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A pístis socrática de Platão: a estrutura dramática dos diálogos platônicos Rafael Virgilio de Carvalho 1 Introdução No Mundo Grego Antigo, a palavra pístis fazia referência à “confiança” ou “fidelidade” que se podia dedicar a alguém, significando também a “crença” na existência de algo. Era um elemento essencial para a comunicação na polis na medida em que dizia respeito ao suporte e à credibilidade da fala proferida pelo cidadão. No campo filosófico, mais precisamente, referia-se à devoção de um discípulo para com seu mestre ou à confiança de que este conhecia a verdade. A pístis reforçava, assim, a decisão e a deliberação do jovem em seguir os ensinamentos de um filósofo já consagrado pela sophrosýne (sabedoria), tomando suas palavras como verdadeiras e sua filosofia como realidade por meio da qual a natureza se tornava inteligível (BENTES, 2011, p. 57). Provavelmente, foi com Parmênides que a pístis passou a ser empregada no campo filosófico. Associado à verdade (alétheia), o termo aparece no seu poema Da Natureza (v. 1- 30 apud SEXTO EMPÍRICO, VII, 111) como um conceito importante visto que valida e torna verossímil a fala da deusa, que o usa para revelar duas vias mutuamente excludentes – a verdade e a opinião (doxa). Nessa esteira, Platão (República, VI, 505) a entendia como confiança depositada na percepção do sensível, como se fosse uma opinião acreditada sem verificação, passivamente aceita pelo testemunho dos sentidos, dos hábitos e costumes provenientes da educação vulgar. Essencialmente, a pístis era estabelecida pela 1 Doutorando em História e Sociedade pela UNESP. Pesquisador do Núcleo de Estudos Antigos e Medievais (NEAM) da UNESP. Projeto de pesquisa, A pístis de Platão, orientado pela Dra. Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi, UNESP.

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A pístis socrática de Platão:

a estrutura dramática dos diálogos platônicos

Rafael Virgilio de Carvalho1

Introdução

No Mundo Grego Antigo, a palavra pístis fazia referência à “confiança” ou

“fidelidade” que se podia dedicar a alguém, significando também a “crença” na existência de

algo. Era um elemento essencial para a comunicação na polis na medida em que dizia

respeito ao suporte e à credibilidade da fala proferida pelo cidadão. No campo filosófico,

mais precisamente, referia-se à devoção de um discípulo para com seu mestre ou à

confiança de que este conhecia a verdade. A pístis reforçava, assim, a decisão e a

deliberação do jovem em seguir os ensinamentos de um filósofo já consagrado pela

sophrosýne (sabedoria), tomando suas palavras como verdadeiras e sua filosofia como

realidade por meio da qual a natureza se tornava inteligível (BENTES, 2011, p. 57).

Provavelmente, foi com Parmênides que a pístis passou a ser empregada no campo

filosófico. Associado à verdade (alétheia), o termo aparece no seu poema Da Natureza (v. 1-

30 apud SEXTO EMPÍRICO, VII, 111) como um conceito importante visto que valida e torna

verossímil a fala da deusa, que o usa para revelar duas vias mutuamente excludentes – a

verdade e a opinião (doxa). Nessa esteira, Platão (República, VI, 505) a entendia como

confiança depositada na percepção do sensível, como se fosse uma opinião acreditada sem

verificação, passivamente aceita pelo testemunho dos sentidos, dos hábitos e costumes

provenientes da educação vulgar. Essencialmente, a pístis era estabelecida pela

1 Doutorando em História e Sociedade pela UNESP. Pesquisador do Núcleo de Estudos Antigos e Medievais (NEAM) da UNESP. Projeto de pesquisa, A pístis de Platão, orientado pela Dra. Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi, UNESP.

comunicação entre um mestre e seu discípulo, cuja relação construía o espaço discursivo da

crença filosófica. À medida que o jovem convivia com um filósofo, ouvindo o pensamento

que este professava, criava-se entre eles um “dispositivo de confiança” que levava o

primeiro a acreditar na fala do segundo. Tal dispositivo era responsável pelo

estabelecimento de um campo da verdade (alétheia) que amparava todo e qualquer

discurso filosófico. Para os gregos antigos, alétheia era uma instância geradora do ser

concebida ora como transcendente, ora como imanente à natureza das coisas. Fosse como

potência divina ou como desvelamento da realidade, no século V a. C., tal ideia balizou o

debate socrático com os sofistas através do qual foram polarizados os significados de pístis e

peithó (persuasão).

Em síntese, a pístis pode ser concebida como “dispositivo” pelo qual a ligação entre

mestre e discípulo era efetivada e, concomitantemente, como “conjunto de disposições” do

habitus filosófico interiorizadas pelo jovem durante os processos comunicativos que

caracterizavam os diálogos entre ambos. Dessa forma, não importava qual a conceituação

dada ao termo, certamente, todos os filósofos estiveram à mercê de um dispositivo e

interiorizaram disposições através desse mecanismo de comunicação peculiar ao campo

filosófico. Com Platão isto não foi diferente.

Problemática

Entretanto, sendo a pístis marca da afetividade vivida pelo discípulo junto a um

mestre, como é possível percebê-la na atualidade? Tal problema direciona a perspectiva de

análise para o sujeito e, tratando-se da pístis platônica, a pergunta que surge é: onde está

Platão em seus diálogos? Pois, antes de qualquer atividade interpretativa, o historiador

precisa observar o sujeito à mercê de determinado dispositivo e que possui certas

disposições em seu habitus para, posteriormente, vislumbrar a expressão da pístis nas fontes

históricas.

Para tanto, tem-se que conceber os diálogos em sua própria materialidade e assumir

que são obras dramáticas que veiculam conteúdo filosófico. Fazer isso é não fechar os olhos

para o aprendizado poético adquirido por Platão em sua juventude, antes mesmo que

começasse a ouvir as conversas de Sócrates na Atenas do século V a. C.. De fato, não se deve

ler os diálogos abstraindo sua semântica, em prol de uma sistematização do pensamento

platônico que não condiz com a realidade material de seus enunciados, e sem levar em

consideração a dramaticidade estipulada por sua estrutura sintática.

Objetivo

Analisar os elementos narrativos, principalmente as representações de Sócrates, que

compõem as narrativas dos diálogos Parmênides, Sofista, Político, Apologia, Críton e Fédon.

Metodologia

Para tatear Platão por meio da leitura de seus diálogos é necessário lê-los como

produto discursivo de um ato material da fala. Isso quer dizer que é factível projetar sua

autoria, ou seja, a enunciação pelo qual os diálogos foram compostos, na medida em que a

estrutura semântica da filosofia platônica for entendida como resultado de uma elaboração

progressiva e humana do pensar de um sujeito e a estrutura dramática de sua obra for

concebida como escolha da expressividade de sua fala.

Assim, só é possível perceber Platão, enquanto sujeito, a partir das escolhas que ele

fez durante os momentos de composição dos enunciados de sua obra. Tal pressuposto

acredita que os elementos dramáticos dos diálogos também geram significados e alteram os

sentidos inerentes à filosofia platônica. Por isso, somente uma análise mais ampla, que não

se limite exclusivamente ao conteúdo filosófico, é capaz de fornecer ao historiador novas

informações para a construção do conhecimento histórico sobre a biografia de Platão. Nessa

direção, a solução proposta para a questão inicial assume a função de perceber o sujeito que

apresenta a pístis, também, como um conjunto de disposições de seu habitus, através do

qual imprimiu nas fontes elementos que hoje ainda podem ser resgatados pela

historiografia.

O estudo da pístis platônica pressupõe que o Platonismo é fruto do desenvolvimento

de um pensamento, ou melhor, que Platão elaborou e reelaborou progressivamente sua

filosofia durante o percurso de sua vida. Partindo disso, surgem as seguintes hipóteses: que,

no início de sua maturidade filosófica, Platão rompeu com o pensamento de seu mestre,

Sócrates, para aderir às ideias e questionamentos pitagóricos e parmenídicos; e que, no final

deste mesmo período reflexivo, o filósofo retornou ao Socratismo readaptando a moral

socrática para balizar o seu pensamento eminentemente ético.

As hipóteses, na verdade, oferecem uma provável ordem ao discurso platônico e

estabelecem uma sequência lógica para os diálogos de modo a nortear a interpretação de

seus enunciados. Os dois momentos que as hipóteses sugerem para maturação da filosofia

platônica são estabelecidos por dois agrupamentos textuais que fundamentam a leitura das

fontes. O primeiro é composto pelos diálogos Parmênides, Sofista e Político, e estruturam o

momento inicial da reflexão filosófica de Platão, quando ele se afasta do pensamento de seu

mestre para entrar em contato, mais substancialmente, com o Pitagorismo e com o

Eleatismo. O segundo grupo inclui os diálogos Apologia, Críton e Fédon, e representa o

momento final da reflexão filosófica da maturidade de Platão. É importante frisar que a

definição de ambos os conjuntos não é arbitrária, pois obedece a critérios estilométricos,

filosóficos e dramáticos, e que as relações textuais e intertextuais entre seus enunciados

depreendem das articulações indicadas pelo próprio Platão durante a enunciação de sua

obra.

No entanto, qual é o nexo que leva a crer que esses agrupamentos textuais fazem

alusão a dois momentos do pensar platônico e, propriamente, remetem às circunstâncias de

composição dos diálogos? O raciocínio que responde a essa demanda parte de alguns

indícios que o presente trabalho busca averiguar. O critério inicial que tenta estabelecer uma

ordem ao discurso de Platão remete aos clássicos estudos estilométricos das fontes

platônicas. Trabalhos como os de Campbell, Arnim, Ritter, Simeterre e Lutoslawski,

procuraram delimitar o parentesco estilístico dos inúmeros diálogos com base na

semelhança entre a métrica de seus enunciados. Tais análises consideravam que o grau de

similaridade entre as escritas dos textos platônicos permitia confirmar se a autoria era

mesma de Platão e determinar a proximidade entre as suas composições.

A intensão da estilometria era estipular a datação dos diálogos, havendo consenso

entre os estudiosos de que a conformidade de estilo remetia a certo período de enunciação

das obras. Por conseguinte, dois principais conjuntos foram diferenciados e, cada qual,

organizados internamente com base na sistematização do conteúdo filosófico específico de

seus textos. Desse modo, uma ordenação cronológica pôde ser projetada mesmo com

muitas lacunas, apesar dos rigorosos recursos tomados da Linguística e da tradição da

exegese platônica. Diga-se de passagem, tais lacunas vêm ao encontro do pressuposto que

compreende o pensamento platônico como um contínuo processo de construção e

reconstrução filosófica.

O mais significativo é que a articulação entre os dois agrupamentos textuais fica a

cargo do Parmênides, cuja composição é a mais recente do primeiro período de enunciação,

e do Sofista e Político, simultaneamente os mais antigos diálogos do período subsequente.

Logo, foram os seus enunciados que materializaram a grande transição do pensamento de

Platão, ocasião em que houve o abandono do Socratismo e a constituição do arcabouço da

ontologia platônica. Tal indício, aliás, ganha força à medida que surgem diversas referências

ao Parmênides nos textos do Sofista e do Político durante a realização das leituras destes

três diálogos.

Filosoficamente, no Parmênides Platão coloca à prova a sua chamada “teoria das

ideias” por meio do método da não contradição de Zenão de Eleia, principal discípulo de

Parmênides e um dos personagens do diálogo, e da crítica à ideia de “participação”

(koinonías) como “algo em si”. Em seguida, no Sofista há a reelaboração da teoria das ideias

assentada no questionamento da separação radical entre o “ser” (onti/einai) e o “não ser”

(mè òn), como afirmava o personagem Parmênides no diálogo que leva o seu nome. Tal

problematização tem em seu âmago a defesa da ideia da participação fundamental do não

ser no ser, o que possibilitaria inclusive a efetivação do próprio método eleático da não

contradição, além de comprovar a existência do falso e da verdade.

As relações entre o Parmênides e o Sofista são extremamente profundas, porquanto

os temas interrogados por Platão no primeiro diálogo são desenvolvidos no segundo. Em

nenhum outro diálogo ocorre tanta intertextualidade quanto no Sofista, visto que em

diversas passagens há menções explícitas ao Parmênides2. No Sofista, Platão procura dar

suporte a sua nascente filosofia criando uma ontologia singular ao defender a existência em

si das ideias, isto é, ao conceber os “nomes” (onoma) enquanto “arquétipos inteligíveis”

(eidon) dos entes do mundo. Nessa trajetória, o Político deu continuidade à ontologia

platônica esboçando uma teleologia política para o pensamento de Platão. Sua teoria sobre

o ser prenuncia o discernimento da natureza do filósofo, o qual aspira ao governo da pólis

mediante o conhecimento da realidade inteligível. Ele, então, aprimora o método dialético

retomando a matemática pitagórica já desenvolvida no Sofista e o subordina a um fim no

qual a dialética passa a ser premissa para o conhecimento da verdade pelo filósofo, além da

realização da justiça na pólis.

O terceiro critério, que corrobora a organização textual do primeiro momento

reflexivo da filosofia platônica, alega que as estruturas dramáticas do Parmênides, do Sofista

e do Político, evidenciam a ruptura de Platão com o pensamento de seu mestre. Mais

precisamente, é a figuração de Sócrates nesses três diálogos que confirma tal tese, posto

que no primeiro texto o personagem é o interlocutor secundário em uma discussão

conduzida pelo mestre de Eleia. Além disso, como confirma a citação acima, Sócrates é

representado como um jovem proferindo um pensamento ainda imaturo e que o faz recair

2 Cf. ex.: PLATÃO, Sofista, 217c.

em constantes contradições graças à astúcia argumentativa de Parmênides, retratado como

um ancião no auge de sua sabedoria.

Discussão dos resultados (parciais)

Na estrutura dramática dos diálogos, os personagens platônicos têm a função de

articular as ideias apropriadas por seu autor junto às diferentes escolas filosóficas gregas.

Lembrando também que quase todos eles estavam imersos na conjuntura política e

filosófica do mundo grego durante os séculos V e IV a. C.. Dessa forma, a figuração dos

personagens mobilizava significados pré-definidos pelo contexto histórico e, somada às

características fixadas pela construção cenográfica do drama, funcionava como mecanismo

de valorização ou desvalorização dos conteúdos filosóficos veiculados pelas falas nos

diálogos.

Dessarte, não é apenas a figuração de Sócrates no Parmênides que indica a

desvalorização do pensamento socrático por Platão, mas o seu papel coadjuvante tanto no

Sofista quanto no Político. Em ambos, depois de introduzir as temáticas dos diálogos,

Sócrates acaba deixando o protagonismo da discussão para o Estrangeiro de Eleia, cujo

personagem é o responsável pela incorporação de ideias pitagóricas e eleáticas na filosofia

platônica. Outro elemento importante, e que ampara esse mecanismo, é o prolongamento

da cena dramática do Sofista ao Político. Estes dois diálogos se passam em um mesmo

cenário, no qual Platão estrutura simultaneamente a valorização do Estrangeiro e a

desvalorização de seu próprio mestre.

O Sofista ocorre um dia após o cenário do Teeteto e, logo em seu início, o

matemático Teodoro apresenta a Sócrates o Estrangeiro de Eleia como sendo um “homem

verdadeiramente divino” (PLATÃO, 216c), trecho a partir do qual o conteúdo filosófico

veiculado por este personagem começa a ser valorizado. Similarmente, no começo do

Político, Sócrates utiliza a sua última fala para sugerir ao Estrangeiro que dialogue com um

dos jovens ali presentes e, deste modo, evita questionar o seu pensamento como fazia com

todos que interpelava. O fato de Sócrates não empregar sua maiêutica significa que a

filosofia do Estrangeiro está de acordo com a verdade, ou seja, ele é “um verdadeiro

filósofo” (PLATÃO, Sofista, 216a). Por isso, o Estrangeiro de Eleia não precisaria reconhecer

que “nada sabe” uma vez que ele “realmente sabe”3.

Não é somente no Político que Sócrates se esquiva à discussão, pois no Sofista ele fez

a mesma sugestão ao Estrangeiro de Eleia4. Tal como fizera no Parmênides, quando Sócrates

foi representando como um jovem imaturo frente ao experiente sábio de Eleia, Platão

continuou desvalorizando o pensamento socrático por meio do mesmo mecanismo literário.

A construção do drama no Sofista e no Político novamente estabelece essa comparação ao

parametrizar os dois jovens interrogados pelo Estrangeiro com a figura de Sócrates.

Enquanto Teeteto encarna sua aparência física e argúcia, o jovem Sócrates é o homônimo do

velho Sócrates. O mais interessante é que os parâmetros escolhidos para efetivar tal

correlação estão estreitamente ligados à ontologia platônica, já que, nela, ele discorre sobre

a produção dos entes e de suas “cópias” (eidolon) até chegar à temática da mímesis, isto é,

da “arte de imitar”. Com esse viés, pode-se admitir que os personagens Teeteto e o jovem

Sócrates são maneiras diferentes de representar o mestre de Platão ainda em sua juventude

e com simultaneidade em uma só cena dramática.

Não é a hora de tratar em pormenores a transrepresentação de Sócrates nos jovens

Teeteto e Sócrates. Entretanto, se for levado em consideração os temas discorridos no

Sofista – no que tange a conceitos como “aparência” (fantasma), “cópia”, “imagem” (eidos),

“semelhança” (eikóna) e imitação, além da própria noção de “figura” (skhema) – tornar-se

claro que a ontologia platônica é o que dá sustentação às figurações desses personagens.

Permitindo, desse jeito, que o mecanismo que qualificava como imaturo o pensamento

socrático, impresso no Parmênides, continuasse a ser usado tanto no Sofista quanto no

Político.

Não se pode menosprezar a engenhosidade e a genialidade poético-filosófica de

Platão, pois, mediante tais levantamentos acerca da estrutura dramática dos diálogos e sua 3 Cf. ex.: PLATÃO, Político, 257d-258a. 4 Cf.: PLATÃO, Sofista, 217d.

relação com o conteúdo filosófico, fica evidente a deliberação na enunciação de sua

filosofia. A preocupação com a estética do drama era muito recorrente nas obras platônicas

e não ficou restrita ao Sofista. Ele sabia que era necessário muito cuidado para expressar o

seu pensamento, que transcendia as palavras de seu texto e o conteúdo a que elas

remetiam, já que a essência do amor pela sabedoria (philosofía) estava na “prolongada

relação entre mestre e discípulo” (PLATÃO, Carta VII, 341a).

No segundo momento da reflexão filosófica de Platão subjaz um problema que

aparentemente põe em xeque as análises estilométricas e a composição dramática

intertextual da Apologia, do Críton e do Fédon. Estas três obras apresentam estilos textuais

diversos e métricas com padrões bem diferentes umas das outras. Porém, suas cenas

dramáticas mantêm uma continuidade nos acontecimentos que compõem as cenografias

dos diálogos. Com tal descompasso, qual critério seguir para que seja esclarecida a

enunciação filosófica de Platão? Será que é impossível levar em consideração a estilometria

e a dramaticidade, nesse caso, por serem tão díspares? Conquanto, o caminho traçado é

exatamente o de confrontar ambos os critérios, aparentemente incompatíveis, para então

projetar uma ordem ao discurso platônico.

Na Poética, Aristóteles (1447b) afirma que os “Diálogos Socráticos” (Sokratikoùs

lógous) eram um reconhecido gênero literário em sua época. Tal gênero, obviamente,

irrompeu em Atenas após a morte de Sócrates, no ano de 399 a. C., quando seus discípulos

começaram um processo literário de reconstrução das memórias e do pensamento do

mestre. Apesar dos diálogos socráticos abordarem, de modo geral, temáticas morais e

filosóficas, sua origem está ligada, exclusivamente, ao retrato apologético de Sócrates diante

do júri ateniense. Dentre os adeptos do gênero estavam Xenofonte, Antístenes, Ésquines,

Aristipo de Cirene, Fédon de Élis, Euclides de Mêgara e, é claro, Platão, todos discípulos

diretos de Sócrates.

Ana Elias Pinheiro (2009, p. 34) menciona que a maior parte desses diálogos foi

escrito pelo círculo socrático durante os anos 90 e 80 do século IV a. C., sendo que as

primeiras composições eram apologias de Sócrates. Um desses textos que ainda pode ser

lido, na Apologia, onde Xenofonte esclarece que outras pessoas já haviam relatado o

episódio do julgamento de Sócrates, no qual certamente estava Platão5. A Apologia

platônica deve, muito provavelmente, ter contado por entre as obras que originaram o

gênero e, levando em consideração as suas características estruturais no que concerne aos

outros diálogos platônicos, ela pode ter sido o primeiro texto em prosa escrito pelo filósofo.

De modo geral, as análises estilométricas colocam a Apologia junto com um primeiro

conjunto de textos platônicos, denominados, em referência ao gênero em questão, de

diálogos socráticos. Os preceitos que levam os estudiosos a enquadrá-los nesse conjunto são

o caráter aporético e a prevalência do método maiêutico de exposição da temática. A

criação poética grega fundava-se na imitação, e como esses preceitos eram os fundamentos

da filosofia socrática, ambos acabaram determinando a estrutura central do gênero. Os

diálogos visavam representar as discussões de Sócrates nos ambientes públicos de Atenas,

sendo configurados por um protagonista, através do qual o tronco discursivo era expresso, e

ao menos um antagonista, que direcionava a construção discursiva do texto. Dessa forma, o

conteúdo filosófico poderia ser impresso no diálogo tendo em vista a teoria literária da

época (mímesis), todavia, sem desconsiderar a subjetividade do autor que imprimia certo

sentido a sua obra.

Assim, o problema inicial emerge à medida que essas características são procuradas

na Apologia, no Críton e no Fédon. Na Apologia, contudo, observa-se uma ainda incipiente

configuração dialógica, visto que seu protagonista, Sócrates, dialoga com um antagonista

(Meleto) somente em um pequeno trecho do texto quando o questiona sobre o ateísmo e a

corrupção de que é acusado. O Críton, por sua vez, apresenta todos os elementos que o

tornam genuinamente socrático, pois, seu drama inicia-se com a figuração dos personagens

e com a fixação do protagonista e do antagonista que mantêm todo o diálogo e que

desenvolvem a temática sem chegar a uma definição, no caso, sobre o que é o “justo”

(dikaíon). O Fédon, por fim, é a obra prima dramática de Platão na medida em que

5 Cf.: XENOFONTE, Apologia, 1.

harmoniza plasticamente sua estrutura dialógica com a exposição da “teoria das ideias”. Não

obstante, sua trama filosófica, que incorpora ao texto ideias pitagóricas e órficas com

sutileza e profundidade, elabora detalhadamente todas as definições presentes na ontologia

platônica, descaracterizando o desenlace aporético que marca os diálogos socráticos.

A suspeita de que a Apologia seja o primeiro diálogo escrito por Platão, durante a

primeira década do século IV a. C., quando ele contava com cerca de trinta e poucos anos,

recai sobre a instabilidade de um texto que reflete um gênero ainda em formação. Esta obra

é praticamente um monólogo no qual a estrutura dialógica propriamente dita compreende

apenas um curto percurso textual, no qual há dezoito falas em que um fugaz antagonista

participa do diálogo. Além disso, nela, Platão não prima pelo conteúdo filosófico, limitando-

se a expor os argumentos pelos quais Sócrates se defende da acusação de Meleto, tangendo

unicamente a máxima délfica pregada pelo mestre (“conhece-te a ti mesmo”) e a suposição

socrática da retribuição divina pelo exercício da virtude na polis.

No Fédon, a exposição filosófica sobre a natureza da alma (psykhé) e sobre a teoria

das ideias se faz com uma incontestável desenvoltura, muito mais complexa e explícita que

em qualquer outro diálogo. A configuração do drama começa pelo perfeito ajustamento da

temática filosófica à cenografia do diálogo. A descrição da prisão na qual Sócrates passa seus

últimos momentos de vida é correlacionada à visão platônica sobre o corpo (somá) e

culmina com um desenvolvimento dialógico pelo qual é pregada a liberdade da alma depois

a morte, mediante uma vida dedicada à filosofia. O cenário e a figuração dos personagens

são, assim, detalhadamente construídos por um Platão que, na altura de seus sessenta anos

de idade, parece se preocupar muito mais com a construção poética de seus diálogos.

No entanto, há um longo período de desenvolvimento filosófico entre as ideias que

são expostas nesses dois diálogos. Na Apologia, Sócrates demonstra uma incerteza sobre o

destino de sua alma após a morte6, enquanto que, no Fédon, Sócrates defende com

6 Cf.: PLATÃO, Apologia, 40c-41a.

veemência a imortalidade da alma7. Nessa obra, Platão transpõe o Pitagorismo, que marcava

seu pensamento desde o Sofista, por meio da descrição órfica da alma e do mito

escatológico sobre a imortalidade. A metempsicose e a identificação da alma com a Ideia são

os elementos pelos quais o filósofo coroa sua ética e finaliza a elaboração teleológica de seu

pensamento. A distância filosófica entre a Apologia e o Fédon é mais do que patente, porém,

esse longo percurso aparece atrofiado quando é levada em conta a continuidade do drama

entre ambos os diálogos. Nessa direção é que o Críton pode ser encarado como mediação de

um para com o outro diálogo, posto que seu drama está situado depois a condenação de

Sócrates e antes de sua morte propriamente dita, já na prisão de Atenas.

O descompasso entre a estrutura dramática e o conteúdo filosófico desses três

diálogos pode indicar, então, uma adequação do primeiro diálogo, concebido como a

primeira composição filosófica de Platão, ao segundo, obra que direciona a ética platônica a

partir da reelaboração ontológica de seu pensamento. Com o Críton, Platão procurou

ressignificar a morte de Sócrates através de um ponto de vista político, questionando os

motivos que o impediu de se exilar de Atenas. Entretanto, antes de falar sobre o dever cívico

de se respeitar o governo e as leis, Platão (Críton, 43c-44b) introduz o diálogo com a notícia

da chegada de um navio vindo de Delos e com a exposição socrática de um sonho com uma

mulher misteriosa, os quais prenunciavam a morte de Sócrates ao final de três dias. Tanto a

notícia quanto o sonho fazem referência à execução da pena socrática, e surgem novamente

logo no início do Fédon (PLATÃO, 58a-c) como elementos conectivos entre ambos os

diálogos. Além disso, neste diálogo, a cenografia da Apologia é resgatada e, por

consequência, a figuração de Sócrates é retomada como corolário.

A ressignificação da morte de Sócrates, iniciada no Críton, tem o seu sentido

finalizado com a grande mensagem moral do Fédon – de que uma vida dedicada à filosofia é

uma vida de preparo para morte. Desse modo, o arcabouço dramático construído pela

sequência dessas três obras acaba criando uma trama que vincula um diálogo ao outro sob

os moldes das trilogias trágicas. Sob esse viés, o Críton assume o papel de resgatar a altivez

7 Cf.: PLATÃO, Fédon, 79e-81a.

do personagem de Sócrates, com toda a paixão com que Platão o representou na Apologia,

para, no Fédon, transformá-lo em um herói que corajosamente encara as consequências de

suas ações, de uma vida dedicada ao cultivo da alma, e aceita a implacabilidade de seu

destino, a morte (thanátou).

O contexto dramático da morte de Sócrates é o ensejo que possibilita a crítica ao

principal ponto de divergência entre o pensamento platônico e a filosofia pitagórica: o

materialismo. No Fédon, Platão (91d-95a) desqualifica a matemática pitagórica, criticando a

concepção de alma entendida como harmonia de um corpo, para modificar o sentido da

tradicional ideia pitagórica de metempsicose, que passaria a validar a noção platônica de

reminiscência (anáminesis). Mais precisamente, o que Platão quer defender é a imortalidade

da alma e a retribuição divina por uma vida dedicada à filosofia, as quais podem ser

alcançadas apenas com o exercício da dialética. E, para isso, nada melhor do que a coragem

com que seu mestre enfrentou a morte mediante a hipótese, transformada em certeza, de

que a alma continua sua existência extracorpórea em alguma região do Hades.

Assim, como ocorreu no primeiro momento de reflexão da maturidade filosófica de

Platão, a figuração do personagem Sócrates aparece mais uma vez no centro da

dramaticidade dos diálogos. Semelhantemente ao que fez no Parmênides, no Sofista e no

Político, quando utilizou mecanismos de desvalorização do Socratismo, Platão agora valoriza

a impavidez socrática diante da morte e, no Fédon, transforma a figura de Sócrates em uma

espécie de Orfeu, cuja aptidão filosófica o leva a penetrar no mundo dos mortos. Seus

antagonistas, Cebes e Símias, são dois jovens filósofos pitagóricos da cidade de Tebas que

relutam em compreender a mensagem transmitida por Sócrates. Tal figuração é

estabelecida antes mesmo de começar a discussão sobre a temática do diálogo, quando, em

um primeiro momento, Sócrates ironiza os ensinamentos ministrados pelo pitagórico Filolau

de Crotona aos dois jovens (PLATÃO, Fédon, 61e) e, em seguida, afirma que tentará se

defender dos questionamentos de ambos como se estivesse novamente diante do júri

ateniense (ibidem, 63b). O arcabouço dramático montado por Platão, dessa maneira, indica

a difícil tarefa de dar outras tonalidades ao Pitagorismo que tanto o influenciou depois da

morte de seu mestre.

Nesse sentido, os elementos que envolvem as figurações do protagonista e dos

antagonistas pitagóricos do Fédon criam um cenário que conduz todo o diálogo, o qual

culmina na oposição entre o comportamento de Sócrates e o de seus amigos e discípulos

que estavam presentes em seu último suspiro na prisão de Atenas. Enquanto o primeiro

adentrava ao Hades sem esboçar qualquer temor, os demais, incluindo Símias e Cebes, não

conseguiam conter as lágrimas e se descontrolavam à medida que o corpo de Sócrates se

anestesiava com o efeito do veneno. Toda a cenografia do Fédon, portanto, influi na

problemática filosófica proposta por Platão de modo a valorizar a postura filosófica de seu

estimado mestre. Sua figuração, nesse caso, vai muito além do recurso literário que

possibilita a crítica ao Pitagorismo, configura-se como elemento de fruição da estrutura

dramática conjunta da Apologia, do Críton e do Fédon, sob o qual repousa toda a expressão

da ética platônica e mobiliza uma moral denominada socrática, que é anterior mesmo à

composição do primeiro diálogo de Platão e que fora transmitida a ele por Sócrates ainda

em sua juventude.

Considerações finais

Analisar os diálogos platônicos é enxergar a imagem de Platão por ele mesmo

projetada. Nessa perspectiva, a figuração do personagem de seu mestre, Sócrates, tanto na

primeira trilogia quanto na segunda, pode crivelmente ser compreendida como uma

projeção de si e, por extensão, de sua pístis. Platão pensava que a pístis não podia ser

expressa através da escrita, a não ser pela comunicação direta de um mestre para com seu

discípulo. Todavia, a própria estrutura textual que escolheu para registrar sua filosofia

possuía a marca dessa comunicação afetiva, isto é, representava o “produto da prolongada

aplicação conjunta entre mestre e discípulo”. Foi por esse motivo que o gênero literário em

questão ficou conhecido como “diálogo”, sendo elaborado pelos discípulos de Sócrates para

que a pístis, engendrada a partir das lições proferidas pelo mestre, de alguma maneira, fosse

transmitida à posteridade.

Nessa direção é que as considerações levantadas neste trabalho têm relevância,

mesmo que não sejam frutos de uma análise mais detalhada, pois, isto ultrapassaria a

proposta inicial. Toda a enunciação dos diálogos platônicos parece ter como plano de fundo

a preocupação de expressar a pístis por meio da escrita. Assim, o uso da representação de

Sócrates em sua figura jovial, tanto no Parmênides quanto no Sofista e no Político, como um

mecanismo de desvalorização da filosofia socrática em prol da apropriação das filosofias

pitagórica e eleática, atesta a ruptura de Platão com o seu mestre. Isso pode ser

compreendido como uma impressão negativa de sua pístis na composição de seus textos.

A pístis se constituía como uma íntima e profunda prática de comunicação entre

mestre e discípulo através da qual eram incorporadas as disposições que a produziam e,

sendo sua estrutura cumulativa, acabava operando como um prisma em que as últimas

experiências sobrepunham as disposições mais antigas. Foi esse aspecto da pístis que fez

com que Platão, já beirando a velhice, retomasse a moral filosófica de seu mestre.

Provavelmente, foram as suas decepções com a política que o fizeram resgatar a altivez do

personagem Sócrates que fora representado por ele em seu primeiro diálogo, a Apologia.

A lembrança da morte de Sócrates foi a última e derradeira mensagem para todos os

discípulos que o acompanharam no final de sua vida. Para Platão, a interpretação do

episódio ficaria latente em sua pístis até o momento em que seu pensar o traria a tona como

percepção dos acontecimentos políticos que vivenciou. Aceito isso, a trilogia

Apologia/Críton/Fédon foi finalizada, possivelmente, entre os anos de 366 a. C. e 353 a. C.,

em um período que vai de sua última viagem a Sicília e a composição de sua Carta VII. O

paralelo com o julgamento e a condenação de Sócrates, através do qual Platão interpreta

sua própria história em Siracusa, confirma bem essa perspectiva de que antigas disposições

da pístis permanecem ativas durante longo tempo. Porquanto, também corrobora a

hipótese de que ele retomou o Socratismo de sua juventude para adaptar a moral de seu

mestre à ética que construíra depois da reelaboração ontológica de sua filosofia.

Nessa direção, a cenografia que começa na Apologia, atravessa o Críton e se encerra

ao final do Fédon, acaba remetendo ao padrão pelo qual Platão percebia e interpretava a

política grega. Dessa forma, a construção dramática que influi na problemática filosófica

proposta por Platão, tanto no primeiro quanto no segundo momento reflexivo tratado neste

trabalho, foi talhada sob o impulso de sua própria pístis. A figuração de Sócrates, portanto,

utilizada de diferentes modos como ponto de articulação entre as filosofias incorporadas por

Platão e com funções literárias peculiares a cada diálogo, configura-se como o principal

veículo de expressão da pístis platônica.

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