a voz de rio das pedras - n º 20

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A MAGIA E A ARTE DA CAPOEIRA NA COMUNIDADE PÁGINAS 2 e 3 INFORMAÇÃO E CIDADANIA ANO I - N 0 20 - RIO DE JANEIRO, 25 DE ABRIL DE 2014 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PÁGINA 7 Ex-professora do Caic Euclides da Cunha, Lêda Franco tem projeto para Rio das Pedras voltar a ser a favela mais limpa da cidade. FOTO DE FABIO COSTA PÁGINA 6 Com os tênis doados por um empresário, nosso maratonista Edmilson. da Areinha, vai aposentar o que usa há seis anos . FOTO DE FABIO COSTA FOTO DE FABIO COSTA FOTO DE FABIO COSTA LAVA-PÉS FOI O PONTO ALTO DA SEMANA SANTA PÁGINAS 4 e 5 Moradores da Rua Velha, o Grão-mestre Katatau e a esposa dele, Mestre Furacão, ensinam no auditório do Caic a prática de um esporte de origem africana, hoje patrimônio imaterial do Brasil. PÁGINA 6 Padre Márcio André, vigário paroquial da comunidade, celebra o lava-pés das Crianças, que simboliza o gesto de doação de Jesus Cristo. NOSSA VOZ FAZ UM ANO QUERENDO VIRAR BAIRRO PÁGINA 8 Elias, capitão do time, aponta para a câmera comemorando o seu gol de cabeça, que deu a vitória ao Juventude. Organizador do principal campeonato de futebol, o "Brasileirão" de Rio das Pedras, Fernando Estanislau mostra que essas velhas e apodrecidas balizas vão virar lembranças do passado. O Primeiro Campo vai passar por uma reforma completa. Seguindo as regras do padrão Fifa de qualidade, vai ganhar grama sintética e arquibancada. FOTOS DE FABIO COSTA MARTELÃO VIRA ARENA RIO DAS PEDRAS. PADRÃO FIFA JUVENTUDE, DE VIRADA ENGOLE BOCA: 3 A 2 Este jornal completa, com esta edição, um ano de circulação quinzenal ininterrupta. Criado para ser a voz da comunidade, tem o objetivo de transformar-se numa ferramenta de luta para melhorar a qualidade de vida de moradores e comerciantes, com a criação da Associação Comercial e a transformação de Rio das Pedras em bairro.

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Page 1: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - N º 20

A MAGIA E A ARTE DA CAPOEIRA NA COMUNIDADE

PÁGINAS 2 e 3

I N F O R M A Ç Ã O E C I D A D A N I AANO I - N0 20 - RIO DE JANEIRO, 25 DE ABRIL DE 2014 DISTRIBUIÇÃO GRATUITAPÁGINA 7

Ex-professora do Caic Euclides da Cunha, LêdaFranco tem projeto para Rio das Pedras voltara ser a favela mais limpa da cidade.

FOTO DE FABIO COSTA

PÁGINA 6

Com os tênis doados por um empresário,nosso maratonista Edmilson. da Areinha, vaiaposentar o que usa há seis anos .

FOTO DE FABIO COSTA

FOTO DE FABIO COSTA

FOTO DE FABIO COSTA

LAVA-PÉS FOI O PONTOALTO DA SEMANA SANTA

PÁGINAS 4 e 5

Moradores daRua Velha, oGrão-mestreKatatau e aesposa dele,Mestre Furacão,ensinam noauditório do Caica prática de umesporte deorigem africana,hoje patrimônioimaterial doBrasil.

PÁGINA 6

Padre Márcio André, vigário paroquial dacomunidade, celebra o lava-pés das Crianças,que simboliza o gesto de doação de Jesus Cristo.

NOSSA VOZ FAZ UM ANOQUERENDO VIRAR BAIRRO

PÁGINA 8

Elias, capitão do time, aponta para acâmera comemorando o seu gol decabeça, que deu a vitória ao Juventude.

Organizador do principal campeonato de futebol, o "Brasileirão" de Rio das Pedras, Fernando Estanislau mostraque essas velhas e apodrecidas balizas vão virar lembranças do passado. O Primeiro Campo vai passar por umareforma completa. Seguindo as regras do padrão Fifa de qualidade, vai ganhar grama sintética e arquibancada.

FOTOS DE FABIO COSTA

MARTELÃO VIRA ARENA RIO DAS PEDRAS. PADRÃO FIFAJUVENTUDE, DEVIRADA ENGOLE

BOCA: 3 A 2

Este jornal completa, com esta edição, um anode circulação quinzenal ininterrupta. Criado para ser a voz da comunidade, tem oobjetivo de transformar-se numa ferramenta

de luta para melhorar a qualidade de vida demoradores e comerciantes, com a criação daAssociação Comercial e a transformação deRio das Pedras em bairro.

Page 2: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - N º 20

RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

2RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

3Temos como objetivos a criação de umaassociação comercial e a transformaçãode Rio das Pedras em bairro.

Uma grande caminhada começa com o primeiro passo. Com apoio da comunidade, já demos esse primeiro passo.

A edição que começou a circular dia 16 de agosto marca no início da nossa cobertura dos eventos esportivos.

Há previsão de construir mais uma escola e uma Clínica da Família em Rio das Pedras até o fim do mandato do prefeito Eduardo Paes.

� Cartas para a redação de A Voz de Rio das Pedras, a/c do Núcleo deCidadania, Rua Nova n0 105, loja 2. e -mails para [email protected]

O morador Augusto Leal enviou-nos aseguinte mensagem: “Parabéns por ter esse novomeio de comunicação a serviço da comunidadede Rio das Pedras. Li a mensagem do moradorLeo Tigrãosugerindo a entrada dos ônibus dalinha 863 no Terminal Alvorada. Antes não teriamuita utilidade, mas com a inauguração do BRTTransoeste seria um meio de integração para aZona Oeste. Essa linha sai do Rio das Pedras paraa Barra da Tijuca. Quem trabalha no Recreiodepende do 880, que é muito demorado.Quando precisamos embarcar nos ônibus daTransoeste pedimos ao motorista para nosdeixar próximo. Muitos não param por ser pistade trânsito rápido e poderia causar um acidente,além de acarretar multas. O secretário CarlosOsório deixou a secretaria para se candidatar aum cargo político. Pedimos que esse novosecretário atenda nosso pedido.

Nota da Redação:O secretário Carlos Osóriodeixou a secretaria e também deixou de atendernosso pedido. Sequer deu uma satisfação àcomunidade. Estamos questionandonovamente a Secretaria Municipal deTransportes, já que a Redentor, concessionáriada linha, informou ao nosso jornal que éreceptiva à sugestão, mas depende deautorização da prefeitura para atendê-la. E mais:assim que o LeoTigrãonos enviou o e.mail, noinício de março, também entramos comsolicitação para mudança do itinerário da linha863 no portal 1746 da prefeitura (Protocolo5626750-4). Antes de fecharmos esta edição,consultamos o status da nossa solicitação àprefeitura que, por sua vez, informou que oprocesso estava “concluído, fechado comsolução". Mas tal informação não procede. Osetor de planejamento da Viação Redentor nãoestá ciente a respeito do assunto, não recebeucomunicado da SMTU para tal alteração. Parecebrincadeira a forma como o cidadão é atendidopelos burocratas.

Temos novo subprefeitoA Assessora de

Imprensa daSubprefeitura da Barra eJacarepaguá envioumensagem informandoque desde sexta-feira, dia4 último, o subprefeito éAlex Costa (foto). Ele substituiTiago Mohamed, que decidiu seguir carreirapolítica. A nossa A Voz de Rio das Pedrasperguntou ao novo subprefeito quais os seusprojetos para a nossa comunidade. Em resposta,Alexdisse que vai tocar os que já estão emandamento. E afirmou: “Há previsão deconstruir mais uma escola e uma Clínica daFamília até o fim do mandato do prefeitoEduardo Paes. Mas outras questões tambémpoderão entrar na pauta. O reforço na coleta delixo e na manutenção das vias já está naprogramação.”

Nota da Redação: Vamos cobrar essaspromessas do novo subprefeito, com quem acomunidade espera manter um franco diálogo eproveitosa relação.

Comlurb quer parceriaA gerente de Comunicação Empresarial da

Comlurb, Ana Rebouças,enviou-nos a seguintemensagem: “Parabéns pela edição e obrigadapela ótima matéria. A Comlurb está realmenterealizando um trabalho bacana na área. Novodiretor, novo gerente, novo gás! Super obrigada,ainda, pelo anúncio de conscientização. Parceriaimportantíssima.”

Elogio à nossa equipeDa moradora Soly Lopes,coordenadora de

projetos sociais na comunidade, recebemos aseguinte mensagem: “Deus tem colocadopessoas maravilhosas em nossa comunidade,com informações, cultura, amor ao próximo e,principalmente, humildade. Toda equipe dojornal A Voz de Rio das Pedrasé especial.Parabéns pelo trabalho.”

A VOZ DOLEITOR

CLASSIFICADOS GRÁTIS!

www.avozderiodaspedras.com.br

A partir dos próximos números, este jornal vai reservar espaço para que você,morador ou comerciante de Rio das Pedras, possa anunciar bens, serviços ouprodutos que esteja disposto a alugar, vender ou, simplesmente, doar. Bastaque seja um texto curto e grosso, que vamos publicar de graça. Se quiser"vender seu peixe", encaminhe o anúncio para o setor de classificados para oe-mail [email protected]!

EXPEDIENTEEDITOR-CHEFE Aziz Ahmed(Reg. 10.863 - MTPS)[email protected]

EDITOR EXECUTIVOLaerte Gomes [email protected]

CHEFE DE REPORTAGEMJosé Antonio Gerheim [email protected]

CONSULTORES Cláudia Franco CorrêaIrineu SoaresMaria Etatiane Costa BarrosoJuliana Barcellos da Cunha e Menezes

FOTOGRAFIA Fábio [email protected]

TRATAMENTO DE IMAGENS Eduardo JardimANALISTA DE MÍDIA E WEBMASTERClaudia [email protected]

Uma publicação da Livraria e Editora Citibooks Ltda.CNPJ: 05.236.806/0001-5 Rua Jardim Botânico, 710,CEP 22.460-000para a Associação Comercial do Rio das Pedras (em organização). Rua Nova 105 – Loja, Rio das Pedras

Publicação quizenal / Tiragem: 20 mil exemplares / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA / Impresso na Gráfica e Editora Jornal do Commercio

Moradores queremque linha 863 entre noTerminal Alvorada

HÁ UM ANO TEMOS A NOSSA VOZ

O ESPAÇO PARA UMA PAIXÃO DA COMUNIDADE: O FUTEBOLA partir da edição que começou a

circular dia 16 de agosto do ano passado,quatro meses, portanto, depois da ediçãode lançamento, a nossa A Voz de Rio dasPedras descobriu uma grande paixão dacomunidade e passou a dar a ela a devidacobertura: o futebol. Dois eventosesportivos marcaram aquela edição: aconquista, pelo Boiuna, do 1º Campeonatode Futebol Mirim Society de Comunidades,e a conquista pela lutadora de taekwondoMaria Mariá, de 10 anos, do título decampeã brasileira na categoria infantil. Ajovem é assistida pelo projeto social KebraTabu, da nossa comunidade. O campeonatode futebol disputado no Primeiro Campo, o“Brasileirão” de Rio das Pedras, foiacompanhado pela nossa equipe deesportes, rodada a rodada, até ser vencidopelo Juventude, da Areinha, com direito apôster.

Com a manchete “Queremos virarbairro”, o nosso jornal A Voz de Riodas Pedras chegou a esta comuni-dade e, já no segundo número, coma tiragem de 20 mil exemplares, re-

sumimos o objetivo da nossa missão com outramanchete emblemática. Dizia: “Agora a gentetem voz”. Nesta edição, completamos um ano decirculação quinzenal ininterrupta, trazendo aosmoradores uma ferramenta – diríamos mesmouma arma – de defesa dos interesses do nossopovo, tão amesquinhado pela flacidez e pelodesprezo das nossas autoridades.

Nestas duas páginas, este mosaico com a re-produção de algumas de nossas principais re-portagens revela o sentido da nossa linhaeditorial, sempre procurando dar voz aos mora-dores e ser ouvidos pelas autoridades.

Ao nos apresentarmos na primeira edição,revelamos os nossos objetivos: criar uma asso-ciação comercial e lutar para que Rio das Pedrasseja transformado em bairro, a fim de garantiraos nossos moradores um mínimo de qualidadede vida e de cidadania.

Este o empenho dos empresários RonaldGuimarães Levinsohn, Carlos Fernando Carva-lho e Paulo Cesar Meirelles. Com empreendi-mentos no entorno da comunidade, resolverambancar essa empreitada, conscientes de que,para se iniciar uma grande caminhada, seriapreciso dar o primeiro passo. A parceria que co-meçamos a fazer com a comunidade é revela-dora de que esse passo já foi dado. Vamoscontinuar nessa caminhada.

Nestas páginas aqui reproduzidas, os leitorespoderão constatar que conseguimos abrir ca-nais de diálogo com a Comlurb, a Cedae, a Light,a subprefeitura da Barra e Jacarepaguá, com asquais mantemos permanente contato, ora fa-zendo cobranças, ora apontando problemas e,não raro, registrando os serviços quando aten-didos por essas entidades.

Também estão presentes na nossa coberturaa realização de grandes eventos e iniciativas deinstituições e de moradores da comunidade.Exemplo disso é a força que ganhou o campeo-nato de futebol realizado no Primeiro Campo –objeto, inclusive, de matéria nesta edição – queapelidamos de “Brasileirão” de Rio das Pedras.No nosso site e no nosso Facebook, o número deacessos aumentou consideravelmente com opi-niões de torcedores fanáticos, jovens na maioria,que passaram a ter participação ativa graças aesses espaços proporcionados pelo nosso jornal.

Estamos abertos às programações das igrejascatólica e evangélica, dos centros de culto espí-rita, umbanda, candomblé, de qualquer religiãopresente na nossa comunidade.

Estamos, particularmente, receptivos aospleitos do comércio de Rio das Pedras, um orgu-lho para todos os moradores pelos exemplos dededicação e trabalho, que torna extremamenteaquecida a economia local.

Disponham, caros leitores, deste espaço. Éde todos os nossos moradores e comerciantes.

Lançamos o apelo da nossa comunidadeao governador Luiz Fernando Pezão, para quededique alguns minutos de seu preciosotempo para dar partida ao projeto social deRio das Pedras.

Page 3: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - N º 20

RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

4RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

5Esse balanço de corpo, essa ginga envolvente da capoeira nos fascina e domina nossos movimentos.

A capoeira é alegria, é encanto, é segredo, já ensinava o meu ídolo, o saudoso Mestre Canjiquinha.

Na capoeira adquiri disciplina, autoconfiança e foi muito bom para o meudesenvolvimento no dia a dia.

Tudo me atrai na capoeira. A ginga, a música. Meu objetivo é ser mestre. Grão-mestre, como o Katatau.

Ensina a sabedoria popular que, “em briga demarido e mulher, sabido não mete a co-lher”. Então, anote: não se meta a engraça-dinho quando estiverem disputando numaroda de capoeira, ao som do berimbau, o

marido Márcio de Oliveira Conrado, de 35 anos, e a mu-lher dele, Joseilda Ribeiro da Silva, de 31. No centro doauditório do Caic, ele é o Grão-mestre Katatau, o xerifedo pedaço e comanda o grupo “Negros da raça Brasil”,mais identificado com as raízes da capoeira, com a suacultura e o compromisso com a sua história. Ela pilotao grupo “Sol da raça”, tem a cabeça mais voltada para asua profissão – está se formando em Educação Física –e é mais identificada com o nome de batismo da ca-poeira, dado, aliás, pelo marido: “Furacão”.Nascido na Bahia, terra onde teve origem, no Farol

da Barra, em Salvador, a capoeira regional no Brasil, Ka-tatau não vê a capoeira apenas como esporte, mascomo música, como arte, no esplendor de sua magia emovimentos. E completa:– A capoeira é alegria, é encanto, é segredo, já ensi-

nava Mestre Canjiquinha.Aos três anos de idade veio morar em Rio das Pedras,

onde é figura emblemática e popular. Embora hoje ostenteum corpo moldado por músculos até exagerados, Márcio,ainda moleque, quando começou a aprender a capoeira,era magro e pequeno. Muito amigo de outro aluno gran-dalhão, inspirou o mestre deles em batizá-los de Zé Col-meia e Katatau, heróis das histórias em quadrinhos.Em 1991, com três amigos, e sem ajuda de ninguém,

o Grão-mestre trouxe a capoeira para a nossa comuni-dade. Hoje, já são 30 praticantes, que todas as noitesdas segundas, quartas e sextas-feiras agitam o auditóriodo Caic Euclides da Cunha para manter a forma e a tra-dição. No primeiro contato que a reportagem teve comele, no Núcleo de Cidadania, na Rua Nova, onde fun-ciona a sede provisória do nosso jornal, Katatau vestiauma camiseta de um evento, trazendo estampada a se-guinte mensagem do pastor protestante e ativista po-lítico Martin Luther King. Dizia: “Guardei muitas coisasem minhas mãos, e as perdi... mas tudo que eu guardeinas mãos de Deus, eu ainda as possuo.” Nascido emAtlanta (EUA), em 1929 e falecido em Memphis, em1968, Luther King tornou-se um dos mais importanteslíderes do movimento dos direitos civis dos negros nosEstados Unidos e no mundo, com uma campanha denão violência e de amor ao próximo.Se Luther King é uma referência política para Katatau,

na capoeira seu ídolo é Mestre Canjiquinha, já falecido,batizado como Washington Bruno da Silva. Baiano de Sal-vador, filho de lavadeira, Canjiquinha foi sapateiro, entre-gador de marmita, mecanógrafo. Dentre outras atividadesfoi também jogador de futebol (goleiro) do Ypiranga Es-porte Clube, além de cantor de boleros nas noites sotero-politanas. Foi um visionário da capoeira e dizia sempreaos alunos que "a capoeira não tem credo, não tem cor,não tem bandeira, ela é do povo, vai correr o mundo".–E correu o mundo. Foi incrementada no Brasi pelos

mestres Bimba e Pastinha. Os dois morreram pobres e es-quecidos. Só receberam o título de «honoris causa» depoisque morreram – afirma Katatau, obsecado pela ideia denão deixar a peteca da capoeira cair.No Rio, há apenas 14 mulheres mestres na capoeira e

Furacão é uma delas. Casada há 14 anos com Katatau,com quem tem dois filhos – Nina, de 12 anos, e Leon, deseis – essa paraibana resolveu aprender a capoeira comobjetivos definidos, como ela explica :– Primeiro, pela simulação de dança. E porque tem

música e adoro cantar. Sou evangélica e já compus umas50 canções gospel e perto de 40 para a capoeira. Márcio écandoblecista. Esse balanço de corpo, essa ginga envol-vente da capoeira nos fascina e domina nossos movimen-tos. Mas a capoeira também é arte marcial, porque foiusada pelos escravos como luta para a libertação. E essemovimento também tem a parte de combate.Na roda, Furacão faz jus ao nome. Música, ginga, arte

marcial são todos os ingredientes que fazem parte da suavida esportiva, social e familiar. A capoeira está no sanguee pulsa com a força de um furacão.

Grão-mestre Katatau tem a turma sobcontrole. Alguns alunos se destacam comoMarinho de Jesus Barbosa, o Mestre Parafuso.Ele é baiano, tem 22 anos, 1m65cm de altura,pesa 47 quilos, mas não se aconselha a ne-nhum marmanjão querer se meter a bestacom ele. O apelido de Parafuso veio consagrarsua técnica de dar o golpe conhecido comesse nome, que aplica com incrível veloci-dade e uma técnica mortal. Ainda na Bahia,certo dia ele viu uma roda de capoeira na ruae ficou vidrado. Resolveu praticar já faz seteanos e está muito feliz com a opção:– Adquiri disciplina, autoconfiança e foi

bom para o meu desenvolvimento no dia adia – contou Parafuso, que é lavador de carros,tem o 2º grau completo e o objetivo de sergrande mestre.Na mesma linha de ambição esportiva

está o cearense Raimundo Nonato dos San-tos, de 22 anos, o Mestre Borracha, que traba-lha como gesseiro. Ele conta:– Desde criança tive vontade de praticar

arte marcial e escolhi a capoeira porque écompleta. Estou bastante satisfeito com aminha escolha.

Já Felipe Alves dos Santos, o Raiz, de ape-nas 12 anos, exibe toda a leveza e desenvol-tura de um atleta mirim e Katatau vislumbranele um futuro brilhante. Carioca, moradorna Rocinha, cursando o 7º ano do EnsinoFundamental, ele diz que desde os seis anosde idade divide seu tempo entre os estudos ea capoeira. Quando perguntamos o que oatrai nessa mistura de arte marcial, dança emalabarismo, ele foi taxativo:– Tudo me atrai. A ginga, a música. Meu

objetivo é ser mestre. Grão-mestre, como oKatatau.Num canto para uma pausa, suando em

bicas, estava a Parafuso, a quem perguntamospor que um dos alunos chamava-se Escor-pião. Ele é venenoso?– Não. É que ele dá o bote.Meio à brinca, meio à vera, lembramos a

sabedoria escrita no início desta reportageme perguntamos ao Mestre Parafuso:– Você meteria a colher numa briga do Ka-

tatau com a mulher dele, a Mestre Furacão?Parafuso fechou a cara, olhou o repórter fi-

xamente, e respondeu curto e grosso:– Que isso? Eles são os grandes mestres.

UM PATRIMÔNIOCULTURAL IMATERIAL DO BRASIL

A capoeira é uma expressãocultural brasileira que misturaarte marcial, esporte, culturapopular e música. Desenvolvidano Brasil por descendentes deescravos africanos, écaracterizada por golpes emovimentos ágeis e complexos,utilizando primariamentechutes e rasteiras, além decabeçadas, joelhadas,cotoveladas, acrobacias em soloou aéreas.Uma característicaque a distingue de outras artesmarciais é a musicalidade. Apalavra capoeira significa "oque foi mata", através da junçãodos termos ka'a ("mata") e pûer("que foi").No século XVII, eracostume dos povos pastores dosul de Angola, comemorar ainiciação das jovens à vidaadulta com uma cerimônia ondeos homens disputavam umacompetição de luta animadapelo toque de atabaques,ganhava quem conseguisseencostar o pé na cabeça doadversário. O vencedor tinha odireito de escolher uma noivasem ter de pagar o dote. NoBrasil, durante o período daescravidão, a música e a dançaeram utilizadas para disfarçar aarte marcial. Durante algumtempo, a luta foi proibida e seusjogadores eram consideradosmarginais. Hoje, a capoeira setornou uma verdadeiraexportadora da culturabrasileira, em forma deespetáculos acrobáticos,realizados no mundo inteiro.Símbolo da culturaafrobrasileira, da miscigenação,de resistência à opressão, acapoeira mudoudefinitivamente sua imagem ese tornou fonte de orgulho parao povo brasileiro. Atualmente, éconsiderada patrimônio culturalimaterial do Brasil.

N o fim da feira-livre, para quem vem daEngenheiro Souza Filho, ou no começo,para quem acessa pelo outro extremo daVia Light, em frente ao campo de

futebol, está a parada obrigatória para quem querterminar o programa da manhã de domingo no melhorestilo nordestino. Mesas e cadeiras espalhadas pelacalçada à beira do rio, a maranhense Doninha, de 50anos, prepara uma carne de sol com aipim e manteigade garrafa para se comer rezando. Na companhia dosfilhos Waldir, de 31 anos, e Keila, de 28, e da netaJéssica, de 14, ela leva o trabalho se distraindo emfamília. Há nove anos moradora da Rua Velha com RuaAlmira, Doninha gosta de Rio das Pedras, onde ganha avida batalhando diariamente. Nos demais dias dasemana, vende lanches, sanduíches, quitutes, sucos erefrigerantes numa tenda perto do SuperMarket, onde,tanto quanto no seu ponto na feira dos domingos,conta com a preferência de uma grande e fiel freguesiapara incrementar o negócio. Na feira-livre, os pratos decarne de sol, que ela vende regados a todos os tipos debebidas – de cervejas a mais pura cachaça da terra –variam de preço de acordo com a quantidade e a fomedo freguês. Às vezes, até, com a cara do freguês.

Perguntamos o segredo para chegar ao sabor quetornou o prato tão famoso. Ela sorri e sai pelatangente:

– O segredo? É a alma do negócio.

NO PONTO DA

DONINHA, A MELHOR

CARNE DE SOL

Doninha, com osfilhos Valdir e Keila, exibeuma variada coleçãode bebidas quentespara acompanhar afamosacarne de sol comaipim e manteiga degarrafa que servenas feirasdominicais na ViaLight, cuja Receitaela nãorevela de jeitomaneiro

FOTOS DE AZIZ AHMED

A CAPOEIRAHONRA AS ORIGENS EM RIO DAS PEDRAS

MESTRES NESSA MISTURA DE ARTEMARCIAL,ESPORTE,CULTURAPOPULAR EMÚSICA MARCAMPONTO NO CAIC

KATATAU E FURACÃO, OS GRANDES MESTRESNa foto ao lado, Felipe, de apenas 12anos, o Raiz, exibeleveza e desenvolturadiante do MestreGavião. Abaixo, MestreParafuso (de camisaroxa) faz com o MestreBorracha umademonstração da mais autêntica artemarcial

Da esquerda para a direita, o grupode capoeiristas que seexibe no auditório doCaic Euclides da Cunha:em pé, mestres Mola,Trovão, Gancho,Katatau, Furacão,Borracha e Escorpião; agachados, Parafuso,Raiz, Senzaleiro, Sabiá, Corisco e Gavião

Na foto à direita, o baianoMarinho Jesus Barbosa mostrapor que foi batizado de Mestre Parafuso. Abaixo, Márcio de OliveiraConrado, o Grão-mestreKatatau, dono do pedaço, faz uma exibição com a esposa Joseilda, a Mestre Furacão

Mestres capoeristasdão um espetáculode arte marcial,música e dançatípica de umaexpressão da maispura culturabrasileira, umpatrimônio nacional,desenvolvida noBrasil por escravosafricanos a partir deSalvador, na Bahia

Page 4: A VOZ DE RIO DAS PEDRAS - N º 20

RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

6Vou usar esses tênis dia 27 de julho, na disputa daMaratona do Rio, uma prova de 27 quilômetros, e esperoganhar uma medalha.

Foi maravilhoso. Conseguimos dar nosso melhor a Deus.Fizemos a comunidade se emocionar. Chorei de alegria. Parabéns a todos.

Oponto alto da celebração da Se-mana Santa em nossa comuni-dade, este ano, foi a missa daCeia do Senhor, realizada naquinta-feira, na matriz da Paró-

quia de São João Batista. O momento mais so-lene, de profunda reflexão e oração por partedos fiéis presentes, foi a tradicional Cerimôniado Lava-Pés, que representa o gesto de Jesus delavar os pés dos discípulos durante a ÚltimaCeia, narrado por São João, e que define toda avida de Jesus: doação de toda a sua existênciapara a libertação do homem do pecado e domal. Lavar os pés de alguém era, na antigui-dade, uma tarefa própria de escravos. Jesus faz-se escravo e lava os pés dos seus discípulos,para que então eles lavem os pés uns dos ou-tros.

A cerimônia – que também mobilizou a ju-ventude católica da comunidade – foi condu-zida pelo pároco Marco Vinicius e pelo padre

Márcio André, vigário paroquial, que celebroua missa de lava-pés da Crianças, às 17hs, naQuinta-feira Santa, também na matriz.

Na oração, o celebrante lembra que, com ogesto, "o Senhor Jesus convida os fiéis à mesada Palavra e da Eucaristia, chama os pecadores

para a conversão e a crer na infinita misericór-dia do Pai”.

Também foram realizadas missas e cerimô-nias relembrando a morte e ressurreição do Se-nhor, na Sexta-feira Santa e no Domingo dePáscoa, tanto na Paróquia de Rio das Pedras,como na do Sertão, no Anil.

Sentindo-se abençoada pelo sucesso dascelebrações, Jeane Fontineles, que coordenamovimentos da juventude na paróquia, postouno Facebook mensagem de agradecimentospela participação dos jovens paroquianos. Ecomemorou:

– Super cansada, pernas doloridas e comtrês mega-hematomas, nariz todo vermelho ar-dendo, sem falar das costas, porém foi gratifi-cante, porque tudo que é pelo Senhor émaravilhoso e hoje vivenciamos a sua maiorprova de amor pela humanidade a sua entregatotal por amor a nós que possamos recordaresse momento e lembramos que tudo isso foi

para nos dar a vida eterna. Alegrem-se! Juven-tude da Paróquia São João Batista, vocês são1.000.000. Obrigada pelo sim de cada um devocês e pela entrega. Foi lindo. Amo vocês.

A mensagem teve vários compartilhamen-tos.

Ryan Camillo Ryco disse:– Estou muito feliz e satisfeito com tudo.Jessica Gomes afirmou:– Nada é impossível para nós jovens. Firmes

e fortes na fé. Que continuemos sempreassim... Foi lindo hoje. Missão dada, missãocumprida. Adooreei.

Hérika Freire escreveu:– Valeu galera! Tudo só foi possível graças ao

nosso trabalho em equipe.♥Nathalia Silva concluiu:– Foi maravilhoso. Conseguimos dar o

nosso melhor para Deus. Fizemos a comuni-dade se emocionar. Eu chorei de alegria. Para-béns a todos. Missão dada é missão comprida!

LAVA-PÉS EMOCIONA FIÉIS NA SEMANA SANTA

Chegaram na medidacerta os dois pares detênis doados pelo em-presário Eduardo Me-nezes ao nosso

maratonista Edmilson Pereira daSilva.

— Vou usá-los dia 27 de julho,na disputa da Maratona do Rio,uma prova de 42 quilômetros, e es-pero sair de lá com mais uma me-dalha — disse esse morador daAreinha, de 54 anos, baixinho sa-rado, que ficou famoso na comuni-dade depois que publicamos areportagem mostrando sua mara-tona pessoal para acumular 480medalhas e oito troféus, semprecorrendo atrás do prejuízo. A ma-téria sensibilizou Eduardo, donoda Delphos, uma empresa cariocade informática, na qual ele formouuma equipe de 130 “atletas” quetodos os anos participam de umaprova no Rio. É do ramo. Um dospares de tênis que ele doou é tidocomo “top do top” e custa R$999,00. Edmilson confirmou opreço:

— Acompanho nos anúncios ospreços e as marcas de tênis. Seiquanto custam, a qualidade e aperformance de todos. Esses daquisão coisa fina e vão estar ajustadosaos meus pés até a corrida dejulho— afirmou Edmilson, depoisde experimentar os calçados numquiosque perto do Terceiro Campo

e abrir um largo e agradecido sor-riso. Ele completou, mostrando ospés com os “pisantes” novos:

— O tênis ideal para mim é osupinado, porque piso para fora.Esses são porretas. Valeu!

Na entrevista que concedeu aonosso jornal, publicada há ummês, Edmilson, que é pintor porprofissão, desfiou o rosário de difi-culdades que tem de enfrentar diaa dia para continuar a realizar osonho de ser maratonista. Na oca-sião, ele confessou;

— O pouco que ganho, vai paraas corridas. Não tenho patrocina-dor, nem treinador. Só a paixãopelo esporte.

Mais adiante, no meio da con-versa com a reportagem, mostrouo tênis surrado que calçava e ques-tionou:

— Está vendo esse tênis? Játenho há seis anos. O ideal é trocarde dois em dois anos.

Foi esse questionamento quedespertou o gesto generoso do em-presário Eduardo Menezes, quemandou entregar os tênis à nossaredação para que fizéssemos che-gar às mãos – ou melhor, aos pés –do nosso maratonista. Tambémcorredor nas horas vagas, Eduardoexplicou que o ideal é trocar detênis a cada 800km, podendo duraraté 1.200km. Os velhos e esfarrapa-dos tênis que Edmilson usava já ro-daram muito mais que isso:

— Já viraram o velocímetro —concluiu o nosso maratonista

NA MEDIDACERTA

Nosso maratonista Edmilson exibe os dois pares de tênis doados por um empresário para substituir o já surrado que ele usa há seis anos

Ponto alto dascomemorações daSemana Santa, opároco MarcoVinícius (foto maior)celebra o Lava-pésdos adultos, e padreMárcio André(fotos menores),o das crianças, no gestoque simboliza a doaçãode Jesus para libertaçãodo homem do pecadoe do mal

FOTO DE FABIO COSTA

NOSSO MARATONISTA RECEBE DOAÇÃO DE TÊNIS

FOTOS DE FABIO COSTAFOTO PASCOM DA PÁROQUIA SÃO JOÃO BATISTA

PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTACELEBRA A MORTE E ARESSURREIÇÃO DE CRISTO

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RIO, 00 DE ABRIL DE 2014

7A comunidade se expandiu assustadoramente. Junto com o incentivo ao consumismo, criou uma combinaçãoque forma o boom para a degradação ambiental.

Esses problemas do lixo não são um incômodo só para mim.Pelas turmas que ministrei aulas no Caic, constatei o quanto eles estavam fatigados com essa situação.

A Voz de Rio das Pedras – O que a fez im-plantar um projeto de Educação Am-biental na nossa comunidade?

Lêda Franco – Em 2004, comecei a desen-volver o Programa Especial de Licenciaturaem Artes, quando tive que fazer estágiopara conclusão do curso, o que me levou aprocurar a Associação dos Moradores(Amarp), onde fui convidada a conhecer otrabalho de uma Associação InternacionalLions Clube, da qual faço parte hoje. A par-tir daí, passei a conhecer do Rio das Pedrasnas suas entranhas e vi o quanto esta co-munidade é fragilizada com relação à saúdee higiene. É lixo que não acaba mais. Pareiuns 10 minutos, comecei a avaliar e percebiestar diante a uma mina de matéria prima.Esses problemas que vinha percebendo

Obstinada desde pequena com a questão ambiental, aprofessora Lêda Franco Almeida, de 46 anos, despertou parao tema em meados dos anos 1980. Foi quando ganhou umdecalque de limpeza do mar na ilha da Jiboia em Angra dosReis, projeto que seu pai estava participando da consultorianaquele paraíso da Costa Verde do estado. Formada emArquitetura e Urbanismo, identificou-se muito com ostrabalhos dos arquitetos Zanine, Roberto Burle Marx, LúcioCosta e Sérgio Bernardes, tornando-se verdadeira amante daArquitetura. Antes moradora de Copacabana, há 10 anosmudou-se para a casa dos pais no Condomínio Floresta, aquiao lado. Como não tinha carro, teve de se virar utilizando otransporte público, naquele período bem escasso na nossacomunidade, então relativamente pequena e arrumada. E foiaí que vislumbrou a possibilidade de fazer alguma coisa paramelhorar a qualidade de vida dos nossos moradores e tomoua iniciativa de desenvolver um projeto ambiental em Rio dasPedras. Quando ministrou aulas no Caic Euclides da Cunha,percebeu a receptividade dos alunos a esse sonho e estáempenhada em torná-lo realidade, devolvendo à nossacomunidade o título de “a favela mais limpa da cidade”. Paracontar sua saga nessa luta, Lêda concedeu a seguinteentrevista ao nosso Jornal:

PODEMOSVOLTAR A SER

A FAVELA MAISLIMPA DA

CIDADE

ENTREVISTA/ PROFESSORA LÊDA FRANCO ALMEIDA

não são um incômodo só para mim. Pelasturmas que ministrei aulas no Caic, consta-tei o quanto eles estavam fatigados comaquela situação. Em 2008, comecei a minhapós-graduação em Educação Ambientalpara tentar trazer alguma solução pela Edu-cação Ambiental.

Em que consiste o seu projeto?— Consiste na revitalização de uma comu-nidade que foi exemplo e hoje se encontraesquecida pelos poderes públicos.

Qual o objetivo dele?— Levar a consciência e a valorização do ci-dadão e o meio em que vive, transfor-mando-o para seu bem estar.

Você acha viávelum projeto desustentabi l i -dade em Rio dasPedras?— Sim! É claroque Sim! Umac om u n i d a d ecom muito po-tencial em es-tado inerte, o que falta é estimulo eorientação. Com uma educação efetiva logoteremos bons resultados. Não é à toa que otitulo de minha monografia é“Educar paraSustentabilidade”. Rio das Pedras tem tudopara dar certo.

Como pretende colocar o projeto emexecução?— Criando parcerias com os três setores(governo, comércio e organização). Aquiem Rio das Pedras há muito trabalho afazer. Tem para todo mundo. É um verda-deiro tesouro que está à vista de todos, masninguém quer enxergar. Tem que quebraros tabus. No meu projeto, o primeiro passoé começar com uma investigação sobre operfil da comunidade, como o que o Nú-cleo de Cidadania já vem fazendo magnifi-camente. O segundo passo é fazer asparcerias e captar recursos.

Como assim?— Começando pela Educação Ambientalcom a parceria das Secretarias de Educaçãodo Município e do Estado junto com o Ins-tituto Terrazul e a Associação InternacionalLions Clube, Distrito LC1, que já desen-volve um trabalho desta natureza commuita maestria, para formação do Fórumda Juventude da Bacia Hidrográfica. O re-crutamento e a regularização dos catadoresindependentes, vinculando-os às coopera-tivas existentes, podendo consultar a ONGEcoMarapendi, que já vem, na região, de-senvolvendo projetos com cooperativas decatadores e capacitando na reciclagem.Junto, os técnicos em gestão ambiental, osmeios de comunicação local, os garis co-munitários e a Comlurb faremos a divulga-ção e a coleta seletiva, instruindo aseparação dos resíduos (termo mais ade-

quado para o que chama-mos de lixo) devidamenteselecionado. Os reapro-veitáveis serão direciona-dos para a central decoletas a serem separadose destinados às cooperati-vas. A criação de umaCooperativa de TerapiaOcupacional – destinadaaos moradores que se en-contram em desajustessociais como o alcoo-lismo, portadores de sín-dromes e doenças quenecessite de reabilitação –com apoio do InstitutoEventos Ambiental (Ieva).

Como viabilizar a coo-perativa?— As cooperativas produ-toras, para serem realiza-das, vão precisar do apoioda ONG EcoMarapendi(Recicloteca), o Sebrae e aCaixa Econômica Federal.Os resíduos orgânicos serãodirecionados para compos-teira comunitária e esta ge-

rará adubo para fornecer às hortas queserão desenvolvidas nas escolas e colégiosdo local e da redondeza, para que estaspossam produzir parte do alimento queserá servidos em suas merendas. E o lixo ex-traordinário será incinerado para produçãode energia. Para isso poderemos ter a par-ticipação dos técnicos em gestão ambien-tal, com a parceria das Universidades eCentro Universitários e o apoio da Associa-ção Internacional Lions Clube.

Como você analisa a situação do lixono Rio das Pedras?— Bem! Foi exatamente fazendo isso, ana-lisando o lixo, que me sensibilizei em de-senvolver o estudo de sustentabilidade. Osresíduos são bem diversos e dos que pode-rão ser aproveitados, deles poderemosobter boa renda. Temos uma rica fonte dematéria prima que vem sendo despejada dequalquer maneira e contaminando nossolençol freático e colaborando intensamentecom a poluição do Sistema Lagunar da Bai-xada de Jacarepaguá, fora as águas servidasque são lançadas, sem nenhum tratamento,nas redes pluviais e rios que levam a estecomplexo lagunar.

Você sabia que o Rio das Pedras já foiconsiderada a favela mais limpa doRio?— Tive o prazer de conhecer o Rio das Pedrasnesse período, quando vinha visitar amigos eparentes no Floresta. O lixo passou a ser vo-lumoso de 2002 para cá. A comunidade se ex-pandiu assustadoramente, juntamente como incentivo ao consumismo, criando umacombinação que forma o boom para a degra-dação ambiental.

Você acha que o Rio das Pedras poderávoltara a ser o que era anteriormente?— Sim! Como já disse, há um potencialmuito bom. Se levarmos a conscientizaçãoambiental pela Educação, que é a ferra-menta transformadora da sociedade, resga-tando o cidadão, traremos melhorias equalidade de vida.

Qual a sua receita?— Primeiro, a Educação é a melhor ferra-menta transformadora, juntando a boavontade e encarando os desafios com fir-meza. Desmistificando os tabus criadoscom o tempo, poderemos fazer um traba-lho maravilhoso e pioneiro. Nada é impos-sível. Pode ser difícil, mas as dificuldadessão superáveis.

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RIO, 25 DE ABRIL DE 2014

No próximo domingo, dia 4, no campo da Praça,vai começar o Campeonato de Adultos de Futebol Societypromovido pela Associação de Moradorese Amigos de Rio das Pedras. Roberto é o organizador.

Fernando Estanislau, o "xerifedo Primeiro Campo" eorganizador do "Brasileirão"de Rio das Pedras, mostracomo será o campo anexo àArena que terá a mesmamedida e continuará a serusado como escolinha paraformação dos futuros craquese também para as peladas dosadultos

No alto(foto maior), Maicon vê a bola entrarno primeiro gol do Juventude.Ao lado, Elias, vilão e herói do jogo, sobepara cabecear.Acima(foto menor), Marcelo, do Juventude,o craque do jogo, arma mais uma jogada

Domingo, 11 de maio,será disputado no 3º campo o torneiode Rio das Pedras.

Serão oito timesem jogos eliminatóriose o campeão vaireceber R$ 1.200.

No começo parecia boato, atémesmo sonho de alguns. Masagora tudo começa a ganharcontornos de realidade, se-gundo o organizador do Cam-

peonato de Adultos, o “Brasileirão” de Rio dasPedras, Fernando Estanislau, e a edição desteano, prevista para começar no primeiro do-mingo de junho (dia 1º), já será disputada nonovo campo com grama sintética. E o novopalco, conhecido por Primeiro Campo ouMartelão, já tem até o nome escolhido pelospatrocinadores da reforma, que ainda nãoquerem ter o nome revelado, dissimula Fer-nando, já escolheram até o nome:

– Será Arena Rio das Pedras ou Arena RP –

diz, antes de revelar outros detalhes, que con-sidera um avanço e uma benfeitoria, e que vãotornar o novo campo um motivo de orgulhopara toda a comunidade, como a melhoria dailuminação para os jogos noturnos, o fecha-mento do acesso ao interior do campo, aca-bando com aquela invasão na hora dedecisões com cobranças de pênaltis e aindatransformando o entorno em áreas de lazer ealimentação, mais organizadas do que é hojeem dia. Bem comparando, será o nosso Ita-querão, o novo estádio do Corinthians, em SãoPaulo, que vai ser palco do jogo de abertura daCopa do Mundo, dia 12 de junho, entre Brasile Croácia. Coisa de padrão Fifa.

Provocado, Fernando diz que não pode re-velar quem será o pai (ou pais) da criança,porque envolve uma negociação que está nos

acertos finais entre a Caixa, proprietária doterreno, e a Prefeitura, mas que ele, precavidocomo é, já está providenciando uma alterna-tiva para que as crianças e os adultos das pe-ladas não percam definitivamente o seuespaço de lazer:

– Há seis meses, quando a ideia de trans-formar tomou corpo, comecei a trabalhar aárea ao lado do caminho que fica na direçãoda Segunda Ponte. Já medi e vai ser possíveltransformar aquele espaço em um novocampo de areia, com os mesmos 100 metrosde comprimento com 70 de largura e sem pre-cisar cortar uma só árvore do bosque – mostra,apontando para o local onde serão colocadasas balizas e as linhas demarcatórias do campode treinamento da garotada e de lazer para osmoradores da comunidade continuarem a

jogar suas peladas.Sobre a possibilidade de perder, ele e seu

amigo inseparável Índio, o controle da orga-nização do “Brasileirão”, que já tem 36 anos detradição, Fernando é realista:

– Isto é possível, mas nada está decididoainda. Aliás, já era para tudo, inclusive as obrasde implantação da grama sintética, terem co-meçado no dia 14 e terminarem no dia 27 deabril. Mas houve imprevistos, muitos feriadose agora saberemos como tudo vai ficar mesmona reunião dessa sexta-feira (25) já convocadae marcada. Mas uma coisa se pode garantir,comigo e com o Índio, ou sem nós, com gramasintética ou sem ela, na areia, como semprefoi, haverá o campeonato de Rio das Pedras,ainda mais agora, depois que o jornal passoua cobrir e divulgar– conclui com firmeza.

Oque era para ser um amistosode confraternização, no má-ximo um esquenta para o “Bra-sileirão”, segundo os anfitriõesdo campeão de Rio das Pedras,

o Juventude, e o convidado, o bom time doBoca Juniors, da favela do Jacarezinho, dispu-tado domingo, na véspera do feriado de Tira-dentes, no Terceiro Campo, acabou sendo omelhor e mais disputado jogo da pré-tempo-rada de 2014. Belos gols, polêmica por gol anu-lado, defesas sensacionais do goleiro do timevisitante, que sempre comandou o placar, car-tão vermelho e, por fim, uma virada do Juven-tude, com um gol do seu zagueiro e capitão,Elias, a dois minutos do fim. Resultado: Juven-tude 3 x 2 Boca.

Como era de se esperar, o Juventude do téc-nico Val tomou a iniciativa. Tão logo foi dada asaída, partiu para o ataque, mas esbarrou emdois obstáculos: na falta de um finalizadormais eficiente (seu artilheiro Cabeça continuase recuperando do acidente com moto e aindalevará um mês para voltar a jogar) e nas defesasdo goleiro Marcos. E quando mais pressionavafoi surpreendido por um rápido contra-ataque,parado com falta. O cabeça de área do time doJacarezinho, Marcelo, cobrou com um chutealto, Elias atrapalhou a visão do goleiro Lean-dro e a bola entrou no ângulo; Boca 1 a 0.

A reação do Juventude não demorou edois minutos depois o seu talentoso meia-esquerda Marcelo concluiu tabelinha comThales e empatou: 1 a 1, placar do primeirotempo.

No segundo tempo, o jogo, que já eraquente, ferveu e novamente ficou parecendo

de ataque contra defesa, oJuventude pressionando, oBoca se fechando todo nadefesa e dando chutãopara tudo que era direçãoou o goleiro Marcos sal-vando gol atrás de gol. Sóque, num contra-ataque,aproveitando-se do avançocontante de Elias, o lateralCristiano apareceu e mais rápido tocou abola para o fundo da rede: Boca 2 a 1.

Pressionado e ouvindo comentários irô-nicos de torcedores, criticando principal-mente os avanços de Elias, o técnico Valtrocou o meia Fabiano pelo atacante Maiqui-nho que, na primeira jogada chutou e em-patou novamente: 2 a 2.

Nem a expulsão de seu outro atacantePaulo diminuiu a pressão do Juventude. E, adois minutos do fim, na cobrança de um es-canteio, Elias foi de novo para a área do Boca edesviou de cabeça a bola que, dessa vez, Mar-cos não conseguiu defender. Juventude 3 a 2.

Empolgado com seu gol, o capitão diri-giu-se ao "torcedor" que mais criticava seusavanços, o goleiro Bichinho, do Só no Pelo, eapontou:

- ESSE E pra ti, o PRA, derrames?

FICHA TÉCNICA

Juventude – Leandro, Neto, Elias, Rogério e Raimundo, Fabiano(Maiquinho), Areia, Paulo, Marcelo, Thales e Maicon. Técnico: ValBoca Juniors (do Jacarezinho) – Marcos, Genézio, Marinaldo, Luiz eCristiano, Marcelo, Jurandir, Mineiro, Marcelo II, Júnior e Fiego. Técnico:MarinaldoJuiz : Luiz Salvino da SilvaCartão Vermelho: Paulo, do Juventude.

PRIMEIRO CAMPOGANHARÁ GRAMASINTÉTICA E SERÁCERCADO PORARQUIBANCADAS

COMUNIDADE TERÁ ARENA PADRÃO FIFA

FOTOS DE FABIO COSTA

FOTO DE FABIO COSTA

JUVENTUDE VIRAE VENCE BOCA DOJACAREZINHO

JOGÃO NO TERCEIRO CAMPO