a questão do dano moral por abandono afetivo dos pais perante os filhos

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21/01/2015 A questão do dano moral por abandono afetivo dos pais perante os filhos Evelin Matos Goulart JurisWay data:text/html;charset=utf8,%3Cdiv%20style%3D%22color%3A%20rgb(102%2C%20102%2C%20102)%3B%20fontfamily%3A%20arial%2C%20verdan… 1/2 A questão do dano moral por abandono afetivo dos pais perante os filhos JurisWay Sala dos Doutrinadores Artigos Jurídicos Direito de Família Indique este texto a seus amigos Autoria: Evelin Matos Goulart Graduada em Direito pela Universidade FUMEC, Mestranda na D.I. Direito do Trabalho Comparado pela UFMG, Advogada e Professora do Curso Preparatório Orvile Carneiro em Belo Horizonte/MG. envie um email para este autor Outros artigos da mesma área A Defensoria Pública e a curadoria especial em favor da criança e do adolescente Famílias Homoafetivas: da completa anomia regrada de preconceitos aos posicionamentos positivos adotados pelos Egrégios Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça Fases de um casamento O INSTITUTO DO DIVÓRCIO APÓS A ALTERAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 A questão do dano moral por abandono afetivo dos pais perante os filhos CASAMENTO X UNIÃO ESTÁVEL Adoção Homoafetiva INDENIZAÇÃO DECORRENTE DO ABANDONO AFETIVO: UMA NEGOCIAÇÃO DO AMOR? A Sucessão na Reprodução Assistida "Post Mortem" A obrigação de prestar alimentos Mais artigos da área... Cadastrese no JurisWay E veja as vantagens de se identificar Atualização Receba notícias e outros conteúdos selecionados semanalmente. www.jurisway.org.br/cadastro Resumo: O dano moral não é instituto novo para a seara jurídica e vem sendo largamente usado na proteção dos direitos de personalidade. No primeiro momento parece estranho o confronto de filhos e pais, como autor e réu, respectivamente. Texto enviado ao JurisWay em 26/08/2009. Última edição/atualização em 31/08/2009. Indique este texto a seus amigos Quer disponibilizar seu artigo no JurisWay? Saiba como... O assunto referese exatamente a esta difícil e delicada questão: podem um pai ou uma mãe ser responsabilizados civilmente – e por isso, condenados a indenização – pelo abandono afetivo perpetrado contra o filho? A procura pelo fundamento da resposta a essa pergunta levaria à seguinte indagação: a denominada responsabilidade paternofilial resumese ao dever de sustento, ao provimento material do necessário ou do imprescindível para manter a prole, ou vai além dessa singela fronteira, por situarse no campo do dever de convívio, a significar uma participação mais integral na vida e na criação dos filhos, de forma a contribuir em sua formação e subsistência emocionais. Muitos julgaram – e o século anterior esteve a dar respaldo a esta convicção – que a assunção da responsabilidade pela mantença material dos filhos seria o suficiente a ser feito em prol de alguém a quem não se deseja por perto. Certamente, essa meiaresponsabilidade não foi jamais suficiente, mas o paradigma de outrora não abria chance para tal análise, porque a importância da vontade e do querer adulto sempre foi significativamente mais importante que a necessidade e a carência infantil. Foi o caso, por exemplo, da menina judaica [1] abandonada afetivamente por seu pai logo após o nascimento, quando ele se separou de sua mãe e, em seguida, casou se com outra mulher, com quem teve outros três filhos. Por serem todos membros da comunidade judaica, o pai e sua nova família encontravamse freqüentemente com a menina abandonada, e nessas ocasiões o pai fingia não conhecêla, de modo a desprezála reiteradamente. O interesse do pai em formar nova família, completamente desvinculada da família anterior – independente de quais tenham sido as razões que o levaram a assim agir – foi mais importante e imperativo que o interesse da menina. Essa situação provocou, desde logo, os sentimentos de rejeição e de humilhação, os quais se transformaram em causas de danos importantes, como significativo complexo de inferioridade, demandando cuidados médicos e psicológicos por longo tempo. Só bem mais tarde, na verdade, essa criança encontrou guarida na resposta jurisdicional para os anseios, as frustrações e os traumas que a acompanharam por toda a vida. Foi assim também o caso do menino, igualmente abandonado por seu pai, [2]que, por razões semelhantes, deixouo desprovido de sua presença, de seu carinho, de seu interesse por sua criação e por seu desenvolvimento, o que lhe causou significativo déficit psicológico e emocional. Pela produção de tal dano moral a seu jovem filho, o pai foi condenado pelo Poder Judiciário, em segunda instância, a reparar a falha praticada, a omissão perpetrada e a responsabilidade por tantos anos ignorada. Com sua sensibilidade e inteligência ímpares, além do invejável conhecimento específico – em razão dos casos reais que trata, na advocacia –, Rolf

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2009 - A questão do dano moral por abandono afetivo dos pais perante os filhos. Evelin Goulart.

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  • 21/01/2015 AquestododanomoralporabandonoafetivodospaisperanteosfilhosEvelinMatosGoulartJurisWay

    data:text/htmlcharset=utf8,%3Cdiv%20style%3D%22color%3A%20rgb(102%2C%20102%2C%20102)%3B%20fontfamily%3A%20arial%2C%20verdan 1/2

    AquestododanomoralporabandonoafetivodospaisperanteosfilhosJurisWay SaladosDoutrinadores ArtigosJurdicos DireitodeFamlia Indiqueestetextoaseusamigos

    Autoria:

    EvelinMatosGoulart

    GraduadaemDireitopelaUniversidadeFUMEC,MestrandanaD.I.DireitodoTrabalhoComparadopelaUFMG,AdvogadaeProfessoradoCursoPreparatrioOrvileCarneiroemBeloHorizonte/MG.

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    ADefensoriaPblicaeacuradoriaespecialemfavordacrianaedoadolescente

    FamliasHomoafetivas:dacompletaanomiaregradadepreconceitosaosposicionamentospositivosadotadospelosEgrgiosSupremoTribunalFederaleSuperiorTribunaldeJustia

    Fasesdeumcasamento

    OINSTITUTODODIVRCIOAPSAALTERAODADAPELAEMENDACONSTITUCIONALN66/2010

    Aquestododanomoralporabandonoafetivodospaisperanteosfilhos

    CASAMENTOXUNIOESTVEL

    AdooHomoafetiva

    INDENIZAODECORRENTEDOABANDONOAFETIVO:UMANEGOCIAODOAMOR?

    ASucessonaReproduoAssistida"PostMortem"

    Aobrigaodeprestaralimentos

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    AtualizaoRecebanotciaseoutroscontedosselecionadossemanalmente.www.jurisway.org.br/cadastro

    Resumo:

    Odanomoralno institutonovoparaasearajurdica e vem sendo largamente usado naproteo dos direitos de personalidade. Noprimeiro momento parece estranho o confrontode filhos e pais, como autor e ru,respectivamente.

    TextoenviadoaoJurisWayem26/08/2009.

    ltimaedio/atualizaoem31/08/2009.

    Indiqueestetextoaseusamigos

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    Oassuntorefereseexatamenteaestadifciledelicadaquesto:podemumpaiouumameserresponsabilizadoscivilmenteeporisso,condenadosaindenizao pelo abandono afetivo perpetrado contra o filho? A procura pelo fundamento daresposta a essa pergunta levaria seguinte indagao: a denominadaresponsabilidadepaternofilialresumeseaodeverdesustento,aoprovimentomaterialdo necessrio ou do imprescindvel paramanter a prole, ou vai alm dessa singelafronteira,por situarsenocampododeverdeconvvio,a significarumaparticipaomaisintegralnavidaenacriaodosfilhos,deformaacontribuiremsuaformaoesubsistnciaemocionais.

    Muitosjulgarameosculoanterioresteveadarrespaldoaestaconvico

    que a assuno da responsabilidade pela mantena material dos filhos seria osuficienteaserfeitoemproldealgumaquemnosedesejaporperto.Certamente,essameiaresponsabilidadenofoijamaissuficiente,masoparadigmadeoutroranoabria chance para tal anlise, porque a importncia da vontade e do querer adultosemprefoisignificativamentemaisimportantequeanecessidadeeacarnciainfantil.

    Foiocaso,porexemplo,dameninajudaica[1]abandonadaafetivamenteporseu

    pailogoapsonascimento,quandoeleseseparoudesuamee,emseguida,casousecomoutramulher,comquemteveoutrostrsfilhos.Porseremtodosmembrosdacomunidadejudaica,opaiesuanovafamliaencontravamsefreqentementecomamenina abandonada, e nessas ocasies o pai fingia no conhecla, de modo adesprezla reiteradamente. O interesse do pai em formar nova famlia,completamentedesvinculadadafamliaanteriorindependentedequaistenhamsidoas razes que o levaram a assim agir foi mais importante e imperativo que ointeressedamenina.Essasituaoprovocou,desdelogo,ossentimentosderejeioedehumilhao,osquaissetransformaramemcausasdedanosimportantes,comosignificativocomplexodeinferioridade,demandandocuidadosmdicosepsicolgicosporlongotempo.Sbemmaistarde,naverdade,essacrianaencontrouguaridanaresposta jurisdicional para os anseios, as frustraes e os traumas que aacompanharamportodaavida.

    Foiassimtambmocasodomenino, igualmenteabandonadoporseupai,

    [2]que,porrazessemelhantes,deixouodesprovidodesuapresena,deseucarinho,de seu interesse por sua criao e por seu desenvolvimento, o que lhe causousignificativo dficit psicolgico e emocional. Pela produo de tal danomoral a seujovemfilho,opaifoicondenadopeloPoderJudicirio,emsegundainstncia,arepararafalhapraticada,aomissoperpetradaearesponsabilidadeportantosanosignorada.

    Com sua sensibilidade e inteligncia mpares, alm do invejvel

    conhecimentoespecficoemrazodoscasosreaisque trata,naadvocacia,Rolf

  • 21/01/2015 AquestododanomoralporabandonoafetivodospaisperanteosfilhosEvelinMatosGoulartJurisWay

    data:text/htmlcharset=utf8,%3Cdiv%20style%3D%22color%3A%20rgb(102%2C%20102%2C%20102)%3B%20fontfamily%3A%20arial%2C%20verdan 2/2

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    Foqueseusestudoserecebaumcertificadoemcasaatestandoacargahorria.Consultevalordecadatema

    Madalenoescreve: justamenteporcontadasseparaesedos ressentimentosqueremanescem na ruptura da sociedade conjugal, no nada incomum deparar comcasaisapartados,usandoosfilhoscomomoedadetroca,agindonacontramodesuafuno parental e pouco se importando comos nefastos efeitos de suas ausncias,suasomissesepropositadas inadimplnciasdosseusdeveres.Terminamosfilhos,experimentandovivnciasdeabandono,mutilaespsquicaseemocionais,causadaspelarejeiodeumdospaisequesservemparamagoarogenitorguardio.Comobombsticoesuplementarefeito,baixaanveisirrecuperveisaautoestimaeoamorprpriodofilhoenjeitadopelaincompreensodospais.[3]

    Aausnciainjustificadadopai,comoseobserva,originaevidentedorpsquicae

    conseqenteprejuzoformaodacriana,decorrentedafaltanosdoafeto,masdo cuidado e da proteo funo psicopedaggica que a presena paternarepresentanavidadofilho,mormentequandoentreelesjseestabeleceuumvnculodeafetividade.Almda inquestionvelconcretizaododano, tambmseconfigura,nacondutaomissivadopai,ainfraoaosdeveresjurdicosdeassistnciaimaterialeproteoquelhesoimpostoscomodecorrnciadopoderfamiliar.[4]

    Nesta vertente da relao paternofilial em conjugao com a

    responsabilidade h o vis naturalmente jurdico, mas essencialmente justo, debuscarseindenizaocompensatriaemfacededanosqueospaispossamcausaraseus filhos por fora de uma conduta imprpria, especialmente quando a eles sonegados a convivncia, o amparo afetivo,moral e psquico, bem como a refernciapaterna ou materna concretas, o que acarretaria a violao de direitos prprios dapersonalidadehumana, de formaamagoar seusmais sublimes valores e garantias,como a honra, o nome, a dignidade, amoral, a reputao social isso, por si s, profundamentegrave.[5]

    Por outro lado invencvel e imprescindvel esta meno outros casos

    consideradoscomoassemelhadosnoforamrecepcionadospeloPoderJudicirio[6]edemodoacertado,exatamenteporqueasdecisesno reconheceram,noscasosconcretos, a existncia de danos morais indenizveis decorrentes do fato de umeventual abandono afetivo, ou porque no houve dano, ou porque no houveabandono,ouporquenoestavaestabelecidaarelaopaternofilialdaqualdecorrearesponsabilidade em apreo, ou, finalmente, porque no se estabeleceu oimprescindvelnexodecausalidade,causaeficientedaresponsabilizaocivilincasu.

    Destafeita,concluisequeoprofissionaldodireitotenhacautelanaproposituradeaesaessettuloe,oJudicirio,quepautesuasdecisespelaprudnciaeseveridade,detalsorteque no se venha a dar guarida a sentimento de vingana, onde a criana, apenas e tosomente,sejausadacomoinstrumentonaobtenodeindenizaesque,aoinvsderemediarasituao,venhatosomenteaatendersentimentosmenorescomosquais,comadevidavnia,ajustianopodecompactuar

    [1]Esse caso o relatado na deciso do juiz Luiz Fernando Cirillo, da 31 Vara Cvel Central de So Paulo (Processo n. 01.367470, j.26/06/04).[2]EssesegundocasoorelatadopeloacrdodoTribunaldeJustiadeMinasGerais(Ap.Cveln.408.5505,relatordesembargadorUniasSilva,7CmaraCvel,TJMG,j.DJMG29/04/04)[3]RolfMadaleno.Opreodoafeto.InTniadaSilvaPereiraeRodrigodaCunhaPereira(Coord.).Aticadaconvivnciafamiliar:questespolmicasnocotidianodostribunais.[4]GiseldaMaria FernandesNovaesHironaka.Aspectos jurdicos da relao paternofilial.CartaForenseSo Paulo, ano III, n. 22, p. 3,maro,2005.[5]GiseldaMariaFernandesNovaesHironaka.Aspectosjurdicosdarelaopaternofilial,cit.[6] So casos assim, por exemplo, aqueles mencionados pelas decises do mesmo Tribunal de Justia de Minas Gerais (julgado nodisponibilizado peloTJMGpor correr em segredo de justia, do qual foramdesembargadoresLucianoPinto,Mrcia PaoliBalbino e IrmarFerreiraCampos relator,) epeloTribunalde JustiadoRiode Janeiro (Ap.Cveln.2004.001.13664, rel.desembargadorMriodosSantosPaulojuizaquoAndrVerasdeOliveira,4CmaraCvel,TJRJ.)