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UNIVERSIDADE PORTUCALENSE Infante D. Henrique A POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS UM ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DAS EMPRESAS E A PERSPECTIVA DOS GESTORES PORTUGUESES Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Finanças, realizada sob a orientação do professor doutor Arlindo F. Santos José Manuel Seabra Benzinho da Silva Porto 1996

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UNIVERSIDADE PORTUCALENSE

Infante D. Henrique

A POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS

UM ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DAS

EMPRESAS E A PERSPECTIVA DOS GESTORES

PORTUGUESES

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Finanças, realizada sob a orientação do professor doutor

Arlindo F. Santos

José Manuel Seabra Benzinho da Silva

Porto

1996

ii

Liberdade

Ai que prazer

Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler

E não fazer!

Ler é maçada,

Estudar é nada.

O sol doira

Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca.

Fernando Pessoa (Poesia, 1935)

iii

Dedico esta tese aos meus pais,

à Licínia e ao Zé Miguel.

iv

ÍNDICE

Página

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... xii

NOTA PRÉVIA ............................................................................................................... xiii

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1

CAPÍTULO 1. A POLÍTICA DE DIVIDENDOS: O DEBATE NOS ANOS 60 .............16

1.1. A visão histórica dos dividendos ........................................................17

1.1.1. A fórmula de Graham e Dodd ...................................................19

1.2. A Teoria Residual dos Dividendos .....................................................20

1.2.1. O modelo de Walter ..................................................................22

1.2.2. Avaliação do modelo de Walter ................................................25

1.3. O modelo de Gordon e Shapiro ..........................................................27

1.4. A irrelevância dos dividendos: a tese de Miller e Modigliani ............30

1.5. A distribuição de resultados na prática: o estudo de Lintner ..............38

1.6. Outros testes à hipótese de que as empresas têm um

comportamento ajustado a um rácio objectivo para a taxa de

distribuição .................................................................................................41

1.7. Os primeiros testes empíricos .............................................................44

1.7.1. Estudo de Gordon e Brigham ....................................................45

1.7.2. Estudo de Van Horne e Mc Donald ..........................................47

1.7.3. As críticas de Friend e Puckett ..................................................48

1.8. Em resumo ..........................................................................................50

CAPÍTULO 2. A POLÍTICA DE DIVIDENDOS E A FISCALIDADE ..........................54

2. 1. Introdução ..........................................................................................54

v

2. 2. A escola anti-dividendos ....................................................................57

2. 2.1. O modelo de Farrar e Selwny ...................................................58

2. 2. 2. O modelo de Elton e Gruber ...................................................61

2. 3. Investigação empírica sobre os efeitos da fiscalidade .......................63

2. 3. 1. O efeito clientela fiscal ............................................................67

2. 3. 2. Uma apreciação crítica da investigação empírica sobre o efeito

clientela fiscal ......................................................................................69

2. 4. Investigações empíricas com base no MADAFE ..............................73

2. 4. 1. Política de dividendos e rendibilidade ....................................74

2. 4. 2. O MADAFE e a fiscalidade ....................................................76

2. 4. 2. 1. MADAFE modificado de Brennan ..............................76

2. 4. 2. 2. Estudo de Black e Scholes: O efeito clientela e o valor

das acções .....................................................................................78

2. 4. 2. 3. Estudo de Litzenberger e Ramaswamy ........................84

2. 4. 2. 4. A crítica de Miller e Scholes ........................................88

2. 5. A irracionalidade dos investidores: Fischer Black.............................90

2. 6. A aquisição de acções próprias como alternativa aos

dividendos ..................................................................................................91

2. 7. As alterações nas regras fiscais ..........................................................93

2. 8. A compensação fiscal de Miller e Scholes ........................................95

2. 8. 1. Verificação empírica da «Strong Irrelevance Proposition» ....98

2. 9. Será possível concluir? ......................................................................99

CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS PARA A VALORIZAÇÃO DA POLÍTICA DE

DIVIDENDOS .................................................................................................................104

3. 1. Introdução ........................................................................................104

vi

3. 2. Preferência dos investidores por dividendos em dinheiro ...............105

3. 3. O contéudo informativo dos dividendos e os modelos de

sinalização ................................................................................................107

3. 3. 1. Fundamentos da teoria dos sinais ..........................................109

3. 3. 2. Os modelos de sinalização («signalling dividend models») .110

3. 3. 2. 1. Os modelos de Bhattacharya ......................................111

3. 3. 2. 2. O modelo de Kalay ....................................................115

3. 3. 2. 3. O modelo de John e Williams ....................................115

3. 3. 2. 4. O modelo de Miller e Rock ........................................115

3. 3. 3. Estudos sobre o conteúdo informativo dos dividendos .........119

3. 4. Política de dividendos e teoria da agência .......................................121

3. 4. 1. Fundamentos da teoria da agência ........................................121

3. 4. 2. Estudos empíricos .................................................................124

3. 5. Explicações comportamentais para a preferência por

dividendos ................................................................................................126

3. 6. Concluindo .......................................................................................129

CAPÍTULO 4. A POLÍTICA DE DIVIDENDOS EM PORTUGAL .............................132

1. Introdução ............................................................................................132

2. O mercado de acções em Portugal .......................................................134

3. A política de dividendos das empresas ................................................148

4. A fiscalidade dos dividendos em Portugal ...........................................158

5. A dupla tributação económica dos dividendos em Portugal ................160

6. Em síntese ............................................................................................177

CAPÍTULO 5. A PERSPECTIVA DOS GESTORES SOBRE A POLÍTICA DE

DIVIDENDOS: O caso das empresas cotadas e das PME Prestígio ...............................181

vii

1. Introdução ............................................................................................181

2. A perspectiva dos gestores portugueses sobre a política de

dividendos ................................................................................................184

2.1. Caracterização da amostra seleccionada ....................................184

2.2. Concepção do inquérito e linhas gerais de orientação ...............185

2.3. Apresentação e discussão dos resultados do inquérito ...............189

3. Uma nota final......................................................................................205

CONCLUSÕES ...............................................................................................................207

ANEXO I - Empresas cotadas no MCO e concentração do capital .................................215

ANEXO II - Dados para as empresas listadas no MCO ..................................................224

ANEXO III- Principais requisitos de admissão à negociação nos mercados de acções ..249

ANEXO IV - Réplica do questionário e da carta enviados às empresas .........................250

ANEXO V - Pequenas e médias empresas - PME Prestígio ...........................................265

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................268

viii

QUADROS

Página

Quadro 2.1 - Resultados de Elton e Gruber .............................................................64

Quadro 2.2 - Rendibilidade adicional, exigida pelos investidores ...........................66

Quadro 2.3 - Efeito clientela fiscal ...........................................................................68

Quadro 2.4 - Resultados de Black e Scholes ............................................................83

Quadro 2.5 - Alteração da fiscalidade e efeito sobre as cotações ............................94

Quadro 2.6 - A compensação fiscal, segundo Miller e Scholes ...............................96

Quadro 2.7 - Rendimento do investidor, segundo Miller e Scholes.........................97

Quadro 2.8 - Testes sobre o efeito das taxas de remuneração por dividendos .......101

Quadro 4.1 - Evolução do número de empresas cotadas - 1987/1995 ...................135

Quadro 4.2 - Capitalização bolsista do mercado accionista e PIB .........................136

Quadro 4.3 - Evolução das transacções de acções na BVL, por sessões ...............136

Quadro 4.4 - Evolução das transacções de acções, por mercados ..........................137

Quadro 4.5 - Movimento global com acções .........................................................137

Quadro 4.6 - Transacções por sectores em 1994 ....................................................138

Quadro 4.7 - Evolução da capitalização bolsista dos mercados .............................139

Quadro 4.8 - Sessões Especiais de Bolsa ...............................................................140

Quadro 4.9 - Indicadores Bolsistas do MCO .........................................................142

Quadro 4.10 - Índices de valorização internacionais (1992) ..................................143

Quadro 4.11 - Capitalização bolsistas do mercado e das maiores empresas ..........144

Quadro 4.12 - Capitalização bolsista por sectores de actividade (1992 e 1994) ....144

Quadro 4.13 - Indicadores Sectoriais - 3º Trimestre de 1995 ................................145

ix

Quadro 4.14 - Evolução dos resultados, dividendos e taxa de distribuição das

empresas cotadas (1990 a 1994) .............................................................................150

Quadro 4.15 - Sinal de variação da taxa de distribuição por acção........................151

Quadro 4.16 - Sinal de variação do benefício por acção ........................................151

Quadro 4.17 - Empresas com lucro por acção positivo ..........................................152

Quadro 4.18 - Indicadores do Mercado de Cotações Oficiais ................................152

Quadro 4.19 - Evolução sectorial da taxa de distribuição líquida ..........................152

Quadro 4.20 - Evolução da taxa de distribuição por intervalos (%) ......................153

Quadro 4.21 - Evolução da taxa de distribuição por classes (%) ...........................154

Quadro 4.22 - Rendibilidade líquida em dividendos (%) .......................................154

Quadro 4.23 - Inflação e evolução da rendibilidade bruta do investimento em

valores mobiliários .................................................................................................156

Quadro 4. 24 - Taxas liberatórias dos dividendos e mais valias ............................159

Quadro 4.25 - Regimes de dupla tributação de dividendos ....................................164

Quadro 4.26 - Atenuação da dupla tributação dos dividendos em Portugal ..........171

Quadro 4.27 - Convenções para evitar a a dupla tributação dos rendimentos em

dividendos ..............................................................................................................173

Quadro 4.28 - Desvios entre previsões e resultados líquidos (MCO) ....................178

Quadro 5.1 - Nível de importância dos principais factores determinantes para a

política de dividendos .............................................................................................182

Quadro 5.2 - Razões para o pagamento de dividendos ..........................................183

Quadro 5.3 - Caracterização do universo das PME Prestígio ................................185

Quadro 5.4 - Caracterização da amostra de PME Prestígio seleccionada ..............187

Quadro 5.5 - Caracterização sectorial do universo e da amostra ...........................187

x

Quadro 5.6 - Caracterização do universo de inquiridos e do universo de respostas

(MCO) ....................................................................................................................190

Quadro 5.7 - Caracterização sectorial da amostra - PME Prestígio .......................191

Quadro 5.8 - Funções desempenhadas pelo subscritor das respostas ao questionário

(MCO) ....................................................................................................................191

Quadro 5.9 - Funções desempenhadas pelo subscritor das respostas ao questionário

(PME) .....................................................................................................................191

Quadro n 5.10 - Controlo accionista e societário ...................................................192

Quadro 5.11 - Factores utilizados pela empresa na definição da sua política de

dividendos ..............................................................................................................193

Quadro 5.12 - Afirmações relacionadas com as políticas de dividendos das

empresas em geral - Empresas cotadas ..................................................................195

Quadro 5.13 - Afirmações relacionadas com as políticas de dividendos das

empresas em geral - PME Prestígio .......................................................................197

Quadro 5.14 - Componentes principais da política de dividendos das empresas no

MCO .......................................................................................................................202

Quadro 5.15 - Componentes principais da política de dividendos das pequenas e

médias empresas .....................................................................................................204

xi

GRÁFICOS

Página

Gráfico 4.1 - Repartição das transacções por sectores, em 1994 (%) ....................138

Gráfico 4.2 - Índice BVL Geral .............................................................................141

Gráfico 4.3 - Crescimento do PIB e do Índice BVL Geral ....................................142

Gráfico 4.4 - Grau de concentração do capital das empresas cotadas ....................146

Gráfico 4.5 - Evolução dos resultados líquidos e distribuídos ...............................150

Gráfico 4.6 - Evolução da taxa de distribuição ......................................................151

Gráfico 4.7 - Evolução da distribuição por intervalos ...........................................154

xii

AGRADECIMENTOS

A elaboração do trabalho agora apresentado mereceu ajudas de diversa ordem que

se traduziram, por um lado, em diferentes formas de incentivo pessoal e, por outro lado,

em compreensão pelas alterações provocadas na rotina de vida. Assim, o autor não pode

deixar de manifestar o seu profundo reconhecimento a todos quantos, de algum modo, lhe

prestaram auxílio e o encorajaram.

Ao professor doutor Arlindo F. Santos, que aceitou orientar esta dissertação, apesar

dos seus diversos afazeres, e o fez de forma interessada e empenhada, expresso toda a

minha gratidão.

A todas as empresas, que, gentilmente, responderam ao inquérito sobre a política de

dividendos, deixo uma nota pela atenção dispensada.

Quero, também, expressar os meus agradecimentos aos professores do mestrado e

ao seu director, professor doutor Rui Conceição Nunes, pelo empenhamento na sua

organização.

Não posso deixar, por fim, de sublinhar a colaboração prestada pelas seguintes

entidades: Centro de Documentação da Associação da Bolsa de Valores de Lisboa,

Centro de Documentação e Informação do Departamento de Gestão/MBA da

Universidade Nova de Lisboa, Centre de Recherches sur la Gestion (CEREG) da

Universidade de Paris-Dauphine, Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao

Investimento (IAPMEI) e Instituto Superior de Leiria (ISLA).

xiii

NOTA PRÉVIA

Este trabalho propõe-se acompanhar as discussões que têm vindo a ser travadas

sobre o tema da política de dividendos, procurando testemunhar como, após mais de três

décadas de debate e de profunda investigação científica, a teoria financeira continua sem

ter uma resposta para a controvérsia sobre os efeitos da política de distribuição de

resultados.

Quanto à organização interna, o trabalho inclui cinco capítulos, para além da

introdução e das conclusões.

Na introdução, faz-se uma aproximação ao tema e tratam-se alguns tópicos que,

não fazendo rigorosamente parte do trabalho, pareceram merecedores de uma breve

alusão, como por exemplo a referência aos objectivos da gestão e a valorização que o

mercado faz das empresas. Tratando-se de conceitos que são frequentemente utilizados

ao longo da dissertação, pretende-se com a sua inclusão nesta fase esclarecer o sentido,

com que irão ser usados.

No capítulo 1, procura-se caracterizar o debate inicial sobre a política de

dividendos e a sua influência no valor da empresa. Referem-se as primeiras opiniões,

particularmente as de Graham e Dodd e apresentam-se os modelos de Walter e de

Gordon-Shapiro. Menciona-se, ainda, o teorema da irrelevância de Merton Miller e

Franco Modigliani, cuja importância foi determinante para o desenvolvimento e

aprofundamento do debate. Neste primeiro capítulo, é feita, também, uma menção ao

importante estudo de Lintner, bem como aos primeiros testes empíricos que procuraram

confirmar ou não a validade prática da tese de Miller e Modigliani. Referem-se, ainda, as

críticas que estes estudos suscitaram.

xiv

O capítulo 2 trata das relações entre a política de dividendos e a fiscalidade,

apontando-se os argumentos da escola chamada de esquerda radical, para quem um

aumento dos dividendos reduz o valor da empresa. Apresentam-se, também, os primeiros

modelos que tiveram em conta as diferentes taxas de imposto para dividendos e mais-

valias, designadamente os de Farrar-Selwny e Elton-Gruber.

Seguidamente, refere-se a investigação empírica sobre os efeitos dos impostos e do

efeito clientela fiscal, identificado por Miller e Modigliani e estudado inicialmente por

Elton e Gruber. No âmbito da investigação empírica, é feita uma alusão particular, à que

foi desenvolvida com base no Modelo de Avaliação de Activos Financeiros em

Equilíbrio, começando com a modificação proposta por Brennan, tendo em vista integrar

a fiscalidade dos rendimentos das acções. Posteriormente, resumem-se os estudos de

Black-Scholes e de Litzenberger-Ramaswamy, cujas conclusões divergem das obtidas

pelos primeiros investigadores. Apresentam-se de seguida, as críticas de Miller e Scholes

à definição de rendibilidade em dividendos utilizada por Litzenberger e Ramaswamy para

medir o efeito da política de distribuição de resultados no valor da empresa, dado ser

susceptível de confundir os efeitos da fiscalidade com os do conteúdo informativo dos

dividendos.

No capítulo 2, incluem-se, ainda, referências ao artigo de Fischer Black, que sugere

a hipótese da irracionalidade dos investidores, à aquisição de acções próprias como

alternativa aos dividendos em dinheiro e aos efeitos das alterações nas normas fiscais

sobre a política de distribuição de lucros. Seguidamente, procede-se à apresentação da

tese de Miller e Scholes sobre a irrelevância da política de dividendos, mesmo num

mundo com fiscalidade, em virtude de os investidores terem a possibilidade de

compensar os impostos sobre o rendimento em dividendos com o recurso a benefícios

fiscais, inerentes à utilização de instrumentos financeiros alternativos. Conclui-se o

xv

capítulo, com uma referência à verificação empírica da sua «strong irrelevance

proposition».

No capítulo 3, apresentam-se as teorias que procuram sustentar a existência de

políticas de distribuição na prática, apesar da fiscalidade. Mais concretamente, refere-se a

utilização dos dividendos como um meio que os gestores têm de transmitir informações

para o mercado («signalling theories»); da sua justificação, dada a separação da

titularidade dos capitais e da gestão das empresas («agency theories»); e, por fim, as

teorias que analisam o comportamento dos investidores, tal como são descritas pela

psicologia.

Os restantes capítulos deste trabalho abordam a problemática das políticas de

distribuição de resultados no contexto português. O capítulo 4 começa por fazer uma

abordagem ao mercado de capitais. Seguidamente, será objecto da nossa atenção o

comportamento em matéria de políticas de dividendos do universo das empresas, com

acções transaccionadas na Bolsa de Valores de Lisboa (BVL). Visita-se, ainda, o debate

acerca da dupla tributação económica dos dividendos em Portugal.

O capítulo 5 será exclusivamente dedicado ao inquérito, efectuado junto dos

dirigentes das empresas cotadas na BVL, acerca da sua perspectiva sobre as políticas de

distribuição de resultados, na prática. Posteriormente, abordar-se-á esta mesma

problemática no contexto das chamadas pequenas e médias empresas, recorrendo ao

universo das empresas a quem foi atribuído o estatuto de PME Prestígio, dado incluir um

«conjunto de empresas que revelam assinalável capacidade de gestão e de adaptação às

exigências dos nossos tempos» (Pequena e Média Empresa, IAPMEI, Julho 1995, p. 32).

Conclui-se o trabalho com algumas reflexões finais sobre o tema da política de

dividendos e sobre a análise da distribuição de resultados, no contexto português.

1

INTRODUÇÃO

Nas Finanças Empresariais1, a política de dividendos ocupa um lugar central entre

as políticas de investimento e de financiamento, e a gestão operacional das empresas. É

um tema igualmente importante para os investidores individuais, interessados na

rendibilidade dos seus capitais e na gestão das suas carteiras.

O modo de afectar a riqueza adquirida, retendo-a ou pagando dividendos, é uma

questão que, desde sempre, preocupou os dirigentes e os accionistas de qualquer empresa,

tendo como pano de fundo a maximização do seu valor.

A influência da política de dividendos no valor da empresa continua a ser, apesar

de ter sido alvo de larga investigação, uma das áreas mais controversas na teoria

financeira.

Até ao início dos anos 60, a crença, que existia entre os teóricos e os gestores, era a

de que as políticas de distribuição de resultados tinham um efeito positivo sobre o valor

de mercado das empresas e que, por isso, deviam ser praticadas políticas de dividendos

activas. Com a publicação, em 1961, do artigo «Dividend Policy, Growth, and the

Valuation of Shares», Merton Miller e Franco Modigliani dão início a «uma das

discussões mais longas e intratáveis da literatura financeira»2. Neste artigo, Miller e

Modigliani pretendem demonstrar que o valor das empresas é independente das

diferentes políticas de dividendos passíveis de ser seguidas pelos seus gestores. Esta

1 Entende-se por Finanças Empresariais «o conjunto das noções e dos métodos, resultantes da prática ou da

investigação, aplicáveis à condução financeira das empresas e, mais genericamente, das organizações»,

Colasse [55, p. 18]. 2 «One of the longest and most intractable controversies in the literature of finance», Hess [101, p. 445].

2

conclusão, mesmo tendo em consideração os pressupostos restritivos impostos por Miller

e Modigliani e que afastam o seu modelo da realidade, deu início a um debate polémico,

particularmente nos meios académicos. Com o aproximar do final da década, surgiu,

também, uma corrente de pensamento, designada de esquerda radical, que veio defender

que o pagamento de dividendos era contrário aos interesses dos accionistas.

Neste âmbito coloca-se, desde logo, a questão de saber se as empresas devem

reinvestir a totalidade dos seus lucros ou pagar dividendos, e se existe ou não uma

política óptima de distribuição. Estas questões conduziram os teóricos a procurar

respostas para as seguintes perguntas3:

- As empresas que pagam dividendos elevados são mais apreciadas pelos

investidores?

- A ausência de dividendos é ou não um sinal, de que a empresa dispõe de

oportunidades de investimento interessantes que lhe permitirão um aumento futuro do seu

valor?

- É previsível que a empresa possa procurar atrair, com uma determinada política

de dividendos, algum grupo particular de investidores em função da sua situação fiscal?

- Será que a política de dividendos permite aos dirigentes transmitir aos accionistas

o modo como antecipam a rendibilidade futura da empresa?

- Será que a política de distribuição de resultados é um instrumento que permite

regular os conflitos de interesses que possam surgir entre alguns dos intervenientes na

vida da empresa?

- Que política de dividendos maximiza o valor da empresa?

- Devem os gestores da empresa pagar mais ou menos dividendos?

3 Albouy e Dumontier [4, pp. 11 e 55].

3

- Porque pagam as empresas dividendos?

- Será que a política de dividendos é uma variável determinante para o investidor,

quando constitui a sua carteira?

A criação de valor depende, essencialmente, das decisões de investimento tomadas

pela empresa. No entanto, as decisões de financiamento afectam a rendibilidade,

podendo, por isso, potenciar negativa ou positivamente as decisões de investimento.

Quando se coloca a questão de saber se a política de dividendos afecta ou não a

riqueza dos accionistas, está-se, de outro modo, a perguntar se as decisões de

financiamento afectam ou não o valor da empresa.

Como referem Brealey e Myers4, «os dividendos podem ser um subproduto da

decisão de investimento da empresa», quando são pagos «dividendos baixos devido ao

facto de a administração ser optimista quanto ao futuro da empresa e pretende reter lucros

para a sua expansão». Mas os dividendos podem, também, ser «um subproduto da

decisão de endividamento», sempre que a empresa financie «amplamente despesas de

investimento através do recurso ao endividamento», libertando, assim, «disponibilidades

para os dividendos».

Para melhor compreender o efeito da política de dividendos sobre o valor da

empresa, torna-se necessário isolar este problema das Finanças Empresariais de qualquer

outro, designadamente os das decisões de investimento e de financiamento.

Nestas circunstâncias, a questão que se deve colocar é5: «Qual o efeito de uma

alteração da política de distribuição de dividendos6, conhecidas as decisões da empresa

no que se refere aos investimentos e ao endividamento?»

4 Brealey e Myers [40, p. 371]. 5 Brealey e Myers [op. cit., p. 371].

4

Conhecidas que sejam as decisões de investimento e financiamento da empresa, a

política de dividendos pode definir-se como «uma alternativa entre a retenção de lucros,

por um lado, e o pagamento de dividendos e a emissão de novas acções, por outro lado»7.

Assim, a política de dividendos é uma componente da estratégia financeira da empresa,

dado que se refere à repartição dos lucros entre pagamento aos accionistas e o seu

reinvestimento na empresa, quer seja para financiar novos investimentos, quer seja para

reduzir o nível de endividamento. Se considerarmos que a política de investimentos é

independente da política de dividendos, e se as oportunidades de investimento

corresponderem a montantes que excedam os lucros, então o aumento dos dividendos

traduz-se na necessidade do recurso a maior montante de fundos externos.

Consequentemente, a escolha de uma política de dividendos com uma política de

investimentos constante, é, realmente, uma decisão financeira estratégica. A política de

dividendos pode ser, também, uma decisão estratégica, caso a decisão de investimento

seja influenciada pelo montante dos dividendos pagos. Este será o caso, em que o gestor

decide manter ou mesmo aumentar os dividendos quando os fundos externos necessários

são mais caros do que os obtidos através do autofinanciamento, o que pode conduzir a um

corte no programa de investimentos. Mas, segundo alguns, a política de dividendos

poderá não ser exactamente um subproduto da política de investimento, caso as empresas

paguem como dividendos apenas os lucros que excedem as necessidades de fundos para

financiar as oportunidades de investimento sejam interessantes8.

6 Apesar de se optado por manter a citação tal como consta da tradução portuguesa para a 3ª edição,

considera-se que a expressão política de dividendos é melhor que política de distribuição de dividendos,

dado que dividendos são lucros distribuídos aos accionistas de uma empresa. 7 Brealey e Myers [op. cit., p. 371]. 8 «The dividend decision is not just a by-product of the capital-budgeting decision, with companies paying

out in dividends only those internally generated funds that exceed its investment requirements», Shapiro

[182, p. 525].

5

O pensamento e a teoria financeira têm, como já se referiu, evoluído ao longo do

tempo, sem que se tenha verificado unanimidade de opiniões sobre o modo como a

política de dividendos afecta o valor da empresa. Seguindo de perto a classificação feita

por Brealey e Myers, é possível identificar três pontos de vista:

- Um grupo conservador (os das direitas) acredita que maiores dividendos

aumentam o valor da empresa,

- Um grupo radical (a esquerda radical) argumenta que um aumento dos

dividendos reduz o valor da empresa, e

- Um grupo intermédio (os centristas) defende que a política de dividendos não tem

qualquer relevância sobre o valor da empresa.

No entanto, as políticas de distribuição das empresas, na prática, têm, de algum

modo, desafiado os argumentos apresentados para o não pagamento de dividendos, pelo

que se torna necessário encontrar outras explicações para o comportamento das empresas.

Assim, têm surgido justificações que passam pelas teorias dos sinais e de agência e pela

necessidade de se redefinirem as ideias que prevalecem sobre o comportamento racional

dos investidores.

Para melhor compreender o modo de afectar a riqueza adquirida e,

consequentemente, a influência da política de dividendos sobre o valor de mercado dos

capitais próprios, torna-se conveniente uma referência à gestão financeira e aos

objectivos da empresa.

A moderna gestão financeira engloba um conjunto de tarefas relacionadas com as

decisões operacionais e a estratégia financeira.

No âmbito da gestão financeira a médio e longo prazo, as preocupações têm a ver

com as políticas de investimento e de financiamento e, ainda, com a política de

distribuição de resultados. Assim, a gestão financeira estratégica tem como objectivos:

6

- A análise da rendibilidade e do risco potencial das decisões que implicam um

dispêndio de fundos no presente, em troca de um potencial de entrada de fundos no

futuro;

- Proporcionar à empresa os fundos, necessários para financiar a sua política de

investimento e de desenvolvimento;

- O estudo da melhor forma de afectar a riqueza adquirida pela empresa, entre a

retenção em reservas e o pagamento de dividendos9, atendendo às condições legais e

fiscais, a que a empresa e os detentores do capital estão sujeitos.

Todavia, dado que as metas da gestão financeira se enquadram nos objectivos da

empresa, torna-se necessário identificá-los.

Como refere Colasse10, «existem muitas teorias relativas aos objectivos da

empresa», podendo distinguir-se «não só pela natureza dos objectivos que privilegiam,

mas também pela forma como a sua concretização é concebida».

Têm sido apontados diversos objectivos para a empresa, como por exemplo os

seguintes:

- Maximização do seu valor para os accionistas;

- Maximização dos lucros;

- Maximização de uma função utilidade dos dirigentes;

- Sobrevivência;

- Crescimento;

- Maximização das remunerações dos dirigentes;

- Motivações de poder, de prestígio e de segurança dos dirigentes da empresa;

- A maximização do volume de negócios;

9 De acordo com Neves [151, p. 16], a política de dividendos tem um caracter marginal. 10 Colasse [op. cit., p. 33].

7

- A obtenção de uma determinada quota de mercado;

para além de outros.

Como o problema da identificação dos objectivos da empresa se mantém, torna-se,

então, necessário identificar um, que permita orientar as decisões financeiras de

investimento, financiamento e distribuição de resultados.

É geralmente considerado como objectivo prioritário, para quem investe, a

maximização da sua riqueza ou o seu equivalente que é a maximização do preço das

acções.

O conceito de maximização do valor da empresa11, relativamente a qualquer um

dos anteriores, tem, na teoria financeira, a vantagem de combinar a rendibilidade, o risco

das diversas opções, o crescimento, as datas em que os rendimentos são gerados e, ser

extensivo a qualquer forma jurídica que a empresa assuma e ao estatuto inerente aos

titulares do seu capital12.

Encontrado, que está, o objectivo global da empresa, torna-se igualmente

necessário identificar os instrumentos que o tornam operacional, ou seja, identificar a

forma de traduzir, na prática, o conceito de «maximização do valor actual dos fluxos

monetários que, no futuro, a empresa poderá vir a conferir aos titulares do seu capital»13,

o qual é um reflexo das políticas de investimento, de financiamento e de dividendos da

empresa14.

11 Levy, Levy e Sarnatt, Marshall em "A Pedagogic Note on Alternative Formulations of the Goal of the

Firm", Journal of Business, 50(4), Oct. 1977, pp. 526-528, citados por Cardão Pito [167, pp. 55-57],

mostraram a equivalência entre os conceitos "maximização do valor da empresa", "maximização da cotação

das acções" e "maximização da riqueza dos accionistas". 12 Por outro lado, confrontando directamente o conceito de maximização do valor com o de maximização

dos lucros, podem-se assinalar a este objectivo as seguintes limitações: a definição de lucro é vaga, não

considera o factor tempo e ignora o risco. 13 Neves [op. cit., p. 20]. 14 «Value is represented by the market price of the company`s common stock, which, in turn, is a reflection

of the firm`s investment, financing, and dividend decisions», Van Horne [199, p. 6].

8

O valor actual de um qualquer activo, para além de ser quantificado através dos

seus fluxos financeiros futuros, pressupõe que estes sejam actualizados a uma taxa

adequada. Se considerarmos um mundo, tal como foi definido por Miller e Modigliani,

que se caracteriza pela existência de concorrência perfeita, pelo comportamento racional

dos investidores e pela ausência de incerteza quanto ao futuro, a «cotação das acções será

tal que a rendibilidade do investimento (dividendos mais ganhos de capital por unidade

monetária investida), será sempre a mesma para todo e qualquer título e para qualquer

período de tempo»15. Nestas condições o modelo de valorização das acções seria o

seguinte:

pj,t = 1 / (1 + kt) . (dj,t + pj,t+1)

sendo: pj,t o preço das acções da empresa j no início do período t, após o pagamento dos

dividendos de t-1; dj,t os dividendos por acção pagos pela empresa j no período t; e kt a

taxa de actualização adequada.

Assumindo que: a taxa de rendibilidade do mercado, k, é a mesma para qualquer

período de tempo; Xt representa o lucro líquido obtido pela empresa no período t; e It os

investimentos efectuados no mesmo período, Miller e Modigliani mostram que o valor da

empresa, ou seja, o valor de mercado dos seus capitais próprios é dado por16:

V0 = .

Os mercados são considerados eficientes quando toda a informação é amplamente

acessível e barata para os investidores e, no caso de ser relevante, se reflecte

15 «The price of each share must be such that the rate of return (dividends plus capital gains per dollar

invested) on every share will be the same throught the market over any given interval of time.», Miller e

Modigliani [144, p. 631]. 16 Miller e Modigliani [op. cit., pp. 634-642] mostram, também, que na sua economia ideal, esta fórmula é

equivalente às fórmulas alternativas de cálculo do valor das acções de uma empresa que se baseiam no

valor actual do cash flow futuro, nos resultados actuais mais as oportunidades de investimento futuras, no

fluxo de dividendos futuros e no fluxo de resultados futuros.

1 / (1 + k) . (X - I ) t+1

t t

t=0

9

imediatamente sobre o preço dos títulos. Assim, num mercado eficiente, pode-se confiar

nos preços, dado incorporarem toda a informação disponível sobre o valor de cada título.

Para os defensores da racionalidade dos mercados financeiros, o valor de uma

acção é igual à soma actualizada dos dividendos futuros. Todavia, o cálculo do valor das

acções com base no modelo do valor actual dos dividendos futuros - «dividend discount

model» - nem sempre se mostrou muito conforme com os valores do mercado de capitais.

Sendo as cotações mais voláteis do que os dividendos, levantam-se as seguintes questões:

Haverá alguma irracionalidade nos mercados? Será que os preços não são bons

estimadores do valor da empresa?

Fama e French17, ao procurarem testar a hipótese da previsibilidade da

rendibilidade das acções a partir das taxas de rendimento em dividendos, deixaram a

sugestão de um comportamento não racional dos intervenientes no mercado, ao

descobrirem que a rendibilidade em dividendos apenas explicava menos de 5% da

variância da rendibilidade dos títulos no curto prazo18.

Fama e French propuseram-se verificar a validade do seguinte modelo de

regressão:

Rt, t+T = + Dt / Pt + t, t+T,

sendo: Rt, t+T a rendibilidade no mercado bolsista, entre a data t e a data do pagamento do

dividendo, em t+T; o termo independente; Dt/Pt o rendimento em dividendos; e t, t+T

o termo de erro.

17 FAMA, Eugene F. e FRENCH, Kenneth R., "Dividend Yields and Expected Stock Returns", Journal of

Financial Economics, 22, 1988, pp. 3-25. 18 «The interesting economic question, motivated but unresolved by our results, is whether the

predictability of returns implied by such temporary price components is driven by rational economic

behavior (...) - or by animal spirits», Fama e French [op. cit., p. 5].

10

Os resultados obtidos permitiram verificar que: i) para um horizonte superior a dois

anos, a capacidade de previsão da rendibilidade era explicada pelo modelo em mais de

35% (valor obtido para o coeficiente de determinação), e ii) o coeficiente de

determinação, R2, crescia com o aumento do horizonte temporal.

Assim, não parece ser possível garantir que «a aprendizagem dos diferentes

intervenientes nos mercados financeiros e as suas actividades de arbitragem19 em

concorrência sejam suficientes para eliminar a irracionalidade e a ineficiência desses

mercados»20.

A hipótese dos mercados eficientes, como se referiu, pressupõe que os mercados

recolham e processem eficientemente a informação disponível. Neste caso, os preços

seguem um rumo aleatório. E isso acontece, porque os investidores são racionais e

competitivos. Esta teoria da variação aleatória dos preços21 corresponde à forma como a

tese das expectativas racionais22 tem sido aplicada nos mercados financeiros.

A teoria das expectativas racionais assume que os agentes económicos tomam as

suas decisões ao longo do tempo na presença de restrições bem definidas, e assenta no

pressuposto, de que as expectativas das pessoas acerca dos valores das variáveis

económicas, apesar de serem individuais e subjectivas, são, em média, equivalentes à

esperança matemática, condicionada à informação disponível para os valores dessas

19 O conceito de arbitragem traduz a possibilidade de se obter um lucro isento de risco, em virtude de ser

possível trocar «um título por um outro, vendendo-se o primeiro para se adqurir o segundo, na mira deste

vir a ter um melhor rendimento», CONSO, Pierre et al., Dicionário de Gestão Financeira, Rés Editora,

Porto, 1985. 20 Cardão Pito [167, p. 81]. 21 Esta teoria, que, na literatura anglo-saxónica, aparece designada por «random walk theory», considera

que as probabilidades, de que o preço de um título suba ou desça em determinada data, são, relativamente à

cotação da véspera, iguais a cinquenta por cento. 22 A teoria das expectativas racionais, que é geralmente atribuída a John F. Muth, "Rational Expectations

and the Theory of Price Movements", Econometrica, 29, 1961, pp. 315-325, foi explorada por Robert

Lucas, Jr., a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Economia de 1995.

11

variáveis. Isto significa que, para o caso do mercado de capitais, não é necessário que

todos os investidores tenham a mesma sensibilidade ao preço, sendo suficiente a

participação activa de um conjunto de indivíduos no mercado, em busca de oportunidades

de lucro. Caso se verifique uma actividade suficiente de arbitragem23, o mercado no seu

conjunto terá um comportamento racional, mesmo quando muitos dos intervenientes

tenham uma actividade passiva. Tem-se, então, que é a actividade dos participantes no

mercado que faz, com que os mercados financeiros funcionem de forma eficiente,

assegurando-se, assim, que as cotações reflectem toda informação disponível em cada

momento.

Todavia, a hipótese das expectativas racionais, que está subjacente ao

funcionamento dos mercados de capitais, foi questionada por alguns autores, sendo de

destacar a tese apresentada por Robert Shiller24.

Shiller comparou valores históricos dos preços das acções, para um período longo,

com valores estimados a partir dos dividendos pagos, tendo concluído que: i) os

mercados financeiros são irracionais, uma vez que a curva das cotações não estava

ajustada à dos preços estimados; e ii) os dividendos futuros não permitiam explicar as

variações verificadas no mercado, em virtude de se pretender explicar as variações nos

preços a partir de uma variável que flutuava menos do que estes. A excessiva volatilidade

das cotações, relativamente à dos dividendos levou-o a concluir que o mercado é mais

comandado por factores psicológicos do que pela razão.

Para este e outros autores desta corrente de pensamento, a variabilidade das

cotações não pode ser explicada em termos de alterações racionais nas expectativas dos

23 Uma hipótese, que também está implícita à teoria das expectativas racionais, é a de que os custos de

arbitragem são reduzidos. 24 SHILLER, Robert J., "Do Stock Prices Move too much to Be Justified by Subsquent Changes in

Dividends", American Economic Review, 71(3), June 1971, pp. 421-436.

12

cash flows futuros, dado terem verificado um fenómeno de volatilidade excessiva dos

preços relativamente à dos dividendos. Os defensores desta tese consideram que os

mercados são mais influenciados pela psicologia de massas do que pela razão.

A tese de Shiller e dos seus seguidores foi posta em causa em 1986 por Kleidon25 e

por Jacquillat26 em 1987, referindo que, para além de contestável, a argumentação não era

suficiente para demonstrar a ineficiência e a irracionalidade do mercado, em virtude de: i)

a maior regularidade da curva dos preços estimados se dever ao facto de ela reflectir os

valores actuais dos dividendos conhecidos a posteriori, enquanto os valores reais

representam o valor actual dos dividendos antecipados; ii) uma modificação no dividendo

traduzir uma revisão da série de dividendos antecipados, logo uma variação nas cotações

reais; e iii) a curva dos preços estimados ser construída, após serem conhecidos os

dividendos ex-post, pelo que não integrava qualquer revisão das antecipações, o que

ocasionava uma menor volatilidade dos preços. A este propósito, é de referir que,

segundo Albouy e Dumontier27, «a constatação de que uma excessiva volatilidade das

cotações não é um elemento susceptível de por em causa a hipótese da eficiência dos

mercados financeiros, foi validada por inúmeros trabalhos empíricos»28.

Após se ter identificado o conceito maximização do valor de mercado dos capitais

próprios, como objectivo da empresa, e da abordagem feita ao funcionamento do

mercado de acções, propomo-nos, agora, visitar o debate que a política de dividendos tem

25 KLEIDON, A., "Anomalies in Financial Economics: Blueprint for Change?", Journal of Business, 59(4),

pp. S469-S499, citado em Albouy e Dumontier [op. cit., p. 81]. 26 JACQUILLAT, B., "L` Industrie Malade de la Finance: Une Déclinaison du Mythe", Lettre de

L`Association Française de Finance, Avril 1987, citado em Albouy e Dumontier [op. cit., p. 81]. 27 Albouy e Dumontier [op. cit., p. 81]. 28 Todavia, Brealey e Myers [op. cit., p. 919], quando listam os dez problemas de Finanças não resolvidos

questionam: «Há excepções importantes à teoria dos mercados financeiros? A teoria dos mercados

eficientes é sólida, mas nenhuma teoria é perfeita - deve haver excepções».

13

suscitado ao longo do tempo. Iniciaremos o percurso pela caracterização da primeira

década de debate.

14

CAPÍTULO 1

A POLÍTICA DE DIVIDENDOS: O DEBATE NOS ANOS 60

Quando se aborda a problemática da política de dividendos, uma das questões que,

desde logo, se coloca, é a de saber se tal política influencia ou não o preço de uma acção

ou a capitalização bolsista das empresas. De seguida, caso a resposta seja afirmativa,

levanta-se a questão de saber qual é melhor política de dividendos, tendo presente o

objectivo de maximizar o valor da empresa.

A primeira relação conhecida entre dividendos e o preço de mercado de uma acção,

ou seja, o valor da empresa, foi estabelecida em 1938 por John Burr Williams, que

definia, então, o valor de mercado de um activo financeiro como sendo «the present value

of all the estimated future dividends, properly discounted for the futurity and the

alternative opportunities available to the investor»1. A perspectiva de que, na avaliação de

acções, os dividendos são fundamentais, foi ainda ilustrada por Williams2, recorrendo à

imagem de um conselho dado por um velho camponês ao seu filho:

«A cow for her milk,

A hen for her eggs,

And a stock by heck,

For her dividends.

An orchard for fruit,

Bees for their honey,

And stocks, besides,

1 Philippatos e Sihler [165, pp. 226-227]. 2 WILLIAMS, John B., The Theory of Investment Value, Harvard University Press, Cambridge, Mass.,

1938, citado por Levy e Sarnat [118, pp. 516].

15

For their dividends.»3

Posteriormente ao trabalho de Williams, que identificava o objectivo da empresa

como sendo a maximização dos lucros, e que não acreditava que os dividendos tornavam

os accionistas mais ricos4, surgiram diferentes autores que procuraram analisar a

problemática da política de dividendos e da sua influência sobre o valor da empresa. As

divergências de opinião, quanto à influência da política de dividendos sobre a

capitalização bolsista das empresas, têm muito a ver com as diferentes perspectivas de

cada uma das partes envolvidas na polémica.

Tendo em atenção o modo como olhavam para a política de dividendos e se

consideravam que tinha ou não um papel activo ou residual, podem identificar-se, neste

período, três teorias: a residual dos dividendos (Walter, 1956 e 1963); a da irrelevância

dos dividendos (Modigliani e Miller, 1961); e a da relevância dos dividendos (Gordon,

1962 e 1968). Contudo, antes de analisar cada uma destas teorias, vamos fazer uma

referência ao pensamento que era quase universalmente aceite até ao início do debate.

1.1. A visão histórica dos dividendos

A perspectiva tradicional era marcada pelo ponto de vista dos profissionais dos

mercados financeiros, sendo personificada por Graham e Dodd5. A recomendação ia no

sentido do pagamento de elevados dividendos e, sempre que possível, de os aumentar de

3 Williams, citado ainda por Levy e Sarnat [op. cit., p. 516], concluiu: «The old man knew where milk and

honey came from, but he made no such mistake as to tell to his to buy a cow for her cud or bees for their

buzz». 4 Brealey e Myers [40, p. 377] referem-se a J. B. Williams como tendo antecipado em 1938 os argumentos

que Miller e Modigliani vieram a apresentar em 1961.

5 GRAHAM, Benjamin e DODD, David, Security Analysis: Principles and Thecniques, 3rd ed., MacGraw

Hill Books Company, NY, 1951, citados por Hess [101].

16

valor, como forma de, assim, se valorizarem as acções. Esta perspectiva está de acordo

com o modelo tradicional de avaliação dos activos financeiros pelos dividendos6.

Na época, tanto para os teóricos como para os gestores, a convicção era, a de que os

investidores preferiam dividendos a mais-valias, e a de que as empresas «could increase

or, at least, support the market value of their shares by choosing a generous dividend

policy»7. Segundo José e Stevens [109] e Hess [101], a preferência dos investidores por

dividendos estava relacionada com a sua segurança, comparativamente à incerteza

associada aos ganhos de capital. Graham e Dodd sustentavam tal preferência escrevendo:

«Two companies with the same general earning power and same general position in

an industry, the one paying larger dividend will almost sell at a higher price.»8

Graham e Dodd defendiam, ainda, a importância de uma política de dividendos

liberal, argumentando9:

«The considered and continuous veredict of stock market is overwhelmingly in

favour of liberal dividends as opposed to niggardly ones. The common stock investor

must take this judgement into account in valuation of stock purchase. It is now

becoming a standard practice to evaluate common stock by applying one multiplier

to that proportion of earnings paid out in dividends and a much smaller multiplier to

the undistributed balance.»

A perspectiva ortodoxa dos dividendos foi, como se referiu, inicialmente defendida

por Graham e Dodd em 1951, tendo, então, considerado importante o pagamento de

dividendos elevados, dado que «originates from the unscientific but enduring belief on

6 No caso das acções, a remuneração dos investimentos pode assumir a forma de dividendos e/ou ser

constituída pela variação do valor de mercado do activo financeiro que, consoante se trate de um acréscimo

ou de uma redução de valor, se designa por mais ou menos valia. Em qualquer dos casos, o que se assume

ao longo do texto, o rendimento total de um investimento em acções corresponde à soma dos rendimentos,

em dividendos e em mais (menos) valias. Consequentemente, pode-se falar nas seguintes três medidas de

rendibilidade de uma aplicação financeira em acções: a rendibilidade em dividendos, a rendibilidade em

mais valias e a rendibilidade total que, naturalmente, corresponde à soma das anteriores. 7 HESS, Patrick, "The Dividend Debate: 20 Years of Discussion", in Stern e Chew [ 192, p. 445]. 8 GRAHAM, Benjamin e DODD, David, Security Analysis: Principles and Thecniques, MacGraw Hill

Books Company, NY, 1961, citados por Malecot [138, p. 4]. 9 Graham e Dodd, op. cit., citados por Hess [101, p. 445].

17

Wall Street that investors want higher dividend payouts»10, em virtude de considerarem

que «the discounted value of near dividends is higher that the present value worth of

distant capital gains»11.

1.1.1. A fórmula de Graham e Dodd

Benjamin Graham e David Dodd12 procuraram determinar o valor de uma acção a

partir da capitalização dos resultados e dividendos futuros. A fórmula que apresentam

assenta no resultado por acção e no PER13, dado que, por um lado, o nível de resultados

da empresa é evidenciado pelo resultado por acção e, por outro lado, o PER é o múltiplo

adequado, supondo a eficiência dos mercados. Alternativamente, poder-se-ia utilizar a

taxa de capitalização do mercado14 e o lucro por acção.

Para o caso de empresas sem crescimento (caracterizadas por terem uma taxa de

distribuição de resultados de 100%), Graham e Dodd sustentam, com base em

observações empíricas, que os lucros devem ser capitalizados a uma taxa de 11,765%

(correspondente a um PER de 8,5). Assim, o valor da empresa seria dado por:

[1.1] V = PERnormal . LPA V = 8,5 x LPA,

sendo: PERnormal o múltiplo da relação preço/lucro por acção, para empresas da mesma

classe de risco e que, para o caso de uma empresa que não retém lucros, era de 8,5; e

LPA o lucro por acção actual e futuro, caso a empresa distribua todos os resultados.

10 Shapiro [182, p. 541]. 11 Malecot [138, p 4]. 12 GRAHAM, B, DODD, D. L. e COTTLE, S., Security Analysis, 4th ed., McGraw Hill, 1962, citados por

Hampton [99, pp. 380-383]. 13 PER - «Price Earnings Ratio» - razão entre o preço e o lucro por acção (=P/LPA). 14 A taxa de capitalização do mercado é dada pelo quociente do lucro por acção pelo preço (=LPA/P), ou

seja, o inverso do PER.

18

Segundo Graham e Dodd, as empresas na fase de maturidade devem pagar

dividendos elevados de forma a reduzirem a incerteza do investimento em acções, visto

que os mercados não são perfeitos e existem riscos de falência e de insolvência. Assim,

os dividendos reduzem a incerteza e aumentam o preço da acção da empresa.

Graham e Dodd calculam o valor real da acção com base na técnica de

capitalização, separando o LPA15 em dividendo por acção, DPA, e resultado retido por

acção, RRA. Assumem que devem ser distribuídos 2/3 dos seus resultados e retidos os

restantes 1/3, Então, o valor da empresa, dado que seria calculado do seguinte modo:

[1.2] V = PERnormal . (DPA + 1/3 LPA).

Esta fórmula permite, segundo eles, capitalizar os lucros retidos e os dividendos e

só é equivalente à capitalização dos lucros totais quando a empresa distribui 2/3 dos seus

resultados. Assim, sempre sejam pagos dividendos inferiores, o valor da empresa

diminui, aumentando quando os dividendos aumentam.

1.2. A Teoria Residual dos Dividendos

Os dividendos, ao serem pagos, fazem baixar a capacidade de autofinanciamento da

empresa. Verificando-se tal situação, a política de dividendos, segundo esta perspectiva

de análise, terá um efeito negativo sobre a política de investimentos da empresa. O efeito

negativo só não se verificará se a empresa privilegiar a retenção dos lucros e o seu

reinvestimento. Por outro lado, apenas deve haver pagamento de dividendos se, após a

concretização de todas as oportunidades de investimento aceitáveis, existirem lucros

disponíveis.

15 O lucro por acção (LPA) ou «earnings per share» (EPS) é a relação entre o montante de lucros e o

número total de acções (= lucros/nº acções).

19

Nestas circunstâncias, os dividendos são encarados como um resíduo, e a política

de dividendos aparece como um subproduto da decisão de investimento. Assim, devem

ser distribuídos todos os lucros que excedam o montante necessário para financiar as

oportunidades de investimento aceitáveis16. Por outro lado, sempre que as necessidades

de fundos sejam superiores aos lucros da empresa, não deverá haver pagamento de

dividendos, tornando-se, ainda, necessário efectuar aumentos de capital para satisfazer as

necessidades ainda em falta.

O tratamento da decisão de pagamento de dividendos seguiria, então, os seguintes

passos:

1º - Determinação do nível óptimo de investimento;

2º - Cobrir as necessidades de financiamento de novos investimentos apenas com

capitais próprios;

3º - Utilização dos lucros retidos para satisfazer as exigências de capital próprio

previamente determinadas, dado considerar-se que o custo dos lucros obtidos é inferior

ao custo de emissão de novas acções. Verificando-se que os resultados retidos são

insuficientes, devem ser emitidas e vendidas novas acções. No caso contrário, o

excedente será distribuído.

Conclui-se portanto, que a decisão de pagamento ou não de dividendos depende da

relação existente entre as necessidades de capital próprio para financiar o crescimento e

os lucros retidos. Assim, sempre que:

- as necessidades de capital próprio lucros não deverá haver pagamento de

dividendos,

16 Segundo esta perspectiva, os gestores acreditam que os accionistas podem investir os fundos

excedentários disponíveis de um modo mais atractivo e obter maior rendibilidade do que a que poderia ser

alcançada pela própria empresa.

20

- as necessidades de capital próprio lucros deverá distribuir-se o excedente.

A teoria residual dos dividendos dá, portanto, ênfase ao uso dos fundos gerados

internamente para financiar novos investimentos antes de qualquer pagamento de

dividendos, o que é compatível com a perspectiva sobre a estrutura do capital que

privilegia o recurso ao autofinanciamento, preferencialmente ao endividamento17.

Entretanto, para melhor apreciar a alternativa distribuição-retenção, é importante

comparar a rendibilidade dos investimentos e o custo do capital da empresa. Assim

sempre que, do ponto de vista da empresa, a rendibilidade dos investimentos seja superior

ao custo do capital, a empresa deve financiar os seus projectos com lucros retidos e só

haverá pagamento de dividendos caso haja algum excedente. Dito de outro modo, a

empresa utilizará prioritariamente o autofinanciamento ao aumento de capital próprio por

venda de novas acções18.

De igual modo, na perspectiva dos investidores, os dividendos devem ser

determinados em função da rendibilidade esperada dos investimentos da empresa. Neste

contexto, qualquer decisão de distribuição de resultados elevados pode ser interpretada

como sinal de ausência, na empresa, de projectos de investimento com rendibilidade.

1.2.1. O modelo de Walter

A fórmula de Graham e Dodd caracteriza-se por ter sido pioneiro no estudo das

relações entre risco e rendimento e por ter combinado considerações qualitativas e

quantitativas no modelo de avaliação. Todavia, não assenta na teoria financeira, dado

postular relações fundamentadas empiricamente e não com base em hipóteses.

17 Qualquer destas ópticas dá ênfase ao autofinanciamento como sustentáculo das decisões dos gestores. 18 Esta recomendação fundamenta-se no facto de, contrariamente ao que acontece com o

autofinanciamento, a operação de aumento de capital ter custos de emissão e venda associados.

21

Em 1956, Walter19 desenvolveu o suporte teórico para aquela fórmula, que

considera que a política de dividendos afecta o valor da acção.

Como vimos, para Graham e Dodd, o valor da empresa é dado pela expressão:

V = PERnormal x (DPA+1/3LPA),

em virtude de assumirem que a empresa deve distribuir 2/3 dos seus resultados e reter os

restantes.

Considerando a fórmula da capitalização dos resultados, o preço de cada acção, p, é

dado por:

[1.3] p = LPA/k,

com k igual à taxa de capitalização, exigida pelos investidores20 , e o valor da empresa,

V, por:

[1.4] V = (D + RR) / k,

dado os lucros totais corresponderem à soma dos resultados retidos e distribuídos.

Contudo, sendo os mercados imperfeitos, a taxa de rendibilidade efectiva da

empresa, r, que se exprime pela fórmula: r = LPA/P, pode não coincidir com a taxa de

capitalização normal, k.

Segundo Walter, a variável crítica que afecta o valor de mercado dos capitais

próprios em mercados imperfeitos, é a relação entre as taxas de rendibilidade efectiva e

normal. Assim, considera-a na equação [1.4], afectando-a aos resultados retidos, tendo

em vista aumentar ou reduzir o seu peso relativo, pelo valor actual dos capitais próprios é

dado por:

[1.5] V = (D + r/k RR) / k,

19 WALTER, James E., "Dividend Policies and Common Stock Prices", Journal of Finance, 11, March

1956, pp. 29-41, citado por Albouy e Dumontier [4, pp. 60 e ss]. 20 A taxa de capitalização dos investidores é dada pelo rácio lucro por acção/preço da acção.

22

ou ainda, considerando que os resultados retidos são dados pela diferença entre os lucros

totais e os dividendos, por:

[1.5a] V = (D + r/k (E-D)) / k,

sendo: D é o montante total de dividendos actuais; E o valor dos resultados líquidos; r a

rendibilidade dos investimentos adicionais e k a taxa de capitalização exigida pelo

mercado.

A fórmula proposta por Walter pressupõe que: i) o endividamento é constante; ii)

os resultados retidos são a única fonte de capitais permanentes adicionais; iii) as taxas de

rendibilidade dos investimentos adicionais e o custo dos capitais permanentes são

constantes; e iv) os resultados distribuídos são pagos imediatamente aos investidores.

A partir da fórmula anterior pode obter-se o preço de uma acção:

[1.6] p = [DPA + r (LPA - DPA) / k] / k,

sendo DPA o dividendo por acção, LPA o lucro por acção, r a taxa de rendibilidade

efectiva dos investimentos e k a taxa de rendibilidade exigida pelo mercado.

De acordo com este modelo, a política de dividendos óptima é, a que maximiza o

valor da acção, sendo determinada pela relação entre k e r. Temos, então, três situações

possíveis:

- k > r: Se o custo dos capitais permanentes for superior à taxa de rendibilidade

dos investimentos adicionais, temos que o valor da empresa será tanto maior quanto mais

elevado for o montante dos dividendos. Assim, o valor máximo da empresa será atingido

quando os resultados forem integralmente distribuídos, ou seja, quando LPA = DPA;

- k < r: Se a rendibilidade dos investimentos adicionais for superior ao custo dos

capitais permanentes, tem-se que o valor da empresa será tanto mais elevado quanto

maior for o montante de resultados retidos. Neste caso, o valor óptimo será alcançado

quando os dividendos forem nulos, i.e., quando DPA = 0;

23

- r = k: Se a rendibilidade dos investimentos adicionais for igual ao custo dos seus

capitais permanentes, então o valor da empresa será independente da opção entre

retenção ou distribuição dos resultados.

O pressuposto básico da teoria residual dos dividendos é o de que os investidores

preferem que a empresa retenha os seus lucros e os reinvista, sempre que a rendibilidade

dos investimentos adicionais seja superior àquela que poderiam obter se reinvestissem os

dividendos recebidos21.

A teoria residual dos dividendos conduz a que a taxa de distribuição seja variável,

sendo isso mais evidente nas empresas em crescimento rápido, o que não parece ser

muito consistente com o comportamento das empresas na prática22.

21 Pode-se, portanto, concluir que a opção entre retenção dos resultados ou a sua distribuição, está

dependente das oportunidades de investimento ao dispor da empresa e da sua rendibilidade. Então, parece

que só por si, a política de dividendos não influencia o valor de mercado da empresa. Esta não é a

conclusão de Walter, que defende a influência da política de dividendos no valor dos capitais próprios da

empresa. 22 Contudo, a política de dividendos residual pode ser implementada de três formas distintas: residual pura,

residual regular, e residual com um rácio de pagamento de dividendos constante.

No caso de uma política de dividendos residual pura, os dividendos flutuam de período para período, em

função das variações que ocorram nos lucros da empresa e nas suas oportunidades de investimento.

Trata-se de uma situação, em que se pode verificar uma enorme volatilidade nos dividendos,

particularmente quando o padrão de resultados e de investimento é oposto. Caso tal política seja seguida, é

de esperar que empresas com crescimento rápido e com diversas oportunidades de investimento, paguem

dividendos baixos (Veja-se para o caso português, o exemplo do BCP, que pode ser considerado como

tendo um crescimento rápido e oportunidades de investimento) ou não paguem qualquer dividendo.

Contrariamente, empresas na fase de maturidade, com poucas oportunidades de investimento, tenderão a

pagar elevados dividendos.

Todavia, na prática, é frequente verificar-se que as empresas tendem a manter um dividendo por acção

relativamente estável, em vez de praticarem uma política de dividendos que varie de um ano para outro.

Estar-se-á, então, perante uma segunda versão da política de dividendos com caracteristicas de regularidade

- política de dividendos residual regular. De acordo com esta perspectiva da política de dividendos residual,

verifica-se que as empresas apenas aumentam o dividendo por acção, quando os gestores estão convencidos

de que os lucros futuros esperados são suficientemente altos para justificar dividendos altos e que são

pouco frequentes as diminuições nos dividendos por acção (e há mesmo relutância em cortar nos

dividendos), ocorrendo apenas, quando os lucros esperados são tais que não é possível sustentar o nível de

dividendos que se vem praticando (Este comportamento foi comprovado, na prática, através de alguns

estudos, designadamente os de Lintner (1956), Fama e Babiack (1968), referidos mais adiante.). As

consequências imediatas de tal política são tais que as alterações nos dividendos ocorrem com algum

24

1.2.2. Avaliação do modelo de Walter

Segundo Walter, sendo os mercados imperfeitos, a variável crítica que afecta o

valor intrínseco da empresa, é, como vimos, a relação entre a taxa de rendibilidade

efectiva e a exigida pelo mercado. Por isso, o seu modelo de avaliação incorpora aquela

relação, de forma a aumentar ou reduzir o peso relativo dos lucros retidos na fórmula de

capitalização dos lucros.

De acordo com a fórmula de capitalização dos lucros de Walter, pode concluir-se

que: as empresas com maior rendibilidade efectiva superior à exigida, tendem a reter os

lucros e a reinvesti-los para obterem maior rendimento; as empresas com rendibilidade

inferior à exigida, tendem a pagar dividendos para maximizarem o preço da acção; e as

empresas com rendibilidades equivalentes, podem ou não pagar dividendos.

O modelo de Walter trouxe, portanto, uma contribuição importante para a

problemática das relações entre a política de dividendos e o valor da empresa, sugerindo

que, se os resultados distribuídos afectam o valor de mercado dos capitais próprios, a

variável crítica é a rendibilidade efectiva, r, comparada com a taxa de capitalização

exigida, k.

desfazamento relativamente às alterações verificadas nos lucros, e que os lucros após impostos são mais

voláteis do que os dividendos.

Uma terceira versão da política de dividendos residual considera um rácio de pagamento em dividendos

constante. De acordo com esta variante, as empresas estabelecem um rácio de distribuição para o longo

prazo em função da diferença entre os lucros e as necessidades de financiamento para os seus

investimentos. Consequentemente, os dividendos por acção variam do mesmo modo que os lucros por

acção e a taxa de distribuição tende a aumentar quando os lucros caem e a diminuir quando os lucros

sobem. Esta versão da política de dividendos não é muito praticada, em virtude de lhe estar subjacente uma

variação ao longo do tempo no valor do dividendo por acção, o que não é muito apreciado pelos gestores.

Uma variante desta última hipótese, que pode mesmo ser entendida como uma quarta perspectiva,

caracterizar-se-ia por pagar um dividendo regular acrescido de um dividendo extraordinário, sempre que o

desempenho da empresa seja inesperadamente bom. Tal política permite um compromisso entre as políticas

de dividendos residual pura e regular e é própria de empresas que têm uma grande variabilidade de

resultados e de necessidades de fundos para investimentos. Contudo, tem um inconveniente assinalável que

tem a ver com o facto de o dividendo extraordinário se poder vir a tornar esperado todos os anos.

25

Todavia, apesar de ter identificado o tipo de efeito que os lucros distribuídos

podem ter sobre o valor da empresa, Walter não mostra como é que a política de

distribuição de resultados afecta aquele valor, dado que não é possível verificar se a

política de dividendos tem um impacto favorável, neutro ou negativo sobre o preço das

acções.

A teoria residual sugere que a taxa de rendibilidade exigida pelos investidores, k,

não é influenciada pela política de dividendos da empresa, mas sim pela sua política de

investimentos. Argumenta, então, que o investidor pode ser indiferente à opção entre o

pagamento de dividendos ou a retenção de lucros, sempre que a taxa de capitalização

efectiva seja equivalente à que é exigida pelo mercado. Neste caso, a política de

dividendos não é relevante para o valor da empresa.

Numa outra perspectiva, é de assinalar que esta teoria não tem como consequência

imediata a variação dos dividendos de um período para outro, em função da existência ou

não de oportunidades de investimento aceitáveis. A teoria residual dos dividendos é

consistente com uma política regular, em que a empresa: i) retenha lucros nos anos, em

que estes excedam as necessidades de financiamento dos projectos de investimento; ii)

pague dividendos mesmo nos anos, em que os investimentos tenham absorvido todos os

lucros, recorrendo à reserva de estabilização de dividendos, entretanto criada.

Verifica-se, portanto, que não existe uma negação da teoria, mesmo quando os

dividendos de cada período não correspondam exactamente aos lucros não reinvestidos

de cada ano, desde que os dividendos acumulados ao longo do tempo, igualem os

excedentes de resultados acumulados para todo um período de tempo. Pode, todavia,

26

levantar-se uma questão crítica que é a de saber se a média dos dividendos é maior que a

média dos lucros não utilizados para financiar os investimentos23.

Uma referência, ainda, à questão da política de dividendos poder ser ou não activa.

A avaliação desta questão levar-nos-á a analisar os argumentos da teoria que defende a

irrelevância dos dividendos sobre o valor da empresa, (Miller e Modigliani, 1961), ou

seja, o argumento de que alterações na taxa de distribuição da empresa não afectam a

riqueza dos accionistas.

Finalmente, recorde-se que o estudo efectuado, em 1956, por Lintner24 não

encontrou nenhum caso, em que a questão dos dividendos a pagar num dado período, não

tivesse em conta a taxa de distribuição de resultados preexistente25.

1.3. O modelo de Gordon e Shapiro

De acordo com o modelo tradicional de avaliação das acções pelos dividendos, o

valor actual de uma acção para um período pode ser estimado a partir das seguintes

variáveis: dividendo futuro, D1, e preço futuro da acção, P1, desde que seja conhecida a

taxa de rendibilidade exigida pelo mercado, k26.

Tem-se, então, que o preço da acção será dado pela expressão:

23 Apesar da validade que a teoria aparenta, pode-se inumerar um conjunto de críticas sustentadas pela

realidade Na medida em que: i) na prática as empresas não adoptam uma política de dividendos em que a

sua taxa de distribuição seja de 0% ou 100%; ii) é frequente encontrar empresas que, simultaneamente,

distribuem resultados e aumentem o seu capital por emissão de novas acções; iii) as empresas evidenciam,

em regra, um comportamento estável em matéria de dividendos, o que leva a concluir que a política de

dividendos não é uma decisão residual exclusivamente determinada pelas oportunidades de investimento.

Assim, não é possível, nestas condições, determinar objectivamente o efeito da política de dividendos sobre

a empresa. 24 Este estudo será, oportunamente, apresentado de forma mais desenvolvida. 25 «We found no instance in which the question of how much should be paid in a given quarter or year was

considered without regard to the existing rate as an optimum problem in terms of the interests of the

company and/or its stockholders at the given time, after manner suggested by the usual theoretic

formulation of such problems», LINTNER, John, "Distribution of Incomes of Corporations Among

Dividends, Retained Earnings, and Taxes", American Economic Review, 46(2), 1956, pp.97-118. 26 Sendo k = (D1 + P1 - P0) / P0.

27

[1.7] P0 = (D1 + P1) / (1 + k).

Como P1 pode ser definido em função de D2 e P2 e assim sucessivamente, tem-se

que o valor actual da acção é igual à soma actualizada até ao infinito dos dividendos

esperados:

[1.8] P0 = .

A equação [1.8], que corresponde à fórmula geral para o preço das acções, leva a

considerar que a política de dividendos é uma variável essencial para a sua valorização

pelo mercado.

No entanto, esta equação impõe as seguintes considerações: i) a sua validade não

obriga, a que a acção seja detida indefinidamente pelo mesmo investidor. Sempre que

ocorra qualquer transacção, o valor da acção em cada período é determinado pela

equação [1.7]; ii) a hipótese de base, que considera a taxa de capitalização do mercado, k,

constante, é susceptível de críticas, pois a taxa de rendibilidade sem risco e o prémio de

risco podem variar ao longo do tempo; iii) a sua utilidade prática está dependente da

possibilidade em estimar a sequência de dividendos que a empresa irá pagar no futuro.

Com o objectivo de ultrapassar a última limitação do modelo, pode colocar-se a

hipótese de os dividendos crescerem a uma taxa constante, g. Esta hipótese, como

referem Brealey e Myers27, «não exclui desvios dessa tendência de um ano para outro»,

significando apenas que «os dividendos esperados aumentam a uma taxa constante».

Temos, então:

[1.9] Dt = D1 (1 + g)t-1.

Tendo presente esta hipótese simplificadora, a equação [1.2] pode escrever-se do

seguinte modo:

27 Brealey e Myers [op. cit., p. 52].

D / (1 + k)t

t

t=1

28

[1.10] P0 = D1 / (1 + k) + D1(1+g)/ (1 + k)2 + .... + D1(1+g)t-1/ (1 + k)t + ....

Por outro lado, considerando, também, que a taxa de crescimento dos dividendos,

g, é menor que a taxa de actualização28, k, a equação anterior dá uma renda perpétua

crescente, e pode escrever-se:

[1.11] P0 = D1 / (k - g) com k g.

A fórmula anterior29 corresponde à equação do modelo de Gordon-Shapiro30 e

exprime o valor de uma acção em função do valor do dividendo esperado para o próximo

ano, D1, da tendência de crescimento projectada para os dividendos, g, e da taxa de

rendibilidade esperada para outros títulos de risco equivalente, k.

Gordon e Shapiro desenvolveram, em 1959, a sua fórmula de avaliação, a qual

permite obter, também, o valor de mercado da empresa:

[1.12] V0 = D / (k-g)

com:

V0 = Valor actual dos capitais próprios da empresa,

D = Dividendos esperados,

k = Rendibilidade exigida pelo mercado,

g = Taxa de crescimentos dos dividendos.

Nesta fórmula de capitalização bolsista, uma das primeiras tentativas explícitas de

fazer corresponder o preço das acções ao fluxo de dividendos, as cotações dependem dos

dividendos, essencialmente através de duas das três variáveis independentes.

28 Recorde-se que, à medida que g se aproxima de k, o preço das acções aproxima-se do infinito. Com k <

g o valor da acção seria negativo, o que do ponto de vista económico é irracional. 29 Alternativamente, a fórmula pode ser utilizada para obter uma estimativa de k a partir de D1, P0 e g: k =

D1/ P0 + g, o que permite verificar que a taxa de capitalização do mercado é igual à remuneração de acções

por dividendos («dividend yield»), D1/ P0, acrescida da taxa de crescimento esperada dos dividendos, g.

30 GORDON, Myron J. e SHAPIRO, Eli, "Capital Equipment Analysis: The Required Rate of Profit",

Management Science, 3, Oct. 1956, pp. 102-110, citado em Brealey e Myers [op. cit., p. 53].

29

O modelo de Gordon-Shapiro sugere, na mesma linha do que era defendido pelos

profissionais, que os investidores têm preferência por dividendos e pelo seu crescimento.

O conjunto de argumentos que defenderam a importância da distribuição de resultados na

valorização do preço das acções, dado existir uma «relação directa entre a política de

dividendos de uma empresa e o seu valor de mercado», veio a ser conhecido por teoria

mais vale um pássaro na mão31.

A literatura financeira tradicional tem defendido elevadas taxas de distribuição de

resultados, dado acreditar que um aumento dos dividendos aumenta o valor da empresa.

Mais concretamente, os defensores do argumento mais vale um pássaro na mão referem

que:

i) «os dividendos são dinheiro no bolso, enquanto as mais-valias são, na sua maior

parte, meramente potenciais»32;

ii) os dividendos são mais previsíveis do que as mais-valias, pelo que os

investidores preferem os primeiros aos segundos, mesmo que sejam idênticos;

iii) os gestores podem estabilizar os dividendos, mas não podem controlar o preço

das acções.

Entretanto, Merton H. Miller e Franco Modigliani deram um importante passo para

a discussão da influência da política de dividendos no valor das empresas, ao escreverem

em 1961 um artigo33 que continua a ser repetidamente citado, e que tem merecido

qualitativos como seminal34, pioneiro35, célebre36 e clássico37.

31 A escola de pensamento, que sugere que os accionistas têm preferência por dividendos, é designada na

literatura anglo-saxónica por «bird in the hand theory», Gitman [92, p. 551]. 32 Brealey e Myers [op. cit., p. 382]. 33 MILLER, M. H. e MODIGLIANI F., "Dividend Policy, Growth, and the Valuation of Shares", Journal

of Business, 34(4), October 1961, p. 411-433. 34 Asquith e Mullins [20] e Long [127]. 35 Chang e Rhee [52] e Woolridge e Gosh [207]. 36 Brennan e Thakor [41].

30

1.4. A irrelevância dos dividendos: A tese de Miller e Modigliani

Miller e Modigliani (frequentemente referidos como MM) são os principais

defensores da tese da não relevância dos dividendos. De acordo com MM, e tendo em

consideração os seus pressupostos restritivos38, não é relevante o modo como a empresa

decide aplicar os seus lucros, distribuindo resultados ou retendo-os para reinvestimento,

pelo que tal decisão é irrelevante para o valor da empresa.

Os pressupostos básicos da teoria de MM são os seguintes:

a) Os mercados de capitas são perfeitos, o que significa que:

- nenhum investidor, comprando ou vendendo ou emitindo acções, pode

influenciar o preço de mercado das acções;

- a informação relevante está disponível para todos os investidores, não tem

qualquer custo e é simétrica entre os gestores e os accionistas;

- não existem custos de transacção;

- não existem impostos nem sobre os dividendos, nem sobre as mais-valias39;

- os títulos são divisíveis;

b) Os investidores são racionais, o que significa que preferem ganhos a perdas e

mais riqueza a menos riqueza e, ainda, são indiferentes a que o aumento de tal riqueza

tenha origem no recebimento de dividendos em dinheiro ou no aumento do valor de

mercado das acções que possuam (mais valias); e

37 Litzenberger e Ramaswamy [122]. 38 Ou, como refere Shapiro [182, pp. 539], «highly abstract and simplified world» de MM. 39 Mais concretamente, MM referem a não existência de qualquer diferencial na taxa de imposto aplicável a

lucros retidos ou distribuidos e a dividendos ou mais valias, ou seja, trata-se de mercados perfeitos, o que

permite diminuir o efeito resultante de um diferente tratamento fiscal dos dividendos e mais valias. Como

teremos oportunidade de ver, este pressuposto veio, posteriormente, a ser considerado como dispensável ao

ser enunciada por Miller e Scholes, a chamada «strong irrelevance proposition».

31

c) Há ausência de incerteza, o que significa que cada investidor está absolutamente

certo e seguro quanto aos lucros futuros esperados por cada empresa e aos seus

programas de investimentos40.

O modelo de MM

Dado que as diferentes fontes de financiamento ao dispor da empresa são

equivalentes41, é possível considerar que as empresas apenas detêm uma categoria de

títulos, acções, pelo que no modelo se consideram apenas empresas não endividadas.

Nestas circunstâncias, o preço de cada acção comum de uma empresa deverá ser tal

que a rendibilidade esperada de uma acção (dividendos e mais valias) seja idêntica para

todas as acções da empresa no mercado em qualquer intervalo de tempo42. Assim, a taxa

de capitalização ou rendibilidade de uma acção, k, será dada por:

[1.13] kt = (dj,t + pj,t+1 - pj,t) / pj,t,

com:

dj,t = dividendos por acção pagos pela empresa j no período t;

pj,t = preço de uma acção da empresa j no período t, após o pagamento dos

dividendos de t-1;

kt = taxa de rendibilidade esperada ou de capitalização de mercado para qualquer

empresa com risco equivalente.

40 MM, posteriormente, mostraram que, mesmo não existindo um contexto de certeza e se não verifiquem

algumas das hipóteses de mercados perfeitos, se mantem o argumento da irrelevância dos dividendos. «We

shall now that this fundamental conclusion (irrelevância da política de dividendos) need not be modified

merely because of the presence of uncertainty about the future course of profits, investment, or dividends

(assuming again, as we have throught, that investment policy can be regarded as separable from dividend

policy), Miller e Modigliani [op. cit., p. 651]. 41 Dado o contexto de certeza, que MM pressupõem, não é necessário distinguir acções, cujos rendimentos

são incertos, e obrigações, cujos rendimentos são conhecidos, enquanto fontes de financiamento ao dispor

da empresa. 42 «The price of each share must be such that the rate of return (dividends and plus capital gains per dollar

invested) on every share will be the same throughout over any given interval of time», Miller e Modigliani

[op. cit., p. 631].

32

Este é o modelo fundamental de avaliação de duas empresas da mesma classe de

risco, assumindo MM que kt é constante ao longo do tempo, e independente de j.

A expressão da rendibilidade esperada pelos investidores pode ser escrita em

função do preço actual, pj,t. Obtém-se, então, a seguinte expressão para o preço de uma

acção:

[1.14] pj,t = 1 / (1+ kt) (dj,t + pj,t+1).

De acordo com esta equação, temos que o preço de uma acção da empresa j no

início do período, é igual ao valor actual dos dividendos em numerário por acção pagos

no período, acrescido do seu preço no final desse período.

Por outro lado, a equação [1.14] dá-nos o preço de uma acção de qualquer empresa

da mesma classe de risco. Se assim não fosse, os investidores, que possuíssem acções

com um preço mais elevado e com menor rendibilidade, poderiam aumentar a sua riqueza

final vendendo essas acções e comprando títulos com maior rendibilidade. Estas

transacções teriam como consequência a descida de cotações das acções com menor

rendibilidade e a sua subida tratando-se de títulos com rendibilidade maior, até ao ponto

em que as taxas de rendibilidade de todas as acções se encontrassem em equilíbrio43.

A partir da equação [1.14], é possível obter o valor da empresa, desde que se conheça o

número de títulos em circulação. Assim, considerando: nt o número de acções em

circulação no início do período t; mt+1 o número de novas acções vendidas durante o

período t, ao preço pt+1; nt+1 o número de acções em circulação no final do período t ou

início do período t+1 (e que é dado por nt+mt+1); Dt os dividendos totais pagos no

período t aos investidores existentes no início deste período (e que são iguais ao

dividendo por acção pago nesse período, multiplicado pelo número de acções em

43 Trata-se do chamado processo de arbitragem, que é a base essencial da tese de MM.

33

circulação no início do mesmo período, ou seja, dt.nt); Vt o valor da empresa no início do

período t (igual a nt.pt); o valor da empresa é dado por:

[1.15] Vt = (Dt + nt . pt+1) / (1 + kt) Vt = 1 / (1 + kt) . (Dt + nt . pt+1).

Por outro lado, como o número de acções em circulação no início do período t, pode ser

expresso por [nt = (Vt+1 - mt+1 . pt+1) / pt+1] é possível reescrever a expressão do valor da

empresa do seguinte modo:

[1.15a] Vt = 1 / (1 + kt) . (Dt + Vt+1 - mt+1 . pt+1).

Verifica-se, então, que o valor da empresa no momento t é igual ao valor actual dos

dividendos pagos durante o período t, (Dt); mais o valor da empresa no momento t+1,

(Vt+1); menos o valor actual das novas acções emitidas durante o período t e vendidas ao

preço pt+1, (mt+1.pt+1).

Qualquer uma das equações anteriores é equivalente, do ponto de vista da avaliação

das acções e da empresa. Todavia, a equação [1.15a] tem a vantagem de evidenciar o

modo como os dividendos podem afectar o valor de mercado da empresa, Vt, ou o preço

de cada uma das acções, pt.

Como se pode verificar, a partir da equação [1.15a] existem três possibilidades dos

dividendos afectarem o valor da empresa: i) directamente através do primeiro termo do

numerador, Dt; ii) indirectamente através do valor da empresa no período t+1, o que

significa estar a admitir que a política de dividendos futura tem efeito sobre o valor da

empresa e a política de dividendos no período t, caso Vt+1 seja influenciado pelos factos

ocorridos no passado; ou iii), finalmente, através do termo (- mt+1 . pt+1), que traduz o

valor das novas acções vendidas, se tal for necessário, durante o período t, como

consequência da decisão de pagamento de dividendos e com a manutenção do nível de

34

investimento previamente definidos, não totalmente cobertos pela parte de lucros retidos,

conduzindo por isso à necessidade de um, ainda maior, aumento de capital em dinheiro44.

Verifica-se também, que os problemas relacionados com a política de dividendos

têm origem no facto de a decisão de distribuição poder afectar o valor da empresa através

de duas vias que são conflituantes entre si: directamente através de Dt e indirectamente

através de (-mt+1 . pt+1), dado que MM pressupõem que as políticas de investimento e de

financiamento são constantes, pelo que só é possível financiar um aumento de dividendos

através da emissão e venda de novas acções.

MM sugerem então que:

- o pagamento de dividendos, dadas as decisões de investimento e de

financiamento da empresa, não é relevante para a riqueza do investidor, dado que este,

comprando ou vendendo, pode reproduzir qualquer fluxo de dividendos;

- o valor da empresa é determinado apenas pela sua capacidade de gerar lucros

(rendibilidade dos investimentos), não sendo relevante a forma como estes são aplicados

(retenção ou pagamento de dividendos);

- o valor de mercado de duas empresas idênticas em todos os aspectos, excepto

nas suas políticas de dividendos é o mesmo;

- todas as políticas de dividendos são equivalentes, dado que a empresa não pode

criar valor pela simples alteração da combinação de dividendos e lucros retidos.

44 Recorde-se que o financiamento do crescimento de uma empresa não endividada só pode ser feito, nesta

hipótese de trabalho, através de duas vias: retenção de lucros e/ou emissão de novas acções. Por outro lado,

quanto às aplicações de fundos disponíveis a empresa pode: pagar dividendos e/ou financiar os

investimentos. Em qualquer circunstância, as origens são sempre iguais às aplicações, donde: NOI+(mt+1 .

pt+1) = It+Dt, sendo NOI os resultados operacionais («net operating income»).

35

Obtém-se, então a conhecida «MM dividend irrelevance proposition», que se

consubstancia na conclusão de que a política de dividendos da empresa não afecta o seu

valor.

O pressuposto essencial de MM é o de que a política de investimento é

independente da política de dividendos, pelo que «the firm`s investment policy is all that

matters, because this is what determines its earning power or stream of future

cash-flows»45. Quanto ao financiamento do crescimento de uma empresa, que pague

dividendos, pode ser obtido: mantendo (ou mesmo aumentando) os dividendos e emitindo

e vendendo novas acções, ou diminuindo os dividendos e financiando os investimentos

com os lucros retidos.

Do ponto de vista da empresa e na hipótese de eficiência dos mercados, MM

consideram que qualquer das opções é equivalente, dada a não relevância da política de

dividendos.

Para demonstrarem a razão de ser da sua conclusão, MM consideram, para além

das condições já referidas sobre a independência das políticas de investimentos e de

dividendos e do financiamento exclusivo por capitais próprios, que: It representa o nível

de investimento do período t; e Xt é o lucro líquido obtido no período t. Então, definem o

montante de capital próprio, que é necessário obter através da emissão de acções para

financiar o programa de investimentos, na parte não financiada com lucros retidos como

sendo:

[1.16] mt+1 . pt+1 = It - (Xt - Dt) mt+1 . pt+1 = It - Xt + Dt)

45 Shapiro [182, p. 539].

36

ou seja, é igual ao valor dos novos investimentos efectuados no período t, menos o valor

dos lucros da empresa obtidos nesse período, mais o valor dos dividendos pagos durante

esse mesmo período.

Verifica-se, então, que o total dos fundos disponíveis é igual ao total dos fundos

aplicados, ou seja, o valor obtido através do aumento de capital é igual à soma dos novos

investimentos mais os dividendos pagos, menos os lucros retidos.

Procedendo à substituição desta expressão na equação [15a] temos:

[1.16a] Vt = nt . pt = 1 / (1 + kt) . (Dt + Vt+1 - It + Xt - Dt).

Dado que Dt desaparece da equação [1.16a], ficamos com a seguinte expressão

para o valor da empresa46:

[1.16b] Vt = nt . pt = 1 / (1 + kt) . (Xt - It + Vt+1).

O valor da empresa no período t é igual a: valor actual dos lucros líquidos no

período t (Xt); acrescido do valor actual da empresa no período t+1 (Vt+1); e diminuído

do valor actual do investimento líquido efectuado em t (It).

Na medida em que Xt, It e Vt+1 são, por hipótese, independentes de Dt, e os

dividendos desaparecem da expressão que nos dá o valor de mercado da empresa, MM

concluem, então, que o valor da empresa é independente da sua política de dividendos. O

ganho obtido pelos accionistas iniciais sob a forma de dividendos é exactamente

compensado pela diminuição de valor do preço da acção no final do período47.

46 Copeland e Weston [59, pp. 544-575] propõem uma expressão equivalente e que se pode escrever:

Vt=1/(1+ kt).(NOIt-It+Vt+1). Verifica-se que substituem Xt por NOIt(resultados operacionais), em virtude

de considerarem que os investimentos são integralmente financiados por lucros retidos e igualam o seu

valor. 47 Trata-se do conhecido processo de transferência de valor ou, citando MM, «the two dividend effects

must always exactly cancel out so that the payout policy to be followed in t will have no effect on the price

at t», Miller e Modigliani [op. cit., p. 633].

37

Após terem estabelecido que o valor da empresa em t não era afectado pela decisão

actual de pagamento de dividendos, MM mostram, ainda, que esse valor também não é

afectado pela política de dividendos futura, em virtude de, em contexto de ausência de

incerteza, o preço da acção nos períodos seguintes continuar a ser apenas determinado

pelas variáveis da equação [1.16b].

Tem-se, assim, que, dada a política de investimentos de uma empresa, a taxa de

distribuição de resultados escolhida não influenciará as cotações das suas acções nem os

rendimentos dos seus accionistas48. Assim, tanto a política de dividendos como a taxa de

distribuição são um mero detalhe.

Finalmente, MM concluem que, se os mercados forem perfeitos e os investidores

racionais, o valor de mercado das empresas depende da rendibilidade potencial dos seus

activos e da sua política de investimentos, e não da política de financiamento, portanto

não pode haver lugar a ilusões financeiras.

Independentemente da política de dividendos seguida pela empresa, o investidor,

tanto através da venda de acções como do reinvestimento dos dividendos recebidos, pode

reproduzir diferentes combinações de fluxos que tornem, também para si, a política de

dividendos não relevante49.

Em conclusão, verifica-se que, no «mundo altamente abstracto e simplificado»50

idealizado por MM, o valor da empresa apenas depende dos lucros futuros esperados e da

sua afectação em função da política de investimentos da empresa. Nestas circunstâncias,

duas empresas em tudo iguais, excepto na sua política de dividendos, têm o mesmo valor

48 Miller e Modigliani [op. cit., p. 414]. 49 Estamos perante aquilo, a que na literatura se tem chamado a capacidade do investidor para reproduzir

dividendos em casa, Van Horne [199, p. 330]. 50 «Highly abstract and simplified world», Shapiro [182, p. 538].

38

de mercado, desde que não se considerem os impostos sobre o rendimento das pessoas

físicas e os custos de transacção51.

Verifica-se também que, se os mercados são perfeitos, e por isso não existem lucros

anormais, os ganhos dos accionistas em dividendos será compensado pela queda no preço

das acções52. Esta visão sugere que o rendimento exigido pelos investidores no mercado

não é influenciado pela política de dividendos da empresa, pelo que a distribuição de

lucros é uma decisão residual (das políticas de investimento e de financiamento), e os

dividendos flutuarão de um ano para o outro. Verifica-se, ainda, que os investidores

podem gerar os fluxos de rendimento pretendidos, arbitrando entre a venda e a compra de

acções.

1.5. A distribuição de resultados na prática: o estudo de Lintner

Em 1956, num estudo sobre a distribuição de resultados na prática, John Lintner53

desenvolveu um trabalho pioneiro sobre a política de dividendos na perspectiva dos

gestores, tendo verificado que, para o caso das empresas americanas estudadas, estas

ajustavam, gradualmente, os seus dividendos às alterações verificadas nos lucros

respectivos54.

51 Isto é assim, em virtude de, na prática, estes factores ocasionarem que os fundos gerados internamente

sejam mais baratos do que a venda de novas acções e o endividamento. 52 Trata-se do processo de transferência de valor, descrito em Brealey e Myers [40, pp. 377-378]. 53 LINTNER, J., "Distribution of Incomes of Corporations Among Dividends, Retained Earnings and

Taxes", American Economic Review,46 May 1956, pp. 97-113. 54 O modelo de ajustamento parcial foi desenvolvido inicialmente por B. Lev ("Industry Averages as

Targets for Financial Ratios", Journal of Accounting Research, 7, Autumn 1969, pp.290-299, citado por

Lee e Finnerty [114, pp.40-45]), e pretendia definir um processo dinâmico de ajustamento dos rácios

financeiros da empresa a uma norma, como por exemplo os rácios sectoriais.

A equação do modelo é a seguinte:

Yj, t = Yi, t-1 + j (Y*j, t - Yj, t-1),

sendo Y*j, t o rácio-objectivo para a empresa j; Yj, t-1 o rácio do período anterior; Yj, t o rácio do período;

j o coeficiente de ajustamento para a empresa j; e Yi, t o rácio médio do sector. De acordo com o modelo,

considera-se a diferença entre o rácio da própria empresa e o rácio médio do sector, tendo em vista o

39

Na sequência de um inquérito realizado a um conjunto de vinte e oito empresas,

Lintner concluiu que a decisão de pagamento de dividendos tinha em consideração os

seguintes factores explicativos55:

- as empresas têm objectivos a longo prazo para as taxas de distribuição;

- os gestores dão mais importância às alterações dos dividendos do que aos seus

níveis absolutos;

- as alterações de dividendos seguem a lógica do longo prazo dos lucros

sustentáveis, pelo que as alterações esporádicas dos lucros não têm grande probabilidade

de afectar o pagamento de dividendos;

- os gestores mostram relutância em proceder a alterações dos dividendos que

possam ser reversíveis.

Considerando estes factores, e ainda, que os accionistas e o mercado preferem

dividendos relativamente estáveis ou o seu crescimento gradual, então a política de

dividendos seguida não se traduz por uma taxa de distribuição constante, mas sim por um

dividendo estável e em progressão regular. Verifica-se ainda que a alteração dos

respectivo ajustamento através do coeficiente delta. O ajustamento pode ser apenas parcial, devido a

factores como as restrições financeiras e de capacidade, o que justifica o desfazamento no curto prazo.

Assim, o coeficiente de ajustamento reflecte as limitações da empresa, sendo que a velocidade desse

ajustamento depende do seu custo específico e do custo de não estar em equilíbrio com o sector.

Naturalmente, a empresa deseja minimizar os dois custos, sabendo que são antagónicos. O coeficiente de

ajustamento pode ser estimado através do método dos mínimos quadrados, recorrendo à equação:

Zj,t = a0 + a1 Xj,t-1 + ej,t,

com Zj,t = Yj,t - Yi,t-1; e Xj,t-1 = Yi,t - Yj,t-1, sendo Yi,t a média do sector no período t-1 e ej, t o termo

de erro. Tratando-se de uma regressão linear, os valores de a0 e a1 são obtidos através das seguintes

equações:

â1 = COV (Zj,t; Xj,t-1) / VAR (Xj,t-1),

â0 = Zj,t - â1 Xj,t-1.

A equação anterior pode, igualmente, ser utilizada para calcular valores previsionais para os rácios,

facilitando, assim, o planeamento financeiro da empresa. 55 Brealey e Myers [40, p. 374].

40

dividendos de um período para outro não acompanha a variação nos resultados, o que dá

origem a um ajustamento parcial.

Tendo em vista explicar o pagamento de dividendos, considerando os factores

anteriormente referidos, Lintner desenvolveu o seguinte modelo:

[1.17] DPAt - DPAt-1 = a ( DPA*t - DPAt-1),

com:

DPAt = dividendo por acção no período t,

DPAt-1 = dividendo por acção no período t - 1,

DPA*t = rácio objectivo do dividendo por acção no período t,

a = taxa de ajustamento do dividendo, cujos valores se situam entre 0 e 1.

O modelo construído permite constatar que as alterações nos dividendos de um

período para outro são função do nível desejado para os dividendos de um período e do

montante de dividendos pagos no período anterior, sendo o ajustamento função do

coeficiente de ajustamento, a.

No modelo, DPA*t representa o dividendo que a empresa pagaria, se o ajustamento

ao benefício por acção fosse imediato, em vez de ser parcial e progressivo. Por outro

lado, o dividendo objectivo, a que a empresa se cinge, e que não é directamente

observável, é função da taxa de distribuição-objectivo (payout), p, e do lucro por acção

do período t, LPAt, o que pode ser escrito do seguinte modo:

[1.18] DPA*t = p . LPAt.

Substituindo o valor de DPA*t na equação [1.17] temos:

[1.19] DPAt - DPAt-1 = a ( p . LPAt - DPAt-1).

Resolvendo em ordem a DPAt obtemos a equação:

[1.20] DPAt = a . p . LPAt + DPAt-1 - a . DPAt-1

que pode ser reescrita do seguinte modo:

41

[1.21] DPAt = a . p . LPAt + (1 - a) DPAt-1.

A partir desta expressão56 é possível constatar que, quanto mais conservadora for a

política de dividendos da empresa, mais baixo é o coeficiente de ajustamento, a, na

equação [1.21] e, consequentemente, mais lentamente a empresa caminha em direcção ao

seu rácio-objectivo para a taxa de distribuição. Permite também verificar que os

dividendos dependem dos lucros actuais e dos dividendos do ano anterior. Como estes,

por sua vez, são função dos lucros desse ano e dos dividendos do ano anterior, temos que

os dividendos podem ser definidos como uma média ponderada dos lucros actuais e

passados.

O estudo de Lintner parecia, assim, evidenciar a relevância dos dividendos num

contexto de incerteza e a importância da política de dividendos para os gestores da

empresa. Todavia, não explicou como é que os dividendos afectam o valor da empresa.

1.6. Outros testes à hipótese de que as empresas têm um comportamento ajustado a

um rácio objectivo para a taxa de distribuição

O estudo de Lintner trouxe evidência empírica à hipótese de que os gestores tinham

preferência por uma política de dividendos estável, e que a ajustam ao rácio objectivo da

taxa de distribuição de forma gradual. Para além deste trabalho, houve investigadores que

retomaram o estudo de Lintner, procurando validar as suas conclusões.

E. Fama e H. Babiak57, ao analisarem o comportamento de trezentas noventa e duas

empresas americanas para o período 1946-1964, concluíram, na mesma linha de Lintner,

que o dividendo é afectado simultaneamente pelo lucro do período e pelos lucros

56 Para efeitos de estimação pelo método dos mínimos quadrados, o modelo de regressão a utilizar é o

seguinte: DPAt = + 1 LPAt + 2 DPAt-1 + ut, sendo: 1 = (a . p); 2 = (1 - a); e ut o termo de erro.

57 FAMA, E. F. e BABIAK, H., "Dividend Policy: An Empirical Analysis", Journal of the American

Statistical Association, 63, Dezembro 1968, pp. 1132-1161, citados por Brealey e Myers [40, p. 375] e

Albouy e Dumontier [4, p. 42].

42

passados, e que o dividendo aumenta (diminui) em função de um aumento (diminuição)

persistente nos lucros.

Para efeitos de estimação o modelo proposto pode escrever-se do seguinte modo:

DPAt = 1 . DPAt-1 + 2 . LPAt + 3 . LPAt-1 + ut

com:

DPAt = alteração de dividendos no período t;

DPAt-1 = dividendo relativo ao período anterior;

LPAt = lucro por acção do período actual;

LPAt-1 = lucro por acção do último período;

ut = termo estocástico, correspondente à alteração de dividendos não

antecipada.

Como se constata, é um modelo de regressão que inclui, como variável explicativa

adicional, o lucro por acção desfasado de um período, e não considera o termo constante,

0.

Verificaram que o rácio-objectivo para a taxa de distribuição das empresas

estudadas era, em média, de 50%, e que o coeficiente de ajustamento era de cerca de 1/3

do crescimento verificado nos resultados. Assim, tendo em consideração a equação

[1.21], a estimativa dos dividendos futuros esperados poder-se-á efectuar do seguinte

modo:

Dt = Dt-1 + 0,3333 (0,5 . LPAt - Dt-1).

Os testes anteriores, apesar das suas conclusões, não explicaram completamente o

comportamento das empresas e dos gestores. Assim, Bicksler58, em 1967, procurou

verificar se o rácio-objectivo, tal como tinha sido definido por Lintner, era consistente

58 Tanto este como os estudos de Ezzell, Mantipragada e Darling, encontram-se citados em Philippatos e

Sihler [165, p. 232-233].

43

com a política de dividendos e com o aumento do preço de mercado das acções. Para

isso, estimou aquele rácio para catorze sectores industriais e considerou dois modelos de

avaliação de acções, tendo em vista avaliar as preferências dos investidores por

dividendos.

De acordo com os resultados obtidos, concluiu que não existia significância

estatística que permitisse estabelecer uma relação entre o rácio objectivo e o preço das

acções, determinado por aqueles modelos.

Ezzell analisou, explicitamente, a existência sistemática dos efeitos de uma opção

dos gestores por uma política de dividendos estável sobre o preço das acções da empresa.

Concluiu que existe uma relação directa entre uma taxa de distribuição instável e as

cotações, o que sugere implicitamente, que os investidores preferem sociedades com um

«payout» não regular.

Mantipragada analisou, também, a hipótese da estabilidade dos dividendos,

tentando verificar as reacções à instabilidade tanto no mercado em alta como em baixa,

bem como as reacções à instabilidade das mais-valias. Concluiu que: i) se a instabilidade

se refere a títulos não incluídos em carteiras, não se verificam as hipóteses de Lintner; ii)

se a instabilidade está relacionada com os investimentos em títulos incluídos em carteiras,

existe uma relação inversa entre cotações e uma não diversificável instabilidade de

dividendos; iii) não existe um suporte consistente para a hipótese, de que os investidores

preferem um crescimento estável dos dividendos; iv) existe, na maior parte dos casos,

uma relação directa estatisticamente significativa entre as cotações e instabilidade das

mais-valias.

Darling analisou o efeito de diversos factores, tais como os lucros passados, os

lucros correntes, as amortizações, as variações nas vendas e a liquidez na política de

44

dividendos. Concluiu que as empresas ajustam, gradualmente, os seus dividendos aos

novos lucros e têm em atenção a estabilidade.

Brittain59 analisou as determinantes da política de distribuição de resultados e os

efeitos da política governamental sobre os dividendos. Alterou o modelo de Lintner,

incorporando variáveis de rendimento mais relevantes e flutuações na taxa de

distribuição a longo prazo. Concluiu que os dividendos actuais se ajustam gradualmente

ao rácio-objectivo.

Mais recentemente, Lee et al.60 generalizaram o modelo de ajustamento parcial,

incluindo a variável dividendo por acção, DPA, desfasada de dois períodos, sustentando

que, assim, se aumentavam as capacidades de previsão do modelo. O modelo, em

referência, escreve-se do seguinte modo:

DPAt = 0 + 1 . LPAt + 2 . DPAt-1 + 3 . DPAt-2 + ut

sendo: DPAt o dividendo por acção; LPAt o lucro por acção, ambos no período t; DPAt-1

o dividendo relativo ao período t-1; DPAt-2 o dividendo por acção no período t-2; e ut o

termo estocástico.

Para além destes, outros investigadores têm utilizado o modelo de Lintner para

estudar o comportamento das empresas na prática. Por exemplo, em 1990, Malécot61

propôs um modelo que pretendia, adicionalmente, integrar restrições de agência (a teoria

da agência, que será analisada mais tarde, diz respeito à relação entre um mandante, neste

caso um accionista, e um procurador, p.e., o gestor da empresa), recorrendo à «proxy»

59 BRITTAIN, J. A., Corporate Dividend Policy, Washington, D. C.: The Brookings Institution, 1966,

citado por Philippatos e Sihler [op. cit, p. 233]. 60 LEE, C. F., WU, C. C. e DJARRAYA, M., "A Further Empirical Investigation of the Dividend

Adjustment Process", Journal of Econometrics, 35, July 1987, pp. 267-285, citados por Lee e Finnerty

[114, p. 309]. 61 Malécot [137].

45

novas dívidas contratadas durante o período, como meio de quantificar aquela variável

relação. O modelo escreve-se do seguinte modo:

DPAt = 1 . DPAt-1 + 2 . LPAt - 3 . LPAt-1 - DIVt + ut,

sendo: DPAt o dividendo por acção pago no período t; DPAt-1 o dividendo por acção

relativo ao período anterior; LPAt o lucro por acção do período actual; LPAt-1 o lucro por

acção do último período; DIVt as novas dívidas contratadas no período t; e ut o termo

estocástico.

1.7. Os primeiros testes empíricos

Os primeiros estudos empíricos levados a efeito, para além de, como vimos,

pretenderem testar a hipótese de que as empresas teriam um comportamento ajustado a

um rácio-objectivo para a taxa de distribuição, procuraram, igualmente, analisar a

influência da política de dividendos sobre o valor de mercado da empresa.

Os defensores de uma distribuição generosa de lucros procuraram medir o impacto

dos dividendos sobre o valor da acção, comparando a taxa de distribuição e o PER

(múltiplo de capitalização dos lucros).

Em regra, o modelo de regressão utilizado para este tipo de estudos, que pretendia

testar a relação estatística entre o preço das acções e os dividendos, era do tipo:

Pjt = 0 + 1 djt + 2 RRjt + ejt,

sendo: Pjt o preço da acção j no momento t; djt o dividendo por acção; RRjt o lucro retido;

0 o termo independente; e ejt o termo de erro.

Pretendia-se verificar qual dos coeficientes associados às variáveis independentes,

1 ou 2, era o maior e, assim, concluir da influência, positiva ou não, dos dividendos no

preço das acções. Da análise de regressão a efectuar, se o coeficiente 1 fosse mais

elevado e estatisticamente mais significativo que 2, concluir-se-ia pela preferência dos

46

investidores por dividendos relativamente à retenção de lucros e pelo seu impacto

positivo sobre as cotações.

Em geral, os resultados dos estudos efectuados estiveram em conformidade com as

expectativas: quanto maior a taxa de distribuição, maior a relação preço/lucro por acção.

Desses estudos merecem destaque, os que se apresentam de seguida.

1.7.1. Estudo de Gordon e Brigham

O objectivo de Gordon e Brigham62 foi o de avaliar as preferências dos investidores

pelos dividendos, ou seja, teve em vista a validação da equação de Gordon-Shapiro.

Utilizaram para o efeito, como amostra, um grupo de empresas produtoras de energia.

O modelo apresentado era um desenvolvimento da expressão do rendimento em

dividendos, em que se relacionava o lucro por acção e o preço de cada título, em função

de algumas variáveis, incluindo a taxa de crescimento da empresa.

A equação de regressão múltipla utilizada foi a seguinte:

D0/P0 = a0 + a1 g + a2 D/E + a3 R + a4 E + a5 S,

sendo: D0/P0 a taxa de rendimento em dividendos («dividend yield»); g a taxa de

crescimento do dividendo por acção; D/E o rácio capitais alheios m/l prazo/capitais

próprios («debt to equity ratio»); R a medida de risco da variabilidade dos lucros da

empresa (índice da estabilidade dos dividendos por acção); E a fracção das vendas

representada pela electricidade; e S o índice da dimensão da empresa.

Numa perspectiva da relevância da política de dividendos, a variável mais

importante era a taxa de crescimento dos dividendos, g, na medida em que para uma

maior retenção de lucros, se esperaria um crescimento mais rápido. Assim, a parte do

62 GORDON, M. J. e BRIGHAM, E. F., "Leverage, Dividend Policy, and the Cost of Capital", Journal of

Finance, March 1968, citados por Hampton [99, pp. 387-389] e Albouy e Dumontier [4, pp. 73-74].

47

modelo que mais interessa é a que inclui os dividendos e a taxa de crescimento, ou seja:

D0/P0 = a0 + a1 g.

Tem-se que a0 será o rendimento esperado pelo investidor (estimador da taxa de

rendibilidade), que, no caso de g ser igual a zero63, é o rendimento em dividendos,

assumindo-se que as restantes variáveis se mantêm constantes. Nestas condições e de

acordo com o modelo, concluir-se-ia pela indiferença dos investidores entre dividendos e

mais-valias, sempre que o coeficiente a1 viesse a assumir um valor igual a -1, para cada

uma das empresas e para o sector industrial em análise. Por outro lado, se a1 evidenciasse

um valor superior a -1, concluir-se-ia que os investidores teriam preferência por

dividendos.

Os resultados obtidos para o conjunto das sessenta empresas da indústria produtora

de electricidade e para cada um dos anos de 1958 a 1962, conduziram a um valor médio

para a1 de -0,4, que era significativamente diferente do valor esperado (-1). Isto permitiu

a conclusão, de que os investidores não avaliavam o crescimento da empresa, do mesmo

modo que o faziam para os dividendos. Assim, Gordon e Brigham vieram a concluir que,

para as sociedades deste sector, os investidores não eram indiferentes à política de

dividendos praticada pela empresa, e estavam dispostos a pagar mais pelas acções das

sociedades que distribuíssem mais resultados. Segundo eles, a preferência por dividendos

resultava do facto de se verificar que o custo dos capitais próprios era função decrescente

da taxa de distribuição e, assim, para se minimizar o custo dos capitais da empresa e

maximizar o valor desta, dever-se-iam pagar dividendos elevados64.

63 Nestas circunstâncias não há crescimento dos dividendos ou dos lucros. 64 Os resultados de Brigham e Gordon foram contestados por MM (1986) e por Higgins (1974), citados por

Albouy e Dumontier [4, p. 74], com base em estudos efectuados para a mesma relação e para empresas

americanas de electricidade. MM referiram-se ao impacto dos dividendos sobre o valor das acções como

sendo essencialmente informativo (teoria dos sinais). Para Higgins, os investidores preferiam as empresas

48

Este estudo veio, como se depreende, a servir de suporte à teoria da preferência por

dividendos.

1.7.2. Estudo de Van Horne e Mc Donald

O estudo de Van Horne e McDonald65 foi efectuado para trinta e nove empresas da

indústria de electrónica e foi conduzido a partir de um modelo equivalente ao de

Gordon-Brigham. A equação utilizada foi a seguinte:

P0/LPA0 = 0 + 1g + 2 (DPA0/LPA0) + 3 ((D + PS) / CS) + 4 OR + u,

sendo: g o factor de crescimento; DPA0/LPA0 a taxa de distribuição dos lucros;

((D+S)/CP) o risco financeiro, medido através da relação (Capitais alheios a m/l

prazo+Acções preferenciais)/Capitais próprios; OR o risco operacional, dado pelo desvio

padrão da regressão dos resultados operacionais por acção, no período em análise; e u o

termo de erro.

Van Horne e Mc Donald concluíram que: o factor de crescimento, g, afectava,

significativamente, o múltiplo do PER da empresa e era positivo; e os resultados obtidos

não permitiam suportar a hipótese, de que os dividendos aumentavam ou não o valor de

mercado da empresa. Assim, e na perspectiva da variável dividendos, concluíram que o

teste não era concludente66.

com «payouts» baixos, o que não deixava de ser algo surpreendente, dado que estas empresas eram

procuradas por accionistas que desejavam rendimentos regulares. 65 VAN HORNE, J. e Mc DONALD, J., "Dividend Policy and New Equity Financing", Journal of Finance,

26, June 1971, pp. 507-519. 66 «While the evidence does not support the idea that companies which pay dividends and engage in equity

financing have a higher value than other companies, ceteris paribus, it is not inconsistent with the notion

that investors at the margin prefer current dividends to capital gains despite the latter`s tax advantage for

most investors», Van Horne e Mc Donald [op. cit., p. 381].

49

1.7.3. As críticas de Friend e Puckett

A análise da relação entre o «payout» e o PER tem levado a conclusões que não

podem ser interpretadas linearmente, em virtude de na equação (Pjt= + 1djt+ 2RRjt+ejt)

se omitirem factores que influenciam simultaneamente a política de dividendos e o valor

da empresa. Por outro lado, aquela relação não significa, necessariamente, uma

preferência do mercado por acções que pagam dividendos. Por exemplo, pode reflectir o

efeito conjunto do risco sobre a política de dividendos e sobre o valor da empresa.

Finalmente, é provável que seja a taxa de crescimento antecipada para a empresa que

esteja a influenciar tanto a taxa de distribuição como o PER.

Friend e Puckett67 apresentaram críticas aos estudos efectuados sobre a relação

entre a taxa de distribuição de resultados e o PER, para analisar o efeito da política de

dividendos sobre o valor da empresa, centrada nos seguintes três aspectos:

i) o modelo utilizado não especifica qualquer variável de risco, o que leva a supor

que a taxa de distribuição e o PER são independentes do risco da empresa e,

provavelmente, a provocar um erro estatístico que beneficia os dividendos;

ii) não é fácil quantificar o lucro retido, dado tratar-se de um conceito

contabilístico e não monetário, havendo, por isso, tendência para baixar o valor do

respectivo coeficiente de regressão;

iii) mesmo que os dividendos e lucros retidos tivessem um impacto diferente

sobre o valor da acção, os coeficientes de regressão deveriam ser iguais, porque, o que

está em causa é maximizar o valor da empresa. Nestas circunstâncias, a taxa de

distribuição escolhida deveria ser tal, que o efeito marginal dos dividendos sobre o preço

fosse igual ao efeito dos lucros retidos.

67 FRIEND, I. e PUCKETT, M., "Dividends and Stock Prices", American Economic Review, 54,

September 1964, pp. 656-682.

50

Friend e Puckett sugeriram que o erro de medida dos lucros retidos fosse

eliminado, utilizando um conceito de lucro normalizado, tendo por base o ajustamento

das séries temporais. Testaram-na a partir da reespecificação das variáveis contabilísticas

e económicas, a partir da seguinte equação:

(LPA/P)jt / (LPA/P)kt = j + j . t + jt

sendo: (LPA/P)jt o rácio lucro por acção/preço da acção da empresa j no momento t; e

(LPA/P)kt o PER médio do sector k no momento t; o termo de erro; e t o ano.

Introduzindo o conceito de lucro normalizado no modelo anteriormente definido,

constatou-se que os valores obtidos para os coeficientes associados aos dividendos, 1 e

aos lucros retidos, 2 se aproximavam. Concluíram, então, que os lucros retidos são mais

importantes para a determinação do valor das acções do que os dividendos, nos sectores

económicos de elevado crescimento68. Nos restantes sectores parecia haver preferência

por dividendos69.

1.8. Em resumo

Os defensores da teoria mais vale um pássaro na mão, em oposição à tese da não

relevância da política de dividendos, sugeriram que os argumentos de MM só eram

válidos com os pressupostos restritivos subjacentes à sua teoria. Consideravam que o

pagamento de dividendos em dinheiro reduzia a incerteza dos investidores, o que os

levaria a descontar os lucros a uma taxa menor e, consequentemente, a atribuir um maior

68 «There is some indication that nongrowth industries as a whole, a somewhat (but only moderately)

higher investor valuation may be placed on dividends than on retained earnings within the range of payout

experienced, but the opposite may be true in growth industries», Friend e Puckett [op. cit., pp. 679-680]. 69 Todavia, o modelo proposto por Friend e Puckett continuava a não estar ajustado e a não considerar o

risco. A consideração do risco apenas se tornou possível com o modelo de avaliação de activos financeiros

em equilíbrio, designadamente a partir do estudo de Black e Scholes (1974). Neste estudo, como veremos

procura-se testar a hipótese de que, sendo as mais valias menos tributadas que os dividendos, os

investidores exigem um maior rendimento esperado de empresas que tenham um «payout» mais elevado,

como forma de compensar o maior custo fiscal dos dividendos.

51

valor à empresa, e que os accionistas sendo, em regra, avessos ao risco, associariam um

menor risco ao recebimento de maior montante de dividendos actuais do que ao das mais-

valias e/ou dividendos futuros. Assim, a política de distribuição de resultados era

relevante para o valor da empresa, pelo facto de os investidores preferirem dividendos

imediatos, como forma de reduzirem a incerteza.

Verifica-se, portanto, que os defensores do argumento, de que os investidores têm

preferência pelo pagamento de dividendos assentam as suas críticas, às conclusões de

MM, na existência de um contexto de incerteza. Mais concretamente, Gordon afirma não

subscrever os argumentos de MM em contexto de ausência de certeza70, dado que:

- o investidor não pode ser indiferente ao modo como se obtém o rendimento de

uma acção, porque as mais-valias são mais incertas que os dividendos;

- a expectativa de emissão e venda de acções no período seguinte pode ocasionar

uma influência negativa no preço da acção no momento actual, pois pode acontecer que

simultaneamente se verifiquem alterações nos dividendos;

- o investidor é avesso ao risco e a incerteza aumenta com o tempo;

- a taxa de actualização, utilizada para avaliar o preço de uma acção, é função

crescente da taxa de crescimento do dividendo, em virtude da incerteza e do risco

crescerem ao longo do tempo.

Os seguidores desta tese defendem, ainda, que tais argumentos «são mais aceitáveis

do que os de MM», para analisar o comportamento das empresas no mundo real, visto

que a empresa para atingir os objectivos dos seus accionistas e para maximizar o seu

valor «precisa de desenvolver uma política de dividendos»71.

70 GORDON, M. J., "Optimal Investment and Financing Policy", Journal of Finance, 18(2), May 1963, pp.

264-272, in Archer e D`Ambrosio [18, pp. 622-629]. 71 «Each firm must develop a dividend policy that fulfills the goals of owners and maximizes their wealth

as reflected in the firm`s share price», Gitman [92, p. 592].

52

Os argumentos de Gordon não foram aceites pelos defensores das outras escolas de

pensamento. Por exemplo, Brealey e Myers [40, p. 382] consideram que «desde que as

políticas de investimento e de endividamento se mantenham constantes, os fluxos de

tesouraria totais serão os mesmos, independentemente da política de distribuição de

dividendos»72. Brealey e Myers sintetizam esta tese argumentando que:

- os investidores que recebem dividendos e não participam na compra da sua

parcela de novas acções, emitidas para financiar os dividendos, para além de verem

reduzida a sua participação na empresa e de trocarem um recebimento seguro por um

lucro futuro menos certo, não vêem essa segurança vir do facto de o dinheiro ser recebido

sob a forma de dividendo, mas sim de terem o dinheiro no banco73;

- sendo verdadeiro o argumento, de que os accionistas antigos aumentam a sua

riqueza trocando activos financeiros com risco por outros sem risco, também o seria o

argumento, de que os novos accionistas veriam a sua riqueza diminuída ao comprarem

acções da empresa. Ora, tal não acontece, porque apesar de estarem a correr um risco,

também estão a ser remunerados por ele;

- a posição de MM sobre a não relevância dos dividendos assume apenas um

mercado de capitais eficiente e não um mundo com ausência de incerteza, pelo que os

seus argumentos não ignoram o risco;

- as transferências de valor, derivadas das variações na política de dividendos,

realizam-se em termos justos, por os mercados serem por hipótese eficientes, pelo que o

valor global da riqueza dos accionistas não é afectado. Significa isto que ninguém ganha,

nem perde.

72 Brealey e Myers [40, p. 382]. 73 Referem mesmo que, caso não tivesse havido lugar ao pagamento de dividendos, os mesmos

investidores poderiam alcançar uma posição igualmente segura através da venda de acções e do depósito do

dinheiro no banco.

53

Verifica-se, portanto, que, no contexto do quadro teórico definido por MM, não

existiam discordâncias com a sua tese. O argumento da irrelevância dos dividendos está,

aliás, como qualquer outro, desde logo condicionado pelos seus pressupostos,

designadamente a hipótese de um mercado de capitais eficiente. Todavia, como referem

Brealey e Myers [op. cit., p. 383], tal teoria é, mesmo actualmente, «de uma forma geral

aceite como correcta», centrando-se a preocupação na análise das imperfeições de

mercado e do seu efeito sobre aquela tese.

Todavia, no final da primeira década de debate e num contexto real, eram-lhe

apresentadas algumas críticas. Tais críticas assentavam nos seus pressupostos,

designadamente, os relativos à perfeição e transparência do mercado de capitais e o da

racionalidade dos investidores. Brealey e Myers referem mesmo que as «conclusões de

MM derivam do seu pressuposto sobre a existência de mercados de capitais perfeitos e

eficientes», pelo que «a controvérsia sobre os dividendos se reduz às discussões sobre as

imperfeições, as deficiências ou a racionalidade do comportamento dos accionistas»74.É

neste quadro que se podem identificar argumentos a favor de uma elevada distribuição de

resultados, como, por exemplo, a existência de uma clientela para acções com dividendos

elevados e o conteúdo informativo dos dividendos75. Todavia, numa outra perspectiva,

surgiu, também, a crença, de que sempre que sobre os dividendos fossem aplicados

impostos mais pesados do que sobre as mais-valias, as empresas deveriam ter taxas de

distribuição de resultados o mais baixo possíveis.

Assim, havia, igualmente, algum consenso quanto à necessidade de investigar os

efeitos das diferentes imperfeições existentes no mundo real sobre o valor de mercado

das empresas, particularmente no que respeita à influência da fiscalidade, tanto sobre as

74 Brealey e Myers [40, p. 383-384]. 75 MM aceitam este argumento, mas consideram-no como algo temporário.

54

sociedades como sobre os indivíduos, e à assimetria resultante das diversas taxas de

imposto incidentes sobre o rendimento em dividendos ou mais-valias.

Contudo, não era suficientemente conhecido o efeito de qualquer uma destas

imperfeições, pelo que a situação no final da década de 60 se pode resumir, citando

Black76:

«What should the individual investor do about dividends in his portfolio? We don`t

know.

What should the corporation do about dividend policy? We don`t know.»

Apesar da tese apresentada, MM consideraram, ainda, que a análise dos efeitos da

política de dividendos sobre o valor da empresa não podia ficar concluída sem o estudo

desta problemática num contexto de mercados de capitais não perfeitos. Mesmo

reconhecendo que tal apreciação era mais fácil de identificar do que concretizar, dado não

existir um único conjunto de imperfeições, consideraram que a existência de diferentes

taxas de imposto sobre os dividendos e as mais-valias constituíam a maior imperfeição de

mercado77.

No próximo capítulo, iremos abordar, por um lado, os efeitos da introdução da

fiscalidade e da assimetria fiscal entre a tributação dos dividendos e das mais-valias sobre

o valor de mercado dos capitais próprios da empresa e, por outro lado, considerar o risco,

factor que, até agora, não esteve presente nos estudos efectuados.

76 BLACK, Fischer, «The Dividend Puzzle» in Smith [190, pp. 215-220]. 77 « ... the tax differential in favor of capital gains is undoubtedly the major systematic imperfection in the

market ...», Miller e Modigliani [145, p. 655].

55

CAPÍTULO 2

A POLÍTICA DE DIVIDENDOS E A FISCALIDADE

2. 1. Introdução

Enquanto, na década anterior, o debate opôs os defensores da escola que era

favorável aos dividendos ao grupo que, com base na eficiência dos mercados, apoiava as

posições de MM, os anos setenta caracterizaram-se, essencialmente, pelo confronto entre

estes últimos e o chamado grupo anti-dividendos, que apoiava a sua tese nas

consequências que resultavam da existência de impostos. Os defensores da teoria mais

vale um pássaro na mão, como refere Hess [101, p. 447], apenas mantinham uma

presença significativa no mundo dos negócios1, deixando de se ouvir nos meios

académicos e científicos, onde passaram a constituir, ainda segundo aquele autor, uma

«minoria silenciosa».

Após terem demonstrado a não relevância da política de dividendos, no «mundo

altamente abstracto e simplificado»2 que idealizaram, Miller e Modigliani, também,

consideraram que as diferentes taxas de imposto que incidem sobre dividendos e mais-

valias, eram a maior imperfeição de mercado3. Todavia, concluíram que não tinha efeitos

evidentes sobre o valor da empresa, dado que, considerando a legislação fiscal americana,

1 Como se pode verificar pelos resultados de um inquérito realizado por Partington [161], junto dos

dirigentes de oitenta e sete empresas australianas, a fiscalidade dos accionistas foi considerada como o

factor menos importante de todas as vinte e duas variáveis que influenciavam as suas políticas de

dividendos. Neste estudo, a que se fará uma referência mais detalhada no capítulo 5, apenas 17% dos

gestores atribuiam importância à fiscalidade dos investidores. 2 «Highly abstract and simplified world», Shapiro [182, pp. 538]. 3 É possível, contudo, identificar outras, como por exemplo, a existência de custos de transacção e de

emissão, de informação assimétrica entre gestores e investidores e de uma preferência dos accionistas pelos

dividendos, por razões comportamentais.

56

um número significativo e crescente de acções são detidas por investidores que ou não

estão sujeitos a assimetrias fiscais (instituições de beneficência, fundações, fundos de

pensões e reformados) ou para os quais a desigualdade de tratamento fiscal discrimina

favoravelmente os dividendos (companhias de seguros e as empresas sujeitas a imposto

sobre o rendimento)4.

Pelo contrário, a escola anti-dividendos conclui pela desvantagem na distribuição

de lucros, partindo da assimetria fiscal entre mais-valias e dividendos, favorecendo os

rendimentos em ganhos de capital, ao aplicar taxas mais elevadas aos rendimentos em

dividendos. Complementarmente, os defensores de uma redução dos resultados

distribuídos argumenta que as mais-valias ainda beneficiam do diferimento do

pagamento dos impostos, em virtude de apenas poderem ser exigidos após a realização

dos ganhos de capital.

Os modelos de avaliação da empresa que até agora se analisaram, não

pressupunham a existência de impostos, nem sobre o rendimento das sociedades nem

sobre rendimento das pessoas físicas. Todavia, como afirmam Copeland e Weston5,

mesmo com a existência de impostos sobre os lucros das empresas, a política de

dividendos também não é relevante para a determinação do seu valor.

A partir do momento em que se passe a considerar que, também, os investidores

individuais estão sujeitos a impostos, e particularmente quando deixa de existir uma

fiscalidade transparente sobre os dividendos e as mais-valias, é possível admitir que a

4 «It should be remembered that a substantial (and growing) fraction of total shares outstanding is currently

held by investors for whom there is either no tax differential (charitable and educational institutions,

foundations, pension trusts, and low-income retired individuals) or where the tax advantage is, if anything,

in favor of dividends (casualty insurance companies and taxable corporations generally)», Miller e

Modigliani [145, p. 655]. 5 «Note, however, that even in this model [modelo, que considera a existência de impostos sobre os

resultados das empresas] dividend payout is not relevant for determining the value of the firm», Copeland e

Weston [59, p. 556].

57

forma como os rendimentos são tributados venha a influência sobre a política de

dividendos das empresas. Esta situação é tão mais pertinente, quanto é verdade que, em

muitos países, os rendimentos em dividendos estão sujeitos a maiores impostos, do que

os que incidem sobre as mais-valias. Nestas circunstâncias, poderá haver vantagens na

retenção de lucros. Torna-se, portanto, necessário considerar o custo fiscal dos dividendos

e, consequentemente, avaliar o impacto da fiscalidade dos dividendos sobre o valor da

empresa.

Mais concretamente, pretendem-se obter respostas para as seguintes questões:

Como é que a introdução dos impostos individuais afecta a política de dividendos? Quais

são as consequências da existência de menores impostos sobre as mais-valias em relação

aos que incidem sobre os dividendos? A resposta a estas questões é decisiva,

particularmente, quando existe um diferencial de taxas que favorece as mais-valias.

Esta questão mantém igual importância, mesmo que a taxa nominal seja igual, tanto

para as mais-valias como para os dividendos, dado que «however, capital gains taxes are

still less than ordinary taxes in effect, because capital gains can be deferred indefinitely,

whereas taxes on ordinary income cannot»6. Assim, a taxa efectiva de imposto sobre as

mais-valias é inferior à taxa efectiva sobre os dividendos, na medida em que os ganhos de

capital apenas são reconhecidos, quando realizados. Verifica-se, portanto, que podem

existir vantagens do rendimento em mais-valias perante o rendimento obtido em

dividendos, o que pode conduzir a uma «systematic preference in the market as whole for

a capital gains over dividends»7.

6 Copeland e Weston [59, p. 556]. 7 Van Horne [199, p. 88].

58

2. 2. A escola anti-dividendos

Na prática, para além da existência de impostos sobre o rendimento em dividendos

e mais-valias, é frequente verificar-se que a tributação relativa a estas é feita a taxas mais

baixas. Em consequência, muitos autores defendem ser preferível reter lucros e

reinvesti-los, em vez de se proceder à sua distribuição pelos accionistas.

Esta é a tese apresentada pela chamada escola anti-dividendos8, que argumenta que

«dividends payments will actually lower share price», em virtude de os dividendos

estarem sujeitos a uma carga fiscal mais pesada, do que a inerente aos ganhos de capital9.

Os defensores desta escola sublinham, ainda, que o pagamento de impostos sobre

as mais-valias é diferido até à data de venda dos títulos e da realização desse rendimento,

concluindo pela preferência dos investidores por ganhos de capital relativamente a

dividendos10, dado que, como foi demonstrado por MM (1961), uma unidade monetária

de lucros retidos proporciona, antes de impostos, uma mais-valia para o investidor

equivalente a uma unidade monetária em dividendos pagos11.

A questão central da tese da escola anti-dividendos é a de que o investidor não

vende as suas acções, e por isso não realiza qualquer ganho de capitais e, caso o faça e

assim realize mais-valias, os dois investidores obtêm a mesma quantidade de dinheiro,

enquanto o imposto sobre o rendimento em mais-valias for igual ao imposto sobre o

rendimento obtido em dividendos.

8 Esta escola tem a sua origem nos EUA, onde se verificou que, até 1987, os dividendos eram mais

tributados, do que as mais valias e que, com a Reforma de 1986, foi eliminado o tratamento fiscal

preferencial das mais valias. Todavia, assiste-se, ainda, em alguns Estados, a uma maior tributação dos

dividendos relativamente às mais valias. 9 «heavier tax burden born by dividends relative to that by capital gains», Shapiro [op. cit, p. 543]. 10 «... the tax on capital gains is deferred until the stock is sold and the gain is actually realized. Other

things being equal, therefore, individuals tend to prefer capital gains to dividends», Shapiro [op. cit., p.

543]. 11 «One dollar in retained earnings results in capital gains to the investor equal, before taxes, to the dollar

in dividends that could otherwise be paid out», Shapiro [op. cit., p. 543].

59

Assim, de acordo com esta escola, se os dividendos forem mais tributados do que

as mais-valias, uma política de dividendos generosa pode induzir a redução do preço da

acção, ou seja, a uma diminuição do valor da empresa, o que levará os investidores a

terem uma aversão por dividendos.

Os primeiros modelos a terem em consideração as diferenças de fiscalidade nos

rendimentos em dividendos e em mais-valias foram os de Farrar e Selwny, e Elton e

Gruber.

2. 2.1. O modelo de Farrar e Selwny

A abordagem que Farrar e Selwny12 apresentaram em 1967, foi centrada

essencialmente sobre as relações existentes entre o endividamento da empresa e a sua

política de dividendos. Concluíram que as empresas deviam evitar o pagamento de

dividendos, sempre que estes fossem sistematicamente tributados mais fortemente do que

as mais-valias.

Farrar e Selwny desenvolvem a sua análise numa situação de equilíbrio parcial,

pressupondo que os investidores pretendem maximizar a sua rendibilidade após impostos.

Por outro lado, admitem que os investidores estão perante duas hipóteses: 1) comprar

acções de uma empresa não endividada e recorrer ao financiamento pessoal para poderem

beneficiar do efeito de alavanca financeiro, ou 2) adquirir acções de uma empresa

endividada. Consequentemente, os investidores têm de escolher entre: i) o endividamento

pessoal ou o da empresa, e ii) a forma como pretendem obter os seus rendimentos, dado

12 FARRAR, Donald E. e SELWNY, Lee L., "Taxes Corporate Financial Policy and Return to Investors",

National Tax Journal, 20(4), December 1967, pp. 444-454, citados por Olivaux [156, pp. 346 e ss] e

Copeland e Weston [59, pp. 556-559].

60

que a empresa ou paga dividendos ou retém lucros, permitindo, assim, que os accionistas

obtenham esses rendimentos através da realização de mais-valias.

Na hipótese de a empresa distribuir a totalidade dos seus resultados, o rendimento

após impostos esperado pelo investidor individual sob a forma de dividendos, Yd, será:

[2.1] Yd = [(RAJI - r Dc) (1 - tc) - r Dp] (1 - tp),

sendo: RAJI os resultados antes de juros e impostos; r a taxa de juro (supõe-se igual para

a empresa e investidores); Dc o endividamento da empresa; Dp o endividamento do

investidor individual; tc a taxa de imposto sobre os lucros da empresa; e tp a taxa de

imposto sobre os rendimentos obtidos pelos investidores individuais.

Como se verifica, a equação [2.1] inclui os resultados da empresa, após custos

financeiros e após impostos, ((RAJI - r Dc) (1 - tc)), que se presumem totalmente

distribuídos. O rendimento antes de impostos do investidor é dado pelo montante dos

dividendos recebidos, menos os custos do endividamento pessoal. Após subtrair os

impostos pagos pelo accionista sobre este rendimento em dividendos, obtém-se o

rendimento líquido. Assim, tem-se que o rendimento, antes de impostos, do investidor, é

igual aos dividendos menos os juros da dívida pessoal, contraída para comprar acções da

empresa, e o rendimento líquido é obtido após se deduzir, ao rendimento anterior, os

impostos pessoais13.

Caso a empresa opte pela retenção da totalidade dos seus lucros e se admita a

hipótese de ser possível ao investidor realizar imediatamente mais-valias, que são

tributadas a uma taxa tg, o seu rendimento líquido esperado pelo investidor sob a forma

de mais-valias, Yg, será dado pela seguinte equação:

13 Sublinhe-se, que Farrar e Selwny estão a presumir, que os investidores podem deduzir ao seu rendimento

colectável, os juros associados aos empréstimos contraídos, ou, alternativamente, a beneficiar de um crédito

de imposto. Refira-se, também, que a primeira situação ocorre nos EUA, enquanto que a segunda é mais

frequente na Europa.

61

[2.2] Yg = (RAJI - r Dc) (1 - tc) (1 - tg) - r Dp (1 - tp).

Verifica-se, agora que o investidor está sujeito a impostos sobre as mais-valias, e

deduz ao seu rendimento colectável os juros do endividamento pessoal.

A equação [2.2] pode reescrever-se do seguinte modo:

[2.2a] Yg = [(RAJI - r Dc) (1 - tc) - r Dp] (1 - tg) + r Dp (tp - tg).

Comparando as equações [2.1] e [2.2a], obtém-se uma nova equação14:

[2.3] Yg = Yd + r Dp (tp - tg).

Agora é possível verificar que Yg é superior a Yd, enquanto tg for inferior a tp e

que, nestas circunstâncias, o investidor tem vantagem em obter o seu rendimento pela via

da realização de mais-valias e não através de dividendos. Verificando-se tp > tg, os

investidores preferirão sempre mais-valias a dividendos, qualquer que seja o nível de

resultados operacionais, a taxa de juro dos empréstimos e o tipo de endividamento

(pessoal ou da empresa). Neste caso, o rácio Yg/Yd será sempre superior a 1.

Consequentemente, a empresa não deve pagar quaisquer dividendos, contribuindo

assim para a maximização do rendimento esperado pelos accionistas. Quanto à satisfação

das necessidades de liquidez dos accionistas, os dividendos podem ser transformados em

mais-valias, através dos seus substitutos, como por exemplo a aquisição de acções

próprias e a distribuição de acções gratuitas.

Face ao exposto, é evidente que as empresas, ao decidirem sobre a sua política de

dividendos, devem considerar a melhor forma de remunerar os investidores, optando por

aquela que os leva a pagar impostos menores. Significa isto que devem fazê-lo através

das mais-valias e não através do pagamento de dividendos, de tal modo que seja possível

14 Caso os juros dos empréstimos contraídos pelos particulares não sejam fiscalmente dedutíveis, como é o

caso de Portugal, ter-se-ia:

Yg = Yd + rDp (1 - T),

com T = (1 - tg) / (1 - tp). Mesmo assim, desde que tp > tg, tem-se que Yd<Yg.

62

«minimizar o valor actual de todos os impostos15 pagos sobre os resultados da

empresa»16.

2. 2. 2. O modelo de Elton e Gruber

Elton e Gruber17 consideram que a taxa marginal de imposto dos investidores tem

«an important role in stock valuation models and in dividend policy models», pelo que se

torna fundamental investigar os efeitos das diferenças de tratamento fiscal dos

rendimentos em mais-valias e dividendos.

Para isso, formalizaram um modelo de arbitragem fiscal, efectuada pelos

investidores na ocasião do pagamento dos dividendos, que assenta no seguinte argumento

de base: um accionista, ao vender uma acção que ainda não recebeu o dividendo, perde

esse direito. Pelo contrário, se a vender no dia seguinte ao do destaque do cupão18,

receberá o dividendo, mas falo-á por um preço inferior. Se o mercado for racional, a

queda no preço da acção deve corresponder ao montante do dividendo pago. Contudo, se

as mais-valias forem menos tributadas do que os dividendos, a taxa de imposto relativa

destes dois tipos de rendimento condicionará a decisão do investidor. Assim, para Elton e

Gruber seria suficiente observar a evolução do preço das acções, sem dividendos, para

explicar o comportamento dos investidores.

As hipóteses, em que assenta o modelo de Elton e Gruber, são as seguintes:

- a taxa de tributação das mais-valias é uma única;

15 Todos os impostos incluem tanto os que são pagos pelos obrigacionistas, como pelos accionistas. 16 Brealey e Myers [ 40, p. 428]. 17 ELTON, Edwin J. e GRUBER, Martin J., "Marginal Stockholder Tax Rates and the Clientele Effect",

Review of Economics and Statistics, February 1970, pp.68-74. 18 Trata-se de acções, para as quais o comprador não tem direito a receber o último dividendo, designadas

por sem dividendo («ex-dividend»).

63

- é conhecida a relação entre a taxa que incide sobre as mais-valias realizadas e a

taxa que tributa os dividendos;

- não existem nem custos de transacção nem restrições sobre vendas a descoberto;

- os investidores são neutros face ao risco; e

- qualquer acção comprada no dia de pagamento dos dividendos é vendida,

posteriormente, a um preço superior à última cotação após o destaque do cupão19.

Considerando que: Pb é o preço da acção antes do destaque do cupão; Pa é o preço

da acção após o destaque do cupão; D representa os dividendos recebidos; Pc é o preço

de compra da acção; e ainda que tg e td são, respectivamente, as taxas de tributação das

mais-valias e dos dividendos, temos que a riqueza do accionista, dada por W ou W`, que

vende a acção será:

- antes do destaque do cupão: [2.4] W = Pb - tg (Pb - Pc);

- após o destaque do cupão20: [2.5] W` = Pa - tg (Pa - Pc) + (1 - td) D.

Sabendo que o investidor tanto pode vender a acção antes como depois do

pagamento dos dividendos, o equilíbrio de mercado implica que as grandezas W e W`

sejam iguais, o que permite obter a seguinte relação de indiferença entre vender

(comprar) ou não vender (não comprar):

Pb - tg (Pb - Pc) = Pa - tg (Pa - Pc) + (1 - td) D.

Rearranjando a equação, obtém-se21:

[2.6] (Pb - Pa) / D = (1 - td) / (1 - tg) = H.

19 Neste sentido restrito, refere-se ao cupão que está agregado ou impresso no título representativo de uma

acção devendo ser apresentado para recebimento dos dividendos. 20 Se tivermos em conta a realidade fiscal portuguesa, em que existe crédito de imposto, a segunda

equação, de acordo com o modelo proposto por Hamon e Jacquillat [98, p. 261], deve escrever-se do

seguinte modo: W` = Pa - tg (Pa - Pc) + D - [((1 + C) * D) * td - C * D] ,

sendo C o montante de crédito parcial pelo imposto pago ao nível da sociedade. 21 Considerando a situação descrita na nota anterior, esta equação seria a seguinte:

(Pb-Pa) / D = ((1 - td) / (1 - tg)) * (1 + C) = H.

64

Para Elton e Gruber, o rácio H [igual a (Pb - Pa) / D] representa «the ex-dividend

behavior that would cause a stockholder with particular set of tax rates td and tg to be

indifferent as to the timing of purchases and sales of common stock»22.

Para que o mercado esteja em equilíbrio, é necessário que a variação ocorrida no

preço da acção, no dia em que passa a ser sem dividendo, seja tal que os compradores e

os vendedores potenciais fiquem indiferentes à compra antes ou após o destaque do

cupão. Assim, a relação (Pb - Pa) / D) deve reflectir as taxas de imposto marginais do

accionista marginal, e a análise da sua evolução permite deduzi-las.

A relação [2.6] sugere que, se não existirem impostos (td = tg = 0), a queda no preço

da acção que se verifica com o destaque do cupão (Pb - Pa), é igual ao montante dos

dividendos pagos, D, o que está de acordo com a tese de MM (1961).

Todavia, se a fiscalidade dos dividendos for mais desfavorável do que a das mais-

valias (td > tg), e se os investidores marginais, mais fortemente tributados, efectuarem a

venda das suas acções antes do pagamento dos dividendos e transferirem as suas compras

para depois do destaque do cupão, a diminuição no preço da acção na data de destaque

deve ser inferior ao montante dos dividendos pagos, pelo que o rácio H será inferior a 1.

2. 3. Investigação empírica sobre os efeitos da fiscalidade

A eventualidade de um efeito fiscal, na ocasião do pagamento dos dividendos, foi

mencionado pela primeira vez por Campbell e Beranek23, ao constatarem que a queda das

cotações das acções, no dia em que passavam a sem dividendo, era, em média, inferior ao

valor do dividendo pago. Segundo eles se, como era até então geralmente considerado, o

preço das acções diminuísse de um montante igual ao valor dos dividendos pagos, os

22 Elton e Gruber [op. cit., p. 69]. 23 CAMPBELL, J. e BERANEK, W., "Stock Price Behavior on Ex-dividend Price", Journal of Finance,

10(4), December 1955, pp. 425-429, citados por Albouy e Dumontier [4, p. 95].

65

investidores marginais24 sujeitos a uma taxa de imposto sobre os dividendos mais elevada

do que a das mais-valias, efectuariam a venda das suas acções antes da data de

pagamento do cupão e adiariam as suas compras, de modo a adquirirem acções sem

dividendos, como meio de tirar benefício desta assimetria fiscal.

Assim, a existência de diferentes situações fiscais pode conduzir os investidores a

preferências distintas, relativamente à política de dividendos da empresa, de tal modo que

podem ou não preferir dividendos ou ser-lhes indiferentes. Se assim for, as empresas

devem ajustar a sua taxa de distribuição de lucros, de forma a tirarem partido de tal

facto25. Por outro lado, o efeito fiscal suporta, também, a ideia da relutância dos gestores

em diminuírem o payout, dado que isso pode levar os investidores a incorrerem em

custos de transacção não desejados.

Elton e Gruber, tendo em vista medir o efeito fiscal, testaram o seu modelo de

arbitragem no mercado americano, ao analisarem a evolução das acções cotadas na New

York Stock Exchange (NYSE), comparando os preços das acções que pagaram dividendos

no período compreendido, entre 1 de Abril de 1966 e 31 de Março de 1967, e que tinham

sido objecto de negociação, tanto no dia em que passaram à situação sem dividendo,

como no dia anterior.

Neste estudo empírico, procuravam descobrir a relação entre o valor da queda do

preço das acções, no dia em que deixavam de dar direito ao recebimento de um

determinado dividendo e o valor pago a título de dividendos («ex-dividend day»). O

raciocínio de base assentava na ideia, de que, se a queda média das cotações dos títulos

24 Investidores marginais são os accionistas, cujas ordens de compra e venda são as últimas a serem

consideradas para a determinação do preço de equilíbrio. 25 «If various clienteles of investors have dividend preferences, corporations should adjust their dividend

payout to take advantage of the situation», Van Horne [200, p. 331].

66

fosse inferior ao valor dos dividendos pagos, tal fenómeno era devido à assimetria fiscal

entre dividendos e mais-valias. Os resultados obtidos constam do quadro nº 2.1.

Quadro 2.1 - Resultados de Elton e Gruber

Nº de observações Média Desvio Padrão Probabilidade de ser 1 Escalão de imposto

4148 0.7767 0.0990 0.013 36,4%

Fonte: Elton e Gruber [70, p. 70].

Verificaram que o valor médio de (Pb - Pa) / D) era de 0,7767, quando, na ausência

de qualquer efeito fiscal, tal valor não deveria ser muito diferente de 1, o que, tendo em

conta as características da fiscalidade americana (tg = 0,5 td), implicava que a taxa de

imposto marginal dos investidores era de 36,4%. Observaram, também, que a

probabilidade daquela relação ser igual ou superior a 1 era inferior a 1,5%. Segundo

Elton e Gruber, isso traduziria uma preferência por mais-valias.

Mais recentemente, Kalay26 estimou essa descida em 88,1%. No mercado francês,

os estudos desenvolvidos por Desbrières27, por um lado, e por Hamon e Jacquillat28, por

outro lado, apontaram no sentido de uma diminuição de 82,25%, para o primeiro trabalho

empírico, e de uma diminuição de 77% no mercado a contado e de 73% no mercado de

regularização mensal, para o último estudo.

Em qualquer dos estudos referidos, verificou-se que a queda no preço das acções

foi sempre inferior ao montante dos dividendos pagos, o que sugere uma preferência do

mercado por mais-valias, relativamente aos dividendos.

26 KALAY, A., "The Ex-dividend Day Behavior of Stock Prices: A Re-examination of the Clientele

Effect", Journal of Finance, 37(4), September 1982, pp. 1059-1070, citado por Albouy e Dumontier [4, p.

96]. 27 DESBRIÈRES, P., "L` Effet de Clientèle des dividendes sur le Marché Français: Une Teste Empirique",

Finance, Juin 1988, pp. 5-16, citado por Albouy e Dumontier [op. cit., p. 96]. 28 Hamon e Jacquillat [98, pp. 259 e ss].

67

A preferência por mais-valias pode, igualmente, ser evidenciada comparando as

taxas de rendibilidade das acções no dia do destaque do cupão, com as taxas de

rendibilidade que deveriam ter, se não pagassem dividendos nessa data.

A partir da equação [2.6], conclui-se que, se os dividendos forem mais tributados

que as mais-valias, a ausência de oportunidades de arbitragem implica que a diminuição

da cotação, na ocasião do destaque do cupão, seja inferior ao dividendo pago, logo, (Pb -

Pa < D). Significa isto que, para compensar os efeitos da fiscalidade, os investidores

exigem um rendimento antes de impostos mais elevado e, ainda, uma taxa de

remuneração igualmente elevada.

Reescrevendo a equação [2.6], obtém-se:

(Pb - Pa) = D ((1 - td) / (1 - tg)),

e ainda:

[2.7] (Pb - Pa) / Pa = (D / Pa) * (1 - td) / (1 - tg).

Temos, então, que o termo da equação à esquerda do sinal de igual é a

rendibilidade adicional, exigida pelos investidores na ocasião do pagamento dos

dividendos para compensar o diferencial de tributação entre os dividendos e as mais-

valias. Caso o imposto sobre as mais-valias seja idêntico para todos os investidores, o

adicional de rendibilidade depende apenas da taxa de remuneração da acção e da taxa de

tributação marginal do investidor.

A partir das conclusões de diversos estudos empíricos, levados a efeito em

diferentes países, como se evidencia no quadro nº 2.2, tem-se constatado um adicional de

rendibilidade que em média é estatisticamente positivo, sendo que a diferença entre a

realidade europeia e norte americana resulta dos dividendos serem pagos anual e

trimestralmente, respectivamente.

68

Quadro 2.2 - Rendibilidade adicional, exigida pelos investidores

Eades, Hess e Kim (1984) EUA + 0, 17%

Booth e Johnson (1984) Canadá +0,46%

Lakonishok e Vermaelen (1986) EUA + 0,10%

Desbrieres (1988) França + 0,81%

Hamon e Jacquillat ( 1991)

- Mercado de liquidação mensal (RM)

- Mercado à vista (MC)

França

+ 0,55%

+ 0,447%

Fonte: [4, p. 97].

Face a estes resultados, é possível constatar que as alterações nas cotações

associadas ao pagamento dos dividendos vão no sentido de um adicional de remuneração,

exigido pelos investidores, tendo em vista compensá-los de uma fiscalidade que é

globalmente desfavorável. Todavia, como a fiscalidade não é igual para todos os

investidores, é possível admitir que os investidores menos tributados pelos lucros

distribuídos do que pelas mais-valias, preferirão acções com um rendimento em

dividendos elevado, enquanto os investidores com uma tributação sobre os resultados

distribuídos mais desfavorável do que a das mais-valias, terão preferência por acções com

um fraco rendimento em dividendos e mesmo por aquelas que não distribuam quaisquer

lucros.

Complementarmente, é possível também admitir que, pelo facto de existir um

enviesamento nas suas taxas de remuneração, as empresas atraem uma clientela fiscal

particular. Caso se verifique este efeito de clientela, ele pode explicar o comportamento

dos gestores que se opõem a modificações da política de dividendos da empresa, dado

que tais alterações podem levar os investidores, que pretendam uma determinada taxa de

remuneração, a modificar frequentemente as suas carteiras de títulos e com as

consequências correspondentes sobre os custos de transacção que lhe estão associados.

Tendo presente, como se pressupõe, que existe uma única taxa sobre as mais-valias,

a equação [2.6] permite determinar a taxa de imposto marginal média dos investidores,

69

calculada a partir do ajustamento no preço da acção, observado na data do destaque do

cupão. Por outro lado, a partir daqui é possível segmentar o mercado de acordo com as

taxas de imposto dos investidores. Assim, na hipótese do efeito clientela, os accionistas

das empresas que proporcionam um alto rendimento em dividendos, devem estar sujeitos

a uma taxa marginal de imposto inferior aos daqueles que possuam títulos das sociedades

que tenham uma taxa de distribuição fraca.

2. 3.1. O efeito clientela fiscal

O efeito clientela, que foi, como se mencionou, inicialmente sugerido por Miller e

Modigliani em 1961, traduz-se na possibilidade de os investidores formarem as suas

carteiras de títulos segundo a rendibilidade em dividendos, de forma a minimizarem o

efeito dos impostos sobre os rendimentos. Assim, os investidores com rendimentos

sujeitos a uma elevada taxa de imposto prefeririam acções com baixos rendimentos em

dividendos, enquanto aqueles que suportassem taxas de imposto mais reduzidas, optariam

por acções com maiores taxas de distribuição de resultados.

Na sua investigação, Elton e Gruber procuraram, também, encontrar validação

empírica para o efeito clientela fiscal, tendo levado a efeito um estudo29, em que

seguiram uma metodologia que passou pela classificação das acções em decis, em função

do rácio H médio e pelo cálculo das taxas de rendimento médio para cada decil. Os

resultados, que constam do quadro nº 2.3, permitiram concluir que os investidores tinham

tendência para se organizarem em classes, induzidas pelas taxas de imposto.

29 A avaliação empírica do efeito fiscal tem sido efectuada através de dois métodos: o do «ex-dividend

day» e do rendimento em dividendos. O estudo de Elton e Gruber foi feito através do primeiro método.

70

Quadro 2.3 - Efeito clientela fiscal

Decil

Taxa de

rend.to em div.

Valor

médio de H

Escalão de

imposto (%)

1 0,0124 0,6690 49.74

2 0,0216 0,4873 61.45

3 0,0276 0,5447 59.15

4 0,0328 0,6246 53.15

5 0,0376 0,7953 33.98

6 0,0416 0,8679 23.34

7 0,0542 0,9209 14.65

8 0,0496 0,9054 17.47

9 0,0552 1,0123 n.d.

10 0,0708 1,1755 n.d.

n.d.: não determinado

Fonte: Elton e Gruber [70, p. 72] e Copeland e Weston [59, p. 579].

Os resultados são consistentes com o efeito clientela fiscal, ou seja, os investidores

situados nos maiores escalões de rendimento têm preferência por mais-valias, em vez de

dividendos e vice-versa30.

De igual modo, investigadores31 como Kalay (1982), Eades, Hess e Kim (1984),

Hess (1982), Poterba e Summers (1984), Kaplanis (1986), para a Grã-Bretanha, Barclay

(1987) para o mercado americano, Desbrières (1988) e Hamon e Jacquillat (1991) para a

França, seguindo a metodologia de análise do comportamento das cotações das acções no

dia «ex-dividend» (sem dividendo), obtiveram a mesma conclusão, ou seja, concluíram

que os preços desciam, mas num valor inferior ao montante do dividendo. Face aos

resultados obtidos com estes trabalhos empíricos, conclui-se que tal descida era

consistente com a existência de um efeito clientela fiscal dos dividendos, particularmente

quando os dividendos têm um tratamento desfavorável face às valias, o que leva os

30 A partir deste estudo foi possível observar, como se evidencia no quadro 2.3, que existia uma relação

linear inversa entre a taxa de rendimento em dividendos média e os escalões de imposto, para cada um dos

grupos estabelecidos, tendo-se concluído pela existência de um efeito clientela dos dividendos. 31 Estudos citados em Albouy e Dumontier [op. cit., p. 97].

71

preços a reflectirem o diferencial de taxas que exista. Verifica-se, portanto, que a teoria

mais vale um pássaro na mão estava a ser posta em causa pela chamada contra-teoria,

designada por «bird in the hand fallacy».

2. 3. 2. Uma apreciação crítica da investigação empírica sobre o efeito clientela fiscal

O estudo de Elton e Gruber, apesar de, numa primeira avaliação, parecer coerente,

enferma, todavia, de um vício metodológico importante. Estes autores comparam os

preços da acção na data de destaque do cupão e no dia anterior, o que não permite

considerar as antecipações dos investidores. Em virtude da variação dos preços poder ser

antecipada pelos investidores, seria preferível considerar, não só aqueles dois preços, mas

uma série de cotações.

A análise até agora efectuada considera que os preços das acções, no momento do

destaque do cupão, derivam das transacções dos investidores a médio e longo prazo,

sujeitos a elevados impostos, e desejando evitar tal tributação não estão na posse dos

títulos na data de pagamento dos dividendos. Contudo, tal análise pode ser contrariada

pela acção dos arbitragistas que, não possuindo à partida qualquer acção, podem

comprá-la com dividendos e vendê-la sem dividendos. Neste caso, se as mais-valias e os

dividendos forem tributados à mesma taxa de imposto sobre o rendimento, t, (em virtude

de tg e td serem iguais), e considerando: Pb o preço de compra da acção com dividendos;

Pa o preço de venda do título após o destaque do cupão; D os dividendos recebidos; o seu

lucro de arbitragem, Wa, será dado por:

[2.8a] Wa = - Pb + D + Pa - t D + t (Pb - Pa).

Esta equação exprime a riqueza do arbitragista, dado ter adquirido a acção antes do

destaque do cupão por Pb, após o que recebeu os respectivos dividendos, pagando os

72

correspondentes impostos, e, finalmente, efectuou a venda do título sem dividendos pelo

preço Pa, beneficiando de uma compensação fiscal pelas menos valias obtidas.

Rearranjando a expressão [2.8a], obtém-se:

[2.8b] Wa = (1 - t) ( Pa - Pb + D),

Caso o arbitragista tenha uma situação de isenção fiscal (t = 0), o lucro de

arbitragem será igual à diferença entre o valor de diminuição na cotação, acrescido do

valor recebido a título de dividendos. Em qualquer dos casos, o lucro de arbitragem será

eliminado, se a queda no preço for igual aos dividendo pagos, (Pa - Pb) = D , o que, como

vimos nos diferentes estudos empíricos efectuados, não parece ser possível.

Kalay32 referiu que a intervenção dos arbitragistas só seria frutuosa, se os custos de

transacção não fossem demasiado elevados, uma vez que, quando a queda da cotação é

inferior ao dividendo pago, mas existem custos de transacção elevados, c, as

possibilidades de arbitragem são nulas. Mais concretamente, isso aconteceria numa

situação em que:

[2.9] D - (Pb - Pa) < c (Pa + Pb).

Por outro lado, se a queda na cotação for superior ao dividendo, não haverá lucro

de arbitragem sempre que:

[2.10] (Pb - Pa) - D < c (Pa + Pb).

Combinando as equações [2.9] e [2.10] e considerando o preço médio:

(Pm = (Pa + Pb) / 2),

obtém-se os limites entre os quais o lucro de arbitragem é impossível, devido à existência

de custos de transacção elevados:

32 Kalay, "The Ex-dividend Day Behavior of Stock Prices: A Re-examination of the Clientele Effect",

Journal of Finance, 37(4), September 1982, pp. 1059-1070, citado em Copeland e Weston [59, p. 579] e

Albouy e Dumontier [4, p. 99-101].

73

[2.11] 1 - 2c (Pm/D) < (Pb - Pa) / D < 1 + 2c (Pm/D).

Considerando que a restrição imposta pela equação [2.11] é respeitada e na

presença de custos de transacção elevados, não se pode, como referem Albouy e

Dumontier [4, p. 100], deduzir o escalão de imposto dos investidores que detêm as acções

na data de destaque do cupão, a partir da observação da queda relativa das acções.

Elton, Gruber e Reutzler33 argumentaram que os custos de transacção seriam

demasiados elevados para permitirem aos arbitragistas a obtenção de vantagens no

ajustamento das cotações na data de pagamento dos dividendos. Sendo assim, e se

considerarmos que a queda das cotações se situa em média em 80% do dividendo pago, a

restrição [2.11] implica que a taxa de rendimento é pelo menos 10 vezes maior que os

custos de transacção34.

Poterba e Summers35, por outro lado, argumentaram que, no caso inglês, não era

possível atribuir as transacções efectuadas na data de pagamento dos dividendos aos

arbitragistas, em virtude de, segundo o seu estudo, a rendibilidade adicional, observada

no dia de pagamento dos dividendos não se alterar desde 197036.

Desbrières e Hamon e Jacquillat realizaram estudos para o caso francês, tendo

obtido conclusões diferentes. No primeiro caso, não foi detectada nenhuma modificação

significativa no volume de transacções no dia de destaque do cupão, enquanto no último

33 ELTON, J., GRUBER, M e RENTZLER, J., "A Simple Examination of the Empirical Relationship

Betweeen Dividend Yields and Deviations from the CAPM", Journal of Banking and Finance, 7, 1983, pp.

135-143, citados por Albouy e Dumontier [4, p. 100]. 34 A arbitragem seria vantajosa se (D - (Pb-Pa) > 2cPm). Verificando-se (Pb-Pa) > 0,8 d, então os

arbitragistas não interviriam senão quando D/Pm > 10c. No caso americano, dado que os dividendos são

pagos trimestralmente, é pouco provável que a relação seja de 1 para 10. 35 POTERBA, J. M. e SUMMERS, L. H., "New Evidence that Taxes Affect the Valuation of Dividends",

Journal of Finance, December 1984, pp. 1397-1415, citados por Albouy e Dumontier [4, p. 100-101]. 36 Registe-se, entretanto, que a partir deste ano, as autoridades bolsistas limitaram fortemente as

transacções a curto prazo, efectuadas por arbitragistas.

74

estudo, se detecta um aumento significativo de transacções nos dias que antecedem

aquela data.

Entretanto, apesar da aparente consistência lógica do raciocínio de Elton e Gruber,

a investigação empírica levada a efeito não veio confirmar a hipótese de clientelas fiscais

nos mercados de títulos. Assim, mesmo tendo alguns estudos verificado a existência de

um efeito clientela, não ficava claro que era realmente gerado pela fiscalidade, podendo

mesmo admitir-se que teria uma origem completamente alheia à fiscalidade ou que,

conjuntamente com o efeito fiscal, existiam outra(s) causa(s).

A situação no final da década de setenta pode, por conseguinte, sintetizar-se do

seguinte modo: a teoria, na sua maioria, considerava os dividendos inconvenientes, dado

que, em presença da fiscalidade e numa atitude racional, não deveria haver lugar à

distribuição de quaisquer lucros; os estudos empíricos concluíam que os dividendos ou

eram favoráveis ou irrelevantes, mas nunca inconvenientes, verificando-se mesmo que os

valores de dividendos efectivamente pagos não eram sempre coincidentes.

Em conclusão, o efeito clientela dos dividendos continuava a gerar alguma

controvérsia, particularmente quando se incorporavam nos modelos as imperfeições de

mercado. Todavia, Elton e Gruber tiveram o mérito de pôr em evidência as disparidades

entre a fiscalidade dos dividendos e das mais-valias. Brennan37 veio a dar um passo

importante para a investigação, ao recusar apenas o raciocínio em termos de que a

optimização do rendimento líquido era satisfatória para o accionista, salientando a

importância que os investidores atribuíam ao binómio rendibilidade-risco, quando da

constituição das suas carteiras.

37 BRENNAN, M. J., "Taxes, market valuation and corporate financial policy", National Tax Journal,

December 1970, 23, p. 417-427.

75

2. 4. Investigações empíricas com base no Modelo de Avaliação de Activos

Financeiros em Equilíbrio (MADAFE)

Segundo a teoria financeira, os gestores devem definir políticas de investimento, de

financiamento e de distribuição de resultados que tenham em vista a maximização do

valor da empresa. Como estas políticas podem afectar o valor da empresa, através do seu

impacto sobre o binómio rendibilidade-risco percebido pelo mercado, torna-se importante

considerar o risco na valorização dos activos financeiros, visto que a rendibilidade

esperada é por natureza incerta38.

De acordo com o Modelo de Avaliação de Activos Financeiros em Equilíbrio

(MADAFE)39, tem-se que a rendibilidade esperada de um activo financeiro j, E(Rj), é

igual à taxa de juro sem risco, Rf, adicionada de um prémio de risco, e é proporcional ao

risco sistemático40 da acção j. A equação do MADAFE é a seguinte:

[2.12] E(Rj) = Rf + j [E(Rm) - Rf]

com:

j = Beta do título j, dado por Cov (Rj, Rm) / Var (Rm),

Rj = Rendibilidade esperada do título j, dada por (Pj,t + dj,t) / Pj,t-1,

Rm = rendibilidade esperada da carteira de mercado.

Entretanto, coloca-se a questão de saber qual é o impacto da política de dividendos

sobre a rendibilidade esperada de uma acção.

38 «Le risque est naturelment un élément important de la valorisation des actifs financiers dans la mesure

où la rentabilité attendue est par essence incertain», Albouy e Dumontier [4, p. 67]. 39 Sigla portuguesa para o Capital Asset Price Model, proposto por SHARPE, William F., "Capital Asset

Prices: A Theory of Market Equilibrium under Conditions of Risk", Journal of Finance, September 1964. 40 O risco sistemático ou de mercado é o risco que afecta todas as empresas em geral, e que não é

susceptível de ser reduzido pela diversificação, Neves [151, p. 112].

76

2. 4.1. Política de dividendos e rendibilidade

O MADAFE veio permitir que as investigações mais importantes se viessem a

apoiar nele, dado ter uma base teórica consistente, mesmo que possa merecer alguns

reparos.

Tendo em atenção as definições de beta e de rendibilidade de um título, pode-se

reescrever a equação [2.12] do seguinte modo:

[2.13] E(Rj) = Rf + [(E(Rm) - Rf) / Var (Rm)] . Cov (Rj, Rm).

Consideremos que a rendibilidade esperada de uma acção, E(Rj), é igual à soma das

rendibilidades esperadas em dividendos, E(dj), e mais-valias, E(gj), de tal modo que:

[2.14] E(Rj) = E(dj) + E(gj).

Consideremos, ainda, que: [(E(Rm) - Rf) / Var (Rm)] = constante do mercado = .

Então, a equação [2.12] pode escrever-se41:

[2.15] E(dj) + E(gj) = Rf + . Cov (dj+gj, Rm).

Temos agora que o termo [ . Cov (dj+gj, Rm)] representa o prémio de risco

exigido pelos investidores para a acção j.

Por outro lado, admitindo que o investidor espera receber sob a forma de

dividendos uma proporção constante, aj, da rendibilidade da acção j, com 0 aj 1,

teremos:

[2.16] E(dj) = E(aj . Rj),

e, ainda:

[2.17] E(gj)= E((1 - aj) Rj),

com 0 a 1.

41 Esta demonstração deve-se a BAR-YOSEF, S. e KOLODNY, R., "Dividend Policy Capital Market

Theory", Review of Economics and Statistics, 58, May 1976, pp.181-190.

77

A partir das equações [2.16] e [2.17] e na medida em que o termo da variância pode ser

decomposto:

Cov (Rj, Rm) = Cov (dj + gj, Rm) = Cov (dj, Rm) + Cov (gj, Rm),

obtém-se:

[2.18] Cov (dj, Rm) + Cov (gj, Rm) = Cov (ajRj, Rm) + Cov ((1 - aj)Rj, Rm)

= aj Cov (Rj, Rm) + (1 - aj) Cov (Rj, Rm).

A equação [2.18] mostra que o MADAFE implica a neutralidade dos dividendos e

evidencia que o risco associado à rendibilidade em dividendos é proporcional ao risco

sistemático global42. Assim, concluem Bar-Yosef e Kolodny, para uma dada taxa de

substituição marginal entre o rendimento em dividendos e as mais-valias, por um lado, e

a taxa de substituição entre os riscos associados a estes factores, por outro lado, são

constantes e iguais a menos um43.

Consequentemente, tem-se que, usando o MADAFE, qualquer variação dos

dividendos na remuneração global do accionista não deverá ter qualquer efeito sobre o

valor da acção, em virtude do risco sistemático global e da esperança de rendibilidade

não variarem.

A partir das equações [2.12] e [2.16], a rendibilidade esperada em dividendos pode

ser escrita do seguinte modo:

[2.19] E (dj) = aj (Rf + Cov (Rj, Rm)) aj Rf + aj Cov (Rj, Rm).

Com o objectivo de testar o impacto dos dividendos sobre a rendibilidade, pode-se

utilizar a seguinte regressão: dj = j + Cov (dj, Rm) + j e estimá-la para as empresas

42 « The risk associated with dividend yield is precisely the proportion it constitues in the overall return, aj,

times the overall risk of security. It is apparent that an increase of 1% in the dividend yield would increase

the risk of the dividend yield by exactly 1%.», Bar-Yosef e Kolodny [24, p. 183]. 43 «Thus, it follows that, for a given expected return, both the marginal rate of substitution between

dividend yield and capital gains and, at same time, the marginal rate of substitution between the risks

associated with these components is constant and equal to minus one», Bar-Yosef e Kolodny [24, p. 183].

78

que tenham os mesmos aj. Caso a política de dividendos seja neutra, então j deverá ser

igual a (ajRj) e igual a .

A conclusão de que a lógica do MADAFE está em conformidade com a tese da

irrelevância dos dividendos, não é de surpreender, dado que as suas hipóteses de

derivação são idênticas às de MM (1961), como foi mostrado por Bar-Yosef e Kolodny

[24, pp. 183-184].

2. 4. 2. O MADAFE e a fiscalidade

Como foi referido na abordagem da problemática da fiscalidade, a hipótese de um

efeito de clientela fiscal pressupõe que «os investidores constituem as suas carteiras de

activos financeiros em função unicamente da variável dividendos»44. Nesta situação, é de

esperar que exista uma certa homogeneidade nas situações fiscais dos accionistas de cada

empresa. Contudo, é também possível considerar que os investidores possam tomar as

suas decisões em função de outras variáveis, como a taxa de rendibilidade e o risco dos

activos financeiros que integram a sua carteira.

2. 4. 2. 1. MADAFE modificado de Brennan

Tendo em vista integrar a fiscalidade dos rendimentos das acções, designadamente

reflectir a dupla tributação dos dividendos e a consequente redução da rendibilidade para

alguns investidores, Brennan45 sugeriu, em 1970, uma nova versão para o MADAFE. A

modificação proposta por Brennan é uma extensão dos trabalhos de Farrar e Selwny, num

44 Albouy e Dumontier [4, p. 104]. 45 BRENNAN, M., "Taxes, Market Valuation and Corporate Financial Policy", National Tax Journal,

December 1970, pp. 417-427.

79

contexto de equilíbrio geral e pressupõe que os investidores pretendam maximizar a

utilidade esperada da sua riqueza.

A modificação proposta por Brennan tinha em atenção a hipótese de um efeito de

clientela fiscal, mas também o facto de os investidores terem preocupações de

rendibilidade e de risco na selecção dos activos financeiros a incluir nas suas carteiras,

sugerindo a seguinte equação:

[2.20] E(Rj) - Rf = [E(Rm) - Rf - (dm - Rf)] j + (dj - Rf).

com:

= coeficiente positivo que tem em conta a taxa de imposto sobre os dividendos,

td, e a taxa de imposto sobre as mais-valias, tg, sendo td > tg, e que é igual a: [(td - tg)/(1 -

tg)];

j = beta do título j;

dj = rendimento em dividendos da acção j, igual a Djt/Pjt;

dm = rendimento em dividendos do mercado.

Considerando b = E(Rm) - Rf - (dm - Rf) tem-se:

[2.21] E(Rj) = Rf + b j + (dj - Rf].

A equação [2.20] exprime que a rendibilidade esperada, antes de impostos, das

acções com elevado rendimento em dividendos é superior à rendibilidade esperada das

acções com baixo rendimento, e que no ponto de equilíbrio, e para um dado nível de

risco, as diferenças entre as rendibilidades antecipadas dependem da média ponderada

das taxas de imposto a que está sujeito o conjunto dos investidores.

O modelo de Brennan permite concluir que:

i) se o factor rendimento em dividendos é estatisticamente positivo, então a

política de dividendos é relevante para o valor da empresa, quer seja positivo ou

negativo;

80

ii) o sinal do coeficiente , indica quais os investidores que dão maior

importância ao pagamento de dividendos;

iii) ( (dj - Rf)) integra, simultaneamente, o rendimento em dividendos e os

impostos sobre a empresa e permite avaliar o seu impacto sobre a rendibilidade exigida.

Mais concretamente, permite ver que a rendibilidade exigida depende da taxa de juro sem

risco, do prémio de risco e do termo associado à cobrança de impostos.

As conclusões de Brennan, sugerem que, para um dado nível de risco, os

investidores exigem um rendimento tanto maior quanto maior for o rendimento esperado

em dividendos, dado que o imposto sobre os lucros distribuídos é maior que o imposto

sobre as mais-valias, e que a taxa de distribuição pode ser considerada como um factor

explicativo da rendibilidade esperada do investimento em acções.

Tendo em vista a verificação empírica do modelo de Brennan, pode recorrer-se à

seguinte formalização da sua versão do MADAFE:

[2.22] Rj - Rf = 0 + 1 j + 2 (Dj/Pj - Rf) + j,

sendo: 0 a constante; 1 o coeficiente relativo à influência do risco sistemático em Rj;

2 o coeficiente relativo à influência da taxa de distribuição em Rj; Dj/Pj=dj o

rendimento em dividendos; e j o termo de erro. Caso se venha a verificar que dj é

estatisticamente relevante, então poder-se-á concluir que a política de dividendos não é

irrelevante.

O modelo de Brennan, apesar de permitir conclusões semelhantes, é mais robusto

que o de Farrar e Selwny. De todo o modo, qualquer um deles sugere que é preferível não

pagar dividendos, sempre que exista um diferencial de taxas sobre os dividendos e as

mais-valias, beneficiando estas.

81

2. 4. 2. 2. Estudo de Black e Scholes: O efeito clientela e o valor das acções

Considerando o efeito clientela sobre a valorização das acções, é possível admitir

que, se tal efeito existe, as empresas podem fidelizar um certo grupo de accionistas

através da variável dividendos. No entanto, põe-se o problema de saber, em que medida é

que este efeito pode afectar o valor das acções.

Para MM (1961), como vimos, o efeito clientela existe, mas não tem impacto sobre

o valor da empresa. Outros autores, cuja opinião vai no mesmo sentido, defendem que,

numa situação de equilíbrio, em que todas as clientelas estão satisfeitas, nenhuma

empresa pode alterar o preço de mercado das suas acções através de uma modificação na

política de dividendos.

Black e Scholes verificaram que as empresas americanas apresentavam uma taxa de

distribuição de 40 a 50%, pelo que procuraram encontrar uma explicação para esse

comportamento, apesar da existência de assimetria fiscal entre as mais-valias e os

dividendos.

O estudo que Black e Scholes46 levaram a efeito teve como objectivo analisar os

efeitos da política de dividendos sobre o valor das acções.

A ideia central da sua investigação era a seguinte: se os investidores preferirem

dividendos a ganhos de capital, então a rendibilidades em dividendos mais elevadas

corresponderiam cotações mais altas para as acções e menores rendibilidades totais. Pelo

contrário, qualquer preferência por mais-valias implicaria preços mais baixos para os

títulos que evidenciassem menores rendimentos em dividendos e, consequentemente,

rendibilidades totais mais elevadas. Caso se verificasse uma situação de indiferença entre

os rendimentos em dividendos e em ganhos de capital, não seria possível observar

46 BLACK, F. e SCHOLES, M., "The Effects of Dividend Yield and Dividend Policy on Common Stock

Prices and Returns, Journal of Financial Economics, 1, May 1974, pp. 1-22.

82

qualquer relação significativa entre a rendibilidade em dividendos, os preços das acções e

a rendibilidade total esperada.

O estudo de Black e Scholes sobre os efeitos da política de dividendos no valor das

acções surgiu na sequência do seu desacordo quanto à metodologia das investigações

anteriores. Até então, os estudos tinham como objecto da investigação a análise da

correlação entre a taxa de distribuição de resultados e o PER. Segundo Black e Scholes,

tal método não permitia controlar outras variáveis para além da política de dividendos47.

Segundo eles, a relação entre dividendos e cotações poderia ser testada de acordo

com as seguintes duas metodologias: analisar a hipótese de maiores dividendos

ocasionarem preços mais elevados para as respectivas acções, ou analisar a hipótese de

maiores dividendos darem origem a rendibilidades esperadas futuras mais baixas48.

O seu estudo assentou na segunda aproximação, ou seja, na hipótese de que

maiores rendimentos actuais em dividendos dão origem a uma rendibilidade total futura

menor. Por outro lado, testaram o efeito da política de dividendos sobre a rendibilidade,

no contexto do MADAFE, o que permitiria, portanto, controlar eficazmente o risco das

acções.

As hipóteses iniciais do modelo de Black e Scholes são, para além das habituais, as

de que não existem impostos sobre o rendimento dos investidores individuais e a oferta

de títulos é conhecida. Por outro lado, argumentaram que era possível abandonar tais

hipóteses, dado que o equilíbrio poderia ser obtido mesmo sem a sua existência, em

virtude de as empresas terem a possibilidade de ajustar o número de acções em circulação

47 A avaliação empírica do efeito fiscal efectuada por Black e Scholes, foi feita através do método do

rendimento em dividendos, que procura estudar a relação existente entre o rendimento em dividendos e a

rendibilidade total do investimento em acções, para isolar a influência dos outros factores. 48 Esta hipótese assenta na ideia, de que mais dividendos proporcionam um maior rendimento actual para

os accionistas, mas também proporcionam rendimentos futuros esperados menores do que os que seriam

obtidos, se os resultados retidos fossem maiores.

83

à procura dos investidores, quando estes podem seleccionar as empresas que lhes

proporcionam a combinação desejada de dividendos e mais-valias. Significaria isto que,

mesmo perante a existência de impostos e de outros factores que podem influenciar a

procura, a empresa pode emitir novas acções ou comprar acções próprias, como se

esperaria que acontecesse mesmo com a ausência destes factores. Apesar do abandono

das referidas hipóteses restritivas, os dados podem ser utilizados no contexto do

MADAFE, tendo em vista analisar as relações entre a política de dividendos e a

rendibilidade esperada.

Black e Scholes partiram da fórmula básica do MADAFE [E(Rj)=Rf+ j (Rm-Rf)], e

seguidamente, modificaram-na, de modo a que se passasse a considerar a política de

dividendos. Introduziram, assim, uma parcela adicional relativa à rendibilidade em

dividendos, obtendo a equação seguinte:

[2.23] E(Rj) = Rf + j (E(Rm)-Rf] + 1 (DYj - DYm) / DYm,

com:

E(Rj) = rendibilidade esperada do título j;

E(Rm) = rendibilidade esperada do mercado;

Rf = rendibilidade sem risco a curto prazo;

1 = coeficiente associado à rendibilidade em dividendos;

DYj = rendibilidade em dividendos («dividend yield») do título j, (=D0/P0);

DYm = rendibilidade em dividendos do mercado, (=Dm/Pm).

Black e Scholes, [34, p. 8] reescrevem esta equação do seguinte modo:

[2.24] E(Rj) = 0 + j (E(Rm) - 0] + 1 (DYj - DYm) / DYm,

dado substituírem Rf por 0, que é significativamente superior à rendibilidade sem risco,

a curto prazo, em virtude de, segundo eles, a equação original do MADAFE «has not

84

described expected returns adequately in the postwar period», dada a existência de

correlação entre j e o rendimento em dividendos.

Consideraram que os parâmetros 0 e 1 podiam ser estimados separadamente, o

que iria permitir constatar as seguintes situações:

- verificando-se que 0 era mais elevado do que Rf e 1 era diferente de zero,

poder-se-ia interpretar isso como podendo ser uma consequência da política de

dividendos adoptada;

- se 0 não fosse muito diferente da rendibilidade sem risco, Rf, e 1 diferente de

zero, então o efeito detectado seria exclusivamente uma consequência da política de

dividendos;

- se 0 fosse diferente de Rf e 1 não fosse significativamente diferente de zero,

isto poderia ser interpretado como querendo significar que a política de dividendos não

tinha qualquer efeito relevante sobre o valor da empresa.

No equação do modelo proposto por estes autores, a variável crítica é, como vimos,

1, dado que, se o seu valor estiver próximo de zero, a política de dividendos pode não ter

qualquer efeito sobre o valor de mercado dos capitais próprios. Se o seu valor for

negativo ( 1 < 0), uma empresa com um elevado «payout» tem uma rendibilidade

esperada inferior à de uma outra empresa com uma taxa de distribuição mais baixa.

Assim, a maior rendibilidade esperada será apenas uma consequência de um baixo

dividendo, combinado com um valor negativo para 149.

Para testarem o seu modelo, construíram um conjunto de vinte e cinco carteiras, a

partir dos valores históricos mensais observados para os dividendos, preços e

49 Isto não é consistente com o MADAFE, onde a rendibilidade esperada para um período é dada pela

combinação de mais valias e dividendos. Assim, e ainda de acordo com a equação da rendibilidade

esperada,o valor de 1 deverá ser zero, em virtude de só nesta situação se verificar indiferença entre

dividendos e mais valias.

85

rendibilidades das acções cotadas na NYSE, em cada um dos anos do período 1926 a

1966. Organizaram-nas seguindo dois passos: primeiro dividiram os títulos em cinco

grupos, atendendo às políticas de dividendos seguidas, e, posteriormente, dividindo cada

um desses grupos em outros cinco subgrupos, em função do risco das acções, estimando

o beta de cada título. Tal procedimento, que permitiria manter constante o risco das

acções, possibilitava o estudo das consequências de uma variação das políticas de

dividendos e verificá-las para os diferentes níveis de risco. Por outro lado, usaram dois

estimadores para a taxa de juro sem risco: a taxa de curto prazo para títulos da dívida

pública e uma taxa ligeiramente superior a esta.

Os resultados obtidos para o coeficiente associado à rendibilidade em dividendos,

1, no período de 1936 a 1966, foi de cerca de 0,09%. Para períodos mais curtos, o valor

obtido oscilou entre 0,02% de 1947 a 1956 e 0,18% de 1940 a 1945. Em nenhum dos

casos 1 era significativamente diferente de zero. No quadro nº 2.4, sintetizam-se os

principais resultados do estudo.

Quadro 2.4 - Resultados de Black e Scholes (1974)

Estimadores dos coeficientes de

Período 1= 1 ta dj dm

1936-1966 .0009 .94 .044 .048

1947-1966 .0009 .90 .047 .049

1936-1946 .0011 .54 .036 .046

1947-1956 .0002 .19 .054 .060

1957-1966 .0016 .99 .040 .038

1940-1945 .0018 .34 .051 .052

Fonte: Black e Scholes [34, p. 16].

Black e Scholes interpretaram estes resultados como significando que os

rendimentos esperados das acções com maior rendibilidade em dividendos não eram

muito diferentes dos que eram proporcionados pelos títulos que pagavam menos

dividendos para o mesmo nível de risco. Dito de outro modo, não era evidente a

86

correlação entre a política de dividendos e os preços das acções. Assim, concluem

afirmando que «We have been unable to show that differences in dividend yield lead to

differences in stock returns. This implies that we are unable to show that dividend policy

affects stock prices»50.

O estudo foi desenvolvido sem ter em consideração quaisquer impostos pagos pelos

investidores sobre os rendimentos em dividendos e mais-valias, pelo que a estratégia de

constituição de carteiras que sugerem, apenas é aplicável aos investidores que estejam

isentos de impostos sobre o rendimento. Para este tipo de investidores, Black e Scholes

definem a seguinte estratégia de investimento:

- A rendibilidade em dividendos não tem um impacto consistente no rendimento

esperado, pelo que qualquer aumento na taxa média de rendimento em dividendos de uma

carteira tanto pode permitir o aumento da sua rendibilidade em determinados períodos,

como pode reduzi-la noutros51;

- Tentar maximizar ou minimizar a rendibilidade em dividendos de uma carteira é

provável que conduza a carteiras menos diversificadas, pelo que o rendimento esperado,

dado o seu nível de risco, será menor do que seria se estivessem melhor diversificadas52.

O trabalho destes investigadores foi o primeiro estudo a sustentar empiricamente a

tese da não relevância dos dividendos de MM (1961), tendo sido bem aceite nos meios

50 Black e Scholes [op. cit., p. 18]. 51 «Dividend yield does not have a consistent impact on expected return, so increasing the average yield of

a portfolio will cause it to have higher returns in some periods, but lower returns in other periods», Black e

Scholes [op. cit., p. 19]. 52 «Attemps to maximize or minimize the yield in a portfolio are likely to lead to a badly diversified

portfolio, so that the expected return on the portfolio, given its level of risk, will be lower than it might be

with a better diversified portfolio», Black e Scholes [op. cit, p. 19].

87

académicos, por terem utilizado métodos considerados sofisticados no estudo das

relações entre os dividendos e as cotações53.

Um outro estudo efectuado com a consideração da variável risco, foi o de

Litzenberger e Ramaswamy que veio refutar as conclusões de Black e Scholes.

2. 4. 2. 3. Estudo de Litzenberger e Ramaswamy

Em 1979, Litzenberger e Ramaswamy54 publicaram um estudo, cujas conclusões

divergiram, em absoluto, das apresentadas por Black e Scholes. Considerando uma

aproximação mais geral do que a de Brennan55, e que se traduziu na consideração da

progressividade dos impostos sobre o rendimento, chegaram a conclusões semelhantes às

daquele autor, pondo, portanto, em causa a tese da irrelevância dos dividendos.

A hipótese que Litzenberger e Ramaswamy se propunham testar era a seguinte: a

assimetria fiscal entre dividendos e mais-valias, favorecendo os ganhos de capital, produz

uma aversão dos investidores aos rendimentos em dividendos. Assim, para as acções

cujos rendimentos em dividendos sejam mais elevadas, os investidores exigiriam

rendibilidades totais maiores, o que iria conduzir a preços mais baixos.

Estes autores contestaram os resultados obtidos por Black e Scholes, centrando a

sua crítica nos métodos estatísticos por eles utilizados. Mais concretamente, consideraram

53 Entretanto, é de sublinhar que todos os estudos efectuados até 1974 não consideravam o risco. Com a

aceitação do MADAFE, passaram a efectuar-se investigações que incluiam a variável risco. Tais estudos

procuraram testar a hipótese de que, sendo as mais valias menos tributadas que os dividendos, os

investidores exigem um maior rendimento das empresas que têm um «payout» mais elevado, para

compensar o maior custo fiscal dos dividendos. 54 LITZENBERGER, R. e RAMASWAMY, K., "The Effect of Personal Taxes and Dividends on Capital

Asset Prices: Theory and Empirical Evidence", Journal of Financial Economics, 7, June 1979, pp. 163-196. 55 A abordagem de Brennan, recorde-se, pressupunha a existência de um imposto médio sobre os

rendimentos dos investidores.

88

que a definição de rendibilidade em dividendos daqueles investigadores56 não era

suficiente para detectar o efeito da fiscalidade na rendibilidade total das acções.

Para ultrapassar a limitação dos métodos estatísticos anteriormente utilizados,

Litzenberger e Ramaswamy actualizaram mensalmente os cálculos das suas taxas de

rendibilidade em dividendos. Assim, segundo estes investigadores, seria mais fácil

identificar qualquer eventual efeito produzido pela fiscalidade dos lucros distribuídos nos

preços das acções, em virtude de isso se tornar mais evidente nos meses, em que os

títulos deixassem de dar direito aos dividendos, do que nos outros meses.

Por isso, analisaram, separadamente, as rendibilidades em dividendos e total, tanto

nos meses em que as acções passavam a sem dividendo (por não conferirem ao portador o

direito aos dividendos já declarados), como nos meses em que não havia pagamento de

dividendos, tentando descobrir se estes ajudavam ou não a explicar os rendimentos totais

nos meses «ex-dividend».

O modelo proposto por Litzenberger e Ramaswamy, que é uma variante do

MADAFE modificado de Brennan57, a que acrescentaram um termo, tendo em vista

medir os efeitos das diferenças entre as taxas de imposto efectivas na rendibilidade

total58, pressupõe todas as hipóteses habituais para a derivação do MADAFE:

- a função utilidade do investidor é monótona crescente, estritamente concava, do

rendimento líquido de impostos;

56 Sublinhe-se que, para Black e Scholes, o «dividend yield» era calculado dividindo a totalidade dos

dividendos do ano pela última cotação do mesmo ano. Por outro lado, recorde-se que, nos EUA, os

dividendos não são pagos numa base trimestral, e não apenas uma vez por ano. 57 O MADAFE modificado de Brennan, anteriormente apresentado, escreve-se do seguinte modo:

E(Rj)=Rf+b j+ (dj - Rf], com b = E(Rm) - Rf - (dm - Rf), em que Rj é o rendimento total do título j,

antes de impostos, j é o risco sistemático, Rf é o rendimento de um activo sem risco, dj é o rendimento em

dividendos da acção j e o índice m refere-se ao mercado. 58 O termo introduzido por Litzenberger e Ramaswamy destina-se a substituir o considerado por Black e

Scholes para medir as consequências resultantes das diferenças na rendibilidade em dividendos.

89

- não existem custos de transacção;

- os activos são perfeitamente divisíveis;

- os investidores têm antecipações homogéneas;

e ainda que:

- os dividendos a pagar no final do período são conhecidos no início do período;

- as taxas de imposto são progressivas e a taxa de imposto marginal é uma função

contínua da matéria colectável dos investidores; e

- as mais-valias não são tributadas.

Numa situação de equilíbrio, obtêm a seguinte equação:

[2.25] E(Rj) - Rf = a + b j + c(dj - Rf),

sendo: a o prémio de risco de uma carteira com risco nulo, ou seja, trata-se de uma

carteira com uma rendibilidade em dividendos que é dada pela taxa de juro sem risco; b a

rendibilidade líquida de impostos esperada para a carteira do mercado; e c a média

ponderada das taxas marginais dos investidores.

A equação [2.25] indica que, em situação de equilíbrio, sendo os dividendos mais

tributados que as mais-valias e para um dado nível de risco, a rendibilidade antecipada é

tanto mais alta quanto mais elevada for a taxa de remuneração em dividendos.

Em síntese, o argumento de Litzenberger e Ramaswamy é o de que quanto maior

for o rendimento em dividendos, maior é a rendibilidade esperada antes de impostos,

dado que só assim será possível eliminar o custo fiscal dos dividendos. Por isso, mesmo

aceitando existirem investidores que possam estar sujeitos a taxas inferiores e mesmo

isentos, é geralmente aceite que «for many investors there exists a present-value

differential in taxes between a dollar of dividend and a dollar of retained earnings»59.

59 Van Horne [199, p. 330].

90

Testaram a equação do MADAFE modificado, calculando os parâmetros da

seguinte regressão:

[2.26] Rjt - Rft = a0 + a1 jt + a2 (dit - Rft) + jt,

sendo: Rjt o rendimento do título j no período t; Rft o rendimento de um activo sem risco;

jt o risco sistemático do título j; dit o rendimento em dividendos do título j no período t;

a0 a constante da regressão; a1 o coeficiente associado ao prémio de risco de mercado; a2

o coeficiente associado ao prémio de risco do dividendo, ou seja, aquele que traduz um

prémio de exposição à fiscalidade; e j,t o termo estocástico que traduz o desvio de

rendimento efectivo do título, relativamente ao valor esperado.

Litzenberger e Ramaswamy obtiveram os seguintes resultados: para o período

completo de 1936 a 1977, o efeito da fiscalidade dos dividendos sobre os preços das

acções foi de 22,335%; os valores extremos situaram-se entre 40,8%, no período de

Janeiro de 1941 a Dezembro de 1947, e 1,8% de Janeiro de 1955 a Dezembro de 1961.

Verificaram, ainda, que a2 era positivo e significativamente diferente de zero, e o risco

ajustado dos títulos era maior para as empresas que proporcionavam maiores rendimentos

em dividendos.

Dado os valores serem demasiado elevados para serem atribuídos ao acaso,

concluíram, por isso, que os dividendos não eram desejados pelos investidores, em

virtude de induzirem maiores rendibilidades para as acções com maiores rendimentos em

dividendos e, consequentemente, as mais-valias eram preferíveis aos dividendos.

Argumentaram, portanto, que o risco ajustado à rendibilidade era maior para as acções

com rendimentos em dividendos mais elevados, do que para os títulos com menores

rendimentos. Assim, os investidores não teriam preferência pelos títulos das empresas

elevadas taxas de distribuição, pelo que deveriam esperar-se maiores rendimentos antes

de impostos para as acções com maiores «payout», de modo a atrair os investidores.

91

Contrariamente a Black e Scholes, o estudo de Litzenberger e Ramaswamy

mostrava que as mais-valias tinham maior importância que os dividendos, o que sugeria

que as empresas poderiam aumentar o seu valor reduzindo a sua taxa de distribuição de

resultados.

2. 4. 2. 4. A crítica de Miller e Scholes

Dado que, entre os estudos desenvolvidos por Black e Scholes e por Litzenberger e

Ramaswamy, se verificava uma clara diferença de resultados obtidos, mesmo tendo sido

efectuados para a mesma amostra (a totalidade das acções cotadas na NYSE), tornava-se

necessário analisar as metodologias seguidas, de modo a verificar a razão de ser de tal

contradição.

Em 1982, Miller e Scholes60 publicaram um artigo em que, assentando na hipótese

das expectativas racionais, questionam a operacionalidade da definição de rendibilidade

em dividendos mensal, utilizada por Litzenberger e Ramaswamy, para medir o efeito dos

dividendos no valor das empresas.

Para eles, o método anterior não era adequado para atribuir à fiscalidade dos

dividendos as alterações verificadas no preço das acções, dado que estas podiam

depender das diferenças entre o valor anunciado e o valor pago de dividendos. Segundo

estes autores, o anúncio de dividendos fornece informações ao mercado sobre as

perspectivas futuras da empresa, pelo que a causa real da variação das cotações poderia

não ser o efeito da fiscalidade, mas o conteúdo informativo dos dividendos.

60 MILLER, Merton H. e SCHOLES, Myron S., "Dividends and Taxes: Some Empirical Evidences",

Journal of Political Economy, 90(6), 1982, pp. 1118-1141, citados por Albouy e Dumontier [op. cit., pp.

111-113].

92

Para comprovarem empiricamente este argumento, repetiram o cálculo das

regressões anteriormente efectuadas por Litzenberger e Ramaswamy, mas utilizando

apenas os dados para os meses, em que não havia coincidência entre o anúncio dos

dividendos e o seu pagamento.

Enquanto Litzenberger e Ramaswamy tinham obtido para a1 um valor superior a

22%, Miller e Scholes obtêm um valor de 0,0368, que não é significativamente diferente

de zero.

Verificam, portanto, que as relações entre os rendimentos totais e os rendimentos

em dividendos das acções dependem da definição que é utilizada para a rendibilidade em

dividendos, concluindo que, numa perspectiva de curto prazo, tal rendibilidade pode

conter efeitos informativos.

Considerando os seus resultados, obtidos após terem eliminado o efeito informativo

dos dividendos, concluem, também, que não é possível estabelecer qualquer relação entre

o rendimento global das acções e o seu rendimento em dividendos. Argumentam, ainda,

da impossibilidade em identificar um efeito de fiscalidade, afirmando que «certainly

nothing that could be considered a yield related tax effect of the classic kind»61.

2. 5. A irracionalidade dos investidores: Fischer Black

As conclusões de Miller e Scholes, apesar de terem sido bem aceites, deixaram,

todavia, por explicar como é que a assimetria fiscal entre os dividendos e as mais-valias,

beneficiando estas, não penalizava os preços das acções das empresas que pagavam

dividendos.

61 Miller e Scholes [op. cit.].

93

Num artigo publicado em 1976, Fischer Black62, ao resumir o estado da

investigação até à data, já tinha sugerido a hipótese da racionalidade menos perfeita dos

investidores, ao afirmar que «corporations can`t tell what dividend policy to choose,

because they don`t know how many irrational investors there are»63.

Mesmo que se admitisse a completa racionalidade dos investidores, Black

considerava que não deixavam de surgir outras dificuldades na compreensão desta

problemática. Assim, se os investidores seleccionassem as suas carteiras de títulos, dando

preferência às acções que lhes permitissem o maior rendimento total esperado, após

impostos, para um dado nível de risco, seria de esperar que:

- os investidores que se situassem num escalão de imposto elevado optariam por

acções com baixas taxas de distribuição.

- os que se encontrassem nos escalões mais baixos de imposto prefeririam acções

que garantissem um elevado rendimento em dividendos (dividend yield).

Todavia, apesar de tal estratégia parecer adequada à realidade, poderia conduzir os

investidores a constituírem carteiras menos bem diversificadas e, portanto, com um risco

mais elevado não compensado por um acréscimo de rendibilidade esperada após

impostos64.

Se os investidores que preferem dividendos a mais-valias forem predominantes no

mercado, então as acções das empresas com elevadas taxas de distribuição

proporcionariam rendimentos esperados para a carteira mais baixos. Assim, mesmo os

investidores, completamente isentos de impostos, se fossem racionais, seriam levados a

62 BLACK, Fischer, "The Dividend Puzzle", Journal of Portfolio Management, Winter 1976, pp. 5-8, in

Smith [190, pp. 215-220]. 63 Black [op. cit., p. 220]. 64 «One problem with this strategy is that an investor who emphatizes a certain kind of stock on his

portfolio is likely to end up with less well-diversified portfolio than he would otherwise have. So he will

probably increase the risk of his portfolio», Black [op. cit., p. 220].

94

adquirir acções com baixos dividendos. Reciprocamente, se os investidores com

preferência por ganhos de capital forem largamente dominantes no mercado,

verificar-se-ia uma procura de acções com baixas taxas de distribuição, o que poderá

fazer com que as cotações destas empresas se elevem de tal modo, que deixem de ser

atraentes mesmo para os contribuintes racionais situados nos mais altos escalões do

imposto sobre o rendimento.

Nestas circunstâncias, Black conclui que não sabemos porque é que as empresas

pagam dividendos, nem sabemos porque é que os investidores se preocupam com a

distribuição de resultados, o que o leva a afirmar que «the harder we look at the dividend

picture, the more it seems like a puzzle, with pieces that just don`t fittogether»65.

2. 6. A aquisição de acções próprias como alternativa aos dividendos

Uma alternativa ao pagamento de dividendos é a compra de acções próprias. Estas

compras podem, por exemplo, ocorrer no mercado de capitais ou numa oferta pública de

compra. Os accionistas, ao venderem as suas acções, apenas estão sujeitos ao imposto

sobre as mais-valias66.

Esta forma de distribuir resultados tem vindo a evidenciar uma importância

crescente67, designadamente pelo facto de, dada a assimetria fiscal entre dividendos e

mais-valias, a compra de acções próprias evidenciar algumas vantagens sobre o

pagamento de dividendos em dinheiro. No entanto, pode ser igualmente vista como um

65 Black [op. cit., p. 215]. 66 Contudo, como aconteceu no caso dos Estados Unidos da América, as autoridades fiscais («Internal

Revenue Service») tentaram evitar que as empresas disfarçassem os dividendos com compras de acções

próprias, Brealey e Myers [40, p. 374]. 67 «When you look at the total cash distributed to shareholders dividends are no longer the primary

mechanism for such distribution», Van Horne [199, p. 359].

95

modo que a empresa tem de distribuir liquidez excedentária aos seus accionistas, em

detrimento de dividendos extraordinários.

Outros efeitos possíveis da recompra de acções, para além da transferência de valor

entre accionistas e da economia de imposto sobre o rendimento, são:

- O efeito informativo: a distribuição de liquidez pode ser interpretada como um

sinal, de que se esperam lucros futuros mais elevados, ou que há ausência de

oportunidades de investimento;

- O efeito de alavanca financeira: a aquisição de acções próprias com recurso a

um aumento do endividamento pode trazer como consequência um aumento de resultados

e de dividendos, o que potencialmente fará subir a cotação das acções. No entanto, para

que isto aconteça, torna-se necessário que a queda potencial, provocada pelo aumento do

nível de risco para os investidores, seja inferior àquele aumento potencial;

- A transferência de valor dos credores para os accionistas: qualquer recompra de

acções ocasiona uma redução das garantias de pagamento aos credores da empresa.

Apesar de tanto a distribuição como a aquisição de acções próprias serem formas

diferentes de entregar dinheiro aos investidores, nem sempre se verificou uma reacção

favorável ao processo de recompra68, nem um equilíbrio entre aquelas duas maneiras de

distribuir liquidez.

Num estudo efectuado para a NYSE, Barclay e Smith69 verificaram que só pouco

mais de um oitavo das empresas que distribuíam resultados recorriam à compra de acções

próprias, em operações de mercado aberto, para distribuir cerca de um terço do valor

68 Um exemplo de insucesso é o caso ocorrido em 1968 com a empresa General Public Utilities, descrito

em LOOMIS, Carol J., "A Case for Dropping Dividends", Fortune Magazine, 1968, 15th June, citado por

Shefrin e Statman [183, pp. 253-254]. 69 BARCLAY, M. J. e SMITH, C. W., "Corporate Payout Policy: Cash Dividends Versus Open-Market

Repurchases", Journal of Financial Economics, 22, October 1988, pp. 61-82.

96

pago a título de dividendos. Segundo estes investigadores, a menor utilização de

operações, no mercado de capitais, deve-se ao facto das recompras de acções terem os

seguintes custos específicos adicionais: aumento da margem entre os preços de compra e

venda de acções, e redução da liquidez das acções. Consequentemente, verifica-se um

aumento do custo dos capitais próprios das empresas e uma redução da capitalização

bolsista70. Consideram, entretanto, que estes custos adicionais se deviam à assimetria de

informação entre proprietários e dirigentes, a favor dos primeiros, e não a uma qualquer

preferência dos investidores71.

2. 7. As alterações nas regras fiscais

A questão dos dividendos e dos impostos não está, como vimos, resolvida

empiricamente, dado que o efeito fiscal, caso exista, é demasiado sensível para ser

identificado pelos modelos económicos72. Todavia, a problemática da fiscalidade e dos

seus efeitos sobre as variações nas cotações associadas às data de pagamento dos

dividendos, deve ser igualmente analisada quando ocorrem alterações na legislação fiscal.

Considerando, por exemplo, o caso dos Estados Unidos da América, em que se

verificou um ligeiro aumento da taxa de distribuição de lucros das empresas, após a

reforma fiscal de 1986, tal facto será consistente com a existência de um efeito fiscal

mais reduzido, em virtude de se ter ajustado o diferencial entre os taxas de imposto sobre

os dividendos e sobre as mais-valias.

70 «Our analysis implies that more trading by informed managers increases the bid-ask spread, reduces the

liquidity of the firm`s shares, and thereby increases the firm`s cost of capital and reduces its market value»,

Barclay e Smith [op. cit., p. 63]. 71 «Our explanation for why firms do not substitute open-market repurchases for cash dividends is based on

costs arising from the information disparity between managers and shareholders, and not on special

assumptions about investor preferences», Barclay e Smith [op. cit., p. 63]. 72 «The question of taxes and dividend payout is in an unsettled state empirically. It may be that a tax

effect, if any, is too sensitive to be picked up by the economic models», Van Horne [199, p. 338].

97

Um outro exemplo, particularmente interessante, para avaliar as implicações que as

alterações na fiscalidade têm na ampliação das variações observadas nos preços, é o do

Canadá que, em 1972, introduziu o imposto sobre as mais-valias e alterou a

progressividade do imposto sobre os dividendos, de tal modo que alguns investidores

passaram a estar isentos de impostos sobre os dividendos. Como é referido por Brealey e

Myers [40, p. 389], assistiu-se a um aumento no pagamento de dividendos.

Considerando estas novas hipóteses fiscais, o rácio H [igual a ((Pb - Pa)/D)] deveria

aumentar. As conclusões de alguns dos estudos efectuados, estão referidas no quadro que

se segue.

Quadro 2.5 - Alteração da fiscalidade e efeito sobre as cotações na data de destaque do

cupão

Resultados de Queda das cotações Conclusões

Antes da reforma Após a reforma Lakonishok

e Vermaelen,

1983

(Canadá)

45,1% 18.5% As transacções efectuadas nos dias

próximos da data de pagamento dos

dividendos são, no essencial, efectuadas

por arbitragistas.

Não é possível encarar a dedução da taxa

de tributação dos investidores a partir das

variações observadas nos preços.

Booth e Johnston,

1984 (Canadá)

27% 47,2% Os resultados estão de acordo com a

hipótese de um efeito fiscal sobre o

preço dos títulos, na ocasião do

pagamento dos dividendos.

Poterba e

Summers, 1984

(Grã-Bretanha), e

Barclay, 1987

(EUA)

27% 47,2% A rendibilidade adicional exigida pelos

investidores é tanto maior quanto maior

for a diferença entre o imposto sobre as

mais-valias e o imposto sobre os

dividendos.

Fonte: Albouy e Dumontier [4, p. 101].

2. 8. A compensação fiscal de Miller e Scholes

Mau grado as análises que tinham vindo a apontar os efeitos negativos dos

dividendos sobre o valor da empresa, continuavam sem explicação as políticas de

98

distribuição de resultados, efectivamente praticadas pelas empresas. Uma primeira

justificação, ainda num contexto fiscal, foi avançada por Merton Miller e Myron Scholes.

Miller e Scholes73 publicaram um artigo em 1978, em que apresentavam a tese que

designaram de «strong irrelevance proposition»74:

«Dada a política de investimento da empresa, a política de dividendos não terá

qualquer efeito na riqueza ou no bem-estar económico dos seus accionistas»75.

Contrariamente a Farrar e Selweny, que pressupunham que os investidores não

teriam ao seu dispor qualquer meio para fugir aos impostos sobre os rendimentos em

dividendos, Miller e Scholes fizeram notar que os accionistas dispunham da possibilidade

de evitar a tributação sobre os dividendos, reduzindo ou mesmo anulando o diferencial

das taxas de imposto incidentes sobre os dividendos e as mais-valias.

Estes investigadores, introduziram uma pequena alteração nos argumentos da

escola anti-dividendos, e segundo eles, mesmo que a taxa do imposto sobre os dividendos

seja superior, à que incide sobre as mais-valias, muitos investidores poderão ser menos

tributados recebendo dividendos, do que seriam se o seu rendimento fosse obtido através

de mais-valias. Assim sendo, os investidores serão indiferentes a rendimentos em

dividendos ou à aquisição de acções pela própria empresa. Por isso, mesmo existindo

impostos, tanto sobre o lucro das sociedades como sobre o rendimento das pessoas

físicas, o valor da empresa não é afectado pela sua política de dividendos. Está-se, de

novo, perante a teoria da não relevância da política de dividendos, agora num mundo com

impostos.

73 MILLER, M. e SCHOLES, M, "Dividends and Taxes", Journal of Financial Economics, 6(4), December

1978, pp. 333-364, in Archer e Ambrosio [18, pp. 658-689]. 74 Optou-se por não proceder à tradução desta expressão, dada a dificuldade em encontrar uma outra que

permitisse traduzir com fidelidade a proposição de irrelevância de Miller e Scholes. 75 «Given the firm`s investment decision, the firm`s dividend decision will have no effect on the wealth or

economic welfare of its shareholders», Miller e Scholes [op. cit., p. 662].

99

A irrelevância da política de dividendos resultaria da aplicação de algumas

disposições previstas no «Internal Revenue Code - IRC», que davam a possibilidade de

reduzir ou evitar o pagamento de impostos sobre o rendimento em dividendos. Mais

concretamente, Miller e Scholes sustentaram a sua argumentação na disposição da secção

163(d) do IRC, que permitia a dedução dos juros suportados com o financiamento de

despesas de investimento76.

Ilustram, ainda, o seu argumento com o exemplo de um investidor que possui 2.500

acções de uma empresa com um lucro por acção de 1 e cujo preço é de 10. Admitem que,

no final do ano, a empresa distribui 0,4 e retém 0,6. Considerando que o mercado

valoriza a totalidade dos lucros retidos, o valor de cada acção passa a ser de 10,6. Tendo

em vista neutralizar o efeito fiscal do rendimento em dividendos, que se supõe igual a

1.000 (=2.500 * 40%), o investidor pode endividar-se, por exemplo em 16.667, a uma

taxa de 6% e investir o montante obtido com o empréstimo num activo financeiro sem

risco que proporcione um rendimento de 6% e não esteja sujeito a impostos (Miller e

Scholes exemplificam com seguros de vida). No quadro nº 2.6, apresentam-se os

balanços correspondentes à situação agora descrita.

76 O objectivo inicial desta disposição fiscal era o de permitir a total dedução dos juros associados a

empréstimos hipotecários e a empréstimos contraídos destinados a financiar a aquisição de activos

financeiros cujo rendimento estivesse sujeito a tributação. Todavia, na prática quaisquer juros ou

dividendos recebidos poderiam beneficiar do disposto na secção 163(d) do IRC.

100

Quadro 2.6 - A compensação fiscal, segundo Miller e Scholes

Balanço Inicial Balanço Final

ACTIVO

Acções (2.500 * 10 =) 25.000 (25.000 * 10,6 =) 26.500

Dividendos 0 (2.500* 0,4 =) 1.000

Seguros 16.667 16.667

Total 41.667 44.167

CP + PASSIVO

Capital próprio 25.000 26.500

Empréstimo 16.667 16.667

Juros devidos 0 (16.667 * 6%=) 1.000

Total 41.667 44.167

Quanto ao rendimento obtido pelo investidor será aquele que consta do quadro nº

2.7.

Quadro 2.7 - Rendimento do investidor, segundo Miller e Scholes

+ Dividendos 1.000

- Juros pagos 1.000

= Rendimento colectável 0

+ Rendimento isento 1.000

+ Mais-valias77 1.500

= Rendimento total líquido 2.500

Verifica-se que o investimento, num activo sem risco, não altera a riqueza do

investidor, dado que o aumento de rendibilidade ocasionado por esta aplicação financeira

é exactamente compensado pelo existência de um custo fiscal correspondente aos juros

pagos e que estão associados ao empréstimo contraído. Por outro lado, o rendimento total

realmente conseguido será de 2.500 unidades monetárias, composto por 1.500 u. m., caso

se realizem as mais-valias, e por 1.000 u.m. obtidas com a remuneração do investimento

financeiro efectuado num activo sem risco, como por exemplo os seguros de vida.

77 Este valor, obtem-se do seguinte modo (1.500 = 26.500 - 25.000), enquanto que rendimento isento é

dado por (1.000 = 2.500 * 6%).

101

Poder-se-ia, então concluir que, sem alterar o nível de risco da sua carteira, o

investidor tem a possibilidade de evitar a tributação dos dividendos, maximizando, de

igual modo, os seus rendimentos totais mesmo numa situação, em que o impacto fiscal da

tributação dos dividendos não seja negligenciável.

Segundo Miller e Scholes, os investidores podem evitar a fiscalidade sobre os

dividendos recorrendo ao efeito de alavanca do endividamento78 e investindo o dinheiro

obtido através do empréstimo em activos sem risco e com impostos diferidos, ao abrigo

de benefícios fiscais.

Por outro lado, dada a envolvente fiscal, caso os dividendos e as mais-valias sejam

tributados à mesma taxa, a arbitragem fiscal torna-se desnecessária, o que vem reforçar a

tese apresentada.

Miller e Scholes demonstraram, no contexto fiscal norte-americano, o modo de

adiar o pagamento impostos sobre os dividendos para o momento da realização do

rendimento associado a investimentos em activos financeiros ou mesmo de evitar essa

tributação, se tais aplicações forem efectuadas em fundos de pensões. Para além disso,

mostraram, ainda, que era possível neutralizar o risco. Contudo, a sua tese não deixou de

levantar alguns problemas práticos em virtude de: i) existirem restrições fiscais à dedução

à matéria colectável da totalidade dos juros suportados com empréstimos contraídos; ii)

poderem existir limitações ao tratamento fiscal dos instrumentos que permitiam reduzir

ou anular a tributação possibilitando, assim, a fuga ao fisco; e, finalmente, iii) as mais

(menos)-valias realizadas (verificadas) poderem estar sujeitas a um diferente tratamento

fiscal.

78 «Homemade leverage by individual investors can substitute for leverage at the corporate level», Miller e

Scholes [op. cit., p. 664].

102

2. 8. 1. Verificação empírica da «Strong Irrelevance Proposition»

Feenberg79 começa por referir que a ideia de Miller e Scholes não é original, dado

que o Senado dos Estados Unidos já se tinha preocupado com aquele assunto em 1918, ao

escrever-se num relatório o seguinte: «[the deduction of interest] permits the taxpayer to

make loans for the purchase of wholly exempt securities and then deduct the interest paid

on such loans from his otherwise taxable income, thereby reducing the tax»80.

Por outro lado, conclui que «the special circumstances under which Miller and

Scholes` hypothesis can occur are so rare that no dominant role may be ascribed to the

hypothesis in the determination of corporate dividend policy»81. Feenberg fundamenta

esta afirmação com base nos seguintes elementos:

- A secção 163(d) do IRC apenas foi introduzida pelo «Tax Reform Act of 1975»,

pelo que apenas pode servir para explicar as políticas de dividendos posteriores ao ano

fiscal de 1976;

- Tomando por referência o 1977 «Tax Model file», disponibilizado pelo U. S.

Treasury, verifica-se que apenas 0,384% dos contribuintes registados (330.526 num

universo de 85.989.536) aproveitaram a dedução prevista na disposição fiscal. Por outro

lado, aqueles contribuintes só receberam 2,645% dos dividendos totais (330.520.000 num

total de 26.577.721.000 dólares).

Feenberg põe, portanto, em causa a hipótese da utilização generalizada e intensiva

da secção 163(d) do IRC, como forma de tornar equivalentes a fiscalidade dos dividendos

e mais-valias e de criar uma base fiscal efectiva para que os investidores fiquem

79 FEENBERG, Daniel, "Does the Investment Interest Limitation Explain the Existence of Dividends?",

Journal of Financial Economics, 9, 1981, pp. 265-269. 80 Feenberg [op. cit., p. 265], citando William A. Klein, "Borrowing to Finance Tax-favored Investments",

Wisconsin Law Review, July, p. 608. 81 Feenberg [op. cit., p. 265].

103

insensíveis àquelas duas formas de rendimento. Nega, deste modo, a eficácia da

engenhosa hipótese, sugerida por Miller e Scholes para explicar o pagamento de

dividendos, apesar de serem persistentemente evocados os malefícios da fiscalidade.

2. 9. Será possível concluir?

As relações entre a política de dividendos e o valor da empresa continuaram a não

merecer consenso no meio académico, na segunda década de debate.

Por um lado, a escola de pensamento, defensora de que um aumento no pagamento

de dividendos reduzia o valor da empresa, também designada de esquerda radical,

argumenta que «sempre que sobre os dividendos forem aplicados impostos mais pesados

do que sobre as mais-valias, as empresas deverão pagar os dividendos mais baixos

possíveis», e que «a tesouraria disponível deveria ser retida e reinvestida ou aplicada na

aquisição de acções próprias»82. Sugere, mesmo, que «as empresas podem converter os

dividendos em mais-valias, modificando as suas políticas de dividendos». Tal diminuição

da taxa de distribuição seria bem recebida por qualquer investidor que pagasse impostos,

e desde que os dividendos fossem tributados a uma taxa mais alta que a das mais-valias.

De acordo com estes argumentos, os investidores deveriam pagar mais pelas acções que

tivessem baixas remunerações em dividendos, o que significa também que, para os títulos

que oferecessem maior rendibilidade sob a forma de mais-valias, deveriam aceitar uma

rendibilidade antes de impostos, mais baixa, dada a existência de uma maior tributação

sobre o rendimento em dividendos.

Por outro lado, os partidários de uma baixa ou mesmo nula distribuição de lucros,

para além de sublinharem o factor fiscal, argumentam que o mercado recompensa as

empresas com tais políticas, dado que aquelas que apresentam uma elevada taxa de

82 Brealey e Myers [40, p. 384].

104

distribuição incorrem em custos com a emissão de acções, que podem ser substanciais, e

que surgem como consequência da necessidade de proceder a aumentos de capital.

Na prática tem-se verificado, contudo, alguma dificuldade em medir a relação entre

a remuneração esperada em dividendos e a rendibilidade total, como o comprovam as

conclusões, a que têm chegado diversos investigadores. Em muitos dos testes empíricos

efectuados, como se evidencia no quadro nº 2.8, observa-se que as acções com altas taxas

de remuneração aparentam ter preços mais baixos e oferecer rendibilidades mais

elevadas. Todavia, académicos conceituados como Miller e Scholes também acentuaram

a dificuldade de se conseguir medir de forma adequada a taxa de remuneração por

dividendos e provar a ligação entre esta taxa e a rendibilidade esperada.

Quadro 2.8 - Testes sobre o efeito das taxas de remuneração por dividendos

Teste

Período do

teste

Intervalo

Taxa de

imposto

implícita

Erro padrão da

taxa de

imposto

Brennan 1946-1965 Mensal 34% 12

Black-Scholes (1974) 1936-1966 Mensal 22% 24

Litzenberger-Rasmawamy (1979) 1936-1977 Mensal 24% 3

Litzenberger-Rasmawamy (1982) 1940-1980 Mensal 14-23 2-3

Bradford-Gordon (1980) 1926-1978 Mensal 18 2

Miller-Scholes (1982) 1940-1978 Mensal 4 3

Fonte: Brealey e Myers [40, p. 387].

A tese da esquerda radical não foi partilhada pelos defensores dos argumentos de

MM (1961) sobre a não relevância da política de dividendos. Esta corrente de

pensamento, representada por Miller, Black e Scholes, sustenta que, mesmo na presença

de impostos, a política de dividendos é irrelevante e, se as empresas acreditassem que

uma modificação nas suas políticas de dividendos pudesse aumentar o preço das suas

acções, já o teriam feito.

Para a escola de pensamento centrista, existe uma clientela de investidores que

exige acções com baixos dividendos, mas reconhece também ser possível a existência de

105

um clientela para acções com elevados dividendos. Por outro lado, considera que

qualquer destas clientelas está satisfeita, pelo que as suas exigências de dividendos

elevados ou baixos não produz qualquer efeito sobre os preços e as rendibilidades. Ainda

segundo os centristas, as empresas só deveriam praticar políticas generosas de dividendos

se estivessem convencidas, de que era isso o que os investidores queriam. Com a

existência de um tratamento fiscal diferente para os dividendos e para as mais-valias,

penalizando os primeiros, só se justificaria a existência de investidores que desejem

elevados dividendos, quando existam falhas no sistema fiscal.

Verificando-se uma situação fiscal de tratamento igual entre os dividendos e as

mais-valias, torna-se mais fácil supor que a clientela de investidores, a quem agrade

receber elevados dividendos, seja maior, e que a pressão sobre as empresas para

distribuírem lucros mais elevados seja também maior, apesar de não ser seguro que isso

se traduza numa mudança das rendibilidades pretendidas pelos investidores. Contudo,

tomando como exemplo a experiência de países como o Canadá e os EUA, é de esperar

que o pagamento de dividendos aumente se for eliminada a desvantagem fiscal dos

dividendos resultante de um tratamento distinto para estes e para as mais-valias.

Entretanto, na prática continua a observar-se que muitas empresas distribuem

resultados significativos aos seus accionistas. Verifica-se também que os preços das

acções sobem (descem) quando o valor dos dividendos aumenta (diminui), ou quando as

empresas anunciam dividendos extraordinários ou efectuam a compra de acções

próprias(emitem acções).

Apesar da evidência e da dificuldade em negar a importância do factor fiscal para

os investidores, não é fácil quantificar o seu efeito, nem comprovar a tendência para que

as acções com dividendos mais elevados se vendam a preços mais baixos e, por isso,

ofereçam taxas de remuneração mais altas. Não parece, assim, haver grande consenso

106

acerca dos efeitos da fiscalidade na rendibilidade dos investimentos em acções.

Complementarmente, existe um outro problema que tem a ver com o facto de ninguém

estar «inteiramente certo quanto ao significado de uma elevada remuneração por

dividendos»83.

Neste contexto, têm surgido explicações alternativas, como iremos ver no capítulo

seguinte, que vão desde o conteúdo informativo dos dividendos e a sua utilização pelos

dirigentes como resposta às consequências da separação entre a propriedade e a gestão

das empresas, passando por explicações de base comportamental e pelo insucesso da

teoria financeira em descrever e compreender a problemática da política de distribuição

de resultados das empresas.

83 Brealey e Myers [40, p. 386].

107

CAPÍTULO 3

FUNDAMENTOS DA VALORIZAÇÃO DA POLÍTICA DE

DIVIDENDOS

3.1. Introdução

As relações entre a fiscalidade e os dividendos suscitaram o aparecimento de uma

escola de pensamento que defendia a inconveniência da distribuição de resultados, dados

os efeitos dos impostos sobre o rendimento das pessoas físicas. Pelo contrário, os

defensores da tese da não relevância dos dividendos argumentam que, mesmo na

presença da fiscalidade, os dividendos não influenciam o valor da empresa. Entretanto,

alguns casos concretos vinham, de novo, sugerir a preferência dos investidores por

dividendos em dinheiro, mesmo na presença de tributação. Assim, a realidade,

empiricamente observada, parecia negar a existência de um efeito da fiscalidade sobre os

preços, retomando-se, portanto, o argumento, apresentado pela teoria mais vale um

pássaro na mão.

Não tendo sido possível justificar as políticas de dividendos das empresas apenas

através da fiscalidade, tornava-se necessário procurar outras explicações. Dentre as

diferentes perspectivas avançadas, faremos uma referência aos aspectos mais

significativos das que apontam os dividendos como um meio de transmitir informações

para o mercado (teoria dos sinais), daquelas que justificam os dividendos através da

existência de custos de agência resultantes dos conflitos potenciais entre dirigentes e

investidores, devido à separação entre a gestão e a propriedade (teoria da agência1), e,

1 Trata-se de analisar o comportamento dos gestores e dos investidores, fora do quadro da empresa

neoclássica, que pressupõe que os dirigentes têm a mesma função utilidade que os accionistas, e que estes

estão perfeitamente informados sobre os projectos da empresa.

108

ainda, as que passam pelas designadas teorias de comportamento dos accionistas.

Contudo, começaremos por fazer uma breve referência ao caso que sugeria estarem os

investidores dispostos a aceitar uma rendibilidade menor por via da fiscalidade, para

receberem somas consideráveis de dividendos em dinheiro, em virtude da sua

importância para a análise dos efeitos da fiscalidade dos dividendos e da sua influência

sobre o valor da empresa2.

3. 2. A preferência dos investidores por dividendos em dinheiro

Em 1978, Long3 chamou a atenção para um caso particularmente interessante, o da

Citizens Utilities Company, procurando evidenciar a preferência dos investidores por

dividendos em dinheiro.

A Citizens Utilities Company, a partir de 1956, passou a ter dois tipos de acções,

idênticas em todos os aspectos, excepto no que se referia aos dividendos. Assim, as

acções da série A concediam exclusivamente o direito a dividendos em acções («stock

dividends»), enquanto as da série B apenas concediam o direito a dividendos em dinheiro

(«cash dividends»). Por outro lado, os títulos da série A podiam ser convertidos em

acções da série B, não sendo possível o inverso.

Do ponto de vista fiscal, os dividendos em acções tinham um estatuto especial4, ao

permitir-se que tais dividendos fossem tratados como mais-valias.

Quanto aos direitos, qualquer uma das séries tinha os mesmos, excepto na forma de

receber os dividendos. Contudo, foi estabelecido que, sempre que fossem pagos

2 «Au delà des travaux économétriques sophitisqués, le cas la Citizens Utilities Company prouve de

manière convaincante que les actionnaires sont prêts à sacrifier um peu de rentabilité pour recevoir des

dividendes sonnants et trébuchants», Albouy e Dumontier [4, p. 118]. 3 LONG, John B., Jr., "The Market Valuation of Cash Dividends", Journal of Financial Economics, 6,

1978, pp. 235-264. 4 Ao referir-se a este estatuto fiscal especial, em que «the stock dividends are not taxable as ordinary

income», Long designa-o de «grandfather clause in the 1969 Tax Reform Act», Long [op. cit., p. 235].

109

dividendos em dinheiro, seriam pagos dividendos em acções, de valor equivalente

(«equal fair value»), aos detentores de títulos da série A, no mesmo ano civil.

No processo de opção entre as duas séries de títulos, decorrido no início de 1956,

75,1% dos accionistas escolheram os da série A.

Dadas as circunstâncias, este caso foi considerado particularmente importante, para

analisar, na prática, o efeito da fiscalidade dos dividendos sobre o valor da empresa5. Se

os dividendos não fossem relevantes, seria de esperar que os preços acompanhassem a

valorização relativa dos dividendos. Se os resultados distribuídos fossem importantes,

seria de esperar que fosse possível identificar uma preferência por dividendos ou por

mais-valias. Caso existisse o efeito da fiscalidade, os dois tipos de acções tenderiam a

atrair clientelas, em função da assimetria fiscal entre a tributação dos dividendos e das

mais-valias, de tal modo que as cotações relativas reflectiriam os diferentes escalões

marginais de imposto das diferentes clientelas.

Long analisou o comportamento das cotações no período de 1956 a 1977, tendo

verificado que os preços das acções da série A apenas excediam os da série B em cerca

de 2%, apesar de os dividendos em acções serem 8 a 10% superiores aos dividendos em

dinheiro. Assim, concluiu que os accionistas tinham preferência por dividendos em

dinheiro, mesmo sabendo que estes rendimentos induzem uma rendibilidade total mais

baixa, após impostos6, para os investidores que reclamam por lucros distribuídos7.

5 «Compte tenue de cette particularité [le dividende en action est assimilé à un gain en capital], cette societé

offre un excelent terrain d`observation de l`effet de la fiscalité des dividendes sur la valeur des actions»,

Albouy e Dumontier [4, p. 115]. 6 Ou, como referem Albouy e Dumontier [op. cit., p. 117], apesar do «coût fiscal qu`i engendrent». 7 «John Long presents compelling evidence that there is a significant demand for cash dividends even

where this leads to a lower after-tax total return to investors holding claims to those dividends», Shapiro

[182, p. 542].

110

O caso foi reexaminado em 1986 por Poterba8, que observou os preços dos dois

tipos de acções na data de destaque do cupão. De acordo com as investigações

desenvolvidas para datas posteriores ao período analisado por Long (até 1976), concluiu

que, agora, os investidores não mostravam preferência por dividendos em dinheiro, mas

sim por dividendos em acções. Contudo, não encontrou razões suficientes para atribuir,

com certeza, este facto à fiscalidade9.

3. 3. O conteúdo informativo dos dividendos e os modelos de sinalização

Um aspecto, aparentemente apreciado pelos gestores das empresas, era a

estabilidade da política de dividendos. Contudo, apesar disso não querer significar a

partilha da mesma opinião dos accionistas, não era impeditivo da existência de algumas

razões que os pudessem levar a valorizar uma política de distribuição de resultados

estável.

Numa política de dividendos estável, em que os ajustamentos apenas ocorrem

quando os lucros futuros esperados se alteram de forma sustentada, os dividendos podem

ser utilizados pelos dirigentes como um meio de transmitir informações ao mercado.

Miller e Modigliani, no seu artigo de 1961, para além da proposição sobre a

neutralidade dos dividendos, identificaram, também, a hipótese de um conteúdo

informativo dos dividendos, sugerindo que as alterações na política de dividendos

dependiam também das expectativas dos dirigentes sobre os lucros futuros esperados.

Segundo os mesmos, «where a firm has adopted a policy of dividend stabilization with a

long-established and generally appreciated "target payout ratio", investors are likely to

8 POTERBA, J., "The Market Valuation of Cash Dividends: The Citizens Utilities Case Reconsidered",

Journal of Financial Economics, 15, 1986, pp. 395-405, citado por Albouy e Dumontier [4] e Copeland e

Weston [59]. 9 As teorias da agência e dos sinais, como veremos, permitem, porventura, uma melhor compreensão da

preferência por dividendos em dinheiro.

111

(and have good reason to) interpret a change in the dividend rate as a change in

management`s views of future prospects for the firm»10. Por outro lado, Watts veio

definir o conteúdo informativo dos dividendos como «the term typically used for the

hypothesis that dividends convey information, above that conveyed by current earnings,

which enables market participants to predict future earnings more accurately»11.

Segundo MM, que já no seu artigo de 1961 se tinham referido à possibilidade dos

dividendos serem uma forma de transmitir informações para o mercado, este fenómeno

não era incompatível com o seu argumento da irrelevância dos dividendos, mas apenas

«an attribute of particular dividend payments hitherto excluded by assumption from the

discussion and proofs»12. Mais concretamente, admitem que os investidores possam

interpretar uma qualquer modificação nos dividendos como um sinal da alteração dos

lucros antecipados da empresa. Consideraram igualmente que as alterações ocorridas nos

preços de mercado, no momento do anúncio dos dividendos, não são devidas a estes, mas

apenas às informações por eles veiculadas sobre as antecipações dos gestores. Para MM,

o conteúdo informativo dos dividendos é algo temporário.

O conteúdo informativo dos dividendos, a sua importância para o funcionamento

dos mercados financeiros e as condições necessárias para a sua existência são

actualmente também analisadas no contexto de um quadro teórico designado por teoria

dos sinais. Impõe-se, por isso, algumas referências a esta teoria.

10 Miller e Modigliani [144, p. 430]. 11 WATTS, Ross , "The Information Content of Dividends", Journal of Business, April 1973, p. 191, citado

por DeAngelo [66, pp. 1856-1857]. 12 Miller e Modigliani (1961), citados por Archer e D`Ambrosio [18, pp. 653].

112

3. 3. 1. Fundamentos da teoria dos sinais

Os mercados financeiros caracterizam-se pela existência de um desequilíbrio de

informação entre os "vendedores" e os "compradores" de capitais. Verifica-se que os

gestores possuem informações sobre o futuro da empresa, e que os investidores as obtêm,

tendo em vista a avaliação das acções, através dos relatórios e contas e da opinião dos

analistas financeiros. Todavia, a informação ao dispor dos investidores não é suficiente

para eliminar o desequilíbrio informativo existente, em virtude de se tratar de informação

sobre a performance histórica da empresa, muitas vezes de fiabilidade algo duvidosa.

Tendo o mercado dificuldade em avaliar as perspectivas futuras, torna-se

necessário criar um mecanismo fiável que permita aos gestores informarem

correctamente os investidores, tendo em vista uma correcta avaliação da empresa13, pois a

existência de informação assimétrica pode causar problemas sérios ao funcionamento

eficiente do mercado. Mas, para que o mecanismo de transmissão de sinais («signaling»)

seja eficaz, deve haver constrangimentos suficientes que impeçam a emissão de maus

sinais e garantam a fiabilidade da informação.

Riley e Spence14 definiram como segue as condições de equilíbrio dos mercados,

onde a informação é assimétrica: o sinal emitido deve ter um custo e a emissão de um

mau sinal deve ser penalizada, de tal modo que os gestores das empresas com

rendibilidade insuficiente não sejam incentivados a transmitir a ideia contrária, tirando

13 O início da investigação das consequências da desigualdade de informação entre as partes contratantes é

atribuído a Akerlof que, num artigo escrito em 1970 ("The Market for «Lemmons»: Quality Uncertainty

and the Market Mechanism", Quartely Journal of Economics, February 1970, pp. 488-500), se propôs

analisar a razão pela qual os automóveis usados eram comercializados a preços relativamente mais baixos

comparativamente ao dos automóveis novos, apesar da diferença esperada na qualidade dos veículos. 14 RILEY, J., "Competitive Signaling", Journal of Economic Theory, April 1975 e SPENCE, M.,

"Competitive and Optimal Responses to Signals: An Analysis of Effiency and Distribution", Journal of

Economic Theory, March 1974, citados por Albouy e Dumontier [4, p. 122].

113

partido de uma sobrevalorização temporária que pode ser induzida pelos maus sinais15.

Consequentemente, o custo do sinal deve estar negativamente correlacionado com o valor

real do bom sinal, o aumento marginal do custo do sinal deve conduzir a um aumento

marginal do valor do sinal, e o valor do sinal ex-ante deve ser validado ex-post.

Na perspectiva financeira, as variáveis manipuláveis pelos gestores tendo em vista

sinalizar o valor real da sua empresa são, por exemplo, o nível de endividamento, a sua

participação no capital social da empresa e a política de dividendos.

3. 3. 2. Os modelos de sinalização («signalling dividend models»)

Apesar de a hipótese do conteúdo informativo dos dividendos ter sido avançada

inicialmente por MM (1961), o seu desenvolvimento deve-se, entre outros, a

Bhattacharya, Miller e Rock e John e Williams.

Os modelos de sinalização pelos dividendos, a seguir apresentados, pretendem

ilustrar o modo como estes permitem eliminar a assimetria de informação que existe entre

os intervenientes nos mercados financeiros, mantendo-os numa situação de equilíbrio.

Estes modelos assentam no pressuposto, de que os dirigentes têm interesse na evolução

dos preços das acções, ou seja, no verdadeiro valor da empresa e que, por isso, têm um

incentivo para emitir sinais para o mercado. Por outro lado, dado que a informação deve

ser fiável, o custo das actividades de sinalização é uma variável essencial nos modelos,

em virtude de garantir o equilíbrio.

15 «Le signal doit être coûteux et l`emission de mauvais signaux doit être pénalisée pour que les dirigents

d`entreprises peu rentables ne soient pas incités à laisser croire le contraire de manière à tirer profit de la

sur-évaluation momentanée que pourrait entraîner l`activité de signalisation erronée», Albouy e Dumontier

[4, p. 122].

114

3. 3. 2. 1. Os modelos de Bhattacharya

Sudipto Bhattacharya16, num artigo publicado em 1979, referiu-se à possibilidade

de os dividendos em dinheiro poderem ser vistos como um sinal para os investidores.

Assim, o anúncio de um aumento de dividendos poderia ser um meio ao dispor dos

gestores para anunciarem boas notícias sobre a rendibilidade futura da empresa. Também

a alteração do rácio-objectivo para a taxa de distribuição teria o mesmo significado.

O modelo apresentado tinha em vista explicar, porque que é que as empresas

pagavam dividendos, mesmo existindo inconvenientes fiscais nisso. Segundo aquele

autor, o dividendo declarado permitiria ao investidor determinar o valor da empresa,

Tal como o endividamento17, também a política de dividendos poderia ser utilizada

como uma forma de sinalizar o mercado. Mais concretamente, seria possível considerar o

rendimento em dividendos como um meio de transmitir sinais positivos sobre o futuro da

empresa. Por outro lado, comparando os benefícios em dividendos com os custos

16 BHATTACHARYA, S., "Imperfect Information, Dividend Policy and the «Bird in the Hand» Fallacy",

Bell Journal of Economics, Spring 1979, pp. 259-270, citado por Albouy e Dumontier [4, pp. 123-126]. 17 Os trabalhos de investigação sobre a sinalização pela política de dividendos surgiram na sequência, dos

que foram efectuados para a estrutura financeira da empresa e para o número de acções detidas pelos

dirigentes. Segundo Ross, ("The Determination of Financial Structure: The Incentive-Signalling

Approach", Bell Journal of Economics, 8(1), Spring 1977, pp. 23-40), o modelo de MM pressupõe que o

mercado conhece a distribuição dos lucros futuros esperados e avalia tal fluxo de modo a estabelecer o

valor da empresa. Para Ross, o que é avaliado pelo mercado é o fluxo de lucros percebidos para a empresa,

pelo que, consequentemente, aumentam as possibilidades de qualquer modificação na estrutura de capital

vir a alterar a percepção de risco que existe no mercado. Dito de outro modo e usando a terminologia de

MM, qualquer alteração na estrutura de financiamento da empresa modifica o risco percebido, mesmo que

a empresa se mantenha na mesma classe de risco. Assim, Ross conclui que a estrutura financeira pode ser

um meio ao dispor dos dirigentes para caracterizarem as suas empresas. Considerando que os gestores

possuem informações mais correctas sobre os lucros futuros esperados, podem, se forem incentivados a

isso, emitir sinais inequívocos sobre o futuro da empresa. Ross considera que um meio de sinalizar o

mercado é através da estrutura financeira da empresa, tendo provado que o recurso ao endividamento pode

ser um sinal inequívoco para o mercado indicando que as perspectivas da empresa melhoraram. Por outro

lado, Leland e Pyle [115, p. 372] concluiram que o valor de uma empresa está positivamente

correlacionado com a parte de capital que é detida pelos dirigentes-accionistas, o que os levou a afirmar

que «the value of the firm increases with the share of the firm held by the entrepreneur».

115

associados ao pagamento dos dividendos, seria possível determinar uma teoria óptima de

dividendos.

De acordo com esta perspectiva, considera-se que uma empresa quando aumenta os

seus dividendos, está a transmitir um sinal, de que os seus lucros futuros previstos serão

suficientes para pagar dívidas e dividendos, sem aumento da possibilidade de falência.

Por outro lado, espera-se que a evidência empírica mostre que o valor da empresa

aumenta, pois os dividendos são entendidos pelo mercado como um sinal, de que a

empresa espera lucros futuros elevados.

Na altura do pagamento do dividendo, se os resultados do exercício, X, forem

superiores aos dividendos, D, verifica-se que a empresa retém lucros, podendo reinvestir

no montante de (X-D). Os investidores recebem ((1-t)D), dado que pagam impostos no

montante de (tD). O imposto pago corresponderá neste modelo (Bhattacharya) ao custo

da actividade de sinalização.

Por outro lado, se os resultados forem inferiores aos dividendos anunciados, a

empresa tem necessidade de se financiar no montante de (D - X), à taxa de juro k que é

superior à taxa de juro sem risco usualmente praticada. A existência de custos financeiros

associados ao endividamento conduzem a resultados inferiores aos estimados a partir do

dividendos anunciados. Dado que a informação prestada não era fiável, os encargos

financeiros correspondem à penalização pela emissão de um mau sinal.

Enquanto mandatários dos accionistas, os gestores procuram maximizar o valor da

sua riqueza. Devem, assim, determinar a taxa de distribuição de resultados que maximiza

o valor da empresa, tendo em consideração os aspectos fiscais e as penalidades

associadas ao financiamento, no caso dos dividendos anunciados serem superiores aos

lucros efectivamente obtidos.

Os pressupostos do modelo de Bhattacharya são os seguintes:

116

- os resultados esperados são certos e têm uma distribuição uniforme ao longo do

período (0, t); e

- o dividendo anunciado em t0 é efectivamente pago em t1 e transmite uma

informação sobre o lucro esperado para t1;

- a assimetria da informação caracteriza-se pelo facto de os gestores serem os

únicos a conhecer a conhecer as distribuições dos fluxos de liquidez esperados;

- como os gestores são avessos ao risco, as decisões sobre a política de dividendos

são tomadas de maneira a maximizar o valor esperado dos capitais próprios investidos

pelos accionistas, visto que o seu próprio sistema de incentivos e recompensas está ligado

ao mesmo critério.

O modelo de maximização dos resultados esperados, em função dos dividendos

prometidos, pode escrever-se do seguinte modo18:

[3.1] MAXD E(D) = 1 / (1 + r) [ E(X) + V(D) - D - ,

sendo: r a taxa de juro sem risco do período; X os resultados líquidos; a taxa de imposto

sobre dividendos; D os dividendos; k a taxa de juro associada ao endividamento; V(D) o

valor da empresa, quando os gestores fixam o montante dos dividendos em D; f(X) a

função de densidade de X; e d(X) a função de distribuição de X.

O custo (penalização) associado à necessidade de endividamento à taxa de juro k é

dada por:

[ ].

Para generalizar o modelo, supõe-se que a distribuição dos resultados no intervalo

[0, t] é uniforme, de tal modo que:

18 Albouy e Dumontier [4, pp. 124-125].

k(D - X) f(X) dX0

D

k(D - X) f(X) dX0

D

117

i) f (X) = 1 / t;

ii) a média, E(X) é igual a t / 2; e

iii) a esperança matemática do suplemento de custo se X for inferior a D é dada por

[ ] = k D2 / 2t.

Por conseguinte, o problema de maximização, equação [3.1], pode reescrever-se do

seguinte modo:

[3.1a] MAXD E(D) = 1 / (1 + r) [ t / 2 + V(D) - D - k D2 / 2t].

Neste problema de maximização, a condição de primeira ordem corresponde à

primeira derivada da equação anterior em função de D é dada por:

[3.1b] E(D) / D = V´(D*) - - k D* / t = 0,

em que D* é o dividendo óptimo, dependente de t, o que impõe a relação:

[3.1c] V´(D*) = + k D* / t.

A existência de equilíbrio de sinalização pressupõe que os sinais são emitidos pelos

gestores com conhecimento de causa e que o valor sinalizado em t0, V[D*(t)],

corresponde exactamente ao valor da empresa em t1. Bhattacharya supõe que os

resultados esperados pela empresa são distribuídos de maneira idêntica e

independentemente ao longo do tempo, e que a política de dividendos é constante. Então,

valor de mercado dos capitais próprios pode exprimir-se sob a forma de uma série de

fluxos idênticos capitalizados à taxa r; como segue:

[3.1d] V[D*(t)] = (1 / r) [ t / 2 + D*(t) - kD*(t)2 - k D2 / 2t].

De forma, a que o equilíbrio seja alcançado para qualquer valor de t, torna-se

necessário que a derivada desta relação em função de t seja nula:

- 1/2r - kD*(t)2/2rt2 + [V´(D*(t)) + /r + kD*(t)/rt] D*(t)/ t = 0,

o que, considerando a equação [3.1c], é equivalente à seguinte relação:

k(D - X) f(X) dX0

D

118

[3.1e] (1+r) [ + kD*(t)/t] D*(t)/ t - 1/2 - kD*(t)2/2rt2.

Supondo que as más empresas não distribuem quaisquer resultados, logo D* = 0,

Bhattacharya mostra que uma política de dividendos do tipo D*(t) = bt permite resolver

esta equação, com

b = - (1+r)/k (1+2r) + 1/k[(1+r)2 2 + 2k(1+r) - k] [4((1+r)2 - 4(1+r) + 1]1/2,

em que b representa a taxa de distribuição de resultados, que aqui aparece como uma

função decrescente da taxa de juro e da taxa de imposto sobre os rendimentos das pessoas

físicas.

Determinando b e conhecendo os dividendos anunciados, os investidores podem

estimar o montante de lucros antecipados pelos gestores.

Segundo o autor, este modelo permite compreender de que forma os dividendos são

susceptíveis de eliminar a assimetria de informação entre os gestores e accionistas.

Contudo, não deixa de se basear em «hipóteses pouco realistas e, por conseguinte, a sua

construção comporta desenvolvimentos que não se reproduzem na prática»19.

No modelo anteriormente apresentado o custo de sinalização afectava directamente

a remuneração dos gestores ou o rendimento dos accionistas, através do factor fiscal. Em

1980, Battacharya20 apresentou um outro modelo de sinalização pelos dividendos, sendo

o custo da actividade de sinalização indirecto.

Nesse modelo, o custo de sinalização está relacionado com a perda de valor

suportável pela empresa, o que leva os investidores a reajustar periodicamente o valor de

cada acção em função do desvio entre os lucros obtidos e os lucros previstos pelos

dividendos.

19 Quintart e Zisswiller [ 171 , p. 301]. 20 BHATTACHARYA, S., "Nondissipative Signaling Structures and Dividend Policy", Quarterly Journal

of Economics, 1980, pp. 1-24, citado por Albouy e Dumontier [4, pp. 129-130].

119

No início do período t0 a função, que maximiza o valor esperado dos capitais

investidos pelos accionistas, será a seguinte:

[3.2] MAXD E(D) = V(D) + M - C(D,M),

sendo: V(D) o valor de liquidação da empresa (função do dividendo pago); M o resultado

antecipado; e C(D,M) o custo de sinalização.

No final do período, o valor da empresa será o mesmo, caso os resultados obtidos,

X, sejam iguais aos que foram antecipados pelo mercado. Caso assim não aconteça, o

valor da empresa será corrigido de um montante igual a [ (D-X)]. Assim sendo, a função

a maximizar deverá ser:

[3.3] MAXD E(D) = V(D) -

= V(D) - D2/2t.

O valor de equilíbrio da empresa21, será dado por:

[3.4] V(D*) = -0,5 D*, sendo D* o valor sinalizado em t0.

Se for possível conhecer , os investidores podem avaliar correctamente a

empresa, a partir dos dividendos anunciados.

3. 3. 2. 2. O modelo de Kalay

Em 1980, Kalay22 propõe um modelo de sinalização pelos dividendos onde os

gestores são directamente penalizados pela emissão de maus sinais, considerando que as

suas remunerações são função do valor da empresa, no início e no fim do período.

De acordo o seu modelo, o autor estima que a aversão dos dirigentes para

diminuírem os dividendos, tal como foi evidenciado por Lintner, é uma condição

necessária para o equilíbrio da sinalização. Assim, um gestor, que emita um mau sinal,

21 A demonstração pode ser vista em Albouy e Dumontier [op. cit., pp. 129-130]. 22 KALAY, A., "Signalling Information Content, and the Reluctance to cut Dividends", Journal of

Financial and Quantitative Analysis, 15(4), pp. 855-873, citado por Albouy e Dumontier [4].

/ t(D - X) dX0

D

120

aumenta o risco de ver os dividendos diminuir no período a que o sinal respeita. Como

não pretende que tal diminuição se verifique, evitará incorrer em tal situação, pelo que

sinalizará correctamente o mercado.

3. 3. 2. 3. O modelo de John e Williams

O modelo para um período, proposto por K. John e J. Williams23, que tem em conta

o imposto sobre os rendimentos em dividendos, considera que os accionistas, tendo em

vista a satisfação das suas necessidades de liquidez, exigem que a empresa pague

dividendos no final do período. Pela mesma razão, podem ser conduzidos a vender uma

parte das acções possuídas, o que se traduz numa redução dos seus direitos de

propriedade e dos montantes a receber no final do período. Estes académicos concluíram

que o dividendo é função crescente do valor de liquidação da empresa e das necessidades

de liquidez dos accionistas, e função decrescente da taxa de imposto sobre os dividendos.

3. 3. 2. 4. O modelo de Miller e Rock

Em 1985, Merton Miller e Kevin Rock24 propuseram-se substituir o pressuposto de

MM (1961), relativo à simetria da informação, por outro que assumia que os dirigentes

tinham mais informações acerca da rendibilidade da empresa do que os investidores25.

O modelo corresponde, portanto, à transposição da tese de MM (1961) para um

contexto de incerteza com informação assimétrica, onde os gestores utilizam os

23 JONH, K. e WILLIAMS, J., "Dividend Dilution and Taxes: A Signalling Equilibrium", Journal of

Finance, 40(4), September 1985, pp. 1053-1070. 24 MILLER, M. H. e ROCK, K., "Dividend Policy Under Asymmetric Information", Journal of Finance,

40(4), September 1985, pp. 1031-1051. 25 «We propose .... to replace that assumption [outside investors and inside managers have the same

information about the firm`s current earnings and future oportunities] with the more plausible one that

managers know more than outside investors about the true state of the firm`s current earnings», Miller e

Rock [op. cit., p. 1031].

121

dividendos como meio de sinalização, para os investidores, do montante dos lucros

previstos. Assenta no conceito de dividendos líquidos, e combina de forma explícita os

dividendos com o financiamento externo, tendo em vista mostrar que são duas faces da

mesma moeda.

Sugeriram que os accionistas inferem a situação e o futuro da empresa a partir do

anúncio de dividendos, pois, sendo a informação assimétrica, os gestores sabem mais

sobre os lucros futuros esperados pela empresa do que os investidores. Trata-se do

argumento, de que os dividendos falam mais alto do que as palavras26, e tem a ver com o

facto de os resultados distribuídos proporcionarem informações que não podem ser

transmitidas pelos relatórios e elementos contabilísticos, ou outras informações. Assim,

as cotações reagem favoravelmente ao anúncio de qualquer subida de dividendos.

A equação de origens e aplicações de fundos de MM (1961) era a seguinte:

[3.5] X + B = I + D,

sendo X o lucro líquido, B o aumento de capitais próprios ( igual a mP, ou seja, o número

de acções emitidas, m, multiplicado pelo preço de cada acção, P), I os investimentos e D

os dividendos.

A equação anterior pode ser reescrita do seguinte modo:

[3.6] X - I = D - B.

No início do período 1, o valor actual da empresa com dividendos, V1, é igual ao

dividendo actual, D1, mais o valor actual dos lucros futuros esperados, X2, descontados à

taxa k, temos:

[3.7] V1 = D1 + E(X2) / (1 + k) - B1.

Considerando a equação [3.6], pode reescrever-se esta relação como segue:

26 «Dividends speak lauder than words», Van Horne [199, p. 336].

122

[3.8] V1 = X1 - I1 + E(X2) / (1 + k),

o que, de acordo com o argumento de MM (1961), e pressupondo a não existência de

informação assimétrica, prova que os dividendos são irrelevantes, e apenas as decisões de

investimento têm interesse.

Todavia, se a informação for assimétrica, a equação anterior, sugerem Miller e

Rock, deve incluir as expectativas do mercado. Assim, considerando que os lucros

futuros dependem dos investimentos actuais, temos que os resultados líquidos, Xt, serão

função dos investimentos efectuados no passado, f(It-1), e de uma variável aleatória, t,

donde:

X1 = f(I0) + 1, e

X2 = f(I1) + 2 X2 = f(X1 + B1 - D1) + 2,

com E( 1) = E( 2) = 0, são termos de erro com média zero.

Complementarmente, como o valor esperado para 2, dado 1, não é

necessariamente zero, os autores assumem:

E( 1/ 2) = 1,

sendo um coeficiente com valores situados entre zero e um.

Considerando os valores de , assume-se que o mercado apenas ajusta uma parte da

nova informação, ou seja, o termo de erro do primeiro período.

A equação [3.8], tendo em atenção que E(X2) = f(I1) + 2 = f(I1) + 1, pode

reescrever-se da seguinte forma:

[3.9] V1 = X1 - I1 + 1/(1 + k) [f(I1) + 1,

o que traduz o valor de mercado da empresa no início do período 1, imediatamente após

as decisões de investimento, financiamento e distribuição de resultados do período

anterior terem sido anunciados aos investidores.

123

Em virtude da tese de MM, o problema de maximização do valor de mercado das

acções dos accionistas antigos, reduz-se à selecção de um nível óptimo de investimento,

I*1, o que nos conduz ao seguinte critério de optimização:

f´(I*1) = 1 + K f´(I*1) / 1 + K = 0,

com I1 independente de X1. Contudo, como a política de distribuição de resultados

depende de X1, acontece que os dividendos líquidos (D1 - B1) são positivos, se I*1 < X1, e

negativos na situação inversa .

Dado que o valor actual da empresa se baseia na informação previamente

conhecida, temos que a riqueza esperada pelo accionista antes do anúncio das novas

decisões de investimento/financiamento/dividendos, E0, é dada por:

[3.10] E0(V1) = E0(X1) - E0(I1) + 1/(1+K) [E0(f(I1))]

= f(I0) - I*1 + 1/(1 + k) [f(I*1) .

Por outro lado, o valor da empresa após aquele anúncio será:

[3.11] V1 = X1 - I*1 + 1/(1 + k) [E1(X2)]

= f(I0) + 1 - I*1 + 1/(1 + k) [f(I*1) + 2]

= f(I0) + 1 - I*1 + 1/(1 + k) [f(I*1) + 1.

Subtraindo [3.10] a [3.11], obtemos o efeito anúncio de resultados (efeito

«signaling»):

[3.12] V1 - E0(V1) = 1 [1 + / (1 + k)]

= [X1 - E0(X1)] [ 1 + / (1 + k)].

Concluindo, o efeito da informação sobre a riqueza dos accionistas depende dos lucros

não previstos, e espera-se que as alterações não esperadas nos resultados estejam

correlacionadas com as alterações no preço das acções, na data do anúncio dos

dividendos.

124

Miller e Rock mostraram também que as informações sobre lucros, dividendos e

financiamentos estão muito relacionadas, pressupondo que as decisões actuais e

esperadas de investimento se situam a um nível óptimo e, consequentemente, são iguais à

diferença entre os dividendos actuais e os dividendos esperados, donde:

[3.13] (D1 - B1) - E0(D1 - B1) = X1 - I1 - [E0(X1) - I1] = X1 - E0(X1) = 1.

Então concluíram que tanto o efeito provocado por um aumento dos resultados

anunciados, como aquele que é ocasionado por dividendos superiores aos prometidos

podem proporcionar a mesma informação, dado que um aumento inesperado nos lucros

distribuídos aumenta a riqueza dos accionistas, em virtude de ser interpretado como uma

boa notícia. Pelo contrário, o anúncio inesperado de um aumento de capitais próprios (ou

de endividamento) contem más notícias sobre o futuro da empresa.

Aqueles autores, mostraram, ainda, que a alteração no valor da empresa é

provocada pelo anúncio de dividendos (com ou sem anúncio simultâneo de resultados), e

pode ser determinado como segue:

V1 - E0(V1) = [(D1 - B1) - E0(D1 - B1)] [1 + /(1+ k)]

= 1 [1 + /(1+ k)].

O modelo de equilíbrio de sinalização proposto por Miller e Rock, para além

separar as boas das más empresas, permite, como referem Quintart e Zisswiller [171, p.

302], a seguinte interpretação económica: «o custo da actividade de sinalização é

representado por um nível de distribuição mais elevado do que num mundo em que a

informação fosse perfeita, e por um subinvestimento, visto que uma parte dos fundos

distribuídos como dividendos poderia ser utilmente investido para fins produtivos. O

equilíbrio de sinalização estabelece-se pois num valor de investimento inferior àquele que

seria atingido em caso de informação perfeita».

125

3. 3. 3. Estudos sobre o conteúdo informativo dos dividendos

Os testes para avaliação do efeito «signaling», seguiram uma metodologia

equivalente, à utilizada por aqueles que pretenderam avaliar o efeito fiscal. O seu

objectivo era o de efectuar o estudo de acontecimentos que, na altura do anúncio de uma

alteração nos dividendos, provocassem modificações no preço das acções.

Muitos dos estudos levados a efeito concluíram pela existência de um efeito

anúncio de dividendos, verificando que o anúncio de aumentos nos dividendos conduzia

a uma elevação do preço das acções, e, pelo contrário, as diminuições nos lucros

distribuídos davam origem a quedas nas cotações dos títulos.

Pettit27 mostrou existir uma reacção significativamente negativa do mercado ao

anúncio de uma redução nos dividendos, concluindo que o anúncio de alterações nos

dividendos continha significativa informação económica.

Aharony e Swary28 confirmaram, igualmente, as conclusões de Pettit, mas

separando o conteúdo informativo do anúncio de dividendos, numa base trimestral

relativa às informações de alteração ocasionadas por anúncios de dividendos

extraordinários.

Woolridge29 observou que o mercado parecia reagir diferentemente, em função do

motivo que conduzia à redução nos dividendos, ao verificar que a redução média dos

preços era, face ao anúncio de uma redução nos dividendos, de 6,67%. Quando havia

uma descida nos dividendos com uma diminuição nos lucros ou com perdas, a redução

27 PETTIT, R. R., "Dividend Announcements, Security Performance and Capital Market Efficiency",

Journal of Finance, December 1972, pp. 993-1007, citado por Albouy e Dumontier [4, p. 138]. 28 AHARONY, J. e SWARY, I., "Quartely Dividend and Earnings Announcemments and Stockholders`

Returns: An Empirical Analysis", Journal of Finance, 35(1), March 1980, pp. 1-12. 29 WOOLRIDGE, J. Randall, "Dividend Changes and Security Prices", Journal of Finance, 38(5),

December 1983, pp. 1607-1615.

126

nos preços era de 8,17%, e de 5,16% quando as empresas baixavam os dividendos, mas

apresentavam ou anunciavam lucros superiores.

Complementarmente, tal como foi verificado por Lang e Litzenberger30, parece ser

possível concluir a partir destes estudos que o efeito «signaling» é mais pronunciado nas

empresas, que anteriormente tinham aplicado os seus lucros em projectos de

investimento, cuja rendibilidade tinha acabado por ser inferior, à que era exigida pelo

mercado.

Asquith e Mullins31 analisaram um conjunto de empresas que distribuíam lucros

pela primeira vez, ou o faziam após um longo período de ausência, e verificaram que o

preço das acções aumentava quando os dividendos eram declarados. Constataram,

também, que o mesmo acontecia quando as sociedades aumentavam a sua taxa de

distribuição. Concluíram que os dividendos possuem conteúdo informativo para os

investidores, e o efeito proporcionado pelos dividendos é preferível, ao que resulta de

outras fontes.

Complementarmente, Healy e Palepu32, observaram uma queda nos preços das

acções das empresas que não pagam dividendos por terem fracos resultados no presente,

e fracas perspectivas futuras.

DeAngelo et al.33 comprovaram a hipótese de MM (1961), relativa ao conteúdo

informativo dos dividendos, argumentando que as reduções destes contêm a informação

30 LANG, L. H. P. e LITZENBERGER, R. H., "Dividend Announcemments: Cash Flow Signalling vs.

Free Cash Flow Hypothesis", Journal of Financial Economics, 24, September 1989, pp. 181-191, citados

em Van Horne [199, p. 338]. 31 ASQUITH, P. e MULLINS, D. W., Jr., "The Impact of Initiating Dividend Payments on Shareholders`

Wealth", [20, pp. 93-94]. 32 HEALY, Paul M. e PALEPU, K. G., "Earnings Information Conveyed by Dividends Initiations and

Omissions", Journal of Financial Economics, 21 I(2), September 1988, pp. 149-175. 33 «Our data suport Miller e Modigliani`s (1961) and Modigliani and Miller`s (1959) hypothesis that

dividend reductions convey information that future earnings prospects are poor», DeAngelo et al. [66, p.

1839].

127

de que os resultados futuros esperados são fracos, ao analisarem comparativamente o

comportamento de 167 empresas, cotadas na NYSE, para o período de 1980-1985.

Verifica-se, assim, a partir da observação empírica, que é possível concluir pela

existência do efeito «signaling» dos dividendos. A teoria dos sinais sugere, portanto, a

existência de uma política de dividendos, que é definida em função da comparação entre

os benefícios informativos dos dividendos e as perdas fiscais associadas, tendo em vista

determinar uma taxa de distribuição óptima.

3. 4. Política de dividendos e teoria da agência

Para além das justificações relacionadas com o conteúdo informativo dos

dividendos e a existência de custos de transacção por parte dos investidores, obrigados a

vender acções para substituírem o rendimento em dividendos, a distribuição de resultados

pode ser ainda justificada a partir da existência de custos de agência, como resultado de

conflitos potenciais entre os gestores e investidores, em virtude da separação entre a

propriedade e a gestão.

Até agora a perspectiva, em que nos situámos para analisar a política de

dividendos, pressupunha que os dirigentes tinham, como objectivo último, a

maximização do valor da empresa. Todavia, nas empresas com separação entre a

propriedade e a gestão («entreprise managériale»), é possível admitir que os gestores,

antes daquele objectivo, dão preferência à maximização da sua própria satisfação. Nestas

circunstâncias, estão criadas as condições objectivas para o aparecimento de uma situação

de conflito.

128

3. 4. 1. Fundamentos da teoria da agência

A teoria da agência insere-se no quadro mais geral da teoria contratual das

organizações, que considera a empresa como um conjunto de relações contratuais entre

os diferentes intervenientes na sua vida (accionistas, gestores, credores, trabalhadores,

etc.). Jensen e Meckling34 definem uma relação de agência como sendo um contrato

através do qual uma ou várias pessoas (principal(ais)) recorrem aos serviços de um outro

indivíduo (agente) para, em seu nome, desempenhar uma determinada tarefa, a qual

implica uma delegação do poder de decisão no agente35.

Quando ocorre a delegação de poderes feita pelos accionistas aos dirigentes, e se

qualquer um destes grupos age de maneira a maximizar a sua função utilidade, existem

razões para crer que o gestores nem sempre agem no interesse dos accionistas36. Nesta

situação, os dirigentes serão agentes menos que perfeitos dos investidores, o que ocasiona

o aparecimento de custos que têm como objectivo regular o comportamento dos gestores.

Os custos de agência podem ser de três tipos:

- de controlo: os encargos assumidos pelo mandante para se assegurar que o

mandatário age segundo os seus interesses;

- de obrigação ou justificação: os custos assumidos pelo mandatário para justificar

a qualidade das suas decisões e convencer o mandante de que actua bem e no interesse

dele, e

34 JENSEN, M. C. e MECKLING, W. H., "Theory of the Firm: Managerial Behavior, Agency Costs and

Ownership Structure", in Archer e D`Ambrosio [18, pp. 479-534]. 35 «We define an agency relationship as a contract under one or more persons (the principal(s)) engage

another person (agent) to perform some service on their behalf which involves delegating some decision

making authority to the agent», Jensen e Meckling [105, p. 482]. 36 «If both parties to the relationship are utility maximizers there is good reason to believe that the agent

will not always act in the best interests of the principal», Jensen e Meckling [op. cit., p. 482].

129

- residuais: os que correspondem à noção de custos de oportunidade e resultam

dos dois tipos de custos anteriores.

Uma forma destes custos de agência são as auditorias e outras acções de

acompanhamento da actividade dos gestores.

A aversão ao risco por parte dos gestores, relativamente aos investimentos da

empresa, nem sempre coincidente com a dos accionistas, é uma outra fonte de custos de

agência, na medida em que pode dar origem a conflitos com os credores da empresa.

Entre os mecanismos reguladores do comportamento dos gestores, com vista à

redução dos custos de agência, encontra-se a política financeira, em geral, e o recurso

regular ao mercado de capitais, em particular.

A política de dividendos surge como um meio de diminuir os custos de agência,

quer ao reduzir o autofinanciamento e aumentar o endividamento, quer, a obrigar a

empresa a recorrer frequentemente aos mercados financeiros para obter novos capitais,

sujeitando-a à análise e ao juízo de diferentes entidades. Todavia, o aumento de

dividendos também provoca um aumento de custos, ocasionado pelas despesas de

emissão e pela assimetria fiscal entre dividendos e mais-valias.

Entre os autores que defendem a distribuição de resultados como um mecanismo

eficaz para controlar a actividade dos gestores, encontram-se Rozeff37 e Easterbrook38,

cujo argumento é o de que «dividend payments lower agency costs by eliminating some

of the assymetry in information that underlies the shareholder-manager conflict»39.

Segundo eles isso acontece dado que:

37 ROZEFF, Michael S., "Growth, Beta and Agency Costs as Determinants of Dividends Payout Ratio",

Journal of Financial Research, Fall 1982, pp. 249-259, citado por Copeland e Weston [59, p 567], e "How

Corporations set their Dividend Payout Ratios" in Stern e Chew [192, pp. 455-461]. 38 EASTERBROOK, Frank H., "Two Agency-Cost Explanations of Dividends", American Economic

Review, 74, 1984, pp. 650-659. 39 Shapiro [182, p. 549].

130

- um elevado «payout» leva, a que os gestores se empenhem em obter

financiamentos externos e não apenas a depender do autofinanciamento;

- apesar de tais financiamentos externos ocasionarem maiores custos, também

proporcionam informações importantes para os accionistas, na medida em que obrigam

os gestores a disponibilizar informação pertinente, e permitem aos investidores avaliar as

condições, em que tal financiamento é obtido40;

- uma política de dividendos consistente, que leve a empresa a recorrer

regularmente aos mercados financeiros para obter os capitais de que necessita, pode

também reduzir os problemas relacionados com o incumprimento e o risco associado às

operações de emissão de títulos, ao obrigar as sociedades emitentes a proporem preços

que satisfaçam as partes;

- uma política de dividendos regular, apesar de existirem outras formas de fazer, é

um meio de impor alguma disciplina aos gestores que, de outro modo, pode faltar.

O recurso aos mercados financeiros pode, então, constituir um meio eficaz para

limitar o comportamento dos dirigentes e para reduzir os custos de agência, bastando para

tal que os custos associados ao controle da informação disponibilizada sejam inferiores à

economia de custos de agência alcançada. Será, assim, possível determinar um nível

óptimo de distribuição.

40 As entidades financiadoras possuem melhores condições para avaliar as informações disponíveis, sobre

os lucros futuros esperados pela empresa, do que os próprios accionistas.

131

3. 4. 2. Estudos empíricos

Sendo de esperar que as empresas com maior dispersão de capital tenham uma

maior distribuição de resultados, alguns investigadores procuram fazer a sua

verificação41.

Num estudo, realizado por Kamershem para o período 1959-1964, observou-se

uma taxa de distribuição média de 55%, para este tipo de empresas, enquanto a das

restantes se situava em 45%.

Williamson, Sorensen e Holl, considerando as oportunidades de investimento das

empresas, omitidas no estudo anterior, compararam empresas geridas por um proprietário

que detém a maioria do capital, com outras geridas por dirigentes sem a maioria do

capital. Verificaram que a política de dividendos das últimas era mais generosa que a das

primeiras.

Dhrymes e Kurtz argumentam, por sua vez, que as empresas não controladas por

um accionista dominante tendem a distribuir uma parte maior dos seus resultados.

De uma maneira geral, como referem Albouy e Dumontier [4, p. 161], a

investigação anterior permitiu observar que a relação entre a parte de capital detida pelos

dirigentes e a taxa de distribuição dos lucros era negativa, mas sem ter em conta os custos

fiscais e de transacção associados ao pagamento de dividendos.

Rozeff42 procurou analisar a influência daqueles custos. Segundo ele, a

regularidade dos rácios de pagamento de dividendos das diferentes empresas, num único

momento do tempo, pode ser explicada com base no «trade-off» entre os custos de

transacção associados aos financiamentos externos e os benefícios resultantes da

41 Os estudos que se apresentam de seguida encontram-se citados em Albouy e Dumontier [4, p. 159 e ss.]. 42 Rozeff [op. cit., 1982], conforme referem Copeland e Weston [59, p. 567-569].

132

diminuição dos custos de agência, quando se aumentam os dividendos, dado que estes

podem desempenhar um papel de monitorização do desempenho dos gestores.

Assim, apesar de um maior dividendo implicar custos associados ao financiamento

externo quando existem necessidades adicionais a cobrir com este, o facto de as empresas

serem conduzidas, na maior parte dos casos, ao mercado de capitais, comporta uma

avaliação mais rigorosa da mesma, em virtude de os fornecedores potenciais de capitais

para a empresa e as entidades de supervisão contribuírem para a avaliação do

comportamento dos gestores-accionistas, em representação dos novos ou dos pequenos

investidores. Considerando os custos de transacção resultantes do financiamento externo,

Rozeff argumentou, ainda, que a variabilidade dos resultados da empresa afectava a

política de dividendos, na medida em que uma empresa com maior volatilidade tem

necessidade de recorrer ao mercado financeiro mais vezes, e, consequentemente, a

evidenciar uma taxa de distribuição mais baixa, face à necessidade de reter os lucros.

O estudo de Rozeff, efectuado para uma amostra de mil empresas pertencentes a

sessenta e quatro sectores diferentes, para o período 1974-1980, pretendia testar o efeito

dos custos associados ao financiamento externo, a relação entre as necessidades de

financiamento externo e a taxa de distribuição e as relações de agência entre gestores e

accionistas. As suas conclusões foram as seguintes:

- as variáveis independentes que pretendiam medir o efeito dos custos associados

ao financiamento externo estavam negativamente relacionadas com a taxa de distribuição

e eram estatisticamente significativas;

- a taxa de distribuição encontrava-se negativamente relacionada com a

percentagem de «insiders» existente, visto que dado o reduzido número de «outsiders»,

133

não era necessário pagar dividendos tão elevados, tendo em vista a diminuição dos custos

de agência43;

- a variável correspondente ao número de accionistas encontrava-se positivamente

relacionado com a taxa de distribuição e era estatisticamente significativa;

- o modelo de regressão permitiu verificar que as empresas com maior risco

tinham dividendos mais baixos.

Também os resultados obtidos por Crutchley e Hansen44, vieram confirmar que os

resultados distribuídos eram tanto mais baixos quanto mais elevados fossem os custos de

emissão de novas acções, o que fundamentava a justificação dada pela teoria da agência

para a política de dividendos das empresas45.

3. 5. Explicações comportamentais para a preferência por dividendos

Num artigo publicado por Hersh Shefrin e Meir Statman46, foram apresentados

argumentos sustentando a tese, de que a preferência por dividendos em dinheiro

assentava em aspectos comportamentais dos investidores. Este estudo trouxe explicações

no mesmo sentido das obtidas por Long47, tendo, no entanto, sido sublinhado que a

preferência por dividendos assentava em aspectos comportamentais. Para estes autores,

seria possível explicar este fenómeno, até então considerado perplexo, através das teorias

43 Este aspecto é consistente com o argumento fiscal, que assume que os investidores situados nos escalões

de rendimento mais elevados , preferem mais valias a dividendos. 44 CRUTCHLEY, Claire E. e HANSEN, Robert S., "A Test of the Agency Theory of Managerial

Ownership, Corporate Leverage, and Corporate Dividends", Financial Management, Winter 1989, pp. 36-

46. 45 «These findings support the agency theory explanation of how corporate managers determine their

common stock ownership, corporate debt levels, and corporate dividends», Crutchley e Hansen [62, p. 45]. 46 SHEFRIN, Hersh M. e STATMAN, Meir, "Explaining Investor Preference for Cash Dividends", Journal

of Financial Econimics, 13, June 1984, pp. 253-282. 47 Este investigador concluiu que existia uma preferência significativa por dividendos em dinheiro, mesmo

que isso se traduzisse numa rendibilidade após impostos mais baixa para os investidores que evidenciassem

tal preferência, Long [127].

134

do autocontrole («self-control») e da aversão ao arrependimento («regret aversion»). Para

Shefrin e Statman, a teoria financeira tinha vindo a ignorar a forma como os investidores

se comportam, concentrando-se apenas no modo como os preços dos activos eram

determinados48.

Até então, era geralmente aceite que os dividendos e as mais-valias eram

substitutos perfeitos, se fossem ignorados os impostos e os custos de transacção.

Conhecida a política de investimentos da empresa, o pagamento de uma unidade

monetária de dividendos provoca uma descida de uma unidade monetária no preço do

título, pelo que é indiferente ao investidor receber dividendos em dinheiro ou reproduzir

em casa esse rendimento, através da venda de acções49. O único argumento existente

contra o pagamento de dividendos em dinheiro era o da fiscalidade. Contudo, nem todos

os estudos empíricos apresentaram resultados idênticos, pelo que se continuava a refutar

a existência ou não, de uma preferência por rendimentos obtidos daquela forma50.

Dentre as diferentes justificações surgidas para explicar a forte preferência por

dividendos em dinheiro, Shefrin e Statman consideram apenas, como um bom argumento,

o do conteúdo informativo. Todavia, consideram que casos como o da G.P.U. sugerem a

existência de uma explicação alternativa51.

A primeira justificação apresentada, «self-control», assenta na falta de autocontrolo

do indivíduo. Situando-se numa perspectiva financeira, Shefrin e Statman referem que

48 «Financial Theory has tended to ignore the question of how individual investors actually behave,

concentrating instead on how asset prices are determined», Shefrin e Statman [op. cit, p. 278]. 49 Brealey e Myers [40, pp. 377-380]. 50 Um exemplo citado por Shefrin e Statman [op. cit., pp. 253-254], foi o da empresa General Public

Utilities (descrito em LOOMIS, Carol J., "A Case for Dropping Dividends", Fortune Magazine, 1968, 15th

June), em que se verificou uma reacção negativa à proposta de substituição de dividendos em acções, por

dividendos em dinheiro. 51 «Therefore, while we are not arguing against the information-based explanation of cash dividends, we do

agree with Brealey and Myers, that casual evidence, such as the G.P.U. dividend story, suggests the

existence of alternative, plausible explanations», Shefrin e Statman [op. cit., p. 255].

135

um indivíduo, que pretenda preservar a sua riqueza a longo prazo, relativamente a desejos

obsessivos de consumo imediato, pode definir uma regra que impeça o dispêndio de

capital ou o leve a financiar o consumo, apenas com os dividendos recebidos. Está, então,

a estipular a regra, de que o consumo só pode ser financiado com dividendos e nunca

com a venda de activos financeiros existentes na sua carteira. Assim, tal indivíduo

evidenciará uma preferência por dividendos em dinheiro, particularmente se não impuser

a eliminação do consumo imediato52.

Uma outra explicação avançada por Shefrin e Statman tem a ver com a aversão ao

arrependimento e os seus efeitos no comportamento do indivíduo. Estes autores, citando

Kahneman e Tversky, consideram que um indivíduo se sente arrependido de ter tomado

uma determinada decisão ou praticado um qualquer acto, quando imagina ter podido

fazer uma opção diferente, que o conduzisse a uma posição mais favorável do que aquela

em que se encontra53. Por outro lado, referem que o arrependimento surge na sequência

da existência de alternativas e não em situações de decidir sob coação.

Para ilustrar o problema sugerem o seguinte exemplo54: suponha-se que um

indivíduo recebia 600 u.m. em dividendos e as utilizava para comprar um aparelho de

televisão. Alternativamente, poderiam ser sido vendidas acções que proporcionassem o

mesmo valor, tendo em vista financiar o mesmo tipo de consumo. Considere-se também

que, posteriormente, se verificava uma subida acentuada da cotação daqueles títulos. Em

que situação se verificará maior arrependimento por parte do investidor? Se os

dividendos e as mais-valias forem substitutos perfeitos, as situações são equivalentes.

52 «It also leads to preference for dividends among people who have difficulty praticing self-denial»,

Shapiro [182, p. 542]. 53 KAHNEMAN, D. e TVERSKY, A. ,"The Psychology of Preferences", Scientific American, 246, 1982,

pp. 167-173, citados por Shefrin e Statman [op. cit, p. 268]. 54 Exemplo sugerido por Shefrin e Statman [op. cit, p. 268].

136

Contudo, a evidência tem mostrado que é a segunda situação a ocasionar um maior

arrependimento, sendo de admitir que, por isso, aquele indivíduo ao ser colocado perante

a necessidade de fazer uma opção entre aquelas duas alternativas, teria assumido,

imediatamente, a preferência pelo rendimento em dividendos à venda das acções.

Shefrin e Statman argumentam, então, que, para os indivíduos com aversão ao

arrependimento, o consumo efectuado a partir do rendimento obtido com os dividendos

em dinheiro é preferível àquele que é financiado através da venda de activos financeiros.

Concluem, portanto, que mesmo na ausência de fiscalidade e de custos de transacção, os

dividendos e as mais-valias podem não ser substitutos perfeitos, porque a aversão ao

arrependimento pode gerar uma preferência por dividendos em dinheiro, particularmente

quando se impõe a regra que permite custear consumos, apenas, com dividendos

recebidos e não com o valor obtido com a venda de activos55.

3. 6. Concluindo

A teoria dos sinais permitiu analisar a política de distribuição de resultados, sob

uma nova perspectiva e verificar que, provavelmente, os dividendos constituem uma

variável essencial para reduzir a assimetria de informação, existente nos mercados

financeiros. Todavia, não explica o porquê da não utilização de meios alternativos de

sinalização com custos inferiores.

A teoria da agência, pelo seu lado, considera que o carácter conflituoso das relações

entre dirigentes e investidores deve conduzir a uma política de dividendos generosa, nas

empresas em que exista uma elevada dispersão do capital. Mas, daqui podem resultar

conflitos potenciais entre os accionistas e os gestores, por um lado, e os credores, por

55 «Regret aversion can induce a preference for dividends through the use of rule like "finance consumption

out of dividends, not capital"», Shefrin e Statman [op. cit, p. 271].

137

outro, que apenas serão evitados se a política de dividendos não originar um aumento do

risco. Nas restantes empresas, é de esperar um política de dividendos mais moderada.

Trata-se, assim, de concluir que a escolha da política de dividendos é bastante

influenciada pelas relações complexas, estabelecidas entre os diferentes intervenientes, na

vida da empresa. A teoria da agência parece, portanto, incorporar uma visão global da

empresa e do seu dinamismo social.

As teorias comportamentais procuram justificar a preferência dos accionistas por

dividendos em dinheiro, referindo que a existência destes rendimentos pode contribuir

para que, na mente de alguns investidores, exista menos insegurança, por não consideram

os dividendos e as mais-valias como substitutos perfeitos. No fundo, corresponde a

afirmar que, por razões psicológicas ou outras, os indivíduos não estão dispostos a

reproduzir dividendos em casa.

Chegados a este ponto, não parece ser possível tirar conclusões definitivas sobre as

razões apresentadas para justificar o pagamento de dividendos, dado que cada uma das

explicações avançadas parece conter apenas uma parte da verdade. São explicações

parciais, complementares e, algumas vezes, concorrentes. Parece, portanto, evidente que

a questão da distribuição de resultados continua a ser complicada, carecendo de uma

teoria integrada que permita explicar o comportamento das empresas e as reacções do

mercado aos dividendos. Uma teoria que não perca de vista a perspectiva global das

políticas de distribuição dos resultados das empresas, no seu conjunto, e da importância

dos dividendos num contexto macroeconómico56.

56 Uma explicação possível para a existência de dividendos, pode estar relacionda com a sua importância

para o equilíbrio macroeconómico, dado impedirem uma elevação do investimento agregado e,

consequentemente, uma baixa da sua rendibilidade média. A explicação dos dividendos agregados pagos

pelas empresas norte-americanas, a partir das descobertas de Lintner, deve-se a MARSH, T. A. e

MERTON, R. C., "Dividend Behavior for the Aggregate Stock Market", Journal of Business, 60, January

1987, pp. 1-40, citados por Brealey e Myers [40, p. 374 e 391]. DeAngelo [64, p. 358], deu um contributo

138

para esta explicação, verificando que o diferimento dos dividendos, seguindo uma taxa de distribuição

baixa ou mesmo nula, para beneficiarem os seus accionistas com vantagens fiscais, implica idêntico

diferimento do consumo agregado que é oferecido conjuntamente.

139

CAPÍTULO 4

A POLÍTICA DE DIVIDENDOS EM PORTUGAL

1. Introdução

Como se referiu na apresentação, o objecto da nossa atenção será, por um lado, o

conjunto de empresas, com acções cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa (BVL) e, por

outro lado, as empresas a quem foi atribuído, em 1994, o estatuto de PME Prestígio.

Particularmente, no que diz respeito ao primeiro universo, o das empresas listadas

no mercado de valores mobiliários, e porque se supõe que os mercados financeiros

funcionam adequadamente, impõe-se uma breve referência ao conceito de eficiência e às

funções do mercado de capitais.

Qualquer mercado de capitais constitui, antes de mais, um circuito de

financiamento especializado, cuja função principal é a de permitir às empresas obter

recursos a longo prazo, através da mobilização da poupança dos particulares, para os seus

programas de investimento e de possibilitar a criação e transacção de instrumentos

financeiros. Assim, este mercado compete com a transferência de fundos excedentários,

realizada através da intermediação financeira, dado permitir obter custos de capital mais

baixos do que os possíveis num sistema financeiro com custos de intermediação, e será

mais eficiente, caso não exista um elevado grau de assimetria de informação, entre o

fornecedor e o utilizador de fundos.

Para além de funcionar como mercado primário no financiamento às empresas, um

mercado financeiro desempenha, ainda, outras funções acessórias: de mercado secundário

organizado para a negociação de valores mobiliários; de valorização dos activos

financeiros; e de permitir o processo de alteração do tecido empresarial e respectiva

estrutura financeira.

140

Relativamente ao primeiro aspecto, o mercado financeiro, para além da função

principal de transferência de poupança para o investimento, «assegura a liquidez e a

mobilidade da poupança»1. Consequentemente, o seu sucesso «depende, em boa parte, da

liquidez que proporcionar aos activos nele transaccionados», dado que, ao conceder

flexibilidade ao investidor, permite adaptar «a vida média agregada dos activos

financeiros emitidos às preferências de uma clientela vasta e diversificada de aforradores,

com horizontes temporais de investimento muito variados»2. A liquidez é, portanto, uma

condição necessária ao normal funcionamento de um mercado de capitais, permitindo ao

investidor a realização de arbitragens de carteira.

Uma outra função do mercado financeiro é a fixação e «revelação de um preço que

represente um consenso alargado de especialistas bem informados sobre o valor dos

activos financeiros transaccionados»3. A ideia, de que este avalia correctamente os

activos financeiros, conduzindo, portanto, a um preço justo, pressupõe a existência de um

mercado eficiente nos seus aspectos distintos: operacional e de informação4.

Finalmente, o mercado bolsista permite a reestruturação do tecido económico,

designadamente através das ofertas públicas de transacção (por exemplo ofertas de venda,

OPV`s, e de aquisição, OPA`s) e da negociação de blocos de títulos.

1 Jacquillat e Solnik [103, p. 15].

2 APDMC [12, p. 58].

3 APDMC [op. cit., p. 59].

4 O conceito de eficiência dos mercados financeiros, como referem Jacquillat e Solnik [103, pp. 52-54],

tem «pelo menos três dimensões: a eficiência da informação, o comportamento racional dos agentes e a

eficiência organizacional». A eficiência da informação significa que todo «o conjunto de informações

pertinentes à avaliação dos activos financeiros aí negociados se encontra instantaneamente reflectida nas

cotações». O comportamento racional dos intervenientes no mercado significa que «os preços dos activos

reflecte as expectativas de rendimentos futuros a serem distribuídos». Finalmente, a eficiência funcional

traduz a possibilidade de se «mobilizar a poupança para as aplicações mais produtivas, permitindo-lhe

manter, no entanto, a sua liquidez». Verificar se são estas as características do mercado português de

acções, não é a tarefa deste trabalho, mas não se deixará de fazer uma referência ao assunto.

141

Para além das funções já referidas pode-se, igualmente, considerar que «um

mercado financeiro evoluído deverá permitir a transferência de risco financeiro para as

entidades mais vocacionadas para o suportar, quer por possuírem maior capacidade de

absorção quer por revelarem menor grau de aversão ao risco»5. Assim seria possível, com

a utilização de instrumentos derivados de transferência de risco, como sejam os futuros e

as opções, estabelecer a distinção entre o agente económico, que fornece a poupança e o

que assume, total ou parcialmente, o risco financeiro.

2. O mercado de acções em Portugal

A seguir ao encerramento verificado, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, o

mercado de capitais reabriu para a negociação de acções em 1977, tendo sido

praticamente inexistente até 1986. Após ter sido abalado, primeiro pela crise bolsista de

1974, depois pelo crash de Outubro de 1987, na segunda metade da década de 80

assistiu-se a um acréscimo significativo das transacções.

A partir de 1991, com a lei que actualmente regula o mercado de capitais, Código

do Mercado de Valores Mobiliários (Código do MVM), passaram a existir, nas bolsas

portuguesas, três mercados: Mercado Oficial, Segundo Mercado e Mercado Sem

Cotações.

O Mercado Oficial (MCO) é, tendencialmente, de âmbito nacional com negociação

em contínuo, incluindo também o mercado por chamada. O Segundo Mercado (SM) está,

particularmente, vocacionado para as pequenas e médias empresas (PME`s). O Mercado

Sem Cotações (MSC) destina-se às empresas que não cumpram os requisitos exigidos

para admissão a qualquer um dos anteriores, nomeadamente no que respeita à dispersão

5 APDMC [op. cit, p. 57].

142

do capital e à situação económica e financeira. Neste são também efectuadas as

transacções relativas a direitos de subscrição, de incorporação e de redução de capital.

O novo ordenamento, para além de inovações ao nível das estruturas de

propriedade e gestão das bolsas de valores, instituiu mercados com diferentes níveis de

requisitos de situação económica e financeira dos emitentes, da sua dimensão, da

dispersão dos valores a admitir, do regime de deveres de prestação de informação pelas

empresas, e dos custos de acesso e permanência no mercado bolsista. No anexo III,

apresenta-se um quadro resumindo os principais requisitos de admissão à negociação,

estabelecidos no âmbito do Código do MVM para os três mercados, que aí se consagram.

As exigências estipuladas tendem a estabelecer fasquias de acesso a cada mercado,

de modo a que os títulos neles negociáveis reúnam condições mínimas de qualidade

susceptíveis de atrair os investidores e não minar os fundamentos, em que estes assumem

as suas decisões de investimento. É, também, visível que, quando se passa de um

mercado para outro, existe algum aligeiramento das condições de acesso, particularmente

ao nível de factores como a adequação da qualidade do risco das empresas na qualidade

de emitentes de acções, a dispersão efectiva das emissões, o volume e qualidade da

informação disponibilizada e a dimensão das emissões a admitir à negociação.

O número de empresas, com títulos cotados nos diferentes mercados, como se

observa no quadro nº 4.1, não tem sido muito significativo.

143

Quadro 4.1 - Evolução do número de empresas cotadas - 1987/1995

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 19956

Mercado Oficial 145 169 157 159 153 100 89 83 83

- por chamada 145 169 157 159 142 65 21 13 -

- em contínuo - - - - 11 35 68 70 83

Segundo Mercado - - - - - 11 9 16 16

Mercado Sem Cotações 17 21 37 34 40 87 85 96 76

Total 162 190 194 193 193 198 183 195 175

Fonte: BVL e BPI

Contudo, apesar do número relativamente pouco significativo de empresas listadas,

a sua importância no total das empresas portuguesas é razoavelmente superior,

particularmente quando se verifica que algumas das sociedades mais representativas da

nossa economia se encontram cotadas na Bolsa.

Numa análise à capitalização bolsista e ao seu peso sobre o PIB, é visível que, após

ter caído até 1991, tem vindo a recuperar, situando-se, no ano de 1994, em quase 18%, ou

seja, ao nível de 1988.

Quadro 4.2 - Capitalização bolsista do mercado accionista e PIB

(unidade: milhões de contos)

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

(1) Cap. bolsista7

1.183 1.052 1.588 1.257 1.284 1.670 2.193 2.587

(2) PIB (pr. correntes) 5.175 6.003 7.177 8.561 9.935 10.938 13.760 14.605

(1) / (2) 22.9% 17.5% 22.1% 14.7% 12.9% 15.3% 15.9% 17.7%

Fonte: BP, BVL e BPI

O volume de transacções no Mercado Oficial, apesar da instabilidade a que se

assistiu nos primeiros anos do período 1987-1995, tem evidenciado algum crescimento,

como se infere do quadro nº 4.3.

6 Neste e restantes quadros, os valores relativos a 1995 reportam-se sempre ao final do terceiro trimestre. 7 Os valores indicados incluem os montantes relativos a cautelas.

144

Quadro 4.3 - Evolução das transacções de acções na BVL, por sessões - 1987/95

(Unidade: milhões de contos)

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

normais 151.892 97.625 215.298 168.242 284.700 264.048 417.901 766.695 497.911

especiais 46.843 5.562 57.815 84.576 115.246 224.950 46.957 83.741 459.761

Total 198.735 103.187 273.113 252.818 399.946 488.998 464.858 850.436 957.672

Var.(%) - -48.08 164.67 -7.43 58.2 22.27 -4.94 82.95 12.61

Fonte: BVL e BPI

Tendo em consideração os diferentes mercados - quadro 4.4 -, verificamos que o

MCO tem um peso decisivo, representando em finais de Setembro de 1995, mais de 94%

do total das transacções em acções. Quanto ao Segundo Mercado, o seu peso relativo

continua a ser modesto.

Quadro 4.4 - Evolução das transacções de acções pelos principais mercados

(un.: milhões de contos)

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

MCO

em valor 126.959 94.111 212.665 161.870 160.519 173.048 365.518 625.898 468.633

em % 83.59 96.4 98.78 96.21 56.38 65.54 87.47 81.64 94.12

SM

em valor - - - - - 98 2.222 4.735 2.510

em % - - - - - 0.04 0.53 0.62 0.50

MSC

em valor 24.933 3.513 2.632 6.197 8.182 90.902 50.161 136.062 26.737

em % 16.41 3.6 1.22 3.68 2.87 34.43 12.00 17.75 5.37

Outras

em valor - - - 176 115.999 - - - -

em % - - - 0.1 40.74 - - - -

Fonte: BVL

Para se ficar com uma imagem mais completa, do que representa o movimento

global de acções em Portugal, apresentam-se, no quadro nº 4.5, os valores agregados

para os diferentes mercados e operações.

145

Quadro 4.5 - Movimento global com acções

(Unidade: milhões de contos)

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Merc. primário (s/ priv.) 65 71 92 157 43 78 43 112

OPV (s/ privatizações)8

100 11 2 11 25 - 0.5 26

Privatizações - - 71 139 131 212 65.7 69

Sub-total 165 82 144 307 199 290 109.2 207

OPA - - 25 19 27 12 13 14

Trans sessões normais 197 165 301 285 417 467 418 767

Trans. fora de bolsa 64 46 63 169 69 72 114 80

Fonte: BVL e BPI

Relativamente à repartição das transacções por sector de actividade, no final de

1994, os valores estão representados no quadro nº 4.6 e no gráfico nº 4.1, sendo visível a

enorme importância do sector bancário e outras instituições monetárias e financeiras, com

mais de 59% do volume de negócios. A seguir, mas apenas com pouco mais de 11%,

aparecem as indústrias do papel.

Quadro 4.6 - Transacções por sectores em 1994

CAE %

Bancos e financeiras 59.01%

Indústrias do papel 11.38%

In. prod. min. não metálicos 7.74%

Serviços prestados às empresas 3.70%

Construção 3.59%

Fab. produtos metálicos 2.87%

Ind. de alimentação e das bebidas 2.84%

Comunicação 2.30%

Restantes 2.00%

Seguros 1.95%

Comércio 1.47%

Serviços recreativos e culturais 1.14%

Fonte: BVL

8 Em 1987, as 74 OPV`s realizadas tiveram como objectivo a disseminação do capital com a finalidade de

admissão à cotação, para aproveitamento dos benefícios fiscais existentes na época.

146

Gráfico 4.1 - Repartição das transacções por sectores, em 1994 (%)

No que diz respeito à evolução da capitalização bolsista do mercado global e de

acções, os valores para o mesmo período encontram-se evidenciados no quadro nº 4.7.

Quadro 4.7 - Evolução da capitalização bolsista dos mercados accionista e global

(Unidade: milhões de contos)

Ano MCO SM MSC Total acções Mercado

1987 807.432 - 343.232 1.183.218 1.714.484

1988 859.974 - 192.303 1.052.277 1.697.900

1989 1.542.360 - 46.020 1.588.380 2.741.227

1990 1.197.324 - 59.924 1.257.248 2.796.061

1991 1.252.003 - 32.345 1.284.348 4.118.821

1992 1.277.166 9.967 143.657 1.430.789 4.876.834

1993 2.057.289 25.627 110.105 2.193.021 6.714.586

1994 2.320.655 73.478 192.654 2.586.787 7.566.331

1995 2.284.188 60.003 68.540 2.412.730 7.939.194

Fonte: BVL

As diversas ofertas públicas de transacções foram realizadas com diferentes

objectivos. Quanto às de venda (OPV`s), no período de 1987-1989, tiveram como

objectivo a disseminação do capital com a finalidade de admissão à cotação, permitindo,

Ind alimentaçãoFab. prod. met.

Construção

Ser. prest

empresas

Ind. prod min.

não met.

Ind. papel

Financeiras

147

assim, o aproveitamento dos benefícios fiscais existentes na altura. No período de 1989 a

1991, catorze das OPV`s realizadas integraram-se no programa de privatizações,

enquanto em 1992, todas as operações estiveram associadas a este processo.

As Ofertas Públicas de Aquisição (OPA`s), por outro lado, começaram por ser

utilizadas pelos grupos económicos nacionais para reagrupar as acções das empresas cujo

capital havia sido disperso pelo público em 1987 e 1988. Também algumas empresas

estrangeiras recorreram a este instrumento para adquirir posições de domínio em

empresas nacionais cotadas. Mais recentemente, grupos financeiros nacionais lançaram

OPV`s sobre empresas financeiras, tendo em vista estabelecer uma ligação destas

sociedades apenas a uma instituição financeira. No quadro nº 4.8, apresenta-se a evolução

das diferentes ofertas públicas de transacção.

Quadro 4.8 - Número de Sessões Especiais de Bolsa

Número de operações 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Of. Púb. Venda (c/ priv) 74 12 5 9 7 12 7 5

Privatizações - - 4 5 5 12 7 4

Ofertas públ. aquisição - - 5 8 6 10 - 14

Fonte: BVL e BPI

Na perspectiva do mercado bolsista, uma consequência importante das OPA`s

realizadas foi a transferência dos títulos das empresas, alvo destas operações, para o

Mercado Sem Cotações ou a sua retirada do mercado.

No que concerne ao processo de privatizações, teve o seu início em 1989, com a

venda acções de algumas empresas públicas, limitada constitucionalmente a 49% do seu

capital. Em 1990, com a revisão constitucional, estabeleceu-se o fim daquele limite.

A lei-quadro das privatizações, Lei nº 11/90 de 5 de Agosto, determinou sete

objectivos essenciais, que se pretendiam atingir, sendo de realçar o que se referia à

necessidade de contribuir para o desenvolvimento do mercado de capitais e possibilitar

148

uma ampla participação dos cidadãos portugueses na titularidade do capital das empresas,

através de uma adequada dispersão do capital9.

Quanto ao comportamento dos preços, pode ser apreciado através da evolução do

Índice BVL geral, para o período compreendido entre 1988 e Setembro de 1995.

Gráfico 4.2 - Índice BVL Geral

O valor máximo histórico remonta a Janeiro de 1988, enquanto o valor mínimo foi

atingido em Outubro de 1992, com 544,23 pontos. A partir desta data, assistiu-se a uma

ligeira recuperação do mercado. Dentre os factores apontados para a recuperação

verificada, são de assinalar a divulgação dos resultados das empresas em 1991, acima dos

esperados, com crescimento dos dividendos e os novos incentivos fiscais aprovados no

9 No entanto, uma parte substancial destes títulos não são líquidos, dado apresentarem um baixo índice de

transacções, o que se pode explicar pela elevada concentração do capital na maior parte das empresas

privatizadas, para além dos condicionalismos à venda de algumas acções durante um determinado período,

conforme estabelecido no respectivo prospecto de oferta pública de venda. Em virtude daquela falta de

dispersão do capital e do desenvolvimento do mercado se ter realizado mais em termos de crescimento em

valor do que em termos de montantes transaccionados, é possível falar de incumprimento total daqueles

objectivos.

149

orçamento, designadamente o facto de os dividendos das empresas cotadas serem

tributados em IRS/IRC, por apenas 35% em 1992. Todavia, o índice BVL não atingiu

mais os mil pontos, sendo evidente alguma estabilidade.

O crescimento do mercado, medido através do índice BVL geral, pode, também ser

apreciado comparativamente com a evolução do PIB. Verifica-se que não existe total

concordância de sinais, sendo de realçar os anos de 1990 a 1992, por um lado, e o de

1993, por outro (gráfico nº 4.3).

Gráfico 4.3 - Crescimento do PIB e do Índice BVL Geral

Ainda, no que se refere à valorização do mercado, apresentam-se, no quadro nº 4.9,

os principais indicadores para Portugal.

Ano

%

-40.0

-30.0

-20.0

-10.0

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

1989 1990 1991 1992 1993 1994

PIB

IBVL

150

Quadro 4.9 - Indicadores Bolsistas do MCO

1990 1991 1992 1993 1994

PER 18.17 20.44 39.94 27.54 17.19

PER corrigido10

16.83 16.42 22.17 25.76 17.19

Tx crescimento do EPS(%) - 42.86 -42.83 -6.97 1.28

PBV11

1.64 1.46 1.41 1.87 1.72

DY (%)12

2.73 3.47 3.9 2.99 2.87

Fonte: BVL

A comparação internacional, para o ano de 1992, está evidenciada no quadro nº

4.10, constatando-se que o mercado português, naquela data, apresentava valores

inferiores à média europeia.

Quadro 4.10 - Índices de valorização internacionais (1992)

PER PCE PBV DY

Portugal 13.3 4.4 0.91 3.6

Espanha 8.7 4.1 1.01 5.5

Áustria 22.2 3.6 1.52 2.1

Irlanda 10.8 7.5 1.19 3.1

Reino Unido 19.7 10.5 2.13 4.5

EUA 22.7 10.2 2.36 2.9

Europa (UE) 17.3 6.9 1.64 3.9

Mundo 23.0 8.7 1.89 2.8

Fonte: BPI

É visível, por exemplo, que a taxa de rendimento em dividendos está abaixo ao

observado nos outros países da União Europeia (3,9%). Este indicador representava,

nesta data, cerca de 1/6 da taxa de rendibilidade bruta das obrigações das empresas, cujo

valor se situou em 17.9%, e cerca de 1/5 da taxa da dívida pública (15,6%). Todavia, a

comparação internacional deveria ser realizada em termos líquidos, uma vez que os

impostos de mais-valias, sobre os dividendos e as taxas cobradas, variam de país para

país. Também as taxas de inflação e de juro são mais elevadas em Portugal.

10

No cálculo do PER, relaciona-se a cotação e o resultado líquido por acção. Os valores corrigidos são

calculados expurgando as empresas que, pelo facto de registarem um PER muito elevado, podem

influenciar significativamente o valor de cada CAE e do mercado. 11

«Price Book Value»: cotação/valor contabilístico. 12

Rendibilidade em dividendos («dividend yield»): dividendo por acção/cotação (%).

151

A concentração da capitalização bolsista pode, também, ser comprovada a partir

dos valores evidenciados pelas maiores empresas presentes no mercado (quadro nº 4.11).

As vinte maiores sociedades, atingem percentagens sempre superiores a 70% da

capitalização bolsista do mercado. Para as cinquenta maiores, a capitalização bolsista

representava, respectivamente, 95.69% e 94.71%, em 1994 e no final do terceiro

trimestre de 1995.

Quadro 4.11 - Capitalização bolsistas do mercado e das maiores empresas

(unidade: contos)

1992 % 1994 %

Mercado 1.670.166 100 2.320.654 100

20 maiores c. bolsistas 1.214.807 72,74 1.798.241 77,49

30 seguintes 383.303 22.95 399.617 17,22

Fonte: BVL e BPI

Se analisarmos o problema em termos sectoriais, quadros nº 4.12, a concentração

bolsista é, ainda, mais evidente. De igual modo, numa leitura à distribuição das

sociedades admitidas por sectores de actividade, à capitalização bolsista e à quota de cada

um deles no volume de transacções, no final do terceiro trimestre de 1995, confirma-se o

grau de concentração do mercado português (quadro nº 4.13).

Quadro 4.12 - Capitalização bolsista por sectores de actividade (1992 e 1994)

(un.: milhões de contos)

Sector de actividade valor % valor %

Bancos e financeiras 1.017 60.9 1.607 69.3

Ind. papel, artes gráficas 66 3.9 167 7.2

Seguros 114 6.9 105 4.6

Comunicações 36 2.1 85 3.7

Construção e obras púb. 53 3.2 70 3.0

Material e equipamento 59 3.6 69 3.0

Ind. p. min. não metálicos 66 2.8

Alim., bebidas e tabaco 63 3.8 50 2.2

Op. s/ imóveis e s. prest. 45 2.0

Ind. química 26 1.1

Outras 23 1.4 16 0.6

S. recreativos e culturais 27 1.6 9 0.4

Comércio por grosso 94 5.6 2 0.1

Fonte: BVL e BPI

152

Quadro 4.13 - Indicadores Sectoriais - 3º Trimestre de 1995

Sociedades Cap. Bolsista Transacções

Sector de Actividade (%) (%) Quant. Valor

I. alimentares e das bebidas 4.8 3.2 1.9 1.4

Indústrias do tabaco 1.2 0.3 0.0 0.0

Fabricação de Têxteis 0.0 7.4 0.0 0.0

Fab de pasta, de papel e cartão 3.6 1.0 12.0 5.7

Fab. produtos químicos 3.6 3.0 0.2 0.3

Fab. outros prod. min. não metál. 7.2 0.1 6.3 5.4

I. metalúrgicas de base 2.4 0.6 1.7 0.9

Fab. de veículos automóveis 1.2 0.7 0.0 0.0

Fab outro mat. transporte 1.2 1.0 0.8 0.2

Construção 7.2 2.8 5.1 3.0

Comércio por grosso 1.2 0.1 0.0 0.0

Alojamento e restauração 2.4 0.1 0.0 0.0

Transportes por água 1.2 0.0 0.0 0.0

Activ. auxiliares de transportes 1.2 0.3 0.1 0.0

Correios e telecomunicações 1.2 5.4 7.0 8.1

Intermediação financeira 25.3 44.3 26.0 19.9

Seguros e fundos de pensões 6.0 6.0 4.8 6.6

Actividades imobiliárias 2.4 1.4 0.9 1.0

Actividades informáticas 1.2 0.1 0.0 0.0

Outras act. serv prest. às emp. 19.3 21.0 32.1 46.9

Activ. recreativas, cult. e desp. 4.8 1.2 0.7 0.2

Fonte: BVL

Em síntese, o forte grau de concentração no mercado de acções, evidenciado pelas

estatísticas disponíveis até finais de 1994, assenta nos seguintes factores essenciais:

- As principais empresas admitidas à negociação em bolsa pertencem,

maioritariamente, ao sector financeiro13

;

- As trinta acções mais transaccionadas no MCO foram responsáveis, naquele

período, por 85% dos negócios globais neste segmento, enquanto as dez maiores

empresas respondiam por quase 68% do valor total transaccionado;

13

No caso concreto de algumas empresas, particularmente no sector bancário, são, também, visíveis sinais

de «corporate governance», que se caracteriza por um significativo número de títulos estar na posse dos

administradores, permitindo-lhes controlar essas sociedades. As acções, na sua maioria, são atribuídas aos

gestores como prémio pelo cumprimento de objectivos («stock options»).

153

- As trinta maiores empresas em termos de capitalização bolsista representam cerca

de 86% do total de títulos cotados no MCO, enquanto as dez maiores são responsáveis

por cerca de 61%.

Por outro lado, a percentagem do capital social das empresas cotadas, detida por

"grandes" accionistas, como se evidencia no gráfico nº 4.4, continua a ser bastante

elevada14

. Esta reduzida dispersão dos capitais das sociedades listadas, é, em grande

medida, responsável pelos baixos índices de negociação.

Gráfico 4.4 - Grau de concentração do capital das empresas cotadas, em 1992 e 1994

Apesar de ser notório o acréscimo de actividade no mercado accionista, continua a

ser evidente o reduzido peso do financiamento do mercado no conjunto do total do

financiamento às empresas, tanto na vertente obrigacionista, como na accionista15

.

Trata-se, ainda, «de um problema de estagnação do mercado primário» e de «mau

14

Os valores para elaboração do gráfico, foram, para o ano de 1994, obtidos a partir dos dados disponíveis

no anexo. Relativamente à situação de 1992, tomaram-se como referência os dados apresentados por

Cardão Pito [167]. 15

Veja-se os diversos estudos promovidos e publicados pela APDMC, ao longo de 1992 e 1993.

154

funcionamento dos mercados primários no financiamento às empresas»16

, que se

transmite aos mercados secundários. Para além de se constatar algum sentimento de

desilusão e alguma ausência de confiança por parte dos investidores, originados pelos

traumas provocados pelas crises bolsistas de 1974 e 1987, as deficiências são, também,

atribuídas à falta de postura de mercado das empresas, significando isso que as entidades

emitentes não têm visto o recurso regular ao mercado como um veículo normal de

financiamento e uma condição necessária para o seu desenvolvimento.

Estamos, então, perante o seguinte círculo vicioso: Não há mercado sem entidades

emitentes, como não há mercado sem investidores. Parece, todavia, claro que a retracção

da procura não é o argumento mais convincente, porque o mau funcionamento dos

mercados secundários assenta muito na quase ausência de vitalidade do mercado primário

e, também, na menor liquidez dos papéis transaccionados no secundário.

Não obstante ser evidente que, ao nível do mercado secundário, algumas das

sociedades cotadas têm vindo a assumir um comportamento diferente, não deixa, ainda,

de ser visível alguma «falta de cultura empresarial e de postura bolsista em grande

número de empresas»17

, o que é confirmado, primeiro, por alguma resistência à abertura

ao público do capital das empresas18

e, depois, por uma excessiva concentração desse

capital, e, finalmente, por uma elevada concentração da capitalização bolsista num

pequeno número de empresas, numa quantidade limitada de sectores, com supremacia do

sector financeiro. Temos, complementarmente, um mercado de pequena dimensão e com

16

Rosa, Carlos e Adelino, José Neves, Perspectivas de Desenvolvimento do Mercado de Capitais, in

"Relatório sobre o Mercado de Capitais", APDMC, 1992, p. 56. 17

APDMC, Relatório sobre o Mercado de Capitais, 1992, p. 14. 18

Apesar de serem dados para o universo das PME Prestígio, não deixa de ser interessante olhar para os

resultados apurados pelo IAPMEI junto das empresas que obtiveram aquele estatuto, particularmente para

as condicionantes da abertura de capital. Um dos principais quatro factores negativos identificados, é o

risco de perda de controlo accionista, que, em 1995, era determinante para 41.2% das empresas, contra

43.0%, no ano anterior.

155

pouca representatividade da actividade empresarial. Tudo isto traduz-se na dificuldade

que os investidores têm, em diversificar as suas carteiras, na escassez de liquidez e na

instabilidade das cotações, o que pode ocasionar uma menor na eficiência dos preços.

O factor fiscal pode, naturalmente, desempenhar um apoio importante ao

desenvolvimento do mercado. No entanto, apesar de não parecer tratar-se de um

argumento decisivo, não deixará de ser importante e existência de medidas que passem

pela correcção das assimetrias fiscais existentes, quanto à forma como são tratados

diferentes activos financeiros, tanto mais que é frequente ouvirem-se referências aos

benefícios que a «revisão da tributação das mais-valias e da dupla tributação de

dividendos»19

traria à recuperação dos mercados.

Será que as políticas de dividendos normalmente praticadas podem, igualmente,

contribuir para um melhor funcionamento do mercado? Comecemos por analisar o

comportamento das empresas em matéria de distribuição de resultados.

3. A política de dividendos das empresas

Os dividendos representam a distribuição dos resultados da empresa aos seus

accionistas e, em Portugal são, em regra, declarados numa base anual pela Assembleia

Geral, no momento da apreciação e aprovação do Relatório e Contas do exercício.

No nº 1 do artigo 294º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), estipula-se:

« (...) salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por maioria de três

quartos dos votos correspondentes ao capital social em assembleia-geral para o efeito

convocada, não pode deixar de ser distribuído aos accionistas metade do lucro do

exercício que, nos termos da lei, seja distribuível.»

19

Rosa e Neves [op. cit., p. 67].

156

Contudo, para garantir um determinado nível de solvabilidade, o CSC salvaguarda

o princípio da conservação do capital e impõe limites à distribuição20

. Assim,

relativamente ao pagamento, estabelece-se no nº 2 do citado artigo:

« (...) o crédito do accionista à sua parte nos lucros vence-se decorridos que sejam

trinta dias sobre a deliberação de atribuição de lucros, salvo diferimento consentido

pelo sócio e sem prejuízo de disposições legais que proíbam o pagamento antes de

observadas certas formalidades; pode ser deliberada, com fundamento em situação

excepcional da sociedade, a extensão daquele prazo até mais 60 dias, se as acções

não estiverem cotadas em bolsa.»

Ainda nos termos do CSC, artigo 297º, podem, igualmente, observadas que sejam

certas regras, efectuarem-se aos investidores, adiantamentos sobre lucros. Quanto ao

pagamento, sublinhe-se, também, que os dividendos são devidos a todos os accionistas

registados no livro de registo de acções da empresa, na data de distribuição dos lucros.

Neste contexto, tendo em vista uma adequada clarificação do processo de

pagamento dos dividendos das empresas listadas na bolsa, o mercado possibilita a

transacção de acções com e sem dividendo21

. As acções sem dividendo são aquelas que

são adquiridas entre a data «ex-dividend» e a do seu pagamento, ocorrendo a primeira

quatro dias antes da última. Assim, a partir do momento em que se atinge a data sem

dividendo, é de esperar uma queda do preço da acção, igual ao dividendo declarado,

porque tal título já confere o direito a receber esse valor.

Em regra, os dividendos são pagos em dinheiro, todavia, as empresas podem optar

por outras modalidades, tais como dividendos em acções, aquisição de acções próprias e

dividendos em existências.

20

Art. 32º e 33º do CSC. 21

Fala-se de acções sem dividendo (ou «ex-dividend»), quando, ao serem adquiridas, não conferem ao

comprador o direito aos últimos dividendos declarados. Quando se referem acções com dividendo (ou

«cum dividend»), está-se a falar de acções que conferem ao investidor, que as compra, o direito aos

dividendos já declarados.

157

Após a análise efectuada ao mercado português de acções, é agora altura de

olharmos para o comportamento das empresas cotadas na Bolsa de Lisboa, analisando

alguns indicadores para o período de 1990 a 1994, calculados a partir dos dados incluídos

no anexo II, e considerando apenas as sociedades que actualmente se encontram listadas

no Mercado de Cotações Oficiais.

O volume de resultados apresentado está compreendido entre 88.758, em 1989, e

144.629 milhões de contos, em 1994, o que se traduz numa variação de quase 63%. No

mesmo período e para o mesmo universo de empresas, a parcela distribuída evidencia

uma evolução distinta, situando-se entre 28.568 e os 87.992 milhões de contos, ou seja,

um crescimento superior a 208%.

Quadro 4.14 - Evolução dos resultados, dividendos e taxa de distribuição das empresas

cotadas (1990 a 1994)

(unidade: milhões de contos)

1990 1991 1992 1993 1994

Resultados 134.395 166.163 131.119 115.636 144.629

Variação (%) 51.4 23.6 -21.1 -0.4 25.1

Dividendos 52.671 67.529 72.272 80.435 87.992

Variação (%) 84.4 28.2 7.0 11.6 9.4

Tx distrib. (%) 39.2 40.6 55.1 69.6 60.8

Quanto à evolução do rácio de distribuição, verifica-se o seu aumento ao longo do

período, o que parece traduzir um esforço desenvolvido pelas empresas para

remunerarem os capitais investidos pelos seus accionistas, sob a forma de dividendos. Em

1994, a política de dividendos das empresas cotadas foi menos generosa, relativamente ao

ano anterior, mas mesmo assim com valores superiores aos de 1992.

Nos gráficos 4.5 e 4.6, mostram-se, por um lado, a evolução dos resultados e

dividendos para o período em análise e, por outro, o crescimento da taxa de distribuição.

158

Gráfico 4.5 - Evolução dos resultados líquidos e distribuídos

Gráfico 4.6 - Evolução da taxa de distribuição (1990-1994)

O número de empresas, que em cada um dos anos procedeu à distribuição de

resultados, foi de sessenta e cinco em 1990, sessenta e quatro em 1991, cinquenta e cinco

em 1992, quarenta e seis em 1993, e cinquenta e dois em 1994. Ao longo do período em

análise, constata-se, também, que apenas trinta e oito títulos (45.24%) pagam sempre

dividendos.

1990 1991 1992 1993 1994

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

Resultados

Dividendos

0.0%

10.0%

20.0%

30.0%

40.0%

50.0%

60.0%

70.0%

1990 1991 1992 1993 1994

159

A evolução, no que se refere ao sinal de variação da taxa de distribuição líquida e

do benefício por acção, foi a seguinte:

Quadro 4.15 - Sinal de variação da taxa de distribuição por acção

Número de títulos 1991 1992 1993 1994

Aumento do payout 35 32 28 35

Mantiveram 12 18 27 28

Descida do payout 36 34 29 21

Quadro 4.16 - Sinal de variação do resultado por acção

Número de títulos 1991 1992 1993 1994

Aumento do EPS 39 30 34 44

Descida do EPS 45 54 50 40

Finalmente, indica-se o número de empresas que, ainda neste período,

apresentaram resultados sempre positivos.

Quadro 4.17 - Número de empresas com lucro por acção positivo

1990 1991 1992 1993 1994

Total 81 76 64 61 64

Tendo em vista a análise em termos desagregados, calcularam-se alguns

indicadores sectoriais, quando existiam pelo menos três sociedades dentro de cada sector.

Os valores obtidos para os diferentes rácios - «price book value» (PBV), rendimento em

dividendos («dividend yield»), «price earnings ratio» (PER), taxas de capitalização dos

investidores e taxas de distribuição («payout») - consideram o valor de cada título,

ponderado pela respectiva capitalização bolsista. Todos os elementos incluídos nos

quadros seguintes foram obtidos a partir dos dados individuais de cada uma das

empresas.

160

Quadro 4.18 - Indicadores do Mercado de Cotações Oficiais

Indicadores 1990 1991 1992 1993 1994

Capitalização bolsista 1.021.103 1.076.744 1.224.113 2.029.802 2.328.177

Price Book Value 1.64 1.46 1.41 1.87 1.79

Dividend Yield 2.46% 3.09% 3.23% 2.50% 2.42%

PER 18.17 21.19 45.99 28.50 20.60

Tx capit. investidores 8.34% 9.15% 6.64% 4.58% 5.09%

Tx líquida de distribuição 30.62% 28.96% 30.93% 30.99% 33.74%

Tx de crescimento EPS 42.86% -42.83% -6.97% 1.28%

* Unidade: milhões de contos.

Quadro 4.19 - Evolução sectorial da taxa de distribuição líquida

CAE 1990 1991 1992 1993 1994

Alimentação e bebidas 52.12% 22.83% 30.14% 35.35% 36.15%

Produtos químicos 19.24% 36.94% 50.44% 25.30% 43.01%

Outros prod. min. não metál. 29.18% 26.66% 23.77% 36.29% 47.47%

Construção 26.40% 23.99% 21.84% 49.38% 29.52%

Alojamento e restauração 4.13% 32.33% 43.85% 6.47% 27.03%

Intermediação financeira 36.68% 38.20% 35.33% 31.93% 37.69%

Seguros e fundos de pensões 37.96% 33.77% 5.05% 17.77% 30.30%

Outras act. serv. prest. emp. 34.26% 36.86% 27.09% 32.50% 38.89%

Act recreativas, cult e desp. 13.12% 0% 9.61% 0% 0%

Restantes 19.95% -2.84% 27.53% 24.34% 14.86%

Todos os sectores, com excepção das "actividades recreativas, culturais e

desportivas" e "restantes", distribuíram, em 1994, 27% ou mais dos seus resultados. É

visível, ainda, que apenas os sectores de actividade "indústrias de alimentação e das

bebidas", "fabricação de outros produtos minerais não metálicos", "seguros e fundos de

pensões" e "outras actividades de serviços prestados às empresas", apresentam um

crescimento positivo daquele indicador, ao longo dos últimos dois anos. O mercado,

apesar de uma ligeira queda em 1991, tem vindo a apresentar valores bastantes razoáveis.

Analisando a evolução do número de sociedades por intervalos de taxa de

distribuição, temos os seguintes dados:

161

Quadro 4.20 - Evolução da taxa de distribuição por intervalos (%)

Intervalo (%) 1990 1991 1992 1993 1994

0 18 20 30 36 30

0-10 1 3 1 1 0

10-20 11 6 7 2 3

20-30 18 11 8 8 10

30-40 17 17 13 10 12

40-50 8 13 16 9 12

50-60 6 6 1 4 6

60-70 3 4 1 7 3

70-80 1 3 3 3 3

80-90 0 0 0 1 1

> 90 0 0 3 2 3

Agrupando-se as diferentes empresas em seis categorias de evolução da

distribuição percentual do número de sociedades, por intervalos do rácio de «payout»,

representadas no gráfico 4.7, sobressaem as classes A e C. Pode, igualmente, constatar-se

que a quantidade de empresas que não distribui resultados tem vindo a aumentar.

Quadro 4.21 - Evolução da taxa de distribuição por classes (%)

Categoria Intervalo 1990 1991 1992 1993 1994

A 0 21.6 24.2 36.2 43.4 36.2

B 0 a 20% 14.5 10.8 9.6 3.6 3.6

C 20 a 40% 42.2 33.7 25.3 21.7 26.5

D 40 a 60% 16.9 22.9 20.5 15.7 21.7

E 60 a 80% 4.8 8.4 4.8 12.0 7.2

F > 80% 0.0 0.0 3.6 3.6 4.8

Gráfico 4.7 - Evolução da distribuição por intervalos

0 10 20 30 40 50

A

B

C

D

E

F

1994

1993

1992

1991

1990

162

Pode-se, portanto, concluir que as empresas portuguesas cotadas, salvo algumas

excepções, não têm adoptado uma política sistemática de distribuição de resultados. A

ideia, de que as sociedades listadas, ou não têm distribuído qualquer rendimento, ou o

têm feito em montantes muito reduzidos, pode igualmente ser analisada a partir da

relação entre o dividendo e a cotação de cada título, ou seja, o «dividend yield». No

anexo, apresentam-se os rendimentos em dividendos do universo de empresas

seleccionado. Em termos sectoriais, a evolução consta do quadro 4.22.

Quadro 4.22 - Rendibilidade líquida em dividendos (%)

CAE 1990 1991 1992 1993 1994

15 2.81 2.73 3.28 2.34 2.58

24 2.55 2.41 3.26 1.43 1.57

26 1.82 1.77 1.53 1.34 2.61

45 1.73 2.02 2.07 1.16 1.32

55 0.85 1.38 1.72 0.44 1.44

65 3.04 3.77 3.77 3.27 3.34

66 1.04 1.19 0.12 0.22 0.93

74 2.34 3.57 3.02 2.03 2.11

92 2.62 0.00 1.49 0.00 0.00

Restantes 1.85 2.10 2.80 1.31 0.97

A partir dos dados disponíveis, verifica-se um aumento da rendibilidade dos

dividendos, no período de 1990 a 1992. Contudo, o acréscimo do ano de 1992 resultou,

na sua esmagadora maioria, da queda das cotações, significando, portanto, que o ganho

obtido via dividendos foi perdido em termos de mais-valias.

Numa perspectiva histórica, o "dividend yield" do mercado português tem vindo a

evidenciar um tendência de queda, particularmente nos períodos mais recentes, o que,

como se referiu, é explicado parcialmente pela elevação geral das cotações. Todavia, é

igualmente visível uma quebra, em termos absolutos, do montante de dividendos pagos

pelas empresas. A conjuntura adversa nos anos de 1993 e 1994, ao afectar negativamente

as contas de exploração das empresas cotadas, será mais uma justificação para a queda

163

do valor dos resultados distribuídos nesses anos. Contudo, a situação geral do mercado

continua a ser caracterizada por uma quase ausência de políticas de dividendos estáveis e

continuadas, não podendo ser apenas explicada por aqueles factos.

Para avaliar da competitividade das políticas de dividendos das empresas cotadas,

interessará comparar, por um lado, a rendibilidade em dividendos com a taxa de inflação,

e, por outro lado, o investimento em acções com aplicações financeiras alternativas.

No que respeita à inflação, é fácil concluir que o investidor deverá considerar a

distribuição de resultados atractiva, sempre que os valores do rendimento em dividendos

excedam a média da taxa de inflação, ou, no mínimo, quando aqueles valores se

aproximem destes.

Comparando o «dividend yield» com a inflação, mesmo tendo presente a melhoria

verificada ao nível de qualquer destes indicadores, constata-se que a situação está

bastante distante de mercados mais evoluídos, como é o caso dos Estados Unidos, Japão e

mesmo Itália, onde a rendibilidade em dividendos tem sido, normalmente, superior em

60% à taxa de inflação.

Quadro 4.23 - Inflação e evolução da rendibilidade bruta do investimento

em valores mobiliários em Portugal (%)

1991 1992 1993 1994

Dividend Yield 4.5 3.6 2.8 2.2

Variação do Índice BVL -2.3 -11.2 55.0 8.3

Yield Gap em relação à

- Dívida Pública (taxa indexada) 13.3 12.6 9.2 9.0

- Dív. Pública (taxa fixa, a 5 anos) 11.3 9.3 6.2 9.6

Taxa de inflação (IPC) 11.4 8.9 6.5 5.2

Fonte: BPI e B. Portugal

Por outro lado, confrontando os rendimentos em dividendos com as remunerações

proporcionadas por outras aplicações, é evidente que, em regra, os investidores têm

164

contado, quase exclusivamente, com a expectativa de obtenção de mais-valias nos seus

investimentos.

Apesar de um elevado rendimento em dividendos poder apenas reflectir a descida

de cotações da respectiva sociedade, este indicador, ponderadas as causas da sua

evolução, pode ser interessante para analisar a rendibilidade total de cada acção e ajudar a

perspectivar o problema numa óptica fiscal.

Verificando-se que a remuneração das acções, via dividendos, não é importante, o

investidor tem vindo a encarar o seu rendimento total, como proveniente quase

exclusivamente, das mais-valias não incorporando, portanto, na rendibilidade esperada o

valor proporcionado pelos resultados distribuídos.

Se o objectivo for o de diagnosticar a situação, em termos das políticas de

dividendos normalmente praticadas pelas empresas cotadas, é possível falar de algum

enviesamento, dado parecer evidente a existência de uma política de retenção algo

excessiva. Estando a distribuição de resultados abaixo do nível de equilíbrio desejado

pelos investidores, e faltando um elevado grau de estabilidade, podem verificar-se

consequências negativas para o desenvolvimento de uma clientela individual alargada,

particularmente ao nível dos pequenos accionistas que, na ausência de dividendos,

poderão ver o rendimento das suas aplicações afectado.

Mesmo perante o referido, é evidente que qualquer política de dividendos deve

depender da situação específica de cada empresa, o que não impede a necessidade de um

maior equilíbrio entre a distribuição e a retenção de lucros. Uma maior agressividade,

estabilidade e coerência da política de dividendos, particularmente se for evidente a

continuação de uma forte concentração do capital, é essencial para o pequeno e anónimo

accionista. Estes aspectos podem passar, por exemplo, pela constituição de "reservas de

estabilização de dividendos". A este título, refira-se a atitude do Banco de Fomento e

165

Exterior, que anunciou no prospecto de apresentação da OPV de privatização, no final de

1994, a prossecução de uma «política competitiva, estável e continuada de dividendos»,

assente na «constituição de uma Reserva para a estabilização de dividendos

competitivos».

Será que a ausência de uma prática de política de dividendos activa, se deve à

política fiscal? Mesmo existindo algumas vozes a defenderem que «a dinamização do

mercado de títulos passa por uma intensificação da política de dividendos, de maneira a

que os accionistas sejam compensados pela aplicação das poupanças»22

, também há quem

considere que «a adopção de uma política agressiva de distribuição depende do Governo,

que terá de rever os seu objectivos fiscais para dinamizar o mercado»23

.

Sendo comum insistir-se no argumento, de que a política fiscal, em geral, e o

regime tributário das acções, em particular, são «um elemento essencial para o bom

funcionamento do mercado de capitais»24

, e não tem estimulado uma prática corrente de

distribuição de resultados, torna-se importante analisar o modo como tem evoluído a

tributação dos dividendos em Portugal.

4. A fiscalidade dos dividendos em Portugal

Como se referiu, um mercado de capitais desenvolvido aumenta a eficiência da

afectação do capital entre os diferentes sectores da economia, permitindo a reestruturação

e modernização empresarial, o crescimento da economia e do bem-estar social. Contudo,

o seu desenvolvimento e eficiência estão, também, dependentes do enquadramento fiscal

que defronta.

22

Palavras atribuídas, em 1991, a Elias da Costa, Secretário de Estado das Finanças, in Igreja [102, pp. 40-

42]. 23

Opinião de Jaime Lacerda, responsável pelo departamento de capitais da Confederação da Indústria

Portuguesa, in Igreja [op. cit., pp. 40-42]. 24

Palavras do Subsecretário de Estado do Orçamento, na sessão de abertura da 2º Conferência da APDMC,

realizada no Porto a 7 de Julho de 1993, sobre o tema "O Factor Fiscal no Mercado de Capitais".

166

Com a reforma em vigor25

a partir de 1 de Janeiro de 1989, alterou-se

profundamente o quadro fiscal português.

Os rendimentos em dividendos, obtidos por pessoas singulares titulares de acções,

são tributados em IRS por retenção na fonte, à taxa liberatória de 25%, conforme o

disposto no artigo 74º, 1, b), do Código do IRS. Todavia, o titular pode optar pelo seu

englobamento no rendimento colectável, sendo mesmo obrigatório fazê-lo, caso pretenda

beneficiar do regime de crédito de imposto, a que se refere o artigo 80º, 3, do Código do

IRS. Tratando-se de pessoas colectivas, com sede ou direcção efectiva em Portugal e que

prossigam uma actividade agrícola, industrial ou comercial, a tributação é feita em sede

de IRC, à taxa de 36%, no caso de residentes. Todavia, para as empresas cotadas em

Bolsa, bem como para as acções adquiridas em processo de privatização, os respectivos

dividendos contam, respectivamente, apenas por 80 e 60% para fins de IRS e de IRC.

Se os rendimentos forem obtidos por pessoas colectivas residentes, o englobamento

na matéria colectável é obrigatório, sendo possíveis três situações distintas:

- Participação inferior a 25% do capital e/ou titularidade por um período inferior a

dois anos;

- Participação igual ou superior a 25% do capital, mantida por dois anos, ou desde a

data da constituição;

- Participação igual ou superior a 90% do capital.

Tratando-se de sociedades por quotas, o lucro distribuído a pessoas singulares será

objecto de retenção na fonte, à taxa de 16% e obrigatoriamente englobado. Caso os

dividendos sejam atribuídos a sujeitos passivos de IRC, residentes, os rendimentos são

25

Esta reforma fiscal traduziu-se na substituição de um conjunto de impostos sobre várias fontes de

rendimento por um imposto único - o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC) e o

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS).

167

objecto de retenção na fonte, à taxa de 25%, que funciona como um pagamento por conta

para efeito de tributação à taxa de IRC.

No caso dos detentores do capital serem entidades não residentes, as taxas de

retenção são obrigatoriamente liberatórias. No quadro nº 4.24, sintetizam-se as taxas

liberatórias, para dividendos e mais-valias.

Quadro 4. 24 - Taxas liberatórias dos dividendos e mais-valias

IRS IRC

Residentes Não residentes Residentes Não residentes

Dividendos 25% 25% 36% 25%

Mais-valias 10% 10% 36% isenção

Quanto às mais-valias em valores mobiliários, com a introdução do IRC/IRS,

passaram a ser tributados os ganhos realizados, deduzidos das menos valias sofridas em

sede de IRS, e os realizados e não reinvestidos nas condições fixadas no artigo 18º do

Estatuto dos Benefícios Fiscais, para os sujeitos a IRC.

Relativamente à chamada questão da dupla tributação económica dos dividendos, a

que nos vamos referir mais detalhadamente no ponto seguinte, vem tratada no artigo 45º

do código do IRC, estando previstos mecanismos para atenuar ou eliminar a tributação

simultânea na sociedade e nos sócios, como sejam o crédito de imposto e os regimes

especiais de transparência fiscal e de tributação do lucro consolidado.

5. A dupla tributação económica dos dividendos em Portugal

Apesar de, na sua lógica, o imposto sobre as sociedades, a justificar-se, dever

apenas incidir sobre os resultados retidos pela empresa, verifica-se que a maioria dos

países tributa tanto os lucros distribuídos como os levados a reservas. Deste modo, ao

colectar tanto os lucros retidos como os dividendos, sendo estes também passíveis de

168

tributação em sede de imposto sobre o rendimento das pessoas físicas, ocorre que os

últimos ficam sujeitos a uma dupla tributação.

Esta, como refere Teixeira Ribeiro26

, «não o é à face da lei, na medida em que um

imposto incide sobre as sociedades e o outro recai sobre os sócios, mas é-o em termos

económicos». Estamos, então, perante o agravamento de tributação sobre os resultados

distribuídos pela empresa.

Todavia, existem autores27

que defendem a tributação da totalidade dos lucros,

argumentando que a sua não existência seria um elemento distorçor entre consumo e

investimento, em virtude dos resultados distribuídos serem utilizados pelos sócios em

consumo, enquanto os retidos se destinam ao investimento. Este sistema favoreceria,

como já se apontou, a não distribuição de lucros e, consequentemente, o

autofinanciamento das sociedades, podendo inserir-se nos objectivos da política fiscal.

Ainda em defesa desta perspectiva, argumenta-se, também, que as sociedades são

entidades institucional, social, jurídica e fiscalmente distintas dos sócios ou accionistas.

Para além destes, outros argumentos têm sido tradicionalmente apontados, no

sentido de incentivar a retenção de lucros e, consequentemente, de penalizar a carga

fiscal na distribuição de resultados. Os mais sublinhados são os que consideram que: as

empresas dispõem, por regra, de melhor informação que os particulares, para decidir a

realização de investimentos; os ganhos em mais-valias variam em situação inversa aos

dividendos, pelo que a tributação praticamente inexistente ou muito baixa sobre os

ganhos de capital reduz o impacto da penalização da distribuição de resultados; e as

empresas, a longo prazo, conseguem repercutir os impostos incidentes sobre os lucros.

26

TEIXEIRA RIBEIRO, J. J., Lições de Finanças Públicas, 4ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1991. 27

Veja-se, por exemplo, Ferreira [84], [85] e [86].

169

Mas a existência de dupla tributação económica em termos gravosos,

comparativamente com o tratamento mais favorável de outras formas de financiamento,

tem a desvantagem de levar a um endividamento crescente das empresas, dado que os

seus sócios serão tentados a não reforçar o capital das mesmas, preferindo o recurso ao

crédito, cujos juros não são tributados na sociedade e, para efeitos de determinação da

matéria colectável, são considerados custos do exercício. Assim, o agravamento, a que

estão sujeitos os lucros distribuídos pelas sociedades, tem vindo a ser fortemente

criticado. Tal condenação assenta no facto de ser um agravamento que, como refere

Teixeira Ribeiro28

, é injusto, pois traduz-se em desigualdades, e inconveniente, dado

discriminar a favor do endividamento da empresa.

Na análise de um sistema fiscal, uma das questões que desde logo se discute, é a de

saber se a base de incidência fiscal deve ser o rendimento ou o consumo. Apesar de ser

evidente que a opção pela base da despesa eliminaria o problema da dupla tributação

económica dos dividendos (na medida em que isso implicaria, em última instância, a

eliminação dos impostos directos sobre os rendimentos das famílias e das sociedades),

acontece que, na prática, encontramos o imposto sobre o rendimento.

Deste modo, no âmbito da tributação do rendimento, para além de se discutir o

problema da tributação, separada da sociedade e dos sócios ou da sua integração,

coloca-se, também, a questão de saber se se deve ou não eliminar ou atenuar a dupla

tributação económica dos dividendos e, no caso afirmativo, qual a solução técnica mais

adequada, tendo em conta os diversos condicionalismos e os objectivos a alcançar.

No regime tradicional ou clássico, a empresa paga impostos sobre os lucros totais,

não existindo distinção entre os lucros retidos e os distribuídos. Neste sistema, visto que

28

Teixeira Ribeiro [op. cit., pp. 281-282].

170

os sócios englobam integralmente os dividendos no seu rendimento colectável, os lucros

distribuídos estão sujeitos a uma dupla tributação económica pura. Este método vigorou

na maioria dos países, mas actualmente só é aplicado a uma minoria daqueles que

integram a União Europeia (UE) ou a OCDE. Contudo, ainda se encontra presente num

conjunto mais alargado de países menos desenvolvidos. Tal é justificado pela necessidade

de incentivar o autofinanciamento das empresas privadas.

Os principais sistemas para correcção da dupla tributação económica dos

dividendos são, segundo Pechman29

, os seguintes:

1º Regime de dedução dos dividendos recebidos: o accionista pode deduzir à

matéria colectável do seu imposto, todos ou uma percentagem dos dividendos

recebidos30

;

2º Regime de dedução dos dividendos pagos: a empresa tem a possibilidade de

deduzir, na sua matéria colectável, todos ou uma percentagem dos dividendos

distribuídos, aplicando-se a taxa de imposto sobre o rendimento das sociedades aos lucros

retidos. Este método tem o mérito de conferir, ao financiamento por capitais próprios, um

tratamento fiscal igual ou próximo (se a dedução não for a 100%) ao financiamento por

capitais alheios31

;

3º Regime das duas taxas ao nível da sociedade: a empresa é tributada por duas

taxas, uma mais elevada que incide sobre os lucros retidos e outra mais baixa para os

29

PECHAM, Joseph, Federal Tax Policy, 4ª ed., Studies of Government Finance, The Brookings

Institution, Washington, 1983. 30

Este método vigorou nos Estados Unidos entre 1954 e 1963, sendo permitido aos accionistas um crédito

de 4% para dividendos situados acima do limite de exclusão (U.S.$50). Dado evidenciar um regime

progressivo de compensação fiscal, foi revogado em 1963. 31

A sua aplicação nos E.U.A. foi fortemente criticada por penalizar os lucros não distribuídos e encorajar a

distribuição de lucros, o que reduzia a capacidade das empresas para reter resultados e para investir, tanto

mais que o mercado de capitais estava então adormecido (princípio dos anos 30). O método foi também

criticado por não encorajar o autofinanciamento.

171

lucros distribuídos. Este regime pode ter efeitos equivalentes ao método anterior,

encoraja a distribuição de lucros e reforça o mercado financeiro;

4º Regime de crédito de imposto: ao accionista permite-se a dedução à colecta do

seu imposto, todo ou uma percentagem do imposto efectivamente pago pela empresa

sobre os lucros distribuídos. Considera, então, que se verificou uma retenção na fonte, no

momento do pagamento do imposto pela sociedade, existindo, relativamente a este

método, algumas variantes32

;

5º Regime de exclusão de dividendos: neste método, os contribuintes podem

excluir todos ou parte dos dividendos recebidos do seu rendimento tributável,

corrigindo-se assim, e por completo, a dupla tributação;

6º Regime de integração total ou da transparência fiscal: os lucros, sejam ou não

distribuídos, são integrados a 100%, no rendimento colectável do accionista, pessoa

singular. Resulta, daqui, que o imposto sobre o rendimento das sociedades deixa de

existir ou subsiste por razões de ordem prática, associado a um crédito integral de

imposto. Este método tem como consequência a redução, ao mínimo, dos lucros retidos e

a distribuição de reservas, levando mesmo os accionistas ou sócios a desprezar o

autofinanciamento.

As formas técnicas de lidar com o problema da dupla tributação económica dos

dividendos, no âmbito dos sistemas fiscais, com referência aos países integrados na UE e

na OCDE, sintetizam-se no quadro nº 4.25.

32

O método do crédito do imposto conduz ao mesmo resultado que o regime de dedução dos dividendos

pagos, mas é possível que não incentive tanto a retenção de lucros. Esta vantagem torna este regime mais

atractivo apesar de, particularmente na variante utilizada em Portugal, "originar incomodidades de diversa

ordem e trabalho excessivo", Ferreira [op. cit.].

172

Quadro 4.25 - Regimes de dupla tributação de dividendos

REGIMES CARACTERÍSTICAS PAÍSES

Regime clássico Nenhuma atenuação da dupla tributação

económica de dividendos.

Bélgica, Luxemburgo,

Holanda, Suíça e E.U.A..

Regimes de atenuação

a) Ao nível da sociedade

Regime taxa múltipla Taxa reduzida sobre dividendos Alemanha e Japão.

Regime dedução parcial Dedução parcial sobre dividendos pagos. Islândia, Espanha e Suécia.

b) Ao nível dos sócios/accionistas

Regime imputação parcial Crédito parcial ao sócio/accionista pelo

imposto pago ao nível da sociedade.

França, Irlanda, Dinamarca,

Grã-Bretanha e Portugal.

Regime de dedução parcial Crédito parcial ao sócio/accionista residente. Áustria, Japão e Canadá.

Regimes de eliminação

a) Ao nível da sociedade Dedução da totalidade da tributação ou

tributação dos dividendos à taxa zero.

Grécia e Noruega.

b) Ao nível do sócio/accionista Crédito total ao sócio/accionista pelo

imposto que recaiu sobre os dividendos ao

nível da sociedade.

Austrália, Finlândia, Itália,

Nova Zelândia e Turquia.

Fonte: Cadilhe [47] e Gomes Santos [179].

Miguel Cadilhe [47] faz uma referência a oito regimes de correcção total ou parcial

da dupla tributação económica, o que se deve, no essencial, à explicitação de algumas

variantes aos regimes, apresentados anteriormente.

Em Portugal, até à Reforma Fiscal dos finais dos anos 80, o regime em vigor

comportava uma dupla tributação económica dos lucros das sociedades, quando

distribuídos aos sócios. Estava-se, portanto, no chamado regime clássico de integral dupla

tributação económica dos dividendos. Deste modo, para além da tributação dos lucros

distribuídos na sociedade (designadamente, em sede de Contribuição Industrial),

verificava-se, também, a sua tributação no sócio.

O sistema tributário de então, estimulava claramente a não distribuição de lucros,

sendo tal incentivo reforçado, se considerada a ausência de tributação das mais-valias

realizadas nas transmissões onerosas das participações sociais, e a não tributação das

reservas distribuídas aos sócios aquando da liquidação das sociedades. Pode, pois,

173

concluir-se que o autofinanciamento das sociedades era um dos objectivos importantes da

política fiscal subjacente aos códigos fiscais, desincentivando-se a distribuição.

Demonstra-se, assim, que a discriminação entre os lucros levados a reservas e os

distribuídos, tem sido uma tradição do sistema fiscal português, e era característica do

Código da Contribuição Industrial, que estabelecia um incentivo à retenção e ao

reinvestimento de lucros33

, por comparação com a distribuição de resultados.

Com a Reforma Fiscal de 1989, a dupla tributação económica dos dividendos

mereceu particular atenção por parte da Comissão de Reforma Fiscal. A solução que veio

a ser proposta, traduziu-se numa atenuação da referida dupla tributação, tendo,

principalmente, em consideração a necessidade de desenvolvimento do mercado

financeiro e a melhoria na afectação dos recursos.

De entre os vários sistemas de atenuação possíveis para a concretização daquele

objectivo, optou-se pelo regime do crédito parcial de imposto.

A solução preconizada teve em consideração uma proposta de directiva,

apresentada pela Comissão ao Conselho das Comunidades Europeias, revelando, desde

logo, preocupações quanto aos esforços em curso e quanto à harmonização dos sistemas

de imposto das sociedades e dos regimes de retenção na fonte, sobre os dividendos34

.

Actualmente, as tendências na UE, consagradas nas propostas da Comissão sobre

lucros e dividendos, vão no sentido de: proibir a retenção sobre dividendos pagos entre

33

Trata-se do incentivo clássico, estabelecido pelo artigo 44º do CCI e da Dedução de Lucros Retidos e

Reinvestidos (DLRR). 34

A este propósito refira-se que, foi no Relatório Newmark (1965) que, pela primeira vez, se enfrentou o

problema da dupla tributação económica dos dividendos. Neste relatório do Comité Fiscal e Financeiro

propôs-se um sistema de duas taxas diferentes para a tributação dos lucros distribuídos e não distribuídos,

prevendo-se uma taxa mais baixa para os resultados não retidos. Mais tarde, após outros estudos, a

Comissão veio a pronunciar-se a favor de um sistema comum de tributação ou crédito de imposto, tendo

apresentado ao Conselho uma proposta de directiva (1975), relativa à harmonização dos sistemas de

imposto de sociedades e dos regimes de retenção na fonte sobre dividendos. Este projecto de directiva,

dadas as divergências e a sua desactualização, foi retirado em 1990.

174

subsidiárias e casa-mãe, desde que ambas estejam sediadas no espaço comunitário;

atribuir um crédito de imposto para o caso dos dividendos, com isenção à empresa

receptora; obrigatoriedade de dedução nos lucros fiscais da casa-mãe de prejuízos em

sucursais ou subsidiárias, caso a participação seja superior a 75%, e desde que ambas

estejam sediadas na UE.

No que se refere à dupla tributação económica dos dividendos, coexistem na União

Europeia, três regimes de tributação das sociedades: o sistema clássico de dupla

tributação, em vigor na Holanda, no Luxemburgo e na Bélgica; o de eliminação total da

dupla tributação, na Alemanha, Grécia e Itália; e o de atenuação da dupla tributação

económica dos dividendos, nos restantes países, incluindo Portugal.

Para além destas divergências, sublinhe-se que nem todos os países concedem o

crédito de imposto aos não residentes, e outros só o fazem em determinadas

circunstâncias.

Na legislação fiscal portuguesa, o crédito parcial de imposto encontra-se

estabelecido no nº 3 do artigo 80º do Código do IRS:

«Os titulares de lucros colocados à disposição por pessoas colectivas, bem como dos

rendimentos resultantes da partilha em consequência da liquidação dessas entidades

que sejam qualificadas como rendimentos de capitais, terão direito a um crédito de

imposto de 60 por cento do IRC correspondente àqueles lucros, quando englobados.»

Por outro lado, nos termos do nº 2 do artigo 71º permite-se que:

«Ao montante apurado nos termos da alínea a) do número anterior serão efectuadas

as seguintes deduções, pela ordem por que vão indicadas:

a) A relativa à dupla tributação económica dos lucros distribuídos;

(...;)».

No nº 2 do artigo 72º do Código do IRC estabelece-se, para o crédito de imposto

relativo à dupla tributação económica dos dividendos, o seguinte:

«A dedução consiste num crédito de imposto de 60 por cento do IRC correspondente

aos lucros distribuídos.»

175

O referido crédito de imposto atinge os lucros distribuídos, tendo sido inicialmente

de apenas 20% e elevando-se actualmente, como se mencionou, a 60% do IRC35

.

Segundo Cadilhe [op. cit., pp. 15-16], foram três as razões, que fundamentaram a

opção feita relativamente a esta solução, para o crédito de imposto e atenuação da dupla

tributação económica: o processo de integração europeia; o alívio da dupla tributação

económica que, antes da entrada em vigor da Reforma Fiscal de 1989, era integral; e a

não discriminação contra os activos de risco, face aos depósitos a prazo.

Todavia, no caso de um accionista, pessoa singular, trata-se, como refere ainda

Cadilhe [47, p. 15], de uma taxa de crédito nominal, já que a taxa efectiva vem reduzida,

ou mesmo anulada, por efeito de certas condições, designadamente a opção ou não de

englobamento dos dividendos em IRS.

Nas sociedades por quotas, os sócios estão sujeitos obrigatoriamente, ao

englobamento dos lucros distribuídos, não beneficiando, portanto, da faculdade das taxas

liberatórias.

Todavia, têm sido colocadas algumas reservas a este método, podendo ser

sintetizadas do seguinte modo: dificuldades na sua aplicação, quanto ao cálculo do

crédito; dificuldades de compreensão dos contribuintes, de que se está perante um

método de atenuação da tributação, em virtude do montante do crédito começar por ser

adicionado aos rendimentos, logo e num primeiro momento aumenta o rendimento

colectável e pode mesmo levar a um salto de escalão; o crédito de imposto só funciona se

o contribuinte englobar os dividendos, renunciando à taxa liberatória; e, por último, a

modéstia do montante do crédito do imposto.

35

Refira-se, entretanto, que a percentagem do crédito de imposto foi aumentada para 35%, com referência

aos exercícios de 1991 e 1992, e para 50%, em relação aos de 1993 e 1994.

176

Relativamente aos sócios, pessoas colectivas, o Código do IRC prevê, no nº 1 do

artigo 45º, um regime especial de eliminação (quase) integral da dupla tributação

económica dos dividendos, ao estabelecer:

«1. Para efeitos da determinação do lucro tributável será deduzida uma importância

correspondente a 95% dos rendimentos, incluídos na base tributável, correspondentes

a lucros distribuídos por entidades com sede ou direcção efectiva em território

português, sujeitas e não isentas de IRC ou sujeitas ao imposto referido no artigo 6º,

nas quais o sujeito passivo detenha uma participação no capital não inferior a 25%, e

desde que esta tenha permanecido na sua titularidade durante dois anos consecutivos

ou desde a constituição da entidade participada, contando que neste último caso a

participação seja mantida durante aquele período.

2. O disposto no número anterior é aplicável, independentemente da percentagem de

participação e do prazo em que esta tenha permanecido na sua titularidade, aos

rendimentos de participações sociais em que tenham sido aplicadas as reservas

técnicas das sociedades de seguros e, bem assim, aos rendimentos das seguintes

sociedades:

a) Sociedades de capital de risco;

b) Sociedades de desenvolvimento regional;

c) Sociedades de fomento empresarial.

3. O disposto no nº 1 é igualmente aplicável às sociedades de participações sociais,

nos termos da respectiva legislação, bem como a outros tipos de sociedades, de

acordo com o estatuto dos benefícios fiscais.»

O referido no ponto um traduz-se no facto de o accionista não suportar dupla

tributação sobre 95% dos lucros distribuídos, quando detenha 25% ou mais do seu

capital, durante pelo menos dois anos.

Do mencionado em dois e três e dos artigos 27º e 28º do Estatuto dos Benefícios

Fiscais (EFB), conclui-se que, para o caso de seguradoras, das sociedades gestoras de

participações sociais, de capital de risco, de desenvolvimento regional, dos bancos de

investimentos, das sociedades de investimento e das financeiras de corretagem, a regra

dos 95% é aplicável, independentemente dos requisitos de dimensão e tempo de

participações.

177

A legislação fiscal portuguesa prevê, ainda, para um número restrito de casos, um

regime de integração total ou da pura transparência fiscal, fixado no nº 1 do artigo 5º do

Código do IRC:

«É imputado aos sócios, integrando-se, nos termos da legislação que for aplicável, no

seu rendimento tributável para efeitos de IRS ou IRC, consoante o caso, a matéria

colectável, determinada nos termos deste Código, das sociedades a seguir indicadas,

com sede ou direcção efectiva em território português, ainda que não tenha havido

distribuição de lucros:

a) Sociedades civis não constituídas sob forma comercial;

b) Sociedades de profissionais;

c) Sociedades de simples administração de bens, cuja maioria do capital social

pertença, directa ou indirectamente, durante mais de cento e oitenta e três dias do

exercício social, a um grupo familiar ou cujo capital social pertença, em qualquer dia

do exercício social, a um número de sócios não superior a cinco e nenhum deles seja

pessoa colectiva de direito público.»

Segundo este artigo, não há tributação a nível das pessoas colectivas, sendo os

resultados totalmente imputados aos sócios, independentemente de serem ou não

distribuídos. Como menciona o Código do IRC no seu preâmbulo, a adopção do regime

de transparência fiscal, que elimina integralmente a dupla tributação económica dos

dividendos, tinha como outros objectivos, a neutralidade e o combate à evasão fiscal.

No regime da transparência fiscal, tributam-se apenas os destinatários finais dos

rendimentos de algumas sociedades. Este foi criado na lei portuguesa para: as sociedades

de profissionais; as sociedades civis não constituídas sob a forma comercial; as

sociedades de simples administração de bens, cujo capital pertença a um grupo familiar; e

ainda, nos termos do estabelecido no nº 2 do artigo 5º, para os agrupamentos

complementares de empresas, e os agrupamentos europeus de interesse económico, o que

se traduz na não consideração, das sociedades de pessoas, como sujeitos passivos de

imposto sobre as sociedades. Teve, assim, como intenção originária, a de evitar o recurso

a formas societárias, apenas com o objectivo de reduzir a carga fiscal dos sócios. Mais

concretamente, visava o regime de transparência fiscal penalizar ou, pelo menos, não

178

favorecer aquelas sociedades, que poderiam eventualmente ser constituídas com o fim de

evitar ou reduzir a tributação nos sócios.

Todavia, se considerarmos a taxa mais elevada de IRS (40%), o argumento da

evasão fiscal não é totalmente válido, na medida em que a taxa de IRC somada com a

derrama lhe é equivalente.

Para além do combate à evasão fiscal, o regime de transparência fiscal visava,

ainda, a neutralidade fiscal e a eliminação da dupla tributação.

Contudo, este sistema pode levantar algumas dificuldades, designadamente as que

estão associadas ao estabelecimento das fronteiras.

A lei fiscal portuguesa, admite, ainda, a possibilidade de tributação pelo lucro

consolidado, estabelecendo o nº 1 do artigo 59º do Código do IRC o seguinte:

«Existindo um grupo de sociedades, a sociedade dominante poderá solicitar ao

Ministro das Finanças autorização para que o lucro tributável em IRC seja calculado

em conjunto para todas as sociedades do grupo mediante a consolidação dos

balanços e das demonstrações de resultados das sociedades que o integram.»

Este regime prevê a eliminação da dupla tributação económica dos dividendos no

caso dos grupos consolidados, desde que haja uma relação de domínio total, e mediante

autorização do Ministro das Finanças.

Pretende-se neste caso, atender ao problema da concentração empresarial, através

da existência de várias sociedades, evitando-se uma tributação em cascata dos

rendimentos do grupo.

Numa apreciação final, sublinhe-se desde já que a dupla tributação económica dos

lucros distribuídos é hoje menor, do que era antes da Reforma Fiscal e, como refere

Cadilhe[47, p. 17], "vigora um regime híbrido no que respeita ao tratamento da dupla

tributação económica dos dividendos", tal como se pode constatar no quadro nº 4.26.

179

Quadro 4.26 - Atenuação da dupla tributação dos dividendos em Portugal

1º Os accionistas são pessoas singulares

Regime mitigado de atenuação (método do crédito de imposto; "nominal" 50%, em 1993; "efectivo" menor, ou mesmo zero, se

optar pelo não englobamento). Temperado pelas taxas de 25%, 20%, 15% de retenção na fonte.

2º Os accionistas são sociedades quaisquer

Parte no capital social < 25% > 25% > 90% e domínio total

Tempo de titularidade

< 2 anos

> 2 anos

(a)

(a)

(a)

(b)

(c)

(c)

Em (a): regime mitigado de atenuação (método do crédito de imposto; "nominal" 60%, em 1995; "efectivo" bastante menor.

Em (b): regime de eliminação quase integral (dedução pelo sócio de 95% dos dividendos e dispensa de retenção na fonte).

Em (c): regime de consolidação (autorização, caso a caso, pelo MF; o IRC incide sobre o lucro consolidado).

3º Os accionistas são sociedades com estatutos especiais

Bancos de investimentos;

Sociedades de investimentos;

Seguradoras (reservas técnicas);

SGPS`s;

SCR`s;

SFE`s;

SDR`s;

Sociedades financeiras de corretagem.

Regime de eliminação integral [= (b) de 2º, mas sem exigências

quanto ao tempo e ao valor das participações]: dedução pelo

sócio de 95% dos dividendos e dispensa de retenção na fonte.

4º Os accionistas são obrigados à transparência fiscal

Sociedades civis sem forma comercial;

Sociedades de profissionais;

Sociedades de administração de bens (...);

ACE`s

AEIE`s

Regime de perfeita "transparência" fiscal (não tributação dos

lucros totais, mas apenas nos sócios, sejam ou não

distribuídos).

Fonte: Cadilhe [47, p. 18].

No sistema fiscal português, os dividendos têm a dupla tributação económica

atenuada ou eliminada, nos termos dos sistemas antes referidos, assumindo, recorde-se,

as seguintes formas:

1º Regime geral de crédito parcial de imposto: o crédito de imposto é atribuído

conjuntamente com os lucros distribuídos, sendo ambos submetidos ao imposto sobre o

rendimento das pessoas colectivas, contra o qual é dedutível aquele crédito de imposto;

2º Os seguintes três regimes especiais:

a) Regime da transparência fiscal: aplica-se a certas sociedades, o princípio da

desconsideração da personalidade jurídico-tributária;

180

b) Regime de dedução ao lucro tributável: permite-se a exclusão da base tributável

do IRC de 95% dos lucros distribuídos para algumas sociedades e em algumas

circunstâncias (requisitos de dimensão e tempo de participação);

c) Regime de tributação pelo lucro consolidado: trata-se de efectuar a tributação

pelo lucro consolidado, desde que superiormente autorizado, de empresas incluídas em

grupos económicos.

Estas soluções, com excepção da segunda e, eventualmente, da terceira,

traduzem-se numa atenuação da referida dupla tributação o que, segundo o relatório

técnico da Comissão da Reforma Fiscal, que acompanhou os códigos, teve em

consideração a necessidade de desenvolvimento do mercado financeiro e a melhoria na

afectação dos recursos.

Entretanto, é de realçar que Portugal celebrou, com outros países, acordos prevendo

mecanismos de eliminação da dupla tributação para os rendimentos obtidos por um

residente no outro Estado, consistindo, em regra, na dedução do imposto pago nesses

países. No quadro nº 4.27, apresentam-se as Convenções Sobre Dupla Tributação

celebradas por Portugal, no que se refere aos rendimentos em dividendos.

181

Quadro 4.27 - Convenções para evitar a dupla tributação dos rendimentos em dividendos

Países Diploma Taxas

Reino Unido DL 48797 de 24.7.68 10% a)

15% b)

Espanha DL 49223 de 4.9.69 10% c)

15% d)

Finlândia DL 494/70 de 23.10 10% a)

15% b)

Noruega Dl 504/70 de 27.10 10% a)

15% b)

Bélgica DL 619/70 de 17.12 15%

Áustria DL 70/71 de 8.3 15%

França DL 105/71 de 26.3 15%

Brasil DL 244/71 de 2.6 15%

Suíça DL 716/74 10% a)

15% b)

Itália Lei 10/82 de 1.6 15%

Alemanha Lei 12/82 de 3.9 15%

Moçambique Res. AR 36/92 de 3.11 15%

Irlanda Res. AR 29/94 de 24.6 15%

EUA Res. AR 39/95 de 12.10, e) 10% a)

15% b)

Notas:

a) Quando a sociedade controla 25% ou mais do capital social.

b) Em todos os outros casos.

c) Quando a sociedade controla 50% ou mais do capital social.

d) Em todos os outros casos.

e) Aguarda-se a troca dos instrumentos de ratificação.

Fonte: Direcção de Serviços dos Benefícios Fiscais

e Relações Fiscais Internacionais da DGCI

Todavia, permanece um regime de dupla tributação económica dos dividendos,

justificado com base nos seguintes argumentos:

- A tradição do sistema fiscal português e a importância do imposto sobre o

rendimento das sociedades, no plano da receita, tratando-se, como muito justamente

refere Xavier de Basto [31], da tendência para criar e conservar impostos que

proporcionam bom rendimento;

- É um estímulo ao investimento das empresas autofinanciadas por reservas, por

contraposição à propensão ao consumo da parte dos titulares dos rendimentos.

182

Todavia, a sua existência traduz-se, por outro lado, citando Cadilhe [47, p. 19], em

«menor eficiência global na afectação de recursos e de propiciamento de estratégias de

"bigness"» e na subalternização do papel e do desenvolvimento do mercado de capitais e

das bolsas de valores mobiliários», relativamente aos quais, políticas de dividendos

estáveis seriam relevantes. Cadilhe argumenta, ainda, que «Portugal não está afastado do

bom caminho nestas coisas da dupla tributação económica dos dividendos», sendo

mesmo possível reconhecer que o País está a «meio do bom caminho»36

. O antigo

Ministro das Finanças, responsável pela Reforma da Tributação do Rendimento sublinha,

também, que «não se foi tão longe, porventura, quanto se deveria ter ido na revisão do

tratamento fiscal desfavorável dos dividendos». Mais recentemente e no mesmo sentido,

pronunciou-se Daniel Bessa, actual Ministro da Economia, defendendo que «a dupla

tributação sobre os lucros das empresas (IRC) e sobre os dividendos (IRS), é

insustentável e terá que ser eliminada»37

.

Tais opiniões não recolhem, mesmo assim, o consenso, pois, como já se referiu,

existem autores que continuam a defender o regime clássico, parecendo outros privilegiar

sistemas de integração total.

De entre os que privilegiam o sistema clássico, ou seja, a separação entre impostos

sobre os rendimentos das sociedades e dos sócios, destaca-se Ferreira [83, 84, 85 e 86].

Este autor considera que não há «dupla tributação» dos dividendos e, a manter-se a

tendência para aliviar tal pseudodupla tributação, seria preferível fazê-lo a favor das

empresas e não da distribuição de lucros. Isto seria conseguido através da tributação não

das sociedades, mas dos titulares dos rendimentos. Aquele autor refere, também, que as

36

Cadilhe [47, p. 20]. 37

Citado nas "Notícias do Mês" da Nota Informativa da Bolsa de Valores de Lisboa, referente a Outubro

de 1995, p. 6.

183

empresas devem ser tributadas, «não como "fruidoras" de rendimentos, mas sim como

"produtoras"» e, dadas «a complexidade e tarefas que advêm da concessão de "créditos

de imposto", rateadamente, pelos "milhões" de sócios e accionistas das sociedades, seria

mais expedito e próprio baixar a tributação das sociedades». Questiona mesmo, «porque

não tributar antes as sociedades a uma taxa de 36,5% - x (i.e., a taxa de IRC menos o

crédito de imposto vezes a taxa de IRC)?»

Ferreira reforça a sua posição argumentando que o autofinanciamento, por lucros

retidos e reinvestidos, tem claras vantagens, dado permitir «colmatar as tradicionais

insuficiências das nossas empresas em capitais próprios».

Existem, também, outros autores a assumirem claramente uma posição a favor da

distribuição de resultados, versus retenção de lucros. Mais concretamente, Santos Silva

[187] propõe que «desapareça a discriminação entre o pagamento de juros e o pagamento

de dividendos, passando a tratar ambos como custos» ou, em alternativa, «exista um mais

eficiente sistema de crédito de imposto que impeça a dupla tributação dos dividendos»,

dado tratar-se de «um subsídio fiscal à utilização de endividamento em detrimento de

recurso a capitais próprios».

No mesmo sentido, pronuncia-se Carvalho Fernandes [81] ao afirmar que, face à

situação existente em Portugal, «o custo do financiamento por endividamento é mais

baixo que a alternativa de reforço de capitais próprios das empresas».

Por outro lado, Xavier de Basto [31, p. 12] considera necessário «aprofundar a

integração entre o imposto sobre as sociedades e o imposto de rendimento, caminhando

pois, no sentido da integração total». Esta perspectiva não se traduz na defesa da abolição

do imposto sobre o rendimento das sociedades, mas por uma evolução na fixação da taxa

do crédito de imposto. Este autor defende, também, a eliminação da taxa liberatória sobre

os dividendos, por constituir «a única solução aceitável no plano da igualdade».

184

De todo o modo, a divergência de opiniões, em termos teóricos, entre os vários

autores mantém-se.

Do ponto de vista dos gestores das empresas, a sua preocupação, na prática, é

também o problema da dupla tributação económica dos dividendos e ainda, a

remuneração do capital, tanto mais que um dos seus objectivos é o de saber como

proporcionar rendimentos aos sócios ou accionistas, de modo a que a sua carga fiscal seja

minimizada, para um dado nível de remuneração do capital. A manter-se uma dupla

tributação económica dos dividendos, esta pode conduzir a métodos não convencionais

de remuneração (despesas confidenciais, atribuição gratuita de acções por incorporação

de reservas, aquisição de acções próprias, etc.), que, em determinadas situações, sejam

mais vantajosos, relativamente a «políticas de dividendos anunciadas e claras» que

possam «atrair a poupança das famílias de modo duradouro, recolhendo deste modo o

capital necessário ao desenvolvimento do país e dos «grupos» de origem portuguesa»38

.

Numa óptica de eficiência global da economia, Miguel Cadilhe considera

pertinente que existam «sólidas, prudentes e competitivas políticas de dividendos».

Complementarmente, para os defensores destes argumentos, o «sistema fiscal deve

favorecer a distribuição» e a dupla tributação económica dos dividendos não deve

funcionar como um «anti-incentivo ou anti-estímulo» para o mercado de capitais39

.

Assim, mais do que criar incentivos, será importante eliminar os contra-incentivos fiscais

existentes. A defesa da eliminação da dupla tributação económica dos dividendos assenta

na ideia de se tornar necessário evitar a discriminação, a favor do financiamento por

capitais alheios, incentivando o financiamento por capitais próprios e a sua remuneração

38

Fernandes [81, p. 22]. 39

Miguel Cadilhe, na 1ª Conferência da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Mercado de

Capitais, realizada em Lisboa, no mês de Novembro de 1992.

185

via dividendos, o que passa, também, por acabar com a discriminação em vigor, entre

lucros reservados e distribuídos. Contudo, uma distribuição muito generosa de resultados

pode apresentar como consequência a diminuição da poupança nacional e conduzir a

estruturas financeiras das empresas mais debilitadas. Todavia, a distribuição de lucros

não pode deixar de ser equacionada pelos dirigentes, pois, como refere Silva Lopes40

,

«uma empresa que quer estar presente no mercado de capitais tem de distribuir lucros»41

.

6. Em síntese

A constatação, de que as bolsas de valores são indispensáveis a um financiamento

estável das empresas, é inquestionável. Consequentemente, torna-se improtelável o

desenvolvimento do mercado de capitais português. Apesar do regime fiscal vigente,

designadamente a existência de dupla tributação económica dos dividendos, ser um factor

negativo, a responsabilidade da situação actual deve ser, também, procurada a outros

níveis. Uma parte significativa das causas continua a estar do lado das empresas. A falta

de cultura empresarial e de postura bolsista são, ainda, evidentes em muitas das

sociedades cotadas. Por outro lado, a excessiva concentração de capital e a pequena

dimensão do mercado primário, o qual tem sido, quase exclusivamente, alimentado por

aumentos de capital das empresas já presentes no mercado, ajudam, também, a explicar

uma parte do problema. Estes factores reflectem-se, naturalmente, no mercado

secundário, que se tem caracterizado por falta de liquidez dos títulos e instabilidade das

cotações. Adicionalmente, assiste-se à fraca representatividade da actividade empresarial

e a alguma ineficiência do mercado, a que não são alheios os custos de transacção, a

fiscalidade e a qualidade e quantidade de informação disponibilizada.

40

Silva Lopes, "Comentários ao Estudo da Arthur Andersen", in O Factor Fiscal no Mercado de Capitais,

Cadernos APDMC 2, Fevereiro 1994, p. 17. 41

Silva Lopes refere mesmo que as sociedades devem distribuir 35% a 40% dos seus resultados.

186

No quadro descrito, as políticas de dividendos não deixam de ter alguma influência,

caindo-se, em regra, num outro círculo vicioso: não se distribuem resultados, porque não

há mercado de acções e este não existe, porque não se pagam dividendos. Todavia, é

visível uma prática tradicional de elevados índices de retenção, ocasionado, em parte,

pela atitude dos empresários e gestores, face ao mercado de capitais, mas, também, pela

ausência de neutralidade fiscal, ou seja, aquilo a que se tem chamado factores fiscais

negativos. Independentemente da total eliminação ou quase eliminação da assimetria

fiscal, entre as mais-valias e os dividendos, por um lado, e os juros e os dividendos, por

outro lado, parece ser necessário um maior equilíbrio entre a distribuição e a retenção.

Este facto é, particularmente, decisivo para os pequenos investidores, cujos rendimentos

em ganhos de capital são diminutos e excessivamente instáveis, em virtude da pequena

dimensão do mercado secundário. Parece, também, claro que «existe uma procura

agregada de dividendos não satisfeita pelas políticas habituais das empresas cotadas»42

.

Relativamente à dupla tributação, apesar de os seus efeitos terem sido atenuados,

através do crédito de imposto, não pode deixar de se lembrar, que a sua utilização

depende sempre da opção de englobamento dos rendimentos, o que leva à burocratização

do processo administrativo e não parece estar a ser muito utilizado. Neste sentido, parece

pertinente a sugestão de Ferreira [85, p. 33], de «baixar a tributação das sociedade».

A juntar a tudo o que foi dito, importa registar uma palavra para as entidades

públicas. Para além de um «quadro fiscal claro, coerente, estável e (onde possa sê-lo)

neutro»43

, a competitividade dos mercados de valores mobiliários passa, também, pela

ausência de intervenções dispensáveis e que sejam feitas ao arrepio das regras de

42

APDMC [op. cit, p. 64]. 43

APDMC, Manifesto da APDMC sobre o Mercado de Capitais - O que mudou em 1994, Janeiro 1995, p.

26.

187

mercado44

, sob pena de poder faltar um clima de confiança, indispensável ao bom

funcionamento do mercado.

Um outro aspecto, sobre qual as empresas não podem deixar de reflectir, tem a ver

com a prestação da informação adequada, para que o investidor elabore uma correcta

análise, quanto à situação económica e financeira de cada sociedade, que lhes permita

tomar decisões de investimento de forma fundamentada. Neste quadro, o Código do

MVM, através do seu artigo 342º, obriga as empresas com acções cotadas no MCO e no

Segundo Mercado, a elaborar e publicar no Boletim de Cotações da BVL, até trinta de

Setembro de cada ano, as suas demonstrações financeiras, relativas ao primeiro semestre.

Tomando, como exemplo, o caso concreto da antecipação de resultados, cuja divulgação

deve ser incluída na informação semestral, não deixam de se evidenciar alguns problemas

sobre a razoabilidade dessas previsões. Olhando para os desvios verificados, entre os

valores previstos para os resultados líquidos e os alcançados, conforme quadro nº 4.28,

constata-se que o número de empresas que divulga esses valores decresceu até 1993. Por

outro lado, a quantidade de sociedades, cujo grau de erro é superior a 100%, tem vindo a

crescer, enquanto, no caso de um grau de erro inferior a 5%, a situação é a inversa.

Quadro nº 4.28 - Desvio entre previsões e resultados líquidos: Empresas no MCO

Ano Empresas com

previsões (%)

Variações

Positivas (%)

Variações

Negativas (%)

Erro < 5%

(%)

Erro > 100%

(%)

1991 75,7 48,72 52,28 18,0 7,7

1992 75,0 45,33 54,67 16,0 12,0

1993 70,5 61,29 38,71 14,5 20,0

1994 84,6 67,27 32,73 12,7 23,6

Fonte: BVL

44

Dois exemplos, ainda na memória dos investidores e demais intervenientes no mercado, são a recusa da

primeira oferta pública de aquisição do BCP sobre o BPA e a interpretação autêntica do decreto de

privatização do Banco Totta.

188

O aumento da racionalidade económica, nas decisões de distribuição de resultados,

passa, também, pela divulgação de perspectivas mais realistas, de modo a que a imagem

da própria empresa não seja afectada, e se crie uma atitude de desconfiança, face a

futuras informações divulgadas pela empresa. Parecendo os gestores estarem conscientes

do chamado conteúdo informativo da política de dividendos, é essencial que haja

credibilidade na sua evolução, passando, também, por uma melhoria da qualidade da

informação.

189

CAPÍTULO 5

A PERSPECTIVA DOS GESTORES SOBRE A POLÍTICA DE

DIVIDENDOS: O CASO DAS EMPRESAS COTADAS E DAS PME

PRESTÍGIO

1. Introdução

Alguns dos estudos efectuados, já referidos em capítulos anteriores, sustentaram o

argumento de MM sobre a não relevância dos dividendos, enquanto outros se inclinaram

para a tese que defende os efeitos negativos da distribuição de resultados sobre o valor da

empresa. Contudo, dado que persistiam dúvidas sobre a perspectiva dos gestores, foram,

também, efectuadas algumas investigações, centrando o problema na descrição das

políticas de dividendos, na prática, a partir da percepção dos dirigentes das empresas.

Apesar de não ser muito frequente a utilização de inquéritos directos juntos dos

administradores das empresas, em virtude dos problemas de fiabilidade com as respostas,

são de assinalar dois estudos realizados, um nos Estados Unidos e outro para o caso

australiano.

Em 1985, Baker, Farrelly e Edelman1 efectuaram um inquérito junto dos gestores

financeiros de quinhentas e sessenta e duas empresas listadas na NYSE, com o objectivo

de testar o modelo de Lintner e confirmar as suas conclusões. Mais concretamente,

procuravam, por um lado, verificar se os factores que, segundo o estudo daquele

investigador, influenciavam as políticas de dividendos das empresas, ainda eram válidos

1 BAKER, H. Kent, FARRELLY, G. E. e EDELMAN, R. B., "A Survey of Management Views on

Dividend Policy", Financial Management, 14(3), October 1985, pp. 78-84.

190

e, por outro lado, analisar os efeitos clientela e de sinalização e a importância do sector de

actividade.

A partir das respostas obtidas para o questionário enviado, sugeriram que as

principais determinantes da política de dividendos continuavam a ser as identificadas por

Lintner, particularmente a da estabilidade dos dividendos. Complementarmente,

concluíram que, para os gestores, o preço das acções era afectado pela política de

dividendos e, por isso, tinham em atenção os efeitos clientela e de sinalização. No quadro

nº 5.1, apresenta-se uma síntese dos resultados obtidos.

Quadro 5.1 - Nível de importância dos principais factores determinantes para a política de

dividendos

Factor Fraco Médio Alto Ordem Sector

Antecipação dos lucros futuros 3.4%

1.8%

1.8%

6.8%

14%

7.9%

89.8%

84.2%

90.3%

1

1

1

Indust.

Com.

S. publ.

Dividendos passados 6.1%

1.8%

2.6%

29.3%

29.8%

25.5%

64.6%

68.4%

71.9%

2

2

3

Indust.

Com.

S. publ.

Liquidez 14.3%

22.8%

21.2%

22.4%

21.1%

34.5%

63.3%

56.1%

44.3%

3

3

4

Indust.

Com.

S. publ.

Efeito favorável sobre as cotações 13.6%

15.8%

3.5%

44.2%

28.1

22.8%

42.2%

56.1%

73.7%

4

3

2

Indust.

Com.

S. publ.

Fonte: Baker, Farrelly e Edelman [23, p. 79].

A taxa de resposta, em termos globais, foi de 56.6%, sendo, sectorialmente a

aderência de 76% para as empresas de serviço público, de 47.6% para as industriais e de

55.3% no caso das comerciais. A taxa de distribuição de resultados média, calculada a

partir dos dados recolhidos, foi, para o ano de 1981, respectivamente de 70.3%, 36.6% e

36.1%.

Ainda, no que diz respeito a este estudo, sublinhe-se que somente 6.16% dos

gestores financeiros de sociedades industriais, 5.36% dos de firmas comerciais e 5.26%

191

dos das empresas de serviço público, se manifestaram de acordo com a afirmação:

«investors are basically indiferent between returns from dividends versus those from

capital gains»2. Este é, como vimos, um argumento essencial na tese de Miller e

Modigliani.

Quanto à importância dos sectores de actividade, o inquérito evidenciou algumas

diferenças de opinião, entre os gestores das sociedades industriais e comerciais e os das

empresas de serviço público, particularmente quanto à taxa de distribuição, o que, na

opinião dos autores, seria devido à situação de regulamentação, a que as últimas estavam

sujeitas.

Um outro estudo, conduzido em 1985 por Partintgton3, procurou analisar a

motivação das empresas para pagarem dividendos, a partir de uma amostra de oitenta e

quatro empresas australianas cotadas. No quadro nº 5.2, encontram-se sintetizados os

resultados obtidos

Quadro nº 5.2 - Razões para o pagamento de dividendos

Percentagem de respostas

Ordem Motivos Sem

importância

Pouco ou algo

importante

Muito

importante

1 Satisfazer as necessidades de rendimento dos

accionistas

8.7%

20.6%

70.6%

2 Manter a lealdade dos accionistas 3.3% 33.7% 63.1%

3 Suportar ou aumentar as cotações 7.6% 38% 54.4%

4 Sinalizar a rendibilidade futura esperada 15.6% 37.8% 46.7%

5 Facilitar a obtenção de capitais externos no

futuro

18.7%

38.5%

42.9%

6 Ausência de oportunidades de investimento

aceitáveis

92.1%

5.6%

2.2%

7 Excesso de liquidez 94.4% 5.6% 0.0%

Fonte: Malecot [138 p. 16].

2 Baker, Farrelly e Edelman [op. cit., p. 81].

3 PARTINGTON, G. H., "Dividend Policy and its Relationship to Investment and Financing Policies:

Empirical Evidence", Journal of Business, Finance and Accounting, 12(4), 1985, pp. 531-542, citado em

Malecot [138].

192

Na sequência deste e outros trabalhos sobre o mesmo assunto, Partington efectuou

em 19894, um inquérito, tendo como alvo os gestores financeiros de cento cinquenta e

duas empresas incluídas na Sidney Stock Exchange Industrial List, obtendo uma taxa de

resposta de 61.2%. A análise efectuada, no mesmo sentido de Lintner e das conclusões

anteriormente obtidas, sugeriu que os dividendos são determinados numa base não

residual, e as empresas distribuem resultados para satisfazer os seus accionistas, sustentar

as cotações e sinalizar os resultados futuros esperados. Relativamente aos principais

factores, determinantes da decisão de distribuição de resultados, concluiu que eram a

rendibilidade, a liquidez e a estabilidade dos dividendos.

Quanto ao enquadramento fiscal dos accionistas, os resultados obtidos permitiram

verificar que apenas 17.2% dos inquiridos o consideravam como importante ou muito

importante, enquanto 20.7% e 51.7% dos gestores, respectivamente, lhe atribuíam pouca

ou nenhuma importância.

2. A perspectiva dos gestores portugueses sobre a política de dividendos

2.1. Caracterização da amostra seleccionada

Dadas as características do nosso mercado, parece verificar-se a não existência de

condições objectivas para um trabalho de investigação sobre as relações existentes entre a

política de dividendos e o valor da empresa, num contexto de «extensos mercados a

funcionar adequadamente»5. Assim, para além de não estarem criadas as condições para a

realização de um estudo empírico desta natureza, também não seria fácil analisar

4 PARTINGTON, G. H. "Variables Influencing Dividend Policy in Australia: Survey Results", Journal of

Business Finance & Accounting, 16(2), Spring 1989, pp. 165-182. 5 Brealey e Myers [40, p. 11].

193

comparativamente as conclusões, que viessem a ser obtidas com as evidenciadas por

outros mercados, já estudados com profundidade.

Visto haver, também, interesse em analisar a política de dividendos na perspectiva

dos gestores, considerou-se possível avançar com um estudo, na mesma linha do de

Baker et al., para a realidade portuguesa. Antes de mais, o inquérito foi entendido como

um meio de acesso à realidade, que se pretendia analisar e dar a conhecer, apesar da

existência de problemas de fiabilidade.

O universo a inquirir foi, desde logo, identificado como sendo o das sociedades

com títulos admitidos à cotação no Mercado de Cotações Oficiais (MCO) da Bolsa de

Valores de Lisboa, em 31 de Março de 1995. Complementarmente, considerou-se,

também, interessante analisar o universo de sociedades, potencialmente candidatas à

listagem6. Seleccionaram-se, assim, as PME Prestígio 947, em virtude da sua importância

no tecido empresarial português8.

6 Adicionalmente, relembra-se, o Segundo Mercado está vocacionado para empresas de menor dimensão e

de âmbito local, não inseridas em grupos económicos. Por outro lado, como já se referiu, este mercado

caracteriza-se por um menor grau de exigibilidade, designadamente quanto às condições de admissão e de

subsquente permanência no mercado, quanto à informação a prestar e, ainda, quanto aos custos da

admissão e manutenção no mercado. 7 As condições de acesso ao Estatuto PME Prestígio em 1994, eram, para as empresas candidatas à sua

atribuição, as seguintes: i) Pertencerem aos sectores extractivo, transformador ou comercial; ii)

Apresentarem um volume de negócios superior a 250.000 contos; iii) Possuirem um activo líquido superior

a 250.000 contos; iv) Terem resultados positivos; e v) Possuirem autonomia financeira superior a 35%. 8 Sublinhe-se ainda que, a partir de um inquérito levado a efeito pelo Instituto de Apoio às Pequenas e

Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI), junto das pequenas sociedades distinguidas com o prémio

PME Prestígio, era possível constatar o número crescente dessas empresas (35.2%, em 1994, e 39.8%, em

1995), a manifestar o interesse em abrir o seu capital, através do Segundo Mercado. Todavia, era

igualmente vísivel a preocupação quanto às consequências negativas dessa abertura do capital, sendo de

realçar os factores referidos no quadro seguinte:

Factores negativos da abertura de capital (% de respostas)

Factores 1994 1995

Exigências sobre a prestação de informação 43.3% 48.7%

Risco de perda do controlo accionista 43% 42.1%

Pressão para distribuição de resultados 46.8% 41.2%

Fonte: IAPMEI

194

Em virtude de, no que diz respeito às empresas cotadas no MCO da Bolsa de

Valores de Lisboa, já termos procedido à sua caracterização no capítulo anterior,

limitamo-nos, agora, a examinar o universo e a amostra seleccionada das pequenas e

médias empresas (quadros nº 5.3 a 5.5).

Quadro 5.3 - Caracterização do universo das PME Prestígio

Ano 1991 1992 1993 1994

Nº de empresas 187 381 457 607

Forma júridica

- Soc. anónimas 16.1% 21.3% 23.9% 26.4%

- Soc. por quotas 83.4% 78.7% 75.3% 72.9%

- Outras 0.5% - 0.8% 0.7%

Repartição sectorial

- Indústria 80.2% 84% 82.3% 88.6%

- Outros 19.8% 16% 17.7% 11.4%

Volume de negócios médio(*) 837 980 1.042 1129

Activo líquido médio(*) 735 876 896 993

Imobilizado líquido médio(*) 348 408 391 450

Capitais próprios(*) 420 479 480 519

Resultado líquido médio(*) 49 34 30 30

Cash Flow(*) - 100 106 119

Autonomia financeira 57% 55% 54% 52%

Rendib. dos capitais próprios 12% 7% 6% 6%

* Unidade: milhares de contos

Fonte: IAPMEI e BNU

A amostra de cem empresas, seleccionada, e cuja identificação consta do anexo V,

ponderou, primeiro, a representação sectorial e, depois, as características da estrutura de

capital, tendo-se recorrido ao rácio de autonomia financeira9.

Quadro 5.4 - Caracterização da amostra de PME Prestígio seleccionada

Soc. anónimas Soc. por quotas Indústria Comércio

26% 74% 81% 19%

9 Para o efeito, consideraram-se as empresas que, no âmbito de cada sector, apresentavam um rácio de

autonomia financeira, dado pela relação capitais próprios/activo total, superior a 55%.

195

Quadro 5.5 - Caracterização sectorial do universo e da amostra

CAE Sector Nº total de

empresas

Nº empresas

inquiridas

%

2 Extractivas 12 3 25.0

6 Comércio 85 19 22.4

31 Alimentação, bebidas e tabaco 38 8 21.1

32 Têxteis, vestuário e couro 107 22 20.6

33 Madeira e cortiça 26 6 23.1

34 Papel, artes gráficas e edição de publicações 25 5 20.0

35 Indústria química 47 10 21.3

36 Minerais não metálicos 39 8 20.5

37 Metalurgia de base 8 2 25.0

38 Metalomecânica, equip. e mat. transporte 83 16 19.3

39 Outras indústrias transformadoras 6 1 16.7

Fonte: IAPMEI

2.2. Concepção do inquérito e linhas gerais de orientação

Após a selecção das duas amostras a inquirir, punha-se o problema de concepção

da modalidade de inquérito que iria servir de suporte ao estudo a efectuar. Dado o

número de empresas escolhido e a sua dispersão geográfica, colocou-se, desde logo, de

parte a possibilidade do inquérito se desenrolar sob a forma de entrevista personalizada.

Optou-se, portanto, por um questionário de resposta escrita, o que, apesar de não ser a

solução desejada, permitia manter alguma distância, face ao universo a estudar e,

consequentemente, utilizar critérios uniformes de auscultação dos inquiridos.

Quanto à concepção do questionário, houve preocupações com critérios de

simplicidade de leitura, de rapidez de resposta e de facilidade de manuseamento.

Organizou-se sob a forma de perguntas, em sistema de resposta fechada com escolha

múltipla. Assim, o preenchimento de quadrículas com um "X", no lugar correspondente à

alternativa, que identificasse o sentido de opinião do inquirido, seria suficiente para

preencher o essencial do inquérito.

O inquérito utilizado para recolha de informação compreendia quadro secções:

196

A. Caracterização do inquirido: era pedida a identificação sectorial da empresa, em

que o subscritor das respostas desenvolve a sua actividade, funções por ele

desempenhadas na organização e o controlo societário;

B. Factores utilizados pela empresa, na definição da sua política de dividendos:

apresentava-se uma lista de quinze factores, sendo os inquiridos convidados a indicar,

numa escala de zero a quatro (0=sem importância até 4=determinante), em que medida

cada um deles influenciava a decisão de distribuição;

C. Afirmações relacionadas com a política de dividendos em geral: incluía-se uma

relação de dezoito afirmações, sugerindo-se aos subscritores que mencionassem numa

escala (de menos três, caso discordassem em absoluto, até mais três, se tivessem absoluta

concordância), o seu grau de acordo ou desacordo, relativamente a cada uma delas;

D. Informações sobre a empresa: solicitavam-se dados quantitativos sobre os

valores para o capital social, capitais próprios, lucros líquidos, resultados distribuídos,

operações financeiras realizadas e formas de distribuição geralmente praticadas. Foi,

ainda, considerado oportuno introduzir um campo, para que pudesse ser manifestado o

ponto de vista, caso isso fosse desejado. Complementarmente, o questionário incluía uma

outra zona para recolha de dados, relacionados com informações quantitativas sobre o

capital social e os resultados antes de impostos, líquidos e distribuídos, para o período

compreendido entre 1985 e 1994.

Quanto ao envio, entendeu-se identificar como destinatário do inquérito, o

Presidente do Conselho de Administração ou a Gerência, apesar de se admitir,

implicitamente, a selecção de outra pessoa. Assim, na perspectiva de que em alguns

casos seriam outros a fazê-lo, solicitava-se a sua identificação funcional.

197

No que diz respeito à configuração do questionário, pedia-se aos inquiridos a

observação dos esquemas de resposta propostos, de molde a ser possível apreender

correctamente a tendência geral existente.

Apesar de parecer que o resultado final evidenciava equilíbrio, não deixou de se

recolher os comentários e as sugestões de pessoas mais experientes na matéria.

O questionário foi remetido, por correio, a todas as empresas listadas no Mercado

de Cotações Oficiais da BVL, durante a segunda metade do mês de Maio de 1995. No

caso das PME Prestígio, procedeu-se ao seu envio, no decurso da primeira quinzena de

Junho do mesmo ano. Com a selecção destas datas, pretendia-se evitar que a recepção dos

inquéritos ocorresse em período estival, procurando-se assim, reduzir a probabilidade de

insucesso. Adicionalmente, foi desenvolvido um esforço paralelo de relembrar a todos os

destinatários o interesse na auscultação da resposta.

A réplica do questionário de inquérito encontra-se no anexo IV, sendo a sua leitura

útil para uma melhor compreensão dos resultados.

2.3. Apresentação e discussão dos resultados do inquérito

A caracterização, para as empresas listadas no MCO da BVL, do universo, do perfil

do subscritor das respostas ao inquérito e do controlo accionista, apresentam-se nos

quadros nº 5.6, 5.8 e 5.10.

A taxa de resposta foi de, respectivamente, 44,58% para as sociedades cotadas e de

20% para as pequenas e médias empresas.

Sectorialmente, verificou-se que, no caso do Mercado de Cotações Oficiais, as

sociedades dos sectores de actividade económica (CAE) «fabricação de têxteis»,

«fabricação de pasta, de papel e cartão», «indústrias metalúrgicas de base», «fabricação

de outro material de transporte», «comércio por grosso e agentes do comércio»,

198

«alojamento e restauração», «transportes por água», «actividades auxiliares dos

transportes; agentes de viagens e de turismo» e «actividades recreativas, culturais e

desportivas», não deram qualquer resposta, enquanto as das CAE «indústrias do tabaco»,

«fabricação de produtos químicos», «fabricação de máquinas e aparelhos eléctricos«,

«fabricação de veículos automóveis e reboques», «correios e telecomunicações»,

«actividades imobiliárias» e «actividades informáticas e conexas» apresentaram uma taxa

de adesão de 100%. Nas restantes, a percentagem de respostas situou-se entre os 25% e

55%.

Relativamente às PME Prestígio, apenas as empresas dos sectores «extractivas» e

«papel, artes gráficas e edição de publicações» se abstiveram de responder, sendo que só

a CAE «outras indústrias transformadoras» evidenciou uma taxa de resposta de 100%.

Nos outros, a taxa de adesão situou-se entre os 10% e 50%.

199

Quadro 5.6 - Caracterização do universo de inquiridos e do universo de respostas - MCO

CAE Universo inquirido Nº de respostas %

15 4 1 25%

16 1 1 100%

17 1 0 0%

21 2 0 0%

24 3 3 100%

26 6 3 50%

27 2 0 0%

31 2 2 100%

34 1 1 100%

35 1 0 0%

45 6 3 50%

51 1 0 0%

55 3 0 0%

61 1 1 0%

63 1 0 0%

64 1 1 100%

65 20 11 55%

66 6 2 33.33%

70 2 2 100%

72 1 1 100%

74 15 5 33.33%

92 3 0 0%

TOTAL 83 37 44.58%

No que concerne às PME Prestígio, a caracterização sectorial do universo inquirido

é visível no quadro nº 5.7.

Quadro 5.7 - Caracterização sectorial da amostra - PME Prestígio

CAE Nº de respostas % respostas

2 0 0%

6 4 21.05%

31 2 25%

32 3 13.64%

33 2 33.33%

34 0 0%

35 1 10%

36 3 37.5%

37 1 50%

38 3 18.75%

39 1 100%

Total 20 20%

200

Quanto à qualificação profissional do subscritor, é evidente que as opiniões foram,

em larga medida, emitidas por gestores de topo. Contudo, no caso das pequenas e médias

empresas, os subgrupos "Director Financeiro" e "Técnico de Contas", desempenharam

um papel importante.

Quadro 5.8 - Funções desempenhadas pelo subscritor das respostas ao questionário -

MCO

P. Cons. Adm. Administrador Director Geral Dir. Financeiro Outras

Número 3 15 4 5 10

Percentagem 8.11% 40.54% 10.81% 13.51% 27.03%

Quadro 5.9 - Funções desempenhadas pelo subscritor das respostas ao questionário -

PME

P. Cons. Adm. Adm./Gerente Dir. Financeiro T. de Contas Outras

Número 2 5 6 6 1

Percentagem 10% 25% 30% 30% 5%

Em relação ao tipo de sociedades aderentes ao inquérito, os respectivos dados

constam do quadro nº 5.10, sendo evidente que a maioria das empresas se enquadram no

sector privado.

Quadro n 5.10 - Controlo accionista e societário

Cotadas PME

Público Privado Público Privado

Quantidade 2 35 - 20

Percentagem 5.41% 94.59% - 100%

Das oitenta e três empresas cotadas questionadas, deram resposta 44.58%. No

universo das PME Prestígio, a taxa de adesão foi de apenas 20%. Considerando estes

aspectos e o peso relativo de cada sector na estrutura de cada amostra, parece lícito,

assim, concluir que existe uma representatividade satisfatória.

201

No quadro nº 5.11, apresentam-se as estatísticas para os factores, utilizados pelas

empresas na definição das suas políticas de dividendos, estando a ordenação efectuada

em função da média. Um outro objectivo do inquérito era o de investigar a percepção dos

gestores, face a alguns aspectos gerais das políticas de distribuição de resultados das

empresas. Os resultados encontram-se evidenciados, separadamente para as duas

amostras, nos quadros nº 5.12 e 5.13.

Quadro 5.11 - Factores utilizados pela empresa na definição da sua política de dividendos

A - Empresas cotadas

Nº FACTORES Nível de Importância

Fraco Médio Alto Média Ordem D. Padrão

11. Estabilidade dos dividendos 2.9% 20.0% 77.1% 2.875 1 0.994

13. Consideração da preferência dos accionistas

por dividendos

13.9% 19.4% 66.7% 2.80 2 1.786

12. Capacidade de endividamento 25.0% 22.2% 52.8% 2.375 3 1.254

8. Disponibilidade de fundos (Liquidez) 22.2% 27.8% 50.0% 2.35 4 1.167

3. Estabilidade de resultados 14.7% 41.2% 44.1% 2.325 5 1.047

9. Dividendos passados (padrão) 15.2% 24.2% 60.6% 2.25 6 1.256

7. Impacto favorável sobre a cotação das

acções

17.1% 37.2% 45.7% 2.20 7 1.043

10. Preferência por retenção de lucros c/o fonte

financiamento

22.9% 40.0% 37.1% 2.125 8 0.996

2. Oportunidades lucrativas de investimento e

perspectivas de crescimento

23.5% 38.2% 38.3% 2.075 9 1.118

15. Rácio-objectivo de distribuição de lucros 20.0% 42.9% 37.1% 2.025 10 0.999

6. Tratamentos fiscais de dividendos versus

mais valias realizadas em acções

38.2% 26.5% 35.3% 1.90 11 1.277

5. Sector de actividade em que a empresa se

insere

38.7% 29.0% 32.3% 1.625 12 1.334

4. Importância e volume de acções na posse de

gestores e grupos de controlo

51.4% 17.2% 31.4% 1.45 13 1.319

1. Antecipação de lucros futuros esperados 58.8% 17.7% 23.5% 1.30 14 1.344

14. Restrições legais e contratuais (p. ex.

pagamento obrigatório de dividendos)

55.9% 20.6% 23.5% 1.275 15 1.377

202

Quadro 5.11 - Factores utilizados pela empresa na definição da sua política de dividendos

(continuação)

B. PME Prestígio

Nº FACTORES Nível de Importância

Fraco Médio Alto Média Ordem D. Padrão

10. Preferência por retenção de lucros c/o fonte

financiamento

0.0% 15.8% 84.2% 3.263 1 0.733

8. Disponibilidade de fundos 10.5% 10.5% 79.0% 2.842 2 1.015

2. Oportunidades lucrativas de investimento e

perspectivas de crescimento

10.5% 15.8% 73.7% 2.789 3 1.032

3. Estabilidade de resultados 10.5% 26.3% 63.2% 2.579 4 1.121

12. Capacidade de endividamento 26.3% 5.3% 68.4% 2.474 5 1.264

5. Sector de actividade em que a empresa se

insere

26.3% 26.3% 47.4% 2.105 6 1.197

6. Tratamentos fiscais de dividendos versus

mais valias realizadas em acções

26.3% 31.6% 42.1% 2.053 7 1.311

11. Estabilidade dos dividendos 31.6% 26.3% 42.1% 2.053 8 1.129

13. Consideração da preferência dos

accionistas/sócios por dividendos

31.6% 31.6% 36.8% 1.947 9 1.026

7. Impacto favorável sobre o valor das

acções/quotas

42.1% 10.5% 47.4% 1.842 10 1.500

9. Dividendos passados (padrão) 36.8% 31.6% 31.6% 1.789 11 1.084

14. Restrições legais e contratuais (p. ex.

pagamento obrigatório de dividendos)

47.4% 31.6% 21.0% 1.526 12 1.219

15. Rácio-objectivo de distribuição de lucros 47.4% 31.6% 21.0% 1.526 13 1.073

4. Importância da participação no capital de

gestores/grupos de controlo

52.6% 31.6% 15.8% 1.316 14 1.250

1. Antecipação de lucros futuros esperados 73.7% 10.5% 15.8% 0.895 15 1.150

203

Quadro 5.12 - Afirmações relacionadas com as políticas de dividendos das

empresas em geral - Empresas cotadas

AFIRMAÇÕES Desacordo 0 Acordo Média Ordem D. Padrão

4. As razões para uma alteração na política de dividendos

devem ser adequadamente explicadas aos accionistas.

0% 0% 100.0% 2.6 1 0.709

17. As empresas devem esforçar-se por manter sem

interrupção o pagamento de dividendos.

15.8% 5.3% 78.9% 2.15 2 1.167

14. O pagamento de dividendos proporciona um "sinal"

sobre o futuro da empresa.

15.8% 5.3% 78.9% 1.35 3 1.388

6. Os gestores devem respeitar as preferências dos

accionistas por dividendos.

21.0% 5.3% 73.7% 1.275 4 1.783

1. O rácio de distribuição de resultados afecta o valor de

mercado da empresa.

21.1% 26.3% 52.6% 1.250 5 1.463

3. As empresas devem ter um rácio-objectivo de

distribuição de resultados e periodicamente ajustar o seu

rácio de distribuição a esse objectivo.

10.5% 0.0% 89.5% 1.125 6 1.727

5. O mercado utiliza a divulgação sobre dividendos como

informação para a avaliação do valor das acções.

5.3% 10.5% 84.2% 1.1 7 1.707

16. Os investidores são atraídos pelas empresas que têm

políticas de dividendos adequadas ao enquadramento

fiscal próprio.

5.3% 10.5% 84.2% 1.1 8 1.317

7. Os investidores têm uma percepção diferente do grau

de risco relativamente aos dividendos e aos lucros

retidos.

15.8% 10.5% 73.7% 0.875 9 1.652

10. As empresas devem evitar alterações no rácio de

distribuição de resultados que não possam manter nos

anos seguintes.

31.6% 0.0% 68.4% 0.8 10 1.742

15. As mais valias esperadas a partir de lucros retidos

têm maior risco do que os dividendos previstos.

26.3% 26.3% 47.4% 0.7 11 1.558

2. As necessidades de financiamento do plano de

investimentos das empresas têm pouca influência na

alteração do padrão de comportamento em matéria de

dividendos.

52.6% 10.5% 36.9% 0.1 12 1.736

13. As decisões de financiamento devem ser

independentes da política de dividendos.

47.4% 5.3% 47.4% 0.1 13 2.01

12. Os accionistas situados nos escalões de rendimento

tributável menos elevados preferem investir em empresas

com elevadas remunerações por dividendos.

21.0% 5.3% 73.7% 0.05 14 1.797

9. Uma alteração no rácio de distribuição resultados é

mais importante do que o nível de dividendos

anunciados.

31.6% 21.0% 47.4% -0.475 15 1.724

18. Os investidores são indiferentes entre a remuneração

por dividendos e os ganhos de capital.

57.9% 15.8% 26.3% -0.475 16 1.826

11. Os accionistas situados nos escalões de imposto mais

elevados preferem investir em empresas com baixas

remunerações por dividendos.

52.7% 10.5% 36.8% -0.85 17 1.733

8. A distribuição de lucros deve ser vista como um

resíduo após o financiamento dos investimentos

seleccionáveis, a partir dos lucros retidos.

26.3% 0.0% 73.7% -0.975 18 1.776

204

Quadro 5.13 - Afirmações relacionadas com as políticas de dividendos das

empresas em geral - PME Prestígio AFIRMAÇÕES Desacordo 0 Acordo Média Ordem D. Padrão

4. As razões para uma alteração na política de dividendos

devem ser adequadamente explicadas aos accionistas

(sócios).

0.0% 0.0% 100.0% 2.579 1 0.607

5. O mercado utiliza a divulgação sobre dividendos como

informação para a avaliação do valor das acções (quotas).

16.7% 2.8% 80.5% 1.526 2 1.264

3. As empresas devem ter um rácio-objectivo de

distribuição de resultados e periodicamente ajustar o seu

rácio de distribuição a esse objectivo.

16.7% 8.3% 75.0% 1.474 3 1.073

12. Os accionistas (sócios) situados nos escalões de

rendimento tributável menos elevados preferem investir

em empresas com elevadas remunerações por

dividendos.

37.1% 14.3% 48.6% 1.316 4 1.734

16. Os investidores são atraídos pelas empresas que têm

políticas de dividendos adequadas ao enquadramento

fiscal próprio.

8.3% 16.7% 75.0% 1.316 5 1.003

17. As empresas devem esforçar-se por manter sem

interrupção o pagamento de dividendos.

2.8% 5.5% 91.7% 1.263 6 1.447

8. A distribuição de lucros deve ser vista como um

resíduo após o financiamento dos investimentos

seleccionáveis, a partir dos lucros retidos.

75.0% 2.8% 22.2% 1.158 7 1.772

7. Os investidores têm uma percepção diferente do grau

de risco relativamente aos dividendos e aos lucros

retidos.

20.0% 8.6% 71.4% 1.000 8 1.333

14. O pagamento de dividendos proporciona um "sinal"

sobre o futuro da empresa.

8.3% 2.8% 88.9% 0.947 9 1.682

10. As empresas devem evitar alterações no rácio de

distribuição de resultados que não possam manter nos

anos seguintes.

33.3% 2.8% 63.9% 0.895 10 1.969

1. O rácio de distribuição de resultados afecta o valor de

mercado da empresa.

13.9% 0.0% 86.1% 0.842 11 1.425

6. Os gestores devem respeitar as preferências dos

accionistas (sócios) por dividendos.

19.4% 0.0% 80.6% 0.684 12 1.857

9. Uma alteração no rácio de distribuição resultados é

mais importante do que o nível de dividendos

anunciados.

66.7% 8.3% 25.0% 0.368 13 1.535

15. As mais valias esperadas a partir de lucros retidos

têm maior risco do que os dividendos previstos.

22.9% 14.3% 62.8% 0.211 14 1.182

13. As decisões de financiamento devem ser

independentes da política de dividendos.

48.6% 2.9% 48.5% -0.053 15 1.747

2. As necessidades de financiamento do plano de

investimentos das empresas têm pouca influência na

alteração do padrão de comportamento em matéria de

dividendos.

50.0% 0.0% 50.0% -0.263 16 1.759

11. Os accionistas (sócios) situados nos escalões de

imposto mais elevados preferem investir em empresas

com baixas remunerações por dividendos.

55.6% 22.2% 22.2% -0.526 17 2.038

205

18. Os investidores são indiferentes entre a remuneração

por dividendos e os ganhos de capital.

63.9% 2.8% 33.3% -0.684 18 1.857

Como se constata, no caso das empresas cotadas, os factores mais significativos são

a estabilidade dos dividendos e a satisfação dos accionistas. Seguidamente, surgem a

capacidade de endividamento, a liquidez e a rendibilidade. Comparando estes resultados

com os obtidos por Lintner em meados dos anos cinquenta, parece evidente que a

importância relativa do factor «objectivos a longo prazo para os rácios de distribuição de

resultados», apesar de ter algum peso na determinação da política de dividendos, é uma

variável bem menos importante para os gestores das empresas portugueses. Já no que se

refere à maior importância das alterações dos dividendos, relativamente aos seus níveis

absolutos, e dessas modificações seguirem a lógica de longo prazo dos lucros

sustentáveis, são factores que têm alguma importância, mesmo não sendo absolutamente

relevantes.

Para além do apontado, é interessante sublinhar o facto de os gestores terem

alguma convicção do efeito da política de distribuição de resultados sobre o valor de

mercado dos capitais próprios. É, igualmente, significativo registar o modo como os

dirigentes olham para o conteúdo informativo dos dividendos e para o efeito clientela

fiscal. Tanto um como outro parecem ser considerados por estes como essenciais na

definição das políticas de dividendos em geral.

Tomando, agora, por referência as pequenas e médias empresas, sobressai, desde

logo, o peso da retenção de resultados como fonte de financiamento. Ainda neste sentido,

parece visível que a política de dividendos é, muitas vezes, determinada numa base

residual, ou seja, as oportunidades de investimento e as perspectivas de crescimento

condicionam a forma de afectação dos resultados, apesar de se reconhecer, também, que

as empresa devem definir um rácio-objectivo de distribuição e esforçar-se por manter o

pagamento de dividendos sem interrupção. Complementarmente, é de assinalar o menor

206

significado relativo da fiscalidade dos dividendos e das mais valias, no modo de afectar

os resultados das PME, o que, na sequência da grande relevância da retenção de lucros,

pode sugerir a utilização de formas não convencionais para remunerar os investidores.

Sublinhe-se a interesse que existe, tanto nas sociedades cotadas como nas pequenas

e médias empresas, de explicar adequadamente as alterações nas políticas de dividendos,

podendo isso ser associado à relutância em aumentar os resultados distribuídos, sempre

que possam ser reversíveis. No caso das firmas presentes no MCO, é também visível a

importância de factores relacionados com os efeitos sinalização e clientela fiscal, bem

como com a estabilidade.

Comparando os resultados obtidos para as empresas presentes no MCO da bolsa de

valores, com as conclusões de Baker et al. e de Partington, verifica-se que apenas 26.3%

dos gestores estão de acordo com a afirmação, de que os dividendos e as mais valias são

substitutos perfeitos.

Quanto à influência do sector de actividade, é um factor que, no caso das empresas

listadas no MCO, não apresenta influência relevante, contrariamente ao que se passa no

universo das pequenas e médias empresas, onde surge como o sexto factor (quadro nº

5.11). Para além dos resultados apurados, é interessante registar a opinião de um dos

inquiridos, quando refere a impossibilidade de responder ao questionário, dado o facto de

a sua «actividade não se enquadrar na área que se pretende investigar». Todavia, não

deixa de louvar e incentivar a iniciativa, «aprofundando o estudo da política de

dividendos, que, realmente, tão carecido se encontra, de quem a ela se dedica».

No caso das PME, é, igualmente, significativo o enquadramento fiscal do

investidor, o mesmo não acontecendo com o efeito sinalização. Para além deste último

factor, outros, como são caso dos que se relacionam com a estabilidade dos dividendos,

207

da satisfação dos investidores e da sustentação do valor de mercado das empresas,

também não apresentam significado relevante.

Na questão relacionada com as modalidades de política de dividendos mais

utilizadas pelas empresas, verificou-se que, no caso das cotadas, doze delas utilizavam a

aquisição de acções próprias, e seis o desdobramento e as acções gratuitas, como meio de

distribuir resultados. Nenhuma recorria aos dividendos em existências. Das PME que

respondem, apenas uma se referiu à recompra de acções, sendo visível que a afectação de

resultados passava muito pela retenção. De modo explícito, dois dos inquiridos

apontaram a hipótese de distribuição de resultados sob outras formas (por exemplo,

gratificações). Todavia, no caso das restantes empresas e dada a maneira como

respondiam (ou melhor, como o não faziam), ficava a pairar no ar o uso de modalidades

de distribuição não convencionais.

A última questão do inquérito era formulada sob a forma de uma pergunta de

carácter aberto, com resposta facultativa, interrogando: "Deseja concretizar algum

raciocínio, opinião, sugestão ou quaisquer considerandos sobre o tema tratado ou sobre o

presente inquérito?".

Foram recebidas apenas duas respostas, o que parece demonstrar a razoabilidade do

modelo de questionário utilizado. Uma delas levantava o problema do «perfil do

accionista sobre a óptica do investidor institucional vs especulador», enquanto a outra

aludia às características da respectiva política de distribuição de resultados, sublinhando

que a empresa pretendia apresentar «dividendos crescentes, tendo criado um fundo de

estabilização». Relativamente à única crítica apontada, trata-se, naturalmente, de uma

crítica injusta, pois, como se fazia notar na carta que acompanhava o inquérito, era

evidente o objectivo de «aprofundar o estudo da perspectiva dos gestores sobre a política

de dividendos».

208

Para além das indicações já obtidas, procuraram-se, ainda, identificar os factores

mais significativos na definição das políticas de dividendos, recorrendo-se a um conjunto

de técnicas estatísticas designadas de análise factorial, cujo objectivo é representar o

número de variáveis originais a partir de novas variáveis hipotéticas, em número mais

reduzido do que as contidas no conjunto inicial, sem perda de informação significativa.

Tendo em vista examinar as relações existentes entre as variáveis, de modo a

identificar subconjuntos que, no interior de cada um deles, incluísse aquelas que estão

correlacionadas entre si, mas pouco associadas às que se integram noutros subgrupos,

recorremos ao método das componentes principais. Procura-se, assim, identificar novas

variáveis, bem como quantificar a medida de contribuição de cada um desses factores,

para explicação do comportamento dos gestores, em matéria de política de dividendos.

As componentes principais estão calculadas por ordem decrescente de importância,

quanto à variância explicada relativamente aos dados originais. Por outro lado, tendo em

vista a maximização da variação entre os pesos de cada uma delas, utilizou-se o método

Varimax para efectuar a sua rotação, o que permitiu encontrar um novo conjunto de pesos

das variáveis, sem alterar a proporção da variância explicada por cada uma dessas

componentes principais. Após ter sido estimada a matriz de correlações entre as variáveis

iniciais, foi testada a sua validade através dos testes de Bartlett e Kaiser-Meyer-Olkin

(KMO).

Com vista a determinar o número de factores necessários para representar os dados

iniciais das empresas cotadas, foram extraídas cinco componentes principais,

verificando-se que cerca de 67% da variância total é explicada por esses factores. No

quadro nº 5.14, evidenciam-se as variáveis que apresentam correlação positiva com a

política de dividendos.

209

Quadro 5.14 - Componentes principais da política de dividendos das empresas no MCO

Factores % da variância

explicada

1. Sinalizar rendibilidade futura, suportar cotações e fiscalidade

Antecipação de lucros futuros esperados.

Restrições legais e contratuais.

Oportunidades de investimento e perspectivas de crescimento.

Fiscalidade dos dividendos e das mais valias.

Impacto favorável sobre as cotações.

26.5

.69786

.61629

.72432

.66567

.74609

2. Rendibilidade, sector de actividade e concentração do capital

Estabilidade dos resultados.

Acções na posse dos gestores e grupos de controlo.

Sector de actividade.

13.5

.73984

.54413

.78776

3. Objectivos de longo prazo para o rácio de distribuição

Estabilidade dos dividendos.

Rácio-objectivo de distribuição.

Padrão de dividendos passados.

11.1

.56257

.66298

.80743

4. Facilidade de acesso ao mercado de capitais

Capacidade de endividamento.

Liquidez.

8.5

.84860

.89630

5. Estrutura financeira

Autofinanciamento.

7.5

.83232

Teste KMO = .50031 Teste de Bartlett = 202.4987, significância = 0

Os resultados obtidos sugerem que os gestores das empresas cotadas determinam a

respectiva política de dividendos numa base residual, apesar de evidenciarem

preocupações com a sinalização da rendibilidade futura esperada, a sustentação de

cotações e os aspectos fiscais. Adicionalmente, parecem estar preocupados com a

estabilidade dos dividendos e alterações, que possam ser reversíveis e, ainda, com a

prática corrente no sector, em que se insere a empresa. No entanto, sobressai, também, a

importância relativa da quantidade de títulos na posse dos gestores e grupos de controlo,

o que pode estar associado ao grau de concentração do capital. Finalmente, consta-se que

a facilidade de obtenção de capitais externos no futuro, também condiciona a política de

distribuição de resultados.

210

Para as PME Prestígio, verifica-se que cerca de 76% da variância total é explicada

pelos quatro factores extraídos. Da análise dos dados obtidos, observa-se que aqueles

factores evidenciam correlação positiva com diferentes variáveis. (quadro nº 5.15).

Quadro 5.15 - Componentes principais da política de dividendos das pequenas e médias

empresas

Factores % da variância

explicada

1. Estabilidade, rendibilidade e valor da empresa

Estabilidade dos dividendos.

Estabilidade dos resultados.

Sector de actividade.

Impacto sobre o valor da empresa.

Liquidez.

Padrão de dividendos passados.

43.4

.83682

.84532

.83119

.54089

.57009

.65483

2. Não interpretado

Capacidade de endividamento.

Preferência dos investidores por dividendos.

Restrições legais e contratuais.

Rácio-objectivo de distribuição.

Títulos na posse dos gestores e grupos de controlo.

Fiscalidade dos dividendos e mais valias.

15.1

.57140

.76602

.75497

.71338

.71876

.77811

3. Rendibilidade Futura

Antecipação dos lucros futuros esperados.

Oportunidades de investimento e perspectivas de crescimento.

Liquidez.

9.8

.72557

.83154

.53164

4. Estrutura financeira

Autofinanciamento

Padrão de dividendos passados

8.1

.82354

.62301

Teste KMO = .53677 Teste de Bartlett = 197.9597, significância = 0

Estes dados indicam, numa primeira análise, que existem diferenças claras entre as

condicionantes da política de dividendos nas pequenas e médias e nas grandes empresas.

Por outro lado, é evidente a maior dificuldade em identificar os factores determinantes

das políticas de distribuição no primeiro conjunto de sociedades, surgindo mesmo alguns

sinais contraditórios. Repare-se, por exemplo, que o factor um inclui as variáveis

estabilidade dos dividendos e a sustentação do valor da empresa, não parecendo

211

ajustar-se à realidade destas empresas, tanto mais que, na sua maioria, não se encontram

presentes no mercado de capitais. Todavia, a contradição pode ser, apenas, aparente, caso

se adopte uma visão mais alargada da política de remuneração dos capitais investidos, na

qual os dividendos parecem ser apenas uma pequena parte. De qualquer modo, surgem,

de novo, sinais de preferência pelo autofinanciamento das oportunidades de investimento

e pelo reforço da estrutura financeira.

Quanto à apreciação da parte C do inquérito, referente à política de dividendos das

empresas em geral, a análise factorial desenvolvida chegou a resultados que, avaliados

pelos diferentes testes de validação das relações existentes entre as diferentes afirmações,

devem ser considerados inaceitáveis, não se procedendo, por isso, à sua interpretação.

3. Uma nota final

Antes de mais, convém recordar as principais limitações de um inquérito desta

natureza. Primeiro, e apesar das medidas tomadas, o número de não respostas é típico

deste tipo de estudos. Segundo, mesmo tendo sido dirigido à Administração ou à

Gerência, num número ainda relativamente elevado de empresas, foram o Director

Financeiro e outros quadros a responder, e estes não são os únicos intervenientes no

processo de tomada de decisões nesta matéria. Finalmente, houve alguns sectores de

actividade, particularmente no caso das empresas listadas, que não foram inquiridos.

Apesar de tudo, não deixa de ser possível tirar algumas ilações. Primeiro, os

resultados mostram alguma similitude com as conclusões obtidas por Lintner, em 1956.

Sublinhe-se, por exemplo, a preocupação existente, em matéria de continuidade da

política de dividendos, mesmo não sendo evidente como é que se reflecte, na prática, tal

preocupação. Por outro lado, os inquiridos parecem acreditar que os dividendos afectam o

valor da empresa, apesar de não se compreenderem exactamente as razões. Assim,

212

sugere-se que as empresas têm em consideração os efeitos clientela e de sinalização.

Finalmente, não são nítidos os efeitos do sector de actividade na política de dividendos.

Associando esta vertente da análise com a efectuada no capítulo anterior, parece ser

possível sustentar que a política de distribuição de resultados das empresas portuguesas

tem, ainda, um carácter marginal e que atende bastante às condições legais e fiscais a que

a mesma e os investidores estão sujeitos. Por outro lado, apesar de se verificar que muitos

gestores parecem estar conscientes do chamado conteúdo informativo, nem sempre a

prática passa por uma política de dividendos caracterizada por uma grande credibilidade

na sua evolução, sendo visível que algumas empresas a terão usado como um sinal que

não correspondia às perspectivas de evolução da rendibilidade.

213

CONCLUSÕES

Neste capítulo final, pretende-se resumir as conclusões, emitidas ao longo deste

trabalho, procurando diagnosticar a situação actual e esboçar o estado da arte sobre a

problemática da política de dividendos.

O primeiro objectivo era o de investigar as relações existentes entre as políticas de

distribuição das empresas e o seu valor, tendo presente, designadamente os diversos

estudos empíricos levados a efeito. Procurou-se, portanto, efectuar o ponto da situação

em termos científicos, confrontando as diferentes perspectivas existentes. O outro

objectivo, agora para o caso de Portugal, era o de analisar o comportamento das

empresas, em matéria da política de dividendos e a perspectiva dos gestores, quanto aos

factores que condicionam as suas decisões de afectação de resultados.

Quanto ao primeiro aspecto, analisou-se a literatura relevante sobre a problemática,

tendo em vista confrontar as diferentes perspectivas existentes surgidas ao longo de trinta

anos de debate.

Numa primeira fase, particularmente por parte dos práticos, argumentou-se que a

política de dividendos era relevante para os investidores avaliarem o preço das acções.

Foi neste quadro, que Graham e Dodd fizeram a primeira tentativa de formalização das

relações existentes entre os dividendos e o valor da empresa, tendo outros investigadores,

como Walter e Gordon, trazido contribuições teóricas adicionais.

Em 1961, num contexto de mercados perfeitos, Miller e Modigliani concluem pela

irrelevância da política de dividendos para o valor de mercado dos capitais próprios.

214

Nestas circunstâncias não se colocava o problema de uma política óptima de dividendos,

dado qualquer política ser tão boa como qualquer outra.

Perante a tese da não relevância, a escola defensora da teoria mais vale um pássaro

na mão, considerou que a sua validade só existia no mundo idealizado por MM.

Sustentava, portanto, a importância da distribuição de resultados sobre o valor de

mercado dos capitais próprios, dado permitir reduzir a incerteza dos investidores.

Contudo, como foi sublinhado por Merton Miller e Franco Modigliani, a sua posição não

ignorava o risco, assumindo-se, apenas, mercados eficientes e políticas de investimento e

endividamento constantes.

No final da primeira década de debate, não existiam significativas discordâncias

teóricas com a tese de MM sobre a não relevância da política de dividendos. Como foi

demonstrado, por exemplo por Brennan1, o argumento que considera que os investidores

correm um risco menor quando a empresa lhes paga dividendos imediatamente, em vez

de os reter e voltar a investir na esperança de distribuir lucros mais elevados no futuro,

está a referir-se às mudanças da política de investimentos, e não da política de

distribuição de resultados.

Todavia, a realidade era caracterizada por imperfeições e ineficiências. Tornava-se,

então, necessário procurar as razões de ser das importâncias consideráveis, que as

sociedades pagavam aos seus accionistas e da natureza do seu impacto sobre o valor da

empresa, na existência de imperfeições nos mercados financeiros.

Dentre as correntes, cuja explicação para a distribuição de resultados se baseava em

mercados não perfeitos, destacou-se aquela que relevava o efeito da fiscalidade. Os

defensores das teses desta escola (Elton e Gruber, Brennan, Litzenberger e Ramaswamy,

1 BRENNAN, M. J., "A Note on Irrelevance and Gordon Valuation Model", Journal of Finance, 26,

December 1971, pp. 1115-1122, citado por Brealey e Myers [40, p. 382].

215

entre outros) argumentavam que, devido à assimetria fiscal entre os dividendos e as mais

valias, existiam clientelas fiscais, em virtude dos investidores, na presença da distribuição

de lucros, exigirem uma rendibilidade antes de impostos, tanto mais elevada quanto

maior fosse o rendimento em dividendos, como forma de compensarem a existência de

impostos menos elevados sobre os ganhos de capital. Assim, sempre que sobre os lucros

distribuídos existissem impostos mais elevados do que sobre as mais valias, os

dividendos deveriam ser os mais baixos possíveis. Nestas circunstâncias, os investidores

pagariam mais pelos títulos com menores taxas de distribuição. Todavia, apesar de se

reconhecer o efeito dos impostos, não deixaram de surgir críticas a esta perspectiva

(Black, Miller e Scholes). Estas assentavam na ideia, de que uma estratégia de

constituição de carteiras, apenas com base no factor fiscal, conduziria, primeiro, à sua

menor diversificação e, depois, à possibilidade de a rendibilidade adicional obtida por

essa via acabar por ser eliminada pelo aumento do risco da carteira. Complementarmente,

os estudos empíricos continuam a evidenciar resultados contraditórios, pelo que o efeito

clientela se mantém controverso.

Contrariamente aos argumentos avançados pela escola designada de esquerda

radical, apareceram, também, justificações para o pagamento de dividendos, avançadas,

por exemplo, por Bhattacharya, Miller e Rock, e John e Williams, com base na ideia, de

que os dirigentes estariam mais bem informados do que os investidores, sobre o futuro da

empresa. Dada a assimetria de informação, a teoria dos sinais tentou formalizar as

condições de equilíbrio do mercado, e verificar se a política de dividendos poderia ser

utilizada como um meio de transmitir para o mercado a perspectiva dos gestores sobre os

resultados futuros esperados. A investigação empírica permitiu concluir que a

distribuição de resultados era utilizada como sinal financeiro, para informar o mercado

sobre as verdadeiras qualidades das empresas. Contudo, apesar do efeito informativo ser

216

evidente, não existe consenso sobre as informações fornecidas, nem sobre a relação

existente entre elas e o valor da empresa.

Um outro quadro de análise prende-se com o desejo dos accionistas controlarem a

gestão da empresa, particularmente quando existe uma separação entre a propriedade e a

gestão, recorrendo a restrições financeiras. Neste contexto, a política de dividendos surge

como modo de limitar os excedentes de liquidez à disposição dos dirigentes e de os

submeter ao poder dos accionistas, no momento dos aumentos de capital, evitando, assim,

conflitos potenciais entre administradores e investidores. As explicações, no âmbito da

teoria da agência, sustentadas, entre outros, por Rozeff e Easterbrook, são

particularmente visíveis nas empresas do tipo «managerial», parecendo a investigação

empírica mostrar que os dividendos, no caso dos accionistas, são mais um instrumento de

poder do que uma fonte de riqueza.

Finalmente, as explicações comportamentais para a distribuição de resultados em

dinheiro (Shefrin e Statman), assumem que os dividendos e as mais valias não são

substitutos perfeitos e, por razões fiscais ou outras, os investidores preferem rendimentos

do primeiro tipo, em virtude de serem mais seguros e de não estarem disponíveis para

reproduzir dividendos em casa.

Tendo presente a diversa investigação empírica, cujo início remonta aos anos

sessenta, e a existência de mercados não perfeitos, não foi, ainda, possível chegar a

conclusões definitivas sobre a relevância ou não, da política de dividendos. A relação de

causalidade entre as variáveis financeiras referidas, após mais de trinta anos de aceso

debate, está por estabelecer, pelo que se continua a saber pouco sobre este tema. Parece,

todavia, que cada uma das diferentes explicações avançadas contém uma parte da

verdade. Assim, apesar de serem parcialmente concorrentes, também serão parcialmente

complementares.

217

A segunda parte deste trabalho foi dedicada à análise da problemática da

distribuição de resultados em Portugal.

Começou-se por uma breve análise do mercado de capitais, tendo sobressaído a

ideia, de que o mercado de acções, ainda, se encontra num estado relativamente pouco

desenvolvido, comparativamente a outros países europeus. Medindo, em 1994, a sua

capitalização em percentagem do PIB, constata-se que a situação era equivalente à da

Itália (17,7%). Contudo, a distância relativamente à Espanha (32,1%), França (34,0%) e

Bélgica (36,9%), por exemplo, não deixa de ser assinalável. Para além da pequena

dimensão, o nosso mercado evidencia, também, uma elevada concentração bolsista,

independentemente do indicador escolhido para a análise. Olhando para o controle das

empresas, a realidade é caracterizada por um pequeno número de grandes grupos com

participações cruzadas e uma elevada quantidade de pequenas e médias empresas, cuja

propriedade é geralmente familiar ou de um proprietário maioritário.

A estagnação do mercado primário e o incumprimento dos objectivos de

desenvolvimento estabelecidos para o processo de privatizações, são, também, factores

que ajudam a explicar a situação existente. A poupança das famílias continua a ser

canalizada, sobretudo, através do sistema bancário, sendo ainda evidente que o maior

volume das acções cotadas se encontra nas mãos de poucos investidores.

Quanto à política de dividendos das empresas portuguesas, tem sido caracterizada

por elevados índices de retenção, justificada pela atitude dos empresários e gestores face

ao mercado de capitais, e pela ausência de neutralidade fiscal, em virtude de, só com a

reforma tributária de 1989, se ter eliminado, parcialmente, a discriminação existente entre

os lucros retidos e os distribuídos.

A necessidade de políticas de dividendos tem sido, ainda, defendida como uma

forma de proteger o investidor e como argumento para a criação de um sistema de

218

financiamento e de controlo, baseado no mercado de capitais. Apesar da importância da

fiscalidade nas políticas de retenção excessivas, a falta de práticas sistemáticas de

distribuição, também, encontra a sua justificação na ausência de cultura empresarial e

postura bolsista dos intervenientes. Neste quadro, não pode deixar de se sublinhar o

aspecto, que se prende com o grau de cumprimento das informações, que são

disponibilizadas aos investidores e devem ser relevantes para a avaliação da empresa. O

número de sociedades cotadas que não presta a informação exigida, ou o faz com atraso,

tem vindo a diminuir (81% em 1993, contra 34% em 1995). Contudo verificam-se, ainda,

desvios, por vezes significativos, entre os valores previstos para os resultados líquidos e

os verificados, sem que seja tornado público qualquer esclarecimento.

E o que pensam os gestores das empresas portuguesas em matéria de política de

dividendos?

Não obstante ser nítida a diferença de perspectivas entre os dirigentes das

sociedades cotadas e os das pequenas e médias empresas, é possível concluir que existem

semelhanças com as conclusões obtidas a partir do estudo de Lintner, posteriormente

comprovadas por outros investigadores, como Baker et al. e Partington.

Entre as principais determinantes da política de distribuição de resultados para os

gestores das empresas listadas na BVL, encontram-se a estabilidade dos dividendos, os

efeitos clientela e de sinalização e a sustentação das cotações. Quanto às PME`s, é nítida

a importância do autofinanciamento, do crescimento e da fiscalidade.

Regressando ao plano teórico, e face aos resultados inconclusivos das investigações

empíricas efectuadas, pode-se perguntar: como é que os gestores se devem comportar em

matéria de política de dividendos?

Segundo Hampton [99, p. 395], os gestores têm de agir tendo em atenção que os

dividendos «... are relevant as a factor in determining the marketprice of a firm`s

219

common stock». Os fundamentos para a decisão de distribuição de resultados e para a

preferência dos investidores por dividendos, relativamente a mais valias, ainda segundo

este autor, têm a ver com:

- o efeito clientela, inicialmente identificado por MM, e que ocorre quando uma

dada empresa atrai investidores, satisfeitos com a respectiva política de dividendos,

podendo influenciar o preço das acções, porque se a empresa atrai investidores, que

aspiram ou pretendem rendimentos imediatos, uma elevada taxa de distribuição fideliza

estes accionistas e sustenta as cotações. Caso se verifique uma redução dos dividendos ou

a impossibilidade de manter um dado rácio-objectivo, os investidores serão levados a

vender as acções, o que terá efeito sobre os preços;

- o conteúdo informacional dos dividendos, também identificado por MM, e que se

prende com o facto do anúncio dos dividendos poder afectar o preço das acções, em

virtude de ser um indicador dos resultados futuros esperados e de oportunidades de

crescimento, particularmente no caso de accionistas, que não acompanham regularmente

a empresa. Uma alteração na política de dividendos tende a atrair a atenção dos

investidores e a aumentar os negócios da empresa em Bolsa, e, ainda, a provocar uma

alteração nas cotações, em virtude destes considerarem ter havido uma modificação no

valor intrínseco da empresa;

- os impostos, que podem afectar as preferências dos accionistas por dividendos,

dependendo isso da assimetria fiscal existente entre os dividendos e as mais valias.

Assim, serão preferíveis ganhos de capital aos primeiros, caso estes sejam mais tributados

do que aqueles. Contudo, existem investidores, em situação de isentar ou atenuar a

fiscalidade sobre os dividendos através de incentivos, por isso escolherão estes às mais

valias. Complementarmente, podem estar dispostos a pagar um prémio pelas acções das

empresas com distribuição de resultados;

220

- os investidores acreditam que os dividendos afectam as cotações, em virtude de se

verificar muitas vezes que, no curto prazo, a declaração de dividendos tem efeitos sobre

as cotações, mesmo quando isso não é desejado pelos gestores.

Hampton [99, p. 396] conclui: «the residual theory of dividends should be viewed

as having less utility than the theory of dividend relevance under uncertainty».

Adicionalmente, avança com o seguinte argumento [p. 399]: "... a firm should behave as

though dividends do affect value, whether through their informational content, a clientele

effect, or some other mechanism". Para além disso, considera que "A policy of steady

dividends with a willingness to be flexible is advocated to reduce uncertainty and support

the markprice of the firm`s common stock".

É evidente, portanto, a ausência de uma teoria integrada, permitindo explicar o

comportamento das empresas e as reacções do mercado aos dividendos. Adicionalmente,

reler o problema da política de dividendos numa óptica de activos condicionados,

levando o assunto a ser tratado no domínio de aplicação da teoria das opções,

assimilando-se, assim, a distribuição de resultados a uma opção sobre investimentos

futuros, pode ser uma via a seguir. Tal teoria deverá incluir, ainda, a perspectiva da

economia global sobre o problema da distribuição, pois existe alguma dificuldade em

explicar o processo de escolha da política de dividendos apenas a partir da empresa.

Apesar de tudo, e numa perspectiva prática, os dirigentes parecem aceitar a ideia,

de que os dividendos podem ser utilizados como um sinal financeiro, definindo, assim, as

suas políticas de distribuição numa perspectiva activa e não residual, em função de um

rácio-objectivo, relativamente ao qual fazem ajustamentos graduais e sustentados.

Todavia, no caso das empresas com elevada dispersão de capital, as políticas de

dividendos são mais generosas do que nas empresas de tipo familiar, visto nestas não ser

evidente a assimetria de informação, os custos de agência, para além de, o que não é

221

menos importante, terem à sua disposição melhores meios para remunerar os

investidores.

Apesar da dificuldade em avaliar o impacto da fiscalidade sobre o binómio

rendibilidade-risco e de, por isso, ser possível aceitar que a assimetria de tributação entre

os dividendos e as mais valias não tem um papel decisivo na constituição das carteiras,

seria desejável que os poderes públicos criassem condições de melhoria das condições de

funcionamento dos mercados. Consequentemente, dever-se-ia caminhar no sentido de

suprimir a assimetria fiscal entre o rendimento em dividendos e os ganhos de capital, e de

harmonizar a fiscalidade dos capitais próprios e do endividamento, contribuindo para

uma melhoria da estrutura financeira das empresas.

A complexidade do tema e as múltiplas proposições apresentadas, dada a sua

juventude, carecem de maior clarificação, designadamente através de novos

desenvolvimentos teóricos e novas verificações empíricas. E, assim, as ideias e reflexões

não acabam aqui, por isso o meu pensamento acompanha o do poeta, quando diz:

Sonhos, sistemas, mitos, ideias ...

Fito a água insistentemente contra o cais,

E, como flocos de um papel rasgado,

A ela dando-me como a justo fado,

Sigo-os com os olhos em que não há mais

Que um vão desassossego resignado.

Fernando Pessoa, Poesia, 1934-1935.

222

ANEXOS

223

ANEXO I

Empresas cotadas no Mercado de Cotações Oficiais e concentração do capital

Empresa Principais accionistas Part. c. social

A. Silva & Silva Família Tavares da Silva

Rockfeller & Co.

Gerigeste

José Luís Sapateiro

52.25%

13.33%

11.61%

6.61%

Aliança Seguradora Cefage

Carteira Central

Capgeste

UAP

BFE

19.78%

17.68%

12.74%

12.01%

11.67%

Banco Chemical Chemical 67.70%

Banco ESSI BES

ES Financial

Comp. Financière E. Santo

19.97%

19.15%

13.04%

Banco Mello UIF

Coleinvest

50.00%

10.00%

BANIF Grupo Rentipar

I. Seguros de Portugal

C. G. D.

41.50%

7.20%

6.20%

Barbosa & Almeida Família Domingues

BPI

59.00%

5.00%

BCI Ausant Holding

RBSG

78.08%

12.74%

BCM BPA

Allfinanz

Eindhoven

Fundo Pensões BPA

Fundação Oriente

Interfina

41.60%

8.20%

6.40%

5.80%

5.30%

3.10%

BCP Banco Hispano Americano

Morgan

Chase

Eureko

Teixeira Duarte

Cariplo

State Steet Bank

Têxtil Manuel Gonçalves

20.00%

7.94%

5.34%

6.00%

3.89%

4.10%

4.40%

2.73%

224

Empresas cotadas no MCO e concentração do capital (cont.)

Empresa Principais accionistas Part. c. social

BES Bespar

Credit Agricole

Tranquilidade

Chase

43.56%

6.29%

4.50%

4.49%

BFE Estado Português

Cimpor

IPE

58.76%

12.00%

9.73%

BIC Grupo BES

Crédit Agricole

Brenston

44.49%

19.12%

3.97%

Bonança Engenho

BCM

UBP

50.60%

18.65%

16.60%

BPA BCP

Império

50.00%

48.77%

BPI Chase

Itaúsa

Morgan

Credit Lyonnais

Pulsus

CGD

Kredietbank

UBS

DEG

14.30%

10.00%

4.10%

4.00%

3.80%

3.80%

3.60%

3.40%

2.20%

BTA Valores Ibéricos

Brightsun

Estado

Banesto Holdings

Ultra

15.66%

15.16%

13.22%

8.15%

4.08%

Caima Eucalyptus Pulp Mills

EPM

56.30%

19.90%

Cel-Cat BICC

Família Abecassis

Capital Portugal

A Nobre da Costa

50.71%

18.00%

5.00%

1.50%

Centralcer Grupo Santo Domingo

Cerpar

Labco

Central Control

53.57%

19.33%

0.23%

19.83%

Cerexport VA Grupo

Discovery Nominees

19.90%

11.79%

Cimpor Estado Português 80.00%

Cin SF 52.00%

Cinca Keramic Holding

M. Cunha Gomes

Gestifundo

38.00%

12.00%

10.00%

225

Empresas cotadas no MCO e concentração do capital (cont.)

Empresa Principais accionistas Part. c. social

Cires Norsk Hydro

Shin Etsu

Mitsui

25.15%

25.00%

24.00%

Comp. Celulose do Caima Ibstock/Eucalyptus Pulp Mills 56.30%

Compta Vitor Assunção

Tranquilidade

35.23%

10.16%

Corticeira Amorim Amorim Investimentos 52.42%

CPP BTA

Stanley Ho

Mague

47.80%

19.99%

5.68%

Credit Lyonnais Credit Lyonnais Europe 93.72%

Crisal Família Raposo Magalhães

Resinagem Nacional

46.19%

16.13%

Dom Pedro Stefano Saviotti ( mais de) 50.00%

Efacec Família Ricca Gonçalves

Fund. de pensões e invest. estr.

Fidelidade

Gestifundo

BPI

BCP

Fundo de pensões CGD

Fundos de Pensões

A. Nobre da Costa

20.00%

12.00%

7.00%

4.80%

2.50%

2.13%

6.50%

2.33%

1.50%

Empresa Madeirense de Tabacos Rentipar

Fundação José Berardo

Rentifinança

Import and General Trading

37.00%

31.00%

10.00%

4.00%

Engil Engil

Gerso

Geram

15.20%

12.40%

12.40%

Engil Geril 38.00%

Espart Espírito Santo

Kuwait

48.00%

15.00%

Estoril Sol Finansol 63.02%

Euroleasing BFE

Société Générale

37.50%

37.50%

F. Ramada Família Ramada

Cofina

24.10%

21.70%

Fisipe Quimigal

Mitsubishi

52.26%

21.12%

226

Foncar Cimponorte

Norpedip

Sulpedip

BNU-Capital

Carlos Pinto Leite

Carlos Azevedo

António Marques

33.30%

12.02%

12.02%

5.56%

1.83%

2.00%

2.00%

227

Empresas cotadas no MCO e concentração do capital (cont.)

Empresa Principais accionistas Part. c. social

Grão Pará Fernanda Pires da Silva

Rentipar

Abel Pinheiro

24.68%

10.63%

0.97%

Imoleasing CGD 68.60%

Império Finimper

Primisa

Gan International

50.00%

14.14%

10.00%

Inapa Famílias Pestanha e Passeiro

Portucel

Espírito Santo

47.00%

12%

7.00%

International Factors BFB

George Scheder

66.70%

10.00%

ITI Dionísio Pestana

Anglotel

24.76%

35.40%

Jerónimo Martins Soc. Francisco M. dos Santos 64.80%

Lisnave Estado Português

Grupo Mello

13.50%

34.00%

Locapor CGD

UFB

Caixa Participações

Fidelidade

Cosec

AutoSueco

52.27%

13.17%

10.01%

5.70%

2.80%

2.70%

Lusotur Cofipsa

Sofimpar

SLEI

35.96%

13.67%

12.07%

Mague Sogema

Sogepoc

Finanvés

Finova

27.87%

13.10%

11.08%

15.10%

Modelo Sonae Investimentos 79.21%

Modelo Continente Sonae Investimentos

Promodés

69.22%

21.96%

Mota & Companhia Família Mota 86.81%

Mundial Confiança Mundac

CISF

BCM

A. Champalimaud

BPSM

CGD

43.70%

6.40%

4.80%

7.50%

5.90%

4.20%

Mundicenter Alves Ribeiro

João Justino

Sotécnica

C. Com. Alvalade

31.80%

4.00%

4.00%

3.00%

Oliva João Cebola

Manuel Vaz Sousa

48.23%

3.00%

228

Orbitur Pargeste 58.59%

Orey Antunes Família Orey (cerca de)

Fidelidade

Manuel Bulhosa

75.00%

4.30%

6.00%

Papelaria Fernandes Inapa

Rockfeller

BES

45.17%

15.09%

7.58%

ProHolding Figest

Imparfim

José Joaquim Sousa

66.00%

12.00%

12.00%

229

Empresas cotadas no MCO e concentração do capital (cont.)

Empresa Principais accionistas Part. c. social

Rádio Marconi CN 50.04%

Reditus Tora

Unifisa

O Trabalho

29.00%

5.00%

3.00%

Salvador Caetano Fogeca

Toyota

55.11%

27.00%

Soares da Costa Fiat Empresit

Família Soares da Costa

Fogeca

16.00%

19.10%

10.50%

Soja de Portugal BPI

Rotunda

13.50%

10.20%

Solinca Pargeste

Fidelidade

Aliança

48.25%

10.38%

10.00%

Somague Família Vaz Guedes 52.80%

Somec Albrecht Frank

Lusitânia

29.10%

14.00%

Sonae Indústria Sonae Investimentos 62.00%

Sonae Investimentos Figest 52.13%

Sopete Gestifundo 8.50%

Soporcel Caixa Geral Depósitos

Arjo Wiggins

50.40%

43.30%

SPS AGF 70.06%

Sumolis Refrigor

Eusébio & Filhos

Jorge Pais Pereira

Dissumos

Manuel Nunes Batista

35.20%

0.33%

0.29%

0.27%

0.20%

Tertir Ternor

Rnip

30.54%

25.11%

Tranquilidade Partran

BES

49.10%

17.10%

UBP Bonança

Partest

BPA

Fundo Pensões BPA

50.26%

20.00%

8.65%

8.65%

Unicer Cosar

Sarc

Cervunião

19.99%

19.99%

19.54%

Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas José Sousa Cintra

Miguel Sousa Cintra

F. I. M. Fechado C. Portugal

53.88%

11.41%

10.75%

Vista Alegre VA Grupo

Emp. Electrocerâmica

48.25%

25.75%

230

ANEXO II

Dados para as empresas listadas no Mercado de Cotações Oficiais

1. Resultados líquidos

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas 336.320 205.693 214.417 169.146 206.456

Unicer 1.582.583 2.325.589 2.718.255 2.966.527 2.623.237

Centralcer 228.047 410.660 372.755 -455.800 -3.049.625

Sumolis 194.987 919.409 41.711 160.730 455.826

Ind. alimentares e das bebidas 2.341.937 3.861.351 3.347.138 2.840.603 235.894

Fisipe 6.197 357.267 308.295 140.595 199.085

Cin 391.148 480.140 633.557 532.965 535.289

Cires 315.462 226.440 218.013 -95.548 246.940

Fabricaç. de produtos químicos 712.807 1.063.847 1.159.865 578.012 981.314

Cimpor 9.151.278 11.378.499 15.229.706 25242.980

Cinca 421.651 172.605 184.846 220.073 54.064

Barbosa & Almeida 439.567 582.364 426.866 219.365 264.560

Crisal 924.056 183.629 -677.200 -373.239 102.641

Vista Alegre 223.511 73.244 473 -174.372 167.381

Cerexport 247.595 193.702 100.201 -546.872 -2.425.286

F. outros prod. min. não metál. 11.407.658 12.584.043 35.186 14.574.661 23.406.340

Mota & Companhia 1.218.287 1.126.606 1.010.563 1117.346 809.645

Somec 208.498 220.318 130.459 471.842 690.070

A. Silva & Silva 557.680 392.104 362.849 177.922 90.758

Engil 374.870 801.335 820.136 737.310 623.012

Soares da Costa 1.582.657 2.241.750 1.564.287 183.949 1.168.372

Imob. Const. Grão Pará 156.514 201.171 186.187 -1794.590 N.D.

Construção 4.098.506 4.983.284 4.074.481 893.779 3.381.857

Dom Pedro 61.468 49.447 52.661 32.223 12.042

Orbitur 109.125 112.853 83.221 52.980 89.336

Solinca 181.225 5.523 64.994 3.969 118.160

Alojamento e restauração 351.818 167.823 200.876 89.172 219.538

231

1. Resultados líquidos (continuação)

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

CPP 1.360.065 2.012.376 112.420 1.971.340 2.848.776

BPI 8.566.911 6.665.569 6.308.868 8.092.097 7.942.740

BCI 3.263.570 2.489.697 2.029.274 337.127 -3.253.895

BCP 13.076.965 15.307.462 16.699.396 22.554.907 18.706.400

BIC 1.471.973 1.629.438 799.826 859.985 831.736

BCM 1.615.892 1.856.171 2.253.336 2.339.529 3.091.062

Credit Lyonnais 1.404.392 1.447.810 138.809 354.115 -10.419.979

BESCL 12.586.000 15.729.183 17.535.000 20.690.000 17.296.000

BANIF 2.914.708 4.233.998 4.309.998 1.907.791 881.343

BPA 12.012.216 20.882.841 20.232.219 23.502.262 22.238.907

BTA 9.680.259 18.534.543 22.650.516 23.292.389 23.447.021

UBP 1.377.660 1.696.982 2047.485

Banco Mello 1.374.652 1.065.825 735.911 439.242

Banco Chemical 3.268.734 3.006.849 3.188.082 3.582.886 1.414.912

Banco ESSI 1.046.100 710.611 542.712 44.506 79.790

Intermed. Financeira - Bancos 72.267.785 95.881.200 99.243.941 111.961.827 87.591.540

Locapor 648.328 767.527 546.910 608.510 558.552

Imoleasing 723.326 803.212 1.217.472 1.385.306 1.343.536

International Factors 252.423 62.095 51.571

Euroleasing 422.313 1.085.784 727.935 901.274 589.100

Intermed. Financeira - Outras 1.793.967 2.656.523 2.744.740 2.957.185 2.542.759

Aliança Seguradora 460.907 2.411.408 -6.506.634 -2.985.340 1.750.370

Bonança 75.969 -2.247.385 256.297 1.100.296

Império 716.343 639.073 689.929 758.067 850.864

Mundial Confiança 3.094.764 3015.274 -3.316.589 -2.845.854 -2.510.875

SPS 232.065 278.043 -43.979 47.377 152.938

Tranquilidade 888.364 1.011.499 324.077 500.185 1.238.592

Seguros 5.392.443 7.431.266 -11.100.581 -4.269.268 2.582.185

Inapa 3.901.715 1.851.735 151.568 -937.345 -527.825

Jerónimo Martins 1.056.343 1.663.507 9837.951 2.678.795 4362.776

Soja de Portugal 932.234 316.980 356.010 612.815 312.798

Sonae Investimentos 2.859.603 3.729.547 2.255.464 4.954.959 10.712.705

Reditus 82.824 199.254 289.120 164.587 -591.159

Somague 154.863 189.425 355.828 126.816 51.953

Caima - Cerâmica e Serviços 675.696 534.812 195.624 -439.897

Espart 571.326 108.839 216.366 230.414

Corticeira Amorim 563.144 520.594 720.953 1.560.556

Sonae Indústria -145.147 -3.349.126 -3.377.203 -1.185.212

Modelo Continente 3.504.473 5.653.016 7.200.630 6.765.093

ProHolding 152.113 210.220 310.279 503.177

Modelo 3.579.453 2.009.797 6.453.824 3.014.487

Mague 528.788 11.458.438 7.191.572 703.802 780.791

Engil 663.042

Outras activ. serv. prest. emp. 9.516.370 28.309.944 26.125.665 20.024.902 26.213.699

232

1. Resultados líquidos (continuação)

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

Sopete 642.426 53.686 -628.697 -2.027.387 -1.705.000

Estoril Sol 2.179.291 9.091 279.966 -668.566 -415.001

ITI 464.332 477.120 338.405 88.799 205.456

Act rec., cult. e desportivas 3.286.049 539.897 -10.326 -2.607.154 -1.914.545

Empresa Madeirense de Tabacos 395.365 512.764 544.420 505.673 404.084

Foncar 18.493 -219.499 -115.206 -468.712 -257.266

Comp. Celulose do Caima 2.505.985 -35.301 -917.307 -5.460.706 1.372.491

Soporcel 2.052.919 -5.658.871 -9.288.067 -14.473.971 3.576.935

F. Ramada 13.836 -24.571 -95.347 -476.728 -536.165

Oliva 250.142 28.353 23.918 -388.147 -1.371.272

Efacec 1.428.796 913.026 893.006 836.466 512.903

Cel-Cat 1.097.692 968.107 872.812 627.981 -54.422

Salvador Caetano 1.102.829 1.890.285 2.018.718 2.290.982 2.838.348

Lisnave 505.590 438.915 -8.954.631 -15.220.416 -16.236.272

Papelaria Fernandes 492.335 457.070 -363.218 -300.377 -432.427

Orey Antunes 50.684 6.931 64.611 -68.028 -387.652

Tertir 2.317.948 1.017.640 830.078 -3.760.768 2.373.328

Rádio Marconi 9.025.055 7.565.055 3.671.221 4.078.199 6.517.905

Mundicenter 385.252 486.789 593.771 751.169 811.281

Lusotur 1.167.408 82.950 270.780 36.832 144.998

Compta 415.060 253.713 202.713 83.226 111.398

Restantes 23.225.389 8.683.356 -9.747.728 -31.407.325 -611.805

TOTAL 134.394.729 165.941.754 116.073.257 115.636.394 146.333.776

233

2. Dividendos totais (un: contos)

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas 126.724 126.724 126.724 128.000 296.000

Unicer 791.290 1.163.175 1.462.500 1.560.000 1.657.500

Centralcer 0 0 0 0 0

Sumolis 118.667 63.000 0 0 209.000

Ind. alimentares e das bebidas 1.036.681 1.352.899 1.589.224 1.688.000 2.162.500

Fisipe 0 185.894 167.304 111.510 111.510

Cin 78.400 110.000 200.000 200.000 225.000

Cires 156.000 0 0 38.500 154.000

Fabricaç. de produtos químicos 234.400 295.894 367.304 350.010 490.510

Cimpor 6.000.000 6.500.000

Cinca 99.600 74.568 78.854 65.000 83.000

Barbosa & Almeida 180.000 179150 174.883 180.000 300.000

Crisal 149.950 74.975 0 0 0

Vista Alegre 100.800 0 0 0 0

Cerexport 141.900 77.400 0 0 0

F. outros prod. min. não metál. 6.672.250 6.906.093 253.737 245.000 383.000

Mota & Companhia 420.000 420.000 420.000 420.000 420.000

Somec 70.500 105.750 42.300 42.300 88.500

A. Silva & Silva 150.000 77.509 85.253 90.000 0

Engil 198.900 221.850 221.850 374.850 293.760

Soares da Costa 350.000 350.000 350.000 350.000 363.000

Imob. Const. Grão Pará 100.000 0 100.000 100.000 0

Construção 1.289.400 1.175.109 1.219.403 1.377.150 1165.260

Dom Pedro 0 40.000 0 0 0

Orbitur 39.040 43.920 43.920 43.920 24.400

Solinca 84.000 0 58.871 63.000 0

Alojamento e restauração 123.040 83.920 102.791 106.920 24.400

234

2. Dividendos totais (continuação) (un: contos)

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

CPP 307.800 500.000 0 0 0

BPI 2.152.500 2.520.000 2.979.778 3.001.609 5.102.736

BCI 1.365.750 1.818.705 1.334.137 1.866.961 0

BCP 3.960.000 4.620.000 5.941.325 6.581.160 6.581.160

BIC 1.094.932 1.276.000 0 0 0

BCM 450.000 715.000 939.281 1.128.750 1.944.075

Credit Lyonnais 774.000 774.000 120.000 120.000 120.000

BESCL 6.000.000 6.785.067 8.800.000 9.715.266 10.155.804

BANIF 0 1.750.000 2.187.500 2.187.500 875.000

BPA 4.800.000 10.000.000 12.000.000 12.000.000 14.520.000

BTA 7.000.000 10.150.500 13.300.000 15.400.000 12.650.000

UBP 690.000 0

Banco Mello 630.000 630.000 1.260.000

Banco Chemical 2.437.500 1.625.000 1.625.000 1.625.000 3.250.000

Banco ESSI 409.000 500.000 250.000 500.000 0

Intermed. Financeira - Bancos 24.751.482 36.249.205 48.092.088 55.446.246 56.458.775

Locapor 240.000 240.000 240.000 240.000 240.000

Imoleasing 250.000 432.000 468.000 468.000 504.000

International Factors 110.425 52.000

Euroleasing 200.000 400.000 400.000 400.000 400.000

Intermed. Financeira - Outras 690.000 1.072.000 1.108.000 1.218.425 1.196.000

Aliança Seguradora 230.000 0 0 0 0

Bonança 0 0 0

Império 0 255.000 280.000 1.000.000 350.000

Mundial Confiança 706.000 0 0 0 0

SPS 105.000 126.000 126.000 0 0

Tranquilidade 400.000 500.000 1.900.000 0 1.900.000

Seguros 1.441.000 881.000 2.306.000 1.000.000 2.250.000

Inapa 390.000 225.000 90.000 90.000 90.000

Jerónimo Martins 860.122 1.410.000 1.056.727 1.633.234 3.580.135

Soja de Portugal 225.000 240.000 270.000 540.000 630.000

Sonae Investimentos 1.250.000 1.250.000 1.250.000 1.250.000 6000.000

Reditus 45.000 99.000 132.000 130.000 0

Somague 50.000 60.000 80.000 240.000 120.000

Caima - Cerâmica e Serviços 0 0 0 0 0

Espart 0 0 0

Corticeira Amorim 500.500 500.500 500.500 0

Sonae Indústria 0 0 0

Modelo Continente 1.870.000 0 1.870.000 2.244.000

ProHolding 0 96.000 112.000

Modelo 1.120.000 1.960.000

Mague 226.500 428.311 407.700 0 407.700

Engil

Outras activ. serv. prest. emp. 3.046.622 6.082.811 3.786.927 7.469.734 15.143.835

235

2. Dividendos totais (continuação) (un: contos)

Empresa/Ano 1990 1991 1992 1993 1994

Sopete 100.000 0 0 0 0

Estoril Sol 303.000 0 0 0 0

ITI 140.000 154.000 168.000 168.000 0

Act rec., cult. e desportivas 543.000 154.000 168.000 168.000 0

Empresa Madeirense de Tabacos 0 350.000 495.000 450.000 360.000

Foncar 0 0 0 0 0

Comp. Celulose do Caima 379.260 0 0 0 0

Soporcel 0 0 0 0 0

F. Ramada 0 0 0 0 0

Oliva 0 0 0 0 0

Efacec 468.750 638.750 701.735 600.000 600.000

Cel-Cat 360.000 738.000 702.000 702.000 0

Salvador Caetano 300.000 400.000 500.000 450.000 500.000

Lisnave 0 0 0 0 0

Papelaria Fernandes 170.000 137.500 0 0 0

Orey Antunes 0 0 0 0 0

Tertir 481.250 307.500 384.000 0 0

Rádio Marconi 4.120.391 3.624.000 1.760.000 1.856.400 2.028.000

Mundicenter 195.669 195.302 195.453 202.500 202.500

Lusotur 307.500 0 0 0 0

Compta 60.000 100.000 125.000 125.000 37.500

Restantes 6.842.820 6.491.052 4.863.188 4.385.900 3.728.000

TOTAL 46.670.695 60.743.983 63.856.662 73.455.385 83.002.280

236

3. Cotação (un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melg & Pedras Salgadas 1,850 1,700 1,010 2,200 2,200

Unicer 3,600 3,500 3,840 5,310 2,200

Centralcer 2,500 1,700 3,380 1,963

Sumolis 1,770 1,600 1,070 1,948 1,601

Fisipe 795 1,330 1,000 1,300 1400

Cin 2,700 3,300 2,599 4,400 4,550

Cires 3,040 2,760 2,520 2,700 6,000

Cimpor 2,810

Cinca 3,460 2,640 1,250 1,570 1,769

Barbosa e Almeida 2,140 2,800 3,030 4,489

Crisal 3,080 1,990 900 890 2,311

Fab. Porc. Vista Alegre 4,700 4,400 2,100 1,740 2,220

Cerexport 3,100 2,000 670 580 1,020

Mota & Companhia 3,240 2,460 2,280 2,550 3,250

Somec 1,400 1,810 1,540 2,320 2,501

A. Silva & Silva 2,000 1,680 1,100 1,240 1,200

Engil 1,900 1,850 2,080 3,900 2,250

Engil - Preferenciais sem voto 1,600 1,280 1,561 2,799 2,001

Soc. Const Soares da Costa 2,000 2,200 2,400 3,910 3,000

Imob Const. Grão-Pará 2,140 2,100 1,100 750 715

Dom Pedro 1,450 1,060 910 510 750

Orbitur 1,080 1,350 1,490 1,590 1,800

Solinca 1,000 1,160 1,250 1,250

CPP 1,730 1,730 1,640

BPI 3,500 3,400 3,609 5,450 2,376

BCI 3,000 2,440 1,140 1,047 1,000

BCP 2,040 2,479 1,980 2,659 2,080

BIC 3,060 2,400 2,000 2,100 2,178

BCM 3,300 3,200 2,880 2,800 1,935

CLP 5,050 4,100 3,979 1,650 991

BESCL 3,940 2,485 2,784 3,080

BANIF 1,490 1,570 1,490

BPA 7,600 4,260 3,961 2,192 2,012

BTA 3,300 3,480 2,800 3,280 3,560

UBP 1,400 1,150

Banco Mello 2,140 1,600 1,740 1,200

Banco Chemical 1,920 1,320 1,221 1,601 1,651

Banco ESSI 3,700 2,620 2,000 1,200 1,260

Locapor 3,440 3,340 2,500 2,020 2,097

Imoleasing 2,800 2,480 1,310 2,601 1,550

237

3. Cotação (continuação) (un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

International Factors 1,090 540

Euroleasing 3,040 3,520 3,100 3,100 1,850

Aliança Seguradora 4,220 2,040 980 815 705

Bonança 4,200 4,540 4,480

Império 4,000 1,400 1,270

Mundial Confiança 2,300 2,151 2,600

SPS 2,500 1,110 800 1,007 903

Tranquilidade 7,200 6,700 6,000 2,250 2,330

Inapa 4,820 3,950 2,098 3,249 3,550

Est Jerónimo Martins 5,900 4,980 5,300 10,100 6,809

Soja de Portugal 4,040 3,910 4,700 4,010 2,180

Sonae Investimentos 1,600 834 938 2,600 3,661

Reditus 3,200 1,120 1,010 650 670

Somague 1,120 1,020 1,650 1,680 1,300

Caima - Cerâmica e Serviços 2,490 1,310 1,882 1,740

Espart 1,005 1,000 800

Corticeira Amorim 1,460 1,285 848 1,770 2,651

Sonae Indústria 450 1,090 1,820

Modelo Continente 9,300 4,740 13,989 13,950

Proholding 805 800 1,050 2,230

Modelo 1,450 1,020 940 3,940 4,850

Mague 3,100 3,699 4,040 6,300 3,299

Sopete - Portador 1,100 1,120 560 480 730

Sopete - Nominativas 1,040 1,050 560 450 720

Estoril Sol 1,500 1,220 800 1,340 1,300

ITI 1,030 1,100 780 714 1,545

Emp. Madeirense de Tabacos 2,000 1,810 2,260 1,365 1,297

Foncar 1,150 830 1,000 200 340

Comp. Celulose do Caima 5,100 2,800 1,375 2,490 5,670

Soporcel 3,700 2,000 1,150 1,570 4,580

F. Ramada 1,220 800 630 550 700

Oliva 890 585 350 400 535

Efacec 2,700 3,580 4,740 5,720 1,900

Cel-Cat 5,800 4,340 4,900 4,700 3,600

Salvador Caetano 2,500 2,200 2,280 4,395 3,290

Lisnave 2,020 1,300 512 1,180 780

Papelaria Fernandes 3,000 2,060 591 890 998

Soc. Com. Orey Antunes 1,000 800 1,000 540 526

Tertir 3,600 1,300 1,035 890 1,045

Comp. P. Radio Marconi - Port. 12,500 4,760 2,320 5,190 5,440

Comp. P. Radio Marconi - Nom. 11,200 4,760 2,260 5,125 5,430

Mundicenter 1,700 1,890 1,830 3,550 3,950

Lusotur 6,450 4,479 3,095 3,100 3,200

Compta 4,900 2,920 1,860 1,985 1,830

238

239

4. Resultado por acção

(un: escudos) Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melg & Pedras Salgadas 210.20 128.55 129.81 109.80 40.77

Unicer 162.31 238.52 282.37 304.25 134.52

Centralcer 24.00 43.22 -72.08 -47.97 -321.01

Sumolis 108.32 510.78 13.90 26.90 77.38

Fisipe 1.66 96.09 82.92 37.81 53.55

Cin 195.57 240.07 316.77 213.18 214.12

Cires 328.60 147.03 88.02 -62.04 160.35

Cimpor 366.05 455.14 784.12 217.57 360.61

Cinca 324.34 132.77 52.26 67.71 13.03

Barbosa e Almeida 244.10 323.43 237.09 121.86 88.19

Crisal 615.18 107.04 -451.46 -248.82 68.43

Fab. Porc. Vista Alegre 309.59 43.59 0.28 -104.23 100.05

Cerexport 95.96 75.07 -20.97 -211.96 -940.96

Mota & Companhia 203.04 187.76 191.48 186.22 134.94

Somec 98.58 104.16 61.68 223.09 155.95

A. Silva & Silva 185.89 130.70 145.03 59.30 20.17

Engil 98.00 209.49 214.41 192.76 101.80

Engil - Preferenciais sem voto 98.00 209.49 214.41 192.76 101.80

Soc. Const Soares da Costa 226.09 320.25 179.60 26.27 95.56

Imob Const. Grão-Pará 62.60 80.46 -237.50 -717.83 N.D.

Dom Pedro 30.73 24.72 26.33 16.11 6.02

Orbitur 223.61 231.25 177.20 108.56 183.07

Solinca 86.29 52.60 30.94 1.89 56.27

CPP 108.80 134.15 8.87 78.85 113.95

BPI 475.93 519.48 655.71 377.42 217.92

BCI 188.48 140.07 80.53 10.83 -104.57

BCP 197.57 231.20 226.47 205.63 170.55

BIC 126.89 140.46 66.38 74.13 71.70

BCM 248.59 285.56 269.05 267.37 220.01

CLP 234.06 241.30 26.69 59.01 -781.40

BESCL 314.65 393.22 279.00 313.43 262.02

BANIF 166.55 241.94 246.26 109.01 50.36

BPA 600.61 596.65 202.32 235.02 202.17

BTA 322.67 411.87 449.36 423.49 426.31

UBP 167.83 156.10 45.92 56.56 68.25

Banco Mello 1205.85 152.73 118.42 81.76 24.40

Banco Chemical 201.15 185.03 197.68 220.48 87.07

Banco ESSI 209.22 140.33 35.43 4.45 7.98

Locapor 324.16 383.76 273.45 304.25 279.28

Imoleasing 241.10 223.11 338.18 384.80 372.20

240

4. Resultado por acção (continuação)

(un: escudos) Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

International Factors 128.27 202.24 252.42 62.09 51.57

Euroleasing 337.85 868.62 582.34 721.01 235.64

Aliança Seguradora 153.63 -803.80 -1048.43 -497.55 291.73

Bonança 110.23 12.66 -374.56 42.71 183.38

Império 168.55 92.44 98.56 30.32 34.03

Mundial Confiança 884.21 301.52 -331.65 13.74 35.20

SPS 61.21 92.68 -14.65 9.27 35.69

Tranquilidade 177.67 202.29 17.05 26.32 65.19

Inapa 1300.46 617.00 -616.76 -312.44 -175.94

Est Jerónimo Martins 282.44 277.25 770.06 426.44 355.12

Soja de Portugal 621.48 211.32 346.53 408.54 104.27

Sonae Investimentos 114.38 149.18 93.34 198.19 267.82

Reditus 82.82 99.62 158.46 82.29 -295.58

Somague 77.43 94.71 177.91 21.13 8.66

Caima - Cerâmica e Serviços 125.94 148.06 54.15 -121.79

Espart 0.12 6.13 9.06 18.03 19.20

Corticeira Amorim 109.51 39.38 36.40 50.41 109.13

Sonae Indústria -7.46 -388.25 -384.80 -84.66

Modelo Continente 630.76 937.02 604.60 770.12 723.54

Proholding 248.08 229.62 131.38 193.92 314.49

Modelo 111.94 200.45 143.55 460.98 215.32

Mague 114.47 2529.45 1621.64 155.36 172.36

Sopete - Portador 128.46 10.73 -111.94 -324.38 -174.83

Sopete - Nominativas 128.46 10.73 -111.94 -324.38 -174.83

Estoril Sol 431.54 1.80 45.82 -132.38 -82.15

ITI 165.83 170.40 120.85 31.71 73.38

Emp. Madeirense de Tabacos 225.92 227.89 241.96 112.37 89.80

Foncar 24.65 -292.66 -76.80 -312.47 -171.51

Comp. Celulose do Caima 693.79 -9.77 -295.20 -1511.82 316.65

Soporcel 87.35 -240.80 -395.95 -451.24 111.51

F. Ramada 14.41 -12.79 -80.86 -248.89 -214.47

Oliva 131.37 14.89 13.11 -203.85 -548.51

Efacec 381.01 243.47 337.10 223.05 63.89

Cel-Cat 609.82 537.83 484.89 348.87 -30.23

Salvador Caetano 221.00 378.00 354.00 367.00 454.00

Lisnave 36.77 27.43 -550.29 -951.27 -456.08

Papelaria Fernandes 246.08 166.19 -94.17 -109.22 -157.25

Soc. Com. Orey Antunes 50.68 6.93 307.99 -68.02 -387.65

Tertir 602.06 159.00 49.88 -587.62 370.83

Comp. P. Radio Marconi - Port. 1157.05 484.96 258.52 261.42 417.81

Comp. P. Radio Marconi - Nom. 1157.05 484.96 258.52 261.42 417.81

Mundicenter 95.12 120.19 153.31 185.47 200.32

Lusotur 308.94 26.97 80.75 7.18 28.29

Compta 691.76 253.71 226.67 66.58 89.12

241

242

5. Valor contabilístico

(un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melg & Pedras Salgadas 2,268 2,317 2,656 2,662 1,970

Unicer 1,796 1,956 2,708 3,494 1,860

Centralcer 1,362 1,406 1,580 1,562 1,260

Sumolis 1,484 2,024 1,310 1,280 1,348

Fisipe 1,559 1,655 1,734 1,720 1,751

Cin 1,737 2,120 2,506 2,057 2,163

Cires 3,395 3,831 3,995 3,796 3,705

Cimpor 2,155 3,007 3,905 4,230 1,649

Cinca 2,812 3,029 1,203 1,487 1,438

Barbosa e Almeida 2,827 3,031 3,328 4,496 3,513

Crisal 2,069 2,069 1,877 1,659 1,730

Fab. Porc. Vista Alegre 1,777 3,740 3,718 3,715 3,980

Cerexport 2,755 2,781 2,729 2,577 1,770

Mota & Companhia 2,391 2,523 2,723 2,823 2,899

Somec 1,515 1,586 1,612 2,174 2,712

A. Silva & Silva 1,396 1,388 1,579 1,564 1,069

Engil 1,261 1,419 1,714 1,744 1,114

Engil - Preferenciais sem voto 1,261 1,419 1,714 1,744 1,114

Soc. Const Soares da Costa 1,909 2,179 2,399 2,366 1,920

Imob Const. Grão-Pará 2,724 2,764 4,049 3,140 N.D.

Dom Pedro 1,435 1,479 1,660 2,079 2,085

Orbitur 2,342 2,464 2,501 2,680 2,766

Solinca 2,058 2,071 2,031 1,991 2,041

CPP 1,333 1,693 1,059 1,154 1,228

BPI 2,338 1,575 2,234 2,271 1,721

BCI 1,410 1,550 1,395 1,331 1,217

BCP 1,803 1,948 1,667 1,513 1,490

BIC 1,275 1,282 1,321 1,395 1,455

BCM 1,790 1,996 2,094 1,716 1,083

CLP 2,117 2,174 2,315 1,966 1,422

BESCL 1,390 2,068 1,643 1,798 1,853

BANIF 1,387 1,629 1,775 1,759 1,691

BPA 2,042 1,898 1,440 1,424 1,454

BTA 2,025 2,055 2,036 2,292 2,478

UBP 2,103 3,026 1,579 1,229 1,268

Banco Mello 2,279 1,310 1,383 1,431 1,113

Banco Chemical 1,454 1,489 1,539 1,640 1,530

Banco ESSI 1,538 1,596 1,531 1,137 1,155

Locapor 3,354 3,618 3,996 4,159 3,559

Imoleasing 2,573 2,298 2,516 2,766 3,378

243

5. Valor contabilístico (continuação)

(un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

International Factors 1,978 2,104 2,244 2,180 2,180

Euroleasing 3,469 4,165 4,405 4,786 2,935

Aliança Seguradora 3,630 2,802 518 282 627

Bonança 4,051 4,572 4,592 3,502 3,251

Império 3,015 2,327 3,397 1,183 1,185

Mundial Confiança 4,462 2,657 2,083 1,840 1,732

SPS 1,656 1,794 1,713 1,885 1,926

Tranquilidade 2,778 4,436 1,142 1,161 1,301

Inapa 6,029 6,593 7,385 6,962 6,213

Est Jerónimo Martins 1,653 1,424 1,838 2,255 1,382

Soja de Portugal 3,955 4,028 4,720 5,123 2,560

Sonae Investimentos 1,734 1,833 2,394 2,785 2,246

Reditus 1,244 1,154 1,266 969 514

Somague 2,239 2,309 2,676 1,252 542

Caima - Cerâmica e Serviços 2,378 2,577 2,581 2,466

Espart 1,001 1,007 1,102 1,120 1,139

Corticeira Amorim 2,116 2,106 1,736 1,747 1,836

Sonae Indústria 2,226 1,756 1,943 1,660

Modelo Continente 2,523 3,053 1,738 2,440 2,911

Proholding 1,862 2,077 1,172 1,301 1,545

Modelo 1,627 1,783 1,502 1,943 2,035

Mague 1,670 4,065 5,504 5,006 4,990

Sopete - Portador 1,428 1,428 1,322 975 797

Sopete - Nominativas 1,428 1,428 1,322 975 797

Estoril Sol 2,412 2,350 2,531 2,400 2,563

ITI 2,141 2,261 2,327 2,196 2,280

Emp. Madeirense de Tabacos 1,937 1,811 2,111 1,387 1,365

Foncar 2,095 1,708 1,103 863 454

Comp. Celulose do Caima 5,189 3,300 4,204 2,900 3,857

Soporcel 2,999 2,759 3,002 2,992 2,304

F. Ramada 2,138 1,069 978 1,051 577

Oliva 1,839 1,856 1,887 4,255 2,227

Efacec 2,621 2,638 3,002 3,367 1,845

Cel-Cat 2,429 2,656 2,595 2,554 2,225

Salvador Caetano 1,853 2,130 2,385 2,635 3,037

Lisnave 2,839 2,965 1,903 801 367

Papelaria Fernandes 1,771 1,933 1,890 1,787 1,313

Soc. Com. Orey Antunes 1,424 1,395 1,128 828 395

Tertir 2,939 2,040 2,032 1,534 1,912

Comp. P. Radio Marconi - Port. 4,879 2,566 2,708 2,917 3,027

Comp. P. Radio Marconi - Nom. 4,879 2,566 2,708 2,917 3,027

Mundicenter 1,504 1,575 2,013 2,202 2,400

Lusotur 3,818 3,752 4,360 2,729 2,628

Compta 2,255 1,547 1,226 1,191 1,210

244

245

6. Dividendo líquido por acção

(un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melg & Pedras Salgadas 60.00 64.00 64.00 64.00 33.00

Unicer 97.36 95.44 120.00 128.00 70.13

Centralcer 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Sumolis 49.50 28.00 0.00 28.00 28.88

Fisipe 0.00 40.00 36.00 24.00 24.75

Cin 39.99 44.00 80.00 67.20 74.25

Cires 121.87 109.60 80.00 20.00 82.50

Cimpor 195.00 195.00 135.00 147.75 99.00

Cinca 60.00 48.00 20.00 16.00 16.50

Barbosa e Almeida 75.00 80.00 80.00 80.00 82.50

Crisal 75.00 40.00 0.00 0.00 0.00

Fab. Porc. Vista Alegre 105.00 0.00 0.00 0.00 57.75

Cerexport 41.25 24.00 0.00 0.00 0.00

Mota & Companhia 52.50 56.00 56.00 56.00 57.75

Somec 24.99 40.00 16.00 16.00 33.00

A. Silva & Silva 37.50 24.00 24.00 0.00 0.00

Engil 31.50 38.40 38.40 38.40 16.50

Engil - Preferenciais sem voto 69.00 78.40 78.40 78.40 57.75

Soc. Const Soares da Costa 37.50 40.00 40.00 24.00 33.00

Imob Const. Grão-Pará 30.00 32.00 32.00 0.00 N.D.

Dom Pedro 0.00 16.00 0.00 0.00 0.00

Orbitur 60.00 72.00 72.00 40.00 41.25

Solinca 30.00 0.00 24.00 0.00 24.75

CPP 38.08 23.33 0.00 0.00 41.25

BPI 105.00 112.00 112.00 112.00 82.50

BCI 75.00 80.00 56.00 0.00 0.00

BCP 45.00 56.00 52.00 48.00 49.50

BIC 82.50 88.00 0.00 0.00 41.25

BCM 67.50 88.00 102.20 110.40 82.50

CLP 96.75 103.20 16.00 32.00 0.00

BESCL 0.00 176.00 128.57 134.40 123.75

BANIF 0.00 80.00 100.00 40.00 24.75

BPA 192.00 228.57 96.00 105.60 94.50

BTA 224.00 224.00 224.00 184.00 165.00

UBP 23.33 42.00 18.40 0.00 0.00

Banco Mello 0.00 56.00 56.00 56.00 9.90

Banco Chemical 112.50 80.00 80.00 160.00 57.57

Banco ESSI 75.00 80.00 40.00 0.00 0.00

Locapor 90.00 96.00 96.00 96.00 82.50

Imoleasing 90.00 96.00 104.00 112.00 123.75

246

6. Dividendo líquido por acção (continuação)

(un: escudos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

International Factors 71.83 71.49 88.35 41.60 35.48

Euroleasing 120.00 256.00 256.00 320.00 165.00

Aliança Seguradora 61.32 0.00 0.00 0.00 0.00

Bonança 0.00 0.00 0.00 0.00 82.50

Império 0.00 45.00 32.00 11.20 13.20

Mundial Confiança 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

SPS 26.25 33.60 0.00 0.00 24.75

Tranquilidade 64.00 80.00 0.00 8.00 20.63

Inapa 97.50 60.00 24.00 24.00 0.00

Est Jerónimo Martins 172.50 188.00 208.00 220.00 115.50

Soja de Portugal 112.50 128.00 144.00 168.00 82.50

Sonae Investimentos 37.50 40.00 40.00 120.00 123.75

Reditus 33.75 52.80 52.00 0.00 0.00

Somague 18.75 24.00 32.00 16.00 16.00

Caima - Cerâmica e Serviços 0.00 0.00 0.00 0.00

Espart 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Corticeira Amorim 30.00 28.00 28.00 0.00 28.88

Sonae Indústria 0.00 0.00 0.00 0.00

Modelo Continente 337.50 400.00 160.00 192.00 297.00

Proholding 67.50 72.00 48.00 56.00 74.25

Modelo 52.50 60.00 64.00 112.00 90.75

Mague 37.50 80.00 72.00 72.00 46.20

Sopete - Portador 15.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Sopete - Nominativas 15.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Estoril Sol 45.00 0.00 0.00 0.00 0.00

ITI 37.50 0.00 48.00 0.00 0.00

Emp. Madeirense de Tabacos 0.00 160.00 176.00 80.00 66.00

Foncar 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Comp. Celulose do Caima 78.75 40.00 0.00 0.00 41.25

Soporcel 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

F. Ramada 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Oliva 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Efacec 187.50 140.00 160.00 128.00 66.00

Cel-Cat 150.00 322.50 632.00 240.00 0.00

Salvador Caetano 45.00 64.00 64.00 57.60 66.00

Lisnave 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Papelaria Fernandes 63.75 40.00 0.00 0.00 0.00

Soc. Com. Orey Antunes 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Tertir 93.75 48.00 0.00 0.00 0.00

Comp. P. Radio Marconi - Port. 427.50 194.00 95.20 104.00 132.00

Comp. P. Radio Marconi - Nom. 427.50 194.00 95.20 104.00 132.00

Mundicenter 37.50 40.00 40.00 40.00 41.25

Lusotur 75.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Compta 75.00 80.00 80.00 24.00 41.25

247

248

7. Capitalização Bolsista

(un: contos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

Vidago, Melg & Pedras Salgadas 2,960,000 2,720,000 1,616,000 3,520,000 3,520,000

Unicer 11,466,000 18,116,242 32,486,105 44,742,426 18,537,351

Centralcer 14,658,200 11,143,500 22,155,900 12,867,465

Sumolis 3,186,000 2,880,000 3,210,000 5,844,000 9,564,973

Fisipe 2,955,710 4,944,772 3,717,874 4,833,236 5,205,023

Cin 3,969,000 6,600,000 5,198,000 8,800,000 11,375,000

Cires 2,918,400 2,649,600 3,880,800 4,158,000 9,240,000

Cimpor 39,292,679

Cinca 4,498,000 3,432,000 4,062,500 5,102,500 5,749,250

Barbosa e Almeida 3,852,000 5,040,000 5,454,000 13,122,400

Crisal 4,620,000 2,985,000 1,350,000 1,335,000 3,466,500

Fab. Porc. Vista Alegre 3,384,000 3,168,000 1,512,000 1,252,800 1,598,400

Cerexport 7,998,000 5,160,000 1,728,600 1,496,600 2,631,600

Mota & Companhia 19,440,000 14,760,000 13,680,000 15,300,000 19,500,000

Somec 2,961,000 3,828,150 3,257,100 4,906,800 11,066,925

A. Silva & Silva 6,000,000 5,040,000 3,300,000 3,720,000 3,600,000

Engil 2,584,000 5,661,000 6,364,800 11,934,000 13,465,224

Engil - Preferenciais sem voto 544,000 979,200 1,194,165 2,141,235 2,449,224

Soc. Const Soares da Costa 10,500,000 15,400,000 16,800,000 27,370,000 21,000,000

Imob Const. Grão-Pará 5,350,000 5,250,000 2,750,000 1,875,000 1,787,500

Dom Pedro 2,900,000 2,120,000 1,820,000 1,020,000 1,500,000

Orbitur 527,040 658,800 727,120 775,920 878,400

Solinca 2,100,000 2,436,000 2,625,000 2,625,000

CPP 37,238,977 37,238,977 41,000,000

BPI 62,820,000 61,488,000 76,695,234 116,848,371 86,600,721

BCI 44,621,500 42,317,860 21,460,541 27,924,420 31,116,036

BCP 136,488,000 163,759,200 180,981,900 291,655,070 228,146,880

BIC 36,398,200 29,928,000 23,664,000 24,360,000 25,264,800

BCM 16,600,000 20,852,000 18,746,000 23,465,851 16,931,250

CLP 30,300,000 24,600,000 23,874,000 9,900,000 5,946,000

BESCL 47,280,000 76,640,417 168,091,840 186,189,739

BANIF 26,075,000 27,475,000 26,075,000

BPA 37,620,000 40,887,000 92,238,899 144,649,431 167,387,811

BTA 40,425,000 77,189,372 97,577,781 131,194,683 160,194,229

UBP 33,557,048 30,532,500

Banco Mello 3,381,307 2,880,000 3,132,000 12,960,000

Banco Chemical 30,907,500 21,742,500 19,886,750 26,016,250 26,828,750

Banco ESSI 17,100,000 13,100,000 10,000,000 8,400,000 12,600,000

Locapor 6,880,000 6,680,000 5,000,000 4,040,000 4,194,000

Imoleasing 4,550,000 7,440,000 4,716,000 9,363,600 5,580,000

249

7. Capitalização Bolsista (continuação)

(un: contos)

Empresa 1990 1991 1992 1993 1994

International Factors 1,090,000 540,000

Euroleasing 3,800,000 4,400,000 3,875,000 3,875,000 2,312,500

Aliança Seguradora 6,203,400 5,263,443 2,528,517 4,570,136 3,953,307

Bonança 8,820,000 12,598,500 13,440,000

Império 9,800,000 3,430,000 27,305,000

Mundial Confiança 13,144,086 12,906,000 15,600,000

SPS 4,500,000 3,330,000 2,400,000 3,021,000 2,709,000

Tranquilidade 17,640,000 29,328,835 26,264,628 41,349,236 42,819,431

Inapa 14,460,000 11,850,000 6,294,000 9,747,000 10,650,000

Est Jerónimo Martins 22,066,000 18,625,200 31,800,000 63,338,553 88,684,661

Soja de Portugal 6,060,000 5,865,000 7,050,000 6,015,000 6,540,000

Sonae Investimentos 39,750,000 20,850,000 23,450,000 65,000,000 146,440,000

Reditus 960,000 1,120,000 2,020,000 1,300,000 1,340,000

Somague 2,240,000 2,040,000 3,300,000 3,360,000 7,800,000

Caima - Cerâmica e Serviços 10,619,280 4,731,720 6,797,784 6,284,880

Espart 12,060,000 12,000,000 9,600,000

Corticeira Amorim 20,878,000 18,375,500 12,126,400 25,311,000 37,909,300

Sonae Indústria 3,923,375 9,525,087 15,973,149

Modelo Continente 34,782,000 17,727,600 130,797,150 130,432,500

Proholding 764,758 760,008 1,680,000 3,568,000

Modelo 10,498,000 7,384,800 6,805,600 55,160,000 67,900,000

Mague 14,043,000 16,756,470 18,301,200 28,539,000 14,944,470

Sopete - Portador 1,980,000 2,240,000 1,120,000 1,200,000 1,825,000

Sopete - Nominativas 2,808,000 3,150,000 1,680,000 1,687,500 2,700,000

Estoril Sol 7,575,000 6,161,000 4,040,000 6,767,000 6,565,000

ITI 2,884,000 3,080,000 2,184,000 1,999,200 4,326,000

Emp. Madeirense de Tabacos 3,500,000 3,167,500 5,085,000 3,071,250 5,836,500

Foncar 862,500 622,500 750,000 150,000 510,000

Comp. Celulose do Caima 18,421,200 10,133,600 4,966,500 8,993,880 20,480,040

Soporcel 64,750,000 47,000,000 27,025,000 36,895,000 146,908,359

F. Ramada 1,171,200 768,000 1,209,600 1,056,000 1,344,000

Oliva 1,694,560 1,113,840 666,400 761,600 1,018,640

Efacec 4,050,000 13,425,000 17,775,000 21,450,000 14,088,750

Cel-Cat 5,220,000 7,812,000 8,820,000 8,460,000 6,480,000

Salvador Caetano 12,500,000 11,000,000 14,250,000 27,468,750 20,562,500

Lisnave 25,250,000 17,875,000 8,192,000 18,880,000 27,768,000

Papelaria Fernandes 6,000,000 4,120,000 1,625,250 2,447,500 2,744,500

Soc. Com. Orey Antunes 1,000,000 800,000 1,000,000 540,000 526,000

Tertir 13,860,000 5,005,000 6,624,000 5,696,000 6,688,000

Comp. P. Radio Marconi - Port. 47,775,000 18,192,720 17,734,080 39,672,360 41,583,360

Comp. P. Radio Marconi - Nom. 44,553,600 18,935,280 17,980,560 40,774,500 43,201,080

Mundicenter 6,885,000 7,654,500 7,411,500 14,377,500 15,997,500

Lusotur 19,833,750 13,772,925 9,517,125 15,887,500 16,400,000

Compta 1,960,000 1,752,000 2,325,000 2,481,250 2,287,500

250

251

8. Sintese sectorial

1990 1991 1992 1993 1994

CAE 15

Capitalização Bolsista 17,612,000 38,374,442 48,455,605 76,262,326 44,489,789

Taxa de cresc.to EPS - 77.89% -55.44% 20.72% -152.50%

PBV 1.66 1.64 1.26 1.68 1.29

Dividend Yield 2.81% 2.73% 3.00% 2.34% 2.58%

PER 18.87 30.19 18.80 23.56 21.85

CAE 24

Capitalização Bolsista 9,843,110 14,194,372 12,796,674 17,791,236 25,820,023

Taxa de cresc.to EPS - 1981.94% -3.18% -70.80% 136.87%

PBV 1.05 1.14 0.78 1.43 1.67

Dividend Yield 2.55% 2.41% 3.26% 1.43% 1.57%

PER 152.12 14.72 15.52 25.51 22.79

CAE 26

Capitalização Bolsista 20,500,000 18,597,000 13,693,100 14,640,700 65,860,829

Taxa de cresc.to EPS -38.10% -106.38% -3290.69% 24.41%

PBV 1.48 0.86 0.76 0.73 1.49

Dividend Yield 1.82% 1.31% 2.30% 1.86% 2.88%

PER 18.58 32.61 1083.11 24.05 30.16

CAE 45

Capitalização Bolsista 47,379,000 50,918,350 47,346,065 67,247,035 72,868,873

Taxa de cresc.to EPS 25.68% -39.63% -27.30% 52.90%

PBV 1.21 1.03 0.91 1.45 1.41

Dividend Yield 1.73% 2.02% 2.07% 1.16% 1.32%

PER 15.86 12.24 12.65 71.66 26.16

CAE 55

Capitalização Bolsista 3,427,040 4,878,800 4,983,120 4,420,920 5,003,400

Taxa de cresc.to EPS -24.84% -21.16% -71.50% 1502.80%

PBV 0.93 0.59 0.57 0.53 0.54

Dividend Yield 5.56% 2.42% 2.70% 2.52% 2.06%

PER 40.67 27.6 32.18 402.58 50.73

CAE 65 - Bancos

Capitalização Bolsista 453,280,200 564,525,239 707,959,499 1,073,908,944 1,057,773,717

Taxa de cresc.to EPS 9.8% -20.19% 21.57% -52.3%

PBV 1.81 1.65 1.52 1.61 1.39

Dividend Yield 3.04% 3.75% 4.07% 3.67% 3.57%

PER 12.84 10.84 25.46 16.57 14.55

CAE 65 - Restantes

Capitalização Bolsista 15,230,000 18,520,000 13,591,000 18,368,600 12,626,500

Taxa de cresc.to EPS 40.96% -2.08% 10.05% -17.11%

PBV 1.01 0.97 0.61 0.75 0.52

Dividend Yield 3.13% 4.32% 6.52% 5.64% 6.75%

PER 10.51 8.57 6.23 6.85 6.22

252

8. Sintese sectorial (continuação)

1990 1991 1992 1993 1994

CAE 66

Capitalização Bolsista 28,343,400 37,922,277 62,957,231 77,874,872 105,826,738

Taxa de cresc.to EPS -71.27% -512.70% 70.52% 140.99%

PBV 2.11 1.32 2.83 1.67 1.45

Dividend Yield 1.04% 1.38% 0.80% 0.39% 1.14%

PER 37.72 30.96 267.31 100.69 38.82

CAE 74

Capitalização Bolsista 130,955,000 149,033,008 150,358,903 418,620,574 548,066,960

Taxa de cresc.to EPS 242.23% 154.57% 47.10% 3.30%

PBV 1.42 1.61 1.33 3.12 2.91

Dividend Yield 2.34% 3.57% 3.50% 2.34% 2.22%

PER 15.07 12.93 17.77 21.27 21.00

CAE 92

Capitalização Bolsista 15,247,000 14,631,000 9,024,000 11,653,700 15,416,000

Taxa de cresc.to EPS -75.12% 733.10% -285.51% 34.25%

PBV 0.63 0.60 0.35 0.50 0.67

Dividend Yield 2.62% 6.15%

PER 5.50 323.81 13.60 22.52 21.06

Restantes CAE

Capitalização Bolsista 279,286,810 183,129,865 152,957,015 249,063,090 374,424,729

Taxa de cresc.to EPS -130.31% -192.98% -37.57% 84.47%

PBV 1.62 1.11 0.86 1.40 1.72

Dividend Yield 2.85% 3.79% 4.68% 2.07% 2.21%

PER 22.71 33.84 13.05 56.59 7.35

MERCADO

PER 18.17 20.44 39.94 27.54 17.19

Dividend Yield 2.73% 3.47% 3.90% 2.99% 2.87%

Price Book Value 1.64 1.46 1.41 1.87 1.80

Tx crescimento EPS 42.86% -42.83% -6.97% 1.28%

253

ANEXO III

Principais requisitos de admissão à negociação nos mercados de acções

Mercados Requisitos

Mercado de Cotações Oficiais - Encontrar-se a sociedade emitente constituída e a funcionar.

- Capitalização bolsista ou capitais próprios mínimos no valor de 500.000 contos.

- Haver a sociedade publicado regularmente os seus relatórios anuais, respeitantes,

pelo menos, aos três exercícios anteriores.

- Ter a sociedade dois anos completos, pelo menos, de exercício da sua actividade.

- Encontrar-se comprovado que a sociedade possui situação económica e financeira

adequada.

- Conformarem-se as características e a situação jurídica das acções com as

disposições legais, regulamentares e estatutárias aplicáveis.

- Estar ou ser assegurada, até ao momento da admissão, uma suficiente dispersão das

acções pelo público (em regra, uma percentagem não inferior a 25%).

Segundo Mercado

(requisitos diversos dos fixados para o

MCO)

- Valor mínimo de capitalização bolsista ou dos capitais próprios de 125.000 contos

(1/4 do valor estipulado para o MCO).

- Haver a sociedade publicado regularmente os seus relatórios anuais, respeitantes,

pelo menos, aos dois exercícios anteriores.

- Ter a sociedade um ano completo, pelo menos, de exercício da sua actividade.

- Estar ou ser assegurada, até ao momento da admissão, uma suficiente dispersão das

acções pelo público não inferior a 10%.

Mercado Sem Cotações

(requisitos diversos dos fixados para os

dois mercados anteriores)

- Não se encontra fixado o valor mínimo da capitalização bolsista ou dos capitais

próprios, competindo à associações de bolsa, em regulamento, especificar tais limites.

- Não é fixado qualquer requisito de dispersão.

- Não é fixado qualquer requisito de tempo mínimo de actividade da entidade emitente.

- Haver a sociedade publicado regularmente os seus relatórios anuais e dado

cumprimento a todas as obrigações de informação, a que se encontre vinculada, legal

ou estatutariamente.

254

ANEXO IV

Réplica do questionário e da carta enviados às empresas

1. Réplica da carta que acompanhava o questionário

ISLA, Leiria, Maio de 1995

ASSUNTO: Projecto de Investigação "Política de Dividendos"

Inquérito sobre o comportamento das empresas portuguesas em matéria de dividendos

Exmos. Senhores

Um docente-investigador do ISLA de Leiria encontra-se actualmente a desenvolver um trabalho de investigação sobre a

política de dividendos das empresas portuguesas, com vista à elaboração de uma tese a apresentar na Universidade Portucalense, sob a

orientação do Prof. Doutor Arlindo F. Santos, da Universidade de Coimbra e da Universidade Lusíada. De entre os diversos aspectos a

explorar, decidiu-se aprofundar o estudo da perspectiva dos gestores sobre a política de dividendos. Como elemento de trabalho,

elaborou-se o inquérito anexo, por meio do qual convidamos V. Exas. a formular opinião sobre vários aspectos que se relacionam com

o assunto.

Este inquérito é nesta data endereçado a uma amostra retirada do universo de empresas portuguesas listadas na Bolsa de

Valores de Lisboa. O inquérito é de resposta anónima, não se destinando a veicular publicamente, sob qualquer forma, opiniões

individualmente emitidas, mas apenas a promover o seu tratamento agregado de acordo com as questões colocadas.

O questionário proposto é de resposta simples e rápida, apelando-se ao preenchimento de quadrículas correspondentes às

alternativas melhor condicentes com a opinião de V. Exas. Em todo o caso, permitimo-nos chamar a atenção para o facto de cada

conjunto de questões formuladas apresentar um esquema de resposta próprio, devidamente explicitado no respectivo enunciado, e cuja

observância desde já se solicita.

O investigador que tem em mãos o tratamento dos resultados do inquérito ficaria reconhecido a V. Exas. caso a resposta

pudesse ser facultada até ao dia 15 de Junho p.f., para o endereço:

ISLA - Instituto Superior de Leiria

A/C José Benzinho

Rua da Cooperativa - S. Romão

2410 LEIRIA

ou por telecópia para o número: 044 - 813 021.

Em caso de dúvidas no preenchimento do questionário, poderão V. Exas. esclarecê-las mediante estabelecimento de contacto

telefónico para os números 812 445 ou 812 446, da rede de Leiria.

O investigador fica desde já inteiramente grato e em dívida para com V. Exas. pelo imprescindível auxílio que se dignarem

prestar ao projecto, tanto pela atenção dispensada a esta carta como respondendo ao inquérito anexo.

Com os melhores cumprimentos

José Benzinho

255

2. Réplica do Questionário do Inquérito Enviado às Sociedades Cotadas

PROJECTO "POLÍTICA DE DIVIDENDOS"

Inquérito sobre o comportamento das empresas portuguesas

em matéria de política de dividendos

Maio de 1995

DESEJA TER ACESSO AOS RESULTADOS FINAIS DO INQUÉRITO?

(Previsão de disponibilidade: Dezembro de 1995)

SIM NÃO

Assinalar escolha com [X]; Se SIM, p.f. indicar identificação e endereço

Enviar para o endereço

ISLA - Instituto Superior de Leiria

A/C José Benzinho

Rua da Cooperativa - S. Romão

2410 LEIRIA

ou para

telecópia número: 044 - 813 021

256

A. CARACTERIZAÇÃO DO INQUIRIDO

1. Tipo de empresa em que o subscritor das respostas ao presente questionário desenvolve a sua actividade

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Instituição financeira

• Sociedade industrial

• Sociedade comercial e de distribuição

• Sociedade de serviços

• Outra (especificar p.f.)

2. Funções desempenhadas na organização pelo subscritor das respostas ao presente inquérito

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Presidente do Conselho de Administração

• Administrador Financeiro

• Administrador

• Director Geral

• Director financeiro

• Outra (especificar p.f.)

3. Controlo accionista

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Privado

• Público

• Outro (especificar p.f.)

257

2. Réplica do Questionário do Inquérito Enviado às Sociedades Cotadas

(continuação)

B. FACTORES QUE A EMPRESA UTILIZA NA DEFINIÇÃO DA SUA POLÍTICA DE DIVIDENDOS

Assinalar com um [X] na quadrícula correspondente ao nível de importância que atribui a cada factor

LEGENDA DAS OPÇÕES:

[0] - Sem importância

[1] - Pouca importância

[2] - Importância média

[3] - Muito importante

[4] - Determinante

Nº FACTORES Nível de Importância

0 1 2 3 4

1. Antecipação de lucros futuros esperados

2. Oportunidades lucrativas de investimento e perspectivas de crescimento

3. Estabilidade de resultados

4. Importância e volume de acções na posse de gestores e grupos de controlo

5. Sector de actividade em que a empresa se insere

6. Tratamentos fiscais de dividendos versus mais valias realizadas em acções

7. Impacto favorável sobre a cotação das acções

8. Disponibilidade de fundos (Liquidez)

9. Dividendos passados (padrão de)

10. Preferência pela retenção de lucros como fonte de financiamento

11. Estabilidade dos dividendos

12. Capacidade de endividamento da empresa

13. Consideração da preferência dos accionistas por dividendos

14. Restrições legais e contratuais, designadamente o pagamento obrigatório de

dividendos (art. 294º do CSC)

15. Rácio-objectivo de distribuição de lucros

258

2. Réplica do Questionário do Inquérito Enviado às Sociedades Cotadas

(continuação)

C. AFIRMAÇÕES QUE SE RELACIONAM COM A POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS EM GERAL

Assinalar com um [X] nas quadrículas correspondentes ao nível de acordo/desacordo relativamente a cada uma das

afirmações

LEGENDA DAS OPÇÕES:

[-3] - desacordo absoluto [+1] - algum acordo

[-2] - desacordo moderado [+2] - acordo moderado

[-1] - algum desacordo [+3] - acordo absoluto

[ 0] - sem opinião

Nº AFIRMAÇÕES -3 -2 -1 0 +1 +2 +3

1 O rácio de distribuição de resultados afecta a cotação das acções.

2 As necessidades de financiamento do plano de investimentos das empresas têm

pouca influência na alteração do padrão de comportamento em matéria de

dividendos.

3 As empresas devem ter um rácio-objectivo de distribuição de resultados e

periodicamente ajustar o seu rácio de distribuição a esse objectivo.

4 As razões para uma alteração na política de dividendos devem ser

adequadamente explicadas aos accionistas.

5 O mercado utiliza a divulgação sobre dividendos como informação para a

avaliação do valor das acções.

6 Os gestores devem respeitar as preferências dos accionistas por dividendos.

7 Os investidores têm uma percepção diferente do grau de risco relativamente aos

dividendos e aos lucros retidos.

8 A distribuição de lucros deve ser vista como um resíduo após o financiamento

dos investimentos seleccionáveis, a partir dos lucros retidos.

9 Uma alteração no rácio de distribuição de resultados é mais importante do que o

nível de dividendos anunciados.

10 As empresas devem evitar alterações no rácio de distribuição de resultados que

não possam manter nos anos seguintes.

11 Os accionistas situados nos escalões de imposto mais elevados preferem investir

em acções com baixas remunerações por dividendos.

12 Os accionistas situados nos escalões de rendimento tributável menos elevados

preferem investir em acções com elevadas remunerações por dividendos.

13 As decisões de financiamento devem ser independentes da política de

dividendos.

14 O pagamento de dividendos proporciona um "sinal" sobre o futuro da empresa.

15 As mais valias esperadas a partir de lucros retidos têm maior risco do que os

dividendos previstos.

16 Os investidores são atraídos pelas empresas que têm políticas de dividendos

adequadas ao enquadramento fiscal próprio.

259

17 As empresas devem esforçar-se por manter sem interrupção o pagamento de

dividendos.

18 Os investidores são indiferentes entre a remuneração por dividendos e os ganhos

de capital.

260

2. Réplica do Questionário do Inquérito Enviado às Sociedades Cotadas

(continuação)

D. INFORMAÇÕES SOBRE A EMPRESA

Nº 1992 1993 1994

1. Capital social (em escudos)

2. Nº de acções emitidas

3. Nº de acções admitidas à cotação

4. Valor nominal de cada acção (em escudos)

5. Lucro líquido por acção*

6. Dividendo por acção*

7. Operações financeiras realizadas

7.1. Número de acções emitidas

7.2. Condições de emissão

7.2.1. Acções para distribuição por incorporação de reservas (nº)

7.2.2. Acções para subscrição (nº)

* Se possível agradece-se, adicionalmente, o envio de informações sobre o lucro por acção e sobre o dividendo por acção

para cada um dos anos correspondentes ao período iniciado em 1985, utilizando para o efeito o mapa auxiliar.

8. A empresa tem utilizado alguma(s) das seguintes outras formas de distribuição de resultados?

Assinalar com um [X] em cada uma das alternativas

SIM NÃO

8.1. Aquisição de acções próprias

8.2. Dividendos em acções e desdobramento de acções

8.3. Dividendos em existências

8.4. Outras (especifique p.f.)

9. Deseja concretizar algum raciocínio, opinião, sugestão ou quaisquer considerandos sobre o tema tratado ou sobre o

presente inquérito ?

Em caso afirmativo, utilize o espaço infra

Muito obrigado ¨

261

2. Réplica do Questionário do Inquérito Enviado às Sociedades Cotadas

(continuação)

Mapa Auxiliar

(valores em escudos)

ANO Lucro antes de impostos por

acção

Lucro líquido por acção Dividendo bruto por acção

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Ano de constituição

Ano de admissão à cotação das acções na Bolsa de Valores

262

3. Réplica do Questionário do Inquérito às PME

PROJECTO "POLÍTICA DE DIVIDENDOS"

Inquérito sobre o comportamento das empresas portuguesas

em matéria de política de dividendos

Junho de 1995

DESEJA TER ACESSO AOS RESULTADOS FINAIS DO INQUÉRITO?

(Previsão de disponibilidade: Dezembro de 1995)

SIM NÃO

Assinalar escolha com [X]; Se SIM, p.f. indicar identificação e endereço

Enviar para o endereço

ISLA - Instituto Superior de Leiria

A/C José Benzinho

Rua da Cooperativa - S. Romão

2410 LEIRIA

ou para

telecópia número: 044 - 813 021

263

3. Réplica do Questionário do Inquérito às PME (continuação)

A. CARACTERIZAÇÃO DO INQUIRIDO

1. Tipo de empresa em que o subscritor das respostas ao presente questionário desenvolve a sua actividade

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Sociedade industrial

• Sociedade comercial e de distribuição

• Sociedade de serviços

• Outra (especificar p.f.)

2. Funções desempenhadas na organização pelo subscritor das respostas ao presente inquérito

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Presidente do Conselho de Administração (Gerência)

• Administrador (Gerente)

• Director Geral

• Director financeiro

• Técnico de Contas

• Outra (especificar p.f.)

3. Controlo societário

Assinalar com um [X] uma e uma só alternativa

• Privado

• Público

• Outro (especificar p.f.)

264

3. Réplica do Questionário do Inquérito às PME (continuação)

B. FACTORES QUE A EMPRESA UTILIZA NA DEFINIÇÃO DA SUA POLÍTICA DE DIVIDENDOS

Assinalar com um [X] na quadrícula correspondente ao nível de importância que atribui a cada factor

LEGENDA DAS OPÇÕES:

[0] - Sem importância

[1] - Pouca importância

[2] - Importância média

[3] - Muito importante

[4] - Determinante

Nº FACTORES Nível de Importância

0 1 2 3 4

1. Antecipação de lucros futuros esperados

2. Oportunidades lucrativas de investimento e perspectivas de crescimento

3. Estabilidade de resultados

4. Importância e volume de acções (quotas) na posse de gestores e grupos de

controlo

5. Sector de actividade em que a empresa se insere

6. Tratamentos fiscais de dividendos versus mais valias realizadas em acções

(quotas)

7. Impacto favorável sobre o valor de mercado das acções (quotas)

8. Disponibilidade de fundos (Liquidez)

9. Dividendos passados (padrão de)

10. Preferência pela retenção de lucros como fonte de financiamento

11. Estabilidade dos dividendos

12. Capacidade de endividamento da empresa

13. Consideração da preferência dos accionistas (sócios) por dividendos

14. Restrições legais e contratuais, designadamente a distribuição obrigatória de

lucros (art. 294º do CSC)

15. Rácio-objectivo de distribuição de resultados

265

3. Réplica do Questionário do Inquérito às PME (continuação)

C. AFIRMAÇÕES QUE SE RELACIONAM COM A POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS EM GERAL

Assinalar com um [X] nas quadrículas correspondentes ao nível de acordo/desacordo relativamente a cada uma das

afirmações

LEGENDA DAS OPÇÕES:

[-3] - desacordo absoluto [+1] - algum acordo

[-2] - desacordo moderado [+2] - acordo moderado

[-1] - algum desacordo [+3] - acordo absoluto

[ 0] - sem opinião

Nº AFIRMAÇÕES -3 -2 -1 0 +1 +2 +3

1 O rácio de distribuição de resultados afecta o valor de mercado da empresa

2 As necessidades de financiamento do plano de investimentos das empresas têm

pouca influência na alteração do padrão de comportamento em matéria de

dividendos

3 As empresas devem ter um rácio-objectivo de distribuição de resultados e

periodicamente ajustar o seu rácio de distribuição a esse objectivo

4 As razões para uma alteração na política de dividendos devem ser

adequadamente explicadas aos accionistas (sócios)

5 O mercado utiliza a divulgação sobre dividendos como informação para a

avaliação do valor das acções (quotas)

6 Os gestores devem respeitar as preferências dos accionistas (sócios) por

dividendos

7 Os investidores têm uma percepção diferente do grau de risco relativamente aos

dividendos e aos lucros retidos

8 A distribuição de lucros deve ser vista como um resíduo após o financiamento

dos investimentos seleccionáveis, a partir dos lucros retidos

9 Uma alteração no rácio de distribuição resultados é mais importante do que o

nível de dividendos anunciados

10 As empresas devem evitar alterações no rácio de distribuição de resultados que

não possam manter nos anos seguintes

11 Os accionistas (sócios) situados nos escalões de imposto mais elevados preferem

investir em empresas com baixas remunerações por dividendos

12 Os accionistas (sócios) situados nos escalões de rendimento tributável menos

elevados preferem investir em empresas com elevadas remunerações por

dividendos

13 As decisões de financiamento devem ser independentes da política de dividendos

14 O pagamento de dividendos proporciona um "sinal" sobre o futuro da empresa

15 As mais valias esperadas a partir de lucros retidos têm maior risco do que os

dividendos previstos

16 Os investidores são atraídos pelas empresas que têm políticas de dividendos

adequadas ao enquadramento fiscal próprio

17 As empresas devem esforçar-se por manter sem interrupção o pagamento de

dividendos

18 Os investidores são indiferentes entre a remuneração por dividendos e os ganhos

de capital

266

267

3. Réplica do Questionário do Inquérito às PME (continuação)

D. INFORMAÇÕES SOBRE A EMPRESA

Nº 1992 1993 1994

1. Capital social (em contos)

2. Capital próprio (em contos)

3. Lucros líquidos*

3. Resultados distribuídos em dinheiro*

4. Operações financeiras realizadas

4.1. Aumento de capital (em contos)

4.2. Condições de emissão

4.2.1. Em dinheiro

4.2.2. Incorporação de reservas

* Se possível agradece-se, adicionalmente, o envio de informações sobre o capital social, os resultados e sobre o dividendos

para cada um dos anos correspondentes ao período iniciado em 1985, utilizando para o efeito o mapa anexo.

5. A empresa tem utilizado alguma(s) das seguintes outras formas de distribuição de resultados?

Assinalar com um [X] em cada uma das alternativas

SIM NÃO

5.1. Aquisição de acções (quotas) próprias

5.2. Dividendos em existências

5.3. Outras (especifique p.f.)

6. Deseja concretizar algum raciocínio, opinião, sugestão ou quaisquer considerandos sobre o tema tratado ou sobre o

presente inquérito ?

Em caso afirmativo, utilize o espaço infra

Muito obrigado ¨

Mapa Auxiliar

(valores em contos)

ANO Resultados antes de

impostos

Resultados líquidos Resultados

distribuídos

Capital Social

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

268

1993

1994

Ano de constituição da empresa

269

ANEXO V

Pequenas e médias empresas - PME Prestígio

EMPRESA MORADA

A Fiandeira - Fiação e Tecelag. de Fibras e Mistos, SA Lugar da Veiga - Padim da Graça - 4700 Braga

A. Dias Ramos - Máquinas Ferramentas, Lda. R. António Bessa Leite, 1106 - 4102 Porto

Agricortes-Soc. Comercial Agrícola, Lda Av do Lis-Cortes, Leiria

Aldeia & Irmão, Lda Barracão 2400 Leiria

Américo Sousa, Irmão & Comp. Lda Av. Viriato, 15 - 6205 Tortosendo

Ancal Plásticos, Lda Zona Ind. - 3721 Oliveira de Azeméis

António Ferreira Rito & Filhos, Lda R. Santo André, 77, r/c - 4700 Braga

Armando Silva, Lda Zona Ind. das Travessas - 3701 S. J. Madeira

Artame-Indústria Metalúrgica, SA Lugar do Crasto-Baguim - 4435 Rio Tinto

Aveleda-Soc. Agrícola e Comercial da Quinta da Aveleda, SA Quinta da Aveleda, 4560 Penafiel

Baptista & Irmão, Lda Rua Mons. Miguel de Oliveira, 148 3880 Ovar

Bastos Viegas, SA Apartado 24-Guilhofe 4560 Penafiel

Belfama-Empresa Têstil, Lda Megide - M. Cónegos - 4815 Caldas de Vizela

Brancal Júnior & Irmão, Lda R. do Campo de Aviação, 6203 Covilhã

Cameirinha Automóveis, Lda R. Serpa Pinto, 153 - 7000 Évora

Carpintaria Vale Covo, Lda Vale Covo - 2415 Caranguejeira

Cartonarte-Ind. de Cartonagem, Lda Comeiras, 2432 M Grande

Cerâmica do Rosário, SA Serra D`El-Rei - 2520 Peniche

Champcork-Rolhas de Champanhe, SA Lugar do Outeiro - Sta M de Lamas - 4535 Lourosa

Cifial-Centro Industrial de Ferragens, Lda Lugar do Bodo-Riomeão - 4524 Feira

CIPADE-Ind e Inv. de Produtos Adesivos, SA Av. 1º Maio, 518 - 3701 S. J. Madeira

Comp de Fiação e Tecidos do Ferro, Lda R. José Ribeiro Vieira de Castro, 4820 Fafe

Companhia Agrícola da Barrosinha, SA Barrosinha - 7580 Alcácer do Sal

Contubos-Construções Tubulares, Lda R. Com. Carv. Araújo, 39, Sete Casas - 2670 Loures

Copidata Industrial-Gráfica e Equipamemtos, SA R. Heróis de Chaimite, 12 - 2765 Odivelas

Dromamate-Drog., Madeiras, Mat Construção, Lda Jardoeira - 2440 Batalha

Empresa Ciclista Miralago, SA Vale do Grou - 3750 Águeda

Empresa Industrial de Pimentão, Lda Rua Miguel Torga, 7401 Ponte Sôr

Estamparia Têxtil-Adalberto Pinto da Silva, Lda Lugar de Mourizes, V. Aves - 4780 Santo Tirso

Fábrica de Camisas Sagres, SA R. Dr. Sebastião Alcântara, 1 - 3530 Mangualde

Fabrilcar-Componentes para Automóveis, Lda R. Dr. Silva Pinto - 3721 Oliveira de Azeméis

FAIART-Fábrica de Louças Regionais Portuguesas, Lda S. Mamede - 2495 Fátima

270

Pequenas e médias empresas - PME Prestígio (continuação)

EMPRESA MORADA

Famaval-Criações Metálicas Adauta, Lda Quinta do Celão - 3731 Vale de CAmbra

Feijão & Filhos-Soc. de Artefactos de Cimento e Pedreiras, SA Carreira do Tiro - 3500 Videu

Ferreira Marques & Irmão, Lda Rua do Heroísmo, 267 - 4200 Porto

FOPIL-Fab. Ovarense de Plásticos Industriais, Lda R. Monsenhor Miguel de Oliveira, 3881 Ovar

FORMATO-Formulários Mult. Comerciais, Lda Quinta da Bemposta-Bemposta, 2460 Alcobaça

Friopesca-Refrigeração de Aveiro, Lda Av. P. Álvares Cabral, G. da Nazaré - 3830 Ílhavo

Fucoli-Fundição Conimbricense, Lda Coselhas - 3000 Coimbra

Gilaba-Maq. e Produtos Químicos, Lda Av. Fontes Pereira de Melo, 51 - 4100 Porto

Habidecor-Ind. Têxtil para Habitação, SA Zona Industrial de Mundão - 3500 Viseu

HQ-Luso Química, SA Zona Industrial Maia 1-Sector 7, Rua E - 4470 Mais

Idepa-Indústria de Passamanarias, Lda Rua 1º de Maio, 71 - 3700 S. J. Madeira

IMPAR-Ind. de Madeiras e Parquetes, Lda Verdemilho-Arados - 3801 Aveiro

Inamol-Ind. Nacional de Moldes, Lda Av. Dr. José H. Vareda, 100 - 2430 M. Grande

Indumeca-Soc. Ind. Metalúrgica de Baião, Lda Stulho-Campelo - 4640 Baião

Invicar-Indústria e Confecções, Lda Rua 1º de Maio, Lg S. Bartolomeu - 7300 Portalegre

IRMADE-Ind. de Revestimento de Madeiras, SA Vale Travesso- 2490 Ourém

J. Castanheira, Lda R. de S. Jorge, 11 - 6000 Castelo Branco

J. Moreira da Silva & Filhos, Lda Fontanhias-Rebordosa - 4583 Paredes

J. Pereira Fernandes & Filhos, Lda Fonte da Venda - Pevidém - 4807 Guimarães

J. Roldão Seiça & Tavares, SA Av. Dr. José H. Vareda, 120 - 2430 M. Grande

João dos Santos Pires, Lda Rua Eng. Oudinot, Gafanha da Nazaré - 3830 Ílhavo

João Pereira & Filhos, Lda E.N. 8, Km 44 - 2562 T. Vedras

Joaquim Verdasca Júnior, Herdeiros, Lda Av. D. Nuno Álvares Pereira, 104 - 2490 Ourém

Jomape-José Maria Pinto, Filhos, Lda Outeiro-Livração - 4630 Marco de Canaveses

José A. S. Sucena, Lda Raso de Alagoa - 3751 Águeda

José Francisco da Costa & Comp, Lda Rua Sebastião Cordeiro - 8100 Loulé

José Pinto Cardoso, Lda Ponte dos Falcões - Maximinos - 4700 Braga

Lactinícios MAF, Lda Quintas - Fornos - 4520 Santa Maria Feira

Lisboas & Cª, Lda Zona Indust. do Orreio, Rua A, 3702 S. J. Madeira

M. Sousa & Rodrigues, Lda R. da Caldeiroa, 124 - 4800 Guimarães

Maitex-Indústria Têxtil, Lda R. R. G. Lage - Parada - Águas Santas - 4470 Maia

Manuel Rodrigues Oliveira Sá e Filhos, SA Rua do Outeiro - Gemunde - 4470 Maia

Manufacturas Santos, Lda Raso de Alagoa - 3751 Águeda

Marante, Marques & Nunes, Lda R. Amorim Rosa, 24, r/c - 2300 Tomar

Marbrito-Ind. Reunidas de Mármores, Lda Av. Cond. Cuba, 1, r/c, Sto André - 7100 Estremoz

Mármores Galrão-Eduardo Galrão Jorge & Filhos, SA Av. da Liberdade, 153 - 2715 Pêro Pinheiro

271

Pequenas e médias empresas - PME Prestígio (continuação)

EMPRESA MORADA

Marmorose-Soc. Exportadora de Mármore, Lda Vila Viçosa - 7160 Vila Viçosa

Mathias, SA Av. António Joaquim Henriques - 3520 Nelas

Mecânica Agrícola, Lda Faz. Novas, E.N. 118, Km 39,6 - 2130 Benavente

Metalofarense, Lda Rua Abdim Ascensão, 89 - 8001 Faro

Miranda, Ribeiro & Silva, Lda E. N. 1 - Borralha - 3750 Águeda

Mundiveste-Ind. e Comércio de Vestuário, Lda Trav. Luísa Tody, 3 - 3 A - 3400 Ol. Hospital

Passamanarias Monte Leão, SA Cucujães - 3720 Oliveira de Azeméis

Pavigrés-Fáb. de Pavimentos e Revestimentos, SA 3781 Anadia

Petróleo Mecânica Alfa, SA Lugar dos Pontilhões-Brita - 4800 Guimarães

Pimentas & Coelho, Lda Lugar de Romão - Vila das Aves - 4780 Santo Tirso

Plátano Editora, SA Av. Berna, 31-2º Esq.

Polipoli-Poliesteres Reforçados Industriais, Lda Barros-Silvalde - 4501 Espinho

Pontautos-Com. de Auto, Lda Pontes de Marchil-S. Pedro - 8000 Faro

Relvas Cortiças, SA R. de Vilas, 535 - 4539 Mazelos

Roussel Portugal-Indústria Farmacêutica, Lda R. João de Deus, 19 Venda Nova - 2700 Amadora

Saleco & Merca, Lda Z. Ind. Pinhal Frades, L 529,L,F. Ferro, 2840 Seixal

Santiagos, Lda B. Sta Apolónia-Estrada de Eiras - 3001 Coimbra

SIE-Soc. Internacional de Embalagens, Lda Santa Clara-Parceiros - 2401 Leiria

Silva Alves & Alves, Lda Rua Santo André, 10

Simoldes Aços, Lda Zona Industrial - 3721 Oliveira de Azeméis

Soc. Auto Central Leiriense, Lda Av. Comb. Grande Guerra, 12, 1º Esq. - 2410 Leiria

SODICAL-Soc. Prod de Decalques, Lda Espelho de Água-Valado dos Frades - 2450 Nazaré

Solastique-Soc. Ind. de Elastómeros, Lda R. das Torgas- Arcozelo - 4750 Barcelos

Somefe-Soc. de Metais e Fundição, Lda B. Chafariz D`El-Rei, Est. Azinheira - 7001 Évora

Sopursal-Soc. Industrial de Sal do Algarve, SA Av. Proj. Norte da Doca de Pesca - 8700 Olhão

SOTAVE-Soc. Textil dos Amieiros Verdes, SA Amieiros Verdes - 6260 Manteigas

SPAL-Soc. Porcelanas de Alcobaça, Lda Ponte da Torce - 2461 Alcobaça

Tectron-Ind. de Produtos Electrónicos, Lda Est. de Albarraque-Capa Rota-Linhó - 2710 Sintra

Teles & Mendes, Lda Ponte Nova - P. Saramagos - 4760 V. N. Famalicão

TERMOLAN-Isolamentos Termo Acústicos, Lda Carvalheiras-Vila das Aves - 4780 Santo Tirso

Textil Rogam, Lda Sítio do Estreitinho-2396 Minde

Vinícola de Nelas, Lda Areal, 3520 Nelas

Vistas Ribeiro & Vistas, Lda Av da Liberdade, 26 - 2715 Pêro Pinheiro

Zubarreia - Areias, SA Quinta da Queijeira, 2050 Azambuja

272

BIBLIOGRAFIA

[1] ADELINO, José Neves, "O Governo das Empresas", Valor, 186, 25/Maio/95,

pp. 9-10.

[2] AHARONY, J. e SWARY, I., "Quarterly Dividend and Earnings

Announcemments and Stockholders` Returns: An Empirical Analysis", Journal of

Finance, 35(1), March 1980, pp. 1-12.

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