a poesia de lobivar matos - jornal circuito mato...

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CIRCUITOMATOGROSSO CUIABÁ, 24 A 30 DE MAIO DE 2012 CULTURA EM CIRCUITO PG 6 www.circuitomt.com.br Clóvis é historiador e Papai Noel nas horas vagas [email protected] INCLUSÃO LITERÁRIA Por Clovis Mattos A POESIA DE LOBIVAR MATOS Lobivar Barros de Mattos, (Corumbá, 12 de Janeiro de 1915 - 27 de Outubro - Rio de Janeiro, 1947), marcou sua vida artística pela simplificação da assinatura Lobivar Matos. Atuou como jornalista na antiga capital do país, além de colaborar com a imprensa de Cuiabá, Corumbá e Campo Grande. Foi ainda funcionário público, poeta e crítico literário. É patrono da cadeira 24 da Academia Sul-Mato- Grossense de Letras e ocupou a cadeira 26 da Academia Corumbaense de Letras, cujo patrono é seu tio Osório Gomes de Barros. Sofria de úlcera e tentando se livrar dela foi para a mesa de cirurgia. A duras penas, com a saúde já combalida, convalescia em hospital no Rio de Janeiro. Era 27 de outubro de 1947, quando o poeta faleceu. Faltava menos de três meses para completar 33 anos.(http://www.ufgd.edu.br/ ~pnolasco/lobivar.htm) Obras Areôtorare – poemas bororos – 1935 – Rio de Janeiro. Sarobá– poemas – 1936 – Rio de Janeiro. Minha Livraria Editora, 1936. NATUREZA MORTA Os trilhos velhos estão sendo trocados por trilhos novos. E os bondes enfileirados andam devagar. Os passageiros estão inquietos. Alguns não se conformam e descem apressados, praguejando. Outros procuram distração nas entrelinhas dos jornais. Meus olhos grudaram nos gestos fortes dos homens feios, e eu, intimamente, justifico, achei natural o atraso dos bondes e a troca dos trilhos velhos... ESMOLA É verdade – me disse o moço sujo da esquina – quando menino, toda vez que tropeçava e caía sempre encontrava alguém para me levantar. - Levanta, batuta, para cair outra vez! Agora, que sou farrapo de homem, que queria ser homem, que já tropecei por este mundo a fora, que já cansei de ficar no chão, não encontro ninguém que me tire da sarjeta. Pelo contrario, parece, ninguém me quer ver de pé. Passam e jogam níqueis no meu chapéu furado. Esses idiotas pensam que me fazem bem, que pagam uma prestação do céu, e que a esmola que me atiram, humilhados e humilhantes, me serve para alguma coisa. - Idiotas! Imbecis! Criminosos! Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista. [email protected] TERRA BRASILIS Por Anna Maria Ribeiro Costa ESTREANDO O nome Terra Brasilis é inspirado em um mapa de 1519 elaborado pelos cartógrafos portugueses Pedro e Jorge Reinel. Oferece detalhes preciosos do litoral brasileiro, do Amazonas ao Rio da Prata. Traz estampados indígenas no árduo trabalho da extração do pau- brasil, em ilustrações do miniaturista Antonio Holanda. O nome desta coluna, além dos índios, também pretende homenagear Antônio Carlos Jobim que nomeou “Terra Brasilis” a um de seus álbuns, lançado em 1980. Nessa época, especialmente, Tom Jobim levou para suas composições musicais elementos enaltecedores da cultura brasileira, assim como fez o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos, nas composições que incorporaram uma linguagem popular, folclórica, indígena e com sons da fauna brasileira. Em 2004, no álbum “Zum Zum”, Paulo Ricardo canta “Terra Brasilis”, que pode ser ouvida como uma versão pós-moderna de “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, quando em tom otimista profere: “nós temos a palavra mágica, eu juro. E a chave pra abrir as portas do futuro”... Terra Brasilis. Terra Brasilis chega com vontade de divulgar os diversos aspectos da vida dos povos indígenas, especialmente dos que atualmente vivem em Mato Grosso, um estado com 42 etnias, falantes de línguas e culturas diferentes. Nas palavras do saudoso Darcy Ribeiro, os indígenas constituem uma das matrizes responsáveis pela formação do povo brasileiro e que deu sentido ao Brasil. Neste espaço, imagino uma rica oportunidade de dar vozes às gentes de raiz brasileira e que forjaram a identidade do país, construída pela história de todos os que aqui chegaram e estão chegando... A diversidade das culturas não nos impede de considerar, valorizar, identificar e dialogar com o outro. Nesse sentido, convido a todos a olhar para a diversidade cultural e ter o privilégio de enxergar as inúmeras cores do mundo, as inúmeras cores da Terra Brasilis.

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Page 1: A POESIA DE LOBIVAR MATOS - Jornal Circuito Mato Grossocircuitomt.com.br/flip/392/files/assets/downloads/page...INCLUSÃO LITERÁRIA Por Clovis Mattos A POESIA DE LOBIVAR MATOS Lobivar

CIRCUITOMATOGROSSO

CUIABÁ, 24 A 30 DE MAIO DE 2012CULTURA EM CIRCUITO PG 6www.circuitomt.com.br

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A POESIA DE LOBIVAR MATOS

Lobivar Barros de Mattos,(Corumbá, 12 de Janeiro de 1915 - 27 deOutubro - Rio de Janeiro, 1947), marcou sua

vida artística pela simplificação daassinatura Lobivar Matos.

Atuou como jornalistana antiga capital do país,além de colaborar com aimprensa de Cuiabá,Corumbá e CampoGrande. Foi aindafuncionário público, poeta ecrítico literário. É patrono dacadeira 24 daAcademia Sul-Mato-Grossense de Letras eocupou a cadeira 26da AcademiaCorumbaense de Letras,cujo patrono é seu tio Osório Gomes deBarros. Sofria de úlcera e tentando selivrar dela foi para a mesa de cirurgia. Aduras penas, com a saúde já combalida,convalescia em hospital no Rio deJaneiro. Era 27 de outubro de 1947,quando o poeta faleceu. Faltava menosde três meses para completar 33anos.(http://www.ufgd.edu.br/

~pnolasco/lobivar.htm) ObrasAreôtorare – poemas bororos –

1935 – Rio de Janeiro.Sarobá– poemas – 1936 – Rio

de Janeiro. Minha Livraria Editora,1936.

NATUREZA MORTAOs trilhos velhos estão sendo trocados

por trilhos novos.E os bondes enfileiradosandam devagar.Os passageiros estão inquietos.Alguns não se conformame descem apressados,

praguejando.Outros procuram distraçãonas entrelinhas dos jornais.Meus olhos grudaram nos gestos fortesdos homens feios,e eu, intimamente, justifico,achei natural o atraso dos bondese a troca dos trilhos velhos...

ESMOLA É verdade – me disse o moço sujo daesquina –quando menino, toda vez que tropeçavae caíasempre encontrava alguém para melevantar. - Levanta, batuta, para cair outra vez! Agora, que sou farrapo de homem,que queria ser homem,que já tropecei por este mundo a fora,que já cansei de ficar no chão,não encontro ninguém que me tire dasarjeta.Pelo contrario, parece, ninguém me querver de pé.Passam e jogam níqueis no meu chapéufurado.Esses idiotas pensam que me fazem bem,que pagam uma prestação do céu,e que a esmola que me atiram,humilhados e humilhantes,me serve para alguma coisa. - Idiotas! Imbecis! Criminosos!

Anna é doutora em

História, etnógrafa e filatelista.

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O nome Terra Brasilis é inspirado emum mapa de 1519 elaborado peloscartógrafos portugueses Pedro e Jorge

Reinel. Oferece detalhes preciosos dolitoral brasileiro, do Amazonas ao Rio daPrata. Traz estampados indígenas noárduo trabalho da extração do pau-brasil, em ilustrações do miniaturistaAntonio Holanda. O nome desta coluna,além dos índios, também pretendehomenagear Antônio Carlos Jobim quenomeou “Terra Brasilis” a um de seusálbuns, lançado em 1980. Nessa época,especialmente, Tom Jobim levou parasuas composições musicais elementosenaltecedores da cultura brasileira, assimcomo fez o maestro e compositor HeitorVilla-Lobos, nas composições queincorporaram uma linguagem popular,folclórica, indígena e com sons da faunabrasileira. Em 2004, no álbum “ZumZum”, Paulo Ricardo canta “Terra Brasilis”,que pode ser ouvida como uma versãopós-moderna de “Canção do Exílio”, deGonçalves Dias, quando em tom otimistaprofere: “nós temos a palavra mágica, eu

juro. E a chave pra abrir as portas dofuturo”... Terra Brasilis.

Terra Brasilis chega com vontade dedivulgar os diversos aspectos da vida dospovos indígenas, especialmente dos que

atualmente vivem em Mato Grosso, umestado com 42 etnias, falantes de línguase culturas diferentes. Nas palavras dosaudoso Darcy Ribeiro, os indígenasconstituem uma das matrizes responsáveis

pela formação do povobrasileiro e que deu sentido aoBrasil. Neste espaço, imaginouma rica oportunidade de darvozes às gentes de raiz brasileirae que forjaram a identidade dopaís, construída pela história detodos os que aqui chegaram eestão chegando...

A diversidade das culturasnão nos impede de considerar,valorizar, identificar e dialogarcom o outro. Nesse sentido,convido a todos a olhar para adiversidade cultural e ter oprivilégio de enxergar asinúmeras cores do mundo, asinúmeras cores da Terra Brasilis.