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A UNIVERSIDADE E A FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA DA MORADIA ESTUDANTIL COMO INCLUSÃO SOCIAL Cristiane de Moraes Gomes 1 Dawerson da Paixão Ramos 2 Emilye Stephane de Souza 3 Vanessa França Baisi Ramos 4 RESUMO: No Brasil, existe ampla rede de instituições de ensino superior e, segundo o Ministério da Educação – MEC, o número de estudantes cresce diariamente, tornando cidades como pólos universitários. Porém, não se pôde observar um crescimento semelhante na assistência estudantil, caracterizando a moradia como principal dificuldade. Este artigo tenta compreender o sistema universitário e as reais necessidades dos estudantes, pesquisando suas origens, para conhecer o ambiente em que os mesmos estão inseridos, além de suas moradias, para identificação dos problemas e soluções adotados. PALAVRAS-CHAVE: Universidade. Moradia estudantil. Inclusão social. 1 INTRODUÇÃO Sendo a universidade uma instituição de ensino superior, pesquisa e extensão, compreendendo um conjunto de faculdades, escolas profissionais 1 GOMES, Cristiane de Moraes: arquiteta e urbanista, autônoma desde 2007, pela Universidade Santa Cecília – UNISANTA, Santos, SP; [email protected] 2 RAMOS, Dawerson da Paixão. Professor orientador, arquiteto e urbanista, pela Universidade Braz Cubas - UBC, pós-graduado e mestre em engenharia urbana, pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, professor no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Santa Cecília – UNISANTA, de 1997 à 2009 e professor coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Luterano de Ji- Paraná – CEULJI/ULBRA, desde 2010; [email protected] 3 SOUZA, Emilye Stephane de. Acadêmica do 4º Período do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná CEULJI/ULBRA; [email protected] 4 RAMOS, Vanessa França Baisi. Arquiteta e urbanista, autônoma desde 2001, pela Universidade Católica de Santos - UNISANTOS, pós-graduada em MBA - Gestão Ambiental Portuária e Costeira, 2005 - UNISANTOS e, farmacêutica e bioquímica desde 2012 pela UNISANTOS; [email protected]

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  • A UNIVERSIDADE E A FUNDAMENTAL IMPORTNCIA DA MORADIA ESTUDANTIL COMO INCLUSO SOCIAL

    Cristiane de Moraes Gomes1 Dawerson da Paixo Ramos2

    Emilye Stephane de Souza3 Vanessa Frana Baisi Ramos4

    RESUMO: No Brasil, existe ampla rede de instituies de ensino superior e, segundo o Ministrio da Educao MEC, o nmero de estudantes cresce diariamente, tornando cidades como plos universitrios. Porm, no se pde observar um crescimento semelhante na assistncia estudantil, caracterizando a moradia como principal dificuldade. Este artigo tenta compreender o sistema universitrio e as reais necessidades dos estudantes, pesquisando suas origens, para conhecer o ambiente em que os mesmos esto inseridos, alm de suas moradias, para identificao dos problemas e solues adotados.

    PALAVRAS-CHAVE: Universidade. Moradia estudantil. Incluso social.

    1 INTRODUO

    Sendo a universidade uma instituio de ensino superior, pesquisa e extenso, compreendendo um conjunto de faculdades, escolas profissionais

    1 GOMES, Cristiane de Moraes: arquiteta e urbanista, autnoma desde 2007, pela

    Universidade Santa Ceclia UNISANTA, Santos, SP; [email protected] 2 RAMOS, Dawerson da Paixo. Professor orientador, arquiteto e urbanista, pela

    Universidade Braz Cubas - UBC, ps-graduado e mestre em engenharia urbana, pela Universidade Federal de So Carlos UFSCar, professor no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Santa Ceclia UNISANTA, de 1997 2009 e professor coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitrio Luterano de Ji-Paran CEULJI/ULBRA, desde 2010; [email protected] 3 SOUZA, Emilye Stephane de. Acadmica do 4 Perodo do Curso de Arquitetura e

    Urbanismo do Centro Universitrio Luterano de Ji-Paran CEULJI/ULBRA; [email protected] 4 RAMOS, Vanessa Frana Baisi. Arquiteta e urbanista, autnoma desde 2001, pela

    Universidade Catlica de Santos - UNISANTOS, ps-graduada em MBA - Gesto Ambiental Porturia e Costeira, 2005 - UNISANTOS e, farmacutica e bioqumica desde 2012 pela UNISANTOS; [email protected]

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    e centros de cincias humanas, sociais e cientfico-tecnolgicas, com autoridade para conferir ttulos de graduao e ps-graduao, a sua finalidade alm de formar profissionais para as diversas carreiras de base terica, cientfica e intelectual, cultivar e transmitir o saber humano ao longo dos tempos.

    Desta forma, seu papel se manifesta de diferentes maneiras, devido s necessidades de uma sociedade, tentando solucionar seus problemas, para a o seu desenvolvimento. Para Ansio Teixeira5, So as universidades que fazem, hoje, com efeito, a vida marchar. Nada as substitui. Nada as dispensa. Nenhuma instituio to assombrosamente til (TEIXEIRA, 1.988).

    Neste momento, percebe-se que a moradia estudantil um componente social de fundamental importncia na assistncia universitria, pois so habitaes que geralmente substituem a vida familiar e possuem como objetivo, alm de abrigo, finalidades sociais, humanas e de desenvolvimento do meio educacional. Oferecendo aos seus moradores uma infra-estrutura adequada, a fim de viabilizar a permanncia dos mesmos nas instituies.

    2 HISTRIA DA UNIVERSIDADE

    Existem apenas vestgios do nascimento das universidades, aos quais mostram que seu surgimento se deu na Europa, entre o final do sculo XI e incio do sculo XII.

    A universidade de Bolonha, na Itlia, surgiu em 1.088 e aparece na histria como uma das instituies mais antigas, porm fora entre 1.150 e 1.170 que a universidade de Sorbonne (FIGURA N.01), em Paris, se destacou como modelo mundial atravs de seu ensino teolgico.

    5 Ansio Teixeira nasceu na Bahia em 1.900, foi advogado, intelectual, educador e escritor

    brasileiro.

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    Figura 1 - Universidade de Sorbonne Fonte: www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/sorbonne.html

    As universidades expandiram-se ao longo dos sculos XII e XIII pela Inglaterra - Oxford e Cambridge; Itlia - Siena, Pdua e Npoles; Espanha - Salamanca, Valladolid; e Portugal com a universidade de Coimbra.

    Criadas para suprir as necessidades educacionais, durante esse perodo existiram as chamadas studia generalia, instituies de ensino freqentadas por estudantes vindos de todas as regies, sendo escolas catedrais6 e monsticas7. Porm, devido aos estudos universais, o nome dessas instituies logo foi substitudo por universitas, que significa corporao, agrupamento ou universalidade, agregando pessoas com um mesmo interesse econmico, poltico ou cultural, normalmente compostas por mestres e alunos.

    Com a grande multiplicao de corporaes, principalmente nas cidades, e crescente nmero de alunos, surgiram as primeiras moradias estudantis. Estudantes, pertencentes elite, moravam na cidade junto com

    6 Escolas catedrais foram institudas no sculo XI por determinao do Conclio de Roma.

    Eram consideradas escolas urbanas que funcionavam junto sede dos bispados. 7 Escolas monsticas surgiram junto aos mosteiros da Europa, visando inicialmente a

    formao de futuros monges. Mais tarde passaram a ser escolas externas com o propsito da formao de leigos da elite.

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    seus responsveis, e os estudantes de classe mdia a baixa, alojavam-se em penses ou nas prprias instituies de ensino.

    As universidades tinham caractersticas inteiramente eclesisticas; eram criadas pelo papa, e todos os mestres pertenciam igreja. Os alunos eram chamados de clrigos, mesmo quando no se destinavam ao sacerdcio.

    As disciplinas se dividiam entre o trivium - a cincia da palavra ou as artes liberais, com a gramtica, retrica e lgica; e o quadrivium8 - a cincia dos nmeros, com aritmtica, geometria, astronomia e msica, formando mestres em filosofia, teologia, direito, medicina ou artes, tendo como lngua comum para todos na universidade, o latim.

    As universidades medievais, ao decorrer dos tempos, foram adequando-se s novas condies da sociedade e j sculo XV, estas instituies na Europa, receberam o impacto das transformaes comerciais do capitalismo e do humanismo literrio.

    partir do sculo XVI, a reforma e a contra-reforma religiosa afetaram-nas de maneiras diferenciadas, rompendo com domnio tradicional da igreja sobre o ensino. Portanto, a primeira universidade aberta s descobertas das cincias e ao humanismo foi a de Halle (FIGURA N.02), fundada por luteranos em 1.694, em Wittenberg, Alemanha.

    Figura 2 - Universidade de Halle Fonte: PATRUNI, 2.005.

    8 Trivium e quadrivium foram programas de estudos, baseados nas sete artes liberais

    clssicas do sculo IX, inseridos dentro de uma reforma da educao na Europa por Carlos Magno.

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    Ou seja, a religio foi gradualmente substituda medida que as universidades europias se tornaram instituies modernas de ensino e pesquisa. A universidade de Berlim, foi um tpico exemplo dessas tendncias, fundada em 1.809, pelo filsofo, Humboldt, na qual a experimentao de laboratrio substituiu as doutrinas teolgicas, e pela primeira vez surgiram padres modernos de liberdade acadmica. O modelo alemo de universidade como um complexo de escolas de graduao que executavam experimentao e pesquisa, tornou-se influncia mundial.

    Com a revoluo industrial no sculo XVIII, e a consolidao do modo de produo capitalista, surgiu a necessidade de especializao profissional e buscou-se a integrao do ensino com a pesquisa e, a partir do sculo XIX, a maioria das universidades adotara o princpio da liberdade de ctedra, que concedia aos professores e alunos o direito de buscarem a verdade sem restries ideolgicas, polticas ou religiosas. As democracias liberais favoreceram essa prerrogativa, enquanto os governos autoritrios ou os que sofriam influncias de confisses religiosas a restringiram.

    Aps a segunda guerra mundial, a universidade de Londres adotou dois conceitos revolucionrios: o de universidade aberta e o de cursos de extenso universitria, resultando em um novo progresso para as instituies de ensino e estudantes.

    2.1 A UNIVERSIDADE NA AMRICA.

    No novo continente, a primeira universidade surgiu na atual Repblica Dominicana - Amrica Central, em 1.538 pelos espanhis. Logo em seguida, vieram as de San Marcos, no Peru em 1.551, no Mxico em 1.553, Bogot em 1.662, Cuzco em 1.692, Havana em 1.728 e entre outras. J as primeiras universidades norte-americanas, Havard, Yale e Filadlfia, surgiram respectivamente em 1.636, 1.701 e 1.755.

    Na Argentina, destacam-se as universidades de Crdoba em 1.611, Buenos Aires (FIGURA N.03) em 1.821, La Plata em 1.884 e do Cuyo em 1.939.

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    Figura 3 - Universidade de Buenos Aires Fonte: www.uba.ar/

    A maioria destas universidades incluram no currculo o estudo de tcnicas agrcolas e comerciais, at ento estudadas apenas em universidades da Europa. O modelo adotado formava uma mo-de-obra qualificada e propiciava a descoberta de novas possibilidades tecnolgicas.

    2.2 A UNIVERSIDADE NO BRASIL.

    O Brasil, ao contrrio dos pases de colonizao espanhola, no seu perodo colonial, no existiram universidades, apenas escolas superiores. Segundo Teixeira, a universidade brasileira at o incio do sculo XIX, foi a universidade de Coimbra (TEIXEIRA, 1.988, p.65). A educao no Brasil sempre teve bases religiosas, sem dvida influenciadas pela experincia portuguesa.

    Todos os cursos criados por D. Joo VI, entre 1.808 a 1.817, na Bahia e no Rio de Janeiro, foram para oferecer uma infra-estrutura que garantisse a sobrevivncia da corte na colnia. Os cursos destinavam-se ao ensino de economia, agricultura, qumica e desenho tcnico. Mais tarde, esses cursos deram origem s escolas e faculdades profissionalizantes que constituram o conjunto das instituies de ensino superior at a Repblica.

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    Vrios cursos foram instalados aps a proclamao da Repblica, em outras regies do pas como Pernambuco, Minas Gerais e So Paulo.

    Como registro oficial, tem-se como registro o surgimento da primeira universidade brasileira somente em 1.920, a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, que recebeu o nome de Universidade do Rio de Janeiro (FIGURA N.04), criada pelo governo federal atravs da fuso de trs escolas profissionais existentes, a Escola Politcnica, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito, s quais, continuaram isoladas sem nenhuma integrao. Em 1.927, foi criada pelo governo federal, a Universidade de Minas Gerais, seguindo os mesmo princpios da UFRJ.

    Figura 4 - Universidade Federal do Rio de Janeiro Fonte: www.ufrj.br/

    Surge a Universidade de So Paulo USP em 1.934, criada por um grupo de intelectuais integrantes do jornal O Estado de So Paulo, sendo seu objetivo central, o desenvolvimento de pesquisas, criada tambm, como as anteriores, atravs da incorporao de institutos profissionalizantes existentes.

    Em 1.937, a Universidade do Rio de Janeiro, passou a se chamar Universidade do Brasil, por um projeto criado por Gustavo Capanema9,

    9 Gustavo Capanema Filho, nascido em Minas Gerais em 1.900, formou-se em direito e foi

    um importante poltico brasileiro.

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    ministro da Educao de 1.934 a 1.945, transformando-a em um modelo padro qual, todas as outras instituies do pas deveriam se adequar, projeto este, que no durou por muito tempo.

    Entre a dcada de 1.940 a 1.950, surgiram as universidades particulares - de ordem religiosa, alm das universidades federais de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Paran, Par e Paraba.

    Adentrando aos primeiros passos de modernizao das universidades, pelo servio militar, em 1.947, cria-se o Instituto Tecnolgico de Aeronutica ITA, onde os alunos e professores dedicavam-se exclusivamente ao ensino e pesquisa, inclusive residindo no campus universitrio.

    Ao longo dos anos 50 e 60, por conflitos ideolgicos e polticos, surge a reforma universitria, gerando muitos movimentos estudantis promovidos pela Unio Nacional dos Estudantes - UNE, aonde era reivindicada a democratizao da educao, abertura da universidade atravs da extenso universitria e servios comunitrios e a criao de um sistema eficiente de assistncia ao estudante.

    Sendo data significativa na vida universitria do Brasil, em 1.961 surge a Universidade de Braslia UNB (FIGURA N.05), que apresentou uma proposta de modelo acadmico revolucionria, sob a orientao de Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro10. Com o golpe de 1.964, a UNB foi fortemente atingida e a interveno governamental descaracterizou totalmente o seu projeto original.

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    Nascido em 1.922, em Montes Claros Minas Gerais, Darcy Ribeiro foi etnlogo, antroplogo, professor, educador e escritor romancista. Na dcada de 1.960 lutou pela criao da UNB, sendo o primeiro reitor da universidade.

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    Figura 5 - Universidade de Braslia Fonte: www.unb.br/

    Em 1.968 o sistema universitrio transforma-se pela reforma universitria, na modernizao dos cursos, das carreiras e da valorizao dos professores, no aumento de vagas e na estruturao e apoio estudantil.

    Na dcada de 1.980, a expanso do ensino superior contida por causa dos recursos pblicos. Desde a dcada de 90 as universidades se expandiram com o predomnio de instituies privadas. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP, em 1.998, havia 153 universidades no Brasil, sendo 77 pblicas e 76 privadas; porm no ltimo censo de 2.005 esse nmero passou para 2.165 universidades, sendo 231 pblicas e 1.934 privadas.

    Com grande nmero de universidades nos ltimos anos e a abertura de novos cursos, houve um aumento significativo no fluxo de estudantes de vrias regies do pas, e conseqentemente gerou a necessidade de infra-estrutura aos universitrios, principalmente a assistncia habitacional.

    3 MORADIAS ESTUDANTIS

    Componente social de fundamental importncia na assistncia universitria, So habitaes com objetivo, alm de abrigo, finalidades sociais, humanas e de desenvolvimento do meio educacional.

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    Segundo a Secretaria Nacional da Casa de Estudante11 - SENCE, existem trs tipos bsicos de moradia: alojamento estudantil; casa de estudantes e repblica estudantil.

    Denomina-se alojamento estudantil a moradia de propriedade da instituio de ensino superior, e /ou secundaristas pblicas que com estas mantenham vnculo gerencial administrativo;

    Casa de estudante a moradia estudantil administrada de forma autnoma, segundo estatutos de associao civil com personalidade jurdica prpria, sem vnculos com a administrao de instituio de ensino superior ou secundarista;

    Repblica estudantil o imvel locado coletivamente para fins de moradia estudantil (SENCE, 2.006).

    3.1 HISTRICO

    Na Idade Mdia, os estudantes reuniam-se em casas, conhecidas por "naes" e cada uma, abrigava estudantes oriundos de lugares diferentes.

    Na Universidade de Coimbra, Portugal, as origens das moradias estudantis surgiram no sculo XIV, quando D. Dinis12, por diploma rgio de 1.309, promoveu a construo de casas que deveriam ser habitadas por estudantes, mediante pagamento de um aluguel (SITE DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, 2.007).

    No Brasil, as casas de estudantes mais antigas do pas esto na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais (FIGURA N.06), onde as primeiras instituies de ensino surgiram entre 1.839 a 1.876, originando em 1.969, a Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. A ocupao das casas de

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    A Secretaria Nacional da Casa de Estudante uma entidade que representa as casas estudantis do Brasil, ela articula a promoo de movimentos locais, que tenham como reivindicao a priorizao da assistncia estudantil, buscando a regulamentao da manuteno e ampliao principalmente de moradias estudantis, como direito fundamental de todo cidado brasileiro. 12

    D. Dinis foi o sexto rei de Portugal, aclamado em Lisboa em 1.279. A sua prioridade de governo foi essencialmente a organizao do reino.

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    estudantes ocorreu pela necessidade de fixao dos alunos e professores na cidade.

    Figura 6 - Moradia Estudantil de Ouro Preto, MG. Fonte: http://www.ouropreto.com.br

    As moradias estudantis foram construdas por fundaes ou instituies religiosas, entre a dcada de 1.920 a 1.930, pois, as moradias eram consideradas uma necessidade moral para os estudantes, por substiturem as relaes familiares.

    Em 1.929 fundou-se a Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, ofertando suporte aos estudantes da Universidade do Rio de Janeiro, gerando em 1.937, a Unio Nacional dos Estudantes UNE13. No entanto somente a partir do governo de Getlio Vargas institucionalizada a assistncia estudantil. Com isso, entre 1.940 a 1.950, vem a determinao da criao das cidades universitrias, para a fixao de docentes e discentes nas recm universidades federais brasileiras.

    Segundo a SENCE, durante a dcada de 60, foram destrudas quase todas as casas de estudantes que pertenciam ao movimento da Juventude

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    A UNE a principal entidade estudantil brasileira que representa os estudantes do ensino superior. Possui sede no Rio de Janeiro e sub-sedes em So Paulo e Gois. Dentro de suas funes est a democratizao do acesso ao ensino superior, qualidade de ensino e financiamento pblico para as universidades.

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    Universidade Catlica JUC 14, por causa do envolvimento poltico com os problemas que a sociedade brasileira enfrentava (SENCE, 1.987/1.988).

    Devido ao desenvolvimento do pas e a reforma universitria, h um aumento crescente de alunos durante a dcada de 70 e, desta forma, o governo percebeu a necessidade da construo de novas habitaes estudantis, porm, a proposta de construo s seria realizada se as casas de estudantes no discordassem das ideologias do Ministrio da Educao.

    Existem hoje diversas casas de estudantes espalhadas pelo Brasil, montadas por instituies governamentais ou privadas. A seleo desses estudantes diferente para cada moradia. Os critrios variam de acordo com os mantenedores, variando tambm as regras de convivncia.

    A estrutura de uma casa de estudante permite que seus moradores criem novos valores atravs da formao acadmica, desenvolvendo processos alternativos de aprendizado que vo alm das salas e laboratrios das universidades.

    3.2 ENCONTRO NACIONAL DE CASAS DE ESTUDANTES

    Evento estudantil organizado anualmente pela SENCE desde 1.975, o Encontro Nacional de Casas de Estudantes ENCE, rene estudantes de vrios estados do pas, para lutar por melhorias na habitao universitria, por assistncia estudantil e justia social.

    O ENCE representa um importante espao de interao cultural e acadmica, proporcionando troca de experincias entre os universitrios residentes em moradias estudantis em todo o pas.

    Dentro dos objetivos gerais do ENCE se destacam:

    Discutir e exigir polticas voltadas para a assistncia estudantil no sentido de garantir moradia, educao, atendimento mdico, odontolgico, psico-pedaggico, cultura e lazer;

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    O Movimento da Juventude Catlica eram instituies religiosas que possuam suas sedes e moradias estudantis nos centros urbanos, aonde era constante a presena de um sacerdote que se preocupava com a salvao espiritual dos moradores.

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    Organizar aes que garantam estas reivindicaes; Agir, transformando a realidade (ENCE, 2.006).

    Dos objetivos especficos:

    Discutir a realidade das moradias estudantis no Brasil e meios que possibilitem a participao dos residentes nos movimentos de casas de estudantes;

    Elaborar um plano estratgico de ao para o movimento de moradias fortalecendo assim, sua organizao;

    Discutir formas imediatas de ampliao de assistncia; Discutir formas de construo, ampliao e manuteno

    de novas moradias; Estimular o debate contra as opresses e preconceitos; Discutir formas de criao das secretarias ou

    associaes regionais de moradias estudantis; Trocar experincias sobre problemas internos de cada

    moradia; Fortalecer a Secretaria Nacional de Casas de

    Estudantes (ENCE, 2.006).

    A casa de estudantes um equipamento social fundamental na aplicao da assistncia estudantil, viabilizando a permanncia dos universitrios de baixa renda nas instituies de ensino superior, sendo seus encontros, extrema importncia para o fortalecimento da luta dos estudantes.

    4 CONCLUSO

    O Brasil um pas aonde a maioria das universidades ainda no assumiu seu verdadeiro papel na sociedade. Como j foi visto anteriormente, a assistncia estudantil quase inexistente.

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    Atualmente h milhares de estudantes que deixam seus lares para ingressar em uma universidade, e geralmente se deparam com uma grande dificuldade de adaptao. Neste momento a universidade precisa estar pronta a oferecer um apoio estudantil e integrar os novos estudantes ao ambiente acadmico.

    A moradia estudantil tem o propsito de promover justamente a integrao entre estudantes, possibilitando o intercmbio entre diversas culturas e desenvolver o aprendizado da vivncia em comunidade. Segundo Helena Maria Bousquet Bomeny, a moradia estudantil facilita o desempenho acadmico de seus moradores no mundo universitrio (BOMENY, 1.994).

    As universidades precisam investir nesse tipo de empreendimento, pois alm de ser um investimento muito rentvel, uma forma de oferecer apoio e qualidade aos estudantes, melhorando o nvel acadmico do aluno. Esse tipo de investimento infelizmente ainda no muito desenvolvido, devido a uma ausncia de estmulo por parte das instituies e dos rgos competentes.

    Precisa-se criar portanto uma proposta de moradia estudantil, com objetivo de servir como modelo para as instituies de ensino superior, valorizando os estudantes existentes.

    Este projeto deve abranger os estudantes das universidades, provenientes de outras cidades atravs de um processo seletivo. Ser uma nova forma de moradia com servios direcionados ao estudante. O projeto ter grande importncia, trazendo qualidade aos estudantes existentes e impulsionando novos alunos a ingressar na universidade.

    A residncia universitria tem como objetivo principal, alm de oferecer abrigo ao estudante, propiciar condies adequadas de conforto, convvio social e desenvolvimento das atividades acadmicas.

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