a vida da gente como agente - aruci-smc.org · mos em grupos com os 75 agentes per-guntando sobre...

6
A vida da gente como Agente Porto Alegre - 2011 Porto Alegre - 2011

Upload: truongtruc

Post on 11-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A v i d a d a g e n t e c o m o

A g e n t e

Porto Alegre - 2011Porto Alegre - 2011

A vida da gente como Agente: notas para o trabalho dos

Agentes Comunitários de Saúde

Ficha Técnica

Universidade Federal do Rio Grande do SulPrograma de Pós Graduação em Psicologia Social e InstitucionalProf. Dra Rosane Neves da SilvaProf. Dra Simone Mainieri Paulon

Prefeitura Municipal de Porto AlegrePrefeito José Alberto Reus Fortunati Secretaria Municipal de SaúdeDistrito Sanitário Docente-Assis-tencial Glória-Cruzeiro-Cristal

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul Pro-grama de Pesquisa para o SUSEdital 02/2009 - Gestão Compartil-hada em Saúde – PPSUS

Aliança Internacional de Pesquisa Universidades-Comunidades Saúde Mental e Cidadania (ARUCI-SMC), eixo Brasil-CanadáProf. Dra Rosana Teresa Onocko Campos

Direção ARUCI-SMC - Universi-dade Estadual de Campinas

Texto FinalAline Amaral Cipriano, An-dré Luis Leite, Carlos Augusto Piccinini,Elisabeth da Silva Mon-teiro, Foncina MIranda da Silveira, Fransrowki, Lelidiane Chagas da Silva, Haiti Maria > iessen, Ilca Terezinha da Costa, Maria Juliana, Pereira, Rejane Freitas de Castro, Roselene Vargas Neves, Rosineia Melman.

RevisãoProf. Dra. Rosane Neves da SilvaProf. Dra. Simone Mainieri Paulon

DiagramaçãoAndré Luis Leite

Contato/Informaçõ[email protected]

Permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. Novembro de 2011

O agente não pode trabalha sozinho!Aqui você encontra endereço e telefones, horários de ários serviços es-palhados pela cidadeCentro de Referência às Vítimas de ViolênciaRua João Alfredo, 607, Cidade Baixa

Tel: 0800 642 0100

JUS Mulher - Atendimento jurídico à mulherRua Carlos Chagas, 55, sobreloja, Centro.

Tel: 3225 7272

Serviço de Informação à Mulher - SIM FarraposRua Frederico Mentz, 21, Vila Tecnológica – Farraposs

Serviço de Informação à Mulher - SIM CruzeiroAv. Moab Caldas,125, Cruzeiro do Sul

Centro de Referência em Assistência Social - CRASSocial Sul -Av. Guarujá, 190 - Fundos. - Fone: (51) 3248.7241

Extremo Sul -Rua Gumercindo Oliveira, 23 - Lot. Chapéu Do Sol - Fone: (51) 3346.8709

Centro - Rua Dos Andradas, 680 - 3º Andar - Centro -Fone: (51) 3289.1863

Glória - Rua Coronel Neves, 555 - Medianeira -Fone: (51) 3223.5083

Cruzeiro - Avenida Niterói, 35 – Bairro Medianeira Fone: (51) 3219.7979

Cristal - Rua Curupaiti, 27 - Cristal. - Fone: (51) 3242.4930

Centros de Referência Especializado de Assistência Social LOMBA DO PINHEIRORua Jaime Rollemberg de Lima, nº 108 - Vila Mapa

Fone: (51) 3319-1156 / 33193155

LESTERua Porto Seguro, 261 – Bairro Ipiranga

Fone: (51) 3340.4866

PARTENONRua Everaldo Marques da Silva, 12 - Partenon

Fone: (51) 3289.4694 / 3289.4695 / 3289.4946

RESTINGA E EXTREMO SULAv. Macedônia, nº 1000 - Restinga.

SUL E CENTRO-SULRua Tito Marques Fernandes, 409 - Ipanema.

CENTRO, ILHAS, HUMAITÁ E NAVEGANTESRua Cônego Marcelino, s/nº - Centro

Observação: Atendendo temporariamente na Praça XV de Novembro nº 21, sala 802 – Centro.

GLÓRIA, CRUZEIRO E CRISTALRua Gomes Carneiro, 481 - Glória.

Centro de Atenção Psicossocial - CAPSCAPS II Hospital de ClínicasRua Ramiro Barcelos, 2350 - Tel: 2101 8710

CAPSi Hospital de Clínicas Rua Ramiro Barcelos, 2350 - Tel: 2101 8710

CAPS II Hosp N. Sra. da ConceiçãoRua Marco Polo, 278

CAPSad Hosp N. Sra. da ConceiçãoRua Alvares Cabral, 398 – Cristo Redentor - Tel: 3357 2160

CAPSi Casa Harmonia (infanto-juvenil) Av. Loureiro da Silva, 1995 - Tel: 3289 2690 / 3289 2691 / 3289 2695

CAPSi Leno - Rua Nazareth, 570 -Tel: 3334 9772

CAPS II Centro – Cais Mental 8 Rua José Bonifácio, 71 -Tel: 3212 1669 / 3227 5884

CAPS II Cruzeiro - Rua Moab Caldas, 400 – CSVC Área 9

Tel: 3289 4061 / 3289 4117

CAPSad Glória, Cruzeiro Cristal Rua Moab Caldas, 400 – área 13 CSVC

Tel: 3289 4233

CAPSad IAPIRua Valentim Vincentini, esquina Rua Novo Hamburgo - IAPI

Tel: 3289 3459

CAPSad Vila NovaRua João Vedana, 355

Tel: 3266 1623

Equipe de Saúde Mental adultoRua Tobias Barreto, 145

Tel: 3339 4555

Equipe de Saúde Mental infância CS Santa MariaRua Capitão Montanha, 27, 2º andar

Tel: 3289 2873

Equipe de Saúde Mental Modelo – CS Modelo

Rua Jerônimo de Ornelas, 55

Tel: 3289 2555

Equipe de Saúde Mental Infância, adolescente e adulto - SCSRua dr. João Pitta pinheiro Filho, 176 - Camaquã

Tel: 3249 2799

Equipe de Saúde Mental Infância, adolescente e adulto – RES Rua Abolição, 850 - Tel: 3250 1142

Equipe de Saúde Mental Adulto – CS IAPI - NHNIRua 3 de Abril, 90 - Tel: 3341 6333 ramais 2300 e 2307

Equipe de Saúde Mental Infância, adolescente e adultoAv. Presidente Frnaklin Roosevelt, 05

Tel: 3342 3585 / 3325 5858

Equipe de Saúde Mental Adulto – LeNoRua Marieta Menna Barreto, 210 -Tel: 3387 8838

Unidades de InternaçãoPsiquiátrica e Dependência Química – Adulto Hosp N. Sra. da ConceiçãoAv. Francisco Trein, 596 . -Tel: 3357 2000

Psiquiátrica e Dependência Química Feminina Hosp Mat. Inf Presidente VargasAv. Independência, 6661 - Tel: 3289 3000

Psiquiátrica e Dependência Química Hosp Psiq. S. PedrpAv. Bento Gonçalves, 2460/2466 - Tel: 3339 2111

Psiquiátrica e Dependência Química - Hospital Parque Belém Av. Oscar Pereira, 8300 - Tel: 3318 4555

Psiquiátrica e Dependência Química – Unidade Vila NovaRua Catarino Andreatta, 155 - Tel: 4246 5022

Psiquiátrica e Dependência Química – Feminina Hosp Mãe de DeusPraça Simões Lopes Neto, 175 - Teresópolis

Psiquiátrica e Dependência Química – Infância e Adolescente Av. Bento Gonçalves, 2460/2466 - Tel: 3339 2111

Psiquiátrica – adulto Hospital de ClínicasRua Ramiro Barcelos, 2350

Tel: 2101 8710

Psiquiátrica – adulto - Hosp. EspiritaPraça Simões Lopes Neto, 175 -Tel: 3320 5700

Psiquiátrica – adulto -Hospital São LucasAv. Ipiranga, 6690,-Tel: 3320 3000

Esta cartilha é produto da pesquisa “Es-tratégias de Cuidado em saúde mental na interface com a Atenção Básica: o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde das Equipes de Saúde da Família” realizada com 75 Agentes Comunitários de Saúde em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre os anos de 2010-11. A pesquisa foi realiza-da pelo Pós Graduação de Psicologia Social da UFRGS e teve como objetivo identiS car as demandas e estratégias de cuidado em saúde mental que aparecem no cotidiano de trabalho dos Agentes. Após conversar-mos em grupos com os 75 Agentes per-guntando sobre como eles fazem quando encontram casos de saúde mental em suas regiões de trabalho, reunimos as principais preocupações por eles trazidas na 1ª fase da pesquisa e, durante 4 meses seguidos ofer-ecemos um processo de formação em saúde abordando as temáticas que mais aparece-ram: uso de drogas, HIV-Aids e cuidado em saúde mental.

Durante todas as etapas do processo de pesquisa, fomos percebendo a necessidade de divulgar aquilo que aprendíamos ali com os agentes, bem como de incentivá-los a falar de sua própria prática e reconhecerem o conhecimento que produzem através dela. Entre os resultados da pesquisa foi destacado este não reconhecimento do próprio saber construído cotidianamente pelos Agentes como um saber valioso e fundamental de ser compartilhado e transmitido. Propusemos, então, que formássemos um grupo para escrever o material que agora apresentamos. Somos gratos a todos os agentes com que trabalhamos e, em especial a Maria Juliana, Foncina Miranda da Silveira, Elisabeth da Silva, Ilca da Costa, Lelidiane Chagas,

Rejane Freitas, Roselene Vargas, Rosineia Melman, Aline Amaral e Haiti Maria – por terem produzido conosco estas pági-nas. Nelas vocês encontrarão um texto contendo muitas vozes. Um escrito feito por muitas mãos e marcado com as notas de quem enfrenta diariamente o desaS o de ser um trabalhador em saúde.

As páginas que seguem contam algu-mas das recomendações, pistas e caminhos possíveis que os Agentes criaram em seu caminhar como trabalhadores de saúde. Elas não são as únicas e nem pretendem ser verdades absolutas, mas querem, apenas, apontar algumas direções para questões que, por sua complexidade, muitas vezes, parecem não oferecer saídas e tendem a nos imobilizar. Quando discutidas em grupo, confrontadas com colegas, comparadas com situações semelhantes muitas vezes aquelas questões que nos pareciam in-solúveis parecem menos complicadas e al-gumas soluções começam a ser inventadas.

O texto começa com algumas consi-derações gerais sobre o trabalho dos agentes e depois segue com informações importantes, dicas, recomendações, e exemplos ligados aos temas trabalhados durante a pesquisa. Os textos entre aspas são recortes exatos das falas feitas nos encontros.

Este é um projeto coletivo, um investi-mento coletivo, uma aposta coletiva. Ago-ra, convidamos você a juntar-se a nós nesta empreitada coletiva lendo as páginas que seguem e discutindo-as com seus colegas e vizinhos em busca de um SUS cada vez mais humano e melhor para todos nós.

André Luis & Carlos Augusto Pesquisadores

Álcool e Outras Drogas

Em casos como o de João, ajuda:

Deixar o preconceito de lado; Se pôr no lugar do outro (empatia);Buscar apoio tanto dentro da equipe quanto com outros atores sociais;Entender que a solução para o problema é lenta e que a frustração faz parte do processo. Compartilhá-la ajuda!Insistir, persistir, resistir e não desistir.

Criar uma rede suporte é fundamental nestes casos. Reservamos este espaço para você poder visualizar a sua rede. Anote aqui nome das pessoas e dos serviços, que

puderem te ajudar a trabalhar com estes casos.

Em casos como o de João, ajuda:

Deixar o preconceito de lado; Se pôr no lugar do outro (empatia);Buscar apoio tanto dentro da equipe quanto com outros atores sociais;Entender que a solução para o problema é lenta e que a frustração faz parte do processo. Compartilhá-la ajuda!Insistir, persistir, resistir e não desistir.

IntroduçãoIntrodução

O que entendemos por acolhimento?

Acolher é ouvir atentamente, reconhecer as limitações humanas – tanto as nossas, quanto as dos outros, os diferentes valores familiares, respeito e ética, tentando sempre estabelecer relações de conS ança e etc. Ou seja: acolher é uma tarefa de todos, aS nal, conversa e atenção podem funcionar como remédios sem contra indicação e sem efeitos colaterais. “Para entender o acolhimento primeiro é preciso ser gente”.

O que entendemos por vínculo?

Ligação. Elo entre as pessoas. ConS ança. Remete a coisas boas e ruins – a questão é para o quê ele será usado. Por exemplo, com o tempo, o vínculo pode sustentar a liberdade de expressão entre as pessoas, depois de um tempo é possível “brigar sem quebrar o vínculo”. O vínculo também pode servir para ordenarmos as pessoas a fazerem aquilo que nós queremos.

Como se cria o vínculo?

Para a criação do vínculo é necessário conhecer o lugar, identiS car as diS culdades da comunidade, seus problemas como saneamento básico, destinação do lixo, condições pre-cárias de moradia, situação de exclusão social, desemprego, violência intra-familiar, drogas ilícitas e lícitas, analfabetis-mo, acidentes e etc. Mas também as suas potencialidades, lugar onde as pessoas vão para se divertir, espaços de lazer disponíveis, lugar onde buscam solução para os problemas, etc. Por que isso? Porque é preciso perceber a realidade em que as pessoas vivem, conhecer o lugar delas para pensar o melhor jeito de cuidá-las. Nenhuma família é a mesma, então cada área/casa precisa um modo de atenção diferente,

um jeito de chegar e conversar que faça ela se sentir entendida. “Para ser Agente é preciso ser camaleão, se adequar às necessidades das pessoas”.

Vínculo e Acolhimento

Vínculo e Acolhimento são instrumentos fundamentais para o trabalho em saúde e, em especial, para a função

dos Agentes!

Conheci ‘João’ há uns 7 anos atrás. Quando o conheci ele já usava álcool e outras substâncias. Tinha um aspecto sujo, de abandono, com diS culdade de fala e deS ciência na perna direita adquirida devido a um atropelamento durante uma bebedeira que lhe deu uma ferida que não curava nunca. Queixava-se de dor, caminhava pela rua, vivia jogado, sobrevivia de doações. Passaram-se os dias, fui S cando a par de sua situação: João era maltratado pelas ruas. Me aproximei dele e o levei até o posto, pedi que fosse atendido pela equipe, foi quando descobri que ele não tinha documentos. Tinha uma família numerosa a quem fui procurar e descobri que estavam cansados e não queriam mais lutar por João. Aí S quei pensando: ‘puxa, é um ser humano, tenho que fazer alguma coisa!’ O tempo foi passando, e sua infecção na perna aumentando, inclusive em função da diS culdade de atendimento (não conseguia realizar exames por falta de documentação), e de cuidados (não tomava banho, não tinha hábitos de higiene).

Um certo dia, João sofreu outro acidente piorando a situação. Foi quando me senti mais impotente diante do álcool. Internado no hospital, João citou meu nome para a assistente social, e a mesma me procurou. Aí eu vi ‘uma luz no S m do túnel’, pois agora sua situação havia piorado, pois ia perder sua perna direita devido à gravidade do ferimento que já existia e não tinha sido curada. Perguntei: ‘O que poderia ajudá-lo?’ A assistente social me respondeu: ‘vou te dar o caminho e quero que você percorra com ele’. Por ele eu aceitei o desaS o. João retornou do hospital, pedi ajuda da equipe para realizar os curativos, esta prontamente me aceitou. Como ele não andava, conversei com a família sobre o documento. Fui informada que ele havia sido registrado em uma cidade do interior, e solicitei então pelo arquivo público seu registro. Quando os recebi, pedi ajuda à colega da enfermagem: fomos no instituto de identiS cação, relatamos o caso e conseguimos um proS ssional para ir conosco à residência de João. Senti então que estava perto de realizar o meu ideal: com ajuda do médico de sua perna, consegui o laudo e um encaminhamento de benefício social. Como a família não poderia ajudar, o benefício foi concedido. Conseguimos ainda um abrigo, onde ele poderia ser cuidado e receber um tratamento ideal, onde João vive até hoje feliz sem álcool e sem outras drogas.

O trabalho com

usuários de álcool e outras drogas

é preciso ser realizado em equipe, em

rede. As situações que vivemos nestes

casos envolvem, ainda, nossos valores e

princípios: o problema mais grave não

é o “álcool e outras drogas”, mas o

preconceito no cuidado com o usuário.

Álcool e Outras Drogas

Eu não faço pra ninguém o que eu não quero que façam comigo

Outra ponto difícil de trabalhar e morar no mesmo lugar está ligado ao fato de ser visto como agente de saúde durante as 24 horas. É preciso esclarecer os limites e saber dizer ‘não’. O grande desaS o é aprender a dizer ‘não’ sem ser, neces-sariamente, agressivo. Frases como “Me desculpe, mas eu não tenho como te informar agora”; “Perdão, mas agora eu não tenho como resolver o teu problema”; “quem sabe você passa lá no posto?” ajudam a esclarecer os motivos do ‘não’ e costumam ser melhor aceitas pela comunidade

Entre Altos e Baixos

Ao chegar de férias a ACS Antônia, foi surpreendida com um problema envolvendo Joana, uma usuária atendida na Unidade e de sua microárea. Joana estava furiosa, pois a informação de que ela sofria violência doméstica estava circulando na comunidade. A usuária havia relatado a situação em consulta médica e achava que informação não devia ter saído do posto. Aconteceu o seguinte: com o intuito de encaminhar Joana ao serviço especializado, durante as férias de Antônia outra ACS, Vera, da mesma unidade e moradora da mesma região, � cou encarregada do encaminhamento. Vera leu o documento de referência e, ao descobrir o motivo do encaminhamento, � cou espantada e comentou a situação com a sua melhor amiga. Foi o su� ciente para a notícia se espalhar por toda a comunidade. Antônia, ao voltar e saber da confusão que este comentário gerou, chamou Vera para esclarecer o acontecido. Vera informou que, movida pela curiosidade, havia olhado o encaminhamento. Vera pediu desculpas a Joana e ambas entenderam que precisam cuidar bem das informações que recebiam durante ao trabalho.

Defendemos que uma boa diretriz ética para o trabal-ho é sempre se colocar no lugar do outro. Esta pode ser uma atitude simples que, além de evitar con-fusões, ajuda a construir vínculos de conS ança e respeito tanto dos agentes para com a comunidade, quanto da comunidade para com os agentes.

Enquanto trabalhadores em saúde que moramos na mesma comunidade em que trabalhamos, aca-bamos ouvindo muitos relatos. É preciso cuidar da forma com que lidamos com as informações que recebemos tanto dos usuários quanto da equipe.

“Quem sabe você passa lá no posto?”

DSTs/HIV-AIDS

Houve um tempo, no início da década de 90, em que HIV era algo associado automaticamente a pessoas promíscuas, principalmente homossexuais e prostitutas. Hoje esta informação já não é mais precisa. Dados recentes do Ministério da Saúde indicam que e em relação à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade ainda prevalece transmissão por via de relação sexual. Nas mulheres, 94,9% dos casos registrados em 2009 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,9% foram por relações heterossexuais, 19,7% homos- sexuais e 7,8% bissexuais. Ou seja, tanto mulheres quanto homens estão se contaminando majoritariamente em relações heterossexuais. O resultado positivo para o HIV está relacionado, principalmente, ao número de parcerias (quanto mais parceiros, maior a vulnerabilidade). Atento a essa realidade, o governo brasileiro tem desenvolvido e fortalecido diversas ações para que a prevenção se torne um hábito na vida dos jovens. A distri-buição de preservativos no país, por exemplo, cresceu mais de 100% entre 2005 e 2009 (de 202 milhões para 467 milhões de unidades). Na aborda-gem e no trabalho de prevenção a DST’s e HIV/Aids, os ditos “grupos de risco” já não são mais referência ex- clusiva. Incentivo ao uso de preservativos e distribuição de informações agora é algo que precisa ser feita com todos. Está é uma tarefa difícil, sem dúvidas, mas da qual não podemos nos eximir. Inclua na pauta dos assun-tos durante a visita uma conversa sobre preservativos e formas de transmissão do HIV. Principalmente com os jovens da sua comunidade. Esta, mesmo sendo uma medida simples, pode de evitar grandes danos no futuro.

“Hoje a Aids

não tem mais cara. Em risco estamos todos

nós!”

Proposta de novos caminhos: Insistir em algo que não está funcionando não é a melhor saída. Precisamos avaliar junto com os usuários se o caminho trilhado está tendo resultado. Nosso trabalho pede disponibilidade para viabilizar novos caminhos, pensando novas estratégias coletivamente: com a equipe, com a família, com os usuários e com a comunidade. Deste modo, produziremos um plano de cuidados compartilhado, respeitando e reconhecendo as necessidades e as limitações de todos os envolvidos.

Cuidado em Saúde Mental

Excesso de Recomendação: Uma postura de muita cobrança e de muitas recomendações nem sempre é a mais eS caz. É preciso criar uma empatia – ir se colocando no lugar do outro, atentando para as limitações humanas – tanto as nossas, quanto as das pessoas de quem cuidamos.

Manuela, 25 anos, mãe de Haroldo e Carlos, era usuária de Crack e residia na vila com o seu marido. Depois de um tempo de sumiço, ela retorna ao território e estava grávida do seu terceiro � lho. A enfermeira da unidade, preocupada com a saúde de Manuela, que também estava com sí� lis, recomendou para a agente que trouxesse a usuária para a unidade de saúde, mesmo que fosse necessário assustá-la para isso. Carmem, a agente comunitária de saúde, escutou a recomendação e cumpriu a tarefa de um jeito bem especial. Em seus primeiros contatos com Manuela, ao invés de sair cobrando as idas ao posto e dizendo como Manuela deveria se cuidar, resolveu escutar o que ela tinha prá contar: suas queixas, seus medos, suas dúvidas e vergonhas, ou seja, investiu na criação de um vínculo de con� ança com ela. Hoje, cinco meses depois, Manuela con� a em Carmem, conversa abertamente com ela sobre uso de drogas e têm traçado juntas um plano de cuidado para ela. Carmem a� rma que isso só foi possível porque ela respeitou o tempo de Manuela, e esperou a hora certa e um jeito próprio de orientar e ajudá-la a se cuidar.

Não se pode chegar só cobrando que a pessoa

faça aquilo que nós estamos dizendo. A� nal, nem sempre a gente sabe o que é melhor

para a outra pessoa Remédio não é a única solução e nem resolve tudo

sozinho!

Cuidado em Saúde Mental

Boa Comunicação com Equipe: Ouvir não é o mesmo que escutar – escutar requer envolvimento. Ter vontade e querer ajudar as pessoas que pedem ajuda, estar disponível para elas é muito importante. A troca constante de informações com as equipes com as quais trabalhamos é essencial. AS nal, o Agente não pode trabalhar sozinho.

Abordagem diferentes para Necessidades diferentes: Precisamos utilizar a mesma linguagem do usuário e respeitar o tempo de cada um. Como cada caso é um caso, é preciso sutileza para lidar com as diferenças. Ouvir atentamente e prestar atenção nos detalhes pode ajudar.

Usando a Intuição: As vezes, percebemos que uma pessoa está diferente, que anda mais triste, mais calada e que já não age do mesmo modo que agia. Quando fazemos isso, estamos comparando a pessoa de agora com a pessoa que era antes. Este é um jeito de perceber que algo está acontecendo com ela. Atentar para estas mudanças é muito útil para reconhecer os casos que precisam de atenção em saúde mental.

Trazemos aqui pontos importantes para o cuidado em saúde mental. Estas dicas nos ajudaram a reduzir nossa ansiedade, medo e preconceitos; elas também nos auxiliaram no estabelecimento de vínculos de conS ança mútua com os usuários. Quando reconhecemos o quanto nosso trabalho é importante para aquelas pessoas, nos sentimos mais valorizados e aumentamos nossa iniciativa, agindo e criando uma forma de cuidar de cada usuário na suas necessidades.