a quimica das tatuagens (1)

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  • 7/25/2019 A Quimica Das Tatuagens (1)

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    A DESVENDAR A QUMICA DO DIA-A-DIA

    http://www.ua.pt/
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    H quem goste e quem deteste, mas poucos lhes ficamindiferentes. As tatuagens so uma forma de afirmaoindividual e a sua popularidade tem crescido recentemente.

    Conhecidas desde h mais de 5 mil anos, as tatuagens

    tm evoludo com o tempo e comeam agora a dar um

    passo decisivo de mudana, graas ao desenvolvimentoda qumica: com as novas tintas removveis, as tatuagensperdem a sua caracterstica mais marcante vo deixar de

    ser um compromisso para toda a vida.As tintas para tatuagem so normalmente obtidas por

    suspenso de um corante num lquido apropriado: gua,

    lcool, glicerina, ou uma mistura destes. Os corantes variam

    muito na sua composio e os mais usados so relativamente

    incuos. As tintas pretas so normalmente xidos de car-bono, enquanto as azuis so obtidas com sais de cobre ouxidos de cobalto. O branco pode ser dixido de titnio,

    xido de zinco ou carbonato de chumbo. Estes compostos

    so estveis sob a pele e a tatuagem definitiva.As tintas removveis tm uma filosofia completamente

    diferente: so baseadas em corantes que podem ser absor-

    vidos e degradados pelo organismo. O corante absorvvel envolvido numa cpsula transparente que garante a suapermanncia na pele enquanto o dono da tatuagem assimo desejar. Mas a cpsula protetora feita de um material

    sensvel luz, que se decompe quando irradiado com um

    laser apropriado.Deste modo, quando o feliz proprietrio desta tatuagem

    decide remov-la, s tem de usar um laser adequado paradegradar as cpsulas protetoras, libertando assim as molculas

    de corante. Estas so depois absorvidas e metabolizadaspelo organismo e em algumas horas a tatuagem desaparece

    sem deixar qualquer marca!Para quem prefere o que temporrio e volvel

    PARA SABER MAISAs tatuagens mais antigas de que h registo encontram-se

    na mmia tzi, o Homem do Gelo, contando j aproxi-

    madamente 5300 anos de existncia e especula-se quetivessem fins teraputicos. Entre o povo Maori (nativos dapolinsia) as tatuagens indicavam o status social do indivduo

    e tinham o propsito de o harmonizar com a natureza e odivino. Tambm entre os gregos e romanos se utilizavam

    tatuagens como meios de identificao, mas apenas paraescravos e criminosos.Hoje, as tatuagens so parte integrante da nossa cultu-

    ra, realizadas na maioria dos casos para fins meramente

    cosmticos. Estima-se que 25% dos cidados americanospossuam pelo menos uma tatuagem, ao passo que na Europaa percentagem se reduz para 10%.Tendo em conta o elevado nmero de indivduos que recorrem

    prtica da tatuagem, alarmante que a composio dasltimas no seja ainda sujeita a regulamentao, nem naEuropa nem nos EUA. Como consequncia, os fabricantesno so obrigados a revelar a composio qumica das suas

    tintas pelo que, na maioria dos casos, tanto os tatuadorescomo os clientes desconhecem os riscos das substncias

    que injectam na pele.No final do sculo passado, os pigmentos usados nas tintas

    eram quase todos de origem inorgnica e, na sua maioria,

    inofensivos, com excepo de sais de metais pesados, comomercrio, cdmio e cobalto. Na actualidade, raro encontrar

    tintas que contenham estes metais pesados.O mercado est a mudar e os corantes de natureza orgnica

    ganham terreno a cada dia, dada a sua insolubilidade e

    elevado brilho. Esta situao chamou a ateno da comu-nidade cientfica pelo que alguns estudos de caracterizao

    qumica de tintas comerciais foram j efectuados. Os resul-

    tados revelam que a maior parte dos pigmentos orgnicos

    l Fig. 6.1Degradao de tatuagem por laser.

    p Ver video online

    A QUMICA DASTATUAGENS

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    utilizados em tintas de tatuagem pertencem s classes dos

    compostos azo e dos compostos policclicos.Ironicamente, muitos destes pigmentos no so permitidos

    na formulao de cosmticos j que so eles mesmos txicos

    ou do origem, quando se degradam, a produtos txicos.Por exemplo, alguns compostos azo, quando clivados porprocessos metablicos ou mesmo por exposio luzsolar, do origem a aminas aromticas carcinognicas. Esta

    decomposio lenta e gradual pelo que o despoletar dereaes adversas pode ocorrer muitos anos aps a realizao

    da tatuagem no sendo possvel, na maioria dos casos,estabelecer uma relao directa entre os dois eventos.A controvrsia da legislao das tatuagens apenas umdos muitos casos em que a qumica assume um papel

    cvico e expe os riscos a que os consumidores esto sujei-

    tos, estimulando as autoridades competentes a exercer a

    regulao necessria. Nesta ptica, o Conselho Europeuemitiu uma srie de recomendaes relativas s tatuagens

    e piercings, deixando ao critrio de cada pas membro a

    sua incorporao na legislao. A Alemanha, mais uma

    vez, deu o exemplo, proibindo o uso de corantes azicospotencialmente carcinognicos nas tintas para tatuagem.A seu tempo, os restantes pases seguir-lhe-o as pisadas.

    CURIOSIDADENa investigao forense, as tatuagens fornecem informaes

    preciosas para a identificao de criminosos j que so per-

    manentes e muitas vezes indicam a pertena a determinado

    grupo/gang. At as tatuagens previamente removidas alaser podem ser identificadas recorrendo fotografia comsensores de infra-vermelhos (radiao invisvel ao olho

    humano). O tratamento a laser apenas remove os pigmentosencontrados superfcie da pele. A radiao infra-vermelha

    consegue penetrar em camadas mais profundas da derme,

    expondo resduos de pigmentos a enterrados, invisveis aolho nu. Assim, tambm possvel identificar tatuagensmascaradas sob outras mais recentes.

    l Fig. 6.2Exemplo de corante vermelho da famlia dos

    compostos azo. A caracterstica desta famlia a presena

    da ligao N=N (tomos a azul no centro da molcula).

    A QUMICA DAS TATUAGENS

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    Faa em CasaTal como alguns componentes das tintas das tatuagens

    removveis so sensveis ao da radiao laser, tambmalgumas tintas de uso corrente (por exemplo, tinta de

    marcadores) se degradam por ao da radiao solar. O que

    propormos que faa em casa que investigue qual o efeito

    da luz solar sobre os corantes das tintas dos marcadores.

    MATERIAIS Marcador preto lavvel

    Filtros de caf

    Cmara cromatogrfica: copo, lpis, fita-cola

    Copo com marcao de volumes

    gua

    2 Frascos de vidro

    Papel de alumnio

    PROCEDIMENTO1. Comece por colocar o marcador num copo

    com aproximadamente 100 mL de gua com a

    ponta submersa e agite durante 1 min. Mantenha

    o marcador submerso, em repouso, durante

    mais 15 min. De seguida, retire o marcador e

    adicione 900 mL de gua soluo corada.

    2. Transfira 20 mL de soluo para cada frasco

    de vidro. Envolva completamente um dos

    frascos em papel de alumnio esta a

    amostra de controlo. Por fim, coloque os dois

    recipientes num local iluminado pelo sol, ondeficaro a repousar durante uma semana.

    3. Prepare 2 cmaras cromatogrficas tal como a

    apresentada no esquema seguinte. A ponta inferior

    da tira de papel deve encontrar-se submersa na

    soluo corada.

    ATENO: Retirar o papel da cmara

    cromatogrfica assim que a marca de gua

    atingir o lpis. Caso contrrio, todos os

    corantes sero arrastados at ao cimo da tira

    de papel, sobrepondo-se num borro escuro.

    4. Observe os cromatogramas (tira de papel)

    obtidos e verifique se existem diferenas

    significativas entre a amostra exposta

    ao sol e a amostra de controlo.

    O QUE ACONTECEUPara fazer a separao dos diferentes corantes que compem

    a tinta do marcador preto realizou-se a cromatografia. Nesta,

    a gua, ao ser absorvida pelo papel no sentido ascendente,

    arrastou consigo os diferentes corantes contidos na tinta.Estes tm pesos moleculares e naturezas qumicas distintas,

    sendo por isso arrastados a diferentes velocidades. Assim, possvel observar no cromatograma os diferentes com-

    ponentes da tinta.Alguns dos corantes utilizados em alimentos e tintas so, tal

    como aqueles encontrados nas tatuagens, sensveis luz, isto

    , quando expostos a radiao visvel degradam-se dandoa origem a outros compostos, normalmente incolores a

    este processo d-se o nome de degradao fotoqumica, por

    ser uma reao qumica iniciada por ao da luz. Assim, ocromatograma obtido a partir da amostra que foi exposta

    luz, provavelmente no exibir algumas das cores presentes

    no cromatograma de controlo, que no sofreu qualquer

    degradao.

    NOTA DE SEGURANAEsta experincia utiliza apenas slidos e lquidos comuns.As crianas devero sempre ser supervisionadas por umadulto responsvel. Os autores e a Universidade de Aveirono assumem qualquer responsabilidade por danos ou

    prejuzos sofridos em resultado das experincias descritas.

    l Fig. 6.3Esquema da cmara cromatogrfica.

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    aQdC@UAOs pigmentos e corantes so produzidos, sobretudo,

    com o objetivo de conferir cor a materiais, dos

    plsticos aos cosmticos. No entanto, a luz

    absorvida por um corante pode tambm servir

    para dar incio a uma reaco qumica especfica,dizendo-se ento que o corante actua como

    fotossensibilizador. Os corantes como as porfirinas

    e as ftalocianinas (que, j agora, tambm so

    encontradas em tintas para tatuagem) so alvo de

    investigao na Universidade de Aveiro devido ao

    seu potencial como fotossensibilizadores em terapia

    fotodinmica. Esta terapia inovadora aplicada

    sobretudo no tratamento de tumores, doenas de

    pele e na destruio de micro-organismos. Numa

    primeira fase o fotossensibilizador injetado

    no local a tratar e liga-se s lipoprotenas debaixa densidade do sangue. Estas acumulam-se

    preferencialmente nas clulas tumorais reduzindo

    assim o risco do tratamento afectar os tecidos

    saudveis. O fotossensibilizador ento ativado por

    radiao com uma frequncia especfica. A energia

    por ele absorvida transferida para o oxignio

    molecular e d origem s chamadas espcies

    reativas de oxignio, entre as quais figuram radicais

    livres, que causam a morte celular. Os estudos

    realizados na Universidade de Aveiro tm como

    objetivo descobrir novos fotossensibilizadores e

    alterar quimicamente aqueles j existentes para

    melhorar a sua biocompatibilidade e solubilidade.

    CONTACTOProf. Augusto TomDepartamento de Qumica / QOPNAUniversidade de Aveiro