a periclitaÇÃo da vida e da saÚde

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A PERICLITAO DA VIDA E DA SADE Dos crimes conta as pessoas, no seu captulo III (Periclitao da vida e da sade). Periclitao vem de periclitar, que quer dizer estar em perigo; perigar; ameaar perigo ou runa. Nos Crimes de perigo e de dano, este consuma-se com a efetiva leso a um bem juridicamente tutelado e aquele contenta-se com a mera probabilidade de dano. Ento para se configurar um crime de dano ser exigida uma efetiva leso ao bem jurdico protegido e nos crimes de perigo basta possibilidade do dano, ou seja, a exposio do bem a perigo de dano. 2 - PERIGO DE CONTGIO VENREO Art. 130 Expor algum, por meio de relaes sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contgio de molstia venrea, de que se sabe ou deve saber que est contaminado: Pena Deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa. 1 se inteno do agente transmitir a molstia: Pena Recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 2 Somente se procede mediante representao. Em seu tempo, Anbal Bruno, j fazia duras e justificadas crticas a este artigo, como uma infrao penal autnoma e independente de outras ameaas e espcies de leses corporais, pois ele admitia que, no passado, as doenas venreas tinham um tratamento diferenciado, mas que nesta segunda metade do sculo, com a evoluo da medicina e dos medicamentos que esto no mercado a criminalizao desse delito j estaria superada, esse entendimento se refora pelas atitudes das vtimas que hoje preferem a medicao para manter sua privacidade a se expor diante os rgos da justia. Analisando o tipo penal, segundo DAMASIO, o legislador estaria protegendo a sade fsica da pessoa humana, apesar de tratar-se de delito de perigo, conforme o 1, o legislador definiu um crime formal (aquele que o tipo descreve o comportamento e o resultado, mas no exige a produo, bastando exposio ao perigo de dano). A conduta descrita no caput do artigo crime de perigo e a do pargrafo 1 seria de dano, pois, encontramos no 1 sua forma qualificada, pois a inteno do agente qualifica o crime, embora no precise concretizar-se, e se concretizar o sujeito responder somente pelo previsto no 1. Para o doutrinador ROGRIO GRECO, esse tipo penal precisa ser esclarecido pela medicina - a chamada molstia venrea j para Bitencourt, o texto legal fala, genericamente, em molstia venrea, sem qualquer outra definio ou limitao. Assim, a exemplo do que ocorre com as substancias entorpecentes (que causam dependncia fsica ou psquica), so admitidas como molstias venreas, para os efeitos penais, somente aquelas que o Ministrio da Sade

catalogar. Esse Art. Trata de crime de perigo, pois que no exige o dano ao bem juridicamente tutelado, que ocorreria com a efetiva transmisso da molstia venrea. Basta ser exposto ao contgio. A EXPOSIO PODE SER: - Por meio de relaes sexuais; - Por meio de qualquer ato de libidinagem. Ncleo do tipo: Expor significa colocar em perigo ou deixar a descoberto. Objeto da conduta: contgio de molstia venrea. Relao sexual: o coito. Guilherme de Souza Nucci ensina que a unio estabelecida entre duas pessoas atravs da prtica sexual, abrangendo o sexo anal, vaginal ou oral; Ato libidinoso: Entende-se qualquer ato que d ao outro prazer e satisfao sexual, abrange qualquer ato que seja passvel de transmitir doenas. Molstia venrea: Doena transmissvel atravs de contato sexual. No caso concreto, o magistrado nomear perito (mdico Cadastrado no CRM) para a avaliao da enfermidade a utilizao de preservativo no configurar o crime, pois, no existe a conduta de colocar em perigo o sujeito passivo. Para a efetivao do delito ser necessrio que o ncleo do tipo se concretize expor o que somente se d, se o sujeito ativo atuar sem prudncia. A sistemtica hoje a elementar sabe que est contaminado significa ter conscincia de que um agente transmissor, isto , ter conscincia de um elemento do tipo, e a elementar deve saber, por sua vez, significa a possibilidade de ter essa conscincia, pura presuno. Dolo eventual: a expresso deve saber que est contaminado, o agente percebe alguns sinais de doena, mas no tem certeza de sua infeco, mas, no entanto, mantem a relao sexual sem tomar qualquer precauo, expondo algum a perigo. Dolo direto: outra expresso sabe que est contaminado, isto , quando tem plena certeza conscincia de seu estado e de que cria, com a sua ao, uma situao de risco para a vtima, mas no deixa de praticar o ato. No quer transmitir a molstia, mas tem plena conscincia e vontade de expor a vitima a perigo de contagiar-se. Existe 3 figuras tpicas: - de que se sabe que est contaminado

- de que deve saber que est contaminado - ter a inteno de transmitir a molstia; 1 -Qualificadora CRIME DE PERIGO ABSTRATO E PERIGO CONCRETO Subdividem-se os crimes de perigo em crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato, diferenciando-se um do outro porque naqueles h a necessidade da demonstrao da situao de risco sofrida pelo bem jurdico penal protegido, o que somente pode ser reconhecvel por uma valorao subjetiva da probabilidade de supervenincia de um dano. Por outro lado, no crime de perigo abstrato, h uma presuno legal do perigo, que, por isso, no precisa ser provado.

Perigo concreto Perigo abstrato Exige a comprovao do risco ao bem protegido. O tipo penal requer a exposio a perigo da vida ou da sade de outrem. Ex: crime de maustratos (art. 136). No exige a comprovao do risco ao bem protegido. H uma presuno legal do perigo, que, por isso, no precisa ser provado. ex. embriaguez ao volante.

OBJETO MATERIAL E JURDICO: Objeto Material: a pessoa que mantm relao com o contaminado; Objeto Jurdico: o bem jurdico protegido incolumidade fsica e a sade da pessoa, visam a sade, segurana e bem-estar da coletividade, por isso, so objetos de interesse publico. CLASSIFICAO: Crime Prprio: demanda sujeito ativo qualificado que a pessoa contaminada; Formal: delito que no exige necessariamente a ocorrncia de um resultado naturalstico; Instantneo: no se prolonga no tempo;

Crime Unissubjetivo: pode ser praticado por um s agente; Crime Plurissubsistente: vrios atos podem integrar a conduta; SUJEITO ATIVO E PASSIVO: Ativo: qualquer pessoa contaminada por doena sexualmente transmissvel; Passivo: qualquer pessoa que no esteja contaminada, pois, poderia configurar crime impossvel ou erro de tipo por ineficcia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. MODALIDADE CULPOSA: No h consenso a respeito dessa modalidade, pois uma doutrina sustenta a possibilidade dela existir quando o agente agir com negligncia referente a sua sade, no tomando os devidos cuidados, e referente aos outros doutrinadores afirmam que no h forma culposa, pois no encontram-se o tipo legal desses elementos na modalidade culposa (imprudncia, negligncia e impercia), pois a culpa deve-se apresentar expressa na lei penal, e no poderia estar na forma de presuno. CONSUMAO E TENTATIVA Admite-se a tentativa, pois esse crime trata-se de simples perigo, o crime consuma-se com a prtica de atos de libidinagem, capazes de transmitir a molstia, que poder ocorrer ou no e como j foi dito, basta a simples exposio ao perigo. DOLO DE DANO Vontade de produzir uma leso efetiva a um bem jurdico (Fernando Capez. Curso de Direito Penal, Parte Geral). Em seu 1, do art. 130 do CP, que refere-se ao dolo de dano, onde o agente tem as seguintes afirmaes: - Est contaminado; - Sabe que est contaminado; - Quer transmitir a doena. Havendo ou no o contgio, responder pelo art. 130, 1. Porm, se tem a vontade de transmitir a doena e caso tenha xito, e atinge nas formas mais graves de leso, dever responder por leso grave ou gravssima e at por leso corporal seguida de morte (art. 129 , 3), conforme o caso. Se ocorrer leso corporal leve, fica absorvida pelo delito mais grave, que a forma descrita no art. 130, 1.

Resumindo, O agente pode: Responder Est e saber que est contaminado, praticar a relao sexual sem a proteo e no querer transmitir a molstia. Art. 130, caput primeira parte. Est e deve saber que est contaminado, praticar a relao sexual sem a proteo Art. 130, caput segunda parte. Est e saber que est contaminado, querer transmitir a doena e praticar a relao sexual de forma que consiga ou no o contgio. Art. 130, 1. Est e saber que est contaminado, querer transmitir a doena para casar dano sade de outrem. Art. 129, 1 ou 2, que poder ser leso corporal grave ou gravssima. Ou mesmo a leso corporal seguida de morte, conforme o caso. Est e saber que est contaminado, querer transmitir a doena para causar dano sade de outrem e a vtima fique com a sade precria e morre pela referida doena que foi transmitida pelo agente. Art. 121, HOMICDIO TIPO DA AO Ser a Ao Pblica Condicionada a representao do agente passivo, onde o Ministrio Pblico s poder agir dessa forma. Se ocorrer s modalidades dos Art. 129 e 121 a figura ser mudada para a Ao Pblica Incondicionada. Para GUILHERME NUCCI: Contagio venreo constitui leso corporal. Dolo direto de que sabe Dolo eventual deve saber

Tentativa admissvel Forma Simples Caput , deteno de 3 meses a 1 ano, ou multa. Forma Qualificada - 1, recluso de 1 a 4 anos, e multa. Ao publica condicionada a representao da vtima. PERGUNTAS: 1 E, se em consequncia da doena venrea, h produo de perigo de vida? - Se sabia est contaminado e assume o risco, responde por leso corporal seguida de perigo de vida. - Se devia saber, responde pelo delito de perigo de contgio venreo, em sua forma simples. 2 Se o indivduo consente nas relaes sexuais, sabendo do risco da contaminao? - O fato irrelevante para efeito de excluir a responsabilidade penal do agente, uma vez que h interesse social na no proliferao do mal. 3 - Se o sujeito julga-se curado por afirmao mdica e pratica relaes sexuais, responde por algum crime? - Erro de tipo escusvel, excludente de dolo e da tipicidade do fato. 4 Se o agente cr estar contaminado, quando no est? - Crime impossvel. 5 Pode entre marido e mulher? - Sim, haver motivo para dissoluo da sociedade conjugal na conduta desonrosa. CONTROVERSIAS Se o ofendido sabe da contaminao e causa perturbao leve, e a vitima vem a consentir, ento afasta a ocorrncia do delito, para outra corrente, no pode ser consentida a contaminao, e, portanto, seria crime independentemente do consentimento. Se causar leso corporal de natureza grave, ou vindo a ocorrer morte, o consentimento da vtima no ser vlido.

Tem-se entendido majoritariamente pela necessidade de contato pessoal, no se configura, por exemplo, mandar esperma pelos correios, os atos devem ser sexuais, ou seja, aqueles que tm por finalidade deixar aflorar a libido, o desejo sexual do agente. Ento nesse aspecto: - No exerccio da prostituio, no exclui o delito. - No aperto de mo, ingesto de alimentos ou utilizao de objeto, em regra no. - Na ama de leite, ter que se averiguar a inteno. 3 - PERIGO DE CONTGIO DE MOLSTIA GRAVE Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem molstia grave de que est contaminado, ato capaz de produzir o contgio. Pena Recluso, 1 a 4 anos, e multa Se analisarmos o tipo penal, verificamos que o agente quer praticar o ato que seja capaz de transmitir o contgio de molstia grave de que portador, evidenciando que nesse caso ele tem como objetivo a transmisso do mal a vitima. Molstia grave: Doena sria, que inspira preciosos cuidados, sob pena de causar sequelas ponderveis ou mesmo a morte do portador segundo NUCCI. Para Bitencourt, alguns autores sustentam que, a exemplo da hiptese do art. 130, 1, teramos aqui uma hiptese de tentativa de leses corporais distinguida, excepcionalmente, em crime autnomo, mas essa ideia no compartilhada por esse autor, pois na medida em que a ocorrncia da prpria leso, isto , ainda que o contgio se concretize, no alterar a tipificao da conduta, pois representar o simples exaurimento do crime definido no art. 131. O perigo de contgio de molstia grave deve ser concreto, logo, precisa ser efetivamente comprovado. Exemplos de molstias independente de constarem no Ministrio da Sade: varola, tuberculose, clera, lepra, AIDS, etc. A molstia grave pode ser transmitida de atravs de ato libidinoso e, desde que no seja venrea, tipificar o art. 131; se, ao contrrio, for venrea, tipificar o art. 130. SUJEITO ATIVO E PASSIVO Ativo: pessoa contaminada por molstia grave e contagiosa, essa uma condio particular exigida pelo tipo penal, a falta dela poder caracterizar crime impossvel, por ineficcia absoluta do meio.

Passivo: pode ser qualquer pessoa, desde que no esteja contaminada por igual molstia. O cnjuge e a prostituta tambm podem, desde que esteja presentes os elementos subjetivos (o dolo e o especial fim de agir). OBJETOS MATERIAL E JURDICO Objeto Material: pessoa que sofre o contgio ou corre o risco de contaminar-se; Objeto Jurdico: vida e sade. AO TIPICA Ao Nuclear: praticar, a transmisso pode ocorrer por meio de qualquer ato (inclusive libidinoso, desde que a molstia grave no seja venrea), desde que capaz de produzir o contgio. A molstia alm de ser grave tem que ser contagiosa CONSUMAO E TENTATIVA Se consuma com a prtica do ato idnea para transmitir a molstia, sendo indiferente a ocorrncia efetiva da transmisso, que poder ou no ocorrer. Que pode se consumar com a prtica de atos libidinosos, desde que a molstia grave no seja venrea. Afasta-se o delito se o agente no tem a inteno de transmitir a molstia, embora o crime seja de perigo, o dolo de dano. Esse tipo penal admite a forma tentada. A consumao se d com a prtica do ato capaz de produzir o contgio.

CLASSIFICAO: Crime prprio: pois demanda sujeito ativo qualificado ou especial: algum contaminado. Formal: no exige necessariamente um resultado naturalstico; o simples ato capaz de produzir o contgio tipifica o crime. Forma livre: pode ser cometido por qualquer meio escolhido pelo agente; Unissubsistente ou plurissubsistente: se a conduo da doena for efetivada por nico ou vrios atos; Admite-se tentativa na forma plurissubsistente. Aplicao da pena da leso corporal grave, gravssima ou seguida de morte: Prossegue-se da mesma forma que o crime de perigo de contgio venreo. Nesse caso, prev a forma do art. 129, 1 ou 2, conforme o caso, tendo em vista que o dolo de dano. Somente a leso simples fica absorvida por este delito (CP, art. 129, caput).

Com a morte da vtima, haver o crime preterdoloso: leso corporal seguida de morte (CP, art. 129, 3). A pena cumulativa, de um a quatro anos de recluso e multa. A Ao penal pblica incondicionada. CONTROVERSIA Se o individuo tiver AIDS? Responde por homicdio doloso consumado. AIDS no considerada doena venrea, pois a referida doena possui outras formas de transmisso que no so as vias sexuais. Desse modo, o agente ativo poder responder por tentativa de homicdio ou homicdio consumado, de acordo com o caso concreto. Segundo DAMSIO : O crime s punvel a ttulo de dolo. Se houver inteno de matar a vitima homicdio tentado ou consumado Se a inteno no era matar e vem a falecer leso corporal seguida de morte. Se em virtude houver enfermidade incurvel leso corporal gravssima. Caso advinha de um nico ato no admite a tentativa. Se forem vrios atos admite a tentativa. Ao publica incondicionada. 4 - PERIGO PARA A VIDA OU SADE DE OUTREM Art. 132 - Expor a vida ou a sade de outrem a perigo direto e iminente: Pargrafo nico. A pena aumentada de um sexto a um tero se a exposio da vida ou da sade de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestao de servios em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Includo pela Lei n 9.777, de 29.12.1998) Pena: deteno, de 3 meses a 1 ano, se o fato no constitui crime mais grave. Conforme explicaes constantes do item 46 da Exposio de Motivos da Parte Especial do codigo Penal, trta-se de um crime de carter eminentemente subsidirio. No informa o animus necandi ou o animus laedendi, mas apenas a consciencia e vontade de expor a vitima a grave perigo. O perigo concreto, que constitui o seu elemento objetivo, limitado a determinada

pessoa, no se confundindo, portanto, o crime em questo com os de perigo comim ou xontra a incolumidade publica. Cuida-se, portanto, de um crime de perigo concreto, no qual deve ser comprovado que o comportamento do agente trouxe, efetivamente, perigo para o bem juridoco por ele protegido. O crime tipificado no art. 132 CP, assume, verdadeiramente, as caracteristicas prprias das infraes penais de perigo. AB initio, jamais poder haver dolo de dano, pois caso contrrio, ocorreria a desclassificao da infrao penal. No poder, dessa forma, pretender a produo de qualquer reultado lesivo, mas to somente criar a situao de perigo. Veja-se o emplo classico do atirador de facas. Quando lel faz o arremesso das facas em direo a um painel onde se encontra a vitima, ao atirar, sabe que o seu comportamento trz perigo para a vida ou para a saude da vitima. Contudo, no atua querendo acert-la, pois, nesse caso, agiria com dolo de dano. Tambem merece ser dfrisada a natureza subsidiria dos crimes de perigo. Na hipotese do art. 132 CP, foi consignado no tipo penal aquilo que a doutrina denoomina de subsidiariedade expressa, haja vista que a propria lei se preocupou em alertar para o fato de que a infrao penal de perigo somente ser punida se no houver a produo de um resultado mais grave, ou seja, o dano. Para que se caracterize o delito previsto no art 132 CP, ser preciso que ele seja cometido contra pessoa ou, pelo menos, pessoas individualizveis, pois no se cuida na especie de crime de perigo comum, ou seja, aquele que atinge um numero indeterminado de pessoas, sendo, portanto, um crime de perigo individual ou, pelo menos, individualizavel. Se o delito for cometido contra um numero indeterminado de pessoas, a hipotese ser cuidada no Capitulo I (Dos crimes de Perigo comum), do Titulo VIII (Dos crimes contra a incolumidade Publica) do CP. Determina o tipo do art. 132 do Cdigo, ainda, que o perigo seja direto e iminente. Guilherme de Souza Nucci esclarece ser este "o risco palpvel de dano voltado a pessoa determinada. A conduta do sujeito exige, para configurar este delito, a insero de uma vtima certa numa situao de risco real - e no presumido -,experimentando uma circunstncia muito proxima ao dano. Entendemos, respeitadas as doutas opinies em contrrio, que o legislador teria sido mais feliz ao usar o termo atual, em lugar de 'iminente'. Ora, o que se coibir, exigindo o perigo concreto, a exposio da vida ou da sade de algum a um risco de dano determinado, palpvel e iminente, ou seja, que est para acontecer. O dano iminente, mas o perigo atual, de modo que melhor teria sido dizer 'perigo direto e atual'. O perigo iminente uma situao quase impalpvel e imperceptvel (poderamos dizer, penalmente irrelevante), pois falar em perigo j cuidar de uma situao de risco, que imaterial, fluida, sem estar claramente definida". Desscabe falar em ocorrncia do delito iinscrito no art. 132 do Cdigo Penal, quando o perigo situa-se no plano abstrato, no ocorrendo qualquer ao que, concretamente, coloque em

risco a integridade fsica ou a sade de outrem. (STJ, Apn. 290/PR, Rel. Min. Flix Fischer, DJ 26/9/2005 p. 159) O tipo previsto no art. 132 do Cdigo subsidirio, estando expressamente determinada a sua aplicao se o caso no constituir crime mais grave. A conduta do apelante se enquadra nas descries tpicas dos arts. 10, 1, III, da Lei n 9.437/97 e 132 do Codex, restando configurado, para a hipotese concreta, o conflito aparente de normas. Tal conflito resolve-se pela subsidiariedade expressamente prevista na lei penal. O ato de disparar, expondo a vida da vitima a perigo, constituiu crime mais grave que aquele previsto no art. 132 do CP, pelo que subsiste apenas o crime de disparo de arma de fogo. Fica excludo o crime menos grave, de periclitao da vida de outrem porquanto a conduta do agente encontra acolhida em outro tipo penal, com apenao mais grave. (TJMG, Processo 20000.00.350100-6/OOO [1], Rei. Alexandre Victor de Carvalho, pub. 23/3/2O02) CLASSIFICAO DOUTRINRIA Crime comum quanto ao sujeito ativo, bem como quanto ao sujeito passivo, de perigo convreto (pois h necessidade inafastvel de ser demosntrado que o comportamento do agente criou, efetivamentem a situao de perigo para a vida ou saude de outrem); doloso; comissivo ou omissivo improprio; de forma livre; subsidirio (conforme determinado expressamente no art. 132 CP); instantaneo; traseunte (ou, em algumas situaes em que seja possivel a prova pericial, no traseunte); monossubjetivo; plurissubsistente. OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO Objeto material do delito de perigo tipificado no art. 132 CP a pessoa, ou as pessoas, contra a(as) qual(is) recai a conduta praticada pelo sujeito ativo. Bens juridicamente protegidos pleo tipo so a vida e a integridade corporal ou sade de outrem. SUJEITO ATIVO E SUJETIO PASSIVO Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou mesmo sujeito passivo do delito em estudo. MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA O nucleo expor, constante no art 132 CP, pressupoe um comportametno comissivo. No entanto, pode a infrao penal ser praticada omissivamente, desde que o agente se encontre na posio de garantidor. CONSUMAO E TENTATIVA Conuma-se o delito com a pratica do comportamento que, efetivamente, trouxe prifo para a vida ou para a saude da vitima. A tentetiva pe admissivel, desde que no cado concrfeto, se possa visualizar o fracionamento do iter crminis.

CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA A majorante constante do paragrafo unico do art. 132 foi inserida no CP por intermedio da Lei n 9.777, de 29 de dezembro de 1988. Tal criao tipica foi dirigida a coibir comportamentos muito comuns, principalmente nas zonas rurais, de transportes clandestino e perigoso de trabalhadores, a exemplo do que ocorre, inclusive, em propriedades privadas, com os chamados boias-frias. O aumento de 1/6 a 1/3 dever ser levado a efetio considerando-se a probpriedade de dano decorrente do transporte ilegal, ou seja, quanto mais perigoso for o transporte, quanto mais e aproximar da probabilidade de dano as pessoas transportadas, maior ser o percentual de aumento. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO Se o bem juridoco que sofre perigo de leso dor a integridade corporal ou a saude da vitima, entende-se que o seu soncentimento ter o condo de afastar a ilicitude da conduta levada a efeito pelo agente. Contudo, como tambem j afirmamos, se o comportamento perigoso trouxer em si a probabilidade de ocorrencia de lesao corporal de natureza grave ou gravissima, ou mesmo perigo para a vida da vitima, nesse caso entende-se que o consentimento no ter a fora suficiente para afastar o delito. 5 ABANDONO DE INCAPAZ Art. 133 - Abandonar pessoa que est sob seu cuidado, guarda, vigilncia ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - deteno, de seis meses a trs anos. 1 - Se do abandono resulta leso corporal de natureza grave: Pena - recluso, de um a cinco anos. 2 - Se resulta a morte: Pena - recluso, de quatro a doze anos. Aumento de pena 3 - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um tero: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente ascendente ou descendente, cnjuge, irmo, tutor ou curador da vtima.

III - se a vtima maior de 60 (sessenta) anos O artigo acima mencionado tem como finalidade maior o bem-estar, a segurana do ser humano. Diante da condio de vulnerabilidade do incapaz, o referido artigo comina penalidade quele que abandonar o ser em estado frgil. Segundo Cezar Roberto Bitencourt, o artigo em questo cuida de crime de perigo concreto, tendo em vista que o prprio ncleo do tipo, o abandonar, exige a existncia de risco efetivo. Diante dessas consideraes, tendo em vista a necessidade de delinear melhor a figura tpica, observa-se que: - O bem jurdico tutelado a segurana da pessoa humana. Conforme leciona Damsio de Jesus, o objeto jurdico o interesse de o Estado tutelar a segurana da pessoa humana, que, diante de determinadas circunstncias, no pode por si mesma defender-se, protegendo a sua incolumidade fsica; - O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa com relao de assistncia e proteo frente vtima. Trata-se de crime prprio, dada a obrigao de cuidado, de vigilncia concernente ao sujeito passivo. Ainda no que tange a relao de assistncia, Damsio de Jesus faz as seguintes ponderaes: 1) cuidado a assistncia eventual; 2) guarda a assistncia duradoura; 3) vigilncia a assistncia acauteladora; 4) autoridade o poder de uma pessoa sobre outra, podendo ser de direito pblico ou privado; Quanto ao sujeito passivo, este pode ser qualquer pessoa que se encontre na situao de incapacidade, vulnervel. Trata-se da pessoa que est sendo vigiada, cuidada. Ressalte-se que o termo incapaz para o fato tpico em anlise no comporta apenas queles que no tenham alcanado a maioridade civil, mas tambm os que de qualquer forma sejam incapazes de defender-se dos riscos do abandono.

TIPO OBJETIVO Trata-se de abandonar, deixar desamparado o sujeito passivo. Para Bitencourt, o crime consiste em colocar em perigo, atravs de abandono, algum incapaz, nas circunstncias de proteger-se dos riscos decorrentes do abandono e a quem o sujeito passivo encontra-se vinculado por deveres de assistncia e proteo. Ainda no pensamento do renomado doutrinador, importante mencionar que a incapacidade pode ser circunstancial e transitria,

podendo assim abranger pessoas que temporariamente se encontrem sem condies de defender-se. Sob o mesmo entendimento, Guilherme de Souza Nucci assevera: (a incapacidade) no se trata de um conceito jurdico, mas real. Portanto, deve-se considerar qualquer indivduo que, em determinada situao, esteja incapacitado para defender-se, ainda que seja maior, fsica e mentalmente sadio, sem qualquer tipo de enfermidade permanente; TIPO SUBJETIVO Aqui o elemento subjetivo o dolo de perigo, o qual representado pela vontade e conscincia de expor vtima a perigo, por meio abandono. Necessrio aqui ressaltar apenas a conscincia do agente em abandonar o incapaz; Quanto consumao do crime, esta se d com o abandono efetivo do incapaz, estando este em situao de perigo real. Para Cezar Roberto Bitencourt, a tentativa teoricamente possvel, especialmente na forma comissiva, mesmo que a configurao seja difcil. 6 EXPOSIO OU ABONDONO DE INCAPAZ Art. 134 - Expor ou abandonar recm-nascido, para ocultar desonra prpria: Pena - deteno, de seis meses a dois anos. 1 - Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Pena - deteno, de um a trs anos. 2 - Se resulta a morte: Pena - deteno, de dois a seis anos. O legislador ptrio ao elencar o mencionado dispositivo legal teve por finalidade maior ampliar a proteo ao recm nascido, eis a sua situao de extrema fragilidade. Sob esta perspectiva interessante a diferenciao feita por Damsio de Jesus, acerca dos conceitos de exposio e abandono: no abandono, o sujeito deixa a vtima sem assistncia no lugar de costume. Na exposio, leva a vtima a lugar diferente daquele em que lhe presta assistncia. Ainda sobre o referido tipo penal, observam-se as seguintes condies: O BEM JURDICO TUTELADO Aqui a segurana do recm-nascido que enfocada. No dizer de Bitencourt, protege-se a integridade fsiopsquica do infante. SUJEITO ATIVO

Nesta espcie de crime, tem-se que somente a me pode ser sujeito ativo (trata-se de crime prprio), posto que se trata de situao em que se visa ocultar desonra prpria. Nesta perspectiva, ressalte-se que a interpretao deste delito enquanto crime prprio na verdade uma interpretao do contexto social em que se vive, posto que conceitos como desonra e at mesmo apenas a figura materna enquanto sujeito ativo, podem ser reinterpretadas de acordo com a transformao da sociedade. SUJEITO PASSIVO o recm-nascido, o qual para parte da doutrina (Bitencourt e Fragoso, por exemplo), deve ser algum nascido h poucos dias. TIPO OBJETIVO Consiste em expor a perigo, ou seja, deixar a vtima em situao delicada vulnervel. No caso do abandono, trata-se de situao em que o sujeito ativo geralmente desampara, deixa de assistir vtima. Ainda no que tange ao conceito de ocultar desonra prpria, pertinentes so as palavras de Cezar Roberto Bitencourt: Degrada-nos a adjetivao pejorativa que a doutrina, de modo geral, faz ao afirmar que se trata de honra sexual (...). Na verdade, a concepo do fruto de uma relao espria, de regra extramatrimonial, atinge um universo tico-moral muito mais abrangente, pois macula o dogma da fidelidade matrimonial, mancha e quebra a pureza da descendncia sanguneo-familiar (ao incluir stranneus na prole), viola os deveres conjugais e destri a harmonia do lar. Em outros termos, a desonra que se pretende ocultar abrange todo um universo cultural, que pode chocar-se com o conhecimento de um fruto proibido que, certamente, receberia a sano da censura social No que se refere ao tipo subjetivo, tal qual no caso de abandono de incapaz o dolo de perigo; o intento de abandonar o recm-nascido; CONSUMAO Esta se d com o abandono efetivo do recm-nascido, desde que o mesmo ocorra efetivo perigo. H ressalva no sentido de que se a me eventualmente abandonar o sujeito passivo e retomar seus cuidados posteriormente, ainda assim haver a consumao do crime. possvel a tentativa. 7 - OMISSO DE SOCORRO Art. 135 - Deixar de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, criana abandonada ou extraviada, ou pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou no pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pblica: Pena - deteno, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Pargrafo nico - A pena aumentada de metade, se da omisso resulta leso corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Segundo ROGRIO GRECO: O fato de virarmos as costas para nosso semelhante, que vive momento de perigo no criado por ns, ser objeto de reprimenda penal. OBJETIVIDADE JURIDICA O tipo fundamental apresenta duas figuras tpicas: - Deixar de prestar assistncia; - No pedir socorro da autoridade pblica. Como se pode notar apresenta dois elementos subjetivos, no primeiro caso o imediato, quando o agente deve prestar socorro imediatamente vtima e no o faz. No segundo caso, tratando-se de situaes a serem examinadas em caso concreto o agente no tem condies tcnicas de prestar o socorro e sabe que fazendo pode vir a provocar prejuzos maiores a vtima, est portanto, o agente obrigado a pedir socorro da autoridade pblica, incorrendo igualmente em omisso de socorro se no o fizer. Constitui crime de periclitaro da vida e da sade. Segundo Damsio de Jesus o agente que podendo no liberta de crcere privado algum que se encontra em tal necessidade, no incorre no crime de omisso de socorro, pois o bem jurdico tutelado seria a liberdade e no a vida e sade. SUJEITOS DO DELITO Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo na omisso de socorro, pois no se trata de crime prprio. No exige vnculo jurdico entre os sujeitos, como o caso do abandono de incapaz. A responsabilidade solidria, portanto pode ser incumbida a vrias pessoas. Segundo o Art. 135 do CPB, os sujeitos passivos so: a criana abandonada; a criana extraviada; a pessoa invalida; a pessoa ferida; a pessoa em grave e eminente perigo. Segundo Damsio de Jesus a idade considerada pra se saber o quem criana vai depender do caso concreto, seria ento criana aquela que no tem capacidade de cuidar de si prpria. Para Rogrio Greco deve-se entender que criana aquela que de acordo com o Art. 2 do ECA, ainda no tenha completado 12 anos de idade.

A invalidez de critrio amplo, pode ser por velhice, doena e etc., mas que esteja em desamparo no momento da omisso. A pessoa ferida, como citado no caput do artigo 135, tambm deve estar em desamparo, sem ter como se livrar do mal por si s devido seus ferimentos. A pessoa que esteja em grave e eminente perigo, sendo neste caso que preciso estar em desamparo como nos casos anteriores. Ponto importante a ser analisado quanto questo do risco pessoal que d carter de atipicidade ao fato, ou seja, ningum est obrigado a prestar socorro se de tal ao possa resultar perigo a si prprio. Tema que engloba tambm os agentes que no podem alegar estado de necessidade como os bombeiros e as demais figuras do Art. 24, 1 do CP. Damsio de Jesus: Tratando-se de risco moral ou patrimonial, no h excluso do crime, mas, conforme o caso pode existir o estado de necessidade. O objeto jurdico defendido indisponvel, portanto mesmo que a vtima recuse o socorro est o agente abrigado a prest-lo. CLASSIFICAO DOUTRINRIA Crime comum, pois no se exige qualificao especial do agente, qualquer um pode ser agente; tipo penal que no admite a figura culposa, e sim dolosa; de forma livre; omissivo prprio; instantneo eventualmente permanente e crime de perigo. ELEMENTO SUBJETIVO o dolo. Como j foi dito antes, a figura delituosa no admite a espcie culposa e sim dolosa, no caso o dolo de perigo, direto ou eventual. Deve-se ressaltar que deve haver dano apenas em relao a perigo, pois se o sujeito sem culpa atropela uma vitima e posteriormente observa que era um desafeto e no presta socorro vindo a falecer a vitima, o sujeito responde por homicdio. CONSUMAO E TENTATIVA Em se tratando de delito omissivo prprio, inadmissvel a tentativa, ou seja, ou o sujeito presta a assistncia ou incide na figura delituosa. A simples tentativa de no prestar socorro j configura o crime. PENA E AO PENAL

No tipo simples previsto no Art. 135 do CP, a pena de deteno de um a seis meses, ou multa. Se da omisso de socorro h resultado de leso corporal de natureza grave, a pena aumentada de metade; se falecendo a vitima, triplicada. Nesse tipo de crime a autoridade deve agir de ofcio, pois se trata de ao penal pblica incondicionada, ou seja, no depende de nenhuma condio de procedibilidade. OMISSO DE SOCORRO NO CDIGO DE TRANSITO BRASILEIRO S ha de se falar em omisso de socorro aos condutores de veculos conforme previsto no Art. 304 do CTB, para os casos em que o fato ocorre sem culpa do condutor, pois havendo culpa deste, a omisso de socorro ser apenas considerada aumento de pena, conforme previsto no Art. 302 e 303 do CTB.

OMISSO DE SOCORRO NO ESTATUTO DO IDOSO Art. 97. Deixar de prestar assistncia ao idoso, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, em situao de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistncia sade, sem justa causa, ou no pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pblica: Pena - deteno de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Pargrafo nico. A pena aumentada de metade, se da omisso resulta leso corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Como se pode ver, a omisso de socorro est prevista de maneira mais ampla no Art. 97 do Estatuto do Idoso. 8 MAUS-TRATOS Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a sade de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilncia, para fim de educao, ensino, tratamento ou custdia, quer privando-a de alimentao ou cuidados indispensveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correo ou disciplina: Pena: deteno, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa. 1 - Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Pena: recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 2 - Se resulta a morte:

Pena: recluso, de 4 (quatro) a 12 (dose) anos. 3 - Aumenta-se a pena de um tero, se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. CONCEITO O ltimo dos crimes previstos no Captulo III est definido no art. 136, sob o nomem jris de maus-tratos: "Expor a perigo a vida ou a sade de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilncia, para fim de educao, ensino, tratamento ou custdia, quer privando-a de alimentao ou cuidados indispensveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correo ou disciplina: Pena - deteno, dois meses a um ano, ou multa." OBJETIVIDADE JURDICA A incolumidade da pessoa ainda o objeto jurdico do crime, reprimindo-se com o dispositivo os abusos correcionais e disciplinares que a expem a perigo. SUJEITO ATIVO O crime de maus-tratos um delito prprio, exigindo como pressuposto a existncia de uma relao jurdica preexistente entre os sujeitos ativo e passivo. S quem tem essa legitimao especial, de autoridade (pblica ou privada) ou de titular de guarda ou vigilncia, pode cometer o crime. Essa dependncia deve relacionar-se com educao, ensino, tratamento ou custdia. insupervel a lio de Hungria: "Educao compreende toda a atividade docente destinada a aperfeioar, sob o aspecto intelectual, moral, tcnico ou profissional, a capacidade individual. Ensino tomado, aqui, em sentido menos amplo que o de educao: a ministrao de conhecimentos que devem formar o fundo comum de cultura (ensino primrio, ensino propedutico). Tratamento abrange no s o emprego de meios e cuidados no sentido da cura de molstias, como o fato continuado de prover a subsistncia de uma pessoa. Finalmente,custdia deve ser entendida em sentido estrito: refere-se deteno de uma pessoa para fim autorizado em lei. Assim, o crime em questo praticvel por pais, tutores, curadores, diretores de colgio ou de institutos profissionais, professores, chefes de oficina ou contramestres, enfermeiros, carcereiros etc.". SUJEITO PASSIVO Sujeito passivo do crime quem se acha sob a autoridade, guarda ou vigilncia do agente. So, correspondentemente, os filhos, tutelados, curatelados, alunos, aprendizes, empregados, presos, etc. J se tem decidido que estando a vtima sob a guarda e tratamento

do agente, embora no seja este seu tutor ou responsvel, o abuso dos meios de correo caracteriza o crime de maus-tratos. Na falta de relao de dependncia, o ato, embora possa ter um fim educativo ou corretivo, escapa ao conceito de maus-tratos, podendo constituir outro crime (Arts 132, 129 etc). Assim, a mulher, por no estar sob a autoridade do marido, sendo deste companheira e auxiliar, no pode ser sujeito passivo do crime com relao quele. TIPO OBJETIVO A conduta tpica expor a perigo a vida ou sade da vtima pelo abuso voluntrio do agente, que deve exercer sua autoridade ou poder de correo e disciplina com prudncia e moderao. Segundo o tipo penal, maus-tratos so as condutas que expem a vida ou sade da vtima por meio de uma das formas previstas expressamente no dispositivo. Caso as aes ou omisses no se ajustem s modalidades tpicas, o fato constituir outra infrao penal. A primeira conduta tpica a de privar a vtima de alimentos indispensveis, ou seja, de no lhe proporcionar o responsvel alimentao adequada. No se trata de privao completa de alimentao, que poderia denunciar inclusive o animus necandi, mas a restrio que pode causar perigo para a vida ou sade do ofendido, No constitui o crime, pois, a supresso da sobremesa ou uma imposio de dieta adequada; no h a o abuso nem o perigo. Comete o crime tambm quem priva o ofendido de outros cuidados indispensveis ao dependente. Refere-se o dispositivo, nesse passo, privao de cama, de roupa, de higiene, de assistncia mdica, de medicamentos etc. TIPO SUBJETIVO

O crime de maus-tratos exclusivamente doloso, exigindo a vontade de praticar qualquer uma das condutas referidas no tipo. Somente se compe o delito, porm, quando existir o animus corrigendi oudisciplinandi. No se exige, porm, inteno lesiva, mas apenas a conscincia do agente que est pondo a risco a sade fsica ou psicolgica da vitima. Entende Euclides C. da Silveira que no se exige a conscincia do abuso, mas ela indispensvel sob pena de existir o erro. J se decidiu, assim, que se "exige, para a sua caracterizao, a manifestao clara e insofismvel de que o agente se porta com ntida conscincia de estar cometendo um ato antissocial". Reconheceu-se a ausncia de dolo, tambm, nos casos em que homem trabalhador e de boa conduta, alm de rstico, retm ou aplica castigos fsicos contra filho alienado mental.

CONSUMAO E. TENTATIVA Consuma-se o crime com a criao do perigo. Algumas das condutas exigem habitualidade, no se configurando o delito o fato de se privar a criana, por exemplo, de uma das refeies. Em outras, basta apenas uma ao ou omisso, como as de obrigar uma criana a passar a noite ao relento sob a chuva, ou surrar um jovem provocando-lhe leses serias, ainda que no graves. A tentativa possvel quando se tratar de conduta comissiva, como ocorre na interrupo do ato do agente que est pronto a espancar a vtima com instrumento vulnerante aps t-la amarrado a uma rvore. EXCLUSO DO CRIME

Pode ocorrer a excluso da criminalidade pela existncia de estado de necessidade, o que levou absolvio da me, que no tendo quem cuidasse do filho traquinas e adoidado, enquanto trabalhava fora do lar para sustent-lo, acorrentava-o ao p da cama para que no sasse de casa e do homem rstico e desprovido de recursos que mantinha o filho acorrentado durante o horrio de trabalho, visando apenas salvaguarda de sua vida e sade. Por outro lado, no foi reconhecida qualquer excludente quanto ao indivduo para evitar a fuga da vtima, sua sobrinha, amarrava-lhe os ps com cordas, ou no simples fato de tratar-se o agente de pessoa humilde e rude ao infligir castigo que refoge aos limites do jus corrigendi vel disciplinandi FORMAS QUALIFICADAS Ocorre o crime de maus-tratos qualificado quando resulta leso corporal de natureza grave, quando a pena ser de recluso, de um a quatro anos (art. 136, l), ou morte, com pena de recluso, de quatro a 12anos (art. 136, 2). DISTINO Distingue-se o crime de maus-tratos da leso corporal por ser esta delito de dano, enquanto do art. 136 de perigo. Inexistindo, alis, o animus de ofender a integridade fsica ou a sade do filho, mas to-s a inteno de aplicar-lhe um corretivo, no se cogita da configurao da leso corporal, mas do delito de maus-tratos. H maus-tratos e no sequestro se a finalidade do encerramento foi corretiva, ainda quando ocorra excesso.No crime em estudo, o abuso de autoridade elemento integrante do tipo, de modo que no prevalece, na espcie, a circunstncia agravante prevista no art. 61, II, f, do CP. O ato de correo ou disciplina pode ser vexatrio, caso em que no se pode falar de maus-tratos e sim de injria.

Quando a vtima criana (com idade at 12 anos) ou adolescente (at 18 anos), os maus-tratos podem configurar o crime de tortura, antes previsto no art. 233 da Lei n 8.069 (Estatuto da Criana e do Adolescente) e agora definido no art. 1a, II, da j Lei na 9.455, desde que presentes os elementos do tipo penal. Maus-tratos a pessoa idosa, que consistam na sua submisso a condies desumanas ou degradantes ou a trabalho excessivo ou inadequado, ou, ainda, na privao de alimentos ou cuidados indispensveis a que estava o agente obrigado a prestar, configuram o crime tipificado no art. 99 da Lei na 10.741, de 1-10-2003(Estatuto do Idoso), em que se cominam penas idnticas para as mesmas formas qualificadas previstas no art. 136, 1 e 2. CONCURSO Embora j se tenha decidido pelo concurso formal de maus-tratos e leses corporais na verdade, as leses, quando leves, so absorvidas por aqueles. Havendo leses corporais graves ou morte, haver crime qualificado por resultado: "se a menor vitima estava sob os cuidados e guarda da acusada, que a ela infligia constantes maus-tratos, provocando-lhe a morte, o delito a ser cogitado na espcie o do art. 136, 2, e no i do art. 129, 3, ambos do CP".