a urina é constituída por uréia e outras substâncias...
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A urina é constituída por uréia e outras
substâncias químicas orgânicas e inorgânicas
dissolvidas em água. Podem ocorrer grandes
variações na concentração dessas substâncias,
devido à influências de fatores como ingestão
alimentar, atividade física, metabolismo orgânico,
função endócrina e até mesmo posição do corpo.
A uréia, resíduo metabólico produzido no fígado a
partir da utilização de proteínas e aminoácidos,
representa quase metade dos corpos sólidos
dissolvidos na urina. Entre outras substâncias
orgânicas estão a creatinina e o ácido úrico. O
principal componente inorgânico dissolvido na
urina é o cloreto, seguido pelo sódio e potássio.
Também estão presentes outros compostos
químicos inorgânicos, em quantidade ínfimas. A
concentração desses compostos inorgânicos sofre
grande influência da ingestão alimentar, o que
dificulta o estabelecimento de níveis normais.
Outras substâncias encontradas são: hormônios,
vitaminas e medicamentos. A urina também pode
conter elementos que não fazem parte do filtrado
plasmático inicial, como células, cristais, muco e
bactérias, que em níveis elevados, podem ser
indício de doença.
A água é o principal constituinte do organismo e,
portanto, a quantidade excretada, em geral, é
determinada pelo estado de hidratação do corpo.
Os fatores que influenciam o volume da urina são:
ingestão de líquidos, perda de líquidos por fontes
não renais, variações na secreção do hormônio
antidiurético e necessidade de excretar grandes
quantidades de solutos, como glicose ou sais.
Levando-se esses fatores em consideração, pode-
se observar que, embora cerca de 180 L de filtrado
glomerular são formados a cada dia, menos de 1%
dessa quantidade, cerca de 1,8 L por dia, é
eliminado na urina.
Esse pequeno volume contém a maior parte dos
produtos finais do metabolismo, como: uréia, ácido
úrico, creatinina, fosfatos, sulfatos e excesso de
ácidos. A anúria (interrupção completa do fluxo
urinário), oligúria (grande redução do fluxo
urinário), poliúria (grande aumento do fluxo
urinário) e disúria (micção dolorosa) podem ser
achados observados, respectivamente, nas
síndromes nefróticas crônicas, glomeruloefrites
agudas, diabetes mellitus (e insípido) e durante a
eliminação de cálculos renais.
Não é necessário que o paciente esteja em jejum
para coletar amostra de urina. No entanto, quanto
o mesmo fazer uso de medicamento, orienta-lo
sobre a possibilidade de fazer o uso após a coleta
da urina.
Coloração normal da urina: As denominações
amarelo-claro, amarelo, amarelo-escuro e âmbar
são as mais utilizadas pelos laboratórios para
classificar a coloração normal das amostras de
urina. A cor amarela E caracterizada pela
presença de pigmentos de urocromo, que E
produto do metabolismo endógeno e que E
produzido em velocidade constante em condições
normais.
As infecções do trato urinário (ITU) constituem um
dos quadros mais frequentes entre as infecções
humanas e compreendem várias síndromes,
caracterizadas pela presença de micro-organismos
no trato urinário e por serem frequentemente
acompanhadas de resposta inflamatória aguda e
sintomática.
A urocultura é uma técnica quantitativa e,
tradicionalmente, o diagnóstico é baseado no
número de unidades formadoras de colônias/mL
de urina (UFC/mL). É o exame mais solicitado em
laboratório de microbiologia clínica. O maior
desafio para se obter resultados de urocultura
fidedignos está na fase pré-analítica.
Estima-se que aproximadamente 10% da
população feminina tenha pelo menos um episódio
de ITU ao longo da vida e a cultura de urina é
considerada o método laboratorial de referência
para o diagnóstico.
A qualidade dos resultados da urocultura é
influenciada pela orientação correta sobre os
procedimentos de coleta e transporte fornecidos
ao paciente ou profissional que irá realizar a
coleta. A coleta deve ser feita de modo a evitar ao
máximo a contaminação com a microbiota uretral e
perineal. Mesmo quando a coleta é considerada
adequada, os índices de contaminação podem
variar de 7 a 31%.
Segundo jato de urina, urina jato médio ou meio
de jato da primeira urina da manhã:
Este é o método de coleta de urina mais usual,
especialmente em pacientes ambulatoriais, e é
passível de contaminação com a microbiota
genital. A correta instrução ao paciente para a
coleta tem relação direta com a diminuição nos
índices de contaminação.
O ideal é que o paciente realize a coleta no próprio
laboratório, e não em casa, visando a eliminar o
viés gerado pelo aumento da contagem de
colônias durante o transporte. Vale lembrar que
uma enterobactéria duplica-se, em média, a cada
20 minutos e o transporte em temperatura
inadequada pode alterar significativamente a
contagem bacteriana, levando a culturas falso--
positivas.
Sexo feminino: antes de iniciar a coleta, a pacientedeve lavar as mãos. Em pacientes ambulatoriais, oideal é que a paciente realize sua higiene genital comágua e sabonete comum e a seguir seque a regiãogenital com toalha limpa em sua residência antes dese dirigir ao laboratório.
Fazer a higiene genital com gaze embebidapreferencialmente com água e sabonete neutro e commovimentos de frente para trás. Retirar o excesso comgaze seca. Idealmente, a higienização deve ser feita 3vezes consecutivas. Alternativamente, utilizar soluçãoaquosa de clorexidina ou lenços para higiene,comercialmente disponíveis.
Afastar os grandes lábios. Desprezar o primeiro
jato e coletar a porção média da urina sem
interrupção do fluxo em frasco estéril de boca
larga. Desprezar a porção final da urina no vaso
sanitário.
Sexo masculino: lavar as mãos e fazer a higiene
da região genital. Embeber gaze,
preferencialmente com água e sabonete neutro.
Retirar o excesso com gaze seca. Em homens não
circuncidados, afastar o prepúcio, desprezar o
primeiro jato e coletar a porção média da urina
sem interrupção do fluxo em frasco estéril de boca
larga.
Desprezar a porção final da urina no vaso
sanitário. Deve-se ter especial atenção para não
tocar no interior do frasco e não o encostar na
pele.
De modo ideal, a urina de jato médio deve ser
preferencialmente a da primeira urina da manhã.
Existem variações em relação às recomendações
dos documentos normativos sobre o tempo de
retenção da urina para a realização de uroculturas.
A retenção por pelo menos 4 horas diminui o
número de resultados falso-negativos.
Também é importante não estimular a ingestão de
líquidos, uma vez que pode haver diluição da urina
e diminuição proporcional da quantidade de
bactérias na amostra.
Urina coletada com cateter:
Indicada em situações em que o paciente está
incapacitado para coletar a urina em razão, por
exemplo, de complicações neurológicas ou
urológicas. Mesmo sob rígidos procedimentos de
assepsia, existe o risco de introdução de bactérias
na bexiga e, em alguns casos, a indução da
infecção; portanto, é um método que deve ser
executado exclusivamente sob indicação médica.
As amostras devem ser transportadas em até 2
horas em temperatura ambiente (20 a 25°C) ou
sob refrigeração (2 a 8°C) em até 24 horas. Alguns
laboratórios optam por exigir o transporte
exclusivamente sob refrigeração, em função das
elevadas temperaturas observadas na maioria das
regiões do Brasil. Esse tempo corresponde ao
período transcorrido entre a coleta e a entrega
para processamento no laboratório.
A urina não deve ser congelada.
Quando a refrigeração não for possível,
recomenda-se o uso de conservantes
bacteriostáticos. Existem disponíveis no mercado
sistemas com conservantes, especialmente o
ácido bórico, que mantêm o pH em torno de 6,0 e
preservam a contagem de colônias próxima à
contagem real, por 24 a 48 horas, diminuindo as
chances de culturas falso-positivas.
Quanto maior o volume, melhor a qualidade doexame bacteriológico. Um volume mínimo de 0,1mL é suficiente para a realização da urocultura;entretanto, é importante lembrar que, na maioriaabsoluta das vezes, o médico solicita também oexame de urina tipo I, sumário ou EAS na mesmaamostra. Nesse caso, o volume ideal é de 12 mL eo mínimo é de 5 mL para a maioria doslaboratórios clínicos. No caso de urinas coletadascom conservantes, recomendam-se volumesacima de 3 mL. A Tabela 1 resume as condiçõesde encaminhamento das amostras parauroculturas.
Cada laboratório deve estabelecer os critérios a seremseguidos para a rejeição das amostras. Paraurocultura, são inadequadas:
•Urina coletada em recipientes não estéreis.
•Urina sem refrigeração com período superior a 2horas após a coleta.
•Urina com volume inferior ao mínimo aceitável.
•Urina de 24 horas.
•Urina coletada da bolsa de pacientes com sondagemvesical de demora.
•Urina em recipiente com vazamento, quebrado e/ousem identificação.
•Pontas de sonda vesical.
Há várias opções de meios para urocultura.Classicamente, os meios recomendados são oágar sangue e um meio seletivo para bacilosGram-negativos. Embora possa ser usado o ágarMacConkey (MAC) ou eosina azul de metileno(EMB), visando a otimizar custos, o ágar cystinelactose electrolyte deficient (CLED) é o meioclassicamente usado na maioria dos laboratóriosbrasileiros, pois permite o crescimento debactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Omeio seletivo ágar colistina ácido nalidíxico (CNA)é recomendado para detecção de bactérias Gram-positivas.
Ágar sangue
Ágar sangue
O meio de Ágar sangue,
usando uma base rica com
o abaixo descrita, oferece
ótimas condições de
crescimento a maioria dos
microrganismos. A
conservação dos
eritrócitos íntegros favorecem
A formação de halos de
hemólise nítidos, úteis
para a diferenciação de
Streptococcus spp. e
Staphylococcus spp.
Ágar MacConkey (MAC)
Ágar MacConkey (MAC)
O cristal violeta inibe o crescimento de
microrganismos Gram positivos especialmente
enterococos e estafilococos.
ƒA concentração de sais de bile é relativamente
baixa em comparação com outros meios, por isso
não é tão seletivo para Gram negativos como, por
exemplo, o ágar SS.
Ágar cystine lactose electrolyte deficient (CLED)
Ágar cystine lactose electrolyte deficient (CLED)
Usado para isolamento e quantificação de
microrganismos presentes em amostras urina. A
deficiência de eletrólitos inibe o véu de cepas de
Proteus.
Utilidade: Isolar e quantificar microrganismos
Gram positivos, Gram negativos e leveduras.
Nome comercial: Ágar Cled.
Os meios com substratos cromogênicos têm sido
amplamente utilizados para urocultura. Têm como
vantagem a identificação presuntiva dos principais
gêneros e espécies associados à ITU, além de
caracterizar mais facilmente culturas
polimicrobianas, reduzindo o número de
identificações desnecessárias. Entre eles, podem
ser citados: CHROMagar® Orientation (BD
Diagnostics) e CPS® ID3 (bioMérieux).
CHROMagar
É um meio de isolamento e identificação para
Candida albicans, C. tropicalis e C. krusei de
amostras clínicas. Possui uma ação inibidora para
as bactérias e também pode ser utilizado como
meio de isolamento seletivo para outras espécies
de leveduras e para fungos filamentosos.
Orientation (BD Diagnostics)
Orientation (BD Diagnostics)
É um meio não seletivo, o diferencial para
identificar isolados bacterianos de amostras
clínicas primárias. Estudos clínicos demonstraram
que o meio CHROMagar Orientation é um meio
ideal para o uso em diferenciação e enumeração
de agentes patogénicos infecção do trato urinário.
CPS® ID3 (bioMérieux)
CPS® ID3 (bioMérieux)
O meio de cultura chromID CPS é constituído por
uma base nutritiva rica que associa diferentes
peptonas e 2 substratos cromogênicos que
permitem revelar a atividade enzimática
correspondente.
Microrganismos mais frequentes nas uroculturas:
Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiellapneumoniae, Proteus spp., Enterococcus faecalis,Enterobacter faecalis, Staphylococcus aureus,Staphylococcus spp. coagulase-negativo,Staphylococcus saprophyticus, Proteus mirabilis,Streptococcus agalactiae, Citrobacter freundii,Klebsiella spp., Staphylococcus epidermidis,Enterobacter aerogenes, Morganella morganii,Klebsiella ornithinolytica, Serratia marcescens,Alcaligenes spp., Acinetobacter spp., Gardnerellavaginalis, Candida albicans, Streptococcus ß-hemolíticos grupo B, grupo D, Neisseria gonorrhoeae,Mycobacterium tuberculosis, Salmonella spp.