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    Agricultura familiar e agroecologia: perfil da produo de base agroecolgica do municpio de Pelotas/RSRoberto Antnio Finatto, Giancarla Salamoni

    AGRICULTURA FAMILIAR E AGROECOLOGIA: PERFIL DA PRODUO DE BASE

    AGROECOLGICA DO MUNICPIO DE PELOTAS/RSFamily agriculture and agroecology:

    profile of the agroecological production in the city of Pelotas/RS

    Roberto Antnio Finatto

    Mestrando em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina

    [email protected]

    Giancarla Salamoni

    Prof Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pelotas

    [email protected]

    Artigo recebido para publicao em 27/03/08 e aceito para publicao em 01/10/08

    RESUMO: O segmento da agricultura familiar apresenta caractersticas especficas na sua organizao, como autilizao de mo-de-obra familiar, menor dimenso territorial da unidade produtiva e a lgica ouracionalidade camponesa est voltada em atender as demandas da prpria famlia e no, de imediato, as

    necessidades do mercado. Estes so alguns dos traos que permitiram sua reproduo ao longo doprocesso de desenvolvimento capitalista. Por outro lado, estas caractersticas representam a possibilidade

    de transio de um modelo de agricultura convencional, pautado no excessivo uso dos recursos naturaisno-renovveis, para um sistema de produo agroecolgico, que tem como base os pilares dasustentabilidade (ecolgica, econmica, social, cultural, espacial/geogrfica). A agroecologia pretende,

    assim, restabelecer as relaes harmnicas entre o homem e seu espao natural, minimizando o impacto

    das atividades agrcolas no ambiente e ampliando os benefcios da agricultura para alm do espao

    rural. Desta forma, este trabalho, pretende traar um perfil da produo de base agroecolgica no

    municpio de Pelotas/RS, fazendo uma caracterizao geral da mesma, identificando sua situao e

    importncia enquanto estratgia produtiva para os agricultores familiares do municpio.

    Palavras-Chave: Agricultura familiar. Agroecologia. Desenvolvimento rural sustentvel.

    ABSTRACT: The segment of family agriculture presents specific characteristics in its organization, like the utilization offamily labor, minor territorial dimension of the production unit and the logic or peasant rationalization is

    focused to attend the demands of the own family and not immediately the necessities of the market. Theseare some of the features which allowed their reproduction meanwhile the process of capitalist development.

    On the other hand, these characteristics represent the possibility of transition of one model of conventional

    agriculture, registered in the excessive use of the natural sources of sustainability (ecological, economical,social, cultural, space/geographic). The agroecology intends, this way, to reestablish the harmonious relations

    between men and its natural space, minimizing the impact of the agricultural activities in the environment

    and maximizing the agricultural benefits beyond the rural space. This way, this work, intends to set aprofile of production of agroecological base in the city of Pelotas/RS, making a general characterization of

    it, identifying its situation and importance as a productive strategy to the family farmers of the city.

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    AGRICULTURA FAMILIAR: O MARCOTERICO

    O segmento da agricultura familiar,internamente, apresenta-se bastante diversificado nasvrias estruturas agrrias. Muitos estudos continuama ser produzidos visando aprofundar o conhecimentoacerca da produo familiar na agricultura,especulando sobre o seu destino, as formas de como

    este segmento ir se desenvolver no sistema capitalistade produo contemporneo, seu processo deadaptao ao sistema de mercado, seudesenvolvimento paralelo ao sistema capitalista, ouainda, a possibilidade de seu desaparecimento porcompleto com a intensificao das relaes de

    produo capitalistas.

    O que se deve levar em considerao,entretanto, que este segmento se reproduz demaneiras to diversas, que se faz necessrio uma

    anlise especfica em cada espao, situao e tempo,devido diversidade de estratgias que o agricultorencontra para permanecer no campo. Alm disso, oreferencial terico dos autores clssicos, que sededicaram ao estudo da agricultura utilizado para aanlise, deve ser considerado sempre inserido em seucontexto histrico, considerando a especificidadeespao-temporal em que as idias e teorias foramdesenvolvidas.

    Nesse sentido, uma constatao merecedestaque, inegvel que o segmento da agriculturafamiliar se desenvolve e persiste at hoje. Isso ficaevidenciado na significativa quantidade de mo-de-obra relativa famlia empregada no campo e diversidade (em quantidade e qualidade) de produtosoferecidos, por este segmento, para atender asdemandas do mercado consumidor interno e mesmoo externo. Por isso, os agricultores familiares, soconsiderados essenciais para a produo de alimentostanto da populao rural quanto urbana.

    Um dos principais tericos que se dedicarama analisar as relaes capitalistas de produo foi oeconomista, filsofo e socialista alemo Karl Marx.Para Marx, os camponeses so considerados comouma classe especfica no sistema social, pois renemas caractersticas das duas outras classes sociais. Ouseja, ao mesmo tempo em que so donos dos meiosde produo tambm so trabalhadores. Nessesentido, Marx considera o campesinato como uma

    classe em transio, seja rumando para a burguesia,tornando-se um empresrio capitalista, seja para o

    proletariado, tornando-se um trabalhador assalariadolivre. Assim, no desenvolvimento do capitalismo ocampesinato seria extinto enquanto classe social(SILVA, 1986).

    Ainda, o processo de modernizao do campolevaria para este espao as indstrias, promovendo odesaparecimento da pequena propriedade. A

    penetrao das relaes capitalistas tenderia a

    dissolver as relaes no-capitalistas, o que exigiriauma reorganizao das propriedades e o surgimentode novas relaes de produo. Silva (1986), aoanalisar o campesinato na obra FormaesEconmicas Pr-Capitalistas de Marx, destaca que:

    [...] se tomar-se ao p da letra as palavras de Marx,

    nestes trechos, tem-se que a penetrao do capital

    no campo implica, em primeira instncia, a

    dissoluo por toda a parte, no de algumas

    formas, mas das diversas formas de produo notipicamente capitalistas, inclusive tipos

    intermedirios ou hbridos. Portanto, no deve

    restar pedra sobre pedra: qualquer forma deproduo que se assemelhe camponesa deve

    inexoravelmente ser destruda pelo capital.

    (SILVA, 1986, p. 106).

    Entretanto, no se pode analisar a teoriamarxista para o campesinato de maneira ortodoxa,concluindo que o capitalismo ao penetrar no campoextinguiria por completo o modo de produo

    Key words:Family agriculture. Agroecology. Sustainable rural development.

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    campons familiar. Em algumas obras, Marx ao

    analisar as relaes sociais, faz referncia possibilidade de, em determinados contextos, serpossvel a sobrevivncia e reproduo do segmentocampons. Dessa forma, ainda segundo Silva, Marx,[...] apontava, sim, uma tendncia, mas umatendncia geral e estrutural para o desenvolvimentodo capitalismo no campo. Em escala social, o capitalexpropria os produtores familiares transformando-os,potencialmente, em trabalhadores assalariados.(SILVA, 1986, p.116).

    Embora no seja possvel encontrar um

    conceito especfico para o campesinato nas obras deMarx, nas anlises marxistas o campesinato tratadocomo uma classe social especfica denominada declasse para si, isto devido falta de coeso,representao poltica e de organizao entre seuscomponentes. Apesar de internamente no grupofamiliar haver harmonia entre os componentes,externamente este segmento no possui capacidadede organizao, fator este, que no os torna uma classesocial em si, que seria uma classe organizada

    politicamente com objet ivos definidos e atitudes

    engajadas na resoluo de seus problemas estruturaiscoletivos.

    Seguindo a linha do pensamento marxista,pos te ri or me nte, su rg em Lni n e Ka ut sk y,considerados neomarxistas, pois ampliaram a tese deMarx sobre o destino do campesinato nodesenvolvimento do sistema capitalista de produo.

    Lnin, revolucionrio russo e lder do PartidoComunista, ao analisar a realidade Russa, props sua

    tese de que o campons que, no possuiria um mnimode terra e de condies de trabalho necessrios reproduo da famlia num contexto capitalistatenderia a desaparecer. Reconhece, tambm, que oagricultor familiar possui apenas dois caminhos aseguir, ou se torna parte de uma burguesia agrriacom a obteno de mais terras tornando-se apenas

    pr op ri et r io do s me io s de pr od u o , ou serexpropriado, juntando-se a massa de trabalhadoresassalariados.

    J o terico poltico alemo Karl Kautsky

    estudou a superioridade das grandes exploraesagrcolas frente s pequenas, enfocando o processode aproximao da indstria na agricultura. Aoanalisar o livro a Questo Agrria de Kautsky,Abramovay (1992) afirma que, Kautsky procura

    provar teoricamente que ali onde os camponesessobrevivem, isso no sinnimo de eficincia, masde superexplorao, do fato de venderem seus

    produtos a preos que no cobrem sequer suasubsistncia (ABRAMOVAY, 1992, p. 46).

    Kautsky realiza sua anlise observando o

    campons da Idade Mdia, onde a unidade familiarera praticamente autnoma, pois, alm de cultivar os

    pr od ut os , po r me io da in d st ri a do msti catransformava-os em bens que necessitava. Neste caso,o mercado servia apenas para atender ou suprir suasdemandas secundrias no era exclusivamente deleque dependia a sobrevivncia da propriedade. Essacapacidade de organizao fortalecia a unidadefamiliar, considerada livre, uma vez que permitia aela reproduzir-se impulsionada por seus recursosinternos, no dependendo de subsdios oriundos

    externamente a unidade produtiva.

    Entretanto, com o desenvolvimento doprocesso capitalista e o fortalecimento da indstriaque, vai aos poucos penetrando no campo, surgemnovas necessidades. O que anteriormente era

    produzido/transformando pelos camponeses napropriedade, passa a ser produzido pela indstria e,portanto, para adquirir estes produtos o camponsnecessita de dinheiro, assim,

    Quanto mais tal processo avana, e mais se

    desagrega a indstria domstica a que se dedicava

    primitivamente o campons, tanto mais aumentaa sua necessidade de dinheiro, no apenas para a

    compra de coisas dispensveis, e mesmo

    suprfluas, mas tambm para a compra de coisasnecessrias. Ele no pode mais lavrar sua terra,

    no pode mais prover a sua manuteno sem

    dinheiro. (KAUTSKY, 1980, p. 3).

    Ne st e se nt id o, oc or re um movi ment o

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    contraditrio, ao mesmo tempo em que a indstria se

    une agricultura, acaba se distanciando dela (aindstria domstica). Aquela indstria domsticaprimitiva, onde o campons era livre para produzir oque necessitava deixa de existir. Surge, assim, umnovo padro de indstria que integra o agricultor aum nico processo produtivo, de carter urbano-industrial, tornando-o dependente, pois necessita dos

    produtos industrializados, justamente pelo fato de terdeixado de produz-los.

    Dessa forma, a aproximao da indstria coma agricultura cria duas situaes novas, aquela

    anteriormente citada, onde o agricultor torna-sedependente, e uma outra que aproxima as grandes

    propriedades da indstria, enquanto que as pequenasseriam cada vez mais marginalizadas, pois a infra-estrutura exigida pela indstria, para ser usada nas

    prticas agrcolas, demanda elevados investimentosmonetrios e o pequeno proprietrio, via de regra,no tem condies de adequar-se ao novo padro

    produtivo.

    Outro autor que se dedicou aos estudos da

    dinmica funcional da agricultura familiar foiAlexander Chayanov (1974), centrando sua anlisena estrutura interna da organizao familiar, consideraque este segmento desprovido de uma lgicacapitalista, a qual tem na produo a oportunidade deretirar mais-valia, por meio da explorao de mo-de-obra e pelos abusivos preos dos produtoscomercializados. A lgica camponesa, por outro lado, mediada por relaes no-capitalistas ouminimamente capitalistas, essa caracterstica

    primordial torna-se fundamental para se estudar este

    segmento, balizados por essas relaes que oscamponeses desenvolvem suas atividades, trabalhama terra e a consideram como patrimnio familiar.

    Para Chayanov, a produo familiar no seapresenta como uma forma residual, que no possuicapacidade de evoluo, mas se adapta, no interiordo sistema capitalista de produo de acordo com suas

    possibilidades, e por estar condicionada a este sistemaeconmico, muitas vezes, auto-explorada, sendoesta, a nica soluo para suprir suas necessidades.

    Assim, o agricultor se sujeita s demandas do

    mercado, no se impe, repensando suas estratgiasse o mercado exigir uma nova postura de trabalho(WANDERLEY, 1989).

    importante analisar que a auto-explorao uma caracterstica presente nas unidades de

    produo familiar. Quando o produtor necessi taaumentar sua renda para pagar um financiamento ouadquirir alguma mercadoria que melhore o confortoda famlia, por exemplo, ao contrrio da empresacapitalista que aumenta o valor do produto para omercado; o agricultor familiar aumenta a quantidade

    da sua produo, assim intensifica a fora de trabalho,se necessrio dobra sua jornada para a obteno dodinheiro necessrio.

    Outra contribuio importante de Chayanovfoi a criao da teoria da diferenciao demogrfica.A famlia, neste caso, orientada em suas estratgias,

    pelo nmero de pessoas que contribuem para asatividades necessrias manuteno da unidadefamiliar, a quantidade de fora de trabalho disponvelregula a quantidade de terra a ser adquirida e

    cultivada, bem como, as aspiraes que o agricultorprojeta pra o seu futuro. O equilbrio entre braos ebocas uma busca constante na agricultura familiar.Chayanov analisa esta questo na Rssia, quando asfamlias escolhiam o tamanho da propriedade a serexplorada de acordo com a mo-de-obra disponvel

    para o desenvolvimento das atividades agrcolas.

    Entretanto, em meio aos questionamentos,investigaes e suposies acerca do destino dasexploraes familiares, tem-se como primeiro desafio

    sua prpria conceituao. Estabelecer critrios quepermitam mensurar a lgica familiar de determinadaexplorao agrcola bastante complexo. ParaLamarche,

    A explorao familiar, tal como a concebemos,corresponde a uma unidade de produo agrcola

    onde propriedade e trabalho esto intimamente

    ligados famlia. A interdependncia desses trsfatores no funcionamento da explorao engendra

    necessariamente noes mais abstratas e

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    complexas, tais como a transmisso do patrimnio

    e a reproduo da explorao. (LAMARCHE,1993, p. 15).

    O segmento familiar apresenta-se comosingular e, portanto, remete a uma complexidadetambm peculiar, para ser possvel caracterizardeterminada explorao como familiar ou no familiarfaz-se necessrio que se tome como referncia vrioscritrios, que abranjam a amplitude das formas queeste segmento encontrou e encontra para se reproduzirem meio as relaes capitalistas de produo.

    Segundo Lamarche, as estratgias deproduo e reproduo da explorao familiar soorganizadas e pensadas mediante dois domnios, seu

    passado histrico, ou o modelo original, onde estopresentes suas razes culturais e um modo de vidamais tradicional e no outro extremo o que projetam

    para o seu futuro, o que e como pretendem desen-volver internamente na prpria unidade produtiva.Entretanto, o que balizar e determinar seu ritmo dedesenvolvimento para o que Lamarche denomina demodelo ideal,depende, tambm, da sociedade, do

    que ela elaborou para o segmento familiar,principalmente, no que se refere ao desenvolvimentode polticas pblicas, como acesso ao crdito, dissoque resulta o estado em que este segmento se encontra,seja de desenvolvimento, explorao ou at mesmoextino (LAMARCHE, 1993).

    Um aspecto importante e que tem contribudopara uma reorganizao das unidades produtivasfamiliares o processo de modernizao daagricultura que altera a face da organizao familiar

    tradicional, um desses traos que marcam estatransformao que, com o passar do tempo, aestrutura familiar marcada pela diminuio nonmero de filhos, isso deve ser pensado de maneiraintegrada ao modelo vigente que cria novasnecessidades onde a estrutura familiar anteriormenteconsolidada j no tem como suportar.

    Nas palavras de Wanderley, esta agriculturamoderna tem, a este respeito, uma dupla caracterstica:sua integrao, sob formas diversas aos mecanismos

    de mercado e aos processos de reproduo do capital

    e a abertura do mundo rural ao modo de vidamoderno (WANDERLEY, 1989, p. 25)

    Outro trao presente na organizao familiarde produo a mo-de-obra empregada nasatividades agrcolas, em determinados perodos doano quando a quantidade de trabalho se intensificaem especial nas pocas do plantio e na colheita da

    produo, tem-se a necessidade de aumentar a mo-de-obra disponvel o que faz com que o agricultorrecorra ao auxlio de membros de outras unidades

    produtivas, geralmente prximas a sua.

    Assim, as relaes de parentesco ou mesmoos laos afetivos de vizinhana acentuam-se e os

    produtores prestam auxlios uns para com os outros.Essa relao desprovida de qualquer lgicacapitalista, ou seja, como retribuio pela ajuda

    prestada o produtor que recebeu o auxlio em outraoportunidade retribui com sua prpria fora detrabalho (ou de algum outro componente da famlia)o auxlio recebido. Esse tipo de troca de servio conhecido como ajuda mtua.

    De maneira mais isolada e menos freqente,o produtor familiar recorre contratao de mo-de-obra para atender as demandas de trabalho da unidade,tal situao acontece, geralmente, quando os filhosesto pequenos e ainda no representam fora detrabalho agrcola ou ainda quando algum dosmembros da famlia est impossibilitado de se dedicars atividades produtivas. Este sistema de ajuda desprovido de qualquer contrato formal, e resume-sea execuo de trabalhos pontuais, ou que exigem

    poucos dias ou semanas para serem executados.

    A relao com a propriedade outro traomarcante no segmento da agricultura familiar, a noode propriedade, o apego a terra est muito presente.Geralmente, nessa mesma unidade produtiva queos antepassados do atual produtor viveram econstituram suas famlias, ainda a possibilidade detrabalhar a terra, cultivar os produtos que preferirconferem ao campons uma sensao de autonomiae uma relao intrnseca com sua unidade produtiva.

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    Dessa forma, torna-se inegvel que o

    segmento familiar movido por uma racionalidadecamponesa especfica e que se organiza e reorganizacom o intuito de permanncia no atual sistemaeconmico. Estas caractersticas intrnsecas aosegmento de produo agrcola familiar permitemaproxim-la aos princpios/estratgias dos ideais dasustentabilidade, favorecendo o surgimento de umanova perspectiva no espao rural, na busca por novasrelaes entre o homem e o ambiente, configurandonovas dinmicas nos mbitos sociais, econmicos eculturais no espao agrrio.

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E ASUA RELAO COM A AGRICULTURAFAMILIAR

    Na medida em que, aparentemente, ocorreuma homogeneizao espacial, comandada pelocapital internacional, que se polariza pelos diferentes

    pa s es , sob ressa em os cu st os ambi en ta is , e,principalmente, sociais. Entretanto, este padroprodutivo capitalista que busca se expandir tantosobre o espao urbano quanto rural, objetivando

    atingir taxas mximas de lucro, age de forma desigualnos lugares, pois estes apresentam nveisdiferenciados quanto capacidade de absorotecnolgica, condicionados por suas caractersticasintrnsecas e historicamente consolidadas. Estarelao dialtica resulta numa disparidade acerca das

    possibilidades de desenvolvimento local, que criadesigualdades entre as diferentes regies geogrficas.

    Assim, tem-se o uso indiscriminado dosrecursos naturais tanto dos renovveis quanto dos no-

    renovveis para dar suporte s aes da supra-estrutura poltica e da estrutura econmica na tentativade promover uma maximizao dos lucros. A lgicado capital nacional e/ou internacional , desta forma,sobreposta aos interesses locais.

    Nesse sentido, dadas as alteraes espaciaisocorridas, o espao pode ser considerado como umsistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado

    por sistemas de aes igualmente imbudos deartificialidade, e cada vez mais tendente a fins

    estranhos ao lugar e a seus habitantes (SANTOS,

    1997, p. 51).

    Essa artificializao do meio natural, nopoderia deixar de causar significativas alteraes nadinmica dos ecossistemas. Ao mesmo tempo em queo desenvolvimento da tcnica criou comodidades e

    proporcionou o desenvolvimento de um modo de vidamoderno (aos que, dispondo de recursos financeiros,conseguiram ter acesso a ele), em alguns locaisacarretou impactos negativos significativos ao meionatural, priorizando um padro de vida incompatvelcom a capacidade de regenerao da natureza.

    Diante desta problemtica, principalmente noque concerne ao uso e dilapidao dos recursosnaturais, surgem propostas alternativas dedesenvolvimento que privilegiam as vrias dimensesdo espao geogrfico (ambiente, sociedade, cultura,

    poltica, economia, etc.). importante destacar que,embora os problemas econmicos e sociais j fossem

    bastante representativos e graves ao longo do sculoXX, com a temtica ambiental, levantada pelosmovimentos ambientalistas, que se buscam novas

    estratgias de desenvolvimento e no mais ummodelo que seja sinnimo apenas de crescimentoeconmico.

    Nesse sentido, vive-se, atualmente, comodefendem alguns autores, um momento de transiode paradigmas que, de acordo com Becker umatransio que se revela nas mltiplas dimenses deuma crise decorrente do esgotamento do paradigmadominante e se pr-anuncia na emergncia de um novo

    paradigma (BECKER, 2002, p. 31).

    Este paradigma emergente, inicialmente,convencionou-se denominar de eco desenvolvimento,tendo como foco a implantao de um relacionamentomais harmonioso do homem com o meio natural.Posteriormente, o termo foi substitudo pordesenvolvimento sustentvel, distinguindo-se doanterior pelo seu carter auto-sustentvel(MONTIBELLER, 2004).

    Surge, assim, o termo desenvolvimento

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    sustentvel amparado na idia de repensar as formas

    de apropriao do meio natural pelo homem,elaborando novas estratgias produtivas na tentativade minimizar os custos socioambientais ocasionados

    pelo atual modelo produtivo. De diferentes formas edefendidas por distintos atores sociais, comoorganizaes-no-governamentais, cientistas, poder

    pblico e sociedade em geral, emerge a preocupaoacerca das necessidades de reviso dos efeitosdevastadores ocasionados pela explorao dosrecursos naturais pelo homem. Cabe destacar o papeldesempenhado pelos movimentos ambientalistas,organizados com mais intensidade por volta da metade

    do sculo XX, na busca pela preservao ambiental eque se revestem de importncia significativa paracontestar o modelo de desenvolvimento proposto paraas sociedades contemporneas.

    Segundo Montibeller (2004), no Brasil, apresena do ambientalismo deve ser situada nos anos1970, quando sociedade e estado passam a manterrelaes complementares e contraditrias, a sociedadecivil tende a pressionar o estado a adequar a legislaoem favor das causas ambientais. Ainda, segundo o

    mesmo autor, na dcada seguinte a disseminao dapreocupao social com a deteriorizao ambientaltransforma o ambientalismo brasileiro em ummovimento multissetorial e complexo(MONTIBELLER, 2004, p. 39).

    A partir da dcada de 1970 definem-se,tambm, em nvel mundial, aes que promovem odebate em torno do desenvolvimento sustentvel.Entre as principais destacam-se a Conferncia deEstocolmo em 1972, que chamou a ateno para a

    gravidade do desgaste ambiental frente a suaexplorao indiscriminada, a Conferncia Mundialsobre Conservao e Desenvolvimento, em 1986,realizada na cidade de Ottawa no Canad e, maisrecentemente, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro,no Brasil, realizou-se a Eco-92, tendo como principalresultado a construo de um conjunto de estratgiasde desenvolvimento que prezem por um novo padrode desenvolvimento, que seja o sustentvel, sendodenominada deAgenda 21. Sobre este ltimo eventoCandiotto e Corra (2004) esclarecem:

    O principal aspecto da Rio-92 foi a constituio

    de um espao pblico global com relativacapacidade para construir consensos sobre aquesto ambiental, alm da formulao da Agenda

    21 global, que indicaria as diretrizes para o

    desenvolvimento sustentvel no planeta.

    (CANDIOTTO ; CORRA, 2004, p. 268).

    A sustentabilidade percebida como uminstrumento de transformao com diferentes escalastemporais entre os autores. Para muitos, asustentabilidade considerada como um caminho, ummeio de se atingir outras formas de desenvolvimento,

    enquanto que para outros ela considerada como umresultado, j formatado, de uma nova abordagem dedesenvolvimento. De acordo com Becker,

    sustentabilidade deve ser compreendida como asmltiplas alternativas que cada localidade, regio

    ou nao tm, pelas suas diferenas culturais,

    ambientais e valores (ticos e morais) de se inserirno processo geral de desenvolvimento. Em outras

    palavras, sustentabilidade deve ser entendida comoa capacidade de uma regio em constituir seu

    padro de desenvolvimento, num padro de desen-volvimento diferenciado. (BECKER, 2002, p. 77).

    Esta viso pretende considerar asustentabilidade como um meio para se atingir umasituao de desenvolvimento pautado nas

    potencialidades locais, pensando-se assim em umsistema de desenvolvimento local e regional.

    A idia central em que est amparado o idealda sustentabilidade remete, de imediato, a uma viso

    sistmica onde possam ser contemplados todos osaspectos que conduzem ao desenvolvimento, asestratgias devem ser orientadas no sentido dereaproveitar os fluxos de matria e energia tantonaturais quanto s artificialmente criadas. O termodesenvolvimento reveste-se assim de um significadoqualitativo com a finalidade de atingir uma vida dignaa todos, pautado nas necessidades locais de cada

    populao com critrios preservacionistas quanto aouso dos recursos naturais disponveis (SALAMONI ,2000).

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    Um vis importante nas aes do

    desenvolvimento sustentvel refere-se tambm valorizao das potencialidades locais, sejam elasrelacionadas ao meio fsico, da propor oaproveitamento dos recursos paisagsticos (turismorural, por exemplo) ou, ao patrimnio cultural, pormeio da valorizao de uma herana cultural tpicade determinado lugar ou regio.

    Os agroecossistemas familiares tambmrepresentam traos compatveis com os princpios dodesenvolvimento sustentvel. A identificao e asistematizao destas caractersticas permitem o

    redesenho dos agroecossistemas, adaptando-os aosprincpios de uma nova proposta de desenvolvimento,que priorize os pilares da sustentabilidade.

    A AGRICULTURA FAMILIAR NO CONTEXTODO DESENVOLVIMENTO RURALSUSTENTVEL

    Diante das buscas por novos sistemasprodut ivos e organizacionais que pr imem porestratgias produtivas sustentveis, o segmento da

    agricultura familiar apresenta caractersticascompatveis com o iderio da sustentabilidade.

    Ao trabalhar movida por uma lgicaespecfica, a agricultura familiar possui valoresconstrudos na unidade produtiva, decorrentes de umasimbiose entre o ecossistema e o agricultor quetrabalha diretamente na terra. Desta forma, astradies culturais so fortemente influenciadas pelomeio, onde h uma significativa interao,representando um trao a ser mantido pelos sucessores

    do grupo familiar que, amparados por tcnicastradicionais, se relacionam mais harmoniosamentecom o ambiente natural em que desenvolvem suasatividades, tanto as relacionadas s atividades tcnicasna agricultura quanto s sociais.

    Estas caractersticas ganham maiorimportncia quando comparadas s exploraes

    patronais que, devido s suas prticas agrcolas e algica empresarial adotada nas atividades, tendem aocasionar significativos prejuzos ambientais

    (contaminao de mananciais hdricos pelo elevado

    uso de agrotxicos, esgotamento do solo, lixiviao,etc.) e sociais (baixo emprego de mo-de-obraocasionando o xodo rural, entre outrasconseqncias). De acordo com Franklin,

    Uma das principais diferenas entre o produtor

    familiar e o empresrio capitalista que o primeiro

    precisa produzir, de certa forma, independente-

    mente do mercado, pois ele e sua famlia vivem

    dos produtos da terra, enquanto que o segundo

    pode decidir mais livremente onde e como investir

    seu capital. Ao mesmo tempo, enquanto que o

    empresrio capitalista pode despedir empregadosconsiderados excedentes, numa lgica deracionalizao econmica, o produtor familiar no

    pode fazer o mesmo com seus trabalhadores,

    membros de sua famlia: seu comprometimentode trabalho pode ser considerado como total; seu

    objetivo maximizar a utilizao de trabalho em

    lugar de maximizar o lucro ou algum outro indicadorde eficincia (apud BRUMER, 1994, p. 90).

    O agricultor familiar torna-se, neste contexto,

    importante foco de transformao na medida em quepode alterar seus sistemas produtivos, seus cultivos,a utilizao de insumos, de acordo com suasnecessidades sem precisar contratar mo-de-obraextra. O grupo familiar que orienta as mudanas nosistema produtivo.

    A relao do agricultor familiar com sua terrano se pauta apenas na produo para acomercializao da produo, mas ele se identificacom o lugar que trabalha e vive. Em muitos casos, foi

    no mesmo pedao de terra que seus antepassadosviveram, o que torna o lugar carregado de umsentimento de posse e identificao (valoressimblicos). Nestes sistemas de organizao familiar,a ecologia no representa somente a base de suaestrutura de produo, mas uma dimenso abrangente,relacionada totalidade da vida do agricultor efundamento de reproduo social da famlia(CANUTO; SILVEIRA; MARQUES, 1994, p.61).

    Ainda de acordo com Canuto, Silveira e

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    Marques (1994) os agricultores familiares, a quem

    denominam de oikolgicos, representam grandepotencial para outro sistema de desenvolvimento,

    Em relao sua importncia enquanto grupo

    econmico, os oikolgicos so sistemas

    minoritrios e cada vez mais escassos. No entanto,

    representam as ltimas fontes preservadas de

    biodiversidade e do conhecimento necessrio para

    gerir tal diversidade em sistemas agrcolas

    complexos. Desse modo, so sistemas com

    potencial para fornecer informao gentica e

    tecnolgica para incrementar a sustentabilidade de

    outros sistemas. (CANUTO; SILVEIRA;MARQUES, 1994, p. 61 e 62).

    Neste sentido, o espao rural reveste-se deespecial interesse na medida em que fornece

    possibilidades para propiciar um desenvolvimentosustentvel que priorize os aspectos sociais, como aqualidade de vida das populaes. Tal situao deveser visionada por polticas pblicas adequadas quefomentem a substituio de tcnicas, a valorizaodas tradies locais, para a partir da ser possvel a

    construo de estratgias pautadas em potencialidadelocais e regionais, promovendo o desenvolvimentodo grupo local que encontra-se diretamente vinculadoa atividade desenvolvida.

    Quanto ao impacto da agricultura noambiente, intensificaram-se h alguns anos o debatesobre tcnicas de agricultura orgnica, com asubstituio de insumos convencionais poralternativos, que representa um importante recurso

    pa ra minimiza r o impacto no espao natura l,

    entretanto, para uma sistematizao mais eficiente doprocesso produtivo, a fim de concretizar um projetoagroecolgico, tornando-o sustentvel, necessrio

    pensar a ag ri cu ltur a nas suas mu lt if acet ad asdimenses, e o segmento de produo familiar queapresenta caractersticas nada desprezveis para estatransformao.

    CARACTERIZAO DO MUNICPIO DE

    PELOTAS/RS

    O municpio de Pelotas, considerando-se ascoordenadas geogrficas, situa-se entre os paralelosde 31 e 32 graus de latitude sul, estendendo-se de3120 a 3148, caracterizado assim por uma latitudemdia, inserido na zona temperada do sul (ROSA,1985) - conforme mapa 1. Ainda, de acordo com oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE,o municpio possui populao de 339.934 habitantes.

    O municpio de Pelotas apresenta

    caractersticas geogrficas bastante peculiares,inserido na Encosta do Sudeste, uma das regiesfisiogrficas do Rio Grande do Sul, seu territrio seestende das mais baixas ondulaes da encostaoriental da Serra dos Tapes at a plancie sedimentarda margem ocidental do Canal So Gonalo (ROSA,1985, p. 11).

    Neste sentido, este municpio caracterizadopor apresentar distintas configuraes espaciais nasua estrutura agrria. Apresenta pequenas unidades

    agrcolas, ou seja, de menor dimenso territorial,marcadas pela forte presena da agricultura familiarcom o desenvolvimento da policultura, nas reas commaiores declividades e no apropriadas para amecanizao. Neste espao, tambm, predomina acolonizao alem, italiana, pomerana, francesa, entreoutras.

    Por outro lado, na rea localizada na planciesedimentar h uma forte presena de lavourasempresariais, onde as grandes lavouras patronais so

    as principais representantes, configurando um espaogeometricamente organizado, sendo que a oriziculturapredomina como principal atividade produtiva e aformao tnica apresenta-se mais variada.

    O segmento que merece destaque, neste caso, o da agricultura familiar caracterizado pelo sistemaagrcola de policultura, com a produo de frutas,como o pssego, hortigranjeiros, e o fumo, entreoutros produtos. no segmento da agriculturafamiliar, que se apresenta bastante representativo no

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    A AGROECOLOGIA NO MUNICPIO DEPELOTAS

    No municpio de Pelotas foi a partir de 1984que se iniciaram as atividades relacionadas agroecologia. A Pastoral Rural (ligada Diocese daIgreja Catlica) comeou um trabalho de incentivo agroecologia junto aos produtores familiares domunicpio, por meio de cursos de formao, visitas aCentros de Agricultura Ecolgica e implementaode experincias locais, com trabalhos de refernciaem unidades familiares do municpio. No ano de 1995,a Pastoral Rural priorizou o trabalho de assessoria naorganizao dos agricultores que adotaram o sistemaagroecolgico, a fim de que estes pudessemcomercializar adequadamente seus produtos.

    Prestando assessoria aos grupos de pequenos

    agricultores no municpio, a Pastoral Rural buscadisponibilizar tcnicas alternativas sustentveis demanejo de culturas integrando os princpios de

    preservao ambiental com rendimentos satisfatriosna produo dos alimentos cultivados, buscandoainda, garantir a comercializao dos produtosvisando que o produtor rural obtenha renda emdetrimento da diferenciao de sua produo.

    A Pastoral firmou tambm convnio com oCentro de Apoio ao Pequeno Agricultor CAPA (SoLoureno do Sul), com o objetivo de oferecerassistncia tcnica, na rea da agroecologia, aos

    produtores familiares de Pelotas. Como resultadodesta ao conjunta, em 1995, foi fundada aAssociao Regional de Produtores Agroecolgicosda Regio Sul - ARPASUL e, em novembro do mesmoano, foi inaugurada a primeira feira de produtos

    municpio, que a produo de base agroecolgica

    encontra suas possibilidades de expanso facilitadas

    pelos elementos internos e externos da produo que

    caracterizam a agricultura familiar.

    Mapa 1 - Localizao do municpio de Pelotas/RS.

    Fonte: SIMON, A. L. H., 2007.

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    agroecolgicos da regio sul do estado, na cidade de

    Pelotas.

    Atualmente, a produo de base agroecolgica,dos produtores cadastrados que recebem assessoria daARPASUL da regio de Pelotas, destinada para afeira ecolgica realizada semanalmente na cidade e

    parte para os programas de bolsa alimentao dogoverno federal. Esto cadastradas na ARPASUL,recebendo assistncia tcnica na produo ecomercializao, em torno de 56 famlias de

    produtores rurais, distribudas nos municpios deCanguu, Pelotas, Morro Redondo e Capo do Leo.

    Destaca-se a importncia do Centro de Apoioao Pequeno Agricultor - CAPA como responsvel pelasistematizao da produo e extenso rural, oreferido centro foi fundado em 1978 pela IgrejaEvanglica de Confisso Luterana no Brasil IECLB,e suas atividades comearam em 1979 com aimplantao do escritrio no municpio de Santa Rosa/RS, ncleo este, que em 1988 foi transferido paraErechim/RS. No municpio de Pelotas, o CAPA surgiudepois da transferncia do escritrio de So Loureno

    para o municpio, no ano de 2001 (BUCHWEITZ ;MENEZES, 2003).

    O CAPA trabalha diretamente com osagricultores familiares abrangendo desde aspectostcnicos voltados para a extenso e auxlio na

    produo orgnica como aspectos sociais, engajandoos agricultores e fomentando sua formao poltica.Os princpios do CAPA esto diretamente vinculadosaos ideais da sustentabilidade, percebendo o potencialaltamente favorvel da agricultura familiar para a

    converso dos agroecossistemas convencionais emagroecossistemas de base agroecolgico. O Centrosistematiza suas aes no desenvolvimento deestratgias que consolidem uma estrutura de produoe comercializao dos produtos orgnicos por meiode metodologias participativas onde os agricultores

    participam ativamente do processo decisrio. Mesmotendo sido criado pela IECLB o CAPA trabalha comagricultores familiares de todos os credos e raas, semdistino poltico-ideolgica (BUCHWEITZ ;MENEZES, 2003, p. 192).

    Outra importante cooperativa que trabalha

    com a produo de base agroecolgica no municpio a Sul - Ecolgica. Uma cooperativa fundada emdezembro de 2001, surgindo a partir de associaes ecooperativas de agricultores familiares da regio suldo Rio Grande do Sul, como necessidade frente aomodelo de modernizao da agricultura que seintensificava no meio rural.

    No total, a cooperativa possui 250 associados,sendo 67 pertencentes ao municpio de Pelotas, e osdemais se distribuem pelos municpios de Canguu,Herval, So Loureno do Sul, Turuu, Capo do Leo,

    Arroio do Padre e Morro Redondo. A cooperativatambm possui um significativo nmero de associadosconstitudos de assentados da reforma agrria eremanescentes de quilombolas. A Sul - Ecolgica

    busca fomentar a produo ecolgica incentivandosua produo e sistematizando a comercializao damesma, ainda, agregar valor aos produtos daagricultura familiar melhorando a qualidade de vidano meio rural, formando e capacitando seusassociados para a agroecologia.

    O nmero total de associados da cooperativaSul-Ecolgica no municpio de Pelotas de 67agricultores, entretanto, em uma mesma famlia encontrado mais de um scio, o que reduz o nmerode famlias que trabalham com a produo de baseagroecolgica deste total de 67 associados.

    METODOLOGIA DA PESQUISA

    Para a efetivao do projeto foi realizada umareviso terica sobre o segmento da produo agrcola

    familiar e sobre os princpios terico-metodolgicosda agroecologia, a fim de fornecer subsdios para ainterpretao e confrontao das teorias existentescom a realidade emprica encontrada, no caso, arealidade dos produtores familiares de baseagroecolgica do municpio de Pelotas/RS.

    Para um diagnstico da atual situao em quese encontram os produtores do municpio e a produode base agroecolgica foram utilizados dadosfornecidos por fontes secundrias como a cooperativa

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    Sul - Ecolgica, alm do Centro de Apoio ao Pequeno

    Agricultor CAPA do municpio de Pelotas. importante justificar a escolha da cooperativa Sul -Ecolgica como consulta para base cadastral, pois issose deve ao fato que esta cooperativa a que possui omaior nmero de associados que trabalham com a

    produo orgnica do municpio e tambm seucadastro de produtores apresenta-se bastantecompleto, com informaes como localizao/endereo das unidades produtivas.

    Para conhecimento da realidade empricaforam realizadas entrevistas baseadas em roteiros

    semi-estruturados que possibilitassem abranger atotalidade das variveis a serem analisadas no projeto(indicadores sociais, tcnicos e de produo). Asentrevistas foram realizadas com 11 agricultores ecomo se trata de um estudo de caso, no foi utilizadonenhum mtodo estatstico de carter quantitativo

    para definio da amostra, mas, um mtodo amostralqualitativo, que possa dar conta da abrangncia devariveis previamente definidas a serem investigadas.

    PERFIL DA PRODUO DE BASE

    AGROECOLGICA DO MUNICPIO DEPELOTAS/RS

    No caso analisado no municpio de Pelotas,encontramos um total de 27 pessoas das famlias quetrabalham diretamente na produo de baseagroecolgica, desenvolvendo todas as atividadesnecessrias, desde a produo at a colheita dos

    produtos, esta quantidade bastante baixa visto queencontramos uma mdia de menos de 03 pessoas porfamlia, em cada unidade produtiva.

    Entretanto, em apenas 02 unidades foi citadaa utilizao de mo-de-obra externa, esta fora detrabalho apenas empregada temporariamente,quando as atividades agrcolas apresentam-se maisintensas. Esta caracterstica central deste tipo deorganizao, o uso da mo-de-obra familiar um traofundamental na organizao familiar de produo.

    A faixa etria do grupo familiar bastantediversificada, mas, apenas em uma famlia foi

    encontrada uma pessoa acima de 60 anos de idade, o

    grupo mais representativo foi encontrado entre a faixaetria de 50 a 60 anos, representando 10 pessoas dototal de que compem os grupos familiares. Pode-se

    perceber assim, que no caso analisado h um processode envelhecimento do campo, pois, mesmo seapresentando significativamente o grupocompreendido entre os 11 e 30 anos, as pessoas destafaixa etria, geralmente, so os filhos de agricultoresque, posteriormente, tendem a abandonar a unidade

    produtiva, principalmente no caso das filhas, que sedirecionam para a cidade na busca de empregos e/ou

    para continuarem seus estudos.

    A escolaridade das pessoas que compem ogrupo familiar considerada baixa, entre os

    proprietrios, apenas 01 possui o ensino superiorcompleto, a mesma quantidade encontrada para oensino mdio incompleto, enquanto que 02

    proprietrios possuem o ensino mdio completo, e07 proprietrios possuem apenas o ensinofundamental incompleto, caracterizado muitas vezessomente pela concluso das sries iniciais. Todas ascrianas e adolescentes que compem o grupo familiar

    dos produtores de base agroecolgica em idadeescolar freqentam a escola regularmente.

    Em relao rea fsica das unidadesfamiliares, de acordo com a tabela 1, percebe-se queas mesmas no possuem uma rea fsicarepresentativa, 07 unidades apresentam rea entre 01e 10 hectares, sendo que deste total, 05 unidades

    possuem rea inferior a 05 hectares, ainda, no foiencontrada nenhuma unidade de produo queultrapassasse os 40 hectares. Esta caracterstica no

    caso especfico da produo de base agroecolgicareveste-se de importncia, pois facilita a transiototal do agroecossistema de uma agriculturaconvencional para o de base agroecolgica.

    Ao analisar as possibilidades dedesenvolvimento da agroecologia relacionada suaescala de ocorrncia, Gliessman afirma:

    Os princpios agroecolgicos so melhor aplicados

    em uma escala relativamente pequena. Isso

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    No que concerne ao nmero de anostrabalhados com as atividades de base agroecolgicatodos os produtores entrevistados trabalham h 03 anosou mais com estas atividades (01 agricultor desenvolveatividades h 03 anos; 04 produtores trabalham h 04anos; 05 produtores trabalham h 03 anos; 01 produtortrabalha com a produo de base agroecolgica h06 anos e 02 j fazem h mais de dez anos).

    Quanto aos produtos cultivados pelos

    agricultores, apenas uma agricultora cultiva frutascom objetivo comercial, como amoras e goiabas, queso transformadas em suco e, posteriormente,comercializado na sede da cooperativa Sul-Ecolgica.Os demais agricultores entrevistados desenvolvematividades produtivas ligadas olericultura (cenoura,

    beterraba, repolho, couve-flor, etc .). Assim, 09produtores cultivam tanto olericulturas quanto frutas(comercializadas eventualmente, quando disponveisna unidade produtiva) e apenas 2 produtores cultivamsomente olericulturas.

    A criao de animais considerada comoatividade secundria, e os produtos dela obtidos soconsumidos diretamente na unidade produtiva, sendoeventualmente destinados ao consumidor externo. Onico produto que adquire importncia para acomercializao o leite, que em alguns casos umadas principais fontes de renda para os agricultores.

    A produo de base agroecolgica adquireimportncia econmica para as famlias do municpio

    de Pelotas, quando os agricultores foram perguntadossobre qual(is) recurso(s) representava ourepresentavam as principais fontes de receita daunidade produtiva, as olericulturas foram citadas 07vezes, a fruticultura 05 vezes, seguida pelaaposentadoria e pelo leite que representam 04respostas cada um.

    Nota-se que os agricultores possuem mais deum produto entre os principais responsveis pela

    renda da famlia. Neste sentido, pode-se inserir aproduo de base agroecolgica no contexto dasestratgias econmicas de reproduo da agriculturafamiliar como alternativa de renda para os agricultoresdo municpio. A renda gerada pela comercializaodos produtos fundamental no contexto das unidades

    produtivas familiares.

    Ainda pode-se perceber o desenvolvimentoda produo de base agroecolgica no municpio dePelotas, 06 agricultores entrevistados trabalhamapenas com a produo de base agroecolgica, emcontrapartida, 05 trabalham com produo de baseagroecolgica e com algum outro produto em sistemaconvencional. Esta ainda uma barreira a sersuperada, pois alguns produtores ainda se dividementre a produo de base agroecolgica e aconvencional que exige altos ndices de agrotxicos,como a produo de fumo.

    A produo de base agroecolgica destinada,de acordo com a tabela 2, em sua maioria, para o

    encoraja a produo para o consumo regional, em

    vez da exportao. So tambm mais compatveiscom formas mais equitativas de propriedade da

    terra e de repartio dos benefcios econmicos,

    do que com a concentrao de terras agrcolas nasmos de poucos. (GLIESSMAN, 2005, p. 609).

    Tabela 1 - rea fsica das unidades familiares de base agroecolgica no municpio de Pelotas/RS.

    rea Fsica das Unidades (ha) N de Unidades Produtivas

    01 10 07

    11 20 02

    21 30 01

    31 - 40 01

    Fonte: Trabalho de campo, 2007.

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    Programa de Aquisio de Alimentos - PAA, sendo

    que 10 produtores destinam sua produo para esteprograma. O Programa de Aquisio de Alimentos uma ao do governo federal que, busca garantir oacesso aos alimentos em quantidade, qualidade eregularidade necessrias s populaes em situaode insegurana alimentar e nutricional e promover aincluso social no campo por meio do fortalecimentoda agricultura familiar. (Ministrio doDesenvolvimento Social e Combate Fome, 2007).

    As feiras livres representam um importantedestino para a produo de base agroecolgica, sendo

    que 04 produtores comercializam em feiras que sorealizadas semanalmente no centro da cidade dePelotas. J o comrcio atacadista representa, para 03

    produtores, um meio de escoamento da produo eno posto de comercializao, localizado na sede daCooperativa Sul Ecolgica, so comercializados,no varejo, os produtos de base agroecolgica domunicpio.

    Ao analisar o perfil do feirante ecolgico domunicpio de Pelotas, Sacco dos Anjos, Godoy e

    Caldas (2005) escrevem que,

    [...] os feirantes ecolgicos trabalham com base

    em princpios associativos. Sob uma mesma lona,

    vendem seus produtos e respondem pela gesto

    do espao de comercializao, assim como por

    etapas que envolvem a logstica de funcionamento

    do ponto de vista da coleta dos produtos junto spropriedades rurais. (SACCO DOS ANJOS;GODOY; CALDAS, 2005, p. 145).

    Este princpio de cooperao perceptvelentre os agricultores do municpio, estes se ajudammutuamente desde o processo de recolhimento da

    produo no interior do municpio at no momentoda comercializao na cidade. Esta cooperao insere-se no contexto das estratgias para os agricultores,na medida em que organizados em grupos, ele podemdiversificar a oferta de produtos oferecidos.

    importante destacar que os agricultorespossuem mais de um local para comercializao edependendo do ritmo de sua produo podem possuirdois ou trs locais de comercializao, a fim deconseguir mercado consumidor que possa absorver aquantidade de produtos disponveis.

    Apenas uma famlia entrevistada destina suaproduo por meio de entrega diretamente com ocomrcio varejista, principalmente em fruteiras,

    realizada 2 ou 3 vezes durante a semana. Esta mesmafamlia a que apresenta o maior grupo familiar entreos agricultores entrevistados, ou seja, como possuimo-de-obra suficiente tende a produzir mais e aencontrar outros meios para comercializar seus

    produtos.

    Tabela 2 - Destino da produo de base agroecolgica dos agricultores do municpio de Pelotas/RS.

    Destino da produo N de Unidades Produtivas

    Comrcio atacado 02

    Feira Livre 04Ponto de venda na Cooperativa 03

    Programa de Aquisio de Alimentos/PAA 10

    Fonte: Trabalho de campo, 2007.

    Sobre a rede de comercializao organizadapela cooperativa, os agricultores a considerambast ante importante , po is , de acordo com umagricultor, tu tira o atravessador que um dos

    problemas que o pequeno agricultor tem (Agricultor

    A, pesquisa de campo, 2007). Outra produtoracomenta: A melhor forma que foi implantada essa

    pela cooperativa que junto com o prprio agricultorresolve e no tem intermedirio, ele produz ecomercializa (Agricultora B, pesquisa de campo,

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    2007), referindo-se feira ecolgica organizada pela

    cooperativa.

    Para o trabalho nas lavouras, de acordo coma tabela 3, as atividades so basicamente manuais, osagricultores no possuem maquinrio agrcola emnmero representativo. Apenas 03 produtores

    possuem trator, 09 possuem pulverizador, 09 possuem

    arado, 10 possuem grade e apenas 04 possuem

    motoserra. Os equipamentos, como o arado e a grade,so movidos trao animal. Como apenas 03produtores possuem trator, os demais preferem pagarpor hora de servio utilizada com o trator de umvizinho, pois seu uso ocorre de maneira limitada, e,assim, no h custos com manuteno doequipamento.

    Tabela 3 - Tipo e nmero total de equipamentos agrcolas utilizados na produo de base agroecolgica nomunicpio de Pelotas/RS.

    Tipo de equipamento N total de equipamentos encontrados

    Trator 03

    Pulverizador 09

    Arado 09

    Grade 10

    Motoserra 04

    Fonte: trabalho de campo, 2007.

    Para o cultivo dos produtos, todos osprodutores entrevistados (11 agricultores) recebemassistncia tcnica dos agrnomos e tcnicos agrcolas

    do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor/CAPA quetrabalha juntamente com a Sul-Ecolgica na

    promoo da produo de base agroecolgica, 03produtores tambm recebem assistncia tcnica dergos pblicos como a Empresa de AssistnciaTcnica e Extenso Rural - EMATER e da EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA.

    O uso da assistncia tcnica ocorre 01 vez acada dois meses por 05 agricultores, 01 vez por ms

    por 04 agricultores, 01 vez a cada trs meses por 01

    agricultor, e apenas 01 agricultor respondeu queutiliza a assistncia tcnica 01 vez ao ano. Em muitoscasos, a assistncia tcnica no possui regularidade,os tcnicos so chamados de acordo com asnecessidades dos agricultores.

    importante destacar, tambm, que alm daassistncia tcnica na unidade produtiva, aCooperativa Sul - Ecolgica realiza palestras ereunies na sede das comunidades ou na casa dealgum produtor onde os demais se renem para

    discutir meios de comercializao e outros aspectosrelacionados produo de base agroecolgica.

    Os agricultores consideram importante acooperativa, no apenas pelas possibilidades deassessoria, mas pela cooperao coletiva que ela

    prop or ciona na bu sc a po r idea is comu ns aosagricultores, de acordo com um agricultor o grupo importante pois, por meio dele,

    Os agricultores conseguem melhoresincentivos, eles podem sentir que eles tambm tmfora, tem poder estando organizados, e uma coisa um sozinho pedindo e outra coisa onde vrias

    pessoas que reivindicam, cobram, ento um pesomaior quando tu tem um nmero maior de pessoas.(Agricultor C, pesquisa de campo, 2007).

    Neste sentido quando perguntados em quantoscursos, palestras ou atividades tcnicas os agricultores

    pa rt ic ipar am no l ti mo an o, 8 agri cu ltor esresponderam que participaram de duas a cinco destasatividades e 3 responderam que participaram em maisde 5 cursos, palestras ou atualizaes tcnicas.

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    Os agricultores tambm utilizam

    financiamento para sua produo, 07 produtoresutilizam o Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar/PRONAF, de origem federal, 01

    produtor utiliza financiamento de origem estadual,01 produtor utiliza financiamento da Cooperativa deCrdito Rural com Interao Solidria (destinado paraconstruo de benfeitorias) e 04 produtores noutilizam financiamento para produzir.

    O que merece destaque que nenhum produtorutiliza o PRONAF Agroecologia, que uma linha decrdito destinado especificamente para a produo de

    base agroecolgica ou, para a converso de produoconvencional em agroecolgica. De acordo cominformaes disponveis no site do Banco Nacional deDesenvolvimento Econmico e Social (2007), oPRONAF agroecologia, considerado um apoiofinanceiro para agricultores familiares enquadrados nosGrupos C, D ou E, destinado ao investimentoem sistemas de produo agroecolgica, incluindo-seos custos relativos implantao e manuteno doempreendimento (Banco Nacional deDesenvolvimento Econmico e Social, 2007).

    A diferenciao de grupos do PRONAFocorre devido a diversidade da renda do agricultor.Assim, O PRONAF Grupo C beneficia os agricultoresfamiliares com renda familiar anual bruta superior aR$ 4 mil e inferior a R$ 18 mil; o Grupo D especfico

    para agricultores que possuem uma renda familiaranual bruta superior a R$ 16 mil e at R$ 45 mil; oGrupo E abrange os agricultores com renda familiar

    bruta entre R$ 50 mil at o limite de R$ 110 mil.

    Riechel considera que,

    O Programa foi lanado oficialmente pelo governobrasileiro em 1995, como uma linha especial de

    crdito de custeio, denominada de Plano Nacional

    da Agricultura Familiar (PLANAF). Suainstitucionalizao e regulamentao como

    programa governamental ocorreu em junho de

    1996, quando passou a integrar o Oramento Geralda Unio. Em 1999, passa a ter a denominao

    atual. (RIECHEL, 2006, p. 08 e 09).

    Ainda, sobre o PRONAF, Sacco dos Anjos

    escreve que foi concebido como programa destinadoa potencializar o desenvolvimento rural, tendo naagricultura familiar o referente e eixo central desustentao, orientando-se fundamentalmente rumo gerao de emprego e renda no meio rural.(SACCO DOS ANJOS, 2003, p. 272)

    Acerca das dificuldades relacionadas agricultura e produo de base agroecolgica, osagricultores, apesar de considerarem que sua vida temmelhorado nos ltimos anos e que a associaorepresentou um significativo avano na organizao

    da cadeia produtiva dos produtos, reconhecem queainda existem dificuldades que, se superadas,

    promoveriam o desenvolvimento da produo.

    As dificuldades relacionadas ao acesso aocrdito, insumos e quanto ao local de comercializaoda produo foram as mais citadas, posteriormente,aparecem as dificuldades relacionadas falta de mo-de-obra para trabalhar nas atividades agrcolas e asrelacionadas s pesquisas, principalmente as demercado para diagnstico das demandas do mesmo,

    o que possivelmente favorecer uma melhorcomercializao dos produtos. A dificuldaderelacionada assistncia tcnica foi citada apenas umavez, o que representa um fator positivo, visto que osagricultores esto amparados pela Cooperativa Sul-Ecolgica e pelo Centro de Apoio ao PequenoAgricultor.

    CONSIDERAES FINAIS

    No caso especfico do municpio de Pelotas -

    RS, constatou-se que a produo de baseagroecolgica est se expandindo ao longo do tempo,tanto no aspecto quantitativo, em relao ao nmerode produtores trabalhando nesta atividade, quanto nadiversidade dos produtos cultivados disponveis paracomercializao.

    Para tanto, destaca-se a importncia daCooperativa Sul-Ecolgica e do Centro de Apoio aoPequeno Agricultor CAPA, entre outrasOrganizaes No-Governamentais e cooperativas,

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    para a sistematizao da produo e comercializao

    dos produtos. Surgida devido necessidade de umaorganizao dos produtores a Sul - Ecolgica iniciouseus trabalhos voltados diretamente para o estmuloda produo agroecolgica no municpio.

    As unidades produtivas apresentam, em suamaioria, menor dimenso territorial o que representaa possibilidade de uma converso total em seussistemas agrcolas, de convencionais paraagroecolgicos. Isto se justifica pelo prprio interessedos agricultores, visto que, todos eles responderamque tm interesse em ampliar sua produo se

    houvesse um suporte tcnico e um sistema decomercializao que absorvesse os produtoscultivados.

    Quanto diversidade da produo, apesar dorelativo aumento, percebe-se que ainda est restritaaos hortigranjeiros, pois estes produtos necessitamde menor emprego de mo-de-obra durante o cultivo.A disponibilidade de mo-de-obra reflexo dasituao do grupo familiar que, em sua maioria, noapresenta um nmero significativo de componentes

    para real izar as atividades agrcolas e, os filhosdividem seu tempo entre o trabalho na unidade

    produtiva e a escola. Ainda, em alguns casos, os filhosmais velhos deixaram a propriedade, seja para estudarou trabalhar, no podendo ser contabilizados comofora de trabalho disponvel.

    Percebeu-se que a dificuldade decomercializao ainda um problema encontrado

    pelos ag ri cu ltor es , aind a qu e a coop er at ivadesempenhe a funo de mediar as relaes entre

    produtores e consumidores, se faz necessrio ampliartanto o volume da produo, quanto a sua diversidade,garantindo um mercado estvel que atenda asnecessidades de escoamento da produo.

    No que se refere relao entre a agriculturade base agroecolgica, praticada no municpio e, os

    pilares da sustentabilidade, algumas lacunas ficamevidentes. Amparada nos pilares da sustentabilidadea agroecologia prope uma maior amplitude dos

    benefcios gerados pela agricultura e os setores que a

    ela se vinculam, como mercado consumidor, origem

    dos insumos, disponibilidade e acesso a crdito rural,entre outros. Porm, no caso analisado, percebe-seque os sistemas produtivos esto muito mais prximosde uma agricultura orgnica (de carter mais tcnico)do que propriamente da agroecologia que expandeos benefcios da agricultura para alm do campo e daorganizao da produo.

    Ainda, para a concretizao da organizaode um sistema agroecolgico, portador detransformaes econmicas, polticas esocioambientais, a agricultura como um todo deve

    tornar-se verdadeiramente sustentvel e, os aspectosda produo, distribuio e consumo de alimentos

    precisam estar compatveis com os pressupostos daagroecologia.

    Conclui-se afirmando que, no municpio dePelotas, a agroecologia apresenta possibilidades dedesenvolvimento, desde que sejam efetuadas aesconjuntas entre agricultores, cooperativas/associaese a comunidade em geral. Cabe, de imediato, ao poder

    p bl ico ga ra nt ir ma io re s in cent iv os a es te s

    agricultores e democratizar as linhas de crdito paraque facilite o acesso dos agricultores s mesmas,criando condies para que os princpios da produoagroecolgica possam ser adotados pelo segmento daagricultura familiar.

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