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Brasília, novembro de 2004 1 A UNESCO NO BRASIL: consolidando compromissos

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Brasília, novembro de 2004

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A UNESCO NO BRASIL:consolidando compromissos

©UNESCO 2004. Edição publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil

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A UNESCO NO BRASIL:consolidando compromissos

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a CulturaRepresentação no BrasilSAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar.70070-914 - Brasília - DF - BrasilTel.: (55 61) 2106-3500Fax: (55 61) 322-4261E-mail: [email protected]

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A UNESCO no Brasil: consolidando compromissos. – Brasília: UNESCO, 2004.

1. Organização Internacional—UNESCO—Brasil 2. Cooperação Internacional—UNESCO—Brasil 3.Inovações Educacionais—Políticas Educacionais—Brasil 4. Cultura—Brasil 5. Ciências—Brasil 6. MeioAmbiente—Brasil 7. Desenvolvimento Sustentável—Brasil 8. Alívio da Pobreza—Exclusão Social—Brasil 9.Políticas Públicas—Desenvolvimento Social—Brasil 10. Desenvolvimento Tecnológico—Sociedade daInformação—Brasil 11. Comunicação—Transformações Sociais—Brasil 12. Política Editorial—Documentação—UNESCO—Brasil I. UNESCO

CDD 372

BR/2004/PI/H/6

S u m á r i o

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

Parte I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8

I. Desafios Brasileiros - uma agenda humanista de mudanças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

II. A Missão Compartilhada da UNESCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

III. Estratégias de Parceria e de Apoio a Inovações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

Parte II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

IV. Educação: uma visão renovada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51

V. A Presença da UNESCO na Agenda Cultural do País . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65

VI. Ciências, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

VII. O Compromisso com as Estratégias para o Combate à Pobreza e à Exclusão e a Promoção da Cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77

VIII. Produzindo Novos Conhecimentos para as Políticas Públicas . . . . . . . . . . . . . . . . .88

IX. O Ethos Político das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação . . . . . . . . . .94

X. A Comunicação como Instrumento de Mudança e Transformação . . . . . . . . . . . . . . . .98

XI. Política Editorial e de Documentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101

Parte III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .106

XII. Ações Descentralizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109XIII. Especialistas da UNESCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .121XIV. Lista de Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .132XV. Anexo I Cátedras UNESCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135

Anexo II Grupo de Parlamentares Amigos da UNESCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .136Grupo de Empreendedores Amigos da UNESCO . . . . . . . . . . . . . . . . . .137

Anexo III Embaixadores e Artistas pela Paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .138

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A p r e s e n t a ç ã o

Esta é a quarta vez que a Representação da UNESCO no Brasil vem à presença da comu-nidade brasileira expor suas idéias, propostas e os resultados das ações e programas de cooperaçãoque, via de regra, são desenvolvidos em parceria com o poder público e com amplos setores dasociedade civil.

Quando se compara o primeiro documento institucional editado em 1998 com o atual,pode-se constatar expressiva ampliação das atividades, decorrentes em boa parte, da própriaextensão do país, de sua diversidade, como também da excelente receptividade do pensamentoe da agenda de ações prioritárias da UNESCO nas áreas de educação, ciência, cultura, comu-nicação e desenvolvimento social.

Até há alguns anos, os compromissos e convenções internacionais acordados pelos paísesmembros nas áreas acima referidas, e que a UNESCO representa em nome das Nações Unidas,ficavam, via de regra, restritos a umas poucas pessoas e instituições, o que prejudicava a dis-cussão pública e impedia o seu aproveitamento pelas políticas públicas. A partir do momentoem que a UNESCO começou a dinamizar suas ações no Brasil, colocando em circulação o seupensamento e suas idéias, a demanda por cooperação cresceu enormemente.

Para atender a crescente demanda, adotou-se uma política de cooperação com base, tantonos compromissos da Organização e na respectiva agenda de ações, quanto em temas rele-vantes propostos pelos parceiros, com vistas sempre ao delineamento de linhas de trabalhoconjunto e de projetos de inegável alcance para uma determinada região ou para o país.

É oportuno ressaltar, nesta oportunidade, que a agenda de prioridade e de ações daUNESCO é aprovada por sua Conferência Geral, onde têm voz e voto, 190 nações. De modogeral, as prioridades e metas vinculam-se ao escopo maior de combate à pobreza e à reduçãodas desigualdades sociais.

O presente documento foi concebido em duas partes. Na primeira, teve-se a preocupaçãode apresentar inicialmente uma visão geral dos problemas do país, de sua rica diversidade e dosdesafios que devem compor uma agenda humanista de mudanças; em seguida, procura-se descreverum pouco da história da Organização, sua missão ética e seus princípios e valores que balizam,orientam e dão sentido às suas ações; depois, descrevem-se as estratégias de parcerias e aliançase de apoio às inovações.

A segunda parte do documento é dedicada às ações, projetos e programas em desenvolvi-mento no Brasil nas áreas de seu mandato, com destaque para os projetos de maior abrangênciasocial. Completam o documento mais dois capítulos, um que descreve o papel da imprensa eda comunicação para o fortalecimento dos ideais da Organização, e outro que apresenta a suapolítica editorial e de documentação.

Estou seguro de que as ações em curso situam-se no objetivo maior deste país, que é o deconstruir uma nação pautada por justiça e eqüidade e ancorada em valores e princípios quefavorecem o desenvolvimento das pessoas e das instituições rumo a uma cultura de paz e dedignidade social.

Jorge WertheinRepresentante da UNESCO no Brasil

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Desafios Brasileiros - uma Agenda Humanista de Mudanças

A Missão Compartilhada

da UNESCO

Estratégias de Parceria e de Apoio a Inovações

I.

II.

III.

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PARTE I

Óleo sobre madeira do artista plástico Francisco Galeno para o Prêmio UNESCO 2003.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 9

I. DESAFIOS BRASILEIROS - UMA AGENDA HUMANISTA DE MUDANÇAS

Desde meados dos anos oitenta, vem ocupando um lugar privilegiado nos debates públicoso argumento de que o Brasil precisa de mais e melhor educação, para se tornar competitivo,ampliar sua inserção nos mercados globais e assegurar a sustentabilidade da dinâmica de cresci-mento econômico. Investimentos ampliados em educação elevariam a qualidade dos trabalhadorese dos postos de trabalho que eles passariam a ocupar, contribuindo desse modo também parareduzir as inaceitáveis desigualdades de renda que imperam no país.

É, sem dúvida, um argumento em boa parte correto; como aqueles contos que têm um fundode verdade. Há, de fato, abundantes evidências de que as economias cuja força de trabalho édotada de mais anos de escolaridade e onde há escolas de boa qualidade, mostram melhorescondições para gerar e disseminar inovações tecnológicas em produtos e processos; por conse-qüência, competem com mais vigor no mercado global. E também parece certo que trabalhadoresmelhor educados mostram-se mais capazes de operar com efetividade os equipamentos pro-dutivos e se ajustam mais fácil e agilmente aos sistemas de gerenciamento e organização daprodução das plantas mais modernas. E por isso auferem melhores remunerações.

Falta dizer, com a mesma sonoridade, porém, que uma força de trabalho com educação maisapurada, por si só, não gera dinamismo econômico, senão quando em adequada combinaçãocom equipamentos tecnologicamente atualizados, decorrentes de investimentos bem dire-cionados em oportunidades promissoras de produção. Essa combinação para dar certo deve serregida sob padrões eficazes de gestão da produção e dos negócios, incluindo processosinovadores exigentes de investimentos regulares em P&D ou de mecanismos apropriados dedisseminação de inovações complementares ao longo das cadeias produtivas. Em suma,contribui para o dinamismo econômico e para a melhoria dos padrões de qualidade do sistemaprodutivo quando se realiza em um ambiente sistêmico que compreende boas condiçõestecnológicas, organizacionais e institucionais. Vale dizer, quando há também empresas,empresários, executivos, instituições públicas e sociais também de boa qualidade, que searticulam adequadamente para promover o processo de desenvolvimento.

Da mesma maneira, benefícios do crescimento econômico não se repartem de modo eficientesenão quando as instituições político-econômicas reguladoras das relações de negócios e dasrelações de trabalho se mostram realmente capazes de processar com efetividade os conflitosdistributivos. E os mercados funcionam melhor quando há regras claras e válidas igualmentepara todos os participantes; quando os consumidores têm protegidos os seus direitos, são bematendidos e suas preferências são de fato levadas em conta no desenho das estratégias empresariais

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 11

P o r u m a A g e n d a H u m a n i s t a

e não só nas manifestações retóricas dos executivos. Em suma, quando há boa governança.Por fim, economias são bem sucedidas quando a sociedade civil se organiza melhor, e se

mostra capaz de reduzir as tensões e conflitos entre seus membros, se demonstra culturalmentecriativa e estimulante. Quando, enfim, os cidadãos se mostram permanentemente capacitadosa aperfeiçoar seus padrões de convivência, a participar proativamente dos movimentos políti-cos, de exercitar a coesão social e a solidariedade e tolerância com suas próprias diversidades.Ou seja, quando se apura a governabilidade.

Um dos setores criticamente importantes para gerar tais cenários e condições, não resta amenor dúvida, é a educação. Mas seria exagero esperar que ela dê conta de suas missões apenaspor meio dos sistemas escolares convencionais, das agências de educação técnica e profissional,das universidades e institutos de educação pós-secundária. É também preciso incluir os cada vezmais diversificados movimentos de formação e desenvolvimento de jovens e adultos, as redesde intercâmbio científico e tecnológico, as academias, comunidades e conservatórios dedicadosàs artes, as redes de agregação interpessoal e as comunidades virtuais.

Esse complexo institucional mais amplo corresponde ao que, desde a Conferência deJomtien, vem-se desenvolvendo como uma perspectiva ampliada do que seja a educação paratodos, os processos de desenvolvimento humano que se espraiam por toda a vida. E isso exigeconstruir uma agenda de caráter holístico e genuinamente humanista, que vai muito alémdaquelas visões utilitárias e, afinal, escassamente pragmáticas que prevaleceram até há pouco.

Ao Brasil, com seus flagrantes contrastes e contradições,suas enormes diferenciações internas, potenciais quedemoram a serem realizados, se impõem desafios osmais variados para fazer avançar mudanças sociais queo tornem uma nação mais justa e promissora. Há osdesafios mais "antigos" – como o da universalizaçãodas ofertas escolares convencionais e da elevação daqualidade da educação escolar básica; assim como os"novos", que vêm sendo postos pelas transformaçõesmais recentes, como os de recriação da vida urbana ede uma urbanização sustentável, a que se associam osde proteção e promoção dos jovens, de eliminação da

violência e do crime organizado; e os que estão já emergindo como os de superação da exclusãocultural e de valorização das diferenças culturais e da promoção da tolerância, de consolidaçãode um sistema nacional de inovações, de fazer avançar a inclusão digital e, sobretudo, os da aber-tura de novas sendas de sociabilidade para os crescentes efetivos de idosos.

Vale dizer, o Brasil pede uma agenda mais ousada de desenvolvimento humano para vencer tais desafios.

N a R a i z , a s D i s p a r i d a d e s S o c i a i s

Tem sido repetida, com certo risco de banalização de seu sentido, a tese de que os persis-tentes e amplos padrões de concentração e desigualdades de renda e de qualidade de vidavigentes no Brasil se devem ao seu passado escravista e ao modo "incompleto" como se deu aemancipação dos escravos.

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"A UNESCO é um fórum capaz de promover o diálogo, promover o avanço e está aberta a todo tipo de visão

e de pensamento. Primamos pela descentralização das atividades, fazendo com que as ações do

Escritório do Brasil sejam muito importantes. Elas compõem essa nova linha de ações mais eficazes.

E o que se faz no escritório do Brasil não é feito em nenhum outro escritório da UNESCO no mundo."

Márcio BarbosaDiretor Geral Adjunto da UNESCO

No essencial, essa é uma verdade histórica. Torna-se necessário, contudo, não menosprezardois corolários importantes desse fenômeno. Primeiro, o de que os padrões de relacionamentoentre os atores econômicos têm sido pautados por uma forte desvalorização do trabalho, quese traduz numa recusa por vezes inconsciente de valorizá-lo socialmente e de remunerá-lo pelomenos adequadamente à sua contribuição produtiva, para não dizer de acordo com seu valorsocial mais amplo. De igual modo, implica um segundo corolário: o de que os novos estamentossociais – em especial os das chamadas "classes médias" – que emergiram com a urbanização eo desenvolvimento de um moderno sistema produtivo capitalista, procuraram organizar-se erepresentar-se o mais distintamente possível daqueles dedicados aos empregos e funções sociaissubalternos; e que são representados como "sucessores" daqueles dos antigos escravos. Condutaesta que tende a acentuar as distâncias sociais e a minar os potenciais de coesão e de soli-dariedade entre a população de distintos espaços societários.

Como resultado, as disparidades sociais mantêm-se elevadas de modo persistente. Os dadosmais recentes mostram que os 180 milhões de brasileiros distribuem-se muito distanciadamentenas escalas socioeconômicas. Dois terços deles situam-se no que se poderia chamar de estratode base, com renda domiciliar mensal de até 5 salários mínimos (cerca de 2,36 SM na médiado estrato, ou menos de 1 SM per capita). As "classes médias", no estrato intermediário derendimento mensal entre 5 e 20 salários mínimos, têm um rendimento médio de 9,56 SM, quatrovezes superior ao do anterior. No topo, o estrato superior, com rendimento domiciliar mensalsuperior a 20 SM, encontra-se apenas 4,7% da população, com um rendimento médio de onzee meia vezes maior do que o do estrato básico.

O contraste entre os que vivem nas cidades e nas zonas rurais é considerável. Nestas, nadamenos que 88% da população situa-se no estrato básico; no entanto, há diferenciações impor-tantes nesse meio: nas regiões em que domina o agronegócio, e a afluência é igual ou superiorà das cidades em outras regiões, vive boa parte do estrato intermediário de 8,9% da populaçãorural com rendimentos mais elevados e padrões de vida mais confortáveis.

Não significa que nas cidades predominem sempre as melhores condições de vida e asdesigualdades sejam menores. Pois o que mais deve impressionar é o fato de 35% da populaçãobrasileira viver abaixo da linha de pobreza. E que cerca de 21 milhões de pessoas vivem emestado de pobreza extrema. São dimensões que revelam não apenas a grave desigualdade, maso volume significativo de seres humanos com quem convivemos e que experimentam,cotidianamente, todo tipo de carências e privações, tanto as materiais (de moradia, saúde enutrição), como as socioculturais e de dignidade humana.

O aprofundamento dessa análise, com este tipo de tratamento dos dados do CensoDemográfico de 2000, conduz a uma constatação já mencionada em estudos anteriores, massem demonstrações empíricas adequadas como esta: a de que os "estilos" de pobreza são muitodiferenciados, e que a pobreza e exclusão têm natureza muito heterogênea segundo a específicasituação geoeconômica em que se estão assentados os brasileiros. São conceitos complexos. Nocaso da exclusão, pode-se examiná-la a partir de uma dimensão econômica, quando as pessoassão excluídas do mercado de trabalho ou se encontram privadas de toda sorte de recursos; deuma exclusão social, pois o desemprego avilta a condição humana; e de uma exclusão política,quando algumas categorias da população se vêem privadas de seus direitos, seja devido à dis-criminação de raça, de gênero ou de religião1 . Em relação à pobreza, ela não é apenas devido

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1. BESSIS, S. De la exclusión social a la cohesión social: síntesis del Coloquio de Roskilde, Roskilde, 2-4 mar. 1995. Paris: UNESCO,OIT, OMS, Comisión de las Comunidades Europeas, ORSTOM, Universidad de Roskilde, 1995. (MOST: documentos de políticassociales; 2).p 56.

à insuficiência de recursos face ao desemprego e condições vis de trabalho, como também elapode ser examinada por outros fatores que não os materiais e, neste caso, pode-se falar empobreza de cidadania e de cultura. É possível também delimitá-la a partir de uma renda mínima,sem a qual a pessoa não consegue atingir um padrão mínimo de vida digna.

Certamente todos concordam em que uma coisa é ser pobre – ou mesmo não-pobre – em algumassentamento periférico de São Paulo, Belo Horizonte ou Porto Alegre e outra bem diferente éo viver pobremente numa favela ou num subúrbio do Rio de Janeiro, ou numa das cidades satélitesde Brasília ou nos assentamentos precários do entorno desta Capital. E outra ainda mais diversa,é a situação de pobreza num "grotão" do Piauí, de Tocantins ou do interior da Amazônia.

Não surpreende, portanto, que muitas das políticas sociais gerais, ou das específicas políticaspúblicas de atendimento aos pobres, tenham alcançado resultados muito modestos e poucoimpactantes. Certamente porque disparidades sociais secularmente acumuladas e tão extensasnuma população volumosa como a brasileira, somente serão significativamente reduzidas apósprolongados e persistentes esforços de desenvolvimento com fortes mudanças estruturais.

Q u a l i d a d e E d u c a t i v a : p r e c i s a s e r p a r a t o d o s

Tornam-se centrais na agenda educacional brasileira os problemas postos pelos baixospadrões de qualidade educativa. Até porque eles se associam fortemente com os das amplasdesigualdades de oportunidades de educação e não têm sido adequadamente enfrentados, espe-cialmente devido à reduzida efetividade das políticas públicas recentes.

Com efeito, como decorrência da tardia urbanização e da persistência das disparidades sociaistrazidas do passado, as oportunidades educativas foram, por várias décadas, reservadas paraas frações superiores dos estamentos sociais que se formavam nas cidades em escolas públicasde melhor nível e experimentavam a mobilidade social propiciada pelo desenvolvimento urbano.O formato dos sistemas escolares adotado a partir dos anos trinta mostrou-se assaz convenientea este processo de seleção educativa: o ensino primário seria paulatinamente estendido àsfamílias dos trabalhadores urbanos, do comércio e da indústria; o ensino ginasial às camadasmédias subalternas; e o ensino colegial e superior, quase num continuum, aos estratos superiores.

Mestre Anísio Teixeira chamou a atenção para a verdadeira natureza desse processo, quandodisse que o crescimento da oferta de ensino primário em nosso país, já nos anos quarenta ecinqüenta, não era propriamente uma "democratização" de oportunidades educativas comoocorrera na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, mas poucomais do que uma "popularização".

A razão estava em que se promovia pouco mais do que uma expansão empobrecida dosrecursos educativos, proporcionalmente menor do que a necessária para manter os padrões dequalidade das escolas antes reservadas a poucos. E era um processo distinto daquele que ocorreraem países vizinhos como a Argentina, o Uruguai e o Chile, onde se procurara manter ospadrões de proficiência das escolas elementares ao mesmo tempo que, já então, começavam aexpandir a oferta de escolas secundárias.

Não se deve esquecer, pois, que a instauração de um sistema escolar de massa, no Brasil, sóvai tomar vulto a partir do final dos anos sessenta. E ele se fará como reiteração dessa anterior

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experiência de "popularização", ou seja, assegurando uma oferta infra-estrutural crescente deestabelecimentos de ensino primário e ginasial (amalgamados, em 1971, no ensino fundamental)e um contido incremento na oferta de ensino médio; mas sem os meios e empenho paraassegurar-lhes um desempenho pedagógico satisfatório.

É preciso sublinhar que o processo de desenvolvimento econômico ao longo das décadas de50 a 80 jamais foi prejudicado por esse sistema educativo. Os segmentos tecnológica e organi-zacionalmente mais exigentes da indústria e do setor terciário empregavam uma parcela reduzidada força de trabalho disponível; justamente a fração que obtinha mais extensa e melhor esco-laridade e formação profissional2 . Ao lado deles, formaram-se amplos segmentos de baixa com-plexidade técnica e gerencial – e alta intensidade em trabalho pouco qualificado – que, até ofinal dos anos setenta, eram dinamizados pelo crescimento econômico geral. E a agricultura,até a rápida modernização havida ao início dos anos setenta, manteve ocupada uma fraçãoimportante da força de trabalho não-qualificada.

Nesse quadro, as demandas educativas foram muito mais orientadas: (a) para as questões decobertura escolar – ou seja, haver oferta escolar em todosos pontos do território demograficamente mais denso,em especial nas áreas urbanas que surgiam com aexpansão das fronteiras agrícolas; e (b) nos centrosurbanos maiores, para a extensão da escolaridade, à medidaque parcelas crescentes das camadas popularesobtinham escolaridade elementar e procuravamavançar o mais adiante possível nos graus de edu-cação escolar formal. Mesmo aqui, nem sempre sedemandavam cursos regulares, na medida em que osexames de madureza e, mais tarde, os cursos supletivosproporcionavam, com pouca dificuldade, os diplomasde ensino médio que passavam a ser exigidos paraacesso aos empregos.

Mesmo em face da impotência dos cursos médios para,por si sós, darem acesso ao ensino superior, não se manifestaram pressões políticas significativaspor qualidade do ensino. Logo, as famílias de classe média, favorecidas pelos momentos deafluência econômica – e seguindo seu padrão individualista de autoproteção – trataram deestimular o florescimento de um farto mercado para os cursos preparatórios aos vestibulares.Deixou de interessar-lhes um ensino médio de qualidade, como o dos colégios tradicionais priva-dos ou confessionais. Tanto melhor o "cursinho", melhor a faculdade a que seus filhos teriam aces-so. Para isso bastava, em vez de trabalhosas participações em movimentos políticos, dispor-se a gas-tar mais no cursinho e obter educação superior gratuita para eles.

Quando se começa, desde o início dos anos noventa, a observar, de modo sistemático, e emlarga escala, os resultados de aprendizagem no ensino fundamental e médio, não há surpresas.Não só os padrões de aproveitamento escolar se revelam muito baixos, como eles tendem adeclinar à medida que avança a escolaridade.

Quase um quarto dos alunos de 4ª série do ensino fundamental situou-se no que se chamade desempenho "muito crítico" em Português; assim como 12,5% em Matemática. Eles lêem

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 15

"A ação presente deve ser deduzida de um horizonte utópico. A UNESCO, sempre fazendo educação, estrutura cotidianamente o futuro, exercitando seu compromisso com a inclusão educacional de milhares de crianças e jovensbrasileiros. Para o nosso país, esse trabalho consolida a solidariedade como método e desvela, no centro de sua atuação,uma proposta humanista que, por efeito, contribui para um novo projeto de nação, em que a cidadania assuma o seu poder e delibere sobre o Brasil que todos sonhamos construir. À UNESCO, o meu reconhecimento e o meu elogio".

Tarso GenroMinistro de Estado da Educação

2. Nem todos se dão conta de que o Brasil implantou, já ao final dos anos 30, um dos mais bem sucedidos sistemas de formação profissional domundo, com base no SENAI e SENAC. E esta – ao lado da instalação de uma boa rede de escolas de engenharia - é uma das razões por quese encetaram três ciclos de industrialização substitutiva de importações sem nunca ter havido sinais de escassez de mão de obra qualificada.

mal e têm muitas dificuldades para expressar-se por escrito; e não dominam plenamente as quatrooperações. Dois terços, ainda em Português, situam-se nos níveis "crítico" e "intermediário";enquanto em Matemática ficam nesses níveis mais de 80% dos alunos. Cinco e sete por cento,respectivamente, são os que ficam nos níveis adequado e avançado nessas matérias.

Há uma ligeira melhoria no desempenho desses alunos, em Matemática, após mais quatroanos de estudos. Nas 8as séries, a proporção de alunos em situação muito crítica se reduz a 7% e já90% ficam em "adequado" e "intermediário" enquanto apenas 2,8% chega aos níveis "adequado"e "avançado". Em Português o quadro não é diferente.

E quase nenhuma mudança se observa no desempenho dos alunos que chegam ao final doensino médio.

Vistos regionalmente esses indicadores confirmam a persistência das desigualdades educa-cionais. No patamar "muito crítico", nas duas matérias, estão cerca de 7% dos alunos do Nortee Nordeste, enquanto no Sudeste e Sul a proporção é pouco mais dessa metade.Correspondentemente, os alunos situados no patamar mais alto ficam no entorno de 6 a 7%nestas regiões e entre 2,5% a 4,6% nas regiões menos desenvolvidas.

Sem surpresas, as disparidades regionais se associam às diferenças de rendimento entre estu-dantes que trabalham (pois vivem em famílias de renda mais baixa) e estudantes que apenasestudam (na maioria filho de famílias mais afluentes). No Norte e Nordeste o desempenhoescolar dos que trabalham situa-se em torno de 238 pontos, contra 257 dos que apenas estudam;em contraponto, no Sudeste e Sul, aqueles obtêm perto de 260 pontos, enquanto estesalcançam 280 pontos ou mais.

E x c l u s ã o C u l t u r a l e D e s e n v o l v i m e n t o d a I n d ú s t r i a C u l t u r a l

A pobreza tem sido mais freqüentemente identificada com suas dimensões mais imediatasde carências materiais, expressas na insuficiência de renda para satisfazer as necessidades ele-mentares de alimentação, moradia, vestuário etc. Cada vez mais, entretanto, essa dimensãomaterial tem sido percebida como corolário de formas mais insidiosas de exclusão: as que limitamo viver coletivamente e alijam os mais pobres das vantagens e benefícios de participação ativanas estruturas e organizações sociais e políticas tanto quanto do sistema produtivo dito "for-mal", dos empregos de qualidade e da renda que permitem satisfazer tanto aquelas necessidadesbásicas como as de outras ordens.

Dentre os grupos sociais mais pobres, as premências do cotidiano mal permitem que as práticasde sobrevivência se aperfeiçoem; ou seja, a cultura dos pobres tem escassas probabilidades de seinovar e de tornar, assim, menos penosa a produção ou aquisição dos meios essenciais de sub-sistência. Ademais, são também reduzidas as possibilidades de acréscimo de seus acervos culturais,em especial quando grande parte dos símbolos, bens e valores são cada vez mais mercantilizados.Condição esta que acentua suas frustrações e, subseqüentemente, sua auto-estima.

Contraditoriamente, porém, mesmo os grupos mais pobres vão incorporando, com osdemais estratos sociais, novas demandas culturais, à medida que ficam expostos, deliberada-mente ou não, aos apelos e estímulos da comunicação de massa e da indústria cultural. Vãosendo afetadas em sua compreensão do mundo, em suas representações, em seus valores; sem

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que ao mesmo tempo, se alterem suas possibilidades de aquisição e usufruto do que é valorizadopor esses meios de difusão cultural.

De uma parte, isso conduz à adoção de condutas consumistas, mesmo que estereotipadas, asquais, pelo menos em seu imaginário, os torna menos diferentes e alheados dos padrões deaparência dos grupos mais afluentes. Não obstante, os limites desse acesso a bens reais e sim-bólicos de "parecença", vão paulatinamente aumentando-lhes a percepção das distâncias sociaisa que estão compelidos a viver. E com essa percepção, aumenta o risco de anomia, na medidaem que a sociedade não oferece suficientes e efetivos meios institucionais de organização sociale política, que permita aos grupos excluídos ou meios de superar a situação de pobreza, ourecursos para influir sobre as políticas públicas destinadas a reduzir a pobreza e a exclusão.

E uma das implicações, é a crescente vulnerabilidade de inúmeros e importantes agrupa-mentos sociais aos efeitos da crescente violência que se instala nos centros metropolitanos maisimportantes do país.

Não obstante essas condições desfavoráveis, o que se vem assistindo, nestes últimos anos, éum duplo movimento de resistência. De uma parte, contrapondo-se às tendências desagre-gadoras dessa cultura da pobreza, verifica-se uma acelerada multiplicação e diversificação denovas formas de organização social, sejam aquelas criadas pelas próprias comunidades, sejamas promovidas por outros grupos sociais e mesmo por meio de projetos sociais de iniciativa deempresas. De outra parte, e num mesmo diapasão, multiplicam-se os movimentos de criação edifusão culturais – aí incluídas as atividades desportivas e de lazer – que recriam, ao mododessas comunidades, e em seu ambiente, uma rica e peculiar indústria cultural, que se articula,de algum modo, com as vertentes mais amplas da produção cultural de caráter mercantil.

Algumas surpreendentes ilustrações desses movimentos estão, por exemplo, na produção deconfecções exportáveis em comunidades de favelas do Rio de Janeiro; na constituição deempreendimentos produtivos lastreados em sistemas de microcrédito; na atratividade turísticade incontáveis manifestações artísticas, artesanais e de lazer, em várias grandes cidades do litoral.

Num âmbito mais afluente, como no da produção musical, teatral e de eventos de lazer eentretenimento, verifica-se também a emergência de formas alternativas de organização, que secontrapõem, em alguma medida, às geradas pelas grandes empresas – geralmente multina-cionais – que dominam esses mercados. Um exemplo tem sido os "carnavais fora de época", quegeram centenas de empregos para atender eventos a que acorrem milhares de participantes.Mas também as pequenas companhias de teatro, os circuitos de espetáculos musicais, as feirase exposições agropecuárias/sertanejas. E as dezenas de "selos independentes", mantidos porpequenas empresas em que se associam animadores culturais e músicos (alguns até entre os maisfamosos), para a produção e distribuição (por vezes também a exportação) de CDs, DVDs,clipes, etc, ao largo do controle das gravadoras internacionais.

O importante desses distintos movimentos sociais e culturais é que eles constituem umafonte inovadora de coesão social, de transmissão e difusão de valores, linguagens e represen-tações, que, por certo, vêm tendo influência sobre o imaginário social, em especial dos grupossociais mais carentes a que muitas organizações se dedicam a servir. Mas não só desses grupossenão também sobre o imaginário das camadas médias.

E aqui se verifica mais um contraponto instigante, no panorama cultural do país. Essa movi-mentação ocorre ao mesmo tempo em que se vem ampliando o espaço da comunicação de

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massa, em particular o da televisão e do rádio. Nada menos de 90% dos 180 milhões demoradores em domicílios particulares possuem televisão e 88% rádio. Mesmo entre os quevivem com rendimento mensal de até 3 salários mínimos – cerca de 76,2 milhões de pessoas –essa proporção é elevada, 81,3% e 82,5 % respectivamente; e 72,8% deles possuem TV emcores. Se se tem em conta que mais de 55% desses contingentes mantêm ligados seus aparelhosde TV no horário de 19h30 às 21h são perto de 94 milhões de cidadãos expostos diariamente aesse meio de comunicação. E por meio dele se informam; se entretêm, especialmente comas telenovelas; e formam, a partir da publicidade inserida, as suas preferências de consumo.Além disso, estimativas feitas sobre uma amostra de vários países, mostram que os brasileirospassam aproximadamente 22 horas por semana em frente à televisão; e essa freqüência vai a 23h30 min por semana entre os jovens, sugerindo que estes passam mais tempo assistindo à TV doque aulas.

J u v e n t u d e s e P o l í t i c a s P ú b l i c a s – e n t r e v u l n e r a b i l i d a d e s ,d i r e i t o s e p a r t i c i p a ç ã o

Pelo mundo afora, os jovens vêm se constituindo numa preocupação destacada nas políticaspúblicas, seja pelas vulnerabilidades negativas que os ameaçam, seja pelo reconhecimento deque são sujeitos de direitos próprios e de que são portadores de evidentes potencialidades comoatores dos processos de desenvolvimento, em especial em relação à sociedade de conhecimento.Apesar disso, a magnitude das várias vulnerabilidades negativas vivenciadas pela geração entre15 e 24 anos tem induzido a adoção de perspectivas reducionistas, assistencialistas e até “culpa-bilizadoras” dessa heterogênea e complexa população, em prejuízo de concepções mais abrangentese estruturantes dos papéis que indiscutivelmente cabem a essa porção da cidadania.

De fato, é preocupante que 40% dos 34 milhões de jovens de 15 a 24 anos, no Brasil, vivamem famílias com menos de três salários mínimos por mês. E que grande parte da juventude, emparticular aquela de classe trabalhadora, assim como a que se compõe pelo povo negro, sejauma das gerações mais vitimizadas pelas desigualdades sociais. Por exemplo, os que nãoestudam e não trabalham correspondem a 20,4% do total de jovens, no conjunto das noveRegiões Metropolitanas no Brasil — o que significa um contingente de nada menos de 11milhões de jovens, em 2002.

O Relatório de Desenvolvimento Juvenil, divulgado há pouco pela UNESCO, por exemplo,mostra que 18% dos jovens brancos, não estudam, nem trabalham; e dentre os negros essaparcela alcança 23%. Ademais disso, conquanto metade dos jovens freqüente escolas, doisterços dos estudantes ainda se encontram no ensino fundamental e, pois, com a sua escolari-dade defasada, o que aumenta o risco de eles desertarem da formação escolar regular.

Se se considera que juventude é tempo de estudar, formar-se no plano da ética e da estética,de cultivar sentido crítico participativo e de preparar-se para os vários papéis sociais do adulto,tais estatísticas se humanizam, ganham corpo, cara, cor, ou se desumanizam, pois na realidadesão muitos os que carecem da proteção social necessária ao exercício de ser jovem. Quase umquarto dos jovens se vê compelido a, ao mesmo tempo, estudar e trabalhar; quase um terçodeles já não estuda dedicando-se apenas ao trabalho, em bom número de casos sem carteira

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assinada e/ou na informalidade. Estima-se que quase 3,5 milhões de jovens se encontram emsituação de precariedade no que se refere à sua inserção no mundo do trabalho.

Distintas pesquisas, tanto as da UNESCO como as de outras instituições apontam váriasdimensões das situações problemáticas em que vivem os jovens, notadamente no que se refereà insuficiência ou ausência de proteção social e de condições apropriadas de inserção social:exclusão do ensino médio e universitário; exposição a ofertas educativas de baixa qualidade,e/ou a escolas onde se ampliam ou se tornam mais visíveis distintos tipos de violências; alta repre-sentação nas estatísticas sobre gravidez precoce e de risco; limitado acesso a informações econhecimentos sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a segurança nasexualidade; baixo acesso a equipamentos culturais e esportivos; exclusão digital. E, pior ainda,a destacada exposição à mortalidade por causas violentas: de 1980 a 2000, a taxa de homicídiospor 100.000 habitantes caiu levemente entre os não-jovens e cresceu entre os jovens.Relativizando esses dados, a taxa de homicídios entre os jovens quase dobrou entre 1980 e 2000.

Pesquisando-se distintas instituições, como as escolas, alerta-se sobre a plasticidade do conceitode violência e sobre sua banalização e expansão quando, além da forma homicídios, considera-secomo violência tudo quanto ofenda e viole a dignidade do outro ou da outra. Incluem-se aí asviolências simbólicas (abuso do poder baseado no consentimento que se estabelece e se impõemediante o uso de símbolos de autoridade); as verbais — camufladas como "brincadeiras"; e asinstitucionais (marginalização, discriminação e práticas de assujeitamento utilizadas por instituiçõesdiversas que instrumentalizam estratégias de poder). Brincadeiras de cunho racista, sexista e homofóbico;tratamento agressivo como parte de um ritual até de afetos e relacionamentos; furtos e vandalis-mos são algumas das ocorrências violentas que se vêm registrando em ambientes de vivência juve-nil, como as escolas, assim como se vem chamando a atenção para a vitimização de jovens porparte de adultos, tanto na família (casos de violência doméstica, entre outros) como em particular nasrelações com a polícia, no espaço público (Abramovay e Rua-UNESCO 2002 entre outros).

Essas manifestações demonstram que, ademais de uma população vulnerável, os jovens sãouma geração vulnerabilizada, principalmente se pobres e negros, e que muitas dessas vulnera-bilidades se reproduzem e se combinam, limitando também seu estatuto de sujeitos de direitose suas potencialidades para serem atores/atrizes do desenvolvimento, ou seja, tornam exigívelque as políticas de juventudes devam combinar diversos enfoques, com a participação dosjovens, considerando sua diversidade.

Não obstante, tanto quanto há os jovens envolvidos em violências, também são consideráveisos contingentes de jovens que estão tocando sua vida, sobrevivendo, construindo carreiras, par-ticipando utilmente da vida social, assim como são numerosos os envolvidos em experiênciasde cultura, de empreendedorismo, de atividades comunitárias. São jovens que, mesmo quandovivem em áreas de pobreza e de restrições de oportunidades, reagiram por sua conta ou com acolaboração de instituições várias, vivenciando projetos artísticos, ecológicos, político-partidários ou atuando em áreas de carências, ou seja, que mudaram os sinais das vulnerabili-dades. Esses jovens também precisam de estímulos das políticas públicas, de amparo do Estadopara prosseguir em tal ativismo.

Tanto vulnerabilidades negativas como tendências à positividade, buscas por autonomia,curiosidades, questionamentos e criatividade, como expressões artísticas e esportivas devem sercontempladas em políticas de juventudes, saindo, portanto, do desenho de programas especí-

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 19

ficos e se preocupando com a qualidade dos serviços e do seu processo de ordenação, contem-plando enfoques que se alimentem de culturas juvenis e da participação dos jovens.

Em suma, os jovens apresentam singulares vulnerabilidades, principalmente se pobres, mastambém são sujeitos de direitos, destacando-se entre outros, o direito de participar da elabo-ração e do controle social de políticas publicas. Até porque eles manifestam claramente suasaspirações à participação social, almejando o reconhecimento de suas especificidades e identi-dades, as quais se singularizam em relação a outras populações. Esse quadro requer, portanto,criatividade e inovação no plano de políticas públicas, para tratá-los como de fato são: sujeitosrelevantes de direitos e sociabilidade.

M e t r ó p o l e s s o b R i s c o e F r u s t r a ç ã o d a C i d a d e E d u c a t i v a

A interação virtuosa entre urbanização e desenvolvimento foi por muito tempo um dospoucos consensos no pensamento social, perpassando todo o espectro ideológico em que elese espalha. Tornou-se uma crença indisputável a de que, tanto mais avançasse a concentração daspopulações nas cidades, maiores seriam as probabilidades de um país modernizar seus padrões deconvívio social, estimular a mobilidade social e assegurar condições de eficiência ao sistemaprodutivo urbano-industrial de um país. Sobretudo as cidades exerceriam um papel formativoe socializador, transladando o homem rural para a cultura moderna, "industrialista" e republicana.

No entanto, principalmente nas últimas décadas do século vinte, abalou-se fortemente essafé, em virtude do que tem sido chamado de crise urbana – no sentido de que os potenciais epossibilidades atribuídos às cidades estariam sendo ou dilapidados ou esgotados por seqüelasde seu próprio crescimento.

As metrópoles (ou megacidades), em especial, se tornaram imensos sítios de variados e quaseirresolúveis conflitos sociais (mas também étnicos, culturais, religiosos). Em parte porque nelasse manifestam os mais agudos problemas de desemprego, de desigualdades sociais e de baixainclusão social dos imigrantes, típicos da atual etapa do desenvolvimento capitalista globalizado.Mas também porque se tornou mais difícil manter padrões mínimos de eficácia e efetividadenos serviços públicos e garantir alguma eqüidade na apropriação dos espaços de moradia, delazer e de convivência – que nucleiam as possibilidades de qualidade de vida nessas aglomerações.

No caso brasileiro, essa crença fortaleceu-se quando, desde os anos trinta, as mais importantestransformações do país estiveram associadas a um volumoso e intenso translado de populaçõesdos espaços rurais para os aglomerados urbanos, em especial para as grandes cidades do Sudeste.E aqui se teve a vantagem adicional de ter sido evitado o fenômeno de primazia metropolitanaacentuada, que marcou vários países da América Latina e se expressa nos casos de Buenos Aires,Santiago ou Lima. Malgrado o porte adquirido pela metrópole paulistana, o Brasil sempre contoucom múltiplos aglomerados regionalmente dominantes (dentre eles, Porto Alegre, Salvador,Recife, Fortaleza) e dezenas de cidades de "médio porte" polarizando vários espaços econômico-sociais importantes no interior, principalmente no Sul e Sudeste e, mais recentemente, noCentro-Oeste.

É verdade que há uma superestimação das dimensões da "urbanização" em nosso país, devidoao fato de, por força de lei, se registrar como citadina toda a população residente na sede dos

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municípios, mesmo quando esses sítios não constituam, efetivamente, um verdadeiro locus devida urbana. Dentre as 5.507 cidades registradas no Censo de 2000, há nada menos do quenoventa "cidades" com menos de 500 habitantes e vários milhares de localidades com menosde 20 mil habitantes. Se empregássemos o critério adotado, por exemplo, em Portugal –contaríamos no Brasil com não mais do que umas seiscentas cidades. E se forem adotados critériosestruturais – obrigando-nos a desconsiderar como tais as sedes de cerca de 4.500 municípios –,teríamos a rigor apenas cinco categorias de cidades:

a) as 12 sedes das aglomerações metropolitanas;b) as sedes dos 200 municípios que fazem parte dessas 12 aglomerações metropolitanas;c) as sedes dos 178 municípios que fazem parte das demais 38 aglomerações urbanas;d) as sedes dos 77 municípios que são inequívocos centros urbanos, mesmo que não tenham

gerado aglomerações;e) parte das sedes dos 567 municípios de natureza ambivalente, que freqüentemente

adquirem feições de pequenas cidades, apesar de continuarem focos de economias tipicamente rurais3.

Quais as implicações mais importantes dessa categorização para as mudanças sociais e asquestões educativo-culturais do país?

A mais imediata seria a constatação de que em 4,5 mil sedes municipais não contam comequipamentos urbanos básicos – físicos e simbólicos – que lhes permitam exercer aqueles papéisformativos esperados da vida urbana. Por conseguinte, as instituições escolares aí localizadas sofre-riam de certo "isolamento cultural" em razão do qual: (1) nem terão os apoios que, nas cidades,costumam ser providos pelas bibliotecas públicas, pelos equipamentos de comunicação edifusão cultural, pelos locais de lazer, pelas praças desportivas, pelos serviços públicos etc; e (2)terão que, em muitos casos, suprir essas lacunas, sobrecarregando seu currículo despropor-cionalmente aos meios de que costumam dispor.

Numa situação antípoda, essas mesmas limitações afetam também as instituições educativase socializadoras das áreas mais pobres das grandes aglomerações metropolitanas. Fenômenoque começa a reproduzir-se nas "metrópoles regionais" (como Ribeirão Preto, Uberlândia,Londrina e outras). Assim, ao contrário das expectativas de um uso coletivo tendencialmenteigualitário desses equipamentos e oportunidades culturais, de fato eles se tornaram privilégiodos estamentos sociais médio-superiores, capazes de apropriá-los politicamente e concentrá-losem seus respectivos bairros e subúrbios. E, por certo, um desses equipamentos são as própriasinstituições escolares. São incontestes as enormes diferenças de dotações infra-estruturais epedagógicas de escolas situadas nos diferentes espaços urbanos e, assim, das oportunidadeseducativas que elas podem proporcionar.

As tensões, conflitos manifestos e padrões de violência que marcam os espaços mais críticosdas grandes aglomerações urbanas são, ao mesmo tempo, condicionantes daquelas tensões vividasno interior das escolas e resultantes do seu fracasso em educar os membros dessas populações.Assim, a exclusão cultural, antes mencionada, é acentuada pelas insuficiências e precariedadesnas aquisições cognitivas e de desenvoltura social, e nas habilitações profissionais e gerenciaisdos que trabalham nessas instituições.

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3. VEIGA. J. E. da. O Brasil é menos urbano do que se calcula. 2001. Disponível em: <http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/>VEIGA. J. E. da. Nem tudo é urbano. 2001. Disponível em: <http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/>

A magnitude desses desafios e do trajeto a ser percorrido para disponibilizar tais recursos emnossas aglomerações urbanas e ampliar as possibilidades de democratização da qualidade escolar,pode ser imaginada quando se verifica o que vem sendo trabalhado como enlace escola/cidadeem países como Canadá e França. Lá vem sendo proposto que as cidades constituem umcyberespace, que pode e deve potencializar as oportunidades de educação ao longo da vida.

E x c l u s ã o D i g i t a l , E x c l u s ã o S o c i a l

Quem sabe de uma notícia pelo jornal, está pelo menos um dia atrasado em informar-se.Quem sabe dela pelo telejornal, está atrasado pelo menos algumas horas. Minutos de atrasopodem ocorrer se quem se informa demorar para acessar um sítio nacional de notícias. Atrasosmaiores podem ocorrer se o cidadão não puder acessar os sítios internacionais que informamsobre o que está ocorrendo além das fronteiras de seu país.

Algo um pouco mais complicado é quando ele busca informações analíticas, ou apenas umpouco mais aprofundadas do que as jornalísticas. Além de boa capacidade de leitura, há um requisitoanterior: o de dominar os métodos de busca de informações, ou pelo menos conhecer os pro-cedimentos para operar com os portais e ferramentas de pesquisa (os browsers "convencionais",como Yahoo, Google, etc; ou as bases de dados especializadas).

Suponha, entretanto, que ele deseje saber algo sobre, por exemplo, ensino fundamental.Recorrendo a um desses browsers, coloca lá palavra-chave e tem o cuidado de referir que desejaapenas páginas em português. A ferramenta de busca lhe dará nada menos do que 232.000referências; e como ela é aperfeiçoada, apresenta o rol de fontes ordenado segundo o grau deprobabilidade de corresponder ao que o cidadão deseja saber. Pois é claro que ele não iriasair selecionando por tentativa e erro numa lista desse tamanho o que melhor atenda suademanda. Vale repetir: está buscando apenas as informações em seu próprio idioma.

Digamos, no entanto, que ele procura algo um pouco mais complicado, como por exemplo,oportunidades educacionais. Em 0,12 segundo, a ferramenta lhe oferecerá 40 mil referênciasem português. E ele se sentirá um pouco frustrado se estiver buscando informação analítica demaior complexidade; o que o leva a buscá-la em sítios além-fronteiras com a palavra-chave[educational opportunities]4.

Em 0,19 segundo, o mesmo browser lhe trará à tela nada menos do que 6,5 milhões de referências,hierarquizadas. Nas três primeiras páginas, haverá uma óbvia predominância de fontesestadunidenses e já umas poucas do Canadá e Alemanha.

Se, em vez disso, colocar como palavra–chave chances d’enseignement, também no campo geralda web, virão 183 mil referências. E para oportunidades educativas virão 131 mil referências.

É possível "refinar" o procedimento de busca; quer-se o assunto em algum idioma em especial,dentro de um certo período de tempo (p.ex.: entre janeiro de 2000 e junho de 2004), num certoformato de arquivo (documento de word, pdf, power point etc) ou segundo uma combinaçãomais complexa de referências; a combinação oportunidades educativas españa siglo XIX trará4.500 referências.

Uma constatação imediata é a de que o aproveitamento deste meio de acesso a informaçõesnão é dado a quem não disponha de um patamar mínimo de educação e, pois, domínio de com-

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4. Em entrevista recente, o secretário da Academia Francesa de Letras admitiu – apesar da conhecida resistência dos franceses a empregarum idioma diferente do seu – que no campo da informática e do mundo digital em geral, tornou-se quase impossível não empregar o inglêscomo idioma internacional de comunicação.

petências de comunicação e de raciocínio sistemático. Pois é imprescindível dominar algunsmétodos de pesquisa sobre os assuntos desejados para maximizar o rendimento da própriabusca e, certamente, para economizar tempo na verificação das referências obtidas. Em seguida,vê-se que o domínio do inglês é interessante e valioso; mas traz o risco de ser soterrado por umcontexto particular de informações. Vale dominar mais de um idioma para escapar a esse riscoou para "temperar" buscas com referências trazidas de outros contextos culturais. Mas tanto maisseja "refinada" a busca, supõe-se que mais especializado (ou ávido de informações) seja quemestá fazendo a busca; ou seja, é preciso ter um acervo prévio de conhecimentos e referênciaspara aproveitar os conhecimentos e informações que os sítios proporcionam.

Deve ser notado que, até aqui, exemplificamos quase que só com um uso "acadêmico" daspossibilidades do mundo digital: o de informar-se e aprender algo sobre algum assunto.Certamente é o emprego mais nobre ou meritório da internet; desde as versões mais "cole-giais" até aquelas muitíssimo mais complexas adotadas pelos professores e pesquisadores aorecorrerem às "redes de pesquisa" ou ao procurarem novas fontes para seus altos estudos.

Há empregos mais triviais – e por certo mais freqüentes – como os de entretenimento (umadas áreas mais movimentadas da web), de comunicações interpessoais (os chats ou rodas de bate-papo), os de esportes. E, dentre outros mais, os de comércio (e-commerce, e-bays, auctions) e detransações bancárias e financeiras (bancos eletrônicos) que já não podem ser ditos triviais. E hátambém um campo muito importante – em que o Brasil tem presença destacada – constituídopelos sítios governamentais, onde se pagam impostos, obtêm-se informações jurídicas e administra-tivas, cumprem-se procedimentos de gestão, divulgam-se editais e instruções para fornecimentosde bens e serviços ou mesmo se fazem transações – como os pregões.

Um campo adjacente e coligado ao do uso de computadores e de navegação na internet quevem adquirindo ainda mais velocidade de disseminação é o da telefonia celular. Tem-se umaidéia muito clara da difusão de seu uso na rua, nos shoppings centers (especialmente pelos adoles-centes), mesmo em casa e, aborrecidamente, quando os telefones soam onde não devem(teatros, concertos, missas etc). Menos perceptível de imediato é seu emprego como ferramentade trabalho; seja no mais evidente, pelos prestadores de serviços que precisam ser contactadosonde estiverem; seja nos modos mais reservados, quando se tornam indispensáveis para os execu-tivos e funcionários graduados se manterem interagindo no dia-a-dia das empresas e dos negócios.

Estima-se que 35 milhões de pessoas dispõem, hoje, de algum tipo de microcomputador emcasa ou em seu trabalho. Quase igual número utiliza telefones celulares. E daqueles, pelo menosum terço (cerca de 12,3 milhões) têm acesso à internet.

No caso do Brasil, 13% das pessoas possuem computador em suas residências e pouco maisde 9% dos brasileiros encontram-se conectados à internet. E em abril último, os internautasbrasileiros se colocaram entre os que mais tempos empregam esse recurso: 13 horas e 14 minutosem média por pessoa/mês. Ficam atrás apenas dos de Hong Kong (21h), Japão (15h) e norte-americanos (14h30) e à frente dos europeus em geral. E vale notar que entre os citados, há umnotavelmente intenso emprego da rede em negócios e transações comerciais, muito mais doque em nosso país.

Contudo, é aqui, novamente, que se revelam os padrões brasileiros de desigualdades. Até oestrato de 8 salários mínimos de rendimentos familiares mensais, menos de cinco por cento dasfamílias dispunham de computadores em casa. Na faixa de 10 a 20 SM a proporção de 8% a

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10% começa a ser ultrapassada. Apenas na faixa superior, de mais de 20 SM a proporção ultrapassaum terço. Em relação aos professores brasileiros, segundo pesquisa realizada pela UNESCO,58,4% declararam não navegar na internet e 59,6% nunca utilizaram o correio eletrônico5.

Dentre os usuários de internet, as disparidades são ainda mais evidentes: 61% situam-se nascategoriais sociais A e B (tal como empregadas pelas empresas de pesquisa de mercado);apenas 22,5% estão na categoria C e não mais de 5,2% nos grupos D e E.

Ou seja, a exclusão social vem acompanhada de uma também acentuada exclusão digital.

D e p o i s d e C e r t a I d a d e . . . O Q u ê ? . . .

Acostumadas à repetição de que o Brasil é um país jovem, no qual crianças e adolescentespredominariam, as pessoas se surpreendem quando, em sentido contrário, ouvem falar cada vezmais em envelhecimento da nossa população. E mais do que isso, quando enfrentam, em suasfamílias e vizinhança, o fato de que há, uma proporção maior de pessoas idosas ao seu redor.

Levou mais de meio século para a Inglaterra, por exemplo, chegar a ter mais de um décimode sua população com mais de sessenta anos de idade; e isso ocorreu no início dos anos trintado século XX. Muito mais tarde, a partir de 1970, passaram-se apenas três décadas para o Brasildar um salto maior, com a população maior de 60 anos de idade saindo de 5,1% para 8,6% dapopulação total; e aproximar-se dos 10% em meados do presente decênio. Indo adiante, as pro-jeções demográficas mostram que, do ano 2000 para o de 2050, a participação da populaçãojovem continuará se reduzindo, de 29% para 17%, seguida de modesto declínio na proporçãoda população adulta (de 66 % para 64%).

Assim, parte importante do incremento popu-lacional estará concentrada no contingente de idosos,que aumentará de forma significante sua participaçãonos próximos anos, salientando o fenômeno deenvelhecimento demográfico do Brasil. Altera-se tam-bém, nesse grupo etário, a proporção por gênero:enquanto na população total as mulheres representam51%, no grupo com mais de 60 anos de idade, elaschegam a ser 55%, o que adquire importância quandose trata das características de vida dos idosos e dasdemandas sociais que elas exigem.

Embora contenha alguma dose de verdade, não sesustenta a afirmativa de que todo idoso é "depen-

dente". Pouco mais de um quarto deles, de fato, depende, em certa medida, da família com quecoabita. A maioria, cerca de 60%, na verdade tem certa autonomia e é responsável por umdomicílio. Apenas onze em cada cem idosos vivem sós; mas dentre as mulheres, essa proporçãovai a 32%. E dos domicílios pelos quais os idosos são responsáveis, apenas 17% é constituídoapenas por um casal sem filhos e outro tanto pelo idoso só. Dois terços vivem em companhiade filhos e parentes. Há, portanto, situações de vida bem distintas e que podem variar maisainda em função de fatores econômicos e culturais.

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"A UNESCO no Brasil abriu espaço para debates atuais sobre educação e cultura e para a difusão de iniciativas

importantes desenvolvidas em nosso país. Esse papel difusor é crucial e tem contribuído para maior reconhecimento

das mudanças sociais e culturais que vêm ocorrendo. Em áreasessenciais, as publicações têm trazido uma contribuição

inovadora que estimula o debate. As conexões estabelecidas com a sociedade brasileira fizeram desta Agência

uma parte de nossa vida cultural".

Ruth CardosoPresidente da COMUNITAS

5 UNESCO; INSTITUTO PAULO FREIRE; BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o quepensam, o que almejam... Brasília: UNESCO, IPM, MEC/INEP, Ed.Moderna, 2004. p. 99.

Outro fator relevante é o nível de rendimento dos idosos. Dentre os responsáveis por domicílios– que como foi mencionado antes, é o segmento mais volumoso – o rendimento médio mensal,em valores de 2000, era de R$ 739,00 nas áreas urbanas e de R$ 297,00 nas rurais. Em bomnúmero de casos, são rendimentos de trabalho, pelos menos no subgrupo de 60-65 anos.

Entretanto, os idosos sofrem de uma limitação comprometedora: uma elevada proporção éanalfabeta (32,7%), e mesmo entre os responsáveis por domicílios, que em geral detêm melhorescondições sociais, a escolaridade média é de 3,4 anos de estudos (a menor no Nordeste – 2,00 a.e.– e a maior no Sudeste – 4,30 a.e.) e, portanto, bem inferior à dos grupos mais jovens.

De pronto, é preciso tomar em conta que estamos diante de um quadro bastante heterogêneo– mais ainda se tratando de Brasil – e que desvela diferentes combinações de necessidades"setoriais", "locacionais ou regionais" e por subgrupo de idade.

Em seguida, leve-se em conta que as necessidades biológicas e socioculturais dos membrosdesse contingente são diferentes das dos demais grupos de adultos. E tendem a se tornar maisdistintas na medida mesmo em que se afirmam não mais como "minoria", mas como um segmentode cidadania com identidade própria e exigente de eqüidade de tratamento na sociedade.

Um mesmo subgrupo etário (e por gênero), por exemplo, terá maiores carências de saúde,por exemplo, em determinados sítios rurais, em pequenas localidades ou nas periferias metro-politanas, do que em cidades pequenas ou médias do sul e sudeste. Elas gerarão demandasdiversas quando essas carências – em parte biologicamente esperáveis – se associam ao tipo defamília, aos níveis de instrução e a determinados traços culturais.

O próprio recorte etário – maiores de 60 anos – se torna questionável em diferentes sets culturais.Nos grupos com níveis mais elevados de instrução – em especial profissionais de nível univer-sitário – e com maiores margens de mobilidade ocupacional e econômica, há maiores proba-bilidades de exercício de uma vida "produtiva" mais densa, mesmo após uma aposentadoria nolimite superior de idade funcional. Essas probabilidades, é certo, diminuem mais que propor-cionalmente com o status educacional e ocupacional nos anos mais jovens.

Essa possibilidade de vida "produtiva" – mesmo que não implique equivalente "remunerabilidade"– condiciona uma série de outros fatores atinentes às necessidades psicossociais e culturais dosidosos. A começar pelo sentimento de que pertença a uma comunidade familiar e vicinal; a"improdutividade" pode implicar afastamento, discriminação e, no limite, maus tratos.

Também as condições de acolhimento domiciliar dos mais idosos pelas famílias tendem areduzir-se. Elas tendem a compor-se de um número cada vez menor de filhos, eliminando a pos-sibilidade, sempre esperada, de recorrência ou compartilhamento dos encargos de atenção aosidosos. A tradição de as filhas assumirem o cuidado das mães solitárias também se vê compro-metida, pelo fato de as mulheres estarem cada vez mais engajadas no trabalho e em outras ativi-dades sociais e de as áreas de moradia estar se reduzindo.

Ademais, uma parcela importante dos atuais grupos de idade inferior a 60 anos encontra-seem "processo de envelhecimento" como se verifica no persistente aumento da expectativa devida e, em especial, nas expectativas de usufruir de melhor qualidade de vida quando esseprocesso se concretizar nos anos vindouros. Vale dizer: o que se tem de cuidar para assegurarqualidade de vida aos idosos inclui o que se deve proporcionar em atenção específica aos quetêm dez ou vinte anos menos, para que não venham a avolumar as demandas por proteçãosocial – notadamente em saúde – por carências evitáveis.

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Tudo isso leva a abrir todo um novo campo de discussões na arena das estruturas sociais edos equipamentos socioculturais e econômicos do país. E não se trata apenas de conceber umnovo "tema de políticas públicas" – obviamente urgente – mas uma abordagem decerto inédita,para as peculiares necessidades desses contingentes de cidadãos, que afete o próprio modocomo eles se agregam socialmente e como eles se relacionarão com os demais segmentos sociais,inclusive, em especial, com os membros de seus círculos familiares.

Diretrizes fundantes para isso foram estabelecidas na Assembléia Mundial sobre oEnvelhecimento, realizada em Madri em 2002 e de que resultou uma Declaração Política e oPlano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento de 2002. Naquele importante evento, osgovernos participantes – incluindo o Brasil – se comprometeram a conceber e implementar umasérie de medidas para implementar uma centena de recomendações sobre três temas prioritários:1) pessoas de idade e desenvolvimento; 2) promoção da saúde e do bem-estar na velhice; e3) criação de um entorno propício e favorável para os idosos.

I n o v a ç ã o : u m d e s a f i o e m c u r s o

Ao mesmo tempo que se repete, com freqüência, que a Universidade brasileira está em crise eque urge submetê-la a uma reforma de largo alcance, é inegável que a situação da produção científicae tecnológica está longe de ser tão insatisfatória quanto a das instituições em que ela ocorre.

Certamente, os indicadores convencionais, do tipo cientistas por milhares de habitantes, semostram, aqui, muito abaixo daqueles exibidos por países mais desenvolvidos, como EUA,França ou Alemanha. Mas equiparam-se ou superam os de países com graus de desenvolvi-mento semelhantes aos do Brasil. Além disso, há vários exemplos de bons êxitos, pontuais éverdade, mas de modo algum descartáveis ou pouco significantes: citem-se apenas os casos dosavanços realizados na pesquisa biológica ou na agropecuária – em que a Embrapa ocupa lugarde destaque no cenário mundial – assim como Embraer na tecnologia aeroespacial e o Inpe deSão José dos Campos, já em alguns ramos importantes da criação e desenvolvimento de softwaresempresariais e de serviços – com destaques para o pioneirismo na automação bancária e nosavanços em telecomunicações.

Igualmente são preocupantes indicadores mais críticos, como o de número de patentes registradase o incremento de eventos inovadores registrados. Aqui é preciso levar em conta dois fatores.Um, de caráter instrumental, é o de que os aparatos brasileiros de patentes e registros são notavel-mente precários. Outro é o de que o sistema produtivo compreende uma proporção muito grandede empresas multinacionais, que operam fundamentalmente com produtos e processos desen-volvidos em suas matrizes, implicando que parte significativas das inovações seja de adaptação ouajustamento dos produtos e processos já patenteados nos países-sede das matrizes.

Uma implicação direta desse padrão de organização do sistema produtivo e das políticas queo regulam está nos baixos níveis de investimentos empresariais em P&D observados no Brasil. Asempresas sob controle de corporações multinacionais realizam investimentos nos países-sede eapenas os complementam em reduzida proporção em suas filiais brasileiras; das grandes empresasbrasileiras, poucas têm presença mais ampla no comércio internacional – de onde vêm os estí-mulos mais densos aos gastos em P&D – e, ao longo de décadas, elas preferiram adquirir a tec-

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nologia embutida nos equipamentos e processos produtivos assistidos ou a trazida em contratosde assistência técnica; e poucos têm sido os casos em que buscam ativamente parcerias estratégicaspara se capacitar tecnologicamente. Apenas nos últimos anos é que esse movimento vem crescendocomo efeito dos desafios postos pela maior inserção do Brasil no mercado global.

Desse modo, ao longo de décadas, têm cabido predominantemente ao setor público as funçõesde promoção e financiamento do desenvolvimento cien-tífico e tecnológico; mais de três quartos dos gastos quetêm correspondido a pouco mais de 1,3% do PIB. Porisso é importante notar que a parte absolutamente domi-nante da produção brasileira de C&T que, como se disseantes, não pode ser considerada pequena, tem se origi-nado das universidades públicas e de institutos depesquisas mantidos pelo governo [e até há pouco pelasgrandes empresas estatais]. E malgrado as vicissitudespor que têm passado essas instituições. Daí serimprescindível compreender como a produção vemsendo viabilizada e dinamizada em meio a essasdificuldades.

De modo geral, acabou sendo criado todo um sis-tema específico de canalização de recursos para os seg-mentos de produção de C&T que se consolidaram numaparte importante das universidades públicas (várias federaise as estaduais de São Paulo e Paraná). De um lado, essas universidades criaram, em seu interior,mas com larga autonomia de gestão, centros ou núcleos de pesquisa e formação e fundações depesquisa que mobilizam os meios requeridos para o avanço de grupos relevantes de pesquisa(básica e aplicada) e de desenvolvimento. De outro, agências governamentais estruturaram, espe-cialmente no CNPq e FINEP e em algumas fundações estaduais de C&T, mecanismos de fomentoe financiamento de projetos de pesquisas conduzidos por aqueles entes. De tal forma que os maioresefeitos da crise de financiamento das universidades – manifesta em seus orçamentos ordinários – con-seguem ser contornados ou mesmo superados naqueles segmentos universitários. Condição queassegura, em parte importante, a manutenção e continuidade dos grupos e equipes mais proemi-nentes de pesquisa e das atividades de produção de C&T na maioria das áreas mais relevantes.

Por outro lado, não pode deixar de ser considerada a questão das desigualdades regionais emmatéria de desenvolvimento científico e tecnológico. A região nordeste, por exemplo, onde seconcentra grande parte dos problemas sociais do país, ressente-se de políticas públicas no setorque viabilizem o aproveitamento de suas potencialidades e os convertam em fontes de emprego,renda e melhor educação.

Q u e s t õ e s A m b i e n t a i s : d e s a f i o s e o p o r t u n i d a d e s

O Brasil ocupa um locus peculiar nas discussões que, por todo o mundo, se travam a respeitodo futuro do planeta e, por conseguinte, das pessoas que o povoam. Desde logo, porque contém

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"Estamos empenhados em fazer da ciência, da tecnologia e da inovação pilares para o crescimento econômico, para o desenvolvimento soberano e sustentável do Brasil. Os atos, decisões e manifestações da UNESCO representam importante apoio para alcançarmos essas metas. Somos parceiros em programas fundamentais para que esses objetivos sejam alcançados: cooperação entre os países de língua portuguesa, difusão do conhecimento e inclusão social, capacitação e intercâmbio de recursoshumanos. Além da contribuição, no aspecto mais amplo, de formulação de políticas que dêem forma aos objetivos almejados. Essa parceria será mantida, na perspectiva da construção de um mundo melhor, em que a cultura e a educação sejam, cada vez mais, instrumentos de libertação da humanidade."

Eduardo CamposMinistro da Ciência e Tecnologia

em seu território e sob sua responsabilidade uma parte importante dos recursos e processos queameaçam esse futuro, mas também dos potenciais para converter tais riscos em oportunidadesde desenvolvimento – sustentável, como se tem costumado adjetivar – mais promissoras do queas atualmente em curso. No entanto, embora rapidamente o país tenha adotado algumas políticaspúblicas bem alinhadas com o que há de mais razoável nas discussões, deve-se reconhecer quea maioria dos brasileiros ainda desconhece em boa medida aqueles riscos e potenciais e o queeles representam para todos. E ao cabo, grande parte da sociedade de fato pouco influiu sobretais políticas; e, em certos casos, mantém condutas que lhes tiram parte de sua eficácia. Comoem outras questões, uma parcela mais organizada das elites intelectuais, estamentos burocráticosespecializados e alguns segmentos sociais diretamente interessados têm exercitado uma fortemobilização política – em nome da sociedade civil – e conseguido fazer avançar essas políticasem certos momentos, perdido outras batalhas noutros momentos.

Mas ainda faz falta uma consciência mais ampla da sociedade em geral em relação àimportância crítica dos problemas ambientais para o desenvolvimento do país e, mesmo, dahumanidade.

Um exemplo recente nos é dado por uma jornalista da Amazônia, que cobria a recenteConferência Científica do Experimento em Larga Escala de Biosfera-Atmosfera da Amazônia,na qual alguns brasileiros e muitos estrangeiros apresentam informações e conhecimentos vitaispara o futuro. Dizia ela estar abismada não apenas pela extensão e relevância dos achados daspesquisas ali mostradas, como por deparar-se – tanto quanto colegas de outras regiões do país– com enorme dificuldade para torná-las notícia acessível e impactante para as pessoas daprópria região. Até porque para ela mesma, pessoa privilegiadamente informada e instruída,muito daquilo era inédito e difícil de compreender cabalmente. Não apenas os profissionais deinformação sentem tal assombro e dificuldade de compreensão.

Pode parecer ufanismo pouco recomendável exclamar que no território brasileiro se encontraquase um oitavo de toda a água doce do mundo. Especialmente quando tem sido dito que, emlugar de campos de petróleo, o motivo de dramáticos conflitos internacionais num futuro nãomuito remoto, será a disputa por fontes de água. No entanto, brasileiros desperdiçam umaquantidade assustadora de água. Uma proporção elevada deles, diferentemente do que ocorreem boa parte do mundo, dispõe de água potável em casa; ela era de 60% da população urbanaem 1970 e chegou aos 91% no ano de 2000. Esse feito é obviamente animador; mas tem umacontrapartida não tanto: apenas 8% da população é atendida por serviços de tratamento deesgotos. Ou seja, boa parte da água de que desfrutam mistura-se a outros dejetos domiciliarese de atividades produtivas que poderão comprometer os rios e demais reservatórios naturaisdesse recurso.

Se, por um lado, alguns segmentos industriais potencialmente destrutivos – como o de papele celulose – hoje desenvolvem amplos investimentos tanto para evitar o esgotamento de suasfontes de matérias primas – inclusive modificando seus padrões tecnológicos – quanto parareduzir ou eliminar seus impactos ambientais negativos, outros mantêm absoluta indiferençaaos prejuízos que causam de imediato – como no caso recente da Cataguazes Papéis, quando1 bilhão e 200 milhões de litros de produtos tóxicos atingiram o Rio Pomba, em Minas Gerais– ou no futuro próximo ou remoto, como são os casos de inúmeras mineradoras, indústriasquímicas e farmacêuticas. Ou das incontáveis cerâmicas, olarias e fornecedoras de areia, saibro

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e pedras para a construção civil em grandes e médias cidades que vão deixando imensos danosem seu rastro. Contudo, tais prejuízos – como o demonstram as experiências de países commais sólida consciência ecológica – são em grande parte evitáveis, a partir das própriascondições de regulação econômica e de legislação ambiental adequada. Ou seja, não é umacondição inevitável do "progresso" como procuram defender os que usufruem lucros adicionaisdas externalidades negativas que provocam.

Numa outra dimensão, não faz muito, os brasileiros passaram a deparar-se, mais amiúde,com um termo novo e também pouco compreendido: biodiversidade. Pois o Brasil também érico nisso e vem sofrendo graves ameaças a seu acervo de seres vivos; especialmente quandoeles se prestam à apropriação monopólica de suas virtudes como fonte de medicamentos, nutri-entes humanos e agropecuários, ou como elemento de avanço da ciência e de suas aplicaçõesà biotecnologia e outros campos altamente lucrativos.

Enfim, as questões ambientais perpassam várias dimensões da vida econômica e social dopaís e emergem como parte de uma agenda essencial das estratégias e dos projetos de desen-volvimento atuais e futuros. No entanto, essas ameaças gerais ao meio ambiente decorrem deum imperativo histórico legado pelas bases da própria modernidade.

Na verdade, a lógica básica da expansão capitalista se articula com a concepção modernadas relações do homem com a natureza: esta deixou de ser um dom divino, criada para abrigaro homem, passando a ser concebida – nas bases do imaginário das sociedades ocidentais,secularizadas – principalmente como uma fonte de insumos para os processos de produção e,portanto, para ser dominada pela racionalidade técnica e pelo avanço nas técnicas racionalizadaspara ampliar as forças produtivas.

Rapidamente, os sistemas de produção – expandindo a metalurgia e a mecânica – aprenderama extrair, processar e transformar o que estava no subsolo. Aglomerando a força de trabalho nascidades, aprendeu a transformar mais eficientemente os solos para produzir alimentos baratose em larga escala; e para isso dizimou florestas, aplainou e nivelou os campos, fertilizou o soloe combateu pragas até ameaçar matar os próprios rios e a esterilizar as terras outrora férteis.

Embora evidentes os avanços na deterioração da natureza já no século XIX – de que sãoemblemáticas a poluição atmosférica e as precárias condições sanitárias das cidades industriaisda Inglaterra manchesteriana – é já nos anos sessenta do século XX que os riscos de uma criseambiental em escala planetária se manifestam de modo mais racionalizado, nos termos daprópria lógica básica do capitalismo.

Tentou-se jogar a culpa do esgotamento dos recursos no crescimento da população, queseria perigosamente mais acelerado do que o da disponibilização de recursos econômicos. Oargumento teve vida curta – embora com freqüência apareça alguém procurando revivê-lo – elogo se percebeu que havia sim dois problemas com a população: de fato ela aumenta muito –em especial onde a pobreza se contrapõe a uma natural tendência a reduzir a fecundidade e anatalidade – e é muito mais difícil prover as necessidades dos que não têm emprego e rendapara atendê-las a partir dos mercados tais como eles se constituem na economia global.

Com isso, o ideário básico do Relatório Meadows – preparado para as conferências doClube de Roma em 1971 e que procurava identificar os limites ambientais para o crescimento– foi sendo superado. E prevaleceu, a partir das conferências de cúpula dos anos oitenta enoventa – que culmina em 1992 na do Rio de Janeiro6 – o entendimento corporificado, dez

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6. A 2ª Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (mundialmente conhecida como Eco-92) – realizada no Rio de Janeiro– resultou na formulação de documentos oficiais de alta relevância.Verdade que boa parte de suas recomendações não chegaram, até hoje,a ser implementadas; em geral por envolverem mudanças no comportamento dos países em relação ao meio ambiente.

anos antes, no Relatório Brundtland, que consolida uma visão crítica do modelo de desen-volvimento adotado pelos países industrializados e replicado pelos países em desenvolvimen-to, que conduz a uma irredutível incompatibilidade entre os padrões de produção e consumovigentes nos primeiros e o uso racional dos recursos naturais e a capacidade de suporte dosecossistemas. Do debate desse documento resultou a cunhagem de um razoável grau de acordode que o desenvolvimento sustentável seria aquele que "(1) atende às necessidades do presente, semcomprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades; (2) respeita acapacidade de suporte da biosfera; (3) contribui para a redução da pobreza; e (4) melhora a qualidade de vida no planeta".

Nesse sentido é que assoma aos primeiros itens das agendas ambientais no Brasil a consoli-dação e o fortalecimento de uma ampla consciência de que cabe aos brasileiros uma respon-sabilidade crucial pelos elementos de sustentabilidade contidos em seu território. E que seexpressam em pelo menos três grandes eixos: o de engendrar e implementar modelos de desen-volvimento sustentável para a Amazônia e o Pantanal, o de reduzir as disparidades sociais eeconômicas que se concentram em seus grandes aglomerados metropolitanos – a que se somao combate às seqüelas da violência e da criminalidade que aí se manifestam de modo notavel-mente agudas – e o de avançar significativamente na identificação, preservação e soberania noaproveitamento de seu patrimônio de biodiversidade.

C i d a d a n i a , T o l e r â n c i a e D i v e r s i d a d e C u l t u r a l

Há um reconhecimento essencial a ser exercitado quando se pensam as relações sociais noBrasil: tanto quanto somos uma sociedade muito diversificada culturalmente, somos tambémuma sociedade amplamente desigual e com níveis pouco satisfatórios de coesão e solidariedade.

Desde logo, uma parte das diversidades se traduz numa fonte de desigualdades que se mostradifícil de superar. O escravo negro, assim como outros libertos, não se tornou cidadão ao seproclamar a Abolição. Várias gerações de seus descendentes se mantiveram à margem doprocesso de desenvolvimento e foram sendo parcial e lentamente incorporados à economia e àsociedade urbana já em meados do século XX. E em condições geralmente desvantajosas. De talmodo que diferenciação de cor e desvantagem econômica se imbricam e se confundem. Tantoquanto se escamoteia a distância social que os aparta dos não-pobres e mais ou menos brancos.De onde surge uma baixa tolerância à convivência igualitária entre diferentes, principalmentenaquelas regiões do país em que as relações escravistas foram dominantes e mais duradouras.

E, no entanto, a diversidade cultural – gerada precisamente pela agregação de muitas etniasdiferentes (inclusive pela variedade de origem geográfica e cultural dos próprios escravos:nagôs, bantos, angolas...) – constitui a fonte principal de riqueza do imaginário e das manifes-tações criativas do país. Riqueza que se expressa mais aberta e amplamente nas artes, mas subjazpouco percebida na desenvoltura das instituições científicas, tecnológicas e de gênese dopensamento social.

Veja-se que, contraditoriamente, essa diversidade não se incorpora aos processos educativo-escolares; senão talvez em suas dimensões diferenciadoras/discriminadoras. Ao cabo, o currículodas escolas que atendem os meninos e jovens das camadas mais pobres e/ou dos sítios sociaispostos à margem, tendem a reproduzir no conteúdo e nos procedimentos a "cultura da

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pobreza". Ignora-se, nessas escolas, o potencial emancipador que se conteria em práticas educa-tivas inspiradas nas fontes da cultura local.

Por conseguinte, as trajetórias educativas são correspondentemente truncadas. As escolasque vivem um currículo pedagogicamente mais precário – que transmite escassos conhecimentose pouco estimula a aquisição de capacidades cognitivas – exaurem seu papel nos níveis(hierárquicos) mais modestos. E tanto mais reduzam essa precariedade, ganhando substância,acesso menos difícil darão aos níveis educativos mais elevados. E até há pouco, apenas umasraras escolas médias (apropriadas pelos estratos sociais médios e altos) davam acesso aos estudossuperiores, quando estes realmente eram distintivos educativa e socialmente. Pouco a pouco,diferenciam-se estes patamares: há escolas básicas e média que provêm condições de acesso aossegmentos mais sofisticados da formação universitária diferentes daquelas que permitem acessoa segmentos menos qualificados ou até meio toscos do ensino pós-secundário. Com o que seatende mantêm as disparidades sociais relativas à mobilidade conquistada pelos segmentosmenos pobres.

Num outro plano, diferenciações e diversidades operam como limitantes da democratizaçãodas relações interpessoais e intergrupais. Os bairros "pluriclassistas" de algumas décadas vãodesaparecendo e tanto eles como principalmente os sítios de expansão populacional das periferiasmetropolitanas vão se tornando mais homogêneos. E quanto maior essa homogeneidade,menor se torna a comunicabilidade de seus membros com os de outros sítios. De onde tendema aumentar os níveis de intolerância e baixa solidariedade; traduzidos ora nos conflitos, porvezes violentos, de bandos, gangues e facções; ora no frio estranhamento ou nos latentes con-flitos entre os jovens da periferia e os jovens das classes médias e altas, de sítios fisicamentebem afastados uns dos outros.

Algo, porém, tende a mesclar e dissimular as diferenças. Os padrões globalizados de consumo,economicamente muito diferentes, são igualados simbolicamente pelas marcas comerciaisverdadeiras que são reproduzidas formalmente pelos produtos "pirateados". Os dispositivosmercadológicos daquelas disseminam padrões de gosto, linguagem, valor simbólico que sãomimetizados por estes e repassados aos que não têm acesso aos primeiros. Desse modo,valores, preferências e hábitos que se parecem no plano do consumo de bens e serviços pessoaisde grupos socialmente muito distintos, transladam-se para outras esferas da vida social, comoo das crenças, das percepções societárias e do imaginário político.

A diversidade cultural, nesse quadro, é posta em risco pela hegemonia de certos segmentosda indústria cultural que tendem a ser globais na disseminação, mas muito localizada nas suasfontes geradoras mais vigorosas. E poucos países conseguem contrapor-se, num ou noutro segmentodessa indústria a este movimento; dentre eles o Brasil. Aquela riqueza cultural diversificada,mencionada ao início, tem se expressado de maneira significativa em alguns campos culturaisimportantes: a música, as artes plásticas, o design de roupas e calçados e, fortemente, mas emmenor escala relativa, o cinema.

O embate entre essas imposições da globalização e a afirmação das culturas locais,regionais e nacionais tem assumido um caráter tão crítico quanto os contraditórios comérciosinternacionais ou os conflitos entre o livre movimento de capitais e a soberania econômicanacional. Esse embate, justamente, é o que motivou a formação da agenda e as discussões havidasna Conferência Geral da UNESCO que resultaram na aprovação da Declaração Universal da

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UNESCO sobre a Diversidade Cultural, de que vale reproduzir, em especial, seu Artigo Primeiro:

A cultura toma diversas formas através do tempo e do espaço. Esta diversidade se incorpora na originali-dade e na pluralidade das identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem ahumanidade. Fonte de mudanças, de inovações e de criatividade, a diversidade cultural é, para a espéciehumana, tão necessária quanto a biodiversidade é para a natureza. Neste sentido, ela constitui o patrimôniocomum da humanidade e pode ser reconhecida e afirmada pelo benefício das gerações presentes e futuras.

Numa outra dimensão, associada a esta, tem-se mostrado possível – e valioso – extrair davivência da diversidade social e cultural – e mesmo daquela dos sofrimentos e angústias provo-cados pelas situações de risco e violência que permeiam as cidades – motivações e informaçõespara uma reflexão sistematizada sobre esses temas, como ponto de partida para a construção decondutas sociais solidárias, tolerantes e generosas. São várias já as iniciativas apoiadas pelaUNESCO de enriquecimento de práticas educativo-culturais nas escolas, que se estendem tambéma instituições de promoção cultural para jovens e aos movimentos sociais e comunitários, visandoà construção de uma cultura para a paz.

Seu traço comum – a ser mais largamente disseminado – é que elas procuram avançar paraalém das proposições de paz em senso negativo, de rejeição da belicosidade e da violência,procurando alcançar uma proposição de cultura da paz, mais ampla, de senso positivo, enfati-zando a valorização da fraternidade e solidariedade, do diálogo intercultural, do respeito e dousufruto da diversidade, da convivência saudável entre os dessemelhantes.

Além disso, podem projetar-se em modalidades de trabalho pedagógico que tanto podemestar desenvolvidas em atividades independentes, como parte de uma reconstrução dos planoscurriculares, como inovação nos modos de colocação dos temas das disciplinas convencionais,de ciências (paz ambiental, por exemplo) e humanidades (vivência das diferenças, acatamentodas variedades culturais e literárias etc). De tal modo que, criativamente, se possa promover acultura da paz, tanto em relação às crianças, adolescentes e jovens estudantes, como às famílias,aos ambientes de trabalho e aos movimentos comunitários.

Por isso é cabível esperar que, a partir desses termos e da fertilização dessas iniciativas, adiversidade cultural adquira força e pertinência, como base do desenvolvimento humano, espe-cialmente quando associada a um vigoroso empenho de governo e sociedade civil na eliminaçãodas disparidades sociais, étnicas e econômicas e no estímulo à alteridade e tolerância como baseda solidariedade e coesão.

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II. A MISSÃO COMPARTILHADA DA UNESCO

A secção anterior analisou o Brasil como um país que traz a herança da pobreza e das dis-paridades regionais e sociais, ao mesmo tempo que se defronta com o desafio de superar essesproblemas, tornando-se mais competitivo – e para tanto também mais igualitário – na teiaeconômica do mundo moderno. A educação desempenha um papel chave neste processo,tendo em vista o seu valor econômico e social, em face sobretudo da situação da juventude eda sua necessidade de integração plena à sociedade, superando a exclusão. O Brasil é um dosmuitos países do mundo que enfrentam tais dificuldades e que têm uma parte considerável dasua juventude em situação de vulnerabilidade. Se o intercâmbio internacional aumentou com amundialização, não diminuíram necessariamente os problemas de violência e incompreensão,nem a pobreza recuou na mesma medida em que o homem desenvolveu novas tecnologias,aperfeiçoou os sistemas de trocas e ampliou o uso muitas vezes irresponsável dos recursos naturais.

A UNESCO tem uma missão relevante a desempenhar neste quadro, que não é exclusivo doBrasil, porém ela está presente em numerosos países. Esta missão é compartilhada na medida em que,longe de ser solitária, é desempenhada em parceria com outras organizações internacionais, governos, organiza-ções não-governamentais e sociedades civis. Não cabe à UNESCO fazer empréstimos ou financiarplanos de desenvolvimento, porque não se trata de um banco ou de uma agência de desen-volvimento. Seu orçamento é incompatível com essas tarefas porque ela está voltada precisa-mente para o que escapa às tarefas de bancos e agências de desenvolvimento – e sem o quê setorna muito difícil a esses bancos e agências exercer as suas funções. Como órgão especializa-do das Nações Unidas, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura se define hoje como um laboratório de idéias e uma instituição que fixapadrões, para tecer consensos universais sobre temas éticos emergentes. Neste sentido, se carac-teriza por constituir um fórum central destinado à articulação dos temas éticos, normativose intelectuais do mundo contemporâneo, para tanto fortalecendo o intercâmbio multidisci-plinar e o entendimento mútuo, enquanto trabalha para alcançar consenso universal quanto aesses temas, por meio do estabelecimento de objetivos e da mobilização da opinião pública. AOrganização também funciona como um centro para disseminar e compartilhar informaçõese conhecimentos, colaborando para os seus 190 Estados-membros construírem suas com-petências institucionais em diversos campos, sintonizados com as fronteiras mais avançadas doconhecimento. Para isso, publica cerca de 120 títulos por ano nas línguas oficiais e outrosmuitos em cerca de 70 outros idiomas. Ademais, edita cerca de 50 boletins e 20 revistas emvariados idiomas.

Portanto, de um lado, a UNESCO atua no campo da criação e articulação de idéias e, de

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outro, no fomento à concretização dessas idéias. Por isso, não recai nem no idealismo, nemna exagerada praticidade. Desde a sua fundação, quando o mundo renascia das cinzas daSegunda Guerra Mundial, a sua preocupação maior não foi com as guerras em si, as carênciaseducacionais e a pobreza, mas com as idéias que as geram. Eis o motivo por que a suaConstituição declara que, se a guerra nasce na mente dos homens, também a paz nela pode sercultivada. Com efeito, não são as armas por si sós que criam os conflitos, mas são utilizadas apartir do momento em que valores distorcidos, idéias preconcebidas e choques mal geridos deinteresses levam o homem a empregá-las. Os armamentos são também criados e sofisticadospela mente humana, que conta com a capacidade de criar processos ainda mais refinados deresolução pacífica das suas divergências.

No campo da concretização das idéias, a UNESCO age em especial como catalisadora paraa cooperação internacional e como agente de desenvolvimento das competências dos seus países-membros. No campo da cooperação internacional a Organização apóia e executa programase projetos multilaterais e bilaterais, estimula contatos pessoais entre especialistas e dissemi-na conhecimentos, inclusive por meio dos Anuários Estatísticos e dos Relatórios sobre o Estado daEducação. Na área do desenvolvimento de competências, a UNESCO organiza a cooperaçãotécnica internacional e assessora os países-membros, envolvendo o desenvolvimento de políti-cas públicas, estratégias nacionais, projetos, estudos de viabilidade e levantamento de fundosfinanceiros para execução e avaliação de programas e projetos. Assim, por exemplo, aOrganização tem apoiado Maurício no seu desejo de renovar o sistema educacional; oCasaquistão, quando decidiu elaborar leis e normas sobre a liberdade de imprensa; e ElSalvador, no seu objetivo de oferecer educação cívica à sua polícia.

Embora seja usualmente mais identificada com a educação, a UNESCO atua também noscampos da ciência e da cultura, da comunicação e da informação, conforme o seu mandato.Nas Ciências Naturais, tem programas e projetos sobre a água, os oceanos, as Ciências daTerra, a política científica, a mulher na ciência e outros. Nas Ciências Sociais e Humanas, umadas suas áreas temáticas, a ética, os direitos humanos, a juventude e HIV/Aids, a segurançahumana e a paz, o racismo, a discriminação e a xenofobia, os estudos prospectivos e asmigrações internacionais são alguns dos campos relevantes, sobretudo para a convivênciahumana em escala mundial. Na área da Cultura, a diversidade cultural, a herança, o diálogointercultural, as indústrias culturais e o turismo cultural são outros objetos de atividade. NaComunicação e Informação, salientam-se arquivos e bibliotecas, educação e novas tecnologiasda comunicação e informação, temas éticos, liberdade de expressão, povos indígenas e desen-volvimento da mídia. Finalmente, como Foco Especial, além de áreas especiais do mundo,como a África, a Organização se ocupa da cultura de paz, diálogo entre civilizações, educaçãopara todos, juventude, herança mundial, desenvolvimento sustentável e o Portal doConhecimento. Portanto, focaliza em grande parte áreas usualmente negligenciadas, que serelacionam notadamente com o know-what e o know-why da convivência humana. Em outraspalavras, áreas para as quais não basta o know-how e das quais dependem intimamente a vida ea preservação do homem e da Terra.

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A s R a í z e s d a U N E S C O

A relação da UNESCO com a paz e a ética é visceral, pelo seu próprio berço. Seusantecedentes se encontram logo depois da Primeira Guerra Mundial, então chamada a GrandeGuerra, quando foi criada a Sociedade das Nações. Neste âmbito multilateral discutiu-se, em1920, a necessidade de estabelecer uma cooperação intelectual junto à atividade política dosgovernos. Essa obra da Sociedade veio a concretizar-se dois anos depois, com a ComissãoInternacional de Cooperação Intelectual, reunida pela primeira vez em Genebra. Em 1924 ogoverno francês ofereceu sede em Paris e orçamento para o Instituto Internacional deCooperação Internacional. Dezoito países vieram a criar centros nacionais correspondentes,mas o Instituto deixou de funcionar em 1940, por força da Segunda Guerra Mundial. Apesardo conflito, no entanto, Richard Butler, presidente do Conselho de Educação do Reino Unido,reuniu em 1942 os países aliados que se exilaram em Londres. Foram então lançadas as basesde uma Organização Internacional de Cooperação Cultural.

Já com a aprovação da Carta das Nações Unidas, osgovernos convocaram uma conferência em Londres,cuja culminância foi a criação, em 16 de novembro de1945, da Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura. Representantes de 37países assinaram a sua Constituição, que se tornouvigente quando foi ratificada por 20 outros signatários.Para orgulho do Brasil, um dos participantes daquela reuniãofoi Anísio Teixeira, que continuaria a manter ativas relaçõescom a UNESCO, especialmente quando diretor geral doINEP. Sua sede, por proposta da delegação do ReinoUnido, seria Paris, como o Instituto pioneiro que a pre-cedeu. Como até hoje, recebeu a missão de construirou ajudar a construir salas de aula em países devastadospelos conflitos armados, mas passou também a utilizara educação, as ciências sociais e naturais, a cultura e acomunicação – seus campos de atividade por excelência– para alcançar um objetivo mais ambicioso: construir a paz na mente do homem, conformeconsta do seu documento constitucional, já mencionado. Nascida após um grande conflito,a UNESCO continua a exercer um papel crítico, não só porque, após a guerra fria, o mundo épontilhado de guerras localizadas, mas também porque, na paisagem histórica de hoje, oterrorismo alarga as suas proporções, caracterizando-se como um ataque contra a humanidade.Do mesmo modo que as Nações Unidas, ontem como hoje, na qualidade de espaço multilateralque faz das diversidades do homem a sua riqueza criadora, contribui para satisfazer às necessi-dades urgentes do mundo, no sentido de desenvolver visões globais do desenvolvimento sus-tentado, fundamentado na observância dos direitos humanos, no mútuo respeito e no combateà pobreza.

Aproximando-se dos seus 60 anos, a UNESCO apresenta diversos marcos na sua história,ligados à capacidade de pacientemente tecer consenso em relação a questões cruciais, que são

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"Desde 1996, a UNESCO e o Instituto Ayrton Senna pensam juntos em saídas que garantam oportunidades de desenvolvimento humano a crianças e jovens por meio de uma educação de qualidade. Inspirado nos Quatro Pilares da Educação, do relatório da UNESCO, o Instituto deu um passo decisivo em sua atuação, construindo tecnologias de ponta voltadas à educação para o desenvolvimento humanocom o objetivo de formar cidadãos que aprendam a ser, a conhecer, a conviver e a fazer na sociedade do século 21. Esse casamento de idéias e ideais que une as duas organizaçõestem dado muitos frutos. O compromisso da UNESCO com o futuro das novas gerações de brasileiros tem sido decisivo para a nação, porque fortalece iniciativas de todos os setores e fornece o combustível necessário para que ações amplas, realmente eficazes, ganhem força e perpetuem-se na história das transformações sociais do país".

Viviane SennaPresidente do Instituto Ayrton Senna

comandadas por valores e princípios éticos compartilhados. Alguns deles são:

• a defesa dos direitos humanos, sobretudo a educação primária obrigatória, gratuita e uni-versal, recomendada já em 1948 e incorporada à Declaração Universal dos Direitos Humanos;

• o respeito aos direitos autorais, consubstanciado em Convenção Universal de 1952;• a reconciliação entre o ambiente e o desenvolvimento, nos termos do que é hoje con-

ceituado como "desenvolvimento sustentável", com base em conferência intergovernamental(1968), que levou à criação do Programa do Homem e da Biosfera;

• a proteção da herança cultural e natural mundial, adotada por convenção de 1972; • a rejeição ao racismo, por meio da Declaração sobre Raça e Preconceito Racial (1978);• o provimento da educação básica de qualidade para todos, com base na Declaração de

Jomtien (1990);• a visão prospectiva da educação e da cultura, prevendo os desafios do século XXI, por

meio de dois relatórios elaborados por peritos, coordenados por Delors e Cuéllar, "Educação:um tesouro a descobrir" e "Nossa Diversidade Criadora”.

C o m o A t u a a U N E S C O

Conforme os marcos históricos assinalados acima, a missão da UNESCO, voltada tanto parao passado como para o futuro, reúne seja a preservação e a utilização da memória do homemao longo dos tempos, que é o fio das civilizações, seja o estabelecimento de consensos em facea temas fundamentais para a humanidade. É esse o papel de um órgão multilateral, inserido emcontexto histórico em que crescem exponencialmente as interações e os potenciais conflitosentre os homens e os grupos sociais.

Coerente com esta vocação, constitui ela uma rede de Escritórios Regionais e Nacionais,em crescente descentralização, que atuam nos diversos países-membros. As ações, entretanto,se, por um lado, envolvem os governos, que contribuem com verbas, por outro lado, incluemnessa rede grande número de organizações não-governamentais, reconhecendo o significadocada vez maior do terceiro setor. Deste modo, a UNESCO preconiza e ajuda a realizar ainteração entre governos e sociedades civis, que constitui uma das chaves para que as políticaspúblicas democráticas se materializem. Em âmbito mundial, cerca de 350 organizações não-governamentais mantêm relações oficiais com a UNESCO e centenas de outras trabalham emprojetos específicos. Essa imensa teia tem adquirido um grande poder de diálogo e mobi-lização, de tal modo que a Organização pode atuar como promotora do entendimento e catalisadorados mais variados recursos, enquanto desenvolve uma visão que chega às raízes da realidade.

P r i n c í p i o s d a U N E S C O

Tendo em vista as suas funções como laboratório de idéias, âmbito de geração de consensoe de fixação de padrões, a UNESCO tem desenvolvido um corpo de princípios e valores aolongo da sua história. Sobre ele existem fora da Organização duas visões ingênuas: uma

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otimista, que tende a considerar que os documentos internacionais, uma vez assinados e ratifi-cados, tendem a se concretizar de maneira quase automática na realidade; outra, pessimista, osencara como uma visão utópica, que nunca encarnará no mundo cotidiano. O papel dessecorpo de princípios e valores, no entanto, pode ser visto como a fixação de alvos a alcançar,que geram a contradição e a crise de legitimidade quando o real deles se distancia e se torna,assim, motivo desde o reexame particular de condutas até de denúncias em escala mundial,dependendo da gravidade. Desse modo, os documentos que resultam dos consensos geradospossuem um valor moral indiscutível, já que a ordem social e mundial se baseia predominan-temente em valores e não na força. A força, eficaz a curto prazo, pode esvaziar-se caso careçade legitimidade. Portanto, os documentos internacionais, ao mesmo tempo, constituem fruto efator de um diálogo não raro árduo entre padrões e realidade.

Assim, os princípios e valores da UNESCO correspondem aos valores basilares adotadospelas Nações Unidas, aos princípios e orientações gerais e aos princípios e orientaçõesespecíficos. O presente documento se deterá sumariamente nas duas primeiras categorias.

Entre os valores basilares situam-se a liberdade e a igualdade em direitos e dignidade paratodos os homens, independente de raça, cor, gênero, nacionalidade, língua, religião, opinião,nacionalidade ou origens sociais, propriedade, nascimento ou outro status, como assinala aDeclaração Universal dos Direitos Humanos. Esses direitos são de ordem econômica, social ecultural, incluindo a educação. A criança é declarada sujeito de direitos, numa série de instru-mentos internacionais que focalizam esses direitos e condenam a discriminação de grupos vul-neráveis. A Declaração do Milênio atualiza e entrelaça os valores essenciais ao relacionamentointernacional no século XXI, selecionando como fundamentos a liberdade, a igualdade, a soli-dariedade e a tolerância, o respeito pela natureza e a responsabilidade compartilhada pelodesenvolvimento econômico e social, pela paz e pela segurança. Reiterados cada vez mais nummundo a cada dia mais interdependente, um dos efeitos positivos da mundialização é que podeestar configurando-se um direito comum da humanidade ou o direito dos direitos.

Com fundamento nesses valores basilares, a UNESCO aprovou numerosos documentosabrangentes, destacando-se, em correlação com os instrumentos gerais da época, aRecomendação contra a Discriminação Racial em Educação e a Declaração sobre a Raça eo Preconceito Racial. Seu conteúdo estabeleceu, entre outros pontos:

• o compromisso de eliminar e prevenir todas as formas de discriminação de raça, cor, sexo,linguagem, religião, política ou de outro tipo de opinião, de origem social ou nacional, decondição econômica ou nascimento;

• a condenação do genocídio e a recusa de qualquer teoria ou explicação que classifiquenações e povos;

• o dever de a educação em todos os níveis ter uma dimensão internacional e uma perspectivaglobal, promovendo o entendimento e o respeito por todos os povos, culturas e civilizações;

• o estabelecimento da aprendizagem não como fim em si, mas como meio de eliminarviolações de direitos humanos e construir uma cultura de paz, baseada na democracia, desen-volvimento, tolerância e respeito mútuo.

Além das declarações citadas, o terreno dos valores, princípios e propostas de ação envolvereflexões sobre a educação e a cultura no alvorecer do século, consubstanciadas nos RelatóriosDelors e Cuéllar.

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O Relatório Delors – Educação: um tesouro a descobrir – alerta para a crescente interde-pendência planetária, que pode levar ao risco de ruptura entre uma minoria preparada paramover-se neste mundo novo e a maioria, que pode se tornar joguete dos acontecimentos. Parafazer face a essas mudanças a escola não pode se perder na missão tradicional de transmitirconhecimentos. Cabe-lhe preocupar-se com a ética e a formação moral, bem como com atriagem da massa de informações, para melhor organizá-las e interpretá-las. Portanto, é precisodedicar atenção igual a cada um dos quatro pilares do conhecimento:

• aprender a conhecer: levar o aluno a dominar os instrumentos para o conhecimento, emvez de adquirir um repertório de saberes codificados;

• aprender a fazer: preparar o aluno para colocar em prática os conhecimentos e adaptar aeducação ao trabalho futuro;

• aprender a viver juntos: construir um contexto igualitário para os alunos perseguirem pro-jetos comuns, em vez de apenas propiciar a comunicação entre membros de grupos diferentes;

• aprender a ser: desenvolver integralmente a pessoa do aluno: inteligência, sensibilidade,sentido estético, responsabilidade e espiritualidade.

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Por sua vez, o Relatório Cuéllar – Nossa diversidade criadora – considera a cultura comomaneiras de viver juntos, destacando, assim, o princípio do pluralismo. Sua principal impli-cação é a abertura e o respeito à diversidade e à identidade de grupos e comunidades, partedeles tradicionalmente marginalizada. O fortalecimento da sua identidade não é um caminhopara o seu isolamento, mas, sim, para a sua integração consciente à sociedade mais ampla.

Todas essas orientações, profundamente vinculadas aos direitos humanos, ao pluralismo, àdemocracia e à paz, são perpassadas pela tolerância como missão permanente e modo de agirda escola, como se infere da Declaração de Princípios sobre a Tolerância.

O s C o m p r o m i s s o s d a U N E S C O

Sobre o fundamento dos valores e princípios, a UNESCO, como espaço de criação e negociação,tem erigido compromissos que envolvem os seus países-membros numa rede mundial. Isso sig-nifica que programas, projetos e atividades são pautados pelo respeito aos direitos humanos, à

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 39

Valores Basilares

Valores, princípios e orientações

Igualdade de direitos, liberdade e dignidade para todos os seres humanos. Direito

universal à educação, entre os direitos

econômicos, sociais e culturais. A educação deve ser gratuita nos

níveis elementar e fundamental. A educação

elementar deve ser compulsória. Os pais

têm direito prioritário de escolher o tipo de

educação para os seus filhos.

Eliminação de todas as formas de discriminação racial e de discriminação

contra as mulheres.

Reconhecimento dos direitos participativos e liberdades da criança.

Competência da família como principal agente educativo da criança. Obrigação do estado de ajudar as famílias a desempenharem bem esse papel. Gratuidade da educação nos níveis

elementar e fundamental. Compulsoriedade da educação elementar.

Direito prioritário dos pais a escolher o tipo de educação para os seus filhos. Proibição

de trabalho antes da idade mínima; proibição de qualquer trabalho que prejudique a educação.

Educação e sensibilizaçãodo público quanto à

importância da diversidade biológica e à necessidade de

conservá-la.

Valores fundamentais das relações internacionais:

liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância,

respeito à natureza e responsabilidade

compartilhada. Pessoas como centro

do desenvolvimento. Desenvolvimento social como responsabilidade nacional e internacional.

Entre as metas de atuação, universalização da escola primária para

todas as crianças.

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1945)Recomendação contra a

Discriminação em Educação (1960)

Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e

Políticos (1966)

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação Racial (1966)Declaração sobre Raça e Preconceito Racial (1978)

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979)

Convenção Relativa aos Direitos da Criança

(1989)

Convenção sobre Diversidade Biológica

(1992)

Declaração e Programa de Ação Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento

Social (1995)Ação da Reunião

Declaração do Milênio (2000)

Fontes

igualdade e ao respeito à diversidade como riqueza criadora. Enlaçando princípios e ação, opacto mais recente dessa trajetória foi a decisiva contribuição para a citada Declaração doMilênio, das Nações Unidas, que, além da redução da pobreza, prevê a universalização do ensinoprimário. O caminho para essa meta já havia sido pavimentado pela Declaração Mundial deEducação para Todos (Jomtien, 1990) que estabeleceu o posicionamento dos países-membrose das agências internacionais ante as necessidades da educação básica. Nela, pela primeira vez,tratou-se de concertar forças não só pela matrícula formal de crianças e adultos, mas também deuma educação de qualidade, significativa para a vida dos seus alunos. Suas principais ênfases foram:

• a educação é a instituição social destinada a satisfazer às necessidades básicas de apren-dizagem de crianças, jovens e adultos, necessidades estas que compreendem:

≈ os instrumentos essenciais para a aprendizagem (leitura, escrita, cálculo e solução de problemas) e;≈ os conteúdos básicos de aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes)

necessários à vida.• a educação básica não é um fim em si, mas a base para a aprendizagem e o desenvolvi-

mento humano permanente;• para satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem é preciso expandir o enfoque da

educação básica no rumo de concentrar a atenção na aprendizagem, ampliar os meios e o raiode ação da educação básica, fortalecer alianças e manter um padrão mínimo de qualidade.

Dez anos depois foram realizadas em Dacar, Senegal, uma avaliação e retomada dos com-promissos de Jomtien. Esse balanço levou a um pacto entre os participantes no sentido dealcançar até 2015, um conjunto de metas mais simplificadas, para isso associando a educaçãoao combate à pobreza e unindo os esforços dos governos e das sociedades civis:

• expandir e melhorar a educação infantil especialmente para as crianças mais vulneráveise socialmente desprivilegiadas;

• assegurar que todas as crianças, em particular as meninas e as crianças que vivem em cir-cunstâncias difíceis e de minorias étnicas, completem educação primária gratuita, de boa qualidade;

• melhorar em 50% os níveis de alfabetização de adultos;• melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar a excelência, de tal

modo que todos alcancem resultados mensuráveis de aprendizagem, sobretudo em alfabetização,aritmética elementar e habilidades essenciais para a vida.

Como algumas das metas têm peculiaridades e não podem esperar, tornam-se alvos de compromissosespeciais. Em 1997 a Declaração de Hamburgo estabeleceu recomendações sobre objetivos, estratégias,métodos, avaliação e estruturas para a educação de jovens e adultos. Entre outras, destaca-se que asabordagens dessa modalidade de educação devem estar baseadas no patrimônio cultural comum enos valores e experiências anteriores de cada comunidade. E, ainda, que o Estado é o principal meiopara assegurar o direito à Educação para Todos, porém é necessária a expansão das parcerias coma sociedade civil, de tal modo que ele é não só provedor, mas também consultor, estimulador e finan-ciador. Como decorrência de tais recomendações e das metas de Dacar, foi aprovada a Décadada Alfabetização das Nações Unidas (2003-2013), que constitui não um conjunto de declaraçõesbem intencionadas, mas um compromisso para integrar a alfabetização na educação básica ereduzir a exclusão social. A dimensão do desafio se pauta pela complexidade de que se reveste hojea alfabetização, inclusive digital e de diversas linguagens, quando, há decênios, podia culminarcom a escrita de um bilhete simples. Para isso foram lançadas as bases de um planejamento decenal,

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dividido em biênios e dotado de mecanismos de acompanhamento e avaliação dos países-membros.Como não é possível ser exaustivo, duas outras áreas em que a UNESCO tem atuado inci-

sivamente são a da exclusão digital e a da educação científica. Ambas são fulcrais para atingiro desenvolvimento socioeconômico e educacional. No caso da primeira, o documento "AUNESCO e a Sociedade da Informação para Todos" (1995) destacou o fim do divisor digital,para contrapor-se ao risco de ruptura entre uma minoria privilegiada e a maioria despreparada.Por isso, não há dúvida sobre a prioridade da participação em especial dos países em desen-volvimento na sociedade da informação. Quanto ao ensino das ciências, a ConferênciaMundial sobre a Ciência para o Século XXI (Budapeste, 1999) enfatizou que os governosdevem entrar em acordo quanto às mais altas priori-dades para melhorar a educação científica em todos osníveis, com especial atenção à eliminação de efeitos devisões preconceituosas quanto ao gênero e aos gruposem desvantagem. O objetivo final é construir uma culturacientífica transdisciplinar – em ciências matemáticas, natu-rais, humanas e sociais – que a população possa sentircomo própria ("Agenda para a Ciência").

Esse entrelaçamento nos remete para outras áreas deatuação da UNESCO. Sua perspectiva une a educaçãoe a cultura, num enraizamento que torna a primeira nãouma planta exótica, mas um processo vivo para oavanço das comunidades. No campo cultural, uma dasfunções mais nobres e visíveis é a proteção dopatrimônio mundial, cultural e natural, definida eoperacionalizada pela Convenção aprovada em Parisem 1972. Tendo como base que a valorização do pas-sado é o pilar da construção do futuro, essa proteção setraduz não só no tombamento, mas também namudança de valores e atitudes, contempladas pela previsão do estabelecimento de programas deeducação e informação. Entretanto, os sítios naturais e históricos são uma parte do passado a serpreservado. Para projetar o futuro cumpre também zelar pelo patrimônio cultural imaterial, queinclui usos, representações, expressões, conhecimentos e técnicas que as comunidades, os grupos eem alguns casos os indivíduos reconheçam como parte do seu patrimônio cultural. Para isso,foi elaborada a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (Paris, 2003),com os seus mecanismos de ação, incluindo inventários, sensibilização, educação, fortalecimento decapacidades e a constituição de um fundo para financiá-los. Da mesma forma que se protege a biodi-versidade, é preciso também velar pela sociodiversidade, conforme escreveu Edgar Morin.

Nesta linha da preservação do homem e da sua diversidade criadora, também tem estatuídocompromissos na área das ciências. Sendo difícil selecionar exemplos, pela vastidão dasatividades, cumpre lembrar a resposta pronta aos desafios bioéticos do nosso tempo, tecendoo consenso em torno da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os DireitosHumanos, adotada pela Conferência Geral da UNESCO em 1997. Entre outros pontos, servin-do de base para os direitos nacionais, ela veda a discriminação baseada em características

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"Desde o início de nossas atividades no Faça Parte – Instituto Brasil Voluntário, recebemos grande estímulo daUNESCO, em ações alinhadas aos compromissos mútuos que visam contribuir para o fortalecimento de políticas educacionais de qualidade e promover uma cultura de paz em nosso país.Recentemente o voluntariado no Brasil assumiu relevância entre os jovens que se destacam com suas idéias inovadoras para a construção da cidadania e participação social. Esse crescimento não seria tão significativo se não contássemos com parceiros como aUNESCO que, somando sua credibilidade à do MEC,CONSED e UNDIME, nossos demais parceiros, nos deram o respaldo necessário para a implementação de programas de voluntariado educativo. Partilhamos de uma mesma crença: a importância da escola na formação de cidadãos conscientes, solidários e engajados em práticas sociais".

Milú Villela Presidente do Instituto Brasileiro Voluntário Faça Parte

genéticas que tenha a intenção ou o efeito de infringir direitos humanos, liberdades funda-mentais e a dignidade humana.

O valor de tais compromissos, nos campos da educação, da cultura e da ciência, é limitadose a convivência humana e até a preservação do homem é cotidianamente ameaçada pelos confli-tos e pela falta de meios pacíficos para a sua resolução. Por isso, a pedra de toque da ação daUNESCO se encontra nos valores, que brotam da cultura, beneficiam-se das luzes da ciência e sãorecriados e transmitidos pela educação. Não por acaso, a Organização e suas redes de ONGse Escolas Associadas estão envolvidas no cultivo da paz. Daí o seu papel na DécadaInternacional da Promoção da Cultura de Paz e Não-Violência em Benefício das Crianças doMundo (2001-2010), cujo lema, bem afinado com a sua Constituição, é: "A paz está em nossas mãos".

Portanto, com as suas missões, desenvolvidas deacordo com os valores, princípios e compromissossumariados acima, a UNESCO oferece a sua melhorcontribuição para o avanço de inúmeros países, como oBrasil. Num quadro de crescente interdependênciamundial, ressaltado em especial pelo mencionadoRelatório Delors, a superação da pobreza e dasdesigualdades sociais e regionais depende em grandeparte do acesso amplo e democrático a uma educaçãode qualidade para todos, da preservação das identidadesculturais e de relações de compreensão e paz entre pes-soas e grupos. Num círculo virtuoso, o desenvolvimen-to se beneficia da educação, ao mesmo tempo que estaalcança melhores resultados e o sucesso de pessoasdesiguais à medida que as condições socioeconômicasse tornam mais favoráveis para as maiorias.

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"Na condição de Presidente do Grupo de Parlamentares Amigos da UNESCO, acompanho atentamente a atuação

dessa agência especializada da ONU no Brasil. É impressionante ver o seu notável desempenho em áreas

tão variadas como Educação, Ciências e Meio Ambiente, Ciências Humanas e Sociais, Cultura e Comunicação e

Informação. Em todas elas, a sua marca são projetos de alta qualidade e grande sentido social.

O lema principal da UNESCO, Educação para Todos,significa, para mim, igualdade de oportunidades e

desenvolvimento com justiça social. E o trabalho da UNESCO é a prova concreta de que a cooperação internacional,

dentro do marco do multilateralismo, pode gerar condições concretas para a construção de

um mundo melhor para todos os habitantes do planeta".

Aloizio MercadanteSenador

III. ESTRATÉGIAS DE PARCERIA E DE APOIO A INOVAÇÕES

As estratégias da UNESCO, no sentido da construção de parcerias e de apoio às inovações,respondem às necessidades do mundo pós-guerra fria, que é qualitativamente diferente, com odeclínio do estatismo e a formação de uma grande rede mundializada. Nela os EstadosNacionais têm lugar junto às ONGs, empresas, acadêmicos e outros atores, que, ganhandoacesso quase direto às esferas decisórias internacionais, se envolvem com as políticas de desen-volvimento em todas as partes do mundo, e influenciam-se mutuamente no desenho de políticase estratégias, bem como na pressão política e social. Ao mesmo tempo, as práticas de assistênciabilateral, características centrais ao cenário da Guerra Fria, mais como mecanismo de consoli-dação de zonas de influência que como indutores do desenvolvimento, foram sendo rapida-mente substituídas pela cooperação internacional multilateral, centrada nas Nações Unidas.

Consciente da nova circunstância histórica, a UNESCO e as agências das Nações Unidasmoldaram-se para o diálogo com novos atores e para o seu envolvimento em quaisquer projetosde desenvolvimento. É assim que a UNESCO busca desenvolver suas parcerias com os mais diver-sos atores da sociedade brasileira. É importante destacar que esse relacionamento não é mera-mente institucional, mas está baseado em posições concretas, relacionadas, por exemplo, a valorescomo direitos humanos e não-discriminação, mas também se refere, em termos práticos, ao desen-volvimento social, concebido de maneira mais geral, com a priorização da erradicação da pobreza.

No caso brasileiro, essa mudança de perspectiva tornou-se ainda mais necessária com a rede-mocratização do país e o crescimento exponencial do número de organizações sociais que nãoapenas participam, mas influenciam decisivamente o rumo das políticas públicas no país.

O q u e F a z e r : o c o m b a t e à p o b r e z a c o m o e s t r a t é g i a c e n t r a l d a U N E S C O

Durante os últimos anos do século XX, cresceu a consciência de que pobreza e desigualdadesão mazelas indissociáveis. Além de uma mudança no entendimento de pobreza, que superauma definição meramente econométrica, é cada vez mais claro que não há políticas eficientesde luta contra a pobreza que não promovam a eqüidade.

Igualar a pobreza a aspectos medidos monetariamente é insuficiente. Com efeito, a pobrezaé mais do que baixos níveis de renda. O significado mais amplo do conceito de pobreza, comobrilhantemente ilustrado pelo economista Amartya Sen, está diretamente ligado às privaçõesda liberdade. As escolhas do indivíduo afetado pela pobreza são restringidas por sua condição,impedindo-o de gozar plenamente de um dos valores mais fundamentais à vida social: a liberdade.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 43

O aspecto chave para enfrentar a pobreza, portanto, é o crescimento econômico acompanhadoda diminuição das desigualdades sociais. Como muitos estudos realizados no Brasil e no mundojá mostraram, reduzir as desigualdades sociais tem um impacto muito maior da diminuição dapobreza que altas taxas de crescimento econômico. O problema, portanto, não é apenas a faltade recursos. Promover a igualdade requer políticas eficientes, em alguns momentos compensatórias,porém sempre estruturais. São políticas que promovem, acima de tudo, a igualdade de oportu-nidades e o "empoderamento" dos indivíduos. Todas as estratégias de combate à pobreza defendidaspela UNESCO passam por dois eixos centrais: (i) a educação, a ciência e a cultura, i.e. as inter-secções entre áreas de atuação da UNESCO e a pobreza; e (ii) o empoderamento da sociedadecivil, de onde vem o vínculo estreito entre o enfrentamento da pobreza e as estratégias de parce-ria que vem desenvolvendo.

Por um lado, pode-se enfrentar a pobrezapor meio do investimento no capital social. Ocapital social é o grau de cooperação e colabo-ração existentes em determinada comunidade(redes sociais, valores compartilhados etc), per-mitindo que os indivíduos pertencentes a estacomunidade atinjam benefícios mútuos eresolvam problemas comuns, superando o que oscientistas sociais definiram como problemas deação coletiva. Desenvolver o capital socialsignifica fortalecer a sociedade civil por meio depolíticas que melhorem a confiança, que é erodi-da pela desigualdade. Também implica propiciaro crescimento da associatividade e fazer a consciência cívica amadurecer.

Por outro lado, há uma inegável correlação entre a educação, a ciência e a cultura e adiminuição das desigualdades – e conseqüente redução da pobreza. Essas áreas temáticas sãocentrais para promover uma elevação nos níveis de desenvolvimento humano de todas associedades, e são determinantes para qualquer política de desenvolvimento de longo prazo.Focalizando nestes temas, tem se firmado como um foro de intercâmbio de idéias sobre políti-cas e práticas exitosas internacionais na erradicação da pobreza, realizando pesquisas sobre anatureza, o alcance e os impactos da pobreza nas diversas regiões do globo. A UNESCO contacom dois instrumentos centrais para isso: por um lado, um conjunto sólido de valores e princí-pios, como o entendimento da pobreza como uma violação de direitos humanos, que guiam aatuação da organização e servem como bastião de idealismo na luta contra a desigualdade. Poroutro lado, tem desenvolvido um grande número de estudos prospectivos e pesquisas empíricasque tentam servir como um "guia" a formuladores de políticas e autoridades em todo o mundo.É a combinação dos elementos de idealismo, retratado pelo conjunto de valores, e pragma-tismo, reforçado pelo elemento prático e empírico de pesquisas sociais, que permitem umaabordagem inovadora e eficiente contra a pobreza e a desigualdade.

A partir deste arcabouço conceitual, como já foi ressaltado em secção anterior, utiliza toda a suacapacidade de aglutinação de especialistas para reunir acadêmicos, políticos e personalidades que,por meio do debate, contribuem para consolidar um novo paradigma de desenvolvimento,

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"O Serviço Social da Indústria considera a UNESCO uma organização que agrega um extraordinário valor a váriosprojetos desenvolvidos em parceria, notadamente ao Sistema deAvaliação de Competências do Programa SESI - Educação doTrabalhador e às Teleconferências Internacionais de Educação.Os resultados obtidos proporcionam a introdução de melhoriascontínuas no processo de gestão de projetos, ao mesmo tempo que fortalecem a capacidade técnica do SESI em sua atuaçãopara elevar a qualidade da educação brasileira".

Rui Lima do NascimentoDiretor-SurperintendenteSESI – Departamento Nacional

valorizando elementos com forte carga regional e nacional, como os graus de segurançahumana, vulnerabilidade, liberdade etc. Aglutina e dissemina informações, conhecimentos, soluçõessugeridas, projetos piloto etc, exercendo sua função de catalisadora da cooperação interna-cional. Ao mesmo tempo, tece consenso e fixa padrões, também na área do combate à pobreza.

O q u e F a z e r : p r o m o v e n d o a i n o v a ç ã o

Um aspecto importante da estratégia desenvolvida pela UNESCO no Brasil é o papel centraldado à inovação. O Brasil é um enorme laboratório para inovação, especialmente no que se refereà construção de políticas públicas inovadoras e gestão social. O país tem se tornado interna-cionalmente reconhecido por ações de grande impacto e criatividade, como os ProgramasBolsa Escola, HIV/Aids e o de abertura de escolas nos finais de semana (Abrindo Espaços:educação e cultura de paz).

Para promover a inovação baseada em evidências empíricas, defende uma política de com-partilhamento de idéias e experiências que tiveram sucesso em outros países. Busca-se, assim,trazer um componente internacional ligado a práticas inovadoras e adaptá-lo, conformenecessário, ao contexto brasileiro. O caminho inverso também é verdadeiro: como uma orga-nização internacional com a missão central de servir como laboratório de idéias incentiva queprojetos brasileiros de grande impacto estejam freqüentemente presentes em Fóruns interna-cionais, permitindo eficaz intercâmbio com autoridades de outros países que podem emular umou vários componentes da experiência brasileira.

Ao mesmo tempo, também busca consolidar parcerias para projetos inovadores que têmorigem na própria Organização. Isso ocorre, muitas vezes, a partir de pesquisas empíricas realizadasem parceria com universidades e pesquisadores brasileiros e que mapeiam a situação do país emuma determinada área temática. Esse foi o caso, por exemplo, do Programa Abrindo Espaços,que visa a promover espaços de cidadania, superar a violência e encorajar o protagonismo juve-nil. Suas origens se encontram na série de pesquisas sobre juventude e cidadania conduzidaspela UNESCO no Brasil, que forneceram as bases concretas para a construção desse programade abertura de escolas durante os fins de semana.

A I n o v a ç ã o n a G e s t ã o d e P r o j e t o s d e C o o p e r a ç ã o T é c n i c a

Em decorrência do aumento de parcerias e dos acordos de cooperação técnica, a UNESCOimplantou um sistema de administração baseado nos princípios da transparência e da agilidadede procedimentos administrativos. Essas inovações em matéria de gestão e administração deprojetos se tornaram necessárias a partir do grande incremento nas operações da UNESCO noBrasil nos últimos anos.

A visão da UNESCO acerca das várias parcerias estabelecidas no Brasil dá origem a açõesconcretas que visam à agilidade e à eficácia para atingir as metas e objetivos propostos nosacordos de cooperação e para prover resultados importantes às contrapartes nacionais. Assim,possibilita-se o efetivo fornecimento de cooperação técnica às várias áreas que constituem o

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 45

mandato da UNESCO, por meio do corpo técnico da Organização. Nesse contexto, a trans-ferência dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos em que atua em todo o mundo éencarada como decorrência essencial e natural deste processo de cooperação. Uma estreita epermanente interação entre equipes técnica e gerencial dos projetos da UNESCO constitui-secomo fator preponderante no sucesso dos projetos que se dispõe a apoiar.

D i á l o g o c o m o s A t o r e s G o v e r n a m e n t a i s e a S o c i e d a d e C i v i l

Conforme o espírito de Dacar e de outras grandes conferências internacionais, a UNESCOprocura manter diálogo com os diferentes Poderes da República e com os diversos níveis gover-namentais da Federação, isto é, União, Estados e Municípios. Assim, são mantidos canais abertoscom as diferentes secretarias de Estado do Executivo, bem como com o Poder Legislativo, amagistratura e o Ministério Público, sobretudo no campo dos direitos da criança e do adoles-cente. Tal diálogo, de caráter formal e informal, inclui a participação e a promoção de eventosem áreas estratégicas, numerosas vezes em parceria, ampliando espaços para a discussão emespecial dos direitos humanos, cuja importância está consubstanciada em documento básico dasNações Unidas. Nessa rede a UNESCO mantém interlocução tanto com os governos quantocom a sociedade civil, atuando, quando oportuno e necessário, como facilitadora do diálogoentre ambos. Deste modo, viabiliza-se a colaboração entre eles, conferindo fundamentos maissólidos às decisões governamentais e ao processo democrático. Em outras palavras, a UNESCOtanto se insere na rede de interações entre os atores sociais, como ajuda a elaborá-la, a integrá-lae mantê-la aberta e atenta às responsabilidades nos setores da educação, da ciência e da cultura.

O S e t o r P r i v a d o

O setor privado, nos últimos anos, tornou-se um ator de destaque na implementação depolíticas públicas em âmbito nacional e internacional. Por um lado, isso reflete uma conscien-tização crescente da sociedade acerca dos limites e dificuldades da ação estatal, que aponta paraa necessidade de novos modelos de participação social. Por outro lado, esse fenômeno é certa-mente causado por uma demanda mais seletiva dos consumidores, que passam a preferir empre-sas que agem de acordo com princípios éticos de "responsabilidade social" e "ambiental". Ospróprios mercados de capitais, por meio dos chamados "fundos verdes" e "éticos", mostram queuma conduta mais "exemplar" e "responsável" das empresas pode aumentar seu lucro.

A dinâmica de funcionamento das empresas e corporações, que por muito tempo eramconsideradas nocivas à própria sociedade, vem sofrendo uma série de mudanças que as colo-cam como grande parceiro para ações privadas que contribuem para o bem público. Mais emais empresas têm expressado um interesse cada vez maior de colaborar com agências inter-nacionais como a UNESCO, um interesse que suplanta a prática menos recente, de passivosfornecedores de fundos, para uma participação ativa no planejamento e na implementação. Alógica corporativa é de grande auxílio para suas organizações parceiras, com a demandaconstante de que os projetos e programas sociais apresentem resultados práticos e concretos.

46

No âmbito internacional, a aproximação entre o setor privado e as Nações Unidas ganhou forçacom o Global Compact, iniciativa do Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, lançada no FórumEconômico Mundial em 1999. Naquela ocasião, Annan desafiou os empresários a se unirem a umainiciativa que colocaria as empresas ao lado da ONU e da sociedade civil em apoio a dez princípioséticos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

Já no âmbito nacional, a participação do setor privado nas políticas de desenvolvimentosocial tem crescido de importância a cada ano. É notória, por exemplo, a participação de fundaçõese entidades de classe em áreas como educação profissional, fomento do trabalho voluntário epreservação do meio ambiente.

Ciente da importância da parceria com o setor privado, a UNESCO apoiou a iniciativa deempresários líderes que criaram o Grupo de Empreendedores Amigos da UNESCO (anexo II),cuja finalidade maior é a de ser um mecanismo auxiliar na luta para colocar o país em dia coma modernidade de seu tempo. Esse grupo, reunindo importantes figuras de diversos setores pro-dutivos nacionais, certamente dará uma grande contribuição para que, tanto a sociedade civil,quanto o setor público tenham uma visão estratégica do alcance social e econômico depolíticas de estado nas áreas de educação, ciência e cultura.

O P o d e r L e g i s l a t i v o e o P a c t o p e l a E d u c a ç ã o

Não há órgão mais representativo de uma sociedade democrática que o seu CongressoNacional. Desenhar políticas públicas, especialmente em um país de caráter federativo como oBrasil, é um processo que não pode ocorrer sem o apoio e participação do Poder Legislativo.Similarmente à UNESCO, o Congresso Nacional atua como um verdadeiro laboratório intelectual,onde idéias são apresentadas, debatidas, criticadas e aprovadas, dando as bases para a atuaçãodos vários níveis de governo.

No Brasil, o Legislativo tem demonstrado grande interesse e participação na cooperaçãointernacional, tornando-se um parceiro central e grande apoiador das agências do SistemaNações Unidas, em especial da UNESCO. Em 1997, foi constituído o Grupo de ParlamentaresAmigos da UNESCO (anexo II), fazendo do Brasil o primeiro país da América Latina a contarcom esse tipo de grupo. O Grupo desempenha um importante papel, não só em termos dedifusão dos ideais da Organização, como também na formulação de políticas nacionais de edu-cacão, cultura, ciência e tecnologia.

Inúmeras atividades e eventos conjuntos têm sido desenvolvidos em articulação com asComissões de Educação, Cultura, Desportos, Ciência e Comunicação da Câmara e do SenadoFederal, com o objetivo de trazer à discussão política temas relevantes para o país, como oPlano Nacional de Educação, violências e drogas nas escolas, financiamento da educaçãoinfantil, semana de Educação para Todos, entre outros. Além disso, com freqüência se fazpresente em audiências públicas nas áreas de seu mandato, como tem criado condições paraque parlamentares participem de reuniões internacionais da Organização.

Mais recentemente, deu início a uma nova discussão com o Poder Legislativo. Trata-se doPacto pela Educação que visa congregar apoio com vistas a uma política de estudo nas áreas deeducação, ciência e tecnologia.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 47

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Educação: Uma Visão Renovada

A Presença da UNESCO na AgendaCultural do País

Ciências, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

O Compromisso COM as Estratégias para o Combate à Pobreza e à Exclusão e a Promoção da Cidadania

Produzindo Novos Conhecimentos para as Políticas Públicas

O Ethos Político das Novas Tecnologias da Informaçãoe Comunicação

A Comunicação como Instrumento de Mudança e Transformação

Política Editorial e de Documentação

IV.

V.

VI.

VII.

VIII.

IX.

X.

XI.

PARTE II

Óleo sobre madeira do artista plástico Francisco Galeno para o Prêmio UNESCO 2003.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 49

IV. Educação: Uma Visão Renovada

"A educação é um direito fundamental do ser humano. É a chave para o desenvolvimentosustentável, para a paz e a estabilidade no interior das nações e entre países, e, portanto, um meioindispensável para a efetiva participação nas sociedades e economias do século XXI, afetadas pelaglobalização. Assim, a necessidade básica de se garantir educação para todos pode e deve ter respostacom a máxima urgência".

Marco de Ação de Dacar

A missão da UNESCO e o Brasil se entrelaçam não só pelos desafios que ambos se propõema enfrentar, mas também pela estratégia de cooperação fomentada historicamente pelaOrganização que atua em sintonia com os governos e a sociedade civil organizada do país. SuaRepresentação no Brasil nos últimos anos tem desenvolvido ações para concretizar os valores,princípios e compromissos firmados nos diversos campos do seu mandato em consonância comas necessidades e aspirações do setor educacional brasileiro.

Algumas das principais áreas de prioridade que hoje movem o trabalho no campo da edu-cação foram definidas por seus Estados-membros, já em 1990, durante a Conferência Mundialde Educação para Todos, na Tailândia, quando foi focalizada principalmente a satisfação dasnecessidades básicas de aprendizagem a todas as crianças, jovens e adultos, a universalizaçãodo acesso à educação básica e promoção da eqüidade, bem como o fortalecimento das aliançasentre os setores governamentais, setores privados e não-governamentais, organizações, comu-nidades e grupos locais. Na seqüência, em 2000, no Fórum Mundial de Educação realizado emDacar, representantes de 189 países assumiram compromissos educacionais concretos enun-ciados no Marco de Ação de Dacar, que passam, assim, a balizar o trabalho da UNESCO nabusca de mais e melhor educação para todos.

Além desse Marco, outros documentos já citados no capítulo II servem como base paraorientar a atuação da UNESCO, como a Declaração de Hamburgo e a Declaração deSalamanca, entre outros.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 51

A participação da UNESCO no Brasil se concretiza por projetos e acordos de cooperaçãotécnica com órgãos governamentais, privados e organizações não-governamentais, apoio insti-tucional, técnico e/ou financeiro a eventos e iniciativas governamentais e não-governamentais,proposição e experimentação de inovações e da produção e disseminação de conhecimentos esubsídios a políticas públicas.

A tradição e a história da UNESCO dão a certeza de que ações cooperativas trazem resul-tados de muito maior impacto do que esforços individuais isolados. Assim, suas ações buscamenvolver todo o espectro de parceiros para colocar em prática os objetivos que todos têm emcomum. Nesse sentido, tem estabelecido sólidas parcerias com o Ministério da Educação, como qual desenvolve ações direcionadas ao aprimoramento e à democratização da educação emtodos os seus aspectos e à solução dos problemas educacionais que hoje mais afligem o país.Importante mencionar o Acordo de Cooperação Técnica Educacional, Científica e Culturalestabelecido com o Governo Brasileiro, promulgado pelo Decreto Presidencial nº 87.533 de1982, que tem possibilitado a realização de projetos nas áreas de educação, ciência e culturajunto às várias instâncias do MEC.

Importante apoio tem sido também oferecido adiversos Estados e Municípios brasileiros, por meio desuas Secretarias de Educação e da cooperação desen-volvida com o Conselho Nacional de Secretários deEducação (CONSED) e com a União Nacional dosDirigentes Municipais de Educação (UNDIME).Juntamente com a UNESCO, essas duas instituiçõestêm se dedicado a incentivar e, quando necessário,apoiar a elaboração, pelos Estados e Municípios, deseus respectivos Planos Decenais de Educação. EssesPlanos são uma estratégia central para o alcance daEducação para Todos, em consonância com o jáaprovado Plano Nacional de Educação, que, conformemandato da Lei de Diretrizes e Bases, estabelece dire-trizes e metas para os dez anos seguintes, em sintoniacom a Declaração Mundial de Educação para Todos.

Além disso, merece destaque o Prêmio Referênciaem Gestão Escolar que se encontra em sua sexta ediçãoe é realizado mediante a parceria do CONSED,UNESCO, UNDIME e Fundação Roberto Marinho.O Prêmio tem como objetivo principal distinguir e

conferir diploma de reconhecimento público às escolas de educação básica que anualmente sedestaquem em matéria de gestão efetiva e inovadora.

Outra estratégia, fortalecida no âmbito do Programa de Educação Para Todos, é o envolvi-mento crescente da sociedade civil na formulação, implementação e monitoramento de estraté-gias para o desenvolvimento educacional. A UNESCO tem buscado incentivar e concretizaressa interação, promovendo paralelamente ao Fórum Mundial de Educação e ao Fórum SocialMundial (janeiro de 2003), a Reunião Anual da Consulta Coletiva das Organizações Não-

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Conquista e Esperanças"A atuação da UNESCO no Brasil constitui um instrumento

de apoio essencial à execução de políticas públicas governamentaisvoltadas ao desenvolvimento de setores fundamentais à sociedade

civil organizada. Da mesma forma, outras instâncias sociais também têm conseguido suporte dessa Instituição na implemen-tação de programas, projetos e ações direcionadas às áreas de

Educação, Cultura, Comunicação, Ciências Naturais,Humanase Sociais. Trata-se de uma entidade capaz de aglutinar forças

diversas, fundamentadas em propostas formuladas por protago-nistas cujos trabalhos e pesquisas são referenciais em todo omundo. É mister ressaltar que a UNESCO agrega, em seus

múltiplos quadros, um rol de teorias e práticas, criações e execuções, planejamentos, metas e objetivos que contribuem demaneira efetiva e eficaz para o enfrentamento dos obstáculos

impostos pelo século XXI. Nesse contexto, simboliza não apenasuma conquista a ser mantida, mas uma esperança a ser

alimentada. Uma prova concreta de que é possível prosseguirdescortinando novos e melhores horizontes, a despeito das

dificuldades encontradas no caminho".

Gabriel ChalitaSecretário de Estado da Educação

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 53

Governamentais. ONGs de todos os continentes participaram da Reunião, que analisou osavanços alcançados desde Dacar e propostas alternativas de educação para o enfrentamento dosdesafios impostos pela desigualdade e a pobreza no mundo globalizado. Em 2004, apoiou o FórumMundial de Educação ( 28 a 31 de julho) que propôs uma Plataforma Mundial de Educação comos educadores, movimentos sociais, estudantes, organizações não-governamentais, governos,entidades sindicais e instituições educacionais de todo o continente.

Além disso, como forma de manter o apoio político e dar visibilidade ao monitoramento doprogresso em direção aos objetivos do Programa de Educação para Todos, instituiu a SemanaInternacional de Educação Para Todos. Em 2003, a celebração reuniu quase dois milhões decrianças na "Maior Aula do Mundo" em 70 países. No Brasil, 69 mil pessoas participaram. Em2004, crianças do mundo inteiro formaram um grande lobby, reivindicando aos parlamentaresde seus países maior financiamento para uma educação de qualidade para todos. No Brasil, asatividades da Semana foram realizadas em parceria com a Campanha Nacional pelo Direito àEducação, entidade que congrega mais de 200 organizações. Destaca-se uma grande mobiliza-ção pelo direito à educação e a realização de uma Sessão Solene na Câmara dos Deputados quelevou crianças e jovens até os políticos para solicitar mais e melhor educação para todos. Naoportunidade, vários parlamentares manifestaram em seus pronunciamentos preocupação ecompromisso no sentido de assegurar uma educação básica de qualidade. Entrevistas e reporta-gens foram veiculadas e acompanhadas em várias emissoras de rádio e de televisão, além de jor-nais de alcance nacional ou regional.

O ano de 2004 também marca a presença da UNESCO no Brasil, com a realização daQuarta Reunião do Grupo de Alto Nível de Educação para Todos, que é convocada anualmentepelo Diretor Geral e conta com a participação de Chefes de Estado, Ministros de Educação eMinistros de Desenvolvimento e Cooperação Internacional, Chefes de Agências Multilateraise Bilaterais e representantes de Organizações da Sociedade Civil. Conforme estabelece oMarco de Ação de Dacar, tal reunião tem como funções acelerar o impulso político constituídono Fórum Mundial de Educação, influenciar na mobilização técnica e de recursos financeiros emfavor da educação e servir como recurso estratégico para reafirmar os compromissos assumidosna Conferência Mundial de Educação por parte da Comunidade Internacional. A primeirareunião foi realizada em Paris, a segunda em Abuja, Nigéria, e a terceira em Nova Deli, Índia.A quarta, realizada em Brasília, de 8 a 10 de novembro, foi estruturada em relação estreita como Informe Mundial de Monitoramento de Educação para Todos sobre o tema ‘Qualidade daEducação’. Com base nos dados do Informe Mundial de Monitoramento, o Grupo de AltoNível deliberará sobre as políticas adequadas e as estratégias para acelerar o progresso daqualidade da educação para alcançar as metas de Educação para Todos no ano de 2015.

Devido à importância do Poder Legislativo na promoção da política de Educação paraTodos, a UNESCO no Brasil tem-se articulado com o Senado e a Câmara dos Deputados no sen-tido de mobilizar forças e promover atividades voltadas ao fortalecimento do setor educaçãono projeto de desenvolvimento do país. Entre as ações encontra-se o apoio aos projetos de leique contribuem em especial para o alcance das metas pactuadas em Dacar. A parceria com asduas Casas também tem levado à constituição de foros de debate presenciais e a distância parainstruir a elaboração, acompanhamento e avaliação de políticas educacionais, incluindo asquestões financeiras e orçamentárias.

Há ainda que se destacar a iniciativa em propor a lideranças políticas no Congresso Nacionala discussão e a articulação do Pacto Nacional pela Educação. Várias reuniões foram realizadasem 2004, envolvendo dirigentes de partidos políticos e parlamentares e foi constituído umgrupo de trabalho para elaborar a proposta do Pacto Nacional pela Educação, bem como discutiras estratégias necessárias à sua implementação. Esse grupo, liderado pelo escritório da UNESCO noBrasil e pelo Fórum de Parlamentares Amigos da UNESCO, conta com a participação de espe-cialistas, da liderança do governo brasileiro no Senado Federal e parlamentares comprometidoscom a educação, e será discutido com organizações da sociedade civil.

Ao assumir o desafio de propor um Pacto Nacional pela Educação no Brasil, a UNESCOestá reafirmando o seu compromisso com a educação de qualidade para todos, como componenteessencial para garantir a cidadania, a eqüidade e o desenvolvimento humano e sustentável.

Como parte do projeto Pacto pela Educação Básica, a UNESCO concebeu e organizou trêslivros a respeito do que pensam economistas, empresários e jornalistas sobre a importância daeducação e da ciência para o desenvolvimento brasileiro. A escolha desses segmentos deve-seà influência que possuem na formação de opiniões e a ajuda que podem dar ao delineamentode um pacto suprapartidário que concilie interesses e possa viabilizar uma política de estadopara esses setores. As obras referidas incluem depoimentos de grande alcance e mostram quecomeça a se formar no Brasil uma mentalidade mais lúcida e certamente mais promissora. Ostextos destacam a urgência da educação, da ciência e da tecnologia e reivindicam políticas per-manentes para essas áreas, como também defendem a ampliação dos investimentos e um melhorgerenciamento de recursos.

Também em parceria com o Conselho Nacional de Educação (CNE), tem apoiado a realiza-ção do Fórum Brasil de Educação, reunindo vários setores da sociedade para a discussão acercados rumos da educação brasileira. Dentre os sete eventos realizados em 2003–2004, destacam-se, entre outros os fóruns: Formação para a cidadania e o trabalho; Formação e carreira dos pro-fessores da educação básica; Avaliação e expansão: qualidade em educação; Educação: cidada-nia e diversidade.

Desses eventos têm participado especialistas nacionais e internacionais de reconhecida com-

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Pacto Nacional pela Educação

O Brasil tem sido, nestes últimos anos, um dos países que tem procurado dispensar maior atenção àimportância da educação, tanto para o desenvolvimento da cidadania e dos direitos humanos, quantopara o seu desenvolvimento econômico e social.No entanto, os avanços obtidos se revelam cada vezmais insuficientes face às crescentes exigências de uma economia globalizada que tem na educação e no conhecimento a centralidade do novo paradigma que está surgindo.

As mais recentes avaliações internacionais feitas pela UNESCO e outras organizações constatam a situação desvantajosa da educação brasileira, quando comparada com outros países.

A UNESCO acredita que o Brasil tem todas as condições para reverter o quadro atual com a construção de um Pacto Nacional pela Educação.A construção desse pacto, todavia, só será viávelmediante uma aliança entre os diversos partidos políticos e com a participação da sociedade civil.Uma política de Estado construída e legitimada com base nos partidos políticos e na sociedade civilorganizada poderá assegurar continuidade e meios indispensáveis para a execução de um plano de educação de longo prazo.

petência. Entre eles podemos destacar Juan Carlos Tedesco, John Daniel, Inês Aguerrondo,Cristina Armendano, Terezinha Nunes e Mwalimu Shujaa.

Destaca-se ainda a coordenação de missões de estudo, como a missão de estudo de autori-dades brasileiras à Índia, realizada no período de 24 a 30 de maio de 2003. O principal objetivofoi propiciar às autoridades das áreas de educação e saúde a oportunidade de contato mais pro-fundo com a experiência de um país em desenvolvimento no enfrentamento de questões pre-mentes como a redução do analfabetismo, a universalização do ensino fundamental e difusãode medidas preventivas na área de saúde pública. Foram também exploradas possibilidades decooperação sul-sul para a qual se articularão as representações da Organização no Brasil e Índia.

Essa série de iniciativas se beneficia (ao mesmo tempo que alimenta) de uma rede de inter-câmbio de experiências. A UNESCO se define como um laboratório de idéias e uma instituiçãoque inaugura padrões, articulando e tecendo consenso. Um dos componentes fundamentais nasua estratégia de catalisar a cooperação internacional é a socialização de melhores práticas.Nesse sentido, organizou, em 2003, a Conferência Internacional Educação, Ciência eTecnologia como Estratégias de Desenvolvimento, reunindo especialistas de países comoEspanha, Irlanda, Coréia do Sul, Finlândia, Malásia e Reino Unido, que buscaram apontar ospróprios elementos de sucesso nos sistemas educacionais e nas políticas de ciência e tecnologia,compartilhando essas idéias com autoridades brasileiras responsáveis por tais áreas. Ressalta-se,também a Conferência Internacional "Mundialização e Reforma na Educação", em 2002, coma participação de Martin Carnoy, Professor de Educação e Economia da Universidade deStanford, bem como a estreita relação com os Institutos Internacionais da UNESCO, como oInstituto Internacional de Planejamento Educacional (IIPE), em Buenos Aires, e a OficinaInternacinal de Educação (IBE), em Genebra, o Centro Internacional de Educação Técnica eVocacional (UNEVOC), de Bonn, e o Instituto de Educação da UNESCO, em Hamburgo.

No tocante a ações de combate à violência nas escolas, a Representação no Brasil tambémtem sido bastante ativa no Cone Sul. Missões recentes ao Chile e Argentina ilustram osesforços para que a experiência brasileira de mediação escolar seja também implementada nessespaíses. Recentemente, com o apoio da UNESCO no Brasil e do Ministério da Educação, Ciênciae Tecnologia da Argentina, foi constituído o primeiro observatório de violência nas escolas daArgentina em parceria com a Universidade de San Martín. De forma concomitante, espera-seque iniciativas de sucesso na prevenção à violência escolar, como o programa Abrindo Espaçosda UNESCO, sejam em breve oficializadas no nosso país vizinho.

Tem também apoiado e promovido programas bilaterais de cooperação, como o assinado emnovembro de 2003 entre Brasil e Argentina. Na oportunidade, os ministros da educação dosdois países assinaram acordo de cooperação, em Brasília, visando à troca de experiências emáreas ligadas ao desenvolvimento da educação, ciência e tecnologia de ambos os países. Alémde servir como instrumento fomentador do processo de integração do Mercosul, o acordoprevê pontos específicos, como a concessão de bolsas em nível de pós-graduação, o incentivoao ensino do espanhol em escolas brasileiras, a elaboração de materiais com conteúdos dehistória, geografia, cultura e arte do Mercosul e o fortalecimento de estratégias de combate àviolência escolar nos dois países.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 55

A l f a b e t i z a ç ã o e E d u c a ç ã o C o n t i n u a d a

Dos vários objetivos acordados em Dacar, o da Alfabetização para Todos tem merecido umaatenção especial com o lançamento da Década das Nações Unidas para a Alfabetização (2003-2012).

Apoiando os esforços de alfabetização do País, a UNESCO tem apoiado e oferecidoassistência técnica a várias iniciativas, como o Programa Brasil Alfabetizado, criado peloMinistério da Educação com o objetivo de oferecer oportunidades de alfabetização a jovens eadultos de todo o país. O Programa trabalha em parceria com entidades, organizações não-governa-mentais, empresas e governos locais e tem como meta atingir mais de 4,5 milhões de pessoasaté 2006. Esse programa, por sua abrangência, recebeu, em 2003, o Prêmio UNESCO de Educação.

Destaca-se, ainda, o Programa Alfabetização Solidária que, desde 1997, vem atuando como objetivo de reduzir o índice de analfabetismo e ampliar a oferta pública de Educação deJovens e Adultos (EJA) no Brasil. Atua mediante um processo de mobilização social e a articulaçãode um conjunto de parcerias mantidas com empresas, organizações, instituições de ensino superior,pessoas físicas, prefeituras, governos estaduais e federal (MEC) e tem contribuído para a diminuiçãodos índices de analfabetismo com a formação de mais de mais de 4 milhões de brasileiros.Dentre outros prêmios e menções, o Programa recebeu, em 2004, o prêmio Rei Sejong de Alfabetização,uma das categorias dos Prêmios Internacionais de Alfabetização concedidos pela UNESCO.

No Brasil tem também trabalhado em cooperação com a Secretaria de EducaçãoContinuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação no sentido dediscutir a avaliação de políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, contandotambém com o apoio técnico do Instituto de Educação da UNESCO (UIE) de Hamburgo. Sobesse aspecto importa mencionar a vinda por diversas vezes do Diretor do UIE – Adame Ouanecom o objetivo de apoiar e dar suporte à política de redução do analfabetismo.

Além disso, na linha editorial, tem apoiado a disseminação de informações relevantes na área,como a publicação do texto "Alfabetização como Liberdade" das Nações Unidas, reunindo os principaistextos de referência da Década de Alfabetização. Destaca-se ainda o lançamento da ColeçãoEducação para Todos, iniciativa da SECAD em parceria com a UNESCO, cujo primeiro volume"Educação de Jovens e Adultos: uma memória contemporânea" foi lançado durante o VI ENEJA.

Destacam-se, ainda, o apoio enfático a outros eventos importantes como o EncontroNacional de Educação de Jovens e Adultos – ENEJA, já na sua sexta edição, que mobiliza váriosparceiros governamentais e não-governamentais para abordar questões relevantes da educaçãode jovens e adultos, e as Conferências Nacionais por uma Educação do Campo, que congregamvárias organizações não-governamentais e governamentais mobilizadas para a discussão depolíticas de educação para o meio rural.

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Após ter seu lançamento mundial realizado em Nova Iorque emfevereiro de 2003, a Década das Nações Unidas para a Alfabetizaçãofoi lançada no Brasil, juntamente com o Ministério da Educação,o Poder Legislativo, Secretários Estaduais e Municipais de Educação eONGs.Tratou-se não apenas de um evento de grande simbolismo,mas uma prova concreta do compromisso de toda a sociedade coma erradicação do analfabetismo, ajudando o Brasil a cumprir estaimportante Meta de Desenvolvimento do Milênio acordada naAssembléia Geral das Nações Unidas.

E d u c a ç ã o I n f a n t i l e E n s i n o F u n d a m e n t a l

Expandir e melhorar a qualidade da educação e cuidado para crianças dezero a seis anos, especialmente as menos favorecidas e em situação devulnerabilidade, é a primeira das seis metas de Dacar. O mandato daUNESCO consiste, assim, em esforços para efetivar o direito a uma edu-cação de qualidade para crianças, desde seus primeiros anos de vida. Trata-se, no Brasil, de uma política de abrangência crescente: segundo dados doIBGE , cerca de 9% das crianças de zero a três anos freqüentam creches, e52% das crianças de quatro a seis anos freqüentam pré-escolas. O PlanoNacional de Educação (PNE), em consonância com os princípios doPrograma Educação para Todos, estabelece metas relevantes de expansão e de melhoria daqualidade da educação infantil. A atuação, nesse sentido, tem como objetivo concretizar asmetas estabelecidas no PNE e incentivar que Estados e municípios elaborem seus planos locaisde educação, contemplando neles a educação infantil.

A UNESCO contribuiu ainda por meio de várias ações: • adoção de uma linha editorial na área da educação infantil, incluindo a tradução de Notas

sobre Políticas (Policy Briefs) de vários países, que contêm lições sobre suas políticas para ainfância, produzidas pela Sede da UNESCO e já traduzidas para outras línguas;

• parceria com a Fundação Orsa com o objetivo de contribuir para a disseminação de infor-mação, formação de profissionais e aprimoramento da política de educação infantil no Brasil.Salienta-se a publicação da Revista Coordinators’ Notebook – A infância em debate: perspectivascontemporâneas, realizada em parceria da Fundação Orsa, UNESCO e o Consultative Group onEarly Childhood Care and Development;

• realização do estudo "Os serviços para a criança de 0 a 6 anos no Brasil", uma iniciativada Sede da UNESCO para levantamento da situação da Educação Infantil em vários países. Oestudo foi publicado em português e inglês, visando a uma disseminação para outros paísesinteressados em conhecer a realidade brasileira;

• pesquisa sobre indicadores da primeira infância, promovido pelo Escritório Regional daUNESCO para a América Latina e o Caribe – OREALC, visando a aperfeiçoar o monitora-mento global de Educação para Todos. O Brasil foi incluído no projeto pela sua extensão terri-torial e complexidade, visto que a oferta da educação infantil é cada vez mais descentralizadaem nível de milhares de municípios;

• projeto "Revisão das Políticas e Serviços de Educação Infantil", estudo promovidopela UNESCO – Sede e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE), envolvendo quatro países-membros: Brasil, Indonésia, Casaquistão e Quênia. Ainiciativa visa a oferecer a esses países uma oportunidade de revisar criticamente suaspolíticas e serviços para a primeira infância e identificar opções e estratégias paramelhorá-los. Além disso, no nível global, pretende disseminar informações comparativassobre políticas, planejamento e implemeentação de educação infantil. O projeto é desen-volvido em parceria com o Ministério da Educação por meio da Secretaria de EducaçãoInfantil e Fundamental e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnísioTeixeira;

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• realização de seminários para promover debate e subsidiar a elaboração, acompanhamentoe avaliação da políticas de Educação Infantil no Brasil;

≈ Simpósio Educação Infantil: construindo o presente, em comemoração à Semana de Educaçãopara Todos de 2002, em parcerias com a Comissão de Educação do Senado Federal, aComissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, a Universidade deBrasília, o SESI/CNI, o Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil, o CONSED e aUNDIME;

≈ Seminário Nacional Financiamento da Educação Infantil, em setembro de 2003, em parceria com aComissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, o Ministério da Educação, oCONSED e a UNDIME;

• intercâmbio internacional, promovendo a troca de experiências. Organizou-se a vinda dosespecialistas sobre infância, Michael Levine, Ellen Galisnky e Lisa Bernstein ao Brasil, para par-ticipação em Seminários sobre ‘Infância e Mídia’ (Porto Alegre, Brasília e São Paulo, agosto de2003). Também esteve no Brasil a Dra. Soo Hyang Choi, Diretora da Seção de EducaçãoInfantil Inclusiva da UNESCO – Paris, na abertura do Seminário Nacional Financiamento daEducação Infantil, mencionado acima.

Ressalta-se, ainda, a parceria firmada em 2003, entre a Representação da UNESCO noBrasil, o Banco Mundial e a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho para a realização doPrograma Fundo do Milênio para a Primeira Infância, em alguns estados do país. Esse desafiofoi lançado pelo Banco Mundial e formalmente acolhido pela UNESCO no Brasil, que com-partilha a firme convicção de que garantir uma educação de qualidade desde os primeiros anosde vida é um dos mais importantes investimentos que uma nação pode fazer.

O Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância tem como principal objetivo a quali-ficação do atendimento em creches e pré-escolas – preferencialmente da rede privada sem finslucrativos, isto é, de instituições comunitárias, filantrópicas e confessionais – que atendem cri-anças em situação de vulnerabilidade social. Utilizando uma tecnologia social inovadora, istoé, as Mesas Educadoras, que são espaços estruturados pedagogicamente, com recursos humanose materiais, que propiciam atividades de formação continuada. A principal estratégia doPrograma é a formação em serviço dos profissionais de educação infantil, considerando que aqualificação do professor é reconhecidamente um dos fatores mais relevantes para a promoçãode padrões de qualidade adequados na educação, qualquer que seja o grau ou modalidade.Nove municípios dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul já possuem uma MesaEducadora instalada, abrangendo 45 instituições de educação infantil, 400 profissionais em for-mação e beneficiando cerca de 4.500 crianças de zero a seis anos de idade. Empresas social-mente responsáveis têm participado no co-financiamento do Programa, compartilhando a visãode que os primeiros anos de vida valem para sempre e que a educação de qualidade, desde amais tenra infância, é fundamental para a construção de um Brasil mais desenvolvido, maishumano e socialmente mais justo.

No âmbito do ensino fundamental, os objetivos de Educação para Todos prevêem não só oacesso à escola, mas também uma educação de qualidade para todos. Em sintonia com as metasestabelecidas, a UNESCO no Brasil tem prestado assistência técnica e apoiado diversas açõesdirecionadas à melhoria da qualidade da educação no Brasil, seja por meio de projetos de cooperaçãotécnica com o Ministério da Educação, seja pelo apoio a várias atividades destinadas a con-

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tribuir para a formulação de políticas de longo prazo para a Educação Básica, em todas as suasmodalidades e formas, integrando as ações da União com as Unidades da Federação e osmunicípios. Destaca-se aqui a assistência técnica aos projetos Educação e Aprendizagem eFundescola, ambos desenvolvidos pelo Ministério da Educação, com o objetivo de melhorar aefetividade da escola e a qualidade da educação. Dentre outras atividades, destacam-se as rela-cionadas à formação e capacitação de professores em exercício, utilizando a modalidade deeducação a distância.

Considerando a valorização e qualificação do professor como um dos eixos indispensáveispara as ações destinadas a alcançar as metas de Dacar, tem também apoiado a realização deseminários internacionais, como a Conferência Regional: "Desempenho dos Professores naAmérica Latina e no Caribe – Novas Prioridades", realizada em julho de 2002, em parceria como Banco Interamericano de Desenvolvimento e outras instituições. Na oportunidade foram discu-tidas várias questões pertinentes à profissão docente, como carreira e remuneração, formação,avaliação de desempenho, sistemas de certificação e apresentadas experiências de vários países.Os debates e resultados do evento foram publicados e disseminados internacionalmente.

Também visando à democratização do ensino obrigatório de qualidade e considerando asdificuldades de cobertura dos custos indiretos da escolarização pelas populações mais pobres(o que conduz com freqüência ao trabalho infantil), tem apoiado e avaliado iniciativas como oPrograma Bolsa-Escola, desenvolvido inicialmente pelo governo do Distrito Federal, entre1995 e 1998, e depois implementado pelo Governo Federal. Essa estratégia de combate àpobreza e inclusão educacional tem sido divulgada junto a outros países em desenvolvimentopela UNESCO no Brasil.

E n s i n o M é d i o e E d u c a ç ã o P r o f i s s i o n a l

Em direção ao cumprimento dos principais objetivos do Marco deDacar, a Representação da UNESCO no Brasil mantém parceria estreitacom os Governos Federal e Estaduais para apoiar a implementação dareforma brasileira de ensino médio e de educação profissional. As açõesafetam especialmente os gestores estaduais, oferecendo subsídios àsequipes técnicas para o planejamento e implementação de políticas eestratégias voltadas para a melhoria da qualidade do ensino. Nesse

processo, possui acordos de cooperação com 11 Secretarias Estaduais de Educação e 01Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Firmou, ainda, parceria com o Ministério daEducação com o objetivo de apoiar a implementação da reforma e expansão do atendimentono ensino médio, visando à melhoria da qualidade e à ampliação de seu grau de cobertura,como forma de garantir maior eqüidade social.

Atua também na disseminação de idéias e promoção de debates em parceria com os diferentesníveis de governo e instituições, por meio de publicações, workshops e conferências nacionais einternacionais. Nesta direção, no âmbito do ensino médio e da educação profissional podemoscitar alguns eventos que, mais do que apenas seminários, constituíram-se em ferramentas deplanejamento e informação para a implementação de políticas públicas.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 59

• workshop sobre "As Novas Tendências Mundiais e as Mudanças Curriculares na EducaçãoSecundária Latino-Americana", voltado principalmente para os gestores de ensino médio dasSecretarias Estaduais de Educação e do Ministério da Educação";

• Seminário Internacional "O ensino médio no contexto do mundo do trabalho", voltadoprincipalmente para gestores de ensino médio e de educação profissional das Secretarias deEducação e do Ministério da Educação, Faculdades de Educação das Universidades, ConselhoNacional de Educação e especialistas em educação;

• Reunião Regional, em parceria com o Centro Internacional de Educação Técnica eVocacional da UNESCO – UNEVOC, voltado principalmente para os Centros de EducaçãoProfissional dos países da América Latina, associados ao UNEVOC;

• Encontro Regional de Educação Técnica e Profissional, em parceria com a OficinaRegional de Educação para a América Latina e Caribe – OREALC/UNESCO,voltados para os gestores de educação profissional dos Ministérios da Educaçãode países da América Latina.

Além disso, o Escritório no Brasil tem desenvolvido diversas ações em parceria como UNEVOC, sediado em Bonn, na Alemanha. Dentre as ações, cita-se a articu-lação para inclusão de artigos brasileiros no International Handbook of Technical andVocational Education and Training. Essa publicação, que reunirá a opinião e o pensa-mento de eminentes especialistas de vários países, tem por objetivo disseminarmodelos de educação profissional de diversas regiões do mundo, buscando apresen-tar as melhores experiências e abordagens sobre a educação para o trabalho.

E d u c a ç ã o S u p e r i o r e P ó s - G r a d u a ç ã o

Na área da educação superior, a UNESCO tem procurado dar continuidade ao desdobra-mento, tanto dos princípios e diretrizes aprovadas pela Declaração Mundial para a EducaçãoSuperior no Século XXI, quanto às implicações de outras declarações e documentos de referênciasaprovados pela Conferência Geral. Assim sendo, destaque pode ser dado à parceria estabelecidano inicio de 2003, na gestão do então Ministro Cristovam Buarque, com vistas ao objetivo dedar inicio ao projeto da reforma universitária brasileira. No marco dessa política, foram pro-movidos inúmeros debates e encontros, no país e no exterior, com especialistas reconhecidos,pertencentes ou não ao quadro da UNESCO. Menção especial cabe ao Seminário

Internacional Universidade XXI promovido conjuntamente pelo Ministério daEducação, UNESCO e Banco Mundial e apoio de várias entidades. Esse eventopermitiu trazer ao Brasil especialistas de várias partes do mundo para relatar suasexperiências e reflexões sobre a concepção e o modus operandi de uma universidadepara o século XXI, particularmente no que diz respeito aos desafios da globalização.

Como parte desse projeto e para dar-lhe suporte, foram reeditados e editadosalguns livros, entre eles, os Anais da Conferência Mundial sobre a EducaçãoSuperior no Século XXI, de 1998; Educação Superior: reforma, mudança e inter-nacionalização; e A Universidade na Encruzilhada. Esses livros foram enviados atodas as universidades do país. Também foram publicados trabalhos apresentados

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no 2º. Congresso Brasileiro de Extensão Universitária "[Re]conhecer diferenças, construirresultados", promovido pelo Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades PúblicasBrasileiras, Fórum Nacional de Extensão das Universidades e Instituições de Ensino SuperiorComunitárias e do Fórum de Extensão das IES Brasileiras, com apoio da UNESCO e váriasoutras instituições.

Além disso, patrocinou a vinda ao Brasil de especialistas para encontros e reuniões com diri-gentes do Ministério da Educação, como Martin Carnoy e Juan Carlos Tedesco, e tambémcriou condições para que dirigentes da educação brasileira participassem de eventos inter-nacionais.

Por outro lado, o projeto Cátedras UNESCO teve mais alguns desdobramentos, com novase promissoras iniciativas, como a Cátedra Ayrton Senna de Desenvolvimento Humano, noInstituto desse mesmo nome que conta com o apoio de uma rede de universidades; a deBioética, na Universidade de Brasília; a proposta da Escola de Comunicação e Artes daUniversidade de São Paulo para uma Cátedra de Divulgação Científica (projeto enviado aParis); e os projetos em fase de elaboração para mais duas cátedras, sendo uma na UniversidadeFederal da Paraíba (Alfabetização) e outra na Universidade Católica de Salvador(Discriminação). Acrescente-se a discussão já iniciada para aprofundar o conceito e opera-cionalização de uma cátedra, com o estabelecimento de padrões mínimos e acompanhamentosistematizado.

Salientam-se ainda ações e o apoio referentes à diversidade e inclusão educacional. NoBrasil apóia a SECAD na implementação do Projeto Diversidade na Universidade, que é desen-volvido em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. O objetivo doProjeto é promover a inclusão social e o combate à exclusão étnica e racial, tendo como focoa melhoria das condições e oportunidades de ingresso no ensino superior para jovens e adultosde grupos socialmente desfavorecidos, especialmente afro-descendentes e povos indígenas.

No âmbito da pós-graduação, destaca-se o V Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG),desenvolvido pela Capes com o apoio da UNESCO com a responsabilidade de enfrentardesafios delineados nos Planos anteriores e ainda não satisfatoriamente equacionados. Nestesentido, destaca-se, por exemplo: (1) a insuficiência do sistema de pós-graduação para pro-mover a capacitação docente das instituições de ensino superior públicas e privadas; (2) o baixograu de integração atingido pela pós-graduação com o conjunto do sistema de ensino deterceiro grau existente no país; (3) a insuficiente articulação da pós-graduação com o sistemade ciência e tecnologia e com o setor produtivo nacional; e (4) o persistente desequilíbrio inter-regional e intra-regional da oferta dos cursos de pós-graduação. O V PNPG, tem, ainda, o com-promisso de resgatar o passivo de problemas recorrentes, insatisfatoriamente solucionados,bem como detectar os novos desafios à institucionalização do sistema, advindos das profundasmudanças sociais em curso nos sistemas nacional e internacional neste final de século.

Como forma de possibilitar o acesso às informações necessárias à identificação dos proble-mas e permitir o contínuo acompanhamento e avaliação das ações definidas no IV PNPG,faz-se necessária a construção de um sistema de informações que sistematize e estruture osdados provenientes dos sistemas de informação operacionais da Capes e de outros sistemasexternos à organização em um Dataware House, permitindo, a partir da consolidação dessesdados, a geração dos indicadores necessários ao processo de tomada de decisões na instituição.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 61

E d u c a ç ã o P r e v e n t i v a – H I V / A i d s

A segunda estratégia de Dacar, especialmente relevante para países em vias de desenvolvi-mento, é a educação preventiva. Nesse sentido a educação para a saúde tem sido objeto demuitas ações de cooperação técnica da UNESCO/Brasil.

A epidemia do HIV/Aids representa mais que um problema de saúde em todo o mundo.Provocada também pela falta de informação, afeta as populações em situação de pobreza que possuem

dificuldades de acesso às estratégias de prevenção.É neste sentido que a UNESCO no Brasil atua em

parceria com o Programa Nacional de DST e Aids(Ministério da Saúde), buscando o fortalecimento deações preventivas junto às populações vulneráveis. Otrinômio tratamento-prevenção-sociedade civil faz daResposta Brasileira, hoje, uma referência mundial paraconter o avanço da epidemia e fornecer às pessoas quevivem com HIV/Aids um tratamento justo e equânime.Em parceria com todos os níveis de governo e com enti-dades da sociedade civil, enfatiza os elementos de edu-cação preventiva com vistas à mudança de comporta-mento, à eliminação do preconceito e da discriminaçãoàs pessoas que vivem com HIV/Aids.

A UNESCO no Brasil ofereceu como subsídio paraa construção de uma política nacional de educação preventiva, uma pesquisa sobre as ações pre-ventivas nas escolas (2001) que aponta que mais de 70% das escolas pesquisadas desenvolvemações de educação voltadas à prevenção do HIV. A pesquisa mostrou ainda que a primeirarelação sexual acontece em média aos 14,5 entre os meninos e 15,5 anos entre as meninas. AUNESCO acredita que os melhores resultados das ações de prevenção são aqueles quecomeçam com a educação ainda na infância, para que ao chegarem à juventude os jovens já este-jam informados e, desde o início, adotem práticas seguras em seus relacionamentos.

Compreendendo que a escola constitui instância privilegiada das iniciativas referentes àpromoção da saúde e à prevenção das DST/Aids, o Programa Nacional de DST e Aids (PN DST/Aids)em parceria com o MEC e a UNESCO iniciou em 2003 o Programa "Saúde e Prevenção nasEscolas", que pretende estabelecer programas de Educação Sexual nas escolas públicas do paísa partir dos 7 anos de idade. Dentre suas estratégias, pretende garantir até o final de 2004 adisponibilização de 235 mil preservativos aos jovens de 14 a 19 anos, estudantes do ensinoregular, ensino médio e educação de adultos em escolas de 200 municípios brasileiros.

Participam também dessa iniciativa estados e municípios que estabeleceram acordo decooperação técnica com a UNESCO, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

A ampla rede de parcerias construída com a sociedade civil, instituições de saúde pública eoutros organismos internacionais, tem contribuído significativamente para que ações educativassejam implementadas sob a ótica da compreensão das especificidades culturais que impedem aefetivação de mudanças no contexto social no qual se alastra a epidemia. O apoio ao governobrasileiro, principalmente por meio do apoio na gestão de seus programas, tem favorecido a

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“A UNESCO vem desenvolvendo um importante papel na parceria com instâncias governamentais

e não-governamentais e centros acadêmicos no país nos últimos anos, indo além de sua missão

de promoção à educação e cultura, tornando-se também um referencial importante no oferecimento de apoio à implementação de políticas e estratégias inovadoras

no âmbito da promoção à saúde e prevenção das DST/HIV/Aids.Consideramos a parceria e a atuação da

UNESCO como essenciais e imprescindíveis para consolidação e ampliação da cobertura das atividades

desenvolvidas nessas áreas em nosso país.”

Pedro ChequerDiretor do Programa Nacional de DST/AIDS

formulação de políticas de educação preventiva em todos os níveis de governo, garantindo adiminuição dos índices de infecção, assim como uma maior qualidade de vida às pessoas quehoje vivem com o HIV.

O componente de disseminação internacional de experiências bem sucedidas é também centralao trabalho da UNESCO. Atualmente, desenvolvem-se estreitas parcerias com países africanosde língua portuguesa, especialmente com Moçambique.

Q u a l i f i c a ç ã o n a Á r e a d a S a ú d e

A UNESCO acredita que a melhoria dos indicadores de saúde e a construção de uma geraçãomais saudável dependem de uma efetiva articulação intersetorial, onde o componente educaçãorecebe destaque fundamental para o fortalecimento de políticas públicas de saúde inclusivas,participativas e equânimes. Desenvolvem-se, assim, projetos de cooperação técnica com diversosórgãos do Ministério da Saúde e também com Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Nomarco desses projetos encontram-se iniciativas de aperfeiçoamento da gestão dos sistemas desaúde visando à maior eficiência e eficácia no desempenho das suas funções, potencializandorecursos e favorecendo a inclusão eqüitativa da população nos sistemas e serviços de saúde.

Encontram-se também importantes parcerias para o fortalecimento do nível de atenção básicado sistema de saúde, como estratégia de reorientação do modelo de atenção no âmbito doSistema Único de Saúde–SUS. Essas parcerias iniciaram-se em 2000 com um projeto de cooperaçãovoltado ao desenvolvimento da atenção básica no Brasil, cujo objetivo central era ampliaresforços para promover linhas estratégicas de investimento no Programa Saúde da Família–PSF,visando a oferecer apoio técnico e científico à sua sustentabilidade, mediante a responsabilizaçãodos três níveis de gestão do SUS. O foco principal era criar condições para a expansão do PSFpor meio de ações de regulamentação da atuação das equipes, do início da construção doprocesso de acompanhamento e avaliação e principalmente por meio de ações de formação ecapacitação de recursos humanos, onde se priorizou a articulação das secretarias municipais eestaduais de saúde com instituições de ensino superior visando ao estabelecimento de parceriasque possibilitassem, em todas as regiões do país, processos mais amplos e mais ágeis de capaci-

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 63

Em fevereiro e outubro de 2003, jovens brasileiros e moçambicanos se reuniram como parte de um intercâmbio cultural promovido pela Fundação das Nações Unidas, a USAID (Agência Norte-Americana de Desenvolvimento) e a UNESCO. Esses intercâmbios – realizados respectivamente emMaputo e Salvador – envolveram jovens com alto grau de participação comunitária, desenvolvendodiretamente ações com ONGs. O encontro destes jovens tem o objetivo central de fortalecer redesde jovens que desenvolvem atividades preventivas em Salvador e nas províncias moçambicanas deSofala, Zambézia e Gaza.

Os resultados esperados são a troca de experiências entre organizações comunitárias dos dois países,fortalecendo as ações preventivas desenvolvidas por ONGs, trazendo um impacto generalizado pormeio de um grande efeito multiplicador. A formação de redes sólidas entre os jovens e as ONGsparticipantes do intercâmbio garante que tal iniciativa terá continuidade, mesmo após o fim das atividades formais do projeto.

Compartilhando Boas Práticas em DST/Aids, Brasil–Moçambique

tação das Equipes de Saúde da Família. Essas parcerias possibilitaram maior contato das insti-tuições de ensino com os serviços de saúde e com as comunidades atendidas pelo Programa,permitindo a elaboração de projetos de capacitação mais coerentes com as necessidades dosprofissionais e mais identificados com as necessidades de saúde das populações assistidas.

Evidencia-se no Programa Saúde da Família a trajetória de um programa inicialmente focalizadoque se transformou em uma das mais importantes estratégias de reorientação do modelo deatenção no âmbito do sistema de saúde brasileiro. Trata-se de um trabalho que busca a melhoriada qualidade de vida dos indivíduos, das famílias e do meio ambiente. É, portanto, uma dasestratégias setoriais mais importantes que se incorpora à luta pela superação das desigualdadessociais e pela construção de uma sociedade mais justa, coadunando-se fortemente com a missãoda UNESCO.

O espaço de trabalho das Equipes de Saúde da Família tem sido também um território privile-giado para o avanço no trabalho de construção da cultura de paz e não-violência, uma das altasprioridades internacionais, que pode contribuir para enfrentar um dos mais atuais desafios dasociedade brasileira.

Em todos os focos de cooperação, seja para o aperfeiçoamento da gestão ou do modelo deatenção, os esforços concentram-se na capacitação e qualificação dos atores envolvidos, sejaem âmbito nacional, estadual ou municipal do sistema de saúde. Destacam-se ainda as iniciativasde disseminação de conhecimentos produzidos e de socialização das experiências bem sucedidas,por meio de eventos e de publicações no âmbito dos projetos de cooperação.

Outro importante projeto junto ao Ministério da Saúde é o Projeto Profissionalização deTrabalhadores na Área de Enfermagem – PROFAE. Iniciado no ano 2000, o Projeto envolveu,em sua primeira fase, a qualificação profissional para auxiliar de enfermagem de 225.000 tra-balhadores e 90.000 trabalhadores em nível de técnico de enfermagem. Para atingir esse obje-tivo, foram realizadas atividades de desenvolvimento institucional nas linhas de capacitação deformadores e fortalecimento de escolas técnicas públicas.

A capacitação foi desenvolvida mediante a modalidade de educação à distância, constituindo-se 40 núcleos de apoio docente em diversas universidades em todo o território nacional paraofertar a especialização em formação pedagógica a cerca de 15.000 professores na área deenfermagem. Neste momento, essa capacitação está sendo ampliada para professores de outrascategorias do setor saúde, além da enfermagem.

Após quatro anos de execução, o projeto PROFAE foi avaliado e suas ações redirecionadasconforme as novas necessidades. Constatou-se, na avaliação externa do Projeto, a necessidadede implementação de estratégias de educação permanente para que, num futuro próximo, nãohouvesse novos contingentes de trabalhadores sem qualificação adequada a serem formados.Institui-se, então, como uma nova ação do projeto, a implementação da educação permanenteem saúde. A proposta, que já vinha sendo trabalhada pelo Ministério da Saúde como umapolítica para a área de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde (SUS), será ampliadapara todas as categorias profissionais do setor saúde e será implementada de forma descentraliza-da por intermédio de instâncias denominadas pólos de educação permanente.

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P r o g r a m a d e E s c o l a s A s s o c i a d a s

Em 1953, a UNESCO criou o Programa de Escolas Associadas (PEA), uma rede destinada amobilizar as escolas de todo o mundo para a realização de projetos voltados ao fortalecimentodo papel da Educação na promoção de uma cultura de paz e tolerância. Fazem parte da redeinstituições de educação básica e ensino superior que buscam por meio de atividades específicassemear na mente de crianças, adolescentes e jovens, os princípios da tolerância, respeito pelosdireitos humanos, democracia e fraternidade que conduzem à paz e compreensão interna-cional. O compartilhamento de experiências e materiais, assim como o intercâmbio de mestrese estudantes entre as escolas participantes, constituem o foco central das atividades desen-volvidas pela rede.

No Brasil, a rede de Escolas Associadas atualmente compreende mais de 150 instituições deensino público e privado, cobrindo 12 estados brasileiros. Por meio do PEA, as escolasbrasileiras associadas têm felizmente conseguido fortalecer os vínculos cooperativos estabele-cidos entre si e com outras instituições de ensino no exterior, compartilhando suas práticas desucesso e o ideal da Educação para a Paz. Participam também de projetos internacionais comoo Projeto Mondiálogo, destinado a promover o diálogo entre os jovens de diversas culturas.Alunos de 15 a 18 anos foram convocados a elaborar projetos que tivessem como objetivo finalestimular o diálogo intercultural, o entendimento e a valorização de outras culturas.

V. A PRESENÇA DA UNESCO NA AGENDA CULTURAL DO PAÍS

A UNESCO marca presença na agenda cultural nacional exercendo sua vocação de difundiro conhecimento e promover a cooperação entre os países para um mundo culturalmente maisjusto e diverso. O setor de cultura conta com a parceria de organismos governamentais e não-governamentais. Entre eles o Ministério da Cultura, o Arquivo Nacional, a Caixa EconômicaFederal, o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa – Sebrae, o InstitutoBrasileiro de Turismo – Embratur, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e a Fundação Nacional do Índio – Funai.

Em parceria com o Ministério da Cultura, toma parte do maior programa de preservação dopatrimônio cultural já realizado no país. Contando com recursos do Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID), o Programa Monumenta tem inserção em 26 cidades brasileiras,

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 65

incluindo seis dentre as oito cidades brasileiras cujos centros históricos estão listados nopatrimônio Mundial da UNESCO. Participando de ações que incluem desde pesquisa e inven-tário dos bens de valor histórico até obras de restauração, a educação patrimonial e o fortaleci-mento institucional dos órgãos nacionais de patrimônio, o Setor de Cultura faz-se presente noPrograma, obtendo resultados significativos e o reconhecimento nacional da sua importância.

Devido à sua dimensão e ao seu ineditismo – primeira experiência do BID na execução deum programa destinado à Cultura com esse alcance –, a experiência do Programa Monumenta,resultante de Contrato de Empréstimo no valor de 125 milhões de dólares entre o GovernoBrasileiro e o BID, pode trazer uma significativa contribuição aos países em desenvolvimentono âmbito da recuperação do patrimônio histórico urbano.

O Programa tem como objetivo descentralizar a gestão da preservação do patrimôniohistórico do país e, por esta razão, sua implementação é delegada, em grande medida, aosmunicípios selecionados. Busca também tornar sustentáveis as áreas abrangidas. Assim prevêobras de conservação e restauro, como medidas administrativas, educativas, institucionais e decapacitação. Além disso, concebe um instrumento fundamental para o alcance da sustentabili-dade local: a criação de Fundos de Preservação em cada município. Tais Fundos são geridos porrepresentantes do governo, da comunidade e da iniciativa privada que administram os recursosprovenientes da valorização da área beneficiada pelo programa, investindo-os na conservaçãopermanente dos sítios e monumentos.

O tema do Patrimônio Cultural, material e imaterial, é central na agenda daUNESCO. Ao lado das atividades desenvolvidas de forma sistemática através dosprogramas citados, é permanente a presença no monitoramento das condições deconservação dos sítios históricos, especialmente daqueles inscritos na Lista doPatrimônio Mundial. Nesse sentido, a prioridade tem sido dada à capacitação dosmunicípios e à promoção de atividades que envolvam as comunidades locais nagestão do patrimônio. A Organização também acompanha o desempenho dessascidades na implementação das diretrizes do Comitê do Patrimônio Mundial epromove seminários de treinamento de equipes locais, nos quais busca o envolvi-mento direto dos respectivos prefeitos.

Motivada pelo recente incêndio ocorrido em Ouro Preto, propôs o projetoChama, hoje liderado pela comunidade local e conduzido em cooperação com a UniversidadeFederal, o Corpo de Bombeiros, o IPHAN e o governo estadual. Esse projeto produziu umdiagnóstico do risco de incêndio de todo o sítio histórico, promoveu treinamento para a pre-venção destinado a empregados dos estabelecimentos comerciais, hotéis, bares e restaurantes,além de produzir um estudo técnico avançado sobre a metodologia de avaliação de carga deincêndio em conjuntos coloniais.

Enfim, a presença, seja participando diretamente ou apoiando e orientando a realização defóruns de debates sobre o patrimônio material e imaterial em todo o país, constitui um mecanis-mo de difusão dos princípos da Organização e de suas convenções, como no caso da recém-aprovada Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Sobre esse tema,realizou-se, em 2004, na cidade de Paraty, um encontro que reuniu especialistas em PatrimônioImaterial de toda a América Latina. O seminário destacou a importância do tema e daConvenção e funcionou como um fórum para troca de informações e conhecimentos entre os

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especialistas latino-americanos, dentre os quais, o Brasil obteve um importante destaque.A atuação da UNESCO na área da cultura também se dá em diversas outras frentes rele-

vantes, ao lado de importantes parceiros. Com o Arquivo Nacional, órgão responsável tantopela preservação do patrimônio documental do governo brasileiro quanto pela definição dapolítica que rege os demais arquivos brasileiros, estabeleceu uma frutífera parceria. Por meio deum acordo de cooperação, a Organização vem colaborando para modernizar as instalações doArquivo, de modo a atingir os padrões internacionais para a preservação documental e con-solidar seu funcionamento como instituição arquivística de referência no país. Além disso, aparceria incluiu a realização de atividades culturais, como o Festival Internacional de Filmes deArquivos e a participação na salvaguarda de uma importante parcela da cultura nacional,colaborando para que o Arquivo Nacional pudesse dar adequadas condições de preservação aum dos mais significativos acervos filmográficos do país, recebido do Museu de Arte Modernado Rio de Janeiro e da TV Educativa.

Além do Ministério da Cultura e do ArquivoNacional, a Organização conta com outras parcerias.Com a Caixa Econômica Federal, publicou duasedições e prepara agora a terceira, do Livro PatrimônioMundial no Brasil. O livro, editado em português,inglês e espanhol, retrata os bens brasileiros da Lista doPatrimônio Mundial. Foi distribuído a bibliotecaspúblicas, universidades e instituições culturais eambientais do Brasil e estrangeiras. Deu origem tam-bém a uma exposição itinerante de painéis fotográficossobre sítios retratados. A exposição, que agora per-corre o Brasil, foi exibida também na sede daUNESCO, em Paris, contribuindo para a promoção da natureza e cultura brasileiras no país eno exterior.

Com o Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur, o Setor de Cultura tem cooperado emações que visam firmar os bens do Patrimônio Mundial no Brasil como destinos do turismocultural e ecológico, buscando o seu desenvolvimento e ao mesmo tempo preservando e desta-cando as suas características culturais e naturais.

O Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa – Sebrae é também um parceirofundamental. Com esse órgão, a UNESCO firmou um Acordo de Cooperação que possibilitoua realização de um inventário de bens culturais do Estado do Rio de Janeiro. O inventárioexplorou quatro rotas formadas por localidades com características culturais relacionadas:Caminhos do Açúcar, Caminhos do Ouro, Caminhos do Sal e Caminhos do Café. O resultadodessas atividades possibilitará o estabelecimento de um programa de negócios e atividades deturismo com características culturais locais e a promoção do desenvolvimento local sustentável.O Sebrae também participou da realização do Prêmio UNESCO de Artesanato de 2004. O prêmiovisa a estimular a criatividade, o senso estético de inovação e a capacidade dos artesãos produziremobras que, além de carregarem seus próprios traços culturais, possuam qualidades fundamentaispara participar do mercado e transformar o artesanato em atividade geradora de empregos erenda. O Brasil foi o país escolhido para sediar a edição dedicada aos países da América Latina

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 67

“A presença da UNESCO no Brasil é criativa, é combativa no entendimento e atendimento profundos das nossas carências sociais, culturais e educacionais.Essa presença tornou-se fundamental não só pelos resultados que vêm sendo obtidos nos projetos desenvolvidos, como também pela arregimentação que provoca em todas as camadas sociais do nosso país diante dessa extraordinária mobilização de cidadania”.

Fernanda MontenegroArtista da Paz da UNESCO

e Caribe no evento internacional de artesanato promovido pelo Sebrae em Salvador, Bahia.Em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –IPEA, Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE e também o Sebrae, realizou-se, em2002, um seminário internacional com vistas a iniciar o estabelecimento, no país,de um sistema de informações culturais. Esse sistema deverá permitir ao Brasil traçarmais adequadamente as suas políticas de cultura. O Seminário resultou em umapublicação: o livro Políticas Culturais para o Desenvolvimento, destinado adifundir as ligações entre cultura e desenvolvimento para os formuladores de políti-cas, gestores culturais, tomadores de decisão e demais atores do cenário culturaldo país. As articulações institucionais resultantes do evento, assim como a publi-cação, têm subsidiado a concepção de um sistema brasileiro de informações sobrea Cultura, liderado pelo Ministério da Cultura, que vem tendo o acompanhamentoe a cooperação da UNESCO.

Além desses, diversos outros projetos significativos para a implementação das diretrizes pro-gramáticas foram ou estão sendo desenvolvidos. É o caso do Vocabulário Básico de LínguasIndígenas, realizado em conjunto com o Museu do Índio, da Funai. A UNESCO possibilitou arealização de estudo do registro visual e sonoro e da transcrição de um vocabulário básico dediversas línguas indígenas do Brasil ameaçadas de extinção. O registro, publicado em CD,levou a UNESCO a ampliar o projeto de modo a incluir mais quinze línguas indígenas até2005. Dessa forma, contribui para o estudo e o ensino das línguas minoritárias e realizadas, semdúvida alguma, parte significativa do patrimônio cultural imaterial brasileiro.

No sentido de salvaguardar o patrimônio imaterial e a rica diversidade cultural do país, aOrganização associou-se ao Museu do Folclore Edson Carneiro para desenvolver o Tesauro daCultura Popular Brasileira. O Tesauro é um instrumento fundamental para a organização deinformações sobre a cultura popular brasileira, permitindo assim pesquisas, estudos e o desen-volvimento de políticas que beneficiem o patrimônio cultural do país.

Ademais, no escopo do projeto Rota do Escravo, que visa estu-dar, esclarecer e dar visibilidade à história e aos reflexos culturaisdecorrentes dos quatro séculos de tráfico de escravos africanos, aUNESCO realizou o levantamento de fontes para a pesquisa dacultura africana no Brasil e em Cuba. Esse levantamento destina-se a formar um banco de dados de referência para subsidiar apesquisa comparativa de temas da cultura e da história afro-brasileira e afro-cubana e o pensamento sobre a questão racialnos dois países, cujas sociedades nacionais, com seus respectivosacervos de cultura material e imaterial, ethos e visão de mundo,são notavelmente semelhantes.

Em maio de 2003, a UNESCO colaborou técnica e financeiramente para a realização doSeminário Cultura e Paz: violência, política e representação nas Américas, realizado pelaONG brasileira Arte sem Fronteiras e pela Universidade do Texas, na cidade de Austin, EUA.Viabilizando a participação de especialistas internacionais sobre o tema Cultura e Violência, aUNESCO possibilitou que o Seminário atingisse uma importante repercussão e gerasse interessantematerial sobre o assunto. Apoiou posteriormente, dentro da mesma série, a realização dos

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Seminários Cultura e Cidades Sustentáveis, realizado em São Paulo, em março de 2004. Essesseminários foram oficialmente considerados como pré-fóruns do Fórum Barcelona 2004, ouseja, seus resultados alimentarão a Sessão de Diálogos prevista na programação de Barcelona.

Atualmente, o Setor de Cultura prepara outros projetos a serem implementados até o fim de 2005:• no âmbito do programa Rota do Escravo, a colaboração na restauração da Casa do Brasil

em Accra – Ghana, país africano para onde retornaram antigos escravos e que levaram consigodiversos traços culturais adquiridos no Brasil;

• um encontro para discutir e viabilizar o estabelecimento de uma rede nacional de indi-cadores e informações voltadas para o estabelecimento de políticas culturais mais efetivas;

• reforço da relação entre a biodiversidade e a diversidade cultural por meio de um projetode promoção dos conhecimentos tradicionais para a gestão de recursos naturais;

• estabelecimento de sistemas de reconhecimento e proteção de Tesouros Humanos Vivos,ou seja, aqueles indivíduos com notáveis conhecimentos, habilidades e técnicas necessáriaspara a manifestação de certos aspectos da vida cultural de um povo e a manutenção de seupatrimônio imaterial.

Na campo do Cinema, tem apoiado a realização de festivais, estimulando a abordagem detemas de seu mandato na produção cinematografica. É o caso do Festival Internacional deCinema Ambiental – FICA, realizado em Goiás e com uma mostra no Rio de Janeiro, e doFestival Guarnicê, realizado em São Luis do Maranhão

A UNESCO segue, assim, marcando presença na agenda cultural brasileira.

VI. CIÊNCIAS, MEIO AMBIENTE EDESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O Setor de Ciências e Meio Ambiente da UNESCO promove e implementa dois temas prioritáriose amplamente integradores do sistema das Nações Unidas: os princípios éticos como norteadoresdo desenvolvimento científico e tecnológico e da transformação social; a conservação ambientale o desenvolvimento sustentável, a partir de um conjunto de convenções internacionais, pro-gramas intergovernamentais e acordos de cooperação, conferindo-lhes papel fundamental naconcretização e seguimento das recomendações e linhas de ação definidas.

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C i ê n c i a s

A Declaração sobre ciência e o uso do conhecimento científico resultante da ConferênciaMundial sobre Ciência realizada em Budapeste afirma que os governos, por meio de políticasnacionais de ciência e tecnologia, devem agir como catalisadores para facilitar a interação e acomunicação entre as partes interessadas na aquisição de conhecimentos, no treinamento depesquisadores, na difusão do conhecimento e na educação do público.

Os governos e o setor privado devem apoiar a formação adequada de capacidades científicase tecnológicas por intermédio de programas de pesquisa e de educação apropriados, que são abase fundamental para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Os países devem tercomo objetivo prover-se de instituições de alta qualidade, capazes de fornecer os aparatosnecessários à pesquisa e à capacitação em áreas de interesse. Deve-se, também, garantir o livre

curso de informações a respeito de possíveis usos econseqüências de novos conhecimentos e novas tec-nologias.

O Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT e aRepresentação da UNESCO no Brasil iniciaram umaparceria no ano 2001 para desenvolver diversos progra-mas de acordo com as recomendações da Conferência.Um dos objetivos desses programas é democratizar oacesso a bens científicos e tecnológicos, por exemplo,disponibilizando documentos sobre a produção cientí-fica e tecnológica nacional na internet, visando àconstrução de uma sociedade desenvolvida, justa eigualitária, através da definição de políticas, diretrizese estratégias para o desenvolvimento da ciência, tec-nologia e inovação no Brasil para os próximos 10 anos.Além disso, promoveu o debate e forneceu suportetécnico para a criação do Instituto Nacional do Semi-Árido, que visa contribuir para o desenvolvimento cien-tífico e tecnológico da região de modo a promover aprodução de conhecimentos aplicáveis à melhoria dascondições de vida locais.

A Organização inclusive mantém parceria com oMinistério da Saúde – MS – para estruturar e promover

o desenvolvimento técnico-institucional da área de ciência e tecnologia em saúde para a pro-dução, identificação e utilização de conhecimentos científicos e novas tecnologias nos serviçosde saúde; além de estruturar e promover o desenvolvimento técnico-institucional da AgênciaNacional de Vigilância Sanitária através da capacitação de seus profissionais e do incentivonacional à formação acadêmica de pós-graduação nas áreas afins. Além disso, o programa depromoção à saúde, pesquisa operacional e estudos para o Sistema Nacional de Vigilância emSaúde está em vias de renovação e ampliação de seus objetivos.

Além dos programas desenvolvidos com seus múltiplos parceiros, também foram realizados

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"A UNESCO é a maior instituição de caráter mundial, no que se refere aos vários aspectos de defesa e propagação

da cultura humana. A sua ação, respeitando sempre a soberania dos países, consiste em difundir e coordenar

muitas ações que ocorrem através de seu incentivo e ajuda.Muito antes que existisse sequer a expressão "globalização",

já tratava disso em todo o planeta, no que se refere à difusão da cultura, nos seus vários desdobramentos,

inclusive científicos, educacionais e ambientais.Assim, grande foi a minha satisfação ao ler um relatório

do Setor de Ciências e Meio Ambiente da UNESCO, que menciona diversas iniciativas de importância. É o caso,

entre outras, de uma parceria iniciada em 2001, entre o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Representação

da UNESCO no Brasil.Outros assuntos importantes são também tratados, em colaboração com instituições

brasileiras. Isso representa, para as pessoas que trabalhampela implantação de uma boa qualidade de vida,

no país e no mundo inteiro, uma necessária e saudável vitória da competência e da solidariedade humana."

Paulo Nogueira NetoEx-secretário ( federal ) do Meio Ambiente

Professor mérito, Instituto de Biociências, USP

três eventos na área de ciências que merecem destaque. Em dezembro de 2003, em parceriacom o Ministério da Ciência e Tecnologia, foi realizada a Terceira Sessão da Comissão Mundialde Ética do Conhecimento Científico e Tecnológico – COMEST. Esse evento bienal tem afunção de ser um fórum intelectual para o intercâmbio de idéias e experiências e, além disso,pretende assessorar realizadores de políticas públicas e tomadores de decisão da área, detec-tar previamente sinais de situações de risco e promover o diálogo entre a comunidade cien-tífica, políticos e o público em geral.

Em novembro de 2003, em parceria com o Ministério da Saúde, promoveu-se, como umadas estratégias para que os resultados de pesquisas em saúde contribuam para a efetiva consoli-dação do Sistema Único de Saúde – SUS, o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia parao SUS/2003 para reconhecer publicamente o talento e o mérito dos pesquisadores cujos tra-balhos científicos têm resultados com alto potencial de aplicação no SUS.

Em março de 2004, a UNESCO participou da 2ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia –FEBRACE 2004, realizada pela Universidade de São Paulo – USP. Os principais objetivos doevento consistiram em estimular e gerar oportunidades para novos talentos nas áreas deCiências e Engenharia, com o desenvolvimento de projetos criativos e inovadores, além deaproximar a comunidade universitária da realidade das escolas públicas e privadas. Os projetosselecionados na FEBRACE 2004 representarão o Brasil na feira internacional ISEF(International Science and Engineering Fair).

Devido à necessidade de se melhorar a qualidade da educação no Brasil tem investido emum projeto em parceria com OREALC, com o Ministério da Ciência e Tecnologia e com oMinistério da Educação, visando proporcionar um salto de qualidade da educação científicano Brasil.

O Projeto, inicialmente voltado para as escolas públicas de segundo grau, tem duas priori-dades: abordar a escola como um sistema, prevendo ações de preparação e aperfeiçoamento deprofessores, melhoria da infra-estrutura técnico-cietífica (laboratórios, biblioteca, etc.),preparação de dirigentes e motivação dos alunos. A segunda será o desenvolvimento de açõessincronizadas em educação formal e as ações de popularização da ciência (museus, olimpíadas,centros de ciências etc.).

Essa parceria também inclui a organização doSeminário Internacional "Ciência de Qualidade paraTodos" cujo objetivo é propiciar um espaço de intercâmbioe de reflexão, visando à identificação de interfaces e a construção de consensos necessários paracontribuir na elaboração de políticas públicas que assegurem o início de um processo inovador,permanente, comprometido e de longo prazo no Brasil. Deste modo, o evento procurará evi-denciar o impacto da educação científica para o desenvolvimento, reforçando o comprometi-mento de todos os atores na definição e implantação de políticas públicas integradas deEducação, Ciência e Tecnologia. Esse seminário realizar-se-á em Brasília em novembro edezembro de 2004, envolvendo instituições como Academia Brasileira de Ciência, CNPq,Capes, Conselho Britânico, Instituto Sangari, Associação Brasileira de Centros e Museus deCiência, CONSED, Crub e UNDIME, além do Governo da Finlândia.

Em relação à educação científica, é oportuno ainda destacar a cooperação com o InstitutoSangari de São Paulo, que possui experiência internacional no ensino de ciências, tanto em

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relação à produção de materiais pedagógicos quanto no que diz respeito às inovações no setore educação continuada de professores. A UNESCO promoveu a avaliação de uma experiênciainovadora desse Instituto com o ensino das ciências e da tecnologia com criatividade, cujosresultados foram publicados. Outras ações, como a organização de um livro sobre a importân-cia da ciência e da tecnologia e a criação de um prêmio de incentivo a professores e escolas, jáestão sendo planejadas para 2005.

D e s t a q u e s

A Organização, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, tem se empenhadona formulação de processos de planejamento e gestão orientados para a função estratégica daCiência, Tecnologia e Inovação no atual contexto da política brasileira de desenvolvimentosustentável.

Além disto, em parceria com a Fundação Banco do Brasil, promove o Banco de TecnologiasSociais. Esse repositório tem como objetivo registrar soluções voltadas para o desenvolvimentosocial e que possam ser aplicadas em escala junto às comunidades de baixa renda ou em situaçãode risco social. O instrumento utilizado para conhecer esses projetos é um prêmio realizadobienalmente e as tecnologias apresentadas são avaliadas e passam a integrar o Banco de Dados.

A UNESCO e o Ministério da Ciência e Tecnologia lançaram o portal E-Livro dirigido aospaíses da Comunidade de Língua Portuguesa – CPLP. Um portal que funciona como bibliotecavirtual disponibilizando títulos técnico-científicos importantes em português, espanhol e inglês.

M e i o A m b i e n t e

A Agenda 21 é um programa de ação que constitui a mais ousada e abrangente tentativa járealizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliandométodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Esse programa foidefinido a partir das premissas da resolução 44/228 da Assembléia Geral de 22 de dezembro de1989, adotada quando as nações convocaram a Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento.

O programa tem o objetivo de minimizar a perpetuação das disparidades entre as nações eno interior delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e adeterioração contínua dos ecossistemas de que depende o bem-estar da humanidade e dessaforma satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemasmelhor protegidos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro.

A estratégia empregada para desenvolver o setor buscou conciliar as ações previstas pelosprogramas mundiais da UNESCO e pelos Acordos e Convenções Internacionais, com as políticaspúblicas em meio ambiente e desenvolvimento sustentável do Brasil, muitas delas decorrentesda própria Agenda 21, por meio de acordos de cooperação com o governo brasileiro.

Mais recentemente as Metas de Desenvolvimento do Milênio e a Rio +10, realizada naÁfrica do Sul em 2002, consolidaram um novo marco referencial para a Estratégia de Médio

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Prazo da UNESCO (2002/2007), fazendo com que o planejamento acompanhasse a dinâmicado processo e a evolução da colocação em prática dos compromissos assumidos por ocasião daConferência do Rio.

Cabe destacar o ano de 2003 como o Ano Internacional da Água Doce, cujo objetivo principalfoi aumentar a consciência sobre a importância da proteção e do gerenciamento das águas doces.

Para aplicar esse princípio no cotidiano, o Sistema das Nações Unidas criouo WWAP, ou Programa de Avaliação Mundial da Água, tendo a UNESCOcomo agência responsável pelo desenvolvimento das bases científicas e éticascapazes de assegurar água para todos.

Um dos principais eventos do Ano Internacional da Água Doce foi o IIIFórum Mundial da Água que se realizou em Kyoto, no Japão, no dia 22 demarço de 2003 coincidindo com o Dia Mundial da Água. No encontro, foiapresentado o Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água, o primeiro deuma série planejada de relatórios sobre a escassez da água no mundo, que serápublicado a cada três anos.

Um dos objetivos do Ano foi reafirmar a Declaração do Milênio das Nações Unidas, que secomprometeu em "até 2015, reduzir pela metade a proporção de pessoas no mundo sem acessoà água potável" e "acabar com a exploração insustentável dos recursos hídricos". O objetivo,endossado pela Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável realizada emJohannesburgo, na África do Sul, em agosto/setembro de 2002, também estabeleceu uma novameta de redução pela metade, até 2015, da proporção de pessoas que não têm acesso a sanea-mento básico. Também foi reconhecido o papel-chave da água para a agricultura, a energia, asaúde, a biodiversidade e os ecossistemas assim como no combate à pobreza.

No Brasil, apóia os Ministérios do Meio Ambiente e da Integração Nacional, desde 1998,por meio de acordos de cooperação voltados para o fortalecimento e a implementação daPolítica Nacional de Recursos Hídricos.

O Proágua Semi-Árido, com recursos do Banco Mundial, além de função estruturante comênfase no fortalecimento institucional, busca ampliar a oferta de água de boa qualidade para aspopulações de baixa renda do semi-árido brasileiro.

Com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, apóia desde 2001 o Governodo Estado da Paraíba com um acordo de cooperação que tem como objetivo o fortalecimentoda capacidade de planejamento e gerenciamento da Secretaria Extraordinária do MeioAmbiente, dos Recursos Hídricos e Minerais do Estado da Paraíba e de sua equipe técnicaresponsável pela gestão dos recursos hídricos do Estado da Paraíba, contribuindo para o uso

eficiente e sustentável do recurso água com vistas ao bem-estar dapopulação do estado.

Apóia-se também o Ministério do Meio Ambiente através de umacordo de cooperação, que conta com recursos do Global EnvironmentalFacility e que tem como objetivo contribuir para a conservação da bio-diversidade aquática na bacia amazônica, a partir da formulação deestratégias para a gestão integrada da biodiversidade aquática e dosrecursos hídricos.

A UNESCO é a Agência do Sistema ONU incumbida de dar segui-

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mento ao Capítulo 36 da Agenda 21, que trata da educação ambiental em todos os níveis, daformação de educadores e da informação ao público.

As Conferências Internacionais sobre EA, nas quais a Organização teve papel catalisadorfundamental, recomendam que a EA não seja feita somente nas escolas; seus veículos devem sera educação formal e não-formal e os meios de comunicação de massa.

Aplica-se essa recomendação, por meio de um acordo de cooperação com o Ministério doMeio Ambiente para a execução do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), quese destina a assegurar, no âmbito educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões dasustentabilidade – ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao desen-volvimento do país, resultando em melhor qualidade de vida para toda a população brasileira.

Ainda no âmbito do ProNEA, ocorreu em novembro de 2003, em Brasília, a ConferênciaNacional de Meio Ambiente que teve como objetivo mobilizar, educar e ampliar a participaçãopopular na formulação de propostas para um Brasil sustentável, fortalecendo o SistemaNacional do Meio Ambiente (Sisnama).

Duas importantes ações, em âmbito mundial, o Programa Intergovernamental "O Homem ea Biosfera" e a Convenção de Proteção do Patrimônio Mundial, oferecem oportunidades decooperação entre governos e sociedade em geral, visando à proteção, à conservação e ao desen-volvimento sustentável de ecossistemas considerados de importância global.

No Brasil, existem seis Reservas da Biosfera (Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Reservada Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, Reserva da Biosfera do Cerrado,Reserva da Biosfera da Caatinga, Reserva da Biosfera da Amazônia Central e Reserva da Biosferado Pantanal) e sete Sítios do Patrimônio Mundial Natural (Parque Nacional do Iguaçu, Costado Descobrimento – Reserva da Mata Atlântica, Mata Atlântica – Reservas do Sudeste, ParqueNacional do Jaú, Área de Conservação do Pantanal, Áreas Protegidas do Cerrado: Chapada dosVeadeiros e Parque Nacional das Emas, Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando deNoronha e Atol das Rocas).

As Reservas abrangem as áreas mais significativas de cinco biomasbrasileiros e formam corredores ecológicos que protegem a biodiver-sidade e propiciam a geração de trabalho e renda, favorecendo aspopulações locais, por meio do "Programa de Consolidação dasReservas da Biosfera Brasileiras" – acordo de cooperação firmadoentre a UNESCO e o Ministério do Meio Ambiente em 1996.

Os Sítios do Patrimônio Mundial Natural protegem áreas consideradasexcepcionais do ponto de vista da diversidade biológica e dapaisagem; além da proteção ao ambiente, o respeito à diversidadecultural e às populações tradicionais é objeto de atenção especial. OsSítios geram, também, além de benefícios à natureza, uma importante fonte de renda oriundado desenvolvimento do ecoturismo.

Por meio de um acordo de cooperação firmado com o Ministério do Meio Ambiente, é esta-belecida uma gestão coordenada dos diversos Sítios naturais brasileiros e integradas responsabili-dades e ações nos níveis nacional, estadual e municipal, contribuindo assim para a conservaçãoda biodiversidade nos Sítios do Patrimônio Mundial Natural do Brasil.

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I n t e r c â m b i o I n t e r n a c i o n a l

Como resultado de uma reunião entre os Ministros de Estado de Ciência e Tecnologia daComunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ocorrida em dezembro de 2003 no Riode Janeiro, o Ministro de Ciência e Tecnologia do Brasil, em parceria com a UNESCO, lançouo Portal E-livro. Trata-se de um portal na internet que funcionará como uma biblioteca virtual,dando acesso a milhares de publicações de editoras mundialmente prestigiadas, em inglês,espanhol e português. Certamente esta será a maior contribuição da Organização para fomentara cooperação horizontal entre os países de língua portuguesa, envolvendo duas prioridades daOrganização: a África e a socialização do conhecimento e da ciência.

O lançamento desse portal foi realizado em abril de 2004, durante solenidade na sede daUNESCO em Paris, com a presença do Ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, Dr.Eduardo Campos, do Vice-Diretor Geral da UNESCO, Dr. Márcio Barbosa, e dos váriosembaixadores dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP.

Ainda na África, especificamente em Moçambique, a UNESCO participou da implantaçãodo projeto "Monitoramento Ambiental Utilizando Satélites Brasileiros". Houve missão conjuntacom o Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique, onde está sendo instalado o pilo-to do Projeto, e o financiamento do intercâmbio técnico de pesquisadores moçambicanos aoInstituto de Pesquisas Espacias – Inpe no Brasil. Atualmente, o Projeto está na fase de implan-tação das bases de Terra para a emissão/rejeição do sinal do satélite.

A UNESCO participou da reunião entre os Ministros de Ciência e Tecnologia da Argentinae do Brasil, onde foi firmada a Declaração Conjunta sobre Cooperação Científica eTecnológica entre Brasil e Argentina. Os Ministros de Ciência e Tecnologia dos dois países eo Representante da UNESCO no Brasil firmaram um documento definindo como prioritáriasas ações em tecnologia da informação e comunicação, bem como sobre integração cultural einclusão social.

Em cooperação com a Reunião Especializada em Ciência e Tecnologia para o MERCOSUL– RECyT – está promovendo o Prêmio de Ciência e Tecnologia para o MERCOSUL. Esse prêmiovisa agraciar jovens pesquisadores e equipes de pesquisa que atuam no âmbito dos países doMERCOSUL com reconhecida excelência em seu campo de atuação. O tema para 2004é Energia.

P u b l i c a ç õ e s

Foram lançadas, no ano de 2003 e 2004, nove publicações do setor de Ciências e MeioAmbiente. Na área de Ciências, o livro "A Ciência para o Século XXI: uma nova visão e umabase de ação" foi reeditado em inglês e os seguintes livros foram publicados: "Cultura Científica– Um Direito de Todos" organizado por Beatriz Macedo da UNESCO/OREALC, "ComoEnsinar as Ciências Experimentais? Didática e Formação" de autoria de Georges Soussan daUNESCO/OREALC, "Ciência e Tecnologia: desenvolvimento e inclusão social" e "Ciência eTecnologia a Serviço do Progresso e da Inclusão Social" de Roberto Amaral, então Ministro deEstado da Ciência e Tecnologia no Brasil.

Na área de Meio Ambiente o livro "Vegetação no Distrito Federal: tempo e espaço" foi reeditadoe foram lançados os livros "Subsídios ao Zoneamento da APA Gama Cabeça-de-Veado eReserva da Biosfera do Cerrado: Caracterização e Conflitos Socioambientais"; "UmaAbordagem Socioecológica do Parque Nacional de Brasília – Estudo de Caso"; e "Problemáticado Uso Local e Global da Água da Amazônia".

D e s a f i o s

Um dos maiores desafios que a comunidade mundial deverá enfrentar neste século será aconsolidação da sustentabilidade socioambiental, o que exige políticas equilibradas e inter-rela-cionadas direcionadas para o crescimento econômico, a redução da pobreza, o bem-estarhumano, a eqüidade social e a proteção dos recursos da Terra e dos sistemas de suporte à vida.

A gestão e uso sustentável de recursos e padrões de produção e consumo coerentes são oúnico caminho para suprir as necessidades do desenvolvimento humano sem depreciar opatrimônio ambiental.

A partir das diretrizes do mandato da UNESCO, do Programa para a Continuação daImplementação da Agenda 21 e das Metas de Desenvolvimento do Milênio, espera-se que asações previstas atendam aos seguintes quesitos-chave:

• fortalecer capacidades em ciência e tecnologia nos países em desenvolvimento;• reduzir a incerteza científica e investir no potencial de previsão, a longo prazo, para a

gestão prudente das interações entre o meio ambiente e o desenvolvimento;• estimular a cooperação científica internacional, a transferência e o compartilhamento do

conhecimento;• diminuir a diferença entre ciência, setores produtivos, agentes de decisão e grupos princi-

pais, com vistas a fortalecer a aplicação de tecnologias mais eficientes e de menor impacto;• promover a inclusão social através da educação em C&T;• estimular a cooperação do governo brasileiro, das organizações não-governamentais e da

iniciativa privada a se comprometerem com a Década da Educação para DesenvolvimentoSustentável (2005-2014).

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VII. O COMPROMISSO COM AS ESTRATÉGIAS PARA O COMBATE À POBREZA E À EXCLUSÃO E A PROMOÇÃO DA CIDADANIA

A UNESCO tem preocupação constante com os problemas do mundo contemporâneo. Por isso,busca permanentemente mobilizar os meios de que dispõe para, dentro de suas áreas de mandato,oferecer soluções factíveis para toda a comunidade internacional.

A urgência da promoção do desenvolvimento humano é um dos seus motores primordiais. Por meiode enfoques inovadores, práticas criativas, de baixo custo e amplo alcance, e um verdadeiro acervo deexperiências reconhecidamente bem-sucedidas, disponibiliza seus recursos para subsidiar mudanças deescala regional, nacional e global.

Ao longo de sua existência, vem direcionando esforços políticos, sociais e tecnológicos para superara crescente lacuna que divide o mundo entre ricos e pobres, reafirmando uma abissal desigualdadesocial. O desenho de políticas públicas, a realização de avaliações e pesquisas, o intercâmbio de informações,a capacitação de indivíduos, instituições e comunidades, as parcerias com as comunidades acadêmico-científicas e os projetos de cooperação técnica são os meios para colocar em prática os seus objetivos,entre eles, o de desenvolver ações que contribuam para o combate à pobreza e à desigualdade social.

A perspectiva global da Organização permite entender o problema da pobreza como um temaamplo e abrangente, não apenas como resultado de "focos" ou "núcleos" estanques. Sua presença insti-tucional nos países-membros, por outro lado, garante asbases para que as respostas sugeridas a processos globaistenham a marca do local, adaptando as propostas à realidadecotidiana daqueles que vivem na comunidade com necessi-dades, identidades, culturas e aspirações singulares.Portanto, a UNESCO tem um desafio central para o sécu-lo XXI: o desenvolvimento de mecanismos sustentáveis deuniversalização de oportunidades e acesso a bens privadose serviços públicos a todo e qualquer cidadão.

Nos últimos anos do século XX, cresceu a consciênciade que pobreza e desigualdade são problemas dificilmentedissociáveis. Assim como, fortaleceu o entendimento deque o desenvolvimento não pode ser compreendido comoa afluência econômica e que a qualidade de vida humana depende de elementos não monetários nemmensuráveis do ponto de vista econométrico, como o PIB.

Esse enfoque traz à tona dimensões não-econômicas nem quantitativas, fato que abre espaço para

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"A UNESCO é o catalisador do desejo que temos de ver o Brasil transformado pelo acesso à educação e à cultura. Ao olharmos para a missão da Fundação Gol de Letra, de contribuir para a formação educacional e cultural de crianças e jovens para que eles possam atuar com autonomia na transformação de suas realidades, e para o contexto brasileiro, identificamos a UNESCO como força aliada imprescindível para a criação de uma rede social geradora de mudança."

Raí OliveiraDiretor Presidente da Fundação Gol de Letra

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respostas sociais eficazes que excedem o argumento simplista de que se combate a pobreza por meiode crescimento econômico. Ou seja, ao levar em conta aspectos não-monetários da pobreza, é factívelpensar em contribuições significativas que emanam de conhecimentos gerais, não mais reduzindo apreocupação aos cânones das teorias econômicas. A pobreza é entendida como um fenômeno amploque se refere à estrutura de bem-estar e de participação no cotidiano social e engloba elementos diversos– não estritamente relacionados à falta de recursos –, como a desigualdade na distribuição da renda, avulnerabilidade, a exclusão social, a violência, a discriminação, a ausência de dignidade etc.

A UNESCO acredita que desenvolver o capital social significa fortalecer a sociedade civil por meiode políticas que promovam mudanças reais na qualidade de vida das populações. E é considerando issoque procura direcionar seu discurso, suas práticas, suas perspectivas e a alocação de seus recursos parainstrumentalizar a educação, a cultura, a ciência e a comunicação, buscando elevar os índices de desen-volvimento humano dos povos e constituindo-se num foro de troca de idéias sobre políticas e práticasinternacionais exitosas na erradicação da pobreza.

Reconhecendo que a pobreza muda de características em função das variáveis geográficas, culturaise históricas, posiciona-se como laboratório de idéias e debates dos problemas contemporâneos. Utilizasua capacidade de aglutinação de especialistas para reunir acadêmicos, políticos e personalidades que,por meio do debate, contribuem para consolidar um novo paradigma de desenvolvimento, não maiscalcado no desenvolvimento econômico como única saída para a pobreza, mas, também, valorizandoelementos regionais e nacionais. A UNESCO reúne e dissemina informações, conhecimentos,soluções, projetos-piloto, exercendo função catalisadora. Por meio da cooperação técnica que prestaaos países-membros, contribui com a geração de capacidades para monitorar, avaliar e promover políticaspúblicas eficazes na erradicação da pobreza. Além disso, oferece linhas e princípios nos campos dasdescobertas humanas contemporâneas.

As áreas de competência da UNESCO criam um ambiente facilitador para as pessoas participaremativamente em seu desenvolvimento individual e coletivo por meio da educação, do respeito aos direitoshumanos, de políticas públicas atentas ao desenvolvimento cultural, humano e social, ao desenvolvi-mento sustentável e ao acesso de informações para todos. Ou seja, pode colaborar com os instrumentospara empoderar pessoas e criar um ambiente propício à redução das desigualdades.

A Conferência Geral da UNESCO, onde têm assento todos os Estados-Membros, aprova a cadadois anos o Projeto de Programa a ser seguido pela instituição no biênio subseqüente. Na 30ª Sessãoda Conferência Geral, realizada em Paris em novembro de 1999, foi aprovado, inclusive pelo Brasil, oProjeto de Programa para o biênio 2000-2001, cujo foco das ações recaía sobre o combate à exclusão,a erradicação da pobreza, a promoção do desenvolvimento humano, a defesa da democracia e da paz.Essa prioridade sempre fez parte de um conjunto maior de prioridades, que se preocupa cotidianamentecom a definição de estratégias globais para fazer frente aos problemas sociais mundiais, tendo em menteque elas somente serão eficazes se adaptadas aos problemas específicos dos países em que a UNESCO atua.

Sendo uma das estratégias que guia a UNESCO e pano de fundo de todas as suas ações no Brasile no mundo como um todo, a eliminação da pobreza tornou-se objetivo internacional primordial,tendo por base a noção de que pobreza e exclusão social representam a negação dos direitos humanose a antítese do desenvolvimento.

Em todos os Projetos de Programa, a idéia geral é contribuir com os esforços que eliminem apobreza, a exclusão e a desigualdade social, transformando a globalização num processo que gerebenefícios para todos, promovendo, sobretudo, o desenvolvimento social dos povos.

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A U N E S C O e o C o m b a t e à P o b r e z a e à E x c l u s ã o S o c i a l n o B r a s i l

No Brasil os elevados níveis de pobreza resultam, emgrande parte, da intensa desigualdade na distribuição derenda e nas oportunidades de inclusão econômica e social.

O país, que conta com grande capital humano acu-mulado sobre os temas sociais, destaca-se notavel-mente pela qualidade e disseminação do debate políti-co, acadêmico e intelectual sobre o combate à pobreza,que tem lugar privilegiado em institutos de pesquisa,universidades, fundações entre outros.

Desde o seu surgimento no Brasil, a UNESCO vemdisponibilizando cooperação técnica para a busca desoluções viáveis para os problemas do desenvolvimento humano no país. Todas as atividades daOrganização estão marcadas pelo paradigma de desenvolvimento humano, na aposta de que sepodem modificar as estatísticas em médio prazo. Essas atividades passam, fundamentalmente,pela promoção da educação de qualidade e para todos, pela democratização do acesso a novastecnologias e pelas pesquisas sobre os temas juventude, cidadania e violência.

O enfrentamento da pobreza e das suas dramáticas conseqüências é o desafio mais sério dasociedade brasileira. A magnitude do problema, que exclui, de forma progressiva, o cidadão davida produtiva, cria obstáculos à consolidação e ao desenvolvimento da democracia plena eparticipativa, além de levar à fragilização o núcleo social básico – a família – e outros gruposnas suas interações com o sistema social.

Em todos os programas e ações das quais é parceira, busca a efetiva interação da população-alvoexcluída e objetiva possibilitar a participação de seus parceiros na Agenda Internacional deDesenvolvimento das Nações Unidas e no mandato da Organização, além de engajá-los nos com-promissos de erradicação da pobreza, dentro da perspectiva de violação dos direitos humanos.

O Setor de Desenvolvimento Social no Brasil é um dos cinco setores especializados da UNESCOe sua missão é difundir conhecimento, padrões e cooperação intelectual a fim de facilitar transfor-mações sociais moldadas nos valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana.

Entre as ações do Setor, implementadas em cooperação com instituições do Governo Federal,destaca-se: i) Projeto "Gestão da Política de Segurança Alimentar, Desenvolvimento Local e Combateà Pobreza", desenvolvido em cooperação com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate àFome e a UNESCO, que tem por objetivo contribuir para eliminar a insegurança alimentar e nutri-cional da população brasileira e enfrentar as causas estruturais da pobreza, onde está incluída uma sériede atividades que estão mudando o perfil da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; e ii) Projeto"Proteção e Divulgação do Patrimônio Cultural das Comunidades Indígenas", desenvolvido em cooperaçãocom a Fundação Nacional do Índio e a UNESCO, cujo objetivo é contribuir para a melhoria da quali-dade de vida e do bem-estar das comunidades indígenas no Brasil. O Setor ainda desenvolve projetode cooperação técnica com a Prefeitura Municipal de São Paulo para a formação e capacitação de milhares dejovens e adultos no enfrentamento do desemprego. Além disso, são diversas as parcerias com Organizaçõesda Sociedade Civil, nos mais diversos campos de atuação do Setor, entre elas Associação Palas Athena,Faça Parte Instituto Brasil Voluntário, Instituto Ayrton Senna, Instituto Sangari, Viva Rio, Grupo Cultural

"A UNESCO tem sido uma importante parceira na implementação de políticas públicas no Brasil, voltadas sobretudo à população de baixa renda. Nesse sentido, em nosso país a UNESCO amplia o conceito de cultura, à medida que pratica parcerias destinadas a combater a fome e proporcionar condições de desnvolvimento sustentável. De mãos dadas com o Fome Zero, a UNESCO tem nos ajudado a saciar a fome de pão e de beleza do povo brasileiro."

Frei BettoCoordenador da Mobilização Social do Fome Zero

Afro Reggae, Fundação Roberto Marinho, – Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente– Edisca e tantas outras com as quais a UNESCO desenvolve ações de grande importância para o país.

Parcerias também são firmadas com o setor privado, a exemplo da parceria com a Rede Globo deTelevisão. Coordenada pelo Setor de Desenvolvimento Social, a parceria com a Rede Globoconstitui-se numa sólida união de esforços para desenvolver ações que contribuam para a pro-moção do desenvolvimento social no Brasil, com ênfase especial na Educação.

A Rede Globo tem atuação pioneira na áreasocial. Nessa parceria, a UNESCO está colabo-rando na gestão e no desenvolvimento de açõessociais, como o Amigos da Escola, Globo eUniversidade, Ação Global, Geração de Paz, mer-chandising social e Criança Esperança.

O Criança Esperança é um projeto que vemsendo desenvolvido há dezenove anos com o objeti-vo principal de chamar a atenção da sociedadebrasileira para a situação da infância e juventude noBrasil e mobilizá-la em favor da defesa dos direitosdesse público. Trata-se da maior experiência demobilização social e arrecadação de recursos parainvestimento em projetos sociais do país, tendo sidoreconhecida internacionalmente pelas Nações Unidas.

Desde que foi criado, em 1986, o CriançaEsperança já arrecadou mais de R$ 140 milhões eapoiou cerca de 4.800 projetos, beneficiando cercade 3 milhões de crianças e adolescentes brasileiros.Somente neste ano, mais de 16 milhões de reaisforam doados por brasileiros para o Programa, umrecorde de arrecadação. Números como essesressaltam a importância desse amplo movimentosocial e motivam o envolvimento e a contribuição daUNESCO para que cada vez mais crianças e

jovens, sobretudo aqueles em situação de vulnerabilidade social, possam ser beneficiados. A parceria entre UNESCO e Rede Globo forma uma das melhores combinações para o

enfrentamento das questões sociais num país como o Brasil, onde o grande desafio é conseguirdar escala às ações e multiplicar os esforços. Ambas as instituições apresentam grande capaci-dade de mobilizar, celebrar parcerias e obter resultados de que o país precisa, além de terem aconstante preocupação de valorizar a cultura nacional e fortalecer a identidade do país.

Outra importante estratégia do Setor de Desenvolvimento Social da UNESCO, de pro-moção da inclusão social e combate às desigualdades, é o Programa Abrindo Espaços: educaçãoe cultura para a paz, uma estratégia preventiva de inclusão social que nasceu no marco do AnoInternacional da Cultura de Paz.

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"Iniciamos em 2004, com o Criança Esperança, um ciclo de parcerias com a UNESCO que,

temos certeza, renderá muitos frutos - e novos desafios - nesta luta pela

transformação social, objetivo comum. Por sua abrangência de atuação e capacidade

técnica, a UNESCO vem contribuindo de forma significativa para o aperfeiçoamento de

políticas públicas e o amadurecimento do Terceiro Setor. É o que buscamos ao colocar

nossa força de comunicação a serviço do desenvolvimento social do país.

Caminhar juntos potencializa ações e resultados."

José Roberto Marinho

Diretor Geral da Fundação Roberto Marinho

O S e t o r d e D e s e n v o l v i m e n t o S o c i a l e a C u l t u r a d e P a z .

Em 1995, os Estados-Membros da UNESCO decidiramque a Organização deveria canalizar todos os seus esforços eenergia em direção à promoção da Cultura de Paz.

Por Cultura de Paz entende-se um conjunto de valoresintrinsecamente relacionados à prevenção e à resolução nãoviolenta dos conflitos. É uma cultura baseada em valores ecompromissos com o respeito a todos os direitos individuais ehumanos; a promoção e vivência do respeito à vida e à dig-nidade de cada pessoa sem discriminação ou preconceito; arejeição a qualquer forma de violência; o respeito à liberdadede expressão e à diversidade cultural por meio do diálogo e dacompreensão e do exercício do pluralismo; a prática do con-sumo responsável respeitando-se todas as formas de vida doplaneta; tolerância e a solidariedade; e o empenho na prevenção de conflitos resolvendo-os em suasfontes (que englobam novas ameaças não-militares para a paz e para a segurança como exclusão,pobreza extrema e degradação ambiental).

A Cultura de Paz procura resolver os problemas por meio do diálogo, da negociação e da mediação,de forma a tornar a guerra e a violência inviáveis. Sua práti-ca é possível por meio da conscientização, mobilização,educação, prevenção e informação de todos os níveis sociaisem todos os países. Ela deve ser entendida como umprocesso, uma prática cotidiana que exige o envolvimentode todos: cidadãos, famílias, comunidades, sociedades e países.

Foi considerando isso que, em 20 de novembro de 1997,a Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou o ano2000 como o Ano Internacional da Cultura de Paz, sob a coor-denação geral da UNESCO. Como preparação para ascomemorações do ano 2000, foi lançado em 04 de marçode 1999, em Paris, o Manifesto 2000 por uma Cultura dePaz e Não-Violência, elaborado por personalidades lau-readas com o Prêmio Nobel da Paz, pelas Nações Unidas epela UNESCO.

Desde então, a Organização vem desenvolvendo açõespelo mundo, como a organização de fóruns, seminários econferências, para disseminar os valores essenciais da cultura de paz e mobilizar o envolvimento denovos parceiros.

A Representação da UNESCO no Brasil pauta-se cotidianamente por esses valores, e é de respon-sabilidade do Setor de Desenvolvimento Social promovê-los de forma ampla e permanente.Entre as ações desenvolvidas está o Programa Abrindo Espaços: educação e cultura para a paz.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 81

"O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome reconhece os relevantes serviços que a UNESCO tem prestado ao governo brasileiro e às entidades da sociedade civil que lutam contra a pobreza e desigualdades sociais no país. Não é à toa que a UNESCO é elogiada em todo o planeta, seja apoiando projetos essenciais nas áreas da educação, da ciência e da cultura, para a qual ela foi criada, seja patrocinando iniciativas e políticas que ajudam a combater a pobreza. Nesse caso, destacamos aimportância de inúmeros projetos de cooperação técnica firmados entre este ministério e a UNESCO, a maioria deles apoiando as ações de segurança alimentar promovidas pelo Fome Zero."

Patrus AnaniasMinistro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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O P r o g r a m a A b r i n d o E s p a ç o s : e d u c a ç ã o e c u l t u r a p a r a a p a z

O Programa Abrindo Espaços: educação e cultura para a paz se insereno marco mais amplo de atuação da UNESCO: a construção de uma cul-tura de paz, de promoção da educação para todos ao longo da vida, decombate à pobreza e de construção de uma nova escola para o século XXI.

No ano 2000, no conjunto de ações comemorativas ao Ano Internacionalpara uma Cultura de Paz, a UNESCO lançou o Programa, propondo umaestratégia preventiva de inclusão social, desenvolvida por meio da abertura

das escolas públicas nos finais de semana com atividades de esporte, arte, cultura e lazer, numa perspec-tiva de disseminação de uma cultura de não-violência e de promoção da cidadania de adolescentes, jovense da comunidade escolar. O Programa é desenvolvido em parceria, por meio de projetos de cooperação téc-nica, com governos estaduais e municipais nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, RioGrande do Sul e começa a ser executado ainda em 2004 no estados de Minas Gerais e Piauí.

O Abrindo Espaços foi idealizado com base na série de pesquisas promovidas pela UNESCO,desde 1997, sobre juventude, violência e cidadania, que indicam a falta de acesso e de oportunidadesde jovens especialmente à cultura, ao esporte e ao lazer, destacando a vontade desses jovens de par-ticipar como protagonista nas ações em que são envolvidos.

Ao idealizar essa proposta de política pública, a UNESCO pensou num programa nacional de aber-tura das escolas públicas nos finais de semana como forma de disponibilizar espaços alternativos quepossam atrair os jovens e suas comunidades, colaborando para a reversão do quadro de exclusão social,de violência intra e extra-escolas e para a construção de espaços de cidadania, com o objetivo maiorde melhorar a qualidade da educação no Brasil.

Essa estratégia nasceu da observação feita pela UNESCO de experiências bem-sucedidas e comdesenho similar nos Estados Unidos, França, Espanha e outros países, onde o trabalho com jovens nasdimensões artísticas, culturais e esportivas constituíram excelente forma de prevenção da violência eoferta de oportunidades e novas perspectivas de futuro.

O Abrindo Espaços tem três focos: o jovem, a escola e a comunidade. A idéia é privilegiar jovens,sobretudo em situação de vulnerabilidade social. A natureza do trabalho é, ao mesmo tempo, preventivae transformadora. Da mesma forma, são consideradas a comunidade e as famílias, utilizando-se espaçospúblicos e equipamentos sociais ociosos para prática de ações de educação, cultura e cidadania

Pretende-se, ainda, com esse tipo de iniciativa a ampliação da dimensão social e pública da escola,de forma a resgatar a finalidade para a qual foi criada, provendo mudanças nos índices de aprendizageme na prática pedagógica.

O Programa objetiva também reverter o quadro de violência na qual estão envolvidos jovens ecomunidades, promovendo o protagonismo juvenil. E esse objetivo vem sendo alcançado. Nos estadosem que foram desenvolvidas avaliações pela UNESCO e pelos parceiros do Programa, há significa-tivos registros de redução de índices de violência intra e extra-escolar e de melhoria no clima internoda escola, entre aluno-aluno e aluno-professor.

Também foram registradas mudanças na relação escola-comunidade. Ao abrir suas portaspara a comunidade, a escola permite sua maior participação – organizando e usufruindo asalternativas de lazer, esporte, cidadania e cultura oferecidas – e, portanto, seu maior envolvi-mento, fazendo com que a comunidade passe a percebê-la como um bem comum que precisaser cotidianamente preservado.

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Outro pilar básico do programa são os parceiros. A UNESCO acredita na importância de se criaremredes apoiadas por diferentes parceiros. A iniciativa de um conjunto amplo de atores sociais, entre osquais se incluem gestores governamentais de políticas públicas, diretores de escola, professores, pais,voluntários, empresas privadas, organizações da sociedade civil, pequenos comerciantes locais, ospróprios jovens e tantos outros atores, que, contagiados pela proposta e seus resultados reais, envolvem-se de forma solidária e cooperativa, tem contribuído decisivamente para o sucesso do Programa.

A metodologia e os resultados do Programa motivaram o Ministério da Educação a recomendar eapoiar a implementação do Programa em todo o país, em parceria com as Secretarias Estaduais eMunicipais de Educação. Inicialmente o Programa Escola Aberta: Educação, Cultura, Esporte e Trabalhopara a Juventude será implantado na rede estadual de ensino de Pernambuco, Minas Gerais e EspíritoSanto e na rede municipal de ensino de Belo Horizonte, Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Recife eOlinda. A iniciativa irá contar com o apoio de outros órgãos governamentais, como o Ministério doEsporte, Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério da Cultura, além da fundamentalparceria com governos estaduais e municipais.

Atualmente o Abrindo Espaços conta com o envolvimento de mais de 6.500 escolaspúblicas, gerando benefícios para mais de 7 milhões de pessoas, entre crianças, adultose, sobretudo, jovens. Isso vem ressaltar a sensibilidade de governos estaduais e munici-pais em entender e procurar soluções para as dificuldades e problemas enfrentados pelajuventude brasileira e suas comunidades. É a prática da união de esforços para ampliarhorizontes e perspectivas para jovens – e suas famílias – e fortalecer o sentimento depertencimento, de auto-estima e de identidade cultural das comunidades locais.

O Programa tem chamado a atenção de outros países, como a Nigéria – que em missão ao Brasilem 2003, buscou mais informações a respeito do Abrindo Espaços – Colômbia, Marrocos,Moçambique e Argentina.

No final de 2003, o Governo da Argentina solicitou à UNESCO no Brasil assessoria para a implantaçãodo Programa naquele país. A expectativa era promover a abertura de mais de 1.000 escolas, a partir de2004, inicialmente na região de Buenos Aires, beneficiando cerca de 300 mil alunos da rede pública deensino. O Programa, chamado na Argentina de "Patios Abiertos", pretende, assim como no Brasil,reduzir os índices de violência escolar entre os jovens e melhorar a qualidade da educação naquele país.

O Programa Abrindo Espaços: educação e cultura para a paz motivou também a criação de umoutro programa: Quartéis Abertos. Está sendo desenvolvido, inicialmente, no estado de Pernambuco,em particular em sete quartéis da Polícia Militar, incluindo o Quartel do Comando Geral da PM.Seguindo o mesmo direcionamento ético e conceitual do Abrindo Espaços, com a abertura dosquartéis nos finais de semana a UNESCO e seus parceiros pretendem disponibilizar novas alternati-vas para que jovens e suas comunidades possam ter acesso a ações que, efetivamente, contribuam paraa construção de espaços de cidadania e para a reversão do quadro atual de violência.

O Programa busca, ainda, aproximar jovens e comunidades à Polícia Militar e permitir que essesjovens sejam compreendidos como protagonistas sociais, capazes de transformarem suas próprias realidades,encontrando saídas e caminhos para futuros até então nunca imaginados. Ao estabelecer maioraproximação com a comunidade e com os jovens, a Polícia Militar também poderá ter mais resultadospositivos em seu trabalho de zelar pela segurança e pela paz.

Nesse sentido, tanto o Programa Quartéis Abertos como o Abrindo Espaços estão contribuindodecisivamente para transformar a realidade de jovens e suas comunidades, além de terem lançadosementes para a implantação de uma política pública para a juventude.

O S e t o r d e D e s e n v o l v i m e n t o S o c i a l e o C o m b a t e a o R a c i s m o

O combate ao racismo e à discriminação encontra-se no coração do mandato da UNESCO. Desdesua criação, a Organização tem envidado esforços para elaborar instrumentos internacionais queembasem princípios, conceitos e critérios universais de referência para a luta contra o racismo e adiscriminação. Mais recentemente, em decorrência dos compromissos assumidos durante aConferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e Intolerância Correlata,ocorrida em Durban em 2001, a UNESCO elaborou sua Estratégia Integrada de Combate ao Racismo,cujos objetivos são:

• revitalizar os esforços da UNESCO no combate ao racismo, discriminação racial, xenofobia eintolerância nas áreas de sua competência;

• contribuir para a formulação e implementação de políticas nacionais e planos de ação de combateao racismo e discriminação;

• aprofundar o conhecimento sobre o desenvolvimento de formas de discriminação herdadas dopassado, notadamente aquelas ligadas ao período da escravidão e colonização e as que afetam os povosindígenas e as minorias culturais e religiosas;

• reforçar as atividades de conscientização e fortalecer as redes de solidariedade pela formação denovas parcerias e re-mobilização de antigos parceiros, incluindo organizações da sociedade civil, uni-versidades, centros de pesquisa, estabelecimentos de ensino e capacitação e organizações da sociedade civil;

• reforçar as capacidades institucionais dos diferentes atores envolvidos para promover a pesquisa,educação e comunicação no combate ao racismo e outras formas de discriminação;

• ampliar a reflexão sobre o fenômeno da xenofobia; e• coletar, comparar e disseminar boas práticas no combate ao racismo, e à discriminação, incluindo

a discriminação contra portadores de HIV/Aids, xenofobia e intolerância. Buscando alcançar esses objetivos, o Setor de Desenvolvimento Social da UNESCO no Brasil

criou, em 2003, a Coordenação de Combate ao Racismo e à Discriminação cujos principais objetivossão: i) implementar o Plano de Ação de Durban: apoiar as diversas instâncias do governo federal rela-cionadas com o combate ao racismo e à promoção da igualdade racial no desenvolvimento de suasatividades relacionadas aos compromissos firmados pelo Brasil na Conferência de Durban; ii) desen-volver novas abordagens e preparação de materiais pedagógicos: apoio ao desenvolvimento de materiaispedagógicos que auxiliem no resgate à auto-estima dos afro-descendentes no Brasil, bem comobusquem novos enfoques no estudo da história do Brasil e na história dos negros no Brasil; e mobilizarlíderes, gestores e formadores de opinião na luta contra o racismo: apoiar iniciativas da sociedade civilorganizada, em especial organizações do movimento negro e em prol da educação, que visem a pro-dução cientifica e cultural e o debate anti-racista e antidiscriminação.

Além disso, a Coordenação pretende promover, sempre que possível, o debate sobre as questõesafetas aos afro-descendentes no Brasil, seja por meio da organização ou do apoio ou participação emseminários, congressos etc.

Desde sua criação, a Coordenação de Combate ao Racismo e à Discriminação vem desenvolven-do atividades que envolvem tanto entes governamentais quanto entidades da sociedade civil. Dentreeles, tem destaque o Projeto de Cooperação Técnica com a Secretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial, pelo qual a UNESCO objetiva apoiar a SEPPIR no fortalecimento dasquestões da inclusão racial e do combate à discriminação como temas transversais que devem estar pre-

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sentes em todas as esferas governamentais. Além disso, a Coordenação de combateao Racismo e à Discriminação Racial vem negociando Projeto de CooperaçãoTécnica com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, no intuito deoferecer a expertise da Organização na elaboração de políticas públicas para pro-moção da igualdade de gênero.

Outros importantes projetos desenvolvidos pela Coordenação de Combate aoRacismo e à Discriminação com o apoio da Sede da UNESCO em Paris são: o Projeto"Coalizão de Cidades Unidas contra o Racismo", que busca criar um compromissoentre as cidades do mundo e a luta contra o racismo e à discriminação; a exibição noBrasil da Exposição "Para que não se Esqueça: o Triunfo sobre a Escravidão", criadapelo Schomburg Center de Nova Iorque e que mostra a história dos africanos nas Américas desde suacaptura até suas influências na cultura no novo continente dentro do contexto das comemorações do"Ano Internacional para Comemorar as Lutas contra a Escravidão e sua Abolição"; a realização doSeminário Internacional "Saídas da Escravidão e Políticas Públicas", que debaterá os diversos modelosde saída da escravidão nas Américas e as maneiras como os diversos países lidaram com a presença donegro após a escravidão, também em referência ao Ano Internacional declarado pela ONU emvirtude do bicentenário da Revolução Haitiana, a primeira república negra das Américas.

Dentre as atividades desenvolvidas conjuntamente com instituições da Sociedade Civil, ressaltam-se alguns apoios oferecidos a parceiros, como a realização do Seminário de criação do Fórum Nacionalde Mulheres Negras, realizado em São Paulo em maio de 2004 e que congregou aproximadamente200 pessoas e 40 organizações não-governamentais de mulheres negras em todo o Brasil; o Projeto"Abdias 90 Anos", uma importante iniciativa do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros(IPEAFRO), que celebra o aniversário de 90 anos da maior liderança viva do movimento negrobrasileiro. O projeto possui seis componentes: exposição, leituras dramatizadas, realização deum colóquio, livro de arte, organização do acervo e publicação de uma biografia de Abdias doNascimento.

Importantes apoios também foram os oferecidos pela UNESCO à Sociedade Cultural Dombali,que realizou o II Seminário Internacional Democracia e Comunicação: o imperativo da inclusão, entreos dias 25 e 27 de novembro de 2003 e ao Centro de Integração de Negócios – Integrare –, para arealização do Encontro "Brasil – Estados Unidos: Inclusão e Prosperidade Socioeconômica através dosNegócios", realizado em São Paulo em agosto de 2003.

Outra iniciativa pioneira apoiada pela UNESCO foi o I Encontro Nacional de ParlamentaresNegros da América Latina e Caribe que reuniu cerca de 300 participantes, entre parlamentares econvidados, vindos de toda a América Latina, Caribe e Estados Unidos, realizado em Brasília, emnovembro de 2003.

O S e t o r d e D e s e n v o l v i m e n t o S o c i a l e a P r o m o ç ã o d o s D i r e i t o s H u m a n o s

Os seres humanos nascem iguais em dignidade e direitos. Virtude exclusiva da espécie humana, osprincípios morais decorrentes da igualdade em dignidade e direitos são inalienáveis e inerentes a cadaum dos indivíduos e são articulados e formulados naquilo que hoje se chama direitos humanos.

Quando a Organização das Nações Unidas foi criada em 1945, seus estados fundadores reafir-

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 85

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maram sua crença nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valoresda pessoa humana e na igualdade de direitos de homens e mulheres. Elesexpressaram sua determinação de criar um mundo onde direitos humanos eliberdades fundamentais seriam universalmente respeitados e cumpridos portodas as pessoas, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em 1948, con-templa essa determinação. Pela primeira vez na história, direitos e liberdadesfundamentais foram internacionalmente acordados. Os conteúdos daDeclaração Universal foram reconhecidos como parâmetros comuns a seremadotados e alcançados por todos os povos, pessoas e Estados.

Os direitos assegurados na Declaração Universal foram mais profundamenteelaborados e adotados em 1966 por meio da Convenção Internacional sobre Direitos Civis e Políticose Convenção Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Outros acordos,incluindo a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoRacial, a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, aConvenção dos Direitos da Criança, a Convenção Contra a Tortura e a ConvençãoInternacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membrosde suas Famílias estabeleceram novos padrões e ampliaram o campo das leis sobre direitoshumanos, às quais os Estados que as ratificam são obrigados a seguir.

No Sistema das Nações Unidas, muitos organismos, programas e agências especializadas trabalhampara o avanço dos direitos humanos. Sob a coordenação do Escritório do Alto Comissariado dasNações Unidas para os Direitos Humanos, cada qual tem suas responsabilidades. A UNESCO con-tribui para a paz e a segurança pela promoção da cooperação entre as nações, por meio da educação,da ciência e da cultura objetivando universalizar o respeito à justiça, ao cumprimento das leis, aos direitoshumanos e às liberdades fundamentais. Dentre outras questões, a UNESCO é particularmente envolvidaem promover o direito à educação, o direito à liberdade de opinião e de expressão, o direito de par-ticipar da vida cultural e dos benefícios do progresso científico e suas aplicações. Indo mais além, emoutubro de 2003 adotou e está implementando suas Estratégias em Direitos Humanos e EstratégiaIntegrada de Combate ao Racismo, Discriminação, Xenofobia e Intolerâncias Relacionadas. EssasEstratégias, intimamente relacionadas, estabelecem e consolidam o mandato da UNESCO e reforçama contribuição da Organização para a promoção e proteção dos direitos humanos e para o combate aantigas e novas formas de discriminação. Pesquisa e disseminação do conhecimento são as prin-cipais ações por meio das quais os objetivos dos direitos humanos devem ser alcançados.

O Brasil, com suas enormes e perversas desigualdades sociais e econômicas, razão direta, sebem que não exclusivas, de geração de injustiças, discriminações e violências, comporta umvasto campo de ações para a promoção e a defesa dos direitos humanos. Os desafios sãoenormes e a UNESCO entende que apenas a mobilização de todos os atores que possam diretaou indiretamente contribuir para a promoção da cidadania, consolidação da democracia, pro-moção da igualdade – social, de gênero e de raças – acesso à justiça e à segurança levará o paísa construir e fortalecer uma cultura de paz e de direitos humanos.

A estratégia utilizada no Brasil para defesa e promoção dos direitos humanos, portanto, tem comobase as parcerias. Essas parcerias se efetivam, por um lado, com o setor público em suas três instânciasde governo – Federal, Estadual e Municipal – e contemplando os poderes executivo, legislativo e

judiciário. Por outro lado, as parcerias se disseminam e adquirem capilaridade, ao se associarema iniciativas do setor privado e da sociedade civil, participando e apoiando ações de organiza-ções não-governamentais e de empresas socialmente responsáveis.

Como prioridades, a UNESCO no Brasil elegeu trabalhar na prevenção da violência, espe-cialmente aquela que atinge os jovens, como vítimas ou como agentes provocadores da vio-lência, por ser numericamente mais expressiva, e na promoção e defesa dos direitos humanosdos segmentos mais vulneráveis da sociedade, constituídos por crianças e adolescentes, mulheres,afro-descendentes, idosos e pessoas com deficiências.

Na perspectiva das estratégias e prioridades, dentre inúmeras parcerias e formas diferenciadasde atuação, merecem destaque os seguintes trabalhos da UNESCO no Brasil:

• cooperação técnica internacional no campo da cidadania e dos direitos humanos, com aSecretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República para implementação parcial doPrograma Nacional dos Direitos Humanos e, em fase de finalização, um novo acordo de cooperaçãopara implementação do Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos; com a Secretaria deDesenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura Municipal de São Paulo, objetivando aimplementação do Projeto "Formação Cidadã, Capacitação Ocupacional e Aprendizagem emAtividades de Utilidade Coletiva", por meio da qual centenas de ONGs e outras instituições são mobi-lizadas para formar e capacitar milhares de jovens e adultos para enfrentar o fenômeno do "novo e dovelho desemprego"; com o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais ‘Anísio Teixeira" (INEP), vincula-do ao Ministério da Educação, para desenvolvimento de pesquisas sobre racismo nas escolas e fatoressociais do fracasso escolar, cujos resultados permitirão aperfeiçoar as políticas públicas educacionais;

• desenvolvimento de estudos e pesquisas, focando especialmente questões de juventude,violência e cidadania. Faz parte desse escopo de trabalho o "Observatório de Violências nasEscolas", instituído pela parceria entre a UNESCO e a Universidade Católica de Brasília, nosmoldes do Observatório Internacional de Violências nas Escolas, com sede na França;

• participação em fóruns específicos, constituídos para equacionar problemas relevantes,formular programas para superá-los e encaminhar suas implementações, destacando-se aComissão Nacional de Educação em Direitos Humanos, o Comitê Intersetorial para Enfrentamentodo Abuso, Exploração e Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, o Subcomitê deCombate à Pornografia Infantil na Internet, todos coordenados pela Secretaria Especial dosDireitos Humanos, o que contribui para fortalecer e ampliar essa parceria estratégica.

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VIII. PRODUZINDO NOVOS CONHECIMENTOS PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS

As pesquisas da UNESCO buscam compreender a complexidade das relações humanas em múltiplasdimensões, procurando entender processos contemporâneos que ocorrem em várias esferas,principalmente, nas áreas de juventudes, violências, cultura, direitos identitários, políti-cas públicas, práticas escolares e cidadania. Para isso conjuga análises exaustivas com umgrande trabalho reflexivo que tem por objetivo mapear e dar visibilidade a relevantesproblemas sociais apresentando diagnósticos e fazendo propostas para políticas públicas.

A UNESCO como organização do Sistema das Nações Unidas preocupa-se com a cooperaçãointernacional e colabora com o Estado e a sociedade civil brasileira investindo na busca por novosconhecimentos e em soluções que permitam combater graves problemas nacionais como: a exclusãosocial, a desigualdade, discriminações e vulnerabilidades. E por outro lado, buscando o aprimoramen-to da esfera pública investindo em novas formas de governança e reconhecendo o papel dasociedade civil no combate a abusos contra direitos identitários de várias populações como: osafro-descendentes, os povos indígenas, as crianças, as mulheres, os jovens e o homossexuais.

O resultado desses esforços se materializa em estudos (pesquisas e avaliações) que, além do sentidoacadêmico estrito, da busca do conhecimento através do exercício do pensamento crítico/reflexivo,está amalgamado a proposições e recomendações programáticas e pragmáticas. Assim, aUNESCO inaugura um modo de fazer pesquisas que gera a produção de um conhecimentohíbrido que, como se adverte, vai além do acadêmico e do instrumental e opta pela combinaçãode uma vasta gama de métodos que são utilizados para interpretar as realidades pesquisadas.

Esse modo inovador de fazer estudos mescla uma intensa pesquisa teórica sobre o tema em fococom análises extensivas baseadas em amostras probabilísticas que costumam cobrir grande parte ou atotalidade do território nacional. Tais amostragens, geralmente estratificadas, possibilitam identificarsingularidades e diferenças regionais e locais permitindo estudos comparativos ou de casos especiais.Outro diferencial do nosso trabalho é aliar métodos quantitativos e qualitativos. O método decoleta de dados qualitativa envolve entrevistas e grupos focais com atores envolvidos ao objetoanalisado nas pesquisas. Investe-se na busca por interpretações, percepções e visões de mundodos sujeitos pesquisados, como por exemplo, os jovens, os professores, os pais etc.

A produção de conhecimento por parte da UNESCO se singulariza não somente pela combinaçãode métodos e técnicas de pesquisa, mas também pela abrangência e a seriedade teórico-metodologicae investigativa. Inova-se na concepção do que é uma pesquisa, indo além de um simples produto oulivro. Mais do que produzir um estudo existe a preocupação com todo o processo de pesquisa em suasvárias fases. As sinergias utilizadas para a realização das pesquisas também envolvem etapas prévias à

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coleta de dados no campo. Esses momentos se traduzem na construção de parcerias, pelo envolvi-mento de diferentes entidades na promoção de um tema de pesquisa e de avaliação e na etapa pós-pesquisa, que envolve tanto a devolução dos resultados para os atores interessados e instituições,como também os objetos das pesquisas, por exemplo, a escola e os jovens. Além destes, faz-seuma ampla divulgação dos achados e proposições do estudo ao grande publico, preparando-sematerial especifico para as mídias.

A UNESCO, diferentemente de algumas outras agên-cias do Sistema das Nações Unidas, privilegia a cooperaçãotécnica em diversas áreas em vez da transferência de recur-sos. Tal estratégia contribui para que muitas entidades, emespecial do governo, sintam-se partícipes e comprometidascom as recomendações feitas nas pesquisas e avaliações.

Uma outra estratégia bem sucedida de tornar públicosos resultados das pesquisas é apresentá-los em grandes semi-nários de devolução que contam com ampla divulgação naimprensa e atraem novos públicos interessados em conhecero trabalho desenvolvido. Na relação com a mídia procura-se quebrar estigmas negativos em relação a algumas popu-lações estudadas apresentando diagnósticos que vão alémdos estereótipos e lugares comuns que tanto estigmatizam alguns sujeitos, como os jovens e os afro-descendentes. Hoje, no Brasil, cada pesquisa da UNESCO é amplamente divulgada e noticiada pordiversa mídia e a busca pelas publicações vem se ampliando.

Nos últimos anos o Setor de Pesquisas e Avaliações procura divulgar os resultados dos seus trabalhosde forma acessível para o grande público. De uma forma clara e sintética traduz-se a complexidade degrandes números e teorias para um formato prático visando sua utilização como material de referênciaou pesquisa nas escolas. Por exemplo, as pesquisas Violências nas Escolas, Escolas Inovadoras, Drogasnas Escolas foram editadas também em versões resumidas, diretas e amplamente distribuídas para queprofessores e alunos as trabalhassem de forma interativa, inclusive em sala de aula.

Visando a excelência nos estudos, decidiu-se investir em um setor próprio, constituído por umaequipe sedimentada em alguns anos de trabalho em conjunto. A equipe é multidisciplinar e conta comsociólogos, antropólogos, cientistas políticos, estatísticos, pedagogos e historiadores, além depesquisadores juniores e seniores. Além da equipe-base, fazem-se parcerias com outros pesquisadores dediferentes centros no Brasil, como universidades e organizações não-governamentais. O Setor dePesquisas e Avaliação coordena, capacita e supervisiona a qualidade dos trabalhos feitos em conjunto.E assim, desenvolve expertise e capacita novas equipes de pesquisadores em várias partes do Brasil, prin-cipalmente para a realização de trabalhos de campo e coleta de dados. Tal prática que se acumula nosúltimos anos vem colaborando para a formação de um acervo metodológico —"o kit de capacitação"—composto de textos teóricos e manuais de procedimentos. Além do quê, conta-se com uma equipe decapacitação que vem aperfeiçoando singular capital cultural. A UNESCO é assim também no planoacadêmico, hoje, uma referência pela qualidade de suas pesquisas.

Um dos resultados mais gratificantes do trabalho de parceria do setor com outras instituições depesquisa é a constante troca de informações e experiências intrínsecas ao processo de investigação.Tanto nas capacitações quanto no trabalho de campo a integração entre pesquisadores reconhecidos

"Venho acompanhando as atividades desenvolvidas pela UNESCO – Brasil há algumas décadas. Paulo Freire, um colaborador de primeira hora, desenvolveu diversos trabalhos em parceria com a UNESCO, hoje continuados e reinventados pelo Instituto por ele criado. Reconheço aabrangência e a seriedade com que a UNESCO – Brasil trabalha, sobretudo nos últimos anos. Suas pesquisas e publicações são para nós importante referência. Seus projetos e ações, voltados para crianças, jovens e adultos, estão dando uma valiosa contribuição ao desenvolvimento educacional e social brasileiro".

Moacir GadottiDiretor do Instituto Paulo Freire

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internacionalmente com pesquisadores iniciantes ou em começo de carreira colabora de formapedagógica para a formação de uma nova geração de pesquisadores, imprimindo a marca de estudosque prezam a combinação do pensamento reflexivo com o propositivo que dispõe de uma massa críticaprópria de metodologia cientifica.

Esse é um longo processo em aberto, na medida em que se amplia o leque de temas e de caminhosde pesquisas, mas não se perde o impulso inicial: aresponsabilidade social, em particular com juventudes.

De fato, o Setor de Pesquisas e Avaliação foiinaugurado em 1997 como resposta a um fato socialviolento que mobilizou a sociedade brasileira. Oassassinato do índio Galdino por jovens de classe médiaem Brasília gerou uma pesquisa sobre violência, lideradapela UNESCO, que convocou diversas agências dosistema ONU juntamente com o governo e entidadesda sociedade civil para debater o tema. Insistia-se, epersiste-se em trabalhos posteriores, em conjugar odebate sobre a ética e sobre a economia política;entrelaçar cultura e política; discutir tipos de violência,não ficando nas manifestações e nas violências quefazem mais notícias, mas defendendo o alerta sobre a

banalização de violências cotidianas e debatendo a prevenção, inclusive em relação a incivilidadescotidianas. Além disso, coloca foco sobre as condições de vida e percepções de diferentesjovens, já que desencantos, falta de projetos, de valores sobre o/a outro/a e de participação, plena,além da falta de instituições que estimulem a criatividade, o lúdico e uma cidadania ativa, sendoque essa ausência também propiciam violências e colaboram na sua reprodução.

As pesquisas, com tal foco, vêm inclusive contribuindo para a formatação de programas epolíticas nacionais onde se destacam, o Programa Abrindo Espaços: educação e cultura para apaz promovido pela UNESCO, fundado na abertura das escolas nos finais de semana, e que seoperacionaliza através de parcerias em distintos estados brasileiros e que agora se inicia tam-bém em outros paises da América Latina, com a cooperação da UNESCO no Brasil. TalPrograma é também monitorado em diversas fases de sua realização por avaliações.

Outra inovação é investir em avaliações mais abrangentes que ultrapassam os modelos formaisde construção de indicadores e índices de sucesso ou fracasso. Busca-se entender os programas avaliadosem toda a sua complexibilidade concebendo avaliações de programas como uma pesquisa que tantomapeia resultados mensuráveis como recorre a percepções de diferentes sujeitos, em particular as dosque se destinam os programas, indagando, portanto, sobre sentidos e significados dos programas avaliados.

A UNESCO investe em múltiplas dimensões combinando o diagnóstico de problemas, a denúnciacom a busca por boas práticas e casos bem sucedidos. A idéia é trabalhar ao mesmo tempo no planoda denúncia e de ilustrar casos bem sucedidos, em particular no campo institucional. Recorre-se nasavaliações sobre problemas e sobre ações inovadoras não somente a parâmetros formais, índices pré-estabelecidos quanto à composição, mas ao se registrar práticas e buscar sentidos dados pelos atores,como por exemplo os jovens; nas experiências focalizadas, indica-se que há espaço para proposiçõespautadas em realidades concretas e que não necessariamente demandariam grandes recursos. Assim,

"A UNESCO, como Agência Internacional, tem desenvolvido um importante papel no debate, na proposição e na avaliação

de políticas públicas de largo alcance social no Brasil. Seus projetos de pesquisa, suas publicações e sua

participação em eventos contribuem para que a diversidade deopiniões e a multiplicidade de experiências oficiais e

populares ganhem relevância, se exponham à crítica e contribuam para ampliar direitos e gerar oportunidades.

As ações em cultura e educação, especialmente, fundamentais na democratização republicana da sociedade brasileira,

tem tido forte lastro nas parcerias com a UNESCO".

Carlos Abicalil Deputado Federal PT-MT

Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados

por exemplo, ao se focalizarem os professores e a escola como agentes e agências estratégicas para umensino de qualidade e criativo, estimulando a participação, se demonstra que um novo tipo de instituiçãoescolar é possível.

O tema juventude ganha cada vez mais espaço para determinados setores da esferapública brasileira. Além disso, é um tema importante tanto pela questão dos direitoshumanos dos jovens quanto pela particular relevância desse grupo populacional parapolíticas de longo prazo visando o desenvolvimento nacional. Esta também é uma geraçãoprivilegiada no mandato da UNESCO e requer um olhar especial sobre o estado dasjuventudes. A UNESCO realiza, desde 1997, pesquisas, ações e proposições para políti-cas públicas para as juventudes. Inclusive, recentemente, sistematizou suas proposiçõesem uma publicação com o objetivo de subsidiar os tomadores de decisões quanto aos limitese vetores de uma política pública nacional de juventudes, considerando diagnósticos insti-tucionais sobre realidade brasileira e o acervo internacional nesse campo.

Essa linha de ação não está relacionada apenas ao mandato da organização, mas principalmente àdiretriz ética da responsabilidade social e pela construção de uma cultura de paz. Dentro desse acervo,as violências, em particular, as violências nas escolas, destacam-se como uma temática que tem estimuladodiversos estudos específicos orientados ao mapeamento, à compreensão e à identificação dasrepercussões desse fenômeno nas juventudes. A escola surge como um locus privilegiado de análise àmedida que se configura como um espaço em que a violência possui contornos e efeitos singularessobre os processos de socialização e aprendizagens dos jovens. Com o propósito de ampliar oconhecimento sobre esta questão, foi criado o Observatório de Violências nas Escolas–Brasil, emparceria com a Universidade Católica de Brasília. É quando a pesquisa repercute em ações continuadase que ao mesmo tempo impulsiona e realimenta, uma vez que o Observatório desenvolve, sistematizae contribui para o intercâmbio nacional e internacional de conhecimentos sobre o tema violências nas escolas.

Como mencionado anteriormente, o planejamento da comunicação dos resultados das pesquisasintegra uma cadeia de ações voltadas à responsabilidade social com os jovens. O material das pesquisasalém da divulgação pela mídia é utilizado como base para artigos, apresentações em congressos e semi-nários nacionais e no exterior. Tais divulgações, assim como a tradução de várias publicações, têmgarantido à UNESCO no Brasil um lugar privilegiado em nível internacional na sedimentação de umconhecimento e na construção de redes de contato sobre o tema das juventudes, a partir de umaperspectiva que preza pela apresentação da complexidade de temas que têm os jovens como atoresprincipais, indicando tanto as vulnerabilidades negativas, como os aspectos positivos e aintenção dos jovens de contribuírem para soluções, programas de ação e políticas públicas.

L i n h a s T e m á t i c a s

• Educação e Escola- Privilegiam-se as percepções dos diversos integrantes da comunidade esco-lar o que se combina com extensos surveys em várias localidades, procurando compreender as juven-tudes nas escolas, os problemas existentes nas escolas, violências, as formas de gestão, qualidade, daeducação, interações sociais entre alunos e entre alunos e professores e projetos pedagógicos, além dasreformas em curso. Busca-se reconhecer a diversidade de experiências, ressaltando as positivas, pro-pondo políticas e, em particular, de programas de mediação de conflitos como estratégia de superação

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das violências no ambiente escolar. Além do elenco curricular também se inves-tiga a educação e cidadania e como a escola pode contribuir para afirmação dedireitos identitários.

• Juventudes: Diversidade, Necessidades, Aspirações e Políticas Públicas- Com oobjetivo de mapear situações, percepções das juventudes sobre diversos temas, bemcomo suas necessidades em termos de políticas públicas, insiste-se na identifi-cação de diferentes tipos de juventudes e a apropriação de programas que levemem conta tal diversidade, quando gênero, raça e região, por exemplo, são discu-tidos como temas transversais. Elaboram-se documentos voltados para o debatesobre gestão, montagem de planos e políticas para juventudes.

• Juventude, Violência, Vulnerabilidades, Cultura e Cidadania - Enfatizam-sepolíticas de segurança social e experiências no campo da cultura, do esporte e da educação pau-tadas na democracia participativa dos jovens.

• Identidade Étnico-Racial: Combatendo Discriminações -Ainda que gênero e raça/etnicidade sejamtemas transversais em diferentes pesquisas, vários estudos têm como foco as relações raciais e os diversostipos de discriminações étnico-raciais, inclusive as que perpassam distintos ambientes sociais, como a escola.

• Saúde e Educação: Governabilidade e Avaliações - Avaliam-se programas governamentais nessasáreas, investigando a colaboração da sociedade civil em tais iniciativas, e se tratade temas pertinentes à juventude e suas percepções em relação à sexualidade, dro-gas, entre outros. Além disso, sugere políticas públicas na área da saúde. Especialreferência tem sido dada a análises sobre o programa brasileiro de combate aDST-Aids, quer no plano preventivo, quanto de apoio aos casos declara-dos, considerando o interesse da comunidade internacional à combinação deesforços do governo e da sociedade civil, contribuindo tais estudos para dissemi-nar internacionalmente as políticas e programas nacionais.

• Pesquisas e Avaliações de Programas e Ações Governamentais - Avaliam-se programas governamentais em andamento nas áreas de mandato daUNESCO. Elabora modelos de avaliação, com ênfase nos processos de acompanhamento epercepções dos atores envolvidos nesses programas sobre seus sentidos e práticas.

• Identidade de Gênero: Sociedade Civil e Política- Focaliza-se o cotidiano de mulheres de diferentesgerações, suas organizações e movimentos sociais, sublinhando relações de gênero, poder e liderança.Visa contribuir para o debate sobre ações afirmativas e direitos humanos das mulheres.

A l g u m a s P u b l i c a ç õ e s

≈ Autogestão da Capacitação Docente ≈ Avaliação das Ações e Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas de Ensino

fundamental e Médio em Capitais Brasileiras≈ Avaliação do Programa Abrindo Espaços: Bahia≈ Avaliação do Programa Escolas de Paz: Rio de Janeiro≈ Revertendo Violências, Semeando Futuros: avaliação de impacto do Programa Abrindo Espaços

no Rio de Janeiro e em Pernambuco≈ Bolsa Escola-Melhoria Educacional e Redução da Pobreza

≈ Ciência e Tecnologia com Criatividade≈Companheiras de Luta ou Coordenadoras de Panelas? As Relações de Gênero nos Assentamentos Rurais≈ Cultivando Vida, Desarmando Violências: experiências em educação, cultura, lazer, esporte e

cidadania com jovens em situações de pobreza≈ Desafios e Alternativas: violências nas escolas≈ Dirigentes Municipais de Educação: um perfil≈ Drogas nas Escolas≈ Engendrando um Novo Feminismo: mulheres lderes de base≈ Ensino Médio: múltiplas vozes≈ Escola e Violência≈ Escolas Inovadoras: experiências bem sucedidas em escolas públicas≈ Estratégias Educativas para a Prevenção da Violência ≈ Fala Galera ≈ Gangues, Galeras, Chegados e Rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia

de Brasília≈ Gênero e Meio Ambiente≈ Juventude, Violência e Cidadania: os jovens de Brasília≈ Juventude, Violência e Vulnerabilidade Social na América Latina: desafio para políticas públicas ≈ Juventudes e Sexualidade≈ Ligados na Galera ≈ Mapa da Violência: os jovens do Brasil – I, II, III e IV≈ Nos Caminhos da Inclusão Social: a rede de participação popular de Porto Alegre≈ O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam.≈ Os Jovens de Curitiba: esperanças e desencantos.≈ Políticas Públicas De/Para/Com Juventudes≈ Por Um Novo Paradigma Do Fazer Políticas: políticas de/para/com juventudes (2° edição)≈ Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003≈ Violência nas Escolas e Políticas Públicas ≈ Violência nas Escolas: América Latina e Caribe ≈ Violências nas Escolas: dez abordagens européias

P e s q u i s a s e m C u r s o

≈ Vitimização nas Escolas ≈ Juventudes Brasileiras ≈ Desafio da Aids no Brasil: limites e possibilidades ≈ Avaliação Progressiva do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas ≈ Proficiência Escolar e a Questão Racial≈ Análise de Cartas de Alunos e Professores do Ensino Médio ≈ Desenvolvimento do Sistema de Avaliação do Programa SESI Educação do Trabalhador ≈ Avaliação do programa Abrindo Espaços – Juazeiro (Bahia)≈ Perfil dos Gestores Municipais de Educação ≈ Avaliação do Programa de Ciências e Tecnologia nas Séries Iniciais – São Paulo

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Ix. O ETHOS POLÍTICO DAS NOVAS TECNOLOGIASDA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

A Á r e a P r o g r a m á t i c a e a " M a r c a " d a U N E S C O

A missão da UNESCO no setor de Comunicação e Informação envolve três vertentes interligadas. AOrganização deve promover a livre circulação da informação, do conhecimento e de dados, fomentar acriação de conteúdos diversificados e facilitar o acesso eqüitativo à informação e aos meios de compar-tilhamento do conhecimento. Nesse contexto, o desenvolvimento e difusão das tecnologias de comuni-cação e informação, em geral, e da internet, em particular, assumem grande centralidade na realização dasua missão, e os temas da sociedade da informação e do conhecimento que se crê fundarem-senessa base tecnológica passam a constituir tema central da sua atuação.

Para a UNESCO, a euforia provocada pela alvorada da Sociedade da Informação com o crescimentoexponencial da internet, principalmente nas sociedades avançadas, não deve impedir o reconhecimentode que a direção e o ritmo da mudança têm sido objeto de preocupação tanto entre aqueles sobre quemrecaem os resultados mais imediatos dessa mudança quanto entre os estudiosos desse novo fenômeno.Apesar do entusiasmo com esses avanços, não são poucos os setores da sociedade que observam comatenção a evolução histórica do novo paradigma da informação e tornam explícitas, em cada etapa dessedesenvolvimento, suas preocupações com as implicações sociais das novas tecnologias. Não se podeignorar os desafios éticos que a atual onda de desenvolvimento tecnológico suscita, e a UNESCOentende como parte de seu mandato garantir que essas preocupações não sejam excluídas do debate.

Talvez a questão ética central do novo paradigma seja a que diz respeito ao aprofundamento dedesigualdades sociais, desta vez sobre o eixo do acesso à informação. O ritmo do avanço tecnológico noalvorecer do novo paradigma tem sido, sob qualquer ótica, extraordinário. O ritmo de expansão da inter-net no mundo levou apenas um terço do tempo que precisou o rádio para atingir uma audiência de 50milhões de pessoas. A redução dos preços dos computadores por volume de capacidade de processa-mento facilitou grandemente essa difusão, mas outros fatores além dessa redução de preços contin-uam a agir, impedindo a superação da relação entre nível de renda e acesso às novas tecnologias.

A atuação da Representação no Brasil, tanto por meio de seu escritório de Brasília, quantodas coordenações regionais, tem sido marcada pelo apoio às iniciativas que visem ampliar oacesso à informação seja por meio de telecentros comunitários e utilização das tecnologias naeducação formal e continuada, além de estimular o desenvolvimento de aplicações criativas dasnovas tecnologias na educação e na gestão pública e oferta de serviços aos cidadãos.

O setor de Comunicação e Informação tem forte componente de transversalidade que a

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Representação em Brasília vem explorando intensamente em suas atividades no país, sendo a prática nanegociação de novos acordos de cooperação com o governo brasileiro. O setor tem um compromissocom a maior utilização das novas tecnologias de informação e comunicação também nas articulaçõesinternas com a sua sede em Paris e os escritórios regionais. No plano da própria Representação no Brasil,esse compromisso se revela na aglutinação de vários setores ilustrada pela manutenção do ProjetoBiblioteca Digital Multimídia do Instituto Embratel 21, no qual a UNESCO é um dos centros decapacitação, e construção do Observatório da Sociedade da Informação em língua portuguesa(http://osi.unesco.org.br).

P r i n c i p a i s A ç õ e s

Várias atividades têm sido realizadas na promoção da "inclusão digital".Destaca-se, nessa área, o programa ABC Digital que oferece acesso e treina-mento básico nos fins-de-semana em articulação com o programa EscolaAberta realizado por meio de uma parceria entre a UNESCO e a Secretariade Educação do Estado de Pernambuco. Ainda devem ser mencionados oapoio às ações de inclusão digital do Comitê pela Democratização daInformática – CDI e do VivaRio, ao projeto Kabum!, do Instituto Telemar,ao projeto ComUnidade Brasil na instalação de telecentros no estadode Mato Grosso e à troca de experiências na área por meio das Oficinasde Inclusão Digital realizadas pelo Ministério do Planejamento.

As atividades na área de inclusão digital da Representação no Brasil, emboramodestas em termos de volume de recursos, constituem uma contribuição para o esforço que se vemrealizando no Brasil de promover mecanismos de gestão comunitária de telecentros como uma formamais eficiente de enfrentar as dificuldades de manutenção de níveis satisfatórios de sustentabilidade. Nessesentido, recursos do Programa Information For All estão sendo utilizados pela Organização Não-Governamental "Gemas da Terra" para a elaboração de manual de treinamento para líderes de comu-nidades rurais que desejem criar telecentros comunitários auto-sustentáveis. As atividades na área de uti-lização das novas tecnologias de informação e comunicação na educação continuada de servidores públi-cos têm contribuído para solidificar uma atitude positiva a respeito do valor da educação a distância oumediada pela tecnologia dentro da administração pública brasileira. As iniciativas permitem formargrande número de profissionais e abrir oportunidades de aperfeiçoamento no trabalho paracentenas de servidores. Os benefícios de tais iniciativas para o cidadão comum são difíceis deavaliar, mas espera-se que se expressem em atendimento mais profissional e eficiente.

O estímulo ao uso educacional das novas tecnologias de informação e comunicação inscreve-se nasações voltadas para redução das desigualdades no acesso à informação e ao conhecimento. As principaisações nessa área são enfeixadas na cooperação técnica ao Governo Federal na implantação do Projeto TV– Escola Digital e Interativa e na difusão da informática na educação brasileira. Os dois projetos colocamas novas tecnologias ao alcance de alunos e professores das escolas públicas facilitando a aprendizagemna sala de aula e criando oportunidades de capacitação continuada inclusive para membros das comu-nidades ao redor das escolas. Permitem o desenvolvimento colaborativo de "objetos educacionais", pormeio da Rede Internacional Virtual de Educação – RIVED –, e contribuem para o fortalecimento das

empresas de produção de material audiovisual de natureza educacional. O apoio da UNESCO ao esta-belecimento da RIVED, para o qual a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação doBrasil desempenha papel fundamental, permitiu que a iniciativa sobrevivesse às inúmeras flutuações nonível de adesão internacional. As atividades de treinamento dos parceiros internacionais foram realizadasno Brasil, e vários objetos educacionais nas áreas de Física, Química, Biologia e Matemática foramdesenvolvidos de forma cooperativa entre equipes da Argentina, Brasil, Peru e Venezuela.

O apoio à integração das novas tecnologias na educação continuada de servidores públicos é ilustra-do pelo Programa de Formação de Auxiliares de Enfermagem – PROFAE – e pela UniversidadeCorporativa da Previdência Social – UNIPREV –, ambos os programas realizados pelo governo brasileirocom a cooperação técnica da UNESCO e pelo Curso de Qualidade da Educação Básica. Ele é inteira-mente on-line e oferecido a professores e diretores de escolas públicas do ensino fundamentalpor meio de uma parceria entre a UNESCO e a Organização dos Estados Americanos (OEA).

O compromisso para a promoção de ações que visem a elevar a qualidade da educação, o que inclui,entre outras providências, a adoção sistemática e criativa das novas tecnologias de informação e comuni-cação, é exemplificada por sua participação ativa na VIRTUAL EDUCA, cuja presidência do ConselhoConsultivo é atualmente ocupada pelo Representante da UNESCO em Brasília. VIRTUAL EDUCA éuma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que colabora para os esforços de superação dohiato digital por meio do e-Learning. Essa iniciativa é apoiada pela Organização dos Estados Americanos;Banco Inter-americano de Desenvolvimento; Organização dos Estados Americanos para a Educação, aCiência e a Cultura; Comissão Européia; Ministério das Relações Exteriores da Espanha; Ministério daEducação, Ciência e Esportes da Espanha; União de Universidades da América Latina; Associação Ibero-americana de Educação Superior a Distância; Consórcio-Rede Interamericana de Educação aDistância e Associação de Aprendizagem a Distância dos Estados Unidos.

A cooperação da UNESCO tem sido útil para viabilizar as ações do Ministério da Saúde na estrutu-ração da coleta de dados e informações em saúde em um padrão nacionalmente definido de modo agarantir a construção de um novo modelo de gestão descentralizado, mas integrado nacionalmente. Osistema de informação do Cartão SUS, em vigor em cerca de 44 municípios em seu primeiro ciclo deimplantação, permitirá que os gestores do Sistema Único de Saúde tenham acesso a um cadastro deusuários construído como uma base digital que integrará os diversos sistemas de informação referidos ausuários do sistema de saúde. Essa atividade é um dos exemplos mais avançados de implantação das basesdo chamado "governo eletrônico", em que as novas tecnologias permitem uma coleta eficiente de dadosfidedignos sobre usuários de serviços públicos, facilitando o controle dos gastos governamen-tais e maior eficiência na prestação do serviço. A cooperação com a Secretaria de Administração eReforma do Estado de Pernambuco representa um passo adiante na área de "governo eletrônico"na medida em que a incorporação de novas tecnologias na administração pública passa adesempenhar o papel de condutora das novas diretrizes de reforma do estado.

A UNESCO tem, também, apoiado ações que estimulem o livre trânsito de informações e dados eassegurem a liberdade de expressão, ambos componentes de seu mandato na área programática deComunicação e Informação. Recursos do Programa Internacional para o Desenvolvimento dasComunicações (IPDC) estão apoiando a Associação Nacional de Jornais (ANJ) na consoli-dação de sua rede em favor da liberdade de imprensa no Brasil.

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P r i n c i p a i s D e s a f i o s

Na sociedade globalizada em que avança o novo paradigma, novas forças de exclusão emergem tantoem nível local quanto global e requerem esforços em ambos os níveis no sentido de superá-las. Ações fun-damentais nessa direção são as que promovem o acesso universal tanto à infra-estrutura quanto aosserviços de informação a preços acessíveis. A conexão internacional dos países em desenvolvimento estáextremamente concentrada em poucos pontos de acesso. Novas parcerias e políticas de cooperação inter-nacional deverão ser elaboradas para estimular o desenvolvimento e fortalecimento de redes intra-regionais.A instalação de backbones regionais de alta capacidade, por exemplo, permitiria ligar cada país a uma redeglobal de múltipla conexão em que ninguém dominaria a conectividade.

O acesso universal ao conteúdo e a fontes de conheci-mento aponta para a necessidade de resolver vários outrosdesafios. Um dos mais relevantes é o reconhecimento dosdireitos de propriedade intelectual. Do ponto de vista dos paísesem desenvolvimento, uma delicada negociação deveria asse-gurar que as novas tecnologias não serão elas mesmas uti-lizadas para impedir o "uso justo" dos recursos disponíveis nainternet. A essa negociação dever-se-iam acrescentar açõesvisando difundir de forma eficiente o princípio de respeito aosdireitos de propriedade intelectual, inclusive na internet. Umaoutra questão é elevar o volume de informação de qualidadee de domínio público disponível na internet no(s) idioma(s)de expressão da população de cada sociedade. Isso envolverá convencer o governo e centros produtoresde conhecimento financiados por recursos públicos a tornar disponíveis ao público as informações pro-duzidas. Ainda mais, será sempre um desafio garantir o livre fluxo de conhecimentos e informações, prin-cipalmente por meio de efetiva liberdade de expressão em todos os meios de comunicação.

No campo educacional dos países em desenvolvimento, decisões sobre investimentos para a incor-poração da informática e da telemática implicam também riscos e desafios. Será essencial identificar opapel que essas novas tecnologias podem desempenhar no processo de desenvolvimento educacional eresolver como utilizá-las de forma a facilitar uma efetiva aceleração do processo em direção a educaçãopara todos, ao longo da vida, com qualidade e garantia de diversidade. As novas tecnologias de infor-mação e comunicação tornam-se, hoje, parte de um vasto instrumental historicamente mobilizado paraa educação e aprendizagem. É atinente a cada sociedade decidir que composição do conjunto de tec-nologias educacionais mobilizar para atingir suas metas de desenvolvimento.

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"O trabalho da UNESCO é constante e gigantesco. Entretanto, a prioridade absoluta que dá à educação é a grande contribuição que ela dá ao país. Seu mantra: a educação não pode ser somente consideradaimportante. Ela precisa ser prioritária. É a frase que vai levar o país a um outro patamar. E cabe a todos nós a repetirmos até que ela seja compreendida e faça parte da alma da nação."

Nizan GuanaesPresidente da África Agência de Publicidade

x. A COMUNICAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO

A construção da democracia, que significa superar as grandes desigualdades sociais e proporcionaroportunidades iguais a todos, passa necessariamente pelo fortalecimento e a independência dos meios decomunicação. A mídia deixou de ser apenas uma transmissora de informações – um canal onde a infor-mação é permutada – para tornar-se parte ativa na construção da cidadania. Ativa e fundamental, pois nasociedade moderna o desenvolvimento e a democracia estão, necessariamente, vinculados à evoluçãodos meios de comunicação de massa.

Com esse pensamento, a UNESCO no Brasil pauta seu relacionamento com a imprensa brasileiracomo fator estratégico para o cumprimento de sua missão.

A comunicação é função essencial e uma das razões da existência da Organização: pois a área deComunicação e Informação está em seu mandato. Manter a opinião pública constantemente informadacom relação aos compromissos assumidos pelos países, eventos, estudos, pesquisas e debates promovidospela UNESCO em todas as áreas de atuação – educação, ciência, meio ambiente, cultura, desenvolvi-mento social e comunicação – é preocupação primeira da política de comunicação do escritório no Brasil.

Nesse trabalho permanente de informação, a UNESCO está consciente de que colaborou significa-tivamente para inserir temas importantes que hoje estão na agenda de discussões no país. Há muito poucotempo, a agenda era outra, não tão ligada a temas sociais. São as opiniões veiculadas com constância, oenvio de informações consideradas "quentes" e a disponibilidade de especialistas nas diversas áreas que colocama política de comunicação do escritório a serviço da construção de um século XXI diferente e mais justo.

Entre os vários serviços que presta a Assessoria de Comunicação, o de Assessoria de Imprensa é feitode maneira permanente. A regra é nunca deixar um jornalista sem a informação de que precisa. Quandoa Organização a possui, a resposta é dada. Quando não, o profissional é encaminhado a outras instituiçõesque são fontes de informação. Essa procura precisa ser sempre ágil e imediata: os profissionais da mídianão têm tempo a esperar, pois a carência de uma informação pode gerar uma notícia negativa afetandoum projeto, ou uma idéia, ou a imagem da Organização.

A mídia é uma parceira fundamental no processo de desenvolvimento, e o é ainda mais em um mundoglobalizado. E nessa parceria não há sucessos a serem divulgados e sim a conseqüência de ações eficazese de produtos de qualidade que são originados da Organização. Serão ossucessos que terão maior espaço e serão melhor explorados pelos jornalis-tas, sem dúvida. O que se oferece diariamente é um conjunto de idéias eprodutos, resultado do trabalho permanente de uma equipe que reúnetécnicos especializados nas áreas do mandato da Organização.

Sem a imprensa, a transformação da informação em conhecimentonão acontece. A informação não pode ser difundida, ampliada, reforça-

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da e assim não se dá a oportunidade para a sociedade transformá-la em conhecimento. Umasociedade precisa produzir conhecimento, e é a imprensa que possibilita aos cidadãos instrumentosa serviço do caminho natural do desenvolvimento social. E ela tem um papel fundamental no processode conscientização social e pessoal dos cidadãos.

A parceria com a mídia é proposta permanentemente: dependendo da maneira como os assuntos relativosàs áreas de atuação da UNESCO são transmitidos pela imprensa, o debate nacional junto à opinião pública,entre os tomadores de decisão e as partes envolvidas ganha intensidade. E pode gerar, ou não, novas açõese novas decisões importantes na área. Torna-se um círculo virtuoso que impulsiona o desenvolvimentosocial e agiliza o caminho democrático por meio do acesso à informação. Se noticiamos que mais de 7milhões de jovens estão fora das escolas e do mercado de trabalho no Brasil, como mostrou o Relatóriode Desenvolvimento Juvenil (2004), essa informação podelevar o governo a produzir política pública que envolva essaparcela da sociedade, propiciando um futuro melhor aosindivíduos de 15 a 24 anos. Como está acontecendo hojecom o Governo federal: pela primeira vez na história do país,e com a participação da UNESCO atualmente está sendoformulada uma Política da Juventude.

Outro exemplo é o não envolvimento da sociedade nocombate ao analfabetismo. Hoje existem 30 milhões de anal-fabetos funcionais e absolutos no Brasil e, seja qual for a razãodesse número de excluídos da realidade cotidiana, é umproblema que afeta a todos e significa uma pedra no caminhoda instalação da democracia plena. Ao reproduzir diaria-mente em jornais, emissoras de rádio e de televisão, as boasexperiências e projetos na área da alfabetização, a imprensaestará colaborando para a redução dessa trágica cifra. E ofere-cer informação de qualidade é uma das maneiras de transformar leitores e telespectadores em cidadãoscríticos que realmente tenham força na construção de uma sociedade justa e menos desigual.

O compromisso da UNESCO com a Liberdade de Expressão é conhecido em todo o mundo, e noBrasil não é diferente. Ela é componente inalienável da democracia e é a garantia da pluralidade, do coletivo,da tolerância. Não há desenvolvimento sem a presença de instituições democráticas que possibilitem aparticipação cidadã. Os valores da liberdade de expressão e de imprensa estão em todas as suas atividades.Em parceria com a Associação Nacional de Jornais – ANJ, desenvolve uma série de atividades, entre elas,debates e seminários, e também apóia a criação de uma Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa queestá sendo desenvolvida pela ANJ, que acompanhará de perto e deixará a sociedade civil informada comrelação aos crimes que restrinjam o direito à informação, entre outros.

E s t r a t é g i a s

A estratégia geral adotada é a de permanente contato com os profissionais da mídia. Desde jornalistasa chefes de redação e diretores, por meio de constantes contatos telefônicos, envio de mensagens por e-maile visitas pessoais. Encontros são agendados, normalmente com o Representante, quando ele dispõe deinformações válidas que sejam do interesse do jornalista. Convites para cobertura de eventos impor-

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 99

"A UNESCO é uma velha amiga do Brasil. Nas últimas décadas, tornou-se uma grande parceira. Devemos à sua atuação, à sua obsessão pela educação e difusão da cultura, uma das maiores conquistas da mentalidade brasileira na segunda metade do século passado: o maior compromisso de nossas elites, de nossos governantes e de todos os cidadãos sobre a importância da educação para o desenvolvimento e a justiça social. As inúmeras associações com entidades públicas, governamentais e não-governamentais, são o sinal concreto de sua crença no Brasil e no potencial de seu povo, de sua compreensão de nossas especificidades culturais e sociais. Que seja longa, duradoura e cada vez mais profícua esta parceria".

Tereza CruvinelColunista do Jornal O Globo

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tantes,dentro e fora do Brasil, constituem outro elemento que contribui para a presença permanente daOrganização nas matérias veiculadas pela mídia.

No Brasil, o trabalho abrange a imprensa nacional e regional, devido às suas dimensões continentais.Há localidades onde a grande imprensa não é tão forte quanto a imprensa regional, e o pequeno jornalde uma cidade do interior também forma opinião e tem influência na vida local. As agências de notíciaspermanentemente abastecidas são uma maneira confiável de levar as notícias sobre as atividades paratodos os cantos do país, possibilitando uma capilarização importante da informação.

Como a UNESCO no Brasil gera diariamente um grande número de informações, é funda-mental selecioná-las e segmentá-las. Informações completas sobre todas as atividades são enviadaspara a imprensa, com uma seleção prévia do perfil de profissional interessado em determinadoassunto. A qualidade das informações é decisiva no relacionamento estreito com a imprensa:não cabe veicular informações inúteis ou com pouco conteúdo informativo. Só traria resistên-cia do profissional e do veículo aos temas ligados à UNESCO. É exatamente a confiança naqualidade da informação que nos torna fontes preciosas para os profissionais da mídia.

Ao tornar-se referência em áreas como educação, juventude e violência devido às inúmeras ações eestudos nessas áreas, gera um nível de procura por informações que aumenta dia após dia. As informaçõesdispostas no site (www.unesco.org.br/midia), atualmente em forma de releases na home page com hora deentrada, facilita a procura por informações mais sucintas e atualizadas. Sempre que isso não é suficiente,acontece o contato telefônico.

Além da presença dos assuntos na imprensa diariamente – o clipping mensal de notícias de janeiro aagosto de 2004 chega a 4.323 notícias relacionadas à UNESCO, sendo que nesse mesmo período de 2003esse número atingia a 3.311 notícias –, a presença do Diretor Geral e do Representante nas editoriaisde opiniãodos jornais complementa uma área culminante da imagem da Organização. Emitir opinião sobre os assuntosligados aos projetos mantém o cidadão leitor de jornal informado com relação às atividades da Organizaçãoe as idéias que defende. O envio freqüente de artigos difundindo seus temas e ideais é prática constante.

Tais linhas de ação que constituem a estratégia de comunicação têm se mostrado acertadas.De acordo com um eficiente sistema de clipping de matérias via internet, o sistema "Empauta", desvela-secomo uma das agências das Nações Unidas com maior visibilidade na mídia. Na maioria dasvezes, levando contribuições basilares ligadas aos temas de atuação para o debate junto à opinião pública.

P a r c e r i a c o m a T V G l o b o

Atenção especial deve ser dada à parceria firmada em 2004 com a TV Globo, maior grupo de comunicaçãodo país, composto por jornais, emissoras de rádio e de televisão em sistema aberto e a cabo. A parceriaextrapola as áreas de difusão de informações jornalísticas geradas pela UNESCO. Engloba todos os pro-jetos sociais das duas instituições, projetos que envolvem a mobilização e difusão pelos meios de comu-nicação do grupo Globo e conta com a participação técnica e de gestão da equipe da UNESCO no Brasil.

Uma prova da eficiência da parceria veio a público recentemente: a realização da campanhaCriança Esperança, uma mobilização para o recebimento de doações a serem aplicadas em pro-jetos sociais, envolvendo todo o país e culminando em pelo menos cinco horas de shows divi-didos em dois dias, realizados em São Paulo. Os recursos arrecadados este ano, o primeiro quecontou com a parceria da UNESCO, bateram todos os recordes: foram de R$ 16 milhões,sendo que no ano passado, a mesma campanha conseguiu reunir R$ 9,5 milhões.

XI. POLÍTICA EDITORIAL E DE DOCUMENTAÇÃO

Há alguns anos (1997), a UNESCO no Brasil tomou a iniciativa de criar uma linha de ação editorialque permitisse disseminar aos mais diferentes segmentos da sociedade brasileira as idéias e compromissosda Organização, objetivando colocá-los em circulação, de modo a favorecer o seu debate em todo o país.Sendo um organismo das Nações Unidas que, como lembrou o Relatório Delors, sempre teve pormissão desenvolver as potencialidades humanas em colaboração com os Estados-Membros e seusmúltiplos parceiros, estimulando a cooperação intelectual, a compreensão mútua, a difusão de idéias, deinformações e de experiências bem sucedidas, a edição de livros e textos em sua forma tradicional oumediante o uso das novas tecnologias, sobressai como uma das principais estratégias para fazer chegar àsdiversas instâncias da sociedade civil e do poder público, reflexões, propostas e acordos que derivam deseu mandato nas áreas de educação, ciência, cultura, comunicação e informação. Afinal, o livro,segundo observou certa vez Umberto Ecco, em notável conferência proferida na Biblioteca deAlexandria, continua a ser, como outrora, um dos balizadores centrais do processo civilizatório.O próprio computador é, acima de tudo, um instrumento alfabético. Em sua tela corrempalavras e linhas escritas e, para usá-lo, é preciso saber ler e escrever.

A política editorial foi inaugurada com a edição em língua portuguesa do RelatórioMundial da Educação para o Século XXI – Educação, um Tesouro a Descobrir, coor-denado por Jacques Delors, uma obra de reflexão e de propostas que passou a servir dereferência ao pensamento pedagógico do século XXI; depois veio a publicação doRelatório Perez de Cuèllar, sobre a diversidade criadora e suas implicações para odesenvolvimento social e econômico, que também se tornou um balizador das dis-cussões sobre a importância das diferenças na construção de uma cultura de paz.

Apoiados nesses dois sólidos alicerces do pensamento unesquiano,a política editorial da UNESCO haveria de dar passos rápidos e logose consolidar com a edição sucessiva de obras, tanto de natureza con-

ceitual, como de subsidio às políticas públicas, com destaque para a publicação dasprimeiras pesquisas realizadas no Brasil, que permitiram consignar avanços importantesnão apenas no sentido de disseminar conhecimentos, mas de gerá-los por intermédio deabrangentes investigações sobre temas de grande valor para o desenvolvimento sociale humano do país.

Hoje, a UNESCO no Brasil já reúne um acervo de mais de 200 títulos que com-preendem, em graus e modalidades diferentes, todas as áreas de seu mandato e, bemassim, áreas conexas consideradas fundamentais para se obter uma visão mais holísticadas questões e problemas que desafiam o desenvolvimento brasileiro. Como Edgar

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Morin não se cansa de chamar a atenção, o conhecimento com-partimentado e fragmentado vem se tornando cada vez maisinsuficiente para gerar as explicações requeridas pelas situaçõescomplexas do mundo em que vivemos.

Dessa forma, ancorada também numa perspectiva de inte-gração de conhecimentos e saberes, o programa editorial sepreocupou em editar obras tanto sobre temas específicos quecorrespondem à divisão tradicional do conhecimento, quantoem sua dimensão inter e transdisciplinar. Os conhecimentosobtidos por essa via têm a vantagem de cobrirem um númeromaior de fatores e, tornarem-se mais representativos do fenô-meno estudado. Assim sendo, o acervo bibliográfico daOrganização no Brasil inclui obras nas vertentes convencionaisde seu mandato e obras em eixos integradores como juventude,violências, cidadania, solidariedade, direitos humanos, criança emídia, entre outros.

Além disso, vale sublinhar que esse acervo foi aos poucos seenriquecendo com a inclusão de edições resultantes de avali-ações e análises de experiências inovadoras. Essa preocupaçãodecorre da necessidade de sistematizar experiências para que

elas possam ser disseminadas. Exemplos disso são os livros editados sobre os programas bolsa-escola, abrindo espaços e escolas inovadoras.

Uma das dimensões ricas da política editorial refere-se às traduções de livros e textos con-siderados importantes para as políticas públicas do país. De modo geral, são obras que sem umvalor comercial imediato, certamente permaneceriam no idioma original, subtraindo a possi-bilidade de ampla disseminação e debate. Além disso, devem ser destacadas as ediçõesbilíngües e a tradução para o inglês, francês e espanhol de livros produzidos pela UNESCO noBrasil, sobretudo os que resultam de pesquisas e investigações empíricas realizadas nos camposda educação e do desenvolvimento social. Essas edições favorecem o intercâmbio de experiênciascom outros países, notadamente os da América Latina e da África portuguesa.

Nessa política editorial, devem ser mencionadas as co-edições com órgãos e instituições dogoverno (MEC, MS, MCT, CEF, Fiocruz...) que têm possibilitado a publicação não somente devários livros considerados relevantes, como ainda de edições maiores com vistas à sua dis-tribuição para todo o país. As co-edições com instâncias do poder público têm a vantagem defortalecer a parceria e aumentar a possibilidade de aproveitamento das idéias e resultados depesquisas nas políticas públicas.

No que se refere à distribuição, os livros editados no Brasil, além de estarem disponíveis online e na plataforma e-libro são enviados gratuitamente a inúmeras instâncias do poder público,universidades e instituições culturais e científicas, organizações da sociedade civil e àsprincipais bibliotecas do país. Essa política de tornar o pensamento da UNESCO o maisacessível possível, ampara-se no alcance social das reflexões, idéias e propostas daOrganização, que buscam responder, ao menos em parte, às incertezas e hesitações do nossotempo. Via de regra, as obras editadas estão procurando sempre abrir caminhos e pesquisar

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alternativas que venham a subsidiar o desenvolvimento social e humano. Por isso mesmo, elaspossuem um denominador comum que é o combate à pobreza e a redução das injustiças e dasdesigualdades.

Além disso, em que pesem as precárias condições de distribuição de livros no Brasil, estáarticulada com uma rede de distribuidoras e de livrarias em todo o país e tem procurado fazer-se presente, por intermédio de estandes, nos principais eventos de livros no país (Bienal de SãoPaulo e do Rio de Janeiro, Feira do Livro de Brasília, Porto Alegre...), como também em diversostipos de reuniões, seminários e congressos, promovidos ou apoiados pela UNESCO.

Importa destacar ainda as doações que aUNESCO e seus parceiros fazem a inúmerasinstituições do poder público e da sociedadecivil, universidades, institutos de pesquisa e decultura. Nos últimos anos foram feitas mais de50.000 doações de obras editadas pelaOrganização e por seus parceiros. Essa política,juntamente com a disponibilização on line em lín-gua portuguesa de livros, instrumentos norma-tivos, declarações e recomendações, tem permi-tido que os compromissos e propostas daOrganização se disseminem por todo o país. Oque no passado ficava restrito a algumas pessoase instituições da burocracia, hoje chega àsregiões mais distantes do país, contribuindo paraa renovação da agenda e do pensamento socialde líderes da sociedade civil e de instituições queatuam e possuem responsabilidade na área depolíticas públicas.

A UNESCO entende que é seu dever colocar à disposição das instituições e pessoas quepossuem responsabilidade na formulação e execução de políticas públicas, conhecimentos eexperiências que venham a contribuir para a obtenção de melhores resultados das ações emcurso. Disso decorre uma política de lançamentos seguida de debates e discussões com a par-ticipação do poder público e da sociedade civil. Esse procedimento facilita o aproveitamento ea incorporação do resultado das pesquisas feitas e das reflexões e recomendações que estãosempre presentes nas pesquisas realizadas.

Por outro lado, e como parte da política editorial, tem concedido apoio institucional a obrasde valor que, mesmo não sendo diretamente editadas pela Organização, são por ela referen-dadas e recomendadas mediante o uso de sua logomarca. Isso tem permitido a ampliação depropostas e idéias que a Organização defende e, ademais, permite incentivar iniciativas quecertamente se inserem na luta pela ampliação de espaços de conquista da cidadania.

É oportuno salientar que não basta apenas editar bons livros. É preciso formar leitores. Porisso mesmo continua a apoiar iniciativas dos setores privados e públicos que tenham porobjetivo desenvolver o gosto pela leitura e o respeito pelos livros. A proposta da UNESCO éa formação de uma sociedade leitora, usando todos os meios e recursos possíveis.

"A UNESCO-Brasil já prestou contribuições de imenso valor para a vida quotidiana dos brasileiros mais humildes.Suas pesquisas, programas, cursos, assessorias, publicações,todos do mais alto nível de qualidade técnica, contribuíram,enormemente, para a luta contra a pobreza, para a educaçãopopular, prevenção da criminalidade, a redução das desigualdades e para tantas outras causas, que constituem a efetiva prioridade. Ao mesmo tempo, comandada por uma liderança inspiradora, talentosa, corajosa e com grande compromisso social, acompanhada por uma equipeexcepcional, converteu-se num modelo de organismo internacional, inserido na grande agenda pública da população do país. Seus juízes mais importantes, o povobrasileiro, vêm testemunhando, de várias formas e com reconhecimentos multifacetados e testemunho de afeto, o grande trabalho realizado, e se mostram confiantes nos resultados daquilo que ainda está por ser levado a cabo".

Bernardo KliksbergSociólogo

Por último, torna-se necessário enfatizar o sentido da comunicação visual que vem sendodesenvolvida com a marca UNESCO e aplicada aos livros e materiais conexos editados. Elasimboliza a solidez e a tonificação de conceitos que conduzem ao enriquecimento pela nossadiversidade criadora, sendo um dos seus mais nobres fins a construção da paz na mente doshomens. Numa etapa da história marcada pelo visual, a mesma adquire uma importância redo-brada para a educação em seu sentido mais amplo e, devido a isso, deve ser pedagogicamentetrabalhada. A ela, procura-se sempre associar imagens que expressem a missão ética daOrganização, de forma a oferecer ao leitor matéria-prima para suas próprias observações ereflexões.

C e n t r o d e D o c u m e n t a ç ã o

O Centro de Documentação no Brasil tem o papel de organizar e administrar os serviços deinformação e material bibliográfico editados pela UNESCO e pelas Nações Unidas nas áreasde abrangência do mandato da Organização, sobretudo documentos de cunhos teóricos enormativos, incluindo também o material bibliográfico resultante dos projetos de cooperaçãotécnica mantidos com o poder público, iniciativa privada, organismos internacionais e enti-dades da sociedade civil.

Na tentativa de servir como ponte de informação entre a UNESCO e o público em geral, oCentro de Documentação oferece serviços de referência em pesquisas bibliográficas, cujas fontesde informação em bases de dados coletivas do sistema internacional de informação se encon-tram disponíveis na internet no endereço eletrônico: http://www.unesco.org.br/centrodeinfo/index_html. As fontes de informação são 128bases de dados bibliográficos, de referência e textos na íntegra, classificadas por tipo e portema. São 69 serviços de informação localizados na sede da UNESCO em Paris e nosEscritórios de Representação existentes em diversos países e nos institutos especializados daOrganização.

O Centro de Documentação oferece também serviços de distribuição de publicações, sendoque ao longo destes últimos cinco anos tem atendido em média cerca de 5.000 solicitações por ano.

Além disso, o Centro de Documentação tem procurado manter acervo atualizado de livros,documentos, periódicos, vídeos e multimeios da UNESCO e de outras instituições, que con-tenham informações úteis ao processo de cooperação técnica e às pesquisas empreendidas noBrasil. Atualmente o acervo está composto por 6.000 volumes.

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Ações Descentralizadas

Especialistas da UNESCO

Lista de Siglas

Anexo I Cátedras UNESCO

Anexo II Grupo de Parlamentares Amigos da UNESCO

Grupo de Empreendedores Amigos da UNESCO

Anexo III Embaixadores e Artistas pela Paz

XII.

XIII.

XIV.

XV.

PARTE III

Óleo sobre madeira do artista plástico Francisco Galeno para o Prêmio UNESCO 2003.

XII. AÇÕES DESCENTRALIZADAS

Quando se investe em pessoas, a ineficiência implica um grave custo. E o desafio é maximizaro impacto de programas sociais no nível local sem perder de vista o resultado agregado, descen-tralização é a palavra de ordem. Em um espaço como o brasileiro, repleto de contradições eoportunidades, a boa estratégia se torna requisito essencial.

Nesse marco, a UNESCO Brasil conta com Escritórios Antena para levar adiante seumandato nas áreas de educação, cultura, desenvolvimento social, ciência, meio ambiente ecomunicação. Esses postos avançados estão instalados em sete grandes capitais brasileiras: Riode Janeiro, Salvador, Recife, São Paulo, Cuiabá, Porto Alegre e Natal. Baseados em acordos decooperação com Estados e Municípios, as unidades permitem desenvolver parcerias inovadorascom autoridades e instituições locais, além da própria sociedade civil.

O Escritório Antena de Pernambuco abrange um estado que representa 16,6% da populaçãodo Nordeste, região que detém os mais baixos índices socioeconômicos e de desenvolvimentohumano do Brasil. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada no Mapado Fim da Fome, Pernambuco apresenta uma taxa de pobreza de 50,9%. De acordo com osIndicadores e Dados Básicos para a Saúde – Brasil, IDB, a taxa de Mortalidade Infantil de 5,9%está acima da média da região Nordeste (5,35%).

Recentes estudos da UNESCO refletem os dados anteriores. No Mapa da Violência IV,Pernambuco – com uma taxa de 54,5 homicídios em 100.000 habitantes – ocuparia o segundolugar no ranking de homicídios do país, e sua capital, Recife – com uma taxa de 90,5 homicí-dios –, ocuparia o primeiro lugar no ranking das capitais. O Relatório de DesenvolvimentoJuvenil de 2004 soma evidências sobre os sérios problemas que afetam a juventude do estadonas áreas de educação, renda, saúde e inserção no mercado de trabalho.

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Estado: PernambucoPopulação: 8.103.323 IBGEAnalfabetismo: 21,5% IBGEPIB/capita: R$ 183,76 IDH: 0,705

Dentro do contexto da política educacional, o Escritório Antena na Bahia participa de umambiente de melhorias substanciais de indicadores quantitativos nos últimos anos, tais como oaumento do número de alunos matriculados – sobretudo no ensino fundamental – e recuo doanalfabetismo.

Encorajada com os resultados da ampliação da oferta de ensino, a Bahia continua a trabalharpela melhoria da qualidade do ensino e a redução do analfabetismo.

De acordo com os resultados preliminares do Censo Escolar 2003, a Bahia tem 4.954.600alunos matriculados na educação básica (37,9% da população). A expansão da oferta de ensinoé evidenciada no aumento da taxa de cobertura escolar, que passa de 85,8% (para a populaçãode 7 a 14 anos) no início dos anos 90, para 97,8% em 2002. Naquele período, a proporção dejovens de 15 a 17 anos freqüentando a escola aumentou de 25,1% para 88,9%. Com relação aoanalfabetismo, observa-se entre 1992 e 2002 uma redução em todas as faixas etárias consideradas,conforme tabela acima.

O Escritório Antena de Mato Grosso apresenta, atualmente, 44 projetos em fase de anda-mento, por meio de parcerias com diversas secretarias estaduais – Trabalho; Emprego eCidadania; Desenvolvimento Rural; Meio Ambiente; Ciência e Tecnologia; Saúde;Comunicação Social; Educação; Cultura; Fazenda –, Procuradoria Geral do Estado, MinistérioPúblico Estadual, universidades – UFMT, UNEMAT, UNIC e UNIVAG –, Fundação Nacionaldo Índio, Detran e Empresa Mato-Grossense de Pesquisa e Extensão Rural.

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Estado: Mato GrossoPopulação: 2.616.001 IBGEAnalfabetismo: 10,2% IBGEPIB/capita: R$ 288,06 IDH: 0,773

Estado: BahiaPopulação: 13.351.589 IBGEAnalfabetismo: 21,7% IBGEPIB/capita: R$ 160,19 IDH: 0,688

Analfabetismo(grupos etários)

Grupos Etários 1992 200210 anos ou mais 30,2 19,97 a 14 anos 37,9 17,515 a 49 anos 23,5 14,0

Mato Grosso é um estado em amplo desenvolvimento em todas as áreas governamentais ede atuação da UNESCO. Dentre elas, destaca-se a questão ambiental, pois o estado possui trêsbiomas distintos: o pantanal, o cerrado e a floresta amazônica. Desenvolvimento e preservaçãoambiental devem ser equacionados frente à expansão agrícola, o que faz do meio ambiente umaprioridade estadual.

Assim, as ações do Escritório Antena em Mato Grosso buscam privilegiar a população mato-grossense, em todas as esferas de ação da UNESCO, buscando o desenvolvimento do Estadoaliado à repercussão social.

O Escritório Antena do Rio de Janeiro abarca um espaço privilegiado para o desenvolvi-mento de políticas públicas inovadoras, graças à sua formação histórica, sua diversidade cul-tural e a ampla experiência na área social. Traços marcantes do estado incluem: as manifes-tações culturais e intelectuais de referência, o potencial turístico, a força das organizações não-governamentais, e a influência da opinião pública nacional através das empresas de comuni-cação lá sediadas. Destaca-se ainda a grande visibilidade que ocupa como "vitrine" para o paíse o mundo.

Encontra-se, portanto, uma mistura de elementos que podem levar a soluções criativas einovadoras que façam frente aos desafios que se impõem ao cidadão local, onde a violência éapontada como um dos maiores problemas. A pobreza, os problemas de escolarização, preparoprofissional e a crescente dificuldade de inserção no mundo do trabalho excluem uma grandeparcela da juventude do acesso a bens e serviços, para quem a falta de perspectivas geradiversos conflitos. As análises evidenciam que o crescimento econômico não tem seus benefí-cios distribuídos de forma eqüitativa, o que reforça a desigualdade social como um dos tristesmarcos da sociedade.

Em contrapartida, as forças sociais e econômicas surgidas nas últimas décadas podem nosdirigir a um horizonte mais justo. Nelas podemos destacar a crescente afirmação da cidadania,a ampliação das fronteiras econômicas e a mudança de paradigma nas políticas públicas. Nessecontexto, a atuação da UNESCO no Rio é Janeiro é marcada pela construção de parcerias proa-tivas com diferentes atores sociais – governo, iniciativa privada, sociedade civil - e com a for-mação de redes sociais amplas, que geram uma inserção social efetiva.

As parcerias desenvolvidas pelas unidades regionais incluem: Organização Iko Poran – paraintegrar os programas e projetos desenvolvidos e apoiados pela UNESCO ao Programa deVoluntariado Internacional desenvolvido pela Iko Poran–, especializada no recebimento ealocação de voluntários internacionais em projetos de desenvolvimento social no Brasil; Comitê

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Estado: Rio de JaneiroPopulação: 14.761.862 IBGEAnalfabetismo: 5,1% IBGEPIB/capita: R$ 413,94 IDH: 0,807

Olímpico Brasileiro – para a elaboração e implementação de ações conjuntas para o desenvolvi-mento social nos jogos Pan-Americanos que serão realizados na cidade do Rio de Janeiro em2007; Instituto DIALOG – para implementação de ações conjuntas na área de juventude e políti-cas públicas; Empresa Gerencial de Projetos Navais – Engrepron – para o desenvolvimento de umprograma de educação ambiental para o desenvolvimento sustentável destinado às comunidadeslitorâneas no estado do Rio de Janeiro; Centro de Integração Empresa Escola – CIEE – paraimplementação de ações na área de educação – trabalho e desenvolvimento social.

O Escritório Antena de São Paulo foi inaugurado em agosto de 2003, com a missão de via-bilizar o Programa Escola da Família – Espaços de Paz, através de um acordo de cooperaçãotécnica com a Secretaria de Educação do Estado.

Paralelamente ao trabalho com o programa, a UNESCO e São Paulo passaram a atender àsdemandas locais de várias maneiras, como a cessão de apoio institucional a projetos das diver-sas áreas de mandato da UNESCO, participação em eventos e palestras e busca de novas parce-rias com o setor privado, organizações não-governamentais, governo e prefeituras, além de darsuporte local aos projetos e parcerias previamente estabelecidos no estado.

Os principais eventos e apoios incluem: Fórum Mundial de Educação, Fórum Cultural Mundial,XIV Encontro das Universidades de Língua Portuguesa, 11º Educar, 7º Encontro Ibero-Americano do Terceiro Setor, Prêmio Além das Letras – Formação Continuada nos Municípiose participação no comitê de implementação da Upeace (University for Peace) em São Paulo.

O campo de atuação em São Paulo tende a ampliar-se, já que a região, apesar de ser uma dasmais ricas do país, apresenta ainda grandes disparidades sociais e regionais. Por outro lado, oestado abriga os maiores centros de pesquisa do país e uma grande diversidade cultural eenorme potencial de crescimento.

O Escritório Antena do Rio Grande do Sul opera em um ambiente em que a rede escolarde educação básica, considerando as mantenedoras federal, estadual, municipal e privada, pos-sui 2.719.010 alunos, dos quais 65.045 na educação profissional (Censo Escolar 2003 –SIED/MEC). Do total de matrículas, 1.418.040 alunos são atendidos pela rede escolar estadual,na qual são desenvolvidos os Projetos de Cooperação entre o Governo do Estado, por meio daSecretaria de Estado da Educação, e a UNESCO.

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Estado: São PauloPopulação: 38.306.233 IBGEAnalfabetismo: 5,9% IBGEPIB/capita: R$ 442,67 IDH: 0,82

A taxa de escolarização líquida da rede, de acordo com dados do INEP/MEC – 2002, é de96,5% no ensino fundamental e de 45,3% no ensino médio. Quanto ao rendimento dos alunos,a rede escolar estadual apresenta no ensino fundamental 79,7% de aprovação, 15,8% dereprovação e 4,5% de abandono. No ensino médio, as taxas são, respectivamente, de 66,6%,17,5% e 15,9%. Quanto ao analfabetismo, o Censo Demográfico do IBGE – 2000 registra, nafaixa etária de 15 anos ou mais, uma população analfabeta de 501.261 pessoas que "não sãocapazes de ler e escrever um bilhete simples", o que representa 6,65% da população.

E d u c a ç ã o e S a ú d e

Com base numa série de diagnósticos sobre a realidade de Pernambuco, o escritório daUNESCO no estado tem trabalhado desde sua implantação, em março do ano 2000, em umleque de projetos. Em convênio já fechado com a Prefeitura do Recife, a UNESCO desen-volveu um programa de melhoria da qualidade da educação e de fortalecimento do Bolsa-Escolado Município.

No ano 2000, junto à Secretaria de Educação do Estado, deu-se início a um ambicioso pro-grama de melhoria da qualidade do ensino básico do estado, mediante a montagem do Sistemade Avaliação da Educação de Pernambuco – SAEPE. Consiste num sistema que avalia o universodas unidades escolares públicas do estado (estaduais e dos 184 municípios do estado) mediantea aplicação de provas para os alunos da 2ª, da 4ª e da 8ª série do ensino fundamental e da 3ªsérie do ensino médio nas áreas de língua e matemática e a aplicação de um largo conjunto deinstrumentos de coleta de dados (infra-estrutura da escola, diretor, professores, dadossocioeconômicos do aluno). Cada escola, cada município e cada região recebem um relatóriopormenorizado dos resultados obtidos. O sistema já foi aplicado com sucesso nos anos de2000 e 2002.

Baseado na coleção Terra Paulista: histórias, arte, costumes realizada pelo Cenpec a partir deextensa pesquisa no interior de São Paulo, o projeto Terra Paulista nas Escolas desenvolvematerial paradidático voltado para jovens dentro e fora do ambiente escolar. O objetivo desseprojeto é estimular o conhecimento e a valorização do patrimônio cultural do interior paulistapelos jovens do estado. Atualmente em fase de desenvolvimento dos fascículos, vídeos, almanaquee jogos que comporão o material a ser distribuído, o projeto se iniciará nas escolas estaduais emrealização conjunta entre a UNESCO, o Cenpec e a Secretaria de Educação do Estado.

A UNESCO também vem atuando em projeto de apoio a Municípios. Podemos citar comoexemplo os projetos "Fortalecimento da Gestão Plena em Saúde" que vem sendo desenvolvido

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Estado: Rio Grande do SulPopulação: 10.433.297 IBGEAnalfabetismo: 6,3% IBGEPIB/capita: R$ 357,74 IDH: 0,814

com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e o projeto "Estratégias Gerenciais eOrganizacionais para o Fortalecimento da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia". Essesprojetos visam prestar cooperação técnica no desenvolvimento institucional das secretarias desaúde desses municípios. As áreas mais solicitadas para cooperação são gestão da informaçãoem saúde e formação profissional para o Sistema Único de Saúde.

Inspirado na Década das Nações Unidas para a Alfabetização, o projeto Alfabetiza RioGrande promove nas trinta regiões educacionais do Rio Grande do Sul o combate ao analfa-betismo da população de 15 anos ou mais, com a garantia de continuidade de estudos.É realizado com a participação efetiva das Coordenadorias Regionais de Educação, deMunicípios, de organizações não-governamentais e de instituições de ensino superior, comapoio da sociedade, parceria da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul ecooperação técnica da UNESCO. A implementação do Projeto tem como estratégia básica adescentralização das ações para as Coordenadorias Regionais de Educação, mediante o acom-panhamento da Divisão de Educação de Jovens e Adultos – DEJA/SE. As Coordenadorias sãofortalecidas com a instituição e coordenação do Grupo de Trabalho de Educação de Jovens eAdultos – GTEJA, constituído por profissionais da própria Coordenadoria e por representantesdas Secretarias Municipais de Educação da região, das Instituições de Ensino Superior que atuamna formação dos profissionais da educação e outros segmentos sociais. Esse Grupo tem a incum-bência de realizar o diagnóstico, definir as metas de EJA, elaborar os planos de ação e executaras atividades previstas, cabendo às Instituições de Ensino Superior, mediante contrato com aUNESCO, executar o plano de formação continuada dos recursos humanos envolvidos no Projeto.

O primeiro impacto do Projeto Alfabetiza Rio Grande foi o despertar da consciência dasociedade gaúcha para o problema do analfabetismo no terceiro milênio, caracterizado peloavanço da ciência e da tecnologia e pela inclusão digital. O desafio de combater o analfa-betismo para reduzi-lo a índice zero tem mobilizado os principais veículos de comunicação, emnível estadual e em algumas regiões, destacando-se a ação implementada pelo Grupo EditorialSinos envolvendo 44 municípios que se comprometeram em realizar o levantamento e o atendimentodos analfabetos em seus respectivos territórios. Outro resultado a destacar é a contratação peloProjeto de 27 Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, que atuam em conjunto com30 Coordenadorias Regionais de Educação, desenvolvendo um plano descentralizado de formaçãocontinuada para alfabetizadores, coordenadores pedagógicos e professores que atuam em edu-cação de jovens e adultos.

O Projeto de Implementação do Plano Estadual de Reforma e Expansão da EducaçãoProfissional é desenvolvido pela Superintendência de Educação Profissional da Secretaria daEducação, com a cooperação técnica da UNESCO, tendo como principal objetivo implemen-tar uma nova política para o sistema de educação profissional do Estado do Rio Grande do Sul.Visa viabilizar a oferta de programas modernos de educação profissional, sintonizados com asdemandas da sociedade. Para tanto, são desencadeadas ações e mecanismos mais eficazes deatuação no órgão central e nas escolas, especialmente nas áreas administrativa, pedagógica e derecursos humanos, de forma a garantir o cumprimento das metas do Projeto.

O Projeto teve início em 14 de fevereiro de 2001 e já executa a segunda revisão das açõesdesenvolvidas em cooperação técnica com a UNESCO. Tem grande impacto na rede escolarmantida pelo estado ao implementar em 128 estabelecimentos estaduais de Educação

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Profissional o Plano Estadual de Reforma e Expansão, em consonância com a Lei de Diretrizese Bases da Educação e legislação complementar. Os principais resultados alcançados peloProjeto referem-se à transformação do Sistema de Educação Profissional em eixo integrador ecatalisador de ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável, além de permitir o aprofun-damento da participação das coordenadorias regionais e das comunidades na gestão escolar,democratizando a gestão da escola pública de educação profissional.

O Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância é uma iniciativa conjunta daUNESCO Brasil, Banco Mundial e Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Tem como premis-sa que o acesso à educação infantil de qualidade, desde os primeiros anos de vida, é essencialpara ampliar as competências e a capacidade criativa das novas gerações. O objetivo principaldo programa é qualificar os profissionais que atuam na área de educação infantil, prioritaria-mente aqueles que trabalham com crianças em situação de vulnerabilidade social. As ações decapacitação estão direcionadas para a Mesa Educadora: um espaço estruturado pedagogica-mente com recursos humanos e materiais, propiciando atividades de formação continuada. Oprograma conta com uma importante parceria com o setor privado, especialmente de empresasgaúchas e catarinenses, o que tem possibilitado sua expansão e interiorização no Rio Grandedo Sul e Santa Catarina.

Junto à Secretaria de Saúde do Governo do Estado, o Escritório de Pernambuco desen-volveu, nos anos de 2002 e 2003, um largo e intenso programa de educação para a saúde, cen-trado nas enfermidades hidrotransmissíveis, de intensa incidência na região, e paralelo àimplantação de instalações de saneamento básico nas comunidades de baixa renda nos 147municípios de menor IDH do estado.

Em parceria com a Secretaria de Saúde de Mato Grosso, foi organizada proposta de projetode implementação de novos mecanismos de gestão e organização, visando a que as organizaçõessejam capazes de conduzir políticas públicas de saúde que garantam qualidade e eficiência nosserviços.

Em parceria com o Detran/MT elabora-se um projeto de apoio à gestão para o trânsito, como objetivo de planejar, implementar e estruturar as ações do órgão na valorização da paz e davida nos caminhos de Mato Grosso. Nessa mesma linha, está sendo implementado, com aSecretaria Estadual de Fazenda, um projeto de apoio à gestão, auxiliando a SEFAZ na sistemati-zação de dados e informações para facilitar os processos.

Em parceria com a FUNAI, o Grupo de Trabalho Missionário Evangélico e a UNIC, elabora-se um projeto de atendimento aos estudantes indígenas do estado de Mato Grosso. O objetivoé implementar bolsas de estudos integrais para índios em instituições privadas de ensino médioe superior, com acompanhamento pedagógico.

O Projeto Aids entre Nós é uma parceria entre a UNESCO, o Banco de Horas/IDAC e asSecretarias Municipais de Educação e de Saúde do Rio de Janeiro. Seu objetivo é propiciar o debatesobre noções de autocuidado em saúde sexual e a participação ativa dos adolescentes escolaresna formulação de estratégias preventivas ao HIV/Aids, bem como contribuir para a participaçãoda escola e educadores na conscientização e mobilização para o enfrentamento da epidemia.Sua principal estratégia é a realização de um Concurso de Redação sobre Prevenção à Aids eAdolescência, dirigido a aluno de 7ª e 8ª séries das escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro.

O Acordo de Cooperação Técnica UNESCO / Secretaria de Estado de Saúde tem como

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 115

objetivo contribuir para a redução do impacto do HIV/Aids e outras doenças sexualmentetransmissíveis (DST) sobre a qualidade de vida e saúde da população fluminense. Serão pre-conizadas duas vertentes de atuação: 1) expansão e melhoria na qualidade das atividades dediagnóstico e tratamento de DST e HIV/Aids, levando-se em conta o processo de descentraliza-ção e regionalização das ações de saúde em curso, a capacidade instalada, os recursos humanosexistentes, as características, potencialidades e necessidades de cada região do Estado; 2)ampliação de um conjunto de projetos e ações relacionados à prevenção desses agravos e à pro-moção da saúde, direcionados a grupamentos mais vulneráveis e à população em geral e a seremimplementados pelos serviços de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde-SUS, eminteração com instituições e órgãos governamentais e da sociedade civil no âmbito do estado.

Com o Projeto de Fortalecimento Institucional e Potencialização Técnica da Escola deSaúde Pública, o escritório do Rio Grande do Sul promove o apoio à reestruturação organiza-cional, a qualificação de técnicos que atuam na rede pública de saúde, bem como o fortaleci-mento da articulação regional e incremento do ensino de pós-graduação na região. Além disso,estimula a educação continuada e o desenvolvimento de ações de pesquisa e extensão.

Já o Projeto "Reorganização da Atenção Básica nos Municípios do Rio Grande do Sul:implantação da estratégia saúde da família" prevê o apoio à reorganização da Atenção Básica,por meio da implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), nos municípios do RioGrande do Sul. Essa cooperação técnica objetiva contribuir para o alcance da meta de implan-tação de 1.600 equipes de saúde da família ao longo dos 4 anos da atual administração estadual,tendo o PSF como eixo estruturante das demais políticas e programas de saúde. Prevê, ainda, aqualificação do atendimento prestado por esse nível de assistência à saúde.

O Plano de Ações e Estratégias em Saúde Pública para o Controle às DST/HIV/Aids temcomo objetivo principal promover uma educação preventiva para a redução da incidência doHIV/Aids e das doenças sexualmente transmissíveis. O Brasil felizmente desenvolveu umapolítica bastante avançada para o controle da epidemia, garantindo, pelo SUS, acesso aosmedicamentos e estabelecendo uma rede de parcerias com instituições da sociedade civil orga-nizada para a implementação das políticas de prevenção e tratamento. Esse projeto prevê açõesdessa natureza, garantindo uma ação mais efetiva nas regiões de fronteira e portos onde aincidência do HIV e da Aids é mais expressiva.

M e i o A m b i e n t e e C u l t u r a

No que concerne à cultura, o Estado da Bahia vem investindo fortemente na qualificação daoferta de espaços e equipamentos culturais com o objetivo de responder eficazmente às exigên-cias de descentralização e eficiência das ações culturais; na difusão e dinamização da culturaque tem por fim facilitar o acesso e aumentar a oferta de bens culturais; no desenvolvimentosociocultural como meio de estimular atividades culturais de grupos organizados das comu-nidades periféricas dos centros urbanos; e, por fim, na preservação da memória e patrimôniodo acervo arquitetônico, histórico e cultural do estado.

O Projeto Kabum! – Escola de Arte e Tecnologia é uma parceria do Instituto Telemar,UNESCO e da ONG Spectaculu. Esse ousado projeto de inclusão social direcionado para a

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juventude popular urbana do Rio de Janeiro oferece novas perspectivas de vida a jovens comocidadãos e futuros profissionais, através de um programa de formação inédito em linguagemmultimídia, dividido em cursos gratuitos de design, computação gráfica, vídeo e fotografia. AKabum – Escola de Arte e Tecnologia é equipada com o que há de mais avançado no mercadoem termos de tecnologia – hardware e softwares – na criação e tratamento da imagem.

A Escola busca promover no aluno o desenvolvimento de uma linguagem e uma estéticaprópria. A preocupação com uma educação além da formação meramente técnica insere no cur-rículo o estudo de matérias de formação geral, na qual, sob a mediação de educadores compe-tentes, são oferecidos estudos de expressão, língua portuguesa, cultura geral e matérias temáti-cas onde serão discutidos temas da atualidade ligados à questão da cidadania e direitoshumanos, entre outros. Como complemento indispensável ao projeto, busca-se proporcionaraos alunos uma iniciação profissional completada por estágios. A escola atende a 60 alunos, querecebem uma bolsa mensal, e o curso tem duração de 1 ano e 6 meses. Profissionalmente aKabum! realizou diversos trabalhos em suas áreas de competência como vinhetas e videoclipes.A experiência foi destacada como modelo junto a outras iniciativas na América Latina em publi-cação organizada pelo Escritório Regional da UNESCO para Comunicação e Informação paraa América Latina e o Caribe, no Equador.

O Prêmio Cultura Nota 10 é uma parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura, InstitutoCultural Cidade Viva, Instituto 21 Embratel, com apoio da UNESCO, que tem como objetivovalorizar, reconhecer, premiar e divulgar iniciativas culturais inovadoras no âmbito do estadodo Rio de Janeiro. O projeto promove uma agenda de seminários de cultura em diversas cidadesdo interior do estado onde a UNESCO apresenta seus conceitos, diretrizes, estratégias e pro-jetos para a área.

Encontra-se em andamento um projeto de cooperação bilateral entre o Rio de Janeiro e acidade de Buenos Aires, com o objetivo de estreitar a circulação da produção cultural das duascidades e trocar experiências de gestão na área da cultura.

O projeto "Recuperação de Áreas Degradadas do Alto São Lourenço" é desenvolvido peloEscritório de Mato Grosso e conta com financiamento da Petrobras. O valor total do projetoé de R$5.200.000, incluindo contrapartidas do Governo do Estado, Prefeituras, UNESCO eUFMT. Esta ação beneficiará diretamente os municípios de Jucimenira, São Pedro da Cipa,Jaciara, Rondonópolis, Campo Verde, Poxoréo, Dom Aquino e Santo Antônio, através da recu-peração das matas ciliares, pastagens erodidas, nascentes e voçorocas.

Em parceria com a Casa Civil e com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA), umdos mais importantes projetos desenvolvidos pela UNESCO/MT é o Projeto Estadual deProteção e Recuperação Ambiental (PEPE). Trata-se de assistência preparatória cujo objetivo édefinir um modelo de recuperação de áreas degradadas para o Estado através de estudos realiza-dos em cinco unidades-piloto.

Em parceria com a Coordenação de Cultura da Universidade Federal de Mato Grosso eSecretaria Estadual de Cultura, o Escritório coordenou a "1ª SBPC Cultura Natureza", na 56ªReunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ocorrida de 19 a 23 dejunho de 2004 na UFMT, em Cuiabá.

A Mostra FICA no Rio é parceria UNESCO, SESC, e AGEPEL. Já em sua segunda edição,a Mostra exibe no Rio de Janeiro os 11 filmes premiados no Festival Internacional de Cinema

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Ambiental de Goiás. O FICA promove ainda palestras e debates com renomados especialistas.A Mostra é posteriormente exibida em um circuito universitário.

No Rio Grande do Sul, a UNESCO vem apoiando as iniciativas da Secretaria de Estado daCultura no sentido de promover reflexão e desenvovler expertise na área de economia dacultura, dando suporte à organização de debates sobre o tema e de um seminário internacionalprevisto para 2005. Têm também apoio da UNESCO as iniciativas do Fórum Estadual deMuseus.

D e s e n v o l v i m e n t o S o c i a l e C u l t u r a d e P a z

O Programa Abrindo Espaços é, atualmente, uma das principais estratégias nos campos daeducação e do desenvolvimento social. O Programa baseia-se em uma série de pesquisas quedemonstravam, por um lado, a depreciação da escola como instrumento indutor do desen-volvimento social e, por outro, as grandes oportunidades existentes para a melhoria da quali-dade da educação por meio da inclusão social e da participação comunitária.

A partir destas e outras constatações, a UNESCO começou a defender uma estratégianacional de abertura das escolas nos finais de semana, incentivando o desenvolvimento deatividades culturais, esportivas e lúdicas no ambiente escolar. Para transformar o ProgramaAbrindo Espaços em realidade, firmou uma série de parcerias com governos estaduais e munici-pais, com grande papel desempenhado pelos Escritórios Antena.

O Programa Escola Aberta, desenvolvido em convênio com a Secretaria Estadual deEducação de Pernambuco, teve grande repercussão nacional e mesmo internacional. Com essenome é conhecida, no Estado, a estratégia Abrindo Espaços da UNESCO/Brasil. Implantado emagosto de 2000 com 15 escolas da rede estadual de ensino da região metropolitana de Recife eoutras 15 escolas da rede municipal de Recife, o programa conta hoje com 455 escolas da redeestadual de ensino e dos 14 municípios da região metropolitana de Recife. Em 2004 o progra-ma expandiu sua atuação para mais cinco municípios do interior do estado. Para meados de 2004o programa atuava com 3.200 voluntários-oficineiros, 300 oficineiros, 455 coordenadores deescola, representantes dos municípios e uma equipe central composta por 43 pessoas. As 455escolas que abrem aos finais de semana recebem um público de aproximadamente 120.000 pes-soas por final de semana e oferecem mais de 285 tipos de oficinas, nas quais encontram-sematriculadas 63.000 pessoas. Essa experiência bem sucedida já teve o reconhecimento daAssembléia Legislativa do Estado, do Conselho da Criança e do Adolescente, de diversas mis-sões de estados (Piauí, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Sergipe) e daimprensa nacional e internacional (La Nación, da Argentina, e Le Monde, da França).

Segundo o Censo 2000-IBGE o número total de pessoas entre 15 e 24 anos no Brasil é de34.092.224, sendo que 21% desses jovens estão concentrados no Estado de São Paulo. Dessepercentual, cerca de 80% estão matriculados em escolas estaduais. O Espaço da Família abrangeaproximadamente 6.000 escolas estaduais, de 645 municípios do Estado de São Paulo, con-templando sete milhões de pessoas. São desenvolvidas atividades em quatro eixos norteadores:cultura, esportes, qualificação para o trabalho e saúde. Tem ação direta com uma grande parteda população jovem, contribuindo para uma cultura de paz, revertendo o quadro de violênciaque permeia a sociedade paulista.

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Apoiado na mesma concepção do Abrindo Espaços: educação e cultura pela paz – que tem comofoco o jovem, a escola e a comunidade –, o programa Escola da Família em São Paulo vemcolaborando com a diminuição dos índices de violência entre os jovens, gerando oportunidadesde acesso a diferentes atividades, convivência com grupos diferentes, melhora da qualidade de vida– do jovem, da comunidade, da família – e contribuindo para a transformação da relação entreo jovem, a escola e a comunidade. Segundo a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo,a violência nas escolas estaduais abertas nos finais de semana diminuiu em 30% desde o seuinício em agosto de 2003.

Parcerias importantes têm sido desenvolvidas com ONGs, empresas e instituições educativase culturais com a intenção de promover a qualidade e o acesso aos diferentes conteúdos tra-balhados. Através do Projeto NET Educações, foram disponibilizados pontos de TV a cabo em120 escolas estaduais. O Projeto-piloto CTC (Ciência e Tecnologia com Criatividade) desen-volvido pelo Instituto Sangari capacitou duas equipes de jovens universitários e voluntáriospara desenvolverem atividades na área de Ciências com crianças e adolescentes.

Escolas de Paz é a denominação do programa Abrindo Espaços para o Desenvolvimento deuma Cultura de Paz no Rio de Janeiro, fruto de uma parceria do Governo do Estado e aUNESCO. Foi lançado em 2000, no auge da mobilização para o lançamento do AnoInternacional da Cultura de Paz. Essa iniciativa marcou com destaque o desenho de políticassociais preventivas à violência crescente entre adolescentes e jovens no estado. O programaestabeleceu um ritmo de debate e mobilização social sobre o papel da educação, da cultura, dolazer e do esporte associados à oferta de programas de cidadania no enfrentamento da situaçãode esgarçamento social por que passa a sociedade fluminense. O Escolas de Paz busca fortalecer,cada vez mais, o papel da escola como núcleo formador e irradiador dos princípios éticos e decidadania que o norteiam.

A avaliação de impacto do programa, realizada em 2003 e apresentada na publicaçãoRevertendo Violências, Semeando Futuros (Julio Jacobo Waiselfisz, Maria Maciel) apontou que aredução média anual dos indicadores de violência nas escolas é da ordem de 30%. As escolasque aderiram ao programa desde a sua implantação em 2000 apresentaram indicadores próxi-mos a zero em relação a incidentes graves de violência. É evidente o impacto positivo na melho-ria das relações interpessoais em que os jovens passam a aceitar melhor as regras de convivênciano ambiente escolar e percebem a escola como espaço protegido, podendo-se constatar umrefluxo da criminalidade do entorno com reflexos no interior da escola. Isso pode ser constatadoatravés da tabela.

A partir de agosto de 2004 o Programa Escolas de Paz volta a ampliar sua abrangência por

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Impacto das Escolas de PazIndicador 2001 2000Brigas entre estudantes -56% -70%Furtos -27% -48%Vandalismo -43% -63%Melhoria da aprendizagem 78%Aumento do interesse da comunidade pela escola 81,5%

todo o estado, contemplando 200 escolas da rede estadual de ensino. Isso beneficiará em tornode 300 mil pessoas por mês das comunidades intra e extra-escolar. A idéia é promover umagestão descentralizada, com a participação das 29 Coordenadorias Regionais de Educação naimplementação, qualificação e acompanhamento das unidades escolares sob sua jurisdição. Essainiciativa pretende garantir a efetiva apropriação do programa pela rede pública estadual deensino do Rio de Janeiro.

O esforço nesta etapa do programa está centrado na idéia de consolidar as suas unidadescomo indutoras de processos de formação ética e cidadã promovendo o acesso de jovens a bense serviços culturais e esportivos, através das diversas oficinas: capoeira, percussão, artesanato,teatro, danças, grafite e esportes. A implementação de um plano de ação integrado com baseno fortalecimento dos vínculos entre a estrutura escolar e as redes sociais virá ampliar o escopode alternativas às tradicionalmente ofertadas para as comunidades de baixa renda. Nesse senti-do, intensifica suas ações de gestão participativa, aciona ferramentas de capacitação, comuni-cação e mobilização mais sofisticadas e apropriadas ao público-alvo e, assim, reescreve a perspec-tiva de ação global nas comunidades de baixa renda onde atua.

No Rio Grande do Sul, o Projeto Escola Aberta para a Cidadania teve início em agosto de2003 com 51 escolas. Atende, atualmente, a 150 escolas em 78 municípios, com a participaçãode cerca de 90 mil gaúchos. Conta com parcerias de empresas, clubes, associações e instituiçõesda rede pública e privada, organizações não-governamentais, universidades e voluntários, tendocomo eixos básicos a solidariedade, o voluntariado e a construção de uma cultura de paz. Éimplementado por uma equipe central na Secretaria de Estado da Educação, coordenadoresregionais, diretores das escolas envolvidas, monitores, facilitadores de oficinas e oficineirosvoluntários, envolvendo toda a comunidade local e instigando a escola a refletir sobre o seupapel na construção de espaços para o exercício da cidadania e a inclusão social de crianças,jovens e adultos.

Em agosto do corrente ano, comemorou o seu primeiro ano de atividades, relatando o pro-gresso alcançado pelas escolas e respectivas comunidades, e merecendo destaque na mídiaestadual e das diversas regiões onde atua. Além disso, os relatos e discussões ocorridos noII Seminário sobre Violências nas Escolas e Estratégias de Superação, promovido pelaUNESCO em julho de 2004, no III Fórum Mundial de Educação, em Porto Alegre, apontaramdificuldades que foram superadas e resultados alcançados, como a redução da violência nascomunidades de sua abrangência, e maior articulação das escolas com as famílias e a comu-nidade local, com reflexos positivos na sua atuação ao longo da semana. Um importante aspectoa ressaltar no processo desenvolvido pelo Rio Grande do Sul é o engajamento das liderançascomunitárias e a conquista de importantes parcerias em nível estadual e local, além do impactoque representa a abertura de 150 escolas estaduais nos finais de semana, exemplo que já vemsendo seguido por alguns municípios do estado.

O Escritório de São Paulo, por meio de sua coordenação, foi parte ativa na formação daRede Gandhi, lançada no XX Congresso Nacional de Secretários Municipais e I CongressoBrasileiro de Saúde, Cultura de Paz e Não-Violência, realizado na cidade de Natal em marçode 2004. Trata-se de uma rede de saúde, cultura de paz e não-violência, cuja principal missãoé a de minimizar a violência sob todos os aspectos e manifestações, assim como promover acultura de paz, baseada conceitualmente no Manifesto 2000 da UNESCO/ONU. O Escritório

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acompanha diretamente as reuniões e ações no estado, buscando também novas parcerias.O Projeto Escrevendo a Paz é uma parceria do Escritório Rio de Janeiro e Folha Dirigida

com o objetivo de levar os estudantes fluminenses a refletir acerca de temas de caráter universal.O concurso de redação é direcionado às universidades de todo o estado do Rio de Janeiro. As100 melhores redações compõem uma edição trilíngüe para distribuição em diversos países.Dez estudantes são selecionados para ir a Paris entregar a publicação a autoridades na Sede daUNESCO. O primeiro concurso, cujo tema foi Paz, contou com a participação de quase 13 milestudantes. O tema deste ano é Solidariedade.

Já o Projeto Gente que Faz a Paz é uma parceria UNESCO, VivaRio, UNIPAZ, AssociaçãoPalas Athena, URI, Iniciativa das Religiões Unidas, Grupo Cultural Afro Reggae e o Institutopara a Paz Global – American University. Tem como objetivo popularizar a Cultura da Paz atravésda capacitação de profissionais atuantes nas áreas social, educacional e ambiental. Aexperiência acumulada dessas instituições parceiras – referências nacionais e internacionais –foi reunida e sistematizada para a aplicação diária em seus próprios projetos e iniciativas desen-volvidos, redes afins e seus beneficiários nos vários campos em que atuam: educação para a paz,projetos sociais, campanhas de cidadania, mediação de conflitos, diálogo inter-religioso, direitoshumanos e promoção cultural.

XIII - ESPECIALISTAS DA UNESCO

O E s c r i t ó r i o

D i r e t o r i a d a U N E S C O n o B r a s i l

Jorge WertheinRepresentante da UNESCO no BrasilMestre em Comunicação pela Universidade de Stanford. Mestre em Educação pela Universidade de Stanford. PhD em Educação pela Universidade de Stanford.

Mohammed BachiriRepresentante Adjunto da UNESCO no BrasilEspecialização em Auditoria Financeira e Administrativa pela Universidade de Paris IXDauphine e DESS em Finanças Internacionais pela Universidade de Paris I Panthéon – Sorbonne. Mestre em Ciências da Gestão e Administração de Empresas pela Universidade de Lille.

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Marlova Jovchelovitch NoletoDiretora Técnica da UNESCO no BrasilMestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.Curso em Políticas de Bem-estar Social nos países escandinavos, IFSW/Suécia.

Á r e a s d e M a n d a t o d a U N E S C O

E d u c a ç ã o

Katherine GrigsbyCoordenadora da Área de EducaçãoEspecialização em Educação. Pós-graduação Avançada em Planejamento Educativo peloInstituto Internacional de Planificação da Educação, Paris, França. Pós-graduação emAdministração Escolar pelo Instituto Internacional de Administração Educativa da Academiade Ciências Pedagógicas de Potsdam, Alemanha.

Alvana Maria BofOficial de Projetos Mestre em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas/SP. Doutora em Educaçãopela The George Washington University / USA

Candido Alberto da Costa GomesAssessor em EducaçãoGraduação em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutor emEducação pela University of Califórnia.

Cristina RaposoOficial de Projetos Graduação em Psicologia. Especialização em Educação Sexual pelo Centro de EnsinoUnificado de Brasília.

Heloiza Machado de SouzaOficial de Projetos Especialização em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública –ENSP/FIOCRUZ. Mestre em Administração em Saúde pelo Instituto de Medicina Social daUniversidade Estadual do Rio de Janeiro.

Maria Rebeca Otero Gomes Oficial de Projetos Especialização em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre emCiências da Saúde pela UnB.

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Marilza Regattieri Oficial de Projetos Graduação em Economia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em Economiapela Universidade Federal de Viçosa.

Paulo Vinícius Silva AlvesOficial de ProjetosGraduação em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Especialização emPolíticas Públicas e Finanças Públicas pela UnB.

C i ê n c i a s e M e i o A m b i e n t e

Celso Salatino SchenkelCoordenador de Ciências e Meio AmbienteGraduação em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília. Especialização emPlanejamento do Desenvolvimento Regional pela ONU/Cepal .

Ary Antônio Mergulhão FilhoOficial de Projetos Graduação em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.Mestre em Pesquisa Operacional pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA.

Bernardo Marcelo BrummerOficial de Projetos Especialização em Administração e Planejamento dos Recursos Naturais pelo CETREDE –UFCE. Especialização em Heveicultura pela FICAP. Mestre em Agronomia pelaESALQ – USP.

C u l t u r a

Jurema de Sousa MachadoCoordenadora da Área de CulturaGraduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.Presidente do IEPHA/MG de 1995 até 1998.

C o m u n i c a ç ã o e I n f o r m a ç ã o

Maria Inês BastosCoordenadora da Área de Comunicação e InformaçãoMestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora pelaUniversidade de Sussex, Inglaterra.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 123

Adauto Cândido SoaresOficial de Projetos Graduação em Ciências Econômicas e Filosofia pela Universidade de Brasília. Especialização em Análise de Sistemas.

D e s e n v o l v i m e n t o S o c i a l e P r o j e t o s T r a n s d i s c i p l i n a r e s

Marlova Jovchelovitch NoletoCoordenadora da Área de Desenvolvimento Social e Projetos Transdisciplinares

Alessandra Terra MagagninOficial de Projetos Graduação em Serviço Social pela Universidade de Brasília. Mestre em Psicologia, área deDesenvolvimento Humano pela UnB.

Beatriz Maria Godinho Barros CoelhoOficial de Projetos Graduação em Letras-Tradução. Especialização em Gerenciamento de Projetos, peloInstituto Euvaldo Lodi e em Política Social e Gestão de ONGs, pela UnB.

Rosana SperandioOficial de Projetos Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em PolíticaSocial pela Universidade de Brasília.

D i r e i t o s H u m a n o s e P r o j e t o s E s p e c i a i s

Carlos Alberto dos Santos VieiraCoordenador da Área de Direitos Humanos e Projetos Especiais.Graduação em Economia pela Universidade Mackenzie. Especialização em PolíticaCientífica e Tecnológica (UnB/IPEA/MCT).

C o m b a t e a o R a c i s m o e à D i s c r i m i n a ç ã o R a c i a l

Edna Maria Santos RolandCoordenadora da Área de Combate ao Racismo e à Discriminação RacialDoutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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P e s q u i s a e A v a l i a ç ã o

Diana BarbosaPesquisadoraGraduação em Ciências Políticas. Especialização em Políticas Públicas pela UnB. Mestrandaem Ciência Política nessa mesma instituição.

Danielle Oliveira ValverdePesquisadoraGraduação em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília.

Eliane Ribeiro AndradePesquisadoraEspecialização em Avaliação de Programas Sociais e Educativos pelo InstitutoInteramericano de Cooperação para Agricultura – IICA. Mestre em educação pelo IESAE deFGV. Doutoranda da FE/UFF.

Fabiano de Sousa LimaPesquisadorEspecialização em Políticas Públicas pela Universidade de Brasília.Mestre em Ciência Políticas.

Fernanda Pereira de Paula PesquisadoraGraduação em Sociologia pela Universidade de Brasília.

Leonardo de Castro PinheiroPesquisadorGraduação em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Mestre em Políticas Públicaspela Universidade de Sheffield (Inglaterra).

Lorena CarvalhoPesquisadoraGraduação em Farmácia pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Ciência eTecnologia de Alimentos, pela Universidade Federal de Viçosa, MG/ Universidade deMaryland, EUA.

Mara Serli do Couto FernandesPesquisadora Graduação em Pedagogia pela UNISINOS (RS). Mestranda em Educação do Programa dePós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 125

Maria Fernanda Rezende NunesPesquisadoraMestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutoranda noPrograma de Educação pela UFRJ.

Marta Franco AvanciniPesquisadoraGraduação em História Social pela Unicamp. Mestre em História Social pela mesma instituição.

Mary Garcia CastroPesquisadoraMestre em Planejamento Urbano – UFRJ e em Sociologia da Cultura – UFBA. PhD emSociologia pela Universidade da Flórida, Estados Unidos.

Miguel Farah NetoPesquisadorGraduação em Geografia pela Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestre emEducação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

P u b l i c a ç õ e s

Célio da CunhaCoordenador Editorial e Assessor EspecialMestre em Educação pela Universidade de Brasília. Doutor em Educação pela Unicamp.

Maria Luiza Monteiro Bueno e SilvaBibliotecáriaGraduação em Biblioteconomia. Especialização em Administração e Organização deBibliotecas pela UnB.

Silvio TendlerAssessor para AudiovisualHistoriador e Cineasta.

Edson FogaçaProgramador VisualGraduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília.

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A s s e s s o r i a d e C o m u n i c a ç ã o S o c i a l

Ana Lúcia Dias GuimarãesCoordenadoraGraduação em Jornalismo pela Universidade de Brasília, com habilitação em Audiovisual(Rádio-TV-Cinema).

A s s e s s o r i a J u r í d i c a

Roberta Macêdo MartinsAssessora JurídicaGraduação em Relações Internacionais. Especialização em Direitos Humanos pela Universidadede Brasília/FESMPDFT/University of Essex. Mestranda em Direito Internacional pelaUniversidade Católica de Brasília.

R e l a ç õ e s I n s t i t u c i o n a i s

Margarida RamosCoordenadora Graduação em Museologia pela UNIRIO. Especialização em História da Arte da Arquiteturapela PUC/RIO.

E q u i p e A d m i n i s t r a t i v a

Alfredo Nogueira MachadoAdministrador da UNESCO no BrasilExperiência na área de administração pública.

A d m i n i s t r a t i v o / F i n a n c e i r o

Papa Malick GayeCoordenador Orçamentário/FinanceiroEspecialização em Controle de Negócios e Auditoria Interna (DESS) pelo Instituto deAdministração de Negócios, Universidade de Paris I Panthéon – Sorbonne, França. Mestreem Economia e Administração de Negócios pela mesma instituição.

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R e c u r s o s H u m a n o sPhilippe Billault-LeivaOficial de Recursos Humanos Mestre em Direito pela Universidade de Paris I Panthéon Sorbonne. Especialização - DEAem Direito Internacional e Organizações Internacionais pela Universidade de Paris I,Phanthéon – Sorbonne.

ESCRITÓRIOS ANTENA

B a h i aMarlene Araújo HurstCoordenadora Graduação em Economia – UFBA. Mestre em Economia – UFBA.

Anailde Pereira AlmeidaOficial de ProjetosMestre em Ciências Sociais – UFBA. Doutoranda em Planejamento Territorial eDesenvolvimento Regional – Universidade de Barcelona–ES.

Maria Falcão Vaz Assessora de ComunicaçãoGraduação em Medicina – Escola Bahiana de Medicina. Mestre em Divulgação Científicapela Universidade de Londres.

M a t o G r o s s oRonaldo Drescher Coordenador InterinoMestre em Engenharia Florestal. Doutor em Engenharia Florestal/Manejo.

Aldenice Bernardes Garcia Oficial de ProjetosGraduação em Biologia. Mestre em Gestão Pública do Turismo: Sustentabilidade eCompetitividade.Glória Regina Calháo Barini NéspoliConsultoraEspecialização em Gerência de Cidades. Mestre em Ambiente e Desenvolvimento Regional.

Gretel VillamonteConsultoraEspecialização em Produção e Análise Estatística de Dados. Mestre em Engenharia daProdução. Doutoranda em Engenharia da Produção.

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Larissa Silva Freire SpinelliOficial de ProjetosGraduação em Pedagogia. Mestre em Educação.

Solange de Fátima WollenhauptAssessora de ComunicaçãoGraduação em Letras/Português-Literatura e em Comunicação Social/Jornalismo. Mestre emLetras/Estudos Lingüísticos.

P e r n a m b u c oJulio Jacobo WaiselfiszCoordenadorGraduação em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires. Mestre em PlanejamentoEducacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Cristhiane Cordeiro CruzAssessora de ComunicaçãoGraduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco.

Tchaurea Kalika de GusmãoAssistente de ProjetosGraduação em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. Especialização emDireito Internacional e Europeu pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica.

R i o d e J a n e i r oPedro Henrique Hue Ribeiro de LessaCoordenadorGraduação em Comunicação Visual. Mestre em Gestão.

Christiana Saldanha da Gama M. Vianna Assessora Técnica na Área de PlanejamentoEspecialização na área de planejamento e gestão de projetos sociais e planejamento orça-mentário/financeiro de projetos. Mestre em Gestão.

Eleonora Maria FigueiredoAssessora de Projetos Especiais e ChancelasMestre em Orientação Profissional. Mestre em Psicopedagogia.

George PatiñoAssessor de ComunicaçãoGraduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Faculdade dasCidades do Rio de Janeiro. Especialização em Jornalismo Cultural pela Universidade Estáciode Sá / RJ.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 129

Lísia BocheseOficial de ProjetosGraduação em Direito pela PUCRS. Mestre em Direito pela Universidade Livre de Berlim– Alemanha.

Maria Cecília Oswaldo CruzAssessora Técnica na Área de EducaçãoEspecialização em Relações de Trabalho pela FACE/MG. Mestre em Educação Brasileirapela PUC/RIO.

Maria Cristina Lima VerdeOficial de ProjetosEspecialização em Análise Econômica pelo CENDEC/IPEA. Mestre em PlanejamentoUrbano pela COPPE/UFRJ.

R i o G r a n d e d o S u lAlessandra SchneiderCoordenadora Especialização em Saúde Perinatal, Educação e Desenvolvimento do Bebê pela UnB.Aperfeiçoamento em "Diseño y Gestión de Políticas y Programas Sociales" pelo InstitutoInteramericano para el Desarrollo Social,Washington–DC e em "Early Child Developmentand Interventions" pelo Center for International Child Health, University College ofLondon, Inglaterra.

Cíntia BonderAssessora Técnica nas Áreas de Saúde, Meio Ambiente e Desenvolvimento SocialMestre em Serviço Social pela PUCRS. Doutoranda em Serviço Social pela PUCRS.

Marisa Timm SariAssessora Técnica nas Áreas de Educação e CulturaGraduação em Pedagogia. Especialização em Educação pela Pontifícia UniversidadeCatólica do RS.

Terezinha TarcitanoAssessora de ComunicaçãoGraduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, no Rio de Janeiro.Especialização em rádio e TV.

S ã o P a u l oÂmbar de BarrosCoordenadora Graduação em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de SãoPaulo (ECA-USP).

130

Gabriela Athias Assessora de ComunicaçãoGraduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Pará.

Simone Mattos de Alcântara PintoOficial de Projetos Graduação em Pedagogia (FEUSP). Doutora em História Social (FFLCH-USP).

Débora Arima Assessora Técnica na Área de Comunicação Graduação em Comunicação Social, na ECA–USP, com habilitação em Rádio e TV.

Tania de FalcoAssessora Técnica na Área de CulturaGraduação em História e Administração de Empresas. Especialização em ResponsabilidadeSocial Corporativa.

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 131

XIV. LISTA DE SIGLAS

a.e.: Anos de EstudoAGEPEL : Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico TeixeiraAids : Síndrome de Imunodeficiência AdquiridaANJ: Associação Nacional de JornaisAPA : Área de Preservação AmbientalBID : Banco Interamericano de DesenvolvimentoCenpec: Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação ComunitáriaC&T: Ciência e TecnologiaCIEE: Centro de Integração Empresa EscolaCOMEST: Comissão Mundial de Ética do Conhecimento Científico e TecnológicoCNE : Conselho Nacional de EducaçãoCNI : Confederação Nacional da IndústriaCNPq : Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoCONSED : Conselho Nacional de Secretários de EducaçãoCPLP : Comunidade dos Países de Língua PortuguesaCTC : Ciência e Teconologia com CriatividadeDEJA: Divisão de Educação de Jovens e AdultosDETRAN: Departamento Estadual de TrânsitoDST: Doenças Sexualmente Transmissíveis EA : Educação AmbientalEJA : Educação de Jovens e AdultosEMBRAPA : Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEMBRATEL: Empresa Brasileira de TelefoniaEMBRATUR : Instituto Brasileiro de TurismoENEJA : Encontro Nacional de Educação de Jovens e AdultosENGREPON : Empresa Gerencial de Projetos NavaisEUA : Estados Unidos da AméricaFEBRACE : Feira Brasileira de Ciências e EngenhariaFEMA: Fundação Estadual do Meio AmbienteFGV: Fundação Getúlio VargasFICA : Festival Internacional de Cinema Ambiental FINEP : Financiadora de Estudos e ProjetosFUNAI : Fundação Nacional do Índio

132

GTEJA: Grupo de Trabalho de Educação de Jovens e AdultosHIV : Vírus da Imunodeficiência HumanaIBGE : Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIDAC : Instituto de Ação CulturalIDB: Indicadores e Dados Básicos para a SaúdeIDH: Índice de Desenvolvimento HumanoIIPE : Instituto Internacional de Planejamento EducacionalINEP: Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais ‘Anísio Teixeira’INPE: Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisIPEA : Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaIPEAFRO: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-BrasileirosISEF: International Science and Engineering FairMCT : Ministério da Ciência e TecnologiaMEC : Ministério da EducaçãoMG : Minas GeraisMINC : Ministério da CulturaMS : Ministério da SaúdeOCDE : Organização para Cooperação e o Desenvolvimento EconômicoOEA: Organização dos Estados AmericanosOEI : Organização de Estados Ibero-AmericanosONG : Organização Não-GovernamentalONU : Organização das Nações UnidasOREALC : Oficina Regional de Educação para América Latina e CaribePEA : Programa de Escolas AssociadasP&D: Pesquisa e DesenvolvimentoPEPE: Projeto Estadual de Proteção e Recuperação AmbientalPIB : Produto Interno BrutoPM: Polícia MilitarPNE : Plano Nacional de EducaçãoPNUD: Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPROFAE : Programa de Formação de Auxiliares de EnfermagemProNEA: Programa Nacional de Educação AmbientalPSF: Programa de Saúde da FamíliaRIVED : Rede Internacional Virtual de EducaçãoSAEP: Sistema de Avaliação da Educação de PernambucoSCT : Secretaria de Cultura e TurismoSBPC: Sociedade Brasileira para o Progresso da CiênciaSEBRAE : Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas EmpresasSECAD: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e DiversidadeSEFAZ: Secretaria da FazendaSENAC : Serviço Nacional do ComércioSENAI : Serviço Nacional de Aprendizagem IndustrialSEPPIR: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 133

SESC: Serviço Social do ComércioSIED: Secretaria de Estado de Educação de Mato GrossoSM : Salário MínimoSESI : Serviço Social da IndústriaSISNAMA: Sistema Nacional de Meio AmbienteSP : São PauloSUS : Sistema Único de SaúdeUFMT: Universidade Federal de Mato GrossoUIE : Instituto de Educação da UNESCOUNDIME : União Nacional dos Dirigentes MunicipaisUNEMAT: Universidade do Estado de Mato GrossoUNESCO : Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e CulturaUNEVOC : Rede do Centro Internacional para Educação Técnica e Vocacional da UNESCOUNIC: Universidade de CuiabáUNIPAZ : Universidade Internacional da Paz UNIPREV : Universidade Corporativa da Previdência SocialUNIVAG: Centro Universitário de Várzea GrandeUNHCR : Alto Comissariado das Nações Unidas para os RefugiadosUpeace : University for PeaceURI : Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesUSAID : Agência Norte-Americana de DesenvolvimentoUSP : Universidade de São PauloWWAP : World Water Assessment Programme

134

XI. ANEXOS

A n e x o I : C á t e d r a s d a U N E S C O n o B r a s i l

Brasília, DFUniversidade de BrasíliaCátedra: "Educação a Distância"GoiásUniversidade Católica de GoiásCátedra: "Ciências da Educação para a Formação de Docentes de Ensino Básico e Pesquisa Educacional"Mato GrossoUniversidade Federal de Mato GrossoCátedra: "Ciências da Educação", com ênfase em educação a distânciaMinas GeraisUniversidade Federal de Minas GeraisCátedra: "Formação de Professores por meio da Educação a Distância"ParáUniversidade Federal do ParáCátedra: "Ecologia, Desenvolvimento Ambiental e Educação"ParanáUniversidade Federal do ParanáCátedra: "UNESCO-AUGM de Cultura de Paz"Cátedra: "Desenvolvimento Sustentável"Rio de JaneiroUniversidade Castelo BrancoCátedra: "Educação a Distância"ORDECC Colégio do BrasilCátedra: "Cidade e Meio Ambiente"Cátedra e Rede: UNESCO/UNU em "Economia Global e Desenvolvimento Sustentável"Universidade Federal do Rio de JaneiroCátedra: "Desenvolvimento Sustentável"Cátedra: "A Biologia da Forma e do Desenvolvimento"

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 135

Rio Grande do SulUniversidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)Cátedra: "Trabalho e Sociedade Solidária"Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)Cátedra: "Ciência e Tecnologia de Alimentos"Santa CatarinaUniversidade Federal de Santa CatarinaCátedra: "Engenharia Química"São PauloUniversidade de São PauloCátedra: "Educação para Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância"Universidade Metodista de São PauloCátedra: "Comunicação para o Desenvolvimento Regional"Instituto Ayrton SennaCátedra: "Instituto Ayrton Senna-UNESCO de Educação e Desenvolvimento Humano"

A N E X O I I : G r u p o d e P a r l a m e n t a r e s A m i g o s d a U N E S C OPresidente: Senador Aloizio Mercadante

Deputados:Chico Alencar – PT/RJClaudio Vignatti – PT/SC Corauci Sobrinho – PFL/SPDenise Frossard – Sem Partido/RJFernando Gabeira – Sem partido/RJGastão Viera – PMDB/MAIara Bernardi – PT/SPJosé Sarney Filho – PV/MALéo Alcantara – PSDB/CELuiz Alberto Silva dos Santos-PT/BA Maninha – PT/DFMaria do Rosário – PT/RSMiguel Arraes – PSB/PEPaulo Pimenta – PT/RSRaquel Teixeira – PSDB/GOReginaldo Lopes – PT/MGRonaldo Vasconcelos – PTB/MGWalter Feldman – PSDB/SP

136

Senadores:Ana Júlia Carepa – PT/PAEduardo Suplicy – PT/SPIdeli Salvatti – PT/SCJoão Capiberibi – PSB/APJosé Jorge – PFL/PELúcia Vânia – PSDB/GOOsmar Dias – PDT/PRPatricia Gomes – PPS/CEPaulo Paim – PT/RSPedro Simon – PMDB/RSRamez Tebet – PMDB/MSRomero Jucá – PMDB/RRSergio Zambiasi – PTB/RSSerys Slhessarenko – PT/MT

NOME

Afonso Faria

Alvaro Coelho da Fonseca

Ana Maria Diniz

Antonio José Matias de Souza

Arthur Briquet

Ben Sangari

Bia Aydar

Carlos Gerdau Johannpeter

Chieko Aoki

Cristiane Mocellin

Daniel Chalfon

Davide Marcovitch

Edgar da Silva Ramos

Edson de Godoy Bueno

Eduardo Sirotsky Melzer

Eliana Tranchesi

Eugênio Staub

Eugênio Staub Fº

Evelyn Ioschpe

Flavio Nara

Guilherme Gerdau Johannpeter

Ivoncy Ioschpe

João Augusto Valente

João Cariello de Moraes Fº

João de Orleans e Bragança, Dom

João Paulo Diniz

José Olympio da Veiga Pereira

José Roberto Marinho

José Zetune

Luca Pascolato

Luciano Huck

Luis Erlanger

Luiz Fernando Vieira

Marcos Arbaitman

Mario Chady

Milú Villela

Nizan Guanaes

Oskar Metsavaht

Paulo Queiroz

Paulo Zottolo

Renato Malcon

Ricardo Kowarick

Roger Wright

Stella de Orleans e Bragança

Tomas Zinner

Viviane Senna

EMPRESA / CARGO

Folha Dirigida

Coelho da Fonseca

Axialent

Auto Posto Gasol

Artell Editora

Instituto Sangari do Brasil

MPM Propaganda

Dommus Populi

Blue Tree Hotels

Fortura Coretora

MPM Propaganda

Moet Hennessy

Ágora Sênior Cooretora

Amil Assitência Médica

Grupo RBS

Daslu

Gradiente

Gradiente

Fundação Ioschpe

Grupo YPY

Gerdau

IEDI

Grupo YPY

Fundação Bradesco

Selvamar Imobiliária

Componente

Banco de Investimento

Crédit Suisse First Boston

Fundação Roberto Marinho

ADVB

Santa Constância Tecelagem

Luck Editora

Central Globo de Comunicação

Africa Propaganda

Maringa Turismo

Spoleto Restaurantes

Instituto Faça Parte

Africa Propaganda

Osklen

DM9DDB

BDF Nivea

Malcon Financeira

Carta Editorial

Bassini Playfair Wright

Architectonica Projetos

de Arquitetura e Decoração

Instituto Unibanco

Instituto Ayrton Senna

CARGO

Diretor de Relações Institucionais

Diretor Executivo

Presidente

Sócio Diretor

Presidente

Presidente

Presidente

Presidente

Presidente

Diretora Presidente

Diretor de Mídia

Presidente

Presidente

Presidente

Diretor Geral de Mercado Nacional

Presidente

Presidente

Gerente Geral Multimídia

Diretora Presidente

Diretor

Diretor Executivo

Presidente

Presidente

Diretor

Diretor Presidente

Presidente

Diretor

Presidente

Presidente

Diretor

Apresentador

Diretor

Sócio Diretor de Mídia

Presidente

Presidente

Diretor

Presidente

Presidente

Vice Presidente de Mídia

Presidente

Diretor Presidente

Diretor Corporativo

X Executive Office

Presidente

Presidente do Conselho

Presidente

FUNÇÃO

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Conselho

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Conselho

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

Conselho

Conselho

Direção Executiva

Direção Executiva

Direção Executiva

U N E S C O N O B R A S I L : c o n s o l i d a n d o c o m p r o m i s s o s 137

G r u p o d e E m p r e e n d e d o r e s A m i g o s d a U N E S C O

A n e x o I I I : E m b a i x a d o r e s e A r t i s t a s p e l a P a z

Embaixadores da Boa VontadeÉdson Arantes do Nascimento - PeléLily MarinhoMilú Villela

Artistas pela PazFernanda MontenegroGilberto Gil

Desportista pela PazAntônio Carlos de Oliveira

138

Conselho Editorial da UNESCO no BrasilJorge WertheinCecilia BraslavskyJuan Carlos TedescoAdama OuaneCélio da Cunha

Concepção e CoordenaçãoCélio da CunhaRenato Bérgamos MarianiTelma Teixeira da Silva

TextosDivonzir GussoCandido Alberto da Costa GomesRenato Bérgamos MarianiCoordenações Setoriais e Regionais

Revisão Reinaldo Lima

Assistente EditorialLarissa Vieira Leite

Apoio TécnicoRachel Gontijo de Araújo

Projeto GráficoEdson Fogaça

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