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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE SERVIÇOS NA TERCEIRIZAÇÃO CHIARA LAÍSSY GOMES MACIEL NATAL/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE SERVIÇOS NA TERCEIRIZAÇÃO

CHIARA LAÍSSY GOMES MACIEL

NATAL/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE SERVIÇOS NA TERCEIRIZAÇÃO

CHIARA LAÍSSY GOMES MACIEL

Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) apresentada ao Curso de Graduação – Bacharelado em Direito – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profª. Dra. Yara Maria

Pereira Gurgel

NATAL/RN 2014

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Maciel, Chiara Laíssy Gomes.

A responsabilidade do fornecedor e do tomador de serviços na terceirização/ Chiara Laíssy Gomes

Maciel. - Natal, RN, 2014.

71 f.

Orientadora: Profª. Drª. Yara Maria Pereira Gurgel.

Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Direito.

1. Direito do trabalho - Monografia. 2. Terceirização - Monografia. 3. Responsabilidade do

fornecedor - Monografia. I. Gurgel, Yara Maria Pereira. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 349.2

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CHIARA LAÍSSY GOMES MACIEL

ARESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE SERVIÇOS NA TERCEIRIZAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Direito, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito.

Aprovada em: 29/04/2014.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Professora Dra. Yara Maria Pereira Gurgel – Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________________

Professora Dra. Ingrid Zanella Andrade Campos – Examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________________ Professor Me. Thiago Oliveira Moreira– Examinador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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AGRADECIMENTOS Aos meus pais que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida. Aos meus irmãos, pela alegria de cada dia. À professora Yara Maria Pereira Gurgel, pela tranquilidade e confiança transmitidadurante toda a elaboração do trabalho. Aos meus amigos, pelas palavras de conforto e superação

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“Entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o patrão e operário, é a liberdade

que oprime e a lei que liberta”

(Abade Lacordaire)

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RESUMO O presente trabalho trata da terceirização que é um fenômeno bastante difundido na prática empresarial, como mecanismo de otimização, através da transferência a terceiros de determinadas atividades da empresa. Primeiramente, é realizado um resgate histórico do surgimento do direito do trabalho como instituto regulador da nova relação de trabalho que nasceu juntamente com o capitalismo: a relação de emprego. A seguir, discorre-se a respeito das modificações que o ramo justrabalhista sofreu com a reestruturação produtiva do capital verificada a partir década de 70. Nessa senda, é demonstrada a tentativa do capital de fugir das obrigações trabalhistas, sendo a terceirização apenas um desses mecanismos de fuga. Após, expõe-se o conceito do instituto, hipóteses de aplicação, efeitos jurídicos, marcos e evolução jurisprudencial do tema na legislação e na jurisprudência, culminando com a publicação em 1994 da Súmula 331 pelo TST. Por fim, aborda-se o entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca da responsabilidade das empresas envolvidas perante o trabalhador terceirizado. Palavras-chave: Terceirização.Precarização.Responsabilidade.

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ABSTRACT The present work deals with the outsourcing, a widespread phenomenon in the business practice, as optimization mechanism, through the transfer to third parties of certain business activities. First, is held a historical revew about the emergence of labor law as a regulatory institution of the new working relationship born with capitalism: the employment relationship. Then, is discussed about the changes that this law's branch suffered with the productive restructuring of the capital verified from the 70s. On this pathway is demonstrated the capital's attempt to evade labor obligations, being the outsourcing only one of these escape mechanisms. It also exposed the concept of the institute, hypotheses of implementation, judicial effects and the theme's legislative and jurisprudential evolution, culminating in the publication in 1994 of Digest 331 by The Labor Superior Court. Finally, it is discussed the doctrinal and jurisprudential understanding about the responsibility of the involved companies before the outsourced worker. Keywords: Outsourcing.Precariousness.Responsibility.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8

2 NOÇÕES GERAIS DA RELAÇÃO DE EMPREGO ......................................................... 11

2.1 SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO ......................................................... 11

2.2 RELAÇÃO DE TRABALHO E RELAÇÃO DE EMPREGO ...................................... 13

2.3 CONCEITO E REQUISITOS CARACTERIZADORES DA RELAÇÃO DE

EMPREGO ............................................................................................................................ 14

3 A REESTRUTUTAÇÃO PRODUTIVA E A FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS

TRABALHISTAS ....................................................................................................................... 19

4 TERCEIRIZAÇÃO ................................................................................................................ 26

4.1 NORMATIVIDADE JURÍDICA SOBRE TERCEIRIZAÇÃO ..................................... 31

4.2 Construção Jurisprudencial .......................................................................................... 36

4.3 EFEITOS DA TERCEIRIZAÇÃO ................................................................................. 44

4.3.1 Precarização dos direitos trabalhistas................................................................. 44

4.3.2 Salário equitativo .................................................................................................... 47

4.3.3 Atuação sindical ...................................................................................................... 48

4.4 RESPONSABILIDADE NA TERCEIRIZAÇÃO .......................................................... 49

4.4.1 Responsabilidade na terceirização de serviços privados ................................ 49

4.4.2 Responsabilização na terceirização de serviços públicos ............................... 51

4.4.3 Responsabilidade solidária na terceirização: entendimento doutrinário e

jurisprudencial ................................................................................................................... 53

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 64

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1 INTRODUÇÃO

A terceirização é fenômeno recente na nossa sociedade através do qual é

formada uma relação trilateral envolvendo o obreiro terceirizado, a empresa prestadora

e a empresa tomadora de serviços. O instituto está sendo amplamente utilizado por

empresas privadas e públicas que celebram um contrato civil para execução de

determinado serviço pelos empregados de uma empresa interposta.

A utilização da terceirização na economia está inserida no contexto da

reestruturação sofrida pelo capital, sendo o seu uso justificado pelos empresários e

administradores como essencial à competitividade entre as empresas.

Inicialmente, a terceirização não se apresentou como algo prejudicial ao

trabalhador, já que se pressupunha que os seus direitos estariam garantidos da mesma

forma dos demais trabalhadores, através da relação de emprego mantida com o

prestador de serviços. Mas, com o decorrer do tempo foi verificado um aumento do

número de reclamatórias trabalhistas especificamente em relação aos trabalhadores

envolvidos nessa relação trilateral.

Em virtude do uso desenfreado do instituto como uma forma de flexibilização

dos direitos trabalhistas e da ausência de uma lei regulamentando da matéria, foi editada

a Súmula 256 e, posteriormente, a Súmula 331 pelo TST que trata de alguns aspectos

relacionados à terceirização de serviços.

Entretanto, mesmo com a existência de uma súmula tratando da matéria, a

Central Única dos Trabalhadores (CUT) apresentou na edição número 42 do “Jornal da

CUT” no mês de julho de 20131, uma série de entrevistas com terceirizados e dados de

um relatório elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos (DIEESE) que mostraram a precariedade das condições de trabalho

vivenciada pelos obreiros terceirizados.

Os dados do estudo do DIEESE demonstram que a remuneração dos

terceirizados é 27,1 % menor do que a percebida pelos empregados efetivos da empresa

1Jornal da CUT, ano 6, n. 42, jul. 2013. Disponível em:<http://cut.org.br/jornal/143/jornal-da-cut-edicao-

42>. Acesso em: 10 fev. 2014.

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tomadora de serviços; que 8 em cada 10 acidentes de trabalho envolve obreiros

terceirizados; e que a média de permanência dos terceirizados no emprego é de 2,6 anos

quando a do trabalhador direto é 5,8 anos.

Diante dessa realidade nefasta vivenciada pelos trabalhadores terceirizados no

nosso país, será objeto da presente pesquisa a investigação da responsabilidade da

empresa tomadora e prestadora de serviços nos que diz respeito aos direitos garantidos

pelo nosso ordenamento jurídico a esse tipo trabalhador.

A metodologia a adotada consistiu na pesquisa bibliográfica, sendo o fenômeno

da terceirização amplamente abordado por diversos doutrinadores, existindo inúmeros

livros e artigos que tratam do tema. A pesquisa documental também foi realizada

através do estudo legislação e da jurisprudência acerca do tema e de dados estatístico

referente aos trabalhadores terceirizados proveniente da Central Única dos

Trabalhadores (CUT).

O estudo da terceirização, pretendido nesse trabalho, deve partir do

entendimento de que esse instituto encontra-se inserto no contexto da evolução do

trabalho humano como reflexo da sociedade de cada época.

Para tanto, no capítulo II será feito um resgate histórico do surgimento do direito

do trabalho visando uma melhor compreensão de que o labor humano passou por

diversas fases até o surgimento do trabalho livre e subordinado. Sendo demonstrado que

o ramo justrabalhista surgiu para conter as revoltas dos operários contra a força política

e econômica dos empregadores ao mesmo tempo em que garantiu a manutenção do

capitalismo.

A seguir será realizada a distinção entre relação de trabalho e relação de

emprego através do esclarecimento que essa última categoria é apenas uma espécie da

primeira e trata-se de uma pactuação de trabalho relativamente recente e que mais

recebe proteção do nosso ordenamento jurídico, tendo em vista que o Direito do

Trabalho foi desenvolvido em torno dela.

Por fim, o final do capítulo tratado conceito de relação de emprego através do

estudo de todos os elementos característicos desse tipo de relação de trabalho: prestação

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de trabalho por pessoa física, pessoalidade, não eventualidade, onerosidade,

subordinação e alteridade.

O capítulo III aborda a questão da reestruturação sofrida pelo capitalismo,

principalmente após as crises do petróleo dos anos 1973 e 1979. Sendo a relação de

trabalho bastante modificada após a adoção de novas estratégias produtivas realizadas

pelas empresas no intuito de aumentar os seus lucros e diante do ataque ao papel do

Estado como regulador da economia e garantidor de políticas sociais.

O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista

provocando uma nova organização empresarial. Uma das estratégias defendidas para

salvar o capitalismo foi a de flexibilizar os direitos trabalhistas conquistados pelos

trabalhadores, sendo a terceirização um exemplo dessa flexibilização.

Será mostrado ainda nesse capítulo que a flexibização no âmbito trabalhista

provocou a precarização nas condições de trabalho, tendo em vista uma maior

exploração perpetrada pelos detentores dos meios de produção.

No capítulo IIII é apresentada a terceirização como mecanismo de flexibilização

dos direitos trabalhistas utilizado pelas empresas, sendo descrita a relação trilateral

formada nesse fenômeno, configurada por um trabalhador que possui vínculo de

emprego com o empregador da empresa prestadora de serviços, mas que presta serviços

a uma empresa denominada de tomadora de serviços.

Será percorrida as previsões legais e a construção jurisprudencial acerca do tema

em estudo, bem como apresentado a diferenciação de terceirização lícita e ilícita a partir

da análise da Súmula 331 do TST. Posteriormente, serão abordados alguns efeitos da

terceirização.

Por último, a presente pesquisa será finalizada através da análise da

responsabilidade das empresas envolvidas na terceirização perante os trabalhadores

terceirizados no tocante aos seus direitos trabalhistas e os garantidos pelo Código Civil

e pela Constituição Federal. Será enfatizado os argumentos doutrinários contrários à

responsabilidade subsidiária da empresa tomadora em virtude do inadimplemento das

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obrigações trabalhistas por parte da empresa prestadora que está expressamente prevista

no item IV da Súmula 331.

2 NOÇÕES GERAIS DA RELAÇÃO DE EMPREGO

Primeiramente, será abordado nesse capítulo as transformações da sociedade

brasileira que propiciaram o surgimento do direito do trabalho como ramo jurídico

regulador do trabalho subordinado. A seguir, será tratada a diferenciação entre relação

de trabalho em sentido amplo e a relação de trabalho que possui como característica

principal a execução do trabalho subordinado: a relação de emprego. Por fim, será

apresentado o conceito e requisitos caracterizadores da relação de emprego a fim de

que, posteriormente, seja melhor compreendida a diferença dessa relação bilateral em

relação a relação trilateral verificada na terceirização.

2.1 SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO

O surgimento do Estado Liberal2, mormente após a Revolução Industrial,

propiciou o surgimento de relações de trabalho nos moldes da atualidade, em que se

verifica a troca da força de trabalho e/ou atividade intelectual por um salário. A doutrina

do liberalismo econômico difundiu a ideia de que o Estado não deveria intervir na

economia, nem nas relações de trabalho. O resultado dessa não intervenção estatal nas

relações privadas foi a de manifesto excesso por parte dos detentores dos meios de

produção3.

Os trabalhadores eram submetidos à exaustiva exploração física e obrigados a

trabalhar em condições extremamente precárias, sendo muito comum a utilização pelos

empregadores da força de trabalho de crianças e mulheres, já que os salários desses

eram menores do que os recebidos pelos homens. Não existiam limites para a

exploração por parte do empregador, sendo mostrado que na realidade do capitalismo,

não é possível a total liberdade entre as partes contratantes de uma relação

2 Sucede o Estado Absolutista após luta da burguesia pelo livre desenvolvimento da economia, término

dos privilégios da nobreza e da Igreja Católica e por uma maior participação da sociedade na direção do

Estado. 3 OLIVEIRA, Ailsi Costa de. Proteção da relação de emprego sob o prisma da dignidade da pessoa

humana. 2011. Dissertação (Mestre em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande doNorte, Natal,

2011. Disponível em: <http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/1/9897/1/AilsiCO_DISSERT.pdf>.

Acesso em 12 nov. 2013.

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empregatícia4. Nas palavras de Palmeira Sobrinho

5, “O processo de acumulação

capitalista envolve os antagonismos entre aqueles que buscam a extração de

sobretrabalho e aqueles que, direta ou indiretamente sobrevivem da venda da

mercadoria trabalho”.

Diante dessa realidade, surgiu uma consciência de classe entre os oprimidos,

fazendo com que os trabalhadores de maneira coletiva começassem a lutar por melhores

condições de trabalho e forçassem o Estado a intervir na relação empregado-

empregador, a fim de estabelecer uma igualdade jurídica entre esses sujeitos, através de

um ramo jurídico denominado Direito do Trabalho. Portanto, como pode ser observado,

o aparecimento do ramo justrabalhista não se deu por benevolência do Estado ou

empresários, mas sim, pela integração e reivindicação dos trabalhadores6.

É interessante notar que esse ramo do direito, ao mesmo tempo em que confere

legitimidade política e cultural à relação de trabalho surgida com o capitalismo, e

marcada pela forte disparidade econômico-social entre os seus sujeitos, regula e

melhora as condições de trabalho estabelecidas, promovendo dignidade ao trabalhador,

o qual possui apenas sua força de trabalho para garantir seu sustento7.

Estamos, portanto, diante de um pacto firmado entre os trabalhadores e o novo

sistema de produção: de um lado, os operários aceitam em definitivo o capitalismo, por

outro lado, o capital aceita uma melhor distribuição dos lucros, ou seja, reduz a

exploração dos trabalhadores.

Analisando o surgimento do direito trabalhista no Brasil, Pochmann apud

Godinho8defende que “o emprego assalariado formal representa o que de melhor o

capitalismo brasileiro tem constituído para a sua classe trabalhadora, pois vem

acompanhado de um conjunto de normas de proteção social e trabalhista”.

4 Ibid.

5 PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores

das empresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006,

p. 84. Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T010254Z-

667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 JUL. 2013. 6GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. Rio da Janeiro: Forense,

2008. 7DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013.

8Pochmann 2002 apud DELGADO, 2013, p. 55

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Como já foi colocado, o direito do trabalho é o direito de apenas uma das

modalidades do gênero relação de trabalho: a relação de emprego. Nem mesmo a

ampliação da competência judicial trabalhista no âmbito processual, através da redação

do novo art. 114 da Carta Magna, modificou a extensão do Direito Material do

Trabalho9.

A relação de emprego possui como elemento nuclear o vínculo de trabalho

humano sob subordinação, sendo justamente nesse tipo de relação jurídica que foi

construído todo o universo de institutos, princípios e regras específicos do Direito do

Trabalho10

. O trabalho subordinado possui como pressuposto a existência do trabalho

livre, ou seja, um tipo de trabalho em que as obrigações do trabalhador sejam

espontaneamente assumidas por esse11

.

Devido ao fato desse trabalho livre não se mostrar presente de maneira

predominante nas sociedades feudais e antigas, somente após a Revolução Industrial

pode-se falar do Direito do Trabalho como ramo jurídico que tutela a relação de

emprego. E, especificamente no Brasil, o surgimento do Direito do Trabalho somente

foi possível após a extinção da escravidão em 1888, através da Lei Áurea. A partir desse

momento, ficou caracterizada existência de trabalhadores livres não detentores dos

meios de produção, mas que deveriam se inserir no modelo produtivo, agora não através

da sujeição pessoal, mas sim, de maneira subordinada12

.

É pertinente dizer que no ordenamento jurídico existe a presunção relativa de

que diante uma prestação de serviços por uma pessoa natural, exista a configuração de

uma relação empregatícia. Isso acontece devido ao fato da relação de emprego ser a

regra geral dentro do sistema capitalista e também porque, com a criação do Direito do

Trabalho, tornou-se o tipo de trabalho mais favorável para a pessoa humana13

.

2.2 RELAÇÃO DE TRABALHO E RELAÇÃO DE EMPREGO

A relação de trabalho é comumente confundida com o conceito de relação de

emprego. Entretanto, a relação de emprego é apenas uma espécie do gênero relação de

9DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013.

10Ibid.

11RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. 9 ed. Curitiba: Juruá, 2002.

12 DELGADO, op. Cit.

13Ibid.

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14

trabalho, sendo correto afirmar que toda relação de emprego é relação de trabalho, mas

nem toda relação de trabalho é relação de emprego. A relação de trabalho é definida por

Maurício Godinho Delgado14

como sendo “toda relação jurídica caracterizada por ter

sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor

humano”.

Além da modalidade relação de emprego, pode-se dizer que o conceito de

relação de trabalho contempla, de maneira exemplificativa, essas outras modalidades:

relação de cooperativo; relação de trabalho de estágio; relação de trabalho autônomo;

relação de trabalho eventual; relação de trabalho avulso; relação de trabalho voluntário;

e relação de trabalho institucional.15

Todas essas modalidades apresentam características

próprias, no entanto, foge do propósito do presente trabalho estudar cada um delas.

Faz parte, portanto, do conceito de relação de trabalho todo tipo de contratação

envolvendo labor humano admissível no Direito. Mas, é preciso dizer que a relação de

emprego é a espécie de pactuação de prestação de trabalho mais importante e a que mais

recebe proteção do ordenamento jurídico, já que o desenvolvimento do ramo

justrabalhista, a partir do século XIX, foi desenvolvido e estruturado em torno desse

tipo de relação de trabalho16

.

2.3 CONCEITO E REQUISITOS CARACTERIZADORES DA RELAÇÃO DE

EMPREGO

A relação de emprego é concretizada através da constatação da presença de

determinados requisitos que diferenciam o empregado de outras modalidades de

trabalhadores, já que é despicienda para a identificação do vínculo de emprego o tipo de

trabalho realizado ou o local onde serão prestados os serviços, mas o que importa é se

estamos diante ou não do tipo de “trabalhador” definido na CLT.

O conceito de empregado presente na CLT decorre da interpretação dos artigos

2° e 3º17

. A conjugação desses dois artigos faz-se necessária porque, não obstante, o

14

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 277 15

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 16

DELGADO, op. cit. 17

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da

atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço [...]

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15

conceito de empregado na CLT estar previsto no artigo 3º, esse é incompleto e necessita

ser interpretado com o artigo 2º.

Com as leitura desses dois artigos, pode-se conceituar empregado como sendo o

vínculo de trabalho humano realizado por pessoa física que, sem assumir os riscos da

atividade econômica, presta serviço a terceiros de maneira pessoal, subordinada,

onerosa e não eventual. Esse conceito contempla seis requisitos definidores da relação

de emprego, quais sejam: prestação de trabalho por pessoa física, pessoalidade, não

eventualidade, onerosidade, subordinação e alteridade.

É interessante observar que somente no art. 2º da CLT consta o requisito da

alteridade (“assumindo os riscos da atividade econômica”) e o requisito da pessoalidade

(“prestação pessoal de serviço”). Por isso, no que diz respeito à alteridade, na doutrina é

comum não ser mencionado esse requisito como caracterizador da relação de emprego,

mormente por ele aparecer apenas de maneira implícita no art. 3º da CLT e não no

artigo 2° da CLT que traz o conceito de empregado18

.

No que tange à definição feita no art. 2º CLT de empregador como sendo “a

empresa individual ou coletiva”, Maurício Godinho Delgado19

explica que, não obstante

a impossibilidade de empregador ser uma empresa, a utilização dessa palavra no

mencionado artigo visa deixar claro que eventual mudança do titular da empresa não

terá qualquer consequência na relação empregatícia anteriormente estabelecida.

O primeiro requisito mencionado exige que a prestação do serviço seja realizada

por uma pessoa física, ou seja, uma pessoa natural, não sendo admitido que uma pessoa

jurídica seja empregada. Para o referido autor, os “bens jurídicos (e mesmo éticos)

tutelados pelo Direito do Trabalho (vida, saúde, integridade moral, bem-estar, lazer,

etc.) importam à pessoa física, não podendo ser usufruídos por pessoas jurídicas” 20

.

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a

empregador, sob a dependência deste e mediante salário [...]

18

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 19

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013. 20

Ibid., p. 282.

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16

O requisito da pessoalidade exige que o empregado contratado execute os seus

serviços pessoalmente, sendo primordial nessa modalidade de trabalho o caráter de

infungibilidade, isso quer dizer, que o empregado não poderá ser substituído por outro

obreiro durante a execução do contrato. O fato da obrigação assumida pelo empregado

ser personalíssima, autoriza concluir que o vínculo empregatício não poderá ser

transmitido a herdeiros e sucessores21

.

É preciso entender que a exigência dessa natureza intuitu personae na relação de

emprego somente ocorre em relação ao empregado, mas não em relação ao empregador.

Isso porque conforme o princípio da despersonalização do empregado é irrelevante para

a continuidade da relação de emprego, alterações subjetiva no que diz respeito à figura

do empregador, encontrando respaldo jurídico, principalmente, no artigo 10 e 448 da

CLT22

.

O terceiro requisito é o da não eventualidade. Aqui está pressuposto a repetição

do serviço, mas não quer dizer uma repetição diária, mas sim, uma previsão de

repetibilidade futura que faz com que o trabalho seja considerado não eventual. Isso

autoriza concluir que, se uma garçonete de um restaurante trabalhe apenas aos finais de

semana, ela exerce uma atividade permanente da empresa com previsão de

repetibilidade futura e, consequentemente, possui uma relação de trabalho com o

empregador de maneira não eventual.

A execução do serviço pelo empregado deverá ocorrer de maneira contínua no

sentido que exerce alguma atividade que está ligada diretamente nas atividades que são

normais e rotineiras da empresa. O lapso temporal que os serviços são executados não

importa para a configuração do elemento da não eventualidade.

Sobre a exigência da CLT do elemento da não eventualidade para configuração

da relação empregatícia, Paulo Vilhena23

entende que o legislador foi muito exigente e

21

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013. 22

Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus

empregados.

Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de

trabalho dos respectivos empregados. 23

VILHENA, Paulo Emília Ribeiro de. Relação de Emprego. 3 ed. São Paulo: Ltr, 2005.

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17

rigoroso na previsão de um elemento dessa natureza, já que ele é muito vago e não

possui contornos definidos, mostrando-se muito maleável de caso para caso.

Para o autor, a exigência desse elemento somente existe porque o legislador não

conseguiu encontrar uma forma de aplicar os princípios, regras e institutos do Direito do

Trabalho em situações esporádicas de trabalhos prestados com subordinação, mas que

isso não deveria ser impedimento para resguardar os direitos trabalhistas desses tipos de

trabalhadores.

A relação de emprego pressupõe ainda a existência do requisito da onerosidade

que consiste na não gratuidade dos serviços prestados pelo empregado, devendo existir

uma contraprestação pecuniária em favor dele. Enquanto que o empregado possui a

obrigação de fornecer sua força de trabalho, surge a obrigação para o empregador de

remunerá-lo pelos serviços prestados.

Isso faz supor que quando estamos efetivamente diante de um trabalho

voluntário, não poderemos jamais caracterizar a formação de um vínculo empregatício.

É claro que em determinado caso concreto, sendo constatada a existência de outros

elementos que configuram a relação de emprego, e que a ausência do elemento

onerosidade mostra-se com o único intuito de burlar a legislação trabalhista, a relação

empregatícia estará configurada com fulcro no art. 9º da CLT24

.

O requisito mais importante para a caracterização da relação de emprego é, sem

dúvidas, o da subordinação. É o empregador que vai determinar como a força de

trabalho será utilizada, cabendo ao empregado obedecer às ordens daquele.

Na menção feita no art. 3º a esse requisito, é utilizada a palavra dependência, e

não subordinação. Daí porque antigamente a subordinação era destacada pela doutrina

como sendo uma dependência econômica ou técnica. Atualmente a doutrina e

jurisprudência convergem no entendimento de que essa subordinação existente entre

empregado e empregador é jurídica “ainda que tendo por suporte e fundamento

24

Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou

fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.

Page 20: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

18

originário a assimetria social característica da moderna sociedade capitalista25

”. Moraes

Filho e Moraes26

trazem o conceito desse elemento da relação empregatícia em estudo:

Subordinação jurídica – Sob suas ordens significa que o prestador de

serviços não executa a tarefa como lhe aprouver, da forma que

desejar, a seu critério, livre e autonamente. Ele é um trabalhador

subordinado, dependente, dirigido por outrem (o empregador). Por

isso mesmo é que se constrói toda a legislação do trabalho,

exatamente para proteger alguém que, ao celebrar o contrato, abdica

da sua vontade, para subordinar-se durante os horários de trabalho e

dentro de sua qualificação profissional. Cabe ao empregador dirigir,

fiscalizar, controlar e aferir a produção do seu empregado, é ele o

titular do negócio, a autoridade, o principal. Por isso mesmo também

são seus os riscos da atividade econômica :ubiemolumentum, ibionus.

Por fim, o requisito da alteridade é aquele extraído do artigo 2° da CLT que traz

a previsão de que o empregador assume os riscos da atividade econômica, justamente

devido ao fato do empregado não ter autonomia e por não usufruir de maneira totalitária

os frutos do seu trabalho ele deve está isento de qualquer responsabilidade.

Esse requisito deverá ser aplicado mesmo nos casos em que o empregador não

realize atividade de cunho econômico porque o que realmente pretende o ordenamento

jurídico é garantir a proteção do empregado através da responsabilização do empregador

pelo fruto do trabalho produzido27

.

O referido autor defende ainda que além desses elementos fáticos-jurídicos

caracterizadores da relação de emprego vistos acima, para a configuração da relação de

emprego ainda se faz necessária a análise da validade jurídica da relação formada com

base nos elementos jurídicos-formais previstos no art. 104 do Código Civil.28

Dessa

forma, não poderia ser configurada, por exemplo, eventual relação empregatícia quando

a atividade exercida pelo “empregado” estivesse relacionada ao tráfico de drogas.

25

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 294. 26

MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antônio Carlos Flores de. Introdução ao direito do

trabalho. 10. ed. São Paulo: Ltr: 2010. p. 274. 27

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 294. 28

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Page 21: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

19

3 A REESTRUTUTAÇÃO PRODUTIVA E A FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS

TRABALHISTAS

As crises do petróleo ocorridas nos anos de 1973 e 1979 abalaram a economia

mundial, uma vez que o petróleo é a maior fonte de energia da atualidade, sendo isso

comprovado pelo fato da “crise do petróleo” ter sido mencionada quase como sinônimo

de “crise do capitalismo”. Todo esse abalo sofrido pelo capitalismo ocasionou um

descontrole inflacionário, fazendo com que fossem buscadas novas alternativas

econômicas, realizando-se o que se denominou de reestruturação produtiva do capital29

.

Para Palmeira Sobrinho30

:

A reestruturação produtiva consiste no conjunto de inovações

tecnológicas e organizacionais que afetaram os processos de gestão da

produção, da força de trabalho e da relação entre as empresas, visando

o aumento da competitividade, da flexibilidade produtiva e dos índices

de produtividade.

O modelo hegemônico de produção do capitalismo até então era o do

fordismo/taylorismo, que abrangia as ideias de organização do trabalho propostas por

Frederick Winslow Taylor através da obra “Os Princípios da Administração Científica”

e as transformações trazidas posteriormente por Henry Ford31

.

O fordismo ficou conhecido pelo elevado nível de produtividade das empresas,

utilizando-se do salário no valor de US$ 5,00 (cinco dólares) por dia (que era alto para a

época) visava atrair mão-de-obra e propiciar a formação de uma massa de consumidores

em potencial32

.

29

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013. 30

PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores

dasempresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grandedo Norte, Natal,

2006, p. 84, p. 161.Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-

14T010254Z-667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 JUL. 2013. 31

COSTA, Mariana Raquel. A terceirização ilícita como instrumento de precarização do trabalho na

construção civil. 2012. 52 p. Monografia (Graduação em Direito) – Setor de Ciências Jurídicas,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31384/MARIANA%20RAQUEL%20

COSTA.pdf?sequence=1>. Acesso em 12 out. 2013. 32

KREMER, Antonio. Reestruturação produtiva e precarização do trabalho: um estudo sobre as

transformações no mundo do trabalho. 2003. 160p. Dissertação (Mestrado em Administração - Setor de

Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/30509/R%20-%20D%20-

%20ANTONIO%20KREMER.pdf?sequence=1> Acesso em: 8 dez. 2013.

Page 22: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

20

Uma característica marcante do fordismo/taylorismo era o da produção

padronizada, exigindo do trabalhador uma performance individual e especializada

através de um processo de produção rígido. Entretanto, nos períodos das crises do

petróleo mencionadas, o modelo fordista/taylorista já estava dando evidências de

esgotamento através da queda de produtividade.

Com a reestruturação produtiva, a estratégia buscada pelas empresas foi a de

um modelo de produção dotado de maior flexibilidade. Surge, então, um novo modelo

denominado de toyotista que visa uma organização social do trabalho flexível, e que

diferentemente do modelo de produção fordista, busca a despecialização do

trabalhador33

. A execução de tarefas na empresa não é suficiente, “pede-se aos

trabalhadores que seja ágeis, estejam abertos a mudanças a curto prazo, assumam risco

continuamente, dependam cada vez menos de leis e procedimentos formais”34

.

O modelo toyotista de produção trouxe para o âmbito da administração de

empresas, o conceito de “empresas enxutas”, provocando verdadeiras transformações

nas linhas de montagem do fordismo. Foi verificada a redução das estruturas das

empresas visando à dedicação a atividade principal e a diminuição dos custos através de

uma programação empresarial que atendesse às variações do mercado.35

Alguns dos

objetivos pretendidos com as reformas eram o de aumentar o lucro através da maior

extração da mais-valia; aumento da produtividade; globalização da produção; apoio do

Estado através da redução da proteção social36

.

Após o desencadeamento da crise do capitalismo também foi colocado em

questão o lugar ocupado pelo Estado como regulador da economia e garantidor de

políticas sociais. De fato, predominava até então um modelo de organização em que o

Estado intervinha na economia e era forte garantidor dos direitos sociais, o chamado

Estado de Bem-Estar Social.

33

KREMER, Antonio. Reestruturação produtiva e precarização do trabalho: um estudo sobre as

transformações no mundo do trabalho. 2003. 160p. Dissertação (Mestrado em Administração - Setor de

Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. Disponível em:<

http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/30509/R%20-%20D%20-

%20ANTONIO%20KREMER.pdf?sequence=1> Acesso em: 8 dez. 2013. 34

SENNET, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo.

São Paulo- Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 9. 35

RICARDO, Antunes. O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São

Paulo: Boitempo Editorial, 2005. 36

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8.ed. Tradução de RoneideVenancioMajer. São Paulo:

Paz e Terra, 1999.

Page 23: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

21

Nesse mesmo período é verificada profunda transformações nas sociedades

capitalistas no que diz respeito à revolução tecnológica surgida nos EUA nos anos 70. O

novo modelo de desenvolvimento denominado de informacionalismo possui a sua fonte

de produtividade na tecnologia de geração de conhecimentos, do processamento da

informação e de comunicação de símbolos, principalmente, baseada na tecnologia da

microeletrônica. Toda essa revolução informacional é marcada pela importância e

utilização do conhecimento37

.

O avanço tecnológico propiciou o encurtamento de distâncias e a difusão da

informação de maneira veloz e mundial, originando a chamada globalização. As

inovações surgidas desse processo, propiciando uma maior interação entre os povos,

acarretaram uma maior concorrência entre as empresas e fizeram com que uma crise

financeira vivenciada por determinado país tenha reflexo global38

.

O processo de transição histórica para uma sociedade informacional e uma

economia global, através da flexibilidade e inovação pregada e defendida pelo

toyotismo, é caracterizado pela deterioração das condições de trabalho e de vida para

uma quantidade significativa de trabalhadores. Esses são facilmente descartados e

substituídos por novos que atendam às necessidades momentâneas do capital39

.

Diante disto, o trabalhador se sujeita a todos os caprichos do empregador,

exercendo atividades variadas dentro da empresa, fazendo o possível e o impossível

para que os lucros da empresa aumentem, tudo isso para garantir a manutenção do seu

emprego.

Por outro lado, todo esse empenho do trabalhador em aumentar os lucros da

empresa revela-se como “uma maior apropriação do capital sobre a subjetividade do

trabalhador” 40

. No mesmo sentido, Castro defende que: “O capitalismo que, para seu

37

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8.ed. Tradução de RoneideVenancioMajer. São Paulo: Paz

e Terra, 1999. 38

COSTA, Mariana Raquel. A terceirização ilícita como instrumento de precarização do trabalho na

construção civil. 2012. 52 p. Monografia (Graduação em Direito) – Setor de Ciências Jurídicas,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31384/MARIANA%20RAQUEL%20

COSTA.pdf?sequence=1>. Acesso em 12 out. 2013. 39

ALVES, Giovanni; ANTUNES, Ricardo. As mutações do mundo do trabalho na era da

mundialização do capital. Educação e Sociedade. Campinas, vol. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago. 2004.

Disponível em: <http://http://www.scielo.br/pdf/es/v25n87/21460.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2014. 40

COSTA, op. cit.

Page 24: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

22

funcionamento, consome bens, também consome os indivíduos e o trabalhador,

mediante a redução do seu significado na relação de produção, apartando-o mais e mais

do produto do seu trabalho” 41

.

Um argumento muito utilizado para defender essa nova realidade de

flexibilidade no trabalho vivida pelos trabalhadores é a de que a nossa organização do

trabalho permite que o trabalho seja executada de uma maneira mais livre e com

autonomia, quase como se o trabalhador fosse um sócio da empresa, tendo esse todo o

interesse de “vestir a camisa” e colaborar com o sucesso da produção.

Entretanto, essa afirmação seria uma ilusão, já que na atual reorganização

empresarial é constatada na prática uma sobrecarga do trabalhador com a execução de

diversas tarefas em um contexto de estresse e ansiedade, através vivência de uma

liberdade falsa, visto que surgem novos tipos de controle na execução do trabalho42

.

A forma tradicional de trabalho com base em emprego de horário integral,

projetos profissionais bem delineados e um padrão de carreira ao longo da vida estão

sendo extintos de forma lenta. A flexibilidade do processo produtivo na nova realidade

do capitalismo faz com que os trabalhadores vivam constantemente em uma situação de

risco43

.

Como não existe mais a hierarquia piramidal do tempo do fordismo, sendo a

estrutura da empresa dispersa, fica difícil saber com clareza quais as melhores escolhas

que devem ser feitas no que diz respeito aos cargos de trabalho. Muitas vezes os

trabalhadores acreditam que estão “subindo” na empresa, mas apenas estão mexendo de

um lado para o outro, isso quando não estão realmente perdendo com a troca de um

cargo por outro já que não conseguem visualizar no momento presente a consequência

de sua escolha e futuramente vivem o que os estudiosos denominam de “perda

retrospectiva” 44

.

41

CASTRO, Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de. Terceirização: uma expressão do direito flexível

do trabalho na sociedade contemporânea. 2012. 175 p. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de

Mestrado em Direito, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2012, p. 127. Disponível

em:<http://www.unicap.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=725>. Acesso em 10 jul. 2013. 42

SENNET, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo.

São Paulo- Rio de Janeiro: Record, 1999. 43

Ibid. 44

Ibid.

Page 25: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

23

Com o processo da revolução tecnológica a partir da década de 70 foi despertada

em grande parte da sociedade a sensação de que os trabalhadores seriam substituídos

por máquinas e que eles seriam desnecessários para a lógica produtiva do capitalismo.

Mas, o tempo demonstrou que ao lado do desaparecimento de empregos devido ao

surgimento de novas tecnologias, observou-se o surgimento de novos empregos, além

disso, o modo de produção toyotista, buscando a existência de empresas

descentralizadas e flexíveis ocasionou o surgimento de novas relações de trabalho45

.

Toda essa nova transformação vivida na relação de produção através do modelo

toyotista evidenciou que o Direito do Trabalho Clássico, que surgiu como mecanismo

de socialização do trabalhador dentro do contexto do capitalismo, já não era capaz de

atender as transformações ocorridas na sociedade, mostrando-se necessário a

“implementação de novas formas de organização e gestão do trabalho” 46

.

Nesse momento começa a surgir a tese de que a flexibilização do Direito do

Trabalho seria necessária para estabilizar os conflitos econômico-sociais surgidos e

resolver o problema do capital e do trabalho. O conceito desse fenômeno da

flexibilização trazido por Thébaund-Mony eDruck47

é o seguinte:

[...] processo que tem condicionantes macroeconômicos e sociais

derivados de uma nova fase de mundialização do sistema capitalista,

hegemonizado pela esfera financeira, cuja fluidez e volatilidade

típicas dos mercados financeiros contaminam não só a economia, mas

a sociedade em seu conjunto, e, desta forma, generaliza a

flexibilização para todos os espaços, especialmente no campo do

trabalho.

Nesse processo de transformação do capital através da reestruturação produtiva,

que procurou afastar do Estado da intervenção econômica e da garantia do bem-estar

social, não poderia ter deixado de existir alguma mudança no que diz respeito ao Direito

45

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8.ed. Tradução de RoneideVenancioMajer. São Paulo: Paz

e Terra, 1999. 46

KREMER, Antonio. Reestruturação produtiva e precarização do trabalho: um estudo sobre as

transformações no mundo do trabalho. 2003. 160p. Dissertação (Mestrado em Administração - Setor de

Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/30509/R%20-%20D%20-

%20ANTONIO%20KREMER.pdf?sequence=1> Acesso em: 8 dez. 2013. 47

THÉBAUD-MONY, Annie; DRUCK, Graça.Terceirização: a erosão dos direitos dos trabalhadores na

França e no Brasil. In: DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (orgs.). A perda da razão social do trabalho:

terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 29.

Page 26: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

24

do Trabalho, já que ele foi criado justamente para frear a exploração trabalhista e

garantir uma maior igualdade social dentro capitalismo48

.

Com a reestruturação produtiva aumentou-se a competitividade entre as

empresas, fazendo com que apenas sobrevivam aquelas que consigam reduzir os seus

custos. Para Martins49

somente é possível que determinada empresa esteja apta a

competir no mercado, interno ou externo, se estiver inserida no processo de

flexibilização.

No entanto, a instabilidade sofrida pelo capital não pode justificar a

precarização das relações de trabalho, negando a incidência dos direitos trabalhistas que

foram conquistados com tanto esforço50

.

Lívia Miraglia51

, não obstante, defenda ser necessário uma adaptação do ramo

justrabalhista à nova realidade econômico-social, alega que a flexibilização trabalhista

não pode continuar da forma perversa que vem se mostrando, tendo como finalidade

apenas atender os interesses econômicos.

Nessa redução de custos pretendida pelas empresas na atual fase do capitalismo,

uma das principais estratégias utilizada é a da diminuição do valor dos salários pagos

aos trabalhadores. No entanto, esse artifício mostra-se bastante contraditório porque

existência de trabalhadores com o potencial de serem consumidores dos produtos e

serviços oferecidos na sociedade é que vai garantir a sobrevivência do próprio sistema

capitalista52

.

Uma ideologia muito defendida como a reestruturação produtiva foi a de futura

escassez dos empregos, sendo aceito por muitas pessoas que entre ficar desempregado e

48

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. Ed. São Paulo: LTr, 2013. 49

MARTINS, Sergio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000. 50

ANTUNES, Ricardo. Dimensões da precarização estrutural do trabalho. In: DRUCK,FRANCO; Tânia;

DRUCK, Graça (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo:

Boitempo, 2007. 51MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo: QuartierLatin, 2008. 52

ABE, Maria Inês Miya. Franchising, terceirização e grupo econômico: a responsabilidade solidária

como instrumento de combate à precarização das relações trabalhistas. 2011. Tese (Doutorado em Direito

do Trabalho) – Faculdade de Direito, universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2138/tde-14052012-163149/>. Acesso em: 04 mar. 2014.

Page 27: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

25

ter um trabalho precarizado, a última opção é a melhor. Mas, como foi visto, não se

pode dizer que atualmente existe uma menor quantidade de postos de trabalho, já que,

não obstante, a revolução tecnológica tenha extinto muitos tipos de empregos,

vislumbrou-se o surgimento de outros nunca pensados.

O que existe é uma tentativa do capital de justificar a flexibilização dos direitos

trabalhistas, sendo a ameaça de desemprego utilizada como mecanismo de

reconhecimento de que a flexibilização é necessária para a manutenção dos empregos,

não existindo, porém, nada que comprove essa alegação53

.

A flexibilização trabalhista mostra-se presente no surgimento das novas formas

de relação de trabalho que não param de serem criadas através de brechas que afastam a

incidência das normas trabalhistas. Em outras palavras, as empresas estão procurando

fugir da tradicional relação empregatícia, na qual o trabalhador está resguardado por

inúmeros direitos conquistados durante muito tempo54

.

O trabalho intelectual na atual fase do capitalismo é muito valorizado, exigindo

que os trabalhadores estejam sempre se especializado para garantir os melhores cargos

dentro da empresa. Entretanto, devido à dificuldade da maior parte da mão-de-obra no

Brasil de aprimorar os seus conhecimentos, seja por dificuldades financeiras ou por falta

de tempo, acabam sendo obrigados a aceitar a realização de atividades precarizadas55

.

A nossa Carta Magna trouxe a previsão de flexibilizações de direitos trabalhistas

indisponíveis através da negociação coletiva. Lívia Miraglia56

defende que o intuito do

governo foi o de transferir a responsabilidade da precarização para os sindicatos, isso

porque se objetivo desses é o de proteger os trabalhadores, se aprovarem através da

53

PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Desproteção trabalhista e marginalidade social:

(im)possibilidades para o trabalho como categoria constitucional e inclusão. 191p. Dissertação (Mestrado

em Direito, Estado e Constituição) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília,

Brasília, 2010. Disponível

em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7140/1/2010_NoemiaAparecidaGarciaPorto.pdf>. Acesso

em 03 abr. 2014. 54 COSTA, Mariana Raquel. A terceirização ilícita como instrumento de precarização do trabalho na construção civil. 2012. 52 p. Monografia (Graduação em Direito) – Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível em:< http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31384/MARIANA%20RAQUEL%20COSTA.pdf?sequence=1>. Acesso em 12 out. 2013. 55 MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo: QuartierLatin, 2008. 56

Ibid.

Page 28: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

26

negociação coletiva algo que posteriormente mostrou-se prejudicial aos obreiros, a

culpa foi da força sindical que não soube negociar.

Dentro desse contexto de flexibilização dos direitos trabalhistas, surge a

terceirização que, não obstante, envolva cada vez mais um número maior de

trabalhadores, não existe ainda no Brasil, regulamentação legal que trate de maneira

geral desse fenômeno.

4 TERCEIRIZAÇÃO

Após a crise do modelo fordista, verificou-se uma maior competitividade entre

as empresas e busca pelo lucro, sendo a terceirização umas das estratégias mais

utilizadas pela Ciência da Administração a partir de então para alcançar esse desiderato.

Maurício Godinho Delgado57

explica que:

A expressão terceirização resulta de neologismo oriundo da palavra

terceiro, compreendido como intermediário, interveniente. Não se

trata, seguramente, de terceiro, no sentido jurídico, como aquele que é

estranho a certa relação jurídica entre duas ou mais partes. O

neologismo foi construído pela área de administração de empresas,

fora da cultura do Direito, visando enfatizar a descentralização

empresarial de atividades para outrem, um terceiro à empresa.

A terceirização é verificada aqui no Brasil, por volta de 1950, quando as

multinacionais ligadas ao ramo automobilístico, visando à concentração na montagem e

venda dos automóveis, descentralizou a fabricação através da contratação de empresas

terceirizantes que produzissem as partes do carro de acordo com a padronização

desejada pelo montador58

.

No entanto, é importante dizer que mesmo no modelo de produção fordista, já

existia em alguns setores a aquisição de produtos ou serviços com terceiros, o que

mudou durante o processo de reestruturação produtiva é que esse fenômeno da

terceirização tornou-se bastante comum.59

A terceirização começou a ser realmente

57

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 436. 58

MARTINS, Sergio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. 59

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível

em:<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013.

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27

utilizada no Brasil a partir do governo do presidente Fernando Collor de Melo, o qual

foi marcado pelo programa nacional de desestatização e de abertura do mercado

nacional60

.

Na terceirização existe um fornecimento de atividade especializada por um

terceiro, comumente chamado de prestador de serviços ou empregador aparente, para

um tomador de serviços, denominado também de empregador real. Justamente pelo fato

do trabalho humano não ser uma mercadoria, o fornecimento do prestador de serviços

para o tomador de serviços é o de atividades especializadas, não podendo configurar um

fornecimento de trabalhadores.

A Instrução Normativa nº 03, de 1º de Setembro de 1997, editada pelo

Ministério do Trabalho conceitua a prestação de serviços a terceiros como sendo: “a

pessoa jurídica de direito privado, de natureza comercial, legalmente constituída, que se

destina a realizar determinado e específico serviço a outra empresa fora do âmbito das

atividades-fim e normais para que se constitui essa última.” A mencionada Instrução

traz ainda a previsão que a prestação “poderá se desenvolver nas instalações físicas da

empresa contratante ou em outro local por ela determinado.”

É verificado na terceirização, portanto, uma relação jurídica triangular,

diferentemente da relação jurídica estabelecida no contrato de trabalho que é bilateral,

existindo uma dissociação dos requisitos que caracterizam a relação de emprego

previsto na CLT.

A natureza jurídica do vínculo formado entre a empresa prestadora de serviços e

a tomadora é de contrato civil de atividade, se a relação estabelecida não envolver

entidade estatal, já que nessa última hipótese, estaríamos diante de um contrato

administrativo regido pela lei 8.666/93(Lei de Licitações). Por outro lado, o vínculo

formado entre o trabalhador terceirizado e a empresa prestadora de serviços é

60

PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores

das empresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T010254Z-

667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 jul. 2013.

Page 30: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

28

empregatício, sendo essa responsável pela celebração do contrato e por todos os

encargos e obrigações dele decorrentes61

.

Como a regra geral aqui no Brasil é a da proibição da intermediação de mão-de-

obra, faz-se mister que a empresa terceirizante forneça uma atividade especializada. Se

a empresa prestadora de serviços apenas fornece trabalhadores de maneira aleatória para

a tomadora de serviços, configura-se nessa hipótese, a existência de uma empresa que

realiza o gerenciamento de trabalhadores, tratando-os como mercadoria, o que é

totalmente vedado pelo nosso ordenamento jurídico62

.

Desse modo, a empresa tomadora ao contratar determinado serviço

especializado da empresa terceirizante, deverá especificar qual o tipo e forma de

realização do serviço que deseja no momento da realização do contrato civil de

prestação de serviços, não cabendo à primeira empresa coordenar os serviços que

posteriormente serão executados pelo trabalhador terceirizado, sob pena de

configuração do elemento da pessoalidade. Nesse sentido, a Instrução Normativa nº

3/97 no seu art. 2º, §§ 5º e 6º 63

.

Sérgio Pinto Martins64

defende que para se evitar a configuração do requisito

pessoalidade dentro da terceirização, deve existir uma rotatividade dos terceirizados e

uma distinção visível entre esses e os empregados efetivos da tomadora de serviços

através do uso de cartões de identificação e uniformes diferentes.

Não pode existir interdependência entre a empresa tomadora e prestadora de

serviços. Essa última deve ser especialista em determinado serviço, sendo o contrato

civil realizado em virtude de significar para a tomadora a execução de serviços com

mais perfeição e menor custo, devendo a empresa prestadora possuir independência

econômica e jurídica65

.

61

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 62

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

QuartierLatin, 2008. 63

§ 5º A empresa de prestação de serviços a terceiros contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por

seus empregados.

§ 6º Os empregados da empresa de prestação de serviços a terceiros não estão subordinadas ao poder

diretivo, técnico e disciplinar da empresa contratante. 64

MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. 65

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

Page 31: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

29

É muito comum grandes empresários criarem empresas menores para realizar de

maneira descentralizada algumas atividades da empresa principal. O intuito dessa

postura é de fugir das obrigações trabalhistas em relação às empresas menores através

de uma aparente celebração de contrato civil de prestação de serviços entre as empresas.

Entretanto, posturas como essas são vedadas pelo art. 9º da CLT66

.

Uma atividade que para Sérgio Pinto Martins67

é bastante utilizada na

terceirização é o transporte de funcionários, sendo preferível ao empregador não

oferecê-lo diretamente para os trabalhadores a fim de que o tempo in itinere não seja

computado na jornada de trabalho, conforme preceitua o art. 58, § 2º da CLT e a

Súmula 90 do TST. Em sentido contrário, ao tratar dos requisitos para configuração das

horas in itinere, Maurício Godinho Delgado68

defende que:

É óbvio que não elide o requisito em exame a circunstância de o

transporte ser efetivado por empresa privada especializada

contratada pelo empregador, já que este, indiretamente, é o que

está provendo e fornecendo. Aqui também não importa que o

transporte seja ofertado pela empresa tomadora de serviços, em

casos de terceirização, já que há, evidentemente, ajuste expresso

ou tácito nesta direção entre as duas entidades empresariais.

A terceirização como instrumento de gestão empresarial nada tem de ilícito, uma

vez que não existe lei que proíba a sua aplicação além de ter como fundamento legal o

art. 594 do CC e art. 170, parágrafo único da CF69

. No entanto, com o passar do tempo,

“a terceirização se intensificou, estimulando a curiosa noção de ser apenas um modo

atual do trabalho e ocultando a diluição dos direitos dos trabalhadores” 70

.

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível

em:<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 66

Ibid. 67

MARTINS, op. cit. 68

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 885. 69

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível

em:<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 70

CASTRO, Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de. Terceirização: uma expressão do direito flexível

do trabalho na sociedade contemporânea. 2012. 175 p. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de

Mestrado em Direito, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2012. Disponível

em:<http://www.unicap.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=725>. Acesso em 10 jul. 2013, p.

100.

Page 32: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

30

No âmbito empresarial, a terceirização é defendida, principalmente, com base no

discurso de que ela possibilita um maior aprimoramento das atividades secundárias da

empresa, tendo em vista que elas seriam realizadas por empresas especializadas em

determinada função, além disso, permitiria que a empresa tomadora gastasse toda a sua

energia e tempo no seu negócio principal, ou seja, na sua atividade-fim71

.

Na prática da terceirização, todo esse discurso defendido pela Ciência da

Administração não se apresenta de maneira consistente. A verdadeira lógica da

terceirização para os empresários está inserida dentro do contexto da reestruturação

produtiva do capital, sendo o verdadeiro objetivo dessa prática a redução dos custos

visando uma maior competitividade entre as empresas.

Henrique Macedo Hinz72

explica que o argumento utilizado pelos empresários

no sentido da obtenção de serviços especializados através da terceirização possui apenas

a finalidade de dar um caráter menos materialista ao seu uso, mas que na verdade não se

pode dizer, por exemplo, que a atividade de limpeza de uma empresa, possa ser mais

bem executada através de trabalhadores terceirizados do que por trabalhadores da

própria empresa.

Para Zéu Palmeira Sobrinho,73

o principal intuito para o empregador recorrer a

esse modelo organizacional é aumentar o lucro capitalista através da compra e venda da

força de trabalho realizada de uma maneira dissimulada.

A sociedade capitalista é caracterizada por uma necessidade intensa de consumo,

daí as empresas colocarem no mercado produtos com curta vida útil, já que os

consumidores fomentados pelas propagandas comerciais desejam cada vez mais

novidades e compram compulsivamente coisas de que realmente não precisam.

Entretanto, a rapidez com que um produto é posto no mercado vai depender de

uma flexibilidade que não estava presente no antigo modelo fordista, mas sim, no atual

modelo toyotista. Disso, pode ser visualizado que a terceirização não visa à

71

GIOSA, L.A. Terceirização: uma abordagem estratégica. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1997. 72

HINZ, op. cit. 73

PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores das

empresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Centro

de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T010254Z-

667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 JUL. 2013.

Page 33: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

31

especialização dos produtos e serviços através da produção horizontalizada para

aumentar a qualidade do produto, o intuito é o de se obter o fornecimento de maneira

flexível, deixando com que as oscilações na demanda sejam arcadas pelas empresas

terceirizadas74

.

Diferentemente do Brasil, os países da Europa ocidental, possuem uma força

sindical forte, fazendo com que os trabalhadores terceirizados gozem dos mesmos

direitos dos que trabalham na empresa tomadora de serviços. Diante disto, como não

existe possibilidade de auferir lucros em detrimento de direitos trabalhistas, o instituto

da terceirização não é utilizado de maneira tão ampla como é verificado aqui no nosso

país75

.

Por isso, Rodrigo de Lacerda Carelli76

defende que para uma maior humanização

da terceirização devem ser adotadas as seguintes providências: a responsabilidade

solidária da empresa tomadora pelas obrigações trabalhistas; a isonomia dos direitos e

benefícios dos trabalhadores; e a possibilidade dos terceirizados fazerem parte do

sindicato da empresa principal.

Para o autor, somente desta forma, seria afastado o atrativo da terceirização

pelas empresas com base na redução dos custos através da redução dos direitos dos

trabalhadores. E, assim, somente restariam as verdadeiras terceirizações, ou seja,

situações em que as empresas prestadoras de serviços seriam procuradas pela tomadora

em razão dos serviços especializados, da tecnologia e estrutura oferecidas.

4.1 NORMATIVIDADE JURÍDICA SOBRE TERCEIRIZAÇÃO

A utilização desenfreada da terceirização no Brasil deve-se ao fato de não existir

norma regulamentadora que trate de maneira geral desse fenômeno. O que existe são

74

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do tomador

de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA, vol. 1, n.

4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível em:<

http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 75

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo: QuartierLatin,

2008. 76

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e direitos trabalhistas no Brasil. In: DRUCK, FRANCO;

Tânia; DRUCK, Graça (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São

Paulo: Boitempo, 2007.

Page 34: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

32

previsões legais que tratam de hipóteses específicas de terceirização e jurisprudência do

assunto77

.

Apesar de somente a partir da década de 1970, tornar-se visível no cotidiano

brasileiro o fenômeno da terceirização, alguns autores consideram que a empreitada e

subempreitada previstas nos art. 455 da CLT78

é a modalidade precursora da

terceirização, apesar de na época da consolidação das leis trabalhistas, a terceirização

ainda não ter se firmado. No entanto, o que existe de mais relevante sobre o assunto

atualmente é a grande divergência doutrinária no que diz respeito à subsidiariedade ou

solidariedade da responsabilidade do empreiteiro79

.

O retro artigo trata especificamente da responsabilidade do empreiteiro e do

subempreiteiro, mas não menciona nada a respeito de eventual responsabilidade do

dono da obra decorrente do inadimplemento das verbas trabalhistas por parte do

primeiro contratado. Diante disto, o TST tratou do assunto através da orientação

jurisprudencial 191 da Seção de Dissídios Individuais-180

.

Outro marco do fenômeno da terceirização no Brasil foi a edição do Decreto-Lei

nº 200, de 1967, o qual incentiva a terceirização de atividades de apoio (tarefas

executivas) na administração. Não obstante o referido decreto não mencionar

expressamente o termo terceirização, ele faz referência a terceirização de atividades-

meio da Administração federal ao mencionar que essas deverão ser descentralizadas à

iniciativa privada mediante contrato “desde que exista, na área, iniciativa privada

suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos da execução”.

77

MIRAGLIA, op. cit. 78

Art. 455 - Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do

contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o

empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro.

Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva contra

o subempreiteiro e a retenção de importâncias a este devidas, para a garantia das obrigações previstas

neste artigo. 79

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 80

CONTRATO DE EMPREITADA. DONO DA OBRA DE CONSTRUÇÃO

CIVIL. RESPONSABILIDADE. (nova redação) - Res. 175/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e

31.05.2011

Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato de empreitada de construção civil entre o

dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações

trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou

incorporadora.

Page 35: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

33

Posteriormente, a Lei nº 5.645/70 trouxe previsto no seu artigo 3º, um rol

exemplificativo das atividades que poderiam ser objeto de execução indireta por parte

da administração pública nas áreas de direção e assessoramento superiores; pesquisa

científica e tecnológica; diplomacia; magistério; polícia federal; tributação, arrecadação

e fiscalização; artesanato, serviços auxiliares; artesanato e outras atividades de nível

superior e médio.

Com a Lei nº 6019 foi instituída a Lei do Trabalho que trouxe explicitamente a

possibilidade, ainda que em restritas hipóteses, de intermediação de mão de obra no

Brasil, conforme pode ser observado da leitura do seu art. 4º: “Compreende-se como

empresa de trabalho temporário a pessoa física ou jurídica urbana, cuja atividade

consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores,

devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos.

Diferentemente do que ocorre nas outras formas de terceirização, no trabalho

temporário existe uma regulação específica no que diz respeito aos direitos trabalhistas

e obrigações das empresas tomadoras de serviços quando da utilização desse tipo de

trabalho. Nesse tipo de terceirização, como o objetivo é o fornecimento do trabalhador

em si, existe uma subordinação direta do trabalhador ao tomador de serviços, podendo

também ser observada a presença da pessoalidade.

Entretanto, o trabalhador terceirizado temporário deverá ser, conforme o art. 4º

da Lei nº 6.019/74, “devidamente qualificado” e “especializado”, de acordo com o art.

2º do Decreto nº 73.841/74. Pode-se dizer que o objetivo dessas exigências seja tanto a

de limitar a utilização desses tipos de trabalhadores tanto a de evitar fraude ao art. 17,

inciso I, da mencionada lei o qual garante ao trabalhador temporário “remuneração

equivalente à percebida pelos empregados da mesma categoria da empresa tomadora ou

cliente” 81

.

Ao contrário da Lei nº 6.019/74, que trazia a previsão de terceirização de caráter

transitório, a edição da Lei nº 7.102, em 20 de julho de 1983, apresentou uma

terceirização de efeitos permanente nos serviços de vigilância. A edição dessa última lei

foi necessária para combater a onde de assaltos a banco através de um serviço oferecido

por pessoas capacitadas para essa finalidade, sendo vedado pelo art. 1º, caput, da lei o

81

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo:LTr, 2013.

Page 36: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

34

“funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou

movimentação de numerário que não possua sistema de segurança” 82

.

A partir da leitura do 3º da Lei nº 7.102/8383

interpreta-se que somente os

estabelecimentos financeiros estão dispensados da terceirização obrigatória na prestação

de serviços de vigilância.

O art. 10, §2º, da Lei nº 7.102/83, acrescentado pela Lei nº 8.863, de 28-3-94,

ampliou expressamente o âmbito de atuação da categoria profissional dos vigilantes que

poderá “se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas;

estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residenciais; a

entidades sem fins lucrativos; e órgãos e empresas públicas”.

A Súmula 257 do TST que preceitua que “O vigilante, contratado diretamente

por banco ou por intermédio de empresas especializadas não é bancário” está em

conformidade com a Lei nº 7.102, uma vez que estamos diante de uma situação onde o

ordenamento jurídico brasileiro prevê expressamente a faculdade e, na maioria dos

casos, a obrigatoriedade da contratação de vigilantes através de empresa especializada

neste tipo de serviço84

.

No que diz respeito ainda à prestação de serviços através de empresas

terceirizantes, a Súmula 239 do TST na sua redação original dispunha que “É bancário

o empregado de empresa de processamento de dados que presta serviço a banco

integrante do mesmo grupo econômico.” Esse verbete surgiu no contexto de criação de

muitas empresas de processamento de dados para prestarem serviços a bancos, com o

intuito de burlar o artigo 224 da CLT, fazendo com que trabalhadores cumprissem

jornadas de 8 horas.

O problema da antiga redação da Súmula 239 foi o de que ela tratou o serviço de

processamento de dados como sendo uma atividade-fim dos bancos, tratando de um

82

Ibid. 83

Art. 3º A vigilância ostensiva e o transporte de valores serão executados:

I - por empresa especializada contratada; ou

II - pelo próprio estabelecimento financeiro, desde que organizado e preparado para tal fim, com pessoal

próprio, aprovado em curso de formação de vigilante autorizado pelo Ministério da Justiça e cujo sistema

de segurança tenha parecer favorável à sua aprovação emitido pelo Ministério da Justiça.

Parágrafo único. Nos estabelecimentos financeiros estaduais, o serviço de vigilância ostensiva poderá ser

desempenhado pelas Polícias Militares, a critério do Governo da respectiva Unidade da Federação. 84

MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2009.

Page 37: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

35

caso específico do Banco Banrisul, quando na verdade esse serviço é prestado

principalmente para terceiros, devendo ser analisado em cada caso concreto quando

verificada a ocorrência de fraude85

. Diante disto, a resolução nº 129/2005 modificou a

redação da Súmula 239 do TST86

.

Como já foi visto, os direitos dos trabalhadores foram conquistados durante anos

“através de uma história de lutas, de vidas violentamente ceifadas, através da ação de

verdadeiros mártires cujo legado perpetua-se na contemporaneidade” 87

, não se pode,

portanto, permitir um retrocesso social em nome da preservação do capitalismo, que já

se mostrou bastante antiético, mormente quando ausente de uma regulamentação

mínima por parte do Estado.

Pode-se dizer que todo o legado deixado pelas lutas dos trabalhadores por

direitos sociais, foram consagrados na Constituição Federal de 1988 através da previsão

de direitos constitucionais trabalhistas, como inerentes ao Estado Democrático de

Direito. A proteção desses direitos no contexto do avanço da exploração capitalista está

garantida através da vedação constitucional do retrocesso social e da exigência prevista

no art. 170 da nossa Carta Magna que a ordem econômica deve estar fundada na

valorização do trabalho e na garantia de uma existência digna para todos da sociedade88

.

O maior desafio para garantir a universalização dos direitos constitucionais

trabalhistas previstos principalmente no art. 7º da CF é o de estender a proteção para

todos os tipos de trabalhadores, e não apenas uma interpretação restrita a fim garantir os

direitos sociais ali previstos apenas para a relação empregatícia, já que os trabalhadores

que fazem parte desse tipo de relação mostram-se cada vez mais escassos89

.

85

Ibid. 86

É bancário o empregado de empresa de processamento de dados que presta serviço a banco

integrante do mesmo grupo econômico, exceto quando a empresa de processamento de dados

presta serviços a banco e a empresas não bancárias do mesmo grupo econômico ou a terceiros. 87

OLIVEIRA, Ailsi Costa de. Proteção da relação de emprego sob o prisma da dignidade da pessoa

humana. 2011. 277p. Dissertação (Mestre em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito –

PPGD do Centro de Ciências Socias Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

2011. Disponível em:< http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/1/9897/1/AilsiCO_DISSERT.pdf >.

Acesso em 12 nov. 2013, p. 33. 88

Ibid. 89

PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Desproteção trabalhista e marginalidade social:

(im)possibilidades para o trabalho como categoria constitucional e inclusão. 191p. Dissertação (Mestrado

em Direito, Estado e Constituição) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília,

Brasília, 2010. Disponível

Page 38: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

36

Com o advento da Constituição de 1988, a flexibilização dos direitos trabalhista

somente tornou-se possível através dos casos previstos na sua redação e tornou-se

imperativo que as interpretações no tocante às relações trabalhistas fossem realizadas

partindo-se da premissa de que a dignidade da pessoa humana deve estar garantida

acima de tudo. É, portanto, dentro dessa realidade que o fenômeno da terceirização

dever ser aplicado e estudado e não apenas como um tema pertencente apenas à

normatividade infraconstitucional90

.

4.2 Construção Jurisprudencial

Diante da insuficiência legislativa no tocante ao tema terceirização foi editada,

em 1986, a súmula 256 do TST.Essa Súmula apresentava-se bastante limitativa ao

fenômeno da terceirização, que já estava sendo amplamente utilizado na sociedade

brasileira. Na redação curta e simples da Súmula somente existe referência à

terceirização nos casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, determinando

que fora dessas duas hipóteses, qualquer terceirização seria ilícita, no sentido que o

vínculo entre o trabalhador terceirizado seria estabelecido com a tomadora de serviços.

Uma crítica muito comum em desfavor da Súmula 256 foi a de que ela não

mencionava as exceções previstas no Decreto-Lei nº 200/67, art. 10, caput e § 7º, e na

Lei nº 5.645/70, art. 3º, que autorizavam a Administração Pública a delegar a terceiros,

tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle, ou seja, atividades

meramente executivas. Além disso, “a posterior vedação expressa de admissão de

trabalhadores por entes estatais sem concurso público, oriunda da Constituição de 1988

(art. 37, II e § 2º), não tinha guarida na compreensão estrita contida na Súmula 256” 91

.

Na época que foi editada a Súmula 256 pelo TST já era muito comum a

utilização de outras formas de terceirização, principalmente, a de prestação de serviços

em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7140/1/2010_NoemiaAparecidaGarciaPorto.pdf>. Acesso

em 03 abr. 2014. 90

PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Desproteção trabalhista e marginalidade social:

(im)possibilidades para o trabalho como categoria constitucional e inclusão. 191p. Dissertação (Mestrado

em Direito, Estado e Constituição) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília,

Brasília, 2010. Disponível

em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7140/1/2010_NoemiaAparecidaGarciaPorto.pdf>. Acesso

em 03 abr. 2014. 91

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 448.

Page 39: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

37

de limpeza. Nas palavras de Castro92

“a terceirização é crescentemente complexificada

para, assumindo novas formas, incluir em seu âmbito, maior número de atividades e

trabalhadores.” Entretanto, como visto, somente foi mencionada na Súmula 256 a

licitude da terceirização para os casos de trabalho temporário e serviço de vigilância.

Dessa forma, como a terceirização já estava sendo amplamente utilizada pelas

empresas públicas e privadas brasileiras, o conteúdo da Sumula 256 do TST mostrou-se

anacrônico, não havendo mais a possibilidade de regredir de maneira tão drástica o

fenômeno terceirizante. Toda insatisfação e incongruência trazida pela referida Súmula

fez com que no ano de 1993 fosse realizada uma revisão pelo TST da Súmula 256 e

editada a Súmula 33193

.

No ano 2000, o inciso IV94

da súmula 331 sofreu uma modificação e tornou

explícita a responsabilidade subsidiária da Administração Pública no tocante aos

direitos trabalhistas do trabalhador terceirizado, da mesma forma que já era em relação

às tomadoras de serviço do setor privado. A responsabilidade subsidiária da

Administração Pública, também aplicada de maneira imediata na hipótese de

condenação da empresa prestadora por verbas trabalhistas inadimplidas, não exigia uma

análise da postura que o ente público adotou durante a execução do contrato de

terceirização celebrado95

.

92

CASTRO, Maria do Perpetuo Socorro Wanderley de. Terceirização: uma expressão do direito flexível

do trabalho na sociedade contemporânea. 2012. 175 p. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de

Mestrado em Direito, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2012. Disponível

em:<http://www.unicap.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=725>. Acesso em 10 jul. 2013, p.

96. 93

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente

com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego

com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da Constituição da

República).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102,

de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-

meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade

subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, desde que hajam participado da relação

processual e constem também do título executivo judicial. 94

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica na

responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos

órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das

sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do

título executivo judicial. 95

SANTOS, Thiago Alexandre dos. Responsabilidade civil da Administração Pública e o

inadimplemento de encargos trabalhistas na terceirização. 2012. 53p. Monografia (Graduação em

Direito) – Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível

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38

Eventual privilégio, no sentido de excepcionar a responsabilidade da

Administração Pública, no tocante ao inadimplemento dos direitos dos trabalhadores

terceirizados pela empresa escolhida, para executar determinado serviço no âmbito

público, faria parte de uma concepção ultrapassada e contrária à realidade normativa do

nosso atual Estado Democrático de Direito96

.

Entretanto, no que diz respeito a essa previsão de responsabilidade subsidiária da

Administração Pública, foi ajuizada Ação Direta de Constitucionalidade (ADC

16/2007) pelo Governador do Distrito Federal visando impedir a aplicação do item IV

da Súmula 331 através da declaração de constitucionalidade do artigo 71 da Lei nº

8.666/199397

.

Após o julgamento o julgamento da referida Ação Direta de Constitucionalidade,

a Súmula 331 sofreu novas modificações através da Resolução 174/2011, sendo criada

uma nova redação para o item IV em que não menciona a terceirização na

Administração Pública, mas que por outro lado, acrescenta o item IV, “o qual esclarece

que os entes integrantes da Administração Pública também respondem subsidiariamente

em caso de terceirização, desde que fique evidenciada sua conduta culposa,

especialmente a culpa in vigilando” 98

.

Na última alteração da Súmula 331 (Resolução 174/2011) também foi

acrescentado o item VI99

.

A redação do item I veda expressamente a intermediação de mão de obra,

coibindo-se, dessa forma, o tratamento do trabalhador como mercadoria, como objeto na

relação de trabalho. A única hipótese autorizada pelo ordenamento jurídico de

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31373/THIAGO%20ALEXANDRE%

20DOS%20SANTOS.pdf?sequence=1>. Acesso em 14 nov. 2013. 96

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013. 97

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais

resultantes da execução do contrato.

§ 1o A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não

transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do

contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de

Imóveis. 98

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013, 225. 99

VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da

condenação referentes ao período da prestação laboral.

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39

contratação de trabalhadores mediante empresa interposta é a prevista na Lei do

Trabalho Temporário. De fato, conforme o art. 4º da Lei nº 6.019/74, compreende-se a

empresa de trabalho temporário como sendo “a pessoa física ou jurídica urbana, cuja

atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente,

trabalhadores, devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos”.

Como pode ser observado, o contrato celebrado entre a empresa de trabalho

temporário e a empresa tomadora, possui como objeto a contratação de trabalhadores

que fiquem à disposição dos empregadores da empresa contratante, diferentemente das

demais hipóteses de terceirização, em que o acordo celebrado diz respeito à prestação de

algum serviço especializado.

O item II da Súmula corrigiu o anacronismo verificado na antiga Súmula 256 no

tocante à posterior previsão na Constituição Federal de 1988 de proibição de formação

de vínculo empregatício com a Administração Pública, por outro meio que não seja o

concurso público.

Já em relação à terceirização no setor privado, o item III trouxe três ressalvas

para a não formação do vínculo empregatício com a tomadora de serviços, ou seja, as

hipóteses em que a terceirização é permitida, além daquela já analisada em relação ao

trabalho temporário, desde que atendido os requisitos previstos na Lei nº 6.019/74. As

três hipóteses de terceirização permitidas através do item III são: atividades de

vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983); atividades de conservação e limpeza; e

serviços especializados ligados a atividade-meio do tomador.

A novidade trazida pelo item III da Súmula 331 em comparação à antiga Súmula

256 foi a da previsão explícita da terceirização nos caso de atividades de conservação e

limpeza e uma regra geral permitindo a contratação através de serviços relacionados à

atividade- meio da empresa tomadora. No entanto, vale observar que a Súmula não

trouxe nem mesmo um rol exemplificativo de quais seriam essas atividades-meio

autorizadas na terceirização.

Uma parte da doutrina considerou que a inclusão explícita da contratação de

serviços de conservação e limpeza como terceirização lícita no nosso ordenamento

jurídico significou um reflexo da discriminação que esse tipo de função sofre na nossa

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sociedade. Isso porque, não obstante os serviços de vigilância também apareçam de

maneira explícita na redação do item III da Súmula, já existia anteriormente uma Lei

específica que regulamentava a matéria, além disso, não existe razão de não ser ter

considerado os serviços de conservação e limpeza já contemplados na menção feita “à

atividades-meio do tomador.”

Devido ao fato da subordinação ser o elemento da que mais caracteriza a relação

de emprego, foi vedado explicitamente no item III da Súmula 331 a subordinação direta

na relação estabelecida entre a empresa tomadora de serviços e o trabalhador da

empresa terceirizante. Além disso, mencionado item também trouxe explicitamente a

proibição do elemento pessoalidade na contratação de serviços através da terceirização.

Os itens IV e V, já vistos anteriormente, tratam da responsabilidade subsidiária

tomadora de serviços em virtude de eventual inadimplemento das obrigações

trabalhistas, desde que essa tenha participado da relação processual e conste também do

título executivo judicial. Entretanto, as tomadoras de serviços públicos possuem um

tratamento diferenciado, exigindo-se que seja constatado por parte dessas, conduta

culposa no cumprimento das obrigações da Lei nº 8.666/93, principalmente no que

tocante à culpa in vigilando.

Por fim, de acordo com o item VI da Súmula, o tomador de serviços é

responsável por todas as verbas decorrentes ao período da prestação laboral.

A inserção desse item na Súmula trouxe uma significativa mudança na realidade

da terceirização porque antes disso, não obstante a previsão da redação original da

Súmula 331 da responsabilidade subsidiária do tomador de serviços, não mencionava

que tipos de obrigações trabalhistas seriam assumidas em virtude de inadimplemento

por parte da empresa prestadora de serviços.

Na Lei do Trabalho Temporário, que é anterior a edição da Súmula 331, somente

existe a previsão da responsabilidade por parte da tomadora de serviços na hipótese de

falência da empresa prestadora de serviços, conforme preceitua no seu art. 16.

Então, devido ao fato da Súmula 331 mencionar que a responsabilidade da

empresa tomadora é em relação a todas as obrigações assumidas pela empresa

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41

prestadora na terceirização, a leitura do mencionado art. 16 da Lei nº 6.019 deverá ser

feita em conformidade com o entendimento jurisprudencial sumulado. Além disso,

torna-se desnecessária para configuração da responsabilidade subsidiária, a exigência,

também prevista no art. 16, de que a empresa de trabalho temporário esteja em falência.

Tudo isso porque o trabalho temporário, apesar de toda sua especialidade, é tratado pela

Súmula 331 do TST como hipótese de terceirização100

.

Conforme a Súmula 331 do TST as hipóteses de terceirização lícita são quatro:

a) trabalho temporário; b) atividades de vigilância; c) atividades de conservação e

limpeza; serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador.

A principal novidade em relação à antiga Súmula 256 foi a possibilidade de

terceirização de qualquer atividade meio da empresa tomadora, sendo esse fato o

responsável pela difusão do uso da terceirização a todos os setores produtivos101

.

Convém ressaltar que no caso do trabalho temporário, a terceirização poderá

ocorrer tanto nas atividades meio como nas atividades fim e que a exigência de

“serviços especializados” aparece de maneira explícita na redação da Súmula somente

quando é mencionado a licitude da terceirização nas atividades meio.

Entretanto, no que tange à atividade de vigilância essa já é extremamente

especializada, tendo em vista que a Lei nº 7.102/83 exige para o exercício da profissão a

observância de inúmeros requisitos, dentre eles, a aprovação em curso de formação

autorizado nos termos da lei. O que não pode ser terceirizado é a atividade exercida pelo

vigia, esse se vincula diretamente ao tomador de serviços através do enquadramento na

categoria preponderante da empresa102

.

Por outro lado, não obstante a atividade de conservação e limpeza não ser

regulada por lei específica e seja difícil pensar qual tipo de especialidade pode ser

100

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013. 101

COSTA, Mariana Raquel. A terceirização ilícita como instrumento de precarização do trabalho na

construção civil. 2012. 52 p. Monografia (Graduação em Direito) – Setor de Ciências Jurídicas,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31384/MARIANA%20RAQUEL%20

COSTA.pdf?sequence=1>. Acesso em 12 out. 2013. 102

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013.

Page 44: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

42

exigida na execução desse tipo de serviço, o certo é que algum tipo de especialização a

empresa prestadora deverá oferecer. Isso para evitar que essa empresa seja enquadrada

apenas como empresa fornecedora de mão de obra, o que resultaria na caracterização de

uma terceirização ilícita.

Outra exigência para a possibilidade da terceirização é a ausência de

pessoalidade e subordinação direta do tomador de serviços em relação aos trabalhadores

terceirizados. Mas isso somente nas hipóteses de terceirização previstas no item III da

Súmula 331, sendo esse o motivo pelo qual o trabalho temporário foi regulado

separadamente no inciso I da mesma Súmula. De fato, como já foi visto, na

terceirização temporária prevista na Lei nº 6.019/74, existe a previsão de intermediação

de mão de obra e consequentemente da autorização da existência de pessoalidade e

subordinação direta em relação à empresa tomadora103

.

Assim, o tomador de serviços não deve especificar que determinado trabalhador

terceirizado execute as atividades na sua empresa, ficando a cargo da empresa

fornecedora a escolha de quais trabalhadores irão trabalhar em cada empresa, além da

responsabilidade de fiscalizar e coordenar a realização dos serviços. Para Palmeira

Sobrinho104

, entretanto, é uma ilusão acreditar que é possível um obreiro terceirizado

exercer suas atividades, sem que não exista nenhum tipo de controle por parte do

empregador da empresa tomadora de serviços.

Uma questão tormentosa na terceirização é a distinção de atividade meio e

atividade fim dentro de uma empresa. É como se o TST tivesse entendido que esse

binômio atividade meio/atividade fim é de fácil percepção na análise da multiplicidade

de tarefas executadas por determinada empresa. Em virtude da velocidade tecnológica

na atualidade, uma determinada atividade que há pouco tempo era enquadrada como

atividade-fim pode tornar-se uma atividade-meio, devendo ser analisado cada caso

concreto105

.

103

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 104

PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores

das empresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T010254Z-

667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 JUL. 2013. 105

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

QuartierLatin, 2008.

Page 45: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

43

O raciocínio de Jorge Luiz Souto Maior106

é o de que sendo o lucro o intuito de

todas as empresas, todas as atividades executadas convergem para atingir esse único

objetivo, sendo, portanto, todas igualmente importantes e consideradas atividades meio

na cadeia produtiva. Palmeira Sobrinho107

fazendo uma crítica ao critério adotado pelo

TST e defendendo que essa distinção relacionada as atividade exercidas pelas empresas

para determinar a licitude ou não da terceirização, vai depender, sobretudo, de como a

empresa tomadora especifica o objeto de sua atividade econômica, exemplifica que:

Nesse sentido, pelo parâmetro jurisprudencial, não seria atividade-fim

o trabalho da costureira que, ao prestar serviços em sua própria

residência, entrega a sua produção para uma empresa que se

autodefine como simples fornecedora de roupas para lojistas; por

outro lado, segundo as mesmas diretrizes, haveria atividade-fim se a

tal empresa passasse a se autodefinir como fabricante.

Essa imprecisão deixada na Súmula 331 do TST do que seria uma atividade-

meio ou uma atividade-fim de uma empresa fez com que surgissem injustiças através de

interpretações ora limitativas ora ampliativas do fenômeno da terceirização. A autora

exemplifica que a Lei Geral de Telecomunicações (Lei nº 9.472/1997) e a Lei de

Concessão e Permissão de serviços Públicos (Lei nº 8.984/1995) permitiram no seu art.

94, inciso II, a contratação de terceiros para execução de atividades inerentes ao

serviço108

.

A terceirização ilícita é visualizada quando não atendidos os requisitos previstos

na Súmula 331 do TST, ou seja, quando não estivermos diante de uma contratação

serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador e de serviços de

conservação e limpeza ou da terceirização regulada pela Lei nº 7.102/83 e Lei nº

6.019/47. Sendo que nos três primeiros casos, não poderá existir nem pessoalidade nem

subordinação, na relação estabelecida entre o empregador terceirizante e o obreiro

terceirizado.

106

SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. A terceirização sob uma perspectiva humanista. Revista do Tribunal

Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 70, n. 1, p. 119-129, jan./jun. 2004. Disponível em

:<http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/3812/tst_1-2004_8.pdf?sequence=1>. Acesso

em: 12 jan. 2014. 107

PALMEIRA SOBRINHO, op. cit., p. 111 108

RAMOS, Izabel Christina Baptista. Terceirização e a dignidade do trabalhador. Revista do Ministério

Público do Trabalho no Rio Grande do Norte, Natal, v. 11, n.11. p. 77-94, dez. 2012.

Page 46: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

44

A Súmula 331 preceitua que nos casos de terceirização ilícita o vínculo de

emprego estará estabelecido entre o trabalhador terceirizado e a empresa tomadora de

serviços. É interessante observar que essa previsão aparece tanto no item I (trabalho

temporário) quanto no item III (demais formas de terceirização lícita), sendo que no

primeiro caso a ilegalidade está na “contratação de trabalhadores por empresa

interposta” e no segundo caso está na “contratação de serviços”.

Dessa forma, segundo a Súmula 331, nos casos de terceirização ilícita é

desnecessária a análise de qualquer tipo de responsabilidade, seja subsidiária ou

solidária, por parte da tomadora ou da prestadora de serviços, tendo em vista o vínculo

empregatício será estabelecido como a primeira. Não obstante a omissão da Súmula,

muitos autores defendem que na concretização de uma terceirização ilícita a empresa

terceirizante teve a sua parcela de culpa, devendo ela ser solidariamente responsável ela

verbas trabalhistas com fulcro no art. 942 do Código Civil109

.

4.3 EFEITOS DA TERCEIRIZAÇÃO

Este capítulo tratará de alguns dos efeitos do fenômeno da terceirização mais

comentados pela doutrina. Primeiramente, será aprofundada a questão daprecarização

dos direitos trabalhista, a seguir será tratada a questão do salário equitativo e, por fim,

da atuação sindical dos terceirizados.

4.3.1 Precarização dos direitos trabalhistas

O resultado mais visível da terceirização, como estratégia utilizada para a

flexibilização dos direitos trabalhistas, está na precarização das condições de trabalho

dos obreiros. De fato, toda a instabilidade provocada nas relações de trabalho através da

reestruturação produtiva do capital dissipou a resistência da força de trabalho a fim que

fosse obtida uma maior extração da mais-valia110

.

Torna-se evidente que no tocante aos trabalhadores terceirizados, o fenômeno da

terceirização não trouxe nenhuma vantagem. Isso pode ser constatado através do fato

109

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo:

Método, 2013. 110

PALMEIRA SOBRINHO, Zéu. Reestruturação produtiva e terceirização: o caso dos trabalhadores

das empresas contratadas pela Petrobras no RN. 2006. 259 p. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) -

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

Disponível em: < http://bdtd.bczm.ufrn.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T010254Z-

667/Publico/ZeuPS.pdf>. Acesso em 10 JUL. 2013.

Page 47: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

45

de que grande parte dos obreiros terceirizados de hoje corresponde a antigos

empregados que possuíam todos os direitos trabalhistas garantidos111

.

Por não existir o interesse por parte da empresa prestadora de serviços de

investir na qualificação dos seus empregados, a maior parte das terceirizações é

verificada nos serviços onde se exige pouca especialização dos obreiros112

. Sendo

assim, os tipos de atividades exercidas são aquelas mais perigosas, insalubres ou que

exige um maior esforço físico dentro da empresa. Isso permite afirmar o surgimento de

“uma subclasse de trabalhadores” ou “obreiros de segunda categoria”, sendo essa

realidade inadmissível dentro do contexto de consolidação de um Estado Democrático

de Direito113

.

Mesmo na situação em que os serviços terceirizados são executados dentro da

empresa tomadora, observa-se que os trabalhadores terceirizados não participam do

plano de carreira e dos treinamentos oferecidos aos empregados efetivos da empresa.

Além disso, os obreiros terceirizados são tratados com indiferença e desvalorização no

ambiente de trabalho, sendo muito comum (apesar de não ser permitido) que os

empregadores da empresa tomadora deleguem para esses trabalhadores outros tipos de

atividade que não estavam previstas no contrato de prestação de serviços114

.

Também não existe a preocupação da tomadora de serviços com o cumprimento

das normas de saúde e segurança em relação aos trabalhadores terceirizados. Agindo

dessa forma, a empresa tomadora consegue externalizar toda a negatividade que

acontece no seu ambiente de trabalho, sejam os acidentes de trabalho ou as doenças que

acometem os trabalhadores terceirizados115

.

111

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

QuartierLatin, 2008. 112

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível

em:<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 113

OLIVEIRA, Ailsi Costa de. Proteção da relação de emprego sob o prisma da dignidade da pessoa

humana. 2011. 277p. Dissertação (Mestre em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito –

PPGD do Centro de Ciências Socias Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

2011. Disponívelem:< http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/1/9897/1/AilsiCO_DISSERT.pdf >.

Acesso em 12 nov. 2013. 114

Ibid. 115

SANTANA, Robson. Práticas de terceirização nas empresas industriais. In: DRUCK,FRANCO; Tânia;

DRUCK, Graça (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo:

Boitempo, 2007.

Page 48: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

46

Entretanto, é papel do Estado garantir que o meio ambiente do trabalho seja

seguro e confortável para todos os trabalhadores a fim de que esses possam ter sua

dignidade como pessoa humana protegida. Como essa proteção é garantida

constitucionalmente, não é permitida, portanto, essa distinção feita pela empresa

tomadora entre empregados efetivos e trabalhadores terceirizados no tocante a saúde e

segurança116

.

A precarização é agravada diante da competitividade entre as empresas

prestadoras de serviços, que com o intuito de serem escolhidas pela empresa tomadora,

oferecem preços baixos para a celebração do contrato de prestação de serviços. Essa

competitividade reflete na capacidade financeira da empresa terceirizante fazendo com

que essa pague salários muito baixos aos seus empregados e pratique comumente

fraudes trabalhistas, isso quando não fecha suas portas e desaparece117

.

O trabalhador é tratado como uma verdadeira mercadoria que pode ser

negociada entre as empresas, chegando-se ao absurdo de alguns contratos de

terceirização trazer a “previsão de aluguel de trabalhadores a mais como „cortesia‟ da

empresa contratada”118

.

Uma das consequências mais perversas da terceirização é o fato do trabalhador

perder a sua referência de tempo e espaço na execução dos seus serviços. Em relação ao

tempo, não existe uma garantia de continuidade porque os contratos de prestação de

serviços possuem uma duração determinada (geralmente por um ano), os trabalhadores

não possuem uma perspectiva de futuro. Já no que diz respeito ao espaço, além do

trabalhador não estabelecer relação empregatícia com aquele que usufrui diretamente da

sua força de trabalho, não existe a previsão de que exercerá suas atividades para uma

116

VALE, Ana Paula Sawaya de Castro Pereira do. Sustentabilidade, meio ambiente do trabalho e

terceirização.2012. 136p. Dissertação (Mestrado em Direito das Relações Sociais- Direitos Difusos e

Coletivos) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível

em:<http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=14512> Acesso em: 05 abr.

2014. 117

COSTA, Mariana Raquel. A terceirização ilícita como instrumento de precarização do trabalho na

construção civil. 2012. 52 p. Monografia (Graduação em Direito) – Setor de Ciências Jurídicas,

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível

em:<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31384/MARIANA%20RAQUEL%20

COSTA.pdf?sequence=1>. Acesso em 12 out. 2013. 118

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e direitos trabalhistas no Brasil. In: DRUCK, FRANCO;

Tânia; DRUCK, Graça (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São

Paulo: Boitempo, 2007.

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47

única empresa tomadora, podendo um dia está em determinado lugar e no dia seguinte

ser mandado pela empresa terceirizante para outro lugar totalmente diferente119

.

O mesmo autor traz um caso real verificado no Distrito Federal que procurou

minimizar esses efeitos nos trabalhadores terceirizados. Uma convenção coletiva de

trabalho foi celebrada entre o sindicato dos trabalhadores terceirizados e as empresas

prestadoras de serviços, no sentido de que na celebração de contratos com a tomadora

de serviços, a empresa prestadora ganhadora deve aproveitar os antigos trabalhadores

terceirizados daquela empresa tomadora por seis meses, por outro lado, é permitido à

empresa perdedora demitir seus trabalhadores pela modalidade da culpa recíproca, o que

reduz as verbas trabalhistas que deverão ser pagas.

4.3.2 Salário equitativo

Como já foi visto, os salários dos trabalhadores costumam ser inferiores aos

recebidos pelos trabalhadores efetivos, sendo justamente dessa diferença que surge o

maior interesse da empresa tomadora de serviços na terceirização. A aplicação da

isonomia salarial garantiria maior dignidade e respeito ao obreiro, não sendo razoável

que pessoas com que ocupem a mesma função na empresa e trabalhem comumente no

mesmo ambiente de trabalho não recebam o salário de maneira igualitária120

.

No entanto, é de suma importância ressaltar que o salário equitativo sempre foi

observado no caso da terceirização regulada pela Lei nº 6.019/47. De fato, a lei do

trabalho temporário assegura no seu art. 12, a, o direito de remuneração equivalente à

percebida pelos empregados da mesma categoria da empresa tomadora. Maurício

Godinho Delgado121

defende que se a isonomia salarial já é garantida na terceirização

meramente provisória, com maior razão o mesmo critério deveria ser adotado nos casos

de terceirização permanente.

119

PAIXÃO, Cristiano. Terceirização: o trabalho como mercadoria. Constituição & Democracia,

Brasília, n. 3, p. 8-9, mar. 2006. Disponível em:<

http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/1044/1/ARTIGO_TerceirizacaoTrabalhoMercadoria.pdf>.

Acesso em: 06 set. 2013. 120

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

QuartierLatin, 2008. 121

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013.

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48

Esse assunto tornou-se maior debatido após a publicação da OJ 383 da SDI 1-

383122

a qual trata da hipótese de terceirização ilícita no âmbito da Administração

Pública, esclarecendo que não obstante a impossibilidade da formação de vínculo de

emprego com a tomadora de serviços, é garantido ao trabalhador terceirizado todas as

“verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomador

dos serviços, desde que presente a igualdade de funções”. Para Maurício Godinho

Delgado123

essa previsão deveria alcançar também as hipóteses de terceirização lícita de

serviços públicos e também as terceirizações de serviços privados.

4.3.3 Atuação sindical

O sindicalismo surgiu no contexto do antigo modelo de produção fordista onde

era possível encontrar uma homogeneidade de trabalhadores e a presença de todos eles

em uma mesma realidade de trabalho, o que fomentava o surgimento de um “idioma

coletivo de reivindicações124

.

Com a terceirização existiu uma dispersão da força de trabalho. Muitos obreiros

contratados pela mesma empresa prestadora de serviços nem mesmo se conhecem

devido à celebração de contratos de prestação de serviços com diversas empresas

tomadoras e à elevada rotatividade dos trabalhadores nessas empresas. Assim, é difícil o

surgimento do sentimento de coletividade entre esses trabalhadores, principalmente,

porque os problemas e pretensões que surgem dentro do ambiente laboral de cada

empresa tomadora são diferentes125

.

122

TERCEIRIZAÇÃO. EMPREGADOS DA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS E DA

TOMADORA. ISONOMIA. ART. 12, “A”, DA LEI Nº 6.019, DE 03.01.1974. (mantida) - Res.

175/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com

ente da Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio da isonomia, o direito dos

empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles

contratados pelo tomador dos serviços, desde que presente a igualdade de funções. Aplicação analógica

do art. 12, “a”, da Lei nº 6.019, de 03.01.1974. 123

DELGADO, op. cit. 124

PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Desproteção trabalhista e marginalidade social:

(im)possibilidades para o trabalho como categoria constitucional e inclusão. 191p. Dissertação (Mestrado

em Direito, Estado e Constituição) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília,

Brasília, 2010. Disponível

em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7140/1/2010_NoemiaAparecidaGarciaPorto.pdf>. Acesso

em 03 abr. 2014. 125

MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A Terceirização Trabalhista no Brasil. São Paulo:

QuartierLatin, 2008.

Page 51: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

49

Disso resulta que a atuação sindical no que diz respeito aos trabalhadores

terceirizados é menos eficaz quando comparada com a atuação dos demais sindicatos,

posto que sindicato significa “agregação de seres com interesses comuns, convergentes,

unívocos.”126

Por isso, em conformidade com o princípio trabalhista da aplicação da

norma mais favorável ao trabalhador, deve ser permitido o enquadramento dos obreiros

terceirizados no sindicato da empresa tomadora porque esse é o mais forte e,

consequentemente, o que terá maior poder de barganha127

.

4.4 RESPONSABILIDADE NA TERCEIRIZAÇÃO

No decorrer deste capítulo 4, será analisada a responsabilidade que surge para a

empresa tomadora e prestadora de serviços no que diz respeito aos direitos garantidos

pelo ordenamento jurídico ao obreiro terceirizado. No primeiro momento, será

demonstrada a incidência da responsabilidade subsidiária prevista na Súmula 331 do

TST quando a terceirização envolve a execução de serviços privados, sendo tratada

posteriormente da aplicação da mesma Súmula quando a empresa tomadora de serviços

for um ente público. Por fim, o último tópico do capítulo tratará do entendimento

doutrinário e jurisprudencial a respeito da aplicação da responsabilidade solidária na

terceirização, não obstante, não existe nenhuma previsão nesse sentido na redação da

Súmula 331 do TST que é grande referência sobre o tema no nosso país.

4.4.1 Responsabilidade na terceirização de serviços privados

Se o contrato celebrado entre a empresa tomadora e a prestadora de serviços for

lícito, mas a segunda empresa não honrou com suas obrigações trabalhistas por qual

motivo surge, de acordo com a Súmula 331 do TST, a obrigação subsidiária para

primeira empresa, se essa aparentemente não infringiu os dispositivos art. 186 e 927 do

Código Civil?

Para Rodrigo de Lacerda Carelli128

, o TST ao analisar o contrato civil celebrado

entre as empresas terceirizante e terceirizada à luz do Código Civil de 1916, fundou a

responsabilidade dessa última empresa nas culpas “in eligendo” e “in vigilando”,

partindo do pressuposto que não existiu cautela verificação de idoneidade da empresa

126

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 480. 127

MIRAGLIA, op. cit. 128

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. A responsabilidade do tomador de serviços na terceirização. Revista

Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 70, n.6, p. 715-718, jun. 2006.

Page 52: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

50

com a qual seria celebrado o contrato de prestação de serviços, nem existiu uma

fiscalização em relação ao cumprimento das obrigações trabalhistas.

Entretanto, existem doutrinadores que são contrários a essa previsão de

responsabilidade subsidiária da empresa tomadora em virtude de eventual

inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte da empresa prestadora de

serviços, isso porque defendem não ser razoável que uma pessoa jurídica seja obrigada a

responder pelo locupletamento e descaso de outra pessoa jurídica129

.

O empregador pode alegar no que diz respeito à culpa “in eligendo” que em um

sistema capitalista, faz-se necessário escolher a empresa que ofereça melhor condições e

em relação à culpa “in vigilando” que a responsabilidade de fiscalização deveria recair

sobre o Estado já que esse possui a autoridade de exigir a qualquer momento a

apresentação por parte da empresa tercerizante dos livros e registros que comprovem as

obrigações trabalhistas130

.

É verdade que não existe nada de ilegal na escolha da empresa que ofereça

melhores condições para a tomadora de serviços, sendo a competitividade uma das

principais marcas do atual modelo capitalista, entretanto, não se de pode deixar de lado

a finalidade do direito do trabalho que é a de garantir a melhoria das condições do

trabalho dos obreiros (CF, 7º, “in fine”) nem o preceito do artigo 421 do CC que

determina que a “liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função

social do contrato” 131

.

De fato, existe a liberdade da empresa tomadora de serviços em terceirizar ou

não as suas atividades-meio. Entretanto, existindo a escolha pela terceirização no

aspecto organizacional da empresa, o futuro contrato de prestação de serviços celebrado

129

SOUZA, Mauro Cesar Martins de. Responsabilização do tomador de serviços na terceirização. Revista

do Instituto de Pesquisas e Estudos. Bauru, n. 33, p. 309-33, quadr., dez. 2001/mar. 2002. Disponível

em: <http://www.ite.edu.br/ripe_arquivos/ripe33.pdf#page=309f>. Acesso em: 21 fev. 2014. 130

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível

em:<http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 131

Ibid.

Page 53: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

51

deverá levar em conta os aspectos sociais e princípios trabalhistas constitucionais, não

podendo o referido contrato ter como fim apenas os aspectos econômicos132

.

Para evitar a configuração da culpa “in eligendo” é possível a empresa tomadora

realizar uma análise prévia da situação que se encontra a empresa terceirizante, podendo

ser realizadas pesquisas na justiça do trabalho, Juntas Comerciais e em serviços de

proteção ao crédito. Além disso, uma atitude muito importante e simples que pode ser

realizada é a de fazer um cálculo matemático para entender se o valor que a empresa

terceirizante está oferecendo para a execução dos seus serviços é compatível com os

valores que deverão ser pagos de salários, encargos sociais e ainda com uma futura

margem de lucro para a referida empresa.

Já em relação à culpa “in vigilando”, ela poderá ser evitada pela empresa

tomadora através de previsão no contrato de prestação de serviços de cláusula que

obrigue a empresa terceirizante a apresentar mensalmente documentos que comprovem

o adimplemento de todas as obrigações trabalhistas. Vale dizer que é muito comum na

configuração da responsabilidade subsidiária da tomadora de serviços, nos casos de

revelia da empresa prestadora, serem observadas condenações em valores elevados

porque a primeira empresa não possui comprovantes dos valores já adimplidos pela

segunda empresa133

.

Por fim, é importante ressaltar que essa responsabilidade subsidiária da

tomadora de serviços somente pode configura-se no âmbito da terceirização lícita

porque, conforme os itens I e III da Súmula 331 do TST, nos casos de terceirização

ilícita o vínculo de emprego formado diretamente com o tomador de serviços.

4.4.2 Responsabilização na terceirização de serviços públicos

A responsabilidade da tomadora de serviços públicos também é subsidiária em

relação à eventual inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte da empresa

prestadora de serviços. Entretanto, após o julgamento da ADC 16 pelo STF, foi firmado

o entendimento de que essa responsabilidade no caso da Administração Pública não

132

HINZ, Henrique Macedo. A terceirização trabalhista e as responsabilidades do fornecedor e do

tomador de serviços: um enfoque multidisciplinar. Caderno de Doutrina e Jurisprudência da EMATRA,

vol. 1, n. 4, p. 125-132, jul./ago. 2005. Disponível em:<

http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/22813/terceirizacao_trabalhista.pdf?sequence=1>.

Acesso em: 21 nov. 2013. 133

Ibid.

Page 54: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

52

pode ser aplicada de maneira imediata, sendo imprescindível a averiguação no caso

concreto se houve omissão por parte do ente público na fiscalização do contrato de

prestação de serviços.

Em outras palavras, no caso de terceirização de serviços privados, surge a

responsabilidade subsidiária da tomadora de serviços em virtude da culpa “in eligendo”

e da culpa in vigilando. Por outro lado, na hipótese de terceirização de serviços públicos

somente surge a responsabilidade subsidiária da Administração Pública no tocante a

culpa in vigilando.

Nesse sentido, o seguinte aresto do TST134

:

[...] a Corte Suprema concluiu que é plenamente possível a imputação

de responsabilidade subsidiária ao Ente Público quando constatada, no

caso concreto, a violação do dever de licitar e de fiscalizar de forma

eficaz a execução do contrato. [...] Constatando-se o descumprimento

de direitos trabalhistas pela empresa contratada, a Administração

Pública tem a obrigação de aplicar sanções como advertência, multa,

suspensão temporária de participação em licitação, declaração de

inidoneidade para licitar ou contratar (art. 87, I, II, III e IV), ou, ainda,

rescindir unilateralmente o contrato (arts. 78 e 79). [...] Assim, o

reconhecimento pelo Tribunal Regional da responsabilidade

subsidiária do tomador de serviços em decorrência da constatação da

omissão culposa do Ente Público na fiscalização do contrato, enseja a

aplicação da Súmula 331, V, do TST [...]

De um modo geral, nas contratações da Administração Pública através do

procedimento licitatório tem prevalecido a ideia do menor preço, fazendo com que

sejam vencedoras as empresas que ofertem a prestação dos seus serviços por um menor

preço sem ser analisado qual o tratamento que é oferecido aos trabalhadores, mas a

exploração do ser humano jamais poderá ser considerada como um interesse público135

.

134

TST - RR: 13072920105120050 1307-29.2010.5.12.0050, Relator: Delaíde Miranda Arantes, Data de

Julgamento: 21/08/2013, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 23/08/2013. 135

PORTO, Noemia Aparecida Garcia. Desproteção trabalhista e marginalidade social:

(im)possibilidades para o trabalho como categoria constitucional e inclusão. 191p. Dissertação (Mestrado

em Direito, Estado e Constituição) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília,

Brasília, 2010. Disponível

em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/7140/1/2010_NoemiaAparecidaGarciaPorto.pdf>. Acesso

em 03 abr. 2014.

Page 55: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

53

4.4.3 Responsabilidade solidária na terceirização: entendimento doutrinário e

jurisprudencial

A crise no Direito do Trabalho, observada a partir da década de 70 através da

reestruturação produtiva do capital, mostrou visivelmente uma suscetibilidade do

legislador perante o sistema econômico, fazendo com que a Corte Maior Trabalhista

interviesse na proteção trabalhista através da formulação de Súmulas que tratassem da

questão da terceirização no Brasil.

Na terceirização o trabalhador é explorado tanto pela empresa tomadora quanto

pela empresa prestadora de serviços. Enquanto que a primeira explora o máximo

possível sua força de trabalho, a segunda para garantir o seu lucro na celebração do

contrato de prestação de serviços, precariza as condições de trabalho dos seus

empregados e garante o mínimo possível os direitos trabalhistas.

Além disso, a previsão de subsidiariedade na Súmula 331 do TST age ainda

como um escudo protetor das empresas tomadoras, obrigando ao trabalhador

terceirizado percorrer uma longa jornada em busca das suas verbas de caráter alimentar,

e, sendo muito comum se render depois um tempo, a um acordo com as empresas que se

beneficiaram da sua mão de obra, caracterizado pela renúncia de parte dos seus

direitos136

.

Uma prova dessa vulnerabilidade que sofre trabalhador com a adoção da

responsabilidade subsidiária na terceirização é trazida por Medeiros Neto137

:

É bastante, também, na composição deste cenário, a verificação de

dados estatísticos relativos à quantidade absurda de empresas de

terceirização inadimplentes, despatrimonializadas, desaparecidas,

ocultadas e sem identificação dos responsáveis; e é surpreendente,

ainda, como reflexo desta distorção, o expressivo número de novas

empresas de terceirização constituídas a cada dia – grande parte pelos

mesmos proprietários e responsáveis por aquelas outras extintas

irregularmente – tão atrativa e compensadora tem sido esta atividade.

136

ABE, Maria Inês Miya. Franchising, terceirização e grupo econômico: a responsabilidade solidária

como instrumento de combate à precarização das relações trabalhistas. 178p. 2011. Tese (Doutorado em

Direito do Trabalho) – Departamento de Direito do Trabalho e Seguridade Social, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em:<

file:///C:/Users/Benedita/Downloads/Maria_Ines_Miya_Abe_DO%20(1).pdf>. Acesso em: 04 mar. 2014. 137

MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. A terceirização de serviços e a responsabilidade solidária pelos

danos oriundos de acidente e doenças do trabalho. Revista do Ministério Público do Trabalho no Rio

Grande do Norte, Natal, v. 11, n.11. p. 13-23, dez. 2012, p.14.

Page 56: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

54

Por isso, diante da ausência de lei regulamentadora que trate do tema de maneira

ampla e da insuficiência da Súmula 331, no sentido de proteger e garantir dignidade aos

trabalhadores terceirizados, faz-se necessário analisar de maneira cuidadosa quais as

possibilidades e melhores interpretações que devem ser feitas das normas e regras

existentes no nosso ordenamento jurídico a fim de garantir um maior equilíbrio na

relação entre capital e trabalho.

Dallegrave Neto138

defende que, muitas das aparentes lacunas doutrinárias e

jurisprudenciais verificada no Direito do Trabalho, poderiam ser resolvidas através da

aplicação supletiva do Direito Civil, principalmente, no tocante a responsabilidade civil

na execução dos contratos de trabalho.

Não obstante a previsão na Súmula 331 da responsabilidade subsidiária, alguns

julgados e doutrinadores defendem a aplicação da responsabilidade solidária, através de

argumentos diversos e em situações específicas. Para Maria Inês Abe139

, o nosso

ordenamento jurídico não pode fomentar a irresponsabilidade de uma determinada

classe através de uma concentração de renda em detrimento da precarização dos direitos

trabalhista. No direito civil, não existe nenhuma previsão de benefício de ordem nesse

tipo de responsabilidade, não sendo permitido a criação de uma regra de subsidiariedade

no Direito no Trabalho que seja mais prejudicial ao obreiro.

A aplicação da responsabilidade solidária entre as empresas que firmam contrato

de terceirização é comumente rejeitada através da alegação de que isso provocaria uma

grande insegurança jurídica no âmbito dos negócios, entretanto, esse argumento

somente beneficia o lado do empresário porque no tocante ao empregado terceirizado,

esse pode sofrer com a insegurança jurídica no tocante ao cumprimento das suas

obrigações trabalhistas140

.

138

DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 4. ed. São

Paulo: Ltr, 2010. 139

ABE, Maria Inês Miya. Franchising, terceirização e grupo econômico: a responsabilidade solidária

como instrumento de combate à precarização das relações trabalhistas. 178p. 2011. Tese (Doutorado em

Direito do Trabalho) – Departamento de Direito do Trabalho e Seguridade Social, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2011. Disponível

em:<file:///C:/Users/Benedita/Downloads/Maria_Ines_Miya_Abe_DO%20(1).pdf>. Acesso em: 04 mar.

2014. 140

ABE, Maria Inês Miya. Franchising, terceirização e grupo econômico: a responsabilidade solidária

como instrumento de combate à precarização das relações trabalhistas. 178p. 2011. Tese (Doutorado em

Direito do Trabalho) – Departamento de Direito do Trabalho e Seguridade Social, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2011. Disponível

Page 57: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

55

A autora defende ainda que a segurança jurídica surgiu em um contexto de

positivismo jurídico, sendo necessário que atualmente ela seja sopesada com princípios

constitucionais a fim de que seja tomada uma decisão mais justa. Além disso, a previsão

da responsabilidade solidária não tiraria nenhum um tipo de segurança ou certeza no

momento da celebração do contrato de prestação de serviços, somente propiciaria uma

maior cautela da empresa tomadora no momento da escolha de sua parceira na

terceirização.

Vale dizer que pelo mesmo raciocínio, não caberia a alegação de que a

responsabilidade solidária restringiria os direitos do empregador da empresa tomadora

de serviços. Isso porque o que normalmente é visto nos tribunais trabalhistas são

trabalhadores terceirizados que alegam direitos violados através do instituto da

terceirização141

.

Alega-se também a impossibilidade de uma responsabilidade de caráter solidário

na terceirização devido ao que preceitua o art. 265 do CC: “A solidariedade não se

presume; resulta da lei ou da vontade das partes”. No entanto, para Maria Inês Abe142

, a

segunda parte desse artigo não pode ser aplicada nas situações que envolvem relações

trabalhistas porque nesse ramo jurídico, diferente da autonomia da vontade que

prevalece no Direito Civil, não é possível a previsão de uma cláusula que visivelmente

traga prejuízos para o trabalhador. E, não sendo possível a aplicação de determinado

preceito de maneira incompleta ou fragmentada, o art. 265 não pode ser aplicado na

terceirização.

A menção feita à lei no artigo 265 do CC não deve ser interpretada de maneira

restrita, devendo ser considerada como uma referência a todo ordenamento jurídico, de

modo a englobar também princípios como o da dignidade da pessoa humana e o

princípio protetor os quais fundamentam a responsabilidade do tipo solidária entre as

empresas na celebração de um contrato de prestação de serviços terceirizados143

.

em:<file:///C:/Users/Benedita/Downloads/Maria_Ines_Miya_Abe_DO%20(1).pdf>. Acesso em: 04 mar.

2014. 141

Ibid. 142

Ibid. 143

GIORDANI, Francisco Alberto da Motta Peixoto. Intermediação de mão-de-obra: uma leitura que leva

à responsabilidade solidária entre as empresas prestadora e tomadora de serviços. Revista Ltr: legislação

do trabalho, São Paulo, n. 7, p. 790-794, jul. 2008.

Page 58: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

56

O tomador de serviços não sofreria nenhum prejuízo, se respondendo

solidariamente pelas verbas trabalhistas do trabalhador terceirizado, fosse demandado

por esse. Isso porque seria garantida ação de regresso contra a empresa prestadora de

serviços, sendo o resultado disso somente o fato de que ao invés de ser o trabalhador

(parte mais fraca na relação trilateral formada) ficar correndo atrás da empresa

terceirizante, isso seria feito pela empresa tomadora de serviços.

A Súmula 331 do TST fundamentou a responsabilidade subsidiária na

terceirização através da culpa “in eligendo” e da “in vigilando” a partir da interpretação

sistemática dos artigos 1521, III, e 1523 do revogado Código Civil de 1916144

.

As dificuldades que as vítimas do dano encontravam na época para provar a

culpa do “patrão, amo ou comitente” pelos danos causados por seus “empregados,

serviçais e prepostos” no exercício ou por ocasião do trabalho fez com que no ano de

1963 fosse a aprovada pelo STF a Súmula 341 com a seguinte redação: "É presumida a

culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado”145

.

Ocorre que com o Código Civil de 2002, foram incluídos novos preceitos no

nosso ordenamento jurídico que propiciaram a analise do fenômeno da terceirização sob

uma nova ótica. De fato, o novo código civil, modificou a responsabilidade por fato de

terceiro que outrora era subsidiária e subjetiva por uma responsabilidade solidária e

objetiva146

. Os artigos do Código Civil de 2002 mais citados pelos doutrinadores e pela

jurisprudência para justificar a adoção da responsabilidade solidária e objetiva na

terceirização são os seguintes: 932; 933; 927, §único e 942147

.

144

Art. 1.521. São também responsáveis pela reparação civil: [...]

III - o patrão, amo ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho

que lhes competir, ou por ocasião dele (art. 1.522).

Art. 1.523. Excetuadas as do art. 1.521, V, só serão responsáveis as pessoas enumeradas nesse e no art.

1.522, provando-se que elas concorreram para o dano por culpa, ou negligência de sua parte. 145

MELO, Raimundo Simão de. A necessária revisão da Súmula 331 do TST diante do novo código civil.

Revista Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 75, n.1, p. 09-15, jan. 2011. 146

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. A responsabilidade do tomador de serviços na terceirização. Revista

Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 70, n.6, p. 715-718, jun. 2006. 147

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que

lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo

para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

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57

A respeito do inciso III do artigo 932 do CC, Rodrigo de Lacerda Carelli148

explica que se determinada empresa de companhia elétrica celebra um contrato com

outra empresa visando à instalação de um telefone e na execução do serviço, a segunda

empresa provoca alguma dano na casa de terceiro, a primeira empresa será responsável

solidariamente, independentemente de culpa, pelo dano causado por sua preposta. E,

nesse sentido, não existe nenhuma razão para que essa mesma empresa de companhia

elétrica não seja também responsável solidariamente pelos danos causados pela empresa

interposta aos trabalhadores terceirizados.

Isso porque a substituição que acontece entre o empregador real e o empregador

aparente na terceirização corresponde ao mesmo tipo de substituição que é verificada

entre o empregador e o preposto mencionada no artigo 932 do CC. O prestador de

serviços atua como um verdadeiro preposto do tomador de serviços ao executar

determinada tarefa em nome e a serviço do desse149

.

O artigo 933 do CC esclarece que a responsabilidade das pessoas indicadas no

art. 932 é objetiva, ou seja, não exige a comprovação da existência de culpa. Sendo esse

mesmo tipo de responsabilidade prevista no Código de Defesa do Consumidor (Lei

8.078/1990) ao ser exigido dos fabricantes de produtos e fornecedores de serviços que

respondam, independentemente de culpa, pelos danos causados ao destinatário final e a

todas as pessoas que possam ter sido vítimas do evento danoso.

Então, os empresários possuem a responsabilidade objetiva no que diz respeito

aos danos que seus produtos ou serviços eventualmente venham a causar nos

consumidores e terceiros, mas não possuem a responsabilidade objetiva perante os

danos sofridos pelos trabalhadores terceirizados que laboraram em proveito dessa

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua

parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Art. 927. [...]

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos

especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por

sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação

do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas

no art. 932. 148

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. A responsabilidade do tomador de serviços na terceirização. Revista

Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 70, n.6, p. 715-718, jun. 2006. 149

SILVA, Alessandro da. Fundamentos à responsabilidade solidária e objetiva da tomadora de serviços

na “terceirização”. Revista Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v.75, n.1, p. 66-78, jan. 2011.

Page 60: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

58

mesma cadeia produtiva? Seriam os trabalhadores menos vulneráveis do que os

consumidores dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas tomadora de

serviços?150

A escolha do legislador de definir a responsabilidade prevista no parágrafo único

do art. 927 do CC e a do empregador ou comitente diante dos danos provocados pelos

seus “empregados, serviçais e prepostos” (art. 932, III, CC) como sendo objetiva,

encontra fundamento na teoria do risco-proveito. Se a terceirização é um ato de gestão

que o tomador se utiliza para ter um maior aproveitamento econômico, então, de acordo

com essa teoria, ele deverá ser responsável pelos danos causados ao obreiro terceirizado

pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte da empresa prestadora de

serviços151

.

A responsabilidade solidária também é prevista no art. 942 do CC que determina

que se mais de uma pessoa se beneficiou de determinado ato ilícito, todos deverão

responder solidariamente pela reparação do dano, inclusive, trazendo expressamente

que essa solidariedade abrange as pessoas do artigo 932 do mesmo diploma legal.

Isso autoriza concluir que se determinada pessoa se beneficiou de algum ato

ilícito, mesmo que não tendo provocado diretamente dano a outrem, poderá responder

solidariamente em virtude de alguma relação jurídica existente entre os responsáveis

solidários, sendo esse o caso da responsabilidade objetiva e direta que surge para a

empresa tomadora na terceirização, não obstante, ausente vínculo de emprego entre ela

e o obreiro terceirizado152

.

Todo empreendimento econômico deverá observar a valorização do trabalho e

da justiça social, conforme preceitua o art. 170 da nossa Carta Magna. Surge, portanto,

também dessa interpretação a proibição de que um tomador de serviço contrate uma

empresa prestadora precária para executar trabalhos para ele com o intuito de apenas se

beneficiar disso, deixando de lado todos os valores constitucionais relacionados à

atividade econômica. Além disso, o art. 187 do CC traz explicitamente a previsão de

150

SILVA, Alessandro da. Fundamentos à responsabilidade solidária e objetiva da tomadora de serviços

na “terceirização”. Revista Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v.75, n.1, p. 66-78, jan. 2011. 151

Ibid. 152

DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. 4. ed. São

Paulo: Ltr, 2010.

Page 61: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

59

que “comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente

os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons

costumes” 153

.

Não aceitar a responsabilidade solidária na terceirização é defender que parte

dos riscos da atividade econômica exercida pelo tomador de serviços, seja transferida

para o trabalhador terceirizado, o qual coloca a sua mão de obra a serviço dele. Não

pode ser admitido no nosso ordenamento jurídico que aqueles que se beneficiaram

igualmente da força de trabalho do obreiro (empregador aparente e empregador real)

não respondam na mesma medida pelos riscos e prejuízos do negócio154

.

Mesmo sendo admitida a utilização da responsabilidade subsidiária na

terceirização, essa não poderia ser utilizada como uma forma de protelar o recebimento

das verbas trabalhistas por parte do obreiro terceirizado, devendo ser aplicado o que

preceitua o art. 827 do CC para colocar limites do benefício de ordem fazendo com a

tomadora de serviços somente possa alegar o benefício de ordem da mesma forma que

está previsto no instituto da fiança, ou seja, até a contestação e após nomear bens da

empresa prestadora suficientes para saldar o débito155

.

Por tudo isso, o procurador do trabalho, Raimundo Simão de Melo156

defende

uma modificação urgente na redação da Súmula 331 do TST a fim de adequá-la aos

preceitos previstos no Código Civil de 2002 e garantir uma maior humanização na

utilização da terceirização pelas empresas.

O entendimento jurisprudencial a respeito da responsabilidade na terceirização

lícita é majoritário no sentido de entender que a responsabilidade da tomadora de

153

CARELLI, Rodrigo de Lacerda. A responsabilidade do tomador de serviços na terceirização. Revista

Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 70, n.6, p. 715-718, jun. 2006. 154

GIORDANI, Francisco Alberto da Motta Peixoto. Intermediação de mão-de-obra: uma leitura que leva

à responsabilidade solidária entre as empresas prestadora e tomadora de serviços. Revista Ltr: legislação

do trabalho, São Paulo, n. 7, p. 790-794, jul. 2008. 155

ABE, Maria Inês Miya. Franchising, terceirização e grupo econômico: a responsabilidade solidária

como instrumento de combate à precarização das relações trabalhistas. 178p. 2011. Tese (Doutorado em

Direito do Trabalho) – Departamento de Direito do Trabalho e Seguridade Social, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em:<

file:///C:/Users/Benedita/Downloads/Maria_Ines_Miya_Abe_DO%20(1).pdf>. Acesso em: 04 mar. 2014. 156

MELO, Raimundo Simão de. A necessária revisão da Súmula 331 do TST diante do novo código civil.

Revista Ltr: legislação do trabalho, São Paulo, v. 75, n.1, p. 09-15, jan. 2011.

Page 62: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

60

serviços é apenas subsidiária, conforme preceitua a Súmula 331 do TST e,

exemplificadamente, o seguinte julgado157

:

RECURSO DE REVISTA. TERCEIRIZAÇÃO.

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA EMPRESA

TOMADORA DOS SERVIÇOS. SÚMULA Nº 331, IV, DO TST. 1.

Nos termos da jurisprudência pacificada na Súmula nº 331, item IV,

do TST, -o inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do

empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos

serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da

relação processual e conste também do título executivo judicial.- 2.

Logo, incorre em contrariedade ao referido Verbete Sumular a decisão

do Tribunal Regional que atribuiu a responsabilidade solidária entre as

reclamadas, na hipótese de terceirização lícita de serviços. Recurso de

revista conhecido e provido.

Em sentido contrário ao entendimento do TST, o aresto do Tribunal Regional do

Trabalho da 16° região158

:

TERCEIRIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. A

responsabilidade do tomador de serviços independe do vínculo de

emprego e tem sua causa na responsabilidade por fato de terceiro,

fundada na presunção de culpa in eligendo ou in vigilando, mesmo

que em potencial, isto porque, sendo o trabalho feito em benefício do

tomador, a ele se impõe o dever de zelar pelo fiel cumprimento das

obrigações decorrentes do contrato firmado, sendo a idoneidade da

fornecedora de mão-de-obra de extrema relevância, pois não é a

empresa terceirizada um ente isolado, alheia, absolutamente livre,

independente, da tomadora dos serviços. Recurso Ordinário conhecido

e improvido.

Por outro lado, nas hipóteses de terceirização ilícita tanto de empresas privadas

quanto de empresas públicas verifica-se uma grande quantidade de julgados que

entendem correta a aplicação da responsabilidade solidária da tomadora de serviços.

O fundamento usado pela 6ª Turma do TST para a incidência da

responsabilidade solidária no julgamento de uma terceirização ilícita foi o de que diante

da impossibilidade de atribuição a tomadora de serviços da condição de empregadora

exclusiva, já que não houve recurso do reclamante postulando essa vinculação

157

(TST - RR: 32840202008502006132840-20.2008.5.02.0061, Relator: Walmir Oliveira da Costa, Data

de Julgamento: 25/09/2013, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/10/2013) 158

TRT-16, Relator: ALCEBÍADES TAVARES DANTAS, Data de Julgamento: 09/11/2011.

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61

empregatícia, restou para essa empresa à condenação solidária pelas verbas trabalhistas,

conforme aresto abaixo159

:

RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.

TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. O Tribunal Regional, soberano na análise dos

autos, verificou tratar-se de - atividade inserida na cadeia produtiva da

segunda reclamada - (Sadia S.A.), concluindo, ainda, que - a terceirização de

tais serviços, portanto, configura típica terceirização ilícita de atividade-fim -.

Consequência imediata da ilicitude constatada pela Corte a quo foi a

manutenção da sentença, a qual, nos exatos termos registrados no acórdão

regional, decidiu: - tendo em vista o que enunciam os arts. 186, 927 e 942 do

Código Civil, aplicáveis subsidiariamente ao Direito do Trabalho (CLT, art.

8º), outra saída não resta, em atenção aos limites do pedido (CPC, artigos 128

e 460), senão pronunciar a responsabilidade solidária da segunda reclamada

(Sadia) -. Verifica-se, pelo exposto, que a responsabilidade em questão foi

reconhecida, ante a presença de ilicitude na terceirização, razão pela qual, nos

termos do art. 942 do Código Civil, e se ao tomador dos serviços não é

atribuída a condição exclusiva de empregador, ambos os reclamados devem

responder de modo solidário pelas parcelas deferidas na condenação.

Nesse outro caso160

, a impossibilidade de reconhecimento do vínculo de

emprego não se deu em virtude de ausência de requerimento explícito por parte do

obreiro terceirizado, mas sim, em virtude da proibição prevista no artigo 37, II da nossa

Carta Magna, que veda a formação desse tipo de vínculo com os órgãos da

Administração Pública sem a realização de concurso público:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA -

TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA - RECONHECIMENTO DO

VÍNCULO DE EMPREGO COM O TOMADOR DOS SERVIÇOS -

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. A contratação de

trabalhadores por empresa interposta afronta a ordem jurídica e

caracteriza fraude à legislação trabalhista quanto à formação do

vínculo empregatício, nos termos do art. 9º da CLT, competindo ao

Poder Judiciário a declaração desse vínculo diretamente com o

tomador dos serviços, consoante preceitua a Súmula nº 331, I, do TST.

Por corolário, caracterizada a fraude no contrato de prestação de

serviços, aplica-se a responsabilidade solidária, a teor do art. 942 do

Código Civil . Agravo de instrumento desprovido.

Já nesse julgado da 2ª Turma do TST161

, a tomadora de serviços públicos foi

condenada solidariamente simplesmente por ter sido copartícipe do ato ilícito

perpetrado através da terceirização. Restou esclarecido que a interpretação do artigo 71,

§ 1º, da Lei nº 8.666/93, no sentido de somente se possível a condenação do ente

159

TST - RR: 1998320105090749199-83.2010.5.09.0749, Relator: Augusto César Leite de Carvalho, Data

de Julgamento: 08/05/2013, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/05/2013. 160

TST - AIRR: 1796320115030090179-63.2011.5.03.0090, Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello

Filho, Data de Julgamento: 09/10/2013, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/10/2013. 161

TST - RR: 14210920115030106 1421-09.2011.5.03.0106, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data

de Julgamento: 28/08/2013, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/09/2013.

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62

público de maneira subsidiária, desde que comprovada no caso concreto a omissão do

ente público na fiscalização do contrato, somente é possível quando estamos diante de

uma terceirização lícita:

[...] Nos casos como o ora em análise, em que patente está a

configuração de terceirização ilícita, a lei autoriza a responsabilização

solidária. É que, conforme determina o disposto no artigo 927 do

Código Civil, aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo e, de acordo com o inserto no artigo 942 do

mesmo dispositivo legal, os bens do responsável pela ofensa ou

violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano

causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão

solidariamente pela reparação. Ademais, a responsabilidade

extracontratual ou aquiliana da Administração Pública, nos casos de

terceirização ilícita, decorre da sua conduta ilícita - prática de fraude -

acerca da terceirização de atividade-fim, e não, simplesmente, do

mero inadimplemento das obrigações trabalhistas pela prestadora de

serviços. Portanto, se as reclamadas praticaram fraude em relação à

terceirização de serviços, não se aplica o disposto no artigo 71, § 1º,

da Lei nº 8.666/93 para afastar a responsabilidade do ente público, de

cuja incidência somente se pode razoavelmente cogitar quando há

regularidade do contrato de prestação de serviços, o que,

comprovadamente, não se verificou no caso dos autos. [...]

Ainda no que diz respeito à terceirização ilícita, o entendimento do TST nos

julgamentos de ações civis públicas é a de que nos casos de terceirização ilícita existe o

rebaixamento nas condições de trabalho ensejando um impacto negativo na coletividade

dos trabalhadores e possibilitando a configuração da indenização por dano moral

coletivo162

.

Nos casos de acidente de trabalho, mesmo diante de terceirizações lícitas, o

entendimento majoritário é o da incidência da responsabilidade solidária quando a

tomadora de serviços não for ente público. É pertinente dizer que em uma situação

fática a tomadora de serviços poderá ser condenada subsidiariamente pelas verbas

trabalhistas e solidariamente pela indenização por danos morais e materiais em virtude

de acidente de trabalho. Exemplificando o exposto, o seguinte julgado163

:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1.

PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM . 2.

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO TOMADOR DOS

SERVIÇOS PELO PAGAMENTO DAS VERBAS TRABALHISTAS

162

TST - RR: 16400342006502002316400-34.2006.5.02.0023, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data

de Julgamento: 30/11/2011, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/12/2011. 163

TST - AIRR: 17200862008515013417200-86.2008.5.15.0134, Relator: Mauricio Godinho Delgado,

Data de Julgamento: 25/09/2013, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/09/2013.

Page 65: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

63

DEVIDAS. 3. ACIDENTE DO TRABALHO.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA TOMADORA.

4. DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. DECISÃO

DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO [...] a responsabilização solidária

atribuída à 2ª Reclamada pelas verbas indenizatórias deferidas ao

Autor tem fundamento no art. 942 do CC, que determina que - se a

ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela

reparação -. Nesse passo, a condenação solidária não decorreu da

existência de grupo econômico ou da terceirização, mas da presença

dos elementos caracterizadores da responsabilidade civil, tendo sido

demonstrados o dano, o nexo de causalidade e a conduta culposa da

ora Agravante [...]

Entretanto, quando a terceirização envolve ente público, mesmo nas hipóteses de

acidente de trabalho, incide o art. 71, § 1º da Lei nº 8.666/1993 a fim de ser investigado,

em cada caso concreto, se existiu omissão da Administração Pública no seu dever de

vigilância do contrato firmado e, eventualmente, ser condenada subsidiariamente. Nesse

sentido, o julgado que segue164

:

[...] Em observância ao entendimento fixado pelo STF na ADC nº 16-

DF, passou a prevalecer a tese de que a responsabilidade subsidiária

dos entes integrantes da Administração Pública direta e indireta não

decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas

assumidas pela empresa regularmente contratada, mas apenas quando

explicitada no acórdão regional a sua conduta culposa no

cumprimento das obrigações da Lei 8.666, de 21.6.1993,

especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações

contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora . No

caso concreto , o TRT a quo manteve a condenação solidária da União

delineando, de forma expressa, a culpa in vigilando da entidade estatal

pelo acidente de trabalho ocorrido pela empregada terceirizada. Nesse

sentido, deve ser determinada a responsabilização subsidiária da

União, pois consta da decisão recorrida que, manifestamente, houve

culpa in vigilando da entidade estatal quanto ao cumprimento das

obrigações trabalhistas pela empresa prestadora de serviços

terceirizados, notadamente ao meio ambiente de trabalho. [...]

O TST também entende que nos casos de acidente de trabalho, não incide a

Orientação Jurisprudencial 191 que isenta dono da obra que não seja empresa

construtora ou incorporadora pelas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro,

conforme aresto abaixo165

:

164

TST - RR: 117650200951000161176-50.2009.5.10.0016, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data

de Julgamento: 05/06/2013, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/06/2013. 165

TST-E-RR-9950500-45.2005.5.09.0872, Relator Ministro Augusto César Leite de Carvalho, SBDI-I,

DEJT de 07/12/2012.

Page 66: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

64

[...] Hipótese em que a Turma do TST manteve a responsabilidade

solidária da empresa dona da obra pelo pagamento das indenizações

decorrentes de acidente de trabalho. [...] A decisão da Turma não

implica contrariedade à OJ 191, na medida em que a orientação

contém exegese dirigida ao art. 455 da CLT, dada a ausência de

previsão do dispositivo acerca da responsabilidade do dono da obra .

Não por outra razão, o verbete restringe a sua abrangência às

obrigações trabalhistas-. O pleito de indenização por danos morais,

estéticos e materiais decorrentes de acidente de trabalho apresenta

natureza jurídica civil, em razão de culpa aquiliana por ato ilícito,

consoante previsão dos arts. 186 e 927, caput, do Código Civil. Não se

trata, portanto, de verba trabalhista stricto sensu. [...]

5 CONCLUSÃO

As transformações provocadas pela reestruturação produtiva do capital a partir

da década de 70, juntamente com revolução tecnológica marcada pela importância do

conhecimento e da tecnologia baseada na microeletrônica, provocaram em um primeiro

momento suspense quanto à manutenção dos postos de trabalho e, consequentemente,

do Direito do Trabalho, tendo em vista que esse ramo do direito surgiu como regulador

das relações de emprego.

No entanto, com o decorrer do tempo restou demonstrado que a ideia propagada

de que os trabalhadores seriam substituídos por máquinas e se tornariam desnecessários

para a lógica produtiva do capitalismo tornou-se uma falácia. Isso porque o avanço

tecnológico ao mesmo tempo em que extinguiu alguns tipos de emprego fez surgir

outros nunca pensados antes, além disso, o modo de produção toyotista ocasionou o

surgimento de novas relações de trabalho.

Sendo, portanto, dentro da lógica do toyotismo através da busca por empresas

caracterizadas pela flexibilidade e pela redução de suas estruturas com a

descentralização das atividades, que surge a terceirização como reflexo da tentativa dos

empresários de aumentarem os seus lucros por meio da fuga das obrigações trabalhistas.

Essa fuga acontece na medida em que o vínculo de emprego do trabalhador

terceirizado somente é formado com a empresa prestadora de serviços, sendo prevista

na redação da Súmula 331 do TST apenas uma responsabilidade em caráter subsidiário

Page 67: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

65

para a empresa tomadora de serviços na hipótese de inadimplemento das obrigações

trabalhistas por parte empresa terceirizante.

O tomador de serviços por se sentir confortável na sua condição de mero

garantidor dos créditos dos empregados terceirizados, não demonstra cautela nem

interesse de verificar no momento da celebração do contrato de prestação de serviços, a

idoneidade econômico-financeira da empresa prestadora.

Como o interesse primordial da utilização da terceirização pelos empresários é o

da redução de custos, o que normalmente determina a escolha de determinada empresa é

o baixo valor cobrado na prestação dos serviços. Não sendo difícil perceber que a

empresa prestadora deverá executar com reduzidos valores monetários a mesma tarefa

que seria executada pela empresa tomadora através dos seus próprios empregados e

ainda retirar algum lucro por essa intermediação.

O resultado disso é a precarização das condições de trabalho do obreiro

terceirizado. Essa categoria de trabalhadores recebem menores salários, sofrem maiores

acidente de trabalho, fazem parte de sindicatos com fraco poder de negociação e

possuem maior dificuldade de receber suas verbas trabalhistas na justiça do trabalho

quando comparado com os obreiros efetivos da empresa tomadora de serviços.

Não obstante a ausência de uma lei que trate da terceirização de uma maneira

geral, sendo verificado apenas a presença de algumas normas e/ou dispositivos legais

que tratam do assunto de maneira fragmentada, a Constituição Federal, o direito civil e

o direito do trabalho são suficientes para o entendimento de que a terceirização não está

sendo utilizada em conformidade com os preceitos do nosso ordenamento jurídico.

A valorização do trabalho, da dignidade da pessoa humana e a garantia a todos

de uma existência digna previstas na Constituição Federal; os princípios protetivos

trabalhistas; e os deveres de reparação civil dos empregadores e daqueles que

desenvolvem atividades que, por sua natureza, impliquem risco para dos direitos de

outrem previstas no Código Civil, fizeram com que doutrinadores defendessem a

aplicação da responsabilidade solidária das empresas envolvidas no processo

terceirizante.

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O entendimento jurisprudencial majoritário é no sentido de que nos casos de

terceirização lícita, por empresas privadas e públicas, a responsabilidade da empresa

tomadora de serviços deverá ser subsidiária, em conformidade com os itens IV e V da

súmula 331 do TST.

Por outro lado, quando estivermos diante de terceirização ilícita, mesmo não

existindo previsão na Súmula 331da incidência de algum tipo de responsabilidade nessa

hipótese, somente a formação de vínculo de emprego com as empresa tomadora de

serviços privada, o entendimento é de que surge a responsabilidade solidária entre as

empresas tomadora e prestadora com fundamento não no inadimplemento das

obrigações trabalhistas, mas sim, no dano causado ao obreiro em virtude de ato ilícito

perpetrado mediante fraude.

Já nos casos de acidente de trabalho, a corrente majoritária entende que se a

empresa tomadora de serviços for privada, a responsabilidade das empresas envolvidas

com a terceirização deverá ser solidária, mas sendo um ente público que contrata os

serviços, a responsabilidade deverá ser subsidiária tendo em vista o conteúdo do artigo

71, §1° da Lei n° 8.666/1993.

A aplicação da responsabilidade solidária das empresas tomadoras de serviços

na terceirização como defende parte da doutrina, ou pelo menos a aplicação do mesmo

tipo de responsabilidade para empresas envolvidas nos casos de terceirização ilícita e

quando se tratar de acidentes de trabalho, não sendo a empresa tomadora um ente

público, como entende a jurisprudência majoritária, faria com que as empresas apenas

buscassem a terceirização como uma estratégia empresarial, no sentido amplo, e não

como um meio de aumentar o seu lucro à custa da precarização dos direitos trabalhistas.

As empresas terceirizantes teriam um maior cuidado no momento da celebração

do contrato civil de prestação de serviços firmado no sentido de garantir a conformidade

com a súmula 331 do TST. O intuito das empresas seria o de não ensejar a configuração

da terceirização ilícita, já que para ambas incidiria a responsabilidade solidária e, para a

empresa tomadora, ainda restara configurada a formação de vínculo de emprego com o

obreiro terceirizado,

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67

Além disso, quando determinada empresa pretendesse descentralizar a execução

de determinado serviço, ela seria cautelosa na escolha da empresa prestadora a fim de

analisar de analisar a capacidade dessa de cumprir os créditos trabalhistas e verificar o

tratamento oferecido aos trabalhadores, principalmente, na observância das normas e de

segurança e medicina do trabalho.

Page 70: A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR E DO TOMADOR DE … · O modelo de produção fordista/taylorista foi substituído pelo modelo toyotista provocando uma nova organização empresarial

68

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