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A VISÃO LÍRICA-AMOROSA DA FIGURA FEMININA NOS POEMAS DE VINÍCIUS
DE MORAES
Autor: Silvana Borst1 Orientador: Prof.Ubirajara Inácio de Araújo2
Resumo
Sabe-se que a leitura assume um papel fundamental na aprendizagem de todos os conteúdos escolares, o sucesso escolar e o exercício pleno da vida cidadã implicam o domínio dessa habilidade, resguardados, obviamente, outros fatores que interferem na aprendizagem. Mas, sem dúvida, para as habilidades de estudo, o domínio eficaz da leitura assume importância decisiva. Para tanto, ampliar a capacidade de percepção, imaginação e criação do educando em suas estratégias leitoras, foi o objeto deste estudo, desenvolvido a partir do terceiro período do programa do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (PDE). Concomitantemente a esse objetivo, pretendeu-se desenvolver o trabalho com a leitura de uma forma lúdica, de maneira a permitir que o educando pudesse associar prazer e felicidade às atividades desenvolvidas, pois se acredita que, dessa forma, à medida que o educando vai desenvolvendo as estratégias leitoras e obtendo experiências positivas com a leitura, aprenderá que o universo ficcional pode ser um espaço de reflexão e descoberta e a leitura permanecerá associada a sentimentos de alegria, esperança ou alívio trazidos pela ficção. Buscou-se, ainda, o trabalho com gênero poético por se acreditar que essa evocação se torna ainda mais intensa e imediata. Procurou-se, também, enfocar a temática da mulher por meio de análise e compreensão dos poemas de Vinícius de Moraes em uma visão lírico-amorosa, aproveitando para tecer aportes históricos da temática nas décadas de 1930 e 1940. O resultado foi positivo, já que se percebeu o envolvimento do educando nas discussões suscitadas em cada etapa, as quais puderam auxiliá-los a refletirem sobre as questões de gênero e o papel da mulher na sociedade atual. Espera-se que iniciativas como estas contribuam para a construção de um mundo melhor, no qual o espírito de solidariedade e respeito às diferenças provoquem o despertar de uma nova consciência.
Palavras-chave: leitura; texto poético; Vinicius de Moraes; gênero.
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Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa (FACINTER-PR), Graduada em Letras Português-Inglês
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professora de Língua Portuguesa no CEEBJA Profª Maria
Deon de Lira. 2 Mestre e Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de
Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
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1 Introdução
Partindo do pressuposto de que a escola brasileira não está conseguindo
desenvolver as habilidades mínimas para que o aluno compreenda, pelo menos, a
leitura do que os PCNLP chamam de “texto facilitado”, o fato de a maioria dos
alunos não aprender a usar a linguagem escrita para sua vida ou não estar no
patamar desejado para continuar seus estudos parece indicar que há algo errado
com as práticas de leitura desenvolvidas nas salas de aulas brasileiras. Isso se torna
mais preocupante quando se pensa em alunos que retornam à escola depois de
muitos anos dela afastado: é o caso dos alunos da Educação de Jovens e Adultos.
Entre 65 países, o Brasil está na 53.ª posição em Leitura na qualidade de
ensino na avaliação internacional chamada PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes). O teste é realizado a cada três anos com estudantes de
15 anos de idade. O “letramento em leitura”, segundo ele, não é a decodificação e a
compreensão literal de textos escritos, mas a capacidade de o jovem compreender e
usar os textos para alcançar seus objetivos, desenvolvendo conhecimentos e
participando ativamente da sociedade. O péssimo desempenho dos estudantes
brasileiros, próximos do final da escolaridade obrigatória, parece revelar que eles
não estão preparados para enfrentar os desafios de conhecimentos da complexa
sociedade atual.
Com relação à deficiência da leitura nas escolas no Brasil, Abreu (1995)
mostra que, desde o relato dos viajantes europeus até os dias atuais, a história da
leitura no Brasil é marcada pelo tom de lamento e pela sensação de fracasso.
Para explicar os constantes insucessos das práticas pedagógicas de leitura, a autora
levanta como hipótese a ausência de explicitação do tipo de leitura objetivado e do
tipo de texto esperado.
Há de se ressaltar, também, a falta de gosto, prazer e hábito de ler dos
educandos. E, por mais que se apregoe, nas salas de aulas e fora delas, sua
importância e necessidade, percebe-se que atividades como jogos eletrônicos,
internet, televisão, ganham terreno, deixando a prática da leitura para segundo
plano.
Partindo desse pressuposto, as aulas de língua materna precisam de
reformulações, o que as Diretrizes Curriculares já enfocam e afirmam que, em
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virtude da situação do analfabetismo funcional, da dificuldade de leitura
compreensiva e de produção de textos apresentada pelos alunos – segundo os
resultados de avaliação em larga escala e mesmo de pesquisas acadêmicas – são
necessárias novas metodologias em relação às práticas de ensino (PARANÁ, 2008,
p. 47). Contudo, apreender tais orientações é que se faz necessário para que o
ensino da língua materna atinja as metas a que se propõe.
Além disso, as discussões a respeito dos obstáculos que os alunos
encontram com relação à leitura são frequentes. A grande maioria que hoje se
recebe na escola tem dificuldades significativas de leitura e escrita. Além disso,
percebe-se que, mesmo após anos de estudos, pouco avanço obtêm esses alunos.
As dificuldades com a leitura tornam-se ainda maiores quando se trata de
alunos Jovens e Adultos trabalhadores, a quem esse projeto é destinado, uma vez
que a maioria pertence à classe socioeconômica baixa e cumpre uma carga horária
de, no mínimo, oito horas diárias de labuta: saindo direto do trabalho, dirigem-se
para a escola, geralmente com pouco tempo antes do início das aulas. Observamos
que não possuem tempo para ler e, devido ao cansaço, não demonstram interesse
em procurar um livro na biblioteca para leitura.
Boa parte dos alunos que frequentam os Centros de Educação Básica de
Jovens e Adultos (CEEBJAs) são jovens e adultos que não tiveram acesso à escola
na época pertinente. São pessoas que estão no mundo do trabalho, ou fora dele, e
necessitam de um conhecimento formal. São pessoas tímidas, em sua grande
maioria, que, se convidados a ler um texto, principalmente poema, em voz alta na
sala de aula, ficam envergonhadas, ou até sentem-se humilhadas, por não
conseguirem fazê-lo com fluência e adequação.
Diante dessas dificuldades, e com objetivo de minimizar as barreiras que
esses educandos encontram ao buscar progressão educativa, optou-se por trazer
situações concretas de uso da leitura como algo que principie pelo contato, gere o
gosto, possibilite o prazer e que continue em hábito por sua vida.
Neste estudo, procurou-se apresentar, poemas que retratam a figura feminina
na visão de Vinícius de Moraes que, com talento, genialidade e competência, soube
liricamente escrever, cantar o amor tipicamente sensual.
E por que trabalhar a figura feminina na poesia? Numa perspectiva histórica,
a poesia de Vinicius representou a figura feminina em um período que, formalmente,
as reivindicações das mulheres haviam sido atendidas: podiam votar e serem
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votadas, ingressar nas instituições escolares, participar do mercado de trabalho, por
isso, são fontes importantes para a reflexão dos educandos sobre o papel da mulher
no panorama nacional nas décadas de 1930 a 1940, nas quais as mulheres
começaram a abandonar um papel secundário na sociedade que lhes era, até então,
destinado.
2 A LEITURA E POESIA
Para Bordini e Aguiar a capacidade de ler pode ser desenvolvida por meio do
texto literário, pois favorece mais a descoberta de sentido que outros tipos de textos.
Seu aspecto polissêmico e denso exige uma participação ativa do leitor na
construção de sentido para o texto, proporcionado, assim, prazer e conhecimento,
além de contribuir para o gosto do leitor.
A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Daí provém o próprio prazer da leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor; sem obrigá-lo a manter-se nas amarras do cotidiano. Paradoxalmente, por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado, a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações, porque o leva a participar ativamente da construção dessas, com isso forçando-o a reexaminar a sua própria visão de realidade concreta (BORDINI e AGUIAR, 1988, p. 15).
Segundo Martins (1994, p.23), muitos educadores não conseguem superar a
prática formalista e mecânica e para os alunos, por sua vez, aprender a ler resume-
se à decoreba de signos linguísticos. Prevalece, então, a pedagogia do sacrifício, do
aprender por aprender, sem colocar o porquê, como e para quê, impossibilitando
compreender verdadeiramente a real função da leitura, o seu papel na vida do
indivíduo e da sociedade.
Partindo do princípio de que leitura não é um processo linear e que possibilita
diálogos, inferências, construções, reconstruções, confrontos, percebe-se a
importância de enxergar a palavra no sentido global que ela proporciona, associada
às experiências anteriores e hipóteses de leitura, cabendo promover o exercício do
ato de ler como processo de interação entre leitor e autor, mediados pelo texto.
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Bamberger (2002, p.42), por sua vez, enfatiza: “Se quisermos cultivar a leitura
literária precisamos nos lembrar de que a literatura oferece possibilidades suficientes
para que cada leitor possa desfrutá-la de acordo com suas necessidades”.
Nessa perspectiva, optou-se por trabalhar com o poema, por ser um texto
literário bastante adequado a um projeto de leitura cuja intenção seja explorar e
ampliar as estratégias leitoras dos educandos, uma vez que o possibilita usar a
sensibilidade para colocar em discussão, recorrendo-se ao dia-a-dia, à injustiça, à
paixão, à perda, à ilusão, à violência, ao amor, à imaginação e à graça.
Ao encontro desse pensamento, Pinheiro e Bamberger (2002, p.23) afirmam
que “a leitura do texto poético tem peculiaridades e carece, portanto, de mais
cuidados do que o texto em prosa”. Assim, a aprendizagem da interpretação da
poesia compreende o desenvolvimento de coordenar conhecimentos de vários
sentidos que um texto poético proporciona, possibilitando ao leitor uma visão
diferenciada do mundo, sensibilizando-o, fazendo pensar, divertindo-o,
convencendo-o.
“Poiesis”, segundo o dicionário, é uma palavra grega que significa “produzir,
fazer, criar uma realidade diferente". A poesia na antiguidade era ritual,
entretenimento, enigma, profecia, filosofia, competição. O poeta era concebido como
um sábio e a função do poema era social, educar e guiar uma prática. Na Índia e na
Grécia antigas e no Império Romano, vários documentos, hinos, contratos e
provérbios eram escritos em versos, em parte pela facilidade de memorização.
O poema é um jogo de palavras e ideias que permitem descobrir não apenas
a uma leitura e um sentido, mas também outras leituras e outros sentidos possíveis
por meio dele. Quanto mais se usam as palavras, mais se criam novos sentidos para
elas. Pode-se considerar que o mundo é um ato de criação poética. Nós todos
herdamos, compartilhamos, interferimos nesse ato, e a leitura de poesia aflora o
poeta que somos.
Segundo Otávio Paz (1982), “A poesia é conhecimento, salvação, poder,
abandono. Operação capaz de transformar o mundo. A atividade poética é
revolucionária por natureza. A poesia revela este mundo, cria outro. Voz do povo
coletivo e pessoal”.
Ratificando esse ponto de vista, o poeta José Paulo Paes afirma em seu livro
“É Isso Ali” que “A poesia não é mais do que uma brincadeira com as palavras.
Nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao
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mesmo tempo: isso aí é também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa. Se
não tiver, não é poesia: é papo furado”.
Acredita-se, ainda, que a poesia permite descobrir não apenas a leitura em si,
como também a possibilidade infinita de interpretações, que captam níveis de
percepção, fruição e de expressão da realidade que outros textos não alcançam.
Por tudo isso, torna-se necessário preencher essa lacuna na prática de leitura
em sala de aula e resgatar o prazer encontrado na leitura do texto poético,
quebrando o tabu escolar de que é difícil trabalhar com poemas. Ratifica esse ponto
de vista Elias José (2003, p.11) , quando afirma que vivemos rodeados de poesia,
ou seja, poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona quando tocamos, ouvimos
ou provamos, poesia é a nossa inspiração para viver a vida.
Infelizmente, o hábito de ler e recitar poesias, ao longo do tempo, foi
perdendo a força, como afirma Cunha (1986, p.95): “... se o professor não se
sensibilizar com o poema, dificilmente conseguirá emocionar seus alunos. Pode-se
afirmar ainda que a poesia virou mito nas aulas de Língua Portuguesa, pois se
observa certa resistência em ler, interpretar, criar e recriar poemas”.
Por essa razão, decidiu-se trabalhar o lirismo presente na obra de Vinícius de
Moraes por meio da representatividade feminina, o que despertou a curiosidade e o
interesse do aluno para a leitura, compreensão e construção de poemas em sala de
aula, bem como estimulou no aluno o senso estético e artístico e promoveu
reflexões sobre o papel da mulher no texto poético desse famoso poeta. Além disso,
procurou-se:
� conceber a linguagem como um espaço de interação e interlocução com
atividades baseadas na leitura de poemas;
� demonstrar o valor artístico da poesia por meio da linguagem que a compõe;
� estimular reflexão, por meio de texto poético, sobre perspectivas históricas e
sociais das mulheres na década de 1930 e 1940;
� aumentar o horizonte de leitura dos alunos, explorando estratégias de leitura
que ampliem sua capacidade de compreensão de textos poéticos e sua visão
de mundo.
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3 O autor
Para se ter uma visão mais clara da mulher nas poesias de Vinícius, faz-se
necessário conhecer um pouco mais da vida do poeta. Segundo Alfredo Bosi (1936,
p.459), depois de Bandeira, ele é considerado o mais intenso poeta erótico da
poesia brasileira moderna.
Tendo sua formação em colégio jesuíta, o poeta oscila entre as angústias do
pecador e o desejo do libertino. Sua poesia surge em 1930, época de profundas
transformações nos campos político, econômico e social, e também de intensa
discussão religiosa no Brasil: pedia-se a volta do ensino religioso nas escolas.
(COSTA, 2002, p.59)
A sua obra é dividida em duas fases: uma de sentido místico e lírico, e outra
mais sensual e de linguagem mais simples, que ele mostra também nas
composições populares de fundo social. (CASTELLO, 2002. P.20)
Na fase inicial, há em seu trabalho um sentido místico e lírico, privilegiando o
espiritual e o transcendental, em uma reafirmação do homem com Deus, resultante
de sua fé cristã. Essa fase desencadeou poemas metafísicos em que o conflito
entre carne e espírito esteve sempre presente.
Em fase posterior, a linguagem simples voltada para o real. Vinícius de
Moraes compôs, então, versos líricos decorrentes do cotidiano, da experiência diária
e do encontro íntimo entre o transcendental e o humano. Seus poemas, que
aspiram ao sublime, são representados pelas figuras femininas sensuais, musas do
desejo de um sujeito lírico que não consegue conciliar o espiritual e o material.
A mulher entra em cena não como um ser inatingível, mas como um ser de
carne e osso e coração, fazendo nascer então, o grande poeta do amor e da paixão.
Nessa fase surgem, também, os sonetos, rememorando a tradição camoniana.
(CASTELLO, 2004, p. 99)
Considerados esses vieses, elegeu-se, então, o estudo dos poemas que
permitem aflorar a criatividade e a sensibilidade do aluno, e que a cada nova leitura
realizada, ele adquira mais maturidade como leitor.
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4 Implementação
No processo educacional, é imprescindível que seja respeitado o
conhecimento cultural que o aluno traz consigo no processo ensino-aprendizagem,
pois é por meio das diferentes vivências do educando que a troca de experiências
vai sendo arquitetada. Essa troca de experiências é de grande valia para que o
educando possa ampliar a visão de mundo que possui.
Nesse sentido, é de grande relevância trabalhar a capacidade de percepção,
imaginação e criação do aluno da Educação de Jovens e Adultos em suas
estratégias leitoras, pois alunos desse segmento da educação, em sua maioria, são
socialmente desfavorecidos e cujo contato com a poesia é pouco ou, muitas vezes,
nenhum. Essa forma de ver o mundo apenas com os olhos da razão impossibilita-os
de desfrutar o mundo poético, cheio de musicalidade e ritmo.
Além disso, acredita-se ser a poesia a tradução dos sentimentos, emoções
em relação ao mundo que nos rodeia. Percebe-se e cria-se poesia nas relações com
as pessoas, coisas, animais. A poesia faz parte do reconhecimento das significações
do mundo. E enquanto linguagem de expressão, a poesia pode ressignificar
situações que não se conseguem ver de maneira diferente. A poesia brinca com a
linguagem, recriando a realidade, por meio da sua ferramenta que é a palavra, em
uma combinação de maneira pessoal e subjetiva.
E quando se fala ou se escreve, combina-se um universo de possibilidades da
língua, que é motivada a partir de sons, ritmos, imagens que se quer arquitetar.
Para tanto, um dos grandes desafios para os educadores de Língua
Portuguesa do ensino de Jovens e Adultos é ensinar o aluno a pensar, a relacionar
os conteúdos escolares e seu emprego no contexto extraescolar, além de cultivar a
imaginação e a sensibilidade como recurso de aprendizagem.
Dessa forma, oportunizou-se aos alunos trabalhar com a poesia e brincar com
as palavras, enfatizando a figura da mulher, que se destacou no último século como
guerreira e lutadora. Para isso, buscou-se trabalhar o lirismo presente na obra de
Vinícius de Moraes que, em uma linguagem simples, empregando vocábulos do
cotidiano, criou poemas de amor que enaltecem a mulher, muitas vezes vítima de
opressão e injustiça.
A implementação do Projeto de Intervenção aconteceu nos meses de agosto
e novembro de 2011, por meio de aplicação de um elaborado processo de
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ação/interação entre professor e aluno. Criaram-se situações que possibilitaram ao
educando obter informações sobre o contexto sócio-histórico do autor e da produção
dos poemas que foram estudados, favorecendo com isso a compreensão textual,
bem como exercícios que abordaram elementos de análise linguística e a apreensão
vocabular.
A disposição do trabalho foi composta por sete etapas distintas, dispostas da
seguinte forma:
1.ª ETAPA – Foi realizada uma perspectiva histórica nas décadas de 1930 e 1940,
épocas importantes para a liberação da mulher brasileira do jugo machista, bem
como a explanação sobre a trajetória da mulher na história do Brasil. Tal abordagem
foi enriquecida com leitura de textos como: "Elas fizeram a história" – revista Época
e "As Mulheres e a Constituição de 1988" . Após as leituras, debateu-se sobre as
condições da mulher no Brasil: como era, o que mudou e o que permaneceu; e quais
direitos conquistados no decorrer do século XX. Os alunos participaram com
entusiasmo, comentando fatos relacionados com as suas próprias experiências, em
família, e a mudança de valores.
2.ª ETAPA – Pesquisa sobre mulheres que se destacaram no Brasil. Realizou-se no
laboratório de informática da escola e, por meio da Internet, permitiu-se aos alunos
pesquisarem mulheres representativas no panorama nacional. Foi interessante
observar o resultado, que foi rico e variado. Os educandos separam-nas em
temáticas: esporte, política e também em celebridades midiáticas nacionais.
Interessante notar que a busca trouxe também nomes de mulheres de projeção
mundial, e, ao findar a busca, eles observaram que muitos países têm mulheres em
seu comando. Deve-se acrescentar nesse ponto que a pesquisa foi bastante
produtiva, já que alguns alunos não frequentavam o laboratório há algum tempo, e
outros apresentavam certa resistência porque não tinham habilidade com a
ferramenta. Mas tão logo ficaram à vontade, puderam perceber que poderiam
“viajar” pela Internet.
3.ª ETAPA – Na pesquisa sobre a vida e obras de Vinícius de Moraes, os alunos
foram divididos em duas equipes, as quais pesquisaram sobre a primeira fase do
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autor, fase essa mais transcendental, mística, resultante da fé cristã que termina
com a publicação do poema “Ariana, a mulher”, editado em 1936. Já a segunda
equipe pesquisou sobre a segunda fase, na qual estão marcados os movimentos de
aproximação do mundo material, com a difícil repulsa ao idealismo dos primeiros
anos. Após o término das pesquisas, os educandos apresentaram os resumos para
o grande grupo e realizaram um debate sobre aspectos históricos e sociais das
mulheres e a visão feminina na poesia de Vinicius de Morais. A pesquisa culminou,
nesta etapa, com a representação das duas fases das obras do autor com a
realização de desenhos significativos pelos alunos, de forma a tornar essa fase
bastante descontraída e trabalhar com a percepção sensorial deles. Houve uma
exposição dos trabalhos em sala de aula.
4.ª ETAPA – Foi desenvolvida a temática “O Amor e a mulher nos poemas de
Vinícius de Moraes”. Nesta etapa, foram selecionados e trabalhados poemas que
retratam a sensualidade da mulher:
• Soneto de Devoção no qual Vinícius de Morais demonstra uma carga de
sensualidade e erotismo;
• Receita de Mulher na qual o poeta faz um comentário que produziu grande
repercussão: "As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental";
• Elegia Desesperada, pois apresenta as diferentes e múltiplas percepções da
mulher. Nele, Vinícius pede clemência a Deus para que tenha piedade das
mulheres, de todas, incondicionalmente. Ele descreve desde as mais feias
até as mais santas.
Nem todos os alunos apresentaram maturidade para fazer a interpretação dos
poemas, apesar do envolvimento. A interpretação dos poemas suscitou um debate
sobre a violência contra a mulher, prostituição, assédio sexual, a importância da
mulher na sociedade atual e os anseios das mulheres, considerando a diversidade
de classes sociais. Apesar de os alunos realizarem as atividades propostas,
comentaram que as interpretações estavam um pouco extensas e complexas.
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5.ª ETAPA – Relação dos poemas de Vinícius com poemas de Adélia Prado e
Cecília Meireles, com o propósito de explorar a intertextualidade nos textos poéticos.
Os alunos mostraram bastante interesse na leitura dos poemas, pois retratam as
condições de trabalho em que as mulheres estão inseridas, bem como as relações
sociais que possuem na família. Suscitaram debates como: os preconceitos
construídos pela sociedade contra as mulheres; o casamento nos dias de hoje, que
dura muito pouco; o abandono, por parte do marido, que acaba acarretando na
tarefa da mulher de terminar a educação dos filhos e também o sustento do lar.
6.ª ETAPA – Como estava acontecendo na escola “A semana da leitura e do livro”,
um projeto de promoção e incentivo à leitura literária, apoiado pelo Instituto C&A por
meio do Programa Prazer em Ler, esta etapa foi realizada na biblioteca com a
declamação dos poemas escolhidos pelos alunos, e também a leitura de poemas
escritos pelos próprios alunos.
7.ª ETAPA - Exposição das produções poéticas na biblioteca da escola. Os alunos
mostraram-se lisonjeados e valorizados por meio atividade de “fazer arte”. Desta
forma, despertar a criatividade, e proporcionar o trabalho com diversas linguagens
como: desenho, pintura, e o processo criativo do poema, permite-se desenvolver
aspectos da personalidade, sensibilidade e emoção que irão auxiliar o educando na
sua formação como cidadão. A ideia era cantar algumas músicas que falassem
sobre a mulher, mas não foi possível a realização da atividade, pois a pessoa, por
motivos pessoais, não pôde comparecer para o evento, em tempo hábil.
5 A organização das atividades
Inicialmente, foram convidados os alunos de toda a escola, nos três turnos.
Inclusive os professores que já tinham participado do PDE, reforçaram o convite
para os alunos participarem do projeto. O convite foi reforçado, também com o
esboço, representado pela figura feminina que está na capa do material didático.
Ficou muito atrativo, e participaram das atividades 12 alunos, de ensino
médio. As atividades realizadas no horário cedido, gentilmente, pela profª Zeni, no
período da tarde, todas às quintas-feiras. Nesse dia, sua sala ficava disponível para
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a realização das atividades. Também foram realizadas atividades na sala de
informática e na biblioteca.
As carteiras eram dispostas em forma de círculo, onde os alunos sentiam-se
à vontade. O projeto foi visto positivamente pelos professores da escola, uma vez
que percebiam o entusiasmo dos alunos para participar das atividades. Percebeu-se
a importância do trabalho lúdico com os alunos, pois tornava-os motivados para
aprender mais.
6 Conclusão
A poesia pode ser uma metodologia aliada ao ensino de Língua Portuguesa e
seu trabalho na sala de aula da EJA possibilita ao jovem ou ao adulto que foi re-
incluído na escola o resgate da sua autoestima e sociabilidade e o comprovado
aumento nas habilidades da percepção, observação, compreensão de textos e do
mundo em que está inserido.
Por outro lado, resgatar a importância da figura feminina retratada nos
poemas de Vinícius de Moraes possibilitou ao projeto uma forma dinâmica e
prazerosa. Nos estudos propostos, bem como nas pesquisas realizadas, pôde-se
perceber o quanto foi importante a luta e as conquistas realizadas pelas mulheres
que se engajaram nessas causas. Aos poucos, a classe feminina vem descortinando
mais espaço, assumindo um importante papel, nos dias atuais, e em quase todas as
economias do mundo. E, a cada geração, torna-se mais independente e consciente
para escrever sua história.
Percebeu-se, ainda, com este trabalho, que as discussões suscitadas em
cada etapa nas reflexões puderam levar os alunos ao senso crítico, nesse caso,
para a construção de um mundo melhor, no qual o espírito de solidariedade e
respeito às diferenças provocam o despertar de uma nova consciência para onde
caminham as mais variadas formas de existir, de ser.
Sendo assim, o projeto alcançou os seus propósitos, uma vez que buscou
trabalhar a poesia para ampliar suas estratégias leitoras de forma ampla, dinâmica e
prazerosa fazendo os educando pensarem, refletirem, questionarem-se, soltarem-se
e sentirem-se livres e autênticos ao debater, e declamar os poemas propostos,
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principalmente aqueles mais tímidos que no início tinham receio de expor suas
idéias.
Não há dúvida de que vivemos em plena era da imagem e do som, e que as
transformações presentes no dia a dia nos colocam diante de desafios em que se
faz necessário que se criem caminhos para a sistematização do conhecimento,
porém a leitura de um livro e toda forma de comunicação ainda continua sendo o
caminho ideal para a qualidade do processo educativo.
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