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1 A POLÍTICA PÚBLICA DOS CENTROS IRRADIADORES DE MANEJO DE AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO BRASILEIRO Leônidas de Santana Marques Universidade Federal de Sergipe-UFS [email protected] Karla Christiane Ribeiro Tanan Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS [email protected] Resumo Este trabalho visa refletir sobre o desenvolvimento das políticas públicas do governo federal com relação à agrobiodiversidade, que têm como diretriz fundamental a iniciativa dos Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade (CIMA). Inicialmente foram levantados os principais conceitos vinculados à temática, tais como comunidades tradicionais e terra de trabalho. Em seguida, foi traçado um histórico sobre as principais atividades relativas à agrobiodiversidade, como também foi analisado o papel do Estado como agente produtor do espaço a partir de políticas públicas. Por fim, foram analisadas as políticas públicas vinculadas à construção e consolidação dos CIMA, sua espacialização no território brasileiro e quais agentes se associam ao estabelecimento dos centros. Palavras-chave: Estado. Comunidades Rurais. Questão Agrária. Desenvolvimento Rural Introdução A noção de agrobiodiversidade está relacionada a uma ampla gama de combinações entre quatro níveis de complexidade: diversidade de espécies; diversidade intraespecífica; diversidade de ecossistemas e diversidade sociocultural. Esta concepção associa-se às atuais discussões que envolvem o desenvolvimento socioambiental sustentável, abrangendo notadamente comunidades rurais, quilombolas e povos indígenas, que possuem um vasto conhecimento a partir das formas de uso da terra que vêm sendo transmitidas desde tempos pretéritos. O Ministério do Meio Ambiente compreende a agrobiodiversidade como sinônimo de biodiversidade agrícola, que é o conjunto de espécies da biodiversidade utilizada pela agricultura convencional e pelas populações tradicionais. A forma como as comunidades tradicionais manejam as espécies é específico a cada localidade, apontando para necessidade, segundo as atuais propostas do governo, de construir mecanismos que proporcionem a manutenção destes modos de uso da terra. É neste

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A POLÍTICA PÚBLICA DOS CENTROS IRRADIADORES DE MANEJO DE AGROBIODIVERSIDADE NO TERRITÓRIO BRASILEIRO

Leônidas de Santana Marques Universidade Federal de Sergipe-UFS

[email protected]

Karla Christiane Ribeiro Tanan Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

[email protected]

Resumo Este trabalho visa refletir sobre o desenvolvimento das políticas públicas do governo federal com relação à agrobiodiversidade, que têm como diretriz fundamental a iniciativa dos Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade (CIMA). Inicialmente foram levantados os principais conceitos vinculados à temática, tais como comunidades tradicionais e terra de trabalho. Em seguida, foi traçado um histórico sobre as principais atividades relativas à agrobiodiversidade, como também foi analisado o papel do Estado como agente produtor do espaço a partir de políticas públicas. Por fim, foram analisadas as políticas públicas vinculadas à construção e consolidação dos CIMA, sua espacialização no território brasileiro e quais agentes se associam ao estabelecimento dos centros. Palavras-chave: Estado. Comunidades Rurais. Questão Agrária. Desenvolvimento Rural

Introdução

A noção de agrobiodiversidade está relacionada a uma ampla gama de combinações

entre quatro níveis de complexidade: diversidade de espécies; diversidade

intraespecífica; diversidade de ecossistemas e diversidade sociocultural. Esta concepção

associa-se às atuais discussões que envolvem o desenvolvimento socioambiental

sustentável, abrangendo notadamente comunidades rurais, quilombolas e povos

indígenas, que possuem um vasto conhecimento a partir das formas de uso da terra que

vêm sendo transmitidas desde tempos pretéritos.

O Ministério do Meio Ambiente compreende a agrobiodiversidade como sinônimo de

biodiversidade agrícola, que é o conjunto de espécies da biodiversidade utilizada pela

agricultura convencional e pelas populações tradicionais. A forma como as

comunidades tradicionais manejam as espécies é específico a cada localidade,

apontando para necessidade, segundo as atuais propostas do governo, de construir

mecanismos que proporcionem a manutenção destes modos de uso da terra. É neste

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contexto que este trabalho visa analisar como o desenvolvimento das políticas públicas

do governo federal com relação à agrobiodiversidade, que têm como diretriz

fundamental a iniciativa dos Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade

(CIMA).

A construção deste trabalho seguiu quatro etapas. Inicialmente foram levantados os

principais conceitos vinculados à temática da agrobiodiversidade, tais como

comunidades tradicionais, sementes crioulas, biodiversidade e agroecologia, que

serviram de base para a compreensão das noções em que se baseiam o discurso formal

das atuais políticas do Estado brasileiro. Em seguida, foi traçado um histórico sobre as

principais atividades relativas à agrobiodiversidade, com ênfase para os princípios e

normas que regulam as políticas públicas para agrobiodiversidade. Foi analisado o papel

do Estado como agente produtor do espaço a partir de políticas públicas. Por fim, foram

analisadas mais detidamente as políticas públicas vinculadas à construção e

consolidação dos Centros Irradiadores de Manejo da Agrobiodiversidade, sua

espacialização no território brasileiro e quais outros agentes se associam ao

estabelecimento de cada um dos centros, principalmente a partir de dados dos órgãos

oficiais, tais como publicações e site institucionais, vinculados essencialmente aos

Ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário.

A intervenção do Estado no processo de produção do espaço tem nas políticas públicas

um dos principais mecanismos. Contudo, o próprio Estado e as políticas públicas vêm

passando por processos de transformação, assumindo novas características na

contemporaneidade. As políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente no âmbito

da agrobiodiversidade têm como ênfase as variedades crioulas, plantas medicinais e

aromáticas, a segurança alimentar, a inclusão social e a geração de renda além do

extrativismo sustentável. Indicam a importância da promoção do desenvolvimento

social e econômico, entendido, sobretudo, como desenvolvimento rural local. Tal

necessidade implica na inserção das entidades da sociedade civil organizada que tem na

manutenção e reprodução da agrobiodiversidade uma constante de sua reprodução

social e territorial.

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Aspectos gerais das políticas públicas para a Agrobiodiversidade

Os principais agentes dos Centros Irradiadores são as comunidades tradicionais: povos

indígenas, assentados da reforma agrária e agricultores camponeses. Para Diegues

(2000, p.87), “comunidades tradicionais estão relacionados com um tipo de organização

econômica e social com reduzida acumulação de capital, não usando força de trabalho

assalariado”.

Nessa perspectiva, também é relevante conceituar o que são comunidades tradicionais

na concepção do Ministério do Meio Ambiente, embasada no Decreto 6.040/07

(BRASIL, 2007), que coloca que são

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

As comunidades tradicionais são reconhecidas como pertencentes a um certo grupo

social, apresentando também uma relação muito forte com a natureza. Um elemento

importante para essa relação é a noção de território que segundo Godelier (1984 apud

DIEGUES, 2000, p.83).

[...] pode ser definido como uma porção da natureza e espaço sobre o qual uma sociedade determinada reinvidica e garante a todos, ou uma parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, controle ou uso sobre a totalidade ou parte dos recursos naturais aí existentes que ela deseja ou é capaz de utilizar.

As comunidades tradicionais podem ser associadas a uma forma de uso da terra

semelhante ao modo de produção pré-capitalista, cujo trabalho ainda não se tornou

mercadoria e há uma dependência dos recursos naturais, embora não se extinguindo a

necessidade do mercado para as compras de produtos que não são encontrados no

campo. Portanto essas comunidades estão voltadas para relações não-capitalistas, não

existindo o acumulo de capital. A terra é vista como uma terra de trabalho, voltada para

a reprodução do trabalhador e, deste modo não é instrumento de exploração.

Um outro aspecto fundamental é que estas comunidades possuem uma ligação com a

natureza que é marcada pela idéia de associação com o meio para dependência dos seus

ciclos básicos de reprodução. Sendo assim, os conhecimentos tradicionais que essas

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comunidades possuem é algo valiosíssimo, pois representam uma herança para a

manutenção da comunidade através da cultura (compreendendo esta como uma

produção social).

Deste modo, uma das características fortes destas comunidades é a manutenção da

agrobiodiversidade, que significa diferentes formas de vida na agricultura. Como

colocado na principal publicação do MMA sobre agrobiodiversidade, esta pode ser vista

como

[...] um termo amplo que inclui todos os componentes da biodiversidade que têm relevância para a agricultura e alimentação, e todos os componentes da biodiversidade que constituem os agroecossistemas: as variedades e a variabilidade de animais, plantas e microorganismos, nos níveis genético, de espécies e ecossistemas, os quais são necessários para sustentar funções chaves dos agroecossistemas, suas estruturas e processos (MMA, 2006, p. 44).

É relevante frisar que a agrobiodiversidade concebe uma gama abundante de

combinações entre quatro níveis de complexidade: diversidade dentro de espécies;

diversidade entre as próprias espécies; diversidade entre os ecossistemas e também

diversidade etno-cultural. Sendo assim, tais elementos são importantes para o

desenvolvimento sócio-ambiental sustentável. Dessa forma, as comunidades rurais,

quilombolas, povos indígenas, possuem um vasto conhecimento sobre o que foi

transmitido pelos seus antepassados.

Uma das estratégias propostas para a manutenção das variedades crioulas está no

incentivo à agricultura ecológica. A agroecologia segundo Saquet (2005, apud ALVES

et al, 2010), é uma nova abordagem da agricultura, sustentada no uso racional dos

recursos naturais, produzindo assim alimentos mais saudáveis e naturais sem o uso de

insumos químicos. “As transformações no sistema global de produção e consumo de

alimentos estão acontecendo em ritmo acelerado em vários locais do planeta fazendo

com que o uso da agrobiodiversidade perca o seu lugar no espaço agrícola”

(MEIRELLES; RUPP, 2006, p. 53).

No que diz respeito às sementes crioulas, o MMA (2006, p. 25) conceitua que

[...] a semente crioula é uma variedade local, ou regional, de domínio de povos indígenas, comunidades locais ou quilombolas ou pequenos agricultores, composta de genótipos com ampla diversidade genética adaptados a habitats específicos, como resultado de seleção natural combinada com a pressão de seleção humana no ambiente local.

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Tais sementes são legados das gerações passadas e como já foi elucidado é rico em

variabilidade genética. É de suma importância frisar que é um acúmulo de

conhecimento tradicional ao longo do tempo. Um dos aspectos significativos com

relação a sementes crioulas é que são altamente adaptáveis à agricultura camponesa;

sendo assim a diversidade continua não só através da seleção natural, mas em função

dos próprios agricultores por optarem em continuá-las mantendo. Segundo o Santilli

(2005, apud HERINGER, 2007, p. 137)

A biodiversidade pertence tanto ao domínio do natural como do cultural, mas é a cultura, como conhecimento, que permite às populações tradicionais a entendê-las, representá-la mentalmente, manuseá-la, retirar suas espécies e colocar outras, enriquecendo- a, com freqüência.

No atual modelo de produção capitalista, onde as relações de produção são baseadas no

processo de separação dos trabalhadores dos seus meios de produção, a luta pela

permanência dessas sementes crioulas no campo é uma batalha constante. Nas áreas

agrícolas que estão voltadas apenas para a reprodução ampliada do capital, a terra

deixou de ser para o trabalho e passou a ser a terra de negócio onde para os fazendeiros

o que importa é o acumulo de capital e não a preservação de recursos naturais.

“Nos últimos 50 anos, a Revolução Verde (adubos, agrotóxicos, tratores) tem acelerado

as transformações nos ambientes naturais e no modo de vida das populações rurais”

(MEIRELLES; RUPP, 2006, p 18). Com a modernização da agricultura os insumos

tradicionais foram sendo deixados para trás para dar lugar aos que são produzidos pela

indústria, assim como as variedades das sementes passaram a ser substituídas pela

produzidas de forma induzida, tais como as híbridas e atualmente as transgênicas, e

como conseqüência dessa modernização há uma perda da agrobiodiversidade no campo

brasileiro. No Quadro 01, podemos observar as principais razões para a perda da

biodiversidade.

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Quadro 01. Elementos determinantes na perda da biodiversidade/erosão genética nos sistemas agrícolas.

Características da agricultura tradicional

Características da agricultura moderna/industrial

As sementes crioulas são disseminadas entre as famílias

As indústrias vendem as suas sementes hibridas e transgênicas. A comercialização de variedades crioulas é dificultada pela legislação.

O financiamento dos sistemas agrícolas é feito pelas próprias famílias.

Crédito agrícola somente vinculado ao uso e sementes da indústria.

A propaganda é local e baseada nos conhecimento das características das variedades.

A propaganda e o marketing das grandes empresas nos veículos de comunicação (jornais, revistas, rádios, canais de televisão) despertam o interesse de agricultores e consumidores pelas sementes da indústria.

As formas de comercialização aceitam a diversidade de produtos

O mercado globalizado e a comercialização com grandes agroindústrias impõem a padronização dos cultivos.

A agricultura é vista como um modo de vida.

A mercantilização transforma o agricultor num profissional especializado. A agricultura torna-se unicamente uma profissão ou um negócio.

As práticas agrícolas evoluem de acordo com as características do agroecossistema local.

As praticas agrícolas são determinadas pela indústria, muitas vezes disfarçadas de pesquisas científicas.

Os agricultores estimam seu conhecimento e preservam sua história.

Os agricultores se envergonham de seu conhecimento e negam sua própria história.

A semente é a parte da história e da vida.

A semente é uma mercadoria.

. FONTE: MEIRELLES; RUPP, 2006.

O que podemos observar que há vários impactos negativos sobre as comunidades

tradicionais e a agricultura camponesa com a perda da biodiversidade ou redução

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genética das variedades. Meirelles e Rupp (2006) apontam esses impactos como:

redução da segurança alimentar, elevação dos custos de produção com a compra de

sementes industrializadas, redução de autonomias das famílias e comunidades agrícolas.

Para Oliveira (2001), estamos diante de uma das formas do processo de monopolização

do território pelo capital.

Marcos legais sobre a agrobiodiversidade

O histórico das políticas públicas voltadas para a agrobiodiversidade apresentado aqui

foi fundamentado nos dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2006). Os

principais caminhos para as políticas relacionadas à agrobiodiversidade no Brasil estão

ligados a vários marcos como:

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)

A CDB é o mais importante acordo internacional sobre diversidade biológica. Essa

convenção tem como pilares a conservação da diversidade biológica, a utilização

sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios

derivados do uso dos recursos genéticos.

A convenção tem como marco inicial a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro no ano de

1992, da qual emergiram três grandes tratados internacionais: a CDB; a Convenção

sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21 (MMA, 2006). Mas foi em 1996 que a CDB

passou a abordar diretamente questões relacionadas às práticas agrícolas tradicionais, o

uso sustentável e à conservação dos recursos genéticos.

A CDB toma as suas deliberações por meio das conferências das partes (COP), nas

quais cada país-membro tem direito a voto. A COP III foi realizada na cidade de Buenos

Aires, também no ano também de 1996, e nela foi introduzida a discussão para a criação

de um programa de trabalho sobre Biodiversidade agrícola.

Em 2000, durante a COP V, realizada no Quênia, foi efetuada a revisão da primeira etapa do Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Agrícola. A Decisão V/5 reconhece a contribuição dos agricultores, povos indígenas e comunidades locais para a conservação e uso sustentável da biodiversidade agrícola, destacando a necessidade de participação dessas comunidades na implementação do programa de trabalho, bem como de subsidiar a sua capacitação e a troca de informações entre as mesmas (MMA, 2006, p.48).

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O decreto da Política Nacional da Biodiversidade

O decreto 4.339, de 22 de agosto de 2002, foi instituído com os seguintes fundamentos:

a) conhecimento da biodiversidade; b) conservação da biodiversidade; c) utilização

sustentável dos componentes da biodiversidade; d) monitoramento, avaliação,

prevenção e mitigação de impactos sobre a biodiversidade; e) acesso aos recursos

genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados e repartição de benefícios; f)

educação e sensibilização pública, informação e divulgação; e) fortalecimento jurídico e

institucional para a gestão da biodiversidade.

O Tratado Internacional de Recursos Filogenéticos

Tem por objetivo promover a conservação e a utilização sustentável dos recursos

filogenéticos para a alimentação e agricultura, além da distribuição justa e equitativa

dos benefícios derivados da utilização dos próprios recursos, em harmonia com a CDB.

Outro instrumento que deu força a conservação da agrobiodiversidade foi a Lei

10.711/03 e o decreto 5.153/04, que estabeleceram o Sistema Nacional de Sementes e

Mudas, tendo como objetivo “garantir a identidade e a qualidade do material de

multiplicação e de reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o

território nacional”.

A Lei define como cultivar local, tradicional ou crioula: variedade desenvolvida, adaptada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas, com características fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas comunidades (MMA, 2006, p.49).

A lei 10.711/03 é regida por dois instrumentos principais: o Registro Nacional de

Sementes e Mudas (RENASEM) e o Registro Nacional de Cultivares (RNC). A lei

também estabelece que as pessoas físicas e jurídicas que exerçam atividades de

produção, beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação

e exportação de sementes e mudas ficam obrigadas à inscrição no RENASEM.

Por outro lado, a lei para a agricultura familiar determina que “ficam isentos da

inscrição no RENASEM os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária e

os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para a distribuição, troca ou

comercialização entre si”.

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Este Hábito, que também possui um sentido de solidariedade, de gentileza e de manutenção dos laços de amizade, tem sua origem nos primórdios da agricultura e faz parte do processo de domesticação e manutenção das variedades crioulas (MEIRELLES; RUPP, 2006, p.13).

O Estado brasileiro vem sendo um dos agentes que tem se voltado para as políticas

públicas ligadas à conservação da agrobiodiversidade. O país apresenta uma rica

sociodiversidade representada por mais de 200 povos indígenas, uma diversidade de

comunidades locais (quilombolas, caiçaras, seringueiros, etc.) que reúnem um

inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação e uso da

biodiversidade.

Estado, produção do espaço e políticas públicas

De forma bastante genérica, é possível conceituar o Estado como sendo “um poder

político que se exerce sobre um território e um conjunto demográfico (isto é, uma

população, ou um povo); e o Estado é a maior organização política que a humanidade

conhece” (GRUPPI, 1996, p. 7). O surgimento do Estado, de forma geral, remonta às

sociedades grega e romana. Estas, contudo, tinham uma concepção distinta desta

organização, que ainda sofreu variadas transformações durante a Idade Média, com sua

vinculação à esfera religiosa, relacionando o poder do Estado a uma designação divina

(FONT; RUFI, 2006). Foi com Maquiavel que esta concepção foi se transformando para

o que hoje caracterizamos de Estado moderno. Segundo este pensador, existe uma

necessidade da existência de um poder amplo que possa se impor ao indivíduos, com

vistas à ordem (GRUPPI, 1996).

Um aspecto importante que merece destaque dentro das discussões acerca do Estado é o

seu atual processo de reconfiguração, também chamado de crise (FONT; RUFI, 2006).

Nesta perspectiva, atualmente, o Estado vem passando por uma reestruturação que

atende a mudanças tanto com relação a aspectos globais, quanto a aspectos locais.

Na última década foram muitos e variados os discursos que argumentam que o Estado moderno é uma instituição em processo de dissolução, seja devido aos impulsos homogeneizadores da globalização, seja devido à fragmentação das identidades (FONT; RUFI, 2006, p. 105).

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Quanto ao processo de globalização, o que se presencia é uma complexidade de relações

em nível global, nas quais o Estado (neste caso encarado mais como Estado-nação) não

consegue, por si só, responder a suas demandas. Um exemplo disto é a perda de

soberania em questões que não são mais resolvidas dentro de cada Estado, mas no

contexto dos blocos econômicos. “De 194 Estados representados na ONU, cerca de 110

são integrantes, partes ou membros de tratados de integração regional” (CASTRO,

2003, p. 176). De certa forma, isto representa uma mudança na concepção de soberania,

antes retida basicamente à esfera nacional.

O Estado, desta forma, segundo Becker (2000, p. 286) encontra-se em “um espaço

global/fragmentado, global porque homogeneíza, facilitando a interagilidade dos lugares

e dos momentos; fragmentado porque apropriado em parcelas”. Mas não pode se

constatar com isto que o Estado perdeu sua importância, pois continua sendo uma das

principais organizações sociais responsáveis pelo processo de produção do espaço.

O que deve ser guardado para o entendimento da relação entre a tecnologia e a sociedade é que o papel do Estado, seja interrompendo, seja promovendo, seja liderando a inovação tecnológica, é um fator decisivo no processo geral, à medida que expressa e organiza as forças sociais dominantes em um espaço e uma época determinados (CASTELLS, 1999, p. 49).

Sendo assim, por mais que hoje seja latente o (discurso do) intenso processo de

reestruturação do Estado, ele continua sendo um dos principais agentes sociais e é

necessária sua análise, incluindo, neste bojo, os processos que se dão a nível local.

Para análise específica da realidade da produção do espaço agrário, Santos e Silva

(2010) apontam alguns agentes, tais como os proprietários de terra, os assalariados

rurais, os parceiros, os arrendatários, os meeiros, os empresários rurais, os movimentos

sociais de luta pela terra, o Estado e as organizações civis, considerados relevantes

nesse processo. Mesmo compreendendo toda esta multiplicidade de agentes, o Estado é

ressaltado como fundamental no processo de produção do espaço por possuir “maior

capacidade de fazer agir todos os demais” (SANTOS; SILVA, 2010, p. 82).

Quanto a forma de intervenção do Estado no processo de produção do espaço, é

possível concebê-la de duas formas básicas: direta e indiretamente. No primeiro caso, o

Estado cria condições de infraestrutura, atuando sobretudo naquilo que concerne aos

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objetos geográficos (SANTOS; SILVA, 2010). No que tange às ações indiretas, estas

acontecem

[...] através de instituições educativas, de parcerias com sindicatos e associações, de empresas, a gestação de ações que modificam a organização social de um lugar ou região, criando, por exemplo, novas mentalidades ou novas maneiras de agir sobre o espaço, o que conseqüentemente leva a sua reorganização (SANTOS; SILVA, 2010, p. 81).

Embora o Estado não seja o único agente produtor do espaço, como já foi explicitado, é

importante ressaltar a sua importância diante dos demais agentes. Assim, “a ação do

Estado é suficiente, porém não necessariamente exclusiva, para fomentar um amplo

processo de interação entre pessoas, firmas e instituições” (SILVA, 2008, p. 44). E

mesmo que atualmente se questione cada vez mais a forma como se configura o Estado,

este ainda deve ser visto com destaque dentre os diversos agentes produtores do espaço.

Uma das principais formas de intervenção do Estado no processo de produção do

espaço é a partir de políticas públicas de desenvolvimento. Contudo, assim como o

próprio Estado vem passando por processos de transformação, as políticas públicas

também se enquadram neste contexto, assumindo novas características na

contemporaneidade. Sobre este aspecto, Steinberger (2006, p. 30) coloca que “urge

levar em conta que o Estado de agora não pode ser mais aquele que desconhecia a

existência de poderes plurais”. Neste bojo estão presentes os poderes dos movimentos

sociais, tanto urbanos como rurais, o que apontam para esta instituição uma forma de

intervenção que possa inserir de algum modo esta complexidade na qual se encontra.

“Enfim, a expectativa é que se adote um planejamento compartilhado entre o Estado e a

Sociedade, por meio da construção de pactos e compromissos enunciados em políticas

públicas nacionais cuja finalidade última seja promover transformação social”

(STEINBERGER, 2006, p. 30). Desta forma, é possível compreender a política dos

Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade como uma forma do Estado

inserir estes sujeitos sociais, sem contudo afirmar que estaríamos presenciando uma

inversão de prioridade. Por mais que seja uma iniciativa que reforça elementos contra-

hegemônicos da sociedade, é preciso ponderar que a ‘menina dos olhos’ do Estado

ainda é o agronegócio exportador.

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Os Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade (CIMA’s)

A agrobiodiversidade, entendida como sinônimo de biodiversidade agrícola, é

compreendida pelo Ministério do Meio Ambiente, de modo geral, como um conjunto de

espécies da biodiversidade utilizada por populações tradicionais (MMA, 2010). A forma

como estas comunidades manejam as espécies dá um caráter específico a cada

localidade, demonstrando assim a importância de incentivar esta forma de uso da terra

quando se objetiva a manutenção da agrobiodiversidade. É neste contexto que estão

presentes as políticas públicas do governo federal com vistas a esta problemática, e que

tem como norteadora a iniciativa dos Centros Irradiadores de Manejo de

Agrobiodiversidade.

A proposta dos CIMA surgiu a partir de um plano interministerial, enquadrado na lógica

das novas proposições de políticas públicas de desenvolvimento local/territorial. Para

Vázquez Barquero (1995, p. 236), “a estratégia de desenvolvimento local deve ser

concebida como uma resposta do sistema sócio-institucional aos desafios colocados

pelas mudanças no modelo de acumulação”. Desta forma, as novas políticas de

desenvolvimento são pensadas como uma resposta “espontânea” ao processo de

globalização, que tem como uma de suas principais características o aumento da

competitividade global. Assim, os processos a nível local, na concepção dos teóricos

que propõe a endogeneização do desenvolvimento, são analisados como a nova solução

para os problemas econômicos contemporâneos, posto que assumem papel central como

elementos que podem dinamizar a produção a partir de uma relação de cooperação entre

empresas, além de parcerias públicos-privadas.

O surgimento da política de desenvolvimento local e sua evolução representam uma resposta espontânea às mudanças produtivas, tecnológicas e comerciais ocorridas desde a metade dos anos 70. As políticas regionais e setoriais tornaram-se obsoletas e não acompanharam os processos de reestruturação produtiva, induzindo os gestores públicos locais a lançarem iniciativas visando promover o ajuste produtivo. Esse processo de mudança foi estimulado pelas adaptações a que tiveram de se submeter as instituições e pelo aparecimento de novas teorias e abordagens do desenvolvimento econômico (VÁZQUEZ BARQUERO, 2001, p. 210).

No caso da política dos Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade, a

proposta se articulou a partir do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério de

Desenvolvimento Agrário, a partir do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

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Agrária (INCRA). O projeto partiu do Programa Terra Sol, que tem em seu bojo a

lógica de apoio a iniciativas de desenvolvimento rural sustentável a partir,

principalmente, de áreas de reforma agrária. Os recursos de financiamento deste projeto

vieram do Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária

(Ates) e do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). No geral, esta proposta visa a

inserção de áreas de comunidades rurais vinculadas à produção de cultivares com

características específicas, principalmente relacionadas a assentamentos rurais de

reforma agrária (INCRA, 2010).

As políticas públicas propostas neste bojo têm como ênfase as variedades crioulas,

plantas medicinais e aromáticas, além do extrativismo sustentável. A segurança

alimentar, a inclusão social e a geração de renda também se enquadram nesta política do

MMA, indicando a importância da promoção do desenvolvimento social e econômico,

entendido, sobretudo, como desenvolvimento rural local, por inserir assim entidades da

sociedade civil organizada que tem a manutenção e reprodução da agrobiodiversidade

uma constante de reprodução social e territorial (MMA, 2010).

Antes de nos referirmos mais diretamente aos Centros Irradiadores, vamos apontar aqui

algumas das atividades já realizadas pelo MMA, de acordo com o site oficial (MMA,

2010). 1) Encontro Nacional sobre Agrobiodiversidade e Diversidade Cultural (2003),

realizado em Brasília juntamente com o Ministério da Cultura, sendo o evento norteador

para o delineamento das políticas ligadas ao tema. 2) Workshop Internacional sobre

Melhoramento da Mandioca (2006), realizado em Brasília juntamente com a

EMBRAPA, representando uma importante intercâmbio técnico-científico. 3)

Seminário sobre a Iniciativa Biodiversidade, Alimentação e Nutrição (2006), realizado

em Curitiba em parceria com o IPGRI e a FAO, destacando-se pela consolidação de

parcerias. Além destes, também ocorreram as reuniões com organizações da sociedade

civil para discutir a elaboração da Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos e as reuniões do Conselho Gestor dos Centros Irradiadores.

Quanto ao projeto dos CIMA, existe como objetivo principal a promoção da segurança

alimentar com a conservação da agrobiodiversidade. É uma iniciativa que surgiu a partir

da parceria entre o Estado, alguns movimentos sociais e organizações não-

governamentais, tendo como objetivos específicos: a) estimular o associativismo e a

participação social; b) planejar atividades sobre questões de gênero e geração; c)

capacitar agricultores, técnicos e lideranças; d) implantar módulos de atividades

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demonstrativas e comunitárias. Em 2007, existiam vinte e dois Centros Irradiadores de

Manejo de Agrobiodiversidade em todo o país, conforme mostrado na Figura 01 e no

Quadro 02, muito embora a metade ainda estivesse em fase de implantação.

Figura 01. Centros Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade no Brasil em

2007.

FONTE: MMA, 2010.

Quadro 02. Dados do Centro Irradiadores de Manejo de Agrobiodiversidade em

2007

PROPONENTE MUNICÍPIO(S) UF FASE

1 Associação Nacional de Cooperação

Agrícola (ANCA)

Candiota e Hulha

Negra

RS Implantado

2 Associação Riograndense de Pequenos

Agricultores (ARPA)

Tupanciretã RS Implantado

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3 Instituto Técnico Educacional de

Pesquisa Agrária (ITEPA)

São Miguel do

Iguaçu

PR Implantado

4 Associação Regional de Cooperação

Agrícola do Pontal do Paranapanema

(ACAP)

Teodoro Sampaio e

região do Pontal do

Paranapanema

SP Implantado

5 Fundação Pau-Brasil Ribeirão Preto e

Serrana

SP Implantado

6 Centro Integrado de Desenvolvimento

dos Assentados e Pequenos

Agricultores do Espírito Santo

(CIDAP)

São Mateus e região

norte do Espírito

Santo

ES Implantado

7 Associação das Cooperativas dos

Assentados do Estado de Goiás

(ASCAEG)

Campestre, Guapo e

Palmeira de Goiás

GO Implantado

8 Cáritas Água Branca, Ouro

Branco e Pariconha

AL Implantado

9 Associação Estadual de Cooperação

Agrícola (AESCA/RN)

Mossoró RN Implantado

10 Centro de Educação Popular em

Defesa do Meio Ambiente (CEPEMA)

Itapipoca e Tururu CE Implantado

11 Associação Estadual de Cooperação

Agrícola (AESCA/MA)

Açailândia, Gov.

Edison Lobão e

Igarapé do Meio

MA Implantado

12 Sindicato dos Trabalhadores na

Agricultura Familiar (SINTRAF)

Anchieta SC Em

implantação

13 Associação Nacional de Cooperação

Agrícola (ANCA)

Abelardo Luz SC Em

implantação

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14 Centro de Desenvolvimento

Sustentável e Capacitação em

Agroecologia (CEAGRO)

Cantagalo PR Em

implantação

15 Centro de Capacitação e Pesquisa

Geraldo Garcia (CEPEGE)

Sidrolândia MS Em

implantação

16 Associação Estadual de Cooperação

Agrícola (AESCA/MG)

Cap. Enéas, Montes

Claros e Pirapora

MG Em

implantação

17 Associação de Pequenos

Trabalhadores Rurais de Uirapuru

(ASPETRU)

Campinorte, Crixás,

Divinópolis, Goiás,

Itaberaí Niquelândia

e Uirapuru

GO Em

implantação

18 Associação de Cooperação Agrícola

de Pernambuco (ACAPE)

Petrolândia PE Em

implantação

19 Associação de Cooperação Agrícola

da Paraíba (ACAPB)

Patos, São José de

Espinharas e Teixeira

PB Em

implantação

20 Associação dos Pequenos Agricultores

do Estado do Piauí (APAESPI)

Acauã, Germiniano,

Jacobina, Paulistana e

Queimada Nova

PI Em

implantação

21 Fundação Viver, Produzir e Preservar

(FVPP)

Santarém e Brasil

Novo

PA Em

implantação

22 Centro de Pesquisa, Capacitação e

Desenvolvimento Mártires de Março

(CTERRA)

Eldorado dos Carajás,

Marabá e São Félix

PA Em

implantação

FONTE: MMA, 2010 (COM ADAPTAÇÕES).

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Considerações finais

As políticas públicas voltadas para a agrobiodiversidade ainda são muito restritas, além

de estarem em estágio inicial. A construção de eventos tem sido um aspecto interessante

de divulgação desta temática, muito embora tenha ocorrido sobretudo em apenas um

local (cidade de Brasília). Na proposta, a noção de agrobiodiversidade é bastante

pertinente e merece ser aprofunda, mas é bem importante considerar também os

aspectos práticos desta iniciativa, principalmente quanto aos Centros Irradiadores de

Manejo de Agrobiodiversidade.

Os vinte e dois centros implantados ou em processo de implantação mostram como a

proposta pretende ser abrangente, principalmente por englobar as cinco regiões

administrativas do Brasil. Mas muito ainda precisa ser implantado, principalmente se

considerarmos que tanto no bioma amazônico como no Pantanal a presença é muito

limitada. É uma discussão bastante pertinente e precisa ser aprofundada, não só por

representar uma nova forma de política do Estado, mas principalmente por significar

uma forma contra-hegemônica de apropriação do território. Os documentos sobre esta

discussão são ainda muito restritos, principalmente quanto aos impactos sócio-

territoriais destas políticas em áreas de agricultura camponesa.

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