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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL SOBRE AS TARIFAS DE INTERCONEXÃO: UM ESTUDO DE CASO DE REGULAÇÃO ECONÔMICA ADRIANA MAGALHÃES GÓIS ORIENTADOR: CHRISTIANE ROMÊO Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2006.

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL SOBRE AS TARIFAS DE INTERCONEXÃO: UM ESTUDO DE CASO DE REGULAÇÃO

ECONÔMICA

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Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2006.

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“A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL SOBRE AS TARIFAS DE INTE RCONEXÃO: UM ESTUDO DE CASO DE REGULAÇÃO ECONÔMICA”

ADRIANA MAGALHÃES GÓIS

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração

ORIENTADOR: CHRISTIANE ROMÊO

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2006.

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“A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL SOBRE AS TARIFAS DE INTE RCONEXÃO: UM ESTUDO DE CASO DE REGULAÇÃO ECONÔMICA”

ADRIANA MAGALHÃES GÓIS

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor CHRISTIANE ROMÊO (Orientadora) Instituição: Faculdade de Economia e Finanças Ibmec _____________________________________________________

Professor LUIZ ALBERTO N. CAMPOS FILHO Instituição: Faculdade de Economia e Finanças Ibmec _____________________________________________________

Professor RICARDO GUANABARA Instituição: Universidade Cândido Mendes

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2006.

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FICHA CATALOGRÁFICA

Entrar em contato com a biblioteca no 14º andar, ou através do e-mail: [email protected]

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DEDICATÓRIA

A meu pai, Nei Góis, pelas oportunidades oferecidas, pela educação e pelo constante apoio na incursão pelo mundo acadêmico.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Margarida Góis e à minha irmã Renata, pela eterna preocupação.

Aos meus colegas da Embratel, em particular a Luciana Mendonça, pela convivência

harmoniosa e pelo companheirismo ao longo desses difíceis anos de trabalho e estudo. Aos

meus gerentes Fernando Buleo e Alexandre Salem que sempre acreditaram na minha

competência.

Um agradecimento especial à minha orientadora Professora Christiane Romêo pela paciência

e pelo incentivo permanente na busca desse título acadêmico.

Aos meus parentes e amigos pelo incentivo à distância em concluir tal trabalho. Ao meu tio

Nelson Moraes a quem devo as reflexões compartilhadas.

Não poderia me esquecer do apoio sempre pontual do meu vizinho Mauricio Malburg.

Ao meu namorado Sérgio Lemos pela paciência em proporcionar o apoio necessário para

viver uma vida de desafios.

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RESUMO

No início da década de 1990, a Reforma do Estado no Brasil modificou o papel do Estado de

pilar do desenvolvimento interno para o de suporte à competitividade internacional. O estado

interventor cede espaço a uma nova realidade em que diversos serviços públicos e empresas

estatais foram privatizados. A criação das agências reguladoras emerge neste cenário, na

tentativa de controlar a qualidade dos serviços anteriormente ofertados pelo próprio Estado,

através da formulação e execução de políticas públicas eficientes. A grande polêmica se

estabelece em torno dos impactos da implementação dessas normas para o setor e para as

empresas abarcadas.

A partir do estudo de caso de uma empresa concessionária do STFC, privatizada em 1998,

procurou-se identificar as modificações em seu ambiente estratégico e em seu processo

regulatório, a partir das novas regras estabelecidas na Resolução 396 da Anatel pelo órgão

regulador – a Anatel.

Palavras-Chave:

Agências Reguladoras; Regulação Econômica; Resolução 396 da Anatel.

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ABSTRACT

In the beginning of 90th decade, the State of Reform changed the character of the state from

the pillar of domestic development to the support of international competitiveness. The

interventor state assigned space to a new reality where different public services and

companies were privatisated. The institution of regulation agencies emerge in this scene,

trying to regulate the quality of the services previously offered by the own state through the

definition and execution of the efficient public policies. The discussion is around the impact

of the implementation of these rules for the sector ant the companies included.

From a case study of a concessionary STFC company sold in 1998, this dissertation seeks to

identify changes in its strategic environment and regulatory process from the new rules

established in the 396 Resolution by the independent regulator – the Anatel.

Key Words:

Regulation Agencies, Economic Regulation, 396 Resolution.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Financiamento das políticas públicas redistributivas.................................................5 Figura 2 - Financiamento das políticas públicas distributivas....................................................5 Figura 3 – Visão clássica do policy cycle ...................................................................................9 Figura 4 – Visão menos simplista do policy cycle......................................................................9 Figura 5 - Mapa Dinâmico de Operadoras de Telefonia Fixa ..................................................42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Resultados da Privatização por Período Presidencial e Tipo de Moeda (US$ Milhões)............................................................................................................................21

Tabela 2 - Tarifas Brasileiras vis-à-vis níveis internacionais – 1995.......................................37 Tabela 3 - Nova estrutura tarifária brasileira e comparação internacional (US$) ....................39 Tabela 4 - Concessionárias e Empresas Espelho......................................................................42 Tabela 5 – Market Share de acessos em Serviço (Junho 2004)................................................45 Tabela 6 -2º. Trimestre de Divulgação de Resultados – Embratel Relações com Investidores48 Tabela 7 - Dispositivos de regimento da interconexão.............................................................51 Tabela 8 - Modulações de distâncias – TU-RIU ......................................................................53 Tabela 9 – Modulações horárias – TU-RL ...............................................................................54 Tabela 10 – Disposições da Consulta Pública 549...................................................................57 Tabela 11 – Divisão do grupo em áreas de negócio e linhas de produto .................................97

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LISTA DE ABREVIATURAS ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

CBT Código Brasileiro de Telecomunicações

CCA Current Cost Accounting

Contel Conselho Nacional de Telecomunicações

CSP Código de Seleção de Prestadora

DDD Discagem Direta à Distância

DDI Discagem Direta Internacional

DSAC Documento de Separação e Alocação de Contas

EDC Embedded Direct Costs

Embratel Empresa Brasileira de Telecomunicações

EPMU Equal Proprortionare Mark-up

FAC Fully Allocated Costs

FDC Fully Distributed Costs

FHC Fernando Henrique Cardoso

FNT Fundo Nacional de Telecomunicações

HCA Historic Cost Accounting

IGP-DI Índice geral de preços – Disponibilidade Interna

IPC Índice de preços ao consumidor

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IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

LGT Lei Geral de Telecomunicações

LRAIC Long Run Average Incremental Costs

LRIC Lun Run Incremental Cost

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PGO Plano Geral de Outorgas

PMS Poder de mercado significativo

RGI Regulamento Geral de Interconexão

RUR STFC Remuneração pelo Uso de Redes dos Serviços de Telefonia Fixa Comutada

STFC Sistema de Telefonia Fixa Comutada

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................1

1 REVISÃO DA LITERATURA.............................. .................................................4

1.1 HISTÓRICO............................................................................................................................................ 4 1.1.1 Políticas Públicas.................................................................................................................................. 4 1.1.2 Políticas Públicas no Brasil ................................................................................................................ 13 1.1.3 Reforma do Estado ............................................................................................................................. 16 1.1.4 Agências Reguladoras ........................................................................................................................ 26

1.2 TELEFONIA FIXA .............................................................................................................................. 31 1.2.1 Evolução Histórica ............................................................................................................................. 31 1.2.2 A crise do Estado intervencionista ..................................................................................................... 34 1.2.3 Acontecimentos relevantes à privatização da Telebrás ...................................................................... 36

2 A EMBRATEL E A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL ............. ...........................46

2.1 A EMPRESA ANALISADA................................................................................................................. 46

2.2 A NORMA ............................................................................................................................................. 49 2.2.1 Modelo de tarifas................................................................................................................................ 49 2.2.2 Cálculo do teto tarifário...................................................................................................................... 51 2.2.3 A Resolução 396 da ANATEL........................................................................................................... 56

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................ ..........................................59

3.1 TIPO DE PESQUISA: ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 59

3.2 SELEÇÃO DE EMPRESAS E SUJEITOS......................................................................................... 65

3.3 SELEÇÃO DE MÉTODOS E MODELOS......................................................................................... 66

3.4 COLETA DE DADOS .......................................................................................................................... 75

3.5 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................................... 75 3.5.1 Cenário empresarial............................................................................................................................ 76 3.5.2 Estratégia empresarial ........................................................................................................................ 78 3.5.3 Processo empresarial .......................................................................................................................... 78

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... .......................................................81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................83

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO .......................... ...................................................91

APÊNDICE B - METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO LRIC....... ............................96

ANEXO A - RESOLUÇÃO 396 ............................ ...................................................100

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INTRODUÇÃO

Até o início da década de 1990, a prestação do serviço de telefonia local foi dominada por

monopólios estatais no Brasil. Ademais o serviço caracterizava-se por ser, também, um

monopólio natural, em que os custos fixos da montagem das redes necessárias à prestação dos

serviços eram altos. Assim a prestação do serviço por mais de um agente era economicamente

irracional. Sendo um setor estratégico, com necessidade de grande coordenação e visto como

um serviço público essencial, o Governo era o responsável pela prestação do serviço.

Com a Reforma do Estado, o Governo passou a desempenhar o papel de regulador dos

serviços de infra-estrutura. E seguindo uma tendência internacional, observada principalmente

nos anos entre 1980 e 1990, o Brasil iniciou o programa de privatização das empresas estatais.

Em 16 de julho de 1997, a Lei n°. 9472 – Lei Geral de Telecomunicações (LGT) estabeleceu

os fundamentos para o novo arcabouço regulatório e o novo modelo competitivo do setor de

telecomunicações. A introdução da concorrência nesse setor foi facilitada pela quebra do

monopólio natural, grande parte pelo advento de novas tecnologias, que baratearam a

instalação dos meios de prestação de serviços, e pela criação de mecanismos regulatórios que

permitiram às operadoras compartilharem as redes de outras operadoras. Portanto, a

concorrência está relacionada com o acesso às redes, pois, sem a interconexão com as redes

instaladas que usualmente ficaram com as operadoras privatizadas, a entrada de qualquer

novo agente seria proibitiva.

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No entanto, garantir a interconexão entre as redes de diferentes operadoras não é suficiente; é

preciso disciplinar como se dará a interconexão, em bases não discriminatórias e a preços

razoáveis. Garantindo-se o compartilhamento das redes das operadoras já existentes de forma

não discriminatória e a preço razoável, elimina-se a necessidade de fazer gastos substanciais

na duplicação de todos os elementos de rede que possibilitam a entrada de novos operadores.

Essas operadoras podem escolher entre construir sua própria rede ou compartilhar com o

detentor de redes já instaladas o uso de elementos dessas redes, diminuindo as barreiras de

entrada no mercado e promovendo a concorrência no setor.

A Anatel emitiu a Resolução 396 com o objetivo de implementar no país um modelo de

negócios em que as tarifas são reajustadas de acordo com a natureza do custo. Além de buscar

a aplicação de uma metodologia consistente e uniforme para todas as operadoras, pretende-se,

a partir da nova regulamentação, estabelecer preços eficientes, ou seja, valores competitivos e

capazes de fornecer os incentivos certos para inovação e investimentos, abrindo caminho para

a entrada de novas empresas. Nesse sentido, o consumidor final pode esperar possíveis

reduções nos preços dos serviços de telefonia.

As operadoras de telefonia fixa com poder de mercado significativo (PMS) e as operadoras de

telefonia móvel terão que atender às determinações do Documento de Separação e Alocação

de Contas para Operadoras (DSAC). Essa obrigatoriedade acarretará uma mudança

significativa em seus procedimentos contábeis, na medida em que será necessário coletar

novas informações num nível de detalhe hoje inexistente e organizar sistemas para a geração

dos relatórios. A princípio, equiparando o Brasil aos países mais adiantados em termos de

disponibilidade de informações, a Resolução pode representar uma grande contribuição para o

ambiente competitivo no país. Por outro lado, sua introdução implica novos custos para as

empresas que, de alguma forma, terminarão sendo repassados para os contribuintes,

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especialmente considerando que seu cronograma de implantação é muito acelerado, quando

comparado com a experiência internacional em outros países.

Em resumo, os desafios serão enormes para que sejam atendidas as determinações do órgão

regulador, mas os benefícios para o desenvolvimento do setor também poderão ser

significativos.

Quais são os impactos da regulação contida na Resolução 396 da ANATEL para os agentes

envolvidos? O processo de regulação econômica, estabelecido pela agência reguladora em

questão, é adequado ao cenário político-econômico atual do setor regulado? O objetivo central

deste trabalho é refletir sobre o tema, a partir das descrições das mudanças ocorridas após o

implemento da Resolução 396 da Anatel, apontando as decisões estratégicas e regulatórias

tomadas sob a perspectiva de uma empresa de longa distância do STFC.

Para isso, no primeiro capítulo, será feita uma revisão da literatura sobre Políticas Públicas,

Reforma do Estado, Agências Reguladoras e a Telefonia Fixa no Brasil. A segunda parte

contempla um histórico da empresa analisada e a Resolução 396 da Anatel. No terceiro

capítulo, apresentar-se-á a Metodologia de Pesquisa utilizada para efetuar tal trabalho. E

finalmente, no item Considerações Finais, serão apontados os principais impactos na empresa

analisada a partir do estabelecimento da norma.

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1 REVISÃO DA LITERATURA

1.1 HISTÓRICO

1.1.1 Políticas Públicas

Várias áreas de conhecimento vêm realizando pesquisas sobre as ações do Governo. A

academia, os órgãos governamentais e os centros de pesquisa têm aumentado o volume de

estudos e pesquisas sobre políticas públicas. Apesar de ainda apresentar problemas do ponto

de vista acadêmico, a área tem produzido significativamente estudos de qualidade, indicando

maturidade na sua produção científica.

Azevedo (2003, pág.1-10) define política pública como a busca do consenso entre o que se

pretende fazer ou deixar de fazer. Portanto, quanto maior o consenso, melhores serão as

condições de aprovação e implementação das políticas propostas. Ademais as políticas

públicas podem definir as regras para a solução de conflitos entre indivíduos e agentes sociais.

As políticas públicas podem ser definidas de acordo com seus objetivos. As políticas públicas

redistributivas visam repartir a renda na forma de recursos e/ou de financiamentos. Essas

políticas são garantidas por projetos de lei e/ou programas governamentais e atingem grandes

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grupos sociais. No que se refere ao financiamento, os estratos sociais de alta renda são os

responsáveis por bancar o custo dessa política e a população de baixa renda é a beneficiária.

Figura 1 - Financiamento das políticas públicas redistributivas Fonte: Santos Junior, Orlando Alves dos..[et al]. 2003.

Figura 2 - Financiamento das políticas públicas distributivas Fonte: Santos Junior, Orlando Alves dos..[et al], 2003.

As políticas públicas distributivas atendem a objetivos pontuais ou setoriais ligados à oferta

de equipamentos e serviços públicos. A sociedade como um todo, através do orçamento geral,

é responsável pelo financiamento, enquanto os beneficiários são grupos sociais específicos ou

indivíduos de diferentes estratos sociais.

Quem financia:estratos sociaisde alta renda

Quem se beneficia:estratos sociais debaixa renda

Quem financia: asociedade, atravésdo orçamento geral. Quem se beneficia:

pequenos grupos ouindivíduos dediferentes estratossociais

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As políticas regulatórias visam regular determinado setor, isto é, criar normas para

implementação e funcionamento dos serviços públicos. A política regulatória remete à

legislação e é um instrumento de regulação da aplicabilidade das políticas redistributivas e

distributivas.

Segundo Dagnino (2002, pág.1-41) aspectos políticos estão vinculados aos processos de

elaboração das políticas públicas e a análise de políticas está relacionada ao estudo do

processo de tomada de decisão e de seus desdobramentos no tempo, tratando-se, portanto, de

análise conjuntural e não de análise de decisões isoladas. O escopo da análise de uma política

pública engloba muito mais do que estudos e decisões de analistas, pois uma política dessa

natureza pode influenciar a vida de todos os afetados por problemas das esferas pública

(policy) e política (politics). Dado que os processos e os resultados de políticas sempre

envolvem vários grupos sociais, as políticas públicas se constituem em objeto específico e

qualificado de disputa entre os diferentes agrupamentos políticos e econômicos.

A análise de política pública envolve atividades com perspectivas diferentes das causas e

conseqüências da ação governamental. O autor afirma que a análise de política pública possui,

como objeto de estudo, os problemas com que se defrontam os fazedores de política (policy

makers) e tem como objetivo o auxílio na resolução desses problemas através da criatividade,

imaginação e habilidade.

Para Arretche (2003, pág. 7-10), a disciplina encontra-se relacionada às novas mudanças da

sociedade brasileira. Os recentes programas governamentais e a participação em políticas

setoriais despertaram a curiosidade acadêmica sobre os mecanismos de funcionamento do

Estado brasileiro e mostraram o desconhecimento sobre sua operação, constituindo um

problema para o desenvolvimento da agenda de pesquisa em políticas públicas.

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Souza (2003, pág. 1-7) apresenta alguns problemas associados à agenda de pesquisa em

políticas públicas. O primeiro procede da escassa acumulação do conhecimento da área. A

construção de um programa de pesquisa envolvendo a comunidade de pesquisadores é

insuficiente. Ademais o conhecimento e o debate em torno de novas produções acadêmicas

são carentes.

O segundo problema encontra-se na grande quantidade de estudos setoriais que concedem

uma diversificação de trabalhos empíricos expandindo-se horizontalmente, ao invés de uma

produção vertical de conhecimento. Além disso, como a área de políticas públicas possui

diversas subáreas, os estudos acabam geralmente por enfatizar aspectos de uma determinada

política. Logo, o crescimento horizontal contra a falta de fortalecimento vertical advém do

crescimento da área no Brasil, pois o desenvolvimento da matéria formou-se em torno de

áreas temáticas ao invés de grupos de pesquisa.

Nesse sentido, Frey (2000, pág.211-259) afirma que, como o estudo de políticas públicas

enfatiza basicamente os estudos empíricos, conseqüentemente seus resultados possuem, a

princípio, validade apenas situacional. Corre-se o risco de considerar padrões e estruturas que

se apresentam apenas conjunturalmente, com aspectos inerentes ao sistema político-

administrativo.

O terceiro problema mencionado por Souza (2003, pág. 1-7) refere-se à proximidade da

disciplina com os órgãos governamentais. Esses podem levar à produção de trabalhos

normativos e prescritivos, regulando assim a agenda de pesquisa.

Reis (2003, pág.11-16) argumenta que a agenda de pesquisa de políticas públicas deve pautar-

se em questões políticas, econômicas e sociais que desafiam o mundo, hoje, iniciando-se, por

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exemplo, nas relações do Estado com o mercado, que passaram por profundas modificações

no período histórico recente. Sob essa perspectiva, cabe à área de políticas públicas estudar

como o Estado atua para garantir a provisão de bens públicos não mais oferecidos diretamente

pelo setor público.

A autora alerta no sentido de concentrar os estudos na identificação das variáveis que

impactam os resultados, de modo a entender melhor as conseqüências da implementação de

uma política pública. E ainda propõe maior utilização do modelo bottom-up contra o método

top down, uma vez que essa análise se baseia em três premissas de grande complexidade da

política: a) análise da política pública, a partir da ação de seus implementadores, ao invés de

estudos acerca de governos, decisores e atores da esfera “central”; b) concentração da análise

na natureza do problema que a política pública tenta responder; c) descrever e analisar as

redes de implementação.

Para Silva e Melo (2000, pág.1-16), a questão da implementação é a variável central para

explicar o insucesso dos governos em atingir os objetivos estabelecidos na formulação de

políticas públicas. Os problemas não antecipados que aparecem durante a implementação de

uma política podem tornar-se um obstáculo intransponível, levando os órgãos governamentais

a suspender essa implementação. Os autores defendem que as avaliações de políticas públicas

devem focar no processo de implementação.

Na visão clássica da ação governamental, a implementação constitui uma das fases do ciclo de

política (policy cycle). Essa visão clássica não considera o ciclo de política como um

processo. A implementação é interpretada como um “jogo de uma só rodada” em que a ação

governamental é implementada de cima para baixo (top down).

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Figura 3 – Visão clássica do policy cycle Fonte: SILVA, Pedro Luiz Barros, MELO, Marcus André Barreto de. 2000.

Em uma versão menos simplista, a formulação e implementação de políticas é interpretada

como um processo, no qual o monitoramento da avaliação das políticas é considerado um

instrumento de correção de rota.

Figura 4 – Visão menos simplista do policy cycle Fonte: SILVA, Pedro Luiz Barros, MELO, Marcus André Barreto de. 2000.

Para Dagnino (2002, pág.1-41), o estudo da implementação de políticas públicas se resume na

relação entre o policy making e a avaliação dos impactos e dos resultados da política efetuada,

bem como a análise dos motivos de certas políticas serem bem sucedidas, e outras não. A

implementação é considerada mal sucedida quando a política foi colocada em prática de

forma apropriada, mas falhou em produzir os resultados esperados. Neste caso, é provável que

o problema não esteja na implementação propriamente dita, mas na formulação da política.

A questão-chave do modelo proposto por Reis (2003, pág. 11-16) é escolher à qual dos dois

enfoques (top down ou bottom up) a situação se adequa melhor, isto é, à qual dos dois

métodos a política em análise se encontra mais próxima. A escolha deve dar-se em função das

características que a política possui.

Retroalimentação / Monitoramento

Formulação de políticas

Implementação de políticas

Formulação de políticas

Implementação de políticas

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O modelo top down aborda o porquê de certas políticas serem bem sucedidas e outras não,

partindo da definição de implementação como um processo em que “ações de atores públicos

ou privados são dirigidas ao cumprimento de objetivos definidos em decisões políticas

anteriores”. A política é, assim, entendida como uma “propriedade” dos policy makers

situados no topo das organizações, como atores que têm o controle do processo de

formulação.

O enfoque bottom up parte da análise das redes de decisões que se dão no nível concreto, em

que os atores se enfrentam no período da implementação, sem conferir um papel determinante

às estruturas préexistentes (relações de causa e efeito e hierarquia entre organizações etc.) Sob

esse enfoque pode existir um controle imperfeito no processo de elaboração de política, o que

está ligado ao momento da implementação. Esta é entendida como o resultado de um processo

interativo, através do qual uma política que se mantém em formulação durante um tempo

considerável se relaciona com o seu contexto e com as organizações responsáveis por sua

implementação. A implementação é uma simples continuação da formulação.

Azevedo (2003, pág.1-10) assinala alguns problemas relativos à implementação das políticas

públicas, considerados no planejamento e no monitoramento dessas políticas.

O primeiro problema diz respeito às inter-relações entre as diversas políticas. Para o autor,

não existem mecanismos (institucionais, políticos e de controle, entre outros) de modo a

aumentar a cooperação e coordenação entre as diversas políticas setoriais. Muitas vezes, a

melhora de um setor (por exemplo, a saúde da população de uma vila) pode depender mais de

investimento em outra política setorial com grande interface (por exemplo, saneamento

básico) do que simplesmente do aumento dos gastos tradicionais (por exemplo, distribuição

de mais remédios contra vermes).

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O segundo problema é a grande quantidade de variáveis que podem interferir na

implementação de uma política pública. Elas sempre existem e é difícil prever todos os seus

impactos. Não existem formas de evitar totalmente os efeitos, mas podem-se diminuir os

riscos, tentando prever o comportamento dos atores que serão influenciados pelas políticas

propostas e realizando previamente os ajustes necessários.

A não política também representa um problema na implementação de políticas públicas. A

não-atuação pode provocar impactos negativos sobre a realidade, e isso deve ser levado em

consideração no planejamento e no monitoramento de uma determinada política pública.

Quando dois ou mais órgãos públicos atuam no mesmo programa havendo sobreposição de

ações, sem que isso acarrete maior benefício para o cidadão comum, também pode constituir

um problema.

Por último a autora cita a maximização de interesses individuais que podem gerar perda para

todos. Azevedo (2003, pág.1-10) exemplifica a situação quando a maioria dos moradores da

cidade de São Paulo decide comprar um segundo carro, como forma de não serem penalizados

pelo rodízio de placas: o trânsito tenderá, a médio e longo prazo, a se tornar pior para todos. A

implementação de uma política pública deve ser acompanhada de campanhas públicas para

garantir a adesão dos cidadãos aos objetivos planejados.

O autor alerta que, em face de um determinado problema, não existe apenas uma única

solução sob a perspectiva das políticas públicas. Há uma gama variada de alternativas muito

boas, muito ruins ou razoáveis. É preciso avaliar com profundidade os efeitos de cada uma

das escolhas.

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Souza (2003, pág. 1-7) cita a produção de trabalhos pouco pautados em modelos ou

tipologias, que utilizam teorias próximas ao objeto da análise sem uma orientação teórico-

metodológica. Para Reis (2003, pág.11-16) as pesquisas em políticas públicas necessitam uma

sustentação teórica, tratando os projetos de forma específica e sistemática. Nesse sentido,

Souza (2003, pág. 1-7) observa que a literatura neo-institucionalista possa levar a área a

adquirir maior rigor na produção acadêmica.

Frey (2000, pág. 211-259) discute algumas abordagens básicas como a “policy analysis”, o

neo-institucionalismo e a análise de estilos próprios para o campo de pesquisa em políticas

públicas. Argumenta, porém, que é preciso uma adaptação desses instrumentos teóricos às

características das sociedades em desenvolvimento para se obter uma pesquisa político-

científica em concordância com a realidade.

A abordagem analítica da “policy analysis” estuda a inter-relação entre as instituições

políticas, o processo político e os conteúdos da política, enfatizando a análise das estruturas

das instituições e os processos de negociação. A abordagem neo-institucionalista considera

como fator primordial as “instituições estáveis ou frágeis” para explicar o êxito ou o fracasso

das políticas adotadas. A vertente “análise de estilos políticos” considera o aspecto “como” da

política, ressaltando os fatores culturais, os padrões de comportamento político e as atitudes

dos atores políticos como essenciais para compreender melhor o processo político.

Para Faria (2003, pág. 21-30) o campo da análise de políticas públicas é incipiente, visto que

não existe um processo sistêmico de análise. Além disso, o estudo de processos e

metodologias de avaliação de políticas é escasso, pois o setor público do país não utiliza essas

teorias como instrumentos de gestão, sugerindo que o campo de análise no Brasil permanece

ligado aos processos decisórios do governo. Nesse sentido, o autor conclui que as abordagens

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existentes, as teorizações incipientes e as vertentes analíticas buscam apenas dar

inteligibilidade aos processos de formação e gestão das políticas públicas.

1.1.2 Políticas Públicas no Brasil

Segundo Farah (2001, pág. 119 -145), as políticas públicas promovidas pelo Estado brasileiro

até o início dos anos 80 se caracterizavam, em primeiro lugar, pela centralização decisória e

financeira na esfera federal, cabendo aos estados e municípios o papel de executores das

políticas formuladas centralmente.

Em segundo lugar, as políticas públicas eram marcadas pela fragmentação institucional. O

aparato estatal era desordenado, com sobreposição de funções, sem que se estabelecesse

coordenação da ação dos diversos órgãos. Esta desarticulação ocorria tanto no âmbito de um

mesmo nível de governo, como entre diferentes esferas de governo. Tal desenho institucional

dificultava a tarefa de coordenação, com implicações para a eficiência e a efetividade das

políticas públicas.

Um terceiro componente das políticas públicas no campo social era seu caráter setorial. Ao

longo do processo de constituição da estrutura de provisão de serviços públicos no país,

sobretudo a partir dos anos 1960, ocorreu a separação da atuação governamental em estruturas

especializadas – educação, saúde, habitação, transportes etc. Cada política social e cada setor

do serviço público foram concebidos de forma independente, sem uma articulação entre as

ações das diferentes áreas. Neste cenário ocorriam perdas dos efeitos positivos de ações

coordenadas dirigidas a um mesmo público-alvo, como também o comprometimento de

determinadas políticas, pela inexistência de serviços complementares de outro setor.

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Outra característica das políticas públicas vigentes no Brasil até os anos 1980 foi a exclusão

da sociedade civil no processo de formulação das políticas, na implementação dos programas

e no controle da ação governamental.

No Brasil, prevaleceu até os anos 1980, o modelo centrado na provisão estatal como

paradigma para a formulação das políticas públicas.

A autora afirma que o debate sobre a reforma da ação do Estado brasileiro teve início na

década de 1970 e ganhou impulso nos anos 1980, no âmbito do processo de democratização

do país. Tratava-se de implementar mudanças não apenas no regime político, mas também no

nível das políticas públicas, do Estado em ação, procurando superar as críticas da intervenção

do Estado na área social.

No fim da década de 1980 e início dos anos 1990, já sob o impacto da crise fiscal, a escassez

de recursos passou a ser uma questão central, ao reduzir a capacidade de resposta do Estado às

demandas crescentes dos serviços públicos pela população. Assim foram introduzidos

conceitos como a eficiência, a eficácia e a efetividade da ação estatal, assim como a qualidade

dos serviços públicos no processo de Reforma do Estado brasileiro.

Sob essa perspectiva, o Estado era essencialmente ineficiente, ineficaz e provedor de serviços

de baixa qualidade. A crise econômica – e a crise do Estado – resultaram dele próprio e de sua

intervenção excessiva. As reformas seriam efetuadas para o “desmantelamento” e para a

redução deste Estado, desregulamentando a economia e garantindo a abertura do mercado.

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Segundo Rocha (2003, pág. 221-223) o modelo de formulação e execução de políticas

públicas nos setores de infra-estrutura brasileiro, a partir das reformas dos anos de 1990, é

constituído em duplo pilar:

• uma administração direta, através de conselho interministerial, cuja tarefa é a formulação

das políticas públicas em questão. Esse conselho, embora integrado por membros do

poder Executivo, pode valer-se do auxílio técnico de câmaras ou instâncias consultivas

integradas também por representantes do setor privado, da comunidade científica ou

acadêmica, de órgãos de defesa dos consumidores ou da sociedade de forma geral.

• uma agência reguladora independente com a tarefa de executar essas políticas, usando

para tanto, além de poderes de fiscalização, algum grau de poder normativo.

Segundo o autor, a prestação satisfatória dos serviços públicos depende do bom

funcionamento de duas vertentes: a formulação de sólidas políticas e a implementação

eficiente das políticas públicas traçadas.

Para o setor de telecomunicações, segunda grande área de infra-estrutura, foi adotada uma

solução peculiar quanto ao seu desenho institucional. A lei 9.472, de 16 de julho de 1997 - Lei

Geral de Telecomunicações (LGT) – que consubstanciou as reformas, não conferiu a um

conselho, composto por autoridades do Poder Executivo, competência para formulação de

políticas genéricas. Instituiu-se um modelo complexo de processo normativo, por meio do

qual competências genéricas foram cometidas ao Poder Executivo, que deve exercê-las por

meio de decretos. Essa competência normativa do Poder Executivo é, no entanto, vinculada a

prévias proposições da Anatel, criada pela mesma lei. A Agência foi instituída com autonomia

e poderes normativos. A LGT instituiu ainda o Conselho Consultivo, como “órgão de

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participação institucionalizada da sociedade na Agência” – Art. 33 da LGT – e conferiu-lhe

competências opinativas.

1.1.3 Reforma do Estado

Para Bresser Pereira (1998, pág. 5-69), a reforma do Estado em todo o mundo foi uma

resposta à globalização e à crise do poder público, iniciada nos anos 1970 atingindo sua plena

definição nos anos 1980. No Brasil, a reforma começou em um momento de crise econômica,

chegando ao auge em 1990 com um cenário econômico de hiperinflação e de estagnação da

renda per capita. A partir de então a reforma do Estado tornou-se obrigatória. Entretanto, esse

tema só passou a ser central em 1995, após a eleição e a posse de Fernando Henrique Cardoso

(FHC) na Presidência da República.

O autor define a crise do Estado como uma deficiência do modo de intervenção do poder

público, acelerada pelo processo de globalização da economia mundial, e caracterizada pelo

esgotamento do modelo protecionista de substituição de importações. Nos anos 1930 a 1950,

esse modelo promoveu a industrialização no Brasil, mas deixou de fazê-lo a partir dos anos

60, quando transpareceu a falta de competitividade das empresas brasileiras, expressando o

fracasso em se criar um país com crescimento sustentável, voltado para o bem-estar da

coletividade.

O autor observa que, antes da integração mundial dos mercados e dos sistemas produtivos, um

dos principais objetivos do Estado no Brasil era proteger a economia nacional da competição

internacional, como forma de estimular seu crescimento e “amadurecimento”. Com a

globalização, o novo papel do Estado passou a ser de patrocinador do progresso, para que a

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economia nacional se tornasse competitiva internacionalmente. Com isso, o Estado perdeu sua

capacidade de coordenar o sistema econômico como alocação de recursos, acumulação de

capital e distribuição de renda. Essas atividades passaram, então, a ser desempenhadas pelo

mercado e, de modo complementar, pelo Estado. No entanto, a regulação e a intervenção

continuavam necessárias, não apenas para compensar os desequilíbrios distributivos

provocados pelo mercado globalizado, mas para capacitar os agentes econômicos a

competirem em nível mundial.

A reforma do Estado brasileiro teve início, então, com o Governo de Fernando Collor de

Melo. Empossado em 15 de março de 1990, tornou-se o mais jovem presidente do país e o

primeiro eleito pelo voto direto, após cerca de 20 anos de regime militar. Em seu discurso de

posse, Fernando Collor de Melo prometeu eliminar a inflação, modernizar o país e moralizar a

administração pública. Segundo Souza (2003, pág. 1-25), as iniciativas do Governo Collor

indicavam a retirada da participação do Estado na economia, a abertura comercial e financeira

ao capital estrangeiro e a introdução da suposição de que o crescimento econômico estaria

baseado na iniciativa privada.

Em seus primeiros atos como Presidente da República, Fernando Collor de Melo assinou

cinco medidas provisórias e quatro decretos, referentes à redução do número de ministérios, à

demissão de servidores públicos e à venda de imóveis do patrimônio federal. Após sua posse,

o governo anunciou o Plano de Estabilização Econômica ou Plano Brasil Novo, que ficaria

conhecido como Plano Collor. Os objetivos centrais desse Plano eram combater a inflação e

reduzir o déficit público, criando condições para que o Brasil viesse a ingressar no “Primeiro

Mundo”. As principais medidas adotadas foram: a extinção de 24 empresas estatais, com a

demissão dos respectivos funcionários que não estivessem protegidos pelas regras da

estabilidade; a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); o aumento da

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taxação sobre os lucros do setor agrícola e o fim dos subsídios à exportação não garantidos no

texto constitucional; a reintrodução do Cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao

Cruzado Novo, criado no governo anterior; o congelamento de preços e salários, que

passariam a ser reajustados conforme índices de inflação prefixados; o fim dos títulos ao

portador e dos cheques ao portador de valores acima de um teto determinado; a flutuação do

câmbio segundo as tendências do mercado; a redução da presença do Estado na economia, por

meio da privatização de empresas estatais; e a abertura econômica para o exterior, com a

redução progressiva das alíquotas de importação.

Segundo Lemos (2001, pág.1-6) os objetivos estratégicos do Plano Collor eram baseados nas

recomendações do Consenso de Washington, denominação dada às conclusões do seminário

que, em novembro de 1989, reuniu técnicos do governo dos Estados Unidos, do FMI, do

Banco Mundial e do BID, além de economistas de países latino-americanos, para avaliar as

reformas econômicas em curso no continente. Para Petla Filho (2004, pág. 1-8), a conclusão

do seminário foi a proposição de programas de ajuste, efetuados pela maioria dos países da

região, inspirados nas medidas que o governo norte-americano recomendava como requisitos

para o estabelecimento de laços de cooperação financeira. Tais medidas giravam em torno de

três eixos principais: a retirada do Estado das atividades econômicas; a liberalização dos

mercados nacionais para a importação de bens e serviços e para a entrada de capitais de risco;

a obtenção da estabilidade monetária, por meio do combate à inflação, ainda que à custa de

recessão, de aumento do desemprego, da contenção salarial e da diminuição dos

investimentos públicos na área social.

Na área administrativa, o governo brasileiro recadastrou os servidores públicos e extinguiu

cargos comissionados, órgãos e empresas públicas - como a Portobrás, a Siderbrás, o Instituto

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do Açúcar e do Álcool (IAA), o Instituto Brasileiro do Café (IBC) e o Departamento Nacional

de Obras e Saneamento (DNOS).

Posteriormente, o governo lançou o Projeto de Reconstrução Nacional, constituído por sete

emendas constitucionais, quarenta e dois projetos de lei e dez decretos. Instituiu o Programa

Nacional de Desestatização, Lei no. 8.031/90, com a privatização da Usiminas e mais treze

empresas públicas, e concedeu ao BNDES a administração e o estabelecimento das regras

para o leilão de venda das empresas estatais.

Segundo Souto (2005, pág. 9-26), quando o Estado desenvolve atividades reservadas

constitucionalmente à iniciativa privada (princípio da livre iniciativa) ou de setores em que ela

possa vir a atuar com maior eficiência (princípio da economicidade), impõe-se a

desestatização, que possui gênero análogo aos conceitos de privatização, concessão,

permissão e terceirização das funções públicas.

O autor define privatização como a mera alienação dos direitos que asseguram ao Poder

Público, diretamente ou através de empresas controladas, a preponderância nas deliberações

sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da sociedade. Privatiza-se o que não

deve permanecer com o Estado, quer por violar o princípio da livre iniciativa (Constituição

Federal, art.173), quer por contrariar o princípio da economicidade (Constituição Federal, art.

70).

A concessão envolve a celebração de um contrato de prestação de serviços públicos, por meio

do qual a Administração Pública delega a um particular a gestão e a execução, por sua conta e

risco, sob a supervisão do Estado, de uma atividade definida por lei como serviço público

(Constituição Federal, art.175). O Estado atua como concedente, acompanhando a execução

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do contrato e o atendimento do interesse público, podendo, a qualquer tempo, retomar a

atividade. O concessionário deve remunerar suas atividades, basicamente, pela cobrança de

uma tarifa justa a ser paga pelo usuário e fixada de acordo com a proposta vencedora da

licitação. A tarifa cobrada deve ser capaz de remunerar o capital investido, custear a operação,

viabilizar o aperfeiçoamento tecnológico e assegurar o justo lucro do concessionário. As

normas gerais sobre concessão e permissão foram previstas na Lei Federal no. 8.987/95.

Por fim, a terceirização envolve as atividades instrumentais da Administração Pública para

realização de seus fins, caracterizando-se, basicamente, pela contratação de serviços,

disciplinada pela lei no. 8.666/93.

Devido a grande quantidade de empresas estatais, esgotaram-se os recursos públicos para

financiar a atuação de algumas tarefas efetuadas pelo Estado, necessitando-se repensar onde

seria indispensável a presença do Estado. Onde for dispensável, para Souto (2005, pág. 9-26),

a privatização é o caminho; onde se exigir tal presença, há que se repensar o modo de gestão

da atividade, terceirizando, concedendo ou permitindo sempre que o particular se revelar mais

eficiente; enxugando-se a máquina e buscando um Estado eficiente, com menos custos e

melhores resultados, a fim de que seja capaz de atrair recursos privados para o

desenvolvimento.

O objetivo da desestatização é reordenar a intervenção do Estado na economia, passando a se

concentrar em áreas e setores em que seja fundamental a presença do Estado. Outro objetivo

da desestatização é reduzir a dívida pública, estimulando a ampliação dos investimentos da

iniciativa privada em substituição aos investimentos públicos, contribuindo assim para o

fortalecimento do mercado de capitais. Esse conceito foi disciplinado pela Lei no. 9.491/97,

que dispõe sobre o Programa Nacional de Desestatização.

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Para Souza (2003, pág. 1-25), o ciclo de privatizações objetivou a retirada gradual do Estado

da economia, principalmente no setor produtivo de base, o estancamento do fluxo de recursos

públicos e novos investimentos para empresas estatais deficitárias e a redução da dívida

pública.

Tabela 1 – Resultados da Privatização por Período Presidencial e Tipo de Moeda (US$ Milhões)

Fonte: www.bndes.gov.br.

A abertura comercial aos investimentos estrangeiros, a privatização, a terceirização, a

implementação de parcerias com organismos da sociedade, a desregulamentação e a

exoneração do Estado foram ações adotadas pelo Governo sob orientação do Fundo

Monetário Internacional, em continuidade a políticas públicas iniciadas na Era Collor. A

tabela 1 comprova que a política de privatizações ganhou impulso durante o Governo FHC,

no qual o número de empresas privatizadas cresceu e ampliaram-se as receitas em moeda

corrente.

As reformas, no período de 1990 a 2002, modificaram o papel do Estado de pilar do

desenvolvimento interno para o de suporte à competitividade internacional. Segundo Cardoso

(2005, pág. 15-19), a competitividade contribui no combate à exclusão social. O Governo

FHC estabeleceu a competitividade como valor central do Governo e o Estado como

fiscalizador da iniciativa privada. Nesse sentido, o primeiro ano de Governo FHC abriu

PeríodoNúmero de Empresas

Ingressos em Dinheiro

Ingressos Totais

% em dinheiro

1981/84 20 s.i. 188,51 s.i.1985/89 18 s.i. 548,3 s.i.1990/92 18 4.015,00 5.371,00 74,71993/94 15 4.593,00 11.096,00 41,41995/98 (PND) 30 11.033,00 16.938,00 65,11998 (Teles) 26.557,00 28.682,00 92,6

Total 1981/1989 38 s.i. 736,81 s.i.

Total 1990/1998 63 46.198,00 62.087,00 74,4

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espaço para o investimento estrangeiro, através das privatizações, quando, por uma série de

dispositivos constitucionais, modificou os conceitos de empresa brasileira e concessão de

serviços públicos, em setores como o das telecomunicações, petróleo, navegação e

cabotagem, canalização de gás e outros, o que implicou o fortalecimento do mercado. No

plano constitucional, a abertura teve início em duas grandes frentes: a flexibilização de

monopólios estatais e a redução de barreiras ao capital estrangeiro, efetivando-se com a

mudança de vários artigos da Constituição Federal.

A Emenda Constitucional n°. 5, de 15.08.95, abriu a possibilidade de os Estados-Membros

concederem às empresas privadas a exploração dos serviços públicos locais de distribuição de

gás canalizado, que, anteriormente só poderiam ser delegados à empresa sob controle

acionário estatal; o mesmo foi feito em relação à União quanto aos serviços de

telecomunicações e de radiodifusão sonora e de sons e imagens pela Emenda Constitucional

n°. 7, de 15.08.95, que até então só admitiam a concessão à empresa estatal.

A Emenda Constitucional n°. 8 introduziu a necessidade da criação de agentes reguladores,

que editarão normas, intermediarão e arbitrarão os conflitos decorrentes da execução dos

contratos de concessão dos serviços de telecomunicações; com isso, abre-se uma nova opção

para solucionar as controvérsias, além de recursos ao Poder Judiciário, notadamente caro e

lento.

Em relação à abertura do mercado nacional ao capital estrangeiro, a Emenda Constitucional

n°. 6, de 15.08.95, revogou o art. 171 da Constituição Federal, que trazia a conceituação de

empresas brasileiras e empresas brasileiras de capital nacional, admitindo a outorga de

benefícios, proteções e preferências em relação a estas; na atual legislação, quaisquer

distinções só podem ocorrer se previstas em tratados internacionais firmados pelo país.

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Com o advento da emenda Constitucional n°. 9, de 09.11.95, facultou-se à União Federal a

contratação de empresas privadas de atividades voltadas à pesquisa e lavra de jazidas de

petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, à refinação do petróleo nacional ou

estrangeiro, à importação, à exportação e aos transportes dos produtos e derivados básicos de

petróleo, implicando a quebra de monopólios.

O princípio da livre iniciativa recebeu tratamento no plano da legislação infraconstitucional,

Lei n°. 8.031/90, instituindo o Programa Nacional de Desestatização, prevendo a transferência

de empresas, bens e serviços do setor público para a iniciativa privada. A norma, revogada

pela Lei no. 9.491/97, foi implementada com a privatização de empresas estatais e com a

concessão de serviços públicos. Na esfera da Administração Federal, foram privatizadas as

empresas dos setores de infra-estrutura, com a venda das empresas e a outorga do serviço

público (energia, telecomunicações, rodovias e ferrovias).

Para o estímulo à participação do capital privado em atividades tipicamente estatais, foi

editada nova Lei de Concessões de Serviços Públicos – Lei no. 8.987/95 – cujo objetivo foi

atribuir garantias ao investidor. A norma invalidava a política tarifária anterior e permitia ao

concessionário dar em garantia os direitos emergentes da concessão. A norma, exigia,

também, autorização legislativa para a encampação e decreto autorizando a intervenção,

mitigando os possíveis riscos políticos associados às mudanças de Governo, ao longo do

contrato e assegurava o direito ao reajuste e à revisão do contrato como forma de preservar o

valor da tarifa. Outra importante contribuição da norma era a instituição de meios amigáveis

para a solução de conflitos.

Com as novas legislações para os setores de infra-estrutura, foram criadas as agências de

regulação dessas atividades, de modo a ditar normas de condução entre os agentes envolvidos

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(concedente, concessionário e usuário). A essas entidades foi assegurada independência nas

suas decisões, atendendo a uma preocupação dos investidores de verem as controvérsias em

que eles estivessem envolvidos julgadas pelo próprio concedente.

Para Faleiros (2003, pág. 34-59), a privatização efetuou a transferência das obrigações estatais

para as empresas privadas, do público para o mercado e mudou o provimento dos serviços

coletivos antes efetuados pelo Poder Público para a iniciativa privada. Em sua maioria houve

a transferência da infra-estrutura pública privatizada para o patrimônio das multinacionais. As

empresas públicas, importantes para o desenvolvimento na era Vargas e JK, sofreram

mudanças para que viessem a atender aos critérios de competitividade e de eficiência,

essenciais ao funcionamento do mercado.

Para Menardi e Costa (1999, pág. 51-65), o Estado, com essas reformas, deixou de se

responsabilizar pelo desenvolvimento econômico e social, e passou a promovê-lo, regulando-

o diretamente. O objetivo desse novo papel era facilitar a competitividade internacional da

economia brasileira, sem que o Estado se afastasse da regulação. Com a reforma do Estado, o

Governo passou a possuir recursos regulatórios para que, sempre que o mercado não tiver

condições de coordenar adequadamente a economia, ele possa intervir de modo efetivo.

Portanto, a reforma do Estado, implementada para “reordenação estratégica”, possibilitou a

adoção do modelo das agências reguladoras, visando substituir o Estado desenvolvimentista

por agências com poder de normatizar, fiscalizar, autorizar e outorgar serviços. O Estado

passou de agente do desenvolvimento para agente da competitividade no mercado. Com isso,

transferiu o patrimônio público para empresas privadas, mudou a relação do Estado com o

mercado e a sociedade, sendo o Estado agora uma entidade complementar ao mercado. A

reforma estabeleceu um novo modelo de gestão pública gerencial.

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Para Fadul (1999, pág. 70-78), no Brasil, o processo de reforma do Estado caminhou

entrelaçado a um amplo programa de privatização de serviços públicos e de empresas estatais.

Setores deixam de ser explorados unicamente pelo poder público, em regime de monopólio,

para pertencerem ao setor privado, sendo disputados por corporações mundiais. Nesse cenário

de privatização, instituiu-se a desregulamentação e a flexibilização dos monopólios,

culminando com o leilão das empresas estatais.

Sob o aspecto econômico, para Azevedo (2003, pág.1-23), a reforma do Estado significa uma

retomada sustentada de crescimento de longo prazo, através da promoção do investimento

privado nacional e internacional, especialmente em áreas consideradas estratégicas

(telecomunicações, transporte, eletricidade, petróleo e derivados etc.), transferindo para a

iniciativa privada os importantes serviços públicos como telecomunicações e energia elétrica,

e em mudanças estruturais no papel regulador do Estado.

Para Souto (2005, pág. 9-26), a promoção da livre concorrência entre empresas é fundamental

para que se obtenha a melhoria na qualidade dos produtos, o desenvolvimento tecnológico e

melhores opções ao consumidor ou usuário final. Se a concorrência não é protegida, o

mercado passa a ser dominado por poucos, e, sem que haja fiscalização governamental, a

tendência, nesse caso, é o aumento dos preços dos bens e serviços, a queda da qualidade dos

produtos, a redução de alternativas de compra, a estagnação tecnológica, pois não existe

competitividade que obrigue o aperfeiçoamento dos processos de fabricação, seja por meio de

pesquisas, pela adoção de métodos produtivos e administrativos mais eficazes.

O autor afirma que o intervencionismo moderado é uma característica do Estado neoliberal,

que tem na concorrência um meio de alcançar o bem-estar coletivo. Sendo um meio e não um

fim, admite a presença do Estado, ora incentivando (fomento), ora restringindo (se outros

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valores mais importantes estiverem envolvidos), ora meramente regulando as forças de

mercado e sancionando os abusos (fiscalização e sanção de polícia), e, até mesmo, atuando

em regime de monopólio quando apropriado. O autor acrescenta que as agências reguladoras

surgiram como as estruturas administrativas encarregadas dessas responsabilidades.

1.1.4 Agências Reguladoras

Para Arbix (2005, pág. IX), ao longo da década de 1990, a abertura comercial, a privatização

de empresas estatais, a desregulamentação e o controle do processo inflacionário redefiniram

as bases de funcionamento da economia brasileira e, ao mesmo tempo, estabeleceram novos

desafios para os formuladores de políticas públicas. Um desafio crítico foi repensar o papel do

Estado que, anteriormente assumira a função de principal agente do crescimento econômico,

tanto na condição de produtor direto como na de gestor de recursos.

O movimento de redefinição do papel do Estado evoluiu no sentido de identificar e produzir

recomendações no plano das políticas públicas. Conforme exposto anteriormente, no lugar de

intervenção direta do Estado, a ênfase deslocou-se para o desenvolvimento de instituições e

mecanismos que atuassem no sentido de prover incentivos à atuação eficiente do setor privado

e à maximização do bem-estar social.

Arbix (2005, pág. IX) observa que, dentro do cenário político e macroeconômico brasileiro,

no período apoiado em metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal, o marco

regulatório foi crucial. Dada à restrição financeira do setor público e às mudanças oriundas da

reformulação do papel do Estado, os investimentos em infra-estrutura foram efetuados pelo

setor privado impedindo o surgimento de obstáculos nas taxas de crescimento do país.

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Lisboa (2005, pág. XI) afirma que o tema sobre regulação, no Brasil, envolve diversas

dificuldades, pois compreende aspectos da teoria econômica, incluindo análise das

experiências internacionais, e até a natureza do sistema jurídico brasileiro e da jurisprudência.

A utilização de agências de Estado na regulação de atividades de infra-estrutura surgiu em

diversos países como o mecanismo mais adequado para a implementação de políticas públicas

eficientes em setores com características específicas.

Na visão do autor, o termo “eficiência” está relacionado ao provimento de serviços cujos

custos e benefícios garantam o maior bem-estar possível para toda a sociedade. Desse modo, a

análise e implementação de política pública, eficientemente regulatória, dependem das

características tecnológicas do setor e do serviço a ser oferecido.

Os setores de infra-estrutura possuem aspectos bastante peculiares como o aparecimento de

monopólios naturais decorrentes de custos fixos elevados com custos marginais relativamente

baixos, decisões de longo prazo, a gestão complexa das empresas e discricionariedade e

agilidade por parte dos administradores nos casos de divergência com o Governo.

Para Salgado e Motta (2005, pág. 4-21), a ação de intervenção regulatória em um mercado,

alterando decisões de oferta e demanda, justifica-se quando os mercados falham em emitir os

sinais corretos de preços e serviços que garantiriam as escolhas adequadas e maximizariam o

bem-estar social. Outra justificativa são os custos dos investimentos de longo prazo nos

setores regulados. O modelo propõe a criação de um órgão de Estado cujo horizonte de

avaliação da política pública seja consistente com o longo prazo das decisões de investimento

dos setores de infra-estrutura.

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Conforme anteriormente exposto, faz-se mister a instituição de um órgão regulador para

proteger o usuário do serviço de concessão e, também, assegurar a estabilidade das regras de

operação de mercado para os concessionários desses direitos. A ação regulatória visa ao bem-

estar da sociedade, não distinguindo o modo de prestação do serviço: direta ou indireta,

pública ou privada. Deve, sim, garantir o respeito aos contratos e o uso adequado dos

incentivos à eficiência, à expansão dos serviços e à limitação tarifária.

� Histórico

Segundo Aragão (2005, pág. 127-161), as agências reguladoras independentes desenvolvidas

na América Latina e na Europa, a partir da década de 1980, constituíram um modelo

institucional de administração pública, influenciado pelo padrão originário dos Estados

Unidos.

Para o autor, os Estados Unidos sempre tiveram uma perspectiva liberal e não-estatizante, ao

passo que a América Latina e a Europa Continental adotaram uma política estatizante em que

os serviços eram prestados pelo próprio Estado ou por empresas sob sua administração

indireta. O movimento de desestatização fez com que o cenário político-econômico desses

países se tornasse similar àquele existente nos Estados Unidos.

O autor observa que, em 1887, os Estados Unidos passavam de um cenário liberal ortodoxo

para uma situação de forte regulação (New Deal), situação que se enfraqueceu após a Segunda

Guerra Mundial. Na década de 1980, o país sofreu o movimento de deregulation, em que se

defendia a extinção ou diminuição da regulação estatal. A América Latina e a Europa também

partiram de um liberalismo ortodoxo (séculos XVIII e XIX), para a estatização da economia,

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a partir do segundo Pós-Guerra. Na década de 1980, a situação reverteu-se com a

desestatização, acompanhada da regulação dos setores conferidos à iniciativa privada.

Para Oliveira, Fujiwara e Machado (2005, pág.165-197), no período de 1930 a 1980, o Estado

atuava como empreendedor, participando diretamente na produção de bens e serviços e na

promoção do processo de industrialização. A partir de 1990, o modelo de substituição de

importações enfraqueceu e o Estado passou a desempenhar o papel de regulador da produção

de bens e serviços.

Conforme exposto anteriormente, a Lei Federal n°. 8.031/90 - Programa Nacional de

Desestatização - representou um marco na redução da intervenção direta do Estado brasileiro

na economia. Com esse regulamento iniciou-se a privatização de empresas públicas atuantes

em mercados que não demandavam um marco regulatório específico, como os setores

siderúrgico, petroquímico e de fertilizantes.

As primeiras agências reguladoras no Brasil, instituídas a partir da segunda metade da década

de 1990, surgiram num ambiente de privatização e de redefinição da atuação do Estado

brasileiro, e com a missão de regular um setor ainda pouco explorado: o da prestação de

serviços públicos por particulares mediante contrato de concessão. Neste primeiro momento,

as agências tratavam basicamente de disciplinar a concessão dos serviços públicos, tarefa

antes realizada pela administração direta da União.

Para Oliveira, Fujiwara e Machado (2005, pág.165-197), ao longo do tempo, as agências

reguladoras ganharam importância e influência no estabelecimento de políticas públicas

inerentes ao setor, na atração de investimentos, na expansão da oferta e na melhoria dos

serviços, produtos e preços praticados pelos mercados recém-privatizados.

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A criação dessas entidades acompanhou o processo de abertura de alguns mercados a

empresas privadas. O Estado conferiu a esses órgãos públicos independência técnica de modo

a estimular novos investimentos, introduzir e também fortalecer a livre concorrência. Esse

movimento foi acompanhado pela privatização do setor de telefonia e de transportes

ferroviários.

Zaczac (2005, pág.21-27) afirma que, com a desestatização, o modelo adotado no Brasil foi a

criação de órgãos reguladores com a função de mediação e arbitragem e estabelecimento de

diretrizes e normas visando ao controle e acompanhamento dos serviços prestados. Essas

entidades possuem autonomia política, financeira, normativa e de gestão, desfazendo o

modelo estatal que vigorava no país. Em plano federal, essas entidades são especializadas e,

no nível estadual, são órgãos com competência para regular todos os serviços concedidos ou

permitidos.

Os órgãos reguladores regem os segmentos do mercado e serviços públicos, protegendo o

consumidor, garantindo a livre escolha e o abastecimento, a preços acessíveis. As agências

reguladoras, como instrumento de regulação moderna, baseiam-se nos princípios abaixo:

- Mercado regulado para a competição;

- Estado intervencionista ou Estado-regulador;

- Criação de agências setoriais de regulação, dotadas de autonomia e especialização;

- Atenção aos monopólios naturais;

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- Ambiente de transição, cabendo ao Estado supervisionar o poder de mercado dos

concessionários e organizar a entrada de novos concessionários. Da mesma forma, cabe ao

Estado zelar pela implantação de um novo modelo organizacional, arbitrar conflitos e

complementar o processo de regulação normativa;

- Garantia do interesse público.

Fonte: Descentralização (2001, pág. 394) apud Zaczac (2005, pág.21-27)

Segundo Lisboa (2005, pág. XI) as agências reguladoras são entidades recentes no Brasil e a

eficiência dos marcos regulatórios no Brasil assim como os contratos estabelecidos com as

prestadoras privadas de serviços são objetos de discussão acadêmica. A importância

econômica e social do provimento justo desses serviços, as dificuldades técnicas existentes no

desenho adequado da regulação nos setores de infra-estrutura e a incerteza jurídica existente

nos contratos de concessão, com seu impacto sobre o provimento dos serviços, tornam o

estudo teórico oportuno e relevante.

1.2 TELEFONIA FIXA

1.2.1 Evolução Histórica

Nos anos 50, o sistema telefônico brasileiro era formado por vinte e sete operadoras estaduais.

Não havia uma política nacional como também um modelo regulatório específico para o setor.

A tecnologia brasileira era precária e o serviço era realizado por telefonistas.

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Nos anos 60, as tecnologias baseadas nas centrais eletromecânicas foram introduzidas e a

interferência das telefonistas foi dispensada, agilizando o serviço. No serviço de longa

distância, o ingresso da tecnologia de microondas permitiu a conexão das cidades do Rio de

Janeiro, de Belo Horizonte, de Brasília e de Goiânia. Em 1962, a subsidiária da Canadian

Tractions Light and Power Company operava 62% das linhas telefônicas fixas instaladas no

país, principalmente nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os 38% restantes do

mercado estavam pulverizados por prefeituras, empresas privadas e cooperativas no país.

No final da década de 60, a empresa canadense foi estatizada. Silva (2005, pág. 27-72)

considera que, a partir dessa época, iniciou-se uma política desenvolvimentista no Brasil,

baseada na estratégia e integração para o progresso nacional. Por meio da Lei 4.117 de 27 de

agosto de 1962 e Decreto 52.026 de 20 de maio de 1963, foi instituído e aprovado o Código

Brasileiro de Telecomunicações (CBT). O código autorizava o emprego do capital estatal no

fornecimento e na operacionalização dos serviços de telecomunicações. O Estado era

responsável, através do Contel, pela implementação de uma política de controle para o setor.

Resumidamente o CBT estabelecia:

• o Estado como responsável em definir e classificar os serviços de telecomunicações;

• a criação do Conselho Nacional de Telecomunicações (Contel);

• a criação da Embratel, que oferecia os serviços de longa distância nacional e

internacional;

• a criação do Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT), constituído a partir de uma

sobretarifa nos serviços de telecomunicações, por um período de 10 anos para o

financiamento da Embratel.

Em relação às tarifas, o critério estabelecia um valor de tarifa que cobrisse os custos e a

remuneração do capital. Esse critério levou ao estabelecimento de subsídios cruzados de DDD

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e DDI para o serviço local e a uma distribuição ineficiente da receita entre a Embratel e as

operadoras locais. Os serviços de longa distância possuíam valores superiores de forma a

subsidiar o serviço local com pulsos mais baratos e pacotes de minutos gratuitos. Dessa forma

estabeleceu-se uma divisão da receita entre a Embratel e as operadoras locais, sem um critério

de eficiência econômica que objetivasse a repartição da receita entre a operadora de onde

partia a chamada da Embratel e a operadora que recebia.

Em 1967, o Ministério das Comunicações absorveu o Contel e, em 1972, foi constituído o

sistema Telebrás. Para Novaes (2000, pág. 148-177), a instituição da Telebrás representou um

passo importante no processo de nacionalização e unificação do sistema de telecomunicações

do Brasil, pois representava uma empresa de capital majoritário estatal sob controle do

Ministério das Comunicações, com poderes para incorporar as empresas prestadoras de

serviço cujas concessões fossem expirando. A lei que a criou previa o direito de promover

desapropriações de empresas telefônicas privadas e transferir os ativos para as suas

subsidiárias. A autora observa que, à medida que os serviços de telecomunicações foram

sendo incorporados pelo Estado nesse período, tornou-se desnecessária a autoridade de um

órgão regulador. A Telebrás, criada com finalidade de controlar uma operadora em cada

estado da federação, além da Embratel, possuía entre as suas atribuições:

• gerir a participação acionária da União nas operadoras;

• captar recursos nos mercados de capitais externo e interno a serem transferidos às

subsidiárias para a execução de projetos aprovados pelo Ministério das Comunicações.

A autora observa que a Embratel e a Telebrás exerceram um papel importante na constituição

e unificação da rede básica de telefonia para o país, visto que o processo de consolidação das

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empresas permitiu alcançar economias de escala no serviço telefônico e captar recursos para

investimentos no setor. E justifica a existência da Telebrás como um instrumento de

transferência de recursos das regiões mais ricas para as menos favorecidas. O objetivo era

promover o desenvolvimento mais homogêneo da telefonia no Brasil. Nesse contexto, a

Embratel era o instrumento-chave para transferir fundos, através da alocação diferenciada das

receitas do tráfego de longa distância entre as operadoras estaduais e a Embratel.

Guimarães (2005, pág. 6-46) observa que o sistema Telebrás calcava-se em uma relação de

interdependência entre as operadoras fixas e de longa distância. Qualquer chamada

interestadual se originava com a utilização da rede local, para, em seguida, ser encaminhada à

rede da operadora de longa distância. De maneira análoga, para "entregar" a chamada ao

número de destino, a operadora de longa distância reencaminhava a chamada para a operadora

local do número de destino, efetivando a ligação. Ou seja, a capilaridade das redes das

operadoras locais era imprescindível para permitir a terminação das chamadas interestaduais.

A autora também destaca que o sistema Telebrás não era verticalmente separado entre longa

distância e local, pois todas as ligações intra-estaduais eram realizadas pela operadora local,

caracterizando uma especialização e concentração dos serviços de longa distância em uma

única operadora com atuação nacional.

1.2.2 A crise do Estado intervencionista

Novaes (2000, pág. 148-177) aponta os sinais de esgotamento do modelo estatal no final dos

anos 80, principalmente após o decreto de moratória do México e a posterior elevação da taxa

de juros nos Estados Unidos. Com a alta das taxas de juros internacionais e os constantes

déficits na balança de pagamentos devido ao endividamento dos anos anteriores, o Brasil

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reduziu suas taxas de crescimento e, conseqüentemente, diminuiu seus investimentos nos

setores de infra-estrutura.

O setor de telecomunicações, no entanto, encontrava-se em mudança tecnológica acelerada e

exigia agilidade das operadoras para atender à elevada procura por linhas e serviços cada vez

mais especializados e sofisticados. A Telebrás e as suas subsidiárias não tinham condições de

atender a esta crescente demanda por investimentos. Nesse período, a Telebrás encontrava-se

subordinada, como empresa estatal, à regulamentação por parte dos Ministérios das

Comunicações, da Fazenda e do Planejamento. O primeiro aprovava todos os planos

estratégicos e de investimentos do Sistema Telebrás e o Ministério da Fazenda controlava as

tarifas. O investimento do Sistema Telebrás, por sua vez, era incluído no Orçamento Geral da

União e aprovado pelo Congresso. O Ministério do Planejamento estabelecia e controlava a

execução das metas orçamentárias das estatais. A Telebrás não possuía liberdade para decidir

sobre o seu próprio nível de investimento, que era definido pelo Ministério do Planejamento e

geralmente era repartido diferentemente pelas empresas do Sistema Telebrás, não levando em

conta a situação particular de cada uma. Ademais, a gestão da Telebrás era comprometida,

pois a empresa seguia as regras públicas de contratação de pessoal e de licitação (artigo 37 da

Constituição).

O controle sobre as tarifas e a falta de independência da Telebrás para determinar o seu nível

de endividamento explicam o recurso ao uso do “autofinanciamento” para a expansão da rede

de telefonia. Nesse sistema, o consumidor financiava sua própria linha telefônica ao pagar

uma quantia antecipada à subsidiária da Telebrás operando no estado de domicílio do

consumidor. A empresa telefônica, por sua vez, deveria, em um prazo de vinte e quatro

meses, fazer a instalação da linha. Em troca, o consumidor recebia ações da Telebrás, com

base no valor patrimonial da ação. Muitas operadoras não cumpriam a sua parte no que se

refere à entrega da linha. Além disso, com objetivos antiinflacionários, houve um excessivo

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barateamento dos serviços telefônicos devido ao controle sobre tarifas, pois o reajuste dos

serviços públicos era considerado no cálculo do IPC. Por não haver reajuste nas tarifas, houve

um descompasso financeiro, porque o preço cobrado pelo serviço telefônico não cobria o

custo das empresas. Com os problemas de falta de recursos, a política de controle das tarifas e

o processo inflacionário pelo qual o Brasil passou na década de 80 e meados dos anos 90, o

sistema de telecomunicações entrou em colapso.

Lamounier e Bolivar (2002, p. 215-240) explicam que, para reduzir os déficits de caixa do

Tesouro Nacional, o Governo Federal enxugou os superávits das empresas estatais mais

rentáveis, reduzindo a capacidade de investimento dessas empresas. Durante mais de duas

décadas, as estatais do Sistema Telebrás foram obrigadas a cortar seus projetos de expansão,

em conseqüência desses confiscos. Os autores afirmam que, no período de 1990 a 1994, o

sistema Telebrás enfrentou obstáculos adicionais à sua administração: a proibição de

empréstimos, a subscrição compulsória de títulos do Governo, os atrasos na autorização para

lançamento de debêntures e as protelações sucessivas nas autorizações para captação de

recursos no exterior.

1.2.3 Acontecimentos relevantes à privatização da Telebrás

De acordo com a lei 8.031/1990, instituiu-se o Plano Nacional de Desestatização (PND), sob

gestão do BNDES, com a privatização das empresas estatais. O processo de privatização do

sistema de telecomunicações era composto da venda das teles-locais, da Embratel, que

operava a telefonia de longa distância e das empresas de telefonia celular.

Para Novaes (2000, pág. 148-177), a Emenda Constitucional n° 8 foi o primeiro passo para a

substituição do modelo estatal, pois o documento aprovado em 15 de agosto de 1995 alterou o

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artigo 21 da Constituição de 1988 e pôs fim ao monopólio estatal na operação dos serviços de

telecomunicações. A emenda aprovada explicitava que uma nova lei para o setor seria votada

pelo Congresso, detalhava o papel do Estado e os princípios que iriam regular o setor. Silva

(2005, pág. 27-72) afirma que, em paralelo às mudanças na legislação, o Ministério das

Comunicações efetuava ajustes nas empresas do Sistema Telebrás, a fim de atrair a

participação dos grandes players no processo de venda.

Novaes (2000, pág. 148-177) afirma que, em 1994, a receita por serviço da Telebrás mostrava

o elevado nível de subsídio cruzado existente, e as elevadas tarifas de longa distância

subsidiavam os serviços locais. Esse balanceamento não era compatível com os padrões

internacionais: no Brasil a receita com o serviço local atingia apenas 21% da receita total em

comparação, com 45% na Telmex, 63% na CTC chilena e 34% na Nova Zelândia. A autora

mostra as diferenças nítidas entre o nível da tarifa brasileira, ao final de 1995, e o das tarifas

praticadas internacionalmente. A assinatura básica residencial mensal da Telebrás de US$0,63

incluía ainda uma franquia de 90 pulsos (360 minutos) e era a mais baixa do mundo. Esse

valor estava abaixo do custo de emissão e de cobrança da conta, que se situava em US$ 1,60.

Tabela 2 - Tarifas Brasileiras vis-à-vis níveis internacionais – 1995 Fonte: Privatização do setor de Telecomunicações no Brasil, pág.154.

A receita por linha da Telebrás em 1995 também apresentava distorções: USS 591/linha para

as operadoras e US$ 707/linha para a Telebrás como um todo (incluindo a Embratel), em

comparação com US$ 830 para as operadoras argentinas, US$ 989/linha para a Telefónica del

Telebrás Nível Internacional

Assinatura residencial (US$/mês) 0,63 6,0-8,0

Assinatura comercial (US$/mês) 7,43 12,0-28,0

Pulso (3 minutos, US$/mês) 0,029 0,10

Interurbano (US$/1 minuto) 0,26 0,20-0,50

Internacional para Estados Unidos (US$/1 minuto) 1,94 1,12

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Perú e US$ 720 para as operadoras locais americanas (que não possuem receita de longa

distância inter-regional e internacional). Conseqüentemente as baixas tarifas impediam o

aumento dos investimentos pela Telebrás.

I. Realinhamento das tarifas

O preço da assinatura básica foi elevado e a metodologia de repartição das receitas de longa

distância entre a Embratel e as empresas de telefonia local foi modificado, de modo a corrigir

as distorções da estrutura tarifária brasileira. Além disso, instituiu-se o marco regulatório com

a criação de uma agência reguladora - a ANATEL.

Bragança (2005, pág. 2-4) observa que, antes de dar continuidade ao projeto de

desregulamentação do setor, o Governo corrigiu o preço das tarifas cobradas. Em particular,

as tarifas locais eram subsidiadas pelas altas tarifas de longa distância. Em novembro de 1995,

o Governo elevou em mais de cinco vezes o valor em dólar da assinatura residencial e em

80% o valor em dólar da chamada local. Anteriormente às privatizações, em maio de 1997, o

Governo efetuou aumentos nas tarifas de telefonia local. E o valor das tarifas de longa

distância foi diminuído ao longo do período. Para o autor, esse alinhamento dos preços

internos aos preços praticados internacionalmente poderia gerar uma expectativa de retorno

para os investidores e poderia significar realização de investimentos no setor, nos anos

subseqüentes.

Novaes (2000, pág. 148-177) aponta que a cobrança por um minuto de discagem interurbana

subiu 22%, recompondo a inflação ocorrida entre julho de 1994 – data do último reajuste

antes da implementação da primeira fase do rebalanceamento das tarifas – e novembro de

1995. A redução de 32% no minuto médio internacional (tabela 1) deve-se à redução do

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Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado pelos estados, e não a

uma redução das tarifas.

Tabela 3 - Nova estrutura tarifária brasileira e comparação internacional (US$) Fonte: Privatização do setor de Telecomunicações no Brasil, pág.156.

* Tarifa Vigente no momento da privatização (julho de 1998)

A autora observa a importância do reajuste das tarifas interurbanas para a Telebrás, pois a

empresa recuperou sua capacidade de geração de caixa, uma vez que o serviço interurbano

passou a representar 49% da receita total e o serviço local, quase 40% da receita total, no

momento da privatização.

O processo de ajuste das tarifas foi finalizado com um novo reajuste em maio de 1997,

quando houve mais um aumento para as tarifas locais e uma redução das tarifas de longa

distância. Com essas tarifas o Sistema Telebrás foi privatizado em julho de 1998. Com base

na tabela 1, a privatização da Telebrás ocorreu com as tarifas competitivas em nível mundial,

com à exceção dos serviços celular e internacional. As tarifas internacionais não poderiam ser

reduzidas antes da substituição do sistema de repartição da receita por um sistema de

remuneração dos meios.

Mattos (Salgado e Motta, p. 201-239) afirma que o rebalanceamento tarifário também

permitiu preparar o setor para um regime de livre competição. Entre 1979 e 1995, as tarifas de

Brasil Variação (%) Variação (%) Julho 1994

(A) Novembro 1995

(B) Maio 1997

(C)* (B) / (A) (C) / (B) Taxa de Instalação n.d. n.d 43,1 n.d. n.d. 220,00 183,00 50,00

Serviço Local Assinatura residencial 0,63 3,86 11,91 513 209 12,75 19,48 12,50 Assinatura comercial 7,45 13,45 17,87 80 33 36,16 19,48 17,31

Chamada local de 3 minutos (horário de pico) 0,03 0,05 0,07 79 34 0,09 0,04 0,08 Serviço de longa distância doméstico (1 minuto) 0,26 0,31 0,21 22 -34 0,28 0,21 0,23 Serviço de longa distância internacional (1 minuto) 2,61 1,78 0,93 -32 -48 1,40 1,35 0,69 Serviço móvel celular (1 minuto local) 0,34 0,38 0,32 12 -16 n.d. n.d. n.d.

Argentina Chile Estados Unidos

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telecomunicações foram sistematicamente reajustadas abaixo da inflação, com o objetivo de

controlá-la. Como o único serviço incluído no cálculo da inflação era o serviço local, o

governo evitava reajustar as tarifas desse serviço e aumentava mais as tarifas de longa

distância. Assim, a partir de 1995, além do realinhamento das tarifas, foi necessário um

processo de recomposição tarifária.

II. Recomposição tarifária

As regras dos reajustes dos quatro grupos de tarifas - local, longa distância interurbana e

internacional, e interconexão - foram definidas nos contratos de concessão para oito anos à

frente, até 31 de dezembro de 2005, constituindo o mecanismo de price-cap (preço-teto).

Nessa regra define-se um índice de preços qualquer e desconta-se um fator X, uma estimativa

do aumento da produtividade do setor. No Brasil, o índice escolhido foi o IGP-DI ( Índice

Geral de Preços Disponibilidade Interna) e os valores de X foram definidos antecipadamente,

ano a ano, de 1999 até 2005 para cada linha de serviço. O intervalo mínimo entre reajustes foi

de doze meses.

Os price-caps dos quatro serviços tiveram uma lógica semelhante: um cap geral composto de

uma média ponderada de uma série de itens do serviço e vários caps parciais para cada item

componente do serviço. Os valores de desconto X previstos para os caps gerais de cada um

dos quatro serviços foram definidos em patamares superiores aos respectivos caps

específicos, o que visou permitir um rebalanceamento tarifário desses itens dentro de cada um

desses serviços. Em vários casos, os caps específicos permitiam aumentos reais da tarifa,

desde que fossem mais do que compensados por reduções em outros itens do serviço, de

forma a satisfazer a restrição do cap geral.

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III. Sistema Telebrás em 1995

O Sistema Brasileiro de Telecomunicações S.A. (Telebrás) era formado por uma empresa

holding composta por vinte e seis operadoras estaduais, que prestavam serviços de telefonia

fixa local e móvel, e uma operadora de longa distância nacional e internacional (Embratel).

Em 1995, a Telebrás possuía treze milhões de linhas, ocupava a décima primeira posição

entre empresas telefônicas no mundo, e seu faturamento era em torno de US$ 7,5 bilhões. A

empresa controlava 95% das linhas telefônicas brasileiras. As ações com direito a voto eram

controladas pela União que possuía 52,2% das ações ordinárias e 23% do capital total da

Telebrás. Os investidores estrangeiros detinham cerca de 27% do capital total da Telebrás

(Fonte: www.anatel.gov.br).

A privatização da Telebrás foi realizada em 29 de julho de 1998, às vésperas das eleições

presidenciais de outubro de 1998. O governo arrecadou em torno de US$ 19 bilhões pela

venda de 51,79% das ações com direito a voto da Telebrás (correspondendo a 19,26% do

capital total de empresa), sem contar com as vendas futuras das bandas C, D e E da telefonia

celular e as autorizações das empresas concorrentes de telefonia fixa (empresas-espelho) e as

de longa distância.

A reestruturação do sistema Telebrás ocorreu em abril de 1998. No processo de privatização

para atrair os investidores, a Telebrás foi repartida em três grandes holdings de

concessionárias de serviços locais de telefonia fixa para atender a distintas regiões geográficas

definidas pelo PGO (Telesp, Tele Norte-Leste e Tele Centro-Sul), sendo mantida a Embratel

em sua configuração tradicional. A telefonia fixa foi dividida em três regiões (I, II e III),

conforme Tabela 3 que mostra as concessionárias e autorizadas (espelhos) do processo de

privatização, por região de atuação:

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Figura 5 - Mapa Dinâmico de Operadoras de Telefonia Fixa Fonte: www.teleco.com.br.

- Setores Concessionárias Empresas Espelho 1,2,4 a 17 Telemar

Região I 3 CTBC

Vésper (Embratel)

18,19,21,23,24, 26 a 30

Brasil Telecom

20 Sercomtel Região II

22 e 25 CTBC

GVT

31,32 e 34 Telefonica Região III

33 CTBC Vésper SP (Embratel)

Tabela 4 - Concessionárias e Empresas Espelho Fonte: www.teleco.com.br

A entrada das empresas-espelho ocorreu a partir da compra das autorizações licitadas, através

de leilões, em janeiro de 1999. As concessionárias e as empresas-espelho estariam, a

princípio, limitadas à prestação de serviços locais e de longa distância, exclusivamente dentro

das respectivas áreas de atuação, configurando-se o regime de duopólio. Guimarães (2005,

pág. 6-46) ressalta que, dessa forma, o acesso local teria seu monopólio quebrado, assim

como a Embratel, pela primeira vez em sua história, teria uma concorrente para competir nos

serviços de longa distância inter-regional e internacional. Para neutralizar as vantagens das

operadoras privatizadas, que já possuíam sua infra-estrutura montada e uma base de clientes

geradora de receita, a ANATEL estabeleceu deveres e direitos diferenciados entre estes

competidores. Mattos (Salgado e Motta, pág. 201-239) afirma que as regras regulatórias eram

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menos rígidas para as empresas-espelho em relação às privatizadas no STFC, de modo a

compensar a chamada “vantagem da firma pioneira” dessas últimas (base de clientes, rede já

construída e economias de escala). Bragança (2005, pág. 2-4) caracteriza esse cenário como

de regulação assimétrica, mais rigorosa. As principais obrigações impostas somente às

incumbentes foram:

• Cumprimento de metas de serviço universal;

• Cumprimento de normas e indicadores mínimos de qualidade de serviços como exigência

de não interrupção do serviço;

• Controle de tarifas;

• Separação contábil para qualquer novo negócio a ser adquirido;

• Oferecimento de um número mínimo de pontos de interconexão.

Em contrapartida cada nova entrante obteve como direitos exclusivos:

• Utilização da tecnologia Wireless Local Loop (WLL), que permite a conexão dos usuários

finais sem a necessidade de instalação de cabos;

• Aquisição de empresas de cabo ou de suas respectivas redes.

As privatizações das operadoras existentes e a concessão de licenças foram norteadas por

regras restritivas, de modo a coibir que alguma empresa se tornasse predominante e

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inviabilizasse o modelo competitivo estabelecido. Essas restrições impossibilitavam que a

operadora de longa distância adquirisse uma empresa local ou uma licença para atuar como tal

e, vice-versa, garantindo a separação vertical do antigo sistema Telebrás.

A política de duopólio regional, conforme previsto na LGT, foi temporário. As empresas-

espelho e as concessionárias ficaram, pela lei, impedidas de ampliar ou diversificar as suas

atividades até teoricamente o final de 2003. Entretanto, o Governo antecipou esses prazos

para as operadoras que antecipassem a meta de universalização para 31 de dezembro de 2001.

Por esse motivo, considera-se que, a partir de 2002, a livre concorrência foi estabelecida no

setor.

Guimarães (2005, pág. 6-46) aponta os impactos diretos dessas alterações para o mercado de

longa distância, pois as operadoras locais, ao expandirem suas áreas de atuação, expandiram

também seus serviços de longa distância. Ou seja, ocorreu uma interseção entre as áreas de

atuação das operadoras locais e das operadoras de longa distância. As operadoras de longa

distância por sua vez puderam expandir seus serviços de ligações interurbanas realizando

chamadas intra-estaduais que antes eram monopolizadas pelas operadoras fixas locais. Com

essas modificações, a antiga divisão e especialização dos serviços de longa distância entre a

Embratel e as operadoras locais acabou, iniciando-se a competição entre estas no segmento de

chamadas intra-regionais.

Para Mattos (Salgado e Motta, pág. 201-239), a reforma das telecomunicações foi uma das

mais bem estruturadas em termos da extensão e transparência ao arcabouço regulatório uma

vez que atingiu duas metas fundamentais: universalização e competição. No entanto, a

competição se mostrou vigorosa nos serviços móveis e de longa distância, o que não ocorreu

no serviço local nas três áreas de atuação principal das empresas regionais do STFC. A Tabela

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4 mostra a concentração de mercado por linhas em serviço, em que todos os incumbentes

detêm mais de 90% do mercado, chegando a 97,5% na Área III (São Paulo). Portanto, mesmo

após a privatização, a competição no STFC local ainda é limitada.

Região I Região II Região III Concessionárias 96,1% 94,9% 97,5% Autorizadas e Espelhos 3,9% 5,1% 2,5%

Tabela 5 – Market Share de acessos em Serviço (Junho 2004) Fonte: www.anatel.gov.br, Regiões do PGO

Uma nova política para o setor de telecomunicações de modo a enfraquecer o monopólio

regionalizado da infra-estrutura de rede local existente no Brasil representa um importante

marco para a sociedade brasileira.

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2 A EMBRATEL E A RESOLUÇÃO 396 DA ANATEL

2.1 A EMPRESA ANALISADA

Criada em 22 de maio de 1998, a Embratel Participações S.A. foi uma das holdings que

resultou da cisão do Sistema Telebrás para o processo de privatização. No leilão realizado em

29 de julho de 1998, a empresa foi comprada pela MCI, que passou a ser seu acionista

controlador. Em 23 de julho de 2004, a Teléfonos de México S.A. de C.V. ("Telmex")

adquiriu o controle da Embratel Participações S.A. A Embratel Participações controla a

Vésper e a Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A. - Embratel, maior operadora de

longa distância do país, e tem, como subsidiárias, a BrasilCenter e a Star One.

A Embratel é uma empresa prestadora de serviços de telecomunicações, em qualquer lugar do

mundo, oferecendo aos seus clientes e usuários soluções em telefonia, dados e Internet.

É dela o maior backbone da América Latina e a única rede nacional de fibras ópticas.

Também está sob seu controle uma rede de vários satélites de alcance mundial. É por meio de

seu amplo portfólio de soluções que as maiores empresas do país trafegam dados, utilizam

serviços de telefonia avançada e conectam suas redes corporativas, como também é através

dela que a Internet brasileira cresce. Em suma, uma supervia digital de telecomunicações,

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com tecnologia de última geração, conectando pessoas e empresas a qualquer ponto do

planeta.

Em 2003, o crescimento da Embratel fundamentou-se novamente na ampliação de serviços de

transmissão de dados e produtos de maior valor agregado (Banda Larga, Internet e acesso

direto, por exemplo). O foco da expansão na América do Sul é dar suporte às necessidades de

seus clientes no crescimento desses mercados, oferecendo serviços de dados e voz

internacionais para clientes corporativos e provedores ISP. Após conseguir a licença para

atuar na Argentina, a empresa iniciou, em março de 2002, suas operações naquele país.

Para prestar com excelência todos esses serviços, a Empresa dispõe de cerca de vinte e oito

mil quilômetros de microondas (100% digitalizados); cinco satélites de comunicações

domésticas e mais de oitenta estações terrenas que completam, em todo o País, seu segmento

de telecomunicações via satélite. Está implantando a terceira fase de sua rede nacional de

fibras ópticas, interligando as principais cidades brasileiras, além de rotas ópticas regionais e

anéis ópticos locais nos grandes centros urbanos, que já totalizam 1.068.657 quilômetros de

extensão.

No exterior, a Embratel participa das organizações Intelsat e Inmarsat, que operam satélites

para comunicações internacionais. Para o tráfego de serviços de telecomunicações

internacionais, conta com quatro sistemas de cabos submarinos de fibras ópticas - Unisur,

Americas II, Atlantis II e Columbus III -, interligando o Brasil aos países do Mercosul, aos

Estados Unidos, à Europa e à Ásia. Por meio do Unisur foi criado o Projeto Sintonia, que

interliga os países sul-americanos, por uma rede digital integrada, dinamizando as

comunicações e o fluxo de negócios entre o Brasil e os demais países do Mercosul.

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Atualmente a Embratel Participações S.A. detém 99,0% da Empresa Brasileira de

Telecomunicações S.A. (“Embratel”), 100,0 % da Telmex do Brasil Ltda. (“TdB”) e 43,0 %

da Net Serviços e Comunicações S.A. (“Net”).

No segundo trimestre de 2006, a receita líquida cresceu 9,6% aa totalizando R$ 2.038.000,00.

No acumulado, a receita líquida foi R$ 4.075.000,00 (um aumento de 8,5%). O EBITDA foi

de R$ 513.000.000,00 no segundo trimestre e R$ 1.041.000,00 nos seis primeiros meses de

2006. O EBITDA cresceu 19,7 % no primeiro semestre de 2006. O lucro líquido no segundo

trimestre foi de R$ 132.000.000,00 e R$ 260.000.000,00 no acumulado. O lucro líquido

cresceu 89,6% no primeiro semestre de 2006. A participação da Net passou de 37,1% para

43%.

Os investimentos no segundo trimestre de 2006 foram de R$286.600.000,00, conforme tabela

abaixo.

Tabela 6 -2º. Trimestre de Divulgação de Resultados – Embratel Relações com Investidores Fonte: www.embratel.com.br

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2.2 A NORMA

2.2.1 Modelo de tarifas

A interconexão de redes se tornou um importante tema para as operadoras porque, após a

privatização do sistema Telebrás, passou a representar em torno de 40% no custo total da

prestação do serviço. Apesar de a regulamentação existente estabelecer regras para a

negociação dos contratos de interconexão, este assunto continua gerando divergência entre as

empresas.

No período monopolista, os serviços de telecomunicações no Brasil eram prestados por uma

única operadora estatal. Assim, a interconexão era realizada entre redes que pertenciam a uma

mesma empresa e o sistema era baseado na repartição de receita entre a operadora local,

geradora da chamada, e a Embratel, que fazia a interconexão dos estados, e entre o Brasil e os

demais países. A determinação do repasse das receitas levava em conta: a situação financeira

da empresa, o retorno do investimento (seguindo as normas do Código de 1962, que

assegurava uma remuneração mínima para as empresas) e a sua necessidade de

financiamento. Esse modelo não poderia continuar em um ambiente competitivo, pois não

corrigia as ineficiências financeiras, visto que as empresas com desempenho operacional fraco

acabavam retendo um percentual maior da receita de longa distância.

Para Novaes (2001, pág. 156-158), a Embratel era o instrumento utilizado para

operacionalizar os subsídios cruzados, através da transferência de receita das operadoras mais

eficientes e localizadas em regiões mais favorecidas economicamente para as operadoras no

Norte/Nordeste do país ou para companhias que apresentavam ineficiência operacional.

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Em 1997, o Ministério das Comunicações começou a reduzir as distorções e estabeleceu uma

repartição da receita que procurava se aproximar de uma alocação de receitas do tráfego de

longa distância entre as empresas locais e a Embratel. Assim, a Portaria 392, de 8 de agosto

de 1997, reduziu o percentual retido pelas principais companhias locais. A nova sistemática,

que entrou em vigor após a privatização, foi baseada na remuneração dos meios (access fee) –

pagamento em minutos pelo uso da rede de outra operadora. Após a consulta pública sobre a

nova sistemática e sobre os valores da tarifa de interconexão (tarifa de uso), a Anatel

estabeleceu uma tarifa máxima de uso da rede. Para Novaes (2001, pág. 156-158) a decisão

final da Anatel foi positiva, ao permitir o estabelecimento de um ambiente mais competitivo

com a entrada de novas empresas, especialmente no segmento de longa distância.

Com a introdução da competição advinda da privatização, a interconexão é efetuada entre

redes pertencentes a operadoras que competem entre si. Como as dominantes (“incumbentes”)

controlam o acesso ao usuário final, a regulação da interconexão é condição imprescindível

para viabilizar a entrada de novos operadores no mercado (“novos entrantes”). Por

conseguinte, este assunto passa a receber atenção redobrada dos órgãos reguladores.

Para Rached (2004, pág.123-141), a interconexão foi uma conquista tecnológica que realizou

o que antes era impensável: a coexistência de várias empresas prestando um mesmo serviço,

competindo pela conquista do usuário. A interconexão e o compartilhamento de infra-

estruturas demandaram uma complexa estrutura regulatória do setor de telecomunicações.

A autora observa que o principal problema enfrentado na regulação da interconexão é a

“assimetria entre as vantagens que representa para cada uma das partes envolvidas”, isto

porque “os antigos monopolistas ou incumbentes possuem todos os estímulos para opor-se às

pretensões de interconexão de seus concorrentes”, na medida em que já realizaram os altos

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investimentos na infra-estrutura e, no momento, terão de compartilhar os benefícios com os

novos concorrentes.

O marco regulatório que governa o regime tarifário de interconexão no Brasil fundamenta-se

em uma tríade de dispositivos legais e no modelo de contrato de concessão. Os dispositivos

legais que regem a interconexão de redes fixas são:

Tabela 7 - Dispositivos de regimento da interconexão Fonte: www.anatel.gov.br

Para Mattos (2005, pág. 201 a 241), a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) define as

diretrizes genéricas para a interconexão, e as regras mais detalhadas são homologadas no

Regulamento Geral de Interconexão (Resolução 40/98) e nos contratos de concessão e

autorização.

2.2.2 Cálculo do teto tarifário

O aspecto-chave do regulamento para remuneração pelo uso de redes é, no entanto, a

construção das bases de um regime de teto para as TUs (acess price cap). O regulamento

determina que se defina, através de resolução da Anatel, os valores máximos para as TUs. O

regulamento determina ainda que esses “tetos” sejam iguais para entrantes e incumbentes.

Outro aspecto importante é a permissão para a aplicação de descontos, desde que sejam

progressivos, não-discriminatórios e não-subjetivos – artigos 12 a 14 da Resolução 33/98 da

Anatel.

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Os reajustes das tarifas de interconexão seguem o mecanismo de price-cap (preço-teto) com

fatores de desconto da inflação, medida pelo IGP-DI. Para cada tarifa de TU-RL e TU-RIU,

existe um padrão de cálculo específico e diferenciado.

Guimarães (2005, pág. 18-23) explica que para a TU-RIU existem duas equações de teto

máximo. A primeira delas é a fórmula do cap geral que combina as variações da tarifa de

interconexão por distâncias (denominada “i”) e horários/dias da semana (denominada “j”)

ponderando-a pelo tráfego em minutos da interconexão.

−−−≤

− ∑∑∑∑= == =

5

1

24

1

5

1

24

1

***)1(*i ji j Mt

MijtoRIUijtoTU

DItoIGP

DItIGPK

Mt

MijtoRIUijtTU

A segunda fórmula refere-se aos tetos máximos para cada combinação de distância e

dia/horário individualmente (os 120 caps específicos):

−−−≤−

DItoIGP

DItIGPRIUitoTURIUijtTU *05,1*

Onde:

TU – RIUijt = Nova tarifa proposta para o uso da rede de longa distância para o horário/dia da

semana j no grupo de distâncias i, líquido de impostos;

TU – RIUijto = Tarifa atual para o uso da rede de longa distância para o horário/dia da

semana j no grupo de distâncias i, líquido de impostos;

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Mijto = Minutos de uso das redes de longa distância para horário/dia da semana j no grupo de

distâncias i, observados desde o último reajuste;

Mt = Minutos totais de uso das redes de longa distância observados desde o último reajuste;

T = data do reajuste proposto;

To = data do último reajuste;

K = fator X, sendo 2% até 2000, 4% até 2003 e 5% de 2004 até 2005.

E as cinco modulações de distâncias são:

Tabela 8 - Modulações de distâncias – TU-RIU Fonte: www.anatel.gov.br

Na TU-RL, há apenas uma fórmula: a média ponderada dos 24 horários/dias da semana

possíveis:

∑∑==

−−−≤

24

1

24

1

***)1(*jj

MjtoRLjtoTUDItoIGP

DItIGPkMjtoRLjtTU

As variáveis são perfeitamente análogas às anteriores.

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O termo IGP-DI refere-se à inflação acumulada desde o último reajuste medida pelo Índice

Geral de preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas. (FGV). A

evolução dos fatores X que foram sendo utilizados nos reajustes tarifários é dada na tabela

abaixo:

Tabela 9 – Modulações horárias – TU-RL Fonte: www.anatel.gov.br

A autora afirma que, na prática, apesar da possibilidade de livre negociação, as tarifas de

interconexão sempre atingiram os valores máximos permitidos, pois os contratos de

interconexão são realizados entre operadoras concorrentes, tanto na situação de duopólio local

e/ou de longa distância, como na competição das operadoras fixas e de longa distância pelo

tráfego intra-regional. E, portanto, as empresas cobrarão os valores máximos pela

interconexão.

A autora ressalta que para uma empresa de longa distância a interconexão é uma variável

estratégica, uma vez que qualquer chamada que trafega em suas redes obrigatoriamente passa

por uma rede local na origem e no destino. Ou seja, a utilização da rede local é imprescindível

no serviço de longa distância, e conseqüentemente é um custo variável de grande relevância

para as empresas que operam do downstream.

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Camacho, Bragança e Rocha (2004, pág. 90-108) criticam a regulação por price-cap sob o

ponto de vista da fórmula de reajuste das tarifas, visto que o mecanismo considera a inflação

mensurada pelo IGP-DI, os repasses anuais de produtividade pré-estabelecidos nos contratos

de concessão e os pesos de cada componente da cesta no teto. Por conseguinte, o custo de

capital, componente relevante dos custos das operadoras, não influenciam diretamente a

determinação dos preços regulados do setor.

Entretanto Bragança (2005, pág.1-35) analisa o price-cap como um esquema de “incentivo de

alto poder” no sentido de induzir o aumento da produtividade. Um mecanismo de “alto poder

de incentivo” pode levar o operador a querer “reduzir custo a qualquer custo”, mesmo com

efeitos danosos sobre a qualidade.

O autor alerta também quanto à utilização do price cap para o estabelecimento do nível do

teto tarifário. A agência reguladora tem dificuldades operacionais em inferir e premiar o

esforço empreendido por uma determinada operadora que aumentou sua eficiência e melhorou

os serviços. O traço mais sintomático dessa regulação “às cegas” está na definição ad hoc dos

tetos tarifários. O governo infere a demanda e os custos das empresas reguladas, contribuindo

para o aumento da assimetria de informações entre o órgão regulador e as empresas reguladas.

Para o autor, podem existir duas conseqüências para o price cap “às cegas”. A primeira é o

regulador estabelecer um nível excessivamente baixo para o teto e acabar obrigando as

operadoras a reduzir fortemente a qualidade dos serviços prestados para se viabilizarem. A

outra situação é a possibilidade de o teto ser excessivamente alto e permitir que ganhos

extraordinários sejam auferidos pelo monopolista da telefonia local.

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A metodologia vigente não possui vínculos com os custos incorridos pelas operadoras. Dessa

forma, as operadoras detentoras da infra-estrutura local, reconhecido monopólio natural,

incorreriam em ganhos econômicos extraordinários prejudicando o consumidor final, em

última instância. Com o desenvolvimento de um sistema de apuração eficiente dos custos da

empresa regulada, é possível inferir se os preços das tarifas de uso de redes estão próximos ou

não dos preços ótimos de acesso. Em relação à competição, isso implica estabelecer tetos

tarifários mais próximos dos níveis competitivos e evitar ganhos extraordinários por parte da

incumbente, possibilitando um nível de entrada mais próximo do ideal. Em termos de

investimentos, é possível inferir se as faixas de valores das tarifas consideradas competitivas

pelo ente regulador contemplam o nível de incerteza inerente do setor.

2.2.3 A Resolução 396 da ANATEL

Desde a promulgação do Decreto 4.733/03 em 10 de junho de 2003, o governo vem

manifestando a sua disposição em promover uma alteração ampla, a partir de 2006, na política

de interconexão de redes no Brasil. Em relação exclusivamente à remuneração pelo uso de

redes, a proposta mais importante do decreto é a mudança do regime de tetos tarifários (atual)

para um regime baseado em custos incrementais de longo prazo (LRIC), conforme Artigo 7º,

seção I, do Decreto 4.733, de 2003: “... a definição das tarifas de interconexão e dos preços de

disponibilização de elementos de rede dar-se-á por meio da adoção de modelo de custo de

longo prazo, preservadas as condições econômicas necessárias para cumprimento e

manutenção das metas de universalização pelas concessionárias;”.

O governo justifica a modernização do regime tarifário no trecho a seguir:

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“[...] em face da dinâmica do mercado de telecomunicações, faz-se necessário que as políticas de regulação sofram constantes aperfeiçoamentos, que permitam a transição do monopólio para a competição. Essa transição exige a criação de estruturas e incentivos que sustentem o desenvolvimento da competição, e que, em última instância, permitam a mudança do caráter regulatório prévio para um caráter de acompanhamento, em um mercado com muitos participantes e nenhum dominante. Adicionalmente, espera-se que tais mecanismos continuem gerando novos investimentos [...]”. (Decreto 4.733/03: tema quatro do objeto das políticas de telecomunicações: modernização do regime tarifário).

A Anatel detalhou algumas proposições que seriam parte das novas regras através das

Consultas Públicas 544, de 21 de junho de 2004 e 549, de 13 de julho de 2004. O Quadro

abaixo resume as principais disposições contidas em cada regulamento.

Tabela 10 – Disposições da Consulta Pública 549 Fonte: www.anatel.gov.br

Para Mattos (2005, pág. 201-241), a Consulta Pública 549 teve como objetivo substituir o

Regulamento Geral de Interconexão e o Regulamento para a Remuneração de Uso das Redes

de Telecomunicações. E a Consulta Pública 544 apresentou uma Proposta de Regulamento de

Separação e Alocação de Contas, estabelecendo os critérios detalhados para a definição das

tarifas.

Em 31 de março de 2005, a Anatel emitiu a Resolução 396 da Anatel aprovando o

Regulamento de Separação e Alocação de Contas, que estabeleceu o Documento de

Separação e Alocação de Contas (DSAC) como apresentação obrigatória, pelas

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Concessionárias e pelos Grupos detentores de poder de mercado na oferta de interconexão em

rede de STFC. Os objetivos propostos para a referida regulamentação, conforme divulgado

pela Anatel, são descritos abaixo:

• Mecanismos para a geração de demonstrativos de resultados e de capital empregado

pelas operadoras, por serviço prestado;

• Base para modelos de alocação de custos (LRIC e FAC);

• Transparência no registro e alocações de custos por área de negócio;

• Comprovação de isonomia entre as transações com partes relacionadas e aquelas

realizadas com terceiros;

• Base para qualquer demanda da Anatel quanto à situação operacional das operadoras;

• Remuneração orientada a custos do compartilhamento de redes.

A resolução trará impactos estratégicos para as operadoras fixas, uma vez que propiciará a

migração da precificação dos serviços de uma base “price cap” para “cost based”. Entretanto

para Camacho, Bragança e Rocha (2004, pág. 90-108), outro tema relevante introduzido pela

nova regulação é o conceito de poder de mercado significativo (PMS). As operadoras

detentoras de poder de mercado sofrerão regulação específica e suas tarifas de acesso serão

determinadas pela agência reguladora, com base em seus custos incrementais de longo prazo.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 TIPO DE PESQUISA: ESTUDO DE CASO

A literatura acadêmica geralmente classifica os tipos de pesquisa com base em dois critérios:

o propósito do estudo e os meios de investigação para viabilizá-lo. Segundo Vergara (2000,

pág.20-25), os tipos de pesquisa podem ser complementares e sinergéticos na explicitação de

uma questão científica. Segundo Gil (1996, pág 45-61), em relação a seus objetivos, uma

pesquisa pode ser classificada em: exploratória, explicativa e descritiva.

Segundo Mattar (1997, pág. 80), a pesquisa exploratória visa prover ao pesquisador um maior

conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva e tem como objetivo

proporcionar maior familiaridade com o problema, visando torná-lo mais explícito.

Para Gil (1996, pág. 46-61), a pesquisa explicativa identifica os fatores que determinam ou

que contribuem para ocorrência dos fenômenos. Richardson (1999, pág. 47) afirma que a

pesquisa explicativa tem como objetivo descrever aspectos referentes à população.

Vergara (2000, pág.20-25) afirma que a pesquisa descritiva aborda um fenômeno ou uma

população expondo suas características. Para Mattar (1997, pág. 80), este tipo de pesquisa

diferencia-se da pesquisa exploratória na medida em que o problema a ser estudado deve ser

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previamente conhecido em detalhes. Também a pesquisa pode ser empregada para verificar a

relação não-causal entre variáveis sem o compromisso de explicá-las, apesar de servir de

ponto de partida para tal explicação.

Para Gil (1996, pág 45-61), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição

das características de determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas características

está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a

observação sistemática. Para tal, podem ser utilizadas descrições quantitativas e/ou

qualitativas. A diferença básica entre as metodologias quantitativa e qualitativa é que esta

última geralmente não utiliza métodos estatísticos como suporte para o processo de análise do

problema da pesquisa.

Na metodologia quantitativa, o pesquisador se preocupa com a medição objetiva e

quantificação do resultado. Esse tipo de pesquisa busca incessantemente exatidão, aferição e

perfeição, procurando impedir distorções nas análises e interpretação dos dados, o que de

certa forma visa assegurar as conclusões obtidas diante dos estudos. Para Moreira (2002,

pág.18-57), contrária a descrição qualitativa abdica total ou quase totalmente das abordagens

matemáticas no tratamento dos dados, trabalhando preferencialmente com as palavras oral e

escrita, com sons, imagens, símbolos, etc.

Moreira (2002, pág.18-57) apresenta algumas características básicas da pesquisa qualitativa:

a) Um foco na interpretação, em vez de na quantificação;

b) Ênfase na subjetividade, em vez de na objetividade;

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c) Flexibilidade no processo de conduzir a pesquisa;

d) Orientação para o processo e não para o resultado;

e) Preocupação com o contexto;

f) Reconhecimento do impacto do processo de pesquisa sobre a situação de pesquisa.

Gil (1996, pág 45-61) afirma que se destacam também nas pesquisas descritivas as

investigações que visam descrever as características de grupos como também a descrição de

um processo numa organização, o estudo do nível de atendimento de entidades, levantamento

de opiniões, atitudes e crenças de uma população, etc. O autor acrescenta que também são

consideradas pesquisas descritivas aqueles estudos que visam descobrir a existência de

associações entre variáveis.

Em relação aos meios de investigação, para Gil (1996, pág 45-61), uma pesquisa pode ser

classificada da seguinte forma:

• Pesquisa bibliográfica: é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos. Não é aconselhável que textos retirados

da Internet constituam o arcabouço teórico do trabalho monográfico.

• Pesquisa documental: é muito parecida com a bibliográfica. A diferença está na

natureza das fontes, pois esta forma vale-se de materiais que não receberam ainda um

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos

da pesquisa. Além de analisar os documentos de “primeira mão” (documentos de

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arquivos, igrejas, sindicatos, instituições, etc.), existem também aqueles que já foram

processados, mas podem receber outras interpretações, como relatórios de empresas,

tabelas, etc.

• Pesquisa experimental: quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as

variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de

observação dos efeitos que a variável produz no objeto.

• Levantamento: é a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja

conhecer. Procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas

acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa,

obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. Quando o

levantamento recolhe informações de todos os integrantes do universo pesquisado,

tem-se um censo.

• Pesquisa-ação: tipo de pesquisa com base empírica concebida e realizada em estreita

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os

pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

• Estudo de campo: procura o aprofundamento de uma realidade específica. É

basicamente realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado

e de entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do que

ocorre naquela realidade.

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Para Ventura (2002, pág. 79) a pesquisa de campo deve merecer grande atenção, pois devem

ser indicados os critérios de escolha da amostragem (das pessoas que serão escolhidas como

exemplares de certa situação), a forma pela qual serão coletados os dados e os critérios de

análise dos dados obtidos. A autora acrescenta que a pesquisa de campo pode fazer uso de

entrevistas, questionários, testes e observações. Uma das formas mais usuais de fazer a

pesquisa de campo é o estudo de caso. O estudo de caso consiste no estudo profundo e

exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado

conhecimento. Caracteriza-se por ser um estudo intensivo.

Mattar (1997, pág. 88) destaca o uso de pesquisa de campo em pesquisas descritivas e a

diferencia em relação ao levantamento de campo e o estudo de caso:

“(...) levantamento de campo e estudos de campo, embora a distinção entre um e outro não seja precisa. A diferença básica está na grande amplitude e pouca profundidade dos levantamentos de campo e na média profundidade e média amplitude dos estudos de campo. Note que quando a profundidade for grande e amplitude pequena, o projeto de pesquisa resultante é o estudo de caso.”

Vergara (2000, pág. 88-89) acrescenta que: “Estudo de caso é o circunscrito a uma ou poucas

unidades, entendidas como pessoa, família, produto, empresa, órgão público, comunidade ou

mesmo país. Tem caráter de profundidade e detalhamento. Pode ou não ser realizado no

campo.”.

Eisenhardt (1989, pág.532-550) afirma que a teoria desenvolvida através de uma pesquisa

cuja metodologia é o estudo de caso tem como vantagens a narrativa histórica (novelty), o

teste (testability) e a validação empírica, que advém de seu vínculo com a evidência empírica.

A autora complementa que, considerando a força de sua abordagem de construção de teoria e

sua independência de literaturas anteriores ou de observações empíricas passadas, o estudo de

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caso é adequado a novas áreas de pesquisa ou a áreas em que as teorias existentes parecem

inadequadas, como é o caso da pesquisa proposta em que há poucas evidências de estudos nas

estratégias adotadas por empresas de telecomunicações do STFC, após a regulamentação da

Resolução 396 pela Anatel. Segundo a autora, esse tipo de trabalho é altamente complementar

à construção de teoria incremental da pesquisa científica.

O método do estudo de caso, definido por Yin (2001, pág. 24), consiste em uma pesquisa

empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real,

dado que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente visíveis e são usadas

fontes múltiplas de evidência. Ademais, no estudo de caso, o pesquisador tem pouco controle

sobre os acontecimentos.

Yin (2001, pág. 24) acredita que os estudos de caso representam uma boa opção para lidar

com questões científicas do tipo “como” e “por que”, fenômenos reais e contemporâneos, ou

ainda em situações em que o pesquisador possui pouco controle dos eventos. E completa que

também o estudo de caso constitui-se em uma boa alternativa de pesquisa quando se deseja

contribuir com o conhecimento que temos de fenômenos individuais, organizacionais,

políticos e de grupo e onde se deseja uma investigação, preservando-se as características

holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real que podem ser exemplificados por

ciclos de vida individuais, processos organizacionais e de mudanças.

Yin (2001, pág. 24) ressalta que o tipo de questão “o que (ou qual, ou quais)” pode ser

exploratória, sendo “um fundamento lógico justificável para conduzir um estudo exploratório,

tendo como objetivo o desenvolvimento de hipóteses e proposições pertinentes a inquirições

adicionais”. Nesse sentido, como estudo exploratório, o estudo de caso pode ser usado como

estratégia de pesquisa.

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O autor ressalta, no entanto, que há muito preconceito na utilização de estudos de caso para

fins de pesquisa, apesar de ser uma das opções mais desafiadoras. As principais críticas a tal

método estão associadas à possível falta de rigor e a preocupações referentes aos estudos de

caso que fornecem pouca base para generalização científica.

Nesse sentido, Yin (2001, pág. 24) chama a atenção de que o pesquisador não pode ser

negligente, devendo seguir procedimentos sistemáticos e não aceitar “evidências equivocadas

ou visões tendenciosas”.

Baseando-se na posição dos autores citados acima, esta pesquisa é descritiva quanto aos fins,

e um estudo de caso, quanto aos meios de investigação, à medida que se propõe descrever as

mudanças estratégicas ocorridas na empresa objeto deste estudo após as novas regras

estabelecidas na Resolução 396 pela Anatel.

3.2 SELEÇÃO DE EMPRESAS E SUJEITOS

Conforme descrito no capítulo 2 item 2.2, as vinte e sete operadoras estaduais de telefonia

fixa local foram agrupadas em apenas três holdings e posteriormente privatizadas,

transformando-se em Telemar Norte Leste S/A (TELEMAR), Brasil Telecom S/A (BRASIL

TELECOM) e Telcomunicações de São Paulo S/A (TELFÔNICA). Também a EMBRATEL

foi privatizada, porém sem alterações em sua estrutura organizacional, visto que a empresa

não passou por processo de fusão ou cisão, como ocorreu com as outras três empresas

concessionárias de STFC (cf. Balesdent, 2004: 4-17).

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Para Vergara (2000, pág.20-25), sujeitos são as pessoas que fornecem os dados necessários à

pesquisa. Em termos mais específicos, é relativo aos entrevistados e respondentes dos

questionários para a obtenção de dados primários.

A seleção de uma empresa concessionária de STFC como sujeito desta pesquisa ocorre em

função da nova regulamentação e assim como na mudança no papel do Estado de

empreendedor para regulador e privatização da indústria. As redes de STFC, por serem o

serviço mais antigo e popular, são as mais amplas, e o acesso às mesmas, a fim de atingir seus

usuários, é comercialmente indispensável na prestação de grande parte dos serviços de

telecomunicações. Logo, problemas nessas redes afetam outros serviços.

Os sujeitos foram selecionados levando-se em conta a representatividade destes na empresa

objeto do estudo de caso, e as consultorias especializadas no setor. No total foram conduzidas

doze entrevistas, incluindo oito funcionários de nível hierárquico superior (diretores e

gerentes) da empresa escolhida e quatro consultores externos (consultorias e bancos de

investimento).

3.3 SELEÇÃO DE MÉTODOS E MODELOS

Segundo Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8), o objetivo da regulação econômica é promover a

competição justa entre as operadoras, assegurar o preço adequado e garantir a qualidade nos

níveis de serviço para os consumidores.

Os autores explicam que as motivações para a regulação econômica são: primeiro, para que as

economias de mercado funcionem adequadamente de forma que os direitos de propriedade

estejam apoiados na realização dos negócios e as leis antitrustes protejam a competição justa;

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segundo, para reduzir as falhas de mercado existentes em indústrias competitivas; terceiro,

forçar as empresas a investir nas necessidades de clientes não-lucrativos e, por último,

suportar a competição e promover o bem-estar dos consumidores em suas negociações, com

indústrias de rede que tendem a monopolizar o mercado devido a dependência de sua infra-

estrutura.

No entanto os governantes se esforçam para desenvolver sistemas regulatórios efetivos e

adequados. Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8) apontam três ressalvas para a promoção de

uma regulação justa:

1. Regulação em “fatores de produção” como mão-de-obra e propriedade;

2. Regulação excessiva em setores competitivos;

3. Regulação inflexível em indústrias anteriormente monopolistas.

Os autores apresentam características fundamentais para a prática de uma política regulatória

adequada e eficiente:

• Transparência

A emissão de uma resolução regulatória pode afetar a competição em um setor como também

ter conseqüências sociais e políticas. Para os autores Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8), a

comunicação baseada em fatos e a transparência baseada na condução da atividade regulatória

são a chave para implementar com sucesso uma resolução e equilibrar as expectativas e os

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interesses dos envolvidos. Os autores citam, como exemplo, a comparação do nível de

regulação implementado no setor contra os benchmarks internacionais.

Para Ramires (2005, pág.1-20), o conceito de transparência é definido como a realização de

consultas públicas antes da elaboração das propostas, assegurando que as visões dos

envolvidos, suas experiências e conhecimentos sejam considerados. O desenvolvimento de

regulamentações claras e simples, bem como a comunicação dos seus procedimentos e

normatizações também caracterizam clareza no desenvolvimento de uma norma.

• Dinamismo

Segundo Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8), o desenvolvimento de uma norma regulatória é

um processo dinâmico, pois, em setores de infra-estrutura, algumas regras são requeridas e

podem ser substituídas posteriormente, por exemplo, nos casos em que a competição já está

estabilizada.

• Cautela

Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8) orientam que a implementação de uma política pública

regulatória deve ser realizada com moderação, visto que envolve objetivos econômicos e

sociais divergentes entre si.

Ramirez (2005, pág. 1-20) sugere que a agenda de discussão de uma política regulatória seja

definida e comunicada com clareza e eficiência pelos reguladores a todas as partes envolvidas

e interessadas, contendo as questões identificadas, as necessidades de regulamentação, os

objetivos e os prazos a serem alcançados.

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• Neutralidade

Para Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8), a regulação em mercados competitivos deve possuir

uma postura neutra em relação aos impactos nos diferentes envolvidos.

Ramires (2005, pág. 1-20) afirma que a regulação deve ser consistente, respeitando as regras

de mercado e as regras legais, e mantendo-se imparcial em relação às entidades civis e

empresariais.

• Proporcionalidade

Ramirez (2005, pág.1-20) explica que as soluções regulatórias procuram ser apropriadas e

dimensionadas para o risco identificado, bem como seus custos avaliados e minimizados.

Uma resolução procura ser proporcional ao risco e ao problema identificado, bem como os

custos impostos para o atendimento à regulação.

• Foco

Para Ramirez (2005, pág. 1-20), as regulamentações são direcionadas às questões a serem

endereçadas, evitando abordagens abrangentes e minimizando seus respectivos efeitos

colaterais.

• Desregulação dos processos de negócio,

Conforme Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8), em setores liberalizados e competitivos, as

empresas são livres para decidir como estabelecer metas. Se o Governo utiliza da regulação

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para controlar a operação, a estrutura organizacional e os processos das empresas, a

normatização pode comprometer a produtividade das companhias.

• Adaptação ao mercado nacional

Segundo Ramirez (2005, pág. 1-20) as novas regulamentações consideram as já existentes em

níveis internacionais, no entanto as normas devem ser flexibilizadas para atender ao mercado

nacional.

Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8) observam que benchmarks devem ser comparáveis e

adaptados ao cenário local. Reproduzir completamente a regulamentação estrangeira é

inadequado e pode se tornar desastroso, pois conduz a resultados variados.

• Necessidade da infra-estrutura

Beardsley e Farrel (2005, pág.1-8) ressaltam a necessidade de considerar maneiras de

promover e premiar investimentos nas redes de infra-estrutura. Uma possibilidade é

considerar os preços de acesso superiores ao custo atual, então as incumbentes podem

reinvestir em suas redes ou melhora-las. Os novos entrantes são incentivados a construir a sua

própria infra-estrutura.

A presente dissertação irá analisar a Resolução 396 da Anatel sob a perspectiva dos conceitos

acima descritos, comparando-a com o atual sistema tarifário.

A importância do estudo dessa Resolução deve-se ao fato de que, com a norma, as tarifas de

interconexão serão reajustadas de acordo com a natureza do custo (cost based). Os serviços

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serão precificados com base em matrizes de custos setoriais, levando em consideração os

demonstrativos de resultados e o capital empregado pelas operadoras, em conformidade com a

natureza do serviço prestado. E, no cálculo dos custos, os bens utilizados serão desmembrados

ao máximo possível, e não serão considerados nesse conjunto os outros bens não-utilizados, a

fim de evitar que os preços sejam artificialmente inflados.

O método de precificação proposto reduz a assimetria de informações entre as operadoras e a

Anatel, dificultando a prática de subsídios cruzados e de price squeeze, isto é, a elevação dos

custos dos rivais, por meio do aumento do preço de insumo controlado por uma determinada

empresa. Atualmente com o modelo tarifário utilizado, o órgão regulador tem dificuldades em

inferir e premiar uma operadora que aumentou a sua eficiência e melhorou o serviço. Essa

regulação “às cegas” pode levar o regulador a estabelecer um nível muito baixo para as

tarifas, obrigando as operadoras a reduzir a qualidade dos serviços prestados ou também

estabelecer uma tarifa muito alta, permitindo ganhos extraordinários pelas empresas.

A análise da Resolução 396 da Anatel é relevante porque, além de buscar a aplicação de uma

metodologia consistente e transparente para todas as operadoras, irá estabelecer preços

eficientes, ou seja, valores competitivos e capazes de fornecer os incentivos certos para

inovação e investimento e a utilização da rede de modo eficaz. O modelo proposto equilibra o

trade-off entre remunerar o detentor da rede existente pelos custos efetivamente incorridos e o

impedimento do repasse de ineficiência do prestador ao concorrente, a fim de facilitar a

entrada de novas empresas no mercado. Nesse sentido, o consumidor final pode esperar

possíveis reduções nas contas telefônicas através da promoção da concorrência no setor.

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De um modo geral, a Resolução 396 da Anatel irá promover o ambiente de um mercado

competitivo, assegurando o bem-estar social, a alocação eficiente de recursos e o fomento

eficaz de novos entrantes no setor de telecomunicações.

Para Beardsley, Bugrov e Enriquez (2005, pág.1-7), as políticas regulatórias podem modificar

tanto a estrutura organizacional como também a maneira de administrar uma empresa. Em

indústrias de rede, a regulação é uma incerteza associada à tomada de decisão, à imagem

corporativa e à gerência de risco, visto que está relacionada a mudanças futuras como

descontinuidades tecnológicas, movimentos sociais, desastres naturais e mudanças de

governo.

Segundo os autores, a regulação reflete um contrato formal entre as empresas e a sociedade,

ou seja, é um processo de negociação de interesses do Governo e dos agentes envolvidos - as

empresas, os consumidores, as comunidades e as organizações ambientais. Este processo

permite não só o gerenciamento do risco regulatório como também a modelagem do mercado

e a criação de novas oportunidades.

As empresas se esforçam em responder aos desafios regulatórios, pois geralmente são

questões complexas, interdependentes e de difícil impasse entre a maximização do lucro, a

ampliação do bem-estar social e econômico e o atendimento aos interesses dos agentes

envolvidos. Para superar esses obstáculos, as empresas colocam a regulação como um

elemento central no desenvolvimento e na implementação de suas estratégias corporativas.

Beardsley, Bugrov e Enriquez (2005, pág.1-7) apresentam três dimensões cruciais para a

integração das estratégias empresariais às questões regulatórias:

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1. Priorizar e relacionar as questões atuais e os cenários regulatórios em longo prazo,

mapeando os impactos econômicos, sociais e estratégicos, identificando os objetivos e

os prazos a serem alcançados.

A busca pelo entendimento das questões deve começar pela identificação das áreas

impactadas em um prazo de três a cinco anos, assim como o nível de incerteza, associado a

uma política regulatória e a posição dos agentes impactados por ela. Os autores ressalvam que

a possível suspensão de uma política regulatória deve também ser analisada. Após a

identificação e priorização das questões-chave, deve-se avaliar os possíveis efeitos e

resultados da norma.

2. Entender os interesses de cada agente envolvido e criar um consenso dentro dos

prováveis resultados regulatórios, traduzindo as prioridades em compromissos

factíveis.

Os autores observam que, obter resultados positivos nas negociações com os agentes

envolvidos requer habilidade no gerenciamento das questões, balanceando-as de acordo com

seus valores reais e através de impasses, criar acordos e alianças efetivas. Ademais, a gerência

dos agentes envolvidos é uma parte vital na estratégia regulatória, exigindo criatividade,

experiência e senso crítico por parte das empresas. As empresas devem procurar modelos para

cooperação futura e conflitar os impasses benéficos. Os resultados ajudam a identificar várias

combinações de questões e alianças que podem suportar esses impasses.

A gestão efetiva dos impactos dos atores abarcados em um setor regulado envolve três passos:

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• Condução de análises - realizar levantamentos da situação financeira dos

grandes players do mercado, identificar os fazedores de opinião (cientistas,

acadêmicos, especialistas técnicos das organizações não-governamentais) que

suportaram a elaboração da política pública e utilizar técnicas de marketing,

quando a percepção das práticas corporativas pelo consumidor é um fator

importante.

• Gerenciamento do impasse de modo a atingir um resultado alcançável entre a

maximização do lucro e a ampliação do bem-estar social e econômico.

• Comunicação da estratégia para os agentes relevantes do setor, através de um

canal direto e constante de diálogo, ressaltando os resultados regulatórios

assim como os interesses empresariais.

3. Transformar a gerência regulatória em um processo constante horizontal e vertical por

dentro da empresa, ligado ao desempenho empresarial e conduzido por executivos de

fácil acesso ao CEO.

O objetivo principal do trabalho é analisar a Resolução 396 da Anatel sob o ponto de vista da

administração, relacionando as dimensões do modelo de Beardsley, Bugrov e Enriquez com

as decisões estratégicas regulatórias a serem tomadas, sob a perspectiva de uma empresa de

longa distância do STFC.

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3.4 COLETA DE DADOS

O estudo de caso conduzido utilizou-se de pesquisa bibliográfica visando situar o leitor em

relação aos conceitos acerca das estratégias regulatórias e da relação cenário-estratégia-

processo, a partir da normatização de uma política pública. Adicionalmente foram consultadas

as leis e resoluções que abarcaram o setor de telecomunicações, assim como publicações

especializadas no setor e relatórios da agência reguladora da indústria, a Anatel.

Além disso, foram conduzidas entrevistas, pessoalmente e por telefone, com os dirigentes

(diretores e gerentes) da empresa impactada e consultores especializados no setor.

As entrevistas tiveram o mesmo formato, seguindo um roteiro previamente definido

(Apêndice A) pelo pesquisador, visando padronizar e facilitar a análise das respostas acerca

das estratégias da empresa analisada e da Resolução 396 da Anatel. No entanto, tal

padronização não inibiu que os entrevistados falassem livremente sobre os aspectos que

julgavam relevantes sobre o assunto abordado. Foram agendados horários para responder ao

questionário com a presença do pesquisador, com o intuito de esclarecer quaisquer dúvidas a

respeito dos conceitos e das perguntas.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

Os doze participantes, originalmente selecionados, responderam à pesquisa, sendo que dois

respondentes não preencheram integralmente o questionário. No entanto, procurou-se

selecionar respondentes que ocupassem cargos com nível hierárquico semelhante ou próximo

e estivessem envolvidos no processo de preparação da empresa à nova regulamentação.

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3.5.1 Cenário empresarial

Pode-se afirmar que a Resolução poderá implementar valores de remuneração de rede mais

aderentes aos custos das operadoras. Observa-se que aqueles serviços que possuem valores

próximos à curva eficiente de seu custo serão pouco atingidos, indicando encontrar-se

apropriada e justa a atual rgulamentação. A norma irá corrigir principalmente tarifas com

grandes distorções em relação a seu custo.

Apesar da diminuição do preço de acesso, entende-se que não haverá aumento de novos

entrantes que possam comprometer o nível de investimento em infra-estrutura, pois, com o

atual nível de maturidade atingido pelo mercado brasileiro de telecomunicações, os grandes

players do mercado já se encontram consolidados. Além disso, tarifas com valores mais

baixos forçam as operadoras a reduzirem seus custos, conseqüentemente as empresas

pressionam seus fornecedores de equipamentos a reduzirem seus preços também. Pode-se

concluir que o investimento em infra-estrutura possui uma estreita relação com o nível de

competição do setor.

Não se esperam benefícios para o consumidor final ou reduções nas contas do serviço de

telefonia; conforme citado anteriormente, no cenário fixo e de longa distância, o valor das

tarifas de interconexão já está adequado à curva eficiente. No entanto, para o cenário móvel,

pode haver uma piora, pois para as empresas de telefonia celular o preço de acesso é uma

receita e elas irão deixar de ganhar essa renda. A tendência é que as empresas móveis

repassem a perda de receita para seus clientes.

Apesar de a literatura (cf. Bragança, 2005:1-35) indicar a possibilidade de as despesas

operacionais e financeiras decorrentes do processo de adequação aos moldes previstos para a

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Resolução 396 da Anatel serem repassadas aos clientes, observou-se através dos questionários

que essa situação possivelmente não ocorrerá, pois o órgão regulador entenderá os novos

investimentos como uma obrigação das operadoras e devido ao alto grau de competição da

indústria, será difícil repassar esse custo para as tarifas. Outro viés reside no alto grau de

competição no upstream do setor, que irá dificultar o repasse desse custo adicional aos

usuários dos serviços.

Foi observado nas entrevistas que a dependência de informações sobre a infra-estrutura de

redes é um item relevante, sendo considerado uma fragilidade do modelo, visto que a

qualidade das informações existentes atualmente não foi desenvolvida para atender à

Resolução 396. Foi também considerado um risco da Resolução, conforme apontado

anteriormente, já que o órgão regulador não possui conhecimento técnico suficiente para

utilizar os dados de infra-estrutura fornecidos pelas empresas e efetuar o cálculo das curvas de

custo da “empresa eficiente”. Assim é possível que os custos calculados pelo regulador sejam

divergentes dos custos incrementais de longo prazo das operadoras, podendo comprometer a

produtividade dessas empresas.

Sob esse aspecto, o método coloca o regulador na posição de “guia” da política de

investimentos das operadoras, regulando os processos e criando uma assimetria entre as

diferentes áreas de negócio. Nessa perspectiva, o regulador deixa de possuir uma posição

neutra, sendo agravada por não ser uma entidade absoluta, composta de pessoal originário de

empresas do setor e com grande influência.

A ausência de definição das responsabilidades do processo de auditagem estipulado na

Resolução 396 da Anatel, foi considerado um risco grave para as empresas. As firmas de

auditorias estabeleceram apenas “um procedimento previamente acordado” com as

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operadoras, cuja atividade era apenas de validação matemática e não de análise da

consistência das informações. As auditorias entendem que o processo de auditoria é um

conjunto de procedimentos definidos pelo órgão regulador, no caso a CVM, que trata

especificamente dos aspectos contábeis das operadoras como o Balanço Patrimonial e

Demonstrativo de Resultado. Também auditorias diferentes podem chegar a conclusões

diferentes sobre análise do mesmo conjunto de informações e distorções podem influenciar no

modelo e na tomada de decisão pelos agentes envolvidos. Uma medida para mitigar este risco

é a obrigação legal de rodízio de firmas de auditoria para esse processo.

3.5.2 Estratégia empresarial

Os benefícios da Resolução 396 da Anatel para as operadoras serão adequados aos custos

impostos por ela, porém foi observada a existência de um risco regulatório, no que tange à

falta de conhecimento técnico do órgão regulador. A migração dos serviços de uma base

price-cap para cost-based foi uma definição importante na regulação; no entanto o órgão

regulador não se encontra preparado tecnicamente para capitanear esse novo processo.

Nesse caso, infere-se a possibilidade da captura do órgão regulador por algumas empresas.

Além disso, esse risco regulatório é interpretado como uma issue do atual modelo de mercado

de telecomunicações brasileiro e a Resolução 396 da Anatel é o “meio” para a discussão desse

modelo.

3.5.3 Processo empresarial

Apesar de o conceito de transparência das operadoras ser benéfico para a sociedade e para os

investidores, identificou-se certa oposição da empresa analisada em relação à divulgação das

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informações, tanto que se solicitou confidencialidade total em relação a esta determinação da

norma. Entende-se que existem dados em que é necessária a sua divulgação, como por

exemplo, o total de investimentos efetuados, e outros que podem levar à geração de conflitos

comerciais e estratégicos, como os de investimentos futuros.

De modo geral, a Resolução 396 da Anatel tende a promover uma alocação eficiente de

recursos e buscará aplicar uma metodologia consistente e clara para todas as operadoras. Pelo

seu grau de complexidade, a norma poderia ter sido mais discutida e aperfeiçoada, pois o

problema encontra-se no seu prazo de implementação. O prazo de um ano para

implementação do modelo estipulado na Resolução 396 da Anatel é exíguo. A

experimentação e a implementação gradual, a utilização dos erros e acertos observados em

outros países, poderiam evitar a necessidade de se efetuar ajustes no modelo antes do final de

sua implementação.

As informações obtidas nas entrevistas acerca da empresa selecionada indicaram que ela,

neste momento, não apresenta um posicionamento estratégico bem definido de modo a reduzir

o risco regulatório da Resolução 396 da Anatel.

A empresa analisada contratou empresas de consultoria para desenvolver formas e

mecanismos para o envio de suas informações ao órgão regulador, atendendo apenas às

especificações da norma. Tais informações foram auditadas e enviadas dentro do prazo

estipulado, no entanto não foram efetuadas análises e levantamentos sobre o posicionamento

das outras empresas do mercado. A ausência de posicionamento estratégico pode ser

justificada pelo fato de a Resolução 396 da Anatel ser relativamente recente. Mesmo sendo

uma definição nova, a empresa analisada concorda que o tema é relevante, necessitando de

mais discussão em torno de ajustes e aperfeiçamentos.

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Outro ponto é a atuação da área regulatória da empresa analisada, que exerce as funções

simplórias de interpretação, mediação e apoio à negociação, sendo apenas um processo

horizontal dentro da empresa e não se encontra associada a nenhuma meta corporativa.

Consequentemente observa-se dificuldade em justificar recursos e investimentos junto aos

controladores da empresa analisada para efetuar estudos mais intensos sobre a Resolução.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo buscou-se apresentar e descrever as modificações ocorridas no cenário

estratégico e no processo regulatório da empresa selecionada para a pesquisa, expondo a

Resolução 396 como um fenômeno a partir das variáveis do modelo de Beardsley, Bugrov e

Enriquez (2005, pág. 1-7).

Analisando a Resolução 396 da Anatel sob o ponto de vista dos conceitos fundamentais para a

prática de uma política pública regulatória adequada e eficiente, à luz da tipologia de

Beadsley e Farrel (2005, pág.1-8), pode-se afirmar que a norma promoverá a competição justa

entre as operadoras do STFC. Observou-se que alguns atributos da metodologia não foram

atendidos na Resolução, por exemplo, a transparência e o foco, e identificou-se que a

regulação econômica altera, de forma significativa, o ambiente, as estratégias e os processos

empresariais desse setor.

Apesar de o modelo de Beardsley, Bugrov e Enriquez (2005, pág. 1-7) mostrar-se adequado

para a análise, é recomendável a realização de novos estudos acerca das estratégias

competitivas na indústria de STFC no Brasil, considerando o risco regulatório como uma

variável de grande relevância. É aconselhável a realização de estudos mais específicos acerca

desse risco, visando compreender melhor a sua influência na formulação de estratégias e no

desempenho das empresas do mercado de telecomunicações.

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Para o caso específico do setor de telecomunicações, a promoção da regulação econômica,

através da prática de políticas públicas estipuladas pela Anatel, possui grande dependência das

características tecnológicas da indústria e dos serviços a serem oferecidos aos seus usuários

finais.

Observa-se que o mecanismo de implementação de políticas públicas no Brasil pelas agências

reguladoras do Estado poderá ser – levando em consideração os constrangimentos políticos e

econômicos – processo adequado e eficiente, garantindo ganhos para os agentes envolvidos.

Cumpre-se assim, o objetivo da presente pesquisa, de que a mesma possa servir de base para

futuros trabalhos acadêmicos e empresariais, sob o foco aqui desenvolvido.

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APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO

A Anatel, em 31 de março de 2005, emitiu a Resolução 396 da Anatel que aprova o

Regulamento de Separação e Alocação de Contas, que tem o objetivo de implementar um

modelo de negócios onde as tarifas são reajustadas de acordo com a natureza do custo. E

conforme estipulado na norma, a implementação desse novo modelo se dará a partir do

cálculo dos custos incrementais de longo prazo (LRIC). No modelo de separação de custos, os

serviços serão precificados com base em matrizes setoriais, levando em consideração os

demonstrativos de resultados e de capital empregado pelas operadoras, de acordo com a

natureza do serviço prestado.

1. Na sua opinião, o modelo irá favorecer preços eficientes, ou seja, valores competitivos e

capazes de fornecer os incentivos certos para a inovação e investimento, e abrir caminho

para a entrada de novas empresas?

2. No entanto assim como a metodologia LRIC pode induzir a uma diminuição dos preços de

acesso, gerando um aumento de novos entrantes no mercado e acréscimo da competição

das telefonias de longa distância e local, ela pode também comprometer os níveis de

investimento no médio prazo (através de erros de estimativa da infra-estrutura,

intervencionismo do regulador, etc.). Na sua percepção, o modelo pode induzir ao

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aumento da competição em troca do comprometimento de investimentos de infra-estrutura

e maximização do bem-estar social?

3. A Resolução 396 da Anatel foi apropriada ao problema específico do setor? (A

competição a todo custo não deve ser o objetivo primordial do regulador. O nível ótimo de

entrada deve advir da maximização do excedente econômico associado ao equilíbrio

econômico-financeiro das firmas participantes do mercado regulado)

4. Na sua visão, o que se espera (impactos, consequências) das operadoras fixas após a

migração dos serviços de uma base price-cap para cost based?

5. E do ponto de vista dos usuários dos serviços (os prováveis benefícios para a sociedade)?

É possível esperar reduções nas contas do serviço de telefonia?

Uma vez que a Resolução 396 da Anatel foi aprovada, as empresas entrarão na fase de

preparação para se adequarem às novas normas de mercado. As operadoras terão que absorver

despesas operacionais e financeiras decorrentes do processo de adequação aos moldes

previstos para a Resolução 396 da Anatel. Devido ao detalhamento exigido pela Norma, as

operadoras demandarão novos e ininterruptos investimentos em metodologia, hardware e

software para o armazenamento e gerenciamento das informações e para a confecção dos

relatórios a serem apresentados.

6. Na sua opinião, existe a possibilidade desse custo adicional ser repassado aos serviços

prestados?

7. Os benefícios da Resolução 396 da Anatel são adequados aos custos impostos por ela?

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8. Os mecanismos contábeis atuais não estão preparados para alocações diretas ou indiretas

dos custos até o nível dos produtos oferecidos pelas operadoras. Além disso, a abordagem

de custos históricos não leva em conta a necessidade de incorporação de um adicional

associado a incerteza do setor (demanda, saltos tecnológicos e grau de competição). Qual

a sua percepção em relação aos riscos associados à Resolução 396 da Anatel?

9. Quais as medidas que a empresa vem realizando de modo a mitigar os riscos associados à

Resolução 396 da Anatel (condução de análises, gerenciamento do impasse, comunicação

das decisões aos agentes do setor e etc...)?

10. Na sua visão, a correta apuração dos custos dos equipamentos pode ser um problema, pois

a quantidade de informações da engenharia é extensa, a taxa de inovação tecnológica

(maturação e modernização dos elementos de rede) é acima da média e muitos

equipamentos são customizados?

11. O atual estágio de desenvolvimento do modelo pode levar a erros de estimativa,

desestimulando investimento nas redes?

12. Qual a sua percepção em relação a essa dependência da infra-estrutura na Resolução 396

da Anatel?

13. Na sua opinião, os custos calculados pelo regulador podem ser divergentes dos custos

incrementais de longo prazo da incumbente?

14. Essa possível divergência pode comprometer a produtividade das empresas ?

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15. Na sua percepção, o método coloca o regulador na posição de decidir quais são os

investimentos relevantes antes que eles sequer tenham sidos feitos pelas empresas?

16. Geralmente as agências não possuem conhecimento técnico suficiente para escolher qual é

a tecnologia mais adequada ou eficiente dentre as disponíveis. Você concorda que o

regulador deixa de possuir uma posição neutra em relação aos agentes envolvidos?

17. Qual a sua percepção em relação ao papel da área regulatória da empresa?

18. É vista e entendida como um processo vertical e horizontal dentro da empresa?

19. Sua função encontra-se associada a alguma meta corporativa?

O WACC (custo médio ponderado de capital) aplicável a cada área de negócio será

determinado pela Anatel. Além disso essa taxa, que irá remunerar o capital investido, será

empregada em diferentes áreas de negócios, que possuem riscos distintos.

20. Qual a sua percepção em relação a essa parte da metodologia?

A Anatel determina que a operadoras enviem, anualmente, relatórios que serão

disponibilizados em sua biblioteca. A divulgação destes dados poderá atender tanto o

Governo Federal quanto aqueles que podem ser afetados pelas decisões tomadas com base

nestas informações, tais como as operadoras, investidores e consumidores. A publicação

dessas informações contribui para a maior transparência das informações e incentivo à

competição. No entanto, a divulgação irrestrita destas informações pode acarretar situações de

conflito comercial e estratégico entre as operadoras.

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21. Qual a sua percepção em relação a essa determinação da norma?

Auditoria das informações disponibilizadas para a Anatel - As responsabilidades da firma de

auditoria precisam ser claras e definidas, de forma a assegurar que os aspectos relevantes da

auditagem estejam endereçados e transparentes aos envolvidos no processo e ao público em

geral. A ANATEL , em sua Resolução, não especifica essas responsabilidades, podendo

comprometer a consecução dos objetivos propostos pela norma. A ausência dessa definição

por parte da Agência faculta ao auditor a interpretação da legislação e o seu julgamento

quanto à abrangência de sua responsabilidade, podendo acarretar diferentes visões e

aplicações sobre um mesmo tema (foco).

22. Qual a sua percepção em relação a essa lacuna?

A resolução 396 da Anatel possui um alto nível de complexidade e uma crítica que se faz a

ela é fruto do atual estágio de desenvolvimento dos modelos, pois a norma é considerada uma

determinação precipitada. Em outros países, a implementação do modelo durou em média 4

anos. No Brasil o prazo de implementação do modelo será de 1 ano.

23. Nesse sentido a resolução poderia ter sido mais discutida e aperfeiçoada?

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APÊNDICE B - Metodologia de apuração do LRIC

Camacho, Bragança e Rocha (2004, pág. 90-108) detalham a apuração do LRIC da seguinte

maneira:

1. A HCA (Historical Cost Accounting) corresponde ao conjunto de informações sobre

ativos, passivos, receitas e despesas, registradas com base no padrão contábil aceito,

que é utilizado como referência para a apuração dos custos operacionais e do capital

empregado. Os custos históricos dos ativos que compõem o HCA são determinados

pelo seu valor bruto de aquisição ou construção, obtido por meio dos registros

contábeis, subtraído o valor da depreciação ou da amortização acumulada. As

informações da HCA devem ser compatíveis com as informações do Plano Geral para

Separação e Alocação de Contas, a serem apresentadas por prestadora componente do

Grupo. Por grupo entende-se conforme definição exposta no Anexo da Resolução

396/05: “... a Prestadora de Serviço de Telecomunicações individual ou conjunto de

Prestadoras de Serviços de Telecomunicações que possuem relação de controle, como

controladoras, controladas ou coligadas...”. O grupo obrigado a apresentar o DSAC

deve discriminar e alocar os custos operacionais e o capital empregado por área de

negócio em que atua. O mesmo procedimento se repete para as linhas de produtos e

em seguida para os produtos oferecidos pelas operadoras. A descrição das áreas de

negócio e das linhas de produto é apresentada na tabela abaixo:

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Tabela 11 – Divisão do grupo em áreas de negócio e linhas de produto Fonte: A remuneração de capital nas telecomunicações e o novo contexto regulatório

brasileiro. Pág. 94.

2. A segunda etapa da metodologia LRIC consiste na transformação da base de custos

históricos (HCA) em base de custos correntes (CCA - Current Cost Accounting) a ser

utilizada para a apuração dos custos correntes dos produtos ofertados pelos grupos. A

principal mudança é a valoração dos ativos e na apuração da remuneração do capital.

A CCA será constituída considerando a utilização de ativos e recursos de maneira

eficiente, tendo por base a rede real do grupo (princípio forward-looking de

otimização). Este procedimento deve obedecer ao critério: os ativos que não estiverem

em uso no momento da avaliação devem ser excluídos da base de ativos. Um ativo é

considerado excedente se possui capacidade não utilizada, além da margem de

segurança aceitável, e não se espera utilizá-lo em um horizonte de três anos.

3. A apuração do modelo LRIC, última etapa da implementação, é realizada tendo por

base os custos apurados segundo os critérios de separação e alocação de contas (etapa

a), corrigidos para a CCA (etapa b).

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Os custos incrementais de longo prazo serão os custos adicionais incorridos no fornecimento

de um determinado produto em relação aos custos incorridos pela empresa para o

fornecimento dos demais produtos em um horizonte de tempo nos quais todos os custos são

variáveis, inclusive aqueles referentes a ativos fixos. Em relação ao custo total da empresa, o

custo incremental de um determinado produto é numericamente igual à economia que seria

obtida caso ele deixasse de ser fornecido.

Na metodologia LRIC, a definição de capital empregado, constante nas etapas 1 e 2, utilizará

o conceito de custo de capital. O capital empregado total é igual ao ativo total da prestadora,

excluindo o caixa e outras disponibilidades, subtraído dos passivos não onerosos. Serão

considerados na apuração do custo de cada produto o custo de capital aplicável e a

depreciação ou amortização incorridas, relativos aos ativos alocados ao produto. De acordo

com a norma, o custo de capital é a remuneração hipotética que a prestadora deveria obter por

manter seu capital aplicado em seus ativos, considerando também o risco do negócio em que

atua. O cálculo do custo de capital será realizado da seguinte forma:

WACCAtAto

CC ×

+=2

1

Onde CC = Custo de capital aplicável a determinado produto;

Ato = Capital empregado total líquido de depreciação e amortização alocado ao produto em

questão no início do período em análise;

At1 = Capital empregado total líquido de depreciação e amortização alocado ao produto em

questão no final do período em análise.

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WACC = Custo médio ponderado de capital (Weighted Average Cost of Capital).

O custo médio ponderado de capital (WACC) aplicável a cada área de negócio é determinado

pela Anatel, conforme disposto na Resolução 396/05. Como citado anteriormente, os custos

diretos e indiretos de cada área de negócio, linha de produtos e produto serão apresentados

pelas empresas individualmente. Os custos operacionais e o custo de capital serão

apresentados separadamente por produto. E o custo total de determinado produto será o

somatório dos custos operacionais, incluindo a depreciação e amortização, e do custo do

capital a ele alocado.

Camacho, Bragança e Rocha (2004, pág. 90-108) lembram que no novo contexto regulatório,

a taxa que irá remunerar o capital investido não só será empregada em diferentes áreas de

negócios, que possuem riscos distintos, como também será aplicada a uma base que a

princípio será recalculada periodicamente de acordo com os custos de reposição de uma

operadora eficiente ideal.

A proposta estabelece que o LRIC seja recalculado a cada três anos, podendo, a critério do

regulador, ser recalculado em período inferior desde que maior do que 12 meses. No entanto,

na proposta do governo, o regulador não se compromete a não alterar o LRIC ao longo desse

período.

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ANEXO A - RESOLUÇÃO 396

CUSTOS INCREMENTAIS DE LONGO PRAZO

1. Objetivo

1.1. O objetivo deste Anexo é estabelecer a metodologia necessária para a apuração dos

Custos Incrementais de Longo Prazo (LRIC: Long Run Incremental Costs) dos produtos e

elementos de rede.

2. Modelo de Custos Incrementais de Longo Prazo (LRIC: Long Run Incremental Costs)

2.1. O modelo LRIC é um modelo de apuração de custos no qual todos os custos incrementais

de longo prazo atualizados a valores correntes relativos a prestação isolada de determinado

serviço, incluído o custo de capital, são distribuídos segundo princípios de causalidade a todos

os produtos oferecidos.

2.2. Custos incrementais são os custos adicionais incorridos no fornecimento de um

determinado produto em relação aos custos incorridos pela empresa para fornecimento dos

demais produtos. Em relação ao custo total da empresa, o custo incremental de determinado

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produto é numericamente igual à economia que seria obtida caso ele deixasse de ser

fornecido.

2.3. Longo prazo é o horizonte de tempo em que todos os custos são considerados variáveis,

inclusive aqueles referentes aos investimentos em ativos fixos, de forma que a prestadora

pode otimizá-los a um nível de produção esperado.

3. Metodologia de implementação do modelo LRIC

3.1. A apuração do LRIC é realizada tendo por base os custos apurados segundo metodologia

de Custos Totalmente Alocados (FAC), descrita no Anexo I do RSAC, e corrigidos para Base

de Custos Correntes (CCA), conforme Anexo II.

3.1.1. As classificações de custos e ativos, a identificação das Áreas de Negócio, Linhas de

Produtos, Produtos e direcionadores na modelagem FAC e LRIC devem ser compatíveis.

3.2. A metodologia de cálculo do LRIC é aplicada apenas aos produtos e elementos de rede da

Área de Negócio de Rede, conforme definida no Anexo I do RSAC.

3.3. A metodologia de apuração do LRIC necessita das seguintes informações:

3.3.1. Custos e Ativos ajustados para CCA: custos e ativos da empresa ajustados para a Base

de Custos Correntes, conforme Anexo II;

3.3.2. Grupos de Custos e Grupos de Ativos: conjunto de custos ou ativos similares e com

direcionador idêntico, reunidos para tornar o processo de apuração do LRIC mais simples;

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3.3.3. Direcionadores: fatores que dão causa à ocorrência de determinado custo ou ao

aumento do capital empregado. Alterações no volume do direcionador têm impacto no custo

incorrido ou no capital empregado;

3.3.4. Relações Custo-Volume (CVR: Cost-Volume Relationship): curvas que descrevem o

comportamento de determinado Grupo de Custos ou de Ativos em relação a variações no

volume do direcionador aplicável identificado. As Relações Custo-Volume podem ser

representadas por gráficos cartesianos, sendo o eixo das ordenadas o Grupo de Custos ou

Ativos que está sendo avaliado e o eixo das abscissas o direcionador aplicável. Um modelo de

CVR pode ser observado na Figura 1 deste Anexo;

3.3.5. Incrementos a serem medidos: parcela de contribuição de cada produto ou elemento de

rede ao volume do direcionador identificado para cada CVR, de modo que seja possível

identificar o custo adicional decorrente de sua oferta ou utilização.

3.4. A primeira etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste no

mapeamento e construção das Relações Custo-Volume (CVR).

3.4.1. Devem ser construídas as Relações Custo-Volume de cada Grupo de Custos ou Ativos

direta ou indiretamente alocados aos produtos ofertados pelo Grupo, refletindo os custos

incorridos registrados na Base de Custos Correntes.

3.4.2. Os direcionadores utilizados na construção das CVR devem ser os mesmos utilizados

no processo de alocação de custos previsto no Anexo I do RSAC.

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3.4.3. As Relações Custo-Volume devem refletir as economias de escala e escopo obtidas,

bem como as mudanças no padrão de evolução dos custos, se aplicáveis.

3.4.4. A CVR deve ser construída com base na simulação a partir de modelos técnicos,

pesquisas estatísticas ou pesquisa de campo.

3.4.4.1. A simulação a partir de modelos técnicos utiliza estudos de custos realizados durante

o planejamento da construção da infra-estrutura e da expansão rede.

3.4.4.2. As pesquisas estatísticas utilizam informações extraídas da base de dados das

operações da empresa, comparando o comportamento de determinado Grupo de Custos ou

Ativos em várias áreas em que atue.

3.4.4.3. As pesquisas de campo utilizam informações oriundas de terceiros, como pesquisa

com fornecedores e prestadores de serviços.

3.4.5. Um elemento de rede ou Grupo de Custos pode possuir mais de um direcionador,

devendo, nesses casos, ser montado um conjunto de relações de dependência, de forma a

possibilitar a identificação de seu comportamento em função da variação de cada direcionador

isoladamente.

3.4.6. A CVR deve fornecer dois elementos de informação:

3.4.6.1. Evolução do Grupo de Custos ou Ativos estudado em relação à variação do volume

do direcionador relacionado;

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3.4.6.2. Demonstração da metodologia de construção de cada CVR.

3.4.7. O processo de construção das CVR deve ser fundamentado e documentado.

3.5. A segunda etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste na

combinação das Relações de Custo-Volume em uma hierarquia de cálculo.

3.5.1. Uma CVR pode ter como direcionador um fator exógeno à empresa, como demanda por

acessos locais, ou um fator endógeno, como um Grupo de Custos, resultante de outra CVR,

que tenha impacto em outros Grupos de Custo.

3.5.1.1. No caso do direcionador ser endógeno, deve-se estabelecer uma hierarquia entre as

CVR, de modo que seja possível identificar, de forma adequada, o processo de encadeamento

das relações.

3.6. A terceira etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste no cálculo

do impacto do incremento no volume do direcionador dos custos e ativos, para cada CVR.

3.6.1. O incremento a ser considerado é a parcela do direcionador identificado decorrente da

oferta de determinado produto ou utilização de determinado elemento de rede. É a diferença

entre volume do direcionador realmente existente e o volume hipotético caso fosse retirada a

parcela referente à oferta de determinado produto ou utilização de determinado elemento de

rede.

3.6.1.1. Para cada produto ou elemento de rede devem ser identificados os incrementos a ele

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relativos.

3.6.1.2. Na identificação dos incrementos relativos à utilização dos elementos deve-se ter por

base a Tabela 1 do Anexo I, adicionada de demais componentes considerados pelo Grupo.

3.6.2. Devem ser identificados separadamente os incrementos relativos a cada produto ou

elemento de rede da Área de Negócio de Rede.

3.6.3. O incremento aplicável aos direcionadores de cada produto para o qual o LRIC é

calculado deve ser fundamentado e documentado.

3.7. A quarta etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste no cálculo do

LRIC para os incrementos identificados para os produtos ou elementos de rede.

3.7.1. O LRIC relativo a um incremento é a diferença entre os custos totais e o custo que seria

incorrido caso aquele incremento não fosse considerado, conforme Figura 1 deste Anexo.

3.8. A quinta etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste na soma dos

LRIC relativos aos incrementos identificados referentes ao produto ou ao elemento, em todas

as CVRs.

3.9. A sexta etapa da metodologia de implementação do modelo LRIC consiste na

consideração dos custos comuns e dos custos compartilhados no cálculo do custo do produto

ou elemento de rede.

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3.9.1. O valor alocado dos custos comuns devem ser os mesmos identificados pelo modelo

FACHCA, conforme disposto no Anexo I, não sendo realizados ajustes.

3.9.2. Custos compartilhados são os custos relativos a mais de um produto ou elemento de

uma mesma Área de Negócio e que não são considerados na apuração de custos no modelo

LRIC, dada a não identificação de direcionador.

3.9.2.1.Os custos compartilhados são distribuídos aos produtos ou elementos de rede segundo

metodologia de Alocação Proporcional e Eqüitativa (EPMU, Equal Proporcionate Mark Up),

conforme descrita no item 6.7.1. do Anexo I.

4. Cálculo do Custo Total Individual (SAC)

4.1. O Custo Total Individual (SAC: Stand Alone Costs) relativo a um produto ou elemento

de rede é o custo hipotético caso tal produto ou elemento fosse o único oferecido ou utilizado.

4.1.1. O SAC é calculado com base na seguinte metodologia:

4.1.1.1. Para cada CVR mapeada e hierarquizada, identifica-se o impacto do incremento no

volume do direcionador calculado na terceira etapa do LRIC, conforme descrito no item 3.6 e

subitens deste Anexo;

4.1.1.2. Calcula-se o SAC para os incrementos identificados para os produtos ou elementos de

rede em cada CVR. O SAC relativo a um incremento é o custo que seria incorrido caso

apenas aquele incremento fosse considerado, conforme Figura 2 deste Anexo;

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4.1.1.3. Os custos comuns e os custos compartilhados são distribuídos aos produtos ou

elementos de rede segundo metodologia EPMU, conforme descrita no item 6.7.1. do Anexo I;

4.1.1.4. Somam-se os SACs relativos aos incrementos identificados referentes ao produto ou

ao elemento, em todas as CVRs.

4.2. O valor obtido através do cálculo do SAC deve ser sempre superior ao obtido através do

cálculo do LRIC.

5. Documentos a serem apresentados

5.1. Devem ser apresentados, como resultado da aplicação da metodologia de apuração do

LRIC, os seguintes documentos:

5.1.1. Relatório de Custos Incrementais de Longo Prazo com Base de Custos Correntes

(LRICCCA) dos produtos da Área de Negócio de Rede, que deve ser complementado pela

tabela de custos dos elementos de rede e pela matriz de utilização de elementos de rede,

segundo processo descrito no Anexo I do RSAC.

5.1.2. Relatório de demonstração de cálculo do LRIC, com identificação dos passos da

metodologia de cálculo do LRIC.

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