a proteÇÃo constitucional das pessoas com...

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Luiz Alberto David Araujo 4º edição Revista, ampliada e atualizada Brasília 2011 Ministério da Justiça Secretaria de Estado dos Direitos Humanos Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Anexo II, 2º andar. 70.064-900 Brasília - DF Fones: (061) 226-7715 218-3128 225-3419 Fax: (061) 225-8806 225-0440 Email: [email protected] Impresso no Brasil/Printed in Brazil Distribuição gratuita Tiragem: 4.000 exemplares Os conceitos e opiniões nesta obra são de exclusiva responsabilidade do autor Normalização: Maria Amélia Elisabeth Carneiro Veríssimo (CRB- 1-303) Referência bibliográfica:

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MINISTRIO DA JUSTIA SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS

Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - CORDE

A PROTEO CONSTITUCIONAL DAS PESSOAS COM DEFICINCIA

Luiz Alberto David Araujo

4 edio

Revista, ampliada e atualizada

Braslia

2011

Ministrio da Justia Secretaria de Estado dos Direitos Humanos Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - CORDE Esplanada dos Ministrios, Bloco T, Anexo II, 2 andar. 70.064-900 Braslia - DF Fones: (061) 226-7715 218-3128 225-3419 Fax: (061) 225-8806 225-0440 Email: [email protected] Impresso no Brasil/Printed in Brazil Distribuio gratuita Tiragem: 4.000 exemplares Os conceitos e opinies nesta obra so de exclusiva responsabilidade do autor Normalizao: Maria Amlia Elisabeth Carneiro Verssimo (CRB-1-303)

Referncia bibliogrfica:

mailto:[email protected]

Atualizar a ficha bibliogrfica

ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteo constitucional das pessoas portadoras de deficincia. Braslia: Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia, 1997 - 122 p. Ficha catalogrfica: 341.272 Araujo Luiz Alberto David A663p A proteo constitucional das pessoas portadoras de deficincia / Luiz Alberto David Araujo. - 2 ed. - Braslia: CORDE 1996 - 122 p. -3. Edio- Braslia- CORDE 2001- Originalmente apresentada como Tese (Doutorado) - Pontifcia Universidade Catlica, So Paulo. 1. Deficiente. 2. Direito constitucional - Brasil. 3. Direitos Humanos 1. Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia. IV. Ttulo

CDD 341.272

NOTA DO AUTOR para a Quarta Edio

O presente trabalho foi elaborado pelo autor, quando de sua postulao ao titulo de Doutor em Direito Constitucional, pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Dentre os objetivos do estudo, contava o de expor, aos que se interessam pelo estudo do Direito, a multiplicidade de enfoques que o problema da pessoa com deficincia pode comportar, bem como os reflexos que deles resultam, no tocante incluso de tais pessoas ao convvio social. Ao amparar-se em conceitos prprios da Psicologia, da Medicina e do Servio Social, o autor no se ateve ao excessivo rigor que norteia a pesquisa cientfica, porque entendeu que deveria cingir-se aos conceitos bsicos dessas matrias, indispensveis compreenso mnima da questo discutida. Evitaram-se, intencionalmente, as sempre perigosas incurses em seara alheia.

A inteno singela foi a de sugerir ao leitor que no se pode abordar o tema, sem atentar-se para os aspectos mdicos e psicolgicos que envolvem a pessoa com deficincia, donde decorre o inevitvel trnsito interdisciplinar, que um estudo dessa natureza exige. Certamente, houve modificaes nos conceitos acima mencionados. No entanto, procuramos manter o texto original, para refletir as idias de um trabalho que veio a lume h mais de quinze anos.

Cabe alertar, assim, que a bibliografia citada pelo autor, referente rea no jurdica, no se preocupou em apresentar as caractersticas de atualidade, porque o escopo do trabalho, nesse ponto, foi apenas o de fixar conceitos bsicos das matrias estranhas ao Direito, de modo a conduzir o observador apreciao de outros ngulos do tema examinado, relativos ao convvio do deficiente com a sociedade.

Por fim, a idia da publicao decorreu do propsito de divulgar os institutos de defesa da pessoa com deficincia, inclusive no campo da tutela coletiva, esperando-se que isso possa constituir-se em auxlio queles que lutam pela causa.

Para a segunda edio, diante da produo de legislao infraconstitucional federal, acrescentamos, a ttulo de ilustrao, alguns dispositivos sem descaracterizar enfoque constitucional do trabalho.

Para a terceira edio, procuramos anotar, em rodap, a atualizao das legislaes infra-constitucionais, alm dos Tratados que entraram em vigncia no sistema legal nacional. A idia sempre foi preservar a obra em sua originalidade, trazendo informaes atuais para torn-la mais til.

Procuramos manter as idias originais do trabalho. No entanto, quanto ao direito educao, foi necessrio desenvolver o tema sob outra tica, diante da mudana constitucional (no formal). Houve mutao constitucional, com a alterao do conceito de

educao. Portanto, abraamos a idia de incluso, que no havia ficado clara at ento, explicitando esse ponto de vista.

Por fim, a quarta edio j traz alterao no ttulo do trabalho. A nomenclatura j foi atualizada para os termos da Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia. Novos textos infra-constitucionais foram trazidos, diante da inovao legislativa. No entanto, procuramos, como em edies anteriores, manter o esprito original do trabalho. H que mencionar, ao menos ligeiramente, os efeitos da Conveno sobre o direito interno. Assim, com essas preocupaes, cuidamos de lanar, com o apoio da CORDE essa quarta edio. A distribuio do trabalho continua a ser gratuita, facilitada, desde a terceira edio, por livre download direto no site da Corde. A idia divulgar as idias que ajudem na incluso desse grupo de pessoas. Alguns pontos acabaram sendo superados pelo tempo. No entanto, o trabalho apresentou vetores que so perfeitamente cabveis em outras situaes de interpretao constitucional, procurando servir de modelo para interpretao mais inclusiva do texto constitucional. Outros tantos trabalhos mais atualizados e mais completos j constam do mercado editorial. Procuramos manter as caractersticas originais, noticiando avanos. Espero que o leitor aprecie.

O autor.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Dr. Michel Temer, pelo apoio sempre presente.

Aos meus amigos: Cleide, Sylvia Helena, Sidney (que j descansou), Jos Pedro e Carlos Eduardo, pelas sugestes.

minha esposa Cntia e pequena Flvia. Hoje a pequena Flvia na dedicatria da primeira edio era pequena, tem 21 anos, e continua sendo a minha alegria.

Ao meu irmo Edmir Srgio, pela lembrana boa e forte que sempre me marca o corao.

SUMRIO

Primeira Parte: A pessoa com deficincia I) Introduo I.a) Uma advertncia metodolgica II) O conceito de pessoa com deficincia II.a) Tentativa de conceituao: uma primeira abordagem II.b) A idia dos dicionrios II.c) A questo terminolgica II.d) A posio da doutrina III)Um rol exemplificativo das causas da dificuldade da incluso social III.a) A deficincia mental III.a.1) O conceito de deficincia mental III.a.2) Causas da deficincia mental III.a.3) Tipos de deficincia mental III.a.4) Os superdotados III.a.5) Os alcolatras e viciados III.b) As deficincias fsicas III.b.1) As deficincias visuais III.b.2) As deficincias auditivas III.b.3) As deficincias da dico III.b.4) As deficincias de locomoo III.b.5) As pessoas com HIV III.b.6) As deficincias do metabolismo e algumas deficincias pouco conhecidas III.b.6.a) A fenilcetonria III.b.6.b) O hipotireoidismo congnito III.b.6.c) A doena do xarope de bordo III.b.6.d) A esclerose mltipla III.b.6.e) A talassemia III. b.6.f) A insuficincia renal crnica III.c) A leso superada ou aparente

http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#parte1#parte1http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#parte1#parte1http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#I. Introduo#I. Introduohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#I. Introduo#I. Introduohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Uma advertencia metodologica#Uma advertencia metodologicahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Uma advertencia metodologica#Uma advertencia metodologicahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O conceito de pessoa portadora de deficiencia#O conceito de pessoa portadora de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Tentativa de conceituacao uma primeira abordagem#Tentativa de conceituacao uma primeira abordagemhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A ideia dos dicionarios.#A ideia dos dicionarios.http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A questao terminologica.#A questao terminologica.http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A posicao da doutrina.#A posicao da doutrina.http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Um rol exemplificativo das causas da dificuldade de integracao social#Um rol exemplificativo das causas da dificuldade de integracao socialhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Um rol exemplificativo das causas da dificuldade de integracao social#Um rol exemplificativo das causas da dificuldade de integracao socialhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A deficiencia mental#A deficiencia mentalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O conceito de deficiencia mental#O conceito de deficiencia mentalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Causas da deficiencia mental#Causas da deficiencia mentalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Tipos de deficiencia mental#Tipos de deficiencia mentalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os superdotados#Os superdotadoshttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os alcoolatras e viciados#Os alcoolatras e viciadoshttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias fisicas#As deficiencias fisicashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias visuais#As deficiencias visuaishttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias auditivas#As deficiencias auditivashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias de diccao#As deficiencias de diccaohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias de locomocao#As deficiencias de locomocaohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os portadores do HIV#Os portadores do HIVhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias do metabolismo e algumas deficiencias pouco conhecidas#As deficiencias do metabolismo e algumas deficiencias pouco conhecidashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As deficiencias do metabolismo e algumas deficiencias pouco conhecidas#As deficiencias do metabolismo e algumas deficiencias pouco conhecidashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A fenilcetonuria#A fenilcetonuriahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O hipotireoidismo congenito#O hipotireoidismo congenitohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A doenca do xarope de bordo#A doenca do xarope de bordohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A esclerose multipla#A esclerose multiplahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A talassemia#A talassemiahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A insuficiencia renal cronica#A insuficiencia renal cronicahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A lesao superada ou aparente#A lesao superada ou aparente

IV) O grau de deficincia IV.a) O meio social V) O contedo do direito incluso social das pessoas com deficincia V.a) O direito igualdade V.b) O direito sade V.c) O direito ao trabalho V.d) O direito ao transporte V.e) O direito vida familiar V.f) O direito educao. A regra da incluso. V.g) O direito eliminao das barreiras arquitetnicas V.h) O direito aposentadoria V.i) O direito ao lazer VI) As liberdades pblicas e o direito incluso social das pessoas com deficincia VII) As constituies estrangeiras e o direito incluso social das pessoas com deficincias VIII) O direito incluso social nas Constituies Brasileiras Segunda Parte: A tutela constitucional brasileira IX) Apresentao X) Captulo introdutrio e instrumental: Breve anlise dos efeitos das normas constitucionais, pressuposto necessrio para o exame da proteo constitucional das pessoas com deficincia XI) O principio da igualdade XI.a) O dplice enfoque do princpio da igualdade XI.b) A igualdade perante a lei XI.c) A igualdade na lei XI.d) Os efeitos das normas consagradoras da isonomia XI.e) O direito reservado ao ingresso no servio pblico (art.37, inciso VIII)

XI.e.1) Os efeitos produzidos pelo inciso VIII, do art. 37 da Constituio Federal XI.e.2) Alguns critrios vinculativos do legislador Infraconstitucional

http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O grau de deficiencia#O grau de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O meio social#O meio socialhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O conteudo do direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#O conteudo do direito a integracao social das pessoas portadoras de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O conteudo do direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#O conteudo do direito a integracao social das pessoas portadoras de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a igualdade#O direito a igualdadehttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a saude#O direito a saudehttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito ao trabalho#O direito ao trabalhohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito ao transporte#O direito ao transportehttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a vida familiar#O direito a vida familiarhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a educacao. A regra da inclusao#O direito a educacao. A regra da inclusaohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a eliminacao de barreiras arquitetnicas#O direito a eliminacao de barreiras arquitetnicashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a aposentadoria#O direito a aposentadoriahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito ao lazer#O direito ao lazerhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As liberdades publicas e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#As liberdades publicas e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As liberdades publicas e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#As liberdades publicas e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As constituicoes estrangeiras e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#As constituicoes estrangeiras e o direito a integracao social das pessoas portadoras de dhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As constituicoes estrangeiras e o direito a integracao social das pessoas portadoras de deficiencia#As constituicoes estrangeiras e o direito a integracao social das pessoas portadoras de dhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a integracao social nas Constituicoes Brasileiras#O direito a integracao social nas Constituicoes Brasileirashttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Segunda Parte: A tutela constitucional brasileira#Segunda Parte: A tutela constitucional brasileirahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Apresentacao#Apresentacaohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitos das normas constitucionais, pressuposto necessario para o exame da protecao constitucional das pessoas portadoras de deficiencia#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitos das normas constitucionais, pressuposto necessario para o exame da protecao constitucional das pessoas portadoras de deficiencia#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitos das normas constitucionais, pressuposto necessario para o exame da protecao constitucional das pessoas portadoras de deficiencia#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitos das normas constitucionais, pressuposto necessario para o exame da protecao constitucional das pessoas portadoras de deficiencia#Captulo Introdutorio e Instrumental: Breve analise dos efeitohttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O principio da igualdade#O principio da igualdadehttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O duplice enfoque do principio da igualdade#O duplice enfoque do principio da igualdadehttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A igualdade perante a lei#A igualdade perante a leihttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#A igualdade na lei#A igualdade na leihttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos das normas consagradoras da isonomia#Os efeitos das normas consagradoras da isonomiahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)#O direito reservado ao ingresso no servico publico (artigo 37, inciso VIII)http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Alguns criterios vinculativos do legislador infraconstitucional#Alguns criterios vinculativos do legislador infraconstitucionalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Alguns criterios vinculativos do legislador infraconstitucional#Alguns criterios vinculativos do legislador infraconstitucional

XI.f) As regras da previdncia e assistncia social XI.f.1) O direito sade XI.f.l.a) Os efeitos do artigo 196 da Constituio Federal XI.f.2) O direito previdncia social por invalidez XI.f.2.a) Os efeitos do inciso I do artigo 201 da Constituio Federal XI.f.3) O direito assistncia social: habilitao, reabilitao e incluso vida comunitria e ao beneficio mensal XI.f.3.a) Os efeitos dos incisos do artigo 203 da Constituio Federal XI.f.4) O direito educao. XI.f.4.a) Os efeitos do inciso III, do artigo 208 da Constituico Federal XI.f.5) O direito de proteo das crianas e adolescentes com deficincia XI.f.5.1) Os efeitos do inciso II do pargrafo primeiro e do pargrafo segundo do artigo 227 da Constituio Federal XI.f.6) A extenso da proteo de eliminao de obstculos aos logradouros, edifcios e veculos coletivos j existentes XI.f.6.a) Os efeitos da regra do artigo 244 da Constituio Federal XII) As competncias constitucionais relativas s pessoas com deficincia XII.a) As competncias legislativas XII.b) A competncia de execuo XIII) A proteo judicial dos direitos das pessoas com deficincia 120 XIII.a) A proteo judicial individual XIII.b) A proteo judicial coletiva e difusa XIII.c) A proteo judicial contra a omisso legislativa: a via direta de controle Concluses Bibliografia

A PROTEO CONSTITUCIONAL DAS PESSOAS COM DEFICINCIA

http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#As regras de previdencia e assistencia social#As regras de previdencia e assistencia socialhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a saude2#O direito a saude2http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos do artigo 196 da Constituicao Federal#Os efeitos do artigo 196 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a previdencia social por invalidez#O direito a previdencia social por invalidezhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos do inciso I, do artigo 201 da Constituicao Federal#Os efeitos do inciso I, do artigo 201 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos do inciso I, do artigo 201 da Constituicao Federal#Os efeitos do inciso I, do artigo 201 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a assistencia social: habilitacao, reabilitacao e integracao a vida comunitaria e ao beneficio mensal#O direito a assistencia social: habilitacao, reabilitacao e integracao a vidahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito a assistencia social: habilitacao, reabilitacao e integracao a vida comunitaria e ao beneficio mensal#O direito a assistencia social: habilitacao, reabilitacao e integracao a vidahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos dos incisos do artigo 203 da Constituicao Federal#Os efeitos dos incisos do artigo 203 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos dos incisos do artigo 203 da Constituicao Federal#Os efeitos dos incisos do artigo 203 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos do inciso III, do artigo 208 da Constituicao Federal#Os efeitos do inciso III, do artigo 208 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#Os efeitos do inciso III, do artigo 208 da Constituicao Federal#Os efeitos do inciso III, do artigo 208 da Constituicao Federalhttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficiencia#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficiencia#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficiencia#O direito de protecao das criancas e adolescentes portadores de deficienciahttp://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/protecao_const1.asp#O 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Primeira Parte: A pessoa com deficincia

I. Introduo

A deficincia no ser humano, em qualquer de suas modalidades, evidentemente, no tema novo. No entanto, a preocupao com a sua preveno e a proteo das pessoas com deficincia so temas recentes. Um importante divisor de guas para o estudo da proteo das pessoas com deficincias foi a ocorrncia das duas guerras mundiais, o que fez aumentar, desgraadamente, o nmero de pessoas com deficincia de locomoo, de audio e de viso.

Esse agravamento do nmero de pessoas com deficincias fez com que esse drama ficasse exposto de forma mais incisiva, exigindo do Estado uma posio de agente protetor.

Cada ordenamento jurdico trata o tema com caractersticas especiais. H pases em que a proteo mais efetiva, apesar de inexistir qualquer comando, em nvel constitucional, para garantir essa proteo. De outro lado, podemos encontrar pases (e infelizmente nos encontramos nesse rol) em que, apesar da garantia constitucional, o tema tratado de forma insuficiente pelo legislador infraconstitucional e pelas autoridades em geral.

Por certo que, no Brasil as guerras mundiais no acarretaram a conscientizao do problema da deficincia, tal como ocorreu no velho continente.

Entre ns, o nmero elevado de pessoas com deficincia no tem a mesma causa dos pases da Europa e dos Estados Unidos. Nosso ndice assustador se deve aos acidentes de trnsito, carncia alimentar e falta de condies de higiene. Essa taxa da deficincia no Brasil, que atinge dez por cento da populao, fato

reconhecido pela Organizao das Naes Unidas, s recentemente resultou em preocupao constitucional1.

Assim, com exceo da regra isonmica, a proteo das pessoas com deficincia nunca foi tema constante dos textos constitucionais brasileiros.

A Emenda Constitucional n 1, de 1969, traz a primeira notcia de proteo especfica pessoa com deficincia. A Emenda n 12, de 1978, amplia esses direitos, tendo os mesmos sofrido inexplicvel modificao pela Carta Poltica de 1988. Ao tema foi dado um novo perfil, paternalista de um lado e realista de outro, tal como veremos.

As normas de proteo, localizadas em apenas uma Emenda, na Constituio de 1969, espalham-se no texto atual, cuidando de barreiras arquitetnicas, acesso a edifcios pblicos etc.

Por seu turno, a sociedade, mobilizada em torno da questo da pessoa com deficincia, procurou refletir a idia de proteo no texto constitucional. A Constituio, ao garantir os direitos das pessoas com deficincia, estampou suas contradies e seus conflitos, diante de problemas como a misria, a fome, a desnutrio infantil, a falta de habitao etc. O contedo do direito proteo, dessa forma, , como j afirmado, paternalista, em alguns momentos, moderno e efetivo, em outras passagens.

O problema das pessoas com deficincia, todavia, no se restringe, apenas, a uma proteo visando incluso social. Deve-se ter em conta a preveno da deficincia, o que leva o estudioso para as reas de alimentao, sade pblica etc.

Os ndices fornecidos pela Organizao das Naes Unidas so, no mnimo, alarmantes e a taxa elevadssima.

1 - Cf. Barra, Epaminondas M. Censo no mostrar a verdadeira realidade.

O Estado de S. Paulo, So Paulo, 9 nov. 1991. Justia, p.8.

A questo no se limita, porm, ao problema da proteo do Estado, O relacionamento do portador de deficincia se inicia, muitas vezes, com o total despreparo dos pais para receberem um filho portador de deficincia.

Qual o pai ou a me que pensaria que seu filho poderia nascer portador de deficincia?

O casal est preparado e isso compreensvel para receber um beb sem qualquer problema. Todos os projetos e expectativas tm como alvo uma criana sem nenhuma deficincia

Assim, no caso de deficincia congnita ou adquirida durante o nascimento, a criana comea a enfrentar seus primeiros problemas oriundos da rejeio, em razo do despreparo de seus pais.

O relacionamento com estes ltimos no chega a ser o nico obstculo vivido pelas pessoas com deficincia. A convivncia social outra barreira bastante grande. Quantos indivduos, por exemplo, esto preparados para manter relacionamento com uma criana com sndrome de Down? Quantas pessoas se sentem tranqui1as para manter uma conversao, sem constrangimentos, com uma pessoa paraplgica?

Por mais que nos sintamos amadurecidos para enfrentar essa situao, a pessoa com deficincia notar certa ansiedade e algum desconforto nesse relacionamento, no mnimo, por falta de naturalidade. Isto se deve circunstncia de que a incluso dos indivduos deficientes no exercitada pela sociedade como um todo.

Por isso, esse estudo se prope a fazer uma anlise da condio atual do portador de deficincia diante das liberdades pblicas, alm de mostrar a necessidade de um desenvolvimento na efetivao desses direitos, procurando apontar caminhos para tanto. Nessa linha de raciocnio, o estudo foi dividido em duas

partes. A primeira, de cunho geral, pretende, partindo de um conceito de pessoa com deficincia, que dever ser amplo e abrangente, mostrar que h relacionamento ntimo entre deficincia e tarefas a serem desenvolvidas, ou seja, a pessoa com deficincia deve ser, de preferncia, analisada no meio em que vive, na sua condio social. Muitas vezes, numa cidade como So Paulo, determinada pessoa tida como com deficincia, podendo, em outra realidade social, com certeza, desempenhar, de forma satisfatria, tarefas rurais simples. Cuidou-se, por outro lado de, a ttulo de ilustrao, veicular certos tipos de deficincia pouco comuns, como as doenas do metabolismo, a talassemia, a disfuno renal crnica etc.

Este rol exemplificativo, no tendo o condo de esgotar o tema. Como mencionado abaixo (I.a.), o objetivo da primeira parte foi circunscrever com a maior preciso o objeto do estudo.

Definido o campo do estudo, vai-se adentrar a proteo da pessoa com deficincia e o direito sua incluso social. Nesse particular, foi necessrio descrever, primeiro, o contedo do direito proteo social, contedo decorrente de observaes simples, sendo obtido quase que naturalmente: o direito igualdade, o direito sade, o direito eliminao das barreiras arquitetnicas, ao trabalho, educao etc.

Nesse passo, faz-se necessria uma breve averiguao sobre a experincia constitucional estrangeira no campo da proteo em tela.

Completando a primeira parte do trabalho, procedeu-se investigao da evoluo constitucional brasileira no campo da proteo dos portadores de deficincia.

A segunda parte deste estudo envolve uma anlise positivista da Constituio Federal.

Antes, porm, da anlise dos instrumentos de proteo positivados, fez-se imprescindvel uma palavra sobre os efeitos da

norma, elaborando-se um captulo instrumental; a cada apresentao do dispositivo constitucional sero divulgados os efeitos respectivos.

A preocupao foi apresentar os dispositivos de proteo, que tratam do direito igualdade e incluso. Nesse particular, foram analisados aspectos especficos da proteo, como transporte, barreiras arquitetnicas, acesso a cargos pblicos e benefcios previdencirios, concedidos aos portadores de deficincia.

I.a) Uma advertncia metodolgica.

O objetivo do trabalho a anlise da proteo constitucional das pessoas com deficincia. Para a delimitao do conceito de pessoa com deficincia, ser necessria, no decorrer do trabalho, a citao de critrios alheios cincia do Direito, mas imprescindveis ao perfeito entendimento da idia desenvolvida.

Por exemplo, a gradao da deficincia mental obrigar a uma incurso no campo da Psicologia e da Psiquiatria, com a citao de manuais bsicos dessas reas, necessrios perfeita delimitao do tema.

Para que se possa verificar se os comandos constitucionais tm sido cumpridos, indispensvel a demonstrao de alguns tipos de deficincia pouco comuns, como a esclerose mltipla, a talassemia, a feniclicetonria etc.

No seria possvel, portanto, o perfeito entendimento da idia de pessoa com deficincia sem o concurso de conceitos estranhos ao nosso quotidiano jurdico. Na realidade, sem tais colocaes seria muito difcil, por exemplo, entender a proteo de grupos de doentes do metabolismo ou mesmo compreender a necessidade de uma poltica de preveno de certos males, que sero descritos exemplificadamente nos captulos seguintes.

Assim, os critrios trazidos a partir de obras de Medicina, Psicologia ou mesmo de Psiquiatria se justificam pela

imperiosidade de se trazer uma abordagem adequada ao tema estudado.

Como planejar a atividade de uma pessoa com deficincia mental, dentro de um ambiente profissional, sem a idia de que existem nveis diversos de deficincia mental?

Necessria, portanto, uma anlise, mesmo que elementar, da parte mdica e psicolgica.

Sempre temos presente idia de que a pessoa com deficincia aquela que sofre de um mal que lhe afeta os movimentos ou os sentidos, olvidando espcies menos freqentes de deficincia, mas de gravidade de mesmo porte.

O desenvolvimento do estudo mostra que essa idia deve ser ampliada para englobar um rol maior e mais variado de pessoas com deficincia, desde as originadas por problemas crnicos em rgos (os renais crnicos, por exemplo) como aqueles que tm uma deficincia imunolgica (portadores de AIDS) ou, ainda, os que apresentam erros natos de metabolismo (os fenilcetonricos, por exemplo).

A inteno, portanto, foi a de demonstrar que o conceito de pessoa com deficincia no se restringe s causas mais comumente conhecidas s porque freqentes. Alm de exemplificar tipos distintos de deficincias, pretende-se ampliar o horizonte daquelas pessoas que analisaro a legislao infraconstitucional integrativa, bem como alertar a Administrao Pblica, a quem incumbe tomar as providncias visando ao cumprimento dos comandos constitucionais.

Por fim, importante anotar que todos os comentrios feitos na rea de Medicina, Psicologia ou mesmo pela Fisioterapia, no tiveram qualquer preocupao de esgotar o assunto ou mesmo de o aprofundar, pretendendo, apenas, trazer algum referencial para a discusso da matria. Desta forma, inexiste qualquer inteno de analisar os temas de reas distintas a fundo, procurando traz-los

apenas e to-somente como forma de reflexo para a interpretao constitucional. Os objetivos do trabalho e o desconhecimento das reas cientficas mencionadas por si s justificam a falta de aprofundamento dos temas.

II. O conceito de pessoa com deficincia.

A partir dos conceitos j existentes, vamos tentar obter uma idia clara de pessoa com deficincia. Evidentemente que uma pessoa com paralisia cerebral, por exemplo, estaria contida na idia central deste trabalho. H hipteses, porm, que sero apresentadas e que podero causar dvidas, seja porque desconhecidas, seja porque limtrofes, exigindo cuidados na conceituao.

II.a) Tentativa de conceituao: uma primeira abordagem.

Dentre os poucos estudos encontrados sobre a matria, na rea do Direito inegvel a colaborao de NAIR LEMOS GONALVES, incansvel defensora dos direitos das pessoas com deficincia2.

Em trabalho no qual pretendeu traar uma diretriz sobre a legislao de proteo dos portadores de deficincia, a autora menciona diversas nomenclaturas, nacionais e estrangeiras, ao se referir a esse grupo de pessoas. Algumas expresses so mais amenas, outras mais incisivas. Vejamos alguns exemplos: indivduos de capacidade limitada, minorados, impedidos descapacitados, excepcionais, minusvlidos, disable person, handicapped person, unusual person, special person, invlido, alm de deficiente, que o termo mais usado.

2 - GONALVES, Nair Lemos. O Estado de Direito do Excepcional IX

Congresso Nacional de Federao Nacional das APEs., 1979. Separata sem

constar editor.

A leitura desse rol leva a uma interpretao bastante variada da idia que se tem desse grupo. Algumas expresses ou palavras realam a incapacidade: outras, mais a noo de deficincia; outras, ainda mais distantes, no chegam a mencionar o ponto fulcral do problema, a prpria deficincia, suavizando demais as palavras, ou seja, usando de eufemismo.

H tambm a expresso "pessoa portadora de necessidades especiais".

Das expresses aludidas, selecionamos trs: excepcional, deficiente e pessoas portadoras de deficincia. A primeira, que foi utilizada na Emenda Constitucional de 1969, traz uma idia normalmente mais ligada deficincia mental. H uma tendncia muito forte de se tratarem as pessoas mentalmente doentes como sendo excepcionais. Assim sendo, entendemos desaconselhvel ou uso do termo, especialmente porque a matria deve ser tratada da forma mais comum possvel, pois o Direito precisa trabalhar com dados da realidade e esta indica que a palavra excepcional no tem grande aceitao para cuidar de deficincias fsicas ou de deficincia do metabolismo. Seria difcil, por exemplo, chamarmos um portador do HIV de excepcional.

O segundo termo, deficiente, mais incisivo, pois leva diretamente ao objeto estudado, a deficincia do individuo.

A ltima expresso, pessoas portadoras de deficincia, tem o condo de diminuir o estigma da deficincia, ressaltando o conceito de pessoa; mais leve, mais elegante, e diminui a situao de desvantagem que caracteriza esse grupo de indivduos.

Pelos motivos acima, a expresso pessoas portadoras de deficincia, onde o ncleo a palavra pessoa e deficincia apenas um qualificativo, foi aquela que julgamos mais adequada para este estudo. H valorizao da pessoa a qualificao, apenas, completa a idia nuclear.

Alis, sob esse enfoque, o novo texto constitucional atentou para o delicado problema, adotando a terminologia que julgamos mais adequada (pessoas portadoras de deficincia), ao contrrio do texto anterior, que se utilizava das expresses deficiente e excepcional3.

Atualmente, a expresso utilizada pessoa com deficincia. A idia de portar, conduzir deixou de ser a mais adequada. A Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia, que ingressou no sistema constitucional brasileiro por fora do Decreto-Legislativo n. 186 de 09 de julho de 2008 e do Decreto de Promulgao n. 6949, de 25 de agosto de 2009, utiliza-se da expresso contempornea, mais adequada. A pessoa (que continua sendo o ncleo central da expresso) tem uma deficincia (e no a porta). Com a aprovao da Conveno, que tem equivalncia com a Emenda Constituio, por fora do pargrafo terceiro, do artigo quinto, da Constituio Federal, a terminologia nova revogou a antiga. Assim, apesar de os textos impressos trazerem a expresso pessoa portadora de deficincia, a aprovao da Conveno, com status equivalente a Emenda Constitucional, tratou de alterar o dispositivo constitucional. Assim, a Constituio deveria j estar retificada para pessoa com deficincia, nome atual, constante de norma posterior, convencional, de mesmo porte de uma emenda. Sendo assim, a Constituio j foi alterada neste tpico.4

As expresses aqui apresentadas se prestaram para uma primeira abordagem da questo, enlaando alguns ngulos atravs dos quais os leigos entendem o que vem a ser deficincia. O problema terminolgico, no entanto, no se encerra aqui. A ele voltaremos quando examinarmos o conceito de deficincia, sob o prisma da doutrina existente. 3 -Constituio Brasileira de 1.967, artigo nico da Emenda n. 12, de 17 de outubro de 1.978 e artigo

175, pargrafo quarto, respectivamente. 4 Mantivemos os textos constitucionais originais (utilizando a expresso pessoa portadora de

deficincia) por uma questo didtica. No entanto, entendemos que j houve modificao da

terminologia diante da incorporao dos termos da Conveno. Assim, o correto seria j fazer constar

pessoa com deficincia no lugar de pessoa portadora de deficincia.

II.b) A idia dos dicionrios.

O ponto de partida para tentarmos conceituar o grupo de pessoas com deficincia buscar o conceito usual, encontrado nos dicionrios.

A doutrina tem entendido que os termos utilizados pelo constituinte devem ser interpretados levando em conta seu sentido mais freqente, comezinho, pois a Constituio um diploma poltico, um documento de cidadania.A advertncia era feita por CARLOS MAXIMILIANO:

A tcnica da interpretao muda, desde que se passa das disposies ordinrias para as constitucionais, de alcance mais amplo, por sua virtude do objetivo colimado redigidas de modo sinttico, em termo gerais5.

Com mais mincia e preciso, a lio de CELSO RIBEIRO BASTOS e CARLOS AYRES DE BRITO:

Por se traduzir em sumas de princpios gerais (Ruy Barbosa), ou em verdadeira sntese das demais disciplinas jurdicas, a Constituio positiva vazada em linguagem predominantemente lacnica, no analtica, feio de uma sinopse de todo o ordenamento normativo. De outra parte, por ser o cdigo primeiro do sistema de direito positivo, regulador das vivncias polticas dos cidados, ele se patenteia como um estatuto de cidadania ou uma carta de nacionalidade, primando, por isto mesmo, pela uti1izao de palavras e expresses comuns. Vocbulos e locues de sentido preponderantemente vulgar, extrados do manancial terminolgico do comum-do-povo6.

5 - MAXIMILIANO, Carlos. Hermenutica e Aplicao do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 1984, 9.

Edio, 3. Tiragem, p. 304, grifos nossos. 6 - BASTOS, Celso Ribeiro & BRITO, Carlos Ayres de. Interpretao e

aplicabilidade das Normas Constitucionais, So Paulo, 1982, p. 19, grifos originais.

Partindo desse enfoque, convm citar alguns conceitos existentes nos dicionrios, que podero dar a idia bsica, o ncleo da palavra deficincia, para que possamos, ento, chegar a um conceito mais preciso do que vem a ser pessoa portadora de deficincia ou, mais modernamente pessoa com deficincia.

Vejamos algumas definies.

Para AURLIO BUARQUE DE HOLANDA FERPEIRA, o verbete deficiente vem assim anunciado:

deficiente falto, falho, carente: incompleto, imperfeito7.

No entendimento de CNDIDO DE OLIVEIRA

deficiente-adj. que possui deficincia; falho; imperfeito, incompleto8.

Para CNDIDO DE FIGUEIREDO, verbete deficiente:

deficiente: adj. Em que h deficincia. Imperfeito...9

Para o Novo Dicionrio Brasileiro Melhoramentos Ilustrado, o verbete deficiente assim vem descrito:

deficiente, adj. 1. Que tem deficincia; falho, imperfeito, incompleto. 2. Escasso. 3....10

7 - FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo Dicionrio da Lngua

Portuguesa, Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986, 2 ed. revista ampliada. 8 OLIVEIRA, Cndido de. Dicionrio Mor da Lngua Portuguesa, So Paulo: Livro

Mor Editora Ltda., sem data. 9 FIGUEIREDO, Cndido de. Dicionrio da Lngua Portuguesa, Lisboa: Livraria

Bertrand, 14 edio, sem data. 10

SILVA, Adalberto Prado e. Novo Dicionrio Brasileiro Melhoramentos Ilustrado,

So Paulo: Ed. Melhoramentos, 1971, 7 ed. vol.II.

No Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa, a apresentao a seguinte:

deficiente, adj. 1. Que tem alguma deficincia; falho, falto. 2. Que no suficiente sob o ponto de vista quantitativo; deficitro, incompleto 3. ... 4. Aquele que sofre ou portador de algum tipo de deficincia...

Com rara exceo11, os dicionrios jurdicos deixam de tratar do tema. No cuidam nem de excepcional nem, tampouco, de deficiente12

Em qualquer das definies, a idia mais adotada de falta, de carncia e de falha.

Diante dessas conceituaes, a idia de falha estaria presente na definio do que vem a ser pessoa portadora de deficincia13. As pessoas que tm uma falta ou uma falha sensorial, motora ou mental, seriam pessoas com deficincia.

A idia no se apresenta to singela.

Tomemos o exemplo dos superdotados. Essas pessoas podem ter alguma deficincia de adaptao e no tm nenhuma falta. Pelo contrrio, sua inteligncia superior do homem comum; suas habilidades so mais aguadas do que o padro normal. No entanto, dentre os superdotados podem estar pessoas com deficincia.

11

ENCICLOPDIA SARAIVA DO DIREITO, So Paulo: Saraiva, vol. 34 verbete

excepcional

1. 12 cf. NUNES, Pedro. Dicionrio de Tecnologia Jurdica. Rio de Janeiro; Freitas Bastos, 1966, 7 edio, vol. 1 e 2; NUFEL, Jos. Dicionrio

Jurdico Brasileiro, Rio de janeiro; Jos Konfino, 1965, 4 edio, vol. 2;

SANTOS, J. M. de Carvalho. vol. 15,21 e 37, sem data; SILVA, de Plcido.

Vocabulrio Jurdico. Rio de Janeiro: Forense, 1967, 2 edio, vol. 2e 3. 13

- Repetimos que, s vezes, para manter a fidelidade do texto original, usaremos (mesmo j

entendendo ter a expresso sido alterada) a expresso pessoa portadora de deficincia.

Importante frisar que a falha, a falta, no se situa no indivduo, mas em seu relacionamento com a sociedade.

O indivduo portador de deficincia quer por falta, quer por excesso sensorial ou motor, deve apresentar dificuldades para seu relacionamento social.

O que define a pessoa com deficincia no falta de um membro nem a viso ou audio reduzidas. O que caracteriza a pessoa com deficincia a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade, O grau de dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade, de estar includo socialmente. O grau de dificuldade para a incluso social que definir quem ou no pessoa com deficincia.

Analisemos, agora, a mesma situao sob dois ngulos distintos. Imaginemos um operrio que tenha um dedo amputado. Conforme o oficio por ele desenvolvido, encontrar srias dificuldades para conseguir outro emprego na mesma atividade, at ento desenvolvida. Na mesma hiptese, um trabalhador intelectual poder sofrer muito menos diante da mesma perda. Ambos tm uma deficincia, ou seja, uma perda ou uma falha. No entanto, os resultados prticos so completamente distintos. No primeiro caso, estaramos diante de pessoa com deficincia, enquanto, no segundo, por no haver qualquer dificuldade de incluso social, j que o trabalho intelectual desenvolvido o mesmo, permanecendo o individuo no mesmo patamar profissional e integrativo social, no estaramos diante de pessoa que necessitasse qualquer cuidado especial. No primeiro caso, constata-se uma inferioridade (alm de uma deficincia); no segundo, apenas deficincia.

Se a pessoa com deficincia mental leve convive em meio social simples, que exige dele comportamentos rotineiros, sem qualquer complexidade, que o faa integrado na sociedade, no se pode afirmar que, para aquela situao, estaramos diante de pessoa com deficincia. A deficincia de certos indivduos, muitas vezes,

passa at despercebida, diante do grau mnimo de conflito e decises a que eles devem ser submetidos, tratando-se de meio social de pouca complexidade.

Poderemos, ainda, imaginar uma colnia de hansenianos. Na sociedade constituda para abrigar esse grupo de doentes, cada um deles est perfeitamente integrado, com famlia constituda, relacionamento profissional e social. Naquela sociedade, no se pode falar em pessoa com deficincia; fora desse ambiente, seria manifesto o problema.

A deficincia, portanto, h de ser entendida levando-se em conta o grau de dificuldade para a incluso social e no apenas a constatao de uma falha sensorial ou motora, por exemplo.

Ainda mais um exemplo, infelizmente atual: pessoas com vrus HIV (vrus da AIDS) apresentam grande variao de sade. Muitos, quando a doena ainda no se manifestou, levam vida normal, sem qualquer restrio. Temos tido notcia de esportistas, de artistas e de polticos que vivem sem qualquer problema de incluso, mesmo sendo portadores de tal vrus. Essas pessoas, nesse primeiro momento, no revelam qualquer problema de incluso social. No so, portanto, para nosso estudo, obrigatoriamente, pessoas com deficincia.

Assim, podemos afirmar que h variveis que passam obrigatoriamente pela anlise da inferioridade fsica que impede a incluso social, o tipo de sociedade em que o individuo vive e, por fim, o momento ou estgio de sua doena.

II. c.) A questo terminolgica.

A doutrina tem tratado do tema das pessoas com deficincia de forma pouco freqente. No h uniformidade de nomenclatura, utilizando-se, mais amide, os termos ou expresses deficiente excepcional ou pessoas portadoras de deficincia. A diversidade terminolgica, no entanto, pode ser explicada pela tentativa de trabalhar com a terminologia adotada pela Lei Maior.

Dessa forma, at 1978, a palavra empregada constitucionalmente era excepcional. Posteriormente, adotou-se deficiente. Como j visto, a expresso vigente na Constituio de 1988 pessoas portadoras de deficincia. Por fim, com fundamento na Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia, incorporada pelo Direito Interno, a expresso correta pessoa com deficincia.

II. d.) A posio da doutrina.

No existe a menor dvida de que o problema da pessoa com deficincia mereceria maior ateno e dedicao dos estudiosos, pois atinge dez por cento da populao do Brasil.

NAIR LEMOS GONALVES assim define o termo excepcional como sinnimo de pessoa com deficincia:

desvio acentuado dos mencionados padres mdios e sua relao com o desenvolvimento fsico, mental, sensorial ou emocional, considerados esses aspectos do desenvolvimento separada, combinada ou globalmente14

A idia defendida por NAIR LEMOS GONALVES frisa o desvio do padro. No , todavia, qualquer desvio do padro: apenas o desvio acentuado. Tal mincia no foi notada pelos comentaristas do texto constitucional.

Ao comentar o art. 175 da Constituio Federal de 1967 e de sua Emenda n. 1, PONTES DE MIRANDA assim se referia ao termo . excepcional:

14

- O ponto de vista de Nair Lemos Gonalves, pioneira na luta pelos direitos das pessoas com

deficincia, prprio da poca de sua luta. Usa a expresso excepcional, j superada pela doutrina,

pela Constituio de 1.988 e pela Conveno. No entanto, em 2002, a Lei 10.406 (Cdigo Civil

Brasileiro), em seu artigo quarto, quando trouxe a incapacidade relativa, cuidou de usar a expresso

excepcionais, em seu inciso III, mostrando o descompasso entre o legislador e as preocupaes

modernas desse grupo de pessoas. O texto original foi citado pela Auora no Projeto de Lei n. 148-76,

Dirio do Congresso Nacional de 10 de junho de 1.976, Seo II, p. 3495/505, in Verbete Excepcional,

Enciclopdia Saraiva do Direito, So Paulo: Saraiva, sem data, vol. 34.

excepcional est ai, por pessoas que, por faltas ou defeitos fsicos ou psquicos, ou por procedncia anormal (nascido, por ex., em meio social perigoso), precisam de assistncia15

A definio acima engloba os carentes sociais que, a nosso ver, no podem se enquadrar na idia de pessoa com deficincia. No h qualquer desvio do padro mdio no menor carente, por exemplo. Trata-se de pessoas com todas as possibilidades motoras, sensoriais, metablicas, podendo atingir seus objetivos sociais.

Ao comentar a Emenda n.12, de Outubro de 1978, MANOEL GONALVES FILHO, assim define o termo deficiente:

Beneficia este artigo os deficientes. Quer dizer, todos aqueles que estejam privados da condio fsica e mental reconhecida como normal no homem. Note-se que o termo deficiente no pode designar seno os que esto aqum da normalidade.16

O conceito exposto merece reparos. Alm dos acima formulados, a idia deixou de contemplar os superdotados que, certamente, podem ser considerados pessoas com deficincia.

III) Um rol exemplificativo das causas da dificuldade de incluso social.

Quais seriam as razes, no entanto, que poderiam dificultar a incluso social das pessoas com deficincia?

Quando se fala em deficincia, pensa-se, de imediato, naquela decorrente de problemas fsicos, como a paraplegia ou a

15

MIRANDA, Pontes de. Comentrios Constituio de 1967, com a Emenda n 1.

De 1969. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1967, vol. 6, p.333. 16

FERREIRA FILHO, Manoel Gonalves. Comentrios Constituio Brasileira

Emenda Constitucional n 1, de 17 de outubro de 1969, atualizada at a Emenda

Constitucional n 22, de 29 de junho de 1982 So Paulo: editora saraiva, 1983,

3 Edio, revista e atualizada, p. 747.

tetraplegia, ou ainda, como a surdez ou a cegueira. No campo da deficincia mental, os motivos so inmeros.

A legislao constitucional, como ser visto adiante, no cuida de disciplinar o rol das causas das deficincias, exigindo, desta forma, neste trabalho, esforo para a enumerao de alguns fatores mais importantes e conhecidos, at agora.

Mais urna vez, merece ser mencionada a doutrina de NAIR LEMOS GONALVES, quando, no pargrafo nico do artigo primeiro de sua proposta legislativa, menciona as causas que caracterizam a dificuldade de incluso social.

Art. 1: ...

Pargrafo nico o desvio previsto neste artigo pode decorrer de:

a) deficincia de audiocomunicao;

b) deficincia fsica-ortopdica;

c) deficincia mental;

d) deficincia visual;

e) deficincia de ajustamento emocional.

f) mltipla deficincia e

h) condies superiores ao padro mdio (superdotados)17

Inegvel o mrito da proposta, por ser a primeira tentativa de sistematizar a legislao sobre o tema: no obstante o projeto de lei no chegou a se concretizar como norma jurdica.

Com o devido respeito, ainda assim, mereceria alguns reparos crticos.

17

op cit. Proposta...

No rol apresentado desde j se pode apontar a desnecessidade de alnea f, que anuncia a mltipla deficincia. Se a pessoa com deficincia j se classifica por uma das causas anteriores, desnecessrio mencionar a mltipla causa de desvio. Assim poderia ser excluda a alnea f da proposta legislativa citada.

Outro ponto diz respeito ao fato de que algumas causas no esto abrangidas, como a leso aparente ou a leso superada (Infra III.c) ou, ainda, os portadores de problemas inatos de metabolismo, como os fenilcetonricos (Infra III.b.6.) etc.

Convm ressaltar que, muitas vezes, no h qualquer motivo para que uma pessoa encontre dificuldades de incluso, pois no apresenta qualquer problema motor ou mental. No entanto, poder haver fator que dificulte a incluso desse indivduo em decorrncia de sua aparncia. A leso inexiste. Sua aparncia, no entanto, causar a dificuldade para a incluso (por exemplo, uma mancha no rosto, que crie problemas de incluso social). Em outros casos, com a mesma dificuldade que lhe trazia a leso (por exemplo, certas marcas deixadas por cirurgias). Por fim, o rol proposto esqueceu-se de certos grupos, que apresentam grande deficincia enzimtica, devendo submeter-se dieta rigorosssima, evitando alimentos com protenas ou com acar.

Ainda uma outra observao: a classificao (at porque temporariamente anterior) deixou de mencionar as pessoas com o vrus do HIV, que encontram srias dificuldades de adaptao na sociedade, em determinados estgios (felizmente, nem sempre presentes no perfil da doena).18

18

- Por tal razo, merece elogio o conceito adotado pela Conveno, que

aberto e muito mais amplo, deixando as causas em aberto, apenas apontando para a

dificuldade de incluso. Reza o artigo primeiro, da Conveno: Pessoas com

deficincia so aquelas que tm impedimentos de longo prazo de natureza fsica,

mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interao com diversas barreiras, podem

obstruir sua participao plena e efetiva na sociedade em igualdades de condies

com as demais pessoas.

III.a) A deficincia mental.

A questo da deficincia mental e o seu enquadramento em padres predeterminados exige muita cautela, pois existem muitas situaes, quer em relao ao processo de incluso social, quer em relao prpria deficincia e suas variantes. Vamos procurar demonstrar as dificuldades neste captulo. A lio de STANISLAU KRYNSKI deixa bem clara a dificuldade de se estudar o tema:

No se tratando de uma molstia nica, mas sim de um complexo conjunto de sndromes das mais variadas etiologias (ver classificaes) e quadros clnicos diferentes cujo nico denominador comum a insuficincia intelectual, o problema de deficincia mental envolve uma gama enorme de aspectos os mais diversos, desde o seu plo biolgico-mdico, at problemas sociais, de legislao, trabalho, previdncia social, etc., fatores esses que se convencionou agrupar em trs categorias inter-relacionadas: os fatores biolgicos, os psicolgicos e os sociais19.

Importante recordar que trs por cento da populao mundial apresenta deficincia mental.

A deficincia mental vem sendo estudada h muito tempo. As primeiras referncias so de 1552 a.c. (Papiro Teraputico de Tebas) passando pelo Cdigo de Hammurabi (2100 a.c.).20

Em Esparta, havia autorizao do Estado para que as pessoas com deficincia fsica ou mental fossem mortas. Do regime

19

KRYNSKI, Stanislau Deficiencia Mental. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu S.A,

1969, p. 1. 20

Cf. KRYNSKI, op. Cit. P. 4 e 5.

espartano at nossos dias, o caminho do estudo da deficincia mental foi longo.21

III.a.1.) O conceito de deficincia mental.

A Associao Americana de Deficincia Mental assim a define:

Todos os graus de defeito mental devidos ou que levam a um desenvolvimento mental insuficiente, dando como resultado que o indivduo atingido incapaz de competir, em termos de igualdade, com os companheiros normais, ou incapaz de cuidar de si mesmo ou de seus negcios com a prudncia normal22.

No Dicionrio de Termos Psiquitricos, assim vem definida deficincia mental:

Desenvolvimento mental incompleto ou inadequado acarretando transtornos para uma adaptao social independente e autnoma. Incapacidade de um comportamento intelectual dentro das habilidades permitidas pela idade cronolgica, verificada por meio de testes psicomtricos.

21

Merece citao a curiosa passagem citada por Krynski: As descobertas dos

meninos animais por toda a parte so to profusas nesta poa que Linneu, em

1707, chega a fazer uma classificao dos que denomina tetrapus, mutus e

hirsutus:

1. Jubenis Lupinus Jessensis menino- lobo de Hesse 1544 2. Jubenis urinus Jessensis menino urso da Litunia 1661 3. Juvenis ovinusHibernius menino ovelha da Irlanda - 1672 4. Juvenis Bovinus Banbergensis menino - boi 5. Juvenis Hannoveranus Wild Peterde Hannover 1724 6. Puerl Pyrenalci 1719 7. Puella Transisaiana Dinamarca 1747 8. Puella Campanica Champagne 1731 9. .Jonhannes Leodicensis 10. Puela Karpfensis 1767 11. Vitor sauvage D Averyron 1797 bosque de Lacaume.

22

KRYNSKI, op. Cit. P. 12

A Organizao Mundial de Sade (OMS, 1968) agrupa a deficincia em quatro nveis:

I Profunda Q.I. abaixo de 20 II Severa Q.I. entre 20 e 35 III Moderada Q.I. entre 36 a 52 IV Leve Q.I. entre 53 a 70

Seguindo a lio de KRYNSKI:

Os deficientes mentais profundos so todos aqueles incapazes de se beneficiarem de qualquer tipo de treinamento ou educao. Necessitam assistncia por toda vida. Poucas so as famlias que podem prever essa assistncia. Torna-se, por isso, hspede permanente do Estado. Os deficientes mentais severos esto um pouco abaixo na escala da gravidade, necessitando tambm, em sua maioria, assistncia permanente.Os deficientes mentais moderados so aqueles capazes de aproveitar os programas de treinamento sistematizado. Apresentam, em grande nmero problemas neurolgicos (cegueira, surdez, distrbios motores).A deficincia mental leve constitui o grande volume. Cerca de 85% dos deficientes esto neste plano, o que exige uma assistncia adequada, mdica psicopedaggica e social23

O Dicionrio de Termos Psiquitricos, ainda no verbete deficincia mental traz a classificao quanto ao aproveitamento das pessoas com deficincia:

Quanto ao aproveitamento dos deficientes mentais: 1. totalmente dependentes: so os que apresentam um quociente intelectual (Q. I.) correspondente a 25. Na sua maioria, so casos a serem institucionalizados, dada a gravidade de suas condies. Requerem assistncia no vestir, despir, comer, lavar-se etc., de forma permanente at sua morte. Devem ser protegidos contra os perigos, no tendo noo de fogo, altura, trnsito, venenos, etc. So incapazes de aceitar e participar do grupo social. Seu

23

KRYNSKI, op. Cit. P. 14.

desenvolvimento consegue atingir os 25% dos normais. A fala inadequada ou, ento, so totalmente incapazes de articular quaisquer palavras, emitindo sons ou fonemas isolados. 2. adestrveis: apresentam um quociente intelectual correspondente de 25 a 50 (Q.I. normal: 100) que lhes permite aprender a vestir-se, lavar-se, comer, um certo cuidado pessoal, higiene e asseio. Possuem alguma habilidade e certa independncia, podendo participar, limitadamente, na vida social, Aceitam estar com a famlia, na casa de um vizinho mais prximo sem causar transtornos apreciveis; partilham e respeitam os direitos alheios, os direitos de propriedade e cooperam com familiares e vizinhos. Podemos confiar-lhes pequenos servios caseiros ou em volta da casa. Seu desenvolvimento est calculado na base de 25 a 50% do desenvolvimento normal. Certas habilidades acadmicas, como ler e fazer operaes matemticas, ainda lhes esto vedadas, mas so capazes de uma aprendizagem rudimentar de algumas palavras ou nmeros simples. Ainda no utilizam o raciocnio lgico, nem a linguagem correta ou formao de frases. Por outro lado, conseguem proteger-se contra perigos simples e quotidianos. Tais pacientes adestrveis sero, entretanto, obrigatoriamente, objeto de vigilncia, superviso e amparo econmico, durante toda a vida. Em sua maioria do diagnosticados como deficientes na infncia e incio da meninice. Freqentemente, apresentam defeitos fsicos associados (surdez, cegueira, malformaes congnitas), bem como dificuldades na aprendizagem (sentar, andar, falar, etc) com atrasos significativos; 3. educveis: de desenvolvimento lento, mas incapazes de um aproveitamento escolar adequado, devido aos seus bradipsiquismos. O educvel supera, lenta e penosamente, os anos do curso primrio, repetindo duas a trs vezes cada perodo letivo. Chega assim aos 16 anos 3 ou 4 srie do primeiro ciclo. S manifesta entendimento de aritmtica ou aprendizagem de leitura entre 9 e 12 anos. Seu desenvolvimento atinge 50 a 75% do normal. Embora de linguagem limitada, aprende o suficiente para se fazer entender em termos adequados s situaes comuns. Consegue conviver com outras pessoas, chegando a

fazer amizade com vizinhos e conhecidos. Muitos aprendem um oficio simples e podem sustentar-se com independncia, sem ingerncia ou necessidade de ajuda de outros. Na avaliao do entrosamento e adaptao do educvel, devemos considerar no apenas seu Q. I. como ainda seu comprometimento social que melhor indicao de sua capacidade de convivncia e relacionamento com o ambiente social24.

Verificado o conceito de deficincia mental, passemos para a etiologia. Os autores, em regra, apontam trs etiologias: a de ordem biolgica, a de ordem psicolgica e, por ltimo, a sociolgica.

III.a.2.) Causas da deficincia mental.

No h grandes divergncias sobre a origem da deficincia mental. Os autores, em regra, apontam trs etiologias: a de ordem biolgica, a de ordem psicolgica e, por ltimo, a sociolgica.

Observados os limites e os propsitos do nosso trabalho, mencionaremos, apenas, cada um dos tipos.

A causa biolgica compreende fatores pr-natais, perinatais e ps-natais. Dentro do primeiro grupo, podemos elencar os fatores genticos e congnitos.

Os fatores perinatais podem compreender o traumatismo obsttrico, a hipoxia, a hemorragia, a prematuridade, a ps-maturidade, alm de outros.

Quanto aos fatores ps-natal, abrangem infeces, intoxicaes exgenas, traumas, hemorragias cerebrais, exposio a agentes txicos etc.

Dentre as causas de ordem psicolgica esto a carncia afetiva precoce, os distrbios perceptivos, os fatores emocionais, tais como neuroses, psicoses etc. 24

op.cit. p. 69/70

Por fim, a origem sociolgica pode compreender a privao social e cultural, o nvel scio-econmico, a situao urbana ou rural e a compreenso do grupo scio-familiar.

J vimos, anteriormente, que a deficincia mental pode apresentar mltiplas facetas, ou seja, oferecendo uma combinao de diversos fatores. Muitas vezes, o biolgico seria causa imediata de doena, agravada pelos fatores psicolgico e sociolgico. Para anlise da etiologia da deficincia mental, no se poder perder de vista a complexidade do mal, exigindo uma compreenso associativa e ampla das causas. Portanto, muitas vezes, estamos diante de uma etiologia mltipla, devendo ser analisada a situao do indivduo a partir de todos os seus aspectos.

III.a.3) Tipos de deficincia mental.

No h necessidade, dentro do campo estrito deste trabalho, de mencionarmos os tipos de doenas mentais. Seria enfadonho e despropositado. J vimos, porm, que h uma classificao de deficincia mental, passando pela severa, leve etc. A gradao da doena mental acarretar conseqncias diversas no campo da proteo da incluso social.

Deixamos de mencionar as classificaes e a nomenclatura das doenas25.

Dentro dos propsitos de nosso estudo, portanto, mister se faz, to-s, fixarmos a distino de que h grau de deficincia mental, exigindo, para cada estgio, cuidados e tratamentos distintos. E, em conseqncia, anlise da capacidade a partir do grau de deficincia apontado. Desta forma, diversas situaes podem ser

25

As doenas mentais, assim como toda a sua classificao so encontradas no CID

CLASSIFICAO INTERNACIONAL DE DOENAS, Baseada nas Recomendaes

da Nova Conferncia de Reviso, 1975, e adotada pela Vigsima Assemblia Mundial

da Sade, Sagra Livraria, Editora, Distribuidora, Porto Alegre RS, sem data. As

mentais so encontradas na classificao:V Transtornos Mentais; e VI Doenas

do Sistema Nervoso e dos Sentidos

perfeitamente enquadradas como possveis para determinado grau de deficincia leve.

III.a.4) Os superdotados.

Os superdotados, tal como o nome j indica, apresentam coeficiente de inteligncia acima do normal, ou seja, acima da mdia. Geralmente so notados nas escolas, que, em alguns casos, j lhes oferecem programaes curriculares especficas, e, em raras hipteses no Brasil, curso especial26. Essas pessoas apresentam facilidade enorme de aprendizado, no sendo raras notcias narrando faanhas precoces desse grupo de pessoas.

Ao lado da capacidade criativa e da grande agilidade mental, decorrncia de inteligncia superior, alguns superdotados podem apresentar problemas de incluso social bem grandes. No so, evidentemente, todos os superdotados que enfrentam tais problemas.

Desta forma, podemos, como j mencionado acima, rejeitar a idia de que a pessoa com deficincia tem falta de alguma coisa. No caso dos superdotados, eles tm inteligncia acima da mdia. No entanto, em alguns casos, enfrentam dificuldades de incluso social.

A dificuldade do superdotado que no recebe assistncia e educao adequadas comentada por ERIKA LAUDAU:

Para mim, o superdotado no uma criana problemtica, uma vez que no vejo drama nenhum a na superdotao. Entretanto a criana com tal caracterstica deve ser estimulada adequadamente. Uma pessoa no deve ser vista como problemtica pelo que ela , mas pelo que no . Quando no lhe

26

A universidade Paulista UNIP desenvolve o Projeto Objetivo de Incentivo ao

Talento - POINT - Evoluo Mutidirecional de um Programa de um Programa para

Superdotados, coordenado pela Prof Dra. Marlia Ancona Lopez, Prof. Almir

Brando e Prf Cristina Menna Barreto Cupertino. A informao referente a

primeira edio deste trabalho, em 1.996.

so apontados os meios de perceber-se e comunicar-se, quando no adquire segurana suficiente para trabalhar as habilidades e quando no tem a oportunidade de ser to livre quanto possa, e no quanto deva s-lo aos olhos alheios, ento ela se torna problemtica27.

Adiante, assinala a mesma autora, advertindo:

Acreditamos, que, se no forem incentivadas a adotar valores construtivos as crianas correro o risco de usar a inteligncia para fins destrutivos e marginais, o que geralmente ocorre28.

Desde que os superdotados apresentem problemas graves de incluso social, em decorrncia de uma sensibilidade aguada, ou mesmo, de uma dificuldade de expresso emocional, cuidaremos de inclu-los em nosso grupo de estudo.

Com exceo de MANOEL GONALVES FERREIRA FILHO29 que no considera os superdotados pessoas com deficincia, a doutrina, em regra, os abrange, desde que, evidentemente, apresentem dificuldades decorrentes de sua acuidade intelectual.

III.a.5) Os alcolatras e viciados.

Apesar de entendermos que tais grupos de pessoas, muitas vezes, poderiam estar dentro do objeto deste estudo, somente incluiremos aqueles cujos males tenham origem em qualquer das deficincias acima mencionadas (fsicas ou mentais). Rejeitamos, assim, o enquadramento dos alcolatras e viciados to-somente por apresentarem tais problemas.

27

LAUDAU, Erika. A coragem de ser superdotado, trad. de Sandra Miessa, So

Paulo: CERED Centro de Estudos Educacional, 1990, p. XXIV. 28

- op. Cit., p. 33, grifos originais. 29

- cf. Comentrios Constituio Brasileira Emenda Constitucional n 1, 17 de

outubro de 1969... PP. 708-709

A excluso se justifica para no se colocar, no mesmo estudo, problemas de origem distinta. habitual, o alcolatra ou o viciado ter problemas de desajuste social, os quais no decorrem, obrigatoriamente, de uma deficincia mental ou fsica.

III.b) As deficincias fsicas.

comum, no meio social em que vivemos, identificar as deficincias mais corriqueiras, como sendo as decorrentes da locomoo, de viso, da audio, da dico. Outras deficincias, no entanto, pouco conhecidas, podem trazer problemas de grande porte para o grupo de doentes.

Neste captulo, procurar-se- demonstrar que, alm das deficincias mais freqentes e notadas, h muitas pessoas que se enquadram perfeitamente no objeto do nosso estudo, tais como os talassmicos, os portadores do mal de Parkinson, os portadores de esclerose mltipla, os portadores de anemia falsiforme etc.

Ao tratar das deficincias fsicas, escolheu-se o plural, j que no h uma deficincia determinada, mas graus a variaes de dificuldades de incluso social produzidas por uma deficincia de viso, por exemplo. No apenas a falta de viso ou a falta de um membro que causa a deficincia. A paralisao de um membro ou a dificuldade de viso noturna podem causar srias dificuldades de incluso.

Assim, trata-se, sempre, de um conjunto de molstias, que podem provocar a dificuldade de incluso social.

III.b.1) As deficincias visuais.

Pode-se afirmar que oitenta e cinco por cento das impresses so recebidas atravs dos olhos30. Os indivduos, por receberem as impresses atravs da viso, deixam de desenvolver, muitas

30

cf. BAKER, Harry J.. introducin AL Studio de los nios sub y superdotados, trad.

De Alfredo M/Ghioldi, Buenos Aires: Ed. Kapeluz, 1950, vol. I, p.29.

vezes, outros sentidos. A falta de viso, assim, constitui-se um bloqueio, num primeiro momento, para a recepo das outras impresses.

Assim, ao se tornar portador de deficincia visual, o indivduo dever desenvolver outros sentidos que compensem a falta de viso. Esta observao feita por HECTOR CHEVIGNY e SYDEL BRAVERMAN:

A pessoa que se torna deficiente visual necessita de habilidades antes desconhecidas para se adaptar nova realidade.31

Mas como identificar a pessoa com problemas de viso?

A agudez visual determinada por clculo que tem como relao o campo visual e o objeto a ser identificado.

Nesse sentido, a lio de PAIVA GONALVES:

, portanto, a verificao da acuidade visual um processo em que se procura apurar capacidade funcional do olho, representando-a por uma expresso numrica que, em sua essncia, resultado de uma medida angular. Tal medida se obtm submetendo ao discrime do olho observado imagens impressas de grandezas crescentes, desde as que se apresentam sob ngulo de um minuto at as de valores angulares decuplicados. Tais smbolos, figuras ou letras, denominam-se optotipos, tanto menores quanto mais agudos os ngulos e, portanto maior a agudeza visual, o que nos permite que a acuidade visual cresa em razo inversa do ngulo que a mede32.

Tomando-se como base essas duas premissas, h tabelas que podem identificar, com facilidade, o portador de viso normal. 31

- CHEVIGNY, Hector & Braverman, Sydel. The adjustmente of the blind, 0 New

Haven: Yale University Press, 1950, p.21. 32

- GONALVES, Paiva. Oftamologia, Rio de Janeiro: Ed. Livraria Atheneu, 1979,

p.31, grifos originais

A falta de viso, no entanto, surge apenas como um grau da deficincia visual, pois h indivduos com viso apenas parcial.

A questo acentuada por BAKER:

A primera vista, la definicin de la ceguera parece algo muy simple y terminante. Sin embargo, no es as, pues existen muchas clases y grados de ceguera. Algunos ciegos padecen de ceguera total; otros poseen grado de visin, pero tan confusa e imposible de ser favorablemente corregida, que sea cual fuere la cantidad de visin que posean, carece de valor prctico. La ceguera incluye tambin una cantidad mnima de visin que permite distinguir formas grandes tales como edificios o rboles, percibidas en forma borrosa e infectiva33.

H, portanto, que ser identificado o grau de deficincia visual do indivduo.

O distanciamento do padro de acuidade visual pode gerar problemas de adaptao social. Aquele que no consegue enxergar com perfeio pode no apresentar problemas de adaptao social. Na realidade, a deficincia visual estar intimamente ligada s atividades desenvolvidas pelo indivduo.

O desvio do padro de agudeza visual, no entanto, no nico problema dessas pessoas. H outros males que podem causar dificuldades de adaptao.

Elencando, de forma genrica, as oftalmopatias, PAIVA GONALVES assevera que:

A maioria das oftalmopatias denuncia-se por perturbaes da acuidade visual. Ora o doente refere que sua viso se torna deficiente quando a noite vem chegando ou em lugares pouco iluminados (hemeralopia ou melhor, vesperanopia), ora a queixa de embarao ou grande deficincia visual luz do sol, ou em

33

- op. cit., pg. 57.

ambientes fortemente iluminados (nictalopia); ora m a viso to s para longe, em geral so moos com miopia, ora a impossibilidade de realizar trabalhos de perto, como a leitura, costura, etc e nesse caso, so indivduos j na casa dos quarenta anos, ora ainda, a inferioridade visual se manifesta tanto para longe como para perto, e ento, estaremos em face de um vicio de refrao puro (astigmatismo com miopia ou hipermetropia) ou de outra qualquer afeco ocular, consoante o sintoma superajuntado. Se nuvens, teias de aranha ou pontos pretos, fixos ou mveis, so acusados, leses outras estaro em causa. Se falhas no campo visual (escotomas forem apontadas, unilaterais ou bilaterais, simtricas ou no, perturbaes da via ptica existiro (heminospsia p. ex). A viso duplicada dos objetos, sua deformao (metamorfopsia) ou ainda a impresso de tamanho menor do que o real (micropsia) ou maior (macropsia), podero motivar a consulta34

Muitos, portanto, podem ser os problemas provocados pela deficincia visual ela pode se revelar, tambm, pelo aparecimento de teias ou mesmo de nuvens no campo visual ou, mesmo, pela deformao de objetos, dificultando a incluso social do indivduo.

Certas molstias, ainda, podem provocar a deficincia visual conforme sua gravidade.

bom anotar que o Superior Tribunal de Justia considerou a pessoa como viso monocular como sendo pessoa com deficincia para efeito de prestar concurso para vagas reservadas (Smula 377 do Superior Tribunal de Justia).

III.b.2) As deficincias auditivas.

A mesma observao de BAKER quanto gradao da deficincia da viso, pode ser aplicada audio35. Ao lado das pessoas com nenhuma audio, haver aquelas que apresentam

34

op. cit., p.183, grifo originais 35

- cf. op. cit. 104.

deficincia auditiva leve. Existir sempre, portanto, a necessidade da anlise do caso concreto para verificar se o indivduo com pouca audio encontra dificuldade de adaptao realidade social por ele vivida.

III.b.3) As deficincias de dico.

Ao lado das deficincias da audio, encontraremos, s vezes como sua conseqncia, s vezes de forma isolada, as deficincias da dico. Os defeitos da fala podem ter origem na dificuldade de audio, mas tambm podem decorrer de outros problemas alheios a este.

Nesse grupo de doentes, h possibilidade de incluso social mais fcil do que certos grupos j estudados, isto porque, apresentando apenas uma dificuldade de articular as palavras, sem problemas de audio, a pessoa com deficincia poder ocupar espao profissional, que pouco lhe exija da fala. H inmeras possibilidades profissionais que no necessitam de manifestao oral.

Sobre o tema, muitas fissuras palatais levam a uma dificuldade de fala, o que criar grandes dificuldades de incluso social.

III.b.4) As deficincias de locomoo.

Nesse tpico, vamos englobar, no apenas as pessoas com deficincia de locomoo, mas tambm aquelas que sofrem de algum tipo de paralisia (facial, por exemplo), que lhe acarrete dificuldade de incluso social. Assim, alm de tratarmos da locomoo, cuidaremos, conjuntamente, daqueles que tm dificuldade de movimentos de uma forma geral.

A alterao da funo locomotora pode estar ligada aos mais diversos fatores, desde a m formao congnita, at a hiptese

de um trauma, passando pela paralisia cerebral (P.C.) ou ainda pela ocorrncia de acidentes vasculares cerebrais (A.V.C.)36.

Como se v, as causas da deficincia de locomoo so as mais variadas. As conseqncias, no entanto, podero ser enquadradas em diversos nveis de dificuldade. A amputao, que revela a ausncia de parte do corpo, dificultar, sobremaneira, a locomoo do indivduo. A paralisao dos membros de um s lado caracteriza a hemiplegia37 a paralisao dos quatro membros conhecida como quadriplegia ou tetraplegia.

Assim, a dificuldade de locomoo est ligada extenso do problema apresentado pela pessoa com deficincia.

III.b.5) Os portadores do HIV.

Por se tratar de uma molstia recente, descoberta h poucos anos, a AIDS (Sndrome da Imunodeficincia Adquirida) no foi contemplada na conceituao de nossos doutrinadores como sendo um dos motivos geradores de deficincia.

A Sndrome da lmunodeficincia Adquirida, tambm conhecida como AIDS ou SIDA (nos pases de origem espanhola, em Portugal e na Frana), consiste em uma queda na resistncia do indivduo, acarretando uma fragilidade muito grande do organismo, expondo-o s mais variadas doenas: ela est se espalhando de forma alarmante, ensejando campanhas macias de esclarecimento e preveno. Apesar das campanhas de esclarecimento, ainda h grande nmero de pessoas infectadas.

36

- CF. PALMER, M. Lynn & TOMS, Janice E. - Treinamento Funcional dos

Deficientes Fsicos, trad. Lilia Bretennitz e Diza Zoga Coelho, So Paulo: 1988, 2

edio. 37

WALE, J. , Masaje y Ejercicios de Recuperacion em Afecciones medicas y

Quirirgicas, Barcelona: Editorial JIMS, sem data, p. 237.

Na frica, o problema agravado por falta de informao, dentre outros motivos.

Inicialmente, pensava-se que a AIDS atingia apenas os homossexuais e os viciados em drogas injetveis38. Atualmente, porm, o conceito inicial vem sendo alterado. A idia de grupos de risco apenas tem servido de referencial, tendo o nmero de portadores do vrus HIV aumentado consideradamente, preocupando toda a populao e as autoridades39.

A queda de resistncia, provocada pela doena, faz com que o individuo permanea, em alguns casos, sob tratamento prolongado, passando, obrigatoriamente, logos perodos em hospitais, recebendo medicamento; tudo isso e de acordo como estgio da doena, dificulta e chega a impedir sua incluso social.

Alm dos fatores ligados ao tratamento, os portadores da AIDS encontram uma barreira bem maior, a saber, o preconceito social. A falta de informao sobre a doena, formas de transmisso etc, tm feito com que os portadores do vrus HIV sofram srios traumas de adaptao social. Isso vem sendo amenizado a partir de campanhas macias de informao. No entanto, a questo ainda persiste. 40-41

38

POPP, Caryle. A AIDS e a Tutela Constitucional da Intimidade. Jurisprudncia Brasileira, Curitiba:

Ed. Juru (162): 17-24. 39

Jornal da Tarde. De 12 de novembro de 1991 apresentou a seguinte e preocupante

manchete: AIDS: 75% NO SO DROGADOS NEM HOMOSSXUAIS. N a parte

interna, s fls. 16, o peridico AFIRMA: Cerca de 76% dos dez milhes de

portadores do vrus da AIDS em todo o mundo no faziam parte dos chamado

grupos de risco - homossexuais, exatamente como aconteceu com os astro do

basquetebol norte- americano, Earvin Magic Johnson. 40

Os jornais paulistas noticiam no ms de abril e maio de 1922 a histria da menina

Sheila que teve sua matrcula escolar cancelada por ser portadora do vrus.

A reconduo s se deu por fora da medida liminar em ao judicial ajuizada pelos

pais da menina. 41

O jogador de basquete norte- americano , Magic Johnson noticiou ser portador do

vrus HIV em entrevista de televiso, aproveitando a oportunidade para pedir que as

III.b.6) As deficincias do metabolismo e algumas deficincias pouco conhecidas.

A finalidade deste tpico do trabalho divulgar certas deficincias desconhecidas de grande parte das pessoas, quer por terem incidncia pequena, que por envolverem aspectos, s vezes, no visveis, O deficiente de audio ou de locomoo logo notado, enquanto, por exemplo, uma pessoa com deficincia de metabolismo no pode, sequer, ser identificada.

O rol, que ser apresentado abaixo, meramente exemplificativo e tem apenas a finalidade de ilustrar o trabalho.

III.b.6.a) A fenilcetonria.

A primeira dessas deficincias a fenilcetonria, tambm conhecida como oligofrenia fenilpirvica.

Trata-se de uma doena hereditria de herana autossmica recessiva, gerada pela ausncia ou diminuio da atividade de uma enzima do fgado, impedindo a metabolizao do aminocido fenilalanina presente nas protenas ingeridas na alimentao42

O aumento excessivo da fenilalanina no corpo da criana (diante da falta da enzima transformadora), poder causar a sua debilidade mental irreversvel. Detectada a molstia atravs do teste do pezinho (exame laboratorial consistente na retirada de

pessoas mantivessem relao sexual de maneira segura para impedir a transmisso

do vrus, pois, como antes mencionado, a doena fora adquirida atravs de relao

Heterossexuais, fora de qualquer grupo de risco. Anunciou, na mesma oportunidade,

que pretendia participar da Olimpada de 1992, na Espanha, tendo gerado, imediato,

a reao do mdico da delegao australiana, que advertia que os riscos da

participao do atleta na competio. Sem entrar em mrito da discusso, o fato em

si demonstra a dificuldade de integrao social do portador de AIDS, mesmo dentre

as pessoas esclarecidas. 42

- SECRETARIA DO ESTADO DA SADE, Fenilcetonria e Hipotiroidismo

Congnito So Paulo, sem data, p. 9.

gota de sangue do p do recm-nascido, aps a sua alimentao por leite materno), a criana deve se submeter dieta rigorosssima, por toda a vida, dieta essa pobre em protenas.

A dieta de difcil elaborao, j que os produtos alimentcios industrializados no apresentam a quantidade de fenilalanina (protena) em sua composio fixada nas embalagens, dificultando o preparo dos alimentos.43-44

III.b.6.b) O hipotireoidismo congnito.

O hipotireoidismo congnito caracteriza-se pela produo deficiente ou pela falta do hormnio tireoidiano, denominado T4, necessrio para o desenvolvimento do organismo como um todo, inclusive do crebro.

A falta desse hormnio provoca, alm da deficincia mental, srio prejuzo ao crescimento fsico.

O tratamento consiste na reposio do hormnio atravs de rigoroso controle mdico, causando dificuldade de incluso, pois que o tratamento longo e incmodo para as crianas portadoras do mal.

43

Em defesa desse grupo de doentes, enquanto o coordenador da Defesa do Direitos

das pessoas Humanas em So Paulo, setor do Ministrio Pblico Federal

encarregado da defesa dos interesses difusos, ajuizamos aes contra a Unio

federal, pretendendo a obrigatoriedade de fixao dos percentuais de fenilalanina e

pores usuais dos alimentos industrializados. (Ministrio Pblico federal contra a

Unio Federal, processo n 9.011.344-0, 7 Vara da Justia Federal da Seo

Judiciria de so Paulo) 44

- A dieta qual os portadores da fenilalanina so submetidos especifica e vital.

As crianas sabem que s podem aceitar alimentos por intermdio de seus pais , que

sabem o que possvel ingerir. Na reunio de fim de ano do grupo de apoio aos

fenilcetonricos, promovida pela associao de Pais e Amigos dos Excepcionais

So Paulo, houve uma pequena mesa de doces, todos eles elaborados de acordo

coma dieta. As professoras insistiam para que as crianas se servissem dos doces, o

que s ocorreu quando as mes entregaram os confeitos aos pequenos. Tal fato

demonstra disciplina a que deve estar submetidas essas crianas.

III.b.6.c) A doena do xarope de bordo.

Trata-se de um erro inato do metabolismo, no qual h alterao no metabolismo