a prevenção de homicídios de crianças na américa latina ... 2 em... · violência comunitária...

35
1 A prevenção de homicídios de crianças na América Latina: um imperativo de direitos humanos * Paulo Sérgio Pinheiro 1 e Marina A. Pinheiro 2 Oficina de prevenção da violência contra a criança Know Violence in Childhood Fórum Brasileiro de Segurança Pública Fundação Getúlio Vargas – Direito/SP Rio de Janeiro, 28 e 29 de julho de 2015 1 Paulo S. Pinheiro é Professor de Ciências Políticas (aposentado) e Pesquisador Associado do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP); Professor Assistente de Estudos Internacionais do Instituto Watson, Universidade de Brown, de 2005 a 2015. Nas Nações Unidas, preside a Comissão Internacional de Inquérito sobre a República Árabe da Síria desde 2011; foi Especialista Independente do Secretário-Geral da ONU para o estudo sobre a violência contra a criança de 2003 a 2007. Marina A. Pinheiro possui mestrado em relações internacionais pelo Instituto de Pós-Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra, obtido em 2008; foi consultora da ONU Mulheres, no Brasil, em 2013; e Diretora de Governança em Direitos da Criança na Save the Children, da Suécia, no Oriente Médio e África do Norte, Beirute, Líbano, de 2009 a 2012.

Upload: vuongduong

Post on 16-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

A prevenção de homicídios de crianças na América Latina:

um imperativo de direitos humanos *

Paulo Sérgio Pinheiro1 e Marina A. Pinheiro2

Oficina de prevenção da violência contra a criança

Know Violence in Childhood

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Fundação Getúlio Vargas – Direito/SP

Rio de Janeiro, 28 e 29 de julho de 2015

1PauloS.PinheiroéProfessordeCiênciasPolíticas(aposentado)ePesquisadorAssociadodoNúcleodeEstudosdaViolênciadaUniversidadedeSãoPaulo(NEV/USP);ProfessorAssistentedeEstudosInternacionaisdoInstitutoWatson,UniversidadedeBrown,de2005a2015.NasNaçõesUnidas,presideaComissãoInternacionaldeInquéritosobreaRepúblicaÁrabedaSíriadesde2011;foiEspecialistaIndependentedoSecretário-GeraldaONUparaoestudosobreaviolênciacontraacriançade2003a2007.MarinaA.PinheiropossuimestradoemrelaçõesinternacionaispeloInstitutodePós-GraduaçãoemEstudosInternacionaisedeDesenvolvimentodeGenebra,obtidoem2008;foiconsultoradaONUMulheres,noBrasil,em2013;eDiretoradeGovernançaemDireitosdaCriançanaSavetheChildren,daSuécia,noOrienteMédioeÁfricadoNorte,Beirute,Líbano,de2009a2012.

2

"Nenhum ato de violência contra crianças se justifica, toda forma de violência contra a

criança pode ser evitada"

RelatórioMundialsobreaViolênciacontraaCriança

I.INTRODUÇÃO3

OpropósitodesteartigoémapearprogramaseprojetosdepaísesdaAmérica

Latina4quetenhamporobjetoprevenirereagiraohomicídioeviolênciacometidos

contraacriança.5

Esteartigoprocuraexplorarexperiênciasbem-sucedidasnaregião,levadasacabopelo

governoesociedadecivil,quepermitemoredirecionamentodaspolíticaspúblicasde

prevençãodaviolênciacontraascriançasdacomunidade,especialmentecomrelação

àprevençãodehomicídios,dandoadevidaconsideraçãoàsnecessidadesespeciaisde

criançaseadolescentes.

Noescopodestetrabalhoincluem-seasintervençõesquetratamdaviolênciacontraa

criançanoâmbitodacomunidade,quedeveriaserafontedeproteçãoesolidariedade

àscrianças,masquepodetambémconstituirumambienteviolento,incluindoa

3*Osnossosmaissincerosagradecimentosa:CeciliaAnicama,EspecialistadoPrograma,GabinetedoRESGdaONUsobreaViolêniacontraaCriança,NovaYork;AmandaMartin,EspecialistaemProteção,UNICEF,PERU;AnnaD.Tomasi,OficialdeDefesa,DefenceforChildrenInternational,DCI,Genebra;AngelsSimon,RelatoriasobreosDireitosdaCriança,CIDH,OEA,Washington;CynthiaJ.Arnson,Diretora,ProgramaAméricaLatina,WilsonCenter;GrantLeaity,RepresentantedaUNICEF,Equador,JonathanLewis,RepresentantedaUNICEF,ElSalvador,LudinCaballerodeChávez,DiretordeOperaçõesdoPrograma,SavetheChildren,ElSalvador,MaríaTeresaDelgadodeMejía,EspecialistaemProteção,UNICEF,ElSalvador,MartaSantosPais,RepresentanteEspecialdoSecretário-GeralsobreaViolênciacontraaCriança-RESG,NovaYork,MonicaDarer,ChildProtectionGlobalInitiative,RepresentanteRegionaldaAméricaLatinaeoCaribe,SavetheChildren,Panamá;NadinePerrault,ConselheiraRegionaldaChildProtection,TACRO,UNICEF,Panamá;GaryStahl,Representante,UNICEF,Brasil;JavierPalummo,DiretordeInvestigaçãoeGerenciamentodaInformaçãoManagement,IPPDH,MERCOSUR,BuenosAires;JorgeFreyre,DiretordeDefesaRegional,AméricaLatinaeCaribe,Panamá;KiyomiKawaguchi,RepresentantedaUNICEFVenezuela;PeterNewell,Coordenador,GlobalInitiativetoEndAllCorporalPunishmentofChildren,ReinoUnido;RenatoSérgiodeLima,Vice-Presidente,FórumBrasileirodeSegurançaPública–FBSP,SãoPaulo;RosaMariaOrtiz,RelatorsobreosDireitosdaCriança,CIDH,OEA,Washington;SebastienMalo,Jornalista,NovaYork;TaniaChapuista,RepresentantedaUNICEF,CostaRica;TeresaCarpioV.,TARegionalChildRightsGovernance,Lima;VeronicaYates,Diretora,CRIN,Londres.4 Neste artigo, o termo América Latina compreende o México, a América Central e do Sul. 5 O termo criança, neste artigo, refere-se a crianças e adolescentes de 0 a 18 anos , de acordo com a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança. O termo jovem refere-se à faixa de 19 a 24 anos.

3

violênciaentreiguais,aviolênciadecorrentedousodearmasdefogo,entreoutras,

violênciadeganguesedapolícia,violênciafísicaesexualeonarco-tráfico.A

violência,nacomunidade,éacumulativa,multidimensionaleafetaascriançasde

diferentesmodos,dependendodogênero,etniaecondiçõessócio-econômicas.A

violênciacomunitárianormalmenteafetaascriançasdegruposmarginalizados,como

éocasodascriançasderua.6

Hádiversasformaspelasquaisacomunidadepodereagiràviolênciacontrasassuas

crianças,incluindoesforçosdeprevençãodelongoprazoqueintegramabordagens

distintas,comestratégiasjurídicas,sociais,educativaseeconômicas,paraaredução

dosfatoresderiscoefortalecimentodaproteçãonoâmbitodoindivíduo,família,

comunidadeesociedade.7

Naesferafamiliar,entreosmeiosmaiseficazes,comprovadamente,paraaprevenção

daviolênciaentre-ecometidapor-adolescentes,encontram-seosprogramasde

desenvolvimentodaprimeirainfância,dirigidosjustamenteacriançaspequenaseseus

pais.8Noentanto,éimportanteressaltarqueesteartigonãotratadaviolênciaque

ocorredentrodecasa,juntoàsfamíliasouinstituiçõesdeacolhimentoalternativoe

nocontextodojudiciário.Apesquisaaponta,contudo,queaexperiênciavivenciada

pelacriança,sobretudonoambientefamiliar,temumimpactosignificativonasua

condutaperanteaviolência,bemcomonoseuenvolvimentonessetipodeatoao

longodainfância,jogando-anumciclodeviolência.Nãoépossívelpreveniraviolência

nacomunidade,deformaefetiva,sempromoveraproibiçãouniversaleeliminaçãode

6Pinheiro, P.S., Nações Unidas, “Report of the Independent Expert for the Study of Violence against Children”, A/61/299, Assembleia Geral, 61o Período de Sessões, Item 62 do programa provisório, Promoção e Proteção dos Direitos da Criança, 29 de agosto de 2006 [O Estudo] ver http://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/documents/a_61_299_un_study_on_violence_against_children.pdf 7 UNICEF, Eliminating Violence Against Children: Handbook for Parliamentarians, Inter-Parliamentary Union, No 13, 2007, p.62, ver http://www.unicef.org/publications/index_41040.html 8 Idem

4

todasassuasformas,emtodososcontextos,incluindoamaiscomum,ocastigo

físico.9

Poroutrolado,esteartigoabordaráalgunsexemplosdeprogramaseprojetos,na

esferacomunitária10,queapoiamosprocessoseducativosedesocializaçãodecrianças

emsituaçãodealtorisco,comaltopotencialdeprevençãodaviolência.Entretais

iniciativasincluem-seprogramasquecriamoportunidadesdeaprendizageminformal,

fortalecimentodacapacidadedosprofissionaisresponsáveispelascriançasnas

escolas,alémdeproporcionarprogramasparacriançasderua,atividadesesportivas,

atividadesparajovens,atividadeseducativasdepreparaçãoparaavida,umambiente

físicoseguroeserviçosdirigidosàsvítimasdaviolência.

Metodologiaeestratégiadepesquisa

Esteartigobaseia-semajoritariamenteemrelatóriospublicadospelasprincipais

agênciasdaONU,incluindomecanismosdemonitoramentodedireitoshumanos,

ONGsinternacionais,nacionaiselocaisquetrabalhampelaproteçãodacriançacontra

aviolêncianaAméricaLatina.Oartigoaindaabordadadosdivulgadospor

organizaçõesnão-governamentaiseórgãosdogoverno.

Apresentatambémestratégiascalcadasemummapeamentopreliminarde

programasepolíticasimplementadasnospaísesdessaregião,objetivandoa

prevençãodaviolênciacontracriançase,demodomaisespecífico,capazesdereduzir

ohomicídioinfantil.EssasestratégiastambémaparecemnorelatóriodaUNICEF11,da

9 Ver Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos , CIDH, Relatoria sobre os Direitos da Criança. Report on Corporal Punishment and Human Rights of Children and Adolescens, Washington, OEA/Ser.L/V/II.135, Doc. 14, 5 de agosto de 2009 10Neste artigo, trataremos apenas das intervenções na esfera comunitária, sem entrar nas casas. Todavia, "aumenta a consciência de que a intervenção precoce é fundamental para prevenir que se voltem a cometer atos de violência, incluindo o trabalho com pais extremamente severos e tirânicos, ou com os problemas de conduta das crianças", ver Mostue, H. et al, "Youth Violence NOREF", agosto de 2013, p.5. 11 UNICEF, Ending Violence Against Children: Six Strategies for Action #ENDviolence, New York: UNICEF, setembro de 2014, Pass. http://www.unicef.org/publications/files/Ending_Violence_Against_Children_Six_strategies_for_action_EN_9_Oct_2014.pdf

5

OrganizaçãoMundialdaSaúde12,doEstudosobreViolênciacontraaCriançado

Secretário-GeraldasNaçõesUnidas13,bemcomoosrelatóriospublicadospelo

RepresentanteEspecialdoSecretário-GeraldaONUsobreaViolênciacontraa

Criança.14

Limitesdaanálise

Oimpactodosresultadosdealgunsdosprogramasselecionadosjáfoidivulgadoeestá

comprovadoquefoisignificativoemumperíodorelativamentecurto.Noentanto,há

umreduzidonúmerodeiniciativas,naregião,queabordamespecificamentearedução

dohomicídioinfantil.Alémdisso,algunsdosprogramasselecionadosnãopublicaram

avaliaçõesdeseuimpactonavidadascrianças,especialmentecomrespeitoàredução

daviolênciaehomicídio.Defato,algunsdosprogramasdereduçãodastaxasde

homicídioqueexploraremosnãoenfocamespecificamenteascrianças.Possuemum

escopomaisamplo,como,porexemplo,areduçãodoacessoaoálcooledrogas

ilícitas,ouareduçãodoacessoedemandaporarmas.Essesprogramas,contudo,têm

importânciaconsiderávelnareduçãodohomicídioinfantil,nãopodendoser

ignorados.

12 Organização Mundial da Saúde , Violence prevention: the evidence. WHO Press, 2010. http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/4th_milestones_meeting/evidence_briefings_all.pdf. 13 Estudo da ONU, parágrafo 72; ver UN Secretary=General´s Study on Violence Against Children, “Violence against children in the countries of Latin America The problem, actions taken and challenges outstanding.”[UNVAC LA] junho de 2006, 24p. Ver https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=UN+Secretary%3DGeneral%C2%B4s+Study+on+Violence+Against+Children%2C+VIOLENCE+AGAINST+CHILDREN%2C+IN+THE+COUNTRIES+OF+LATIN+AMERICA+The+problem%2C+actions+taken+and+challenges+outstanding. 14 Ver https://srsg.violenceagainstchildren.org/category/document-type/srsg-reports; UN Human Rights Council, Annual report of the Special Representative of the Secretary-General on Violence against Children, Document A/HRC/22/55, 4 de janeiro de 2013. Disponível em https://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/documents/docs/A-HRC-22-55_EN.pdf

6

II.OPROBLEMADAVIOLÊNCIACONTRAACRIANÇA

TendoporbaseumarecomendaçãodoComitêsobreosDireitosdaCriança,a

Assembleia-GeraldaONU15pediuaoSecretário-Geralqueconduzisseumestudo

aprofundadodaviolênciacontraacriança,formulandorecomendaçõesparatrataro

problema.16Oresultado,oEstudodoEspecialistaIndependente(o"EstudodaONU”17)

eoRelatórioMundialsobreaViolênciacontraasCrianças(UNVAC)18,maisdetalhado,

representaumesforçomundialparacomporumquadrodetalhadodanatureza,

extensãoecausasdaviolênciacontraacriança,alémdeproporrecomendaçõesclaras

paraaprevençãoereaçãoàessetipodeviolência.Trata-seda"primeiravezemque

houveumatentativadedocumentararealidadedaviolênciacontraacriançaemtodo

omundo,edemapearaquiloquesefazparacombatê-la."19Desde2003,milharesde

pessoastêmcontribuídoparaesseestudopormeiodeconsultasregionaisea

especialistas,questionárioseoutrosmétodos.Criançasejovenstêmatuadoemtodos

osníveis.

DadosdisponíveisdivulgadospeloEstudodaONUrevelamquenamaiorpartedo

mundoataxadehomicídioentregarotosde15a17épelomenostrêsvezesmaisalta

doquenafaixados10aos13anos.Esseaumentorepentinodaviolênciaentreas

criançasdemaisde15anosocorreuatéemregiõescomumbaixoníveldehomicídio

geral,sugerindoquemedidasparacoibiracondutaviolentasãofundamentaisantes,

noinícioeduranteaadolescência.20

15ResoluçãoadotadapelaAssembleiaGeral[sobreorelatóriodoTerceiroComitê(A/57/552)]57/190.RightsofthechildA/RES/57/190,19defevereirode2003,verhttps://www.iom.int/jahia/webdav/shared/shared/mainsite/policy_and_research/un/57/A_RES_57_190_en.pdf16PinheirofoinomeadoEspecialistaIndependente,emníveldeAssistentedoSecretário-Geral,emfevereirode2003,paralideraroestudo,emcolaboraçãocomoEscritóriodoAltoComissárioparaosDireitosHumanos,EACDH;oFundodasNaçõesUnidasparaaInfância,UNICEF,eaOrganizaçãoMundialdaSaúde,OMS17VeroEstudodaONU18Pinheiro,P.S.,WorldReportonViolenceAgainstChildren,Genebra:UNSecretary-GeneralStudyonViolenceagainstChildren,2016,362p.http://www.unviolencestudy.org19Ver“WhytheUNstudy?“https://srsg.violenceagainstchildren.org/un_study

20 Ver o “Estudo da ONU”, parágrafo 71.

7

AregiãodaAméricaLatinaenvolveu-sedeformaativaemtodoodesenvolvimentodo

estudo.Apreocupaçãocomaviolênciajáfaziaparteintegrantedaagendaregional,

devidoaoimpactoexercidopelosgruposcriminososepelaviolênciaurbana.O

homicídio,assassinatodecriançaseadolescentes,exploraçãosexualecomerciale

atividadesrelacionadasaocrimeorganizadotransnacionalconstituíamasprincipais

formasdeviolênciacontraacriançanaAméricaLatina.

Oestudo,relatadoàAssembleia-Geral,apresenta12recomendaçõesgerais21

juntamentecomrecomendaçõesespecíficasparalidarcomaviolênciaoriundade

cincoambientes:decasa,daescola,deinstituiçõesparajovenseinstituições

judiciárias,dolocaldetrabalhoedacomunidadedemodogeral.Opróprioprocesso

depreparaçãodoestudofoiumimportanteinstrumentodeconscientizaçãomundial

arespeitodoimpactodaviolênciacontraacriançaemtodasasregiõesdoplaneta,

alémdepromoverefortaleceriniciativasegerarredesdeorganizaçõesvoltadasao

tema.Oenvolvimentodeinteressadosnessasatividades,dapartedogovernoe

sociedadecivil,ajudouadarvisibilidadeelegitimidadeàsmesmas,permitindoque

diferentesentidadesavançassemnaimplementaçãodepolíticaseprogramasemseus

paísesrespectivos.

DesdequeiniciamosoEstudodaONU,éramosconscientesdanecessidadede

promoveraçõesestratégicasquetraduzissemecontextualizassemasrecomendações

geraiseespecíficasdeprevençãoereaçãoàviolência,dentrodaagendalocal,nacional

eregional.22Nonívelnacional,aprincipalcontribuiçãodadapeladivulgaçãodoestudo

foiprovavelmenteacriaçãodeumaestruturaapartirdaqualdiferentessetoresdo

21 As doze recomendações gerais do "Estudo da ONU" foram: 1. Fortalecer o compromisso e a ação, nas esferas nacional e local 2. Proibir, por lei, todo tipo de violência contra crianças 3. Priorizar a prevenção 4. Promover e aumentar a conscientização acerca dos valores da não-violência 5. Incrementar a capacidade de todos aqueles que trabalham com e em prol das crianças 6. Fornecer serviços de recuperação e reintegração social 7. Garantir a participação das crianças 8. Criar sistemas e serviços de denúncia acessíveis e acolhedores para a criança 9. Garantir a prestação de contas e acabar com a impunidade 10. Trabalhar a dimensão de gênero no que tange à violência contra a criança 11. Desenvolver e implementar um sistema de coleta de dados e pesquisa no âmbito nacional 12. Fortalecer o compromisso internacional. 22 Pinheiro, P.S. discurso de abertura, “Seguimiento de las Recomendaciones del Estudio Mundial sobre la Violencia contra los Niños”, Comisión Permanente Iniciativa Niñ@Sur para la Promoción y Protección de los Derechos de la Infancia y Adolescencia, Brasília, , 7.5.2015

8

governoesociedadepudessemtrabalharaviolência.Oqueseconseguiu,como

processodepreparaçãodoestudoeotrabalhodoUNVACfoidisseminarapremissa

básicadequeaçõesvoltadasparaacoibiçãodaviolênciatambémdevemconsiderara

prevençãoearespostaàmesma,equesósepodeobtereficiênciacomdadoscorretos

eaprestaçãodecontas.Ficouclaroque,dessaforma,seguramentehaveriaum

progressosignificativoemumaáreamarcadapordadoslimitados,medidasrepressivas

ineficientesefragmentação.

Em2011,paramarcaroquintoaniversáriodaentregadoEstudodaONUà

Assembleia-Geral,oGabinetedoRepresentanteEspecialdoSecretário-Geral(RESG)

sobreaViolênciacontraasCrianças,lideradoporMaraSantosPais,conduziuuma

PesquisaGlobalparaumMundosemViolência,tendoporbaseasinformações

fornecidaspormaisde100países,paraavaliaroprogressoobtidonosestadoscom

relaçãoàsdozerecomendaçõesdoEstudodaONU,refletiracercadasboaspráticas,

identificarbrechasedefinirprioridades,acelerandoassimosesforçospelofimda

violênciacontraacriança.23

APesquisaGlobal"revelaqueaproteçãodascriançascontraaviolênciatemsidocada

vezmaisreconhecidanaagendainternacional,regionalenacional.Aprofundou-sea

compreensãodaformaemotivospelosquaisascriançassãoexpostasàviolência,e

existemaçõesestratégicasemandamentoemumasériedepaísesparatransformar

esseconhecimentoemproteçãoefetiva."24

Poroutrolado,oEstudoGlobalreconheceque"progrediu-sedeformademasiado

lenta,desigualefragmentada,semqueseobtivesseumamudançagenuínana

proteçãodascriançascontraaviolência.Inúmerasmeninasemeninosdetodasas

idadescontinuamexpostosaoimpactoacumuladodediferentesformasdeviolência,

23Gabinete do Representante Especial do Secretário-Geral sobre a Violência contra a Criança, Global Survey Toward a World free from Violence, 2013, Prefácio, p. VI https://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/publications_final/toward_a_world_free_from_violence.pdf 24 op.cit, p VI-VII

9

consequênciadeestratégiasnacionaisreativas,malcoordenadasecomrecursos

insuficientes;baixoníveldeinvestimentotantonoapoioàsfamíliasquantoem

metodologiasvoltadasàsquestõesdegêneroedacriança;edadosepesquisa

insuficientes."

III.AVIOLÊNCIACONTRAACRIANÇANACOMUNIDADE

Asprincipaisvítimasdaviolência,naAméricaLatina,aindasãoascriançase

adolescentes25,sejadentrodecasa,nasescolas,outrasinstituiçõesounotrabalho,em

suaprópriacomunidade.Nenhumoutrogruposofretantoquantoascriançasquando

setratadeviolência.Atualmente,naAméricaLatina,26ataxadehomicídiodejovensé

maisdoqueodobroquandocomparadaàpopulaçãoemgeral,atingindo70por100

miljovens.27Deacordocomumestudode2011,tendoporbaseoBancodeDadosde

MortalidadeMundialdaOMS(WHOSISnasiglaeminglês),ospaísescomasmaiores

taxasdehomicídiojuvenilsãoElSalvador(92.3),Colômbia(73.4),Venezuela(64.2),

Guatemala(55.4)eBrasil(51.6).

Alémdisso,17dospaísesdaregiãoestãoentreos27(dos83estudados)comas

maiorestaxasdehomicídioentrecriançasejovens.28DeacordocomoprojetoGlobal

BurdenofInjuries,cercade35%dasvítimasdehomicídioscometidosnaAmérica

Latinaentre1996e2009tinhamde10a25anosdeidade,amaioriadosexo

masculino.Ataxadehomicídiodejovensébastantealtaemdiversospaísesdaregião.

25Comissão Interamericana de Direitos Humanos, CIDH, Organização dos Estados Americanos, Report on Citizen Security and Human Rights, OEA/Ser.L/V/II. Doc. 57 31 de dezembro de 2009 p.34 para 34 https://www.cidh.oas.org/countryrep/Seguridad.eng/CitizenSecurity.Toc.htm 26Os dados estatísticos apresentados neste parágrafo são do Programa de Desenvolvimento da ONU (UNDP), Regional Human Development Report 2013-2014 Citizen Security with a Human Face: Evidence and Proposals for Latin America . New York, UNDP, 2013; outras fontes de dados estatísticos aparecem nas notas de rodapé. http://hdr.undp.org/sites/default/files/citizen_security_with_a_human_face_-executivesummary.pdf 27 OEA Informe sobre Seguridad Ciudadana en las Américas: Estadísticas oficiales de Seguridad Ciudadana producidas por los Estados miembros de la OEA, Alertamérica, Observatorio Hemisférico de Seguridad, OEA, Washington DC 2009 see http:// www.oas.org/dsp/alertamerica/Report/ Alertamerica2012.pdfCitizen 28 Waiselfisz, Julio Jacobo . Mapa da violência 2012. A Cor dos Homicídios no Brasil . Rio de Janeiro: CEBELA, FLACSO, Brasília: SEPPIR/PR, 2012, ver http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf

10

DeacordocomdadosdaOEA29,43%dasvítimasdehomicídionoBrasiltinhamde15a

24anos.30

DeacordocomapesquisaSmallArmsSurvey,ediçãode2011,muitospaísesda

AméricaLatinatêm"taxasdehomicídiosignificativamentemaisaltasqueasdeoutras

partesdomundo,assimcomoumaproporçãodehomicídioscomarmasdefogomaior

queamédiamundialde42porcento.Utilizaram-searmasdefogoem70porcento

doshomicídiosnaAméricaCentrale60,naAméricadoSul.Aomesmotempo,as

diferençasentreosdiversospaísesdaregiãosãosignificativas."31

OEstatutodaCriançaeAdolescentedoBrasil(ECA),quegaranteodireitodacriançaà

vida,tornou-seumareferênciamundial.Noentanto,desdequefoilançado,ataxade

homicídioinfantilduplicou.De1990a2013,essataxaaumentoude5.000para10.500

casosporano(DATASUS,2013).Ouseja,28criançaseadolescentessãoassassinados

pordia.32

ElSalvador,Guatemala,HonduraseaVenezuela,"semexceção,possuemumataxade

homicídiomaiorque30por100milhabitantes,taxaquetemaumentadodesde1995,

comasarmasdefogorepresentando70porcentodessetotal.TambémnoBrasil,

Colômbia,PanamáePortoRicoaproporçãodoshomicídiosporarmasdefogosupera

os70%.JánaArgentina,Chile,PerueUruguai,ataxadehomicídioestáabaixode10

por100milhabitantes,umataxaestávelouemdeclíniodesde1995,comaproporção

dehomicídiosporarmasdefogoabaixodos60%.33

29 OEA, Organização dos Estados Americanos, Secretaria de Segurança Multidimensional. Report on Citizen Security in the Americas 2012 : Official Statistical Information on Citizen Security provided by the OAS Member States = Informe sobre Seguridad Ciudadana en las Américas 2012 : Estadísticas oficiales de Seguridad Ciudadana producidas por los Estados miembros de la OEA. (OEA documentos oficiales) (OAS Official Records Series.[ OAS Hemispheric Security Observatory / El Observatorio Hemisférico de Seguridad de la OEA Alertamerica.org] -http:// www.oas.org/dsp/alertamerica/Report/ Alertamerica2012.pdf 30 UNDP, Citizen Security, op. cit. http://hdr.undp.org/sites/default/files/citizen_security_with_a_human_face_-executivesummary.pdf 31 Instituto de Pós-Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento, Genebra Small Arms Survey, Moving Targets. Cambridge, Cambridge University Press, 2012 , p.3 32 UNICEF Brasil, #ECA25anos Estatuto da Criança e do Adolescente: Avanços e desafios para a infância e a adolescência no Brasil, 2015, passim 33 Op.cit., p 15

11

Emtodoomundo,deacordocomoGlobalBurdenofArmedViolencede2015,

utilizaram-searmasdefogoem46.3%detodososhomicídiose,estima-se,em32.3%

dasmortesemconflitosdiretos.Eem44.1%detodasasmortesviolentas.AAmérica

Central,oCaribeeaAméricadoSulpossuemamaiorproporçãodehomicídiospor

armasdefogo(acimade50%),bemcomoasmaiorestaxasdehomicídioporarmade

fogo.34

Aviolêncialetalperpetradacomarmasdefogonaregiãosuperadelongeamédia

mundialde43%dehomicídiosporessetipodearmas.DeacordocomoRelatório

sobreaSegurançaCidadãdaOrganizaçãodosEstadosAmericanos(OEA)de2012,78%

doshomicídiosdaAméricaCentralforamcometidoscomarmasdefogo,enquantoque

naAméricadoSulessaproporçãofoide83%.Segundoatendênciamundial,ospaíses

comasmaisaltastaxasdehomicídiosãoaquelescujaporcentagemdepossedearmas

defogotambéméalta,comoaGuatemala,Honduras,ColômbiaeVenezuela.Nesses

países,essaporcentagemésuperiora75%(OEAAlertamérica2012)35.Deacordocom

oestudosobrehomicídiorealizadopeloEscritóriodaNaçõesUnidassobreDrogase

Crime(UNODC)em2011,naAméricaLatina,aprobabilidadedeumassassinato

ocorrercomarmadefogoéseisvezesmaiordoquecomumaarmabranca.36

SegundoaUNICEF,háevidênciasquesugeremqueopadrãodeviolêncialetalpode

seratribuído,emparte,àsatividadesilícitasdocrimeorganizado,apresençadas

ganguesnasruaseoacessoàsarmasdefogo.Estima-sequecercade30porcentode

todososhomicídioscometidosnaregiãoestãovinculadosàcriminalidadeegangues,e

quedoisterçossãocometidoscomarmasdefogo.37

34 Declaração de Genebra sobre Violência Armada e Desenvolvimento, Global Burden of Armed Violence 2015: Every Body Counts, 2015 p.52 35 OAS, op.cit. p.32 36 UNODC, Escritório das Naçoes Unidas sobre Drogas e Crime, “Intentional homicide, count and rate per 100,000 population (1995 - 2011)”,2012 37 UNICEF, Hidden in Plain Sight: A statistical analysis of violence against children, New York, UNICEF, 2014

12

Em2011oEstudoGlobalsobreHomicídioreconheceuopapeldesempenhadopela

"violêncialetalperpetradaporgangues,entreasquaisamaisconhecidaé

provavelmenteagangueMara",reconhecendoquemesmoquetenhamummínimo

devínculocomonarcotráfico,ganguescomoaMara(easpandillasdaNicaráguae

CostaRica)sãoextremamenteviolentaseresponsáveisporumaparcelasignificativa

doshomicídioscometidosemváriosdospaísesdaregião,estandocadavezmais

envolvidosematividadesilegaisdeextorsão,intimidaçãoeproteção."Emboranão

hajadadosrelativosaospaísescitados,emHondurasarelaçãoéde30homicídios

cometidosporganguespor100milhabitantes.3839

OEstudoGlobalsobreHomicídio,emsuaediçãode2013,revelaque"ospaísesdas

Américasquepossuemtaxasdehomicídiosignificativamentemaisaltasdoquea

médiamundialestãorepensandoaexperiênciaanteriordessaregiãoemtermosde

violêncialetal(...)".40Porexemplo,ohomicídiovinculadoaoutrasatividades

criminosaspareceserumfenômenobastantecomumnasAméricas,sendoa

proporçãodoshomicídiosassociadosaocrimeorganizadoouganguesnaregiãode30

porcento.Umavezqueotermo"Américas"édemasiadoamplo,aparcelade

homicídiosoriundosdocrimeorganizadoeganguesnãofoiindicada.Noentanto,

revelou-seque"emcincopaíses(nãoespecificados)nassub-regiõesdaAmérica

CentraledoCaribe,comdadosdetendênciadisponíveis,ohomicídiovinculadoa

outrasatividadescriminosasdeterminaastaxasdehomicídiogerais."41

Observou-se,ainda,que"oshomicídiosvinculadosagangueseaocrimeorganizado

tendemavariarmaisaolongodotempo,apresentandomaiordiversidadeentreos

países,sugerindoqueessetipodehomicídiopodeproduzirmudançasrepentinasna

taxadehomicídiosdeumpaísdado.Exemplos:aquedaabrupta,de40porcento,dos

homicídiosdeElSalvadoraolongodeumúnicoano(verocapítulo2.1),ouorápido

38 Op. cit., p.35, duas tabelas com dados sobre homicídio cometido por gangues. 39UNODC. The 2011 Global Study Homicide , Trends,Contexts, Data .Vienna, UNODC, 2011.p.5 40 Idem 41 The 2011 Global Study Homicide, Op. cit., p.40, the countries .

13

aumentodataxadehomicídionaAméricaCentralentre2007e2011.Eomaiorgrupo

deriscoquantoaessetipodehomicídioéodeindivíduosdosexomasculino,entre15

a29anos,nasAméricas."42

Emmuitosdospaísesdessaregião,aviolênciapolicialresultanamortedecriançase

adolescentes.ArepressãoconduzidapeloEstadoestevepresenteaolongodetodaa

história política da região, sendo as maiores vítimas do abuso do poder os grupos

desprivilegiados e, em alguns países, como no Brasil, crianças e adolescentes afro-

descendentes. Estima-se que a força policial seja responsável por 20% das mortes

criminosas.43

Asexecuçõesextrajudiciaisconduzidaspelapolícia,deacordocomoEstudoGlobal

sobreHomicídiosde2013,constituem,emmuitoscasos,"homicídiosintencionais",e

continuamaocorrerdeformasistemáticamesmonasocasiõesemqueapolícianão

temoobjetivoclarodefazercumpriralei,comonosassassinatosextrajudiciais,

operaçõesde"limpezasocial",morteintencionaldecriançaseadolescentesem

situaçãodeconflitocomalei,ouaindaquandooperamcomoumamilíciaou

esquadrãodamorte".44Noentanto,namaioriadospaíses,aindaháescassezde

dadosestatísticosrelativosaesseshomicídios,"devidoàfaltaderegistroe

rastreabilidade,faltadeinvestigaçãosobreanaturezadasmortes,obstaculizandoos

esforçosnormaisdecoletadedados."45

42 UNODC, The 2013 Global Study Homicide , Trends, Contexts, Data .Vienna, UNODC, 2013, p.40 https://www.unodc.org/documents/gsh/pdfs/2014_GLOBAL_HOMICIDE_BOOK_web.pdf 43 "A letalidade da reação do Estado à criminalidade e a persistência de violações graves de direitos humanos, especialmente voltadas a grupos sociais específicos, devem ser entendidas como parte integrante da política. Esse tipo de pensamento fundamenta a reprodução de uma sociedade profundamente desigual, responsável pela fragilidade da democracia e uma consolidação insuficiente da cidadania." Imbush,Peter; Misse Michel; Carrión, Fernando,”Violence Research in Latin Americ and the Caribbean” International Journal of Conflict and Violence[ Violence Research in Latin America and the Caribbean:: a Literature Review], vol.5(1) 2011, p.116 45Uma forma bastante promissora de preenchimento dos vazios informacionais consiste na consulta ao enorme número de dados disponível nos relatórios dos relatores temáticos de procedimentos especiais dos Conselho de Direitos Humanos, como por exemplo o mandato sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, ver UNDOC,op.cit.,p.60.

14

A execução extrajudicial de adolescentes suspeitos ou acusados, em situações de

conflito com a lei, ainda é prática comum em diversos países. E isso se justifica ao

considerar-seumaformadecontroledocrimecomumembairroscarentes,bemcomo

das crianças e adolescentes oriundos dos gruposmais vulneráveis da sociedade, ou

seja,ospobreseosafro-descendentes.Essescrimesrecebemamploapoiodaelitee

mesmodospobres,quesãooprimeiroalvodessasituaçãodeabuso.46

IV.APROTEÇÃODASCRIANÇASCONTRAAVIOLÊNCIA

Osníveisatuaisdeviolênciaecriminalidadedohemisfério tornaramaprevençãodo

homicídioumadasprincipaisdemandasdasociedadejuntoaoEstado.Essasituaçãoé

consequênciadeumprocessoquesedesenrolouao longodealgumasdécadas,para

os quais contribuíram diversos fatores sociais, econômicos, culturais e institucionais

que permitiram a criação e reprodução de diferentes formas de comportamento

violento, diretamente relacionados à intensificação das consequências de

comportamentos criminosos que comprometem o exercício efetivo dos direitos

humanos.

Nãoháumasoluçãoúnicaparaaprevençãodaviolênciaentreosjovens.Todopaís,

cidadeemunicipalidadeapresentaumacombinaçãodeameaçasdiferente.Aresposta

maiseficazéaquelaquesebaseiaemumacombinaçãoadequadadepolíticas

decorrentesdeumdiagnósticoprecisodocontextolocal.47Éfundamentalcontarcom

umametodologiaholísticaparaabordarosefeitosecausasdaviolênciacontraa

criança.

Emúltimainstância,osesforçosparaaprevençãodecrimesdehomicídiosomente

serãoeficazesseogovernoeacomunidadeinternacionalseconcentraremnaqueles

46Pinheiro, P.S, “Democratic Governance, Violence, and the (Un)Rule of Law” [Brazil: The Burden of the past; The Promise of the Future] Daedalus, Vol. 129, No. 2, Spring, 2000, p. 128. 47 UNDP, Citizen Security, op.cit., p. 14

15

quecorremosmaioresriscos,sejaodecometerouservítimadeumatohomicida.

Maisdametadedasvítimasdehomicídiosdetodoomundotêmmenosde30anos.E

boapartedessaviolênciaécometidaemáreasurbanas.Políticaseestratégiaseficazes

devemtercomoalvonãoapenasosjovensemsituaçãoderisco,masefetivamente

envolvê-los,juntocomacomunidadelocal,paratrabalharpelaquebradocicloda

violência.48

A violência na comunidade afeta as crianças marginalizadas. De fato, em muitos

paísesdohemisfério,aviolênciapolicialcontracriançasvariaentreoassédioverbalàs

surras, sem falar da criminalização das crianças de rua, as detenções arbitrárias, o

abuso sexual, tortura e desaparecimentos. Infelizmente, os altos níveis de violência

foram utilizados como argumento, em alguns países, para justificar políticas "linha

dura"contracrianças,oqueéumaclaracontravençãodasnormas internacionaisde

direitoshumanos.Criançasdetodosospaísesdenunciaramatosdeviolênciacruele

gratuitadapartedapolícia,mesmoparacrimesmenosgraves.

Emalgunslugares,ogovernolidacomaviolênciafortalecendoopoderdosatores

locais,encorajando-osparaqueencontremsoluçõeslocais.49Oenvolvimentoda

sociedadeciviléfundamentalparaocombateàviolência,poisdesempenhaumpapel

importantíssimonareduçãoeprevençãodamesmanaesferamunicipal.Tantona

esferanacionalquantonamunicipal,ogovernodeveriabuscarapoiojuntoàsONGs

locais,solicitandooseuparecer.50Asautoridadesresponsáveispelaelaboraçãode

políticas,oslíderesdasociedadecivileosagentesdalei,emtodososníveisdo

governo,precisamestarenvolvidosnalutacontraaviolênciacontraacriança,

juntandoforçasparareduziressastaxasdehomicídioescandalosas.

Opapeldasociedadecivilnaregiãotornou-seumdosprincipaisavançosnoâmbito

48 2013 Global study of homicide 2013, op.cit., p. 5 49 Bumpus et al., op.cit, 2011,passim 50 John B. et al., Best Practices in Reducing Violent Homicides Rates: Honduras, El Salvador, Mexico. Princeton, Woodrow Wilson School of Public & International Affairs, Princeton University, 2013, passim

16

dosdireitoshumanos.Muitosdessesautoresforamincisivosnacriaçãodepolíticas

públicaseprojetosdeleiquepromovamareformajurídicaeomonitoramentodos

direitosdacriança.51

Entreasexperiênciasdeprevençãodocrimeeviolência,enfatizaremosaquiaqueles

programasqueobjetivamatuar juntoaos fatoresqueestimulamodesenvolvimento

daviolênciaedocrimeemáreasespecíficas,promovendotécnicasnão-violentaspara

a resolução de conflitos nas escolas, bem como programas de desenvolvimento da

primeira infância e de apoio às famílias cujos filhos se encontram em situações de

maior vulnerabilidade ao crime ou violência. É imprescindível que os Estados criem

mecanismosdeprevençãoepuniçãoaatosdeviolênciaqueatingemascrianças,seja

noâmbitodoméstico,nosistemaeducacionalounacomunidade.

Essasituaçãodemaiorvulnerabilidadedascriançasàviolênciaeaocrimeexigequeos

estados membro, em colaboração com a sociedade civil de cada região, adotem

medidas, mecanismos e procedimentos adequados para garantir os direitos dessa

parceladapopulação.

V.SEISESTRATÉGIASDEPREVENÇÃOEREAÇÃOAOHOMICÍDIOEVIOLÊNCIA

CONTRAACRIANÇA

Aviolênciacontraacriançasópodeserextintasehouveresforçoscoletivosdaparte

docidadãocomum,dosresponsáveispelaelaboraçãodepolíticaspúblicas,governose

atoresinternacionais,nosentidodeprotegerosdireitosdascrianças.52

Parapromoveroacessoàsiniciativasdaregiãovoltadasàprevençãoereaçãoà

violênciaehomicídiodecrianças,identificamosprogramaseprojetosconduzidospor

51 REDLAMYC. Estudio de balance regional sobre la implementación de la Convención sobre los Derechos del Niño en América Latina y el Caribe. novembro de 2009. p.37,38. 52 Além disso, as crianças devem fazer parte de quaisquer esforços para a prevenção e eliminação da violência.

17

diferentesatores.Eparaapresentarmelhoressesprogramas,osmesmosforam

organizadoscombasenassuasestratégiascomuns.

Aprimeiraestratégiaconsistenasiniciativasqueutilizamumadiversidadede

abordagensvoltadasexclusivamenteàreaçãoeprevençãodehomicídios.Embora

muitasdelasnãotenhamcomofocoexclusivoareduçãodohomicídioinfantil,o

impactoquegeramébastantesignificativo.Outrasestratégiasenfocamem

programasqueabordamaproteçãocontraaviolênciaqueatingeascriançasdemodo

maisgerale,emborapossamlevaraumareduçãodohomicídio,nãosetratadeum

objetivodiretoesimumresultadodesejável.

Estratégia1:Otrabalhodeprevençãoereduçãodohomicídiopormeiodeabordagens

distintas.

Estratégia2:Oapoderamentodecriançasejovensparaquepossamgerenciarriscose

desafios.

Estratégia3:Amudançadeatitudesenormassociaisqueestimulamaviolênciaea

discriminação.

Estratégia4:Oapoioapaiseresponsáveis,fortalecendosuacapacidadedecriarfilhos

emambienteseguroeamoroso.

Estratégia5:Ofortalecimentodacapacidadedoestado,incluindoapolícia

comunitária,eoencorajamentodeumaparticipaçãocidadãativaeresponsável.

Estratégia6:Arealizaçãodepesquisasecoletadedados.

Estratégiacomplementar:Ousodasnovasmídiasparaaproteçãodascriançascontra

aviolência.

______________________________________________________________

Estratégia1:Otrabalhodeprevençãoereduçãodohomicídopormeiodeabordagens

distintas.

18

Asiniciativasquetêmcomofocoespecíficoaprevençãodohomicídioincluemprojetos

depesquisa,defesa,campanhasdeconscientizaçãosobreaviolêncialetalearestrição

dousodoálcool.

AanálisedaspolíticasdassecretariasdeestadoconduzidapeloProgramadeRedução

daViolênciaLetal(PRVL)noBrasilconcluiuqueapesardasalarmantestaxasde

homicídioinfantilejuvenilnopaís,hápoucosprogramascomfocoexclusivona

violêncialetalcontraascrianças.53

OPRVLtemconduzidocampanhasdedefesaeconscientizaçãosobreaquestãodo

homicídioinfantil.Umapartedoprogramaestádedicadaaodesenvolvimentodo

"GuiaMunicipaldePrevençãodaViolênciaLetalcontraAdolescenteseJovens",

incorporadoaoPlanoNacional.54

Oenvolvimentodascomunidadeslocaisnoprocessodecisórioemquestõesde

segurançapúblicaeodestacamentodeumgrandenúmerodepoliciaisaáreascom

altosíndicesdecriminalidadelevaramaumaquedaabruptadataxadehomicídioem

SãoPaulo,de42.2por100milhabitantesem2000para13.9em2010.55NoRiode

Janeiro,ataxadehomicídiocaiuquasedoisterçosde2002a2012.56Emboraessa

diminuiçãodataxadehomicídiosnessasduasmetrópolessejaanimadora,nãohá

evidênciasdequetenhalevadoaumareduçãodaproporçãodehomicídiosinfantis.

Asabordagensnão-tradicionais,comotréguasentregangues,tiveramresultados

significativosnareduçãodastaxasdehomicídioemcomunidadescomumaltograude

violência.

53 UNICEF, Hidden in Plain Sight: A statistical analysis of violence against children, op.cit. 54 Ver os Anexos I e II para obter mais informações sobre os programas e projetos destacados ao longo deste artigo, além de outros exemplos. 55 Watts, J., “Latin America leads world on murder map, but key cities buck deadly trend”, The Guardian, 6 de maio, 2015. http://www.theguardian.com/world/2015/may/06/murder-map-latin-america-leads-world-key-cities-buck-deadly-trend 56 Kuper, S., “Why safety now trumps freedom”, Financial Tmes, 26 de junho de 2015.

19

Umdosmodospelosquaisosestadosestãolidandocomaltosíndicesdehomicídioé

fomentaropoderdosatoreslocaisnosentidodeforjaremsoluçõeslocais.Algumas

autoridadessub-nacionaisassumiramaresponsabilidadedereduziraviolência

cometidapelasganguesemsuasprópriascomunidades.

Experimentosconduzidosporcoalizõesinovadorasincluindoprefeitos,líderese

associaçõesdosetorprivado,igrejaseoutrosgruposcomunitáriosparecemtertido

efeitospositivosnospaíseslatino-americanos.Alémdisso,algumasdasmelhores

práticaspoliciaiseabordagensjudiciáriasocorreramnaesferamunicipal.57

Asintervençõesquefortalecemacapacidadedoestadoeaomesmotempoestimulam

umaparticipaçãocidadãativaeresponsável58ocorreramemcontextosondeháaltos

índicesdeviolênciaecriminalidade.Entreosexemplosidentificadosháprogramas

comooFicaVivo(Brasil),TodosSomosJuárez(Mexico),assimcomoainiciativade

tréguaentreganguesemElSalvador.

OPactopelaVida,doBrasil,éumapolíticadesegurançapúblicacriadanoestadode

Pernambucoqueconseguiuumareduçãoconsideráveldonúmerodehomicídios

naqueleestado.Nesseprograma,reuniram-se16grupostécnicos,organizados

segundoquestõesdiferentes(entreasquaisaviolênciacontraasmulheres:pessoas

acimadossessenta;criançaseadolescentes;políticasanti-drogas;prevenção;

reconhecimentoprofissionaletc.),nosquaisespecialistas,acadêmicos,defensoresda

sociedadecivilegestorespúblicosdasesferasmunicipal,estadualefederaldiscutiram

osproblemasrelevantesdecadaárea.59

Alémdisso,oprojetoCureViolence,inspiradonaoperaçãoCeaseFiredeBoston,éum

57 Bumpus J., et. al., op. cit., passim 58 UNDP. Summary Regional Human Development Report 2013 – 2014, Citizen Security with a Human Face: Evidence and Proposals for Latin America. New York, UNDP, 2013 p. 13. http://hdr.undp.org/sites/default/files/citizen_security_with_a_human_face_-executivesummary.pdf 59 Ratton, J L et al. “ Pact for Life and the Reduction of Homicides in the State of Pernambuco. Stability”, International Journal of Security & Development, 3(1),2014, pp. 1-15, DOI: http://dx.doi.org/10.5334/sta.dq

20

exemploimportante,replicadoemalgunspaísesdaregião.Oprojetosegueuma

abordagemdesaúdepúblicatestadacientificamente,comumaboarelaçãocusto

benefício,queprevineorecrudescimentodaviolênciapelaimplementaçãode

"interceptadoresdaviolência"-indivíduosdascomunidadesemsituaçãoderiscoque

sãobemrespeitadoseemposiçãodedispersaraviolênciaantesqueelasealastre.60

Estratégia2:Oapoderamentodecriançasejovensparaquepossamgerenciarriscos

edesafios.

Dotarascriançasejovensdecompetênciasparaavida,queosajudemaenfrentare

gerenciarosriscosedesafiosinerentesaosatosdeviolênciapodeajudarareduzira

incidênciadosmesmosnacomunidade.61Asatividadeseducativasdepreparaçãopara

avidaajudamascriançasadesenvolveroraciocíniocrítico,construiraauto-estima

necessáriaparaacomunicaçãoeficaz,resolverproblemasdeformacolaborativa,além

deproteger-sedaviolênciaaolongodavida.62

Ascriançasnecessitamdeproteçãoespecialcontraacriminalidade,ocrime

organizado,aexploraçãoeaviolêncialetal.Éprecisoaumentaroacessoaos

equipamentosculturais,delazereesportivos,comoumaformadereduziretrabalhar

osincentivosquelevamcriançasejovensaaderiraocrime,violênciaeatividadesde

gangue.63

OprojetoUerê,noBrasil,apoiacriançasemprocessodereintegraçãonasociedade,

oferecendo-lhesumespaçosemviolênciaparaaformaçãoacadêmicaregular.A60Moestue et al. op. cit. p.4 61 UNICEF, #ENDviolence, Op.cit., p.26. 62 Idem 63A criação de locais para a cultura, lazer, esporte e outras medidas faziam parte das recomendações voltadas aos jovens do Brasil, com o objetivo de reduzir o uso e tráfico de drogas. A sugestão também foi levantada por diversos atores à ocasião da consulta da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015. (Gabinete do Representante Especial do Secretário-Geral sobre a Violência contra a Criança, 2014). Além disso, o aumento de espaços de recreação com o objetivo de mitigar o envolvimento de crianças e jovens em comportamento de risco fazia parte das recomendações de ONGs e organizações da sociedade civil que participaram das consultas nacionais. Ver: Gabinete do Representante Especial do Secretário-Geral sobre a Violência contra Crianças Why Children’s Protection from Violence should be at the Heart of the Post-2015 Development Agenda. A Review of Consultations with Children on the Post-2015 Development Agenda, New York: OSRSG-VAC, outubro de 2014, pass.

21

pedagogiadessaescola,situadanafaveladaMaré,noRiodeJaneiro,foicriadatendo

emmentecriançasejovenscombloqueioscognitivoseemocionaisoriundosda

exposiçãoconstanteaotraumaeàviolência.64

NaColômbia,oprojetoGolombiaoprocurafortalecerosvaloresdorespeitoe

tolerânciaentreascriançaspormeiodeumjogodefutebolcujasregrasforam

modificadas.

EmHonduras,oprogramaJovensHondureñosAdelante,JuntosAvanzemos(JHAJA)

éumprogramaterciárioqueajudanareabilitaçãoereintegraçãodeantigosmembros

deganguesnasociedadepormeiodetreinamentoecolocaçãoprofissional.65

OprojetoCasaAlianza,presentenaGuatemala,Honduras,MéxicoeNicarágua,

trabalhacomcriançassemteto,dando-lhesapoionoprocessodemudançadevida,

pormeiodeaconselhamentoeconstruçãodeumrelacionamentobaseadona

confiançaerespeito.

EmHonduras,centrosdeapoioajovensdesfavorecidos,comooprogramaPormi

Barrio,operamemmuitosdosbairroscomasmaisgravessituaçõesderiscodetodoo

país.OscentrossãooprimeiropontodeentradadaUSAIDnascomunidades

violentas,seupúblico-alvo,oferecendo-lhesumasériedeprogramaseserviçosparaos

jovensdacomunidade,comocybercafés,camposdefutebol,academiasdeginástica,

tirandoascriançasdaruae,possivelmente,dasgangues.66

Otrabalhocomcriançasdacomunidade,pormeiodamúsicaearte,demonstraque

essetrabalhoéumaestratégiafundamentalnaprevençãodaviolência,dandoàs

criançasumachancedeusarseutempolivreparavivênciasqueospermitammelhorar

64 Projeto Uerê - http://www.projetouere.org.br/#!project/c1mo4 65 Washington Office on Latin America –WOLA. Youth Gangs in Central America: Issues in Human Rights, Effective Policing, and Prevention. Washshington, Wola. Novembro de 2006, p.28. 66 Korthuis, A., “The Central America Regional Security Initiative in Honduras”, Working paper elaborado para o Woodrow Wilson Center, Wilson Center Latin America Program, setembro de 2014, p.46 http://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/CARSI%20in%20Honduras.pdf

22

suaauto-estimaemudardevida.67OProgramadaOrquestraJovemNacionalda

Venezuelaéumexemplodignodenota.Usamaformaçãomusicalparaaprevenção

daviolênciaeproteçãosocial.68

Estratégia3:Amudançadasatitudesenormassociaisqueestimulamviolência.

Aprevençãodaviolênciaapresentadesafiosbemdiferentesquandocomparadaa

simplesmentereagiraosatosdeviolência.Paratanto,énecessárioalterarnormas

sociaiseculturaisarraigadas,especialmenteaideiadequealgumasformasde

violênciaseriamnormaisemesmotoleráveisejustificadas.Umexemploéodos

jovensmaisvelhoscoagindoosmeninosmaisnovosaparticipardegangueseoutras

atividadescriminosaseviolentascomoum"ritodepassagem"aceitável.Essetipode

comportamentonuncadeveriaserconsideradonormal,masécomumquesejaassim.

Osprogramasescolaresecomunitáriosfavorecidosporcampanhasdemobilização

socialeserviçosdeapoiopodemlevaraspessoasaagircomoagentesdemudança.69

NoBrasil,oProgramaHusaatividadescomunicativasecampanhascomunitárias

centradasemjovensdosexomasculino,comoobjetivodequestionarasregras

tradicionaisdocomportamentodegênero,incluindoaviolênciacontraasmulheres.

NaNicaragua,oprojetoSomosDiferentes,SomosIgualesfoiumaestratégiade

comunicaçãovoltadaparaamudançasocialqueobjetivaaprevençãodefuturas

infecçõesporHIV.70

ARedporlosDerechosdelosNiños(REDIM),noMexico,temumacampanhaque

procuraconscientizaracercadoimpactodediferentestiposdeviolêncianavidadas

crianças.AcampanhadaUNICEFchamadaAlColeSinArmas,daCostaRica,objetiva

conscientizarascriançasdoperigorepresentadopelousodearmasnoscentros

educativos.

67 Tanya Chapuisat, UNICEF Representative Costa Rica, Ver: http://www.unicef.org/costarica/media_26938.htm 68 Moestue et al., op. cit., p.14 69 UNICEF, #ENDviolence, op. cit., p.33 70 Moestue, H., et al., op. cit., p.14

23

OCentrodePrevencióndelaViolencia(CEPREV),naAméricaCentral,desenvolveum

projetoparaapromoçãodosvalorescentradosnacompreensão,sejanafamília,

escolaoucomunidade.Oprojetodesenvolvidoporessecentroincluiumacampanha

deconscientizaçãosobreoriscodousoeportedearmas.71

Estratégia4:OApoioapaiseresponsáveis,fortalecendosuacapacidadedecriar

filhosemambienteseguroeamoroso.

Éfundamentalfortaleceracapacidadedospaiseresponsáveisdecuidarcriançasda

melhormaneirapossível,criando-oseprotegendo-os.Selecionamosexemplosde

algumasorganizaçõesqueobjetivammelhoraroambienteemqueascriançassão

criadas,fortalecendoacompetênciadosresponsáveis.

AAsociaciónCompartir,deHonduras,ofereceapoioàsfamíliasdecriançasque

participamdeprogramasdereinserçãoerehabilitação.AindaemHonduras,oprojeto

FomentandounaCulturadePaz,daSavetheChildren,temcomoobjetivocontribuir

paraareduçãodaviolênciaentreosjovens,fortalecendoacapacidadedeprevenção

daviolênciaemcentroeducativos.Alémdisso,afundaçãoSavetheChildrentambém

desenvolveuumprogramacentradonofortalecimentodaqualidadedaeducação,com

foconaparticipaçãoemelhortratamentodascrianças.7273

OprojetoCasaPromociónJuvenil,doMéxico,temporobjetoapromoçãodo

desenvolvimentointegraldacriançaedojovempelamodificaçãodoambienteonde

vivem.

Estratégia5:Ofortalecimentodacapacidadedoestado,incluindoapolícia

comunitária,eoestímuloàparticipaçãocidadãativaeresponsável.

71 Ver: http://www.ceprev.org 72 Projeto Save the Children, financiado pela União Europeia. 73 Save the Children Honduras http://www.savethechildrenhonduras.org/que-hacemos?id=104

24

Nãoépossívelestabelecerumprocessodereconciliaçãoemcomunidadesmarcadas

porumaviolênciaqueperdurahádécadassemumsistemajudicialqueassegureapaz

eumserviçopolicialcapazdegarantirosdireitossemcorromper-seouabusarda

força.74

Aproteçãodacriançadependedeleis,políticasenormas;serviçosemecanismosde

entregadosmesmos(incluindoaçõesdepromoção,prevençãoeresposta);recursos

humanosefiscais,egestão(oucapacidades);comunicaçãoedefesa;colaboraçãoe

coordenação;eevidênciasedadosparaembasaroprocessodecisório.75

Apolíciaeoutrasinstituiçõesdosistemadejustiçapenaltendemaagircomoum

guardadefronteira,protegendoaselitesdospobres.Aviolênciapolicial,incluindoo

assassinatodeadolescentesejovens,permaneceimpunenamaioriadoscasos,pois

estádirigidaàs"classesperigosas",raramenteafetandoavidadosricos.

Existeumusoregulareletaldaforçapolicial:osmembrosdaforçadesegurançade

muitascidadesdaregião,emSãoPauloenoRiodeJaneiro,atuamcomo"seousoda

forçaletalcontracertosgruposmarginalizadosestivesseaseucritério"76,gruposque

incluemosindígenas,afro-descendentesecriançaseadolescentespobres.

Éporissoqueaeficáciademedidasespeciaisdeproteçãodacriança,implementadas

no nível das operações policiais, por exemplo, requereria ummarco legal coerente

com as normas internacionais, bem como o estabelecimento de unidades

especialmente treinadas para intervir nos casos onde estejam envolvidos indivíduos74 Appiolaza, M. and Quirós Espinoza, A.Y., Investigacion y sistematización de práticas efectivas para la prevención y reductión de la violencia armada que afecta a ninõs, ninãs y adolescentes, UNICEF - LACRO, Septiembre 2014, p.138 75 Idem

76 Brinks, Daniel M., “Informal Institutions and the Rule of Law: The Judicial Response to State Killings in Buenos Aires and São Paulo in the 1990s”, Comparative Politics, Vol. 36, No. 1, outubro de 2003, p.7

25

menoresdedezoitoanos,sejacomovítimasoucomoagentedeatosdeviolênciaou

criminosos. Apesardisso,todoopessoaldapolíciadeverecebertreinamentobásico

adequado para atuar nesse tipo de situação, além de incorporar protocolos de

intervenção, critérios de encaminhamento e locais para o trabalho conjunto com

outrasinsitituiçõespúblicaseorganizaçõesdasociedadecivil.

Asintervençõesdepoliciamentoepacificaçãourbanaconjugamoestabelecimentoda

autoridadedoEstadocomesforçosdereinstalaçãodeserviçosemáreas

negligenciadas.EntreosexemplosdessetipodeintervençãonaAméricaLatina,

incluem-se:asUnidadesdaPolíciaPacificadora(UPP)doRiodeJaneiro,oesforçodas

autoridadesmexicanasemCiudadJuarezeTijuana,pormeiodosagentesdaleie

militaresdaquelepaís,eosesforçosdeconsolidaçãodasautoridadesnosbairros

carentesdeMedellin,naColômbia.77

OFórumBrasileirodeSegurançaPública(FBSP)organizaumencontroanualcomo

objetivodefortalecerodiálogoeatrocadeexperiências,demodoainduzirboas

práticaseestimularodebatesobreaquestãodasegurançapública.78Em2015,as

atividadesdoFórumforamdedicadasàreflexãoepropostadeaçõesvoltadasà

reduçãodaviolêncialetal,comfocoespecíficonaquestãodohomicídio.

OprogramadaorganizaçãoVivaRiode2006incluíaodesarmamento,treinamentode

policiaisemdireitoshumanosemediaçãodeconflitos.Desenvolveudiversas

atividadeseprojetosqueforamtransformadosempolíticaspúblicas.79

Noesforçodepreveniramorteviolenta,oEquadoradotouumapolíticaespecíficade

prevençãoqueincluiatividadesdeconscientizaçãovoltadasparaalunoselíderes

comunitários,bemcomootreinamentodepoliciais.8077Muggah,R.,Researchingtheurbandilemma:Urbanization,povertyandviolence,IDRC,May2012,p.5678O9oEncontrofoirealizadoentre28e31dejulhode2015,naFundaçãoGetúlioVargasdoRiodeJaneiro.79http://vivario.org.br/quem-somos-2/

26

Estratégia6:Realizaçãodepesquisaecoletadedados81

Em2006,oEstudodaONUaconselhouqueseaperfeiçoassemossistemasde

informaçãoecoletadedadosnacionais,demodoaidentificarosgruposvulneráveise

monitoraroprogresso.Ainda,recomendoufirmementequesedesenvolvesseuma

agendanacionalparatratardaviolênciacontraacriançaemqualquerambienteem

quesurgisse:nafamília,dentrodecasa,naescola,nasinstituiçõesdeacolhimentode

menores,instituiçõesjudiciárias,notrabalhoenacomunidade,incluindoas

comunidadesdainternet.82

Oinvestimentoemmecanismosdecoletadedadoseferramentasdepesquisa,

incluindoapesquisadeâmbitonacional,têmgrandeimportânciaparaincrementara

baseatualdeconhecimentosobreaviolênciacontraacriança.83

Osdadosdepesquisasnacionaisdevemcomplementar-secomumaatençãomais

cuidadosanacoletadedadosadministrativosrotineirossobregruposvulneráveis

específicos,incluindoascriançascomnecessidadesespeciais.Osdados

administrativospodemajudararastrearaviolêncianaesferanacionalelocalse

houverumacoletaefetivadoscasosdeviolênciaocorridosnoserviçosocialesistema

judiciário.84

EstratégiaComplementar:Ousodasnovasmídiasparaaproteçãodascrianças

contraaviolência.

80PolíticadoDINACED,PolíciaNacionalEspecializadaparaoCrimeViolento,informaçõesfornecidasporGrantLeality,RepresentantedaUNICEF,Equador 81 Os Anexos I e II descrevem resumidamente alguns exemplos de Relatórios que tratam da situação da Criança da região. 82 UNICEF, Six Strategies for Action #ENDviolence, Op. cit., p.46. 83 Idem 84 Ibidem

27

Ainternetéummeioutilizadopormuitagente,incluindoascrianças,para

desenvolverideias,exploraraprópriaidentidadeefazerpressãopormudançasna

sociedade.85Nessesentido,ascriançassãotantoprodutorascomoconsumidorasde

conteúdo,tornandoaInternetuminstrumentodemocráticodedefesadosdireitos

humanos.86

OacessomaisamploacelulareseàInternetpermitequeascriançasconsigampedir

ajudamaisfacilmente.Linhasdiretasparacriançassãoserviçosdeajudatelefônica

gratuitacomoobjetivodefazeraponteentreascriançascarentesdecuidadoe

proteçãoeosserviçosdisponíveis,alémdeusarosdadosparapromoveroacessoe

melhoriadessesserviços.AChildHelplineInternationaléumaredeinternacionalque

estápresenteem143países.Recentemente,comaexpansãodaInternet,osserviços

deauxíliotelefônicopassaramausartecnologiadigital,ampliandoesseserviço.87

Alémdepreveniraviolaçãododireitodacriançaàlivreexpressãoereuniãonomundo

cibernético,oEstadotemobrigaçõespositivas,comoestimularacriançaadesenvolver

seusprópriosmeiosdeexpressão,garantindo-lheoacessoatodasasmídias.Com

isso,deve-sefomentarasuaparticipaçãoemconsultaspúblicasonlinesobrequestões

depolíticapública.88

85CRINmail 1436 - https://www.crin.org/en/home/what-we-do/crinmail/crinmail-1436 86 CRIN - https://www.crin.org/en/home/what-we-do/crinmail/crinmail-1436 87 Moestue, H. and Muggah, R., 2014, op. cit., p.12,13. 88Conforme o artigo 18 da Convenção sobre os Direitos da Criança: Os Estados Parte reconhecem a importância da função dos meios de comunicação em massa e assegurarão o acesso da criança à informação e material oriundos de diversas fontes nacionais e internacionais, especialmente aquelas voltadas para a promoção de seu bem estar social, espiritual e moral, bem como sua saúde física e mental. Para tanto, os Estados Parte: (a) estimularão os meios de comunicação em massa a divulgar informações e materiais que tragam benefícios sociais e materiais à criança e que estejam conformes ao espírito do artigo 29; (b) estimularão a cooperação internacional para a produção, troca e divulgação dessas informações e materiais oriundos de diversas fontes culturais, nacionais e internacionais; (c) estimularão a produção e disseminação de livros infantis; (d) estimularão os meios de comunicação a dar atenção às necessidades linguísticas da criança que pertence a um grupo minoritário ou indígena; (e) estimularão o desenvolvimento de diretrizes adequadas para a proteção da criança, incluindo informações e materiais nocivos a seu bem-estar, levando em conta o disposto nos artigos 13 e 18.

28

VI.OCAMINHOASEGUIR

Nasúltimasduasdécadashouveconquistasimportantesnospaísesdaregião.Hoje,

prevalecemaspolíticascalcadasemagendasnacionais,bemcomoomarcolegalea

jurisprudênciacabível.Criaram-semecanismosnacionaisdeproteçãoaosdireitos

humanos.OsEstadosestabeleceramministériosesecretariascomfoconosdireitosda

criança,bemcomoinstituiçõesdedireitoshumanosindependentes.Noentanto,ainda

hámuitoporfazeratéquehajaouvidoriasparaascriançasemtodosospaíses.

Existemtambémprogramaseplanosdeaçãovoltadosparaosdireitosdacriança,bem

comoumadiversidadedeimportantesorganizaçõesdasociedadecivilquegiramem

tornodoconhecimentoeestratégiasdedefesadosdireitosdacriança.

Aomesmotempo,asociedadeciviltemmarcadofortepresençanaregião,

acumulandoexperiênciasimportantesaolongodaúltimadécada,ampliandosuas

responsabilidadesdemonitoramentoeimplementaçãodeestratégiasparaaprevenir

eextinguiraviolência.

Contudo,aindafaltavontadepolítica,oqueéfundamentalparasuperara"brechade

governança"eaincoerênciaentreomarcolegaleaspráticasqueatualmente

imperamnoâmbitodaproteçãodacriança.

NãosepodeesquecerquenaAméricaLatinaaviolênciaestáintimamenterelacionada

à desigualdade, ou seja, a enorme distância que separa as classes dominantes, as

elites, e os adolescentes em geral, a população jovem, bem como à discriminação

racial e profunda desigualdade social, mesmo que políticas sociais firmes tenham

tirado milhões de pessoas da miséria. No entanto, a violência contemporânea não

pode ser explicada unicamente por esses fatores. A incapacidade dos sistemas de

govenançademocráticadepromoverumareformadasinstituiçõesdoEstadotambém

é,seguramente,fatorresponsávelpelaconjunturaatual.Emmuitassociedadescentro

29

e sul-americanas, o Estado de Direito é inexistente no mundo da criança e do

adolescentedasclassesdesprivilegiadas.

Assim, para atingir esse objetivo, o Estado deve desenvolver sistemas de coleta de

dados, investir naprevençãoe alocar recursos.Umaboa governançaé fundamental

paraa sustentabilidadedobem-estardacriança.Emboraogoverno tenhaumpapel

vital, existe também uma necessidade crítica de garantias para uma sociedade civil

eficaz e progressista. O acesso às armas deve ser regulado com rigor. Deve-se

fortalecer o Estado de Direito nas democracias da região. Deve aumentar o

investimentonaprevençãodaviolênciaeemprogramassociais.Emmuitospaíses,as

despesascomsegurançaedefesaaindasuperamsignificativamenteosgastossociais.

Omomentodestaoficinaébastanteoportuno,poisasMetasdeDesenvolvimento

Sustentável(MDS)farãopartedomarcodedesenvolvimentoqueseadotaráem

setembrode2015,substituindoasatuaisMetasdeDesenvolvimentodoMilênio.

Essasnovas17metaserespectivosobjetivosdevemcontinuaraté2030.Entreelas,a

Meta16temcomofocoumasociedademaispacíficaeinclusiva,oacessoàjustiçae

instituiçõesqueefetivamenteprestamcontasàsociedade.Essasquestõessão

extremamenterelevantesparaessadiscussão.89

Ainclusãodessestemasaumentaráamensurabilidadedeambososfatoresque

contribuemparaaviolênciacontraacriança,bemcomoacapacidadede

monitoramentodessetipodeviolência,comoobjetivodeprevenireacabarcomo

homicídiodecriançaseadolescentes.Areduçãodaviolênciadeveserum

componenteessencialdasmetasdedesenvolvimentopós-2015,poisaviolênciazeroé

fatorcentral,enãoumsubprodutododesenvolvimentohumano.Nãoexiste

sustentabilidadeseaviolênciapersistir.“Eshoradehacerfrentealproblemadela

89 Martino, L.D., and Atwood, D., Reducing Illicit Arms Flows and the New Development Agenda., Research Note No. 50, 2015; Frate, Anna A. Del., e Martino, L.D., Every Body Counts: Measuring Violent Deaths, Research Note No. 49, Armed Violence, 2015 http://www.genevadeclaration.org/influencing-processes/sdgs-and-goal-16.html

30

violenciaenAmericaLatina[ÉhoradeenfrentaroproblemadaviolêncianaAmerica

Latina](…).”90

Émaisdoquenecessárioprotegeracriançadaviolência,nãocomodemostraçãode

generosidadedapartedosadultosesimcomoumimperativoéticoeumdireito

humano.Ascriançasnãosãomini-sereshumanoscommini-direitos.Desdequea

ConvençãosobreosDireitosdaCriançaentrouemvigor,àscriançassãoconcedidos

exatamenteosmesmosdireitossubjacentesàdignidadehumanaeaintegridadefísica,

comoatodosnós.Orespeitoaessesdireitosdeveserparteintegrantedasleise

políticaspúblicas,estabelecendoproteçãoadicionalaessaparceladapopulaçãonas

suasrelaçõescomoEstado,asociedade,osadultoseafamília.

Aprevençãoerespostaàviolênciacontraacriançadeveserassuntodetodos.Dessa

forma,todoscompartilhamosasmesmasresponsabilidadesquandosetratados

direitosdacriança.Precisamosdar-lhesegurançaeprotegê-lacontraaviolênciae

abuso,enquantoquestãodedireito.

90 Muggah, R. and Doe, S., “Es hora de hacer frente al problema de la violencia en America Latina y el Caribe”, Huffington Post , Blog, 4.2.2013, http://www.huffingtonpost.es/robert-muggah/es-hora-de-hacer-frente-a_b_2597428.html

31

Bibliografia Appiolaza,M.andQuirósEspinoza,A.Y.,Investigacionysistematizacióndepráticasefectivasparalaprevenciónyreductióndelaviolenciaarmadaqueafectaaninõs,ninãsyadolescentes,UNICEF-LACRO,setembrode2014,188p.Brinks,DanielM,”InformalInstitutionsandtheRuleofLaw:TheJudicialResponsetoStateKillingsinBuenosAiresandSãoPaulointhe1990s”,ComparativePolitics,Vol.36,No.1(outubrode2003).BumpusJ.,etal.,BestPracticesinReducingViolentHomicidesRates:Honduras,ElSalvador,Mexico,WoodrowWilsonSchoolofPublic&InternationalAffairs,PrincetonUniversity,2013,45p.http://wws.princeton.edu/sites/default/files/content/591g%20Homicide%20Reduction%20in%20Honduras_1.pdfFrate,AnnaA.D.andLuigi,M.D.,2015.EveryBodyCounts:MeasuringViolentDeaths.ResearchNoteNo.49,ArmedViolence,4p.http://www.genevadeclaration.org/influencing-processes/sdgs-and-goal-16.htmlHumanRightsWatch,WorldReport2014Eventsof2013,NY,HRW,2014,682p.https://www.hrw.org/world-report/2014/country-chapters/brazilGenevaDeclarationonArmedViolenceandDevelopment,GlobalBurdenofArmedViolence2015:EveryBodyCounts,2015GraduateInstituteofInternationalandDevelopmentStudies,Geneva.SmallArmsSurvey,MovingTargets.Cambridge,CambridgeUniversityPress,2012,355p.http://www.smallarmssurvey.org/publications/by-type/yearbook/small-arms-survey-2012.htmlIACHR,Inter-AmericanCommissiononHumanRights,OrganizationofAmericanStates,OAS.ReportonCitizenSecurityandHumanRights.OEA/Ser.L/V/II.Doc.5731dezembrode2009https://www.cidh.oas.org/countryrep/Seguridad.eng/CitizenSecurity.Toc.htmImbush,P.MisseM.,Carrión,F.,“ViolenceResearchinLatinAmericaandtheCaribbean”,InternationalJournalofConflictandViolence[ViolenceResearchinLatinAmericaandtheCaribbean:aLiteratureReview],vol.5(1)2011:88-153http://www.ijcv.org/index.php/ijcv/article/view/141InternationalCrisisGroup,BackfromtheBrink:SavingCiudadJuarez,LatinAmericaReportNo54,25

32

Korthuis,A.,TheCentralAmericaRegionalSecurityInitiativeinHonduras,WorkingpaperpreparadoparaoWoodrowWilsonCenter,WilsonCenterLatinAmericaProgram,setembrode2014,61p.http://www.wilsoncenter.org/sites/default/files/CARSI%20in%20Honduras.pdfMartino,L.DeandAtwood,D.,2015.ReducingIllicitArmsFlowsandtheNewDevelopmentAgenda.ResearchNoteNo.50,ArmedViolence,4p.http://www.smallarmssurvey.org/about-us/highlights/highlights-2015/highlight-rn50.htmlMoestueH.andMuggah,R.DigitallyEnhancedChildProtection:hownewtechnologycanpreventviolenceagainstchildrenintheGlobalSouth.Rio,IgarapéInstitute,StrategicPaper10,novembrode2014.http://igarape.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Artigo-estrategico-10-Child-Protection-4.pdfMoestue,H.,Moestue,L.andMuggah,R.,“YouthviolencepreventioninLatinAmericaandtheCaribbean:ascopingreviewoftheevidence”,NorwegianPeaceBuildingResourceCentre(NOREF),agostode2013,15p.http://www.peacebuilding.no/Regions/Latin-America-and-the-Caribbean/Publications/Youth-violence-prevention-in-Latin-America-and-the-Caribbean-a-scoping-review-of-the-evidenceMovimentoMundialporlaInfanciaandSRSGonViolenceagainstChildren,MapeoRegiónAméricadelSur:ImplementacióndelasRecomendacionesdelEstudioMundialsobrelaViolenciacontralosNiñosyNiñas,Monteviedeo,2011,244p.Muggah,R.,ResearchingtheUrbanDilema:Urbanization,PovertyandViolence,IDRCInternationalDevelopmentResearchCentre,maiode2012,118p.Muggah,R.andDoe,S.,“EshoradehacerfrentealproblemadelaviolenciaenAmericaLatinayelCaribe”,HuffingtonPost,Blog,4.2.2013http://www.huffingtonpost.es/robert-muggah/es-hora-de-hacer-frente-a_b_2597428OEAInformesobreSeguridadCiudadanaenlasAméricas:EstadísticasoficialesdeSeguridadCiudadanaproducidasporlosEstadosmiembrosdelaOEA,Alertamérica,ObservatorioHemisféricodeSeguridad,OEA,WashingtonDC2009http://www.oas.org/dsp/alertamerica/Report/Alertamerica2012.pdfCitizenOfficeoftheSpecialRepresentativeoftheSecretary-GeneralonViolenceagainstChildren,GlobalSurveyTowardaWorldfreefromViolence,NewYork,OSRSG-VAC,2013,160p.https://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/publications_final/toward_a_world_free_from_violence.pdf

33

OfficeoftheSpecialRepresentativeoftheSecretary-GeneralonViolenceagainstChildren,WhyChildren’sProtectionfromViolenceshouldbeattheHeartofthePost-2015DevelopmentAgenda:AReviewofConsultationswithChildrenonthePost-2015DevelopmentAgenda,NewYork,OSRSG-VAC,October,2014,89p.https://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/publications_final/why_childrens_protection_from_violence_should_be_at_the_heart_of_%20the_post_2015_development_agenda.pdfPinheiro,P.S.,WorldReportonViolenceagainstchildren.Geneva,UNSecretary-General´sStudyonViolenceagainstChildren,Genebra,2016,363phttp://www.unicef.org/violencestudy/I.%20World%20Report%20on%20Violence%20against%20Children.pdfPinheiro,P.S.,UnitedNations,“ReportoftheIndependentExpertfortheStudyofViolenceagainstChildren”,A/61/299,GeneralAssembly,61stPeriodofSessions,Item62oftheprovisionalprogram,PromotionandProtectionoftheRightsofChildren,29deagostode2006,34p.http://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/documents/a_61_299_un_study_on_violence_against_children.pdfPinheiro,P.S.,“DemocraticGovernance,Violence,andthe(un)RuleofLaw”.Daedalus,[Brazil:TheBurdenofthepast;ThePromiseoftheFutureDaedalus],Vol.129,No.2,(Spring),2000.p.119-141Ratton,J.L.etal.,“OpactopelavidaeareduçãodahomicídiosemPernambuco”,InstitutoIgarapé,Artigoestratégico,agostode2014,22phttp://igarape.org.br/wp-content/uploads/2014/07/artigo-8-p2.pdfREDLAMYC,EstudiodebalanceregionalsobrelaimplementacióndelaConvenciónsobrelosDerechosdelNiñoenAméricaLatinayelCaribe,novembrode2009,166p.http://www.derechosinfancia.org.mx/libro%20balance%20regional%20interior%20web.pdfTamayo,O.M.,ProgramaParticipacionCiudadanaparalaPaz-PACIPAZ:ManualdePráticaElGolombiao,ProgramaPresidencialColombiaJoven,setembrode2016,Bogotá,Colombia.http://www.unicef.org/lac/Manual_de_practica.pdfSavetheChildren,EvaluaciónFinalExterna,Proyeto“FomentandounaCulturadePazencuatrocoloniasdeláreaperi-urbanadeComayaguelaenelMunicipiodelDistritoCentral,DepartamentodeFranciscoMorazán,Honduras”,julhode2013Solórzano,I.etal.,“Catalyzingindividualandsocialchangearoundgender,sexuality,andHIV:ImpactevaluationofPuntosdeEncuentro´scommunicationstrategyinNicaragua,”,HorizonsFinalReport.Washington,DC:PopulationCouncil,2008

34

UNDOC,UNOfficeondrugsandcrime.The2011GlobalStudyHomicide,Trends,Contexts,Data.Vienna,UNDOC,2011,125p.http://www.unodc.org/documents/congress/background-information/Crime_Statistics/Global_Study_on_Homicide_2011.pdfUNDOC,UNOfficeondrugsandcrime.The2013GlobalStudyHomicideTrends,Contexts,Data,Vienna,UNODC,2013,166phttps://www.unodc.org/documents/gsh/pdfs/2014_GLOBAL_HOMICIDE_BOOK_web.pdfUNSecretaryGeneral´sStudyonViolenceAgainstChildren,ViolenceagainstchildreninthecountriesofLatinAmericaTheproblem,actionstakenandchallengesoutstanding,junhode2006,24p.https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=UN+Secretary%3DGeneral%C2%B4s+Study+on+Violence+Against+Children%2C+VIOLENCE+AGAINST+CHILDREN%2C+IN+THE+COUNTRIES+OF+LATIN+AMERICA+The+problem%2C+actions+taken+and+challenges+outstandingUNHumanRightsCouncil,AnnualReportoftheSpecialRepresentativeoftheSecretary-GeneralonViolenceagainstChildren,DocumentA/HRC/22/55,4janeirode2013.Disponívelemhttps://srsg.violenceagainstchildren.org/sites/default/files/documents/docs/A-HRC-22-55_EN.pdfUNDP,RegionalHumanDevelopmentReport2013-2014CitizenSecuritywithaHumanFace:EvidenceandProposalsforLatinAmerica,NewYork,UNDP,2013.UNDP,SummaryRegionalHumanDevelopmentReport2013–2014,CitizenSecuritywithaHumanFace:EvidenceandProposalsforLatinAmerica,NewYork,UNDP,2013,36p.http://hdr.undp.org/sites/default/files/citizen_security_with_a_human_face_-executivesummary.pdfUNICEF,EliminatingViolenceAgainstChildren:HandbookforParliamentarians,Inter-ParliamentaryUnion,NewYork,UNICEF,No13,2007,p.62http://www.unicef.org/publications/index_41040.htmlUNICEF,EndingViolenceAgainstChildren:SixStrategiesforAction#ENDviolence,NewYork,UNICEF,September2014a,66p.http://www.unicef.org/publications/files/Ending_Violence_Against_Children_Six_strategies_for_action_EN_9_Oct_2014.pdfUNICEF,Hiddeninplainsight:astatisticalanalysisofviolenceagainstchildren,NewYork,UNICEF,2014a,202p.

35

http://files.unicef.org/publications/files/Hidden_in_plain_sight_statistical_analysis_EN_3_Sept_2014.pdfWaiselfisz,J.J.,Mapadaviolência2012:ACordosHomicídiosnoBrasil,RiodeJaneiro,CEBELA,FLACSO;Brasília:SEPPIR/PR,2012,40p.http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdfWHO,GlobalStatusReportonViolencePrevention2014,Geneva,WHO,2014,292p.http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/status_report/2014/en/WHO,Violenceprevention:theevidence,2010,Genebra,WHO,2010,134pWOLA,WashingtonOfficeonLatinAmerica,YouthGangsinCentralAmerica:IssuesinHumanRights,EffectivePolicing,andPrevention,novembrode2006,32p.http://www.wola.org/sites/default/files/downloadable/Citizen%20Security/past/GangsReport_Final.pdf