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Instituto no Rio é referência nacional Diretora do Devisa Campinas se prepara contra o Ebola BRIGINA KEMP VÍRUS ||| CONTAMINAÇÃO Felipe Tonon DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Apesar de serem pequenas as chances de ser registrado surto de Ebola no Brasil, as autoridades sanitárias e de saúde estão em alerta após o primeiro caso suspeito de Ebola no País. O paciente de 47 anos, que chegou da Gui- né em setembro, apresentou sintomas da doença e está in- ternado no Rio de Janeiro. Em Campinas, o Departa- mento de Vigilância em Saú- de informou que a cidade es- tá pronta para possíveis sus- peitos. O Hospital de Clíni- cas da Unicamp também já definiu um plano para aten- der pacientes com suspeita da doença. No Estado de São Paulo, a Secretaria de Saúde informou que possui estratégia de enfrentamento para resgatar, socorrer e atender pacientes com sus- peita de infecção pelo vírus. A diretora do Departamen- to de Vigilância em Saúde de Campinas (Devisa), Brigina Kemp, informou que a rede municipal está preparada pa- ra detectar casos suspeitos. Brigina lembrou que, apesar de remota a chance de con- firmação da doença no Bra- sil e um possível surto, a Vigi- lância em Saúde deve estar preparada para qualquer eventualidade. “Desde agos- to o Ministério vem orientan- do as secretarias municipais e estaduais e Campinas tam- bém já iniciou os preparati- vos para um eventual caso”, explicou. Por isso, a Prefeitura parti- cipou da organização do pla- no de contingência elabora- do em Viracopos. Se algum passageiro chegar com sinto- mas da doença, por exem- plo, ele será imediatamente transportado a uma unidade de saúde. Uma mensagem de áudio padrão do Ministé- rio da Saúde também está sendo veiculada para todos os passageiros no saguão do terminal. Brigina frisou que a defi- nição de caso suspeito hoje é uma pessoa que apresen- te sintomas e que veio dos países africanos com trans- missão: Serra Leoa, Libéria e Guiné. A Devisa também realizou reuniões com todos os hospi- tais da cidade. “O que cabe ao município é a rápida de- tecção de um caso suspeito e a notificação imediata à Se- cretaria de Estado.” Na semana que vem, um informe técnico de saúde, com recomendações do mi- nistério, será divulgado às unidades básicas, postos de saúde e clínicas particulares. Na Unicamp, o planeja- mento foi preparado pelo Núcleo de Vigilância Epide- miológica da Seção de Epide- miologia Hospitalar do HC sob orientação do Ministério da Saúde. Nele estão normas sobre detecção, notificação, atendimento, isolamento, precauções de contato, orientações para vestimenta e retirada de EPIs (equipa- mentos de proteção indivi- dual), procedimentos para diagnóstico laboratorial, tra- tamento, investigação epide- miológica e transporte de pa- cientes suspeitos. Qualquer caso suspeito detectado será imediatamente notificado aos órgãos de vigilância mu- nicipal, estadual e federal, para o encaminhamento aos hospitais de referência do Es- tado e nacionais. O hospital possui um lei- to de isolamento, com filtra- gem de ar especial, que é uti- lizado quando há pacientes com quadro de infecção gra- ve, e está preparado para re- ceber pacientes com suspei- ta do vírus. O Núcleo tam- bém realizou um curso para mais de 150 profissionais de saúde do hospital sobre o plano. São Paulo Caso um paciente se enqua- dre como suspeito, ele será encaminhado para o Hospi- tal Emílio Ribas, na Capital paulista, especializado no tratamento de doenças infec- tocontagiosas. A unidade possui 17 leitos de isolamento que têm pres- são negativa — sistema de fil- tro do ar que coíbe a dissemi- nação de micro-organismos. Os quartos possuem antessa- las nas quais a equipe de res- gate poderá retirar os equipa- mentos de proteção de for- ma segura, sem risco de in- fecção. Caso a demanda seja superior, outros leitos do hospital também poderão ser utilizados. A secretaria ainda possui 2,5 mil kits de paramenta- ção, que serão utilizados pe- los profissionais envolvidos. Haverá “dupla proteção”, com equipamentos de prote- ção individual (EPIs) que im- possibilitam o contágio, ma- cacão de polietileno, avental impermeável, botas e luvas (um par de materiais de pro- cedimento comuns e outro com proteção biológica), máscara com proteção bioló- gica e viseira. Foram investi- dos R$ 400 mil na aquisição dos kits. O Instituto Adolfo Lutz também participa da ação, e será responsável pe- lo monitoramento da biosse- gurança da amostra coletada no Emílio Ribas. Ou seja, providenciará que a amostra seja embalada num recipien- te apropriado e encaminha- rá com segurança para o Ins- tituto Evandro Chagas (Pará) para análise. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo in- formou que o Grupo de Res- gate e Atendimento às Ur- gências (Grau) ficará res- ponsável pelo transporte do paciente. É o único servi- ço do Brasil que possui ma- ca apropriada para inibir o contato direto entre a pes- soa infectada e os profissio- nais. (Com agências) “Desde agosto o ministério vem orientando as secretarias ... e Campinas também já iniciou os preparativos para um eventual caso.” A presidente da Associação Nacional de Biossegurança, Leila Macedo, disse que nun- ca existe risco zero de conta- minação, mas que os profis- sionais do Instituto de Infec- tologia Evandro Chagas, tan- to na parte hospitalar (Rio), quanto na laboratorial (Be- lém), foram treinados para atender casos de Ebola. Ela se refere à qualidade do servi- ço prestado pelo instituto, que faz análise para confir- mar ou não o primeiro caso de Ebola no País. “Os procedimentos são complexos. Você vê o que aconteceu na Espanha. O simples fato de a enfermeira ter errado na hora de tirar o equipamento de proteção in- dividual foi suficiente para ela ser contaminada. Mas se os procedimentos preconiza- dos pela Organização Mun- dial da Saúde forem seguidos não haverá problemas”, disse Leila, que também é pesqui- sadora da Fiocruz. Ela explicou que o vírus pode ser transmitido pelos fluidos corporais, como lágri- mas, sangue, suor. “Se um in- divíduo com Ebola espirrar, o espirro vai longe e pode ha- ver o vírus”, explicou a pes- quisadora, acrescentando que o vírus pode penetrar através da pele. O africano Souleymane Bah, de 47 anos, primeiro suspeito de contaminação no Brasil, foi transportado numa ambulância do Servi- ço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por profissionais protegidos com macacões com mangas compridas, punho e tornoze- los com elástico, resistente à penetração viral. Os socor- ristas usavam ainda másca- ras de proteção respiratória; protetor facial; cobre-bota; luvas descartáveis e avental descartável, resistentes a fluidos. O paciente está iso- lado em quarto privativo com banheiro. (ABr) Sugestões de pautas, críticas e elogios: [email protected] ou pelos telefones 3772-8221 e 3772-8162 Atendimento ao assinante: 3736-3200 ou pelo e-mail [email protected] Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Luís Fernando Manzoli Chefe de reportagem: Guilherme Busch 2,5 Risco zero de contaminação não existe Kits de paramentação estão disponíveis no Estado para uso com suspeitos de infecção Cidades I nstituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi escolhido pelo Ministério da Saúde em agosto como referência para receber casos suspeitos de infecção por vírus Ebola. Nas últimas semanas, os infectologistas passaram por treinamentos sobre como tratar as pessoas contaminadas pelo vírus e participaram de palestras com profissionais que estiveram nas áreas epidêmicas. Em 29 de agosto, houve simulação de atendimento a uma pessoa suspeita de estar contaminada pelo Ebola no Aeroporto Internacional Tom Jobim. No treinamento, o paciente foi isolado no aeroporto, transportado até a Fiocruz, e atendido no INI, hospital especializado em doenças infecciosas, como HIV, doença de Chagas e doenças febris agudas, como dengue e malária. O treinamento foi colocado em prática na madrugada de ontem. O transporte do suspeito de contaminação seguiu o protocolo do Ministério da Saúde. (AE) Departamento informou que a rede municipal está treinada para detectar casos suspeitos Edu Fortes/AAN Luiz Gustavo Oliveira Cardoso e Rodrigo Nogueira Angerami, do HC da Unicamp, fazem parte de grupo que elaborou manual para tratar pacientes Estratégia prevê resgate e socorro de pacientes suspeitos Associação diz, entretanto, que os profissionais de saúde estão bem treinados MIL A4 CORREIO POPULAR A4 Campinas, sábado, 11 de outubro de 2014

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Instituto no Rioé referêncianacional

Diretora do Devisa

Campinas se prepara contra o Ebola

BRIGINA KEMP

VÍRUS ||| CONTAMINAÇÃO

Felipe TononDA AGÊNCIA ANHANGUERA

[email protected]

Apesar de serem pequenasas chances de ser registradosurto de Ebola no Brasil, asautoridades sanitárias e desaúde estão em alerta após oprimeiro caso suspeito deEbola no País. O paciente de47 anos, que chegou da Gui-né em setembro, apresentousintomas da doença e está in-ternado no Rio de Janeiro.Em Campinas, o Departa-mento de Vigilância em Saú-de informou que a cidade es-tá pronta para possíveis sus-peitos. O Hospital de Clíni-cas da Unicamp também já

definiu um plano para aten-der pacientes com suspeitada doença. No Estado deSão Paulo, a Secretaria deSaúde informou que possuiestratégia de enfrentamentopara resgatar, socorrer eatender pacientes com sus-peita de infecção pelo vírus.

A diretora do Departamen-to de Vigilância em Saúde deCampinas (Devisa), BriginaKemp, informou que a redemunicipal está preparada pa-ra detectar casos suspeitos.Brigina lembrou que, apesarde remota a chance de con-firmação da doença no Bra-sil e um possível surto, a Vigi-lância em Saúde deve estarpreparada para qualquereventualidade. “Desde agos-to o Ministério vem orientan-do as secretarias municipaise estaduais e Campinas tam-bém já iniciou os preparati-vos para um eventual caso”,explicou.

Por isso, a Prefeitura parti-cipou da organização do pla-no de contingência elabora-do em Viracopos. Se algumpassageiro chegar com sinto-mas da doença, por exem-plo, ele será imediatamentetransportado a uma unidadede saúde. Uma mensagemde áudio padrão do Ministé-rio da Saúde também estásendo veiculada para todos

os passageiros no saguão doterminal.

Brigina frisou que a defi-nição de caso suspeito hojeé uma pessoa que apresen-te sintomas e que veio dospaíses africanos com trans-missão: Serra Leoa, Libériae Guiné.

A Devisa também realizoureuniões com todos os hospi-tais da cidade. “O que cabeao município é a rápida de-tecção de um caso suspeitoe a notificação imediata à Se-cretaria de Estado.”

Na semana que vem, uminforme técnico de saúde,com recomendações do mi-nistério, será divulgado àsunidades básicas, postos desaúde e clínicas particulares.

Na Unicamp, o planeja-mento foi preparado peloNúcleo de Vigilância Epide-miológica da Seção de Epide-miologia Hospitalar do HCsob orientação do Ministérioda Saúde. Nele estão normassobre detecção, notificação,atendimento, isolamento,precauções de contato,orientações para vestimentae retirada de EPIs (equipa-mentos de proteção indivi-dual), procedimentos paradiagnóstico laboratorial, tra-tamento, investigação epide-miológica e transporte de pa-

cientes suspeitos. Qualquercaso suspeito detectado seráimediatamente notificadoaos órgãos de vigilância mu-nicipal, estadual e federal,para o encaminhamento aoshospitais de referência do Es-tado e nacionais.

O hospital possui um lei-to de isolamento, com filtra-gem de ar especial, que é uti-lizado quando há pacientescom quadro de infecção gra-ve, e está preparado para re-ceber pacientes com suspei-ta do vírus. O Núcleo tam-bém realizou um curso paramais de 150 profissionais desaúde do hospital sobre oplano.

São Paulo

Caso um paciente se enqua-dre como suspeito, ele seráencaminhado para o Hospi-tal Emílio Ribas, na Capitalpaulista, especializado notratamento de doenças infec-tocontagiosas.

A unidade possui 17 leitos

de isolamento que têm pres-são negativa — sistema de fil-tro do ar que coíbe a dissemi-nação de micro-organismos.Os quartos possuem antessa-las nas quais a equipe de res-gate poderá retirar os equipa-mentos de proteção de for-ma segura, sem risco de in-fecção. Caso a demanda sejasuperior, outros leitos dohospital também poderãoser utilizados.

A secretaria ainda possui2,5 mil kits de paramenta-ção, que serão utilizados pe-los profissionais envolvidos.Haverá “dupla proteção”,com equipamentos de prote-ção individual (EPIs) que im-possibilitam o contágio, ma-cacão de polietileno, aventalimpermeável, botas e luvas(um par de materiais de pro-cedimento comuns e outrocom proteção biológica),máscara com proteção bioló-gica e viseira. Foram investi-dos R$ 400 mil na aquisiçãodos kits. O Instituto AdolfoLutz também participa daação, e será responsável pe-lo monitoramento da biosse-gurança da amostra coletadano Emílio Ribas. Ou seja,providenciará que a amostraseja embalada num recipien-te apropriado e encaminha-rá com segurança para o Ins-tituto Evandro Chagas (Pará)para análise.

A Secretaria de Estadoda Saúde de São Paulo in-formou que o Grupo de Res-gate e Atendimento às Ur-gências (Grau) ficará res-ponsável pelo transportedo paciente. É o único servi-ço do Brasil que possui ma-ca apropriada para inibir ocontato direto entre a pes-soa infectada e os profissio-nais. (Com agências)

“Desde agosto oministério vemorientando assecretarias ... eCampinastambém já iniciouos preparativospara um eventualcaso.”

A presidente da AssociaçãoNacional de Biossegurança,Leila Macedo, disse que nun-ca existe risco zero de conta-minação, mas que os profis-sionais do Instituto de Infec-tologia Evandro Chagas, tan-to na parte hospitalar (Rio),quanto na laboratorial (Be-lém), foram treinados paraatender casos de Ebola. Elase refere à qualidade do servi-ço prestado pelo instituto,que faz análise para confir-mar ou não o primeiro caso

de Ebola no País.“Os procedimentos são

complexos. Você vê o queaconteceu na Espanha. Osimples fato de a enfermeirater errado na hora de tirar oequipamento de proteção in-dividual foi suficiente paraela ser contaminada. Mas seos procedimentos preconiza-dos pela Organização Mun-dial da Saúde forem seguidosnão haverá problemas”, disseLeila, que também é pesqui-sadora da Fiocruz.

Ela explicou que o víruspode ser transmitido pelosfluidos corporais, como lágri-mas, sangue, suor. “Se um in-divíduo com Ebola espirrar,o espirro vai longe e pode ha-ver o vírus”, explicou a pes-quisadora, acrescentandoque o vírus pode penetraratravés da pele.

O africano SouleymaneBah, de 47 anos, primeirosuspeito de contaminaçãono Brasil, foi transportadonuma ambulância do Servi-

ço de Atendimento Móvelde Urgência (Samu), porprofissionais protegidoscom macacões com mangascompridas, punho e tornoze-los com elástico, resistenteà penetração viral. Os socor-ristas usavam ainda másca-ras de proteção respiratória;protetor facial; cobre-bota;luvas descartáveis e aventaldescartável, resistentes afluidos. O paciente está iso-lado em quarto privativocom banheiro. (ABr)

Sugestões de pautas, críticas e elogios:[email protected] oupelos telefones 3772-8221 e 3772-8162

Atendimento ao assinante:3736-3200 ou peloe-mail [email protected]

Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Luís Fernando Manzoli Chefe de reportagem: Guilherme Busch

2,5

Risco zero de contaminação não existe

Kits de paramentação estãodisponíveis no Estado para usocomsuspeitos de infecção

Cidades

Instituto Nacional deInfectologia EvandroChagas (INI), da

Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), foi escolhidopelo Ministério da Saúdeem agosto comoreferência para recebercasos suspeitos deinfecção por vírus Ebola.Nas últimas semanas, osinfectologistas passarampor treinamentos sobrecomo tratar as pessoascontaminadas pelo víruse participaram depalestras comprofissionais queestiveram nas áreasepidêmicas. Em 29 deagosto, houve simulaçãode atendimento a umapessoa suspeita de estarcontaminada pelo Ebolano AeroportoInternacional TomJobim. No treinamento, opaciente foi isolado noaeroporto, transportadoaté a Fiocruz, e atendidono INI, hospitalespecializado emdoenças infecciosas,como HIV, doença deChagas e doenças febrisagudas, como dengue emalária. O treinamentofoi colocado em práticana madrugada de ontem.O transporte do suspeitode contaminação seguiuo protocolo do Ministérioda Saúde. (AE)

Departamento informou que a rede municipal está treinada para detectar casos suspeitosEdu Fortes/AAN

Luiz Gustavo Oliveira Cardoso e Rodrigo Nogueira Angerami, do HC da Unicamp, fazem parte de grupo que elaborou manual para tratar pacientes

Estratégia prevêresgate e socorro depacientes suspeitos

Associação diz, entretanto, que os profissionais de saúde estão bem treinados

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A4 CORREIO POPULARA4Campinas, sábado, 11 de outubro de 2014