a trajetÓria do setor mineral no municÍpio de...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL HELDER CORDEIRO LIMA A TRAJETÓRIA DO SETOR MINERAL NO MUNICÍPIO DE PEDRA LAVRADA PB: UMA ANÁLISE DAS AÇÕES PÚBLICAS PARA PENSAR O DESENVOLVIMENTO CAMPINA GRANDE PB 2013

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    HELDER CORDEIRO LIMA

    A TRAJETRIA DO SETOR MINERAL NO MUNICPIO DE

    PEDRA LAVRADA PB: UMA ANLISE DAS AES

    PBLICAS PARA PENSAR O DESENVOLVIMENTO

    CAMPINA GRANDE PB

    2013

  • 1

    HELDER CORDEIRO LIMA

    A TRAJETRIA DO SETOR MINERAL NO MUNICPIO DE

    PEDRA LAVRADA PB: UMA ANLISE DAS AES

    PBLICAS PARA PENSAR O DESENVOLVIMENTO

    Dissertao de mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em

    Desenvolvimento Regional da Universidade

    Estadual da Paraba (PPGDR/UEPB) como

    requisito para obteno do ttulo de Mestre em

    Desenvolvimento Regional.

    Orientadora: Dr. Ramonildes Alves Gomes

    CAMPINA GRANDE PB

    2013

  • 2

    expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa

    como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins

    acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo,

    instituio e ano da dissertao

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

    L732t Lima, Helder Cordeiro.

    A trajetria do setor mineral no municpio de Pedra Lavrada

    PB [manuscrito] : uma anlise das aes pblicas para pensar o desenvolvimento / Helder Cordeiro Lima. 2013.

    127 f.: il. color.

    Digitado.

    Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento Regional).

    Universidade Estadual da Paraba, Pr Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa, 2013.

    Orientao: Prof. Dr. Ramonildes Alves Gomes, Mestrado

    em Desenvolvimento Regional.

    1. Minerao. 2. Desenvolvimento local. 3. Polticas

    pblicas. 4. Economia regional. I. Ttulo.

    21. ed. CDD 338.981

  • 3

  • 4

    DEDICATRIA

    Aos meus amados pais, Edson Oliveira Lima (Dlson) e Neudja

    de Lourdes Cordeiro Rodrigues Lima (C).

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Ao concluir o Mestrado em Desenvolvimento Regional (MDR), desejo agradecer aos

    que, de forma direta ou indireta, contriburam para a realizao desta conquista. Se, por algum

    equvoco, esquecer de citar algum, desculpe-me, mas mesmo no expressos, todos esto

    gratificados em minha conscincia.

    Agradeo primeiramente a Deus que, na sua bondade infinita, possibilitou-me o

    ingresso no MDR e a sapincia que me permitiu conclu-lo.

    Aos meus ilustres e amados pais, Edson Oliveira Lima (Dlson) e Neudja de Lourdes

    Cordeiro Rodrigues Lima (C), palavras so insuficientes para descrever o quanto

    representam para a minha formao pessoal e acadmica. Obrigado, pais queridos, pela

    confiana depositada no meu esforo, pelo incentivo nos momentos rduos da caminha e por

    sempre acreditarem no meu potencial. A minha vitria tambm de vocs.

    A minha bela e amada namorada Ailma Medeiros, muito obrigado pela compreenso,

    companheirismo, carinho, ateno e por fazer parte de minha vida. Amo-te de corao!

    Aos meus familiares av e avs, tios e tias, primos e primas, padrinho e madrinha, por

    terem apoiado e acreditado, junto comigo, nesse sonho.

    Agradeo em especial a minha orientadora Dr. Ramonildes Alves Gomes que, com

    sua contribuio intelectual e generosidade, auxiliou-me na concluso deste mestrado.

    Professora, ter a Senhora como orientadora foi e sempre ser uma honra. Muitssimo obrigado

    por tudo!

    A todos os professores do MDR, por terem compartilhado comigo os seus

    conhecimentos e experincias acadmicas.

    Aos Professores Dr. Lemuel Guerra e Dr. Roseli Corteletti, que com suas valiosas

    sugestes e anlises durante o exame de qualificao possibilitaram excelentes reflexes

    acerca do objeto de estudo desta pesquisa.

    Ao coordenador do Mestrado Professor Cidoval Moraes, por seu empenho e dedicao

    frente do MDR.

    A todos os meus colegas do mestrado, especialmente Zlio Sales, por sua significativa

    contribuio e incentivo para que eu pudesse cursar o MDR.

    Aos funcionrios da Universidade Estadual da Paraba (UEPB), especialmente aos que

    esto vinculados ao MDR, por sua colaborao no progresso deste mestrado.

  • 6

    E, por fim, aos meus irmos Francisco e Ftima (in memria), que infelizmente no

    esto ao meu lado aqui na terra, mas, como anjos no Cu, sei que olham e me protegem de

    tudo que for mal.

  • 7

    RESUMO

    A minerao no municpio de Pedra Lavrada, localizada no estado da Paraba, apresenta um

    complexo mineralgico favorvel a sua explorao. Essa a atividade econmica que mais

    gera renda e emprego no municpio. Entretanto, esse panorama positivo no traduz a realidade

    da atividade mineral local, pois verificamos problemas socioeconmicos e ambientais. Diante

    dessa realidade, o poder pblico (Estadual e Federal) tem planejado aes visando promover o

    desenvolvimento do setor. Nesse sentido, a pesquisa que fundamenta as reflexes

    apresentadas neste trabalho procurou perceber em que medida as aes

    estruturadas/orientadas esto promovendo desenvolvimento para o municpio; e em que

    medida esse desenvolvimento tem sido includente e sustentvel, ou se tem produzido apenas o

    crescimento econmico. Para tanto, tomamos como ponto de partida trs hipteses: (1) de que

    a dimenso social, por meio de indicadores como populao, emprego/renda, educao, sade

    e o prprio IDHM no tem sido impactado positivamente, apesar das aes pblicas voltadas

    para o setor mineral; (2) de que o CFEM um instrumento tributrio importante para

    impulsionar o desenvolvimento de um municpio de base mineral, entretanto, os valores

    arrecadados no municpio de Pedra Lavrada no condizem com o potencial mineralgico do

    setor; e (3) de que apesar dos indcios de degradao no ecossistema local, a atividade mineral

    no o principal problema do cenrio ambiental. Para a realizao desse estudo adotamos

    uma metodologia quanti-qualitativa, analisando dados oriundos de fontes bibliogrficas e

    documentais, bem como de entrevistas semiestruturadas, realizadas com agentes dos rgos

    pblicos, questionrios com membros de empresas mineradoras locais e, por fim, conversas

    informais com os garimpeiros de diferentes lavras. Constatamos que no municpio de Pedra

    Lavrada, apesar do esforo em planejar aes de incentivo ao setor mineral como atividade

    propulsora do desenvolvimento, este ainda um projeto em curso, quando analisado luz dos

    indicadores sociais, econmicos e ambientais deste municpio.

    PALAVRAS- CHAVE: Minerao. Polticas Pblicas. Desenvolvimento. Pedra Lavrada.

  • 8

    A B S T R A C T

    The Mining in Pedra Lavrada town, located in the state of Paraba, presents a mineralogical

    complex favorable to its exploration. This is the economic activity that generates more

    income and jobs in the district. However, this positive outlook does not reflect the reality of

    local mining activity site, for we have spotted socioeconomic and environmental problems.

    Given this reality, the government (State and Federal) have planned some actions aiming to

    promote the development of the sector. In this sense, the research that underlies the reflections

    presented in this paper sought to understand what extent the structured / guided actions are

    promoting development for the town, and to what extent this development has been inclusive

    and sustainable, or has only produced economic growth. Therefore, we take three hypothesis

    as a starting point: (1) that the social dimension, through indicators such as population,

    employment / income, education, health and even IDHM has not been positively impacted,

    despite public initiatives in the mineral sector; (2) that the CFEM is a tributary instrument to

    boost the development of a mineral based town, however, the amounts collected in Pedra

    Lavrada Town do not match the mineralogical potential of the sector; and (3) that despite

    evidence of degradation in the local ecosystem, the mining activity is not the main problem of

    the environmental scenery. To conduct this study we adopted a quantitative/ qualitative

    methodology, analyzing data from literature and documentary sources, as well as semi-

    structured interviews with agents of public organizations, questionnaires with members of

    local mining companies and, finally, informal conversations with the miners of different sites.

    We note that in Pedra Lavrada, despite the effort to plan actions to encourage the mining

    sector as a driver of development activity, this is still an ongoing project, when measured by

    indicators of social, economic and environmental impacts of this municipality.

    KEYWORDS: Mining. Public Policy. Development. Pedra Lavrada.

  • 9

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Localizao da Provncia Pegmattica da Borborema-

    Serid........................................................................................................

    33

    Figura 2 - Esboo generalizado dos pegmatitos da Borborema-Serid, zonas I a

    IV..............................................................................................................

    36

    Figura 3 - Procedimentos de lavra nos pegmatitos do municpio de Pedra Lavrada

    - PB..................................................................................................

    42

    Figura 4 - Processo de lavra, beneficiamento e comercializao da mica no

    municpio de Pedra Lavrada PB 2012................................................

    44

    Figura 5 - As externalidades negativas da titularidade mineral aos garimpeiros do

    municpio de Pedra Lavrada PB 2012................................................

    48

    Figura 6 - Setor mineral no municpio de Pedra Lavrada: relao EMPRESAS x

    GARIMPEIROS 2012...........................................................................

    52

    Figura 7 - Localizao e esboo geolgico do Arranjo Produtivo Local

    RN/PB.......................................................................................................

    64

    Figura 8 - Instituies de apoio ao PRODEMIN...................................................... 66

    Figura 9 - Localizao do APL de Pegmatitos e Quartzito da Paraba..................... 68

    Figura 10 - Alteraes ambientais negativas decorrentes da atividade mineral no

    municpio de Pedra Lavrada PB............................................................

    106

    Figura 11 - Lavra mecanizada da rocha calcrio......................................................... 107

    Figura 12 - Mecanizao da lavra da rocha calcrio................................................... 107

    Figura 13 - Beneficiamento do rejeito do mineral mica............................................. 108

    Figura 14 - O processo de lavra de quartzo no garimpo Alto Feio......................... 108

    Figura 15 - Propagao de partculas no ar................................................................. 109

    Figura 16 - Vegetao embranquecida ....................................................................... 109

    Figura 17 - Garimpeiros do Alto do Feio trabalhando na extrao do

    quartzo......................................................................................................

    110

  • 10

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Produo mineral de tantalita-columbita e berilo na Borborema-

    Serid 1938/1944..............................................................................

    29

    Quadro 2 - Produo ps-guerra de tantalita-columbita e berilo na Borborema-

    Serid 1951/1962..............................................................................

    30

    Quadro 3 - Evoluo da produo dos minerais da Borborema-Serid

    1973/1989............................................................................................

    32

    Quadro 4 - Pegmatitos/altos do municpio de Pedra Lavrada PB....................... 35

    Quadro 5 - Minerais catalogados nos pegmatitos da Borborema-Serid............... 35/36

    Quadro 6 - Substncias minerais e suas respectivas ocorrncias na Borborema-

    Serid 2002.......................................................................................

    37

    Quadro 7 - Levantamento das mineradoras no municpio de Pedra Lavrada - PB

    1997/2012.........................................................................................

    38

    Quadro 8 - Produo mineral no municpio de Pedra Lavrada PB

    2012....................................................................................................

    39

    Quadro 9 - Segmentos industriais dos minerais do municpio de Pedra Lavrada

    - PB - 2012...........................................................................................

    41

    Quadro 10 - Comercializao dos minerais no municpio de Pedra Lavrada - PB

    2012..................................................................................................

    43

    Quadro 11 - Check List dos impactos ambientais negativos................................... 53/54

    Quadro 12 - Modelos de anlises no processo Poltico-Administrativo.................. 57

    Quadro 13 - Recursos financeiros do Projeto Desenvolvimento em Rede do APL

    Pegmatitos RN/PB...............................................................................

    63

    Quadro 14 - PRODEMIN: metas alcanadas (2011) x metas esperadas

    (2012)...................................................................................................

    69

    Quadro 15 - Os municpios de Pedra Lavrada, Livramento, Barra de Santana e

    Desterro e suas dinmicas de localizao, populao, pluviosidade e

    economia..............................................................................................

    95

  • 11

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Arrecadao da CFEM no municpio de Pedra Lavrada - PB

    2010/2012............................................................................................

    40

    Grfico 2 - Evoluo da arrecadao da CFEM por substncias minerais no

    municpio de Pedra Lavrada - PB - 2004/2012.....................................

    40

    Grfico 3 - Prospeco dos ttulos minerrios no municpio de Pedra Lavrada

    PB 1980/2012................................................................................

    45

    Grfico 4 - Fase dos regimes no municpio de Pedra Lavrada PB

    2012.....................................................................................................

    47

    Grfico 5 - Requerentes aos ttulos minerrios no municpio de Pedra Lavrada

    PB 2012.............................................................................................

    49

    Grfico 6 - DNPM (Ttulos Minerrios) x PMPL (Alvar de Funcionamento)

    2012......................................................................................................

    50

    Grfico 7 - Recursos minerais requeridos no municpio de Pedra Lavrada PB

    2012...................................................................................................

    51

    Grfico 8 - Modelo Incremental com nfase nas aes pblicas de

    desenvolvimento do setor mineral do municpio de Pedra Lavrada

    PB 1939/2013....................................................................................

    58

    Grfico 9 - Evoluo demogrfica da populao no municpio de Pedra Lavrada

    PB - 1996/2012..................................................................................

    76

    Grfico 10 - Preferncia dos garimpeiros entre AGRICULTURA x

    MINERAO 2008..........................................................................

    78

    Grfico 11 - Posio da mo de obra ocupada no municpio de Pedra Lavrada

    PB - 2010.....................................................................................

    80

    Grfico 12 - Evoluo da gerao de emprego do setor industrial do municpio de

    Pedra Lavrada PB 2016/2011.........................................................

    81

    Grfico 13 - Evoluo do salrio mdio mensal dos funcionrios (empresas) no

    municpio de Pedra Lavrada PB 2007/2011...................................

    81

    Grfico 14 - Evoluo das unidades de ensino no municpio de Pedra Lavrada

    PB - 2005/2012.....................................................................................

    84

    Grfico 15 - Evoluo das matrculas nas unidades pblicas de ensino no

    municpio de Pedra Lavrada - PB - 2005/2012....................................

    84

  • 12

    Grfico 16 - Evoluo do IDEB nas unidades de ensino pblico do municpio de

    Pedra Lavrada PB 2005/2011.........................................................

    85

    Grfico 17 - Populao residente e seus ndices de frequncia nas escolas do

    municpio de Pedra Lavrada PB 2010............................................

    86

    Grfico 18 - Nvel de instruo da populao do municpio de Pedra Lavrada

    PB 2010.............................................................................................

    87

    Grfico 19 - Evoluo dos estabelecimentos e leitos de sade do municpio de

    Pedra Lavrada PB 2005/2013.........................................................

    89

    Grfico 20 - Evoluo dos equipamentos disponveis nos estabelecimento de

    sade do municpio de Pedra Lavrada PB

    2005/2013..............................................................................................

    90

    Grfico 21 - Internaes vinculadas atividade mineral nas unidades de sade do

    municpio de Pedra Lavrada PB 2000/2012...................................

    91

    Grfico 22 - Municpio de Pedra Lavrada PB: IDHM e suas variveis 1991

    2000 2010..........................................................................................

    93

    Grfico 23 - Evoluo do PIB no municpio de Pedra Lavrada PB

    2000/2010.............................................................................................

    96

    Grfico 24 - Os setores econmicos e sua relevncia no PIB de Pedra Lavrada

    PB 2010.............................................................................................

    97

    Grfico 25 - O setor de servios e sua dinmica no municpio de Pedra Lavrada

    PB 2006/2012....................................................................................

    98

    Grfico 26 - Evoluo das emisses de Alvars para empresas localizadas no

    municpio de Pedra Lavrada PB 2006/2012...................................

    99

    Grfico 27 - Evoluo da arrecadao do PIB nos municpios de Pedra

    Lavrada/PB, Livramento/PB, Barra de Santana/PB e Desterro/PB

    2005/2010..............................................................................................

    100

    Grfico 28 - Evoluo da arrecadao de ICMS no municpio de Pedra Lavrada

    PB 2007/2012.....................................................................................

    101

    Grfico 29 - Evoluo da arrecadao de ICMS nos municpios de Pedra

    Lavrada/PB, Livramento/PB, Barra de Santana/PB e Desterro/PB

    2008/2012..............................................................................................

    102

    Grfico 30 - Evoluo da arrecadao de CFEM no municpio de Pedra Lavrada

    PB 2006/2012.....................................................................................

    103

    Grfico 31 -

    Evoluo da arrecadao do CFEM nos municpios de Pedra

    Lavrada/PB, Livramento/PB, Barra de Santana/PB e Desterro/PB

    2006/2012.............................................................................................

    104

  • 13

    LISTA DE SIGLAS

    AESA Agncia Executiva de Gesto das guas do Estado da Paraba

    APL - Arranjo Produtivo Local

    BUN - Bentonit Unio do Nordeste

    CDRM Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraba

    CETEM Centro de Tecnologia Mineral

    CFEM - Compensao Financeira pela Explorao Mineral

    COOMPEL - Cooperativados Mineradores de Pedra Lavrada PB

    CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

    DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral

    E.U.A Estados Unidos da Amrica

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    FIP - Faculdade Integrada de Patos

    FUNPEC Fundao Norte Rio Grandense de Pesquisa e Cultura

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Prestao de Servios

    IDEB - ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    IDEMA/RN Instituto de Defesa do Meio Ambiente

    IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    IFPB - Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Paraba

    INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    INSS Ministrio da Previdncia Social

    MCTI - Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao

    MDICE - Ministrio do Desenvolvimento da Indstria e Comrcio Exterior

    MIN Ministrio da Integrao Nacional

    MME Ministrio de Minas e Energia

    PDP - Plano de Desenvolvimento Preliminar

    PIB Produto Interno Bruto

    PMPL Prefeitura Municipal de Pedra Lavrada

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

  • 14

    PPA Plano Plurianual de Investimento

    PRODEMIN - Programa de Desenvolvimento Sustentvel dos Recursos Minerais e

    Hidrogeolgicos da Paraba

    SEBRAE - Agncia de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresrio

    SEDEC/RN Secretaria de Desenvolvimento Econmico do Rio Grande do Norte

    SETDE - Secretaria de Estado do Turismo e Desenvolvimento Econmico

    SUDEMA Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente

    SUDENE Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste

    UEPB - Universidade Estadual da Paraba

    UFCG - Universidade Federal da Paraba

    UFPB - Universidade Federal da Paraba

    UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

  • 15

    SUMRIO

    INTRODUO 17

    CAPTULO I

    A MINERAO NO MUNICPIO DE PEDRA LAVRADA PB............................ 26

    1.1 CICLOS HISTRICOS..................................................................................... 26

    1.2 QUADRO GEOLGICO.................................................................................. 33

    1.3 POTENCIAL SOCIOECONMICO................................................................ 37

    1.4 PROCESSO DE LAVRA, BENEFICIAMENTO E

    COMERCIALIZAO.....................................................................................

    41

    1.5 TITULARIDADE MINERRIA...................................................................... 45

    1.6 RELAES TRABALHISTAS........................................................................ 51

    1.7 DEGRADAO AMBIENTAL....................................................................... 53

    CAPTULO II

    AS AES PLANEJADAS PARA IMPULSIONAR O SETOR MINERAL NO

    MUNICPIO DE PEDRA LAVRADA PB 1939/2013............................................

    55

    2.1 DEFINIES.................................................................................................... 56

    2.2 A TRAJETRIA DAS AES PBLICAS: A VISO

    INSTITUCIONAL.............................................................................................

    58

    2.2.1 Acordo Bilateral Brasil Estados Unidos da Amrica

    1939/1945.........................................................................................................

    58

    2.2.2 Projeto Estudo dos Garimpos Brasileiros RN/PB

    1980/1984..........................................................................................................

    60

    2.2.3 Projeto Estudos dos Pegmatitos do Nordeste Oriental

    1990/1992..........................................................................................................

    61

    2.2.4 Projeto Desenvolvimento em Rede do APLs Pegmatitos RN/PB

    2003/2009..........................................................................................................

    62

    2.2.4.1 O Arranjo Produtivo Local RN/PB............................................................ 64

    2.2.5 Programa de Desenvolvimento Sustentvel dos Recursos Minerais e

    Hidrogeolgicos da Paraba (PRODEMIN).................................................

    65

    2.2.5.1 Arranjo Produtivo Local de Pegmatitos e Quartzito da Paraba.................... 67

  • 16

    CAPTULO III

    DE QUAL DESENVOLVIMENTO ESTAMOS FALANDO? UM OLHAR

    SOBRE O MUNICPIO DE PEDRA LAVRADA - PB...............................................

    71

    3.1 DIMENSO SOCIAL......................................................................................... 75

    3.1.1 Populao............................................................................................................ 76

    3.1.2 Emprego/Renda.................................................................................................. 79

    3.1.3 Educao............................................................................................................. 83

    3.1.4 Sade................................................................................................................... 89

    3.1.5 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)............................... 93

    3.2 DIMENSO ECONMICA............................................................................... 94

    3.2.1 Produto Interno Bruto (PIB)............................................................................. 96

    3.2.2 Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Prestao de Servios

    (ICMS).................................................................................................................

    101

    3.2.3 Compensao Financeira pela Explorao Mineral (CFEM)........................ 102

    3.3 DIMENSO AMBIENTAL................................................................................ 104

    3.3.1 Impactos Ambientais Negativos........................................................................ 105

    CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................... 112

    REFERNCIAS............................................................................................................... 117

    APNDICES.................................................................................................................... 127

  • 17

    Introduo

    A minerao considerada uma das atividades econmicas mais antigas dentre os

    modos de produzir riquezas desenvolvidas pela humanidade. A primeira atividade de extrao

    mineral de que os historiadores tm conhecimento, data provavelmente de 300 000 a.C., e

    resulta da obteno do slex e do cherte para a fabricao de utenslios e armas de pedra pelas

    civilizaes pr-histricas. Com o passar dos sculos, os recursos minerais foram adquirindo

    mais funcionalidades, tornando-se essenciais para os setores da indstria de base, de bens

    intermedirios e de bens de consumo.

    No municpio de Pedra Lavrada PB, a configurao da minerao est

    intrinsecamente associada Provncia Pegmattica da Borborema - Serid. Dessa forma, as

    primeiras atividades de explorao dos pegmatitos da Provncia data do incio da Primeira

    Guerra Mundial (1914-1918). Entretanto, sua ascenso ocorreu mais expressamente durante a

    Segunda Guerra Mundial (19411945), por meio de incentivos resultantes da cooperao do

    governo brasileiro com o governo norte-americano. Na ocasio, foi incentivada a produo de

    minerais de berlio, de ltio e de tntalo. Com o fim do conflito mundial, houve um declnio

    acentuado da produo. Na dcada de 1980, a minerao ressurgiu com a demanda por

    minerais no-metlicos e/ou indstrias (feldspato, quartzo, calcrio e caulim), persistindo com

    essas caractersticas at os dias atuais.

    Geologicamente, o municpio Pedra Lavrada integra um dos arcabouos mineralgico

    mais diversificado e importante do Brasil, a Provncia Pegmattica da BorboremaSerid, que

    se destaca pelas inmeras ocorrncias de rochas ornamentais, minerais metlicos, minerais

    no-metlicos e/ou industriais e gemas. Em relao produo mineral na regio do Serid,

    atualmente h pelo menos um conjunto de 621 (seiscentos e vinte e uma) ocorrncias minerais

    cadastradas na rea de estudo (DNPM, 2002). Dentre esses minerais, destacam-se os no-

    metlicos e/ou industriais (os feldspatos, os quartzos, as micas, as argilas, e os calcrios), os

    quais so componentes bsicos nas indstrias de cermica, vidro, tintas, esmalte, porcelanas,

    eltrica, eletrnica, isolantes trmicos, eletrodos, borracha, plsticos, cosmticos, entre outros.

    Em termos econmicos, a atividade mineral na atual dcada (2010) proporciona ao

    municpio a 4 posio do Estado da Paraba em arrecadao da Compensao Financeira pela

    Explorao Mineral (CFEM), ficando atrs apenas dos municpios de Mataraca - PB, Caapor

  • 18

    - PB e Joo Pessoa - PB. No quesito gerao de emprego e renda, estima-se que entre 40% e

    50% da populao local esteja vinculada de forma direta e/ou indireta na minerao,

    envolvendo: lavra, beneficiamento e comercializao. (ASSIS, et al. 2011).

    Contudo, esse panorama aparentemente positivo no traduz a realidade

    socioeconmica e ambiental coerente com indicadores preconizados no que comumente

    idealizamos como desenvolvimento, verificam-se diversas externalidades negativas, a

    exemplo da informalidade da mo de obra. De acordo com o Plano de Desenvolvimento

    Preliminar (2009), aproximadamente 95% dos trabalhadores (garimpeiros) da regio do

    Serid no possuem vnculo formal de trabalho na fase de lavra. Esse cenrio acarreta, dentre

    outros problemas, o no cumprimento dos direitos trabalhistas (carteira de trabalho assinada,

    seguro desemprego, vida ou sade, direito as frias, entre outros), os baixos salrios, as

    condies precrias de trabalho, os riscos permanentes de acidentes, levando, em alguns casos

    morte. Segundo dados da Secretaria de Sade do Estado da Paraba, no municpio de Pedra

    Lavrada j foram registrados 5 (cinco) casos de mortes em decorrncia da silicose no perodo

    de 2000 a 2012.

    No aspecto tecnolgico, a atividade de extrao ainda realizada de forma bastante

    rudimentar, com pouca mecanizao, sendo realizado por pequenas unidades informais de

    produo. No processo de lavra, os garimpeiros geralmente so organizados em equipes de at

    cinco ou trs componentes por frente de trabalho (banqueta). Os equipamentos de trabalho

    so: tradicionais (p, picareta, ponteiro de ao, carros de mo e marreta) e mecanizados

    (guinchos, compressores, moto-bombas e geradores). Os trabalhadores, em sua grande

    maioria, so treinados pelos mais experientes.

    Outro aspecto que chama a ateno a concentrao da titularidade minerria. Dados

    provenientes do Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM) revelam que a partir

    da dcada de 1980 ocorreu uma busca vertiginosa por parte das empresas e/ou pessoas fsicas

    ligadas ao setor mineral pela regulamentao de reas providas de potencial mineralgico.

    Elucidando, o municpio de Pedra Lavrada possui 352 Km (IBGE, 2012), deste total estima-

    se que 160 km estejam registrados junto ao DNPM (2012), estando mais de 40 % da rea

    territorial atribuda por Lei a determinados grupos empresariais e/ou pessoas fsicas. Segundo

    Andrade (1987), as empresas e/ou pessoas fsicas dominam e dividem entre si a rea

    geogrfica, controlando a explorao de minrio e influenciando na definio das polticas

    pblicas para o territrio, observando-se inclusive o poder que os grupos empresariais que

    atuam na regio tm de impedir a entrada de novas empresas mineradoras no mercado local.

  • 19

    Alm dos problemas socioeconmicos que envolvem esse setor, o Projeto

    Desenvolvimento da Pequena Minerao do Serid Paraibano no mbito do APL -

    Pegmatitos e Quartzitos (2010) revela que a explorao mineral na regio do Serid,

    especificamente, em Pedra Lavrada, um dos grandes responsveis pelos problemas

    ambientais da regio, tais como: alterao do ecossistema; alterao da qualidade do solo;

    alterao da qualidade das guas superfcies; susceptibilidade do terreno a eroso e

    assoreamento; aumento da taxa de evaporao; perturbao a fauna terrestre; emisso de

    poeiras fugitivas e gases; poluio sonora; transporte de sedimentos; perda das caractersticas

    do solo frtil; degradao da morfologia; eroso; assoreamento; alagamento; instabilidade;

    entre outros.

    Conhecedor desse panorama, o Governo Federal, juntamente com o Governo do

    Estado da Paraba - PB, ao longo das dcadas vm apoiando e propondo aes com vistas a

    mitigar essas externalidades (informalidade da mo de obra, titularidade mineral, degradao

    ambiental etc.) e ao mesmo tempo desenvolver o potencial da atividade mineral do municpio.

    Tomando como base o cenrio acima descrito, questionamos: como evoluem as aes

    pblicas estruturadas/orientadas no incentivo ao desenvolvimento do setor mineral de Pedra

    Lavrada? Ser que o modelo de desenvolvimento trazido a reboque na minerao assume de

    fato uma feio includente e sustentvel? Ou, contrariamente, as mudanas em curso

    assumem contornos de atraso econmico, empobrecimento social e depleo dos recursos

    naturais?

    Nosso estudo orienta-se por trs hipteses: (1) de que a dimenso social, por meio de

    indicadores como populao, emprego/renda, educao, sade e o prprio ndice de

    Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) no tem sido impactado positivamente, apesar

    das aes pblicas voltadas para o setor mineral; (2) de que o CFEM um instrumento

    tributrio importante para impulsionar o desenvolvimento de um municpio de base mineral,

    entretanto, os valores arrecadados no municpio de Pedra Lavrada no condizem com o

    potencial mineralgico do setor; e (3) de que apesar dos indcios de degradao ao

    ecossistema local, a atividade mineral no o principal problema do cenrio ambiental.

    De maneira geral, objetivamos com essa pesquisa analisar a dinmica da atividade

    mineral no municpio de Pedra Lavrada PB, com o intuito de percebermos em que medida

    as aes estruturadas/orientadas esto promovendo desenvolvimento, em que medida esse

    desenvolvimento tem sido includente e sustentvel e como a atividade mineradora tem

    reforado uma lgica de crescimento econmico, concentrao de riquezas e poder, deixando

    as populaes locais cada vez mais dependentes e alijadas de alguma forma de dignidade.

  • 20

    Ademais, com outros objetivos subjacentes ao principal pretendemos: (a) identificar

    quais foram s aes pblicas voltadas para o incentivo da atividade mineradora no municpio

    de Pedra Lavrada; (b) verificar os avanos promovidos pelas aes pblicas na perspectiva

    dos diferentes interlocutores (garimpeiros, empresrios, agentes e gestores pblicos); (c)

    descrever a partir de variveis a relevncia da atividade mineral para o desenvolvimento das

    dimenses: social, econmico e ambiental do municpio de Pedra Lavrada

    A fim de problematizar as questes e os objetivos de pesquisa, nos apoiamos na

    discusso sobre poltica pblica a partir das concepes de: DYE (2010), MULLER E

    SUREL (2004), FREY (2000); e SOUSA (2006). E, tambm, no conceito de

    desenvolvimento com base nos autores: ELIAS (2006); VEIGA (2008); SEN (2000);

    GOMES (2002); FURTADO (1974); ENRQUEZ (2010) e SACHS (2004/2007/2008). A

    partir desses autores consideramos que a poltica pblica configura-se como uma dimenso

    importante para compreender a relao entre diferentes atores, com interesses conflitantes e

    em disputa, mas que implementam aes e empunham bandeiras, as quais, nesse caso,

    afirmam que a atividade mineradora uma alternativa para impulsionar o desenvolvimento

    do municpio de Pedra Lavrada PB.

    Percurso metodolgico da pesquisa

    O percurso dessa dissertao tem incio com a minha entrada no Mestrado em

    Desenvolvimento Regional na Universidade Estadual da Paraba (UEPB), sob a orientao da

    professora Dr. Ramonildes Alves Gomes, no perodo de 2011 a 2013, que acatou nossa

    inquietao de estudar a trajetria das aes pblicas de desenvolvimento da atividade

    mineral no municpio de Pedra Lavrada PB.

    O municpio de Pedra Lavrada PB, com 352 km e com 7.475 habitantes,

    compreende a rea de estudo da pesquisa, o lcus. Este municpio encontra-se localizado na

    mesorregio da Borborema e microrregio do Serid paraibano. Geologicamente, est

    inserida na Provncia Pegmattica da Borborema-Serid, de grande diversidade mineralgica.

    A economia local est intrinsecamente associada extrao de minerais da provncia

    Borborema-Serid, grande parte da populao sobrevive dessa atividade que teve incio com

    advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) permanecendo at os dias atuais.

    Sendo natural do municpio, filho de garimpeiro e desde criana, acompanhando os

    sucessivos ciclos da atividade mineral, me conduziram a refletir melhor sobre os diferentes

    aspectos que envolvem esta atividade econmica. Quando fiz o Curso de Graduao em

  • 21

    Geografia (UFPB), tomei o tema da minerao, que at me era totalmente familiar como

    objeto de estudo, ao abordar a atividade mineral com foco na transformao da matria em

    recurso natural. Na especializao em Educao Ambiental (FIP), enfatizei os estudos sobre

    alguns impactos negativos advindos do setor mineral. No mestrado em Desenvolvimento

    Regional (UEPB), decidi privilegiar a trajetria da atividade, priorizando as aes pblicas de

    incentivo ao desenvolvimento do setor mineral, procurando perceber em que medida essas

    aes tem promovido o desenvolvimento do local.

    Esse questionamento a fora motriz da nossa pesquisa. Com esse intuito foram

    realizados alguns procedimentos de pesquisa (levantamento bibliogrfico e documental,

    realizao de entrevistas e conversas informais, aplicao de questionrios e observao

    emprica) que mostraram at o momento que a atividade mineral um campo complexo e

    com diferentes percepes e arranjos organizacionais. Dessa forma, nossa pesquisa foi

    conduzida por meio de uma abordagem quanti-qualitativa1, particularizando para efeito de

    estudo as aes governamentais e os desdobramentos destas na promoo do desenvolvimento

    social, econmico e ambiental do municpio de Pedra Lavrada. Assim, adotamos algumas

    estratgias metodolgicas para levantar os dados:

    Levantamento bibliogrfico resultou em uma pesquisa intensa de literatura -

    livros, dissertaes, teses e artigos - que abordassem pressupostos tericos e/ou conceituais

    necessrios ao estudo. O acervo catalogado foi de suma importncia para construirmos os

    fundamentos tericos desta dissertao.

    Levantamento documental - focalizou suas atenes em mapear a trajetria das

    aes governamentais de incentivo ao desenvolvimento do setor mineral de Pedra Lavrada

    PB. O resultado foi um leque de aes pblicas, como o Relatrio do Projeto Estudo dos

    Garimpos (1982), do Relatrio Semestral do Projeto Estudo do Nordeste Oriental (1990), da

    Carta de Parelhas (2007), do Projeto Desenvolvimento da Pequena Minerao do Serid

    1 [...] ao avaliar esses diferentes mtodos, deveramos prestar ateno, [...], no tanto aos mtodos relativos a

    uma diviso quantitativa-qualitativa da pesquisa social como se uma destas produzisse automaticamente uma

    verdade melhor do que a outra -, mas aos seus pontos fortes e fragilidades na produo do conhecimento social.

    (MAY 2004, p. 146).

    Levantamento bibliogrfico

    Levantamento documental

    Busca telematizada

    Investigaes empricas

  • 22

    Paraibano no mbito do APL - Pegmatitos e Quartzitos (2010) e do Plano de

    Desenvolvimento Preliminar (2009).

    Busca telematizada - contribuiu massivamente para o levantamento de dados

    atualizados sobre o panorama geogrfico, tributrio, socioeconmico e ambiental da atividade

    mineral e do municpio de Pedra Lavrada. A consulta se deu por meio de stios das seguintes

    instituies: CPRM, SEBRAE, BB, PNUD, DNPM, IBGE e MDICE.

    Investigaes empricas - por intermdio da realizao de: (a) entrevistas

    semiestruturadas, (b) questionrios e (c) conversas informais, com os seguintes agentes:

    (a) - Instituies de desenvolvimento do setor mineral na Provncia Pegmattica

    Borborema-Serid: CDRM - Jos Soares Brito (Engenheiro de Minas) e Maria do Carmo

    Rodrigues de Medeiros (Geloga); SEBRAE PB - Marcos Magalhes (Coordenador);

    SEBRAE RN - Sheyson Medeiros Rodrigues Siqueira (Coordenador); DNPM Eduardo

    Srgio Colao (Superintende Campina Grande PB); UFCG - Antnio Pedro Ferreira Sousa

    (Professor do curso de Engenharia de Minas - UFCG); e PRODEMIN - Marcelo Falco

    (Coordenador).

    (a) - Instituies municipais: PMPL Roberto Jos Vasconcelos Cordeiro

    (prefeito); Alberto Edson (Secretrio de Finanas); e Edna Costa (Coordenadora do Servio

    Epidemiolgico).

    importante ressaltar que nem todas as entrevistas foram gravadas em mdias.

    Contudo, todos os entrevistados foram muitos solcitos. Esta fase ampliou as possibilidades de

    conhecer, elaborar e analisar a trajetria das aes pblicas de desenvolvimento do setor

    mineral no municpio de Pedra Lavrada PB.

    (b) - Empresas mineradoras: CALSANTOS - Felipe Rafael dos Santos Souza

    (Proprietrio); ELIZABETH PRODUTOS CERMICOS LTDA. Jos Reinaldo

    (Engenheiro de Minas) ; PEDRA PARABA - Jos Dagmar Alves (Proprietrio); BUN -

    Alberto Cesar (Tcnico em Minerao); a GRANZAN MINERAO - Luciano Betine

    Zanon (Proprietrio); FLORENTINO MINERAO LTDA. - Jairo Lima (Gelogo) -

    atualmente no compe o quadro pessoal da empresa; e COOMPEL COOPERATIVADOS

    MINERADORES DE PEDRA LAVRADA PB Jos Dagmar Alves (Presidente em

    exerccio - 2012 ).

    O critrio de escolha dessas empresas foi baseando em um levantamento junto

    Prefeitura Municipal de Pedra Lavrada (PMPL) em relao ao Alvar de Funcionamento.

    Segundo a PMPL at o ano de 2012, o municpio apresentava 18 empresas regularizadas junto

    ao rgo. Porm, desse total, nem todas eram compatveis com os endereos ou localizao

  • 23

    dos representantes legais. Essa etapa foi uma das mais demoradas e cansativas, devido

    disponibilidade e tempo desses tcnicos e/ou membros. Entretanto, apesar da demora todos os

    membros e/ou tcnicos que foram encontrados e convidados se mostraram bastantes abertos

    para contribuir com a pesquisa. Esses questionrios forneceram subsdios para entender a

    funcionalidade das empresas no municpio.

    (c) - Garimpeiros Locais: neste grupo foram realizadas conversas informais, pois os

    mesmos se recusaram a conceder entrevistas ou responder questionrios. Os motivos?

    Acredito que pode estar relacionada preocupao de que os dados pudessem se transformar

    objetos de denncia (junto a rgos ambientais ou justia do trabalho). Ento, buscamos ao

    longo da conversa utilizar uma estratgia com foco na confiabilidade e amizade. S assim foi

    possvel dialogar sobre alguns pontos da pesquisa (relaes trabalhistas, operacionalizao da

    lavra, acidentes no trabalho etc.).

    Dessa forma, conversamos com 20 garimpeiros definidos pelo tipo de lavra, ou seja,

    buscamos conversar com garimpeiros que estivessem trabalhando em diferentes extraes de

    minerais, como mica, feldspato, calcrio e quartzo. Vale ressaltar que os dilogos com este

    grupo (20 garimpeiros) ocorreram na zona urbana do municpio de Pedra Lavrada e tanto os

    nomes quanto os altos e/ou pegmatitos, onde os garimpeiros exercem a extrao dos minerais,

    sero mantidos em total sigilo, a fim de evitar algum constrangimento para os trabalhadores.

    Assim, o panorama das investigaes empricas configura-se a partir da seguinte

    lgica:

    Investigaes empricas

    (a)

    Entrevistas

    (a)

    Instituies de desenvolvimento

    (a)

    Instituies municipais

    (b)

    Questionrios

    (b)

    Empresas mineradoras

    (c)

    Conversas informais

    (c)

    Garimpeiros locais

  • 24

    A dissertao, ora apresentada, est estruturada em trs captulos. O captulo I,

    intitulado A minerao no municpio de Pedra Lavrada PB retrata os principais

    aspectos que configuram o cenrio da atividade mineral no municpio de Pedra Lavrada ao

    longo de sua histria. O captulo compe-se de sete sees: (1) descreve os ciclos histricos

    da minerao na regio do Serid, com nfase no municpio de Pedra Lavrada; (2) caracteriza

    o diversificado arcabouo geolgico da Provncia Pegmattica da Borborema- Serid; (3)

    evidencia o potencial socioeconmico advindo da atividade mineral; (4) retrata as lgicas que

    compem os processos de lavra, beneficiamento e comercializao dos recursos minerais; (5)

    demonstra o aumento em busca da titularidade minerria dos pegmatitos do municpio de

    Pedra Lavrada; (6) expe as relaes trabalhistas; e (7) revela os problemas ambientais

    ocasionados pela atividade mineral na regio do Serid paraibano e, consequentemente, em

    Pedra Lavrada.

    O captulo II, As aes planejadas para impulsionar o setor mineral no municpio

    de Pedra Lavrada PB 1939/2013 apresenta definies sobre o conceito de poltica

    pblica e o mapeamento das aes planejadas no incentivo do desenvolvimento do setor

    mineral de Pedra Lavrada. O captulo ser composto por duas sees: (1) trar definies

    conceituais sobre as polticas pblicas e seus modelos de anlises, embasado, sobretudo, nas

    teorias de DYE (2010); MULLER e SUREL (2004); FREY (2000); e SOUSA (2006). E (2)

    remonta por meio da viso institucional a trajetria das aes orientadas/estruturadas no

    incentivo ao desenvolvimento do setor mineral em Pedra Lavrada PB. Esta ltima seo

    est dividida em 7 subsees: (1) apresentar o Acordo Bilateral Brasil Estados Unidos da

    Amrica (1939 1945); (2) o Projeto Estudo dos Garimpos Brasileiros RN/PB (1980-1984);

    (3) o Projeto Estudos dos Pegmatitos do Nordeste Oriental (1990-1992); (3) o Projeto

    Desenvolvimento em Rede do APLs Pegmatitos RN/PB (2003-2009); (5) o Arranjo Produtivo

    Local RN/PB; (6) o Programa de Desenvolvimento Sustentvel da Minerao Paraibana

    PRODEMIN (2007). E, finalmente, (7) o Arranjo Produtivo Local de Pegmatitos e Quartzito

    da Paraba.

    O captulo III, De qual desenvolvimento estamos falando? Um olhar sobre o

    municpio de Pedra Lavrada - PB enfatiza o conceito de desenvolvimento nas teorias de

    ELIAS (2006), VEIGA (2005); SEN (2000); GOMES (2002); FURTADO (1974);

    ENRQUEZ (2010); e SACHS (2004/2008/2007) e a capacidade das aes

    orientadas/estruturadas no incentivo ao desenvolvimento social, econmico e o ambiental do

    municpio de Pedra Lavrada. O captulo est dividido em trs sees: a (1) retrata a dimenso

  • 25

    social - divide-se em 5 subsees: (1) populao, (2) emprego/renda, (3) educao, (4) sade,

    e (5) IDHM; a (2) seo aborda a dimenso econmica compe-se em trs subsees: (1)

    PIB; (2) ICMS; e (3) CFEM. E, por fim, a (3) seo visualiza a dimenso ambiental

    compe-se de uma subseo: (1) Impactos ambientais negativos.

    Finalmente, as consideraes finais tero por objetivo concluir, a partir das discusses

    tericas e empricas, bem como das reflexes crticas acerca das questes de pesquisa, que

    foram objeto das minhas inquietaes para a construo do trabalho de dissertao.

  • 26

    Captulo I

    A MINERAO NO MUNICPIO DE PEDRA LAVRADA PB

    Este captulo busca enfatizar os principais aspectos de configurao do cenrio da

    atividade mineral no municpio de Pedra Lavrada, ao longo de sua histria. Dentre eles

    destacamos: os ciclos histricos; o quadro geolgico; o potencial socioeconmico; os

    processos de lavra, de beneficiamento e de comercializao; a titularidade minerria; as

    relaes trabalhistas e a degradao ambiental.

    1.1 - CICLOS HISTRICOS

    A atividade mineral no municpio de Pedra Lavrada est intrinsecamente associada

    configurao histrica da minerao na regio do Serid paraibano. Nesse sentido, o primeiro

    estudo que se tem conhecimento sobre o potencial mineralgico da regio do Serid data do

    ano de 1899, realizado pelo ento gelogo Julles Destord, que segundo Vasconcelos (2006)

    foi designado pelo Governo do Estado da Paraba para desenvolver um relatrio acerca da

    existncia de recursos minerais na regio. Nesse relatrio, o engenheiro descreveu os

    seguintes minerais:

    O primeiro terreno que explorei em minhas excurses pelo Distrito de Picu, foi a

    colina do Chapu. Nessa colina a parte superior - que completamente despida de

    vegetao, se compe de micaxistos, talescisto e, coisa rara e extraordinria em tais

    terrenos, de gesso. Como mineral metlico encontrei ali o mercrio em um sulfureto

    que o cinabre, aliado a um sulfureto de ferro que lhe comunica com a cor morena,

    [...]. No andar superior dessa colina tambm encontrei o terreno siluriano superior,

    composto de rochas arenosas, de argila, de xistos e de calcrio semi-cristalina. Nessa

    parte encontrei cobre e mangans, conhecido em minerao pelo nome de

    hausmanita. (DESTROD, 1899, apud OLIVIERA, 1981, p. 45).

    Posteriormente ao relatrio de Julles Destrod, surgem os trabalhos de Crandall (1910),

    Crandall & Williams (1910), Small (1913; 1914) e Sopper (1913; 1914), marcando de forma

    significativa [...] os alicerces bsicos do conhecimento geolgico do nordeste, em todos os

    sentidos e em amplo espectro. (SILVA e DANTAS, 1984, p. 242). No mesmo sculo o

  • 27

    DNPM desenvolveu uma srie de estudos2, os quais abordaram a regio do Serid com um

    olhar direcionado descoberta do potencial econmico mineralgico.

    No que tange ao processo de lavra, a Primeira Guerra Mundial (19141918) marca o

    incio das exploraes dos recursos naturais na regio do Serid e, consequentemente, no

    municpio de Pedra Lavrada. Nesse contexto, surgiram tambm as primeiras tcnicas e

    instrumentos de trabalho utilizados pelos garimpeiros que, de acordo com Vasconcelos (2006,

    p. 82):

    Os instrumentos tcnicos e as tcnicas de trabalho eram precrias, feitas por

    improviso e adaptaes, onde muitas vezes eram utilizados instrumentos de uso

    agrcola na minerao como a enxada e chibanca. Era um trabalho intuitivo,

    desprovido de qualquer estudo capaz de dar orientao tcnica adequada no processo

    produtivo mineral. Essas eram as primeiras aes locais empreendidas no fazer da

    atividade mineral, o que significa dizer que era o momento de aquisio do

    conhecimento emprico do agente minerador em formao, ou seja, o garimpeiro.

    No perodo da Primeira Guerra Mundial, a mica foi o primeiro mineral a ser

    explorvel para fins econmicos no municpio de Pedra Lavrada. Segundo Vasconcelos

    (2006), a efetividade da mica ocorreu graas a uma realidade vivida externamente.

    [...] tratava-se do desenvolvimento tcnico-cientfico, especialmente no segmento

    de equipamentos eltricos que ocorria, principalmente, nos Estados Unidos e na Europa. Nesses pases e regio, a mica tinha vrias aplicaes, destacadamente em

    isolamentos eltrico [...]. (VASCONCELOS, 2006, p.81).

    Entre 1914 e 1918, muitos pegmatitos da regio foram lavrados a fim de explorar a

    mica. O transporte da produo mineral era realizado por fora animal, com destaque para os

    equinos. A rota de transporte da produo mineral, na maioria dos casos, tinha por destino o

    municpio de Picu, que era um dos maiores e mais importantes polos urbanos da regio do

    Serid.

    Contudo, foi durante a Segunda Guerra Mundial (1939 1945) que os pegmatitos do

    Serid e, respectivamente, de Pedra Lavrada, alcanaram nveis elevados de explorao.

    Nesse perodo, os americanos necessitavam adquirir, a qualquer preo, minrios estratgicos,

    2Entre os estudos destacam-se: Nota Preliminar sobre as Jazidas de Cobre de Pedra Branca, 1923 de Euzbio de

    Oliveira, Serras e Montanhas do Nordeste, 1924 de Juliano Morais; Cobre, Estanho e outros minerais em Picu e Soledade, Paraba do Norte, 1936 de Luciano Jacques de Morais; Provncia Pegmattica da Borborema, 1944 de

    Evaristo Penna Scorza; Pegmatitos Berilo Tantalferos da Paraba e Rio Grande do Norte, no Nordeste do

    Brasil, 1945 de W. D. Johnston, JR; Minerais dos Pegmatitos da Borborema e Recursos Minerais do Municpio

    de Picu, ambos de 1946 de P. A. M. de Almeida Rolff; Tantalita e berilo em alto do Feio e Serra Branca, 1946

    de Sandoval Carneiro de Almeida; Cobre em Pedra Branca Picu Paraba, 1947 de Onofre Pereira Chaves.

  • 28

    uma vez que as suas fontes de abastecimento haviam sido ocupadas pelos alemes na Europa

    e pelos japoneses na sia Oriental. (ANDRADE, 1987, p. 14). A fim de adquirir os minerais

    estratgicos (tantalita-columbita e berilo), os americanos enviaram uma comisso para a

    regio que deu incio a uma planejada explorao da rea para a retirada de minrios

    adequados a fabricao de artefatos blicos. Segundo Andrade (1987, p.14):

    Os altos preos oferecidos pelos americanos estimularam os proprietrios de terra a

    iniciarem uma explorao, sob a forma de garimpagem de pegmatitos no Serid

    norte-rio-grandense e paraibano. A mo de obra necessria, que no requeria grande

    especializao, [...] foi facilmente recrutada entre os agricultores que se dedicavam cultura da terra, no curto perodo chuvoso, e ficavam a maior parte do ano ociosos.

    A criao do DNPM, atravs do Decreto n 23.979, de 08/03/1934, foi de suma

    importncia para que a regio do Serid comeasse a ganhar espao no cenrio nacional das

    fontes produtoras de minerais pegmatitos, assim como no cenrio internacional, no que se

    refere produo de tantalita-columbita e do berilo. Segundo Andrade (1987, p. 15), o DNPM

    teve uma grande participao na explorao e na comercializao desses minrios devido a

    uma srie de aspectos, entre os quais:

    [...] localizado em Campina Grande, centro principal de comercializao de

    minrios, por dispor de armazns, de laboratrios e de um corpo tcnico de alto

    nvel. Da sairia, no ps-guerra, engenheiros de minas que desenvolveriam a

    explorao de minrios em outras reas do Nordeste e do Brasil. As anlises feitas

    no Distrito de Campina Grande ganharam logo prestgio internacional, facilitando o

    comrcio de minrio.

    Na Segunda Guerra Mundial instaurou nos pegmatitos da Borborema-Serid uma fase

    mais dinmica na produo dos minerais, sobretudo, tantalita-columbita e berilo (ver Quadro

    1). Esse aumento da produo atribudo, principalmente, criao do DNPM, no fomento

    tcnico e logstico explorao dos minerais estratgicos e atuao da Comisso Americana

    Nacional de Compras, que possibilitou a vinda de tcnicos da U.S. Geological Survey

    Company, para atuarem conjuntamente com os pesquisadores do DNPM, na anlise de

    minerais e rochas provenientes do Serid. (SILVA e DANTAS, 1984).

  • 29

    Quadro 1 - Produo mineral de tantalita-columbita e berilo na Borborema-Serid

    1938/1944

    Perodo Tantalita Columbita (t) Berilo (t)

    1938 38 262

    1939 59 276

    1940 42 1.473

    1941 94 1.703

    1942 150 1.700

    1943 170 2.000

    1944 180 1.500 Fonte: (DNPM/DFPM, 1942/1945, apud FORTE, 1994).

    O Quadro 1 revela um marco de prospeco na produo dos minerais tantalita

    columbita e berilo na regio do Serid durante os anos de 1938 a 1944. A explorao do

    berilo e da tantalita-columbita tiveram incio a partir da garimpagem.

    S no princpio de 1943 devido a ento circunstncia atravessada pelo mundo,

    que comearam a ser diretamente trabalhada, sob a orientao do DNPM, em

    cooperao com a Comisso de Compras do Governo Americano. (ROLFF, 1946,

    p. 30).

    A extrao desses minerais (tantalita-columbita e berilo) foi de grande importncia

    para o crescimento da regio Serid. Segundo Scorza (1944), estima-se que nos sete primeiros

    meses do ano de 1942, a firma Silveira Brasil & Cia, produziu mensalmente 12 toneladas de

    tantalitacolumbita e 150 toneladas de berilo, empregando cerca de 3.000 mil operrios.

    De acordo com Rolff (1946), nesse perodo do apogeu de minerais estratgicos, o

    processo de explorao dos pegmatitos do Serid ficou controlado pelas companhias: Silveira

    Brasil & Cia., com sede em Campina Grande PB; Minerao do Nordeste, com sede em

    Joo Pessoa PB; Minerao de Picu, com sede no Rio de Janeiro - RJ; S. A. Comrcio e

    Indstria de Minerao, com sede em Campina Grande PB; Otaviano Bezerra, com sede em

    Campina Grande; Minerao Serid Ltda., com sede em Natal RN e a Renda Priori e Cia,

    com sede em Recife - PE.

    Por conseguinte, o processo de comercializao segundo Scorza (1944), ficou

    controlado de forma majoritria por quatro organizaes, a saber: Silveira Brasil & Cia, com

    sede em Campina Grande; Companhia Minerao de Picu, com sede em Nova Palmeira;

    Companhia Minerao do Nordeste, com sede em Joo Pessoa; e Heretiano Zenaide, com

    sede em Soledade/PB. As trs primeiras empresas tinham por finalidade explorar e

    comercializar os minerais tantalita - columbita e o berilo. Para Forte (1994, p. 22-23), essas

    organizaes, sobretudo, a Silveira Brasil & Cia:

  • 30

    [...] no atuaram como empresas de minerao, mas sim como firmas garimpeiras

    ou de garimpagem se que se pode assim denominar. Suas atividades estavam voltadas para a comercializao de bens minerais produzidos pelos garimpeiros e

    para controle dos principais garimpos da regio. No havia uma preocupao maior

    da parte delas em tentar desenvolver nessas reas uma minerao organizada sob o

    ponto de vista tcnico, a despeitos de possurem, ao que parecia, capacitao.

    Nesse cenrio de ascenso das exploraes e das comercializaes dos minerais

    estratgicos, verificamos tambm que o processo de garimpagem no Serid passava por uma

    vertiginosa mudana nas tcnicas e nos mtodos de lavras postas pelas companhias de

    explorao dos pegmatitos. Forte (1995, p. 100) atribui essas mudanas [...] a Comisso

    Americana de Compra a introduzir nos garimpos, que at ento utilizava meios rudimentares,

    vrios equipamentos pesados como marteletes, compressores, moinhos, explosivos etc.

    No tocante ao escoamento da produo, Vasconcelos (2006) menciona que nesse

    perodo as companhias utilizavam caminhes para realizar o transporte da matria prima para

    polos de beneficiamento e comercializao, que se concentravam em Picu - PB, Campina

    Grande - PB e Recife PE.

    Ao final da Segunda Guerra Mundial, a atividade mineral na regio do Serid entra

    numa fase de declnio. Os minerais estratgicos (tantalita columbita e berilo) que antes

    representavam o sustento de grande parte da populao do Serid sofrem uma acentuada

    retrao, tanto na produo quanto na comercializao, afetando notadamente a economia

    local (ver Quadro 2).

    Quadro 2 - Produo ps-guerra de tantalita-columbita e berilo na Borborema - Serid

    1951/1962

    Perodo Tantalita Columbita (t) Berilo (t)

    1951 5 501

    1957 35 396

    1962 12 111 Fonte: Adaptado de Forte (1994).

    Com o fim do conflito blico verifica-se tambm que as tcnicas de modernizao,

    incorporadas pelas companhias de extrao aos pegmatitos do Serid, praticamente

    desaparecem, [...] este passa a ser bastante rude e de base emprica, como outrora quando das

    primeiras exploraes antes da guerra. (VASCONCELOS, 2006, p. 107). Em relao s

    Empresas:

  • 31

    [...] em quase sua totalidade, deixam de atuar em Pedra Lavrada e na regio do

    Serid como um todo (...). As raras companhias presentes do Serid se restringiam praticamente a operaes na compra de minerais, sem se interessarem pela produo

    propriamente dita, que deixaram a cargo de garimpeiros locais, que usavam tcnicas

    de extrao, com instrumentos em que era exigido um enorme dispndio de energia

    humana, sem a intermediao de objetos maqunicos. (VASCONCELOS, 2006, p.

    107).

    Em suma, a indstria blica americana no necessitava mais de matria prima em

    grandes quantidades. Desse modo, as empresas de explorao e comercializao tiveram suas

    atividades encerradas, as fontes tradicionais localizadas na Austrlia e em Zaire (na poca do

    Congo Belga) que antes eram utilizados pelos norte americanos como reserva industrial,

    voltam a exercer essa funo, pois no havia mais bloqueios por parte dos inimigos. Nesse

    cenrio, a minerao no Serid viu seus ndices de produo e de comercializao

    despencarem, modificando apenas a partir da dcada de 1970.

    Segundo Vasconcelos (2006), a partir da dcada de 1970 comea a se redefinir o papel

    funcional a ser cumprido pela minerao no Serid e, consequentemente, em Pedra Lavrada.

    Dessa forma, a produo mineral ampliada com a insero de minerais no metlicos e/ou

    minerais industriais (feldspato, caulim, quartzo, entre outros), sobretudo, para atender as

    demandas dos parques industriais (cermicos, automobilstico, vidro, cosmtico etc.), tanto a

    nvel nacional, quanto a nvel internacional. H referncias de que no incio dos anos de 1970

    a indstria de vidro e cermica instalada em Recife PE torna-se a maior consumidora da

    produo de feldspato explorado no Serid paraibano e potiguar.

    Esse perodo (entre final da dcada de 70 e meados da dcada de 1980)

    compreendido por Vasconcelos (2006) como a fase de seletividade espacial da minerao no

    Serid, que compreende um conjunto de fatores internos e externos interligados em que

    alguns desencadearam os outros, tais como:

    a) Insero com a explorao, beneficiamento e distribuio basicamente de feldspato na diviso territorial do trabalho forjado pela consolidao da indstria no

    territrio nacional, inclusive na regio Nordeste que teve grande contribuio da

    SUDENE;

    b) A integrao territorial com a construo de sistemas de engenharia de circulao (material e imaterial);

    c) O processo de urbanizao, que fez aumentar a demanda por produtos para construo civil com cermicos para revestimentos, louas sanitrias e vidros, que

    so os principais setores consumidores de feldspato;

    d) A crise econmica nacional ocasionada, entre outros fatores interligados pela elevao dos juros da dvida externa e os choques do petrleo que acarretaram o

    aumento substancial dos preos dos combustveis, encarecendo os fretes e fazendo

    com que, por exemplo, a indstria mineral de maior proximidade com as jazidas

  • 32

    fornecedoras de matrias primas, numa estratgia de diminuir os custos de

    transporte;

    e) A seca que assolou o semirido nordestino no mesmo perodo (1979-1984), provocando a desocupao de muitos trabalhadores da agricultura e da pecuria,

    deixando-os sem fonte de renda e reclamando uma ao do Estado frente crise

    socioeconmica resultante;

    f) O grande aumento na demanda da tantalita no mercado nacional; g) O sistema de aes pblicas que fomentou a criao de cooperativas. (VASCONCELOS, 2006, p. 123 124).

    A partir do ano de 1984 verifica-se novamente um decrscimo na produo dos

    minerais estratgicos e industriais, prosseguindo at o final da dcada de 1980 (ver Quadro 3).

    Na viso de Forte (1995), essa oscilao est basicamente atrelada a trs fatores que podem

    aparecer de forma associada ou no, so eles: (1) preos da tantalita no mercado internacional;

    (2) instabilidade climtica; e (3) interveno governamental.

    Quadro 3 - Evoluo da produo dos minerais da Borborema-Serid 1973/1989

    Anos Minerais

    Tantalita

    Columbita (t)

    Berilo (t) Mica (t) Caulim (t)

    1973 16 96 12 13.681

    1974 3 6 Nd 16.757

    1975 8 275 220 46.406

    1976 32 57 Nd 13.445

    1977 20 101 55 16.597

    1978 13 60 2.941 63.665

    1979 75 100 3.968 90.737

    1980 142 158 4.450 28.898

    1981 119 251 2.225 59.434

    1982 100 402 940 69.080

    1983 76 641 3.126 58.413

    1984 127 458 2.256 30.976

    1985 95 551 2.881 36.470

    1986 55 225 2.060 82.910

    1987 34 221 1.823 67.828

    1988 71 203 1.986 39.000

    1989 83 Nd 3.390 14.827

    Fonte: Adaptado de Forte (1994).

    A dcada de 1990 marca de vez a ascenso dos minerais industriais e/ou no-metlicos

    na regio do Serid e, de modo particular, no municpio de Pedra Lavrada. Para Ferreira

    (2011, p.69), os minerais industriais

    [...] so matrias primas utilizadas pelo homem, nas suas mltiplas aplicaes, com

    base nas propriedades fsicas, qumicas e ornamentais, sem recorrer ao emprego de

    tratamentos metalrgicos somente utilizados na obteno de componentes

    metlicos.

  • 33

    Atualmente, dentre os minerais e rochas industriais em lavra, na regio do Serid e,

    respectivamente, em Pedra Lavrada, destacam-se: o caulim, o feldspato, o quartzo, as micas,

    as argilas, os calcrios e as rochas ornamentais. Esses recursos minerais so componentes

    bsicos na construo civil (areia, massame, tijolo, telha, cimento, outras argamassas e cal),

    no material cermico (pisos, revestimentos, locas, colorifcios e esmaltes), em fertilizantes,

    abrasivos, isolantes, fibras-ticas, vidros, colas-adesivas, redutores, produtores qumicos e

    farmacolgicos, entre muitos outros no especificados. (FERREIRA, 2011).

    1.2 - QUADRO GEOLGICO

    O municpio de Pedra Lavrada foi privilegiado por encontrar-se inserido em um dos

    arcabouos geolgicos mais diversificados mineralogicamente do Brasil, na Provncia

    Pegmattica da Borborema-Serid, que est distribuda em vrios municpios dos Estados da

    Paraba (Junco do Serid, Salgadinho, Tapero, Juazeirinho, Cubat, Serid, Pedra Lavrada,

    Nova Palmeira, Picu e Frei Martinho) e do Rio Grande do Norte (Equador, Santana, Jardim

    do Serid, Acari, Carnaba do Dantas e Parelhas), numa rea de aproximadamente 20.000

    km (ver Figura 1).

    Figura 1- Localizao da Provncia Pegmattica da Borborema-Serid

    Fonte: Extrado de (SOARES, 2003, apud VASCONCELOS, 2006, p. 78).

  • 34

    A primeira denominao acerca da Provncia foi originalmente circunscrita por Scorza

    (1944) como Provncia Pegmattica da Borborema, na qual abrange o norte do Estado da

    Paraba e o sul do Rio Grande do Norte. Contudo, Silva e Dantas (1984) propuseram uma

    denominao mais completa para a Provncia Pegmattica da Borborema, os autores

    acrescentaram o nome Serid, por entenderem que

    [...] a rea principal de ocorrncia de pegmatitos comporta parte da borda ocidental

    do Planalto da Borborema e a regio fisiogrfica do Serid, da a sugesto de

    denomin-la Provncia Pegmattica da BorboremaSerid [...]. (SILVA e

    DANTAS1984, p. 242).

    Geologicamente, a Provncia Pegmattica da Borborema-Serid apresenta uma enorme

    rede de pegmatitos, [...] cortando-se segundo direes as mais variadas, guardando entre si

    pequenas distncias que, em determinadas reas, no ultrapassam 100 metros e salientando-se

    irregularmente por entre as rochas encaixotantes. (SCORZA, 1946, p. 5). As rochas que

    compem o arcabouo geolgico da provncia, na concepo de Johnston, JR. (1945), so

    geralmente os gnaisses e os micaxistos do perodo pr-cambriano, com intruses de granitos

    cortados por pegmatitos e veios de quartzo. Uma eroso subsequente reduziu a rea a um

    peneplano. Entretanto, os pegmatitos mais resistentes a essa eroso permaneceram em

    salincia com feies topogrficas caractersticas, que localmente recebem o nome de altos.

    Para Scorza (1944, p. 5):

    Os altos so pores privilegiadas dos pegmatitos, pelo fato de se salientarem muito

    sobre o terreno e geralmente se alargarem mais do que a poro restante do filo do

    pegmatito. So verdadeiros serrotes despontando os seus gigantescos dorsos na

    paisagem naturalmente eriada e perturbada da regio.

    Os principais altos/pegmatitos da Provncia Borborema-Serid foram classificados por

    Scorza (1944) em trs grupos, levando em considerao a mineralizao principal, so elas: 1

    Pegmatitos que contm cassiterita; 2 Pegmatitos que contm minrios de cobre; e 3

    Pegmatitos que no contm cassiterita nem minrios de cobre.

    Com bases nessa classificao proposta por Scorza (1944), o engenheiro americano

    Johnston, JR. (1945) realizou um levantamento dos principais pegmatitos/altos que compem

    a Provncia Pegmattica da Borborema-Serid. Ao todo, foram catalogados 91altos. Contudo,

    destacaremos no quadro 4 apenas os pegmatitos/altos inseridos no domnio territorial do

    municpio de Pedra Lavrada.

  • 35

    Quadro 4 - Pegmatitos/altos do municpio de Pedra Lavrada - PB

    Pegmatitos/Altos

    Alto Serra Branca Alto Novo Alto Patrimnio Alto Pelado

    Alto Feio Barra das Flexas

    Alto Malhada Redonda Alto Varzinha

    Alto Serrote do Nariz Alto Tiribi

    Alto Alagamar Malhada da Pedra

    Alto do Boqueirozinho Alto do Sossego

    Malhada da Bezerra Alto do Bernardo Alto Piaba Alto do Facheiro

    Fonte: Adaptado de Silva e Dantas (1984).

    O primeiro mapeamento quantitativo e qualitativo dos recursos minerais disponveis

    no complexo de pegmatitos/altos do Serid foi realizado por Rolff (1946). O gelogo utilizou

    como mtodo para efetuar o levantamento das informaes a classificao denominada de

    pegmatitos: heterogneos, homogneos e mistos3. Com base nessa classificao, Rolff (1946)

    catalogou 84 minerais na Provncia Pegmattica da BorboremaSerid (ver Quadro 5).

    Quadros 5 - Minerais catalogados nos pegmatitos da Borborema-Serid

    Minerais

    Afrisita Carnotita Ilmenorutilo Pirolusita

    Albita Cassiterita Itriotantalita Pitchblenda

    Amblioginita Caulinita Lazulita Policrasita

    Anfiblios Cimatolita Lepiodolita Priorita Antimnio Clevita Limonita Psilomelana

    Apatita Columbita Magnetita Quartzo

    Arrojadita Covelina Malaquita Raras

    Arsenopirita Djalmata Mangano-tantalita Rodonita

    Azurita Elsworthita Microclina Rutilo

    Berilo Epitodo Microlita Samarsquisita

    Betalifita Espodumena Molibdenita Sericita

    Biotita Euxenita Monazita Slica hidratada Bismutinita Fergusonita Muscovita Stibinita

    Bismuto Ferromolibdita Ocres de Bismuto Tantalalo complexos

    Bornita Fluorita Ocres de Ferro Tantalita

    Brogerita Fosfato de Terras Ocres de Urnio Turmalinas

    3 1 - Homogneos - Constituem corpos de potncia varivel de extraordinrio desenvolvendo em direo. Contm quartzo, feldspato e mica em massa de mesmas dimenses, atingindo, no mximo, 30 cm. Sua

    mineralizao pobre, sendo raramente lavrados com sucesso.

    2 - Heterogneos Pegmatitos de forma ovalada com um ou vrios ncleos centrais de quartzo, colorido desde

    o branco ao rosa escuro, passando por vrios tons de amarelo, azul-claro, negro e mais raramente verde-claro.

    Esse ncleo constitui o carter e o guia mais seguro para o garimpeiro de berilo - tantalita, permitindo distinguir

    um pegmatito - estril do mineralizado.

    3 - Mistos esses tipos de pegmatitos tm caracteres comuns aos dois primeiros, ora parecendo um pegmatito

    estril, mineralizado, ora acentuado aumento dos cristais de quartzo, que se tornaram em pequenas bolsas, junto

    as quais h zonas de mineralizao. (ROLFF, 1946, p. 26-27 e 28).

  • 36

    (continuao)

    Minerais

    Brosmostrandita Gigantolita Oligoclsio Uraninita Calcita Granada Ortose Uranofanita

    Calcopirita Gumita Ouro nativo Vermiculita

    Calcosita Hematita Pinita Volframita

    Calogerasita Ilmenita Pirita Zirconita Fonte: Adaptado de Rolff (1946).

    Dentre os 84 minerais catalogados por Rolff (1946), nem todos ocorrem em

    quantidades justificveis para explorao. Nesse sentindo, Johnston, JR. (1945) elaborou um

    esboo generalizado dos pegmatitos, mostrando as zonas I a IV (ver Figura 2), no intuito de

    revelar quais so os minerais que apresentam as maiores concentraes perante os pegmatitos.

    Figura 2 - Esboo generalizado dos pegmatitos da Borborema-Serid, zonas I a IV

    Fonte: Extrado de Johnston, JR. (1945).

    Nesse esboo proposto por Johnston, JR. (1945), nota-se que as jazidas dos pegmatitos

    da Borborema-Serid so compostas principalmente pelos minerais essenciais, que so: o

    quartzo, o feldspato e a mica; e os minerais acessrios, que com exceo dos minerais

    essenciais, todos os outros so considerveis acessrios. Dentre os minerais acessrios alguns

    se sobressaem e apresentam condies especiais para exercerem a explorao, como o caso

    da tantalita-columbita e do berilo.

    Atualmente, h pelo menos um conjunto de 621 (seiscentos e vinte e uma) ocorrncias

    minerais que esto cadastradas junto a DNPM (2002), na rea que compreende a Provncia

    Pegmattica da Borborema- Serid (ver Quadro 6).

  • 37

    Quadro 6 - Substncias minerais e suas respectivas ocorrncias na Borborema-Serid - 2002

    Substncias Minerais Ocorrncias Minerais

    Tantalita 196

    Scheelita 139

    Berilo 117

    Columbita 49

    Mrmores 29

    Barita 27

    Caulim 19

    Rochas ornamentais 14

    Feldspatos 5

    Micas 4

    Minerais de cobre 4

    Fluorita 3

    Minerais de ferro 3

    Corndon 2

    Turmalinas 2

    Amianto (serpentina) 2

    Bismuto 2

    Vermiculita 2

    Talco 1

    Minerais de Urnio 1

    Fonte: Elaborao do autor com base em dados do DNPM (2002).

    1.3 - POTENCIAL SOCIOECONMICO

    A atividade mineral est presente em todo o complexo mineralgico que compe a

    regio do Serid. Contudo, sua concentrao ocorre em trs plos: Pedra Lavrada/Nova

    Palmeira - PB, Parelhas/Currais Novos - RN e Junco do Serid - PB/Equador - RN (PDP,

    2009).

    No municpio de Pedra Lavrada PB, no existem nmeros oficiais em relao

    quantidade de pessoas envolvidas na minerao, entretanto, estima-se que cerca de 40% a

    50% da populao esteja associada ao setor mineral de formas direta e indireta (ASSIS, et al.

    2010). Em relao ao nmero de empresas atuando no municpio at o ano de 2012, dados

    oriundos da Prefeitura Municipal de Pedra Lavrada revelam que 18 empresas esto

    regularizadas em relao ao Alvar de Funcionamento expedido pelo prprio rgo (ver

    Quadro 7).

  • 38

    Quadro 7 - Levantamento das mineradoras no municpio de Pedra Lavrada - PB 1997/2012

    Empresa/Pessoa

    Fsica

    Localizao Atividade Emisso

    Companhia

    Industrial De Vidro -

    CIU.

    Fazenda Alto do Patrimnio

    Nossa Senhora da Luz, S/N

    Zona Rural de Pedra Lavrada

    PB.

    Extrao de outros minerais no-

    metlicos - feldspatos.

    15/10/1997

    Elizabeth Produtos

    Cermicos Ltda.

    Stio Canta Galo, S/N Zona

    Rural de Pedra Lavrada PB.

    Extrao, beneficiamento e

    comercializao de minrios de pedra.

    24/01/2001

    Cooperativados

    Mineradores de

    Pedra Lavrada PB

    (COOMPEL)

    Sitio Salgadinho, S/N Zona

    Rural de Pedra Lavrada PB.

    Extrao de outros minerais no-

    metlicos no especificados

    anteriormente

    31/05/2005

    Jos Nilson Crispim Stio Riacho Craibeira, S/N

    Zona Rural de Pedra Lavrada

    PB

    Extrao, beneficiamento e

    comercializao mineral de quartzo,

    feldspato e mica.

    18/01/2006

    Minerao

    Florentino Ltda.

    Me

    Stio Dois Irmos S/N Zona

    Rural de Pedra Lavrada PB.

    Extrao de granito e beneficiamento

    de associado

    21/12/2007

    Valdeli Ado da

    Silva

    Jos Lins Do Rego, 225 Apoio a extrao de minerais no-

    metlicos

    26/08/2009

    Luciano Betine

    Zanon ME

    Stio Retiro, S/N Zona Rural

    de Pedra Lavrada PB

    Extrao de granito e beneficiamento

    de associado

    20/04/2010

    MIBRASA Minrios

    Brasileiro Ltda.

    Sitio Riacho Da Quixaba Pedra

    Lavrada PB.

    Paiis 20/04/2010

    Felipe Rafael Dos

    Santos Souza

    Rua: Edson Walber Extrao de calcrio e dolomita e

    beneficiamento associado.

    01/06/2010

    Jos Dagma Alves

    Me (Pedra Paraba)

    Stio Cabea De Vaca, S/N

    Zona Rural D

    de Pedra Lavrada PB

    Britamento de pedra, exceto associado

    extrao, comrcio varejista de cal,

    areia, pedra britada, tijolo e telhas.

    13/07/2010

    Normil Nordeste

    Minrios Ltda.

    Stio Quixaba, S/N Zona Rural

    de Pedra Lavrada PB.

    Paiis 15/09/2010

    Minerao Tanques

    Velho Ltda. Me.

    Fazenda Tanques, S/N Zona

    Rural De Pedra Lavrada PB.

    Extrao de gesso, caulim, calcrio,

    granito extrao de outros minerais

    no-metlicos no especificados

    anteriormente

    25/10/2010

    Jucelia Kelly

    Medeiros Souza (JK

    Minerao)

    Apoio a extrao de minerais no-

    metlicos, extrao de outros minerais

    no especificados anteriormente

    18/11/2010

    Bentonit Unio

    Nordeste Indstria e

    Comrcio Ltda.

    (BUN)

    Rodovia PB 177, Km 28, S/N -

    Zona Rural de Pedra Lavrada -

    PB.

    Fabricao de outros produtos minerais

    no-metlicos no especificados

    anteriormente

    14/02/2011

    Katielly de Medeiros

    Souza Me

    Comrcio atacadista de produtos de extrao mineral, exceto combustveis.

    23/02/2011

    Minerao Pedra

    Branca Ltda. Me

    Fazenda Tanques, S/N Zona

    Rural de Pedra Lavrada PB.

    Comrcio atacadista de produtos de

    extrao mineral, exceto combustveis.

    20/09/2011

    Gilberto Almeida

    Paulino

    Rua: Joo Cordeiro Sobrinho,

    85.

    Extrao de outros minerais no-

    metlicos no especificados

    anteriormente

    07/11/2011

    MIBRA Minrios

    Ltda.

    Stio Serra Branca Pedra

    Lavrada - PB.

    Extrao de outros minerais no-

    metlicos no especificados

    anteriormente.

    12/01/2012

    Fonte: Elaborao do autor com base em dados da PMPL (2012).

  • 39

    Em relao produo mineral no municpio de Pedra Lavrada, o DNPM, rgo

    responsvel pelo fornecimento desses dados, alegou na pessoa do superintendente de

    Campina Grande PB, Eduardo Sergio Colao que deveria existir um banco de dados

    disponvel ao pblico em geral, entretanto, devido falta de funcionrios o rgo no dispe

    desses dados. Nesse sentido, para obtermos esse levantamento recorremos aos bancos de

    dados de algumas empresas locais4, as quais revelaram as seguintes informaes (ver Quadro

    8).

    Quadro 8 - Produo mineral no municpio de Pedra Lavrada PB - 2012

    Minerais Produo (t/ms) Produo (t/ano)

    Feldspato 4.300 51.600

    Sienito 450. 000 5. 400, 000

    Quartzo 955.000 11.460,000

    Calcrio

    Dolomtico 1.800 21.600

    Mica 500.000 6.000,000 Fonte: Elaborao do autor com base em dados das empresas: CALSANTOS; Elizabeth Produtos Cermicos

    Ltda.; Pedra Paraba; BUN; GRANZAN; Florentino Minerao e COOMPEL (2012).

    O municpio de Pedra Lavrada referncia em arrecadao de CFEM 5 do Estado da

    Paraba. De acordo com o demonstrativo do DNPM (2012), Pedra Lavrada na dcada de 2010

    ocupa o 4 lugar em termos de arrecadao, ficando atrs apenas dos municpios de Mataraca,

    Caapor e Joo Pessoa (ver Grfico 1).

    4 CALSANTOS de Felipe Rafael dos Santos Souza; Elizabeth Produtos Cermicos Ltda. do grupo Elizabeth;

    Pedra Paraba de Jos Dagmar Alves Me; BUN - Bentonit Unio Nordeste Indstria e Comrcio Ltda., pertencente a um grupo de investidores alemes; a GRANZAN Minerao de Luciano Betine Zanon ME;

    Florentino Minerao LTDA. de Antnio Damio e, a COOMPEL - Cooperativados Mineradores de Pedra

    Lavrada PB 5 A Compensao Financeira pela Explorao de Recursos Minerais, estabelecida pela Constituio de 1988, em

    seu Art. 20, 1, devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municpios, e aos rgos da administrao da

    Unio, como contraprestao pela utilizao econmica dos recursos minerais em seus respectivos territrios. Os

    recursos da CFEM so distribudos da seguinte forma: 12% para a Unio (DNPM, IBAMA e MCT); 23% para o Estado onde for extrada a substncia mineral; e, 65% para o municpio produtor.

  • 40

    Grfico 1 - Arrecadao da CFEM no municpio de Pedra Lavrada - PB 2010/2012

    Fonte: Elaborao do autor com base no DNPM (2012).

    Sabemos que do montante dos recursos arrecadados da CFEM, 12% so destinados a

    Unio (DNPM, IBAMA e MCTI), 23% ao Estado de onde a substncia mineral foi extrada e

    65% para o municpio produtor. As principais substncias minerais que geram essa

    arrecadao da CFEM no municpio de Pedra Lavrada PB esto representadas no Grfico 2.

    Grfico 2 - Arrecadao da CFEM por substncias minerais no municpio de Pedra Lavrada-

    PB - 2004/2012

    Fonte: Elaborao do autor com base em dados do DNPM (2012).

    Os minerais representados no Grfico 2 servem de base para diversos segmentos do

    setor industrial, destacando-se a indstria de cermica, de papel e celulose, de borracha, de

    plstico e tintas, de vidro, siderrgica, eletrnica, qumica e de construo civil (ver Quadro

    9).

    326.457,86

    699.923,86

    956.923,66

    3.466.737,20

    0,00 500.000,001.000.000,001.500.000,002.000.000,002.500.000,003.000.000,003.500.000,004.000.000,00

    PEDRA LAVRADA

    JOO PESSOA

    CAAPOR

    MATARACA

    316,57

    3.873,63

    12.703,38

    15.385,86

    17.444,23

    18.126,60

    24.171,01

    48.508,96

    53.134,61

    178.423,05

    313.193,85

    0 100000 200000 300000 400000

    CAULIM

    PEGMATITO

    QUARTZO

    MOSCOVITA

    CALCRIO DOLOMTICO

    CALCRIO

    MINRIO DE TNTALO

    MICA

    GRANITO

    FELDSPATO

    SIENITO

  • 41

    Quadro 9 - Segmentos industriais dos minerais do municpio de Pedra Lavrada - PB - 2012

    Minerais Industriais Consumidoras

    Sienito Cermica.

    Feldspato Cermica, vidro, tintas e esmalte, porcelanas, eletrodo para soldas.

    Granito Construo Civil.

    Mica Eltrica, eletrnica, isolantes trmicos, eletrodos, tintas, borracha, plsticos e lamas.

    Minrio de Tntalo Eletrnica, superligas, produtos laminados e fios resistentes corroso e a altas temperaturas.

    Calcrio Dolomtico Tintas, sabo, cano de PVC, pias sintticas e corretivo de solo.

    Quartzo tica, eltrica, eletrnica, vidraria, cermica, refratrios, siderrgica e fundio

    Caulim Cermica, plsticos e tintas, papel, borracha, pesticidas e abrasivos, tecidos, produtos farmacuticos e medicinais.

    Fonte: Adaptado do Projeto Desenvolvimento da Pequena Minerao do Serid Paraibano no mbito do APL -

    Pegmatitos e Quartzitos (2010).

    1.4 - PROCESSO DE LAVRA, BENEFICIAMENTO E COMERCIALIZAO

    Segundo o projeto de Desenvolvimento da Pequena Minerao do Serid Paraibano,

    no mbito do APL - Pegmatitos e Quartzitos (2010), a minerao nessa regio caracterizada

    pela garimpagem desordenada, sem planejamento prvio e sem o conhecimento preciso da

    qualidade e do volume das reservas minerais. As tcnicas de extrao so rudimentares,

    predatrias e executadas sem orientao adequada de um profissional especializado

    (engenheiro de minas, tcnico em minerao, gelogos etc.).

    A atividade de lavra garimpeira desenvolvida mediante escavaes a cu aberto e/ou

    escavaes subterrneas em frentes de lavra denominadas de banquetas. Os procedimentos

    para a extrao mineral dessas banquetas so orientados pela seguinte lgica (ver Figura 3).

  • 42

    Figura 3 - Procedimentos de lavra nos pegmatitos do municpio de Pedra Lavrada - PB

    Fonte: Elaborao do autor com base em dados do Projeto Desenvolvimento da Pequena Minerao do Serid

    Paraibano no mbito do APL - Pegmatitos e Quartzitos (2010).

    Essa lgica citada na Figura 3 no uma mxima para todos os recursos minerais do

    municpio de Pedra Lavrada em lavra, tampouco no Serid, porm, sem dvida esses

    procedimentos j fazem parte da conduta comum entre os garimpeiros. raro encontrar uma

    frente de trabalho que no siga essa lgica explcita, mas acontece vide o caso da explorao

    do sienito e do granito, ambas totalmente mecanizadas, desde a remoo at o pr-

    beneficiamento.

    O processo de beneficiamento realizado distante dos garimpos, na maioria dos casos

    as empresas localizam-se no entorno da malha urbana dos municpios. Notamos tambm que

    para cada mineral beneficiado ocorre um procedimento especfico, no caso do feldspato e do

    quartzo, realizada uma moagem, britagem e classificao granulomtrica dos minerais; no

    caulim, so realizadas operaes de desagregao, peneiramento, concentrao em tanques de

    sedimentao, prensagem, secagem e ensacamento. J com a mica o procedimento mais

    complexo, pois realizado um desplacamento, passamento, moagem, qualificao e pesagem.

    A transformao da matria-prima mineral em bens de consumo toda realizada em

    outros polos industriais, integrantes dos setores de cermica, vidro, papel, tinta, borracha,

    isolantes, alm de outros de menor expresso no consumo. Desse modo, a comercializao da

    produo local ocorre em vrias regies do Pas e at internacionalmente, gerando um fluxo

    de carga importante, toda ela transportada por rodovia (mercado nacional) e hidrovia

    (mercado internacional).

    1Desmatamento e remoo do capeamento;

    2

    Perfurao por marteletes pneumticos, acionados por compressores ou manual utilizandoferramentas rsticas (marreta, ponteiro, ao, etc.);

    3Operao de desmonte, realizado por meio de explosivos para desagregao dos minerais;

    4

    Remoo dos minerais do desmonte para o local de embarque, essa fase tambm bastanterudimentar e envolvem ps manuais, carro de mo, guincho mecnico ou manual;

    5Os minerais removidos passam por um pr-beneficiamento,