a pesca é como um jogo, uma questão de sorte

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A pesca é como um jogo, uma questão de sorte, Grande Reportagem

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"A pesca como um jogo, uma questo de sorte"

Por Nuno Ribeiro MargaridoFica no n.6 da rua Praia, na Praia de Mira. aqui que comea a nossa reportagem. No caf/churrasqueira Ninho do Pescador. O nome diz tudo. aqui que, h mais de 50 anos, se juntam antigos e novos pescadores. Um estabelecimento com ar desgastado e com um ambiente tpico da zona. As latas de sumo j possuem o p do tempo e da pouca preocupao. No isso que se bebe aqui. So 10 horas da manh e os copos de vinho j se veem no balco. Branco ou tinto, aqui ningum diz que no ao nctar que apenas lhes custa 10 cntimos. No Ninho do Pescador os ces entram e passeiam por entre das pessoas. "Hoje no h mar!" - ouve-se, como quem diz que hoje ningum vai pescar. porta, sentado numa cadeira, est o Sr. Manuel, barriga saliente e fraco das pernas, agarra-se s suas moletas enquanto troca dois dedos de conversa com dois amigos que passam porta. Queixam-se que a vida j anda mal. A arte xvega j no d dinheiro a ningum e o pouco que d mal d para viver. Torna-se difcil explicar a importncia que a arte xvega, ou a pesca da arte como era conhecida antigamente, teve para o nascer e crescer da Praia de Mira. A histria de uma mistura-se com a histria da outra. Areia at sem mais ver. E rvores, muitas rvores. Foi devido xvega que os primeiros moradores da Praia de Mira comearam a assentar em finais do sc. XIX. Vieram das vrias terras volta. Figueira da Foz, Mira, Carapelhos E por c ficaram, construindo os seus palheiros, fazendo da pesca a sua vida, vivendo num mundo parte. Conta-se que ningum precisava de fechar a porta porque todos confiavam uns nos outros. Impensvel, hoje em dia. Aqui, o nico caminho conhecido o do mar, sendo que o resto so caminhos do acaso. Os habitantes tm o caminho gravado nos ps, como se do prprio destino se tratasse." Joo! Fala aqui com este rapaz. Ele est a fazer um trabalho sobre a arte xvega e tu trabalhas l podes contar-lhe alguma coisa!" - ouo. Joo Milheiro, 36 anos, roupa velha, semblante cansado e mos calejadas e cheias de cortes, frutos do trabalho. Do balco olham para ns ainda desconfiados e reticentes. O pescador senta-se mesa, pergunta o que que quero saber. Explico o que pretendo, em simples palavras. As suficientes para que Joo assuma uma postura saudosista e comece a contar como a sua vida piscatria comeou e as dificuldades que enfrenta atualmente. Nasceu e cresceu na Praia de Mira. A sua histria com a Arte Xvega comeou aos doze anos, idade em que comeou, juntamente com outros amigos, a colher a corda, isto , recolher depois de utilizada. Era um trabalho reservado aos mais novos, conta, e na altura ganhava-se bastante bem, para uma criana que s ia fazer uns biscates. Para alm disso, era uma grande oportunidade de privar com os mais velhos, os marinheiros, os homens que iam ao mar, gente bastante respeitada na vila. Aos catorze anos entrou na Escola de Pesca. Era uma maneira de conseguir fazer a escolaridade obrigatria, davam-lhe equivalncia, e de conseguir "livrar-se" tropa. "Naquela altura que era bom!" - afirma. Tinha subsdio de alimentao, de alojamento e ainda recebia um pequeno ordenado. "Outros tempos", ouve-se do balco.

Agora, agora est tudo a "abalar". A Arte Xvega j no d nada. Segundo Joo Milheiro, "Agora, a contenda (trabalho) s serve para os reformados e para os desempregados ou no Sr. Alberto? Que idade que tem? Ests a ver tem 80 anos e ainda anda para aqui a trabalhar. Mas no o mais velho de todos! H ali outro senhor com 83!". Acaba por confessar que est desempregado e que essa a nica razo de estar ali a dedicar-se a esta antiga atividade de sustento. Mas desengane-se quem pensa que o faz obrigado. Muito pelo contrrio, Joo afirma que gostaria de gostava de viver s e apenas daquilo. o que ele gosta. Mas no d dinheiro diz algum l fora. Confessa que o ano passado ganhou pouco mais de dois mil euros. Foi o primeiro ano em que tal aconteceu, quando nada o fazia prever.

A polcia martima nunca esteve to atenta como no ano passado. essa a verdadeira razo da fraca venda e consequente ameaa Arte Xvega, uma arte de costumes antigos. A atividade piscatria de captura dos peixes mais importantes a nvel comercial tem uma quota, primariamente discutida entre todos os estados membros da Unio Europeia, que deve respeitar. Por outras palavras, existindo uma certa quantidade de peixe no mar, a lei permite que apenas se pesque uma percentagem desse mesmo peixe, no interessa quem o faz e no interessa o local em que essa atividade exercida. Joo queixa-se que h um grande abuso por parte das traineiras de captura em alto mar, capazes de pescar imensas quantidades de peixe. O ano passado a arte xvega comeou no incio do junho e foi obrigada a parar no incio de setembro, algo que os marinheiros no se lembram de alguma vez ter visto. Normalmente comea em abril ou maio, quando o tempo favorvel, e acaba em novembro.Para alm disso, existe outro fator que tem contribudo para o declnio desta arte. Para que se mantenham as quantidades mnimas de peixe no mar, existe um tamanho mnimo para que os peixes sejam certificados para venda, sendo que cada lota obrigada a garantir que todos os peixes postos venda cumprem este requisito. O biqueiro possui um mnimo de 12 cm, a cavala deve ter mais do que 20 cm e o carapau, o forte dos pescadores da Praia de Mira, 15 cm. Este tipo de pesca no permite realizar uma seleo prvia, apenas se podendo perceber tudo o que veio rede aps a recolha das redes. Assim, como alguns dos peixes pescados no cumprem estas exigncias e tendo em conta que estes animais no sobrevivem grande tempo fora de gua, "acaba por se tornar um desperdcio ter de deitar tudo fora. Ainda por cima o peixe vai para a gua j morto e por vezes ainda volta dar costa mais frente. Suja a praia toda Ainda por cima tendo em conta que a praia da Praia de Mira tem bandeira azul... No seria a primeira vez que os banhistas tinham peixe morto a boiar ao p deles." diz Joo, com a sua tia, que chegou entretanto, a anuir veemente. Na Praia de Mira, difcil encontrar quem no seja familiar, mesmo que afastado.Joo Milheiro queixa-se que muitas vezes os pescadores se sentem prejudicados e injustiados por terem de fazer o trabalho todo para o lucro de outrem. No vero passado, conta, chegaram a vender 13 quilogramas de peixe a 1 . Peixe a mais e nenhum stio para o guardar. Mais vale pouco do que nada. Venderam 13 quilogramas de peixe a 1 cada e, breves momentos depois, foram dar com ele a ser vendido, no mercado em frente, a 2,5 por quilo. por isso que, por vezes, vendem aquilo que pescam diretamente aos transeuntes e turistas curiosos que gostam sempre de apreciar o trabalho realizado. Pedem 5 por cada saco de plstico cheio de peixe. S tm de ter cuidado, para no serem vistos pela polcia martima. hora do almoo e o Sr. Joo Milheiro tem de se ir embora. Insiste para que eu volte noutro dia, de manh, para que possa viajar com eles no barco e perceber como realizado todo o trabalho.So seis e vinte da madrugada. A cidade dorme. Toda? No. Os pescadores comeam a sua vida cedo. Daqui a dez minutos esto a zarpar. Minto! Deveriam estar. O mar continua bravo, parece que no hoje que teremos sorte. possvel sentir uma brisa gelada na face. Estes pescadores, apesar de se conhecerem todos uns aos outros, acabam por se dividir por companhas. Aqui na lota da Praia de Mira h quatro companhas (grupo de homens que se ocupam numa mesma faina martima). Esto quase todos sentados em cima de um muro, conversando, rindo aqui e ali. A tristeza por um dia perdido ainda no se faz sentir. Grande parte dos que aqui esto j entraram na idade da reforma. O peso da idade nota-se na sua postura. A barba tambm moda por aqui. E o bon! difcil encontrar um pescador que no tenha bon para cumprir com um pequeno ritual. Tira o bon, coa a cabea, pe o bon. Encostadas ao muro, bicicletas. Cada uma com os seus cestos, tanto frente como atrs. Servem para trazer ferramentas para a companha. Qui tambm para levar os frutos do trabalho no vendido para casa. Quando algum chega, a primeira coisa que faz no dizer bom dia. Aqui, a primeira coisa a fazer ao chegar, meter o olho no mar. esse o primeiro comentrio que se faz ao chegar. "Ep isto est mau!" - ouve-se, mais uma vez. Reparo em Joo Milheiro ao longe, que me chama ao p do "Lago do mar". o barco da sua companha. Estava a certificar-se que ningum tinha roubado as novas redes que fizeram na semana anterior. Pede desculpa porque hoje no vai dar, mas que tudo aponta para que tudo melhore na semana seguinte.Apesar de tudo, no um dia perdido. beira do mar, sozinho, est um antigo trabalhador e dono de uma companha, o Sr. Jos Vieira. Pai de Jos Manuel, Presidente da Associao da Arte Xvega, este senhor de farto bigode, olha com tristeza o mar que no tem sido bom este ano. Aproximo-me, meto conversa, tento saber um pouco mais sobre a associao. No preciso perguntar mais nada, Jos Vieira tira o telemvel no bolso e com pouca mestria, tem dedos grossos, l consegue ligar ao filho que prontamente vem ter connosco. Jos Manuel explica que a associao, que representa todos os pescadores desta prtica, no se alheia das dificuldades pelas quais a Arte Xvega da Praia de Mira atravessa e pelas grandes contrariedades do ltimo ano. Como tal, procurando o apoio do presidente de Mira, Joo Reigota, que "sempre mostrou preocupao para com os pescadores", dirigiu-se Assembleia da Repblica a 22 de fevereiro, para expor estas dificuldades a quem pode fazer a grande diferena. Foi criada uma Comisso de Acompanhamento da Pesca com Arte-Xvega, uma comisso de iniciativa ministerial criada no mbito do Ministrio da Agricultura e Pescas para produzir informao e estudar solues legislativas e econmico-sociais com vista regulamentao e sobrevivncia deste tipo de pesca artesanal e das comunidades de pescadores que a ela se dedicam desde h sculos nos litorais portugueses. Em parcas palavras, torna-se fcil de explicar as suas reivindicaes. Sentem-se como uma gota de gua no oceano. A sua pesca realiza-se apenas naquela zona e no possuem as mesmas capacidades que as grandes traineiras. Procuram que a lei abra pequenas excees para estas pequenas comunidades piscatrias. "Aquilo que se faz aqui mais do que uma profisso. um modo de viver. histria. E neste momento, j dificilmente um meio de subsistncia". A culpa no dos pescadores, como refere Jos Manuel. Simplesmente tm de cumprir leis que no se adequam a este tipo de pesca. Ento quando a vigilncia aperta e o simples pescador no pode pr-se margem da lei "Estes homens lutam com alma e corao para que se resolvam os problemas, porque eles no tm sonda nem radar, vo ao Deus dar colocar a rede ao mar. Agora vem carapau, daqui a pouco j no vem nada e no por pescarem um peixe fora de medida que o mar deixa de ter peixe ()". So 14 horas da tarde e o Sr. Alcides Videira do Sal acaba de acordar. A casa tpica da Praia de Mira. Grandes parecenas com os palheiros de outrora. Estendal porta, um co que passeia de um lado para o outro, s procurando a companhia. Na parede, uma fotografia sua e do barco da sua passada companha. Antigo pescador e mestre da Arte Xvega, hoje guarda noturno numa fbrica de detergentes. "D para ganhar mais algum dinheiro" - afirma. Mais do que ganhava na Arte Xvega quando tudo comeou a apertar. Primeiro a crise, depois o intenso policiamento. Este senhor de 45 anos confessa que chegou a passar fome. Tem uma filha a acabar o secundrio e outra na universidade. A filha mais nova conseguiu emprego e procura ajudar os pais. "Voltmos aos tempos antigos, onde toda gente passava fome! Tudo o que se ganha para gastar e por vezes nem isso chega" - reclama. A sua filha mais velha chegou a equacionar deixar a universidade. Foi, porm, impedida pelos pais. O Sr. Alcides diz que quer dar s filhas "tudo aquilo que eu queria e no pude ter". Conta que comeou apenas a pegar no garfo uma vez por dia, aconchegando o estmago com caf ou um "copito" de vinho, po seco e um queijinho nas outras horas. A sua filha mais nova, Sofia, que entretanto chegou, afirma que o pai tem feito mundos e fundos por ela e pela sua irm. Que mais no lhe pode pedir. "O meu pai cresceu e aprendeu a fazer isto. Pouco mais sabe fazer. E sempre correu tudo bem at estes recentes anos. O ltimo foi a gota de gua". Diz que no se importa de no ter a mesma vida que muitos dos seus amigos. "Sei que os meus pais precisam disto e eu no me importo de trabalhar com esta idade. Sei que estou a fazer o melhor por eles, tal como eles j fizeram muitas vezes por mim". A lgrima que cai pelo rosto de Alcides a prova de que realmente lhe custa ver a filha a no aproveitar a vida ao mximo. Mas sorri. "Se ela quer, e quer mesmo porque j discutimos muito sobre isto, quem sou eu para dizer que no?".Volto numa manh mais solarenga. So quase oito da manh, hora de voltar ao mar. Acertei. Apesar de tudo, o ambiente no o melhor entre os pescadores. No dia anterior, o mar levou dois dos seus companheiros de faina. Foi na praia do Furadouro, em Ovar, porm, o sentimento que une estes homens comum. s vezes assim que acontece. s vezes a onda vira o barco e vira a vida do avesso. Em tempos de outrora, quando se conseguia tirar os homens do mar, envolviam-nos em sal como fazem ao peixe. "Para lhes apertar os ossos". Contam as histrias que houve um que, depois de estar no sal quarenta e oito horas, ainda voltou a si. Bem dizem as pessoas da Praia de Mira que a vida aqui no uma mentira. E que todos os dias estes pescadores a arriscam. Por to pouco mas ao mesmo tempo por muito, acrescentam agora. O mar a sua casa, a sua herana, o seu anfitrio. O Sr. Alberto das barbas diz: "Eu moro a 80 metros do mar. No Inverno, levanto-me s seis, sete da manh e vou ver o mar. Mesmo naqueles dias em que est mar ruim, sabemos de antemo que no trabalhamos, vamos todos olhar para o mar feitos tolinhos, pronto!". J Joo da Murtosa no desiste, apesar das contrariedades: "O pescador tem uma alma boa. Tem uma alma que se aguenta com tudo. O que que conta, para ns, que o ano foi fraco? A gente volta a trabalhar!". Viso que no partilhada pelo Sr. Z Carlos que afirma que "o ano que passou nem bom lembrar porque nunca tivemos um ano assim. E se este ano calha a ser igual, ficamos todos rasca". So horas de nos fazermos ao mar. O mar j amainou, tem ondas menores do que dois metros, bom, apesar de no ser o ideal. Joo Milheiro manda-me vestir um colete, por segurana. Entro no "Lago do Mar" muito a custo e sento-me, procurando no incomodar o trabalho de ningum. J se secaram as redes. Esticadas, lavadas e devidamente consertadas, no v o peixe "fugir por onde no deve". Os barcos tambm j foram revistos, no v alguma coisa correr mal. Joo Milheiro diz para me sentar na frente do barco. No incomodo ningum ali e consigo ver o trabalho de todos Nas minhas costas, a crena. "Deus nos guie". Joo Milheiro o arrais, ele que governa o barco, que conduz o barco pelas estradas do mar. O processo muito simples. Fazem-se ao mar, lanam uma ponta da rede, descrevem uma pequena meia lua para lanar a outra ponta e regressam a terra. Antigamente, as redes eram puxadas por bois. J houve quem, outrora, ao ver este cenrio, se perguntou: "Que estranho pas este onde os bois vo lavrar o prprio oceano?". Atualmente, as condies so melhores. Os barcos so mais pequenos. Os quarenta homens que a faina exigia s para remar, foram substitudos por um pequeno motor. Bois? No, j ningum usa os animais para o trabalho bruto. Embora ainda se lembrem destes tempos, no muito longnquos. Agora, usam-se motores ou mesmo tratores para puxar as redes. O trabalho valeu a pena. Conseguiram-se encher dez caixas. Cada caixa leva 13 quilogramas. Foi bastante razovel para uma s viagem. Apesar de tudo, muito do que foi pescado tem de se deitar ao mar, mesmo que morto. As caras de pesar so notrias, mas a lei que manda. na Figueira da Foz, mais precisamente em Buarcos, que tem sede a CEMAR (Centro de Estudos do Mar) e onde decorreu o primeiro encontro do projeto SALVARTE. Salvar a arte dos pescadores, aquilo que esta associao cientfica sem fins lucrativos, procura fazer. As concluses acerca da Arte Xvega so notrias e com elas que pretendem fazer frente a esta grande ameaa que poder ser o prenncio do fim de uma arte e um trabalho centenrio. uma pesca de cerco e alado, bastante diferente e menos prejudicial que a pesca de arrasto, realizada por muitos barcos e traineiras. Por outras palavras, algo residual e muito localizado, minsculo em termos ambientais, uma "gota no oceano" portanto. Devido crise, a legislao apertou-se e muito do que se fazia anteriormente, como aproveitar o peixe-mido ou mesmo a venda direta ao consumidor, deixou de ser feito. Porm, torna-se necessrio no deixar morrer algo to emblemtico, seja na Praia de Mira ou em todos os outros locais onde a Xvega ainda se realiza. Alfredo Pinheiro Marques o diretor do CEMAR e um dos grandes defensores dos pescadores. Quando nos cumprimentamos pela primeira vez, reparo que mesmo ele se parece com um pescador. Nota-se o seu gosto pelo mundo piscatrio. Veste umas jardineiras e uma camisola grossa de gola alta. O cabelo revolto e a barba j tem uns dias. Convida-me a sentar. Olho em volta. Barcos em miniatura encontram-se suspensos no ar. No centro, um barco de arte xvega. Pergunta-me o que realmente quero saber e o que vim ali fazer. Explico-me. Comea ento a falar sobre aquilo que mais gosta. A sua paixo nota-se na voz e na maneira como fala. Caracteriza a arte xvega como "perigosa, difcil e heroica". Estes pescadores so "os mais pobres dos pobres" e o barco da Xvega "o mais belo barco do mundo". Agora, aquilo que a CEMAR e a SALVARTE pretendem, elevar a Arte dos Pescadores Portugueses a Patrimnio Cultural Imaterial da Humanidade. Este processo surge na sequncia dos vrios processos em curso a nvel nacional. Estando prestes a ser aprovada uma nova legislao que compreenda excees na Arte Xvega e que reconhea as especificidades deste tipo de pesca. Pretende-se que este tipo de pesca seja reconhecido internacionalmente, tal como se pretende que os apoios e valorizao pela arte antiga seja maior.Como afirma Ral Brando, na sua obra Os Pescadores, "At aos ltimos anos ningum enriqueceu em Mira com a pesca. A pesca como um jogo, uma questo de sorte ()". So palavras com noventa anos mas ainda atuais nos dias que correm. O que liga estes homens ao mar muito mais do que o dinheiro. a vida. a vida que arriscam todos os dias por um punhado de peixe. Agora que acaba de ler esta reportagem, mais um copo de vinho cai no balco do Ninho do Pescador. Sentado numa mesa, Joo Milheiro afirma "os pescadores podem ter esta fama de beber muito. Mas no bem assim. Gostamos de beber, de conversar, de estar uns com os outros. Acima de tudo gostamos de ir ao mar. E eu, tal como todos os que aqui esto, hei de sempre ir ao mar. At no dar mais. At eu no poder ou algo ou algum acabar com isto".

Primeiro encontro do projeto SALVARTE na sede do CEMAR.