a segunda metade do século xix, é marcada por um avanço...

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Primer Congreso Latinoamericano de Historia Económica IV Jornadas Uruguayas de Historia Econômica O processo de formação dos estados nacionais europeus nos séculos XIX e XX, e a imigração para o Brasil: fronteira e identidade. Naiani Machado da Silva 1 Maria Medianeira Padoin 2 Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Introdução Este trabalho refere-se aos resultados preliminares do projeto de pesquisa de iniciação científica que tem como tema central o estudo da formação dos Estados nacionais alemão, italiano e polonês, nos séculos XIX e XX e o processo de emigração de parte de sua população para o Brasil e especialmente para a região sul. Desta forma, pretende-se, em um primeiro momento, apresentar algumas informações sobre a constituição do Estado Nacional Italiano e a imigração italiana no Brasil. Situando o estado italiano, é mister apresentar alguns dados gerais da atualidade, pois quando se fala em Itália, imigração italiana, italianidade, vem a mente a configuração e situação atual do estado italiano. Assim, a Itália localiza-se na região que compreende a península itálica, encontra-se no continente europeu, Europa ocidental. Internamente, em seu território, existem dois Estados independentes: a República de San Marino e o Vaticano. Além disso, também fazem parte do Estado Italiano, as ilhas de Sicília, Sardenha e Elba 3 . Ademais, a Itália é conhecida pelo fato de sua forma geométrica lembrar uma bota. Atualmente, o estado é dividido politicamente em 20 regiões, onde se encontram 109 províncias, estas, por sua 1 Acadêmica do Curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e bolsista FIPE de Iniciação Científica 2007. 2 Professora e Orientadora do Projeto de Iniciação Científica. Professora Adjunta ao Departamento de História da UFSM, Brasil; Doutora em História. 3 Informações extraídas do site http://pt.wikipedia.org/wiki/It %C3%A1lia#Pol.C3.ADtica, 11 de outubro de 2007.

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Primer Congreso Latinoamericano de Historia EconómicaIV Jornadas Uruguayas de Historia Econômica

O processo de formação dos estados nacionais europeus nos séculos XIX e XX, e a imigração para o Brasil: fronteira e identidade.

Naiani Machado da Silva1

Maria Medianeira Padoin2

Universidade Federal de Santa [email protected]

Introdução

Este trabalho refere-se aos resultados preliminares do projeto de pesquisa de iniciação científica que tem como tema central o estudo da formação dos Estados nacionais alemão, italiano e polonês, nos séculos XIX e XX e o processo de emigração de parte de sua população para o Brasil e especialmente para a região sul.

Desta forma, pretende-se, em um primeiro momento, apresentar algumas informações sobre a constituição do Estado Nacional Italiano e a imigração italiana no Brasil.

Situando o estado italiano, é mister apresentar alguns dados gerais da atualidade, pois quando se fala em Itália, imigração italiana, italianidade, vem a mente a configuração e situação atual do estado italiano.

Assim, a Itália localiza-se na região que compreende a península itálica, encontra-se no continente europeu, Europa ocidental. Internamente, em seu território, existem dois Estados independentes: a República de San Marino e o Vaticano. Além disso, também fazem parte do Estado Italiano, as ilhas de Sicília, Sardenha e Elba3. Ademais, a Itália é conhecida pelo fato de sua forma geométrica lembrar uma bota.

Atualmente, o estado é dividido politicamente em 20 regiões, onde se encontram 109 províncias, estas, por sua vez, se dividem em 8.101 municípios. O Estado faz fronteira ao norte com a Suíça e Áustria, a leste com Eslovênia e com o Mar Adriático, ao sul com o Mar Mediterrâneo, o Mar Tirreno e com o Mar da Ligúria, e por fim, limita-se a oeste com a França4.

A forma de governo é a República Parlamentarista, estabelecida pela constituição de 1948. O país possui cerca de 57 milhões de habitantes (dado retirado do censo italiano do ano de 2000), seu nome oficial é “República Italiana”, e a língua nacional oficial é o italiano, sua composição populacional é 97,7 % de italianos (Censo italiano de 1996), e se trata de uma economia capitalista, tendo como moeda oficial o Euro.

1 Acadêmica do Curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e bolsista FIPE de Iniciação Científica 2007.2 Professora e Orientadora do Projeto de Iniciação Científica. Professora Adjunta ao Departamento de História da UFSM, Brasil; Doutora em História.3 Informações extraídas do site http://pt.wikipedia.org/wiki/It%C3%A1lia#Pol.C3.ADtica, 11 de outubro de 2007.4 Informações extraídas do site http://pt.wikipedia.org/wiki/It%C3%A1lia#Pol.C3.ADtica, 11 de outubro de 2007.

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Figura 1 – Itália dividida em regiões. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/db/Regionen_in_Italien_beschrifte.png

Figura 2 – Mapa Italiano. Fonte: http://www.italia-viagem.com/mapa.htm

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Quanto à economia italiana os quadros5 abaixo explicitam, de forma geral, a produção predominante, onde o setor de serviços predomina na contribuição do PIB com 66%, seguido pela indústria com 31%.

Produção:

Agrícolas Pecuária Mineração Indústria

BeterrabaUvaMilhoTomateTrigo

BovinosSuínosAves

PetróleoSal rochosoFeldspatoLinhitoPedra-pome

MáquinasRefino de petróleoAlimentíciaMetalúrgicaQuímica

Quadro 1 – Relação da produção do Estado Italiano.

PIB de US$ 1,2 trilhão

PIB SETOR3% Agropecuária31% Indústria66% Serviços

Quadro 2 – PIB Italiano dividido por setores de produção.

Com base no quadro acima, ainda cabe mencionar que, dentro do setor terciário, o de serviços, o qual é o maior contribuinte para o PIB italiano, destacam-se as seguintes atividades: turismo, comércio, serviços públicos e governamentais, tais como atividades militares e administração pública, serviços pessoais, comunitários e sociais. Dentre estes, o turismo é o principal dinamizador da economia italiana, sendo a maior fonte de renda terciária do país, agindo, conjuntamente, com os demais serviços6.

Um dos principais problemas deste país são as diferenças entre o norte e o sul, há um norte industrializado e desenvolvido, dominado por empresas privadas, e um sul que depende da agricultura, com um desenvolvimento mais baixo que o norte e uma taxa de 20% no que se refere ao desemprego. Ademais, grande parte das matérias-primas que necessitam ser importadas, assim como 75% da energia consumida.

Entretanto, a história do Estado Italiano não foi sempre assim.A unificação do estado nacional italiano em 1861 levou a constituição de seus

limites políticos, que somente se completará após a primeira Guerra Mundial. Foi neste período, entre o inicio de sua unificação e a consolidação da mesma, que o Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, recebeu grandes contingentes de imigrantes vindos do estado italiano.

A imigração italiana foi conseqüência de vários problemas de caráter político-econômico e social que assolaram a população do território europeu no século XIX; período que compreende o processo de unificação do Estado italiano.

5 Essas informações foram retiradas do site http://www.portalbrasil.net/europa_italia.htm, 10 de outubro de 2007.6 Essas informações foram retiradas do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_da_It%C3%A1lia, 15 de outubro de 2007.

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A partir das idéias de Eric J. Hobsbawm, em “Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade” (1190, p. 36), no qual ele afirma que o século XIX foi marcado pelo avanço do nacionalismo, essencialmente liberal. Desta forma, a idéia de nação e de nacionalidade passava a ser ligada, inevitavelmente, ao território em que sua expressão máxima era o Estado.

Economistas liberais alemães, inspirados nas idéias de Hamilton, estabeleceram que para ser considerado uma nação, esta teria que ter um tamanho suficiente, pois só assim poderia se desenvolver como tal. Esse critério de nação ficou conhecido como “principio do ponto crítico”.

Evidentemente, esse critério deixava as “pequenas nações”, sem opção para seu desenvolvimento, a não ser se fundir a uma nação já estabelecida e potencialmente dentro dos padrões do nacionalismo liberal.

Até meados da década de 1870, o nacionalismo foi definido de tal maneira, de forma que o próprio Mazzini, inspirador da unificação italiana, tinha no “principio do ponto crítico” o centro de suas idéias. Entretanto, nos últimos quarenta anos que precederam a primeira Guerra Mundial, período de apogeu do nacionalismo, ocorreram transformações na definição, ou melhor, nos critérios de nacionalismo.

Sendo assim, a formação, a unificação do Estado nacional italiano, se insere no período descrito acima, e foi, na verdade, um exemplo das transformações ocasionadas pelo avanço do nacionalismo vinculado ao modelo do estado nacional moderno e liberal, tendo passado por um longo processo até sua unificação, onde tiveram a participação de agentes, como o liberal Mazzini, Cavour e Giuseppe Garibaldi.

Tais acontecimentos mostraram-se muito importantes na constituição dos Estados nacionais, entre outros aspectos, porque teve conseqüências na economia de diversos países, merecendo, assim, uma análise um pouco mais profunda do tema, a partir do Estado Italiano, que é justamente o que se busca fazer no presente.

1 O processo de unificação do Estado italiano

Até a segunda metade do século XIX, grande parte de suas províncias estavam sobre domínio de outros estados e impérios, entre eles, a Áustria, a qual dominava a Lombardia e o Vêneto. A Igreja Católica Apostólica Romana dominava e governava os Estados Pontifícios, em que a autoridade do Papa chegava até os mares adriaticos. No sul os Bourbons governavam as duas Sicílias.

Além disso, os governos eram absolutistas, com exceção do reino do Piemonte-Sardenha, que tinha um governo de caráter liberal, e se encontrava no norte da Itália. Mais uma vez, para a melhor compreensão da Itália no século XIX, faz-se interessante a visualização do seguinte mapa, que mostra o panorama italiano antes da unificação:

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Figura 3 – Itália antes da Unificação. Fonte: DUBY, Georges (1987). Atlas Histórico Mundial. Debate, Madrid, p. 154.

Figura 4 – Península Itálica antes da Unificação. Fonte: BRIGGS, Asa, CLAVIN, Patrícia (1997). Historia Contemporánea de Europa, 1789 – 1989. Tradução: Jordi Ainaud. Crítica, (Grijaldo Mondadori, S.A), Barcelona, p. 117.

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Não obstante os fatos anteriores, os movimentos nacionalistas, na primeira metade do século XIX, se tornavam cada vez mais intensos, tendo como finalidade formar um Estado-Nação com base na interpretação mais recente do termo. Neste sentido, fundamenta-se na afirmação de Hobsbawm na obra intitulada “Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade”:

Assim considerada, a “nação” era o corpo de cidadãos cuja soberania coletiva os constituía como um Estado concebido como sua expressão política. Pois, fosse o que fosse uma nação, ela sempre incluiria o elemento da cidadania e da escolha ou participação de massa. (1990, p. 31)

Para atingir tal objetivo, o de formar uma nação, era necessário que a península itálica estivesse unificada. A partir da década de 1870, após sua unificação territorial, outros critérios ligados ao nacionalismo e a constituição do estado, como o etnolinguistico, começam a ser discutidos entre as elites italianas.

Antes da formação do estado moderno italiano a península itálica era dividida e subjugada, e o povo, o qual viria mais tarde a ser o povo italiano, falava dialetos diferentes entre si. Atualmente, a Itália, apesar de ainda estar muito perceptível as particularidades de cada uma de suas regiões, é unificada e apresenta apenas uma língua como oficial.

Essa grande diversidade das regiões italianas é conseqüência dos diferentes povos que se estabeleceram na península itálica desde a era paleolítica, e que vieram a formar a etnia italiana.

Para melhor compreender a formação do povo italiano fundamentou-se especialmente na pesquisa bibliográfica em Fausto Monti e Renzo Biagini, na obra intitulada “La Storia Dell’Uomo”: “Anche la popolazione dell’Italia derivò dalla fusione di popoli di origine mediterranea, presenti sin da un’etá remotissima, com popoli di origine indoeuropea che penetrarono nel paese piú tardi, dopo il 2000 a.c.”

Entre os povos se destacam cinco: os itálicos, os etruscos, os gregos, os celtas e os romanos. Ademais, a população original da península, era provavelmente, uma combinação da civilização etrusca, com os povos itálicos. No entanto, a provável origem dos etruscos seja dos povos mediterrâneos.

Além destas diferenças, outras questões vinham tornar complexa a questão da unificação. Isso se dava, pois, mesmo entre os líderes da unificação havia também divergências.

Camilo di Cavour, o qual foi o “conquistador” da unificação no norte, e era, no período da unificação, o primeiro ministro do reino de Piemonte-Sardenha, almejava uma Itália Unificada e Monárquica, além de não ser adepto aos revolucionários como Giuseppe Mazzine e Giuseppe Garibaldi, que eram republicanos e foram os expoentes da unificação no sul da península itálica. Para compreender melhor Cavour, temos as idéias de Asa Briggs e Patrícia Clavin na obra intitulada “História contemporânea da Europa”:

A pesar de ser el director de Il Resorgimento7, despreciaba a los revolucionarios frenéticos, feroces y absurdos. [...] Cavour no simpatizaba en absoluto com los revolucionarios italianos al estilo de Mazzini. (1997, p. 146)

Por outro lado, os agentes da unificação começada pelo sul, Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, almejavam uma unificação que formasse uma República democrática no Estado Italiano.7 “Il Resorgimento” era o nome do jornal o qual Cavour foi o fundador e era o diretor. Este era um jornal de caráter liberal, criado para construir uma Itália unida e monárquica.

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Sendo assim, o processo de unificação do Estado italiano que teve início na década de 1860 e foi concluído em 20 de setembro de 1870, devido à anexação de Roma, trouxe grandes transformações tanto na política, quanto na economia, já que esta última teve seus recursos bastante ampliados, ocorrendo o mesmo no setor militar.

Para desenvolver a economia italiana, uma das estratégias foi adotar uma política externa imperialista por meio da criação de um império colonial na África, onde ficou sob domínio italiano a Eritréia, Somália Italiana e a Líbia.

Entretanto, na segunda metade do século XIX, quando as mudanças ocasionadas pelo avanço do nacionalismo começaram a ocorrer, como os processos de unificação do norte e do sul, os problemas que surgiram foram muitos, e isso não diz respeito apenas à Itália, mas sim era uma situação presente em grande parte da Europa, conforme explica Rodrigo Elias no artigo intitulado “Braços para fazer um país”, presente na Revista Nossa História:

A Europa (e, pouco depois, a Ásia) começava a conviver com grande excedente populacional. Melhorias na agricultura e queda nas taxas de mortalidades ao longo do século XIX contribuíram para que ocorresse o que os estudiosos chamam de “transição demográfica”, ou seja, a taxa de crescimento da população aumentou drasticamente. [...] Um salto de mais de 600%, que não foi acompanhado pela estrutura produtiva: entre 1840 e 1890, a produção agrícola da Europa apenas dobrou e o contingente populacional empregado subiu de 50 para 66 milhões (pouco mais de 15%). Ao mesmo tempo, porém, a mobilidade das pessoas foi facilitada pelas ferrovias e embarcações a vapor. (2005, p. 14).

Assim, a formação e estruturação dos estados nacionais, conforme Loraine Slomp:

Ao período da expansão do liberalismo econômico corresponde, também, a expansão do nacionalismo. A importância deste é tão grande na economia, quanto na política. Neste último aspecto vai determinar a extinção gradativa dos antigos impérios absolutistas e a reorganização dos estados, que servirão à nova ordem sócio-econômica. Esta reorganização política européia gerará, não só uma nova divisão territorial, como outra, bem mais séria, o problema da assimilação da população dominada pelas potências dominadoras. (1980, p. 49)

1.2 O Ressurgimento

O Risorgimento, na Itália foi um movimento do século XIX, entre 1815 e 1870, que surgiu como conseqüência da oposição dos italianos ao domínio austríaco, e esse sentimento passou a se manifestar na forma de um nacionalismo, que buscava a unidade nacional. Como conseqüência das idéias dos revolucionários que almejavam a unidade nacional criou-se as sociedades secretas e também o movimento da Jovem Itália.

Giuseppe Mazzini, um dos agentes da unificação no Sul, pretendia libertar as regiões italianas do domínio austríaco e unificar em um estado, por meio da educação do povo e da fundação de uma República Democrática. Para alcançar tal objetivo, fundou a “Jovem Itália”, uma organização paramilitar pautada nas idéias nas suas idéias. Como conseqüência da criação do movimento da “Jovem Itália”, surgiu núcleos revolucionários em várias regiões, inclusive com influência fora do Continente Europeu, como por exemplo, no sul do Brasil (participação de Garibaldi e Tito Livio Zambeccari na Revolução Farroupilha).

Havia, porém, outras correntes que tinham como objetivo a unificação italiana. No entanto, nem todas elas defendiam o mesmo resultado para a unificação italiana. Cavour, primeiro ministro do reino de Piemonte-Sardenha, era contrário as propostas de

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Mazzini, pois objetivava construir uma Itália Unificada, sobretudo, Monárquica, ou seja, aspirava uma Itália unida em torno do Reino de Piemonte - Sardenha.

Desta forma, no início do processo de unificação em 1860, o norte e o sul da Itália passaram por estes processos, agindo, inicialmente em separado, e com idéias distintas, já que Cavour queria construir uma Monarquia em torno do reino de Piemonte-Sardenha, Mazzine, com o apoio de Giuseppe Garibaldi, o qual era um republicano seguidor das idéias de Mazzini, havendo participado do movimento da “Jovem Itália”.

A primeira fase desse movimento vai ocorrer na década de 1840 (mais precisamente nos anos de 1848 e 1849). Foi nesta fase que tiveram início as tentativas de unificação da Itália e cerca de três repúblicas foram proclamadas, sendo que a última, a República Romana, foi conseqüência de uma revolução comandada por Mazzini em Roma, em 1849. No entanto, ela acabou fracassando, quando o Papa Pio IX recorreu a potências como Áustria, França e Espanha, e estas enviaram tropas para destruir a República, ainda no de 1849. Em 1850, o Papa volta a Roma, reassumindo o comando.

Em 1853, Mazzini tenta mais uma vez uma insurreição, mas é derrotado. Em 1860, suas idéias de unificação são retomadas no Sul da Itália, mas, mais uma vez, são vencidas pelas forças que haviam unificado o norte, representadas na figura de Cavour. Então, é nos anos de 1859 e 1860, que a península vai conseguir se libertar do domínio Austríaco e da ingerência francesa, terminando unificada, ao menos parcialmente, formando uma Monarquia e não uma República como eram as intenções de Mazzine.

1.3 A unificação italiana propriamente dita

Esse processo tem início com o ultimato que a Áustria, a qual dominava a Lombardia e o Veneto, dirigiu ao reino de Piemonte-Sardenha para que ele dissolvesse o exército regular e o exército formado por voluntários, comandado por Giuseppe Garibaldi. A Áustria temia um avanço do reino rumo à unificação.

No entanto, Camillo di Cavour, o primeiro ministro de Piemonte-Sardenha, e um dos grandes agentes da unificação italiana, já se preparava, durante algum tempo, para as investidas contra o domínio austríaco. Como afirma Asa Briggs e Patrícia Clavin (1997 e p. 112), Cavour não simpatizava com revolucionários, mas mesmo assim, vai tentar mostrar que “lutava” pela mesma causa de revolucionários como Mazzine, com a finalidade de conquistar aliados, apesar das posições bastante distintas de como se constituiria uma Itália unificada.

Ademais, Cavour já vinha buscando aliados, desde a Guerra da Criméia, entre França e Rússia, na qual França era apoiada pela Grã-Bretanha, com a finalidade de conseguir o que queria. Asa Briggs e patrícia Clavin ilustram com mais clareza as intenções de Cavour:

Al igual que este8, Cavour se aprovechó plenamente de la fluidez cada vez mayor de la diplomacia europea, procurando conseguir todo lo posible. Por consiguiente, estaba dispuestoa recurrir a los tratados, las batallas y las intrigas de salón para conseguir sus objetivos. (1997, p. 112)

Então, na Guerra da Criméia, Cavour demonstrou apoio à França e a Inglaterra, com o intuito de futuramente obter o apoio destas duas potências. E de fato Cavour conseguiu este apoio, mais diretamente no que diz respeito à França. Napoleão III aceitou o “princípio de nacionalidade”, até mesmo porque nutria interesses com relação à península itálica, e com o ultimato austríaco, Piemonte-Sardenha entram em guerra contra Áustria, no ano de 1859, recebendo o apoio de Napoleão III, ou seja, da França.8 O autor, ao usar o pronome “este”, está se referindo a Bismarck, um dos agentes da unificação alemã.

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A partir disso, o exército franco-piemontes consegue vitórias no combate com a Áustria, no entanto, a França, mais preocupada com os seus interesses particulares, propõe um armistício, o qual previa que a Áustria deveria ceder apenas a Lombardia, continuando seu domínio sobre o Veneto e os ducados do centro da península. De fato, essa foi uma troca de tática repentina de Napoleão III como afirma Asa Briggs e Patrícia Clavin (1997 e p.114) e de forma alguma foi compatível com as idéias de Cavour, que ao perceber que o rei havia aceitado o trato entre França e Áustria, se afastou do governo.

Entretanto, em 1860, Cavour retorna ao governo firme na idéia de unificação da península. Seu primeiro passo é obter o apoio da Grã-Bretanha, logo após, realizam-se plebiscitos em várias cidades do centro da península, e a maioria decidi-se pela anexação ao Piemonte, além disso, Napoleão III reconhece a anexação em troca de receber os territórios de Nizza e da Savóia. Desta forma, cerca de metade do território que viria a ser o Estado italiano estava unificado.

Entretanto, no sul da península a situação era diferente, e a idéia dos agentes da unificação que lá se encontravam, diferia das pretensões de Cavour e seus apoiadores. Os republicanos tomaram a iniciativa e queriam a participação do povo.

A proposta do liberal Mazzine era uma intervenção nos Estados Pontifícios, os quais contavam com a proteção dos franceses, e, também, nas duas Sícilias. A situação mostrava que ao norte, Cavour e seus feitos, em grande parte diplomáticos, haviam tomado a cena, em contra partida as vitórias que Garibaldi viria a conseguir no sul seriam tão fantásticas que Cavour não se agradaria nem um pouco.

Nos reinos dos Bourbons a situação se encontrava preocupante. A miséria assolava o local, e o rei, absolutista, se negava a empreender reformas de caráter liberal. Frente a isso, a propaganda de Mazzini encontrou abertura junto à burguesia mais aberta e contrariada pelas ações do monarca.

Garibaldi foi à frente rumo à unificação do sul da península. Organizou a expedição dos mil (chamados também de camisas-vermelhas). Desta forma, o exército partiu alcançando sua primeira vitória em Calatafimi e Garibaldi tomou os poderes de ditador em nome de Vittorio Emanuel II. Decretou algumas medidas a favor dos camponeses. Mesmo com a insistência de Cavour para que Garibaldi parasse, este continuou, tendo seguidas vitórias. Desta forma, Garibaldi consegue a rendição dos bourbons, unindo praticamente todo o sul, e restando em aberto apenas a Sardenha.

Assim, enquanto os moderados queriam que fossem realizados plebiscitos para decidir a anexação da Sardenha, os republicanos queriam a criação de uma assembléia constituinte, a fim de estabelecer as bases do Estado unitário.

Cavour decide então marchar com o exército piemontês para o sul, com a intenção de conseguir glórias maiores que as de Garibaldi. Partiu, com a justificativa de salvar o papa das investidas dos revoltosos e, também, evitar a formação de uma República, reiterando as divergências entre os agentes da unificação no norte e no sul. Essa questão pode ser melhor entendida através das palavras de Asa Briggs e patrícia Clavin:

Temeroso de la espontaneidad impulsiva de Garibaldi, de su radicalismo natural y de su inmenso prestigio, Cavour hizo una serie de maniobras para poner freno a Garibaldi antes de encontrar una que funcionase: sabedor de las graves repercusiones internacionales de la entrada de las tropas de Garibaldi em Roma – ya que Napoléon III, que se había autoproclamado defensor del papa, podía intervenir, y esta vez com el posible apoyo de Áustria – Cavour llegó a la conclusión de que lo que necessitaba era um éxito aún más espectacular que los de Garibaldi. (1997, p. 115)

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Cavour consegue então evitar a pretensão dos republicanos de criar na península uma República. Ele legaliza a revolução e dissolve qualquer possibilidade de um levante popular, e em alguns locais como nas duas Sícilias realizaram-se plebiscitos e foram anexados ao reino de Piemonte.

Garibaldi, então, devolveu simbolicamente o poder ao rei, e acabou partindo. A anexação ao Piemonte era para os camponeses do sul o fim de suas esperanças de reforma. Os Garibaldinos eram vistos sempre como uma ameaça a monarquia, e o exército dos “camisas-vermelhas” não poderia ser aceito ao exército regular, tudo isso pelo medo de sua presença ser uma influência revolucionária.

Mesmo assim, a unificação ainda não estava completa, faltava ainda Veneza, que pertencia ao domínio austríaco e Roma, que estava nas mãos do papa e sobre a proteção dos franceses.

O parlamento foi reunido em Torino e declarou Vitório Emanuel II, rei de toda a Itália. Cavour, no entanto, sabia que seu trabalho não havia acabado, pois seu sonho era que Roma, provavelmente devido ao seu valor simbólico por ter sido a capital do império romano, fosse agora a capital do Estado Italiano. Além disso, sabia da animosidade entre o norte e o sul, devido a diferenças econômicas, sociais e culturais. Ademais, as próprias diferenças entre ele e o republicano liberal Mazzine haviam “ajudado” a aumentar as diferenças entre o norte e o sul, então, era evidente que ainda havia muito a fazer.

No entanto, Garibaldi voltaria à cena em 1866, na guerra da Prússia contra a Áustria, na qual Itália apoiaria a Prússia, e esta chegaria à vitória, coagindo a Áustria e fazendo com que o Vêneto fosse anexado à Itália, após a assinatura da Paz de Viena em 1868. Então, neste momento, só faltava Roma para completar o sonho da unificação.

Então, durante a guerra franco-prussiana nos anos de 1870 e 1871, Roma foi invadida e tornou-se a capital italiana. Isso foi possível porque devido à guerra as tropas francesas que faziam a proteção do Papa se retiraram, deixando Roma sem defesa.

Todavia, o Papa não aceitou nenhuma das ofertas do Estado italiano, e, consequentemente, não reconheceu Roma como a capital do Estado, declarando-se prisioneiro na Itália.

A Itália não estava totalmente unificada, ainda havia territórios sofre domínio da Áustria, além da falta de reconhecimento de Roma como capital, por parte do Papa. Contudo, no final da Primeira Guerra Mundial, os últimos territórios que ainda pertenciam a Áustria foram anexados. E, em 1929, através do chamado “Tratado de Latrão”, o Estado do Vaticano foi criado e o papa recebeu uma indenização pelos territórios perdidos, e, assim, reconheceu Roma como capital do Estado Italiano (ARRUDA, 2005, p. 127-128).

Frente a estes últimos acontecimentos, enfim, a Itália estava completamente unificada e tinha a histórica Roma como sua capital.

2 A emigração Italiana para o Brasil

A unificação italiana e a organização de um estado moderno teve muitas conseqüências, principalmente para sua população rural. A Revolução Industrial e a expansão do capitalismo foram os principais agentes das mudanças no Ocidente desde o século XVIII, alcançando o século XIX. A população crescia e a demanda, no que diz respeito à produção, aumentava, então, os mercados coloniais na África e na Ásia foram as principais soluções encontradas pelos países europeus, entre eles, a Itália, para este problema.

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Outro aspecto, que contribuiu a emigração italiana, foi a situação de miserabilidade da população, como se observa na seguinte lição de Giron:

Após a unificação, a Itália “continuava sendo um país agrário, regido por relações sociais muito atrasadas que freavam seu desenvolvimento econômico e condenavam as massas populares à miséria e fome. Foi a miséria o principal fator da emigração italiana. (1992, p. 51)

Na Itália, assim como em grande parte da Europa, havia um grande excedente populacional, e o país encontrou na emigração a solução para o seu problema demográfico, sendo que entre 16000 e 1940, saíram da Itália cerca de 20 milhões de seus súditos como afirma Rodrigo Elias (2005, p. 16). Dentre outros lugares, a América foi o destino de grande parte da diáspora italiana.

Para melhor compreender a situação pós-unificação, importante se torna recorrer novamente dos estudos de Giron:

Ao problema social soma-se o econômico e o político. As máquinas que, em parte, aumentaram os capitais da burguesia, e, em parte, desalojaram os operários de suas ocupações, garantiram a expansão em direção à América. A mesma expansão técnica que expulsava os homens garantiria seu transporte para outras terras, através dos navios à vapor. A Europa passou a exportar em larga escala produtos industrializados, religião, costumes, idéias e, especialmente, europeus. A emigração servirá para aliviar as tensões internas causadas pelas estruturas econômicas rígidas, pela ausência de capitais e pela manutenção das mesmas relações de produção. (1992, p. 49)

Por outro lado, o Brasil, país que já tinha vivido a experiência da imigração com alemães, entre outros, em períodos distintos, passou a viver novamente, desta vez com imigrantes italianos. Um dos objetivos do Império brasileiro era do branqueamento da população, a qual era formada por grande parte de negros e mestiços, como também, solucionar o problema da falta de mão-de-obra ocasionada pelo fim do tráfico de escravos.

Esta situação alterou o panorama econômico do Brasil, na segunda metade do século XIX, em especial para os cafeicultores, sendo que “a chave do problema econômico estava, portanto, na mão-de-obra” (FURTADO apud GIRON, 1992, p. 52).

O fim do tráfico também possibilitou uma mudança de atitude frente à questão de terras, pois esta e a necessidade da mão-de-obra estão, via de regra, intimamente, interligadas e tem como grande referencial a questão econômica, como observa Emília Viotti da Costa, citada por Giron (1992, p. 53).

A partir da Lei de Terras, promulgada em 1850, lei nº601, segundo Giron (1992, p. 53), a terra passa a ser tratada como mercadoria, e não apenas como símbolo de status social, isso ocorreu porque se tornou necessário manter e intensificar o fluxo migratório.

Esta mudança no tratamento da questão da terra, por parte do governo, não era apenas uma tática política, mas, também, tinham grandes influencias na economia, já que um dos objetivos de trazer para o Brasil braços brancos e europeus era o de conseguir mão-de-obra para a produção do café, voltado em grande parte para a exportação, além de ser uma grande influência para a população do país, no que concerne a questão do trabalho braçal, pois esta população era marcada pelo uso do trabalho escravo nas lavouras, considerado, consequentemente, como desonroso para a os “brancos”.

As transformações na política brasileira, visando, na maioria das vezes, o crescimento econômico, tornou o país mais atrativo para os imigrantes italianos. Desta forma, após a unificação italiana, quando os problemas também relacionados à terra começaram a se agravar, deixando uma parcela considerável da população na miséria, o

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Brasil foi o grande “depositário” dos problemas europeus, neste caso, da população excedente italiana.

O Rio Grande do Sul, na época conhecido como Província de São Pedro, já que se tratava do período imperial, recebeu, a partir de 1875, uma parcela da população italiana que imigrou para o Brasil. Estes imigrantes vinham para a província com a finalidade, prevista pelo governo imperial, de colonizar as terras devolutas pertencentes ao Estado, e, desta forma, completando o povoamento da província com população branca. Com base no quadro abaixo, pode-se perceber a situação populacional da província no início do século XIX, antes da chegada dos imigrantes alemães e italianos9.

Quadro 3 - População da Província (Rio Grande do Sul)

O índice demográfico da Província, ainda na primeira metade do século, iria sofrer modificações com a chegada de imigrantes alemães, dentre outros. Entretanto, no final do século, a partir de 1875 é que começa o último processo para se completar o povoamento da província, qual seja: a chegada dos imigrantes italianos.

A imigração no Rio Grande do Sul se diferenciou da realizada no Sudeste, principalmente quando diz respeito à italiana, pelo fato de ter como objetivo primordial à utilização desses imigrantes como mão-de-obra nas lavouras de café, em substituição ao braço escravo.

Portanto, essa imigração vai se intensificar com a abolição do trabalho escravo e, posteriormente, com o advento da República, pois os imigrantes passaram a ter mais confiança em abandonar sua terra natal e habitar em uma terra distante, já que esta não tinha mais, como principal força de trabalho, o braço escravo. Ainda se faz interessante observar, que a crescente propaganda pró-imigração subsidiada pelo Estado e por particulares, também contribui para essa imigração.

Diante deste contexto, os italianos começaram a chegar à província a partir de 1875, e com o passar dos anos, essencialmente com a intensificação da imigração no período correspondente a primeira República do Brasil, formaram quatro núcleos de colônias italianas, quais sejam: Conde D’ Eu, conhecida atualmente como Garibaldi, Dona Isabel, atualmente chamada de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, situada no local antes conhecido como Campo dos Bugres e a quarta colônia de imigração italiana, formada por municípios tais como Silveira Martins, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, entre outros10.

No entanto, uma das principais conseqüências da imigração italiana para o Brasil, foi o estreitamento das relações diplomáticas entre esses dois países, desde a unificação italiana, ou melhor, parcial unificação, em 1861. Contudo, é importante destacar que inicialmente, mais especificamente até a primeira grande guerra, já no período que corresponde à República Velha, a iniciativa de imigração foi toda brasileira. Neste sentido, há as seguintes palavras de Amado Cervo: 9 GIRON, Loraine Slomp (1980). Imigração italiana no Rio Grande do Sul: fatores determinantes. In: RS: imigração e colonização. Porto Alegre, Mercado Aberto.10 Segundo dados do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem do Rio Grande Sul, estas cidades ficam distante da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, centro econômico do Estado: Garibaldi – 104 Km; Bento Gonçalves – 109 Km; Caxias do Sul – 125 Km; Silveira Martins – 283 Km; Faxinal do Soturno – 265 Km; Soa João do Polêsine – 275 Km.

Brancos 32.000Homens de cor livres 5.399Homens de cor escravizados 20.611Índios 8. 655

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Numa primeira fase, do final do século XIX até a primeira grande guerra, a iniciativa foi toda brasileira: O Estado e a sociedade buscaram na Itália, com o objetivo de realizar duas necessidades, o fornecimento de mão-de-obra para a lavoura e a ampliação do mercado para o café. (1990, p. 21)

Mas, a partir de 1900, as relações entre as duas nações começaram a mudar, passando por constantes negociações. O governo republicano atendia aos interesses cafeicultores, e usava a diplomacia com a Itália para atingir tais objetivos. Um destes objetivos era obter a redução dos direitos italianos nas importações e, em última instância, a livre entrada do café, para isso oferecia em troca tarifas mínimas.

Por outro lado, apesar das tarifas mínimas serem do interesse da Itália, o governo italiano relutava em reduzir seus direitos nas importações, querendo um acordo em longo prazo. Essa, entre muitas outras incompatibilidades, permearam a “convivência” entre as nações.

Ainda, pode-se destacar como outro grande problema encontrado por essas duas nações, o fato da Itália considerar que tinha direitos sobre a vida de seus conterrâneos aqui no Brasil, achando, inclusive, que as leis que deveriam ser aplicadas aos colonos italianos no país eram as do governo italiano. Isso se deve, ao fato de a Nação Italiana, recentemente unificada, acreditar que seus súditos, independente de onde estivessem, pertenciam à nação italiana, ou seja, eram cidadãos italianos, já que esse era um fator determinante do nacionalismo que permeou o século XIX e XX, e foi o sustentáculo da Unificação italiana. As relações entre essas duas nações vão passar por diversos momentos de entendimento e, também, de animosidade, devido às transformações de cada uma delas em momentos significativos como as duas grandes guerras.

Então, apesar de apenas uma minoria do contingente de imigração italiana terem sido enviados ao Rio Grande do Sul, esse número já foi bastante significativo, uma vez que, contribuíram para o crescimento econômico da província, além de agregar aos que aqui habitavam novos costumes e tradições, típicos de sua Terra Natal, a Itália, os quais perduram até os dias de hoje, continuando a estimular o crescimento econômico das regiões de colonização italiana.

Conclusão

Tendo em vista o exposto acima, pode-se conceber que os acontecimentos que marcaram o século XIX, como o avanço das concepções nacionalistas, a unificações de estados como o alemão e o italiano, e a imigração de povos como o italiano, estão todos entrelaçados a uma rede de transformações que assolaram o mundo, sobretudo, a Europa, neste período.

A Revolução Industrial, a qual ocorreu em meados do século XVIII, propiciou o avanço do capitalismo. Neste sentido, viu-se uma expansão do liberalismo econômico, bem como do nacionalismo de caráter liberal. Esse nacionalismo, por sua vez, levou a unificação de vários reinos, entre eles, o italiano, que teve sua unificação completa em 1861, e a consolidação da mesma, apenas em 1929, durante o período fascista.

Portanto, é a partir dessas transformações no panorama do continente europeu, e, em especial, da península italiana, a qual enfrentou uma dura crise de caráter, sobretudo, econômico, o que levou o próprio governo a incentivar a partida de seus súditos. É neste momento, que as relações de Brasil e Itália passam a se estreitar, pois grande parte dos italianos saídos da península, vão ter como destino o Brasil, e uma pequena parcela dos imigrantes que chegam ao país, são enviados para colonizar as terras devolutas, pertencentes ao governo, mas que se encontravam dentro da Província de São Pedro, hoje conhecida como o Estado do Rio Grande do Sul.

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Diante disso, percebe-se a importância de realizar um estudo que contemple o panorama europeu da Itália na época da imigração italiana, para compreender, de forma mais clara, o real motivo dessa imigração. No caso do Brasil o motivo foi o fato que ao mesmo tempo em que a Itália passava por inúmeros problemas intensificados pela unificação, dentre eles, o excedente populacional, o Brasil, por sua vez, sofria do mal contrário, necessitava de mão-de-obra que viesse a substituir a escrava, decadente desde a abolição do Tráfico de escravos em 1850. Foi, então, como conseqüência do casamento das necessidades destes dois países, que atualmente muitos municípios do rio Grande do Sul, são conhecidos por serem de colonização Italiana.

Referências

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HOBSBAWM, Eric J. (1990). Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. 4 ed. Tradução: Maria Célia Paoli e Anna Maria Quirino. São Paulo: Paz e Terra.

MONTI, Fausto, BIAGINI, Renzo,( 1988). La storia dell'uomo. Firenze, Le Monnier.V1.

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