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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB FACULDADE DE DIREITO Priscila Lopes Rocha Análise das taxas de homicídios, indicadores de desenvolvimento humano e políticas de segurança pública: o caso do Chile no contexto latino-americano Brasília/DF Julho/2015

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB

FACULDADE DE DIREITO

Priscila Lopes Rocha

Análise das taxas de homicídios, indicadores de desenvolvimento humano e

políticas de segurança pública: o caso do Chile no contexto

latino-americano

Brasília/DF

Julho/2015

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Priscila Lopes Rocha

Análise das taxas de homicídios, indicadores de desenvolvimento humano e

políticas de segurança pública: o caso do Chile no contexto

latino-americano

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.

Orientadora: Cristina Zackseski

Brasília/DF

Julho/2015

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Priscila Lopes Rocha

Análise das taxas de homicídios, indicadores de desenvolvimento humano e

políticas de segurança pública: o caso do Chile no contexto

latino-americano

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito

pela Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, pela banca examinadora composta

por:

Professora Doutora Cristina Zackseski

Professora Orientadora

_________________________________________

Professora Doutora Beatriz Vargas Ramos

Membro da Banca Examinadora

_____________________________________________

Mestre Felipe da Silva Freitas

Membro da Banca Examinadora

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente aos meus pais por terem sempre priorizado a educação dos

filhos e por terem nos proporcionado a melhor educação que puderam, sem eles esse

trabalho não seria possível. Ao meu marido, Fernando, por toda a força incondicional e pelas

boas ideias dadas ao longo do desenvolvimento do trabalho.

Aos meus queridos amigos de graduação, em especial Matheus, Eliane e Vanessa,

por todo apoio e por terem compartilhado todas as angústias e desesperos do final do curso.

Também agradeço os meus estimados professores, que tanto me ensinaram e inspiraram ao

longo desses cinco anos de graduação.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma caracterização da violência homicida e apresentar recentes tendências destes indicadoresna América Latina. A região é a única do mundo a apresentar aumento nas taxas de homicídios a partir dos anos 2000, sendo observada uma escala na violência armada, principalmente ligada ao contexto de desenvolvimento de organizações criminosas. Os principais vitimados são homens da faixa etária entre os 15 e 29 anos, que constituem importante faixa produtiva de um país. Apesar de representarem uma proporção menor nestes números, o número de mulheres vítimas de homicídios é também preocupante e está ligado à violência intrafamiliar. As armas majoritariamente utilizadas nessa região são as armas de fogo, envolvidas em 2/3 dos homicídios. Neste contexto, o Chile representa uma exceção, uma vez que não experimentou significante aumento nestas taxas nos últimos anos e continua sendo o país com os números mais baixos deste tipo de crime na região. A partir deste diagnóstico inicial são propostos alguns possíveis elementos determinantes dos cenários observados, como indicadores socioeconômicos, tais quais IDH, índice de Gini, proporção de desempregados e população vivendo na linha da pobreza. As políticas públicas de prevenção são, de igual forma,fatores decisivos no comportamento das taxas de criminalidade e podem possibilitar a aplicação de um sistema penal minimamente intervencionista. Nesta conjuntura, e buscando apresentar alternativas eficazes na redução da criminalidade, surge na América Latina uma linha de segurança cidadã, que pressupõe o desenvolvimento da cidadania, aumento de confiança nas instituições públicas, aumento da percepção de segurança, além de propiciar o nascimento de uma cultura participativa e comunitária entre os cidadãos.

Palavras-chave: homicídio, América Latina, Chile, desenvolvimento humano, políticas públicas de segurança, segurança cidadã.

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Sumário

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7

CAPÍTULO I - Caracterização dos homicídios e Índices de Desenvolvimento Humano

no Chile .................................................................................................................................. 10

1.1 Taxas de homicídio na América Latina ........................................................................... 11

1.2 O Chile no Contexto Latino-americano .......................................................................... 19

1.3 A Relação de Índices de Desenvolvimento Humano e Homicídio ................................. 24

CAPÍTULO II- Políticas de Segurança Pública Chilenas ................................................ 27

2.1. Modelos de Políticas de Prevenção ao Delito .................................................................. 28

2.2. Mudança de abordagem da prevenção da América Latina ........................................... 29

2.3 Conceito de segurança cidadã .......................................................................................... 31

2.4. Implementação da Segurança Cidadã no Chile .............................................................. 33

2.4.1 Programa “Cidade Segura” ..................................................................................... 35

2.4.2 Programa “Escolarização de jovens privados de liberdade” ................................ 37

2.4.3 Programa “Modelo de tratamento de drogas e álcool para adolescentes

infratores” .................................................................................................................................38

2.4.4 Programa “24 horas – Vida Nova” .......................................................................... 39

2.4.5 Programa “Mediação na Vizinhança” .................................................................... 41

2.4.6 Programa de Apoio às Vítimas de Crime ................................................................ 42

2.4.7 Políticas de Prevenção à Violência de Gênero ........................................................ 43

2.4.8 Programa “Plano Quadrante” ................................................................................. 45

2.4.9 Políticas de prevenção à utilização de arma de fogo .............................................. 45

CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 50

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Taxas de homicídio por região no ano 2012 .................................................12

Figura 2 – Porcentagem dos homicídios relacionados ao crime organizado ..................13

Figura 3 – Meios utilizados para prática de homicídio por região..................................17

Figura 4 – Porcentagem de posse arma de fogo por agressões com arma de fogo.........18

Figura 5 – Taxas de Homicídio em alguns países das Américas Central e do Sul .........19

Figura 6 – Taxas de homicídio em países das Américas, entre 1955 e 2012..................20

Figura 7 – Homicídios no Chile, segundo a idade da vítima no ano de 2011.................21

Figura 8 – Homicídios no Chile segundo arma utilizada, ao de 2011.............................23

Figura 9 – Correlação das taxas de homicídio com os índices de desenvolvimento.......25

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a fazer uma caracterização da violência homicida

na América Latina e apresentar tendências atuais destes indicadores, com especial

enfoque no Chile, para, a partir deste diagnóstico inicial, possibilitar a identificação de

possíveis fatores que influenciam os cenários observados. Adicionalmente, a discussão

abordará uma análise mais detida de algumas das políticas públicas de prevenção

implementadas no país.

As taxas de homicídios são utilizadas por muitos organismos internacionais,

como a UNODC1 e o BID2 como ferramentas fidedignas que nos permitem acessar os

padrões de criminalidade expressos em um dado território. O homicídio toma graves

proporções em qualquer sociedade, devido à própria natureza trágica do crime, que além

de impactar severamente todos aqueles envolvidos no círculo de relações da vítima,

afeta o sentimento de segurança apresentado pelos cidadãos, requerendo desta forma

que sejam submetidos a detalhadas investigações acompanhadas de um registro mais

aprofundado. Em geral, os órgãos policiais, institutos de medicina legal ou até mesmo o

sistema judicial mantém bancos de dados com características bastante específicas

quanto às vítimas, aos ofensores, às armas utilizadas e aos locais de prática do crime,

possibilitando maior grau de comparabilidade internacionalmente. O mesmo não

acontece com outros delitos, que não possuem registro tão extenso e muitas vezes nem

chegam ao conhecimento das autoridades policiais, além de apresentarem grande

variação quanto à delimitação do tipo penal entre os países.

O trabalho consiste em um levantamento bibliográfico e os dados utilizados são

provenientes de instituições internacionais, que realizam periodicamente levantamentos

mundiais das taxas indicativas de delitos, principalmente das taxas de homicídio que,

em razão das características já discutidas, possuem maior poder comparativo entre as

diversas nações. A UNODC utiliza em cada país dados oficiais fornecidos pelos

governos centrais e, em geral, os dados utilizados têm proveniência dos órgãos policias.

Existem, no entanto, alguns obstáculos às análises globais dos homicídios, pois nem

todos os países disponibilizam dados provenientes de instituições equivalentes e

1 Escritório das Nações Unidas para o Crime e Drogas. 2 Banco Internacional de Desenvolvimento.

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coletados com metodologias similares, o que representa importante limitação quanto à

comparabilidade dos dados.

Os países da América Latina têm passado por importantes discussões acerca da

efetividade dos modelos interventivos por eles adotados, uma vez a região se depara

com uma escalada da violência com duras repercussões econômicas e sociais, além do

aumento da população carcerária, sem reflexo positivo nas taxas de criminalidade.

Neste cenário, há algumas décadas, estão sendo debatidos modelos alternativos de

segurança pública.

O diagnóstico do cenário e das pessoas que envolvem a prática de um homicídio

permite traçar linhas gerais de prioridade para intervenção estatal. Alguns países

possuem uma abordagem mais punitivista, repressor e de maior controle sobre os

cidadãos, países nos quais a persecução penal é maximizada, assim como as penas

cominadas para os mais variados crimes, com intuito de desestimular a prática de

delitos. Já outras nações, adicionalmente ao sistema penal, adotamuma linha de políticas

e intervenções preventivas, que procuram atuar nas causas determinantes destes crimes,

sejam elas causas ambientais ou sociais, sob enfoque da intervenção penal mínima.

Desta forma, no primeiro capítulo será discutido o contexto que envolve a

prática de homicídios, principalmente na América Latina, e como alguns dos

indicadores socioeconômicos e outras condições particulares destes países podem ter

associação com os padrões observados, a análise terá enfoque no Chile e suas

divergências com o padrão regional.

O Chile representa uma exceção na América Latina e é apontado por muitos

organismos internacionais, como o BID3, como um dos países mais seguros da região.

O que faz dele um país muito interessante para investigações que procuram levantar as

causas da delinquência na América Latina, seus fatores determinantes e modelos de

intervenção estatal alternativos à justiça penal.

O segundo capítulo trará uma conceituação dos modelos preventivos utilizados

para se pensar a segurança pública e, principalmente, de algumas das políticas públicas

de prevenção desenvolvidas no Chile e suas peculiaridades, com finalidade de

apresentar linhas alternativas de ação estatal e comunitária,

3BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013).

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Ao buscar inspirações de modelos de políticas públicas, é costumeiro que os

países latino-americanos se espelhem em países com os quais apresentam pouca

similaridade histórica, cultural ou econômica, como os Estados Unidos ou países

europeus. Desta forma, é fundamental que voltemos nossas atenções também para os

países da região, para suas experiências, estudos e modelos de prevenção que já foram

desenvolvidos com sucesso. As políticas de prevenção podem influenciar fortemente os

indicadores de segurança, desta forma, é importante analisar as experiências de países

que, como o Chile, há vários anos discutem e promovem a implementação de políticas

de segurança pública participativas.

CAPÍTULO I - Caracterização dos homicídios e Índices de

Desenvolvimento Humano no Chile

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Nesse primeiro capítulo, será apresentada uma análise acerca da distribuição dos

homicídios na América Latina e dos grupos mais severamente vitimados, que variam de

nação para nação. A violência homicida se trata de um fenômeno complexo e com

múltiplas causas, sendo necessária uma caracterização mais aprofundada acerca dos

fatores e situações que permeiam a prática destes crimes, até mesmo para que as

políticas públicas possam dirigir suas estratégias aos elementos determinantes deste tipo

de violência, que devem variar de acordo com a realidade de cada país.

1.1 Taxas de homicídio na América Latina

Na última década, a América Latina presenciou grande expansão econômica,

que favoreceu também importantes melhorias sociais, tendo a maioria dos países

apresentado crescimentos significativos em índices como o PIB e IDH. No entanto, o

crescimento econômico não veio acompanhado de maior distribuição de renda na

maioria dos países e a região continua a ser a mais desigual e insegura do mundo4.

As taxas de homicídios5 têm exibido uma tendência de significativas e contínuas

reduções ao redor do mundo, no entanto, a América Latina é a única região que

apresentou um aumento na violência letal entre os anos de 2000 e 2010.6Tal realidade

não é recente, as Américas apresentam números de homicídio de cinco a oito vezes

maiores do que aqueles encontrados na Europa desde os anos 1950.7Contudo, nas

últimas décadas a situação tem se agravado.

Segundo números do Instituto Igarapé8 aproximadamente 33% do número total

de homicídios ocorridos em 2012 em escala global foram cometidos nas regiões da

América Latina e Caribe, número impressionante se considerarmos que essas áreas

compreendem apenas 8% da população mundial. Se analisada a média de homicídios, é

4PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. SeguridadCiudadana con rostro humano: diagnóstico y propuestas para América Latina. (2013) 5 Corresponde a morte provocada, de forma ilícita e voluntária. A taxa de homicídio corresponde ao número de homicídios para 100.000 habitantes. 6UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013). 7Idem. 8 Instituto Igarapé. Homicide Monitor (2015). Disponível em: http://homicide.igarape.org.br/ Acesso em: Mai, 2015.

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também notável a discrepância com outras regiões (Figura 1), a taxa da região é mais do

que cinco vezes a média da Europa, por exemplo. Ademais, dentre as 20 nações com

maiores probabilidades de ocorrência de homicídios - catorze estão localizadas na

América Latina e Caribe.

A tendência das taxas de homicídios, se consideradas nacionalmente, apresenta

significantes variações em relação à média regional. Alguns países, como a Colômbia,

mostraram importante diminuição nos números de mortes intencionais, enquanto a

maioria, como o Brasil, mantiveram as taxas relativamente estáveis, embora sejam ainda

números considerados endêmicos pela OMS9. Os países da região que possuem as

menores taxas são o Chile, o Uruguai e a Argentina, que apresentam um perfil

diferenciado quanto ao tipo de crime analisado.10

Figura 1 – Taxas de homicídio (número por 100.000 habitantes) por região no ano 2012

Fonte: UNODC, 2013

Contrariamente, em regiões em que há algumas décadas observam-se as menores

taxas de homicídios no mundo – como, por exemplo, Europa e Ásia Ocidental – os

números de homicídios têm tendência à estabilidade, mascontinuam apresentando leve

queda ano a ano.

A UNODC, para melhor analisar os fatores que afetam mais decisivamente a

variação nas taxas que registram os homicídios, os divide em três tipos - aqueles ligados

ao cometimento de outros crimes, os decorrentes de relações interpessoais e os

praticados por razões sócio-políticas.

9 Taxas acima de 10 homicídios por 100.000 habitantes. 10UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2011 (2011).

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Os homicídios relacionados a outros crimes podem ainda ser divididos em dois

grupos: os que possuem conexão com as atividades desenvolvidas por organizações

criminosas e os cometidos como resultado de outra conduta criminosa, como o roubo

seguido de morte. As taxas de mortes intencionais destes grupos registram marcada

variação entre as regiões, números muito altos são encontrados nas Américas Central e

do Sul - taxas que possivelmente estejam diretamente relacionadas à forte presença na

região de grupos ligados ao crime organizado11.

Em média, os homicídios diretamente ligados à violência desenvolvida no

contexto do crime organizado compreendem 30% dos homicídios nas Américas,

proporção absurda se comparada àquela encontrada na Ásia, Europa e Oceania – de

aproximadamente 1%12 (Figura 2). Este tipo de crime também está mais suscetível a

variações bruscas ano a ano, possivelmente em decorrência de disputas territoriais, por

competições entre grupos criminosos em busca de expansão de suas atividades ou até

mesmo investidas do governo para combate ao narcotráfico.

Figura 2 – Porcentagem dos homicídios relacionados ao crime organizado

Fonte: UNODC, 2013.

Os crimes letais relacionados ao uso e tráfico de drogas mostraram importante

aumento no período de 2003-2012, em contraste à tendência de queda de crimes contra

propriedade e demais crimes violentos.13 Este possivelmente seja o principal fator

explicativo da escalada de violência na região. Crimes desta natureza afetam, além das

pessoas diretamente envolvidas nessas atividades, principalmente a população que vive

11UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013). 12Idem. 13UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).World Drug Report 2014 (2014).

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nas áreas de maior vulnerabilidade social e de incidência de disputas, onde as

organizações criminosas têm maior possibilidade de expansão e domínio.

Interessante notar a forte conexão dos homicídios relacionados a atividades de

organizações criminosas com o gênero da vítima. As vítimas do sexo masculino

compõem 96% das vítimas deste tipo de homicídios nas Américas, o que sugere, além

da maior facilidade de aliciamento dos homens, que as mulheres ainda são pouco

frequentes na estrutura do crime organizado.

Por outro lado, os homicídios do segundo grupo – cometidos como resultado da

prática de outros delitos - apresentam pouca variação ao redor do mundo. Os homicídios

ligados a roubos, por exemplo, respondem por uma média de 5% do total nas Américas,

Europa e Oceania.14 Desta forma, pode-se inferir que flutuações bruscas nas taxas de

homicídios com conexão a outros crimes, observadas na América Latina, provavelmente

sejam resultado de disputas no contexto do crime organizado.

Os homicídios ligados a relações interpessoais são menos comuns, mas também

constituem parte importante do total – cerca de 14% da média mundial15 - e são

praticados em um contexto bastante diverso, pois geralmente são usados como uma

forma de resolução de conflitos ou punição da vítima por desentendimentos pessoais e

têm como autores mais frequentes pessoas conhecidas ou até mesmo familiares.

Este tipo de crime é comum em todas as regiões do mundo e mostra certa

constância ao longo do tempo, entretanto é responsável por uma porcentagem mais

expressiva em continentes como a Ásia, Europa e Oceania, devido ao baixo número

total de homicídios ocorridos nestas regiões. As taxas observadas nas Américas, embora

sejam numericamente maiores do que nas demais áreas, constituem uma proporção

menor do total.16

Entre os homicídios interpessoais, fator preocupante é a proporção de vítimas do

gênero feminino, neste contexto, elas são consideradas grupo de risco e representam

dois terços das vítimas desse tipo de crime17. Além disso, quase metade (47%) das

14UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013). 15Idem. 16UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2011 (2011). 17UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013).

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mulheres que se tornam vítimas de homicídio são mortas por seus próprios parceiros ou

membros da família, enquanto entre os homens esses números não chegam aos 6%.

Aconjuntura que envolve prática dos crimes de feminicídio torna difícil a

implementação de políticas de prevenção, uma vez que os principais ameaças à

sobrevivência das mulheres são as pessoas mais íntimas e com as quais elas têm um

convívio diário.

Já os homicídios relacionados ao contexto sócio-político são cometidos no

intuito de exercer influência e poder para defender interesses de determinados grupos e

abrangem as mortes intencionais resultantes de disputas políticas, assim como aquelas

decorrentes de atos de terrorismo e crimes de ódio.18 Crimes desta natureza são de

difícil identificação e quantificação e podem ser subavaliados, o que prejudica em

grande medida a sua comparabilidade entre países.

Outra realidade identificada em países de todo o mundo, é a grande associação

dos altos números de violência letalàs grandes zonas urbanas. Segundo relatório do

BID, tal padrão se dá em virtude do acúmulo de fatores que têm influência direta no

aumento de violência, além, claro, da alta densidade populacional: o desemprego, a

pobreza, a desigualdade social, a grande presença de grupos criminosos organizados, o

narcotráfico, entre outros fatores.19

As taxas de homicídios mostram forte correlação também com o gênero.A

predominante maioria do número de vítimas de homicídios em todo o mundo, no ano de

2011, era do gênero masculino (79%), além disso, 95% dos acusados de homicídio

foram também homens. Na América Latina essa discrepância é ainda maior – 88% das

vítimas e 96% dos acusados eram homens, no mesmo período.20 Em todas as regiões do

mundo é possível verificar o predomínio de vítimas masculinas, apesar desta

disparidade entre os gêneros diminuir levemente em países da Europa.

Quando consideradas as faixas etárias de risco de se tornarem vítimas de

homicídio, não há grandes diferenças entre homens e mulheres. Em ambos os gêneros

os jovens são os mais afetados, sendo a faixa de idade mais vitimada aquela que

18 Idem 19BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013). 20UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013).

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16

compreende dos 15 aos 29 anos (com 43%), quando incluídos os menores de 15 anos,

chegamos à metade do número total de vítimas em todo o mundo.21

Se a proporção mundial de homicídios entre jovens já é alarmante, nas Américas

Central e do Sul, toma dimensões ainda maiores. Os jovens com idade entre 15 e 29

anos apresentam uma taxa por 100.000 habitantes quatro vezes maior do que a taxa

mundial média para o grupo.22Tal padrão é preocupante e apresenta forte impacto no

desenvolvimento econômico desses países, uma vez que os jovens compõem uma

importante faixa produtiva e são membros provedores de muitas famílias.

A caracterização das armas utilizadas na prática de homicídios é igualmente

importante para o desenvolvimento de estratégias e políticas de segurança pública. As

armas de fogo são as mais utilizadas mundialmente para a prática deste tipo de crimes,

seja por sua letalidade ou associação com a prática de outras condutas criminosas, são

empregadas em 4 de cada 10 homicídios. O segundo grupo mais comum é o das

denominadas armas brancas, que perfazem um total de 25% dos meios usados na prática

de homicídio. O relatório da UNODC23 descreve ainda um terceiro grupo denominado

“outras armas”, que engloba tanto o emprego de força bruta quanto meios diversos,

como o envenenamento.

Diferindo da média mundial, na Oceania, Europa e África as armas mais

envolvidas em homicídios são as armas brancas, enquanto as armas de fogo não são tão

comumente utilizadas (Figura 3). Já o grupo correspondente às “outras

armas”representa percentual marcante em continentes como o africano e o asiático.24

Nas Américas, o uso de armas de fogo é largamente predominante. No ano de

2012, dois terços dos homicídios foram cometidos utilizando tais meios. Pelo padrão

mundial apresentado, percebe-se que as Américas constituem uma exceção no que diz

respeito à utilização de armas, indicando que as armas de fogo não são tão acessíveis

fora do continente americano ou ao menos não tão freqüentemente utilizadas. De acordo

com o BID25, nesta região o uso de armas de fogo se relaciona com as dinâmicas do

21UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013). 22 Idem. 23 Idem. 24 Idem. 25BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013).

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crime organizado e narcotráfico, além do fato de muitos países da América do Sul

serem produtores de armas, o que as torna mais acessíveispara a população.

Figura 3 – Meios utilizados para prática de homicídio por região.

Fonte: UNODC, 2014.

Adicionalmente, evidências mostram a relação positiva dos índices de posse de

armas de fogo com o nível de violência por elas causadas26 (Figura 4), sugerindo que a

disponibilidade desses meios tão letais resulta mais comumente na perpetuação

violência, ao invés de possibilitar proteção. O fácil acesso a armas tão letais pode

incrementar a potencialidade violenta, fazendo muitas vezes com que um

desentendimento banal tenha um desenlace trágico.

Os efeitos desta violência armada vivenciada por muitos países na América

Latina os têm levado a discutir soluções e implementar políticas restritivas de controle

ao acesso a armas de fogo, objetivando diminuir a circulação e aumentando as

exigências para o porte de armas, além do combate à comercialização de armas

ilegais.27

Figura 4 – Porcentagem de posse arma de fogo por agressões com arma de fogo.

26UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013). 27BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013).

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18

Fonte: BID, 2013

Entre as vítimas, a maioria é jovem e do gênero masculino – 25% das vítimas

são homens que morreram entre os 20 e 24 anos em decorrência de lesão por arma de

fogo. Homens nesta faixa etária constituem um grupo de risco e exibem, ainda, maior

propensão ao envolvimento com atividades criminosas, de acordo com a UNODC.28

Além da disponibilidade de armas, outros fatores podem ser decisivos para a

prática de homicídio. O consumo de álcool e drogas, por exemplo, aumenta

significativamente o risco de uma pessoa se tornar vítima ou autor de homicídio29. Além

disso, inúmeras mortes envolvem o próprio comércio de drogas ilícitas, embora seja um

número de difícil mensuração, em virtude das limitações que envolvem esse tipo de

investigação.

Conforme exposto, uma questão de grande preocupação na América Latina é a

violência derivada de atividades de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico.

Segundo Olson30 as estratégias utilizadas pela força policial na região têm contribuído

28UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2011 (2011). 29UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global StudyonHomicide 2011 (2011). 30OLSON, ERIK. Gestión política desde lo local. Consideraciones sobre La experiencia de Chile. In: Seguridad Ciudadana en América Latina – Múltiples dimensiones y dilemas políticos. (2014).

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19

para a fragmentação das organizações criminosas, aumentando a competição entre

grupos criminais e resultando em maior emprego de violência. As políticas de linha

dura, historicamente praticadas na região, resultam em prisões em massa – que além de

prejudicar a eficiência dos sistemas judiciais, transformam as prisões em centros ainda

mais superpopulosos e perigosos – e não se traduzem em maior segurança pública,

muito pelo contrário, as taxas de homicídio, extorsão e seqüestro continuam elevadas.31

1.2 O Chile no Contexto Latino-americano

As análises regionais, entretanto, podem esconder disparidades ao nível

nacional. Na América do Sul, por exemplo, alguns países representam um desvio nas

médias indicadoras de violência latino-americanas, como o Chile e o Uruguai (Figura

5), que possuem taxas de homicídios muito mais aproximadas àquelas encontradas em

países europeus.

Estes países, que possuem taxas de mortes provocadas e intencionais

consideradas baixas nas Américas, exibem ainda outro ponto de convergência com

padrões de países europeus – uma maior estabilidade e a baixa variação temporal nos

números indicadores de violência letal.

Figura 5 – Taxas de Homicídio em alguns países das Américas Central e do Sul

Fonte: UNODC, 2013

31 Idem.

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20

Estudando mais detidamente o padrão exibido pelo Chile, não são observadas

grandes flutuações entre os anos de 2008-2012, o país apresentou taxas que variaram

entre o mínimo de 2,96 no ano de 2010 – conforme números do relatório do BID32- e o

máximo de 3,53 homicídios por 100.000 habitantes no ano de 2009.

Até mesmo quando analisada a variação dessas taxas em um intervalo temporal

de décadas, as taxas médias de homicídios no Chile chamam atenção quando

comparadas as apresentadas por outros países da América. Entre 1955 e 2011, o país

apresentou e manteve baixos níveis de violência letal, até mesmo mais baixos do que

países com alto desenvolvimento econômico, como os Estados Unidos.33 Além disso,

estes números não exibem grandes variações, pelo contrário, mantiveram uma tendência

de estabilidade nas últimas seis décadas (Figura 6)

Figura 6 – Taxas de homicídio em países selecionados das Américas, entre 1955 e 2012.

32BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013). 33UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2013 – Trends, Contexts, Data (2013).

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21

Fonte: UNODC, 2013.

Quando analisadas as vítimas, o Chile exibe o mesmo padrão geral observado na

América Latina. A porção majoritária delas pertence ao gênero masculino e à faixa

etária compreendida entre os 15 e 29 anos, correspondente à população adolescente e

jovem. No ano de 2009, a taxa de violência letal na faixa de idade entre os 15 e 24 anos

foi de 7,934, significativamente superior à média do país. Já a figura 7 mostra a

distribuição do número total de homicídios por faixa etária, nela fica claro o padrão de

vitimização da população jovem. Esses dados são importantes para desenhar estratégias

de políticas de segurança pública, que devem enfocar determinados grupos com maior

propensão ao envolvimento com o crime.

Figura 7 – Homicídios no Chile, segundo a idade da vítima no ano de 2011

Fonte: BID, 2013.

No anode 2009, o Chile exibiu uma taxa de homicídios entre mulheres de 1,0

por 100.000 habitantes, que está entre as menores encontradas em países latinos para o

grupo.35 Todavia, entre os anos 2008-2011, é importante ressaltar o aumento nos

números totais de vítimas do gênero feminino no país, principalmente na faixa entre os

20 e 24 anos, mas também observado entre as mulheres maiores de 40 anos.36 Essa

realidade é diretamente ligada à violência interpessoal e familiar, como anteriormente

discutido, e segue a tendência de outros países americanos.

34ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Report on Citizen Security in the Americas (2012). 35ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Report on Citizen Security in the Americas (2012). 36BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013).

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22

De acordo com o estudo de Paula Nazarit e Lorena Pérez37, 45% das mulheres

que fizeram denúncias de violência doméstica nos anos de 2011 e 2012 se tornaram

posteriormente vítimas de homicídio, realidade que indica que o estado chileno está

falhando em oferecer alternativas de intervenção a essas mulheres que recorreram a

instituições públicas para buscar socorro. Além disso, de acordo com o mesmo estudo,

cerca de 16% das que cometeram suicídio eram também vítimas deste tipo de violência,

portanto as políticas de prevenção poderiam evitar ou reduzir tais mortes.

Analisando o Chile, observamos divergência ao padrão exibido regionalmente,

já que a arma tradicionalmente mais usada no país é a arma branca, de fácil acesso e

silenciosa (Figura 8). Enquanto o padrão nas Américas é o predomínio do uso de armas

de fogo na violência letal – alcançando o percentual de 66% -, no país o predomínio, no

período de 2008-2011, é o uso de armas brancas38. No ano de 2011, por exemplo, a

proporção do uso de armas brancas foi de 35%, a segunda classe de armas mais

observada foi a de “outras armas” - com 32%, que engloba tipos de armas não perfuro-

cortantes, além de meios diversos, como o envenenamento e os não especificados -, já

as armas de fogo foram o terceiro grupo mais comum com 30%.

Conforme análise do BID39, as agressões com armas de fogo, apesar de não

serem predominantes no cenário geral no país tem grande incidência na população

menor de 24 anos - enquanto entre os maiores de 24 anos, o método mais comum é o

uso de armas brancas - o que mostra que a violência associada ao uso de armas de fogo

afeta mais gravemente a população jovem. A predominância de vítimas letalmente

feridas por arma de fogo entre os jovens deve ser monitorada, uma vez que pode

representar uma tendência de mudança nos métodos utilizados para a prática de

homicídios naquele país e pode indicar a urgência de implementação de políticas

voltadas a diminuição do acesso a estas armas. Além de, possivelmente, evidenciar

maior suscetibilidade dos jovens ao envolvimento com organizações criminosas,

fortemente armadas, como é a realidade de muitos países na América Latina.

Figura 8 – Homicídios no Chile segundo arma utilizada, ao de 2011

37NAZARIT, Paula Santana, PÉREZ, Lorena Astudillo. Violencia extrema hacialasmujeresen Chile 2011-2012. Red Chilena contra la violência hacialasmujeres. (2014). 38BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013). 39Idem.

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23

Fonte: BID, 2013.

Em Santiago, maior cidade chilena, o padrão de utilização de armas é um pouco

distinto, sendo mais frequente o uso da arma de fogo do que as taxas nacionais. No ano

de 2008, por exemplo, observa-se significativamente maior uso de armas de fogo – 47%

dos homicídios - do que os valores encontrados a nível nacional - 28% no mesmo ano.

Essa realidade vivenciada pelo maior metrópole chilena pode estar relacionada a maior

incidência de disputas entre organizações criminosas e comércio de narcóticos.

É clara, principalmente em países da América Central e Colômbia, a forte

associação entre homicídios e narcotráfico. Entretanto, o Chile, apesar de constituir um

significante mercado consumidor de drogas ilícitas, não figura entre os principais países

produtores de narcóticos e tampouco está localizado nas principais rotas de narcotráfico

nas Américas.40 Desta forma, o país não é atingido por esse tipo de violência tão

severamente como outros das Américas, fator que em certa medida pode explicar a

realidade das taxas de homicídio na região.

Não obstante, o estudo do BID41 adverte quanto ao aumento de freqüência da

violência organizada ou associada ao narcotráfico no Chile nos últimos anos, o que está

provocando uma modificação no padrão de homicídios, que anteriormente estavam

majoritariamente associados a relações interpessoais. Portanto, é necessária uma maior

atenção estatal para o tema, principalmente sob o enfoque preventivo.

Além da violência diretamente relacionada ao comércio de narcóticos, existe

também uma importante conexão, especialmente no Chile, da prática de crimes ao

40 UNODC. World Drug Report 2014 (2014). 41BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013).

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24

consumo anterior de drogas ou álcool, conforme relatório de desenvolvimento humano

do PNUD42, 48,8% dos internos chilenos afirmaram ter consumido álcool ou drogas

ilícitas antes de cometerem delito.

1.3 A Relação de Índices de Desenvolvimento Humano e Homicídio

O estudo realizado pela UNODC43 associa a baixa incidência de homicídios a

uma sociedade pouco desigual, estável, próspera e com altos indicadores de

desenvolvimento socioeconômico. Assim como as mais altas taxas de violência letal

têm, em geral, conexão direta com contextos de pobreza, desigualdade, marginalização

social, baixo acesso ao sistema educacional e a presença de um estado de direito

frágil.44

A investigação criminológica também tem associado níveis de violência com

padrões de desenvolvimento exibidos em determinada região. De acordo com Tcherni45,

existe um consenso geral entre especialistas de que os indicadores socioeconômicos

podem predizer as taxas de crimes violentos e homicídios. Uma pesquisa desenvolvida

pela autora chegou à conclusão de que o aumento no percentual de famílias que vivem

na pobreza e que possuem baixa escolaridade mostra forte correlação com o aumento

também nas taxas de homicídio.

Segundo pesquisa divulgada pelo BID46, oIDH47 de um país apresenta

significante conexão com as taxa de homicídios por ele apresentadas, estando o

aumento do IDH geralmente relacionado à diminuição no número de mortes

intencionais. Desta forma, a taxa média deste tipo de crime exibiu diminuição em

alguns dos países da região e do mundo nos últimos 15 anos, período em que

apresentaram expressivo crescimento econômico.

42 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO. Relatório de Desenvolvimento Humano 2013 – A Ascensão do Sul: Progresso num Mundo Diversificado.(2013) 43UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global Study on Homicide 2011 (2011). 44Idem. 45TCHERNI, Maria. Structural Determinants of Homicide: The Big Three. JournalofQuantitativeCriminology, 27(4), 475-496 (2011). 46BANCO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (BID). Analisis de los homicídios em seis países de America Latina (2013). 47 IDH utiliza como base o PIB per capita (corrigido pela paridade de poder de compra), esperança de vida ao nascer e taxa de matrícula e alfabetização

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25

Percebe-se, todavia, um desvio nesta correlação quando considerados os países

pertencentes ao grupo de IDH alto, que exibem ainda altas taxas de homicídio (Figura

9). Muitos destes países pertencem à América Latina, onde outros fatores determinantes

de violência letal, como a forte presença de organizações criminosas, possivelmente

explique a ausência de redução nas taxas de homicídios acompanhando o aumento de

IDH.48

Figura 9 – Correlação das taxas de homicídio com os indicadores de desenvolvimento.

Fonte: UNODC, 2011

Outro fator de correlação analisado pelo relatório do BID e que mostra força

ainda maior na determinação da violência letal, é o índice de Gini49, que mede o nível

desigualdade encontrado em cada país. Foram identificadas taxas de homicídios baixas

em países com baixo índice de Gini, número que aumenta conforme aumenta a

desigualdade na distribuição das riquezas produzidas no país.

Nos países com índice Gini superior a 0,45, que exibem grande disparidades de

renda, são observadas taxas de homicídios quase quatro vezes mais altas do que as de

sociedades mais equitativas. Esse grupo de países é composto principalmente por

africanos e americanos e respondem por 36% dos homicídios cometidos em todo o

mundo, enquanto abrigam apenas 19% da população mundial.50

Esse cenário indica que mais marcadamente do que índices de desenvolvimento

– cujo aumento muitas vezes não é acompanhado por repartição de riquezas e

48UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global StudyonHomicide 2011 (2011). 49 Índice de Gini: os números mais baixos correspondem a uma distribuição mais equitativa de riquezas enquanto números próximos ao 1 representam desigualdade máxima. 50UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME (UNODC).Global StudyonHomicide 2011 (2011).

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26

oportunidades - o que determina em larga escala a taxa de homicídios é o nível de

desigualdade encontrado em um país:

Com isso podemos concluir que, mais do que a pobreza absoluta ou

generalizada é a pobreza dentro da riqueza, são os contrastes entre ambas,

com sua sequela de maximização e visibilidade das diferenças, a que teria

maior poder de determinação dos níveis de homicídio de um país (Waiselfisz,

2008)51

Ainda de acordo com JulioWaiselfisz, os indicadores de concentração de renda

mostram maior relação com as taxas de homicídio de jovens do que de vítimas não-

jovens, ou seja, os jovens seriam mais fortemente afetados pelos duros efeitos da

desigualdade na distribuição de renda.52

Waiselfisz aponta, ainda, três níveis de elementos determinantes das taxas de

delinquência de um dado território:

Em primeiro lugar, os de nível estrutural que, desde uma perspectiva macro, estariam determinando o comportamento dos restantes fatores. Nessa entrada, os mais freqüentemente indicados foram os relacionados com a pobreza, em que fome, miséria e exclusão seriam os motores impulsores da violência. Também nessa entrada, processos acelerados de urbanização, com sua desestruturação normativa, estruturas políticas geradoras de cultura cívica autoritária, opressiva e violenta, têm sido arrolados, principalmente na América Latina, para explicar as diversas formas de eclosão da violência homicida. Em segundo lugar, os de nível institucional. Diversos tipos e mecanismos de crises nas instituições básicas de nossa sociedade têm sido apontados como indutores da moderna violência: desestruturação familiar, insuficiência educacional, crises das instituições políticas, erosão dos estatutos morais etc. Por ultimo, também determinantes de nível individual, fundamentalmente os psicológicos que, em determinadas situações, podem gerar condições de resiliência às reações potencialmente violentas.53

Segundo relatório de desenvolvimento humano do PNUD, na América Latina

“as altas expectativas de consumo aliadas à relativa falta de mobilidade social também

estimularam o chamado crime aspiracional”54, em grande medida associado às

organizações criminosas. Ademais, outros fatores presentes na América Latina

representam facilitadores da violência, como crescimento urbano desordenado,

carências no sistema de ensino e dificuldades no acesso a ele.

51WALSELFISZ, Julio .J. Mapa da Violência: Os Jovens da América Latina. (2008). 52 Idem. 53 Idem. 54PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. SeguridadCiudadana com rostro humano: diagnóstico y propuestas para América Latina. (2013).

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27

Considerando os índices de desenvolvimento humano, o Chile aparece há alguns

anos como o país latino-americano com melhores resultados. Em 2014, o país

despontou na 41º colocação quanto ao IDH, sendo classificado como um país com nível

de desenvolvimento humano muito elevado.55 Em termos de desigualdade, por outro

lado, o Chile – com índice de Gini de 0,50 (que representa importante desigualdade) -

não apresenta resultados tão marcantes no contexto latino-americano, sendo superado

por países como Argentina (0,46), Uruguai (0,38) e Peru (0,44). O aparente paradoxo

nestes números pode ser explicado por outros fatores que, do mesmo modo, podem

influenciar as taxas de homicídio.

Hanns Mella, Claudia Navarro e PíaO´Kuinghttons publicaram estudo

analisando as principais variáveis que influenciam a delinqüência no Chile, entre elas

foram apontados:“desempleo, hombres jóvenes urbanos, personas bajo la línea de

pobreza, aprehendidas por robo com fuerza, consumo de drogas (marihuana), edad

promedio de La población y escolaridad promedio de La población.”56

No próximo capítulo, será analisado um dos fatores que apresentam influência

nas taxas de violência apresentadas por um país – as políticas públicas de prevenção.

Serão apresentados os modelos preventivos e as características principais de algumas

das políticas de segurança desenvolvidas no Chile.

CAPÍTULO II- Políticas de Segurança Pública Chilenas

Além de todos os fatores determinantes dos padrões delitivos - ou mais

especificamente das taxas de homicídio – já discutidos no capítulo anterior, as políticas

de segurança pública implementadas por um país podem determinar uma grande

55PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO. Relatório de Desenvolvimento Humano 2013 – A Ascensão do Sul: Progresso num Mundo Diversificado. (2013) 56MELLA, Hanns de la Fuente; NAVARRO, Claudia Mejías, O’KUINGHTTONS, Pía Castro. Análisis econométrico de los determinantes de La criminalidaden Chile. Polít. crim. Vol. 6, Nº 11 (2011).

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mudança dos padrões criminais, neste sentido, serão abordados modelos de políticas de

prevenção mais comuns e discutidos alguns dos projetos em andamento no Chile.

2.1. Modelos de Políticas de Prevenção ao Delito

Para Cristina Zackseski57,as políticas preventivas de segurança pública podem

ser dividas em dois modelos: um modelo que envolve a prevenção das circunstâncias e

situações de risco que de alguma forma promovem ou facilitam o cometimento de um

crime - chamado de prevenção situacional - e outro que busca atacar as raízes da

problemática da delinqüência e exclusão social – chamada de prevenção social. Acerca

do modelo de prevenção situacional defende a autora: “Se trata, sin embargo, de una

estrategia limitada, puessólo es capaz de incidir sobre lãs situaciones desviantes más

elementares, que se identifican por estadísticas y hacen parte de La idea general de

crimen existente em el sentido común.”

O modelo de prevenção situacional defende a ideia de que algumas das causas o

delito podem ser explicadas a partir das oportunidades existentes no ambiente físico.

Como resultado, o modelo se baseia na intervenção direta nas características físicas e

urbanas que, de alguma forma, possam contribuir para a prática de delitos, assim como

influenciar na percepção de segurança da população.58 Como exemplo de ações

integrantes desse modelo preventivo podemos citar as políticas de recuperação de

espaços púbicos e implantação de iluminação pública, bem como programas de

vigilância e desarmamento, entre outras.

Por sua vez, as políticas de prevenção social recomendam a atuação sobre

fatores de risco pessoais, psicológicos ou sociais, estes últimos geralmente de caráter

estrutural, como a pobreza e a marginalidade. Estas iniciativas devem ser voltadas para

grupos de alto risco, e a atuação deve atingir desde o âmbito familiar e educacional até a

questão da saúde pública. Os efeitos da prevenção social são observáveis geralmente

apenas em longo prazo e exigem um esforço concentrado de diversos setores sociais e a

concretização de políticas públicas em diversas áreas.

57ZACKSESKI, Cristina. Los modelos contemporâneos de prevención de conflitos y La participaciónciudadana em las políticas de seguridade del Distrito Federal mexicano. 58 MOYANO, Gonzalo. De la criminologia ambiental a La prevención mediante El diseño de espacios seguros. + Comunidad + Prevención, Nº 6 (2007)

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29

A prevenção social deve ser instituída em três formas: primária, secundária e

terciária. A prevenção primária é dirigida a toda a sociedade e atua nos contextos sociais

e situacionais que favorecem a violência; a secundária é dirigida a grupos que possuem

maior risco de delinqüir (de acordo com os diagnósticos delituais) e às suas

necessidades, tratamento e apoio; e a terciária aponta a sua atuação para população

infratora e tem como propósito reabilitá-la para reinseri-la na sociedade.59

Cristina Zackseski aponta, ainda, o surgimento das políticas de prevenção

integradas em países europeus em um contexto de fortes demandas sociais por

segurança pública e participação popular na década de 1980. Neste cenário, os

programas de prevenção desenvolvidos “pretendieron estimular La participación de

losciudadanos, así como de las agencias oficiales de control y elservicio social,

buscando siemprealcanzarel consenso de La poblaciónen torno a las políticas.”60

Estudo recente do CESC aponta, similarmente ao modelo desenvolvido no

cenário europeu na década de 1980, o surgimento de um modelo de prevenção

comunitária na América Latina, que combina elementos do modelo de prevenção

situacional e do modelo de prevenção social, tendo como sua característica definidora a

participação dos cidadãos locais. Para garantir sua eficácia,a prevenção comunitária

necessita de grande envolvimento da população, de forma a efetivar as estratégias

participativas e tornar essa participação sustentável em longo prazo. O objetivo desse

tipo de prevenção é promover práticas que convertam a comunidade em protagonista,

instalando recursos, capacidades e estratégias tanto a nível individual como coletivo,

fazendo com que a comunidade de torne corresponsável por sua segurança.61

2.2. Nova abordagem preventiva na América Latina

No esteio dessas transformações de teorias e conceitos acerca das políticas de

segurança pública, a noção de prevenção de delito na América Latina também passou

por importantes modificações nas últimas décadas, deixando de se basear apenas no

59CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuálesel papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004) 60ZACKSESKI, Cristina. Los modelos contemporâneos de prevención de conflitos y La participaciónciudadana em las políticas de seguridade del Distrito Federal mexicano. 61CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿CuáleSel papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004)

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30

enfoque de vigilância e pretensão punitiva estatal, passando a ser entendida como um

conceito muito mais complexo e amplo, cuja efetivação deve ser planejada de forma

transversal, ajustando ações estatais e participação comunitária.62

Segundo relatório sobre segurança cidadã publicado pelo PNUD, a forte

repressão policial e criminal na América Latina freqüentemente coincidiu com o

aumento taxas de criminalidade, sugerindo, mais uma vez, que a política repressiva não

reflete mudanças positivas nas taxas associadas à violência e que a prevenção deve ser

encarada sob outra perspectiva. De acordo com a mesma instituição é necessária: “uma

abordagem que proteja o direito à vida com dignidade e integridade física e material

está no centro da segurança cidadã, que é um bem público, ao qual todas as pessoas

devem ter acesso, e que é responsabilidade do Estado.”63

Neste Contexto, há um reconhecimento de que a justiça penal não tem sido

capaz de oferecer ao conjunto da população uma eficiente resolução das questões de

segurança pública, já que pouco tem determinado mudanças efetivas nos padrões de

criminalidade. Além disso, cresce a percepção de que a atuação estatal na questão da

segurança pública deve ser anterior à intervenção da justiça penal, seja modificando as

diversas condições que induzem as pessoas a se envolver com a criminalidade, seja

através da promoção do fortalecimento da noção de cidadania, seja com o

direcionamento das políticas públicas efetivamente às necessidades sociais concretas

dos cidadãos.

Fator de importante influência nas políticas de segurança pública é o efeito que o

temor ao delito apresenta em determinada sociedade, como defendido por Elias

Carranza: “La percepción sobre el aumento de la criminalidade es bastante generalizado

y está incidiendo em las medidas adoptadas de política criminal. [...] Este temor se

manifiesta em um mayor reclamo de justicia penal, em un reclamo por aumentar el

número de polícias y por elevar las penas y el uso de la prisión”64

Portanto, mudanças nos modelos de prevenção devem considerar importantes

questões que têm sido debatidas atualmente na América Latina, tais como a necessidade

62CENTRO INTERNACIONAL PARA LA PREVENCIÓN DE LA CRIMINALIDAD (CIPC). Estrategias y mejoresprácticas em prevencióndel delito com relación a áreas urbanas y juventude em riesgo. (2007). 63PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. SeguridadCiudadana com rostro humano: diagnóstico y propuestas para América Latina. (2013). 64CARRANZA, Elías. Delito, SeguridadPersonal y Abolicionismo Hoyen América Latina. Cuadernos de Criminología nº 2, Instituto de Criminologia, Santiago (1994).

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de enfrentar as condições socioeconômicas que fomentam a delinqüência; a mudança de

um enfoque preventivo de responsabilidade apenas da polícia para um que engloba os

governos e as comunidades; a relevância das realidades comunitárias e locais; e o

reconhecimento da prevenção como solução mais eficaz para o problema da

delinqüência do que a mera aplicação da justiça penal.65 A partir disso, ganha destaque

nos últimos anos na América Latina – e principalmente desde o retorno à democracia

em muitos países - o movimento de implementação de uma política de segurança

pública participativa, comunitária, mais centrada e direcionada para as necessidades

moradores locais, tal política é denominada segurança cidadã.

2.3 –A segurança cidadã

Os desafios que acompanham o desenvolvimento de políticas de segurança

participativa requerem a desconcentração das intervenções políticas para os governos

locais, ONGs e organizações comunitárias, em busca de promover a participação mais

ativa do cidadão.66 Neste sentido, Felipe Fernandéz67 destaca o papel fundamental dos

governos locais na abordagem da segurança cidadã. Segundo o autor, os municípios

apresentam múltiplas vantagens comparativas no desenho e aplicação das políticas de

segurança, uma vez que se encontram numa posição de maior proximidade com os

cidadãos, o que os permite reconhecer os principais problemas enfrentados pela

população e identificar os recursos e potencialidades disponíveis para enfrentá-los.

Esse processo de descentralização pode contribuir diretamente tanto para a

modernização quanto para a celeridade da gestão, ao aproximar a população da

administração pública e permitir uma conexão mais direta com suas prioridades e

preocupações.68 Além disso, a descentralização objetiva propiciar a participação da

comunidade na tomada de decisões e permitir um maior controle dos cidadãos sobre as

ações políticas, fato que promove e fortalece o desenvolvimento da cidadania.

65CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuál ES el papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 66TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para La prevencióndel delito y la violência. (2014). 67FERNÁNDEZ, Felipe. Gestión política desde lo local. Consideraciones sobre La experienca de Chile. (2014) 68VALENZUELA, SebastiánAcevedo. Delincuencia y descentralizaciónen Chile: los desafios de definir la oferta pública desde la demanda comunal y regional. + Comunidad + Prevención, Nº 10 (2010).

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32

A segurança cidadã se orienta modificar as condições de vida das vizinhanças

que sofrem privações materiais e baixos níveis de coesão social, onde são altos os riscos

de que os cidadãos se envolvam com o crime ou dele se tornem vítimas.69 Esse modelo

de prevenção engloba estratégias e medidas que buscam reduzir o risco de que delitos

ocorram – tentando influir em suas múltiplas causas - bem como seus potenciais efeitos

prejudiciais, tanto nos indivíduos como na sociedade em geral.70

As ações políticas se concentram em diversos níveis, as políticas direcionadas a

jovens em grupos de risco, por exemplo, abarcam desde investimentos em áreas básicas

como saúde e educação, até políticas pra redução da desigualdade social, promoção da

inclusão, criação de oportunidades de empregos e proteção contra exploração pelo

narcotráfico. Portanto, para que sejam colocadas em prática, se faz necessária uma

cooperação entre instituições governamentais para o melhor planejamento e avaliação

dos programas.71

Conforme relatório do PNUD72, os principais componentes de uma política

integral de segurança cidadã são: a prevenção da violência e delito; o controle da

persecução penal; a reabilitação e reinserção social dos infratores; a assistência e

proteção das vítimas; e o governo da segurança cidadã. Ainda segundo o relatório, em

toda estratégia preventiva devem estar presentes as quatro etapas seqüenciais:

diagnóstico, elaboração do plano, gestão e avaliação. O diagnóstico é o estudo da

realidade local em termos de segurança, cujo objetivo é identificar os problemas mais

relevantes e as estratégias que devem ser usadas para combatê-los. A segunda etapa é a

elaboração de um plano ou estratégia realista que proponha respostas aos problemas

apontados pela comunidade. Já a etapa de gestão consiste na efetiva implementação do

plano, acompanhada por um constante processo de monitoramento da alocação dos

recursos disponíveis e das dificuldades do processo. E na fase de monitoramento e

avaliação do plano deve ser feito o acompanhamento dos projetos de acordo com o

planejamento estabelecido.

A política de segurança cidadã requer, ainda, uma relação de confiança entre a

população e a administração pública. Nenhum sistema democrático se encontra

69UNODC, Global Study on Homicide 2011 (2011). 70 PNUD, SeguridadCiudadana com rostro humano: diagnóstico y propuestas para América Latina. (2013) 71 Idem 72 PNUD, En que consiste la seguridade ciudadana? (2015)

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consolidado sem que funcionem adequadamente as instituições encarregadas da

administração da justiça e da segurança, pelo contrário, a desconfiança passa a imperar

entre os cidadãos enquanto se debilita a legitimidade das instituições estatais.73

Como bem pontua estudo de Frülhing publicado pelo CESC:

[...] quando se considera que a criminalidade é produto do fracasso das normas que regulam a convivência, é possível supor que a violência e o delito aumentam em comunidades empobrecidas e que o aumento da criminalidade, por sua vez, gera maiores problemas, o que redunda em um círculo vicioso onde violência gera mais violência. As intervenções para potencializar os recursos da comunidade teriam o objetivo de deter essa espiral de violência, pondo freio a processos sociais degenerativos.74

É significante na América Latina o aumento da discrepância entre a percepção

de insegurança na visão dos cidadãos e as condições reais e objetivas de delito e

violência.75 Fundamental, então, que as políticas públicas se dirijam também ao

aumento da confiança nas instituições públicas e da sensação de segurança. O

sentimento de insegurança é particularmente relevante para a análise das políticas de

segurança desenvolvidas na região, bem como por seus efeitos políticos e sociais. O

clima de insegurança tem conseqüências sociais negativas, que podem aprofundar o

desafeto da sociedade pela política e diminuir a participação da cidadania nos assuntos

políticos.76

2.4. Segurança Cidadã no Chile

Atualmente, a questão da segurança cidadã na América Latina se instalou como

prioridade nas agendas governamentais dos países da região - mesmo naqueles onde a

violência é considerada baixa comparada com a média da região, como é o caso do

Chile. No país, observa-se o desenvolvimento dos diversos tipos de políticas de

73VARAT, Jessica; GARLAND, Allison. Participaciónciudadana y percepción de inseguridaden América Latina. Latin American ProgramSpecialReport (2006). 74CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuál ES el papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 75PAZ CIUDADANA. Siete Prioridades país. (2005). Disponível em: www.pazciudadana.cl/. Acesso: Mai, 2015. 76VARAT, Jessica; GARLAND, Allison. Participaciónciudadana y percepción de inseguridaden América Latina. Latin American ProgramSpecialReport (2006).

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prevenção, no entanto, desde o final da década de 1990 tem sido mais discutida e

implementada a política de prevenção comunitária.

A chamada política de segurança cidadã começou a ser discutida no início dos

anos 1990, porém as primeiras estratégias adotadas se concentraram no controle e

repressão. Como resultado, se observou um aumento severo na população carcerária

(72% em 13 anos), sem efetivos resultados na criminalidade.77 Em virtude do fracasso

do sistema de controle adotado, aprofundaram-se as discussões e esforços de integração

do discurso político com estratégias de prevenção, com o intuito de desenvolver as

necessárias reformas.

No ano de 2001 foi criado no país a Divisão de Segurança Cidadã no Ministério

do Interior, tendo como principal tarefa desenvolver políticas de segurança cidadã, com

ênfase na participação comunitária e propiciando um trabalho conjunto com a polícia

local. Alguns anos depois, em 2004, foi elaborada no Chile a Política Nacional de

Segurança Cidadã, que proporcionou uma perspectiva mais integral da problemática de

segurança, com a participação de múltiplas instituições. Seus principais objetivos

estavam centrados nas políticas de prevenção de delinqüência, programas e projetos

para uma reabilitação dos infratores e assistência às vítimas.78

Em 2014 foi criado o Plano Comunitário de Segurança Pública em 32 cidades do

país. Como parte deste projeto foram iniciadas 86 políticas de prevenção entre as quais

estão projetos dirigidos a crianças, adolescentes, projetos escolares, de combate à

violência intrafamiliar, voltados aos bairros, além dos voltados à prevenção situacional

de recuperação de espaços públicos, alarmes comunitários, sistemas de vigilância, entre

outros.79

A seguir, são citados, exemplificativamente, alguns dos projetos e programas

relacionados à Política de Prevenção Cidadã e Comunitária, desenvolvidos no Chile, e

estratégias utilizadas para sua execução. O principal programa analisado é o

denominado “Cidade Segura”, outros também são citados, embora não existam estudos

específicos e muitos dados disponíveis acerca de sua efetivação e resultados práticos.

77CENTRO INTERNACIONAL PARA LA PREVENCIÓN DE LA CRIMINALIDAD (CIPC). Estrategias y mejoresprácticasenprevencióndel delito com relación a áreas urbanas y juventude em riesgo. (2007). 78FERNÁNDEZ, Felipe. Gestión política desde lo local. Consideraciones sobre La experiencia de Chile. In: Seguridad Ciudadana en América Latina – Múltiples dimensiones y dilemas políticos. (2014). 79GOVERNO DE CHILE - SUBSECRETARIA DE PREVENCIÓN AL DELITO. Cuenta Pública Participativa. (2014).

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São eles “Escolarização de Jovens Privados de Liberdade”, “Modelo de tratamento de

drogas e álcool para adolescentes infratores”, “Programa 24 Horas – Vida Nova”,

“Mediação na Vizinhança”, “Programa de Apoio às Vítimas de Crime”, “Casas de

Acolhida”, “Homens por uma Vida sem Violência” e “Vizinho Consciente”.

2.4.1 Programa “Cidade Segura”

O programa “Cidade80 Segura”, iniciado ano 2000, tem como objetivo suscitar e

fortalecer as capacidades locais, e intervir nos fatores de risco sociais específicos de

determinadas cidades.81 O resultado esperado é o fortalecimento da participação

comunitária e a coordenação institucional para a prevenção e controle da delinqüência,

mediante aplicação de soluções locais, ou seja, soluções advindas da própria

comunidade. Essas soluções se baseiam, por sua vez, em um diagnóstico de segurança

realizado anteriormente.82

Essa iniciativa combina aspectos da prevenção social e da prevenção situacional,

com um enfoque local e comunitário, conforme preconiza o modelo de segurança

cidadã, anteriormente explicitado. Com tal enfoque, busca transferir para o nível

municipal o modelo de gestão de segurança, pois considera que é sobre o município que

recai a responsabilidade da execução das estratégias do programa, embora não

desprezando o necessário apoio do governo central e das polícias.

O programa é composto por três elementos: o conselho comunitário de

segurança cidadã – um espaço de diálogo sobre o tema de segurança pública e de

representação social, do qual participam as autoridades locais e a sociedade civil; a

secretaria comunitária – composta por profissional especializado responsável pelo

monitoramento da situação de segurança da cidade, e também pela coordenação,

implementação e continuidade do plano comunitário de segurança; e a mesa técnica

80 Termo original utilizado é “Comuna”, que corresponde ao território de um município 81CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuálesel papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 82FERNÁNDEZ, Felipe. Gestión política desde lo local. Consideraciones sobre La experiencia de Chile. In: Seguridad Ciudadana en América Latina – Múltiples dimensiones y dilemas políticos. (2014).

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comunitária – formada pelas direções municipais relacionadas a programas de

prevenção.83

As cidades são selecionadas para participar do programa pelo seu índice de

vulnerabilidade delitual. Este índice é definido por meio da análise de escolaridade,

pobreza, desemprego, consumo de drogas, taxas de denúncias de crimes, entre outras

variáveis, para então selecionar as cidades que apresentem a maior pontuação. A partir

daí, são estabelecidos convênios de colaboração entre cada um dos municípios

participantes e o Ministério do Interior, determinando as obrigações de cada parte na

execução do projeto.

Como primeiro passo para a implantação do programa, é feito o diagnóstico de

segurança da cidade – através da caracterização das faixas etárias, gêneros, grupos

sociais mais atingidos e dos fatores de risco mais determinantes em cada local. Este

diagnóstico é fundamental, pois possibilita a definição dos problemas prioritários, sobre

os quais incidirão as intervenções. Já nessa fase, é importante a participação da

comunidade para que seja feito um autodiagnóstico, verificando o que a própria

comunidade aponta como questões prioritárias.84

A par do diagnóstico e das necessidades da comunidade local, passa-se à

elaboração do Plano Comunitário de Segurança Cidadã. O Plano é considerado o eixo

do programa e essencial para alocação dos recursos disponíveis, devendo conter todas

as estratégias de prevenção ao delito a serem efetivadas, sob um prima de integralização

de todos os níveis governamentais envolvidos.85

O financiamento do programa pode ser direcionado também a projetos de

iniciativa da própria comunidade, visando aumento do protagonismo popular. Esses

projetos podem ser baseados na resolução alternativa de conflitos, atividades culturais,

fortalecimento de redes locais, recuperação de espaços públicos, atenção às vítimas,

violência intrafamiliar, entre outros.86 Nos quatro primeiros anos de desenvolvimento

do programa “Cidade Segura” foram financiados 2.737 projetos de segurança, sendo a

83 CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuál ES el papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 84Idem. 85 Idem. 86 Idem.

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maior parte dirigidos à infra-estrutura e fortalecimento das redes comunitárias87 Em

2007, o programa se transformou no projeto “Planos Comunitários de Segurança

Pública”.

De acordo com Valenzuela88, o desenho do programa “Cidade Segura”

conseguiu conjugar uma articulação entre governo central, municípios e a comunidade,

privilegiando a descentralização administrativa. Esse desenho trouxe como resultado a

participação de grande número de organizações de base, ONGs locais, organismos

privados e governo.

O programa proporcionou, ainda, a aquisição de um conhecimento melhor e

mais detalhado sobre da realidade das cidades, sobretudo no tocante aos delitos, pois

algumas dessas cidades nunca tinham passado por um diagnóstico de segurança.89 Esse

diagnóstico é um ponto essencial para orientar os programas de segurança cidadã

comunitário, sobretudo em locais onde outros tipos de ações governamentais geralmente

não chegam.

Alguns estudos, como o publicado por Valenzuela90, afirmam que o programa

conseguiu aumentar a confiança da população nas instituições públicas e autoridades,

fato que pode ser observado pelo aumento considerável de denúncias feitas às

autoridades policiais. Este dado é especialmente relevante porque essas denúncias

certamente ajudam a tornar cada vez mais preciso o diagnóstico da violência na cidade,

contribuindo para orientar a implantação de novas políticas de segurança.

Por fim, segundo Frühling e Gallardo91, um estudo estatístico determinou que as

cidades participantes do programa apresentariam indicadores de delito cerca de 19%

mais altos se o projeto “Cidade Segura” nunca houvesse sido implementado.

2.4.2 Programa “Escolarização de jovens privados de liberdade”

87CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuál ES el papel de la comunidade em laprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 88VALENZUELA, SebastiánAcevedo. Delincuencia y descentralizaciónen Chile: los desafios de definir la oferta pública desde la demanda comunal y regional. + Comunidad + Prevención, Nº 10 (2010). 89CENTRO DE ESTUDIOS EN SEGURIDAD CIUDADANA (CESC). ¿Cuálesel papel de la comunidade enlaprevencióndel delito? + Comunidad + Prevención, N°1 (2004). 90VALENZUELA, SebastiánAcevedo. Delincuencia y descentralizaciónen Chile: los desafios de definir la oferta pública desde la demanda comunal y regional. + Comunidad + Prevención, Nº 10 (2010). 91Fruhling e Gallardo, Programas de seguridade dirigidos a barrios. (2010)

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Conforme caracterizado no capítulo anterior, tanto no Chile como na maioria

dos países latino-americanos, um dos mais importantes grupos de risco – e que,

portanto, devem ser alvo de intervenções preventivas – é o grupo da faixa etária de

adolescentes e jovens. Este constitui um grupo de marcada vulnerabilidade, uma vez

que é muito comum na América Latina que jovens se envolvam com a prática criminal,

seja pela cooptação de organizações criminosas, pelo comum abuso no consumo de

drogas e posterior envolvimento no crime para financiar o vício, ou pela dificuldade em

se inserir na realidade comunitária e conseqüente marginalização.

Como exemplo de projeto criado para atuar neste contexto, pode ser citado o

programa de escolarização de jovens privados de liberdade, criado em julho de 2007.

Trata-se de uma iniciativa executada pela Associação Chilena Pró Nações Unidas

(ACHNU) e consiste em um modelo de reintrodução ao sistema de ensino de jovens

encarcerados para cumprimento de pena. O programa conta com uma equipe

multidisciplinar de professores, psicopedagogos, educadores sociais, terapeutas

ocupacionais e prevê a realização periódica de atividades variadas a fim de preparar os

jovens para a continuidade dos estudos. A intervenção psicopedagógica busca, ainda,

através de um trabalho colaborativo com escolas e vinculação a organizações externas, a

reabilitação dos jovens e sua completa reinserção social.92

Este constitui um projeto de prevenção social, assentado na defesa dos Direitos

Humanos, que busca atuar nas raízes determinantes da reincidência, aproximando os

jovens do sistema educacional e apresentando alternativas à delinqüência. Aqui

especificamente, trata-se de caso de efetivação de política de prevenção de delitos em

grupo socialmente vulnerável – os jovens infratores, através de um plano de reinserção

social que parte da hipótese de que a educação tem o poder de reduzir a probabilidade

de reincidência93, reduzindo conseqüentemente a criminalidade em geral.

2.4.3 Programa “Modelo de tratamento de drogas e álcool para

adolescentes infratores”

92TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para La prevencióndel delito y la violência. (2014). 93TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para La prevencióndel delito y la violência. (2014).

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39

Entre os problemas sociais que mais influenciam para a impossibilidade do

pleno desenvolvimento social de jovens, são sempre citados: o trabalho infantil, a

deserção escolar, a violência, a marginalidade, a ausência de expectativas de futuro e o

consumo ou dependência de substâncias químicas94.

Uma das prioridades do Chile no combate à delinqüência, segundo publicação

da Fundación Paz Ciudadana95, é a reabilitação dos infratores dependentes de drogas,

considerando que é comum entre as pessoas com problemas graves de dependência e

abuso de drogas o cometimento de delitos para financiar os vícios. Assim, quando se

objetiva diminuir a probabilidade de reincidência é necessário projetar políticas públicas

que se voltem a proporcionar um tratamento integral para os infratores usuários de

drogas.

Neste contexto, foi criado um programa de tratamento especialmente voltado a

adolescentes infratores, baseado na ocupação humana e na definição de rotinas

personalizadas, levando-se em conta as características, interesses e necessidades

pessoais de cada um dos jovens infratores usuários de drogas, com intuito de aumentar a

motivação pessoal deles para o tratamento.96 As atividades incluem, por exemplo:

consulta psiquiátrica, psicológica, psicoterapia individual, grupal e familiar e

intervenção psicossocial de grupo97.

A finalidade do programa, segundo Tapia e Mohor: “é promover uma inserção

progressiva e sistemática dos jovens em redes assistenciais e comunitárias para livrá-los

da dependência das drogas, para tanto busca dar a necessária atenção às saúdes física e

mental dos jovens atendidos, incentivando a participação em atividades socioculturais e

intentando uma nivelação dos estudos para futura inserção laboral, reduzindo-se assim a

possibilidade de reincidência criminosa”98.

2.4.4 Programa “24 horas – Vida Nova”

94 Idem. 95PAZ CIUDADANA. Siete Prioridades país. (2005). Disponível em: www.pazciudadana.cl/. Acesso: Mai, 2015. 96TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para laprevencióndel delito y la violência. (2014). 97 Idem. 98 Idem.

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40

Outro programa direcionado às crianças e adolescentes infratores existente no

Chile é denominado 24 horas – Vida Nova. O objetivo deste programa é criar e ativar

uma rede de apoio social que atenda e possibilite que essas crianças e adolescentes

parem de se envolver na execução de delitos.

O modelo de trabalho do programa é a terapia chamada multi-sistêmica, que foi

criada para abordar de maneira integral o tratamento de problemas de conduta criminal

em jovens de 10 à 17 anos.99 A metodologia prevê o acompanhamento 24 horas, 7 dias

por semana, e a realização de várias sessões de tratamento por semana. E não apenas

com o jovem infrator, mas também com os pais, irmãos, amigos, professores e uma

equipe de profissionais qualificados para intervenção clínica e psicossocial. Os

profissionais se dividem em equipe de avaliação do risco sócio-delitual – analisam

semanalmente os casos de jovens egressos nas unidades policiais por condutas de risco

– e a equipe clínica de terapia multissistêmica – implementa a terapia psicológica

familiar nos casos de mais alto risco de reincidência no delito. Esta segunda equipe atua

no sentido de tentar melhorar o funcionamento da família, aumentando a capacidade dos

pais de controlar a conduta dos filhos, mantê-los na escola e reduzindo o consumo de

drogas.100

Segundo estudos relacionados ao programa, as mudanças nas condutas dos

jovens já podem ser notadas entre 3 a 5 meses de tratamento. O bom resultado é

creditado à intervenção que a terapia faz na família, introduzindo mudanças nos

esquemas de cuidado e supervisão dos jovens. Além disso, para além do tratamento

existe um completo sistema que assegura a qualidade da intervenção, consistente em

avaliações, supervisões e capacitações constantes. Segundo informe do Ministério do

Interior chileno101, o programa tem alcançado importantes resultados, impedindo a

reincidência delitual para aproximadamente 70% dos jovens atendidos.

Além dos exemplos apresentados, outros dois importantes programas que

buscam proteger jovens em situação de risco e devem ser citados são o “Abrindo

Caminhos” – projeto destinado a atender filhos de pais encarcerados, contando com

conselheiros familiares, tutores e profissionais de apoio, que atende mais de 4.000

99 MINISTERIO DEL INTERIOR. Programa Vida Nova, disponível em: http://www.cumplimiento.gob.cl/wp-content/uploads/2014/03/140616_Programa-Vida-Nueva-24-Horas.pdf 100GOVERNO CHILE, Estudios Programas Prevencion VIDA NUEVA. Disponível em: http://www.penalolen.cl/wp-content/uploads/2015/05/Estudio-VIDA-NUEVA.pdf 101GOVERNO CHILE, Subsecretaria de prevención al delito. Cuenta Pública Participativa. (2014)

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crianças – e o “Justiça Juvenil Restaurativa” – promove o tratamento em liberdade dos

jovens infratores, comprometendo a família e a comunidade na busca pela reparação do

dano causado pelo infrator. Esta política tem apresentado excelentes resultados na

diminuição da taxa de reincidência e apresentando custos muito mais baixos do que

aqueles vinculados ao encarceramento102.

2.4.5 Programa “Mediação na Vizinhança”

Ainda como exemplo dos conceitos de políticas de segurança cidadã e

comunitária, o programa Mediação na Vizinhança é uma iniciativa de mediação no

âmbito comunitário, executada no município de Peñalolén, Chile, cuja intenção é

prevenir a violência entre cidadãos de uma vizinhança ou comunidade, através de

métodos alternativos para resolução pacífica de conflitos.103 É um projeto que atua tanto

na prevenção situacional quanto na social, pois atua evitando situações de risco de

ocorrência de agressões, bem como na construção de uma forma pacífica de diálogo em

situações de embate.

O programa está fundamentado na articulação de departamentos e programas

municipais, é diretamente integrado à justiça local, e visa resolver com mais efetividade

e rapidez os conflitos comunitários. A equipe do projeto é interdisciplinar e composta

por profissionais de direito, sociologia, psicologia, arquitetura, serviço social.104

Uma característica fundamental do programa é a promoção da capacidade da

própria comunidade para resolver suas controvérsias, sem recorrer à violência, para isso

inclui-se a formação de dirigentes especialistas nas técnicas de mediação. Outro fator

importante é a facilitação do acesso à justiça a comunidades materialmente carentes e

sujeitas a muitas situações geradoras de conflitos de convivência105.

O programa se inicia com a atuação de um centro de mediação – que coordena

todo o processo de mediação; de um solicitante – que informa ao centro de mediação da

102 COSTA, Gino; ROMERO, Carlos. Qué hacer com lãs pandillas? +Comunidad +Prevención, nº 12 (2011) 103TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para La prevencióndel delito y la violência. (2014). 104TAPIA, Paula; MOHOR, Alejandra. Evaluación + BuenasPracticas2: Aprendizajes y desafios para La prevencióndel delito y la violência. (2014). 105 Idem.

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existência do conflito; um pré-mediador – que é enviado à casa do solicitante para

reunir toda a informação relativa ao caso, além de explicar todo o funcionamento do

processo de mediação; o solicitado – que será contatado pelo pré-mediador, quando

tomará conhecimento do processo de mediação e do requerimento do vizinho. Tendo o

solicitante e o solicitado aceitado a mediação, é designado, pelo centro de mediação, um

mediador imparcial que será apenas um facilitador do diálogo entre as partes

envolvidas. Caso haja acordo, o centro de mediação apenas acompanhará o

cumprimento. Não sendo o possível o acordo, o mediador explicará o procedimento

judicial que deverá ser seguido e encerrará o caso.106

Este projeto, além de permitir uma participação efetiva dos envolvidos na

resolução de seus próprios conflitos, consiste em uma forma preventiva de intervenção

em uma situação de tensão e que poderia facilmente escalar para a violência.

2.4.6 Programa de Apoio às Vítimas de Crime

As pessoas vitimadas por algum evento delitivo podem experimentar

consequências para além de danos materiais. Por vezes, as consequências psicológicas e

sociais do delito, as impedem de seguir a vida normalmente, superando os sentimentos

negativos relacionados à insegurança e vulnerabilidade. Para atuar junto a essas vítimas,

foi criado o Programa de Apoio às Vítimas, que oferece assistência psicológica, social e

jurídica, cujo objetivo é ajudar a pessoa vitimadas por crime a superar as conseqüências

negativas do fato e se reintegrar à sociedade.

O projeto conta com assistência 24 horas, através de uma equipe de psicólogos e

assistentes sociais, de modo que oferece apoio às vítimas desde as primeiras horas após

o delito. Segundo dados da Subsecretaria de Prevenção ao Delito só no ano de 2014, o

programa atendeu um total de 61.122 pessoas.107 O Plano Nacional de Segurança prevê

a criação, ainda em 2015, do Serviço Nacional de Apoio a Vítimas de Crimes,

ampliando o âmbito de alcance do programa.

106 Idem. 107 GOVERNO DE CHILE - SUBSECRETARIA DE PREVENCIÓN AL DELITO. Cuenta Pública Participativa. (2014)

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2.4.7 Políticas de Prevenção à Violência de Gênero

O Chile, assim como muitos países da América Latina, apresenta preocupante

manifestação da violência contra a mulher, questão que recentemente tem sido bastante

debatida e visibilizada no país. Tanto o governo quanto ONGs de defesa da mulher em

situação de violência têm feito esforços no sentido de realizar a chamada prevenção

primária, através de ações educativas e de campanhas com ampla veiculação na

mídia.108

Um dos resultados desses esforços foi a aprovação, em 2010, da lei que sanciona

o crime de feminicídio, que passa a prever uma pena entre 15 anos e um dia à prisão

perpétua para este delito. Embora represente um avanço no combate ao tipo de crime, a

lei tem recebido críticas, principalmente, por ter restringido a casos muito específicos a

aplicação do tipo penal, por exemplo, que o autor deva ser ou ter sido cônjuge da vítima

ou com ela tenha tido filho. A lei impõe ainda, para casos de relações findas, um prazo

máximo de três anos contados a partir do fim da convivência para adequação ao tipo

penal. São abarcados pelo conceito também casos de vítimas que tiveram filhos com o

agressor – ainda que eles não tenham convivido – no entanto estão excluídas relações de

tantas outras naturezas.109

Não obstante a importância da tipificação do feminicídio no arcabouço penal do

país, o aumento das penas e o encarceramento por si não contribuem decisivamente para

a erradicação da violência contra as mulheres. Ainda menos serão eficazes se vierem

desacompanhados de políticas que promovam a prevenção, proteção das mulheres em

situação de risco e a conscientização acerca da igualdade de direitos.

Neste contexto, o Serviço Nacional da Mulher110 iniciou em 2007, o projeto

“Casas de Acolhida”, cujo objetivo principal é oferecer uma alternativa temporária de

moradia segura para mulheres vítimas de violência e que estejam em situação de risco

grave ou de morte. Nacionalmente, foram abertas 28 Casas de Acolhida, que contam

108GOVERNO CHILE – SERNAM. Casas Acogida. (2015) 109VÁSQUEZ, Patsilí Toledo. Femicídio. Oficina del alto comisionado para losderechos humanos. (2009). 110 Departamento do governo chileno responsável pelo desenho de políticas de combate à violência contra a mulher

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com os serviços profissionais de assistentes sociais, psicólogos, advogados, técnicos

sociais e educadores, que prestam assistência tanto às mães quanto aos filhos111.

As principais ações do programa visam: contribuir com a intervenção integral e

com o processo de reparação e obtenção de sanções aos agressores (através do

assessoramento jurídico); possibilitar a criação de uma rede de segurança para as

vítimas; bem como fomentar a sua autonomia econômica (através da equipe social);

fornecer um espaço de estabilização emocional; iniciar o processo de empoderamento,

autonomia, autoestima e revalorização da mulher, bem como de seus filhos (através

equipe psicológica)112.

Alinhado a este projeto de apoio à mulher vítima de agressão, encontra-se o

programa “Homens por uma Vida sem Violência”, que é destinado aos agressores,

homens envolvidos em situação de violência familiar. O programa, da mesma forma,

realiza uma intervenção psicossocial, com vistas à diminuição da violência intrafamiliar

e, principalmente, redução do risco de reincidência dos agressores, que nos centros de

apoio iniciam um processo de mudança em suas atitudes familiares.113 Após o

tratamento ainda é feito um acompanhamento por um período de 9 meses para avaliar a

permanência das mudanças alcançadas e outras intervenções necessárias,

principalmente em caso de reincidência nos atos violentos.114

Ainda que se possa afirmar a adequação e mesmo o sucesso dessas políticas

adotadas, ainda há muito por fazer para que se efetive a prevenção da violência contra a

mulher. Segundo Jubb115, as estratégias primárias devem ser ampliadas, introduzindo a

temática nos currículos de escolas e universidades, além da adoção de estratégias

integrais, pautadas na defesa dos direitos humanos e no indispensável envolvimento

comunitário. Encontra-se em andamento a implementação do Plano Nacional de Ação

para a Prevenção da Violência Intrafamiliar no Chile, que propõe significante ampliação

e aperfeiçoamento nas políticas públicas direcionadas à mulher e à redução da violência

intrafamiliar.

111GOVERNO CHILE - SERNAM, Programa Casas de Acogida. Disponível em: https://portal.sernam.cl/?m=programa&i=10, Acesso: Mai, 2015. 112 Idem. 113GOVERNO CHILE -SERNAM, Hombre por uma vida sin violência (2015). Disponível em: https://portal.sernam.cl/?m=programa&i=11 114GOVERNO CHILE -SERNAM, Hombre por uma vida sin violência (2015). Disponível em: https://portal.sernam.cl/?m=programa&i=11 115 JUBB, Nadine. Respuestas efectivas a la violência doméstica.+Comunidad +Prevención, nº 13. (2011)

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2.4.8 Programa “Plano Quadrante”

Diferente dos exemplos anteriores, o programa denominado Plano Quadrante é

essencialmente de prevenção situacional, tendo sido desenvolvido para implementação

na estrutura da polícia preventiva de caráter militar do Chile. O programa está

produzindo uma série de mudanças nos aspectos institucionais da polícia chilena, com o

escopo de colocar mais policiais nas ruas, posicionando os de acordo com setores de

patrulha, os chamados quadrantes – definidos conforme variáveis quantificáveis.116

Cada quadrante é comandado por um major e é gerido por delegados e

subdelegados, que têm por obrigação atender e solucionar os problemas apresentados

pelos moradores.117Com a divisão territorial em quadrantes, a polícia procura enfrentar

a demanda por policiamento nas áreas urbanas, com recursos logísticos e humanos

limitados, principalmente nos municípios mais pobres. Além, disso, a atuação em áreas

menores, deve reforçar os vínculos das forças policiais com a comunidade e promover

uma aproximação entre eles, se inserindo em um modelo de polícia comunitária que tem

sido bastante discutido no país.

Conforme artigo do CESC118, embora não tenha sido realizado um estudo que

fizesse a comparação do sentimento de segurança apresentado pelos cidadãos entre

áreas com policiamento comunitário e policiamento tradicional, existem indícios de que

a confiança nas instituições policiais aumentou como consequência do programa de

polícia comunitária, assim como diminuiu a opinião de que as autoridades nada faziam

em relação a denúncias que lhes eram apresentadas pela população.

2.4.9 Políticas de prevenção à utilização de arma de fogo

Apesar de não representarem o meio mais comum de prática de homicídios no

Chile, como demonstrado no capítulo I, as armas de fogo são fatores de grande

importância no desenvolvimento da violência urbana. As políticas que buscam a

116 CENTRO DE ESTUDIOS SEGURIDAD CIUDADANA. Polícia Comunitária. (2003). 117 Idem. 118 CENTRO DE ESTUDIOS SEGURIDAD CIUDADANA. Polícia Comunitária. (2003).

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diminuição no número e na utilização de armas geralmente apontam para maior rigidez

das leis que regulam a concessão do porte de armas e aumento das penas cominadas

para crimes a elas relacionados, com o pressuposto de que a menor quantidade de armas

disponíveis significa diminuição da violência a elas atrelada.

No tocante à legislação de controle para uso e porte de armas, o Chile está

classificado em nível internacional como semi-restritivo.119 A nova lei para controle de

armas, aprovada no ano de 2011, representou notáveis modificações, restringindo a

venda de armas, sancionando a fabricação, importação, exportação e comercialização de

armas sem autorização e aumentando os requisitos para adquirir e inscrever uma arma.

A nova lei culmina, por exemplo, até 5 anos de prisão para pessoas que portarem arma

ilegalmente, enquanto a lei anterior previa apenas uma multa.

Segundo Tamara Hemelryck,120 o principal motivo apontado pelos cidadãos para

adquirir armas de fogo seria a insegurança e garantia da autodefesa. Assim sendo, o

conjunto de políticas comunitárias desenvolvidas no país que, conforme exposto, tem

influência na diminuição no temor apresentado pelos cidadãos, será indiretamente

determinante também para a redução da quantidade de armas adquiridas por cidadãos no

futuro. Fundamental também é a realização de políticas e campanhas para destruir parte

do acervo de armas que se encontra nas mãos da população civil. Em 2011, no contexto

de aprovação da nova lei de controle de armas, foi produzida a campanha “Vizinho

Consciente”, que estimulou cidadãos a entregarem suas armas à polícia sem sanções,

mesmo quando se configurava o porte ilegal121. Ademais, a efetivação das políticas que

previnem o envolvimento de jovens com o crime organizado devem afetar as taxas de

violência associadas à utilização de arma de fogo, uma vez que estas armas são muito

comumente usadas por estes jovens, conforme já exposto.

119HEMELRYCK, Tamara V. PrimeraAproximación sobre La Ley de Control de Armas de FuegoPequeñasen Chile. (2012). 120 Idem. 121HEMELRYCK, Tamara V. PrimeraAproximación sobre La Ley de Control de Armas de FuegoPequeñasen Chile. (2012).

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CONCLUSÃO

Muitos países da América Latina passam por um período de importantes

pressões sociais acerca da escalada das taxas de violência e ampliação significativa das

atividades de organizações criminosas, que buscam ampliação de seu mercado

consumidor, principalmente de narcóticos. Acompanhando este cenário, existem sinais

de enfraquecimento da confiança que a população expressa nas instituições públicas,

aliada ainda a um crescimento do sentimento de insegurança.

No entanto, o Chile não foi tão significativamente afetado por essa mudança e

exibe baixas e constantes taxas de violência letal desde meados da década de 1950. O

país retrata uma realidade particular no contexto latino-americano, apresentando as

menores taxas de homicídio entre os países da região e ocupando posição também muito

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favorável quanto aos indicadores de desenvolvimento humano. Além disso, o país

possui um histórico de forte envolvimento comunitário nas iniciativas governamentais.

Similarmente ao padrão exibido pelos países latinos, a juventude chilena, de

ambos os gêneros, é a mais vitimada pela violência letal, atingindo mais fortemente os

homens com menos de 30 anos. Fato que tem grande impacto também no

desenvolvimento econômico desses países, por perderem grande porção de um

significativo grupo produtivo. A forte vitimização de jovens, além de outros motivos,

pode ser explicada em certa medida pela ampliação das atividades de organizações

criminosas na região, que encontra nos jovens importante fonte para aliciamento.

Embora sejam inúmeros os elementos que contribuem para a ocorrência da

violência homicida - que muitas vezes se sobrepõem e tornam difícil um diagnóstico

mais específico - conforme alguns estudos, o que mais fortemente determina esses

indicadores em uma dada sociedade são alguns dos fatores socioeconômicos, como

índices de desigualdade e desenvolvimento humano, como o índice de Gini e IDH.

Além disso, fatores que levam a marginalização de certa parte da população são também

determinantes da prática de delitos, como o desemprego, a miséria, a baixa escolaridade,

entre outros.

A realidade delitual encontrada na América Latina fez nascer ademanda por uma

maior participação comunitária no desenvolvimento de políticas preventivas, que

buscam se adequar à realidade de cada comunidade. Tal movimento participativo tem

essencial importância para o desenvolvimento da cidadania nessas nações, além de ter

inegável efeito na percepção de segurança dos cidadãos e confiança nas instituições

públicas.

Dentre os modelos de políticas de prevenção empregados na América Latina –

prevenção situacional, social e comunitária – o que mais induz verdadeiras

transformações sociais e influencia a percepção de segurança na população é o modelo

comunitário, que engloba características do modelo social, e busca atuar diretamentenos

fatores estruturais e causas determinantes da criminalidade, sendo determinado através

da abordagem comunitário das intervenções propostas, ou seja, aplicação de um modelo

descentralizador de políticas públicas, que prevê participação da população e

desenvolvimento da cidadania.

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Neste contexto, o presente trabalho pretende mostrar como foram

implementadas alternativas de políticas públicas de segurança, sob o ponto de vista da

intervenção mínima do sistema penal, tendo sido desenhadas e desenvolvidas por um

país que apresenta uma série de similaridades históricas, culturais e de limitações

econômicas com outros tantos países latino-americanos. Intentou-se mostrar um pouco

da experiência chilena que pode ser tomada como referencia por outros países latino-

americanos para criação, desenvolvimento e aplicação prática de políticas de segurança

pública.

Percebemos, então, que as taxas de homicídio apresentadas pelo país, de certa

forma, refletem o modo como o tema de segurança pública é encarado pelo estado

chileno, bemcomo,refletem também os seus indicadores sociais. No entanto, existe

muito ainda a ser desenvolvido no país, muitas das políticas mencionadas no segundo

capítulo estão ainda em seu início e atingem poucos usuários, sendo assim, são

necessários maiores investimentos por parte do governo central, de forma a expandir o

alcance das políticas que são destaque pela inovação, mas ainda constituem iniciativas

de alcance limitado.

Um dos fatores determinantes para os altos índices de criminalidade na América

Latina, que precisa ser encarado sob uma nova perspectiva, é a ampliação das

organizações criminosas. O pensamento tradicionalmente disseminado, de que a melhor

forma de se combater as atividades de organizações criminosas era neutralizando-as

com intervenção policial e penal, não tem a mesma força atualmente, pois o decurso

histórico tem demonstrado que políticas de linha dura apresentam resultados bastante

contraproducentes contra esse tipo de organização. Em razão disso, emerge a

necessidade de uma discussão com ênfase em linhas preventivas de ação, surgindo

possibilidades de diversas políticas alternativas, como a adoção de políticas não-

proibicionistas, como a regulamentação do comércio de narcóticos com o intuito de

reduzir o poder dos narcotraficantes.

São inúmeros os fundamentos que influenciam os indicadores delituais

apresentados por um país, podendo estar relacionados às raízes históricas, aos elementos

culturais, até à condição geográfica, ao contexto político, às condições

socioeconômicas, entre outros. Certamente muitos desses elementos fogem do alcance

deste trabalho. Assim, a despeito das muitas limitações das relações causais aqui

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levantadas, o trabalho se propôs a evidenciar algumas soluções inovadoras encontradas

nas políticas preventivas desenvolvidas no Chile, com o intuito também de exibir

alternativas para a uma intervenção estatal mais eficiente no aspecto da segurança

pública de toda a América Latina.

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