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A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA EXECUÇÃO FISCAL: ANÁLISE CRÍTICA À LUZ DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Felipe Bastos Chermont Resumo: Este artigo analisará as controvérsias que existem na aplicação da prescrição intercorrente no processo de execução fiscal. Pelo fato de este tema ser pouco aprofundado, tanto pela jurisprudência quanto pela doutrina, será de grande valia o presente estudo, posto que a prescrição intercorrente é de enorme relevância tanto para evitar a perpetuação de conflitos concretos no âmbito do Judiciário, quanto por congregar em si princípios importantíssimos como, por exemplo, a segurança jurídica e a economia processual. O objetivo é propor soluções para os diversos problemas que surgem da aplicação da prescrição intercorrente, esclarecendo as dúvidas que persistem nas regras desse instituto jurídico e, especificamente, promover uma análise crítica do impacto do novo Código de Processo Civil, principalmente nos pontos mais controvertidos. Como a intenção deste artigo é esclarecer dúvidas e propor soluções para os conflitos existentes na aplicação da prescrição intercorrente nos processos de execução fiscal e tentar aprofundar a temática, o método de pesquisa escolhido para desenvolver as análises foi a revisão de literatura e a pesquisa de jurisprudência. Através dessa metodologia será possível alcançar os objetivos descritos de forma a deixar uma concreta contribuição no estudo do tema abordado. Palavras-chave: decadência; prescrição; prescrição intercorrente; execução fiscal; tributário. ABSTRACT: This article will analyze the controversies that exist in the application of the interim statute of limitations in taxes execution procedure. Because this topic is little discussed, both by law and by doctrine, the present study will have a great value, since the interim statute of limitations has an enormous importance to avoid the perpetuation of conflicts in the Judiciary, and also by bringing important principles, for example, the legal certainty and procedural economy. The purpose is to propose solutions to various problems of the application of the interim statute of limitations, clarifying the doubts that persist in the rules and, specifically, to promote a critical analysis of the impact of the new Civil Procedure Code, especially in the most controversial points. As the intention of this article is to answer questions and propose solutions to the conflicts in the application of the interim statute of limitations in tax execution procedures and try to deepen the theme, the research method chosen to develop the analysis was the literature review and case law research. Through this methodology it will be possible to achieve the objectives described in order to make a concrete contribution in the study of the topic discussed. Keywords: Lapse of right; statute of limitations; Interim statute of limitations; taxes execution procedure; tax.

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A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA EXECUÇÃO FISCAL: ANÁLISE

CRÍTICA À LUZ DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Felipe Bastos Chermont

Resumo: Este artigo analisará as controvérsias que existem na aplicação da prescrição intercorrente no processo de execução fiscal. Pelo fato de este tema ser pouco aprofundado, tanto pela jurisprudência quanto pela doutrina, será de grande valia o presente estudo, posto que a prescrição intercorrente é de enorme relevância tanto para evitar a perpetuação de conflitos concretos no âmbito do Judiciário, quanto por congregar em si princípios importantíssimos como, por exemplo, a segurança jurídica e a economia processual. O objetivo é propor soluções para os diversos problemas que surgem da aplicação da prescrição intercorrente, esclarecendo as dúvidas que persistem nas regras desse instituto jurídico e, especificamente, promover uma análise crítica do impacto do novo Código de Processo Civil, principalmente nos pontos mais controvertidos. Como a intenção deste artigo é esclarecer dúvidas e propor soluções para os conflitos existentes na aplicação da prescrição intercorrente nos processos de execução fiscal e tentar aprofundar a temática, o método de pesquisa escolhido para desenvolver as análises foi a revisão de literatura e a pesquisa de jurisprudência. Através dessa metodologia será possível alcançar os objetivos descritos de forma a deixar uma concreta contribuição no estudo do tema abordado. Palavras-chave: decadência; prescrição; prescrição intercorrente; execução fiscal; tributário. ABSTRACT: This article will analyze the controversies that exist in the application of the interim statute of limitations in taxes execution procedure. Because this topic is little discussed, both by law and by doctrine, the present study will have a great value, since the interim statute of limitations has an enormous importance to avoid the perpetuation of conflicts in the Judiciary, and also by bringing important principles, for example, the legal certainty and procedural economy. The purpose is to propose solutions to various problems of the application of the interim statute of limitations, clarifying the doubts that persist in the rules and, specifically, to promote a critical analysis of the impact of the new Civil Procedure Code, especially in the most controversial points. As the intention of this article is to answer questions and propose solutions to the conflicts in the application of the interim statute of limitations in tax execution procedures and try to deepen the theme, the research method chosen to develop the analysis was the literature review and case law research. Through this methodology it will be possible to achieve the objectives described in order to make a concrete contribution in the study of the topic discussed. Keywords: Lapse of right; statute of limitations; Interim statute of limitations; taxes execution procedure; tax.

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Sumário: Introdução. 1. Constituição do Crédito Tributário e sua cobrança.

2.Prescrição Intercorrente e seu início. 3. Prescrição Intercorrente no

Processo Administrativo Fiscal. Considerações Finais. Bibliografia

INTRODUÇÃO

Este artigo pretende esclarecer conceitualmente e demonstrar, através de

casos concretos da jurisprudência nacional e do estudo da doutrina através de

revisão bibliográfica, o instituto da prescrição intercorrente e toda a problemática

que está envolvida na sua correta aplicação, tecendo uma análise crítica acerca

das inovações trazidas pelo novo Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de

março de 2016.

Dessa maneira, o objetivo geral do trabalho é trazer à luz as regras que

permeiam, delimitam e norteiam a prescrição intercorrente no âmbito da execução

fiscal e, de modo mais específico, fomentar um pensamento crítico no leitor, de

modo a perceber não apenas os impactos da nova legislação processual civil,

mas também demonstrar como é importante o equilíbrio entre os três poderes do

Estado, com o Legislativo prevendo normas que limitam o poder de arrecadação

estatal e o Judiciário sendo chamado a socorrer o contribuinte ao aplicar o

instituto da prescrição, indo de encontro aos interesses fiscais do Poder

Executivo, promovendo a segurança jurídica e obrigando a Fazenda Pública a

também cumprir a legislação, inclusive quando esta lhe é desfavorável.

Com intuito de alcançar esses objetivos, o trabalho foi dividido em três

partes. Na primeira parte, a fim de iniciar a análise do tema proposto, serão

discutidos conceitos iniciais necessários ao aprofundamento da temática, tais

como a constituição do crédito tributário, a execução fiscal e a prescrição. Na

segunda parte do artigo, será abordada a prescrição intercorrente propriamente

dita, a discussão acerca de sua aplicabilidade nos processos executivos fiscais, a

data de início da contagem do prazo prescricional, a suspensão e a paralisação

dessa contagem durante o trâmite processual e sua efetiva aplicabilidade nos

casos concretos, com apresentação de jurisprudência acerca do assunto. Já na

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terceira parte, será debatida a possibilidade de aplicação ou não da prescrição

intercorrente nos processos administrativos fiscais. Assim, será possível delimitar

o escopo do artigo a fim de não se extrapolar o assunto pretendido, nem

tampouco alongar-se demasiadamente em pontos incontroversos. Por último,

serão feitas algumas considerações gerais sobre o tema como um todo.

1 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E SUA COBRANÇA

Em Direito Tributário, há dois conceitos importantíssimos, quais sejam:

hipótese de incidência e fato gerador, que necessitam desde logo ser

esclarecidos. A hipótese de incidência é a situação de fato, descrita previamente

em lei como de incidência de determinado tributo. Nos dizeres do ilustríssimo

BERNARDO RIBEIRO DE MORAES (1984, p.160), a hipótese de incidência é:

. . . a s i t u a ç ã o g e r a l e a b s t r a t a q u e a p a r e c e c o m a p r o m u l g a ç ã o d a l e i t r i b u t á r i a , q u e c o n t é m u m p r e s s u p o s t o d e f a t o t i d o j u r i d i c a m e n t e c o m o n e c e s s á r i o e s u f i c i e n t e p a r a d a r n a s c im e n t o à r e s p e c t i v a o b r i g a ç ã o t r i b u t á r i a , a o l a d o d e u m a d e t e r m i n a ç ã o d e c e r t a c o n s e q u ê n c i a j u r í d i c a , n o c a s o d e s e c o n c r e t i za r e s s a h i p ó t e s e l e g a l d e i n c i d ê n c i a .

O fato gerador é o elemento fundamental para que exista a obrigação

tributária, sendo a concretização do fato que a lei previamente pressupôs de

maneira abstrata. É, portanto, o ato jurídico, tipificado na hipótese de incidência

que efetivamente ocorreu. Dessa maneira, nascerá a obrigação tributária quando

houver a subsunção do fato (fato gerador) à norma (hipótese de incidência).

Conforme dita o Código Tributário Nacional (CTN):

A r t . 1 1 3 . A o b r i g a ç ã o t r i b u t á r i a é p r i n c i p a l o u a c e s s ó r i a . § 1 º A o b r i g a ç ã o p r i n c i p a l s u r g e c o m a o c o r r ê n c i a d o f a t o g e r a d o r , t em p o r o b j e t o o p a g a m e n t o d e t r i b u t o o u p e n a l i d a d e p e c u n i á r i a e e x t i n g u e - s e j u n t a m e n t e c o m o c r é d i t o d e l a d e c o r r e n t e .

Com a ocorrência de determinado fato jurídico, nasce, então, a obrigação

tributária, uma relação entre o Estado (Fazenda Pública) e o contribuinte, e com

ela nasce o crédito tributário. Conforme muito bem ensina Lobo Torres (2011,

p.239), "a obrigação e o crédito não só se extinguem, como também nascem

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juntamente ... pois obrigação e crédito não se distinguem em sua essência, como

declara o próprio CTN no art. 139:"

A r t . 1 3 9 . O c r é d i t o t r i b u t á r i o d e c o r r e d a o b r i g a ç ã o p r i n c i p a l e t em a m es m a n a t u r e za d e s t a .

O crédito tributário vai se distinguir da obrigação tributária de maneira

didática, a fim de facilitar o entendimento e a aplicabilidade do direito tributário.

Assim, o crédito tributário, apesar de nascido juntamente com a obrigação

tributária, passará por diferentes etapas a fim de se tornar líquido, certo e exigível.

Nas lições de Lobo Torres (2011, p.275):

" O c r é d i t o t r i b u t á r i o p a s s a p o r d i f e r e n t e s m o m e n t o s d e e f i c á c i a : c r é d i t o s im p l e s m e n t e c o n s t i t u í d o ( p e l a o c o r r ê n c i a d o f a t o g e r a d o r ) , t o r n a - s e c r é d i t o e x i g í v e l ( p e l o l a n ç a m e n t o n o t i f i c a d o o u p e l a d e c i s ã o a d m in i s t r a t i v a d e f i n i t i v a ) e , f i n a lm e n t e , c r é d i t o e x e q u í v e l ( p e l a i n s c r i ç ã o n o s l i v r o s d a d í v i d a a t i v a ) , d o t a d o d e l i q u i d e z e c e r t e za . "

Dessa maneira, qualquer evento que, porventura, venha a modificar o

crédito tributário ou seus atributos (exigibilidade, por exemplo) não recaem sobre

a obrigação tributária a ele correlata, conforme sintetizado pelo CTN:

A r t . 1 4 0 . A s c i r c u n s t â n c i a s q u e m o d i f i c a m o c r é d i t o t r i b u t á r i o , s u a e x t e n s ã o o u s e u s e f e i t o s , o u a s g a r a n t i a s o u o s p r i v i l é g i o s a e l e a t r i b u í d o s , o u q u e e x c l u e m s u a e x i g i b i l i d a d e n ã o a f e t a m a o b r i g a ç ã o t r i b u t á r i a q u e l h e d e u o r i g e m .

A rigor, portanto, o crédito tributário se constitui com a obrigação tributária,

ou seja, com a subsunção do fato gerador à norma. O processo que vem a seguir

delineado de maneira superficial é o responsável por tornar esse crédito tributário

líquido, certo e exigível. A primeira etapa dessa concretização do crédito tributário

é o lançamento, assim definido pelo CTN:

A r t . 1 4 2 . C o m p e t e p r i v a t i v a m e n t e à a u t o r i d a d e a d m in i s t r a t i v a c o n s t i t u i r o c r é d i t o t r i b u t á r i o p e l o l a n ç a m e n t o , a s s im e n t e n d i d o o p r o c e d im e n t o a d m in i s t r a t i v o t e n d e n t e a v e r i f i c a r a o c o r r ê n c i a d o f a t o g e r a d o r d a o b r i g a ç ã o c o r r e s p o n d e n t e , d e t e r m i n a r a m a t é r i a t r i b u t á v e l , c a l c u l a r o m o n t a n t e d o t r i b u t o d e v i d o , i d e n t i f i c a r o s u j e i t o p a s s i v o e , s e n d o c a s o , p r o p o r a a p l i c a ç ã o d a p e n a l i d a d e c a b í v e l . P a r á g r a f o ú n i c o . A a t i v i d a d e a d m in i s t r a t i v a d e l a n ç a m e n t o é v i n c u l a d a e o b r i g a t ó r i a , s o b p e n a d e r e s p o n s a b i l i d a d e f u n c i o n a l .

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O crédito tributário, dessa maneira, refere–se ao direito de crédito da

Fazenda Pública para com o contribuinte, oriundo da obrigação tributária,

conforme acima explicado. Importante ressaltar que por mais que o artigo

supracitado fale em "constituir o crédito tributário", a constituição do crédito

tributário, como já foi explicado, se dá quando nasce obrigação tributária, e o que

o lançamento faz é formalizá-lo num ato praticado pela autoridade administrativa

em nome de um direito pertencente ao sujeito ativo da obrigação tributária (União,

Estados, Distrito Federal e Municípios). Este ato de lançamento que concretizará

o crédito tributário se completa com a notificação do sujeito passivo da obrigação

tributária, o contribuinte.

Depois de constituído e feito o lançamento, o crédito tributário poderá ser

suspenso nas hipóteses previstas em lei (recurso administrativo, parcelamento,

moratória...), havendo ainda hipóteses de exclusão ou extinção do crédito

preconizadas, mas nunca cabe à autoridade administrativa dispensar o seu

pagamento ou suas garantias, ou atenuar de qualquer outra forma a obrigação,

sob pena de responsabilidade funcional, como já foi dito. Assim, todo e qualquer

procedimento adotado para o lançamento e cobrança do crédito correspondente

não podem alterá-lo ou mitigá-lo, senão quando previsto em lei.

A r t . 1 4 1 . O c r é d i t o t r i b u t á r i o r e g u l a r m e n t e c o n s t i t u í d o s o m e n t e s e m o d i f i c a o u e x t i n g u e , o u t e m s u a e x i g i b i l i d a d e s u s p e n s a o u e x c l u í d a , n o s c a s o s p r e v i s t o s n e s t a L e i , f o r a d o s q u a i s n ã o p o d e m s e r d i s p e n s a d a s , s o b p e n a d e r e s p o n s a b i l i d a d e f u n c i o n a l n a f o r m a d a l e i , a s u a e f e t i v a ç ã o o u a s r e s p e c t i v a s g a r a n t i a s .

O crédito tributário poderá ser extinto de várias maneiras, conforme

estabelece o art.156 do CTN abaixo transcrito, sendo as mais importantes para

nosso estudo: o pagamento, a prescrição e a decadência.

A r t . 1 5 6 . Ex t i n g u em o c r é d i t o t r i b u t á r i o : I - o p a g a m e n t o ; I I - a c o m p e n s a ç ã o ; I I I - a t r a n s a ç ã o ; I V - r e m i s s ã o ; V - a p r e s c r i ç ã o e a d e c a d ê n c i a ; V I - a c o n v e r s ã o d e d e p ó s i t o e m r e n d a ; V I I - o p a g a m e n t o a n t e c i p a d o e a h o m o lo g a ç ã o d o l a n ç a m e n t o n o s t e r m o s d o d i s p o s t o n o a r t i g o 1 5 0 e s e u s § § 1 º e 4 º ; V I I I - a c o n s i g n a ç ã o e m p a g a m e n t o , n o s t e r m o s d o d i s p o s t o n o § 2 º d o a r t i g o 1 6 4 ;

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I X - a d e c i s ã o a d m i n i s t r a t i v a i r r e f o r m á v e l , a s s im e n t e n d i d a a d e f i n i t i v a n a ó r b i t a a d m i n i s t r a t i v a , q u e n ã o m a i s p o s s a s e r o b j e t o d e a ç ã o a n u la t ó r i a ; X - a d e c i s ã o j u d i c i a l p a s s a d a e m j u l g a d o . X I – a d a ç ã o e m p a g a m e n t o e m b e n s im ó v e i s , n a f o r m a e c o n d i ç õ e s e s t a b e le c i d a s e m l e i . ( I n c l u í d o p e l a L c p n º 1 0 4 , d e 2 0 0 1 ) P a r á g r a f o ú n i c o . A l e i d i s p o r á q u a n t o a o s e f e i t o s d a e x t i n ç ã o t o t a l o u p a r c i a l d o c r é d i t o s o b r e a u l t e r i o r v e r i f i c a ç ã o d a i r r e g u l a r i d a d e d a s u a c o n s t i t u i ç ã o , o b s e r v a d o o d i s p o s t o n o s a r t i g o s 1 4 4 e 1 4 9 .

A primeira forma de extinção do crédito tributário é a decadência, já que

ocorre antes mesmo do lançamento. Segundo leciona Lobo Torres (2011, p. 303):

"Decadência é a perda do direito de constituir o crédito tributário pelo lançamento.

Dela cuida o art.173 do CTN:"

A r t . 1 7 3 . O d i r e i t o d e a F a ze n d a P ú b l i c a c o n s t i t u i r o c r é d i t o t r i b u t á r i o e x t i n g u e - s e a p ó s 5 ( c i n c o ) a n o s , c o n t a d o s : I - d o p r im e i r o d i a d o e x e r c í c i o s e g u in t e à q u e l e e m q u e o l a n ç a m e n t o p o d e r i a t e r s i d o e f e t u a d o ; I I - d a d a t a e m q u e s e t o r n a r d e f i n i t i v a a d e c i s ã o q u e h o u v e r a n u l a d o , p o r v í c i o f o r m a l , o l a n ç a m e n t o a n t e r i o r m e n t e e f e t u a d o . P a r á g r a f o ú n i c o . O d i r e i t o a q u e s e r e f e r e e s t e a r t i g o e x t i n g u e - s e d e f i n i t i v a m e n t e c o m o d e c u r s o d o p r a zo n e l e p r e v i s t o , c o n t a d o d a d a t a e m q u e t e n h a s i d o i n i c i a d a a c o n s t i t u i ç ã o d o c r é d i t o t r i b u t á r i o p e l a n o t i f i c a ç ã o , a o s u j e i t o p a s s i v o , d e q u a l q u e r m e d i d a p r e p a r a t ó r i a i n d i s p e n s á v e l a o l a n ç a m e n t o .

A decadência portanto impede o exercício do poder de tributar, eis que

limita a 5 (cinco) anos o prazo para a prática do ato administrativo do lançamento,

que tornaria o crédito tributário líquido, certo e exigível. Na decadência não há

hipóteses de interrupção ou suspensão. Surgida a obrigação e o crédito tributário

e passados 5 anos sem que a Fazenda Pública fizesse o lançamento, está extinto

o respectivo crédito tributário.

Feito corretamente o lançamento e consubstanciada a exigibilidade do

crédito tributário, buscará a Fazenda Pública a sua quitação junto ao contribuinte.

Assim, obviamente, a forma mais importante de extinção do crédito tributário é o

pagamento. No entanto, nem sempre o contribuinte quita sua obrigação dessa

forma. Assim, no caso de não ser cumprida a obrigação surgida com a Fazenda

Pública e esgotados os prazos estabelecidos para exercer a defesa ou impugnar

o crédito, é mandatório que seja feita remessa à Procuradoria da Fazenda

Nacional para inscrição em Dívida Ativa do valor apurado e devido, com

consequente ajuizamento da execução fiscal.

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Nesse momento, o Poder Judiciário é chamado a intervir nessa relação

obrigacional com intuito de promover efetividade à exigibilidade e à coercibilidade,

próprias dessa relação tributária, sendo a forma de a Fazenda Pública cobrar seu

crédito daqueles contribuintes inadimplentes.

A execução fiscal é o procedimento para cobrança de créditos já

constituídos pelo Estado de maneira geral e é regido principalmente pela lei

6830/80 (Lei de Execuções Fiscais — LEF) que trata especificamente da

cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública.

Execução Fiscal é, assim, o termo que se aplica ao procedimento em que a

Fazenda Pública requer de contribuintes inadimplentes o crédito que lhe é devido,

buscando através do Poder Judiciário a satisfação da obrigação de modo

coercitivo. Serão feitas buscas junto ao patrimônio do executado, de modo a

encontrar bens suficientes para o pagamento do crédito que está sendo cobrado

por meio da execução fiscal.

O processo de execução se baseia na chamada Certidão de Dívida Ativa,

título executivo extrajudicial, que será a base para a cobrança da dívida ali

representada de forma certa, líquida e exigível.

Constituído o crédito pelo lançamento e propriamente inscrito em dívida

ativa, o Estado terá 5 (cinco) anos para ajuizar o processo de execução fiscal

citado acima. Caso não o faça, nos termos do art. 174 do Código Tributário

Nacional, perderá o direito à ação para cobrança desse crédito, ocorrendo,

portanto, o fenômeno jurídico denominado prescrição, outra forma de extinção do

crédito tributário a que nos referimos acima, nos termos do art. 156, V do citado

diploma legal.

Segundo Câmara Leal, (1978, p.12) prescrição é "a extinção de uma ação

ajuizável (actio nata), em virtude da inércia continuada de seu titular durante certo

lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso". Logo,

depreende-se, basicamente, que a prescrição está intimamente relacionada com

três aspectos simples: inércia, tempo e ação. Assim, ainda segundo Câmara Leal,

a prescrição supõe um direito nascido e efetivo cujo perecimento se deve ao não

exercício da ação contra a violação ocorrida.

Prescrição, conforme assegurou Orlando Gomes (2002, p.496) é "o modo

pelo qual um direito se extingue em virtude da inércia, durante um certo lapso de

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tempo, do seu titular, que, em consequência, fica sem ação para assegurá-lo”.

Assim, mesmo que grande parte da doutrina relacione a prescrição à perda do

direito de ação, é importante ter em mente que há também os que defendem que

a extinção da ação vai redundar na própria extinção do direito, já que é ineficaz o

direito de que não se pode usufruir, portanto inevitável perceber que a prescrição,

causada pela inércia do detentor do direito durante o tempo que a lei designar,

implica algo mais do que o perecimento da ação (PEREIRA, Caio Mário da Silva,

2001, p. 435).

Como ficou perceptível, formou-se uma divisão em nossa doutrina: se a

prescrição extinguiria apenas a pretensão e direito de ação ou se extinguiria o

próprio direito subjetivo, o que acaba por gerar confusão com outro instituto

importante, a decadência, que se traduz na caducidade de um direito por decurso

de prazo. No caso do Direito Tributário, como foi dito, esse prazo decadencial é o

lapso temporal anterior ao lançamento efetuado pela autoridade fiscal, enquanto

que na prescrição, o decurso do prazo é após o lançamento. Portanto, o momento

do lançamento é uma visível diferença entre os institutos citados.

Fato é que, para a maior parte da doutrina e para o Código Civil vigente

(art. 189, abaixo transcrito), prevalece a ideia de que a prescrição extingue a

pretensão, ou seja, por mais que continue a existir o direito, ele passa a não ser

mais exigível, padece o direito de ação, o que não impede, entretanto, que venha

a ser respeitado ou satisfeito o direito subjetivo, mesmo que prescrito o direito de

ação a ele correlato.

A r t . 1 8 9 V i o l a d o o d i r e i t o , n a s c e p a r a o t i t u l a r a p r e t e n s ã o , a q u a l s e e x t i n g u e , p e l a p r e s c r i ç ã o , n o s p r a zo s a q u e a l u d e m o s a r t s . 2 0 5 e 2 0 6 .

Essa ideia é bem simples para o Direito Civil, pois a lei faz uma

simplificação abstrata do instituto, já que, na prática, nem mesmo a pretensão se

extingue pela prescrição, o que ocorre é que, no caso concreto, a prescrição faz

surgir para o devedor da obrigação uma defesa contra a pretensão do credor de

exigir a prestação devida.

Com o Novo Código de Processo Civil (NCPC), a prescrição continuará

sendo causa de extinção do processo com resolução do mérito, entretanto o

legislador promoveu algumas alterações significativas no que tange a atuação do

juiz na decretação da prescrição. Antes, a prescrição deveria ser arguida pelo

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devedor no processo judicial, no entanto, o novo diploma legal trouxe

expressamente a preconização de que o juiz poderá decretar a prescrição de

ofício. Haverá, basicamente, duas possibilidades. Na primeira hipótese, quando

se tratar de ações que dispensem a fase instrutória, o juiz poderá julgar

improcedente liminarmente os pedidos em que verificar ocorrência de prescrição

ou decadência (art. 332 §1º NCPC). Na segunda hipótese, no caso das ações em

que se fizer necessária a fase instrutória, o juiz também poderá reconhecer a

prescrição de ofício, mas somente se antes colher a manifestação das partes,

respeitando o principio da não surpresa. Dessa forma, caso isso ocorra, caberá às

partes apresentar eventuais causas suspensivas, impeditivas, interruptivas ou até

renunciar à prescrição.

A r t . 3 3 2 . N a s c a u s a s q u e d i s p e n s e m a f a s e i n s t r u t ó r i a , o j u i z , i n d e p e n d e n t e m e n t e d a c i t a ç ã o d o r é u , j u l g a r á l im i n a r m e n t e im p r o c e d e n t e o p e d i d o q u e c o n t r a r i a r : ( . . . ) § 1 o O j u i z t a m b é m p o d e r á j u l g a r l im in a r m e n t e im p r o c e d e n t e o p e d i d o s e v e r i f i c a r , d e s d e l o g o , a o c o r r ê n c i a d e d e c a d ê n c i a o u d e p r e s c r i ç ã o . A r t . 4 8 7 . H a v e r á r e s o l u ç ã o d e m é r i t o q u a n d o o j u i z : ( . . . ) P a r á g r a f o ú n i c o . R e s s a l v a d a a h i p ó t e s e d o § 1 o d o a r t . 3 3 2 , a p r e s c r i ç ã o e a d e c a d ê n c i a n ã o s e r ã o r e c o n h e c i d a s s e m q u e a n t e s s e j a d a d a à s p a r t e s o p o r t u n i d a d e d e m an i f e s t a r - s e .

Mesmo assim, ainda que o direito de exigir em juízo a prestação não

cumprida fique comprometido pela prescrição, o direito subjetivo propriamente

dito subsiste, só que não mais amparado pela força de exigi-lo judicialmente.

Importante ressaltar, entretanto, que, no Direito Civil, se o devedor se

dispuser a cumprir a prestação, renunciando à prescrição, mesmo que

tacitamente e após decorrido o prazo prescricional, o pagamento será válido e

eficaz, não havendo porque se questionar sua repetição, conforme explicitado no

art. 882 do Código Civil.

A r t . 8 8 2 N ã o s e p o d e r e p e t i r o q u e s e p a g o u p a r a s o l v e r d í v i d a p r e s c r i t a , o u c u m p r i r o b r i g a ç ã o j u d i c i a lm e n t e i n e x i g í v e l .

Já no âmbito fiscal, a situação é um pouco mais complexa. Em que pese o

diploma civilístico ser taxativo quanto à prescrição não extinguir o direito subjetivo,

10

o Código Tributário Nacional preconiza, em seu art. 156, V, a prescrição como

uma das causas de extinção do crédito tributário, como já foi dito. Logo, se a

própria legislação específica para tributos, elenca a prescrição como forma de

extinção do crédito, não cabe à Fazenda Pública receber do contribuinte por um

crédito extinto, inexistente, portanto. Assim, além de o juiz poder declarar a

prescrição de ofício, não pode o fisco cobrar ou receber do contribuinte tributos

alcançados pela prescrição, tendo por obrigação legal repeti-los no caso de

pagamento. Decisões nesse sentido imperam nos tribunais brasileiros.

R E C U R SO I N O M I N AD O . P R I M E I R A T U R M A R E C U R S A L D A F AZ E N D A P Ú B L I C A . M U N I C Í P I O D E C A X I A S D O S U L . R E P ET I Ç Ã O D E I N D É B I T O T R I B U T Á R I O . T R I B U T O P R E SC R I T O . R E ST I T U I Ç Ã O D E V I D A T r a t a -s e d e a ç ã o e m q u e a p a r t e a u t o r a p r e t e n d e a r e s t i t u i ç ã o d e v a l o r e s p a g o s r e l a t i v a m e n t e a o I PT U d o s e x e r c í c i o s d e 1 9 9 6 a 2 0 0 0 , r e c o n h e c i d a m e n t e p r e s c r i t o s , j u l g a d a p a r c i a lm e n t e p r o c e d e n t e n a o r i g e m . D e c l a r a d a j u d i c i a l m e n t e a p r e s c r i ç ã o d o s d é b i t o s t r i b u t á r i o s d e I PT U , r e f e r e n t e s a o s e x e r c í c i o s d e 1 9 9 6 a 2 0 0 0 c a b í v e l a r e s t i t u i ç ã o d o i n d é b i t o d o s v a l o r e s i n d e v i d a m e n t e p a g o s p e l o a u t o r a e s s e t í t u l o , p e n a d e e n r i q u e c im e n t o i l í c i t o p o r p a r t e d a M u n i c i p a l i d a d e , p o i s a q u e l e q u e r e c o l h e u t r i b u t o p r e s c r i t o t e m d i r e i t o à r e p e t i ç ã o d o i n d é b i t o , j á q u e a p r e s c r i ç ã o t r i b u t á r i a e x t i n g u e o p r ó p r i o c r é d i t o , q u e s e t o r n a i n e x i g í v e l a p ó s a im p l e m e n t a ç ã o d e l a . A o r i e n t a ç ã o j u r i s p r u d e n c i a l d o e g r é g i o ST J , a p a r t i r d e u m a i n t e r p r e t a ç ã o c o n j u n t a d o s a r t i g o s 1 5 6 , i n c i s o V , ( q u e c o n s i d e r a a p r e s c r i ç ã o c om o u m a d a s f o r m a s d e e x t i n ç ã o d o c r é d i t o t r i b u t á r i o ) e 1 6 5 , i n c i s o I , ( q u e t r a t a a r e s p e i t o d a r e s t i t u i ç ã o d e t r i b u t o ) d o C T N , h á o d i r e i t o d o c o n t r i b u i n t e à r e p e t i ç ã o d o i n d é b i t o , u m a v e z q u e o m o n t a n t e p a g o f o i e m r a zã o d e u m c r é d i t o t r i b u t á r i o p r e s c r i t o , o u s e j a , i n e x i s t e n t e . P r e c e d e n t e s : ( R Es p 1 0 0 4 7 4 7 / R J , R e l . M i n . L u i z F u x , D J e 1 8 / 0 6 / 2 0 0 8 ; R Es p 6 3 6 . 4 9 5 / R S , R e l . M i n . D e n i s e A r r u d a , D J 0 2 / 0 8 / 2 0 0 7 ) . R E C U R S O I N O M I N AD O D E S P R O V I D O ( R e c u r s o C í v e l N º 7 1 0 0 5 1 0 6 0 7 5 , T u r m a R e c u r s a l d a F a ze n d a P ú b l i c a , T u r m a s R e c u r s a i s , R e l a t o r : N i w t o n C a r p e s d a S i l v a , J u l g a d o e m 2 9 / 0 9 / 2 0 1 5 ) .

A P E L A Ç A O C Í V E L . A Ç A O D E R EP E T I Ç AO D E I N D É B I T O . T R I B U T O M U N I C I P A L . I PT U . P A G A M E N T O D E D É B I T O PR E S C R I T O . R E ST I T U I Ç A O D E V I D A . H O N O R ÁR I O S D E S U C U M B Ê N C I A . F AZ E N D A P Ú B L I C A . AR B I T R AM E N T O D A V E R B A H O N O R ÁR I A E M C O N S O N Â N C I A C O M O D I S PO ST O N O A R T . 2 0 , 4 º , D O C P C . A p r e s c r i ç ã o é u m a d a s c a u s a s d a

11

e x t i n ç ã o d o c r é d i t o t r i b u t á r i o , im p l i c a n d o p o r c o n s e q u ê n c i a n a r e s t i t u i ç ã o d o s va l o r e s p a g o s r e l a t i v o s a o s c r é d i t o s p r e s c r i t o s . A f i g u r a - s e r a zo á v e l o v a l o r a r b i t r a d o a t í t u l o d e h o n o r á r i o s a d v o c a t í c i o s n o j u í zo a q u o , n ã o m er e c e q u a l q u e r r e p a r o e s t a d e c i s ã o . O s e r v i ç o p r e s t a d o p e l o p r o f i s s i o n a l d a a d v o c a c i a d e v e s e r c o m o q u a l q u e r o u t r o r e m u n e r a d o c o m d i g n i d a d e , r e c h a ç a - s e q u a l q u e r t e n t a t i v a p a r a s e u a v i l t a m e n t o . R e c u r s o c o n h e c i d o e im p r o v i d o . D e c i s ã o u n â n im e . ( A C 2 0 0 9 2 0 6 5 2 9 S E , 1 ª C â m a r a C í v e l , D e s ª . S u za n a M a r i a C a r v a l h o O l i v e i r a , j u l g a d o e m 1 3 / 0 7 / 2 0 1 0 ) .

Traçados esses paralelos entre os conceitos de prescrição para o Direito

Civil e para o Direito Tributário, pode-se definir a prescrição, em Direito Tributário,

como a perda do direito de a Fazenda Pública, pelo decurso do tempo, ajuizar

ação de Execução Fiscal ou receber valores relativamente a crédito tributário não

pago. Ainda, segundo Lobo Torres (2011, p.304): "A prescrição retira a

possibilidade de a Fazenda promover a cobrança do seu crédito.".

Importante ressaltar que a prescrição no âmbito fiscal admite tanto causas

suspensivas, como interruptivas e pode operar tanto antes do ajuizamento da

ação de execução fiscal, conforme explicitado acima, como durante o seu curso, o

que é chamado de prescrição intercorrente e é o principal tema de nosso estudo,

como adiante se verá.

2 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

O art. 174 do Código Tributário Nacional preconiza que “a ação para a

cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da

sua constituição definitiva”. Esse prazo de prescrição foi previsto pelo legislador

para que não se eternizasse o prazo para cobrança, o que geraria insegurança

jurídica e fomentaria a ineficiência da Fazenda na cobrança do crédito. Quando o

Estado não ingressa com a ação de execução fiscal, dentro desse prazo de 5

(cinco) anos, tem-se a prescrição. O parágrafo único, inciso I, do mesmo art. 174

do CTN, assevera que o curso do prazo prescricional é interrompido quando

12

proposta a execução fiscal e determinada a citação do devedor, o que acarreta o

reinício da contagem do prazo.

A r t . 1 7 4 . A a ç ã o p a r a a c o b r a n ç a d o c r é d i t o t r i b u t á r i o p r e s c r e v e e m c i n c o a n o s , c o n t a d o s d a d a t a d a s u a c o n s t i t u i ç ã o d e f i n i t i va . P a r á g r a f o ú n i c o . A p r e s c r i ç ã o s e i n t e r r o m p e : I - p e l o d e s p a c h o d o j u i z q u e o r d e n a r a c i t a ç ã o e m e x e c u ç ã o f i s c a l ; ( R e d a ç ã o d a d a p e l a L c p n º 1 1 8 , d e 2 0 0 5 ) ; ( . . . )

Ocorre que, na maior parte das vezes, a Fazenda ajuíza a ação de

execução fiscal ainda dentro do prazo, entretanto, não se movimenta

devidamente com o intuito de satisfazer o pagamento do crédito, deixando de agir

no curso do processo de modo a dar efetividade à execução, já que o ente

interessado deve, na condição de credor e exequente, promover o adequado

andamento do processo com o intuito de localizar o contribuinte executado e seus

bens, a fim de conseguir a quitação da dívida fiscal. Quando isso não acontece e

a Fazenda Pública fica inerte no curso do processo por um período de cinco anos,

diz-se que emergiu a prescrição intercorrente. É um instituto voltado não apenas a

inibir a inércia do credor, como a perempção, mas principalmente voltado a

fomentar a segurança jurídica, e assim proteger o contribuinte, dando prazos para

que a Fazenda obtenha meios necessários ao prosseguimento do feito.

Portanto, a prescrição intercorrente é aquela que se concretiza no decorrer

da ação e não antes, como no caso da prescrição propriamente dita. Logo, é a

perda do direito de ação que ocorre no curso da mesma devido a decurso de

prazo por inércia da parte interessada, neste caso o Estado.

Conforme pode-se verificar com os julgados a seguir, existe farta

jurisprudência no sentido de declarar a extinção do processo de execução fiscal

com julgamento de mérito devido ao instituto da prescrição intercorrente:

A P E L A Ç Ã O C Í V E L . D I R E I T O T R I B U T Á R I O . EX E C U Ç Ã O F I S C A L . P R ES C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E C O N F I G U R A D A . N ã o t e n d o o e x e q u e n t e r e a l i za d o d i l i g ê n c ia s ú t e i s n o p r o c e s s o n a b u s c a d a s a t i s f a ç ã o d o c r é d i t o t r i b u t á r i o , e p a s s a d o s m a i s d e 0 5 ( c i n c o ) a n o s d e s d e a ú l t im a c a u s a i n t e r r u p t i v a d a p r e s c r i ç ã o , c o n f i g u r a d a e s t á a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . A P E L A Ç Ã O C O M SE G U I M EN T O N EG AD O . ( A p e l a ç ã o C í v e l N º 7 0 0 6 8 0 0 3 4 9 0 , S e g u n d a C â m a r a C í v e l , T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o R S , R e l a t o r : J o ã o B a r c e l o s d e S o u za J u n i o r , J u l g a d o e m 2 2 / 0 1 / 2 0 1 6 ) .

13

A G R A V O D E I N ST R U M EN T O . C U M PR I M E N T O D E S E N T E N Ç A. P R E S C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E C O N F I G U R A D A . D e m o n s t r a d a a p a r a l i s a ç ã o i n j u s t i f i c a d a d o p r o c e s s o p o r p e r í o d o s u p e r i o r a o e s t a b e l e c i d o p a r a a p r e s c r i ç ã o d a p r e t e n s ã o e x e c u t i v a , e s e n d o t a l f a t o im p u t á v e l a o c r e d o r , o r a a g r a v a d o , im p õ e - s e o r e c o n h e c im e n t o d a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e , c om c o n s e q u e n t e a c o l h im e n t o d a e x c e ç ã o d e p r é - e x e c u t i v i d a d e e e x t i n ç ã o d o f e i t o . A G R A V O D E I N ST R U M E N T O PR O VI D O . ( A g r a v o d e I n s t r u m e n t o N º 7 0 0 6 3 4 3 0 8 0 5 , D é c im a S e g u n d a C â m a r a C í v e l , T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o R S , R e l a t o r : M á r i o C r e s p o B r um , J u l g a d o e m 1 6 / 0 4 / 2 0 1 5 ) . A P E L A Ç Ã O - EX EC U Ç ÃO F I S C A L - P R E S C R I Ç Ã O I N T E R C O R R E N T E C O N F I G U R A D A . 1 - A F a ze n d a P ú b l i c a d e v e r e q u e r e r o r e d i r e c i o n a m e n t o d a e x e c u ç ã o f i s c a l e m r e l a ç ã o a o s s ó c i o s d a p e s s o a j u r í d i c a n o p e r í o d o d e c i n c o a n o s c o n t a d o s a p a r t i r d a c i t a ç ã o d e s t a , s o b p e n a d e s e v e r i f i c a r a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . 2 - P r e s c r i ç ã o p r o n u n c ia d a d e o f í c i o . ( A p e l a ç ã o C í v e l N º 1 0 5 2 5 1 3 0 0 8 1 9 9 1 0 0 1 M G , 3 ª C Â M A R A C Í V E L , T r i b u n a l d e J u s t i ç a d e M G , R e l a t o r : J a i r V a r ã o , J u l g a d o e m 2 4 / 0 4 / 2 0 1 4 ) .

O art. 40 da lei nº 6.830/80 regulamentou, no direito tributário, o instituto da

prescrição intercorrente ao preconizar:

A r t . 4 0 O J u i z s u s p e n d e r á o c u r s o d a e x e c u ç ã o , e n q u a n t o n ã o f o r l o c a l i za d o o d e v e d o r o u e n c o n t r a d o s b e n s s o b r e o s q u a i s p o s s a r e c a i r a p e n h o r a , e , n e s s e s c a s o s , n ã o c o r r e r á o p r a zo d e p r e s c r i ç ã o . ( . . . ) § 2 º - D e c o r r i d o o p r a zo m á x im o d e 1 ( u m ) a n o , s e m q u e s e j a l o c a l i za d o o d e v e d o r o u e n c o n t r a d o s b e n s p e n h o r á v e i s , o J u i z o r d e n a r á o a r q u i v a m e n t o d o s a u t o s . ( . . . ) § 4 º S e d a d e c i s ã o q u e o r d e n a r o a r q u i v a m e n t o t i v e r d e c o r r i d o o p r a zo p r e s c r i c i o n a l , o j u i z , d e p o i s d e o u v i d a a F a ze n d a P ú b l i c a , p o d e r á , d e o f í c i o , r e c o n h e c e r a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e e d e c r e t á - l a d e im e d i a t o .

No mesmo sentido, publicou o Superior Tribunal de Justiça:

S ú m u l a 3 1 4 Em e x e c u ç ã o f i s c a l , n ã o l o c a l i za d o s b e n s p e n h o r á v e i s , s u s p e n d e - s e o p r o c e s s o p o r u m a n o , f i n d o o q u a l s e i n i c i a o p r a zo d a p r e s c r i ç ã o q u i n q u e n a l i n t e r c o r r e n t e .

Assim, conforme será verificado adiante, o novo Código de Processo Civil

se debruçou sobre essa lacuna legal e fulminou eventuais dúvidas acerca da

aplicação da prescrição intercorrente nos processo executivos em geral. Das

normas acima citadas, específicas para a execução fiscal, depreende-se que o

juiz poderá reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. Por

silogismo, a prescrição intercorrente se dará no mesmo prazo para o ajuizamento

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da execução, logo, na execução tributária o prazo prescricional intercorrente será

de 5 (cinco) anos.

Há correntes doutrinárias distintas sobre a aplicação da prescrição

intercorrente no âmbito da execução fiscal. Santi é um dos estudiosos que

pregam a inexistência do instituto no processo de execução como um todo,

baseado no fato de que o direito de ação já foi exercido e, assim, não faria

sentido a contagem de novo prazo prescricional, já que o prazo de prescrição fora

interrompido quando da citação do réu. Eugênia Freire também acredita que a

prescrição intercorrente não seria cabível para a execução fiscal, mas pelo fato de

que esse instituto violaria o princípio da indisponibilidade do interesse público.

Entretanto como restará exposto a seguir, tanto a doutrina quanto a jurisprudência

abraçaram majoritariamente o entendimento de que a prescrição intercorrente é

sim aplicável ao processo executivo fiscal.

Até a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil (CPC), havia

outra importante discussão acerca da inconstitucionalidade do § 4º art. 40 da Lei

de Execução Fiscal (lei 6.830/80), visto se tratar de uma lei ordinária que

teoricamente disciplinaria matéria tributária, portanto exigiria lei complementar,

conforme defende Freire. Essa corrente, entretanto, não perseverou, já que o

entendimento majoritário prevaleceu no sentido de considerar a prescrição

intercorrente como um instituto eminentemente processual, passível, portanto, de

ser regulado por lei ordinária, não exigindo lei complementar, sendo inócua, dessa

forma, a tese de que violaria o art. 146, III, b da Constituição Federal.

A r t . 1 4 6 . C a b e à l e i c o m p l e m e n t a r : ( . . . ) I I I - e s t a b e l e c e r n o r m a s g e r a i s e m m a t é r i a d e l e g i s l a ç ã o t r i b u t á r i a , e s p e c ia lm e n t e s o b r e : a ) d e f i n i ç ã o d e t r i b u t o s e d e s u a s e s p é c ie s , b e m c o m o , e m r e l a ç ã o a o s im p o s t o s d i s c r im i n a d o s n e s t a C o n s t i t u i ç ã o , a d o s r e s p e c t i v o s f a t o s g e r a d o r e s , b a s e s d e c á l c u l o e c o n t r i b u i n t e s ; b ) o b r i g a ç ã o , l a n ç a m e n t o , c r é d i t o , p r e s c r i ç ã o e d e c a d ê n c i a t r i b u t á r i o s ; ( . . . )

Vários foram os julgados com esse entendimento:

A P E L A Ç Ã O C Í V E L - E X E C U Ç ÃO F I SC A L - E X T I N Ç ÃO D O F E I T O - P R E S C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E - AT U A Ç ÃO D E O F Í C I O - I N C O N ST I T U C I O N A L I D A D E D O § 4 º D O A R T . 4 0 D A L E I D E EX E C U Ç Ã O F I S C A L - I N O C O R R Ê N C I A - I R R E G U L A R I D A D E S P R O C E S S U AI S

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I N E X I ST EN T E S - SE N T E N Ç A M A N T I D A - R E C U R SO I M P R O VI D O . ( T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o M a t o G r o s s o d o S u l , A C : 7 7 5 3 M S 2 0 1 0 . 0 0 7 7 5 3 - 8 , 3 ª T u r m a C í v e l , R e l a t o r : D e s . O s w a l d o R o d r i g u e s d e M e l o , D a t a d e J u l g a m e n t o : 2 9 / 0 3 / 2 0 1 0 ) A P E L A Ç Ã O C Í V E L . E X E C U Ç Ã O F I S C AL . P R E S C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E VE R I F I C A D A . S Ú M U L A 1 0 6 D O ST J . I N A P L I C A B I L I D A D E. A L E G A Ç Ã O D E O F E N S A AO S A R T S . 2 5 E 4 0 D A L E I N º 6 . 8 3 0 / 8 0 ( L E F ) N Ã O C O N F I G U R A D A . I N C O N ST I T U C I O N A L I D A D E D O § 4 º D O A R T . 4 0 D A L EF . N ÃO O C O R R Ê N C I A . S E N T EN Ç A M A N T I D A . I - O t e r m o i n i c i a l d o p r a zo p r e s c r i c i o n a l n a e x e c u ç ã o f i s c a l s u s p e n s a e m r a zã o d a n ã o l o c a l i za ç ã o d o d e v e d o r e b e n s p e n h o r á v e i s , a t e o r d o c a p u t d o a r t . 4 0 d a L E F , s e d á a p ó s t r a n s c o r r i d o s 1 ( u m ) a n o d a r e f e r i d a s u s p e n s ã o , c o n f o r m e p r e c o n i za a S ú m u l a 3 1 4 d o S u p e r i o r T r i b u n a l d e J u s t i ç a ; I I - C o m e f e i t o , s e m a n t e n d o o e x e q u e n t e i n e r t e p o r u m l a p s o t e m p o r a l s u p e r i o r a 5 ( c i n c o ) a n o s e n ã o s e n d o e n c o n t r a d o s o d e v e d o r o u b e n s à p e n h o r a d u r a n t e e s s e p e r í o d o , o p e r a - s e , p o i s , a p r e s c r i ç ã o q u i n q u e n a l , o q u e s e c o n s t i t u i e m c a u s a e x t i n t i v a d a c o b r a n ç a d o c r é d i t o t r i b u t á r i o ; I I I - A l é m d i s s o , n ã o h á q u e s e f a l a r e m a p l i c a b i l i d a d e d o d i s p o s t o n a S ú m u l a 1 0 6 d o ST J q u a n d o n ã o i n c u m b e a o p o d e r j u d i c i á r i o a d e m o r a n a l o c a l i za ç ã o d e b e n s à p e n h o r a , o u a t é m e s m o d o d e v e d o r , a o p a s s o q u e r e s t o u v e r i f i c a d o n o s a u t o s o c u m p r im e n t o d e t o d a s a s d i l i g ê n c i a s s o l i c i t a d a s p e l o e x e q u e n t e , q u e s o m e n t e l o c a l i zo u e i n d i c o u b e n s à p e n h o r a a p ó s o p e r a d a a p r e s c r i ç ã o q u in q u e n a l ; I V - D a a n á l i s e d e t i d a d o s a u t o s n ã o f o i p o s s í v e l c o n s t a t a r o f e n s a a o a r t . 2 5 d a L E F , t e n d o e m v i s t a q u e o r e p r e s e n t a n t e j u d i c i a l d a F a ze n d a P ú b l i c a f o i i n t im a d o d a s u s p e n s ã o d a e x e c u ç ã o e d o a r q u i v a m e n t o d o s a u t o s , a p r e s e n t a n d o m a n i f e s t a ç ã o a c e r c a d o s r e s p e c t i v o s d e s p a c h o s . P o r c o n s e g u i n t e , t a m b é m n ã o r e s t o u c o n f i g u r a d a q u a l q u e r o f e n s a a o p r o c e d im e n t o p r e v i s t o n a L e i d e E x e c u ç ã o F i s c a l , e m e s p e c i a l , a o s e u a r t . 4 0 , p o s t o q u e o j u i z d e b a s e s u s p e n d e u o p r a zo d a e x e c u ç ã o e m r a zã o n ã o h a v e r e m s i d o l o c a l i za d o s o s e x e c u t a d o s o u b e n s p e n h o r á v e i s , a b r i n d o v i s t a a o e x e q u e n t e , q u e s e m a n i f e s t o u a q u i e s c e n d o a s u s p e n s ã o , e , o r d e n a m e n t o , a p ó s t r a n s c o r r i d o o p r a zo l e g a l , o a r q u i v a m e n t o d o f e i t o , b e m c o m o d e c r e t a n d o , d e o f í c i o , a p r e s c r i ç ã o q u i n q u e n a l a p ó s o i t i v a d a F a ze n d a P ú b l i c a ; V - P o r f im , n ã o p r o s p e r a a a l e g a ç ã o d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e d o § 4 º d o a r t . 4 0 d a L E F e m r a zã o d a r e f e r i d a n o r m a n ã o t r a t a r d a p r e s c r i ç ã o e m s e n t i d o m a t e r i a l , p o s s u i n d o c u n h a e m i n e n t e m e n t e p r o c e s s u a l , a o d i s p o r c o m o e q u a n d o s e r á d e c la r a d a a p r e s c r i ç ã o p r e v i s t a n a l e g i s l a ç ã o p e r t i n e n t e ( c o n f o r m e r e g u l a d o n o C T N ) . V I - A p e l a ç ã o c o n h e c i d a e d e s p r o v i d a . U n a n im id a d e . ( T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o M a r a n h ã o , A PL : 0 1 4 0 6 1 2 0 1 1 M A 0 0 1 0 1 0 6 - 0 5 . 1 9 9 9 . 8 . 1 0 . 0 0 0 1 , Q u a r t a C â m a r a C í v e l , R e l a t o r : A N I L D E S D E J E S U S B E R N A R D E S C H A V E S C R U Z , D a t a d e J u l g a m e n t o : 1 7 / 0 7 / 2 0 1 2 )

Assim, antes da vigência do novo CPC, a matéria da prescrição

intercorrente era regulamentada apenas pela Lei de Execução Fiscal (LEF) e pela

Súmula 314 do STJ, o que garantia a aplicação desse instituto nos processos de

execução por todo o país.

A LEF, assim, previu a hipótese de suspensão do processo por 1 (um) ano,

caso não fosse localizado o devedor ou qualquer de seus bens que garantissem a

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execução. Dentro desse prazo, a Fazenda Pública buscaria garantir a execução e

não teria início a prescrição intercorrente, visto que o processo encontrava-se

suspenso legalmente. Findo esse prazo e não havendo êxito da Fazenda nas

buscas, iniciar-se-ia a contagem do lapso temporal de cinco anos para a

caracterização da prescrição intercorrente e os autos seriam arquivados

provisoriamente, momento no qual a Fazenda Pública teria a oportunidade de

refazer as diligências em busca de bens dos executados. Não havendo nenhuma

outra intervenção da Fazenda nos autos, durante esses 5 (cinco) anos de

arquivamento provisório, de modo a dar andamento na demanda, o crédito

tributário seria alcançado pelo instituto da prescrição intercorrente e seria extinto.

Esse era o entendimento jurisprudencial pacífico: na execução fiscal, caso

não fossem localizados bens penhoráveis, suspender-se-ia o processo por um

ano e, após esse prazo iniciar-se-ia a contagem do prazo da prescrição

quinquenal intercorrente, conforme já foi visto acima, nos termos da Súmula 314

do Superior Tribunal de Justiça.

Com a entrada em vigor do novo diploma processual civilístico, o art. 921,

III e parágrafos, em consonância com a LEF, passou a determinar a suspensão

da execução, quando o executado não possuir bens penhoráveis, estabelecendo

que o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se

suspenderá a prescrição:

A r t . 9 2 1 . S u s p e n d e - s e a e x e c u ç ã o : ( . . . ) I I I - q u a n d o o e x e c u t a d o n ã o p o s s u i r b e n s p e n h o r á v e i s ; ( . . . ) § 1 o N a h i p ó t e s e d o i n c i s o I I I , o j u i z s u s p e n d e r á a e x e c u ç ã o p e l o p r a zo d e 1 ( u m ) a n o , d u r a n t e o q u a l s e s u s p e n d e r á a p r e s c r i ç ã o . § 2 o D e c o r r i d o o p r a zo m á x im o d e 1 ( u m ) a n o s e m q u e s e j a l o c a l i za d o o e x e c u t a d o o u q u e s e j a m e n c o n t r a d o s b e n s p e n h o r á v e i s , o j u i z o r d e n a r á o a r q u i v a m e n t o d o s a u t o s . § 3 o O s a u t o s s e r ã o d e s a r q u i v a d o s p a r a p r o s s e g u im e n t o d a e x e c u ç ã o s e a q u a l q u e r t e m p o f o r e m e n c o n t r a d o s b e n s p e n h o r á v e i s . § 4 o D e c o r r i d o o p r a zo d e q u e t r a t a o § 1 o s em m a n i f e s t a ç ã o d o e x e q u e n t e , c o m e ç a a c o r r e r o p r a zo d e p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . § 5 o O j u i z , d e p o i s d e o u v i d a s a s p a r t e s , n o p r a zo d e 1 5 ( q u i n ze ) d i a s , p o d e r á , d e o f í c i o , r e c o n h e c e r a p r e s c r i ç ã o d e q u e t r a t a o § 4 o e e x t i n g u i r o p r o c e s s o .

Como literalmente demonstrado e corroborando o preconizado na LEF,

escoado o prazo de um ano da suspensão do processo sem que a Fazenda

17

Pública, exequente, se manifeste, inicia-se a contagem do prazo de prescrição

intercorrente. Como foi perceptível, o novo CPC, regulou o que, de forma

incipiente a LEF (lei nº 6.830/80) já fazia, dirimindo as dúvidas acerca do marco

inicial para a contagem da prescrição intercorrente, nas hipóteses em que houver

a suspensão do processo.

Nas hipóteses em que não houver a suspensão do processo, e por razões

diversas, a Fazenda Pública se mantiver inerte, a contagem se dará a partir do

último ato processual, conforme verifica-se abaixo:

A P E L A Ç Ã O C Í V EL . D I R E I T O P R I V A D O N Ã O E S P E C I F I C A D O . E M B A R G O S À E X E C U Ç ÃO . P R E S C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E . T ER M O I N I C I A L . P E D I D O D E A R Q U I V A M E N T O . O i n s t i t u t o d a p r e s c r i ç ã o d e s t i n a - s e à p a z s o c i a l e à s e g u r a n ç a j u r í d i c a . O c o r r e p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e q u a n d o o a u t o r , a p ó s a p r o p o s i t u r a d a a ç ã o , d e i x a t r a n s c o r r e r p r a zo i g u a l a o d a p r e s c r i ç ã o d a a ç ã o s e m p r a t i c a r q u a l q u e r a t o d e s t i n a d o a o a n d am e n t o p r o c e s s u a l . A p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e p r e s s u p õ e d e s i n t e r e s s e o u d e s í d i a d o a u t o r . N o s t e r m o s d o a r t . 2 0 2 , p a r á g r a f o ú n i c o d o C C , a p r e s c r i ç ã o r e t o m a s u a c o n t a g e m d o ú l t im o a t o d o p r o c e s s o q u e a i n t e r r om p e u . D e s t a r t e , o p r a zo d e p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e d e v e s e r c a l c u l a d o a p a r t i r d o m om e n t o e m q u e v e r i f i c a d a a i n é r c i a d o c r e d o r a t é a r e t o m a d a d a a t i v i d a d e p r o c e s s u a l . N a h i p ó t e s e d o s a u t o s , o m a r c o i n i c i a l d a p r e s c r i ç ã o d e v e s e d a r c o m o p e d i d o d e a r q u i v a m e n t o a d m in i s t r a t i v o d o p r o c e s s o . P r e c e d e n t e s T J / R S e S T J . M a n t i d o o r e c o n h e c im e n t o d a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . A P E L A Ç Ã O D E S PR O V I D A . ( A p e l a ç ã o C í v e l N º 7 0 0 6 1 4 4 6 2 2 5 , D é c i m a N o n a C â m a r a C í ve l , T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o R S , R e l a t o r : M a r c o A n t o n io A n g e l o , J u l g a d o e m 2 6 / 1 1 / 2 0 1 5 ) . P R O C E S S U A L C I V I L . T R I B U T ÁR I O . A G R A V O R E G I M EN T A L . E X E C U Ç Ã O F I SC A L . P R E S C R I Ç ÃO I N T E R C O R R E N T E . T E R M O I N I C I A L . T R AN S C U R SO D O P R A Z O Q U I N Q U EN A L S E M M A N I F E S T AÇ Ã O D A E X E Q U E N T E. C O N S U M A D A A P R E S C R I Ç ÃO . D E S N E C E S S Á R I A I N T I M AÇ Ã O D A EX E Q U E N T E D O D E S P A C H O D E S U SP E N S Ã O P O R E L A R E Q U E R I D A . 1 . P a r a l i s a d a a e x e c u ç ã o f i s c a l p o r m a i s d e 5 a n o s s e m q u e a e x e q u e n t e t e n h a o b t i d o ê x i t o n a b u s c a p e l a s a t i s f a ç ã o d e s e u c r é d i t o , im p õ e - s e a p r o n ú n c i a d a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . 2 . A i n t im a ç ã o p r e v i s t a n o § 4 º d o a r t . 4 0 d a L e i 6 . 8 3 0 / 8 0 s o m e n t e t e m p o r f i n a l i d a d e i n f o r m a r o j u í zo a c e r c a d a o c o r r ê n c i a d e f a t o s s u s p e n s i v o s o u i n t e r r u p t i v o s d a p r e s c r i ç ã o . N ã o d e m o n s t r a d o n a a p e l a ç ã o q u e a f a l t a d e s s a i n t im a ç ã o r e s u l t o u e m e f e t i v o p r e j u í zo , n ã o s e j u s t i f i c a a n u l a r a s e n t e n ç a p o r e s s e m o t i v o . 3 . A g r a v o r e g im e n t a l d a U n i ã o / e x e q u e n t e d e s p r o v i d o . ( AG R AC 0 0 0 2 4 6 8 9 2 2 0 0 3 4 0 1 4 0 0 0 , O i t a v a T u r m a , T R F - 1 , R e l a t o r : N o v e l y V i l a n o v a , J u l g a d o e m 2 8 / 0 8 / 2 0 1 5 ) .

Importante demonstrar a preocupação do legislador em afastar a

possibilidade de a decisão de ofício do juízo acerca da extinção do processo por

prescrição intercorrente surpreender as partes. O art. 921, III, § 5º do CPC

18

estabelece que o juiz só poderá reconhecer a prescrição intercorrente e extinguir

o processo, no prazo de 15 (quinze) dias, depois de ouvidas as partes.

Em vigor desde 18 de março de 2016, o novo CPC trouxe essas alterações

até mesmo para as ações em curso, visto que legislação processual aplica-se de

imediato, o problema foi que em seu art. 1056 determinou que o marco inicial para

a contagem do prazo prescricional intercorrente (art. 924, V) fosse exatamente a

data de vigência do novo CPC.

A r t . 9 2 4 . Ex t i n g u e - s e a e x e c u ç ã o q u a n d o : ( . . . ) V - o c o r r e r a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e . A r t . 1 . 0 5 6 . C o n s id e r a r - s e - á c o m o t e r m o i n i c i a l d o p r a zo d a p r e s c r i ç ã o p r e v i s t a n o a r t . 9 2 4 , i n c i s o V , i n c l u s i v e p a r a a s e x e c u ç õ e s e m c u r s o , a d a t a d e v i g ê n c i a d e s t e C ó d ig o

Obviamente que o texto legal sugere a interpretação de que todas as ações

de execução em curso terão seus prazos prescricionais zerados e reiniciados, o

que não seria razoável, já que os tribunais vinham aplicando, para as execuções

fiscais, o art. 40 da lei nº 6830/80, que basicamente tem o mesmo entendimento

do novo CPC. Como tudo isso ainda é muito recente, não há como determinar a

forma exata pela qual os tribunais agirão diante dessa regra.

Uma interpretação adequada para essa situação aparentemente

conflituosa estaria na prevalência da norma específica que disciplina as

execuções fiscais (LEF) e a aplicação subsidiária do novo CPC naquilo que a LEF

for omissa. Assim, o art. 1056 do novo CPC não se aplicaria às execuções fiscais

e seria aplicado subsidiariamente o art. 921, § 4º, segundo o qual, decorrido o

prazo de um ano de suspensão da execução por não ter sido localizado o

executado ou não terem sido encontrados bens penhoráveis, começa a correr o

prazo de prescrição intercorrente, independente de intimação do exequente.

Portanto, caso a Fazenda Pública, após proposta a execução fiscal, se

mantenha inerte e não dê o regular e efetivo andamento processual a fim de

recuperar o crédito, verá extintos a ação de execução e o seu crédito tributário por

prescrição intercorrente.

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3 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO ADMINISTRATIVO

FISCAL

Discute-se também se haveria prescrição intercorrente no âmbito

administrativo fiscal (PAF). O art. 174 do Código Tributário Nacional determina

que a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos,

contados da data da sua constituição definitiva, entretanto, o mesmo art.

174,parágrafo único, I estabelece que, proposta a execução fiscal e determinada

a citação do devedor, interrompe-se o curso do prazo prescricional, inutilizando-se

o prazo prescricional até então transcorrido e determinando o seu reinício.

Portanto para que houvesse a ocorrência de prescrição intercorrente

durante o processo administrativo, deveria ser antes mesmo da propositura de

ação de execução, já que após isso, nova contagem de prazo se inicia.

Assim, a possibilidade da existência de prescrição intercorrente no âmbito

administrativo é refutada em decorrência da suspensão da exigibilidade quando

ocorre impugnação, ou seja, quando existe o processo administrativo que

questiona o crédito fiscal criado, é porque o contribuinte, de alguma forma,

impugna administrativamente sua constituição e isso, por si só, já suspende a

exigibilidade do crédito e a Fazenda Pública fica impedida de exigir o

cumprimento da obrigação tributária, sendo absurdo, por isso, fazer correr contra

ela prazo prescricional qualquer. SANTI (2001, p.239) assim define:

C o n s id e r a m o s q u e n ã o p o d e h a ve r p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e n o p r o c e s s o a d m i n i s t r a t i v o p o r q u e , q u a n d o h á im p u g n a ç ã o o u r e c u r s o a d m in i s t r a t i v o d u r a n t e o p r a zo p a r a p a g a m e n t o d o t r i b u t o , s u s p e n d e s s e à e x i g i b i l i d a d e d o c r é d i t o , o q u e s im p l e s m e n t e im p e d e a f i x a ç ã o d o i n í c i o d o p r a z o p r e s c r i c i o n a l .

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda

não aceita a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal e, inclusive,

editou a Súmula Consolidada de nº 11, publicada em 2010, que diz que não se

aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.

O Superior Tribunal de Justiça também já se manifestou no sentido de não

aceitar a prescrição intercorrente antes da constituição definitiva do crédito

tributário, pela ausência de previsão normativa.

20

T R I B U T Á R I O . P R O C E S S U A L C I V I L . A U S Ê N C I A D E V I O L A Ç ÃO D O AR T . 5 3 5 D O C PC . R E C U R SO A D M I N I ST R AT I VO . S U S P E N S Ã O D A EX I G I B I L I D AD E E D O P R A Z O P R E S C R I C I O N A L . P R O C E S S O A D M I N I ST R AT I VO F I S C A L . D E M O R A . R E E X A M E D E F AT O S E PR O V A S . S Ú M U L A 7 / ST J . I n e x i s t e v i o l a ç ã o d o a r t . 5 3 5 d o C P C q u a n d o a p r e s t a ç ã o j u r i s d i c i o n a l é d a d a n a m e d i d a d a p r e t e n s ã o d e d u z i d a , c o m e n f r e n t a m e n t o e r e s o l u ç ã o d a s q u e s t õ e s a b o r d a d a s n o r e c u r s o . A c o n c l u s ã o d e p r o c e s s o a d m i n i s t r a t i v o e m p r a zo r a zo á v e l é c o r o l á r i o d o s p r i n c í p i o s d a e f i c i ê n c i a , d a m o r a l i d a d e e d a r a zo a b i l i d a d e . T o d a v i a , a a n á l i s e , n o p r e s e n t e c a s o , d e q u e o c o r r e u d e m o r a i n j u s t i f i c a d a n o e n c e r r a m e n t o d o p r o c e s s o a d m in i s t r a t i v o f i s c a l c a p a z d e c o n f i g u r a r p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e e s b a r r a n o ó b i c e d a S ú m u l a 7 / ST J . Ad e m a is , n o s t e r m o s d a j u r i s p r u d ê n c i a d o ST J , o r e c u r s o a d m i n i s t r a t i v o s u s p e n d e a e x i g i b i l i d a d e d o c r é d i t o t r i b u t á r i o e n q u a n t o p e r d u r a r o c o n t e n c i o s o a d m in i s t r a t i v o , n o s t e r m o s d o a r t . 1 5 1 , I I I , d o C T N . A s s im , s o m e n t e a p a r t i r d a n o t i f i c a ç ã o d o r e s u l t a d o d o r e c u r s o t e m i n í c i o a c o n t a g e m d o p r a zo p r e s c r i c i o n a l , a f a s t a n d o - s e a i n c i d ê n c i a d a p r e s c r i ç ã o i n t e r c o r r e n t e e m s e d e d e p r o c e s s o a d m i n i s t r a t i v o f i s c a l , p e l a a u s ê n c i a d e p r e v i s ã o n o r m a t i v a e s p e c í f i c a . A g r a v o r e g im e n t a l i m p r o v i d o . ( ST J , A g R g n o A R E s p 1 7 3 6 2 1 / R S , R e l . M i n i s t r o H U M B E R T O M A R T I N S , S e g u n d a T u r m a , j u l g a d o e m 2 5 / 0 9 / 2 0 1 2 ) .

Há ainda que se falar sobre a decisão administrativa de propor ou não ação

de execução fiscal diante de créditos de pequeno valor, e se, caso a Fazenda

Pública opte por não ajuizar ações de execução, estaria ela sujeita a algum tipo

de prescrição.

Obviamente que, no caso de não ajuizar ação de execução, correrá contra

a Fazenda Pública prazo prescricional de 5 (cinco) anos, perdendo ela o direito de

ação e extinguindo definitivamente o crédito tributário conforme determinam os

art. 174 e 156, V do CTN. Não há razão, portanto, para se falar em prescrição

intercorrente, já que, conforme dito acima, ela ocorre durante o curso da ação de

execução, nesses casos inexistente por opção e decisão de oportunidade da

administração, que diante do pequeno valor do crédito tributário, optou por não

cobrá-lo judicialmente.

Outra discussão interessante recai sobre a possibilidade ou não de, por via

reversa, o Poder Judiciário determinar de ofício a extinção de ação de execução

diante de pequeno valor, já que respeitaria o princípio da economicidade

mediante a extinção de execuções cujo custo de processamento, para a

administração pública, é antieconômico em face do valor a ser executado.

A jurisprudência é farta no sentido de que não cabe ao Judiciário a decisão

de extinguir a ação, sendo essa decisão inteiramente da Fazenda Pública, a

21

quem é facultado cobrar ou não o crédito mediante processo de execução fiscal,

havendo leis próprias sobre o tema tanto em âmbito federal, quanto estadual e

municipal. Nesse sentido, há inclusive súmula do STJ:

S ú m u l a 4 5 2 A e x t i n ç ã o d a s a ç õ e s d e p e q u e n o v a l o r é f a c u l d a d e d a A d m i n i s t r a ç ã o F e d e r a l , v e d a d a a a t u a ç ã o j u d i c i a l d e o f í c i o .

No julgado abaixo, pode-se perceber que, mesmo diante de eventual

economia para o Estado com o encerramento da ação de execução, o Judiciário

não pode determinar a extinção de ofício:

A P E L A Ç Ã O C Í V E L - E X E C U Ç Ã O F I S C AL - P E Q U E N O V A L O R - EX T I N Ç Ã O D E O F Í C I O - V E D A Ç Ã O - M E I O D E C O B R A N Ç A - D I S C R I C I O N AR I E D A D E D A A D M I N I ST R A Ç ÃO PÚ B L I C A . - A a v a l i a ç ã o a c e r c a d a v i a b i l i d a d e d o a j u i za m e n t o o u n ã o d a a ç ã o d e e x e c u ç ã o s e d á s e g u n d o a c o n v e n i ê n c ia e o p o r t u n i d a d e d a A d m i n i s t r a ç ã o P ú b l i c a s e n d o , p o r t a n t o , a e l a a d s t r i t a , c a b e n d o - l h e d e c i d i r a f o r m a d e c o b r a n ç a d o s e u c r é d i t o , s e p e l a v i a a d m in i s t r a t i v a o u p e l a j u d i c i a l . - N ã o o b s t a n t e s e r p ú b l i c o e n o t ó r i o q u e o s c u s t o s d o p r o c e s s o j u d i c i a l , s u p o r t a d o s p e l o E M G , u l t r a p a s s a m e m m u i t o o v a l o r e x e c u t a d o , m a s , c o n s i d e r a n d o q u e - l a m e n t a v e lm e n t e - n ã o h á v e d a ç ã o a o a j u i za m e n t o d e E x e c u ç ã o F i s c a l p e l o M u n i c í p i o d e v a l o r e s i n f e r i o r e s a R $ 5 . 0 0 0 , 0 0 ( f i x a d o s p e l o D e c r e t o E s t a d u a l 4 5 . 9 8 9 / 2 0 1 2 , q u e r e g u l a m e n t o u a L e i E s t a d u a l n º 1 9 . 9 7 1 / 2 0 1 1 ) , a a ç ã o d e v e r á p r o s s e g u i r s e g u n d o o s d i t a m e s e n u n c ia d o s p e l a L e i 6 . 8 3 0 / 1 9 8 0 . A s s im , a f i g u r a - s e p r e m a t u r a a e x t i n ç ã o d e o f í c i o d a e x e c u ç ã o f i s c a l p a u t a d a u n i c a m e n t e e m s e u p e q u e n o v a l o r . ( A C 1 0 0 0 5 1 3 0 0 3 4 3 9 9 0 0 2 M G , 7 ª C Â M A R A C Í V E L , R e l a t o r : R o d r i g u e s P e r e i r a , J u l g a d o e m 2 4 / 1 1 / 2 0 1 5 ) .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo que foi dito, pode se dizer que a prescrição no direito

brasileiro é o falecimento do direito de ação pela inércia do credor por um

determinado lapso temporal. No Direito Tributário, tem o intuito primordial de

proporcionar segurança jurídica, mitigando-se a faculdade de a Fazenda Pública

querer exigir o pagamento do crédito tributário a qualquer tempo e, dessa forma,

contribuindo para a melhora da eficiência nos processos de cobrança do Estado.

22

O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado garante à

Fazenda Pública uma série de possibilidades e garantias para obter do

contribuinte a satisfação de seus créditos, quer seja através de processo

administrativo, quer pela via judicial, através de ação de execução fiscal, com

posterior penhora de bens, mas de modo algum pode se sobrepor inteiramente a

outros princípios como o da segurança jurídica.

Entretanto, é essencial que a Fazenda Pública cumpra os prazos legais de

decadência e prescrição para que não veja perecerem seus créditos. Feito o

lançamento dentro do prazo estipulado em lei, afasta-se a decadência e está

completo o requisito que torna exigível o crédito tributário.

A partir desse ponto, o Estado terá 5 (cinco) anos para exigir do

contribuinte o pagamento, findo esse prazo, ficará a pretensão alcançada pelo

instituto da prescrição que, conforme explicado no presente artigo, não apenas

ceifa a possibilidade de ação como também extinguirá o próprio crédito tributário.

A prescrição intercorrente, como foi aqui discutido, emerge quando o

processo fica paralisado por mais de 5 (cinco) anos, seja em decorrência da total

inércia do exequente ou seja após decorrido 1 (um) ano da determinação de sua

suspensão por falta de bens a penhorar ou correta citação do executado.

O instituto da prescrição intercorrente foi objeto tanto da lei nº 6380/80

quanto da súmula 314 do Superior Tribunal de Justiça, até que recentemente, o

novo Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016, encerrou a

discussão ao regular o assunto de maneira ampla.

Atualmente, com o avanço dos sistemas de informação e monitoramento, a

Fazenda Pública tem plenas condições de, rapidamente, obter os dados de que

necessita para propor as ações de execução fiscal e encontrar os bens dos

contribuintes inadimplentes de modo a ver satisfeitos seus créditos.

Desse modo, a alegação de que o prazo da prescrição intercorrente de 5

(cinco) anos, posterior ao de 1 (um) ano sem que a Fazenda Pública encontrasse

o executado ou seus bens, é curto ou prejudicial à arrecadação, chega a beirar o

absurdo. O instituto da prescrição intercorrente é de extrema importância para

evitar a protelação da execução fiscal por longos e intermináveis períodos,

proporcionando a segurança jurídica imprescindível para todo estado democrático

de direito. Com isso, após o decurso de determinado tempo sem que a parte

23

interessada promova de fato esforços para assegurar o andamento da execução,

deve-se estabilizar o conflito, pela via da prescrição intercorrente, para que não

sejam mitigados os princípios informadores do sistema tributário.

De todo o exposto, diante do afogamento do Poder Judiciário, que causa

tamanha lentidão nos julgamentos e prejudica o acesso à justiça, é notório que há

a necessidade de se promover um trabalho maciço a fim de se extinguir, em todos

os níveis, os processos alcançados pela prescrição intercorrente, aproveitando

que a legislação processual permite o reconhecimento da prescrição de ofício nos

processos de execução fiscal de todos os entes, inclusive autárquicos.

Com essa atitude, que, obviamente, demandará muito esforço e vontade

política, o Poder Judiciário, com menor quantidade de processos tramitando,

obterá maior celeridade processual, dando maior efetividade às decisões, que

serão mais tempestivas e, por fim, terminarão por facilitar o acesso a justiça.

Caberá, portanto, não apenas aos juízes e tribunais zelar pela aplicação do

art. 924, V do novo CPC, mas a todos os operadores do direito, que deverão

sempre verificar os diversos processos em que atuam que, porventura, tenham

sido alcançados pela prescrição intercorrente, para, enfim, requerem a extinção

do feito com decisão de mérito, terminando por extinguir também o crédito

tributário, contribuindo sobremaneira para a segurança jurídica, a celeridade

processual e o acesso à justiça.

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