peso médio dos peixes e da temperatura da água. Schmittou (1993) apresenta recomendações básicas quanto à taxa de alimentação para espécies como o bagre-do-canal ("catfish" americano), a carpa comum e tilápia nilótica cultivados em tanques-rede.

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Schmittou, também recomenda os seguintes ajustes nas taxas de alimentação de acordo com a temperatura da água (medida a 50cm de profundidade):

a) Temperatura < 15°C: alimentar os peixes em dias alternados (3

dias na semana) na quantidade de 1% da biomassa em uma única refeição.

b) Temperatura entre 16 e 19°C: alimentar todos os dias, cerca de 60% da taxa de alimentação indicada na Tabela 13, oferecida em uma única refeição diária.

c) Temperatura entre 20 a 24°C: alimentar todos os dias, cerca de 80% da taxa de alimentação, oferecendo em 1 ou 2 refeições diárias.

d) Temperatura entre 25 a 29°C: alimentar todos os dias, de acordo com a taxa de alimentação e o número de refeições recomendado.

e) Temperatura entre 30 a 32°C: alimentar todos os dias cerca de 80% da taxa de alimentação, dividida no mesmo número de refeições indicado.

É importante lembrar que em regiões onde a temperatura da água atinge valores abaixo de 15°C, não é recomendado o cultivo das tilápias que raramente sobrevivem a temperaturas inferiores a 12°C. Adicionalmente, o desempenho produtivo das tilápias é bastante prejudicado em temperaturas abaixo de 24°C.

Diversos fabricantes de rações também disponibilizam tabelas de alimentação com o uso dos seus produtos. No entanto, como a ração usada é flutuante, a observação do tratador é uma valiosa ferramenta no ajuste da quantidade de ração fornecida. TÉCNICAS DE ALIMENTAÇÃO

Na alimentação dos peixes em tanques-rede com ração flutuante,

o tratador deve, inicialmente, fornecer uma pequena quantidade de ração para avaliar a resposta dos peixes. Caso a resposta seja positiva, a alimentação normal deve ser realizada.

No caso do uso de rações peletizadas, calcula-se a quantidade de ração a ser fornecida em cada refeição com base no peso total dos peixes estocados e na expectativa de consumo e coloca-se a ração pouco a pouco no cocho de fundo a cada alimentação.

A quantidade de ração fornecida diariamente deve ser pesada, ou então estimada através de uma relação volume: peso, sempre utilizando a mesma medida (balde, jarra ou caneca) e conferindo, periodicamente, a relação volume/peso das rações, sobretudo quando houver mudança do lote de ração. O piscicultor deve manter um registro preciso da

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quantidade de ração fornecida/consumida diariamente em cada tanque-rede. A resposta alimentar dos peixes é uma das principais ferramentas que o piscicultor dispõe para avaliar a condição geral do plantei. Peixes se alimentando vigorosamente indicam que o estado sanitário do plantei é adequado. Em geral, a redução no consumo de ração é um dos primeiros sinais indicativos de estresse devido à inadequada qualidade da água, deficiência nutricional ou início de problemas com parasitoses e doenças.

Em cada refeição os peixes devem ser alimentados com uma quantidade de ração capaz de ser consumida em cerca de 10 a 15 minutos. Alimentar os peixes até o último grão de ração que conseguem ingerir normalmente resulta em perda de eficiência produtiva e aumento no custo de produção. Assim, o fornecimento de ração deve ser ajustado para que os peixes consumam, diariamente, entre 80 e 90% da sua máxima capacidade de consumo de ração. Algumas das razões para não alimentar os peixes até o último pelete são apresentadas a seguir:

a) Gasto desnecessário de tempo na alimentação; b) Maior chance de desperdício de ração; c) Piora na conversão alimentar; d) Maior impacto poluente do empreendimento; e) Maior acúmulo de gordura visceral. Em muitos empreendimentos é comum observar excessiva sobra

de ração nos anéis de alimentação. A resposta mais comum quando se indaga sobre o motivo para a sobra da ração é: "como a ração flutua por um longo período, se o peixe não comer tudo agora, mais tarde ele vem e limpa tudo". Tal prática de alimentação é inadequada. Embora a ração possa permanecer flutuando na água por horas ou, até mesmo mais de um dia, logo após o contato da mesma com a água começam a ocorrer perdas de nutrientes por dissolução. Proteínas solúveis, aminoácidos livres, minerais e vitaminas hidrossolúveis (vitaminas do complexo B e vitamina C) são perdidos em grande proporção.

A extensão destas perdas depende da estabilidade da ração na água e da facilidade com que a ração absorve água. Neste último aspecto uma ração extrusada pode levar uma ligeira desvantagem com relação a uma ração peletizada bem estável na água. As rações extrusadas geralmente possuem maior porosidade e podem absorver água mais rapidamente que algumas rações peletizadas de boa qualidade. Os fabricantes geralmente utilizam as seguintes estratégias para diminuir estas perdas:

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a) aumento na estabilidade das rações na água com o uso de aglutinantes naturais ou sintéticos, ou através do uso de estratégias e equipamentos adequados para o processamento das rações;

b) revestimento com óleo para reduzir a absorção de água pelos pelotes;

c) enriquecimento extra de vitaminas hidrossolúveis para compensar as perdas. Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes em tanques-rede

O índice de conversão alimentar aparente, usualmente chamado apenas de conversão alimentar (CA) reflete a eficiência com que o peixe transforma a ração em ganho de peso corporal. Este índice é calculado da seguinte maneira:

CA = consumo de ração (kg)/ganho de peso (kg)

Uma conversão alimentar de 1,3 significa que, para produzir 1

quilo de peixe foi necessário 1,3 quilo de ração. Desta forma, quanto menor o valor da conversão alimentar, melhor o aproveitamento do alimento fornecido. A eficiência alimentar é calculada dividindo-se o ganho de peso pela quantidade de alimento fornecido, ou seja, é o inverso do índice de conversão alimentar.

Uma conversão alimentar de 1,3 equivale a uma eficiência alimentar de 0,77, ou seja, 77% do alimento fornecido aparentemente foi transformado em peixe. A palavra "aparentemente" foi usada de forma intencional, pois cerca de 70 a 75% do ganho de peso dos peixes é devido à incorporação de água nos tecidos corporais. Como as rações secas têm geralmente umidade entre 8 e 10%, a eficiência de incorporação da matéria seca do alimento no ganho de peso dos peixes é bem menor do que sugere o valor aparente da eficiência alimentar. No entanto, a conversão alimentar aparente é útil na avaliação prática do desempenho dos peixes e nos cálculos econômicos de cultivos utilizando rações secas.

Os peixes, em geral, apresentam melhores índices de conversão alimentar comparados aos animais homeotérmicos (que mantém constante a temperatura corporal) como as aves, suínos, entre outros. Como os peixes não utilizam a energia dos alimentos para a manutenção da temperatura corporal, grande parte desta energia é alocada para crescimento e ganho de peso. Os principais fatores que afeiam a conversão alimentar dos peixes em tanques-rede são:

a) A composição, a qualidade nutricional e a integridade física das rações;

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b) Espécie de peixe: existem diferenças entre as espécies de peixes quanto à demanda energética para natação, respiração, osmorregulação, captura de alimento; expressão do comportamento, reprodução, digestão do alimento e metabolismo dos nutrientes assimilados, entre outros aspectos. Portanto, é natural que tais particularidades influenciem os índices de CA dentre as espécies cultivadas;

c) Idade ou tamanho dos peixes: dentro de uma mesma espécie, peixes menores (mais jovens) apresentam melhores índices de CA;

d) Sexo e reprodução: os índices de CA podem variar dentro de uma mesma espécie em função do sexo. Um bom exemplo é a diferença entre machos e fêmeas da tilápia-do-Nilo. As fêmeas alocam grande quantidade de energia dos alimentos para a produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais lentamente e apresentam piores índices de CA que os machos. De uma forma geral, quando os peixes entram em fase de reprodução os índices de conversão alimentar tendem a piorar devido ao maior gasto da energia (obtida via alimento) com as atividades relacionadas à reprodução (formação de gônadas, migração, cortejo e disputa pêlos parceiros, formação e defesa de ninhos, cuidado parental, entre outros) do que ao crescimento;

e) Manejo alimentar: níveis de alimentação excessivos pioram a conversão alimentar;

f) Densidade de estocagem: geralmente há uma tendência de piora na conversão alimentar com o aumento no número ou na biomassa de peixes estocada;

g) Qualidade da água e estado de saúde dos animais: má qualidade da água, a ocorrência de infestações por parasitos e surtos de doença comprometem o crescimento, a conversão alimentar e a sobrevivência dos peixes.

Com o uso de rações de boa qualidade, os índices de conversão alimentar devem variar entre 1,4 a 1.8 no cultivo em tanques-rede de peixes como as tilápias, bagre-do-canal, carpa comum, pacu e tambaqui. Aos leitores interessados em obter maiores informações sobre a nutrição e o manejo alimentar dos peixes em piscicultura intensiva é recomendada a leitura do livro "Nutrição e Alimentação dos Peixes Cultivados" (Kubitza, 1999).

PRINCIPAIS DOENÇAS O que causa doença nos peixes?

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A doença é geralmente causada por falta ou queda de resistência dos peixes. Em muitos casos, isso decorre de agressões sobre o organismo. Fontes dessas agressões são mostradas abaixo.

Estresse: pode ser causado por vários estressores, dentre eles redução da temperatura, manejo, redução de oxigênio, variação de pH da água e aumento nos níveis de amônia.

No manejo, destacamos a captura fora de hora ou período, uso de apetrechos impróprios, manutenção em excesso do peixe fora d’água, danos físicos etc.

Outros estressores: deficiência nutricional (alimentação ou ração não balanceada), alta densidade populacional de estoque dos animais, excesso de alimento (afeta a qualidade da água), contaminações por químicos etc.

Produtos químicos: aqueles que causam envenenamento reduzem a resistência dos peixes, tornando-os susceptíveis a doenças. Podem agir também como estressores. Além disso, a combinação equivocada de dois ou mais produtos químicos pode, ao invés de auxiliar, prejudicar ainda mais os peixes, e as doenças se manifestam. Alguns casos de câncer em peixes podem decorrer de contato com produtos químicos.

Agentes patógenos: a presença massiça de agentes patógenos (por ex., bactérias e fungos) na água auxilia para que os animais desenvolvam essas doenças.

Base genética: alguns indivíduos podem possuir características genéticas que os tornam mais susceptíveis a contraírem doenças. Além disso, a má formação genética é também considerada uma patologia e decorre, em alguns casos, de agentes indutores de mutação genética (por ex., alguns produtos químicos usados em piscicultura) ou mesmo de cruzamentos consangüíneos freqüentes (entre irmãos ou entre pais e filhos). Corno tornar os peixes sadios?

As melhores defesas na doença de peixes são as medidas

profiláticas (preventivas). Infelizmente, vivemos num país onde a prevenção não é a regra, mas sim deixar acontecer e depois correr para evitar maiores prejuízos. E hora de mudarmos esse conceito em todos os setores, e também na piscicultura.

O piscicultor, como empresário que é, deve aprender desde cedo que as medidas de última hora e as improvisações não caracterizam qualidade no empresariado. Com isso, pessoas que conhecem menos de piscicultura, mas muito de empresariado, têm conseguido melhores resultados que aquelas que só conhecem o peixe e nada de

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administração empresarial. E nesse contexto que se insere um dos maiores problemas da piscicultura: as doenças dos peixes. E aqui reafirmamos: a melhor defesa é a prevenção.

Então, como prevenir as doenças em nossos peixes? A resposta é simples, mas nem sempre sua realização. Devemos desenvolver uma piscicultura de qualidade, zelando por:

a. boa qualidade de água; b. monitoramento freqüente das condições da piscicultura; c. bom manejo dos peixes; d. estocagem em densidades adequadas; e. boa qualidade genética dos peixes (procedência idônea); f. limpeza do local (enterrar peixes mortos), evitando proliferação

de doenças; g. mecanismos contra predadores (além de predarem, trazem

doenças aos peixes). h. observação atenta do andamento da piscicultura (peixes e

rotina). O que devo observar diariamente na piscicultura?

As observações de rotina numa piscicultura são essenciais e

delas podem vir a solução de muitos problemas, antes que atinjam níveis catastróficos.

Dependendo da área total de viveiros, é viável economicamente um funcionário entrar em serviço mais cedo (digamos às 06:00 horas), ou se fazer sistema de rodízio, para vistoriar todos os viveiros. Os itens a serem observados podem ser até marcados diariamente numa planilha. São eles:

a. O nível de entrada de água nos viveiros está insuficiente? b. O nível de saída de água dos viveiros não está adequado? c. Há peixes mortos? d. Há anormalidade no comportamento dos peixes (estão na

superfície, há peixes isolados do grupo etc.)? e. Os peixes estão pouco reativos aos estímulos externos? f. Há indícios de falta de oxigênio na água? g. Há algas em demasia? h. Os peixes estão concentrados próximos à entrada ou à saída

de água do viveiro? Ao responder afirmativamente a alguma dessas questões,

comunique imediatamente ao técnico responsável e avalie a qualidade

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da água, principalmente em termos de oxigênio, pH, amônia, nitrito e alcalinidade.

No momento da alimentação, deve-se jogar inicialmente um pouco de ração e observar se é rapidamente consumida. Caso não haja essa aceitação, é indício de que algo pode estar errado com esses animais/ambiente. Por que a vitamina C é importante para os peixes?

A maioria das espécies de peixes não sintetiza a vitamina C (exceções são as carpas, que sintetizam um pouco desse componente). A falta ou a deficiência de vitamina C prejudica a formação do tecido conjuntivo, causa deformações na parte óssea, pode inibir a reprodução dos peixes (e também dos crustáceos) e pode torná-los improdutivos ou indesejáveis para o comércio.

Cuidado, pois algumas vezes os peixes estão com deficiência de vitamina C, mas não apresentam anormalidade aparente. O suprimento diário de vitamina C na ração auxilia em:

a. prevenir e amenizar os efeitos negativos de estressores ambientais;

b. facilita os processos de cicatrização dos tecidos; c. reduz ou neutraliza a toxicidade por contaminantes; d. aumenta a defesa imunológica contra infecções bacterianas.

Quando usar vitamina C para os peixes?

A colocação de vitamina C (= ácido ascórbico) na ração dos

peixes tem sido usada para reduzir efeitos prejudiciais decorrentes de estresse (por ex., manejo e inverno). A vitamina C, no entanto, deve ser fornecida vários dias antes da ocorrência desse estresse. No caso do inverno, recomenda-se iniciar a administração 1 a 2 meses antes de seu início. Há vitamina C na ração ou deve-se adicioná-la?

Embora as rações de peixe já possuam uma certa quantidade de

vitamina C, os piscicultores costumam colocar uma quantidade adicional dessa vitamina. Isso é importante, pois a vitamina C da ração pode ter sofrido alguma alteração e não estar mais ativa, devido à sua rápida oxidação e instabilidade na água.

No processo de peletização ou extrusão da ração ocorrem momentos de altas temperaturas, que destrói parte da vitamina C adicionada. Mas há uma forma de vitamina C que foi desenvolvida

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especialmente para rações de organismos aquáticos. Resiste a temperaturas mais altas e tem maior estabilidade na água. Além disso, quando a incorporação da vitamina C ocorre após a extrusão ou peletização da ração, sua estabilidade fica maior. Mesmo assim, pode ser desestabilizada ou inativada durante o processo de armazenamento da ração. Por essa razão, é sempre aconselhável acrescentar vitamina C nos períodos críticos em que é mais necessária aos peixes. Que tipo de vitamina C usar?

Existem algumas formas de vitamina C. Para ser incorporada na

ração, a que tem apresentado melhores resultados é o Ascorbato de 2 monofosfato de cálcio.

A vitamina C denominada protegida é também conhecida como revestida. Dessa forma, ao ser colocada na água haverá menor perda. Embora seja um pouco mais cara que a vitamina C não protegida, o efeito é bem melhor. Corno misturar a vitamina C na ração?

Lembre-se que é um produto hidrossolúvel (dissolve-se na água).

Portanto, compre ração com vitamina C já incorporada, ou então incorpore-a na ração. Para isso, use óleo de milho, de girassol ou de soja para proteger a vitamina C evitando que ela seja perdida na água. Adicione a vitamina C ao óleo (0,5 a 1,0 g de vitamina C por kg de ração, dependendo da finalidade da ração).

Para cada 15 kg de ração, pode-se utilizar de 400 a 500 ml de óleo já com a vitamina C incorporada. Em quanto tempo as doenças matam todos os peixes?

Geralmente esse tipo de mortalidade começa em poucos peixes

do viveiro e aumenta exponencialmente. Por exemplo, pode matar de l a 3 peixes no primeiro dia, 10 a 15 nos próximos 4 dias e dentro de 7 a 10 dias matar até 80 % dos peixes. No caso de doenças infecciosas, pode matar todos os peixes do viveiro.

Mortalidade de peixes causada por problemas de qualidade de água são massivas em poucos dias. Dependendo da gravidade, pode-se observar mortalidade total em poucas horas. No caso do manejo dos peixes, a mortalidade pode ocorrer de l a 10 dias após esse estressor. Por que os peixes estão na superfície?

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Há duas razões básicas: a) um comportamento normal da espécie, ou mesmo captura de

insetos ou algas; ou b) uma anormalidade (doença ou falta de oxigênio no ambiente). Espécies que os indivíduos ficam normalmente boqueando a

superfície da água nas primeiras horas da manhã são: curimbatá, carpa prateada, carpa cabeça grande, tilápia, entre outras. Para saber se é um comportamento normal dos peixes, ao vê-los agrupados na superfície espante-os com barulho (por ex., bater palmas ou atirar algo na água). Eles afundam e, se o comportamento decorre de alguma anormalidade, não afundam ou logo voltam à superfície.

Quando esse comportamento é uma anormalidade, geralmente decorre de condições inapropriadas de qualidade da água, principalmente a falta de oxigênio. Nesse caso, os peixes se concentram próximos à entrada de água do viveiro (ou do aerador). Se o caso realmente é falta de oxigênio, algumas espécies apresentam alteração na boca (prolapso ou proeminência deixando o lábio inferior muito maior que o superior) que facilita a captação de oxigênio do meio. Essas espécies são: pacu, tambaqui, tambacu, piracanjuba, matrinxã, piraputanga e pirapitinga.

Algumas vezes, no entanto, o problema pode não ser a falta de oxigênio do ambiente, mas sim a dificuldade do peixe em obter o oxigênio do meio. Isso ocorre quando as brânquias estão parasitadas (por ex., por monogenóides).

Seja qual for a razão, se os peixes estão na superfície da água, quantifique os níveis de oxigênio do viveiro e observe atentamente esses animais.

Que preparos fazer para enfrentar o inverno?

Ao menos 1 a 2 meses antes do início do inverno deve-se

preparar os peixes para enfrentarem essa situação de baixa temperatura nas regiões onde esse frio é significativo. Esses cuidados reduzem os riscos de perdas no inverno.

Aumentar o volume do viveiro: reduz a velocidade das variações térmicas no tanque (um volume menor oscila mais que um maior volume de água). E muito importante desde o início do inverno, quando as oscilações de temperatura são maiores (dias de sol, dias de frio). Lembre-se que a oscilação térmica também é um estressor para os peixes.

Alterar a transparência da água: água turva retém mais o calor do sol e, portanto, ocorre menor oscilação térmica e a temperatura

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média fica mais alta. Uma forma de conseguir essa água turva em viveiros de água límpida é adicionar alguns exemplares (10 a 15 exemplares em 1000 m2) de curimbatá ou carpas (espelho ou comum) no viveiro. Nos últimos anos temos visto que essa prática tem reduzido as enfermidades nesses viveiros, pois os peixes sofrem menos com as agressões térmicas e de luminosidade. Outra causa desse resultado pode ser o fato dessas espécies eliminarem parasitas ao revolverem o substrato do viveiro. Embora essas questões requeiram mais estudos, o efeito benéfico dessa associação de espécies parece certo.

Diminuir a renovação de água: particularmente em viveiros grandes (acima de 1000 m"), com sistema de criação semiintensivo, é conveniente reduzir a renovação de água ao menor nível possível. Se há uma renovação muito intensa, pode desestabilizar o equilíbrio entre os peixes e o ambiente (viveiro) e propiciar doenças. A alta renovação de água vinda de canaleta aberta (a mais comum) introduz no viveiro água mais fria, o que só agrava a situação. Como essa água está mais fria à noite, nesse período a redução deve ser maior (mas considere que durante a noite há uma queda nos níveis de oxigênio da água no viveiro).

Adeque a alimentação: antes do início do inverno, dê aos peixes alimento com gordura insaturada, que fornecerá energia para sobreviver no inverno.

Não dê gordura animal: não dê frangos mortos, vísceras de qualquer animal, pois a gordura (tipo saturada) é acumulada no peixe antes do inverno e, quando chega o período frio, essa gordura se solidifica, chegando a obstruir veias e artérias provocando a morte dos peixes. Esta é uma causa que mata toneladas de peixes todos os invernos. A gordura que promove essa morte ocorre em abundância, tem cor branca opaca e fica endurecida. A gordura desejável (insaturada) é incolor, brilhante e bastante flácida.

Vitamina C: administre vitamina C na ração a partir de ao menos 1 a 2 meses antes do início do inverno. Mesmo que a ração comprada inclua vitamina C, administre quantidade adicional.

De milho e abacate; esses produtos têm mostrado bons resultados no preparo de peixes para o inverno. No caso do milho, antes de fornecer aos peixes, deixe azedar por 24 horas submerso em água. E um método bastante simples e até criticado por alguns nutricionistas, mas tem mostrado bons resultados em cultivo semi-intensivo. Basta agora entendermos os mecanismos de sua eficácia. Os peixes estão morrendo. O que fazer?

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Como se pode notar nesta resposta, o piscicultor deve ter uma boa noção de como é um peixe normal. Para isso, uma dica é sacrificar alguns exemplares sadios e observar (cor, tamanho e forma) várias de suas partes, principalmente as brânquias, nadadeiras (dorsal e caudal), pele, fígado, rim e intestino.

Outro aspecto evidente é que devemos ter sempre acesso fácil a telefone de técnicos especializados em doenças de peixes.

E o técnico deve ser de boa qualidade (vide questão n° 8), pois um erro pode ser fatal.

Além disso, tendo-se kits de análise da qualidade da água, pHmetros e oxigenômetros podemos economizar tempo para diagnóstico da doença (esses dados podem ser transmitidos por telefone ao técnico especializado) e, em alguns casos, isso pode significar a salvação do estoque de peixes. E importante fornecer não apenas os dados do dia em que foi detectado o problema, mas também de dias anteriores.

a) Inicialmente, deve-se medir as condições da água,

principalmente pH, amônia, nitrito, oxigênio e temperatura. Essas medidas dão informações importantes para o técnico especializado, fornecendo dados que auxiliam o diagnóstico da doença e também sobre a medicação a ser indicada. Lembre-se que para se aplicar certos medicamentos deve-se conhecer com precisão o pH, a alcalinidade, a temperatura e os níveis de oxigênio na água. Dependendo desses fatores, o medicamento, ao invés de curar o peixe, pode matá-lo.

b) Depois, abra 2 ou 3 peixes doentes e avalie algumas de suas estruturas, atentando principalmente para a cor e o tamanho dos órgãos. No intestino, observe se há parasitas (organismo se movendo). Se possuir lupa (estereomicroscópio), faça esfregaço das brânquias e veja se encontra parasitas (para isso é importante o piscicultor assistir a cursos de especialização).

De posse dessas informações, transmita-as ao técnico responsável e siga criteriosamente as recomendações indicadas. No entanto, podemos dar algumas dicas para auxiliá-lo na solução do problema. Se o problema estiver ligado a baixo nível de oxigênio ou altos níveis de amônia ou nitrito, a alternativa imediata é reduzir a água do viveiro para aproximadamente 1/3 do volume e reiniciar o enchimento do viveiro (de preferência aumentando a vazão). Isso irá diluir a água do viveiro e, portanto, reduzir os níveis de amônia e nitrito, bem como aumentar os de oxigênio. Dependendo do caso, também corrigirá o pH da água. E lógico que se o problema da água estiver na fonte fornecedora, isso de nada adiantará. Uma outra alternativa é instalar aeradores. Não havendo disponibilidade de aeradores, pode-se usar

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bombas submersas, de forma que esguichem a água para cima do nível do viveiro (isso promoverá oxigenação). Cuide para que essa bomba não retire água do fundo do viveiro, pois ela tem a pior qualidade e será misturada com a água boa do viveiro, reduzindo a qualidade desta).

Se o problema advir de parasitas, reduza a água do viveiro (cerca de 1/3), mantenha a renovação de água e chame o especialista.

Um último conselho fundamental: NÃO ESPERE A MORTALIDADE AUMENTAR MUITO PARA SOLICITAR UM AUXÍLIO TÉCNICO! Corno identificar as principais doenças nos peixes?

As doenças podem ter várias causas. As mais freqüentes são causadas por vírus, fungos, protozoários, bactérias ou parasitas (endo e ecto helmintos). A seguir relacionamos as principais doenças de ocorrência nos peixes tropicais, suas principais manifestações clínicas e algumas medidas medicamentosas descritas na literatura. FUNGOS Doenças causadas por fungos externos

São facilmente reconhecidas a olho nu (sem uso de lupa ou

microscópio). Aparecem externamente no peixe algumas regiões com aspecto de algodão. Em viveiro com água limpa, sua cor é clara (branca) e caracteriza a doença do algodão. Se a água é suja (barrenta), a coloração é escura e a doença é vulgarmente conhecida como doença do veludo. Os fungos atacam em qualquer região do corpo do animal, incluindo boca e brânquias.

Essas doenças são causadas por fungos dos gêneros Satrolegnia e Achya. Se manifestam geralmente de l a 4 dias após um manejo inadequado (ex., muitos peixes na rede, uso de redes com nó ao invés de entrelaçado, uso de maca áspera para pesagem etc.). O manejo inadequado pode retirar muco da pele do peixe e aí desenvolvem-se os fungos. O muco é uma proteção natural dos peixes e deve ser preservado. E comum também que os fungos se manifestem após aplicação de cal no viveiro (altera bruscamente o pH da água, o que provoca descolamento de muco). Isso também pode ocorrer frente a outros produtos químicos colocados em excesso na água.

Quando o manejo é realizado em temperatura inadequada da água, o fungo se manifesta devido à queda na resistência imunológica dos peixes. Nas incubadoras, é freqüente a ocorrência de fungos nos ovos mortos ou não fertilizados (gorados). Se esses fungos não são controlados com tratamento adequado, podem ser passados para os outros ovos. O mesmo se aplica às larvas nas incubadoras.

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Doenças causadas por fungos internos

Ictiophomus sp: patógeno contra o qual não existe tratamento. Aparecem manchas brancas internas, que não podem ser

removíveis com fricção (diferentemente da doença do algodão). Obstrui as artérias impedindo que o sangue chegue nas extremidades, provocando tromboses que levam ao apodrecimento dessas áreas. Nesses locais ocorre, então, instalação e desenvolvimento de fungos externos.

Incidência de luz solar: a incidência de raios ultravioleta (UV)

em excesso pode provocar lesões na pele dos peixes, propiciando o desenvolvimento de fungos. Muito freqüente em tambacus e tambaquis, principalmente em viveiros com menos de 2 m de profundidade e em regiões frias. Em água suja (transparência menor que 30 cm no disco de Secchi) esse problema não tem sido relatado. Portanto, uma dica interessante para sistemas semi-intensivo é incluir alguns exemplares de curimbatá no viveiro com a função específica de deixar a água mais barrenta.

PROTOZOÁRIOS

O principal protozoário a causar a maior mortalidade em peixes

tropicais, principalmente na fase de alevinos, é o Ichthyophythirius multifillis que causa a doença do ponto branco ou doença do Ich (lê-se íctï). São protozoários grandes, visíveis a olho nu, e ficam tanto externamente quanto internamente (subcutâneos) nos peixes. Em geral ocorrem mais em alevinos e em temperaturas inferiores a 23 °C, embora no Brasil já tenha sido observada sua ocorrência até em temperatura de 29 °C. Esta enfermidade não tem sido observada quando a água do viveiro possui baixa transparência, pH maior que 7,0 e alcalinidade maior que 30.

Trichodina O gênero Trichodina possui várias espécies, mas apenas

algumas causam doenças. Ocorre em larvas e adultos, causando a morte do peixe. É conhecido como disco voador, ovo frito, roda de carroça com chapéu mexicano devido à forma como se manifesta.

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Ocorre principalmente na pele e nas brânquias. O maior prejuízo é nas brânquias.

Dependendo da espécie, pode ser visto em microscópio com aumento de 40x, mas algumas espécies são visíveis apenas com aumentos de 400x ou mais. Ocorrem geralmente em viveiros com excesso de matéria orgânica (fertilizados ou com excesso de ração).

Piscinodinium

Atua em todas as espécies de peixes, mas no Brasil tem sido

mais encontrado nas espécies do gênero Brycon matando principalmente juvenis e adultos.

O peixe atacado por Piscinodinium apresenta excesso de muco, fica na superfície e margem do viveiro, com coloração do corpo mais escura. Visto de longe, a aparência da superfície da água do viveiro é como se estivesse arrepiada, provocada pelas nadadeiras dorsais dos peixes doentes nadando na superfície.

O peixe não apresenta o brilho característico da superfície do corpo, mas fica cheio de granulados. Este protozoário dificulta a respiração do peixe, podendo matá-lo por asfixia.

Sua ocorrência tem sido controlada com aplicação de sal grosso. Se a infestação está bem no início, pode ser controlado com 0,1 g de sal por litro, com uma segunda aplicação (0,1 g/L) após 2 dias. Quando a situação é mais grave, manifesta no grupo todo de peixes e já com início de mortalidade, pode-se usar até 1 g de sal/L.

Uma outra forma de controle que tem sido usada é com cal virgem (ou similar). Aplica-se de 10 a 14 kg de cal por 1000 m3 de água (em viveiros com mais de 2 m de profundidade média, considera-se para aplicação apenas 2 m de profundidade). Tanto o sal quanto a cal não precisam ser diluídos para serem aplicados.Deve-se, no entanto, distribuí-los homogeneamente na superfície do viveiro.

A forma de sal que tem apresentado os melhores resultados é o sal grosso.

Que cuidados tomar ao tratar uma doença? O piscicultor nunca deve aplicar qualquer produto químico na

água ou ração dos peixes sem que tenha sido recomendado por um técnico especializado e legalmente autorizado. Quando o problema for provocado por agente infeccioso, geralmente necessita tratamento

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específico que deve ser indicado por profissional da área, ou seja, um Médico Veterinário.

Se no uso de medicamentos em bovinos, suínos, até mesmo no homem e outros mamíferos, onde a Medicina é bastante antiga, devemos tomar cuidado na aplicação dos medicamentos, no caso dos peixes isso é mais complexo. De fato, não depende apenas do tipo de doença, mas também das condições da água no momento da aplicação. Ou seja, as dosagens dos produtos depende também de fatores como temperatura, pH, alcalinidade, amônia, níveis de oxigênio dissolvido na água etc. Além desses fatores, deve-se considerar a espécie de peixe, o tamanho e idade dos animais e o grau de comprometimento em que se apresentam. Então, muito cuidado: a mesma dose que cura peixes num viveiro pode matar em outro!

Atente-se também que algumas vezes fica dispensável aplicar algum produto na água. Algumas doenças podem ser controladas apenas com correçÕes de qualidade da água e de fatores nutricionais da alimentação. Pode-se misturar remédios no viveiro?

A mistura de dois produtos químicos pode produzir três efeitos

interessantes: Efeito sinérgico: a mistura faz com que o efeito fique

aumentado, potencializado. Efeito neutralizador: a mistura pode eliminar o efeito e a solução

final não servir para o controle da doença. Efeito alterado: a mistura pode alterar os efeitos de forma a

tornar-se tóxica e matar os peixes. Se não temos certeza a respeito do resultado da combinação dos

produtos químicos, o risco é grande em aplicá-los. Novamente, apenas a consulta a um especialista (Médico Veterinário) garantirá a conduta correia.

Que condições da água podem afetar o efeito dos

medicamentos? Há condições da água que afetam os medicamentos. Por

exemplo, sólidos em suspensão (principalmente matéria orgânica), vegetação aquática, plâncton e algas absorvem muitos medicamentos. Com isso, a concentração desses medicamentos na água fica reduzida e, portanto, a dose aplicada não produz o efeito desejado.

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Outros parâmetros da água, como incidência de luz, pH, dureza e alcalinidade têm influência direta na toxicidade de produtos químicos. Geralmente, quanto menor for o pH, a dureza e a alcalinidade da água, maior será a toxicidade dos produtos, podendo não apenas não curar, mas matar os peixes. Como exemplo, temos o sulfato de cobre que, para certas espécies, em pequenas concentrações (0,5 ppm = 500 g/1000 m3) pode matar todos os peixes se a alcalinidade for inferior a 30 mg/L.

A temperatura é talvez um dos principais fatores a afetar a toxicidade de um produto químico na água. Por exemplo, o formaldeído (formol) tem sua toxicidade aumentada nas temperaturas mais elevadas.

O volume de água e a velocidade de renovação de água no viveiro são também fatores importantes sobre a ação dos medicamentos. Evidentemente, quanto maior a renovação de água, maior deve ser a dose do medicamento a ser aplicada, pois parte dela é perdida com a renovação da água. Se a renovação é lenta e o medicamento tem ação rápida, provavelmente esse efeito do fluxo de água nem será percebido.

Resumindo, a aplicação de um produto químico requer mais que o conhecimento da dose geralmente usada. Detalhes das condições do viveiro podem alterar completamente o panorama, motivo que faz ainda mais necessária a assessoria de um profissional técnico competente.

Como aplicar os medicamentos no viveiro?

O diagnóstico e a prescrição do Médico Veterinário para o

tratamento podem ser totalmente ineficientes caso a forma de aplicação do produto não seja correta. Não especificaremos os detalhes de cada produto, mas de forma geral o medicamento deve ser diluído no máximo possível de água, em recipientes de plástico, e espalhado de forma bem homogênea pela superfície do viveiro, evitando altas concentrações numa parte e falta do produto em outras.

Quais os principais produtos químicos usados no tratamento de doenças em peixes?

A tabela abaixo resume os principais produtos usados na

piscicultura para tratamento de doenças dos peixes. Mesmo que sejam usados, todo produto químico só pode ser aplicado após recomendação de profissional competente na área. As doses exalas a serem usadas em cada caso são recomendadas por esses profissionais. Mesmo assim, o tempo de carência que esse produto fica no animal deve ser respeitado antes que o peixe seja consumido como alimento pela

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população humana (isso é particularmente importante nos pesque-pagues, onde os peixes são coletados vivos da água). Por medida de segurança, é interessante deixar uns dias a mais do que o recomendado. Na aplicação de qualquer medicamento devemos evitar contato com a pele, olhos e vias respiratórias.

A seguir, alguns produtos com sua finalidade/função e contendo observações:

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Produto Finalidade/Função Observações

Azul de Metileno Protozoários e Fungos

Cloranfenico Hidropsia abdominal Furunculosis Rubriosis Podridão de brânquisas e nadadeiras Bactérias (gram - e +)

Recomendo apenas em tratamento de peixes ornamentais ou reprodutores

Formaldeído (formol) (37%)

Maioria de patógenos externos Parasiticida Protozoicida Fungicida

Não aplicar se os níveis de oxigênio forem menor que 4 mg O2/L

Oxitetraciclina Antibiótico contra algumas bactérias gram + e contra a maioria das gram - Cytophaga (doença da água fria cold water disease) Septicemia hemorrágica bactérica Columnariosis Enfisema putrefativo do catfish Furunculosis, Vibriosis

Permanganato de Potássio

Desinfetante e Oxidizante Bactérias externas Parasitas

Sulfamerazina Sulfonamida antibacteriano Columnariose Furunculosis

Sulfato de cobre Ectoparasitas Protozoicida Algicida

Altamente tóxico aos peixes em pH < 7,0, alcalinidade < 40 mg/L e dureza < 40 mg/L

Vitamina C Anti-estresse = ácido ascórbico

Problemas comuns na produção de peixes em tanques-rede e gaiolas Os piscicultores que utilizam tanques-rede e gaiolas enfrentam

com certa freqüência, dificuldades além daquelas comuns à piscicultura em viveiros como variações na qualidade da água, problemas ligados à má nutrição, a ocorrência de parasitosese patógenos. Neste capítulo serão discutidos alguns dos problemas comuns à produção em tanques-rede.

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Colmatação das malhas A colmatação é o entupimento das telas do tanque-rede ou gaiola

pelo crescimento de algas e outros organismos ou pela deposição de resíduos orgânicos (fezes e restos de ração) nas malhas do mesmo. O processo de colmatação é gradual e mais rápido quanto maior a temperatura da água, maior a transparência da água, menor o tamanho da malha e quanto mais eutrofizado (rico em nutrientes) for o ambiente. Uma maneira de reduzir o problema da colmatação é usar malhas de maior abertura, o que depende do tamanho do alevino disponível para estocagem. Outro método utilizado é a troca periódica e limpeza das malhas. Este processo é eficaz, mas demanda muita mão-de-obra e pode causar estresse aos peixes devido ao excessivo manuseio empregado. O uso de uma espécie de peixe que se alimente dos organismos que crescem nas malhas do tanque-rede é uma alternativa viável e bastante empregada quando se cultivam espécies que não fazem esta limpeza. A tilápia, a carpa comum e o curimbatá são exemplos de espécies usadas na redução do problema de colmatação. Em geral, 5 a 6 destes peixes por m3 de tanque-rede é suficiente para reduzir o problema. Entretanto, às vezes ocorre o crescimento de alguns organismos que estes peixes não controlam. Nestes casos a única alternativa é a remoção mecânica dos materiais que causam a colmatação.

O uso de produtos químicos à base de óxido de cobre também contribui para prevenira colmatação das malhas. Estes produtos são normalmente misturados às resinas que serão aplicadas sobre as malhas, controlando a incrustação de algas e outros organismos. O tratamento químico é recomendado para malhas de rede multifilamento, por possuírem maior aderência à aplicação da resina, sendo pouco aplicado para telas metálicas ou plásticas. Peixes indesejáveis

Diversas espécies de peixes habitam os ambientes onde estão

instalados os tanques-rede. A presença destes peixes pode trazer prejuízos à produção em tanques-rede, seja pela invasão do tanque-rede e competição com os peixes confinados pela ração, pelo ataque e rompimento da malha do tanque-rede, resultando em perda dos peixes em cultivo, ou pelo efeito do estresse por "medo ou intimidação" causado pêlos peixes indesejáveis que tentam alcançar a ração ou tentam predar os peixes confinados.

Um exemplo comum é a presença de peixes carnívoros como a piranha, a traíra, o trairão, entre outros que atacam o tanque-rede em

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busca de alimento. É comum também a entrada de pequenos peixes, como os lambaris, piavas, e mandis através da malha do tanque-rede. Estes peixes se alimentam de ração no interior do tanque-rede, crescem e ficam presos, competindo com os peixes estocados pelo alimento. Uma alternativa nestes casos é o consórcio com uma espécie de peixe carnívoro como o tucunaré ou o "black bass" que são estocados num tamanho que não possam predar os peixes estocados, mas sejam grandes o suficiente para se alimentarem dos peixes invasores.

Espécies como as piranhas, traíras, pacu, tambaqui, piauçu podem romper a malha de tanques-rede construídos com redes de tecido, plástico ou outros materiais pouco resistentes. A alternativa para este problema é usar um material de metal ou com resistência equivalente. Na ocorrência de peixes que atacam o tanque-rede e causam estresse aos peixes confinados, acredita-se que o uso de tanques-rede de maiores dimensões seja benéfico, pois permite manter maior distância entre os peixes confinados e os peixes opressores que estão no ambiente. Animais predadores

A presença de animais predadores (lontras, jacarés, aves, entre

outros) é sempre um problema no cultivo de peixes. Este problema é agravado com o confinamento dos peixes nos tanques-rede ou gaiolas, devido a maior facilidade de captura dos peixes pêlos predadores. Uma maneira de reduzir este problema é o uso de coberturas sobre os tanques-rede. A cobertura deve ser feita com material resistente, de forma a impedir o acesso dos animais. Este material também deve ser opaco, reduzindo o estresse causado pela intimidação visual dos peixes pelos predadores, principalmente no caso de aves. O uso de material rígido (tela metálica) na confecção dos tanques-rede também impede que animais predadores rompam as paredes e adentrem os tanques-rede, permitindo a fuga dos peixes confinados.

Desuniformidade de tamanho no lote

A ocorrência de uma certa desigualdade de tamanho entre os

peixes cultivados em tanques-rede é comum e se deve ao crescimento diferenciado entre os peixes de uma mesma espécie. A heterogeneidade de tamanho pode ser devido a diferenças genéticas entre os indivíduos; relações de dominância; sexo; disparidades no tamanho inicial dos peixes estocados, diferenças na habilidade dos peixes em se adaptar ao confinamento e de aceitar rações; ou mesmo ao manejo alimentar utilizado. A estocagem de alevinos de tamanho

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homogêneo é fundamental para amenizar o problema. A territorialidade/dominância é uma característica de algumas espécies de peixes. O uso de altas densidades de estocagem geralmente reduz o efeito de dominância entre os peixes, melhorando a uniformidade do lote, sobretudo no cultivo de espécies de hábito alimentar carnívoro. A desuniformidade de tamanho pode ser acentuada em tanques-rede onde o manejo alimentar envolve um grande número diário de refeições pequenas, permitindo que apenas uma parte dos peixes, geralmente os mais agressivos, tenha acesso ao alimento. O uso de densidades de estocagem excessivamente altas e anéis de alimentação muito pequenos dificulta o acesso dos peixes ao alimento, acentuando as diferenças de tamanho. Para reduzir este problema, deve se fornecer quantidades de alimento adequado por refeição e às vezes aumentar o tempo de oferta do alimento. Roubo, vandalismo e curiosos

Infelizmente, o roubo de peixes e o vandalismo são bastante

comuns dentro das piscigranjas e, muitas vezes ainda mais facilmente praticados em tanques-rede. A presença de vigias e cães de guarda ajuda muito na prevenção deste problema. Uma alternativa é manter um funcionário residindo às margens do local onde estão instalados os tanques-rede. A iluminação e a demarcação das áreas de acesso também auxiliam no controle do trânsito de pessoas. Muitos produtores utilizam cadeados e correntes para fechar as coberturas dos tanques-rede, dificultando o acesso aos peixes. Quando o acesso à área de produção é feito somente com embarcação, há uma menor incidência de roubo e vandalismo comparadas a área com acesso por terra.

Os projetos de tanques-rede atraem a atenção de curiosos, principalmente quando estão localizados dentro de represas e reservatórios de acesso público. Nestes casos é fundamental, e até mesmo exigido pela legislação vigente, que a área de produção seja demarcada com linha de bóias e sinalizadores, para evitar colisões e o acesso de embarcações não autorizadas. Entretanto, é sempre interessante colocar placas e sinais de aviso que informem os curiosos que aquela é uma área de acesso restrito somente a pessoas autorizadas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CECCARELLI, Paulo Sérgio; SENHORINI, José Augusto;

VOLPATO, Gilson Luiz. Dicas em piscicultura; pergunta e respostas. Botucatu: Santana Gráfica Editora, 2000.

KUBITZA, Fernando. Tilápia. Jundiaí ; F. Kubitza, 2000. ONO, Eduardo Akifumi, KUBITZA, Fernando. Cultivo de peixes

em tanques-rede. 3. ED. VER. E AMPL. Jundiaí: E. A. Ono, 2003.