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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS André Luiz Carvalhal da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Orientador: Prof. Ricardo P. C. Leal, D.Sc. Rio de Janeiro 2002

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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE

NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE

DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

André Luiz Carvalhal da Silva

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto COPPEAD de Administração

Orientador: Prof. Ricardo P. C. Leal, D.Sc.

Rio de Janeiro

2002

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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE

NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE

DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

André Luiz Carvalhal da Silva

Tese submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de Administração da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Doutor.

Aprovada por:

___________________________________ - Orientador

Prof. Ricardo P. C. Leal (COPPEAD/UFRJ)

___________________________________

Prof. Agrícola S. Bethlem (COPPEAD/UFRJ)

__________________________________

Prof. Jairo L. Procianoy (UFRGS)

__________________________________

Prof. Walter L. Ness Jr (PUC-RJ)

__________________________________

Prof. Silvia M. Valadares (Opportunity)

Rio de Janeiro

2002

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Carvalhal da Silva, André Luiz.

A Influência da Estrutura de Controle e Propriedade no Valor, Estrutura de

Capital e Política de Dividendos das Empresas Brasileiras / André Luiz

Carvalhal da Silva – Rio de Janeiro, 2002.

vii, 128 f.: il.

Tese (Doutorado em Administração) - Universidade Federal do Rio de Janeiro

– UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2002

Orientador: Ricardo Pereira Câmara Leal

1. Finanças. 2. Governança Corporativa. 3. Finanças Corporativas. I.

Leal, Ricardo Pereira Câmara (Orient.). II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

Foram tantas as pessoas que contribuíram de alguma forma para esta tese, que

é até uma injustiça citar apenas o nome de alguns. No entanto, existem algumas

pessoas que foram realmente imprescindíveis, e que não poderiam deixar de ser

citadas aqui.

Agradeço, em primeiro lugar, a Ricardo Pereira Câmara Leal, que foi meu

orientador, não apenas na confecção desta tese, mas em toda a minha vida

acadêmica, desde 1998, quando nos conhecemos através do mestrado do

COPPEAD/UFRJ. Desde então, o seu apoio e amizade foram fundamentais para

os meus êxitos como estudante de mestrado e doutorado.

A Jairo Procianoy, Agrícola Bethlem, Walter Ness e Silvia Valadares, membros da

banca examinadora, cujos comentários e sugestões foram de grande importância

para o enriquecimento e elaboração final desta tese.

A todos os professores do COPPEAD/UFRJ, em especial, Eduardo Facó

Lemgruber, Eduardo Saliby e Celso Lemme, pelos conhecimentos transmitidos,

que contribuíram de forma singular para a minha formação acadêmica.

Aos colegas e funcionários do COPPEAD/UFRJ, pela amizade e apoio

que tornaram os últimos anos muito mais agradáveis.

A Flávia Graminho, pelo amor, carinho e amizade que, há mais de cinco anos,

fazem parte dos bons momentos da minha vida, e ainda farão parte de muitos

outros. Mas, principalmente, pela paciência com que suportou meus maus

momentos.

Por último, às pessoas que tornaram tudo isto possível: meus pais. Devo tudo

que sou a eles, que, com seu carinho e suporte, sempre me incentivaram a

estudar e a crescer como pessoa, e lutaram para que eu tivesse o melhor.

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RESUMO

Carvalhal da Silva, André Luiz. A Influência da Estrutura de Controle e

Propriedade no Valor, Estrutura de Capital e Política de Dividendos das

Empresas Brasileiras. Orientador: Ricardo P. C. Leal. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Tese (Doutorado em Administração).

O conceito de governança corporativa existe há mais de 50 anos. No entanto,

embora a governança corporativa não seja um tema relativamente novo, somente

nos últimos anos vem se transformando em uma preocupação importante em

diversos países, sejam mercados desenvolvidos ou emergentes. O objetivo da

presente tese é analisar os efeitos da estrutura de controle e propriedade no valor

de mercado, estrutura de capital e política de distribuição de dividendos das

empresas brasileiras. Os resultados indicam um alto grau de concentração do

capital votante e uma diferença razoável entre o percentual de votos e de capital

total nas mãos dos grandes acionistas. Além disso, conclui-se que existe uma

relação entre estrutura de controle/propriedade e valor de mercado, estrutura de

capital e payout das empresas brasileiras. As variáveis da estrutura indireta têm

maior poder explicativo do que as variáveis da estrutura direta, sinalizando que as

análises acerca da propriedade das empresas não devem ficar restritas à

propriedade direta, mas se aprofundarem nas questões sobre quem é o

controlador final das empresas.

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ABSTRACT

Carvalhal da Silva, André Luiz. A Influência da Estrutura de Controle e

Propriedade no Valor, Estrutura de Capital e Política de Dividendos das

Empresas Brasileiras. Orientador: Ricardo P. C. Leal. Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPEAD, 2002. Tese (Doutorado em Administração).

The concept of corporate governance is more than 50 years old. However, only

recently it has become an important subject in many developed and emerging

markets. The purpose of this thesis is to analyze the relationship between

ownership structure and market value, capital structure and dividend payout of

Brazilian companies. The results indicate a high degree of capital concentration in

the hands of a few shareholders and a reasonable difference between voting and

total capital. Moreover, we conclude that there is a relationship between

ownership structure and market value, capital structure and dividend payout in

Brazil. The indirect structure measures of capital concentration have more

explanatory power than the direct structure variables. Therefore, the studies

concerning ownership structure must focus not only on the direct structure but

also on the indirect structure, analyzing deeply who are the ultimate owners of the

companies.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Desempenho dos Principais Índices Brasileiros de Mercado

Figura 2 – 1o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Figura 3 – 2 o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Figura 4 – 3 o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Figura 5 – 4 o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Figura 6 – Grupos de Análise das Companhias Brasileiras Abertas

Figura 7 – Estrutura Acionária da Companhia Energética de Pernambuco

Figura 8 – Estrutura Acionária da Brasmotor S.A

Figura 9 – Estrutura Acionária da Dana Albarus S.A

Figura 10 – Estrutura Acionária da Petrobrás Distribuidora S.A

Figura 11 – Estrutura Acionária da Confab Industrial S.A

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Carteira Teórica do IGC para Setembro a Dezembro 2002

Tabela 2 - Limites de Aplicação em Renda Variável dos Fundos de Pensão

Tabela 3 - Composição Acionária Direta das Companhias Brasileiras em 2000

Tabela 4 - Composição Acionária Indireta das Companhias Brasileiras em 2000

Tabela 5 - Participação Direta e Indireta dos Acionistas Controladores em 2000

Tabela 6 - Participação Acionária dos Diversos Grupos Controladores em 2000

Tabela 7 - Mecanismos de Separação entre Controle e Propriedade no Brasil

Tabela 8 - Valor, Alavancagem e Payout das Empresas Brasileiras em 2000

Tabela 9 - Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade no Valor

Tabela 10 - Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade no Valor

Tabela 11 - Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade na Alavancagem

Tabela 12 - Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade na Alavancagem

Tabela 13 - Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade no Payout

Tabela 14 - Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade no Payout

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SUMÁRIO

1. Introdução.............................................................................................................................1

1.1. Objetivos e Importância do Estudo ......................................................................1

1.2. Delimitação do Estudo...........................................................................................4

1.3. Organização da Tese.............................................................................................5

2. Referencial Teórico.............................................................................................................5

2.1. Conceito e Modelos de Governança Corporativa .............................................5

2.2. Governança Corporativa no Brasil .....................................................................10

2.2.1. Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo..............................13

2.2.2. A Nova Lei das S.As .................................................................................21

2.2.3. Regulamentação dos Fundos de Pensão .............................................26

2.2.4. Atuação do BNDES ...................................................................................27

2.2.5. Código de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC .......29

2.2.6. Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa.................32

2.3. Evidências Empíricas e Hipóteses.....................................................................35

2.3.1. Estrutura de Controle/Propriedade e Valor das Empresas.................36

2.3.2. Estrutura de Controle/Propriedade e Alavancagem Financeira.........59

2.3.3. Estrutura de Controle/Propriedade e Política de Dividendos .............66

3. Dados e Metodologia ........................................................................................................ 69

4. Análise dos Resultados .................................................................................................... 87

5. Conclusão .........................................................................................................................106

6. Referências Bibliográficas ..............................................................................................110

7. Anexos ...............................................................................................................................121

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1 - INTRODUÇÃO

1.1 - Objetivos e Importância do Estudo

O conceito de governança corporativa existe há mais de 50 anos. No

entanto, embora a governança corporativa não seja um tema relativamente

novo, somente nos últimos anos vem se transformando em uma preocupação

importante em diversos países, sejam mercados desenvolvidos ou emergentes.

Nesse sentido foram realizadas várias pesquisas a partir dos anos 80 nos

Estados Unidos, Europa, Japão e mercados emergentes para examinar os

modelos de governança corporativa e suas conseqüências sobre o

desempenho, estrutura de capital e política de dividendos das empresas.

No Brasil, o debate em torno da governança corporativa se intensificou

bastante na última década, na medida em que as relações entre acionistas e

administradores e entre acionistas majoritários e minoritários estão mudando

com a reestruturação societária provocada pelas privatizações e a entrada de

novos sócios nas empresas do setor privado, principalmente estrangeiros e

investidores institucionais.

Portanto, a abertura da economia brasileira, o aumento dos

investimentos estrangeiros no país, o processo de privatização de empresas

estatais e o crescente número de empresas brasileiras acessando os mercados

internacionais através de ADRs (American Depositary Receipts) e GDRs

(Global Depositary Receipts) têm estimulado e tornado essencial o esforço em

busca das boas práticas de governança corporativa. Entre as principais

iniciativas de estímulo e aperfeiçoamento do modelo de governança das

empresas no país destacam -se: criação do Novo Mercado da Bolsa de Valores

de São Paulo, a nova Lei das S.As (Lei 10.303/01) e a regulamentação dos

fundos de pensão (Resolução CMN 2.829/01).

A governança corporativa é um tema bastante abrangente. Embora ela

possa ocorrer em diversas dimensões, a análise pode ser centrada na estrutura

de controle e propriedade das empresas, levando-se em conta que essa

dimensão está intimamente ligada com as demais. Portanto, a governança

corporativa pode ser analisada do ponto de vista da dissociação entre

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propriedade e controle. Shleifer e Vishny (1997) argumentam que a estrutura

de controle e propriedade é, junto com a proteção legal, um dos dois

determinantes da governança corporativa. Algumas razões para tal são

apontadas: (i) a concentração da propriedade por parte de grandes acionistas

irá icentivá-los a tomar uma posição ativa, com interesse no desempenho da

firma; (ii) a separação entre controle e propriedade pode incentivar a

expropriação dos acionistas minoritários; (iii) a identidade e a origem do capital

dos proprietários (estrangeiro, familiar, estatal, institucional) são indicativos de

suas estratégias e prioridades.

A compreensão da estrutura de controle e propriedade é de fundamental

importância uma vez que ela influencia diretamente a eficiência do mercado por

controle corporativo. Primeiramente, ela mostra o grau de diversificação de

risco dos acionistas. Outro ponto importante é que ela demonstra um potencial

problema de agência na direção da firma. Pode haver um problema de agência

entre a administração e os acionistas, pois a primeira pode não estar

maximizando o valor para os últimos. Quando há um agente que pode

influenciar o controle de uma companhia, um novo problema de agência pode

surgir, desta vez entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários.

A presente tese dá continuidade a uma série de estudos sobre

estruturas de controle e propriedade de companhias brasileiras (Valadares e

Leal (2000), Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002)). Este trabalho

também dá continuidade à literatura a respeito dos efeitos das estruturas de

controle e propriedade sobre a avaliação das empresas pelo mercado, sobre as

decisões de estrutura de capital e de política de dividendos.

Os direitos de fluxo de caixa (propriedade) e voto (controle) podem ser

bastantes diferentes devido ao uso de ações não votantes (ações

preferenciais), pirâmides, estrutura cruzadas (cross-holdings), além de acordos

para exercício do direito a voto, ou do poder de controle. Na presente tese, são

calculadas as estruturas direta e indireta de controle e propriedade, além de

considerar a presença de acordos de acionistas, o que não foi analisado em

estudos anteriores sobre estrutura de controle e propriedade realizados no

Brasil.

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A grande dificuldade na determinação da composição acionária das

empresas refere-se ao cálculo das participações na estrutura indireta de

controle e propriedade. As medidas da estrutura indireta de controle e

propriedade usadas em estudos no Brasil (Valadares (1998), Valadares e Leal

(2000) e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002)) não permitem analisar e

computar apropriadamente a separação entre propriedade e controle na

estrutura indireta, uma vez que tendem a subestimar o controle dos acionistas

majoritários.

Por outro lado, as medidas utilizadas geralmente na literatura

internacional (Claessens et al (2000a, 2000b), La Porta et al (1998, 2000a,

2002), Faccio e Lang (2001)) podem levar a imprecisões quando existem mais

de um acionista indireto, uma vez que pode ocorrer que o somatório dos

direitos de voto ultrapasse 100%. O problema já havia sido detectado por

Claessens et al (2000a, 2000b), La Porta et al (1998, 2000a, 2002) e Faccio e

Lang (2001)), mas, como esses autores só analisaram o controle do maior

acionista, geralmente, os resultados não eram afetados por essas

circunstâncias.

A presente tese utiliza uma nova metodologia de cálculo de participação

indireta na estrutura de controle e propriedade, visando superar as dificuldades

e imprecisões das metodologias atualmente empregadas na literatura

internacional e brasileira. Nesse contexto, a presente tese está baseada em um

banco de dados da estrutura direta e indireta das empresas brasileiras, levando

em conta a presença de acordo de acionistas e usando uma metodologia que

não subestima o controle dos acionistas majoritários.

O objetivo da tese é analisar os efeitos da estrutura de controle e

propriedade no valor de mercado, estrutura de capital e política de distribuição

de dividendos de empresas no Brasil. Para tanto, é realizada uma análise

detalhada dos principais estudos empíricos na literatura nacional e

internacional, visando formular as principais hipóteses sobre as relações entre

estrutura de controle e propriedade e valor de mercado, alavancagem e payout

das companhias.

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1.2 - Delimitação do Estudo

A presente tese visa analisar as estruturas de controle e propriedade de

empresas brasileiras e seus efeitos no valor de mercado, estrutura de capital e

payout das companhias. A amostra abrange 225 companhias listadas na Bolsa

de Valores de São Paulo (Bovespa) no final do ano de 2000. Portanto, embora

a amostra represente 45% do número de companhias registradas na Bovespa

e aproximadamente 70% da capitalização de mercado total da Bovespa, ela

não aborda todas as companhias brasileiras de capital aberto e pode não

representar fielmente a estrutura de propriedade e controle das empresas

brasileiras, sejam abertas ou fechadas.

Além disso, a análise foi centrada somente na estrutura de controle e

propriedade das empresas. Embora a governança corporativa seja um tema

bastante abrangente, o presente estudo se focou na composição acionária,

uma vez que, conforme argumentam Shleifer e Vishny (1997), a estrutrura de

controle e propriedade é um dos principais determinantes de governança

corporativa. No entanto, a relação entre a governança corporativa e valor de

mercado, alavancagem e payout de empresas pode ser estudada também

utilizando outras variáveis (composição e estrutura do conselho de

administração e conselho fiscal, emissão de ADRs e GDRs, listagem nos níveis

diferenciados de governança corporativa da Bovespa, auditoria independente,

free float, entre outros parâmetros).

Outra delimitação é o período de análise das empresas, definido como o

ano de 2000. Portanto, foi realizada uma análise estática da estrutura de

controle e propriedade para somente um ano. Visando minimizar esse efeito,

foi realizada uma comparação com estudos anteriores realizados no Brasil

(Valadares (1998), Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da Silva e

Valadares (2002)) para detectar mudanças na composição acionária. No

entanto, essa comparação analítica apresenta restrições, uma vez que são

empregadas diferentes metodologias para calcular a estrutura indireta.

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1.3 - Organização da Tese

A tese está assim estruturada. O capítulo 2 apresenta o referencial

teórico, analisando o conceito e os modelos de governança corporativa e os

seus principais movimentos no Brasil e no mundo. Além disso, são

apresentados os principais estudos da literatura nacional e internacional e as

hipóteses a serem testadas na parte empírica da tese.

O capítulo 3 descreve a amostra de dados e a metodologia utilizada nos

testes, incluindo a construção das variáveis de propriedade e controle. O

capítulo 4 apresenta os resultados do cálculo da estrutura de composição

acionária direta e indireta das companhias brasileiras e suas relações com o

valor de mercado, estrutura de capital e payout. O capítulo 5 conclui a tese e

traz sugestões para pesquisas futuras relacionadas ao tema.

2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – Conceito e Modelos de Governança Corporativa

O conceito de governança corporativa, embora não tivesse sido

contemplado com uma nomenclatura própria, existe há mais de 50 anos. No

entanto, o termo “governança corporativa” só começou a ser utilizado na

década de 90. Diferentes autores têm várias definições sobre o assunto. Na

definição de Witherell (1999), “governança corporativa é o sistema pelo qual as

empresas são dirigidas e controladas. Sua estrutura especifica a distribuição de

direitos e responsabilidades entre os diferentes participantes da empresa, tais

como conselho de administração, diretoria, proprietários e outros stakeholders,

entre eles, empregados, fornecedores, clientes e a comunidade em geral”.

Na visão de Siffert Filho (1998), “governança corporativa diz respeito aos

sistemas de controle e monitoramento estabelecidos pelos acionistas

controladores de uma determinada empresa ou corporação, de tal modo que os

administradores tomem suas decisões sobre a alocação dos recursos de

acordo com o interesse dos proprietários”.

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Nelson (1999) define a governança como “um conjunto de ações dos

administradores e acionistas com intuito de negociar e determinar como o valor

da firma será distribuído”. Portanto, uma vez que o valor das ações da empresa

representa o investimento dos acionistas, a governança corporativa pode ser

considerada um conjunto de práticas que influencia no desempenho das firmas.

Lethbridge (1997) conceitua o sistema de governança corporativa como

o “conjunto de instituições, regulamentos e convenções culturais, que rege a

relação entre as administrações das empresas e os acionistas ou outros grupos

aos quais as administrações devem prestar contas”.

Gilson (2000) considera que o sistema de governança determina os

termos de um contrato de acionistas, onde aos administradores é dada

autonomia para gerir os negócios da companhia e os acionistas recebem o

lucro resultante das operações da empresa. Portanto, boas práticas de

governança corporativa são meios eficazes para reduzir o custo de capital e

valorizar a ação da companhia.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OECD) considera que um bom regime de governança corporativa representa

uma forma eficaz de utilização de recursos, sendo que as empresas devem

levar em conta não só os interesses dos acionistas, mas também de uma gama

maior de stakeholders.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) oficializou o

seguinte conceito para governança corporativa: “o sistema que assegura aos

sócios-proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração

da diretoria executiva”. A boa governança assegura aos sócios: eqüidade,

transparência, responsabilidade pelos resultados (accountability) e obediência

às leis do país (compliance). Segundo o IBGC, governança corporativa é o

conjunto de práticas e relacionamentos entre os acionistas, conselho de

administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal, com a

finalidade de otimizar o desempenho da empresa e facilitar o acesso ao capital.

Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “governança

corporativa é o conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o

desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais

como, investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital. A

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7

análise das práticas de governança corporativa aplicada ao mercado de

capitais envolve, principalmente: transparência, eqüidade de tratamento dos

acionistas e prestação de contas”.

Apesar de inúmeras definições, a governança corporativa pode ser

descrita como um conjunto de princípios e práticas que procuram minimizar os

potenciais conflitos de interesse entre os diferentes agentes da companhia

(stakehoders), com o objetivo de maximizar o valor da empresa e,

conseqüentemente, aumentar o retorno para seus acionistas. Em outras

palavras, a governança corporativa pode ser definida como um sistema de

práticas visando minimizar os conflitos de interesse entre os agentes da

companhia, e, conseqüentemente, reduzir o custo de capital e aumentar o valor

da empresa.

A governança corporativa ganha mais importância a partir do surgimento

das modernas corporações, nas quais há separação entre controle e gestão.

Berle e Means (1932) colocaram pioneiramente o problema da teoria da

agência. No início do século passado, os conflitos de interesse e custos de

agência não eram tão relevantes, pois a propriedade e o controle das grandes

empresas estavam nas mãos dos mesmos indivíduos, os chamados “capitães

da indústria”, entre eles, Rockfeller, Du Pont, Morgan, entre outros.

Com o passar do tempo, houve a desconcentração da propriedade e o

controle deixou de ser exercido pelos proprietários e passou para a mão dos

gerentes. O clássico problema da teoria da agência teve sua origem nessa

época. Em linhas gerais, a teoria da agência analisa os conflitos existentes

entre os agentes (administradores) e os principais (proprietários), uma vez que

os interesses dos primeiros nem sempre estão alinhados com os dos últimos.

Na teoria econômica tradicional, a governança corporativa surge para

procurar superar o chamado “conflito de agência”, presente a partir do

fenômeno da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. O

“principal”, titular da propriedade, delega ao “agente” o poder de decisão sobre

essa propriedade. A partir daí surgem os chamados conflitos de agência, pois

os interesses daquele que administra a propriedade nem sempre estão

alinhados com os de seu titular. Sob a perspectiva da teoria da agência, a

preocupação maior é criar mecanismos eficientes (sistemas de monitoramento

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e incentivos) para garantir que o comportamento dos executivos esteja

alinhado com o interesse dos acionistas.

Portanto, o debate sobre governança corporativa tem seu marco de

referência no trabalho de Berle e Means (1932), que documentaram uma

mudança significativa na estrutura societária das empresas americanas,

apresentando uma maior dispersão da base acionária. A partir dos anos 70, o

enfoque contratual das relações econômicas passou a despertar interesse

entre profissionais e acadêmicos. A teoria da agência relaciona-se não apenas

com a ocorrência de assimetria de informações entre os agentes, mas também

com o direito de propriedade e os contratos.

Embora a governança corporativa não seja tema relativamente novo,

somente nos últimos anos vem se transformando em uma preocupação

importante em diversos países, sejam mercados desenvolvidos ou emergentes.

Nesse sentido foram realizadas várias pesquisas a partir dos anos 80 nos

Estados Unidos, Europa e Japão para examinar os modelos de governança

corporativa e suas conseqüências sobre o desempenho das empresas. Os

modelos de governança variam com as peculiaridades de cada país, mas

podemos identificar dois sistemas: o anglo-saxão, que prevalece nos Estados

Unidos e no Reino Unido, e o nipo-germânico, que predomina no Japão, na

Alemanha e na maioria dos países da Europa Continental. Esses dois sistemas

se distinguem basicamente por seus modelos de propriedade, pelas formas de

monitoramento usadas por seus acionistas e suas visões a respeito dos

objetivos finais das empresas.

No modelo anglo-saxão, as participações acionárias são relativamente

pulverizadas e as bolsas de valores garantem a liquidez dessas participações,

diminuindo o risco dos acionistas. No modelo nipo-germânico, a propriedade é

mais concentrada e as participações acionárias são de longo prazo. Além

disso, no modelo anglo-saxônico, o objetivo principal das empresas é a criação

de valor para os acionistas (shareholders), enquanto no modelo nipo-

germânico, as empresas buscam equilibrar os interesses dos acionistas com os

de outros grupos interessados, que sofrem o impacto das decisões tomadas

pela empresa, como, por exemplo, os empregados, fornecedores, clientes e a

comunidade em geral (stakeholders). Assim, no modelo shareholder, a

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9

obrigação primordial dos administradores é agir em nome dos interesses dos

acionistas, enquanto no modelo stakeholder, além dos acionistas, existe um

conjunto mais amplo de interesses que deve ser contemplado pela ação e

pelos resultados da corporação.

A importância dos Estados Unidos no cenário mundial, com seu

expressivo mercado de capitais como fonte de recursos para empresas no

mundo inteiro, tem estimulado a disseminação de sua cultura institucional em

termos de controle corporativo, parecendo apontar para a hegemonia do

modelo anglo-saxônico. No entanto, o modelo anglo-saxônico começou a ser

questionado no final da década de 80, com a crescente perda de

competitividade das empresas americanas frente às japonesas. A partir daí, o

debate e o estudo dos modelos anglo-saxão e nipo-germânico se

intensificaram e os sistemas foram sofrendo evoluções, de forma que

atualmente não encontramos os dois modelos em sua forma “pura”.

Maher e Andersson (2000) apresentam e examinam os conceitos,

vantagens e desvantagens dos sistemas de governança corporativa presentes

nos países da OCDE, bem como a relação entre os sistemas de governança,

desempenho das empresas e crescimento econômico. Enquanto alguns

sistemas são caracterizados por propriedade mais difusa (outsider systems),

outros tendem a possuir uma maior concentração de controle e propriedade

(insider systems).

Nos sistemas com propriedade mais difusa, presentes, principalmente,

nos EUA e no Reino Unido, o conflito de interesse básico é entre administração

e acionistas. Nesse sistema, os mercados de capitais são mais ativos e

desenvolvidos e são responsáveis pelas funções de monitoramento da

administração das empresas. Os investidores institucionais e os conselhos de

administração têm um papel fundamental na atividade de governança

corporativa, enquanto os bancos assumem somente um papel passivo na

atividade de monitoramento das companhias.

Por outro lado, nos sistemas com propriedade mais concentrada, o

conflito de agência se dá entre acionistas controladores e acionistas

minoritários. Nesses países, tipicamente Europa Continental, Japão e Coréia, é

comum a presença de pirâmides, estruturas cruzadas entre empresas e

Page 19: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

10

bancos, os quais possuem um papel importante nas atividades de

monitoramento da administração das empresas, razão pela qual a

alavancagem financeira é superior nesse sistema. Os mercados de capitais

tendem a ser menos líquidos e desenvolvidos, e os investidores institucionais

não têm um papel tão ativo como nos sistemas de propriedade mais difusa.

Ambos os modelos têm suas vantagens e desvantagens. Com a

globalização e o aumento das relações entre os países, os dois sistemas têm

sofrido modificações, apresentando um grau de convergência entre eles, com o

sistema outsider adotando algumas características do insider, e vice-versa. No

entanto, é difícil prever se algum sistema irá prevalecer, uma vez que as

divergências entre eles são históricas, baseadas em raízes culturais e legais,

sugerindo que uma convergência total é pouco provável. Neste contexto, é

importante saber que todos os sistemas podem ser eficientes desde que

cumpram os critérios de eficiência apropriados ao sistema e as particularidades

culturais, econômicas e históricas de cada país.

2.2 – Governança Corporativa no Brasil

No Brasil, o debate em torno da governança corporativa se intensificou

bastante na última década, na medida em que as relações entre acionistas e

administradores e entre acionistas majoritários e minoritários estão mudando

com a reestruturação societária provocada pelas privatizações e a entrada de

novos sócios nas empresas do setor privado, principalmente estrangeiros. A

presença do Estado-empresário no Brasil tinha algumas características do

modelo stakeholder, que foram sendo redefinidas com a privatização de alguns

segmentos e a adoção de um foco maior na rentabilidade para atrair

investimentos para privatizações.

Ao transferir a propriedade estatal para grupos privados, os processos

de privatização forjaram uma nova realidade societária, ensejando as primeiras

experiências de controle compartilhado no Brasil, como, por exemplo, na área

energética, de infra-estrutura, dentre outras, onde se encontram regimes de

parceria com grupos nacionais, multinacionais e fundos de pensão. Nessa nova

forma de controle, formalizada principalmente através de acordos de

Page 20: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

11

acionistas, os investidores integrantes do bloco de controle têm que distribuir

entre si o comando da empresa, estabelecendo contratualmente regras para

reger o cotidiano empresarial, como as feitas para a escolha e indicação de

profissionais de sua confiança para integrar o conselho de administração, as

relativas aos procedimentos das denominadas “reuniões prévias”, entre outras.

O modelo empresarial brasileiro encontra-se num momento de transição.

De oligopólios, empresas de controle e administração exclusivamente familiar e

controle acionário definido e altamente concentrado, com acionistas

minoritários passivos e conselhos de administração sem poder de decisão,

caminhamos para um a nova estrutura de empresa, marcada pela participação

de investidores institucionais, fragmentação do controle acionário e pelo foco

na eficiência econômica e transparência de gestão.

Há vários fatores de pressão a favor dessas mudanças: as privatizações,

o movimento internacional de fusões e aquisições, o impacto da globalização,

necessidades de financiamento e, conseqüentemente, redução do custo do

capital, a intensificação dos investimentos de fundos de pensão e a postura

mais ativa de atuação dos investidores institucionais nacionais e internacionais.

Assegurar mais respeito aos direitos dos acionistas minoritários tem sido

uma das principais preocupações do movimento de governança corporativa no

Brasil e ao redor do mundo. Em nosso país, após um histórico de sucessivos

escândalos em que controladores se beneficiavam em detrimento dos

minoritários, cujos interesses raramente eram levados em conta, alguns passos

importantes têm sido dados em busca de maior equilíbrio entre ambos os

lados.

O poder dos investidores se fortalece com a crescente abertura das

empresas brasileiras ao mercado internacional de capitais, notadamente com o

lançamento de ADR (American Depositary Receipt), que exige um

procedimento de adaptação aos padrões de contabilidade e transparência das

bolsas norte-americanas.

Os investidores institucionais estão cada vez mais assumindo uma

postura ativa, principalmente devido ao tamanho crescente desses players e

em virtude da diminuição do problema de free rider, dado que, com o aumento

de suas participações em determinada empresa, os benefícios de um

Page 21: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

12

monitoramento mais ativo podem compensar os custos, mesmo que outros

investidores também se beneficiem. Além disso, as participações acionárias

maiores e a conseqüente perda de liquidez obrigam os investidores a

acompanhar mais de perto o desempenho das empresas. Mundialmente, essa

categoria de investidores vem abandonando sua postura inicial, mais passiva,

em favor de uma atuação ativa, marcada pelo comparecimento a assembléias

gerais, exercício dos direitos de voto das ações de que são titulares e

fiscalização próxima da gestão das companhias em que aplicam seus recursos.

Essa mudança reflete a adoção de uma nova filosofia, identificada com as boas

regras de governança corporativa.

Embora tenha se desenvolvido bastante, o movimento de governança

corporativa no Brasil é ainda recente, sendo reflexo do desenvolvimento do

mercado de capitais e da consolidação econômica dos últimos anos. Nesse

contexto, o país ainda carece de uma cultura de mercado de capitais, ficando

evidente no baixo investimento de recursos em ativos de renda variável. O

controle corporativo não é disperso, permanecendo forte a presença do

acionista controlador. Até a mudança da Lei das S.A., era permitido que as

empresas brasilei ras emitissem ações preferenciais, normalmente sem direito

de voto, representando até 2/3 do capital total. Esta regra permitia aos

acionistas controladores manterem o controle do capital votante com apenas

1/6 do capital total.

As empresas brasileiras tradicionalmente possuem uma estrutura não

condizente com o que são consideradas as melhores práticas de governança

corporativa: ou as empresas brasileiras têm propriedade e tradição familiar, ou

são fundamentadas em conselhos formados por grupos limitados de acionistas,

seguindo um regime de administração muito parecido com aquele adotado

pela estrutura familiar, o que leva o investidor a desejar pagar menos

pelas ações das companhias com esse perfil. Por essa, dentre outras razões, o

mercado não oferece custo de capital adequado às empresas, as quais não se

sentem entusiasmadas a emitir novas ações.

A abertura da economia brasileira, o aumento dos investimentos

estrangeiros no país, o processo de privatização de empresas estatais e o

crescente número de empresas brasileiras acessando os mercados

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13

internacionais através de ADRs (American Depositary Receipts) e GDRs

(Global Depositary Receipts) têm estimulado e tornado essencial o esforço em

busca das boas práticas de governança corporativa. Entre as principais

iniciativas de estímulo e aperfeiçoamento ao modelo de governança das

empresas no país destacam -se:

- Criação do Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo;

- Nova Lei das S.As;

- Regulamentação dos Fundos de Pensão (Resolução CMN 2829/01);

- Atuação do BNDES;

- Código de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC;

- Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa.

2.2.1 – Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo

Inspirado em parte no Neuer Markt alemão, criado em 1997, o Novo

Mercado é um segmento da Bovespa, com regras de listagem diferenciadas,

destinado à negociação de ações emitidas por empresas que se

comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança

corporativa e disclosure adicionais e de vanguarda em relação ao que é exigido

pela legislação.

Trata-se de fatores determinantes para avaliação do grau de proteção do

investidor e que por isso influenciam sua percepção de risco e o custo de

capital das empresas. O Novo Mercado pretende conferir maior credibilidade

aos investimentos realizados em bolsa, pois reúne ações de companhias que,

em princípio, oferecem um nível de risco inferior ao das demais.

O segmento especial de listagem lançado pela Bovespa, genericamente

conhecido como Novo Mercado, na verdade está subdivido em três partes:

Novo Mercado e os “Níveis Diferenciados de Governança Corporativa 1 e 2”.

Os três níveis de governança corporativa abrigam regras próprias, nunca

conflitantes com a legislação vigente, porém com um nível superior de

exigência de comprometimento da empresa para com o mercado. Os níveis 1 e

2 de governança corporativa da Bovespa foram criados com a finalidade de

incentivar e preparar gradativamente as companhias a aderirem ao Novo

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14

Mercado, e proporcionam maior destaque aos esforços da empresa na

melhoria da relação com investidores, elevando o potencial de valorização dos

seus ativos.

A entrada de uma empresa no Novo Mercado significa a adesão a um

conjunto de regras societárias, genericamente chamado de "boas práticas de

governança corporativa", mais rígidas do que as presentes na legislação

brasileira. Essas regras, consolidadas no regulamento de listagem, ampliam os

direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente

prestadas pelas companhias e, ao determinarem a resolução dos conflitos por

meio de uma câmara de arbitragem, oferecem aos investidores maior

segurança jurídica quanto à obediência aos compromissos firmados, com uma

alternativa mais ágil e especializada.

De acordo com a Bovespa, “o Novo Mercado abre uma nova frente de

atuação visando o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro,

oferecendo para as empresas uma excelente oportunidade para a captação de

recursos a custos competitivos e para os aplicadores um mercado mais seguro

para o investimento de longo prazo”.

A premissa básica do Novo Mercado é que o valor e a liquidez das

ações são positivamente relacionados com o grau de segurança e proteção

concedidas aos acionistas minoritários e pela qualidade das informações

divulgadas pelas empresas. As empresas participantes devem seguir as

normas diferenciadas de governança corporativa definidas pela Bovespa,

regras essas que ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade

das informações e determinam a resolução de conflitos, de forma mais ágil e

específica por meio da câmara de arbitragem.

Não há restrições quanto ao porte ou setor de atuação da empresa.

Qualquer empresa que implemente as boas práticas de governança corporativa

fixadas no regulamento de listagem pode ter suas ações negociadas nesse

segmento. Resumidamente, a companhia aberta participante do Novo

Mercado tem como obrigações:

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15

- Emissão exclusivamente de ações ordinárias, tendo todos os acionistas

o direito de voto;

- Realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de

mecanismos que favoreçam a dispersão do capital;

- Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações

representando 25% do capital;

- Extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas

pelos controladores quando da venda do controle da companhia;

- Estabelecimento de um mandato unificado de um ano para todo o

conselho de administração;

- Disponibilização de balanço anual seguindo as normas US GAAP

(Generally Accepted Accounting Principles) ou do IASB (International

Accounting Standards Board);

- Introdução de melhorias nas informações prestadas trimestralmente,

entre as quais a exigência de consolidação e de apresentação do fluxo

de caixa;

- Obrigatoriedade de realização de oferta de compra de todas as ações

em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do

capital ou cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado;

- Divulgação de negociações envolvendo ativos de emissão da

companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da

empresa;

- A companhia não deve ter partes beneficiárias em circulação, vedando

expressamente a sua emissão.

Além de presentes no regulamento de listagem, alguns desses

compromissos deverão ser aprovados em assembléias gerais e incluídos no

estatuto social da companhia. Um contrato assinado entre a Bovespa e a

empresa, com a participação de controladores e administradores, fortalece a

exigibilidade do seu cumprimento.

As companhias Nível 1 se comprometem, principalmente, com melhorias

na prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. Assim,

as principais práticas agrupadas no Nível 1 são:

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16

- Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações,

representando 25% do capital;

- Realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de

mecanismos que favoreçam a dispersão do capital;

- Melhoria nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a

exigência de consolidação e de demonstração de fluxo de caixa;

- Divulgação de operações envolvendo ativos de emissão da companhia

por parte de acionistas controladores ou administradores da empresa;

- Divulgação de informações sobre contratos com partes relacionadas;

- Divulgação de acordos de acionistas e programas de stock options;

- Compromisso de não elevação do percentual de ações preferenciais

sobre o total do capital comparativamente ao percentual existente

quando da data da assinatura do contrato de práticas diferenciadas de

governança societária;

- Disponibilização de um calendário anual de eventos corporativos.

Para a classificação como companhia Nível 2, além da aceitação das

obrigações contidas no Nível 1, a empresa e seus controladores adotam um

conjunto bem mais amplo de práticas de governança e de direitos adicionais

para os acionistas minoritários. Resumidamente, os critérios de listagem de

companhias Nível 2 são:

- Mandato unificado de 1 ano para todo o conselho de administração;

- Disponibilização de balanço anual seguindo as normas US GAAP ou

do IASB;

- Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das

mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do

controle da companhia e de, no mínimo, 70% deste valor para os

detentores de ações preferenciais;

- Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, como

transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação

de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo;

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17

- Obrigatoriedade de realização de oferta de compra de todas as ações

em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do

capital ou cancelamento do registro de negociação neste nível;

- Adesão à câmara de arbitragem para resolução de conflitos societários.

A Bovespa instituiu uma câmara arbitral, com base nos dispositivos da

Lei nº 9.307/96. Neste primeiro momento, a câmara arbitral do mercado tem a

finalidade de atuar na composição de conflitos que possam surgir nos

segmentos especiais de listagem da Bovespa. Posteriormente, pretende-se

estender o âmbito de atuação da câmara arbitral do mercado a todos os

segmentos da Bovespa.

Nesse contexto, a criação da câmara arbitral visa oferecer um foro

adequado de discussão de matérias relativas à esfera da Lei das S.A., dos

estatutos sociais das companhias, das normas editadas pelo Conselho

Monetário Nacional, pelo Banco Central do Brasil e pela Comissão de Valores

Mobiliários, dos regulamentos da Bovespa e das demais normas aplicáveis ao

funcionamento do mercado de capitais em geral. Formam parte, ainda, do

conjunto de questões que poderão ser resolvidas por arbitragem, aquelas

constantes do regulamento de listagem do Novo Mercado, do regulamento de

práticas diferenciadas de governança corporativa e dos contratos

correspondentes.

Por meio de regras próprias, a câmara arbitral do mercado poderá

proporcionar aos participantes dos referidos segmentos, quais sejam, a

Bovespa, as companhias abertas, seus controladores e administradores,

membros do conselho fiscal e seus acionistas, uma alternativa para solução de

controvérsias, com a vantagem de trazer mais agilidade e economia, menos

formalismo, além de árbitros especializados nas matérias a serem decididas.

No Brasil, uma parte significativa das companhias abertas já se

empenha em oferecer aos seus investidores melhorias nas práticas de

governança e de transparência. No entanto, essas mudanças têm sido

adotadas com pouca visibilidade por parte das empresas, visto serem resultado

de esforços individuais. A adesão aos níveis diferenciados de governança

corporativa da Bovespa dá maior destaque aos esforços da empresa na

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18

melhoria da relação com investidores e eleva o potencial de valorização dos

seus ativos.

A valorização e a liquidez das ações de um mercado são influenciadas

positivamente pelo grau de segurança que os direitos concedidos aos

acionistas oferecem e pela qualidade das informações prestadas pelas

empresas. Essa é a premissa básica do Novo Mercado. Pela ótica das

empresas, aquelas que se enquadrarem às regras do Novo Mercado deverão

obter do mercado uma melhor precificação de suas ações, conseguindo, com

isso, menores custos de captação. Este pressuposto se baseia em diversos

estudos e avaliações empíricas que demonstram que os investidores estão

dispostos a pagar mais pelas ações das empresas que adotam melhores

práticas de governança corporativa e apresentam maior grau de transparência.

Atualmente, existem 27 companhias listadas nos segmentos especiais

de governança corporativa da Bovespa: 22 no Nível 1, 3 no Nível 2 e 2 no Novo

Mercado. O IGC (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada),

lançado em 26/06/2001 e composto por empresas do Novo Mercado, Nível 2 e

Nível 1, teve uma queda de 10,30%, enquanto o IBX caiu 11,38% e o Ibovespa

caiu 33,97% no período de junho/2001 a outubro/2002. A tabela 1 mostra a

atual composição da carteira teórica do IGC e a figura 1 mostra a evolução do

IGC, Ibovespa e IBX, mostrando o desempenho superior do IGC frente ao

Ibovespa. A ponderação do IGC é feita pelo valor de mercado das ações em

circulação (free-float) das respectivas empresas e há peso diferenciado para as

empresas do Novo Mercado (peso 2), Nível 2 (peso 1,5) e Nível 1 (peso 1).

O Neuer Markt alemão foi uma referência importante para a criação do

Novo Mercado pela Bovespa. No entanto, o Neuer Markt, assim como outros

mercados similares na Europa (Nouvéau Marche, França; TechMark,

Inglaterra; Nuovo Mercato, Itália) foram criados com o objetivo exclusivo de

atrair empresas de setores de rápido crescimento e alta tecnologia, como

internet, telecomunicações, mídia, biotecnologia, etc. O Novo Mercado da

Bovespa, ao contrário, não faz qualquer restrição com relação ao setor nem se

destina somente a pequenas empresas.

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19

Tabela 1

Carteira Teórica do IGC para Setembro a Dezembro 2002

Ação Mercado Participação (%) ARACRUZ PNB Nível 1 5,330 BRADESCO ON Nível 1 4,490 BRADESCO PN Nível 1 14,556 BRADESPAR ON Nível 1 0,232 BRADESPAR PN Nível 1 0,760 BRASIL T PAR ON Nível 1 1,995 BRASIL T PAR PN Nível 1 9,597 BRASIL TELEC ON Nível 1 0,123 BRASIL TELEC PN Nível 1 4,893 CCR RODOVIAS ON Novo Mercado 0,575 CELESC PNB Nível 2 0,760 CEMIG ON Nível 1 1,855 CEMIG PN Nível 1 4,966 GERDAU PN Nível 1 3,839 ITAUBANCO ON Nível 1 2,596 ITAUBANCO PN Nível 1 15,447 ITAUSA PN Nível 1 6,334 MARCOPOLO PN Nível 2 0,464 NET PN Nível 2 0,400 PERDIGAO S/A PN Nível 1 0,516 RANDON PART PN Nível 1 0,123 RIPASA PN Nível 1 0,497 SABESP ON Novo Mercado 3,298 SADIA S/A PN Nível 1 0,917 TRAN PAULIST ON Nível 1 0,257 TRAN PAULIST PN Nível 1 0,895 UNIBANCO UNT Nível 1 7,654 UNIBANCO ON Nível 1 0,613 UNIBANCO PN Nível 1 0,844 V C P PN Nível 1 3,782 VARIG PN Nível 1 0,073 VARIG SERV PN Nível 1 0,002 VARIG TRANSP PN Nível 1 0,014 VIGOR PN Nível 1 0,017 WEG PN Nível 1 1,288

A bolsa de valores alemã anunciou o encerramento do Neuer Markt no

final de 2003. A extinção do Neuer Markt não afeta a existência

nem o futuro do Novo Mercado da Bovespa, embora comumente se faça uma

associação entre as iniciativas da Bovespa e da bolsa alemã. O Neuer Markt foi

certamente uma das fontes que inspiraram a criação do Novo Mercado, por se

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20

tratar de um mercado em que as empresas assumem voluntariamente

obrigações adicionais por meio de contrato com a bolsa, visando elevar a

confiança dos investidores. Apenas para ilustrar, a legislação alemã sequer

exigia das empresas listadas em bolsa a apresentação de demonstrações

financeiras trimestrais (somente o balanço anual) e esta foi uma das

obrigações estabelecidas no contrato do Neuer Markt.

Figura 1

Desempenho dos Principais Índices Brasileiros de Mercado

Apesar dessas qualidades, o Neuer Markt não prosperou. A razão

principal é que, por se dedicar a listar somente empresas de base tecnológica e

de crescimento acelerado, teve sua imagem e desempenho profundamente

afetados pelo estouro da chamada "bolha" das ações de tecnologia. Mas o

espírito de um mercado com regras mais exigentes continuou vivo e forte.

Tanto que a bolsa alemã, ao comunicar o fim do Neuer Markt, informou que

será criado um segmento de listagem (Prime Standard) voltado para

companhias que desejem obter uma maior valorização para suas ações. Nesse

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

140,00

25/6

/200

1

9/7/

2001

23/7

/200

1

6/8/

2001

20/8

/200

1

3/9/

2001

17/9

/200

1

1/10

/200

1

15/1

0/20

01

29/1

0/20

01

12/1

1/20

01

26/1

1/20

01

10/1

2/20

01

24/1

2/20

01

7/1/

2002

21/1

/200

2

4/2/

2002

18/2

/200

2

4/3/

2002

18/3

/200

2

1/4/

2002

15/4

/200

2

29/4

/200

2

13/5

/200

2

27/5

/200

2

10/6

/200

2

24/6

/200

2

8/7/

2002

22/7

/200

2

5/8/

2002

19/8

/200

2

2/9/

2002

16/9

/200

2

30/9

/200

2

14/1

0/20

02

28/1

0/20

02

IBOV IBX IGC

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21

caso, além das obrigações legais, elas precisarão aderir a um conjunto de

regras mais exigentes que o mínimo estabelecido, em termo de fornecimento

de informações ao mercado. A iniciativa de se criar um segmento destinado a

listar qualquer empresa que se comprometa com regras fortes em termos de

governança corporativa, não importando a que setor de atividade pertença,

demonstra que a Bovespa fez uma escolha adequada ao desenhar o modelo

do Novo Mercado.

O desenvolvimento do mercado de capitais está na raiz da expansão de

economias saudáveis. Um mercado de capitais forte significa mais crescimento

econômico. É nele que empresas encontram uma alternativa viável para

financiar sua expansão. Nos últimos anos, menos de 10% dos investimentos

feitos por companhias de capital aberto no Brasil foram tomados no mercado

acionário. O restante veio de empréstimos bancários ou foi suportado com

capital próprio, gerado pelos lucros obtidos com a atividade empresarial.

O fortalecimento do mercado de capitais tem relação direta com a

retomada do ciclo de crescimento no país, com aumento do investimento e

criação de empregos diretos e indiretos. O mercado acionário brasileiro é hoje

uma pálida sombra do que poderia representar em termos de financiamento da

produção e incentivo a novos investimentos. A falta de transparência na gestão

e a ausência de instrumentos adequados de supervisão das companhias são

apontadas como principais causas desse cenário. Trata-se de um ambiente

que facilita a multiplicação de riscos. Nesse contexto, a criação do Novo

Mercado pela Bovespa é uma medida salutar com o objetivo de fortalecer o

mercado de capitais nacional e atender aos anseios dos investidores por maior

transparência de informações com relação aos atos praticados pelos

controladores e administradores das companhias.

2.2.2 – A Nova Lei das S.As

A Lei 10.303/01 representou um nítido avanço na proteção legal dos

direitos dos acionistas minoritários, aprimorando o quadro institucional do

mercado de valores mobiliários. A reforma da Lei das Sociedades por Ações

(6.406/76 e suas interligações 6.385/76 e 9.457/97) resultou da imperiosa

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22

necessidade de adequação da legislação brasileira à realidade cotidiana. A Lei

6.385/76 dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de

Valores Mobiliários. A Lei 6.404/76 dispõe sobre as sociedades por ações. A

Lei 9.457/97, lançada às vésperas da privatização, altera dispositivos das leis

anteriormente citadas, sendo um retrocesso para os acionistas minoritários,

face à indução da referida legislação às vendas das participações minoritárias.

A redação original da Lei 6.404/76 deixava claro o predomínio dos

interesses dos grandes acionistas, controladores e a diminuição dos direitos de

deliberação dos acionistas minoritários. Os controladores poderiam utilizar até

o limite máximo de emissão de ações preferenciais (2/3) com a finalidade de

manter a maioria do capital votante. Em 1997, a Lei 9.457 foi elaborada para

viabilizar o projeto de privatização brasileiro, em especial dos setores elétrico e

de telecomunicações. A exclusão da obrigação até então existente de dividir o

prêmio de controle com os acionistas minoritários foi feita para permitir que o

Governo recebesse um valor maior pela venda do controle das empresas que

faziam parte do programa de privatização. O ponto mais polêmico dessa lei foi

a revogação do artigo que tratava do direito de recesso e do tag along, pelo

qual o adquirente de um bloco de controle era obrigado a fazer uma oferta

pública pelas ações ordinárias em mãos de acionistas minoritários pelo mesmo

preço e condiç ões ofertadas pelos controladores.

O lado positivo da Lei 9.457/97 foi o fortalecimento das competências e

atribuições da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de estabelecer

sanções mais rigorossas para aqueles que praticam falta grave no exercício de

atividades no mercado de capitais. Outra inovação, que visava compensar a

supressão dos direitos dos minoritários, foi o estabelecimento de maiores

vantagens comparativas às ações preferenciais, entre elas, o dividendo 10%

superior ao das ações ordinárias.

No Brasil, os detentores das ações preferenciais normalmente não têm

direito a voto, mas têm permissão para participar das reuniões de acionistas.

Caso a empresa não pague os dividendos fixos ou mínimos garantidos aos

detentores de ações preferenciais por um período definido no estatuto, não

superior a três anos consecutivos, estes acionistas têm garantido direito de

voto até o próximo pagamento de dividendos.

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23

A Nova Lei das S.A busca dar uma maior proteção aos acionistas

minoritários. Entre as principais alterações está a mudança da proporção de

ações ordinárias e preferenciais de 2/3 para 50%. Essa proporção só é

obrigatória para as empresas fechadas que decidirem abrir seu capital e para

as novas companhias abertas. As empresas que já eram abertas antes da lei

podem manter sua atual composição do capital, inclusive em novas emissões.

Outra mudança relevante se refere ao processo de fechamento de

capital, que deve ocorrer por meio de oferta pública formulado pelo acionista

controlador com vistas a adquirir a totalidade das ações em circulação e deve

garantir um preço justo ao menos igual ao valor de avaliação da companhia,

que pode ser apurado com base nos critérios de patrimônio líquido contábil,

patrimônio líquido a preço de mercado, fluxo de caixa descontado, de

comparação de múltiplos, de cotação de ações no mercado ou outro critério

aceito pela Comissão de Valores Mobiliários.

O direito de recesso volta nos casos de cisão da companhia que

impliquem em mudança do objeto social, redução do dividendo obrigatório e no

caso de alienação de controle de companhia aberta, onde o adquirente será

obrigado a fazer oferta pública para aquisição das demais ações ordinárias,

garantindo-lhes um preço no mínimo igual a 80% do valor pago à ação do

bloco de controle (tag along). Existe ainda a opção oferecida pelo adquirente

do controle aos minoritários de permanecer na companhia, mediante

pagamento de prêmio equivalente à diferença entre o valor de mercado das

ações e aquele pago por ação integrante do bloco de controle. Findo o prazo

da oferta pública, se remanescerem em circulação menos de 5% do total das

ações emitidas pela companhia, a assembléia geral poderá deliberar o regaste

dessas ações pelo valor da oferta. Vale ressaltar que não terá direito de

retirada o titular de ação que tenha liquidez (presença em índice geral

representativo de carteira de valores mobiliários) e dispersão no mercado

(ocorre quando o acionista controlador detiver menos da metade das ações).

As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir

em prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, ou em prioridade no

reembolso do capital, com prêmio ou sem ele. Independentemente do direito de

receber ou não o valor de reembolso do capital, as ações preferenciais sem

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24

direito de voto ou com restrição ao exercício deste direito, somente serão

admitidas à negociação no mercado de valores mobiliários se a elas for

atribuída pelo menos uma das seguintes preferências ou vantagens: (i)

prioridade no recebimento dos dividendos correspondentes a, no mínimo, 3%

do valor do patrimônio líquido da ação; (ii) direito ao recebimento de dividendo

pelo menos 10% maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou (iii) direito

de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle (tag along) e

receber o correspondente a no mínimo 80% do preço de venda da empresa.

Outra alteração relevante é a possibilidade dos estatutos sociais

indicarem arbitragem como forma de solução dos conflitos entre a companhia e

seus acionistas ou entre minoritários e controlador. O exercício da governança

corporativa também é facilitado em função da alteração do percentual mínimo

de capital para votação de um conselheiro de administração, garantindo uma

maior representatividade dos acionistas minoritários, que passam a ter direito a

um assento no conselho atingindo um mínimo de 15% do total de ações

ordinárias. Os acionistas preferenciais passam a ter direito no assento do

conselho caso atinjam um mínimo de 10% do capital total. Vale lembrar que os

acionistas minoritários podem agregar ações da mesma classe para atingir tais

percentuais. No caso de inclusão de novos conselheiros por parte dos

acionistas minoritários, o controlador tem assegurado o direito de eleger o

mesmo número de conselheiros mais um, independente do número de

conselheiros previsto no estatuto social, significando que os controladores

continuam com a maioria no conselho. Essas regras somente são válidas a

partir da AGO de 2006. No período de 2002 a 2005, os acionistas escolherão

seus membros por meio de lista tríplice fornecida pelo controlador.

A reforma também trouxe diversas modificações na Lei do Mercado de

Valores Mobiliários, particularmente quanto à estrutura da CVM, visando

conferir ao órgão regulador maior autonomia para exercer seu poder de polícia

do mercado de capitais. A CVM passa a ter a natureza de entidade autárquica

em regime especial, com personalidade jurídica e patrimônio próprios; gozará

de autonomia financeira, orçamentária e política, esta última garantida pelo

mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes; não estará subordinada

hierarquicamente a qualquer outro órgão, embora esteja vinculada ao

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25

Ministério da Fazenda. Com suas novas atribuições, a CVM teve uma

ampliação substancial de seus poderes na regulação e fiscalização do mercado

financeiro, assumindo funções antes reservadas ao Banco Central, bem como

eliminando as "zonas cinzentas" de atribuições dos dois órgãos. Entre as

principais inovações da reforma, destacamos também a tipificação de crimes

contra o mercado de capitais como manipulação de mercado, uso indevido de

informação privilegiada e exercício irregular de cargo, profissão ou função.

A reforma da Lei das S.A. teve como objetivo principal fortalecer o

mercado de capitais no Brasil, conferindo-lhe mais transparência e

credibilidade. Partiu-se da premissa de que o alinhamento de interesses gera

valor. Quanto maior o equilíbrio entre acionistas de uma companhia, mais ela

vale. Apesar de incorporar ao direito codificado algumas das práticas

recomendadas de governança corporativa, o processo de negociação política

exigido para a aprovação da nova lei fez com que, em alguns pontos, suas

inovações ficassem aquém do que se poderia esperar.

Ainda que possa ser considerada imperfeita sob alguns pontos de vista,

o longo e polêmico processo de discussão da lei durante sua tramitação

perante o Congresso Nacional representou em si mesmo um benefício e elevou

o nível dos debates e o grau de conscientização dos setores envolvidos quanto

aos principais problemas relacionados à governança corporativa. Antes mesmo

de sua promulgação, alguns dispositivos legais vinham sendo

espontaneamente adotados por empresas desejosas por atrair investimentos.

A reforma da Lei das S.As exigirá a alteração de diversas normas infra-

legais, em especial as instruções expedidas pela CVM. Em março de 2002, foi

publicada a Instrução CVM 361/02, visando regular o procedimento aplicável às

ofertas públicas de aquisição de ações de companhias abertas. A oferta pública

de ações é obrigatória nos casos de cancelamento de registro, aumento de

participação do acionista controlador e na alienação de controle. Sempre que

se tratar de oferta pública formulada pela própria companhia ou pelo acionista

controlador, será elaborado laudo de avaliação da companhia, contendo, no

mínimo, a cotação da ação na bolsa de valores nos últimos 12 meses, valor do

patrimônio líquido por ação e valor econômico da companhia, calculado pela

regra do fluxo de caixa descontado ou por múltiplos.

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26

O cancelamento do registro de companhia aberta somente será

deferido pela CVM caso seja precedido de uma oferta pública para

cancelamento de registro, formulada pelo acionista controlador ou pela própria

companhia aberta, e tendo por objeto todas as ações de emissão da

companhia objeto, observando-se os seguintes requisitos: (i) o preço ofertado

deve ser justo, seguindo os critérios apresentados anteriormente; e (ii)

acionistas titulares de mais de 2/3 das ações em circulação deverão aceitar a

oferta pública ou concordar expressamente com o cancelamento do registro.

2.2.3 – Regulamentação dos Fundos de Pensão (Resolução CMN 2.829/01)

A nova regulamentação dos fundos de pensão traz grandes mudanças

em inúmeros aspectos do cotidiano das entidades de previdência. Ponto muito

importante da regulamentação em relação a governança corporativa é o forte

estímulo à compra de ações de empresas com bons níveis de governança

corporativa, conforme definido pela Bovespa.

A Resolução 2.829/01 do Conselho Monetário Nacional estabeleceu

níveis diferenciados para aplicação das reservas dos fundos de pensão,

aumentando os limites para companhias listadas no Novo Mercado ou nos

níveis diferenciados de governança corporativa 1 e 2 da Bovespa. Os fundos

de pensão são os principais investidores institucionais no mercado de capitais

nacional, tornando-se cada vez mais ativos na administração de suas

participações acionárias permanentes. Cada vez mais, os investidores

institucionais passam a ocupar assentos nos conselhos de administração e

fiscal, acompanhando de perto os negócios das empresas e influenciando sua

administração. Mesmo que ainda incipiente no Brasil, essa postura segue uma

tendência mundial de adoção de um papel cada vez mais ativo.

A adequação do marco legal à realidade é, pois, necessária para permitir

a capitalização das empresas brasileiras em bases ampliadas e sustentáveis,

sem dependência temerária de capitais externos. É necessária também para

pavimentar o terreno para que ocorram processos de reestruturação societária

indispensáveis para que as empresas brasileiras possam competir num

ambiente marcado por forte acirramento da concorrência. A modificação da

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27

legislação consiste em estabelecer equilíbrio eficiente entre os interesses dos

controladores e dos acionistas minoritários. As modificações tratam, pois, de

remover obstáculos e reduzir incertezas que desestimulam a abertura de

capital e dificultam reorganizações societárias, ao mesmo tempo em que

cuidam de assegurar, de forma clara e compatível com a democratização

efetiva do capital, os direitos dos acionistas minoritários.

Produzir esse equilíbrio é um desafio para o legislador. Alcançá-lo, como

bem demonstra o exemplo dos Estados Unidos, é o caminho para transitar de

estruturas de capital em que o controle do acionista majoritário é incontrastável

para estruturas de controle compartilhado, em que acionistas minoritários têm

papel real na gestão da companhia. Esse é o caminho para fortalecer o

mercado de capitais, profissionalizar a gestão das empresas e promover a

democratização do capital e de seus rendimentos. A Resolução 2.829/01

estabeleceu para as entidades fechadas de previdência privada os seguintes

limites de aplicação na carteira de ações em mercado:

Tabela 2

Limites de Aplicação em Renda Variável dos Fundos de Pensão

Resolução 2.829/01 do Conselho Monetário Nacional

Contribuição Definida Benefício Definido

Novo Mercado 60% 45%

Nível 2 55% 40%

Nível 1 45% 35%

Mercado Atual 35% 30%

2.2.4 –Atuação do BNDES

O desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro foi eleito uma das

prioridades do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social). O BNDES vem adotando programas específicos visando capitalizar

empresas que se comprometam a adotar boas práticas de governança

corporativa.

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28

Em atendimento a este objetivo, o Banco lançou, em outubro de 2000, o

“Programa de Apoio às Novas Sociedades Anônimas”, almejando auxiliar

pequenas e médias empresas através de operações de capital de risco e

estimular a adoção pelas mesmas de práticas adequadas de governança

corporativa. A participação do BNDES nessas empresas dá-se pela subscrição

de ações ou debêntures conversíveis em ações, no percentual máximo de 35%

no capital futuro da companhia. São as seguintes as condições para

participação no programa:

- Abertura do capital da empresa deverá ser feita mediante oferta pública

inicial com emissão de ações ordinárias, forma que deverá ser seguida a

partir daí nas novas emissões;

- Conselho de Administração com mandato unificado e prazo de gestão

não superior a 1 ano, permitida a reeleição;

- No segundo ano após a abertura de seu capital a empresa deverá

apresentar suas demonstrações financeiras também de acordo com os

padrões IASB ou US GAAP;

- A alienação do controle ou de participação relevante no capital da

companhia somente poderá ser contratada sob a condição de que o

adquirente se obrigue a realizar oferta pública de aquisição das ações

pertencentes aos acionistas minoritários, nas mesmas condições de

pagamento ofertadas ao acionista controlador;

- Adoção da arbitragem como forma de resolução dos conflitos entre os

acionistas e a companhia ou entre os acionistas controladores e os

acionistas minoritários;

- Implantação de um plano de opção de compra de ações para

empregados;

- Nos casos de fechamento de capital ou de reembolso das ações de

acionistas dissidentes, deverá ser utilizado o valor econômico da

companhia, apurado por empresa especializada, como único parâmetro

para definição do preço das ações de sua emissão.

As potenciais candidatas ao recebimento dessa linha de crédito são

empresas que possuam faturamento líquido anual de até R$ 60 milhões no

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29

último exercício, atuem em nichos de mercado atraentes, detenham vantagens

competitivas em seu mercado, com perspectiva de rápido crescimento e

elevada rentabilidade e apresentem gestão idônea e eficiente. Não são

admitidas empresas pertencentes a grupo econômico com patrimônio líquido

consolidado superior a R$ 120 milhões.

O ponto positivo será a exigência por parte dos fundos de pensão e do

BNDES, disseminando o mercado como um todo, para que quaisquer novos

lançamentos sigam o padrão. Há uma série de instituições potencialmente

envolvidas com governança corporativa no Brasil:

- Órgãos reguladores (Bacen, CVM, SPC, Susep, Anatel, Aneel, ANP);

- Bancos federais oferecendo crédito (BB, BNDES e CEF);

- Associações (Anbid, Abrasca, Abamec, Animec, Abrapp, IBGC, etc).

- Investidores institucionais, entre eles, fundos de pensão, bancos,

seguradoras, fundos mútuos, companhias de investimento, fundações.

2.2.5 – Código de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC

Um Código de Boas Práticas de Governança Corporativa é um conjunto

de regras visando institucionalizar a governança corporativa nas empresas e

tornar as boas práticas uma cultura permanente. Existem diversos tipos de

códigos: (i) normas por país ou indústria (Cadbury, Greenbury e Hampel na

Inglaterra ou Business Roundtable nos Estados Unidos), (ii) normas propostas

por grandes investidores institucionais (por exemplo, TIAA-CREF e o

CALPERS publicaram suas sugestões para boas práticas de governança

corporativa); (iii) códigos de empresas individuais, como, por exemplo, o da

General Motors.

Embora existam diferenças de origem das regras, os três tipos possuem

princípios semelhantes, entre eles: presença de membros independentes no

conselho de administração, presença de comitês (auditoria, remuneração, entre

outros) formados por membros do conselho para avaliar questões que

precisam de análise mais profunda.

Atualmente existem mais de 50 códigos de boas práticas espalhados

pelo mundo que buscam enumerar e, às vezes, normatizar os princípios de boa

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governança corporativa na administração das empresas. Em 1992, a Comissão

Cadbury, na Inglaterra, preparou o primeiro código, seguido pela National

Association of Corporate Directors (NACD), pelo CALPERS e pela General

Motors.

Dos debates ocorridos no mundo sobre governança corporativa, surgiu a

necessidade de alinhar os desejos dos investidores com a postura das

empresas. Emergiam em diversos países os Códigos de Melhores Práticas de

Governança Corporativa como uma proposta da necessidade de serem

elencadas as atitudes e comportamentos que as empresas deveriam

voluntariamente apresentar como forma de estreitarem as relações de

confiança entre as partes.

No Brasil, o primeiro código de melhores práticas foi elaborado, em

1999, pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) com base na

análise comparativa de mais de uma dezena de códigos internacionais e

sugestões de diversos executivos e acionistas de empresas brasileiras. O

objetivo do código é orientar as companhias brasileiras na adoção de práticas

de governança corporativa. O Código do IBGC tem um foco claro na

minimização de conflitos de interesse e na melhoria da estrutura e formação

dos conselhos das empresas. Em 2001, uma edição mais ampliada do Código

foi elaborada, englobando outros temas relevantes, tais como, propriedade,

auditoria independente, conselho fiscal, transparência e ética.

O objetivo central do Código das Melhores Práticas de Governança

Corporativa é indicar caminhos para todos os tipos de empresas (sociedades

por ações de capital aberto ou fechado, limitadas ou sociedades civis), visando

melhorar seu desempenho e facilitar o acesso ao capital. O código está dividido

em seis partes: propriedade, conselho de administração, gestão, auditoria,

fiscalização e ética/conflito de interesses.

O código pode incluir temas já cobertos pela legislação ou sujeitos a

novas leis ou regulamentos, mas sua aplicação será voluntária. Os

proprietários de empresas que desejem melhorar seu desempenho ou facilitar

o acesso ao capital são aconselhados a adotar o código. As linhas mestres do

Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa são: prestação de

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contas (accountability), eqüidade e transparência. As regras mais relevantes

são as seguintes:

- Deve haver um equilíbrio de poder entre o presidente da diretoria e o

conselho de administração;

- O Presidente do Conselho não deve acumular funções de presidente

da diretoria executiva (CEO);

- Deve ser sempre valorizado o princípio “uma ação, um voto”, ou seja,

as empresas que visem a abertura de capital deveriam emitir apenas

ações ordinárias e as empresas já abertas deveriam converter suas

ações preferenciais em ordinárias, ou, em caso de dificuldades

intransponíveis, conceder direito de voto às ações preferenciais em

assuntos de seus interesses;

- Extensão para todos os acionistas do direito de tag along (obtenção

das mesmas condições de venda obtidas pelos controladores em caso

de venda do controle da companhia);

- Criação e manutenção de um código de ética por parte das empresas;

- Maior nível de transparência de informações para os proprietários,

conselho de administração, auditores independentes, conselho fiscal e

demais stakeholders;

- Recomendação para o uso de padrões contábeis internacionais (IASB

ou US GAAP);

- O estatuto deve prever que as divergências entre proprietários sejam

resolvidas por meio de arbitragem, evitando o recurso à esfera judicial;

- Várias atividades do conselho de administração precisam de análises

profundas que tomam mais tempo do que é disponível nas reuniões.

Diferentes comitês, cada um com alguns membros do conselho, devem

ser formados, por exemplo: comitê de indicação, de auditoria, de

remuneração etc. Os comitês estudam seus assuntos e preparam as

propostas. Só o conselho pleno pode tomar decisões. Cada empresa

deve formar pelo menos o comitê de auditoria;

- O conselho da empresa deve ser formado, em sua maioria, por

conselheiros independentes. O conselheiro deve trabalhar para o bem

da empresa e, por conseguinte, de todos os acionistas. O conselheiro

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deve buscar a máxima independência possível em relação ao acionista

que o tenha indicado para o cargo, consciente de que, uma vez eleito,

sua responsabilidade refere-se ao conjunto de todos os proprietários.

2.2.6 – Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa

Em junho de 2002, a CVM lançou uma cartilha com recomendações

relativas a boas práticas de governança corporativa. A adoção de tais práticas

comumente significa a utilização de padrões de conduta superiores aos

exigidos pela lei, ou pela regulamentação da própria CVM. Por isto, a cartilha

não constitui uma norma cujo descumprimento seja passível de punição pela

CVM. No entanto, a CVM exigirá brevemente a inclusão nas informações

anuais das companhias abertas de indicação do nível de adesão às práticas

recomendadas, na forma "pratique ou explique", isto é, ao não adotar uma

recomendação, a companhia poderá explicar suas razões.

Com a publicação da cartilha, a CVM busca estimular o desenvolvimento

do mercado de capitais brasileiro por meio da divulgação de práticas de boa

governança corporativa. Seu objetivo é orientar nas questões que podem

influenciar significativamente a relação entre administradores, conselheiros,

auditores independentes, acionistas controladores e acionistas minoritários. A

CVM ressalta que a cartilha não pretende esgotar o assunto, e, portanto,

entende que as companhias podem e devem ir além das recomendações nela

incluídas.

A CVM procurou adaptar alguns conceitos de governança corporativa

internacional às características próprias da realidade brasileira, notadamente a

predominância de companhias com controle definido. Cabe ressaltar que

alguns conceitos importantes de governança corporativa já fazem parte da

estrutura legal no Brasil, razão pela qual não se faz referência a eles. Os

pontos mais relevantes são os seguintes:

- A companhia deve tornar plenamente acessíveis a todos os acionistas

quaisquer acordos de seus acionistas de que tenha conhecimento, bem

como aqueles em que a companhia seja interveniente;

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33

- O conselho deve ter o maior número possível de membros

independentes da administração da companhia, além de dispor sobre

comitês especializados para analisar certas questões em profundidade;

os comitês especializados devem ser compostos por alguns membros do

conselho de administração para estudar seus assuntos e preparar

propostas, as quais deverão ser submetidas à deliberação do conselho

de administração;

- A companhia deve permitir imediatamente que os acionistas detentores

de ações preferenciais elejam um membro do conselho de

administração, por indicação e escolha próprias. Embora até 2006 a Lei

da S.A. estabeleça que os acionistas preferencialistas podem escolher

um membro do conselho de administração a partir de lista tríplice

elaborada pelo controlador, entende-se que tal tutela não se justifica, à

luz das melhores práticas de governança corporativa, e, por isto, a

companhia deve incluir em seu estatuto regra que assegure desde já

aos acionistas titulares de ações preferenciais que não integrem o grupo

de controle o direito de indicar e eleger livremente um membro para o

conselho de administração;

- Os cargos de presidente do conselho de administração e presidente da

diretoria (executivo principal) devem ser exercidos por pessoas

diferentes;

- As decisões de alta relevância devem ser deliberadas pela maioria do

capital social, cabendo a cada ação um voto, independente de classe ou

espécie; nessas matérias, a restrição de direito de voto que houver sido

imposta às ações preferenciais não deve subsistir, pois, dada a

relevância das decisões, seu impacto nos direitos dos acionistas dar-se-

á sem distinção;

- A alienação de ações representativas do controle da companhia

somente deve ser contratada sob a condição de que o adquirente realize

oferta pública de aquisição de todas as demais ações da companhia

pelo mesmo preço, independente de espécie ou classe. De acordo com

a lei, o adquirente é obrigado a fazer oferta pública de aquisição das

ações ordinárias não integrantes do bloco de controle por, no mínimo,

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80% do preço pago por cada ação de controle. Segundo as boas

práticas de governança corporativa, o adquirente deve dar tratamento

igual a todas as classes ou espécies de ações. Portanto, o preço

ofertado aos acionistas ordinários minoritários deve se estender a todas

as demais ações da companhia, independente de espécie ou classe;

- O estatuto da companhia deverá determinar que, se a assembléia geral

não deliberar pelo pagamento dos dividendos fixos ou mínimos às ações

preferenciais ou a companhia não pagá-los no prazo permitido por lei,

tais ações adquirirão imediatamente o direito a voto. Se a companhia

não pagar dividendos por 3 anos, todas as ações preferenciais

adquirirão direito de voto;

- O estatuto da companhia deve estabelecer que as divergências entre

acionistas e companhia ou entre acionistas controladores e acionistas

minoritários serão solucionadas por arbitragem;

- As companhias abertas constituídas antes da entrada em vigor da Lei

10.303/01 não devem elevar a proporção de ações preferenciais acima

do limite de 50%, que foi estabelecido pela referida lei para novas

companhias abertas. Companhias que já tenham mais de 50% de seu

capital representado por ações preferenciais não devem emitir novas

ações dessa espécie;

- O conselho fiscal deve ser composto por, no mínimo, três e, no

máximo, cinco membros. Os titulares de ações preferenciais e os

titulares de ações ordinárias, excluído o controlador, terão direito de

eleger igual número de membros eleitos pelo controlador. O controlador

deve renunciar ao direito de eleger sozinho o último membro (terceiro ou

quinto membro), o qual deverá ser eleito pela maioria do capital social,

em assembléia na qual a cada ação corresponda um voto, independente

de sua espécie ou classe, incluindo as ações do controlador;

- Um comitê de auditoria, composto por membros do conselho de

administração com experiência em finanças e incluindo pelo menos um

conselheiro que represente os minoritários, deve supervisionar o

relacionamento com o auditor. Como parte da análise das

demonstrações da companhia, o conselho fiscal e o comitê de auditoria

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35

devem se reunir regular e separadamente com os auditores sem a

presença da diretoria.

- O conselho de administração deve proibir ou restringir a contratação do

auditor da companhia para outros serviços que possam dar origem a

conflitos de interesse;

- A companhia deve adotar, além dos princípios de contabilidade em

vigor no Brasil, normas internacionais de contabilidade (IASB ou

USGAAP), atestados por auditor independente.

O modelo da CVM mistura algumas recomendações do Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) com regras do Novo Mercado da

Bovespa e recomendações que vão além do que foi aprovado na Lei, razão

pela qual a cartilha de recomendações de boas práticas corporativas da CVM

promete criar atrito entre as companhias abertas e o órgão regulador. As

recomendações não têm poder de norma, porém a CVM pretende exigir a

inclusão nas informações anuais das companhias abertas do nível de adesão

às práticas propostas. É o que a autarquia está chamando de "pratique ou

explique": ao não adotar uma recomendação, a companhia "poderá explicar

suas razões".

2.3 – Evidências Empíricas e Hipóteses

As discussões envolvendo governança corporativa e a evolução dessas

práticas têm se intensificado na última década. O conceito já está bastante

desenvolvido em países ricos e vem ganhando força nos mercados

emergentes. Tradicionalmente, a governança corporativa se preocupou em

resolver conflitos de interesse entre administradores e acionistas. No entanto,

os conflitos de interesse ocorrem entre uma gama mais ampla de agentes, os

stakeholders: acionistas minoritários, acionistas majoritários, credores,

gerentes, empregados, consumidores, governo e a comunidade como um todo.

A governança corporativa é um tema bastante abrangente. Embora a

governança corporativa ocorra em diversas dimensões, a análise pode ser

centrada na estrutura de controle e propriedade das empresas, levando-se em

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36

conta que essa dimensão está intimamente ligada com as demais. Portanto, a

governança corporativa pode ser analisada do ponto de vista da dissociação

entre propriedade e controle.

Um dos aspectos mais relevantes da governança corporativa é a

estrutura de controle e propriedade. Shleifer e Vishny (1997) argumentam que

a estrutura de controle e propriedade é, junto com a proteção legal, um dos

dois determinantes de governança corporativa. Algumas razões para tal são

apontadas por Thomsen e Pedersen (1997): (i) a concentração da propriedade

por parte de grandes acionistas irá icentivá-los a tomar uma posição ativa, com

interesse no desempenho da firma; (ii) a separação entre controle e

propriedade pode incentivar a expropriação dos acionistas minoritários; (iii) a

identidade e a origem do capital dos proprietários (estrangeiro, familiar, estatal,

institucional) são indicativos de suas estratégias e prioridades; (iv) a liquidez da

propriedade irá afetar a preferência temporal dos proprietários e o

comportamento dos investimentos das corporações; (v) os acionistas que

possuem carteiras diversificadas não serão avessos a uma postura de maior

risco da firma, ao passo que os proprietários com parcela significativa de sua

riqueza em uma única firma tendem a propor estratégias corporativas de baixo

risco.

A presente seção visa apresentar os principais estudos empíricos

envolvendo estrutura de controle e propriedade e suas relações com valor,

estrutura de capital e política de distribuição de dividendos de empresas no

Brasil e no mundo. A análise dos principais trabalhos nos permitirá elaborar as

principais hipóteses a serem testadas na parte empírica da tese.

2.3.1 – Estrutura de Controle/Propriedade e Valor das Empresas

Grande parte da literatura que estudou o problema de separação entre

propriedade e controle o fez dentro de um ambiente onde a propriedade é

difusa, ou seja, em um ambiente marcado por um grande número de pequenos

acionistas, cada um com uma parcela muito pequena do capital. Berle e Means

(1932), ao analisarem a estrutura de propriedade das empresas nos Estados

Unidos, observaram a prevalência de empresas de capital aberto com

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37

propriedade diluída entre vários pequenos acionistas minoritários. Esta idéia foi

amplamente adotada como o modelo de corporação nas economias modernas.

Entretanto, estudos recentes concluíram que poucos são os países que

se caracterizam por empresas com propriedade difusa. Esta estrutura de

propriedade ocorre basicamente em grandes corporações de países anglo-

saxões. Ao contrário dos países anglo-saxões, países como França, Itália e

Alemanha, entre outros, caracterizam -se por uma forte concentração de

propriedade e controle.

Demsetz e Lehn (1985) realizaram um trabalho pioneiro e identificaram

os seguintes fatores determinantes do grau de controle acionário em empresas

norte-americanas: o grau de regulação, o tamanho da empresa e a

instabilidade da lucratividade. Além disso, os autores não identificaram efeito

significativo da concentração da propriedade sobre o desempenho das

empresas. Thomsen e Pedersen (1997) testaram o modelo de Demsetz e Lehn

no mercado europeu, encontrando resultados semelhantes.

Jensen e Meckling (1976) e Morck et al (1988) produziram importantes

contribuições à pesquisa sobre estrutura de propriedade e avaliação

corporativa. Jensen e Meckling concluíram que a concentração de propriedade

é benéfica para a avaliação das corporações, porque grandes investidores

monitoram melhor os administradores. Morck et al distinguiram efeitos positivos

e negativos. Eles sugerem que a ausência de separação entre propriedade e

controle reduz os conflitos de interesse e, conseqüentemente, aumentam o

valor para o acionista.

La Porta et al (2000a) apresentam evidências de que, em 27 países

desenvolvidos, o que se observa é uma grande concentração do controle e da

propriedade das empresas nas mãos de famílias e do Estado, ao invés da

propriedade difusa proposta por Berle e Means (1932). Com a análise da

propriedade final das empresas, foi possível responder a quatro questões

principais: (i) identificar se era dominante a estrutura proposta por Berle e

Means; (ii) identificar e classificar os maiores proprietários das empresas nos

países estudados; (iii) avaliar as formas de manutenção do controle por parte

dos proprietários e (iv) determinar que fatores explicam as diferenças entre os

diversos países.

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38

Aproximadamente um terço das firmas apresenta propriedade difusa. As

maiores incidências são de controle familiar e estatal. Quanto à manutenção do

controle, é possível, em alguns casos, observar um distanciamento da idéia de

uma ação equivalente a um voto. Há, nestes casos, uma distinção entre os

direitos de propriedade dos fluxos de caixa e os direitos de voto. Os

proprietários finais podem desejar abrir o capital de uma empresa, mas não

correr o risco de perder o controle sobre a mesma. Firmas com um proprietário

final (um indivíduo ou um grupo) se utilizam de três formas principais de reduzir

a sua propriedade abaixo do seu controle, isto é, abrir mão do primeiro sem

abrir mão do segundo.

Os proprietários das empresas podem decidir lançar ações com direitos

inferiores de voto, mantendo para si as ações com direitos superiores, não

correndo, portanto, o risco de perder o controle. Podem ainda se utilizar dos

mecanismos de participação cruzada, isto é, fazer com que uma empresa

controlada por outra possua ações de sua controladora. Os empresários

podem montar uma estrutura de pirâmide, que consiste em se manter

controlador de uma empresa de capital aberto que seja a controladora de outra

empresa de capital aberto. Desta forma, o controle pode ser mantido com

menos do que os 50% mais um voto do tradicional sistema uma-ação-um-voto.

Além desses mecanismos, os acordos de acionistas sobre exercício do direito

a voto ou do poder de controle também são uma forma de aumentar o controle.

A estrutura de pirâmide aparenta ser um mecanismo utilizado por

acionistas controladores para separar a propriedade sobre os fluxos de caixa

dos direitos de controle. Esses resultados são consistentes com a proposição

de Wolfenzon (1999) que sugere que as pirâmides podem ser usadas pelos

controladores para fazer os minoritários pagarem os custos, mas não

participarem de todos os benefícios de alguns negócios. A utilização da

estrutura piramidal parece ser bastante usada nos países desenvolvidos para

manter o poder dos controladores desproporcional a seus direitos de

propriedade sobre os fluxos de caixa.

A conclusão é que aqueles países com sistemas legais que podem

garantir aos credores e acionistas minoritários um maior grau de proteção

contra a expropriação possuem corporações que se encaixam no modelo de

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39

Berle e Means. Nos países onde a proteção é menos significativa, observa-se

uma maior concentração do controle das empresas. O maior desafio da

governança corporativa é, então, restringir as possibilidades de expropriação

dos minoritários na maioria dos países.

Em um outro estudo, La Porta et al (1999), utilizando uma amostra de 49

países, mostram que, mesmo se nos concentrarmos nas maiores companhias

abertas (normalmente caracterizadas por propriedade mais difusa), os três

maiores acionistas possuem, em média, 46% da empresa. Nelson (1999)

encontrou resultados semelhantes, concluindo que existe, no caso de

companhias americanas, correlação positiva entre boas práticas de governança

corporativa e desempenho das empresas.

Claessens et al (1999) investigam os custos e benefícios das estruturas

de pirâmides em grupos de empresas, e as razões que levam à sua formação.

Os autores examinam 7000 empresas em nove países do leste da Ásia e

concluem que 75% das firmas pertencem a grupos. Parece que isto traz um

benefício, uma vez que firmas pertencentes a grupos tendem a se diversificar

mais. No entanto, há desvantagens na formação de grupos controladores,

entre elas, a possibilidade de expropriação dos minoritários e a relativa

ineficiência na alocação de recursos. Na média, o valor das empresas

controladas por grupos é mais baixo do que o das empresas de propriedade

difusa nestes países.

A conclusão do trabalho indica que os custos da expropriação dos

minoritários superam os benefícios da associação em grupos na Asia. Há no

trabalho evidências de que a expropriação nas empresas de grupos gera

grandes benefícios privados para os controladores, e que este é o fato

motivador das associações. Enquanto os grupos podem ser uma resposta a

fatores de mercados externos que possuem altos custos de transação, os

custos da expropriação superam esses benefícios.

Faccio e Lang (2001) analisaram a estrutura direta e indireta de

propriedade e controle de 5232 empresas em 13 países europeus. Os

resultados indicaram que as famílias são os mais freqüentes grupos

controladores na estrutura indireta. De fato, os grupos familiares controlam

44% das companhias européias. Os autores documentam a concentração de

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40

riqueza nas mãos de um pequeno número de famílias e a utilização de

pirâmides e estruturas cruzadas para aumentar a separação entre controle e

propriedade. As empresas com maior dispersão de propriedade e controle

encontram -se no Reino Unido e na Irlanda, comparativamente aos países da

Europa Continental.

La Porta et al (1998) mostram uma correlação fortemente negativa entre

concentração de propriedade e qualidade de proteção legal aos investidores

em um determinado país. Em países onde a lei não protege os investidores,

eles devem ser grandes o suficiente para exercerem o monitoramento dos

gerentes da companhia. O Brasil pertence à tradição do direito francês, que

oferece a menor proteção legal aos investidores. Portanto, é de se esperar uma

alta concentração de capital nas empresas, principalmente no que se refere a

capital votante.

Gomes e Novaes (1999) argumentam que um mecanismo efetivo de

governança relacionado com a estrutura de controle e propriedade é a

presença de um segundo grande acionista (ou múltiplos acionistas com

participações significativas), uma vez que eles representam uma possível fonte

de monitoramento e ameaça para o acionista controlador. Gomes (2000)

analisa os problemas de agência entre acionistas controladores e minoritários e

conclui que as ações de empresas que adotam mecanismos explícitos ou

implícitos de boa governança têm preço superior. Além disso, as firmas que

protegem os acionistas minoritários são mais indicadas a lançar títulos no

mercado acionário devido à sua boa reputação, a qual reduz as ineficiências

causadas por conflitos de agência.

Morck, Shleifer e Vishny (1988), e McConnel e Servaes (1990)

encontram uma relação curvilinear entre desempenho das empresas e

propriedade por parte dos administradores. Essa relação não linear pode ser

explicada da seguinte maneira. Quando a administração possui uma pequena

parcela da empresa, os administradores têm um incentivo a maximizar o valor

das atividades da empresa. Quando a participação é intermediária, os gerentes

têm controle e riqueza suficientes para se apropriar de benefícios privados, não

disponíveis para os demais acionistas. Quando a participação é elevada, o

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comportamento está voltado para a maximização da empresa como um todo,

pois a administração possui uma parcela significativa da empresa.

A identidade dos acionistas também tem influência no desempenho das

empresas. McConnel e Servaes (1990) concluíram que empresas controladas

por investidores institucionais tendem a apresentar desempenho superior

quando comparadas com outras empresas. Além disso, existem evidências de

que empresas privadas têm desempenho superior ao de empresas controladas

pelo governo. Gibson (1999) e Wiwattanakantang (2001) concluíram que

empresas com controladores estrangeiros tendem a apresentar um valor de

mercado superior em relação às empresas com acionistas locais, pois os

primeiros possuem meios mais eficazes de monitoramento e tecnologia.

Demsetz e Villalonga (2001) investigam a relação entre a estrutura de

propriedade e o desempenho de 223 empresas americanas e não encontram

uma relação significativa entre as duas variáveis. Os autores concluem que a

propriedade difusa, ao mesmo tempo em que exacerba alguns conflitos de

agência, traz também vantagens positivas que acabam por compensar tais

problemas. A concentração de propriedade, ao mesmo tempo em que reduz

alguns problemas de agência e provê melhores meios de monitoramento, pode

levar a uma maior extração de benefícios privados de controle às expensas dos

acionistas minoritários.

Pesquisas recentes sugerem que maiores direitos sobre fluxo de caixa

estão associados com melhor avaliação das companhias. Em contraste, a

concentração de direitos de controle e a separação dos direitos de voto dos de

fluxo de caixa têm um efeito negativo no valor das firmas. Shleifer e Vishny

(1997), La Porta et al (1998) e Morck et al (1988) estudam os conflitos de

interesse entre os grandes acionistas e os minoritários. Quando grandes

investidores controlam uma corporação, suas políticas podem resultar em

expropriação dos acionistas minoritários. Estas empresas não são atraentes

para os pequenos acionistas e o valor de suas ações é reduzido.

Claessens et al (2000a, 2000b) estudam o efeito que os direitos de fluxo

de caixa e de voto exercem sobre o valor de 2980 empresas em nove países

asiáticos. Investidores de grande porte têm poder e meios para monitorar a

ação dos gestores e garantir que ajam de acordo com os interesses dos

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acionistas. Por outro lado, acionistas de grande porte têm incentivos para

expropriar os minoritários, e esse incentivo é maior na medida em que os

direitos de controle superam os direitos de propriedade. Assim, existem três

hipóteses sendo testadas: a concentração dos direitos ao fluxo de caixa em

grandes blocos aumenta o valor da empresa; a concentração do controle em

grandes blocos diminui o valor da empresa; por fim, a separação dos direitos

ao controle e do fluxo de caixa diminui o valor de mercado.

Para identificar os efeitos da expropriação, é utilizado o método de

excess value. Em linhas gerais, o método compara a firma com o padrão da

indústria para os segmentos onde a empresa atua e atribui a diferença

encontrada à possibilidade de expropriação. O resultado dessa comparação é

o valor em excesso, que é a variável dependente utilizada nos modelos de

regressão. Assim, os modelos analisam os coeficientes para as variáveis

independentes, que são o direito ao fluxo de caixa do maior acionista, o direito

aos votos do maior acionista e o índice controle/fluxo de caixa. Os resultados

obtidos confirmam a teoria: os coeficientes são, respectivamente, positivo,

negativo e negativo, todos estatisticamente significativos.

Analisando separadamente para os diferentes grupos de proprietários de

último nível, observa-se que a possibilidade de expropriação afeta mais o valor

para empresas controladas por famílias, já que o coeficiente para direitos ao

fluxo de caixa é menos significativo e os coeficientes para direito aos votos e

índice controle/fluxo de caixa são mais significativos para esse grupo. De um

modo geral, a possibilidade de expropriação é o principal problema de agência

nas empresas analisadas.

As evidências de Claesens et al (2000a, 2000b) de que maior controle

afeta negativamente a avaliação das ações enquanto a propriedade sobre o

fluxo de caixa a afeta posit ivamente são coerentes com Morck et al (1988),

Shleifer e Vishny (1997) e Jensen e Meckling (1976). Eles concluem que o

risco de expropriação é o principal problema para o acionista das corporações

do Sudeste Asiático.

Gompers, Ishii e Metrick (2001) constroem um índice de governança

corporativa para 1500 empresas e o relacionam com medidas de desempenho

das empresas, encontrando uma relação positiva e significativa entre

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governança corporativa e retorno das ações. Diversos estudos encontraram

uma relação significativa entre estrutura de controle e propriedade e valor das

empresas em países específicos, entre eles, Russia (Black (2001)), Japão (Kim

e Jung (2001) e Morck et al (1999b)), China (Wu e Cui (2001)), Coréia (Joh

(2002)) e Tailândia (Wiwattanakantang (2001)).

Lemmon e Lins (2002) estudaram os efeitos da estrutura de propriedade

no valor de empresas asiáticas durante a crise de 1997. Os resultados indicam

que a crise foi um choque negativo nas oportunidades de investimento nesses

mercados, que contribuiu como um incentivo para a expropriação dos

acionistas minoritários pelos controladores. O valor das empresas onde existia

um potencial maior de expropriação dos minoritários teve uma queda superior

quando comparado com outras empresas durante a crise asiática. Os autores

concluem que empresas onde exista uma substancial separação entre direito

de controle e propriedade estão mais sujeitas à expropriação em períodos de

crise.

Mitton (2002) analisou a relação entre diversas variáveis de governança

corporativa e o desempenho de 398 firmas asiáticas durante a crise de 1997.

Os resultados indicam um retorno significativamente superior das empresas

com boas práticas de governança corporativa e com alta concentração de

direitos de fluxo de caixa nas mãos do acionista controlador.

Chen e Ho (2000), realizando um estudo sobre 145 companhias em

Cingapura, verificam que os problemas de agência são maiores quando a

propriedade nas mãos da administração é difusa, sendo que as empresas onde

a concentração de propriedade é maior apresentam valores de mercado

superiores.

Lins e Servaes (2002) analisaram mais de 1000 empresas em sete

mercados emergentes asiáticos e concluíram que empresas onde exista uma

grande separação entre direitos de voto e fluxo de caixa são negociadas com

deságio quando comparadas com firmas com menor discrepância entre

controle e propriedade. Portanto, a oportunidade de expropriação dos

acionistas minoritários em empresas diversificadas leva a uma redução do

valor de mercado da empresa.

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Lins (2002) conclui que os valores das empresas em mercados

emergentes, inclusive o Brasil, são menores quando existe separação entre

controle e propriedade, refletindo a possibilidade de expropriação de acionistas

não controladores. O autor analisou 1448 empresas em 18 mercados

emergentes e verificou que a separação entre controle e propriedade tem um

efeito negativo acentuado em países com menor proteção legal aos acionistas.

Makhija e Spiro (2000) realizaram um estudo sobre 988 firmas tchecas

recém-privatizadas e verificaram uma relação positiva entre valor das

empresas e concentração de propriedade, sendo que a relação é mais

significativa quando os proprietários são investidores estrangeiros ou ligados à

administração da companhia.

Johnson e Shleifer (2001) estudam os movimentos de privatização e os

impactos nas práticas de governança de empresas recém-privatizadas. Os

autores verificam que empresas privatizadas sem boas condutas de

governança tendem a apresentar um desempenno insatisfatório, chegando a

conclusão de que uma maneira chave de proteger os investidores é aumentar a

proteção legal doméstica e a aplicação da lei (enforcement), visando minimizar

a expropriação por parte dos acionistas controladores e da administração da

companhia.

O enforcement pode ser entendido como os mecanismos que amparam

os investidores minoritários quando seus direitos são violados. Entre outros,

essa atividade ou intermediação pode ser executada pelo conselho de

administração, por órgãos reguladores públicos e privados (bolsas de valores,

Banco Central, CVM, etc.) e pelo Poder Judiciário. O enforcement embute não

só o justo mérito de questões, mas a rapidez com que se resolvem, haja vista

que a deterioração do tempo, em alguns casos, promove quedas substanciais

no valor dos ativos. O mercado, visando minimizar tais impactos, volta-se para

a arbitragem como uma alternativa à morosidade do Poder Judiciário.

Gibson (1999) relaciona o desempenho de 1200 empresas em 8

mercados emergentes com o turnover do presidente das companhias. O autor

encontra que os presidentes das firmas tendem a perder seus empregos

quando o desempenho da empresa é ruim, sugerindo que a governança

corporativa tem efetividade em mercados emergentes. Por outro lado, em

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45

empresas onde há um grande acionista doméstico, não existe relação entre a

rotatividade do presidente e o desempenho corporativo, indicando um sinal de

ineficiência da governança corporativa para esse conjunto de empresas. Nesse

contexto, os acionistas majoritários podem estar avaliando os presidentes não

baseados no desempenho da empresa como um todo, mas sim na

maximização do valor para os acionistas controladores, expropriando os

acionistas minoritários.

Klapper e Love (2002) verificam que a governança corporativa está

associada positivamente com aumento de valor das empresas em mercados

emergentes. Além disso, concluem que firmas que adotam voluntariamente

boas práticas de governança tendem a se beneficar mais em países com

sistemas legais ineficientes, sendo uma forma de compensar as fracas leis e o

enforcement, estabelecendo melhores garantias e proteção aos investidores

minoritários.

Bohren e Odegaard (2001) verificaram que a estrutura de controle e

propriedade influencia no desempenho econômico de empressas norueguesas.

Uma maior concentração de controle e a utilização de ações não votantes

estão relacionadas com uma perda de valor de mercado. O poder dos

acionistas controladores para expropriar os minoritários é moderado pelos seus

incentivos financeiros para não fazê-lo. Uma fonte importante de tais incentivos

é a manutenção de propriedade sobre fluxos de caixa por parte dos

controladores. Em geral, a expropriação é custosa, e, portanto, uma maior

propriedade levaria a uma menor expropriação, coeteris paribus.

Aganin e Paolo (1998) utilizam dados e informações de todas as

empresas de capital aberto na Bolsa de Valores da Itália para testar e

comparar as teorias então vigentes a respeito de grupos que se utilizam da

estrutura de pirâmides. A literatura de finanças corporativas sugere que há três

grupos de teorias que explicam os benefícios da estrutura de pirâmides e da

formação de grupos em geral. O primeiro trata da opção entre abrir subsidiárias

ou empresas independentes, baseando-se em questões fiscais, de

regulamentação e de ”limitações de passivo”. Outro grupo se baseia nos

benefícios de organizar firmas com acionistas minoritários numa estrutura

vertical de pirâmide, entre eles, o controle sobre grandes ativos com recursos

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limitados, a divisão dos custos dos investimentos e a obtenção de lucros

maiores quando da negociação para vender a companhia. O último trata dos

benefícios de se entrar no mercado de capitais com mais de uma empresa

controlada, especialmente para fins de diversificação de risco.

Os resultados obtidos indicam que a questão de “limitações de passivo”

deveria levar ao fato de uma empresa controladora se salvar de um default

“quebrando” uma controlada. Isto não parece ocorrer, pois quase sempre que

uma empresa dá um default, todas as empresas do grupo o fazem. As

questões fiscais e de regulamentação influenciam a escolha da estrutura de

pirâmide. Além disso, os autores encontram evidências de que as pirâmides

permitem aos controladores dividir os custos de investimentos, podendo levar a

uma maior expropriação dos investidores minoritários. A questão da

diversificação do risco também parece ter importância significativa na decisão

de se criar grupos de empresas, uma vez que não limita a exposição do

controlador aos fluxos de caixa de uma única companhia.

Doidge, Karolyi e Stulz (2001) verificam que as empresas estrangeiras

listadas nos Estados Unidos apresentam um valor superior quando

comparadas com empresas não listadas. Os autores concluem que a diferença

de valor se dá por diferentes motivos: redução do custo de capital, acesso a

novas fontes de financiamento, aumento da liquidez, visibilidade, exposição e,

principalmente, pela possibilidade de expropriar os minoritários por parte dos

acionistas controladores ser menor para as empresas listadas no mercado

americano. Nesse contexo, os interesses do controlador estão mais alinhados

com os dos demais acionistas. O aumento de valor é mais significativo quando

o país de origem das empresas possui um precário sistema de proteção legal

aos minoritários. Errunza e Miller (1998) fizeram uma análise do efeito de

emissão de ADR’s no custo de capital de empresas emergentes. Os resultados

mostram forte evidência de que a liberalização de mercado reduz o custo de

capital, em cerca de 42% após a emissão de ADR’s.

La Porta et al (2002) utilizam a mesma amostra de La Porta et al (2000)

para analisar os efeitos da proteção legal aos minoritários e da propriedade dos

direitos sobre fluxo de caixa sobre o valor de 371 empresas em 27 países. Os

resultados indicam que as firmas dos países com melhor proteção ao

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47

minoritário apresentam valor mais elevado em relação a algumas medidas

fundamentalistas, como ativos ou fluxos de caixa. A conclusão indica que

pouca proteção ao minoritário é penalizada com valuations mais baixos e com

menor desenvolvimento dos mercados de capitais.

Estudos recentes no campo de governança corporativa têm encontrado

diferenças entre países no que diz respeito à concentração de propriedade em

empresas de capital aberto, no grau de desenvolvimento dos mercados

financeiros e no acesso das firmas a financiamento externo. La Porta et al

(2000) sugerem que estas diferenças podem ser explicadas de um modo

diferente da tradicional oposição entre economias “centradas em bancos” e

“centradas no mercado”. A explicação seria encontrada a partir da observação

do quanto os interesses dos acionistas minoritários e credores estão protegidos

da possibilidade de expropriação por parte dos controladores das empresas.

Algumas possibilidades de expropriação por parte dos controladores

usualmente observadas são o simples roubo de parte do rendimento das

empresas, a utilização de preços de transferência e má utilização de ativos, e,

por fim, o emprego de funcionários desqualificados em altos cargos (ou o

pagamento de salários e benefícios excessivamente altos).

Os desvios da empresa podem ser classificados como ordinários ou

extraordinários. Os primeiros dizem respeito a preços de transferência e

empréstimos para empresas privadas de propriedade dos controladores. Os

últimos se referem a mudanças na configuraç ão dos grupos, como aberturas

de capital ou fusões entre empresas do grupo.

Na verdade, o problema da expropriação de minoritários e credores está

intimamente ligado ao problema de custos de agência descrito por Jensen e

Meckling (1976). Este problema consiste no fato de os insiders (acionistas

controladores e administradores) utilizarem os lucros da empresa em benefício

próprio, ao invés de retornarem o dinheiro aos outsiders (acionistas minoritários

e credores).

É necessário que se observe não apenas o que está previsto em lei,

mas em que extensão as garantias estão efetivamente presentes na

sociedade. Deixar os mercados se auto-regularem não parece ser suficiente

para o desenvolvimento dos mesmos. Os países com a tradição de common

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law, isto é, a lei baseada na jurisprudência (direito consuetudinário), parecem

apresentar maior proteção aos outsiders do que os países com a tradição de

civil law, isto é, as leis previstas em código (direito civil).

A questão da proteção legal parece ser particularmente importante nas

questões dos padrões de propriedade das empresas, no desenvolvimento dos

mercados financeiros e na alocação dos recursos reais. Assim sendo, também

o setor real da economia, e não apenas o financeiro, pode sofrer com a falta de

proteção legal. Quanto mais fraca a proteção aos outsiders, maior o benefício

privado do controle (expresso em termos de capacidade de expropriação). Em

países com fraca proteção, a propriedade das empresas tende a ser mais

concentrada. Além disto, os mercados financeiros tendem a se desenvolver

mais em países onde os minoritários se sentem protegidos, pois estes se

sentem mais seguros para pagar mais pelas ações, e as emissões tornar-se-ão

mais atraentes para os controladores (o mesmo vale para os credores).

Consistente com a hipótese de existência de benefícios privados de

controle (Barclay e Holderness (1989), Claessens et al (2000a, 2000b), Jensen

e Meckling (1976), Johnson et al (2000), La Porta et al (1998, 2002)), diversos

estudos reportaram que as ações votantes são negociadas com um ágio sobre

as ações não votantes: 81,5% na Itália (Zingales (1994)), 13,3% no Reino

Unido (Megginson (1990)), 29% na Alemanha (Muus e Tyrell (1999)), 51,3% na

França (Muus(1998)) e 5,4% nos Estados Unidos (Lease, McConnell e

Mikkelson (1983)).

Através dos mercados financeiros, a proteção legal terá efeito na

economia real, facilitando o crédito e controlando os investimentos para que

estes sejam alocados para os projetos mais eficientes. Os países que ainda

não oferecem efetiva proteção aos acionistas minoritários e credores devem se

esforçar para promover uma ampla reforma que os leve a um caminho de

desenvolvimento de seus mercados. Uma reforma legal desta natureza pode

encontrar muitos obstáculos políticos, principalmente porque ela se faz

necessária justamente nos países onde a propriedade das empresas é mais

concentrada nas mãos de algumas famílias e do Estado. A possibilidade de

expropriação, além dos lucros que produz por si só para os controladores,

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49

ainda atua como uma proteção contra a concorrência, uma vez que restringe o

acesso de novos grupos a fontes (restritas) de financiamento.

A literatura brasileira sobre governança corporativa concentra-se

principalmente nos estudos realizados a partir da década de 90. Lodi (2000)

elaborou um excelente estudo sobre o conceito de governança corporativa,

afirmando que, mesmo em uso há bastante tempo nos países desenvolvidos,

ele é relativamente recente em nosso país. Lethbridge (1997) apresenta os

principais pontos da discussão envolvendo o tema de governança corporativa e

a evolução de suas práticas nos últimos anos, comparando os sistemas de

governança em diversos países. Hallqvist (2000) afirma que os objetivos da

governança corporativa são o tratamento justo a todos os acionistas ou

quotistas, a transparência das operações e das estruturas da empresa e a

cobrança de responsabilidade do conselho de administração, do executivo

principal, da diretoria e dos auditores independentes.

Claessens, Klingebiel e Lubrano (2001) analisam com detalhes e

profundidade o sistema de governança corporativa no mercado brasileiro. Leal,

Castro e Carvalhal da Silva (2002) compilaram uma série de estudos sobre

governança corporativa no Brasil. Siffert Filho (1998) examina as mudanças no

controle societário das 100 maiores empresas não-financeiras na economia

brasileira de 1990 a 1997. O autor também realiza comparações da experiência

brasileira com padrões observados nas economias desenvolvidas. A estrutura

de propriedade varia entre os países em conseqüência de vários fatores, como

regime político, sistema legal, estrutura do mercado de capitais, experiência

histórica de industrialização, condições geográficas e cultura.

Siffert Filho (1998) identifica que, no caso brasileiro, uma nova forma de

controle das corporações (controle compartilhado) tem se apresentado como

modelo em um número significativo de grandes empresas, tendo como

acionistas principalmente investidores institucionais, tanto nacionais como

estrangeiros. Destacam-se também as seguintes transformações na estrutura

de controle societário na economia brasileira: redução de empresas estatais

devido à privatização; crescimento significativo da forma de controle

“propriedade minoritária dominante” como consequência do controle

compartilhado entre fundos de pensão, empresas nacionais e investidores

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50

estrangeiros; avanço significativo da presença de empresas estrangeiras e a

redução daquelas cujo controle era familiar.

Siqueira (1998) investigou as repercussões das mudanças na estrutura

de propriedade das empresas brasileiras, analisando as causas e

conseqüências da concentração da propriedade das empresas de capital

aberto. O principal objetivo era analisar os fatores determinantes da

concentração da propriedade e seus efeitos sobre o desempenho das

empresas, baseando-se nos estudos de Demsetz e Lehn (1985) e Thomsen e

Pedersen (1997). As empresas foram classificadas em 3 categorias: (i)

propriedade dispersa: o maior acionista detém menos de 20% do controle; (ii)

propriedade dominante: o maior acionista detém entre 20% e 50% do controle;

e (iii) propriedade majoritária: o maior acionista detém mais de 50% do

controle.

Tendo em vista que as companhias brasileiras possuem ações com

direito e sem direito a voto, foram consideradas duas formas de concentração

de propriedade: uma medida pela participação do maior acionista no total das

ações da empresa e outra medida pela participação do maior acionista no total

das ações com direito a voto da empresa. Os resultados do estudo levam à

conclusão que o grau de concentração do controle acionário das companhias

brasileiras sofre influência da regulamentação de mercado, do tamanho da

firma e da estrutura de capital. Ao contrário dos resultados de Demsetz e Lehn

(1985) e Thomsen e Pedersen (1997), o tamanho da firma apresentou um

efeito positivo sobre a concentração da propriedade, indicando que existe uma

tendência para concentração do controle acionário quando as empresas

aumentam de tamanho.

Procianoy (1994) analisa as características das sociedades anônimas

brasileiras no que se refere à legislação societária, às peculiaridades do

mercado de capitais brasileiro e qual o histórico de crescimento das empresas

e os fatores que têm levado seus controladores à busca de uma solução para

suas sucessões. O autor identifica a existência na maior parte das empresas

brasileiras de um grupo controlador bem definido, ao contrário da maioria das

empresas norte-americanas.

Page 60: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

51

Procianoy e Comerlato (1994) questionam se na possibilidade de

existência de conflito de agência no mercado brasileiro, os investidores

estariam conscientes deste conflito. Uma vez conhecendo o conflito, estariam

eles avaliando menos as ações dessas companhias pertencentes a esse grupo

econômico, fazendo com que o preço das ações refletisse o custo desse

conflito? Os autores afirmam que o custo dessa relação de agência seria a

diferença do valor da ação, isto é, o valor que o minoritário estaria disposto a

pagar a menos pela companhia que é prejudicada. De acordo com Procianoy e

Comerlato (1994), “toda vez que o mercado de capitais detectar que um grupo

de empresas possa estar transferindo recursos entre si mesmas, esta

possibilidade irá se refletir nos preços das ações destas companhias, e

certamente será de forma negativa”.

Procianoy (2001) estuda a estrutura dos grupos econômicos de

empresas brasileiras, identificando as principais características e classificando-

as em três modelos: teia (web), cascata (cascade) e ventilador (fan). O autor

conclui que a alavancagem via ações (equity leverage) é a razão para a

formação de grupos econômicos, independente de qual estrutura seja utilizada,

uma vez que permite a manutenção do controle da companhia utilizando uma

menor parcela do capital total.

Almeida (2001) estudou o impacto da governança corporativa no setor

brasileiro de telecomunicações e concluiu que as práticas de boa governança

são percebidas como importantes ferramentas de criação de valor para os

acionistas na empresa. Setubal Junior (2002) realizou um estudo de caso

visando analisar a governança corporativa na Petrobrás, que modificou seu

estatuto social em março de 2002, contemplando as melhores práticas de

governança corporativa, que permitiu a adesão da empresa ao Nível 2 da

Bovespa e na Bolsa de Nova York (NYSE) com ADR III. Ribeiro Neto e Famá

(2001) analisaram as mudanças da lei das S.A. e as perspetivas do mercado

de capitais brasileiro com a criação do Novo Mercado da Bovespa.

Mello Jr. (2000) concluiu que a privatização das empresas estatais foi

um importante instrumento para a reformulação dos sistemas de governança

empresarial no Brasil, estimulando o desenvolvimento do setor privado, que por

sua vez, facilitou o acesso das empresas a novas fontes de financiamento.

Page 61: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

52

Nenova (2001) verificou que o valor de controle das empresas brasileiras

é diretamento relacionado com as mudanas ocorridas na legislação em relação

à proteção de direitos dos acionistas minoritários. O valor de controle mais do

que dobra após as mudançcas ocorridas na Lei das S.A em 1997, que mitigou

uma série de direitos dos minoritários. Por outro lado, após a Instrução CVM

299/99, que restabeleceu alguns direitos aos minoritários, o valor de controle

se reduziu aos níveis anteriores.

Estudo recente da McKinsey (2002) conclui que 84% dos investidores

institucionais que possuem recursos aplicados na América Latina dão

importância igual ou maior à governança corporativa do que ao desempenho

financeiro das empesas e 76% dos investidores estariam dispostos a pagar um

prêmio por empresas com melhor governança corporativa. No Brasil, o prêmio

apontado pelos investidores foi de 24%.

Srour (2002) analisa a eficácia dos mecanismos de contratos privados

como provedores de um maior comprometimento da firma em relação aos seus

acionistas. O autor encontra evidência de que o lançamento de ADR nível II e a

presença no grupo diferenciado de governança da Bovespa são relevantes

para uma menor diluição dos acionistas minoritários e para uma performance

superior da firma. A simples listagem de uma empresa brasileira no mercado

americano através de ADR Nível I, cujo lançamento não faz maiores exigências

para regras de governança e transparência, não foi indicativa de melhoria na

sua conduta.

Melo e Cunha (2001) analisaram a relação entre estrutura de

propriedade e retorno das ações, em função da participação de investidores

institucionais na composição das organizações. Os resultados indicam que as

empresas que não detinham participação de investidores institucionais

apresentaram um retorno médio maior e menos disperso do que as empresas

com participação dessa classe de investidores.

Guarita (2000) analisa o desempenho de 44 empresas com ações

negociadas na Bovespa e que possuem parte do seu capital votante controlado

por investidores institucionais em comparação com a totalidade das empresas

de capital aberto. A autora verifica que as empresas com participações de

investidores institucionais no capital votante apresentam melhor desempenho

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53

financeiro do que a média da empresas do mercado. Vale lembrar que as

participações de investidores institucionais apresentam concentrações em

determinados setores, principalmente os recém-privatizados, cujo desempenho

afeta bastante o resultado das empresas.

Posteriormente, Guarita (2001) analisou os retornos de 161 ações

negociadas na Bovespa, separando-as em três grupos de acordo com o

percentual de participação no capital votante detido pelos investidores

institucionais. A autora concluiu que não existe uma relação direta entre o grau

de participação dos investidores institucionais no capital votante nas empresas

e o retorno de suas ações no mercado de capitais, ou seja, os investidores

institucionais não interferem na valorização das empresas no mercado.

Jensen e Meckling (1976) mostram as fontes de conflito entre acionistas

e administração, e entre insiders (controladores e acionistas que pertencem à

administração) e outsiders (minoritários). Os insiders podem tomar decisões

em benefício próprio em relação aos outsiders. Esses conflitos são freqüentes

no mercado brasileiro, pois, em geral, a estrutura acionária é concentrada, com

controle bem definido, e desvios da relação uma ação - um voto são

significativos, em virtude principalmente da popularidade da emissão de ações

preferenciais.

Grossman e Hart (1988) avaliaram que existem dois tipos de benefícios

associados ao poder de voto: aqueles comuns a todos os acionistas votantes e

aqueles exclusivos associados ao controle. A estrutura que teoricamente

maximiza o valor da empresa e minimiza os benefícios privados de controle é a

relação uma ação – um voto.

Valadares (1998) analisou a estrutura de propriedade e controle das

empresas brasileiras, observando a alta concentração da propriedade e

controle e também a dinâmica das transações com ações ordinárias ocorridas

no período de 1993-1996 de blocos que representavam controle, avaliando o

valor de controle verificado nestas transações, que é associado a possíveis

benefícios privados. O prêmio médio das transações envolvendo blocos de

ações votantes foi de 252,16%, medido sobre o valor de mercado das ações

preferenciais. Os resultados indicam também que apenas 65% do valor da

firma é distribuído igualmente entre os acionistas, com o restante

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representando benefícios privados de controle. A autora também estudou o

efeito da composição acionária sobre um leilão de privatização. Os resultados

indicam diferenças entre as transações que envolveram venda de controle

(ágio médio de 31,3%) e as que representaram somente participações

minoritárias (ágio médio de 2,8%).

Cunha (2000) realizou um estudo mostrando indícios da ocorrência da

apropriação de riquezas pelo controlador, apresentando prêmios pagos por

adquirentes de blocos de ações que conferem o poder de controle, em relação

ao valor de mercado dos papéis antes da alienação. Utilizando uma amostra de

9 companhias abertas selecionadas, os prêmios pagos pelo controle variaram

de 41% (OSA) a 817% (Lacta), apresentando uma média de 327%. Esses

prêmios extraordinários refletem a idéia disseminada entre os controladores de

que os ganhos advindos da propriedade do controle suplantam benefícios

eventualmente resultantes da diversificação de suas carteiras de investimento.

Saito (2001) analisou também a possiblidade de expropriação dos acionistas

minoritários no Brasil quando das ofertas de recompras de ações.

Os primeiros estudos brasileiros sobre diferenças de preços entre ações

ordinárias e preferenciais, incluindo Freire (1992), Terra (1993) e Benjó Neto

(1996), se focavam principalmente na análise do valor do voto, já que era

freqüente a ação ordinária negociar com prêmio sobre a ação preferencial. Os

principais fatores citados na literatura que podem influenciar a diferenciação de

preços entre ações da mesma empresa são: os direitos de cada ação, a

liquidez, o pagamento diferenciado de dividendos, a estrutura de capital, a

concentração do capital acionário e o valor do voto em uma batalha pelo

controle da empresa.

Posteriormente, Saito (2000) analisou a relação entre as cotações de

ações votantes e não votantes em uma amostra de 70 ações, com interesse

especial em empresas recém privatizadas. Os objetivos eram tentar

dimensionar os benefícios privados do controle destas empresas refletidos no

valor de mercado das ações, além de observar o efeito das mudanças na Lei

das S.As ocorridas em 1997 no valor relativo de ações ordinárias e

preferenciais. O autor verificou que, no período entre 1994 e 1998, houve um

deságio mediano de 26% da ação ordinária para a preferencial.

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55

As ações preferenciais sem voto são mais pulverizadas no mercado e,

por este motivo, têm maior liquidez e, portanto, prêmio de preço atribuído à

liquidez. Na transferência de controle via ações com direito a voto, entretanto,

os donos recebem enorme prêmio, atribuído ao controle. Este somente se

justifica, caso o dono possa usufruir vantagens decorrentes desta condição.

Quando estas vantagens são decorrentes de transações que expropriam os

acionistas minoritários é dado o nome de tunneling.

O modelo testava diversas variáveis, entre elas, estrutura de capital,

percentual de ações não votantes nas mãos dos controladores, controle da

empresa (privado/estatal), tipo de maioria do capital votante (simples – 50% ou

qualificado – 75%), pagamento de dividendos e liquidez. As variáveis

significativas no modelo foram as relacionadas à liquidez, estrutura de capital,

maioria simples do capital votante e percentual de ações não votantes nas

mãos dos controladores. O autor obteve evidências do impacto negativo que as

mudanças na lei trouxeram para os acionistas minoritários, especialmente no

caso dos detentores de ações ordinárias.

Guimarães e Ness Jr. (2001) avaliaram o comportamento das diferenças

de preços entre ações ordinárias e preferenciais de um conjunto de empresas

brasileiras no período de 1995 a 1999. Os resultados indicam que ocorreram

transformações no comportamento das diferenças de preç os entre ações

ordinárias e preferenciais para a maioria das empresas, passando as ações

ordinárias a serem negociadas, em geral, a preços de mercado inferiores às

ações preferenciais. As mudanças na Lei das S.As em 1997, ao retirarem

direitos dos minoritários, provocaram efeitos negativos sobre as ações

ordinárias.

Como normalmente no Brasil não é possível obter o controle de uma

empresa através de um takeover hostil (aquisição à revelia do controlador), já

que o controle é concentrado, as ações ordinárias em circulação no mercado,

apesar de possuírem direito de voto, não costumam ser essenciais para uma

mudança de controle. Por isso, o valor do voto não é relevante na maioria dos

casos e em geral não existe competição pelo controle, o que na ausência de

tag along torna as ações ordinárias menos atraentes que as preferenciais.

Page 65: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

56

A composição dos conselhos de administração é um dos temas centrais

do debate sobre governança corporativa. Uma das propostas mais

intensamente discutidas é a inclusão de determinado número de conselheiros

independentes, que possam desempenhar suas funções sem influências da

administração da companhia ou dos acionistas controladores. Nos Estados

Unidos, a composição dos conselhos de administração foi fartamente

pesquisada, na maior parte dos casos analisando-se os efeitos de diferentes

composições destes órgãos. Os resultados deste tipo de avaliação têm sido

variados.

No Brasil, já foram realizados diversos estudos visando analisar a

estrutura e composição dos conselhos de administração, entre eles, Mônaco

(2000), Leal e Oliveira (2002) e Dutra e Saito (2001). Os últimos autores

identificaram o perfil dos conselhos de administração de 142 companhias

brasileiras em 1999, buscando avaliar o grau de independência do conselho de

administração em relação aos acionistas controladores. Os resultados

indicaram que os órgãos são amplamente dominados por representantes dos

acionistas controladores, e que há indícios de uma baixa utilização dos

mecanismos de voto à disposição dos acionistas não-controladores.

Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002)

analisaram as estruturas direta e indireta de controle e encontraram um alto

grau de concentração de controle nas empresas brasileiras. A concentração

ocorre principalmente com a violação da regra uma ação - um voto através da

utilização de ações sem direito a voto. Eles sugerem que a estrutura em forma

de pirâmide, embora ampla, parece não ter como objetivo principal a separação

de controle e propriedade. Os acionistas controladores investem em média

muito mais do que o mínimo necessário para manter o controle das suas

companhias. Esta concentração tem levado historicamente à identificação da

propriedade das empresas com sua gestão e à existência de um controlador,

que é, ao mesmo tempo, executivo principal e presidente do conselho de

administração.

Portanto, diversas pesquisas (Shleifer e Vishny (1997), La Porta et al

(1998, 2000a, 2002), Morck et al (1988) e Claessens et al (2000a, 2000b))

sugerem que a concentração de direitos de votos nas mãos dos acionistas

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controladores pode ser associada com um maior grau de expropriação dos

minoritários, uma vez que grandes acionistas preferem auferir benefícios

privados do controle, que não são divididos com os minoritários. Sendo assim,

uma maior concentração dos direitos de voto pelos acionistas controladores

estaria associada com uma maior expropriação dos acionistas minoritários. La

Porta et al (1999) encontram evidências de valores mais elevados para firmas

em países onde há um maior grau de proteção dos minoritários. Eles afirmam

que empresas onde a expropriação é significativa são menos atrativas para os

pequenos acionistas, logo, suas ações sofrem um desconto em relação a seus

pares. Logo, uma maior expropriação dos acionistas minoritários estaria

associada com menor valor das empresas. Conjungando os argumentos acima,

a primeira hipótese a ser testada é:

H1: Uma maior concentração dos direitos de voto nas mãos do acionista

controlador é associada com um menor valor das empresas.

A primeira hipótese está relacionada com uma associação inversa entre

concentração de direito de voto e valor de mercado, ou seja, quanto mais

concentrado o direito de voto, menor o valor da empresa ou, alternativamente,

quanto menos concentrado o direito de voto, maior o valor da empesa.

Jensen e Meckling (1976) concluem que a concentração de propriedade

é benéfica para as corporações porque grandes investidores são mais

eficientes no monitoramento dos administradores de uma companhia. Morck et

al (1988) sugerem que a ausência de separação entre propriedade e controle

reduz os conflitos de interesse. Burkart, Gromb e Panuzzi (1998) argumentam

que, de maneira geral, a expropriação é custosa e, portanto, uma maior

concentração dos direitos sobre fluxo de caixa nas mãos dos controladores

deveria levar a uma menor expropriação (com tudo o mais constante).

Burkart, Gromb e Panuzi (1997) observam um contraponto à hipótese de

que a redução na possibilidade de que os gestores tomem decisões que não

estejam de acordo com os interesses dos acionistas através de grandes

acionistas externos tem apenas benefícios. Segundo os autores, existe um

custo com a perda de poder de decisão por parte dos gestores, que perdem o

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incentivo para tomar atitudes que muitas vezes podem ser benéficas para a

empresa. A idéia central é de que, em uma estrutura de propriedade dispersa,

os acionistas têm menos incentivos para monitorar as ações dos gestores.

La Porta et al (1999) sugerem que o poder dos controladores de

expropriar os outsiders é limitado pelo incentivo financeiro de não fazê-lo. Uma

fonte importante de tais incentivos seria a propriedade de direitos sobre os

fluxos de caixa pelo acionista controlador. Claessens et al (2000a, 2000b)

argumentam que uma maior propriedade de direitos sobre fluxos de caixa por

parte dos controladores afeta positivamente a avaliação das empresas pelo

mercado, o que é consistente com os achados de Jensen e Meckling (1976).

Dessa forma, uma maior concentração dos direitos sobre fluxo de caixa com o

controlador estaria associada a uma menor expropriação do minoritário. A

segunda e a terceira hipótese derivam dos argumentos acima em relação a

valor de mercado e potencial expropriação dos acionistas minoritários.

H2: Quanto maior a concentração dos direitos de fluxo de caixa com o

controlador, maior o valor da empresa.

A segunda hipótese está relacionada com uma associação direta entre

concentração de direito de fluxo de caixa e valor de mercado, ou seja, quanto

mais concentrado o direito de fluxo de caixa, maior o valor da empresa ou,

alternativamente, quanto menos concentrado o direito de fluxo de caixa, menor

o valor da empesa.

H3: Quanto maior a razão entre a concentração dos direitos de voto e direitos

de fluxo de caixa dos controladores, menor o valor da empresa.

A terceira hipótese está relacionada com uma associação inversa entre

a razão direito de voto/fluxo de caixa e valor de mercado, ou seja, quanto maior

a razão direito de voto/fluxo de caixa, menor o valor da empresa ou,

alternativamente, quanto menor a razão direito de voto/fluxo de caixa, maior o

valor da empesa.

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59

2.3.2 – Estrutura de Controle/Propriedade e Alavancagem Financeira

Uma vertente na literatura sobre governança corporativa concentra-se

na questão da minimização do custo de capital, intimamente relacionada com a

estrutura de capital das empresas. Com a separação entre propriedade e

controle, o financiamento interno (geração própria de caixa) é menos arriscado

e, conseqüentemente, menos oneroso do que o financiamento externo (tanto

por emissão de ações quanto de dívidas). Quando a governança corporativa é

ineficiente, o risco de expropriação é maior e as empresas dependem

basicamente do financiamento interno.

A relação entre estrutura de propriedade/controle e estrutura de capital é

um tema de pesquisa relevante atualmente, havendo dois padrões. O modelo

anglo-saxônico se caracteriza pela baixa alavancagem, uma vez que o capital

próprio predomina como fonte de financiamento devido à maior proteção legal

aos acionistas. Por sua vez, o modelo nipo-germânico se caracteriza pelo

financiamento via dívidas. Nos mercados emergentes, notadamente na

América Latina, a decisão da estrutura de capital é afetada pelas práticas

ineficazes de governança corporativa e pelo cenário de volatilidade e

instabilidade econômica.

Além disso, o mix de ações-dívida é afetado pelo sistema tributário, uma

vez que diferenças na tributação sobre ganhos de capital, dividendos e

pagamentos de juros afetam a carga tributária das empresas, fazendo com que

alguns tipos de financiamento sejam mais atraentes do que outros. Na

ausência de mercados de capital eficientes, a participação acionária é uma

fonte de financiamento externo menos atraente do que o financiamento por

endividamento. Mercados pequenos ou sem liquidez tornam onerosas a

administração de risco e a diversificação de carteira, e ainda desestimulam a

coleta e o monitoramento de informações pelo mercado.

Barclay e Smith Jr. (1999) buscam a compilação de teorias que tentam

explicar o ponto ótimo de estrutura de capital e os fatores que são

determinantes. Existem três linhas de teorias sobre o assunto. A primeira linha

enfatiza os efeitos dos benefícios fiscais associados ao uso de dívidas, já que

os juros pagos são dedutíveis do imposto de renda. Em contrapartida, o

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investidor que recebe pagamento de juros está sujeito a taxas maiores do que

o que recebe dividendos. Assim, como o investidor antecipa o efeito, exige

retornos mais altos para investir através de dívidas, para que seu retorno após

os impostos seja equivalente. Esse efeito reduz o benefício fiscal do uso de

dívidas.

A segunda linha enfatiza os custos de contrato. Existe um equilíbrio para

o uso de dívidas, que tem como vantagem o benefício fiscal e como

desvantagem os custos de falência. Dessa forma, empresas altamente

alavancadas podem ter problemas de subinvestimento, pois podem não ter

como se financiar. Por outro lado, empresas com poucas dívidas tendem a ter

excesso de caixa e, assim, tendem a sobreinvestir em projetos com VPL

negativo, afetando a rentabilidade. O uso de dívidas serve como válvula

reguladora para impedir o subinvestimento e o sobreinvestimento.

A terceira linha enfatiza os custos de informação. O primeiro ponto

nesse grupo é a sinalização. A emissão de mais dívida é um bom sinal ao

mercado, pois a empresa demonstra confiança para honrar os pagamentos

assumidos. A emissão de ações é um mau sinal, já que os gestores só têm

incentivos a emitir quando percebem que as ações estão sobreavaliadas.

Existe também a teoria de pecking order, ou de preferência das fontes,

segundo a qual as empresas preferem financiar projetos com capital próprio,

seguido pela emissão de dívidas e, em último caso, pela emissão de novas

ações. Essas teorias contradizem as linhas de pensamento baseadas no efeito

das taxas e nos custos de contrato, já que indicam, por exemplo, que empresas

com grande potencial de crescimento devem ter altos níveis de alavancagem

uma vez que, esgotado o capital próprio, devem se financiar primordialmente

com dívidas.

Existe evidência empírica de que empresas em mercados mais maduros

são mais alavancadas e de que o nível de alavancagem tende a seguir uma

média histórica. É possível observar que empresas com grande potencial de

crescimento tendem a ter menos dívidas de longo prazo, e tendem a emitir

mais dívidas de primeira classe. Esses resultados parecem confirmar as teorias

que se baseiam nos efeitos das taxas e nos custos de contrato, enquanto

parecem negar as que se baseiam nos custos de informação.

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61

Por outro lado, estudos que observam a alavancagem em função da

lucratividade histórica concluem que empresas menos lucrativas e, portanto,

com menos recursos próprios para investir, são mais alavancadas. Outros

estudos verificaram se empresas subavaliadas possuíam dívidas de curto

prazo e de primeira classe, como esperado, e encontraram resultados que

negaram a hipótese. Esses resultados refutaram a teoria de preferência das

fontes, segundo a qual é ótimo exaurir uma fonte de financiamento antes de

recorrer a outra.

Em geral, os testes parecem indicar que as teorias baseadas nos custos

de contrato dominam as outras. Entretanto, é necessário identificar as

diferenças entre os tipos de teorias. Enquanto as teorias de custo de contrato

se baseiam na estrutura ótima, como uma fotografia, as teorias de custo de

informação, especialmente a de preferência das fontes, se baseiam no fluxo de

novas captações. É possível que o primeiro grupo defina uma estrutura ótima

de capital, enquanto que o segundo estabeleça como se financiar naquele

momento. Esse financiamento momentâneo pode afastar a empresa da

estrutura ótima de capital. O ajuste futuro para o retorno a esse ponto será feito

quando os custos de se desviar do ponto ótimo forem iguais aos custos de se

fazer o ajuste.

A escolha entre o financiamento por ações e endividamento depende da

proteção legal dos acionistas, já que as regras legais e sua execução

determinam a boa vontade dos investidores em financiar as empresas. Os

acionistas tendem a exigir uma proteção maior do que as outras partes

interessadas porque são os últimos a receber em caso de quebra da empresa

e pelo fato de os contratos de dívida serem mais facilmente executáveis.

Quando o risco de expropriação percebido pelos acionistas e credores diminui,

as empresas se beneficiam do acesso a fontes externas de financiamento mais

diversificadas e menos onerosas.

Empresas localizadas em países com pouca proteção legal aos

minoritários tendem a ter menos acesso ao mercado de capitais e possuir uma

maior alavancagem financeira (Friedman, Johnson e Mitton (2001)). Nesse

contexto, dívidas também podem desempenhar um papel de redução dos

conflitos de agência (Jensen (1986)).

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62

A literatura internacional e brasileira é vasta sobre os fatores

determinantes da estrutura de capital. No entanto, muito pouco tem se dito

sobre a influência da estrutura de controle e propriedade nas decisões de

estrutura de capital (Stulz (1988), Harris e Raviv (1988), Friend e Lang (1988),

Novaes e Zingales (1995), Brailsford, Oliver e Pua (2000), Procianoy (1994),

Procianoy e Kraemer (2001)).

Os estudos sobre estrutura de capital realizados no Brasil sugerem que

quanto maior a lucratividade da empresa, menor será a utilização de recursos

de terceiros. Os indícios encontrados por Soares e Procianoy (2000), embora

sem significância estatística, indicaram que as empresas brasileiras seguem

uma ordem pré-determinada nas decisões de estrutura de capital, condizente

com a abordagem de pecking order. Eid Jr. (1996) encontra resultados

semelhantes, confirmando a teoria do pecking order.

Harris e Raviv (1990) concluíram que quanto maior for o tamanho de

uma empresa maior será seu financiamento por dívidas. Por outro lado, a

variável lucratividade é inversamente proporcional ao grau de endividamento

de uma empresa.

Schnorrenberger e Procianoy (2002) analisaram a relação da estrutura

de controle e estrutura de capital nas companhias brasileiras listadas na

Bovespa no período de 1995 a 2000. Os resultados indicam que existe uma

influência estatisticamente significativa da estrutura de controle acionário sobre

as decisões de estrutura de capital. Além do controle acionário, o modelo

utilizado testou a influência de variáveis relativas ao setor, ano, tamanho e

lucratividade da empresa como determinantes das decisões de estrutura de

capital. Os autores concluem que: (a) quanto mais concentrado o controle

acionário menor será o nível de endividamento; (b) quanto maior for a

lucratividade da empresa, menor será o nível de endividamento; e (c) quanto

maior o tamanho da empresa, maior será o grau de endividamento.

As teorias e os estudos empíricos geralmente sugerem os seguintes

fatores determinantes da estrutura de capital: estrutura dos ativos da empresa,

outros benefícios fiscais que não os gerados pelo endividamento, tamanho da

empresa, lucratividade e risco. O primeiro parâmetro é a estrutura dos ativos da

empresa. As teorias de informações assimétricas, dos custos de agência e dos

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63

custos de falência sugerem que empresas com maior volume de ativos

tangíveis (que podem ser dados em garantia como colaterais) tendem a ser

mais endividadas.

O segundo parâmetro é composto de outros benefícios fiscais que não

os gerados pelo endividamento. Neste contexto, as empresas que contam com

benefícios fiscais advindos da depreciação e com subsídios deveriam ter

menos incentivo ao endividamento. O terceiro parâmetro é o tamanho da

empresa. Empresas maiores são naturalmente mais diversificadas e, portanto,

têm menos riscos do que empresas menores. Além disso, empresas maiores

geralmente recebem avaliação de crédito melhor do que empresas menores,

possuindo um menor custo de capital de terceiros e sendo mais propensas ao

endividamento.

O quarto parâmetro é lucratividade ou oportunidades de crescimento. As

empresas com alta lucratividade deveriam ser menos endividadas, pois tendem

a obter financiamento obedecendo a seguinte ordem de preferência: lucros

retidos, endividamento e emissões. O quinto parâmetro é o risco. Pela teoria

dos custos de falência, empresas com maior risco têm maior probabilidade de

se tornarem insolventes. Portanto, as empresas que apresentam menor

volatilidade em seus resultados operacionais têm um incentivo maior ao

endividamento, pois obtêm menores taxas.

Gomes e Leal (2001) realizaram um vasto estudo sobre os

determinantes da estrutura de capital das companhias brasileiras. Os autores

concluíram que a lucratividade, o tamanho e as oportunidades de crescimento

apresentam relação negativa com a captação via dívida, enquanto que a

composição dos ativos e o risco possuem relação positiva. Portanto, as teorias

do custo de insolvência, da hierarquia das fontes (pecking order), da assimetria

de informação e dos custos de agência são confirmadas pelos parâmetros

lucratividade, composição dos ativos e oportunidade de crescimento. No

entanto, o tamanho, com relação negativa, e o risco, com relação positiva,

contradizem as expectativas.

Pereira (2000) analisa a relação entre valor e alavancagem no mercado

brasileiro, visando avaliar se as empresas geram valor a seus acionistas ao se

endividarem. A principal conclusão do estudo foi que existe um forte

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64

relacionamento positivo entre valor e alavancagem nas empresas brasileiras.

Muito embora exista um certo “preconceito” por parte da mídia e da

comunidade empresarial, o mercado de capitais consegue identificar e valorizar

empresas que buscam otimizar suas estruturas de capital.

Harvey, Lins e Roper (2001) estudaram empresas em mercados

emergentes, incluindo o Brasil, e encontram evidências de que a alavancagem

aumenta o valor das empresas onde exista uma elevada separação entre os

direitos de fluxo de caixa e de controle. Os resultados são consistentes com a

idéia de que o aumento de dívidas provoca um maior monitoramento da firma,

reduzindo os potenciais custos de agência.

A literatura sobre estrutura de capital traz evidências de que emissões

de dívidas criam direta ou indiretamene valor para as empresas (Mikkelson e

Partch (1986), Kim e Stulz (1988), James (1988), Lummer e McConnell (1989),

Chaplinsky e Ramchand (2000), e Miller e Puthenpurackal (2001)). Mc Connell

e Servaes (1995) concluem que a alavancagem é correlacionada positivamente

com o valor da empresa, indicando que as dívidas proporcionam meios de

governança e reduzem conflitos de agência.

Nascimento (2000) analisou o efeito das variáveis de governança

corporativa na determinação da estrutura de capital das empresas brasileiras.

Os resultados apresentam diferenças quando comparados aos de Gomes e

Leal (2001). O autor conclui que a lucratividade, as oportunidades de

crescimento, o risco e a composição dos ativos apresentam relação negativa

com a captação via dívida, enquanto que o tamanho da empresa possui

relação positiva. Portanto, praticamente todas as variáveis, à exceção da

proporção de ativos fixos, são consistentes com o que é previsto pela teoria.

A inclusão das variáveis de governança corporativa apresentou melhora

na determinação da alavancagem financeira. Embora nenhuma das variáveis

de governança tenha apresentado significância estatística, os sinais dos

coeficientes confirmam o previsto pela teoria: (i) a concentração dos direitos de

voto tem relação positiva com a alavancagem financeira; (ii) a concentração

dos direitos de fluxo de caixa tem relação negativa com a alavancagem

financeira; e (iii) a separação entre a concentração dos direitos de voto e fluxo

de caixa dos controladores tem relação positiva com a alavancagem financeira.

Page 74: A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E … · A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CONTROLE E PROPRIEDADE NO VALOR, ESTRUTURA DE CAPITAL E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

65

Uma vez que a concentração do controle tende a diminuir o valor da

empresa em virtude da possibilidade de expropriação dos acionistas

minoritários, podemos esperar que as empresas com grande concentração de

controle tenham um alto nível de endividamento, já que o acionista exigirá

retornos elevados devido à possibilidade de expropriação e, portanto, o

financiamento através da emissão de dívidas torna-se uma fonte mais barata

para financiar os investimentos. Portanto, a quarta hipótese a ser testada é a

seguinte:

H4: Empresas com grande concentração dos direitos de voto têm alto nível de

alavancagem .

Por outro lado, um aumento da concentração dos direitos de fluxo de

caixa está associada com um maior valor da empresa, tornando o custo de

capital próprio mais barato, estimulando o financiamento via emissão de ações.

Assim podemos esperar que empresas com alta concentração dos direitos de

fluxo de caixa tenham baixo nível de alavancagem. A quinta hipótese a ser

testada é:

H5: Empresas com grande concentração dos direitos de fluxo de caixa têm

baixo nível de alavancagem .

Conjungando os argumentos acima, podemos esperar que as empresas

com alta separação entre direitos de voto e fluxo de caixa dos controladores

têm alto nível de endividamento, uma vez que o acionista exigirá retornos

elevados devido à possibilidade de expropriação, e, portanto, o financiamento

via emissão de dívidas torna-se uma fonte mais barata quando comparada com

capital próprio. A sexta hipótese a ser testada é:

H6: Empresas com grande separação entre direitos de voto e fluxo de caixa

nas mãos dos controladores têm alto nível de alavancagem .

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66

2.3.3 – Estrutura de Controle/Propriedade e Política de Dividendos

Nos últimos anos, vem crescendo o interesse dos meios acadêmico e

empresarial sobre as relações entre a governança corporativa e a política de

distribuição de lucros aos acionistas. La Porta et al (2000b) reportam que

companhias situadas em países com maior proteção legal aos acionistas

minoritários (baseados no common law) pagam dividendos superiores quando

comparados com países onde as proteções legais são menos rígidas (civil law).

Johnson e Shleifer (2001) consideram o pagamento de um payout maior

de dividendos um meio de estabelecer uma reputação para tratar os acionistas

minoritários adequadamente. Bohren e Odegaard (2001) verificaram que a

estrutura de controle e propriedade influencia no desempenho econômico de

empresas norueguesas. Uma maior concentração de controle e a utilização de

ações não votantes estão relacionadas com uma perda de valor de mercado.

Além disso, os autores encontraram evidência de que firmas onde o acionista

majoritário tem grande participação na empresa tendem a distribuir maiores

dividendos.

Um dos primeiros estudos brasileiros relacionando política de dividendos

e conflito de agência foi o realizado por Procianoy (1995), que analisou os

conflitos de agência entre controladores e minoritários nas empressas

negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, através do comportamento da

política de dividendos após as modificações tributárias ocorridas entre 1988-

1989. O pagamento de dividendos, além de estar relacionado com a estrutura

de controle e propriedade, funciona como um mecanismo de governança.

Dessa forma, as empresas que adotam práticas de governança corporativa

costumam ter boas politicas de remuneração a seus acionistas, pagando

percentuais elevados de dividendos anualmente.

Procianoy e Snider (1995) sugerem que o pagamento de dividendos no

Brasil é usado pelos gestores controladores para limitar seu risco pessoal e

aumentar sua riqueza individual. Rozeff (1982) encontra evidências de uma

relação significativa entre payout e diversas variáveis relacionadas a custo de

agência em empresas americanas. Crutchley e Hansen (1989) demonstram

que a politica de dividendos atua como um mecanismo de controle e

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67

monitoramento, intimamente relacionado com a estrutura de propriedade e com

a alavancagem da empresa.

Farinha (2002) analisou a política de distribuição de dividendos no Reino

Unido e verificou que existe uma relação do payout com a estrutura de

controle e propriedade, uma vez que o pagamento de dividendos contribui

para a redução dos conflitos de agência na firma, consistente com

Easterbrook (1984) e Jensen (1986). Farinha encontra uma relação positiva

entre payout e concentração de propriedade acima de 30%.

Estudos recentes de Fluck (1998) e Myers (2000) apresentam modelos

de pagamento de dividendos relacionados com a teoria da agência, concluindo

que a administração da empresa paga dividendos visando evitar ações de

monitoramento por parte dos acionistas. Além disso, Jensen (1986) considera o

pagamento de dividendos como uma forma de dar destino ao caixa da

companhia, evitando o investimento em projetos que não maximizam valor à

empresa.

As variáveis usualmente encontradas na literatura sobre dividendos são:

alavancagem, risco, disponibilidade financeira, tamanho e lucratividade da

empresa. A alavancagem tem um papel importante na redução dos conflitos de

agência. Jensen e Meckling (1976), Jensen (1986) e Stulz (1988) argumentam

que alavancagem e pagamento de dividendos podem ser mecanismos

complementares ou substitutos na redução de conflitos de agência. Além disso,

o aumento de dívidas pode estar relacionado com a imposição de restrições

(covenants) quanto ao pagamento de dividendos. Portanto, espera-se uma

relação negativa entre alavancagem e payout.

A variância dos retornos das ações também é uma variável usada na

literatura como uma proxy de risco, influenciando a política de dividendos. O

aumento da variabilidade dos resultados da empresa tende a ter uma relação

negativa com o payout. Além disso, a distribuição de dividendos está

relacionada positivamente com o caixa e disponibilidades financeiras da

empresa. O tamanho da empresa também é uma variável determinante do

pagamento de dividendos, sendo que as evidências geralmente indicam que

empresas maiores tendem a possuir maiores problemas de agência,

apresentando um maior payout. De acordo com a teoria da sinalização,

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maiores payouts estão associados positivamente com uma medida de

rentabilidade. Jensen et al (1992) encontram evidências de uma relação

positiva entre retorno sobre ativos (ROA) e payout.

Pesquisas no mercado euroupeu indicam que boas práticas de

governança corporativa, medidas pela adesão ao Código de Cadbury, estão

associadas de forma significativa com maiores payouts. Esse resultado é

consistente com a idéia de que empresas com boas práticas de governança

tendem a distribuir maiores dividendos.

Uma vez que a concentração do controle tende a diminuir o valor da

empresa em virtude da possibilidade de expropriação dos acionistas

minoritários, podemos esperar que as empresas com grande concentração de

controle tenham um baixo payout, já que o acionista controlador tenderá a

distribuir pequena (ou nenhuma) parcela dos lucros sob a forma de dividendos,

expropriando os acionistas minoritários. Portanto, a sétima hipótese a ser

testada é a seguinte:

H7: Em presas com grande concentração dos direitos de voto nas mãos do

controlador têm baixo payout .

Por outro lado, um aumento da concentração dos direitos de fluxo de

caixa está associado com um maior valor da empresa, em virtude do

alinhamento de interesses entre controlador e minoritários. Assim podemos

esperar que empresas com alta concentração dos direitos de fluxo de caixa nas

mãos do controlador distribuam maiores parcelas de lucros sob a forma de

dividendos, formulando nossa oitava hipótese:

H8: Empresas com grande concentração dos direitos de fluxo de caixa nas

mãos do controlador têm alto payout.

Conjungando os argumentos acima, podemos esperar que empresas

com grande separação entre direitos de voto e fluxo de caixa dos controladores

têm baixo payout, já que o acionista controlador tenderá a distribuir pequena

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(ou nenhuma) parcela dos lucros sob a forma de dividendos, expropriando os

acionistas minoritários. A última hipótese a ser testada é:

H9: Empresas com grande separação entre direitos de voto e fluxo de caixa

nas mãos do controlador têm baixo payout.

3 - DADOS E METODOLOGIA

A amostra abrange 225 companhias listadas na Bolsa de Valores de São

Paulo (Bovespa). Foram coletadas informações sobre a composição acionária

das empresas no banco de dados do Infoinvest (Bowne Global Solutions). As

companhias de capital aberto têm por obrigação emitir o Informativo Anual para

a CVM antes do final do primeiro semestre, relativo ao ano fiscal anterior. Este

relatório deve fornecer, entre outras informações, a composição do capital da

empresa.

O período escolhido para análise foi o ano de 2000, em virtude de dois

fatores: (i) existem pesquisas brasileiras anteriores estudando a estrutura de

controle/propriedade nos anos de 1996 e 1998 (Valadares e Leal (2000) e Leal,

Carvalhal da Silva e Valadares (2002), respectivamente); e (ii) o ano de 2000

permite analisar as mudanças na estrutura de controle/propriedade de grande

parte das privatizações brasileiras, em especial do setor de telecomunicações.

Visando minimizar os efeitos de uma análise estática da estrutura de controle e

propriedade para somente um ano, foi realizada uma comparação com os

estudos anteriores realizados no Brasil para detectar mudanças na composição

acionária. No entanto, essa comparação apresenta limitações, uma vez que

são empregadas diferentes metodologias na análise da estrutura indireta.

Para calcular a estrutura de controle/propriedade, foram utilizados os

Informativos Anuais enviados no primeiro semestre de 2001, relativos ao ano

de 2000. A amostra não incluiu instituições financeiras nem empresas sem

informações disponíveis ou completas; com patrimônio líquido ou lucro líquido

negativo; e cujas ações não foram negociadas na Bovespa durante o mês de

dezembro de 2000. Estas restrições são justificadas, uma vez que impactam no

cálculo das medidas de valor, alavancagem e payout das companhias. No caso

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70

de instituições financeiras, muitas variáveis assumem padrões peculiares do

setor, não sendo viável a comparação com empresas de outros segmentos.

No ano de 2000, existiam 495 empresas listadas na Bovespa, das quais

420 possuíam dados disponíveis no Economática. Dessas 420, 31 eram do

setor financeiro, 135 não apresentaram negociação em bolsa no mês de

dezembro e 29 apresentavam patrimônio líquido ou lucro líquido negativo.

Dessa forma, a amostra final consistiu de 225 firmas, que representavam 45%

do número de companhias registradas na Bovespa e aproximadamente 70% da

capitalização de mercado total da Bovespa. Um possível viéis da presente

análise é que, embora a amostra seja representativa em termos de

capitalização de mercado, pode não representar fielmente a estrutura de

controle e propriedade das demais empresas brasileiras de capital aberto, em

especial das pequenas e médias companhias e das empresas sem liquidez.

O estudo das questões acerca da propriedade das empresas não deve

ficar restrito à propriedade direta, mas sim se aprofundar nas questões de

quem é o controlador final das empresas. Se as ações de uma empresa forem

de propriedade de outra empresa, deve-se procurar identificar os acionistas

desta segunda empresa, e assim por diante. Neste caso, o que se está

estudando denomina-se propriedade indireta.

Dessa forma, foram analisadas duas formas de composição acionária: a

direta e a indireta. Acionistas diretos são aqueles que possuem ações da

própria companhia considerada. Serão considerados todos os acionistas com

mais de 5% do capital votante, uma vez que este é o limite para identificação

obrigatória dos acionistas no Brasil. Composição indireta diz respeito a

acionistas que detêm a propriedade da empresa em última instância. Por

exemplo, se um acionista é controlador da companhia A, que, por sua vez, é

controladora da companhia B, podemos dizer que o acionista é controlador

direto da companhia A e controlador indireto da companhia B.

Tendo em vista que as companhias brasileiras possuem ações com

direito e sem direito a voto, foram consideradas duas formas de concentração

de propriedade: uma medida pela participação do maior acionista no total das

ações da empresa e outra medida pela participação do maior acionista no total

das ações com direito a voto da empresa.

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71

A grande dificuldade na determinação da composição acionária das

empresas refere-se ao cálculo das participações na estrutura indireta de

controle e propriedade. As medidas da estrutura indireta de propriedade e

controle usada em estudos no Brasil (Valadares (1998), Valadares e Leal

(2000) e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002)) não nos permitem

analisar e computar apropriadamente a separação entre propriedade e controle

na estrutura indireta. Por outro lado, as medidas utilizadas geralmente na

literatura internacional (Claessens et al (2000a, 2000b), La Porta et al (1998,

2000a, 2002), Faccio e Lang (2001)) podem levar a imprecisões quando

existem mais de um acionista indireto.

A presente tese utiliza uma nova metodologia de cálculo de participação

indireta na estrutura de controle e propriedade, visando superar as dificuldades

e imprecisões das metodologias atualmente empregadas na literatura

internacional e brasileira. Vamos ilustrar com quatro exemplos o cálculo das

participações indiretas utilizando as três metodologias. Para fins de

simplificação, não se fará a distinção entre ações ordinárias e preferenciais,

mas a metodologia é a mesma caso exista diferença entre capital votante e

capital total.

Suponha que um acionista possui 60% da firma A, que possui 51% da

firma B (figura 2). A metodologia utilizada na literatura nacional nos daria os

seguintes resultados: esse acionista possui 30,60% da propriedade e do

controle da firma B (o produto das duas participações na cadeia de direitos de

fluxo de caixa e de voto, ou seja, 60%*51%). A metodologia utilizada na

literatura internacional nos daria os seguintes resultados: esse acionista possui

30,60% da propriedade da firma B (o produto das duas participações na cadeia

de direitos de fluxo de caixa, ou seja, 60%*51%) e controla 51% da firma B (o

menor valor na cadeia de direitos de voto). Portanto, os resultados da

propriedade são idênticos, mas os resultados do controle são diferentes, sendo

que a metodologia usada na literatura nacional subestima o controle, ao afirmar

que o acionista detém 30,60%, quando na realidade ele detém 51% do

controle. Nesse caso, como estamos analisando somente um acionista, a

metodologia usada na tese coincide com a utilizada na literatura internacional.

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72

Figura 2 – 1o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Vamos para um segundo exemplo. Suponha que um acionista possui

60% da firma A, que possui 51% da firma B (figura 3). Além disso, o mesmo

acionista possui diretamente 7% da firma B. Pela metodologia utilizada na

literatura nacional, o acionista possuiria 37,60% (60%*51%+7%) da

propriedade e do controle da firma B (o somatório do produto das participações

na cadeia de direitos de fluxo de caixa e de voto). A metodologia utilizada na

literatura internacional nos dá os seguintes resultados: esse acionista possui

37,60% (60%*51%+7%) da propriedade da firma B (o somatório do produto das

participações na cadeia de direitos de fluxo de caixa) e controla 58%

(min(60%,51%)+7%) da firma B (o somatório dos menores valores na cadeia

de direitos de voto). Portanto, os resultados da propriedade são idênticos, mas

os resultados do controle são diferentes, sendo que a metodologia usada na

literatura nacional subestima o controle, ao afirmar que o acionista detém

37,60%, quando na realidade ele detém 58% do controle. Nesse caso, como

estamos analisando somente um acionista, a metodologia usada na tese

também coincide com a utilizada na literatura internacional.

Figura 3 – 2o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Firma B

Firma A

Acionista

60%

51%

Firma B

Firma A

Acionista

60%

51%

7%

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73

Analisaremos agora um exemplo mais complexo. Suponha que o

acionista X possui 60% da firma A, enquanto o acionista Y possui os 40%

restantes (figura 4). A firma A, por sua vez, possui 51% da firma B, enquanto o

acionista Z possui os 49% restantes. Pela metodologia utilizada na literatura

nacional, o acionista X possui 30,60% (60%*51%) da propriedade e do controle

da firma B; o acionista Y possui 20,40% (40%*51%) da propriedade e do

controle da firma B; e o acionista Z possui diretamente 49% da propriedade e

do controle da firma B. A metodologia utilizada na literatura internacional nos

dá os seguintes resultados: o acionista X possui 30,60% (60%*51%) da

propriedade e controla 51% (min(60%,51%)) da firma B; o acionista Y possui

20,40% (40%*51%) da propriedade e controla 40% (min(40%,51%)) da firma B;

e o acionista Z possui diretamente 49% da propriedade e do controle da firma

B.

Figura 4 – 3o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

Portanto, os resultados da propriedade são idênticos, mas os resultados

do controle são diferentes, sendo que a metodologia usada na literatura

nacional subestima o controle. No entanto, agora estamos diante de um

problema na metodologia da literatura internacional. Se somarmos o total de

controle da firma B detido pelos três acionistas, temos um total de 140% (51%

de X + 40% de Y + 49% de Z), o que não faz sentido econômico e societário.

Esse inconveniente no cálculo de controle utilizando o mínimo da cadeia pode

existir quando estamos interessados em mapear não somente o acionista

Firma B

Firma A

Acionista X

40%

51%

Acionista Z

49%

Acionista Y

60%

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74

controlador, mas os n maiores acionistas. A mais comum medida de

concentração encontrada na literatura é a participação acionária dos n maiores

acionistas, com n variando normalmente entre 1 e 5. O problema já havia sido

detectado por Claessens et al (2000a, 2000b), La Porta et al (1998, 2000a,

2002) e Faccio e Lang (2001)), mas, como esses autores só analisaram o

maior acionista, geralmente os resultados não eram afetados por essas

circunstâncias. No entanto, quando analisamos mais de um acionista, pode

ocorrer que o somatório dos direitos de voto ultrapasse 100%.

A metodologia aqui utilizada visa superar esse problema. O cálculo do

direito de propriedade é idêntico às duas metodologias anteriores, ou seja, o

produto das participações na cadeia de direitos de fluxo de caixa. No caso de

controle, foi utilizado um sistema híbrido da literatura nacional e internacional.

Para cálculo do direito de controle, continuaremos usando o critério do menor

valor na cadeia de direitos de voto, porém o somatório dos menores valores

está limitado à participação direta na cadeia dos direitos de voto.

No exemplo anterior, a metodologia usada na tese nos leva aos

seguintes resultados: o acionista X possui 30,60% (60%*51%) da propriedade

e controla 51% (min(60%,51%)) da firma B; o acionista Y possui 20,40%

(40%*51%) da propriedade e controla 0% da firma B; e o acionista Z possui

diretamente 49% da propriedade e do controle da firma B. Portanto, se

somarmos o total de controle da firma B detido pelos três acionistas, temos um

total de 100% (51% de X + 0% de Y + 49% de Z). Nesse caso, B possui 0% de

controle sobre a firma B, uma vez que os 51% de controle detidos pela firma A

sobre a firma B estão nas mãos do acionista X, que possui 60% do controle da

firma A. Dessa forma, os acionistas X e Y juntos podem ter no máximo 51% do

controle da firma B (que é igual ao controle direto da firma A sobre B). Portanto,

esses 51% devem ser alocados aos acionistas X e Y. Como o acionista X

detém mais de 50% da firma A, os 51% ficam alocados para ele, ao passo que

o acionista Y fica com 0% de controle.

Finalmente, suponha que o acionista X possui 51% da firma A; o

acionista Y possui 40%; e o acionista W possui os 9% restantes (figura 5). A

firma A, por sua vez, possui 70% da firma B, enquanto o acionista Z possui os

30% restantes. Pela metodologia utilizada na literatura nacional, o acionista X

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possui 35,70% (70%*51%) da propriedade e do controle da firma B; o acionista

Y possui 28,00% (70%*40%) da propriedade e do controle da firma B; o

acionista W possui 6,30% (70%*9%) da propriedade e do controle da firma B e

o acionista Z possui diretamente 30% da propriedade e do controle da firma B.

A metodologia utilizada na literatura internacional nos dá os seguintes

resultados: o acionista X possui 35,70% (70%*51%) da propriedade e controla

51% (min(70%,51%)) da firma B; o acionista Y possui 28,00% (70%*40%) da

propriedade e controla 40% (min(70%,40%)) da firma B; o acionista W possui

6,30% (70%*9%) da propriedade e controla 9% (min(70%,9%)) da firma B e o

acionista Z possui diretamente 30% da propriedade e do controle da firma B.

Portanto, os resultados da propriedade são idênticos, mas os resultados do

controle são diferentes, sendo que a metodologia usada na literatura nacional

subestima o controle. O total de controle da firma B detido pelos quatro

acionistas é de 130% (51% de X + 40% de Y + 9% de W + 30% de Z).

Figura 5 – 4o Exemplo de Estrutura Acionária Indireta

A metodologia da tese produz os seguintes resultados: o acionista X tem

35,70% (70%*51%) da propriedade e controla 70% da firma B; o acionista Y

tem 28,00% (70%*40%) da propriedade e controla 0% da firma B; o acionista

W tem 6,30% (70%*9%) da propriedade e controla 0% da firma B e o acionista

Z possui diretamente 30% da propriedade e do controle da firma B. Agora, o

total de controle da firma B detido pelos quatro acionistas é de 100% (70% de

X + 0% de Y + 0% de W + 30% de Z). O controle de X, Y e W foi calculado de

Firma B

Firma A

Acionista Y

9%

70%

Acionista Z

30%

Acionista W

40%

Acionista X

51%

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76

forma similar ao exemplo 3. A firma A detém 70% do controle da firma B.

Destes 70%, a maioria (51%) está nas mãos do acionista X, o que lhe garante

o controle da firma A e, automaticamente, da firma B, sendo que os acionsitas

Y e W ficam com 0% de controle.

A análise da estrutura indireta foi possível uma vez que o Informativo

Anual da CVM também apresenta a composição acionária das companhias

holding. Desta forma, a composição acionária foi sendo analisada para trás até

que fosse possível classificar os verdadeiros proprietários em um dos seguintes

grupos: (i) indivíduos ou famílias; (ii) investidores estrangeiros (tanto indivíduos

como instituições); (iii) governo; (iv) investidores institucionais (bancos,

companhias de seguros, fundos de pensão, fundações ou fundos de

investimento).

Em muitos casos, os acionistas controladores eram empresas, sendo

que nesses casos, identificaram-se seus proprietários na estrutura indireta até

determinar o controlador verdadeiro. Se o acionista controlador fosse uma

sociedade de quotas de responsabilidade limitada sem dados disponíveis sobre

a composição do capital social, considerou-se que era controlada por um grupo

familiar. Não se distinguiu entre membros da mesma família, considerando o

grupo familiar como uma unidade de análise, uma vez que geralmente eles

votam em conjunto. Membros de uma família significam aqueles que têm o

mesmo sobrenome. Embora em alguns casos possa haver brigas de controle

entre membros da família, não foram levados em consideração esses casos.

Foram analisadas as estruturas direta e indireta de controle (capital

votante, representado pelas ações ordinárias) e de propriedade (capital total,

representado por ações ordinárias e preferenciais). Os direitos de fluxo de

caixa e voto podem ser bastantes diferentes devido ao uso de ações não

votantes, pirâmides e estruturas cruzadas (cross-holdings). Uma pirâmide é

uma estrutura onde uma entidade controla uma empresa, que, por usa vez,

controla outras empresas e assim por diante. A estrutura cruzada ocorre

quando uma companhia tem um acionista controlador e possui ações do

próprio controlador ou de uma firma que pertence a seu próprio canal de

controle. Uma vez que no Brasil a formação de estruturas cruzadas é proibida

por lei, as estruturas indiretas são basicamente formadas por pirâmides de

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77

diversas tipologias. Portanto, para efeitos de simplificação, na presente tese

usaremos o termo “pirâmide” como sinônimo de estrutura indireta.

Além desses mecanismos, os acordos de acionistas sobre a compra e

venda de suas ações, preferência para adquirí-las, exercício do direito a voto,

ou do poder de controle também são uma forma de aumentar o controle. Por

isso, na presente tese, considerou-se a presença de acordos de acionistas.

Portanto, se existir na companhia um acordo de acionista regulando o direito de

voto em conjunto entre mais de um acionista, considerou-se esse grupo como

uma unidade de análise, ou seja, o grupo de acionistas com acordo de voto é

considerado um acionista só agindo em bloco. A análise dos acordos de

acionistas foi possível, uma vez que o banco de dados do Infoinvest (Bowne

Global Solutions) identifica a presença de acordo de acionistas nas

companhias, e classifica se o acordo refere-se a exercício do direito de voto ou

do poder de controle.

As 225 empresas da amostra foram divididas em dois grupos principais:

firmas com um acionista majoritário e firmas sem um acionista majoritário. Uma

empresa tem um acionista majoritário quando um único acionista possui

diretamente mais de 50% do capital votante. Para a composição acionária

direta e indireta foram computados o capital votante e o capital total que o

maior acionista, os três maiores e os cinco maiores possuíam de cada

companhia. Em seguida, foram calculadas as médias e medianas do capital

votante e total que o maior, os três maiores e os cinco maiores acionistas

detinham para os dois grupos.

Posteriormente, as empresas foram classificadas em sub-grupos de

acordo com a estrutura indireta de controle e propriedade. A Figura 6 apresenta

a divisão da amostra nos diversos grupos de análise utilizados. Primeiramente,

as companhias com um acionista controlador foram separadas entre aquelas

que apresentam uma estrutura indireta de controle e as que não apresentam

uma estrutura indireta de controle. As companhias que possuem um acionista

controlador indireto foram classificadas em três categorias. A primeira é

composta por companhias onde o controle não é mantido indiretamente. Para

estas companhias, o controle não é mantido pelo mesmo acionista em algum

nível da pirâmide, isto é, não há um acionista com mais de 50% dos votos em

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78

todos os níveis. Um exemplo desta situação é a composição acionária indireta

da Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), conforme figura 7.

Embora, no primeiro nível, uma companhia (a Guaraniana S.A) tenha uma

parcela de 94,94% do capital votante, esta última tem oito acionistas sem um

controlador único. Neste caso, diz-se que não há controle indireto, já que, na

seqüência, nenhum acionista detém mais de 50% do capital votante.

Figura 6 – Grupos de Análise das Companhias Brasileiras Abertas

Figura 7 – Estrutura Acionária da Companhia Energética de Pernambuco

S S S

N

Há um acionista

majoritário?

Há estrutura indireta de controle?

O acionista aumenta o controle?

O acionista mantém o controle?

N N N

Mesmo

N

S

CELPE

Guaraniana S.A

Previ

18,67% ON e T

94,94% ON e 85,08% T

Fundo Mútuo BB Price

Banco do Brasil Iberdrola (Espanha)

Fundo Mútuo BB - Livre ADL Energy

521 Participações Brasilcap Capitalização

5,79% ON e T

19,42% ON e T

7,40% ON e T 19,58% ON e T

6,89% ON e T

20,85% ON e T 1,40% ON e % T

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79

A segunda categoria refere-se a companhias nas quais se observa a

ocorrência de pirâmide com manutenção de controle – em todos os níveis há

um acionista com mais de 50% do capital votante que pode exercer o controle

sozinho. Estas empresas são, então, divididas em três sub-grupos: com

concentração de capital, isto é, indiretamente o acionista controlador tem uma

participação maior do que diretamente, com manutenção de participação e, por

fim, com redução da participação do capital.

Um exemplo de concentração de capital é apresentado na figura 8, com

Brasmotor S.A. Diretamente, o controlador da Brasmotor é a Whirpool do Brasil

Ltda, detendo 55,08% do capital votante e 76,02% do capital total. No entanto,

a empresa americana Kitchenaid Ltd possui indiretamente o controle da

Brasmotor, através das participações na Whirpool do Brasil Ltda, na Whirpool

Industrial e Comercial Ltda e na própria Brasmotor S.A. Indiretamente, a

Kitchenaid possui 99,40% (min(55,08%,100%)+min(4,92%,100%)+39,40%) do

capital votante e 93,73% (76,02%*100%+1,95%*100%+15,76%) do capital

total. Portanto, através da estrutura indireta, o controle do acionista majoritário

aumenta de 55,08% para 99,40% do capital votante.

Figura 8 – Estrutura Acionária da Brasmotor S.A

Na Figura 9 é possível ver um caso de manutenção do controle e da

participação, a Dana Albarus S.A. Indústria e Comércio. A controladora indireta,

Dana Corporation, detém 100% do capital da controladora direta, a Dana

Brasmotor S.A

Whirlpool do Brasil Ltda

Kitchenaid (EUA)

100% ON e 100% T

55,08% ON e 76,02% T

Whirlpool Ind e Com Ltda

4,92% ON e 1,95% T

100% ON e 100% T

39,40% ON e 15,76% T

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80

Equipamentos Ltda. Assim sendo, ela controla a companhia com a mesma

proporção do capital, nesse caso com 84,19% do capital votante e total

Figura 9 – Estrutura Acionária da Dana Albarus S.A

O último sub-grupo é o de companhias onde há manutenção de controle

por uma acionista que indiretamente possui uma proporção do capital menor

que diretamente. Como exemplo, pode-se tomar a Figura 10, da Petrobrás

Distribuidora S.A. Diretamente, o controlador da Petrobrás Distribuidora é a

Petrobrás, detendo 99,86% do capital votante e 73,60% do capital total. No

entanto, a União Federal possui indiretamente o controle da Petrobrás

Distribuidora, através de sua participação na Petrobrás. Indiretamente, a União

Federal possui 99,86% do capital votante e apenas 36,11% (49,07%*73,60%)

do capital total. Portanto, através da estrutura indireta, o controle do acionista

majoritário é mantido em 99,86%, mas o capital total é reduzido de 73,60%

para 36,11%.

Figura 10 – Estrutura Acionária da Petrobrás Distribuidora S.A

Dana Albarus S.A

Dana Equipamentos Ltda

Dana Corporation

100% ON e 100% T

84,19% ON e 84,19% T

Petrobrás Distribuidora

Petrobrás

União Federal

84,04% ON e 49,07% T

99,86% ON e 73,60% T

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81

O último grupo é composto por companhias onde a composição direta e

indireta são iguais – mesmas participações e mesmos acionistas. Estas

companhias não utilizam estruturas de pirâmide. Como exemplo, pode-se

tomar a Figura 11, da Confab Industrial S.A. A empresa Argentina Siderca Ind

Y Coml é o controlador direto e indireto da Confab, com 99% do capital votante

e 39% do capital total, não existindo estrutura de pirâmide.

Figura 11 – Estrutura Acionária da Confab Industrial S.A

Uma vez que a governança corporativa está relacionada com o controle

das corporações, é fundamental identificar a estrutura de controle e

propriedade. As categorias de controle e propriedade diferenciam -se quanto à

concentração da propriedade e origem do capital (estrangeiro, estatal, familiar

e institucional). Portanto, a propriedade tem duas dimensões principais: (i) a

identidade do maior proprietário; e (b) a concentração da propriedade por ele

possuída. Nesse contexto, realizou-se uma outra classificação das empresas

brasileiras baseada na identificação dos proprietários. Assim, as empresas

foram divididas em dois grupos: firmas com um acionista majoritário e firmas

sem um acionista majoritário. As empresas com acionistas majoritários foram

divididas de acordo com a origem do capital (familiar, estatal, estrangeiro e

investidor institucional).

O objetivo da classificação das empresas de acordo com a identidade do

maior proprietário e com a concentração da propriedade por ele possuída é

verificar se existe diferença significativa entre as empresas no que se refere ao

valor de mercado, estrutura de capital e política de dividendos. Para medir o

valor de mercado, utilizou-se o Q de Tobin, que representa o valor de mercado

dos ativos dividido pelo custo de reposição dos mesmos. Diversos autores

Confab Industrial S.A

Siderca Ind Y Coml (Argentina)

99% ON e 39% T

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(Morck et al (1988), Barclay e Holderness (1989), McConnel e Servaes (1990),

Zingales (1994), La Porta et al (2000a, 2002)) utilizaram o Q de Tobin para

medir o desconto no valor de mercado das empresas resultante de

expropriação.

O numerador do Q de Tobin é o valor de mercado dos ativos da

companhia. Nosso numerador do Q de Tobin, portanto, corresponde ao valor

dos ativos subtraído do valor patrimonial das ações e acrescido do valor de

mercado das ações. O denominador do Q de Tobin é o valor de reposição dos

ativos. Nós utilizamos o valor dos ativos para representar essa variável. O valor

de mercado das ações é necessário para o cálculo do numerador do Q de

Tobin. Isto determina a inclusão na amostra apenas de empresas cujas ações

foram negociadas na Bovespa durante o mês de dezembro de 2000. Para

determinar o valor de mercado das ações, multiplica-se a cotação média do

último dia em que houve negócios com aquela ação naquele mês pela

quantidade de ações existentes. A estrutura de capital foi calculada pela razão

entre passivo exigível financeiro e ativo total, ou seja, a alavancagem financeira

é medida pela proporção de dívida no ativo total da empresa. O payout foi

calculado como o percentual do lucro líquido de 2000 distribuído sob a forma

de dividendos.

Não foram computados os Q´s de Tobin, alavancagem financeira e

payout de empresas cujas informações estavam incompletas ou indisponíveis,

bem como para aquelas que apresentavam patrimônio ou lucro líquido negativo

em 2000. Empresas com payout superior a 1 ou negativo foram excluídas

devido à falta de significado econômico desses valores. A informação relativa

aos balanços e dados de mercado das companhias foram obtidas no banco de

dados Economática.

A primeira análise realizada foi um teste paramétrico de comparação de

médias, visando verificar se existe diferença entre o valor de mercado, a

alavancagem financeira e o payout das empresas classificadas nos grupos de

acordo com a origem do capital (estrangeiro, estatal, familiar e institucional) e

com a concentração de controle e propriedade.

Posteriormente, foi conduzida uma análise mais rigorosa contemplando

os procedimentos estatísticos de regressão linear múltipla. A técnica de

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83

regressão linear múltipla justifica-se no presente trabalho pelo fato de objetivar-

se estudar como as variáveis independentes, especialmente a estrutura direta

e indireta de controle e propriedade, influenciam o valor de mercado, a

estrutura de capital e o payout das empresas brasileiras. Portanto, assume-se

uma relação de causalidade entre as variáveis, de modo que a variável

dependente utilizada seja explicada pelas variáveis independentes. Na

regressão múltipla, supõe-se que a verdadeira relação entre a variável

independente seja dada pela equação abaixo, onde ε é uma variável aleatória

normal, com média 0 e variância desconhecida:

Y = a1X1 + a2X2 + a3X3 + ... + aN-1XN-1 + aNXN + ε

Consideradas as variáveis previamente selecionadas e identificadas, o

modelo sugerido para o estudo do valor de mercado possui as seguintes

variáveis:

Y = Q de Tobin

X1 = capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X2 = capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X3 = razão capital votante/capital total do maior, três e cinco maiores acionistas;

X4 = alavancagem (passivo exigível/passivo total);

X5 = tamanho da empresa (log dos ativos);

X6 = retorno sobre os ativos (ROA), medido pela razão EBITDA/Ativo;

X7 = (capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X8 = (capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X9 = (razão capital votante/total do maior, três e cinco maiores acionistas)2;

X10 = variável dummy indicando se o controlador é estrangeiro;

X11 = variável dummy indicando se o controlador é estatal;

X12 = variável dummy indicando se o controlador é um investidor institucional;

Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior

acionista, duas para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores

acionistas. As três primeiras especificações incluem as seguintes variáveis:

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84

capital votante, capital total, razão capital votante/capital total, alavancagem,

tamanho e ROA. Realizou-se uma especificação para o maior acionista, outra

para os três maiores e mais uma para os cinco maiores acionistas.

As três últimas especificações incluem, além das variáveis anteriores, o

(capital votante)2, (capital total)2, (razão capital votante/total)2 e as dummy

indicando a origem do controlador. A inclusão de variáveis quadráticas está

coerente com a conclusão de uma relação curvilinear entre desempenho das

empresas e estrutura de controle/propriedade (Morck, Shleifer e Vishny (1988),

e McConnel e Servaes (1990)). Novamente, realizou-se uma especificação

para o maior acionista, outra para os três maiores e mais uma para os cinco

maiores acionistas.

Seguindo a mesma linha de raciocínio e considerando as variáveis

previamente selecionadas e identificadas, o modelo sugerido para o estudo da

alavancagem possui as seguintes variáveis:

Y = alavancagem (passivo exigível/passivo total);

X1 = capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X2 = capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X3 = razão capital votante/capital total do maior, três e cinco maiores acionistas;

X4 = proporção de ativos fixos sobre ativo total;

X5 = tamanho da empresa (log dos ativos);

X6 = retorno sobre os ativos (ROA), medido pela razão EBITDA/Ativo;

X7 = (capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X8 = (capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X9 = (razão capital votante/total do maior, três e cinco maiores acionistas)2;

X10 = variável dummy indicando se o controlador é estrangeiro;

X11 = variável dummy indicando se o controlador é estatal;

X12 = variável dummy indicando se o controlador é um investidor institucional;

Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior

acionista, duas para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores

acionistas. As três primeiras especificações incluem as seguintes variáveis:

capital votante, capital total, razão capital votante/capital total, proporção de

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85

ativos fixos sobre ativo total, tamanho e ROA. Realizou-se uma especificação

para o maior acionista, outra para os três maiores e mais uma para os cinco

maiores acionistas.

As três últimas especificações incluem, além das variáveis anteriores, o

(capital votante)2, (capital total)2, (razão capital votante/total)2 e as dummy

indicando a origem do controlador. Novamente, realizou-se uma especificação

para o maior acionista, outra para os três maiores e mais uma para os cinco

maiores acionistas.

O modelo sugerido para o estudo do payout considera as seguines

variáveis, previamente selecionadas e identificadas na literatura:

Y = payout (razão dividendos/lucro líquido);

X1 = capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X2 = capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas;

X3 = razão capital votante/capital total do maior, três e cinco maiores acionistas;

X4 = alavancagem (passivo exigível/passivo total);

X5 = proporção de disponibilidades financeiras sobre ativo total;

X6 = tamanho da empresa (log dos ativos);

X7 = retorno sobre os ativos (ROA), medido pela razão EBITDA/Ativo;

X8 = volatilidade do preço da ação;

X9 = (capital votante do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X10 = (capital total do maior, três maiores e cinco maiores acionistas)2;

X11 = (razão capital votante/total do maior, três e cinco maiores acionistas)2;

X12 = variável dummy indicando se o controlador é estrangeiro;

X13 = variável dummy indicando se o controlador é estatal;

X14 = variável dummy indicando se o controlador é um investidor institucional;

Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior

acionista, duas para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores

acionistas. As três primeiras especificações incluem as seguintes variáveis:

capital votante, capital total, razão capital votante/capital total, alavancagem,

proporção de disponibildades financeiras sobre ativo total, tamanho, ROA e

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86

volatilidade. Realizou-se uma especificação para o maior acionista, outra para

os três maiores e mais uma para os cinco maiores acionistas.

As três últimas especificações incluem, além das variáveis anteriores, o

(capital votante)2, (capital total)2, (razão capital votante/total)2 e as dummy

indicando a origem do controlador. Novamente, realizou-se uma especificação

para o maior acionista, outra para os três maiores e mais uma para os cinco

maiores acionistas.

O payout é uma medida indicativa dos níveis de diluição dos acionistas,

ou da intenção da firma em redistribuir recursos aos acionistas minoritários.

Pode existir um viés na medida de payout. Como a extração de benefícios

privados deve ocorrer antes da apuração dos lucros das firmas, empresas de

pior governança teriam seu payout superestimado. Isso tenderia a viesar os

resultados para que empresas de pior governança tivessem uma payout maior,

uma vez que parte do lucro existente já teria sido desviada. No entanto, se

constatarmos o resultado oposto, estaremos encontrando evidência ainda mais

forte sobre a relação entre governança corporativa e diluição dos acionistas

minoritários.

Vale lembrar que em todas as 18 especificações (6 para Q de Tobin, 6

para alavancagem e 6 para payout), foram inseridas variáveis dummy setoriais,

para controlar as características de setores específicos da economia. A idéia

por trás deste ajuste é que cada setor industrial pode estar num estágio diverso

de maturidade, crescimento e apresentar peculiaridades que determinam a

avaliação, estrutura de capital e a política de dividendos de suas companhias.

A definição dos setores das atividades econômicas seguiu a classificação do

banco de dados Economática.

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87

4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS

A tabela 3 mostra a estrutura direta de controle e propriedade das

empresas brasileiras em 2000. Os resultados apresentados são muito

semelhantes aos encontrados por Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da

Silva e Valadares (2002) para os anos de 1996 e 1998, respectivamente. Das

225 empresas, 203 (90%) têm um único acionista que possui mais de 50% do

capital votante. Esse acionista possui uma média de 76% (mediana de 75%) do

capital votante. Dentre as companhias onde o controle não está nas mãos de

um único acionista (22), o maior acionista possui, em média, 37% do capital

votante, com mediana de 40%. Isso demonstra que, mesmo quando um único

acionista não tem a maioria dos votos, o maior acionista possui uma parcela

considerável deles. Considerando a amostra como um todo, o maior acionista,

os três maiores e os cinco maiores possuem, respectivamente, 72%, 85% e

87% do capital votante.

Tabela 3

Composição Acionária Direta das Companhias Brasileiras em 2000

Composição acionária direta média (mediana) de 225 companhias brasileiras listadas

na Bovespa. Uma companhia com um acionista majoritário é aquela na qual um

acionista possui mais de 50% do capital votante. Os dados são coletados de

Informativos Anuais referentes ao final de 2000.

Companhias com

um acionista

majoritário (203)

Companhias sem

um acionista

majoritário (22)

Total

da amostra

(225)

Acionista Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Maior 76%

(75%)

54%

(50%)

37%

(40%)

23%

(18%)

72%

(71%)

51%

(48%)

3 Maiores 88%

(91%)

65%

(67%)

62%

(62%)

41%

(40%)

85%

(90%)

62%

(62%)

5 Maiores 89%

(92%)

65%

(67%)

66%

(69%)

44%

(40%)

87%

(91%)

63%

(63%)

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Os resultados mostram um alto grau de concentração do capital votante.

Mesmo quando não existe um acionista majoritário, o maior acionista possui

uma parcela significativa do capital votante. A empresa é controlada, na média,

por seus três maiores acionistas. Além disso, 87% do capital votante das

empresas estão nas mãos dos cinco maiores acionistas.

Também podemos notar uma diferença razoável entre o percentual de

votos e de capital total nas mãos dos grandes acionistas. No Brasil, a

legislação anterior permitia que empresas emitissem ações sem direito a voto

(ações preferenciais) em uma proporção de até dois terços do total das ações.

Essa regra ainda é válida para as companhias abertas já existentes, uma vez

que a nova Lei das S.A (Lei 10.303/01) mudou a proporção de ações ordinárias

e preferenciais de 2/3 para 50% somente para as empresas fechadas que

decidirem abrir seu capital e para as novas companhias abertas. As empresas

que já eram abertas antes da lei podem manter sua atual composição do

capital, inclusive em novas emissões.

Dessa forma, a legislação permite que empresas abertas emitam ações

sem abrir mão do controle e é, portanto, um meio de separar propriedade e

controle. Esse mecanismo parece ser usado pelos grandes acionistas para

manter o controle da empresa sem ter que possuir 50% do capital total. Em

empresas com um único acionista majoritário, este possui uma média de 76%

do capital votante, mas apenas 54% do capital total. Considerando a amostra

inteira, os cinco maiores acionistas possuem 87% do capital votante, mas

apenas 63% do capital total. Conforme ressaltado por Valadares e Leal (2000)

e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002), se existe alguma diluição na

propriedade da empresa, isso ocorre através de ações sem direito a voto. A

emissão de ações sem direito a voto permite a manutenção do controle com

uma participação menor no capital da empresa levando à separação entre

propriedade e controle.

A tabela 4 mostra a estrutura indireta de controle e propriedade das

empresas brasileiras em 2000. Os resultados da estrutura de propriedade são

parecidos com aqueles encontrados por Valadares e Leal (2000) e Leal,

Carvalhal da Silva e Valadares (2002) para os anos de 1996 e 1998. No

entanto, os resultados da estrutura de controle apresentam diferenças

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razoáveis, uma vez que são aplicadas diferentes metodologias no cálculo do

controle indireto. Conforme explicado anteriormente, a metodologia usada por

Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002) tende a

subestimar o controle dos acionistas majoritários. Portanto, os resultados da

estrutura indireta de controle para o ano de 2000 revelam participações

maiores referentes a direito de voto dos controladores quando comparados

com os estudos anteriores.

Tabela 4

Composição Acionária Indireta das Companhias Brasileiras em 2000

Composição acionária indireta média (mediana) de 225 companhias brasileiras

listadas na Bovespa. A composição indireta mostra a participação indireta dos

acionistas. Tal participação foi analisada até que o acionista efetivo se revelasse como

sendo de um dos seguintes grupos: indivíduos, investidores institucionais, investidores

estrangeiros e governo. Uma companhia com um acionista majoritário é aquela na

qual um acionista possui mais de 50% do capital votante diretamente. Os dados são

coletados de Informativos Anuais referentes ao final de 2000.

Companhias com

um acionista

majoritário (203)

Companhias sem

um acionista

majoritário (22)

Total

da amostra

(225)

Acionista Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Maior Acionista 69%

(70%)

40%

(34%)

40%

(34%)

24%

(15%)

66%

(66%)

38%

(32%)

3 Maiores 83%

(89%)

51%

(48%)

61%

(56%)

39%

(29%)

81%

(87%)

50%

(47%)

5 Maiores 85%

(90%)

54%

(51%)

64%

(69%)

41%

(35%)

83%

(88%)

52%

(50%)

No caso de empresas onde o maior acionista possui mais de 50% do

capital votante diretamente, a propriedade indireta é mais diluída. Na forma

direta, o acionista majori tário possui, em média, 76% do capital votante e 54%

do total, enquanto que indiretamente as participações são de, respectivamente,

69% e 40%. Por outro lado, essa redução na participação do maior acionista

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90

não ocorre em empresas onde não existe um acionista majoritário. Pelo

contrário, os dados mostram um pequeno aumento no capital investido para

esses casos. Na forma direta, o maior acionista possui, em média, 37% do

capital votante e 23% do total, enquanto que indiretamente as participações

são de, respectivamente, 40% e 24%.

Esse fato pode indicar a utilização de estruturas piramidais para manter

o controle com investimento reduzido na empresa. Se essa estrutura piramidal

ocorre em alguns níveis, a separação entre propriedade e controle e também o

afastamento da regra uma ação - um voto torna-se ainda maior. Como fizeram

Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da Silva e Valadares (2002),

analisaram -se as empresas com um acionista controlador, comparando a

propriedade direta e indireta.

Nós classificamos as 203 empresas nas quais existia um acionista

controlador segundo os grupos mostrados na tabela 5. O primeiro grupo é

formado por empresas onde o controle não é mantido indiretamente, ou seja,

não existe um único acionista com mais de 50% do capital votante. Das 203

empresas, 35 estão nesse grupo (17%). Em 140 empresas (69%), observamos

pirâmides com manutenção do controle – em todos os níveis, existe um

acionista com mais de 50% do capital votante. Dividimos essas companhias em

três sub-grupos: aquelas onde há concentração de capital, com 37 empresas

(18%), aquelas onde a participação no capital é mantida, com 91 empresas

(45%) e aquelas onde a participação no capital é reduzida, com 12 empresas

(6%). Por fim, o último grupo é formado por empresas onde as participações

direta e indireta são idênticas – mesma participação e mesmo acionista. Essas

são empresas que não utilizam estrutura piramidal. Existem 28 empresas

nesse grupo (14%).

Os dados na tabela 5 parecem indicar que a utilização de pirâmide como

um mecanismo de manutenção de controle de empresas a um custo menor, ou

seja, com um investimento menor no capital total, não é muito comum. Das 175

empresas onde existe estrutura piramidal e onde as participações direta e

indireta são diferentes, apenas 12 têm um acionista que mantém o controle

com redução no percentual de capital investido. Na média, enquanto o

acionista majoritário garante o controle com 65% do capital total da empresa,

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91

indiretamente a participação média no capital é de 31%. Em 35 empresas, o

acionista majoritário não mantém o controle indiretamente. Nossos resultados

são similares aos encontrados por Valadares e Leal (2000) e Leal, Carvalhal da

Silva e Valadares (2002) para os anos de 1996 e 1998.

Tabela 5

Participação Direta e Indireta dos Acionistas Controladores em 2000

As companhias que possuem um acionista controlador (com mais de 50% do capital

votante) foram identificadas e a composição acionária direta e indireta de cada uma foi

analisada. Para isto, as companhias foram classificadas em cinco grupos: (i)

companhias em que o controlador não mantém o controle indiretamente; (ii)

controlador mantém o controle e aumenta sua participação na companhia; (iii)

controlador mantém a mesma participação; (iv) controlador mantém o controle, mas

reduz sua participação no capital total; e (v) não há mudança de controlador nem da

participação indireta. Os dados foram coletados dos Informativos Anuais referentes ao

final de 2000.

Participação

direta do acionista

controlador

Participação indireta

do acionista

controlador

Há estrutura

indireta?

Acionista mantém o

controle?

Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Não (35) 78% 59% 31% 16%

Sim - Concentração (37) 67% 49% 85% 56%

Sim - Manutenção (91) 75% 50% 75% 39%

Sim - Diversificação (12) 90% 65% 60% 31%

Sim – Todos (140) 74% 51% 76% 43%

Sim (175)

Média "Sim" e "Não" 75% 53% 67% 37%

Não (28) Mesma composição 80% 57% 80% 57%

A utilização de estrutura piramidal não parece ser um esforço para evitar

a regra uma ação – um voto em empresas brasileiras. A legislação brasileira

permite que se tenha o controle direto da companhia com 17% do capital total

direto. Indiretamente, esse número poderia ser ainda menor. Não é isso o que

a tabela 5 mostra. A participação indireta no capital total do acionista

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controlador em média é de 43% quando ele mantém o controle indiretamente e

de 16% mesmo quando ele não mantém o controle. A participação no capital

votante também é bem mais alta que 50% na maioria dos casos, mesmo

indiretamente.

Posteriormente, as 203 empresas com acionista controlador foram

classificadas de acordo com a origem do capital. A tabela 6 mostra a estrutura

direta e indireta de controle e propriedade das empresas de acordo com a

identidade do acionista controlador (estrangeiro, estatal, familiar e institucional).

Das 203 empresas, 108 são controladas por grupos familiares, 60 por

investidores estrangeiros, 19 por investidores institucionais e 16 pelo governo.

Na média, os investidores institucionais possuem diretamente 80% do capital

votante, enquanto os estrangeiros, o governo e as famílias possuem,

respectivamente, 79%, 75% e 73%. Na estrutura indireta, a participação dos

investidores institucionais no capital votante cai para 64%, enquanto os

investidores estrangeiros, o governo e as famílias possuem, respectivamente,

74%, 77% e 66% dos direitos de voto.

A tabela 7 mostra a presença de acordos de acionistas, estruturas de

pirâmides e o percentual de ações ordinárias no capital total da empresa.

Esses três mecanismos estão intimamente ligados com a estrutura de

controle/propriedade e com a possibilidade de expropriação de acionistas

minoritários, uma vez que podem aumentar a separação entre direito de voto e

fluxo de caixa.

Os acordos de acionistas estão presentes em 27% das empresas

controladas por famílias, contrastando com os 6% de empresas estatais que

possuem esses acordos. De uma forma geral, 23% das empresas brasileiras

possuem acordos de acionistas, influenciando a governança empresarial, na

medida em que os acordos de acionistas sobre exercício do direito de voto ou

do poder de controle são uma forma de aumentar o controle.

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Tabela 6

Participação Acionária dos Diversos Grupos Controladores em 2000

As companhias que possuem um acionista controlador (com mais de 50% do capital

votante) foram identificadas e classificadas de acordo com a origem do capital

(estrangeiro, estatal, familiar e institucional) e a composição acionária direta e indireta

de cada uma foi analisada. Os dados foram coletados dos Informativos Anuais

referentes ao final de 2000.

Participação

Direta

Participação

Indireta

No

Firmas

% de

Firmas Capital

Votante

Capital

Total

Capital

Votante

Capital

Total

Amostra Total 225 100% 72% 51% 66% 38%

Família 108 48% 73% 46% 66% 31%

Governo 16 7% 75% 57% 77% 51%

Estrangeiro 60 27% 79% 62% 74% 56%

Institucional 19 8% 80% 66% 64% 33%

Firmas com

acionista

controlador

Total 203 90% 76% 54% 69% 40%

Firmas sem acionista controlador 22 10% 37% 23% 40% 24%

A maior parte das empresas (86%) possuem estruturas de pirâmides,

sendo que estas tendem a ser menos utilizadas em empresas estatais (63%) e

mais utilizadas em empresas familiares (91%) e estrangeiras (87%). A emissão

de ações preferenciais é comum no Brasil, sendo que as ações ordinárias

representam, na média, 53% do capital total das companhias. O percentual de

ações ordinárias no capital total é menor nas empresas controladas por

famílias (49%) e investidores institucionais (51%), aumentando a separação

entre controle e propriedade. Por outro lado, as empresas estatais são as que

mais possuem ações ordinárias em relação ao capital total (64%).

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Tabela 7

Mecanismos de Separação entre Controle e Propriedade no Brasil

As companhias que possuem um acionista controlador (com mais de 50% do capital

votante) foram identificadas e classificadas de acordo com a origem do capital

(estrangeiro, estatal, familiar e institucional) e foi analisada a presença de três

mecanismos de separação entre controle e propriedade: acordo de acionistas,

estruturas de pirâmides e o percentual de ações ordinárias no capital total da empresa.

Os dados foram coletados dos Informativos Anuais referentes ao final de 2000.

% Empresas

com Acordo

de Acionistas

% Empresas

com Pirâmide

% de Ações

ON no

Capital Total

Amostra Total 23% 86% 53%

Família 27% 91% 49%

Governo 6% 63% 64%

Estrangeiro 20% 87% 56%

Institucional 21% 79% 51%

Firmas com

acionista

controlador

Total 23% 86% 53%

Firmas sem acionista controlador 27% 82% 59%

A tabela 8 mostra o valor (Q de Tobin), a alavancagem financeira e o

payout das empresas brasileiras de acordo com a identidade do acionista

controlador (estrangeiro, estatal, familiar e institucional). As firmas sem

acionista controlador apresentam um Q de Tobin mais elevado (1,19) do que as

firmas com acionista controlador (1,07). Como nessa análise estamos nos

focando em direito de voto (controle), essa evidência parece comprovar a

hipótese 1, ou seja, uma maior concentração dos direitos de voto nas mãos do

acionista controlador é associada com um menor valor das empresas. Portanto,

embora as diferenças não sejam estatisticamente significativas, existe

evidência da relação inversa entre concentração de controle e valor de

mercado. Além disso, existe evidência estatística de que empresas controladas

pelo governo tendem a ser menos valorizadas (Q=0,76) do que as empresas

controladas por famílias (Q=1,09), estrangeiros (Q=1,10) e investidores

institucionais (Q=1,16).

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Tabela 8

Valor, Alavancagem e Payout das Empresas Brasileiras em 2000

As companhias que possuem um acionista controlador (com mais de 50% do capital

votante) foram identificadas e classificadas de acordo com a origem do capital

(estrangeiro, estatal, familiar e institucional) e foi realizada uma comparação entre

valor (Q de Tobin), alavancagem (razão entre passivo exigível/passivo total) e payout

(razão dividendos/lucro líquido) para os diversos grupos de empresas. Os dados foram

coletados dos Informativos Anuais referentes ao final de 2000.

Q de Tobin Alavancagem Payout

Amostra Total 1,08 66% 32%

Família 1,09 72% 28%

Governo 0,76* 47%* 36%

Estrangeiro 1,10 62% 35%

Institucional 1,16 61% 34%

Firmas com

acionista

controlador

Total 1,07 66% 31%

Firmas sem acionista controlador 1,19 67% 35%

* indica diferença de média estatisticamente significativa a 1% entre o Q de Tobin e a

alavancagem de empresas do Governo e empresas com outros ou sem acionista controlador

Em relação à estrutura de capital, não existe diferença significativa entre

a alavancagem das firmas sem acionista controlador (67%) e com acionista

controlador (66%). Existe evidência estatística de que empresas controladas

pelo governo tendem a ser menos alavancadas (47%) do que as empresas

controladas por investidores institucionais (61%), estrangeiros (62%) e famílias

(72%).

Não existe diferença estatisticamente significativa entre o payout médio

das firmas sem acionista controlador (35%) e com acionista controlador (31%).

Embora não haja significância estatística, as empresas controladas pelo

governo tendem a ter um payout maior (36%) do que as empresas controladas

por famílias (28%), investidores institucionais (34%) e estrangeiros (35%).

Em seguida, foi conduzida uma análise mais rigorosa contemplando os

procedimentos estatísticos de regressão linear múltipla. A tabela 9 mostra os

resultados das 6 especificações de modelos para o estudo do valor de mercado

das empresas brasileiras, considerando a estrutura direta de controle e

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propriedade. Embora nenhuma das variáveis de estrutura de controle e

propriedade tenha apresentado significância estatística, os sinais dos

coeficientes confirmam o previsto pela teoria.

O coeficiente negativo do capital votante confirma a hipótese 1, ou seja,

uma maior concentração dos direitos de voto nas mãos do acionista

controlador é associada com um menor valor das empresas . O coeficiente

positivo do capital total confirma a hipótese 2, isto é, quanto maior a

concentração dos direitos de fluxo de caixa com o controlador, maior o valor da

empresa. Finalmente, o coeficiente negativo da razão capital votante/capital

total confirma a hipótese 3, ou seja, quanto maior a razão entre a concentração

dos direitos de voto e direitos de fluxo de caixa dos controladores, menor o

valor da empresa.

Existe diferença estatisticamente significativa a 10% entre o valor de

mercado das empresas em função da origem do capital. Empresas com

acionistas majoritários estrangeiros tendem a apresentar um valor superior

quando comparadas com empresas familiares. Por sua vez, embora não exista

significância estatística, empresas estatais tendem a ser as menos valorizadas

de todas. Uma possível explicação é que nas empresas do governo, a

governança é mais complexa pela presença de mais um agente: os políticos.

Nesse contexto, os direitos de controle (nas mãos do governo) estão

totalmente dissociados do fluxo de caixa ou dos direitos de propriedade, já que

a propriedade está pulverizada entre os contribuintes, detentores em última

análise das empresas estatais.

As variáveis quadráticas (capital votante, capital total e razão capital

votante/total) não apresentaram coeficientes estatisticamente significativos. A

alavancagem, o ROA e o tamanho apresentam uma relação positiva com o

valor das empresas, conforme o previsto pela teoria (Mikkelson e Partch

(1986), Kim e Stulz (1988), James (1988), Lummer e McConnell (1989),

Chaplinsky e Ramchand (2000), Miller e Puthenpurackal (2001), McConnell e

Servaes (1995), Pereira (2000), Harvey, Lins e Roper (2001)).

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Tabela 9

Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade no Valor das Empresas

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura direta de

controle e propriedade no valor de mercado de 225 empresas brasileiras em 2000. A

variável dependente é o Q de Tobin e as variáveis independentes são: capital votante;

capital total; razão capital votante/capital total; alavancagem; tamanho da empresa (log

dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA); (capital votante)2; (capital total)2; (razão

capital votante/capital total)2; e dummy indicando a origem do capital do controlador.

Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior acionista, duas

para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores acionistas. Em todas as

especificações, foram inseridas dummy setoriais (coeficientes não apresentados). Os

valores-p do teste t são reportados em parênteses.

Maior Acionista

3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante 0,22

(0,50) -0,11 (0,74)

0,30 (0,42)

-0,30 (0,51)

0,27 (0,48)

-0,25 (0,65)

Alavancagem 1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

Ln (Ativo) 0,01 (0,47)

0,01 (0,50)

0,01 (0,51)

0,00 (0,81)

0,01 (0,47)

0,01 (0,65)

ROA 1,10* (0,00)

0,82** (0,02)

1,11* (0,00)

0,85* (0,01)

1,09* (0,00)

0,89* (0,01)

Capital Votante -0,21 (0,47)

-0,55 (0,41)

-0,35 (0,25)

-1,31 (0,29)

-0,19 (0,54)

-0,86 (0,51)

Capital Total 0,10 (0,79)

0,50 (0,46)

0,14 (0,71)

0,40 (0,71)

0,03 (0,95)

0,58 (0,68)

Capital Votante/Total -0,02 (0,83)

-0,01 (0,44)

-0,00 (0,99)

-0,04 (0,62)

-0,03 (0,81)

-0,05 (0,72)

(Capital Votante)2 -0,69 (0,16)

-1,17 (0,14)

-0,86 (0,28)

(Capital Total)2 0,33 (0,55)

0,23 (0,77)

0,41 (0,65)

(Capital Votante/Total)2 -0,00 (0,43)

-0,00 (0,72)

-0,00 (0,70)

Majoritário Estrangeiro 0,12*** (0,10)

0,14*** (0,07)

0,14*** (0,06)

Majoritário Governo -0,05 (0,65)

-0,02 (0,85)

-0,03 (0,78)

Majoritário Institucional 0,12 (0,23)

0,13 (0,19)

0,15 (0,12)

R2 ajustado 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 *, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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A tabela 10 mostra os resultados das 6 especificações de modelos para

o estudo do valor de mercado das empresas brasileiras, só que considerando a

estrutura indireta de controle e propriedade. Os resultados são

substancialmente os mesmos da estrutura direta, sendo que, na estrutura

indireta, os valores-p (p-values) das variáveis relacionadas à governança

corporativa tendem a ser menores do que na estrutura direta, significando que

as variáveis da estrutura indireta têm maior poder explicativo. Nesse sentido, a

relação negativa entre concentração de capital votante do maior acionista e

valor de mercado passa a ser estatisticamente significativa a 10% na estrutura

indireta.

A tabela 11 mostra os resultados das 6 especificações de modelos para

o estudo da alavancagem das empresas brasileiras, considerando a estrutura

direta de controle e propriedade. Embora nenhuma das variáveis de estrutura

de controle e propriedade tenha apresentado significância estatística, os sinais

dos coeficientes confirmam o previsto pela teoria.

O coeficiente positivo do capital votante confirma a hipótese 4, ou seja,

empresas com grande concentração dos direitos de voto têm alto nível de

alavancagem. O coeficiente negativo do capital total confirma a hipótese 5, isto

é, empresas com grande concentração dos direitos de fluxo de caixa têm baixo

nível de alvancagem. Finalmente, o coeficiente positivo da razão capital

votante/capital total confirma a hipótese 6, ou seja, empresas com grande

separação entre direitos de voto e fluxo de caixa nas mãos dos controladores

têm alto nível de alvancagem.

Não existe diferença estatisticamente significativa entre alavancagem

das empresas em função da origem do capital. Empresas com acionistas

majoritários familiares tendem a apresentar maior alavancagem quando

comparadas com as demais, sendo que as empresas estatais tendem a ser as

menos alavancadas de todas. Conforme o previsto pela teoria, o percentual de

ativos fixos sobre ativo total apresenta coeficiente positivo estatisticamente

significativo a 1%, o tamanho e o ROA apresentam coeficiente negativo

estatisticamente significativo a 1% ou 5%, dependendo da especificação. As

variáveis quadráticas (capital votante, capital total e razão capital votante/total)

não apresentaram coeficientes estatisticamente significativos.

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Tabela 10

Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade no Valor

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura indireta de

controle e propriedade no valor de mercado de 225 empresas brasileiras em 2000. A

variável dependente é o Q de Tobin e as variáveis independentes são: capital votante;

capital total; razão capital votante/capital total; alavancagem; tamanho da empresa (log

dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA); (capital votante)2; (capital total)2; (razão

capital votante/capital total)2; e dummy indicando a origem do capital do controlador.

Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior acionista, duas

para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores acionistas. Em todas as

especificações, foram inseridas dummy setoriais (coeficientes não apresentados). Os

valores-p do teste t são reportados em parênteses.

Maior Acionista

3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante 0,21

(0,38) -0,15 (0,89)

0,27 (0,32)

-0,86 (0,58)

0,30 (0,28)

-1,16 (0,47)

Alavancagem 1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

1,06* (0,00)

Ln (Ativo) 0,01 (0,48)

0,01 (0,58)

0,01 (0,61)

0,01 (0,58)

0,01 (0,48)

0,01 (0,56)

ROA 1,03* (0,00)

0,85* (0,01)

1,08* (0,00)

0,87* (0,01)

1,11* (0,00)

0,84* (0,01)

Capital Votante -0,25*** (0,10)

-2,82 (0,13)

-0,30 (0,11)

-4,22 (0,12)

-0,26 (0,20)

-2,51 (0,36)

Capital Total 0,11 (0,44)

1,61 (0,54)

0,15 (0,35)

2,10 (0,58)

0,03 (0,87)

0,59 (0,88)

Capital Votante/Total -0,00 (0,89)

-0,09 (0,91)

-0,01 (0,49)

-0,33 (0,78)

-0,01 (0,72)

-0,72 (0,54)

(Capital Votante)2 -1,91** (0,03)

-2,83** (0,02)

-1,88 (0,12)

(Capital Total)2 1,00 (0,46)

1,46 (0,42)

0,65** (0,72)

(Capital Votante/Total)2 -0,02 (0,87)

-0,13 (0,48)

-0,19 (0,31)

Majoritário Estrangeiro 0,12*** (0,08)

0,11 (0,13)

0,11 (0,13)

Majoritário Governo -0,07 (0,52)

-0,06 (0,60)

-0,07 (0,56)

Majoritário Institucional 0,16 (0,11)

0,14 (0,15)

0,15 (0,13)

R2 ajustado 0,80 0,81 0,80 0,81 0,80 0,80 *, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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100

Tabela 11

Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade na Alavancagem

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura direta de

controle e propriedade na alavancagem de 225 empresas brasileiras em 2000. A

variável dependente é a alavancagem e as variáveis independentes são: capital

votante; capital total; razão capital votante/capital total; proporção de ativos fixos sobre

ativo total; tamanho da empresa (log dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA);

(capital votante) 2; (capital total)2; (razão capital votante/capital total)2; e dummy

indicando a origem do capital do controlador. Foram testadas seis especificações de

modelos: duas para o maior acionista, duas para os três maiores acionistas e duas

para os cinco maiores acionistas. Em todas as especificações, foram inseridas dummy

setoriais (coeficientes não apresentados). Os valores-p do teste t são reportados em

parênteses.

Maior Acionista

3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante 2,14*

(0,00) 1,85* (0,00)

2,07* (0,00)

2,41* (0,00)

2,13* (0,00)

2,76* (0,01)

Ativo Fixo/Ativo Total 0,82* (0,00)

0,89* (0,00)

0,81* (0,00)

0,93* (0,00)

0,82* (0,00)

0,93* (0,00)

Ln (Ativo) -0,12* (0,00)

-0,10* (0,00)

-0,12* (0,00)

-0,10* (0,00)

-0,12* (0,00)

-0,11* (0,00)

ROA -1,36** (0,02)

-1,57* (0,01)

-1,35** (0,02)

-1,50** (0,02)

-1,34** (0,02)

-1,49** (0,02)

Capital Votante 0,02 (0,95)

1,09 (0,38)

0,04 (0,91)

1,07 (0,64)

0,15 (0,68)

0,83 (0,73)

Capital Total -0,26 (0,34)

-1,44 (0,24)

-0,04 (0,89)

-0,86 (0,67)

-0,05 (0,88)

-1,73 (0,50)

Capital Votante/Total 0,00 (0,54)

0,04 (0,21)

0,00 (0,98)

0,06 (0,65)

0,01 (0,85)

0,16 (0,54)

(Capital Votante)2 0,68 (0,46)

0,90 (0,54)

0,78 (0,60)

(Capital Total)2 -0,92 (0,37)

-0,54 (0,70)

-1,10 (0,51)

(Capital Votante/Total)2 0,00 (0,27)

0,00 (0,69)

0,01 (0,58)

Majoritário Estrangeiro -0,01 (0,92)

-0,03 (0,81)

-0,04 (0,78)

Majoritário Governo -0,31 (0,16)

-0,33 (0,13)

-0,32 (0,14)

Majoritário Institucional -0,03 (0,88)

-0,01 (0,98)

-0,01 (0,96)

R2 ajustado 0,12 0,11 0,12 0,10 0,12 0,11 *, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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101

A tabela 12 mostra os resultados das 6 especificações de modelos para

o estudo da alavancagem das empresas brasileiras, só que considerando a

estrutura indireta de controle e propriedade. Os resultados são

substancialmente os mesmos da estrutura direta, sendo que, na estrutura

indireta, os valores-p (p-values) das variáveis relacionadas à governança

corporativa tendem a ser menores do que na estrutura direta, significando que

as variáveis da estrutura indireta têm maior poder explicativo. Nesse sentido, a

relação entre alavancagem e concentração de capital votante, capital total e a

separação entre capital votante e capital total passa a ser estatisticamente

significativa a 5% na estrutura indireta, quando consideramos os 3 e 5 maiores

acionistas.

A tabela 13 mostra os resultados das 6 especificações de modelos para

o estudo do payout das empresas brasileiras, considerando a estrutura direta

de controle e propriedade. A maioria das variáveis de estrutura de controle e

propriedade apresenta significância estatística, com os sinais dos coeficientes

de acordo com o previsto pela teoria.

O coeficiente negativo do capital votante, estatisticamente significativo a

1%, dependendo da especificação, confirma a hipótese 7, ou seja, empresas

com grande concentraç ão dos direitos de voto nas mãos do controlador têm

baixo payout. O coeficiente positivo do capital total, estatisticamente

significativo a 5% ou 10%, dependendo da especificação, confirma a hipótese

8, isto é, empresas com grande concentração dos direitos de fluxo de caixa nas

mãos do controlador têm alto payout. Finalmente, embora sem significância

estatística, o coeficiente negativo da razão capital votante/capital total, confirma

a hipótese 9, ou seja, empresas com grande separação entre direitos de voto e

fluxo de caixa nas mãos do controlador têm baixo payout. As variáveis

quadráticas (capital votante, capital total e razão capital votante/total) não

apresentaram coeficientes estatisticamente significativos.

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102

Tabela 12

Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade na Alavancagem

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura indireta de

controle e propriedade na alavancagem de 225 empresas brasileiras em 2000. A

variável dependente é a alavancagem e as variáveis independentes são: capital

votante; capital total; razão capital votante/total; proporção de ativos fixos/ativo total;

tamanho da empresa (log dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA); (capital votante) 2;

(capital total)2; (razão capital votante/total)2; e dummy indicando a origem do capital do

controlador. Foram testadas seis especificações de modelos: duas para o maior

acionista, duas para os três maiores acionistas e duas para os cinco maiores

acionistas. Em todas as especificações, foram inseridas dummy setoriais (coeficientes

não apresentados). Os valores-p do teste t são reportados em parênteses.

Maior Acionista

3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante 2,33*

(0,00) 1,34

(0,48) 1,15*** (0,09)

2,12 (0,46)

1,12*** (0,10)

1,63 (0,57)

Ativo Fixo/Ativo Total 0,83* (0,00)

0,91* (0,00)

0,79* (0,00)

0,89* (0,00)

0,79* (0,00)

0,89* (0,00)

Ln (Ativo) -0,12* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,12* (0,00)

-0,10* (0,00)

-0,12* (0,00)

-0,11* (0,00)

ROA -1,14** (0,05)

-1,33** (0,03)

-1,18** (0,04)

-1,32** (0,03)

-1,16** (0,05)

-1,30** (0,03)

Capital Votante 0,70 (0,17)

4,75 (0,16)

1,18** (0,03)

1,34 (0,79)

1,26** (0,02)

0,06 (0,99)

Capital Total -0,25 (0,70)

-4,44 (0,36)

-1,60** (0,02)

-3,81 (0,58)

-1,70** (0,02)

-2,16 (0,76)

Capital Votante/Total 0,07 (0,71)

1,04 (0,48)

0,56** (0,02)

0,20 (0,93)

0,60* (0,01)

0,66 (0,76)

(Capital Votante)2 2,07 (0,19)

0,77 (0,73)

0,28 (0,90)

(Capital Total)2 -2,25 (0,37)

-3,07 (0,36)

-2,31 (0,49)

(Capital Votante/Total)2 0,13 (0,59)

0,06 (0,87)

0,11 (0,74)

Majoritário Estrangeiro -0,02 (0,88)

-0,08 (0,52)

-0,08 (0,55)

Majoritário Governo -0,26 (0,21)

-0,31 (0,13)

-0,30 (0,15)

Majoritário Institucional -0,03 (0,89)

-0,07 (0,69)

-0,06 (0,73)

R2 ajustado 0,14 0,13 0,14 0,13 0,14 0,14 *, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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103

Tabela 13

Efeito da Estrutura Direta de Controle/Propriedade no Payout

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura direta de

controle e propriedade no payout de 225 empresas brasileiras em 2000. A variável

dependente é o payout e as variáveis independentes são: capital votante; capital total;

razão capital votante/total; alavancagem; proporção de disponibilidades financeiras

sobre ativo total; tamanho da empresa (log dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA);

volatilidade do preço da ação; (capital votante)2; (capital total)2; (razão capital

votante/capital total)2; e dummy indicando a origem do capital do controlador. Foram

testadas seis especificações de modelos: duas para o maior acionista, duas para os

três maiores acionistas e duas para os cinco maiores acionistas. Em todas as

especificações, foram inseridas dummy setoriais (coeficientes não apresentados). Os

valores-p do teste t são reportados em parênteses.

Maior Acionista

3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante 0,02

(0,90) -0,04 (0,86)

0,17 (0,39)

-0,35 (0,30)

0,17 (0,40)

-0,31 (0,44)

Alavancagem -0,03 (0,21)

-0,04 (0,19)

-0,03 (0,21)

-0,03 (0,22)

-0,03 (0,20)

-0,03 (0,20)

At. Disponível/At. Total 0,11 (0,54)

0,13 (0,46)

0,12 (0,48)

0,14 (0,44)

0,11 (0,52)

0,13 (0,46)

Ln (Ativo) 0,03* (0,00)

0,04* (0,01)

0,03* (0,01)

0,03** (0,02)

0,03* (0,01)

0,03* (0,01)

ROA 0,35 (0,13)

0,36 (0,14)

0,39*** (0,09)

0,39 (0,11)

0,42** (0,07)

0,43*** (0,08)

Volatilidade -0,11* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,11* (0,00)

Capital Votante -0,26* (0,01)

-0,21 (0,67)

-0,42* (0,00)

-0,57 (0,51)

-0,46* (0,00)

-0,46 (0,62)

Capital Total 0,18*** (0,10)

0,27 (0,57)

0,22** (0,05)

0,55 (0,48)

0,26** (0,05)

0,49 (0,63)

Capital Votante/Total -0,00 (0,62)

-0,00 (0,94)

-0,01 (0,46)

-0,07 (0,15)

-0,02 (0,43)

-0,07 (0,47)

(Capital Votante)2 -0,35 (0,33)

-0,78 (0,16)

-0,69 (0,22)

(Capital Total)2 0,46

(0,25) 0,07

(0,90) 0,05

(0,93) (Capital Votante/Total)

2 -0,00

(0,97) -0,00

(0,13) -0,00

(0,49) Majoritário Estrangeiro 0,02

(0,78) 0,02

(0,73) 0,02

(0,70) Majoritário Governo 0,03

(0,72) 0,02

(0,82) 0,02

(0,77) Majoritário Institucional 0,01

(0,88) 0,02

(0,75) 0,00

(1,00) R

2 ajustado 0,19 0,17 0,20 0,20 0,20 0,19

*, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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104

Não existe diferença estatisticamente significativa entre o payout das

empresas em função da origem do capital. Empresas com acionistas

majoritários familiares tendem a apresentar menor payout quando comparadas

com as demais, sendo que as empresas estatais tendem a apresentar os

maiores payouts.

Conforme o previsto pela teoria, o percentual de disponibilidades

financeiras sobre ativo total apresenta coeficiente positivo, embora não

estatisticamente significativo. O tamanho e o ROA apresentam coeficientes

positivos, estatisticamente significativos a 1%, 5% ou 10%, dependendo da

especificação. A volatilidade e a alavancagem têm coeficiente negativo, sendo

que o primeiro é estatisticamente significativo a 1%.

A tabela 14 mostra os resultados das 6 especificações de modelos para

o estudo do payout das empresas brasileiras, só que considerando a estrutura

indireta de controle e propriedade. Os resultados são semelhantes aos da

estrutura direta, sendo que, na estrutura indireta, os valores-p (p-values) das

variáveis relacionadas à governança corporativa tendem a ser menores do que

na estrutura direta, significando que as variáveis da estrutura indireta têm maior

poder explicativo. Nesse sentido, a relação entre payout e concentração de

capital votante, capital total e a separação entre capital votante e capital total

passa a ser estatisticamente significativa a 1%, 5% ou 10% na estrutura

indireta, dependendo da especificação do modelo.

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105

Tabela 14

Efeito da Estrutura Indireta de Controle/Propriedade no Payout

Análise de regressão linear múltipla para estudar o efeito da estrutura indireta de

controle e propriedade no payout de 225 empresas brasileiras em 2000. A variável

dependente é o payout e as variáveis independentes são: capital votante; capital total;

razão capital votante/total; alavancagem; proporção de disponibilidades financeiras

sobre ativo total; tamanho da empresa (log dos ativos); retorno sobre os ativos (ROA);

volatilidade do preço da ação; (capital votante)2; (capital total)2; (razão capital

votante/capital total)2; e dummy indicando a origem do capital do controlador. Foram

testadas seis especificações de modelos: duas para o maior acionista, duas para os

três maiores acionistas e duas para os cinco maiores acionistas. Em todas as

especificações, foram inseridas dummy setoriais (coeficientes não apresentados). Os

valores-p do teste t são reportados em parênteses.

Maior Acionista 3 Maiores Acionistas

5 Maiores Acionistas

(1) (2) (3) (4) (5) (6) Constante -0,29

(0,21) -0,11 (0,89)

0,10 (0,71)

-0,70 (0,54)

0,20 (0,45)

-0,50 (0,66)

Alavancagem -0,04 (0,18)

-0,04 (0,19)

-0,04 (0,14)

-0,04 (0,15)

-0,04 (0,14)

-0,04 (0,15)

At. Disponível/At. Total 0,06 (0,71)

0,09 (0,63)

0,09 (0,60)

0,11 (0,53)

0,09 (0,59)

0,12 (0,51)

Ln (Ativo) 0,04* (0,00)

0,04* (0,00)

0,03* (0,01)

0,03* (0,01)

0,03* (0,01)

0,03* (0,01)

ROA 0,44*** (0,06)

0,44*** (0,08)

0,44*** (0,06)

0,44*** (0,07)

0,45** (0,05)

0,45*** (0,07)

Volatilidade -0,12* (0,00)

-0,12* (0,00)

-0,11* (0,00)

-0,10* (0,01)

-0,11* (0,00)

-0,10* (0,01)

Capital Votante -0,56* (0,01)

-0,15 (0,91)

-0,62* (0,00)

1,62 (0,41)

-0,63* (0,00)

-0,74* (0,70)

Capital Total 0,72* (0,01)

0,16 (0,93)

0,43 (0,12)

3,01 (0,27)

0,36 (0,21)

2,24 (0,41)

Capital Votante/Total -0,14** (0,04)

-0,08 (0,89)

-0,07 (0,42)

-0,38 (0,65)

-0,05 (0,60)

-0,15 (0,86)

(Capital Votante)2 -0,33 (0,60)

-0,23 (0,80)

-0,24 (0,78)

(Capital Total)2 0,47

(0,63) 1,39

(0,29) 1,07

(0,41) (Capital Votante/Total)

2 -0,03

(0,74) -0,00

(0,97) -0,03

(0,85) Majoritário Estrangeiro 0,02

(0,68) 0,01

(0,92) 0,00

(0,93) Majoritário Governo 0,06

(0,46) 0,03

(0,72) 0,03

(0,67) Majoritário Institucional 0,03

(0,71) 0,01

(0,91) 0,01

(0,88) R

2 ajustado 0,20 0,18 0,20 0,19 0,21 0,20

*, ** e *** indicam diferença estatisticamente significativa a 1%, 5% e 10%, respectivamente.

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106

5 – CONCLUSÃO

O conceito de governança corporativa, embora não tivesse sido

contemplado com uma nomenclatura própria, existe há mais de 50 anos. No

entanto, o termo “governança corporativa” só começou a ser utilizado na

década de 90. Apesar de inúmeras definições, a governança corporativa pode

ser descrita como um conjunto de princípios e práticas que procuram minimizar

os potenciais conflitos de interesse entre os diferentes agentes da companhia

(stakehoders), com o objetivo de maximizar o valor da empresa e,

conseqüentemente, aumentar o retorno para seus acionistas.

Embora a governança corporativa não seja tema relativamente novo,

somente nos últimos anos vem se transformando em uma preocupação

importante em diversos países, sejam mercados desenvolvidos ou emergentes.

A presente tese dá continuidade a uma série de estudos sobre estruturas de

controle e propriedade de companhias brasileiras e sobre os efeitos das

estruturas de controle e propriedade no valor, alavancagem e payout das

empresas.

No Brasil, o debate em torno da governança corporativa se intensificou

bastante na última década, na medida em que as relações entre acionistas e

administradores e entre acionistas majoritários e minoritários estão mudando

com a reestruturação societária provocada pelas privatizações e a entrada de

novos sócios nas empresas do setor privado, principalmente estrangeiros e

investidores institucionais.

Embora tenha se desenvolvido bastante, o movimento de governança

corporativa no Brasil é ainda reflexo do desenvolvimento do mercado de

capitais e da consolidação econômica dos últimos anos. Nesse contexto, o país

ainda carece de uma cultura de mercado de capitais, ficando evidente no baixo

investimento de recursos em ativos de renda variável. O controle corporativo

não é disperso, permanecendo forte a presença do acionista controlador.

A governança corporativa é um tema bastante abrangente. Embora ela

ocorra em diversas dimensões, a análise pode ser centrada na estrutura de

controle e propriedade das empresas, levando-se em conta que essa dimensão

está intimamente ligada com as demais. Portanto, a governança corporativa

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107

pode ser analisada do ponto de vista da dissociação entre propriedade e

controle.

Existem diversos mecanismos para separar os direitos de controle e

propriedade, entre eles, emissão de ações não votantes, utilização de

estruturas indiretas (pirâmides) e acordos para exercício do direito de voto ou

do poder de controle. Na presente tese, foram calculadas as estruturas direta e

indireta de controle e propriedade, além de considerar a presença de acordos

de acionistas, o que não foi analisado em estudos anteriores sobre estrutura de

controle e propriedade realizados no Brasil.

A grande dificuldade na determinação da composição acionária das

empresas refere-se ao cálculo das participações na estrutura indireta de

controle e propriedade. As medidas da estrutura indireta de propriedade e

controle usadas em estudos no Brasil não permitem analisar e computar

apropriadamente a separação entre propriedade e controle na estrutura

indireta, uma vez que tendem a subestimar o controle dos acionistas

majoritários. Por outro lado, as medidas utilizadas geralmente na literatura

internacional podem levar a imprecisões quando existem mais de um acionista

indireto.

A presente tese utiliza uma nova metodologia de cálculo de participação

indireta na estrutura de controle, visando superar as dificuldades e imprecisões

das metodologias atualmente empregadas na literatura internacional e

brasileira. Nesse contexto, ela está baseada em um banco de dados da

estrutura direta e indireta das empresas brasileiras, levando em conta a

presença de acordo de acionistas e usando uma metodologia que não

subestima o controle dos acionistas majoritários.

Os resultados mostram um alto grau de concentração do capital votante.

Mesmo quando não existe um acionista majoritário, o maior acionista possui

uma parcela significativa do capital votante. A empresa é controlada, na média,

por seus três maiores acionistas. Também pode-se notar uma diferença

razoável entre o percentual de votos e de capital total nas mãos dos grandes

acionistas. Esse mecanismo parece ser usado pelos acionistas majoritários

para manter o controle da empresa sem ter que possuir 50% do capital total.

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108

A utilização de pirâmide como um mecanismo de manutenção de

controle de empresas a um custo menor, ou seja, com um investimento menor

no capital total, não é muito comum. A utilização de estrutura piramidal não

parece ser um esforço para evitar a regra uma ação – um voto em empresas

brasileiras. Portanto, se existe alguma diluição na propriedade da empresa,

isso ocorre mais através de ações sem direito a voto do que pela utilização de

pirâmides. A emissão de ações sem direito a voto permite a manutenção do

controle com uma participação menor no capital da empresa levando à

separação entre propriedade e controle.

A maior parte das empresas é controlada por grupos familiares, em

seguida por investidores estrangeiros, e, em menor porte, por investidores

institucionais e pelo governo. Os acordos de acionistas estão presentes em

27% das empresas controladas por famílias, contrastando com os 6% de

empresas estatais que possuem esses acordos. De uma forma geral, 23% das

empresas brasileiras possuem acordos de acionistas, influenciando a

governança empresarial, na medida em que os acordos de acionistas sobre

exercício do direito de voto ou do poder de controle são uma forma de

aumentar o controle.

A maior parte das empresas possuem estrutura de pirâmide, sendo que

esta tende a ser menos utilizada em empresas estatais e mais utilizada em

empresas fam iliares e estrangeiras. A emissão de ações preferenciais é

comum no Brasil, sendo que as ações ordinárias representam, na média, 53%

do capital total das companhias. O percentual de ações ordinárias no capital

total é menor nas empresas controladas por famílias e investidores

institucionais, sendo que as empresas estatais são as que mais possuem

ações ordinárias em relação ao capital total.

Os resultados dos testes revelam que existe uma relação entre estrutura

de controle/propriedade e valor de mercado das empresas brasileiras. Embora

sem significância estatística, os coeficientes das variáveis indicam que,

conforme o previsto pela teoria: (i) uma maior concentração dos direitos de voto

nas mãos do acionista controlador é associada com um menor valor das

empresas; (ii) quanto maior a concentração dos direitos de fluxo de caixa com

o controlador, maior o valor da empresa; e (iii) quanto maior a razão entre a

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109

concentração dos direitos de voto e direitos de fluxo de caixa dos

controladores, menor o valor da empresa.

Existe uma relação estatisticamente significativa entre estrutura de

controle/propriedade e estrutura de capital das empresas brasileiras. Conforme

o previsto pela teoria, os resultados indicam que: (i) empresas com grande

concentração dos direitos de voto têm alto nível de alavancagem; (ii) empresas

com grande concentração dos direitos de fluxo de caixa têm baixo nível de

alavancagem; (iii) e empresas com grande separação entre direitos de voto e

fluxo de caixa nas mãos dos controladores têm alto nível de alavancagem.

Em relação à política de dividendos, existe uma relação estatisticamente

significativa entre estrutura de controle/propriedade e payout das empresas

brasileiras. Conforme o previsto pela teoria, os resultados indicam que: (i)

empresas com grande concentração dos direitos de voto nas mãos do

controlador têm baixo payout; (ii) empresas com grande concentração dos

direitos de fluxo de caixa nas mãos do controlador têm alto payout; e (iii)

empresas com grande separação entre direitos de voto e fluxo de caixa nas

mãos do controlador têm baixo payout.

Os resultados utilizando a estrutura indireta de controle são

substancialmente os mesmos da estrutura direta, sendo que, na estrutura

indireta, os valores-p (p-values) das variáveis relacionadas à governança

corporativa tendem a ser menores do que na estrutura direta, significando que

as variáveis da estrutura indireta têm maior poder explicativo do que as

variáveis da estrutura direta. Uma possível explicação para a melhoria dos

resultados estatísticos é que as variáveis da estrutura indireta realmente

medem quem é o dono em última instância das empresas.

Portanto, o estudo das questões acerca da propriedade das empresas

não deve ficar restrito à propriedade direta, mas se aprofundar nas questões de

quem é o controlador final das empresas. Se as ações de uma empresa forem

de propriedade de outra empresa, deve-se procurar identificar os acionistas

desta segunda empresa, e assim por diante.

Como sugestões para pesquisas futuras relacionadas ao tema, seria

interessante realizar uma análise dinâmica para diversos anos (por exemplo, a

partir do Plano Real), visando avaliar as estruturas de controle e propriedade e

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110

seus efeitos no valor de mercado, estrutura de capital e payout das

companhias brasileiras. Dessa forma, o estudo seria estendido para um maior

número de empresas e para uma maior número de anos.

Além disso, poderia ser avaliado o impacto de outras variáveis de

goverança corporativa (composição e estrutura do conselho de administração e

conselho fiscal, listagem de ADRs e GDRs, listagem nos níveis diferenciados

de governança corporativa da Bovespa, auditoria independente, free float, entre

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companhias brasileiras, bem como em outras variáveis (volatilidade, beta,

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121

Anexo 1

Estatística Descritiva e Matriz de Correlação das Variáveis Utilizadas Estatística descritiva e matriz de correlação das variáveis utilizadas para estudar o efeito da

estrutura de controle e propriedade no valor de mercado, estrutura de capital e payout de 225

empresas brasileiras em 2000. As variáveis incluídas são: valor de mercado (Q Tobin),

alavancagem (Alavanc), proporção de ativos fixos sobre ativos totais (AFixo/At), tamanho da

empresa (Ln Ativo), retorno sobre ativo (ROA), parcela dos lucros distribuída como dividendos

(Payout), volatilidade (Volat), proporção das disponibilidades financeiras sobre ativo total

(Disp/At), capital votante direto do maior acionista (1VDIR), capital total direto do maior

acionista (1TDIR), capital votante direto dos 3 maiores acionistas (3VDIR), capital total direto

dos 3 maiores acionistas (3TDIR), capital votante direto dos 5 maiores acionistas (5VDIR),

capital total direto dos 5 maiores acionistas (5TDIR), capital votante indireto do maior acionista

(1VIND), capital total indireto do maior acionista (1TIND), capital votante indireto dos 3 maiores

acionistas (3VIND), capital total indireto dos 3 maiores acionistas (3TIND), capital votante

indireto dos 5 maiores acionistas (5VIND), capital total indireto dos 5 maiores acionistas

(5TIND).

Painel A: Estatística Descritiva

Média Desvio

padrão

Mínimo Quartil

25

Mediana Quartil

75

Máximo Curtose Assimetria

Q Tobin 1,08 0,90 0,15 0,74 0,92 1,10 5,38 82,9 7,9

Alavanc 68% 78% 1% 42% 58% 77% 90% 90,4 8,6

AFixo/At 51% 22% 0% 34% 52% 67% 100% -0,6 -0,2

Ln Ativo 13,5 1,8 8,7 12,3 13,7 14,7 18,3 -0,1 -0,1

ROA 11% 9% 0% 6% 11% 16% 34% 4,6 -1,0

Pay Out 32% 32% 0% 0% 27% 47% 98% 2,4 1,2

Volat 75% 64% 20% 40% 50% 80% 560% 20,5 3,9

Disp/At 8% 11% 0% 1% 4% 11% 67% 6,3 2,3

1VDIR 72% 21% 12% 56% 71% 91% 100% -0,7 -0,3

1TDIR 51% 25% 7% 31% 48% 71% 100% -0,9 0,4

3VDIR 85% 16% 23% 79% 90% 98% 100% 2,2 -1,5

3TDIR 62% 24% 12% 43% 62% 84% 100% -1,1 -0,1

5VDIR 87% 15% 23% 82% 91% 99% 100% 2,9 -1,7

5TDIR 63% 24% 12% 43% 63% 85% 100% -1,1 -0,2

1VIND 66% 25% 12% 50% 66% 89% 100% -0,9 -0,3

1TIND 38% 27% 1% 17% 32% 57% 100% -0,7 0,6

3VIND 81% 19% 23% 68% 87% 97% 100% 0,5 -1,1

3TIND 50% 26% 2% 30% 47% 72% 100% -0,9 0,2

5VIND 83% 18% 23% 73% 88% 98% 100% 1,4 -1,3

5TIND 52% 25% 5% 32% 50% 74% 100% -0,9 0,2

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122

Anexo 1 (cont) Painel B: Matriz de Correlação

Q

Tobin

Alavanc AFixo

/At

Ln

Ativo

ROA Pay

Out

Volat Disp

/At

1V

DIR

1T

DIR

3V

DIR

3T

DIR

5V

DIR

5T

DIR

1V

IND

1T

IND

3V

IND

3T

IND

5V

IND

5T

IND

Q Tobin 1,00

Alavanc 0,89 1,00

AFixo/At 0,12 0,16 1,00

Ln Ativo -0,18 -0,26 0,22 1,00

ROA -0,08 -0,21 0,11 0,31 1,00

Pay Out -0,14 -0,23 0,02 0,35 0,25 1,00

Volat 0,26 0,32 0,03 -0,36 -0,24 -0,33 1,00

Disp/At -0,01 -0,14 -0,30 0,04 0,01 0,04 -0,23 1,00

1VDIR -0,13 -0,13 0,06 -0,05 0,12 -0,02 0,02 0,01 1,00

1TDIR -0,07 -0,09 0,09 0,01 0,11 0,06 0,11 -0,01 0,71 1,00

3VDIR -0,04 -0,01 0,10 -0,08 0,05 -0,18 0,13 -0,08 0,69 0,52 1,00

3TDIR -0,01 -0,02 0,12 0,03 0,08 0,00 0,19 -0,09 0,47 0,84 0,62 1,00

5VDIR -0,03 -0,01 0,11 -0,09 0,05 -0,20 0,14 -0,08 0,63 0,48 0,98 0,60 1,00

5TDIR 0,00 -0,02 0,12 0,03 0,08 -0,01 0,19 -0,09 0,43 0,82 0,61 0,99 0,61 1,00

1VIND -0,07 -0,01 0,00 -0,13 -0,10 -0,17 0,12 -0,04 0,52 0,34 0,51 0,30 0,47 0,28 1,00

1TIND -0,07 -0,07 -0,01 -0,03 0,00 -0,03 0,15 0,01 0,36 0,58 0,35 0,57 0,33 0,56 0,65 1,00

3VIND -0,01 0,04 0,02 -0,17 -0,05 -0,22 0,18 -0,09 0,50 0,33 0,79 0,45 0,78 0,44 0,77 0,51 1,00

3TIND -0,01 0,00 -0,01 -0,06 -0,02 -0,06 0,23 -0,03 0,30 0,56 0,44 0,70 0,44 0,70 0,51 0,89 0,60 1,00

5VIND -0,02 0,03 0,07 -0,14 0,00 -0,21 0,17 -0,09 0,51 0,35 0,83 0,49 0,85 0,49 0,67 0,46 0,96 0,58 1,00

5TIND -0,01 0,00 0,02 -0,05 0,00 -0,05 0,23 -0,04 0,30 0,58 0,46 0,73 0,47 0,74 0,46 0,84 0,60 0,98 0,60 1,00

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123

Anexo 2

Lista das Empresas Analisadas

Lista das 225 empresas brasileiras analisadas em 2000, com os dados

de capital votante e capital total direto do maior acionista.

Empresa

Capital Votante Direto

do Maior Acionista

Capital Total Direto do

Maior Acionista

Acesita 75,74% 49,67%

Acos Villares 58,44% 58,44%

Adubos Trevo 51,04% 20,32%

Aes Sul Dist Energ 94,28% 96,60%

AES Tiete 71,27% 43,66%

Albarus 84,19% 84,19%

Alfa Consorcio 82,05% 47,75%

Alfa Holding 86,22% 49,84%

Alpargatas 72,90% 42,60%

Amadeo Rossi 65,90% 22,50%

Ambev 68,75% 29,21%

Anhembi 86,00% 77,00%

Antarct Nordeste 74,81% 57,08%

Aracruz 96,49% 54,29%

Arthur Lange 66,70% 66,61%

Avipal 71,52% 71,52%

Bahia Sul 93,65% 70,12%

Bardella 83,10% 32,76%

Belgo Mineira 59,26% 55,37%

Bic Caloi 60,00% 23,00%

Biobras 74,23% 26,93%

Bombril 100,00% 37,77%

Bompreco 50,00% 50,12%

Brasil T Par 52,26% 19,27%

Brasil Telecom 98,66% 65,42%

Brasilit 92,59% 92,50%

Brasmotor 55,08% 76,02%

Brazil Realt 50,01% 29,66%

Bunge Alimentos 79,06% 66,76%

Bunge Fertilizantes 83,31% 80,91%

Cach Dourada 94,25% 97,05%

Cacique 50,59% 34,32%

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124

Caemi Metal 100,00% 60,22%

Cafe Brasília 28,83% 9,61%

Cambuci 51,00% 17,14%

CBC Cartucho 100,00% 57,00%

CEB 89,27% 69,14%

Cedro 64,09% 47,44%

Celesc 50,18% 20,20%

Celg 97,85% 97,85%

Celpa 54,98% 51,26%

Celpe 94,94% 85,08%

Celulose Irani 65,42% 63,33%

Cemat 57,35% 37,50%

Cemig 50,96% 23,44%

Cerj 94,97% 94,97%

Cesp 60,52% 38,10%

Chapeco 49,78% 49,01%

Cia Hering 51,21% 37,16%

Cim Itau 98,53% 62,18%

Ciquine 87,89% 82,09%

CMA Part 54,84% 50,60%

Coelba 89,77% 87,84%

Cofap 99,95% 98,64%

Coinvest 89,35% 88,07%

Comgas 76,10% 62,69%

Confab 99,00% 39,00%

Copel 58,63% 31,07%

Copene 58,41% 21,49%

Copesul 58,92% 58,92%

Correa Ribeiro 49,47% 16,70%

Coteminas 51,36% 41,88%

Cremer 23,95% 14,34%

CRT Celular 59,93% 22,19%

D F Vasconc 57,83% 57,39%

Dimed 11,86% 10,85%

Docas 57,73% 38,97%

Duratex 62,41% 30,65%

EBE 97,75% 95,99%

Eberle 93,30% 31,10%

EDN 100,00% 91,49%

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125

Electrolux 99,89% 92,85%

Elektro 89,98% 46,61%

Eletrobras 58,41% 52,45%

Eletropaulo Metropo 77,81% 30,97%

Eluma 99,81% 97,54%

EMAE 97,44% 38,78%

Embraco 66,39% 53,18%

Embraer 64,43% 45,30%

Embratel Part 51,79% 19,26%

Encorpar 59,01% 45,24%

Enersul 87,86% 65,20%

EPTE 49,00% 19,50%

Ericsson 94,73% 49,61%

Escelsa 77,27% 77,27%

Estrela 94,71% 31,57%

Eternit 64,66% 73,46%

Eucatex 55,57% 18,93%

F Cataguazes 51,00% 19,50%

F Guimarães 33,45% 15,71%

Ferbasa 98,75% 45,26%

Ferro Ligas 99,88% 93,68%

Fertibras 72,98% 34,28%

Fertiza 99,93% 79,61%

Fosfertil 69,88% 51,47%

Fras-Le 53,05% 38,20%

Gerad Paranapanema 93,05% 94,70%

Geral de Concreto 98,44% 95,28%

Gerdau Met 71,79% 23,93%

Gerdau 82,97% 47,40%

Globex 38,72% 20,70%

Gradiente 62,41% 44,55%

Grazziotin 57,29% 29,27%

Ideiasnet 56,93% 56,93%

Iguacu Café 53,68% 30,48%

Inbrac 100,00% 61,00%

Inds Romi 60,57% 46,85%

Inepar Construções 60,68% 23,43%

Inepar Energia 60,00% 44,88%

Iochp-Maxion 78,51% 65,49%

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126

Ipiranga Dist 32,42% 14,10%

Ipiranga Pet 62,87% 21,01%

Ipiranga Ref 23,54% 10,96%

Itausa 16,05% 7,00%

Itautec 89,17% 89,17%

Iven 56,00% 19,00%

J B Duarte 94,01% 31,34%

Joao Fortes 30,58% 30,58%

Kepler Weber 74,65% 74,38%

Klabin 57,67% 35,62%

Kuala 53,86% 18,56%

Latasa 91,15% 87,99%

Leco 99,99% 80,00%

Light 52,23% 52,23%

LightPar 81,61% 81,61%

Lix da Cunha 51,68% 26,30%

Loj Americanas 48,20% 17,47%

Magnesita 50,02% 26,29%

Makro 99,64% 99,64%

Manasa 46,53% 22,81%

Mangels 99,90% 33,54%

Marcopolo 56,32% 32,49%

Marisol 67,14% 30,80%

Mendes Jr 85,00% 79,00%

Met Duque 62,70% 50,65%

Metal Leve 82,20% 70,82%

Metisa 99,49% 48,28%

Micheletto 66,14% 54,37%

Millennium 99,02% 34,67%

Minupar 85,88% 35,07%

Mont Aranha 49,11% 49,11%

Multibras 52,48% 52,48%

Net 56,71% 39,50%

Nitrocarbono 95,48% 92,29%

Oxiteno 65,39% 47,92%

Pao de Açúcar 60,39% 42,06%

Paraibuna 99,94% 96,91%

Paranapanema 55,51% 50,33%

Paul F Luz 94,88% 95,80%

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127

Perdigão 79,69% 50,44%

Petrobras Distrib 99,86% 73,60%

Petrobrás 55,70% 32,50%

Petroflex 50,35% 50,30%

Petroleo Manguinhos 69,90% 61,42%

Petroq.União 57,26% 56,90%

Petroquisa 99,99% 99,00%

Plascar 99,99% 56,52%

Polar 97,29% 96,01%

Polialden 66,66% 42,64%

Politeno 100,00% 86,90%

Portobello 75,60% 62,72%

Pronor 57,70% 46,31%

Randon Part 77,44% 38,12%

Rasip Agro Pastoril 77,44% 44,73%

Recrusul 77,77% 26,15%

Renner Particip 58,78% 26,78%

Riosulense 89,99% 53,79%

Ripasa 98,00% 54,11%

Rossi Resid 41,91% 41,91%

S Gobain Canal 64,09% 67,58%

S Gobain Vidro 43,66% 43,66%

Sabesp 85,30% 85,30%

Sadia SA 27,78% 12,37%

Sanepar 60,00% 52,49%

Sansuy 73,66% 43,90%

Santista Têxtil 99,90% 74,44%

Sao Carlos 58,96% 22,90%

Saraiva Livr 67,91% 29,39%

Schulz 99,73% 51,96%

Seara Alim 71,50% 57,80%

Sergen 80,02% 65,68%

Sibra 99,96% 99,96%

Sid Nacional 46,48% 46,48%

Sid Tubarão 84,93% 68,06%

Sifco 97,70% 97,47%

Sondotecnica 97,21% 97,21%

Souza Cruz 75,26% 75,26%

Springer 75,03% 63,25%

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128

Sultepa 61,00% 36,00%

Suzano 99,99% 43,30%

TAM Cia Invest 99,95% 71,98%

Tecel.S.Jose 53,05% 17,81%

Tecnosolo 26,38% 8,79%

Tectoy 90,10% 80,08%

Teka 90,00% 31,34%

Tekno 96,25% 84,74%

Tele Celular Sul 51,35% 19,37%

Tele Centroeste Cel 53,80% 18,36%

Tele Leste Celular 58,42% 28,34%

Tele Nordeste Celul 51,24% 19,26%

Tele Norte Celular 51,82% 19,32%

Tele Sudeste Célula 83,98% 40,89%

Telebahia 95,79% 81,61%

Telemar 50,11% 43,82%

Telemig Celul Part 51,82% 19,34%

Telemig Celular 89,18% 82,94%

Telepar Celular 87,43% 73,57%

Telerj Cel 85,02% 70,70%

Telesp Cel Part 85,06% 41,23%

Telesp Operac 84,34% 86,20%

Tractebel 80,42% 75,52%

Transbrasil 51,00% 31,01%

Transmissao Paulist 60,52% 38,10%

Trevisa 50,73% 21,28%

Ultrapar 69,48% 49,80%

Unipar 52,01% 17,35%

Usiminas 46,27% 23,42%

Varig 87,29% 55,63%

Vale Rio Doce 42,18% 27,14%

Vigor 98,19% 75,21%

Votorantim C P 88,95% 50,68%

Weg 96,91% 45,44%

Wetzel 75,23% 27,91%

Wiest 66,11% 32,33%

Zivi 65,00% 21,75%