a presenÇa das tendÊncias pedagÓgicas na educaÇÃo brasileira

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69 , Goiânia, v. 10, n. 1, p. 69-84, jan./jun. 2007. educ Maria Elisabeth Blanck Miguel* A PRESENÇA DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Resumo: O trabalho discute as tendências pedagógicas na educação brasileira e as conceitua como a expressão de determinadas concepções de homem, de mundo e de educação que, provenientes do desenvolvimento social, conformam-se e se traduzem em políticas educacionais. Moldam a organização do sistema escolar e da escola, com métodos próprios, seleção e valorização de conteúdos, formas de avaliação e relação professor-aluno. Realizam-se quando expressas na práxis, pois necessitam da condição de materialidade. O Humanismo tradicional, na vertente jesuítica da Contra- Reforma; o Humanismo moderno, e o Tecnicismo, são as tendências apontadas bem como as propostas que lhes são decorrentes. Palavras-chave: História da educação; tendências pedagógicas; educação brasileira. A história da educação no Brasil aparentemente possui tendências bem definidas, uma vez que nela imprimiram suas marcas a Igre- ja, o Estado e hoje, preponderantemente, o mercado. Tais tendências podem ser analisadas tomando-se como referência o predomínio das categorias da essência ou da existência, apontadas por Suchodolski (1984) ou partir da classificação, já elaborada por Saviani (1987). Se- gundo este autor, sob a influência das concepções fundamentais da Fi- losofia da Educação, ou seja: concepção humanista tradicional, concepção humanista moderna, concepção analítica e concepção dialética, a história da educação brasileira poderia ser assim periodizada: até 1930 - predomínio da tendência ‘humanista’ tradicional; de 1930 a 1945: equilíbrio entre as tendências ‘humanista’ tradicio- nal e ‘humanista’ moderna; de 1945 a 1960: predomínio da ten- dência ‘humanista’ moderna: de 1960 a 1968: crise da tendência

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  • 69, Goinia, v. 10, n. 1, p. 69-84, jan./jun. 2007.educ

    Maria Elisabeth Blanck Miguel*

    A PRESENA

    DAS TENDNCIAS

    PEDAGGICAS

    NA EDUCAO

    BRASILEIRA

    Resumo: O trabalho discute as tendncias pedaggicas na educao brasileira e asconceitua como a expresso de determinadas concepes de homem, de mundo e deeducao que, provenientes do desenvolvimento social, conformam-se e se traduzemem polticas educacionais. Moldam a organizao do sistema escolar e da escola,com mtodos prprios, seleo e valorizao de contedos, formas de avaliao erelao professor-aluno. Realizam-se quando expressas na prxis, pois necessitam dacondio de materialidade. O Humanismo tradicional, na vertente jesutica da Contra-Reforma; o Humanismo moderno, e o Tecnicismo, so as tendncias apontadas bemcomo as propostas que lhes so decorrentes.

    Palavras-chave: Histria da educao; tendncias pedaggicas; educao brasileira.

    A histria da educao no Brasil aparentemente possui tendnciasbem definidas, uma vez que nela imprimiram suas marcas a Igre-ja, o Estado e hoje, preponderantemente, o mercado. Tais tendnciaspodem ser analisadas tomando-se como referncia o predomnio dascategorias da essncia ou da existncia, apontadas por Suchodolski(1984) ou partir da classificao, j elaborada por Saviani (1987). Se-gundo este autor, sob a influncia das concepes fundamentais da Fi-losofia da Educao, ou seja: concepo humanista tradicional,concepo humanista moderna, concepo analtica e concepodialtica, a histria da educao brasileira poderia ser assim periodizada:

    at 1930 - predomnio da tendncia humanista tradicional; de1930 a 1945: equilbrio entre as tendncias humanista tradicio-nal e humanista moderna; de 1945 a 1960: predomnio da ten-dncia humanista moderna: de 1960 a 1968: crise da tendncia

    KARAMTexto digitado

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    humanista moderna e articulao da tendncia tecnicista; a par-tir de 1968: predomnio da tendncia tecnicista e a concomitanteemergncia de crticas pedagogia oficial e poltica educacio-nal que busca implement-la (SAVIANI, 1987, p. 33).

    Esta periodizao apresentada pelo autor considera a perspectivado modo como elas se articulam com o movimento do real (id.). Nes-te trabalho, esta articulao buscada na conseqente organizao es-colar e na concretizao em sala de aula.

    Os perodos nos quais cada uma das tendncias marca a educa-o so aproximados e, como j foram explicados por Saviani, no seconstituem em fases homogneas e fixas, mas antes, so perodos nosquais suas caractersticas prevaleceram ou ainda prevalecem.

    A tendncia pedaggica humanista tradicional foi preponderanteno Brasil, de 1554 at 1920. A tendncia humanista moderna marcou aeducao, a partir desta data at 1971, e da em diante preponderou atendncia tecnicista. Cada uma dessas tendncias, com uma determinadaconcepo de homem e de mundo, influenciou a organizao do sistemaescolar e da escola, a seleo de contedos, os mtodos de ensino-apren-dizagem, as formas de avaliao e a relao professor-aluno.

    Estas formas de concretizao das tendncias pedaggicas so aquiconsideradas como categorias orientadoras do estudo. Segundo Saviani,em palestra proferida na Universidade Salesiana, em Americana (S. P, abrilde 2003), categoria o conceito que ocupa posio chave em determinadateoria. Aceita esta conceituao, categorias podem ser entendidas comoconceitos preponderantes em determinada teoria ou podem ser assim con-siderados aqueles que agrupam informaes provenientes de pesquisas eque traduzem fenmenos ou fatos existentes na situao pesquisada.

    A eleio, aparentemente a priori, das categorias orientadoras,isto , a organizao do sistema escolar e da escola, a seleo de con-tedos, os mtodos de ensino-aprendizagem, as formas de avaliao e arelao professor-aluno procedem do reconhecimento de que, no pro-cesso histrico da educao no Brasil, estas estiveram presentes desdea educao jesutica.

    CURY (1986, p. 21) quando trata das categorias as conceituacomo conceitos bsicos que pretendem refletir os aspectos gerais eessenciais do real, suas conexes e relaes. Elas surgem da anlise damultiplicidade dos fenmenos e pretendem um alto grau de generalida-de. Mas, chama a ateno para o fato de que devem:

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    ...corresponder s condies concretas de cada tempo e lugar.Elas no so algo definido de uma vez por todas e no possuemum fim em si mesmas. Elas ganham sentido enquanto instrumen-to de compreenso de uma realidade social concreta, compreen-so esta que, por sua vez, s ganha sentido quando assumidapelos grupos e agentes que participam de uma prtica educativa.As categorias possuem simultaneamente a funo de intrpretesdo real e de indicadoras de uma prtica educativa. Elas s tmsentido quando instrumento metodolgico de anlise, ligado prtica educativa e no contexto de um tempo e de um lugar de-terminados. (id.)

    A partir das possibilidades de enfoques de categorias apresenta-das pelos autores citados, vlida a considerao das mesmas enquantocategorias tericas, isto , conceitos que ocupam posies-chaves emdeterminada teoria, e de categorias metodolgicas, aqueles que fazem amediao entre a totalidade (contexto) e a especificidade do objetopesquisado. No caso deste estudo, as primeiras so: a concepo dehomem e de mundo bem como a de cultura e de educao. So conside-radas categorias metodolgicas: a organizao do sistema educacionale da escola, os mtodos de ensino, as formas de avaliao e a relaoprofessor-aluno.

    Faz-se ainda necessrio conceituar o que se entende por tendnciapedaggica, bem como as relaes entre esta e o campo no qual se situa.

    Saviani ao tratar de Tendncias e Correntes da Educao Brasi-leira (1987) considera tendncias como determinadas orientaesgerais luz e no seio das quais se desenvolvem determinadas orienta-es especficas, subsumidas pelo termo correntes. E, afirma: As-sim sendo, nos inclinamos a identificar as tendncias com asconcepes de Filosofia da Educao. Explica que as correntes (...)concorrem para tornar explcitas as tendncias, isto , as concepes deFilosofia da Educao. Desta forma, o autor considera tendnciascomo as prprias correntes da filosofia da educao. pertinente aqui,lembrar GRAMSCI (1986, p. 34) quando afirmou a necessidade da fi-losofia atuar sobre a sociedade:

    possvel dizer que o valor histrico de uma filosofia pode sercalculado a partir da eficcia prtica que ela conquistou (eprtica deve ser entendida em um sentido lato). Se verdade

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    que toda filosofia a expresso de uma sociedade, ela deveriareagir sobre a sociedade, determinar certos efeitos, positivos enegativos. medida que ela reage justamente a medida da suaimportncia histrica, de no ser ela elucubrao individual,mas fato histrico.

    A respeito, Saviani destaca dois aspectos fundamentais da Filo-sofia da Educao: enquanto processo e enquanto produto. Enquantoprocesso, caracteriza-se como uma reflexo (radical, rigorosa e de con-junto) sobre os problemas que a realidade educacional apresenta. (1987,p. 22) Enquanto produto, a Filosofia da Educao designada por ide-ologia, entendida ento como orientao da ao. Alerta, no entan-to, para o fato de que ambos os aspectos, processo e produto, estointimamente relacionados, s sendo distinguveis por um ato de abstra-o (id.) Ainda ressalta a necessidade de tratar a filosofia da educaoconsiderando-a articulada ao desenvolvimento do processo educativono contexto histrico-concreto. (id.)

    No objetivo deste trabalho discutir o conceito de ideologia,uma vez que a mesma tem sido exaustivamente tratada, principalmentepela historiografia da educao de matriz crtica. Mas, faz-se necessriocitar alguns autores que abordaram as tendncias na educao brasileirarelacionadas ideologia. J foi citado Saviani e Gramsci. Concorda-secom o primeiro, quando prioriza o significado da ideologia enquanto ori-entao da ao mesmo que esta orientao, muitas vezes tenha tambmo significado de falsa conscincia. E, considera-se que para o presentetrabalho, a afirmao de Gramsci quanto ao que ele chama de reao dafilosofia sobre a sociedade, provocando nela efeitos positivos ou negati-vos da maior importncia, pois desses efeitos que depende o modocomo a tendncia se concretiza nas prticas pedaggicas.

    No sentido empregado pelo materialismo histrico e dialtico,ou seja, como uma forma de expresso das idias da classe dominanteque mascaram as contradies existentes nas lutas de classe que se donas relaes sociais de produo da sociedade capitalista, outros auto-res enfocam a ideologia na educao.

    Assim, Machado (1987), adotando a concepo de Althusser1 aotratar da poltica educacional no Paran e mais propriamente das rela-es entre Estado, Escola e Ideologia, no perodo de 1947 a 1973, rea-firma a concepo de ideologia como ocultao da realidade, repassadapela escola enquanto aparelho ideolgico do Estado. Cury, ao estudar a

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    presena dos catlicos e liberais na educao brasileira, no qinqnioinicial da dcada de 30, adota a mesma concepo, porm chama a aten-o para o seguinte: Entretanto, h intelectuais a servio da proposi-o e definio da ideologia das classes dominadas. So os funcionriosda contra-ideologia que denunciam a imposio ideolgica da classedominante sobre o conjunto da sociedade e tematizam a ideologia dasclasses dominadas. (CURY, (1986, p. 4)

    Outros autores que tm tratado do tema abordado neste trabalhosituam a educao no processo cultural e conseqentemente, as tendn-cias pedaggicas como manifestaes, mais ou menos articuladas, des-se processo.

    AZEVEDO (1996), adotando o conceito de cultura deHumboldt2, ou seja, como a manifestao das formas mais desenvolvi-das do esprito humano, tanto intelectualmente quanto nas artes e namoral, conceitua a educao como a apropriao de parte dessa heranacultural pela populao escolar. No entanto, somente uma pequena par-cela da populao teria condies, pelo seu desenvolvimento individu-al, de participar das formas mais elevadas da cultura.

    Azevedo deixa entrever na mesma obra, que as tendncias forammanifestaes das idias mais elaboradas (de acordo com a concepopor ele adotada, de cultura) sobre o desenvolvimento intelectual, arts-tico e moral, sustentada nas necessidades da nova sociedade industrialque se formava no Brasil, no incio do sculo XX. Neste sentido, aescola seria a transmissora da cultura e formadora do novo homem paraa nova sociedade.

    J, Nelson Wernek SODR, parte da concepo materialista his-trica de cultura e nela insere a educao como uma das formas de suaexpresso. Cultura considerada como:

    ... o nvel de desenvolvimento alcanado pela sociedade na ins-truo, na cincia, na literatura, na arte, na filosofia, na moral,etc., e as instituies correspondentes. Entre os ndices mais im-portantes do nvel cultural, em determinada etapa histrica, preciso notar o grau de utilizao dos aperfeioamentos tcni-cos e dos desenvolvimentos cientficos na produo social, o n-vel cultural e tcnico dos produtores dos bens materiais, assimcomo o grau de difuso da instruo da literatura e das artesentre a populao (ROSENTAL e IUDIN, 1950, p. 104, citadopor SODR, 1989, p. 4).

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    A partir das consideraes de Sodr, possvel pensar que ten-dncias pedaggicas seriam as manifestaes da sociedade humana, depossibilitar a participao de toda a populao na produo da vidasocial e dos bens culturais.

    Os conceitos de ideologia e de cultura so necessrios quando se tratadas tendncias pedaggicas, pois se entende que elas expressam o contextono qual esto inseridas: so a expresso no s das idias hegemnicas,mas se traduzem em aes intencionais; representam tambm a expressode determinada etapa da cultura, bem como o nvel de desenvolvimentotanto material quanto espiritual de determinada sociedade.

    Por tendncia pedaggica compreende-se a expresso de de-terminadas concepes de homem, de mundo e de educao que, pro-venientes do desenvolvimento social, conformam-se e se traduzem empolticas educacionais moldando uma forma especfica de ser da orga-nizao do sistema escolar e da escola, com mtodos prprios, seleoe valorizao de contedos, formas de avaliao e relao professor-aluno. Deste modo, as tendncias pedaggicas realizam-se quando soexpressas na prxis; isto , elas necessitam da condio de materialidade.So conceituadas no mbito ideolgico porque, ao expressarem-se,manifestam atravs de uma ao orientada, o predomnio de um con-junto de idias sobre educao que traduzem tambm a hegemonia deuma determinada classe social. A formalizao das tendncias se dcomo polticas educacionais que, para serem aceitas e vividas pela so-ciedade necessitam das condies de cultura e de desenvolvimento queas gerem ou acolham.

    No entanto, no se consideram aqui os aspectos formais ouretricos das referidas polticas, mas sim suas reais concretizaes. neste sentido a afirmao de Saviani sobre a no concretizao da Pe-dagogia da Escola Nova, uma vez que, segundo ele, a mesma no setraduziu enquanto sistema educacional. O movimento da escola novano logrou constituir-se em sistemas pblicos de ensino e influenciouapenas superficialmente os procedimentos adotados nas escolas ofici-ais. (1987, p. 29) A respeito, pretende-se retomar esta afirmao e dis-cuti-la no decorrer do trabalho quando da abordagem da TendnciaHumanista Moderna.

    Porm, tomando de emprstimo as palavras de Casemiro dos REISFILHO (1981) quando salienta o relevante papel da Histria da Educa-o na formao dos professores, somente a pesquisa e os estudos anal-ticos capazes de aprofundar o conhecimento da realidade educacional, tal

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    como foi constituda so capazes de formar o pensamento crtico dosprofessores, como queria o autor, mas tambm de comprovar a traduode determinadas tendncias em aes concretas na prxis educativa.

    Tambm GRAMSCI (1986, p. 21), quando discute o papel deuma nova sntese elaborada pelo homem que, atravs da educao, ad-quire uma nova conscincia, se reporta questo de duas foras ideol-gicas: a do dominado e a do dominante. Diz ele: A compreenso crticade si mesmo obtida, portanto, atravs de uma luta de hegemoniaspolticas, de direes contrastantes, primeiro no campo da tica, de-pois no da poltica, atingindo finalmente, uma elaborao do real. Paraa abordagem das tendncias pedaggicas, neste momento, interessa sa-lientar da argumentao de Gramsci, o reconhecimento da existnciade outra ideologia que no somente a dos dominados.

    Sem recorrer luta de classes enquanto categoria de anlise te-rica, muitos pesquisadores em Histria da Educao, hoje buscam estu-dar o modo como instituies ou pessoas, em funo do meio e da culturainterpretaram as influncias recebidas e realizaram sua prxis. Casemirodos Reis Filho (1981), ao enfatizar a importncia dos estudos das dife-rentes e diversas realidades brasileiras aponta para o nexo que interligaas categorias do universal e do particular.

    Tais categorias possibilitam a apreenso, pelo pesquisador e es-tudioso da Educao, de perceber o singular. Tambm Alves, ao expli-car a relao entre o nacional e o regional nos estudos de Histria daEducao, adotando o materialismo histrico como posio terica, afir-ma o seguinte:

    Os termos regional e nacional so expresses, em escalas dife-rentes, do singular. O universal corresponde ao movimento dadopelas leis da totalidade, isto , da sociedade capitalista, e o sin-gular cinge-se ao lcus em que esse movimento se realiza, umaregio, uma instituio educacional, a obra terica e/ou prticade um educador etc. Portanto, universal e singular soindissociveis e os objetos de pesquisa s so suficientementecaptados quando revelam essa indissociabilidade. Nesse senti-do, as expresses nacional e regional no se opem ao univer-sal. So, isto sim, formas por meio das quais o universal se realiza.Como so formas sempre peculiares, em decorrncia dos condi-cionamentos econmicos e culturais de cada regio ou nao,so, por isso, expresses singulares de realizao do universal.

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    Sob esse aspecto, ao pesquisador das temticas regionais cabedesvelar como a forma singular, que se expressa no seu objeto,realiza o movimento pertinente ao universal e como, para cadaobjeto investigado, se d a mediao do nacional. (ALVES, 2001,p. 164),

    Singular, portanto, o modo como as tendncias pedaggicas seconcretizam no real. E a se realiza o que se est denominando de peda-ggico. Justifica-se, assim, o fato das tendncias, ao concretizarem-senas prticas de sala de aula, serem consideradas pedaggicas. Nesse pro-cesso de realizao, os aspectos ideolgicos e culturais, bem como osscio-econmicos e polticos, moldam as questes educacionais que en-contram sua viabilizao, de maneira singular, nas instituies escolares.

    Antes de tratar das tendncias pedaggicas tais como elas se de-senvolveram na educao brasileira, deve-se retornar a Suchodolski(1984). Este autor registra e analisa, na histria da Pedagogia, duas ver-tentes: uma, sob a influncia da filosofia da essncia; outra, influencia-da pela filosofia da existncia. A primeira, idealista, teria seu princpioem Plato. A segunda, a da existncia, tomando o homem como catego-ria fundamental, j estaria presente em Rousseau. Ambas as vertentesfilosficas caracterizam, ainda hoje, as tendncias que orientam a edu-cao. Porm, como bem alerta o autor, as posies pedaggicas noso homogneas e convivem sempre mescladas, revelando-se em mlti-plos aspectos.

    HUMANISMO TRADICIONAL

    O Humanismo tradicional aqui considerado tal como foi con-cretizado pela educao jesutica representando o movimento de ex-panso colonialista portugus alicerado na ideologia catlica da ContraReforma. Neste sentido, os autores que tm estudado o perodo colonialda educao brasileira so unnimes em afirmar a insero da atuaojesutica no processo de expanso mercantilista de Portugal.

    Os que consideram o contexto scio-econmico, poltico e cultu-ral daquele perodo histrico, encaminham as anlises nesse sentido;outros o fazem detendo-se na obra jesutica enquanto ao religiosa epedaggica.

    Sodr (1989) analisa a histria da cultura brasileira tendo comoprincipal categoria, o transplante cultural, isto , a imposio de uma

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    cultura dominante, a portuguesa, sobre a dos indgenas. Deste proces-so, so decorrentes a alienao e a assimilao. Assim, o conjunto devalores materiais e espirituais j criados pela humanidade e apropria-dos por uma classe que governa ou que detm o poder, teria sido trans-plantado para a colnia.

    Durante os dois sculos da presena da ordem no Brasil, no per-odo colonial, os jesutas seguiram o Ratio Studiorum, definido em 1599. relevante considerar este Cdigo, pois ele influenciou a educaobrasileira nos sculos seguintes ao seu descobrimento, principalmentena formao dos professores. , tambm desse Cdigo, que procedemos princpios e normas presentes na organizao do nosso sistema edu-cacional.

    As condies objetivas do Brasil, no incio de sua colonizao,influenciaram a educao oriunda da proposta inaciana. Porm, o pro-cesso educacional sofreu modificaes nas prticas pedaggicas, prin-cipalmente aquelas inseridas por Nbrega que tentou adapt-las lnguatupi. Catequese, colonizao, escolarizao, fizeram parte do mesmoprojeto inspirado pelo iderio da Contra-Reforma, no qual as cincias ea educao pblica, no tinham prioridade.

    A educao no fugiu a esse processo. Do Colgio dos Meninosde Jesus da Bahia, Luiz da Gr dava notcias a Incio de Loyola, con-tando que os jesutas tinham muitas esperanas nos meninos, pois estesnadavam e pescavam muito bem; porm eram muito inconstantes eafeioados vida de seus pais. (SODR, 1989, p. 52). Ao lado dasaulas de ler, escrever e da doutrina crist, ou como partes dela, os meni-nos ndios eram levados s prticas de flagelao. Na mesma carta, Luizda Gr, contava que, na casa dos Meninos de Jesus da Bahia, h disci-plina muitas sextas-feiras do ano, santa quaresma, advento e depois deCorpus Christi at a Assuno de Nossa Senhora. Faz muita devoo nopovo. Disciplinam-se muitos homens e toda esta casa com Padres, ir-mos e meninos. (SODR, 1989, p. 52).

    Outros autores, dentre eles PAIVA (2000, p. 43) consideram oprocesso educacional jesutico como um elemento da cultura portugue-sa e buscam entend-lo como manifestao da forma de relaes soci-ais. Segundo este autor, as letras deviam significar plena adeso culturaportuguesa. Ainda, segundo ele, as letras no tinham o significado dedevocionismo, mas representavam um fundamento da cultura que seimplantava, isto , a organizao da sociedade. O grau de acesso sletras determinava a prpria estrutura social. Este princpio fez com

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    que os colgios fossem logo destinados aos filhos dos colonizadores econstitui-se em um trao que marca, ainda hoje, a cultura brasileira.Est historicamente inserido na organizao do nosso sistema educaci-onal: escola profissionalizante para os provenientes das classes menosfavorecidas e cursos superiores, para os filhos das classes dirigentes.

    No cenrio da imposio da nova cultura, o ambiente que se temnotcia atravs dos documentos histricos consultados pelos autores,era o de guerra. Segundo Paiva, neles repete-se muitas vezes a notciade que muitos ndios eram mortos e tambm muitos negros e portugue-ses. Porm, (...) nada abalava o currculo nem a disciplina. A vida docolgio parecia continuar impvida, como se no estivesse envolvidapelo mesmo ambiente colonial. (PAIVA, 2000, p. 47)

    O fato do ensino, nas escolas jesuticas e principalmente noscolgios, pautar-se por princpios que no guardavam relao com oque se passava fora dos muros escolares, traduz o carter formal daeducao aristotlico-tomista, matriz do modelo pedaggico adota-do pelo movimento da Contra - Reforma. Nessa concepo, o mun-do obra divina, acabada, perfeita. As imperfeies so decorrnciasda imperfeio humana deformada pelo pecado. Ao homem restatornar-se perfeito, mortificando-se, flagelando-se ou admirando aobra divina.

    Decorrente da concepo de mundo e de homem priorizava-se naeducao os princpios da autoridade e da disciplina. O formalismo pre-sente nos contedos literrios selecionados dos clssicos, as disciplinasque compunham o trivium e o quadrivium (plano de estudos para oscolgios e que substituiu o plano de estudo de Nbrega), a nfase nasatividades literrias e acadmicas, o sistema de ensino retrico,mnemnico e que carecia de sentido para os aprendizes, caracteriza-vam o aspecto formal da educao.

    No entanto, tal educao caracterizada pelo formalismo cultural(PAIVA, 2000) se dava nas relaes de produo da vida material eespiritual, nas quais a cultura brasileira era construda. E, mesmo emsituaes inspitas, foi organizado o sistema educacional brasileiro3,que segundo Fernando de AZEVEDO (1996), garantiu a unidade naci-onal, por meio de trs fatores: a lngua, que tinha o significado de ex-panso da colonizao portuguesa; pela base ideolgica e religiosacomuns, e pela organizao de um nico sistema de ensino, de norte asul do Brasil.

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    HUMANISMO MODERNO

    A expulso da ordem, em 1759 e a reforma empreendida peloMarqus do Pombal, marcaram o incio, segundo alguns autores, doensino pblico no Brasil. Esta afirmao no de todo procedente, se aexpresso ensino pblico for entendida enquanto um sistema educa-cional acessvel a toda a populao. O significado que esses autoresquerem dar que a reforma pombalina foi inspirada pelas idiasiluministas e teve a inteno de iniciar o ensino pblico.

    No entanto, a criao das aulas rgias esparsas pelo Brasil e, nagrande maioria das vezes, lecionadas por ex-alunos dos colgios jesu-tas, assim como a criao do subsdio literrio no chegaram, na Col-nia, a caracterizar uma proposta educacional consistente. A influnciada reforma pombalina atingiu os filhos das classes mais abastadas quefaziam seus cursos na Universidade de Coimbra, uma vez que foi sobreesta instituio, que se fez sentir, com maior vigor, os efeitos da propos-ta iluminista, em Portugal. H a ressaltar a experincia do Seminrio deOlinda no Brasil enquanto proposta de inserir a educao dos semina-ristas nos propsitos da economia fundamentada na minerao.Contituiu-se, porm, como experincia isolada.

    Somente na segunda metade do sculo XIX, o incremento da la-voura cafeeira trouxe consigo mudanas na economia, na poltica, na for-mao da sociedade e na prpria cultura. No seio dessas transformaessurgiram duas novas classes sociais: a chamada burguesia industrial e ooperariado. Para elas, a educao revestiu-se de importncia. O comrcioestimulado e as novas instituies financeiras criavam novos cargos enovos postos e padres de trabalho. Segundo NAGLE (2001, p. 152) nosistema educacional brasileiro, a escola primria, tornou-se importante,quanto aos objetivos, aos contedos e funo social. Nela se integrari-am o humano e o nacional iniciando-se a difuso do seu carter obrigat-rio, dotado de significado democrtico e republicano. Seria esta instituioa responsvel pela diminuio da diferena entre a elite e o povo. Surgiua a idia da escola enquanto formadora do homem produtivo.

    A dcada de 20 caracterizou-se por reformas estaduais, que deacordo com suas condies objetivas, procuraram realizar as intenesimpressas no iderio educacional.

    As principais caractersticas dessas reformas consistiam em pro-postas de alfabetizao, transmisso dos conhecimentos bsicos de His-tria, Geografia e Cincias Naturais, aquisio de hbitos de higiene e

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    de formao moral, com nfase nos Trabalhos Manuais (trabalhos deagulha para as meninas e pequenos trabalhos com madeira, para osmeninos). A importncia dos Trabalhos Manuais no estava nas habili-dades que pudesse desenvolver nos alunos, mas sim enquanto formadorde hbitos de disciplina para o futuro cidado e trabalhador.

    O desenvolvimento da industrializao no Brasil provocou a im-plantao e a consolidao de uma pedagogia considerada necessriapara desenvolver o homem produtivo: a Pedagogia da Escola Nova.Iniciada na Europa, no final do sculo XIX, desenvolveu-se e consoli-dou-se naquele continente, passando para os Estados Unidos e propa-gando-se por toda a Amrica Latina depois da 2 guerra mundial, quandoos Estados Unidos afirmaram-se como pas capitalista hegemnico.

    As origens desse movimento, segundo Palcios estavam nas trans-formaes sociais, econmicas, e culturais (tambm demogrficas, segun-do o autor), criadas pelo industrialismo que transformou a famlia patriarcalem nuclear, ao retirar do ambiente domstico, as mulheres e tambm ascrianas. Alm disto, as mudanas polticas foram caracterizadas por aspi-raes democrticas, por la lucha por alcanzar los ideales de liberdad,igualdad y fraternidad, por el deseo de remodelacin del mundo;transformaciones, en el otro extremo, caracterizadas por el progresivo augedel capitalismo y por la segregacin cada vez ms acentuada de las capassociales en las que ste apoyada su expansin. (1987, p.27)

    As influncias das inovaes educacionais recebidas de autoreseuropeus e norte-americanos, e o conhecimento de novas experinciasnesse campo, adicionaram s necessidades que o contexto brasileiroapresentava, os ingredientes para a solicitao de novas propostas. Asidias de Dewey, na leitura de Ansio Teixeira, orientaram reformas noensino e marcaram nosso iderio pedaggico.

    As novas idias apareceram como uma resposta educacional smodificaes socio-econmicas e polticas, mas para Azevedo (1996),elas surgiram tambm porque, at ento, o Brasil carecia da organiza-o de um sistema educacional que garantisse bases comuns e tivesseas mesmas diretrizes a orient-la.

    Essa concepo de educao modificou consequentemente, a con-cepo de professor, aluno, trabalho pedaggico, contedos, formas deavaliao e ainda, a relao com o educando durante o processo ensino-aprendizagem. O professor passou a ser visto como aquele que, na suatarefa educativa, se utilizaria do mtodo cientfico levando para a sala deaula as experincias no campo pedaggico; experincias inspiradas, prin-

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    cipalmente pela Biologia Educacional, Psicologia da Aprendizagem e doDesenvolvimento e, ainda pela Sociologia. A formao do professor pas-sou, a partir desse momento, a ser percebida como necessariamente mui-to mais slida, uma vez que no se fundamentava apenas na vocao.

    importante salientar que nessa concepo, o apreender um atointerior do aluno, dependendo necessariamente de crescimento ematurao. Este conceito gerou um dos princpios da aprendizagem, se-gundo Dewey, o de que o aluno deve aprender a aprender. Hoje, esteprincpio, retomado pela Pedagogia, assim como o da metodologia doensino com pesquisa e, ainda, o conceito do professor enquanto umfacilitador da aprendizagem. No entanto na nova abordagem, reduz-seo conceito maior somente ao de aprendizagem, minimizando desse modoa funo do professor. A Escola Nova no Brasil, no logrou a mudanada educao brasileira para um patamar de qualidade extensivo a todosos cidados, ou seja, no conseguiu compor um sistema de educao p-blica para todos, como desejavam os signatrios do Manifesto da Educa-o Nova (1932). As mudanas de conceitos atingiram as Escolas Normaise conviveram com as prticas tradicionais na escola brasileira.

    A Escola Nova no Brasil pode ser conceituada como uma peda-gogia burguesa que pretendeu expandir a escolarizao at os limitespermitidos pelo capitalismo e que representou a forma mais acabadaque tomaram, no plano educacional, as idias representativas doHumanismo Moderno, isto , como predomnio da Razo Humana, en-quanto ideal iluminista. Manifestou-se na metodologia cientfica pro-curando manter a diviso entre as classes sociais, justificada pelasdiferenas individuais. Conviveu com a estrutura patriarcal e oligrquicae consequentemente com o Humanismo Tradicional. Alicerada no Li-beralismo e expresso de uma nova classe que surgia, com a primeiramediu foras e por fim negociou suas teses. Mas, do seu seio surgiramnovos conceitos, incontestveis e irrevogveis, que marcaram definiti-vamente a histria da educao, abrindo-lhe um novo rumo.

    O TECNICISMO NA EDUCAO

    O Tecnicismo, ao se instalar na educao brasileira deslocou osujeito da educao. Se, na tendncia Humanista Tradicional, o profes-sor ocupava este lugar e no Humanismo Moderno, o aluno passou a sero centro do processo educativo, no Tecnicismo, o sujeito passou a ser atcnica. Este deslocamento procedeu das modificaes educacionais so-

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    fridas em funo de mudanas no contexto scio-econmico e poltico.Com a imposio de novo modelo econmico e conseqente

    mudana do modelo poltico, alterou-se tambm o modelo educacional.Na verdade, foi pensado um novo tipo de homem que valesse para omercado enquanto fator de produo. Assim, sob a influncia norte-americana, viabilizada na educao pelos acordos MEC-USAID, ado-tou-se a concepo de homem enquanto recurso humano.

    Segundo SCHULTZ (1973, p.53) a distino do capital humano que ele faz parte do homem.

    humano (em itlico, no original) porquanto se acha configuradono homem, e capital porque uma fonte de satisfaes futuras,ou de futuros rendimentos, ou ambas as coisas. Onde os homenssejam pessoas livres, o capital humano no um ativo negocivel,no sentido de que possa ser vendido. Pode, sem dvida ser adqui-rido, no como um elemento de ativo, que se adquire no mercado,mas por intermdio de um investimento no prprio indivduo. Se-gue-se que nenhuma pessoa pode separar-se a si mesma do capi-tal humano que possui. Tem de acompanhar sempre, o seu capitalhumano, quer o sirva na produo ou no consumo.

    Esta viso do homem enquanto capital na sua prpria naturezamodificou profundamente a educao. Aliada concepo taylorista detrabalho, determinou mudanas radicais no sistema educacional queestava em processo de reconstruo.

    A reforma expressa nas leis 5540/68 e 5692/71, a primeira relati-va ao ensino superior e a segunda relativa aos ensinos de 1 e 2 graus,deram aos respectivos nveis de ensino nova direo, resultado dasmudanas estruturais sofridas.

    As mudanas no ensino superior caracterizaram-se pela racionalidadeadministrativa e modernizao de meios em funo dos fins ditados pelosistema que se implantava. No entanto, apregoava-se a neutralidade da ci-ncia e forava-se a universidade apoltica, por medidas tomadas nos AtosInstitucionais que tolhiam a liberdade de expresso, bem como as reuniesde grupos, as discusses acadmicas, o discurso crtico.

    A Pedagogia Tecnicista marcou profundamente a educao bra-sileira, modificando sua estrutura em todos os nveis, os contedos, aformao dos professores, a relao professor-aluno, os mtodos e astcnicas de ensino. Mas, modificou, sobretudo, os objetivos da educa-

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    o nacional, atrelando-a definitivamente ao mercado de trabalho vol-tado para o capital internacional. Desta forma, considera-se que, ao ladoda Pedagogia Tradicional, essa foi tambm a tendncia que chegou atodas as salas de aula.

    A globalizao entendida como a expanso do modo de produ-o capitalista em escala mundial criou a conseqente expanso da com-petio e trouxe para a educao, principalmente nos pases dependentesde tecnologia e que ainda no deram conta da escolarizao de sua po-pulao, o recrudescimento do problema de tipos de educao diferen-ciada conforme as classes sociais, criando defasagens cada vez maiores.

    CONSIDERAES FINAIS

    Conclui-se que as tendncias Humanista Tradicional e HumanistaModerna ainda esto presentes na educao brasileira. A primeira, nadissociao entre o real e o formal, na separao entre a educao dasdiferentes classes sociais e no enfraquecimento da escola pblica.O Humanismo Moderno faz-se presente nos cursos e disciplinas quepriorizam as descobertas e experincias e valorizam a razo humana.Porm, o Tecnicismo preponderante, embora se utilize de princpios econceitos da Pedagogia da Escola Nova, tais como o aprender a apren-der e o mtodo de projetos. Esta tendncia concretizou uma separaoentre as tendncias humanistas e o homem enquanto recurso humano.A influncia do Tecnicismo est presente hoje, na distribuio diferenci-ada do conhecimento que consagra a permanncia de modelos diferenci-ados de ensino, contribuindo para a diferena entre as classes sociais.

    O Humanismo Tradicional e o Tecnicismo constituem-se nas duastendncias que definitivamente conformaram (a primeira) e conformam(a segunda) a educao brasileira porque suas concepes de mundo, dehomem e de educao abrangeram todo o sistema educacional, nos dife-rentes perodos modificando os contedos, a formao dos professores ea relao professor-aluno.

    Notas

    1 A teoria dos aparelhos ideolgicos do Estado foi publicada com o ttulo Les appareilsideologiques de lEtat, pela Revista La Pense, em Paris, 1970.

    2 Conforme palavras textuais de AZEVEDO, ele adotou na obra A CULTURA BRA-SILEIRA, como conceito de cultura, a concepo clssica francesa e alem, enun-ciada por Humboldt, ao escrever CULTURA E CIVILIZAO. No entanto, nofez a citao completa da obra.

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    3 Fernando de Azevedo considera a construo do sistema educacional desde o per-odo jesutico, enquanto que outros autores como Dermeval Saviani, afirmam quetemos redes de ensino, mas no sistema educacional.

    Referncias

    ALVES, G. L. Nacional e regional na histria educacional brasileira: uma anlise sob a tica dosestados mato-grossenses. In: SBHE. Educao no Brasil. So Paulo: Autores Associados: SBHE,2001. p. 163-188.AZEVEDO, F. A cultura brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Braslia: Editora UnB, 1996.CURY, C. R. J. Ideologia e educao brasileira: catlicos e liberais. 3 ed. So Paulo: Cortez, 1986.GRAMSCI, A. Concepo dialtica da histria. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1986.MACHADO, L. Z. Estado, escola e ideologia. 2. ed. So Paulo: Brasiliense, 1987.NAGLE, J. Educao e sociedade na Primeira Repblica. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.PAIVA, J. M. Educao jesutica no Brasil colonial. In: LOPES, E. M. T.; FARIA FILHO, L. M.;VEIGA, C. G. 500 anos de educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 2000. p. 43-59.PALCIOS, J. La cuestin escolar: crticas y alternativas. Barcelona: Laia, 1978.REIS FILHO, C. A educao e a iluso liberal. So Paulo: Cortez, 1981.SAVIANI. D. Tendncias e correntes da educao brasileira. MENDES, D. T. (Coord.) Filosofia daEducao Brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1987.SCHULTZ, T. W. O capital humano: investimento em educao e pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.SODR, N. W. Sntese de Histria da cultura brasileira. 16 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.SUCHODOLSKI, B. A Pedagogia e as grandes correntes filosficas: Pedagogia da essncia e a Peda-gogia da existncia. 3. Ed. Lisboa: Horizonte, 1984.

    Abstract: The work has the objective to discuss the pedagogical trends presentsin the Brazilian education: the traditional Humanism, in the Jesuitical counter-reformation; Modern Humanism and the Technicism. It appraisespedagogical trends as the expression of determined conceptions of man,world and education that proceeding from the social development, they areinterpreted as educational policies. They mould the educational system andschool organization, with proper methods, selection and valuation of contents,forms of evaluation and relation professor-pupil. The pedagogical trendsbecome fulfilled when they are expressed in praxis; that is, they need thematerial condition.

    Key-words: History of the education; pedagogical trends; Brazilian education* Licenciada em Pedagogia (UFPR), Mestre em Educao: Currculo (UFPR), Doutora Histria e

    Filosofia da Educao (PUCSP). Professora aposentada da UFPR, Titular em Histria e Filosofiada Educao na Pontifcia Universidade Catlica do Paran, Pesquisadora e membro do HISTEDBR,Scia fundadora da SBHE. E-mail: [email protected]

    KARAMTexto digitadohttp://revistas.ucg.br/index.php/educativa/article/viewFile/175/138