a vida invade a escola

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http://www.uol.com.br/novaescola/ed/141_abr01/html/repcapa.htm Edição Nº141 Abril de 2001 Índice Masao Goto Filho Estela em reunião no Bandeirante s, em São Paulo: os professores decidem os limites dentro da escola Até há alguns anos, o dia-a-dia dos alunos não dizia respeito à escola. Hoje, não dá pra fugir dele Luciana Zenti e Paola Gentile Escola Estadual Aymar Baptista Prado, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, fica próxima a uma das áreas mais violentas da cidade. A maioria dos alunos convive com a violência, nas ruas e em casa, e com as drogas, em famílias desestruturadas ou ausentes. Nesse contexto, a Aymar Baptista é mais do que um espaço de construção do conhecimento. É um porto seguro. "Quando tem tiroteio, todo mundo só quer falar nisso. Um perdeu um parente, outro viu tudo...", exemplifica Laena Perroquete, professora de 1ª a 4ª série. "Nesses dias não dá para seguir a aula planejada. É melhor ouvir a garotada e fazer atividades para discutir e entender o que aconteceu." As inquietações que as crianças levam para a sala de aula são de todos os tipos. Assuntos ligados a sexualidade, luto e morte, separação, maus tratos. Casos de gravidez e doença, às vezes histórias de amigos infectados pela Aids. Histórias que, até há poucos anos, ficavam restritas ao convívio e ao ambiente familiares. E hoje afligem jovens de escolas públicas e particulares a toda hora e lugar — inclusive dentro da escola. Você, professor, sabe bem como essa situação é difícil. O que fazer? Tentar Eugenio Savio Augusta: trabalho com as diferenças garantiu o respeito a um aluno gay

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Page 1: A Vida Invade a Escola

http://www.uol.com.br/novaescola/ed/141_abr01/html/repcapa.htmEdição Nº141Abril de 2001

Índice

Masao Goto Filho

Estela em reunião no Bandeirantes, em São Paulo: os professores decidem os limites dentro da escola

Até há alguns anos, o dia-a-dia dos alunos não dizia respeito à escola. Hoje, não dá pra fugir dele

Luciana Zenti e Paola Gentile

Escola Estadual Aymar Baptista Prado, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, fica próxima a uma das áreas mais violentas da cidade. A maioria dos alunos convive com a violência, nas ruas e em casa, e com as drogas, em famílias desestruturadas ou ausentes. Nesse contexto, a Aymar Baptista é mais do que um espaço de construção do conhecimento. É um porto seguro.

"Quando tem tiroteio, todo mundo só quer falar nisso. Um perdeu um parente, outro viu tudo...", exemplifica Laena Perroquete, professora de 1ª a 4ª série. "Nesses dias não dá para seguir a aula planejada. É melhor ouvir a garotada e fazer atividades para discutir e entender o que aconteceu."

As inquietações que as crianças levam para a sala de aula são de todos os tipos. Assuntos ligados a sexualidade, luto e morte, separação, maus tratos. Casos de gravidez e doença, às vezes histórias de amigos infectados pela Aids. Histórias que, até há poucos anos, ficavam restritas ao convívio e ao ambiente familiares. E hoje afligem jovens de escolas públicas e particulares a toda hora e lugar — inclusive dentro da escola. Você, professor, sabe bem como essa situação é difícil. O que fazer? Tentar ignorar os problemas? Fincar pé e dizer que não foi preparado para lidar com isso? Fingir que está à frente do quadro-negro apenas para "passar os conteúdos"? Alegar que não ganha para encarar essas questões? Nada disso adianta. A escola foi mesmo invadida pelos grandes temas da vida real e não há outra saída senão envolver-se, ajudar, participar — em maior ou menor grau.

"Mais do que nunca o educador precisa conhecer a fundo a infância e a adolescência", afirma Miguel Arroyo, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pela implantação da Escola Plural, em Belo Horizonte. Ele reconhece que a resistência é perfeitamente justificável. Todo o sistema educacional privilegia os conteúdos e — para o bem e para o mal — a preparação para o vestibular. "Nesse contexto, muitos se esquecem de que os alunos são, acima de tudo, seres

Eugenio Savio

Augusta: trabalho com as diferenças garantiu o

respeito a um aluno gay

Page 2: A Vida Invade a Escola

humanos reais: jovens cheios de energia, meninas que podem engravidar por falta de informação, garotos suscetíveis à tentação das drogas", analisa.

Júlio Groppa Aquino, professor de Psicologia da Educação da USP, emenda. "Em pleno século XXI, fazemos uma escola como se ela fosse igual à de 1950, elitista e uniforme. E o que é pior: desejando que ela continuasse assim", constata. Então, cabe a dúvida. Como deve ser a escola? "Ainda que o professor queira apenas dar aulas, ele não pode perder a consciência de que a criança só vai aprender se tiver condições físicas e emocionais", ensina Vera Resende, psicóloga e professora de Psicoterapia Infantil da Unesp.

Bibliografia

Aids e Escola - Reflexões Propostas do Educaids, Teresinha Pinto e Izabel da Silva Telles, 176 págs., Ed. Cortez, tel. (0_ _ 11) 3864-0111, 18 reais

Na internet

Instituto Paulista de Adolescência - http:// www.adolesite.com.br

Bibliografia

123 Respostas Sobre Drogas, Içami Tiba, Ed. Scipione, tel. (0_ _ 11) 3277-1788, 11 reais

Na internet

Nida - http://www.nida.nih.gov/NIDAHome1.html

Senad - http://www.senad.gov.br/

Parceria contra as drogas -- http://www.uol.com.br/contradrogas/welcome.htm

Portal Drogas - http://www.drogas.org.br/

Proad - http://www.epm.br/psiquiat/proad/

Hospital Albert Einstein - http://200.245.83.13/

Grea - http://www.usp.br/medicina/grea/

Bibliografia

Adolescência: Vida ou Morte, Ingrid Esslinger e Maria Júlia Kóvacs, 96 págs., Ed. Ática, tel. (0_ _ 11) 3346-3000, 13,90 reais

Vídeo

Falando de Morte - A Criança/O Adolescente, Insight Produções, vendas pelo tel. (0_ _11) 3818-4185 r. 31, 20 reais

Page 3: A Vida Invade a Escola

Bibliografia

Casamento - Término e Reconstrução, Maria Teresa Maldonado, 296 págs., Ed. Saraiva, tel. (0_ _11) 3613-3344, 31 reais

Comunicação Entre Pais e Filhos, Maria Teresa Maldonado, 167 págs., Ed. Saraiva, 21 reais

Família e relacionamento - http://www.familia-relacionamento.com.br/

Bibliografia

Menino Ama Menino, Marilene Godinho, 40 págs., Ed. Armazém de Idéias, tel. (0_ _ 31) 3291-0411, 10 reais

Sexo se Aprende na Escola, Marta Suplicy, Antônio Carlos Egypto e Cordélia Castelo Branco, Editora Olho D'Água, tel. (0_ _11) 3673-9633, 17 reais

Guia de Orientação Sexual -- Diretrizes e Metodologia, vários autores, Editora Casa do Psicólogo, tel. (0_ _ 11) 3062-4633 , 12 reais

Na internet

Instituto Kaplan -- http://www.kaplan.org.br

CEPCoS -- [email protected]

Instituto Paulista de Sexualidade -- [email protected]

Bibliografia

Infância e Violência Doméstica: Fronteiras do Conhecimento, Maria Amélia Azevedo e Viviane Guerra, Ed. Cortez, 27 reais

Violência de Pais Contra Filhos: a Tragédia Revisitada, Viviane Nogueira de Azevedo Guerra, Ed. Cortez, tel.: (0_ _ 11) 3864-0111, 24 reais

Na internet

Lacri - http://www.usp.br/ip/laboratorios/lacri/

Cearas - http://www.usp.br/servicos/cearas/cearhopa.html

Violência Familiar Contra Crianças e Adolescentes - http://www.violenciafamiliar.com.br/

Para enfrentar o luto

Page 4: A Vida Invade a Escola

Desde a Educação Infantil, você pode ajudar seus alunos a enfrentar as pequenas e as grandes perdas da vida. Acompanhe a sugestão das psicólogas Maria Júlia Kóvacs e Nanci Vaiciunas, da USP, para alunos entre 5 e 11 anos

Material necessário

História de uma folha, Léo Buscaglia, 30 págs, Editora Record, tel. (0_ _21) 585-2000, 15 reais

Fotografias ou imagens de revistas e livros que mostrem paisagens em diferentes estações do ano

Folhas de árvore de várias cores

Folhas de papel para desenho

Lápis de cor, crayon, canetinhas, tintas

Comece a aula falando das estações do ano. A primavera, o verão, o outono e o inverno têm características próprias, que podem ser identificadas com as fotografias e imagens selecionadas anteriormente. Ao mostrar as folhas das árvores de diversas cores, você deve explicar que as folhas verdes aparecem na primavera, permanecem verdes no verão, mas no outono elas mudam de cor, adquirindo outras tonalidades, como a amarela, a vermelha e até mesmo marrom. Algumas espécies de árvores até perdem todas as suas folhas.

Em seguida, leia em voz alta o livro História de uma Folha. Dê um tempo para que as crianças façam um desenho ou um texto baseado na história. Peça que os alunos contem para toda a classe um pouco sobre o que acabaram de produzir. Vá explorando e comentando com eles os sentimentos que surgiram. Ao final, pergunte se eles se identificaram com alguma situação ou folha do livro.

Observe se alguma criança fez uma relação entre a história lida e uma perda significativa na vida dela. Em caso positivo, explore esses sentimentos.

Faça com que os alunos pendurem os desenhos e os textos, deixando-os expostos por algum tempo antes de levá-los para casa.

O livro sugerido pode ser substituído por outros que também tratam de perdas e morte, como O medo da sementinha ou A montanha encantada dos gansos selvagens, ambos de Rubem Alves; O dia em que o passarinho não cantou, de Luciana Mazorra e Valéria Tinoco.

Filmes infantis também são ricas fontes sobre o assunto para se trabalhar em sala de aula, como O Rei Leão, Bambi, Em busca do vale encantado. Nesses casos, você pode fazer com que os alunos comentem o momento da morte de um dos pais dos personagens centrais: que sentimentos o desaparecimento de um parente tão próximo ou querido despertou neles? Não deixe de fazer com que as crianças percebam que a morte teve sempre um motivo e não aconteceu por vontade da pessoa que faleceu.

Quer saber mais?

Laboratório de Estudos sobre a Morte do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP, tel. (0_ _11) 3818-4185 r. 31 ou 33, e-mail: [email protected] ou [email protected]

Morte e desenvolvimento humano, Maria Julia Kovács, 243 págs., Casa do Psicólogo, tel. (0 _ _11) 3062-4633 , 24 reais

A criança e a morte, Wilma Torres, 180 págs., Casa do Psicólogo, 20 reais

Morte: O que está acontecendo?, Karen Bryant-Mole, 32 págs. Editora Moderna, tel. 0800 172002, 11 reais