a psicopedagogia e a aprendizagem nas sÉries … · a todos os meus amigos pelo apoio e ......
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
ANA PAULA ANTUNES DOS SANTOS
A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NAS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
RIODE JANEIRO 2015
ANA PAULA ANTUNES DOS SANTOS
A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NAS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.
RIO DE JANEIRO 2015
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus por essa oportunidade, dando-me ânimo e sabedoria, diante de tanta dificuldade e estando sempre ao meu lado para ajudar a concretizar mais esta vitória .
A todos os meus amigos pelo apoio e compreensão nas horas difíceis.
Aos meus pais que sempre me deram encorajamento nas horas de desanimo e nunca me deixaram desistir.
E em especial a meu esposo e filhos que durante todo esse período estiveram sempre presente ao meu lado,me apoiando e me incentivando incondicionalmente.
A você, toda minha gratidão!
EPÍGRAFE
A CANOA
Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, ia um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta o barqueiro : - Companheiro você entende por leis? Não- responde o barqueiro. E o advogado compadecido: Que pena. Você perdeu metade da vida! A professora muito social entra na conversa: - Seu barqueiro, você sabe ler e escrever? Também não - Responde o remador. - Que pena! – Condói se a mestra – Você perdeu metade de sua vida! Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco... O canoeiro pergunta: - Vocês sabem nadar? - Não – responderam eles rapidamente. - Então é uma pena – Conclui o barqueiro vocês perderam toda a Vida! Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.
PAULO FREIRE
RESUMO
A presente monografia enfatiza uma pesquisa de campo realizada na Escola Municipal de Ensino fundamental l Naydes Brandão. Pretende-se, através deste estudo, reconhecer as distintas formas de trabalhar com alunos que apresentam alguma especificidade relativa. Nesse processo, surge a psicopedagogia trazendo orientações aos familiares, no auxílio aos docentes e nas ações diárias do ensino, colaborando com a escola na busca de intervenções possíveis ao desenvolvimento dos alunos. A pesquisa apresenta como referencial teórico autores renomados como: Sampaio, Bellebom, Freitas, Oliveira, Santos entre outros. A proposta metodológica faz uma abordagem qualitativa, visando coletar dados que demonstrem os avanços na alfabetização de alunos presentes na instituição explanada. Os resultados obtidos mostram os motivos freqüentes que levam ao fracasso escolar e quais as concepções adotadas pelo psicopedagogo institucional para auxiliar no desenvolvimento físico, cognitivo e psicológico dos alunos. Conclui-se, que o psicopedagogo é um profissional que precisa estar presente no atendimento ao corpo docente da escola, alunos e funcionários, auxiliando com avaliação diagnóstica e orientando nas possíveis causas que dificultam a aprendizagem. Palavras-chave: Alunos. Escola. Psicopedagogo.
METODOLOGIA
Com relação à metodologia o presente estudo utilizou uma abordagem
qualitativa descritiva, pois seu objetivo foi conhecer as estratégias
desenvolvidas pelas professoras com base nas experiências cotidianas dos
alunos do ensino fundamental I objetivando pesquisar, refletir sobre a
integração de alunos com especificidade relativa no ensino regular e como será
o desenvolvimento cognitivo dessas crianças.
Richardson (1992, p.219) “entende que as técnicas de pesquisa não podem ser
utilizadas como receitas ou instrumentos neutros, mas como meios de
obtenção de informações cujas qualidades e limitações devem ser
controladas”.
Em concordância com Vergara (2000, p.47) “a pesquisa descritiva expõe
características de determinada população ou determinado povo, pode-se
também esclarecer correlações entre variáveis e definir sua natureza”.
A pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino público no município de
Vila Velha estado do Espírito Santo. A função da mesma é trabalhar com as
crianças os conteúdos de forma dinâmica que propicie o seu desenvolvimento.
Para participarem da pesquisa foram convidados 18 professores, porém
somente 10 professoras do sexo feminino foram selecionadas, por retornarem
com os dados para pesquisa de campo, o trabalho é desenvolvido de forma
ampla e abrangente, utilizando-se de metodologia diversificadas para que as
crianças possam desenvolver-se cognitivamente, fisicamente e
psicologicamente.
Para as professoras foram elaborados questionários com entrevistas abertas,
para os alunos observações das atividades com análise nos laudos médicos
disponibilizados pela escola e experiências do cotidiano em sala de aula.
A coleta de dados ocorreu entre os dias 19 à 23 de outubro de 2015, na escola
“Naydes Brandão” em Vila Velha, obedecendo às etapas como: Observações
na sala de aula, na biblioteca, no laboratório de informática e na quadra de
esportes.
A construção dos instrumentos para a pesquisa de campo se deu a partir do
momento que percebi na instituição uma demanda muito grande de alunos com
especificidade relativa, foram feitas entrevistas e aplicados os questionários as
professoras para identificar o desenvolvimento dessas crianças no ensino
fundamental I.
Os questionários foram entregues com uma semana de antecedência para que
houvesse tempo suficiente para responder e avaliar como se dá o processo do
desenvolvimento dessas crianças, logo em seguida foi feita através de
observação com relatórios junto às professoras e os alunos com os
questionários e os relatórios devidamente respondidos, organizamos,
analisamos e corrigimos os dados pesquisados.
De acordo com a pesquisa pudemos verificar que nesta instituição de ensino
existe uma sala exclusivamente para alunos de alguma especificidade com
cuidadoras que estão ali para cuidar da higienização das crianças e trabalhar
juntamente com as professoras de educação especial e a professora regente.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I – APRENDIZAGEM 12
1.1 Aprendizagem e suas dificuldades 14
CAPÍTULO II - PSICOPEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 19
2.1 Aprendizagem e afetividade no trabalho do psicopedagogo 24
2.2 A pesquisa 27
2.3 Participantes 28
2.4 Apresentação e análise dos resultados 28
CAPÍTULO III - PSICOPEDAGOGIA: PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 36
CONCLUSÃO 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
10
INTRODUÇÃO
O presente estudo foi construído com o intuito de discutir a
psicopedagogia e a aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental.
Entretanto, acreditamos que em relação aos processos educacionais, a
psicopedagogia remete-se no que diz respeito principalmente à aprendizagem,
na busca da integração do aluno que apresenta alguma especificidade relativa.
Nesse processo, a psicopedagogia surge fazendo um trabalho de
orientação aos familiares, no auxílio aos docentes e nas ações diárias do
ensino, e colaborando com a escola na busca de intervenções possíveis para
auxílio a este aluno.
O presente estudo foi distribuído em capítulos para melhor explicitar o
caminho percorrido para atingir os objetivos da pesquisa e está constituído da
seguinte forma:
No primeiro capítulo apresento a aprendizagem, como ela é concebida
desde o inicio do processo de alfabetização. Também explano as dificuldades
que algumas crianças começam apresentar nesse processo de aquisição da
leitura e escrita e do papel que o psicopedagogo tem em auxiliar a professora
regente.
O psicopedagogo nesta perspectiva precisa apresentar conhecimentos
eficazes para entender e dominar os procedimentos de avaliação diagnóstica,
favorecendo a metodologia adequada para o desenvolvimento das
interferências no atendimento psicopedagógico.
Neste capítulo também interpela sobre a aprendizagem do aluno, em um
paralelo com as dificuldades que se evidenciam nele, como sendo um
11
desempenho considerado menor do que se espera, levando em conta toda a
bagagem do aluno, sendo a idade, série, aptidão, rendimento, especificidades.
Acredita-se ser importante que haja uma reflexão a respeito do processo
da qualidade da educação e a contribuição de outros profissionais nesse
processo. Sabe-se que a situação de aprendizagem, no atual momento é
preocupante.
No segundo capitulo explicito a psicopedagogia nas instituições
escolares e a importância desse profissional para o auxílio do processo de
construção da aprendizagem do aluno. Inter-relaciona as possibilidades no
trabalho do profissional da psicopedagogia, nas séries iniciais do ensino
fundamental ressaltando da importância da afetividade nestes processos, tanto
para o atendimento, quanto para o professor que deve ser orientado neste
sentido.
Neste mesmo capítulo foram abordados alguns relatos de professoras
que apresentaram dificuldades de aprendizagens e como fizeram para que
esses problemas fossem minimizados, algumas vezes sem auxílio algum,
outras vezes com a ajuda de um profissional da área.
Acredita-se que as assertivas feitas no que se refere as ações do
psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem, sejam favoráveis e
propícias na intenção de situar este profissional em relação as novas práticas,
onde ensinar e aprender sejam atos que caminhem para a mesma direção.
No terceiro capítulo relata o delineamento metodológico da pesquisa,
bem como, a coleta de dados, a contextualização do ambiente da pesquisa e
seus sujeitos. Também no mesmo capítulo será abordado tanto os principais
motivos das dificuldades dos alunos, segundo a visão dos profissionais, como
a importância do psicopedagogo para o auxílio dessas dificuldades.
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CAPÍTULO I
A APRENDIZAGEM
Podemos afirmar que a aprendizagem é um processo contínuo. É o
centro de toda educação (Santos 2012, p.g 25), independente do objetivo que
se pretende alcançar, sabemos também que ensinar é uma tarefa árdua e
prazerosa ao mesmo tempo, da mesma forma que estudar também se torna
uma tarefa difícil para o aluno quando não há obtenção de resultados
satisfatórios.
Numa perspectiva conducionista, a aprendizagem é concebida como um
mecanismo de "estímulo - resposta". Apresenta-se certo material a um aluno e
espera-se uma certa resposta dada.
Após esta operação o professor analisa as respostas dadas e fornece a
informação referente aos resultados atingidos. No entanto, espera-se que os
resultados positivos estimulam o aluno a interiorizar os conteúdos da sessão ou
lição, e os resultados negativos o convençam a voltar a pensar.
Nesta teoria o aluno é encarado de uma forma passiva, sendo
frequentemente reduzido a um mero receptáculo de saberes que lhe são
transmitidos independentemente dos seus estados cognitivos.
Em síntese, esta teoria faz tábua rasa dos conhecimentos que o aluno já
possui antes de iniciar a aprendizagem, ignora também os seus interesses e
ritmos de aprendizagem.
Na abordagem construtivista, a aprendizagem é concebida como um
processo de acomodação e assimilação em que os alunos modificam as suas
estruturas cognitivas internas nas suas experiências pessoais. Nesta teoria os
alunos são encarados como participantes, aprendendo de uma forma que
depende do seu estado cognitivo concreto.
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Os conhecimentos prévios, interesses, expectativas, e ritmos de
aprendizagem são levados em conta nesta aprendizagem. Ela é entendida
essencialmente como o processo de revisão, modificação e reorganização dos
esquemas de conhecimento inicial dos alunos e a construção de outros novos,
e o ensino como um processo de ajuda prestado a esta atividade construtiva do
aluno.
O professor é considerado como um mediador entre os conteúdos e os
alunos, cabendo-lhe organizar ambientes de aprendizagem estimulantes que
facilitem esta construção cognitiva.
É importante conhecer as diferentes teorias de aprendizagem, mas é
imperativo que compreenda-se o modo como as pessoas aprendem e as
condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel de
um professor nesse processo. Essas teorias são importantes porque
possibilitam ao professor adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que
lhe permitirão alcançar melhor os objetivos do ensino .
Conforme Freitas (2006, et al p.3):
As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida
nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da
evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o
conhecimento pré-existente e o novo conhecimento
A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de
conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação através da
interação entre as pessoas.
Na aprendizagem escolar, existem os seguintes elementos centrais,
14
para que o desenvolvimento escolar ocorra com sucesso: o aluno, o professor
e a situação de aprendizagem.
As teorias de aprendizagem têm em comum o fato de assumirem que
indivíduos são agentes ativos na busca e construção de conhecimento, dentro
de um contexto significativo.
O processo de aprender exige uma integração entre cognição,
afetividade e a ação e, nas pessoas que não apresentam dificuldades, esta
integração flui, permitindo a aprendizagem.
1.1 Aprendizagem e Suas Dificuldades
Em todo processo de aprender existem aqueles que por algum motivo
apresentam dificuldades, esta integração aparece obstaculizada,
desorganizada, o que provoca muita tensão diante das situações aprender. O
não conseguir aprender por repetidas vezes faz com que o aprendiz forme de
si uma imagem de fracasso e se iniba ou se afaste de novas situações de
aprendizagem
Barbosa (1999, p.84) ressalta que “este afastamento vai impedindo a
sua evolução cognitiva e inibindo o seu desejo de aprender, o que gera
desconforto diante de novas aprendizagens, provocando por certo um novo
fracasso”.
Uma dificuldade de aprendizagem é um transtorno permanente que
afeta a maneira pela qual, os indivíduos com inteligência normal e acima da
média selecionam, retém e expressam informações. As informações que
entram ou que saem podem ficar desordenadas conforme viajam entre os
sentidos e o cérebro.
Os alunos com dificuldades de aprendizagem podem apresentar
dificuldade em pensar claramente e escrever legivelmente, embaraço quando
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do aprender a ler e calcular, bloqueio quando da cópia de formas, e
dificiculdades em recordar fatos, seguir instruções e colocar coisas em ordem
e sequência.
Esse aluno frequentemente fica confuso, é impulsivo, hiperativo ou
desorientado, tornando-se frustrado e rebelde, deprimido, retraído ou
agressivo.
Os profissionais envolvidos devem estar preparados para identificar
possíveis distúrbios/dificuldades no processo de aprendizagem, enfocando
aspectos orgânicos, afetivos e pedagógicos, durante todo o processo.
Este preparo do professor pode ser condicionado com orientações do
psicopedagogo na escola.
Para Belleboni (2004, p. 115), quando há o aparecimento do fracasso
escolar, outros profissionais, além do fonoaudiólogo, como psicólogos,
pedagogos, psicopedagogos, devem intervir, auxiliando através de indicações
adequadas e pertinentes a cada caso.
Essa dificuldade de aprendizagem nada mais é do que a incapacidade
que alguns indivíduos apresentam diante de algumas situações, novas ou não,
que eles não conseguem administrar bem e não são uma exceção no atual
sistema educacional nem nos modelos de sistemas educacionais mais antigos.
Esses resultados muitas vezes estão ligados a diversos fatores da vida
desse aluno e muitas vezes são reflexo de outros insucessos na vida dele,
como por exemplo, a vida social, emocional, educacional dentre outros.
Embora as dificuldades sejam causadas por uma variedade de fatores, a
proporção em que as crianças são realmente afetadas por eles, normalmente
se decide de acordo com ambiente em que vivem.
16
De acordo com José & Coelho (2002, p.23 apud Sampaio, 2009, p.28):
Existem inúmeros fatores que podem desencadear problemas ou distúrbios de
aprendizagem; vejamos:
Fatores orgânicos- saúde física deficiente, falta de integridade
neurológica (sistema nervoso doentio), alimentação
inadequada etc.
Fatores psicológicos-inibição, fantasia, ansiedade, angústia,
inadequação à realdade, sentimento de rejeição etc.
Fatores ambientais- o tipo de educação familiar, o grau de
estimulação que a criança recebeu desde os primeiros dias de
vida, a influência dos meios de comunicação etc.
A saúde física, a ansiedade, a vida que levam em casa, as dificuldades
que passam e falta de afetividade, tanto em casa quanto na escola, na
verdade, podem fazer toda a diferença na aprendizagem dessa criança, indo
de um leve problema de aprendizagem até um problema realmente
incapacitante. O nível e a forma que a criança recebe esse problema,interfere
no seu desenvolvimento intelectual dificultando assim a aprendizagem.
Vejamos o relato a seguir:
Relato de experiência 1-
Professora R .R. do Nascimento, docente do 3º ano da Rede Muncipal
de Vila Velha E.S.
No ano de 2013 eu tive um aluno muito difícil, não conseguia me
relacionar bem com ele, a família era ausente, ele era muito agressivo. Não
conseguia me aproximar de maneira nenhuma.
Ele não acompanha as aulas, não fazia as atividades, não lia nada e eu
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achava que era preguiça, vivia brigando com ele, cobrando atividades e nada
adiantava. Chamei os responsáveis do aluno à escola. A tia dele veio à escola
e eu mais que depressa perguntei pela mãe, e ela me contou que ele não tinha
mãe, pois a mãe foi morta a facada pelo pai e o mesmo estava foragido. A tia o
criava, mas eles não tinham um bom relacionamento.
De posse dessas informações comecei a me aproximar dele, pensando
em como poderia ajudá-lo. Dei atenção, carinho e coloquei-o perto de mim para
acompanhá-lo mais de perto nas atividades. Ele melhorou o comportamento e
o rendimento escolar, mas não avançou de série. Porém, o ganho desse aluno
foi muito grande, pois ele não escrevia nem o nome dele, e terminou o ano
lendo algumas palavras.
Com um pouco de dedicação e afeto, ele pode perceber que havia
pessoas que o amavam e que se preocupavam com ele de verdade. Até o
relacionamento dele com a tia havia melhorado bastante.
Em relação a isso, Sampaio, (2009, p.27) nos diz:
Entretanto, não é apenas o bom desenvolvimento cognitivo que
implica uma boa aprendizagem. Fatores de ordem afetiva e
social também influem de forma positiva ou negativa nesta
aprendizagem. Há crianças que possuem o mesmo nível
cognitivo, porém, apresentam tematizações completamente
distintas...
Para o professor fica difícil distinguir, sozinho, diferentes distúrbios de
problemas de aprendizado, e o papel do psicopedagogo é exatamente este,
auxiliar o professor nessa descoberta.
No caso da professora R.R. Nascimento ela não pode contar com essa
ajuda e conseguiu resolver parcialmente o problema, mas não é isso que
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vemos na maioria das vezes.
Nossa sociedade muitas vezes é injustiça e desigual. As famílias criadas
por essa sociedade na maioria das vezes lutam com mil e uma dificuldades
para sobreviver. Esses problemas atingem as crianças de forma direta e
indireta, que enfrentam por esses e outros motivos, inúmeras dificuldades para
aprender.
19
CAPÍTULO II
PSICOPEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES
A Psicopedagogia conta com a contribuição de várias áreas do
conhecimento, sendo Psicologia, Sociologia, Antropologia, e auxilia também
nas questões concernentes as dificuldades na aprendizagem na escola pelo
aluno, entendendo o erro apresentado pelo indivíduo no processo de
construção do seu conhecimento, fazendo assim possíveis intervenções.
O profissional da Psicopedagogia apresenta uma perspectiva
diferenciada daquelas que há muito permeia a mente de muitos professores. O
psicopedagogo apresenta função essencial na interpelação e solução dos
problemas de aprendizagem.
De acordo com Bossa (2000, p. 14), “é comum, na literatura, os
professores serem acusados de si isentarem de sua culpa e responsabilizar o
aluno ou sua família pelos problemas de aprendizagem”, mas há um processo
a ser visto, às vezes, os métodos de ensino têm que ser mudados, o afeto, o
amor, a atenção, isto tudo influi muito na questão. Nesse caso, o
psicopedagogo procura avaliar a situação da forma mais eficiente e proveitosa.
Em sua avaliação, no encontro inicial com o aluno e sua família, que é
um recurso importantíssimo, organiza um diagnóstico que o auxiliará a captar
através de técnicas variadas fatores que possam explicar a causa da
dificuldade em aprender.
Portanto a Psicopedagogia não lida diretamente com o problema, lida
com as pessoas envolvidas. Trata com as crianças, com os familiares e com os
professores, levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e
psicológicos.
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Percebe-se nas salas de aulas que muitos professores não estão
preparados, tanto no campo científico, metodológico ou político.
Ao considerar-se a aprendizagem com base nos pilares cognitivos e das
emoções, faz-se uso dos sentimentos envolvidos na relação professor-aluno e
como o processo de ensino é efetivado em função dessa interação. Se o
professor não si preocupa com a aprendizagem do aluno, no final do ano ele
não terá uma posição satisfatória.
Falar da relação professor/aluno é falar de relações humanas, é falar de
alegria e da angustia do outro e até da falta de interesse por parte do aluno e
suas respectivas dificuldades.
Cada um tem uma história diferente, uma linguagem diferente, uma
maneira diferente, um incentivo diferente, esses elementos foram construídos
pelas múltiplas relações da realidade.
Na relação educativa, dentro das práxis pedagógica, ele é o sujeito que
busca uma nova determinação em termos de patamar crítico da cultura
elaborada. Ou seja, é um ser humano que busca adquirir um novo patamar de
conhecimentos, habilidades e modo de agir.
Mas, o próprio aluno não tem essa visão e muitas vezes se angustia
dentro da escola porque ao chegar ali traz de casa o auto-conceito e auto-
estima a partir das relações que desenvolve com os pais ou pessoas de seu
convívio diário.
A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem
começa a configurar-se quando se toma consciência das dificuldades dos
21
alunos e cuida-se em apresentar os objetivos, os temas de estudos e as tarefas
numa forma de comunicação clara e compreensível, juntamente com o
professor e na escola, em um todo.
As formas adequadas de comunicação concorrem positivamente para a
interação professor-aluno e outros que fazem parte do contexto escolar.
Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez
mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem.
Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional
qualificado, está apto a trabalhar na área de educação, dando assistência aos
professores e a outros profissionais da instituição escolar para a melhoria das
condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos
problemas de aprendizagem.
Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita
uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de
aprendizagem em espaços institucionais.
Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção
de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar
comprometimentos.
Nota-se então que as responsabilidades para o psicopedagogo nas
instituições escolares relacionam-se de modo significativo. A sua formação
pessoal e profissional pede uma identidade própria e singular, precisando ser
ele capaz de reunir qualidades, habilidades e competências quando da sua
atuação.
Sendo a Psicopedagogia uma área que estuda e lida com o processo de
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aprendizagem e com os problemas apresentados. Acredita-se que a presença
deste profissional no ambiente escolar, diminuiria sobremodo na diminuição
dos problemas relativos a aprendizagem pelo aluno.
O psicopedagogo atinge seus objetivos quando, tem a compreensão das
necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a
escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem.
Conforme Scoz (1994, p.22):
[...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a
causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas
sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque
multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos,
sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais.
Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de
aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta
pela transformação da sociedade.
Desta forma o psicopedagogo institucional passa a tornar uma
ferramenta poderosa no auxílio da aprendizagem. Enfim o psicopedagogo
atinge seus objetivos quando, tem a compreensão das necessidades de
aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize
recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Acredita-se até que
possa ser com o passar do tempo, uma figura indispensável no âmbito
educacional.
Poderemos ver isso de forma mais contundente nesse relato de
experiência abaixo, onde resumidamente poderemos ver que a interferência de
um profissional passou a ser primordial para o desenvolvimento do aluno.
23
Relato de experiencia 2
Professora J.J. Regente de uma Turma de 4º ano, na Escola Municipal
Naydes Brandão no município de Vila Velha- E.S.
“No ano de 2014 iniciei um trabalho com uma turma de 3º ano, na turma
haviam 13 alunos que só conheciam o alfabeto e algumas sílabas simples (
sendo que um tinha autismo infantil).
Partindo desse diagnóstico inicial da turma confeccionei um caderno,
modelo “cartilha” para cada aluno e dividi a turma em vários níveis de
aprendizagem. Tive muitos problemas em trabalhar com essas crianças sem
auxílio algum, principalmente com o Lucas, o menino autista, pois ele só tinha
uma cuidadora.
Resolvi seguir com minha turma nesse ano de 2015 para dar
continuidade ao trabalho que iniciei, visto que no final de 2014 era palpável a
mudança de atitude das famílias e das crianças, pois elas descobriram que
eram capazes de aprender.
Continuei a alfabetização pelo método silábico, só duas alunas e um
aluno autista, pois eles têm menos dificuldades em aprender assim,
principalmente ele que precisa conhecer toda a formação de uma palavra.
Mas meu trabalho esse ano tornou-se mais prazeroso, pois ganhamos
em nossa sala uma professora especialista em Educação Especial e
Psicopedagogia, para nos auxiliar com esses alunos, principalmente com o
Lucas, que será o aluno mais citado aqui.
24
Ele surpreendeu a todos, pois passou dois anos somente olhando para
fora, pela janela, mexendo as mãos sem parar e esperando a hora do recreio
no fundo da sala de aula. Os amigos e as professoras anteriores falaram que
ele sempre foi assim e nada sabia.
Com a ajuda da Professora especialista, começamos vários trabalhos de
intervenção e o mesmo começou a responder positivamente, e a cada
progresso dele os colegas de classe o aplaudiam e o incentivava a continuar
tentando. Todos queriam ajudar! Meu filho passou a me acompanhar alguns
dias da semana para tomar a leitura dele, cantava e tocava as sílabas
(orientação da psicopedagoga) para que ficasse mais fácil assimilação.
O Lucas começou a narrar filmes, falar de animais e a ler as sílabas dos
cartazes fixados na sala. Hoje, ele produz frases, ordena textos a partir de
figuras, conta, conhece dinheiro, faz adições e subtrações com dezenas. Com
certeza ele precisa de muito mais que eu e a psicopedagoga podemos
oferecer, mas com a ajuda que ela me ofereceu e principalmente ofereceu a
ele, mostrou que todos são capazes de aprender, cada um em seu tempo.
2.1 Aprendizagem e afetividade no trabalho do psicopedagogo
O psicopedagogo somando no trabalho do docente pode fazer uma
ponte e mediar nos processos ensino-aprendizagem, propondo desafios aos
alunos e orientando-os a resolvê-los.
Assim por meio de intervenções este pode colaborar para o
fortalecimento de funções que ainda não estão consolidadas e para o
desenvolvimento de outras.
Este processo torna-se mais rico, quando são proporcionadas atividades
25
coletivas em que os alunos mais adiantados poderão cooperar com os outros.
Fernandez (1991, p. 33) ressalta quatro níveis: organismo, corpo,
inteligência, desejo que intervem no processo de aprendizagem. A criança
precisa de cuidados específicos para seu pleno desenvolvimento.
Na faixa de 9 a 10 anos a criança começa a expressar o controle do seu
corpo, a imagem positiva de sim mesma, resultando em auto-estima que obterá
segurança na expressão de suas opiniões, sentimentos, é quando se há a
abertura infinita das suas inteligências “múltiplas” das capacidades cognitivas,
então passará a analisar, a descobrir hipóteses e a resolver problemas.
Todas as experiências da criança (o prazer, a dor, o sucesso e o
fracasso), são sempre vividas corporalmente [...] é através do corpo que a
criança descobre o mundo, experimenta sensações, expressar-se, perceber as
coisas que a cercam (ALVES, 2003).
O professor deve ter o cuidado de selecionar os conteúdos que faça
parte do contexto sociocultural da criança, associando conteúdo significativo
para os alunos despertando a inteligência a partir de uma função real. Se a
educação infantil for bem trabalhada a criança dificilmente encontrará
dificuldades de aprendizagem.
Sendo a criança um ser social tem suas preferências relacionais, o
colega que se identifica mais, o partilhar do lanche, na troca de roupa, e
brinquedos. O professor deve proporcionar vínculos entre seus alunos e entre o
professor /aluno respeitando as capacidades efetivas. Segundo o Rcnei (1998):
26
A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas,
emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às pessoas e é
capaz de interagir e aprender com elas de forma que possa
compreender e influenciar seu ambiente. Ampliando suas relações
sociais, interações e formas de comunicação, as crianças sentem-se
cada vez mais seguras para se expressar, podendo aprender, nas
trocas sociais, com diferentes crianças e adultos cujas percepções e
compreensões da realidade também são diversas (BRASIL, 1998 p.
21).
Neste sentido o professor da educação infantil precisa ter a consciência
de que o processo ensino-aprendizagem não é apenas transmissão de
conteúdos, mas uma troca de interações, onde baseada na afetividade
favorece todo processo.
É na escola que se adquire conhecimentos, valores, atitudes avaliações
e hábitos que são desenvolvidos ao longo de sua escolarização e faz parte do
processo de desenvolvimento de cada criança.
Vigostky apud Oliveira (2001) defende que existe uma pré-história da
aquisição da escrita pela criança e que a mesma aconteça muito antes de sua
chegada a escola “onde vai ser submetida a processos deliberados de
alfabetização”. (VIGOSTKY apud OLIVEIRA 2001 p. 68).
Na educação infantil inicia-se a criança no conhecimento da leitura e da
escrita, visa muito além do que ensiná-la a codificar e decodificar símbolos,
mas operar com estas trazendo para a vida prática social. “É fazer com que o
indivíduo comece a analisar o mundo em que se vive e sua relação com este
“(SOARES, 1998).
Cagliari (1999, p. 169) comenta que é preciso repensar as práticas
escolares. O autor ressalta:
27
[...] em relação à escrita e a leitura, dando um lugar de maior prestigio
a leitura desde o inicio do processo de alfabetização [...] a leitura é
ainda fonte de prazer, de satisfação pessoal, de conquista, de
realização, que serve de grande estímulo a motivação para que a
criança goste da escola e de estudar.
Para as crianças pequenas é possível introduzir a leitura, bem como sua
apreciação, por histórias infantis, através de livros, estórias cantadas,
dramatização, teatro de fantoches, ilustração de músicas e letras, impressas
em cartolinas e outros.
Esse período inicial na escola tem sua importância, mas por outro lado
existe uma pressão para que as crianças sejam alfabetizadas precocemente, e
por consequência os alunos alcancem o ensino fundamental já sabendo ler e
escrever.
Precisa-se compreender que se a criança for educada de forma
prazerosa e com significado, terá mais condições de construir novos
conhecimentos, terá auto estima elevada e terá sucesso na aprendizagem.
Caso contrário se essa experiência não lhe for agradável acarretará graves
consequências que facilitarão o fracasso escolar.
2.2 A Pesquisa
Foi realizado um estudo para levantar dados e investigar os professores
do ensino fundamental I de uma escola municipal, bem como levantar questões
relacionadas às dificuldades de aprendizagem.
Para a realização da coleta de dados, optou-se por desenvolver o estudo
na Unidade Municipal de Ensino Fundamental Professora Naydes Brandão,
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que conta com 386 alunos de ensino fundamental I, localizada no Bairro da
Glória, município de Vila Velha- E-S. A escola apresenta uma grande demanda
de alunos com dificuldades de aprendizagem que vem sendo encaminhados
para avaliação psicológica e/ou neurológica, por esse motivo, resolvemos ouvir
os professores sobre esse assunto.
2.3 Participantes
Foram convidados a participar os 18 (dezoito) professores que atuam no
ensino fundamental I nos dois turnos da escola, entretanto, somente 10
professores nos retornaram com os dados obtidos.
O Instrumento utilizado para essa coleta foi o questionário, além de
muita observação e conversa, e essa escolha se deu pela necessidade de uma
técnica de investigação que nos possibilite conhecer as opiniões dos
professores e suas percepções sobre o tema alfabetização e os motivos que
muitas vezes os levam ao fracasso escolar. Da mesma forma trará
contribuições para atuação do psicopedagogo institucional, que poderá pensar
em quais caminhos seguir diante da demanda apresentada.
2.4 Apresentação e Análise de Resultados
A pesquisa tem o intuito de apresentar as percepções dos professores
que atuam no ensino fundamental I, bem com investigar os fatores que
influenciam as dificuldades de aprendizagem, envolvendo o processo de
alfabetização.
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Conforme apresentado no método, a pesquisa foi realizada por meio de
aplicação de um questionário onde os resultados serão apresentados logo
abaixo.
TABELA 1- Sexo
Sexo Percentual
Feminino 100%
Masculino 0%
Total 100%
Nesta primeira tabela são apresentados os dados referentes ao sexo
dos professores que participaram da pesquisa, 10 (dez) são mulheres (100%).
Nota-se que nenhum professor do sexo masculino respondeu ao questionário.
Podemos perceber a massificação das mulheres nas classes de turmas
primárias. O único professor que a escola possui no momento é o de
Tecnologias Educacionais que no período investigado não estava na escola.
Nessa segunda tabela apresentamos a faixa etária dos alunos que
essas professoras trabalham e a série/ano que atuam.
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TABELA 2
Idade
Frequência e
série/ano Percentual
6 2 1º
ano 20%
7 e 8 2 2º
ano 20%
9 e 10 1 3º
ano 10%
11 e 12 3 4º
ano 30%
todas 2 Div. 20%
Total 10 100%
Pode-se observar que nesta tabela não temos turma de 5º ano, pois a
escola só trabalha com turmas de 1º ao 4º ano.
Outra observação que podemos fazer é que em “todas” temos a
professora de Tecnologias Educacionais que trabalha com todas as faixas
etárias.
Conversando com essas professoras, percebeu-se que a maioria está
atuando na escola a mais de dois anos letivos consecutivos, ou seja, estão
familiarizadas com o contexto, se tratando de uma instituição pequena,
possibilita então um maior conhecimento das crianças e suas famílias.
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Percebe-se que a maioria das professoras (80%) entrevistadas estão
atuando no ensino regular (regente de 1º a 4º ano), seguido de uma professora
de AEE (Atendimento Educacional Especializado, que atende os alunos do 1º
ao 4º ano), e uma professora de Tecnologia Educacional.
Foi perguntado aos professores se na turma em que eles lecionavam
existiam alguns alunos que apresentavam dificuldades na aprendizagem e a
que essas dificuldades estavam associadas.
De todas as entrevistadas, somente uma disse que nenhum de seus
alunos apresenta até o presente momento, nenhum tipo de dificuldade. Abaixo
apresentamos os motivos mais citados para tais dificuldades:
-Maturidade da criança, fatores genéticos, falta de estímulo familiar
-Falta do hábito de ler (3 professoras)
-Problemas emocionais, sociais e familiares (3 professoras)
-Má formação do professor alfabetizador ou falta de profissional
especializado além da falta de acompanhamento familiar (2 professoras)
-Falta de atenção.
Nos motivos citados acima, percebe-se que somente uma entrevistada
falou do papel do professor alfabetizador nesse processo de aquisição do
conhecimento.
Sampaio ( 2009, pg. 60 e 62) diz :
32
“ além da compreensão, do respeito ao ritmo da criança, e da
paciência, a metodologia aplicada em sala de aula deve ser criativa,
porque as crianças com problemas em casa são realmente
propensas a se desconcentrarem mais, bem como crianças com
défcit de atenção; porém, uma aula dinâmica já é um grande passo
para conseguir segurar a atenção destas crianças.
. . .
Para que a construção do conhecimento aconteça no sujeito
aprendiz, é necessário que quem ensina, tenha formado com ele um
vínculo positivo e vice-versa. Assim o aluno pode transformar este
conhecimento, mas isso só irá acontecer se houver confiança nessa
relação de ensino e aprendizagem, pois , para aprender, é necessário
que o sujeito se autorize a aprender ; do contrário, poderá existir um
bloqueio de ordem, funcionando como uma sombra negativa sobre o
sujeito, e a aprendizagem ficará impossibilitada.
A relação afetiva entre professor e aluno também é um fator
extremamente importante que se confirma com o que já foi destacado por
Sampaio ao pontuar a importância de estabelecer confiança na relação afetiva
entre professor e aluno.
A partir da percepção desses professores, pode-se considerar
importante o reconhecimento destes de desenvolver uma relação afetiva de
confiança com seus alunos. A partir da construção dessa relação é possível
que os mesmos auxiliem muito mais na aquisição do conhecimento.
É necessário estabelecer uma diferenciação entre o baixo rendimento de
alunos devido a causas como ensino inadequado, baixa motivação e fatores
socioeconômicos, que causam a dificuldade de aprendizagem, dos originados
por fatores no desenvolvimento dos processos psicológicos como a percepção,
a atenção e a memória, que se referem a distúrbios de aprendizagem.
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Culpar o aluno de suas dificuldades e rotulá-lo como crianças que não
aprendem tem se tornado um caminho muito fácil para muitos profissionais,
além da patologização que se tem feito atualmente.
Para muitos profissionais tem sido mais fácil encaminhar o aluno a um o
profissional de outra área, esperando que este de conta da demanda, que o
sistema de ensino exclui, do que investigar as causas. A dificuldade de
aprendizagem não deve ser vista como algo irreversível, pois como já citado,
os motivos devem ser identificados na busca de soluções. Esta busca de
soluções pode e deve ser feita dentro do ambiente escolar pela professora e
pelo profissional psicopedagogo, pois não basta somente encaminhar o aluno
para outro profissional, pois este retornará a sala de aula e ações diferenciadas
na metodologia de ensino precisarão ser adotadas.
A compreensão das dificuldades de aprendizagem se faz necessária
tanto em nível escolar, bem como em nível familiar. É a partir da compreensão
das dificuldades apresentadas pela criança e seus fatores que se pode auxiliar
o processo de viabilização de soluções. No entanto, há de se perceber a
interligação que deve existir entre escola e família, pois juntas poderão
reconhecer e trabalhar as dificuldades de maneira a modificar o quadro que se
apresente.
Para Drouet ( 2006, p.12)
“De acordo com Piaget, a inteligência é um exemplo de
comportamento adaptativo que vai se desenvolvendo desde os
primeiros anos de vida, em um processo contínuo. A inteligência é a
34
capacidade que o indivíduo tem de interagir com o meio ambiente.
Ela se desenvolve através de estágios ou fases que se sucedem
sempre em uma mesma ordem, mas que devido as diferenças
individuais, podem ser alcançados em idades diferentes, dependendo
do ritmo do indivíduo.”
No processo de ensino-aprendizagem é de extrema importância que
professores e alunos criem vínculos. Dessa forma, a aprendizagem torna-se
mais fácil, pois é através dessa interação que envolve professor e aluno, que
se dá a aprendizagem.
O ser humano nasce com potencialidade para aprender, porém para que
isso ocorra , é necessário que haja estímulos em seu ambiente escolar, familiar
e social. Quando estes estímulos não ocorrem ou não trazem um resultado
esperado, acaba recaindo sobre o aluno a “culpa” pela não aprendizagem,
deixando o aluno desmotivado para aprender.
O problema da dificuldade de aprendizagem não tem sua origem
somente no fator cognitivo, mas também pode estar relacionada ao fator
econômico, sócio- afetivo e neurológico.
O professor precisa criar vínculos com seus alunos, ter um olhar
diferenciado buscando conhecer a realidade deles e refletindo sempre sobre
sua prática pedagógica, pois através deste olhar e desta reflexão ele pode
diferenciar a forma de ensinar trabalhando com os alunos a partir de seu
cotidiano.
O aluno quando percebe que tem dificuldades em aprender fica
desinteressado e pode até se tornar agressivo pois sabe que algo lhe causa
sofrimento para aprender. A causa do sofrimento precisa ser identificada, para
35
tratar o problema. Neste momento, entra a ação da psicopedagoga, pois
geralmente o aluno não aprende porque não quer. É uma questão muito mais
complexa, onde muitos fatores podem interferir e causar transtornos de
aprendizagem para muitos alunos, tais como os problemas de relacionamento
entre professores e alunos, o tipo de metodologia de ensino utilizada pelo
professor, conteúdos fora da realidade do aluno, outros.
Sabemos que a relação professor/aluno pode tornar o aluno capaz ou
incapaz e se o professor demonstra-se despreparado, com certeza vai
transferir toda sua insegurança e consequentemente provoca no aluno sérias
dificuldades de aprendizagem.
Drouet ( 2006, pg. 14) afirma que :
“Os indivíduos são todos diferentes e únicos. As diferenças
são determinadas pelas influências genéticas que receberam
dos pais e ancestrais, pelas influências bioquímicas de seu
próprio corpo , pelas influências sociais, pelos estímulos do
meio ambiente que vivem e pela interação de todas as
experiências sociais que tiveram desde o nascimento.”.
É através destas experiências que o indivíduo vai se formando e ao
chegar ao ensino fundamental já possui características de personalidade
definidas, mas ainda assim se depara com um ambiente totalmente diferente
36
CAPÍTULO III
PSICOPEDAGOGIA: PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Observa-se, que a escola deve ser crítica, criativa enfatizando a
avaliação dinâmica num processo que deve integrar a aprendizagem dos
alunos com suas dificuldades e facilidades. Para tanto, é necessário a
intervenção pedagógica do psicopedagogo, com o objetivo de diagnosticar as
dificuldades de aprendizagem e auxiliar no processo da ação – reflexão – ação
para se ter um direcionamento do ensino no sentido da aprendizagem reflexiva
a fim de buscar novos conhecimentos para o enriquecimento tanto do educador
como do aluno.
Para OLIVEIRA (2002, P.46)
Uma reflexão implica sempre na análise crítica do trabalho que
realizamos. Se estamos fazendo uma reflexão sobre o nosso
trabalho, estamos questionando sua vaidade, o significado que ele
tem para nós e para os sujeitos com que trabalhamos, e para a
comunidade do qual fazemos parte e estamos construindo.
Dessa forma, estas reflexões vão orientar o profissional em sua prática
pedagógica, a fim de incitar a apropriação de saberes envolvendo a vida no co-
tidiano escolar, fazendo assim, intervenções com métodos diversificados
durante o processo de ensino, buscando meios adequados para aplicação no
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Sendo assim, é de extrema importância a presença do psicopedagogo
no ambiente escolar para o acompanhamento dos alunos, ficando a par dos
avanços, das conquistas alcançadas e também identificar possíveis pontos
fracos, ou maiores dificuldades e orientá-los nos estudos de acordo com suas
37
potencialidades.
Destaca-se, portanto, o professor como instrumento mediador no
processo de ensino aprendizagem de seus alunos, este e capaz de reconhecer
suas potencialidades, fazer interagir com outros alunos, criar auto-estima
positiva através de atividades realizadas em sala de aula.
Para isso, Ribas, em concordância com Carvalho e Alonso (2003, p.56)
reforçam dizendo:
O professor reflexivo está sempre atento à possibilidade de
mudanças, visto que ele é inquieto, insatisfeito, persistente, um ser
inacabado ousado experimentar o novo. È ele quem exercitando sua
prática pedagógica no âmbito escolar, buscará nela autonomia [...]. É
o profissional reflexivo quem carrreia as condições para desenvolver
uma prática transformadora capaz de apropriar a aquisição dos
instrumentos conceituais e operativos para a humanização do homem
Assim, compreende-se de maneira translúcida que o professor deve ter
uma atitude de influência no desenvolvimento e na valorização da auto-estima
do indivíduo evitando que ele acumule sentimentos de fracasso.
Dessa forma, além desses fatores preponderantes citados até agora se
o professor não se sentir motivado pra trabalhar lado a lado com a intervenção
do psicopedagogo, de nada vai adiantar a presença dele no ambiente escolar,
apenas será mais um profissional na escola.
Pode-se afirmar que as intervenções do psicopedagogo acontecem por
meio de movimentos sociais e filosóficos, em um determinado momento
histórico. Para tanto, é necessário a relação das práticas didática pedagógicas
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com uma sociedade, para orientar em sua vivência concreta.
No que diz respeito ao psicopedagogo ele deve ter um olhar mais
detalhado para encontrar soluções de respostas para perguntas que na maioria
das vezes não está visível. Além isso, deve fazer estudos aprofundados sobre
o assunto procurando achar meios de solucioná-los da melhor forma possível.
Observa-se que é comum em nossos dias de trabalho, que a criança
trazida pelos pais, o adolescente, ou o próprio sujeito quando busca o
atendimento psicopedagógico precisa reconhecer que algo está faltando, e que
precisam de ajuda para superar tais situações. Na fala de Alicia Fernandez
(2001) quem ensina também aprende, e quem aprende também ensina.
No entanto, sempre que pensamos em diagnóstico psicopedagógico
precisamos fazer um relatório de anamnese, com o intuito de coletar
informações sobre os seguintes aspectos: antecedentes familiares,
desenvolvimento infantil, desenvolvimento sócio- afetivo e de conduta, das
atividades realizadas diariamente e das queixas.
É importante salientar que depois de ouvir o indivíduo, passaremos a
diagnosticá-lo da melhor maneira possível aconselhando o tratamento
conforme o quadro clínico apresentado por ele.
Ao fazer um diagnóstico com uma pessoa é de suma importância que
se conheça por inteiro, o que acontece na convivência familiar, com quem
reside, quanto à sociabilidade, se possui amigos com a mesma faixa etária, se
apresenta perfil de tímido com os adultos. Se o desenvolvimento motor era
bom quando pequeno e se sempre se alimentou bem, se apresenta dificuldade
no sono.
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CONCLUSÃO
Fazendo um levantamento geral de tudo que foi exposto a cerca do
papel desempenhado pelo psicopedagogo no ambiente escolar, pode-se
perceber o quanto é valioso fazer o bem aqueles que precisam.
Dessa forma, é importante o auxílio do psicopedagogo com a avaliação
diagnostica aos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem,
estimulando a superar suas limitações e a sua auto- estima.
Diante do que constatamos nos relatos feitos pelas professoras,
percebe-se que a maioria está atuando na escola a mais de dois anos
consecutivos, ou seja, estão familiarizadas com o contexto, se tratando de uma
instituição pequena, possibilita um maior conhecimento das crianças e suas
famílias.
Percebemos nas entrevistas das professoras entrevistadas que em suas
salas de aulas existem muitas crianças com dificuldades de aprendizagem,
algumas delas com laudos médicos outras até a data presente não
apresentaram laudos a instituição, ficando complicado buscar meios de ajudá-
las no processo da aquisição da leitura e escrita.
De todas as entrevistadas, somente uma delas falou que em sua sala
não existem alunos que apresentam dificuldades até o momento.
A partir da percepção dessas professoras, pode-se considerar
importante o reconhecimento destes de desenvolver uma relação afetiva de
confiança com seus alunos e o auxílio na aquisição dos conhecimentos.
40
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