a percepção das características da face infantil por

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Programa de Pós Graduação em Psicobiologia Departamento de Fisiologia A percepção das características da face infantil por adultos e crianças sob uma perspectiva evolucionista CATIANE KARINY DANTAS SOUZA Natal / RN 2012

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Page 1: A percepção das características da face infantil por

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia

Departamento de Fisiologia

A percepção das características da face infantil por adultos e crianças

sob uma perspectiva evolucionista

CATIANE KARINY DANTAS SOUZA

Natal / RN

2012

Page 2: A percepção das características da face infantil por

CATIANE KARINY DANTAS SOUZA

A percepção das características da face infantil por adultos e crianças

sob uma perspectiva evolucionista

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, para

obtenção do título de Mestre em

Psicobiologia.

Orientadora: Profª. Dra. Maria Emília Yamamoto

Natal / RN

2012

ii

Page 3: A percepção das características da face infantil por

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências

Souza, Catiane Kariny Dantas.

A percepção das características da face infantil por adultos e crianças sob uma perspectiva evolucionista /

Catiane Kariny Dantas Souza. - Natal, 2012.

64 f.: Il.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Emília Yamamoto.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa

de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Psicologia evolucionista – Dissertação. 2. Comportamento humano – Dissertação. 3. Cuidado parental

– Dissertação. I. Yamamoto, Maria Emília. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 159.922

Page 4: A percepção das características da face infantil por

Título: A percepção das características da face infantil por adultos e

crianças sob uma perspectiva evolucionista.

Autor: Catiane Kariny Dantas Souza

Data da apresentação: 18 de maio de 2012

Banca Examinadora:

Profª. Dra. Maria Emília Yamamoto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profª. Dra. Angela Josefina Donato Oliva

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Profª. Dra. Fívia de Araujo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

iii

Page 5: A percepção das características da face infantil por

Para a minha mãezinha, Josefa Marlene Dantas Souza,

pelo amor e suporte a minha vida.

iv

Page 6: A percepção das características da face infantil por

AGRADECIMENTOS

À Deus e a intercessão de Maria Santíssima por toda luz e sabedoria;

Aos meus pais Marlene Dantas e Carlos Alberto, pelo apoio, paciência e ensinamentos;

À minha irmã Carlene, pela coragem e confiança;

Aos meus avós José Adelino Dantas e Cícera Lira Dantas, pelos mimos e paz nas

inquietações da vida;

Aos meus tios, Canindé Dantas, Edson Luís Dantas (também irmão), João Maria Dantas

e Sávio Dantas, e as minhas tias, Janete Lira Dantas, Cássia Lira Dantas e Maria das

Graças Dantas pela confiança e carinho;

Aos meus primos e primas, especialmente minha priminha Weslana Magna (Laninha)

que muito me ensinou com sua história de vida;

À professora Maria Emília Yamamoto por toda atenção concedida, orientação e

aprendizagens.

À professora e amiga Fívia Lopes, pelo suporte emocional e por acreditar nas minhas

capacidades.

Às minhas gigantes parceiras de trabalho e amigas, Rochele Castelo-Branco e Monique

Leitão que tanto contribuem para meu crescimento pessoal e acadêmico.

Aos meus irmãos de coração e amigos, Sinara Cybelle, Cristina Bispo e Fabrício

Camacho. Adoro vocês!

À Tiago Eugênio pelo carinho, atenção e insistência! E pelas boas risadas no

McDonald’s.

À minha turma de mestrado (2010), pelos momentos agradáveis. Em especial Jordana

Barbalho, por sempre me escutar; Pedro de Moraes pelas brincadeiras e o seu “supera”;

Natália Dutra pelo seu jeito e competência; Marília Barros por sua mansidão e

conselhos.

À Wall e Felipe Nalon pelo auxílio na estatística;

À Bruna e Aline pela ajuda nas coletas;

Ao CNPq, pelo apoio financeiro.

v

Page 7: A percepção das características da face infantil por

RESUMO As informações da face infantil evocam atenção, comportamentos de cuidado parental e

modulam as interações entre adultos e crianças. Lorenz descreveu o esquema infantil

(‘Kindchenschema’) como um conjunto de características físicas da face, tais como:

grande cabeça, face arredondada, testa proeminente e alta, olhos grandes, bochechas

arredondadas e salientes, e nariz e boca pequenos. Trabalhos prévios tiveram uma

concepção fundamental restrita as percepções positivas às faces infantis, e não

apresentaram resultados consistentes sobre o desenvolvimento da percepção dos

indivíduos quanto aos atributos físicos que funcionavam como marcadores de fofura.

Nós testamos experimentalmente o efeito do esquema infantil sobre a percepção de

fofura das faces infantis por adultos e crianças. Para isso, utilizamos 60 fotos das faces

não manipuladas graficamente de diferentes crianças-estímulo de 4 a 9 anos de idade.

Para isso, utilizamos 60 fotos das faces não manipuladas graficamente de diferentes

crianças-estímulo de 4 a 9 anos de idade. Na primeira tarefa para os sujeitos

experimentais adultos eram mostrados dez fotos-estímulo e para os sujeitos

experimentais crianças quatro fotos-estímulo por vez, num total de seis rodadas. Na

segunda tarefa participaram apenas os adultos, que por meio de uma escala likert

indicavam a motivação de comportamentos afetivos e de cuidado direcionado para as

crianças. Nossos resultados apontam que ambos os participantes julgaram de forma

similar a fofura das faces infantis, e as características físicas marcadoras dessa

percepção foi verificada apenas para as crianças-estímulo mais novas. Os adultos

atribuíram maiores motivações de comportamentos positivos as crianças-estímulo mais

fofas. O reconhecimento do esquema infantil por indivíduos de diferentes idades e

gêneros confere a universalidade e potência dos atributos físicos infantis. Sob a

vi

Page 8: A percepção das características da face infantil por

perspectiva evolutiva a responsividade ao esquema infantil é significante por assegurar

investimento parental e aloparental, e a consequente sobrevivência das crianças.

Palavras-chave: Esquema infantil, fofura, cuidado parental, comportamento humano,

psicologia evolucionista.

ABSTRACT

Child facial cues evoke attention, parental care behaviors and modulate for infant-

caretaker interactions. Lorenz described the baby schema (‘Kindchenschema’) as a set

of infantile physical features such as the large head, round face, high and protruding

forehead, big eyes, chubby cheeks, small nose and mouth. Previous work on this

fundamental concept was restricted to positive perception to infant face, and did not

show consistent results about the development individuals’ perceptions, regarding the

physical attributes that worked as markers of cuteness. Here, we experimentally tested

the effects of baby schema on the perception of cuteness of infant faces by children and

adults. We used 60 none graphically manipulated photos of different stimulus children

faces from 4 to 9 years old. In the first task for the adults experimental subjects, ten

stimulus photos were shown, whereas for children experimental subjects, four stimulus

photos were shown at a time, with a total of six rounds. The second task involved only

adults, who indicated the motivation of affective behaviors and care directed to children

through a Likert scale. Our results suggest that both participants judged similarly the

cuteness of children's faces, and the physical features markers of this perception were

observed only for younger stimulus children. Adults have attributed more motivations

of positive behaviors to cuter stimulus children. The recognition of the baby schema by

individuals of different ages and genders confers the universality and power of

vii

Page 9: A percepção das características da face infantil por

children's physical attributes. From the evolutionary perspective the responsiveness to

baby schema is significant to ensure aloparental and parental investment, and the

consequent children survival.

Keywords: Baby schema, cute, parental care, human behavior, Evolutionary

psychology.

viii

Page 10: A percepção das características da face infantil por

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO GERAL ........................................................................................01

A1. ARTIGO EMPÍRICO 1 ........................................................................................03

Resumo ...........................................................................................................................04

Introdução .......................................................................................................................06

Método ............................................................................................................................12

Resultado ........................................................................................................................16

Discussão ........................................................................................................................23

Referências .....................................................................................................................29

A2. ARTIGO EMPÍRICO 2 ........................................................................................34

Resumo ...........................................................................................................................35

Introdução .......................................................................................................................37

Método ............................................................................................................................41

Resultado ........................................................................................................................43

Discussão ........................................................................................................................47

Referências .....................................................................................................................52

CONCLUSÃO GERAL ...............................................................................................58

Anexo 01 .........................................................................................................................60

Anexo 02 .........................................................................................................................63

Anexo 03 .........................................................................................................................64

ix

Page 11: A percepção das características da face infantil por

APRESENTAÇÃO GERAL

O presente trabalho é constituído por dois artigos empíricos, uma conclusão

geral e os anexos. No primeiro artigo empírico é apresentada uma introdução geral

sobre a percepção do esquema infantil, e é intitulado por “Percepção de fofura e

comportamentos afetivos direcionados às crianças”, o qual foi realizado utilizando

fotografias não manipuladas da face infantil. Os sujeitos experimentais participaram de

duas tarefas, uma referente ao julgamento de fofura das faces infantis, e a outra relativa

à motivação comportamental afetiva e de cuidado direcionada às crianças-estímulo. No

total foram apresentados 60 fotos-estímulos em seis rodadas, sendo em cada rodada

mostrado 10 fotos-estímulos de uma mesma idade. O cenário para a segunda tarefa era

formado por seis fotos-estímulo do alto esquema e seis fotos-estímulo do baixo

esquema, sendo cada conjunto de fotos-estímulo apresentado em momentos distintos.

Nossa análise se concentrou em identificar quais fotos-estímulos eram consideradas de

maior e de menor fofura pelos participantes, e como a fofura afetava a motivação de

alguns comportamentos direcionados as crianças-estímulo. Segundo Lorenz, o esquema

infantil é percebido em termos de fofura e elicia motivação para cuidados nos adultos.

Nossos resultados indicaram que há uma maior percepção e mobilização de

comportamentos positivos para as crianças-estímulo de alto esquema. Percebemos que

essas respostas dos adultos foram similares as de outros trabalhos que utilizaram fotos

manipuladas da face infantil, indicando dessa forma a validade do nosso instrumento

metodológico. Nossos resultados ofereceram evidências de que a idade e algumas

características da face infantil identificaram a fofura somente para as crianças-estímulos

mais novas, em virtude de uma maior demanda de cuidados e atenção no período inicial

de desenvolvimento infantil.

1

Page 12: A percepção das características da face infantil por

O segundo artigo empírico é intitulado por “Argumentos diferentes de crianças e

adultos para a percepção da fofura infantil”, que foi realizado utilizando o conjunto de

fotos-estímulo infantis do primeiro artigo empírico. Os sujeitos experimentais

avaliavam a fofura baseado na aparência das faces infantis, e atribuíam um julgamento

sobre os fatores que o faziam escolher uma criança-estímulo fofa de outra menos fofa.

Ao total foram apresentados 24 fotos-estímulos em cinco rodadas, sendo em cada

rodada mostradas quatro fotos-estímulos de uma mesma idade. O objetivo de nossa

análise foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e adultos para discriminar as

características da face infantil associado com fofura, e verificar o tipo de conhecimento

que eles têm sobre o significado desse termo. Nossos resultados apontam que os

participantes perceberam a fofura da face infantil, tal como proposto na literatura,

sugerindo que há mecanismos cognitivos comuns para percepção de alguns estímulos,

neste caso as informações faciais. Evidências destacaram os sujeitos do sexo feminino

como os mais eficazes para identificar a gordura corporal infantil, possivelmente porque

às crianças gordas sinalizaram maiores chances de sobrevivência e de saúde. Então,

como sujeitos do sexo feminino são as principais responsáveis pelos cuidados primários

às crianças seria coerente que elas direcionassem tempo e energia as crianças que

apresentassem um maior valor de sobrevivência.

Na conclusão geral mostramos as considerações finais para os dois artigos

empíricos. Por fim, apresentamos os anexos. O primeiro anexo corresponde ao termo de

consentimento livre e esclarecido concebido para os responsáveis, o primeiro termo

refere-se a autorização para fotografar a face infantil, e o segundo termo a participação

das crianças no experimento e outro termo foi direcionado para participação dos

adultos. O segundo anexo refere-se às planilhas de coletas de dados para todos os

2

Page 13: A percepção das características da face infantil por

participantes. O terceiro anexo é constituído pela planilha de análise das motivações

comportamentais pelos adultos.

A.1 - Percepção de fofura e comportamentos afetivos direcionados as

crianças

Catiane Kariny Dantas Souza

Maria Emília Yamamoto

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

Natal / RN

2012

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Page 14: A percepção das características da face infantil por

RESUMO

As diferentes informações da face infantil influenciam processos cognitivos nos adultos

associados com as respostas afetivas e de atenção às crianças. O etólogo Lorenz

descreveu um conjunto de características físicas, como face arredondada, olhos grandes

e bochechas salientes que são atrativas e eliciam motivação de cuidado parental. Porém,

poucos experimentos têm investigado a expressão dessas percepções ao longo do

desenvolvimento infantil. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das

características da face infantil sobre a percepção de fofura pelos adultos, bem como a

motivação para comportamentos de afetividade e cuidado direcionados às crianças, por

meio de fotografias não manipuladas da face infantil de diferentes idades. No total

participaram 100 adultos, que julgaram a fofura das fotos-estímulo e fizeram um

raqueamento inserindo as fotos-estímulo de maior fofura nas primeiras posições e

aquelas de menor fofura nas últimas posições. Também foram questionados sobre a

motivação de comportamentos de afetividade e cuidado direcionados às crianças por

meio de uma escala Likert. Comparamos o posto médio de cada foto-estímulo por faixa

de idade com as medidas, em pixels, das características da face infantil. Nossos

resultados indicam que as características físicas só foram marcadoras de fofura para as

crianças-estímulos mais novas, provavelmente porque no período inicial da vida os

menores necessitam de um maior investimento parental e aloparental. Os adultos

perceberam e categorizaram a fofura das fotos-estímulo em alta ou baixa, e atribuíram

às crianças-estímulo mais fofas as maiores motivações de comportamentos positivos.

Nossos resultados apontam para os sujeitos do sexo feminino como os mais solícitos em

proteger as crianças-estímulo mais fofas, possivelmente porque elas são as principais

responsáveis pelo cuidado primário e atenção aos menores. As respostas ao esquema

infantil pelos adultos confere uma função evolutiva fundamental em termos de

4

Page 15: A percepção das características da face infantil por

assegurar a sobrevivência de uma criança, e pode ter implicações na interação entre

criança e cuidador.

Palavras-chave: Face infantil, fofura, cuidado, características infantis, psicologia

evolucionista.

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Page 16: A percepção das características da face infantil por

1. INTRODUÇÃO

Os adultos utilizam informações da face infantil tais como atratividade, fofura e

maturidade para construir diferentes respostas sociais. A disposição para responder

favoravelmente e perceber os atributos infantis desempenham um papel fundamental na

modulação das interações entre adultos e crianças (Alley, 1988; Harlow, 1971;

Hildebrandt & Fitzgerald, 1978). Além disso, as características físicas infantis são

biologicamente significantes por eliciar motivações de prover cuidado parental e

aloparental (Bowlby, 1969/1990; Glocker et al., 2009a; Lorenz, 1971), informando aos

possíveis cuidadores aspectos associados à fisiologia e desenvolvimento de uma criança

(Hrdy, 2001).

Nesse sentido, a reação positiva dos indivíduos às faces infantis tem um papel

relevante para adaptação humana, principalmente para as crianças cuja dependência e

demanda por cuidados são mais intensas no início da vida (Parsons, Young, Murray,

Stein, & Kringelbach, 2011). Dessa maneira, a tendência dos humanos em apresentar

uma atração natural às características infantis evoluiu no sentido de conferir um valor de

sobrevivência aos neonatos (Hrdy, 2001).

O etólogo Lorenz, em 1971, designou as características da face dos bebês pelo

termo “esquema infantil” (do alemão kindchenschema ou do inglês baby schema), e

descreveu-as com a seguinte morfologia, quando comparadas ao padrão adulto na

espécie humana: olhos grandes e de implantação baixa em relação à cabeça; testa

proeminente em relação ao tamanho da face; cabeça arredondada e grande em relação

ao corpo; queixo retraído; boca e nariz pequenos; e bochechas arredondadas e salientes.

As faces das crianças que apresentam esse padrão físico são comumente descritas como

fofas e atraentes (Sternglanz, Gray, & Murakami, 1977).

6

Page 17: A percepção das características da face infantil por

Lorenz (1971/1995) também observou que o conjunto de características infantis

funciona como um estímulo-chave para desencadear um mecanismo liberador inato

(MLI) de emoções positivas e motivação comportamental para o cuidado. A designação

MLI refere-se à organização neural envolvida na habilidade de identificar e responder de

modo adequado, e sem experiência prévia, às situações biologicamente relevantes.

Estudos empíricos recentes corroboram com a proposta teórica desse pesquisador ao

mostrar que há regiões cerebrais ativadas, como o córtex órbito-frontal medial e o

sistema límbico durante a exibição de faces infantilizadas (Glocker et al., 2009b;

Kringelbach et al., 2008).

A aparência da criança é um componente importante no julgamento dos

indivíduos em relação à aquisição de diferentes informações do esquema infantil.

Dentre algumas propriedades vinculadas ao aspecto físico das crianças estão a fofura e

atratividade, bem como o reconhecimento de sua maturidade (Zebrowitz, Kendall-

Tackett, & Fafel, 1991). Nesse contexto, a fofura é entendida por alguns autores pela

configuração de características visuais que tem uma função biológica específica

envolvida com o acolhimento de uma criança (Parsons, Young, Kumari, Stein, &

Kringelbach, 2011). Neste trabalho nós consideramos a fofura infantil como as

características físicas da face que chamam atenção e eliciam reações positivas nos

adultos.

Vários trabalhos apontaram para a fofura infantil como um desencadeador de

comportamentos positivos direcionados às crianças pelos adultos. Dessa forma, as

crianças consideradas fofas eliciam mais atenção e comportamentos de cuidado

(Hildebrandt & Fitzgerald, 1978/ 1981). Da mesma forma, as crianças consideradas

fofas foram avaliadas pelos adultos como as mais amáveis, alegres e sociáveis quando

comparada as crianças menos fofas (Casey & Ritter, 1996; Karraker & Stern, 1990;

7

Page 18: A percepção das características da face infantil por

Maier, Holmes, Slaymaker, & Reich, 1984). Também foi verificado que crianças com a

face mais próxima ao padrão infantil são percebidas como as mais fofas e bonitas

(Alley, 1981; Hildebrandt & Fitzgerald, 1979) e que adultos preferem e prestam mais

atenção a faces infantis do que a faces adultas, tanto em imagens de humanos como de

não-humanos (Brosch, Sander, & Scherer, 2007; Fullard & Reiling, 1976).

Em média, as mulheres apresentam uma maior sensibilidade a fofura infantil do

que os homens (Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010; Sprengelmeyer et

al, 2009). Entretanto, Glocker e colaboradores (2009) não acharam diferença

significante para o gênero ao comparar a percepção de fofura da face infantil pelos

indivíduos.

Outros trabalhos destacam outras características físicas marcadoras da fofura

infantil, entre elas os traços físicos curtos e estreitos, olhos grandes, bochecha saliente e

uma testa proeminente (Hildebrandt & Fitzgerald, 1979; Sternglanz, Gray, &

Murakami, 1977), bem como o rosto arredondado, sobrancelhas finas e nariz pequeno

(Zebrowitz & Montepare, 1992).

A atratividade é outro fator que afeta a percepção da face infantil pelos

indivíduos. Nesse sentido, adultos e crianças preferem olhar por um maior tempo para

faces julgadas como atrativas do que as faces julgadas como não atrativas (Hildebrandt

& Fitzgerald, 1978; Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982; Stephan & Langlois,

1984). Além disso, crianças não atrativas que transgridem uma situação social são

notadas como sendo mais desonestas e desagradáveis do que as crianças atrativas que

tiveram o mesmo comportamento (Dion, 1972).

Outro componente que influencia as respostas dos adultos em relação à

aparência infantil é a idade. De acordo com Volk, Lukjanczuk, & Quinsey (2007),

adultos atribuem uma maior fofura as crianças mais novas (), bem como direcionam

8

Page 19: A percepção das características da face infantil por

mais atenção e proteção aos menores (Eibl-Eibesfeldt, 1989). Além disso, homens e

mulheres julgam os bebês mais novos como os mais fofinhos (Lobmaier,

Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010). De um modo geral, os adultos são inclinados

a perceber faces imaturas como fofas e bonitas (Alley, 1981; Alley & Hildebrandt,

1988; Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982), e crianças com face madura como

menos competentes do que aquelas com face de bebê (Ritter, Casey, & Langlois, 1991).

A responsividade dos adultos ao esquema infantil é fundamental quanto à

tomada de decisão em alocar investimento parental. Visto que para essa atividade é

demandada uma quantidade considerável de tempo e energia, faz-se necessário uma

avaliação de custos e benefícios para realizar os comportamentos vinculados às

crianças. Sob o ponto de vista dos bebês, manter e exacerbar os traços físicos são

mecanismos adaptativos devido a sua extrema dependência dos pais para suprir suas

necessidades fisiológicas básicas (Hrdy, 2001).

Hrdy (2001) sugere que as características infantis são selecionadas por meio da

seleção desenfreada. Esse processo ocorre quando a preferência dos pais por traços

infantis exacerbados é intensificada e mantida numa população pelo favorecimento e

aumento da expectativa de vida dos filhos possuidores dos traços, e a consequente

escolha parental pela característica. Assim, ao longo das gerações, os indivíduos que

apresentavam essa responsividade tiveram um aumento da aptidão individual e do

sucesso reprodutivo via aumento da sobrevivência de sua prole.

O reconhecimento dos atributos físicos caracterizadores da face infantil foi

semelhante em diferentes raças, sexos e idades indicando que as mudanças ocorridas na

aparência facial ao longo do desenvolvimento são universais (McArthur & Berry, 1987;

Zebrowitz, Montepare, & Lee, 1993). Nesse contexto, o delineamento das

9

Page 20: A percepção das características da face infantil por

características morfológicas infantis está associado principalmente às pressões seletivas

do bipedalismo e do crescimento cerebral (Gould, 1977).

Uma das singularidades da espécie humana é a antecipação do nascimento do

bebê em virtude da pressão seletiva do bipedalismo, que ocasionou a redução da

abertura pélvica e o estreitamento do quadril. Uma das consequências foi a de que o

bebê passou a nascer antes do desenvolvimento completo de seu cérebro, e assim

quando comparado a outros neonatos primatas, ele é fisicamente imaturo, do ponto de

vista motor e perceptivo (Bjorklund, 1997; Hrdy, 2001). Em função dessa limitação, o

período gestacional foi reduzido para nove meses, e não 21 meses como deveria

acontecer para os humanos (De Toni, De Salvo, Marins, & Weber, 2004; Leakey,

1997).

Outra particularidade da espécie humana refere-se ao longo período de

desenvolvimento existente durante a fase inicial de vida em virtude da pressão seletiva

para o crescimento do cérebro (Bjorklund, 1997). Dessa forma, a infância ampliada

permite o aprendizado social voltado para assimilação de regras e papéis sociais, bem

como a plasticidade cerebral no contexto das experiências com o meio ambiente e a

aquisição de cultura (Futuyma, 1992).

Outro componente que modula a percepção dos atributos infantis é o vínculo

mãe/bebê desenvolvido desde o início da vida. Sob a perspectiva evolucionista, a

interação entre cuidador e bebê foi resultante do processo de seleção natural, conferindo

uma adaptação biológica, que possibilitou no curto prazo, a manutenção da proximidade

e do contato físico, e no longo prazo, o estabelecimento do apego (Carvalho, 1988).

No curto prazo, o vínculo mãe e bebê é permeado por diferentes tipos de

comportamentos interativos, entre os quais os mais comuns são chorar e chamar,

balbuciar e sorrir, agarrar, sugar, tocar, olhar e locomover-se (Carvalho, 1988). Além

10

Page 21: A percepção das características da face infantil por

disso, movimentos faciais e vocalizações ampliam a comunicação e o envolvimento

físico com outros indivíduos (Abreu, 2005; Carvalho, 1988).

Bowlby (1969/1990) propôs a existência de um sistema comportamental

regulador da busca por proximidade e da manutenção de contato da criança com a figura

materna ou outro possível cuidador. Esse vínculo envolve a construção de códigos de

comunicação social, a partir da atividade interpretativa da mãe sobre os

comportamentos do bebê e suas relações com o contexto, adquirindo um forte valor

funcional de proteção à criança.

Poucos estudos empíricos têm investigado a percepção dos adultos às variações

das propriedades físicas da face ao longo do desenvolvimento infantil. Assim, o

presente trabalho avaliou o efeito das características da face infantil sobre a percepção

de fofura pelos adultos, bem como a motivação para comportamentos de afetividade e

cuidado direcionados às crianças, por meio de fotografias não manipuladas da face

infantil de diferentes idades.

Nossa hipótese é que as diferentes informações da face infantil das diferentes

idades são percebidas em termos de fofura e eliciam motivação de comportamentos

afetivos e de cuidado nos adultos. Nossa predição é que as crianças de alto esquema

infantil sejam percebidas como as mais fofas e evoquem mais comportamentos afetivos

e de cuidado nos adultos do que as crianças de baixo esquema infantil.

Outra hipótese é que a idade e as características da face das crianças-estímulo

afetam a percepção de fofura dos adultos. Espera-se que as características da face das

crianças-estímulo mais novas, 4 a 6 anos de idade, sejam percebidas como as mais fofas

do que para as crianças-estímulo mais velhas, 8 e 9 anos de idade pelos adultos.

11

Page 22: A percepção das características da face infantil por

2. MÉTODO

Participantes

Participaram da pesquisa 100 adultos com idade variando entre 20 e 35 anos

(idade média ± DP = 24,08 ± 3,6 anos), sendo 52 mulheres. A coleta de dados foi

realizada com os estudantes de graduação e pós graduação da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte (UFRN), Natal/RN.

Estímulo

O grupo estímulo foi formado por um conjunto de 60 fotos da face de crianças

distintas consistindo de 05 meninos e 05 meninas de cada uma das idades de quatro,

cinco, seis, sete, oito e nove anos com expressão facial neutra, conforme autorização de

um termo de consentimento livre e esclarecido por um dos responsáveis. Para fotografar

as crianças-estímulo do experimento foi previamente padronizado um aparato, que

incluiu o mesmo plano de fundo de coloração azul escuro e material (TNT), o banco

para assento das crianças, a altura do tripé e a distância entre o participante e o fotógrafo

(pesquisador).

As fotos utilizadas foram as originais, sem manipulação para aumentar ou

diminuir a fofura. Portanto, foi necessário categorizá-las em grupos de faces com maior

ou menor intensidade de características infantis. A Figura 1 apresenta os parâmetros

morfológicos faciais mensurados neste trabalho, que incluem a largura da face (a), a

proporção do comprimento da testa em relação ao comprimento da face (b/c) e a largura

do nariz (d/a) e da boca (e/a) comparados à largura da face. Além da área da bochecha

(f) em relação à área da face (g). As medidas do comprimento e largura foram

selecionadas com base no trabalho proposto por Glocker (2009a).

12

Page 23: A percepção das características da face infantil por

Para cada característica da face infantil foi mensurado o número de pixels por

meio do programa ImageJ 1.43. A partir dos valores dessa quantificação foi construído

um rank, que variou de 1 a 10, o número 1 representa a foto-estímulo considerada como

a mais fofa e o número 10 representa aquela menos fofa. Os ranqueamentos em pixels e

os postos médios das fotos-estímulo atribuídos pelos adultos foram comparados para

verificarmos a correlação existente entre eles. A conversão foi baseada nos valores

referentes ao alto esquema infantil; dessa maneira, para a primeira posição foram

considerados os maiores valores para a largura da face, a proporção do comprimento da

testa em relação ao comprimento da face, a largura do olho em relação à largura da face

e a área da bochecha em relação à área da face; e os menores valores para a largura do

nariz e da boca em relação à largura da face.

Também foram formados dois agrupamentos das fotos-estímulo por faixa etária,

um grupo representando as crianças mais novas, de 4 a 6 anos, e o outro grupo formado

pelas crianças mais velhas, de 8 e 9 anos. Para a idade de 7 anos as fotos não foram

suficientemente distintas em termos de fofura para puder quantificá-las quanto às

características faciais em pixels, e por isso os dados referentes a essa idade foram

excluídos da amostra.

A B

g

f

13

Page 24: A percepção das características da face infantil por

Figura 1: Medidas das delimitações físicas da face infantil. A: Os comprimentos utilizados foram [a]

largura da face, [b] comprimento da testa, [c] comprimento da face, [d] largura do nariz, [e] largura da

boca. B: As áreas utilizadas foram [f] área da bochecha e [g] área da face.

Procedimento

Os sujeitos adultos participaram de duas tarefas, uma referente ao julgamento de

fofura baseado na aparência das faces infantis das fotos-estímulo, e a outra relativa à

motivação comportamental direcionada às crianças-estímulo, conforme o esquema

infantil. Na primeira tarefa foram mostradas aos adultos, individualmente, 10 fotos

impressas (tamanho 10x15cm) de crianças-estímulo de mesma faixa de idade, num total

de seis rodadas, sendo uma rodada para cada idade das crianças-estímulo, de forma que

cada participante avaliava todas as fotografias.

Era solicitado ao participante que ordenasse o conjunto de fotos-estímulo com

base na fofura atribuída a cada uma delas, de modo que, ao final de cada rodada o

sujeito tivesse ranqueado-as colocando a foto considerada mais fofinha na primeira

posição, e assim sucessivamente de forma decrescente até a escolha da foto menos

fofinha, que ocupava a última posição. Após cada rodada separávamos duas fotos,

aquelas inseridas na primeira e na última posição, respectivamente, a mais e a menos

fofa, que seriam utilizadas na próxima tarefa. Essas fotos foram selecionadas somente

pelo julgamento de fofura dos adultos (Figura 2).

Na segunda tarefa utilizamos uma escala de Likert de 7 centímetros, para avaliar

a categorização de fofura e a motivação para cuidar, proteger, apertar e fazer carinho as

crianças. Foram mostradas inicialmente seis fotos-estímulos de maior fofura e

posteriormente seis fotos-estímulos de menor fofura, incluindo todas as idades. Para

cada apresentação das fotos-estímulos era feito a seguinte pergunta: “Em relação a estas

crianças o quanto você tem vontade de cuidar, proteger, apertar e fazer carinho”. O

sujeito deveria marcar um ponto em cada uma das retas assinalando a sua motivação

14

Page 25: A percepção das características da face infantil por

para cada comportamento direcionado as crianças. Também foi informada que o início

da reta representava uma baixa motivação e o final uma alta motivação comportamental.

Análise estatística

Para as análises estatísticas foram utilizadas medidas dependentes, levando em

consideração o nível de significância de p<0,05. Apenas parte dos dados atingiu a

normalidade, de acordo com o teste de Kolmogorov-Smirnov, e, portanto utilizamos

testes paramétricos e não-paramétricos, respectivamente.

Para analisar a percepção de da fofura das fotos, foi usado o Teste de Friedman,

e para verificar os agrupamentos das fotos conforme a categorização de fofura foi

utilizado o Teste Wilcoxon com correção de Bonferroni dividido por 10 para cada faixa

etária das crianças-estímulo. Para verificar a influência do gênero dos sujeitos na

percepção de fofura das fotos foi utilizado o Teste de Mann-Whitney. O Teste de

Wilcoxon também foi aplicado para avaliar a taxa de fofura das fotos pelos adultos em

função das idades das crianças-estímulo.

Os valores para os testes não-paramétricos foram representados pelo menor e

maior valor indicado entre colchetes, seguido do menor valor de p encontrados para

todas as comparações.

Para verificar se havia correlação entre a avaliação das fotos-estímulo pelos

adultos e a medida do número de pixels das características da face infantil para a

categorização do esquema infantil foi feito o Teste Tau de Kendall.

A influência da fofura das fotos-estímulo e do gênero dos participantes nos

comportamentos motivacionais foi analisada a partir do GLM de medidas repetidas com

correção de Bonferroni.

15

Page 26: A percepção das características da face infantil por

3. RESULTADO

3.1 Percepção da fofura infantil

O ranqueamento conforme as características faciais das fotos-estímulo indicou

que os adultos reconheceram a fofura infantil para as diferentes faixas de idade de forma

consistente (4 anos: x² = 392,02; 5 anos: x² = 246,79; 6 anos; x² = 292,54; 8 anos: x² =

191,04; 9 anos: x² = 51,09; p<0,001), sendo portanto possível categorizar o esquema

infantil em alto ou baixo. Além disso, verificamos uma coerência da classificação dos

sujeitos sobre as posições das fotos-estímulos. Dessa forma, as fotos-estímulo inseridas

nas duas primeiras posições e, portanto ocupando os menores postos médios, foram

categorizadas no alto esquema infantil e consideradas como as crianças mais fofas. As

crianças-estímulo inseridas nas duas últimas posições e, portanto ocupando os maiores

postos médios foram categorizadas no baixo esquema infantil e consideradas como as

crianças menos fofas (Z = [-3,9; 8,0]; p<0,005, Tabela 1).

Tabela 1: Ranqueamento das fotos-estímulo feito pelos adultos de acordo com a fofura infantil e as

faixas de idade. Nos parênteses são informados os postos médios das duas primeiras e das duas últimas

fotos escolhidas pelos adultos durante o ranqueamento. Teste de Wilcoxon, *resultado significativo a p<

0,001.

Faixas de idade Ranqueamento das fotos-estímulo de acordo com

esquema infantil

Sig.

4 anos Alto esquema (2,92; 3,27) x Baixo esquema (8,79; 8,49) *

5 anos Alto esquema (3,2; 3,37) x Baixo esquema (7,17; 7,29) *

6 anos Alto esquema (2,5; 3,76) x Baixo esquema (7,06; 7,79) *

8 anos Alto esquema (3,52; 3,77) x Baixo esquema (7,21; 7,72) *

9 anos Alto esquema (5,09; 5,16) x Baixo esquema (6,34; 6,83) *

Não houve efeito do gênero dos participantes na percepção de fofura das fotos-

estímulo (Z > 0,2; U<1236,0; p>0,05), sugerindo que a fofura infantil é um atributo

reconhecido tanto por homens quanto pelas mulheres.

16

Page 27: A percepção das características da face infantil por

3.2 Características da face e ranqueamento das fotos-estímulo pelos adultos

A avaliação das fotos-estímulo feita pelos adultos foi comparada com a medida

do número de pixels das características da face infantil para a categorização do esquema

infantil. Nem todas as medidas correlacionaram-se positivamente com a avaliação dos

adultos havendo uma variação entre as faixas etárias. As correlações foram

significativas principalmente para as crianças mais novas e indicaram características

diferentes para cada idade.

Para as crianças-estímulo de 4 anos de idade houve uma correlação negativa

entre o ranqueamento dos adultos e a largura do olho em relação a largura da face (T= -

0,556; p = 0,025; Tabela 2). Porém, houve uma correlação positiva entre o

ranqueamento dos adultos e a área da bochecha em relação à área da face (T= 0,556; p=

0,037; Tabela 2).

Para as crianças-estímulo de 5 anos de idade houve uma correlação positiva

entre o ranqueamento dos adultos e o comprimento da testa em relação ao comprimento

da face (T= 0,556; p = 0,025; Tabela 2). Para as crianças-estímulo de 6 anos de idade

houve uma correlação positiva entre o ranqueamento dos adultos e a largura da boca em

relação a largura da face (T= 0,556; p = 0,025; Tabela 2). No entanto, para as crianças-

estímulo de 8 e 9 anos de idade não houve correlação significativa entre qualquer

característica da face infantil e a avaliação dos adultos (T= [-0,156; 0,467]; p > 0,05;

Tabela 2).

17

Page 28: A percepção das características da face infantil por

Tabela 2: Comparação do ranqueamento de fofura realizado pelos adultos para cada idade das crianças-

estímulo com o ranqueamento das características da face infantil. Resultados do coeficiente de correlação

(T) e p referentes ao Teste Tau de Kendall, resultado significativo à p< 0,05.

Ranqueamento dos

adultos conforme

idade das crianças-

estímulo

Rank:

Comprimento

Testa /

Comprimento

Face

Rank:

Largura

Olho /

Largura

Face

Rank:

Largura

Boca /

Largura

Face

Rank:

Área

bochecha

/ Área da

face

4 anos ns T = -0,556 p = 0,025

ns T = 0,556 p = 0,037

5 anos T = 0,556 p = 0,025

ns ns ns

6 anos ns ns T = 0,556 p = 0,025

ns

8 anos ns ns ns ns

9 anos ns ns ns ns

Também foi verificado um efeito significante da faixa de idade das crianças-

estímulo sobre a percepção de fofura pelos adultos. Os resultados indicaram que as

crianças-estímulo mais novas, de 4 a 7 anos, foram consideradas significativamente

mais fofas do que as crianças-estímulo mais velhas, de 8 e 9 anos de idade (Z = [-2,19;-

7,16]; p<0,05, Fig. 3). A taxa de fofura das crianças-estímulo foi obtida pela diferença

do posto médio das fotos-estímulos de menor fofura pelo posto médio das fotos-

estímulo de maior fofura.

18

Page 29: A percepção das características da face infantil por

*

Figura 3: Mediana da taxa de fofura das fotos segundo a atribuição pelos adultos em função das idades

das crianças-estímulo. A barra cinza escuro representa o agrupamento das crianças-estímulo mais novas, e

a barra cinza claro representa o agrupamento das crianças-estímulo mais velhas. A diferença significativa

ocorreu entre os agrupamentos das idades. Teste de Wilcoxon, *resultado significativo a p< 0,05.

3.3 Motivações comportamentais direcionadas às crianças:

3.3.1 Influência da fofura infantil

Há um efeito significante da percepção de fofura (GLM de medidas repetidas),

medida pela avaliação dos adultos, em relação à motivação comportamental para o

cuidado (F(1, 98) = 27,44; p<0,001), proteção (F(1, 98) = 18,56; p<0,001), apertar (F(1, 98) =

55,31; p<0,001) e carinho (F(1, 98) = 42,09; p<0,001) direcionados às crianças pelos

adultos. As comparações pareadas com a correção de Bonferroni mostraram que as

crianças-estímulo de maior fofura tiveram uma maior média para todos os

comportamentos motivacionais do que as crianças-estímulo de menor fofura (p<0,001,

Figura 4a, 4b, 4c e 6).

19

Page 30: A percepção das características da face infantil por

(a) (b)

* *

(c)

*

Figura 4: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação comportamental em função da fofura das

crianças-estímulo, (a) motivação para o cuidado, (b) motivação para apertar e (c) motivação para carinho.

*GLM de medidas repetidas com p<0,05.

3.3.2 Influência do sexo

Embora não tenha sido verificado um efeito do sexo na percepção de fofura das

crianças-estímulo, houve diferenças significativas (GLM de medidas repetidas) na

motivação para apertar (F(1, 98) = 11,81; p<0,005), e fazer carinho (F(1, 98) = 7,45; p<

0,05), tendo os sujeitos do sexo feminino maiores médias do que os sujeitos do sexo

masculino (p<0,05, Figuras 5a, 5b, 5c e 5d), quando tomamos como referência todas as

fotos-estímulo, independente da faixa de idade. Entretanto, não houve um resultado

20

Page 31: A percepção das características da face infantil por

significativo para os comportamentos de cuidado (F(1, 98) = 0,87; p = 0,35), e proteção

(F(1, 98) = 0,02; p = 0,86).

Criança-estímulo fofa Criança-estímulo menos fofa

(a)

(b)

*

*

(c) (d)

*

*

Figura 5: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação comportamental em função dos sexos

dos participantes, (a) motivação para carinho nas crianças fofas, (b) motivação para carinho nas crianças

menos fofas, (c) motivação para apertar as crianças fofas, (d) motivação para apertar as crianças menos

fofas. GLM de medidas repetidas com p<0,05.

A interação entre o sexo dos participantes e a fofura das crianças-estímulo

(GLM de medidas repetidas) foi significante apenas para o comportamento de proteção

(F(1, 98) = 5,03; p<0,05, Figura 6). As mulheres apresentaram uma maior motivação

21

Page 32: A percepção das características da face infantil por

para proteger as crianças ranqueadas como as mais fofas do que as crianças ranqueadas

como menos fofas (t = 4,58; df = 51; p<0,001, Figura 6), porém para os homens não

houve resultado significativo (t = 1,48; df = 47; p = 0,14). Não foi verificado um efeito

significante da interação entre o sexo e a percepção da fofura infantil para os

comportamentos de cuidado (F(1,98) = 2,75; p = 0,1), apertar (F(1, 98) = 0,07; p = 0,78)

e carinho (F(1, 98) = 0,42; p = 0,51).

Figura 6: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação para proteção em função da fofura

infantil e sexos dos adultos. GLM de medidas repetidas com p<0,05, resultado significativo para as

mulheres.

22

Page 33: A percepção das características da face infantil por

4. DISCUSSÃO

Nossos resultados suportam a hipótese de que as diferentes informações da face

infantil das diferentes idades foram percebidas em termos de fofura pelos adultos. Os

dados também apoiam nossa predição de que as fotos-estímulo categorizadas no alto

esquema infantil (pixels) foram aquelas consideradas como as mais fofas, e as fotos-

estímulo categorizadas no baixo esquema infantil (pixels) foram aquelas consideradas

como as menos fofas. Vários estudos mostraram que os indivíduos conferem reações

positivas às faces infantis de maior fofura (Chin, Wade, & French, 2006; Hildebrandt &

Fitzgerald, 1978/1979). Alley (1983), porém, destacou que as mudanças na aparência

física ao longo do desenvolvimento infantil podem alterar a percepção de fofura dos

indivíduos. Outros trabalhos utilizaram imagens manipuladas de crianças para enfatizar

que as características da face exacerbadas são percebidas como as mais fofas

(Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010; Sprengelmeyer et al., 2009). Essa

evidência está em concordância com os resultados do nosso trabalho que utilizou como

ferramenta de estímulo as fotos infantis não manipuladas. Dessa forma, esses resultados

apoiam a ideia de que as características da face infantil modulam o julgamento dos

indivíduos quanto à percepção de fofura, de acordo com as diferentes idades das

crianças.

De acordo com Lorenz (1971) o esquema infantil torna-se mais efetivo durante o

início da infância devido o mecanismo liberador inato evocar significantemente

respostas afetivas e de atenção nos adultos. Nesse mesmo período, a prole ainda está no

processo inicial de desenvolvimento das habilidades cognitivas, motoras e de

comunicação, o que confere aos infantes maior dependência e mais necessidade de

cuidados parentais (Trivers, 1972). Bowlby (1969/1990) e Lorenz (1971) sugerem que a

demanda de cuidados tende a diminuir com a maturidade da criança, de modo que as

23

Page 34: A percepção das características da face infantil por

crianças menores teriam um maior investimento relativo de recursos parentais do que as

crianças mais velhas.

Nesse sentido, a idade das crianças-estímulo deveria afetar a percepção de fofura

dos adultos, tal como confirmado neste trabalho. Nossos resultados mostraram uma

correlação positiva entre as características da face (área da bochecha, comprimento da

testa e largura da boca) e avaliação de fofura pelos adultos somente para as crianças

menores, 4 a 6 anos de idade. Além disso, apesar de nossos resultados iniciais indicarem

que os adultos percebem a fofura das faces infantis para todas as idades, nós

verificamos que eles não se verbalizaram das características físicas propostas por

Lorenz em 1971 para identificarem a fofura das crianças-estímulo maiores (8 e 9 anos

de idade). Logo, podemos inferir que os adultos foram mais seletivos para responder

favoravelmente aos atributos físicos das crianças nos primeiros anos de vida do que no

final da infância, sugerindo que estariam mais disponíveis para fornecer cuidado quando

estes são mais vulneráveis. Em conformidade com os argumentos anteriores, estudos de

crescimento crânio-facial têm mostrado que a estrutura da face infantil passa por

transformações graduais durante a infância (Enlow, 1982). Portanto, as crianças

menores ainda estariam passando por esse processo de forma mais intensa e

consequentemente as características físicas marcadoras de fofura seriam mais

pronunciadas do que nas crianças maiores.

Nesse contexto, continuamente tem sido destacado na literatura que as crianças

mais novas são percebidas como as mais fofas quando julgadas pelos adultos (Ritter,

1991), tal como verificado neste estudo. Além disso, outros trabalhos relacionam

atributos qualitativos às crianças com idades menores. Nesse sentido, as faces de

crianças mais novas foram consideradas como as mais amáveis e atrativas do que as

faces de crianças mais velhas (Korthase & Trenholme, 1982; Luo, Li, & Lee, 2011),

24

Page 35: A percepção das características da face infantil por

assim como as crianças com face imatura foram avaliadas como dignas de serem

ajudadas e defendidas (Alley & Hildebrandt, 1988). Esses resultados indicam que a

preferência por direcionar atenção e qualidades em termos de fofura para as crianças

mais novas é uma função adaptativa importante por conferir uma demanda de tempo e

energia alocada para recursos de cuidados.

Nossos resultados também deram apoio à hipótese de que as informações da face

infantil eliciaram uma resposta preferencial nos adultos, neste caso, direcionada para o

alto esquema infantil. Dessa forma, foi visto que os adultos tiveram uma maior

motivação para o cuidado, proteção, apertar e carinho às crianças de maior fofura.

Trabalhos anteriores, que investigaram comportamentos de cuidado e proteção

corroboram nossos achados quando enfatizam a maior motivação desses

comportamentos direcionada para o alto esquema infantil do que para o baixo esquema

infantil (Alley, 1981; Bowlby, 1990; Glocker et al., 2009a; Hildebrandt & Fitzgerald,

1978/1983). Nosso trabalho sugere, além das citadas anteriormente, outras motivações

comportamentais, tais como apertar e carinho como respostas afetivas direcionadas a

crianças fofas.

Uma implicação importante desses resultados é que as características da face

infantil eliciam processos cognitivos associados com o cuidado parental em humanos

(Bowlby, 1969/1990; Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Lorenz, 1971), bem como em

outras espécies de mamíferos (Eibl-Eibesfeldt, 1989). Sob a perspectiva etológica, para

muitas espécies de vertebrados e mamíferos placentários, a sobrevivência dos menores

frequentemente depende das escolhas e prioridades dos pais. Nesse sentido, ao longo do

processo evolutivo, a preferência dos pais por características infantis consideradas fofas

poderia se manter numa população uma vez que aumentam as chances de sobrevivência

de uma criança, justamente por eliciar um efetivo investimento parental (Hrdy, 2001). O

25

Page 36: A percepção das características da face infantil por

equilíbrio entre o traço infantil e a preferência dos pais por ele seria ocasionado pelo

processo de seleção desenfreada (Hrdy, 2001). Consequentemente, as crianças

consideradas fofas seriam favorecidas por possuírem atributos chamativos e por

evocarem mais respostas comportamentais e benefícios advindos dos pais.

Verificamos que homens e mulheres perceberam de forma semelhante a fofura

das fotos-estímulo. Nossos resultados corroboram achados de outro estudo de que

ambos os sexos tiveram a mesma resposta quanto à fofura e atratividade associada à

face infantil (Parsons, Young, Kumari, Stein, & Kringelbach, 2011). Dessa forma,

verificamos que sujeitos do sexo feminino e masculino possuem mecanismos

psicológicos comuns para perceberem diferentes detalhes em termos de graciosidade da

face infantil (Brosch, Sander, & Scherer, 2007; Buss, 1999; Glocker et al., 2009b). E

nesse sentido, a percepção dos atributos infantis pode ser entendida como uma resposta

biológica já intrinsecamente pronta quando um indivíduo é exposto ao estímulo

específico, neste caso a face infantil.

Apesar dessa similaridade entre os sexos quanto à percepção de fofura, nosso

trabalho identificou que as mulheres apresentaram uma maior inclinação para

direcionarem comportamentos de carinho e apertar as crianças, independente da fofura.

Vários autores mostram que os sujeitos do sexo feminino teriam um viés de

responsividade emotiva mais expressivo e sensível aos atributos físicos infantis do que

os sujeitos do sexo masculino, provavelmente em função da adaptação parental

(Harlow, 1971; Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Kring & Gordon, 1998). Isto

provavelmente se relacionando ao fato das mulheres estarem mais envolvidas nas

atividades primárias de cuidado e lactação, bem como na tarefa de discriminar a

linguagem não verbal e as expressões faciais das crianças, e os homens mais voltados

para aquisição de recursos (Geary, 1998). Além disso, na maioria das sociedades

26

Page 37: A percepção das características da face infantil por

humanas sujeitos do sexo feminino são encorajados a brincar com bonecas, cuidar dos

irmãos mais novos e ser generosos com a necessidade de outros do que os sujeitos do

sexo masculino (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Hrdy, 2001). Nesse sentido, em concordância

com esses achados na literatura podemos destacar a importância e o envolvimento desde

cedo da mulher na interação direta com os menores.

A teoria do apego (Bowlby, 1969/1990) sugere que a vinculação mãe-bebê

permite maior contato físico e segurança psicológica durante o início da vida infantil.

Dessa maneira, a criança é completamente dependente da motivação adequada da figura

materna ou a de outro cuidador para manter a proximidade e prover outros tipos de

contatos essenciais à sua sobrevivência. Por consequência, as mulheres estariam mais

propensas a inferir e responder aos aspectos fisiológicos mais implícitos da infância e se

envolverem com maior frequência em comportamentos afetivos direcionados as

crianças.

Nossos resultados também destacaram uma maior responsividade feminina para

o comportamento de proteção às crianças de maior fofura. Segundo Geary (1998) a

teoria da seleção sexual é a mais consistente para justificar as diferentes regras

biológicas entre os sexos, justamente por ser um processo seletivo que atuou de forma

diferente sobre os comportamentos de cada gênero. Dessa forma, para a espécie humana

na qual ocorre assimetria quanto ao investimento parental, o sucesso reprodutivo para

cada sexo depende de investimentos diferenciais, no caso das mulheres recursos

energéticos e temporais na prole, e no caso dos homens a quantidade de parceiras que

com as quais é capaz de acasalar (Trivers, 1972). Portanto, devido à natureza biológica

da mulher e para aumentar sua aptidão reprodutiva seria coerente que ela se mostrasse

mais seletiva à proteção de uma criança fofa do que a outra. Uma criança fofa pode ser

considerada mais nutrida, saudável e resistente em períodos instáveis, tendo assim uma

27

Page 38: A percepção das características da face infantil por

maior perspectiva de sobrevivência do que uma criança menos fofa (Hrdy, 2001). Dessa

forma, as mulheres seriam mais seletivas sobre a escolha de quais crianças exercerem a

proteção.

Nós concluímos que o esquema infantil eliciou diferentes respostas nos adultos,

e que foi percebido em termos de fofura e mobilização para comportamentos afetivos e

de cuidado direcionados principalmente as crianças de alto esquema infantil. Além

disso, as características físicas das crianças mais novas foram marcadoras de fofura para

as respostas dos indivíduos. Dessa forma, percebemos a importância evolutiva das

diferentes informações da face infantil em relação à percepção dos adultos.

No nosso trabalho tivemos algumas limitações. A quantidade de fotos-estímulo

por faixa de idade foi pequena, e por isso não avaliamos a influência do gênero das

fotos-estímulos sobre a percepção de fofura dos adultos. Também não mensuramos as

motivações comportamentais para cada idade da criança-estímulo de forma separada.

Apesar de tentarmos manter a criança com uma expressão facial neutra não foi possível

ter um controle total de sua expressividade. Também não controlamos a experiência

prévia dos participantes com crianças.

28

Page 39: A percepção das características da face infantil por

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33

Page 44: A percepção das características da face infantil por

A.2 - Argumentos diferentes de crianças e adultos para a percepção da

fofura infantil

Catiane Kariny Dantas Souza

Maria Emília Yamamoto

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

Natal / RN

2012

34

Page 45: A percepção das características da face infantil por

RESUMO

As características da face infantil mobilizam respostas emocionais de afeto e

comportamentos de cuidado parental e aloparental. Crianças e adultos tendem a

demonstrar um julgamento similar em relação à aparência infantil. Essa resposta pode

ter sido desencadeada pela atratividade e fofura dos atributos físicos expressos na face

dos infantes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e

adultos para discriminar as características da face infantil associadas com a fofura, e

analisar o tipo de conhecimento que eles têm sobre o significado desse termo. Para isso

nós utilizamos 24 fotos-estímulo distintas das crianças de diferentes idades que foram

previamente categorizadas em termos de fofura no trabalho de Dantas & Yamamoto.

Aos participantes, 100 adultos e 93 crianças, foram pedidos que julgassem a fofura das

fotos-estímulo com base na aparência das faces infantis. A cada rodada eram

apresentadas quatro fotos-estímulo de mesma idade, num total de cinco rodadas. Ao

final os sujeitos experimentais teriam que estabelecer um ranqueamento das fotos-

estímulo, de forma que nas primeiras posições estivessem às crianças-estímulo

consideradas mais fofas, e na última posição as crianças-estímulo menos fofas. Nossos

resultados apontam uma similaridade quanto à percepção de fofura da face infantil por

crianças e adultos. Essa evidência indica a universalidade para o reconhecimento do

esquema infantil, conferindo uma função evolutiva fundamental por mobilizar atenção e

cuidado as crianças. Nossos resultados destacam diferenças sexuais para a identificação

de uma face infantil fofa, tendo os sujeitos do sexo feminino associado à gordura

corporal das crianças-estímulo, e os sujeitos do sexo masculino relacionado à beleza das

crianças-estímulo. A preferência feminina por traços que sinalizam a saúde da criança, e

a preferência masculina por características físicas de atratividade é consequência das

35

Page 46: A percepção das características da face infantil por

pressões seletivas que atuaram distintamente sobre cada sexo ao longo do processo

evolutivo.

Palavras-chave: face infantil, fofura, gordura corporal, esquema infantil, psicologia

evolucionista.

36

Page 47: A percepção das características da face infantil por

1. INTRODUÇÃO

Os indivíduos geralmente interagem com as crianças e mostram motivação para

engajar-se nas atividades de atenção prioritária e cuidado a elas. As respostas positivas

direcionadas às crianças, e a percepção das características de sua face são

desencadeadas por um mecanismo liberador inato (MLI) (Lorenz, 1971). O MLI está

envolvido na identificação das situações biologicamente relevantes como as de

reconhecimento do esquema infantil. Para Lorenz (1971) o esquema infantil representa

o conjunto de características físicas infantis, tais como: cabeça arredondada, testa

proeminente, olhos grandes e redondos, boca e nariz pequenos e bochechas salientes. Os

atributos físicos infantis são considerados universalmente atrativos (Hrdy, 2001).

As respostas dos indivíduos aos rostos atrativos foram observadas em vários

tipos de faces humanas infantis, as femininas e masculinas e as caucasianas e africanas

(Langlois, Ritter, Roggman, & Vaughn, 1991; Van Duuren, Kendell-Scott, & Stark,

2003). O julgamento da face infantil envolve vários componentes, entre eles a

percepção de atratividade física e da fofura (Maier, Holmes, Slaymaker, & Reich, 1984;

Sternglanz, Gray, & Murakami, 1977). A fofura é entendida como a configuração de

características físicas visuais que tem uma função biológica específica promotora do

amparo infantil (Parsons, Young, Kumari, Stein, & Kringelbach, 2011).

Vários estudos mostram que os indivíduos de diferentes idades apresentam um

viés perceptivo para reconhecer as informações da face infantil (Alley, 1988; Alley &

Hildebrandt, 1988; Karraker & Stern, 1990). Crianças apresentam uma percepção de

fofura similar à observada nos adultos (Montepare & Zebrowitz-McArthur, 1989).

Adultos e crianças preferem olhar por um maior tempo para faces julgadas como

atrativas do que as faces julgadas como não atrativas (Hildebrandt & Fitzgerald, 1978;

Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982). Entretanto, um trabalho preliminar mostrou

37

Page 48: A percepção das características da face infantil por

que adultos são mais sensíveis do que as crianças aos traços de infantilidade em

imagens experimentalmente manipuladas (Castelo-Branco, Leitão, Dantas, Lopes, &

Yamamoto, 2009). Crianças da pré-escola tendem a perceber e atribuir qualidades de

amizade, bondade e coragem aos colegas mais atrativos (Dion, 1972; Vaughn &

Langlois, 1983).

Alguns trabalhos indicam que a modulação das respostas dos indivíduos às

crianças pode ser mediada pelo esquema infantil. Dessa forma, crianças fofas são

avaliadas como as mais amáveis, amigas e saudáveis quando comparada às crianças

menos fofas (Casey & Ritter, 1996; Maier et al., 1984). Crianças avaliadas como fofas

também receberam mais sorrisos e vocalizações de seus pais em seu dia-a-dia

(Hildebrandt & Fitzgerald, 1983). Adultos são mais carinhosos e brincam com crianças

consideradas fofas, e atribuem a elas uma maior competência (Langlois, Ritter, Casey,

& Sawin, 1995; Ritter, Casey, & Langlois, 1991). Além disso, crianças atraentes

tendem a receber tratamento preferencial e avaliações mais altas quando comparados a

pares menos atraentes (Berscheid & Walster, 1974). Crianças consideradas atraentes

também foram julgadas como espertas, simpáticas e boas quando comparadas as

crianças não atrativas (Stefan & Langlois, 1984).

Ao longo do processo evolutivo, o aparecimento e a manutenção de faces com

proporções crânio faciais que se aproximam do esquema infantil proposto por Lorenz

(1971) funcionam como um estímulo visual para mobilizar respostas parentais e

aloparentais de carinho direcionadas aos possuidores do traço físico (Bowlby, 1969;

Eibl-Eibesfeldt, 1989). A pré-disposição dos indivíduos para responder às faces infantis

é psicologicamente complexa e consiste de componentes afetivos, cognitivos e

motivacionais (Lishner, Oceja, Stocks, & Zaspel, 2008). Em termos biológicos o efeito

do esquema infantil no comportamento adaptativo humano confere o acolhimento e o

38

Page 49: A percepção das características da face infantil por

desenvolvimento dos infantes, cujos bebês dependem da interação com o cuidador

durante o período de maturação física e cognitiva (Hrdy, 2001). As crianças que

apresentam uma configuração física graciosa eliciam um maior comportamento de

cuidado, proteção e assistência nos indivíduos (Bowlby, 1990; Hildebrandt &

Fitzgerald, 1978; Lorenz, 1971).

Na maioria das sociedades as atividades primárias de cuidados infantis e as

motivações afetivas direcionadas às crianças estão vinculadas com maior frequência às

mulheres (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Maestripieri & Pelka, 2002). Desde cedo, as meninas

são mais expressivas quanto à preferência por faces infantis do que os meninos

(Berman, Goodman, Sloan, & Fernander, 1978). Dessa forma, o esquema infantil age

provavelmente como um estímulo prioritário para os sujeitos do sexo feminino do que

para os sujeitos do sexo masculino (Fullard & Reiling, 1976). Outros estudos mostram

que as mulheres são precisas na escolha de uma face infantil de maior fofura quando

comparado às respostas dos homens (Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett,

2010; Sprengelmeyer et al., 2009). Entretanto, Glocker e colaboradores (2009)

indicaram que a percepção à fofura infantil foi similar para ambos os sexos, só havendo

diferenças de respostas quanto à motivação para o cuidado.

Além das características físicas eliciadoras de fofura, outros atributos infantis

também evocam respostas positivas nos indivíduos. Um deles é a quantidade de gordura

corporal que um bebê apresenta, sendo cerca de quatro a oito vezes mais gordura

quando comparado a de um bebê de macaco (Hrdy, 2001). Algumas teorias explicam

esse fenômeno, como, por exemplo, a teoria do isolamento térmico, que argumenta a

necessidade de tecido adiposo para proteger os bebês do frio noturno devido a recente

mudança para as savanas. Outra teoria é a de que a gordura representa uma reserva

energética e de recursos para a custosa atividade de desenvolvimento cerebral. E outra

39

Page 50: A percepção das características da face infantil por

teoria relaciona a gordura corporal com a autopublicidade de um bebê, indicando suas

chances de sobrevivência, de ser saudável e apresentar potencialidade para um completo

desenvolvimento neurológico (Hrdy, 2001). Nesse sentido, a aparência das crianças

informa aos possíveis cuidadores sobre o quanto de investimento parental pode ser

destinado aos dependentes de cuidado.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e

adultos para discriminar as características da face infantil associadas com a fofura, e

analisar o tipo de conhecimento que eles têm sobre o significado desse termo.

Nossa hipótese é a de que tanto crianças como adultos perceberão o esquema

infantil de diferentes idades em termos de fofura. Nossa predição é que crianças e

adultos perceberão as fotos-estímulo de alto esquema infantil como sendo aquelas mais

fofas, e as fotos-estímulo de baixo esquema infantil como sendo aquelas menos fofas.

40

Page 51: A percepção das características da face infantil por

2. MÉTODO

Participantes

Participaram da pesquisa 193 indivíduos, sendo 100 adultos (52 mulheres) com

idade variando entre 20 a 35 anos (idade média ± DP = 24,08 ± 3,6 anos), e 93 crianças

(55 meninas), com idade variando entre 7 a 9 anos (idade média ± DP = 8,14 ± 0,92

anos). A coleta de dados dos participantes adultos foi realizada na Universidade Federal

do Rio Grande do Norte (UFRN), e as coletas de dados das crianças foram realizadas

em uma escola de Natal/RN.

Estímulo

O conjunto das fotos-estímulo infantis utilizado durante o experimento foi

previamente categorizado em termos de fofura conforme o trabalho por Dantas e

Yamamoto (2012). Desse grupo estímulo foram utilizados apenas 20 fotos-estímulo

distintas das crianças de quatro, cinco, seis, oito e nove anos de idade, sendo

selecionados dois meninos e duas meninas de cada faixa de idade.

Procedimento

Aos participantes foi pedido que julgassem a fofura das fotos-estímulo com base

na aparência das faces infantis. Previamente a exposição das fotos-estímulos eles eram

questionados sobre o conceito de fofura infantil, e suas respostas foram agrupadas na

categoria gordura ou beleza infantil; posteriormente era informado o conceito de fofura

utilizado no estudo. Após avaliação das fotos-estímulo também era perguntando aos

participantes se e quais características e aspectos infantis influenciavam sua percepção

de fofura na face infantil. As respostas foram inseridas em quatro categorias, aquelas

ligadas ao aspecto infantil, entre elas estão às características físicas, comportamentais e

41

Page 52: A percepção das características da face infantil por

a gordura infantil, e uma categoria não associada ao aspecto infantil designada por

outras características não relacionadas ao esquema infantil.

O cenário do experimento consistia na apresentação de quatro fotos impressas

(tamanho 10x15cm) das crianças-estímulo de mesma faixa de idade, num total de 5

rodadas, sendo uma rodada para cada idade de forma que cada indivíduo avaliava todas

as fotografias. Então era pedido ao participante para ordenar o conjunto de fotos-

estímulo com base na fofura infantil, de modo que, ao final de cada rodada ele as tivesse

ranqueado considerando as crianças-estímulo mais fofas para as primeiras posições, e

assim sucessivamente de forma decrescente quanto à avaliação da fofura até a escolha

da foto menos fofa para ocupar a última posição.

Análise estatística

Foram utilizados testes não paramétricos para a análise dos dados uma vez que a

distribuição dos dados não foi normal, de acordo com o teste de Kolmogorov-Smirnov.

O nível de significância adotado foi de 5%.

Para analisar o ranqueamento das fotos-estímulo pelos participantes conforme a

categorização do esquema infantil foi utilizado o Teste de Mann-Whitney com correção

de Bonferroni dividido por 4 para cada faixa de idade das crianças-estímulo. Para

verificar a influência do gênero dos participantes na percepção de fofura das fotos-

estímulo foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis.

O Teste Qui-Quadrado de Pearson foi utilizado para investigar a associação

entre as características relacionadas ao aspecto infantil pelos participantes, bem como o

critério da categorização da fofura de acordo com os gêneros dos sujeitos experimentais.

Os valores dos testes não paramétricos foram representados pelo menor e maior

valor indicado entre colchetes, seguido do menor valor de p encontrado para todas as

42

Page 53: A percepção das características da face infantil por

comparações. Além disso, foi calculado o tamanho do efeito (ETA square - η2) para

cada comparação e o menor valor de efeito foi relatado no texto.

3. RESULTADOS

3.1 Ranqueamento conforme a fofura das fotos-estímulo

Os ranqueamentos realizados por crianças e adultos quanto à percepção de

fofura da face infantil das fotos-estímulo para as diferentes idades foram semelhantes

(Z= [-3,9; -0,3]; U = [3089,5; 4628,0]; p>0,05, Figura 1 a, b, c, d, e). Portanto, ambos os

participantes categorizaram a mesma foto-estímulo para o alto ou baixo esquema

infantil. As fotos-estímulo inseridas nas duas primeiras posições e, portanto ocupando

os menores postos médios, foram categorizadas no alto esquema infantil e consideradas

como as crianças mais fofas. As fotos-estímulo inseridas nas duas últimas posições e,

portanto ocupando os maiores postos médios foram categorizadas no baixo esquema

infantil e consideradas como as crianças menos fofas.

Não houve efeito dos sexos dos participantes na percepção de fofura das fotos-

estímulo (χ2 = [0,56; 28,4]; p > 0,05), mostrando que o esquema infantil é um atributo

físico reconhecido tanto por sujeitos do sexo masculino quanto por sujeitos do sexo

feminino.

43

Page 54: A percepção das características da face infantil por

(a) (b)

(c) (d)

e)

Figura 1: Posto médio de cada uma das quatro fotos em função do esquema infantil e dos sujeitos

experimentais (adultos e crianças). As letras representam as idades das crianças-estímulo (a) 4 anos, (b) 5

anos, (c) 6 anos, (d) 8 anos e (e) 9 anos. Teste de Mann-Whitney, p>0,05.

44

Page 55: A percepção das características da face infantil por

3.2 Aspectos infantis associados ao julgamento de fofura

Investigamos se os aspectos infantis das fotos-estímulo foram considerados

pelos sujeitos experimentais em relação ao julgamento de fofura das faces infantis.

Nossos resultados mostraram que as crianças realizaram uma maior associação da

categoria outras características não relacionadas ao esquema infantil, para julgar a

fofura das faces infantis quando comparadas a avaliação dos adultos (χ2 = 7,87; p<0,05;

η2 = 0,38; Figura 2). Os adultos associaram as categorias referentes às características

físicas e a gordura para julgar à fofura das faces infantis (88% das variações das

distâncias χ2 originais; Figura 2)

Figura 2: Mapa das relações entre as categorias relacionadas e as não relacionadas ao aspecto infantil

(representado pelas formas geométricas) e os sujeitos experimentais (representado pelos asteriscos).

Análise de correspondência.

Houve uma diferença significativa dos sexos de todos os sujeitos experimentais

quanto ao julgamento da fofura das faces infantis. Dessa forma, sujeitos do sexo

feminino associaram com maior frequência a categoria da gordura das crianças-

45

Page 56: A percepção das características da face infantil por

Fofu

ra d

a fa

ce in

fan

til (

%)

estímulo, e os sujeitos do sexo masculino relacionaram a categoria da beleza das

crianças-estímulo para a identificação de uma face infantil fofa (χ2 = 10,87; p<0,001;

η2= 0,98; Figura 3).

35

30

25

20

15

10

5

0

Beleza Gordura

Categorização da fofura

Sexos

Feminino

Masculino

Figura 3: Porcentagem de fofura da face infantil conforme a categorização da fofura e os sexos dos

sujeitos experimentais. Teste Qui-Quadrado, p<0,001.

46

Page 57: A percepção das características da face infantil por

4. DISCUSSÃO

Crianças e adultos perceberam em termos de fofura o esquema infantil das fotos-

estímulos para as diferentes idades de modo a confirmar a hipótese do presente trabalho.

Como predito, ambos os indivíduos julgaram como as mais fofas as fotos-estímulo de

alto esquema infantil do que as fotos-estímulo de baixo esquema infantil. Trabalhos

anteriores, que investigaram a percepção de fofura dos indivíduos corroboram nossos

achados ao enfatizarem que uma maior percepção de fofura e atratividade física foram

atribuídas às crianças mais fofas (Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Langlois et al.,

1987). Outro estudo mostrou que os indivíduos preferiram fixar o olhar por um maior

tempo às crianças julgadas como fofas do que aquelas julgadas como menos fofas

(Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982). Adultos e crianças responderam de forma

similar em relação ao julgamento de fofura e atratividade facial, e quanto à preferência

por características infantilizadas (Montepare & Zebrowitz-McArthur, 1989; Sanefuji,

Ohgami, & Hashiya, 2007). Nesse sentido, verificamos que a resposta perceptiva dos

indivíduos ao esquema infantil está presente desde o início da infância e na fase adulta.

O que se pode inferir sobre a habilidade cognitiva social dos indivíduos de diferentes

idades em relação ao julgamento de uma face fofa quando comparada a outra face

menos fofa.

As diferentes informações da face infantil influenciam não só a percepção de

fofura dos adultos, mas também outras percepções relacionadas às qualidades e

motivações direcionadas às crianças. Alguns trabalhos propõem que os sujeitos maduros

e imaturos ao participarem de um julgamento preferem os indivíduos mais atraentes aos

menos atrativos. Durante a avaliação eles atribuíram qualidades e habilidades positivas

somente para os sujeitos atraentes, bem como se comportaram de forma diferente e

47

Page 58: A percepção das características da face infantil por

favorável aqueles de maior atratividade (Langlois, 1986; Langlois & Stephan, 1981).

Esses achados na literatura reforçam nossa hipótese, bem como justificam outras

possibilidades e interações quanto às percepções da face infantil. Como por exemplo,

em relação a escolha para adoção em que os indivíduos preferiram adotar uma criança

considerada fofa do que uma criança meno fofa (Chin, Wade, & French, 2006; Volk &

Quinsey, 2002).

Nossos resultados mostraram que a percepção a face infantil em termos de

fofura foi igual para ambos os sexos. Nesse sentido, corroborando esses achados,

Hildebrandt e Fitzgerald (1979) mostraram que mulheres e homens discriminaram com

precisão as diferentes informações da face infantil relacionados à fofura. Bem como,

quando submetidos a um julgamento de fotos com características infantis manipuladas

da face, sujeitos do sexo feminino e masculino avaliaram as faces consideradas

previamente como fofas para o alto esquema infantil (Glocker et al., 2009). Nesse

sentido, Zebrowitz (1997) afirma que a similaridade quanto à percepção de fofura

atribuída ao esquema infantil por indivíduos de diferentes idades e gêneros confere a

universalidade e potência dos traços físicos infantis. Assim, do ponto de vista evolutivo

o reconhecimento da fofura da face infantil por ambos os sexos, e a consequente seleção

do traço infantil ao longo do processo evolutivo pode assegurar o cuidado parental e a

sobrevivência das crianças.

Embora nossos resultados tenham mostrado que as crianças perceberam e

categorizaram a fofura das faces infantis, também verificamos que para identificar a

fofura das fotos-estímulo elas não se utilizaram dos parâmetros baseados nas

características do esquema infantil proposto por Lorenz em 1971. Já os adultos

apresentaram justificativas coerentes com os aspectos infantis destacando as categorias

das características físicas e da gordura, para avaliar a fofura das fotos-estímulo. Esses

48

Page 59: A percepção das características da face infantil por

resultados indicam que apesar das crianças apresentarem um sistema neural capaz de

perceber as diferenças de fofura das faces, elas não se utilizaram dos parâmetros

esperados para avaliar os traços infantis e também não argumentaram verbalmente o

porquê de sua escolha em relação a uma foto-estímulo considerada de maior fofura em

relação a outra. Uma justificativa para as diferentes respostas entre os participantes é

que a preferência e a escolha das características e outros atributos que expressam fofura

na face infantil já estão desenvolvidos nos adultos em decorrência da maturação sexual

e da função adaptativa de atenção e cuidado parental (Bowlby, 1990; Lorenz, 1971).

Outro argumento para entender os resultados apresentados é o fato dos adultos serem

dotados de uma maior capacidade cognitiva quando comparado às crianças, e dessa

forma eles seriam precisos para identificar os atributos infantis indicadores de maior

fofura do que elas. Portanto, verificamos que o conhecimento dos adultos sobre os

parâmetros quanto à escolha de uma criança fofa foi coerente com as informações do

esquema infantil, e podemos entender essa resposta ao associarmos as motivações para

os comportamentos positivos direcionados aos menores. Além disso, Cooper e

colaboradores (2006) consideram as interações sociais como um possível modulador da

percepção da fofura infantil, apesar de não termos investigado isso no presente trabalho.

Adultos e adolescentes foram mais inclinados a identificar com precisão as faces

atrativas do que as crianças (Cooper, Geldart, Mondloch, & Maurer, 2006). Esse

resultado indica que a experiência dos indivíduos desempenha uma função social

importante no desenvolvimento dos julgamentos da atratividade física infantil, e por

isso também poderia ser fundamental quanto à percepção de fofura das crianças.

Nossos resultados indicaram uma diferença sexual para o julgamento da fofura

das faces infantis. Sujeitos do sexo feminino elegeram a categoria referente à gordura

das crianças-estímulo, e os sujeitos do sexo masculino elegeram a categoria relacionada

49

Page 60: A percepção das características da face infantil por

a beleza das crianças-estímulo como atributos identificadores de uma face infantil fofa.

Segundo a teoria da autopublicidade dos bebês, a gordura corporal representa um

atributo importante para os menores, no sentido de sinalizar aos possíveis cuidadores

sobre o seu valor de sobrevivência e os aspectos de sua saúde física e neural (Hrdy,

2001). Nesse sentido, indivíduos do sexo feminino, como são os principais responsáveis

pelas atividades de cuidado, devem ter, ao longo do processo evolutivo, preferido

crianças gordas (Parke & Buriel, 1998, Hrdy, 2011). Ao serem discriminativas a

respeito de quais bebês deveriam vincular uma maior atenção e energia elas

maximizavam sua aptidão (Geary, 1998). Volk (2005) mostrou que as mulheres

preferiram adotar e atribuíram uma maior fofura e saúde as crianças de peso normal do

que aquelas consideradas magras. Portanto, percebemos que o sexo feminino foi capaz

de selecionar as crianças-estímulo de maior fofura aos aspectos associados a gordura

corporal infantil.

Os sujeitos do sexo masculino podem ter evoluído mecanismos cognitivos para

detectar a beleza da face infantil por atratividade física e simetria facial. Estudos

mostraram que faces com características simétricas tendem a ser avaliadas como as mais

atrativas do que aquelas com características menos simétricas (Grammer & Thornhill,

1994; Zebrowitz, Voinescu, & Collins, 1996). Crianças preferiram olhar por um maior

tempo para faces julgadas como atrativas pelos adultos do que as faces julgadas como

não atrativas (Langlois, Ritter, Roggman, & Vaughn, 1991). A percepção masculina aos

traços infantis em termos de beleza é importante quanto à escolha para alocar recursos

direcionados a uma criança que possua características atraentes, uma vez que, ela

poderá ter mais direcionamento de atenção e respostas positivas dos indivíduos.

Para alguns autores as diferentes respostas seriam reflexos da assimetria que

existe entre os sexos quanto ao investimento parental e ocorreriam visando o aumento

50

Page 61: A percepção das características da face infantil por

do sucesso reprodutivo individual (Buss & Schmitt, 1993). Para outros autores seriam

consequências dos diferentes papéis exercidos pelos sexos na sociedade (Eagly &

Wood, 1999). Dessa forma, nossos resultados reforçam a ideia de que as diferenças

sexuais já relacionadas com a responsividade às crianças estenderam-se para a

percepção de fofura das faces infantis.

Em conclusão, nossos resultados indicaram que crianças e adultos perceberam as

informações das faces infantis diferenciando-as coforme a fofura infantil, apesar das

crianças possuírem relativamente menos experiência cultural e habilidades cognitivas

para descrever a fofura. Sujeitos do sexo feminino foram mais eficazes para identificar a

fofura infantil por meio da gordura corporal das crianças-estímulo quando comparadas

aos sujeitos do sexo masculino, o que representa uma importante adaptação biológica

para mobilizar respostas positivas e de cuidado parental direcionada aos menores

dependentes de cuidados maternos.

51

Page 62: A percepção das características da face infantil por

5. REFERÊNCIAS Alley, T. R. (1981). Head shape and the perception of cuteness. Developmental

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57

Page 68: A percepção das características da face infantil por

CONCLUSÃO GERAL

As diferenças de fofura expressas na face das crianças-estímulo de diferentes

idades foram percebidas pelos adultos e crianças. Como consequência, os indivíduos

categorizaram uma mesma foto-estímulo para o alto ou baixo esquema infantil,

respectivamente, maior ou menor fofura.

Foi possível também identificar algumas características físicas da face infantil

marcadoras da percepção de fofura pelos adultos somente para as idades das crianças-

estímulo mais novas. Essa resposta visual direcionada apenas para as crianças-estímulo

mais novas pode ser explicada pela maior dependência de atenção e cuidados parentais

e aloparentais no início do desenvolvimento infantil, quando as crianças apresentam

imaturidade neural e física.

Nossa hipótese de que as diferentes informações da face infantil eliciavam

motivações de comportamentos positivos voltados para cuidado, proteção, carinho e

afeição nos adultos foi corroborada para as crianças-estímulo de alto esquema infantil.

Também destacamos a preferência das mulheres para os comportamentos de carinho e

apertar as crianças, independente da fofura infantil. E também como elas foram solícitas

em proteger as crianças-estímulo mais fofas. Essa inclinação afetiva e protetora das

mulheres representa uma resposta ao seu papel principal de alocar recursos de cuidados

primários e de atenção aos menores, que por sua vez são dependentes de cuidados

maternos. Sujeitos do sexo feminino foram mais eficazes para identificar a fofura da

face infantil via gordura corporal, justamente por essa característica informar sobre o

estado de saúde de uma criança, e por isso apoiamos a hipótese da autopublicidade dos

bebês. Sujeitos do sexo masculino identificaram a fofura infantil via a beleza da face,

pelo fato de ser um atributo que representa a atratividade física e as qualidades positivas

58

Page 69: A percepção das características da face infantil por

da criança. As características marcadoras de fofura infantil contribuíram para decisão

dos pais sobre a intensidade de investimentos de recursos numa prole. As diferentes

preferências femininas e masculinas são consequências das pressões seletivas que

atuaram distintamente sobre cada sexo ao longo do processo evolutivo.

As respostas das crianças e adultos ao esquema infantil é uma função evolutiva

fundamental para assegurar o investimento parental e aloparental. Além de influenciar

processos cognitivos associados à percepção de atributos infantis e na interação entre

crianças e cuidadores.

59

Page 70: A percepção das características da face infantil por

ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Fotografia crianças

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia

Departamento de Fisiologia

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEIS

Caro Responsável,

Este é um convite para a participação na pesquisa A percepção dos caracteres infantis por

adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva

evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.

Maria Emília Yamamoto do Departamento

de Fisiologia da UFRN. A participação da criança é voluntária, o que significa que ela poderá

desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou

penalidade.

Essa pesquisa procura investigar a percepção dos caracteres infantis por adultos e crianças de

diferentes faixas de idade, por meio da apresentação de fotos de crianças com graus de caracteres infantis

distintos. Caso decida aceitar o convite, serão feitas algumas perguntas a criança, tarefa que, a princípio,

não apresenta nenhum risco. A primeira etapa da pesquisa consiste em fotografar apenas a face das

crianças, pertencentes a uma turma escolar, individualmente em uma sala reservada.

Para minimizar qualquer desconforto e manter a privacidade da criança, a resposta dos

participantes apresentará caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa que

todas as informações obtidas serão sigilosas e o nome da criança não será identificado em nenhum

momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a

divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários, e as fotos das

crianças serão mantidas apenas pelo período do desenvolvimento do projeto e descartadas após o

experimento.

Participando dessa pesquisa, a criança e os responsáveis não terão nenhum benefício direto, e

também nenhum tipo de despesa. Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes

a respeito da percepção aos caracteres infantis por adultos e crianças, tema ainda não totalmente

compreendido pela ciência. Ao término da pesquisa, divulgaremos os resultados obtidos neste estudo à

instituição de ensino da criança, ficando disponível aos responsáveis uma cópia do relatório final da

pesquisa, que será entregue à instituição.

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,

poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico

[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -

UFRN) ou pelo telefone (84) 99562437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser

questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário –

Lagoa Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135.

Eu, , de forma livre e

esclarecida, autorizo a participação de nesta pesquisa.

Assinatura do responsável: .

Pesquisador responsável: Catiane Dantas . Natal, de_ de_ .

60

Page 71: A percepção das características da face infantil por

ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Participação das

crianças no experimento

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia

Departamento de Fisiologia

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEIS

Caro Responsável,

Este é um convite para a participação na pesquisa, A percepção dos caracteres infantis por

adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva

evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.

Maria Emília Yamamoto do Departamento

de Fisiologia da UFRN. A participação da criança é voluntária, o que significa que ela poderá

desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou

penalidade.

Essa pesquisa procura investigar a percepção das características da face infantil por adultos e

crianças. Caso decida aceitar o convite, serão feitas algumas perguntas a criança, tarefa que, a princípio,

não apresenta nenhum risco. Durante a pesquisa será mostrado aos participantes fotos da face de crianças

com faixas de idade e grau de esquema infantil distinto, e feito a seguinte pergunta: “Qual destas fotos

você acha que tem a criança mais fofinha?”.

Para minimizar qualquer desconforto e manter a privacidade da criança, a resposta dos

participantes apresentará caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa que

todas as informações obtidas serão sigilosas e o nome da criança não será identificado em nenhum

momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a

divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários.

Participando dessa pesquisa, a criança e os responsáveis não terão nenhum benefício direto, e

também nenhum tipo de despesa. Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes

a respeito da percepção das características da face infantil por adultos e crianças, tema ainda não

totalmente compreendido pela ciência. Ao término da pesquisa, divulgaremos os resultados obtidos neste

estudo à instituição de ensino da criança, ficando disponível aos responsáveis uma cópia do relatório final

da pesquisa, que será entregue à escola.

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,

poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico

[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -

UFRN) ou pelo telefone (84) 9956-2437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser

questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário –

Lagoa Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135.

Eu, , de forma livre e

esclarecida, autorizo a participação de

nesta pesquisa.

Assinatura do responsável: .

Pesquisador responsável: Catiane Dantas . Natal, de de .

61

Page 72: A percepção das características da face infantil por

ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Adultos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Programa de Pós Graduação em Psicobiologia

Departamento de Fisiologia TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - ADULTOS

Caro Participante,

Este é um convite para a participação na pesquisa A percepção dos caracteres infantis por

adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva

evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.

Maria Emília Yamamoto do Departamento de Fisiologia

da UFRN, e pela mestranda em Psicobiologia / UFRN Catiane Dantas. Sua participação é voluntária, o

que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe

traga nenhum prejuízo ou penalidade.

Essa pesquisa procura investigar a reação aos esquemas infantis por adultos e crianças de

diferentes faixas de idade, por meio da apresentação de fotos de crianças com graus de esquemas infantis

distintos. Caso decida aceitar o convite, você será submetido (a) à apresentação de algumas imagens de

crianças e serão feitas algumas perguntas, “Qual destas fotos você acha que tem a criança mais fofinha?”,

tarefa que, a princípio, não apresenta nenhum risco. Para minimizar qualquer desconforto e manter sua

privacidade, a sua resposta terá caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa

que todas as informações obtidas serão sigilosas e o seu nome não será identificado em nenhum

momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a

divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários, e as fotos das

crianças serão descartadas após o experimento.

A presente pesquisa não envolve nenhuma troca financeira, ou qualquer despesa ao participante.

Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes a respeito da reação aos esquemas

infantis por adultos e crianças, tema ainda não totalmente compreendido pela ciência. Você terá com os

resultados da pesquisa, o beneficio de obter mais informações a respeito da ontogênese referente à reação

aos esquemas infantis.

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,

poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico

[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -

UFRN) ou pelo telefone (84) 99562437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser

questionadas ao Comitê de Ética em da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário – Lagoa

Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135. Consentimento Livre e Esclarecido:

Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e

benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa A percepção dos caracteres

infantis por adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma

perspectiva evolucionista.

Participante da pesquisa:_ .

Pesquisador responsável: Catiane Dantas

62

Page 73: A percepção das características da face infantil por

ANEXO 2: PLANILHA PARA COLETA DE DADOS – ADULTOS/CRIANÇAS

ID (A00x): Sexo: Idade: Formação:

Para você o que é fofura?

Rodadas Grupo C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10

1

2

3

Tem filhos: Quantos filhos: Idade filhos:

Convive com crianças, onde? Parentesco: Gostaria de ter filhos:

Rodadas Grupo C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10

4

5

6

Conhece crianças apresentadas?

O que levou a você achar uma criança mais fofinha do que a outra?

Teve alguma característica da face das crianças que o fez preferir algumas das fotos? Qual?

Observação Geral:

63

Page 74: A percepção das características da face infantil por

ANEXO 3: PLANILHA PARA ANÁLISE DAS MOTIVAÇÕES

COMPORTAMENTAIS

ID: Grupo de imagens:

Vontade de cuidar:

--------------------------------------------------------

Vontade de proteger:

--------------------------------------------------------

Vontade de apertar:

--------------------------------------------------------

Vontade de fazer carinho:

--------------------------------------------------------

ID: Grupo de imagens:

Vontade de cuidar:

--------------------------------------------------------

Vontade de proteger:

--------------------------------------------------------

Vontade de apertar:

--------------------------------------------------------

Vontade de fazer carinho:

--------------------------------------------------------

64