a representação dos negros na guerra do contestado no
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A Representação dos Negros na Guerra do Contestado no Museu Paranaense
Renê Wagner Ramos1
Museu Paranaense
Resumo:
A pesquisa tem a pretensão de contribuir na discussão sobre a presença e a representação dos negros junto ao acervo do Museu Paranaense, como forma de trazer novos estudos sobre o tema permitindo a implementação de um acervo que valorize para além do processo de escravidão, da participação na Guerra do Contestado valorizando a participação do negro na construção da sociedade paranaense contemporânea. Dessa forma dando a visibilidade a este importante grupo social na construção do Estado, em que o mesmo se reconheça nas exposições e na valorização documentos históricos sobre a temática. Para tanto, analisaremos as exposições permanentes sobre o tema, assim como o acervo da reserva técnica, além é claro da documentação histórica sobre o a presença negra no Paraná presentes no Museu Paranaense. Palavras-Chave: Negros; Museu Paranaense; Exposições; Representação; Contestado.
1. INTRODUÇÃO
A história do Brasil ficou profundamente marcada pelos três séculos de escravidão
negra deixando marcas na sociedade brasileira, entre as quais o preconceito racial, a
invisibilidade social e as péssimas condições sociais, econômicas e culturais que esse
conjunto da população foram submetidas até os dias atuais.
A história material da sociedade brasileira representadas nos museus
Nacionais e Regionais, não passariam incólumes deste contexto histórico. Na maioria
dos museus as exposições que representam a população negra relembram da
escravidão e da repressão a que foram barbaramente submetidos. Para o movimento
negro essa forma de representação fortalece a imagem que associa o negro a
escravidão, a inferioridade e o castigo físico. Essa forma de representação do negro
foi a utilizada no processo histórico seja via exposições nos museus e nos livros
didáticos de história.
O movimento Negro em sua resistência e busca de valorização passa exigir do
1Renê Wagner Ramos. Mestre em História – UPF e Doutorando em História – UPF. Pesquisador do
Museu Paranaense. [email protected]
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Ministério da Educação a inserção de conteúdos de História da África e dos
Afrodescendentes atuantes na História do Brasil como forma de promover uma visão
de desconstrução dos estereótipos, pela valorização das tradições, dos costumes e
das contribuições destes povos para a construção da cultura brasileira, possibilitando
um ambiente inclusivo e cidadão.
Dessa luta nasceu a Lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, determinando a obrigatoriedade da inclusão da História da
África e da Cultura Afro-Brasileira no currículo básico do ensino fundamental e médio,
através das disciplinas de Educação Artística, Língua Portuguesa e História.
Evidentemente que das formas de complementariedade das aulas História, são as
visitas técnicas aos museus. Nesse contexto, o movimento negro questionava a forma
de abordagem das exposições além da invisibilidade negra na história representada
nos livros e exposições museológicas.
2. O MUSEU PARANAENSE E A REPRESENTAÇÃO DOS NEGROS EM SEU
ACERVO.
O Museu Paranaense uma instituição de 140 anos, não passaria
desapercebido, pois nasceu como Museu ligado a História Política e da representação
da vida de parte da elite curitibana. O Museu passou por grandes mudanças nesses
mais de um século de existência, e nesse momento procura pesquisar no acervo a
presença dos afrodescendentes possibilitando uma ressignificação da atuação destes
nos eventos históricos relatados em suas exposições.
Se reconhece a importância da cultura Afrodescendente na formação do
Estado Paraná. Por isso valorizá-la contribuirá no rompimento da visão estigmatizada
pelo acervo que remetem degradação do trabalho escravo, com suas correntes,
gargalheiras, chibatas e tantos outros objetos de terror. Por isso como explica Santos
se faz necessário investigar em outros espaços, imagens, memórias como forma de
introduzir uma outra do negro nos espaços museológicos
“imagens, memórias, histórias, praticas culturais e inúmeras identidades de matriz africana formas devocionais negras, pesquisas acadêmicas, produção artística e
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literárias desenvolvidas, por meio da dinâmica histórica e sociocultural, no âmbito territorial das suas comunidades sociais e redes de parentesco, das suas respectivas redes simbólicas de sociabilidades públicas, estão fora do espaço físico e intelectual dos museus tradicionais, quase sempre desconsiderando as interpretações e contribuições dos agentes sociais e culturais negros”(SANTOS, 2015, p. 288)
No caso Paranaense, em relação a invisibilidade do Negro, está intimamente
ligada ao nosso passado escravista, que formatou uma sociedade com grandes
diferenças econômicas, sociais e culturais, como a negação de princípios básicos aos
pobres, e especial aos negros, como o acesso a educação e ao trabalho formal. Ao
relegar aos afrodescendentes o trabalho manual como pedreiros, empregadas
domésticas etc, produziu uma relação perversa, preconceituosa e de invisibilidade
social. Expressão desse contexto são as cadeias cheias de brasileiros pobres e
negros, fortalecendo o esse preconceito e a invisibilidade que esses brasileiros e
brasileiras foram submetidos.
No caso dos estados do Sul a situação da população afrodescendente foi ainda
mais complexa pela presença de um contingente expressivo de imigrantes europeus
que foram incentivados a emigrar ao país e em condições mais favoráveis, pois
receberam terras, que foram negadas aos ex-escravos. A situação histórica do
processo de escravidão produziu uma marginalização a população afrodescendente
que compreendemos em três aspectos segundo Queiroz (1970, p. 111)
a) uma marginalização cultural, que se define pelo fato de certos indivíduos ou grupos receberem uma dupla herança cultural, não se sentindo integrados nem uma, nem em outra delas; b) Um marginalismo psicológico, decorrente da dificuldade de certos indivíduos ou grupos em estabelecer contatos com outrem, - dificuldade proveniente caracteres psicológicos em geral, mas que pode ser fomentada pela orientação específica de uma sociedade; c) um marginalismo sociológico que se traduz pela dificuldade de certos setores da população em se integrarem a sociedade global, permanecendo mais ou menos na periferia de seu sistema estrutural, e isso é devido as razões em geral de histórico-econômica.
Esse conjunto da população foi alvo de discriminações, especialmente a da
marginalização cultural (herança africana) e sociológica (a pobreza) expresso na
linguagem vulgar como eram tratados “vagabundos”. Situação social e cultural a que
foram submetidos a comunidade Afrodescendentes foi dificultada o acesso a
educação, cultura (consumida pelos brancos) e ao mercado formal de trabalho.
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Dentro dessa marginalidade a comunidade Negra implementou uma cultura de
resistência, tendo com uma destas referências, a cultura musical, o Samba e na
religião Candomblé. De forma perversa o sistema permitia uma certa brecha para que
alguns poucos cidadãos negros conquistassem sucesso profissional, para servirem
inclusive ao discurso da elite, pois os que não conseguiam tão feito, fortaleciam o
discurso que as oportunidades eram oferecidas e que aqueles que se dedicaram
conseguiram, portanto, os demais não atingiam sucesso devido sua vadiagem,
fortalecendo o estereótipo.
Um caso exemplar dessa lógica do esforço e dedicação pessoal, foi o
surgimento em Curitiba da primeira engenheira Negra do Brasil, formada pela
Universidade Federal do Paraná, Enedina Alves Marques, que chegou a chefia da
Secretaria de Obras e Viação do Estado do Paraná. Seu esforço abriu brecha de
instituições de Ensino aos negros e que mesmo assim sua história permanece
invisível para esmagadora maioria da população como uma representante da Luta
pela busca dos direitos. Assim descreveu o jornalista José Carlos Fernandes, sobre
invisibilidade a que a sociedade havia submetido uma das mais brilhantes biografias
paranaenses, em sua coluna no jornal Gazeta do Povo no dia 28/02/2013, sobre a
morte desta personalidade.
Negra Enedina, a Engenheira
A vítima se chamava Enedina Alves Marques, tinha 68 anos e fora a primeira engenheira negra do Brasil. Morreu de enfarte. Indignação. Seus companheiros de ofício fizeram uma grita nas páginas da revista Panorama. O Diário se retratou. Afinal, as vitórias de uma mulher negra e pobre que figurou entre os seletos bacharéis de Engenharia da UFPR, na década de 1940, deveria constar nos anais da República, e não na manchete sanguinolenta de um tabloide. Deu resultado. Enedina virou placa de rua no Cajuru. Ganhou inscrição de bronze no Memorial à Mulher Pioneira, criado pelas soroptimistas – organização internacional voltada aos direitos humanos, da qual participou. Mereceu biografia assinada por Ildefonso Puppi. Seu túmulo, no Municipal, é mantido com respeito pelo Instituto de Engenheiros do Paraná. Tempos depois, batizou o Instituto Mulheres Negras, de Maringá. Aos poucos, descansou em paz. Paz até demais. O centenário de nascimento de Enedina, em janeiro deste ano, passou em branco. Poderia ter sido celebrado como de sua contemporânea, a poeta Helena Kolody, com quem, suspeita-se, teria estudado. Sim, antes de engenheira foi normalista e civilizou os sertões de Rio Negro e Cerro Azul, saindo das lides de doméstica e de “mãe preta” para a de titular de uma sala de aula.
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Exatamente devido situações como de Enedina que o Museu Paranaense,
pretende modificar com constituição de Grupo de Trabalho, formado por
pesquisadores do Museu, da UFPR, da UTFPR, do Movimento Negro, que tem como
objetivo estudar o acervo próprio e outros que forem doados ao MP, para ressignificá-
los dando o valor merecido a contribuição destes a sociedade paranaense.
Partindo da análise do acervo do MP sobre o Contestado, observamos que
sistema apresentava outras brechas menos estreitas como no caso de Enedina, onde
existiam necessidade de grande número de pessoas, eram o caso das forças militares,
fossem as Polícias Militares ou Exército brasileiro, das brechas foi a ascensão no
exército onde vários negros chegaram aos postos de Oficiais, como comprova a figura
1 e 2, na campanha do Contestado.
No segundo quartel do século XVIII haveria "evidências de que em 1767 os escravos perfaziam uma porcentagem da população total que se aproximava de 50% dos habitantes" Posteriormente, com a chegada dos colonos, que coincide com o processo de desagregação da escravatura regional e nacional, é que se observa um declínio deste grupo e um processo de branqueamento da população. Aqui temos como motivos a entrada de imigrantes brancos, mas também uma "taxa de mortalidade maior [entre os negros], dadas as suas condições gerais de vida". Além do fato de que parcela da população mestiça, o "agregado mulato, considera-se ou procura ser socialmente branco” e "a medida que vai participando das ocupações ligadas ao mundo urbano ele toma consciência da necessidade de branquear-se ainda mais. Como em outras regiões do país, o comércio de escravos está presente na imprensa local, bem como uma pesada legislação onde "para o mesmo crime, aos escravos cabiam penas mais duras". Esta mesma legislação estabeleceu formas de vigilância e punições severas para "certas atividades lúdicas dos escravos", vistas "como manifestações de uma civilização inferior " (MORAES e SOUZA, 1999, p. 11)
Portanto, artigo pretende apresentar a participação do negro na Guerra do
Contestado a partir do acervo do Museu Paranaense. Composto de armas,
vestimentas militares, bibliografia e fotografias, as imagens que compõem o acervo
demonstram participação de afrodescendentes na Guerra do Contestado na condição
de Oficiais e soldados das Forças Militares (Polícia Militar e Exército) e dos revoltosos
aspecto muito pouco pesquisado pela historiografia.
A pesquisa permitirá questionar essa omissão da participação dos negros no
movimento do Contestado que ao longo do século XX, foi muitas vezes apresentada
como a participação de movimentos de fanáticos que a historiografia já desconstruiu,
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com pesquisas como de historiador Paulo Pinheiro Machado.
A discussão possibilita desmistificação da participação dos negros,
principalmente ao lado das forças militares em cargos de comando da oficialidade
além claro da tropa, mas tendo como referência o acervo do Museu Paranaense. As
imagens mostram que houve uma quantidade expressiva de Afrodescendentes nos
dois lados do conflito. Essa reflexão ocorre no momento que o Museu Paranaense,
analisa o acervo para possibilitar um novo olhar sobre presença afrodescendente em
suas exposições, desta forma permitindo inclusão dessa comunidade na construção
simbólica do Paraná e do Brasil.
No caso específico da representação histórica representada nos Museus na
forma de exposições de longo prazo ou temporárias, não são isentas de intenções
como afirma:
Mário Chagas (2006) de que os museus não são inocentes, mas lugares de memória e de esquecimento, de poder e de silêncios, que tanto podem atuar hierarquizando culturas e identidades, quanto contribuindo para colocar em circulação representações alternativas sobre diferentes grupos sociais, étnico-raciais e culturais. Nesse sentido, as instituições museológicas não somente dizem coisas sobre o passado, mas naturalizam formas de ver o mundo, legitimam, hierarquizam e ordenam culturas e identidades e podem ser interpretadas como espaços políticos, de disputas de representação, começando pelas representações atribuídas aos objetos pelos próprios técnicos desses espaços culturais, pela participação ou não das comunidades onde se encontram inseridos, pelos patrocinadores das exposições e ainda pelos demais públicos que visitam essas instituições. De acordo com os estudos recentes da Nova Museologia, os museus exercem uma função social e cultural que vai além da simples preservação dos bens culturais, uma vez que se constituem em espaços privilegiados para a construção de narrativas e representações que contribuem na constituição de subjetividades e identidades. Vale destacar que novos projetos museais e expositivos que valorizam e dão visibilidade às memórias e às histórias dos afrodescendentes têm conquistado cada vez mais espaço nos museus brasileiros. (ZUBARAN e MACHADO, 2013, p. 94)
A representação histórica da comunidade afrodescendentes seja a partir das
memórias, da cultura e história desta parte da sociedade brasileira trazem uma
contribuição para combater o preconceito e estereótipos étnico-raciais. não são
assuntos que dizem respeito apenas às populações negras, mas se constituem um
tema nacional, portanto, o Museu Paranaense resolveu olhar criticamente as
exposições sob a perspectiva da temática permitindo uma análise cultural do acervo
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que permitirá com auxílio da pesquisa histórica e antropológica, ressignificar a luz da
contribuição das culturas negras para o desenvolvimento de Curitiba e do Paraná.
No segundo quartel do século XVIII haveria "evidências de que em 1767 os escravos perfaziam uma porcentagem da população total que se aproximava de 50% dos habitantes" Posteriormente, com a chegada dos colonos, que coincide com o processo de desagregação da escravatura regional e nacional, é que se observa um declínio deste grupo e um processo de branqueamento da população. Aqui temos como motivos a entrada de imigrantes brancos, mas também uma "taxa de mortalidade maior [entre os negros], dadas as suas condições gerais de vida". Além do fato de que parcela da população mestiça, o "agregado mulato, considera-se ou procura ser socialmente branco" e "a medida que vai participando das ocupações ligadas ao mundo urbano ele toma consciência da necessidade de branquear-se ainda mais”. Como em outras regiões do país, o comércio de escravos está presente na imprensa local, bem como uma pesada legislação onde "para o mesmo crime, aos escravos cabiam penas mais duras". Esta mesma legislação estabeleceu formas de vigilância e punições severas para "certas atividades lúdicas dos escravos", vistas "como manifestações de uma civilização inferior " (MORAES e SOUZA,1999, p. 203)
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No artigo pretendemos abordar como o acervo do Museu Paranaense sobre o
acervo relacionado a Guerra do Contestado, especialmente, as fontes iconográficas
que permitem afirmar a grande presença negra nas tropas federais e entre os rebeldes
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Figura 1: Foto dos Oficiais da Polícia Militar do Paraná – 1901.
Fonte: Acervo Museu Paranaense
Na figura 1, a presença negra entre os oficiais da polícia militar do Paraná em
1901, constatamos a presença de Gal. Espírito Santo Cardoso, Capitão Félix Fleury,
Tenente Efraim, do oficial João Barroso, eram todos afrodescendentes que representa
uma proporção na oficialidade bem elevada para o início do século XX, não percebido
em outras instituições, mas que nas forças militares que atuavam em campo indicam
a instituição funcionou como uma brecha para ascensão profissional de negros.
Ressalte-se que essa proporcionalidade não reflete o conjunto da oficialidade das
forças armadas, que ainda é elitista e branca. Mas para conflitos com características
similares ao Contestado, observa-se o papel mais significativo de soldados e oficiais
negros.
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Figura 2: Farmácia e Hospital de Sangue das Tropas em Operações -1914-15
Fonte: Museu Paranaense, Acervo setor História
Em evidência na Figura 2, o Tenente farmacêutico Cristiano Barbosa de
Vasconcelos, que permite outra reflexão que haviam Afrodescendentes atuando
dentro do Exército Brasileiro, na condição de Oficiais Médicos responsáveis por áreas
técnicas de nível superior, não somente nas tropas de combate, como muitas vezes a
historiografia apresentou, a participou foi muita mais ampla e significativa dos negros
no evento de Guerra. Nas fotos da Guerra a presença é ainda mais forte indicando
que como combatente do exército no campo de batalha transformou-se espaços que
que as forças armadas permitiam o acesso, pois muitos filhos da classe média
brasileira, eram protegidos de serem enviados ao conflito. As tropas eram
basicamente de Afrodescendentes, mestiços, pardos e brancos pobres que não
tinham acesso e possibilidade de emprego em outras instituições.
O Museu Paranaense possui no seu acervo 58 fotografias do Movimento do
Contestado, analisando detalhadamente essas imagens observamos uma presença
significativa de Afrodescendente, de ambos os lados envolvidos no conflito. Podemos
perguntar: porque nas analise históricas do Contestado a questão negra é pouco
explorada? Seria somente por preconceito ou por associar o caboclo (negros em sua
maioria) e ou mestiços no papel de fanáticos? E silêncio sobre a participação dos
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negros nas tropas e oficiais que combateram ao lado das forças oficiais? Essas
perguntas ainda se encontram sem uma resposta qualitativa merecendo um
aprofundamento da pesquisa permitindo responder as dúvidas. Desta forma teremos
pesquisas consistentes sobre a problemática aqui levantada a partir da leitura do
acervo de fotografias do Museu Paranaense.
Na pesquisa do acervo optamos por iniciar pela temática do Movimento
Contestado, formado por fotos, documentos escritos como (jornais, relatórios, livros e
outros), pinturas. Como o objetivo de dar visibilidade as conquistas desse grupo social
durante a Guerra do Contestado, observamos a Figura 3
Figura 3: Militares da Farmácia e Hospital de Sangue das Tropas em
Operações1914-15
Fonte: Museu Paranaense
Na Figura 3, observamos que a linha de comando sentada na foto a presença
de um negro e entre os soldados que trabalham como auxiliares a mais alguns
membros, em uma proporção menor que notamos nas tropas.
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Importante ressaltar que não era normal a presença significativa de negros em
postos elevados da hierarquia das instituições públicas e privadas, por razões
históricas, como o Exército brasileiro foi a primeira instituição a absorver os negros
como explica Santos (2014, p. 102) “A participação na guerra do Paraguai causou ao
homem negro a possibilidade de ser livre através das forças armadas, tendo em vista
a promessa de serem libertos ao voltarem para o Brasil, o que anteriormente nas lutas
da independência não havia acontecido."
Quarenta anos depois, as forças armadas transformaram-se numa das alternativas de libertação para muitos escravos durante a guerra do Paraguai. (1864-1870). [...] O governo comprou por 1 conto e 200 mil réis cada, a alforria de muitos escravos enviados para servir na guerra. [...] muitos cativos se engajaram nas tropas sem autorização de seus senhores na esperança de conseguirem a liberdade se retornassem vivos do conflito. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 153).
Figura 4: Tropa do Exército em União da Vitória
Fonte: Museu Paranaense
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Figura 5: Exército na “Região dos Fanáticos”
Fonte: Museu Paranaense
Nas figuras 4 e 5, fica mais evidente a participação dos negros nas forças
oficiais, que faz reforçar a necessidade de pesquisas que permitam responder lacunas
aqui nesse artigo já enunciadas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo teve a intenção de revelar a nova abordagem que o Museu Paranaense
pretende adotar para analisar o acervo identificando a presença da comunidade
Afrodescendente para a o desenvolvimento do Estado do Paraná, reconhecendo o a
história da Escravidão mas valorizando a participação dos Negros em outros espaços
para além da escravidão que permitiu avanças em muitas áreas relevantes da
sociedade paranaense, contribuindo para ressignificar suas exposições com um olhar
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de valorização da contribuição herdada das comunidades negras que chegaram ao
Paraná e continuam chegando nas imigrações mais recentes do século XX e XXI.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma História do Negro no Brasil. Fundação Cultural Palmares 2006. FERNADES, José Carlos. Negra Enedina, a Engenheira. Gazeta do Povo. Curitiba: 28/02/2013.Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/jose-carlos-fernandes/negra-enedina-a-engenheira-11zwmvt8aj8h2nbi9qb61drr2. QUEIROZ, Maria Izaura Pereira. A Participação do Negro Brasileiro em Movimentos Messiânicos e o problema da marginalização. Bielefeld - Alemanha: Universidade de Bielefeld,1970. MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de e SOUZA, Marcilene Garcia de. Invisibilidade, preconceito e violência racial em Curitiba. Sociologia e Política, Curitiba: UFPR, n.13, Nov. 1999. MUSEU PARANAENSE. Caixa 01 Contestado: Fotografias do Contestado, acervo do setor de História. Curitiba: 2016. SANTOS, Deborah Silva. Museus e Africanidades. Museologia e Interdisciplinaridade. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Brasília: UNB, 2015. Disponível em http://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/viewFile/14973/10736. SANTOS, Orlando Bispo dos. Alistamento de escravos negros no Exército Brasileiro: Guerra do Paraguai 1864-1870. III Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades. Salvador: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014, n.3, v. 9, p. 96-108. ZUBARAN, Maria Angélica e MACHADO, Lisandra Maria Rodrigues. O que se expõe o que se ensina: Representações dos negros nos museus do Rio Grande do Sul. Momento: Diálogos em Educação, Rio Grande: FURG, v. 22, n. 1, p. 91-122, jan./jun. 2013.