trabalho percepção e atitudes face ao risco

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MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) António José Gomes da Silva SETÚBAL 2010 MÓDULO: PERCEPÇÃO E ATITUDES FACE AO RISCO MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS TRABALHO PRÁTICO

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MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

António José Gomes da Silva

SETÚBAL

2010

MÓDULO: PERCEPÇÃO E ATITUDES FACE AO RISCO

MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO)

ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

TRABALHO PRÁTICO

MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

António José Gomes da Silva ii

MÓDULO: PERCEPÇÃO E ATITUDES FACE AO RISCO

Trabalho Prático

Professora: Maria Odete Pereira

SETÚBAL

2010

MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

António José Gomes da Silva i

MÓDULO: PERCEPÇÃO E ATITUDES FACE AO RISCO

" Nos campos da observação, o acaso favorece apenas as mentes preparadas." (Louis Pasteur)

MESTRADO EM SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO (2º ANO) ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS

António José Gomes da Silva ii

MÓDULO: PERCEPÇÃO E ATITUDES FACE AO RISCO

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................................... 1

2. OBJECTIVOS ............................................................................................................................................ 2

2.1. Objectivo Geral ............................................................................................................................................... 2

2.2. Objectivo Específico....................................................................................................................................... 2

3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO................................................................................................................ 3

4. CARACTERIZAÇÃO SOBRE TRABALHO EM VALAS ............................................................................ 5

4.1. ......................................................................................................................... SITUAÇÃO DE TRABALHO 7

4.2. ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO................................................................................................ . 8

4.3. .................................................................................................... CONDIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO RISCO 8

I. Voluntarismo.............................................................................................................................................. 8

II. Conhecimento............................................................................................................................................ 8

III. Destreza e controlo percebido................................................................................................................... 9

IV. Sobreconfiança.......................................................................................................................................... 9

V. Número de indivíduos afectados ............................................................................................................... 9

VI. Severidade e efeito remoto........................................................................................................................ 9

VII. Disponibilidade .......................................................................................................................................... 9

VIII. Ancoragem e Supressão ......................................................................................................................... 10

IX. Recompensa............................................................................................................................................ 10

X. ........................................................................................................... Compensação do risco percebido 10

4.4. ............................................................................................................................................. PERSONALIDADE 10

4.5. ............................................................................................................. MOTIVAÇÃO E LITERACIA EMOCIONAL 10

4.6. .................................................................................................... CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS 11

4.7. ............................................................................................................................................................. SAÚDE 11

4.8. ............................................................................................................ CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS 11

5. .................................................... MÉTODOS DE AVALIAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO 11

6. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................................

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – ................................................................Inclinação dos taludes de acordo com os tipos de Solo 5

Quadro 2 – ...............................................................................Relação entre profundidade e largura mínima 6

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - ...............................................................................................Análise, avaliação e gestão do Risco 4

Figura 2 – Tipo A ............................................................................................................................................... 5

Figura 3 – Tipo B ............................................................................................................................................... 5

Figura 4 – Tipo C ............................................................................................................................................... 5

Figura 5 – Escadas em escavação ................................................................................................................... 6

Figura 6 - ..........................................................................................................Distâncias mínimo adoptadas 6

Figura 7 – .............................................................................................................................Tipo de entivação 7

Figura 8 – Execução de .........................................................................................................................ramais 8

Figura 9 – Escadas impróprias.......................................................................................................................... 8

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RESUMO

Com o presente trabalho, iremos abordar o que é o trabalho em valas.

O trabalho em valas é um dos trabalhos mais perigosos na área da construção civil.

Com a abordagem desta temática pretendemos, fazer a correlação do

desenvolvimento do trabalho em si, com os conhecimentos teóricos apreendidos no

módulo e de que destacamos entre outros:

A percepção do risco;

Atitudes face ao risco;

Abordagem da avaliação do risco;

E a relação entre, percepção, atitudes, comportamentos e clima de

segurança.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho reporta-se a uma situação de trabalho, neste caso particular,

trabalhos em vala, que pressupõe as seguintes actividades:

a) Escavação do solo;

b) Remoção de terras;

c) Trabalho em profundidade variável.

Os riscos para os trabalhos em valas podem ser divididos da seguinte forma:

1) Para quem efectua o respectivo trabalho;

2) Para terceiros.

Enumera-se de uma forma sucinta quais os riscos:

1) Quedas; Soterramento; Cortes e outras lesões (devido ao

manuseamento de ferramentas); Atropelamento; Poeiras; Projecção de

materiais; Contactos com redes eléctricas subterrâneas; Contactos

químicos, etc.

2) Quedas; Projecção de materiais; Atropelamento; Danos em viaturas.

Contudo a análise objectiva deste meu trabalho vai incidir no que se refere aos

riscos que sofre o trabalhador que efectua o respectivo trabalho.

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2. OBJECTIVOS

2.1. Objectivo Geral

Compreender que o comportamento humano é um factor preponderante num

processo de prevenção de acidentes de trabalho, contudo este mesmo comportamento é

baseado na interpretação feita da realidade e não da própria realidade em si.

Identificar as várias varáveis que se referem ao risco, nomeadamente as distorções

por vezes introduzidas na sua análise e também possíveis estratégias de mudança.

Fazer interpretação recorrendo a alguns conceitos.

2.2. Objectivo Específico

Aplicar e desenvolver todos os conceitos à realidade do trabalho em valas.

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3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Antes de nos debruçarmos no desenvolvimento do trabalho propriamente dito,

convém fazer uma breve abordagem teórica para podermo-nos enquadrar na temática

em análise. Assim sendo temos que antes demais, fazer uma distinção em três

conceitos que segundo a minha óptica são fundamentais:

a) Perigo;

b) Risco;

c) Acidente.

Perigo – reporta-se a uma condição estática, ou situação inerente de algo que

pode potenciar ou causar dano, nomeadamente produtos e substâncias, bem

como máquinas, métodos ou processos construtivos e por fim organização do

trabalho. Convém também ter em conta, que em algumas situações a este

potencial de perigo pode ser associada uma quantificação, física ou química (ex:

toxicidade de uma substância química bem como o aumento de tensão na

corrente eléctrica). Face a isto leva-nos a utilizar uma graduação dos perigos,

utilizando para o efeito terminologia como:

Perigo grave, perigo iminente, etc..

Com a conjugação da graduação dos perigos e o seu tempo de manifestação

estes podem ser designados de diversas formas, mas que não interessa

desenvolver no âmbito deste trabalho.

Risco – pretende de certa forma possibilitar a antecipação de situações de

perigo, por forma que os mesmo possam atingir quer pessoas quer bens. Neste

caso há duas variáveis que temos de ter em linha de conta, a probabilidade de ocorrência e a estimativa da gravidade.

Contudo convém reter duas características do risco, o risco subjectivo e o risco objectivo, que de uma forma sucinta podemos definir como:

Existe um determinado estimulo externo (risco), em que no risco objectivo há

necessidade de conhecer os seus contornos de forma a controlar, minimizar ou

eliminar e no risco subjectivo temos de caracterizar os mecanismos

comportamentais das pessoas face ao estímulo. As pesquisas de comunicação

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de risco descobriram que várias características de perigo, risco irrelevante ou

real, influenciam na percepção das pessoas. Importa pois considerar essas

características, porque o comportamento é determinado mais pelo risco percebido

do que pelo risco real.1

A avaliação dos riscos é um processo dinâmico, temos que saber em que medida

uma dada actividade laboral é segura e por isso a avaliação compreende duas etapas

que são fundamentais a análise e valorização do risco, conforme (fig. 1)

Figura 1 – Análise, avaliação e gestão do Risco

Acidente – É acidente de trabalho2

A identificação das variáveis que caracterizam os comportamentos humanos, são

fundamentais para um desenvolvimento sustentável de uma formação e intervenção de

cariz preventivo. Como sabemos o comportamento humano é o vector principal, pois está

aquele que se verifique no local e no tempo de

trabalho e produza directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou

doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte. No

caso de não provocar lesão corporal a sua designação é incidente. As situações em que

nem produzam nem lesão pessoal nem dano material designa-se quase acidente.

1 E. Scott Geller, 2ª ed. p.74-trad. 2 Lei n.º 100/97 de 13 de Setembro

IDENTIFICAÇÃO DO PERIGO

IDENTIFICAÇÃO DOS

TRABALHADORES

ESTIMATIVA DO RISCO

VALORIZAÇÃO DO RISCO

CONTROLO DO RISCO

ANÁLISE DE RISCO

AVALIAÇÃO DE RISCO

GESTÃO DO RISCO

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relacionado com aprendizagens mais seguras no desenvolvimento das actividades por

parte dos trabalhadores, das várias equipas de trabalho assim como das organizações.

Convém também realçar que os comportamentos de segurança3

Um trabalhador, de acordo com a situação em análise, poderá desenvolver

comportamentos de riscos ou comportamentos de segurança. Para os comportamentos

de riscos, no caso de um trabalhador que após um qualquer tipo de acidente não sofra

qualquer lesão

, não dependem

apenas dos factores individuais, onde se incluem as atitudes e as diferenças individuais

dos vários trabalhadores, mas também de factores de ordem organizacional, onde

incluímos o clima de segurança.

4

4. CARACTERIZAÇÃO SOBRE TRABALHO EM VALAS

. Comportamentos de segurança, se um trabalhador num determinado

acidente tiver algumas consequências (lesões).

A situação que pensei para este trabalho prático, consiste no trabalho num obra

que para o caso específico se reporta a abertura de valas para execução de ramais.

Como todos sabemos é um tipo de trabalho com um risco acrescido, pois depende

de várias variáveis externas, sendo que a principal é o tipo de solo ou rocha (fig. 2, 3 e 4)

pois de acordo com esse tipo assim teremos as respectivas inclinações (Quadro 1).

Figura 2 – Tipo A Figura 3 – Tipo B Figura 4 – Tipo C

Tipo de solo ou de rocha Inclinação máxima admissível para escavações com menos de 6 metros

Rocha estável Vertical ( 90º ) Tipo A ¾ para 1 (53º) Tipo B 1 para 1 (45º) Tipo C 1 ½ para 1 (34º)

Quadro 1 – Inclinação dos taludes de acordo com os tipos de Solo

3 Os comportamentos de segurança são influenciados pela experiência de acidentes de trabalho e pelo clima de segurança da organização 4 Os factores que contribuem para uma lesão são, ao que Geller chamou a “Tríade de segurança”, ambientais, pessoais e comportamentais

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Mínimo 2H

Metade de H 0,20 m

1 m

Convém também referir qual a relação que existe entre a profundidade da vale e a

sua largura mínima, para se manter a segurança (Quadro 2)

Profundidade da vala Largura mínima

<1,5 m 0,60 m

>1,5 < 2 m 0,70 m

>2 < 3 m 0,90 m

>3 < 4 m 1,2 m

>4 m 1,3 m

Quadro 2 – Relação entre profundidade e largura mínima

Os principais meios de protecção nas escavações, que são: Taludes;

Socalcos;

Entivações;

Escudos ou caixas de trincheiras.

Apresento as ilustrações, por serem as mais comuns neste tipo de trabalhos,

nomeadamente a utilização de escadas, para profundidades superiores a 1,25 m,

as distâncias adoptadas e ainda um tipo de entivação. (fig. 5, 6 e 7)

Figura 5 – Escadas em escavação Figura 6 – Distâncias mínimo adoptadas

H P

rofu

ndid

ade

de E

scav

ação

e

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Figura 7 – Tipo de entivação

4.1. SITUAÇÃO DE TRABALHO Esta situação ocorre numa obra, onde actualmente se está a proceder a abertura

de valas para execução de ramais, conforme se pode constatar (fig. 8). É uma empresa,

a título individual e que está na actividade da construção há 20 anos, dispõe de um

quadro de pessoal nesta fase muito reduzido, em virtude da crise que este sector de

actividade atravessa, recorrendo em grande parte a empresas de aluguer de mão de

obra, para execução da maioria dos seus trabalhos.

O trabalho decorre num local que se destina numa fase posterior, ao loteamento,

para habitações e respectivas infra-estruturas sociais.

Dos trabalhadores em análise, destacamos o Sr. Vicente, pedreiro de profissão e

que já trabalha há 8 anos na empresa. Apesar de jovem, actualmente com 30 anos, baixo

nível de escolaridade, o seu trabalho habitual é o que actualmente executa nesta obra e,

na ausência do encarregado da frente de trabalho é ele que acumula essa função.

Contudo e talvez, num perspectiva de assumir num futuro próximo a chefia

efectiva, dado ser um individuo esperto e voluntarioso, executa e manda executar os

trabalhos de uma forma insegura, descurando desde logo o uso de EPI´S assim como

minimiza os riscos inerentes a este tipo de trabalho.

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Figura 8 – Execução de ramais

4.2. ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO

Do anteriormente descrito, o local e o tipo de trabalho potenciam a existência de

acidentes, nomeadamente, quedas pela utilização inadequada de meios de acessos

impróprios (fig. 9), soterramentos, pelo facto de não existir entivação, ou outro meio de

protecção, não cumprimento das distâncias mínimas das máquinas, na berma da vala,

bem como dos trabalhadores às respectivas máquinas. Relativamente ao que possa, ter

levado o Sr. Vicente, a ter percepções e atitudes desajustadas de acordo com o

descrito, serão objecto de análise quanto às condições e características dos riscos.

Figura 9 – Escadas impróprias

4.3. CONDIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO RISCO

I. Voluntarismo O trabalhador em análise, acabou por optar por uma situação mais cómoda ou seja

a utilização de meios acessos menos adequados, pois segundo a sua percepção era um

risco menor. Pelo facto de estar a trabalhar de forma a dar cumprimento aos prazos, que

segundo eles estavam de certa forma um pouco apertados.

II. Conhecimento O trabalhador disponha de toda a informação no respeitante as normas de

segurança e seu cumprimento, e inclusive tinha conhecimento do procedimento para esta

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actividade que lhe foi facultada, quando da formação ministrada antes do arranque deste

trabalho. Logo tinha conhecimentos quais os riscos que corria pelo não cumprimento das

normas e procedimentos.

III. Destreza e controlo percebido O trabalhador como nunca teve qualquer acidente, por si só leva a que quando

abordado diga nunca aconteceu nada porquê agora? Este facto faz com que seja menor

a análise sobre o risco percebido. Contudo pelo facto de dispor de toda a informação,

faz com que a sua percepção do risco seja reduzida.

IV. Sobreconfiança Pelo facto de o Sr. Vicente, já trabalhar há oito anos e nunca ter tido nem

assistido a qualquer acidente, por si só é um factor que leva a pensar que os riscos são

meramente casuísticos e nada lhe acontece a ele.

V. Número de indivíduos afectados Nesta empresa, e neste tipo de trabalho em análise, só houve 2 acidentes, um

provocado pela queda de alguns materiais, da berma para a vala tendo atingido um

trabalhador, mas de forma ligeira e o facto de estar com capacete minimizou os danos.

Outro esse um pouco mais grave, pois provocou o soterramento parcial do trabalhador, o

que motivou o facto de ter estado uma semana incapacitado de trabalhar, este risco foi

causado pelo não cumprimento quer do trabalhador afectado, mas motivado em parte

pelo manobrador da giratória, pois quando estava a descarregar terras não se apercebeu

que havia trabalhadores na vala que não estavam a cumprir as distâncias de segurança.

VI. Severidade e efeito remoto Este acidente, por si só alertou em situações futuras todos os que trabalham nas

valas e para esta operação em concreto, pois se o soterramento fosse total poderia

levar à morte do trabalhador. Mas no caso do Sr. Vicente, leva-o as descorar as outras

situações por achar que os riscos a acontecer são de menor gravidade.

VII. Disponibilidade O acidente com soterramento parcial, por si só, alertou em situações futuras todos

os que trabalham nas valas e para esta operação em concreto, pois se o soterramento

fosse total poderia levar à morte do trabalhador. Mas de qualquer forma é um assunto que

o Sr. Vicente tem presente, pois já estava na empresa quando tal aconteceu, mas o

histórico não é significativo por forma a que ele pense nesta actividade num todo e não só

de forma parcelar.

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VIII. Ancoragem e Supressão O Sr. Vicente adquiriu uma crença, que apesar de tudo se torna difícil de contornar

ou substituir, pelas suas evidências, pelo factos que até agora nunca ter tido qualquer

acidente, para ele é como estivesse protegido e imune a qualquer consequência de algum

hipotético risco ……..“Já há oito anos que faço estes trabalhos, nunca tive qualquer

acidente ou incidente, porque haveria de ter agora”. Apesar de ter conhecimentos e estar

na posse de toda a informação, mas que ignora pelo facto de ter as ideias pré-concebidas

de que nada acontece.

IX. Recompensa O trabalhador tem esta motivação, assim como dedicação e empenho na

actividade desenvolvida, pois espera uma recompensa num futuro próximo, que é a de vir

a ser encarregado de uma frente de obra. O que de alguma forma já acontece apesar de

pontualmente com a sua designação como chefia na frente de obra apesar de

cumulativamente com a sua actividade de pedreiro.

X. Compensação do risco percebido O que poderá estar na génese de uma redução da percepção do risco e por esse

motivo levar o Sr. Vicente a realizar comportamentos mais arriscados, prende-se de certa

forma, com as mudanças frequentes da localização da obra em que intervém, bem como

da tipologia do próprio terreno, varia de local para local. 4.4. PERSONALIDADE Verifica-se que existe alguma vulnerabilidade à influência do grupo, o Sr. Vicente tem

pretensões a de vir a ser encarregado de uma frente de obra, pelo que tem que dar nas

vistas face aos seus superiores, pois sendo chefia cumpre um dos seus objectivos de

realização pessoal. Da análise da situação de trabalho apresentada, verifica-se que o

trabalhador tem um forte Locus de Controlo Interno, pois tem um optimismo irrealista e

uma ilusão de invulnerabilidade “Já há oito anos que faço estes trabalhos, nunca tive

qualquer acidente ou incidente, porque haveria de ter agora”. Para além uma atracção

pelo risco, que está associada a ganhos secundários, com a sua evolução em termos

profissionais. 4.5. MOTIVAÇÃO E LITERACIA EMOCIONAL

Da análise da pirâmide Motivacional de Maslow, podemos concluir que o Sr. Vicente

está no estágio de auto-realização, pois já em situações pontuais, executa as funções de

chefia, que quer atingir na sua plenitude.

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Relativamente à teoria de fixação de objectivos, as chefias dão uma maior ênfase à

produção, neste caso em concreto, cumprimento de prazos e se possível até antecipá-los,

o que só por si estimula comportados de riscos. Podemos inferir de que face a esses seus

comportamentos seguem-se consequências agradáveis, existe uma maior probabilidade

de ser repetido, dado que o Sr. Vicente nunca teve nenhum acidente/incidente.

4.6. CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS O Sr. Vicente, reúne todas as condições mais desfavoráveis, é homem, logo tende a

correr mais riscos, ainda é um jovem com 30 anos, aqui também com tendência descorar

um pouco a segurança, e ainda associado às restantes situações, o facto de possuir um

baixo nível de instrução, o que por si também potencia o subvalorizar mais o risco.

4.7. SAÚDE O Trabalhador é um trabalhador saudável, pelo que tende a valorizar menos os

riscos.

4.8. CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS A empresa em análise, revela uma atitude permissiva, por um lado o facto de ser

uma empresa de caris familiar, com poucos activos e pelo outro o facto de recorrer

também ao aluguer de mão-de-obra, o que por si torna difícil implementar um clima de

segurança positivo, pois que os riscos de base não são controlados, logo pelos próprios

trabalhadores do quadro da empresa. Estes factos influenciam e favorecem à tomada de

comportamentos inseguros.

5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO Face ao atrás exposto, sobre o trabalho em análise, as atitudes face aos riscos

poderá ser feita em dois momentos distintos. O 1º momento através da aplicação de

questionários com escalas do tipo Lickert, por forma a ter um diagnóstico exacto da

situação actual, no que concerne aos comportamentos e atitudes dos trabalhadores da

empresa. Posteriormente entrevistas também a todos os operacionais. Após os

elementos obtidos de ambas as intervenções estabelecer um plano de prioridades por

forma a caminhar para uma cultura de segurança total (e.g. E. Scott Geller, 2ª ed.), a

qual abarca três factores essenciais a saber:

- Ambientais, Pessoais e comportamentais.

Após esta fase, estender esta cultura aos trabalhadores externos, bem como a

potenciais fornecedores.

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6 BIBLIOGRAFIA

• Lei nº 100/97, de 13 de Setembro de 1997

• Geller E. Scott “Trabalhando em Segurança” 2ª Edição

• Pereira, Odete (2010) Slides do Módulo de Percepção e Atitudes Face ao

Risco. Mestrado em Segurança e Higiene no Trabalho. Escola Superior de

Ciências Empresariais. Instituto Politécnico de Setúbal.

• Roxo, Manuel M “Segurança e Saúde do Trabalho: Avaliação e Controlo de

Riscos” 2ª Edição, Abril 2006

• Sigve Oltedal, Bjørg-Elin Moen, Hroar Klempe, Torbjørn Rundmo, “Explaining

risk perception.An evaluation of cultural theory” April 2004

• http://www.carldora.com/c/page.php?3.0

• http://www.ambergo.pt/portal/index.php?option=content&task=view&id=237&Ite

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• http://www.ambergo.pt/portal/index.php?option=content&task=view&id=236&Ite

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• http://www.ambergo.pt/portal/index.php?option=content&task=view&id=238&Ite

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