a preservação do patrimônio arqueológico no contexto do licenciamento de empreendimentos e...

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1 A preservação do patrimônio arqueológico no contexto do licenciamento de empreendimentos e atividades em Santa Catarina (2002-2007) Anderson Luis Ribeiro Moreira 1 Resumo Esse artigo trata das normas relativas ao patrimônio arqueológico brasileiro a partir dos dados contidos nos processos relativos ao licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que tramitaram na Superintendência do IPHAN em Santa Catarina entre 2002 e 2007. Tendo como subsídios a pesquisa nos processos jurídico-administrativos e relatórios técnico- científicos, entre outros arquivos da instituição, foi possível compor uma amostra da preservação do patrimônio arqueológico catarinense e brasileiro. O objetivo principal desse artigo é apresentar os resultados obtidos na pesquisa da dissertação Indicadores de preservação do patrimônio arqueológico: empreendimentos e atividades em Santa Catarina (2002-2007), resultado de atividades realizadas no Mestrado Profissionalizante em Preservação do Patrimônio Cultural - PEP/IPHAN. Desenvolvemos estudos referentes à tutela jurídica do patrimônio arqueológico brasileiro, tendo como subsídios o acompanhamento das atividades de rotina da Superintendência do IPHAN em Santa Catarina. Isso incluía pesquisa em processos administrativos e análises da legislação de proteção desse patrimônio Desenvolver a pesquisa nesse local era estar num lócus privilegiado para estudos no âmbito dessa proteção jurídica, na medida em que é lá que tramitam os projetos e relatórios de pesquisa apresentados pelos arqueólogos, bem como as recomendações e determinações a respeito do patrimônio arqueológico . Assim, delimitou-se a seguinte questão: em que medida as informações contidas nos processos administrativos relativos à arqueologia de contrato 2 , 1 Advogado. Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo IPHAN. E-mail: [email protected] 2 Privilegiamos os dados dos processos de arqueologia de contrato. Em linhas gerais, a diferença entre arqueologia acadêmica e arqueologia de contrato é que a primeira provém de uma demanda própria do campo científico, já a segunda pesquisa ocorre motivada como requisito prévio para a instalação de empreendimentos e atividades. Nosso foco foi nos projetos relacionados a arqueologia de contrato, como veremos adiante no artigo,

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Esse artigo trata das normas relativas ao patrimônio arqueológico brasileiro a partir dos dados contidos nos processos relativos ao licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que tramitaram na Superintendência do IPHAN em Santa Catarina entre 2002 e 2007. Tendo como subsídios a pesquisa nos processos jurídico-administrativos e relatórios técnico-científicos, entre outros arquivos da instituição, foi possível compor uma amostra da preservação do patrimônio arqueológico catarinense e brasileiro.

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Apreservaodopatrimnioarqueolgiconocontextodolicenciamentode empreendimentos e atividades em Santa Catarina (2002-2007) Anderson Luis Ribeiro Moreira1 Resumo Esse artigo trata das normas relativas ao patrimnio arqueolgico brasileiro a partir dos dados contidos nos processos relativos ao licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que tramitaram na Superintendncia doIPHAN em Santa Catarina entre2002 e 2007. Tendo comosubsdiosapesquisanosprocessosjurdico-administrativoserelatriostcnico-cientficos,entreoutrosarquivosdainstituio,foipossvelcomporumaamostrada preservao do patrimnio arqueolgico catarinense e brasileiro. Oobjetivoprincipaldesseartigoapresentarosresultadosobtidosnapesquisada dissertao Indicadores de preservao do patrimnio arqueolgico: empreendimentos e atividades em Santa Catarina (2002-2007),resultado de atividadesrealizadas no Mestrado ProfissionalizanteemPreservaodoPatrimnioCultural-PEP/IPHAN.Desenvolvemos estudosreferentestutelajurdicadopatrimnioarqueolgicobrasileiro,tendocomo subsdiosoacompanhamentodasatividadesderotinadaSuperintendnciadoIPHANem Santa Catarina. Isso inclua pesquisa em processos administrativos e anlises da legislao de proteo desse patrimnioDesenvolverapesquisanesselocaleraestarnumlcusprivilegiadoparaestudosno mbito dessa proteo jurdica, na medida em que l que tramitam os projetos e relatrios de pesquisaapresentadospelosarquelogos,bemcomoasrecomendaesedeterminaesa respeito do patrimnio arqueolgico . Assim, delimitou-se a seguinte questo: em que medida asinformaescontidasnosprocessosadministrativosrelativosarqueologiadecontrato2, 1 Advogado. Mestre em Preservao do Patrimnio Cultural pelo IPHAN. E-mail: [email protected] 2Privilegiamososdadosdosprocessosdearqueologiadecontrato.Emlinhasgerais,adiferenaentre arqueologiaacadmicaearqueologiadecontratoqueaprimeiraprovmdeumademandaprpriadocampo cientfico, j a segunda pesquisa ocorre motivada como requisito prvio para a instalao de empreendimentos e atividades. Nosso foco foi nos projetos relacionados a arqueologia de contrato, como veremos adiante no artigo, 2

abertosnaSuperintendnciadoIPHANemSantaCatarina,podemrefletiraefetividadedas normas jurdicas e a preservao do patrimnio arqueolgico? Aotratardasmedidasjurdico-administrativasetcnico-cientficas,commaior enfoquenasprimeiras,apartirdaimersonoconjuntodeprocessosqueascontinham, pudemoselaborarumaanlisedalegislaodeproteoaopatrimnioarqueolgicoe tambmfornecerdados,atentoinditos,pormeiodepesquisaquantitativaeamostral, definindoindicadoresparaavaliaodoamploarcabouojurdicoemquesto,emespecial, dapreservaodopatrimnioarqueolgicodiantedosempreendimentosqueestavamsendo instalados no estado. 1. Apontamentos sobre o arcabouo legislativo Delimitadoouniversodapesquisaeaquestonorteadora,importaressaltarqueem matriadedireito,oconjuntodeleisqueregemaproteodopatrimnioarqueolgico amploedisperso,poissetratamdeartigosdaConstituioFederal,deleiedecreto-lei, portariasnombitoadministrativoeoutros,comumacronologiaqueremeteaoprimeiro instrumentolegaldeproteoaopatrimniocultural,quefoioDecreto-Lein.25,de30de novembrode1937,aindavigentenopas.Almdele,projetosanterioreseposterioresj demonstravamumapreocupaoespecficacomopatrimnioarqueolgico,comopor exemplo, a denominada Lei de Arqueologia, promulgada em 26 de julho de 1961. Aps esse marco,ouseja,duranteosmaisde27anosquesepassaramatapromulgaoda ConstituioFederalde1988,muitosdispositivoslegaisperderamsuavignciaouforam derrogados.Almdisso,ressalta-seaintroduodocomponentearqueolgicono licenciamento ambiental, atravs da Resoluo CONAMA3 n. 001, de 23 de janeiro de 1986, responsvelpeloaumentosignificativodonmerodeprojetosarqueolgicosrelacionadosa empreendimentoseatividades.Esseconjuntonormativoentovigente,ataexpedioda Portaria IPHAN n. 230, de 2002, foi de particular interesse presente pesquisa. No entanto, paraesseartigo,nofareiumaanliseexaustivadosdispositivoslegaisemquesto. Falaremosbrevementedalegislaoedabibliografiaqueserviramdebaseparaapesquisa, para ento nos voltarmos mais atentamente para os resultados obtidos.Identificadaacomplexidadedeseinstrumentalizaresseconjuntodeleisnosdiasde

porsetratardamaiordemandaatualdoIPHANnoquedizrespeitoarqueologia,sendoassimumrecorte consistente para a presente anlise.3 O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA o rgo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional doMeio Ambiente-SISNAMA,foiinstitudopelaLei6.938/81,quedispesobreaPolticaNacionaldoMeio Ambiente,regulamentadapeloDecreto99.274/90.CompeteaoConselho,entreoutrasatribuies,estabelecer normas e critrios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pela Unio, pelos Estados, pelo Distrito Federal e Municpios e supervisionado pelo IBAMA. 3

hoje,foinecessrioirembuscadeumreferencialterico,maisespecificamentedeuma revisobibliogrfica,acercadesseassunto,quedessecontadotextoedocontextoemque essas normas foram produzidas. Assim, para o desenvolvimento da pesquisa, recuperou-se as origensdaintervenoestatal,focando-separticularmentenosinstrumentoslegaisque dissessemrespeitoaopatrimniocultural,emespecialaopatrimnioarqueolgico.Dessa forma,utilizamosparaconstruodessepanorama,acontextualizaohistricacontidanum clssico das publicaes do MEC/IPHAN/PrMemria denominadoProteo e revitalizao do patrimnio cultural no Brasil: uma trajetria. Foi aquele livrinho amarelo da dcada de 80,dequando AlusioMagalheseraoentoSecretriodoPatrimnioHistricoe Artstico Nacional(SPHAN)ePresidentedaFundaoNacionalPr-Memria,quenostrouxeos esclarecimentosiniciaisqueforamtratadosnodecorrerdoestudo,emespecialos antecedentesdaquestodopatrimnioculturalnoBrasil,inclusivecomcomentriosa respeito do Anteprojeto do Decreto-Lei n. 25/37, de autoria do intelectual modernista Mrio de Andrade,queincluanaproteoconferidapeloEstado,osbensdevalorarqueolgicoe, inclusive, etnogrfico. Aps24anosdaassinaturadoDecreto-Lein.25peloentopresidenteGetlio Vargas,foisomenteem1961queadveioumaLeitratandoespecificadamentedopatrimnio arqueolgico.ComonocasodoDecreto-Lei,aLeideArqueologianofoipromulgadada noite para o dia. O trabalho de Regina Coeli Pinheiro da Silva nos serviu de base naquilo que a mesma denominou em seu artigo como uma arqueologia daLei n.3.924/61. A autora traz importantes consideraes a respeito do contexto histrico em que a Lei foi expedida, em especial no que diz respeito questo depredatria que nosso patrimnio arqueolgico estava sofrendo,principalmentenotocanteexploraoeconmicamineraldejazidasdeconchas quecompunhamosstiosdotiposambaqui4,encontradosemlongasextensesdoterritrio brasileiro.OtextoOsdesafiosdaproteolegal:umaarqueologiadaLein.3.924/61 adentranesseseoutrossubtextosquealeiporsinorevelavaeporissoaescolhadesse importante referencial bibliogrfico. 4 Sambaqui (do tupi tamba'k; literalmente "monte de conchas"), tambm conhecidos como cascais, concheiros, casqueiros,berbigueirosouatmesmopelotermoeminglsshell-mounds,sodepsitosconstrudospelo homemconstitudospormateriaisorgnicos,calcreoseque,empilhadosaolongodotempovemsofrendoa aodeintemprie;acabaramporsofrerumafossilizaoqumica,jqueachuvadeformaasestruturasdos moluscosedosossosenterrados,difundindooclcioemtodaaestruturaepetrificandoosdetritoseossadas porventura ali existentes. So comuns em todo o litoral do Atlntico, sendo mais raros no Pacfico, mas notando-se exemplares at no norte da Europa. O formato varia do cnico ao semiesfrico, a altura pode ser de menos de um metro ou at de 15 metros, tambm podendo se estender por longas reas em termos de comprimento (fonte: Wikipdia,disponvelem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui). 4

Lidarcomopatrimnio arqueolgico,mesmoantesdeleingressarcomocomponente domeiosocioeconmiconodiagnsticodoestudodeimpactoambiental,pormeioda ResoluoCONAMAn.001,de23dejaneirode1986,jtraziaalgumasdificuldadese problemticasdecorrentesdoprprioconjuntonormativoexistente.Diantedisso,umadas principaisquestesapontadaspeloestudodalegislaosurgiudaproblematizaodosdois principaisinstrumentoslegais,oDecreto-Lei25eaLeideArqueologia.Poisaomesmo tempoemqueeranecessriosedarumaproteomaisefetivaaosstiosarqueolgicos,o tombamento - principal instrumento jurdico de preservao do patrimnio cultural at ento -,demonstrava-se de prtica invivel quando se tratava de lidar com uma grande variedade e quantidadedestiosarqueolgicosestimadoseexistentesnoBrasil.Assim,novamente,foi importanteparaessadiscussolevantadaoartigodaArquelogaReginaCoeliPinheiroda Silva,doDepartamentodeProteodoInstitutodoPatrimnio ArtsticoeNacional,datado demeadosdadcadade90,queconciliavaessasnormaseacertadamentedenominava-se: Compatibilizando os instrumentos legais de preservao arqueolgica noBrasil: o Decreto-Lei n. 25/37 e a Lei n. 3.924/61.Aindasobreessemomentodapesquisa,destaca-seaquelaquetalveztenhasidoa contribuiomaisimportanteparaseudesenvolvimentoeque,porsuaatualidadee contundncia, trouxe para a discusso a aplicabilidade dos instrumentos normativos existentes at ento, apontando inclusive deficincias na prpria Portaria n. 230/02, e indo mais a fundo noquedizrespeitoperdadavignciadealgunsartigosdaLeideArqueologiacomo adventodaConstituioFederalde1988.FoiatesededoutoramentodeAndrPenin, denominadaArqueologia,ContratoeAcademia:visesdistintasdamesmadisciplina,que apresentou metodologiaprpria do campo do Direito, da interpretao dalei, e que, alm de tratar o campo da arqueologia a partir de sua heteronmia, ou seja, pela influncia de diversos fatorespelosquaisumcampocientficotrespassado,dentreelesalegislao,analisaas normaslegaisemsie,utilizandoosmtodosdeinterpretaodanormajurdica,dissecaos instrumentos normativos a luz do texto constitucional. AportariaIPHANn.230/02responsvelporregularosprocedimentosaserem adotadospelosarquelogoseempreendedoresresponsveispelosestudosarqueolgicos provenientesdaarqueologiadecontrato,etentaassim,compatibilizarsuasetapascomas etapas prprias do licenciamento ambiental, ou seja com a emisso das licenas: Prvia (LP), Licena deInstalao (LI) eLicena de Operao (LO). Assim, estudose trabalhos prprios docampodaarqueologia,como:oslevantamentosarqueolgicos,ossalvamentos 5

arqueolgicos,osresgatesarqueolgicos,osprojetosdeeducaopatrimonial,aguardae curadoriadematerialarqueolgicoeetc,consubstanciadosemrelatriosparciaisefinais, configuram-secomoobrigaesaoempreendedorquedevesubmeteressesresultados avaliaodoSetordeArqueologiadoIPHANparaobtenoourenovaodasrespectivas licenas.Semdvidatrata-sedeumimportantemarcoregulatrioparaapreservaodo patrimnio arqueolgico. Noentanto,importantefrisarquesalvamentosarqueolgicosjhaviamsido realizados mesmo antesdas obrigaes previstasna Resoluo CONAMA, como no caso da construodasgrandeshidreltricasnosanos70e80. Aexemplodisso, temososrelatosde SolangeBezerraCaldarelli,consultoracientficadearqueologia,quejvinhatrabalhando nessesprojetos,emparceriacomMariadoCarmoMattosMonteirodosSantos,tambm arqueloga do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (USP), e que juntaspublicaramoartigodenominadoArqueologiadeContratonoBrasil,refernciaem matria dos primeiros estudos acerca do que hoje conhecemos como arqueologia de contrato. Asautorasenfatizamquestescomoaprpriautilizaodotermoarqueologiade contrato,quefoijustificadaemvirtudedademandamercadolgicadetrabalhosde arqueologia,apontandoaindaocrescimentodonmerodepesquisasarqueolgicas desenvolvidasatento,sobretudoporsetratardeumtrabalhorealizadosobcontrato, diferentementedaspesquisasdesenvolvidasnombitoacadmico,sendoaResoluo CONAMA 001/86 um divisor de guas, responsvel pelo crescimento do nmero de empresas especializadas no ramo5.Assim,depoisdepesquisarmososprincipaisinstrumentoslegaisexistentesrelativos aopatrimnioarqueolgicoerefletirmossobreadiscussodecomoaarqueologiafoi incorporadaaolicenciamentoambientalequaisrepercussesadvieramdisso,estvamos prontos para ir atrs do objetivo principal do trabalho, que era apresentar, a partir da imerso no conjunto de processos e projetos que tramitaram na Superintendncia do IPHAN em Santa Catarina,umconjuntodeindicadoresquedissessemarespeitodaefetividadeoudo cumprimento das exigncias legais.Apesquisapartiu,ento,domtodoquantitativo,ouseja,dequantificareapresentar nmeros relativos aos dados coletados nesses processos. No entanto, percebemos que analisar um conjunto de processos existentes em uma nica Superintendncia do IPHAN, relativos s 5 Embora a Lei de Arqueologia (Lei 3.924/1961) j houvesse implicado numa conformao do campo j que a pesquisa prvia era condio para liberao das reas arqueolgicas para fins econmicos6

atividadesdesenvolvidasapenasnoestadodeSantaCatarina,tambmdemonstrariaoseu carter amostral. Assim, ficou-se definido que o que justificaria o recorte temporal e especial da pesquisa seria o seu ineditismo quantitativo e amostral.Inicialmente a pesquisa pretendia abranger no tempo dados dos processos a partir do ano da expedio do marco legal que foi a portariaIPHANn.230atadatadodesenvolvimentodapesquisa.Masemvirtudedo volume de processos e dados, que multiplicados representariam um trabalho que dificilmente poderiaserrealizadoduranteotempoquesedispunhaparaapesquisa,foinecessrio estabelecer uma diminuio desse recorte temporal. Decidimos ento restringir o recorte para ao intervalo entre os anos de 2002 e 2007. A escolhadadatade2007obedeceuadoiscritrios:primeiramenteparaqueosdados fornecessemumaamostrarepresentativaeraimportantetratardeprocessosqueestivessem finalizados,eacreditvamosqueretroagiraessadatafacilitariaesseintuito.Noentanto, mesmo assim muitos dos processos aqui pesquisados e analisados no foram finalizados at a apresentao da dissertao em maro de 2013, ora porque no apresentaram parecer tcnico conclusivo analisando a finalizao dos trabalhos arqueolgicos desenvolvidos pela pesquisa, oraporquefasesseguintesdolicenciamentoforamdesenvolvidasemanosposterioresao recortetemporalproposto,oquerepresentouumfatorlimitadorparaapresenteanlisee tambmoindciodeumaproblemticamaior:adisjunodosprocessosrelacionadosao mesmoempreendimentoseaausnciadeumalistagemintegradadeempreendimentose licenciamentos. O segundo critrio que justificou a escolha do ano de 2007 foram mudanas no Setor de Arqueologia que se iniciaram no ano de 2008, o que representava uma verdadeira troca de gesto. Alm disso, com um certo distanciamento, tambm se pde trabalhar sem que fosse necessrio perscrutar os trabalhos desenvolvidos pelos ento tcnicos responsveis pelo setor.Assim, os dados coletados e sistematizados revelaram-se importantes amostras do que vinha acontecendo com a prtica da arqueologia de contrato no Brasil, em especial em Santa Catarina.Mesmoquenumprimeiromomentoaconstruodessesindicadorespossaparecer umtantonebulosa,umpanoramadaaplicaodessasnormaspossvel,edemonstra-se importante,apartirdaanlisedaconduodosprocessos,dagestofeitadosmesmos,e principalmente, a partir daquilo que eles evidenciam.

2. Da coleta de dados Antes deentrarmos nosgrficos que facilitam avisualizao, e, portanto, anlise dos 7

dados coletados para essa pesquisa, convm explicitar como foi feita a consulta aos processos. Inicialmenteotrabalhoparaaconstruodeindicadoresfoiconcebidoparaconteramaior quantidade possvel de informaes sobre os processos correntes a partir do ano de expedio da portaria at o ano de 2011, data em que a coleta de dados se iniciou (posteriormente, como dissemos, mudou-se a data limite para 2007). De plano, aponto trs grandes dificuldades que contriburam para a morosidade do levantamento realizado. Aprimeiradelasfoiafaltadeumbancodedadoseficientequecontivesseaomenos umalistagemdosprocessosdearqueologianaSuperintendnciadoIPHANemSanta Catarina.Comisso,abuscadosprocessosfoimanual,oquereforaocarteramostralda pesquisa, j que muitos dos processos consultados compem o arquivo corrente da instituio eoraououtraumprocessooutroraconsultadonopodeserencontradoemnovabusca.Ou seja, os nmeros aqui apresentados tm uma margem de erro, pela prpria caracterstica desse trabalho manuale tambm pelo problema acimacitado. Uma segunda dificuldade foi que os documentos que compe os processos de arqueologia no se encontraram todos em um nico processo, j que, como dissemos, muitos relatrios com os procedimentos tcnico-cientficos adotados,porcontadafaltadeespaodearmazenamento,estavamconcentradosemoutra estante,oquesobrecarregouotrabalhodeconsultaaosmesmos. Aterceiradificuldadee,a meu ver, a mais grave delas, que diferentes fases dos projetos de arqueologia referentes ao mesmo empreendimento encontravam-se com mais de uma numerao, o que quer dizer que, levando-seemconsideraoastrsetapasdolicenciamentoambiental,umlevantamentode 2002estseparadodosalvamentoqueocorreuem2005,queporsuaveztambmest separadodoprojetodemonitoramentoqueocorreuem2007.Diantedisso,umaimportante observao deve serfeita. Como noforamconsultados processosalm dessa data, pode ser quealgumdosprocessossemmanifestaooucommanifestaoparcialtenhamtido prosseguimentonosanosseguintes(posterioresa2007).Taltrabalhotornou-sededifcil finalizaoemvirtudedopoucotempoparaintegralizarosdadosesaberquaisdeles deveriam ser procurados no arquivo para descobrirmos se foram, enfim, finalizados. No que se refere contagem do nmero de empreendimentos, esta se deu da seguinte forma: foi organizado um grfico para cada ano dos processos que se iniciaram nesse mesmo ano,aindaquenovasetapasdolicenciamentotenhamsedesenvolvidoemfasesposteriores. Aquinecessrioexplicitarumanovadificuldadeencontradaparaarealizaodo levantamento.Foinecessriaacoletaintegraldetodososprocessospara,enfim,sabermos quaisseriamaquelesquesereferiamaomesmoempreendimento,jque,comofrisamos,a 8

disjunodasfasesdolicenciamentoemprocessosdistintosfoiumfatorcomplicador,haja vistaquefoinecessrioassociarquaiseramosprocessosquesereferiamaomesmo empreendimentoparaenfim,realizarumaquantificaomaisprecisaano-a-ano.Parafins desseartigojuntamososdadosdosseis(6)anosrelativosacadaentrada,aoinvsde apresentar a anlise ano-a-ano realizada na dissertao, o que nos dar uma dimenso geral do quefoiatramitaodessesprocessosnorecorteespao-temporalproposto.Pontuaremos, quando relevante, algumas questes relativas a anos especficos. 3. Dos dados A pesquisa se props a fazer inferncias a partir da quantificao dos dados coletados nos processos de arqueologia de contrato existentes na Superintendncia do IPHAN em Santa Catarina.Assim,elacontempladadosqueforamexaustivamentetabelados(nmerode empreendimentos,relaodearquelogosparticipantes,nmerodemunicpiosafetados, endossosinstitucionaisconcedidoseprocessosquetiveramounoumafinalizao adequada),mastambmsepautoupelacoletadedadosauxiliaresque,apesardenoterem sido coletados como os anteriores devido a sua difcil aferio ou por serem pertinentes mais aocampodaArqueologiaquedoDireito,foraminformaescomplementaresparaa composiodopanoramaqueaquipropomos6.Ressalvadasessasdificuldades,vamosaos dados:

3.1 Tipologia do empreendimento Nesseitempodemosquantificarquaisforamosempreendimentos/atividadesque demandaram a atuao do IPHAN. Grfico 17 6 Inicialmente o levantamento foi realizado a partir da coleta de 19 (dezenove) itens/informaes constantes dos documentosqueintegramcadaumdos335processosanalisados. Attulodeilustraoosdadosqueforam difceis de aferir na totalidade do processo foram: 1. Data de abertura e fechamento do processo; 2. Empreendor; 3. Interessado; 4. Tipoe fasedeLicenciamento; 5.Medidas deproteo e preservao adotadas; 6. Localizao dos stios; 7. Existncia de tipologia dos stios encontrados. 7Nocasodosgrficoscujacaixadelegendastemduasoumaiscolunas,aordemdeleituradalegendapela linha e no pela coluna. Assim, correspondendo primeira barra no grfico est a primeira legenda da coluna da esquerda; correspondendo segunda barra est a segunda legenda da coluna da direita, e assim sucessivamente. 9

Algumasconcentraesdetiposdeempreendimentosemalgumasregiesso facilmenteexplicveis,comoagrandequantidadedeempreendimentoseatividades relacionadascarcinicultura(cultivodecamares)naregioLagunar,regioSuldoLitoral deSantaCatarina,quecompreendeosmunicpiosdeLaguna,Tubaroeoutros.Tal empreendimentopredominounaregioat2005,anoemquehouveumaquedanessa produodevidoachegadadeumapragatrazidaporintermdiodematrizesvindasno Nordestebrasileiro,foradoquepreviaoprojetooriginaldaUniversidadeFederaldeSanta Catarina (UFSC). Outra pontuao afervel por essa coleta de dados especfica diz respeito ao crescimentodonmerodeempreendimentosimobiliriosnodecorrerdosanos,sendoesse tipodeempreendimentoentreos5quemaisdemandamaavaliaoarqueolgicaprviano perodoabrangidopelapesquisa.Jespecificamentenosanosde2005e2006,ressalta-seo maiornmerodeprojetosdeminerao.Nesseltimoano,deumtotalde73processos,24 referia-se a esse tipo de atividade. 3.2. Municpios Esseitemindicoutantoaquantidadedemunicpiosquetiveramatividadesou empreendimentoslicenciadosemseuterritrio,comotambmpossibilitoudeterminara frequncia da tipologia do empreendimento em determinado municpio. 10

Grfico 2 comumummesmoempreendimentoafetardiversosmunicpioseosexemplos coletadossovrios:ConstruodoGAS-BOLgasodutoBolvia-Brasil(binacional) Duplicao da BR 101 (interestadual), Rota Alternativa de Transmisso de Energia Eltrica na regioMetropolitanadeFlorianpolis(intermunicipal).Dediferentesdimenses, abrangnciaseimpactos,osreferidosempreendimentosexemplificamcomclarezacomo obrasdecarteremergencial,ouconsideradascomodeinfraestruturaindispensvelparao crescimentoeconmicodopas,causamprofundasmodificaessobreoconhecimentoea 11

preservaodopatrimnioculturalbrasileiro.ConsiderandoodesenvolvimentodoPAC8 (2007-2011) e da segunda fase do mesmo, o PAC 2, esses dados,coletados apenas at o ano de2007ebasicamenterestritospreservaodopatrimnioarqueolgico,decertaforma antecipamoquepodeserconsideradocomoapontadoicebergnoquedizrespeitoas consequncias que sero sentidas pelo patrimnio cultural brasileiro como um todo. Anuncia-se desde j que novos estudos so necessrios para compreender os direitos envolvidos e seu real alcance na busca pela preservao do patrimnio cultural. 3.3 Arquelogos Grfico 3 Apartirdesseitemfoipossvelmensuraraquantidadedeparticipaesdos arquelogosquetrabalhamnaregioequesoresponsveispelosrelatriosenviadosao IPHANemprojetosdepesquisaenvolvidosemlicenciamento,sendotambm corresponsveispelaproteodopatrimnioarqueolgicobrasileiro.Essaentrada,queem princpiorevelariadadosquantitativos,revelou-seumdosndicesmaisimportantesdessa pesquisa, uma vez que cruzados com os dados sobre o endosso, forneceram uma informao consistentesobreagestodosprocessoseapreservaodopatrimnioarqueolgicoem 8ProgramadeAceleraodeCrescimentodesenvolvidonoGovernoLulacujoobjetivofoipromovera "retomadado planejamentoeexecuodegrandesobrasdeinfraestruturasocial,urbana,logsticaeenergtica do pas, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentvel". 12

Santa Catarina, como veremos. 4.4 Endosso Grfico 4 Osprocessosdearqueologiadevemconternecessariamenteduasdeclaraesde endosso:umadeendossoinstitucionaleoutradeendossofinanceiro9.Atravsdo levantamento especfico dessa entrada foi possvel saber quais foram as instituies cientficas que conferiram endosso institucional e tambm a frequncia que elas apoiaram os projetos de arqueologia de contrato.Geralmenteainstituioqueconcedeoendossoinstitucionaltememseuquadro funcionalumaequipeeummesmoarquelogoqueresponsvelpelacoordenaodos projetos.Osdadossugeremdeformamaisclaraquehumaassociaodasinstituiesque concedemoendossoemvirtudedalocalizaodesuasede.Assim,projetosdeavaliao arqueolgicarealizadosemFlorianpolis,viaderegra,sorespaldadoscientificamentepela UFSC;osprojetosdaregioLagunarsorespaldadospelaUNISUL,oupelaUNESC;eos projetos da regio da Baia da Babitonga geralmente so apoiados cientificamente pelo Museu do Homem do Sambaqui de Joinville, denominado MASJ.A alta concentrao de projetos por um mesmo arquelogo sintoma percebvel desde aanliseisoladadosdadosquantificadosnoprimeiroanodorecortetemporal.Assim,por exemplo,dos32projetosquederamentradanaSuperintendnciadoIPHANemSanta 9 A Portaria IPHAN 07/88, lista em seu art. 5. que os pedidos de permisso e autorizao de pesquisa dirigidos ao IPHAN devem vir acompanhados tambm de uma declarao que prove a idoneidade financeira do projeto. No entanto,comexceodeapenasumprojeto,noforamverificadosproblemasdecorrentesdafaltadeendosso financeiro no levantamento realizado.13

Catarina2002,16ficaramaoencargodomesmoarquelogo.Nmeroqueserefletena quantidadedeprocessosemquenofoiencontradoendossoinstitucional,sugerindoa facilidadedoarquelogoapresentaroprojetoelicenciaroempreendimentosemorespaldo institucional, ainda que a regulamentao que determinasse a obrigatoriedade date de 1988. 3.5 Processos finalizados e processos no-finalizados Grfico 5 Houveram vrias tentativas de sistematizar a durao dos processos. Colher a data de aberturaefechamentodosmesmossemostrouinvivelnamedidaemqueerauma informaonofacilmenteafervel,principalmenteporquemuitosdosprocessos,aindaque de 5 anos anteriores a coleta de dados, no haviam terminado, ou, caso mais comum, no foi possvelaferirsehouvefinalizao.Entoconsideramosessacategorizaocomosuficiente para dar conta da pesquisa, na medida que recortava quais processos poderiam ser estudados maisafundo(osjfinalizados)ecomoestavasendoconduzidaatramitaodosprocessos emgeralpelaInstituio. Assim,diantedaausnciademanifestaofinalcomorespectivo parecertcnicoconclusivonamaioriadosprocessosqueforamanalisados,resolvemos quantificarnootempodeduraodoprocesso,massimquaisforamaquelesque apresentaram a manifestao final, ou seja, o parecer tcnico conclusivo; quais foram aqueles em que a ltima manifestao parcial, ou seja, no conclusiva e tambm aqueles em que no foi sequer encontrada manifestao da instituio.Naausnciadotermodefinalizaodoprocesso,dependendodoestgiodo licenciamento,ficamosimpedidosdesaber-eaquiumaimportanteinformaosobreo prpriopatrimnioarqueolgicobrasileiroquetambmseperde-,porexemplo,sefoio empreendedor quem desistiu do empreendimento ou, havendo necessidade de cumprimento e adoo de medidas de proteo em alguma atividade licenciada, se as mesmas foram ou no cumpridas,oumesmoseoempreendimentofoipreteridoemfunodapreservaodo 14

patrimnio ali encontrado.Comosepodedepreenderdatabelaacima,amaioriadosprocessosforam categorizadoscomomanifestaoparcial.Osmotivossodiversos,masparcialqualquer manifestaofinalnoconclusivanoprocesso,sejaausnciadeparecertcnicoavaliando relatrio cientfico, seja comunicado ou parecer solicitando acrscimo de informaes, como a exignciadeumnovotrabalhodecampo,masdessavezcomprogramadeprospeco intensivo.Josprocessosqueforamcategorizadoscomoaquelesemqueestiveramausente manifestao do IPHAN porque sequer foi encontrado no processo manifestao do IPHAN em relao s etapas dos trabalhos de arqueologia, ou mesmo no apresentaram manifestao nenhuma,apenasaexpediodaportariadepesquisa,semnenhumdocumentoposterior, comoporexemplo,ofcio,comunicadointerno,memorandoouparecertcnico,sereferindo ao projeto aps a expedio da portaria de pesquisa. 4. Concluses Prvias Diantedosdadosapresentadosdentrodorecorteespao-temporal,algumas consideraesdevemsertecidas,ouseja,importarelataralgumasconcluses,paraalmdas breves observaesa partir dos grficos acima expostos.So questes de relevncia no que dizrespeitotutelajurdicadopatrimnioarqueolgicoetambmpreservaodo patrimnioarqueolgicodeumaformageral.Osdadosextradoseanalisadosnacoletade dadossoverdadeirosndicesdoquefoiagestodopatrimnioarqueolgiconombitoda administrao pblica federal no estado de Santa Catarina. Destacamos assim:1.Alta concentrao de tipos de empreendimentos: projetos relativos a usinas hidreltricas e deatividadesdeminerao,somadosaosempreendimentosdecarciniculturaqueforam licenciadosnosanosiniciaisdapresentepesquisa,representamcercade60%dosprocessos que tramitaram no perodo abrangido pela pesquisa. 2.Alta concentrao de processos para um mesmo arquelogo: esse dado revela-se um item deextremaimportncianamedidaemquerefleteumdescompassocomonmerode profissionaisatuantesemprojetosdearqueologiadecontrato.Dos22arquelogosque atuaramnosprocessosreferentesavaliaoarqueolgica,aproximadamente35%foramde projetosapresentadospelomesmoprofissional.Essendicesobeparaaproximadamente 59,5%seforincludonacontaosegundoprofissionalquemaisapresentouprojetosnesse perodo. Almdonmeroreduzidodeprofissionaisqueatuaramemprojetosdearqueologia 15

decontrato,aconcentraodetantosprojetosparapoucosprofissionaissugereumam distribuiodaspesquisasquesorealizadasdecorrentesdeempreendimentose/ou atividades. 3.Nmeroelevadodeprocessossemendossoinstitucional:Essendiceoquedizrespeito maisflagrantementeaodescumprimentodeinstrumentonormativo. Agrandequantidadede processosemquenoforamencontradososendossosinstitucionaisassinadostorna-seum importante indicador de cumprimento da tutela jurdica do patrimnio arqueolgico, tendo em vista o descumprimento do inciso VII do art. 5. da Portaria IPHAN n 07/1988. 4.Concentraodeprojetosemalgumasregies,emespecialnaregiosededoIPHANem Florianpolis,queabrangetodaaregiometropolitanaounaquelasemquesomantidos escritrios tcnicos, como a regio Lagunar e a da Baia da Babitonga. Esse dado sugere que a gesto do patrimnio arqueolgico em projetos decorrentes de licenciamento ocorre mais nas localidades em que a instituio mantm suas sedes. 5.Faltadeumacorretatramitaodosprocessos.Oaltondicedeprocessosemqueforam apresentadas manifestaes parciais ou mesmoa ausncia de manifestao em boa parte dos processosconstatadaemalgunsdosanospesquisadosrepresentamumaproblemticana gestodosprocessosligadosaolicenciamentoambiental.Adificuldadedeseobter informaesarespeitodosprocessoseprojetosapresentadosestdiretamenteligadaauma ineficinciarelativapreservaodopatrimnioculturalnamedidaemqueoacesso informaodealgumaformaobstada.Osdadoslevantadosrelativosaesseitemsugerem uma atuao defeituosa e lacunar por parte da Instituio. 5. Algumas consideraes Apartirdascontagensrealizadaspode-seaferirumconjuntodeaesquedizem respeito direta ou indiretamente ao cumprimento do arcabouo legislativo. Como j dissemos, umadasquestesquemaisrestouevidenciadaograndenmerodeprojetosqueforam apresentados instituio sem o acompanhamento do endosso institucional assinado, ou seja, o descumprimento do inciso VII do art. 5 da Portaria IPHAN n 07/1988. Em muitos desses casosfoiconcedidaaliberaodareanoquediziarespeitoaopatrimnioarqueolgico, mesmo sem que a pesquisa estivesse assegurada por instituio cientfica reconhecida. Ainda nessesentido,percebemostambmqueoart.5.dessamesmaPortariaassimcomooutros, serviram de guia que orientava a atuao do Setor de Arqueologia daInstituio, que vez ou outra condicionava a expedio da licena s complementaes nos projetos.16

Apesquisapermitidapelolevantamentoepelaanlisedosdadoscoletadostambm apontouparaodescumprimentodalegislaonoquedizrespeitoaumacorretagestodos processos no mbito da administrao pblica. Isso porque o conjunto de informaes desses processos no s dizem respeito gesto de trmites e de procedimentos administrativos, mas setratamdedocumentosarespeitodosquaisforamproduzidasinformaessobreo patrimnioarqueolgicobrasileiro.Namedidaemqueessainformaoest,dealguma forma,precriaoudedifcilacesso,deixadesercumpridoumaspectorelevanteda preservaodopatrimnioarqueolgico:oacessoaoconhecimentoproduzido.Eaqui estamos falando apenas em acesso no que diz respeito s informaes contidas nos processos. Asocializaodesseconhecimentoeomodocomoomesmoconduzidonombitodo licenciamento ambiental um outro aspecto tambm obrigatrio10 do ponto vista normativo, e merece uma anlise mais detida.O fato de haverem muitos processos no finalizados deixa aberto as informaes que neleforame/oudeviamserproduzidas,mas,almdisso,podeseroreflexodealguns problemasemrelao,porexemplo,quantidadededemandadeprocessoseonmerode funcionrios dentro da instituio. Aqui queremos fazer referncia expressa aos casos em que foramrecomendadase/oudeterminadasmedidasdeproteoaosstiosoumesmoum acautelamentoviamonitoramentoantesdeimpactodefinitivoareascompotencial arqueolgico,masqueporcontadaestruturadainstituionoforamdevidamente fiscalizados.Onmerodeembargosextrajudiciaisemitidostambmseconstituinuma informaoprecrianamedidaemquenofoipossvelverificarocumprimentoounoda paralisaodaobraeatividadeemquesto.Eessessodadosquenoquantificamos justamente pela dificuldade intrnseca a essa pesquisa, a que j fizemos aluso. A dificuldade de se fiscalizar todas as obras e atividades noestado de Santa Catarina noseresolvemapenascomumcorporeduzidodefuncionrioseassim,infelizmente,no sabemos se muitas das medidas de proteo, bem como solicitaes de monitoramento foram ounocumpridas.Safaltadeumafinalizaodosprocessosumfatoragravante,pois nela,numparecertcnicoconclusivo,porexemplo,quedevemconstarseasmedidas recomendadaspeloarquelogoe/oudeterminadaspeloIPHANforamounocumpridas adequadamente, e se no foram, quais foram os motivos que impediram essa aferio. Sem a 10APortariaIPHANnmero230/02vincula,almdarealizaodeestudosarqueolgicosetrabalhosde laboratrioegabinete,aobrigatoriedadedoProgramadeEducaoPatrimonialnoscontratosentre empreendedores e os arquelogos responsveis pelos estudos, podendo ser considerada uma das formas em que se d a socializao do conhecimento produzido.17

manifestao final do IPHAN fica difcil at de saber se o empreendimento seguiu adiante.Osdadosapresentadostambmrefletemsobreoutrasquestes,comoporexemplo,a distribuio geogrfica do nmero de empreendimentos. Os dados levantados sugerem quea demanda maior nos municpios sede de escritrios tcnicos ou em regies aproximadas. H queseperguntarassimselicenciamentosqueforamrealizadosnombitomunicipalou mesmo no mbito estadual esto sendo devidamente encaminhados ao IPHAN, quando assim necessrio.Ummaiordilogoentreosentesadministrativosfacilitariaaresoluode questes como essa. Outro ponto a ser considerado que a tipologia dos empreendimentos e/ou atividades potencialmentelesivasaopatrimnioarqueolgicoqueforamconstadasnesseperodo variada,assimcomosoedevemsertambmvariadososprocedimentostcnico-cientficos paraacorretaavaliaoarqueolgicadareadeimplantaodosmesmos.Diantede empreendimentosdeinfraestruturaconsideradoscomoimportantesoufundamentaisdeuma maneirageral,comoosdeprojetosdeusinasgeradorasdeenergiaeltricabemcomoosde atividades minerao, esta ainda considerada como de utilidade pblica, o conjunto normativo dequehojedispomosaindaumimportanteinstrumentoaporemprticaapreservaodo patrimnioarqueolgico,porexigirumcontedomnimoderequisitosaseremcumpridos paraaliberaodasreasondeosempreendimentosseroinstaladosouasatividadessero iniciadas.Diante do exposto, alm da ineficcia social do conjunto normativo constatada, por exemplo, pela ausncia de endossos institucionais para as pesquisas arqueolgicas e tambm na atuao lacunardaInstituionoquedizrespeitofinalizaodosprocessos,constata-setambm uma deficincia legislativa ao se considerar o patrimnio arqueolgico como isolado de suas interrelaescomolocal,comoocasodapaisagemculturaledestiosintegradosa patrimnio histrico. Cabe assim ressaltar a atuao da instituio, conforme se verificou em anliseamostral,queextrapolouaquestolegalaoseexigirdoempreendedoraesde proteoquealeinocontempla,como,porexemplo,agestointegradadopatrimnio arqueolgico. Novoshorizontes,inclusivedecorrentesdelei,sedespontamnaatualidadecomo forma de se tentar dar uma proteo mais efetiva e integrada do patrimnio cultural, includos aobviamenteopatrimnioarqueolgico.oquetentafazeraPortariainterministerialn. 419,de26.10.2011,quedeixaexplcitoaquiloquejerapraticadorotineiramentepela instituio ao determinar que a atuao do IPHAN, no que tange ao licenciamento ambiental, 18

deve se estender aos bens acautelados considerados como tais, pelo instrumento normativo em questo, no s os bens culturais protegidos pela Lei n 3.924, de 26 de julho de 1961, como tambm os bens tombados nos termos do Decreto-Lei n 25, de 30 de novembro de 1937 e os bens registrados nos termos do Decreto 3.55111, de 4 de agosto de 2000. Apesar dessa portaria incluirexpressamenteosbenstombadoseosbensregistradossabemosqueopatrimnio culturalnoserestringeaessasformas,daaimportnciadaatuaodoIPHAN principalmentenoquedizrespeitoanovosolharesevisesparaaquiloqueabrangeo patrimnio cultural brasileiro em sua diversidade. 6. ConclusoA dificuldade no tratamento de documentos ocorrida nas etapas pelas quais a pesquisa se processou reflete umpanorama,ainda que amostral, do que foi agesto dos processos no mbito jurdico-administrativo da administrao pblica federal. Como a presente pesquisa foi realizadanombitodeapenasumadasSuperintendnciasdoIPHAN,duranteumperodo bemdelimitado,indicandodadosreferentesgestodeprocessosigualmentedelimitadano espao-tempo, podemos afirmar que a criao de indicadores de cumprimento da legislao igualmente varivel no espao-tempo. Alterando-se alguma dessas variveis, possvel que se alteremtambmaexpressividadedosindicadores,oquenolhesretiratotalmentesua validade. Osdadosproduzidospeladissertaocujopresenteartigosebaseiafrutodo levantamentoquantitativoequalitativodedados,e,almdopanoramasobrelegislaoe gestoquetraam,tambmseconstituemcomoumimportantehistricoqueveiotonaa partirdaimersonosarquivosdainstituio.Efoiapartirdessaimersoedessavisode dentroquetambmsetornoupossvelavaliaroconjuntojurdico-administrativodeque dotado o Estado para a preservao do patrimnio cultural brasileiro. BIBLIOGRAFIA 1.BRASIL. Coletnea de Leis sobre Preservao do Patrimnio. Rio de Janeiro: IPHAN, 2006. 320p.2.BARRETO,RegianeGambim.Otombamentodestiosarqueolgicos.Artigode 11DecretoqueinstituioRegistrodeBensCulturaisdeNaturezaImaterialqueconstituempatrimniocultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimnio Imaterial. 19

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