a sociedade indígena na Época da chegada dos portugueses

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  • 7/21/2019 A Sociedade Indgena Na poca Da Chegada Dos Portugueses

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    A sociedade indgena na poca da chegada dos portugueses.

    O primeiro contato entre ndios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza paraambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os ndios que viviam naquela poca, graasa Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivo da expedio de Pedro lvares Cabral ) e tambaos documentos deixados pelos padres jesutas.

    Os indgenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caa, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijo, abbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a tcnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).

    Os ndios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato ecapivara. No conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha relatadoque os ndios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.

    As tribos indgenas possuam uma relao baseada em regras sociais, polticas e religio. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimnias de enterro e tambm no momento de estabelecer alianas contra um inimigo comum.

    Os ndios faziam objetos utilizando as matrias-primas da natureza. Vale lembrar quendio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessrio para a su

    a sobrevivncia. Desta madeira, construam canoas, arcos e flechas e suas habitaes (oa). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. Acermica tambm era muito utilizada para fazer potes, panelas e utenslios domsticos m geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para ascerimnias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.

    1. Introduo: Grafismos Indgenas

    O grafismo dos grupos indgenas sempre chamou a ateno de cronistas e viajantes, desde a chegada dos primeiros europeus ao Brasil. Alm da beleza dos desenhos, o que surpreendia os no-ndios era a insistncia da presena desses grafismos. Os ndios semppintavam o prprio corpo e tambm decoravam suas peas utilitrias.

    No entanto, durante muito tempo essas pinturas foram pouco estudadas pelos europeus. Eram consideradas apenas uma atividade ldica, sem maiores significados dentro da cultura indgena a no ser o mero prazer da decorao. H algumas dcadas, estudioerceberam que o grafismo dos povos indgenas ultrapassa o desejo da beleza, trata-se sim, de um cdigo de comunicao complexo, que exprime a concepo que um grupo indtem sobre um indivduo e suas relaes com os outros ndios, com os espritos, com o meonde vive...

    Esse boletim fala um pouco sobre esses desenhos indgenas. Para que servem algunsdeles e algumas histrias que os ndios contam sobre sua arte.

    2. Significado de alguns Grafismos

    "Por qu voc pinta seu corpo ?" - perguntou um missionrio europeu a um ndio.

    "E voc ? Por qu no se pinta ? Quer se parecer com os bichos ?" - respondeu o ndio

  • 7/21/2019 A Sociedade Indgena Na poca Da Chegada Dos Portugueses

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    Esse um dilogo real, acontecido no sculo XVIII e registrado pela histria. O indgedeu um dos significados, talvez o mais bsico, de suas pinturas: diferenciar-se deoutros seres da Natureza. O ndio pode se pintar. Quando quiser. Nenhum outro animal consegue modificar sua aparncia, usando meios que no o prprio corpo, apenas pelo desejo de se embelezar, ou se destacar dos demais.

    Os ndios, e tambm todos os homens de qualquer etnia, conseguem opor sua opo cultura realidade da Natureza. Nas discusses em que os filsofos questionam o que diferencia o homem dos outros animais, a resposta alcana sempre a arte. Somente os homenscriam obras artsticas; sejam pinturas, msicas, histrias, etc...

    Em resumo: quando o ndio pinta seu prprio corpo, ele demarca seu lugar dentro de seu mundo. E o faz com rara beleza. O antroplogo Darcy Ribeiro escreveu que o corpo humano "a tela onde os ndios mais pintam e aquela que pintam com mais primor".

    Para certas etnias, os grafismos possuem uma outra funo: indicar se o indivduo pertence a um determinado grupo dentro da sociedade indgena.

    Alguns povos indgenas dividem suas aldeias em duas metades. Qualquer ndio desses povos pertence a uma metade ou outra, e fazer parte de cada uma dessas metades implica em direitos e deveres especficos. Os ndios Xerente que vivem no norte do estado do Tocantins so um exemplo. Eles dividem sua sociedade nas metades Sdakr, identificada com a Lua; e metade Siptato, identificada com o Sol. Cada metade possuium grafismo especfico: os ndios Sdakr pintam o corpo sempre com traos horizontais,

    enquanto os ndios da metade Siptato usam apenas os traos verticais. Cada uma dessas metades dividida em vrios cls diferentes e para cada cl h tambm um padro de gexclusivo: traos finos, traos grossos, crculos, etc... Isso significa que um Xerente, ao pintar o prprio corpo, identifica-se perante os outros membros de sua comunidade.

    Os ndios Kadiwu, do Mato Grosso do Sul, tambm utilizavam os grafismos de seu povo como identificaes internas em sua sociedade. So desenhos to elaborados, que chamarama ateno de vrios pesquisadores. At o incio do sculo XX, os grafismos eram tatuadocorpo. Hoje em dia so pintados com o suco do jenipapo principalmente nas celebraes.Abaixo est a foto de uma ndia Kadiwu e ao lado uma cermica desse povo. Os padres dos na pintura corporal so utilizados tambm na decorao dos objetos feitos pelos nd.

    Enquanto ndios de alguns grupos utilizam os grafismos pintados no corpo para se diferenciar dentro de sua sociedade; os no-ndios utilizam roupas para essa mesma funo. Sabemos que alguns homens so militares ou religiosos pelas roupas que usam. coum tambm que pessoas com muito dinheiro usem roupas caras, para que sejam reconhecidas como abastadas.

    Por fim, uma terceira funo para os grafismos indgenas a identificao tnica de cao. As pinturas que os ndios do Xingu usam no corpo e em seus objetos, so completamente diferentes dos grafismos de ndios que vivem no norte do Amazonas, por exemplo. possvel com um pouco de prtica, reconhecer a qual etnia pertence algum objeto apartir da decorao do mesmo.

    A seguir vo peas feitas por ndios do Xingu. Apesar dos desenhos serem diferentes, ossvel verificar um padro grfico semelhante neles: