a retórica das mil e uma utilidades da bom bril

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A RETÓRICA DAS MIL E UMA UTILIDADES DA BOM BRIL Hélia Coelho Mello* *Universidade Estadual do Norte Fluminense- UENF . Bolsista Capes- Universidade do Porto- 2017- [email protected]

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A RETÓRICA DAS MIL E UMA UTILIDADES DA BOM BRIL

Hélia Coelho Mello*

*Universidade Estadual do Norte Fluminense- UENF . Bolsista Capes- Universidade do Porto- 2017- [email protected]

Este trabalho analisa a importância dosrecursos retóricos e argumentos presentesem alguns anúncios publicitários impressosda empresa Bom Bril veiculados em 24contracapas de revistas brasileiras de 1997até o ano de 2000, publicados no livro SoyContra Capas de Revistas pela W/Brasil.

Por haver uma quantidade muito grande deanúncios, escolhemos alguns textos nos quais ogaroto propaganda da empresa, CarlosMoreno, representava pessoas públicas queeram do conhecimento das donas de casa doBrasil (público alvo da campanha publicitáriada Bom Bril).

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Os anúncios foram selecionados a partir dolivro “Soy Contra Capas de Revistas”, publicadopela empresa responsável pela criação edivulgação dos anúncios, a W/Brasil. Nesselivro, 136 contracapas, publicadas de 1997 a2000, foram compiladas.

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O que faz uma campanha publicitária fazer sucesso por tantas décadas?

Comunhão entre orador e auditório:

Bons argumentos.

Um apelo à emoção do auditório: figurasretóricas que são essenciais paraprovocar paixão pelo discurso persuasivo.

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A Retórica das Mil e Uma Utilidades

A Retórica exerce o convencimento por meiode um discurso. Agimos retoricamente quandojustificamos nossa posição em termosaceitáveis para nosso público (LOGOS) e nosidentificamos com valores e interesses dele(ETHOS e PATHOS).

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ARISTÓTELES e PERELMAN

Segundo Aristóteles, somos convencidos peloapelo ético do orador que empresta a suacredibilidade à venda do produto (ETHOS) e pelaemoção (PATHOS) que nos é provocada pelodiscurso.

Chaïm Perelman afirma que o receptor éconvencido pela escolha dos argumentosutilizados pelo enunciador (LOGOS). A comunhãotambém deve ser estabelecida entre o auditório eo orador.

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Ao abordar as qualidades das provas empregadaspela Retórica, Aristóteles (2005, p.96-97) afirma:

“Persuade-se pelo caráter quando o discursoé proferido de tal maneira que deixa a impressãode o orador ser digno de fé. (...) Persuade-se peladisposição dos ouvintes, quando estes são levadosa sentir emoção por meio do discurso, pois osjuízos que emitimos variam, conforme sentimostristeza ou alegria, amor ou ódio. (...)Persuadimos, enfim, pelo discurso, quandomostramos a verdade ou o que parece verdade, apartir do que é persuasivo em cada casoparticular”.

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ETHOSGaroto Bom Bril: um conquistador de

auditórios

O garoto Bom Bril, representado pelo ator CarlosMoreno, entrou para a história da publicidadebrasileira como um caso único (encontra-se noGuiness Book) por ter sido de 1978 a 2004 ogaroto-propaganda da empresa e voltado a ser em2007, função que exerceu até 2011. Até abril de2007, Moreno havia participado de 337 inserçõescomo "Garoto Bom Bril".

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Carlos Moreno- o garoto Bom Bril:

Garoto Bom Bril: um conquistador de auditórios

O “garoto Bom Bril” derrubou o modoautoritário e superior comum ao sexomasculino diante das mulheres no início dacampanha. Tímido, cabisbaixo e simpático,Carlos Moreno fala, desde aquela época (1978),com as donas de casa de modo respeitoso eatencioso.

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Garoto Bom Bril: um conquistador de auditórios

Na opinião de Washington Olivetto, ementrevista informal concedida em 2000, "porser bem humano, como seu público, ele podeenvelhecer no papel, não precisa sersubstituído. Ele tem um conteúdo de realidademuito grande, então ele pode adquirircaracterísticas cotidianas”.

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LOGOSA ARGUMENTAÇÃO LIMPA

A teoria de Perelman esclarece sobre a comunhão epresença que devem ser estabelecidas entre o falantee o ouvinte. Todo discurso deve ser composto,pensando-se naqueles que irão ouvi-lo ou lê-lo. Nodiscurso publicitário, o emissor deve escolher aspremissas que poderão ser aceitas pelo auditório aque se dirige e, através da sua argumentação,convencê-lo da compra do produto.

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COMPARAÇÃO

A análise da estrutura da comparação em umdiscurso nos permite traduzir a intençãoargumentativa presente nos enunciados de umtexto, fazendo-nos refletir sobre a ordem depreferência do sujeito enunciador e a forçadesses argumentos para a captação da adesãodo interlocutor.

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“Bom Bril e Limpeza.

Este casamento dá certo.”(setembro de 1999)

A apresentadora de TVe modelo AdrianeGalisteu protagonizaum casamento e umdivórcio relâmpagos.

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ARGUMENTO POR COMPARAÇÃO

É estabelecida uma comparação entreduas situações: a apresentadora de TV emodelo, Adriane Galisteu, protagonizaum casamento e um divórcio relâmpagos,mas o mesmo não ocorrerá entre osprodutos da Bom Bril e a limpeza, já queeles nunca irão se separar.

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ANALOGIAS

ANALOGIAS

Analogias estabelecem relação de similitudeentre duas relações que unem duas entidades.A sua função é esclarecer o segundo termo decomparação pelo primeiro.

“Bom Bril... Bom de cozinha e de copa também.”

(maio de 1998)

“Na cozinha, ninguém tem mais Ibope.”

(Outubro de 1999)

“Bom Bril. Toda mamãe gosta deste baixinho.”

(Julho de 1998)

.

“Com Bom Bril a sujeira perde sempre”.(março de 2000)

A linguagem sem ferrugem da Bom Bril – figuras retóricas

Segundo Reboul (1998, p.114), “A figura só é deretórica quando desempenha papelpersuasivo”, e, “se o argumento é o prego, afigura é o modo de pregá-lo”.

TROCADILHO

Sua força persuasiva se dá devido ao fato de“facilitarem a atenção e a lembrança”, além de“instaurarem uma harmonia aparente, porémincisiva, sugerindo que, se os sons seassemelham não é por acaso.

Os trocadilhos “bom bril/ bom Bill”,“bombrileza/globeleza”,e “Popóderoso/ Popópoderoso” ilustram a força desta figura.

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“As mulheres preferem Bom Bill. Quer dizer: Bom Bril.”

(agosto de 1998)

“Bom Bril. Popóderoso contra a sujeira”.

(novembro- 1999)

“Olha a Bombrileza aí, gente!”(fevereiro 1999)

METONÍMIA

O consumidor identifica os personagensrepresentados pelo garoto propaganda atravésde traços metonímicos.

Os dentes, a careca, o uniforme da seleçãoidentificam Ronaldo; o cabelo e a barriga degrávida, Xuxa; a cor da pele, pintura no corpomoreno, a Globeleza; o cabelo preso, LouroJosé e o microfone, Ana Maria Braga; a luva deboxe, o lutador Popó; o macacão e capacetevermelhos, Rubinho Barrichelo.

PERSONIFICAÇÃO

Prosopopeia (ou personificação) é uma figurade linguagem caracterizada pela atribuição decaracterísticas, ações e sentimentos própriosde seres humanos a seres inanimados e a seresirracionais.

“Bom & Bril. Irmãos no brilho e na limpeza”.

(outubro de 1999).

“Bom & Bril” nãosão irmãos comoSandy e Júnior.

“Ó coitada da sujeira!” (outubro de 1999)

“Sujeira” não é um ser humano para quetenhamos pena dela.

“Bom Bril e Limpeza. Este casamento dá certo.”

(setembro de 1999)

“Com Bom Bril a sujeira perde sempre.” (março de 2000).

Quem perde sempre deveria ser Rubinho e não asujeira, já que ela não é um corredor de Fórmula 1.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Retórica pode ser uma esponja de açoeficiente para tirarmos a “ferrugem” daspalavras e de argumentos gastos a fim de queos recursos retóricos usados nos discursospossam brilhar e atrair “consumidores” denossas ideias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Antônio Suárez. A Arte de Argumentar.Gerenciando Razão e Emoção. 3.ed. São Paulo: AteliêEditorial, 2001.ARISTÓTELES. Retórica. 2ª edição, revista, Lisboa:Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2005.PERELMAN, Chaïm & OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratadoda Argumentação - A Nova Retórica. trad .MariaErmantina Galvão São Paulo: Martins Fontes, 1999REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo:Martins Fontes, 1998.Soy Contra Capas de Revistas/ W/BRASIL. São Paulo:Negócio Editora, 2000