ficção seriada e representações identitárias

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Ficção Seriada e representaçõe s identitárias Paloma Rodrigues Destro Couto Mestranda em Comunicação e Identidades | PPGCom UFJF

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  • Fico Seriada e representaes identitriasPaloma Rodrigues Destro Couto

    Mestranda em Comunicao e Identidades | PPGCom UFJF

  • IdentidadesDiscusso atravs dos Estudos CulturaisCentre for Contemporary Cultural Studies da Universidade de Birmingham Inglaterra (1964)So contrrios noo de que os MCM eram mais importantes que o sujeito, que recebia tudo passivamente

  • Stuart Hall |A identidade cultural na ps-modernidadeGlobalizao estaria deslocando as identidades

    Processos em escala global, que conectam comunidades e organizaes em novas combinaes espao-tempo > o mundo fica mais interconectado

    Globalizao no um processo novo > Estados-Nao > capitalismo

  • Mudanas na identidadeTempo e espao como coordenadas da representao > objeto representado em dimenses espaciais e temporais

    Mudanas nos sistemas de representao > mudanas na localizao e forma pelas quais a identidade representada

  • Globalizao permitindo maior volume de fluxos culturais

    Identidade cultural enfraquecida

    Ex.: Restaurantes tpicos em locais diversos

    Identidades se tornam desvinculadas

    Globalizao trazendo uma homogeneizao > cultura mundo

    Local x Global

  • O Global e o LocalGlobalizao: ao mesmo tempo que busca o global, valoriza o local

    Alteridade

    A diferena pode ser construda negativamente por meio da excluso ou da marginalizao daquelas pessoas que so definidas como outros ou forasteiros. Por outro lado, ela pode ser celebrada como fonte de diversidade, heterogeneidade e hibridismo, sendo vista como enriquecedora: o caso dos movimentos sociais que buscam resgatar as identidades sexuais dos constrangimentos da norma e celebrar a diferena (WOODWARD, 2011, p.50-51).

    Migrao: Na era das comunicaes globais, o Ocidente est situado apenas distncia de uma passagem area (HALL, 2003, p.81)

  • Dois movimentos: fortalecimento de identidades locais (movimentos separatistas, segregacionistas) x produo de novas identidades (significante black na Inglaterra nos anos 1970: afro caribenhos e asiticos)

    Identidades em transio

    Conceito de traduo (mantm o vnculo com a tradio, mas aceitam a nova concepo) culturas hbridas

  • Para acabar com as culturas hbridas movimentos fundamentalistas > nacionalismo particularista e absolutismo tico e religioso

    Fundamentalistas: interpretao literal dos textos sagrados

  • Na medida em que as identidades so resultantes de uma relao com o outro, de uma construo, elas podem ser tomadas como representaes > se do atravs de narrativas, discursos sobre o todo que seria a cultura nacional

    As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nao, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos esto contidos nas estrias que so contadas sobre a nao, memrias que conectam seu presente com o seu passado e imagens que delas so construdas (HALL, 2003, p.51).

  • Mdia e representaes identitriasMdia > representaes identitriasDouglas Kellner (2001) Cultura da Mdia > vai fornecer materiais para que as pessoas possam formar sua identidade, construindo seu senso de classe, nacionalidade, etniaDefinir valores e fornecer smbolos e mitos que colaboram na construo de modelos para as pessoas, que vo se inserir nas sociedades representadas

  • Jess Martn-Barbero (2003) > a televiso o meio que mais permitiu o acesso grande variedade de experincias humanas, de situaes, de povos e de pases > capaz de moldar as identidades para o seu espectador

    Ao conectar o espetculo com a cotidianidade, o modelo hegemnico de televiso imbrica em seu prprio modo de operao um dispositivo paradoxal de controle das diferenas: uma aproximao ou familiarizao que, explorando as semelhanas superficiais, acaba nos convencendo de que, se nos aproximarmos o bastante, at as mais distantes, as mais distanciadas no espao e no tempo, se parecem muito conosco; e um distanciamento ou exotizao que converte o outro na estranheza mais radical e absoluta, sem qualquer relao conosco, sem sentido para o nosso mundo (MARTN-BARBERO, 2003, p.264-265).

  • EsteretiposWalter Lippman (1922 )

    Analisar como as pessoas constroem as suas representaes da realidade social e de que forma essas representaes so afetadas tanto por fatores internos como externos. [...] as representaes [...] funcionam como mapas guiando o indivduo e ajudando-o a lidar com informao complexa, mas tambm so defesas que permitem ao indivduo proteger os seus valores, os seus interesses, as suas ideologias, em suma, a sua posio numa rede de relaes sociais. As representaes no so o espelho da realidade, mas sim verses hipersimplificadas da realidade (CABECINHAS, 2005, p.539).

  • Os esteretipos negam a diversidade > categorizao de diferentes indivduos sob um mesmo sistemaServir como um dos fatores de pertencimento do sujeito, que se sente membro de algo:neste mundo, pessoas e coisas tm os seus lugares bem conhecidos, e fazem certas coisas esperadas. Sentimo-nos em casa. Ns cabemos dentro. Ns somos membros (LIPPMAN, 1922/1961, p. 95 apud CABECINHAS, 2005, p. 540, traduo nossa).

  • Projeo e IdentificaoEdgar Morin (2009)

    Projeo e Identificao como formas de relao dentro do imaginrio interao do espectador com o produto miditico

    Projeo > liberao psquica, que expulsa para fora do sujeito o que est nas regies obscuras do ser. Ex.: as inumerveis agresses cinematogrficas podem aliviar em parte as necessidades agressivas impossibilitadas de serem satisfeitas na vida (MORIN, 2009, p.81)

  • Entre essas liberaes, h tambm identificaes com os personagens e situaes em questo, tendo acesso a experincias que o indivduo no vive no mundo real

    Identificao > verossimilhana > situaes cotidianas > preciso que os problemas tratados nas narrativas digam respeito a necessidades e desejos dos leitores ou espectadores e que os heris possuam qualidades simpticas

  • Atingindo esse timo, as personagens suscitam apego, amor, ternura; j se tornam no tanto os oficiantes de um mistrio sagrado, como na tragdia, mas uns alter ego idealizados do leitor ou espectador, que realizam do melhor modo possvel o que este sente em si de possvel. Mais do que isso, esse heris de romance ou de cinema podem vir a ser exemplos, modelos: a identificao bovarysta suscita um desejo de imitao que pode desembocar na vida, determinar mimetismos de detalhes (imitao dos penteados, vestimentas, maquilagens, mmicas, etc., dos herois de filmes) ou orientar condutas essenciais, como a busca do amor e da felicidade (MORIN, 2009, p.83).

  • Joan Ferrs - Televiso Subliminar

    O carter pseudo-religioso da seduo

    Sujeito se abre para a transcendncia, na busca do que lhe falta fuga da imperfeioElemento sedutor > admirao > crenas e valoresCarncia > venerao > imitao

  • Identificao com os modelos > assuno de tudo o que ele encarnaEx: Novelas brasileiras

  • Homem de 33 anos gasta 100 mil dlares para ficar parecido com Justin BieberToby Sheldon compositor e passou cinco anos fazendo transformao para ficar parecido com o dolo teenFonte: http://ego.globo.com

  • Campo Comum Imaginrio > locais onde as projees e identificaes podem ser multiformes

    As relaes de projeo-identificao com a obra vo variar de acordo com o leitor/espectador

    O campo comum imaginrio consente que a obra possa ter uma irradiao fora de seu meio e de sua poca. o paradoxo da universalidade das obras-primas. As obras de arte universais so aquelas que detm originalmente, ou que acumulam em si, possibilidades infinitas de projeo-identificao (p.85).

  • Morin refora a necessidade de se conhecer os temas que esto sendo veiculados pelos produtos de massa, conhecer o seu enraizamento histrico e sociolgico, bem como sua difuso. Tudo isso para buscar-se a compreenso da especialidade do que dito no produto.

  • Fico SeriadaCurvello e Duarte (2008) > a fico televisual seriada comumente apresentada de trs maneiras: telenovelas, minissries e seriadosAs primeiras possuem coerncia interna de seu discurso, bem como a presena da verossimilhana em suas histrias, que duram em mdia oito meses; textos abertos; fcil compreenso; interferncia do espectador

  • Minissries > contedo j finalizado; texto fechado; durao breve; complexidade narrativa

    Sries > durao indefinida (temporadas); flexibilidade narrativa; episdios com incio, meio e fim; cada episdio > situao independente

  • NovelasCheias de CharmeFilipe Miguez e Izabel de Oliveira (2012)

    - Maria da Penha: criou osIrmos, sustenta o maridomalandro- Maria do Rosrio: cozi-nheira que quer virarcantora- Maria Aparecida: cinderela- Empreguetes

  • Se antes as empregadas eram personagens que s serviam mesa e entravam mudas e saiam caladas, hoje elas podem ser as protagonistas algo impensvel tempos atrs, pois, de certa forma, subvertia'' a linguagem estabelecida. Os novos ricos da novela das nove no abandonaram o subrbio, tampouco deixaram para trs seus gostos e comportamentos.

    Crtica de Nilson Xavier: http://nilsonxavier.blogosfera.uol.com.br/2012/05/29/avenida-brasil-e-cheias-de-charme-miram-a-classe-c-mas-agradam-a-todos-os-publicos/

  • Avenida BrasilCrtica do site teledramaturgia.com.br

    Focada na nova classe C (a que emergiu aps o governo Lula), a novela fez bom uso da situao socioeconmica do pas para refletir na tela um retrato pitoresco de nossa realidade contempornea. Pode-se dizer que o fictcio bairro do Divino (onde se passava a trama) era um microcosmo do Brasil.

  • Esteretipos em Avenida Brasil

  • Game of ThronesContemporaneidade mascara de medievalPapel das mulheres representao da identidade femininaAnlise de Cersei Lannister rainha de WesterosMulher ganhando cada vez mais espao na sociedade

  • A compreenso dos filmes populares de Hollywood, de Madonna, da MTV, do rap, dos filmes atuais sobre os negros e dos programas de notcia e entretenimento da televiso pode ajudar-nos a entender nossa sociedade contempornea. Ou seja, entender o porqu da popularidade de certas produes pode elucidar o meio social em que elas nascem e circulam, podendo, portanto, levar-nos a perceber o que est acontecendo nas sociedades e nas culturas contemporneas (Kellner, 2001, p.14).

  • Game of Thrones fruto da srie de livros As crnicas de gelo e fogoHistria dos Sete Reinos Nova Mo do Rei Morte do Rei Guerra dos TronosSrie estreia em 20114 temporada tem 6,6 milhes de espectadoresUma das sries mais assistidas da HBO Por enquanto est atrs de Famlia SopranoEm 2013, "Game of Thrones" se tornou a srie mais pirateada do mundo pelo segundo ano seguido

  • Ao ser questionado se estava surpreso com o intenso debate acerca de As Crnicas de Gelo e Fogo possuir ou no carter feminista, George R. R. Martin respondeu:

    Na verdade no. Penso que bom as pessoas debaterem essas questes. Obviamente, no acho que eu seja misgino ou racista como alguns crticos dizem. Eles esto simplificando demais a leitura. Com certeza, eu sou um homem branco de 62 anos e nenhum de ns escapa inteiramente dos valores que nos so passados enquanto somos jovens, mesmo se os rejeitssemos (eu, por exemplo, rejeitei o Catolicismo). No me apego em um paradigma feminista. Mas estou muito satisfeito, ()de fato tenho inmeras fs mulheres que amam minhas personagens femininas e tentei fornecer uma variedade de personalidades do sexo feminino. O que quero mostrar com meus personagens que todos somos humanos. Fonte: http://www.gameofthronesbr.com/

  • Cersei e a nova mulherPrimrdios mulher nas cavernas

    Mulher chega ao espao pblico > vista com maus olhos > mulher pblica x homem pblico (suj. eminente; honra)

    Restrita ao convvio feminino

  • Dependncia financeira

    Socialidade do homem (esporte, poltica) x Socialidade da mulher (leitura)

    Mudana da mulher > abalo de estruturas fixadas > feminizao do mundo (angstias)

  • Quebra de estruturas e interditos

    Esposa do Rei Robert e rainha de Westeros, Cersei bonita, ardilosa e ambiciosa. Ferozmente protetora dos filhos e da famlia, no tem medo de jogar sujo em favor de seus interesses. Cersei no nutre amor ou afeio pelo marido de fato, o amor de sua vida seu irmo gmeo, Jaime, com quem mantm uma relao incestuosa desde a juventude. Quando Robert morre e seu filho Joffrey assume o trono, obrigada a governar com seu abominado irmo caula, Tyrion, enquanto lida com o comportamento cada vez mais errtico do novo rei (Cogman, 2013, p.76)

  • Incesto > Guerra dos Tronos

  • Maternidade > estabelecimento da identidade da mulher > imortalidade do ser humano

    Episdio 7 85

  • Estabelecimento da identidade > delimitao das diferenas

    A identidade no um elemento colocado a priori. Ela se estrutura atravs da interao do sujeito com a sociedade, evidenciando-se essa interao por meio das prticas sociais, as quais lhe conferem um carter polifnico. Como produto de interaes, a identidade se organiza atravs de um sistema de representaes, da sua relao com o simblico, pois, tal como a realidade, a identidade uma construo simblica (Zanini, 2006, p.51).

    Episdio 3 750

  • Mulher deixa a posio de objeto para se tornar sujeito

    Morte do rei > Cersei comanda o jogo

    Cersei: Temos um novo rei agora. Lorde Eddard, da ltima vez que conversamos, o senhor me ofereceu conselhos. Permita-me retribuir a cortesia. Ajoelhe-se, senhor. Ajoelhe-se, jure lealdade ao meu filho e permitiremos que passe o resto dos seus dias no lixo cinza a que chama de lar.Ned: Seu filho no tem direito ao trono.Joffrey: Mentiroso!Cersei: Sua prpria boca o condena, Lorde Stark. Sor Barristan, prenda este traidor (Game of Thrones, 2012).

  • ConsideraesCersei > rainha > ardilosa, estrategista

    Maternidade como motivadora das aes

    Amor (maternal e conjugal)

    Sendo assim, vemos que a mulher ganha posio de evidncia em Game of Thrones, j que, somente pela anlise de Cersei, observamos o poder dado identidade feminina na srie. A mulher, ao ocupar local de destaque, tece a trama e movimenta as peas do tabuleiro, constituindo um verdadeiro jogo de rainhas na busca pelo Trono de Ferro de Westeros (COUTO, 2014, p.14)

  • Exerccio prticoAps assistir aos dois episdios de Modern Family, faa consideraes sobre:

    Identidades representadasEsteretiposProjeo/Identificao

  • RefernciasCABECINHAS, Rosa. Processos cognitivos, cultura e esteretipos sociais. In: Actas do II Congresso Ibrico de Cincias da Comunicao. Covilh: Universidade da Beira Interior, Covilh, p.539-550.

    Cogman, Bryan (2013). Por dentro da srie da HBO Game of Thrones. So Paulo: LeYa.

    CURVELLO, Vanessa; DUARTE, Elizabeth Bastos. Fico televisual: distintas formas de estruturao seriada. In: XXXI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao, 2008, Natal. Anais eletrnicos... So Paulo: Intercom, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 30 jun. 2013.

    Game of Thrones Primeira Temporada Completa (2012). Direo: David Benioff e D.B. Weiss. EUA: Warner Home Video. 5 DVDs.

    HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Ps-Modernidade. 7a ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

    KELLNER, Douglas. A Cultura da Mdia. Bauru: EDUSC, 2001.

    LIPPMANN, Walter. Esteretipos. In: STEINBERG, Charles S. (org). Meios de Comunicao de Massa. So Paulo: Cultrix, 1966.

  • MARTN-BARBERO, Jess. Dos meios s mediaes: comunicao, cultura e hegemonia. Trad. Ronald Polito; Srgio Alcides. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.

    MORIN, Edgar. Cultura de massas no sculo XX. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2009.

    Perrot, Michelle (1998). Mulheres Pblicas. So Paulo: Fundao Editora da UNESP.

    Quintaneiro, Tania (1995). Retratos de mulher: a brasileira vista por viageiros ingleses e norte-americanos durante o sculo XIX. Petrpolis, RJ: Vozes.

    Silva, Tomaz Tadeu da (2011). A produo social da identidade e da diferena. In: Silva, Tomaz Tadeu da (org). Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais. Petrpolis: Vozes.

    WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferena: uma introduo terica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org). Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais. Petrpolis: Vozes, 2011.

    Zinani, Cecil Jeanine Albert (2006). Literatura e gnero: a construo da identidade feminina. Caxias do Sul, RS: Edusc.

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