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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 5 Número 15 Maio 2015 Edição Especial Homenageado ARYON DALL'IGNA RODRIGUES 29 A SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO: COMO OS DOCENTES VÊEM AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS? Silvio Nunes da Silva Júnior (UNEAL) 1 [email protected] Fernando Augusto de Lima Oliveira (PPGLL-UFAL/UNEAL/UPE) 2 [email protected] RESUMO: O presente artigo objetiva discutir sobre a sociolinguística aplicada ao ensino, tendo como objeto de estudo as concepções de professores sobre a utilização das variantes linguísticas do português brasileiro no âmbito educacional. A sociolinguística busca investigar o fenômeno das variações linguísticas em todas as suas particularidades, aplicando suas teorias à heterogeneidade da língua, mostrando que a mesma está em constante evolução e modificação. Ancoro a discussão deste trabalho nas teorias de Labov (2008), em um confronto inicial com Saussure (2006). Em teóricos da pesquisa Sociolinguística Variacionista, como: Tagliamonte (2006); Molica e Braga (2004); Salomão (2011); e Oliveira, Silva e Paula (2013), da Sociolinguística educacional: Bortoni-Ricardo (2004); Coan e Ko Freitag (2010); e Oliveira e Cyranka (2013), como também da Variação Linguística da Língua Portuguesa: Bagno (2001, 1999); e Beline (2004), além dos PCN’s (1998). Nesse sentido, percebe-se que os docentes dos dias atuais estão cada vez mais compreensíveis no que diz respeito à utilização das variantes linguísticas em sala de aula. Dessa forma, as práticas de preconceito linguístico estão diminuindo em grande escala, e o mais favorável de constatar nessa pesquisa, é que o primeiro âmbito em que a prática está acabando, é, justamente o âmbito educacional. PALAVRAS - CHAVE: Variações Linguísticas; Ensino; Professores. ABSTRACT: This article aims to discuss the sociolinguistics applied to education, with the object of study teachers' conceptions about the use of linguistic variants of Brazilian Portuguese in the educational field. The sociolinguistics investigates the phenomenon of linguistic variations in all its particulars, applying his theories to the heterogeneity of language, showing that it is constantly evolving and changing. Anchors the discussion of this work on the theories of Labov (2008), in an initial confrontation with Saussure (2006). In theoretical research variational sociolinguistics, as Tagliamonte (2006); Molica and Braga (2004); Solomon (2011); and Oliveira, Silva and Paula (2013), the educational Sociolinguistics: Bortoni-Ricardo (2004); Ko Coan and Freitag (2010); and Oliveira and Cyranka (2013), as well as variation of Portuguese Linguistics: Bagno (2001, 1999); and Beline (2004), and the NCP's (1998). In this sense, it is noticed that teachers of today are increasingly understandable as regards the use of linguistic variants in the classroom. Thus, linguistic prejudice practices are declining in large scale, and the most favorable note of this research, is the first area in which the practice is running out, is precisely the educational field. KEYWORDS: Linguistic Variation; Education; Teachers. 1 Graduando do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Alagoas UNEAL. Palmeira dos Índios - AL. [email protected] . 2 Mestre e Doutorando em Letras e Linguística pelo PPGLL/UFAL; Professor Substituto da Universidade Estadual de Alagoas UNEAL; Professor Assistente da Universidade de Pernambuco UPE. [email protected]

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Page 1: A SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO: COMO · PDF fileDOCENTES VÊEM AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS? ... objeto de estudo as concepções de professores sobre a utilização ... aplicando

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 5 • N ú m e r o 1 5 • M a i o 2 0 1 5 E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o

ARYON DALL'IGNA RODRIGUES

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A SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO: COMO OS

DOCENTES VÊEM AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS?

Silvio Nunes da Silva Júnior (UNEAL) 1

[email protected]

Fernando Augusto de Lima Oliveira (PPGLL-UFAL/UNEAL/UPE)2

[email protected]

RESUMO: O presente artigo objetiva discutir sobre a sociolinguística aplicada ao ensino, tendo como

objeto de estudo as concepções de professores sobre a utilização das variantes linguísticas do português

brasileiro no âmbito educacional. A sociolinguística busca investigar o fenômeno das variações

linguísticas em todas as suas particularidades, aplicando suas teorias à heterogeneidade da língua,

mostrando que a mesma está em constante evolução e modificação. Ancoro a discussão deste trabalho nas

teorias de Labov (2008), em um confronto inicial com Saussure (2006). Em teóricos da pesquisa

Sociolinguística Variacionista, como: Tagliamonte (2006); Molica e Braga (2004); Salomão (2011); e

Oliveira, Silva e Paula (2013), da Sociolinguística educacional: Bortoni-Ricardo (2004); Coan e Ko

Freitag (2010); e Oliveira e Cyranka (2013), como também da Variação Linguística da Língua

Portuguesa: Bagno (2001, 1999); e Beline (2004), além dos PCN’s (1998). Nesse sentido, percebe-se que

os docentes dos dias atuais estão cada vez mais compreensíveis no que diz respeito à utilização das

variantes linguísticas em sala de aula. Dessa forma, as práticas de preconceito linguístico estão

diminuindo em grande escala, e o mais favorável de constatar nessa pesquisa, é que o primeiro âmbito em

que a prática está acabando, é, justamente o âmbito educacional.

PALAVRAS - CHAVE: Variações Linguísticas; Ensino; Professores.

ABSTRACT: This article aims to discuss the sociolinguistics applied to education, with the object of

study teachers' conceptions about the use of linguistic variants of Brazilian Portuguese in the educational

field. The sociolinguistics investigates the phenomenon of linguistic variations in all its particulars,

applying his theories to the heterogeneity of language, showing that it is constantly evolving and

changing. Anchors the discussion of this work on the theories of Labov (2008), in an initial confrontation

with Saussure (2006). In theoretical research variational sociolinguistics, as Tagliamonte (2006); Molica

and Braga (2004); Solomon (2011); and Oliveira, Silva and Paula (2013), the educational

Sociolinguistics: Bortoni-Ricardo (2004); Ko Coan and Freitag (2010); and Oliveira and Cyranka (2013),

as well as variation of Portuguese Linguistics: Bagno (2001, 1999); and Beline (2004), and the NCP's

(1998). In this sense, it is noticed that teachers of today are increasingly understandable as regards the use

of linguistic variants in the classroom. Thus, linguistic prejudice practices are declining in large scale, and

the most favorable note of this research, is the first area in which the practice is running out, is precisely

the educational field.

KEYWORDS: Linguistic Variation; Education; Teachers.

1 Graduando do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL.

Palmeira dos Índios - AL. [email protected]. 2 Mestre e Doutorando em Letras e Linguística pelo PPGLL/UFAL; Professor Substituto da Universidade

Estadual de Alagoas – UNEAL; Professor Assistente da Universidade de Pernambuco – UPE.

[email protected]

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Introdução

No âmbito educacional, ainda é viva a antiga tradição de que não utilizar o que

rege a gramática normativa está errado. Diante desse fato, a linguística como uma área

abrangente, que abre espaço para diversas concepções de língua e fala existentes,

defende em uma de suas linhas de pesquisa, a abolição da concepção de que o falante é

obrigatoriamente levado a utilizar o que rege a gramática normativa.

A linguística propriamente dita como ciência que estuda a língua, busca

desvendar o que norteia os fenômenos da língua, em suas diversas particularidades.

Partindo para um contexto histórico, lembra-se do conceito de língua para Saussure.

No que diz respeito ao Curso de Linguística Geral, sobre os conceitos de

homogeneidade da língua, vê-se que para Ferdinand Saussure a língua não pode ser

modificada, e tudo o que a norteia diz respeito a existência de um “significado”, e de um

“significante”, ou seja, um conceito pertinente a uma imagem acústica, dessa maneira,

“o laço que une o significante e o significado é arbitrário” (SAUSSURE, 2006, p.81).

Nesse sentido, o mestre genebrino, caracteriza a língua como homogênea, ou

seja, nunca poderá ser modificada, nem com o passar do tempo, nem, muito menos

mediante as manifestações culturais ou geográficas que possam existir.

Discordando de maneira em que haja um confronto direto de concepções,

Willian Labov difere do pensamento de Saussure, afirmando que a língua é heterogênea

e sujeita a mudanças históricas, geográficas e socioculturais.

Da maneira em que Labov faz uma interface de língua com cultura, surge a

Sociolinguística, como a teoria da variação linguística, nesse contexto língua e cultura

caminham lado a lado para desenvolver teorias que proporcionem prestígio para essa

linha de pesquisa. Nesse sentido, Labov mostra que existem diversas variações

linguísticas que são visíveis na sociedade, onde uma em especial ganha prestígio social,

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sendo considerada norma padrão, e algumas outras, ficam aleatórias, sendo

consideradas como variantes linguísticas de menos prestígio, ou normas-não-padrão.

A variação de prestígio social, diz respeito às diretrizes atribuídas pela gramática

normativa, onde o jeito de “falar certo”, diz respeito ao cumprimento das regras

atribuídas na mesma, constituindo uma norma padrão.

Mediante o que defende a concepção da Sociolinguística, é viável destacar a

importância dada em sala de aula à norma padrão da língua, neste caso, a língua

portuguesa. Dessa maneira, impõe-se o contexto educacional, enfatizando a utilização

das variações linguísticas em sala de aula.

É necessário evidenciar que se o docente for de acordo com essa concepção,

acaba havendo direta ou indiretamente a prática do preconceito linguístico em sala de

aula, pois, o aluno vivencia uma realidade linguística diferente da que ver na escola com

as regras da gramática normativa, por esse motivo utiliza as variantes de sua região em

qualquer âmbito inclusive o escolar.

Dessa maneira, o professor deve atuar como regente e mediador, respeitando as

variantes que seus alunos utilizam, havendo assim, um comprometimento mais eficaz

do aluno com a escola, e principalmente com o professor.

Portando, este trabalho evidencia discutir sobre a variação linguística

educacional. O aparato metodológico constitui-se por concepções de professores sobre a

utilização das variações linguísticas em sala de aula, e o que as mesmas implicam na

relação professor-aluno, visando também mostrar como os professores vêem as

variações, e se têm conhecimento sobre a teoria sociolinguística.

Diante disso, pode-se destacar a grande expansão que os estudos

sociolinguísticos vêm tendo inclusive no âmbito escolar. Isto se caracteriza pela análise

de dados positiva, onde foi possível constatar que a maioria dos docentes entrevistados,

entendem as variações linguísticas e possuem uma aceitação para com isso na sala de

aula em que são regentes. Concretizando assim, uma realidade linguística muito mais

voltada a inclusão, banindo aos poucos a prática do preconceito linguístico.

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Dos primórdios linguísticos à sociolinguística educacional

A linguística em sua origem inicia-se com os estudos de Ferdinand Saussure que

professava o Curso de Linguística Geral na Universidade de Genebra – Suíça, este foi o

principal estudioso da área, que com sua grande influência e foco nos estudos

linguísticos, inquietou seus alunos do curso, a ponto que os mesmos empregaram as

concepções de Saussure em uma obra póstuma legitimada “Curso de Linguística Geral”

lançado em 1916, após a sua morte.

No que diz respeito aos conceitos de língua para Saussure, tem-se uma

concepção polêmica que até os dias atuais é alvo de muitas discussões nos estudos

linguísticos do mundo inteiro. Saussure volta seus estudos para a língua em perspectivas

gerais de uso, e depois de vários anos dedicando-se a essa área, define com clareza a

língua como homogênea, ou seja, não possui nenhuma e qualquer maneira de ser

modificada ou alterada.

Voltando ao foco principal que é a linguística, destaco que a área propõe estudar

a linguagem humana em seus diversos dimensionamentos, sejam eles voltados às

linguagens verbal, não-verbal e mista. Nesse sentido, percebe-se e pode-se afirmar que a

linguística é a ciência da linguagem, e como toda ciência, está apta a novos olhares e

concepções.

Considerando a concepção de Saussure, o conceito de língua como homogênea

acaba afetando aspectos sociais que existem na linguagem humana. É do saber de todos

que estão em constantes ocorrências processos de particularidades de determinada

língua, seja ela portuguesa, inglesa, espanhola, francesa e etc. Dessa maneira, cada

região de determinada sociedade, falante de determinada língua têm suas

particularidades linguísticas, que quando se encontram com as concepções de Saussure

acabam sendo alvo de muitas discussões e polêmicas nos estudos da língua.

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Após a publicação do Curso de Linguística Geral, uma das concepções que mais

vem causando discussões acerca das concepções de língua é a de Labov, mas

precisamente um dos maiores estudiosos da sociolinguística.

Discordando de forma esquematizada e em parte convincente da concepção de

Saussure em sua obra póstuma, Labov por sua vez acredita que a língua provém de uma

heterogeneidade, ou seja, pode ser mudada com o avanço da sociedade em constante

movimento. Assim como afirma Coan & Ko Freitag “A língua é vista pelos

sociolinguistas como dotada de “heterogeneidade sistemática”, fator importante na

identificação de grupos e na demarcação de diferenças sociais na comunidade” (2010, p.

175).

Nesse sentido, a Sociolinguística visa defender uma concepção inversa a

Saussure, e hoje é uma das áreas de pesquisa na linguística com muito prestígio em seus

resultados, buscando sempre engrandecer e expandir seus estudos, como também, busca

convencer novos pesquisadores a seguirem essa perspectiva em suas trajetórias nos

estudos linguísticos. Em linhas gerais, a sociolinguística estuda a língua, a cultura e a

sociedade, no sentido em que língua e sociedade se inter-relacionam.

Para especificar com mais ênfase os verdadeiros objetos de estudos

sociolinguísticos, destaco a concepção de Molica (2004, p. 10), que visa explicar um

dos olhares para a Sociolinguística.

A sociolinguística considera em especial como objeto de estudo

exatamente a variação, entendendo-a como um princípio geral e

universal de ser descrita e analisada cientificamente. Ela parte do

pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas por fatores

estruturais e sociais. [...]

Quando Mollica apresenta a os fatores estruturais e sociais, adentram nessa

concepção as diversas maneiras em que a variação é considerada alvo de mudança

linguística, pois, a mudança linguística pode acontecer por alguns fatores que a

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determinam, sejam eles fatores históricos, geográficos e culturais, de maneira geral,

“fatores sociais”.

Nos vários olhares dos linguistas para a língua como fator social, desde o

pensamento de Labov, afirmando que “Todo linguista reconhece que a língua é um fato

social, mas nem todos dão a mesma ênfase a esse fato” (2008, p. 303), ou seja, todos os

linguistas vêem a língua como social, mas, buscam em seus estudos descreverem teorias

sobre o que realmente são seus objetos específicos de pesquisa, não demonstrando suas

concepções sobre a língua em geral.

Partindo do princípio fonológico, a variação linguística é vista de maneira

peculiar, e definida a partir de algumas regras imprescindíveis. De acordo com Bortoni-

Ricardo (2004, p. 79) “As principais regras fonológicas de variação no português

brasileiro ocorrem na posição pós vocálica na sílaba”. A perspectiva fonológica, além

de apresentada em um ponto de vista sociolinguístico, também é explicita por Saussure

em sua obra, quando o genebriano afirma que a para o estudo da língua acontecer de

forma que a escrita seja substituída pelo pensamento, teria que “[...] substituir, de

imediato, o artificial pelo natural; isso, porém é impossível enquanto não tenham sido

estudados os sons da língua; pois, separadas de seus signos gráficos, eles representam

apenas noções vagas [...]” (2006, p. 42).

Dessa maneira, percebe-se que para Saussure a variação é inexistente, porém,

para chegar nessa definição, o mestre genebriano analisou a língua de forma geral e

abrangente, passando e explicando cada aspecto que pode alterar as concepções de

vários pesquisadores da área.

De modo que uma variação linguística é descoberta no decorrer das pesquisas, a

mesma emprega-se ao plural “variável linguística”, assim como apresenta Salomão

(2011, p. 191).

O conjunto das variantes é denominado “variável linguística”, ou seja,

a forma, o traço ou construção linguística que é o próprio fenômeno

variável tomado como objeto de estudo pelo investigador. A

sociolinguística entende que o emprego das variantes não é aleatório,

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mas influenciado por grupos de fatores de natureza social (internos à

língua) ou estrutural (externos à língua) [...]

No português brasileiro, as variantes linguísticas são vistas ao comparar-se os

modos de utilizar a língua nos dias atuais, com o modo de falar na época do

descobrimento. Esse fenômeno não acontece apenas na língua portuguesa, mas,

também, em outras línguas, assim como Belline afirma.

Em sentido bastante amplo, podemos de início pensar em diferentes

línguas que existem no mundo. Falamos português no Brasil.

Praticamente com qualquer região de fronteira em que estejamos em

nosso país, sabemos que do outro lado falam outra língua – o

espanhol. Sabemos também que dentro de nosso país ainda há

indígenas que se comunicam, quando estão em suas aldeias, em suas

línguas, e não em Português. (BELINE, 2007, p. 121)

Dessa maneira, percebe-se que o estudo da língua tem se expandido, pois como

afirma Baylon à língua “engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da

linguagem em seu contexto social” (1991 apud MONTEIRO, 2000, p. 26).

Nesse sentido, destaco alguns avanços históricos que acabaram modificando o

modo de falar do português, um deles é a adaptação do modo de falar da civilização na

época do descobrimento, onde tendo em vista o domínio de Portugal no Brasil, trazendo

com os colonizadores o idioma citado. Apesar da grande influência formal adotada

pelos jesuítas, os habitantes do Brasil daquela época foram adotando com suas

peculiaridades um português próprio, ou seja, um português brasileiro, que vem

sofrendo modificações sociais ao decorrer dos séculos.

Levando a visão sociolinguística para o contexto educacional, vale ressaltar que

de um modo tradicional de ver a sala de aula em seus dimensionamentos no que diz

respeito à relação professor-aluno, a escola é um âmbito formal em que o professor deve

ensinar os alunos que ali se situam o modo culto e formal de utilizar a língua. O que

alguns desses docentes não têm conhecimento suficiente para entender sobre as

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variações, o que fazem muitos deles descriminarem as mesmas, é que a norma padrão

culta da língua já foi alvo da variação.

Em uma interface entre a sociolinguística e o ensino de língua portuguesa, faz-se

mister destacar que com a ênfase dada pelo professor de língua portuguesa à utilização

da norma padrão e/ou culta da língua, acarreta ao âmbito educacional a prática do tão

falado preconceito linguístico.

Para Bagno (1999, p.40)

O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma

única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua

ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos

dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse

triângulo escola – gramática - dicionário é considerada, sob a ótica do

preconceito linguístico, “errada”, feia, estropiada, rudimentar,

deficiente, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”.

Parafraseando a concepção de Bagno com as informações sociolinguísticas

supracitadas no que diz respeito a essa discussão, é viável ressaltar que o preconceito

linguístico volta-se constantemente às concepções de língua para Saussure.

Ora, se a língua é homogenia e insubstituível, sem nenhuma e qualquer

probabilidade de ser modificada, os falantes que a utilizam as variações,

automaticamente serão considerados “errôneos” para com esse uso. Essa concepção

pode ser considerada preconceituosa ou descriminante, mas, a mesma só é exposta em

uma tentativa de exemplificar o que foi explicitado anteriormente.

Na medida em que os anos passam e a sociolinguística vai avançando na

perspectiva linguística, as concepções atreladas a ela devem ser trabalhadas em sala de

aula, expondo aos alunos essa realidade, em uma tentativa de aprimorar o senso crítico

dos mesmos, visando mostrar aos falantes da norma não-culta, que os mesmos não estão

errados ao utilizá-la. Essa prática seria imprescindível para banir o olhar discriminatório

da língua. Assim como afirma Oliveira e Cyranka

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O trabalho reflexivo com a Sociolinguística na sala de aula pode

contribuir para reduzir esse olhar discriminatório sobre a língua, que

inclusive já é considerado por muitos um pensamento ultrapassado.

Trata-se, porém, de um fato real, concreto e vivido na pele por

cidadãos que pertencem a camadas menos privilegiadas

socioeconomicamente e cuja linguagem é, muitas vezes, considerada

inferior, pobre, de baixo nível, assim como também o é a cultura de

quem a emprega. (2013, p. 77)

Nesse contexto, é válido destacar que alguns dos docentes de língua portuguesa,

estão aos poucos dimensionando o que ainda hoje é alvo de preconceito, para uma

realização normal dentro dos padrões de fala do português brasileiro.

Essa medida acaba sendo tomada, pelo fato de que os professores tiveram uma

tomada de consciência ao ver que toda maneira de falar e utilizar a língua, são variações

que estão em constante modificação.

Visando aprofundar o que já foi citado, viso ressaltar que os Parâmetros

Curriculares Nacionais explicam de forma legitimada por lei para o ensino de língua

portuguesa, destaca que os alunos que devem escolher sua própria forma de falar, pois

isso diz respeito à escolha de cada indivíduo, isso irá proporcioná-lo um livre arbítrio de

adaptar-se às situações comunicativas na sociedade.

No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que

se almeja não é levar os alunos a falarem certo, mas permitir-lhes a

escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e

condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os

recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes

situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala

ou escreve e como fazê-lo saber que modo de expressão é pertinente

em função de sua intenção enunciativa... a questão não é de erro, mas

de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da

linguagem. (BRASIL, 1998, p. 31).

O aluno em seu papel de sujeito apto a escolher sua própria maneira de utilizar

sua língua materna, acaba por ter um novo olhar para com a escola, pois, da maneira em

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que o discente ver a escola como um âmbito de aprendizagem e troca satisfatória de

conhecimento, onde o professor como agente transformador não vai opinar no seu modo

de falar, isto servirá como elemento motivador, e poderá diminuir em grande escala a

evasão escolar, que em sua maioria de ocorrências é pela prática de preconceito na

escola, ou seja, juízos pré-concebidos ocorridos dentro do âmbito escolar.

Os PCNs que em uma visão sociolinguística buscam desmembrar o preconceito

linguístico, dessa forma apresentam alguns critérios que merecem destaque por

envolverem as linhas teóricas que ancoram esse trabalho. Disseminam que o âmbito

escolar deve desenvolver atitudes de: repúdio às injustiças, respeito ao outro e

valorização da pluralidade sociocultural, onde para isso devem-se utilizar diversas

fontes de informação, diferentes linguagens, e dentre outros.

Dessa forma, a linha teórica da sociolinguística variacionista não busca enfrentar

brutalmente as concepções de Saussure, mas, visa contribuir significativamente para

banir o preconceito linguístico e legitimar em todo mundo que as variações linguísticas

são normais, eventuais e aptas à transformações sociais ao longo dos anos.

Procedimentos metodológicos da pesquisa

Esta pesquisa está inserida na perspectiva educacional da pesquisa

sociolinguística, embasando-se no que diz Bortoni-Ricardo, que a variação linguística

que conduz ao preconceito linguístico em sala de aula inicia-se quando “[...] o aluno usa

flagrantemente uma regra não padrão e o professor intervém, fornecendo a variante

padrão, que as duas variedades se justapõe em sala de aula” (2004, p. 37).

Nesse sentido, o objetivo dos estudos da sociolinguística educacional é

justamente discutir a variação e mudança linguística em sala de aula, destacando desde a

tipologia das variações, até o preconceito linguístico praticado contra os falantes das

variantes linguísticas de menos prestígio social, principalmente na relação professor-

aluno.

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Dessa maneira, vale ressaltar o trecho em que Tagliamonte destaca que a “[...]

sociolinguística variacionista evoluiu ao longo dos últimos quase quatro décadas como

uma disciplina que integra os aspectos sociais e linguísticos na língua”.

(TAGLIAMONTE, 2006, p. 4, Tradução nossa). Nesse enfoque, percebe-se que da

maneira em que a linguística estuda os aspectos sociais e linguísticos da língua, e o

âmbito escolar comporta em sua estrutura o professor e o aluno que são alvo principal

desse estudo, vê-se que é na escola que os falantes dos vários lugares de determinada

região convivem juntos, diante disso, o âmbito escolar é um dos lugares mais prováveis

para a criação das variantes linguísticas de qualquer idioma.

Vê-se que a “[...] língua falada por qualquer comunidade é passível de variação,

portanto a língua é representada por um conjunto de variáveis linguísticas que pode ser

expresso por duas ou mais variantes” (OLIVEIRA; SILVA; PAULA, 2013, p. 252),

nesse sentido, destaco que as comunidades que adquirem suas variantes estão em

constantes modificações, desse modo, as escolas pertinentes a estas comunidades estão

aptas a acomodar esses falantes, e com a utilização da sociolinguística educacional, os

alunos que utilizam as variações terão consciência de que não falam errado, mas sim,

utiliza uma das diversas variações.

Diante das concepções citadas no decorrer dessa discussão, proponho analisar as

concepções de professores atuantes no primeiro ciclo do ensino básico, mas

precisamente na primeira fase do ensino fundamental, onde a presença das variantes

linguísticas é mais constante, pelo fato de que os alunos que ali se situam estão na faixa

etária máxima de aproximadamente 13 anos, estando nessa fase em um letramento em

fase de aprendizagem, em um meio social que possui seu próprio modo de utilizar a

língua materna.

O desenvolvimento da pesquisa situa-se de maneira direta ou indireta no que diz

os PCN’s “Ao professor cabe planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas,

com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno,

procurando garantir aprendizagem efetiva” (BRASIL, 1998, p. 22), tendo essa tarefa tão

importante, o professor deve assegurar o aluno de que a escola não é um âmbito de

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nenhuma tipologia de preconceito, muito menos de preconceito linguístico, pois esse

não subestima apenas a capacidade daquele aluno de utilizar a língua, mas, também, de

toda comunidade falante que convive com aquele indivíduo na sociedade. Dessa

maneira ancoro esse pensamento no que diz Perini (1999, p.13)

Qualquer falante de português possui um conhecimento implícito

altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de

explicitar esse conhecimento. E esse conhecimento não é fruto de

instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira tão natural

e espontânea quanto a nossa habilidade de andar.

A maneira geral, vale ressaltar que todo e qualquer modo que o indivíduo utiliza

para se expressar deve ser considerado, pois, o mesmo desde o modo de andar, até o de

falar, diz respeito à escolha de cada pessoa. A realidade é que muitas pessoas,

independentemente da posição social acredita que a fala não se encaixa no termo

“liberdade de expressão”. Esse termo é muito pouco utilizado quando se trata de

preconceito linguístico, destaco que isso ocorre pelo mesmo motivo que foi citado

anteriormente.

Nesse contexto, essa pesquisa visa esclarecer o que os professores tem em mente

sobre a utilização das variações em sala de aula. Se é normal? Como eles reagem? E

dentre outros questionamentos apresentados na coleta de dados.

Dessa maneira, banindo do âmbito escolar a prática de “[...] menosprezar,

rebaixar, ridicularizar a língua ou a variedade da língua empregada por um ser humano

equivale a menosprezá-lo, rebaixá-lo enquanto ser humano” (BAGNO, 2001, p.36),

pretende-se expor que os docentes de atualmente, pelo menos em grande parte, sabem

encarar de maneira significativa as variedades linguísticas da língua portuguesa, tendo

assim, um conhecimento linguístico suficiente para lidar com os alunos em fase de

aprendizagem.

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Descrição e análise dos dados

O corpus dessa pesquisa é constituído por um questionário que tratava de

maneira geral, em saber como os docentes do ensino fundamental vêem as variações

linguísticas e encaram com as variantes na fala dos seus alunos.

Embasando-se no pensamento de Guy; Zilles, “Outra prática comum é o

pesquisador apresentar, também, antes da discussão detalhada dos resultados” (2007, p.

208). Nesse sentido, serão apresentados os gráficos, seguidos de suas devidas

descrições.

Para a coleta de dados, optou-se por analisar informações oriundas da

colaboração de 12 professores efetivos da rede municipal do município de Maribondo –

AL, atuantes numa mesma escola de ensino fundamental 1.

A escolaridade dos docentes diz respeito a cinco especialistas, quatro graduados

e três com magistério (nível médio). Os professores que ainda não possuem graduação

estão concluindo seus respectivos cursos. Ambas as formações estão ligadas a questões

pedagógicas voltas às séries iniciais do ensino fundamental.

O questionário continha cinco perguntas, onde para facilitar a análise de dados

eram respondidas apenas por SIM ou NÃO. Para a exposição dos dados coletados,

apresento a seguir os resultados em forma de gráficos, acompanhados pelas perguntas

feitas aos docentes que contribuíram com a pesquisa.

Primeiramente, questiona-se aos docentes da seguinte maneira: Você conhece a

teoria linguística que se predispõe a estudar as variações da língua?

Após a análise dos dados, constatou-se o seguinte resultado.

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Percebe-se que como os docentes possuem uma formação muito voltada à

história da educação no que diz respeito à educação infantil e o ensino fundamental.

Tiveram uma visão básica sobre o ensino de língua portuguesa. Por esse motivo, não

entendem a linha teórica de pesquisa sociolinguística.

O segundo questionamento foi o seguinte: Ao presenciar um aluno pronunciando

uma determinada palavra de forma que não esteja dentro do “padrão” da língua, você o

corrige rigorosamente?

O gráfico a seguir apresenta os resultados.

Diante dos resultados, percebe-se que alguns professores ainda adotam a

maneira tradicional de utilizar a língua, insistindo em que tem que falar “certo”, perante

a gramática normativa. Já outros docentes, neste caso a maioria, reage normalmente

SIM 8%

NÃO 92%

SIM 25%

NÃO 75%

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com essa realidade, pois, o nível de instrução e senso crítico está em um patamar mais

elevado, fazendo com que o professor saiba disseminar que este modo de utilizar a

língua materna, não passa de uma das variantes linguísticas que a língua possui.

Embasando-se no que foi discutido sobre a variação linguística no decorrer deste

trabalho, questiona-se: Você no seu papel de professor se na obrigação de ensinar aos

alunos a utilizar a língua materna, respeitando as diretrizes atribuídas pela gramática

normativa?

Dessa maneira, os resultados obtidos constam no gráfico abaixo.

Diante disso, percebe-se que os professores dividem suas concepções apesar de

trabalharem na mesma instituição, possuem olhares diferentes para suas obrigações na

prática docente. Isso acarreta a levar-se a um pensamento positivo nos estudos

sociolinguísticos, pois, os professores estão mais passíveis a questão da mudança de

concepções acerca da variação linguística em sala de aula.

Nesse contexto, buscou-se fazer não somente um questionamento, mas, também,

informar os docentes sobre a sociolinguística, da seguinte maneira: A teoria da variação

linguística advém da linha sociolinguística, desse modo, busca mostrar aos que se

deparam com essa teoria, que as variações não são erradas, mas sim, são

particularidades especiais de determinada região. Na região em que a escola que você

trabalha está situada, existe algum tipo de variedade linguística própria?

SIM 58%

NÃO 42%

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Dessa maneira, os professores perceberam que eles próprios podem identificar as

variantes linguísticas das suas próprias regiões, isso possibilita que os docentes

identifiquem e lidem de maneira mais passiva com as variações linguísticas utilizadas

pelos alunos em sala de aula.

Por fim, visou-se abranger de uma maneira geral tudo o que foi mencionado, de

maneira que os professores não se sintam obrigatoriamente levados a concordar com a

concepção do pesquisador. O questionamento foi o seguinte: No ensino de língua

portuguesa, onde quase tudo está voltado para o ensino da gramática normativa, a qual

condena as variações linguísticas como erradas, e com a grande expansão que as

variações estão tendo. É cabível refletir o modo tradicionalista que a gramática

normativa expõe em relação às variações?

SIM 83%

NÃO 17%

SIM 100%

NÃO 0%

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Diante do exposto, é válido ressaltar que mediante as poucas perguntas que

continham no questionário, os professores acabaram entendendo de maneira mais

específica qual é realmente o sentido dos estudos sociolinguísticos.

O resultado apontado no gráfico acima apresenta que o entendimento atingiu

100% dos docentes colaboradores, fazendo com que todos concordassem que esses

estudos devem ser aprofundados e cada vez mais abrangidos nos estudos da área.

Considerações finais

Compreendo a linguística como um campo multifacetado, ou seja, abrange

diversas linhas dando espaço a constantes novas teorias. Propus nesse artigo,

embasando-me nas teorias históricas e atuais da linguística, fazer com que fique claro

que na linguística, um estudo, mesmo causador de confronto, complementa a discussão

do outro, e assim sucessivamente.

Visto que as concepções de Saussure foram expostas no Curso de Linguística

Geral há muitos anos, percebo que até hoje essas concepções servem como base para

qualquer estudo linguístico, até mesmo para linhas teóricas que diferem e confrontam o

que diz respeito às teorias linguísticas Saussurianas.

No que diz respeito à Sociolinguística Educacional, percebe-se que a teoria da

variação linguística quando posta em prática nas análises das concepções, é viável

ressaltar que não tem âmbito mais proveitoso para a realização de tal pesquisa

sociolinguística, do que a escola.

É nesse âmbito que diversas variações linguísticas caminham juntas, lugar onde

pessoas de comunidades diferentes trocam conhecimentos e aprendem juntas o que é

passado pelo docente em sala de aula. Dessa maneira, cabe ao professor ter um olhar

mais sensível para essa realidade, e a partir daí, modificar a realidade linguística

brasileira.

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Por isso, foi realizada a referida pesquisa, pois, os conceitos de que os

pensamentos dos professores atuais são diferentes precisam ser mostrados em prática, e

na prática, é possível ter resultados satisfatórios e eficazes, mostrando que toda a teoria

quando posta em prática é verídica.

Neste sentido, perseverando novos estudos na sociolinguística educacional, viso

destacar que a linguística é um mundo, um mundo abrangente e aberto para novas

pesquisas, novos olhares, e novas perspectivas, e a sociolinguística está aí, pronta para

ser desbravada cada vez mais.

Referências

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exclusão social. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

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SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

SALOMÃO, A.C.B. Variação e mudança linguística: panorama e perspectivas da

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TAGLIAMONTE, Sali. A. Analysing sociolinguistic variation. Cambridge: CUP,

2006.

Recebido Para Publicação em 26 de dezembro de 2014.

Aprovado Para Publicação em 30 de abril de 2015.