a reflexao para aqualificacao do ecoturismo no...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA FACULDADE DE CIENCIAS EXATAS E TECNOL6GICAS CURSO DE P6S-GRADUACAo EM GESTAO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA UMA PROPOSTA A REFLEXAo PARA A QUALIFICACAO DO ECOTURISMO NO MUNiCiPIO DE MORRETES E ESTRADA DA GRACIOSA CURITIBA 2000

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANAFACULDADE DE CIENCIAS EXATAS E TECNOL6GICAS

CURSO DE P6S-GRADUACAo EM GESTAO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA

UMA PROPOSTA A REFLEXAo PARA A QUALIFICACAO DOECOTURISMO NO MUNiCiPIO DE MORRETES E ESTRADA DA GRACIOSA

CURITIBA2000

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ANA MARIA RICETTI BONAT

UMA PROPOSTA A REFLExAo PARA A QUALIFICACAo DOECOTURISMO NO MUNiCiPIO DE MORRETES E ESTRADA DA GRACIOSA

Monografia de Conciusao de Curso deP6s-gradua~o em Gestao Ambiental eQualidade de Vida, apresentada ifFaculdade de Ciencias Exatas eTecnologicas da Universidade Tuiuti doParana, sob a orientar;ao do ProfessorWaldomiro Lourengo Nachomik

CURITIBA2000

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"Um Homem que descobre comoe linda a Mala AtlIintica, comose produz papel, como se reciclao lixo, como se visitaeducadamente uma praiavirgem, e um Homem integradoil natureza, aprendentio a amti-la, usufrui-la sem rumo,delicadamente e para sempre."(Beatrlz Borges - Ecologista e Jornalista)

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AGRADECIMENTOS

A Universidade Tuiuti do Parana, local onde pudedesenvolver, aprender e jinalizar 0 Curso de Pos-Graduarlio em GestlioAmbiental Qualidade de Vula.

Ao Professor Gilberto Gnoato, pew grandecolabora!;1ioeparticipa!;1iodireta na fase de pesquisa,oportonizando tambem a participa!;lio junto aostrabalhos acatMmicos da Universidade Tuiuti doParana, em campo.

Ao Professor e Orientador Valdomiro Louren!;oNachornik, pew conjian!;a e disponibiliza!;1io noprocesso de orienta!;1io para a jinaliza!;lio domonograjia, possibilitando a continuidade doprocesso junto ao Mestrado.

A equipe acndemica do Curso de Turismo, daUniversidnde Tuiuti do Parana que, durante 0 ano de1998/99, oportonizau atroves de eventos a pesquisa decampo utilizada nesta monograjia.

Ao Coordenador de Curso, Professor Arion Zandonti,que possibilitou para 0 grupo umo equipemUltidisciplinarpara a Pos-Grndua!;lio,valorizando aqualidade da equipe de alunos durante 0 curso.

Ao mea marido e minha jilha que, com carinho eamor, tiveram pacrencia para 0 termino deste Curso,que, juntos, incentivaram-me e colaboraram com 0meu crescimento.

A Professora e Coordenadora Neusa Carmem, daCurso de Turismo da Universidade Tuiuti do Parana,que muito contribuiu, oferecendo bibliograjias etrabalho de campo para pesquisa.

As colaborndoras Marcia Regina dos Santos eRosane Nunes de Deus, pe1adigito!;1ioepelas mcasde apresentJlfiio deste trabalho e aos demais colegasque se envolveram na realiza!;liodesta monograjia.

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SUMARIO

AGRADECIMENTOS..... iv

APRESENTACAo... vi

INTRODUCAo....... 01

1 MORRETES: CULTURA E DESENVOLVIMENTO ECOTURisTICO..... . . 04

1.1 Sintese Historica..... .. 06

1.2lmagem Atual X Memoria: Reflexoes.... . 07

2 A ESTRADA DA GRACIOSA: UMA ODISSEIA ATRAVES DOS TEMPOS 10

3 AREA ESPECIAL DE INTERESSE E POTENCIAL TURisTICO, PAISAGENSNOTAvEls... 14

4 METODOLOGIA DA PESQUISA... . . 17

4.1 Uma contribuiliao acadi!mica: PesquisalAliao ...................... 18

5 ECOTURISMO: ASPECTOS CONCEITUAlS, EDUCATIVOS E REFLEXOES... 20

5.1 Turlsmo Ecologico e Meio Ambiente ... . 22

6 GLOBALIZACAo: OS IMPACTOSDOPROGRESSOE DA INDUSTRlALIZACAOSOBREA ATIVIDADETURisTICA... . 25

7 UNIDADES DE CONSERVACAo AMBIENTAL (UCs) E ECOTURISMO....... .. 28

8 CONCEITO: AMBIENTE E SISTEMA.

8.1 Ecossistema ...

... 32

.33

9 PROTECAO AMBIENTAL: A CAMINHO DA QUALIFICACAo ...

9.1 0 Homem e a Conservaliao Ambiental.

..34

. 36

CONSIDERACOES FINAlS.... . 37

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . ... 39

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APRESENTACAO

o presente documento pretende ser uma proposta de pesquisa, para uma

analise e reflexao sobre 0 impacto s6cio-cultural do Ecoturismo na regiao da Area

Especial de Interesse Turistico (A.E.I.T.) do Marumbi, preferencialmente, Estrada da

Graciosa e Municipio de Morretes.

Tendo em vista a complexidade do assunto, buscou-se trazer observa¢es,

experiencias e publica¢es que constatam a necessidade de urn melhor

gerenciamento dos possfveis impactos na referida area. Tais impactos, do turismo

sobre 0 ambiente, mais especialmente 0 Ecoturismo, revela 0 turismo enquanto

instrumento de apropriaqao, usc, conservaqao ou degradaqao do ambiente.

Sempre que empregar 0 termo AMBIENTE, observa-se que he a

preocupaqao de adjetivaqao - ambiente natural, ambiente social, ambiente

transformado, ambiente ocupado. Apesar dos diversos conceitos veiculados,

explfcita ou implicitamente, na midia enos trabalhos acadBmicos, 0 vocabulo

Ambiente tern sido cada vez mais evocado com 0 significado totalizante,

compreendendo a interaqao das insti'mcias natural e social materializadas no

espa"".

Considerando que 0 conceito de ecoturismo e bastante controverso, uma

vez que expressa interesses muito diversificados, edificados sobre distintas

concep¢es das rela¢es sociedade X natureza que vlio desde 0 biocentrismo ate 0

ecodesenvolvimento, tal conceito pode demonstrar concretamente uma relaqao

harmoniosa entre 0 homem e a natureza, a partir de uma vislio pragmatica.

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Nilo se pode exigir das pessoas que elas tenham uma rela~o com a

natureza, sem efetuar uma mudan~ de racionalidade completa, mas, de forma

geral, a cultura predominante e a de urns rela~o com a natureza que vern de uma

cultura holistica, humanista e integrsdora. 0 ecoturismo, portanto, e urn instrumento

de consciencia e educa~o ambienta!.

No Municipio de Morrestes e Estrada da Graciosa, encontramos no

ecoturismo urn novo produto turistico de real potencial econbmico-social e seu

desenvolvimento propicia a divulga~o de urn patrimbnio ambients\.

Melhorar a qualidade de vida da comunidade, e antes de tudo preocupar-se

com a manuten~o do seu patnmonio ambientsl como urn legado cultural,

apontando para 0 desenvolvimento. Trata-se de fazer com que os tunstas nacionais

e intemacionais usufruam dos novos ecossistemas, sem que os prejudique.

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INTROOUCAO

As vesperas do seculo XXI, a humanidade passa a compreender que sua

superioridade frente a natureza e relativa. Apesar de toda a instrumentaliza9ao

politica que cerca a questao, e inegavel 0 avanyo e a ampliayao da consciencia

ecologica.

E como se, enfim, compreendessemos que nosso poder sobre a natureza tern

urn limite e que esse limite e a propria sobrevivencia. Meio ambiente e

desenvolvimento, que ia percorreram rotas tao contrastantes, encontraram agora

neste final de seculo, urn ponto ideal de convergencia.

E cada vez mais claro, do urn ponto de vista logico, 0 absurdo da explorayao

inadequada dos recursos naturais. A superayao dessa questao podera garantir as

gerac;6es futuras que 0 atendimento de suas necessidedes nao tera sido

comprometido pelas nossas.

Ha muitos anos vern existindo uma pratica ambiental sadia por parte dos

governos e empresas sensiveis a problematica ambiental, que concedem, inclusive,

financiamentos a proietos de controle ambientai. Trabalha-se hoie a noyao de

responsabilidade economica pela proteyao a natureza.

Inclusive, grandes agencias de longo prazo - como 0 BNDES', 0 Banco

Mundial e 0 Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, ia incluiram como

uma de suas prioridades nos planas estrategicos, a discussao do conceito de

desenvolvimento sustentavel.

1 Banco Nacional de Desenvolvimento Social.

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Assim, 0 presente trabalho tem como objetivo socializar algumas reflex6es

realizadas, orientadas pela analise da importancia da educa9iio Ambiental para a

atividade Ecoturismo e como forma de melhor conhecer, divulgar e preservar 0

patrimonio hist6rico, cultural e natural.

Alem disso, pretende-se trazer algum referencial sobre a pratica do turismo e

seus vinculos com a questao do desenvolvimento local, bem como os conflitos

gerados com as comunidades envolvidas diretamente com esse tipo de atividade,

principalmente no que tange ao manejo das areas naturais protegidas.

o proposito desle Irabalho e, especificamenle, uma proposla de refiexao

sabre as rela¢es e processos ecoturfsticos,no cotidiano dos turistas com a

comunidade local, enfalizando 0 Municipio de Morretes e a Estrada da Graciosa.

Portanto, justifica-se a neeessidade de um projeto de qualidade de vida,

visando as unidades de conserva9iio e seu meio de sobrevivimcia, descobrindo

como um processo de urbaniza9iio e consciencia ecologica (educa9iio ambienlal)

trana beneficios a estes individuos, assim como, reconhecendo nele a sua visao de

qualidade de vida, se e uma realidade ja conhecida pela sociedade ou se e limitada.

Em determinadas regi6es brasileiras, 0 Ecolurismo esta mais para "turismo",

que para "Eco", realidade esla que e vista no Municipio de Morreles e nas

proximidades da Estrada da Graciosa, considerados polo turistico que reeebe em

media 80% da sua populaglio visitante jovem, faltando-Ihes a conscienliza9iio

ecologica, respeito com a natureza e visao de futuro, para que possa ser chamado

de um turismo eco/16gico.

Pois, nao somente 0 lixo da cidade (urbana) e levado para esla regiao, como

a poluiglio sonora, sujeira nos rios, a depreda9iio das arvores, um impacto

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ambienlal negativo, ou seja, uma popula~o usuaria que participa de a¢es

modificadorasdomeioambiente.

Dai a necessidadede se pesquisar e questionar os pros e contras do

Turismo Ecologico, sua pratica e participa~o popular no manejo de areas

protegidas.

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1 MORRETES: CUL TURA E DESENVOLVlMENTO ECOTURisTICO

o turismo no Brasil e uma atividade que apresenta urn grande crescimento

nas ultimas decadas e tern se mostrado como interessante alternativa economica

para as regioes onde estao concentradas areas naturais, valorizadas, ou nao, por

ricos patrimonios historico-culturais, caracterizando 0 chamado turismo ambiental,

au tambem, ecoturismo.

No Parana, 0 turismo ja e uma atividade consolidada e um dos seus trajetos

classicos e a viagem ao litoral, seja pela estrada de lerro, Curitiba-Morretes-

Paranagua, considerada por engenheiros do mundo inteiro como uma obra-prima,

seja pela Estrada da Graciosa, construida durante 0 Imperio e urbanizada por Airton

Cornelsen, na decada de 1950, levando, necessariamente, 0 turista a Morretes.

A pequena cidade de Morretes, com cerca de 20.000 habitantes e 263 anos

de tradigao, tern solrido nos ultimos dez anos, uma for~ de impacto socio-cultural

(destruidorlnegativo), sendo que, nesta uttima decada foi "descoberta" palos

turistas, como uma regiao de lazer ecologico e gastron6mico. 0 numero de

visitantes cresceu assustadoramentena comunidade e, com ales, surgiu uma

especie de processo de aculturayiio e Iragmenta9ao da cultura morretense.

A bela cidade historica, encravada aos pes da serra do mar, ao inves de

sotrer com as limita¢es da nova legislagao ambiental, va na possibilidade de

implementagao do Ecoturismo, 0 caminho da recuperagao econ6mica para os

proximos anos.

Alem da beleza deslumbrante da paisagem da serra, a exploragao turistica e

desportiva do pico do Marumbi, das corredeiras do rio Nhundiaquara, das Irilhas e

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caminhos coloniais em meio a mata, com seus reeantos repletos de easeatas, tem

uma forte potencialidade de alrair adeptos dos esportes como montanhismo e

eanoagem, incluindo eampistas e amantes da natureza em geral.

Por outro lado, a beleza do casaril colonial de Morretes, relativamente bem

preservado, ao lade dos monumentos historicos e religiosos, atrai uma outra parcela

de turistas em busca do pitoresco e da diferenya cultural.

o Ecoturismo em Morretes ja esta provocando um grande incremento das

pousadas - no geral integradas com 0 meio ambiente - alem de campings e

atividades como Mia-cross'- Alias, em Porto de Cima, vilarejo vizinho ao P9 da

serra, ha um projelo de constru"ao de um grande hotel ambiental. Ha, ainda, outro

projeto que preve a construgeo de 20 a 30 chales, entre Morreles e Porto de Cima.

A Prefeitura jil. montou a estrutura de Um8 escola para formar monitores em

Ecoturismo e a Secrelaria de Turismo e Meio Ambiente desenvolveu uma cartilha

para estudantes, 0 'Quarito', abreviatura de Nhundiaquarito, um personagem do

famoso rio que banha a cidade.

Neo h8 duvidas que 0 turismo convencional impulsionou, em Morretes, 0

desenvolvimento de uma forte gastronomia, que conta com, al9m do barreado,

peixes e frutos do mar. Seus 21 restaurantes (alguns com gar90ns bilingiles), sao

capazes de atender, num s6 domingo, cerca de cinco mil pessoas. 0 desafio esta

em trabalhar os atrativos, diga-se de passagem, que nao sao poucos.

Morretes, alias, e privilegiada quanto aos atrativos ambientais, pois, dos seus

681 quilbmetros quadrados, que se espraiam da planicie litoranea ale as bordas da

2 Atividade recreativa que CQIl5iste em descer a correnteza do RiQ Nbundiaquara em ooias de bonacha,alugadas no local, sendo urn atrativo turistioo de grande interesse, praticado pela maioria dos visitantes.

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regiao metropolitana de Curiliba, 60%, ou saja, 420 quilometros quadrados, sao

ocupados por sais unidades de conserval;iio. 0 que resta e, de certo modo,

protegido (0 que nao significa inacessivel aos turistas): as matas ciliares dos mais

de 10 rios do municipio; os banhados; os vastos manguezais - particularmente na

foz do rio Nhundiaquara; os morros com declive acima de 45 graus, sao areas de

preservagao permanente e em potencial para 0 desenvolvimenlo do Ecoturismo.

Observa-se que, apasar das suas potencialidades, a atividade turistica nao

tem vindo acompanhada de um planejamento adequado, nem propicia espa9(l para

a participagao da populagao local, nem lampouco 0 entrosamenlo entre os varios

segmenlos sociais envolvidos.

o contexte s6cio-cullural morretense esta fragmentado por um corte p6s-

modemo que divide, de um lado, a geragao dos 40 anos para cima e, de outro, a

geragao dos 40 anos para baixo. Entre ambas, uma distancia incomensuravel

demarca a diferenga cultural destes dais mundos. Os jovens morretenses eslao sob

o efeito do efastamento da midia e da cultura de massa, enquanto que os mais

velhos, eslao sob 0 efeito da vizinhanga, do barreado e da Iradigao.

1.1 Sintese Hist6rica

A fundagao de Morretes data de 1721, quando 0 Ouvidor Rafael Pires

Pardinho determinou que a Camara Municipal de Paranagua demarcasse 300

bral'as em quadra no local onde seria a futura povoa9aO de Morreles, para, em 31

de outubro de 1733 a mesma Camara determinar a demarcagao das terras.

o primeiro morador da regiao foi 0 senOOrJoao de Almeida, em meados do

seculo XVIII mudou-se para 0 povoado de Morreles, 0 Capita~ Antonio Rodrigues

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de Carvalho e sua mulher, dona Maria Gomes Setubal, construindo ali uma f:f

sob a invoca,.ao de Nossa Senhora do Porto e Menino Deus dos Tras Morretes.

Pela Lei Provincial nO16, de 01 de marc;ode 1841, fai elevada a categoria de

Municipio, sendo desmembrado do de Antonina e instalado solenemente a 05 de

julho de 1841. A 24 de maio de 1869, pela Lei Provincial n° 188, passou a

denominar-se Nhundiaquara e reeebe os foros de Cidade, mas em 07 de abril de

1870, pela Lei n° 227, voltou a denominar-se Morretes.

1.2lmagem Atual X Memoria: Reflexoes

A expressao "para ingles ver", retrata 0 fato de uma sociedade agir em fun,.ao

apenas do olhar desejante da outra sociedade. Esta regra aplica-se ao artesanato

morretense, par exemplo, que nao e mais valorizado e sua produ,.ao e feita fora do

seu contexto cultural, para agradar os olhos do turisla consumidor.

Atras desta superficial descri,.ao, esconde-se tamMm um interesse mais

velado que a 0 fato de alguns morretenses terem encontrado nesta distor,.ao

cultural, uma fonte de renda para seu proprio consumo, na medida que 0 municipio

empobrece.

Hoje, Morretes a aquilo que 0 olhar do turista enxerga. Nossa cultura tornou-

se "coisa" para inglss ver". A Festa-feira, transformou-se em uma amostra de

artefatos semi-regionais, pois ela nao mais representa a idaia de qualidade e

valoriza,.ao da cultura morretense.

o barreado a servido com "n-utos do mar", vindo da Argentina. No saculo

passado, 0 historiador Rocha Pombo dizia que havia eerca de 60 alambiques em

Morreles. Hoje, a cachaya e de qualidade inferior, misturada com essencias

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induslrializadas e vendida como sendo artesanal. Morretes perdeu seus poetas,

quase esquecidos pelo tecnopop musical. Perdeu a rua como espavo do "burico"

das "amarelinhas" e ganhou 0 asfalto, 0 roiler e 0 pichador. Morretes esta perdendo

a sua mem6ria e a cuftura se transformou em produ9&o de massa, gerada pela

midia eletronica da televisao e pelos programas de radio feitos por politicos que

apenas sabem falar de homicidio.

A "morte" da cultura morretense representa 0 tim da sua propria sociedade.

o rio Nhundiaquara e poluido nao s6 pela gastronomia desenfreada, que

despeja nele a resultado dos seus lueros, mas por uma polui9&o ainda maior, que

esla nos olhos de quem ainda va a Nhundiaquara de hoje como se fosse a mesmo

de dez anos atras.

Novas institui¢es entram em Morretes, em nome da amizade, outras em

nome da filantropia e algumas ate em nome da perfei9ao. Contudo, estes conceitos

distantes, nem sempre representam a liga9&o da fragmentada rede de significados

comuns que resta para Morretes, como a culinaria, as ervas medicinais, as festas

religiosas, 0 artesanato, a cacha<;a,a poesia, a historia, as datas civicas, as

apelidos, os ditados populares, 0 fandango, as brincadeiras de erian98, as contos,

as jogos de rua, 0 folclore e outros. Eo preciso valorizar tudo isso para que a

identidade cultural possa remontar a identidade individual de cada morretense.

Alinal, "somas a que somos porque a cullura nos fez assim e nilo porque

escolhemos 0 nosso destino cultural'a. Contudo, e possivel conciliar 0

desenvolvimento com a qualidade de vida dos morretenses, sem com isto

3 LIPOVETSKY, G,.A Era do Vazio, Sao Paulo: Antropos, 1983.

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estabelecer uma politica progressista, que ponha em risco a identidade cultural

local.

Se todos os morretenses abandonam seus costumes porque a "novela" vem

substitui-Ios, entao, teremos perdido a identidade para transformar em "coisa para

ingl"s ver", Mas, ao contrario, se houver para 0 morretense um processo de

conscientizagiio capaz de abstrair do progresso, apenas 0 que favorece a

comunidade, seus valores, seus costumes, sua tradigiio, historia e identidade,

certamente este resgate traria beneficios junto ao advento do Ecoturismo,

Para melhor entendermos 0 processo, nos grandes centros urbanos, M um

abismo entre 0 cidadao e sua cidade. Nao existe uma identificagiio entre a

fisionomia da cidade e a "cara" dos seus moradores, Assim sendo, e a cultura que

da fisionomia a cidade e quando citamos cultura, referimo-nos aos jogos, contos,

apelidos, historia, tradigiio, valores e nao apenas a ideia equivocada que algumas

pessoas tem de que a cultura e s6 sinonimo de conhecimento cienlifico e de

erudigiio, A cultura faz 0 individuo sentir-se parte de sua cidade, porque ambos sao

parecendo,

Portanto, 0 individuo tem a nogiio de identidade por pertencer

verdadeiramente, sente-se parte do lugar onde mora,

Contexlualizando um exemplo: quem da a nogiio de identidade a uma crian~a

sao os pais, Os filhos precisam sentir-se pertencentes aos pais para se sentirem

como filhos, Numa amplitude maior, a habitante de uma cidade reconhece os seus

"pais" quando a cidade tem uma identidade cultural suficiente para representa-Io

como filho, Assim, se sua cultura esta fragmentada, seus filhos e seus habitantes se

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lO

tomarao fracos e despersonalizados. Pois, a "Cultura e um mapa, um guia de

orienta~o para a vida social"'-

2 A ESTRADA DA GRACIOSA: UMA ODISSEIA ATRAVES DOS TEMPOS

Assim como 0 Municipio de Morretes, a Estrada da Graciosa sofre

modifica¢es advindas do turismo ecologico, tais como: depreda~o, lixo, polui~o

sonora e visual, impacto negativo.

Tanto Morretes quanto a Estrada da Graciosa, fazem parte de um rico

conglomerado ambiental, chamado de Area Especial de Interesse Turistico do

Marumbi, que apresenta uma impressionante e sofisticada geografia com

exuberancia da flora e da fauna ocorrentes na mesma.

Nao conhecemos em toda a America nenhuma estrada que rivalizasse a da

Graciosa em lutas e sofrimentos para a sua sobrevivenci8.

Gabriel de Lara, presumivelmente em 1646, abre a caminho, a partir do rio da

Graciosa, ate a Arraial Queimada. Abandona-o antes de 1653, au pauco antes, em

beneficio do caminho do Itupava.

Depois de setenta anos, em 1721, 0 Ouvidor Rafael Pires Pardinho tira-o do

ouvido e recomenda a sua abertura. Mais tarde, no ano de 1738, 0 Ouvidor Manoel

dos Santos Lobato executa a determina~o de Gomes Freire de Andrade abrindo-o

desde a Borda do Campo ate 0 porto de Antonina. Aquela via teve efemera vida,

4 Anota!J3es _ Aulas de Antropologia e Psicologia Social - para complemento da Educayiio Ambiental

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11

mantendo-se em atividade ate 0 afastamento daquele ouvidor, da comarca de

Paranagua.

o trecho, no Htoral, teve pouca dura9ll0 em face de abertura de outro

caminho, por Manoel Jose Ferreira que, de Sao Joao, rumava para a Freguesia do

Pilar. Esta via serviu precariamente aos maradores de seus arredores ate 0 seu

fechamento completo.

No ano de 1782, 0 contratador de canoas do Cubatiio conseguiu da Junta

Real de Sao Paulo 0 tapamento dos caminhos da Graciosa e dos Campos dos

Ambr6sios, cujo tapamento perdurou ate 1807. Nesse meio tempo, diversos fatos

importantes ocorreram.

Em 1797, a Freguesia do Pilar fai elevada ao predicamento de Vila Antonina.

Em marc;ode 1798 a Camara da nova Vila recebeu instruyiies para examinar a

antiga trilha da Graciosa a fim de serem transportados pinheiros do Taquara 1e do

Canguiri para maestra9ll0 de navios. Oeu ela inicio ao trabalho, no que foram

auxiliados pelo Capitao-mor de Curitiba, Or. Louren90 Ribeiro de Andrade.

Ja no mes seguinte, 0 trabalho foi observado pelo Ouvidor de Paranagua,

Manoel Lopes Branco e Silva, que ordenou 0 tampamento da Estrada, por

solicita9ll0 do Tenente Coronel Manoel Gon931ves Guimaraes, contratador de

canoas.

Logo a seguir, foi ele aberto por Joaquim Jose Xavier de Toledo, por ordem

do Coronel Luiz Antonio Neves de Carvalho, para a retirada dos pinheiros pelo

porto de Curitibaiba. Findada esta larefa, fai 0 caminho novamente fechado. Oepois

disto, a Camara de Antonina tentava, por todos os meios, reabri-lo.

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12

Em 1807, par autorizagiio do General Antonio Jose de Fran<;ae Horta, que

deixou a govemo de Sao Paulo, foi a caminho novamente fechado, iniciando-se

uma faslidiosa implica<;:aode Paranagua e Morretes contra os capelistas, no sentido

de embargar 0 transito de mercadorias para 0 Porto de Antonina. Esta contenda

durou cerca de treze anos.

Em julho de 1820, D. Joao VI determina em carta regia a reabertura do

caminho. No entanto, continuavam as implica¢es junto a Camara, tanto assim, que

ate 0 termino do ano ja tinha sido "nulificada aquela carta".

Tres anos depois, a Portaria n° 19 de 1823 colocou tacitamente a Graciosa

fora das cogita<;:6esdo Governo Provincial. Nessa ocasi:'lo, 0 ouvidor Jose Carlos

de Almeida Torres interferiu junto as Camaras de Curitiba, Antonina e Paranagua,

no sentido de encontrar solugiio aquela pelenga.

A Camara de Antonina, nao suportando a pressao politica de suas

contendoras, renunciou as pretensoes da manuten<;:;'iodo caminho da Graciosa,

concordando na abertura de Dutro que a ligasse diretamente com 0 do ltupava, no

Porto de Cima.

Foi ilusoria a solugiio dada por Almeida Torres, pois Paranagua e Morretes

continuaram a insistir no fechamento do trecho entre Porto de Cima e Figueira de

Bra<;:o,a fim de forcar os viajantes e tropeiros que se destinassem a Antonina a

passar, obrigatoriamente, por Morretes para, depois, seguirem seu destino.

o governo do ano de 1830 determinou nova dire<;:aoda Estrada da Graciosa.

Deveria ela ser refeita pelo rio Mae Catira ate 0 atto de serra, dai em diante,

continuar para a Vila de Castro, deixando Curitiba ao sui, fora de seu trajeto.

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o govemador de Sao Paulo, 0 Padre Vicente Pires da Mota, manda

a Graciosa em novo rumo a partir de Curitiba, diretamente para 0 alto da serra, e

dar em diante, pelo caminho de Mae Gatira, Figueira de BraY" ate Antonina.

Foram encarregados do tra<;adoManoel Vicente Rodrigues Borba e Bento

Alves de Araujo. 0 caminho teve seus trabalhos iniciados em 1849 e, por ele,

"ultimamente ja desceram carras e transitaram muitas tropes carregadas", nas

palavras de Pires da Mota.

Assim sendo, nao perara a oposiyao dos moradores de Morretes que

conseguiram refrear a entusiasmo do govemador.

Unicamente depois da emancipa9ao da provIncia, foi posslvel a reabertura

definitiva da eslrada planejada, cuja conslruyao ultimou-se pelo engenheiro militar

Antonio Moreira Tourinho, em 1872, na goveman<;a do Dr. Venancio Jose de

Oliveira lisboa.

Segundo um dos engenheiros responsaveis pela construyilo da Estrada da

Graciosa, hi! inlorma¢es que permitem atribuir ao Caminho da Graciosa a primazia

na ligayilo entre 0 litoral e a primeiro pianalto paranaense.

Sua imporlancia hist6rica e inegavel, ele foi gerador de um grande episOdio

chamado pelos historiadores de "Guerra do Caminho", uma disputa de quase cem

anos entre as nucleos litoraneos de Antonina, Morretes e ParanaguEt.

Assim, embora remonte aos primeiros tempos do povoamento lusitano nas

terras do atual estado do Parana, e tendo sua necessidade sido destacada nos

Relat6rios de Presidentes da provincia desde 1854, a Estrada da Graciosa s6 foi

inaugurada em 1873.

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Construida para seNir a veiculos hipomovais, a Estrada da Graciasa viu

passar sabre a seu leilo carroc;6escarregados de erva-male, modernos caminhOes

carregados de madeira, cafe, combustivelliquido etc., ate que, substitufda pela BR-

277, foi transformada em uma verdadeira Rodovia de lazer.

Entretanto, as preacupa~oes com agressOes a este ambiente natural, nao

sao recentes, e com elas surgiram os primeiros alertas sabre 0 risco polencial de

desequiHbrio que apresenla.

o fato da Area Especial de Interesse Turistico do Marumbi localizar-se

proximo ao maior adensamento populacional do Estado, veio a for~r a necessidade

de ado.,ao de medidas, par parte do poder publico Estadual, que possibilitassem a

pratica de atividades recreativas, desportivas e de lazer, bern como sua utiliza.,ao,

em alguns casos, para 0 desenvolvimenlo de atividades economicas.

3 A.REA ESPECIAL DE INTERESSE E POTENCIAL TURiSTICO, PAISAGENSNOTA.VEIS

Julgamos necessario, em urn primeiro momento, examinar 0 que a expressao

"recursos paisagislicos" cobre, em termos gerais e depois, especificamente, em

rela.,ao a A.E.1.T. do Marumbi5. Urn temlorio e formado de um numera infinito de

paisagens parcialmente superpostas. Destacar deste conjunto certas parcelas,

certas "paisagens nolavais", podera constituir uma medida funcional correta, com

vistas a delerminadas finalidades, sendo que a paisagem, entrelanto, permanecera

sempre indivisa e continua.

;;.~ Especial de Interesse TuristiCQ do Marumbi.

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Recursos paisagisticos podem ser considarados, nasse sentido, "aquala

paisagens qua, devido as caracteristicas especifiC8s da ordam estetica, cientifica ou

hist6rica, constituam bens culturais da humanidada". Tais recursos, podam ser

considerados inasgotaveis, pais, sua correia ulilizalillo nao implica em

transforma"oes que possam por em risco sua qualidade basica. Entretanto,

interferencias indesejaveis podem fazer com que os mesmos deixem de sar

recursos, isto e, que suas qualidades se degradem au mesma sa percam

completamente.

Nessa sentido, podemos exemplificar assas afirma¢es, com a siluaCiio de

desmatamanto impiedoso, qua poderia aliminar da paisagam uma vegeta9iio de

grande belaza plastica, pondo em risco a existencia dessa recurso natural.

Nesla Area Especial de Interesse Turistico, embora a aeao do homem se face

sentir, e quase sempre conflitanle com a natureza, M ainda uma extensao razoavel

de paisagens naturais de grande beleza. A vegeta9iio tipica da area,

especificamente, da Eslrada da Graciosa e Morretes, de volume, texturas e

coloracoes diferentes; a sua rela9iio visual com as forma"oes geomorfol6gicas do

entorno; a rilmo das rola"oes de flora9iio; a porte das aNOreSassoeiada a riqueza e

exuberancia des epifilas; a fei9iio tipica das monlanhas; os diversos enclaves

paisagislicos contrastantes com a padrao regional; a visao longinqua de regiao

litorfmea; constituem um imenso recurso paisagistico.

Denlro das disposi"oes preliminares do Decreta 5.308, que regulamenta e

disciplina, a contrale e ocupagao do solo naquela area, temos a proposigao que

considera 0 meio ambienle como patrimonio publico, onde devers ser equilibrado a

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aspecto da preserva~o eco\ogica com "0 usa comum peto pav~, possibifitando a

fodos os cidadaos 0 contato com a natureza"

Assim sendo, devemos considerar variavel importante na defini~o da area ja

citada, 0 aspecto de demanda que os habitantes, sobretudo na regiao Metropolitana

de Curiliba, lem e terao a niveis cada vez mais alios, de locais de recrea~o e de

lazer. Nessa variavel, nao devemos esquecer, alem do crescimenlo de popula~o

urbana, com poucas possibilidade de contatos com a Natureza, tambem, 0

constante acn9scimo de tempo destinado a lazer. Assim como ja explicou urn

importante sociologo, "0 tempo (para lazer) e oulorgado ao individuo pela

sociedade, quando esle se desempenhou, segundo as normas sociais do momento,

de suas obrigay6es profissionais, familiares, socio-polilicas e socio-espiriluais. Eo

urn tempa em que a redU9aOda dura~o de Irabalho e das obrigay6es familiares, a

regressao das obrigayOes socio-politicas tornam disponivel, 0 individuo se liberta a

seu goslo da fadiga, descansando do IMio, divertindo-se, da especialidade

funcional desenvolvendo de maneira interessada as capacidades de seu corpo ou

de se espirito"'.

Consideradas apenas essas duas variaveis: crescimenlo demogratico e

aumento de tempo para lazer, ia e possivel aferir a pressao que sofrera a Area

Especial de Interesse Turistico do Marumbi como local de recrea~o e lazer de

maSS8.

6 Anota~s em sa1a de aula - Gestio Metodo16gica.

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4 METODOLOGIA DA PESQUISA

E importante salientar como pressuposto metodologico, a pesquisaiaV'lo,

atravas da bibliografia existente no local e da observa,ao com forte potencial

empirico.

A presente pesquisa a em parte 0 resultado das observa,oes e constatagOes

extraidas ao longo dos ultimos vinte anos, sobre 0 impacto da transformac;;aosocio-

cullural do municipio de Morretes, bem como 0 seu acesso pela Estrada da

Graciosa, provenientes de relatos de alguns morretenses.

Para tanto, 0 pesquisador valer-se-a de um conhecimento fundamentado em

outras pesquisas e no saber empirico que a comunidade tem sobre a sua propria

cullura. Poram, a fundamental que 0 quadro te6rico seja a "Iuz que clareia 0 metodo"

(do grego: atalho, caminho mais curto). No caso de Morretes e Estrada da Graciosa,

e a Antropologia, Sociologia e Psicologia 0 saber que melhor responde ao

Problema, ja que sao estas ciencias que estudam 0 processo de acultura,ao,

fragmenta,ao cultural, grupos, 0 individuo dentro de um sistema, costumes e

impacto social. E 0 quadro teorico que dare a dire,ao do trabalho e da pesquisa.

Existe uma interaV'lo dinamica entre Sociologia X Educa,ao. A Educac;;ao

Ambiental implica numa transforma,ao social do mundo, visando a estrutura,ao de

novas formas de rela,ao dos homens entre si e deles com a natureza. Nao

podemos dissocia-Ia, pois, a dimensao ambiental; a um fentimeno educativo. 0

fortalecimento da cidadania se faz pela cria,ao de espa90s educativos populares e

de participac;;aosocial.

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4.1 Uma contribui~lio acadilmica: Pesquisa/A~lio

Com 0 objetivo de avallar os componentes da beleza canica das paisagens

no percurso da Estrada da Graciosa, foi realizada neste projeto, uma pesquisa de

campo. No desenho da pesquisa, foi decidido realizar no percurso da Estrada da

Graciosa na Area Especial de Interesse Turistico do Marumbi, uma avaliayao com

sujeitos escolhidos de lonna acidental, entre possiveis usuarios da area para

recreayao e lazer. Foram realizadas cinco viagens, em dias altemados, durante os

meses de novembro e dezembro de 1999, com urn total de noventa e nove sujeitos,

os juizes para a avaliayao, de acordo com as pressupostos dos metodos

estabelecidos por leopold e Fines. Essas metodologias ja testadas foram

adaptadas para as condi<;iiesdo tempo e recursos tecnicos.

Na execUl;iio da pesquisa, foram estabelecidos no roteiro da Estrada da

Graciosa, dentro da area turistica, oito pontos de parada, onde os sujeitos

preenchiam uma ficha de avaliayao. Esse instrumento continha uma listagem de

onze componentes da paisagem, passiveis de serem encontrados na area do

Parque aos quais seriam atribuidos valores de urn a quatro.

A tabulayao dos resultados da pesquisa apresentou os componentes da

paisagem com mais altos escores: montanhas, rios, cascalas, arvores e a paisagem

tomada no total. Na primeira parada do inicio da Estrada, logo ap6s a trevo da BR-

116, caracterizada como uma vista panoriimica, 0 componente a que se atribuiu

maior valor foram as montanhas (63,6%). Na segunda parada, a Recanto

Engenheiro lacerda, tambem aparecem como componente mais valorizado as

montanhas (90,9%). Na terceira parada, 0 Recanto Rio da Caseata, a valor mais

alto foi atribuido a pr6pria Caseata (91,9%). A quarta parada foi no Recanto Grota

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Funda, onde fai valorizada a paisagem no total (78,8%), havendo uma

diversifiea9iio de juizos em rela,ao a outros componentes. A quinta parada foi no

Reeanto Bela Vista onde 0 componente arvores (78,8%) foi preferido par um grande

numero de sujeitos mas tambem apareceu, com indice significativo a componente

montanhas. Esse avalia~ao se repetiu na parada seguinte, 0 Recanto Curva da

Ferradura, com maior indice atribuido as arvares (82,8%). A setima parada para

avalia,ao foi no Recanto Mae Catira, onde, apesar de beleza cimica do rio, 0

componente com maiores indices na avalia,ao foi a arvore. A ultima parada na

Estrada da Graciosa dentro da area do Parqua, foi junto a Ponte Sao Joao, no limite

da Area Especial de Interesse TUristico do Marumbi. Nessa parada, foi 0 rio 0

componente a que os sujeilos atribuiram 0 mais alto indice na avalia9iio (93,9%).

A discussao dos resultados dessa pesquisa evidencia a importiimcia para a

beleza no percurso da Estrada da Graciosa, dos componentes: montanhas, rios e

arvores, islo 13, formas de relevo, drenagem e vegeta,ao.

Na area mapeada como do entomo da Graciosa lemos um equipamenlo de

lazer inslalado em seis reeanlos: Engenheiro lacerda, da Caseata, Grota Funda,

Bela Visla, Curva da Ferradura e Mae Calira. Nesses reeanlos, 0 usuario pode

desfrutar de mobiliario razoavel para sua recrea9iio. A lendencia, com maior fluxo

na Estrada da Graciosa, e a amplia,ao dessas areas de recrea,ao com sacrificio de

seu entorno ecologico. Qualquer obra de amplia~o, como por exemplo, a que se

fez recentemente no reeanlo Mae Calira, easo nao seja bern planejada, ira sacrifiear

a beleza ceniea loeal.

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No enlanlo, consideramos a zona da Estrada da Graciosa como parcela da

Area que deve ser definida como area de potencial tUristico pela sucessao de

paisagens notaveis que contem.

5 ECOTURISMO: ASPECTOS CONCEITUAlS, EDUCATIVOS E REFLEXOES

Fundamentalmente esle trabalho objeliva reativar as redes de significados

culturais comuns da cidade de Morretes, no Estado do Parana, e a sua coligagilo

com outras redes vizinhas do Municipio (Estrada da Graciosa), regiao da Area

Especial de Interesse Turis\ico do Marumbi.

o que 0 Ecoturismo traz para estes individuos e sua perspectiva de agilo?

Poderia esla popula98o reconhecer no Ecoturismo um meio de sobrevivencia

e progresso, equal seria a melhor maneira de desenvolvimento e aculturagilo?

A educagilo ambienlal propoe novas formas de mudanvas em diversos

setores do desenvolvimento tanto economico como do pr6prio individuo.

A politica ambiental, vottada para 0 estabelecimento de parques e reservas

atraves de desapropriagilo, ou mesmo, em terras devolutas, nao estabeleceria uma

contradigilo direta com 0 setor produtivo sendo, portanto, mais lolerada.

A sistematizagilo do processo de preservagilo ambiental dos ecossistemas

brasileiros, a excegilo de alguns poucos parques anteriormente estabelecidos, deu-

se na primeira fase da instituciona!izacao dos orgaos federais, portanto, em plena

regime de excegilo, cnde a hiperdesenvolvimento imperava na definigilc do

processo nacional de crescimenta.

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Ha necessidade de incentivar praticas de educa~lio

privilegiem uma contextualizar;ao socio·economica e cultural da realidade,

extrapolando a dicotomia entre desenvolvimentolpreservar;ao e buscando uma

abordagem menos pontual e fragmentada.

Com a falta de articula9ao entre as aQiles dos diversos setores do poder

publico, associada it falta de integrar;ao regional e da sociedade civil, e a ausencia

da interinstitucionalidade e interdisciplinaridade, bem como a insuficiencia de

recursos humanos capacitados e financeiros, tem relegado a educar;ao ambiental a

um segundO plano, Portanto, nao 58 vislumbra, a curto prazo, um planejamento

estrategico que contemple 0 verdadeiro papel da educa9iio ambiental, como

ferramenta extremamente litHna implantar;ao, implementa9iio e avalia9ao.

Faz·se importante a implantar;ao de centr~s especializados em educar;ao

ambiental nos estados, com vistas a capacitar;ao de pessaal, criar;ao de meios de

divulgar;ao e produr;ao, conhecimento e disponibilizaqao de bancos de dados.

Com 0 incentivo de financiamento por parte do governo e das instituiQiles

privadas, para desenvolver pesquisas ambientais destinadas a programas estaduais

e municipais de educa9iio ambiental, tornando os processos burocraticos ageis e

eficientes,

Os efeitos do turismo demandam urgencia e seriedade nas pesquisas,

particularmente, nos paises de economia periferica, com praias paradisiacas e

reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimOnio

mundial, tendo em vista sua imporlancia no desenvolvimento com base local, au

seja, voltado para a melharia da qualidade de vida da popular;ao dos lugares e

regioes onde novos projetos se encontram em fase de implantavao, ou em areas

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que jil sofreram degrada~6es por conta do uso indiscriminado e necessitam de

estrategias urgentes para mitiga«OOdos impactos.

o rapido desenvolvimento das tecnologias da comunieayao garantem e

relor~m a divulgayao da informayao. Os progressos tecnicos nos sistemas de

reproduyao gn3fica, atraves de um vasto material - Iivros, mapas, peri6dicas, guias -

facilitam 0 deslocamento dos viajanles e, sobretudo, incentivam a imaginayao e 0

desejo. Penetrando no universo simb6lico das pessoas convidam a viagem aos

eleitos do turismo.

5,1 Turismo Ecol6gico e Meio Ambiente

o processo historico vem transformando a concepyao e 0 conceito de

Ambiente, segundo paradigmas vigentes em cada momento.

Pablo Gutman, define a meio ambiente como "0 conjunlo de componentes

na/urals e socials e suas interaq/5es em um espaqo e em um tempo determinados".

Considera, tambem, que "0 meio ambiente e gerado e conslruido eo longo do

processo his/6rico de ocupat;fJo e transformat;fJo do espaqo pela socledade".

Sendo assim, a questao ambiental vista, nao e resultante de um

relacionamento entre as homens e a natureza, mas como um processo historico que

se canstr6i entre as organiza90es sociais (sociedade) e as ecossistemas naturais.

A Educayao Ambiental se caracteriza par incorporar as dimensoes s6cio-

econ6mica, politica, cultural, ecol6gica, aliea e hist6rica de cada realidade,

configurando-se, assim, em um caminho para 0 entendimento e transformagao das

quest6es ambientais.

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Na COnferElnciade Tblisi, a Educac;ao Ambiental foi definida como uma

dimensao dada ao conteudo e a pratiea da educal'ao, oriantada para a resoluc;ao

dos problemas concretos do meio ambiente, atraves de enfoques interdisciplinares

e de uma participac;aoativa e respansavel de eada individuo a da coletividade.

A Edueac;ao Ambiental deve propiciar uma estreita vinculac;ao enlre os

processos educativos e a realidade, eslruturando-se em torno de problemas

concretos da comunidade, com enfoques inlerdisciplinar e globalizador, permitindo

uma melhor compreensao dos problemas ambientais. Constitui-se em um grande

avanyo rumo a cidadania, uma vez que busca situar as pessoas em seu contexto

social, incentivando-se a adoc;ao de medidas que possam contribuir para a

Iransformac;aodo seu enlomo (comunidade) e da propria sociedade.

o conceito de comunidade vem como sendo: um agregado de pessoas

luncionalmenle relacionadas, que vivem em uma determinada localizac;ao

geografica, em determinada epaca, que compartilham cultura comum, que estao

inseridas em uma estrutura social e possuem conscifmcia de sua singularidade e

identidade como grupo.

Comunidade, portanlo, lrata-se de uma realidade concreta que se compoe de

um conjunto de elementos materiais, hisloricos, culturais, institucionais, pSicol6gicos

e alelivas. Podenda a termo comunidade ser aplicado a qualquer grupo de

interesse, que participe de alguns trabalhos em comum, e esteja inter-relacionado

em razao de sua localidade, lunc;aoau administrac;ao.

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Neste trabalho, propoe-se adolar a seguinte conceito de Comunidade: "um

con junto dinamico de pessoas, de grupos, de forr,;:as vivas e de reiar,;:i5es sociais que

se verifiea em dererminada area geogrilfica,,7.

De acordo com Western', 0 eeoturismo nao deve ser visto meramente como

"uma pequena elite de amantes da natureza" mas, encarado como uma viagem

respons8vel a areas naturalS, visando preservar 0 meio ambiente e promover 0

bem-estar da populayilo local. Para esse autor, 0 Ecoturismo e provocar e satisfazer

o desejo que temos de estar em eontato eom a natureza, e explorar 0 potencial

turfslieo visando a eonservayilo e 0 desenvolvimento, e evitar 0 impacto negativo aecologia, a cultura e a estetica.

Concordando com 0 autor Angelo Furlan (1996), destacando em relayilo ao

ecoturismo que: "TodD tutismo deveria ser ecol6gico no sen/ido de que para usufruir

da natureza e preciso fer conhecimento previo do amblente a ser c%cado adlSposir,;:ilO do uso turfs/leo. Todo tutismo deveria se paular no funeionamenlo da

natureza e nos seus limites eea/Ogieos ao projelar infra-estrutura e equipamenfDs

turisticos. Qua/quer tipo de turismo tern de se adequar as fragilidades do meio e ser

capaz de getir e contro/ar impac/os ambientai$".

Para a natureza nao interessa quem dela usufrui e sim como se usufrui.

Assim sendo, conservayilo e turismo que neguem os direitos e interesses das

comunidades locais estao fadados ao fracasso, quando nao consideradas

totalmente ilegais.

; RODRIGUES, Maria F.. Sao Paula, Edir;liesP3u1inas, 1988.WESTERN, D .. Dejinindo F.coturiSfIlo. SiioPauIo: SENAC, 1995.

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A conscientizayaa implica em que ultrapassemos a esfera espantanea de

apreensiia da realidade, para chegarmos a uma esfera critica na qual a realidade se

da como abjeta cognoscfvel. Ela nao pode existir fora da ·praxis", au seja, sem a ata

ayaa-reflexiio, segundo Paulo Freire9.

6 GLOBALIZACAO: OS IMPACTOS 00 PROGRESSO E A INOUSTRIALlZACAOSOBRE A ATIVIOAOE TURisTICA

A globalizayaa, mais que urn simples vacabulario, e urn paradigma do

conhecimento sistematizado da econamia, da politica, da cultura, da cianeia e da

informayao que se materializam no espa\Xl atraves de formas e pontos conectados

par redes.

o entendimento da questiio turismo, hoje, necessita des ferramentas te6ricas

do conjunto das cieneias sociais que buscam uma interpretayao a nivel global.

Segundo Milton Santos'0, a globalizayao do turismo Eo urn perfodo tecnico-

cientffico-informacional.

o turismo contemporaneo e influenciado par um contexto mUlto amplo que

abrange a economia, a sociedade, a polftica e a cultura. A cultura contemporanea,

reserva urn espa\Xl privilegiado para a prazer e 0 lazer, a que ajuda a manter a

privilegio e a ascensaa desta atividade.

A ideia de viajar vem penelrando de lal forma na mente do homem modemo,

que cada vez mais se fortalece como uma conquista, um direito, uma possibilidade,

1:FREIRE, Paulo. Consdenti:zayiJo - Teorfa e Pratica da LifJertaqilo. sao Paulo: Moraes. 1980,SANTOS, Milton, Pim de SUculo e Globali:lflriio. Sila Paulo.' Hucitec, 1995.

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um consumo. Pode-se afirmar que a viagem a hoje um dos grandes consumos

criades no contexte da sociedade, sobretudo pela propaganda, pela midia

globalizada que internacionaliza 0 propiciamento do turismo.

As viagens sao definidas em fun,ao dos lugares. 0 desejo de conhecer os

lugares mostrados pela propaganda turistica, pela folheteria, termina em nao passar

de um simples reconhecimento, pois nao M passibilidade para 0 conhecimento do

lugar.

Os lugares sao escolhidos para serem contemplados. Afinma Malfesoli",

que eles se tornam "espaqos de celebraqao", pOis neles sao celebrados diversos

cullos com forte coeficiente eslatico-alico. Sao as celebra9iies do corpo, do sexo, da

imagem, da amizade, da comedia, do esporte, do lazer. 0 denominador comum e 0

lugar onde se faz esla celebra,ao. Assim, 0 lugar torna-se la90 e, portanto, tem a

fun9ao de sedu9ao, serve de estratagema, causa impressao, uns mais que os

outros e, por isso, alguns SaOeleitos como espayos de celebrayao do turismo, par

exemplo: 0 carnaval em Morretes, a caminho do litoral, pela Serra da Graciosa,

Marretes e Antonina. Estes lugares de celebra,aa do turismo, sao escolhidos

porque existe uma expectativa, sobretudo atraves do devaneio e da fantasia, em

relay80 aos prazeres e como signos ou cliches turfsticos.

o devaneio e a expectativa, ambos disfar9ados, sao processos

fundamentais para 0 consuma moderna. Na verdade a satisfa,ao naSee da

expectativa, da procura do prazer que se situa na imagina,ao.

A motiva,ao basica das pessoas em rela9iio ao consumo naa e, partanto,

simplesmente uma questiio materialista. No entanta, como a realidade jamais

11 MAFFESOLI. 0 P!)tkr dos ESpoyQ8 e Representoroes, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 1994.

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£'fPP\;poden~ propiciar os prazeres aperfei~oados com que 0 individuo se depar

devaneios, eada compra conduz a desilusao e aDanseio por produtos mais novas,

o turismo e uma atividade essencialmente humana e sa a prepara"ao da

viagam envolve 0 sistema psicologico, a imaginario, a viagem em si, eria rela¢es e

fenomenas ligados a estada das pessaas nos lugares visitados, rela¢es

resultantes do encontro entre visitantes e visitados, ou residentes e turistas,

A globaliza"ao, portanto, transforma a contexto socio-cultural, impondo nova

visilo a todas as atividades, a todos as espa90s, todas as empresas e governos,

A cultura e a universalidade dos bens espirituais e materiais, subjetivos e

objetivos que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, tendo em vista a

realiza"ao de seus fins proprios; sem a cultura nao haveria a compreensao da

natureza. Portanto, natureza e sociedade sao bases para a compreensao das

experiencias dos turistas e das popula~iies visitadas.

Neste caso especffico de Morretes, cultura pode ser entendida como um

sistema integrada de maneiras especificas de pensamento, cren~s, formas

aprendidas de fazer coisas, representando earacterfsticas dos seres humanos, e a

culture resultante da inven"ao social e, portanto, s6 pode ser transmitida atraves do

aprendizado.

Para a pesquisador australiano Mullins (1991), a urbaniza9ao luristica e vista

como urbaniza"ao baseada na venda e no consumo do prazer, a exemplo de

cidades e vilas conslnuidas explicitamente para 0 prazer. Assim, pode-se dizer que

a urbaniza~ao turistiea e:- espacialmente diferente, porque e socialmente diferente;

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- simbolicamente distintiva, com simbolos urbanos agindo como atrativos

para turistas;

- caracterizada por uma forma especial de interven9Bo do Estado a qual e"empreendedora" no estilo, como e a cidade pas-moderna;

- distinguida par urn consumo do prazer, coslumeiro e de massa.

Tentando fazer um balan.;;ote6rico-conceitual entre os aspectos locacionais e

as ligados diretamente com a rela9Bo turismo e urbanizagao, anteriormente

disculidos, e possivel propor que a cidade luristica seja entendida como um tipo

particular de localidade central, ja que se baseia no consumo e uliliza9Bo de bens e

servi.;;osturislicos, expressando, em muitos casos, uma tendi!mcia a periferiza9Bo e

provocando diversificadas articulayties inter-setoriais e inter-regionais.

7 UNIDADES DE CONSERVACAO AMBIENTAL (UCs) E ECOTURISMO

Sao areas nalurais protegidas par instrumentos legais de restric,;aode usa do

solo, que podem ter ambito federal, estadual mundial e particular.

o processo de implanta9Bo de UCs devem-se segu;, alguns passos, entre

eles: a caracterizac;aosocio-ambiental do local e seu entomo, demarca9Bo da area,

regulariza9Bo fundiaria, elabara9Bo do plano de manejo visando a zoneamento

ambiental de usas e restriyti6s e finalmente, a plano de estrutura9Bo ftsico-

administrativa, consolida9BDe forma9Bo da equipe de trabalho e desenvolvimenta

das programas de atua9Bo.

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Alem de toda essa legislagao que regula a usa das terras e das aguas, 0

Brasil possui tambem areas especificas sob a protegao da lei que sao as unidades

de conservagao, au seja, Estagao Ecologica, Reserva Biologica, Reserva Ecol6gica,

Parque Nacional, Area Tambada, Area Especial de Interesse Turistico e Local de

Interesse Turistico, Cavema, Reserva Particular do Patrimbnio Natural, Area

Relevante Interesse Ecologico, Area sob Protegao Especial, Area de Prategao

Ambiental, Reserva Indigena, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva

Florestal e Floresta de Dominio Privado.

As leis que regulam a protegao dessas areas estabelecem que muitas delas

sao passiveis de exploragao turistica, possibilitando assim um contato direto com a

natureza atraves do chamado "turismo ecol6gico" e se transformando num valioso

agente do processo de educagao conservacionista.

A propria Embratur'2 - Instituto Brasileiro de Turismo - define 0 Ecoturismo

como um segmento da atividade turistica que utiliza, de forma sustentavel, 0

patrimonio natural e cultural, incentiva sua conservagao e busca a formagao de uma

consciencia ambientalista atraves da interpretagao do ambiente, promovendo 0

bem-estar das popula<;6esenvolvidas.

Pode-se observar a partir destas informa<;6es que 0 Brasil possui uma

legislagao farta e precisa a proposito da protegeo ambiental; neo faltam entretanto

nos meios de comunicagao correntes, noticias que registram a desrespeito a essas

normas, configurando-se infragoes e crimes que na maior parte das vezes ficam

impunes; parece muito grande a distancia entre a lei e a sua pratica. Por outro lado,

a cuidadosa pratica da atividade turistica em todas essas areas nao se poderia

12 Empresa Brasileira de Turismo. Politica Nacional de Turismo, Brasilia, 1995.

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transformar num poderoso instrumento de conhecimento e divulga<;iio e de defesa

dessas porcoes (ja limitas) tao preciosas do nosso espaeo? Se nao, como protege-

las das pressoes resultantes de outras atividades ou interesses economico? So se

defende aquila que se ama e so se ama 0 que se conhece.

o trabalho de Negreiras13, jii demonstrava na decada de 70 aumento na

demanda e afluencia de publico em parques estaduais e exemplificava 0 caminho

realizado para a maneja do Parque Estadual da IIha do Cardoso, que contemplou

em seu Programa de Desenvolvimento as seguintes itens: recrea<;iio,

acampamentos, centro de visitantes, trilhas naturais orientadas (alias, como se

formou a Estrada da Graciosa), sinaliza<;iio,historia viva, entre outros aspectos.

No entanto, ainda sao poucas as Unidades de Conservayao que possuem

planas implanlados e muito deles sao queslionaveis. Angelo-Furlan (1996) crilica a

fato de muitos planas, particularmente os voltados para UCs insulares, terem

consagrado uma forma de turismo espontanea e predatoria, tal como jii existente na

maiaria dos parques e que lem trazido mais problemas do que beneficios para eles.

E, no garal, a populayao local e vista apenas como maa-de-obra barata para as

UCs.

Em rela<;iio a situa<;iio geral do processo de implanta<;iio e manejo das UCs,

Bernardes & Martins (1988) afirmam que: "A falla de conhecimento cientifico para a

manejo das areas protegidas, aliada a falta de pessoal, a ma dislribuiqao de

recursos financeiros e a ausencia de planejamenlo, reunem motivos suficienles para

a ineficacia da conso/ida<;aodessas Unidades."

13 NEGREIROS, D.C. Plano de Uanejo: Parque Estadualilha do Cardoso, Boletim Ttcnico. SP" 1974,

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A questeo da educa<;ijo ambiental, dos aspectos necessarios a melhor

formula<;ijo de projetos e da importllncia do envolvimento das comunidades no

planejamento participativo visando a estrutura<;ijodas UCs, sao ilens consideraveis.

Dentre os varios aspectos a serem observados no plano de manejo das UCs

ressaltam-se os programa" de usa publico, merecendo destaque a implanta<;ijo das

trilMs de interpreta<;ijo ambienta!. De acordo com Pagani et at (1996), dA

interpretaqlio ambiental e uma lecnica didatica, flexivel e moldavel as mais diversas

situaq6es, que busea esc/arecer as fenomenas da natureza para determinado

publico alva, em linguagem adequada e aressivel, utilizando as mais variados maios

auxiliares para tai. A interpretar;tio procura promover neste publico 0 sentimento de

penitenda a natureza (,..) na esperan<;ade gerar seu interesse, sua considera<;tioe

seu respeito pela natureza e, consequenlemenle, pela vida,"

A classifica<;ijo de trilhas, potencial, problemas e implementa<;ijo das

atividades de interprela<;ijo tern sido objeto de estudo de diversos autores entre

eles: Andrade & Rocha (1990), Aoki & Dora (1990), Guillaumon et a!. (1977),

Osvalles-Flacon (1993), Pagani et al. (1996), Scheiner (1984) e Tabanez &

Herculiani (1990).

o processo de implanta~eo de trilhas de interpreta<;ijo e considerado por

Andrade & Rocha (1990) como sendo ainda incipiente em nosso pais, existindo

apenas alguns exemplos ponfuais, E descrevem a situa<;ijo de abandono: "Nossas

areas naturais, onde um sistema de tri/has para uso publico seria compalivel, nao

possuem infra-estrulura adequada, (.,.) nao recebem quafquer tipo de manutenq§O;

quase todas sofram 0 problema de erosao a M pantos crrticos com relaq§o aseguran<;a;surgem ntio sa sabe de onde e freq{]antamente desaparecem lamBdas

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palo maio devido ao desuso. Algumas ainda apresentam bifurcaqiJes que nao levam

a lugar nenhum. Soma-sa islo a constante 8usilncia de mapas e sinaliz8qaO."

As atividades de Ecoturismo e Educa<;iio Ambiental merecem destaque, em

virtude de possuirem papel fundamental no fortalecimento da rela<;iio Popular;ao

Loea/lEquipa da UCIUsuanos, que sao os vertices e principais atores sociais do

bem tuncionamento da Unidade de Conserva<;ao.

Outro aspeclo importante, e a necessidade de sa garantir um processo de

aproxima<;iio consciente entre os tecnicos dos orgaos publicos, as ambientalistas e

as popula96es locais, de modo a minimizar a conflito disseminado de que a

preserva<;iio e incompatfvel ao processo de desenvolvimento. Real<;a0 papel de

que Os ambientalistas tem quanta a participa<;iio no processa de buscar formas

alternativas de desenvolvimento economico adequado as regi6es ande atuam.

Eo precisa, portanto, superar a visao de natureza como objeto de adora<;iio, ou

mesmo de consumo, de modo a minimizar 0 conflito de que a presen<;a de

moradores no interior da Unidade de Conserva<;iio e incompativel. Par outro lado,

precisa-se ter clareza da situa<;iio concreta, identificando as popular;6es que vivem

ha varias gera96es em contato direto com a Unidade de Conserva<;iio, e que tiram 0

seu sustento e desenvolvem mecanismos de sobrevivencia da sua relav80 com a

paisagem local.

8 CONCEITO: AMBIENTE E SISTEMA

o termo ambiente deve ser analisado a partir de uma visao sistemica, qua

revele a integra<;iio entre as partes do todo unitario e sua capacidade de aulo-

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regulagao. 0 conceito de sistema assim defioido de primazia a dues importantes

dimensties: a primeira refere-se a um todo inter-relacionado e a segunda, ao todo

que organiza as partes. A auto regulagao acaba par se consistir numa condigao

essencial, de modo que deixa de ser sistema 0 que perde essa capacidade; a auto-

regulagao e muito mais que simples relagao das partes e sua organizagao no todo,

par dar origem ao conceito de realimentacao sistemica que e a capacidade do

sistema em manter-se a si proprio.

8.1 Ecossistema

Refere-se ao tado que e resultado da interagao entre um ambiente e os seres

vivos que nele sa desenvolvem, incluindo-se aqui a comunidade humana que ai

sobrevive e toda a sua bagagem cultural.

Em fungao disso, e importante lambrar que na exploragao turistica dos

recursos ambientais se considere 0 impacto que esse processo ira acarretar sobre 0

meio, procurando atenuar ao maximo os consequentes prejuizos e calculando-se a

capacidade de absorgao do ambiente para evitar seu irremediavel

comprometimento. Isso porque a transformagao da paisagem, a poluigao das aguas,

do ar, 0 acumulo de fixo etc., compromete nao sO a qualidade de vida num futuro

proximo (como se pode constatar atraves das muitas inforrnac6es veiculadas pelos

meios de comunicagao), como tambem, no caso da exploragao turfslica do meio,

compromete a "materia-prima" dessa exploragao.

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9 PROTECAO AMBIENTAL: A CAMINHO DA QUALIFICACAO

o Brasil, par vezes, demonstra a falta de tradic;ao, desvalorizac;ao dos

valores e da cultura. Com a preocupa9ao ambiental e uma hip6tese levantada para

explicar esse fato, remonta ao seu recente passado como colonia de explorac;ao,

onde as que para aqui livremente aportavam, vinham para enriquecer - "fazer a

America". A terra era farta e generosa. Caminha ja constatara: "E em tal mane;ra egraciosa, querendo-a aproveilar, dar-se--e nela tude, por bern des aguas que tern". E

o que contava era a retorno economico, a acumulac;aode capital rapida e eo menor

custo.

E foi, muito ma;s pelo comprometimento com a desenrolar das atividades

economicas, que vez au oulra, se constatam normas de protec;ao aos recursos

naturais, nos diferentes ciclos que caracterizam a historia economica do pais. E a

caso do periodo colonial, com a explorac;aoda cana-de-agucar, em que se constata

uma preocupac;aocom a distanciamenlo progressivo das matas, cujas arvores eram

usadas como combustivel nas usinas, recomendando--se sua substituic;ao pelo

propria baga90 da cana. Ja com a progresso de urbanizac;aode Sao Paulo e do Rio

de Janeiro, a ayeo sabre a meio ambiente reveste-se de um carater sanitarista, de

controle de saude publica a com 0 dasenvolvimento industrial (do qual Cubatao em1950 e urn marco) a ac;:aosabre 0 meio ambiente passa a sar corretiva, em funcao

do agravamento da poluic;ao. A crise do petroleo de 1973 marca a fase

conservacionista (acompanhando um movimento global que culminou com a

Conferencia Mundial sabre 0 Meio Ambiente, em Estocolmo, 1972), chegando-se

finalmente a recente visao global do ambiente.

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Considerando essa falta de tradi""o ambiental, antes mencionada, ali na

regiao de Morrestes e Estrada da Graciesa, elaborou-se, recentemente, uma das

mais modemas e avangadas legisla90es do mundo em rela""o a prote""o do meio

ambiente, preservando-o para 0 uso coletivo e para as gera¢es vindouras;

colocando-o acima des interesses de privilegios imediatistas e individualistas e

cabendo ao poder publico e a coletividade a responsabilidade dessa tarefa: e 0 que

estabelece (entre outras disposi¢es esparsas) 0 Capitulo VI do Titulo VIII (da

Ordem Social) da atual Constitui""o.

Essa preocupa980 comevou em 1981, com a Politica Nacional do Meio

Ambiente, sendo que 0 grande mentor foi Paulo Nogueira Neto (Bi610goe primeiro

Secretario Especial do Meio Ambiente de Brasilia), que passa a discutir com os

governos estaduais uma a""o mais preventiva de planejamento atraves dos projetos

de Estudo de Impacto Ambienta! e de Re!at6rio de Impacto Ambiental, EIA-RIMA, ja

aplicados nos Estados Unidos.

o Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, criado pela Lei nO6.938,

tamMm dessa epoca, e 0 orgao que disp5e sobre essa politica e tern autoridade

sobre orgaos federais, estaduais, municipais e entidades privadas, para exigir a

EIA-RIMA, para aprova""o pelo 6rgao estadual competente e pelo IBAMA - Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renovaveis. 0 EIA e urn

relatorio tecnico e 0 Rima e um relatorio simplificado de linguagem acessivel ao

grande publico; devem ser elaboradas por equipe multidisciplinar, pagos pelo

proponente do projeto e de divulga""o publica, sendo 0 sigilo industrial respeitado,

desde que pedido e demonstrado pelo interessado.

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Diante da complexidade, abrangencia e custo dos EIA-RIMA, eles sao

recomendados para empreendimentos de maior porte e impacto, sendo os casos

mais simples e rotineiros, licenciados conforme a tradi9i\o determina (como se

procede normalmente em outros paises), nao se descuidando entretanto, da visao

abrangente do ambiente, conforme eSlabelece a mesma Lei n° 6.938. alem disso,

pala mesma complexidade e custo desses estudos (EIA-RIMA), foi regulamentada a

elabora9i\o do Relatorio Ambiental Preliminar, 0 RAP, que define preliminarmente

pela sua necessidade ou nao (conforme anotayoes de aula de curso "Introdu9i\o aAvalia9i\o dos Impactos Ambientais", pela Associa9i\o dos Ge6grafos Brasileiros,

AGB, Se9i\o Sao Paulo, Comissao do Meio Ambiente, 1995).

Quanto a questeo das aguas, a legisla9i\o privilegia a Uniiio mas nao exclui a

participa9i\o de estados e municipios que devem ate ser mais exigentes do que 0

poder federal. A uniao detem 0 monopolio do estabelecimenlo das regras tanto

sabre a classifica9i\o das aguas, sua capta9i\o e deriva9i\o, como sobre os padroes

de quahdade do meio hidrico. Mas, 0 lanyamento de afluentes nao depende

exclusivamente da Uniao, pois e questao de ordenamento do territorio e do controle

da polui9i\o e pade ser normatizado em nivel federal, estadual e municipal.

9.1 0 Homem e a Conserva!;iio Ambiental

A capacidade do homem de transpor seu proprio territorio e lanyar-se em

busca de novos lugares, e pn\!ica que sa confunde com a propria existfmcia

humana. Os homens, na procura de melhores condi90es de vida e seguranya,

aliados ao 90$10 pela aventura e dominio, desbravam os mais variados e remotos

lugares.

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CONSIDERACOES FINAlS

Observa-sa que, apesar das suas potencialidades, a atividade Ecoturistica

em Morretes e Estrada da Graciosa nao tem vindo acompanhada de um

planejamento adequado, priorizando, assim, espaco para uma participavao da

populavao local, nem tem propiciado um entrosamento entre os varios segmentos

sociais envolvidos. Esse fato acabou criando conflitos e entraves a um modelo de

gestao ambienta!.

Esta claro que 0 ecoturismo e uma a1ividadeem ascansao, mas que implica

em impactos positiv~s e negativos as areas e as culturas locais.

Assim, percebemos que a questiio, particularmente em relavao ao papel do

jurismo ambienta!, desemboca em alguns grandes obstaculos, par exemplo: como

evitar a comercializ~o da paisagem nesse tipo de lurismo? Como evilar a invasao

cultural? Como impedir que a turismo seja uma alividade predal6ria, tanto para 0

ambiente, como para a desfiguravao da paisagem local, com a predominio da visao

de dominaQijo cultural? E para que 0 Municipio de Morretes nao seja uma ameaca

as suas tradi\'iies hist6ricas?

Eo bem possivel que essas duvidas estejam ainda longe de serem resolvidas,

no entanlo, tem ocorrido um expressivo aumento nos esludos e iniciativas para a

definiQijo de diretrizes claras sabre 0 papel do turismo e suas interfaces com a

queslao ambienta!. Alem disso, percebe-se um caminhar par trilhas mais propicias

na busca do desenvolvimento do ecoturismo, de forma responsavel e mais

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integrada com as comunidades atingidas por essas alternativas economica e

empreendedora,

Esse trabalho procurou desvendar um pouco as condi<;:6esda potencialidade

turistica de Morretes e Estrada da Graciosa, todavia, devido a sua complexidade,

devera ser retomado numa fase posterior com a idealizayao de um projeto minimo

das condi<;:6esde oferta turistica municipal.

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UMA PROPOSTA A REFLEXAo PARA A QUALlFICACAo DOECOTURISMO NO MUNICiPIO DE MORRETES E ESTRADA DA GRACIOSA

ANA MARIA RICETTI BONAT

Monografia apresentada a Faculdade de Ciencias Exatas e Tecno16gicas da

pelo conteiIdo do

trabalho, avaliado pelo Professor(a)

eo Grau pelo Coordenador de Apresenta<;iio de Monografia

Professor (a), _

Curitiba, __ de de 2000.

Orientador (aJ

Coordenador (a)