a traduÇÃo de marcas identitÁrias nas legendas … · 2.3. procedimentos técnicos da tradução...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS A TRADUÇÃO DE MARCAS IDENTITÁRIAS NAS LEGENDAS DO FILME UMA ONDA NO AR Mariana Ferreira Ruas RIO DE JANEIRO 2012/1

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Page 1: A TRADUÇÃO DE MARCAS IDENTITÁRIAS NAS LEGENDAS … · 2.3. Procedimentos técnicos da tradução ... partir do século passado é que emergiu o termo Estudos da Tradução, cunhado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

MESTRADO EM LETRAS NEOLATINAS

A TRADUÇÃO DE MARCAS IDENTITÁRIAS

NAS LEGENDAS DO FILME UMA ONDA NO AR

Mariana Ferreira Ruas

RIO DE JANEIRO

2012/1

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A TRADUÇÃO DE MARCAS IDENTITÁRIAS NAS LEGENDAS

DO FILME UMA ONDA NO AR

Mariana Ferreira Ruas

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós- Graduação em Letras Neolatinas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro

como quesito para a obtenção do Título de

Mestre em Letras Neolatinas (Estudos

Linguísticos Neolatinos – Opção: Língua

Espanhola).

Orientadora: Profa. Dra. Ma. Mercedes

Riveiro Quintans Sebold.

Rio de Janeiro

Março de 2012

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Ruas, Mariana Ferreira.

A tradução de marcas identitárias nas legendas do filme Uma onda no ar / Mariana

Ferreira Ruas – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Letras, 2012.

xii, 87 f.: Il.; 29,7 cm.

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras,

Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Língua Espanhola), 2012.

Referências Bibliográficas: f. 99-104.

1. Tradução para legenda. 2. Marcas identitárias. 3. Estudos descritivos. I. Sebold,

Maria Mercedes Riveiro Quintans. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade

de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III. Título.

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A tradução de marcas identitárias nas legendas do filme Uma onda no ar

Mariana Ferreira Ruas

Orientadora: Professora Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Neolatinas (opção língua espanhola) da Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em

Letras Neolatinas.

Aprovada por:

_________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold - UFRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Márcia Atálla Pietroluongo - UFRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Aurora Maria Soares Neiva - UFRJ

________________________________________________

Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa – UFRJ, Suplente

________________________________________________

Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro

Março de 2012

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Se aprende en la cuna,

se aprende en la cama,

se aprende en la puerta de un hospital.

Se aprende de golpe,

se aprende de a poco

y a veces se aprende recién al final

Jorge Drexler

Dedico esta dissertação àqueles que não puderam chegar até aqui, na esperança de que

o meu trabalho possa levar-me ao encontro deles.

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AGRADECIMENTOS

À força maior que comanda o Universo, por colocar em meu caminho pessoas que me

ajudaram a chegar até aqui.

À minha família, porque se hoje sou Mestre eles já são Doutores em embarcar comigo

nas minhas empreitadas, por mais impossíveis que elas possam parecer. À Elena e

Paulo, meus pais, pelo apoio incondicional, à Thais e Cibele, pelos mimos de irmãs

mais velhas, ao Denis e Rogério, pela segunda família.

À Professora Mercedes Sebold, por ter me acolhido, pela paciência, pelas oportunidades

que de outra forma eu não teria e por ter sido sempre tão generosa. Obrigada pelo

privilégio da convivência acadêmica e pessoal.

Aos Professores Elzimar Goettenauer e Cristiano Barros, por todos os anos de conselhos

durante a graduação e por me receberem com palavras sinceras e encorajadoras quando

as minhas forças pareciam esvair-se.

Aos excelentes Professores do setor de Espanhol da FALE/UFMG, por alimentarem

com maestria minha vontade de conhecer o universo hispânico.

Às Professoras Márcia Pietroluongo e Consuelo Alfaro, pelos conselhos durante aulas e

Colóquios. Apesar de breves, sempre foram certeiros e fizeram com que eu

aperfeiçoasse minhas ideias.

À Professora Aurora Neiva, pela disponibilidade em ler meu trabalho e participar da

banca.

Ao Lucas, por ser meu grande companheiro, por saber entender minhas ausências, por

estar ao meu lado e comigo desde o começo das tristezas e das alegrias e,

principalmente por me dar motivos para acreditar.

À Racchel, pela amizade e por me dar a oportunidade de ter uma “irmã” caçula.

À família Silva, pelo aconchego e pelas portas abertas.

À minha madrinha Ilva, pela torcida constante e por me deixar de herança (ou praga) o

desejo de aprender.

Aos mais novos mestres Sara e Victor, pela angústia compartilhada, pelas descobertas

divididas e pelo privilégio de tê-los como ouvintes.

Aos amigos Talita, Wander, Igor, Bruna, Ana Paula, Bruno Alberto e Estevão por

apostarem em mim mais do que eu e por serem como são.

Aos cariocas da gema Rachel, Flávia, Carolina e Diego por tornarem mais leves os

momentos de tensão durante o mestrado e por acompanharem de perto cada passo dado.

À Rayana por ter dividido comigo os puxões de orelha e o trabalho pesado.

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Aos companheiros e coordenadores do CACS e do CENEX, por conviverem com as

muitas idas e vindas.

A todos os meus alunos, por me ensinarem muito mais do que eu os ensinei. As

perguntas de vocês incentivam minha busca por respostas.

Ao tradutor do filme que, gentilmente, concedeu-me a entrevista que compõe o corpus

desta dissertação e à Simone Matos, da Quimera, que disponibilizou as listas de

diálogos do filme em português e espanhol.

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“Un traductor alemán tradujo un cuento mío que en

algún lugar decía "llega un oscuro". Él, sin darse

cuenta de que se trataba del pelaje de un caballo,

tradujo "llegaba el crepúsculo". Claro, traducía por

el diccionario. Pero es el diccionario mismo el que

induce a error. De acuerdo a los diccionarios, los

idiomas son repertorios de sinónimos, pero no lo

son. Los diccionarios bilingües, por otra parte,

hacen creer que cada palabra de un idioma puede

ser remplazada por otra de otro idioma. El error

consiste en que no se tiene en cuenta que cada

idioma es un modo de sentir el universo o de

percibir el universo.”

(BORGES, 1976.)

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RESUMO

A TRADUÇÃO DE MARCAS IDENTITÁRIAS NAS LEGENDAS

DO FILME UMA ONDA NO AR

Mariana Ferreira Ruas

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas

(Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

O objetivo da dissertação é verificar as estratégias utilizadas pelo tradutor ao validar

suas escolhas linguísticas e a motivação que o levou a fazer tais escolhas. O corpus que

constitui esta dissertação está formado pelas legendas traduzidas para o espanhol da

produção brasileira Uma onda no ar (2002). Para alcançar esse objetivo, foram

selecionadas as marcas identitárias que caracterizavam o grupo social representado no

filme, moradores de uma favela de Belo Horizonte e, posteriormente, verificou-se como

tais marcas foram traduzidas para o espanhol. As análises evidenciaram uma

normatização do texto original corroborando a hipótese inicial de que o tradutor tentaria

omitir as marcas de oralidade de um registro informal. Considerando-se a noção de

tradução adotada que a vê como um fato da cultura que a recebe (Toury, 2004), conclui-

se que nas legendas para o espanhol a identidade social do grupo representado não

encontra um equivalente na tradução proposta. Além dos diálogos, foi feita uma

entrevista com o tradutor que reforçou a caracterização de suas ações como intuitivas e

desprovidas de reflexão linguística e teórica acerca do processo tradutório.

Palavras-chave: tradução, legenda, marcas identitárias.

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RESUMEN

LA TRADUCCIÓN DE MARCAS DE IDENTIDAD EN LOS SUBTÍTULOS

DE LA PELÍCULA UMA ONDA NO AR

Mariana Ferreira Ruas

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas

(Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

El objetivo de este trabajo de investigación es verificar las estrategias utilizadas por el

traductor en el momento de validar sus elecciones lingüísticas y la motivación que lo

condujo a hacer dichas elecciones. El corpus que constituye este trabajo está formado

por los subtítulos traducidos al español de la producción brasileña Uma onda no ar

(2002). Para tanto, se han seleccionado las marcas de identidad que caracterizaban el

grupo social representado en la película, moradores de una favela de la ciudad de Belo

Horizonte y, posteriormente, se verificó cómo tales marcas han sido traducidas al

español. Los análisis evidenciaron una normalización lingüística del texto original

corroborando la hipótesis inicial de que el traductor intentaría omitir las marcas de

oralidad de un registro informal. Considerando la noción de traducción adoptada que la

ve como un hecho de la cultura que la recibe (Toury, 2004), se concluye que en los

subtítulos al español la identidad social del grupo representado no encuentra un

equivalente en la traducción propuesta. Además de los diálogos, se ha hecho una

entrevista con el traductor que reforzó la caracterización de sus acciones como intuitivas

y desprovistas de reflexión lingüística y teórica sobre el proceso de traducción.

Palavras clave: traducción, subtítulo, marcas de identidad.

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ABSTRACT

THE TRANSLATION OF IDENTITARY TRAITS IN SUBTITLES

FROM THE MOVIE UMA ONDA NO AR

Mariana Ferreira Ruas

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas

(Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

The aim of this Master’s thesis is to look into the strategies used by the translator to

validate his linguistic choices and his motivation for making such choices. The corpus

in this research is constituted by the Spanish subtitles for the Brazilian film Uma onda

no ar (2002). In order to achieve my goal, I selected identitary traits that characterize

the social group portrayed in the movie, inhabitants of one of the slums in Belo

Horizonte, to later check how these traits have been translated into Spanish. My analysis

has shown a normalization of the original text proving right the initial hypothesis that

the translator would omit the traits of orality from an informal register. Considering that

translations are “facts of target cultures” (Toury 2004), I could come to the conclusion

that the Spanish subtitles lack social identity from the group represented.

Besides the dialogues from the movie, I interviewed the translator who reinforced his

actions as intuitive and bearing no theoretical and linguistic thinking about the

translation process.

Keywords: translation, subtitles, identitary traits

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SUMÁRIO

Introdução ...................................................................................................................... 12

1. Sobre identidade ........................................................................................................ 16

1.1. As línguas do tradutor .......................................................................................... 21

2. Sobre tradução ........................................................................................................... 25

2.1. Os Estudos Descritivos da Tradução ................................................................... 26

2.2. Tradução para legendas ........................................................................................ 29

2.3. Procedimentos técnicos da tradução .................................................................... 33

3. Metodologia ............................................................................................................... 38

3.1. Análise das listas de diálogos .............................................................................. 38

3.2. Entrevista ............................................................................................................. 39

4. Análise ........................................................................................................................ 42

4.1. Listas de diálogos ................................................................................................. 42

4.2. Entrevista ............................................................................................................. 75

4.3. Uma leitura conjunta dos dados ........................................................................... 92

5. Considerações finais .................................................................................................. 96

Referências bibliográficas ............................................................................................. 99

Anexos ........................................................................................................................... 105

I. Roteiro de entrevista .............................................................................................. 105

II. Convenção para transcrição de dados .................................................................. 108

III. Transcrição da entrevista .................................................................................... 109

IV. Tabela de categorização das legendas ................................................................ 117

V. Listas de diálogos em espanhol e português .................................................. em CD

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INTRODUÇÃO

A tradução é uma prática existente desde a antiguidade. Há registros de que a

primeira grande tradução realizada em nossa cultura, do hebraico para o grego, tenha

ocorrido entre os séculos III a.C. e I a.C. A primeira tradução literária de uma língua à

outra foi realizada por volta do ano 250 a.C.; tratava-se da tradução ao latim da Odisséia

de Homero por Lívio Andrônico (FURLAN, 2008). Entretanto, pode-se dizer que a

partir do século passado é que emergiu o termo Estudos da Tradução, cunhado por

Holmes em 1972.

Como atividade, a tradução se subdivide em vários campos, porém, em termos

numéricos, a tradução audiovisual, tema desta dissertação, configura-se como a

atividade mais importante do nosso tempo, como afirma o teórico Jorge Díaz Cintas

(2001). Sua importância advém do fato de que através principalmente do cinema, da TV

e do DVD, a tradução audiovisual atinge um público bastante superior àquele de

qualquer outro tipo de tradução.

Dentro das modalidades de tradução audiovisual (TAV), encontramos a

legendagem aberta (ou interlingual), caracterizada pela inserção do texto traduzido em

formato de legendas na tela de exibição (MARTINEZ, 2007). Tal modalidade possui

particularidades quanto aos aspectos lingüísticos envolvidos, como o fato de estabelecer

um contato entre dois códigos distintos - oral e escrito – e as barreiras que o tradutor

encontrará devido à censura das produtoras, às constantes críticas – de leigos e

especialistas e à quantidade exígua de caracteres disponíveis para a elaboração da

legenda. Gottlieb (1998) sinaliza que as limitações de caracteres e tempo de exposição

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da legenda obrigam o legendador a fazer uma redução nos diálogos que pode chegar a

um terço do volume total do texto original.

O corpus que constitui esta dissertação está formado pelas legendas traduzidas

para o espanhol do filme Uma onda no ar, de Helvécio Ratton. A partir da análise das

listas de diálogos em ambas as línguas, busco selecionar as marcas identitárias que

caracterizam um grupo social específico e observar como as mesmas são expressas nas

legendas em espanhol.

Considerando-se a variação das línguas e seus possíveis registros de uso

(variação social), minhas questões de pesquisa foram: Como um tradutor experiente lida

com essas questões no processo do seu trabalho? Se a tradução está condicionada à

cultura alvo, já que ela impulsiona o processo tradutório (TOURY, 2004) quais são as

escolhas linguísticas de um tradutor no momento de reconstruir as marcas identitárias

no texto traduzido, tendo como ponto de referência o texto original?

Mais que observar a correspondência ou não da tradução nas duas línguas,

minha proposta é a de verificar as estratégias utilizadas pelo tradutor ao validar suas

escolhas linguísticas e a motivação que o levou a fazer tais escolhas.

Considerando-se que o filme legendado terá como público uma grande

diversidade de comunidades que falam o espanhol e se caracterizam por apresentar

variações linguísticas internas, levanto as hipóteses de que (1) o tradutor tentará omitir

marcas de oralidade de um registro informal que caracterizam fortemente o grupo social

representado, preferindo formas da norma culta e do registro escrito e (2) buscará

utilizar um espanhol mais homogêneo e sem marcas específicas, adequando-se melhor

às necessidades comunicativas mais diversas e, consequentemente, distanciando o

discurso de seu lugar de origem.

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Para os estudos descritivistas, a tradução se define como uma atividade que

relaciona pelo menos duas línguas e duas tradições culturais (TOURY, 2004). Devido

às limitações impostas pela legendagem, como a impossibilidade de inclusão de notas

de rodapé ou explicações mais extensas sobre um determinado item lexical ou expressão

cultural, cabe ao legendador a difícil tarefa de reconstruir, na língua alvo, aquelas

relações entre a língua e a cultura que se estabeleceram no texto original.

Para alcançar os objetivos propostos e discutir as questões suscitadas pela

tradução de marcas identitárias, esta dissertação está organizada em quatro capítulos,

além desta Introdução e da seção de Considerações Finais e dos Anexos.

O primeiro capítulo está dividido em duas partes. A primeira delas é destinada

ao exame de conceitos e noções relativos à formação de identidade, mostrando como

diferentes autores entendem a questão identitária e de que forma a identidade é um

ponto fundamental para as reflexões que serão empreendidas ao longo deste trabalho.

Em seguida, discuto e defino a noção de língua adotada em minha análise.

A segunda parte está dedicada ao exame do contato estabelecido entre o tradutor

e as duas línguas em jogo durante a tradução. Para isso, apresento algumas teorias que

dão conta da entrada na língua estrangeira como um fator desestabilizador da identidade

do indivíduo.

No segundo capítulo, além de apresentar os conceitos fundadores do Modelo

Descritivo da Tradução (EDT) propagados pelo teórico Toury, são expostas as

particularidades da tradução para legendas e estudos recentes que abordam o tema no

Brasil. Também nesse capítulo, defino os procedimentos técnicos que serão utilizados

posteriormente na análise das listas de diálogos do filme, tomando inicialmente como

base a proposta de Barbosa (1990).

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É no terceiro capítulo que apresento os procedimentos metodológicos da

pesquisa, descrevendo os instrumentos utilizados para a composição do corpus e para a

coleta de dados.

O quarto capítulo está reservado à análise dos dados, dividindo-se em três

seções. Na primeira seção, serão apresentados os dados colhidos nas listas de diálogos,

mediante exemplos que serão cotejados a partir dos procedimentos propostos por

Barbosa (1990) além de outros. Na segunda seção, serão analisados excertos da

transcrição da entrevista concedida pelo tradutor. Durante as análises são identificadas

as estratégias discursivas do tradutor ao demonstrar sua definição de alguns conceitos

como tradução, formação, língua e variação linguística.

Na terceira e última seção pretendo estabelecer um ponto de contato entre os

dados das duas seções anteriores, buscando compreender melhor as escolhas realizadas

pelo tradutor e esboçando um encaminhamento às conclusões deste trabalho.

Passo ao texto.

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1. SOBRE IDENTIDADE

O objetivo principal do estudo que se busca empreender é o de entender como

são tratadas, na legenda ao espanhol, as marcas identitárias representativas de um grupo

social específico. Para tal, pauto-me na ideia defendida por Toury (2004, p.97) de que a

tradução é uma atividade que coloca em contato ao menos duas línguas e duas tradições

culturais. Além disso, a teoria descritivista da tradução, defendida pelo teórico citado,

propõe uma abordagem orientada ao polo meta1, por considerar que a cultura de

chegada determina as características da tradução e influencia os procedimentos e

escolhas do tradutor.

Considerando-se que o tradutor é receptor de pelo menos duas línguas e culturas,

e que sua inserção no processo tradutório ocorre de maneira ativa, através de suas

escolhas, entendo que a imagem defendida pelos estudos tradicionais (Catford, 1980;

Mounin, 1963) de que a tradução seja um veículo neutro entre a obra “original” e suas

“versões” e o tradutor uma ponte entre dois sistemas linguísticos, não dá conta de

explicar as complexas relações que se estabelecem entre texto fonte e meta. A

concepção de Coracini (2007), de que o tradutor é “um sujeito entre-línguas-culturas” e

que transita entre a “sua” língua e a língua do outro, parece oferecer mais subsídios para

tratar o lugar ocupado pelo tradutor.

Optar por uma definição de um termo como o de “língua” torna-se fundamental,

então, para construir todos os outros tópicos que dependem desse entendimento. É

frequente a associação entre língua e instrumento de comunicação ou como sistema de

1 A postura de Toury consiste em estudar a tradução a partir do texto meta, ou seja, o texto traduzido,

diferentemente do que se fazia até a década de 1970, quando o foco ainda recaía sob o texto original.

Para o teórico, a cultura-meta (ou alvo) determina a necessidade da tradução, pois a mesma é produzida

para suprir um vazio desse sistema.

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sons (REVUZ, 1998, p.218), porém, atualmente muitos estudiosos, principalmente da

área da sociolinguística e da linguística aplicada, têm ressaltado sua função enquanto

elemento construtor da identidade de um indivíduo e da sua comunidade.

Antes mesmo de nascer estamos, como afirma Revuz (1998), ligados a um

ambiente que nos oferece palavras. Mesmo que, num primeiro momento, a criança não

possa reproduzir ou produzir outras palavras a partir das que recebe já se vê inserida em

um ambiente de significação. Da mesma forma, os sentidos não existem por si mesmos,

mas se dão junto ao sujeito, pois “ao significar, nos significamos” (ORLANDI, 2002,

p.205), sendo os mecanismos de produção de sentidos os mesmos de produção dos

sujeitos. De forma complementar, concebe-se a relação entre sujeito-língua como de

interdependência, pois se as línguas (enquanto estrutura) preexistem aos sujeitos, é só

nesse sujeito que os sentidos se atualizam (FROTA, 2000).

Mello (1999) faz coro à intrínseca relação entre língua e identidade, agregando-

lhe a noção de comportamento social ligada à cultura e história de um povo. Entretanto,

a autora ressalta a impossibilidade de conceber que “cada país possui uma língua falada

de forma uniforme por todos aqueles que vivem dentro dos limites de suas fronteiras”

(MELLO, 1999, p.23), afirmando que não existem dois grupos sociais idênticos,

inclusive no que diz respeito ao âmbito linguístico.

A noção de que um país é uma nação monolíngue (BORTONE, 2007; MELLO,

1999) exclui as variações existentes e as minorias linguísticas e socioculturais. A

diversidade linguística que caracteriza todas as línguas naturais não pode, segundo

Mello (idem), ser discutida apenas em aspectos puramente espaciais, pois entram em

jogo também a dimensão social de grupos de indivíduos e o contexto situacional. Desse

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complexo emaranhado de constituintes, emergem os estereótipos, quase sempre

preconceituosos, a partir do significado social atribuído à variação linguística.

O fato de que países possuam variedades de língua legitimadas como nacionais,

instala o prestígio de determinada norma em detrimento de outras, consideradas menos

adequadas e corretas. Ainda que exista uma variedade que é imposta como norma

padrão, as necessidades de uso ativam “normas” diferentes da língua, sendo possível

afirmar que nenhum indivíduo, mesmo aquele pertencente à elite representativa do

padrão prestigioso, fala uma única variedade linguística, “mas várias, dispostas em um

continuum” (MELLO, 1999, p.27).

Concebendo a língua como construtora da identidade dos sujeitos e como

comportamento social, esbarrei em uma pergunta inicial, pois afinal o que é identidade?

Como discutido por Silva (2000, p.74), em um primeiro momento identidade é “aquilo

que se é: ‘sou brasileiro’, ‘sou negro’, ‘sou heterossexual’, ‘sou jovem’, ‘sou homem’”.

Dessa forma, a identidade passa a ser algo auto-suficiente, uma entidade

independente. Porém, a diferença se estabelece pelo mesmo caminho, em oposição à

identidade. Assim, a diferença “é aquilo que o outro é: ‘ela é italiana’, ‘ela é branca’,

‘ela é homossexual’” (SILVA, 2000, p.74). Portanto, podemos compreender que

identidade e diferença estão em uma relação de interdependência, uma vez que só faz

sentido afirmar “sou brasileiro” quando pensamos que existem outros humanos que não

são brasileiros, outros que são diferentes.

Alguns estudiosos das teorias do discurso e da psicanálise entendem a identidade

como

algo instável, sempre em movimento, heterogênea e conflituosa, ou melhor,

[ela se constitui] como ilusão ou “sentimento” de totalidade que torna

presente o que está ausente ou temporalmente adiado. (CORACINI, 2007,

p.198)

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Stuart Hall (2006) afirma que as novas identidades caracterizam-se por sua

instabilidade, e que o indivíduo pós-moderno é um sujeito fragmentado e mutável. Para

o teórico das ciências sociais, estamos vivendo um processo de mudança no qual a

identidade é uma “celebração do móvel”, pois passa constantemente por

transformações. Em suas palavras

Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes

direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente

deslocadas. (...) A identidade plenamente unificada, completa, segura e

coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de

significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por

uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com

cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.

(HALL, 2006, p.13)

Hall argumenta que os limites geográficos entre os países já não separam os

indivíduos que os constituem. Segundo o autor, as identidades nacionais percorrem dois

caminhos em sentidos distintos: paralelamente à desintegração das identidades, ocorrem

movimentos de resistência e reforço dessas mesmas identidades. Desse embate, surgem

novas subjetividades; identidades misturadas, híbridas. O contato com o outro nunca foi

uma novidade, porém na pós-modernidade temos contato, de forma contínua, com

vários outros, com vários modelos de identidades e culturas, o que dificulta nosso

pertencimento a um modelo de identidade fixa.

Identidade e diferença são relações sociais e sua definição, como afirma Silva

(2000), “está sujeita a vetores de força, a relações de poder”. No discurso, as marcas de

poder podem ser visualizadas como inclusão ou exclusão (estes x aqueles), demarcação

de fronteiras (nós x eles), classificação (bons x maus), normalização (normais x

anormais). Para o autor, classificar o mundo entre ‘nós’ e ‘eles’ é fazê-lo

hierarquicamente e tal mecanismo sempre é feito desde o ponto de vista da identidade.

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Dividir e classificar, amplamente, significa hierarquizar, organizando as relações

sociais em operações de poder. E, como identidade e diferença são estreitamente

dependentes, afirmar a homogeneidade da identidade é impossível, uma vez que é

assombrada pelo Outro, “sem cuja existência ela não faria sentido” (SILVA, 2000,

p.84).

A noção de identidade permitirá discutir o lugar em que se encontra o sujeito

tradutor, retomando a definição de tradução como uma atividade de contato entre duas

línguas e suas culturas. Também me apoiarei no conceito ao estabelecer as marcas

discursivas que comporão o corpus de análise, tarefa que será empreendida como parte

dos objetivos gerais desta pesquisa.

Afinando a noção de identidade à intenção supracitada, tomarei como referencial

os estudos de Maffesoli (2010) sobre as tribos. O autor desenvolve a concepção de que

a pós-modernidade, tendo em vista os resultados desagregadores produzidos pelo

estímulo ao consumo de bens materiais como forma de estabelecimento de uma

identidade, possibilitou o retorno do sentido de comunidade à tribo, no intuito de

promover a identificação do indivíduo a um conjunto de pessoas com gostos e costumes

similares.

Para os propósitos deste estudo, assumo a identidade a partir das teorias

supracitadas e entendo que o sujeito pós-moderno constitui-se como heterogêneo e que

dentro dele há identidades contraditórias, que estão sendo continuamente deslocadas. O

tradutor, como sujeito da pós-modernidade, se insere nesse contexto mutável. Além

disso, a tradução propicia um contexto ainda mais complexo, uma vez que “língua

materna” e “língua estrangeira” se interpenetram na constituição da identidade de um

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mesmo indivíduo, estabelecendo-se, portanto, um lugar onde se confundem, apagam ou

se embaraçam os limites de uma e outra (CORACINI, 2007, p.198).

1.1 – AS LÍNGUAS DO TRADUTOR

Além de asseverar que a tradução se define como uma atividade que relaciona pelo

menos duas línguas e duas tradições culturais (TOURY, 2004), os estudos descritivistas

consideram que a atividade tradutória está condicionada à cultura alvo e é regulada por

normas, estratégias que embora não sejam de uso obrigatório estão convencionadas pelo

uso e pela aceitabilidade que gozam entre o público receptor.

Embora Jakobson (1999, p.65) afirme que a tradução envolve duas mensagens

equivalentes em dois códigos diferentes, concordo com Baker (1992 apud AGRA,

2011; MAGALHÃES, 2006) no sentido de que a equivalência em tradução é relativa,

sendo influenciada por diversos fatores linguísticos e culturais. Toury (2004) considera

que é impossível chegar à equivalência total na tradução, já que sua própria natureza

implica que a diferença entre as duas línguas deverá ser mantida nesse processo

interlinguístico.

Como já foi definido anteriormente, entendo a tradução como uma atividade

complexa de produção de sentidos, que coloca em contato pelo menos duas línguas e

duas culturas. O tradutor, então, não é considerado como uma ponte ou um veículo

neutro à disposição do autor (CORACINI, 2007, p.198), mas sim um sujeito que se

encontra “entre-línguas-culturas” e que se constitui também do Outro, representado pela

língua estrangeira. Entretanto, uma vez que parto da noção de que a língua é construtora

da identidade, o contato com a outra língua, que não é a “sua”, traz consigo uma série de

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implicações na configuração do sujeito, como defende Revuz (1998, p.227) “aprender

uma língua é sempre, um pouco, tornar-se um outro”.

A prática da tradução põe em contato duas línguas diferentes, duas maneiras de

construir o mundo dos sentidos (REVUZ, 1998). Essa “entrada” na língua estrangeira,

na língua do “outro”, rompe a ideia da possibilidade de equivalência total entre línguas

e descola o “real” do “linguístico”, revelando a arbitrariedade de todos os sistemas de

significação linguística.

Outro ponto que deve ser esclarecido é o entendimento do que chamo “original”

em oposição à tradução. Compartilho a visão pós-estruturalista no que diz respeito à

impossibilidade de significados estáveis em um texto (BRITTO, 2006), unida à ideia de

que ler não é descobrir os significados “originais” do texto (ARROJO, 1993), mas sim

criar significado. Arrojo (1992) alega que é impossível conceber um nível de apreensão

neutra de significados, pois não se pode vislumbrar um sujeito que teorize fora de um

contexto sócio-histórico-cultural e que pudesse desfazer-se de suas crenças, emoções e

desejos no momento de sua atividade teórica, da mesma forma não “podemos ler um

texto sem que projetemos nessa leitura as circunstâncias e os padrões que nos

constituem enquanto leitores e membros de uma determinada sociedade” (ARROJO,

1993, p.19).

Aplicadas à tradução, essas conclusões reformulam o conceito de texto

“original”, pois por um lado não existe o “original” como objeto estável e, por outro, a

própria atividade tradutória implica duas línguas que são diferentes e variáveis. A

tradução, por si só, envolve diferença de uma cultura à outra, variação dentro de uma

cultura e mudança através do tempo (TOURY, 2004, p.72).

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É certo que encaro a tradução como forma de contato entre duas línguas

diferentes e, nesse caso, o português brasileiro (PB) e o espanhol. Contudo, nego a visão

de língua uniforme, estanque e invariável para afirmar que os falantes de uma

determinada língua, apesar de fazerem uso do mesmo sistema linguístico, apresentam

variações distintas deste sistema.

Mello (1999, p.25) lista três dimensões que entram em jogo na diversidade

linguística: espacial, social e de domínios situacionais. A primeira dimensão relaciona-

se a uma área geográfica, por exemplo, um país, uma cidade, um bairro; a segunda é

determinada pelo uso da língua em diferentes segmentos da sociedade; por último

também é fundamental pensar que contextos de fala diferentes requerem estilos ou

registros diferentes.

E, da mesma forma em que “não há dois grupos sociais idênticos em todos os

seus aspectos, inclusive o linguístico” (MELLO, 1999, p.23) também não existem dois

falantes que compartilham exatamente a mesma língua. Todas essas considerações

apoiam a defesa da complexidade da tradução e também da identidade do tradutor,

sujeito perpassado por duas línguas e modificado por elas.

O tradutor, modificado pelo “outro” (sua língua e cultura), é confrontado todo o

tempo com outro “recorte do real” (REVUZ, 1998, p.223), diferente daquele operado

pela língua materna. Isso ocorre porque o signo linguístico é arbitrário, de acordo com

Saussure (SILVA, 2000, p.77), fazendo com que as palavras da língua estrangeira

evoquem e produzam outras significações.

Nesse panorama, a língua materna nunca pode ser desconsiderada, pois como

afirma Hurtado Albir (1988 apud FIGUEIREDO, 2007, p.102) ela é a referência de

qualquer falante com o mundo da linguagem. Qualquer outra representação linguística

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que venha a constituir a identidade do sujeito passará primeiro pela sua chegada à

linguagem propiciada pela língua materna. O tradutor, como qualquer outro sujeito,

carrega, na sua tarefa de construção de significados, traços do seu contexto sócio

histórico, da sua cultura e de sua subjetividade (CORACINI, 2007).

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2. SOBRE TRADUÇÃO

No intuito de descrever as estratégias2 de escolha do tradutor das legendas do

filme Uma onda no ar é que se propõe um estudo baseado no modelo descritivo da

tradução proposto por Toury (2004), orientado ao texto alvo para justificar e descrever

os procedimentos do tradutor. Nessa abordagem, o ponto de partida são os fatos

observáveis, ou seja, o produto, e só depois é feita a reconstrução dos fatos não

observáveis, as tomadas de decisões do tradutor. Com a finalidade de analisar

detalhadamente o modo como foram elaboradas as traduções dos trechos selecionados

do corpus escolhido, especificamente, as marcas identitárias neles contidas, utilizo parte

da categorização dos procedimentos técnicos da tradução proposta por Barbosa (1990).

Tal categorização, entretanto, precisou ser ampliada e foram incluídas categorias mais

amplas além de outras subdivisões que surgiram durante a análise.

Cabe mencionar que as duas abordagens que apoiam minha análise são

divergentes e, em certo ponto, poderiam até ser excludentes. Entretanto, durante o

trabalho com as modificações ocorridas na legenda surgiu a necessidade de voltar o

olhar para o texto original, buscando entender quais seriam as consequências das opções

do tradutor na constituição dos sentidos dentro da perspectiva da identidade dos

personagens. Assumo, portanto, que utilizarei uma abordagem heterodoxa, no que diz

respeito aos Estudos Descritivos da Tradução, pois pretendo observar o fenômeno

através de dois aspectos.

2 Utilizo os termos procedimento e estratégia como sinônimos, embora dentro dos Estudos da Tradução

os mesmos não sejam vistos como equivalentes. De forma geral, o procedimento está mais relacionado ao

que se observa do produto final de uma tradução, quando comparado ao texto original. Por outro lado, a

estratégia relaciona-se ao processo cognitivo em si.

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2.1. OS ESTUDOS DESCRITIVOS DA TRADUÇÃO

Apesar de a tradução ser recente como campo de estudos, há uma variedade de

definições dependendo da perspectiva adotada. Segundo traçado em Koglin (2008), a

perspectiva lingüística centra-se na noção de equivalência, ou seja, de substituir o

material textual de uma língua por outra. A visão funcionalista de Katharina Reiss e

Hans J. Vermeer (1984 apud KOGLIN, 2008) mudou “os paradigmas do conceito de

equivalência e, consequentemente, o conceito de tradução” (KOGLIN, 2008). Nessa

abordagem, a tradução passa a ser, além de um processo linguístico, também cultural.

Os estudos descritivos da tradução (EDT) apresentam-se como uma tentativa de

desenvolver uma teoria menos prescritiva para a área. Grande parte dos teóricos dos

estudos descritivistas veio da literatura comparada. Esses pesquisadores, por estarem

envolvidos em obras traduzidas, buscaram “estabelecer um novo paradigma para o

estudo da tradução literária, com base numa teoria abrangente e uma pesquisa prática

contínua” (NIELSEN, 2007, p.26).

Os EDT, proposto na década de 1970, tinham como base a Teoria dos

Polissistemas desenvolvida por Itamar Even-Zohar. Em linhas gerais, esta teoria assume

que uma determinada cultura compõe-se como um grande sistema que, por sua vez, é

constituído internamente por outros sistemas e que se relaciona com outros sistemas

paralelos. O sistema literário figura dentro do polissistema de uma cultura e abriga o

sistema da literatura traduzida.

O termo sistema é definido por Even-Zohar como “a rede de relações que pode ser

tomada como hipótese para um determinado conjunto de supostos observáveis

(‘ocorrências’/’fenômenos’)” (CARVALHO, 2005, p.30) e polissistema como um

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sistema dinâmico e heterogêneo, no qual se entrecruzam vários sistemas que, apesar de

empregarem opções diferentes funcionam como um todo complexo e estruturado.

(EVEN-ZOHAR, 1990, p.12).

A teoria dos polissistemas defende a ideia de que vários elementos estão em

interação para determinar o que é aceito em cada cultura, descartando outras opções

que, embora sejam adequadas, são improdutivas naquele contexto. Em seu trabalho,

Even-Zohar deu lugar a uma discussão sobre o papel e a importância da literatura

traduzida num dado polissistema.

Para os estudos descritivos, a tradução está inserida no sistema de determinada

cultura e se define como uma atividade que relaciona pelo menos duas línguas e duas

tradições culturais. Even-Zohar (1990, p.51) defendia que “a tradução não é mais um

fenômeno cuja natureza e cujas fronteiras são dadas de uma vez por todas, mas uma

atividade que depende das relações dentro de um determinado sistema cultural”.

A partir de seus estudos a noção de tradução foi ampliada, ajudando a mostrar que

os parâmetros utilizados pela prática tradutória numa cultura são determinados pelos

modelos da língua meta. Segundo Nielsen (2007, p.30)

(...) a partir daí, estudiosos viram que, em vez de restringir as discussões a

uma noção subjetiva sobre a equivalência que existe entre o texto-fonte e o

texto-alvo, poderiam concentrar seus estudos no texto traduzido por

considerá-lo um legítimo integrante do polissistema-alvo.

Dentre os nomes relacionados aos Estudos Descritivos da Tradução, talvez o do

teórico israelense Gideon Toury seja o mais conhecido. Toury começou a construir seu

programa em cooperação com Even-Zohar, orientador de sua tese de doutorado, em

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1980. O modelo de Toury, inicialmente pensado para a literatura, ganhou novas

aplicações, como o campo audiovisual (DUTRA, 2008).

Sua teoria teve como base a premissa de que a atividade tradutória está

condicionada à cultura alvo, pois a necessidade de tradução é geralmente determinada

pela cultura receptora, numa demanda por preencher os vazios de algo que falta na

cultura meta, mas que existe em outra cultura (TOURY, 2004, p.68).

Além disso, os descritivistas estabelecem o foco de suas pesquisas na explicação

das possíveis razões que levaram o tradutor a tomar certas decisões, considerando o

contexto sócio histórico para obter uma melhor compreensão dos mecanismos que

permitem às traduções funcionarem na cultura de recepção. Para esses estudiosos, o

objetivo passa a ser o de “determinar o lugar que uma tradução ocupa dentro do sistema

literário da língua meta, e não mais verificar até que ponto o texto traduzido conseguiu

refletir o chamado original” (MARTINS, 1999, p.31)

Os principais fundamentos desse modelo de análise são (DUTRA, 2008, p.85):

1. A literatura é vista como um sistema dinâmico e complexo.

2. A abordagem tem caráter descritivo (e não prescritivo) e é voltada para o

texto alvo (o original deixa de ser o foco e o ponto de início da análise é a

tradução).

3. São analisadas as traduções que são de fato tidas como traduções no pólo

receptor.

4. A análise não visa julgar as traduções que tem êxito ou que falham, e sim

suas regularidades que governam a produção e a recepção das traduções e

que poderão ou não ser usadas como referência em futuras traduções.

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Para Toury, a tradução é sempre um fato da cultura alvo, pois é ela quem

impulsiona o processo tradutório. Desconsiderar essa premissa dificultará a tarefa a ser

executada, pois a recepção do texto traduzido será determinada pela cultura de quem o

recebe.

O foco é o sistema meta, porém o trabalho não deve se esgotar nele, pois o

teórico acredita que definições a priori sobre tradução supõe certa pretensão em

estabelecer de uma vez por todas os limites de um objeto caracterizado por sua própria

variabilidade: a diferença de uma cultura à outra, a variação dentro de uma cultura e a

transformação ao longo do tempo (TOURY, 2004, p.72, grifos do autor).

Tal visão de tradução dialoga diretamente com o tema do presente trabalho, uma

vez que pretendo investigar as escolhas do tradutor ao traduzir marcas identitárias de

um determinado grupo social a outro idioma.

Como o tradutor é o receptor de pelo menos duas culturas, ele se insere no

processo de forma ativa, através de suas escolhas e não é uma simples ponte entre dois

sistemas linguísticos, como pressuposto nos estudos tradicionais da tradução. Coracini

(2007) defende que o tradutor é “um sujeito entre-línguas-culturas” e que transita entre

a “sua” língua e a língua do outro.

2.2. TRADUÇÃO PARA LEGENDAS

A tradução audiovisual (TAV) vem experimentando, conforme exposto pelo

teórico Díaz Cintas (2001, p.19) uma revolução, devido à crescente oferta e demanda de

produtos audiovisuais, como programas de televisão fechada, os avanços tecnológicos

como o DVD e as mídias de reprodução de conteúdos, além do incremento da produção

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cinematográfica no mundo. Carvalho (2005) aponta que, entre as diferentes técnicas de

TAV, a legendagem é uma das mais difundidas atualmente, talvez por ser mais barata e

sua produção ser mais ágil.

Na legendagem se estabelece uma situação especial no âmbito das diferentes

técnicas de tradução, pois, além de traduzir de uma língua para outra traduz-se do

registro oral, mais livre, para o registro3 escrito, mais rígido. (GOTTLIEB, 1994). Essa

técnica, para Gottlieb (1994), é denominada como tradução diagonal, pois existe a

necessidade de adaptar um código oral a um produto em código escrito.

O tradutor para legendas precisa ser capaz de lidar com os vários conjuntos de

normas que existem nessa atividade. Para Carvalho (2005, p.85), em termos gerais as

principais regras que o tradutor de materiais audiovisuais deve saber manipular são:

1) as normas referentes à modalidade de tradução realizada,

2) os parâmetros próprios do meio no qual o produto será distribuído ou transmitido, e

3) as regras impostas por seus clientes diretos e indiretos.

Além dessas, a legendagem ainda impõe uma regra específica em função do

espaço disponível e, principalmente, sua natureza polissemiótica – pois há outros canais

envolvidos, além do verbal – gera alguns problemas para o tradutor, como a necessidade

de concisão do texto e a de adaptar os enunciados para diminuir as perdas em relação ao

discurso original. Em efeito, a mensagem da legenda já é predeterminada pela largura

disponível na tela e que, normalmente, não permite mais que 32 a 35 toques por linha

em, no máximo, duas linhas. (DÍAZ CINTAS, 2001, p.24).

3 Gottlieb (1994) utiliza o termo código em sua obra para referir-se ao registro.

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Martinez (2007) lista alguns parâmetros técnicos que devem ser seguidos por um

legendador, especificamente no contexto de produção de legendas para a televisão. A

autora estabelece que os principais seriam o número de caracteres por linha e o tempo

de exposição de uma legenda na tela, que, no mercado brasileiro atual é de no mínimo 4

e no máximo 6 segundos.

À parte dos fatores extralinguísticos, o tradutor para legendas ainda precisa lidar

com os fatores linguísticos e culturais que muitas vezes representam um desafio para a

atividade tradutória. As questões culturais e identitárias refletem-se nos textos e, como

já foi citado, o discurso é uma prática social que caracteriza um determinado grupo e a

tradução de aspectos culturais específicos – como referências a costumes, gírias,

expressões idiomáticas – pode representar uma dificuldade.

Martinez (2007, p.52) destaca que o legendador deve ser capaz de se expressar

nos diferentes registros da língua de tradução, qualidade que ela inclui como

pertencente à competência cultural, defendendo que o legendador precisa interpretar as

mensagens culturais que aparecem no texto original e conseguir transpô-las ao texto

traduzido.

Outro fator que é abordado por Martinez (2007, pg.54) diz respeito ao registro

linguístico que deve ser priorizado nas legendas. Ela conclui que a norma linguística

mais amplamente adotada no mercado de legendagem brasileiro é o uso do discurso

semiformal, ou seja, de um registro que incorpora algumas marcas de oralidade sem no

entanto desrespeitar as regras do português padrão. Porém, a tradutora chama a atenção

para o fato de que em filmes e programas mais populares a linguagem mais usual é

preferível frente ao uso de formas mais rebuscadas.

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Cumpre mencionar que passamos, no Brasil, por um crescimento nos estudos na

área da legendagem. Um dos primeiros estudos do gênero realizado no país é de Souza

(1999), no qual o autor foca sua pesquisa em dois casos de tradução para preparação de

legendas de programas televisivos de língua inglesa. Outras dissertações de mestrado

publicadas recentemente são as de Martinez (2007) cujo foco é a formação de

profissionais para a tradução de legendas; Carvalho (2005) que trata o tema da prática

da tradução para legendas, enfocando os profissionais e os procedimentos envolvidos na

legendagem; Costa (2008) que aborda a tradução de palavras-tabu contidas em falas de

personagens de quatro filmes em língua inglesa para o português; Koglin (2008)

tratando o tema da tradução de metáforas geradoras de humor no contexto da

legendação de um seriado televisivo norte-americano ao português e Dutra (2008) que

também aborda o humor nas legendas de um filme do inglês ao português.

Em uma primeira investigação junto aos bancos de teses e à internet, foi

encontrada somente uma dissertação que se dedica a investigar as estratégias de

tradução para legendagem envolvendo o par linguístico português-espanhol. Trata-se do

estudo de Oliveira (2008), no qual a pesquisadora investigou a legendação de algumas

expressões metafóricas no filme La lengua de las mariposas e a interferência de

diferentes estímulos no produto da tradução.

Entretanto, não foram encontrados estudos que tratassem a legendação de filme

brasileiro para o espanhol. Portanto, acredito que a presente pesquisa poderá contribuir

significativamente para as discussões nesse tema e para a ampliação dos estudos acerca

dos fundamentos teóricos e metodológicos no campo da tradução audiovisual.

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2.3. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

Os procedimentos utilizados em Barbosa (1990) são uma proposta de

recategorização apresentada pela autora, que parte de um agrupamento de técnicas de

tradução de outros autores como Vinay e Darbelnet, Nida, Catford, Vázquez-Ayora e

Newmark (BARBOSA, 1990, p.63).

Na obra, Barbosa (1990) apresenta vários procedimentos para traduzir textos,

como uma ferramenta auxiliar no trabalho do tradutor. Segundo a autora, essa obra

constitui uma forma de tentar responder a questão “como traduzir?”.

Em seu modelo, a autora elenca treze procedimentos técnicos: a tradução

palavra-por-palavra, a tradução literal, a transposição, a modulação, a equivalência, a

omissão vs. a explicitação, a compensação, a reconstrução de períodos, as melhorias, a

transferência (que abrange o estrangeirismo, a transliteração, a aclimatação e a

transferência com explicação), a explicação, o decalque e a adaptação. Passo a uma

descrição sintética de cada um, reservando para o capítulo de análise um

aprofundamento maior conforme os exemplos que serão oferecidos.

2.3.1 – Tradução palavra-por-palavra

Acontece quando a tradução de um determinado segmento textual (palavra,

frase, oração) da língua original para a língua de tradução mantem a mesma categoria

gramatical e uma mesma ordem sintática, utilizando vocábulos cujo semantismo seja

(aproximadamente) idêntico ao dos vocábulos correspondentes no texto da língua de

origem.

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2.3.2 – Tradução literal

Barbosa apoia-se na definição de Aubert (1987 apud BARBOSA, 1990) e

considera que a tradução é literal quando “mantem uma fidelidade semântica estrita,

adequando, porém, a morfossintaxe às normas gramaticais da língua da tradução”.

2.3.3 – Transposição

Caracteriza-se pela alteração da categoria gramatical de alguns dos elementos do

segmento traduzido. Segundo a autora, a transposição não é um procedimento

obrigatório, devendo, portanto observar-se as normas da língua de tradução e o estilo do

texto para fazer uso desse método.

2.3.4 – Modulação

Segundo a autora, “consiste em reproduzir a mensagem do texto da língua

original no texto da língua de tradução, mas sob um ponto de vista diverso”. Esse

procedimento reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam o real.

2.3.5 – Equivalência

Este procedimento define-se pela substituição de uma palavra, frase ou oração

da língua original para a que é alvo da tradução não por um par literal, mas que lhe é

equivalente em função. É muito utilizado, nas palavras da autora, para a tradução de

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clichês, expressões idiomáticas, provérbios, ditos populares e outros elementos

cristalizados da língua.

2.3.4 – Omissão vs. Explicitação

O primeiro consiste em omitir elementos da língua original que, ao serem

traduzidos, são desnecessários ou repetitivos. A explicitação é o inverso, que seria um

tipo de inserção de termos obrigatórios na língua de tradução.

2.3.5 – Compensação

Barbosa (1990, p.69) define esse procedimento da seguinte forma:

(...) consiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja, quando

não é possível reproduzir no mesmo ponto, no TLT, um

recurso estilístico usado no TLO, o tradutor pode usar um outro

recurso de efeito equivalente em outro ponto do texto. Os

trocadilhos, por exemplo, muito freqüente nos filmes, quando

não podem ser efetuados com um mesmo grupo de palavras,

podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possíveis

para equilibrar o texto estilisticamente.

2.3.6 – Reconstrução de períodos

O nono procedimento é caracterizado pela reagrupação de períodos do texto

original quando passados à língua de tradução. Barbosa afirma que isso acontece com

frequência entre o par inglês-português, devido à característica de períodos curtos na

primeira língua frente ao PB.

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2.3.7 – Melhorias

Consistem em não se repetirem na tradução os erros presentes no texto da língua

original. Por erros a autora entende desvios à norma padrão escrita.

2.3.8 – Transferência

Introdução de termos da língua original na tradução. Este procedimento foi

dividido em quatro grupos pela autora:

1) Estrangeirismo: transferência de um conceito, técnica ou objeto que seja

desconhecido para os falantes da língua da tradução.

2) Transliteração: substituição de uma convenção gráfica por outra. Ocorre em

casos de línguas que nem sequer compartilham o mesmo alfabeto.

3) Aclimatação: adaptação à língua de tradução dos empréstimos.

4) Transferência com explicação por meio de nota de rodapé ou diluição do termo

transferido no próprio texto.

2.3.9 – Explicação

Ocorre uma troca do estrangeirismo pela sua explicação. Pode acontecer, por

exemplo, em peças de teatro, em que é preciso que o espectador tenha uma

compreensão imediata da situação.

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2.3.10 – Decalque

Conforme descrito pela autora (1990, p.76), “consiste em traduzir literalmente

sintagmas ou tipos frasais da língua original no texto da língua de tradução”. O decalque

só pode ser detectado em uma tradução se é realizada uma análise diacrônica que

determine se já havia sido usado anteriormente.

2.3.11 – Adaptação

O procedimento de adaptação é considerado, pela autora, o “limite extremo da

tradução”, pois equivale a recriar uma realidade extralinguística dos falantes da língua

original que não existe na língua de tradução. Para tanto, esta situação pode ser recriada

por outra equivalente na língua meta.

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3. METODOLOGIA

A constituição do corpus dessa pesquisa, num primeiro momento, se restringiria

às listas de diálogos do filme em PB e espanhol, cedidas pela produtora, como já foi

mencionado anteriormente. Pretendia cotejar os dois textos e, com o auxílio dos

procedimentos técnicos descritos e definidos por Barbosa (1990) categorizar as opções

apresentadas pelo tradutor.

Entretanto, após o início da aproximação ao texto das legendas e das leituras

realizadas da teoria de Toury, entendi que o processo tradutório deveria ser enfocado,

pois permitiria que minha análise considerasse o tradutor como um sujeito ativo,

estando seu contexto sócio-histórico-cultural presente no texto produzido em língua

meta (ARROJO, 1992).

Neste capítulo, apresento os encaminhamentos metodológicos da pesquisa,

tratando dos dois instrumentos de coleta de dados.

3.1. ANÁLISE DAS LISTAS DE DIÁLOGOS

As legendas aqui utilizadas estão compiladas em duas listas de diálogos (cf.

Anexo V), uma em português e a outra em espanhol4. As listas consistem em uma

apresentação de todos os diálogos do filme, já comprimidos no idioma original.

Conforme classificação proposta por Díaz Cintas (2001, p.106), as listas que me

serviram de base contêm, além dos diálogos, a localização baseada no código de tempo

que sinaliza quando cada fala deve entrar e sair da tela e a marcação do personagem que

4 As listas de cada língua foram cedidas pela produtora do filme e estão subdivididas em cinco rolos,

totalizando 92 minutos de filme.

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diz cada uma das falas. Cabe ressaltar que o texto tido como original para o tradutor que

se encarregou da tradução é a lista de diálogos em português, não o texto oral do filme.

A análise empreendida a partir dos textos escritos demandou, primeiro, uma

seleção das marcas traduzidas que seriam categorizadas conforme a classificação

proposta por Barbosa (1990). Para tanto, foi necessário parear e comparar os textos, de

forma em que fosse possível ter uma visão conjunta tanto do texto de origem como do

texto traduzido. Posteriormente, foram selecionadas aquelas marcas, palavras ou

expressões próprias da oralidade de um registro informal que permitissem caracterizar

os personagens do filme.

Esse levantamento resultou em 478 ocorrências que foram reagrupadas em três

categorias de tipo de ocorrência, que serão apresentadas no capítulo 4. A proposta de

Barbosa (1990), entretanto, não foi suficiente para descrever todos os casos

encontrados5 e foi necessário estabelecer outras categorias para tentar descrever o que

ocorreu na tradução do filme em questão.

Entre as três categorias de tipo de ocorrência fixadas, a primeira delas,

denominada “Escolhas referentes ao Sistema Linguístico”, subdividiu-se em dez

campos que agrupam exemplos da mesma característica linguística.

3.2. ENTREVISTA

Para complementar e enriquecer as contribuições que pretendo dar aos estudos

da tradução, foi conduzida uma entrevista com o tradutor do filme em questão,

5 Acredito que isso se deva ao fato de que o trabalho dessa pesquisadora não esteja voltado para as

traduções audiovisuais.

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buscando entender suas tomadas de decisões e contrastar possíveis discrepâncias entre o

que é falado e o que foi feito, tentando descobrir se houve ingerência de outros agentes

no processo da construção da legenda. A escolha da entrevista como técnica de pesquisa

se deve, principalmente, porque a entrevista permite a captação imediata e corrente da

informação desejada (LÜDKE E ANDRÉ, 1986), há mais espaço para esclarecimentos

e aprofundamento de certas questões e a entrevista configura-se como importante

instrumento de acesso ao saber de determinado grupo (DAHER, 1998).

Opto pelo modelo de entrevista elaborado por Daher (1998), pelo fato de que sua

organização em blocos temáticos possibilita maior liberdade tanto para o entrevistado

como para o entrevistador, evitando as perguntas fechadas que podem limitar a

expressão das ideias. Esse modelo também favorece o levantamento de coincidências

entre as hipóteses pré-estabelecidas e as respostas obtidas.

Para a realização da entrevista, preparei um roteiro organizado em quatro blocos

temáticos: (a) o tradutor e seu caminho no português como L2; (b) o tradutor e sua

formação na área; (c) o tradutor e seu fazer; (d) o tradutor e as identidades culturais em

jogo (cf. Anexo I). Os blocos temáticos foram definidos a partir das leituras que vinha

fazendo sobre o lugar do tradutor no processo tradutório.

A gravação foi realizada em abril de 2011, no escritório de tradução do

entrevistado, mantido em um bairro da zona sul do Rio de Janeiro. A entrevista durou

aproximadamente 25 minutos.

O número de sequências analisadas em 4.2. tem como parâmetro o alcance dos

objetivos propostos por este trabalho. Para tal algumas perguntas (cf. Anexo 3) foram

excluídas da análise. Tomei essa decisão levando em conta a necessidade de organizar

as informações obtidas e de recortar o foco da análise da entrevista, o de verificar qual a

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motivação e quais foram as estratégias utilizadas pelo tradutor ao validar suas escolhas

referentes à tradução das marcas identitárias dos personagens do filme. A transcrição

completa da entrevista pode ser consultada no Anexo III.

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4. ANÁLISE

Neste capítulo apresento as análises das listas de diálogos em PB e espanhol e

dos excertos da entrevista cedida pelo tradutor. Organizei-o em três partes: a primeira

referente às listas de diálogos, na qual busco uma categorização das opções do tradutor

para a tradução das marcas identitárias; na segunda detenho-me a discutir os dados

surgidos durante a entrevista; e a última a estabelecer uma conversa entre os dados das

duas primeiras partes, buscando encontrar pontos de contato entre o que o tradutor faz e

o que diz fazer.

4.1 – LISTA DE DIÁLOGOS

4.1.1 - CATEGORIZAÇÃO DAS OPÇÕES LINGUÍSTICAS DO TRADUTOR

As escolhas linguísticas realizadas pelo tradutor na legenda do filme Uma onda

no ar seguem diferentes tipos de critérios. Portanto, proponho três categorias básicas

para o empreendimento da análise dos procedimentos técnicos colocados em prática

durante o processo de construção do texto traduzido.

Tais categorias foram assim denominadas: (a) escolhas referentes ao sistema

linguístico, (b) transferência da língua estrangeira (português) na língua materna

(espanhol) do tradutor e (c) escolhas lexicais.

A primeira categoria engloba todos os tipos de omissões (BARBOSA, 1990,

p.68) de elementos que, em um primeiro momento, seriam desnecessários ou repetitivos

em espanhol. Considero importante destacar, por meio desta categoria, o fato de que

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mesmo tratando-se de duas línguas tão próximas como espanhol e PB, tais línguas

diferem em aspectos pontuais do sistema linguístico6.

Entretanto, após uma análise mais detalhada das omissões linguísticas, fez-se

necessário definir também como pertencente a essa categoria aquelas modificações que

se relacionam às características linguísticas, e que não podem ser consideradas

desnecessárias, uma vez que modificam diferenças culturais, marcas sociolinguísticas e

o lugar dos personagens dentro da história que está sendo contada pela narrativa do

filme.

Por transferência (b) denomino, ampliando um pouco o conceito apresentado por

Barbosa (1990, p.71), a introdução de material textual ou estrutural do português no

espanhol. Inicialmente não prevista, a transferência de elementos da língua estrangeira

do tradutor para a sua língua materna expõe a fragilidade do lugar de autoridade que lhe

foi conferido, uma vez que ele já não reconhece as barreiras linguísticas existentes entre

as duas línguas.

A análise das escolhas lexicais (c) demandou um trabalho contínuo, ou em

espiral como defende Toury, no volume geral da legenda. Isso porque pretendia-se

verificar se as escolhas feitas pelo tradutor atendiam a critérios relativos às variedades

do espanhol ou se, pelo contrário, diferentes variedades se faziam presentes na

construção do texto na língua de chegada, revelando uma incoerência na escolha de

itens lexicais que dialogassem com outros elementos textuais da legenda e com as

demais opções de vocábulos.

6 O espanhol, diferentemente do que ocorre em PB, é uma língua em que o preenchimento da posição de

sujeito não é majoritário. Essa característica será tratada com mais detalhe no tópico 4.1.3.1 do presente

trabalho.

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4.1.2 - DESCRIÇÃO DO FILME

O filme usado como corpus para essa análise, Uma onda no ar, relata a história da

criação de uma rádio, dentro de uma favela em Belo Horizonte (Minas Gerais), por um

grupo de três amigos (Jorge, Zequiel e Brau), todos moradores da favela em questão.

Uma vez que toda a história se passa em uma favela de Belo Horizonte, o português

usado em praticamente todas as cenas é permeado pelo discurso coloquial, vulgar e/ou

regional.

A autora Shuttlesworth (2006 apud Hanes, 2011), ao falar sobre o inglês sulista

dos Estados Unidos em filmes, afirma que em alguns casos as referências idiomáticas

numa tradução podem nem mesmo caracterizar fielmente o regionalismo, mas acabam

moldando a linguagem de todo o texto, passando para o filme a atmosfera regionalista.

Acredito que um fenômeno parecido ocorra no filme que serve de objeto para este

estudo, pois não é possível afirmar que todas as expressões idiomáticas e gírias

utilizadas sejam específicas de Belo Horizonte, porém o discurso no contexto geral

ganha um tom local e socialmente marcado, acrescido de expressões coloquiais

presentes no modo de falar dos personagens que retratam pessoas com nível de

escolarização mais baixo.

4.1.3 - ANÁLISE DAS LEGENDAS

As análises descritivas priorizam a consideração do texto-alvo e, uma vez que esse

referencial teórico foi adotado como norteador, no decorrer da análise apresentada o

foco será a tradução em espanhol, embora o texto-fonte permeie toda a discussão

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desenvolvida. Recorrerei ao texto em português no intuito de estabelecer comparações

entre os efeitos de sentido que estão em jogo e as estratégias utilizadas para anunciá-los.

Uma vez que não seria produtivo citar todos os casos analisados na legenda,

valho-me dos dados numéricos das ocorrências de cada uma das três categorias básicas

de análise apresentadas anteriormente.

Escolhas referentes ao Sistema Linguístico 427

Transferência da língua estrangeira para língua materna 28

Escolhas lexicais 23 Tabela 1 – Número total de ocorrências por categoria

Em um primeiro momento, fica evidente que as escolhas do tradutor motivadas

por razões relacionadas ao sistema linguístico são as mais recorrentes. O alto número de

ocorrências pode demonstrar que o tradutor esteve mais centrado no texto de origem,

tentando que suas modificações fossem menos arriscadas e imprimissem ao seu texto

um tom menos marcado. Essa preocupação poderia explicar a tradução literal

(BARBOSA, 1990) de expressões idiomáticas no texto de origem, nas quais o tradutor

não buscou alguma expressão no espanhol que fosse semanticamente equivalente para

compor a legenda.

Essa categoria é, além do mais, a que permite visualizar, de fato, as estratégias

utilizadas pelo tradutor desta legenda, já que oferece elementos que corroboram uma

das hipóteses traçada inicialmente7.

7 As hipóteses que guiam a análise são as de que (1) o tradutor tentará omitir as marcas de oralidade de

um registro informal, preferindo formas da norma culta e do registro escrito e (2) buscará utilizar um

espanhol sem marcas específicas, distanciando o discurso de seu lugar de origem.

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Outra informação interessante evidenciada pela tabela de ocorrências é que,

embora os casos de transferência sejam baixos, quando se leva em consideração que o

tradutor em questão é experiente8, não se esperaria nenhum tipo de transferência

9.

As mudanças ocasionadas por alguma característica do sistema linguístico podem

ser reagrupadas em novos subitens, uma vez que diferentes fenômenos ocorrem. No

intuito de empreender uma análise que possa refletir com mais consistência as

considerações que serão feitas através dos dados e que organize melhor o volume de

exemplos, apresento o detalhamento feito do número de ocorrências de cada subitem.

As escolhas do tradutor para essa categoria (escolhas referentes ao sistema

linguístico) implicam em apagar características da variedade não padrão oral, presentes

nos diálogos e falas dos personagens do filme. Esse fato pode indicar uma preferência,

por parte dele, pela variedade padrão escrita, conforme observamos na tabela que segue:

Tabela 2 – Número total de ocorrências por subcategoria

8 A partir de uma entrevista com o tradutor, averiguei que o mesmo faz traduções de filmes

sistematicamente há pelo menos 40 anos.

9 Por transferência entendo o uso de elementos de uma língua ao expressar-se em outra (CINTRAO,

2006). No caso específico deste trabalho considero, ampliando o conceito apresentado por BARBOSA

(1990), que a transferência ocorre quando há introdução de material linguístico da língua de origem

(português) no texto da língua de tradução (espanhol).

Escolhas referentes ao Sistema Linguístico

Pronome sujeito 274

Marcação de plural 36

Expressão-palavra corrente 34

Verbo pleno 25

Dupla negativa 18

Expressão-expressão 12

Artigo + nome 11

Referência de lugar 7

Duplicação de lugar 7

Forma de tratamento 3

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Os dados expostos podem vir a corroborar a tese de que o tradutor opta pela

utilização de linguagem padrão em seu texto, apagando, consequentemente, os dados de

língua oral que tinham lugar no texto original.

Analisando os apagamentos motivados pelo sistema linguístico nota-se que, como

já previsto, a omissão do pronome pessoal em posição de sujeito tem um alto número de

ocorrências. Isso se dá, pois, embora tanto o PB quanto o espanhol sejam línguas que

deixam claro na desinência a que pessoa se refere o verbo, diferentemente da primeira, a

segunda língua opta pelo não preenchimento da posição de sujeito mesmo quando o

contexto é ambíguo.

Embora a omissão do sujeito seja responsável pelo maior número de casos, não há

nessa constatação nenhuma relação com o tipo de registro linguístico que prevaleça.

Isso se deve por não existir uma divisão definida para registros de ocorrência do

fenômeno.

As subcategorias que podem evidenciar de maneira mais direta a manutenção da

variedade padrão escrita são (a) marcação de plural, (b) verbo pleno e (c) expressão-

palavra corrente. Os exemplos encontrados nos três casos apresentam sempre o mesmo

movimento para as mudanças: fenômenos da variedade não padrão oral no texto original

passando a expressões da variedade padrão escrita no texto traduzido.

No intuito de definir cada categoria proposta e de recuperar os procedimentos

técnicos da tradução (BARBOSA, 1990) identificados nos diálogos da legenda do filme,

passarei agora à análise dos dados de maneira mais detalhada. Em busca de uma

apreciação mais consistente, exemplificarei todas as subcategorias apresentadas na

tabela 2.

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4.1.3.1. APAGAMENTOS REFERENTES AO SISTEMA LINGUÍSTICO

1. Pronome sujeito

a) Português Espanhol

(221.8) Jorge: Eu queria que esses

menino visse o que aconteceu com a

gente (225.8)

(221.8) Jorge: Yo quería que esos

chicos viesen lo que me ocurrió

(225.8)

(226) pra não fazer tudo igual, porque

eu acreditei que podia ganhar tudo

rápido. (232.8)

(226) para que no hagan lo mismo.

Creí que podía ganar todo rápido.

(232.8)

O apagamento mais frequente, quando relacionado a uma característica própria

do sistema linguístico do espanhol, é a omissão do pronome pessoal de sujeito. Este

procedimento consiste em omitir elementos do texto da língua de origem que, do ponto

de vista da língua de tradução, são desnecessários ou repetitivos (BARBOSA, 1990,

p.68).

O espanhol, diferentemente do português brasileiro, é uma língua que não

preenche a posição de sujeito em todos os casos, como pode ser observado no exemplo

acima. Estudos demonstram que tanto o PB quanto o espanhol são línguas que admitem

sujeito nulo (SOARES DA SILVA, 2006), porém a variedade brasileira do português

apresenta índices de preenchimento de sujeito pronominal superiores aos apresentados

por outras línguas românicas, como o italiano, o espanhol e o português de Portugal

(CASTILHO, 1996; DUARTE, 2003; ILARI et alii, 1996).

A hipótese com a qual se trabalha é de que o PB vem simplificando seu

paradigma flexional verbal, a exemplo do que já aconteceu em outras línguas como o

francês e o inglês. Por outro lado, o espanhol preenche o lugar do sujeito pronominal em

ocasiões mais específicas, quando há ambiguidade de pessoas ou quando se cumpre

uma função enfática através do uso do pronome pessoal.

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No exemplo acima (a), a primeira ocorrência do pronome pessoal “eu” em

português é mantida em espanhol, “yo”; entretanto a segunda aparição do pronome é

omitida em espanhol. O que poderia explicar cada escolha, neste exemplo, é o fato de

que, no primeiro caso, o tempo verbal empregado em espanhol (pretérito imperfeito do

indicativo) não diferencia a 1ª da 3ª pessoa do singular em sua forma, sendo, portanto,

pertinente marcar quem está falando. Contudo, no segundo exemplo o verbo em

espanhol está no pretérito indefinido del indicativo, marcado pela desinência verbal de

1ª pessoa do singular, o que torna desnecessário o uso do pronome pessoal “yo”.

b) Português Espanhol

Jorge: É, a polícia agora entende de

eletrônica...

Jorge: ¿La policía ahora entiende de

electrónica?

Técnico: Eu não sou da polícia. Eu sou

técnico em comunicações e trabalho

para o Ministério.

Técnico: No soy policía, soy técnico

en comunicaciones del Ministerio.

c) Português Espanhol

Neusa: Atrasou por quê? Eu deixei tudo

pronto.

Neusa: ¿Por qué te atrasaste? Yo

dejé todo listo.

Jorge: Depois eu te explico, mãe! Jorge: Después te explico, mamá.

Comparando os exemplos b e c é possível notar, entretanto, que não existe por

parte do tradutor um parâmetro definido para a omissão ou explicitação do pronome

sujeito. Se o uso de pronomes pessoais na posição de sujeito em espanhol se justifica

quando há ambiguidade de pessoas (como aquela causada em a) ou para tornar o

discurso de quem fala mais enfático, a fala da personagem Neusa em c não cumpre

nenhuma das condições necessárias para a manutenção de yo.

Por se tratar de uma obra de ficção da qual não podemos extrair as intenções dos

falantes, a única pista do uso de falas enfáticas seria o tom de voz ou expressão dos

personagens. Na cena da fala c, Neusa, que é empregada de serviços gerais da escola na

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qual seu filho, Jorge, estuda como bolsista, está limpando a entrada do pátio quando

alguns alunos chegam para a aula, entre eles Jorge. Em sua fala não há nenhum sinal de

alteração enfática, muito menos em seus gestos, o que invalida o uso do pronome yo na

legenda, sendo que o mesmo não se justifica pelo sistema linguístico do espanhol.

2. Marcação de plural

d) Português Espanhol

(166) Jorge: Aí, seguinte hem, a maior

parte dos moleque aqui do morro (173)

(166) Jorge: La mayor parte de los

muchachos de la favela (173)

(173.8) larga a escola porque o que eles

aprendem lá (177.8)

(173.8) abandonan la escuela

porque lo que ellos aprenden allí no

(177.8)

(178) não tem nada a ver com a

realidade deles, com o que eles querem

saber da vida. (183.8)

(178) tiene nada que ver con su

realidad, con lo que quieren en la

vida. (183.8)

Jorge: Aí os moleque perde o interesse

de estudar e a gente sabe o que

acontece.

Jorge: Ahí los chicos pierden interés

por el estudio y ya sabemos que pasa.

O trecho selecionado acima representa um tipo de omissão muito frequente na

legenda, caracterizado pela marcação de plural redundante. Característico da variedade

não padrão oral do português, o uso da marcação de plural pode recair em apenas um

dos elementos da oração, grande parte das vezes no primeiro constituinte do sintagma10

,

como em “dos moleque” e “os moleque perde o interesse”.

Foi possível constatar que todos os casos como o citado acima passaram por um

procedimento de neutralização, entendido como uma normatização de termos

provenientes da variedade não padrão oral de modo a que passem a ser expressões

próprias da variedade padrão escrita.

10

CAMPOS, O.G.L.A.S; RODRIGUES, A.C.S. (1996)

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Ao ser traduzida, essa marca de registro oral foi substituída por “los muchachos” e

“los chicos pierden interés”, desconsiderando-se a maneira de falar de uma parte dos

personagens do filme.

De fato, todos os casos em que, na língua de partida, a marcação de plural recai

apenas sobre um dos elementos, foram traduzidos de maneira a seguir o que prescreve a

gramática normativa. Entretanto, em espanhol também ocorre o uso do plural

delimitado a um só termo, normalmente o primeiro constituinte do sintagma nominal

(CEPEDA, 2001; POPLACK, 1979; 1986).

Alguns estudos apontam que a elisão no espanhol do –s (indicador de plural

nominal) e do –n final (indicador de plural verbal) apresenta “um padrão de

estratificação regular: mais elisão no estrato mais baixo, menos no nível médio e menos

ainda no estrato alto.” (CEPEDA, 2001, p.4). A idade dos falantes também é

significativa, pois o fenômeno é mais recorrente entre a população jovem.

3. Verbo pleno

e) Português Espanhol

Mãe: Eu devia era te dar um couro

quiném eu te dava quando tu era

moleque.

Mãe: Debería darte con una tunda,

como cuando eras un chiquillo.

Jorge: Então dá mãe. Dá! Ai mãe.

Tchau mãe, to indo.

Jorge: Entonces, dámela, mamita...

¡Ay! ¡Mamá! Chao, mamá. Estoy

saliendo.

f) Português Espanhol

Brau: Vai sô, joga aí... Brau: Vamos, juega ahí…

Jorge: Calma aí, tou pegando

inspiração aqui pra minha tacada sô.

Jorge: Calma, me estoy inspirando

para dar mi tacada…

Outra subcategoria que passa pelo mesmo procedimento de neutralização é a

reconstituição da forma plena dos verbos. As duas falas são do personagem Jorge em

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cenas diferentes, primeiro em uma conversa com sua mãe e a segunda durante uma

partida de sinuca com seus amigos em um bar. Nos dois exemplos, há ocorrências do

uso característico da fala das formas reduzidas do verbo “estar” no Presente do

Indicativo. Estudos demonstram (BORTONI-RICARDO, 2004; REIS, 2010) que a

perda da sílaba inicial do verbo “estar” é um traço generalizado do PB, especialmente

em estilos não monitorados, como a fala ou a escrita informal.

Da mesma forma, esse fenômeno também pode ser observado na língua

coloquial em espanhol, principalmente em registros orais. Flórez (1978), em estudo

realizado sobre o espanhol da Colômbia, afirma que, nessa variante, ocorre a perda tanto

da letra “e” quanto da sílaba “es” do verbo “estar”. O autor destaca que as formas sem a

sílaba inicial são vulgares, enquanto aquelas em que só se perde a letra “e” podem ser

ouvidas inclusive na fala culta.

Outro estudo (LLISTERRÍ, 2002), dessa vez sobre o espanhol Peninsular,

relaciona as marcas fonéticas da oralidade à linguagem utilizada em chats da Internet. O

autor, apoiado em outras pesquisas sobre o tema, defende que as formas escritas

empregadas nos chats refletem fenômenos próprios da língua oral, sendo um deles a

supressão da “e” inicial o da primeira sílaba no verbo “estar”.

Embora essa forma de expressão esteja disponível no sistema linguístico

coloquial do espanhol, o tradutor desconsidera essa característica do português,

preferindo utilizar o verbo de forma plena, aproximando-se da grafia canonizada pela

norma culta.

Considerando-se os dois últimos casos de omissão mostrados (marcação de

plural e reconstituição do verbo), é possível dizer que uma das hipóteses iniciais foi

corroborada, uma vez que existe uma predileção, por parte do tradutor, pela variedade

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padrão escrita do espanhol, frente à variedade não padrão oral. Durante a entrevista que

me foi concedida pelo mesmo, e conforme poderá ser observado no capítulo destinado à

discussão dos dados da entrevista, fica muito clara a posição que o tradutor toma ante o

uso da variedade de língua falada. Reproduzo o trecho ao qual me refiro e que está

diretamente relacionado aos dois casos discutidos acima:

T: (...) a fala das pessoas, normalmente / do, o suburbano não fala o

português correto / mas, se fosse traduzido num livro, você tem possibilidade

de manter esse tipo de fala / por que tem muitos recursos / (...) (você pode)

esclarecer que o cara ESTÁ falando assim / (...) porque senão parece que o

tradutor está escribindo qualquer besteira / não dá impressão que o

personagem que fala assim, parece que o tradutor que não sabe escrever (...)

Apesar de apresentar em sua defesa o argumento de que não manter o falar,

segundo ele, errado das pessoas é uma forma de eliminar qualquer dúvida quanto ao seu

trabalho como escritor do novo texto que é a legenda, o tradutor não questiona o fato de

que as modificações feitas por ele na “maneira de falar” dos personagens apagam as

diferenças de registro e as posições sociais de cada grupo.

Quando ele reconstrói as marcas de plural e o uso do verbo “estar” ele

descontrói uma marca sociocultural muito importante para a identidade dos personagens

do filme. Visto que há cenas em que personagens de registros e de posições sociais

diferentes se relacionam, a legenda neutraliza as possibilidades e, além de mostrar todos

os personagens como iguais, estabelece a superioridade da língua culta.

4. Expressão-palavra corrente / expressão-expressão

g) Português Espanhol

Policial: Todo dia tem reclamação das

rádios grandes que vocês atrapalham.

Policial: Las grandes radios

reclaman todos los días por Uds. se

entremeten.

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Jorge: Isso é um sete um puro. As rádio

que tem concessões (...)

Jorge: Eso es pura desculpa11

. Las

radios que tienen concesiones...

h) Português Espanhol

Jorge: Não vai dar nenhum problema se

ninguém souber que é a gente. (...)

Jorge: Si no saben que somos

nosotros, no habrá ningún problema.

Jorge: Ô. Promete que não vai bater

nada pra ninguém mãe?

Jorge: Promete que no le contarás a

nadie.

Mãe: Mas será que ninguém vai ficar

sabendo disso?

Mãe: ¿Será que alguien acabará

sabiendo?

i) Português Espanhol

Roque: Cê tá com a cabeça quente, meu

camarada.

Roque: Estás con la cabeza

hirviendo, mi camarada.

Jorge: Tem uma pá de tempo que ocê

sumiu, colé veado!

Jorge: ¡Hace un montón de tiempo

que desapareciste, maricón!

As escolhas do tradutor, até o momento comentadas, não parecem levar em

consideração as implicações identitárias que o discurso dos personagens carrega.

Sabendo que ele não possui formação profissional ou linguística, tanto em espanhol

quanto em PB, acredito que suas decisões se baseiam em suas intuições como falante

nativo de espanhol e em teorias implícitas advindas de sua experiência como tradutor.

Os três últimos exemplos oferecidos, da subcategoria Expressão-palavra

corrente, enquadram-se no que Barbosa (1990, p.67) chama de equivalência e ilustram

o uso de diferentes parâmetros. Esse procedimento consiste em não traduzir literalmente

um segmento de texto da língua de origem, mas em “substituir por um segmento que

seja funcionalmente equivalente”, sendo, portanto o método aplicado à tradução de

expressões idiomáticas, ditos populares e outros elementos cristalizados da língua.

Entre todas as ocorrências de expressões, frases feitas, ditados populares ou usos

cristalizados da língua, 34 foram traduzidas como os exemplos acima, recebendo um

11

Em espanhol a grafia correta para esta palavra é disculpa.

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equivalente em palavras ou expressões correntes na língua e não marcadas. Dessa

forma, observamos que o sentido de um sete um puro, bater nada e uma pá de tempo

foram mantidos na tradução, porém sendo substituídos por verbos ou substantivos em

seus usos denotativos.

Por outro lado, outras 22 ocorrências receberam uma solução diferente,

evidenciando a falta de critérios definidos de forma mais sólida e coerente com a

totalidade da legenda. A subcategoria Expressão-expressão abriga aqueles termos

marcados da língua em PB que foram substituídos por outras expressões em espanhol,

tendo como exemplo os dois próximos trechos:

j) Português Espanhol

Zequiel: Isso aqui é um transmissor,

seus boco moco.

Zequiel: Esto es un transmisor, sus

cabeza de chorlito.

Zequiel: Quer dizer, o plano técnico de

um transmissor profissional.

Zequiel: Es el diagrama técnico de

un transmisor.

k) Português Espanhol

Jorge: vamo passar uma parafina na

sola do pisante e vamo treinar.

Jorge: Vamos a pasar parafina en la

suela del pisador. ¡Vamos! A

practicar…

DJ: É neguinho, cê leva jeito, hem! DJ: ¡Epa! Tienes cancha manito.

As duas falas de Zequiel ocorrem durante uma cena em que estão todos os

amigos reunidos e o jovem apresenta o projeto para construção do transmissor que vai

possibilitar a criação da Rádio Favela. Os amigos não entendem o desenho apresentado

por ele e, por isso, ao explicar-lhes, Zequiel utiliza o adjetivo boco moco.

O termo boco moco (ou bocomoco) foi uma gíria utilizada nos anos 70 e 80 para

definir algo ou alguém que fosse brega, cafona, ultrapassado. No exemplo extraído da

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legenda, o adjetivo foi usado com o significado de alguém que é lento de raciocínio,

“mané”12

.

O equivalente utilizado em espanhol, cabeza de chorlito, também é uma

expressão coloquial de uso amplo e, segundo o dicionário online da RAE (2011)13

significaria uma pessoa inconstante e de pouco juízo. No dicionário online

Wordreference (2011)14

, a expressão em espanhol é traduzida como “cabeça oca” ou

“cabeça de vento”. Entretanto, acredito que a definição que melhor traduz o significado

de cabeza de chorlito no exemplo supracitado seja a de uma pessoa sem inteligência ou

distraída, conforme foi encontrado no site De Chile (2011)15

.

A cena ilustrativa do segundo exemplo acontece em uma festa, na qual Jorge

está comandando a mesa de som enquanto o DJ está ausente. Ao retornar, o profissional

elogia o jovem aspirante a radialista, dizendo que ele leva jeito para o ofício. A opção

do tradutor, neste caso, foi buscar uma expressão coloquial como equivalente, como é o

caso de tienes cancha. Essa locução é considerada um americanismo, ou seja, circula no

espanhol da América e seu significado é o de ter habilidade, adquirida pela experiência,

para realizar determinada função.

O tradutor parece agir de forma intuitiva, pois ora escolhe neutralizar a fala

coloquial, utilizando significados equivalentes às expressões do PB, ora se vale de

12

A definição que proporcionou explicar de forma mais satisfatória o emprego do termo boco moco foi

encontrada no site Dicionário inFormal, disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/bocomoco/

Acesso em 10 de novembro de 2011.

13 Disponível em: http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=chorlito. Acesso em

10 de outubro de 2011.

14 Disponível em: http://www.wordreference.com/espt/cabeza.( Entrada 4 do item II). Acesso em 09 de

novembro de 2011.

15 Disponível em: http://etimologias.dechile.net/?chorlito. Acesso em 10 de novembro de 2011.

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expressões em espanhol que carregam a marca do discurso não padrão oral. Creio ser

possível afirmar que seu percurso, de falante de PB e tradutor sem formação

institucional, leva-o a fazer escolhas que refletem sua posição fragmentada e perpassada

por mais de uma língua e mais de um lugar de autoridade (ora escritor, ora tradutor).

Se o tradutor, como será melhor discutido durante a análise da entrevista,

considera a tarefa de traduzir como uma tarefa de escritor pode estar, dessa forma,

autorizando-se a ser o único produtor do texto. Entretanto, a tradução, além de envolver

duas culturas, envolve pelo menos duas línguas e pelo menos dois sujeitos produtores:

por um lado está o escritor do texto de origem e do outro o tradutor, que será o escritor

do texto de chegada.

5. Dupla negativa

l) Português Espanhol

Lídia: Pô gente, não desconfia de mim,

não. Eu sou jornalista. Já falei (...)

Lídia: No desconfíen de mí, ya les

dije que soy periodista.

Meninas: Mas a gente não sabe onde

fica a rádio não!

Meninas: No sé dónde queda la

radio.

No diálogo acima, o texto em espanhol recorre à omissão da dupla negativa, que

aparece em português, por meio do advérbio “não”. Na legenda, o tradutor optou por

desfazer sua reiteração. Tal uso, em PB, é considerado como da língua falada

(CASTILHO, 1996), na linguagem culta escrita a dupla negação acontece por meio do

uso combinado aos advérbios “nunca”, “jamais”, “tampouco” e dos indefinidos

“ninguém”, “nada” e “nenhum”.

Em espanhol é possível negar duas vezes, porém “por meio de um esquema

particular de negação, que permite combinar o advérbio não com a presença de outros

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elementos que também tem sentido negativo” 16

(DPD, 2011). Esses elementos são os

mesmos que se utilizam na língua padrão escrita do português.

No registro oral do espanhol, a característica presente nos diálogos apresentados

como exemplo também acontece. O advérbio “no” reiterado pode vir imediatamente

após o primeiro uso ou intercalado por outros elementos (CASCÓN MARTÍN, 2000, p.

95).

Cruzando as informações das duas línguas e as regras de funcionamento da

negativa nas variedades oral e escrita, acredito que podemos considerar a opção do

tradutor como uma tendência a apagar do seu texto características orais das falas dos

personagens, ou então, uma certa resistência por parte dele à variedade não padrão oral.

6. Nome próprio precedido de artigo

m) Português Espanhol

Brau: Pô Fatinha, cê nem me apresenta. Brau: Pucha Fátima, tú ni me

presentas…

Ana: Eu sou a Fátima. Ana: Yo soy Anita.

Brau: Eu sou o Brau. Brau: Yo soy Brau.

Em m há outro tipo de omissão recorrente durante a tradução para o espanhol,

que consiste em não usar artigo definido antes de nome de pessoas. O uso de artigos, em

português, não se caracteriza como de variedade oral ou escrita, tampouco é um traço de

fala vulgar ou coloquial.

Por outro lado, a norma da variedade padrão escrita do espanhol não aconselha o

uso de artigo nesses casos. Para a Real Academia de la Lengua Española (RAE), “a

anteposição do artigo, nesses casos, costuma ser própria da fala popular” (RAE, 2011).

16

“En español existe un esquema particular de negación, que permite combinar el adverbio no con la

presencia de otros elementos que tienen también sentido negativo”. (Diccionario Panhispánico de Dudas,

RAE, 2011).

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Em alguns países, tal uso é considerado vulgar e próprio de comunidades rurais e

povoados, porém também há registros de que o emprego de artigo é uma forma de

garantir maior proximidade, por isso dá-se correntemente nome de pessoas da família

ou amigos muito íntimos. 17

7. Duplicação de lugar

n) Português Espanhol

Zequiel: Cês tão vendo aquilo ali? Zequiel: ¿Ven Uds. aquello?

Zequiel: O que é aquilo ali procês? Zequiel: ¿Qué es aquello para Uds.?

As duas falas do personagem Zequiel acontecem durante uma cena em que os

protagonistas estão no alto de um morro, olhando para uma antena de rádio. Ao mesmo

tempo em que fala, ele aponta para a antena, chamando a atenção dos amigos.

O termo omitido pelo tradutor, nos dois casos, é o advérbio de lugar “ali”, que é

utilizado muito frequentemente no discurso oral do PB, para indicar proximidade

espacial do falante (NEVES, 2000, p.499) 18

. A variedade não padrão do espanhol

oferece a mesma possibilidade; segundo Cascón Martín (2000, p.174) seu uso serve

para determinar o que é assinalado pelo demonstrativo.

A estrutura é um pouco diferente, se comparada ao PB, pois o advérbio de lugar

deve ser precedido da preposição “de” (EGUREN, 1999), originando uma estrutura

como “aquello de allí”. Muito embora o uso da duplicação da referência locativa esteja

17

A esse respeito ver: http://cvc.cervantes.es/foros/leer_asunto1.asp?vCodigo=35765. Acesso em 10 de

novembro de 2011.

18 Embora o corpus utilizado em NEVES (2000) seja composto por textos escritos, a autora destaca, na

Apresentação, o fato de que é notável a representatividade da língua falada, pois a mesma é encontrada na

simulação feita nas peças teatrais e textos jornalísticos que formam o corpus.

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disponível nos dois sistemas linguísticos, Stradioto (ms)19

, em levantamentos realizados

no espanhol falado da Cidade do México, demonstra que o uso de demonstrativos

combinados a um locativo é pouco frequente20

.

8. Referência de lugar

o) Português Espanhol

(166) Jorge: Aí, seguinte hem, a maior

parte dos moleque aqui do morro (173)

(166) Jorge: La mayor parte de los

muchachos de la favela (173)

Jorge: Eles tão sendo instruído pelas

madame que mora no asfalto

Jorge: Son instruidos por las

‘madame’ que viven en las calles

asfaltadas.

Jorge: e que vem dar aula pros filhos

dos empregados aqui do morro.

Jorge: Vienen a dar clases a los hijos

de los trabajadores de la favela.

Na primeira e terceira falas de Jorge ocorre uma transposição, que é a mudança de

categoria gramatical de elementos no segmento traduzido (BARBOSA, 1990, p.66). Os

trechos “moleque aqui do morro” e “empregados aqui do morro”, traduzidos

respectivamente como “muchachos de la favela” e “trabajadores de la favela” se

constroem a partir da mudança do advérbio de lugar (aqui) por preposição mais artigo

(de la). A transposição que acontece na segunda fala é a passagem de um substantivo

(asfalto) para um adjetivo (asfaltadas).

À primeira vista essa mudança pode parecer insignificante; entretanto, utilizada

sistematicamente em outros trechos dos diálogos do filme, distancia o discurso de quem

fala, afastando a pessoa do local de origem. O distanciamento ocorre pela omissão de

um advérbio que implica proximidade ao falante (aqui) e, por isso, indica o lugar de

19

A abreviatura ms utilizada refere-se a trabalho consultado em manuscrito.

20 Até o presente momento, não foi possível encontrar ocorrências que indicassem que o uso de

demonstrativo e locativo seja frequente no espanhol falado. Foram realizadas várias buscas na Internet,

porém, por tratar-se de um fenômeno da fala, não obtive resultados satisfatórios.

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origem de seu discurso, que vem a ser o seu lugar naquela sociedade. A combinação de

preposição e artigo (de la) sugere que o personagem se refere a uma favela, porém que

não é a “sua” favela.

No capítulo dedicado à análise da entrevista, utilizarei o conceito de adaptador,

tomado de Amorim (2005), para caracterizar o posicionamento do tradutor frente ao seu

trabalho para legendas. Sendo um tradutor adaptador, ele se posicionaria como um

“contador de histórias” e estaria “presente” no seu texto, em oposição ao tradutor que,

espelhando aquilo que lê estaria “ausente”.

Contudo, ao mostrar-se presente no texto e assumi-lo como seu, ele passa a narrar a

história como alguém que está fora dela, descaracterizando a legenda como a

manutenção dos diálogos do filme. Nesse sentido, as legendas se aproximariam muito

ao que Díaz Cintas (2001) caracteriza como narração, uma das modalidades de

tradução audiovisual.

Para o autor, essa modalidade permite um maior grau de distanciamento do produto

original tanto em conteúdo quanto em estilo. A narração é realizada por um ator ou

jornalista que lê o texto a ser reproduzido em outra língua (DÍAZ CINTAS, 2001, p.40).

No exemplo citado de Uma onda no ar, a voz do personagem é silenciada pela do

tradutor que, em lugar de colocar-se como alguém que vive a história, passa a ser um

narrador externo das ações.

A transposição que acontece na segunda frase não modifica o lugar de enunciação

do personagem, porém utiliza uma expressão que não marca a oposição de planos que

existe entre “morro” e “asfalto”. O termo empregado pelo tradutor desconsidera a

diferença social existente entre alguém que mora no morro – e que pode ter ruas

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asfaltadas – e um morador do asfalto, uma vez que este disfruta de facilidades e

benefícios que vão além da pavimentação das ruas.

Quando escolhe o termo “favela” o tradutor faz uso de uma palavra que, apesar de

figurar em dicionários de espanhol 21

é considerada como “voz portuguesa”, ou seja,

uma palavra usada em espanhol, mas de origem do português. No entanto, não

incorpora outra palavra que circula no âmbito do espanhol e se associa à ideia da

“favela”, ou seja, o termo “asfalto” 22

, mantendo assim o conceito idealizado na

diferença espacial que marca o morro, no alto e o asfalto, no baixo.

9. Forma de tratamento

p) Português Espanhol

Dentista: É o Jorge? Olha, eu sou

dentista.

Dentista: Hola Jorge. Oye, soy

dentista.

Dentista: Meu nome é Élcio Dutra,

manda esse homem pro meu consultório

que eu atendo ele.

Dentista: Me llamo Élcio Dutra.

Manda ese hombre a mi consultorio.

Yo lo atenderé.

Jorge: Pô, obrigado, Dr. Élcio, depois a

gente acerta os anúncios.

Jorge: Gracias Dr. Dutra. Después

combinamos sus anuncios.

No diálogo acima, o personagem Jorge trata o dentista que liga para a rádio de Dr.

Élcio, mantendo o tratamento de respeito – devido à profissão da pessoa – na palavra

“doutor”. Em espanhol, a forma de tratamento “Dr.” implica também o uso de seu

21

Disponível em: http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=favela. Acesso em 15

de novembro de 2011.

22 Na página oficial da Cidade Olímpica do Rio de Janeiro em sua versão ao espanhol há utilização do

termo “asfalto” em oposição à favela. Disponível em: http://www.cidadeolimpica.com/es/urbanizacion-

que-integra-las-favelas-al-%E2%80%9Casfalto%E2%80%9D/. Da mesma forma o site de notícias IPS,

mantido por uruguaios, ao tratar o tema das desigualdades sociais emprega o termo, esclarecendo, na

primeira menção, que há “zonas de ‘asfalto’ de la ciudad”. Disponível em:

http://ipsnoticias.net/print.asp?idnews=96333. Acesso em 15 de novembro de 2011.

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sobrenome, como fica claro na tradução. Isso também ocorre com as fórmulas de

cortesia “señor/a”.

Observa-se então a modificação da forma de tratamento empregada nas duas

línguas em questão, sem que essa intervenção do tradutor, ao contrário dos exemplos

comentados até o momento, intervenha na construção da identificação cultural dos

personagens do filme ou demonstre alguma predileção de variedade linguística.

Além disso, todos os casos supracitados tornam possível mostrar que o tradutor,

segundo uma das hipóteses traçadas, distancia seu texto do discurso coloquial para o

qual é originalmente concebido e que, diferentemente do que é discutido por Toury

(2004), sua tradução não se direciona à cultura de chegada, tampouco se atém à cultura

de partida.

4.1.3.2. TRANSFERÊNCIA DA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA LÍNGUA

MATERNA

Os casos de transferência que ocorrem na legenda são sempre no sentido PB –

espanhol. Durante a primeira análise empreendida para esta pesquisa e ainda

desconhecendo o responsável pela tradução, fui surpreendida pela ocorrência de

construções anómalas ao espanhol – e que se aproximavam muito mais a estruturas

frasais do PB – e palavras usadas em espanhol com o significado que expressam em PB.

Após coletar informações sobre o processo percorrido pelo tradutor tanto para

essa legenda quanto em sua incursão no campo da tradução audiovisual, foi possível

entender a razão da utilização do PB no texto em espanhol e apontar com mais clareza

os casos que se configuravam como transferência. Se, em um primeiro momento,

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esperava que a tradução não pudesse apresentar esse tipo de problemas, uma vez que o

tradutor é nativo de língua espanhola23

, saber que ele vive no Brasil há muitos anos e

tem o PB como a língua do dia-a-dia permitiu entender o motivo das transferências.

q) Português Espanhol

Preso: (1338.12) Ninguém sobe o morro

pra me dar nada, (1341).

(1338.12) Nadie va a la favela a

darme nada. (1341)

Preso: (1341.6) então eu tenho que

pegar o que é meu, de qualquer

jeito!(1344.8)

(1341.6) Entonces tengo que pegar

de cualquier manera lo que es

mío.(1344.8)

r) Português Espanhol

Homem: Zequiel, atende o telefone e

anota os recados.

Homem: Zequiel, atiende el teléfono

y anota los recados.

Zequiel: De tarde eu tô de volta. Zequiel: Regreso a la tarde.

s) Português Espanhol

Brau: Aquele bosta não ofendeu a gente

Jorge, a bosta não pode ofender uma

pessoa.

Brau: Jorge, esa bosta no nos

ofendió. La bosta no puede ofender a

una persona.

Brau: Com a bosta o que tem que fazer

bicho é puxar a descarga e esquecer

brother.

Brau: La bosta se limpia dando

descarga. Olvídalo, manito.

Nestes exemplos, ocorre uma transferência que se dá pela introdução de

verbo/substantivo que existe nas duas línguas, porém com significados distintos e, neste

caso, não coincidentes.

O primeiro exemplo relaciona-se ao uso do verbo pegar que, na legenda

traduzida, mantém o significado do português, podendo, nessa língua, ser substituído

por buscar. O mesmo verbo, em espanhol, possui várias acepções, sendo que nenhuma

23

O tipo de problemas com os quais esperava deparar-me eram aqueles relativos à falta de formação e

preparo na área da tradução e, especificamente, na área da tradução audiovisual.

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delas corresponde ao uso que se quer fazer neste contexto. Opções de tradução do termo

que respeitassem os significados da LM do tradutor seriam: tomar, agarrar, coger.

Da mesma forma, o uso do verbo atender no segundo exemplo origina em

espanhol uma combinação entre verbo e substantivo que não transmite nenhum

significado. No Dicionário da RAE (2011), constam sete acepções para atender: esperar

ou aguardar; satisfazer um desejo ou ordem; aplicar voluntariamente o entendimento a

um objeto espiritual ou sensível; levar algo em consideração; olhar por alguém ou

cuidar dele; dito de um animal: chamar-se; ler para si mesmo o original de um escrito,

com o propósito de ver se está de acordo com a prova que o corretor lê em voz alta.

Como é possível perceber, nenhum dos significados atende ao que se diz em PB,

tampouco ao que pode ser expresso em espanhol com o verbo em questão. Os verbos

que se utilizam em espanhol para atender ao telefone são: contestar, responder ou

coger, sendo o último mais utilizado na Espanha, em comparação com o espanhol

americano.

Já o terceiro exemplo, dando descarga, em espanhol significaria que há um

objeto com perda de carga elétrica. Dos sete significados listados no dicionário online

da RAE (2011) nenhum é compatível com o ato de puxar a descarga do banheiro,

exatamente ao que o personagem Brau se refere em sua fala.

Através de buscas ao fórum de discussão da página WordReference (2011)

também não foi possível encontrar o uso de descarga coincidente com a expressão do

PB. Tanto no fórum quanto em dicionários, as expressões listadas são tirar de la

cadena, tirar la cadena ou, considerando que os banheiros em sua maioria não possuem

mais uma corda para a descarga, apretar el botón.

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Além dos usos de vocábulos, a transferência também acontece em estruturas

mais complexas, levando para o texto em espanhol características do PB. Os exemplos

seguintes ilustram como o uso do espanhol por parte do tradutor pode estar contaminado

pela proximidade com o PB, fazendo com que ele não reconheça a barreira que separa

um idioma do outro.

t) Português Espanhol

Jorge: Ô gente. Num dá nem pra

acreditar hem,

Jorge: Señores, no da ni para creer

en algo así, ¿no?...

Jorge: Olha tô aqui na minha frente com

um vizinho que tá pondo creolina no

dente.

Jorge: Tengo ante mí un vecino que

usó creolina en los dientes.

O verbo dar empregado na expressão usada por Jorge, em PB, ganha o

significado de ser possível quando usado junto ao verbo acreditar. Como não encontrei

nenhuma ocorrência dessa locução “dar + acreditar” em dicionários de espanhol, recorri

à pesquisa na ferramenta Google.

Em todas as tentativas, a opção “somente páginas em espanhol” foi selecionada,

porém não houve nenhum retorno que correspondesse à forma selecionada pelo

tradutor. Algumas opções que poderiam aproximar-se mais da língua espanhola seriam

as expressões no lo puedo ni crer, se me hace difícil crer en eso ou talvez no es posible

creerlo, todas com o uso do verbo creer que, em espanhol, pode ter a acepção de

“considerar algo verossímil ou provável” (DRAE, 2011)24

24

Disponível em http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=creer. Acesso em 01

de dezembro de 2011.

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u) Português Espanhol

Preso: Aí, agora a gente vai trocar

uma idéia com cê.

Preso: Ahora nosotros vamos a

cambiar ideas contigo.

Preso: Conta pra gente, como é que

cês fizeram essa tal rádio?

Preso: Cuéntanos, ¿cómo hicieron

Uds. esa tal radio, eh?

No caso acima, a expressão trocar uma idéia é utilizada na língua original do

filme com o significado de conversar ou de bater papo e pode ser escutada no Brasil

com certa frequência em diálogos informais, principalmente entre jovens. Quando

pesquisada na ferramenta Google a entrada “trocar uma ideia” obteve aproximadamente

10.400.000 resultados e no site Dicionário Informal25

é definida como “conversar,

discutir pacificamente”.

Em espanhol, a combinação que é encontrada nos dicionários entre “cambiar” e

“idea” é a de cambiar de idea, significando o equivalente a mudar de ideia. Porém,

realizando algumas buscas na internet 26

, encontrei a possibilidade utilizada pelo

tradutor, ou seja, cambiar ideas, com o sentido muito semelhante ao do PB. Cabe

ressaltar que todos os sites que apresentavam essa expressão eram da temática

“encontros”, com perfil de usuários jovens e nos quais a língua usada se aproximava

muito à oralidade, como é possível encontrar em chats de internet.

Avaliando todas as opções de tradução realizadas e analisadas até este ponto,

considero que seria possível afirmar que ao escolher a expressão cambiar ideas o

tradutor não estava procurando dar ao seu texto um tom mais coloquial ou informal,

uma vez que muitos dos fenômenos da variedade não padrão oral presentes no texto em

25

As definições encontradas no site Dicionário informal são elaboradas por usuários da internet de

diferentes Estados do Brasil. Acredito que tais definições sejam, portanto, retratos mais próximos ao PB

falado. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/trocar%20uma%20id%C3%A9ia/ Acesso:

15 de novembro de 2011.

26 Os sites em questão são http://www.agregame.com/selenabatman, acesso 25 de novembro de 2011 e

http://www.amistarium.com/user-view_user-1130723.html, acesso 25 de novembro de 2011.

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PB foram apagados por ele ou substituídos por formas da variedade padrão escrita.

Deste modo, vejo que o exemplo u constitui outra ocorrência de transferência de um

padrão de estrutura do PB para o espanhol.

4.1.3.3. ESCOLHAS LEXICAIS

Como dito anteriormente, a análise das escolhas lexicais feitas pelo tradutor

demandaram um trabalho de comparação entre diferentes palavras utilizadas ao longo

do texto em espanhol e que tinham alguma marca de coloquialidade. O fato de que

sejam consideradas coloquiais faz com que circulem em alguns países de fala espanhola

e, por esse motivo, podem não possuir significados semelhantes ou compreensíveis em

todos os lugares ou registros linguísticos.

Comentar todas as ocorrências lexicais seria inviável para o trabalho que vem

sendo empreendido, dessa forma, achei interessante selecionar dois termos muito

recorrentes e que, consequentemente, variaram bastante ao longo da tradução. Pretendo

demonstrar, através dos exemplos que de fato o texto da língua de chegada se constrói

por meio de diferentes variedades do espanhol.

v) Português Espanhol

Jorge: (208.8) O cara jogava bola com a

gente e hoje tá lá ó, garrado no

cadeião,(214.8)

Jorge: (208.8) El ñato jugaba pelota

con nosotros y hoy está atrás de las

rejas. (214.8)

Jorge: (215) dormindo no fundo da cela

com a cara no boi.(218.4)

Jorge: (215) durmiendo en la celda

de cara a la letrina. (218.4)

x) Português Espanhol

Preso 1: Pô cara, maior sacanagem te

prender aí...

Preso 1: ¡Qué joda encanarte así,

cumpa!

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Preso 2: A gente fica aqui do outro lado

ouvindo suas mensagens, pra passar o

tempo.

Preso 2: Aquí, ‘del otro lado’, oímos

tus mensajes para pasar el tiempo.

z) Português Espanhol

Jorge: Ô seu Doriva, deixa eu dar uma

olhadinha aí, só uma olhadinha.

Jorge: Don Doriva, déjeme dar una

miradita, apenas una miradita.

Dorival: Se quebrar um vidro, o pau vai

comer.

Dorival: Si quebras un vidrio, te

muelo a palos.

Jorge: Pô seu Doriva deixa pelo menos

um dia eu ver como é que esse cara

opera essa mesa...

Jorge: Déjeme ver por lo menos una

vez como ese tipo opera los

controles.

Dorival: Vai saindo. Dorival: ¡Ve saliendo rapidito!

a') Português Espanhol

Roque: Trouxe? Roque: ¿Lo trajiste?

Zequiel: Trouxe o quê? Zequiel: ¿Qué cosa?...

Roque: Ah! Falei, não falei? Esse cara

só tem papo cara.

Roque: ¿No te dije? Este ñato es

puro bla-bla-bla.

b') Português Espanhol

Jorge: Cê viu o fiodumaégua? Que cara

cuzão sô!

Jorge: ¿Viste al hijo de puta? ¡Qué

tipo jodido!

Brau: Esquece cara. Brau: Olvídalo, manito.

Os cinco exemplos apresentados giram em torno da mesma palavra, cara,

utilizada para referir-se a uma pessoa, geralmente do sexo masculino. Embora possuam

um significado geral comum, é possível distinguir diferentes nuances na forma como é

empregada, podendo conferir ao sujeito que é designado pela palavra um aspecto

positivo ou negativo.

Quando usada em sentido positivo, refere-se a amigos ou pessoas com as quais

os personagens têm algum tipo de intimidade e confiança. Em v, Jorge está lendo uma

carta na rádio, na qual um ouvinte relata o que aconteceu a um colega que se envolveu

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no crime e acabou sendo preso. O termo escolhido em espanhol foi ñato que também

aparece na fala de Roque em a’ para referir-se ao seu amigo Zequiel.

Outras duas palavras utilizadas em sentido positivo para traduzir cara são cumpa

e manito: a primeira empregada por um preso durante um conversa com Jorge e, a

segunda, em b’ caracterizando um tratamento de confiança entre os amigos Brau e

Jorge.

Quando a palavra cara atribuía um sentido negativo ou neutro, o tradutor

escolheu o equivalente tipo em espanhol, como ocorre em z e b’. Na primeira das duas

cenas, Jorge está tentando entrar na rádio que existe perto da casa dele, porém o

segurança o impede. O que o protagonista deseja é ver como o radialista opera a mesa

de som, tratando-o por cara, sem com isso atribuir-lhe sentido depreciativo. O termo,

aqui, ganha um tom neutro.

Já b’, a forma em espanhol aparece durante uma cena em que Jorge e Brau são

revistados e insultados por dois policiais em um parque porque estavam beijando duas

garotas. Jorge está muito revoltado com a situação e chama um dos policiais de cara

cuzão, passado ao espanhol como tipo jodido. As definições do DRAE (2011)

correspondem aos dois usos visualizados nessas cenas, um deles como sinônimo de

homem, indivíduo e o outro “utilizado em sentido depreciativo”.

As escolhas do tradutor nas cinco cenas envolvidas, portanto, parecem seguir

uma direção consciente, pois poderia argumentar que como a palavra cara ganha

diferentes contornos no emprego nos diálogos, suas decisões também deveriam ser

diferentes. Contudo, ao optar por temos variados o tradutor acaba misturando palavras

que circulam em variedades específicas do espanhol e que, muitas vezes, não coexistem

na mesma região.

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A palavra “ñato”, por exemplo, é uma gíria utilizada na Bolívia e no Uruguai

para referir-se a jovens e garotos de maneira informal (DRAE, 2011; JHH, 2011). Por

tratar-se de uma palavra muito específica de alguns países, sua escolha não seria

compatível com tom geral da tradução, uma tentativa de linguagem desprovida de

marcas regionais.

Em relação ao termo tipo não há maiores implicações em sua escolha, pois seu

uso com o significado adotado nas cenas anteriores não é uma gíria ou expressão

coloquial, podendo circular em diferentes países que falam espanhol. No entanto,

cumpa, que é uma abreviação de compadre, quando referido a um amigo de confiança

está mais restrita como termo coloquial na Argentina, Bolívia e Chile (DRAE, 2011;

JHH, 2011).

Ainda que tanto ñato quanto cumpa façam parte, concomitantemente, dos termos

coloquiais da Bolívia, não são compartilhados pelos outros países que as selecionam

como opções de gírias (Argentina, Chile e Uruguai) e, tampouco, pelos outros países

onde se fala espanhol. Essa situação poderia gerar falta de compreensão por parte dos

espectadores, já que essas palavras ganham novos significados dependendo da

comunidade que a utiliza.

Não pretendo desconsiderar o fato de que hoje as fronteiras entre os países estão

bem menores e que a expansão da internet e da televisão favorece que ocorram trocas

linguísticas e que expressões de um país comecem a ser usadas em outros lugares.

Porém, acredito que combinar variedades que não convivem no mesmo espaço pode

gerar uma sensação de que há sinônimos equivalentes para todas as palavras das línguas

e que usar um ou outro é uma mera questão de gosto particular.

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A falta de um mesmo parâmetro nas escolhas faz com que, no caso dessa

tradução específica, um termo circulante na Argentina conviva com outro que está

limitado a países localizados no outro extremo da América Latina, como ocorre com o

termo mano, utilizada na legenda em sua forma diminutiva. Nos dicionários Salamanca

(1996) e da RAE (2011), esse substantivo está categorizado como um “tratamento de

confiança que se aplica aos amigos”, também é possível encontrar que se trata de uma

diminução de hermano e que é utilizada no México. Fitch (2006, p. 439) possui um

trabalho mais amplo com as gírias e expressões coloquiais de diferentes países e na

primeira versão do seu Diccionario de Jergas de Habla Hispana, o termo mano é

caracterizado como uma palavra compartilhada também pela Colombia, Guatemala e

Porto Rico.

Outro termo que recebeu mais de um equivalente foi grana, palavra considerada

gíria em PB (Michaelis online, 2011; DPLP, 2011). Todas as opções do tradutor para o

termo estão expostas nos quatro exemplos que seguem:

c') Português Espanhol

Jorge: Ao invés de comprar arma, o

estado devia era usar essa grana

Jorge: En vez de comprar armas, el

Estado debería usar la plata...

Jorge: pra melhorar as escolas e criar

emprego.

para mejorar las escuelas y para

crear empleos

d') Português Espanhol

Fátima: Não dá mais pra ficar sem

geladeira.

Fátima: No puedo estar sin nevera.

Fátima: Você sabe que o conserto da

velha vai custar mais caro que uma

nova.

Fátima: Arreglar la vieja es más caro

que comprar una nueva.

Fátima: O dinheiro que eu juntei não dá,

você tem que completar.

Fátima: El dinero que junté no

alcanza. Tienes que completar...

Jorge: Eu não sei com que grana...só se

eu roubar.

Jorge: No sé con que ‘guita’. Sólo si

salgo a robar...

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e') Português Espanhol

Roque: Larga essa porra, vem trabalhar

comigo. É grana fácil e rápido.

Roque: Deja esa joda y ven a

trabajar conmigo. Es ‘lana’ fácil y

rápida.

Jorge: Fica na sua, que eu fico na

minha, tá? Cada um, cada um…

Jorge: Cuida de tus cosas que yo

cuido las mías. Cada uno en lo suyo.

f') Português Espanhol

Jorge: Mãe aqui tem mil e novecentos.

E eu preciso desse dinheiro.

Jorge: Mamá, aquí hay 1.900... Y yo

necesito ese dinero.

Neusa: Não. Essa poupança é pra

quando você for pra faculdade.

Neusa: ¡No! Esos ahorros son para

cuando vayas a la universidad.

Jorge: Eu não vou pra faculdade, não

vou pra lugar nenhum. Vou ficar aqui,

essa grana é minha.

Jorge: ¡No iré a la Facultad! Me

quedaré aquí. El dinero es mío.

Entre os quatro trechos de diálogos, somente em f’ o termo proposto é uma

palavra que não é gíria, sendo, portanto, de uso geral em todos os países no quais se fala

espanhol. É interessante notar que a palavra dinero aparece no mesmo trecho

selecionado como equivalente a dinheiro. Ao escolher dinero como equivalente de

grana o tradutor apaga uma marca de coloquialidade presente no diálogo entre Jorge e

sua mãe, além de igualar o uso de uma palavra que possui um domínio mais amplo a

uma gíria.

As três outras ocorrências de grana são traduzidas por termos também

coloquiais em espanhol, respectivamente plata, guita e lana. O primeiro deles aparece

como coloquial da América no Diccionario de Salamanca (1996, p.1228) e em Fitch

(2006, p. 444) é apresentado como comum a vários países: México, Costa Rica,

Paraguai, Chile, Peru, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela, Argentina, Uruguai,

Nicarágua, Honduras e Equador.

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Embora seja uma palavra categorizada como coloquial nos dicionários

consultados, pode-se dizer que está bastante difundida em espanhol, sendo encontrada

em várias páginas de internet de países que não constam na relação apresentada por

Fitch (2006). Creio que a palavra plata, devido ao grande número de países que a

adotam como opção de gíria para dinheiro, possa ser considerada de uso geral, embora

mais restrita a contextos informais.

A gíria em d’, guita, é também um equivalente coloquial de dinheiro, e junto à

palavra plata, dominam quase todas as aparições de grana do texto original. Fitch

(2006, p.436) lista sua ocorrência na Argentina, Espanha, Peru, Uruguai, Paraguai e

Bolívia. Por fim, no diálogo entre Roque e Jorge, reproduzido em e’, o termo

selecionado é lana, sendo entre as quatro possibilidades apontadas a que possui menor

abrangência, fazendo parte do repertório de falantes peruanos, mexicanos, panamenhos

e estadunidenses que têm o espanhol como primeira língua.

Em posse dos dados oferecidos sobre as variedades de espanhol que coexistem

na legenda, acredito que visualizar o que é feito pelo tradutor por meio de um quadro

seja mais eficiente, pois permite uma ideia mais geral da mistura que acontece nessa

legenda27

. A decisão do tradutor de usar “um pouco de cada coisa” de cada lugar

proporciona um resultado final anômalo, colocando em contato formas que não

pertencem aos mesmos domínios geográficos ou sociais. Além disso, a mistura dessas

formas apaga as variedades, homogeneizando os discursos que pertencem a diferentes

variedades do espanhol.

27

Na primeira linha de cada tabela constam as abreviaturas dos seguintes países: Argentina, Bolívia,

Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Espanha, Guatemala, Honduras, México,

Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

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A B CH CO CR EQ EUA ES G H M N PA PE PR PI U V

Cara

ñato

cumpa

tipo --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

manito

Tabela 3 – Equivalentes do termo cara e países de origem

A B CH CO CR EQ EUA ES G H M N PA PE PR PI U V

Grana plata

guita

lana

dinero --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Tabela 4 – Equivalentes do termo grana e países de origem

No próximo item, quando o foco de análise passa a ser o discurso do tradutor,

alguns dos conceitos apresentados até o presente momento serão retomados, no intuito

de estabelecer relações entre o produto (a tradução) e o processo de chegada a ele,

julgando como partes de tal processo a incursão do tradutor no PB e as implicações

ocasionadas em sua identidade e em sua produção linguística em LM.

4.2. ENTREVISTA

Passarei a expor os dados surgidos através de uma entrevista realizada com o

tradutor do filme Uma onda no ar, objeto desse estudo. Pretendo discutir de que forma

as noções de identidade, tradução e lugar do tradutor, previamente apresentadas, estão

relacionadas na conformação desse sujeito para, posteriormente, estabelecer uma

ligação com os dados levantados na análise da tradução para legenda.

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4.2.1 - PERFIL DO ENTREVISTADO

O entrevistado, aqui denominado simplesmente T em interação com a

pesquisadora P, realiza trabalhos como tradutor de filmes há pelo menos trinta anos e

conta com quase três mil filmes em seu currículo, segundo dados oferecidos por ele

mesmo durante entrevista. Afirma ser experiente no seu ramo de atuação, embora sua

formação acadêmica seja em jornalismo e nunca tenha realizado nenhum curso na área

de tradução.

Além de atuar como tradutor, também é editor de uma revista de Ecologia,

publicada no Brasil, e também passou pela profissão de cineasta por duas vezes. Tem

uma extensa história como escritor de jornais, revistas e enciclopédias especializadas

em cinema.

Apesar de não possuir formação específica na área de Letras ou qualquer curso

sobre tradução, o entrevistado é ativo no ramo e realiza muitos trabalhos com o par de

línguas português-espanhol. Segundo Martinez (2007), somente a partir da década de

1990 houve uma demanda por profissionais de legendagem, com a chegada da televisão

por assinatura no Brasil. Antes disso, e até os dias atuais, a atividade estava restrita ao

cinema, meio no qual atuam poucos profissionais.

Considero oportuna a colocação acima, pois estamos lidando exatamente com

um desses casos: um tradutor que constitui um dos “poucos profissionais” do mercado

de tradução para o cinema. Mesmo não tendo tido uma formação “profissional” ou

institucional, por não ter nenhuma formação para a atividade, ingressou no circuito de

tradutores por ser nativo de língua espanhola de nacionalidade boliviana.

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Vivendo há quarenta anos no Brasil, apresenta durante seu discurso alternância

entre as duas línguas das quais faz uso regularmente, português e espanhol. Grosjean

(1999) considera que pessoas que usam duas ou mais línguas (ou dialetos) diariamente

são bilíngues, estando expostos por razões diversas (como as migrações) a uma língua

diferente daquela considerada sua língua materna.

Ainda segundo Grosjean, os bilíngues utilizam suas línguas para diferentes

finalidades e com diferentes pessoas, porém a desativação total de uma das línguas

(quando em contato com um interlocutor monolíngue) raramente acontece. Tal fato

explicaria o surgimento das interferências, desvio que ocorre na língua que está sendo

falada devido à influência da outra língua. As interferências podem ocorrer em todos os

níveis: fonológico, lexical, sintático, semântico e pragmático.

Creio que poderia ser possível classificar o entrevistado como falante bilíngue de

espanhol e português, uma vez que as duas línguas fazem parte do seu cotidiano. Além

disso, entender o tradutor como um falante bilíngue permitirá entender melhor as

interferências observadas tanto na entrevista como, posteriormente, na tradução para

legenda.

Passo a apresentar os temas relevantes para a análise que pretendo empreender,

agrupando as respostas do tradutor em temas centrais. Ressalto que, nem sempre, cada

um dos temas apresentados a seguir é fruto de respostas de um único bloco temático

proposto para a entrevista (cf. Anexo I), uma vez que o modelo utilizado permite essa

liberdade de retomada de temas por parte do entrevistador e do entrevistado. Entretanto,

indicarei as hipóteses que foram levantadas a respeito dos temas tratados.

Concepção sobre aprendizado – a incursão em outra língua através da tradução

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P: ((nome do tradutor)) onde e como que você aprendeu português? E/ como

que você se interessou pelo português assim/ por português, pelo Brasil?

T: Pra dizer assim / eu nunca estudei. Eu aprendi / falando, escrevendo.

Agora isso já tem o que? Quarenta anos / por que... eu vim, eu era jornalista

na Argentina, então / vim para fazer cobertura dum festival de cinema/ aí não

falava português, não falava nada. (...) Aí eu trabalhei um pouco na produção

/ e ao mesmo tempo fuí aprendiendo /.../ nesse / momento na Cinemateca /

que eu dirigia a parte de pesquisa de de, da Cinemateca era o Alex Viani, que

já morreu, e o Alex por ser (inint) da enciclopédia Mirador / para dirigir toda

a parte de cinema da enciclopédia / a enciclopédia foi dirigida por Otto

(inint), que era o diretor geral, o segundo era Antonio Wais / e aí em cinema

o Alex Viani e o Alex me convidou para / escrever os verbetes de cinema da

América Latina / Aí eu tive que / começar a escrever /e aí comecei a escrever

português, portunhol, meio misturado né? / aí fuí aprendiendo / quando eu

não sabia faziam revisão / aí fuí aprendiendo /

P: E/ quando você tem alguma dúvida nessas traduções, ou mesmo quando

você está escrevendo textos em português, como é que você resolve isso?

T: Isso eu tenho siempre / não é? / siempre / porque você tem um filme feito

em Pernambuco, falado em pernambuquês / aí tem que saber de QUE se trata

/ (inint) hoje é mais fácil porque você pesquisa na internet, tem dicionário,

tem frase, tem explicação, tem / é muito fácil, antes era sumamente difícil

mas / é, nesses casos tinha que / falar com o diretor, o roteirista até entender

do que se tratava, né? / então era o contato direto com a pessoa que fez o

roteiro ou, no caso o diretor ou a pessoa responsável pela produção, né? /

para esclarecer / (...)

As duas falas apresentadas faziam parte do bloco temático “O tradutor e seu

caminho no português como língua estrangeira”, que tinha como hipóteses o fato de que

seu aprendizado de PB havia se dado de maneira informal e de que em caso de dúvidas

o tradutor recorreria a falantes nativos do idioma em busca de uma resposta. As duas

hipóteses foram corroboradas a partir das respostas anteriores que ocorreram logo ao

início da situação discursiva

Extrapolando o que havia sido proposto para esse bloco, emerge uma visão

inconsciente por parte do entrevistado sobre o processo de entrada em uma nova língua.

Seu discurso parece definir o processo de significação na língua estrangeira como algo

inevitável ou quase natural, que exigiria o mínimo de esforço por parte de um falante

adulto.

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Considero essa fala de extrema relevância para os próximos tópicos que serão

abordados nessa pesquisa, pois permite retomar aqui as ideias de Revuz (1998) de que

quando um sujeito aprende uma língua estrangeira ele se depara com outra maneira de

construir o mundo dos sentidos, diferente daquela que se dá na língua materna (LM).

Dessa forma, “falar” e “escrever” em português brasileiro (PB) implicam estabelecer

novos significados para as coisas que nos cercam.

Quando o tradutor “naturaliza” seu aprendizado do PB, aproxima-se ao que

Jakobson (1999) define como tradução, a possibilidade de existência de duas mensagens

equivalentes em dois códigos diferentes, uma vez que demonstra em sua resposta que

no Brasil continuou fazendo o que já fazia em língua espanhola. A nova realidade

linguística é encarada com muita tranquilidade, como se realmente se tratasse de

realizar uma “tradução”, no sentido tradicional, do que ele precisava escrever e falar.

O entrevistado também admite que, no início, escrevia “portunhol, meio

misturado”, em alusão à presença de interferência do espanhol na sua produção

linguística em PB. Nesse início da produção em outra língua, o que se estabelece é uma

língua de contato, carregada de características da LM e que tenta se aproximar à língua

estrangeira (LE).

É interessante notar também que, nesse momento, começa a se delinear a

legitimidade do nativo, aquele que está capacitado a adequar, “corrigir”, a produção de

um estrangeiro. O discurso do tradutor é autorizado por um nativo que faz a revisão,

porém não sabemos quem é esse revisor, se é uma pessoa com conhecimentos

linguísticos do português ou apenas um usuário da língua.

O “mito do nativo”, apresentado em Coracini (2007), oferece uma imagem desse

“poder legitimador” conferido ao outro, ao falante daquela língua que não é a nossa.

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Esse outro é aquele que fala “corretamente” (nos termos da autora) a língua da qual

queremos aproximar-nos. Da mesma forma, o mito parece legitimar o trabalho do

tradutor em questão, pois podemos supor que sua nacionalidade de falante de espanhol

tenha possibilitado os convites para que ele primeiro redigisse e, posteriormente, fosse

convidado a traduzir.

T: (...) tinha alguns amigos jornalistas que escreviam crítica / nos jornais / na

época que existia o Correio da Manhã me convidaram para escrever algunas

críticas e aí comecei a escribir / o pessoal do Jornal de Letras también

começou a me pedir matérias / aí / de aí comecei a escribir / em algum

momento / eu não lembro exatamente em que momento foi / me pediram para

fazer, traduzir um, um filme né? / as legendas, não sei qual foi o primeiro que

fiz / não me lembro, mas era algum filme do cinema novo (...)e aí começaram

a encomendar eu comecei a traduzir, a traduzir e não parei mais até hoje / eu

traduzi sei lá, três mil filmes / não sei quanto.

P: Você fez algum tipo de curso de tradução / ou você começou a traduzir

porque você já escrevia em português?

T: não, não /não / porque eu siempre escribí, não, nunca fiz.

P: Quando você está traduzindo/ e no caso mesmo de tradução de filmes / que

você já fez vários /.../ e você também têm outras atividades profissionais,

também já trabalhou como jornalista, como escritor / tem algum tipo de

habilidade dessas outras atividades profissionais que você também usa para a

tradução?

T: bom / eu vejo o fato de traduzir como uma disciplina de / escritor /.../ tanto

faz, traduzir é uma / como se estivesse escrevendo um texto / é a tradução

seria digamos uma consequência, só isso.

Nesses trechos, dois blocos temáticos se fundem, sendo eles “O tradutor e sua

formação na área” e “O tradutor e seu fazer”, representado pelo último excerto. As

hipóteses centrais aqui são a de que alguns nativos, ao ingressarem no mercado de

trabalho da tradução, buscam algum tipo de formação complementar na área; e a

segunda é a de que o tradutor se mostra mais espectador que personagem do filme,

distanciando o discurso que será traduzido, hipótese que só poderá ser testada

posteriormente, através de outra pergunta.

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Ao falar especificamente sobre a atividade de traduzir, é possível notar que o

entrevistado verbaliza sua visão do que seja uma tradução. Para ele, traduzir é escrever

em outra língua, corroborando a visão das pessoas que a consideram uma atividade

menor (PAGANO, 2006). Esta afirmação desconsidera as habilidades e estratégias

necessárias para a formação de um bom tradutor, transcendendo o conhecimento

meramente linguístico. Somada a tal concepção, faz-se necessário reconsiderar a

proposta de Toury (2004) de que a tradução estabelece relação não só entre duas

línguas, mas entre duas culturas e que, portanto, sua prática requer a busca de subsídios

externos ao linguístico, como defende Pagano (2006, p.13).

No que diz respeito ao próprio sujeito enquanto tradutor de espanhol, o

entrevistado, em seu discurso, faz uma clara relação entre língua legitimadora e

naturalização do ofício. Além de falar o espanhol “corretamente” (CORACINI, 2007),

uma vez que é nativo do idioma, o entrevistado também se autoriza a traduzir por ser

escritor de textos, refutando a primeira das hipóteses levantadas.

Entretanto, conforme Carvalho (2005) a tradução para legendas impõe

numerosas restrições em função do espaço disponível, dos diferentes parâmetros

temporais e de objetivos específicos, entre outros, relacionados ao público-alvo.

Portanto, ser escritor em uma determinada língua não habilitaria alguém a realizar

traduções para legendas, uma vez que essa modalidade é caracterizada por

especificidades próprias do gênero, além daquelas próprias da atividade tradutória e já

comentadas.

A falta de formação para a área é discutida por Barbosa (2005), ao afirmar que a

parte mais organizada desse mercado é o das chamadas “traduções juramentadas”, pois

estão amparadas por um sindicato e para exercê-la é necessário ser aprovado em um

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concurso. As demais atividades de tradução ainda são realizadas de maneira autônoma

e, muitas vezes, de forma amadora.

Universal, variável, regional – a visão de língua para o tradutor

O bloco temático que serve de fonte para as próximas falas do tradutor foi

denominado de “O tradutor e as identidades culturais em jogo” e tinha como hipóteses

principais: a exclusão da variedade não padrão oral em detrimento da variedade padrão

escrita; o tradutor conhecia o lugar de distribuição do filme e, assim, procuraria adequar

seu texto a uma comunidade específica.

P: Quando você / igual você estava falando do filme “Salve geral” / quando

você recebe esses filmes que são muito carregados de regionalismos /.../ ou

talvez até de fala própria de algum tipo de comunidade / como foi o caso dos

presidiários / como também é um pouco o caso do “Uma onda no ar” que tem

um pouco de falar particular / e você / na hora de traduzir para o espanhol /

que tipo de tática que você usa? / Qual é a estratégia que você usa para tentar

passar isso para o espanhol, para manter o mesmo registro?

T: o espanhol tem um / uma / problema que mais ou menos acontece também

com o português / se o filme / um filme francês é traduzido para português / o

português do Brasil é diferente do português do / de Portugal / as gírias né? /

tudo são diferente, então você tem que optar por um ou outro / ou que você

está direcionado para o mercado brasileiro ou não /.../ mas muitas produtoras

não tem condição de fazer duas traduções, duas legendagens de / da mesma

cópia que vai pra... então o que eu faço, eu faço espécie de / linguagem mais

ou menos universal que se possa entender as gírias tanto na Argentina /

quanto na Espanha, quanto no México, então fica é... uso um pouco gírias de

todos os países / pra que possa ser compreendida rapidamente porque / se tem

dois segundos para compreender a frase né? então eu faço uma mistura de

isso / (...)

Nesse trecho, algumas concepções sobre língua que vão influenciar diretamente

o trabalho que o tradutor realiza nas legendas podem ser notadas. Embora seja

consciente de que as línguas variam, pelo menos geograficamente, considera que apenas

o português e o espanhol apresentam tal “problema”, talvez porque cada uma dessas

línguas seja oficial de pelo menos dois países. Essa posição fica muito evidente para ele

quando, comparado ao francês, o português oferece duas opções: Brasil e Portugal.

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Assim, por um lado, o entrevistado exterioriza sua crença na uniformidade

linguística dentro de uma área, no caso dentro de um país (MELLO, 1999). O trecho é

bastante controverso, pois ao mesmo tempo em que defende a língua como algo fixo

geograficamente, “tudo são diferente, então você tem que optar por um ou outro”,

defende a ideia da língua universal.

Preti (1974), citado por Mello (1999), afirma que em países de grande extensão

geográfica como o Brasil, estruturas lexicais típicas chegam, às vezes, a ser

incompreensíveis em outras regiões. Podemos ampliar essa constatação e supor que no

domínio do espanhol, língua falada em mais de vinte países como língua oficial, o

mesmo possa ser afirmado. Como seria então, essa “linguagem mais ou menos

universal”?

Oliveira (2006), ao falar da visão do inglês, discute o discurso ingênuo daqueles

que a veem como língua universal. Para a autora, essa visão desvincula a língua de

questões políticas e de poder, além de trazer em si a ideia de que por ser universal é

neutra, desprovida de identidade cultural ou como língua “desenraizada”28

.

No entanto, quando fala de uma “linguagem universal” o tradutor não alude a

uma visão de língua “franca”, utilizada de maneira mais geral e desenraizada. O que ele

promove, em suas palavras, é uma mistura, das “gírias de todos os países”, numa

tentativa de utilizar uma linguagem desprovida de singularidade. Entretanto, o que

acontece é que a linguagem empregada por ele é marcada, através de gírias e expressões

típicas do falar de alguns lugares e de alguns segmentos da sociedade.

28

Segundo Oliveira (2006, p.103), existe entre os estudantes a representação do inglês como a língua que

permite a comunicação entre povos de diferentes línguas e que, por isso, é vista como uma língua útil.

Essa visão, para a autora, favorece a noção de que o inglês seria uma língua “desenraizada de sua

identidade cultural”, pois ao ser “universal” e ocupar o lugar de “língua da globalização” não estaria

promovendo aculturação de outros povos que a utilizam, servindo como um meio neutro de comunicação.

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Em outro momento, ao falar sobre um filme para o qual produziu legendas com

o espanhol “específico” da Argentina, o tradutor contradiz sua concepção de linguagem

universal:

T: porque um palavrão na Argentina na Espanha não significa nada / então,

se pierde / aí, houve / a televisão mais ou menos unificou nos últimos anos /

o linguajar / é divulgou formas de falar de outros lugares / você vê o Chaves,

vamos supor / que passa em toda América Latina /.../ o Chaves ((programa de

televisão)) fala uma linguagem específica das favelas do México (...)

Anteriormente o tradutor, além de defender a possibilidade de existência de uma

linguagem “mais ou menos universal” e, portanto, não marcada, admitiu utilizar

palavras e expressões de diferentes lugares, “uma mistura” com o objetivo de fazer-se

entender em todos os lugares onde se fala espanhol. Nesse trecho, porém, ele se coloca

em outro extremo, atentando para o fato de que palavras coloquiais específicas de um

determinado lugar (e também de um certo “falar”) podem não ser compreendidas em

outra parte, remetendo à ideia proposta por Preti (1974) para o PB.

O que se pode observar é que o discurso do tradutor é conflituoso e se constrói

através de contradições. Considerando que, ao significar, significamos (ORLANDI,

2002), a própria identidade do entrevistado perpassa por mudanças constantes,

fragmentações (HALL, 2006), sendo a língua um dos fatores dessa constituição

mutante.

As questões de variação linguística (regional, social e situacional) entram em

jogo ativamente durante a tradução, entendendo essa prática como uma atividade da

cultura meta, portanto visando responder às normas de adequação da comunidade

receptora, como define Toury (2004). Conhecer o público que receberia um filme

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traduzido poderia possibilitar um tratamento mais adequado das variantes linguísticas,

gerando um maior entendimento por parte dos receptores.

Esse questionamento fez parte de um dos blocos temáticos da entrevista,

denominado “O tradutor e as identidades culturais em jogo”, o qual tinha como objetivo

central observar como o tradutor lida com a variação linguística durante o seu trabalho.

Quando questionado sobre o conhecimento do país de distribuição dos filmes que

traduz, o entrevistado disse não ter essa informação.

T: normalmente no, por que... / pra mim não tem assim, nenhum interesse em

saber se vai pro festival na Espanha, na Argentina / no México / ou em Cuba

/ às vezes / os produtores ou a pessoa que está encarregada do filme / na

produtora entra em contato comigo e dice / “pô, vou mandar o festival / para

o festival de Havana / o filme pro festival de Havana daqui uma semana,

você tem que entregar isso amanhã” / então / aí eu sei que o filme vai para

Havana / mas normalmente / não sei / às vezes me comenta /.../ mas não

tem... isso não é determinante / não es um fator assim muito importante / né?

/ às vezes sim, mas normalmente eu não sei para donde va.

Aqui, observo que mesmo em conflito durante algumas respostas, o tradutor é

coerente, pois se utiliza uma “linguagem universal”, se faz uma mescla lexical durante

suas traduções; portanto, saber o lugar de circulação do filme pouco importa. Cabe

ressaltar que não entendo a língua em uma relação imutável com um país, mas como um

sistema complexo e variável, constituída por várias comunidades linguísticas dentro de

um mesmo território. Todavia, uma vez que na língua há diferentes variedades em

competição e, por isso não seja possível encontrar dois falantes idênticos (MELLO,

1999), é plausível crer que dois falantes de um mesmo idioma compartilhem alguns

traços ou variedades.

Ainda no que tange ao trabalho com a língua, pude constatar que o tradutor, um

sujeito que não reflete de maneira consciente sobre a questão da variação linguística,

deixa transparecer estereótipos preconceituosos em relação ao “falar do suburbano”.

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Bortone (2007, p.124) afirma que em sociedades monolíngues a estratificação em

classes separa e hierarquiza o dialeto padrão dos dialetos não padrão. Essas formas

utilizadas pelas camadas marginalizadas da sociedade são vistas como inadequadas, mal

estruturadas e até ilógicas. Mello (1999, p.29) também aponta nessa direção e mostra

que o lugar de desprestígio das variedades não padrão é motivado por estereótipos que

“surgem a partir do significado social atribuído às diferentes variações linguísticas”,

sendo, portanto, adequado e igualmente válido como instrumento de comunicação

dentro da classe social a que pertence o falante.

P: E agora / eu elaborei algumas perguntas sobre o filme mesmo / Sei que

tem muito tempo / que você traduziu /.../ às vezes você não lembra bem, mas

vamos ver o que dá pra sair daqui / Na tradução do Uma onda no ar você

privilegiou algum tipo de registro na linguagem? / registro culto, registro

informal / na hora de passar para o espanhol?

T: Como / como, o que você quer dizer registro culto...

P: A maneira de falar mesmo, na hora de fazer as legendas no espanhol / é

/.../ de traduzir, o tipo de palavras que você selecionou...

T: Tem, tem um detalhe /.../ que, salvo muita / raríssimas, raríssimas

exceções / a fala das pessoas, normalmente / do, o suburbano não fala o

português correto / mas, se fosse traduzido num livro, você tem possibilidade

de manter esse tipo de fala / porque têm muitos recursos, você pode botar

aspas, pode botar itálico, pode botar negrito, pode dar um / esse / esticar mais

um pouco, enfim /.../ esclarecer de que o cara ESTÁ falando assim / né? que

onde a frase / tem / que não concorda o verbo / que onde é plural o cara fala

em singular, enfim /.../ de uma forma geral eu elimino isso / salvo que seja

muito marcante, muito marcante / porque senão parece que o tradutor está

escribindo qualquer besteira / não dá a impressão que o personagem que fala

assim, parece que o tradutor que não sabe escrever / então há esse problema /

se for por exemplo, num diálogo entre um índio e / vão para um lugar que

tem índio /.../ o índio, você já sabe que o índio fala assim, então não tem que

esclarecer que o índio fala assim / muito mais simples.

Nesse trecho, o tradutor hierarquiza duas “línguas”: o português correto e o

português, segundo ele incorreto, típico dos “suburbanos”. A relação que se estabelece é

de concorrência (MELLO, 1999), pois de um lado estão “as pessoas” da classe

marginalizada e que não falam a língua com precisão e, do outro, o “você” que inclui o

falante que sabe usar a língua segundo a norma culta.

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Quando o tradutor justifica sua maneira de lidar com esse registro da língua

menciona o fato de que em um “livro você tem possibilidade de manter esse tipo de

fala”, devido aos recursos para chamar a atenção do leitor para a variante que está sendo

retratada. Outro artifício usado para sustentar sua colocação é apoiar-se no estereótipo

do índio que “você já sabe que fala assim”, subentende-se, “errado”, que não domina a

norma da variedade padrão escrita do português. É interessante notar que ao construir as

duas imagens de língua inadequada, o tradutor utiliza o pronome pessoal “você” que,

embora englobe o falante, no caso ele mesmo, modaliza as opiniões, conferindo-lhes

tom de verdade compartilhada por uma comunidade e não como algo individual.

Essa hierarquização do discurso entre “os suburbanos” e o “tradutor” (que

precisa escrever dentro das normas linguísticas do padrão culto para não parecer que “o

tradutor que não sabe escrever”) remonta ao que Silva (2000, p.81) discute ao defender

que a definição da identidade está sujeita a relações de poder.

A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de

poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser

separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não

são, nunca, inocentes. (...) A diferenciação é o processo central pelo qual a

identidade e a diferença são produzidas.

No discurso do entrevistado, as marcas de poder podem ser visualizadas através

da classificação do que é certo em oposição ao que é errado. Para Silva, dividir o mundo

entre ‘nós’ e ‘eles’ é classificar e tal mecanismo sempre é feito desde o ponto de vista

da identidade. Quando se ordena o mundo social, estabelece-se uma hierarquização,

estando as relações sociais organizadas em operações de poder. E, como identidade e

diferença são estreitamente dependentes, afirmar a homogeneidade da identidade é

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impossível, uma vez que é assombrada pelo Outro, “sem cuja existência ela não faria

sentido” (Silva 2000, p.84).

A questão da identidade e da diferença pode, pois, ser pensada no que diz

respeito ao uso da língua, já que a ideia de língua padrão é uma abstração (MELLO,

1999) tanto por pressupor uma língua ideal “em termos de estrutura gramatical e uso

correto”, quanto por aceitar que seja falada por uma elite educada e dominante,

desconsiderando que esses falantes também fazem uso de variedades não padrão.

No momento em que o tradutor empenha-se por divulgar uma imagem de si

como usuário da língua “correta”, diferente dos personagens suburbanos dos filmes que

traduz, afirma sua diferença em relação ao “outro”. O que se dá é um desejo de

diferenciar-se, de ser o “tradutor” que controla a língua com a qual trabalha e não poder

ser confundido com as pessoas que falam, ou escrevem “qualquer besteira”.

Tradutor, adaptador – a voz do sujeito que traduz

Os próximos trechos tem como hipóteses a possibilidade do tradutor distanciar o

discurso a ser traduzido, colocando-se fora do que diz seu texto, como se não fossem

mais as falas dos personagens e sua liberdade limitada para escolher como traduzir

termos marcados.

T: Por exemplo no caso dos filhos no início de ... do Glauber / um caso típico

/ a primeira versão do “Deus e o diabo” não fui eu que fiz / mas a versão

atual que está circulando es minha / só que na primeira versão quem traduziu

“o coronel fulano de tal” / que está um coronel com o empregado dele que,

que mata um boi e depois vem pedir /.../ um marginal e / é perseguido pelo

Antônio das Mortes / para fazer morte / é... foi traduzido direto como coronel

/ só que em espanhol jamais ninguém vai entender coronel como o / dono da

terra / o patrão, o dono da fazenda / isso não existe essa possibilidade,

coronel é coronel do exército / não tem outra interpretação. Então na versão

que / foi feita há uns três anos, três, quatro anos, que se fez / toda a revisão da

obra do Glauber, eu fiz quase todo, aí eu mudei /.../ mudei para o /

terrateniente o ranchero / tem diversas formas de dizer o coronel /que quer

dizer o dono da terra, o proprietário da fazenda, nesses casos, por exemplo,

há esse tipo de mudança / tem outras, outros detalhes / esses eu tomo a

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liberdade de fazer porque /.../ porque acho que contribui um pouco para

esclarecer as ações como son / vamos supor o... vamos falar aí, o filme do

Barreto, a ação acontece no Leblon / mas na tradução eu não botei Leblon,

botei Ipanema / porque Leblon ninguém sabe, fora do Rio e alguma cidade do

Brasil, ninguém sabe onde fica Leblon / agora Ipanema todo mundo sabe

onde es / e, mesmo que não saiba Ipanema es um bairro, do lado do mar, de

classe média alta, classe média, classe média alta / quer dizer a pessoa já tem

a... já se ubica rapidamente como es, donde es (...)

T: ou, muitas vezes assim / personagens históricos né? / que são amplamente

conhecidos aqui / Antônio Conselheiro, fora do Brasil ninguém sabe quem é

Antônio Conselheiro / então eu tenho que colocar ou talvez ni bote o nome,

boto alguma coisa que identifica o personagem, quem es, de que se trata

assim / então quem sabe português e vê a tradução diz “pô, esse cara é

maluco, ele não falou isso” / né? / mas é um tipo de liberdade que eu tomo

pensando nas pessoas que vão assistir lá / no México o cara vai ver o filme,

rapidamente para saber / se orienta, mais ou menos como, de que se trata essa

ação ... nesse sentido assim / tenho essa liberdade (...) então, é... tem que

mostrar / aí tive que fazer um trabalho de explicação / quase didático para

que as pessoas entendam.

Por meio desses trechos de fala, o tradutor se posiciona como responsável pelas

mudanças ocorridas entre o texto fonte e o texto alvo, alterações consideradas positivas

não só por ele, mas também pelos reguladores de seu trabalho (diretores, roteiristas,

pessoas da produção). Conforme afirma Levy, ao ser citado por Hanes (2011), a

tradução é um processo de tomada de decisões, pois em vários momentos o tradutor

opta por uma escolha em detrimento de outra que seria lexicalmente e gramaticalmente

possível, mas que não é utilizada por várias determinantes de cunho social, cultural e/ou

econômico.

Concordo com o posicionamento de Levy, que dialoga com a visão de Coracini

(2007), de que o tradutor não é um veículo de transmissão de significados entre o autor

do texto fonte e o texto meta, ele é um produtor de novos significados e atua como

mediador entre duas culturas. Nesse ponto, também considero oportuno servir-me da

definição traçada por Amorim (2005, p.22) para tradutor e adaptador.

Para esse pesquisador, o termo tradutor se inscreveria numa rede que regula seu

papel como aquele que apenas “espelharia” (nos termos do autor) o que lê,

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desconsiderando fatores “da ordem da recepção”. Por outra parte, o adaptador se

assemelharia mais a um “contador de histórias”, levando em consideração o “perfil dos

seus ouvintes/leitores”. Nesses termos, enquanto o tradutor estaria “ausente” o

adaptador se faria “presente”.

A noção de adaptador apresentada por Amorim abrange, em termos, a noção de

tradução proposta em Toury (2004), pois para o teórico israelense as traduções são fatos

da cultura meta, sendo reguladas por normas impostas pelos falantes que recebem a

tradução. Portanto, o individuo responsável por traduzir um texto deveria levar em

consideração seus leitores/ouvintes, da mesma maneira proposta para o adaptador.

Quando fala sobre as transformações engendradas durante seus trabalhos de

tradução para legenda, o entrevistado evidencia sua “preocupação” em fazer com que a

história a ser narrada seja compreensível ao público “lá no México” ou em qualquer

outra região hispanofalante. Outro ponto em que insiste bastante é a necessidade de ser

breve, uma vez que a legenda impõe uma série de restrições quanto ao número de

caracteres e o tempo de exposição na tela.

Caracterizar o entrevistado como adaptador será muito produtivo para,

posteriormente, cotejar de forma mais objetiva o tratamento dado aos aspectos regionais

e coloquiais das falas dos personagens que foram levantados nos dados da legenda. O

objetivo central deste trabalho é descrever as transformações ocorridas e, guiando-me

pelos papéis atribuídos ao adaptador (AMORIM, 2005), poderei analisar e discutir qual

é o parâmetro utilizado pelo tradutor de Uma onda no ar ao traduzir para legenda.

Duas línguas e um falante – alternância linguística

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Os seguintes excertos, bem como a análise que se faz deles, não estavam

propostos como um bloco temático da entrevista. São recortes de várias partes que

visam apontar as interferências linguísticas no discurso do tradutor em língua

portuguesa. Talvez o fato de não haver proposto um bloco para discutir esse assunto

possa indicar que minha hipótese inicial era a de que, por morar há tantos anos no Brasil

e fazer uso diário do PB, o tradutor não apresentaria um nível tão perceptível de

interferências, o que não foi confirmado.

T: trinta e cinco / é o limite / de trinta e cinco toques / é o limite que se tem,

porque ai não entra mais ni uma linha, ni uma / trinta e cinco entre letras e

espaço, não / não (inint) /.../vou ver se tem alguma... /.../ quero ver... /.../

macumba é / uma palavra que não tem tradução mas todo mundo sabe que es

macumba (...)

T: o Ministério da Cultura tem / o setor de cinema que é... ANCINE, agência

nacional de cinema / então a agência que programa / as participaciones do

Brasil nos festivais / geralmente eles selecionam os filmes e / bom, vão cinco

filmes para / o festival de Guadalajara, vamos supor / aí, é / podem mandar os

cinco pra mim ou / três / dependendo aí do, do / do tempo que eles tiverem e /

isso é feito através do setor que / da parte técnica do audiovisual, né, do / da

Ancine / do Ministério / então o CTAv29

e a Ancine son los que encomiendan

/ às vezes o produtor encomenda /.../ esse, pelo tipo de filme / deve ter sido a

Ancine / eles é... / já tem aí a (inint), a forma de trabalho / e eles mandam o

filme / “vou te mandar daqui uma semana três filmes”.

T: quando você fala, por exemplo, “mineiros” / es muito difícil traducir

“mineiros” / né? por que? /.../ se eu boto “él es mineiro” / ninguém vai vir a

pensar que ele é de Minas Gerais / ((risos)) vai pensar que é um cara que

trabalha numa mina / não tem outra forma de entender / então é muito difícil /

decir baiano, todo mundo sabe, carioca todo mundo sabe / né? / amazonense

todo mundo sabe, mas mineiro / gaúcho também tem esse problema (...)

Tomei os trechos acima para exemplificar a alternância de código linguístico que

ocorre durante toda entrevista com o tradutor. Do mesmo modo, os demais excertos já

apresentados até aqui com outros propósitos também apresentam ocorrências válidas e

passíveis de comentário.

Parto do pressuposto de que falantes que usam regularmente duas línguas são

bilíngues e que teriam dificuldades em desativar completamente uma das línguas,

29

Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura.

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quando em contato com falantes ditos monolíngues (GROSJEAN, 1999). A ocorrência

de uma língua diferente da língua do discurso faz com que emerjam interferências em

distintos níveis: fonológico, lexical, sintático, semântico e pragmático.

Nas falas selecionadas acima, e em outras partes da entrevista, podemos notar

que existem dois padrões diferentes de alternância: intra-sentencial unitária e intra-

sentencial segmental (DABÈNE & MOORE, 1995).

A alternância é intra-sentencial, pois, dentro de uma mesma sentença, ocorrem

inserções de um dos sistemas no sistema base da comunicação. A forma unitária

acarreta a modificação de apenas um elemento da frase, enquanto na forma segmental

partes, segmentos, da língua base se alternam com partes da outra, porém deixando

ambas inalteradas.

Como exemplo de uma alternância unitária posso citar “não entra mais ni uma

linha, ni uma”, em que somente a conjunção ni, do espanhol, é inserida à sentença

transmitida em PB. A alternância segmental ocorre em casos como “então o CTAv e a

Ancine son los que encomiendan”, em que, no mesmo turno de conversação o falante se

vale de um segmento frasal em espanhol, alternando o idioma usado até o momento.

Além da alternância que pode ser observada através da transcrição apresentada

para este estudo, cabe informar que o tradutor apresenta grande interferência fonológica

do espanhol em sua produção oral em PB, realizando vários sons à maneira de sua LM.

Observar e classificar as alternâncias linguísticas no discurso do tradutor foi de

extrema relevância para entender certas interferências surgidas na própria tradução e,

portanto, acredito que esse dado não pode ser desconsiderado no momento de discutir as

alterações efetivadas na legenda.

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4.3. – UMA LEITURA CONJUNTA DOS DADOS

Como citado na introdução do capítulo 3, inicialmente os dados desta pesquisa

seriam oferecidos pela legenda produzida em espanhol e pela lista de diálogo elaborada

em PB. No entanto, após a decisão de elaborar uma entrevista e principalmente a partir

das informações obtidas através dela várias indagações que haviam surgido no momento

da análise das legendas foram sendo respondidas ou, pelo menos, minimizadas.

Propor uma leitura conjunta dos dados é uma tentativa de verbalizar o caminho

que tracei entre a teoria e o que acontecia na prática, apoiando-me no contexto que cerca

o tradutor e nas imagens que ele tem do seu ofício. O que pretendo confrontar são os

dados observáveis, aqueles surgidos após a observação atenta da legenda, com os

implícitos que emergem no discurso do tradutor.

Começo, então, recuperando cada uma das hipóteses levantadas ao início deste

estudo, no intuito de comprovar se as mesmas foram corroboradas ou não. Na primeira

delas, considerei que as marcas da variedade não padrão oral seriam apagadas, dando

lugar à variedade padrão escrita do espanhol e acreditava que esse fato estaria

diretamente relacionado às imposições dos clientes que solicitam traduções, devido às

restrições desse campo específico.

Os dados colhidos e expostos em 4.1 mostram que, efetivamente, há apagamento

das características da variedade não padrão oral e que, em seu lugar, figuram expressões

típicas da variedade padrão escrita. No entanto, a entrevista revelou que o tradutor não

recebe das produtoras nenhum manual com normas ou recomendações, portanto ele

estaria livre para utilizar a variedade que lhe parecesse mais conveniente.

Não estou, contudo, desconsiderando o estudo de Martinez (2007) e sua

constatação de que o mercado brasileiro, e provavelmente o de outros países também,

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preza por amenizar a linguagem das legendas e se guia pela variedade escrita, mais

rígida. O que chama a atenção é o motivo que leva o tradutor a desconsiderar a

variedade não padrão oral em seu texto, suas concepções baseadas no conceito de

“certo” e “errado” em relação às variedades linguísticas.

Ao defender que um tradutor não deve escrever como os personagens falam, o

faz hierarquizando o português falado pelos “suburbanos” e aquele que seria o

“correto”, deixando claro que seu posicionamento a respeito está embasado em

convicções que não levam em consideração qualquer conhecimento linguístico.

Conhecer o processo de chegada do tradutor tanto no PB quanto no próprio ofício de

traduzir permite entender que sua posição é consensual, existindo coerência em sua

trajetória esculpida por uma incursão, inicialmente amadora, no campo da tradução.

Esse posicionamento por parte do entrevistado levanta outra questão, relativa à

falta de formação do mesmo na área de Letras. As escolhas que faz ao longo da legenda

estão apoiadas em suas intuições como falante nativo de espanhol e como usuário de

PB. Não há nenhum tipo de reflexão quanto ao uso das variedades linguísticas ou à

importância de uma escolha que não entre em conflito com outras, como podemos

observar no caso das decisões relativas ao léxico.

Ao mesmo tempo em que o tradutor assume acreditar numa “língua mais ou

menos universal”, definindo-a como uma junção de características provenientes de

diferentes variedades geográficas e sociais, e baseia suas escolhas numa mistura de

países e registros, durante a entrevista deixa claro que marcas específicas de um

determinado lugar (gírias ou palavrões) podem não significar nada em outro. Além de

lidar com a fragmentação do indivíduo (HALL, 2006), o texto que é construído em

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espanhol também é permeado pela fragmentação linguística de um sujeito que apresenta

interferências da língua estrangeira (português) na sua língua materna (espanhol).

A segunda hipótese deste estudo relaciona-se ao distanciamento do discurso de

seu lugar de origem. Acreditava que, se as marcas identitárias são apagadas, o ponto de

localização do discurso também se perderia.

Tal hipótese foi corroborada, embora o motivo não tenha sido exatamente o

esperado. Além do apagamento das marcas outro fator contribui para o distanciamento

notado. O tradutor, durante sua entrevista, define a tarefa de traduzir como uma tarefa

de escritor, posicionando-se, portanto, como um “contador de histórias”, conforme

conceito apresentado por Amorim (2005). Ao ser um escritor que traduz ele está

presente no texto e assume sua voz, silenciando a voz dos personagens que são

distanciados de seu discurso.

Além dos pontos de luz lançados pelas informações da entrevista e que estavam

intimamente relacionadas às hipóteses, um dado adicional foi decisivo para elucidar a

origem de frases, expressões e construções pouco comuns ou anômalas ao espanhol

encontradas na legenda. Durante a entrevista, concedida em português, foi possível

notar com clareza que há muita interferência do espanhol na fala do tradutor. Acredito

que o caminho contrário, ou seja, a interferência de padrões do PB no texto em espanhol

possa explicar os exemplos de construções não recorrentes em espanhol e presentes na

legenda.

Objetivei, durante essa leitura conjunta, encaminhar minhas considerações finais

e organizar o volume de implicações surgidas ao trabalhar com dois instrumentos

igualmente ricos em dados para análise. Passo, então, à última seção deste texto.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta dissertação foi de fazer a análise da tradução das marcas

identitárias que caracterizavam um grupo social específico do filme Uma onda no ar,

sendo o objetivo principal deste trabalho verificar as estratégias utilizadas pelo tradutor

ao validar suas escolhas e quais seriam suas possíveis motivações. Conjecturei que,

guiando-se por limitações externas, o tradutor em questão tentaria omitir as marcas de

oralidade da variedade não padrão oral, privilegiando formas da variedade padrão

escrita, consequentemente, distanciando o discurso de seu lugar de origem.

Buscando demonstrar as complexidades envolvidas no processo de tradução para

legendas, apresentei a teoria dos Estudos Descritivos da Tradução e o conceito de

polissistema no qual se insere a tradução audiovisual, além de descrever as

peculiaridades características dessa modalidade de tradução. Entre essas peculiaridades

destaca-se o fato de a legendagem ser um tipo de tradução diagonal, levando o tradutor

a lidar com diferentes configurações espaciais e temporais. Em seguida, apresentei os

procedimentos técnicos da tradução que guiaram a análise empreendida no capítulo 4,

propondo três categorias diferentes para a organização dos dados provenientes da leitura

e observação das listas de diálogos em espanhol e português. O diálogo entre as duas

propostas teóricas diferentes surgiu da necessidade de analisar também o texto original

dando-lhe, por vezes, uma posição de destaque frente à tradução. A análise, portanto, foi

empreendida a partir de uma postura heterodoxa, buscando em uma teorização

estruturalista (BARBOSA, 1990) elementos que permitiram entender como a

constituição de sentidos no novo texto relacionava-se ao texto original.

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As análises que realizei evidenciaram a normatização do texto original,

corroborando, desse modo, uma das hipóteses lançadas. Não obstante, a suposição de

que encontraria no texto um espanhol sem marcas específicas e que poderia adequar-se

às necessidades comunicativas mais diversas foi parcialmente confirmada, sendo

observadas no texto algumas inclusões de termos geograficamente marcados e que não

convivem nos diferentes domínios de uso do espanhol.

A meu ver, a entrevista ofereceu subsídios que permitem caracterizar as ações do

tradutor como intuitivas e baseadas em uma teoria implícita, guiada pela sua prática

profissional e desprovida de considerações teóricas. O aspecto profissional do trabalho

empreendido pelo tradutor em questão tem como único pilar a prática, sendo a formação

considerada dispensável àquele que já está inscrito no mercado de trabalho.

Ao entender a tradução como um fato da cultura que a recebe, não posso deixar

de apontar que a legenda que serve de ponto de início das discussões propostas neste

trabalho desconsidera essa noção, uma vez que a identidade social do grupo

representado não encontra um equivalente na tradução proposta. O tradutor deixa de

apresentar equivalências compatíveis com o grupo social representado mesmo quando a

língua espanhola dispõe de tais recursos. Podemos citar o exemplo da omissão do “s”

para marcação de plural.

Não pretendo com essa afirmação considerar a teoria apresentada nesta

dissertação como a única ou a mais adequada para filtrar os estudos relativos à legenda

do filme Uma onda no ar. Pretendo, porém, sinalizar o fato de que o trabalho

empreendido pelo tradutor, embora seja coerente dentro do seu percurso, muitas vezes

abdica qualquer reflexão teórica, a meu ver indispensável para aproximar-se de um

objeto tão complexo.

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Sendo assim, julgo ter cumprido os objetivos propostos e demonstrado que a

tradução para legendagem é um campo em expansão de demanda e oferta, embora ainda

careça de estudos teóricos que possibilitem um melhor conhecimento do objeto e levem

ao entendimento da necessidade de preparo e formação daqueles que desejam aventurar-

se por seus caminhos.

Com a ciência de ter feito tão pouco, em meio a este campo em que as

possibilidades se mostram inesgotáveis, espero ter contribuído aos Estudos da Tradução

e, principalmente, ao campo dos estudos em espanhol. Não são muitas as pesquisas que

conjugam teorias de tradução e o par português-espanhol, sobretudo de filmes

brasileiros levados à língua espanhola. A análise empreendida propôs uma visão que

conjugasse a noção de identidade centrada na pessoa do tradutor e nas identidades que

circundam os personagens que dão vida ao texto cinematográfico.

Ofereço aqui uma leitura entre outras possíveis, marcando a necessidade do

diálogo com pesquisas futuras.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/57930146/Agra-Klondy-Integracao-Da-

Lingua>. Acesso em: 28 de maio de 2011.

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105

ANEXOS

I – Roteiro de entrevista

BLOCO

TEMÁTICO

OBJETIVO PROBLEMAS HIPÓTESES PERGUNTAS

O tradutor e

seu caminho

no português

como L2.

Obter

informações

sobre a

relação que

o tradutor

possui com

o

aprendizado

da L2 em

questão.

O que o

tradutor

entende como

“falar” uma

língua e quais

são suas

concepções

sobre a

necessidade de

uma

aprendizagem

formal.

1. Seu processo de

aprendizagem de

PB se deu de

maneira informal.

2. O tradutor

recorre a nativos

do PB para

solucionar

possíveis dúvidas

de vocabulário.

3. O tradutor

considera ter

proficiência em

português, mas

consulta outras

pessoas quando

necessário.

1. Onde e como você

aprendeu português?

Porque você se

interessou pela

língua?

2. Quando você tem

dúvidas com o PB,

como você as

resolve?

3. Como você avalia

seu português? Por

quê?

O tradutor e

sua

formação na

área.

Perceber a

relação que

existe entre

a formação

e a atuação

profissional

do tradutor.

Qual foi o

caminho

traçado pelo

tradutor na sua

profissão e

como se deu a

escolha pela

tradução?

1. Muitos

tradutores são

leigos ou nunca

estudaram teoria,

além de não serem

da área.

2. Alguns nativos,

por já dominarem

a língua, buscam

formação

complementar em

tradução para

exercer o ofício.

1. Qual é a sua

formação

acadêmica? Sua

atuação profissional

é condizente com sua

formação?

2. Você fez algum

curso de tradução

antes ou durante seus

trabalhos como

tradutor? [se sim:

quais e por quê? – se

não: por quê?]

O tradutor e

seu fazer.

Perceber as

estratégias

utilizadas

para a

tradução.

O que o

tradutor faz

durante o seu

trabalho com

os textos a

serem

traduzidos.

1. O tradutor, por

transitar

continuamente

entre o espaço das

duas línguas, parte

sempre dos seus

conhecimentos

linguísticos,

1. Quando você

começa uma

tradução (entre PB e

espanhol, ou vice-

versa), e durante seu

percurso, sente

necessidade de

consultar algum

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106

recorrendo pouco a

outros artifícios.

2. O tradutor

utiliza

indistintamente

diferentes termos

lexicais,

pertencentes a

diferentes regiões

do espanhol, para

evitar repetições.

3. O tradutor deve

seguir normas

estabelecidas pelas

produtoras/editoras

quanto à extensão

e nível de registro

da sua tradução.

4. O tradutor lê o

original várias

vezes para

certificar uma

melhor

compreensão do

tema a ser

traduzido.

5. O tradutor

distancia-se do

discurso a ser

traduzido,

mostrando-se mais

espectador que

personagem.

material? Qual e com

que frequência?

2. Quando havia uma

palavra que se

repetia várias vezes

no filme, você as

traduzia sempre da

mesma forma?

3. Nas suas

traduções você está

livre para trabalhar

como quiser,

escolhendo os

termos a serem

usados e o tom a dar

ao texto? Alguém da

editora/produtora

revisa sua tradução

antes da publicação?

4. No caso de

tradução audiovisual,

você vê o filme

várias vezes antes de

traduzir ou lê apenas

o roteiro/lista de

diálogos?

5. Você desenvolve

outras atividades

profissionalmente,

jornalista, cineasta,

escritor e tradutor.

Você incorporou

algumas dessas

outras atividades e as

habilidades que te

exigem quando

estava traduzindo?

O tradutor e

as

identidades

Observar

como o

tradutor vê a

Como o

tradutor

experiente lida

1. De modo geral,

o tradutor

considera a língua

1. Na tradução, qual

é o tipo de registro

que você utilizou?

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culturais em

jogo.

questão da

variação das

línguas e

como lida

com isto em

seu fazer.

com as

variações

geográficas e

sociais das

duas línguas

em questão no

momento de

reconstruir as

identidades

marcadas no

texto original?

padrão culta de sua

variante como

mais apropriada

para a tradução em

relação à

oralidade.

2. O tradutor, por

não ser nativo do

PB, sentiu

dificuldade com

relação à variante

do PB utilizada no

filme.

3. O tradutor apaga

as marcas

regionais por não

achar relevante sua

tradução para o

entendimento da

história.

4. A produtora do

filme informou

onde seria

distribuído o filme

e assim o tradutor

procurou adequar

seu texto a uma

comunidade

específica.

5. Os dados

culturais da

história do filme

conduziram a

tradução ao

espanhol.

Culto ou informal?

No caso do filme,

qual tipo de registro

foi privilegiado por

você?

2. Você notou

alguma diferença no

modo de falar das

personagens do

filme? Teve alguma

dificuldade em

entender alguma

coisa?

3. Quando havia no

filme alguma

expressão regional,

gíria, palavrão ou

termo muito próprio

do vocabulário do

lugar, como você o

traduziu?

4. Quando você foi

contratado, sabia

qual espanhol

deveria seguir, para

qual país? [se sim:

você tentou adequar

seu texto? Como? –

se não: qual a

variedade do

espanhol você

escolheu e por quê?

5. Você encontrou

alguma informação

cultural no filme que

teve dificuldade de

interpretar e

posteriormente

traduzir? Qual o

meio utilizado por

você para resolver

sua dúvida?

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II. Convenção para transcrição de dados

/ pausa curta

/.../ pausa longa

(inint) trecho duvidoso ou incompreensível

Letra maiúscula ênfase ou acento forte

... fala suspensa

(( )) comentário do pesquisador

(...) indicativo de eliminação

T fala do tradutor

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III. Transcrição da entrevista

P: Onde e como que você aprendeu português? E Como que você se interessou pelo

português assim, por português, pelo Brasil?

T: Pra dizer assim / eu nunca estudei. Eu aprendi / falando, escrevendo. Agora isso já

tem o que? Quarenta anos / por que... eu vim, eu era jornalista na Argentina, então / vim

para fazer cobertura dum festival de cinema/ aí não falava português, não falava nada.

Então, é / eu já tinha alguns amigos, da, da, da época do cinema novo / eu já conhecia

da / do festival de Mar del Plata / um deles era o Nelson Pereira dos Santos, o Joaquim

Pedro, enfim / (inint), o Arnaldo Jabor, enfim era vários, vários, Domingos de Oliveira /

o, Nelson estava começando a filmar / não sei se era o Como era gostoso o meu francês

ou / o Alienista, acho que era O alienista em Parati, aí me convidou para ir lá. Aí eu

trabalhei um pouco na produção / e ao mesmo tempo fuí aprendiendo /.../ nesse /

momento na Cinemateca / que eu dirigia a parte de pesquisa de de, da Cinemateca era o

Alex Viani, que já morreu, e o Alex por ser (inint) da enciclopédia Mirador / para dirigir

toda a parte de cinema da enciclopédia / a enciclopédia foi dirigida por Otto (inint), que

era o diretor geral, o segundo era Antonio Wais / e aí em cinema o Alex Viani e o Alex

me convidou para / escrever os verbetes de cinema da América Latina / Aí eu tive que /

começar a escrever /e aí comecei a escrever português, portunhol, meio misturado né? /

aí fuí aprendiendo / quando eu não sabia faziam revisão / aí fuí aprendiendo / esse

trabalho levou, sei lá, uns dois anos / eu fiz verbete de quase toda América Latina,

grande parte da África e algunos da Ásia, da / Enciclopédia Mirador /.../ é una versão

brasileira da Britânica /.../ aí, é... tinha alguns amigos jornalistas que escreviam crítica /

nos jornais / na época que existia o Correio da Manhã me convidaram para escrever

algunas críticas e aí comecei a escrivir / o pessoal do Jornal de Letras tambien começou

a me pedir matérias / aí / de aí comecei a escrivir / em algum momento / eu não lembro

exatamente em que momento foi / me pediram para fazer, traduzir um, um filme né? / as

legendas, não sei qual foi o primeiro que fiz / não me lembro, mas era algum filme do

cinema novo

P: Para traduzir de português para espanhol?

T: Pra espanhol / eu acho que foi Toda nudez será castigada do Jabor / um deles, não

sei /.../ aí eu aprendi a como se fazia NAQUELA época a / a tradução / é diferente de

hoje / o princípio é o mesmo mas / a parte técnica é diferente/ né / e aí começaram a

encomendar eu comecei a traduzir, a traduzir e não parei mais até hoje / eu traduzi sei

lá, três mil filmes / não sei quanto

P: E quando você tem alguma dúvida nessas traduções, ou mesmo quando você

está escrevendo textos em português, como é que você resolve isso?

T: Isso eu tenho siempre / não é? / siempre / porque você tem um filme feito em

Pernambuco, falado em pernambuquês / aí tem que saber de QUE se trata / (inint) hoje é

mais fácil porque você pesquisa na internet, tem dicionário, tem frase, tem explicação,

tem / é muito fácil, antes era sumamente difícil mas / é, nesses casos tinha que / falar

com o diretor, o roteirista até entender do que se tratava, né? / então era o contato direto

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com a pessoa que fez o roteiro ou, no caso o diretor ou a pessoa responsável pela

produção, né? / para esclarecer / agora ni siempre son problemas de, de, /.../

regionalismos, ou de gíria / por exemplo, Salve geral né? / o filme sobre a violência

actual, um filme actual, feito em São Paulo sobre a / a questão do / do primeiro

comando, sei lá / que queimaram (inint) / fizeram... o salve geral é uma expressão

própria dos presídios de São Paulo / ni no Rio sabem exatamente que é / então é... para

chegar a um acordo com o / a produção do filme nós tivemos que ver várias opções, o

que seria a melhor opção para que fique, é... salve geral / acho que botamos guerra total

/guerra total ou algo assim, né? / mas siempre entrando em contato com a produção

P: Você fez algum tipo de curso de tradução ou você começou a traduzir porque

você já escrevia em português mesmo?

T: não, não /não / porque eu siempre escrivi, não, nunca fiz

P: E no caso, quando você recebe o filme para traduzir a produtora já manda um

manual de como deve ser feita a legenda, a tradução?

T: um manual? / não

P: Não? Eles não mandam assim, nada que você tenha que seguir realmente para

fazer a legenda? Uma coisa mais técnica assim?

T: não, não / isso não existe / assim, o processo do filme, pra, no meu caso é o seguinte /

a produção faz o levantamento do roteiro das, das ... falas do filme / esses diálogos son

enviados / quando se tem completos, para o laboratório para fazer a pietagem / que é /se

chama a entrada e saída da legenda /aí está marcado / quinhentos trinta e um ponto

quatro entró bom dia / quinhentos trinta e cinco ponto dos /sai /.../ e, a entrada e saída da

fala e a fala que tem que ser traduzida /pro português / ultimamente é, tem acontecido

que mandam para fazer isso e fazem do inglês / então mandam para mim em inglês, aí

eu tenho que PEGAR o roteiro em português / e / copiar a fala que corresponde ao

inglês / mas é uma questão é / de / economia digamos, para não pagar duas vezes esse

trabalho / mas tem que ser feito / porque a tradução tem que ser feita a partir do

português / agora tem outras formas, no laboratório que a pessoa não tem o

levantamento dos diálogos / manda a cópia / aí no laboratório se faz o levantamento da

fala / (inint) entrada e saída, e esse roteiro que mandam para mim / tanto faz, de uma

forma ou du outra o roteiro vem marcado em português

P: E no caso você recebe só o roteiro ou você também recebe o filme?

T: primeiro o filme / siempre / obrigatoriamente, hoje é mais fácil porque eu vejo no

dvd, mas antes tinha que ir lá na sala do cinema pra ver o filme no cinema / não numa

sessão comercial, numa sessão para traduzir

P: Quando você, igual você estava falando do filme Salve geral, quando você recebe

esses filmes que são muito carregados de regionalismos, ou talvez até de fala

própria de algum tipo de comunidade, como foi o caso dos presidiários, como

também é um pouco o caso do Uma onda no ar que tem um pouco de falar

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particular, e você, na hora de traduzir para o espanhol, que tipo de tática que você

usa? Qual é a estratégia que você usa para tentar passar isso para o espanhol, para

manter o mesmo registro?

T: o espanhol tem um / uma / problema que mais ou menos acontece também com o

português / se o filme / um filme francês é traduzido para português / o português do

Brasil é diferente do português do / de Portugal / as gírias né? / tudo são diferente, então

você tem que optar por um ou outro / ou que você está direcionado para o mercado

brasileiro ou não /.../ mas muitas produtoras não tem condição de fazer duas traduções,

duas legendagens de / da mesma cópia que vai pra... então o que eu faço, eu faço

espécie de / linguagem mais ou menos universal que se possa entender as gírias tanto

na Argentina / quanto na Espanha, quanto no México, então fica é... uso um pouco

gírias de todos os países / pra que possa ser compreendida rapidamente porque / se tem

dois segundos para compreender a frase né? então eu faço uma mistura de isso / alguns

filmes são sumamente complexos / principalmente gíria sexual e... vamos supor A ópera

do Malandro, na ópera eu trabalhei sei lá / um mês no filme / com o Rui Guerra / direto

/ consultando porque o filme é cantado né? um musical e as falas estão em rima /

rimadas / e é gíria sexual, então toda aquela coisa com dupla sentido / não é exatamente

a frase sexual mas todo tem um / duplo sentido, então tem que passar esse duplo sentido

para o espanhol / e isso foi uma coisa muito difícil / muito difícil / (inint) agora ... tem

outros casos que / por exemplo no caso dos filhos no início de ... do Glauber / um caso

típico / a primeira versão do Deus e o diabo não fui eu que fiz / mas a versão atual que

está circulando es minha / só que na primeira versão quem traduziu “o coronel fulano de

tal” / que está um coronel com o empregado dele que, que mata um boi e depois vem

pedir /.../ um marginal e / é perseguido pelo Antônio das Mortes / para fazer morte / é...

foi traduzido direto como coronel / só que em espanhol jamais ninguém vai entender

coronel como o / dono da terra / o patrão, o dono da fazenda / isso não existe essa

possibilidade, coronel é coronel do exército / não tem outra interpretação. então na

versão que / foi feita há uns três anos, três, quatro anos, que se fez / toda a revisão da

obra do Glauber, eu fiz quase todo, aí eu mudei /.../ mudei para o / terrateniente o

ranchero / tem diversas formas de dizer o coronel /que quer dizer o dono da terra, o

proprietário da fazenda, nesses casos por exemplo há esse tipo de mudança / tem outras,

outros detalhes / esses eu tomo a liberdade de fazer porque /.../ porque acho que

contribui um pouco para esclarecer as ações como son / vamos supor o... vamos falar aí,

o filme do Barreto, a ação acontece no Leblon / mas na tradução eu não botei Leblon,

botei Ipanema / porque Leblon ninguém sabe, fora do Rio e alguma cidade do Brasil,

ninguém sabe onde fica Leblon / agora Ipanema todo mundo sabe onde es / e, mesmo

que não saiba Ipanema es um bairro, do lado do mar, de classe média alta, classe média,

classe média alta / quer dizer a pessoa já tem a... já se ubica rapidamente como es,

donde es / agora com Leblon nunca, nunca jamais / então... em alguns filmes, claro que

se es necessário manter no original / mantenho, não tenho dúvida / só se o cara diz “ah,

estou indo para Goiás” / eu não boto Goiás, porque ninguém sabe donde fica Goiás / eu

digo “estou indo perto de Brasília”, ai o cara já sabe que é no meio de Brasil, pertinho

da capital (inint) se ubica rapidamente /.../ essas son coisas que eu faço /.../ você vê o

mesmo que traduzir no inglês / dizem Goiás, e pronto / eles, é / não tem esse tipo de / eu

tenho visto várias inclusive, não tem esse tipo de cuidado / eu faço essa interpretação, e

no caso o Barreto por exemplo ele disse ótimo / não tem problema nenhum, acho

fantástico que você / esclareça as coisas, ou, muitas vezes assim / personagens

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históricos né? / que são amplamente conhecidos aqui / Antônio Conselheiro, fora do

Brasil ninguém sabe quem é Antônio Conselheiro / então eu tenho que colocar ou talvez

ni bote o nome, boto alguma coisa que identifica o personagem, quem es, de que se trata

assim / então quem sabe português e vê a tradução diz “pô, esse cara é maluco, ele não

falou isso” / né? / mas é um tipo de liberdade que eu tomo pensando nas pessoas que

vão assistir lá / no México o cara vai ver o filme, rapidamente para saber / se orienta,

mais ou menos como, de que se trata essa ação ... nesse sentido assim / tenho essa

liberdade, digamos / enfim, aí, é... vamos supor que tem um filme que acontece / disse,

“ah, mataram na / no complexo do alemão” / não poderia botar no complexo, boto na

favela / né? / só que complexo todo mundo sabe que é no complexo do alemão, mas na

favela do alemão, tem que esclarecer que não tem... nenhum alemão ni nada / ni alemão

na gíria / tem outros filmes por exemplo que fala / “ah, aquele lado é dos alemães” se

você bota literalmente dos alemães, vai pensar que são pessoas que / da Alemanha ou

descentes de alemão ou alguma coisa da Alemanha, e não tem nada a ver, alemães são

os inimigos / geralmente é a polícia né? / então, dependendo da conotação... tinha um

filme aí que fiz a pouco / que /.../ era a história de um casal / da favela / da onde? / não

sei se era a Maré, não lembro exatamente / mas eles tão soltando uma pipa, e o fio

estoura / a pipa sai segue, segue, segue... “pô, essa pipa, vai lá, corre atrás / pega ela” / e

ela (inint) e cai no lado da favela que é / do inimigo, do comando, dos inimigos de, de

esta favela / aí o garoto não quer entrar e disse “não, se eu vou vão me matar” / não sei

o que / então as pessoas não podem, não entendem porque ele não queria / ir do outro

lado da favela, não sabem, então você tem que esclarecer como / porquê razão ele não

quer ir, e ele tinha uma namorada que morava na outra favela / eles se encontravam na

escola, saiam da escola cada um ia para a sua casa né? / então, é... tem que mostrar / aí

tive que fazer um trabalho de explicação / quase didático para que as pessoas entendam

P: E tem que ser uma explicação curta né?

T: Ah sim, três palavras, dos palavras, é muito rápido

P: Quando você está traduzindo e no caso mesmo de tradução de filmes, que você

já fez vários, e você também têm outras atividades profissionais, também já

trabalhou como jornalista, como escritor, tem algum tipo de habilidade dessas

outras atividades profissionais que você também usa para a tradução?

T: bom / eu vejo o fato de traduzir como uma disciplina de / escritor /.../ tanto faz,

traduzir é uma / como se estivesse escrevendo um texto / é a tradução seria digamos

uma consequência, só isso

P: E agora eu elaborei algumas perguntas sobre o filme mesmo. Sei que tem muito

tempo que você traduziu às vezes você não lembra bem, mas vamos ver o que dá

pra sair daqui. Na tradução do Uma onda no ar você privilegiou algum tipo de

registro na linguagem? Registro culto, registro informal, na hora de passar para o

espanhol?

T: como / como, o que você quer dizer registro culto...

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P: A maneira de falar mesmo, na hora de fazer as legendas no espanhol, é, de

traduzir, o tipo de palavras que você selecionou...

T: tem, tem um detalhe /.../ que, salvo muita / raríssimas, raríssimas exceções / a fala

das pessoas, normalmente / do, o suburbano não fala o português correto / mas, se fosse

traduzido num livro, você tem possibilidade de manter esse tipo de fala / porque têm

muitos recursos, você pode botar aspas, pode botar itálico, pode botar negrito, pode dar

um / esse / esticar mais um pouco, enfim /.../ esclarecer de que o cara ESTÁ falando

assim / né? que onde a frase / tem / que não concorda o verbo / que onde é plural o cara

fala em singular, enfim /.../ de uma forma geral eu elimino isso / salvo que seja muito

marcante, muito marcante / porque senão parece que o tradutor está escribindo qualquer

besteira / não dá a impressão que o personagem que fala assim, parece que o tradutor

que não sabe escrever / então há esse problema / se for por exemplo, num diálogo entre

um índio e / vão para um lugar que tem índio /.../ o índio, você já sabe que o índio fala

assim, então não tem que esclarecer que o índio fala assim / muito mais simples / no

caso do, da Uma onda no ar não exatamente como foi / que eu fiz, deixa eu ver se tenho

aqui o texto / vamos ver aqui então ((passamos a outra sala, em frente ao computador

onde o tradutor procurou o texto do filme para consultar)) /.../ eu, a partir de

determinado momento tenho os textos no computador, mas os anteriores não porque,

não se trabalhava com computador /.../ deixa eu ver se tenho aqui... /.../ (inint) /.../ esse,

ele lê alguma coisa aqui não?

P: é, ele está lendo uma carta

T: a carta / o itálico / por uma convenção se usa quando o diálogo está em off / mas aqui

/ (inint) “veneno” significaria droga / eu não sei se veneno, no original também

P: eu acho que sim

T: trinta e cinco / é o limite / de trinta e cinco toques / é o limite que se tem, porque ai

não entra mais ni uma linha, ni uma / trinta e cinco entre letras e espaço, não / não

(inint) /.../vou ver se tem alguma... /.../ quero ver... /.../ macumba é / uma palavra que

não tem tradução mas todo mundo sabe que es macumba /.../ quero ver se tem alguma

outra... /.../ nesse rolo não tinha / muita fala de... /.../ ((está lendo)) federal /.../ uma coisa

que nunca boto é polícia militar / porque polícia militar é dos militares / nunca se

entende que é a polícia normal / isso não existe / a polícia militar é do exército, da

marinha /.../ da área militar, é muito estranho que aqui você tenha / como polícia militar

/.../ ((conversa com outra pessoa que estava na sala, sobre outro assunto)) /.../ você que

aqui tem trinta e seis / trinta e oito / são dois pês de tamanho (inint), aqui está estourado

/ passou muito rápido / muito rápido, dois pês é muito rápido ((P é o espaço entre linhas

no word)) / talvez na hora de legendar, tiraram alguma coisa / por exemplo, “isto” /.../

P: eles podem editar o que você...

T: é, depende de quem trabalha / eu tenho um amigo meu que faz e sabe como / como

fazer né? /.../ é, aqui não tem muito diálogo de gíria, sei lá... /.../ ((conversa com a outra

pessoa da sala)) / e aqui ficou, isso veio do laboratório / tem que falar / enfim /.../ mas

aí, que mais?

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P: e quando eles te pediram a tradução desse filme, eles falam onde que esse filme

vai circular? Em que país de língua espanhola, ou não?

T: não /.../ esse é? ((pergunta sobre o filme)) esse deve ter sido da Ancine / tá no crédito

da legenda, no início / créditos do filme // que chama-se CTAV / sabe o que é o CTAV?

P: não

T: o Ministério da Cultura tem / o setor de cinema que é... ANCINE, agência nacional

de cinema / então a agência que programa / as participaciones do Brasil nos festivais /

geralmente eles selecionam os filmes e / bom, vão cinco filmes para / o festival de

Guadalajara, vamos supor / aí, é / podem mandar os cinco pra mim ou / três /

dependendo aí do, do / do tempo que eles tiverem e / isso é feito através do setor que /

da parte técnica do audiovisual, né, do / da Ancine / do Ministério / então o CTAV e a

Ancine son os que encomiendan / às vezes o produtor encomenda /.../ esse, pelo tipo de

filme / deve ter sido a Ancine / eles é... / já tem aí a (inint), a forma de trabalho / e eles

mandam o filme / “vou te mandar daqui uma semana três filmes”...

P: mas ai eles não falam pra onde, onde vai ser a exibição?

T: normalmente no, por que... / pra mim não tem assim, nenhum interesse em saber se

vai pro festival na Espanha, na Argentina / no México / ou em Cuba / às vezes / os

produtores ou a pessoa que está encarregada do filme / na produtora entra em contato

comigo e dice / “pô, vou mandar o festival / para o festival de Havana / o filme pro

festival de Havana daqui uma semana, você tem que entregar isso amanhã” / então / aí

eu sei que o filme vai para Havana / mas normalmente / não sei / às vezes me comenta

/.../ mas não tem... isso não é determinante / não es um fator assim muito importante /

né? / às vezes sim, mas normalmente eu não sei para donde va

P: e aí, se você sabe você tenta adequar de alguma maneira a legenda, a linguagem,

o tipo de vocabulário ou também não?

T: teve um caso / no / o... / o filme do Coutinho, aquele do / da teatro / como era o nome

do filme do Coutinho? /.../ ((procura nos arquivos do computador por quase três

minutos)) / como era? /.../ que era para o festival de Argentina / aí houve o... / o

Coutinho consultou a pessoa lá e / eles pediram para passar algumas / algumas frases

para / aquele só para a Argentina /.../ mas essa legendagem foi legendagem é /.../

projetada / então você pode personalizar / aí eles pediram para passar / para que seja

para Argentina, mas foi um caso único /.../ como era o filme? /.../ acho que não tá aqui

/.../ em cena, em cena... /.../ ((conversa com outra pessoa que está na sala)) engraçado

/.../ não sei é / esse filme qual era? /.../ eu tive um problema com o computador e perdi

grande parte dos textos /.../ ((continua procurando nos arquivos do computador)) em

cena / jogo de cena / é isso / você viu esse filme?

P: não

T: muito interessante o trabalho do Coutinho / ele fez uma / espécie de consulta pública

/ no, através do jornal inclusive / e algumas pessoas foram lhe contar / algumas histórias

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da vida delas /.../ aí, ele entrevista a pessoa real, né? e paralelamente cria uma história

igual de algo com atores /.../ e em determinado momento você não sabe / quem é de

verdade / você vê a /.../ que atriz era? / a Fernanda Torres / que ela está sendo

entrevistada, porque as entrevistas não estão juntas / paralelas, as histórias / você está

vendo a Fernanda Torres falando de que o irmão dela / tinha não sei o que / a história do

irmão / e você acha que é do irmão dela /.../ quer dizer, ele fez assim / uma coisa muito

bem feita / então, depois você vê a história real / que es a mesma história com a outra

figura / e assim tem várias né? / então você não sabe quem / ni quem que está falando a

verdade, se é a / garota desconhecida que está interpretando o que a Fernanda falou ou a

Fernanda está interpretando o que ela disse / você não sabe qual é a atriz e qual não é /

claro, no caso da Fernanda Torres você sabe que ela é a atriz, mas você não sabe se a

história é dela ou da outra / e a outra está fazendo o papel da Fernanda / é bem bolado o

filme /.../ nesse caso foi / pediu especificamente que seja uma tradução, porque tem

muita gíria, né? assim de / local e principalmente as gírias sexuais, são mais comuns /

digamos de pedir / porque um palavrão na Argentina na Espanha não significa nada /

então, se pierde / aí, houve / a televisão mais ou menos unificou nos últimos anos / o

linguajar / é divulgou formas de falar de outros lugares / você vê o Chaves, vamos supor

/ que passa em toda América Latina /.../ o Chaves ((programa de televisão)) fala uma

linguagem específica das favelas do México / você viu alguma vez o Chaves?

P: em espanhol poucas vezes

T: não, em português

P: em português sim

T: você sabe, ele mora / sabe onde que ele mora, não? / não é uma vila, é uma favela / é

favela mesmo / você não identifica favela como favela, como daqui / é uma favela

mexicana / o Chaves na verdade não é Chaves / é chavo / el chavo / chavo seria o /.../ o

como diriam? / o pivete / o pivete do oito / oito seria o número da porta da casa dele /

onde ele mora, no cubículo dele / o buraco onde ele mora é o número oito / então /

Chaves já deforma totalmente, não tem nada a ver com o conceito / por que seria um

pivete / mesmo / um sentido desse / então todas as falas que são do México foram

migrando / migrando principalmente América do Sul / aí principalmente no Peru, na

Argentina, no Chile / já começam a entender essa forma de falar / às vezes assimila e às

vezes não, depende de cada caso / pelo menos entienden / e aí o contrário também

acontece / a televisão da Argentina vai para Espanha, para outro lugares / aí as pessoas

começam entender as falas / mas / traduzir para determinado país não é normal, não é o

comum / tem que ser / mais universal /.../ é por que você não pode legendar para cada

lugar

P: é, ninguém faz isso na verdade, várias legendas... e só mais uma para terminar,

no Uma onda no ar, teve algum tipo assim de coisa cultural, de referência cultural

do lugar que você teve algum tipo de dificuldade, teve que procurar o produtor,

roteirista para saber?

T: eu falei com o Helvécio para / e claro, eu vi o filme / mas, é... eu devo ter localizado

o filme / por que isso acontece numa favela de Belo Horizonte / devo ter situado mais

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ou menos para saber / quando você fala por exemplo “mineiros” / es muito difícil

traducir “mineiros” / né? por que? /.../ se eu boto “él es mineiro” / ninguém vai vir a

pensar que ele é de Minas Gerais / ((risos)) vai pensar que é um cara que trabalha numa

mina / não tem outra forma de entender / então é muito difícil / decir baiano, todo

mundo sabe, carioca todo mundo sabe / né? / amazonense todo mundo sabe, mas

mineiro / gaúcho também tem esse problema / porque gaúcho em espanhol no significa

uma pessoa de uma região / é um conceito de forma de vida ou de uma estrutura social

né? / principalmente os camponeses da / do, da região do interior de Buenos Aires / é /

seria o cara que trabalha na fazenda mesmo, o peão / mas um tipo particular de peão, é

diferente de / de outros peões de outras fazendas de Córdoba, sei lá / de outro lugar / são

de uma região /.../ então é gaúcho / no dá nunca a entender que o cara é do Rio Grande

do Sul / é muito difícil né? / aí é, nesse caso dos mineiros tem que botar do Estado de

Minas Gerais / para poder entender, aí tem que sacrificar alguma parte da fala / né?

P: pra poder explicar isso na legenda né?

T: ou não sei / eu acho que fala de uma praça determinada / que acontece uma ação

numa praça

P: é, a Praça da Estação

T: então tem que dizer que na Praça lá em Belo Horizonte / capital de Minas Gerais /.../

tem que explicar o que es, donde es, como era

P: mas no caso as dificuldades para esse filme apareceram mais na hora de fazer a

legenda, não de alguma coisa que você não tivesse entendido?

E: não, o filme não é tão complicado assim não / não / talvez algumas coisas técnicas,

eu não lembro exatamente, que ele fala da antena, da fiação / tem né?

P: fala como montar um transmissor

T: talvez um pouco aí / fiz alguma pesquisa sobre isso / talvez / por que cada lugar se

fala de uma forma diferente / mas é, eu acho que não teve muita coisa não

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IV. Tabela de categorização das legendas

ROLO 1

PORTUGUÊS ESPANHOL Categoria / Estratégia

a maior parte dos moleque la mayor parte de los muchachos Sistema linguístico /

neutralização (marcação de

plural)

aqui do morro de la favela Sistema linguístico / transposição

(referência de lugar)

(eles) larga a escola abandonan la escuela Sistema lingüístico /

neutralização (marcação de

plural)

eles ‘tão’ sendo instruído son instruidos Sistema lingüístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(marcação de plural)

que mora no asfalto que viven en las calles asfaltadas Sistema lingüístico / transposição

(referência de lugar)

pros filhos dos empregados aqui do

morro

a los hijos de los trabajadores de la favela Sistema linguístico / transposição

(referência de lugar)

aí os moleque perde o interesse ahí los chicos pierden interés Sistema linguístico /

neutralização (marcação de

plural)

e a gente sabe o que acontece y ya sabemos que pasa Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

hoje mesmo nós recebemo uma carta

do Nem

hoy mismo recibimos una carta de Nem Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(marcação de plural)

que tá lá na penitenciária de Neves está en la cárcel de Neves Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

o cara jogava bola com a gente el ñato jugaba pelota con nosotros Escolha lexical

e hoje tá lá ó, ‘garrado no cadeião’ y hoy está atrás de las rejas Sistema lingüístico / Equivalência

(expressão-palavra corrente)

eu queria que esses menino visse o que

aconteceu com a gente

yo quería que esos chicos viesen lo que me

ocurrió

Sistema lingüístico /

neutralização (marcação plural)

porque eu acreditei que podia ganhar

tudo rápido

creí que podia ganar todo rápido Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

e eu não desejo pra ninguém o que

tamo passando

y lo que estoy pasando no le deseo a nadie Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

cês tão ouvindo aí né, molecada? chiquillos, ¿están oyendo? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

cês deixa de tê a cabeça vazia hem dejen de ser cabezas huecas Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

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mas não precisa colocar no chão não D.

Rose

pero no la ponga en el suelo, doña Rosa Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

porque eu tou desesperada e eu não sei

com quem falar

estoy desesperada y no sé con quién hablar Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(verbo pleno)

tem uma semana que eu tô indo na

Febem e ninguém sabe para onde

mandaram o meu filho, o Fabinho

hace una semana que nadie sabe adónde

mandaron a mi hijo Fabio

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

aí, é só a senhora ir lá no juizado e dá

queixa. Filho de pobre...

tiene que ir al Juez de Menores y dar queja.

Hijo de pobre…

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

principalmente o primeiro emprego

pros adolescente

principalmente para los adolescentes Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

o estado devia usar essa grana el Estado debería usar la plata Escolha lexical

fez as conta Zequiel? ¿hiciste las cuentas Zequiel? Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

fiz e refiz as conta e não sobrou um

centavo esse mês

hice y rehice las cuentas y no sobró ni un

centavo este mes

Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

Poxa, nem agência de publicidade não

pagou as campanha da prefeitura?

¿la agencia de publicidad no pagó la campaña

de la Alcadía?

Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

e a conta de luz já tá pendurada la cuenta de luz está atrasada Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

Pô, a gente já tá devendo os cabelo da

cabeça e agora os do rabo também...

Ya debemos los pelos de la cabeza y hasta los

del culo.

Sistema lingüístico /

neutralização (marcação plural)

Um Zé mané falando que é lá das

Nações Unidas e que tinham dado um

prêmio pra gente.

Un tipo diciendo que la ONU nos había dado

un premio.

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-palabra corrente)

Com a chuva que vem aí, o bicho vai

pegar. Daqui a pouco eu volto.

Con la lluvia que viene la cosa se pondrá fea,

ya vuelvo.

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-expressão) / omissão

(pronome sujeito)

Ô gente. Num dá nem pra acreditar hem Señores, no da ni para creer en algo así, ¿no? Transferência

É o Jorge? Olha, eu sou dentista. Hola Jorge. Oye, soy dentista. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Meu nome é Élcio Dutra, manda esse

homem pro meu consultório que eu

atendo ele.

Me llamo Élcio Dutra. Manda ese hombre a

mi consultorio. Yo lo atenderé.

Transferência

Pô, obrigado Dr. Élcio, depois a gente

acerta os anúncios.

Gracias Dr. Dutra. Después combinamos sus

anuncios.

Sistema linguístico / forma de

tratamento / omissão (pronome

de sujeito)

Vai ocorrer uma tragédia aqui no alto

do morro.

Ocurrirá una tragedia allá arriba, en la favela. Sistema linguístico / referência de

lugar

Eu não saio da minha casa! Pra onde é

que eu vou com os meus filho?

No saldré de mi casa. ¿Adónde iré con mis

hijos, eh?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

neutralização (marcação plural)

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É, só que a gente vai ter que deixar isso

pra depois, Fatinha.

Vamos a tener que dejar eso para después,

Fátima.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

não sei se a merreca vai dar... no sé si alcanza la plata… Escolha lexical

O dinheiro que eu juntei não dá, você

tem que completar.

El dinero que junté no alcanza. Tienes que

completar….

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Eu não sei com que grana.... só se eu

roubar.

No sé con que guita. Sólo si salgo a robar… Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Escolha lexical

Aí rapaziada sujou aí hein. Os ‘ome’

vem...

¡Muchachos, atención! ¡Los pacos están

llegando!

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-expressão)

A polícia tá subindo o morro com quatro

barca. Tô indo pra aí.

La policia está subiendo con 4 ‘barcos’. Ya voy

para ahí.

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

Transferência

A idéia é federal, não vale pra um não,

vale pra todos.

La cosa es ‘federal’ no vale para algunos, es

para todos.

Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

E é melhor quem tiver dentro dos seus

barraco ficar.

Quién esté dentro, mejor se queda en casa. Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

e quem tiver na rua sair saindo, porque

o baculejo vai começar.

y quién esté en la calle, mejor entra porque el

baile va a comenzar

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-expressão)

A vida é uma só e não tem dublê não. La vida es una sola y uno no tiene ‘dobles’. Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Diga lá minha tia. Dígame, señora… Sistema linguístico / omissão

(forma de tratamento)

Eles tão vindo pra atrás da gente. Passa

o transmissor, rápido!

Vinieron atrás de nosotros. Pasa el

transmisor. ¡Rápido!

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu sinto muito, mas eu ainda não sou

mágico. Não sei ler papel em branco.

Lo siento, pero no soy mago. No sé leer papel

en blanco.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ué, faz tanto tempo que não mexiam

com a gente, que eu tava até

estranhando.

Hacia mucho tempo que no nos molestaban.

Ya estaba extrañando…

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

neutralização (verbo pleno)

Isso aqui quer dizer que vocês são uma

associação comunitária.

Esto quiere decir que son una asociación

comunitaria.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu não sou da polícia. Eu sou técnico em

comunicações e trabalho para o

Ministério.

No soy policía, soy técnico en comunicaciones

del Ministerio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

O senhor pode explicar esse milagre? ¿Me puede explicar ese milagro? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu não tenho culpa de ter a felicidade

de morar no alto,

No soy culpable de tener la felicidad de vivir

en lo alto…

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você é folgado, hem! Eres muy atrevido, ¿no? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tá bem, assim que eu sair da cana. Está bien, así que salga de la cana. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

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Eu pego um avião e vou nas Nações

Unidas pessoalmente.

Tomo un avión y voy personalmente a la

ONU.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(preposição)

Isso é um sete puro. As rádio que tem

concessões

Eso es pura disculpa. Las radios que tienen

concesiones…

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-palavra corrente) /

neutralização (marcação plural)

O que tem aqui em cima? ¿Qué hay allá encima, eh? Sistema linguístico / referência de

lugar

Não é não Doutor, esse aparelho,

embora esteja velho,

No señor, este aparato, pese a ser viejo… Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Pô cara, maior sacanagem te prender

aí...

Qué joda encanarte así, ¡cumpa! Escolha lexical

A gente fica aqui do outro lado ouvindo

suas mensagens, pra passar o tempo.

Aquí, ‘del otro lado’, oímos tus mensajes para

pasar el tiempo.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu gostaria de falar com o Dr. João

Mascarenhas.

¿Puedo hablar con el Lic. João Mascarenhas? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / forma de

tratamento

Eu tô avisando pra todos os jornais que

prenderam o Jorge.

Estoy comunicando para la prensa que

detuvieron a Jorge.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

E a rádio Favela tá fora do ar. De novo,

rapaz.

Y la Radio Favela está fuera del aire de nuevo,

chico.

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

Avisa quem você puder Avisa a quién puedas. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É vai ter que ser boca-a-boca. Tendrá que ser boca a boca. Transferência

vamo infernizar a vida deles até

soltarem o Jorge

vamos a trastornarles la vida hasta que

suelten a Jorge.

Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

Nós vamos tirar ele de lá no grito. Ponderemos el grito en el cielo. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê sabe, cê tá duro, sem trampo, de

repente alguém te põe o oitão na mão...

La vida está dura. De repente alguien te pone

un 38 en la mano.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / equivalência

(expressão-palavra corrente

Como é que você veio parar aqui? ¿Cómo viniste a parar aquí? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá me entrevistano? ¿Me estás entrevistando? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É a Rádio Favela, transmitindo ao vivo

da boca do lobo,

Es la Radio Favela transmitiendo en vivo

desde la boca del lobo…

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-expressão)

você acha que eu ia ficar ganhando

mixaria de salário mínimo?

¿crees que iba a vivir con un sueldo

miserable?

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

enquanto os outro levava o bolo pra

casa?

¿mientras los otros llevan la ‘pasta’ a sus

casas?

Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

Me dei de mal e agora eu tô aqui

garrado.

Me salí mal y ahora aquí estoy enrejado. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(verbo pleno)

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então eu tenho que pegar o que é meu,

de qualquer jeito!

Entonces tengo que pegar de cualquier

manera lo que es mío.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Transferência

e do jeito que for você vai passar uma

cara de ano atrás dos muro

Y de esa manera pasarás un montón de años

atrás de los muros.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(marcação plural)

Aí, agora a gente vai trocar uma idéia

com cê.

Ahora nosotros vamos a cambiar ideas

contigo, ¿sí?

Transferência

Pênalti o cacete rapaz... Penalti un carajo, ñatito. Escolha lexical

Foi nada sô, vamo jogar. No fue nada, vamos a jugar. Sistema linguístico /

neutralização (marcação plural)

Babaca! ¡Pelotudo! Escolha lexical

Otário! ¡Huevón! Escolha lexical

Pô seu Doriva deixa pelo menos um dia

eu ver como é que esse cara opera essa

mesa

Déjeme ver por lo menos una vez como ese

tipo opera los controles

Escolha lexical

Em Minas o governador eleito Tancredo

Neves

El gobernador Tancredo Neves... Sistema linguístico / omissão

(referência de lugar)

Deixa de ser careta, Zequiel, dá um aí

vai.

¡Deja de ser cuadrado! Fuma Zequiel,

vamos...

Sistema linguístico / equivalência

(expressão-palavra corrente)

Cês tão vendo aquilo ali? ¿Ven uds. aquello? Sistema linguístico / omissão

(duplicação de lugar)

O que é aquilo ali pro cês? ¿Qué es aquello para uds? Sistema linguístico / omissão

(duplicação de lugar)

A gente precisa de uma rádio pra gente

falar o que a gente quiser, pra todo

mundo escutar.

Necesitamos una radio para decir lo que

queremos que la gente oiga.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê quer montar uma rádio Jorge? Jorge ¿quieres montar una radio? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá querendo é curtir com a cara da

gente Zequiel!

¿Quieres mofarte de nosotros Zequiel? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá querendo é curtir com a cara da

gente Zequiel!

¿Quieres mofarte de nosotros Zequiel? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá falando sério Zequiel? ¿Hablas en serio? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cês querem ver uma coisa? Chega aí.

Vem cá.

¿Quieren ver una cosa? Vamos, vengan hasta

aquí.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Chega aí que eu vou mostrar pra vocês

uma coisa.

Vengan que les voy a mostrar una cosa. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tá vendo ô cara mofada. Ves? Cara de pasmado... Sistema linguístico / equivalência

(expressão – palavra corrente)

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ROLO 2

PORTUGUÊS ESPANHOL Categoria / Estratégia

Tranquilo. Cê vai onde, camarada? Tranquilo. ¿Adónde vas? Sistema linguístico / omissão

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(pronome sujeito)

Vou pro colégio cara. Eu tou atrasado. Voy al colegio, ñato. Estoy atrasado. Escolha lexical

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

neutralização (verbo pleno)

Não dá não. No puedo. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você queria falar comigo? ¿Querías hablar conmigo? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É eu queria aceitar aquele trampo. Quería aceptar ese trabajito... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cume que é, cê topa qualquer parada? Dime, ¿harás cualquier cosa, eh? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Quando é que eu começo? ¿Cuándo comienzo? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Depois eu te explico, mãe! Después te explico, mamá. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Acabaram as senzalas e surgiram as

favelas

Que acabaron los bohíos y surgieron las

favelas.

Escolha lexical (voz de

Antilhas, segundo o DRAE)

Você pega o boi de estudar nessa

escola.

Tú te metes a estudiar en esta escuela. Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

Nem mensalidade você paga. Ni pagas mensualidad. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu trabalho para ganhar minha grana. Trabajo para ganar mi plata. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Escolha lexical

Você é um racista filho da puta! ¡Racista hijo de puta! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Se você aprontar novamente Jorge, Jorge, si haces una más… Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Puta que pariu... aí Brau, quem perder

vai pagar essa aqui hein

¡Carajo! El que pierda pagará esta, ¿eh, Brau? Sistema linguístico / omissão

(duplicação de lugar)

Calma aí, tou pegando inspiração aqui

pra minha tacada sô

Calma, me estoy inspirando para dar mi

tacada...

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

Anda Jorge, parece que nunca viu muié? Jorge anda, parece que nunca viste una

mujer.

Transferência

Ah! Falei, não falei? Esse cara só tem

papo cara.

¿No te dije? Ese ñato es puro bla-bla-bla. Escolha lexical

Isso aqui é um transmissor, seus boco

moco.

Esto es un transmisor, sus cabezas de

chorlito.

Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

expressão)

E os camarada da cadeia? ¿Y los cumpas encarcelados? Escolha lexical

Acho que uns dois ou três barão! Creo que 2 o 3 mil. Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

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Isso aí é mixaria... Es poca ‘guita’... Escolha lexical

É mesmo e você vai pagar esta agora

que cê perdeu a outra.

Lo que pagarás ahora es este, ya que perdiste

el otro.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Quanto é moço? ¿Cuánto cuesta, ñato? Escolha lexical

Cinco pau. Cinco morlacos. Escolha lexical

Valeu moço! Valeu! ¡Gracias, cumpa! Escolha lexical

Que viagem hem mano. Ah o cara! Do

caralho!

¡Qué viaje! ¿Eh ñato? ¡Ah! ¡Del carajo! Escolha lexical

O Zequiel disse que você podia

conseguir essas peças para nós.

Zequiel dice que podrías conseguirnos estas

piezas.

Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

O Zequiel tá querendo montar uma

rádio.

¿Zequiel quiere montar una radio? Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Algumas dessas peças eu tenho aqui. Aquí tengo algunas piezas. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tem que ser por baixo do pano. Las venderé a escondidas. Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

Qualé, mermão? Pô, não azucrina. Deixa

eu trampar no sossego.

¿Qué hay, ñato? No me jodas. Déjame laburar

tranquilo.

Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

expressão)

Larga essa porra, vem trabalhar comigo.

É grana fácil e rápido.

Deja esa joda y ven a trabajar conmigo. Es

‘lana’ fácil y rápida.

Escolha lexical

Tô juntando dinheiro aí pro negócio da

rádio.

Estoy juntando dinero para el asunto de la

radio.

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

E o que você acha que eu tô fazendo? ¿Y qué piensas que hago, eh? Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Ah! Cê vai demorar mil anos né, ô

mane.

Así vas a demorar mil años. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Gostei dessa! ¡Gusté de esa! Transferência

Cê já tinha visto? ¿Ya lo habías visto? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

O que nós queremos é provocar

discussão.

Queremos provocar discusiones... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você não que escre3ver um artigo para

o próximo número?

¿No quieres escribir un artículo para el

próximo número?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ah mãe, vai ficar ouvindo essas

porcaria?

¿Mamá, vas a oír esa porquería? Sistema linguístico /

neutralização (marcação de

plural)

Sim senhora, eu vou entregar. Sí, mamá. La voy a entregar. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você já estudou? ¿Ya estudiaste? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu vou estudar depois da janta. Estudiaré después de cenar. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Apronta não minino, que se você perder

essa bolsa, você vai pra escola pública.

No hagas líos, chico. Si pierdes la beca irás a

una escuela pública.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

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Hem...cê sabe muito bem que eu não

tenho dinheiro para pagar aquele

colégio.

Sabes muy bien que no tengo plata para

pagar ese colégio.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Escolha lexical

Eu me sinto um estranho lá. Me siento un extraño allí. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / referência

de lugar

Os professores gostam de você. Los profesores gustan de ti. Transferência

Gostam de mim mãe? Aquilo lá é uma

guerra.

¿Gustan de mi mamá? Aquello es una guerra. Transferência

Sistema linguístico /

referência de lugar

Se eu não me cuidar, eles passam por

cima de mim feito um trator.

Si me descuido, ellos pasan por encima de mi

como un tractor.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Sabe quem eu vi hoje aqui na favela? ¿Sabes a quién vi hoy? ¿Aquí en la favela? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Aonde você vai, moleque? ¿Adónde vas? ¡Jorge! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

E você traz uma linguicinha para eles lá,

por favor.

Trae chorizo para comer. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Zequiel, atende o telefone e anota os

recados.

Zequiel, atiende el telefono y anota los

recados.

Transferência

Cês tão sentados? ¿Están sentados? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tudo dá 2 pau e 600. Son 2.600 morlacos… Escolha lexical

Eu sei muito bem de onde vem essa

grana.

Sé muy bien de dónde viene esa guita. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Escolha lexical

O Zequiel já é um trabalhador. Zequiel ya es un trabajador. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

O Jorge, um dia vai ser doutor. Jorge, un día será doctor. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Se eu morrer hoje, amanhã faz dois dia! Si muero hoy, mañana serán 2 días. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Porra Brau, eu acho melhor desistir

desta idéia.

Coño Brau, es mejor desistir de esa ideia. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Vai demora muito tempo para juntar

essa grana...

Tardaremos mucho tiempo para juntar esa

guita...

Escolha lexical

A Fatinha meu... que delícia hem? Fátima. Qué sabrosita es, ¿no? Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Ô mulher gostosa eu sou fissurado

nesse broto

¡Qué mujer sabrosa! Soy loca por esa

lechuguita.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cês tão indo aonde hem? ¿Adónde van, eh? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu acho que agente vai tomar um

sorvete.

Vamos a tomar um helado... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu sou a Aninha. Yo soy Anita. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

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ROLO 3

PORTUGUÊS ESPANHOL Categoria / Estratégia

Cê viu o fiodumaégua? Que cara cuzão

sô!

¿Viste al hijo de puta? ¡Qué tipo jodido! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Escolha lexical

Esquece cara. Olvídalo, manito. Escolha lexical

Com a bosta o que tem que fazer bicho

é puxar a descarga e esquecer brother.

La bosta se limpia dando descarga. Olvídalo,

manito.

Transferência

O Roque é que tem razão cara. Roque tiene razón, mano. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Escolha lexical

Vai é comprar um microfone e montar a

rádio, é isso que você vai fazer!

Lo que debes hacer es comprar un micrófono

y montar la radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Aí o pior é que nos perdemo o barato

com as menina cara.

Lo peor es que perdimos la chance con las

chicas, manito.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

neutralização (marcação de

plurais) / Escolha lexical

Pô mermão, o pior é que eu sempre fui

afinzão dela cara,

¡Pucha, mano! Lo peor es que siempre estuve

atrás de ella.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

acho que eu tô ficando apaixonadão. Creo que me estoy enamorando. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

/neutralização (verbo pleno)

Aqueles filho duma égua chegaram lá na

hora.

Esos hijos de perra llegaron en el momento... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Aí ó! Segura a onda aqui que eu vou ter

que dar uma saída. Falo?

Controla eso que tengo que dar una salida

rápida. ¿Ok?

Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palabra corrente) / omissão

(pronome sujeito)

E vamo ensaiar bastante, que o chão vai Vamos a ensayar bastante. El piso estará bien Sistema linguístico /

Eu sou o Brau. Yo soy Brau. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Ah, Fatinha, eu sempre fui amarradão

em você.

¡Ay, Fátima! Siempre fui apasionado por ti... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Qual que é, seu guarda, a gente não

está fazendo nada não.

¿Qué dice? No estamos haciendo nada señor

guarda.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Falando assim com elas só porque a

gente é preto, é!?

Hablando así con ellas. ¿Sólo porque somos

negros, eh?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Pô seu guarda, agente é estudante, a

mãe dele é doente do coração.

Señor guarda, somos estudiantes. Su mamá

está enferma del corazón.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu vou liberar vocês mas eu não vou

esquecer desta sua cara feia!

Los voy a dejar libres, pero no olvidaré de tu

cara fea.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

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tá enceradim, enceradim encerado. neutralizaçãos (marcação de

plural e verbo pleno)

É neguinho, cê leva jeito, hem! Epa! Tienes cancha manito. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

equivalência (expressão-

expressão)

É isso que eu quero aí. Eso es lo que quiero. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tá louco cara? ¿Estás loco, ñato? Escolha lexical

Qualé, Roque? Ô meu irmão. Cê tá

pirando sô?

¿Qué te pasa, Roque? ¿Estás loco, manito?... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Escuta o Jorge cara, larga isto. Oye a Jorge ñato, deja eso. Sistema linguístico / omissão

(artigo + nome)

Aí abre o olho comigo hein, se eu te

pego lá em cima, eu te queimo ô rapá.

Abre el ojo conmigo. Si te pego allá arriba, te

quemo con plomo.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá louco, cara. Como é que cê puxa

uma arma aqui dentro!

¿Estás loco? ¿Cómo sacas una arma aquí

adentro, eh?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cumé que cê conseguiu entrar com isso

aqui?

¿Cómo entraste con eso? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Porra, não é assim que você vai ganhar

respeito não, mermão!

Así no merecerás respeto. No así. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu vou aproveitar minha vida é agora.

Pra mim não tem depois.

Yo voy aprovechar mi vida ahora. Para mí no

hay “después”.

Transferência

Eu antes vou ganhar dinheiro, vou

mandar no morro.

Antes voy a ganar dinero. Voy a mandar en la

favela.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Num mexe nisso não. ¡No toques eso! Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Não. Essa poupança é para quando você

for pra faculdade.

¡No! Esos ahorros son para cuando vayas a la

universidad.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu não vou pra faculdade, não vou pra

lugar nenhum. Vou ficar aqui, essa

grana é minha.

¡No iré a la Facultad! Me quedaré aquí. El

dinero es mío.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

E você só bota a mão nesse dinheiro

quando eu deixar e só depois que eu te

formar!

Sólo verás ese dinero cuando yo diga,

después de recibirte.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

A senhora prefere que eu vire bandido,

que eu entre no tráfico?

¿Prefieres que sea bandido? ¿Que entre al

narcotráfico?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Meus melhores chegados, todos se

fudendo! O Brau, o Roque.

Mis mejores alegados están jodiéndose.

Brau, Roque...

Sistema lingüístico / omissão

(artigo + nome)

Cê acha que alguém vai dar chance pra

gente? Pára de sonhar, mãe.

¿Crees que alguien me dará chance? Deja de

soñar, mamá.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu sei como você se sente, filho. Sé como te sientes, hijo. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

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A senhora não quer me ajudar. Es que no quieres ayudarme. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu não quero te ajudar, minino? ¿Qué no quiero ayudarte? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você está suspenso por uma semana. ¡Te suspendieron por una semana! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Querem me expulsar? Melhor. Eu tô de

saco cheio desse colégio.

¿Quieren expulsarme? ¡Mejor! Al carajo con

este colegio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu sou preto, beiçudo, mas não tenho

alma de escravo.

Soy negro, jetón, pero no tengo alma de

esclavo.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Meu filho, falta muito pouco para você

se formar.

Hijo, falta poco para que te recibas. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ano que vem você vai fazer vestibular e

vai passar, se Deus quiser, e Ele quer.

El año próximo, si Dios quiere y Él quiere,

pasarás a la Facultad.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

E aí pessoal, agente aqui, falando pro

morro e pro mundo.

Oigan muchachos, aquí estamos hablando

para la favela y al mundo.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Jorge, pega melhor é na 104.5 Jorge, pega mejor en 104.5 Transferência

Quê que vocês estão fazendo aí

meninos?

Muchachos, ¿qué están haciendo? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Senta aí mãe, cê vai ver. Siéntate mamá. ¡Ya verás! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ô. Promete que não vai bater nada pra

ninguém, mãe?

Promete que no le contarás nada a nadie. Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

Pode deixar que eu falo com ele. Quédese tranquila, hablaré con él. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Oi Jorge. Eu queria conversar com você

pra nós colocarmos uns anúncios na

rádio.

Jorge quería hablar contigo sobre hacer

algunos anuncios en la radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Umas ofertas que eu quero fazer. Unas ofertas que quiero hacer. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ah, pode deixar agente vai fazer sim. A

gente vai bolar uns anúncios pro senhor

seu João Prego.

Podemos pasar, claro. Pasaremos sus

anuncios don João Fiado.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Olha só: quem pode pagar agora, paga,

quem não pode, pendura no Prego.

Quién puede pagar ahora, paga. Quién no

puede, deja fiado.

Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

Oi Jorge, cê precisa me ajudar. Jorge, tienes que ayudarme. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu briguei com a patroa e ela, ela foi

embora de casa.

Discutí con la patrona y me abandonó, salió

de casa.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Transferência

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Nós vamos dar um prazo pra eles saírem

fora da boca até amanhã à noite.

Les daremos un plazo para que salgan hasta

mañana por la noche.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Jóia. Rapaz eu tava com uma idéia... Macanudo. Tengo una idea... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu tava com uma idéia da gente fazer

um programa na rádio

Tengo la idea de hacer un programa de

radio...

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Uai. Eu acho uma puta idéia. Una puta idea. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Acho que a gente pode até chamar

músicos de outros morros também pra

vir cantar aqui na rádio.

También llamaremos músicos de otras

favelas para cantar en la radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Isso agente vai ver daqui a pouco. Vem

comigo.

Lo sabrás luego. Vamos! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cês prometeram, cês não tem mãe não?

Fêdaputa!

¡Uds. me prometieron! ¿No tienen madre,

eh?... ¡Hijos de puta!

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / (dupla

negativa)

Aqui nesse país num tem democracia

racial coisa nenhuma, essa é a maior

mentira do mundo.

En este país no hay democracia racial de

ninguna manera. Es la mayor mentira del

mundo.

Sistema linguístico / omissão

(duplicação de lugar)

Preto nessa terra não vale nada não. El negro en esta tierra no vale nada. Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Cê que mora na periferia e tem o pé

rachado.

Tú que vives en el suburbio y tienes el lomo

dolorido...

Sistema linguístico /

equivalência (expressão-

palavra corrente)

Todo dia nós temos recebido

telefonemas de famílias que moram

perto do morro.

A diario recibimos llamadas de gente que

vive cerca de la favela.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Mas porque cês tão levando essas

coisas toda?

¿Por qué llevan todas esas cosas? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) /

neutralização (marcação de

plural)

Porque se eles vierem aqui e

encontrarem os aparelho, pode ser pior

pra ele,

Porque si ellos vienen y encuentran los

aparatos, puede ser peor.

Sistema linguístico /

neutralização (marcação de

plural)

Responde, seu neguinho safado, você

não reconhece essa voz?

Responde, ¡negro insolente! ¿No reconoces

esa voz?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Não, eu já te disse que eu não sei quem

são esses caras. Eu não sei qual é a

deles.

Ya le dije que no sé quienes son esos ñatos.

No sé lo que quieren.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Seu moleque cínico. No morro todo

mundo sabe que você lidera esta merda

de rádio.

Chamaco cínico. En la favela todos saben que

eres el líder de esa mierda de radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

ROLO 4

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PORTUGUÊS ESPANHOL Estratégia / Categoria

Eu não sei do que o senhor tá falando. No sé de qué está hablando. Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

A gente prometeu entrar no ar todo

dia e todo dia vai ter gente falando

aqui.

Prometimos entrar en el aire todos los días y

aquí estamos con Uds.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Essa é a Rádio Favela, você não

conhece ela não?

Es la Radio Favela. ¿No la conoce? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / (dupla

negativa)

Olha ela toca muita música boa. É uma

rádio pirata.

Toca muy buena música. Es una radio pirata... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

...de repente dava até uma matéria.

Você conhece o pessoal lá?

Da un buen reportaje... ¿Los conoces a ellos? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Conhecer, eu não conheço não uai. ¿Conocer? ... no conozco... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Mas se a gente subir o morro a gente

chega neles.

Si subimos la favela podemos llegar hasta

ellos.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

eu acho que ocê não tá armando mais

nada.

Creo que ya no estás más enredándote… Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu gosto mais dessa aqui ó. Esta me gusta más. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É mas não sei não. Eu acho que pra

essa página aqui é mais interessante.

Sí, pero no sé... creo que para esa página,

ésta es más interesante.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / (duplicação

de lugar)

Vocês não sacaram? Tá na hora da Voz

do Brasil.

¿No se dieron cuenta? Es la hora de La Voz de

Brasil.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Para todo mundo que trabalha a noite,

quando chega em casa não esquece

não,

Todos los que trabajan de noche, al llegar a

casa no se olviden...

Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Você quer me matar do coração,

minino?

¿Quieres matarme del corazón? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Por que você só se mete em confusão

nessa vida, meu filho?

¿Porqué sólo te metes en confusiones en esta

vida, hijo?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Pô mãe, me desculpa se eu não sou o

que a senhora esperava, mas eu tô

fazendo o que eu quero fazer.

Perdona si no soy lo que esperabas. Estoy

haciendo lo que me gusta.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(verbo pleno)

Filho, você acha que a polícia vai largar

do seu pé?

¿Crees que la policía te dará tregua? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Pode deixar mãe. Eu não vou marcar

pra eles não.

Quédate tranquila, no les será fácil hallarme. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / equivalência

(expressão-palavra corrente)

Eu devia era te dar um couro quiném

eu te dava quando tu era moleque.

Debería darte con una tunda como cuando

eras un chiquillo.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

Então dá mãe. Dá! Ai mãe. Tchau mãe,

to indo.

Entonces dámela, mamita... ¡Ay! Mamá, chao,

mamá. Estoy saliendo.

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

Cê acha que gostei de você ser preso? ¿Crees que me gustó que fueses preso? Sistema linguístico / omissão

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(pronomes sujeito)

Claro, Fatinha. Amanhã mesmo eu

vou, juro, juro.

Claro, mañana mismo iré. Te lo juro, Fátima. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê tá com a cabeça quente, meu

camarada.

Estás con la cabeza hirviendo, mi camarada. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tem uma pá de tempo que ocê sumiu,

colé veado!

¡Hace un montón de tiempo que

desapareciste maricón!

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / equivalência

(expressão-palavra corrente)

Os gambé te pagaro, né? ¿Los pacos te pegaron, no? Escolha lexical

Eu prefiro tê uma felicidade curta do

que a vida toda uma tristeza.

Prefiero tener una felicidad corta y no toda

una vida de tristeza.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Falô! Vê se não marca aí, pelo amor de

Deus hein!

Atención, abre el ojo. Sistema linguístico /equivalência

(expressão-palavra corrente)

Vocês conhecem o pessoal lá? ¿Los conocen a ellos? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Então cês podiam me levar até lá? ¿Podrían llevarme hasta allá? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Pô gente, não desconfia de mim não.

Eu sou jornalista. Já falei.

No desconfíen de mí, y ales dije que soy

periodista.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / (dupla

negativa)

Eu só queria fazer uma reportagem

com eles.

Sólo quiero hacer un reportaje con ellos. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Mas agente não sabe onde fica a rádio

não.

No sé donde queda la radio. Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

Meu nome é Lídia. Eu sou jornalista.

Eu posso dar uma palavrinha com

você?

Soy Lídia, periodista. ¿Podemos hablar un

poco?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Cê me desculpa aí que tô atrasado.

Licença.

Discúlpeme, pero estoy atrasado. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Tá vendo? Eu falei que a gente devia

transmitir só pro morro.

¿Ves? Te dije que deberíamos transmitir sólo

para la favela.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Zequiel se você achar que não tá

dando pro cê ó, a hora é essa.

Zequiel, si no te conviene, puedes salir. El

momento es este.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ocê aí Baiano, você tem filha

pequena...

Baiano, tienes una hija pequeña… Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Porra nenhuma, rapaz. A polícia eu

conheço bem. Vocês tem outro lugar?

¡Un carajo, cumpa! A la policía la conozco

bien. ¿Uds. tienen otro lugar?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

A gente não pode é ficar assim tão

sozinho.

No podemos estar tan solos. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu quero mandar um recado aí pra

rapaziada.

Quiero mandar un recado a los muchachos. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

O pessoal aí, a rapaziada do Rock

Street Bh tão se aquecendo.

Los muchachos del Rock Street Bh ya están

calentando las canillas.

Sistema linguístico /

neutralização (verbo pleno)

É vê se não compromete a gente hem! Vea si no nos compromete, eh? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

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Vamos acabar com esta bagunça.

Vocês estão impedindo a via pública.

!Vamos acabando com esta algazarra! ¡Están

invadiendo la vía pública!

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

A gente não está incomodando

ninguém...

No estamos molestando a nadie... Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Sargento, eu sou o advogado deles. O

que eles estão fazendo, não tem nada

de ilegal.

Sargento... soy el abogado de ellos. Lo que

están haciendo no es nada ilegal.

Sistema linguístico / omissão

(pronomes sujeito)

E eu sou do jornal, agente tá aqui

cobrindo o evento.

Soy periodista, estoy cubriendo este evento. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eles não estão incomodando ninguém,

nem o trânsito eles tão atrapalhando.

No están ni alterando el tránsito… Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(verbo pleno)

Então porque que vocês não seguram

essa parada aí embaixo?

Entonces ¿por qué no impiden que la droga

suba?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É só isso que eu quero saber. Olha

mermão, vamo falar claro.

Sólo quiero saber eso. Manitos, vamos a

hablar claro.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(marcação de plural)

A música da gente do morro ao vivo e

a cores!

La música de la gente de la favela, ¡al vivo y

en color!

Transferência

Que é isso, véi? Vocês não podem ir

invadindo assim. Aqui é uma

residência.

¿Qué pasa, eh? ¡No pueden invadir así! Aquí

es una morada.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Você fez acusações contra a polícia. Hiciste unas acusaciones contra la policía. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Quem é que paga vocês para fazerem

isso?

¿Quién les paga esto? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Não rola grana na parada não. Aquí no entra dinero. Sistema linguístico / omissão

(dupla negativa)

A gente grava umas fitas pra festa, e

fita pro baile mas aqui não tem rádio

nenhuma não.

Grabamos cintas paras fiestas. Aquí no hay

ninguna radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / (dupla

negativa)

ROLO 5

PORTUGUÊS ESPANHOL Estratégia / Categoria

Ô beiçudo, a tua hora acabou. Vai

correr processo e você não vai se

livrar.

Oye bocudo... tu hora llegó. Te procesaremos

y no te librarás de eso.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Vê lá o que você vai falar pra eles!? ¡Cuidadito con lo que les digas! Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

De algum lado você tem que ficar e é

melhor ficar com quem tá do seu lado.

Tienes que optar por un lado y es mejor estar

con quien está contigo.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Afinal você quer essa rádio pra quê? Al final, ¿para qué quieres esa radio, eh? Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

A gente vive numa ditadura, né Jorge? Jorge, vivimos en una dictadura. ¿No es

verdad?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Diz que se tiver algum pepino ele vai Dijo que si hubiese algún problema él lo Sistema linguístico /

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quebrar a nossa. resolvería. equivalências (expressões-

palavras correntes)

Ô meu nego! Eu soube o que fizeram

com vocês.

Hola, negrito mío... supe lo que les hicieron. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

A gente foi de casa em casa. Tá todo

mundo sentindo falta da rádio.

Fuimos de casa en casa, todos están sintiendo

falta de la radio.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Não vai dar mais nega... você não viu

lá, como tá tudo quebrado.

No da más, negrita mía. ¿No viste cómo

destrozaron todo?

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu vi, mas o pessoal todo tá querendo

ajudar pra rádio voltar a funcionar de

vez.

Vi, pero la gente quiere ayudar a que la radio

vuelva a funcionar.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Ô Fatinha, por que você não falou

comigo? Eu também quero ajudar!

Por qué no hablaste conmigo? Yo también

quiero ayudar.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

O que eu fiz foi cumprir o mandato de

prisão do Juiz.

Lo que hice fue cumplir la orden de prisión

del Juez.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Foi tudo feito de acordo com a lei, o

senhor pode ter certeza.

Todo fue hecho de acuerdo con la Ley, puede

estar seguro.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Aí chegados, cês desculpes aí, mas eu

vou saindo nessa.

Muchachos, disculpen, pero ya voy yendo… Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Eu estou tentando falar com vocês

desde hoje pela manhã.

Estoy tratando de hablar con Uds. Desde hoy

por la mañana

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Nós somos representantes das Nações

Unidas para o Brasil.

Somos representantes de la ONU en el Brasil. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

Dá um tempo aí, companheiro. Daqui a

pouco o senhor conta o final da fita

pra nós.

Un momento compañero, dentro de un rato

nos cuenta el final.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

É que hoje eu faço questão de entrar

no ar às sete em ponto.

Es que hoy hago cuestión de entrar al aire a

las 19:00 en punto.

Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito)

CRÉDITOS FINAIS

PORTUGUÊS ESPANHOL Categoria / Estratégia

Isso que eu tô fazendo é uma política. Lo que estoy haciendo es política. Sistema linguístico / omissão

(pronome sujeito) / neutralização

(verbo pleno)

Àqueles que tão preso. A prisão não é

perpétua.

A aquellos que están presos. La prisión no es

perpetua.

Sistema linguístico /

neutralizaçãos (verbo pleno) /

(marcação de plural)

...que urubu quando tá azarado, o

debaixo caga no de cima.

Gallinazo con mala suerte desde abajo caga al

de arriba.

Escolha lexical

Ela foi encontrada na noite de terça-feira na Estação de Itaquera

La policía la encontro la noche del martes... Sistema linguístico / omissão (referência de lugar)

Valeu. Boa tarde. Com quem eu falo? Bien, buenas tardes. ¿Con quién hablo? Sistema linguístico / omissão (pronome sujeito)

Vamos dar início ao “Uai Rap Soul” hein.

Vamos dar inicio al “Uai Rap Soul” ¿bueno? Transferência.