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A Viabilidade Construtiva do Bambu pela ótica do pensamento integrado e vivência da cultura construtiva da Colômbia no ritmo da bicicleta Fabiana Ferreira de Carvalho Trabalho Final de Graduação | Escola de Arquitetura e Urbanismo | Universidade Federal Fluminense

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Fabiana Carvalho - Trabalho Final de Graduação

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Page 1: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

A Viabilidade Construtiva do Bambu pela ótica do pensamento integrado e

vivência da cultura construtiva da Colômbia no ritmo da bicicleta

Fabiana Ferreira de CarvalhoTrabalho Final de Graduação | Escola de Arquitetura e Urbanismo | Universidade Federal Fluminense

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A Viabilidade Construtiva do Bambu pela ótica do pensamento integrado e

vivência da cultura construtiva da Colômbia no ritmo da bicicleta

Fabiana Ferreira de CarvalhoTrabalho Final de Graduação | Escola de Arquitetura e Urbanismo | Universidade Federal Fluminense

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Agradecimentos. Patrick Kimani, pelo encanto queniano.

Aos mestres da EAU/UFF que foram essenciais na minha formação como pessoa e profissional. Em especial:

. Leonardo Messentier, por ensinar sobre as cidades, política, sociedade, poesia e samba.

. Maurício Campbell, por sentir o encanto em projetar arquitetura e cenografia.

. Fernanda Sanchez, pelos ensinamentos sobre as en-trelinhas do desenvolvimento das cidades e nossa atu-ação como ser-cidadão-profissional.

. Jorge Baptista, pelas deliciosas e alegres aulas de paisagismo.

. Laura - sentimento de admiração da grandeza pessoal e profissional.

. Sônia, professora e orientadora de pesquisa – pelo pensamento crítico, o olhar social ficou entranhado em mim. Ensinamento que guiam as escolhas de vida.

. Werther, professor e orientador de TFG – pela visão sobre paisagem, lugar, fenomenologia, viagens e pela ajuda nessa importante missão de trabalho final.

Aos trabalhos:

. Laboratório Arqviol – intensa experiência de com-preensão de políticas públicas e suas entranhas. Temas muito duros, mas amaciados pela convivência dos ami-gos Juliane Baldow, Bruno Amdei, Sara Uchoa, Sonia Ferraz (orientadora) e Cristina Nacif (presença ilustre do subsolo).

. José Costa – pela incrível oportunidade de trabalhar com maquete e afirmar que o trabalho manual e corpo-ral é essencial pra mim.

. OCAM (Laura e Lourdes) – pela oportunidade de par-ticipar do projeto para um Parque Estadual e aprofundar minha visão ambiental.

. Equipe IBAM (Tiná, Rui Velloso, Ricarda, Jacira, Ricar-do Moraes, Cristina Baratta, Helena Araújo, Jéssica Ojana e Gabriel Soares) – pela oportunidade de trabalhar com plano diretor e usar o conhecimento para planejar minha vida.

Ao Valdo Felinto, por ser uma inspiração profissional desde o início da minha gradução.

Aos bambuzeiros do Brasil, por tanto me ensinarem, em especial:

. Lucio Ventania do CERBAMBU, por tanto me ensinar sobre a arte de trabalhar com bambu.

. Instituto Pindorama, pelo início desse caminho.

. Vick Alves e Rita Bernabe, pela generosidade, carinho e incentivo de trilhar esse caminho. Sinto muita gratidão.

Aos lindos e amados irmãos que o destino generosa-mente me presenteou: Saulo, Karen, Naná, Fernanda, Joana, Julia, Carol, Natalia -oo-, Zazá, Elisa, Thayná, Mar-celo, Broch, Dito...

À música: Caetano e Betânia pela beleza da vida; Raul pela lucidez, Udyana Bandha pela transcendência; Viní-cius e Baden pelo romance.

À Colômbia, pela riqueza cultural e povo amoroso. Aos amigos colombianos que foram preciosos nos ensina-mentos e que me ajudaram na realização desse sonho de projeto final de graduação.

Ao Universo e suas sincronias.

Gratidão!!!

Um breve agradecimento ao que foi primordial na re-alização desse trabalho.

Primeiramente, à minha coragem. Deixar para trás uma outra carreira para me lançar numa nova faculdade foi uma arriscada, porém sábia decisão.

À família pelo apoio e amor incondicional nessa cami- nhada em busca da felicidade.

Ao Leo bici, meu amor, por ser o grande companheiro de vida. Sinto muita gratidão por me ajudar a tornar esse trabalho exatamente o que eu desejava, em especial, embarcar comigo nessa viagem de bike pelas terras co-lombianas. Viver a realidade dos sonhos que se sonhá-mos juntos é indescritível.

A nova família que veio com o Leo. Muito obrigada pela força.

Aos amigos da arquitetura, em especial:

. Ivan Zanatta e Lucas Faulhauber, DACA e FeNEA – por me apresentar o movimento estudantil, onde me desen-volvi como ser humano e cidadã. Eterna gratidão

. Flora Oliveira e Luana Damásio, por serem pontos imensos de alegria em minha vida.

. Lobão (Tiago Souza), por conversas multidimension-ais sobre o mundo.

Aos amigos da turma 2009/01, em especial:

. Helena Freitas, por tantas conversas sobre as inqui-etudes humanas, se tornou uma irmã e a melhor dupla dos infinitos trabalhos.

. Raama Creveland, pela luz que trouxe aos meus dias.

. Thiago Miranda, pela parceria na construção dos caminhos.

Page 4: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

Sumário

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

VIABILIDADE CONSTRUTIVA

ANATOMIA

PROPRIEDADES MECÂNICAS

PROTEÇÃO QUÍMICA

PROTEÇÃO FÍSICA

COLÔMBIA

CONCLUSÃO

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

05

11

17

21

28

33

49

100

103

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APRESENTAÇÃO

“A história da arte mostra que a arquitetura sempre foi parte integrante fundamental no processo da criação artística como manifestação normal da vida. Ela engloba, por-tanto, a própria história da arquitetura, constituindo-se, então, por assim dizer, no “álbum de família” da humanidade. É através dela, através das coisas belas que nos ficaram no passado, que podemos refazer, de testemunho em testemunho, os itinerários percorridos nessa apaixonante caminhada, não na busca do tempo perdido, mas no encontro do tem-

po que ficou vivo para sempre porque entranhado na arte”.

(LÚCIO COSTA, 2006, p. 17)

Page 6: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

6 Apresentação

Ver a arquitetura como álbum de família da humani-dade é um caminho para a compreensão dos tempos vividos. A partir da sua análise é possível identificar comportamentos sociais, estruturas de poder, dinâmicas econômicas, processos que permitem entender melhor uma sociedade.

Numa projeção de 100 anos à frente, o que pensarão da sociedade de hoje? Que tipo de arquitetura refletirá o momento histórico atual?

Para responder a essa pergunta, volto o olhar para a história e vejo uma intensa apropriação dos recursos naturais pelo homem. Desde os primeiros registos hu-manos há 40 mil anos, até a atualidade, das primeiras casas até a consolidação das cidades contemporâneas, a natureza foi o suporte e a fonte de materiais.

Esse tipo desenvolvimento intensivo na extração de recursos vem desequilibrando severamente os sistemas naturais. Uma comparação de 12 importantes atividades humanas com os 12 principais componentes ambien-tais feita por um estudo de três cientistas da Stockholm University, Australian National University e International Geosphere-Biosphere Programme mostra a dimensão do impacto humano no planeta, especialmente após a década e 1950 (figura 1).

Neste período houve um forte processo de urbaniza-ção, grande aumento populacional, do uso de energia e água, dos transportes, das telecomunicações, dos desas-tres ambientais. Percebe-se que após esta data o ritmo de extração de recursos está claramente além dos lim-ites naturais de sua restauração, o que traz consequência graves para o planeta.

A alteração dos ciclos naturais é tamanha que uma

corrente de pesquisadores sustenta a teoria de que des-de 1950 entramos numa nova era geológica, o Antropo-ceno. A marca principal deste novo momento mundial é a constatação de que o homem se tornou uma força geológica em escala planetária.

A criação desta nova era geológica para caracterizar o momento em que vivemos coloca a ação humana como a principal fonte de alterações dos ciclos da Terra. Algu-mas iniciativas hoje buscam mensurar e dar visibilidade ao nível de alteração que o modo de vida atual causa ao planeta. Através de uma dessas iniciativas foi gera-da a metodologia da Pegada Ecológica, que relaciona o consumo de recursos e a produção de resíduos de uma pessoa ou grupo social à capacidade de regeneração dos sistemas naturais.

Segundo esta pesquisa, atualmente a Terra necessita de 1,5 ano para recuperar o que foi consumido em 1 ano por seus 7 bilhões de habitantes, no que diz respeito à capacidade de suporte da biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera (HERZOG, 2013). Este dado ressalta a sobrecar-ga dos sistemas naturais, em um processo que tende a romper os limites de resiliência 1 da Terra.

“O ecossistema terrestre corre sério risco de perder a resiliência e mudar de patamar. Poderá passar a funcio-nar de outra maneira, chegando a se tornar extrema-mente hostil para manter a vida humana na terra. As previsões de aumento nas temperaturas médias do pla-neta variam, mas mesmo no cenário mais otimista, os prognósticos são extremamente graves. A diferença de

1 “Resiliência é a capacidade de um sistema absorver impactos e manter suas funções ou propósitos, isto é, sobreviver ou persistir em um ambiente com variações, incertezas.” (HERZOG, 2013, P.79)

Page 7: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

7Apresentação

Figura 01: Grafico impactos ambientais da Antropoceno. The trajectory of the Anthropocene: The Great Acceleration (STEFFEN, 2014)

Figura 02: Principais eventos ecológicos. Fonte: dados OLIVEIRA, 2006, weforum.org e rio20.gov.br Elaboração própria.

temperatura média da era glacial para o presente é de apenas 3 graus Celsius. Portanto, é urgente levarmos a sério e buscarmos formas sustentáveis na quais a bios-fera tenha o devido reconhecimento e valorização para

manter a vida como conhecemos.”

(HERZOG, 2013, p.87)

Desde a década de 70, eventos mundiais acontecem para debater esses prognósticos e tentar encontrar caminhos futuros. Dentre estes encontros promovidos pelas Nações Unidas, o principal marco na discussão do desenvolvimento sustentável2 foi a Rio – 92. Com grande participação de chefes de estado e presença massiva de ONGs (ainda que em um evento paralelo), o evento trouxe muita atenção da mídia e do público em geral para o tema ambiental. Os representantes dos 178 países presentes elaboraram a Agenda 21, na qual estão descritos 120 esboços de programas e 1000 propostas (OLIVEIRA, 2006).

Esses encontros internacionais alertam sobre os pos-síveis futuros do desequilíbrio ambiental em prol do desenvolvimento. Eles ganham importância ao recom-endarem que chefes de estado repensem a forma como estão conduzindo as práticas de desenvolvimento das ci-dades. Em janeiro de 2015 foi realizada a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que incluiu a discussão sobre a nova era “Antropoceno”.

Nesse contexto penso que se nós tivermos esse en-tendimento global e conseguirmos fazer diferente nas nossas profissões, atitudes do dia a dia e nas políticas de governo, poderemos frear esse processo e seguir por 2 “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as ne-cessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” wwf.org.br acessado em 23 de janeiro de 2015

DATA E LUGAR 1972 - ESTOCOLMO 1983 - NORUEGA 1992 - RIO DE JANEIRO 2000 - BRASIL 2012 - RIO DE JANEIRO 2015 - SUIÇA

EVENTO

I CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO

AMBIENTE

ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

RIO - 92PNUD + MINISTÉRIO DO

MEIO AMBIENTERIO + 20

FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

DOCUMENTO ELABORADO

TESE DOS LIMITES DO CRESCIMENTO

RELATÓRIO FINAL NOMEADO “NOSSO FUTURO COMUM”

AGENDA 21 CIDADES SUSTENTÁVEISO FUTURO QUE

QUEREMOSNÃO DIVULGADO ATÉ O

FECHAMENTO DESTE TRABALHO

PONTO RELEVANTE AO

TEMA

POSSIBILIDADE DE DEGRADAÇÃO COMPLETA

DO MEIO AMBIENTE BASEADO NO SISTEMA DE

DESENVOLVIMENTO DO SEC XX

TRATADOS E ACORDOS PARA PROPORCIONAR O EQUILÍBRIO ECOLÓGICO

PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO

SUSTENTÁVEL EM 6 ÁREAS, DENTRE ELAS: MUDANÇAS NA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO

CIVIL

PROPOSTAS PARA AVANÇAR NA SUSTENTABILIDADE DAS CIDADES BRASILIERAS EM

10 ANOS

RENOVAÇÃO DO COMPRIMISSO POLÍTICO

COM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

DISCUSSÃO SOBRE ANTROPOCENO

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8 Apresentação

outro caminho mais equilibrado com os sistemas da na-tureza.

Seguindo essa ótica, como está o cenário da produção arquitetônica atual?

Dados da Associação Nacional de Arquitetura Bio-ecológica mostram que o setor da construção civil é o responsável pelo consumo de 40% dos recursos naturais, 34% da água e 55% da madeira não certificada, além de ser o gerador de 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos (SANTANA, 2013).

Um raio X da forma produtiva mais disseminada mostra que os principais materiais utilizados, como o ci-mento, aço, tijolo e vidro, têm como base atividades de extração mineral.

Os processos produtivos destes materiais, envolvendo as atividades extrativas, são altamente impactantes ao meio ambiente, incluindo a destruição de habitats nat-urais, poluição do ar, água, solo e, consequentemente, causam graves impactos à saúde humana e à fauna e flora local. São processos que desestabilizam vários siste-mas naturais. Os minerais brutos passam por indústrias de transformação que liberam poluentes e gases do efei-to estufa, além de demandarem o consumo de muita en-ergia até se tornarem os materiais construtivos prontos para o uso. Essas produções são realizadas numa lógica de ciclo aberto, em que os produtos transformados qui-micamente não conseguem se reintegrar facilmente à natureza.

Desequilíbrio semelhante ocorre com a extração de madeira, já que o ritmo de derrubada de árvores é muito superior à capacidade de regeneração das florestas. O reflorestamento, quando ocorre, em geral utiliza uma

única espécie em grandes áreas, gerando os “desertos verdes”, que poucas semelhanças guardam com verda-deiras matas diversificadas.

Então, como o arquiteto urbanista pode atuar e inter-vir nesse modelo de produção para que não contribua com essas estatísticas ambientais?

Inúmeros são os caminhos. Uma abordagem muito relevante é o exercício da visão sistêmica. Ao projetar é preciso pensar em todo o ciclo de vida e nos sistemas de suporte ao objeto de estudo. Esta forma de raciocínio induz a uma produção mais consciente dos resultados e consequências das decisões. A visão sistêmica leva a um pensamento de ciclos fechados, no qual a geração de resíduos e demanda de energia é a menor possível, se-guindo o desenho permacultural, onde um resíduo vira insumo para outra atividade.

Por exemplo, os materiais naturais, como o barro, palha, ceras, bambu, madeira após o uso ou em um mo-mento de descarte, são reabsorvidos pela natureza e se decompõem, viram terra. O mesmo pensamento é vá-lido para o tratamento das águas das edificações. Em um sistema desenhado para o reuso sempre que possível, o consumo de água limpa e a geração de efluentes se reduz drasticamente. Da mesma forma podem ser trabalhados os resíduos orgânicos, iluminação natural, ventilação etc.

Bill Mollison e David Holmgren conceituaram a perma-cultura como as atividades que têm por ideal a preser-vação dos sistemas, a partir de um design para a criação de ambientes humanos (jardins, vilas, aldeias e comu-nidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente jus-tos, produtivos, harmônico com a natureza e financeira-mente viáveis, com desperdício zero.

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9Apresentação

Esta filosofia trabalha com o entendimento do fun-cionamento do planeta como um organismo, em que to-dos os fluxos e ciclos naturais, somados à ação humana, mantenham os sistemas equilibrados e duradouros para as próximas gerações.

Cecília Herzog aplica uma visão semelhante para o planejamento das cidades, decisões políticas, sociais e ambientais.

“Hoje sabemos que não existe mais natureza intoca-da: os efeitos das ações humanas chegaram a todos os rincões do planeta, mesmo em lugares mais inóspitos. Por isso, é preciso ter um pensamento sistêmico, consid-erar que vivemos em sistemas interdependentes ecológi-cos e sociais. Estamos literalmente no mesmo barco,

navegando no universo.”

(HERZOG, 2013, p. 76)

Outro exemplo é trazido pelo arquiteto Bill Mc Donough e pelo químico Michael Braungart, que no livro Cradle-to-cradle (do berço ao berço) representam a hipó-tese de cidades com seus ciclos fechados, de forma que tudo o que é produzido e consumido é reaproveitado, eliminando a geração de resíduos (HERZOG, 2013).

Acredito que na elaboração de um projeto, seja urba-no e/ou arquitetônico, deve-se pensar quais fluxos serão gerados, desde a procedência do material desejado, pas-sando pela escolha de terreno, localização do objeto, resíduos produzidos, cronograma, etc, até qual posicio-namento sócio-político-estético-ambiental tais escolhas representam (figura 3).

E vou além, acredito que essas escolhas do campo

Figura 03: Cidades regenerativas - ciclo fechado. Retirado do livro Cidade para todos (re) aprendendo a conviver com a natureza de Cecília Herzog, p. 95.

Águas limpas e fontes locais

Comida orgânica

produção local

Energia não poluente

local

Produtos insumos

locais

Esgoto tratado no

local - reuso

Biodiversidade

Bairros multifuncionais

Transporte limpo

CIDADE REGENERATIVA

Resíduos orgânicos: adubo, biogás, etc.

Resíduos inorgânicos: reciclagem,

reaproveitamento das águas e recursos naturais

Mínima emissão de gases efeito

estufa

Mínima disposição de

resíduos

Page 10: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

10 Apresentação

racional, influenciam nos resultados do campo sensorial, que considero um dos resultados mais interessantes da produção arquitetônica.

Eu sinto fascínio por poder ter a capacidade de in-fluenciar nos sentimentos e sensações pessoais a par-tir de uma construção realizada. É gratificante poder ajudar o “usuário” a desenvolver habilidades, dons e talentos próprios. Esta atuação é possível em diversos níveis: numa simples organização de ambiente interno que ajudará um escritor a compor suas obras; na con-strução de uma casa que inspire uma família a viver seus propósitos; num cenário de teatro que ajudará os atores a emocionar o público com suas histórias; num museu que seja um local que transborde conhecimento; num transporte eficiente que torne a rotina agradável; entre tantos outros exemplos passíveis de análise.

Penso que esses objetivos vão além de um desenho esteticamente interessante. A escolha do material de construção faz diferença nas sensações humanas, pois como toda matéria, possui energia e memória. O lugar de onde ele foi tirado, como foi tratado, modificado, transportado, construído, são elementos que ficam en-tranhados no material.

Seguindo essa lógica, materiais que passam por pou-cos processos de transformação são energeticamente mais fluidos. Portanto, os materiais naturais são mais agradáveis ao convívio humano, é gostoso tocar numa parede de barro, e bom passar a mão numa coluna de bambu, é aconchegante estar num ambiente construído com esses recursos.

Em tempos de rotina acelerada como os de hoje, o estresse se tornou uma doença comum, os corpos es-tão cada vez mais rígidos e tensos e as relações huma-

nas mais conturbadas. Então, conseguir propiciar o bem estar, o relaxamento e a sensibilidade através da cons- trução é um contributo ao desenvolvimento humano.

Portanto, se a arquitetura é um álbum de família da humanidade, vejo que a arquitetura que representa o momento atual é uma produção consciente dos desafios ambientais, que apresente soluções inovadoras com res-peito a natureza e que estimule a sensibilidade das pes-soas para relações humanas mais equilibradas.

É neste cenário que proponho o uso do bambu como um material construtivo.

O bambu não precisa passar por indústria de trans-formação para ser utilizado em construções, são pou-cas etapas desde a sua retirada até a sua incorporação na obra e eventual descarte. A mata de bambu e o seu adequado manejo apresentam características ambien-talmente benéficas. A presença de um material natural no ambiente construído, (re)estabelece o contato com a natureza, estimulando a sensibilidade. E, o valor estético do bambu, potencializa / confirma o seu uso.

Com olhar arquitetônico construtivo numa ótica de pensamento integrado, abordo neste trabalho a anato-mia da planta, suas propriedades mecânicas e métodos de proteção que garantam durabilidade. Esses assuntos são primordiais para as decisões de projeto e execução de uma boa obra.

Como parte do processo de pesquisa, realizei uma via-gem de bicicleta por três meses pela Colômbia, onde há uma cultura construtiva em bambu desenvolvida desde seus ancestrais. O estudo feito ilustra que é viável obter uma cadeia produtiva rentável com esse tipo de ativi-dade construtiva, servindo de inspiração para o Brasil.

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INTRODUÇÃO

“Um homem pode acomodar-se em uma casa de bambu sob um teto de bambu, em uma cadeira de bam-bu a uma mesa de bambu, com um chapéu de bambu em sua cabeça e sandálias de bambu em seus pés. Ele pode, ao mesmo tempo, ter em uma das mãos uma tigela de bambu, na outra mão pauzinhos de bambu, e comer brotos de bambu. Quando ele terminar sua refeição, que foi cozida em fogo de bambu, a mesa pode ser lavada com um tecido de bambu, e ele pode abanar-se a si próprio com um leque de bambu, tirar uma siesta em uma cama de bambu, deitado sobre uma esteira de bambu, com sua cabeça repousando sobre um travesseiro de bambu. Seu filho pode repousar num berço de bambu, brincando com um brinquedo de bambu. Ao levantar-se ele fumaria um cachimbo de bambu e, com uma caneta de bambu, escreveria em papel de bambu, ou transportaria suas coisas numa cesta de bambu suspensa por uma vara de bambu, com um guarda-chuva de bambu sobre sua cabeça. Ele pode então fazer uma caminhada sobre uma ponte

suspensa de bambu, beber água de uma concha de bambu, e coçar-se com uma raspadeira de bambu”.

(Ode ao bambu - Geil, 1971, p.268)

Page 12: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

12 Introdução

O poema ilustra, de forma quase cômica, como o bam-bu pode ser apropriado de diversas formas sem a ne-cessidade de passar por processos de industrialização. Desde o uso mais simples, como um copo, até os mais complexos, como uma ponte, é possível trabalhar o re-curso e transformá-lo no objeto desejado.

O mesmo raciocínio é valido na produção arquitetôni-ca, o bambu já vem pronto da natureza, só é preciso cortar, limpar e construir. Alguns cuidados podem ser aplicados para aprimorar o desempenho e aumentar a durabilidade, mas não são essenciais.

Algumas sociedades ancestrais utilizavam o bambu em sua cultura, tanto como matéria prima para uma infini-dade de usos quanto como símbolo de ensinamentos es-pirituais. Segundo, Pereria (2008):

• China – o bambu é símbolo da longevidade e o “ami-go das pessoas”

• Vietnã – representa o símbolo de renovação das ge-rações

• Japão – considerado a barreira sagrada contra o mal

• Filipinas, Malásia, Japão, Havaí – sustentam o mito de que a humanidade surgiu do colmo de bambu.

Do ponto de vista sensitivo, tais referências espirituais, vindas de diversas culturas, sinalizam que este é um ma-terial adequado para uma construção mais saudável. O bambu utilizado na obra carrega consigo a memória e sabedoria da natureza, que estarão vivos e presentes no espaço construído.

Numa obra de bambu que realizei em dezembro 2014 – janeiro 2015 era impressionante como as pessoas fica-vam minutos abraçadas aos pilares de bambu. Quando

eram questionadas sobre a razão desse comportamento, costumavam responder “porque é bom, é gostoso” e no-vamente questionadas se um pilar de concreto armado dava a mesma sensação, a resposta era unânime: “não’.

A sensação de aconchego pode ser explicada, cientifi-camente, pela presença de silício em sua composição, o que proporciona ao bambu a capacidade de ressonância. O toque de uma pessoa faz com que o bambu desperte reações químicas na pele e ossos, estimulando recep-tores neurosensoriais. Segundo Betty Feffer (PEREIRA, 2008), o bambu pode se tornar um instrumento de res-sonância curativa e transformadora, podendo ser utiliza-do para fins terapêuticos.

Pela visão da Yoga (PEREIRA, 2008), o bambu é uma das plantas que mais absorvem Prana, que é a força da vida que flui através da natureza e do universo. A quanti-dade dessa energia vital presente no ambiente construí-do, torna-o um lugar mais saudável de se estar.

Além das questões da sensibilidade construtiva, a (re)apropriação do bambu como elemento construtivo é in-teressante na ótica ambiental, por alguns fatores:

• Ser um recurso com baixo impacto ambiental ao longo de sua cadeia produtiva (KUEHL1, 2012).

• Possuir rizoma ao invés de raiz. Rizoma é a trama subterrânea que sustenta o bambuzal. Constantemente, há brotação dos novos colmos oriundos da reprodução assexuada dos rizomas. Eles contêm gemas que podem originar brotos ou novos rizomas, o que faz com que o bambuzal esteja em permanente crescimento. Ao tirar

1 Publicado pela International Network for Bamboo and Rattan (INBAR), que é uma organização intergovernamental dedicada a melhorar as condições de vida dos produtores e usuários do bambu e rattan dentro do contexto de um meio ambiente sustentável.

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13Introdução

um colmo, a planta continuará viva, pois é como se fosse um galho, é só um manejo. Portanto, o bambu é consid-erado um recurso renovável.

• Ser um material que não necessita passar por um processo industrial para ser utilizado. Preparação para uso com baixo consumo de energia e água e sem necessidade de poluentes.

• Possibilitar uma obra limpa com pouco resíduos, o pouco que gera pode ser reabsorvido pela natureza.

• Ser uma planta de crescimento rápido, seu ta-manho final é atingido até 1 ano após a brotação. Seu amadurecimento é em torno dos 4 anos e seu ciclo de vida é aproximadamente de 8 anos. Esse processo faz com que a captação de CO2 seja grande, ajudando na redução do efeito estufa (KUEHL, 2012).

• Apresentar apresenta alto rendimento por área. Como os colmos nascem rápido e perto entre si, é grande o volume de biomassa disponível. Algumas espé-cies se tornam as maiores captadoras de CO2 das plantas já conhecidas (KUEHL, 2012).

• Ser uma planta indicada para o reflorestamento, restauração de áreas degradadas e diminuição de pro-cessos erosivos do solo devido ao seu rápido crescimen-

Fonte de dados: http://www.eeob.iastate.edu/research/bamboo/maps.html acessado em 11 de fevereiro de 2015

I II III

Figura 05: Greenschool em Bali - Indonésia, Ásia. Fonte: inhabitat.com acessado em 21 de fevereiro de 2015.

Figura 06: Centro de recursos comunitários em Moçambique, África. Fonte: Arquitectura Mixta

Figura 04: CO bambu aparece em 3 regiões do planeta: I - Américas; II - África; III - Ásia.

Figura 07: Catedral Provisória Nuestra Señora de la Pobreza - Colômbia, América do Sul. Fonte: mom.arq.ufmg.br acessado em

21 de fevereiro de 2015.

Page 14: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

14 Introdução

to e a trama de raízes (rizoma) que ajuda a segurar o solo (KUEHL, 2012).

Atualmente, há registros de bambu em grande parte do território do planeta e o material tem sido utilizado por diversas sociedades, segundo YANG (2010). As fotos e mapa (figuras 04, 05, 06 e 07) ilustram essa realidade.

Alguns usos atuais são resquícios de saberes ances-trais que foram passados de geração em geração. Certa-mente, sofreram modificações, mas estão vivos até hoje, como é o caso da Colômbia e a China.

A Colômbia apresenta seus primeiros registros de construção em bambu no ano 1000 com os índios Quim-bayas. Na região habitada por eles, havia uma abundân-cia de matas de bambu, então usaram esse recurso para desenvolver suas casas, pontes, utensílios domésticos.

O saber construtivo foi passado para os espanhóis e chegou até os tempos atuais (LOPEZ, 2003). Nos últimos quinze anos, a arquitetura colombiana tem se destacado com a atuação de arquitetos e engenheiros especializa-dos em obra de bambu com um olhar contemporâneo. Esse novo momento é ajudado por profissionais de pes-quisa que desenvolvem o conhecimento cientifico da planta e que juntos elaboraram a norma colombiana para construção em Guadua (espécie de bambu mais usada).

A China, foi a primeira civilização a dominar o uso do bambu de que se tem registro, segundo o YANG (2010), há evidências de sua utilização que datam de 7.000 anos atrás. Recentemente, em 1954, foi achada uma poesia de 6.000 anos, em que aparece o bambu sendo utilizado por tal civilização.

Nessa cultura o bambu está associado à espirituali-

dade, incentiva o homem a desenvolver um caráter no-bre, a ser direito e flexível; desafiar as dificuldades e ad-versidades. Influencia no senso estético, na moralidade e em várias atividades como construção, agricultura, indústria, irrigação, instrumentos musicais, literatura, pintura, artesanato, jardinagem, religião, folclore entre tantas outras.

A China mantém suas construções antigas em bambu, mas não há uma produção arquitetônica significativa atual. A planta tem sido apropriada pela indústria para desenvolvimento de laminados para pisos, paredes,

Figura 09: Piso laminado chinês importado por Indugua-dua na Colômbia. Foto: autora

Figura 10: Andaimes na China. Foto de Juliana Alva.

Page 15: A Viabilidade Construtiva do Bambu | TFG - UFF

15Introdução

Figura 10: Andaimes na China. Foto de Juliana Alva.

móveis e de utensílios domésticos (que são facilmente encontrados no mercado brasileiro). Outra intensa uti-lização é em andamies nas construções.

As atividades industrias de bambu são controvérsas. É uma alternativa ao uso intensivo da madeira, evitando, assim, o desmatamento de árvores que demoram mui-tos anos para crescer. No entanto, as plantações podem ser tornar verdadeiras monoculturas e a indústria neces-sita de muita energia para funcionar e muitas vezes uti-liza produtos químicos agressivos no processo produtivo.

O Brasil não desenvolveu uma cultura construtiva em bambu, apesar de haver um uso esse recurso como material construtivo. Diferente da região da Colômbia citada, o território brasileiro não tinha (e não tem) pre-dominância de bambu, suas matas apresentam grande diversidade de madeiras. As técnicas construtivas eram similares nos dois países, usavam madeira ou bambu e palha até a chegada dos europeus, que incorporaram o barro nas construções. (WEIMER, 2005)

Hoje em dia, por influência da China e Colômbia, vem crescendo a quantidade de arquitetos e construtores capacitados para realizar obras em bambu no Brasil. Os institutos e laboratórios acadêmicos têm tido grande im-portância nesse processo, os primeiros por ensinarem através de cursos as técnicas construtivas e os segundos por estudarem cientificamente as propriedades físico-química-mecânica das espécies presentes no território brasileiro. Acredito, que em alguns anos, o Brasil poderá desenvolver uma norma construtiva que acentuará a evolução dessa atividade através de sua regulamenta-ção.

A seguir, listo alguns institutos e laboratórios de pes-quisa de grande importância para o desenvolvimento do

bambu no Brasil.

Visitados:

Cerbambu (Centro de Referência do Bambu) – Ravena, MG. Coordenado pelo mestre Lucio Ventania, que minis-tra cursos de construção e movelaria em bambu.

Pindorama – Friburgo, RJ. Coordenado por Nilson Dias, que oferece curso de construção com o engenheiro Bru-no Salles e de movelaria com o professor Danilo.

Escola de Bioarquitetura (EbioBambu) – Mauá, RJ. Co-ordenada pela arquiteta Celina Llerena.

TIBA (Instituto de tecnologia intuitiva e bio-arquitetu-ra) – Bom Jardim, RJ. Coordenado pelo arquiteto Yohan Van Lengen e Peter Van Lengen.

LILD (Laboratório de Investigação do Living Design) do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio com o pro-fessor Ripper.

Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio - Labo-ratório do Professor Kroskow Ghavami.

Não visitados:

Marco Antônio dos Reis Pereira – professor do Depar-tamento de Engenharia Mecânica da UNESP Bauru e au-tor do livro Bambu de corpo e alma (2008).

Antônio Ludovico Beraldo – professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP e autor do livro Bambu de corpo e alma (2008).

Antonio Salgado – engenheiro agrônomo, pesquisa-dor científico, consultor técnico e autor do recente livro Bambu com sal: aqui e agora, lá e então (2014).

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VIABILIDADE CONSTRUTIVA

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17Viabilidade ConstrutivaAnatomia

O recurso natural sem transformação industrial é bas-tante heterogêneo, o que faz o trabalho com bambu exi-gir compreensão aprofundada da planta para que o seu comportamento seja previsto na elaboração do projeto.

Bambu é uma planta considerada uma grama gigante, pertencente a família Graminae e subfamília Bambusoi-deae. Hidalgo Lopez (2003) mostra que existem 50 gêne-ros e 1300 espécies de bambu no mundo, porém há os que dizem que podem existir mais de 5000 espécies.

O Brasil apresenta o maior número de espécies nativas das Américas, 134 segundo um estudo do INBAR (2010). Os três gêneros mais utilizados no país para contrução e movelaria são o Dendrocalamus (asiático), Bambusa e Phyllostachys. Já na Colômbia, o gênero mais recorrente é a Guadua.

Estruturalmente o bambu é composto por rizoma, raiz, colmo, galhos e folhas (PEREIRA, 2008).

• Colmo

O colmo é o “caule” do bambu, no formato de um tronco de cone. Ele costuma ser oco (salvo algumas ex-ceções, como o gênero Chusquea) e ter seção cilíndrica (com variações ovais e até quadradas). Na sua parede é onde estão os vasos condutores (xilema e floema) e as fibras. É segmentado por nós, que formam os internós. Figura 11: Estrutura da planta. Fonte: BAMBOO the Gift of the Gods (LOPEZ, 2003). Traduzido para português.

ANATOMIA

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18 Viabilidade ConstrutivaAnatomia

• Broto

O broto já nasce com o diâmetro que terá para o resto de sua vida, protegido pela bainha caulinar. Todos os nós já estão presentes no broto, o crescimento se dá pelo au-mento do espaçamento entre os nós, processo no qual os internos se expandem. Este crescimento acontece rapidamente, ao fim do primeiro ano o colmo de bambu atinge seu tamanho máximo. Este tempo varia de acordo com as diferentes espécies. Por exemplo, o Dendrocala-mus giganteus cresce os seus 30 metros de altura até os 12 meses, a Guadua em geral atinge a altura máxima em 6 meses. Após esta fase de crescimento longitudinal, o amadurecimento passa a ser essencialmente interno, com o endurecimento da parede do colmo.

• Nó e Internó

O nó é a estrutura que segmenta o colmo e cria os in-ternós. Em cada nó está localizado um diafragma, que delimita os espaços dos internós, os ocos do colmo. Essa alternância de parede oca com diafragma é fundamental para a rigidez e resistência do colmo, o que permite, por exemplo, que o bambu suporte fortes ventanias. Dos nós saem os galhos (ramos alternados).

Figura 12: Bambus abertos ao meio no sentido longitudinal para confecção de brise solei. Observam-se os nós que geram os internós. Pendotiba, RJ, 2014. Foto: autora.

Figura 13: Broto de bambu Guadua angustifolia. Colômbia, 2014. Foto: autora

Internó

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19Viabilidade ConstrutivaAnatomia

• Rizoma

É a trama subterrânea que sustenta o bambuzal. Tem a função de armazenar os nutrientes e é responsável pela reprodução da planta. Os rizomas são nutridos pelas raízes, que puxam o alimento do solo. Os rizomas podem ser divididos em dois principais tipos (SALGADO, 2014):

1. Alastrante ou monopodial

São rizomas finos e compridos, com alguns centímet-ros de distância entre eles. São ocos, possuem nó e di-afragma. Em cada nó existe uma gema lateral que pode se desenvolver em outra gema ou em um broto. Ao se desenvolverem, se espalham em todas as direções, for-mando grandes áreas de bambuzal. Essa característica é interessante, pois facilita o manejo do bambuzal. No Bra-sil, a espécie mais conhecida desse tipo é o Phyllostachys aurea (bambu mirim).

2. Entouceirante ou simpodial

Os rizomas são mais grossos e muito próximos uns dos outros. Sua estrutura é sólida, não apresentando nós e diafragmas. Assim como o monopodial, este pos-sui gema lateral que pode gerar tanto um broto quanto um outro rizoma. Estes bambuzais se desenvolvem em forma de touceiras, ou seja, as varas crescem quase co-ladas umas das outras e em um espaço circular limitado, não se expandindo por grandes áreas. No Brasil, os mais conhecidos são Bambusa vulgares e vitata e Dendrocala-mus giganteus e asper.

A Guadua Angustifolia é considerada do grupo entou-ceirante, porém apresenta uma distância maior entre os seus colmos.

Figura 14: Esquema de rizoma alastrante. Fonte: LIESE, 1985

Figura 15: Esquema rizoma entouceirante. Fonte: LOPEZ, 2003

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20 Viabilidade ConstrutivaAnatomia

Figura 16: Touceira de Dendrocalamus asper em Coletivo Bambu na Mente - Cachoeiras de Macacú, RJ, 2013. Foto: autora

Figura 17: Mata de Phillostachys aurea em Cerbambu - Ravena, MG, 2014. Foto:autora

Figura 18: Túnel de bambu entouceirante em Paraíso del Bambu - Colômbia, 2014. Foto:autora Figura 19: Mata de Guadua angustifolia no sítio de Oscar Montoya - Colômbia, 2014. Foto:acervo autora

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21Viabilidade ConstrutivaPropriedades Mecânicas

Figura 17: Mata de Phillostachys aurea em Cerbambu - Ravena, MG, 2014. Foto:autora

Figura 19: Mata de Guadua angustifolia no sítio de Oscar Montoya - Colômbia, 2014. Foto:acervo autora

A parede do colmo apresenta em média uma distri-buição de cerca de 50% de parênquima, 40% de fibra e 10% de tecidos condutores, segundo LIESE, 1985. As fi-bras protegem os tecidos condutores (xilema e floema), que são os responsáveis pelo transporte de líquidos e nutrientes. O parênquima envolve esses feixes, estocam nutrientes e água - a umidade está concentrada nessa região.

A concentração de cada um desses elementos na parede do colmo é variável. As fibras (pontos escuros da figura ao lado) são as principais responsáveis pela resistência do bambu e estão bastante concentradas na parte mais externa da parede. No terço externo da parede, diâmetro de cada fibra é menor e a concentra-ção é maior (que chega a ter 50% de fibras) do que no terço interno, onde o diâmetro é maior e a concentração é menor.

O número de tecidos condutores também diminui à medida que se passa do exterior para o interior da parede. Em compensação, o volume de parênquima (tecido que permeia os feixes), varia no sentido inverso, aumentando da parte externa para interna (PEREIRA, 2008).

A relação quantidade fibra x parênquima é um grande fator na determinação da resistência da parede e impor-

Figura 20: Parede do bambu com as fibras, tecidos condutores e parenquimas aparentes. Foto: autora Colômbia, 2014

Fibras ParênquimaTecidos condutores

PROPRIEDADES MECÂNICAS

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22 Viabilidade ConstrutivaPropriedades Mecânicas

tante na escolha de peças a serem utilizadas. Essa rela-ção indica o grau de endurecimento das fibras e o pro-cesso de lignificação do parênquima, no qual parte das células se lignifica (endurece) e outra parte armazena amido (PEREIRA, 2008). Isso indicará o tempo certo de corte da vara para a função desejada. Por exemplo, se o bambu for pra comer, deve ser cortado ainda quando broto, em até 30 dias pra estar bem macio. Este tempo indica também o momento de se colocar a fôrma para moldar a seção, caso seja do interesse. Até 6 meses, é recomendado o uso para cestaria, pois está maleável. Aos 2 anos, é indicado o corte para ripas e esterilla (es-teira), pois já está mais lignificado, mas ainda não está tão duro. Já para estrutura de construção e laminados, o corte deve ser feito entre 3 anos e 6 anos, pois é quando

Figura 21: Usos do bambu relacionados a idade. Fonte: LOPEZ, 2003.

a parede do colmo já está bem rígida (LOPEZ, 2003).

Cada parte do colmo (inferior, intermediária e superi-or) tem características próprias de diâmetro do bambu e a espessura da parede. O bambu apresenta um formato de seção de cone, sendo mais grosso na base do que na ponta, o que influencia suas dimensões e outras carac-terísticas, como níveis de resistência e flexibilidade. Na escolha das partes da vara para o uso como elementos construtivos deve observar, portanto, essas característi-cas para casá-las com as necessidades.

Para pensar na composição das peças, é possível fazer uma analogia com a própria natureza do colmo. A parte inferior do colmo deve ser localizado na parte inferior da estrutura e a parte superior do colmo na parte superior da estrutura.

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23Viabilidade ConstrutivaPropriedades Mecânicas

Parte inferior: possui o maior diâmetro do colmo e a parede mais grossa. É considerada a melhor parte para resistir aos esforços de compressão, como o pilar, pois seu grande diâmetro garante um bom raio de giração (importante propriedade geométrica da seção circular) e sua grande parede compõem uma boa área útil.

Parte intermediária: possui diâmetro um pouco menor e a parede um pouco mais fina, mas com internós mais longos. É considerado uma boa parte para resistir aos esforços de tração e flexão, muito usado como vigas e terças.

Parte superior: possui o menor diâmetro e a parede mais fina. Apresenta a maior relação de fibras por área, o que indica muita rigidez e pouca flexibilidade. Depen-dendo da espécie, pela esbeltez pode ser uma boa peça para caibros.

Outro ponto importante para o colmo resistir aos es-forços e ter boa durabilidade é estar com baixo nível de umidade, ao redor de 13% a 20% (LOPEZ, 2003). Os colmos recém cortados apresentam umidade em torno de 50% por isso precisam passar por etapas de secagem para que sejam utilizados na umidade ideal.

Para entender os esforços no colmo de bambu, pes-quisas estão sendo realizadas por diversos laboratórios do país e do mundo. A realização destes estudos por uni-versidades nacionais é essencial para gerar insumos para a criação da norma brasileira sobre o uso do Bambu. As referências mais próximas disponíveis são as normas do Peru e da Colômbia, nas quais são descritos os valores de resistência (tensão admissível) aos esforços e os cálculos necessários para dimensionar corretamente as estrutu-ras.

Por ser um material natural, não há padronização das peças, assim como na madeira. Para isso, o cálculo dos valores de resistência é composto por fatores de redução significativos, para garantir um valor confiável e aplicável às diversas varas, já que a norma tem o papel de orientar e garantir uma construção segura.

Compressão:

Material Resistencia à compressão Bambu Guadua angustifolia 15 MPa Concreto armado 20 a 40 MPaMadeira Peroba ou similar 85 MPa

Figura 22: Resistência à compressão. Dados: Norma Colombiana e REBELLO, 2005

O valor de compressão mostra uma similaridade com o concreto armado, indicando que em determinas situa-ções pode ser uma opção de escolha.

Em relação à madeira, os números apresentam dife-rença significativa. As madeiras usadas na construção costumam ser “madeiras de lei”, que são duras e resis-tente. Foram amplamente utilizadas nas construções brasileiras antes da alvenaria chegar ao mercado. Como elas possuem grande tempo de amadurecimento, hoje, pouco se encontra disponível para a comercialização.

Os valores podem ser compensados com o desenho estrutural. Para elevar a resistência pode-se utilizar mais bambus na estrutura, como por exemplo, um pilar pode ser constituído por um feixe com 5 varas, e assim, supor-tar um esforço maior.

No que tange ao rol estético e sensitivo da construção, o bambu se assemelha a madeira por terem aparência similar e serem um material natural pouco modificado. Penso que nesse campo, o bambu é uma alternativa in-teressante.

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24 Viabilidade ConstrutivaPropriedades Mecânicas

Material Resistencia à tração Bambu Guadua angustifolia 18 MPa Aço CA25 250 MPaMadeira Itaúba 168 MPa

Figura 23: Resistência à tração. Dados: Norma Colombiana e REBELLO, 2005

Na tração, o bambu também apresenta valores inferi-ores ao aço e à madeira de lei. Isso não quer dizer que o bambu não possa realizar essa função, mas sim que o desenho estrutural (a mesma lógica de feixes é aplicável)é muito importante para que as cargas sejam bem dis-tribuídas e não comprometam nenhuma peça.

Na viagem pela Colômbia pude verificar que em mui-tas obras há composição de bambu com cabos de aço, onde o bambu trabalha sob compressão e o aço sob tra-ção, é o caso do Pavilhão Zeri no Recinto del Pensam-iento em Manizales.

Gasto energético:

Figura 24: Tabela de gasto energético. Dados de GHAVAMI 1992

Material Bambu Madeira Concreto AçoGasto Enérgetico para a produção

(MJ/m³/Mpa)30 80 240 1500

O bambu possui o módulo de elasticidade baixo em relação ao aço e concreto armado, indicando que sofre mais deformações. No entanto, possui alta capacidade de se deformar antes da ruptura por apresentar uma grande fase elástica, motivo da valorização do bambu na Colômbia, onde os abalos sísmicos são constantes. Já o aço e o concreto rompem com pouca deformação do material. Observei que em muitas obras que não foram bem construídas, a estrutura estava cedendo aos pou-cos, as varas estavam rachadas e flambadas, porém não ocorre um colapso repentino, que seria uma situação muito mais grave.

É necessário saber que cada material trabalha de uma maneira e por isso, cada um irá pedir um desen-ho estrutural e estético específico. Alguns arquitetos e construtores são adeptos da mistura dos materi-ais, utilizando as melhores propriedades de cada um. Como no já citado Pavilhão Zeri, obra de Simon Velez e Marcello Villegas, onde o aço é utilizado para tra-ção, bambu para compressão e madeira para as com-pressões mais acentuadas, como ilustra a figura a se-guir.

Material Módulo de elasticidade Bambu Guadua angustifolia 4 a 9,5 GPa Aço CA50 200 GPaConcreto armado 20 GPaMadeira Peroba ou similar 94 Gpa

Figura 25: Módulo de elasticidade. Dados: Norma Colombiana e REBELLO, 2005

Tração:

Na comparação do uso do bambu com os demais ma-teriais, um fator diferencial é o gasto energético para a produção. O baixo consumo de energia para transforma-ção do material bruto em um elemento pronto para ser utilizado na construção é um dos fatores que tornam o bambu um dos materiais mais sustentáveis para a con-strução de estruturas.

Módulo de Elasticidade:

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25Viabilidade ConstrutivaPropriedades MecânicasFigura 26: Pavilhão Zeri. Combinação dos materiais bambu,

aço, madeira e concreto. Foto: autora. Colômbia, 2014.

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26 Viabilidade ConstrutivaPropriedades Mecânicas

Há estudos e aplicações interessantes para o aproveit-amento máximo das propriedades mecânicas das fibras do bambu, sem que necessariamente seja mantida a for-ma original. Um exemplo interessante é o das estruturas Grid shell.

Elas estão ligadas a ideia de “High Design, Low Tech”, ou seja projeto de alto nível no desenho com baixa tec-nologia. O projeto de alto nível se refere a elaborar estruturas a partir de pesquisas científicas e manter os princípios do bambu leve, elástico e resistente. A baixa tecnologia se refere a simplicidade e o baixo custo da construção, facilitando a utilização dessas estruturas (YU, 2007). Nessas obras costumam-se usar ripas ou varas de bambu formando tramas que, por seu desenho, poten-cializam a resistência de cada peça.

A estrutura da Cozinha-escola Nestlé no Mercado Cen-tral de Belo Horizonte construída pela equipe da Bambu-crus pode ser considerada uma grid sheel, pois a trama de bambus, que remete a um trabalho de cestaria, dá a forma e a resistência ao túnel.

Figura 27: Cozinha-escola Nestlé - Belo Horizonte, BH. Fonte: www.ecoeficientes.com.br acessado em 12 de fevereiro de 2015.

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27Viabilidade ConstrutivaProteções

As resistências mecânicas e durabilidade do bambu são garantidas com o cumprimento de algumas etapas referentes ao corte e ao tratamento. A resistência pode ser diminuída caso haja algum dano à estrutura física do colmo, principalmente, pela atuação aos insetos, fungos e bactérias, que em geral são atraídos pelo amido pre-sente no interior da parede do bambu.

São dois tipos de proteção, a física e a química.

A proteção física tem o objetivo de evitar que as in-tempéries prejudiquem a parede externa de bambu, deixando o colmo vulnerável. Está relacionada princi-palmente ao projeto arquitetônico. Decisões projetuais como o tipo de telhado, tamanho de beiral, pé direito, fechamentos, afastamento do solo, entre outras, irão in-dicar a exposição da parte externa dos colmos às intem-péries, e consequentemente, a durabilidade do bambu.

A proteção química objetiva a redução da umidade e eliminação ou modificação do amido na parede do bam-bu. Está relacionada com os métodos de corte, trata-mento pós corte e acabamento.

Figura 28: Relação agentes x tipo de proteção. Fonte: Ebiobambu - https://www.yumpu.com/pt/document/view/12830399/acao-do-octaborato-ebiobambu acessado em 10 de junho.

Agentes Proteção Física Proteção Química

Insetos XFungos X XSol X

Chuva XUsos X

PROTEÇÕES

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28 Viabilidade ConstrutivaProteções

Proteção Química

O parênquima (tecido que fica em volta das fibras e vasos condutores) é uma estrutura muito rica em ami-do. Este amido é parte importante do metabolismo da planta, especialmente após 1 ano de idade, e sua con-centração aumenta gradativamente até a fase madura do colmo, passando a reduzir após esse período. Porém, o momento ideal do corte da vara para o uso estrutural é exatamente na fase madura, momento em que a con-centração de amido está relativamente alta (LIESE, 2004).

O amido atrai insetos, fungos e bactérias, que causam danos (buracos) à parede do colmo, o que pode reduzir a resistência mecânica da peça. A umidade acentuada fa-cilita a ação desses insetos e microrganismos em busca

Figura 29: Células de amido no parênquima. Fonte: LIESE, 2004

do amido. Portanto, o desafio é a redução da umidade e eliminação ou modificação do amido (LIESE, 2004).

A imagem a seguir mostra um corte da parede do bambu onde aparece o detalhe do parênquima (células hexagonais) com moléculas de amido em seu interior.

Jorge Moran, 2002, descreve o uso das técnicas tradi-cionais desenvolvidas pelos povos antigos. Elas são efi-cientes e não são prejudicais ao meio ambiente e às pessoas. Seu uso é indicado para todas as espécies mais utilizadas para construção, como Dentrocalamus gigan-teus, Dendrocalamus asper, Bambusa vulgaris, Phylosta-chis pubenses (mossô) e Guadua Angustifolia. É dividido em 3 etapas: corte, pós corte e acabamento final.

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29Viabilidade ConstrutivaProteção Química

O corte:

• Idade do colmo.

Para fins estruturais, o corte deve ser feito no colmo maduro, indicado por sinais externos como a presença de líquens claros, alteração da cor do colmo de verde brilhante para um verde escuro acinzentado e ausência de folhas caulinares. A fase madura é quando o bambu tem de 3 a 5 anos e estará pronto para o corte. Após essa fase, o bambu começa a ficar velho, identificado pela cor amarelada da parede.

• Lua minguante ou nova.

Pela influência dos ciclos da lua nas atividades metabólicas da planta e nos ciclos da água, durante a lua nova os vasos condutores estarão com menor quanti-dade de líquido.

• Na madrugada ou primeiras horas da manhã.

Na parte escura do dia, o bambu estará com a ativi-dade metabólica reduzida, logo, estará com menos líqui-dos nos vasos, portanto baixa umidade.

• Época seca.

Na época seca há menos umidade no solo, logo, a planta estará com esse fator baixo. Dependendo da de-manda, isso pode não ser possível, então as próximas etapas de secagem devem ser reforçadas.

Pós corte:

• Cura na mata

Após o corte da vara, recomenda-se deixá-la apoiada o mais vertical possível no mesmo local. A umidade será

perdida por gravidade e por transpiração, para isso, os galhos devem permanecer (além de evitar entrada de bactérias nas partes expostas, caso eles fossem corta-dos). A vara deve ficar de 2 a 3 semanas no local, para que tenha o tempo necessário da ocorrência do proces-so de redução do amido em açúcar, que por fermentação se converte em álcool, um inseticida natural dos insetos e microrganismos.

• Imersão em água

O colmo após corte e cura na mata é limpo e em se-guida é imerso em água por 3 a 4 semanas. Nesse tempo, o amido será lixiviado (lavado). A água pode ser corrente ou parada, trocando-a de tempos em tempos.

• Secagem ao sol

Após o escorrimento da água, coloca-se o bambu in-clinado e apoiado em uma estrutura e deixa-se secar ao sol por 2 a 3 semanas, girando diariamente as varas para distribuir a incidência solar. Esta etapa varia de acordo com a ensolação do local onde ocorre o processo.

• Secagem a sombra

Secar em uma estrutura sombreada até atingir a umi-dade ideal, o que pode demorar de 1 a 3 meses.

Acabamento:

Com líquidos vegetais

Após a secagem do bambu, é aplicado um preservante vegetal como a cera de carnaúba, cera de abelha, óleo de linhaça, óleo de mamona, garantindo proteção às intem-peres e dando um brilho forte à vara.

Figura 30: Bambu jovem. Foto: autora

Figura 31: Bambu maduro. Foto: autora

Figura 32: Bambu velho. Foto: autora

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30 Viabilidade ConstrutivaProteção Química

Proteção através do calor:

Os bambus do gênero Philostachys, por suas caracter-ísticas naturais, possibilitam outras formas de tratamen-to, mais simples.

Após o corte, na fase madura, dois métodos de trata-mento através do calor são possíveis: através de fogo direto (maçarico) ou por cozimento. Por meio do calor, o amido é eliminado e uma cera natural (ácido pirolen-hoso) presente na parede externa é liberada, o que torna o bambu brilhoso e protegido contra os insetos.

Contexto Atual

Durante a viagem de campo à Colômbia e as pesquisas de campo no Brasil, pude verificar que os tratamentos realizados em diversos locais são muito similares a esse tradicionais. As mudanças feitas foram para agilizar o processo e tornar a venda de varas de bambu para con-strução mais viável.

As etapas de corte permanecem as mesmas. A prin-cipal diferença é no pós-corte. Durante a imersão em água, é acrescentada uma solução com sais de boro, o que reduz o tempo de imersão de 4 semanas para 5 a 7 dias.

Na Colômbia o produto mais usado é o pentaborato (composição de borax e ácido bórico) enquanto no Brasil, é mais recorrente o uso de octoborato de sódio, vendido como fertilizante para diversos cultivos, como o algodão. A solução pode ser reaproveitada inúmeras vezes, e caso seja descartada, deve ser bem diluída para não saturar o solo com uma concentração muito alta de sais. Guardadas essas precauções, seu uso não causa im-pactos significativos ao meio ambiente.

Os acabamentos naturais continuam sendo usados,

mas por dificuldade de obtenção das ceras e óleos efac-ilidade de aplicação e manutenção, podem ser substituí-dos por verniz ou stain.

Esses métodos químicos estão tendo uma grande im-portância para os dias atuais, pois tornam o bambu uma opção viável de construção para uma sociedade mais ur-banizadas, que deseja a garantia de durabilidade, rapidez na construção, além de uma obra esteticamente interes-sante e bonita. Na Colômbia, onde a cadeia produtiva já está mais desenvolvida, há muitas empresas especializa-das nesse tipo de tratamento e venda de varas de bam-bu, que abastecem o mercado interno e externo.

Essa forma de tratamento, ainda que utilize produtos químicos em seu processo, são substâncias em geral de baixa toxicidade e que podem ser reutilizadas diversas vezes. Este fator vai ao encontro das preocupações tra-zidas pelos dilemas ambientais enfrentados pela arquite-tura de hoje, como construir e desenvolver de maneira harmônica, equilibrada e respeitosa com a Natureza.

Figura 33: I - stain comercializado no Brasil; II - verniz usado na Colômbia; III - cera de abelha e carnaúba produzida por Iuri Frigoleto.

I II III

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31Viabilidade ConstrutivaProteção Química

Figura 34: Limpeza do bambu em Fazenda Yarima. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 35: Tanque de imersão em Fazenda Yarima. Colômbia, 2014. Foto: autora

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32 Viabilidade ConstrutivaProteção Química

Figura 36: Secagem ao sol em Fazenda Yarima. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 37: Secagem a sombra em Fazenda Yarima. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 38: Verificação da umidade em Fazenda Yarima. Colômbia, 2014. Foto: autora

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33Viabilidade ConstrutivaProteção Física

da região. O projeto foi elaborado por Eric Crevels, na época formando em Arquitetura e Urbanismo da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como seu Trab-alho de Conclusão de Curso1. O curso foi ministrado por Lúcio Ventania e Iberê Sansara nos dias 15 a 29 de junho de 2014, em Ravena, Minas Gerais.

A segunda aconteceu em Pendotiba - Niterói, na construção de uma edícula na residência de um casal. O projeto e construção foi elaborado por mim e mais três bioconstrutores (Leonardo Soares, Guilherme Naom, e Thiago Miranda) em nome do Coletivo João de Barro. A obra durou dois meses, de novembro de 2014 a janeiro 2015.

1 AUTONOMIA E CONSTRUÇÃO: A biblioteca Milton Santos

Como dito anteriormente, a proteção física é referente às escolhas de projeto. Através de decisões projetuais em relação a base, beiral de telhado e encaixes de peças obtêm-se uma construção com adequada durabilidade e qualidade.

Os exemplos usados nessa parte do trabalho, incluirão além das fotos da viagem a Colômbia, duas obras em que participei.

A primeira ocorreu no curso “Civilização do Bambu”, oferecido pelo Centro de Referência do Bambu (CERBA-MBU), no qual foi construída a Biblioteca Pública Milton Santos, destinada às atividades educativas com os jovens

Proteção Física

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34 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Base

O bambu é um material que puxa água do ambiente, por isso é muito importante que uma construção em bambu tenha “uma boa bota e um bom chapéu”. Ou seja, a base e o telhado têm de proteger o colmo do con-tato com água.

A base deve ficar afastada do solo, para que a umidade do chão e respingos de chuva não atinjam o colmo. O afastamento pode ser feito de várias maneiras, as mais usadas são em concreto e/ou uma peça metálica. É in-dicado que o corte da peça esteja perto do nó, visto que sua geometria aumenta a resistência dessa região. Esse cuidado evita possíveis rachaduras.

Figura 39: Base em concreto. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 40: Base em concreto e metal. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 41: Base em concreto e bambu. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 42: Base em concreto e metal. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 43: Base em concreto e metal. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 44: Base em concreto. Colômbia, 2014. Foto: autora

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35Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Figura 41: Base em concreto e bambu. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 44: Base em concreto. Colômbia, 2014. Foto: autora

Beiral

O beiral do telhado deve ter o tamanho suficiente para proteger o bambu de chuva e de sol. O contato com a água cria um ambiente úmido e propicio para a prolifera-ção de fungos. A exposição ao calor, gera o movimento de dilatar e contrair, que favorece o surgimento de ra-chaduras, além do ressecamento do verniz ou cera na parede do colmo. Alguns arquitetos e construtores se referem a uma proporção de beiral ideal da ordem de dois terços da altura da estrutura de bambu abaixo do beiral. No entanto, o que foi observado é que essa pro-porção varia de acordo com a região, o posicionamento do terreno em relação aos pontos cardeais e o desenho arquitetônico.

Figura 45: Pavilhão Zeri. O grande beiral protege o resto da estrutura, que é uma combinação de bambu, madeira e aço. Projeto de Simon Vellez e Marcello Villegas. Foto: Leonardo Soares

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36 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

União das peças

A união das peças de bambu costuma ser feita por 2 métodos: encaixe ou faceamento.

Em ambas formas, o local de união deve ser próximo ao nó, pois pela distribuição das fibras e presença do di-afragma, esta região apresenta maior resistência.

Como as fibras do bambu estão orientadas longitudi-nalmente, não se deve usar pregos, pois estes fazem fen-das que se transformam em rachaduras.

O encaixe das peças é um trabalho artesanal, que tem de ser bem feito para que a transmissão de cargas seja distribuída, caso contrário fica num ponto só, que pode ceder. São diversos tipos de encaixe, um para cada situa-ção.

O faceamento é mais simples. Encosta-se um bambu no outro com o auxílio de alguma peça que transmita as cargas e que mantenha as peças unidas. Pode ser fei-to através de tabiques, barra rosqueada, junco natural, peças metálicas.

Encaixe

Para unir uma peça horizontal com uma vertical (ângu-lo e 90°) pode ser através da boca de peixe (ou pescado) ou com duas orelhas.

Em ambos, o corte da peça de apoio deve ser feito logo acima do nó e no formato exato da vara selecionada para o encaixe. A peça que encaixa deve estar apoiada perto na região do seu nó para garantir que ela não seja rachada ou esmagada.

A boca de peixe pode ser fixada com o auxílio de um gancho que una as duas peças, como mostra a figura a seguir.

Figura 46: Boca de peixe. Fonte: LOPEZ, s.d. Figura 47: Boca de peixe. Foto: autora

Figura 48: Encaixe 2 orelhas. Fonte: LOPEZ, s.d.

Figura 49: Encaixe 2 orelhas em Biblioteca Milton Santos Cerbambu. Foto: autora

boca de peixe logo acima do nó

peça apoiada na região do nó na boca de peixe abaixo dela

Figura 50: Gancho de barra de rosca. Foto: autora

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37Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Para ligação entre uma peça horizontal e uma inclina-da, pode ser usado os encaixes chamados bisel e bico de flauta.

Para fixação da peça no encaixe, pode ser usado peça metálica, tabique (pedaço de madeira ou bambu), amar-ração ou barra rosqueada (a forma mais usada).

Figura 51: Bisel. Fonte: LOPEZ, s.d.

Figura 52: Bisel em Escuela de la Vida. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 53: Bico de flauta.Fonte: LOPEZ, s.d.

Figura 54: Bico de flauta em construção de Oscar Montoya. Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 55: Encaixe com auxílio de peça metálica em Biblioteca Milton Santos. Cerbambu. Foto: autora

Figura 56: Encaixe com auxílio de tabique em Zuarq. Colômbia, 2014.Foto: acervo autora

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38 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Caso não seja possível conseguir uma peça com o nó no final, pode-se colocar um pedaço de madeira, bambu ou cimento para evitar o esmagamento. Essa técnica é chamada de embuchamento.

Figura 57: Encaixe com auxílio de junco sintético em Biblioteca Milton Santos. Cerbambu. Foto: autora

Figura 58: Encaixe com auxílio de barra rosqueada em Zuarq. Colômbia, 2014. Foto: acervo autora

Figura 59: Embuchamento com peça de madeira em Zuarq. Colômbia, 2014. Foto: acervo autora

Figura 60: Esmagamento. Fonte: LOPEZ, s.d.

Figura 61: Embuchamento. Fonte: LOPEZ, s.d.

Figura 62: Embuchamento com cimento em Zuarq. Colômbia, 2014. Foto: acervo autora

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39Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Faceamento

Para se obter peças com maior resistência podem ser feitos feixes de varas e assim alcançar um diâmetro maior. Pode ser usado uma peça metálica moldada para o feixe, junco natural, resina de manona, barra rosqueada.

Dependendo do desenho da estrutura pode ser uma opção adequada. Para o faceamento, a barra rosqueada é interessante por ser eficiente na transmissão dos esfor-ços, como na união entre viga e pilar.

Figura 63: Feixes de bambu em construção de Simon Velez. Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 64: Faceamento entre viga e pilar por meio de barra rosqueada em Pendotiba, RJ, 2014. Foto: autora

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40 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Quando se deseja fazer um vão maior do que o taman-ho disponível da peça de bambu, é possível ainda uní-los e obter peças mais longas.

Há 2 técnicas eficientes para isso: transpassando um bambu pelo outro e fixando a parte em contato ou unir as peças com embuchamento e utilizar uma terceira vara para transmitir o esforço e garantir estabilidade da peça longa.

Figura 65: Viga longa com 2 bambus transpassados em Pendotiba, RJ, 2014. Foto: autora

Figura 66: Viga com bucha de madeira pronta para receber o 2° bambu em Pendotiba, RJ, 2014. Foto: autora

Figura 67: Viga com os 2 bambus por meio do embuchamento em Pendotiba, RJ, 2014. Foto: autora

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41Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Feixes de ripas de bambu

Figura 68: Feixe de ripas em construção de Jaime Peña, Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 69: Detalhe do feixe de ripas em construção de Jaime Peña, Colômbia, 2014. Foto: autora

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42 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Encaixes com peças metálicasEncaixecomrizoma

Figura 70: Detalhe do encaixe com rizoma em construção de Simon Velez, Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 71: Detalhe do encaixe com peça metálica em feira gastronômica em Quindio, Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 72: Detalhe do encaixe com peça metálica em construção de Marcello Villegas, Colômbia, 2014. Foto: autora

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43Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Figura 73: Edícula construída pelo Coletivo João de Barro em Pensotiba, RJ. Foto: Leonardo Soares

Na obra de Pendotiba, pode-se observar:

. Base afastada do solo, com bam-bus fixados externamente à base de concreto. Detalhe estético em sisal.

. Pilares e vigas de bambu prote-gidos pelo beiral.

. A viga dupla possui a resistência (inércia) adequada para suportar a carga do (futuro) telhado verde.

. O pilar duplo possui a função de resistir à compressão e realizar o adequado encaixe para as vigas duplas.

. As uniões foram realizadas por faceamento.

. 5 terças de 7 metros foram ex-ecutadas utilizando 2 bambus de 4 metros cada, transpassando os bambus no ponto central para atin-gir o comprimento desejado

. A união das peças da terça de beiral foi feita com embuchamento.

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44 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Figura 74: Biblioteca Milton Santos em Ravena, MG. Foto: Mariana Botelho

Na biblioteca Milton Santos, pode-se observar:

. Base de cimento afastada do solo.

. Pilares e vigas de bambu prote-gidos pelo beiral.

. Diversos encaixes: boca de peixe, bisel, orelha, peça metálica.

. Feixe de Phillostachys tabicados e unidos por junco sintético.

. Telha de bambu. A meia cana da telha permite que ela se contraia e dilate sem rachar. A manutenção é o principal cuidado.

Figura 75: Telha de bambu em Biblioteca Milton Santos em Ravena, MG. Foto: Fernando Halat.

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45Viabilidade ConstrutivaProteção Física

O beiral dessa estrutura não foi calcu-lado corretamente, além de curto, ele está voltado para a direção da chuva na região. A estrutura está exposta aos efeitos do sol e da chuva. Percebe-se o ressecamento da parede do bambu através da cor esbran-quiçada e das rachaduras.

Figura 76: Defeito na construção. Foto: autora.

Situações de falhas na proteção física

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46 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

O destaque dessa imagem é a boca de peixe mal fcalculada para a carga acima dela. A rachadura no pilar e as vigas es-magadas são sinais desse erro.

Figura 77: Defeito na construção. Foto: autora.

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47Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Esse beiral apresenta falhas em sua execução e uma das consequências é a infiltração nos bambus. A umidade pro-vocou o apodrecimento da guadua de beiral, comprometendo, dessa forma, a estrutura.

Figura 78: Defeito na construção. Foto: autora.

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48 Viabilidade ConstrutivaProteção Física

Essa construção se encontra em estado crítico. A principal origem dos problemas é um desenho estru-tural mal elaborado, agravado pela baixa qualidade dos bambus e pela falta de manutenção. O desenho escolhido para as mãos francesas não transmite bem as forças, além de terem sido possivelmente subdi-mensionados para a carga do beiral. Como a construção está em um lo-cal muito úmido, o peso acumulado na cobertura de telhas cerâmicas antigas é considerável. Dessa for-ma, o beiral está cedendo e trazen-do consigo os pilares. No momento da visita, já estava atingindo o qui-osque ao lado, comprometendo as duas estruturas.

Figura 79: Defeito na construção. Foto: autora.

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COLÔMBIA

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50 Colômbia

O processo de conquista do território da atual Colôm-bia pelos espanhóis foi muito similar ao dos portugueses no Brasil. As duas potências compartilhavam o mesmo objetivo, a busca por riquezas naturais que pudessem ser exploradas e transportadas para a Europa. Utiliza-vam também técnicas muito semelhantes, baseadas em subjugar ou dizimar as populações locais, obter conhe-cimentos sobre os caminhos e se aproveitar do trabalho escravo para o árduo trabalho de extração dos recursos naturais. Nesse processo, a maioria das sociedades que estavam estabelecidas nos territórios invadidos foi ex-tinta e com elas, seus conhecimentos milenares.

Na Colômbia, a resistência indígena conseguiu manter vivos alguns resquícios de algumas dessas culturas. A cul-tura indígena pode ser notada por toda a Colômbia. Nas ruas, nas histórias, nos museus, nas feições. Os museus em particular valorizam bem a trajetória indígena e seus saberes, por vezes mostrando como eles desenvolveram soluções muito mais inteligentes que as atuais, como por exemplo, em relação ao manejo da água.

Dentre as diversas regiões ocupadas pelos espanhóis, uma é especialmente relevante para este contexto. Na região hoje conhecida como Eje Cafetero viviam os ín-dios Quimbayas, que chegaram a conviver com os es-panhóis por 15 anos. Após esse tempo, os índígenas se revoltaram contra o controle europeu e nessa resistência foram praticamente dizimados (CHAVEZ, 1992).

Ao longo dos anos de convivência, trocas de conhe-cimentos aconteceram, como como por exemplo a ma-neira de trabalhar o ouro e como construir com os re-cursos locais. Essa região possui abundantes florestas de bambu Guadua, que era, portanto, o principal elemento construtivo dos Quimbayas. Utilizavam para construir

paredes, telhados, móveis, utensílios domésticos e até pontes.

Essa habilidade foi ensinada aos espanhóis, que pas-saram a construir suas casas usando a guadua e o bar-ro, em uma técnica conhecida como bahareque (LOPEZ, 2003). Muitas construções da época do ínicio o ciclo do café, ainda no século XIX, erguidas com esta técnica, ainda existem até hoje.

Essa cultura se mantém viva até os tempos atuais, sen-do comum encontrar casas feitas em bambu em toda a região, que hoje se chama Eje Cafetero.

Um novo momento para essa cultura construtiva teve início em 1999, quando um terremoto fortíssimo afetou esta zona do café, mais especificamente no departamen-to (estado) de Quindío, com o epicentro em sua capital, Armenia. Nesse dia, milhares de casas e edifícios tom-baram ou ficaram gravemente danificado, enquanto as casas de bambu, que eram consideradas mais fracas, re-

Figura 80: Réplica de uma casa dos índios Quimbaya em exposição indígena, Colômbia, 2014. Foto: autora

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51Colômbia

A partir desse momento, arquitetos que já estavam tra-balhado com bambu, como Oscar Hidalgo Lopez, Simon Velez e Marcello Villegas, passaram a ter mais influência. Oscar Hidalgo escreveu o livro “Bamboo: the gift of the Gods”, na década de 80, com explicações aprofundadas de como manejar o bambuzal até téncicas construtivas com a Guadua. Até hoje, é considerado como sendo a bíblia para os ‘bambuzeiros’.

Simon Velez é um arquiteto que projetou construções surpreendentes com esse material, foi inovador nas téc-nicas e na estética da obra desde a década de 90, sendo bastante conhecido internacionalmente. Em geral tra-balha em parceria com o construtor Marcello Villegas, responsável pela execução das obras.

Esse trio foi um impulsionador para que um grande número de profissionais optasse por trabalhar com con-strução e pesquisa em guadua.

Hoje em dia já encontra-se consolidada uma cadeia produtiva bem articulada e completa. Há os que plan-tam, os que cortam, os que vendem, que constroem. Há profissões e legislações que permitem e legalizam o tra-balho com Guadua, como a Norma Construtiva e órgão regulador de manejo de bambuzais.

Para conhecer e entender essa cultura construtiva, passei 3 meses viajando de bicicleta pela por 5 regiões da Colômbia.

Figura 81: Residência na beira de estrada com o bahareque exposto. Colômbia, 2014. Foto: autora

sistiram sem maiores danos.

Tal fato atraiu a atenção de diversos especialistas, então estudiosos alemães e chineses foram para Colôm-bia pesquisar cientificamente a Guadua. Ao longo dos anos, os resultados se mostraram altamente favoráveis à utilização desta espécie de bambu para a construção, devido à sua impressionante resistência, aliada à uma flexibilidade que desempenhava um papel muito impor-tante no desempenho das estruturas durante abalos sís-micos.

Figura 82: Antiga fazenda de café com paredes de bahareque de 130 anos em Colômbia, 2014. Foto: autora

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52 Colômbia

Legenda:

Boyacá e Cundinamarca

Antioquia

Valle del Cauca

Caribe

Eixo do café

LOCALIZAÇÃO

Colômbia - América do Sul

Figura 83: Localização da Colômbia. Fonte: google.maps

Figura 84: Trajeto realizado e as regiões visitadas.

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53Colômbia

Por que viajar de bicicleta?

O desejo era viver a cultura construtiva do bambu, eu queria ver de perto a quantidade de construções em bambu, queria falar com os moradores e construtores. Para isso, seria necessário ir devagar, para ter tempo de olhar, para ter mais oportunidade de cumprimentar al-guém, para observar as transições de paisagem, para ver hábitos das pessoas, para ouvir melhor o sotaque, queria demorar para chegar a outro lugar para poder digerir o vivido e ter tempo para pensar. A viagem precisava ser feita devagar.

Há tempos eu estava com o desejo de fazer uma via-gem de bicicleta por querer viver essa experiência. Já tinha viajado diversas vezes de carro e de ônibus, mas nunca tinha percorrido longos caminho em cima de uma bike.

Foi quando os desejos se cruzaram. A bicicleta iria me ajudar a viver a cultura construtiva do bambu na Colôm-bia.

O tempo da bike é o tempo do corpo e por isso eu sabia que viajaria no tempo desejado. Para somar a isso, o exercício mantém o corpo saudável, funcionando, vivo. Esse bem estar físico obviamente se reflete no bem es-tar mental. O raciocínio flui melhor, os órgãos funcionam sem problemas, a sensibilidade aumenta, a intuição fica aguçada, eu me sentia forte e presente. E assim foi, pude viver bem os lugares por onde estive.

A viagem

Eu e meu companheiro (Leo - Leonardo Soares) saí-mos do Rio e fomos de avião para Bogotá, onde visita-mos a primeira obra em bambu da viagem, uma casa que estava acabando de ser construída por um escritório especializado em guadua. Tinha sido muito bem feita, todos os detalhes estavam bem executados e o desafio estrutural era o que a deixava mais bonita. Achei interes-sante ver uma casa com desenho contemporâneo e bem inserida nos tempos estéticos atuais. O projeto e obra eram dos arquitetos Carolina Zuluaga e Andrés Zuleta do escritório Zuarq. Fomos também à ponte peatonal Jenny Garzon, projetada por Simon Velez. Nos encontra-mos ainda com o construtor de nacionalidade alemã mas que vive na Colômbia há 20 anos, Joerg Stamm, que nos contou sua trajetória profissional. Bogotá e arredores (em Cundinamarca) foram um grande presente de início dessa viagem.

Figura 85: Chegada em Bogotá. Foto: Leonardo Soares

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Figura 86: Residência feita pelo Zuarq em Guasca, Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 87: Residência feita pelo Zuarq em Guasca, Colômbia, 2014. Foto: autora Figura 88: Residência feita pelo Zuarq em Guasca, Colômbia, 2014. Foto: autora

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55Colômbia

Figura 89: Ponte Jenny Garzon. Projeto de Simon Velez em Bogotá, Colômbia, 2014. Foto: autora

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56 Colômbia

Figura 90: Ponte Jenny Garzon. Projeto de Simon Velez em Bogotá, Colômbia, 2014. Foto: autora

Figura 91: Encontro com Joerg Stamm em Bogotá, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora. Na foto: Autora, Leonardo e Joerg.

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57Colômbia

De Bogotá pegamos um ônibus para Cali, no Valle del Cauca, ponto de partida da viagem de bike. Já na estrada, pela janela do ônibus, eu tive certeza que queria viajar em bicicleta, pois era uma agonia ver tanta construção em bambu pela estrada e não poder parar. Porém, como tínhamos data para chegar em Cali, optamos por economizar 1 semana e irmos direto para o início do per-curso. Vimos auto construções em bambu nas favelas e obras feitas por arquitetos em alguns lugares da cidade. Pudemos perceber a diversidade de usos que a guadua podia proporcionar – restaurante em parque ecológi-co estadual, restaurante urbano, quiosque em clube, residência. Lá conhecemos os arquitetos Camilo e Karen, do escritório Guadua y Madera, além de Greta Trasserra e Andres Bapler na Fundacion Escuela de la Vida.

Figura 92: Sala de aula em Escuela de la Vida em Cali, Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 93: Sala de aula em Escuela de la Vida em Cali, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 94: Quiosque em Parque Estadual feito por Guadua y Madera em Cali, Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 95: Restaurante em Cali, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 96: Espaço para eventos feito por Guadua y Madera em Cali, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 97: Estrutura feita por Guadua y Madera em Cali, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

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59Colômbia

Em Cali iniciamos a viagem de bicicleta pelo Vale del Cauca. Seguimos pedalando para Buga. No caminho conhecemos a fábrica Guadua Viga (de Andres Bapler) em fase final de montagem para iniciar os testes para produção de vigas maciças de bambu. Será utilizado um método que flexibiliza as fibras, para então prensá-las na forma e posição desejadas, com a adição de uma resina adesiva. Estivemos também numa estação de tratamen-to da guadua, a primeira de várias. O aspecto relevante da empresa CO2 Bambu é o desenvolvimento de uma técnica para acelerar a secagem a sombra por meio de um compressor de ar.

Antioquia

CaldasRisaralda

QuindioValle del Cauca

Legenda:

Figura 98: Departamentos visitados em bicicleta.

Figura 99: Trajeto realizado em bicicleta.

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Figura 102: Compressor de ar na secagem à sombra do bambu em CO2 Bambu. Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 100: Fábrica Guadua Viga em Cali, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora. Na foto: Leonardo, Andres e autora.

Figura 101: Protótipos de vigas de bambu em Fábrica Guadua Viga em Candelária, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

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61Colômbia

Em Buga, conhecemos plantações e manejo da gua-dua com o engenheiro florestal Francisco Castaños, que trabalha há mais de 40 anos nesse tema. Uma pessoa muito acolhedora e entusiasmada com o bambu, que desenvolveu bastante conhecimento científico sobre a planta. Estivemos também com o arquiteto Jaime Peña, que nos contou sobre seu trabalho em ajudar nas auto-construções em bambu em Moçambique, nos apresen-tou seu ateliê/oficina, onde desenvolve novas formas de trabalhar com a guadua, nos levou para conhecer uma casa na árvore que estava construindo, um desafio ar-quitetônico, sonho de toda criança e para finalizar, nos levou a uma Ecovila, onde ele construiu baseado em geo-metrias sagradas.1

1 São formas inspiradas nos padrões da natureza que traduzem em harmonia e equilíbrio energético do ambiente.

Figura 103: Francisco Castaños em Buga. Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 104: Viveiro de mudas em Buga. Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 105: Na foto: Autora, Francisco e Leonardo. Colômbia, 2014. Foto: autora.

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62 ColômbiaFigura 106: Casa del Arbol projetada por Jaime Peña em Buga.

Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 107: Casa del Arbol projetada por Jaime Peña em Buga. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 108: Casa del Arbol projetada por Jaime Peña em Buga. Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 109: Casa del Arbol projetada por Jaime Peña em Buga. Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 110: Casa em geometria sagrada projetada por Jaime Peña na Ecovila em Palmira. Colômbia, 2014. Foto: autora.

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65ColômbiaFigura 111: Casa em geometria sagrada projetada por Jaime Peña na Ecovila em Palmira. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 112: Na foto: Leonardo, eu, Jaime Peña e Francisco Castaños na Ecovila em Palmira. Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

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Figura 113: Teste de estrutura no ateliê de Jaime Peña em Buga, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Seguimos adiante para Armenia, deixando o Vale del Cauca e suas construções contemporâneas com vários arquitetos jovens e entramos no Eje Cafetero.

O Eje Cafetero é composto por 3 departamentos: Quindio, Caldas e Risaralda.

Começamos por Quindio. Passamos por um pedágio feito em gaudua pela dupla Simon Velez e Marcello Vil-legas. No caminho passamos por uma escola de arquite-tura, a Gran Colombia, constituída por uma edificação praticamente toda em guadua e outra com uma mescla

de concreto armado, madeira e bambu, ambas projetos dos mesmos arquitetos.

Em La Tebaida, estivemos na Fundacion Amanecer com sua bela oca feita em guadua e palha, uma cozinha industrial feita em guadua e uma grande estrutura de telhado feita em bambu para um espaço de eventos e ateliês.

Em Armênia conhecemos o Parque de la Vida, onde há um espaço para eventos com um palco de bambu em meio a um lago.

Figura 114: Pedágio em La Tebaida, Colômbia, 2014. Foto: autora.

CaldasRisaralda

Quindio

Figura 115: Departamentos do Eje Cafetero

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68 Colômbia Figura 116: Escola de arquitetura Gran Colombia em Armenia, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 117: Escola de arquitetura Gran Colom-bia em Armenia, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 118: Parque de la Vida em Armenia, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 119: Fundacion Amanecer em La Tebaida, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Passamos por Montenegro onde conhecemos a fa-zenda Paraiso del Bambu da Ximena Londoño, uma taxinomista experiente em bambus, que possui a maior coleção de espécies da planta na Colômbia, ao todo 56 espécies. Pela estrada, podemos observar o grande bei-ral do telhado da torre do Parque del Cafe.

Depois seguimos rumo à Quimbaya para a Pequeña Granja de Mama Lulu, uma fazenda permacultural, onde todas as construções são em guadua feitas por Hernan-do, membro da família, e lidam inteligentemente com as questões de água e energia.

No caminho, passamos por dois hotéis na beira da es-trada, um era uma antiga fazenda de café que agora pos-sui esse novo uso, e o outro era um hotel de luxo. Em ambos, pudemos entrar e analisar a arquitetura.

Em Circasia, estivemos com o artista Julián, da em-presa Caulinarte, que nos ensinou a técnica desenvolv-ida por ele para trabalhar com as folhas caulinares do bambu, criando quadros, porta retrato, brincos, tampos de mesa, etc.

Figura 120: Paraiso del Bambu em Montenegro, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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72 Colômbia Figura 121: Parque del Cafe em Montenegro, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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73ColômbiaFigura 122: Pequeña Granja Mama Lulu em Quimbaya, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 123: Pequeña Granja Mama Lulu em Quimbaya, Colômbia, 2014. Foto: autora.Figura 124: Na foto: Autora, Hernando e Leonardo em Mama Lulu. Foto: acervo autora.

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Figura 125: Loja Caulinarte em Circasia, Colômbia, 2014. Foto: autora.Figura 126: Na foto: Leonardo, Julián e autora. Foto: acervo autora.

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Figura 127: Hotel Las Camelias em Montenegro, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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Figura 128: Hotel antiga fazenda de café em Montenegro, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Seguimos então para Pereira, no departamento de Risaralda. Paramos em Salento, a cidade dos viajantes, cheia de artesanatos e uma natureza incrível. No camin-ho vimos vários pontos de ônibus feitos em guadua e mais um pedágio em bambu e aço. Em Pereira estivemos com os professores/pesquisadores Juan Carlos Camaro e Jorge Augusto Montoya da Universidade Tecnológica de Pereira (UTP), onde pudemos ver como o estudo cientí-fico do tema tem avançado no país. Estivemos com um professor do Sena, um curso técnico, similar ao SENAI, que tem cursos profissionalizantes em construção com bambu.

Estivemos na ponte construída em um curso ministra-do por Joerg Stamm, o alemão que havíamos conhecido em Bogotá. As pontes são estruturas surpreendentes, pois alcançam grande vão livre, impressionam pelo de-safio estrutural.

Conversamos com Rubem Dario, profissional da Card-er (órgão ambiental estadual), que nos mostrou como se dá o processo de legalização do manejo de guaduais.

Visitamos duas fazendas que tratam o bambu, a Ecoguadua e a Finca Yarima. A relevância da primeira é a grande produção de esterilla, usada em forro de teto, em pisos e paredes. A segunda é coordenada por Lucia Me-jia, que possui um planejamento de manejo bem avan-çado dos guaduais. Com ela aprendemos muito sobre a gestão de uma plantação comercial de guadua e acom-panhamos o corte de quase 200 varas.

Fomos ao clube Comfamiliar, onde todas as edifica-ções são em guadua, os restaurantes, as lojas, a recep-ção, os espaços para eventos, ponte, as casas para alugar. O clube abriga uma exposição permanente sobre as cul-turas indígenas colombianas. Neste lugar pude conhecer

a réplica de uma casa dos índios Quimbaya.

Em Pereira, Juan Castellanos, da Ecoaldea Pachamama e empresa Bambu Kindus, nos confirmou que podería-mos conhecer o espaço em Calarcá, perto de Armenia. Como não podíamos recusar, nem tínhamos tempo para voltar o caminho de bike, resolvemos pegar um ônibus e para lá fomos. Conhecemos uma experiência interes-sante de empresa e ecovila, uma inspiração para o fu-turo. Lá se corta, trata, vende e constrói, ou seja, quase todas as etapas. Aproveitamos para conhecer o Jardim Botânico de Calarcá, onde estão três construções do ar-quiteto Simon Velez.

Dias antes tínhamos recebido um convite para irmos fazer Canopy, que é uma espécie de arvorismo com ti-rolesa. Para isso, fomos até Montenegro. O Canopy Los Caracolis é de um casal que por anos trabalhou como bombeiros. Ele aprendeu a construir estações muito altas para as missões de resgate, então, ele próprio de-senvolveu e construiu as estações do canopy todas em guadua, as escadas chegavam até 30 metros. A vista da tirolesa era de floresta nativa de guadua, um evento lin-do. Conheci também a casa da família, que era uma an-tiga fazenda de café feita com a técnica bahareque (gua-dua e barro), construída há 130 anos (figura 82). Ele nos contou sobre o episódio do terremoto em Armênia, na época, ele era chefe dos bombeiros e comandou a ajuda. Além de tudo isso, esse era o dia do meu aniversário e do dele, então tivemos um grande almoço em família e mais comemoração à noite. Esse dia, sem dúvida foi abençoado.

Risaralda

Figura 129: Departamento de Risaralda

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Figura 130: Ponto de ônibus em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 131: Professor Juan Carlos Camaro em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 132: Painés sobre guadua na Universidade Tecnológica de Pereira, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 133: Ponte na UTP, Pereira, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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Figura 134: Carder em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 135: Carder em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 136: Esterillas em Ecoguadua em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 137: Mapeamento da Finca Yarima em Pereira, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 138: Na foto: Leonardo, Lucía Mejia e autora em Finca Yarima, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

Figura 139: Na foto: Autora, Juan Castellanos e Leonardo em Pachamama, Calarcá, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

Figura 140: Oca em Pachamama, Calarcá, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 141: Cobertura da oca em Pachamama, Calarcá, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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83ColômbiaFigura 142: Construção de Simon Velez em Jardim Botâncio, Calarcá, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 143: Plataformas de guadua em Canopy, Montenegro Colômbia, 2014. Foto: acervo autora. Figura 144: Almoço de aniversário em Canopy, Montenegro Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

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Em seguida conhecemos Manizales, em Caldas, o ter-ceiro departamento do Eje Cafetero, onde está localizada uma das obras de bambu mais famosas e simbólicas da Colômbia, o Pavilhão Zeri, no Recinto del Pensamiento. O projeto é desafiador e belo, um lugar espetacular. Obra de Simon Velez e Marcello Villegas.

De volta a bicicleta, passamos por Chinchiná, onde conhecemos a fábrica de laminados e móveis de Mar-cello Villegas e conversamos um pouco com ele sobre a carreira e sobre desenhos estruturais. Essa foi a última cidade do Eje Cafetero, saímos com o coração repleto de satisfação e gratidão. O povo dessa região é muito hos-pitaleiro e amoroso, me lembrou Minas Gerais, a nossa região do café e do povo acolhedor.

Caldas

Metade da viagem foi vivida nessa zona cafeteira, por ser o lugar que originou a cultura do bambu. Ao pedalar por tantos caminhos, foi possível sentir essa cultura, pois em todas as beiras de estrada haviam construções em guadua.

A arquitetura popular auto construída encantava pela simplicidade e qualidade, principalmente as com cores vivas. Haviam também construções de grande porte, como restaurantes, lojas e até curral coberto em uma fa-zenda de leite. Apesar do tamanho, era possível ver que tinham sido feias pelos próprios donos ou construtores locais, sem formação técnica. Não eram rebuscadas e nem tinham os melhores encaixes de peças, mas eram inteligentes e resistentes.

Essas pessoas vivem o que a permacultura incentiva, a construção com materiais locais. Eles conhecem a gua-dua e sabem usá-la, desde a retirada da mata até o uso na construção.

Figura 145: Departamento de Caldas.

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Figura 146: Pavilhão Zeri em Recinto del Pensamiento, Manizales, Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 147: Pavilhão Zeri em Recinto del Pensamiento, Manizales, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 148: Pavilhão Zeri em Recinto del Pensamiento, Manizales, Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 149: Pavilhão Zeri em Recinto del Pensamiento, Manizales, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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Figura 150: Empresa Laminado Velez e Villegas, Chinchiná, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 151: Empresa Laminado Velez e Villegas, Chinchiná, Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 152: Empresa Laminado Velez e Villegas, Chinchiná, Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 153: Empresa Laminado Velez e Villegas, Chinchiná, Colômbia, 2014. Foto: acervo autora.

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Figura 154: Construções na beira da estrada, Eje Cafetero. Colômbia, 2014. Fotos: acervo autora.

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Figura 155: Construções na beira da estrada, Eje Cafetero. Colômbia, 2014. Fotos: acervo autora.

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Figura 156: Construções na beira da estrada, Eje Cafetero. Colômbia, 2014. Fotos: acervo autora.

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Saindo do Eje Cafetero, entramos no departamento de Antioquia, rumo à Medellin. Passamos pedalando por La florida, La pintada, Bolombolo, Santa Fé de Antioquia, Jardin até chegar em Medellin.

Em Jardin, estivemos com o engenheiro Oscar Mon-toya, que nos levou para conhecer suas construções e nos mostrou as técnicas construtivas que estava desen-volvendo. Um exemplo é a base dos pilares sem colocar concreto dentro do bambu, como muitos colombianos costumam fazer, e sim fazendo uma amarração externa. Em Santa Fé de Antioquia vimos mais uma ponte, esta construída por Oscar e Joerg Stamm.

Nas estradas se via a mudanças de paisagem e, prin-cipalmente, de comportamento. Essa região foi dura-mente marcada pela guerra entre guerrilha, exército e para-militares, que ainda era muito intensa na região há menos de dez anos. Era perceptível no semblante das pessoas a presença dessa energia. Vimos poucas pessoas e casas na beira das estradas.

Em Medellin já haviam poucas construções com bam-bu. Nos haviam dito que havia uma ponte de bambu, porém essa foi mal construída e a retiraram. Estivemos somente em uma obra, feita também por Oscar, um res-taurante e loja em uma estrada. Porém, havia muito o que ver de interessante na cidade. Para mudar a imagem da cidade marcada por anos de poder do narcotráfico, muitas políticas públicas sociais estão sendo desenvolvi-das, como as bibliotecas parque 1 nas favelas, planos de

1 As bibliotecas fazem parte de um projeto de renovação da cidade de Medel-lin a partir da cultura e educação. São bibliotecas com arquitetura contem-porânea com o interior voltado para o conforto dos usuários. Além do acervo de livros, possuem um grande acervo áudio visual, caracterizando num novo modelo de biblioteca, atualizada aos tempos de hoje. Estão localizadas nas favelas de Medellin e inspiraram a criação das bibliotecas parque do RJ.

mobilidade e projetos urbanos e arquitetônicos que in-tegram a cidade.

Portanto, em Antioquia vimos uma transição de uma zona com muita construção em bambu para uma zona com pouquíssimos exemplos.

De lá, queríamos conhecer a costa caribenha. Como a distância era muito grande para o tempo de que dispún-hamos, seguimos em ônibus, para voltar a pedalar na costa. Lá conhecemos uma autoconstrução em bambu com referências na Permacultura, a casa Biyuca, além de uma obra na beira da praia. Pouco havia de bambu nes-sa região, então, aproveitamos um pouco as praias, con-hecemos Cartagena e voltamos de ônibus para Bogotá.

Antioquia Caribe visitado

Figura 157: Departamento de Antioquia.

Figura 158: Região visitada do Caribe.

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Figura 158: Região visitada do Caribe.

Figura 159: Construção de Oscar Montoya em Jardin. Colômbia, 2014. Foto: autora.

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Figura 160: Cobertura de balança de caminhão. Projeto de Oscar Montoya em Jardin. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 161: Residência. Projeto de Oscar Montoya em Jardin. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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Figura 162: Ponte em Santa Fé de Antioquia. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

Figura 163: Restaurante Supercerdo. Projeto de Oscar Montoya em Jardin. Colôm-bia, 2014. Foto: autora.

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Figura 164: Construção na beira da praia em Mendhiuaca. Colômbia, 2014. Foto: autora.

Figura 165: Construção costeira em Mendhiuaca. Colômbia, 2014. Foto: autora. Figura 166: Cabana de hotel na praia em Palomino. Colômbia, 2014. Foto: Leonardo Soares.

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De volta a Bogotá, fomos a Villa de Leyva, no distrito de Boyacá, encontrar a bioarquiteta Lucia Garzon que nos mostrou algumas construções suas em terra e nos apresentou a arquiteta Clara Ospina que realiza obras com técnicas interessantes em guadua. Sua casa é inspi-rada numa concha no formato de um caracol e o teto é uma abóbada.

Estivemos na Ecoaldea Feliz situada no município de San Francisco (Cundinamarca), onde, para além das residências em guadua, o mais relevante foi conhecer a estrutura “social” em que vivem, inspirada no conceito da sociocracia. O cuidado com outro, com o alimento e com a terra se evidenciava na harmonia do lugar. Uma grande inspiração.

E, para finalizar a viagem em grande estilo, nos en-contramos com os arquitetos do Zuarq, aqueles do iní-cio da viagem. Foi um encontro rápido, mas suficiente para conversamos sobre o escritório deles e os projetos. Eles conseguiram um bom espaço no “mercado” e têm construído muitas casas e condomínios em guadua.

Figura 167: Construção em Ecoaldea Feliz em Cundinamarca. Colômbia, 2014. Foto: autora.

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98 ColômbiaFigura 168: Residência projetada por Zuarq em Colômbia. Fonte: flickr.com/photos/zuarq acessado em 21 de fevereiro de 2015.

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E assim, me despedi da Colômbia, uma terra linda, com grande riqueza natural, montanhas magnificas, comida farta e pessoas adoráveis.

Voltei com um mundo de conhecimento e cumpri o objetivo, viajar devagar vendo a cultura construtiva do bambu.

Percebi que a cultura construtiva existia, não só porque havia construção feita em guadua, mas porque as pessoas achavam comum esse tipo de construção, é algo familiar, está na história e todos têm algum conto sobre “la casa hecha en guadua”.

Nessa vivência, pude confirmar que as construções em bambu estão presentes em grande parte do território colombiano. As cinco regiões são diferentes em suas arquiteturas, principalmente entre as construções do Eje Cafetero, em geral mais tradicionais; e as das outras regiões, mais contemporâneas.

Assim, passei 3 meses, pedalando e entendendo essa cultura construtiva colombiana.

Boyacá e Cundinamarca Arq. Contemporânea

AntioquiaArq. Contemporânea

Valle del CaucaArq. Contemporânea

CaribeArq. Costeira

Eixo do caféArq. Tradicional

e Contemporânea

Figura 169: Olhar pessoal sobre a dinâmica construtiva do bambu no trajeto percorrido.

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100 Conclusão

com bambu, pois é dele que ocorrem as soluções mais interessantes para as obras, destaco aqui as construções carregadas de inteligência do arquiteto Jaime Peña, do escritório Zuarq, do engenheiro Oscar Montoya e da du-pla Simon Velez e Marcello Villegas.

As proteções físicas são de extremo valor, pois irão proteger os bambus dos efeitos do sol e da chuva. Quan-do esses cuidados não são tomados na obra, em alguns anos os bambus se mostram ressecados e esbranquiça-dos pelo sol. A umidade acentuada torna o bambu propí-cio a proliferação de fungos, que diminui a resistência mecânica do bambu. As práticas de proteção física ga-rantem a durabilidade da construção.

As proteções químicas utilizadas devem ser esclareci-das no momento de compra de varas de bambu para que o profissional não use uma peça que irá atrair fungos e insetos ou que será uma fonte de liberação de toxinas para os usuários. Os produtos químicos utilizados devem ser descartados adequadamente ou reciclados para evi-tar a contaminação de rios e solos.

O comportamento do bambu no âmbito ecológico, mostra-se como um adequado recurso a ser apropriado pela arquitetura, pois é uma fonte renovável, que não necessita de transformações industriais, com baixo gasto energético em toda sua cadeia produtiva e alto captador de CO2 (ajuda a reduzir o efeito estufa). É possível plantar em áreas degradadas e com a produção abastecer um mercado de varas de bambu. No entanto, para que esta

Ao longo do processo deste trabalho tive a compreen-são do que é lidar com um material natural. A heteroge-neidade torna o bambu um recurso complexo, repleto de variáveis, por isso o pensamento integrado é essencial para a realização desta atividade. Tal lógica não se aplica somente a escolha de um material adequado ecologi-camente no contexto de desequilíbrio ambiental, como também ao comportamento da planta como um mate-rial construtivo.

O entendimento da anatomia, propriedades mecâni-cas, proteções físicas e químicas, deve estar entranhado na elaboração e execução do projeto.

Para uma obra ser bem executada e durável é preciso trabalhar corretamente as uniões segundo a anatomia do bambu. É de grande importância saber que as fibras do bambu estão no sentido longitudinal, que os nós são pontos de grande resistência geométrica, que cada parte do bambu é indicada para uma função na construção. Esse conhecimento fará com que os bambus não cedam nas uniões, o que, consequentemente, leva ao deterio-ramento da obra.

O desenho estrutural confiável deve ser baseado nas propriedades mecânicas e anatomia da planta para que a quantidade e composição das peças sejam bem ela boradas. O cálculo estrutural e o conhecimento de geo-metria e física são de grande importância para o posi-cionamento das varas e o seu comportamento estru-tural. Esse raciocínio é um grande aliado no trabalho

Conclusão

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101Conclusão

atividade obtenha sucesso há de ser realizado o manejo adequado, respeitando sempre os limites naturais.

Na vivência da cultura construtiva colombiana pude verificar todos esses aspectos, tantos com exemplos positivos quanto negativos. A viagem me proporcionou um grande repertório de obras, análises construtivas e manejo de bambuzais. É diferente viver de perto as con-struções e as plantações do que observá-las pelas pági-nas de um livro ou por fotos na internet.

A cadeia produtiva na Colômbia está amadurecida. Há profissionais trabalhando nos diversos setores, desde o corte de bambu até a construção. Este desenvolvimento se reflete na diversidade de tipos de obra: residência, es-colas, hotéis, lojas, restaurantes, pontes, pedágios, pon-tos de ônibus, construções rurais e urbanas.

Os cursos profissionalizantes em construção com bam-bu ajudam na formação de mão de obra. E, a norma que regulamenta a construção, é um fator de confiança para os construtores e usuários.

Foi possível perceber que há uma nova geração de construtores, que realizam projetos inseridos numa es-tética contemporânea, e não mais, tradicional, como era há algumas décadas atrás. Nas cinco regiões visitadas ha-via construções em bambu realizadas nessa lógica.

Esta constatação é estimulante, pois mostra que ar-quitetos e engenheiros colombianos já se apropriaram do bambu como uma opção de material construtivo.

Penso que caminho semelhante poderão seguir ar-quitetos e engenheiros brasileiros.

Portanto, o estudo da planta somado à experiência co-lombiana me provou que é possível e viável a apropria-ção do bambu como um material construtivo na arquite-tura (brasileira) atual.

CONTEXTO HISTÓRICO

ATUAL

RECURSO RENOVÁVEL

CONHECIMENTO DA PLANTA

(ANATOMIA)

PROPRIEDADES MECÂNICAS

PROTEÇÃO QUÍMICA

PROTEÇÃO FÍSICA

SENSIBILIDADE DA CONSTRUÇÃO

REFERÊNCIAS PROJETUAIS (COLÔMBIA)

PENSAMENTO INTEGRADO NA ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE UMA ARQUITETURA EM

BAMBU

Figura 170: Mandala do pensamento integrado. Elaboração própria.

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102 ConclusãoFigura 171: Registros da viagem. Colômbia, 2014. Fotos: acervo autora.

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