Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia
Departamento de Fisiologia
A percepção das características da face infantil por adultos e crianças
sob uma perspectiva evolucionista
CATIANE KARINY DANTAS SOUZA
Natal / RN
2012
CATIANE KARINY DANTAS SOUZA
A percepção das características da face infantil por adultos e crianças
sob uma perspectiva evolucionista
Dissertação apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, para
obtenção do título de Mestre em
Psicobiologia.
Orientadora: Profª. Dra. Maria Emília Yamamoto
Natal / RN
2012
ii
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências
Souza, Catiane Kariny Dantas.
A percepção das características da face infantil por adultos e crianças sob uma perspectiva evolucionista /
Catiane Kariny Dantas Souza. - Natal, 2012.
64 f.: Il.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Emília Yamamoto.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa
de Pós-Graduação em Psicobiologia.
1. Psicologia evolucionista – Dissertação. 2. Comportamento humano – Dissertação. 3. Cuidado parental
– Dissertação. I. Yamamoto, Maria Emília. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE-CB CDU 159.922
Título: A percepção das características da face infantil por adultos e
crianças sob uma perspectiva evolucionista.
Autor: Catiane Kariny Dantas Souza
Data da apresentação: 18 de maio de 2012
Banca Examinadora:
Profª. Dra. Maria Emília Yamamoto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profª. Dra. Angela Josefina Donato Oliva
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Profª. Dra. Fívia de Araujo Lopes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
iii
Para a minha mãezinha, Josefa Marlene Dantas Souza,
pelo amor e suporte a minha vida.
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus e a intercessão de Maria Santíssima por toda luz e sabedoria;
Aos meus pais Marlene Dantas e Carlos Alberto, pelo apoio, paciência e ensinamentos;
À minha irmã Carlene, pela coragem e confiança;
Aos meus avós José Adelino Dantas e Cícera Lira Dantas, pelos mimos e paz nas
inquietações da vida;
Aos meus tios, Canindé Dantas, Edson Luís Dantas (também irmão), João Maria Dantas
e Sávio Dantas, e as minhas tias, Janete Lira Dantas, Cássia Lira Dantas e Maria das
Graças Dantas pela confiança e carinho;
Aos meus primos e primas, especialmente minha priminha Weslana Magna (Laninha)
que muito me ensinou com sua história de vida;
À professora Maria Emília Yamamoto por toda atenção concedida, orientação e
aprendizagens.
À professora e amiga Fívia Lopes, pelo suporte emocional e por acreditar nas minhas
capacidades.
Às minhas gigantes parceiras de trabalho e amigas, Rochele Castelo-Branco e Monique
Leitão que tanto contribuem para meu crescimento pessoal e acadêmico.
Aos meus irmãos de coração e amigos, Sinara Cybelle, Cristina Bispo e Fabrício
Camacho. Adoro vocês!
À Tiago Eugênio pelo carinho, atenção e insistência! E pelas boas risadas no
McDonald’s.
À minha turma de mestrado (2010), pelos momentos agradáveis. Em especial Jordana
Barbalho, por sempre me escutar; Pedro de Moraes pelas brincadeiras e o seu “supera”;
Natália Dutra pelo seu jeito e competência; Marília Barros por sua mansidão e
conselhos.
À Wall e Felipe Nalon pelo auxílio na estatística;
À Bruna e Aline pela ajuda nas coletas;
Ao CNPq, pelo apoio financeiro.
v
RESUMO As informações da face infantil evocam atenção, comportamentos de cuidado parental e
modulam as interações entre adultos e crianças. Lorenz descreveu o esquema infantil
(‘Kindchenschema’) como um conjunto de características físicas da face, tais como:
grande cabeça, face arredondada, testa proeminente e alta, olhos grandes, bochechas
arredondadas e salientes, e nariz e boca pequenos. Trabalhos prévios tiveram uma
concepção fundamental restrita as percepções positivas às faces infantis, e não
apresentaram resultados consistentes sobre o desenvolvimento da percepção dos
indivíduos quanto aos atributos físicos que funcionavam como marcadores de fofura.
Nós testamos experimentalmente o efeito do esquema infantil sobre a percepção de
fofura das faces infantis por adultos e crianças. Para isso, utilizamos 60 fotos das faces
não manipuladas graficamente de diferentes crianças-estímulo de 4 a 9 anos de idade.
Para isso, utilizamos 60 fotos das faces não manipuladas graficamente de diferentes
crianças-estímulo de 4 a 9 anos de idade. Na primeira tarefa para os sujeitos
experimentais adultos eram mostrados dez fotos-estímulo e para os sujeitos
experimentais crianças quatro fotos-estímulo por vez, num total de seis rodadas. Na
segunda tarefa participaram apenas os adultos, que por meio de uma escala likert
indicavam a motivação de comportamentos afetivos e de cuidado direcionado para as
crianças. Nossos resultados apontam que ambos os participantes julgaram de forma
similar a fofura das faces infantis, e as características físicas marcadoras dessa
percepção foi verificada apenas para as crianças-estímulo mais novas. Os adultos
atribuíram maiores motivações de comportamentos positivos as crianças-estímulo mais
fofas. O reconhecimento do esquema infantil por indivíduos de diferentes idades e
gêneros confere a universalidade e potência dos atributos físicos infantis. Sob a
vi
perspectiva evolutiva a responsividade ao esquema infantil é significante por assegurar
investimento parental e aloparental, e a consequente sobrevivência das crianças.
Palavras-chave: Esquema infantil, fofura, cuidado parental, comportamento humano,
psicologia evolucionista.
ABSTRACT
Child facial cues evoke attention, parental care behaviors and modulate for infant-
caretaker interactions. Lorenz described the baby schema (‘Kindchenschema’) as a set
of infantile physical features such as the large head, round face, high and protruding
forehead, big eyes, chubby cheeks, small nose and mouth. Previous work on this
fundamental concept was restricted to positive perception to infant face, and did not
show consistent results about the development individuals’ perceptions, regarding the
physical attributes that worked as markers of cuteness. Here, we experimentally tested
the effects of baby schema on the perception of cuteness of infant faces by children and
adults. We used 60 none graphically manipulated photos of different stimulus children
faces from 4 to 9 years old. In the first task for the adults experimental subjects, ten
stimulus photos were shown, whereas for children experimental subjects, four stimulus
photos were shown at a time, with a total of six rounds. The second task involved only
adults, who indicated the motivation of affective behaviors and care directed to children
through a Likert scale. Our results suggest that both participants judged similarly the
cuteness of children's faces, and the physical features markers of this perception were
observed only for younger stimulus children. Adults have attributed more motivations
of positive behaviors to cuter stimulus children. The recognition of the baby schema by
individuals of different ages and genders confers the universality and power of
vii
children's physical attributes. From the evolutionary perspective the responsiveness to
baby schema is significant to ensure aloparental and parental investment, and the
consequent children survival.
Keywords: Baby schema, cute, parental care, human behavior, Evolutionary
psychology.
viii
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO GERAL ........................................................................................01
A1. ARTIGO EMPÍRICO 1 ........................................................................................03
Resumo ...........................................................................................................................04
Introdução .......................................................................................................................06
Método ............................................................................................................................12
Resultado ........................................................................................................................16
Discussão ........................................................................................................................23
Referências .....................................................................................................................29
A2. ARTIGO EMPÍRICO 2 ........................................................................................34
Resumo ...........................................................................................................................35
Introdução .......................................................................................................................37
Método ............................................................................................................................41
Resultado ........................................................................................................................43
Discussão ........................................................................................................................47
Referências .....................................................................................................................52
CONCLUSÃO GERAL ...............................................................................................58
Anexo 01 .........................................................................................................................60
Anexo 02 .........................................................................................................................63
Anexo 03 .........................................................................................................................64
ix
APRESENTAÇÃO GERAL
O presente trabalho é constituído por dois artigos empíricos, uma conclusão
geral e os anexos. No primeiro artigo empírico é apresentada uma introdução geral
sobre a percepção do esquema infantil, e é intitulado por “Percepção de fofura e
comportamentos afetivos direcionados às crianças”, o qual foi realizado utilizando
fotografias não manipuladas da face infantil. Os sujeitos experimentais participaram de
duas tarefas, uma referente ao julgamento de fofura das faces infantis, e a outra relativa
à motivação comportamental afetiva e de cuidado direcionada às crianças-estímulo. No
total foram apresentados 60 fotos-estímulos em seis rodadas, sendo em cada rodada
mostrado 10 fotos-estímulos de uma mesma idade. O cenário para a segunda tarefa era
formado por seis fotos-estímulo do alto esquema e seis fotos-estímulo do baixo
esquema, sendo cada conjunto de fotos-estímulo apresentado em momentos distintos.
Nossa análise se concentrou em identificar quais fotos-estímulos eram consideradas de
maior e de menor fofura pelos participantes, e como a fofura afetava a motivação de
alguns comportamentos direcionados as crianças-estímulo. Segundo Lorenz, o esquema
infantil é percebido em termos de fofura e elicia motivação para cuidados nos adultos.
Nossos resultados indicaram que há uma maior percepção e mobilização de
comportamentos positivos para as crianças-estímulo de alto esquema. Percebemos que
essas respostas dos adultos foram similares as de outros trabalhos que utilizaram fotos
manipuladas da face infantil, indicando dessa forma a validade do nosso instrumento
metodológico. Nossos resultados ofereceram evidências de que a idade e algumas
características da face infantil identificaram a fofura somente para as crianças-estímulos
mais novas, em virtude de uma maior demanda de cuidados e atenção no período inicial
de desenvolvimento infantil.
1
O segundo artigo empírico é intitulado por “Argumentos diferentes de crianças e
adultos para a percepção da fofura infantil”, que foi realizado utilizando o conjunto de
fotos-estímulo infantis do primeiro artigo empírico. Os sujeitos experimentais
avaliavam a fofura baseado na aparência das faces infantis, e atribuíam um julgamento
sobre os fatores que o faziam escolher uma criança-estímulo fofa de outra menos fofa.
Ao total foram apresentados 24 fotos-estímulos em cinco rodadas, sendo em cada
rodada mostradas quatro fotos-estímulos de uma mesma idade. O objetivo de nossa
análise foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e adultos para discriminar as
características da face infantil associado com fofura, e verificar o tipo de conhecimento
que eles têm sobre o significado desse termo. Nossos resultados apontam que os
participantes perceberam a fofura da face infantil, tal como proposto na literatura,
sugerindo que há mecanismos cognitivos comuns para percepção de alguns estímulos,
neste caso as informações faciais. Evidências destacaram os sujeitos do sexo feminino
como os mais eficazes para identificar a gordura corporal infantil, possivelmente porque
às crianças gordas sinalizaram maiores chances de sobrevivência e de saúde. Então,
como sujeitos do sexo feminino são as principais responsáveis pelos cuidados primários
às crianças seria coerente que elas direcionassem tempo e energia as crianças que
apresentassem um maior valor de sobrevivência.
Na conclusão geral mostramos as considerações finais para os dois artigos
empíricos. Por fim, apresentamos os anexos. O primeiro anexo corresponde ao termo de
consentimento livre e esclarecido concebido para os responsáveis, o primeiro termo
refere-se a autorização para fotografar a face infantil, e o segundo termo a participação
das crianças no experimento e outro termo foi direcionado para participação dos
adultos. O segundo anexo refere-se às planilhas de coletas de dados para todos os
2
participantes. O terceiro anexo é constituído pela planilha de análise das motivações
comportamentais pelos adultos.
A.1 - Percepção de fofura e comportamentos afetivos direcionados as
crianças
Catiane Kariny Dantas Souza
Maria Emília Yamamoto
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.
Natal / RN
2012
3
RESUMO
As diferentes informações da face infantil influenciam processos cognitivos nos adultos
associados com as respostas afetivas e de atenção às crianças. O etólogo Lorenz
descreveu um conjunto de características físicas, como face arredondada, olhos grandes
e bochechas salientes que são atrativas e eliciam motivação de cuidado parental. Porém,
poucos experimentos têm investigado a expressão dessas percepções ao longo do
desenvolvimento infantil. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das
características da face infantil sobre a percepção de fofura pelos adultos, bem como a
motivação para comportamentos de afetividade e cuidado direcionados às crianças, por
meio de fotografias não manipuladas da face infantil de diferentes idades. No total
participaram 100 adultos, que julgaram a fofura das fotos-estímulo e fizeram um
raqueamento inserindo as fotos-estímulo de maior fofura nas primeiras posições e
aquelas de menor fofura nas últimas posições. Também foram questionados sobre a
motivação de comportamentos de afetividade e cuidado direcionados às crianças por
meio de uma escala Likert. Comparamos o posto médio de cada foto-estímulo por faixa
de idade com as medidas, em pixels, das características da face infantil. Nossos
resultados indicam que as características físicas só foram marcadoras de fofura para as
crianças-estímulos mais novas, provavelmente porque no período inicial da vida os
menores necessitam de um maior investimento parental e aloparental. Os adultos
perceberam e categorizaram a fofura das fotos-estímulo em alta ou baixa, e atribuíram
às crianças-estímulo mais fofas as maiores motivações de comportamentos positivos.
Nossos resultados apontam para os sujeitos do sexo feminino como os mais solícitos em
proteger as crianças-estímulo mais fofas, possivelmente porque elas são as principais
responsáveis pelo cuidado primário e atenção aos menores. As respostas ao esquema
infantil pelos adultos confere uma função evolutiva fundamental em termos de
4
assegurar a sobrevivência de uma criança, e pode ter implicações na interação entre
criança e cuidador.
Palavras-chave: Face infantil, fofura, cuidado, características infantis, psicologia
evolucionista.
5
1. INTRODUÇÃO
Os adultos utilizam informações da face infantil tais como atratividade, fofura e
maturidade para construir diferentes respostas sociais. A disposição para responder
favoravelmente e perceber os atributos infantis desempenham um papel fundamental na
modulação das interações entre adultos e crianças (Alley, 1988; Harlow, 1971;
Hildebrandt & Fitzgerald, 1978). Além disso, as características físicas infantis são
biologicamente significantes por eliciar motivações de prover cuidado parental e
aloparental (Bowlby, 1969/1990; Glocker et al., 2009a; Lorenz, 1971), informando aos
possíveis cuidadores aspectos associados à fisiologia e desenvolvimento de uma criança
(Hrdy, 2001).
Nesse sentido, a reação positiva dos indivíduos às faces infantis tem um papel
relevante para adaptação humana, principalmente para as crianças cuja dependência e
demanda por cuidados são mais intensas no início da vida (Parsons, Young, Murray,
Stein, & Kringelbach, 2011). Dessa maneira, a tendência dos humanos em apresentar
uma atração natural às características infantis evoluiu no sentido de conferir um valor de
sobrevivência aos neonatos (Hrdy, 2001).
O etólogo Lorenz, em 1971, designou as características da face dos bebês pelo
termo “esquema infantil” (do alemão kindchenschema ou do inglês baby schema), e
descreveu-as com a seguinte morfologia, quando comparadas ao padrão adulto na
espécie humana: olhos grandes e de implantação baixa em relação à cabeça; testa
proeminente em relação ao tamanho da face; cabeça arredondada e grande em relação
ao corpo; queixo retraído; boca e nariz pequenos; e bochechas arredondadas e salientes.
As faces das crianças que apresentam esse padrão físico são comumente descritas como
fofas e atraentes (Sternglanz, Gray, & Murakami, 1977).
6
Lorenz (1971/1995) também observou que o conjunto de características infantis
funciona como um estímulo-chave para desencadear um mecanismo liberador inato
(MLI) de emoções positivas e motivação comportamental para o cuidado. A designação
MLI refere-se à organização neural envolvida na habilidade de identificar e responder de
modo adequado, e sem experiência prévia, às situações biologicamente relevantes.
Estudos empíricos recentes corroboram com a proposta teórica desse pesquisador ao
mostrar que há regiões cerebrais ativadas, como o córtex órbito-frontal medial e o
sistema límbico durante a exibição de faces infantilizadas (Glocker et al., 2009b;
Kringelbach et al., 2008).
A aparência da criança é um componente importante no julgamento dos
indivíduos em relação à aquisição de diferentes informações do esquema infantil.
Dentre algumas propriedades vinculadas ao aspecto físico das crianças estão a fofura e
atratividade, bem como o reconhecimento de sua maturidade (Zebrowitz, Kendall-
Tackett, & Fafel, 1991). Nesse contexto, a fofura é entendida por alguns autores pela
configuração de características visuais que tem uma função biológica específica
envolvida com o acolhimento de uma criança (Parsons, Young, Kumari, Stein, &
Kringelbach, 2011). Neste trabalho nós consideramos a fofura infantil como as
características físicas da face que chamam atenção e eliciam reações positivas nos
adultos.
Vários trabalhos apontaram para a fofura infantil como um desencadeador de
comportamentos positivos direcionados às crianças pelos adultos. Dessa forma, as
crianças consideradas fofas eliciam mais atenção e comportamentos de cuidado
(Hildebrandt & Fitzgerald, 1978/ 1981). Da mesma forma, as crianças consideradas
fofas foram avaliadas pelos adultos como as mais amáveis, alegres e sociáveis quando
comparada as crianças menos fofas (Casey & Ritter, 1996; Karraker & Stern, 1990;
7
Maier, Holmes, Slaymaker, & Reich, 1984). Também foi verificado que crianças com a
face mais próxima ao padrão infantil são percebidas como as mais fofas e bonitas
(Alley, 1981; Hildebrandt & Fitzgerald, 1979) e que adultos preferem e prestam mais
atenção a faces infantis do que a faces adultas, tanto em imagens de humanos como de
não-humanos (Brosch, Sander, & Scherer, 2007; Fullard & Reiling, 1976).
Em média, as mulheres apresentam uma maior sensibilidade a fofura infantil do
que os homens (Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010; Sprengelmeyer et
al, 2009). Entretanto, Glocker e colaboradores (2009) não acharam diferença
significante para o gênero ao comparar a percepção de fofura da face infantil pelos
indivíduos.
Outros trabalhos destacam outras características físicas marcadoras da fofura
infantil, entre elas os traços físicos curtos e estreitos, olhos grandes, bochecha saliente e
uma testa proeminente (Hildebrandt & Fitzgerald, 1979; Sternglanz, Gray, &
Murakami, 1977), bem como o rosto arredondado, sobrancelhas finas e nariz pequeno
(Zebrowitz & Montepare, 1992).
A atratividade é outro fator que afeta a percepção da face infantil pelos
indivíduos. Nesse sentido, adultos e crianças preferem olhar por um maior tempo para
faces julgadas como atrativas do que as faces julgadas como não atrativas (Hildebrandt
& Fitzgerald, 1978; Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982; Stephan & Langlois,
1984). Além disso, crianças não atrativas que transgridem uma situação social são
notadas como sendo mais desonestas e desagradáveis do que as crianças atrativas que
tiveram o mesmo comportamento (Dion, 1972).
Outro componente que influencia as respostas dos adultos em relação à
aparência infantil é a idade. De acordo com Volk, Lukjanczuk, & Quinsey (2007),
adultos atribuem uma maior fofura as crianças mais novas (), bem como direcionam
8
mais atenção e proteção aos menores (Eibl-Eibesfeldt, 1989). Além disso, homens e
mulheres julgam os bebês mais novos como os mais fofinhos (Lobmaier,
Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010). De um modo geral, os adultos são inclinados
a perceber faces imaturas como fofas e bonitas (Alley, 1981; Alley & Hildebrandt,
1988; Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982), e crianças com face madura como
menos competentes do que aquelas com face de bebê (Ritter, Casey, & Langlois, 1991).
A responsividade dos adultos ao esquema infantil é fundamental quanto à
tomada de decisão em alocar investimento parental. Visto que para essa atividade é
demandada uma quantidade considerável de tempo e energia, faz-se necessário uma
avaliação de custos e benefícios para realizar os comportamentos vinculados às
crianças. Sob o ponto de vista dos bebês, manter e exacerbar os traços físicos são
mecanismos adaptativos devido a sua extrema dependência dos pais para suprir suas
necessidades fisiológicas básicas (Hrdy, 2001).
Hrdy (2001) sugere que as características infantis são selecionadas por meio da
seleção desenfreada. Esse processo ocorre quando a preferência dos pais por traços
infantis exacerbados é intensificada e mantida numa população pelo favorecimento e
aumento da expectativa de vida dos filhos possuidores dos traços, e a consequente
escolha parental pela característica. Assim, ao longo das gerações, os indivíduos que
apresentavam essa responsividade tiveram um aumento da aptidão individual e do
sucesso reprodutivo via aumento da sobrevivência de sua prole.
O reconhecimento dos atributos físicos caracterizadores da face infantil foi
semelhante em diferentes raças, sexos e idades indicando que as mudanças ocorridas na
aparência facial ao longo do desenvolvimento são universais (McArthur & Berry, 1987;
Zebrowitz, Montepare, & Lee, 1993). Nesse contexto, o delineamento das
9
características morfológicas infantis está associado principalmente às pressões seletivas
do bipedalismo e do crescimento cerebral (Gould, 1977).
Uma das singularidades da espécie humana é a antecipação do nascimento do
bebê em virtude da pressão seletiva do bipedalismo, que ocasionou a redução da
abertura pélvica e o estreitamento do quadril. Uma das consequências foi a de que o
bebê passou a nascer antes do desenvolvimento completo de seu cérebro, e assim
quando comparado a outros neonatos primatas, ele é fisicamente imaturo, do ponto de
vista motor e perceptivo (Bjorklund, 1997; Hrdy, 2001). Em função dessa limitação, o
período gestacional foi reduzido para nove meses, e não 21 meses como deveria
acontecer para os humanos (De Toni, De Salvo, Marins, & Weber, 2004; Leakey,
1997).
Outra particularidade da espécie humana refere-se ao longo período de
desenvolvimento existente durante a fase inicial de vida em virtude da pressão seletiva
para o crescimento do cérebro (Bjorklund, 1997). Dessa forma, a infância ampliada
permite o aprendizado social voltado para assimilação de regras e papéis sociais, bem
como a plasticidade cerebral no contexto das experiências com o meio ambiente e a
aquisição de cultura (Futuyma, 1992).
Outro componente que modula a percepção dos atributos infantis é o vínculo
mãe/bebê desenvolvido desde o início da vida. Sob a perspectiva evolucionista, a
interação entre cuidador e bebê foi resultante do processo de seleção natural, conferindo
uma adaptação biológica, que possibilitou no curto prazo, a manutenção da proximidade
e do contato físico, e no longo prazo, o estabelecimento do apego (Carvalho, 1988).
No curto prazo, o vínculo mãe e bebê é permeado por diferentes tipos de
comportamentos interativos, entre os quais os mais comuns são chorar e chamar,
balbuciar e sorrir, agarrar, sugar, tocar, olhar e locomover-se (Carvalho, 1988). Além
10
disso, movimentos faciais e vocalizações ampliam a comunicação e o envolvimento
físico com outros indivíduos (Abreu, 2005; Carvalho, 1988).
Bowlby (1969/1990) propôs a existência de um sistema comportamental
regulador da busca por proximidade e da manutenção de contato da criança com a figura
materna ou outro possível cuidador. Esse vínculo envolve a construção de códigos de
comunicação social, a partir da atividade interpretativa da mãe sobre os
comportamentos do bebê e suas relações com o contexto, adquirindo um forte valor
funcional de proteção à criança.
Poucos estudos empíricos têm investigado a percepção dos adultos às variações
das propriedades físicas da face ao longo do desenvolvimento infantil. Assim, o
presente trabalho avaliou o efeito das características da face infantil sobre a percepção
de fofura pelos adultos, bem como a motivação para comportamentos de afetividade e
cuidado direcionados às crianças, por meio de fotografias não manipuladas da face
infantil de diferentes idades.
Nossa hipótese é que as diferentes informações da face infantil das diferentes
idades são percebidas em termos de fofura e eliciam motivação de comportamentos
afetivos e de cuidado nos adultos. Nossa predição é que as crianças de alto esquema
infantil sejam percebidas como as mais fofas e evoquem mais comportamentos afetivos
e de cuidado nos adultos do que as crianças de baixo esquema infantil.
Outra hipótese é que a idade e as características da face das crianças-estímulo
afetam a percepção de fofura dos adultos. Espera-se que as características da face das
crianças-estímulo mais novas, 4 a 6 anos de idade, sejam percebidas como as mais fofas
do que para as crianças-estímulo mais velhas, 8 e 9 anos de idade pelos adultos.
11
2. MÉTODO
Participantes
Participaram da pesquisa 100 adultos com idade variando entre 20 e 35 anos
(idade média ± DP = 24,08 ± 3,6 anos), sendo 52 mulheres. A coleta de dados foi
realizada com os estudantes de graduação e pós graduação da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), Natal/RN.
Estímulo
O grupo estímulo foi formado por um conjunto de 60 fotos da face de crianças
distintas consistindo de 05 meninos e 05 meninas de cada uma das idades de quatro,
cinco, seis, sete, oito e nove anos com expressão facial neutra, conforme autorização de
um termo de consentimento livre e esclarecido por um dos responsáveis. Para fotografar
as crianças-estímulo do experimento foi previamente padronizado um aparato, que
incluiu o mesmo plano de fundo de coloração azul escuro e material (TNT), o banco
para assento das crianças, a altura do tripé e a distância entre o participante e o fotógrafo
(pesquisador).
As fotos utilizadas foram as originais, sem manipulação para aumentar ou
diminuir a fofura. Portanto, foi necessário categorizá-las em grupos de faces com maior
ou menor intensidade de características infantis. A Figura 1 apresenta os parâmetros
morfológicos faciais mensurados neste trabalho, que incluem a largura da face (a), a
proporção do comprimento da testa em relação ao comprimento da face (b/c) e a largura
do nariz (d/a) e da boca (e/a) comparados à largura da face. Além da área da bochecha
(f) em relação à área da face (g). As medidas do comprimento e largura foram
selecionadas com base no trabalho proposto por Glocker (2009a).
12
Para cada característica da face infantil foi mensurado o número de pixels por
meio do programa ImageJ 1.43. A partir dos valores dessa quantificação foi construído
um rank, que variou de 1 a 10, o número 1 representa a foto-estímulo considerada como
a mais fofa e o número 10 representa aquela menos fofa. Os ranqueamentos em pixels e
os postos médios das fotos-estímulo atribuídos pelos adultos foram comparados para
verificarmos a correlação existente entre eles. A conversão foi baseada nos valores
referentes ao alto esquema infantil; dessa maneira, para a primeira posição foram
considerados os maiores valores para a largura da face, a proporção do comprimento da
testa em relação ao comprimento da face, a largura do olho em relação à largura da face
e a área da bochecha em relação à área da face; e os menores valores para a largura do
nariz e da boca em relação à largura da face.
Também foram formados dois agrupamentos das fotos-estímulo por faixa etária,
um grupo representando as crianças mais novas, de 4 a 6 anos, e o outro grupo formado
pelas crianças mais velhas, de 8 e 9 anos. Para a idade de 7 anos as fotos não foram
suficientemente distintas em termos de fofura para puder quantificá-las quanto às
características faciais em pixels, e por isso os dados referentes a essa idade foram
excluídos da amostra.
A B
g
f
13
Figura 1: Medidas das delimitações físicas da face infantil. A: Os comprimentos utilizados foram [a]
largura da face, [b] comprimento da testa, [c] comprimento da face, [d] largura do nariz, [e] largura da
boca. B: As áreas utilizadas foram [f] área da bochecha e [g] área da face.
Procedimento
Os sujeitos adultos participaram de duas tarefas, uma referente ao julgamento de
fofura baseado na aparência das faces infantis das fotos-estímulo, e a outra relativa à
motivação comportamental direcionada às crianças-estímulo, conforme o esquema
infantil. Na primeira tarefa foram mostradas aos adultos, individualmente, 10 fotos
impressas (tamanho 10x15cm) de crianças-estímulo de mesma faixa de idade, num total
de seis rodadas, sendo uma rodada para cada idade das crianças-estímulo, de forma que
cada participante avaliava todas as fotografias.
Era solicitado ao participante que ordenasse o conjunto de fotos-estímulo com
base na fofura atribuída a cada uma delas, de modo que, ao final de cada rodada o
sujeito tivesse ranqueado-as colocando a foto considerada mais fofinha na primeira
posição, e assim sucessivamente de forma decrescente até a escolha da foto menos
fofinha, que ocupava a última posição. Após cada rodada separávamos duas fotos,
aquelas inseridas na primeira e na última posição, respectivamente, a mais e a menos
fofa, que seriam utilizadas na próxima tarefa. Essas fotos foram selecionadas somente
pelo julgamento de fofura dos adultos (Figura 2).
Na segunda tarefa utilizamos uma escala de Likert de 7 centímetros, para avaliar
a categorização de fofura e a motivação para cuidar, proteger, apertar e fazer carinho as
crianças. Foram mostradas inicialmente seis fotos-estímulos de maior fofura e
posteriormente seis fotos-estímulos de menor fofura, incluindo todas as idades. Para
cada apresentação das fotos-estímulos era feito a seguinte pergunta: “Em relação a estas
crianças o quanto você tem vontade de cuidar, proteger, apertar e fazer carinho”. O
sujeito deveria marcar um ponto em cada uma das retas assinalando a sua motivação
14
para cada comportamento direcionado as crianças. Também foi informada que o início
da reta representava uma baixa motivação e o final uma alta motivação comportamental.
Análise estatística
Para as análises estatísticas foram utilizadas medidas dependentes, levando em
consideração o nível de significância de p<0,05. Apenas parte dos dados atingiu a
normalidade, de acordo com o teste de Kolmogorov-Smirnov, e, portanto utilizamos
testes paramétricos e não-paramétricos, respectivamente.
Para analisar a percepção de da fofura das fotos, foi usado o Teste de Friedman,
e para verificar os agrupamentos das fotos conforme a categorização de fofura foi
utilizado o Teste Wilcoxon com correção de Bonferroni dividido por 10 para cada faixa
etária das crianças-estímulo. Para verificar a influência do gênero dos sujeitos na
percepção de fofura das fotos foi utilizado o Teste de Mann-Whitney. O Teste de
Wilcoxon também foi aplicado para avaliar a taxa de fofura das fotos pelos adultos em
função das idades das crianças-estímulo.
Os valores para os testes não-paramétricos foram representados pelo menor e
maior valor indicado entre colchetes, seguido do menor valor de p encontrados para
todas as comparações.
Para verificar se havia correlação entre a avaliação das fotos-estímulo pelos
adultos e a medida do número de pixels das características da face infantil para a
categorização do esquema infantil foi feito o Teste Tau de Kendall.
A influência da fofura das fotos-estímulo e do gênero dos participantes nos
comportamentos motivacionais foi analisada a partir do GLM de medidas repetidas com
correção de Bonferroni.
15
3. RESULTADO
3.1 Percepção da fofura infantil
O ranqueamento conforme as características faciais das fotos-estímulo indicou
que os adultos reconheceram a fofura infantil para as diferentes faixas de idade de forma
consistente (4 anos: x² = 392,02; 5 anos: x² = 246,79; 6 anos; x² = 292,54; 8 anos: x² =
191,04; 9 anos: x² = 51,09; p<0,001), sendo portanto possível categorizar o esquema
infantil em alto ou baixo. Além disso, verificamos uma coerência da classificação dos
sujeitos sobre as posições das fotos-estímulos. Dessa forma, as fotos-estímulo inseridas
nas duas primeiras posições e, portanto ocupando os menores postos médios, foram
categorizadas no alto esquema infantil e consideradas como as crianças mais fofas. As
crianças-estímulo inseridas nas duas últimas posições e, portanto ocupando os maiores
postos médios foram categorizadas no baixo esquema infantil e consideradas como as
crianças menos fofas (Z = [-3,9; 8,0]; p<0,005, Tabela 1).
Tabela 1: Ranqueamento das fotos-estímulo feito pelos adultos de acordo com a fofura infantil e as
faixas de idade. Nos parênteses são informados os postos médios das duas primeiras e das duas últimas
fotos escolhidas pelos adultos durante o ranqueamento. Teste de Wilcoxon, *resultado significativo a p<
0,001.
Faixas de idade Ranqueamento das fotos-estímulo de acordo com
esquema infantil
Sig.
4 anos Alto esquema (2,92; 3,27) x Baixo esquema (8,79; 8,49) *
5 anos Alto esquema (3,2; 3,37) x Baixo esquema (7,17; 7,29) *
6 anos Alto esquema (2,5; 3,76) x Baixo esquema (7,06; 7,79) *
8 anos Alto esquema (3,52; 3,77) x Baixo esquema (7,21; 7,72) *
9 anos Alto esquema (5,09; 5,16) x Baixo esquema (6,34; 6,83) *
Não houve efeito do gênero dos participantes na percepção de fofura das fotos-
estímulo (Z > 0,2; U<1236,0; p>0,05), sugerindo que a fofura infantil é um atributo
reconhecido tanto por homens quanto pelas mulheres.
16
3.2 Características da face e ranqueamento das fotos-estímulo pelos adultos
A avaliação das fotos-estímulo feita pelos adultos foi comparada com a medida
do número de pixels das características da face infantil para a categorização do esquema
infantil. Nem todas as medidas correlacionaram-se positivamente com a avaliação dos
adultos havendo uma variação entre as faixas etárias. As correlações foram
significativas principalmente para as crianças mais novas e indicaram características
diferentes para cada idade.
Para as crianças-estímulo de 4 anos de idade houve uma correlação negativa
entre o ranqueamento dos adultos e a largura do olho em relação a largura da face (T= -
0,556; p = 0,025; Tabela 2). Porém, houve uma correlação positiva entre o
ranqueamento dos adultos e a área da bochecha em relação à área da face (T= 0,556; p=
0,037; Tabela 2).
Para as crianças-estímulo de 5 anos de idade houve uma correlação positiva
entre o ranqueamento dos adultos e o comprimento da testa em relação ao comprimento
da face (T= 0,556; p = 0,025; Tabela 2). Para as crianças-estímulo de 6 anos de idade
houve uma correlação positiva entre o ranqueamento dos adultos e a largura da boca em
relação a largura da face (T= 0,556; p = 0,025; Tabela 2). No entanto, para as crianças-
estímulo de 8 e 9 anos de idade não houve correlação significativa entre qualquer
característica da face infantil e a avaliação dos adultos (T= [-0,156; 0,467]; p > 0,05;
Tabela 2).
17
Tabela 2: Comparação do ranqueamento de fofura realizado pelos adultos para cada idade das crianças-
estímulo com o ranqueamento das características da face infantil. Resultados do coeficiente de correlação
(T) e p referentes ao Teste Tau de Kendall, resultado significativo à p< 0,05.
Ranqueamento dos
adultos conforme
idade das crianças-
estímulo
Rank:
Comprimento
Testa /
Comprimento
Face
Rank:
Largura
Olho /
Largura
Face
Rank:
Largura
Boca /
Largura
Face
Rank:
Área
bochecha
/ Área da
face
4 anos ns T = -0,556 p = 0,025
ns T = 0,556 p = 0,037
5 anos T = 0,556 p = 0,025
ns ns ns
6 anos ns ns T = 0,556 p = 0,025
ns
8 anos ns ns ns ns
9 anos ns ns ns ns
Também foi verificado um efeito significante da faixa de idade das crianças-
estímulo sobre a percepção de fofura pelos adultos. Os resultados indicaram que as
crianças-estímulo mais novas, de 4 a 7 anos, foram consideradas significativamente
mais fofas do que as crianças-estímulo mais velhas, de 8 e 9 anos de idade (Z = [-2,19;-
7,16]; p<0,05, Fig. 3). A taxa de fofura das crianças-estímulo foi obtida pela diferença
do posto médio das fotos-estímulos de menor fofura pelo posto médio das fotos-
estímulo de maior fofura.
18
*
Figura 3: Mediana da taxa de fofura das fotos segundo a atribuição pelos adultos em função das idades
das crianças-estímulo. A barra cinza escuro representa o agrupamento das crianças-estímulo mais novas, e
a barra cinza claro representa o agrupamento das crianças-estímulo mais velhas. A diferença significativa
ocorreu entre os agrupamentos das idades. Teste de Wilcoxon, *resultado significativo a p< 0,05.
3.3 Motivações comportamentais direcionadas às crianças:
3.3.1 Influência da fofura infantil
Há um efeito significante da percepção de fofura (GLM de medidas repetidas),
medida pela avaliação dos adultos, em relação à motivação comportamental para o
cuidado (F(1, 98) = 27,44; p<0,001), proteção (F(1, 98) = 18,56; p<0,001), apertar (F(1, 98) =
55,31; p<0,001) e carinho (F(1, 98) = 42,09; p<0,001) direcionados às crianças pelos
adultos. As comparações pareadas com a correção de Bonferroni mostraram que as
crianças-estímulo de maior fofura tiveram uma maior média para todos os
comportamentos motivacionais do que as crianças-estímulo de menor fofura (p<0,001,
Figura 4a, 4b, 4c e 6).
19
(a) (b)
* *
(c)
*
Figura 4: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação comportamental em função da fofura das
crianças-estímulo, (a) motivação para o cuidado, (b) motivação para apertar e (c) motivação para carinho.
*GLM de medidas repetidas com p<0,05.
3.3.2 Influência do sexo
Embora não tenha sido verificado um efeito do sexo na percepção de fofura das
crianças-estímulo, houve diferenças significativas (GLM de medidas repetidas) na
motivação para apertar (F(1, 98) = 11,81; p<0,005), e fazer carinho (F(1, 98) = 7,45; p<
0,05), tendo os sujeitos do sexo feminino maiores médias do que os sujeitos do sexo
masculino (p<0,05, Figuras 5a, 5b, 5c e 5d), quando tomamos como referência todas as
fotos-estímulo, independente da faixa de idade. Entretanto, não houve um resultado
20
significativo para os comportamentos de cuidado (F(1, 98) = 0,87; p = 0,35), e proteção
(F(1, 98) = 0,02; p = 0,86).
Criança-estímulo fofa Criança-estímulo menos fofa
(a)
(b)
*
*
(c) (d)
*
*
Figura 5: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação comportamental em função dos sexos
dos participantes, (a) motivação para carinho nas crianças fofas, (b) motivação para carinho nas crianças
menos fofas, (c) motivação para apertar as crianças fofas, (d) motivação para apertar as crianças menos
fofas. GLM de medidas repetidas com p<0,05.
A interação entre o sexo dos participantes e a fofura das crianças-estímulo
(GLM de medidas repetidas) foi significante apenas para o comportamento de proteção
(F(1, 98) = 5,03; p<0,05, Figura 6). As mulheres apresentaram uma maior motivação
21
para proteger as crianças ranqueadas como as mais fofas do que as crianças ranqueadas
como menos fofas (t = 4,58; df = 51; p<0,001, Figura 6), porém para os homens não
houve resultado significativo (t = 1,48; df = 47; p = 0,14). Não foi verificado um efeito
significante da interação entre o sexo e a percepção da fofura infantil para os
comportamentos de cuidado (F(1,98) = 2,75; p = 0,1), apertar (F(1, 98) = 0,07; p = 0,78)
e carinho (F(1, 98) = 0,42; p = 0,51).
Figura 6: Médias e intervalos de confiança (95%) da motivação para proteção em função da fofura
infantil e sexos dos adultos. GLM de medidas repetidas com p<0,05, resultado significativo para as
mulheres.
22
4. DISCUSSÃO
Nossos resultados suportam a hipótese de que as diferentes informações da face
infantil das diferentes idades foram percebidas em termos de fofura pelos adultos. Os
dados também apoiam nossa predição de que as fotos-estímulo categorizadas no alto
esquema infantil (pixels) foram aquelas consideradas como as mais fofas, e as fotos-
estímulo categorizadas no baixo esquema infantil (pixels) foram aquelas consideradas
como as menos fofas. Vários estudos mostraram que os indivíduos conferem reações
positivas às faces infantis de maior fofura (Chin, Wade, & French, 2006; Hildebrandt &
Fitzgerald, 1978/1979). Alley (1983), porém, destacou que as mudanças na aparência
física ao longo do desenvolvimento infantil podem alterar a percepção de fofura dos
indivíduos. Outros trabalhos utilizaram imagens manipuladas de crianças para enfatizar
que as características da face exacerbadas são percebidas como as mais fofas
(Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett, 2010; Sprengelmeyer et al., 2009). Essa
evidência está em concordância com os resultados do nosso trabalho que utilizou como
ferramenta de estímulo as fotos infantis não manipuladas. Dessa forma, esses resultados
apoiam a ideia de que as características da face infantil modulam o julgamento dos
indivíduos quanto à percepção de fofura, de acordo com as diferentes idades das
crianças.
De acordo com Lorenz (1971) o esquema infantil torna-se mais efetivo durante o
início da infância devido o mecanismo liberador inato evocar significantemente
respostas afetivas e de atenção nos adultos. Nesse mesmo período, a prole ainda está no
processo inicial de desenvolvimento das habilidades cognitivas, motoras e de
comunicação, o que confere aos infantes maior dependência e mais necessidade de
cuidados parentais (Trivers, 1972). Bowlby (1969/1990) e Lorenz (1971) sugerem que a
demanda de cuidados tende a diminuir com a maturidade da criança, de modo que as
23
crianças menores teriam um maior investimento relativo de recursos parentais do que as
crianças mais velhas.
Nesse sentido, a idade das crianças-estímulo deveria afetar a percepção de fofura
dos adultos, tal como confirmado neste trabalho. Nossos resultados mostraram uma
correlação positiva entre as características da face (área da bochecha, comprimento da
testa e largura da boca) e avaliação de fofura pelos adultos somente para as crianças
menores, 4 a 6 anos de idade. Além disso, apesar de nossos resultados iniciais indicarem
que os adultos percebem a fofura das faces infantis para todas as idades, nós
verificamos que eles não se verbalizaram das características físicas propostas por
Lorenz em 1971 para identificarem a fofura das crianças-estímulo maiores (8 e 9 anos
de idade). Logo, podemos inferir que os adultos foram mais seletivos para responder
favoravelmente aos atributos físicos das crianças nos primeiros anos de vida do que no
final da infância, sugerindo que estariam mais disponíveis para fornecer cuidado quando
estes são mais vulneráveis. Em conformidade com os argumentos anteriores, estudos de
crescimento crânio-facial têm mostrado que a estrutura da face infantil passa por
transformações graduais durante a infância (Enlow, 1982). Portanto, as crianças
menores ainda estariam passando por esse processo de forma mais intensa e
consequentemente as características físicas marcadoras de fofura seriam mais
pronunciadas do que nas crianças maiores.
Nesse contexto, continuamente tem sido destacado na literatura que as crianças
mais novas são percebidas como as mais fofas quando julgadas pelos adultos (Ritter,
1991), tal como verificado neste estudo. Além disso, outros trabalhos relacionam
atributos qualitativos às crianças com idades menores. Nesse sentido, as faces de
crianças mais novas foram consideradas como as mais amáveis e atrativas do que as
faces de crianças mais velhas (Korthase & Trenholme, 1982; Luo, Li, & Lee, 2011),
24
assim como as crianças com face imatura foram avaliadas como dignas de serem
ajudadas e defendidas (Alley & Hildebrandt, 1988). Esses resultados indicam que a
preferência por direcionar atenção e qualidades em termos de fofura para as crianças
mais novas é uma função adaptativa importante por conferir uma demanda de tempo e
energia alocada para recursos de cuidados.
Nossos resultados também deram apoio à hipótese de que as informações da face
infantil eliciaram uma resposta preferencial nos adultos, neste caso, direcionada para o
alto esquema infantil. Dessa forma, foi visto que os adultos tiveram uma maior
motivação para o cuidado, proteção, apertar e carinho às crianças de maior fofura.
Trabalhos anteriores, que investigaram comportamentos de cuidado e proteção
corroboram nossos achados quando enfatizam a maior motivação desses
comportamentos direcionada para o alto esquema infantil do que para o baixo esquema
infantil (Alley, 1981; Bowlby, 1990; Glocker et al., 2009a; Hildebrandt & Fitzgerald,
1978/1983). Nosso trabalho sugere, além das citadas anteriormente, outras motivações
comportamentais, tais como apertar e carinho como respostas afetivas direcionadas a
crianças fofas.
Uma implicação importante desses resultados é que as características da face
infantil eliciam processos cognitivos associados com o cuidado parental em humanos
(Bowlby, 1969/1990; Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Lorenz, 1971), bem como em
outras espécies de mamíferos (Eibl-Eibesfeldt, 1989). Sob a perspectiva etológica, para
muitas espécies de vertebrados e mamíferos placentários, a sobrevivência dos menores
frequentemente depende das escolhas e prioridades dos pais. Nesse sentido, ao longo do
processo evolutivo, a preferência dos pais por características infantis consideradas fofas
poderia se manter numa população uma vez que aumentam as chances de sobrevivência
de uma criança, justamente por eliciar um efetivo investimento parental (Hrdy, 2001). O
25
equilíbrio entre o traço infantil e a preferência dos pais por ele seria ocasionado pelo
processo de seleção desenfreada (Hrdy, 2001). Consequentemente, as crianças
consideradas fofas seriam favorecidas por possuírem atributos chamativos e por
evocarem mais respostas comportamentais e benefícios advindos dos pais.
Verificamos que homens e mulheres perceberam de forma semelhante a fofura
das fotos-estímulo. Nossos resultados corroboram achados de outro estudo de que
ambos os sexos tiveram a mesma resposta quanto à fofura e atratividade associada à
face infantil (Parsons, Young, Kumari, Stein, & Kringelbach, 2011). Dessa forma,
verificamos que sujeitos do sexo feminino e masculino possuem mecanismos
psicológicos comuns para perceberem diferentes detalhes em termos de graciosidade da
face infantil (Brosch, Sander, & Scherer, 2007; Buss, 1999; Glocker et al., 2009b). E
nesse sentido, a percepção dos atributos infantis pode ser entendida como uma resposta
biológica já intrinsecamente pronta quando um indivíduo é exposto ao estímulo
específico, neste caso a face infantil.
Apesar dessa similaridade entre os sexos quanto à percepção de fofura, nosso
trabalho identificou que as mulheres apresentaram uma maior inclinação para
direcionarem comportamentos de carinho e apertar as crianças, independente da fofura.
Vários autores mostram que os sujeitos do sexo feminino teriam um viés de
responsividade emotiva mais expressivo e sensível aos atributos físicos infantis do que
os sujeitos do sexo masculino, provavelmente em função da adaptação parental
(Harlow, 1971; Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Kring & Gordon, 1998). Isto
provavelmente se relacionando ao fato das mulheres estarem mais envolvidas nas
atividades primárias de cuidado e lactação, bem como na tarefa de discriminar a
linguagem não verbal e as expressões faciais das crianças, e os homens mais voltados
para aquisição de recursos (Geary, 1998). Além disso, na maioria das sociedades
26
humanas sujeitos do sexo feminino são encorajados a brincar com bonecas, cuidar dos
irmãos mais novos e ser generosos com a necessidade de outros do que os sujeitos do
sexo masculino (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Hrdy, 2001). Nesse sentido, em concordância
com esses achados na literatura podemos destacar a importância e o envolvimento desde
cedo da mulher na interação direta com os menores.
A teoria do apego (Bowlby, 1969/1990) sugere que a vinculação mãe-bebê
permite maior contato físico e segurança psicológica durante o início da vida infantil.
Dessa maneira, a criança é completamente dependente da motivação adequada da figura
materna ou a de outro cuidador para manter a proximidade e prover outros tipos de
contatos essenciais à sua sobrevivência. Por consequência, as mulheres estariam mais
propensas a inferir e responder aos aspectos fisiológicos mais implícitos da infância e se
envolverem com maior frequência em comportamentos afetivos direcionados as
crianças.
Nossos resultados também destacaram uma maior responsividade feminina para
o comportamento de proteção às crianças de maior fofura. Segundo Geary (1998) a
teoria da seleção sexual é a mais consistente para justificar as diferentes regras
biológicas entre os sexos, justamente por ser um processo seletivo que atuou de forma
diferente sobre os comportamentos de cada gênero. Dessa forma, para a espécie humana
na qual ocorre assimetria quanto ao investimento parental, o sucesso reprodutivo para
cada sexo depende de investimentos diferenciais, no caso das mulheres recursos
energéticos e temporais na prole, e no caso dos homens a quantidade de parceiras que
com as quais é capaz de acasalar (Trivers, 1972). Portanto, devido à natureza biológica
da mulher e para aumentar sua aptidão reprodutiva seria coerente que ela se mostrasse
mais seletiva à proteção de uma criança fofa do que a outra. Uma criança fofa pode ser
considerada mais nutrida, saudável e resistente em períodos instáveis, tendo assim uma
27
maior perspectiva de sobrevivência do que uma criança menos fofa (Hrdy, 2001). Dessa
forma, as mulheres seriam mais seletivas sobre a escolha de quais crianças exercerem a
proteção.
Nós concluímos que o esquema infantil eliciou diferentes respostas nos adultos,
e que foi percebido em termos de fofura e mobilização para comportamentos afetivos e
de cuidado direcionados principalmente as crianças de alto esquema infantil. Além
disso, as características físicas das crianças mais novas foram marcadoras de fofura para
as respostas dos indivíduos. Dessa forma, percebemos a importância evolutiva das
diferentes informações da face infantil em relação à percepção dos adultos.
No nosso trabalho tivemos algumas limitações. A quantidade de fotos-estímulo
por faixa de idade foi pequena, e por isso não avaliamos a influência do gênero das
fotos-estímulos sobre a percepção de fofura dos adultos. Também não mensuramos as
motivações comportamentais para cada idade da criança-estímulo de forma separada.
Apesar de tentarmos manter a criança com uma expressão facial neutra não foi possível
ter um controle total de sua expressividade. Também não controlamos a experiência
prévia dos participantes com crianças.
28
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33
A.2 - Argumentos diferentes de crianças e adultos para a percepção da
fofura infantil
Catiane Kariny Dantas Souza
Maria Emília Yamamoto
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Departamento de Fisiologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.
Natal / RN
2012
34
RESUMO
As características da face infantil mobilizam respostas emocionais de afeto e
comportamentos de cuidado parental e aloparental. Crianças e adultos tendem a
demonstrar um julgamento similar em relação à aparência infantil. Essa resposta pode
ter sido desencadeada pela atratividade e fofura dos atributos físicos expressos na face
dos infantes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e
adultos para discriminar as características da face infantil associadas com a fofura, e
analisar o tipo de conhecimento que eles têm sobre o significado desse termo. Para isso
nós utilizamos 24 fotos-estímulo distintas das crianças de diferentes idades que foram
previamente categorizadas em termos de fofura no trabalho de Dantas & Yamamoto.
Aos participantes, 100 adultos e 93 crianças, foram pedidos que julgassem a fofura das
fotos-estímulo com base na aparência das faces infantis. A cada rodada eram
apresentadas quatro fotos-estímulo de mesma idade, num total de cinco rodadas. Ao
final os sujeitos experimentais teriam que estabelecer um ranqueamento das fotos-
estímulo, de forma que nas primeiras posições estivessem às crianças-estímulo
consideradas mais fofas, e na última posição as crianças-estímulo menos fofas. Nossos
resultados apontam uma similaridade quanto à percepção de fofura da face infantil por
crianças e adultos. Essa evidência indica a universalidade para o reconhecimento do
esquema infantil, conferindo uma função evolutiva fundamental por mobilizar atenção e
cuidado as crianças. Nossos resultados destacam diferenças sexuais para a identificação
de uma face infantil fofa, tendo os sujeitos do sexo feminino associado à gordura
corporal das crianças-estímulo, e os sujeitos do sexo masculino relacionado à beleza das
crianças-estímulo. A preferência feminina por traços que sinalizam a saúde da criança, e
a preferência masculina por características físicas de atratividade é consequência das
35
pressões seletivas que atuaram distintamente sobre cada sexo ao longo do processo
evolutivo.
Palavras-chave: face infantil, fofura, gordura corporal, esquema infantil, psicologia
evolucionista.
36
1. INTRODUÇÃO
Os indivíduos geralmente interagem com as crianças e mostram motivação para
engajar-se nas atividades de atenção prioritária e cuidado a elas. As respostas positivas
direcionadas às crianças, e a percepção das características de sua face são
desencadeadas por um mecanismo liberador inato (MLI) (Lorenz, 1971). O MLI está
envolvido na identificação das situações biologicamente relevantes como as de
reconhecimento do esquema infantil. Para Lorenz (1971) o esquema infantil representa
o conjunto de características físicas infantis, tais como: cabeça arredondada, testa
proeminente, olhos grandes e redondos, boca e nariz pequenos e bochechas salientes. Os
atributos físicos infantis são considerados universalmente atrativos (Hrdy, 2001).
As respostas dos indivíduos aos rostos atrativos foram observadas em vários
tipos de faces humanas infantis, as femininas e masculinas e as caucasianas e africanas
(Langlois, Ritter, Roggman, & Vaughn, 1991; Van Duuren, Kendell-Scott, & Stark,
2003). O julgamento da face infantil envolve vários componentes, entre eles a
percepção de atratividade física e da fofura (Maier, Holmes, Slaymaker, & Reich, 1984;
Sternglanz, Gray, & Murakami, 1977). A fofura é entendida como a configuração de
características físicas visuais que tem uma função biológica específica promotora do
amparo infantil (Parsons, Young, Kumari, Stein, & Kringelbach, 2011).
Vários estudos mostram que os indivíduos de diferentes idades apresentam um
viés perceptivo para reconhecer as informações da face infantil (Alley, 1988; Alley &
Hildebrandt, 1988; Karraker & Stern, 1990). Crianças apresentam uma percepção de
fofura similar à observada nos adultos (Montepare & Zebrowitz-McArthur, 1989).
Adultos e crianças preferem olhar por um maior tempo para faces julgadas como
atrativas do que as faces julgadas como não atrativas (Hildebrandt & Fitzgerald, 1978;
Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982). Entretanto, um trabalho preliminar mostrou
37
que adultos são mais sensíveis do que as crianças aos traços de infantilidade em
imagens experimentalmente manipuladas (Castelo-Branco, Leitão, Dantas, Lopes, &
Yamamoto, 2009). Crianças da pré-escola tendem a perceber e atribuir qualidades de
amizade, bondade e coragem aos colegas mais atrativos (Dion, 1972; Vaughn &
Langlois, 1983).
Alguns trabalhos indicam que a modulação das respostas dos indivíduos às
crianças pode ser mediada pelo esquema infantil. Dessa forma, crianças fofas são
avaliadas como as mais amáveis, amigas e saudáveis quando comparada às crianças
menos fofas (Casey & Ritter, 1996; Maier et al., 1984). Crianças avaliadas como fofas
também receberam mais sorrisos e vocalizações de seus pais em seu dia-a-dia
(Hildebrandt & Fitzgerald, 1983). Adultos são mais carinhosos e brincam com crianças
consideradas fofas, e atribuem a elas uma maior competência (Langlois, Ritter, Casey,
& Sawin, 1995; Ritter, Casey, & Langlois, 1991). Além disso, crianças atraentes
tendem a receber tratamento preferencial e avaliações mais altas quando comparados a
pares menos atraentes (Berscheid & Walster, 1974). Crianças consideradas atraentes
também foram julgadas como espertas, simpáticas e boas quando comparadas as
crianças não atrativas (Stefan & Langlois, 1984).
Ao longo do processo evolutivo, o aparecimento e a manutenção de faces com
proporções crânio faciais que se aproximam do esquema infantil proposto por Lorenz
(1971) funcionam como um estímulo visual para mobilizar respostas parentais e
aloparentais de carinho direcionadas aos possuidores do traço físico (Bowlby, 1969;
Eibl-Eibesfeldt, 1989). A pré-disposição dos indivíduos para responder às faces infantis
é psicologicamente complexa e consiste de componentes afetivos, cognitivos e
motivacionais (Lishner, Oceja, Stocks, & Zaspel, 2008). Em termos biológicos o efeito
do esquema infantil no comportamento adaptativo humano confere o acolhimento e o
38
desenvolvimento dos infantes, cujos bebês dependem da interação com o cuidador
durante o período de maturação física e cognitiva (Hrdy, 2001). As crianças que
apresentam uma configuração física graciosa eliciam um maior comportamento de
cuidado, proteção e assistência nos indivíduos (Bowlby, 1990; Hildebrandt &
Fitzgerald, 1978; Lorenz, 1971).
Na maioria das sociedades as atividades primárias de cuidados infantis e as
motivações afetivas direcionadas às crianças estão vinculadas com maior frequência às
mulheres (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Maestripieri & Pelka, 2002). Desde cedo, as meninas
são mais expressivas quanto à preferência por faces infantis do que os meninos
(Berman, Goodman, Sloan, & Fernander, 1978). Dessa forma, o esquema infantil age
provavelmente como um estímulo prioritário para os sujeitos do sexo feminino do que
para os sujeitos do sexo masculino (Fullard & Reiling, 1976). Outros estudos mostram
que as mulheres são precisas na escolha de uma face infantil de maior fofura quando
comparado às respostas dos homens (Lobmaier, Sprengelmeyer, Wiffen, & Perrett,
2010; Sprengelmeyer et al., 2009). Entretanto, Glocker e colaboradores (2009)
indicaram que a percepção à fofura infantil foi similar para ambos os sexos, só havendo
diferenças de respostas quanto à motivação para o cuidado.
Além das características físicas eliciadoras de fofura, outros atributos infantis
também evocam respostas positivas nos indivíduos. Um deles é a quantidade de gordura
corporal que um bebê apresenta, sendo cerca de quatro a oito vezes mais gordura
quando comparado a de um bebê de macaco (Hrdy, 2001). Algumas teorias explicam
esse fenômeno, como, por exemplo, a teoria do isolamento térmico, que argumenta a
necessidade de tecido adiposo para proteger os bebês do frio noturno devido a recente
mudança para as savanas. Outra teoria é a de que a gordura representa uma reserva
energética e de recursos para a custosa atividade de desenvolvimento cerebral. E outra
39
teoria relaciona a gordura corporal com a autopublicidade de um bebê, indicando suas
chances de sobrevivência, de ser saudável e apresentar potencialidade para um completo
desenvolvimento neurológico (Hrdy, 2001). Nesse sentido, a aparência das crianças
informa aos possíveis cuidadores sobre o quanto de investimento parental pode ser
destinado aos dependentes de cuidado.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a habilidade perceptiva de crianças e
adultos para discriminar as características da face infantil associadas com a fofura, e
analisar o tipo de conhecimento que eles têm sobre o significado desse termo.
Nossa hipótese é a de que tanto crianças como adultos perceberão o esquema
infantil de diferentes idades em termos de fofura. Nossa predição é que crianças e
adultos perceberão as fotos-estímulo de alto esquema infantil como sendo aquelas mais
fofas, e as fotos-estímulo de baixo esquema infantil como sendo aquelas menos fofas.
40
2. MÉTODO
Participantes
Participaram da pesquisa 193 indivíduos, sendo 100 adultos (52 mulheres) com
idade variando entre 20 a 35 anos (idade média ± DP = 24,08 ± 3,6 anos), e 93 crianças
(55 meninas), com idade variando entre 7 a 9 anos (idade média ± DP = 8,14 ± 0,92
anos). A coleta de dados dos participantes adultos foi realizada na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), e as coletas de dados das crianças foram realizadas
em uma escola de Natal/RN.
Estímulo
O conjunto das fotos-estímulo infantis utilizado durante o experimento foi
previamente categorizado em termos de fofura conforme o trabalho por Dantas e
Yamamoto (2012). Desse grupo estímulo foram utilizados apenas 20 fotos-estímulo
distintas das crianças de quatro, cinco, seis, oito e nove anos de idade, sendo
selecionados dois meninos e duas meninas de cada faixa de idade.
Procedimento
Aos participantes foi pedido que julgassem a fofura das fotos-estímulo com base
na aparência das faces infantis. Previamente a exposição das fotos-estímulos eles eram
questionados sobre o conceito de fofura infantil, e suas respostas foram agrupadas na
categoria gordura ou beleza infantil; posteriormente era informado o conceito de fofura
utilizado no estudo. Após avaliação das fotos-estímulo também era perguntando aos
participantes se e quais características e aspectos infantis influenciavam sua percepção
de fofura na face infantil. As respostas foram inseridas em quatro categorias, aquelas
ligadas ao aspecto infantil, entre elas estão às características físicas, comportamentais e
41
a gordura infantil, e uma categoria não associada ao aspecto infantil designada por
outras características não relacionadas ao esquema infantil.
O cenário do experimento consistia na apresentação de quatro fotos impressas
(tamanho 10x15cm) das crianças-estímulo de mesma faixa de idade, num total de 5
rodadas, sendo uma rodada para cada idade de forma que cada indivíduo avaliava todas
as fotografias. Então era pedido ao participante para ordenar o conjunto de fotos-
estímulo com base na fofura infantil, de modo que, ao final de cada rodada ele as tivesse
ranqueado considerando as crianças-estímulo mais fofas para as primeiras posições, e
assim sucessivamente de forma decrescente quanto à avaliação da fofura até a escolha
da foto menos fofa para ocupar a última posição.
Análise estatística
Foram utilizados testes não paramétricos para a análise dos dados uma vez que a
distribuição dos dados não foi normal, de acordo com o teste de Kolmogorov-Smirnov.
O nível de significância adotado foi de 5%.
Para analisar o ranqueamento das fotos-estímulo pelos participantes conforme a
categorização do esquema infantil foi utilizado o Teste de Mann-Whitney com correção
de Bonferroni dividido por 4 para cada faixa de idade das crianças-estímulo. Para
verificar a influência do gênero dos participantes na percepção de fofura das fotos-
estímulo foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis.
O Teste Qui-Quadrado de Pearson foi utilizado para investigar a associação
entre as características relacionadas ao aspecto infantil pelos participantes, bem como o
critério da categorização da fofura de acordo com os gêneros dos sujeitos experimentais.
Os valores dos testes não paramétricos foram representados pelo menor e maior
valor indicado entre colchetes, seguido do menor valor de p encontrado para todas as
42
comparações. Além disso, foi calculado o tamanho do efeito (ETA square - η2) para
cada comparação e o menor valor de efeito foi relatado no texto.
3. RESULTADOS
3.1 Ranqueamento conforme a fofura das fotos-estímulo
Os ranqueamentos realizados por crianças e adultos quanto à percepção de
fofura da face infantil das fotos-estímulo para as diferentes idades foram semelhantes
(Z= [-3,9; -0,3]; U = [3089,5; 4628,0]; p>0,05, Figura 1 a, b, c, d, e). Portanto, ambos os
participantes categorizaram a mesma foto-estímulo para o alto ou baixo esquema
infantil. As fotos-estímulo inseridas nas duas primeiras posições e, portanto ocupando
os menores postos médios, foram categorizadas no alto esquema infantil e consideradas
como as crianças mais fofas. As fotos-estímulo inseridas nas duas últimas posições e,
portanto ocupando os maiores postos médios foram categorizadas no baixo esquema
infantil e consideradas como as crianças menos fofas.
Não houve efeito dos sexos dos participantes na percepção de fofura das fotos-
estímulo (χ2 = [0,56; 28,4]; p > 0,05), mostrando que o esquema infantil é um atributo
físico reconhecido tanto por sujeitos do sexo masculino quanto por sujeitos do sexo
feminino.
43
(a) (b)
(c) (d)
e)
Figura 1: Posto médio de cada uma das quatro fotos em função do esquema infantil e dos sujeitos
experimentais (adultos e crianças). As letras representam as idades das crianças-estímulo (a) 4 anos, (b) 5
anos, (c) 6 anos, (d) 8 anos e (e) 9 anos. Teste de Mann-Whitney, p>0,05.
44
3.2 Aspectos infantis associados ao julgamento de fofura
Investigamos se os aspectos infantis das fotos-estímulo foram considerados
pelos sujeitos experimentais em relação ao julgamento de fofura das faces infantis.
Nossos resultados mostraram que as crianças realizaram uma maior associação da
categoria outras características não relacionadas ao esquema infantil, para julgar a
fofura das faces infantis quando comparadas a avaliação dos adultos (χ2 = 7,87; p<0,05;
η2 = 0,38; Figura 2). Os adultos associaram as categorias referentes às características
físicas e a gordura para julgar à fofura das faces infantis (88% das variações das
distâncias χ2 originais; Figura 2)
Figura 2: Mapa das relações entre as categorias relacionadas e as não relacionadas ao aspecto infantil
(representado pelas formas geométricas) e os sujeitos experimentais (representado pelos asteriscos).
Análise de correspondência.
Houve uma diferença significativa dos sexos de todos os sujeitos experimentais
quanto ao julgamento da fofura das faces infantis. Dessa forma, sujeitos do sexo
feminino associaram com maior frequência a categoria da gordura das crianças-
45
Fofu
ra d
a fa
ce in
fan
til (
%)
estímulo, e os sujeitos do sexo masculino relacionaram a categoria da beleza das
crianças-estímulo para a identificação de uma face infantil fofa (χ2 = 10,87; p<0,001;
η2= 0,98; Figura 3).
35
30
25
20
15
10
5
0
Beleza Gordura
Categorização da fofura
Sexos
Feminino
Masculino
Figura 3: Porcentagem de fofura da face infantil conforme a categorização da fofura e os sexos dos
sujeitos experimentais. Teste Qui-Quadrado, p<0,001.
46
4. DISCUSSÃO
Crianças e adultos perceberam em termos de fofura o esquema infantil das fotos-
estímulos para as diferentes idades de modo a confirmar a hipótese do presente trabalho.
Como predito, ambos os indivíduos julgaram como as mais fofas as fotos-estímulo de
alto esquema infantil do que as fotos-estímulo de baixo esquema infantil. Trabalhos
anteriores, que investigaram a percepção de fofura dos indivíduos corroboram nossos
achados ao enfatizarem que uma maior percepção de fofura e atratividade física foram
atribuídas às crianças mais fofas (Hildebrandt & Fitzgerald, 1978; Langlois et al.,
1987). Outro estudo mostrou que os indivíduos preferiram fixar o olhar por um maior
tempo às crianças julgadas como fofas do que aquelas julgadas como menos fofas
(Power, Hildebrandt, & Fitzgerald, 1982). Adultos e crianças responderam de forma
similar em relação ao julgamento de fofura e atratividade facial, e quanto à preferência
por características infantilizadas (Montepare & Zebrowitz-McArthur, 1989; Sanefuji,
Ohgami, & Hashiya, 2007). Nesse sentido, verificamos que a resposta perceptiva dos
indivíduos ao esquema infantil está presente desde o início da infância e na fase adulta.
O que se pode inferir sobre a habilidade cognitiva social dos indivíduos de diferentes
idades em relação ao julgamento de uma face fofa quando comparada a outra face
menos fofa.
As diferentes informações da face infantil influenciam não só a percepção de
fofura dos adultos, mas também outras percepções relacionadas às qualidades e
motivações direcionadas às crianças. Alguns trabalhos propõem que os sujeitos maduros
e imaturos ao participarem de um julgamento preferem os indivíduos mais atraentes aos
menos atrativos. Durante a avaliação eles atribuíram qualidades e habilidades positivas
somente para os sujeitos atraentes, bem como se comportaram de forma diferente e
47
favorável aqueles de maior atratividade (Langlois, 1986; Langlois & Stephan, 1981).
Esses achados na literatura reforçam nossa hipótese, bem como justificam outras
possibilidades e interações quanto às percepções da face infantil. Como por exemplo,
em relação a escolha para adoção em que os indivíduos preferiram adotar uma criança
considerada fofa do que uma criança meno fofa (Chin, Wade, & French, 2006; Volk &
Quinsey, 2002).
Nossos resultados mostraram que a percepção a face infantil em termos de
fofura foi igual para ambos os sexos. Nesse sentido, corroborando esses achados,
Hildebrandt e Fitzgerald (1979) mostraram que mulheres e homens discriminaram com
precisão as diferentes informações da face infantil relacionados à fofura. Bem como,
quando submetidos a um julgamento de fotos com características infantis manipuladas
da face, sujeitos do sexo feminino e masculino avaliaram as faces consideradas
previamente como fofas para o alto esquema infantil (Glocker et al., 2009). Nesse
sentido, Zebrowitz (1997) afirma que a similaridade quanto à percepção de fofura
atribuída ao esquema infantil por indivíduos de diferentes idades e gêneros confere a
universalidade e potência dos traços físicos infantis. Assim, do ponto de vista evolutivo
o reconhecimento da fofura da face infantil por ambos os sexos, e a consequente seleção
do traço infantil ao longo do processo evolutivo pode assegurar o cuidado parental e a
sobrevivência das crianças.
Embora nossos resultados tenham mostrado que as crianças perceberam e
categorizaram a fofura das faces infantis, também verificamos que para identificar a
fofura das fotos-estímulo elas não se utilizaram dos parâmetros baseados nas
características do esquema infantil proposto por Lorenz em 1971. Já os adultos
apresentaram justificativas coerentes com os aspectos infantis destacando as categorias
das características físicas e da gordura, para avaliar a fofura das fotos-estímulo. Esses
48
resultados indicam que apesar das crianças apresentarem um sistema neural capaz de
perceber as diferenças de fofura das faces, elas não se utilizaram dos parâmetros
esperados para avaliar os traços infantis e também não argumentaram verbalmente o
porquê de sua escolha em relação a uma foto-estímulo considerada de maior fofura em
relação a outra. Uma justificativa para as diferentes respostas entre os participantes é
que a preferência e a escolha das características e outros atributos que expressam fofura
na face infantil já estão desenvolvidos nos adultos em decorrência da maturação sexual
e da função adaptativa de atenção e cuidado parental (Bowlby, 1990; Lorenz, 1971).
Outro argumento para entender os resultados apresentados é o fato dos adultos serem
dotados de uma maior capacidade cognitiva quando comparado às crianças, e dessa
forma eles seriam precisos para identificar os atributos infantis indicadores de maior
fofura do que elas. Portanto, verificamos que o conhecimento dos adultos sobre os
parâmetros quanto à escolha de uma criança fofa foi coerente com as informações do
esquema infantil, e podemos entender essa resposta ao associarmos as motivações para
os comportamentos positivos direcionados aos menores. Além disso, Cooper e
colaboradores (2006) consideram as interações sociais como um possível modulador da
percepção da fofura infantil, apesar de não termos investigado isso no presente trabalho.
Adultos e adolescentes foram mais inclinados a identificar com precisão as faces
atrativas do que as crianças (Cooper, Geldart, Mondloch, & Maurer, 2006). Esse
resultado indica que a experiência dos indivíduos desempenha uma função social
importante no desenvolvimento dos julgamentos da atratividade física infantil, e por
isso também poderia ser fundamental quanto à percepção de fofura das crianças.
Nossos resultados indicaram uma diferença sexual para o julgamento da fofura
das faces infantis. Sujeitos do sexo feminino elegeram a categoria referente à gordura
das crianças-estímulo, e os sujeitos do sexo masculino elegeram a categoria relacionada
49
a beleza das crianças-estímulo como atributos identificadores de uma face infantil fofa.
Segundo a teoria da autopublicidade dos bebês, a gordura corporal representa um
atributo importante para os menores, no sentido de sinalizar aos possíveis cuidadores
sobre o seu valor de sobrevivência e os aspectos de sua saúde física e neural (Hrdy,
2001). Nesse sentido, indivíduos do sexo feminino, como são os principais responsáveis
pelas atividades de cuidado, devem ter, ao longo do processo evolutivo, preferido
crianças gordas (Parke & Buriel, 1998, Hrdy, 2011). Ao serem discriminativas a
respeito de quais bebês deveriam vincular uma maior atenção e energia elas
maximizavam sua aptidão (Geary, 1998). Volk (2005) mostrou que as mulheres
preferiram adotar e atribuíram uma maior fofura e saúde as crianças de peso normal do
que aquelas consideradas magras. Portanto, percebemos que o sexo feminino foi capaz
de selecionar as crianças-estímulo de maior fofura aos aspectos associados a gordura
corporal infantil.
Os sujeitos do sexo masculino podem ter evoluído mecanismos cognitivos para
detectar a beleza da face infantil por atratividade física e simetria facial. Estudos
mostraram que faces com características simétricas tendem a ser avaliadas como as mais
atrativas do que aquelas com características menos simétricas (Grammer & Thornhill,
1994; Zebrowitz, Voinescu, & Collins, 1996). Crianças preferiram olhar por um maior
tempo para faces julgadas como atrativas pelos adultos do que as faces julgadas como
não atrativas (Langlois, Ritter, Roggman, & Vaughn, 1991). A percepção masculina aos
traços infantis em termos de beleza é importante quanto à escolha para alocar recursos
direcionados a uma criança que possua características atraentes, uma vez que, ela
poderá ter mais direcionamento de atenção e respostas positivas dos indivíduos.
Para alguns autores as diferentes respostas seriam reflexos da assimetria que
existe entre os sexos quanto ao investimento parental e ocorreriam visando o aumento
50
do sucesso reprodutivo individual (Buss & Schmitt, 1993). Para outros autores seriam
consequências dos diferentes papéis exercidos pelos sexos na sociedade (Eagly &
Wood, 1999). Dessa forma, nossos resultados reforçam a ideia de que as diferenças
sexuais já relacionadas com a responsividade às crianças estenderam-se para a
percepção de fofura das faces infantis.
Em conclusão, nossos resultados indicaram que crianças e adultos perceberam as
informações das faces infantis diferenciando-as coforme a fofura infantil, apesar das
crianças possuírem relativamente menos experiência cultural e habilidades cognitivas
para descrever a fofura. Sujeitos do sexo feminino foram mais eficazes para identificar a
fofura infantil por meio da gordura corporal das crianças-estímulo quando comparadas
aos sujeitos do sexo masculino, o que representa uma importante adaptação biológica
para mobilizar respostas positivas e de cuidado parental direcionada aos menores
dependentes de cuidados maternos.
51
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57
CONCLUSÃO GERAL
As diferenças de fofura expressas na face das crianças-estímulo de diferentes
idades foram percebidas pelos adultos e crianças. Como consequência, os indivíduos
categorizaram uma mesma foto-estímulo para o alto ou baixo esquema infantil,
respectivamente, maior ou menor fofura.
Foi possível também identificar algumas características físicas da face infantil
marcadoras da percepção de fofura pelos adultos somente para as idades das crianças-
estímulo mais novas. Essa resposta visual direcionada apenas para as crianças-estímulo
mais novas pode ser explicada pela maior dependência de atenção e cuidados parentais
e aloparentais no início do desenvolvimento infantil, quando as crianças apresentam
imaturidade neural e física.
Nossa hipótese de que as diferentes informações da face infantil eliciavam
motivações de comportamentos positivos voltados para cuidado, proteção, carinho e
afeição nos adultos foi corroborada para as crianças-estímulo de alto esquema infantil.
Também destacamos a preferência das mulheres para os comportamentos de carinho e
apertar as crianças, independente da fofura infantil. E também como elas foram solícitas
em proteger as crianças-estímulo mais fofas. Essa inclinação afetiva e protetora das
mulheres representa uma resposta ao seu papel principal de alocar recursos de cuidados
primários e de atenção aos menores, que por sua vez são dependentes de cuidados
maternos. Sujeitos do sexo feminino foram mais eficazes para identificar a fofura da
face infantil via gordura corporal, justamente por essa característica informar sobre o
estado de saúde de uma criança, e por isso apoiamos a hipótese da autopublicidade dos
bebês. Sujeitos do sexo masculino identificaram a fofura infantil via a beleza da face,
pelo fato de ser um atributo que representa a atratividade física e as qualidades positivas
58
da criança. As características marcadoras de fofura infantil contribuíram para decisão
dos pais sobre a intensidade de investimentos de recursos numa prole. As diferentes
preferências femininas e masculinas são consequências das pressões seletivas que
atuaram distintamente sobre cada sexo ao longo do processo evolutivo.
As respostas das crianças e adultos ao esquema infantil é uma função evolutiva
fundamental para assegurar o investimento parental e aloparental. Além de influenciar
processos cognitivos associados à percepção de atributos infantis e na interação entre
crianças e cuidadores.
59
ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Fotografia crianças
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia
Departamento de Fisiologia
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEIS
Caro Responsável,
Este é um convite para a participação na pesquisa A percepção dos caracteres infantis por
adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva
evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.
Maria Emília Yamamoto do Departamento
de Fisiologia da UFRN. A participação da criança é voluntária, o que significa que ela poderá
desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou
penalidade.
Essa pesquisa procura investigar a percepção dos caracteres infantis por adultos e crianças de
diferentes faixas de idade, por meio da apresentação de fotos de crianças com graus de caracteres infantis
distintos. Caso decida aceitar o convite, serão feitas algumas perguntas a criança, tarefa que, a princípio,
não apresenta nenhum risco. A primeira etapa da pesquisa consiste em fotografar apenas a face das
crianças, pertencentes a uma turma escolar, individualmente em uma sala reservada.
Para minimizar qualquer desconforto e manter a privacidade da criança, a resposta dos
participantes apresentará caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa que
todas as informações obtidas serão sigilosas e o nome da criança não será identificado em nenhum
momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a
divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários, e as fotos das
crianças serão mantidas apenas pelo período do desenvolvimento do projeto e descartadas após o
experimento.
Participando dessa pesquisa, a criança e os responsáveis não terão nenhum benefício direto, e
também nenhum tipo de despesa. Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes
a respeito da percepção aos caracteres infantis por adultos e crianças, tema ainda não totalmente
compreendido pela ciência. Ao término da pesquisa, divulgaremos os resultados obtidos neste estudo à
instituição de ensino da criança, ficando disponível aos responsáveis uma cópia do relatório final da
pesquisa, que será entregue à instituição.
Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,
poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico
[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -
UFRN) ou pelo telefone (84) 99562437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser
questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário –
Lagoa Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135.
Eu, , de forma livre e
esclarecida, autorizo a participação de nesta pesquisa.
Assinatura do responsável: .
Pesquisador responsável: Catiane Dantas . Natal, de_ de_ .
60
ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Participação das
crianças no experimento
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia
Departamento de Fisiologia
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEIS
Caro Responsável,
Este é um convite para a participação na pesquisa, A percepção dos caracteres infantis por
adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva
evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.
Maria Emília Yamamoto do Departamento
de Fisiologia da UFRN. A participação da criança é voluntária, o que significa que ela poderá
desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou
penalidade.
Essa pesquisa procura investigar a percepção das características da face infantil por adultos e
crianças. Caso decida aceitar o convite, serão feitas algumas perguntas a criança, tarefa que, a princípio,
não apresenta nenhum risco. Durante a pesquisa será mostrado aos participantes fotos da face de crianças
com faixas de idade e grau de esquema infantil distinto, e feito a seguinte pergunta: “Qual destas fotos
você acha que tem a criança mais fofinha?”.
Para minimizar qualquer desconforto e manter a privacidade da criança, a resposta dos
participantes apresentará caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa que
todas as informações obtidas serão sigilosas e o nome da criança não será identificado em nenhum
momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a
divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários.
Participando dessa pesquisa, a criança e os responsáveis não terão nenhum benefício direto, e
também nenhum tipo de despesa. Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes
a respeito da percepção das características da face infantil por adultos e crianças, tema ainda não
totalmente compreendido pela ciência. Ao término da pesquisa, divulgaremos os resultados obtidos neste
estudo à instituição de ensino da criança, ficando disponível aos responsáveis uma cópia do relatório final
da pesquisa, que será entregue à escola.
Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,
poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico
[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -
UFRN) ou pelo telefone (84) 9956-2437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser
questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário –
Lagoa Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135.
Eu, , de forma livre e
esclarecida, autorizo a participação de
nesta pesquisa.
Assinatura do responsável: .
Pesquisador responsável: Catiane Dantas . Natal, de de .
61
ANEXO 1: Termos de Consentimento Livre e esclarecido – Adultos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós Graduação em Psicobiologia
Departamento de Fisiologia TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - ADULTOS
Caro Participante,
Este é um convite para a participação na pesquisa A percepção dos caracteres infantis por
adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma perspectiva
evolucionista, que é coordenada pela Prof ª. Dra.
Maria Emília Yamamoto do Departamento de Fisiologia
da UFRN, e pela mestranda em Psicobiologia / UFRN Catiane Dantas. Sua participação é voluntária, o
que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe
traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Essa pesquisa procura investigar a reação aos esquemas infantis por adultos e crianças de
diferentes faixas de idade, por meio da apresentação de fotos de crianças com graus de esquemas infantis
distintos. Caso decida aceitar o convite, você será submetido (a) à apresentação de algumas imagens de
crianças e serão feitas algumas perguntas, “Qual destas fotos você acha que tem a criança mais fofinha?”,
tarefa que, a princípio, não apresenta nenhum risco. Para minimizar qualquer desconforto e manter sua
privacidade, a sua resposta terá caráter anônimo e deverá ser respondido individualmente, o que significa
que todas as informações obtidas serão sigilosas e o seu nome não será identificado em nenhum
momento. Os resultados serão empregados exclusivamente para fins de pesquisa, ou seja, para a
divulgação em publicações e eventos científicos de forma a não identificar os voluntários, e as fotos das
crianças serão descartadas após o experimento.
A presente pesquisa não envolve nenhuma troca financeira, ou qualquer despesa ao participante.
Esperamos, entretanto, que esse estudo nos dê informações importantes a respeito da reação aos esquemas
infantis por adultos e crianças, tema ainda não totalmente compreendido pela ciência. Você terá com os
resultados da pesquisa, o beneficio de obter mais informações a respeito da ontogênese referente à reação
aos esquemas infantis.
Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,
poderá perguntar diretamente para Catiane Kariny Dantas Souza, no endereço eletrônico
[email protected], na Sala da Base de Ecologia Comportamental (Centro de Biociências -
UFRN) ou pelo telefone (84) 99562437. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser
questionadas ao Comitê de Ética em da UFRN no endereço, Praça do Campus Universitário – Lagoa
Nova ou pelo telefone (84) 3215-3135. Consentimento Livre e Esclarecido:
Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e
benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa A percepção dos caracteres
infantis por adultos e crianças de escolas da rede pública e privada de Natal/RN sob uma
perspectiva evolucionista.
Participante da pesquisa:_ .
Pesquisador responsável: Catiane Dantas
62
ANEXO 2: PLANILHA PARA COLETA DE DADOS – ADULTOS/CRIANÇAS
ID (A00x): Sexo: Idade: Formação:
Para você o que é fofura?
Rodadas Grupo C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10
1
2
3
Tem filhos: Quantos filhos: Idade filhos:
Convive com crianças, onde? Parentesco: Gostaria de ter filhos:
Rodadas Grupo C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10
4
5
6
Conhece crianças apresentadas?
O que levou a você achar uma criança mais fofinha do que a outra?
Teve alguma característica da face das crianças que o fez preferir algumas das fotos? Qual?
Observação Geral:
63
ANEXO 3: PLANILHA PARA ANÁLISE DAS MOTIVAÇÕES
COMPORTAMENTAIS
ID: Grupo de imagens:
Vontade de cuidar:
--------------------------------------------------------
Vontade de proteger:
--------------------------------------------------------
Vontade de apertar:
--------------------------------------------------------
Vontade de fazer carinho:
--------------------------------------------------------
ID: Grupo de imagens:
Vontade de cuidar:
--------------------------------------------------------
Vontade de proteger:
--------------------------------------------------------
Vontade de apertar:
--------------------------------------------------------
Vontade de fazer carinho:
--------------------------------------------------------
64