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ESTUDO ESTUDO Câmara dos Deputados Praça 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF A PENHORA ON-LINE NA JUSTIÇA DO TRABALHO Cláudia Virgínia Brito de Melo Consultora Legislativa da Área V Direito do Trabalho e Processual do Trabalho ESTUDO JUNHO/2004

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ESTUDO

ESTUDO

A PENHORA ON-LINE NAJUSTIÇA DO TRABALHO

Cláudia Virgínia Brito de MeloConsultora Legislativa da Área V

Direito do Trabalho e Processual do Trabalho

ESTUDOJUNHO/2004

Câmara dos DeputadosPraça 3 PoderesConsultoria LegislativaAnexo III - TérreoBrasília - DF

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................3

2. PROCESSO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA ................................................................................................4

3. PENHORA ...........................................................................................................................................................5

4. PENHORA ON-LINE...........................................................................................................................................6

5. CONTROVÉRSIAS SOBRE A PENHORA ON-LINE .......................................................................................95.1. Ilegalidade do procedimento..........................................................................................................................95.2. Quebra de sigilo bancário ............................................................................................................................105.3. Excesso de execução ...................................................................................................................................105.4. Desconsideração da personalidade jurídica .................................................................................................115.5. Bens impenhoráveis.....................................................................................................................................125.6. Supressão de procedimentos........................................................................................................................135.7. Bloqueio de contas correntes fora da jurisdição ..........................................................................................15

6. MEDIDAS CONTRA A PENHORA ON-LINE ................................................................................................156.1. No Poder Legislativo ...................................................................................................................................156.2. No Poder Judiciário .....................................................................................................................................16

7. CONCLUSÃO....................................................................................................................................................17

© 2004 Câmara dos Deputados.Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde quecitada a autora e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reproduçãoparcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados.

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A PENHORA ON-LINE NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Cláudia Virgínia Brito de Melo

1. INTRODUÇÃO

esultado de convênio firmado entre o TribunalSuperior do Trabalho (TST) e o Banco Centraldo Brasil (BACEN), em março de 2000, a

penhora on-line deu grande impulso às execuções trabalhistas,imprimindo-lhes velocidade até então desconhecida.

Paralelamente, entretanto, ao comemorado fim damorosidade das execuções, avolumam-se, dia a dia, queixas deempregadores, que denunciam falhas no sistema e arbitrariedades queestariam sendo cometidas por juízes do trabalho ao aplicaremabusivamente o novo sistema.

Este trabalho tem por objetivo analisar a penhora naexecução trabalhista e as modificações introduzidas pelo ConvênioBACEN/TST/2002, que permitiu a utilização do Sistema BACENJUD pelo TST e pelos Tribunais Regionais do Trabalho.

Traça, inicialmente, as linhas gerais da execuçãotrabalhista e da penhora, como ato executório inicial desse processo.Em seguida, trata do Sistema BACEN JUD, do ConvênioBACEN/TST/2002 e dos Provimentos nos 1 e 3, de 2003, daCorregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, que dispõem sobre apenhora on-line na Justiça do Trabalho. Expõe, em seqüência, ascríticas levantadas contra o Sistema e sua utilização, assim como osargumentos daqueles que os defendem. O trabalho apresenta, ainda,as medidas judiciais e legislativas atualmente em trâmite, que visam asuprimir a penhora on-line. Para concluir, sintetiza as controvérsiasexistentes sobre o tema e analisa a viabilidade de intervençãolegislativa na questão, com a finalidade de aperfeiçoar o procedimento.

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2. PROCESSO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA

O processo de execução visa a concretizar direito contido em um títuloexecutivo judicial ou extrajudicial, e que não foi adimplido espontaneamente pelo devedor.

Ressalta-se que a execução é o meio pelo qual o Estado dá efetividade aodireito. Direito que não é cumprido não tem utilidade e desacredita a Justiça. Deve a execução,portanto, ser rápida e eficaz, mas não pode se transformar numa forma de retaliação contra odevedor. Nesse sentido, prescreve o art. 620 do CPC que, “Quando por vários meios o credor puderpromover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.

Nos termos do art. 876, caput, da Consolidação das Leis do Trabalho, aexecução no processo do trabalho pode ser fundamentada nos seguintes títulos:

a) decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recursocom efeito suspensivo;

b) acordos não cumpridos;

c) termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público doTrabalho;

d) termos de conciliação firmados perante as Comissões de ConciliaçãoPrévia.

Diversos são os tipos de obrigações que podem conter esses títulos, e paracada uma delas a legislação processual prevê um procedimento específico de execução. O direitocontido no título pode consistir numa obrigação de fazer ou de não fazer, de entregar uma coisa,de pagar quantia certa ou prestações sucessivas.

A obrigação de pagar quantia certa é a mais comumente observada, tantono processo comum quanto no trabalhista. Em conseqüência, a execução por quantia certa contradevedor solvente é, também, a mais usual.

A execução por quantia certa contra devedor solvente, que tem porobjetivo expropriar bens do devedor para satisfazer o direito do credor (art. 646 do Código deProcesso Civil), constitui-se nas seguintes partes integrantes:1

a) quantificação, fase preparatória da execução, caso seja ilíquida asentença exeqüenda. A liquidação da sentença tem por objetivo “converter o objeto da condenação emnúmeros bem determinados”, ou seja, “fixar o valor de uma prestação indeterminada”; 2

1 Cf. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004.p. 621/623.2 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. 37. ed. atual. e rev. por JoséEduardo Duarte Saad, Ana Maria Saad Castello Branco. São Paulo: LTr, 2004. p. 659.

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b) constrição, fase na qual o Judiciário apreende o patrimônio dodevedor, para posterior expropriação;

c) expropriação, quando os bens penhorados e avaliados são submetidosa praça ou leilão, para a satisfação da dívida.

A execução pode ser definitiva ou provisória. Nos termos do art. 587 doCPC, “A execução é definitiva, quando fundada em sentença transitada em julgado ou em título extrajudicial; éprovisória, quando a sentença for impugnada mediante recurso, recebido só no efeito devolutivo”. A execuçãoprovisória, de acordo com o caput do art. 899 da CLT, segue seu trâmite somente até a penhora.

3. PENHORA

Na execução por quantia certa no processo do trabalho, o juiz, porrequisição do credor ou de ofício, determina a expedição de mandado de citação ao executado,para que pague a dívida em 48 horas ou garanta a execução (art. 880 da CLT). A garantia daexecução é feita mediante o depósito da importância reclamada, atualizada e acrescida dasdespesas processuais, ou pela nomeação de bens à penhora (art. 882 da CLT), observada a ordempreferencial, estabelecida no art. 655 do CPC:

I – dinheiro;3-4

II – pedras e metais preciosos;

III – títulos da dívida pública da União ou dos Estados;

IV – títulos de crédito, que tenham cotação em bolsa;

V – móveis;

VI – veículos;

VII – semoventes;

VIII – imóveis;

IX – navios e aeronaves;

X – direitos e ações.

3 De acordo com a Orientação Jurisprudencial nº 59, da Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, doTST, a carta de fiança bancária equivale a dinheiro para efeito da gradação dos bens penhoráveis.4 O TST tem entendido que, em se tratando de execução provisória, fere direito liquido e certo do impetrante adeterminação de penhora em dinheiro, quando nomeados os bens à penhora, pois o executado tem direito a que aexecução se processe da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC (OrientaçãoJurisprudencial nº 62, da SDI-II).

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Caso o executado não pague a dívida nem garanta a execução, é feita apenhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação,acrescida de custas e juros de mora, desde a data do ajuizamento da reclamação inicial (art. 883 daCLT).5

A penhora é, portanto, “o primeiro ato executório e coativo do processo de execuçãopor quantia certa”, e tem por finalidade individuar e apreender os bens que se destinam àexpropriação, assim como conservá-los na situação em que se encontram, evitando sua subtração,deterioração ou alienação em prejuízo da execução em curso.6

A penhora recai sobre todo o patrimônio do devedor, com exceção dosbens impenhoráveis, que são os definidos pelo art. 649 do CPC7 e o bem de família, regulado pelaLei nº 8.009, de 22 de março de 1990.

No curso normal da execução, à penhora seguir-se-á a avaliação dos bense a arrematação, com a qual será apurado o dinheiro necessário à satisfação do direito do credor,pondo fim ao processo.

4. PENHORA ON-LINE

A denominada penhora on-line nada mais é do que a modernização einformatização de atos destinados à penhora de dinheiro depositado em conta corrente doexecutado.

Antes, para o juiz saber se o devedor dispunha de dinheiro em contacorrente, eram expedidos, pela via postal, ofícios com pedidos de informação, os quais eramrespondidos pelas instituições financeiras também pelo correio. Sendo afirmativa a resposta dos

5 Garantida a execução ou penhorados os bens, o executado pode defender-se mediante a apresentação deembargos, cuja matéria é restrita às alegações de cumprimento da decisão ou do acordo, quitação ou prescriçãoda dívida (art. 884 da CLT).6 Cf. SANTOS. Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1989-1992. p. 292.7 De acordo com o art. 649 do CPC, são absolutamente impenhoráveis: I – os bens inalienáveis e os declarados,por ato voluntário, não sujeitos à execução; II – as provisões de alimento e de combustível, necessária àmanutenção do devedor e de sua família durante um mês; III – o anel nupcial e os retratos de família; IV – osvencimentos dos magistrados, dos professores e dos funcionários públicos, o soldo e os salários, salvo parapagamento de prestação alimentícia; V – os equipamentos dos militares; VI – os livros, as máquinas, osutensílios e os instrumentos, necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VII – as pensões, as tençasou os montepios, percebidos dos cofres públicos, ou de institutos de previdência, bem como os provenientes deliberalidade de terceiro, quando destinados ao sustento do devedor ou da sua família; VIII – os materiaisnecessários para obras em andamento, salvo se estas forem penhoradas; IX – o seguro de vida; X – o imóvelrural, até um módulo, desde que este seja o único de que disponha o devedor, ressalvada a hipoteca para fins definanciamento agropecuário.

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bancos, a penhora desse dinheiro dependia da expedição de novo ofício ou da ida do oficial dejustiça à instituição bancária, para, munido de mandado, efetuar a penhora “na boca do caixa”.

Preocupado com a segurança e tempestividade das respostas dasinstituições financeiras às solicitações encaminhadas pelas autoridades judiciárias, o Banco Centraldo Brasil desenvolveu o Sistema BACEN JUD, que pode ser utilizado pelos juízes vinculados aosTribunais que tenham firmado convênio com essa finalidade. A respeito do Sistema, consta aseguinte informação do site do Banco Central na internet:

“Já é permitido aos juízes, por força de lei, determinar a bloqueio de ativosfinanceiros e obter de entidades públicas ou privadas as informações necessárias parainstrução de processos, respeitadas as regras constitucionais e processuais vigentes. Naverdade, os juízes poderiam enviar suas determinações diretamente às instituiçõesfinanceiras, todavia, pela facilidade de comunicação com o Sistema Financeiro quedispõe o Banco Central, e no contexto de uma política de aproximação e cooperaçãocom o Judiciário, este Órgão, desde os anos 80 vem auxiliando na intermediação desseprocesso. Nesse período, o volume de solicitações judiciais cresceu substancialmente: hojerecebe-se uma média de 600 solicitações diárias, encaminhadas em papel, suscitandoenorme trabalho de triagem, classificação, digitação e reenvio das solicitações à todarede bancária. No novo sistema Bacen Jud, não haverá a necessidade do envio dodocumento em papel nem do envolvimento do Bacen no processo. O próprio juizpreenche um documento eletrônico na Internet, que contém todas as informações hojeinscritas no ofício comum. Como vem ocorrendo nos últimos 20 anos, esses dados sãotransmitidos, com segurança, diretamente aos bancos que cumprem as ordens eretornam as informações aos juízes. Ou seja, o sistema apenas permite que um ofícioque era encaminhado em papel seja agora encaminhado via Internet, racionalizando osserviços no âmbito do Banco Central e possibilitando ao Poder Judiciário maisagilidade no cumprimento de suas ordens no âmbito do Sistema FinanceiroNacional.” 8

A respeito da denominação “penhora on-line”, assim discorre o Juiz eProfessor Antônio Álvares da Silva:

“Realmente não existe esse tipo de penhora pois a que se realizou é a penhoranormal prevista nos dispositivos pertinentes do CPC e da CLT. (...) a designação‘penhora on line’ tem em vista apenas os aspectos procedimentais pelos quais ela se faz.Não constitui nenhum tipo ou modelo jurídico em si mesmo.” 9

8 Banco Central do Brasil. http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO. Acesso em: 24 maio 2004.9 SILVA, Antônio Álvares. Penhora na Justiça do Trabalho.http://www.abrat.adv.br/textos/interesse/2002/09d-2002.html. Acesso em: 24 maio 2004.

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O acesso dos Tribunais do Trabalho ao Sistema BACEN JUD foipermitido pelo Convênio BACEN/TST/2002, firmado entre o TST e o Banco Central em 5 demarço de 2002. Cabe ressaltar que a Justiça do Trabalho não foi a primeira a assinar convêniocom essa finalidade, uma vez que, desde maio de 2001, convênio firmado pelo Superior Tribunalde Justiça com o BACEN já autorizava juízes federais e estaduais a utilizarem a penhora osistema.

Conforme a cláusula primeira do Convênio BACEN/TST/2002, oinstrumento tem por objetivo “permitir ao TST e aos Tribunais Regionais do Trabalho que vierem a aderi-lo (...) o acesso, via Internet, ao Sistema de Solicitações do Poder Judiciário ao Banco Central do Brasil”,denominado BACEN JUD. Por intermédio desse Sistema, os Tribunais podem, dentro de suasáreas de competência, encaminhar às instituições financeiras e demais instituições autorizadas afuncionar pelo BACEN ofícios eletrônicos contendo solicitações de informações sobre aexistência de contas correntes e aplicações financeiras, determinações de bloqueio e desbloqueiode contas envolvendo pessoas físicas e jurídicas clientes do Sistema Financeiro Nacional, e outrassolicitações a serem definidas pelas partes.

Em 1º de julho de 2003, o Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho,considerando resistências de entidades financeiras e juízes à utilização do Sistema BACEN JUD econsiderando, ainda, ter sido apurado em correição que gerentes de agências bancárias estariamadotando a prática de alertar o correntista, exortando-o a retirar os valores da conta corrente a serbloqueada, baixou o Provimento nº 1/2003, determinando, entre outras providências, que:

a) em se tratando de execução definitiva, o Sistema BACEN JUD deve serutilizado com prioridade sobre outras modalidades de constrição judicial;

b) os juízes devem evitar a solicitação de informações sobre a existênciade contas correntes de devedores, ao menos até que se disponibilizem respostas on-line dasentidades financeiras;

c) os juízes devem abster-se de requisitar às agências bancárias, por ofício,bloqueios fora dos limites de sua jurisdição, podendo fazê-lo apenas mediante o sistema BACENJUD.

Em decorrência de reclamações relativas a bloqueios múltiplos, queresultavam em penhoras além do valor devido, e considerando também a demora para odesbloqueio de ordens constritivas cumpridas em excesso, em 26 de setembro de 2003, foibaixado o Provimento nº 3/2003, que permite às empresas que possuem contas bancárias emdiversas agências do país o cadastramento de conta bancária apta a sofrer bloqueio on-linerealizado pelo Sistema BACEN JUD.

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5. CONTROVÉRSIAS SOBRE A PENHORA ON-LINE

A assinatura do Convênio BACEN/TST/2002, que permitiu a utilizaçãoda penhora on-line na Justiça do Trabalho, foi festejada pelos juízes trabalhistas como o fim damorosidade da execução, o maior entrave do processo do trabalho.

Para o Presidente do TST, Ministro Vantuil Abdala, “O diferencial noconvênio é que as ordens de constrição de dinheiro, antes realizadas por meio de expedição de ofícios via postal, ecujo cumprimento demorava cerca de 60 dias, agora passam a ser executadas em 24, 48 horas, quando muito,consistindo em instrumento eficaz contra maus pagadores”. 10

De acordo com o TST, existem aproximadamente 1 milhão e 600 milações trabalhistas em fase de execução no país, e muitas vezes os trabalhadores vêem seus direitosfrustrados por artifícios utilizados pelas empresas devedoras, que impedem o sucesso daexecução.

Argumentam os defensores da penhora on-line que ela aumenta aspossibilidade de a execução ser bem-sucedida, pois, sabendo que tem poucas chances de impediro bloqueio da conta corrente, interessa à própria empresa executada apresentar bens à execução.

São cada vez mais comuns, entretanto, as reclamações de empregadorescontra a penhora on-line e uma alegada truculência dos juízes do trabalho na sua aplicação.Analisamos, a seguir, alguns pontos que originam controvérsias sobre a penhora on-line.

5.1. Ilegalidade do procedimento

Uma das críticas mais freqüentes contra a penhora on-line é a de que tratar-se-ia de procedimento não previsto em lei e, portanto, impossível de ser adotado pelo Judiciário.

Para os defensores do Sistema BACEN JUD, não procede essa alegação.A penhora on-line é a própria penhora, prevista nos arts. 880 a 883 da CLT e 659 a 670 do CPC. Aesse respeito, aliás, cabe transcrever o item 2 da nota pública conjunta divulgada pela AssociaçãoNacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Magistrados daJustiça do Trabalho da 5ª Região (Amatra 5):

“Não há inconstitucionalidade ou ilegalidade no bloqueio eletrônico. Osartigos 665 do Código de Processo Civil e 882 da Consolidação das LeisTrabalhistas dão preferência à penhora em dinheiro pela sua liquidez. Por outro lado,

10 JUSTIÇA do Trabalho põe fim à morosidade nas execuções. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho,30/5/2002. http://www.tst.gov.br/noticias/. Acesso em: 24 maio 2004.

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a Lei nº 9.800/99 autoriza a utilização de sistemas de transmissão de dados para aprática de atos processuais.” 11

5.2. Quebra de sigilo bancário

Existe o argumento de que a penhora on-line é inconstitucional, poisimplicaria a quebra do sigilo bancário do executado. Alega-se que, mediante a utilização da senhafornecida pelo FIEL,12 o juiz teria acesso a dados sigilosos do Banco Central.

Também essa afirmativa é contestada pela nota conjunta da Anamatra eda Amatra 5, que, no item 4, dispõe:

‘Não há quebra de sigilo bancário do devedor. O magistrado expede umaordem de bloqueio ao Bacen, que a encaminha ao banco depositário, não tendo acesso àconta bancária do devedor nem é sua a responsabilidade pela eventual demora nocumprimento da determinação pelo banco.”

5.3. Excesso de execução

Outro argumento contra a penhora on-line é o excesso de execução.Afirmam seus adversários que, ao ser expedida a determinação de bloqueio da conta corrente dodevedor, são bloqueadas todas as contas da empresa no território nacional, em valores muitosuperiores à dívida.

A penhora on-line estaria, assim, colocando em risco a saúde financeira dasempresas, o que não interessa a ninguém, sejam os credores, os sócios, os atuais empregados, ointeresse público. O pior, alega-se, é que o desbloqueio on-line não tem a mesma agilidade, sendo odevedor submetido ao trâmite normal da Justiça do Trabalho, para conseguir voltar a funcionar.

O TST procurou dar uma resposta a essa crítica mediante a aprovação doProvimento nº 3/2003, que autoriza as empresas a cadastrarem uma conta bancária apta a sofrerbloqueio on-line. De acordo com informação publicada no site do TST em 19 de abril de 2004, 160empresas já havia se cadastrado e 58 já haviam feito o pré-cadastramento.

Relativamente ao desbloqueio, o TST informa ainda que “Um grupo detrabalho, formado por técnicos do Banco Central, dois juízes do trabalho e dois servidores do TST, estuda, nomomento, o aperfeiçoamento do programa, com a criação de um sistema de interligação entre a Vara de Trabalho, o

11 Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho:http://www.anamatra.org.br/noticias/noticias/ler_noticias.cfm?cod_conteudo=3971&descricao=noticias.Acesso em: 24 maio 2004.12 O FIEL é o magistrado cadastrado no Sistema de Informações do Banco Central (SISBACEN) como GerenteSetorial de Segurança da Informação de cada Tribunal. A ele compete cadastrar os usuários do Tribunal noSistema BACEN JUD. (Cláusula 2ª, alíneas “b” e “c”, do Convênio BACEN/TST/2002)

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Bacen e os bancos. Isso evitará problemas como a demora do desbloqueio dos valores que excederem o débitotrabalhista e o bloqueio indiscriminado de conta”. 13

5.4. Desconsideração da personalidade jurídica

Outra reclamação dos empregadores diz respeito à penhora de contascorrentes dos sócios, sem que figurem no pólo passivo da ação.

A possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica éexpressamente prevista no art. 50 do novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002),que assim dispõe:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelodesvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimentoda parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que osefeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bensparticulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”

Mesmo antes da vigência do novo Código Civil, entretanto, o Código deDefesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990), já determinava, no art. 28,caput e § 5º:

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedadequando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. Adesconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

....................................................................................

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que suapersonalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causadosaos consumidores.”

Considerando a natureza alimentícia dos créditos trabalhistas, é pacífica najurisprudência do TST a aplicação, por analogia, da regra mais flexível de desconsideração dapersonalidade jurídica prevista no § 5º do art. 28 do Código de Defesa do Consumidor. Dessaforma, sempre que se verifica a insuficiência do patrimônio da sociedade, sujeitam-se à execuçãoos bens dos sócios individualmente considerados, solidária e ilimitadamente, até o pagamentointegral dos créditos dos empregados. Nesse sentido as decisões proferidas nos processos AIRR-2697/2000-012-15-00 (Diário da Justiça de 16/4/2004), AIRR-20391/1996-008-09-00 (DJ

13 MAIS de 200 empresas buscam cadastrar conta para Penhora On-line. Notícias do Tribunal Superior doTrabalho, 19/4/2004. http://www.tst.gov.br/noticias/. Acesso em: 24 maio 2004.

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19/3/2004), AIRR-22289/2002-900-09-00 (DJ 14/11/2003), AIRR-19414/2002-900-03-00 (DJ6/6/2003), RR-466.349/1998 (DJ 4/4/2003), RR-2549/2000-012-05-00 (DJ 7/3/2003) e muitasoutras.

Voltando ao tema do presente estudo, a penhora on-line trouxe, semdúvida, uma grande economia de tempo e esforço na busca de bens que levem ao sucesso daexecução. É preciso atentar, entretanto, para que o insucesso da tentativa de bloqueio on-line dascontas de uma determinada sociedade não leve, por si só, ao bloqueio das contas de seus sócios.O fato de uma empresa não possuir dinheiro depositado em conta corrente não pode levar àconclusão de que não possua outros bens, passíveis de penhora. Apenas na hipótese de não haverbens societários suficientes para o pagamento da dívida é que estaria autorizada, de acordo com ajurisprudência do TST, a desconsideração da personalidade jurídica.

5.5. Bens impenhoráveis

A penhora on-line também é criticada por recair, algumas vezes, sobre bensimpenhoráveis. É a seguinte a observação do advogado trabalhista Lineu Miguel Gomes, emartigo sobre a matéria: 14

“Nos meandros de acessos por senhas e segredos que enlaçam oJUDICIÁRIO TRABALHISTA E O BACEN, determina-se o BLOQUEIODE CONTAS, sem perscrutar a ‘ORIGEM DO DINHEIROCONSTANTE DA CONTA OU DA SUA DESTINAÇÃO’.

Neste desmedido afã, de aceleração procedimental irrefletido, penhoram-seSALÁRIOS, PROVENTOS DE APOSENTADORIAS, PENSÕES EOUTRAS VERBAS DE CARÁTER ALIMENTAR E OUTROS -QUE, POR DEFINIÇÃO LEGAL SÃO ABSOLUTAMENTEIMPENHORÁVEIS (Incisos I a X do Artigo 649 do Código de Processo Civil).

Exemplificando mais:

1. Aplicações em Depósitos Bancários decorrentes de doações com cláusula deimpenhorabilidade;

2. Provisões de alimentos e combustíveis necessárias a manutenção da famíliado devedor;

3. Vencimentos, soldos e salários; valores que se destinam ao exercício daprofissão;

14 GOMES, Lineu Miguel. Penhora on line.http://www.fiscosoft.com.br/main_index.php?home=home_artigos&m=_&nx_=&viewid=119957. Acessoem: 24 maio 2004.

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4. Valores intermediários de venda de bem de família para aquisição deoutra moradia, ou de mesmo modo, valor transitório de veículo, para aquisição deoutro, indispensável, como instrumento ao exercício profissional e sustento da família;

5. Valores destinados a aquisição de materiais para obras do bem de família;

6. Valores decorrentes de seguro de vida.”

Sem dúvida, o risco de que a penhora recaia sobre valores impenhoráveiscresce quando há a desconsideração da personalidade jurídica e são bloqueadas as contascorrentes dos sócios.

Mesmo nas contas da pessoa jurídica, entretanto, existe esse risco. É ocaso, por exemplo, de conta bancária destinada a pagamento de salários, cuja impenhorabilidadefoi reconhecida pelo TST no seguinte julgado:

“Mandado de segurança. Direito líquido e certo. Penhora sobre contabancária destinada a pagamento de salários. Se a penhora recaiu sobre conta bancáriadestinada a pagamento de salários, é evidente que foi violado o art. 649, IV, doCPC, e, conseqüentemente, direito líquido e certo da Impetrante. Recurso Ordinário aque se dá provimento, para conceder a segurança, tornando insubsistentes as penhorasfeitas nas contas bancárias da Impetrante, a que se referem os autos às fls. 41, 42,45, 46 e 48. TST, SDI, RO-MS 343/88.3, in DJU 10.4.92, p. 4.874.” 15

5.6. Supressão de procedimentos

Outra crítica sofrida pela penhora on-line é a de que, na pressa para dar fimà execução, e com um instrumento poderoso nas mãos, os juízes têm causado prejuízos àsempresas ao atropelar o processo e suprimir procedimentos.

Aqui, mais uma vez, retomamos as críticas do advogado paranaense LineuMiguel Gomes:

“Muitas vezes, máxima vênia, por arroubos de autoritarismos eimaturidades, alguns magistrados, mais afoitos e impetuosos, homologam os cálculos doreclamante, e, tornando-os líquidos e certos, sem a oitiva do reclamado, suprimem odireito de impugnação dos cálculos, quiçá se dando conhecimento deles, previamente, aoexecutado.

Assim, do estipulado pelo reclamante, sem exame do reclamado,transpassam-se os meios da liquidação por cálculos, indo direto para a PENHORA,e, no mais das vezes, por – PENHORA ‘ON LINE’.

15 Apud. SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 673.

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Ainda: faltando a oportunidade de nomeação de bens à penhora; ou,comunicação judicial de que o bem indicado e nomeado foi rejeitado pelo credor. Nesteproceder viola-se o princípio constitucional da ampla defesa e dos recursos a elainerentes, – o devido processo legal – e fere-se, por óbvio, o princípio da legalidade.” 16

A liquidação da sentença, fase preparatória da execução por quantia certacontra devedor solvente, é regulada pelo art. 879 da CLT e arts. 603 a 611 do CPC. Como emqualquer fase do processo, também na liquidação é garantido o contraditório. A lei não fixa,entretanto, momento único para que a parte possa impugnar os cálculos.

Dessa forma, prescreve o § 2º do art. 879 da CLT que, “Elaborada a conta etornada líquida, o Juiz pode abrir às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentadacom a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão” (grifamos).

Para Eduardo Gabriel Saad, “Interpretação literal do texto em foco deixa claro serfacultado ao Juiz abrir prazo às partes para falarem sobre a conta elaborada. Se não usar essa faculdade, resta àparte impugnar a sentença homologatória da conta nos embargos à penhora ou no agravo de petição”. 17

Entende Sérgio Pinto Martins que “É mais correto, entretanto, que o juiz abravista para a parte se manifestar sobre os cálculos, visando evitar qualquer dúvida quanto ao acerto dos valoresencontrados, por medida de cautela do magistrado, a não ser que este tenha segurança absoluta do acerto dos valoresobtidos”. 18

A falta de oportunidade para impugnação, antes da homologação dasentença de liquidação, não importa, assim, ilegalidade, apesar de parecer mais adequado que ojuiz a conceda. A não-abertura do prazo previsto no art. 879, § 2º, não implica supressão deprocedimento, uma vez que esse prazo é facultativo, e não obrigatório, e que as partes terãooportunidade de impugnar os cálculos em outro momento, ou seja, nos embartos à penhora.

O outro fato denunciado pelo advogado, entretanto, constitui graveviolação legal, se observado no curso do processo judicial. Trata-se da imediata penhora após aliquidação da sentença, sem que tenha havido a citação do executado. Nesse caso, o juiz estásuprimindo a oportunidade de o devedor pagar a dívida, ou de garantir a execução mediantedepósito ou nomeação de bens, o que é expressamente determinado pelos arts. 880 a 882 daConsolidação das Leis do Trabalho.

16 GOMES, Lineu Miguel. Penhora on line.http://www.fiscosoft.com.br/main_index.php?home=home_artigos&m=_&nx_=&viewid=119957. Acessoem: 24 maio 2004.17 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho comentada. p. 658.18 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 861/862.

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5.7. Bloqueio de contas correntes fora da jurisdição

Reclamam também os opositores da penhora on-line contra o bloqueio e apenhora de contas bancárias fora da jurisdição do juiz da execução. Alega-se que está sendodesrespeitado o art. 658 do CPC, que dispõe:

“Art. 658. Se o devedor não tiver bens no foro da causa, far-se-á a execuçãopor carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação.”

Essa crítica é vista pelos defensores da penhora on-line como excesso deapego ao formalismo processual. Sobre ela, assim se manifesta o Juiz Antônio Álvares da Silva:

“A realização da penhora por carta é o meio mais previsto para a apreensãode bens em outra jurisdição pois é necessário que se faça a avaliação e a alienação noforo da situação dos bens. Daí a necessidade de carta precatória.

Hoje, quando se trata da penhora de dinheiro em depósito bancário, estanecessidade não existe mais. Dinheiro não se avalia porque tem valor de cursogarantido por lei. A alienação consiste simplesmente na transferência de um titularpara outro, ou seja, do executado para o exeqüente.

A emissão de carta precatória em situações como esta importaria em atoredundante e desnecessário que desconheceria toda a evolução da informática, bem comoos favores e benefícios que nos traz. (...)

Se fosse emitida carta precatória, o ato tomaria tempo e o processo subverteriasua finalidade. Em vez de instrumento de uma justiça ágil e objetiva, transforma-seem meio de postergá-la, levando ao descrédito e desmoralização perante o povo.” 19

6. MEDIDAS CONTRA A PENHORA ON-LINE

6.1. No Poder Legislativo

Como reação à penhora on-line na Justiça do Trabalho, foi apresentadopelo Deputado César Bandeira (PFL/MA) o Projeto de Lei nº 2.597, de 2003, que modifica aConsolidação das Leis do Trabalho, dispondo sobre a execução judicial de dívidas trabalhistas.

Nos termos dessa proposição, na nomeação de bens à penhora noprocesso do trabalho não será mais obrigatória a observância da ordem preferencial prescrita peloart. 655 do CPC. Além disso, determina o Projeto de Lei que o bloqueio de conta corrente ou a

19 SILVA, Antônio Álvares. Penhora na Justiça do Trabalho.http://www.abrat.adv.br/textos/interesse/2002/09d-2002.html. Acesso em: 24 maio 2004.

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penhora de quantia nela depositada só será decretada após a comprovação de que o empregadornão dispõe de outros bens suficientes para a garantia do juízo.

O Projeto de Lei nº 2.597, de 2003, que tramita em regime de urgência, foidespachado à Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e à Comissãode Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).

Na CTASP, foi rejeitado, em 26 de maio de 2004, o parecer do relator,Deputado Ricardo Rique (PL-PB), que era pela aprovação do Projeto. Nessa reunião, foiaprovado o parecer vencedor da Deputada Dra. Clair, pela rejeição, contra o voto do DeputadoRodrigo Maia.

Na CCJC, onde foi designado relator o Deputado Alceu Collares (PDT-RS), a proposição aguarda apresentação de parecer.

6.2. No Poder Judiciário

Também no Poder Judiciário foi adotada medida visando a extinguir apenhora on-line na Justiça do Trabalho. O Partido da Frente Liberal ajuizou a Ação Direta deInconstitucionalidade (ADIn) nº 3091, na qual são requeridos o Corregedor-Geral da Justiçado Trabalho, o Banco Central do Brasil e o Tribunal Superior do Trabalho.

Pede o PFL, nessa ação, que seja declarada a inconstitucionalidade doConvênio BACEN/TST/2002 e dos Provimentos nos 1 e 3/2003, da Corregedoria-Geral daJustiça do Trabalho, por ofensa aos seguintes dispositivos constitucionais:

• art. 1o, caput, incisos II, III e IV (princípios fundamentais do EstadoDemocrático de Direito, cidadania, a dignidade da pessoa humana,os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa);

• art. 5o, caput, incisos II, X, XII, XXXII, XXXV, XLI, LIV e LV(direitos e garantias fundamentais, princípio da legalidade, intimidadee vida privada, sigilo de dados, defesa do consumidor,inafastabilidade do Poder Judiciário de apreciação de lesão ouameaça a direito, proteção aos direitos e liberdades fundamentais,devido processo legal, contraditório e ampla defesa);

• art. 22, inciso I (organização do Estado no que concerne àcompetência privativa da União para legislar sobre direito processuale do trabalho);

• art. 48, caput (atribuições do Congresso Nacional);

• art. 37, caput (princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiência);

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• arts. 59 a 69 (processo legislativo); e

• art. 241 (convênios de cooperação entre os entes federados).

No Supremo Tribunal Federal, a ADIn foi distribuída ao MinistroJoaquim Barbosa, para relatar.

A Procuradoria Geral da República apresentou parecer pelaimprocedência da ação, para declarar a constitucionalidade dos atos impugnados. Afirma, emsíntese, o parecer da lavra do Procurador-Geral, Dr. Cláudio Fonteles que, preliminarmente, aação não merece conhecimento, pois os atos são “despidos de conteúdo normativo e não possuem aautonomia, generalidade e abstração necessárias para se submeterem a processo objetivo de controle deconstitucionalidade”. No mérito, a Procuradoria pede a improcedência da ação pois, em seuentendimento, “A criação do sistema BACEN JUD apenas visou facilitar o processo de solicitação deinformações pelos juízes às instituições do Sistema Financeiro nacional, que, se antes era realizado mediante ofícioem papel, agora se faz por meio eletrônico”.20

No momento, a ADIN nº 3091 aguarda decisão na Suprema Corte.

Outra Ação Direta de Inconstitucionalidade foi ajuizada recentemente noSTF, desta vez pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). São requeridos, na ADIn nº3203, a União, o Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, o Banco Central do Brasil e o TribunalSuperior do Trabalho

Nesta ação, que também será relatada pelo Ministro Joaquim Barbosa, aCNT sustenta que o Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho violou os arts. 2º e 61 daConstituição Federal, ao ultrapassar sua competência e invadir a área de atuação do PoderLegislativo.

O processo foi apensado ao da ADIn nº 3091 e há, até o momento,manifestação da Procuradoria Geral da República nessa ação.

7. CONCLUSÃO

As novas tecnologias implicam, quase sempre, mudanças nas relaçõessociais. O processo, como forma de pacificação de conflitos, não pode ficar alheio a essasmudanças, sob pena de não mais atender a sua finalidade. O Estado não conseguirá fazer justiça,numa sociedade que utiliza cada vez mais o correio eletrônico e as transações bancárias virtuais, seo processo continuar dependendo da máquina de datilografia e do oficial de justiça.

Nesse contexto, a penhora on-line significou uma importante adesão doprocesso à modernização e à informatização e forneceu à execução velocidade e efetividade. 20 PARECER nº 2.444/CF.

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As críticas dirigidas à penhora on-line podem ser divididas em três grupos.O primeiro diz respeito à constitucionalidade e legalidade do procedimento; o segundo relaciona-se às falhas do Sistema BACEN JUD; e o terceiro é relativo à atuação dos juízes.

A questão da constitucionalidade dos instrumentos que permitiram autilização da penhora on-line na Justiça do Trabalho está sub judice. Arriscamo-nos, no entanto, aacreditar que dificilmente o Supremo Tribunal Federal entenderá serem inconstitucionais oConvênio BACEN/TST/2002 e os Provimentos nos 1 e 3/2003, tendo em vista o bemfundamentado parecer do Procurador-Geral da República.

Quanto à apontada ilegalidade, também não a vislumbramos. A penhoraon-line é apenas uma forma de realizar, virtualmente, o que até então somente podia ser feito coma presença do oficial de justiça ou mediante ofício enviado por via postal.

Não nos parece, salvo melhor juízo, ser necessária autorização legal paratanto. A lei define os procedimentos, não as ferramentas mediante as quais serão concretizados.Se a penhora for feita pelo oficial de justiça, não importa que ele chegue à agência bancária a péou de carro; se for feita por via postal, não interessa que o ofício seja manuscrito, datilografado oudigitado.

A esse respeito, aliás, julgamos apropriado transcrever o seguinte trechodo parecer do Procurador-Geral da República:

“28. O sistema BACEN JUD vai ao encontro das novas tecnologias aserviço de um novo processo judicial, que tem como princípios norteadores a celeridade,a economicidade e a máxima eficácia, e que vem ganhando corpo com a implementaçãode sistemas de peticionamento on-line, dos interrogatórios por meio de vídeo-conferência,dos sites dos tribunais, da pesquisa via internet da jurisprudência, da autenticaçãoeletrônica de documentos etc. Lembre-se que esse Supremo Tribunal Federal, por meioda Resolução n° 287, de 14 de abril de 2004, instituiu o chamado e-STF, sistemaque permite o uso de correio eletrônico para a prática de atos processuais no âmbitodessa Colenda Corte Suprema.”

Superadas as questões da constitucionalidade e da ilegalidade, parece-nosque as críticas mais consistentes contra a penhora on-line dizem respeito às falhas do SistemaBACEN JUD e à atuação dos juízes.

Quanto ao Sistema, têm sido constantemente divulgados os esforços doTST e do Banco Central para o seu aperfeiçoamento. De acordo com notícias do site do TST, háum grupo de trabalho empenhado em elaborar uma nova versão do Sistema BACEN JUD, naqual será minimizada a possibilidade de excesso de execução, assim como serão implementadosmecanismos de desbloqueio imediato, caso sejam penhorados valores superiores aos devidos.

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Até o momento, entretanto, a opção que as empresas têm para tentarevitar o bloqueio sucessivo em suas contas bancárias é o cadastramento de uma conta apta asofrer o bloqueio on-line, nos termos do Provimento nº 3/2003.

No que diz respeito à atuação dos juízes, que, no afã de porem fim àexecução, estariam atropelando o bom andamento processual, entendemos que essa crítica não sevincula, necessariamente, à penhora on-line.

Denúncias como a supressão de procedimentos, ou inconformismos coma jurisprudência, como pode ocorrer no caso da desconsideração da personalidade jurídica, nãodecorrem da penhora on-line. Abusos e arbitrariedades, ainda que sejam exceções à conduta demilhares de juízes zelosos e responsáveis, podem ser observados em qualquer fase processual,exista ou não a penhora on-line.

Aspecto grave com relação às arbitrariedades é que, para cometê-las,dispõe-se atualmente de um instrumento veloz e poderosíssimo, que é a penhora on-line. Suareversão, entretanto, continua dependendo da consciência do juiz ou dos trâmites normais doprocesso.

As linhas gerais do direito processual civil brasileiro remontam ainda aoCódigo de Processo Civil de 1939. A última modernização significativa data de 1973, com aaprovação de novo Código. Depois disso, foram feitas, em 1994, algumas alterações no CPC de1973, com o intuito de atualizá-lo, mas que não foram capazes de dar ao processo o caráter demodernidade que reclama hoje.

Sem sombra de dúvida, o processo, em especial o de execução, demandauma urgente reformulação, para garantir maior efetividade à Justiça, sem esquecer, contudo, dorespeito à dignidade do executado.

A penhora on-line é, no nosso entender, uma importante iniciativa do TSTna luta contra a morosidade. Essa ferramenta não pode, no entanto, se transformar em fonte dedificuldades para o funcionamento das empresas, colocando em risco a continuidade de muitosempregos em benefício de um único credor.

Dessa forma, apesar da convicção quanto à legalidade da penhora on-line,parece-nos que é perfeitamente possível e mesmo recomendável a apresentação de proposiçãolegislativa, não com a finalidade de proibi-la, o que seria um retrocesso, mas de aperfeiçoá-la. Aaprovação de projeto de lei que estabelecesse regulamentação própria para a penhora on-line, emrazão das especificidades que esse procedimento apresenta, pode contribuir para pacificar ascontrovérsias a que assistimos atualmente, sem abrir mão dessa ferramenta moderna e útil aosucesso da execução.

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Anexam-se ao presente estudo, o Convênio BACEN/TST/2002 e osProvimentos nos 1 e 3/2003, da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho.

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ANEXO I

CONVÊNIO BACEN/TST/2002

BANCO CENTRAL DO BRASIL CONVÊNIO BACEN / TST / 2002.

CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO TÉCNICO-INSTITUCIONAL QUE FAZEM ENTRE SI O BANCOCENTRAL DO BRASIL E O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, PARA FINS DE ACESSO AOSISTEMA BACEN JUD.

O BANCO CENTRAL DO BRASIL, autarquia federal criada pela Lei nº 4.595, de 31 dedezembro de 1964, com sede no SBS, Quadra 3, Bloco "B", Edifício-Sede, Brasília (DF), CEP 70074-900, inscrito no CNPJ sob o n.º 00.038.166/0001-05, doravante denominado simplesmente BACEN,neste ato representado pelo seu Presidente, Sr. ARMÍNIO FRAGA NETO, e o TRIBUNALSUPERIOR DO TRABALHO, estabelecido na Praça dos Tribunais Superiores, Bloco "D", s/n.º,Brasília (DF), CEP 70097-970, inscrito no CNPJ sob o n.º 00.509.968/0001-48, doravante denominadosimplesmente TST, neste ato representado pelo seu Presidente, Ministro ALMIR PAZZIANOTTOPINTO, têm justo e acordado o presente Convênio, que se rege, com fundamento nos arts. 25, caput,e 116 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, pelo Regulamento anexo à Circular/BACEN nº 2.717,de 3 de setembro de 1996 - o qual passa a integrar este instrumento -, bem como pelas cláusulas econdições seguintes:

I - DO OBJETO

CLÁUSULA PRIMEIRA - O presente instrumento tem por objetivo permitir ao TST e aosTribunais Regionais do Trabalho que vierem a aderi-lo conforme Cláusula Sexta e medianteassinatura de Termo de Adesão, o acesso, via Internet, ao Sistema de Solicitações do PoderJudiciário ao Banco Central do Brasil, doravante denominado simplesmente BACEN JUD.

PARÁGRAFO ÚNICO - Por intermédio do Sistema BACEN JUD, o TST e os Tribunaissignatários de Termo de Adesão, poderão, dentro de suas áreas de competência, encaminhar àsinstituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN ofícios eletrônicoscontendo solicitações de informações sobre a existência de contas correntes e aplicações financeiras,determinações de bloqueio e desbloqueio de contas envolvendo pessoas físicas e jurídicas clientesdo Sistema Financeiro Nacional, bem como outras solicitações que vierem a ser definidas pelaspartes.

II - DAS ATRIBUIÇÕES DO BACEN

CLÁUSULA SEGUNDA - São atribuições do BACEN:

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a) tornar disponível o Sistema BACEN JUD e demais aplicativos necessários a suaoperacionalização;

b) cadastrar, no Sistema de Informações do Banco Central - SISBACEN, o Gerente Setorialde Segurança da Informação de cada Tribunal, doravante denominado FIEL. O cadastramento se faráconforme definido no Regulamento anexo à Circular/BACEN nº 2.717, de 3 de setembro de 1996,seguindo os procedimentos adotados pela Divisão de Atendimento do Departamento de Informáticado BACEN - DEINF/DIATE;

c) considerar como usuários do Sistema BACEN JUD as pessoas devidamente cadastradaspelo FIEL; e

d) comunicar aos partícipes qualquer alteração no Sistema BACEN JUD que venha amodificar os termos deste Convênio.

III - DAS ATRIBUIÇÕES DO TST EDOS TRIBUNAIS SIGNATÁRIOS DE TERMO DE ADESÃO

CLÁUSULA TERCEIRA - São atribuições do TST e dos Tribunais signatários de Termo deAdesão:

a) dispor dos seus próprios meios (computadores aptos a utilizar a Internet e linhas decomunicação) que possibilitem o acesso, via Internet, ao Sistema BACEN JUD;

b) indicar às unidades do BACEN constantes no item "a" da Cláusula Quarta desteinstrumento, o nome do FIEL de cada órgão, para seu credenciamento no Sistema de InformaçõesBanco Central - SISBACEN. A indicação deve ser feita pelo Presidente de cada órgão, por meio dedocumento formal, que deve ser acompanhado dos formulários específicos, devidamente preenchidospara esse fim, disponíveis no site do BACEN na Internet, no endereço http://www.bcb.gov.br/, naseção "Sisbacen"; e

c) a indicação do FIEL recairá apenas sobre magistrados.

IV - DAS RESPONSABILIDADES DO BACEN

CLÁUSULA QUARTA - São responsabilidades do BACEN:

a) entregar a senha ao FIEL de cada Tribunal, no Departamento de Informática na Sede doBACEN em Brasília ou nas Gerências Administrativas do BACEN localizadas: em Belém (PA), emFortaleza (CE), no Recife (PE), em Salvador (BA), em Belo Horizonte (MG), no Rio de Janeiro (RJ),em São Paulo (SP), em Curitiba (PR) ou em Porto Alegre (RS);

b) repassar às instituições do Sistema Financeiro Nacional as solicitações encaminhadaspelos usuários do Sistema; e

c) conferir ao processamento do Sistema BACEN JUD os procedimentos necessários àmanutenção da segurança e do sigilo das informações.

V - DAS RESPONSABILIDADES DO TST EDOS TRIBUNAIS SIGNATÁRIOS DE TERMO DE ADESÃO

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CLÁUSULA QUINTA - São responsabilidades do TST e dos Tribunais signatários de Termode Adesão, em seus respectivos âmbitos de competência:

a) autorizar o acesso ao Sistema BACEN JUD, mediante cadastramento pelo FIEL, somenteaos membros de cada Tribunal;

b) manter, no mínimo, dois FIÉIS cadastrados em cada Tribunal, efetuando o imediatodescredenciamento no BACEN JUD, quando do seu desligamento dessa função, com vistas aopronto cancelamento de seus acessos;

c) efetuar o imediato descredenciamento no Sistema BACEN JUD dos usuários do Sistemaquando do seu desligamento do Tribunal; e

d) havendo acesso indevido ou qualquer outro dano às informações que o BACEN tenhatornado disponível aos usuários do TST e dos Tribunais signatários de Termo de Adesão, apurar ofato com vistas à devida responsabilização administrativa e criminal do agente responsável.

PARÁGRAFO ÚNICO - O pessoal do TST e dos Tribunais signatários de Termo de Adesão,envolvidos na execução do objeto deste Convênio, não terá vínculo de qualquer natureza com oBACEN e vice-versa.

VI - DA EXTENSÃO DO CONVÊNIOA OUTROS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO

CLÁUSULA SEXTA - Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão aderir ao presenteConvênio na forma e nas condições nele estabelecidas, devendo cada Tribunal indicar ao BACEN oseu FIEL, conforme item "b" da Cláusula Terceira do presente instrumento.

VII - DO ACESSO AO SISTEMA BACEN JUD - SENHAS CLÁUSULA SÉTIMA - O acesso ao Sistema BACEN JUD se dará por meio de senhas, após

o cadastramento de usuários efetuado pelo FIEL do respectivo Tribunal. Haverá duas formas deautorizações de usuários: a primeira, de exclusividade do juiz, poderá solicitar e efetivar pedidos esomente o titular dessa senha poderá autorizar o envio dos ofícios eletrônicos ao BACEN; a segundaserá concedida a funcionários do Tribunal ou das Varas do Trabalho para proceder a digitação dosdados.

VIII - DA FISCALIZAÇÃO

CLÁUSULA OITAVA - No curso da execução dos serviços, caberá ao BACEN, diretamenteou por quem vier a indicar, o direito de fiscalizar a fiel observância das disposições deste Convênio,sem prejuízo da fiscalização exercida pelo TST e pelos Tribunais signatários de Termo de Adesão,dentro das respectivas áreas de competência.

PARÁGRAFO ÚNICO - A presença da fiscalização do BACEN não elide nem diminui aresponsabilidade dos demais partícipes naquilo que lhes compete.

IX - DO PRAZO DE VIGÊNCIACLÁUSULA NONA - O presente Convênio vigorará por 2 (dois) anos, a partir da data de sua

assinatura, prorrogável por tempo indeterminado, caso não haja manifestação em contrário daspartes.

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X - DA RESCISÃOCLÁUSULA DÉCIMA - O presente instrumento poderá ser rescindido por qualquer das

partes, mediante comunicação escrita e com antecedência mínima de 30 (trinta) dias.

XI - DA EXECUÇÃOCLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA - A administração e a gerência deste Convênio, no âmbito

do BACEN, ficam a cargo do Departamento de Cadastro e Informações do Sistema Financeiro(DECAD), situado no 14.º andar do Ed. Sede do BACEN, em Brasília (DF). No âmbito da competênciade cada signatário, tais funções caberão a quem a autoridade competente indicar.

XII - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA - Além das responsabilidades previstas neste instrumento,os partícipes se obrigam a:

a) manter sigilo acerca dos sistemas de segurança utilizados, bem como das informações deque os envolvidos na execução deste Convênio tiverem conhecimento; e

b) manter perfeito entrosamento entre si, objetivando a plena execução do Convênio,solucionando os casos omissos, as dúvidas ou quaisquer divergências por meio de consultas e mútuoentendimento, ampliando ou suprimindo cláusulas por meio de aditivos.

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA - De conformidade com o disposto no parágrafo único do art.61 da Lei nº 8.666, de 1993, este Convênio será publicado no Diário Oficial da União, na forma deextrato, por encaminhamento do BACEN.

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA - Fica eleito o foro da Cidade de Brasília para dirimir asquestões decorrentes da execução deste Convênio, renunciando os partícipes, desde já, inclusive ossignatários de Termo de Adesão, a qualquer outro a que, porventura, tenham ou possam vir a terdireito.

E, por estarem assim justos e acordados, firmam o presente instrumento em 3 (três) vias de igualteor e forma.

Brasília, 5 de março de 2002.

ARMÍNIO FRAGA NETO

Presidente do Banco Central do BrasilALMIR PAZZIANOTTO PINTO

Presidente do Tribunal Superior do Trabalho

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ANEXO II

PROVIMENTO Nº 1/2003 21

Determina instruções para utilização do Convêniocom o Banco Central do Brasil - Sistema Bacen Jud.

O Ministro RONALDO LEAL, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, no uso de suasatribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO que o Tribunal Superior do Trabalho mantém convênio com o Banco Centraldo Brasil para que seja possível realizar bloqueios on line nas contas correntes dos devedorestrabalhistas e que tal convênio não concerne ao próprio TST ou aos Tribunais Regionais do Trabalho,mas, primordialmente, às Varas do Trabalho do País;

CONSIDERANDO que têm surgido resistências ao uso desse extraordinário instrumento deexecução dos créditos dos trabalhadores, quer por parte de entidades financeiras, quer por parte deJuízes de primeiro grau, quer por parte de Tribunais Regionais do Trabalho;

CONSIDERANDO que o Corregedor-Geral apurou em correição que gerentes de agênciabancária adotam a prática de alertar o correntista, exortando-o a retirar os valores da conta corrente aser bloqueada, hipótese que configura delito contra a administração da justiça e fraude à execução(art. 179 do Código Penal);

CONSIDERANDO que o envio eletrônico de solicitação de informações pelo Bacen Jud temfacilitado a retirada pelos devedores das importâncias existentes nas suas contas correntes;

CONSIDERANDO que toda e qualquer resposta das entidades financeiras, incluindo aresposta às consultas on line, é dada por ofício ao Juiz da causa, diante da não confiabilidade dos e-mails, que só devem transitar em ambiente dotado de certificação eletrônica;

CONSIDERANDO que não há nenhum sistema que estabeleça retorno on line ao Juiz dacausa, consignando hora, minuto e segundo de chegada da ordem de consulta ou de bloqueio;

RESOLVE:

Art. 1º Tratando-se de execução definitiva, o sistema Bacen Jud deve ser utilizado comprioridade sobre outras modalidades de constrição judicial.

21 Publicado no Diário da Justiça de 1º de julho de 2003.

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Art. 2º Os fiéis do sistema devem manter os dados dos Juízes, cadastrados ou não, atualizadosde acordo com formulário a ser disponibilizado na Extranet do TST. Os dados dos Juízes a serematualizados são: nome e CPF, TRT e Vara a que estejam vinculados e se estão cadastrados ou nãono Bacen Jud.

Art. 3º Os Juízes devem evitar a solicitação de informações sobre a existência de contascorrentes de devedores, ao menos até que se disponibilizem respostas on line das entidadesfinanceiras.

Art. 4º Constatado que as agências bancárias praticam o delito de fraude à execução, osJuízes devem comunicar a ocorrência ao Ministério Público Federal, bem como à CorregedoriaRegional e à Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, e relatar as providências tomadas.

Art. 5º Os Juízes devem abster-se de requisitar às agências bancárias, por ofício, bloqueiosfora dos limites de sua jurisdição, podendo fazê-lo apenas mediante o sistema Bacen Jud.

Art. 6º Os Juízes devem fixar o prazo de 48 (quarenta e oito) horas para cumprimento pelobanco destinatário da medida determinada pelo Bacen Jud.

Art. 7º Os Juízes devem informar à Corregedoria Regional e à Corregedoria-Geral da Justiçado Trabalho o número de consultas e/ou bloqueios feitos mensalmente, bem como o período médiodas respostas das entidades financeiras, nomeando-as e identificando as agências retardadoras.

Parágrafo único. As informações, a serem enviadas a partir de 15 de agosto de 2003 pelosJuízes à Corregedoria-Geral, devem constar de formulário, que estará disponibilizado no site do TST,www.tst.gov.br, opção extranet - Bacen Jud, ao Juiz que se identificar com uma senha oportunamentefornecida.

Art. 8º Todas as tramitações no TST de que cogitam os arts. 2º e 7º serão feitaseletronicamente para o endereço citado no parágrafo único do art. 7º deste provimento.

Art. 9º Este provimento entrará em vigor na data da publicação.

Publique-se.

Cumpra-se.

Brasília-DF, 25 de junho de 2003.

RONALDO LEALCorregedor-Geral da Justiça do Trabalho

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ANEXO III

PROVIMENTO Nº 3/2003 22

Permite às empresas que possuem contasbancárias em diversas agências do país o cadastramentode conta bancária apta a sofrer bloqueio on line realizadopelo sistema BACEN JUD. Na hipótese deimpossibilidade de construção sobre a conta indicada porinsuficiência de fundo, o Juiz da causa deve expedirordem para que o bloqueio recaia em qualquer conta daempresa devedora e comunicar o fato, imediatamente, àCorregedoria-Geral da Justiça do Trabalho paradescadastramento da conta bancária. (NR)

O Ministro RONALDO LEAL, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, no uso de suasatribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO o que consta no Pedido de Providência nº PP-96.588/2003, formulado pelaCompanhia Brasileira de Distribuição (Grupo Pão de Açúcar);

CONSIDERANDO que as empresas brasileiras que possuem contas bancárias em diversasagências do país podem sofrer bloqueios múltiplos, não desejados pelo Juiz da causa;

CONSIDERANDO que até o momento não existe sistema informatizado de resposta on linedas entidades financeiras, o que retarda consideravelmente o desbloqueio das ordens constritivascumpridas em excesso, pois as agências bancárias respondem por ofício ao Juiz bloqueador;

CONSIDERANDO que, apesar disso, é necessário manter o sistema dos bloqueiosindiscriminados, diante do comportamento delituoso de alguns gerentes de banco, que solicitam aocorrentista a retirada dos depósitos para evitar a concretização da constrição sobre a conta bancáriado cliente;

CONSIDERANDO que é possível evitar os males do bloqueio múltiplo e indesejado com aindicação de uma conta apta a sofrer bloqueio pelo sistema BACEN JUD, desde que a empresa seobrigue a mantê-la com fundo suficiente, sob pena de o bloqueio recair em qualquer uma de suascontas e de o cadastramento ser cancelado pelo TST; (NR)

RESOLVE: 22 Publicado no Diário da Justiça de 26 de setembro de 2003. Republicado em 23 de dezembro de 2003, emvirtude de alteração na redação.

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Art. 1º É facultado a qualquer empresa do país, desde que de grande porte, e que, em razãodisso, mantenha contas bancárias e aplicações financeiras em várias instituições financeiras do país,solicitar ao TST o cadastramento de conta especial apta a acolher bloqueios on line realizados pormeio do sistema BACEN JUD, pelo Juiz do Trabalho que oficiar no processo de execução movidocontra a empresa. (NR)

Art 2º O pré-cadastramento pode ser feito pela própria empresa, a partir de 1º de fevereiro de2004, no site www.tst.gov.br, opção extranet – “Bacen Jud – cadastramento de conta”, disponibilizadopara esse fim. (NR)

§ 1º Para efetivar o cadastramento da conta bancária, a empresa deverá, após preencher todosos campos do formulário disponibilizado no endereço eletrônico citado, encaminhar, no prazo de 5(cinco) dias, mediante petição dirigida ao Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, documentos quecomprovem a multiplicidade de contas bancárias, o número do CNPJ da empresa, o número do CPFdo responsável pelo fornecimento dos dados e a titularidade da conta bancária indicada. (NR)

§ 2º Os documentos enumerados no parágrafo anterior devem ser enviados no prazoestabelecido, sob pena de o pré-cadastro ser automaticamente excluído do sistema. (NR)

Art 3º O cadastramento implica imediato direito a bloqueio da conta indicada, cabendo aosMagistrados que utilizam o sistema BACEN JUD, antes de ordenar a constrição, consultar os dadosrelativos às contas das empresas cadastradas que ficarão disponíveis no citado endereço eletrônico.(NR)

Parágrafo único. O acesso aos dados mencionados no caput será feito com a senha utilizadapelos Juízes para fornecimento de dados estatísticos no sistema Bacen Jud – Estatística, criado peloprovimento nº 1/2003 da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho.

Art. 4º O não-atendimento pelas empresas das exigências de manutenção de recursossuficientes ao acolhimento de qualquer bloqueio importará, uma vez comunicado ao Juiz da causa, naexpedição de ordem de bloqueio indiscriminado em qualquer conta bancária da devedora.

Parágrafo único. Nessa hipótese, será cientificada a Corregedoria-Geral, que descadastrará aempresa, negando-lhe a faculdade de reiterar a indicação dali por diante. (NR)

Art. 5º Os Tribunais Regionais devem enviar, com a maior brevidade possível, cópia dopresente provimento às Varas do Trabalho. (NR)

Publique-se.

Cumpra-se.

Brasília-DF, 23 de setembro de 2003.

RONALDO LEALCorregedor-Geral da Justiça do Trabalho