a vinda do senhor -...

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A VINDA DO SENHOR C. H. Mackintosh 1820-1896 Tradução Mario Persona ÍNDICE Introdução O Fato A Dupla Aplicação do Fato "A vinda" e "O Dia" As Duas Ressurreições O Juízo O Remanescente Judeu Cristandade As Dez Virgens

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A VINDA DO SENHORC. H. Mackintosh

1820-1896Tradução Mario Persona

ÍNDICEIntroduçãoO FatoA Dupla Aplicação do Fato"A vinda" e "O Dia"As Duas RessurreiçõesO JuízoO Remanescente JudeuCristandadeAs Dez Virgens

Os TalentosObservações Finais

* * * * *

COMENTÁRIOS SOBRE A VINDA

DO SENHOR

INTRODUÇÃOO leitor atento do Novo Testamentoencontrará em suas páginas três fatossolenes e significativos colocados diantede si. O primeiro, que o Filho de Deusveio a este mundo e Se foi; o segundo,que o Espírito Santo desceu à terra epermanece aqui; e, o terceiro, que oSenhor Jesus voltará.

Estes são os três grandes temasdescortinados nas Escrituras do NovoTestamento, e vamos descobrir que cadaum deles tem uma dupla aplicação: umadiz respeito ao mundo e outra à Igreja.Ao mundo de uma forma geral, e emparticular a cada homem, mulher ecriança não convertidos; à Igreja, de umaforma geral, e a cada membroindividualmente. É impossível alguém seesquivar do significado destes trêsgrandes fatos naquilo que diz respeito àsua própria condição pessoal e ao seudestino eterno.É importante notar que não estamosfalando de doutrinas — embora não hajadúvida de que existam doutrinas — masde fatos; fatos apresentados da maneiramais simples possível pelos vários

escritores inspirados usados paraapresentá-los. Não existe qualquerintenção de adorná-los ou alterá-los. Osfatos falam por si próprios; estãoregistrados e deixados ali para produzirseu peculiar e poderoso efeito na alma.1. Antes de tudo, vamos analisar o fato doFilho de Deus ter vindo a este mundo."Porque Deus amou o mundo de talmaneira que deu o Seu Filho unigênito,para que todo aquele que nEle crê nãopereça, mas tenha a vida eterna". "OFilho de Deus é vindo". Ele veio emperfeito amor, como a exata expressão docoração e propósito de Deus, de Suanatureza e caráter. Era o resplendor daglória de Deus, a expressa imagem da SuaPessoa e, mesmo assim, modesto,humilde, bondoso e sociável. Era Alguém

que podia ser visto dia após diacaminhando pelas ruas, indo de casa emcasa, bom e afável para com todos,acessível aos mais pobres e tomandocriancinhas em Seus braços da forma maisterna, gentil e cativante. Era vistoenxugando as lágrimas da viúva,consolando o coração contrito e abatido,saciando o faminto, curando o enfermo,purificando o pobre leproso, atendendo atoda sorte de necessidade e sofrimentohumano, a serviço de todos os quenecessitavam de auxílio e compaixão. Ele"andou fazendo o bem", foi o incansávelservo das necessidades humanas. Elejamais pensou em Si mesmo, ou buscouSeus próprios interesses no que quer quefosse; Ele viveu para os outros. Suacomida e bebida eram fazer a vontade de

Deus, e satisfazer os corações cansados esobrecarregados dos filhos e filhas doshomens. Seu amável coração sempre fluiuem mananciais de bênçãos para todos osque sentissem a pressão deste mundotriste e contaminado pelo pecado.Temos aqui, portanto, o maravilhoso fatodiante de nossos olhos. Este mundo foipercorrido por aquela bendita Pessoa daqual falamos — este mundo recebeu avisita do Filho de Deus, o Criador eMantenedor do Universo, o humilde,despojado, amoroso e benigno Filho doHomem, Jesus de Nazaré, Deus sobretudo e eternamente bendito e, ao mesmotempo, um Homem absolutamenteperfeito, santo e incontaminado. Ele veioem amor para com os homens, veio a estemundo como a expressão do perfeito

amor para com aqueles que tinhampecado contra Deus e não mereciam coisaalguma além da perdição eterna por causade seus pecados. Ele não veio paraesmagar, mas para curar; não veio parajulgar, mas para salvar e abençoar.O que aconteceu a esse bendito Jesus?Como o mundo O tratou? O mundo Oexpulsou! Não O quis! Preferiu um ladrãoe homicida em lugar desse Homem santo,bondoso e perfeito. O mundo recebeu oque pediu. Jesus e um ladrão foramcolocados diante do mundo e a perguntafoi feita: "Qual desses dois quereis vós?".Qual foi a resposta? "Barrabás". "Ospríncipes dos sacerdotes e os anciãospersuadiram à multidão que pedisseBarrabás e matasse Jesus. E, respondendoo presidente, disse-lhes: Qual desses dois

quereis vós que eu solte? E eles disseram:Barrabás" (Mt 27:20-21). Os líderes eguias religiosos do povo — os homensque deveriam guiá-los pelo caminhodireito — persuadiram a multidão pobree ignorante a rejeitar o Filho de Deus eaceitar um ladrão e homicida em Seulugar!Leitor lembre-se de que você está em ummundo que é culpado deste terrível ato. Enão só isso, mas a menos que você searrependa e creia verdadeiramente noSenhor Jesus Cristo, você é parte eporção deste mundo, e está sob toda aculpa que decorre daquele ato. Isto é pordemais solene. O mundo todo é culpadode deliberada rejeição e assassinato doFilho de Deus. Para isso temos otestemunho de pelo menos quatro

testemunhas inspiradas. Mateus, Marcos,Lucas e João, todos eles registram que omundo todo — judeus e gentios, reis egovernantes, sacerdotes e o povo — todasas classes, seitas e partidos, concordaramem crucificar o Filho de Deus. Todosconcordaram em assassinar o únicohomem perfeito que apareceu nestemundo, a perfeita expressão de Deus —do Deus que é sobre tudo benditoeternamente. Ou consideramos os quatroevangelistas como falsas testemunhas ouadmitimos que o mundo, como um todoe em cada uma das partes que oconstituem, está manchado pelo terrívelcrime de ter crucificado o Senhor daglória.Este é o verdadeiro padrão pelo qual omundo deve ser medido e pelo qual deve

ser medida a condição de todo inconversodeste mundo, seja homem, mulher oucriança. Se eu quiser saber o que é omundo, basta ponderar no fato de que omundo é aquele que permanece culpadodiante de Deus pelo deliberadoassassinato de Seu Filho. Que tremendofato! Um fato que coloca sua marca nomundo da forma mais solene, e o expõediante de nossos olhos em toda suaobscuridade. Deus tem uma demandacom este mundo. Ele tem uma questão aser resolvida com o mundo — umaquestão terrível — cuja mera mençãodeveria fazer os ouvidos dos homensretinir e o coração tremer. Um Deus justoprecisa vingar a morte de Seu Filho. Nãose trata meramente do fato de ter omundo aceitado um vil ladrão e

assassinado um homem inocente; isto, porsi só, já teria sido um ato pavoroso. Mas,não, aquele inocente não era ninguémmenos do que o Filho de Deus, o queridodo coração do Pai.Que pensamento! O mundo deveráprestar contas a Deus pela morte do SeuFilho — por tê-Lo pregado na cruz entredois ladrões! Que ajuste de contas será!Quão vermelho será o dia da vingança!Que esmagamento terrível trará aquelemomento, quando Deus desembainhar aespada do juízo para vingar a morte deSeu Filho! Quão vã é a ideia de que omundo esteja melhorando! Melhorandoapesar de manchado com o sangue deJesus? Melhorando apesar de estar sob ojuízo de Deus por causa desse ato?Melhorando apesar de precisar prestar

contas a um Deus justo pelo tratamentodado ao Amado de Sua alma, enviado emamor para abençoar e salvar? Queestupidez cega! Que tolice louca! Ah, não!Não pode haver qualquer melhoria atéque o mundo seja varrido pela destruiçãoe a espada do juízo tenha feito seu terríveltrabalho para vingar o assassinato — oassassinato deliberadamente planejado, eexecutado com tamanha determinação —do bendito Filho de Deus. Não podemosconceber uma ilusão mais falsa e fatal doque imaginar que o mundo possa algumdia ser melhorado enquanto estiver sob aterrível maldição da morte de Jesus. Omundo que preferiu Barrabás a Cristonão pode conhecer melhoria. Nada hápara ele além do devastador juízo deDeus.

O mesmo se pode dizer do significativofato da ausência de Jesus, em relação àpresente condição e ao destino futuro domundo. Mas este fato traz outrasimplicações. Ele está relacionado à Igrejade Deus como um todo, e ao crenteindividualmente. Se, por um lado, omundo expulsou a Cristo, por outro oscéus O receberam. Se, de sua parte, oshomens O rejeitaram, Deus O exaltou. Seo homem O crucificou, Deus O coroou.Devemos distinguir cuidadosamente estasduas coisas. A morte de Cristo, quandovista como um ato do mundo — o ato dohomem — envolve a total e absoluta ira ejuízo. Por outro lado, a morte de Cristo,quando vista como um ato de Deus,envolve a total e absoluta bênção paratodos aqueles que se arrependem e creem.

Uma ou duas passagens da divina Palavrairão provar isto.Vamos abrir por um momento no Salmo69, o qual apresenta de forma tão claranosso bendito e adorável Senhorsofrendo nas mãos dos homens esuplicando a Deus por vingança. "Ouve-me, Senhor, pois boa é a Tuamisericórdia. Olha para mim segundo aTua muitíssima piedade. E não escondaso Teu rosto do Teu servo, porque estouangustiado; ouve-me depressa. Aproxima-Te da minha alma, e resgata-a; livra-mepor causa dos meus inimigos. Bem tensconhecido a minha afronta, e a minhavergonha, e a minha confusão; diante de Tiestão todos os meus adversários. Afrontas Mequebrantaram o coração, e estoufraquíssimo; esperei por alguém que

tivesse compaixão, mas não houvenenhum; e por consoladores, mas não osachei. Deram-me fel por mantimento, ena minha sede Me deram a beber vinagre.Torne-se-lhes a sua mesa diante deles emlaço, e a prosperidade em armadilha.Escureçam-se-lhes os seus olhos, para quenão vejam, e faze com que os seus lombostremam constantemente. Derrama sobreeles a Tua indignação, e prenda-os oardor da Tua ira" (Sl 69:16-28).Tudo isso é por demais profundo esolene. Cada palavra desta súplica serárespondida. Nem uma sílaba sequer cairápor terra. Com toda certeza Deus vingaráa morte de Seu Filho. Ele acertará contascom o mundo — com os homens — pelotratamento que Seu Filho unigênitorecebeu em suas mãos. Acreditamos ser

correto insistir nisto para o coração econsciência do leitor. Quão terrível opensamento de Cristo intercedendocontra as pessoas! Quão espantoso escutá-Lo rogando a Deus por vingança sobreSeus adversários! Quão terrível será aresposta devida ao clamor do Filhoferido!Mas olhemos o outro lado da questão.Abra no Salmo 22, que apresenta obendito Senhor sofrendo nas mãos deDeus. Aqui o resultado é totalmentediferente. Ao invés de julgamento evingança, trata-se de bênção e glória,universais e eternas. "Então declararei oTeu nome aos meus irmãos; louvar-Te-eino meio da congregação. Vós, que temeisao Senhor, louvai-O; todos vós, sementede Jacó, glorificai-O; e temei-O todos

vós, semente de Israel.... O meu louvorserá de Ti na grande congregação; pagareios meus votos perante os que O temem.Os mansos comerão e se fartarão;louvarão ao Senhor os que O buscam; ovosso coração viverá eternamente. Todosos limites da terra se lembrarão, e seconverterão ao Senhor; e todas as famíliasdas nações adorarão perante a Tua face.Porque o reino é do Senhor, e Eledomina entre as nações... Uma semente Oservirá; será declarada ao Senhor a cadageração. Chegarão e anunciarão a Suajustiça ao povo que nascer, porquanto Eleo fez" (Sl 22:22-31).Estas duas passagens apresentam, comimensa distinção, os dois aspectos damorte de Cristo. Ele morreu, como ummártir, pela justiça, nas mãos dos homens.

O homem prestará contas disso a Deus.Mas Ele morreu nas mãos de Deus comouma vítima pelo pecado. Este é ofundamento de toda bênção para aquelesque creem no Seu nome. Seussofrimentos como mártir desencadeiam aira e o juízo sobre um mundo ímpio,enquanto Seus sofrimentos expiatóriosabrem as fontes eternas de vida e salvaçãopara a Igreja, para Israel e para toda acriação. A morte de Jesus consuma aculpa do mundo, mas assegura a aceitaçãoda Igreja. O mundo está manchado,enquanto a Igreja está purificada por meiodo sangue derramado na cruz.Esta é a dupla aplicação do primeiro denossos três grandes fatos do NovoTestamento. Jesus veio e Se foi — veio,pois Deus amou ao mundo — foi

embora, porque o mundo odiou a Deus.Se Deus perguntasse — e Ele perguntará— "o que vocês fizeram com MeuFilho?", qual seria a resposta? "Nós Oodiamos; nós O expulsamos e Ocrucificamos. Preferimos um ladrão aEle".Mas, bendito seja eternamente o Deus detoda graça, o cristão, o verdadeiro crente,pode levantar os olhos para o céu é dizer:"Meu Senhor ausente está lá, e está lá pormim. Ele Se foi deste pobre mundo, e Suaausência torna todo o cenário ao meuredor um deserto moral — uma desoladaruína".Ele não está aqui. Isto coloca no mundo,no discernimento de todo coração leal, ocarimbo de um caráter inconfundível. Omundo não queria a Jesus. É o suficiente.

De agora em diante já não precisamos nosespantar com qualquer história de horror.O noticiário policial, os processos nostribunais, as estatísticas de nossas cidadese vilas já não precisam nos surpreender.O mundo que foi capaz de rejeitar adivina personificação de toda a bondadehumana, e aceitou um ladrão e homicidaem Seu lugar, provou sua torpeza moralem um grau que jamais poderá serultrapassado. Será que é motivo deespanto quando descobrimos a falsidade ecrueldade do mundo? Ficamos surpresosquando descobrimos que este mundo nãoé confiável? Se isto ocorrer, está claro quenão interpretamos corretamente aausência de nosso bendito Senhor. O queprova a cruz de Cristo? Que Deus éamor? Sem dúvida. Que Cristo deu Sua

preciosa vida para nos salvar das chamasde um inferno sem fim? Bendita verdade,seja dado total louvor ao Seu nomeinigualável! Mas o que a cruz prova emrelação ao mundo? Que sua culpa estáconsumada e seu juízo determinado. Omundo, ao pregar na cruz Aquele que eraperfeitamente bom, provou da formamais irrefutável que é perfeitamente mau."Se Eu não viera, nem lhes houverafalado, não teriam pecado, mas agora nãotêm desculpa do seu pecado. Aquele queMe odeia, odeia também a Meu Pai. Se Euentre eles não fizesse tais obras, quaisnenhum outro tem feito, não teriampecado; mas agora, viram-nas e Meodiaram a Mim e a Meu Pai. Mas é paraque se cumpra a palavra que está escritana sua lei: Odiaram-Me sem causa" (Jo

15:22-26).2. Porém devemos agora nos ocupar porum momento com nosso segundo eimportante fato. O Espírito Santo deDeus desceu a este mundo. Já se passarammais de dezenove séculos* desde que obendito Espírito desceu do céu, e Elepermanece aqui desde então. Trata-se deum fato estupendo. Existe uma Pessoadivina neste mundo e Sua presença —assim como a ausência de Jesus — temuma dupla aplicação: uma estárelacionada ao mundo, outra tem a vercom cada homem, mulher e criança aqui;está relacionada à Igreja como um todo ea cada membro dela em particular. Noque diz respeito ao mundo, esta excelsatestemunha desceu do céu para convencero mundo de seu terrível crime de haver

rejeitado e crucificado o Filho de Deus.No que diz respeito à Igreja, Ele veiocomo o bendito Consolador, para ocuparo lugar do Jesus ausente e confortar, comSua presença e ministério, os corações doSeu povo. Assim, para o mundo oEspírito Santo é um poderoso Persuasor;para a Igreja Ele é um precioso Consolador.[* N. do T.: O autor viveu no século 19]

Uma ou duas passagens das sagradasEscrituras fundamentarão estes pontos nocoração e mente do leitor piedoso que sesujeita em humilde reverência àautoridade da divina Palavra. Vamos abrirno capítulo 16 do Evangelho de João. "Eagora vou para Aquele que Me enviou; enenhum de vós Me pergunta: Para ondevais? Antes, porque isto vos tenho dito, o

vosso coração se encheu de tristeza.Todavia digo-vos a verdade, que vosconvém que Eu vá; porque, se Eu nãofor, o Consolador não virá a vós; mas,quando Eu for, vo-lo enviarei. E, quandoEle vier, convencerá (elegxei) o mundo dopecado, e da justiça e do juízo. Dopecado, porque não creem em mim; dajustiça, porque vou para Meu Pai, e nãoMe vereis mais; e do juízo, porque já opríncipe deste mundo está julgado" (Jo16:5-11).Mais uma vez, em João 14 lemos: "Se Meamais, guardai os Meus mandamentos. EEu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outroConsolador, para que fique convoscopara sempre; o Espírito de verdade, que omundo não pode receber, porque não Ovê nem O conhece; mas vós O conheceis,

porque habita convosco, e estará em vós".(Jo 14:15-19).Estas passagens comprovam a duplaaplicação da presença do Espírito Santo.Não ousamos tratar este assunto apenascom esta breve introdução, mas sabemosque o leitor será incentivado a estudá-lopor si mesmo à luz das SagradasEscrituras, e estamos convencidos de quequanto mais estudá-lo, maior será aprofundidade e a importância prática deseu interesse. Oh, que pena que isto sejatão pouco compreendido, que os cristãosvejam tão pouco daquilo que estáenvolvido na presença pessoal do Espíritoeterno, o Espírito Santo de Deus, nestemundo — suas solenes consequênciasrelacionadas ao mundo e seus preciososresultados para com a assembleia como

um todo e para cada membro emparticular.Oh, que aqueles que fazem parte do povode Deus em todo lugar possam serguiados a uma compreensão maisprofunda destas coisas; que possamconsiderar aquilo que é devido à divinaPessoa que habita neles e com eles; quepossam ter o zeloso cuidado de não"entristecer" o Espírito Santo em seuandar ou "estingui-Lo" em suasassembleias públicas!

* * * * *

O FATO

Ao abordarmos este assunto tão glorioso,

sentimos que não há nada melhor do queapresentar ao leitor o claro testemunhodas Sagradas Escrituras, no que dizrespeito ao fato em sua amplitude, de quenosso Senhor Jesus Cristo voltará — deque Ele deixará o lugar que agora ocupano trono de Seu Pai e virá nas nuvens docéu, para receber Seu povo para Si, paraexecutar juízo sobre o ímpio e estabelecerSeu reino universal e eterno.Este fato está clara e completamenteestabelecido no Novo Testamento, domesmo modo como os outros dois fatosaos quais já nos referimos. É verdade queo Filho de Deus virá do céu, assim comotambém é verdade que Ele foi para o céu,ou que o Espírito Santo continua nestemundo. Se admitirmos um fato, devemosadmitir todos; se negarmos um, devemos

negar todos, uma vez que tudo se apoiaexatamente na mesma autoridade. Juntoseles permanecem ou juntos eles caem. Éverdade que o Filho de Deus foirejeitado, expulso e crucificado? Éverdade que Ele foi para o céu? Éverdade que Ele agora está sentado àdestra de Deus, coroado de honra eglória? É verdade que o Espírito Santo deDeus desceu a este mundo cinquenta diasapós a ressurreição de nosso Senhor e queEle continua aqui?Todas estas coisas são verdadeiras? Tãoverdadeiras quanto as Escrituras podemtorná-las. Portanto, é igualmente verdadeque nosso bendito Senhor voltará outravez e estabelecerá Seu reino neste mundo,que Ele irá — literal, real e pessoalmente— descer do céu, tomar posse de Seu

grande poderio e do reino que vai de umpolo ao outro, "desde o rio do Egito" aosconfins da terra.Talvez possa parecer estranho para algunsde nossos leitores considerarmosnecessário levantar as provas de umaverdade tão clara como esta, mas é bomlembrar que estamos escrevendo como seo assunto fosse totalmente inédito para oleitor, como se ele nunca tivesse ouvidofalar de algo parecido com a segundavinda do Senhor, ou como se, tendoouvido falar, continuasse a colocar istoem dúvida. Este é o motivo de tratarmosdeste tema tão precioso de um modo tãoelementar.Agora vamos às nossas provas.Quando nosso adorável Senhor estavaprestes a deixar Seus discípulos, em Sua

infinita graça Ele procurou consolar ocoração pesaroso deles com palavras damais doce ternura. "Não se turbe o vossocoração; credes em Deus, crede tambémem Mim. Na casa de Meu Pai há muitasmoradas; se não fosse assim, Eu vo-loteria dito. Vou preparar-vos lugar. Equando Eu for, e vos preparar lugar, vireioutra vez, e vos levarei para Mim mesmo,para que onde Eu estiver estejais vóstambém". (Jo 14:1-3).Encontramos aqui algo bem definido. Naverdade não está apenas bem definido,como é também motivo de ânimo econsolo. "Virei outra vez". Ele não diz"mandarei alguém buscar vocês". Muitomenos Ele diz que "vocês virão Meencontrar quando morrerem". Ele nãodiz algo parecido. Enviar um anjo ou

uma legião de anjos não seria a mesmacoisa que Ele vir pessoalmente. Não hádúvida de que seria muito gentil de Suaparte, e muito glorioso para nós, se umamultidão dentre as hostes celestiais fosseenviada, com cavalos e carruagens defogo, para nos transportar triunfantespara o céu. Mas isto não seria ocumprimento da doce promessa que Elemesmo fez, e certamente Ele cumprirá oque prometeu. Ele não diria uma coisapara depois fazer outra. Ele não podementir ou alterar Sua Palavra. E nãoapenas isto, mas algo como enviar umanjo ou uma hoste de anjos para nosbuscar não iria satisfazer o amor que Eletraz em Seu coração.Que tocante a graça que fulgura em tudoisso! Se eu estiver esperando por um

amigo importante e muito querido quedeve chegar de trem, não ficarei satisfeitoem mandar um funcionário ou um táxipara encontrá-lo; devo ir eu mesmo. Éprecisamente isto que nosso Senhor querfazer. Ele foi para o céu, e Sua entrada aliprepara e define o lugar do Seu povo.Não haveria lugar para nós em meio àsmuitas mansões na casa do Pai se nossoJesus não tivesse ido na frente; e então,para que não existisse no coraçãoqualquer sentimento de estranheza depensar em nossa entrada naquele lugar,Ele diz, com tamanha doçura: "Vireioutra vez, e vos levarei para Mim mesmo,para que onde Eu estiver estejais vóstambém". Nada menos do que isto podecumprir a graciosa promessa feita pornosso Senhor, ou satisfazer o amor que

Ele traz no coração.E é bom que se observe cuidadosamenteque esta promessa nada tem a ver com amorte do crente individualmente. Quempoderia imaginar que, ao dizer "vireioutra vez", o Senhor realmente quisessedizer que deveríamos ir a Ele por meio damorte? Como presumir que podemos tertal liberdade para interpretar de outromodo as palavras claras e preciosas denosso Senhor? O certo é que, se Elequisesse dizer que iríamos nos encontrarcom Ele por meio da morte, poderia eteria dito isto. Mas não disse, pois não foio que quis dizer; tampouco é possível quefalasse uma coisa querendo dizer outra.Sua vinda para nós, e nossa ida para Ele,são coisas totalmente diferentes, e por setratar de ideias diferentes, elas teriam sido

apresentadas em linguagem diferente.Assim, por exemplo, no caso do ladrãoarrependido na cruz, nosso Senhor nãofala de vir buscá-lo, mas diz: "Hojeestarás comigo no Paraíso". É preciso quenos lembremos de que as Escrituras sãotão divinamente definitivas quantoinspiradas, e por esta razão nuncadeveríamos confundir duas coisas que sãotão diferentes quanto a vinda do Senhor eo adormecer do cristão.Talvez aqui seja bom assinalar que nãoexistem mais do que quatro passagens emtodo o Novo Testamento se referindo àquestão do cristão passando pela morte.A primeira é aquela em Lucas 23, jámencionada: "Hoje estarás comigo noParaíso". A segunda ocorre em Atos 7:"Senhor Jesus, recebe o meu espírito". A

terceira é aquela expressão familiar eencantadora de 2 Coríntios 5, "deixar estecorpo, para habitar com o Senhor". Aquarta ocorre no fascinante primeirocapítulo da epístola aos Filipenses, "tendodesejo de partir, e estar com Cristo,porque isto é ainda muito melhor".Estas passagens tão preciosas compõem atotalidade de testemunhos nas Escriturassobre a interessante questão da condiçãopós-morte. Há uma passagem emApocalipse 14 que costuma sererroneamente aplicada a este assunto:"Bem-aventurados os mortos que desdeagora morrem no Senhor. Sim, diz oEspírito, para que descansem dos seustrabalhos, e as suas obras os seguem".Mas isto não tem relação com os cristãoshoje, embora não haja dúvida de que

todos os que morrem no Senhor sejambem-aventurados e suas obras os sigam.Todavia, a referência é para um tempoainda futuro, quando a Igreja já tiverdeixado esta cena por completo, e outrastestemunhas se apresentarem. Em suma,Apocalipse 14:13 refere-se aos temposapocalípticos e deve ser visto desta formase quisermos evitar confusão.Devemos agora voltar ao nosso assunto eseguir com nossas provas e, ao fazê-lo,gostaríamos de pedir ao leitor que abrano primeiro capítulo de Atos dosApóstolos. O bendito Senhor tinhaacabado de subir deste mundo diante deSeus santos apóstolos. "E, estando comos olhos fitos no céu, enquanto Ele subia,eis que junto deles se puseram doishomens vestidos de branco. Os quais lhes

disseram: Homens galileus, por que estaisolhando para o céu? Esse Jesus, quedentre vós foi recebido em cima no céu,há de vir assim como para o céu O vistesir" (At 1:10 e 11).Isto é profundamente interessante efornece uma prova das mais marcantes denossa tese atual. Na verdade, é impossívelficar imune à sua força. Oh, quempoderia ou desejaria evitá-la? A formacomo a testemunha angelical fala para oshomens da Galileia poderia até serconsiderada tautologia, mas, como bemsabemos, não existe e nem pode existiralgo assim no volume de Deus. Portanto,o que vemos neste testemunho é algoencantador em sua abrangência e divinoem sua plenitude. Dele aprendemos que omesmo Jesus, que deixou este mundo e

subiu ao céu na presença de diversastestemunhas, deverá voltar da mesmamaneira como eles O viram subir ao céu.Como Ele subiu? Subiu pessoalmente,literalmente, realmente, a mesma Pessoaque tinha acabado de conversar com elescom tanta familiaridade — a mesmaPessoa que eles viram com seus própriosolhos, ouviram com seus ouvidos,tocaram com suas mãos — que comerana presença deles e, "depois de terpadecido, Se apresentou vivo, com muitase infalíveis provas". Bem, então Ele "háde vir assim como para o céu O vistes ir".

Aquele que com mãos levantadas,Subiu de um mundo tão cruel,

Voltará com bênçãos reservadas,Pra nos levar daqui ao céu.

E neste ponto podemos perguntar, jáprevendo algo que poderá vir a serpublicado futuramente: Quem viu obendito Senhor subir? O mundo? Não,nenhum inconverso, nenhum incrédulojamais teve diante de seus olhos nossoprecioso Senhor depois daquele momentoquando foi colocado no túmulo. A últimavisão que o mundo teve de Jesus foipendurado na cruz, um espetáculo paraanjos, homens e demônios. Da próximavez Ele será visto, assim como acontececom o relâmpago, vindo para executarjuízo e pisar, em terrível vingança, o lagarda ira do Deus Todo-poderoso. Quepensamento tremendo!Portanto ninguém, exceto os que sãoSeus, viu o Salvador subir, do mesmo

modo como apenas os Seus, e ninguémmais, O viram a partir do momento deSua ressurreição. Ele Se revelou —bendito seja o Seu santo nome! —àqueles que eram queridos ao Seucoração. Ele confirmou e confortou,fortaleceu e encorajou suas almas pormeio dessas "muitas e infalíveis provas"das quais o narrador inspirado nos fala.Ele os levou até os confins do mundoinvisível, o mais longe que os homenspoderiam ir ainda no corpo, e ali permitiuque O vissem subindo ao céu e, enquantocontemplavam aquela cena gloriosa, Elecolocou o precioso testemunho bem emseus corações. "Esse Jesus" — o mesmo,não outro, não um estranho, mas omesmo amoroso, compassivo, gracioso,imutável amigo — "que dentre vós foi

recebido em cima no céu, há de vir assimcomo para o céu O vistes ir".Será que um testemunho poderia ser maisclaro ou satisfatório? Poderia a prova sermais evidente ou conclusiva? Como podequalquer contra-argumento se sustentarou ser levantada qualquer objeção? Ouaqueles dois homens em vestes brancaseram testemunhas falsas, ou nosso Jesusvoltará exatamente do modo como partiu.Não há meio-termo entre estas duasconclusões. Lemos nas Escrituras que"pela boca de duas ou três testemunhastoda a palavra seja confirmada", portantopela boca de dois mensageiros celestiais— dois arautos vindos da região de luz everdade — temos a firme palavra de quenosso Senhor Jesus Cristo voltará em Suaforma corpórea atual, para ser visto antes

de todos pelos Seus, à parte de todos osoutros, na santa intimidade e profundorecato que caracterizou Sua partida destemundo. Tudo isso, bendito seja Deus,está incluído nestas duas pequenaspalavras: "assim como".Não podemos tentar, em um texto brevecomo este, apresentar todas as provas quepodem ser encontradas nas páginas doNovo Testamento. Apresentamos umados Evangelhos e uma de Atos, e agoragostaríamos de pedir ao leitor que abrisseconosco as Epístolas. Vamos tomar comoexemplo a Primeira Epístola aosTessalonicenses. Escolhemos estaEpístola porque é reconhecida como amais antiga dentre os escritos de Paulo, etambém porque foi escrita para um grupode convertidos muito novos. Esta última

observação é importante, já que às vezesouvimos afirmações de que a verdade davinda do Senhor não deve ser apresentadaa novos convertidos. Fica evidente que oapóstolo Paulo não a consideravaimprópria para novos convertidos pelofato de que, dentre todas as epístolas queescreveu, nenhuma fala tanto da vinda doSenhor quanto a que foi escrita para osrecém-convertidos tessalonicenses. Averdade é que, quando uma alma éconvertida e exposta à plena luz eliberdade do evangelho de Cristo, édivinamente natural que ela aguarde avinda do Senhor. Esta verdade tãopreciosa é parte integral do evangelho. Aprimeira vinda e a segunda vinda estãoligadas da forma mais bendita pelo elodivino da presença pessoal do Espírito

Santo na Igreja.Por outro lado, onde quer que a alma nãoesteja fundamentada na graça, onde querque paz e liberdade não estejam sendodesfrutadas e onde um evangelhoincompleto tiver sido apresentado, sedescobrirá que a esperança da vinda doSenhor não é tratada com carinho, pelosimples motivo de que a alma estará, pornecessidade, ocupada com a questão desua própria condição e seus objetivos. Seeu não tenho a certeza de minha salvação— se não sei que tenho vida eterna, quesou filho de Deus — não posso estaresperando pela volta do Senhor. É sóquando conhecemos o que Jesus fez pornós em Sua primeira vinda que podemosbuscar, com uma santa e viva inteligência,pela Sua segunda vinda.

Mas vamos abrir em nossa Epístola. Leiaas seguintes sentenças do primeirocapítulo: "Porque o nosso evangelho nãofoi a vós somente em palavras, mastambém em poder, e no Espírito Santo, eem muita certeza... De maneira que fostesexemplo para todos os fiéis na Macedôniae Acaia. Porque por vós soou a palavrado Senhor, não somente na Macedônia eAcaia, mas também em todos os lugares avossa fé para com Deus se espalhou, detal maneira que já dela não temosnecessidade de falar coisa alguma; Porqueeles mesmos anunciam de nós qual aentrada que tivemos para convosco, ecomo dos ídolos vos convertestes a Deus,para servir o Deus vivo e verdadeiro, eesperar dos céus a Seu Filho, a quemressuscitou dentre os mortos, a saber,

Jesus, que nos livra da ira futura" (1 Ts1:5-10).Temos aqui uma bela ilustração do efeitode um evangelho completamente claro,recebido com uma fé simples e sincera.Eles se converteram dos ídolos paraservir o Deus vivo e verdadeiro, e esperarpelo Seu Filho. Estavam realmenteconvertidos à bendita esperança da vindado Senhor. Aquela era uma parte integraldo evangelho que Paulo pregava, e umaparte integral da fé deles. Era real aconversão dos ídolos? Sem dúvida. Erauma realidade servir o Deus vivo?Indubitavelmente. Bem, então eraigualmente tão real, tão positivo, tãosimples que esperassem pelo Filho deDeus vindo do céu. Se questionarmos arealidade de uma coisa, seremos

obrigados a questionar a realidade detodas, já que todas estão ligadas e formamum belo conjunto da verdade cristã naprática. Se você perguntasse a um cristãotessalonicense o quê ele esperava, qualteria sido sua resposta? Será que teriarespondido, "estou esperando que omundo melhore por meio do evangelhoque eu próprio recebi" ou "estouesperando pelo momento de minha mortequando irei me encontrar com Jesus"?Não. Sua resposta teria sido simplesmenteesta: "Estou esperando pelo Filho deDeus vindo do céu".Esta, e nenhuma outra, é a esperançaadequada ao cristão, a esperançaadequada à Igreja. Esperar pela melhoriado mundo não é esperança cristã alguma.Se fosse, você poderia igualmente esperar

pela melhoria da carne, pois há tantaesperança para a carne como para omundo. E quanto à questão da morte —que sem dúvida pode ocorrer — ela não éapresentada sequer uma vez como averdadeira esperança adequada ao cristão.E pode-se afirmar, com toda confiança,que não existe sequer uma passagem emtodo o Novo Testamento na qual a morteseja citada como a esperança do crente.Por outro lado, a esperança da vinda doSenhor está ligada, da forma mais íntima,a todas as preocupações, questões erelacionamentos da vida, conforme vemosna epístola que temos diante de nós.Assim, ao procurar fazer referência àinteressante questão de sua próprialigação pessoal com os amados santos emTessalônica, o apóstolo diz: "Porque, qual

é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa deglória? Porventura não o sois vós tambémdiante de nosso Senhor Jesus Cristo emSua vinda? Na verdade vós sois a nossaglória e gozo".Mais uma vez, ao pensar em seuprogresso em santidade e amor, eleacrescenta, "E o Senhor vos aumente, efaça crescer em amor uns para com osoutros, e para com todos, como tambémo fazemos para convosco; para confirmaros vossos corações, para que sejaisirrepreensíveis em santidade diante denosso Deus e Pai, na vinda de nosso SenhorJesus Cristo com todos os Seus santos" (1Ts 3:12-13).Finalmente, ao querer confortar ocoração de seus irmãos acerca dos que jádormiam, como o apóstolo faz? Acaso ele

lhes diz que em breve eles deviam segui-los? Não, isso teria sido bem adequadopara os tempos do Antigo Testamento,como diz Davi acerca de sua criança quetinha partido: "Eu irei a ela, porém elanão voltará para mim" (2 Sm 12:23).Todavia não é assim que o Espírito Santonos instrui em 1 Tessalonicenses, muitopelo contrário. "Não quero, porém,irmãos", diz ele, "que sejais ignorantesacerca dos que já dormem, para que nãovos entristeçais, como os demais, que nãotêm esperança. Porque, se cremos queJesus morreu e ressuscitou, assim tambémaos que em Jesus dormem, Deus ostornará a trazer com Ele. Dizemo-vos,pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós,os que ficarmos vivos para a vinda doSenhor, não precederemos os que

dormem. Porque o mesmo Senhordescerá do céu com alarido, e com voz dearcanjo, e com a trombeta de Deus; e osque morreram em Cristo ressuscitarãoprimeiro. Depois nós, os que ficarmosvivos, seremos arrebatados juntamentecom eles nas nuvens, a encontrar oSenhor nos ares, e assim estaremossempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1Ts 4:13-18).É praticamente impossível algo ser maissimples, direto e conclusivo do que isto.Os cristãos tessalonicenses, como jáassinalamos, se converteram na esperançada volta do Senhor. Foram ensinados abuscar por isso diariamente. Crer que Elevoltaria era algo tão integrado ao seucristianismo quanto crer que Ele veio e

partiu. Por isso eles foram pegos desurpresa quando alguns foram levados apassar pela morte; eles não esperavam porisso e temiam que os que tinham partidopudessem perder o gozo daquelemomento tão bem-aventurado eaguardado que era a volta do Senhor.Portanto o apóstolo escreve para corrigiro equívoco e, ao fazê-lo, derrama sobre otema uma fresca torrente de luz,assegurando-lhes que os mortos emCristo — o que inclui todos quedormiram ou dormirão, em suma, aquelesdos tempos do Antigo Testamento, bemcomo aqueles do Novo Testamento —ressuscitarão primeiro, isto é, antes que osvivos sejam transformados, e todossubirão juntos para encontrar seu Senhorque desce.

Teremos oportunidade de voltar a estanotável passagem, quando tratarmos deoutros aspectos deste glorioso assunto.Nós tão somente a citamos aqui comouma das quase inumeráveis provas de quenosso Senhor voltará — pessoal, real everdadeiramente — e que Sua vindapessoal é a verdadeira e adequadaesperança da Igreja de Deus,coletivamente, e do crente,individualmente.Devemos encerrar esta porção lembrandoo leitor cristão de que ele jamais poderáse sentar à mesa de seu Senhor sem serlembrado desta gloriosa esperança,considerando as palavras que brilham naspáginas inspiradas: "Porque todas asvezes que comerdes este pão e beberdeseste cálice anunciais a morte do Senhor,

até..." quando? Até você morrer? Não,mas "até que venha" (1 Co 11:26). Quãoprecioso é isto! A mesa do Senhorpermanece entre essas duas maravilhosasépocas, a cruz e o advento — a morte e aglória. O crente pode elevar os olhosacima da mesa e ver os raios de glóriailuminando o horizonte. É nossoprivilégio, ao nos reunirmos a cada dia doSenhor em torno da mesa do Senhor paraanunciar Sua morte, podermos dizer:"Talvez esta seja a última oportunidadede celebrar esta preciosa festa. Ele poderávoltar antes que outro dia do Senhoramanheça sobre nós". Mais uma vezdizemos: Quão precioso é isto!

* * * * *

A DUPLA APLICAÇÃO DO FATOConfiando ter apresentado o fato davinda do Senhor de forma completa,devemos agora colocar diante do leitor adupla aplicação desse fato — suaaplicação em relação ao povo do Senhor,e sua aplicação em relação ao mundo. Aprimeira é apresentada, no NovoTestamento, como a vinda de Cristo parareceber Seu povo para Si; a última étratada como "o dia do Senhor" — umaexpressão usada com frequência tambémnas Escrituras no Antigo Testamento.Estas coisas nunca são confundidas nasEscrituras, conforme veremos ao nosocuparmos das várias passagens. Oscristãos as confundem e é por esta razãoque encontramos com frequência "abendita esperança" envolta em densas

nuvens e associada, na sua maneira depensar, com circunstâncias de terror, ira ejuízo, coisas que não têm absolutamentecoisa alguma a ver com a vinda de Cristopara o Seu povo, mas que estãointimamente ligadas com "o dia doSenhor".Portanto, que o leitor cristão tenha bemdefinido em seu coração, com base naclara autoridade das Sagradas Escrituras,que a grande e específica esperança quedeve sempre acalentar é a da vinda deCristo para o Seu povo. Esta esperançapode se realizar nesta mesma noite. Nãohá qualquer outra coisa para se esperar,nenhum evento para ocorrer entre asnações, nada para acontecer na história deIsrael, nada no governo de Deus nestemundo, nada, em suma, em qualquer que

seja a sua forma, para se interpor entre ocoração do verdadeiro crente e suaesperança celestial. Cristo pode vir hoje ànoite para o Seu povo. Na verdade não hánada que impeça. Ninguém pode dizerquando Ele virá, mas podemos dizer comjúbilo que Ele deve vir a qualquermomento. E, bendito seja o Seu nome,quando Ele vier para nós, não seráacompanhado das circunstâncias deterror, ira e juízo. Não será com trevas eescuridão e tempestade. Tais coisasacompanharão "o dia do Senhor", como oapóstolo Pedro explica claramente aosJudeus em seu primeiro grande sermão,no dia de Pentecostes, no qual cita asseguintes palavras da solene profecia deJoel: "E mostrarei prodígios no céu, e naterra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.

O sol se converterá em trevas, e a lua emsangue, antes..." antes de quê? Da vindado Senhor para o Seu povo? Não, masantes "que venha o grande e terrível dia doSenhor".Quando nosso Senhor vier para receber oSeu povo para Si nenhum olho O verá,nenhum ouvido ouvirá Sua voz, excetoseu próprio povo amado e redimido.Lembremo-nos das palavras dastestemunhas angelicais no primeirocapítulo de Atos. Quem viu o benditoSenhor subindo aos céus? Ninguém alémdos que eram Seus. Bem, Ele "há de virassim como para o céu O vistes ir". Domesmo modo como foi na ida, assim será navolta, se acatarmos o que dizem asEscrituras. Confundir o dia do Senhorcom Sua vinda para Sua Igreja é ignorar

os mais claros ensinos das Escrituras eprivar o crente de sua verdadeira e justaesperança.E aqui talvez não possamos fazer melhordo que chamar a atenção para umapassagem muito importante e interessantena Segunda Epístola de Pedro: "Porquenão vos fizemos saber a virtude e a vindade nosso Senhor Jesus Cristo, seguindofábulas artificialmente compostas; masnós mesmos vimos a Sua majestade.Porquanto Ele recebeu de Deus Paihonra e glória, quando da magníficaglória Lhe foi dirigida a seguinte voz:Este é o meu Filho amado, em Quem Metenho comprazido. E ouvimos esta vozdirigida do céu, estando nós com Ele nomonte santo; e temos, mui firme [ouconfirmada], a palavra dos profetas, à qual

bem fazeis em estar atentos, como a umaluz que alumia em lugar escuro, até que odia amanheça, e a estrela da alva apareçaem vossos corações" (2 Pe 1:16-19).Esta passagem exige a maior atenção doleitor. Ela apresenta, da forma mais clarapossível, a diferença entre "a palavra dosprofetas" e a esperança peculiar docristão, a saber, "a estrela da alva".Devemos nos lembrar de que o grandeassunto da profecia é o governo de Deusdo mundo em conexão com adescendência de Abraão. "Quando oAltíssimo distribuía as heranças às nações,quando dividia os filhos de Adão uns dosoutros, estabeleceu os termos dos povos,conforme o número dos filhos de Israel.Porque a porção do Senhor é o seu povo;Jacó é a parte da sua herança" (Dt 32:8,

9).Aqui está, portanto, o escopo e tema daprofecia — Israel e as nações. Até umacriança é capaz de entender isto. Sepercorrermos os profetas, do início deIsaías ao final de Malaquias, nãoencontraremos qualquer menção da Igrejade Deus, sua posição, sua porção ou suasperspectivas. Não há dúvida de que apalavra profética é profundamenteinteressante, e é extremamente útil para ocristão estudá-la, mas ela será útil namedida em que este entender sua própriaabrangência e objetivo, além de enxergara diferença entre ela e a esperança quecabe ao cristão. Podemos afirmar semmedo de errar que é totalmenteimpossível alguém estudar as profecias doAntigo Testamento corretamente sem

enxergar claramente o verdadeiro lugar daIgreja.Não podemos tentar entrar no assunto daIgreja neste breve tratado. Trata-se de umassunto que já foi repetidamenteabordado e escrutinado em outraspublicações, e podemos agora apenaspedir que o leitor pondere e examine aafirmação que deliberadamente fazemosaqui, a saber, que não existe uma únicasílaba sobre a Igreja de Deus — o corpode Cristo — de uma capa a outra doAntigo Testamento. Existem tipos,sombras e ilustrações que, com a plenaluz que agora temos do NovoTestamento, podemos ver, entender eapreciar. Mas não teria sido possível aqualquer crente do Antigo Testamentoenxergar o grande mistério de Cristo e da

Igreja, principalmente por isto não tersido então revelado. O apóstolo inspiradonos diz expressamente que é algo queestava "oculto", não nas Escrituras doAntigo Testamento, mas "em Deus",conforme lemos em Efésios 3:9, "Edemonstrar a todos qual seja adispensação do mistério, que desde osséculos esteve oculto em Deus, que tudocriou por meio de Jesus Cristo". Domesmo modo, em Colossenses lemos do"mistério que esteve oculto desde todos osséculos, e em todas as gerações, e queagora foi manifesto aos seus santos" (Cl1:26).Estas duas passagens deixam fora dequalquer questão a veracidade de nossaafirmação para aqueles que tiverem odesejo de serem governados tão somente

pela autoridade das Sagradas Escrituras.Elas nos ensinam que o grande mistério— Cristo e a Igreja — não é para serencontrado no Antigo Testamento. Ondeé que temos, no Antigo Testamento,qualquer menção de Judeus e Gentiosformando um só corpo e sendo unidospelo Espírito Santo a uma Cabeça viva noCéu? Como tal coisa poderia ser possívelenquanto a "parede de separação queestava no meio" permanecesse como umabarreira intransponível entre circuncisos eincircuncisos? Se alguém precisasse citaruma característica especial da antigadispensação, mencionaria logo "a rígidaseparação entre judeus e gentios". Poroutro lado, se lhe fosse solicitado quemencionasse uma característica especialda Igreja, ou do cristianismo, ele

imediatamente responderia: "A uniãoíntima de judeus e gentios em um sócorpo". Em suma, as duas condiçõesestão em claro contraste e era totalmenteimpossível que ambas pudessem serválidas ao mesmo tempo. Assim,enquanto a parede de separaçãopermanecesse, a verdade da Igreja nãopoderia ter sido revelada. Mas após amorte de Cristo ter derrubado essaparede, o Espírito Santo desceu do Céupara formar um corpo e uni-lo, por Suapresença e habitação, à Cabeçaressuscitada e glorificada nos Céus. Tal éo grande mistério de Cristo e da Igreja,para a qual não poderia existir uma baseque fosse menos do que uma redençãoconsumada.Pedimos agora ao leitor que examine este

assunto por si mesmo. Busque nasEscrituras para ver se estas coisas sãorealmente assim. Esta é a única maneirade se chegar à verdade. Devemos deixarde lado todos nossos pensamentos eargumentos, nossos preconceitos epreferências, e abordarmos as SagradasEscrituras como uma criancinha. É assimque aprenderemos a vontade de Deussobre este assunto tão precioso einteressante. Descobriremos que a Igrejade Deus, o corpo de Cristo, não existiu defato até após a ressurreição e ascensão deCristo e a consequente descida doEspírito Santo no dia de Pentecostes.Além disso, descobriremos que a plena egloriosa doutrina da Igreja não foiapresentada até os dias do apóstolo Paulo.(Veja Rm 16:25, 26; Ef 1-3; Cl 1:25-29).

Finalmente, veremos que as verdadeiras einequívocas fronteiras da história terrenada Igreja são o Pentecostes (At 2) e oarrebatamento, ou o traslado dos santospara o céu (1 Ts 4:13-17).Chegamos, portanto, à posição da qualpodemos ter uma visão da esperança queé pertence à Igreja, e essa esperança é,com toda certeza, "a resplandecenteestrela da manhã". A respeito destaesperança os profetas do AntigoTestamento não emitiram sequer umasílaba. Eles falam de forma ampla e clarado "dia do Senhor" — um dia de juízosobre o mundo e suas práticas (veja Is2:12-22 e referências) —, todavia o "diado Senhor", com todas as circunstânciasde ira, juízo e terror que lhe sãopeculiares nunca deve ser confundido

com Sua vinda para o Seu povo. Quandonosso bendito Senhor vier para o Seupovo não haverá coisa alguma de terrível.Ele virá em toda a doçura e ternura deSeu amor para receber os Seu povoamado e redimido para Si. Ele viráterminar a preciosa história de Sua graça."Aparecerá (ophthesetai) segunda vez, sempecado [isto é, à parte de qualquerquestão relacionada ao pecado], aos que oesperam para salvação" (Hb 9).* Ele virácomo noivo para receber a noiva; equando assim vier, ninguém além dos quesão Seus ouvirão Sua voz ou verão Suaface. Se Ele viesse nesta mesma noite parao Seu povo — e pelo que sabemos Elepode vir — se a voz do arcanjo e atrombeta de Deus forem ouvidas estanoite, então todos os mortos em Cristo

— todos os que foram colocados adormir por Jesus — todos os santos deDeus, tanto aqueles dos tempos doAntigo quanto do Novo Testamento, quedormem em nossos cemitérios esepulcros, ou nas profundezas do oceano,todos ressuscitariam de seu sonotemporário. Todos os santos queestivessem vivos seriam transformadosnum momento, e todos seriamarrebatados para encontrar seu Senhornos ares, e voltar com Ele para a casa doPai. (Jo 14:3; 1 Ts 4:16, 17; 1 Co 15:51-52).[* A expressão "que O esperam para salvação"refere-se a todos os crentes. Não se refere, comoalguns poderiam supor, apenas àqueles quedetêm a verdade da segunda vinda do Senhor.Isso tornaria nosso lugar com Cristo em Suavinda dependente de conhecimento, ao invés dedepender de nossa união com Ele pela presença

e poder do Espírito Santo. O Espírito de Deus,na passagem acima, assegura da forma maisgraciosa que todo o povo de Deus espera, deuma maneira ou outra, pelo precioso Salvador, eisso é o que realmente acontece. As pessoaspodem não enxergar todos os detalhes. Elaspodem não desfrutar de igual clareza de opiniãoou profundidade e plenitude de compreensão,mas, com toda certeza, elas ficariam contentesde, a qualquer momento, poderem ver Aqueleque as amou e Se entregou a Si mesmo por elas.]

É isto que significa o arrebatamento ouretirada dos santos, e não tem nada a verdiretamente com Israel ou com as nações.Trata-se da esperança distinta e única daIgreja, e não existe sequer uma pista dissoem todo o Antigo Testamento. Se alguémafirmar que existe, que apresente. Seexistir, não terá dificuldade para mostrar.Nós declaramos, solene e

deliberadamente, que não existe. Poispara tudo o que diz respeito à Igreja —sua posição, sua vocação, sua porção, suasexpectativas — devemos nos dirigir àspáginas do Novo Testamento e, dentreaquelas páginas, em especial às Epístolasde Paulo. Confundir "a palavra profética"com a esperança da Igreja é causar dano àverdade de Deus e iludir as almas do Seupovo. É verdade que o inimigo tem tidoêxito neste sentido em toda a extensão daIgreja professa. E é por isso que tãopoucos cristãos têm ideias realmentebíblicas sobre a vinda de seu Senhor. Amaioria perscruta a profecia em busca daesperança da Igreja, confundindo "o Solde justiça" com a "Estrela da manhã",misturando a vinda de Cristo para o Seupovo com Sua vinda com o Seu povo e

considerando a Sua "vinda" ou o estarcom Ele como algo idêntico à Sua"aparição" ou "manifestação".*[* N. do T.: Em algumas versões da Bíblia emportuguês é usada indistintamente a palavra"vinda" em ambas as situações. Na versão eminglês, à qual o autor se refere, são utilizadaspalavras como "coming" para o primeiro caso e"appearing" ou "manifestation" para o segundocaso.]

Isso tudo é um erro dos mais sérios, parao qual queremos alertar nossos leitores.Quando Cristo vier com o Seu povo"todo olho O verá". Quando Ele Semanifestar, os Seus também serãomanifestos com Ele. "Quando Cristo, queé a nossa vida, Se manifestar, entãotambém vós vos manifestareis com Eleem glória" (Cl 3:4). Quando Cristo vier

exercer juízo, os Seus santos virão comEle. "Eis que é vindo o Senhor commilhares de Seus santos; para fazer juízocontra todos" (Jd 14, 15). O mesmo éencontrado em Apocalipse 19, ondeAquele que cavalga o cavalo branco éseguido pelos exércitos nos céus emcavalos brancos, vestidos de linho fino,branco e puro. Esses exércitos não sãoanjos, mas santos, pois não lemos deanjos vestidos de linho branco, o que éuma clara expressão, no próprio capítulo,das "justiças dos santos" (versículo 8).Portanto, é por demais evidente que paraos santos estarem acompanhando SeuSenhor quando Ele vier em juízo, devemestar com Ele antes disso. O evento desua subida para estar com Ele não éapresentado no livro do Apocalipse, a

menos que esteja subentendido — comonão temos dúvida de que está — noarrebatamento da criança no capítulo 12.A criança é, com certeza, Cristo, e já queCristo e o Seu povo estãoindissoluvelmente unidos, o Seu povoencontra-se assim completamenteidentificado com Ele, bendito seja parasempre Seu santo e precioso nome!Todavia, fica claro que não faz parte doescopo do livro de Apocalipse apresentar-nos a vinda de Cristo para o Seu povo, oarrebatamento deste para encontrá-Lonos ares, ou seu retorno para a casa doPai. Estes benditos eventos ou fatosdevem ser procurados em outraspassagens como, por exemplo, João 14:3,1 Coríntios 15:23, 51, 52 e 1Tessalonicenses 4:14-17. Que o leitor

pondere nestas três passagens; que possaabsorver, no íntimo de sua alma, o seuensino claro e precioso. Não há coisaalguma difícil acerca delas, não háqualquer obscuridade, névoa ou incerteza.Um bebê em Cristo pode entendê-las.Elas apresentam da forma mais clara esimples possível a verdadeira esperançado cristão, a qual, repetimos com ênfase einsistimos com o leitor como sendo ainstrução direta e positiva das SagradasEscrituras, é a vinda de Cristo parareceber para Si mesmo o Seu povo —todos os que Lhe pertencem. Ele virápara levá-los de volta à casa de Seu Pai,para que estejam ali Consigo enquantoDeus executa Seus procedimentosgovernamentais para com Israel e asnações, preparando, por meio de Seus

atos judiciais, o caminho para a revelaçãodo Seu Primogênito ao mundo.Então, se alguém perguntar a razão denão encontrarmos a vinda de Cristo paraos Seus no livro de Apocalipse, a respostaé que esse livro é principalmente um livrode juízo — um livro governamental ejudicial, pelo menos do capítulo 1 ao 20.É por esta razão que até a Igreja serapresentada ali ela está sob juízo. Noscapítulos 2 e 3 não vemos a Igreja como ocorpo ou a noiva de Cristo, mas comouma testemunha responsável na terra,cuja condição está sendo cuidadosamenteexaminada e rigidamente julgada porAquele que anda em meio aos candeeiros.Portanto, não estaria de acordo com ocaráter ou objetivo do livro deApocalipse apresentar, de forma direta, o

arrebatamento dos santos. Ele nos mostraa Igreja na terra ocupando um lugar deresponsabilidade. Isto aparece, emApocalipse 2 e 3, como "as coisas quesão". Mas dali até o capítulo 19 deApocalipse não há uma sílaba sequersobre a Igreja na terra. O que fica bemclaro é que a Igreja não estará na terradurante aquele solene período. Ela estarácom sua Cabeça e Senhor no divinoabrigo da casa do Pai. Os redimidos sãovistos no céu, nos capítulos 4 e 5, comoos vinte e quatro anciãos coroados. Elesestarão ali, bendito seja Deus, enquantoos selos forem abertos, as trombetasestiverem soando e as taças foremderramadas. Pensar na Igreja comoestando no mundo em Apocalipse 6-8,colocá-la em meio aos juízos

apocalípticos, fazê-la passar pela "grandetribulação" ou sujeitá-la à "hora datentação que há de vir sobre todo omundo para tentar os que habitam naterra", seria o mesmo que falsificar suaposição, roubar dela seus direitosgarantidos e contradizer a clara e positivapromessa de seu Senhor.*[* Em uma publicação futura teremosoportunidade de mostrar que, após a Igreja tersido removida para o céu, o Espírito de Deus iráagir tanto entre os judeus como entre os gentios.Veja Apocalipse 7.]

Não, de modo algum, amado leitorcristão; jamais permita que homem algumo engane, por quaisquer que sejam osmeios. A Igreja é vista na terra emApocalipse 2 e 3. Ela é vista no céu, juntocom os santos do Antigo Testamento, em

Apocalipse 4 e 5. O livro de Apocalipsenão nos diz como ela chegou ali, mas nósa vemos ali em elevada comunhão e santaadoração. Depois, em Apocalipse 19,Aquele que cavalga o cavalo brancodesce, com os Seus santos, para exercerjuízo sobre a besta e o falso profeta —para vencer todo inimigo e todo o mal, ereinar sobre toda a terra pelo benditoperíodo de mil anos.Tal é o claro ensinamento do NovoTestamento para o qual sinceramentechamamos a atenção de nossos leitores. Eninguém suponha que, ao ensinarmosassim, ao enfatizarmos que a Igreja nãoestará na "grande tribulação" e nãopassará pela "hora da tentação", nossoobjetivo seja apresentar uma senda fácilpara os cristãos. Não se trata disso. O

fato é que a condição real e normal daIgreja neste mundo, e, por conseguinte docristão individualmente, é de tribulação.Assim diz nosso Senhor: "no mundotereis aflições". E "também nos gloriamosnas tribulações".Portanto, não se trata de uma questão dese evitar aquilo que já é a porçãodeterminada para nós neste mundo, se tãosomente formos fiéis a Cristo. Mas é certoque toda a verdade da posição da Igreja ede sua expectativa está envolvida nestaquestão, e esta é a razão de insistirmostanto para que nossos leitores atentem aisto em oração.O grande objetivo do inimigo é arrastar aIgreja de Deus para um nível terreno,desviar totalmente os cristãos daesperança que lhes foi divinamente

designada, levá-los a confundir as coisasque Deus diferenciou, ocupá-los com ascoisas terrenas, fazendo com quemisturem de tal maneira a vinda de Cristopara o Seu povo com Sua aparição emjuízo para o mundo, que fiquemincapazes de cultivar aquelas afeiçõesnupciais e as aspirações celestiais que lhespertencem por serem membros do corpode Cristo. O inimigo de bom grado farácom que fiquem procurando por diversoseventos terrenos que possam separá-losda esperança que lhes cabe, a fim de nãopoderem viver — como Deus gostariaque pudessem — numa prementeexpectativa, com um desejo ardente pelosurgimento da "resplandecente Estrela daManhã".O inimigo sabe muito bem o que o

aguarda, e certamente não devemosignorar sua astúcia, mas nos dedicarmosao estudo da Palavra de Deus,aprendendo assim, como certamenteaprenderemos, a dupla aplicação doglorioso fato da vinda do Senhor.

* * * * *

"A VINDA" E "O DIA"Pediremos agora ao leitor que abraconosco as duas Epístolas aosTessalonicenses. Como já dissemos, essescristãos se converteram à benditaesperança da volta do Senhor. Eles foramensinados a esperar por Ele dia após dia.Não se tratava meramente da doutrina doadvento recebida e guardada na mente,

mas de uma Pessoa divina que eracontinuamente aguardada por coraçõesque haviam aprendido a amá-La e aesperar por Sua vinda.Porém, como podemos facilmenteimaginar, os cristãos tessalonicensesignoravam muitas coisas conectadas a essabendita esperança. O apóstolo tinha sidoprivado deles "por um momento de tempo,de vista, mas não do coração". Não lhefora permitido permanecer temposuficiente com eles para instruí-los nosdetalhes do assunto relacionado àesperança que tinham. Eles sabiam queJesus estava para voltar — a mesmabendita Pessoa que graciosamente oslivrara da ira vindoura. Mas eles aindaestavam totalmente ignorantes quanto aqualquer distinção entre Sua vinda para o

Seu povo e Sua vinda com o Seu povo.Por isso, como era de se esperar,acabaram caindo em vários erros eenganos. É impressionante o quão rápidoa mente humana divaga para a maisgrosseira e selvagem confusão e erro.Precisamos ser guardados de todos oslados pela pura, sólida e reparadoraverdade de Deus. Devemos ter nossa almaperfeitamente equilibrada pela revelaçãodivina, ou certamente mergulharemos emtoda sorte de noções falsas e tolas. Poresta razão alguns dos tessalonicensesconceberam a ideia de abandonar suasobrigações. Pararam de trabalhar com aspróprias mãos e ficaram ociosos. Umgrande erro.Ainda que estivéssemos perfeitamenteseguros de que nosso Senhor poderia vir

hoje à noite, não haveria razão paradeixarmos de cumprir, fiel ediligentemente, nossa quota diária dedeveres, e fazer tudo o que nos foiconfiado na esfera em que Sua boa mãonos colocou. Na verdade, o próprio fatode esperarmos por nosso Mestre iriafortalecer nosso desejo de fazer tudo oque precisasse ser feito até o exatomomento de Sua volta, de modo que nemuma única responsabilidade fossenegligenciada. A esperança da iminentevolta do Senhor, quando mantida empoder na alma, é imensamentesantificadora, purificadora e retificadoraem sua influência na vida, conduta ecaráter do cristão. Todavia sabemos queaté a mais gloriosa verdade pode serarmazenada na esfera da razão e

petulantemente confessada com os lábios,enquanto o coração, a vida, o andar, aconduta e o caráter permanecemtotalmente alheios à sua influência. Masnos é expressamente ensinado peloinspirado apóstolo João que "qualquerque nEle tem esta esperança purifica-se asi mesmo, como também Ele é puro" (1Jo 3:3). E, certamente, essa "purificação"envolve tudo aquilo que diz respeito ànossa vida prática do dia-a-dia.Porém existia outro grave erro no qualaqueles queridos tessalonicenses caíram, ede onde o bendito apóstolo, como um fiel e verdadeiro pastor, procurou resgatá-los. Eles achavam que seus amigoscristãos que já tinham partido nãoparticipariam do gozo da volta doSenhor. Temiam que eles deixassem de

participar daquele momento tão bendito ealmejado.Bem, apesar de ser verdade que o próprioerro demonstrava quão intensamenteaqueles cristãos pensavam em sua benditaesperança, ainda assim era um erro eprecisava ser corrigido. Mas vamosreparar com cuidado na correção: "Nãoquero, porém, irmãos, que sejaisignorantes acerca dos que já dormem,para que não vos entristeçais, como osdemais, que não têm esperança. Porque,se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,assim também aos que em Jesus dormem[ou que Jesus fez dormir], Deus ostornará a trazer com Ele".Repare nisto. Ele não procura confortaraqueles pesarosos amigos assegurandoque eles iriam, não muito tempo depois,

seguir os que partiram. Muito pelocontrário. Ele lhes assegura que Jesustraria Consigo os que partiram. Trata-sede algo claro e distinto, além de estarfundamentado no grande fato de que"Jesus morreu por nós e ressuscitou".O apóstolo, porém, não para aqui, massegue derramando uma nova luz sobre acompreensão de seus queridos filhos nafé. "Dizemo-vos, pois, isto, pela palavrado Senhor: que nós, os que ficarmosvivos para a vinda do Senhor, nãoprecederemos os que dormem. Porque omesmo Senhor descerá do céu comalarido, e com voz de arcanjo, e com atrombeta de Deus; e os que morreram emCristo ressuscitarão primeiro. Depois nós,os que ficarmos vivos, seremosarrebatados juntamente com eles nas

nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, eassim estaremos sempre com o Senhor.Portanto, consolai-vos uns aos outroscom estas palavras".Portanto, temos diante de nós aquilo quecomumente chamamos de arrebatamentodos santos, um tema dos mais gloriosos,emocionantes e cativantes, e certamente amais brilhante esperança da Igreja deDeus e do crente individualmente. Omesmo Senhor descerá do Céu com umaconvocação dirigida apenas aos ouvidos eao coração dos que Lhe pertencem.Nenhum ouvido incircunciso ouvirá,nenhum coração não renovado serátocado por essa voz celestial, por essaconvocação da divina trombeta. Todos osmortos em Cristo — incluindo, conformecremos, os santos do Antigo Testamento,

bem como aqueles do Novo Testamentoque tiverem partido na fé de Cristo —ouvirão o bendito som e sairão doslugares onde dormem. Todos os santosvivos escutarão e serão transformadosnum momento. E então, oh! quemudança! O pobre e gasto tabernáculo debarro será substituído por um corpoglorificado, à semelhança do corpo deJesus.Observe aquela silhueta arqueada eatrofiada, aquele corpo arruinado pelador e exaurido pelos anos de sofrimentopungente. É o corpo de um santo. Quãohumilhante é vê-lo assim! Sim, mas espereum pouco. Basta apenas trombeta soar e,em um instante, aquela estrutura pobre edecadente será transformada e feitasemelhante ao corpo glorificado do

Senhor que virá.E ali, naquele sanatório para doentesmentais, está um pobre paciente. Ele estáali há anos. É um santo de Deus. Quãomisterioso é isso! É verdade, nãopodemos compreender tal mistério, estáalém do estreito alcance de nossacompreensão. Mas assim é, aquele pobrepaciente é um santo de Deus e herdeiroda glória. Ele também ouvirá a voz doarcanjo e a trombeta de Deus, e deixarásua enfermidade para trás para sempre, aosubir para o céu, em seu corpoglorificado, para encontrar o Seu Senhorque vem.Oh! Que momento radiante! Quantosleitos de enfermos ficarão vagos então!Que mudanças maravilhosas acontecerão!Como o coração é cativado por tal

pensamento e anseia cantar, em coro, obelo hino:

Cristo, o Senhor, sim, voltará,Ninguém O aguardará em vão:

Então Sua glória mostrará:Com Ele os santos estarão.

Quando o arcanjo a voz soar,Os que já dormem ouvirão,E, ressurretos, vão cantarLouvores, em adoração.

"Este é o nosso Redentor!"As hostes todas clamarão:

"A Ele seja o louvore universal adoração!"

Amém e amém!

Quão glorioso pensarmos nos milhões deressuscitados! Quão maravilhoso estar

entre eles! Quão preciosa esperança seráver aquela bendita Pessoa que nos amou eSe entregou por nós! Tal é a esperança docristão, uma esperança acerca da qual nãohá uma única menção de uma capa aoutra do Antigo Testamento. "A palavraprofética" é de suprema importância.Fazemos bem em atentar para ela. Trata-se de uma inexprimível misericórdia paraaqueles que estão em trevas poderemcontar com uma luz que alumia em lugarescuro. Mas é bom que o cristão tenha emmente que seu desejo é ter "a estrela daalva aparecendo em seus corações"; emoutras palavras, ter todo o seu coraçãogovernado pela esperança de ver a Jesuscomo a refulgente Estrela da Manhã.Quando o coração está assim cheio eguiado pela esperança que é própria do

cristão, então os olhos podem perscrutarinteligentemente o mapa profético:podem se ocupar de todo o campo daprofecia do modo como nosso Deus aabriu graciosamente diante de nós, eencontrar interesse e proveito em cadapágina e em cada linha. Mas, por outrolado, podemos estar certos de que ohomem que busca pela Igreja ou suaesperança na profecia estará olhando nadireção errada. Encontrará ali "o judeu" e"o gentio", mas não "a Igreja de Deus".Confiamos sinceramente que nenhum denossos leitores deixará de se apoderardeste fato — um fato que, podemos dizercom total segurança, é da maiorimportância.Mas é provável que alguém pergunte:"Para quê serve, então, a profecia? Se for

verdade que não podemos encontrar nadasobre a Igreja na página profética, queutilidade teria ela para os cristãos? Porque razão nos teria sido dito queatentássemos para ela, se ela não nos dizrespeito?" Redarguimos, perguntando:Será que não existe algo de valor para nósalém daquilo que especificamente nos dizrespeito? Será que não devemos nosinteressar por algo a menos que sejamosnós o seu tema principal? Será que é depouca importância para nós ter osconselhos, propósitos e planos de Deusrevelados diante de nossos olhos? Acasodamos pouca importância ao imensofavor de ter os pensamentos de Deuscomunicados a nós em Sua santa Palavraprofética? Com certeza não foi assim queAbraão tratou as comunicações divinas

que lhe foram feitas em Gênesis 18:"Ocultarei Eu a Abraão o que faço?" E oque era aquilo? Dizia respeitoespecificamente a Abraão? De modoalgum. Dizia respeito a Sodoma e cidadesvizinhas, onde Abraão nada possuía. Masacaso isso o impedia de apreciar aquilocomo um favor especial com o qualestava sendo honrado, como depositáriode confiança dos pensamentos de Deus?Certamente que não. Podemosseguramente afirmar que o fiel patriarcatinha em alta estima o privilégio que lhefora conferido.E assim deveria ser conosco. Deveríamosestudar a profecia com o maior interessepossível, pelo fato de nos ter sidorevelado nela, com divina precisão, o queDeus está para fazer neste mundo com

Israel e com as nações. A profecia é ahistória que Deus escreveu do futuro, e éna proporção que O amamos que iremosnos deliciar em estudar Sua história.Certamente não da forma como algunssugerem, de que podemos conhecer suaveracidade por meio de seu cumprimento,mas para podermos nos apropriar de todaaquela absoluta e divina certeza quantoao futuro que a Palavra de Deus podecomunicar. Nada pode ser mais absurdo,no juízo da fé, do que supor que devemosaguardar o cumprimento de uma profeciapara saber se ela é verdadeira. Que insultoé isto — inconscientemente, sem dúvida— à inigualável revelação de nosso Deus.Mas devemos agora voltar, por algunsinstantes, ao solene assunto do "dia doSenhor". Trata-se de um termo que

ocorre com frequência nas Escrituras doAntigo Testamento. Não temos apretensão de citar todas as passagens, masdevemos nos referir a uma ou duas e, apartir delas, o leitor poderá seguirexaminando o assunto por si mesmo.Em Isaías 2 lemos: "Porque o dia doSenhor dos Exércitos será contra todo osoberbo e altivo, e contra todo o que seexalta, para que seja abatido... E aarrogância do homem será humilhada, e asua altivez se abaterá, e só o Senhor seráexaltado naquele dia. E todos os ídolosdesaparecerão totalmente. Então oshomens entrarão nas cavernas das rochas,e nas covas da terra, do terror do Senhor,e da glória da Sua majestade, quando EleSe levantar para assombrar a terra.Naquele dia o homem lançará às

toupeiras e aos morcegos os seus ídolosde prata, e os seus ídolos de ouro, quefizeram para diante deles se prostrarem. Eentrarão nas fendas das rochas, e nascavernas das penhas, por causa do terrordo Senhor, e da glória da Sua majestade,quando Ele se levantar para abalarterrivelmente a terra".O mesmo podemos ver em Joel 2: "Tocaia trombeta em Sião, e clamai em alta vozno Meu santo monte; tremam todos osmoradores da terra, porque o dia doSenhor vem, já está perto; dia de trevas ede escuridão; dia de nuvens e densastrevas, como a alva espalhada sobre osmontes; povo grande e poderoso, qualnunca houve desde o tempo antigo, nemdepois dele haverá pelos anos adiante, degeração em geração... Diante dele tremerá

a terra, abalar-se-ão os céus; o sol e a luase enegrecerão, e as estrelas retirarão oseu resplendor. E o Senhor levantará aSua voz diante do seu exército; porquemuitíssimo grande é o Seu arraial; porquepoderoso é, executando a Sua palavra;porque o dia do Senhor é grande e muiterrível, e quem o poderá suportar?"Destas e de outras passagens similaresaprendemos que "o dia do Senhor" estáassociado ao pensamento profundamentesolene de juízo sobre o mundo: sobre oIsrael apóstata, sobre o homem e suaspráticas e sobre tudo aquilo que ocoração humano valoriza e anseia. Emsuma, o dia do Senhor aparece emevidente contraste com o dia do homem.Hoje é o homem quem detém asupremacia; então a supremacia será do

Senhor.Bem, enquanto é perfeitamente verdadeque todo o povo do Senhor pode seregozijar na perspectiva daquele dia que,embora se inicie com juízo sobre omundo, deverá ser marcado pelo reinouniversal de justiça, ainda assim devemosnos lembrar de que a esperança peculiarao cristão não está naquele dia com todosos seus terríveis desdobramentos de juízo,ira e terror. Sua esperança está na vindaou presença de Jesus, com seusdesdobramentos de paz e gozo, amor eglória. A Igreja já terá então seencontrado com seu Senhor e voltadocom Ele para a casa do Pai antes daqueleterrível dia explodir sobre o mundo. Essaserá sua bendita porção, quandoexperimentará a sublime comunhão

daquele lar celestial por um período detempo indefinido antes do início do diado Senhor. Seus olhos serão gratificadoscom a visão da "resplandecente Estrela damanhã" muito tempo antes que o "Sol dejustiça" se levante, em sua restauradoravirtude, sobre a porção piedosa da naçãode Israel — o remanescente dadescendência de Abraão que teme a Deus.Desejamos muito que o leitor cristãopossa apreender totalmente esta grande eimportante diferença. Sentimo-nospersuadidos de que ela terá um efeitoimenso sobre todos os seus pensamentos,perspectivas e esperanças para o futuro.Ela o capacitará a ver, sem que existaqualquer nuvem de impedimento, suaverdadeira perspectiva como cristão. Elao livrará de toda névoa, incerteza e

confusão, além de fazer desaparecer desua mente todo tipo de sentimento depavor com que tantos, até mesmo dentreos queridos do Senhor, contemplam ofuturo. Ela irá ensiná-lo a esperar peloSalvador — o Noivo bendito, o eternoAmante de sua alma — e não pelosjuízos, pelo terror, por eclipses eterremotos, convulsões e revoluções,mantendo seu espírito tranquilo e feliz,na certa e convicta esperança de estar comJesus antes que chegue aquele grande eterrível dia do Senhor.Veja o quanto o fiel apóstolo trabalhavapara encaminhar seus queridosconvertidos tessalonicenses a uma claracompreensão da diferença entre "a vinda"e "o dia"."Mas, irmãos, acerca dos tempos e das

estações, não necessitais de que se vosescreva; porque vós mesmos sabeis muitobem que o dia do Senhor virá como oladrão de noite; pois que, quando [eles,não vós] disserem: Há paz e segurança,então lhes sobrevirá repentina destruição,como as dores de parto àquela que estágrávida, e de modo nenhum escaparão.Mas vós, irmãos, já não estais em trevas,para que aquele dia vos surpreenda comoum ladrão; porque todos vós sois filhosda luz e filhos do dia; nós não somos danoite nem das trevas" — O Senhor sejalouvado! — "Não durmamos, pois, comoos demais, mas vigiemos, e sejamossóbrios; porque os que dormem, dormemde noite, e os que se embebedam,embebedam-se de noite. Mas nós, quesomos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-

nos da couraça da fé e do amor, e tendopor capacete a esperança da salvação;porque Deus não nos destinou para a ira,mas para a aquisição da salvação, pornosso Senhor Jesus Cristo, que morreupor nós, para que, quer vigiemos, querdurmamos, vivamos juntamente com Ele.Por isso exortai-vos uns aos outros, eedificai-vos uns aos outros, como tambémo fazeis" (1 Ts 5:1-11).Temos aqui a distinção estabelecida cominequívoca clareza. O mesmo Senhordescerá para nós como o Noivo. O dia doSenhor virá sobre o mundo como umladrão. Poderia um contraste ser maisevidente? Como alguém pode confundiras duas coisas? Elas são tão distintasquanto duas coisas poderiam ser. Umnoivo e um ladrão são certamente coisas

diferentes. E igualmente diferentes são avinda do Senhor para Seu povo que Oaguarda e a vinda do Seu dia sobre ummundo embriagado e adormecido.Talvez alguns encontrem certadificuldade no fato de palavras tãosolenes quanto as que se seguem seremdirigidas à Igreja em Sardis: "E, se nãovigiares, virei sobre ti como um ladrão, enão saberás a que hora sobre ti virei" (Ap3:3). Essa dificuldade se desvaneceráquando refletirmos que, no caso deSardis, o corpo professo é visto comopossuindo meramente um nome de quevive, enquanto está morto. Ela afundouao mesmo nível do mundo e só consegueenxergar as coisas do ponto de vista domundo. A Igreja fracassoucompletamente, caiu de sua elevada e

santa posição, se encontra sob juízo e nãopode, portanto, ser encorajada pelaesperança que é própria da Igreja, mas éameaçada pela terrível maldição destinadaao mundo. Não vemos a Igreja aqui comoo corpo ou noiva de Cristo, mas como atestemunha responsável por Deus naterra, o candeeiro de ouro que deveriarevelar a divina luz do testemunho nestemundo de trevas, enquanto o seu Senhorestá ausente. Mas, oh! a Igreja professaafundou ainda mais e se tornou maissombria até que o próprio mundo. Daí asolene ameaça. A exceção confirma aregra.Vamos continuar com este assunto domodo como é apresentado em 2Tessalonicenses.Trata-se de um fato cheio do mais rico

conforto e consolação para o coração deum verdadeiro crente, que Deus, em Suamaravilhosa graça, sempre transforme ocomedor em comida e do forte tiredoçura. Ele produz luz das trevas, trazvida da morte e faz com que osrefulgentes raios de Sua glória brilhemem meio a mais desastrosa ruína causadapela mão do inimigo. A verdade disto estáilustrada em todas as Escrituras e deveriaencher nosso coração de paz e nossa bocade louvor.Por isso os vários erros doutrinários epráticas malignas nas quais foi permitidoque os primeiros cristãos caíssem foramneutralizados por Deus e usadas nainstrução, direção e real proveito daIgreja para o final de sua história terrena.Assim, por exemplo, o erro dos cristãos

tessalonicenses, no que diz respeito aosseus irmãos que haviam partido, serviu deocasião para derramar tamanho dilúvio deluz divina sobre a vinda do Senhor esobre o arrebatamento dos santos, que éimpossível que qualquer mente simplesque se submeta às Escrituras venha a cairem semelhante erro. Eles aguardavampela vinda do Senhor, e nisto estavamcertos. Eles O esperavam para estabelecerSeu reino na terra, e nisto, de um modogeral, também estavam certos. Mas elescometeram um grande erro ao deixaremde fora o lado celestial desta gloriosaesperança. Seu entendimento erainsuficiente — sua fé falha. Eles nãoviram as duas partes, a dupla aplicação doadvento de Cristo: descendo nos ares parareceber Seu povo para Si, e aparecendo

em glória para estabelecer o Seu reino emmanifestação de poder. Por isso temiamque seus irmãos que partiram estivessemnecessariamente fora da esfera de bênção,do círculo de glória.Tal erro é divinamente corrigido,conforme vimos em 1 Tessalonicenses 4.O lado celestial da esperança — a porçãoque cabe ao cristão — é colocado diantedo coração como verdadeiro corretivopara o erro relacionado aos santos quedormiam. Cristo irá reunir todo o Seupovo (e não apenas parte dele) para Si. Ese existir qualquer vantagem — qualquersombra de privilégio nesta questão — elafica com aquelas mesmas pessoas pelasquais eles lamentavam. Pois "os quemorreram em Cristo ressuscitarãoprimeiro".

Porém, da Segunda Epístola aosTessalonicenses aprendemos que aquelesqueridos recém-convertidos tinham sidolevados a cometer outro grave erro — umerro que não estava relacionado aosmortos, mas aos vivos; um erro que nãoestava relacionado à vinda do Senhor,mas ao dia do Senhor. Se, por um lado,eles temiam que os mortos pudessem nãoparticipar do bendito triunfo da vinda,por outro temiam que os vivos jáestivessem, naquele exato momento,passando pelos terrores do dia do Senhor.É com este erro que o apóstolo inspiradotem de lidar em sua segunda carta aoscrentes tessalonicenses, e não há nadamaior que a ternura e sensibilidade de suaabordagem, além da precisão com que faza correção.

Os cristãos em Tessalônica passavam porintensa perseguição e tribulação, e ficabem evidente que o inimigo, por meio defalsos mestres, procurava confundir suasmentes levando-os a pensar que "o grandee terrível dia do Senhor" (Jl 2:31) tivessechegado e que as tribulações pelas quaisestavam passando eram consequênciasdaquele dia. Se assim fosse, todo o ensinodo apóstolo teria sido provado comofalso, pois se havia uma verdade quebrilhava com maior fulgor eproeminência em seu ensino era a daassociação e identificação dos crentes comCristo — uma associação tão íntima, umaidentificação tão próxima, que seriaimpossível para Cristo aparecer em glóriasem o Seu povo. "Quando Cristo, que é anossa vida, Se manifestar, então também

vós vos manifestareis com Ele em glória"Cl 3:4. Mas antes Ele deverá vir, paradepois poder trazer "o dia".Além disso, quando o dia do Senhorrealmente chegar, não será para atribularo Seu povo; ao contrário, será paraatribular os perseguidores deste. É istoque o apóstolo lhes faz lembrar damaneira mais simples e eficaz, logo nasprimeiras linhas: "Sempre devemos,irmãos, dar graças a Deus por vós, comoé justo, porque a vossa fé crescemuitíssimo e o amor de cada um de vósaumenta de uns para com os outros, demaneira que nós mesmos nos gloriamosde vós nas igrejas de Deus por causa davossa paciência e fé, e em todas as vossasperseguições e aflições que suportais;prova clara do justo juízo de Deus, para

que sejais havidos por dignos do reino deDeus, pelo qual também padeceis; se defato é justo diante de Deus que dê em pagatribulação aos que vos atribulam, e a vós, quesois atribulados, descanso conosco, quando semanifestar o Senhor Jesus desde o céucom os anjos do Seu poder, comolabareda de fogo, tomando vingança dosque não conhecem a Deus [gentios] e dosque não obedecem ao evangelho de nossoSenhor Jesus Cristo [judeus]" 2 Ts 1:6.Portanto, não era apenas a posição docristão que estava envolvida nessaquestão, mas até mesmo a glória de Deus— Sua própria justiça. Se era certo que odia do Senhor tinha trazido tribulaçãoaos cristãos, então não havia verdade nadoutrina — na grande e proeminentedoutrina do ensino de Paulo — de que

Cristo e Seu povo são um, além do queisso acabaria comprometendo a justiça deDeus. Em suma, se os cristãos estavampassando por tribulação, seriamoralmente impossível que o dia doSenhor tivesse chegado, pois quandochegar será para trazer alívio para oscrentes. E isto como uma recompensapública para eles no reino, e nãomeramente na casa do Pai, o que não é oassunto tratado aqui. A mudança que iráocorrer será bem clara. A Igreja estará emrepouso e os que a atribularam, por suavez, estarão em tribulação. Enquantodurar o dia do homem a Igreja estarásujeita à tribulação, mas no dia do Senhortudo isso será invertido.Repare nisto cuidadosamente. Não setrata da questão dos cristãos passarem ou

não por dificuldades. Eles são destinadosa isto neste mundo, enquanto a impiedademantiver o domínio. Cristo sofreu, e omesmo deve acontecer também com eles.Todavia, o ponto que queremos frisarpara a mente e o coração do cristão é que,quando Cristo vier para estabelecer Seureino, será totalmente impossível que Seupovo esteja em tribulação. Assim, todo oensino do inimigo, pelo qual eleprocurava inquietar os crentestessalonicenses, mostrou-se claramentefraudulento. O apóstolo leva de roldão opróprio fundamento de toda a trama,usando apenas a afirmação da preciosaverdade de Deus. Esta é a forma divina delibertar as pessoas de seus vãos temores eideias falsas. Dê a elas a verdade e o erroirá bater em retirada. Deixe derramar a

luz da eterna Palavra de Deus e todas asnuvens e névoas de falsa doutrina serãoafastadas.Permita-nos, por alguns instantes,examinar um pouco mais o ensino denosso apóstolo neste texto marcante. Aofazê-lo veremos com que clareza eledefine a diferença entre "a vinda" e "odia", uma distinção que o leitor faz bemem ponderar."Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda [ousobre este fundamento] de nosso SenhorJesus Cristo, e pela nossa reunião comEle, que não vos movais facilmente dovosso entendimento, nem vos perturbeis,quer por espírito, quer por palavra, querpor epístola, como de nós, como se o diado Senhor estivesse presente".*

[* Não temos qualquer pretensão de erudição;somos meros respigadores na tão interessanteseara da análise do texto onde outros têmcolhido grandes resultados. Não queremosocupar o pensamento de nossos leitores comargumentos em defesa das passagensapresentadas no texto, mas sentimos que não háqualquer utilidade em apresentar aquilo queacreditamos ser errado. Cremos não haverdúvida quanto à forma correta de ler 2Tessalonicenses 2, que é como apresentamos:"como se o dia do senhor estivesse presente". Apalavra enesteken só pode ser traduzida assim.Ela aparece em Romanos 8:38, onde é traduzidacomo "o presente". O mesmo acontece em 1Coríntios 3:22, "o presente"; 1 Coríntios 7:26,"presente necessidade"; Gálatas 1:4, "presenteséculo mau"; Hebreus 9:9, "tempo presente". (N.do. T.: No original inglês ou autor faz uso deuma tradução alternativa para o final doversículo: "como se o dia do Senhor estivessepresente").]

Portanto, independente da questão dasdiversas interpretações, basta ummomento de reflexão para mostrar aocristão sincero que o apóstolo nãopoderia estar querendo ensinar aostessalonicenses que o dia do Senhor nãoestava, mesmo naquela época, já perto. AsEscrituras nunca podem se contradizer.Nenhuma sentença da revelação divinapode vir a colidir com outra. Mas se aforma apresentada na excelente AuthorizedVersion for correta, estaria em diretaoposição a Romanos 13:12, onde somosexpressa e claramente informados de queo "dia é chegado". Que "dia"? O dia doSenhor, com toda certeza, que é sempre otermo utilizado em conexão com nossaresponsabilidade individual no andar e noserviço.

Podemos assinalar rapidamente que setrata de um ponto de muito interesse evalor prático. Se o leitor se der aotrabalho de examinar as várias passagensque falam do "dia", descobrirá que, de ummodo ou de outro, elas fazem referência àquestão da obra, serviço ouresponsabilidade. Por exemplo: "O qualvos confirmará também até ao fim, paraserdes irrepreensíveis no dia [não na vinda]de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 1:8).Outra vez: "A obra de cada um semanifestará; na verdade o dia a declarará"(1 Co 3:13). "Para que aproveis as coisasexcelentes, para que sejais sinceros, e semescândalo algum até ao dia de Cristo" (Fp1:10). "Desde agora, a coroa da justiça meestá guardada, a qual o Senhor, justo Juiz,me dará naquele dia" (2 Tm 4:8).

De todas estas passagens, e de muitasoutras que poderiam ser citadas,aprendemos que "o dia do Senhor" seráuma grande ocasião para o ajuste decontas com os trabalhadores, para aavaliação divina do serviço, oesclarecimento de todas as questõesenvolvendo a responsabilidade pessoal epara a distribuição de recompensas — as"dez cidades" e as "cinco cidades".Portanto, onde quer que procuremos, equalquer que seja a forma comoabordemos o assunto, seremos cada vezmais confirmados na verdade da claradiferença entre a "vinda" de nossoSenhor, ou o estar na Sua presença, e Sua"aparição" ou "o dia". A primeira ésempre colocada diante do coração comoa bendita e brilhante esperança do crente,

que pode se realizar a qualquer momento.A outra é mais voltada para a consciência,de um modo solene e profundo,relacionando-se com toda a vida práticadaqueles que são colocados neste mundopara trabalhar e testemunhar no lugar deum Senhor que está ausente. AsEscrituras nunca confundem estas coisas,não importa o quanto nós mesmos ofaçamos. Não há uma única sentença, decapa a capa do volume sagrado, queensine que os crentes não devam estarcontinuamente esperando pela vinda doSenhor, e zelosos pelo pensamento deque "o dia é chegado". É só o "servomau" — descrito no discurso de nossoSenhor em Mateus 24 — que diz em seucoração: "O meu senhor tarde virá"; e alivemos as terríveis consequências que

sempre acabam resultando de se acalentartal pensamento no coração.Devemos agora retornar por algunsinstantes a 2 Tessalonicenses 2, umapassagem das Escrituras que tem causadomuita discussão entre os comentaristas eapresentado considerável dificuldade paraos estudantes da profecia.Fica bem evidente que os falsos mestresprocuravam perturbar os pensamentosdos tessalonicenses, levando-os a acreditarque estavam, já naquela época, cercadospelos terrores do dia do Senhor. Não eraassim e nem poderia ser, ensina oapóstolo. Antes mesmo de aquele diacomeçar seremos todos reunidos paraencontrar o Senhor nos ares. Com base(huper) na vinda do Senhor e nossareunião com Ele, Paulo pediu que não se

perturbassem a respeito do dia. Ele já lhestinha mostrado o lado celestial da vindado Senhor. Tinha lhes ensinado que eles,como cristãos, pertenciam ao dia; que seular, sua porção e esperança, estavam todaselas naquela mesma região de onde o diahaveria de surgir. Portanto, eratotalmente impossível que o dia doSenhor pudesse envolver qualquer terrorou tribulação para aqueles que já eram,verdadeiramente e por graça, filhos dodia.Além do mais, mesmo quando o assuntoera visto do ponto de vista terreno, osfalsos mestres estavam todos enganados."Ninguém de maneira alguma vos engane;porque não será assim [a vinda do dia]sem que antes venha a apostasia, e semanifeste o homem do pecado, o filho da

perdição, o qual se opõe, e se levantacontra tudo o que se chama Deus, ou seadora; de sorte que se assentará, comoDeus, no templo de Deus, querendoparecer Deus. Não vos lembrais de queestas coisas vos dizia quando ainda estavaconvosco? E agora vós sabeis o que odetém, para que a seu próprio tempo sejamanifestado. Porque já o mistério dainjustiça opera; somente há um que agoraresiste até que do meio seja tirado; eentão será revelado o iníquo, a quem oSenhor desfará pelo assopro da Sua boca,e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda[pela aparição de Sua presença]; a essecuja vinda é segundo a eficácia de Satanás,com todo o poder, e sinais e prodígios dementira, e com todo o engano da injustiçapara os que perecem, porque não

receberam o amor da verdade para sesalvarem" (2 Ts 2:3-10).Aqui, portanto, nos é ensinado que antesque chegue o dia do Senhor, o iníquo, ohomem do pecado, o filho da perdiçãodeverá ser revelado. O mistério dainiquidade deve atingir seu ápice. Ohomem deverá se colocar em abertaoposição a Deus, e mais, chegará até aaceitar para si o nome e a adoraçãodevidos a Deus. Tudo isso precisa ocorrerneste mundo antes que irrompa em cenao grande e terrível dia do Senhor. Porenquanto há uma barreira, umimpedimento à manifestação desseterrível personagem. Aqui não nos é ditoque barreira ou impedimento é esse. Deuspode mudar isso de tempos em tempos.*Mas aprendemos, da forma mais clara

possível no livro do Apocalipse, que antesque o mistério da iniquidade atinja o seuápice na pessoa do homem do pecado, aIgreja será removida completamente destecenário. É impossível ler Apocalipse 4 e 5com a mente espiritual sem ser capaz deenxergar que a Igreja deverá estar nocírculo mais interior da glória celestialantes que qualquer selo seja aberto, antesque qualquer trombeta seja soada equalquer taça seja derramada. Nãoacreditamos que alguém consiga entendero livro do Apocalipse sem enxergar isto.[* Alguns supõem que o impedimento seja doEspírito Santo. Sabemos de outras partes dasEscrituras que antes da entrada em cena doiníquo a Igreja estará segura e abençoada em seular celestial nas alturas — o lugar preparado paraela. Quão precioso é este pensamento!]

É provável que voltemos a tratar desteponto tão interessante oportunamente.Agora podemos apenas incentivar o leitora estudar o assunto por si mesmo.Pondere em Apocalipse 4 e 5 e peça aDeus para interpretar para sua alma o seuprecioso conteúdo. Fazendo assim,estamos convencidos de que o leitoraprenderá que os vinte e quatro anciãoscoroados representam os santos celestiais,que estarão reunidos, em glória, em tornodo Cordeiro, antes que uma única linhada parte profética do livro seja cumprida.Gostaríamos de fazer ao leitor umapergunta muito simples, uma perguntaque só pode ser corretamente respondidana intimidade da presença de Deus. Apergunta é: O que você busca? Qual é asua esperança? Você espera por

determinados eventos que estão paraocorrer nesta terra, como orestabelecimento do Império Romano, odesenvolvimento dos dez reinos, oretorno dos judeus para sua própria terrana Palestina, a reconstrução de Jerusalém,o surgimento do Anticristo, a grandetribulação e, finalmente, os estarrecedoresjuízos que serão, com toda certeza, umprenúncio do dia do Senhor?São estas as coisas que ocupam ohorizonte da sua alma? É por elas quevocê anseia e espera? Se assim for, fiqueciente de que você não está sendogovernado pela esperança que convém àIgreja. Certamente é verdade que todasestas coisas que mencionamos deverãoocorrer no seu devido tempo, masnenhuma delas deve ficar entre você e a

esperança que lhe convém. Todas elaspertencem à página profética, todas estãoregistradas na história que Deus escreveudo futuro, mas jamais deveriam lançaruma sombra sequer sobre a brilhante ebendita esperança do cristão. Essaesperança mostra-se em gloriosocontraste com o cenário da profecia. Eque contraste é este? Sim, voltamos aperguntar, que contraste é este? Trata-seda vinda da refulgente Estrela da manhã— a vinda do Senhor Jesus, o benditoNoivo da Igreja.É esta, e nenhuma outra, a verdadeira ecorreta esperança da Igreja de Deus. "Edar-lhe-ei a Estrela da manhã" (Ap 2:28)."Aí vem o Esposo" (Mt 25). Quando —poderíamos perguntar — a estrela damanhã aparece no mundo natural? Logo

antes de raiar o dia. Quem a vê? Aqueleque esteve vigiando durante as horasescuras e sombrias da noite. Quãosimples, quão prática, quão eficaz essaalusão. A Igreja deve estar vigiando —alegremente desperta — olhando parafora. Oh! A Igreja fracassou nisto. Masisto não é motivo para que o crente,individualmente, não viva na plenitude dopoder real da bendita esperança. "E quemouve, diga: Vem". Trata-se de algoprofundamente pessoal. Oh! Que oescritor e o leitor destas linhas possamcolocar habitualmente em prática o poderpurificador, santificador e motivadordesta esperança celestial! Que possamosentender e exibir o poder prático destaspalavras do Apóstolo João: "E qualquerque nEle tem esta esperança purifica-se a

si mesmo, como também Ele é puro".

* * * * *

AS DUAS RESSURREIÇÕESPode ser que alguns de nossos leitores sesintam atemorizados pelo título destaseção. Acostumados, desde a mais tenraidade, a encarar esta grande questão peloprisma dos padrões definidos pelacristandade para a doutrina e suasconfissões de fé, a ideia de duasressurreições jamais passou por suasmentes. Todavia, as Escrituras falam, nostermos mais claros e inequívocos, de uma"ressurreição da vida" e uma"ressurreição da condenação" — duasressurreições, distintas em caráter e

distintas no tempo.E não apenas isto, mas as Escrituras nosinformam que pelo menos mil anospassarão entre as duas. Se os homensensinam de outra maneira — se criamsistemas religiosos e estabelecem credos econfissões de fé contrários ao ensinodireto e claro das Sagradas Escrituras —deverão prestar contas disso ao seuSenhor, assim como todos os que secolocam sob a direção desses homens.Mas lembre-se, leitor, de que se trata deum dever sagrado, nosso e de vocês, darouvidos apenas à autoridade da Palavrade Deus e nos sujeitarmos, em absolutasubmissão, aos seus santos ensinamentos.Vamos então, de forma reverente, inquiriro que dizem as Escrituras sobre o assuntoindicado no título deste artigo? Que o

Espírito de Deus nos guie e instrua!Devemos inicialmente citar aquelanotável passagem em João 5: "Naverdade, na verdade vos digo que quemouve a Minha palavra, e crê nAquele queMe enviou, tem a vida eterna, e nãoentrará em condenação, mas passou damorte para a vida. Em verdade, emverdade vos digo que vem a hora, e agoraé, em que os mortos ouvirão a voz doFilho de Deus, e os que a ouviremviverão. Porque, como o Pai tem a vidaem Si mesmo, assim deu também ao Filhoter a vida em Si mesmo; e deu-Lhe opoder de exercer o juízo, porque é oFilho do homem. Não vos maravilheisdisto; porque vem a hora em que todos osque estão nos sepulcros ouvirão a Suavoz. E os que fizeram o bem sairão para a

ressurreição da vida; e os que fizeram omal para a ressurreição da condenação".*[* O leitor da versão inglesa precisa saber que emtoda a passagem de João 5:22-26 as palavras"juízo", "condenação" e "perdição" aparecem nooriginal como uma mesma palavra, simplesmente"julgamento", de krisis, que significa o processo,não o resultado. É uma pena que a AuthorizedVersion não tenha usado a palavra deste modoem todo o texto. Isto teria tornado o ensino dapassagem muito mais claro. É com extremarelutância que nos aventuramos a fazer sugestõespara nossa inigualável versão inglesa da Bíblia,mas às vezes é absolutamente necessário que istoseja feito para o bem da verdade e de nossosleitores. Quanto à forma como é apresentado oversículo 24, a conclusão é a mesma, querdigamos "condenação" ou "julgamento", umavez que se há um julgamento seu resultado deveser uma condenação. Mas por que não forammais precisos?]

Portanto, temos indicadas aqui, da formamais inequívoca, as duas ressurreições. Éverdade que nesta passagem elas nãoestão diferenciadas quanto ao tempo, massim quanto ao caráter. Temos umaressurreição da vida e uma ressurreição dacondenação, e nada poderia ser maisdistinto do que isto. Não existe umfundamento sequer que permita construira teoria de uma ressurreição geral. Aressurreição dos crentes será seletiva; elaocorrerá com base no mesmo princípio ecompartilhará do mesmo caráter daressurreição de nosso bendito e adorávelSenhor; será uma ressurreição dentre osmortos. Será um ato de poder divino,fundamentado na redenção completa,através da qual Deus irá intervir a favorde seus santos que dormem e ressuscitá-

los de entre os mortos, deixando orestante dos mortos em suas sepulturaspor mil anos (Ap 20:5).Há uma interessante passagem em Marcos9 que derrama intensa luz sobre esteassunto. Os versículos iniciais contêm oregistro da transfiguração e, em seguida,lemos: "E, descendo eles do monte,ordenou-lhes que a ninguém contassem oque tinham visto, até que o Filho dohomem ressuscitasse dentre os mortos. Eeles retiveram o caso entre si,perguntando uns aos outros que seriaaquilo, ressuscitar dentre [ek, dentre] osmortos" (Mc 9:9, 10).Os discípulos sentiam que havia algoespecial, algo totalmente além da ideiaortodoxa corrente da ressurreição dosmortos, e realmente tinham razão,

embora na época não tivessem oentendimento disso. Era algo que naquelemomento estava além do seu campo devisão.Vamos abrir em Filipenses 3 e escutaratentamente as aspirações de alguém queconheceu e desfrutou profundamentedesta grande doutrina cristã, eafetuosamente guardou no coração estaesperança gloriosa e celestial. "Paraconhecê-Lo, e à virtude da Suaressurreição, e à comunicação de Suasaflições, sendo feito conforme à Suamorte; para ver se de alguma maneiraposso chegar à ressurreição dentre osmortos" [exanastasin] (Fp 3:10, 11).Basta uma breve reflexão para convencero leitor de que o apóstolo não está aqui sereferindo à grande e ampla verdade da

"ressurreição dos mortos", ainda que cadaum deva ressuscitar. Mas havia algoespecífico diante do coração daquelequerido servo de Cristo, a saber, "umaressurreição dentre os mortos" — umaressurreição seletiva — uma ressurreiçãoque segue o modelo da ressurreição deCristo. Era esta que ele buscavacontinuamente. Tratava-se da bendita eradiante esperança que brilhava em suaalma e o animava em meio às tristezas eprovas, labores e dificuldades,turbulências e conflitos de suaextraordinária carreira.Mas alguém poderia perguntar: Será queo apóstolo sempre usa esta pequena epeculiar palavra (ek) quando fala deressurreição? Nem sempre. Abra, porexemplo, em Atos 24:15: "Tendo

esperança em Deus, como estes mesmostambém esperam, de que há de haverressurreição de mortos, assim dos justoscomo dos injustos". Aqui não háqualquer palavra que indique o ladocristão ou celestial do assunto,possivelmente pela simples razão de queo apóstolo estivesse falando àqueles queeram totalmente incapazes decompreender a esperança que cabe aocristão — mais incapazes até que osdiscípulos em Marcos 9. Como poderiaele fazer confidências na presença dehomens como Tértulo, Ananias e Félix?Como poderia falar a eles de sua própriae acalentada esperança específica? Não,ele só poderia se ater à grande e amplaverdade da ressurreição que era comum atodos os judeus ortodoxos. Se tivesse

falado de uma "ressurreição dentre osmortos", não poderia ter acrescentado aexpressão "como estes mesmos tambémesperam", pois eles não "esperavam"qualquer coisa do gênero.Mas, oh! que contraste entre aqueleprecioso servo de Cristo, defendendo-sede seus acusadores em Atos 24 e expondoseu coração aos seus amados irmãos emFilipenses 3! A estes ele podia falar daverdadeira esperança cristã na plena luzque a glória de Cristo derrama sobre oassunto. Podia dar vazão aos seuspensamentos, sentimentos e aspiraçõesmais íntimos provenientes de seu imensoe amoroso coração que palpitava pelaressurreição da vida na qual ele ficarásatisfeito quando despertar à semelhançade seu bendito Senhor.

Mas devemos retornar por algunsinstantes à nossa primeira passagem emJoão 5. Talvez o fato de nosso Senhorutilizar a palavra "hora" ao falar das duasclasses apresente certa dificuldade paraalguns de nossos leitores entenderem averdade da esperança cristã daressurreição. Indaga-se como pode existirum período de mil anos entre as duasressurreições, quando o Senhor nosafirma expressamente que tudo deveocorrer dentro dos limites de uma hora.A esta questão temos uma resposta dupla.Em primeiro lugar, encontramos nossoSenhor fazendo uso da mesma palavra"hora" no versículo 25, quando fala dagrande e gloriosa obra de vivificar osmortos. "Em verdade, em verdade vosdigo que vem a hora, e agora é, em que os

mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, eos que a ouvirem viverão".Ora, aqui temos uma obra que tem estadoem progresso por quase dezenove longosséculos. Durante todo esse tempo,referido aqui como uma "hora", a voz deJesus, o Filho de Deus, tem sido ouvidachamando almas preciosas da morte paraa vida. Se, por conseguinte, no mesmodiscurso nosso Senhor usou a palavra"hora" ao falar de um período que já seestende por quase dois mil anos, quedificuldade pode existir em aplicar apalavra a um período de mil anos?Certamente nenhuma, segundo a nossaopinião.Todavia, se ainda assim permanecerqualquer dificuldade, ela deve sercompletamente atendida pelo testemunho

direto do Espírito Santo em Apocalipse20, onde lemos: "Mas os outros mortosnão reviveram, até que os mil anos seacabaram. Esta é a primeira ressurreição.Bem-aventurado e santo aquele que temparte na primeira ressurreição; sobre estesnão tem poder a segunda morte; masserão sacerdotes de Deus e de Cristo, ereinarão com Ele mil anos" (Ap 20:5, 6).Isto resolve a questão completamente ede uma vez por todas para todos os quedesejam ser ensinados exclusivamentepelas Sagradas Escrituras, como todocristão deveria desejar. Haverá duasressurreições, a primeira e a segunda, eum período de mil anos entre elas. Daprimeira fazem parte todos os santos doAntigo Testamento — citados emHebreus 12 como espíritos dos justos

aperfeiçoados — então a Igreja dosprimogênitos e, finalmente, todos os queserão mortos durante a "grandetribulação" e durante todo o períodoentre o arrebatamento dos santos e aaparição de Cristo em juízo, quandodescer sobre a besta e seus exércitos emApocalipse 19.À última ressurreição, por sua vez,pertencem todos os que morreram emseus pecados, desde os dias de Caim emGênesis 4 até o último apóstata durante aglória milenial em Apocalipse 20.Quão solene é tudo isso! Quão real!Como domina a alma! Se nosso Senhorviesse hoje à noite, que cena seriadesencadeada em todos nossos cemitériose sepulcros! Que língua, que pena poderiadescrever — que coração poderia

conceber — as tremendas realidadesdesse momento? Há milhares de túmulosonde o pó dos mortos em Cristo jazmisturado ao pó dos mortos sem Cristo.Em muitos jazigos familiares pode semencontrado o pó de ambos. Bem, entãoquando a voz do arcanjo for ouvida,todos os santos que dormemressuscitarão de seus túmulos, deixandopara trás aqueles que morreram em seuspecados para permanecerem nas trevas eno silêncio do sepulcro por mil anos.Sim, leitor, tal é o testemunho simples edireto da Palavra de Deus. É verdade queele não entra em muitos detalhessingulares e nem procura alimentar algumtipo de imaginação mórbida oucuriosidade inútil. Todavia, essetestemunho estabelece o solene e grave

fato de uma primeira e uma segundaressurreição — uma ressurreição da vidae glória eternas, e uma ressurreição dacondenação e miséria eternas. Não existe,de forma alguma, algo como umaressurreição geral — uma ressurreiçãocomum a todos simultaneamente.Devemos abandonar completamente talideia, como muitas outras que recebemose nas quais fomos instruídos desde a maistenra idade — ideias que cresceram comnosso crescimento e amadureceram comnossa maturidade, até ficarem totalmenteincorporadas à nossa constituição mental,moral e religiosa, de tal modo queabandoná-las é como ser desmembradoou arrancar a carne de nossos ossos.Todavia, isto é algo que precisa ser feito,se desejamos realmente crescer no

conhecimento da revelação divina. Nãoexiste um obstáculo maior para entrarmosnos pensamentos de Deus do que termosnossa mente cheia com nossas própriasideias ou com pensamentos de homens.Assim, por exemplo, em referência a esteassunto, quase todos nós já professamos,ao menos uma vez na vida, a opinião deque todos ressuscitarão juntos, tantocrentes como incrédulos, e que todos seapresentarão juntos para serem julgados.Todavia, quando nos voltamos comocriancinhas para as Escrituras, não hánada mais claro, mais simples, maisexplícito do que seu ensino acerca destaquestão. Apocalipse 20:5 nos ensina quehaverá um intervalo de mil anos entre aressurreição dos santos e a ressurreiçãodos ímpios.

De nada adianta falarmos de umaressurreição de espíritos. Na verdade, istoé até um grande absurdo, poisconsiderando que espíritos não podemmorrer, também não podem serressuscitados. Igualmente absurdo é falarde uma ressurreição de princípios. Nãoexiste tal coisa nas Escrituras. Alinguagem é clara como o cristal: "Mas osoutros mortos não reviveram, até que osmil anos se acabaram. Esta é a primeiraressurreição" (Ap 20:5). Por que alguémiria querer desprezar toda a força que temesta passagem? Por que não se submeter aela? Por que não se livrar, de uma vez portodas, de todas aquelas velhas ideias queinsistimos em acalentar, para recebermoscom submissão a Palavra que é tãoincisiva?

Leitor, não parece claro a você que, se asEscrituras falam de uma primeiraressurreição, é porque não irão todosressuscitar juntos? Por que iriam dizer"bem-aventurado e santo aquele que temparte na primeira ressurreição" se todosressuscitassem ao mesmo tempo?Para nós, na verdade, parece impossívelque uma mente livre de preconceitos noestudo do Novo Testamento se apegue àteoria de uma ressurreição geral. Trata-sede uma questão relacionada à glória deCristo, a Cabeça, que Seus membrostivessem uma ressurreição específica —uma ressurreição como foi a Sua — umaressurreição dentre os mortos. E éexatamente o que terão. "Eis aqui vosdigo um mistério: Na verdade, nem todosdormiremos, mas todos seremos

transformados; num momento, num abrire fechar de olhos, ante a última trombeta;porque a trombeta soará, e os mortosressuscitarão incorruptíveis, e nósseremos transformados. Porque convémque isto que é corruptível se revista daincorruptibilidade, e que isto que émortal se revista da imortalidade. E,quando isto que é corruptível se revestirda incorruptibilidade, e isto que é mortalse revestir da imortalidade, entãocumprir-se-á a palavra que está escrita:Tragada foi a morte na vitória. Onde está,ó morte, o teu aguilhão? Onde está, óinferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão damorte é o pecado, e a força do pecado é alei. Mas graças a Deus que nos dá avitória por nosso Senhor Jesus Cristo.Portanto, meus amados irmãos, sede

firmes e constantes, sempre abundantesna obra do Senhor, sabendo que o vossotrabalho não é vão no Senhor" (1 Co15:51-58).

* * * * *

O JUÍZOExiste algo particularmente doloroso emse colidir com tanta frequência com asopiniões comumente aceitas na Igrejaprofessa. Parece presunção querercontradizer, em tantos aspectos, todos osgrandes padrões e credos da cristandade.Mas o que fazer? Se realmente fosseapenas uma questão de opinião humanapoderia parecer uma pretensãoinjustificada alguém se colocar em direta

oposição à fé arraigada por toda a Igrejaprofessa — uma fé que há séculos exercesua influência na mente de milhões depessoas.Mas gostaríamos de continuar insistindocom nossos leitores no fato de que não setrata, de modo algum, de uma questão deopinião humana ou de uma diferença deinterpretação entre até mesmo os homensmais capazes. Trata-se, na verdade, deuma questão do ensino e autoridade dasSagradas Escrituras. Têm existido,existem e existirão escolas de doutrina,variedades de opiniões e manifestações deideias, mas o claro dever de todo filho deDeus e de todo servo de Cristo é sesubmeter, em santa reverência, e darouvidos à voz de Deus nas Escrituras. Sefosse meramente uma questão de

autoridade humana, sua importância nãoseria tão grande. Todavia, se por outrolado a questão for de autoridade divina,então toda discussão é encerrada e nossolugar — o lugar de todos nós — é nossubmetermos e crermos.Assim, na seção anterior fomos guiados aver que não há nas Escrituras algo comouma ressurreição geral — uma mesmaressurreição de todos simultaneamente.Assim como fizeram os varões de Bereiana antiguidade, cremos que nossosleitores examinaram as Escrituras a esterespeito, e que estão agora preparadospara nos acompanhar enquantoexaminamos a Palavra de Deus quanto àquestão do juízo.A grande questão que logo surge é esta:Será que as Escrituras ensinam a doutrina

de um juízo geral? Isto é o que professa acristandade, mas será que as Escriturasensinam o mesmo? Vejamos.Em primeiro lugar, no que diz respeitoao cristão individualmente, e à Igreja deDeus coletivamente, o Novo Testamentoapresenta a preciosa verdade de que nãoexiste qualquer juízo. No que diz respeitoao crente, o juízo já aconteceu e a questãoestá resolvida. A densa nuvem de juízoprecipitou-se sobre a cabeça de nossodivino Substituto. Ele bebeu até o fim,em nosso lugar, o cálice da ira e do juízo,e nos transportou para a nova posição deressurreição, onde o juízo não pode, demaneira alguma, ser aplicado. É tãoimpossível que um membro do corpo deCristo venha a passar pelo juízo quanto éimpossível que isto aconteça com a

própria Cabeça. Esta parece ser umaafirmação muito séria, mas será que éverdadeira? Se for, sua força está em suaglória e valor moral.Para quê, perguntamos, Jesus recebeu ojuízo na cruz? Pelo Seu povo. Ele foifeito pecado por nós. Ele nos representouali. Ele tomou o nosso lugar. Ele recebeutudo o que merecíamos. Nossa condição,em sua totalidade, com tudo o que lhe dizrespeito, recebeu o devido tratamento namorte de Cristo e foi tratada ali de umaforma tal que é totalmente impossível quequalquer dúvida a respeito venha sequer aser levantada. Será que Deus tem algumacoisa a resolver com Cristo, a Cabeça? Éclaro que não. Bem, então Ele não temcoisa alguma a resolver com Seusmembros. Tudo foi definitiva e

divinamente resolvido e, como provadisso, a Cabeça está coroada com honra eglória e Se assenta hoje à destra damajestade nas alturas.Portanto, supor que os cristãos passarãopelo juízo, quando quer que seja, ou combase no que quer que seja, seja lá pelarazão que for, é negar a própria verdadefundamental do cristianismo econtradizer as claras palavras de nossoSenhor Jesus Cristo, que declarouexpressamente, referindo-se a todos osque creem nEle, que não entrarão emjuízo ou condenação (Jo 5:24).Na verdade, a ideia de cristãos sendolevados a juízo para provar se têm direitoao céu e estão preparados para ele é tãoabsurda quanto sem base nas Escrituras.Por exemplo, o que pensar de Paulo ou

do ladrão arrependido esperando paraserem julgados quanto ao seu direito deentrar no céu, depois de ficarem ali porcerca de dois mil anos? Todavia, assimdeveria ser se existisse qualquer verdadena teoria de um juízo geral. Se a grandequestão de nosso direito ao céu precisarser resolvida no dia do juízo, então elaclaramente não ficou resolvida na cruz; ese não ficou resolvida na cruz, então nóscertamente estamos condenados, pois seformos julgados isto deve ser feito emrelação às nossas obras, e o únicoresultado de um julgamento assim é olago de fogo.Todavia, se alguém afirmar que oscristãos passarão pelo juízo apenas paradeixar claro que estão limpos por meio damorte de Cristo, isto seria transformar o

dia do juízo em uma mera formalidade,algo que só de pensar já causa aversão aqualquer pessoa sensata e piedosa.Mas a verdade é que não há necessidadede se discutir esta questão. Uma sentençaapenas das Escrituras é muito melhor doque dez mil dos mais convincentesargumentos humanos. Nosso SenhorJesus Cristo declarou, nos termos maisclaros e enfáticos, que os crentes "nãoentrarão em condenação [juízo]". Isto jábasta. O crente foi julgado há mais de mile oitocentos anos na Pessoa de suaCabeça, e levá-lo outra vez a juízo seriaignorar completamente a cruz de Cristono que diz respeito à sua eficáciaexpiatória e, com certeza, Deus não iria enem poderia fazer isso. O mais fracocristão pode afirmar, em triunfo e

gratidão: "Naquilo que me diz respeito,tudo o que precisava ser julgado já foijulgado. Toda questão que precisava serresolvida já foi resolvida. O juízo épassado e jamais se repetirá. Sei queminhas obras devem ser provadas e meuserviço avaliado, mas naquilo que dizrespeito à minha pessoa, minha posição,meu direito, tudo já está divinamenteresolvido. O Homem que Se colocou nomeu lugar na cruz está agora no trono,coroado, e a coroa que Ele traz é a provade que não resta juízo algum para mim.Aguardo pela ressurreição da vida".Esta, e nada menos, é a linguagemadequada ao cristão. É simplesmentegraças à obra da cruz que o crente podese sentir e expressar desta maneira. Para ocrente, aguardar pelo dia do juízo para

resolver a questão de seu destino eterno édesonrar seu Senhor e negar a eficácia deSeu sacrifício expiatório. Ficar em dúvidapode soar como humildade e aparência depiedade, mas devemos descansarassegurados de que todos os quealimentam a dúvida, todos os que vivemem um estado de incerteza, todos aquelesque aguardam pelo dia do juízo para asolução final de suas questões — todos osque assim fazem — estão mais ocupadosconsigo mesmos do que com Cristo.Ainda não entenderam a aplicação dacruz aos seus pecados e à sua natureza.Estão duvidando da Palavra de Deus e daobra de Cristo, e isto não é cristianismo.Não há — nem pode haver — qualquerjuízo para aqueles que, abrigados pelacruz, colocaram os pés firmemente em

um novo e eterno terreno de ressurreição.Para estes o juízo se foi para sempre, enada resta senão uma perspectiva denítida glória e de bênção eterna napresença de Deus e do Cordeiro.Todavia, não é de todo improvável queenquanto dizemos isto o pensamento doleitor esteja voltando a Mateus 25:31-46como uma passagem que estaria, de formadireta, comprovando a teoria de um juízogeral. Por isso sentimos ser nosso sagradodever acompanhá-lo por um momentoàquela importante e muito solenepassagem, enquanto lembramos quenenhuma passagem das Escrituras podeentrar em conflito com outra e, portanto,se lemos em João 5:24 que os crentes nãoentrarão em juízo, não poderíamos ler emMateus 25 que eles entrarão. Trata-se de

um princípio fixo e invulnerável — umaregra geral para a qual não há, e nempode haver, exceção. Mesmo assim, vamosabrir em Mateus 25."Quando o Filho do homem vier em Suaglória, e todos os santos anjos com Ele,então se assentará no trono da Sua glória;e todas as nações serão reunidas diantedEle, e apartará uns dos outros, como opastor aparta dos bodes as ovelhas".Ora, é extremamente necessário prestarmuita atenção aos termos exatos usadosnesta passagem das Escrituras. Devemosevitar toda negligência de pensamento,toda aquela pressa, descuido eimperfeição que tem causado sériosestragos ao ensino desta importantepassagem, e lançado tantos dentre o povodo Senhor na mais completa confusão a

este respeito.Vejamos, antes de qualquer coisa, quemsão as partes levadas a juízo. "Todas asnações serão reunidas diante dEle". Isto émuito claro. São nações vivas. Não é umaquestão de indivíduos, mas de nações —todos os gentios. Israel não está aqui, poislemos em Números 23:9 que "este povohabitará só, e entre as nações não serácontado". Se Israel fosse incluído nestacena de juízo, então Mateus 25 estaria emevidente contradição com Números 23, oque está totalmente fora de questão. Israelnunca é contado com os gentios, seja láqual for o assunto ou a base para isso. Doponto de vista divino, Israel permanecesó. O povo pode, por causa de seuspecados e sob as ações governamentais deDeus, ser disperso entre as nações, mas a

Palavra de Deus declara que não serácontado com elas. Para nós isto deve sersuficiente.Então, se for verdade que Israel não estáincluído no juízo de Mateus 25, então,sem precisarmos avançar um passosequer, a ideia de aquele ser um juízogeral deve ser abandonada. Não pode sergeral se não estiverem todos incluídos, eIsrael nunca é incluído sob o termo"gentios". As Escrituras falam de trêsclasses distintas, a saber, "judeus... gregos[gentios]... Igreja de Deus" (1 Co 10:32), eestas três nunca são confundidas. Alémdisso, devemos assinalar que a Igreja deDeus não está incluída no juízo queaparece em Mateus 25. Tampouco estaafirmação é baseada apenas no fato que jámencionamos, da necessária exclusão da

Igreja do juízo, mas também na grandeverdade de que a Igreja é tomada dasnações, como Pedro declarou no concíliode Jerusalém. "Deus visitou os gentios,para tomar deles um povo para o Seunome" (At 15:14). Portanto, se a Igreja étirada das nações, ela não pode sercontada entre elas e, por conseguinte,temos uma evidência adicional contra ateoria de um suposto juízo geral emMateus 25. O judeu não está ali, a Igrejanão está ali e, portanto, a ideia de umjuízo geral deve ser abandonada comototalmente infundada.Então quem são os que aparecem nojuízo de Mateus 25? A própria passagemfornece a resposta para a mente simples.Ela diz que "todas as nações serão reunidasdiante dEle". Claro e preciso. Não se trata

de um julgamento de indivíduos, mas denações como tal. Além disso, podemosacrescentar que nenhum dos que sãoindicados aqui terão experimentado amorte. Esta cena está em claro contrastecom a de Apocalipse 20:11-15, na qualnão haverá um que não tenha morrido.Em suma, em Mateus 25 temos o juízodos vivos e em Apocalipse 20 o juízo dosmortos. Ambos são mencionados em 2Timóteo 4:1: "Conjuro-te, pois, diante deDeus, e do Senhor Jesus Cristo, que há dejulgar os vivos e os mortos, na Sua vindae no Seu reino". Nosso Senhor JesusCristo julgará as nações vivas em Suaaparição, e julgará "os mortos, grandes epequenos" no final de Seu reino milenial.Mas vamos dar uma olhada, por uminstante, no modo como as partes são

organizadas no juízo de Mateus 25: "Eporá as ovelhas à Sua direita, mas osbodes à esquerda". Ora, a crença quaseuniversal da Igreja professa é que as"ovelhas" representam todo o povo deDeus, do início ao fim dos tempos, e os"bodes", por sua vez, representam todosos maus, do primeiro ao último. Todavia,se fosse assim, o que faremos com oterceiro grupo citado aqui como "meusirmãos"? O Rei se refere tanto às ovelhascomo aos bodes ao falar desta terceiraclasse. Na verdade, o próprio motivo dojuízo é o tratamento dado aos irmãos doRei. Seria um total absurdo dizer que asovelhas seriam o próprio grupo que estásendo mencionado. Se fosse assim, alinguagem seria completamente diferentee, em lugar de dizer "em verdade vos digo

que quando o fizestes a um destes meuspequeninos irmãos", teríamos o Reidizendo "em verdade vos digo quequando o fizestes uns para com osoutros" ou "para convosco".Rogamos uma atenção especial do leitorpara este ponto. Consideramos que se nãoexistisse qualquer outro argumento equalquer outra passagem sobre o assunto,bastaria este ponto para provar a faláciada teoria de um juízo geral. É impossívelnão enxergar estes três grupos na cena, asaber, as "ovelhas", os "bodes" e "meuspequeninos irmãos". E se existem trêsgrupos não poderia haver um juízo geral,ainda mais considerando que os "meuspequeninos irmãos" não fazem parte nemdo grupo das ovelhas, nem dos bodes.Não, querido leitor, aqui não se trata, de

modo algum, de um juízo geral, mas deum julgamento bem específico e parcial.Trata-se de um julgamento das naçõesvivas, precedendo o início do reinomilenial. As Escrituras nos ensinam que,após a Igreja deixar a terra, surgirá umtestemunho para as nações; o evangelhodo reino será levado, por mensageirosjudeus, por toda a extensão da terra, atépara as regiões hoje envoltas pelas trevasdo paganismo. As nações que receberemos mensageiros e os tratarem bem ficarãoà direita do Rei. Aquelas, ao contrário,que os rejeitarem e os tratarem mal,ficarão à Sua esquerda. Os "meuspequeninos irmãos" são judeus — osirmãos do Messias.O tratamento dado aos judeus é a basesobre a qual as nações eventualmente

serão julgadas, e este é outro argumentocontra um juízo geral. Sabemos bem quetodos os que viveram e morreram emrejeição ao evangelho de Cristo terão umarazão a mais para terem tratado mal osirmãos do Rei. E, por outro lado, aquelesque se encontrarão ao redor do Cordeiroem glória celestial estarão ali graças a algomuito diferente daquilo que suas obraspoderiam proporcionar.Em suma, não existe sequer um detalhena cena, um fato na história, um ponto nanarrativa, que não seja contrário à noçãode um juízo geral. E não apenas isto, masquanto mais estudamos as Escrituras,mais conhecemos o modo de agir deDeus; mais conhecemos Sua natureza,Seu caráter, Seus propósitos, Seusconselhos, Seus pensamentos; mais

conhecemos a Cristo, Sua Pessoa, Suaobra, Sua glória; mais conhecemos aIgreja, seu lugar diante de Deus emCristo, sua plenitude, sua perfeitaaceitação em Cristo. Quanto maisdetalhadamente estudamos as Escrituras— quanto mais profundamentemeditamos nela — mais ficamosconvencidos de que não existe nela algocomo um juízo geral.Quem é que, mesmo sem conhecer coisaalguma de Deus, poderia supor que Eleiria justificar hoje aqueles que são Seus,apenas para levá-los a juízo amanhã —que Ele iria apagar suas transgressõeshoje e julgá-los conforme suas obrasamanhã? Quem é que, mesmo semconhecer coisa alguma de nosso adorávelSenhor e Salvador Jesus Cristo, poderia

supor que Ele seria capaz de colocar SuaIgreja, Seu corpo, Sua noiva, diante dotrono do juízo junto com aqueles quemorreram em seus pecados? Seriapossível Ele entrar em juízo contra Seupovo pelas iniquidades e pecados dosquais Ele próprio disse: "Jamais Melembrarei"?Isto é suficiente. Confiamos totalmenteque o leitor agora esteja, de si mesmo,plenamente convencido de que não existe,e nem poderia existir, algo como umaressurreição geral — ou algo como umjuízo geral.Não podemos agora, no que diz respeitoao juízo em Apocalipse 20:11-15, ir muitoalém do que dizer que se trata de umacena pós milenial que incluirá todos osímpios mortos desde os dias de Caim até

o último apóstata da glória milenial. Alinão haverá um sequer que não tenhapassado pela morte, alguém cujo nomeesteja no livro da vida, que não deva serjulgado por suas próprias obras e que nãovenha a passar da pavorosa realidade dogrande trono branco para os horrores etormentos eternos do lago que queimacom fogo e enxofre. Quão horroroso!Quão terrível! Quão pavoroso!Oh, leitor! O que você diz acerca destascoisas? Você é um verdadeiro crente emJesus? Você está limpo por Seu preciososangue? Você tem nEle o abrigo contra ojuízo vindouro? Se não, deixe-me suplicara você agora, com toda ternura esinceridade, que fuja agora mesmo da iravindoura! Volte-se para Jesus, que estáesperando para receber você para Si

mesmo, para apresentá-lo a Deus naplenitude do valor de Sua obra expiatóriae na plenitude do crédito que tem o Seunome incomparável.

* * * * *

O REMANESCENTE JUDEUMateus 24:1-44 é parte de um dos maisprofundos e abrangentes discursos jáouvidos pelo homem — um discurso queinclui, em sua maravilhosa extensão, odestino do remanescente judeu, a históriada cristandade e o juízo das nações. Jádemos uma olhada neste último assunto.Agora nos resta considerar a questão doremanescente de Israel e a história dacristandade professa, seja ela falsa ou

genuína.Vamos ver primeiro o remanescentejudeu.Para entender Mateus 24:1-44 precisamosolhar do ponto de vista das pessoas àsquais o Senhor falava naquele momento.Se tentarmos importar para este discursoa luz que brilha na epístola aos Efésios,acabaremos entregando nossa mente àconfusão e perderemos o soleneensinamento da passagem que agoratemos diante de nós. Não encontramosaqui coisa alguma acerca da Igreja deDeus, o corpo de Cristo. O ensino denosso Senhor é divinamente perfeito e,portanto, não podemos, sequer por ummomento, imaginar que exista napassagem algo de prematuro. Mas seriaprematuro introduzir um assunto que,

naquele momento, estava oculto emDeus. A grande verdade da Igreja nãopoderia ser desvendada até que Cristo, oMessias que foi cortado, tivesse ocupadoSeu lugar à destra de Deus e enviado oEspírito Santo ao mundo para formar,por meio de Sua presença, o um só corpocomposto de judeus e gentios.Nada disso é encontrado em Mateus 24.Estamos ali em terreno totalmente judeu,cercados por circunstâncias e influênciasjudaicas. O cenário e as alusões feitas sãotodas puramente judaicas. Tentar aplicar apassagem à Igreja seria perdercompletamente de vista o assunto denosso Senhor e falsificar a real posição daIgreja de Deus. Quanto mais de pertoexaminarmos as Escrituras, com maiorclareza veremos que as pessoas às quais as

palavras são dirigidas ocupam umaperspectiva judaica e estão em terrenojudeu, não importa se consideramos aspessoas às quais o Senhor Se dirigia, ouaquelas que deverão ocupar exatamente amesma posição no final, quando a Igrejativer deixado esta cena de uma vez parasempre.Vamos examinar a passagem.No final de Mateus 23 nosso Senhorresume Seu apelo aos líderes da naçãojudaica com as seguintes palavras deterrível solenidade: "Enchei vós, pois, amedida de vossos pais. Serpentes, raça devíboras! Como escapareis da condenaçãodo inferno? Portanto, eis que Eu vosenvio profetas, sábios e escribas; a unsdeles matareis e crucificareis; e a outrosdeles açoitareis nas vossas sinagogas e os

perseguireis de cidade em cidade; paraque sobre vós caia todo o sangue justo,que foi derramado sobre a terra, desde osangue de Abel, o justo, até ao sangue deZacarias, filho de Baraquias, que matastesentre o santuário e o altar. Em verdadevos digo que todas estas coisas hão de virsobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, quematas os profetas, e apedrejas os que tesão enviados! Quantas vezes quis Euajuntar os teus filhos, como a galinhaajunta os seus pintos debaixo das asas, etu não quiseste! Eis que a vossa casa vaificar-vos deserta; porque Eu vos digo quedesde agora Me não vereis mais, até quedigais: Bendito o que vem em nome doSenhor" (Mt 23:32-39).Assim termina o testemunho do Messiaspara a apóstata nação de Israel. Todo

esforço que o amor — até mesmo o amordivino — poderia demonstrar havia sidotentado, e tentado em vão. Profetastinham sido enviados e apedrejados;mensageiro após mensageiro tinha ido esuplicado, ponderado, avisado eimplorado, mas sem resultado. Suaspoderosas palavras haviam caído emouvidos surdos e corações endurecidos. Aúnica recompensa dada a essesmensageiros fora um tratamentovergonhoso, o apedrejamento e a morte.Finalmente o próprio Filho foi enviado, eenviado com esta tocante declaração:"Talvez, vendo-O, seja respeitado".Respeitaram? Ah, não! Quando O viramnão havia nEle beleza alguma que osatraísse. A filha de Sião não sentia nadapor seu Rei. A vinha estava sob o

controle de lavradores ímpios quequeriam mantê-la para si mesmos. "Mas,vendo-o os lavradores, arrazoaram entresi, dizendo: Este é o herdeiro; vinde,matemo-lo, para que a herança sejanossa".Foi por causa da condição moral de Israelque nosso Senhor disse as palavrasexcepcionalmente terríveis da passagemacima; e então saiu do templo. Sabemos oquanto ele relutou em fazer isso, pois,bendito seja o Seu nome, sempre quedeixa um lugar de misericórdia, ou entraem um lugar de juízo, Ele se move emritmo lento e cuidadoso. Veja a partida daglória nos capítulos iniciais de Ezequiel."Então saiu a glória do Senhor de sobre aentrada da casa, e parou sobre osquerubins. E os querubins alçaram as

suas asas, e se elevaram da terra aos meusolhos, quando saíram; e as rodas osacompanhavam; e cada um parou àentrada da porta oriental da casa doSenhor; e a glória do Deus de Israelestava em cima, sobre eles" (Ez 11:22, 23).Assim, de modo lento e calculado, aglória do Deus de Israel sai da casa emJerusalém. Jeová demorou, foi relutanteem partir.* Ele chegara, com amorosoentusiasmo, de alma e coração, parahabitar no meio do Seu povo, paraencontrar um lar bem no seio de Suaassembleia; mas foi forçado a Se retirar porcausa dos seus pecados e iniquidades. Debom grado Ele ficaria, mas eraimpossível; e mesmo assim Ele provou,do modo como partiu, o quão relutanteestava em partir.

[* Compare esta relutante partida com Suarápida entrada no tabernáculo em Êxodo 40:34 eno templo em 2 Crônicas 7:1. A habitação tinhaacabado de ficar pronta e Ele já descia paraocupá-la, enchendo-a com Sua glória. Ele foi tãorápido em entrar quanto foi lento em partir. Enão somente isto, mas antes que o livro deEzequiel termine, vemos a glória voltandonovamente, e "Jeová Shamá" permanece gravadoem caracteres eternos sobre as portas da amadacidade. Nada mudou na afeição de Deus. QuemEle ama, e como ama, Ele ama até o fim. "É omesmo, ontem, e hoje, e eternamente".]

Não foi diferente com o Jeová Messias deMateus 23. Ouça Suas tocantes palavras:"Quantas vezes quis Eu ajuntar os teusfilhos, como a galinha ajunta os seuspintos debaixo das asas, e tu nãoquiseste!" Eis o profundo segredo: "quisEu". Assim estava o coração de Deus.

"Tu não quiseste". Assim estava o coraçãode Israel. Como aconteceu com a glórianos dias de Ezequiel, Ele também foiobrigado a Se retirar, mas — bendito sejao Seu nome — não sem antes deixar umapalavra que forma a preciosa base daesperança dos dias brilhantes que aindavirão, quando a glória retornar e a filhade Sião der as boas-vindas ao seu Rei comalegres cânticos: "Bendito o que vem emnome do Senhor".Todavia, até que aquele radiante diaamanheça, trevas, desolação e ruína étudo o que pode ser visto na história deIsrael. Aquilo que os líderes procuravamevitar, por meio da rejeição de Cristo,caiu sobre eles como uma dura e terrívelrealidade. "Virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação". Quão literal e

solene foi a forma como isto se cumpriu!Ah, seu lugar e sua nação foram tirados eo significativo ato de Jesus em Mateus24:1 não passou da promulgação dasentença e da desolação de todo o sistemajudaico. Jesus saiu do templo. O casoestava perdido. Tudo deve ser deixado delado. Um longo período de trevas etristeza deve tomar conta daquelaobcecada nação — um período quedeverá culminar naquela "grandetribulação" que deve preceder a hora dolivramento final.Mas, como aconteceu nos dias deEzequiel, havia aqueles que suspiravam echoravam por causa dos pecados edesgraças da nação. Por isso, nos dias deMateus 24 foi possível encontrar umremanescente de almas fiéis que se

juntaram ao Messias rejeitado acalentandoa terna esperança da redenção erestauração de Israel. É certo que suaspercepções eram bem turvas e seuspensamentos cheios de confusão. Todaviao coração de cada um, como que tocadopela graça divina, batia sincero para como Messias e estava cheio de esperançaquanto ao futuro de Israel.Ora, é da maior importância que o leitorconsiga reconhecer e entender o caráterdesse remanescente, e saber que é dissoque nosso Senhor está tratando em Seumaravilhoso discurso no Monte dasOliveiras. Supor, ainda que por ummomento, que as pessoas que ouviamestivessem sobre um fundamento cristãoseria exigir que abandonássemos todas asideias genuínas quanto ao que vem a ser

cristianismo, e que ignorássemos umgrupo cuja existência é reconhecida aolongo dos Salmos, dos Profetas e emvárias partes do Novo Testamento. Havia,e sempre haverá, "um remanescente,segundo a eleição da graça". Citar aspassagens que revelam a história, astristezas, as experiências e exercícios desseremanescente exigiria um volume inteiro.Por isso não tentaremos fazê-lo, mastemos grande desejo que o leitor adote aideia de que esse remanescente fiel érepresentado pelo grupo de discípulosque se reunia em torno de nosso Senhorno Monte das Oliveiras. Sentimo-nospersuadidos de que, se isto não forenxergado, se perderá o verdadeiroescopo, significado e aplicação destenotável discurso.

"E, quando Jesus ia saindo do templo,aproximaram-se dEle os Seus discípulospara Lhe mostrarem a estrutura dotemplo. Jesus, porém, lhes disse: Nãovedes tudo isto? Em verdade vos digoque não ficará aqui pedra sobre pedra quenão seja derrubada. E, estando assentadono Monte das Oliveiras, chegaram-se aEle os seus discípulos em particular,dizendo: Dize-nos, quando serão essascoisas, e que sinal haverá da Tua vinda edo fim do mundo?" (ou da era, aionos.)Os discípulos estavam, naturalmente,ocupados com questões e expectativasterrenas e judaicas — o templo e suascercanias. Devemos ter isto em mente sequisermos entender a pergunta quefizeram e a resposta de nosso Senhor. Atéali eles não tinham qualquer ideia além do

lado terreno das coisas. Eles buscavampelo estabelecimento do reino, pela glóriado Messias, pelo cumprimento daspromessas feitas aos pais. Ainda nãotinham se dado conta do importante esolene fato de que o Messias estava paraser "cortado... mas não para Si mesmo"(Dn 9:26). É verdade que o benditoMestre estava, pouco a pouco,procurando preparar suas mentes paraeste solene evento. Ele os havia avisadoverdadeiramente quanto às densassombras que estavam para se derramarem Seu caminho. Havia dito a eles que oFilho do Homem deveria ser entregue aosgentios para ser ridicularizado, flagelado ecrucificado.Mas eles não entendiam o que Ele dizia.Aquilo parecia sombrio, difícil e

incompreensível; e seus coraçõescontinuavam a se apegar afetuosamente àesperança da bênção e restauraçãonacional. Eles ansiavam por ver a estrelade Jacó em ascensão. Seus pensamentosestavam cheios de expectativa darestauração do reino de Israel. Portantonada sabiam — e como poderiam? —daquilo que estava para se desencadear: arejeição e morte do Messias. Sem dúvidaalguma o Senhor havia falado de edificaruma assembleia, mas no que diz respeitoà posição e privilégios dessa assembleia,sua vocação, sua posição, suas esperanças,eles não sabiam absolutamente coisaalguma. A ideia de um corpo compostode judeus e gentios, unidos pelo EspíritoSanto a uma Cabeça viva e glorificada noscéus, jamais entrara — e como poderia?

— em suas cabeças. A parede deseparação continuava de pé, e um deles— o mais proeminente dentre eles —teria de ser ensinado, muito tempo depoise com muita dificuldade, a aceitar a ideiade até admitir que os gentios entrassemno reino.Tudo isso, repetimos, deve ser levado emconta se quisermos ler corretamente aresposta de nosso Senhor à perguntasobre Sua vinda e o fim dos tempos. Nãohá sequer uma sílaba sobre a Igreja comotal, do princípio ao fim daquela resposta.Até o versículo 14 Ele vai direto ao final,dando uma rápida ideia dos eventos quedevem ocorrer entre as nações."Acautelai-vos, que ninguém vos engane",diz Ele. "Porque muitos virão em Meunome, dizendo: Eu sou o Cristo; e

enganarão a muitos. E ouvireis de guerrase de rumores de guerras; olhai, não vosassusteis, porque é mister que isso tudoaconteça, mas ainda não é o fim.Porquanto se levantará nação contranação, e reino contra reino, e haveráfomes, e pestes, e terremotos, em várioslugares. Mas todas estas coisas são oprincípio de dores. Então vos hão deentregar para serdes atormentados, ematar-vos-ão; e sereis odiados de todas asnações por causa do Meu nome. Nessetempo muitos serão escandalizados, etrair-se-ão uns aos outros, e uns aosoutros se odiarão. E surgirão muitosfalsos profetas, e enganarão a muitos. E,por se multiplicar a iniquidade, o amor demuitos esfriará. Mas aquele queperseverar até ao fim será salvo. E este

evangelho do reino será pregado em todoo mundo, em testemunho a todas asnações, e então virá o fim" (Mt 24:4-14).Temos aqui, portanto, um esboço dosmais abrangentes de todo o período apartir do momento que nosso Senhorfalava até o tempo do fim. Mas o leitorprecisará ter em mente que existe umintervalo não perceptível — umparêntese, uma pausa — nesse período,durante o qual o grande mistério daIgreja é revelado.Este intervalo ou pausa é totalmentedeixado de lado neste discurso,principalmente porque ainda não tinhachegado o tempo de seudesenvolvimento. Ele continuava "ocultoem Deus" e não poderia ser revelado atéque o Messias fosse finalmente rejeitado,

cortado da terra e recebido em glória nasalturas. Este discurso, em sua totalidade,teria seu pleno e perfeito cumprimento,mesmo que jamais se tivesse ouvido falarde algo como a Igreja. Pois a Igreja —que isto nunca seja esquecido — não temqualquer parte nas deliberações de Deuspara com Israel e o mundo. E no que dizrespeito à alusão feita à pregação doevangelho no versículo 14, não devemossupor que seja a mesma coisa que o"glorioso evangelho da graça de Deus",do modo como foi pregado por Paulo.Aquele, além de ser denominado "oevangelho do reino", deverá ser pregadonão com o propósito de reunir a Igreja,mas "em testemunho a todas as nações".Não podemos confundir as coisas queDeus, em Sua infinita sabedoria, mostrou

serem distintas. A Igreja não deve serconfundida com o reino, tampouco oevangelho da graça de Deus deve serconfundido com o evangelho do reino.São coisas completamente distintas e, seas confundirmos, acabaremos nãoentendendo nem uma, nem outra. Alémdisso, gostaríamos de insistir com o leitorquanto à absoluta necessidade de seenxergar a pausa, o parêntese ou oimperceptível intervalo no qual o grandemistério da Igreja é inserido. Se isto nãofor claramente visto, Mateus 24 nãopoderá ser entendido.Mas devemos seguir adiante com odiscurso de nosso Senhor.No versículo 15 Ele parece chamar aatenção de Seus leitores um pouco para opassado, como se quisesse falar de algo

bem específico — algo da alusão feita porDaniel, com a qual um crente judeuestaria familiarizado. "Quando, pois,virdes que a abominação da desolação, deque falou o profeta Daniel, está no lugarsanto; quem lê, atenda; então, os queestiverem na Judéia, fujam para osmontes; e quem estiver sobre o telhadonão desça a tirar alguma coisa de sua casa;e quem estiver no campo não volte atrás abuscar as suas vestes... E orai para que avossa fuga não aconteça no inverno nemno sábado; porque haverá então grandeaflição, como nunca houve desde oprincípio do mundo até agora, nemtampouco há de haver".Tudo isso é muito claro. A citação deDaniel 12 não deixa qualquer dúvidaquanto à aplicação da passagem. Prova

que a referência não é ao cerco deJerusalém por Tito, pois lemos em Daniel12 que "naquele tempo livrar-se-á o teupovo", e é perfeitamente claro que o povonão foi liberto nos dias de Tito. Não, areferência é ao tempo do fim. A cena sepassa em Jerusalém. As pessoas às quais odiscurso é dirigido e aquelas envolvidassão crentes judeus — o piedosoremanescente de Israel durante a grandetribulação, após a Igreja ter saído de cena.Como alguém poderia imaginar que aspessoas às quais a passagem se referepudessem ser consideradas como estandoem terreno cristão? Que importância teriapara elas a alusão feita ao inverno ou aosábado?Portanto, mais uma vez: "Então, sealguém vos disser: Eis que o Cristo está

aqui, ou ali, não lhe deis crédito... se vosdisserem: Eis que Ele está no deserto, nãosaiais. Eis que Ele está no interior da casa;não acrediteis". Que aplicação teria taispalavras para pessoas que estão instruídasa aguardar pelo Filho de Deus vindo doCéu, que sabem que quando Ele voltar aeste mundo elas irão encontrá-Lo entrenuvens e voltar com Ele para a casa doPai? Poderia algum cristão beminformado da esperança que lhe dizrespeito ser enganado por pessoasdizendo que Cristo está aqui ou ali, nodeserto ou no interior da casa?Impossível. O cristão está aguardandopelo Noivo vindo do Céu, e sabe que estátotalmente fora de questão que Cristoapareça na terra se não estiver trazendoconsigo todo o Seu povo.

Assim, a simples verdade deixa tudoresolvido, e tudo o que queremos éabordá-la com simplicidade. O cristãomais simples sabe muito bem que seuSenhor não aparecerá para si como umraio ou relâmpago, mas como aresplandecente Estrela da manhã e,portanto, entende que Mateus 24 nãopode se aplicar à Igreja, muito embora aIgreja certamente possa estudar o capítulocom interesse e obter benefícios dele,como acontece com todas as outraspassagens proféticas. E, podemosacrescentar, o interesse será ainda maisintenso, e o benefício ainda maisprofundo, na proporção em queenxergarmos a verdadeira aplicação destaspassagens das Escrituras.O limite de espaço impede que entremos

tanto quanto gostaríamos no restantedeste maravilhoso discurso, mas quantomais detalhadamente cada sentença forexaminada, maior o peso que se dará acada circunstância, e maior a clareza comque poderemos ver que as pessoas àsquais foi dirigido não têm natureza cristã.Toda a cena é judaica e terrena, e nãocristã e celestial. Há ali muito ensino paraaqueles que se encontrarão,eventualmente, na posição ali prevista, enada pode ser mais claro do que o fato deque o parágrafo inteiro, do versículo 15ao 42, se refere ao período que se passaentre o arrebatamento dos santos e aaparição do Filho do Homem.Alguns talvez sintam dificuldade ementender o versículo 34: "Não passará estageração sem que todas estas coisas

aconteçam". Mas devemos nos lembrar deque a palavra "geração" é constantementeusada nas Escrituras com um sentidomoral. Não deve ser limitada a certonúmero de pessoas que estiverem vivas naocasião, mas leva em consideração o povo.Na passagem que lemos, ela se aplicasimplesmente à geração judaica, mas omodo como as palavras são colocadaspode deixar em aberto também a questãodo tempo, de maneira que o coração deveser mantido sempre de prontidão para avinda do Senhor. Nada há nas Escriturasque interfira com a constante expectativadesse grande evento. Pelo contrário, cadaparábola, cada figura, cada alusão écolocada na forma de palavras quegarantam que cada pessoa espere pelavolta do Senhor durante o tempo de sua

vida, deixando ainda margem para oprolongamento do tempo emconformidade com a paciente graça deum Deus Salvador.

* * * * *A CRISTANDADE

Que pensamentos e sentimentos diversossão despertados na alma pelo simplesouvir da palavra "cristandade"! Trata-sede uma palavra terrível. Ela coloca diantede nós, de uma só vez, aquela imensamassa de pessoas professas e batizadasque se denominam a si mesmos Igreja deDeus, mas que não são; que dão a simesmas o título de cristianismo, mas nãosão. Cristandade é uma terrível e sombriaanomalia. Não é uma coisa nem outra.

Não é judeu, nem gentio, nem Igreja deDeus. Trata-se de uma misteriosa misturacorrompida, uma deformação espiritual, aobra prima de Satanás, o corruptor daverdade de Deus e destruidor de almashumanas, uma armadilha, um engano,uma pedra de tropeço, a mais sombriamancha moral no universo de Deus.Trata-se da corrupção de nada menos doque aquilo que há de melhor e, por isso, éa pior das corrupções. Trata-se daquiloque Satanás fez a partir do cristianismoprofesso. É, de longe, pior que ojudaísmo, pior que todas as maissombrias formas de paganismo. Porpossuir uma luz mais elevada e privilégiosmais ricos, isto a torna a profissão maiselevada e faz com que ocupe o maiseminente lugar. Finalmente, é para essa

horrível apostasia que estão reservados osmais pesados juízos de Deus — a maisamarga borra da taça de Sua justa ira.Há, bendito seja Deus, alguns poucosnomes na cristandade que, por graça, nãocontaminaram suas vestes. Há algumasbrasas vivas entre suas cinzas inertes —pedras preciosas entre o horrível entulho.Todavia, no que diz respeito à massa daprofissão cristã à qual o termocristandade se aplica, nada pode ser maisconsternador, quer pensemos em suacondição atual ou em seu destino futuro.Duvidamos que os cristãos, de um modogeral, tenham uma percepção clara doverdadeiro caráter e inevitável ruínadaquilo que os cerca. Se tivessem,ficariam preocupados e sentiriam anecessidade premente de se manterem à

parte, em santa separação, dos caminhosda cristandade, em um claro testemunhocontra seu espírito e princípios.Mas vamos voltar ao profundo discursode nosso Senhor no Monte das Oliveiras,no qual, como já observamos, Ele trata daquestão da profissão cristã. Ele faz issoem três parábolas distintas, a saber, a doservo, das dez virgens e dos talentos. Emcada uma e em todas vemos as mesmasduas coisas que foram mostradas acima, ogenuíno e o espúrio, o verdadeiro e ofalso, o brilhante e o sombrio, aquilo queé de Cristo e aquilo que é de Satanás,aquilo que pertence ao Céu e aquilo queemana do inferno.Devemos olhar de relance para as trêsparábolas que contêm, apesar de suabrevidade, um imenso manancial de

ensino prático e dos mais solenes.Abram em Mateus 24:45-47. "Quem é,pois, o servo fiel e prudente, que o seusenhor constituiu sobre a sua casa, paradar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seusenhor, quando vier, achar servindoassim. Em verdade vos digo que o porásobre todos os seus bens".Aqui, portanto, temos definida a fonte eobjetivo de todo ministério na casa deDeus. "Que o seu senhor constituiu sobre asua casa". Esta é a fonte. "Para dar osustento a seu tempo". Este é o objetivo.Estas coisas são da mais alta importânciae dignas da mais profunda atenção doleitor. Todo ministério na casa de Deus,seja nos dias do Antigo ou do NovoTestamento, é por ordenação divina. Não

existe nas Escrituras algo como umaautoridade humana ordenando alguémpara o ministério. Tampouco existe algocomo um ministério auto constituído.Ninguém além de Deus pode fazer ouordenar um ministro, qualquer que sejaseu tipo ou qualificação. Assim, nostempos do Antigo Testamento, Jeováordenou Aarão e seus filhos para osacerdócio e, se um estranho pretendessese infiltrar nas funções do santo ofício,deveria ser condenado à morte. Nemmesmo o próprio rei ousava tocar noincensório sacerdotal, pois nos é dito deUzias, rei de Judá, que "havendo-se jáfortificado, exaltou-se o seu coração até secorromper; e transgrediu contra o Senhorseu Deus, porque entrou no templo doSenhor para queimar incenso no altar do

incenso. Porém o sacerdote Azariasentrou após ele, e com ele oitentasacerdotes do Senhor, homens valentes. Eresistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: Ati, Uzias, não compete queimar incensoperante o Senhor, mas aos sacerdotes,filhos de Arão, que são consagrados paraqueimar incenso; sai do santuário, porquetransgrediste; e não será isto para honratua da parte do SENHOR Deus... Assimficou leproso o rei Uzias até ao dia da suamorte" (2 Cr 26:16-21).Tal foi o solene resultado — a terrívelconsequência de alguém ousar seintrometer naquilo que era umaordenação totalmente divina. Acaso istonão tem algo a dizer à cristandade?Certamente. É algo que emite uma notade alerta, que diz à Igreja professa, em

alto e bom som, para tomar cuidado coma intromissão humana em uma área quepertence apenas a Deus. "Porque todo osumo sacerdote, tomado dentre oshomens, é constituído a favor dos homens [enão por homens] nas coisas concernentes aDeus, para que ofereça dons e sacrifíciospelos pecados... e ninguém toma para si estahonra, senão o que é chamado [não porhomens, mas] por Deus, como Arão" (Hb5).Tampouco estava este princípio deordenação divina restrito ao santo eelevado ofício do tabernáculo. Homemalgum ousava colocar sua mão na menorparte que fosse daquela estrutura sagradaa menos que tivesse autoridade recebidadiretamente de Jeová. "Depois falou oSenhor a Moisés, dizendo: Eis que Eu

tenho chamado por nome a Bezalel, o filhode Uri, filho de Hur, da tribo de Judá"(Êx 31). E nem Bezalel poderia escolherseus companheiros no trabalho, ouordenar quem quisesse para trabalhar, domesmo modo como não poderia terescolhido ou ordenado a si mesmo. Não,isso também era uma prerrogativa divina."E eis que eu", diz Jeová, "tenho posto comele a Aoliabe". Assim tanto Aoliabe comoBezalel receberam sua comissãodiretamente do próprio Jeová, a únicafonte de toda autoridade ministerial.E nem podia ser diferente no caso doministério e do ofício profético. Só Deuspoderia fazer, preparar e enviar umprofeta. Oh, mas havia aqueles dos quaisJeová precisava dizer: "Não mandei essesprofetas, contudo eles foram correndo"

(Jr 23:21). Eram pessoas não consagradasse intrometendo no campo da profecia,assim como aqueles que se intrometiamno ofício do sacerdócio. Todavia, todosatraíram para si mesmos o juízo de Deus.Será que este grande princípio mudou?Acaso o ministério foi tirado de seuantigo fundamento? Porventura omanancial de águas vivas foi desviado desua divina fonte? Será que esta instituiçãotão gloriosa e preciosa foi despojada desua sublime dignidade? Seria possível que,na época do Novo Testamento, oministério tivesse sido rebaixado de suadivina excelência? Teria ele setransformado numa mera ordenaçãohumana? Poderia alguém ordenar seucompanheiro, ou ordenar a si próprio,para qualquer ministério na casa de Deus?

Que resposta devemos dar a estasperguntas? Sem dúvida alguma, e graças aDeus por isso, nenhuma outra resposta hásenão um claro e enfático Não! Oministério era, é e sempre será divino;divino em sua fonte, divino em suanatureza, divino em cada princípio easpecto. "Ora, há diversidade de dons,mas o Espírito é o mesmo. E hádiversidade de ministérios, mas o Senhoré o mesmo. E há diversidade deoperações, mas é o mesmo Deus queopera tudo em todos" (1 Co 12:4-6). "Masagora Deus colocou os membros nocorpo, cada um deles como quis... E a unspôs Deus na igreja, primeiramenteapóstolos, em segundo lugar profetas, emterceiro doutores, depois milagres, depoisdons de curar, socorros, governos,

variedades de línguas" (1 Co 12:18, 28)."Mas a graça foi dada a cada um de nóssegundo a medida do dom de Cristo. Porisso diz: Subindo ao alto, levou cativo ocativeiro, e deu dons aos homens... E elemesmo deu uns para apóstolos, e outrospara profetas, e outros para evangelistas, eoutros para pastores e doutores,querendo o aperfeiçoamento dos santos,para a obra do ministério, para edificaçãodo corpo de Cristo; até que todoscheguemos à unidade da fé, e aoconhecimento do Filho de Deus, ahomem perfeito, à medida da estaturacompleta de Cristo" (Ef 4:7-13).Eis a grande fonte de todo ministério naIgreja de Deus, do primeiro ao último —do alicerce estabelecido em graça, até apedra do topo, em glória. Não vem do

homem e nem é ordenado pelo homem,mas é de Jesus Cristo, e de Deus Pai queO ressuscitou dentre os mortos, e nopoder do Espírito Santo (veja Gálatas 1).Não há nas Escrituras qualquer coisareferente a algum tipo de autoridadehumana em qualquer área do ministériona Igreja. Se for uma questão de dom,está enfaticamente declarado que se tratade dom de Cristo. Se for uma questão deposição ordenada, nos é dito, com igualclareza e ênfase, que Deus coloca osmembros. Se for uma questão deresponsabilidade local, seja ela de anciãoou diácono, trata-se de uma designaçãoexclusivamente divina, exercida por mãodos apóstolos ou daqueles por elesdelegados.Tudo isso está tão claro, tão definido, tão

palpável nas páginas das Escrituras que aúnica coisa que se pode dizer é: "Comolês?". E quanto mais penetramos sob asuperfície — quanto mais somos guiadospelo Espírito Eterno nas mais preciosas eprofundas regiões da inspiração — maisconvencidos ficaremos de que oministério, em cada uma de suas áreas easpectos, é divino em sua fonte, naturezae princípios. A verdade a este respeitoresplandece em todo o seu fulgor nasEpístolas, mas temos sua essência naspalavras de nosso Senhor em Mateus25:45: "Que o seu senhor constituiu sobrea sua casa". A casa pertence ao Senhor esomente Ele pode designar Seus servos, oque Ele faz conforme Sua vontadesoberana.Igualmente claro é o assunto do

ministério, conforme é declarado naparábola e desenvolvido nas Epístolas."Para dar o sustento a seu tempo". "Paraedificação do corpo de Cristo" — "paraque a igreja receba edificação". É isto queestá junto ao terno coração de Jesus. Elequeria que Sua casa fosse aprimorada, queSua Igreja fosse edificada, que Seu corpofosse alimentado e cuidado. Para este fim,Ele deu dons e os mantêm na Igreja, e irámantê-los até que não sejam maisnecessários.Mas, oh!, existe um lado sombrio nessequadro. Devemos estar preparados paraisso, já que temos diante de nós o quadroda cristandade. Se existe um servo fiel,sábio e bendito, existe também um servomau que, no seu coração diz: "O meusenhor tarde virá". Preste atenção nisto. É

no coração do servo mau que o pensamentoda demora da vinda tem sua origem.E qual é o resultado? Ele começa "aespancar os seus conservos, e a comer e abeber com os ébrios". Não precisamoscomentar o modo terrível como isso temsido retratado na história da cristandade.Ao invés de um verdadeiro ministériofluindo da Cabeça ressuscitada eglorificada nos céus, promovendo aedificação do corpo, a bênção das almas ea prosperidade da casa, temos uma falsaautoridade clerical, um governoarbitrário, se assenhoreando da herançade Deus, numa ávida busca pela riqueza epoder seculares, pela permissividademundana e satisfação dos própriosdesejos, exaltação pessoal e domíniosacerdotal das mais variadas e imagináveis

formas e resultados.O leitor fará bem se aplicar seu coraçãoem compreender estas coisas. Para istodeverá apreender, com clareza e poder, adiferença entre clericalismo e ministério.O primeiro não passa de pretensãohumana; o último é uma instituiçãopuramente divina. O primeiro tem suafonte no coração do homem mau; oúltimo provém de um Salvadorressuscitado e exaltado que, depois deressuscitado dentre os mortos, recebeudons para serem dados aos homens e osderrama sobre Sua Igreja conforme a Suaprópria vontade. O primeiro éverdadeiramente um flagelo e maldição; oúltimo, uma bênção divina dada aoshomens. Este, em sua essência, fluiprimorosamente do céu e para lá retorna;

aquele, flui do inferno que é a sua origeme é para lá que retorna.Tudo isso é extremamente solene edeveria exercer uma poderosa influênciaem nossa alma. Está chegando o diaquando Cristo, o Senhor, irá tratar comjustiça sumária tudo aquilo que o homemousou estabelecer em Sua casa. Nãofalamos aqui de indivíduos — apesar deser algo muito sério e terrível alguémpraticar ou se envolver com aquilo sobreo que um julgamento tão medonho estápara cair. Falamos de um sistema — umgrande princípio que se espalha, em umacorrente profunda e sombria, por toda aextensão da Igreja professa — falamos doclericalismo e do poder sacerdotal, emtodas as suas formas e ramificações.É contra essa coisa terrível que

solenemente alertamos nossos leitores.Nenhuma linguagem humana seria capazde descrever o mal que há nisso,tampouco pode a linguagem humanaexpor adequadamente a profunda bênçãodo genuíno ministério na Igreja de Deus.O Senhor Jesus não apenas concede osdons ministeriais, mas, em Suamaravilhosa graça, recompensaráabundantemente o exercício fiel ediligente desses dons. Todavia, no que dizrespeito àquilo que o homem estabeleceu,lemos acerca de seu destino nestasveementes palavras: "Virá o senhordaquele servo num dia em que o nãoespera, e à hora em que ele não sabe, esepará-lo-á, e destinará a sua parte com oshipócritas; ali haverá pranto e ranger dedentes".

Que o gracioso Senhor possa livrar Seusservos e Seu povo de qualquerparticipação nessa grande impiedade quetem penetrado até mesmo no seio daquiloque se denomina a Igreja de Deus. E, poroutro lado, que Ele possa levá-los acompreender, a apreciar e a exercitaraquele verdadeiro, precioso e divinoministério que emana de Si próprio e édesignado, em Seu infinito amor para averdadeira bênção e crescimento dessaIgreja que é tão cara ao Seu coração.Enquanto buscamos nos manter longe domal do clericalismo (como certamentedevemos fazer), corremos o risco —deveras um grande risco — de cairmosno extremo oposto, que é o de desprezaro ministério.Isto deve ser cuidadosamente evitado.

Devemos sempre ter em mente que oministério adequado à Igreja é oministério vindo de Deus. Sua fonte édivina. Sua natureza é celestial eespiritual. Seu objetivo é reunir, é edificara Igreja de Deus. Nosso Senhor JesusCristo concede os diversos dons —evangelistas, pastores e mestres oudoutores. É dEle o grande reservatório dedons espirituais. Ele nunca abriu mãodisso e nem abrirá. Apesar de tudo aquiloque Satanás tem feito na Igreja professa;apesar de todos os feitos daquele "servomau"; apesar de toda a pretensausurpação de autoridade do homem quede forma alguma lhe pertence; apesar detudo isso, nosso Senhor ressuscitado eglorificado tem as "sete estrelas". É dEleque provêm todos os dons de ministério,

todo o poder e autoridade. Só Ele podefazer de alguém um ministro. Se Ele nãoconceder um dom, não pode existir umministério genuíno. Pode existir a vãpretensão — a usurpação culposa, asimulação vazia, o discurso inútil — masnão haverá um átomo sequer deministério verdadeiro, divino e terno,exceto onde nosso soberano Senhorquiser conceder o dom. E até mesmoonde Ele concede o dom, esse dom deveser "despertado" e diligentementecultivado, caso contrário o"aproveitamento" não será "manifesto atodos". O dom deve ser exercitado nopoder do Espírito Santo, ou nãopromoverá o objetivo para o qual foidivinamente designado.Mas estamos apenas antecipando o que

ainda está para nos ser apresentado naparábola dos talentos, por issoterminaremos aqui simplesmentelembrando o leitor que o grave assuntocom o qual nos ocupamos tem ligaçãodireta com a vinda de nosso Senhor,ainda mais considerando que todoministério genuíno é exercido tendo emvista aquele grande e glorioso evento. Enão apenas isto, mas aquela imitação,aquela coisa corrupta e má, serájudicialmente tratada quando Cristo, oSenhor, surgir em Sua glória.

* * * * *

AS DEZ VIRGENSAbordaremos agora esta solene parte do

discurso de nosso Senhor no qual Eleapresenta o reino dos céus comparado a"dez virgens". O ensino contido nestaparábola tão interessante e significativa éde uma aplicação mais ampla do que a doservo à qual já nos referimos,considerando que ela aborda todo oespectro da profissão cristã e não ficarestrita ao ministério, seja ele dentro oufora da casa. Ela se relaciona direta eexplicitamente à profissão cristã, tanto afalsa como a verdadeira."Então o reino dos céus será semelhante adez virgens que, tomando as suaslâmpadas, saíram ao encontro do esposo".Há quem acredite que esta parábolarefira-se ao remanescente judeu, mas nãoparece ser esta a ideia que ela dá, tantopelo contexto no qual ocorre, quanto

pelos termos nela utilizados.No que diz respeito ao contexto comoum todo, quanto mais de perto nós aexaminarmos, mais claramente veremosque a porção judaica do discurso terminacom Mateus 24:44. Isto é algo tão claroque descarta qualquer questão.Igualmente distinta é a porção cristã, quese estende, como vimos, de Mateus 24:45a Mateus 25:30, enquanto de Mateus 25:31ao final temos os gentios. Tamanhaordem e plenitude encontradas nestemaravilhoso discurso deve tocar todoleitor atento. Ele apresenta o judeu, ocristão e o gentio, cada um em seuterreno distinto e em conformidade comseus próprios princípios. Não há umamistura de uma coisa com outra, não háconfusão de coisas que diferem. Em

suma, a ordem, a plenitude e aabrangência deste profundo discurso sãocoisas divinas que enchem a alma de"assombro, amor e adoração". Depois deestudá-lo, só podemos fazer nossas, emuníssono, as palavras do apóstolo quedisse: "Ó profundidade das riquezas,tanto da sabedoria, como da ciência deDeus! Quão insondáveis são os Seusjuízos, e quão inescrutáveis os Seuscaminhos!"E então, quando examinamos os termosexatos utilizados por nosso Senhor naparábola das dez virgens, acabamospercebendo que esta não se aplica ajudeus, mas a cristãos professos — aplica-se a nós. Proclama e ensina uma solenelição ao escritor e também ao leitor destaslinhas.

Vamos, então, aplicar nosso coração à sualeitura."Então o reino dos céus será semelhante adez virgens que, tomando as suaslâmpadas, saíram ao encontro do esposo".O cristianismo primitivo eraespecialmente caracterizado pelo fatoaqui indicado, a saber, de aguardar peloansiado encontro com um Noivo quevoltaria. Os primeiros cristãos foramlevados a se desligar das coisas presentes ea saírem, de mente e coração, ao encontrodo Salvador que amavam e pelo qualaguardavam. Não se tratava,evidentemente, de sair de um lugar paraoutro; não era uma questão de lugar, masalgo moral e espiritual. Era uma saída decoração, ao encontro de um amadoSalvador cujo retorno era ansiosamente

aguardado, dia após dia.É impossível ler as epístolas dirigidas àsdiversas igrejas sem perceber que aesperança da eminente e segura volta doSenhor governava os corações de Seuamado povo nos primeiros dias. Elesesperavam pelo Filho vindo do céu.Sabiam que Ele viria para levá-los, paraestarem Consigo para sempre, e oconhecimento e poder dessa esperançatinha o efeito de desligar seus coraçõesdas coisas presentes. Sua esperança, viva ecelestial, acabou por torná-losindiferentes às coisas deste mundo. Elesesperavam pelo Salvador. Acreditavamque Ele poderia vir a qualquer momentoe, por isso, as obrigações desta vidaacabavam sendo tão somente assumidas eatendidas para o momento — sem dúvida

alguma atendidas de forma completa eadequada — mas apenas no carátertransitório que tinham, enquanto viviamem grande expectativa.Tudo isso é comunicado ao nossocoração, de forma breve, porém clara,pela expressão: "Saíram ao encontro doesposo". Não há como conscientementeaplicar isto ao remanescente judeu, aindamais sabendo que eles não sairão aoencontro de seu Messias, mas, aocontrário, permanecerão em sua posiçãoou em meio às circunstâncias até que Elevenha e coloque Seu pé no Monte dasOliveiras. Eles não aguardarão pela vindado Senhor para levá-los embora destaterra para estarem com Ele no céu, masEle virá para trazer-lhes libertação em suaprópria terra, e para fazê-los feliz ali

mesmo, sob Seu próprio reino pacífico ebendito durante o milênio.Porém o chamado feito aos cristãos foipara "saírem". Espera-se deles queestejam sempre de mudança; que não seacomodem no mundo, mas que estejamde saída em uma sincera e santaexpectativa pela glória celestial para aqual são chamados, e pelo Noivo celestialcom Quem estão desposados, e cujobreve advento são ensinados a aguardar.Tal é a ideia verdadeira, divina e normalpara a condição e atitude esperadas de umcristão. E uma ideia tão terna eramaravilhosamente entendida e colocadaem prática pelos primeiros cristãos. Mas,oh!, somos lembrados de que, nacristandade estamos diante tanto do que égenuíno como daquilo que é falso. Há o

"joio" e há também o "trigo" no reinodos céus, portanto lemos acerca destasdez virgens que "cinco delas eramprudentes, e cinco loucas". Nocristianismo professo existe o verdadeiroe o falso, o genuíno e a imitação, o real eo ilusório.Sim, e isto deve continuar até o tempo dofim, até que o Noivo venha. O joio não éconvertido em trigo, tampouco as virgensloucas transformadas em prudentes. Não,jamais. O joio irá queimar e as virgensloucas serão deixadas do lado de fora. Atéaqui, pelo que vemos de um aparenteprogresso levado a efeito pelos meioshoje em operação — a pregação doevangelho e as diversas organizaçõesbeneficentes funcionando em todo omundo — percebemos, graças a todas as

parábolas e ao ensino de todo o NovoTestamento, que o reino dos céus serevela como uma mescla de mal das maisdeploráveis. Trata-se de um processo quecorrompe, uma repugnante adulteraçãoda obra de Deus engendrada pelo inimigoe um real progresso do mal em princípio,profissão e prática.E tudo isso seguirá até o fim. As virgensloucas são vistas quando surge o Noivo.De onde viriam, se fosse correta a ideia deque todos deverão se converter antes davinda do Senhor? Se todos forem levadosao conhecimento do Senhor pelos meioshoje utilizados, então como explicar aexistência do mesmo número de virgensloucas e sábias nessa ocasião?Mas talvez alguém alegue que isto nãopassa de uma parábola, uma figura.

Certamente, mas figura de quê?Certamente não de um mundo inteiroconvertido. Afirmar isto seria ofender ovolume sagrado e tratar o solene ensinode nosso Senhor de um modo tal que nãoousaríamos tratar nem mesmo o ensinode um mero mortal.Não, leitor, a parábola das dez virgensensina, sem dúvida alguma, que quando oNoivo vier entrarão em cena as virgensloucas e, evidentemente, se existirem asvirgens loucas é porque elas não terãosido previamente convertidas. Até umacriança é capaz de entender isto. Nãoconseguimos enxergar como seriapossível, levando-se em consideração estaparábola, manter a teoria de um mundoconvertido antes da vinda do Noivo.Mas vamos examinar um pouco mais de

perto estas virgens loucas. Sua história écheia de admoestações para todos os queprofessam ser cristãos. Trata-se de algomuito sutil, mas de uma abrangênciaimpressionante. "As loucas, tomando assuas lâmpadas, não levaram azeiteconsigo". Existe a profissão exterior, masnão uma realidade interior — nenhumavida espiritual — nenhuma unção —nenhuma ligação vital com a fonte de vidaeterna — nenhuma união com Cristo.Nada além da lâmpada da profissão e doseco pavio de uma crença nominal,teórica e racional.Isto é particularmente solene. Lança umatremenda responsabilidade sobre aquelaimensa massa de professos batizados que,neste exato momento, nos rodeia, na qualexiste tanta aparência exterior, porém tão

pouca realidade interior. Todosprofessam ser cristãos. A lâmpada daprofissão cristã pode ser vista em todas asmãos, mas, oh!, quão poucos trazem oazeite em seus vasos, o espírito de vidaem Cristo Jesus, o Espírito Santohabitando em seus corações. Sem isto,tudo é completamente inútil e vão. Podehaver a mais elevada profissão, podeexistir o mais ortodoxo credo, alguémpode ser batizado, pode receber a ceia doSenhor, pode estar regularmenteregistrado e ser perfeitamentereconhecido como membro de umacomunidade cristã, pode ser um professorda escola dominical ou um ministroordenado por alguma religião. Pode seralguém que seja tudo isso e, mesmoassim, não possuir uma centelha sequer

de vida divina, nem mesmo um raio deluz celestial, qualquer ligação com oCristo de Deus.Ora, existe algo de particularmenteterrível no pensamento de se ter tãosomente uma medida de religiãosuficiente para enganar o coração,amortecer a consciência e arruinar a alma— religião suficiente apenas para darnome de vivo a quem está morto —suficiente para deixar alguém sem Cristo,sem Deus e sem esperança neste mundo;suficiente para sustentar a alma com umafalsa confiança, e enchê-la de uma falsapaz, até que o Noivo venha e, então, osolhos sejam abertos quando for tardedemais.Assim é com as virgens loucas. Elas sãomuito parecidas com as prudentes. Um

observador comum talvez não seja capazde ver qualquer diferença por algumtempo. Todas se preparam juntas. Todastêm lâmpadas. E, além disso, todasacabam indo descansar e adormecem,tanto as prudentes como as loucas. Todasse levantam com o clamor da meia-noite epreparam suas lâmpadas. Até aqui nãoexiste uma diferença visível. As virgensloucas acendem suas lâmpadas — alâmpada da profissão cristã é acesa com opavio seco de uma fé nominal, teórica esem vida. Oh! tudo em vão — pior doque em vão, um engano fatal para adestruição da alma.Aqui surge a grande diferença — a bemdefinida linha de demarcação — comuma clareza terrível, sim, apavorante. "Eas loucas disseram às prudentes: Dai-nos

do vosso azeite, porque as nossaslâmpadas se apagam". Isso prova que suaslâmpadas estavam acesas, pois se nãoestivessem acesas não poderiam se apagar.Mas era apenas uma luz falsa, tremulantee passageira. Não era alimentada peladivina fonte. Era a luz da mera profissãodos lábios, alimentada por uma crençaracional, com duração apenas suficientepara enganar a si mesmas e a outros, eapagar bem na hora em que maisprecisavam dela, deixando-as nas terríveistrevas da noite eterna."Nossas lâmpadas se apagam". Terríveldescoberta! "Aí vem o esposo, e nossaslâmpadas se apagam. Nossa vã profissãocristã está sendo revelada pela luz de Suavinda. Pensamos que estava tudo emordem. Professamos a mesma fé, tivemos

o mesmo tipo de lâmpada, o mesmo tipode pavio; mas, oh! agora descobrimos,para horror nosso, que nos enganamos anós mesmas, que não temos aquilo que énecessário, o espírito de vida em Cristo, aunção do Santo, a ligação viva com oNoivo. O que faremos? Oh, virgensprudentes, tenham pena de nós ecompartilhem conosco seu azeite. Façamisso, por misericórdia, compartilhem umpouco conosco, nem que seja uma gotadessa coisa tão essencial, para nãoperecermos para sempre".Oh, tudo em vão. Nenhuma delas podecompartilhar este azeite com outra. Cadauma possui o suficiente para si. Além domais, ele só pode ser recebido do próprioDeus. Um homem pode dar luz, mas nãopode dar o azeite. Este é uma dádiva que

provém somente de Deus. "Mas asprudentes responderam, dizendo: Nãoseja caso que nos falte a nós e a vós, ideantes aos que o vendem, e comprai-o paravós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegouo esposo, e as que estavam preparadasentraram com ele para as bodas, e fechou-sea porta". De nada adianta buscar poramigos cristãos que nos ajudem ou quenos deem suporte. De nada adianta correrde um lado para o outro procurandoalguém em quem se apoiar — algumsanto, ou algum eminente mestre — denada adianta buscar apoio em nossaIgreja, ou em nosso credo, ou em nossossacramentos. Queremos azeite. Nãopodemos viver sem ele. Onde encontrá-lo? Não no homem, ou na Igreja, ou nossantos, ou nos pais. Devemos obtê-lo de

Deus; e Ele, bendito seja o Seu nome, odá graciosamente. "O dom gratuito deDeus é a vida eterna, por Cristo Jesusnosso Senhor".Mas, repare bem, trata-se de algoindividual. Cada um deve tê-lo para simesmo. Ninguém pode crer, ou obtervida para outro. Cada um deve tratardisso pessoalmente com Deus. A ligaçãoque faz a conexão da alma com Cristo éalgo completamente individual. Nãoexiste algo como uma fé de segunda mão.Uma pessoa pode nos ensinar religião,teologia ou a letra das Escrituras, mas nãopode nos dar o azeite; não pode nos darfé; não pode nos dar vida. "É dom deDeus". Que pequena e preciosa palavra,"dom". É como Deus. É tão gratuitoquanto o ar de Deus; gratuito como Seus

raios solares; gratuita como Suasrefrescantes gotas de orvalho. Mas,repetimos e com solene ênfase, cada umdeve obtê-lo para si mesmo e tê-lo em simesmo. "Nenhum deles de modo algumpode remir a seu irmão, ou dar a Deus oresgate dele (pois a redenção da sua almaé caríssima, e cessará para sempre), paraque viva para sempre, e não vejacorrupção" (Sl 49:7-9).Leitor, o que você diz destas solenesrealidades. Você é uma virgem louca ouprudente? Você já obteve vida em umSalvador ressuscitado e glorificado? Vocêé um mero professo de uma religião,satisfeito com a mera rotina comum esem vida de ir à igreja, possuindo apenasum pouco de religião que o torne alguémrespeitável neste mundo, mas não o

suficiente para ligá-lo com o céu?Insistimos sinceramente com você paraque pense seriamente nestas coisas. Pensenelas agora. Pense no indescritível horrorde descobrir que sua lâmpada da meraprofissão cristã está se apagando edeixando você em densas trevas — trevaspalpáveis — as trevas exteriores de umanoite eterna. Quão terrível será descobrirque a porta foi fechada antes que vocêpudesse embarcar rumo às núpcias; foifechada na sua cara! Que lamento deagonia, "Senhor, Senhor, abre-nos!" Quecontundente e esmagadora resposta: "Emverdade vos digo que vos não conheço".Oh, querido amigo, dê a estas solenespalavras um lugar em seu coração agoramesmo, enquanto a porta ainda estáaberta, enquanto o dia da graça se estende

pela maravilhosa paciência de Deus. Estáchegando rapidamente aquele momentoquando a porta de misericórdia seráfechada para você para sempre, quandotoda esperança acabará e sua preciosaalma será precipitada em um sombrio eeterno desespero. Que o Espírito de Deuspossa tirá-lo de seu sono fatal e nãopermita que você descanse até encontraro verdadeiro repouso na obra completado Senhor Jesus Cristo e nos Seusbenditos pés, em devota adoração.Devemos agora encerrar este texto, masantes de fazê-lo gostaríamos de, por ummomento, dar uma olhada nas virgensprudentes. De acordo com o ensino destaparábola, a grande característica que asdistingue e as separa das virgens loucas éque, logo de início, elas "levaram azeite

em suas vasilhas, com as suas lâmpadas".Em outras palavras, o que distingue osverdadeiros crentes daqueles quemeramente professam é que os primeirostêm em seus corações a graça do EspíritoSanto de Deus; eles têm o espírito de vidaem Cristo Jesus e o Espírito Santohabitando neles como o selo, o penhor, aunção e o testemunho. Este grande eglorioso fato caracteriza hoje todos osverdadeiros crentes no Senhor JesusCristo — um fato estupendo,maravilhoso, com toda certeza — umimenso e inefável privilégio que deveriasempre curvar nossa alma em santaadoração diante de nosso Deus e de nossoSenhor Jesus Cristo, cuja redenção jáconsumada nos garantiu tão grandebênção.

Quão triste é pensar que, apesar desteprivilégio tão santo e elevado, somosobrigados a ler, como mostram aspalavras de nossa parábola:"Tosquenejaram todas, e adormeceram!".Todas igualmente, tanto as prudentesquanto as loucas, adormeceram. O Noivotardou em vir, e todas, sem exceção,perderam o frescor, o fervor e o poder daesperança da Sua vinda, e adormeceram.É isto que declara nossa parábola, e é esteo solene fato da história. Todo o corpoprofesso adormeceu. A bendita esperançaque brilhou com tanto fulgor nohorizonte dos primeiros cristãos, sedesvaneceu com muita rapidez. Eenquanto perscrutamos as páginas dahistória da Igreja durante dezoito séculos,desde os Pais Apostólicos ao início do

presente século, em vão buscamos poralguma referência clara à esperançaespecífica da Igreja — a volta pessoal dobendito Noivo. Na verdade, aquelaesperança foi virtualmente perdida pelaIgreja, e não apenas isto, mas hoje é quaseuma heresia ensiná-la e, nestes últimosdias, centenas de milhares de ministrosque professam a Cristo não ousam pregarou ensinar sobre a vinda do Senhorconforme o ensino das Escrituras.É verdade, bendito seja Deus, que umagrande mudança aconteceu no últimoséculo. Houve então um grandedespertamento. Deus, por meio do SeuEspírito Santo, voltou a chamar a atençãode Seu povo para verdades há muitoesquecidas e, entre elas, a gloriosa verdadeda vinda do Noivo. Muito então

perceberam que a razão da demora doNoivo se devia simplesmente à paciênciade Deus para conosco, pois Ele não querque nenhum pereça, mas que todosvenham a se arrepender. Precioso motivo!Mas eles também viram que, apesar dessapaciência, nosso Senhor está próximo.Cristo vem. O clamor da meia-noite já foiouvido: "Aí vem o esposo, saí-lhe aoencontro". Muitos milhões de vozesecoam esse clamor tão comovente, atéque ele alcance, em seu poder moral, deum polo a outro, "desde o rio do Egito"aos confins da terra, conclamando toda aIgreja a esperar — todos juntos — pelagloriosa vinda do Noivo que é tãobendito aos nossos corações.Amados irmãos no Senhor, despertem!Que cada alma seja despertada. Vamos

deixar de lado a indolência do confortomundano e da satisfação própria —vamos nos colocar acima da debilitanteinfluência do formalismo religioso e datediosa rotina — vamos jogar de lado osdogmas da falsa teologia e sair, comvontade e na afeição do coração, aoencontro de nosso Noivo que estáchegando. Que estas solenes palavrasatinjam nossa alma com revigoradopoder: "Vigiai, pois, porque não sabeis odia nem a hora". Que a resposta de nossavida e coração seja: "Ora vem, SenhorJesus".

Sinistra é a fonte do mal que hoje passa;Despertai, ó santos, vós filhos da graça;Buscai os perdidos com fé destemida,Sabendo o preço da cruz e sua lida.

Cantai, inspirados, do amor sem medida,Enquanto aguardamos, ao céu, a subida— Que pode ser hoje, oh doce certeza! —Com lombos cingidos e a luz sempre acesa.

* * * * *

OS TALENTOSAgora só falta considerarmos aquela partedo discurso de nosso Senhor na qual Elevolta a tratar do assunto tão solene daresponsabilidade do ministério durante otempo de Sua ausência. Que isto estáintimamente ligado à esperança de Suavinda é evidente pelo fato de que, tendoconcluído a parábola das dez virgens coma forte expressão, "vigiai, pois, porquenão sabeis o dia nem a hora", Ele seguedizendo: "Porque isto é também como

um homem que, partindo para fora daterra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens".Existe uma diferença essencial entre aparábola dos talentos e a do servo emMateus 24:45-51. Na última, temos oministério dentro da casa. Na primeira,por outro lado, temos o ministério noexterior, no mundo. Mas em cada umaencontramos um grande fundamento paratodo ministério, a saber, o dom e aautoridade de Cristo. "Chamou os seusservos, e entregou-lhes os seus bens". Osservos são dEle, e os bens são dEle.Ninguém além de Cristo, o Senhor, podecolocar um homem no ministério, domesmo modo como ninguém podeconceder dons espirituais. É totalmenteimpossível para qualquer um ser ministro

de Cristo a menos que Ele próprio otenha chamado e preparado para a obra.Trata-se de algo tão claro que não admiteum questionamento sequer. Um homempode ser ministro de uma religião, podepregar as doutrinas do evangelho eensinar teologia, mas não pode ser umministro de Cristo a menos que o próprioCristo o chame e o prepare com donspara a obra. Se fosse uma questão deministério dentro da casa, a questão seria"que o seu senhor constituiu sobre a suacasa". Caso se trate de uma questão deministério exterior, no mundo, nos é ditoque Ele "chamou os seus servos, eentregou-lhes os seus bens".Este grande e primordial princípio doministério está poderosamenteincorporado nestas palavras de um dos

maiores ministros que já existiu, quandoele diz: "Dou graças ao que me temconfortado [var. "me fortaleceu"], a CristoJesus Senhor nosso, porque me teve porfiel, pondo-me no ministério" (1 Tm 1:12).Assim deve ser em todos os casos, nãoimporta qual seja a medida, o caráter ou aesfera do ministério. Somente Cristo, oSenhor, pode colocar alguém noministério e capacitá-lo para o cumprir.Se não for assim, o caso ou será, ou dealgum homem se colocando a si mesmono ministério, ou de algum seusemelhante fazendo isso, ambos agindoigualmente de forma contrária à vontadede Deus e contra todos os princípios doverdadeiro ministério, conforme o ensinoda Palavra. Se quisermos ser guiadospelas Escrituras, devemos ver que todo

ministério, dentro ou fora da casa, deveser uma designação divina e porcapacitação divina. Se não for assim, épior do que nada. Um homem podedeclarar a si mesmo ministro ou ser feitoum por seus colegas, mas é tudo em vão.Não é algo vindo do céu — não provémde Deus — não é feito por Jesus Cristo;e, no porvir, isso ficará manifesto e serájulgado como uma das piores e maisousadas formas de usurpação.É da maior importância que o leitorcristão agarre totalmente este grandeprincípio do ministério. Ele é tão simplesquanto solene. E, além do mais, trata-sede algo sobre um fundamentoverdadeiramente divino que não pode serquestionado por todo aquele que sesubmete — como todo cristão deveria se

submeter — com absoluta e irrestritasubmissão, à autoridade da divina Palavra.Que o leitor pegue sua Bíblia e leiacuidadosamente cada linha nela que tratado assunto do ministério. Se abrir naparábola do servo na casa, lerá: "Que oseu Senhor constituiu sobre a Sua casa". Oservo não constitui a si mesmo e nem éordenado por seus companheiros. Aordenação é divina.O mesmo acontece na parábola dostalentos, o mestre chama seus própriosservos e dá a eles os seus bens. Ochamado e o aparelhamento são divinos.Temos outro aspecto da mesma verdadeem Lucas 19. "Certo homem nobre partiupara uma terra remota, a fim de tomarpara si um reino e voltar depois. E,chamando dez servos seus, deu-lhes dez

minas, e disse-lhes: Negociai até que Euvenha". A diferença entre Lucas e Mateusparece ser esta: em Lucas, trata-se daresponsabilidade humana; em Mateus oque está em destaque é a soberania divina.Mas em ambos o grande princípioessencial é claramente mantido einquestionável, a saber, que todoministério é por ordenação divina.A mesma verdade vem ao nosso encontroem Atos dos Apóstolos. Quando alguémprecisou ser escolhido para preencher olugar de Judas, apelaram para Jeová: "Tu,Senhor, conhecedor dos corações detodos, mostra qual destes dois [Tu] tensescolhido, para que tome parte nesteministério e apostolado".E até mesmo quando se trata de umaquestão de responsabilidade local, como a

dos diáconos em Atos 6, ou de anciãos,em Atos 14, trata-se de algo feito porordenação direta dos apóstolos. Emoutras palavras, é algo divino. Umhomem não poderia ordenar a si mesmodiácono e muito menos ancião. No casodo primeiro, enquanto os diáconoscuidavam dos bens das pessoas, estesúltimos deviam, segundo a ordem emgraça e ternura moral do Espírito,selecionar homens em quem pudessemconfiar; mas a ordenação era divina, tantodos diáconos como dos anciãos. Assim,seja ela uma questão de dom ou deresponsabilidade local, tudo permanecesobre uma base puramente divina. Este éo ponto de suma importância.Além disso, se abrirmos nas epístolasveremos que a mesma grande verdade irá

brilhar em pleno e radiante fulgor diantede nós. Assim, no início de Romanos 12lemos: "Porque pela graça que me é dada,digo a cada um dentre vós que não pensede si mesmo além do que convém; antes,pense com moderação, conforme a medida dafé que Deus repartiu a cada um. Porqueassim como em um corpo temos muitosmembros, e nem todos os membros têm amesma operação, Assim nós, que somosmuitos, somos um só corpo em Cristo,mas individualmente somos membros unsdos outros. De modo que, tendo diferentesdons, segundo a graça que nos é dada..." Em 1Coríntios 12 lemos: "Mas agora Deus colocouos membros no corpo, cada um deles comoquis" (versículo 18). E, mais uma vez, "auns pôs Deus na igreja, primeiramenteapóstolos..." (versículo 28). O mesmo em

Efésios 4: "Mas a graça foi dada a cadaum de nós segundo a medida do dom deCristo".Todas estas passagens, e muitas outrasque poderiam ser citadas, sevem paraestabelecer a verdade que nós desejamosmuito mostrar a nossos leitores, a saber,que o ministério em todas as suas áreas édivino — provém de Deus, vem do céu eé por Jesus Cristo. Não existeabsolutamente coisa alguma no NovoTestamento relacionada a algum tipo deautoridade humana para ministrar naIgreja de Deus. Onde quer queprocuremos entre as páginas sagradas, sóencontraremos a mesma bendita doutrinaque está contida naquela breve sentençade nossa parábola: "Chamou os seusservos, e entregou-lhes os seus bens".

Toda a doutrina do Novo Testamentorelacionada ao ministério estáincorporada aqui; e insistimossinceramente com o leitor cristão quepermita que esta doutrina dominecompletamente sua alma e exerça toda suainfluência sobre o seu caráter, andar econduta.*[* Não restringimos, de forma alguma, aaplicação dos "talentos" a alguns dons espirituaisespecíficos. Cremos que a parábola se aplica aum amplo espectro do serviço cristão, domesmo modo que a parábola das dez virgensabrange um amplo espectro da profissão cristã.]

Mas talvez a pergunta que se faça sejaesta: Não ocorre uma adaptação do vasopara o dom espiritual que é depositadonele? Sem dúvida alguma, e esta mesmaadaptação é claramente apresentada nas

palavras de nossa parábola: "E a um deucinco talentos, e a outro dois, e a outroum, a cada um segundo a sua capacidade".Este é um ponto do mais profundointeresse e jamais deve ser perdido devista. O Senhor conhece o uso quepretende fazer de um homem. Eleconhece o caráter do dom que pretendedepositar no vaso, e assim Ele dá formaao vaso e molda o homemadequadamente. Não podemos duvidarque Paulo era um vaso especialmenteformado por Deus para o lugar quedepois iria ocupar, e para a obra que iriafazer. E assim acontece em todos oscasos. Se Deus designa um homem paraser um orador em público, Ele lhe dápulmões, dá a ele uma voz, proporcionauma estrutura física adaptada para a obra

que pretende que ele faça. O dom vem deDeus; mas há sempre uma referênciamuito clara à habilidade do homem.Se isto for perdido de vista, nossacompreensão do verdadeiro caráter doministério certamente será bastanteimperfeita. Jamais devemos nos esquecerde duas coisas, a saber, do dom divino edo vaso humano no qual o dom édepositado. Existe a soberania de Deus eexiste a responsabilidade do homem.Quão perfeitos e belos são todos oscaminhos de Deus! Mas, oh!, o homemestraga tudo e o mero toque do dedohumano só serve para turvar o brilho daobra divina. Mesmo assim, jamais nosesqueçamos de que o ministério é divinoem sua fonte, natureza, poder e objetivo.Se o leitor terminar este texto convencido

de alma e coração acerca desta grandeverdade, teremos alcançado nossoobjetivo ao escrevê-lo.Mas nunca é demais perguntar: O quetodo esse assunto do ministério tem a vercom a vinda do Senhor? Muita coisa, emdiversos aspectos. Acaso nosso benditoSenhor não apresentou o tema por vezesseguidas em Seu discurso no Monte dasOliveiras? E porventura este discurso nãoé todo ele uma resposta à pergunta dosdiscípulos, "que sinal haverá da Tua vindae do fim do mundo?" Não é a Sua vinda ogrande e proeminente assunto dodiscurso como um todo, e de cada seçãodele em particular? Sem dúvida alguma.E qual é o próximo tema proeminente?Acaso não é o ministério? Veja a parábolado servo a quem é dada a

responsabilidade de cuidar da casa. Comoele deve servir? Tendo em vista o retornode seu Senhor. Do mesmo modo oministério tem uma conexão com apartida e retorno do Mestre. Ele seencontra entre estes dois grandes eventose é caracterizado por eles. E o que é queleva ao fracasso no ministério? Perder devista a volta do Senhor. O servo mau dizem seu coração, "meu Senhor tarde virá",e, como consequência, começa "aespancar os seus conservos, e a comer e abeber com os ébrios".O mesmo ocorre na parábola dostalentos. A palavra solene e instigantepara a alma é "negociai até que Euvenha". Em suma, aprendemos que oministério, seja ele na casa de Deus oufora, no mundo, deve ser exercido tendo

sempre em vista a volta do Senhor. "Emuito tempo depois veio o senhordaqueles servos, e fez contas com eles".Todos os servos precisam ter sempre emmente o solene fato de que haverá umtempo quando será feito o acerto decontas. Isto é o que irá controlar seuspensamentos e sentimentos em tudo oque diz respeito ao seu ministério. Atentepara as importantes palavras a seguir, comas quais um servo procura animar outro:"Conjuro-te, pois, diante de Deus, e doSenhor Jesus Cristo, que há de julgar osvivos e os mortos, na Sua vinda e no Seureino, que pregues a palavra, instes atempo e fora de tempo, redarguas,repreendas, exortes, com toda alonganimidade e doutrina. Porque virátempo em que não suportarão a sã

doutrina; mas, tendo comichão nosouvidos, amontoarão para si doutoresconforme as suas própriasconcupiscências; e desviarão os ouvidosda verdade, voltando às fábulas. Mas tu,sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze aobra de um evangelista, cumpre o teuministério. Porque Eu já estou sendooferecido por aspersão de sacrifício, e otempo da minha partida está próximo.Combati o bom combate, acabei acarreira, guardei a fé. Desde agora, acoroa da justiça me está guardada, a qualo Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; enão somente a mim, mas também a todos osque amarem a Sua vinda" (2 Tm 4:1-8).Porventura esta tocante e importantepassagem não nos mostra como oministério está intimamente conectado à

vinda do Senhor? O bendito apóstolo, omais devotado, dotado e eficaz obreiroque já trabalhou na vinha de Cristo, omais habilidoso mordomo a manusear osmistérios de Deus, o mais sábioconstrutor, o grande ministro da Igreja epregador do evangelho, o incomparávelservo, este raro e precioso vaso, levouadiante sua obra, cumpriu seu ministérioe exerceu suas santas responsabilidadestendo sempre em vista "aquele dia". Eleaguardava, e continua aguardando, aquelasolene e gloriosa ocasião quando o justoJuiz colocará sobre sua fronte "a coroa dajustiça". E acrescenta, com terna doçura,"não somente a mim, mas também atodos os que amarem a Sua vinda".Isto é peculiarmente tocante. Haverá umacoroa de justiça "naquele dia", não apenas

para o dotado, laborioso e devotadoPaulo, mas para cada um que ame a vindade nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.Não há dúvida de que Paulo terá, em suacoroa, gemas de um brilho peculiar; mas,antes que alguém pense que a coroa dejustiça era só para Paulo, ele acrescentaestas ternas palavras: "também a todos osque amarem a Sua vinda". O Senhor sejalouvado por tais palavras! Possam elas tero efeito de despertar nosso coração, nãoapenas para amar a vinda de nossoSenhor, mas também para servir com umadevoção mais intensa e dedicada tendoem vista aquele dia glorioso! Que as duascoisas estão intimamente conectadaspodemos ver na sequência da parábolados talentos. Não há muito que possamosfazer além de citar as palavras de nosso

Senhor.Quando os servos receberam os talentos,lemos que "o que recebera cinco talentosnegociou com eles, e granjeou outroscinco talentos. Da mesma sorte, o querecebera dois, granjeou também outrosdois. Mas o que recebera um, foi e cavouna terra e escondeu o dinheiro do seusenhor. E muito tempo depois veio osenhor daqueles servos, e fez contas comeles. Então aproximou-se o que receberacinco talentos, e trouxe-lhe outros cincotalentos, dizendo: Senhor, entregaste-mecinco talentos; eis aqui outros cincotalentos que granjeei com eles. E o seusenhor lhe disse: Bem está, servo bom efiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muitote colocarei; entra no gozo do teu senhor.E, chegando também o que tinha

recebido dois talentos, disse: Senhor,entregaste-me dois talentos; eis que comeles granjeei outros dois talentos. Disse-lhe o seu Senhor: Bem está, bom e fielservo. Sobre o pouco foste fiel, sobremuito te colocarei; entra no gozo do teusenhor".É interessante e instrutivo notar adiferença entre a parábola dos talentos,conforme ela é contada em Mateus, e aparábola dos dez servos em Lucas 19. EmMateus trata-se de uma questão dasoberania divina; em Lucas trata-se daresponsabilidade humana. Nesta, cada umrecebe uma soma igual, mas na outra umrecebe cinco, outro dois, conforme avontade do mestre. Então, quando chegao dia da prestação de contas, encontramosem Lucas uma recompensa clara em

conformidade com o trabalho feito,enquanto em Mateus a palavra é: "sobremuito te colocarei; entra no gozo do teusenhor". Não lhes é dito o que receberão,ou sobre quantas coisas serão colocados.O mestre é soberano, tanto em Seus donscomo nas recompensas; e o ponto altodisso tudo é: "entra no gozo do teusenhor".Isto, para um coração que ama o Senhor,está além de qualquer outra coisa. Éverdade que haverá as dez cidades e ascinco cidades. Haverá uma recompensaampla, distinta e definitiva pelaresponsabilidade exercida, pelo serviçoapresentado e pelo trabalho executado.Tudo será recompensado. Mas, acima ealém de tudo brilha esta preciosa palavra:"Entra no gozo do teu senhor".

Nenhuma recompensa poderia jamais seigualar a isto. O senso de amor quetranspira destas palavras levará cada um alançar sua "coroa da justiça" aos pés deseu Senhor. A própria coroa que o justoJuiz dará, nós de bom grado a lançaremosaos pés de um amável Salvador e Senhor.Basta um sorriso Seu para tocar o coraçãocom muito maior poder e profundidadeque a mais fulgurante coroa colocadasobre a fronte.Uma palavra mais antes de terminarmos.Quem não trabalhou? Quem escondeu odinheiro de seu senhor? Quemdemonstrou ser um "mau e negligenteservo"? Aquele que não conhecia ocoração de seu mestre, o caráter de seumestre, o amor de seu mestre. "Mas,chegando também o que recebera um

talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, queés um homem duro, que ceifas onde nãosemeaste e ajuntas onde não espalhaste; e,atemorizado, escondi na terra o teutalento; aqui tens o que é teu.Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias queceifo onde não semeei e ajunto onde nãoespalhei? Devias então ter dado o meudinheiro aos banqueiros e, quando euviesse, receberia o meu com os juros.Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao quetem os dez talentos. Porque a qualquerque tiver será dado, e terá em abundância;mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútilnas trevas exteriores; ali haverá pranto eranger de dentes".Quão terrível e solene! Que imenso

contraste entre os dois servos! Umconhece, ama, confia em seu senhor e oserve. O outro esconde, teme, desconfia enão faz coisa alguma. Um entra no gozodo seu senhor, o outro é lançado nastrevas exteriores, um lugar de pranto eranger de dentes. Quão solene! Quãopersuasivo para a alma é isso tudo! Equando é que tudo se revela? Quando oMestre volta![Nota - Podemos acrescentar, em conexão comas observações feitas sobre o ministério, quetodo cristão tem seu lugar e obra específica paradesempenhar. Todos são solenementeresponsáveis diante do Senhor em saber seulugar e ocupá-lo, em conhecer seu trabalho eexecutá-lo. Trata-se de uma verdade clara,prática e plenamente confirmada pelo princípiosobre o qual temos insistido, a saber, que todoministério e toda obra deve ser recebida das

mãos do Mestre, executada sob Sua supervisão eem plena consciência de Sua vinda. Estas coisasnunca devem ser esquecidas.]

* * * * *

OBSERVAÇOES FINAISDevemos agora concluir esta série detextos, e é com um forte sentimento derelutância que o fazemos. O tema é pordemais interessante, profundamenteprático e proveitoso em extremo.Todavia, ele é bastante sugestivo e abreum extenso campo de visão para a menteespiritual explorar com um interesse quenunca termina, pois o assunto éinexaurível.Todavia, devemos, ao menos porenquanto, finalizar nossas meditações

nesta linha de verdade tão maravilhosa,mas ao fazê-lo, estamos ansiosos porchamar a atenção do leitor, da forma maissucinta, para uma ou duas coisas que malforam mencionadas ao longo destestextos. Nós as consideramos não sóinteressante, mas de verdadeiro valorprático para ajudar a esclarecer oentendimento de muitos ramos do grandeassunto que tem ocupado nossa atenção.O leitor que viajou conosco ao longo dasvárias ramificações de nosso assunto iráse lembrar de uma referência rápidaàquilo que nos aventuramos a chamar de"um intervalo, pausa ou parêntesedespercebido" na relação de Deus comIsrael e com a terra. Trata-se de um pontodo mais profundo interesse, e esperamosser capazes de mostrar ao leitor que não

se trata de alguma questão curiosa, de umassunto misterioso e sombrio, ou de umanoção favorita de alguma escola ouinterpretação profética em particular.Muito pelo contrário, consideramos istocomo um ponto que derrama umatorrente de luz sobre muitas ramificaçõesde nosso assunto como um todo. Foi oque descobrimos para nós mesmos, e éassim que desejamos apresentar aosnossos leitores. Aliás, questionamos comveemência se porventura alguém podeentender corretamente a profecia ou suaverdadeira posição e consequências, semenxergar o sutil intervalo ou pausa à qualnos referimos acima.Mas vamos nos voltar diretamente para aPalavra e abrir no capítulo 9 do livro deDaniel.

Os primeiros versículos desta notávelseção nos revelam o amado servo de Deusem um profundo exercício de almarelacionado à triste condição se seu tãoamado povo de Israel — uma condiçãona qual, através do Espírito de Cristo, eleentra com profundidade. Embora elepróprio não tivesse participadopessoalmente dessas ações que trouxeramruína à nação, mesmo assim ele seidentifica, da forma mais completa, com opovo, e toma para si os seus pecados emconfissão e juízo-próprio diante de Deus.Não podemos, no momento, tentar citartoda a extraordinária oração e confissãode Daniel, mas o assunto queimediatamente nos diz respeito agora éapresentado no versículo 20."Estando eu ainda falando e orando, e

confessando o meu pecado, e o pecado domeu povo Israel, e lançando a minhasúplica perante a face do Senhor, meuDeus, pelo monte santo do meu Deus,estando eu, digo, ainda falando na oração,o homem Gabriel, que eu tinha visto naminha visão ao princípio, veio, voandorapidamente, e tocou-me, à hora dosacrifício da tarde. Ele me instruiu, efalou comigo, dizendo: Daniel, agora saípara fazer-te entender o sentido. Noprincípio das tuas súplicas, saiu a ordem,e eu vim, para to declarar, porque és muiamado; considera, pois, a palavra, eentende a visão. Setenta semanas estãodeterminadas sobre o teu povo, e sobre atua santa cidade, para cessar atransgressão, e para dar fim aos pecados, epara expiar a iniquidade, e trazer a justiça

eterna, e selar a visão e a profecia, e paraungir o Santíssimo" (Dn 9:20-24).Em razão de nosso limitado espaço nãopoderemos entrar em algum argumentomais complexo para provar que as"setenta semanas" da passagem acimasignificam, na realidade, quatrocentos enoventa anos. Assumimos isto comosendo um fato. Acreditamos que Gabrieltenha sido comissionado a instruir oprofeta amado e a informá-lo de que, apartir da ordem para reconstruirJerusalém, deveria passar um período dequatrocentos e noventa anos, e entãoIsrael seria introduzido na bênção.Isto é algo tão simples e claro quantoqualquer coisa pode ser. Podemosasseverar, com total confiança, que émenos provável que o sol nasça amanhã

na hora esperada, que o povo de Danielser introduzido na bênção no final doperíodo acima mencionado pelomensageiro angelical. Trata-se de algo tãocerto quanto o trono de Deus. Nada podeimpedir isso. Nem todos os poderes daterra e do inferno juntos são capazes debarrar o total e perfeito cumprimento daPalavra de Deus saída da boca de Gabriel.Quando o último grão de areia do últimodos quatrocentos e noventa anos deixar aampulheta, Israel entrará na posse de todaa preeminência e glória à qual foidestinado. É impossível ler Daniel 9:24 enão enxergar isto.Mas pode ser que o leitor se sintadisposto a perguntar — e a perguntarcom certo espanto — "Porventura osquatrocentos e noventa anos já não

passaram há muito tempo?" A resposta éque seguramente não. Se assim fosse,Israel estaria agora em sua própria terra,sob o bendito reinado de seu próprioMessias amado. As Escrituras não podemfalhar e tampouco nós podemos tratarsuas afirmações de maneira leviana esuperficial, como se pudessem significarqualquer coisa, ou tudo, ou coisa alguma.A palavra é precisa. "Setenta semanasestão determinadas sobre o teu povo".Nem mais, nem menos do que setentasemanas. Se isto significar literalmentesemanas, a passagem não tem qualquersentido ou significado. Seria um insultoaos nossos leitores perder tempocombatendo um absurdo deste.Mas se Gabriel se referiu a setentasemanas de anos, como estamos

totalmente persuadidos de que tenha sidoo caso, então temos diante de nós umperíodo bem distinto e definido — umperíodo que se estende do momento emque Ciro emitiu a ordem para restaurarJerusalém, até o momento da restauraçãode Jerusalém.Todavia ainda assim o leitor pode quererperguntar, "Como pode ser assim? Passoumuito mais que quatrocentos e noventaanos, quatro vezes mais, desde que o reida Pérsia emitiu sua ordem, e mesmoassim não há sinal da restauração deIsrael. Certamente deve existir algumoutro modo de interpretar as setentasemanas".Nada podemos fazer além de repetirnossa afirmação, de que os quatrocentos enoventa anos ainda não se cumpriram.

Houve uma pausa — um parêntese, umintervalo longo e despercebido. Que oleitor observe atentamente Daniel 9:25-26:"Sabe e entende: desde a saída da ordempara restaurar, e para edificar a Jerusalém,até ao Messias, o Príncipe, haverá setesemanas [49 anos], e sessenta e duassemanas [434 anos]; as ruas e o muro sereedificarão, mas em tempos angustiosos"ou, "tempos apertados", isto é, as ruas e omuro de Jerusalém foram construídos nomenor dos dois períodos citados, ou emquarenta e nove anos. "E depois dassessenta e duas semanas será cortado oMessias, mas não para Si mesmo" ou "enão será mais".É aqui que chegamos a essa marcante,memorável e solene época. O Messias, aoinvés de ser recebido, é cortado. No lugar

de sua ascensão ao trono de Davi, Ele vaipara a cruz. Ao invés de entrar na possede todas as promessas, Ele nada tem. Suaúnica porção — no que diz respeito aIsrael e à terra — foi a cruz, o vinagre, alança e o túmulo emprestado.O Messias foi rejeitado, cortado e nadaganhou. E agora? Deus mostrou Suaintenção suspendendo por um tempoSuas ações dispensacionais relativas aIsrael. O curso do tempo é interrompido.Cria-se uma grande lacuna. Quatrocentose oitenta e três anos se cumprem; restamsete — uma semana cancelada, e todo otempo desde a morte do Messias passoucomo um intervalo não percebido — umapausa ou parêntese, durante o qual Cristotem estado escondido nos céus, e oEspírito Santo tem trabalhado na terra na

formação do corpo de Cristo, a Igreja, anoiva celestial. Quando o último membrotiver sido incorporado a este corpo, opróprio Senhor virá e receberá o Seupovo para Si, para conduzi-lo de volta àcasa do Pai, para estar ali com Ele nainefável comunhão daquele bendito lar,enquanto Deus, por meio de Suas açõesgovernamentais, prepara Israel e a terrapara a introdução do Primogênito nomundo.Quanto a este intervalo e tudo o quedeveria ocorrer dentro dele, Gabrielmantém um profundo segredo. Se eleentendia ou não isso, não é esta a questão.Fica claro que ele não estavacomissionado a falar sobre o assunto,mesmo porque ainda não havia chegado ahora de fazê-lo. Ele passa, com um salto

misterioso e maravilhoso, sobre eras egerações — vai de um cabo a outro dacarta marítima profética, e cita em umaou duas breves sentenças um períodoextenso de aproximadamente dois milanos. A tomada de Jerusalém pelosromanos é, assim, rapidamentemencionada: "O povo do príncipe, que háde vir, destruirá a cidade e o santuário".Então é apresentado um período que jádura dezoito séculos da seguinte maneira:"E o seu fim será com uma inundação; eaté ao fim haverá guerra; estãodeterminadas as assolações".Então, com grande rapidez, somosconduzidos ao tempo do fim, quando aúltima das setenta semanas, os últimossete anos dos quatrocentos e noventa, secumprirão. "E ele [o Príncipe] firmará

aliança com muitos [judeus] por umasemana [sete anos]; e na metade da semanafará cessar o sacrifício e a oblação; e sobrea asa das abominações virá o assolador, eisso até à consumação; e o que estádeterminado será derramado sobre oassolador".Chegamos aqui ao final dos quatrocentose noventa anos que foram determinadosou distribuídos para o povo de Daniel.Tentar interpretar este período semenxergar a pausa e o longo intervalodespercebido, acabará necessariamentelançando a mente em total confusão. Éalgo impossível de ser feito. Inúmerasteorias já foram divulgadas, especulaçõese cálculos sem fim foram tentados, mastudo em vão. Os quatrocentos e noventaanos ainda não se cumpriram e tampouco

se cumprirão até que a Igreja tenhadeixado definitivamente este cenário esubido para estar com seu Senhor em Seubrilhante lar celestial. Os capítulos 4 e 5de Apocalipse nos mostram o lugar queos santos celestiais deverão ocupardurante a última das setenta semanas deDaniel, enquanto encontramos emApocalipse 6-18 os vários atosgovernamentais de Deus, preparandoIsrael e a terra para a introdução doPrimogênito no mundo.*[* Estamos cientes de que existe um debate entreos expositores, se os eventos de Apocalipse 6-18devem ocupar uma semana inteira ou apenasmetade. Não tentamos oferecer aqui umaopinião. Alguns consideram que os ministériospúblicos de João Batista e de nosso Senhortenham ocupado uma semana, ou sete anos, eque em conseqüência da rejeição de ambos por

Israel, a semana teria sido cancelada e ficado porse cumprir. Trata-se de uma questão interessante,mas que de modo algum afeta os grandesprincípios que temos diante de nós ou ainterpretação do livro de Apocalipse. Podemosacrescentar que as expressões "quarenta e doismeses" — "mil duzentos e sessenta dias" — "umtempo, e tempos, e a metade de um tempo"indicam o período de meia semana ou três anos emeio.]

Queremos muito esclarecer estas questõespara o leitor. Elas nos têm ajudado muitono entendimento da profecia eeliminaram várias dificuldades. Estamosplenamente convencidos de que ninguémpode entender o livro de Daniel, oumesmo o escopo geral da profecia, se nãoenxergar que a última das setenta semanasainda está para ser cumprida. Nemmesmo um jota ou til da Palavra de Deus

pode jamais passar, e considerando queEle declarou que "setenta semanas estãodeterminadas sobre" o povo de Daniel, eque no final desse período ele seráintroduzido na bênção, fica claro que operíodo ainda não se cumpriu. Mas amenos que enxerguemos o intervalo, e asuspensão na contagem do tempo emfunção da rejeição do Messias, não hácomo decifrar o cumprimento das setentasemanas de Daniel, ou dos quatrocentos enoventa anos.Outro fato importante para o leitor terem mente é este: a Igreja não temqualquer parte nos procedimentos deDeus para com Israel e a terra. A Igrejanão pertence ao tempo, mas à eternidade.Ela não é terrena, mas celestial. Ela échamada à existência durante um

intervalo não registrado — um intervaloou parêntese resultante do Messias tersido cortado. Humanamente falando, seIsrael tivesse recebido o Messias, então assetenta semanas ou quatrocentos enoventa anos teriam se cumprido. MasIsrael rejeitou seu Rei, e Deus O chamouà Sua presença até que o povo reconheçasua iniqüidade. Deus suspendeu seusprocedimentos públicos para com Israel ea terra, apesar de estar certamentecontrolando todas as coisas por Suaprovidência, e mantendo Seu olhar sobrea semente de Abraão, sempre amada porcausa do patriarca.Enquanto isso Ele está tirando dentrejudeus e gentios esse corpo chamadoIgreja, para ser uma companhia para SeuFilho na glória celestial — para estar

totalmente identificada com Ele em Suaatual rejeição neste mundo, e paraaguardar em santa paciência por Seuglorioso advento.Tudo isso distingue a posição do cristãoda forma mais clara possível. Sua porçãoe expectativas são também definidas comigual clareza. De nada adianta procurar napágina profética pela posição da Igreja,sua vocação e esperança. Não está ali. Éalgo completamente fora de propósitopara o cristão ficar ocupado com datas eeventos históricos, como se estas coisaslhe dissessem respeito. Não há dúvida deque todas estas coisas têm seu lugar, seuvalor e seu interesse, quando conectadasaos desígnios de Deus para com Israel e aterra. Mas o cristão não deve jamaisperder de vista o fato de pertencer ao céu,

de estar inseparavelmente ligado a umCristo que foi rejeitado na terra e aceitono céu, que sua vida está oculta comCristo em Deus e que é seu santoprivilégio aguardar, dia a dia, hora a hora,pela vinda de seu Senhor. Nada deveofuscar a compreensão dessa benditaesperança por um momento sequer.Nada, senão uma só coisa, pode causarseu atraso, e esta é a paciência de nossoSenhor, que não deseja que alguémpereça, mas que todos venham aarrepender-se — preciosas palavras estaspara um mundo culpado e perdido! Asalvação está pronta para ser revelada, eDeus está pronto para julgar. Nada há parase esperar além da reunião do últimoeleito e então — oh! pensamento bendito!— nosso querido e amável Salvador virá

e nos receberá para Si, para estarmos comEle onde Ele está, e para jamais sairmosde Sua presença.Então, quando a Igreja partir para estarcom seu Senhor no lar celestial, Deusvoltará a agir publicamente com Israel. Opovo será levado a uma grande tribulaçãodurante a semana à qual já nos referimos.Mas no final daquele período deinigualável pressão e sofrimento, seuMessias há tanto rejeitado aparecerá paraseu alívio e libertação. Ele virá como ocavaleiro montado no cavalo branco,acompanhado pelos santos celestiais. Eleexecutará um julgamento sumário sobreSeus inimigos, e tomará para Si Seugrande reino e poderio. Os reinos domundo se tornarão reinos de nossoSenhor e de Seu Cristo. Satanás será

preso por mil anos e todo o universorepousará sob o bendito e benevolentegoverno do Príncipe da paz.Finalmente, ao término dos mil anos,Satanás será solto e terá permissão parafazer mais um desesperado esforço — umesforço que terminará com sua derrota econfinamento eterno no lago de fogo,para ser ali atormentado juntamente coma besta e o falso profeta por toda aeternidade.Em seguida vem a ressurreição e o juízodos ímpios que morreram, quando serãolançados no lago que queima com fogo eenxofre — terrível e tremendopensamento este! Coração algum jamaisserá capaz de conceber — língua algumaserá capaz de contar — os horroresdaquele lago de fogo.

Mas mal temos tempo para tratar dessaimagem horrível e sinistra e eis que dianteda visão da alma surgem as indizíveisglórias dos novos céus e da nova terra: asanta cidade é vista descendo do céu, esons angelicais enchem os ouvidos, "Eisaqui o tabernáculo de Deus com oshomens, pois com eles habitará, e elesserão o Seu povo, e o mesmo Deus estarácom eles, e será o Seu Deus. E Deuslimpará de seus olhos toda a lágrima; enão haverá mais morte, nem pranto, nemclamor, nem dor; porque já as primeirascoisas são passadas. E o que estavaassentado sobre o trono disse: Eis quefaço novas todas as coisas".Oh, amado leitor cristão, que cenas temosdiante de nós! Que imensas realidades!Que fulgurantes glórias morais! Possamos

nós viver na luz e poder dessas coisas!Possamos acalentar essa benditaesperança de ver Aquele que nos amou eSe entregou a Si mesmo por nós — quenão gostaria de desfrutar de Sua glóriasozinho, mas suportou a ira de Deus parapoder nos ligar Consigo e compartilharconosco todo o Seu amor e glória paratodo o sempre. Oh! viver por Cristo eaguardar por Sua vinda!

Nas alturas do céu, lá na casa do Pai,Ele foi preparar-me lugar

Grato de tanto amor, de minha boca hoje sai,Meu louvor e um canto sem par.

Muito em breve estarei lá, de branco, na luz,Onde as trevas jamais vão entrar,

Com meus olhos verei o meu terno Jesus,E Suas marcas de amor, contemplar.

Findo todo o pesar e o pecado cruel,Livre, então, para sempre do mal,

Pela graça de Deus, na mansão lá no céu,Viverei esse dia eternal.

* * * * *