balanço crítico da sociolinguística variacionista

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ESTUDOS LINGUÍSTICOS, São Paulo, 41 (2): p. 869-884, maio-ago 2012 869 Balanço crítico da Sociolinguística Variacionista no estado de São Paulo e a proposição de uma frente programática de investigação (A critical balance of variationist sociolinguistic in São Paulo state and a proposition of a research program) Sebastião Carlos Leite Gonçalves 1 1 Universidade Estadual Paulista (UNESP) – São José do Rio Preto Conselho Nacional de Desenvolvimento em Pesquisa (CNPq) [email protected] Abstract: In this paper, I present a critical balance of variationist Socilinguistics in the state of São Paulo I comment briefly the information about scientific production of this research area in the state of São Paulo and I show that its recent development in the state does not allows yet the composition of a sociolinguistic picture of the Portuguese spoken in the state of São Paulo. I present results of variationist researches undertaken with speech samples from the countryside. The analysis is based on features of “caipira” speech described by Amaral ([1920] 1976) at the beginning of the twentieth century. Then, I propose recognizing a programmatic front of research as available in Amaral (1976 [1920]), whereby it is possible to advance the knowledge of spoken language not only related to varieties of São Paulo, but also related to Brazilian Portuguese. Keywords: variationist Sociolinguistics; “caipira” dialect; Brazilian Portuguese. Resumo: Neste trabalho, tenho por objetivo promover um balanço crítico da pesquisa sociolinguística no estado de São Paulo. Para tanto, reúno informações sobre a produção científica nessa área e mostro que seu desenvolvimento recente no estado de São Paulo ainda não permite compor uma fotografia sociolinguística das variedades paulistas do português brasileiro. Tomando por base aspectos da fala caipira descritos por Amadeu Amaral no início do século XX, apresento resultados de pesquisas variacionistas empreendidas com amostras de fala do interior paulista e proponho o reconhecimento de uma frente programática de pesquisa tal como disponível em Amaral (1976 [1920]), como meio para fazer avançar o conhecimento linguístico não só das variedades paulistas, mas do português brasileiro de um modo geral. Palavras-chave: sociolinguística variacionista; dialeto caipira; português brasileiro. Introdução Como balanço crítico, a ser apresentado neste artigo, me atenho aos desenvolvimentos da pesquisa sociolinguística no estado de São Paulo, mais especificamente da Sociolinguística variacionista, e proponho uma frente programática de pesquisa sob essa abordagem, tomando por base aspectos da fala caipira, descritos por Amadeu Amaral no início do século XX, em seu O dialeto caipira (1920). Para a consecução desse objetivo, divido este artigo em duas partes principais: na primeira, apresento, de forma crítica, a inserção da Sociolinguística variacionista no cenário nacional da pesquisa linguística, para, na segunda, fazer uma exposição dos aspectos do dialeto caipira, tal como descritos por Amaral (1976 [1920]), alguns dos quais, possíveis

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Artigo escrito pelo professor Sebastião Carlos Leite Gonçalves.

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  • ESTUDOS LINGUSTICOS, So Paulo, 41 (2): p. 869-884, maio-ago 2012 869

    Balano crtico da Sociolingustica Variacionistano estado de So Paulo e a proposio de uma

    frente programtica de investigao(A critical balance of variationist sociolinguistic in So Paulo

    state and a proposition of a research program)

    Sebastio Carlos Leite Gonalves1

    1Universidade Estadual Paulista (UNESP) So Jos do Rio PretoConselho Nacional de Desenvolvimento em Pesquisa (CNPq)

    [email protected]

    Abstract: In this paper, I present a critical balance of variationist Socilinguistics in the state of So Paulo I comment briefly the information about scientific production of this research area in the state of So Paulo and I show that its recent development in the state does not allows yet the composition of a sociolinguistic picture of the Portuguese spoken in the state of So Paulo. I present results of variationist researches undertaken with speech samples from the countryside. The analysis is based on features of caipira speech described by Amaral ([1920] 1976) at the beginning of the twentieth century. Then, I propose recognizing a programmatic front of research as available in Amaral (1976 [1920]), whereby it is possible to advance the knowledge of spoken language not only related to varieties of So Paulo, but also related to Brazilian Portuguese.

    Keywords: variationist Sociolinguistics; caipira dialect; Brazilian Portuguese.

    Resumo: Neste trabalho, tenho por objetivo promover um balano crtico da pesquisa sociolingustica no estado de So Paulo. Para tanto, reno informaes sobre a produo cientfica nessa rea e mostro que seu desenvolvimento recente no estado de So Paulo ainda no permite compor uma fotografia sociolingustica das variedades paulistas do portugus brasileiro. Tomando por base aspectos da fala caipira descritos por Amadeu Amaral no incio do sculo XX, apresento resultados de pesquisas variacionistas empreendidas com amostras de fala do interior paulista e proponho o reconhecimento de uma frente programtica de pesquisa tal como disponvel em Amaral (1976 [1920]), como meio para fazer avanar o conhecimento lingustico no s das variedades paulistas, mas do portugus brasileiro de um modo geral.

    Palavras-chave: sociolingustica variacionista; dialeto caipira; portugus brasileiro.

    IntroduoComo balano crtico, a ser apresentado neste artigo, me atenho aos desenvolvimentos

    da pesquisa sociolingustica no estado de So Paulo, mais especificamente da Sociolingustica variacionista, e proponho uma frente programtica de pesquisa sob essa abordagem, tomando por base aspectos da fala caipira, descritos por Amadeu Amaral no incio do sculo XX, em seu O dialeto caipira (1920).

    Para a consecuo desse objetivo, divido este artigo em duas partes principais: na primeira, apresento, de forma crtica, a insero da Sociolingustica variacionista no cenrio nacional da pesquisa lingustica, para, na segunda, fazer uma exposio dos aspectos do dialeto caipira, tal como descritos por Amaral (1976 [1920]), alguns dos quais, possveis

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    de serem identificados, ainda hoje, na fala paulista, como tentarei exemplificar, recorrendo a alguns resultados de pesquisas variacionistas empreendidas com amostras de fala do interior paulista. Tomando por base a exposio feita nas duas sees anteriores, a concluso aponta para a necessidade da proposio de uma frente programtica de pesquisas de cunho variacionista, a qual pode assumir os fenmenos descritos por Amaral, como forma de verificar, na sincronia atual do portugus paulista, remanescentes de um dialeto caipira de quase um sculo atrs.

    A sociolingustica paulista no cenrio nacional Considerando os quase 40 anos de pesquisa Sociolingustica no Brasil, pode se

    considerar que os estudos variacionistas sobre as variedades paulistas ainda se encontram na infncia e, portanto, em dvida com a composio de um retrato sociolingustico do Portugus Brasileiro (PB), no que toca ao oferecimento de um espectro mais amplo da fala paulista. Em outras palavras, comparados aos trabalhos de cunho variacionista envolvendo outras variedades do PB (cito aqui as variedades cariocas, catarinenses, paranaenses, gachas, mineiras, pessoenses, dentre outras), podem-se considerar escassos trabalhos nessa mesma linha envolvendo a fala paulista, seja a da capital, seja a do interior.

    Sem levar em conta os estudos descritivos desenvolvidos no mbito do Projeto Gramtica do Portugus Falado Culto (PGPF), que consideram, entre outras variedades, a paulistana, mas que tm como foco a norma urbana culta (CASTILHO, 1990), so ainda poucos os exemplos de trabalhos de descrio que consideram as variedades faladas no estado de So Paulo. Alm dO dialeto caipira, de Amadeu Amaral, que assume uma perspectiva sociolingustica, ao associar traos gerais do dialeto caipira do incio do sculo XX a fatores de ordem social (embora o autor no o faa de forma sistematizada, apenas guiado por sua observao participante em cidades do interior do estado de SP), destaquem-se os trabalhos variacionistas de ngela Rodrigues (1987), sobre concordncia verbal na fala de moradores da periferia da capital paulista, e o de Duarte (1986), sobre a realizao de objeto direto anafrico na fala de paulistanos nativos e na linguagem da televiso. De cunho mais etnogrfico, adentrando o interior paulista, citem-se os trabalhos de Ada Rodrigues (1974), sobre o dialeto caipira de Piracicaba, e o de Mary Careno (1997), sobre a fala de comunidades negras do Vale do Ribeira.

    De modo geral, com rarssimas excees, os trabalhos de descrio do PB divulgados pelos grupos de pesquisa que assumiram para si a tarefa de descrio da lngua no seu contexto social no ofereceram ainda uma viso ampla e realstica do PB. A preocupao com variveis diatpica ou diastrtica define a amostra usada como referncia para o trabalho descritivo, descartando-se, assim, uma gama de dialetos/socioletos, medida que se encontram representados nessas amostras, por exemplo, apenas dialetos/socioletos provindos das grandes metrpoles do pas1 e/ou de estratos sociais pouco representativos da populao brasileira. Essas restries, ainda que pautadas por objetivos cientificamente legtimos, acabam por oferecer uma viso apenas fragmentada do PB.

    Na atualidade, exceo a esse modo fragmentado de caracterizao do PB vem de

    1 Confira a esse respeito: Silva (1996), para o projeto Censo do dialeto carioca; Castilho (1990), para o Projeto NURC/Brasil; Votre; Oliveira (1995), para o projeto Gramtica & Discurso, tambm restrito ao dialeto carioca; Cunha (1998), para o projeto Gramtica e Discurso do dialeto de Natal, RN; Arago e Soares (1996), para o pro-jeto Dialetos Sociais Cearenses, da cidade de Fortaleza, dentre outros.

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    duas frentes de pesquisas que propiciam a execuo de projetos na rea de Sociolingustica. A primeira, representada pelo Projeto de descrio scio-histrica das vogais do portugus brasileiro (PROBRAVO), tem por objetivo descrever as realizaes fonticas de vogais nos dialetos de sul a norte do Brasil, contando, para isso, com pesquisadores de 17 universidades brasileiras. O projeto, criado em 2005 e sediado na Universidade Federal de Minas Gerais, coordenado pelos Profs. S. Lee e M.A. Oliveira e, de modo articulado, vem procurando responder s seguintes questes: (i) como so realizadas foneticamente as vogais no PB? (ii) como se explica ou o que motiva a diversidade de realizaes fonticas? (iii) como os falantes do PB se entendem, apesar das diversidades da qualidade voclica? (iv) possvel explicar essa diversidade gramaticalmente? Diante dessas questes, trabalhos variacionistas envolvendo o dialeto paulista vem se consolidando no estado de So Paulo, sob a coordenao da Profa. L. E.Tenani, da UNESP de So Jos do Rio Preto, a exemplo da descrio de outros dialetos que tm lugar no interior do projeto, a saber: dialetos mineiros, dialetos do Sul, dialeto da Paraba, dialeto matogrossense, dialeto do Par, dialeto de Rondnia, dialeto capixaba, dialeto baiano e dialeto carioca.2 Especificamente sobre o dialeto paulista, comentarei, adiante, resultados de estudos sobre vogais na fala do interior de So Paulo.

    A segunda frente articulada de trabalhos em Sociolingustica diz respeito aos estudos dialetolgicos, que, a partir de meados dos anos de 1990, assumiram para si a composio do Atlas Lingustico do Brasil (ALiB), pautado por um programa de investigao nacional, com rigoroso estatuto metodolgico, que, hoje, alcana outros nveis lingusticos de descrio, com relao s variaes. Isso significa sair dos aspectos fonticos e lexicais para atingir o morfossinttico, observados o contexto e a situao (OLIVEIRA; ISQUERDO, 2003, p. 52). Registre-se a esse respeito que o objetivo primeiro do Projeto ALiB a constituio de um vasto corpus, que vai do Oiapoque ao Chu e que possibilitar uma viso global do portugus brasileiro (CARDOSO, 2005, p. 10; grifos acrescidos).3 Nem mesmo na integrao frente programtica do Projeto ALiB, o Atlas Lingustico do Estado de SP andou no mesmo passo da feitura de outros Atlas regionais, alguns j concludos (Minas Gerais, Paran, Bahia, por exemplo), carente que se encontra o Estado de SP de pesquisas na rea de Sociolingustica e Dialetologia.4

    S mais recentemente, com a instituio do projeto temtico interinstitucional Para a histria do portugus paulista (PHPP), tambm conhecido como Projeto Caipira, proposto pelo Prof. Ataliba Teixeira de Castilho (da USP e UNICAMP) e, atualmente, sob a coordenao da Profa. Cllia Jubran (da UNESP de So Jos do Rio Preto), confere-se um lugar de destaque investigao da variedade paulista do PB. Integrando o Projeto Para Histria do Portugus Brasileiro (PHPB), o objetivo maior do projeto Caipira o de investigar emparelhadamente a formao da sociedade paulista e de suas varie-

    2 Informaes extradas do site do projeto (disponvel em . Acesso em: fev. 2012). 3 As orientaes metodolgicas de constituio do ALiB so as mesmas para a elaborao dos Atlas Lin-gusticos estaduais, a partir dos quais ele se constitui (cf. AGUILERA, 2005).

    4 A regional Paran do Projeto ALiB, coordenada pela Profa. Dra. Vanderci Aguilera (Universidade Esta-dual de Londrina), a responsvel pela constituio do corpus do Estado de So Paulo, dentre outros, tarefa para a qual conta, a partir de 2002, com o auxlio da Profa. Dra. Vandersi Santana de Castro (Universidade Estadual de Campinas), diretora regional das atividades do ALiB no Estado de So Paulo (cf. informaes disponveis no site do Projeto ALiB, disponvel em: . Acesso em: jul.2010).

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    dades lingusticas, tais como testemunhadas no Estado de So Paulo e em sua capital (CASTILHO, 2009, p. 15). Diante desse objetivo maior do Projeto Caipira, que se volta para os mais variados aspectos da formao do portugus paulista, possvel que, futu-ramente, ele venha a se beneficiar dos resultados de pesquisas sociolingusticas que vm se consolidando no interior de projetos em desenvolvimento nas universidades pblicas paulistas, carentes ainda de uma articulao em um programa sistematizado de pesquisas sociolingusticas sobre a fala paulista, como mostram as informaes contidas no quadro 1, a seguir.

    Quadro 1: Panorama da Sociolingustica no Estado de SP: estudos de variedades paulistas faladas5678910

    Local Grupo/Projeto Responsvel Variedades Paulistas Foco das pesquisasProduo na rea (PG)*

    Araraquara/UNESP

    Grupo de Estudos em Lingustica Histrica

    R.A.BerlinckO.G.A.Campos

    Regio Central do estado de SP (Ara-raquara, So Carlos e Itirapina). Coletas individuais.

    Variao e mudana: morfologia e sintaxe. Tempo real e tempo aparente.

    03 MEconcludos e 01 DO emandamento .6

    Campinas/Unicamp

    Projeto Estilos na cultura pop-ular urbana paulista

    A.C. Bentes

    Grupos de rappers da cidade de So Paulo. Banco de dados coletivo em fase de construo.

    Variao estilstica (lxico e texto). Comunidade de prtica.

    02 ME e 01 DOconcludos e 01 ME emandamento.7

    So Paulo/USP

    Grupo de Pesquisa Sociolin-gustica

    R.B. Mendes

    Cidade de So Paulo. Banco de dados coletivo em fase de construo.

    Variao e mudana. Variao estilstica. Identidade de grupo. Tempo aparente.

    03 MEconcludos e 01 ME e 01 DO emandamento .8

    Portugus popular de So Paulo

    A.C.S.Rodrigues

    Portugus popular da cidade de So Paulo e da baixada Santista. Coletas individuais.

    Variao e mudana. Tempo real e aparente.

    02 ME e 01 DOconcludos.9

    S.J.Rio Preto/Unesp

    Projeto: Amostra Lingustica do inte-rior paulista (ALIP)

    S.C.L.GonalvesR.G.CamachoL.E.Tenani

    Regio Noroeste do estado de SP. Banco de dados coletivo: 151 amostras estrati-ficadas socialmente e 11 amostras de intera-o. Disponvel em:

    Variao e mudana. Tempo real e tempo aparente. Comunidade de prtica (identidade de grupos).

    10 ME e 01 DOconcludos e 01 ME e 05 DO emandamento.10

    * PG: Ps-graduao; ME: mestrado; DO: Doutorado

    5 Constituiu fonte para extrao das informaes contidas neste quadro o currculo Lattes dos pesquisado-res referenciados na coluna 2, disponveis em: .Acesso em: fev.2012. 6 Monte (2007), Gameiro (2005), Oliveira (2010) e Monte (2011). Quatro outros trabalhos variacionistas conclu-dos consideram a variedade paulista em perspectiva diacrnica: Silva (2007), Balsalobre (2009) e Biazolli (2010).

    7 Granato (2011), Nogueira (2010), Rio (2010) e Domingues (2009).

    8 Coelho (2006), Oushiro (2011b), Nascimento (2011), Rocha (2010) e Oushiro (2011a).9 Pereira (2004), Modesto (2006) e Pereira (2007).

    10 Guiotti (2002), Santos (2005), Rubio (2008), Silveira (2008), Carmo (2009a), Ramos (2009), Fonseca (2010), Ferreira (2010), Salomo (2010), Fiamengui (2011), Rubio (2012), Marcato (2011), Wiedemer (2009), Fonseca (2011), Fortilli (2009), Carmo (2009b) e Salomo (2011).

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    Como se pode observar no quadro 1, por terem andado a passos lentos, as pesquisas sociolingusticas sobre a variedade paulista falada s muito recentemente vm se avolumando no estado de So Paulo. Nessa frente, desenvolvem-se projetos coletivos e/ou individuais, que se concentram em quatro pontos no estado. As informaes do quadro permitem constatar, de modo geral, que o avano de pesquisas sociolingusticas s se torna possvel mediante a composio de um banco de dados eletrnico compartilhado, uma das principais razes de, no estado de So Paulo, a maior produo na rea estar concentrada na UNESP de So Jos do Rio Preto. O que pretendo destacar nesse balano o quanto, de fato, j foi dado a conhecer de variedades do PB falado no estado de So Paulo, na medida em que o que se tem oferecido atualmente de descrio para essas variedades ainda no nos permite compor uma fotografia sociolingustica do estado, o que, portanto, permite avaliar como tmida a insero de estudos variacionistas das variedades paulistas do PB na Sociolingustica brasileira.

    com essa preocupao que, na prxima seo deste artigo, apresento apenas o esboo de um retrato sociolingustico do PB paulista, recorrendo a resultados de pesquisa desenvolvidas no mbito do Projeto ALIP (Amostra Lingustica do Interior Paulista). Para tanto, como aspectos scio-histricos da formao do portugus paulista, recorro a alguns traos lingusticos da fala paulista, registrados, no incio do sculo XX, por Amadeu Amaral, e que, presentes na fala do interior paulista, recebem hoje um tratamento variacionista.

    Remanescentes do dialeto caipira na fala do interior paulista: uma frente programtica de pesquisa sociolingustica

    O dialeto caipira uma variedade do Portugus Brasileiro, que compreende uma modalidade culta, praticada nos primeiros tempos pelos poucos habitantes alfabetizados, padres em sua maioria, e uma modalidade popular, tambm conhecida como lngua geral brasileira, continuadora do portugus no padro herdado dos portugueses. a lngua geral do Brasil caipira (MATTOS E SILVA, 2004, p. 78). A documentao colonial usa essa expresso em contextos como falar a lngua geral, usar a lngua geral, saber a lngua geral, referindo-se a um portugus simplificado, com interferncias das lnguas indgenas e tambm das lnguas africanas (MATTOS E SILVA, 2004, p. 79; 95). Essa lngua, uma mistura entre o tupi e vocbulos das lnguas portuguesa e espanhola, disseminou-se, sobretudo, no interior do Brasil, onde a represso lingustica era mais fraca, por falta de fiscalizao.

    Um dos trabalhos pioneiros que deu visibilidade fala caipira data de 1920. Trata-se da obra O dialeto caipira, de Amadeu Amaral (1976 [1920]), um extenso inventrio de caractersticas do portugus falado em So Paulo no incio do sculo XX, divergentes em termos fonticos, lexicais, morfolgicos e sintticos, tanto do portugus europeu quanto do portugus culto falado na antiga provncia trinta anos antes. Como comprovam os trabalhos de Rodrigues (1974) e de Careno (1997), continua vlida ainda hoje a sbia observao de Amadeu Amaral de que certos remanescentes do caipirismo mais antigo ainda flutuariam na linguagem de todo o estado de So Paulo, em luta com tantas outras tendncias criadas por novas condies.

    Embora os esteretipos do caipira e do falar caipira estejam hoje mais associados ao interior dos estados, o que se encontra de fato na rea urbana da regio noroeste de So

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    Paulo, delimitada por So Jos do Rio Preto e cidades circunvizinhas, parece estar cada vez mais distante do que existe no imaginrio popular. Os estudos j realizados no interior do Projeto ALIP (Amostra Lingustica do Interior Paulista) tm possibilitado a descrio do portugus falado no interior de So Paulo e, no contraste dialetal, revelado que certas caractersticas do caipirs j no so identificadas como marcas exclusivas da regio. No ambiente urbano, alm do famoso [r]-retroflexo forte trao do caipirs do interior paulista (GUIOTI, 2002) , algumas caractersticas observadas por Amadeu Amaral ainda persistem. Essa concluso, ainda que parcial, resultado de inmeras pesquisas que vm sendo desenvolvidas com base no banco de dados Iboruna (Rio Preto, em tupi guarani), que rene amostras de fala de 151 informantes do noroeste paulista (So Jos do Rio Preto, sede do projeto, e mais seis cidades que lhe fazem fronteira: Bady Bassitt, Mirassol, Guapiau, Cedral, Ipigu e Onda Verde).

    Passo, neste momento, exposio de alguns resultados que, ao mesmo tempo em que procuram esboar um retrato sociolingustico do noroeste paulista, revelam reminiscncias de traos do dialeto caipira, tais como descritos por Amaral (1976 [1920]).

    No plano fonolgico mais geral, Amaral (1976 [1920], p. 44-45) mostra que a fala caipira marcada pela presena de vrios processos fonolgicos envolvendo tanto vogais quanto consoantes, tais como:

    ditongao: rap[ai]z (rapaz), m[ei]s (ms), p[i]s (ps), n[i]s (ns), l[i]z (luz). alamento e/ou nasalizao de [e] e [i] em incio de palavra: [in]zame (exame), [in]gu (igual), [in]zempro

    (exemplo), [in]leio (eleio). reduo de ditongos em [ai], [ei] e [ou]: b[a], c[a]xa, p[a]xo, isqu[e]ro, p[e]xe, b[e]jo, p[o]co, t[o]ro,

    r[o]pa. alternncia entre [v] e [b]: [b]assra, [v]ite (bite), [b]erruga, [b]amo (vamos). rotacismo ou alternncia entre [l] e [r] em final de slaba: me[r], pap[r] a[r]ma (alma), qua[r]qu, c[r]

    aro, f[r](r), cump[r]to (completo). reduo de [r]-final: and, mui, esquec, subi, vap, Art. reduo de [s]-final: alfre, pire. afrese: parece (aparece), magina (imagina), rependeu (arrependeu), ranca (arranca), gibra (algibeira). apcope: ligite (legtimo). prtese: alembr (lembrar), avoar (voar), arripiti (repetir). epntese: Ing-a-laterra (Inglaterra), g-a-rampo (grampo). eptese: paletr (palet). mettese: perciso (preciso), pertende (pretende), purcisso (procisso), partelra (prateleira), aquer-

    dit (acreditar). hiprtese: agordo (algodo); cardao (cadaro).

    Como nem todos esses processos encontram-se descritos para o portugus do interior paulista, destaco trs deles envolvendo alamento e reduo de fonemas (o alamento em contextos de vogais pretnicas mediais, a sncope de vogais postnicas mediais e a reduo de gerndio), para os quais o Projeto ALIP j rene resultados sociolingusticos interessantes na comparao interdialetal.

    Segundo Amaral (1976 [1920]), no dialeto caipira, se verifica a realizao plena de [e] e [o] postnicos finais (como em aquel[e], est[e], pov[o], dig[o]), no ocorrendo alamento voclico, como se constata no portugus europeu, desde o sculo XVIII, mas

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    no no portugus paulista contemporneo, cujo alamento voclico parece constituir regra quase categrica, embora descries nessa direo precisem ainda ser feitas. Entretanto,Amaral registra a regra de alamento em contextos de vogais pretnicas mediais, [e]~[i] e [o]~[u], como em t[i]sra, T[i]odoro, p[i]queno, p[i]rigo, m[i]nino, c[u]zinha, d[u]mingo, ing[u]lir, t[u]ssir, como tambm se verifica no falar do interior paulista, como mostram os resultados de Silveira (2008), apresentados em destaque na Tabela 1, e comparados aos de outros dialetos do PB.

    Tabela 1: Alamento voclico de vogais pretnicas mediais de nomes no PB [e, o]~[i] e [o, u] (SILVEIRA, 2008, p. 94)

    Dialetos Alamento de /e/ Alamento de /o/S.J. Rio Preto (SP)(SILVEIRA, 2008) 13% 14%

    Porto Alegre (RS)(BISOL, 1981)

    22% 33%

    Belo Horizonte (MG)(VIEGAS, 1987)

    33% 31%

    Nova Vencia (ES)(CLIA, 2004) 14% 20%

    Bragana (PA)(FREITAS, 2001)

    14% 26%

    Joo Pessoa (PB)(PEREIRA, 2004) 34% 35%

    Salvador (BA)(SILVA, 1991) 20% 25%

    O que se observa na comparao interdialetal que, de modo geral, o alamento de vogais mdias pretnicas nos nomes menos frequente na fala do interior paulista, sem distino significativa entre vogal anterior [e] e posterior [o]. Nesse aspecto, em relao a outros dialetos, pode-se considerar certo distanciamento do dialeto riopretano em relao aos demais considerados. Se, por um lado, no alamento de [e], o dialeto riopretano se aproxima da fala de Nova Vencia (ES) e da de Bragana (PA), por outro lado, se diferencia delas, consideravelmente, com relao ao alamento de [o].

    Segundo Silveira (2008), atuam na regra de alamento das vogais mdias pretnicas mais fatores estruturais (tais como consoantes adjacentes, contiguidade e tonicidade da vogal seguinte pretnica) do que fatores sociais, embora a autora s tenha considerado a varivel faixa etria, para a qual os resultados indicam tratar-se de fenmeno pouco produtivo, de variao estvel na comunidade investigada e sem qualquer estigma social.

    Na considerao dos contextos de vogais postnicas mediais, dois processos fonolgicos registrados por Amaral (1976 [1920]) ocorrem na fala do interior paulista: o alamento e a sncope de vogais postnicas mdias, como se verifica em r.[vo].re vs. r.[vu].re e em r.[vo].re vs. ar.[vre], respectivamente. Os resultados da regra varivel para esses dois fenmenos so apresentados por Ramos (2009), e aqui transcrevo no Quadro 2, a seguir, somente os resultados para os condicionantes sociais e estruturais do apagamento das postnicas mediais em diversas variedades do PB. Como se pode observar nesse quadro,

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    o processo de apagamento de postnicas mediais pouco produtivo na fala do interior paulista (8%), quando comparado s frequncias de aplicao nos demais dialetos, o que pode ser indicativo de um distanciamento da fala do interior paulista da presena marcante desse trao lingustico do dialeto caipira, como registrado por Amaral (1976 [1920]). Alm disso, o que se observa na comparao interdialetal que variveis sociais atuam sutilmente sobre o apagamento de postnicas mediais na fala do interior paulista, mas no nos outros dialetos do PB, para os quais se mostra mais relevante a atuao de variveis estruturais sobre o fenmeno.

    Quadro 2: Variveis relevantes para o apagamento de vogais postnicas mediais no PB (r[vo]re vs. arvre) (RAMOS, 2009, p. 101)

    DialetosVariveis

    SJ Norte (RS)AMARAL (2000)

    S.J.Rio Preto (SP)RAMOS (2009)

    Sap (PB)SILVA (2006)

    Sudeste de GOLIMA (2008)

    Ling

    ust

    icas

    Consoante seguinte 1./tepe/1./lateral, tepe/

    1./lateral/

    1./tepe/

    Consoante precedente 7./velares/3./s, z/

    4./s, z/

    2./velares/

    Trao de articulao da vogal

    4./coronal/

    2./dorsal/

    2./coronal/

    3./coronal/

    Estrutura da slabaTnica

    5./aberta/ No selecionada

    5./fechada/

    4./fechada/

    Extenso da palavra No selecionada No selecionada3./proparoxtona + de 3 slabas/

    -

    Soci

    ais

    Sexo 6. - 3. 2.

    Escolaridade 2./menor nvel/ No selecionada1./menor nvel/

    1./menor nvel/

    Faixa etria3. /mais velhos/

    4./mais velhos/

    2./mais velhos/

    No selecio-nada

    Frequncia de aplicao 23% 8% ? 26%

    Ainda no plano fontico-fonolgico, outro trao do portugus caipira apontado por Amaral (1976 [1920]) e descrito para a variedade paulista a reduo da sequncia [-ndo]~[-no], cuja regra varivel, na fala do interior paulista, se aplica somente em contextos de gerndio e barrada nos demais contextos pontencialmente favorveis implementao do processo de reduo, como mostrado em (01) (FERREIRA, 2010).

    (01) a. manda[ndo]~manda[no], ve[ndo]~ve[no] (v. ver), parti[ndo]~part[ino] *b. ma[ndo]~ma[no] (v. mandar.pres.ind), ve[ndo]~ve[no] (v. vender.pres.ind.).

    *c. Arma[ndo]~Arma[no] (nome prprio), qua[ndo]~qua[no], treme[ndo]~treme[no] (adj.), li[ndo]~li[no]

    O que se observa pelos exemplos mostrados em (01) que a regra de reduo da sequncia [ndo], no dialeto em questo, nunca atinge a raiz lexical do vocbulo, preservando sua estrutura de base (FERREIRA, 2010). Os resultados sociolingusticos para esse fenmeno so os apresentados na Tabela 2, a seguir, transcritos de Ferreira (2010).

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    Tabela 2: Percentual de aplicao do apagamento de [d] em morfema de gerndio em diferentes variedades do PB (FERREIRA, 2010, p. 96)

    Cidades

    Noroeste Paulista(SP)

    (FERREIRA, 2010)

    Rio de Janeiro (RJ)

    (MOLLICA, 1989)

    Palmeira dos ndios (AL)

    (SILVA, 2006)

    Custdia(PE)

    (AMARAL, 2008)

    Joo Pessoa (PB)

    (MARTINS, 2001)

    Aplicao 716/999(72%)

    1257/4101(31%)

    11/16(69%)

    326/511(64%)

    2275/3892(58%)

    Esses resultados devem ser interpretados com certo cuidado, tendo em vista que a estratificao social de cada uma das amostras nem sempre coincidente, principalmente no tocante faixa etria dos informantes e ao nvel de escolaridade. De qualquer modo, pode-se observar que, mesmo desconsiderando os resultados de Silva (2006 apud FERREIRA, 2010), em razo do baixo nmero de ocorrncias, o comportamento dos falantes do interior paulista se aproxima mais do apresentado pelos falantes da variedade nordestina, dada a produtividade da regra de apagamento do gerndio. Dessa comparao interdialetal envolvendo variedades geograficamente descontnuas, pode-se inferir que a regra de apagamento de gerndio bastante produtiva no PB e constitui trao predominante da fala do interior paulista. Como mostra Ferreira (2010), variveis sociais atuam fortemente em favor da variante [no] na variedade paulista, como revelam os grficos a seguir, elaborados em funo dos pesos relativos, para as variveis faixa etria, sexo/gnero e escolaridade.

    Figura 1: Pesos relativos da reduo do gerndio para as variveis faixa etria, escolaridade e sexo/gnero (FERREIRA, 2010)

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    A atuao dos fatores sociais aponta estigma da variante no-padro na comunidade de fala do interior paulista. Resultados muito semelhantes para essas mesmas variveis so mostrados pelos autores que investigaram as variedades faladas no nordeste do Brasil (MARTINS, 2001; SILVA, 2006; AMARAL, 2008 apud FERREIRA, 2010). A exceo fica por conta dos falantes do dialeto carioca que, na considerao da varivel idade, apresentam frequncia de reduo mais alta entre falantes mais velhos (MOLLICA, 1989 apud FERREIRA, 2010).

    No plano morfossinttico, tomando como exemplificao da reminiscncia na fala do interior paulista de alguns traos morfossintticos identificados por Amaral (1976 [1920]), interessa, nesse passo, mostrar apenas como variveis lingusticas e sociais atuam no uso varivel da primeira pessoa do discurso no plural (1PP). Mostro, assim, resultados gerais para trs fenmenos variveis: (i) codificao de 1PP pelas formas ns e a gente, (ii) concordncia verbal com o pronome ns (1PP x 3PS) e (iii) concordncia verbal com a forma pronominal a gente (1PP x 3PS). Os resultados so os mostrados no Quadro 3, transcritos de Gonalves e Rubio (2011).

    Quadro 3: Atuao dos fatores lingusticos e sociais em fenmenos variveis relacionados 1PP do discurso na fala do noroeste paulista

    FenmenoVarivel

    Alternnciapronominal

    Concordnciaverbal

    Ns x A gente Ns + 1PP/3PS A gente + 1PP/3PS

    Ling

    ust

    icos Salincia fnica verbal 1 2 1

    Grau de determinao do sujeito 4 no selecionada 2

    Tempo e modo verbal 5 no selecionada 3

    Soci

    ais Escolaridade 3 1 no selecionada

    Faixa etria 2 3 4

    Gnero 6 4 no selecionada

    Diante desse quadro, a forte influncia dos fatores sociais escolaridade, idade e gnero sobre a CV com ns leva concluso de que determinadas faixas sociais tm maior conscincia do fenmeno do que outras. Para a CV com a gente, a seleo apenas da varivel social idade evidencia que o falante menos consciente do fenmeno, sendo este regulado mais por fatores lingusticos do que por fatores sociais. Em relao alternncia entre as formas pronominais ns e a gente, evidencia-se a influncia simultnea tanto de fatores sociais (escolaridade, idade e gnero) quanto de lingusticos (salincia fnica, grau de determinao do sujeito e tempo e modo verbal).

    No nvel sinttico, Amaral (1976 [1920], p. 72-81) registra a presena de vrios processos variveis ocorrentes no dialeto caipira e tambm em outras regies do pas:

    referncia genrica marcada pela ausncia de artigo: cavalo tava rinchando / macaco assubi no pau.

    Uso de pronome oblquo em construes com para + infinitivo: le trxe uas fruita pra mim cum(r).

    formas pronominais de nominativo em contextos de acusativo (Peguei ele, enxerguei elas), com o lhe usado exclusivamente para se referir 2 pessoa do discurso (eu j lhe falei (ao senhor, a voc) / fulano me assegurou que lhe escrevia (a voc, ao senhor)).

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    em contextos de oraes relativas, diferentes estratgias de relativizao, como descreveu Tarallo (1983), a saber: relativa com pronome resumptivo ou relativa copiadora (A casa que eu morei nela) e relativa cortadora (a casa que eu morei, o livro que eu falei), todas construdas unicamente com o relativo que, seja qual for o constituinte da sentena relativizado: o cavalo que me virum cum le aqule dia (o cavalo com o qual me viram aquele dia) / a pessoa que se falava dela (a pessoa de quem se falava) / o home que eu comprei as terra dele (O homem cujas terras comprei).

    extenso de sentido de alguns verbos, para a formao de construes existenciais, temporais e de qualificao: ter por haver (tinha muita gente na egreja / tem home que no gosta de caada), fazer por haver, (j fiz mais de ano que eu no vos vejo / estive na sua casa fiz quinze dia), chamar, com o sentido de qualificar (me cham de rim / me chamava de ladro).

    emprego de dupla negao: nem eu num disse / ningum num viu / ninhum num fica / no quero no / num vou no.

    emprego da preposio em na indicao de lugar para onde: eu fui em casa / Ia na cidade / juguei a pedra ngua / chegou na janela / vort no stio.

    ausncia de preposio na indicao de tempo: fui l una segunda feira (numa segunda-feira) / dia 5 ele vem (no dia 5) / nunca est em casa hora de cumida (na hora de...).

    emprego de frmulas especiais para expresso de causa: por amor de (e variantes: pramor de / pramr de / pra mode / mor de /m de) e por causo de (por causa de), como em hei di na vila dumingo pramr / mor de / m de ver se compro os perciso.

    Nenhum desses fenmenos de nvel sinttico encontra-se investigado na fala do interior paulista. Entretanto, outros fenmenos variveis presentes nessa variedade no se encontram registrados em Amadeu Amaral, tais como: variao entre futuro sinttico e futuro analtico (FONSECA, 2010), variao nas formas de expresso de aspecto cursivo (FERNANDES, 2010), variao na contrao de preposies (MARCATO, 2011) e reduo de cpula em oraes matrizes predicativas (FORTILLI, 2009).

    Encerra a preciosssima obra de Amadeu Amaral um extenso vocabulrio da fala caipira cuidadosamente recolhido de vrios cantos do estado por onde esteve o autor ou de onde originavam seus informantes: Capivari, Piracicaba, Tiet, Itu, Sorocaba e So Carlos (DUARTE, 1976).

    E para concluir ... Dominando em absoluto a grande maioria da populao paulista, o dialeto caipira,

    esse vernculo inconfundvel e repleto de feios vcios de linguagem espalhados pelos vrios nveis da lngua, estendeu sua influncia fala da prpria minoria culta. A esse respeito, Amaral registra logo na introduo de sua obra:

    Quando se tratou, no Senado do Imprio, de criar os cursos jurdicos no Brasil, tendo-se proposto So Paulo para sede de um deles, houve quem alegasse contra isto o linguajar dos naturais, que inconvenientemente contaminaria os futuros bachareis, oriundos de diferentes circunscries do pas... (AMARAL, (1976 [1920], p. 41)

    Alm do extenso trabalho de cunho descritivo, Amadeu Amaral previu a extino, em prazo mais ou menos breve, do caipirismo, incluindo a lngua e os costumes, com a justificativa de que os grandes avanos no campo da educao, da indstria, do comrcio, das vias de comunicao, das relaes exteriores, etc. responderiam pelas transformaes no meio social e, por consequncia, no modo caipira de falar, o que dificultaria encontrar representantes genunos do dialeto, mesmo no interior do Estado. J no haveria nada

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    to comum como se verem rapazes e crianas cuja linguagem divirja profundamente da dos pais analfabetos (p. 42). Ainda que esses avanos possam no ter atingido na mesma medida o interior do estado de So Paulo, preservando a uma diversidade dialetal em relao ao portugus falado na capital ou nos centros urbanos, no difcil perceber que muitas das caractersticas descritas por Amaral para a fala caipira no incio do sculo passado ainda persistem nos falares das diferentes regies no s do estado de So Paulo, mas tambm de todo o Brasil, como procurei mostrar na seo precedente.

    Com base nas observaes de Amaral (1976 [1920]), uma frente programtica de pesquisa poderia fazer avanar ainda mais, e de modo mais articulado, a pesquisa socio-lingustica no s no estado de SP, mas tambm em outras regies do pas, articulao que vem se mostrando produtiva e necessria, como bem tm demonstrado projetos como o ALiB e o PROBRAVO, no mbito da Sociolingustica e da Dialetologia, e o PHPP e o PHPB, no mbito da Lingustica Histrica.

    Projetos pioneiros para o conhecimento da variedade paulista falada, como o de Amadeu Amaral (1976 [1920]), ao qual, passados meio sculo, seguiram-se o de Rodrigues (1974), o de Careno (1997), e mais recentemente, o de Castilho (2009), revelam a importncia de se tomar conhecimento do patrimnio cultural da variedade paulista do PB, e, mais amplamente, da diversidade lingustica brasileira, que ainda est longe de ser conhecida na sua totalidade, apesar de tudo que j se produziu.

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