a prática do judô e o desenvolvimento moral de crianças

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Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº - 2, julho/dezembro 2010 A prática do judô e o desenvolvimento moral de crianças Rodrigo Augusto Trusz; Débora Dalbosco Dell’Aglio Resumo Este estudo discute teoricamente a relação que pode ser estabelecida entre a prática do judô e o desenvolvimento moral de crianças. São apresentados conceitos teóricos sobre o desenvolvimento moral durante a infância, assim como os princípios do judô, características, técnicas e formas de ensino. A partir da compreensão sobre o desenvolvimento moral, na perspectiva Piagetiana, são relacionadas situações que ocorrem nas aulas de judô e que podem contribuir para que o indivíduo praticante de judô desenvolva sua autonomia moral. Destaca-se que a prática do judô, como uma modalidade esportiva baseada em regras e normas, pode colaborar no desenvolvimento moral das crianças, por utilizar seus princípios em situações de grupo, através do estabelecimento de relações de respeito mútuo e cooperação. Assim, compreende-se o judô como uma prática esportiva que pode proporcionar benefícios físicos e cognitivos, através de vivências que estimulam o desenvolvimento integral das crianças. Palavras-chave: Desenvolvimento moral; Judô; Prática esportiva 117

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Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 2, julho/dezembro 2010

A prática do judô e o desenvolvimento moral de crianças

Rodrigo Augusto Trusz; Débora Dalbosco Dell’Aglio

Resumo Esteestudodiscuteteoricamentearelaçãoquepodeserestabelecidaentreapráticadojudôeodesenvolvimentomoraldecrianças.Sãoapresentadosconceitosteóricossobreo desenvolvimento moral durante a infância, assim comoosprincípiosdo judô,características, técnicase formasdeensino. A partir da compreensão sobre o desenvolvimentomoral,naperspectivaPiagetiana,sãorelacionadassituaçõesque ocorrem nas aulas de judô e que podem contribuirpara que o indivíduo praticante de judô desenvolva suaautonomiamoral.Destaca-sequeapráticado judô, comouma modalidade esportiva baseada em regras e normas,podecolaborarnodesenvolvimentomoraldascrianças,porutilizar seus princípios em situações de grupo, através doestabelecimentoderelaçõesderespeitomútuoecooperação.Assim, compreende-se o judô comoumaprática esportivaquepodeproporcionarbenefíciosfísicosecognitivos,atravésdevivênciasqueestimulamodesenvolvimentointegraldascrianças.

Palavras-chave:Desenvolvimentomoral;Judô;Práticaesportiva

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The practice of judo and the moral development of children

Rodrigo Augusto Trusz; Débora Dalbosco Dell’Aglio

Abstract Thisstudytheoreticallydiscussestherelationshipthatcanbeestablished between the practice of judo and themoral development ofchildren.Theoreticalconceptsonthemoraldevelopmentduringchildhoodarepresentedaswellastheprinciplesofjudo,characteristics,techniquesandformsofeducation.Fromtheunderstandingonthemoraldevelopment,inthePiagetianperspective,thisstudyrelatedsituationsthatoccurinjudoclassesandcancontributetothepractitionerofjudodevelopingtheirmoralautonomy.ThepracticeofJudoasasportbasedonrulesandnormscancollaboratetothemoraldevelopmentofchildrenforusingitsprinciplesingroupsituations,throughtheestablishmentofrelationsofmutualrespectand cooperation. Thus, it is understood that Judo is a sportive practicethatcanprovidephysicalandcognitivebenefitsthroughexperiencesthatstimulatetheintegraldevelopmentofchildren.

Keywords:Moraldevelopment;Judo;Sportivepractice

La práctica del judo y el desarrollo moral de los niños

Rodrigo Augusto Trusz; Débora Dalbosco Dell’Aglio

Resumen EstetextovinodepensarenmipapelcomoelInstitutodePsicologíadelDeportede InstitutoRugbyparaTodos. Proyecto social queayudaaniñosy jóvenesen la comunidaddeParaisópolis, ubicadaenSãoPaulo.Lametodologíapropuestaparanuestrotrabajotienequeutilizarelrugbycomo un complemento a la educación formal. El Rugby es un deporteque tiene características únicas relacionadas con la cultura y la filosofíadejuego.Utilizarelpotencialeducativodeldeporterequierelaasistenciadelasdiferentesáreasysedebetrabajardemanerainterdisciplinaria.Elpapeldelpsicólogodeldeporteenelproyectosocialesaún incipienteynecesitamásreferencias.Elprofesionalenestecontextotienequeconocerelentornodelaacción,visitamásampliaalascuestionesqueinvolucranaotrasdisciplinasparalograrresultadosconsistentes.

Palabras claves:Desarrollomoral;Judo;Prácticadeportiva

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Introdução Estudostêmapontadoquecriançasqueparticipamdeatividadesesportivasvêmapresentandomelhoriasna sua socialização.SegundoFreireeSoares(2000),alémdegarantirodesenvolvimentoeducacionalfísicoedecooperaçãoentreoscolegas,oesporteproporcionadesafiosfísicosementaisecontribuiparaodesenvolvimentosocial,promovendoaidentidadesocialegrupal.Arelaçãoentreesporteebem-estarpsicológicofoiconsideradacomopositivaparaWeinbergeGould(2001),esugerequeoaumentodasensaçãodecontrole,dosentimentodecompetênciaedaautoeficácia,alémdolazer,proporcionainteraçõessociaispositivas,oautoconceitoeaauto-estima.ParaMachado,Cassepp-Borges,Dell’AglioeKoller(2007),aaçãoeducativaatravésdoesportepodeservirparaascriançascomoumambientepromotordesaúdeedasmaisdiversashabilidades, sendo que o esporte, principalmente a educação peloesporte,podeagirtransformandopotenciaisemcompetências.

Entre as modalidades esportivas, pode-se destacar o judô,consideradoumesporteeducativoporexcelência,quepermiteàcriançaexpressar-seplenamentenocontexto lúdico, canalizandosuaenergiae reforçando seu caráter (Nunes, 2004). Por meio de técnicas deautodefesa,oalunoaprimoraoequilíbriocorporal,aprendeautilizar-sedadisciplinaedorespeitonasaçõesereações,desenvolveasegurançae a autoconfiança. Aprende, ainda, a lidar com suas limitações e acontrolarsuasemoções.Alémdeserumaatividadederelaxamentoedeprazer,o judôéumapráticaesportivaquedesenvolvenoalunoaconcentraçãoeapossibilidadedeanalisareconvivercomsituaçõesdesucessoefracasso(Villamón&Brousse,2002).

ParaLongarezi(2003),aindisciplinaéapontadacomoumdosprincipaisobstáculosenfrentadosporpaiseprofessoresemrelaçãoàeducaçãodascrianças,sendorelacionadaàfaltadenoçõesderegraselimitesporpartedascrianças.Issoreforçaarelaçãoqueseestabeleceentreocomportamentoindisciplinadodacriançaesuaformaçãomoral,indicando,portanto,quearaizdesseproblemaestá,também,notipodeeducaçãomoralqueascriançasvêmrecebendo.Esteaspectotambéméapontadonabibliografiaespecializada(Araújo,2001;LaTaille,1992b;Menin,1996;entreoutros),quetrataotemasoboprismadamoralidade,situandoaindisciplinacomodecorrênciadoenfraquecimentodoprocessodedesenvolvimentomoral(Longarezi,2003).

Dessaforma,esteestudoprocuroudiscutirteoricamentearelaçãoquesepodeestabelecerentreapráticadojudôeodesenvolvimentomoral de crianças. Para isso foram levantadas questões referentesao desenvolvimento moral, suas fases e estágios, relacionando comsituaçõesdeaulasdejudôcomcrianças.

Projeto DESENVoLVIMENToMoRAL

odesenvolvimentohumanoaconteceatravésdeumconjuntoderelaçõesinterdependentesentreosujeitoconhecedoreoobjetoaconhecer,envolvendoaspectoscognitivos,moraiseafetivospresentesnasinterações.ParaPiaget(1932/1994),odesenvolvimentodamoralocorre por etapas, de acordo com os estágios do desenvolvimento

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humano,eabrange três fases: (a)anomia (criançasatécincoanos),emqueamoralnãosecoloca,ouseja,asregrassãoseguidas,porémoindivíduoaindanãoestámobilizadopelasrelaçõesbemxmalesimpelosentidodehábito,dedever;(b)heteronomia(criançasaté9,10anosdeidade),emqueamoraléigualàautoridade,ouseja,asregrasnãocorrespondemaumacordomútuofirmadoentreosindivíduos,massimcomoalgoimpostopelatradiçãoe,portanto,imutável;(c)autonomia,corresponde ao último estágio do desenvolvimento moral, onde hálegitimaçãodas regrasea criançapensaamoral pela reciprocidade,ouseja,orespeitoaregraséentendidocomodecorrentedeacordosmútuosentreosindivíduos,sendoquecadaumconsegueconceberasiprópriocomopossível‘legislador’emregimedecooperaçãoentretodososmembrosdogrupo.

Namedidaemqueacriançacresce,elavaipercebendoqueomundo tem suas regras. Ela descobre isso também nas brincadeirascomascriançasmaiores,quesãoúteisparaajudá-laaentrarnafasedeheteronomia.SegundoPiaget(1932/1994),acriançaquandovivenciaoestágiochamadoheterônomo,istoé,ondeasregrassãoestabelecidaseprovindasdeumaordemexteriordemaneiradeterminadaeimposta,acabaconcebendoaregracomoalgocorretoquedeveserseguidoeobedecido, caso contrário háuma consequência (punição) quenão éagradável.

Namoralidadeheterônomaosdeveressãovistoscomoexternos,impostos coercitivamente e não como obrigações elaboradas pelaconsciência.obemévistocomoocumprimentodaordem,ocertoéaobservânciadaregraquenãopodesertransgredidanemrelativizadaporinterpretaçõesflexíveis.Aresponsabilidadepelosatoséavaliadadeacordocomasconsequênciasobjetivasdasaçõesenãopelasintenções.oindivíduoobedeceàsnormaspormedodapuniçãoenaausênciadaautoridadeocorreadesordemeaindisciplina(Piaget,1932/1994).

Na terceira etapa do desenvolvimento moral, na moralidadeautônoma, o indivíduo adquire a consciência moral. os deveres sãocumpridoscomconsciênciadesuanecessidadeesignificação;possuiprincípioséticosemorais;eoindivíduoéresponsável,auto-disciplinadoe justo, mesmo quando há ausência da figura de autoridade. Aresponsabilidadepelosatoséproporcionalàintençãoenãoapenasàsconsequênciasdoato(Piaget,1932/1994).

Essas fases se sucedemsemconstituir estágios propriamenteditos.Vamosencontraradultosemplenafasedeanomiaemuitosaindana fase de heteronomia. Poucos conseguem pensar e agir por suasprópriasideias,seguindosuaconsciênciainterior(Piaget,1932/1994).SegundoateoriadePiaget,amoralvemdorespeitoqueadquirimosàsregras,masestecomeçanorespeitoquetemosàspessoasquenosimpõe tais regras. Primeiro respeitamos pessoas, depois regras. Há,noentanto,doistiposderespeitoporpessoas:ounilateraleomútuo(Menin,1996).

SegundoLaTaille(2000,p.112),“...respeitaralguémsignificareconhecê-locomosujeitodedireitosmorais”.omarcozerodorespeitoéaquelederivadodoreconhecimentodooutrocomopossuindodireitos.

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Porexemplo,comotodoserhumanotemdireitoàintegridadefísicaepsicológica,émoraltratá-lorespeitandoseucorpoesuamente.Seforreconhecidoaalguémumdireito,osoutrostêmodeverderespeitá-lo.ora, entre as virtudes, apenas uma parece corresponder ao binômiodireito/deveres:ajustiça.Sendoimperativoqueéumdireitodecadaumsertratadodeformajusta,étambémimperativoquecadaumajadeformajusta,ouquepelomenosprocurepautarsuasaçõesnoidealdejustiça.Daíresultarumamoralderegras(quepodemserinúmerasesempreporsercriadas):osdeverestraduzem-seemregrasdecondutaquepodemserformuladascomrazoávelclareza(LaTaille,2000).

DeacordocomPiaget(1932/1994)ePierreBovet(1925citadoporAraújo,2001),orespeitoéfrutodacoordenaçãoentredoissentimentos:oamoreotemor.Dacoordenaçãodialéticaentreessesdoissentimentosnasrelaçõesinterindividuaiséquesurgirá,porexemplo,aobediênciadacriançaaospaiseaosmaisvelhos.Umacriançarespeitaseuspaisporqueaomesmotempoemquegostadelestemeperderseuamor,oumesmosofrerpunições.Nocasodorespeitomútuo,narelaçãoentreessesdoissentimentosoqueprevaleceéoamor.Éaafetividadeouoamornasrelaçõesentreaspessoasquepermitequeomedopresentenarelaçãonãosejaodapunição,esimodedecairperanteosolhosdo indivíduo respeitado. Essemedo é totalmente diferente domedodapunição,característicodossujeitosheterônomos.omedodedecairperanteosolhosdaquelesaquemseestimaécaracterísticodosujeitoautônomo,queregulasuasrelaçõesnareciprocidadeenaconsideraçãopelasoutraspessoas(Araújo,2001).

Quandopequenas, as crianças têmpelosadultosum respeitounilateral:elarespeitamuitomaisoadultodoqueesteaela.Pormelhorquesejaarelaçãocriança-adulto,ondehápoderatuandodeumsobreooutrodeformadesigual,istoseestruturacomoumarelaçãodecoação.Nacoação,oadulto impõeàcriançaoqueestadevefazere fornececonsequências positivas ou negativas conforme suas ordens sejamseguidasounão.Acriançaobedece,pormedo,porafeto,eacabasemoldandoaoadulto,imitando-o(Menin,1996).

outra característica das crianças pequenas é o egocentrismo.Caracteriza-seporumaincapacidadeemocional,intelectual,socialeatéperceptivadascriançaspequenas.Sendoegocêntricas,centradasemsimesmas,elasnãoconseguemperceberquehápontosdevistadiferentesdopróprio;elasnãoconseguemsecolocarnolugardooutroeenxergarqualquercoisadomundodeumaperspectivaquenãosejaaprópria.Resumindo,egocentrismoéveromundodeumaúnicaperspectiva–aprópria(Menin,1996).

Emrelaçãoaodesenvolvimentomoral,oquevemosnascriançaséainteraçãodoegocentrismoedacoação.Coagidosocialmenteaobedecer,acriança imitaoadulto;coagidopsiquicamentepeloegocentrismo,acriança não sabe que imita e age como se tudo tivesse sido sempreassim.Paraascrianças,oquevemdosmaisvelhosésagradoedeveseconservareternamente,caracterizandoentãoamoraldodever,ouseja,aheteronomia(Menin,1996).

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Quandoagimospensandoapenasnasconsequênciasexternaseimediatasdenossosatosouquandoseguimoscertasregrasporsimplesprudência,interesse,inclinaçãoouconformidade,estamossendo,paraKant, heterônomos.SegundoPiaget, paraqueesta reproduçãodeixede existir, é necessário que aconteça duas coisas: a cooperação e adescentração(Menin,1996).

Temosentãoaoutra formade respeitoquepodemosadquirirpelaspessoas:orespeitomútuo.Numarelaçãoemquehajaigualdadedepoderesentreaspessoasficafacilitadaainteraçãoentreelasnaformadecooperação.Cooperação,paraPiaget,éestabelecertrocasequilibradascomos outros, sejamestas trocas referentes a favores, informaçõesmateriais, influências, etc. A cooperação provoca a descentração, ouseja,adiminuiçãodoegocentrismo(Menin,1996).

Quandodecidimosseguircertasregras,normasouleisporvontadeprópria,independentedasconsequênciasexternasimediatas,estaremossendoautônomos.Naautonomia,aobediênciaaumaregrasedápelacompreensãoeconcordânciacomsuavalidadeuniversal.obedecemosporque concordamos que osmotivos para a ação poderiam tornar-se“leisuniversais”,ouseja,seriamumbemparatodos.Poroutrolado,naheteronomiaaobediênciaaumaregrasedápelomedoàpuniçãooupelointeressenasvantagensaseremobtidaspessoalmente(Menin,1996).

A moralidade, portanto, implica pensar o racional, em trêsdimensões:a)regras:quesãoformulaçõesverbaisconcretas,explícitas(comoos10Mandamentos,porexemplo);b)princípios:querepresentamoespíritodasregras(amai-vosunsaosoutros,porexemplo);c)valores:que dão respostas aos deveres e aos sentidos da vida, permitindoentender de onde são derivados os princípios das regras a seremseguidas(LaTaille,2000).Assimsendo,asrelaçõesinterindividuaisquesãoregidasporregrasenvolvem,porsuavez,relaçõesdecoação,quecorrespondeànoçãodedever,edecooperação,quepressupõeanoçãodearticulaçãodeoperaçõesdedoisoumaissujeitos,envolvendonãoapenasanoçãode‘dever’masade‘querer’fazer.Portanto,opapeldasrelaçõesinterindividuaisnoprocessoevolutivodohomeméfocalizadosobaperspectivadaética(LaTaille,1992a).Issoimplicaentenderque“...odesenvolvimentocognitivoécondiçãonecessáriaaoplenoexercícioda cooperação,mas não condição suficiente, pois uma postura éticadeverácompletaroquadro”(LaTaille,1992a,p.21).

Arazãocomoelementoordenadordarelaçãodosujeitocomomundoseimporiaemtodasasesferasdavidahumana.osexperimentosoriginalmentedesenvolvidos por Piaget comcriançaspequenas sobrejogos de regras apontam para uma relação de dependência entreo desenvolvimento moral e a capacidade cognitiva, e associam odesenvolvimentomoralàflexibilidadedascriançasemrealizaroperaçõesdedescentraçãoecoordenaçõescognitivasentreseupontodevistaeodeoutraspessoas.Estalinhadeinvestigaçãopercebeodesenvolvimentomoralcomoexpressãodeumdosaspectosdaorganizaçãoestruturalda cognição, propondo a existência de critérios que se aplicariamuniversalmenteaosaspectos cognitivos e sociais dodesenvolvimentohumano(Martins&Branco,2001).

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Aautonomiamoralpressupõeacapacidaderacionaldeosujeitocompreenderascontradiçõesemseupensamento,empodercompararsuas ideias e valores às de outras pessoas, e estabelecer critériosde justiça e igualdade quemuitas vezes o levarão a se contrapor àautoridadeeàstradiçõesdasociedadeparadecidirentreocertoeoerrado.odesenvolvimentodaconsciência lógicaemoral,portanto,éfruto de condições psicossociais presentes na interação do indivíduocomasociedadeeomundo(Araújo,2001).

Segundo Nucci (2000),moralidade em sua acepção cotidianarefere-se simplesmente às normas de condutas certas e erradas.No entanto, a questão é o que significa o certo e o erradomoral equaiscritériosserãousadosparajulgaroerronascondutas.Segundoa Teoria piagetiana, todamoral consiste num sistema de regras e aessência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que oindivíduo adquire por estas regras. Isso porque, nos jogos coletivos,as relações interindividuais são regidas por normas que, apesar deherdadasculturalmente,podemsermodificadasconsensualmenteentreosjogadores,sendoqueodeverde ‘respeitá-las’ implicaamoralporenvolverquestõesdejustiçaehonestidade(LaTaille,2000).

osconceitosdemoralidadesãoestruturadosapartirdeconcepçõessubjacentesdejustiçaebem-estar(Turiel,1983citadoporNucci,2000).Moralidade,então,podeserdefinidaapartirdosconceitosdoindivíduo,deseusraciocínios,edeaçõesquesereferemaobem-estar,aosdireitose ao tratamento justo das pessoas. Moralidade, definida em termosdejustiça,bem-estaredireitos,podeserdistinguidadosconceitosdeconvenção social, os quais são padrões de conduta consensualmentedeterminadosdentrodecertogruposocial(Nucci,2000).

DeacordocomadescriçãopadrãodeKohlberg(1984citadoporNucci,2000),odesenvolvimentomoralpassadasfasesiniciais-nasquaiscompreensõesmoraisdejustiçasãoentrelaçadasaprudentesinteressespessoaiseàspreocupaçõesconcretascomaautoridadesocial -paracompreensõesmoraisbaseadasemconvençõesnasquaisamoralidade(justiça)éentrelaçadaàpreocupaçãoemmanteraorganizaçãosocialdefinidapor regulamentaçõesnormativas.Nosestágiosmaisaltosdamoralidade,baseadaemprincípios,alcançadaapenasporumaminoriadapopulação,amoralidadeentendidacomo justiçaécompletamentediferenciadadeconsideraçõesnãomoraisdeprudênciaouconsideraçõesconvencionais.Assimsendo,amoralidadeservecomobasepormeiodoqualo indivíduonãosóorientasuasaçõespessoais,comotambémécapazdeavaliaramoralidadedosistemanormativodeconvençõesdasociedade(Nucci,2000).

Aimportânciadasconvençõesresideemsuafunçãodecoordenara interação social e o discurso dentro de sistemas sociais. Assim, osindivíduos tratam algumas formas de comportamento social comocondutasmoraisuniversais;outras,comosujeitasadeterminaçõesdaculturalocalounormassociais;eoutras,ainda,comoumaquestãodeescolhapessoal(Nucci,2000).

Assim,ascriançasdescobremoverdadeirosentidodasregras–consciência–quandocomeçamapraticá-lasentresiemsituaçãode

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cooperaçãonogrupo.A“moraldobem”,comochamouPiaget,éaquelaguiadanãopeloriscodepuniçãooupromessaimediatadeprêmio,maspelasolidariedadeaosoutros,ou, comooautorenfatiza,pela “regrade ouro” da reciprocidade (Menin, 1996). Reciprocidade se refere aummododeserelacionarcomosoutrosondetodostêmasmesmasoportunidadesechancesdeparticipaçãoedeinteraçãonogrupo,sejanumgrupo,numjogo,notrabalho,nasdiscussõespolíticas,navida.A“universalização”namoral começa,portanto, coma reciprocidadenogrupo.ouseja,aprendendoafazeremgrupos,cadavezmaiores,aquiloqueébomparanós,começamosaaprenderafazer,nomundo,oqueébomparaahumanidade(Menin,1996).

A moral de autonomia é uma moral onde se considera, pordecisãoprópria,ooutroalémdemim.Noestágiodapráticacooperativadasregras,ascriançascomeçamausarasregrascomoinstrumentodeinfluênciamútua.Umaregrapassaaserboasegaranteasmelhorescondiçõesdejogoparatodos(Menin,1996).

Amoralidadelidacomquestõesdejustiçaebem-estarhumano.Assim,osconceitosmoraisdascriançassãopromovidosporexperiênciasescolaresquesecentramemtaispreocupações;quesolicitamàscriançasrefletiremsobretaistemas;equelhespedemqueencontremsoluçõespara problemas morais genuínos da forma mais justa e adequadapossívelparatodasaspartesenvolvidas(Nucci,2000).

oraciocíniomoraldesenvolve-sequandoosalunosidentificaminconsistênciaseinsuficiênciasemsuasposiçõesmorais.Umdosmodosmaisefetivosdesepromoverissoépormeiodediscussõesempequenosgrupos,caracterizadasporumdiscursonegociador(Berkowitz,Gibbs,& Broughton, 1985 citado por Nucci, 2000). Dessa forma, amplia-sea probabilidade de que os alunos prestem atenção às consequênciasmorais de se conformarem às normas da ordem social existente.Ummododese fazer issoéapresentaraosestudantesquestõesqueenvolvamsobreposiçãoentremoralidadeeconvenção,epedir-lhesqueconsideremambososaspectosmoraiseconvencionaisdetaisquestões(Nucci,2000).

Semqueseestabeleçam trocas comomeionãohaveránemconhecimento nem ética possíveis. Podemos dizer, também, que odesenvolvimentointelectual,istoé,apossibilidadederaciocíniológico,arelaçãoderespeitomútuocomooutroeaconstituiçãodeumatábuadevaloressãocondiçõesnecessáriasparaacondutaética(Freitas,1999).

APRáTICADoJUDô

ojudôéumesporteolímpicodecombatequesurgiunoJapãonofimdoséculoXIX.Mesmopossuindocaracterísticasfortesdaculturanipônica, o judô foi difundido por todo o mundo, se adequando adiversasculturas,masmantendosuascaracterísticasaopontodeserconvencionadointernacionalmente.

o judô, atualmente, é uma das modalidades esportivas queconta com omaior número de atletas federados no Brasil. Porém, onúmerooficialdepraticantesnãoéconhecidoporquealémdosatletas

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federados,muitosestudantesdoensinofundamentalemédioetambémnasuniversidadespraticamamodalidadesemobjetivoscompetitivos.Estima-se que este número possa chegar à cerca de ummilhão depessoas(Nunes,2004).

BREVEHISTóRICo

Apósaaberturadosportosdo Japão,naEraMeiji, em1865,iniciou-seumrápidoprocessodemodernizaçãonasociedadejaponesa.Muitasartes,costumesehábitos tradicionaispassaramgradualmentea ser renegados de forma que a cultura ocidental era rapidamenteabsorvida. os mestres do Ju-Jutsu perderam suas posições oficiais,tendoqueprocuraroutrasocupaçõesouaindasobreviverfazendolutaseexibiçõesemfeiras.NesseperíodohouveumprocessomuitograndedemarginalizaçãodasartesmarciaisnoJapão,umavezqueocorriamdisputas entre as escolas como forma de provar qual era o melhormétodo(Kano,1986).

ApósesseprimeiromomentodaEraMeiji,ocorreuummovimentocontrárioàsinovaçõeseumavalorizaçãodaculturaoriental.oJu-Jutsurecebeunovamenteoreconhecimentocomoumaartemarcialepassouaserincorporadopelapolíciaemarinhajaponesas.Porém,afaltadeprincípiospedagógicosecientíficos,alémdoaltograudeperigoaqueospraticantesestavamsujeitosdesagradavaaindivíduosbemesclarecidosdasociedade(Virgílio,1986).

Porpreocupar-secomosvaloreséticosemoraisqueoJu-Jutsuoutrorativeraepornãoseacharsatisfeitocomapobrezadeprincípiospedagógicos e científicos domesmo, Jigoro Kano idealizou a criaçãodeumaartecomummétododeensinoqueestimulasseestesvalores,alémdetorná-lamaisacessívelemenosviolenta.Paraisso,seretiroucom alguns alunos para o templo budista de Eishosi, onde reviu osensinamentos de Ju-Jutsu que recebera (Guedes, 2001). Procurandoencontrarexplicaçõescientíficasaosgolpes,selecionoueclassificouasmelhorestécnicasdosváriossistemasdeJu-Jutsu.Estabeleceunormasafimdetornaroaprendizadomaisfácileracional.Idealizouregrasparaumconfrontoesportivo,baseadonoespíritodoipom-shobu(lutapelopontocompleto).ProcuroudemonstrarqueoJu-Jutsuaprimorado,alémdesuautilidadeparaadefesapessoal,poderiaofereceraospraticantesextraordináriasoportunidadesnosentidodeseremsuperadasasprópriaslimitaçõesdoserhumano.Numcombate,opraticantetinhacomoúnicoobjetivo a vitória. No entender de Jigoro Kano, isto era totalmenteerrado.Umaatividade físicadeveriaservir,emprimeiro lugar,paraaeducaçãoglobaldospraticantes(Calleja,1982).

AessegrupodetécnicasJigoroKanonomeoujudô(ju:suavidade;do: caminho, doutrina), ou seja, o caminho da suavidade, pregandoos seguintes objetivos: cultura e desenvolvimento do físico, culturae desenvolvimento da vontade e damoral e capacidade de competirvitoriosamente. Ainda, estabeleceu que para um praticante ser umautêntico judoca,estedeveriadesenvolverostrêsobjetivosdemodoharmonioso.Em1882foifundadooKodokan,umcentroondepoderiaserensinadoojudô(Kano,1986).

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Entretanto, uma das dificuldades encontradas para consolidarojudôfoiadesobreporoKodokandetodaadiscriminaçãovindadasociedade,jáqueasescolasdeartesmarciaishaviamadquiridoafamaderedutosdemarginais.Atravésdainstituiçãodenormasrestringindoo uso das técnicas para somente as aprendidas no Kodokan, estecresceuemtamanho,virtudeserespeitonasociedade(Virgilio,1986).o reconhecimentode fatopelasociedadeocorreusomenteem1886,quandoojudôKodokanvenceuoJu-JutsuHikosukeTotsuka,queeraoexpoentemáximodoJu-Jutsunaépoca,emumacompetiçãocomandadae organizada pelo chefe da políciametropolitana de Tókio.o prêmiomáximoparaestacompetiçãoeraaescolhadosinstrutoresdaAcademiadePolícia,oqueconcebia“status”àarte,escolaeinstrutores.

Por volta de 1889, através de demonstrações e palestras,visitandoaEuropaeosEstadosUnidos,JigoroKanoiniciaoprocessode difusão do judô pelo ocidente. Diversos praticantes japoneses seespalharampelomundomontandoescolasepassandooconhecimentoadiante (Calleja, 1982). Na década de 1930, o judô estava sendodifundidoemquasetodasasnaçõescivilizadasdomundo,entretanto,otermoJu-Jutsuaindaeraempregadonoocidente,mesmocomonomedeJigoroKanosendocitado.EnquantoquenoJapãoo judôteveumprogressoestupendo,asuadifusãopelomundocaminhavalentamente(Reay,1990).

NoBrasil,relata-sequeachegadadojudôocorreudediferentesformas. Em 1908, com a chegada de imigrantes japoneses, o judôcomeçouaserpraticadoempequenosgruposcomobjetivodemanteralgum laçocomapátriaqueestava longee tambémcomoatividadesocialparareforçaroslaçosentreosimigrantes(Virgilio,1986).

outra forma foi através de demonstrações públicas feitas porMitsuyoMaeda,conhecidoporCondeKoma,quechegouaoBrasilem1914. Iniciou suas demonstrações por Porto Alegre, seguindo depoisparaoutrascidadesbrasileiras,comoSãoPaulo,RiodeJaneiro,Salvador,Recife,etc.Apósisso,diversosmestresvieramaoBrasilparaexporojudô,sendoquealgunsseestabeleciamemontavamsuasescolas,edessaformaojudôfoi-seconsolidandonoBrasil(Virgilio,1986).

CARACTERíSTICAS

Quando Jigoro Kano pensou na elaboração de um métodoconsistente para a prática do Ju-Jutsu, tinha em mente que o Ju-Jutsumelhorado poderia oferecer aos praticantes a oportunidade dedesenvolverem-setanto físicaquantoespiritualmente(Calleja,1982).Aoseumétodoeledenominoujudô.EscolheuestetermoparamelhordiferenciardotermoJu-jutsu,poispretendiaelevarotermo“jutsu”(arteouprática)para“dô”(caminho,doutrina),procurandomostrarquenãoeraapenasumamudançadenomes,masqueseunovométodopossuíaumafundamentaçãofilosófica(Kano,1986).Suapropostadiferenciava-se fundamentalmente por possuir objetivos claros de promover ocrescimentodosseuspraticanteseodasociedadeemgeral,atravésdosprincípiosdoJitaKyoeieSeyRyokuZenyou,quepodemsertraduzidos

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por “Bemestar e benefícios para todos” e “Melhor desempenho commenorgastodeenergia”(Kano,1986).

oobjetivoprincipalemuma lutaéavitóriapor “ippon”ouoponto completo. Existem diferentes formas de se atingir um ippon:projeçãodoadversário,imobilizaçãodoadversárioporumperíododetempo,desistênciaporpartedoadversárioemfunçãodeumatorçãoouestrangulamento, reincidênciaempuniçõesduranteo combateouainda lesão de um dos competidores. Porém, mesmo sem atingir opontocompleto,umlutadorpodevencerocombateatravésdasomade pontos obtidos durante omesmo após os cincominutos de luta.Estespontos sãoowazarieoyukoe sãopontuações resultantesdetécnicasdeprojeçãoquenãoforamperfeitas,deprojeçõesseguidasdeimobilizaçõesoupuniçõesdadasaumatletaquesãoconvertidasempontosparaoadversário,deacordocomregrasdefinidaspelaFederaçãoInternacionaldeJudô(http://www.intjudo.eu/).

Emcompetiçõesoscombatesocorrementreatletasdomesmosexo. Dentro dos naipes masculino e feminino, o judô ainda possuidivisãoporfaixaetáriaedentrodestasaindahádivisãodepeso,quesãoespecíficasemcadafaixadeidade(http://www.intjudo.eu/).

o judogui é a indumentária utilizada pelo praticante de judôpara treino e competição. Segundo Virgílio (1986), sua criação veiodanecessidadedautilizaçãodeumaroupasimplesequeresistisseàpegadaeaosarremessos.Écompostopelocasaco(wagui),pelacalça(shitabaki),pelafaixa(obi)epelochinelo(zori).Háapenasalgunsanosfoiadotada,emnívelinternacional,autilizaçãodojudoguiazul(http://www.intjudo.eu/).

Paraquehouvessemelhordifusãoeadaptaçãodojudônaculturaocidental,foicriado,porMirinozukeKawaishi,umsistemadegraduações.Segundo Guedes (2001), as graduações indicam o nível técnico dospraticantes.Paraosadolescentes,atrocadefaixarepresentaummeiodemotivação,jáqueservemcomoumaformadereconhecimentodovalorfísicoemoral(Guedes,2001).

TÉCNICASEFoRMASDEENSINo

Comoformadefacilitaroaprendizadodeiniciantes,JigoroKanodividiuastécnicasdeprojeçãoemcincogrupos,oGokio(go=cinco,kio=grupos).Nestesgrupos,astécnicasestãoclassificadasconformeadificuldadedeprojeçãoedequeda.Posteriormente,foramfeitasoutrasrevisõesealterações,resultandonoGokioqueéutilizadoatéhojenasescolasdejudô.Nada impedequeuminicianteaprendatécnicasquesejamdeumgrupoposterioraodesuagraduação,porém,parafinsdeexamesdegraduação,umaprendizprecisadominarastécnicasrelativasaogruponoqualseencontra.

Mesmorecebendocontestaçõessobreseusprincípiospedagógicos,oGokioéutilizadocomobaseparaoensinodetécnicasparainiciantes,sendoquemuitasoutrastécnicasquenãoestãorelacionadasnestesãoclassificadascomoextra-gokio,egeralmentesãoensinadasparaalunosemestágioavançadodetreinamento.

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oensinodetécnicasdeimobilizaçãoeasatividadesdelutadesolo sãomuitoutilizadosnosestágios iniciais deaprendizagem,umavezque,pelofatodeumaprendiznãoterumbomníveldedestrezaemserprojetado,estasatividadesproporcionamumcontatoinicialcomocombateemsi,oquejáéumfatordemotivaçãoparaumaprendizque ainda não pode realizar combates em pé. Para o aprendizado etreinamento de judô, um professor ou treinador pode se utilizar dediversasalternativas.Apesardeojudôapresentarformastradicionaisdeaprendizadoetreinamento,estaspodemseradaptadasdeacordocomafaixaetáriaegraduaçãodosalunos(Virgilio,1986).

RELAçõESENTREAPRáTICADoJUDôEoDESENVoLVIMENToMoRAL

Apráticaesportivapodeproporcionaràscriançasoportunidadesricasdedesenvolvimento,tantofísicoquantocognitivo.SegundoFreireeSoares(2000),alémdegarantirodesenvolvimentoeducacionalfísicoedecooperaçãoentreoscolegas,oesporteproporcionadesafiosfísicose mentais e contribui para o desenvolvimento social, promovendo aidentidadesocialegrupal.

Uma alternativa de prática esportiva para crianças é o judô.Alémdosbenefíciosfísicos,umaauladejudôvoltadaparaosprincípiosfilosóficosnoqual foicriadopodepossibilitarqueascriançaspossamdesenvolver-se moralmente, na medida em que as coloca frente asituaçõesondeoautocontroleeareflexãosãoestimulados.

Figura1–Apresentaçãodetécnicasdeprojeção.

SegundoVillamóneBrousse(2002),alémdeserumaatividadede relaxamento e de prazer, o judô é uma prática esportiva quedesenvolve no aluno a concentração e a possibilidade de analisar econvivercomsituaçõesdesucessoefracasso.Alémdesuautilidadepara

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adefesapessoal,aslutaspodemoferecerextraordináriasoportunidadesdecrescimentopessoalaospraticantes,poisproporcionamquesejamsuperadas as próprias limitações do ser humano. o objetivo numcombate não estaria centralizado somente na vitória. Uma luta ouqualqueratividade físicaserviria,emprimeiro lugar,paraaeducaçãoglobaldospraticantes(Kano,1986).

o judô, assim como outras atividades de luta, trabalha comoscomponenteséticosaocolocarnumaposiçãocentralorespeitoàspessoaseaoslocaisdeprática.Desenvolveumaculturaquefavoreceodomíniodesimesmo,umavezqueprocuracriarmeiosdecontrolaros comportamentos impulsivoseaviolência (Hokino&Casal, 2001).No confronto físico, as situações vivenciadas pelo aluno o levam amanifestar sua vontade de vencer, entretanto, seu comportamentoestá vinculado aos rituais e às regras que são compartilhadas pelosoutros,quecomoele,persegueomesmoobjetivo.Damesmaforma,dopontodevistadodesenvolvimentomoral,éesperadoqueacriançadesenvolvaosentimentodecooperaçãoerespeitomútuo,apartirdaentradanoperíododaautonomia,deacordocomPiaget(1932/1994).Paraesteautor,éacooperaçãocomoscolegasacondiçãonecessáriaparaodesenvolvimentomoral.

Figura2–Apresentaçãodetécnicasdeimobilização.

Aoseguirasregraseetiquetas,herdadasdaculturanipônica,comoassaudações,osalunossãoestimuladosacriarorespeitopelosenseiepelosdemaiscolegasjudocas,alémdorespeitoaolocaldeprática.Aposturadoprofessordeveseradesemprelembrarosseusalunosdeexecutaremassaudações,explicandoosignificadodecadasaudaçãoparaqueamesmafaçasentidonaatividadequeestádesenvolvendoequevalorizeorespeitopelooutro.ParaPiaget(1932/1994),asregrassetransmitemdegeraçãoemgeraçãoesemantêmunicamentegraçasao

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respeitoqueosindivíduostêmporelas.Nãosãoobrigatóriasporcausadeseuconteúdo,maspelofatodeemanaremdeindivíduosrespeitados(Freitas,2002).

A saudação ao colega, tanto na vitória como na derrota,proporcionaumavivência de respeito.A criançana faseheterônomado seu desenvolvimento moral ainda não entende o significado realdo cumprimento. Para ela, o cumprimento funciona como uma regrado judô,e,observandoqueoadultoe tambémcriançasmaisvelhaso fazem, entende que aquilo é o certo a fazer de quemé judoca e,portanto,repeteogesto.

oprincípiobásicodasaudaçãoéademonstraçãoderespeitoeconfiançaqueaspessoastêmumapelaoutra.Aocurvar-seemsaudaçãoaoutrojudoca,acriançaheterônomavaiaospoucosincorporandoogestoàsuaconsciência,egradualmenteacriançaaprendeaterconfiançaetambémademonstrarconfiançanooutro.oimportantenasaudaçãoéquesejadesenvolvidaaconsciênciadasregraseainternalizaçãodoqueécertoeerrado,equeaospoucossepercaanecessidadedafiguradeautoridadedeterminandootempotodooquedeveserfeito.

Paratanto,éimportantequeosenseisempretrabalheosentidodasaudação.Faz-seasaudaçãoaoentrarnodojôporrespeitoaoespaçodetreino;sefazsaudaçãoaosenseiporrespeitoaoprofessor,portudoqueeleaprendeueestádispostoarepassaraosalunos;sefazsaudaçãoaoretratodoSenseiJigoroKanoemrespeitoàmemóriadapessoaqueidealizouojudôquehojesepratica;sefazsaudaçãoaoscolegasemrespeitoàspessoasquecompartilhamdosmesmos interesses.Essespodemseralgunsdossentidosqueosenseipodepassaraosseusalunos.

Apartirdaaquisiçãodeconfiançaedainternalizaçãodasregras,acriançapassaafazersaudaçãoporrespeito,confiança,coleguismoeamizadepelooutro.Acriançapassaaassumircaracterísticasdeumamoralautônoma,queincluiorespeitomútuo,capacidadedecooperaçãoesentimentosdereciprocidade.ParaPiaget(1932/1994),aautonomiasignificaauto-governar-se,considerandoomelhorparatodos.Háumaautodisciplinaeparticipaçãoresponsávelnasdecisões.

Figura3–saudaçãoentrejudocaeseusensei.

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Tratamosagoradeoutroexemplonasaulasdejudô:otreinodetécnicaseocombate.Ascriançasemfaseheterônomapossuemenormeresistênciaquandocolocadasfrenteaoutrocolegaparaoaprendizadodetécnicas.Paraelas,todaatividadequeenvolvaumacriançafrenteàoutraserávistacomoumcombate.Nãoháaindaoentendimentodeque,paraseaprenderaexecuçãodequalquertécnica,énecessárioqueexistacooperaçãoentreoscolegas.

Entre as formas tradicionais do treino de judô, temos o uchikomi(treinoderepetição,semresistência),ondeénecessário“deixar-se” derrubar pelo colega. As crianças na fase heterônoma possuemumaenorme resistência para “deixar-se” derrubareme normalmentesóofazemporquesevêemsoboolhardosensei,commedodasuarepreensão.Issoaconteceporque,paraPiaget(1932/1994),duranteoperíododeheteronomia,háumrespeitoàsregrasditadaspelasfigurasdeautoridade.Acriançaobedecepeloafetoquesenteepormedodassançõeseháumrespeitounilateral,seguindoumamoraldaobediência.

A criança heterônoma não tem o entendimento que umcombatenojudôestáalémdeindicarganhadoreseperdedores.Pode-seenxergarnocombateumaatividadedecooperação,ondesecolocaàprovao conhecimentoadquirido frenteaumapessoaque tambémbuscaamesmacoisa.Aprende-setantonavitóriaquantonaderrota.Masparaacriança,sehouverderrota,issoésentidocomoruim,poisasuavontade,queeraadevencerseucolega,nãoseconcretizou.Éumpensamentotipicamenteheterônomoeegocêntrico.Nesteperíododaheteronomia, ainda é difícil para a criança colocar-se no lugar dooutro, descentrando seu ponto de vista, e predomina o pensamentoegocêntrico,voltadoaoseuprópriodesejoepontodevista.Noentanto,a educação deveria favorecer o desenvolvimento afetivo-moral, paraque o sujeito conquistasse a autonomia intelectual, afetiva e moral,combaseno exercício das descentrações e nas leis de reciprocidadeconstruídasnasinteraçõescomomeio(Piaget,1932/1994).

Paraqueacriançaentãosupereessepensamento,otrabalhodosenseiéimportante,namedidaemquevalorizaoqueacriançafezdebomeindicaoquefaltoucomautoridade,mastambémcomafetividade.Naturalmenteecomessetipodeestímulo,acriançapassaaperceberosprincípiosdeumcombateetomaconsciênciadeque,respeitandoocolegaqueaderrotou,esteirárespeitá-laquandoasituaçãoseinverter.Passaaexistirentãoorespeitomútuoentreaspartes.SegundoPiaget(1932/1994),orespeitomútuoimplicaanecessidadedanão-contradiçãomoral:nãosepode,aomesmotempo,valorizaroseuparceiroeagirdemodoaserdesvalorizadoporele.Umanormamoraladotadaporumindivíduoemrelaçãoaoutronãopodesercontraditóriaemrelaçãoàquelasqueeleaplicaaumterceiro,nememrelaçãoàquelasqueelegostaria que se observasse em relação a ele próprio. É somente emumarelaçãoderespeitomútuoentrepersonalidadesautônomasqueépossível,simultaneamente,adiversidadeeaigualdade(Freitas,2002).

Acriançapercebeque,seelaseguirasnormaseetiquetasdojudôparacomseuscolegaseosensei,osoutrosfarãoomesmocomela.Aospoucoselavaientendendoqueparaqueelarecebaumasaudação,

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énecessárioqueelatambémafaça,caracterizandodessaforma,umaatitudedereciprocidade.SegundoFreitas(2002),arelaçãodecooperaçãoimpõe a norma de reciprocidade que obriga cada um a se colocarmentalmentenolugardooutro.Dessaforma,asubstituiçãorecíprocadepontosdevistaéacondiçãoquedefineareciprocidade.Respeitarooutroconsisteematribuiràsuaescaladevaloresumvalorequivalenteaodasuaprópriaescala.Comisso,osujeitoterádadooprimeiropassoemdireçãoàconquistadasuaconsciênciamoralautônoma.

Emqualquersituaçãodeumaauladejudô,aoseconscientizarqueamelhoranoseudesempenhotécnicodependedosseuscolegas,acriançaautomaticamenteestaráincorporandoorespeitopelosoutrosalunos,mesmoquenoinícionãohajaaindaumacompreensãoclaradecomofuncionaesserespeito.Assim,parafavorecerodesenvolvimentoda autonomia é importante que sejam criadas situações em grupo,ondepossamserestabelecidasrelaçõesemquehajarespeitomútuoecooperação–educaçãoparaviveremgrupo.

Asatividadesdecooperação,numambientederespeitomútuo,embasadasnaafetividade,podempreservardoegoísmoedoorgulho,auxiliandoacriançanolongoprocessodedescentração,conduzindo-agradativamentedaheteronomiaparaaautonomiamoral.Asrelaçõesdecooperaçãorepresentamjustamenteaquelasquevãopedirepossibilitaresse desenvolvimento. A cooperação pressupõe a coordenação dasoperaçõesdedoisoumaissujeitos.Portanto,nãohámaisassimetria,imposição,repetição,crençaetc.Hádiscussão,trocadepontosdevista,controlemútuodosargumentosedasprovas(LaTaille,2000).Vê-sequeacooperaçãoéotipoderelaçãointerindividualquerepresentaomaisaltoníveldesocializaçãoeétambémotipoderelaçãointerindividualquepromoveodesenvolvimento(LaTaille,2000).

o judô por si só, traz arraigado princípios e valores bastantepositivos.Porém,comoemqualqueroutraatividadeesportiva,ojudôsócontribuiránaformaçãomoraldeseuspraticantesseosensei(professor)estiver comprometido com os princípios e valores que originaram odesporto. Assim, o ensino através do judô deve ser visto comoumaforma de colaborar com a formação das pessoas, demaneira que oalunoseinsiranasuasociedadecomoumbomcidadão.Nessesentido,ojudôéumapráticaquepodecolaborarnaformaçãodosindivíduos,auxiliando-osa se inserirememsuasociedadecomvaloresmoraiseatitudessocialeculturalmenteaceitas.

Considerações Nesseartigoprocuramosestabelecerrelaçõesentredoistemas finais importantes:ojudôcomopráticaesportivaeodesenvolvimentomoral

decrianças.Inicialmente,apresentamosconceitosteóricosformuladospor pesquisadores e psicólogos a respeito do desenvolvimentomoralde crianças, levantando questões acerca de como se processa odesenvolvimento da moral, suas fases e estágios, características decadaestágioeestratégiasparaumaeducaçãoparaaautonomiamoral.

Emseguidafoiapresentadaumarevisãoteóricasobreojudô,umapráticaesportivajaponesa,comprincípiosfilosóficosbemdefinidos

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queremetemàculturanipônica,assimcomoumhistóricodessaartenoBrasil.Passamospelascaracterísticasdamodalidadeesportiva,bemcomosuas técnicas, sistemasdegraduaçãoeosprincípiosfilosóficosquearegem.

Numterceiromomento,buscamosrelacionarapráticadojudôcomodesenvolvimentomoraldecrianças,identificandosituaçõesqueacontecememumaauladejudôeasatitudesquesãotrabalhadascomascrianças.Assim,buscamosverificarascontribuiçõesqueapráticadessamodalidadeesportivapodetrazerparaodesenvolvimentodamoraldeseuspraticantes.Umaverificação importanteéqueo judôsópoderácontribuircomaformaçãomoralseoprofessorestivercomprometidocomosprincípiosqueoregem.Dessaforma,seestapráticaesportivaforutilizadacomvistasàcompetiçãoebuscadevitórias,semtrabalharas atitudes dos alunos de respeito e cooperação, dificilmente estedesenvolvimento poderá ser alcançado. Para isso é necessário que oprofessor se utilize dos conhecimentos sobre a educaçãomoral e osincorporeàssuasaulas,conscientizandoosalunosdequeasatividadessãodecooperaçãoentreoscolegasequesóassimépossívelhaverocrescimentodetodos,tantotécnicaefísicaquantomoralmente.

Pode-seobservarqueexistempoucaspesquisasquerelacionamos dois temas e poucos estudos que tratam do judô sobre o aspectocognitivo.Encontramosalgunstrabalhos,entreelesodeHokinoeCasal(2001),querelacionamojudôcomaquestãodaagressividadeeviolência.

Tendo em vista que o judô é uma prática esportiva bastantepopular em escolas, dirigentes e educadores vêem nessa práticaesportivaummeiodecolaborarcomaeducaçãodascriançasetentarconter a indisciplina. Para Longarezi (2003), a indisciplina, que éapontada como um dos principais obstáculos enfrentados por pais eprofessoresemrelaçãoàeducação,denotaafaltadenoçõesderegraselimitesporpartedascrianças.Issoreforçaarelaçãoqueseestabeleceentreocomportamentoindisciplinadodacriançaesuaformaçãomoral,indicando,portanto,quearaizdesseproblemaestá,também,notipodeeducaçãomoralqueascriançasvêmrecebendo.

Dessa forma, destaca-se a importância de que o tema dodesenvolvimentomoralea relaçãocomaspráticasesportivas,nestecasoojudô,possasermaispesquisado,discutidoeanalisado.Estudosqueinvestiguemodesenvolvimentomoral,deformalongitudinal,juntoacriançasquepraticamo judô,poderiamtrazercontribuiçõesparaacompreensãodecomoumapráticaesportivabaseadaemregrasenormaspodecolaborarnodesenvolvimentointegraldascrianças.Ressaltamos,também,queseriamuito importantequeaformaçãodoprofessordeEducaçãoFísicaincluísseoestudododesenvolvimentomoral,vistoqueesteprofissionalutilizaasmodalidadesesportivascomoumadesuasferramentasdetrabalho,práticasqueproporcionambenefíciosfísicosecognitivos,alémdetrabalharcomquestõesderegraserespeitoaessasregras.Assim,ummaiorconhecimentosobreoprocessodeaquisiçãodasregras,dopontodevistadodesenvolvimentopsicológicoemoral,poderiacontribuirparaqueestesprofissionaistrabalhassemdeformamaisintegradajuntoàscrianças.

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Sobre o Rodrigo Augusto Trusz autor EscoladeEducaçãoFísica,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul

Débora Dalbosco Dell’AglioInstitutodePsicologia,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul

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A prática do judô e o desenvolvimento moral de crianças – 117/135

Rodrigo Augusto Trusz; Débora Dalbosco Dell’Aglio