a parassÍntese em portuguÊs: as relaÇÕes entre

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Universidade Federal do Rio de Janeiro A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA CAIO CESAR CASTRO DA SILVA 2012

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Page 1: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Universidade Federal do Rio de Janeiro

A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E

FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA

CAIO CESAR CASTRO DA SILVA

2012

Page 2: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Faculdade de Letras/ UFRJ

A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E

FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA

CAIO CESAR CASTRO DA SILVA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas

da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua

Portuguesa).

Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2012

Page 3: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na

Linguística Cognitiva

Caio Cesar Castro da Silva

Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

_______________________________________________________________________

Presidente, Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves – UFRJ

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Margarida Maria de Paula Basilio – PUC-Rio

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Helena Franco Martins – PUC-Rio

_______________________________________________________________________

Professor Doutora Hanna Jakubowicz Batoréo – Universidade Aberta de Lisboa

_______________________________________________________________________

Professor Doutora Lilian Vieira Ferrari – UFRJ

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Maria Lucia Leitão de Almeida – UFRJ

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2012

Page 4: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

CASTRO da SILVA, Caio Cesar.

A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na

Linguística Cognitiva/ Caio Cesar Castro da Silva. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de

Letras, 2012.

XIII, 234f.: il.; 31cm.

Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida

Dissertação (Mestrado) - UFRJ/ Faculdade de Letras / Programa de Pós-

Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2012.

Referências bibliográficas: p.171-179.

1. Parassíntese. 2. Léxico cognitivo. 3. Produtividade e frequência de esquemas.

4. Escaneamento cognitivo. I. Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio; Almeida, Maria

Lucia Leitão de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras,

Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título.

Page 5: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

RESUMO

A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na

Linguística Cognitiva

Esta dissertação investiga a instanciação de verbos parassintéticos em português a

partir de quatro diferentes subesquemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar, acalmar), [en[x]Nj ar]Vi

(embarcar, encostar), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer, apodrecer, amadurecer), [en[x]Nj

ecer]Vi (ensurdecer, enriquecer). À luz dos pressupostos cognitivistas, principalmente o

modelo cognitivo de uso, argumentamos que esses subesquemas teriam diferentes

níveis de produtividade, o que acarreta em diferenças no armazenamento e acesso

lexical por parte dos falantes. Em consequência disso, analisamos as frequências de

tipo e de ocorrência dos dados, a fim de encontrar indícios para a hipótese de que o

subesquema [a[x]Nj ecer]Vi teria deixado de ser produtivo ao longo do percurso da

língua, ao passo que os demais teriam se mantido produtivos. Assumimos, também,

que as construções parassintéticas, embora compartilhem a noção semântica de

resultatividade, distinguem-se pela seleção de perspectivas diferentes, como as noções

de locativo (processo em relação a um local) ou atributo (processo em relação a uma

característica). Como esses subesquemas permanecem conectados por um significado

em comum (a resultatividade), é possível postular uma rede esquemática, cujas

estruturas estejam relacionadas por links de herança, permitindo, então, um léxico

mais econômico.

Palavras-chave: parassíntese; léxico; frequência; extensão semântica; produtividade.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2012

Page 6: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

ABSTRACT

Circumfixation in Portuguese: the relationship between culture, lexicon and frequency

in Cognitive Linguistics

This work investigates the instantiation of verbs in Portuguese on the basis of four

circumfix subschemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar ‘to lower’, acalmar ‘to calm’), [en[x]Nj ar]Vi

(embarcar ‘to board’, encostar ‘to lean’), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer ‘to dawn’,

apodrecer ‘to rot’, amadurecer ‘to mature’), [en[x]Njecer]Vi (ensurdecer ‘to deafen’,

enriquecer ‘to enrich’). In the light of cognitive assumptions, especially the usage-

based model, we argue that these subschemas have different levels of productivity,

which leads to differences in mental storage and lexical access. As a result, we analyze

the token and type frequencies of data in order to provide evidences for the

hypothesis that the subschema [a[x]Nj ecer]Vi has ceased to be productive over the

time, while the other subschemas are still productive. We also assume that the

circumfix subschemas distinguish from each other by the selection of different

perspectives of the same scene, although they share the same semantic notion of

resultativity. As these subschemas are joined by this semantic notion, we suggest that

they are connected by inheritance links in a prototypical network, which supports an

economic lexicon.

Key-words: circumfixation; lexicon; frequency; semantic extensions; productivity.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2012

Page 7: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

SINOPSE

Análise de subesquemas verbais de

parassíntese. Exame das frequências de

tipo e de ocorrência na diacronia do

português. Proposta de uma rede

esquemática.

Page 8: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Esta pesquisa foi integralmente financiada pelo Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Page 9: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

DEDICATÓRIA

A dois homens de caráter, que fizeram de mim uma pessoa

melhor: Antônio Vianna de Castro (in memoriam) e Iacyr José

de Araújo (in memoriam), meus avôs.

Page 10: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Meu pensamento é um rio subterrâneo

Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Para que terras vai e donde vem?

Não sei… Na noite em que o meu ser o tem

Emerge dele um ruído subitâneo

De origens no Mistério extraviadas

De eu compreendê-las…, misteriosas fontes

Habitando a distância de ermos montes

Onde os momentos são a Deus chegados…

De vez em quando luze em minha mágoa,

Como um farol num mar desconhecido,

Um movimento de correr, perdido

Em mim, um pálido soluço de água…

E eu relembro de tempos mais antigos

Que a minha consciência da ilusão

Águas divinas percorrendo o chão

De verdores uníssonos e amigos,

E a ideia de uma Pátria anterior

À forma consciente do meu ser

Dói-me no que desejo, e vem bater

Como uma onda de encontro à minha dor.

Escuto-o… Ao longe, no meu vago tato

Da minha alma, perdido som incerto,

Como um eterno rio indescoberto,

Mais que a ideia de rio certo e abstrato…

E pra onde é que ele vai, que se extravia

Do meu ouvi-lo? A que cavernas desce?

Em que frios de Assombro é que arrefece?

De que névoas soturnas se anuvia?

Não sei… Eu perco-o… E outra vez regressa

A luz e a cor do mundo claro e atual,

E na interior distância do meu Real

Como se a alma acabasse, o rio cessa…

Fernando Pessoa

Page 11: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

AGRADECIMENTOS

Agradecer é como se desculpar, pois, em geral, são atos que ficam perdidos no

mar de coisas vagas do cotidiano. Não se agradece no tempo certo, nem ao ato certo,

mas ao feito mais vão e com as palavras mais gastas. Nem sempre nos damos conta

de quando estamos meramente cumprindo um ritual que se espera na sociedade

civilizada ou de quando estamos expressando um sentimento que já não podemos

conter. Minha intenção é aproveitar este breve espaço para apresentar minha sincera

gratidão a todas as pessoas que atravessaram, de alguma forma, o meu caminho.

Colho, então, as palavras certas para que esses agradecimentos ecoem como palavras

que carregam histórias.

Em favor da alma, faço um primeiro agradecimento a todos os deuses que me

guiam e fazem com que eu sempre esteja percorrendo o caminho da luz e da paz.

Devoto meus sentimentos aqueles que, por me trazerem ao mundo e me

proporcionaram a melhor criação possível, já mereceriam todo o meu respeito: meus

pais, Carlos e Regina. Ainda que tentasse, jamais poderia retribuir o amor, o carinho, as

broncas e os mimos que me deram.

Igualmente importantes são meus irmãos Thainá e Lupi, ainda que possam me

apontar que este é apenas um cachorro (entretanto, para mim, é um garoto gordo,

levado e mal-humorado). Se não fosse por vocês, sorriria menos e seria menos feliz.

Agradeço aos meus tios, primos, avó, vizinhos e amigos por compreenderem

que nem sempre posso comparecer aos eventos (mea culpa) e pelas palavras de

incentivo.

Page 12: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Ao professor Carlos Alexandre Gonçalves, que me aceitou como orientando

muitos anos atrás e confiou no meu trabalho, só posso tecer elogios pelo

profissionalismo, pela ética que guia seus atos e pela inteligência que não se pauta em

vaidades.

Outra pessoa importante na minha jornada acadêmica é a professora Maria

Lucia Leitão, que me ajudou a descobrir as metáforas que se escondem na vida

cotidiana. A confiança que sempre depositou em mim e a paixão com que trata a

pesquisa acadêmica me estimulam a prosseguir.

Um percurso acadêmico que se preze não pode ser feito apenas de estudos,

mas de amizades também. Portanto, dedico este espaço a três meninas que me

acompanham desde o início da graduação e passaram comigo os momentos de alegria

e os de tristeza: à Ana, porque sei que se eu for imitar o Chaves e cair, alguém vai me

ajudar a levantar (e vai rir de mim também); à Elaine, porque se ficar sem guarita, terei

sempre uma porta aberta para me abrigar; e à Érica, porque se um dia me perder e

passar mal, alguém estará ao meu lado para me guiar.

Lembro, também, dos amigos que estão presentes na minha caminhada: Katia

Emmerick, Hayla Thami, Rosângela Gomes, Vitor Vivas, André Faria, Rafael Cardoso,

Marisandra Rodrigues, Mário Freitas, Bruno Faber, Carolina Gomes, Úrsula Antunes,

Mayara Nicolau, Rachel Pereira e Janaina Pedreira. Um muito obrigado a todos vocês!

Aos professores Roberto Rondinini, Janderson Lemos e Mauro Rocha agradeço

por todas as conversas, principalmente as não acadêmicas, e pelas diversas

contribuições para o meu amadurecimento profissional.

Page 13: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

Aos professores da pós-graduação, pela disponibilidade e pelo respeito com o

qual sempre me trataram: Silvia Cavalcante, Dinah Callou, Filomena Rodrigues, Maria

Eugenia Lamoglia, Mônica Orsini, Célia Lopes, Lilian Ferrari e João Moraes.

Às professoras Margarida Basilio, Helena Martins, Hanna Batoréo e Lilian

Ferrari por terem aceitado o convite e me darem o privilégio de participarem da banca

desta dissertação.

Devo agradecimentos, também, aos meus alunos da UFRJ, que sempre me

fazem ir além. Obrigado por me mostrarem que lecionar é um laboratório em

constante construção.

Sou grato também às leituras atentas e precisas do Carlos Alexandre Gonçalves

e da Ana Carolina Mrad. Os erros que surgirem são, é claro, de minha

responsabilidade.

Há, por fim, dois agradecimentos de cunho técnico, porém indispensáveis para

que o trabalho rendesse frutos: ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos, o que

me proporcionou uma dedicação exclusiva à pesquisa e diversas participações em

eventos da área; e ao Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia pela disponibilidade

em me ajudar e pelos dados que me foram apresentados.

Page 14: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

14

SUMÁRIO

1. Introdução .................................................................................................................. 16

2. Os caminhos já desbravados ...................................................................................... 21

2.1. A perspectiva usual .............................................................................................. 22

2.2. As perspectivas do zero e do afixo único ............................................................ 25

2.3. O fator semântico na parassíntese ...................................................................... 29

2.4. A circunfixação ..................................................................................................... 32

2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese ........................................................ 37

2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação ......................................... 41

2. 7. Resumindo .......................................................................................................... 45

3. Linguística Cognitiva ................................................................................................... 47

3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva........................................................... 48

3.2. O léxico ................................................................................................................ 54

3.3. A relação entre uso e léxico ................................................................................ 59

3.4. Operações de conceptualização no léxico .......................................................... 64

3.4.1. Ajuste Focal .................................................................................................. 65

3.4.2. Metáfora ....................................................................................................... 67

3.4.3. Metonímia .................................................................................................... 69

3.5. Resumindo ........................................................................................................... 70

4. Métodos e corpora ..................................................................................................... 71

4.1. O corpus coletado no Houaiss ............................................................................. 71

4.2. Os corpora de língua escrita ................................................................................ 75

4.3. O experimento linguístico ................................................................................... 80

4.3.1. Método do questionário .............................................................................. 80

4.3.2. Conteúdo do questionário ............................................................................ 82

4.4. Resumindo ........................................................................................................... 84

5. Construções parassintéticas ....................................................................................... 85

5.1. Operações de conceptualização e resultatividade .............................................. 86

5.2. Subesquemas de circunfixação ......................................................................... 102

5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi ......................................................................... 103

Page 15: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

15

5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi ....................................................................... 113

5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ..................................................................... 118

5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi ................................................................... 124

5.3. Rede de subesquemas ....................................................................................... 126

5.4. Resumindo ......................................................................................................... 128

6. Análise da produtividade dos circunfixos ................................................................. 130

6.1. Análise dos resultados de frequência ................................................................ 132

6.1.1. Resultados da frequência de tipo ............................................................... 132

6.1.2. Resultados da frequência de uso ............................................................... 136

6.2. Análise dos resultados do experimento ............................................................ 144

6.3. Desatando os nós .............................................................................................. 154

6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ................................................. 156

6.3.2. Unidades lexicais coexistentes ................................................................... 163

6.3.3. Os empréstimos .......................................................................................... 165

6.4. Resumindo ......................................................................................................... 167

7. Conclusão .................................................................................................................. 169

8. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 171

Page 16: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

16

INTRODUÇÃO

Recentes estudos das vertentes cognitiva (CROFT & CRUSE, 2004) e

funcionalista (BYBEE, 2010) têm demonstrado que o uso modela e renova o léxico

mental, como um efeito da interação entre os conhecimentos linguístico e

enciclopédico. Desse modo, a formação de uma nova palavra não corresponde apenas

a regras, mas a padrões gerais que se reforçam na mente do falante a partir da

ativação e instanciação de novas unidades lexicais.

Nesta dissertação, objetivamos analisar verbos parassintéticos que são

instanciados por quatro construções básicas do português: (i) [a[x]Nj ar]Vi, que forma

verbos como ‘abaixar’, ‘abafar’, ‘apaixonar’, ‘acalmar’, ‘afiar’, ‘ajoelhar’, ‘alagar’; (ii)

[en[x]Njar]Vi, com os exemplos ‘embarcar’, ‘empacotar’, ‘embolar’, ‘empoçar’,

‘encaminhar’, ‘encostar’; (iii) [a[x]Nj ecer]Vi, que forma itens como ‘amanhecer’,

‘apodrecer’, ‘amolecer’, ‘amadurecer’, ‘amortecer’; e (iv) [en[x]Nj ecer]Vi, que instancia,

por exemplo, ‘ensurdecer’, ‘emburrecer’, ‘envelhecer’, ‘enriquecer’, ‘entristecer’.

As abordagens de Croft & Cruse (2004) e Bybee (2010) sobre a relação entre

uso e léxico respaldam a motivação deste trabalho, que se pauta no questionamento

de qual seria o papel da frequência na instanciação dos verbos parassintéticos. Em

outras palavras, pretendemos mensurar o grau de produtividade de cada construção

de parassíntese na diacronia do português e cotejar os resultados com a força lexical

que cada uma delas apresenta no português brasileiro atual.

1

Page 17: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

17

Com base no exame dos dados do corpus, que foi coletado no dicionário

Houaiss (2009), levantamos, a princípio, duas hipóteses. A primeira estaria relacionada

à improdutividade da construção [a[x]Nj ecer]Vi, visto que apresentava uma baixo

número de palavras, enquanto a segunda se referia à produtividade das demais

construções, [a[x]Nj ar]Vi, [en[x]Njar]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. No entanto, a identificação do

conceito de produtividade com a frequência de tipo (CROFT & CRUSE, 2004) nos levou

a verificar a força lexical como uma categoria escalar, na qual duas ou mais

construções concorrentes se diferenciariam a partir do número de itens gerados (i.e.,

graus de produtividade), e não por uma oposição produtivo/ improdutivo (BOOIJ,

1977). Com isso, reformulam-se as hipóteses: (i) pretendemos investigar quais são os

níveis de produtividade de cada construção de parassíntese; e (ii) qual a probabilidade

de cada uma instanciar novas palavras.

Nosso segundo – mas não menos importante – objetivo é descrever de que

modo operações cognitivas que atuam no léxico, como a metáfora, a metonímia e o

ajuste focal (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; LANGACKER, 1987; COULSON, 2001;

FAUCONNIER & TURNER, 2002) atualizam e modelam as construções parassintéticas.

Observaremos, igualmente, como essas construções específicas se organizam na

mente do falante por meio de estruturas simbólicas que evocam conhecimento

(BASILIO, 2010; BOOIJ, 2010; GOLDBERG, 1995) e se relacionam com outras mais

genéricas.

Outra indagação diz respeito aos significados ativados pelas construções

parassintéticas, que podem indicar uma mudança de estado (‘apaixonar’,

‘enlouquecer’, ‘amadurecer’ e ‘enviuvar’) ou mudança de local (‘empacotar’,

Page 18: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

18

‘envasilhar’, ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’). É preciso verificar, portanto, se estão

relacionados por elos polissêmicos ou se são significados diferentes.

Assumimos, neste trabalho, a posição de Gonçalves (2005), Rio-Torto (1994) e

Henriques (2007) que interpretam os casos de parassíntese como morfes

descontínuos, isto é, um mesmo afixo que se desmembra para a inserção de uma base

no seu interior. Em decorrência desse posicionamento, optamos por adotar a

nomenclatura ‘circunfixação’ ao lado do termo mais difundido ‘parassíntese’, sem que

implique mudança de significado, pois, em ambos os casos, estamos pressupondo a

descontinuidade morfêmica.

Esta dissertação está organizada em oito capítulos, ao término dos quais

seguem breves resumos das informações discutidas ao longo do texto. No capítulo 2,

traçamos um panorama sobre as diversas abordagens do processo de parassíntese em

português. Aprofundamos a discussão com a noção de morfes descontínuos que será

adotada como método de análise. Nesse mesmo capítulo, resenhamos dois

importantes trabalhos acadêmicos sobre o tema: (i) a análise de Bassetto (1993) dos

derivados parassintéticos, resgatando seu sentido na etimologia grega; e (ii) a análise

gerativista de Martins (1991), com a qual manteremos um intenso diálogo durante

nossa investigação, sobre a regularidade semântica nas formações de parassíntese.

Debruçamo-nos no capítulo 3 sobre o arcabouço teórico da Linguística

Cognitiva, que nos permitiu analisar os dados sob o escopo semântico por meio de

operações cognitivas, como a metáfora, a metonímia e o ajuste focal. As principais

referências são o trabalho de Langacker (1987) e as propostas do modelo baseado no

uso das palavras no discurso (CROFT & CRUSE, 2004). Como assumimos uma

Page 19: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

19

perspectiva lexicalista, recorremos a Booij (2010) e Basilio (2011) para representar os

esquemas responsáveis pela instanciação de unidades do léxico.

No capítulo 4, lançamos mão das ferramentas metodológicas empregadas para

o exame dos dados. Descrevemos a constituição do corpus a partir do dicionário

eletrônico Houaiss (2009), bem como os métodos de seleção de textos escritos na

diacronia da língua portuguesa que serviram de base para a análise da frequência de

uso. Controlamos os dados através de cálculos estatísticos propostos por Lieber

(2010), que permitem capturar o grau de produtividade de cada subesquema nos

diferentes estágios da língua. Comentamos, ainda nesse capítulo, o teste de

aceitabilidade que aplicamos em falantes nativos do português para confirmar nossa

hipótese de que uma das construções ([a[x]Nj ecer]Vi) teria produtividade baixa se

comparada com as demais.

No capítulo 5, observamos os esquemas parassintéticos [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj

ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi com base na proposta de Booij (2010). Propomos

uma rede esquemática, em que os subesquemas estariam conectados através de links

de herança (GOLDBERG, 1995). A investigação semântica dos dados pautou-se no

conceito de resultatividade (LEITE, 2006; GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF,

2004), i.e., a mudança de estado de um elemento. Com Langacker (1987), expressamos

que o escaneamento cognitivo dinâmico é responsável pela conceptualização dos

verbos do corpus e que ajustes focais, metáforas e metonímias organizam as extensões

de sentido das palavras.

Verificamos, no capítulo 6, a produtividade de cada uma das construções de

circunfixação com base em dados sincrônicos e diacrônicos. Pudemos confirmar a

hipótese de que houve a manutenção de um padrão fraco do subesquema

Page 20: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

20

[a[x]Njecer]Vi, enquanto os demais subesquemas se mantiveram produtivos, mas com

diferentes graus de força lexical. Valemo-nos também dos resultados de um teste de

aceitabilidade aplicado a duzentos falantes nativos do português, que apontaram que

palavras com alta frequência de ocorrência tendem a ser mais facilmente

reconhecidas, mesmo que sejam instanciadas por construções pouco produtivas, como

é o caso de ‘amadurecer’, que vem de [a [x]Nj ecer]Vi. Nos capítulos 7 e 8,

apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas, respectivamente.

Page 21: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

21

OS CAMINHOS JÁ DESBRAVADOS

O linguista tem de decidir com qual tipo de problemas conviver. 1

Laurie Bauer

No rol dos tradicionais processos formadores de novos itens lexicais, figura um

considerado mais complexo por envolver a aplicação simultânea de um prefixo e um

sufixo a uma base, em dados como ‘amanhecer’, ‘enrouquecer’, ‘abrandar’ e

‘embolar’. Alguns autores preferem designá-lo circunfixação (RIO-TORTO, 1994;

HENRIQUES, 2007, SILVA & KOCH, 2005), enquanto outros adotam a nomenclatura

mais difundida, derivação parassintética (SANDMANN, 1997; BASILIO, 2004).

Não tendo sido considerada na NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) “para

simplificar”, conforme explicou Nascentes (1959: 12), a parassíntese carece ainda de

estudos mais detalhados que aprofundem os tratamentos formais que vêm se

desdobrando nos últimos tempos e que destrinchem os sentidos subjacentes à

construção morfológica.

Neste capítulo, são apresentadas as várias propostas que vêm sendo discutidas

no âmbito da tradição gramatical e da literatura morfológica, bem como faremos um

breve panorama sobre os trabalhos mais significativos na área. A revisão que

propomos não seguirá os moldes clássicos que separam as obras gramaticais das

pesquisas linguísticas, já que, em alguns casos, observamos que autores de diferentes

1 The linguist has to decide which set of problems to live with. (BAUER, 2001)

2

Page 22: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

22

perspectivas abordam posições similares. Dessa maneira, agrupamos os estudos em

relação à semelhança das propostas defendidas.

O capítulo está assim dividido: apresentamos em 2.1 o ponto de vista mais

tradicional e usual sobre o processo, subentendendo uma anexação simultânea; na

subseção seguinte, observamos as propostas que preveem um sufixo foneticamente

nulo nos casos das terminações em ‘-ar’ e um prefixo semanticamente nulo (‘a-‘), ou

seja, abordamos as análises que levam a um distúrbio na relação de um-para-um entre

forma e significado em morfologia; em 2.3 argumentamos, com Basilio (1987) e Kehdi

(1992), a relevância do fator semântico na análise dos processos morfológicos; em 2.4

atentamo-nos para a hipótese de as partes que compõem a parassíntese se

comportarem como morfemas descontínuos. Fazemos também uma revisão mais

acurada de dois importantes trabalhos acerca do assunto aqui discutido em 2.5; e, por

fim, expomos as razões que nos guiaram a adotar uma dessas perspectivas,

nomeadamente, a derivação circunfixal.

2.1. A perspectiva usual

Cunha & Cintra (2007) e Rocha Lima (2008) referem-se ao processo como

parassíntese, ponderando o fato de serem formados, em geral, mais verbos, como

‘acorrentar’, ‘embainhar’, ‘amanhecer’ e ‘ensandecer’, do que adjetivos. Esses

parassintéticos não verbais, mais escassos na língua, podem ser ilustrados pelas

palavras ‘desalmado’, ‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’ e ‘desnaturado’. Rocha Lima afirma

ainda que as bases disponíveis ao processo são, invariavelmente, substantivos

(‘gaveta’ em ‘engavetar’) ou adjetivos (‘rijo’ em ‘enrijecer’).

Page 23: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

23

A ação combinada de prefixo e sufixo (DUBOIS, 1973) constitui parte do estudo

de Sandmann (1988) acerca das novas formações em português. Com base em um

corpus coletado de textos jornalísticos, o autor informa que a parassíntese ainda é

produtiva, principalmente com os sufixos ‘-ar’, ‘-izar’ e ‘-ecer’. Alguns dados

encontrados foram ‘acaudilhar’, ‘ensombrecer’ e ‘desfavelar’, em que se percebem os

sufixos citados acompanhados dos prefixos ‘a-‘, ‘en-‘ e ‘des-‘. Rocha (1998) afirma que

essa produtividade é esporádica, pois, se comparada às derivações prefixal e sufixal, o

número de novas palavras parassintéticas é relativamente baixo (o exemplo

institucionalizado mais recentemente seria ‘desfavelar’2).

Vilela (1994) e Laroca (1994) têm o mesmo posicionamento dos outros teóricos

já citados, embora se baseiem em um quadro estruturalista para classificar a

parassíntese. No recorte de Vilela (1994), o prefixo é visto como um modificador

semântico que se anexa a uma base portadora de significado literal e a um

categorema. Já Schwindt (2001) e Lee (1995) abordam o tema através da ótica

gerativista – mais especificamente, a Fonologia Lexical.

Lee (1995) prevê que a anexação do prefixo e do sufixo à base ocorra no

primeiro nível do léxico, a que chama de nível α. Já Schwindt propõe que a junção dos

afixos se dê no mesmo nível, mas em estratos diferentes para justificar sua oposição à

hipótese tradicional de simultaneidade, dado que esta pressupõe uma divisão ternária,

não acolhida pela Hipótese da Ramificação Binária (ARONOFF, 1976). De acordo com

Aronoff, uma regra de formação de palavras deve envolver apenas uma base e um

afixo; nunca três elementos, como ocorre na parassíntese. Schwindt, então, apresenta

um diagrama arbóreo que pretende reparar essas questões através da concepção de

2 Acreditamos que o verbo mais usual é ‘desfavelizar’, derivado de ‘favelizar’, não sendo, portanto, um

caso de parassíntese.

Page 24: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

24

um estrato intermediário. Justamente por argumentar que a afixação ocorra em

estratos diferentes, torna-se possível a criação de um estrato intermediário que

satisfaria, de acordo com o autor, a simultaneidade do processo, ao mesmo tempo em

que asseguraria que a ramificação não fosse ternária. Nesse caso, em um estrato

superior haveria a adjunção do sufixo seguida de uma forma sem status prosódico com

a posterior inclusão do prefixo em outro estrato. Exemplificamos essa proposta com a

árvore na Figura 1, adaptada de Schwindt (2001):

V 3

pref V

en 3

N suf

caro ecer

Figura 1: diagrama arbóreo da parassíntese adaptado de Schwindt (2001)

Por sua vez, Bechara (2009) ressalta que, embora alguns autores adotem a

noção de circunfixação ou façam uso do critério de simultaneidade, é mais econômico

excluir a parassíntese dos processos de formação de palavras, uma vez que se preserva

a linearidade do signo linguístico. A derivação se daria à semelhança do que ocorre

com os dados em (2):

(2) letrando (o estudante de Letras) < *letrar

farmacolando (o estudante de Farmácia) < *farmacolar

prefeitável (passível de exercer cargo de prefeito) < * prefeitar

Page 25: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

25

Nesses casos, a formação se apoia nas bases virtuais *letrar, *farmacolar e *prefeitar,

respectivamente. Por analogia, casos de parassíntese, como ‘envelhecer’ e

‘emburacar’, teriam como bases virtuais *envelho e *emburaco, ou *velhecer e

*buracar. A derivação poderia ser prefixal, como nos esquemas em (3), ou sufixal,

como em (4).

(3) envelhecer [ en [*velhecer]V ]V

emburacar [ em [*buracar]V ]V

(4) envelhecer [[*envelho]A ecer]V

emburacar [[*emburaco]S ar]V

2.2. As perspectivas do zero e do afixo único

Algumas descrições morfológicas sobre a parassíntese levam a crer que a

posição sufixal de alguns verbos parassintéticos em ‘-ar’ seja ocupada por um

constituinte sem representação fonética. É o caso de Monteiro (1987), que opõe

verbos parassintéticos de dois tipos: uns formados pela adição de um sufixo

derivacional (exemplo em (5)) e outros, muito mais comuns, gerados pela indexação

de um morfema zero (exemplo em (6)).

(5) adocicar a- + doce + -ic + -a + -r

(6) adoçar a- + doce + Ø + -a + -r

Page 26: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

26

Para o autor, a sequência morfêmica ‘-ar’ é flexional e, portanto, não seria

responsável pela mudança categorial. O uso do morfema zero na posição de sufixo

parte da disposição em manter o paradigma derivacional mais regular, visto que em (5)

há uma sequência com valor de sufixo, ‘-ic’. O mesmo pode ser verificado nos

exemplos em (7).

(7) esquartejar es- + quarto + -ej + -a + -r

amolecer a- + mole + -ec + -e + -r

encalvecer en- + calvo + -ec + -e + -r

(8) entornar en- + torno + Ø + -a + -r

abaixar a- + baixo + Ø + -a + -r

empoeirar em- + poeira + Ø + -a + -r

Nos dados de (7), a formação se dá através de sufixos que apresentam

propriedades fonéticas, ao contrário dos dados de (8), que necessitariam de um sufixo

zero, porque, segundo Monteiro, a sequência ‘-ar’ não pode acumular características

flexionais e derivacionais.

Camara Jr. (1976: 226) alude à parassíntese como um mecanismo que atribui

“ao nome a flexão verbal concomitantemente com um dos prefixos ‘en-‘ (prep. em) ou

‘a-‘ (prep. a)”, ou seja, desprovido de qualquer sufixo derivacional. Seguem o mesmo

raciocínio Freitas (1997) e Corbin (1980), que lançam mão de um prefixo com poderes

heterocategoriais. Esse prefixo seria capaz de transformar um nome em verbo a partir

da geração de uma vogal temática verbal.

Page 27: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

27

Villalva (2003) sugere que os parassintéticos verbais em ‘-ar’, como os de (6) e

(8), sejam formados por conversão de uma forma virtual em uma forma possível e

existente no léxico. Isso resulta do fato de os afixos não serem um “componente

nuclear” nas derivações regressiva, imprópria e parassintética, nas quais o radical ou a

palavra são as partes afetadas, afastando-se, logo, dos processos canônicos de

derivação, como a prefixação e a sufixação. Em (9), apresentamos exemplos de

derivação regressiva e em (10) de derivação imprópria, evidenciando, de acordo com o

esquema proposto por Villalva (2003), quais partes são núcleos das formações3.

(9) comprar RV compra RN

beijar RV beijo RN

gritar RV grito RN

(10) O ‘azul’ N do mar foi enegrecido pela mancha de óleo. (azul A azul N)

O ‘olhar’ N da bailarina encantou o público. (olhar V olhar N)

A autora se posiciona contrariamente à adoção de ‘-ar’ como um sufixo

derivacional, o que acarreta a geração de palavras parassintéticas a partir da alteração

da categoria gramatical por conversão seguida da prefixação, não sofrendo, assim,

mudança na forma. A única diferença entre os dados de conversão em (9) e (10) e os

de parassíntese em (11), a seguir, seria a presença do prefixo, que aparece como um

assegurador da derivação parassintética, embora tenha, segundo Villalva, uma simples

função fática.

3 As siglas RV, RN e RA se referem, respectivamente, a Radical Verbal, Radical Nominal e Radical

Adjetival.

Page 28: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

28

(11) torn RN en torn ar

brilhant RA a brilhant ar

poeir RN em poeir ar

Ainda na esteira dos que interpretam os prefixos parassintéticos apenas como

marcadores de expressão, podemos citar Sandmann (1988; 1997), que credita ao

prefixo somente a função semântica. A acepção do prefixo seria, então, incorporada à

da base, caracterizando uma composicionalidade do significado, como se pode ver no

esquema em (12), adaptado de Sandmann (1997).

(12) en- para dentro (encaixar, empacotar)

ex- para fora (expatriar, exportar)

re- de volta (repatriar, remembrar)

des- afastamento (desmatar, desossar)

Por sua vez, o sufixo exerceria as funções sintática e semântica, podendo optar

ora por uma, ora por outra, ou, em alguns casos, por ambas. Os dados mais

exemplares são dos verbos terminados em ‘-ecer’ (exemplos em (13)), nos quais o

prefixo teria não somente o significado aspectual de incoatividade, mas também

atuaria na mudança categorial da base (de substantivo ou adjetivo para verbo).

(13) amanhecer início da manhã

entardecer início da tarde

Page 29: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

29

Dentre os afixos que participam da parassíntese, o ‘a-‘ seria o único

completamente desprovido de conteúdo semântico (SANDMANN, 1997; MONTEIRO,

1987; HENRIQUES, 2007, VILLALVA, 2003), ao contrário dos demais prefixos

apresentados em (12). Sandmann opõe dois pares sinônimos em (14), a seguir, para

reforçar a sua opinião de que o prefixo ‘a-’ é assemântico, além de recorrer a exemplos

do francês que, segundo Wandruszka (apud Sandmann, 1988), apresentaria

parassintéticos com prefixo assemântico (15).

(14) avermelhar ~ vermelhar

acasalar ~ casalar

(15) agrandir ‘ampliar’

arrondir ‘arredondar’

2.3. O fator semântico na parassíntese

O critério da simultaneidade, no qual se apoia a tradição gramatical

portuguesa, não é o que define a parassíntese. Basilio (1987) e Kehdi (1992) apontam

que a estrutura de formação deve ser analisada, e não a ocorrência simultânea de

prefixo e sufixo. Essa estrutura de formação nos revela que o prefixo e o sufixo devem

ser acoplados à base simultaneamente, já que a mera existência de prefixo e sufixo

não garante a parassíntese, como se percebe nos exemplos em (16).

(16) desvalorização

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30

recadastrar

No primeiro exemplo de (16), a nominalização em ‘-ção’ se dá com base no

verbo ‘desvalorizar’, que é formado da união do prefixo ‘des-’ à forma verbal

‘valorizar’. Já em ‘recadastrar’, observa-se que à base ‘cadastrar’ se aplica o prefixo

‘re-’; e o verbo ‘cadastrar’ tem como base o substantivo ‘cadastro’. Nesses casos,

verifica-se que a presença do prefixo e do sufixo não assegura que os itens em (16)

sejam palavras parassintéticas, pois a formação se dá em níveis diferentes; logo, não

há simultaneidade.

No entanto, esses autores percebem que, em muitos casos, a adoção do

critério da simultaneidade não é suficiente para precisar se uma palavra é derivada por

parassíntese ou por prefixação e sufixação. É o caso dos pares demonstrados em (17),

cujos verbos têm as mesmas bases, mas são formados por processos distintos.

(17) anotar x notar

esbarrar x barrar

embolar x bolar

abaixar x baixar

Considerando apenas a questão da simultaneidade, os verbos da primeira

coluna não poderiam ser caracterizados como parassintéticos, uma vez que existem

formas sem o prefixo (verbos da segunda coluna). Diante desse quadro, Kehdi (1992) e

Basilio (1987) questionaram o critério e atribuíram ao traço semântico maior

funcionalidade na constituição do processo.

Page 31: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

31

Nota-se que os dados expostos na primeira coluna de (17) veiculam significados

distintos de seus pares correlatos. De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss

(2009), ‘anotar’ é ‘tomar nota’, enquanto ‘notar’ é ‘perceber’, ‘observar’; ‘esbarrar’ é

‘chocar-se fisicamente’, ao contrário de ‘barrar’, que designa ‘impedir’, ‘bloquear’. Da

mesma forma, observam-se diferenças entre ‘embolar’ e ‘bolar’, de um lado, e

‘abaixar’ e ‘baixar’, de outro. Ainda que as bases fonológicas sejam as mesmas (‘nota’,

‘barra’, ‘bola’ e ‘baixo’, respectivamente), as construções morfológicas das quais se

originam guardam assimetrias. A partir dos exemplos em (18) e (19)4, pode-se verificar

essa distinção de maneira mais clara.

(18) A prefeitura ‘alargou’ a avenida da orla.

?A prefeitura ‘largou’ a avenida da orla.

(19) Pedro é ‘descarnado’.

A fome deixou Pedro ‘descarnado’.

?João foi ‘descarnado’ pela fome.

Na primeira sentença de (18), dizemos que a avenida se tornou mais larga,

enquanto na segunda percebemos o sentido estendido do verbo (a prefeitura teria

parado de manter os cuidados com a tal avenida, como limpar as calçadas, podar as

árvores etc), embora essa leitura possa parecer estranha para alguns falantes.

Também é necessário que, nos exemplos em (19), o fator semântico seja

ativado juntamente ao fator simultaneidade para identificarmos os derivados

parassintéticos. Na primeira frase de (19), informa-se que Pedro é magro; na segunda,

4 Os exemplos de (18) foram adaptados de Kehdi (1992) e os de (19), de Basilio (1987).

Page 32: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

32

que a fome é a causa de Pedro ser magro; e na terceira que Pedro é o paciente do ato

de descarnar. Nos dois primeiros exemplos de (19), aparecem formas adjetivais

parassintéticas, enquanto, no terceiro, tem-se o particípio passado do verbo

‘descarnar’. Mesmo com a estranheza causada pela última frase, poderíamos verificar

dois tipos morfológicos (um adjetival e um verbal), que são licenciados na gramática

por apresentarem significados diferentes.

Seguindo Basilio, esses exemplos revelam a insuficiência da hipótese tradicional

para acomodar a parassíntese, pois, ao considerar que a existência de um vocábulo

sem um dos afixos implica a interpretação da forma derivada como não parassintética,

faz-se necessário excluir as formas exemplificadas na primeira sentença de (18) e nas

duas primeiras de (19). Uma verificação que leve em conta o aspecto semântico se

mostraria, então, relevante não só para explicar a ocorrência de determinados

vocábulos, mas também para entender a natureza morfossemântica do processo.

2.4. A circunfixação

A circunfixação, ao que parece, é um processo de caráter tipológico, com dados

registrados em diversas línguas não relacionadas entre si, como o alemão, o hebreu, o

italiano, o indonésio e o eslavo, por exemplo. Pode ser entendida como o

desmembramento de um afixo para a inserção da base/ radical no seu interior

(MEL’ČUK, 2006; COHEN-SYGAL & WINTNER, 2006; GUEVARA, 2007, JENSEN, 1991).

Guevara lembra ainda que é comum que alguns autores não façam distinção entre

circunfixação e parassíntese, já que, em tese, ambas pressupõem a junção de um

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segmento inicial e um final a uma base. Entretanto, só no primeiro processo esses

segmentos se comportam como um único afixo.

Mel’čuk apresenta alguns exemplos do Malaio (dispostos em (20)), em que o

circunfixo /ke...an/ significa “ser parecido com”. Já Lieber (2010) traz alguns exemplos

do Tagalog, língua também da família malaio-polinésia, em que o circunfixo /ka...an/

se junta a bases nominais para indicar coletividade – exemplos de (21).

(20) cina ‘chinês’ ke-cina-an ‘ser como um chinês’

anak-anak ‘boneca’ ke-anak-anak-an ‘ser como uma boneca’

anakangkat ‘filho adotivo’ ke-anakangkat-an ‘ser como um filho

adotivo’

(21) Intsik ‘pessoa chinesa’ ka-intsik-an ‘pessoas chinesas’

pulo ‘ilha’ ka-pulu-an ‘arquipélago’

Tagalog ‘pessoa de Tagalog’ ka-tagalog-an ‘pessoas de Tagalog’

No holandês, também encontramos um circunfixo indicando coletividade, de

acordo com Booij (2002), ainda que o circunfixo /ge...te/ não seja mais produtivo.

Percebe-se, nos exemplos em (22), assim como nos de (20) e (21), que a palavra base

não existe sem o prefixo e nem sem o sufixo, o que confere o caráter de dependência

entre as partes.

(22) Berg ‘montanha’ ge-berg-te ‘(cadeia de) montanhas’

vogel ‘ave’ ge-vogel-te ‘bando’

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34

Em outras línguas, esse processo também pode ser verificado com bases

verbais. Bauer (1988) apresenta alguns dados do alemão (23), cujo circunfixo /ge...t/

tem características flexionais, pois atua na formação do particípio passado de verbos

fracos. Booij (2005) nota que em holandês há um sistema flexional semelhante ao do

alemão, no que concerne ao uso de circunfixos para expressar o passado (24).

(23) film-en ‘filmar’ ge-film-t ‘filmado’

frag-en ‘perguntar’ ge-frag-t ‘perguntado’

lob-en ‘louvar’ ge-lob-t ‘louvado’

zeig-en ‘mostrar’ ge-zeig-t ‘mostrado’

(24) fiets ‘andar de bicicleta’ ge-fiets-t ‘andou de bicicleta; pedalou’

No árabe, o tempo presente nos verbos é formado pelo radical de presente do

verbo e um circunfixo. O radical isolado não funciona como uma palavra, ou seja,

precisa do prefixo, que indica marca de pessoa, e do sufixo, que marca modo e

número, para veicular um significado completo. O quadro abaixo (retirado de RYDING,

2005) ilustra a formação do presente do radical verbal -ktub- ‘escrever’.

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35

Quadro 1: circunfixos no tempo presente do árabe (RYDING, 2005)

Há ainda estudos sobre esse fenômeno no japonês (BOECKX & NIINUMA, 2004)

e no guarani, línguas em que os circunfixos serviriam a indicar negação (/nd...i/) ou

negação futura (/nd...mo’ãi/) (ZERROUKI & BALLA, 2009).

Voltando nosso foco para o português, alguns autores (RIO-TORTO, 1994;

HENRIQUES, 2007; GONÇALVES, 2005; ROSA, 2006; GONÇALVES & ALMEIDA, 2008)

propõem que a circunfixação seja compreendida como um processo de formação de

palavras, com características que acarretam na sua distinção da sufixação e da

prefixação.

Luft (1979) manifesta aquilo – que começaria a ser percebido mais adiante por

outros pesquisadores – de mais característico na parassíntese: terem as partes

derivacionais apenas um significado. Com isso, o autor indica, assim como Lopes

(2003) e Silva & Koch (2005), que se trata de um morfema descontínuo, i.e., uma

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36

unidade formal expressiva que é desmembrada para a inserção de outra unidade no

seu interior.

Henriques (2007), por razão diversa, se posiciona favorável a essa ideia5. O

teórico aborda também a formação de adjetivos circunfixais, que se dividiriam em dois

grupos: o primeiro reúne os derivados que apresentam um prefixo que, se isolado, não

possui valor semântico (‘abobado’, ‘achocolatado’); e um segundo grupo que se

subdivide em outros dois: (i) prefixo ‘des-‘ (negação) e sufixo ‘-ado’. (‘desalmado’,

‘descampado’, ‘desnaturado’); e (ii) prefixo ‘con-‘ (simultaneidade) ou ‘sub-‘

(inferioridade) e sufixo ‘-âneo’ (‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’).

Sobre a circunfixação, Rio-Torto (1998: 214) adiciona ainda o fato de as partes

que compõem o circunfixo não se comportarem de maneira autônoma, ou seja,

“deixam de ter o estatuto de verdadeiros prefixo e sufixo, para adquirirem o de

constituintes circunfixais, um ocorrendo em posição prefixal, outro em posição

sufixal”. Outro ponto importante, a recategorização sintática, é tratado pela autora

como uma função do circunfixo, e não apenas do sufixo, uma vez que se consideram

derivados circunfixais os vocábulos formados pelo processo.

No que diz respeito aos verbos terminados em ‘-ar’, Rio-Torto (1998; 1994)

adota uma posição que concilia flexão e derivação, ou seja, o sufixo é responsável

também pela mudança categorial. Contudo, ela informa que outras duas propostas são

igualmente viáveis: a de Villalva, para quem verbos como os em (11) são derivados por

conversão, ou a de Freitas (1997), que prevê um prefixo heterocategorial.

5 Como já foi dito, o autor não credita significado ao prefixo parassintético a- (que se origina do latino

ad-), o que o faz distinguir este do prefixo grego a- (amoral, acéfalo e anarquia). Nesse contexto, de acordo com Henriques, ganha força a análise circunfixal, pois se privilegia o significado do todo.

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37

2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese

Cabe aqui, mais do que uma breve menção, fazer uma resenha sobre dois

importantes trabalhos que têm foco exclusivamente na parassíntese. Um deles é o de

Bassetto (1993), que empreende um estudo sobre a conceituação dada ao tema desde

a tradição greco-latina aos compêndios gramaticais mais recentes. O autor reúne em

cinco capítulos informações recolhidas em textos originais com o claro objetivo de

obter uma definição precisa para a parassíntese, visto que algumas das percebidas nos

manuais de morfologia parecem desencontradas. Além disso, faz uso de um corpus

constituído de palavras retiradas de obras de Guimarães Rosa para amparar e

demonstrar a proposta que recupera dos pensadores gregos.

O conceito de parassíntese remonta ao pensamento aristotélico, porém é

Dionísio Trácio (170-90 a.C.) quem o transmite à tradição gramatical ocidental, pois

“foi nesse documento [a primeira gramática grega] que se empregou, ao que tudo

indica pela primeira vez, o termo” (BASSETTO: 1993: 24). O autor defende que a

proposta dos gregos acomoda mais satisfatoriamente a análise derivacional, pois, em

sua origem, parassíntese designa a anexação de uma partícula a um síndeto, sendo

este qualquer palavra composta que tenha significação na língua. Choeroboscus (fins

do século VI d.C.) diz que “simplesmente a tudo quanto se origina de um sintético

chamamos parassintético, seja de nomes seja de verbos” (BASSETTO: 1993, 38). O

trecho esclarece e amplia a noção estabelecida pelos gramáticos gregos anteriores,

dado que qualquer palavra formada a partir de um síndeto é parassintética, seja

formada por prefixação ou por sufixação.

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Pela proposta, palavras como ‘contentamento’ e ‘inexplicável’ seriam

parassintéticas, posto que encerram a anexação de uma partícula, ‘-mento’ e ‘in-’, a

um síndeto, ‘contentar’ e ‘explicável’, respectivamente. Isso representa uma forte

quebra de paradigma com a ideia imputada pelos autores latinos, principalmente

Prisciano (século V d.C.), em quem a nossa tradição se fundamenta para designar a

parassíntese. Conforme nos expõe Bassetto (1993:68),

os elementos no interior de parênteses formam um conjunto que deve ser levado em conta em todas as operações subsequentes, assim os formantes de um sintético constituem um todo inseparável em relação a sufixações ou prefixações posteriores, sob pena de se chegar a formas absurdas. O esquema de magnanimitas é: (N + N) + SD ou (magn(-us) + animus) + itas.

Baseado na conceituação grega, o autor passa, então, a uma análise dos

vocábulos formados por parassíntese em português, levantando em conta a frequência

com que os prefixos e sufixos ocorrem no processo. Na formação de verbos, o prefixo

mais utilizado é ‘a-‘, com 21% das ocorrências, seguido de ‘des-‘ (15,2%), ‘en-‘ (12,4%)

e uma lista de outros vinte e nove prefixos. O sufixo nominal mais comum é ‘-do’

(32,8%), enquanto na formação de verbos levam majoritária vantagem ‘-ar’ (morfema

zero para o autor) e ‘-ecer’ (7,6%).

O segundo trabalho com foco na parassíntese é o de Martins (1991) que, por

sua vez, se apoia na distinção entre regularidade e irregularidade semântica nas

formações lexicais, questionando até que ponto esse é um critério suficiente para

acomodar os dados, uma vez que contraexemplos surgem em abundância. É o caso do

verbo ‘encharcar’ que pode significar (i) ‘por em charco’, em que charco é entendido

não literalmente, à semelhança de encher-se de água; (ii) ‘tornar um charco’, embora

os verbos que façam parte desse grupo tenham por base um adjetivo e, assim, o

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39

substantivo ‘charco’ teria que ser tomado por adjetivo; e (iii) ‘por charco em’, que é

menos comum, embora mais regular. A autora argumenta que os significados mais

usuais ajudam o falante a compreender e avaliar as regularidades do léxico, o que a faz

optar pelo sentido irregular (i).

A adoção do modelo de Jackendoff (1975) não dirime o desconforto em relação

à insuficiência da intuição do falante em estabelecer a regularidade e a irregularidade

das formações frente a processos6 que perpassam o léxico, mas não são tratados no

escopo do modelo gerativista (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]). Por efeito dessa

percepção, Martins assume que as irregularidades são sempre regularidades parciais,

já que a irregularidade é estabelecida em relação a um significado regular.

O trabalho é um grande salto nas poucas pesquisas que tinham se desenvolvido

até então sobre o assunto, pois insere a derivação parassintética em um quebra-

cabeça muito mais amplo e complexo: a formação de verbos em português. A

recategorização dos itens lexicais teria, de acordo com Martins, motivação no uso das

funções semânticas de adjetivos e substantivos para veicular um processo ou ação.

Isso se reflete na divisão entre predicados accionais/ causativos e processuais. Esses

teriam relação com bases adjetivais e a participação do sufixo ‘-ecer’, que veicula o

aspecto de incoatividade; aqueles estão mais relacionados ao significado causativo dos

verbos em ‘-ar’, anexados, principalmente, a bases substantivas.

No segundo capítulo da dissertação, Martins serve-se de regras de redundância

(JACKENDOFF, 1975) – que têm “a função de relacionar entradas lexicais umas às

outras, na base de regularidades fonológicas e sintático-semânticas” (BASILIO: 1980,

6 Fala-se aqui, notadamente, de processos cognitivos, como a metáfora, a metonímia, a polissemia etc.

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40

11)7 – para dar conta dos itens do corpus. Para tanto, propõe uma regra geral para os

dados e outras específicas a cada simulfixo8. No caso específico do simulfixo a-X-ecer,

como só foram encontradas sete formações e algumas não são previsíveis (‘abastecer’

não é tornar basto e ‘amortecer’ não é fazer algo relacionado à morte), não foi possível

analisar esses dados com base em uma regra.

No terceiro capítulo, apresentam-se os pilares que sustentam a pesquisa, a

teoria semântico-cognitiva de Jackendoff (1983), que corrige as falhas do modelo

anterior ao não considerar os processos cognitivos que atuam no léxico, embora se

admita não haver um aparato bem equipado a fim de explicar completamente

fenômenos comuns ao léxico, como, por exemplo, a metáfora (MARTINS, 1991: 79).

São estabelecidos alguns critérios com o objetivo de reconhecer as

regularidades da expansão lexical: um necessário, que diz respeito à percepção de uma

estrutura para que uma formação seja considerada semanticamente regular, e seis

preferenciais, cuja atuação depende do que Jackendoff designou por “estímulo

experienciado”; no trabalho de Martins, esse estímulo seria a formação de verbos a

partir de dois afixos. A Teoria da Metáfora, elaborada por George Lakoff e Mark

Johnson (2002 [1980]), um dos marcos (talvez o primeiro) da Linguística Cognitiva,

serve de base para entender os casos irregulares, o calcanhar de Aquiles dos estudos

gerativistas.

Diante das informações que foram apresentadas até aqui, assumiremos, na

próxima subseção, nosso ponto de vista acerca do objeto estudado, bem como

apresentaremos os argumentos que corroboram nossa posição e aqueles que nos

levaram a rejeitar as demais.

7 Para maiores informações sobre regras de redundância lexical, ver Basilio (1980).

8 Para maiores detalhes, ver Martins (1991).

Page 41: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

41

2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação

A proposta de Bechara (2009) – que pressupõe a geração de verbos a partir de

formas virtuais, acarretando na exclusão da parassíntese do conjunto de processos

formadores de palavras – esbarra em problemas que vêm sendo apontados na

literatura especializada. Um deles é que, conforme indicam Basilio (1993; 1987),

Aronoff (1976) e Booij (2002), a formação de palavras nas línguas naturais se dá a

partir de uma palavra já disponível no léxico, seguindo os pressupostos da Morfologia

de Base Vocabular. Assim, temos formas recentes como ‘corpitcho’ de ‘corpo’,

‘micareteiro’ de ‘micareta’ e ‘mensalão’ de ‘mensal’, por exemplo, em que as bases

são reconhecidas por qualquer falante brasileiro do português. Do mesmo modo, no

caso de ‘enquadrar’, o substantivo ‘quadro’ faz parte do léxico internalizado do falante

do português, ao contrário das formas virtuais *enquadro e *quadrar. Por isso, prever

que os verbos parassintéticos sejam formados a partir de itens não existentes no léxico

seria contraditório com a teoria que estamos adotando aqui (ver Capítulo 4).

Além disso, a proposta pretende transformar casos excepcionais em regra, pois

formas como ‘letrando’ ou ‘prefeitável’, que partiriam das formas virtuais *letrar e

*prefeitar (BECHARA, 2009), não constituem um grupo robusto nem homogêneo. Ao

contrário, exemplos de parassintéticos são abundantes, principalmente na categoria

verbal, e não devem, portanto, ser tratados como desvio.

Outra proposta arrolada é a que postula um zero morfêmico na formação dos

verbos em -ar (ver 2.2). Esse morfema é, nas palavras de Bybee (1985: 4), “um tipo de

distúrbio no mapeamento de um-para-um entre som e significado”.

Page 42: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

42

Bybee (1985) e Gonçalves (2005) assinalam que o zero é um artifício utilizado

para tentar uniformizar as descrições estruturais. Por isso mesmo, está vinculado a

categorias mais básicas e não marcadas do ponto de vista cognitivo. Em português,

aparece com frequência no gênero masculino, no número singular de nomes, na

terceira pessoa do singular dos verbos e no tempo presente, ou seja, em categorias

que não possuem representação fonética por seu caráter mais genérico, o que é

comum nas línguas do mundo (BYBEE, 1985). Além disso, esses significados gramaticais

tendem a se manifestar via flexão, o que leva à proposição de um morfema zero

apenas para a morfologia flexional.

Assim, a aplicação do zero, que tem forte valor gramatical, à derivação

representaria um risco, uma vez que a toda entidade sem valor morfológico e sem

massa fônica seria possível postular um morfema zero. Em outras palavras, seria

atribuir poderes lexicais a uma entidade sem representação morfofonológica.

Ademais, como bem salienta Freitas (1997: 153), as construções parassintéticas

que mais apresentam derivados são as terminadas por ‘-ar’, “não constituindo, assim,

a exceção, mas a regra geral, o que comprova a deficiência do critério”.

Em verbos como ‘arriscar’, ‘amassar’, ‘enroscar’ e ‘entortar’, a terminação ‘-ar’

é responsável por reenquadrar, nos termos propostos por Nascimento (2006), a base

nominal à categoria verbal. Como indica Basilio (1993), ‘-ar’ é um sufixo derivacional

justamente por fazer a mudança de classe, além de apresentar a propriedade flexional

resguardada na vogal temática e no morfema de infinitivo.

Conforme foi abordado anteriormente, Villalva (2003) analisa os derivados em

‘-ar’ como resultados de um processo de conversão. Há, nessa proposta, um

argumento que nos faz questionar sua aplicação, que é o fato de postular a adjunção

Page 43: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

43

do prefixo a bases nominais antes de se tornarem verbos por conversão. Sobre isso,

Bechara (2009) e Kehdi (1999) afirmam que, em português, é um traço dos prefixos se

coadunarem, geralmente, a verbos ou a adjetivos, como em (25) e (26), a seguir,

respectivamente. São parcos os exemplos de prefixos que se juntam a substantivos:

normalmente, isso se verifica com deverbais (desempate, desagrado, retorno).

(25) refazer, deter, reter, conter, pospor, sobrepor;

(26) infeliz, desrespeitoso, impensável, antiaderente.

Os verbos parassintéticos em ‘-ar’, que seriam formados por conversão na

proposta de Villalva (2003), apresentam a seguinte distribuição categorial de suas

bases: 80% vêm de adjetivos e 20% de substantivos, num total de 418 dados do nosso

corpus. Esse resultado corrobora o que foi dito por Kehdi (1999) e Bechara (2009).

Assim, caso optássemos por essa proposta, teríamos de explicar o porquê de prefixos

se anexaram a bases substantivas, quando esse é um processo marginal. A alternativa

para contornar esse obstáculo seria compreender que, primeiramente, as bases

substantivas e adjetivas sofrem conversão e, em seguida, se anexam aos prefixos. No

entanto, por acreditarmos que o sufixo ‘-ar’ é também derivacional, não adotaremos

essa proposta.

Dessa maneira, uma análise que se paute em elementos descontínuos evita

esse (e outros) problemas, tendo em vista que se considera um único afixo

derivacional. Já que o circunfixo não é vazio de significado, furtamo-nos, pois, a uma

discussão sobre o prefixo ‘a-’ ser portador ou não de conteúdo semântico. Pela mesma

Page 44: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

44

razão, acreditamos que o circunfixo acumule mais de uma função (semântica, sintática

etc.), o que vai de encontro ao que afirmam Sandmann (1997) e Quadros (2009):

No caso do verbo parassintético, temos, por exemplo, em- + cano mais o sufixo

formador de verbo -ar: encanar. O fato é que o sufixo muda a classe da palavra a

que pertence a base (cano), enquanto o prefixo tem apenas função semântica e

essa semântica é muitas vezes vaga ou imprecisa, senão inexistente (SANDMANN,

1997: 73-74)

seria difícil oferecer suporte a uma análise de circunfixação, já que ela implicaria a

identidade morfológica entre o segmento que se encontra à esquerda e o que se

encontra à direita da base – isto é, eles teriam de exercer a mesma função

(QUADROS, 2009: 14).

Como argumentamos, porém, o circunfixo é responsável pela evocação de um

conceito (nos termos de Basilio [2011]) e pela mudança categorial da base, nada

impedindo que acumule ambas as funções e a essas se reúnam outras, a depender dos

contextos sociocomunicativos. Corroborando nosso ponto de vista, Basilio (1987)

aponta que as construções lexicais podem apresentar mais de uma função, como é o

caso da composição verbo + substantivo (‘porta-luvas’, ‘porta-malas’, ‘porta-níqueis’),

em que atuam a função sintática e a semântica.

Por fim, ao compreendermos esse tipo de derivação como baseada em

circunfixos, nos isentamos de abordar o fator simultaneidade, visto que estamos

lidando com apenas um elemento derivacional descontínuo, e não mais com um

prefixo e um sufixo simultâneos. Nesse sentido, concordamos com Rio-Torto

Page 45: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

45

(1998:90), que afirma que algumas definições (VILLALVA, 1994; LEE, 1995; SCHWINDT,

2001) apresentam o problema de identificar uma “sucessividade afixal”, seja sufixação

seguida de prefixação (Figura 2) ou prefixação seguida de sufixação (Figura 3).

V 3 pref. V a 3

N suf. mole ecer

Figura 2: esquema arbóreo de prefixação precedida de sufixação

V 3 N suf. 3 ecer

pref. N a mole

Figura 3: esquema arbóreo de sufixação precedida de prefixação

Diante do que foi argumentado, embora seja criado um tipo especial de

elemento morfológico, ampliando o inventário de processos derivacionais, adotaremos

aqui a noção de derivação circunfixal, pois parece acomodar mais satisfatoriamente os

dados de que dispomos, além dos outros motivos já expostos.

2. 7. Resumindo

Neste capítulo, expusemos as posições adotadas pela gramática tradicional e

pela literatura morfológica a respeito da parassíntese. Como dissemos na introdução,

Page 46: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

46

embora tenhamos assumido um tratamento dos dados pela análise de morfemas

descontínuos, por vezes, adotaremos o rótulo parassíntese e, em outras ocasiões, o

nome circunfixação. Para alguns teóricos, essa perspectiva de circunfixação, contudo,

não está isenta de divergências, pois carreia o fato de ampliar o inventário de afixos do

português9.

O enfoque mais habitual, por sua vez, não acomoda satisfatoriamente todos os

dados, pois leva em consideração apenas o fator de simultaneidade, deixando à

margem a significação. Outras abordagens não preveem o significado do prefixo ‘a-’, o

que sabotaria o ideal de univocidade. Em suma, qualquer análise dos aspectos

morfológicos dos dados aponta para uma necessidade de investigação semântica, que

motiva todas as formações lexicais. Verificamos, nos próximos capítulos, de que modo

o significado pode contribuir para a formação de novo material lexical e a influência do

uso na manutenção das construções em que os circunfixos ocorrem no português

brasileiro.

9 Esse fato não constitui um problema, nesta dissertação, uma vez que temos por base a teoria

cognitivista, que se insere em uma perspectiva maximalista.

Page 47: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

47

LINGUÍSTICA COGNITIVA

Nós tendemos a assumir que o significado emana de sua representação

formal, (...), quando na verdade está sendo ativamente construído por

operações mentais incrivelmente complexas no cérebro. 1

Gilles Fauconnier & Mark Turner

Apresentamos, neste capítulo, o arcabouço teórico com o qual tentaremos

confirmar as hipóteses levantadas durante a análise dos dados. Traçamos um breve

panorama dos principais postulados da Linguística Cognitiva e do tratamento

dispensado ao léxico nessa vertente, adotando, portanto, uma perspectiva lexicalista,

na qual processos referentes à análise e à criação de novas palavras ocorrem num

domínio específico da gramática, o léxico. Não prevemos, todavia, uma separação

entre esse domínio e os demais domínios gramaticais, como a sintaxe ou a fonologia:

todos fazem parte de um mesmo contínuo.

Assumimos a posição de Basilio (2011), que define o léxico como

um espaço de formas simbólicas, isto é, formas se associam a conceitos. Estas

formas, as unidades lexicais, cujas possibilidades de evocação são infinitas,

dependendo das circunstâncias que podem envolver desde a história da língua e a

história dos falantes envolvidos numa situação linguística e sociocultural, até

relações entre formas e suas potenciais evocações.

1 we tend to take the meaning as emanating from its formal representation, (...), when in fact it is being

actively constructed by staggeringly complex mental operations in the brain (FAUCONNIER & TURNER, 2002: 5).

3

Page 48: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

48

Percebe-se, nesse trecho, uma orientação para a possibilidade de uma unidade

lexical ser polissêmica, o que constitui um efeito de mudanças no âmbito da língua, já

que a ativação de novos sentidos surge da necessidade de elaborar um mundo

dinâmico. Essa ativação de novos sentidos pode ser operada por inúmeros processos

conceptuais, como metáfora, ajuste focal e metonímia, aos quais daremos ênfase

durante a descrição teórica.

3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva

A insurgência de um pensamento relativista no último quartel do século XX

pretendeu romper com um paradigma cartesiano que se instaurou na linguística

contemporânea, presente, principalmente, na concepção gerativista de linguagem.

Não se assumiu, nesse novo construto teórico, simplesmente uma tese relativista –

que, apesar de remontar aos gregos antigos, ganhou contornos mais nítidos com os

trabalhos de Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf – cujo preceito se refere à

determinação do pensamento a partir da linguagem. O relativismo que decorre com a

Linguística Cognitiva se reveste de um caráter experiencialista, que permite perceber

uma forte influência da cultura na relação entre a linguagem e o pensamento.

Salomão (1997: 34), ao comentar a revisão da hipótese de Sapir-Whorf no

âmbito cognitivista, argumenta que não há mais o cotejo entre línguas

descontextualizadas, pois

neste campo será possível distinguir entre restrições cognitivas, possivelmente do

escopo universal (estratégias de categorização, da acessibilidade a espaços

Page 49: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

49

epistêmicos, de difusão, projeção e mesclagem de domínios conceptuais), e

informações sócio-situacionais específicas (modelos cognitivos idealizados,

funções-enquadre, táticas de enquadramento), que sempre constituíram o objeto

de estudo da antropologia linguística de todos os matizes.

A Linguística Cognitiva se caracteriza por não ser uma corrente teórica bem

delimitada, mas por ter assunções convergentes. A esse movimento teórico, Geeraerts

(2006: 2) atribui a metáfora de um arquipélago conceptual, cujas ilhas interagem

através da experiência humana no meio social. Na verdade, a gramática cognitiva

(Langacker, 1986), a teoria da integração conceptual (FAUCONNIER & TURNER, 2002),

a estrutura radial e os protótipos (LAKOFF, 1987), a construção gramatical (GOLDBERG,

1995; BOOIJ, 2010) e o modelo de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010) se

relacionam a partir da hipótese de que a linguagem é um produto cognitivo de

conceptualização.

Segundo a hipótese da motivação conceptual da gramática, as estruturas

gramaticais estão diretamente relacionadas à maneira como as pessoas pensam e

entendem qualquer situação do mundo. Logo, para os cognitivistas, a linguagem é

compreendida como uma habilidade interligada às demais habilidades da cognição

humana – tanto que alguns pesquisadores (FAUCONNIER & TURNER, 2002;

TOMASELLO, 2003) argumentam que a origem da linguagem ocorreu no mesmo

intervalo de tempo em que outros produtos cognitivos surgiram, como as artes, o uso

de ferramentas e a religião, por exemplo. Fauconnier & Turner destacam o fato de que

todos esses produtos da cognição são sociais, ou seja, mantêm fortes relações com o

meio que os fomenta. Rejeita-se, portanto, a tese de que a linguagem é autônoma,

Page 50: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

50

carreada pelo estruturalismo e pelo gerativismo. O primeiro aponta a linguagem como

uma estrutura descontextualizada (SAUSSURE, 2006) e o segundo entende a linguagem

como uma faculdade independente de outros conhecimentos (CHOMSKY, 1986). Na

Linguística Cognitiva, ao contrário, o conhecimento da linguagem se alinha ao

conhecimento de outras habilidades, como a percepção e o raciocínio matemático, do

mesmo modo que o conhecimento enciclopédico se equipara ao conhecimento

linguístico.

Anula-se, na Linguística Cognitiva, a concepção modular da gramática, cujas

partes passam a ser compreendidas como segmentos de um contínuo, tornando-as

bases flexíveis e prototípicas, em vez de átomos isolados. Nesse sentido, o léxico, a

morfologia, a fonologia e a sintaxe interagem através de operações que moldam o

processamento cognitivo. Em outras palavras, por ser uma teoria não modular, a

Linguística Cognitiva não admite divisões entre os vários domínios constituidores da

linguagem: morfologia, sintaxe e fonologia são vistas como categorias contínuas, e não

como módulos separados. Não se constata, sobretudo, a superioridade da sintaxe

sobre os demais domínios da linguagem: todos são dependentes de uma necessidade

conceptual da cognição humana.

Conforme Goldberg (1995) defende, elementos do léxico não são totalmente

diferentes de elementos da sintaxe, porque um morfema é um pareamento de forma e

conteúdo da mesma maneira que uma oração simples o é. A inexistência de fronteiras

entre esses vários domínios favorece o entendimento de que mudanças em um

domínio podem afetar outras partes da gramática, porque há interação na passagem

da morfologia para a fonologia, ou da morfologia para a sintaxe, por exemplo.

Page 51: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

51

Com os postulados cognitivistas de não modularidade da linguagem, perde-se

também a dicotomia saussuriana entre sincronia e diacronia. Saussure (2006 [1916])

estabelece a distinção entre dois tipos de Linguística, uma interessada no estado da

língua em um determinado período de tempo (sincrônica) e outra, na evolução da

língua ao longo do tempo (diacrônica). A ênfase na sincronia, que prevê o estudo “das

relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam

sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva” (SAUSSURE, 2006 [1916]:

116), afasta a investigação de fenômenos linguísticos dos efeitos do tempo. Na

Linguística Cognitiva, ao contrário, sincronia e diacronia passam a ser analisados como

dimensões temporais complementares, uma vez que muitos fenômenos diacrônicos

apresentam reflexos na sincronia. Podemos, então, buscar explicações para fatos da

linguagem que se desenvolvem no presente em ocorrências do passado. Sobre isso,

Sweetser (1990: 9) declara que a “polissemia sincrônica e a mudança histórica de

significado realmente fornecem os mesmos dados em diversos aspectos” 2. Isso

evidencia que a mudança diacrônica não deve ser abrupta, mas deve acontecer

gradualmente em diferentes estágios de tempo. Como demonstraremos no capítulo 6,

a mudança ocorrida no subesquema [a [x]Nj ecer]Vi respeitou as variações sincrônicas,

já que perdeu produtividade ao longo de séculos (do século XII ao século XVI).

A ruptura com a hipótese da modularidade da gramática não pressupõe,

entretanto, um afastamento das assunções cognitivas. De acordo com Ferrari (2011),

embora tenha havido uma negação da ideia de que a linguagem se constitui como um

módulo independente de outras habilidades cognitivas, manteve-se o compromisso

cognitivista. Continua, com relação à cognição, filiada aos mesmos princípios regentes

2 Synchronic polysemy and historical change of meaning really supply the same data in many ways.

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52

da gramática gerativa, de que a linguagem tem origem nas estruturas mentais: a

característica compartilhada pelas duas empreitadas teóricas é a mediação da mente

entre o indivíduo e o mundo. No entanto, Silva (1997: 65) relata que essa herança

mentalista aponta para dois caminhos:

a gramática gerativa interessa-se pelo conhecimento da linguagem (tomando-a,

portanto, não como meio, mas como objecto da relação epistemológica) e

procura saber como é que esse conhecimento é adquirido, ao passo que a

linguística cognitiva interessa-se pelo conhecimento através da linguagem e

procura saber como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo.

Seguem também caminhos diferentes em razão dos focos de análise adotados

serem distintos, visto que a forma, representada pela sintaxe, ocupa o centro dos

estudos gerativistas e a semântica sobressai nos trabalhos cognitivistas. É uma

influência da origem gerativista dos primeiros pesquisadores (George Lakoff, Ronald

Langacker, Gilles Fauconnier, entre outros) que, insatisfeitos com o modelo, se

voltaram para a integração entre sintaxe e semântica numa perspectiva não modular.

Não é, contudo, uma continuação da semântica praticada no âmbito da Linguística

Gerativa. Como explica Langacker (1987: 4), “a gramática cognitiva não é em nenhum

sentido possível uma consequência da semântica gerativa, mas compartilha com esta

concepção uma preocupação em lidar explicitamente com o significado” 3.

Esse movimento teórico baseia-se no fato de que mecanismos conceptuais

desempenham um importante papel nas estruturas gramaticais, havendo, portanto,

3 “Cognitive grammar is not in any significant sense an outgrowth of generative semantics, but it does

share with that conception a concern for dealing explicitly with meaning” (LANGACKER, 1987: 4)

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53

uma relação entre linguagem e significado conceptual. Esse postulado se espraia em

quatro concepções, que são complementares (GEERAERTS, 2006): o significado

linguístico é perspectivizado; o significado é flexível e dinâmico; o significado é

enciclopédico e não autônomo; e o significado é baseado no uso e na experiência.

O significado é um meio de modelar o mundo, que está sempre em constante

transformação, a partir da perspectiva que adotamos. Como esse mundo construído é

dinâmico, nem o significado nem a linguagem podem ser estáveis, mas sempre

atualizáveis nos diferentes contextos sociodiscursivos. Assim, nossa experiência está

intrinsecamente relacionada à flexibilidade do significado, uma vez que emerge das

nossas relações empíricas.

Essa flexibilidade do significado tem origem na dinamicidade dos processos

constitutivos da linguagem, que nos possibilita transferir a atenção da estrutura

gramatical para a atuação dos aparatos cognitivos no uso da linguagem. A

representação linguística, que, em perspectivas estruturalistas e gerativistas, era a

única responsável pela representação na mente do falante, não interessa, como

mecanismo isolado, aos cognitivistas. Prevalece a ideia de que processos que atuam

em outras áreas da cognição, como a metáfora e os esquemas imagéticos, podem

moldar a representação linguística na mente do falante, porque emergem do uso.

Entende-se, portanto, que (i) a metáfora compõe a arquitetura do pensamento

cotidiano (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]); (ii) a frequência altera o padrão de

estocagem e ativação dos subesquemas (CROFT & CRUSE, 2004); e (iii) as experiências

sensório-motoras dos sujeitos são ativadas nos mecanismos cognitivos.

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54

A partir dessas premissas previstas num modelo, acima de tudo, de

conceptualização, delineamos, na próxima subseção, a concepção de léxico que

norteará este trabalho.

3.2. O léxico

O surgimento de novos verbos no português, como ‘twittar’, ‘blogar’ ou

‘deletar’ não são casos de neologismos, mas demonstrações de que há um padrão que

todo falante nativo do português pode capturar. A entrada de bases estrangeiras por

empréstimo tem a ver com a mudança tecnológica que se impõe no mundo atual,

conectando sociedades e catapultando um sem número de informações por segundo.

O desempenho da nossa mente e, por consequência, o funcionamento do léxico

acontecem do mesmo modo, que devem ser organizados, então, para modelar um

espaço que está em constantes revoluções.

As bases das formações acima, ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’, respectivamente,

estão relacionadas à área da informática e, com o empréstimo, são indexadas no léxico

do português, i.e., tornam-se entradas lexicais. A necessidade dos falantes do

português brasileiro em expressar ações que envolvam essas unidades lexicais faz com

que elas sejam unificadas em uma construção particular da língua, a saber [[x]Nj ar]Vi.

No caso, [x] é uma variável que representa as palavras que instanciam novo material

lexical. Interessante notar que no caso de ‘delete’ apaga-se a informação de que era

um verbo em inglês, mas focaliza-se a função da tecla ‘delete’, que é a de apagar

alguma informação no computador. Por operações cognitivas, como a metonímia e a

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55

integração conceptual, o sentido de ‘deletar’ é expandido, possibilitando seu uso em

outros contextos, como o da frase abaixo.

(1) Coluna Neura: Os homens que deletei da minha vida depois dos 20. 4

Os três verbos citados anteriormente, ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’, têm em

comum o esquema do qual são instanciados. Esse esquema se caracteriza por ser o

mais produtivo na formação de verbos no português, o que aumenta a probabilidade

de que novos itens venham a ser formados a partir de sua unificação.

Inconscientemente, o falante nativo do português brasileiro reconhece que um

considerável grupo de verbos do português se caracteriza por ativar o esquema

[[x]Njar]Vi, o que o torna mais entrincheirado no léxico. Assim, sempre que surge a

necessidade de instanciar um novo verbo, esse esquema é acessado mais

rapidamente, pelo fato de já estar programado na nossa mente como o mais

produtivo.

Cabe destacar que essas operações aconteceram com base em palavras, e não

em morfemas, remetendo-nos ao modelo palavra-paradigma, um dos vieses pelos

quais a morfologia pode ser analisada. A linguística pós-bloomfieldiana se ocupou em

verificar os itens morfológicos a partir de morfemas, posição que foi abandonada, com

o avanço dos estudos gerativistas, em favor de um modelo que atribuísse a significação

à palavra e às relações entre os itens do léxico (ARONOFF, 1976). Basilio (1980: 42)

endossa essa proposta de processos que ocorrem no léxico ao afirmar que

4 http://opeixefresco.com/. Acessado em 23.10.11

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56

dentro de uma abordagem gerativa, palavras são formadas por regras e/ou

analisadas por regras, de modo que o estabelecimento de entidades como

morfemas ou afixos, como elementos separados de regras e bases, constitui uma

repetição desnecessária e, provavelmente, indesejável.

No modelo construcionista em que nos baseamos (BOOIJ, 2010; BYBEE, 2010;

GOLDBERG, 1995), a palavra também é o centro das investigações, tanto que é

marcada com um índice subscrito que a identifica no léxico. Os afixos, ao contrário,

não recebem marcação, por não serem livres, mas aparecerem vinculados a uma

construção. Isso reforça que, em um modelo baseado em palavras, os afixos não são as

unidades analisadas, mas atuam na instanciação de novos itens através de construções

ou esquemas.

Tomasello (2003) declara que a aquisição de esquemas acontece a partir do

uso, ou seja, através do armazenamento em nossa mente de casos concretos de uso. O

falante é capaz de realizar generalizações sobre representações com propriedades

similares e adquirir esquemas genéricos que subjazem os dados relacionados. Vemos

essa propriedade de generalização atuando nos exemplos ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’,

uma vez que o falante armazenou dados isolados terminados por ‘-ar’, percebeu as

similaridades entre as unidades e as particularizou no esquema genérico [[x]Nj ar]Vi.

Os esquemas são, de acordo com Rumelhart (1980: 34), estruturas simbólicas

de representação de conceitos genéricos que são estocados na memória. Em vez de

representar definições, esquemas representam conhecimento, que pode ser de

qualquer ordem (linguístico, enciclopédico ou compartilhado). Um esquema pode

incluir sob seu domínio outros subesquemas, que, por sua vez, podem se desdobrar

Page 57: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

57

em outros subesquemas. Esses dispositivos de conhecimento operam de maneira

dinâmica na nossa mente, sendo fomentados pelas nossas bases de conhecimento e

ativados por conexões de herança e entrincheiramento.

Segundo Goldberg (1995), as construções (ou esquemas5) não são estruturas

aleatórias, mas motivadas e organizadas a partir de generalizações que são feitas de

suas regularidades. As informações são, pois, compartilhadas pelos vários esquemas e

seus possíveis subesquemas, fazendo com que o custo de processamento seja menor

do que se for especificado em cada esquema. A autora diz que “ao postular hierarquias

gerais nas quais os níveis mais baixos herdam informação dos níveis mais altos, a

informação é armazenada eficientemente e de fácil mutação” (GOLDBERG, 1995: 72).

Podemos exemplificar essas relações de herança, que permitem a troca de

informações entre as construções, por meio do esquema genérico para a formação de

nomes em ‘-eiro’ no português. Gonçalves, Yacovenco & Costa (1998) demonstram

que o sufixo apresenta várias possibilidades de significação, como, por exemplo,

agente profissional (sapateiro, carteiro, pipoqueiro), agente habitual (funkeiro,

maconheiro, romeiro), recipiente (galinheiro, cinzeiro, açucareiro) e árvore (cajueiro,

mamoeiro, abacateiro). Pizzorno (2010), numa abordagem cognitiva, defende que

esses vários domínios conceptuais estariam relacionados a um centro prototípico com

a função de agente, do qual, por operações metafóricas e metonímicas, se projetariam

os demais sentidos, como a acepção de vegetal (palmeira, amendoeira). Gentílicos

como ‘mineiro’ e ‘brasileiro’ se relacionam metonimicamente com o centro agentivo

devido ao fato de designarem originariamente a pessoa que trabalhava nas minas e na

5 Os termos ‘construção’ e ‘esquema’ não fazem referência ao mesmo conceito, mas há uma extensa

discussão sobre qual seria a melhor nomenclatura para fazer referência a uma estrutura simbólica da mente humana. Não faremos, neste trabalho, distinção entre os dois usos, embora saibamos sobre as controvérsias. Para mais detalhes, ver Booij (2010).

Page 58: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

58

colheita de pau-brasil, respectivamente. Por metonímia, passaram a nomear os nativos

de um local. Paralelamente, o sentido de árvores se relaciona ao centro agentivo por

metáfora, já que o ‘abacateiro’ é uma árvore que produz abacate, a ‘jabuticabeira’,

uma árvore que dá jabuticaba, e assim por diante.

Há, portanto, entre as projeções dominiais, relações de herança, que fazem

com que os vários sentidos da construção [[x]Nj eiro]Ni estejam interligados. Em outras

palavras, os níveis mais baixos desse esquema geral podem herdar informações dos

níveis mais altos. No caso, são compartilhadas as informações semânticas do domínio

prototípico, que se caracteriza pela instanciação de agentivos.

De acordo com Goldberg (1995), ao menos, quatro links de herança fazem a

correspondência entre as construções.

(a) Links por polissemia, nos quais as extensões herdam informações sintáticas

e/ou morfológicas do centro;

(b) Links por subparte, em que uma construção é uma subparte de outra, existindo

de maneira independente;

(c) Links por instanciação, nos quais uma construção tem funções mais específicas

que a outra que a domina;

(d) Links por extensão metafórica, em que se capturam as relações metafóricas do

mapeamento entre as construções, explicitando que a construção dominante

projeta o sentido metafórico na construção dominada.

Esses links são necessários por estabelecerem que as conexões entre as várias

construções apresentam uma organização gramatical interna, em vez de projeções

Page 59: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

59

aleatórias. Assim, uma construção será motivada à medida que suas informações são

herdadas de outras construções da língua. Os verbos ‘deletar’ e ‘twittar’, por exemplo,

herdam as informações da construção [[x]Nj ar]Vi, da qual são instâncias.

Concomitantemente, a ativação dessas palavras reforça a produtividade desse

esquema no léxico, aumentando a probabilidade de formar novas palavras. Dito isso,

examinaremos, na próxima subseção, o entrincheiramento e a frequência, noções

diretamente relacionadas à questão da produtividade.

3.3. A relação entre uso e léxico

Demonstramos anteriormente que a criança apreende palavras isoladas e, a

partir das similaridades que são encontradas entre os itens armazenados, é feita uma

generalização, que possibilita o surgimento de um esquema geral. Uma vez instaurada

a categoria, os exemplos que embasaram a sua formação não são descartados, mas

permanecem armazenados na memória (BYBEE, 2010; LANGACKER, 1987).

Essa representação cognitiva é sensível a fatores externos, como a frequência

de uso (ou frequência de ocorrência), que corresponde ao número de ocorrências de

uma palavra em um dado texto (BAUER, 2001). A cada nova ocorrência de um item

lexical, o esquema que o instanciou é reforçado no léxico, pois sua ativação é

necessária para o processamento das contrapartes formal e semântica. Um indivíduo

adulto tem um estoque lexical relativamente estável, visto que as representações

mentais são construídas com base na experiência. As crianças em fase de aquisição, ao

contrário, sofrem um impacto maior a cada nova ocorrência, pois os esquemas ainda

não estão completamente institucionalizados.

Page 60: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

60

Outra consequência da alta frequência de uso é a manutenção de itens

irregulares na língua, como os particípios ‘feito’ (de ‘fazer’), ‘escrito’ (de ‘escrever’) e

‘aberto’ (de ‘abrir’). A permanência dessas formas na língua se deve à alta frequência,

que impediu a regularização do paradigma por analogia. Esse fenômeno é chamado de

Efeito de Conservação (BYBEE, 2010), que indica que dados altamente frequentes são

menos prováveis de serem reanalisados, ao passo que os menos frequentes, por serem

menos acessados, são regularizados. No período de aquisição, a criança ainda não

acumulou informação suficiente para distinguir um dado mais frequente de outro

menos, o que faz com que a maioria dos dados irregulares seja reanalisada por força

do paradigma (diante disso, é natural escutarmos ‘fazido’, ‘escrevido’ ou ‘abrido’).

Por serem altamente frequentes, as palavras irregulares não são acessadas

pelos esquemas, sendo armazenadas isoladamente. As formas participiais acima

citadas não são instanciadas pelo esquema de particípio do português [[x]Vj do]Vi, ao

contrário dos itens ‘amado’ (de ‘amar’), ‘vendido’ (de ‘vender’) e ‘partido’ (de ‘partir’).

Os particípios ‘feito’, ‘escrito’ e ‘aberto’ são, então, entrincheirados no léxico. Croft &

Cruse (2004) lembram que, de acordo com o modelo de uso, as formas irregulares

estão entre as palavras mais frequentes no léxico, pois serão regularizadas, se seus

índices de frequência não forem altos o bastante. Nesse aspecto, percebe-se que a

frequência interfere na manutenção de formas irregulares no léxico, porque no caso

de uma forma irregular ter baixa frequência “sua representação não será

suficientemente entrincheirada e reforçada pelo uso, e, então, o esquema regular

assume o controle de produção da flexão relevante” 6 (CROFT & CRUSE, 2004: 293).

6 its representation will not be sufficiently entrenched and reinforced through use, and so the regular

schema will take over in the production of the relevant inflection.

Page 61: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

61

Um esquema também pode ser entrincheirado, pois, como dissemos, a cada

nova ocorrência de uma palavra em diferentes contextos sociodiscursivos, a

representação mental é reforçada. Portanto, um esquema entrincheirado é,

necessariamente, produtivo, visto que a sua recorrência favorece o recrutamento de

novas palavras. Verbos terminados por ‘-ar’, por exemplo, são recorrentes em grau

máximo no português, fazendo com que, consequentemente, o esquema que os

instancia seja entrincheirado. Como o esquema [[x]Nj ar]Vi é reforçado na memória, o

acesso de suas propriedades é mais rápido, ou seja, o falante leva menos tempo para

processar todas as informações necessárias para analisar uma palavra de [[x]Nj ar]Vi.

Assim, novas palavras tendem a ser instanciadas por esse esquema no português,

como foi demonstrado com ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’.

A criação dessas novas palavras parte de um processo analógico, cujos

mecanismos de processamento permitem que posições esquemáticas sejam usadas

produtivamente. As palavras ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’ são unificadas em um padrão

estocado na mente do falante por analogia com um grupo frequente de palavras que

compartilham a terminação em ‘-ar’ e a ideia de causatividade, entre outras

propriedades. Essa abordagem difere, portanto, do modelo de regras (ANDERSON,

1992; ARONOFF, 1976) por ser fortemente baseada na similaridade entre as várias

unidades do léxico. Uma palavra é provável de existir na língua, e não possível: a

formação de palavras é mais bem vista em termos de probabilidade, uma categoria

escalar, do que em termos de possibilidade, uma categoria discreta. Um esquema não

é medido, então, na ótica dicotômica de produtividade ou improdutividade, mas sob

um olhar gradiente do fenômeno.

Page 62: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

62

Vários pré-requisitos para um processo ser considerado produtivo foram

estabelecidos nas diferentes correntes dos estudos linguísticos, como demonstra

Bauer (2001). No modelo de uso (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004), são levadas em

consideração a frequência de uso e a frequência de tipo. Um embrião dessa proposta

já estava presente no trabalho de Nyrop (1908: 73), que afirma que “a vitalidade de

um sufixo depende acima de tudo de sua frequência de uso (...) Quanto mais um sufixo

é usado, mais ele pode dar origem a extensões analógicas” 7. A principal diferença

dessa noção para a do modelo capitaneado por Bybee é a existência de esquemas.

Para Bybee, os esquemas – e não os afixos – são mais produtivos ou menos produtivos,

já que afixos estão sempre vinculados a uma construção gramatical.

O segundo fator considerado ao tratar de produtividade, a frequência de tipo,

refere-se ao número de palavras numa língua que são instanciadas por um

determinado esquema sob análise. A produtividade é diretamente afetada pelo

número de itens participantes, pois quanto mais palavras uma construção instancia,

mais ela se torna produtiva. É um paralelo à questão da similaridade: se novos itens

são formados por analogia com um grupo já existente no léxico, esse grupo tem de ser

robusto o bastante para que a probabilidade de um esquema formar novos itens seja

maior.

Enquanto regras são determinadas por uma situação default, esquemas são

moldados pelo número de tipos, visto que o falante só consegue conceptualizar um

esquema linguístico a partir da percepção de semelhanças entre alguns dados. A

produtividade de um processo seria, então, o resultado da conjugação entre os valores

de frequência de tipo e o número de ocorrências no discurso. Um esquema com baixa

7 La vitalité d’un suffixe dépend surtout de la fréquence de son emploi (…) Plus un suffixe est employé,

plus il est capable d’extensions analogiques.

Page 63: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

63

frequência de uso e alta frequência de tipo será mais produtivo, como é demonstrado

no gráfico abaixo. Tal esquema teria, com isso, maior força lexical, que corresponde à

probabilidade de instanciar novos itens.

Gráfico 1: maior grau de produtividade

Ao contrário, um esquema com alto índice de frequência de ocorrência e baixo

valor de frequência de tipo será menos produtivo, porque o esquema não será

entrincheirado no léxico, nem terá força para produzir novos itens. Esse padrão, que

tem baixa força lexical, é apresentado no gráfico 2.

0

0,5

1

[+ produtivo]

Frequência de tipo

Freq

uên

cia

de

uso

Page 64: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

64

Gráfico 2: menor grau de produtividade

3.4. Operações de conceptualização no léxico

A Linguística Cognitiva tem se preocupado em descrever e analisar como

compreendemos alguns usos linguísticos da forma como o fazemos, muito embora não

tenhamos, como falantes, consciência desses fenômenos. Os mecanismos que

habilitam nossa cognição a atuar em quaisquer áreas, como a linguística, a matemática

ou a artística, surgem de nossa relação com o meio que nos cerca. Sendo assim,

mecanismos como a metáfora e a metonímia são estruturadores do nosso

pensamento, e não apenas floreios literários. Igualmente, as posições que adotamos

no mundo definem a perspectiva como observamos o mesmo.

A seguir, pretendemos delinear algumas, dentre as inúmeras, operações

cognitivas que ocorrem nos fenômenos linguísticos, apontando sua correspondência

com o léxico.

0

0,5

1

[- produtivo]

Frequência de tipo

Freq

uên

cia

de

uso

Page 65: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

65

3.4.1. Ajuste Focal

Langacker (1987) define ajuste focal (do inglês ‘focal adjustment’) como as

variações pelas quais uma mesma situação pode ser concebida. Em uma cena de

roubo, por exemplo, pode-se adotar a perspectiva do ladrão, a da vítima, ou ainda

focalizar o objeto que está sendo roubado. O significado que o falante pretende expor

pode se modificar, dependendo de qual elemento seja posto no foco, podendo,

inclusive, indicar a ideologia do locutor.

O clássico estudo de Sweetser (1999) sobre a modificação adjetival demonstra

que a linguagem é moldada pelas operações de ajuste focal, pois um mesmo adjetivo

pode ativar sentidos diferentes de acordo com o elemento modificado da construção.

Na construção ‘maçã vermelha’, ativa-se a parte externa da fruta, mas em ‘goiaba

vermelha’ focaliza-se o interior da fruta. Os diferentes sentidos ativados pelo mesmo

adjetivo têm a ver com o perfilamento que é feito da cena, ou seja, qual propriedade é

posta em evidência. Em ‘caneta vermelha’, por exemplo, pode-se pensar tanto na cor

do plástico do objeto, quanto na cor da tinta da caneta.

Os ajustes que são feitos de uma mesma situação podem ser de três ordens:

através de seleção, que determina quais aspectos da cena são evidenciados; por

perspectivização, na qual a posição adotada pelo falante determina a visão de cena; e

por abstratização, que se refere ao grau de especificidade da cena. Interessa-nos,

nesta dissertação, o ajuste focal por seleção.

Almeida et aii (2009) recorrem ao exemplo da hipotenusa para explicar o

conceitos de base e perfil. Para entendermos o que representa uma hipotenusa,

devemos saber previamente o que é um triângulo retângulo. Na figura fornecida pelos

Page 66: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

66

autores, a hipotenusa é perfilada (linha mais grossa), enquanto o ângulo reto do

triângulo figura como a base, ou o pressuposto da cena.

Figura 1: perfilamento da hipotenusa (retirado de ALMEIDA et alii, 2009)

Na formação de ‘carcereiro’ e ‘prisioneiro’, temos bases (cárcere e prisão,

respectivamente) que, em princípio, ativam o mesmo conceito, um lugar de detenção.

No entanto, as instanciações que resultam da unificação de ‘cárcere’ e ‘prisão’ no

esquema [[x]Nj eiro]Ni evocam diferentes significados. Enquanto ‘carcereiro’ faz

referência à pessoa responsável por vigiar o lugar, ‘prisioneiro’ corresponde ao

indivíduo cuja liberdade foi cerceada. A diferença reside no modo como a mesma cena

foi perfilada, ou seja, se o foco é em quem fica fora ou dentro do lugar. Com isso,

percebemos que o mecanismo de ajuste focal opera no léxico através da seleção de

que sentido será compatibilizado na construção.

Essa é uma alternativa para verificar casos que foram classificados como

quebra de bloqueio8 na literatura morfológica, pois acontece, na realidade, a seleção

de diferentes sentidos de uma mesma palavra. No par contação/ contagem (LEMOS DE

SOUZA, 2010), por exemplo, há diferentes perfilamentos do verbo contar:

8 Noção proposta por Aronoff (1976) que prevê que uma forma não ocorrerá dada à existência de outra.

Para maiores informações sobre o assunto, consulte Aronoff (1976), Basilio (1980) e Rocha (2008).

Page 67: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

67

(2) Naquela escola, há um projeto de contação de histórias.

(3) A contagem de votos terminou de madrugada.

Como afirma Soares da Silva (2006: 304), devemos nos lembrar do “impacto

destes ajustamentos na extensão semântica e polissemia de uma palavra ou outra

unidade linguística: a formação de sentidos diferentes correlaciona-se com a variação

de seleção de facetas e de domínios cognitivos de uso”. Nas formações de novas

palavras, então, serão selecionados sentidos das palavras para se compatibilizarem ao

sentido do esquema, reforçando a proposta de verificar os fenômenos linguísticos sob

a ótima do significado, desenvolvida nos trabalhos da Linguística Cognitiva.

3.4.2. Metáfora

Um dos pilares de sustentação do pensamento cognitivista, a metáfora

ressurgiu como uma operação que permeia a cognição, e não apenas a linguagem. Isso

se reflete na defesa que Lakoff & Johnson (2002 [1980]: 19) fazem sobre o tema: “nós

descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não

somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação”.

Em linhas gerais, a metáfora é o entendimento de um domínio em termos de

outro. A direcionalidade do mapeamento é, majoritariamente, de um domínio mais

concreto para um mais abstrato (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; SWEETSER, 1990),

já que compreendemos um evento mais abstrato a partir de uma experiência. O

consagrado exemplo da metáfora AMOR É UMA VIAGEM (LAKOFF & JOHNSON, 2002

[1980]) ilustra a projeção entre os dois domínios, pois temos um domínio-fonte mais

Page 68: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

68

concreto, VIAGEM, que nos permite compreender um conceito mais abstrato presente

no domínio-alvo, AMOR.

(4) Veja a que ponto chegamos.

Teremos que simplesmente seguir caminhos separados.

Eu acho que nossa relação não vai dar em lugar nenhum.

O nosso casamento está encalhado.

Tem sido uma estrada longa e esburacada.

A metáfora também repercute nos fenômenos lexicais, à semelhança do ajuste

focal. As várias extensões de sentido do verbo ‘botar’ (exemplos em (5)) são motivadas

por metáfora (BATORÉO & CASADINHO, 2009), bem como a polissemia da preposição

‘até’, que relaciona os domínios de espaço, tempo, quantidade e qualidade

metaforicamente, como nos exemplos em (6) (ÁLVARO, 2009).

(5) Botar discurso.

Botar a alma para fora.

(6) Eliana viaja até Juiz de Fora, sempre.

Seu pai volta até domingo.

Edu ganha até R$3.000,00 nesses trabalhos.

Até juízes reconhecem que a demora é o principal fator de impunidade.

Na próxima subseção, tratamos da metonímia, outro processo cognitivo que

tem sido bastante explorado pelos estudos cognitivistas.

Page 69: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

69

3.4.3. Metonímia

Os comentários feitos para a metáfora podem ser estendidos para os casos de

metonímia, pois ambos são mecanismos de conceptualização do mundo e

estruturadores do nosso pensamento.

A metonímia se caracteriza como uma operação cognitiva em que uma

entidade se refere à outra, sendo ambas relacionadas. Na frase ‘o Paulo Coelho ainda

não chegou às livrarias’, não pressupomos a presença física do escritor Paulo Coelho,

mas tomamos o sentido como os livros escritos por ele.

Nos processos de formação de palavras do português, podemos citar o caso do

sufixo ‘-ão’ (GONÇALVES et alii, 2009) que apresenta a relação continente/ conteúdo,

como nos exemplos em (7).

(7) E o único ‘copão’ de refrigerante está inacessível. Todos estão pela metade e só

aquele está mais cheio.

Meteu a mão no bolso e tirou o ‘carteirão’ de dinheiro.

Bateu um ‘pratão’.

A palavra ‘copão’ em (7) não representa necessariamente um copo grande, mas

um copo repleto do conteúdo (refrigerante). Em ‘carteirão’ e ‘pratão’, percebe-se a

mesma relação, uma vez que não designam elementos grandes, mas com dinheiro e

comida em excesso, respectivamente.

Page 70: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

70

3.5. Resumindo

Neste capítulo, traçamos um panorama das noções mais caras às pesquisas em

Linguística Cognitiva. O movimento de confluência de teorias, pelo qual se caracteriza,

permite o diálogo com outros campos de estudo sobre a cognição, como a

antropologia e a psicologia. A consequência disso é a observação de operações, antes

definidas como estritamente linguísticas, atuando em outras áreas do pensamento

humano.

Page 71: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

71

MÉTODOS E CORPORA

Se uma das formas possui algum tipo de vantagem sobre a outra na luta

evolutiva (...), este fato deve resultar em seu favorecimento durante o processo

de mudança.

Anthony Julius Naro1

Pesquisar a produtividade de um processo morfossemântico que atua na

ampliação do léxico possibilita lidar com fórmulas probabilísticas e observar como o

falante processa, armazena e utiliza essas unidades lexicais. É preciso, pois, lançar mão

de uma metodologia capaz de apresentar resultados confiáveis que permitam a

confirmação dos questionamentos feitos durante a análise dos dados. Também é

necessário contar com amostras de textos nas quais possam ser coletados dados que

corroborem essas hipóteses. Este capítulo tem, portanto, a finalidade de explicar que

percursos trilhamos para tentar responder as principais questões deste trabalho. Em

4.1, comentamos nosso principal corpus, composto de verbos colhidos no Houaiss, as

consultas que foram feitas a dicionários etimológicos e o cálculo estatístico da

frequência de tipo. Em 4.2, falamos da frequência de ocorrência e quais corpora foram

utilizados. Já em 4.3, estamos interessados em descrever a metodologia empregada no

preparo e na análise do experimento linguístico. Finalmente, em 4.4, são sumarizadas

as principais informações discutidas no capítulo.

4.1. O corpus coletado no Houaiss

1 Mollica & Braga (2008: 22).

4

Page 72: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

72

A amostra de dados utilizada neste trabalho foi coletada na versão eletrônica

do Dicionário Houaiss e contém 726 verbos distribuídos por 4 construções de

circunfixação: [a [x]Nj ar]Vi (‘abafar’ e ‘acabar’), [en [x]Nj ar]Vi (‘embaçar’ e ‘enroscar’),

[a[x]Nj ecer]Vi (‘abastecer’ e ‘amortecer’) e [en [x]Nj ecer]Vi (‘emudecer’ e ‘endoidecer’).

Pode-se perceber que, nos circunfixos [en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, uma vogal nasal

pode ocupar o onset da segunda sílaba (‘enaltecer’ e ‘emudecer’) ou a coda da

primeira (‘entortar’ e ‘empobrecer’) e ter diferentes representações grafemáticas.

Assumimos, então, uma única representação abstrata, que foi demonstrada entre

colchetes, para as variantes ortográficas.

Durante essa etapa da pesquisa, foram anotados o ano de primeiro registro da

palavra, as bases que participaram na derivação dos verbos e as categorias gramaticais

das bases. Essas informações estão dispostas em tabelas no Anexo I desta dissertação.

Esse corpus foi o ponto de partida para a análise dos circunfixos sob a ótica

construcional (capítulo 5) e para o estudo sobre a relação entre a frequência de tipo e

a produtividade morfológica (capítulo 6).

Nesse sentido, como estamos interessados em mensurar a produtividade de

cada construção, devemos investigar quais estão disponíveis no léxico do falante, nos

termos de Bauer (2001), ou quais estão mais entrincheiradas, nos termos de Bybee

(2010) e Croft & Cruse (2004). Isso requer um refinamento da noção de produtividade

(como foi abordado no Capítulo 3) que inclua não só a sincronia, mas também os

dados diacrônicos. Utilizamos, assim, a amostra composta de dados coletados no

dicionário Houaiss a fim de mapear a datação dos circunfixos ao longo da história da

língua.

Page 73: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

73

Na maioria dos casos, as informações empíricas, como a data do primeiro

registro de uma palavra ou sua etimologia, foram encontradas no Houaiss. Quando

essas informações não eram fornecidas pelo Houaiss, consultamos alguns dicionários

etimológicos (CUNHA, 1999; NASCENTES, 1955; SILVEIRA BUENO, 1967; e,

principalmente, MACHADO, 1973) para precisar a data de entrada dos itens lexicais ou

dirimir quaisquer dúvidas em relação à sua origem. Percebemos algumas divergências

entre os períodos registrados pelos dicionários para uma mesma palavra, o que nos

levou a adotar a datação mais antiga. Como exemplo, podemos citar o verbo

‘acostumar’, que, segundo o Houaiss, data de 1255, porém, de acordo com Machado

(1973), o registro é de 1358. Ou ainda o exemplo de ‘empunhar’, em que Machado

registra como de 1813, mas o Houaiss, do século XIV. Nesses casos, adotamos sempre

a data mais antiga.

Com o objetivo de medir a produtividade de um processo ao longo de vários

períodos, Lieber (2010) propõe uma fórmula matemática que consiste em verificar, em

um dicionário, quantas palavras de um determinado formativo são citadas pela

primeira vez em um determinado século e a quantidade de palavras que tiveram a

primeira datação no século correspondente, independentemente de terem sido

formadas por esse processo. Esses valores devem ser divididos a fim de encontrar uma

porcentagem que corresponderia à produtividade do processo morfológico naquele

século. O cálculo pode ser resumido na frequência de tipo de um processo X num

período de tempo Y com base numa mesma amostra. Após obtermos os resultados do

tempo Y, é feita a comparação com os resultados do tempo Y’. A fórmula adotada por

Lieber (op. cit.) é a seguinte:

Page 74: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

74

(1) P = n1 x 100 N

em que P é o valor da produtividade de um processo morfológico, n1 é o número de

palavras formadas pelo processo em uma determinada data e N é o número total de

palavras que o dicionário registra no mesmo período.

Para exemplificar, podemos observar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi no século XVIII.

São registradas 3 palavras (‘embrutecer’, ‘encalvecer’ e ‘enraivecer’) no dicionário

Houaiss com o circunfixo em questão e 8414 palavras têm a primeira datação no

mesmo período. O valor resultante deve ser multiplicado por 100, no qual o percentual

calculado é 0,013. Esse valor encontrado no século XVIII com base no dicionário

Houaiss deve ser, então, comparado com os valores do século XVII, XIX e assim por

diante, para visualizarmos um quadro de mudança na produtividade diacrônica.

Para realizar os cálculos estatísticos que serão apresentados no capítulo 6, foi

necessário saber a quantidade de palavras que tinham a primeira datação em cada

século. Esses números foram, gentilmente, disponibilizados pelo Instituto Antônio

Houaiss, responsável pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Um problema encontrado nessa proposta de Lieber (2010) é não haver

restrições ou especificações no número total de tipos (N), uma vez que não é feita

distinção entre palavras simples, como ‘parque’, e derivadas, como ‘embelezar’

(ambas do século XVI). Como o número representado por N, na fórmula em (1), abarca

tanto palavras simples como as não simples (formadas por derivação, composição,

cruzamento vocabular, truncamento etc), os resultados podem ser enviesados, pois

estaríamos cotejando dados que passaram por um processo derivacional (n1) e dados

Page 75: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

75

que podem ou não ser resultados de processos de formação de palavras (N). O mais

adequado seria excluir todas as palavras simples, incluindo apenas itens que passaram

por algum processo de formação de palavras. No entanto, esses valores não estão

disponíveis na plataforma eletrônica do dicionário Houaiss, nem estão registrados no

Instituto Antônio Houaiss. Diante dessa impossibilidade, assumimos o cálculo proposto

por Lieber, embora saibamos de suas limitações.

4.2. Os corpora de língua escrita

A partir dos resultados obtidos nos cálculos de produtividade dos processos de

circunfixação, é necessário confirmar as hipóteses levantadas com base em

frequências de ocorrência em corpora de textos escritos. Foram utilizadas três

amostras, duas com textos produzidos em sincronias passadas e uma com textos

literários do final do século XX.

Os dados diacrônicos foram obtidos a partir de dois diferentes projetos, um

português e um brasileiro, que estão disponíveis para consulta na Internet: o Corpus

Informatizado do Português Medieval (CIPM) e o Corpus Histórico do Português Tycho

Brahe (CHPTB). Esses corpora foram escolhidos por apresentarem uma robustez de

dados e serem disponibilizados por meio do acesso à Internet. Como foi necessário

verificar uma vasta quantidade de textos para obtermos resultados mais confiáveis,

seria indispensável o uso de textos disponíveis eletronicamente. Além disso, essas

amostram são bastante interessantes, pois reúnem textos de diversos tipos e de

diferentes autores num longo espaço de tempo. Para a análise da frequência, todos os

textos foram salvos em arquivos .txt.

Page 76: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

76

O CIPM é resultado de um projeto português que reúne textos escritos em

língua portuguesa do século XII ao XVI, além de textos do romance que vão do século

IX ao XII. O período anterior ao século XIV não apresentou dados significativos; logo,

selecionamos apenas alguns textos produzidos entre os séculos XIV e XVI2. Já a

plataforma virtual do CHPTB, da qual selecionamos textos que correspondem ao

período do século XIV ao XVIII, apresenta a possibilidade de o usuário buscar os textos

cronologicamente ou pela diferença de gênero textual, além de disponibilizá-los com

anotações sintáticas ou morfológicas.

Os pesquisadores que trabalham com dados retirados de corpus costumam

apontar que um dos fatores que pode influenciar os resultados é o tipo de texto ou

gênero textual. Como o CHPTB reúne cartas, atas, textos narrativos e dissertativos,

levantamos a hipótese, a princípio, de que a diferença no tipo de texto pudesse indicar

uma distribuição diferente dos circunfixos. Entretanto, os resultados a que chegamos

não se mostraram relevantes na seleção de determinada construção parassintética por

um tipo específico de texto. Comparemos, para exemplificar, os dados de [a[x]Nj ecer]Vi

e [en [x]Nj ecer]Vi em cartas. As cartas escritas por D. João III selecionaram apenas

verbos formados por [a [x]Nj ecer]Vi, mas as cartas trocadas entre Eça de Queirós e

Oliveira Martins não apresentam uma seleção categórica. Há, também, exemplos de

correspondências que apresentam preferência pelos verbos de [en [x]Nj ecer]Vi,

conforme indicam os valores da frequência de ocorrência nas cartas do missionário

Antônio Vieira:

2 A relação com os textos escolhidos está no Anexo II.

Page 77: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

77

[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi

Cartas, D. João III 100% 0%

Cartas, Eça de Queirós e Oliveira

Martins

71% 29%

Cartas, Pe. Antônio Vieira 22% 78%

Tabela 1: comparativo da frequência de palavras em relação à carta

Os dados na tabela 1 são uma pequena amostra de um comportamento

observado em todos os documentos do gênero carta, visto que não houve uma seleção

categórica por nenhum dos subesquemas analisados. Na verdade, em algumas cartas,

percebem-se mais palavras de um mesmo subesquema, e em outras, observam-se

mais dados de outro subesquema, sem que haja uma distribuição homogênea.

A análise de textos narrativos, como apresentado na tabela abaixo, tampouco

contribuiu para delinear um padrão de que construções seriam mais evocadas por

cada tipo de texto. Por exemplo, o texto do Marquês da Fronteira e d’Alorna

preferencia a construção [a [x]Nj ar]Vi, enquanto o de Bernardo Brito seleciona somente

a construção [en [x]Nj ecer]Vi. Assim, não foi percebido nenhum padrão de como as

formas se organizam nos textos, ou se algum texto poderia evocar alguma forma

específica. Neste trabalho, portanto, o fator textual não será abordado durante a

análise dos corpora, uma vez que não influencia diretamente o comportamento dos

subesquemas de circunfixação.

[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi

Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, Marquês da

Fronteira e d'Alorna

100% 0%

Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito 0% 100%

Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira de

Souza

65% 35%

Tabela 2: comparativo da frequência de palavras em relação ao texto narrativo

Page 78: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

78

A questão cronológica nos pareceu ser um fator mais relevante à análise à

medida que se relaciona à noção de produtividade diacrônica e implica entender como

o falante conceptualiza as construções de circunfixação em diferentes épocas. É

importante, pois, que adotemos uma perspectiva quanto às fronteiras que dividem os

períodos da língua portuguesa.

Galves et alii (2006) sintetizam as discussões em torno da periodização do

português, identificando três grandes fases: o Português Antigo, o Português Clássico e

o Português Moderno. O Português Antigo, também nomeado de Medieval,

corresponderia desde os primeiros documentos escritos até o século XVI. O segundo

período, quando algumas características encontradas em textos de hoje começam a

surgir, abarcaria desde o século XVI até o início do XIX. Já o Português Moderno é, em

geral, dividido entre Português Europeu e Português Brasileiro. O marco do PB seria o

processo de desenvolvimento de uma nova sociedade que, de acordo com Tarallo

(1993), apresenta as primeiras divergências entre o português de Portugal e o do

Brasil.

Dessa maneira, as amostras colhidas no CIPM e no CHPTB correspondem ao

Português Antigo e ao Português Clássico. Quanto ao Português Moderno, optamos

por selecionar textos escritos por falantes do português brasileiro, pois uma de nossas

intenções é compreender o processamento da parassíntese por falantes de português

brasileiro. Buscamos, para o século XIX, textos da literatura brasileira que

representaram um retrato da época e gozaram de prestígio na sociedade.

Por serem recentes, os textos literários produzidos no século XX estão

protegidos legalmente por direitos autorais, o que impede a sua consulta eletrônica no

Page 79: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

79

sítio do Domínio Público. Diante disso, utilizamos o banco de dados do European

Corpus Initiative - Brasil (doravante ECI-BR) – que integra o projeto eletrônico AC/DC,

reconhecido pela sua metodologia eficiente – para buscar os dados produzidos em

português brasileiro ao longo do século XX. O ECI-BR disponibiliza uma amostra de

fragmentos de textos escritos que conta com 724.008 palavras.

Para que não houvesse discrepâncias em relação ao tamanho dos textos,

estabelecemos uma margem entre 500.000 e 600.000 palavras por século, conforme

pode ser visto na tabela a seguir. A única ressalva se deve ao século XX, porque, como

dissemos, não conseguimos encontrar um corpus que mantivesse a margem

estabelecida. Essa decisão, entretanto, não enviesou os resultados.

Quantidade de palavras nas amostragens

XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX

504183 590942 574042 563636 508567 530754 724008

Tabela 3: tamanho das amostras diacrônicas utilizadas do PE e do PB

Utilizamos como ferramenta de busca o programa computacional AntConc

versão 3.2.1, que retorna a frequência das palavras a partir de uma seleção feita com

base na terminação desejada. O software, desenvolvido por Laurence Anthony, da

Universidade de Waseda, no Japão, pode gerar listas de concordância, que permitem

comparar os diferentes usos de uma mesma palavra, além da frequência desse item.

Como foi dito, os textos dos corpora citados acima tiveram de ser salvos em arquivos

.txt para que o programa os identificasse. O programa Excel 2010, que faz parte do

pacote do Microsoft Office, foi utilizado como ferramenta de cálculos estatísticos,

Page 80: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

80

porque comporta uma grande quantidade de dados e possibilita a confecção de

gráficos e tabelas comparativas.

Calculamos o percentual dos verbos de circunfixação em relação ao número

total de ocorrências em cada amostra separadamente. Isso nos permitiu observar

isoladamente dados de cada circunfixo no período do século XIV ao XX. A fórmula

utilizada foi a seguinte:

(2) P = n2 x 100 N’

em que n2 é o número da frequência de ocorrência de uma palavra em um dado

tempo e N’ é o número total de ocorrências no corpus.

4.3. O experimento linguístico

Nossas principais hipóteses estão ancoradas, como será visto no capítulo 6, na

relação escalar de produtividade dos circunfixos, diacrônica e sincronicamente.

Elaboramos, portanto, um experimento linguístico, com base em Lima (1999),

objetivando confirmar os resultados encontrados nas frequências de tipo e de uso.

4.3.1. Método do questionário

Duzentos sujeitos, falantes do português brasileiro, participaram do estudo.

Uma de nossas preocupações foi controlar as variáveis não linguísticas que poderiam

estar correlacionadas ao emprego de uma determinada construção parassintética

Page 81: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

81

(MOLLICA & BRAGA, 2008). Para isso, observamos o gênero, a idade e a escolaridade

dos nossos informantes. Em relação à idade, a divisão estabelecida previa que os

informantes com até 18 anos seriam agrupados sob o rótulo de Adolescentes; aqueles

que tinham entre 18 e 25 anos foram considerados Jovens; os que tinham até 60 anos

foram rotulados de Adultos; e de 61 em diante, Idosos.

Quanto à escolaridade, utilizamos cinco fatores: Ensino Fundamental, Ensino

Médio, Ensino Superior (cursando), Ensino Superior (completo), Pós-graduação. Caso o

informante marcasse as opções Ensino Superior (cursando), Ensino Superior

(completo) ou Pós-graduação, era solicitado que informasse também a área de

formação acadêmica: Letras, Direito, Astrofísica, entre outros.

Contamos com o auxílio da ferramenta JotForm, que possibilitou a confecção

de formulários online através de uma série de comandos e recursos de programação. O

questionário, depois de pronto, foi, então, enviado aos informantes por correio

eletrônico. Resolvemos utilizar a Internet como meio de difusão do experimento por

permitir o controle de um maior número de participantes, além de as escolhas dos

informantes serem enviadas à minha caixa de e-mail assim que respondidas, o que

facilitou a análise dos resultados e possibilitou o acompanhamento do experimento

quase instantaneamente.

Nenhuma informação foi passada aos informantes sobre o conteúdo da

pesquisa, assim como a participação dos mesmos se deu de forma voluntária e

anônima. No questionário, foi pedido que não fossem consultados dicionários ou sítios

de Internet e que avaliassem cada item de acordo com sua intuição de falante nativo.

Havia, também, dez distratores que foram eliminados na contabilidade do resultado

final.

Page 82: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

82

Para contabilizar os resultados, adotamos o procedimento de aplicar um valor

para cada um dos fatores que compunham o grupo de fatores, bem próximo ao que se

encontra em trabalhos de sociolinguística de orientação variacionista (MOLLICA &

BRAGA, 2008). Submetemos essas informações ao software Goldvarb X (LAWRENCE et

alii, 2001) para darmos um tratamento estatístico aos resultados, possibilitando o

cotejo dos diferentes subesquemas em relação às variáveis sociais adotadas (gênero,

idade e escolaridade).

4.3.2. Conteúdo do questionário

O experimento foi dividido em três grupos para que o sujeito não ficasse

condicionado a dar sempre as mesmas respostas. O grupo I consiste em uma escolha-

forçada do tipo 1x2, em que eram dadas sentenças incompletas para que o informante

escolhesse a opção que melhor se ajustasse ao sentido da frase. Um exemplo se

encontra em (3):

(3) Os resíduos hospitalares foram __________ pela equipe da clínica médica.

o alixeirados

o enlixeirados

Sem mencionar aos “informantes” os verdadeiros propósitos do experimento,

testamos, nesta parte, como ocorre o processamento lexical dos circunfixos em

palavras inventadas. Buscamos compreender quais subesquemas seriam mais

acessados se os falantes tivessem de criar novo material lexical. Assim, teremos mais

Page 83: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

83

dados que nos habilitem a indiciar quais construções são mais produtivas no atual

estágio da língua.

No grupo II, apresentamos dados que passaram por uma concorrência entre

construções de parassíntese, mas que a frequência tornou apenas um membro do par

acessível pelo falante do século XXI. É o caso de ‘amadurar’ e ‘amadurecer’, por

exemplo, que são as opções para completar a frase em (4):

(4) Horácio começou a ___________ quando passou a trabalhar.

o amadurar

o amadurecer

O grupo III, por fim, visa a corroborar o fato de que nada impede que dois

esquemas diferentes instanciem palavras com a mesma base, como ‘empossar’ e

‘apossar’. Verificamos, então, se o falante percebe que são focalizados sentidos

diferentes da base. Foi solicitado, nessa etapa, que os informantes marcassem a(s)

palavra(s) de cada par que fazia(m) parte de seu léxico internalizado, como no exemplo

em (5). Poderiam ser marcadas ambas as palavras, apenas uma delas, ou nenhuma, de

acordo com o conhecimento lexical de cada falante.

(5) Marque a(s) palavra(s) que você conhece

□ Encampar

□ Acampar

Page 84: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

84

4.4. Resumindo

Neste capítulo, relatamos o modo como foram colhidos os dados no Houaiss e

em três corpora de textos em português (CIPM, CHPTB e ECI-EBR). Discutimos também

cálculos estatísticos, formulados com base no trabalho de Lieber (2010), que nos

viabilizaram encontrar os percentuais de frequência de cada construção ou unidade

lexical em um determinado período de tempo. Abordamos também os métodos

empregados na confecção de um experimento linguístico e quais foram nossos

objetivos em cada etapa do teste.

Page 85: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

85

CONSTRUÇÕES PARASSINTÉTICAS

o estudo do significado é o estudo de como as palavras surgem no contexto de

atividade humana e como são usadas para evocar representações mentais.

Seana Coulson1

Neste capítulo, investigamos o comportamento dos subesquemas de

circunfixação através do prisma da semântica cognitivista. Para tanto, recorremos, em

5.1, aos conceitos de mecanismos de conceptualização, ajuste focal (LANGACKER,

1987), metáfora e metonímia (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]).

Partindo de estudos anteriores, identificamos que as características

subjacentes ao processo de circunfixação são a instanciação de novos verbos

(MARTINS, 1991) e a ideia de resultatividade veiculada pela construção lexical (LEITE,

2006). Explicamos, em 5.2, cada um dos subesquemas examinados neste trabalho,

nomeadamente [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi. São

observados, também, os diferentes sentidos ativados em função de fatores

sociodiscursivos e a recuperabilidade das formas pelos falantes.

Por fim, propomos a conexão entre os vários subesquemas que compõem a

circunfixação através de uma rede esquemática (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004),

por meio da qual as unidades instanciadas se reforçam através do uso em textos, orais

1 the study of meaning is the study of how words arise in the context of human activity, and how they

are used to evoke mental representations (COULSON: 2001, p. 17).

5

Page 86: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

86

ou escritos. Haveria, assim, um núcleo prototípico do qual espraiariam subesquemas

mais específicos, que manteriam o fluxo de informação com o esquema central por

meio de links de herança (GOLDBERG, 1995).

5.1. Operações de conceptualização e resultatividade

Martins (1991), ao examinar a regularidade de verbos parassintéticos, destaca

um traço semântico que tem reflexos no formalismo, mas que, muitas vezes, não

recebe o devido tratamento em análises morfológicas: a formação de novos verbos na

língua a partir de nomes. Esse fato – que perpassa a parassíntese, a sufixação e a

conversão, por exemplo – estaria, para a autora, diretamente relacionado à nossa

necessidade de expressar ações a partir de eventos. Essa proposição, com a qual

concordamos, reflete o modo como ocorrem os processamentos cognitivos, ou seja,

indica a motivação que leva os falantes a expressarem propriedades de adjetivos e

substantivos por meio de processos. Em termos cognitivistas, a pergunta que deve ser

feita diz respeito a conceptualizarmos uma cena holisticamente ou em partes que se

sucedem.

Langacker (1987, 1991, 2008a, 2008b) defende que o traço de dinamicidade é

um dos mecanismos que compõe as operações de conceptualização, pois, nesse caso,

a saliência de aspectos referentes à conceptualização da cena é mutável e, por isso,

dinâmica. Em outras palavras, “o escaneamento (...) se relaciona a de que modo os

aspectos da cena são percebidos, se visualmente ou de outra maneira, e como dão

origem a representações conceptuais” 2 (EVANS, 2007: 186, 187). Esse traço dinâmico

2 scanning (...) relates to how the aspects of a scene are perceived, visually or otherwise, and give rise to

a conceptual representation.

Page 87: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

87

estaria presente na nossa capacidade de apreender relações e compreender eventos

através de escaneamentos, que são mecanismos que permitem a integração dos

trechos constitutivos de uma cena em uma representação aproximada do real

(LANGACKER, 2008b: 110). O escaneamento pode ser de dois tipos: estático ou

processual.

O exemplo, providenciado por Langacker (2008a), de uma bola rolando um

declive, pode ilustrar os dois modos de processamento, a depender do escaneamento

que estiver sendo mapeado. Em uma das perspectivas, podemos conceptualizar essa

cena como uma sequência de imagens que se sucedem e permitem compreender a

trajetória do objeto, como na figura 4.

Figura 1: escaneamento dinâmico (LANGACKER, 2008a)

O evento de a bola rolar é representado, em cada retângulo, no tempo ti em

uma determinada posição, enquanto a conceptualização acontece no tempo Ti. Não

necessariamente o acontecimento de um evento e a sua conceptualização se dão no

mesmo intervalo de tempo, o que possibilita que ti e Ti tenham valores de aplicação

diferentes. Por exemplo, podemos conceptualizar, em um tempo futuro (Ti), uma ação

que ocorreu no passado (ti). Na figura acima, o estímulo (o movimento da bola) é

Page 88: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

88

escaneado sequencialmente, tal que no instante Ti o único trecho acessado

corresponde a ti, o que nos permite ter uma concepção muito próxima do evento que

se desenrolou em ti. Temos, então, o escaneamento dinâmico.

Não é isso o que acontece no escaneamento estático, como é exemplificado na

figura 2, retirada de Langacker (2008a).

Figura 2: escaneamento estático (LANGACKER, 2008a)

No escaneamento estático, cada trecho da cena não é acessado

separadamente, mas cumulativamente, i.e., no tempo Ti todas as configurações da

cena que se desenrolaram até então (t1 – ti) são sintetizadas, de modo que a sua

representação se torne holística.

Como estamos lidando com um léxico concebido a partir da interação de

símbolos, ou seja, elementos formais que evocam significados (BASILIO, 2011), todo

esse aparato cognitivo é refletido no ambiente lexical. Se, conforme Langacker (2008a)

prediz, a semântica não for apenas o estudo das relações de condição de verdade, mas

também das operações de conceptualização, o léxico torna-se o locus de manifestação

da experiência, do uso e das habilidades cognitivas. Faz sentido, então, compreender

Page 89: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

89

que os diferentes tipos de escaneamento correspondem a diferentes estruturas da

gramática, como o verbo, o adjetivo, ou o substantivo, por exemplo.

De acordo com Langacker (2008a), o escaneamento dinâmico está diretamente

relacionado ao perfilamento realizado por verbos, visto que a relação processual é

consequência do acesso sequencial de elementos de uma cena. Ao contrário, o

escaneamento estático está para nomes, que, em geral, não perfilam relações, nem

mudanças de estado.

Com isso, percebemos que a motivação semântica que subjaz processos de

formação de verbos se relaciona à necessidade de expressar conceptualizações

dinâmicas a partir de mapeamentos estáticos de um estímulo, uma vez que

instanciamos construções verbais a partir de nomes (substantivos e adjetivos).

Sobre a característica processual dos verbos, que captura seu traço dinâmico,

vale citar Langacker (1991: 81), que afirma que:

uma predicação processual envolve uma contínua série de estados (...) e emprega

um escaneamento dinâmico para acessar essa estrutura complexa. Um processo

contrasta com sua correspondente relação atemporal ao elaborar um

‘perfilamento temporal’, definido como a duração do tempo concebido [ti] pelo

qual a relação perfilada é escaneada sequencialmente3.

Similarmente, argumenta Lemos de Souza (2010), com exemplos da formação

de nomes deverbais no português, em favor da distinção dos dois tipos de

escaneamento cognitivo. De acordo com o autor, essa diferença justifica, junto a

3 a processual predication involves a continuous series of states (…) and it employs sequential scanning

for accessing this complex structure. A process contrasts with the corresponding atemporal relation by having a ‘temporal profile’, defined as the span of conceived time through which the profiled relationship is scanned sequentially.

Page 90: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

90

outros fatores, a ocorrência de ‘ligação’ e ‘ligamento’, ‘armação’ e ‘armamento’, e

‘apartação’ e ‘apartamento’, como vemos abaixo.

(1) ‘ligação’ ‘ato de ligar’, interpretação verbal

‘ligamento’ ‘articulação entre os ossos’, interpretação nominal

(2) ‘armação’ ‘ato de armar’, interpretação verbal

‘armamento’ ‘conjunto de armas’, interpretação nominal

(3) ‘apartação’ ‘ato de apartar’, interpretação verbal

‘apartamento’ ‘tipo de moradia’, interpretação nominal

Nos itens instanciados pelo esquema [[x]Vi – ção]Nj, percebemos que o

escaneamento ocorre sequencialmente, enquanto nas palavras de [[x]Vi – mento]Nj

compreendemos a cena holisticamente. Esse seria um dos fatores que contribuiria

para impedir o bloqueio das formas que selecionam a mesma base.

Nem sempre a mudança categorial implica em mudança no tipo de

conceptualização, pois, como vimos nos casos de [[x]Vi – ção]Nj, tanto o verbo-base

como o substantivo resultante perfazem um escaneamento dinâmico. Da mesma

forma, os exemplos demonstrados em (4), a seguir, indicam que a mudança de classe

não altera a conceptualização, pois se percebe a mudança do verbo ‘correr’ para o

substantivo ‘corre-corre’ com a manutenção do escaneamento dinâmico. Casos em

que não há mudança categorial podem, ao contrário, apresentar mudança de

escaneamento, como em (5), no qual a base ‘carta’ e a palavra derivada ‘cartada’

ativam o escaneamento estático e dinâmico, respectivamente. Com isso, observamos

Page 91: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

91

que não há, necessariamente, uma correspondência entre mudança categorial e

diferença no escaneamento cognitivo.

(4) correrV corre-correN

aprenderV aprendizagemN

(5) cartaN cartadaN

Nos casos de verbos parassintéticos, entretanto, a mudança de escaneamento

está correlacionada à mudança categorial. Há, em todos os casos, substantivos ou

adjetivos como base para uma construção verbal e, consequentemente, a passagem

de uma conceptualização estática para dinâmica. Em (6), apresentamos alguns

exemplos.

(6) calmoA acalmarV

justoA ajustarV

dívidaN endividarV

moleA amolecerV

burroA emburrecerV

raivaN enraivecerV

Em comum aos verbos parassintéticos de (6), o escaneamento dinâmico expõe,

mais detalhadamente, o traço durativo, processual, desses itens – além do caráter

aspectual de incoatividade, reforçado em palavras terminadas por ‘-ecer’, como, por

exemplo, ‘amolecer’, ‘emburrecer’ e ‘enraivecer’.

Page 92: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

92

Desse traço processual, é possível generalizar um significado do tipo ‘tornar-se

X’, em que a mudança dos vários estados constitutivos da cena é mapeada

sequencialmente. Em outras palavras, esse significado mais geral nos permite

visualizar os processos de ‘tornar-se calmo’, ‘tornar-se mole’, ‘tornar-se burro’

desenrolando-se em um período de tempo ti e a nossa compreensão da cena num

tempo Ti equivalente. Podemos relacionar isso à proposta de que verbos

parassintéticos sejam tratados como casos de resultatividade (LEITE, 2006), um

fenômeno bastante difundido e estudado na área da sintaxe.

As construções resultativas, que têm sido analisadas sob diferentes

perspectivas (no campo funcionalista, LEVIN & RAPPAPORT, 1999; no quadro

cognitivista, GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF, 2004; LEITE, 2006; e no

arcabouço gerativista, LOBATO, 2004; HOEKSTRA, 1988), indicam a mudança de estado

de um objeto a partir da ação expressa no verbo (X faz com que Y se torne Z). Alguns

exemplos de resultatividade são apresentados abaixo.

(7) João pintou a casa [bem amarelinha]SAdv. (LOBATO, 2004)

(8) Maria deixou o quarto [limpo]SA.

(9) Eles partiram o bolo [em pedaços]SPrep. (LEITE, 2006)

(10) Crise de energia tornou brasileiro mais [consciente]SA. (LEITE, 2006)

Nos exemplos (8) e (10), percebemos que a mudança de estado é indicada por

meio dos sintagmas adjetivais [limpo] e [consciente], enquanto na frase em (9) é

expressa no sintagma preposicional [em pedaços]. Em (7), não é apenas o adjetivo

Page 93: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

93

referente à cor que caracteriza a resultatividade, uma vez que a retirada do advérbio

‘bem’ acarreta a mudança de sentido da frase (LOBATO, 2004), como em (11).

(11) ≠ João pintou a casa amarelinha.

Em (11), a casa possui a propriedade de ser amarela, enquanto em (7) passa a

ter essa característica Z (cor amarela) a partir da ação (pintar) de X (João). Em (7), o

sintagma adverbial [bem amarelinha] é responsável por ativar a mudança de estado.

Os constituintes destacados entre colchetes nos exemplos de (7) a (10)

exprimem a ideia de transformação e, por isso, são identificados como sintagmas

resultativos (de agora em diante, SR). Entretanto, para que haja mudança de estado, é

necessário que um elemento assuma a transformação. Goldberg & Jackendoff (2004)

chamam-no de hospedeiro, que nos exemplos de (7) a (10) se identifica com os

constituintes que recebem caso acusativo (em negrito). Nessas frases, percebe-se a

correlação entre o papel de agente e o elemento que recebe caso nominativo, porém

este também pode ser o hospedeiro do processo de resultatividade, deixando de ser o

agente, como em (12), a seguir.

(12) O chocolate amoleceu.

(13) O calor amoleceu o chocolate.

Na verdade, o constituinte sintático responsável por hospedar o papel do agente

corresponde à distinção entre estruturas causativas e não causativas. Os exemplos de

(7) a (10) representam estruturas causativas, pois um agente é responsável para que o

Page 94: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

94

hospedeiro assuma a propriedade expressa pelo SR. Já em (12), não há um elemento

agentivo que caracterize uma estrutura causativa. Contudo, o mesmo exemplo pode

ser reescrito, como em (13), de modo que inclua a noção de causatividade. Ainda que

seja um tema bastante relevante, não nos aprofundaremos na discussão de considerar

a causatividade no âmbito da Gramática das Construções, uma vez que não é esse o

nosso foco 4.

Nos casos de circunfixação, o indicador da mudança do estado não pode ser

externo, já que estamos lidando com unidades do léxico. Esse indicador, que é

compatibilizado num esquema mais geral, funcionando como a base para instanciar a

palavra parassintética, é chamado de SR interno (LEITE, 2006). Nos exemplos de (14) a

(20), apresentamos casos de parassíntese cujos subeventos indicam que um

hospedeiro (X) passará a ter a propriedade indicada pelo SR interno, representado

pelas bases.

(14) [a [cafajeste]Ai ar]Vj ‘X tornar-se cafajeste’

(15) [em [bebedo]Ai ar]Vj ‘X tornar-se bêbedo’

(16) [a [podre]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se podre’

(17) [en [magro]Ni ecer]Vj ‘X tornar-se magro’

(18) [em [pálido]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se pálido’

(19) [em [paca]Ni ar]Vj ‘X tornar-se semelhante a uma paca’

(20) [a [bandido]Ni ar]Vj ‘X tornar-se um bandido’

4 Os interessados no assunto podem consultar McCawley (1971), Levin & Rappaport (1999), Goldberg &

Jackendoff (2004), Goldberg (1995, 2006).

Page 95: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

95

Goldberg & Jackendonff propõem a terminologia ‘resultativas de propriedade’

para casos em que são focalizados um processo de mudança e uma propriedade desse

subevento, como nos itens exemplificados acima. Em geral, adjetivos indicam o valor

semântico de propriedade, o que favorece a compatibilização entre adjetivos e

subesquemas de circunfixação que exprimem ‘mudança de estado relacionada a um

atributo’, como [a[x]Nj ecer]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. Substantivos também podem servir à

instanciação de novas unidades, conforme visto nos exemplos (19) e (20), porém

como, normalmente, não indicam um atributo, é perfilada uma característica do

substantivo base. Por exemplo, em (19) não se concebe a transformação do

hospedeiro em uma paca. Ao contrário, um atributo do animal, a lentidão, é perfilado

e compatibilizado na construção, o que nos permite identificar alguém ou alguma coisa

que age de forma lenta como uma paca através da palavra ‘empacar’. Os exemplos

abaixo ilustram esse perfilamento.

(21) Meu cachorro ‘empaca’ na hora de passear... Por que (sic)?5

(22) O ônibus ‘empacou’ várias vezes no caminho porque os corintianos

invadiam as ruas para saudar o time.6

(23) Minha carreira ‘empacou’.7

(24) Lançado há três meses, projeto social de Adriano ‘empaca’.8

5 http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100417173909AAXpe2c. Acessado em 11

ago.2011. 6 http://www.loucosporti.com.br/content/view/207/47/. Acessado em 11 ago.2011.

7 http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/max-gehringer/2011/08/03/MINHA-CARREIRA-

EMPACOU.htm. Acessado em 11 ago.2011. 8 http://www1.folha.uol.com.br/esporte/888204-lancado-ha-tres-meses-projeto-social-de-adriano-

empaca.shtml. Acessado em 11 ago.2011.

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96

Percebemos, nos exemplos de (21) a (24), que o atributo de ‘lentidão’ é

perfilado na base ‘paca’ e relacionado aos hospedeiros ‘cachorro’ (21), ‘ônibus’ (22),

‘carreira’ (23) e ‘projeto social’ (24).

Em (20), do mesmo modo, um traço da base ‘bandido’ é perfilado para

compatibilizar com a construção parassintética. Não interessam os atributos físicos do

bandido, mas os psicológicos e/ou sociais: ‘abandidar’ é ‘agir inescrupulosamente’,

‘participar de alguma facção criminosa’, ‘ter atitudes que se assemelhem à

representação de um bandido’, entre outros.

Como o termo ‘propriedade’, traduzido de Goldberg & Jackendoff, é muito

genérico, adotamos o termo ‘atributo’, que acreditamos ser mais preciso por se referir

especificamente a uma característica. Adaptando a cena utilizada por Langacker para

representar o escaneamento dinâmico (figura 1), apresentamos, na figura 3, um

diagrama que concentra esse modo de processamento cognitivo, a mudança de estado

e o perfilamento de um atributo, característicos do esquema que expressa a

‘resultatividade atributiva’.

Figura 3: representação dos esquemas que expressam a resultatividade atributiva

T1 T2 T3 T4 T5

> > > >

>

Page 97: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

97

Na figura 3, há um evento representado na forma de um círculo, cuja

tonalidade se modifica a cada intervalo ti. Nem todos os verbos parassintéticos se

conformam a esse diagrama, já que alguns não se referem à mudança de atributo, mas

de local, como os exemplos abaixo:

(25) [a[prision]Ni ar]Vj ‘por X em prisão’

(26) [a[fund]Ni ar]Vj ‘por X no fundo’

(27) [en[caixot]Ni ar]Vj ‘por X em caixote’

(28) [en[moldur]Ni ar]Vj ‘por X em moldura’

Nos itens acima, compreendemos uma mudança de estado como uma

mudança de local, já que ambas as mudanças pressupõem uma mudança no tempo.

Goldberg (1995: 83) explicita que essa operação é recorrente e “envolve compreender

uma mudança de estado nos termos de um movimento para um novo local” 9. Os

exemplos de circunfixação expostos neste trabalho descrevem eventos e a forma

como os representamos através de operações cognitivas. Levin & Rappaport (1999)

destacam uma condição primordial debatida na literatura linguística sobre a

identidade dos eventos: apresentarem as mesmas características espaciais e

temporais. Isso explica a metáfora, abordada por Goldberg, que nos permite

compreender uma mudança no espaço a partir de uma mudança no tempo/estado. Na

direção contrária, Lakoff & Johnson (2002 [1980]) demonstram que também podemos

compreender o tempo a partir da movimentação de objetos, o que pode ser

9 “[the metaphor] involves understanding a change of state in terms of movement to a new location”

Page 98: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

98

evidenciado pela produtividade da metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO

em expressões do tipo:

(29) O tempo virá quando... (The time will come when...)

O tempo para agir chegou. (The time for action has arrived.)

Nas semanas seguintes… (In the following weeks…)

O mapeamento entre a categoria de tempo e a sua orientação não estática na

metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO nos habilita conceptualizar uma

mudança de espaço em termos de uma mudança de estado, porque, culturalmente,

uma mudança de espaço implica o movimento de um objeto de um local X para um

local Y, que, por sua vez, está relacionada à passagem de tempo. Autores como Basilio

(2004) e Leite (2006) já haviam notado a produtividade de verbos de circunfixação com

a semântica de resultatividade espacial, veiculada pelas palavras de (25) a (29). Cabe

notar que o SR interno (‘caixote’, de ‘encaixotar’, por exemplo) é conceptualizado

como um recipiente para o qual o hospedeiro (um objeto qualquer) se move, como

ilustrado no diagrama abaixo.

Page 99: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

99

Figura 4: representação dos esquemas que expressam a resultatividade espacial

No digrama da figura 4, o evento é representado por um objeto elíptico

inserido em um objeto trapezoidal. É, como argumentamos, a configuração de uma

mudança no espaço, visto que em t1 o objeto elíptico está em um local externo e em t4

no interior do trapézio. Bastante difundida na literatura cognitivista (LAKOFF &

JOHNSON, 2002 [1980]), a metáfora do contêiner perpassa a representação da figura

4, pois compreendemos o objeto trapezoidal como um recipiente, em razão dos seus

limites espaciais, o que provoca uma orientação dentro-fora. Em (27), a base ‘caixote’

funciona como um recipiente devido ao seu formato e à possibilidade de colocar um

objeto no seu interior. Já em (28), a base ‘moldura’ não é um representante exemplar

da categoria ‘recipiente’, o que não nos impede de a compreendermos como um

recipiente a partir de nossa experiência no mundo: não armazenamos objetos

tridimensionais em molduras, mas planos, como pinturas, fotografias, certificados etc.

Observamos, pois, que a cultura tem um papel decisivo na nossa compreensão

e estruturação do léxico, uma vez que molda a forma pela qual pensamos e agimos no

mundo. A relação entre mudança de estado e passagem de tempo não é fortuita, mas

> > >

t1 t2 t3 t4

T1 T2 T3 T4

Page 100: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

100

tem a ver com o modo como experienciamos o meio. Da mesma maneira, conceber

uma mudança de lugar nos termos de uma mudança de estado, já que implicam

passagem no tempo, é altamente motivado por estabelecermos uma ligação entre a

nossa condição de existência e o mundo que nos cerca. O diagrama representado na

figura 4, provavelmente, pode não ser significativo em outras culturas, pois foi

estruturado a partir da apreensão de como falantes do português brasileiro concebem

a linguagem.

Até agora, vimos que o conteúdo de resultatividade espacial envolve a

conceptualização de um elemento como recipiente. Entretanto, Basilio (2004) destaca

que esquemas de circunfixação também podem estar vinculados a ‘elementos

colocados’, como os dos exemplos abaixo:

(30) [a[cebol]Ni ar]Vj ‘por cebola em X’

(31) [a[piment]Ni ar]Vj ‘por pimenta em X’

(32) [a[tapet]Ni ar]Vj ‘por tapete em X’

(33) [em[balsam]Ni ar]Vj ‘por bálsamo em X’

(34) [en[cer]Ni ar]Vj ‘por cera em X’

(35) [em[palh]Ni ar]Vj ‘por palha em X’

As palavras de (30) a (35) também podem ser explicadas pela metáfora do

contêiner por se enquadrarem no domínio das resultativas espaciais. A diferença

reside no ajuste focal da cena, ou seja, no fato de o SR interno ser conceptualizado

como o elemento colocado, e não como o recipiente. Os verbos de (30) a (35) ativam o

escaneamento processual das resultativas espaciais (figura 4), sendo que o SR interno

Page 101: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

101

é representado pelo objeto elíptico. Convém lembrar que os verbos de (25) a (28)

retomavam o mesmo escaneamento, porém o SR interno era representado pelo

objeto trapezoidal. Essa diferença na conceptualização do SR interno tem uma grande

importância para o estudo apresentado aqui, porque, como assinalam Almeida et alii

(2009), substancia a natureza conceptual da gramática. Há, nos verbos apresentados

de (25) a (28) e de (30) a (35), uma mesma cena (ato de armazenar) que envolve os

mesmos elementos (um recipiente e um objeto colocado), porém diferentes ajustes

focais resultam em significados diferentes. Langacker (1987) foi o primeiro a propor o

termo ‘ajuste focal’ para designar os mecanismos que nos permitem descrever uma

mesma situação de diferentes maneiras. Em palavras como ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’,

o SR interno (‘prisão’ e ‘caixote’) é o recipiente, o que ocasiona a sua focalização e o

esmaecimento do objeto colocado. Já em ‘acebolar’ e ‘encerar’ o SR interno (‘cebola’ e

‘cera’) se comporta como o objeto colocado, que é destacado, enquanto o recipiente é

ofuscado.

Percebemos, por exemplo, maneiras distintas de conceptualização de uma

mesma cena básica nos verbos ‘aterrar’ e ‘enterrar’. Na primeira palavra, o objeto

elíptico é o elemento realçado (‘terra’) e o recipiente é a base da cena, ou seja, o

elemento que fica esmaecido e funciona como hospedeiro. Isso porque em ‘aterrar’

colocamos terra em algum local, ou seja, ‘terra’ é o elemento colocado, e não o

recipiente. Em (36), a seguir, o SN ‘o mangue’ é o hospedeiro da mudança e o SR

interno ‘terra’ é perfilado como objeto a ser inserido em algum local. Já o verbo

‘enterrar’ tem o SR interno compreendido como o recipiente, elemento perfilado na

situação. Nesse caso, ‘terra’ não é o objeto colocado, mas o local onde algo será

Page 102: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

102

inserido. Em (37), o SN ‘ossos’ fica no plano de fundo como o objeto colocado,

enquanto o SR interno (‘terra’) aparece como o recipiente do evento.

(36) Para ampliar porto, Estado quer ‘aterrar’ manguezal. 10

(37) Se seu cachorro adora fazer buracos para ‘enterrar’ ossos ou se

refrescar, construa um pequeno tanque de areia em uma parte isolada11

Foi demonstrado, até aqui, que a noção semântica de resultatividade está

ligada aos esquemas de circunfixação por meio de operações de conceptualização, tais

como metáforas, metonímias e ajustes focais, que são operações básicas que nos

servem a manipular quaisquer estruturas de conhecimento (CROFT & CRUSE, 2004).

Alguns exemplos da atuação desses mecanismos, que foram abordados

anteriormente, são (i) a compreensão de uma mudança de lugar a partir de uma

mudança de estado e (ii) as diferentes perspectivas que se adotam em relação à

mesma situação de mudança de local, i.e., a possibilidade de se focalizar o objeto

colocado ou o recipiente na resultatividade espacial.

Nas seguintes seções, exploramos de que maneira se desenvolve a relação

entre os significados – dinâmicos e modificáveis no desenrolar do discurso – e os

subesquemas que os evocam – estáveis e armazenados no léxico.

5.2. Subesquemas de circunfixação

10

http://www.intelog.net/site/default.asp?TroncoID=907492&SecaoID=508074&SubsecaoID=948063&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=940817&Titulo=Para%20ampliar%20porto%2C%20Estado%20quer%20aterrar%20manguezal. Acessado em 14 ago.2011. 11

http://dogdicas.com.br/373/enterrando-ossos. Acessado em 14 ago.2011.

Page 103: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

103

A circunfixação, como vimos, ativa um conceito principal – o da resultatividade

– que se desdobra em dois: a mudança relacionada ao atributo e a mudança

relacionada ao espaço. Cabe, então, definirmos a maneira como se distribuem os

significados com referência aos subesquemas que os evocam.

A instanciação de verbos parassintéticos tem por base unidades adjetivais ou

substantivais, como foi visto nos exemplos de (15) a (20). Etiquetamos essas categorias

através do índice N, de nome, que pode representar tanto adjetivos quanto

substantivos. As características dos subesquemas serão representadas, conforme

abordado no capítulo 3, através de um diagrama tripartido (BOOIJ, 2010), em que

sejam consideradas as informações fonológicas, morfológicas e semânticas.

Nas próximas subseções, discutimos os subesquemas que constituem o

esquema mais geral, entendido por circunfixação ou parassíntese. Iniciamos a análise

pelo subesquema [a [x]Nj ar]Vi.

5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi

Grande parte dos verbos de [a [x]Nj ar]Vi tem substantivos como base, embora

haja muitos exemplos instanciados a partir de adjetivos. No primeiro caso, podemos

citar ‘abarrotar’ (de ‘barrote’), ‘acariciar’ (de ‘carícia’) e ‘agarrar’ (de ‘garra’), enquanto,

no segundo, apresentam-se ‘acalmar’ (de ‘calma’), ‘alargar’ (de ‘largo’) e ‘amansar’ (de

‘manso’).

O valor semântico de resultatividade de atributo é prototípico nesse

subesquema, pois uma quantidade expressiva de dados evoca esse conceito (64% dos

itens). Verbos como ‘acalmar’, ‘adoçar’ e ‘ajustar’, por exemplo, podem ser

Page 104: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

104

parafraseados por < [tornar-se [x]Nj]Vi >, em que [x]Nj é uma variável que pode ser

substituída pelas bases ‘calma’, ‘doce’ e ‘justo’, respectivamente. O circunfixo ativa,

além do valor de resultatividade, o sentido de aproximação ao que é expresso pela

base. Observemos nos dados abaixo de que maneira a metáfora opera nos

significados.

(38) abandejar, abaciar, abarrilar, afunilar

(39) afofar, alisar, amaciar, alongar, aveludar

(40) abatatar, atomatar, abaunilhar, acerejar, assenzalar, assobradar

(41) abesourar, atartarugar, atucanar, agalinhar

(42) abaronar, afrancesar, aburguesar, afeminar, aportuguesar, abeatar

Nos exemplos de (38), focaliza-se a forma do objeto representado pela base,

pois ‘abarrilar’ é tornar-se próximo da forma de um barril e ‘afunilar’, tornar-se

próximo a um funil. Há um processo metaforização do esquema imagético entre o

objeto que ocupa a posição de SR interno e o elemento que venha a ocupar a posição

do hospedeiro, que vai assumir as mudanças expressas na unidade parassintética.

Vejamos alguns exemplos:

(43) Sim, mantive parte dos dutos de admissão. Esse duto vai ‘afunilando’

até o TB. Só vi um Intake com essa característica, mas era uma fortuna.

Só acrescentei o filtro com o acelerador. Ficou bom. 12

12

http://forum.civicclub.com.br/smf/index.php?topic=3298.15. Acessado em 28.09.11.

Page 105: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

105

(44) Após algum tempo, com a reforma já feita, o telhado ‘abaulou’ e, aos

poucos, a estrutura da casa foi cedendo. 13

(45) John Henry Menton tirou o chapéu, ‘abaulou’ o amassado e alisou a

penugem de seu paletó. Recolocou rapidamente o chapéu em sua

cabeça. 14

Em (43), o SN [o duto] funciona como hospedeiro para o processo de

resultatividade da forma verbal ‘afunilando’, ou seja, compreende-se que o duto

aproxime sua forma a de um funil. Já em (45), o amassado do chapéu assume um

formato convexo que se assemelhe à tampa de um baú. Os hospedeiros [o telhado],

em (44), e [o chapéu], em (45), assumem a forma de baú expressa pelo SR interno.

Diferentemente, os verbos de (39) são menos concretos que os de (38) pelo

fato de aqueles ressaltarem uma característica, e não apenas o formato, do elemento

da base. Em ‘afofar’, por exemplo, interessa-nos a qualidade do hospedeiro, e não

propriamente sua forma.

A diferença entre os dados de (39) e (40) é mais difusa. Basicamente, os itens

de (39) ainda guardam algum resquício da forma, enquanto em (40) se destaca uma

característica do elemento que ocupa o SR interno, que não esteja, necessariamente,

relacionada à forma. Em ‘atomatar’ e ‘acerejar’, focaliza-se a cor avermelhada da

cereja e do tomate maduros, e não propriamente seu formato.

Os exemplos de (40) foram agrupados em razão de perfilarem uma

característica do elemento-base. Em ‘atomatar’, por exemplo, o significado construído

seria algo como ‘tornar-se próximo da cor vermelha de um tomate’; em ‘abaunilhar’,

13

http://www.trgconstrucoes.com.br. Acessado em 28.09.11. 14

JOYCE, JAMES. Ulisses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.150.

Page 106: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

106

‘tornar-se próximo do sabor de baunilha’; e em ‘assenzalar’, ‘tornar-se próximo da

característica de uma senzala’. Na unificação entre a base ‘senzala’ e o esquema, como

demonstrado em (46), a seguir, nosso conhecimento enciclopédico participa na

construção do significado através de frames estruturados15, já que sabemos que uma

senzala não é um ambiente agradável ou acolhedor. Vemos, com isso, que na

instanciação de um novo item lexical não só o conhecimento linguístico deve ser

considerado, mas também as bases experienciais e as informações compartilhadas

pelos membros de uma mesma sociedade.

(46)

[a [senzala]Nj ar]Vi [tornar-se próximo a uma característica da [senzala]Ni]Vi

Os exemplos em (41) se comportam semelhantemente ao verbo ‘empacar’, que

discutimos no início deste capítulo (v. exemplos (21) a (24)), na medida em que

perfilam uma característica do elemento que ocupa o SR interno e mapeiam essas

características com as do elemento que ocupa a posição do hospedeiro. Na frase ‘O

João abesourou a Maria com histórias de fantasmas’, selecionamos o zumbido

incômodo do besouro, que é representado no SR interno, e mapeamos com o

hospedeiro João. Sabemos, logo, que as histórias de fantasmas incomodam Maria.

15

Seguindo a representação proposta por Fauconnier & Turner (2002), os frames serão diagramados, nesta dissertação, como formas retangulares relacionadas a expressões por meio de uma seta.

Lugar de maus tratos, sujo,

sem conforto

Page 107: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

107

Vale notar que o verbo ‘atucanar’ ganhou extensões de sentido devido ao novo

sentido da base ‘tucano’: membro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),

em referência à ave-símbolo do partido. Nesse contexto, ‘atucanar’ é ser filiado ao

PSDB ou compartilhar ideologias parecidas com as do partido, como nos exemplos

abaixo:

(47) Marina ‘atucanou’ e apoiará Aécio em Minas Gerais, diz coluna. 16

(48) Quem diria: o outrora fogoso PCdoB, que há muito tempo já não é mais

aquele, deu de ‘atucanar’. 17

Nos exemplos em (47) e (48), percebe-se que o sentido metafórico de

‘atucanar’ pode passar por novas extensões e compatibilizar o novo perfilamento da

base ‘tucano’ (membro do PSDB) com o padrão instanciado pelo subesquema

[a[x]Njar]Vi (o de resultatividade em relação a um atributo), pois nessas frases são

destacadas características dos partidários do PSDB. A ex-senadora Marina Silva não se

filiou ao PSDB, tampouco o PCdoB se fundiu ao outro partido; houve uma atualização

discursiva.

Retomando os exemplos em (42), percebe-se o foco no modo, nos costumes e

nos hábitos dos elementos que servem de base para a formação dos verbos. Desse

modo, ‘afrancesar’ é tornar-se mais próximo do que se julga ser uma característica dos

franceses; ‘abaronar’ relaciona-se a como concebemos um barão. Não é exatamente

se tornar aquilo expresso na base, mas adquirir traços que aproximem o hospedeiro

das características ativadas pelo SR interno.

16

http://www.alemdanoticia.com.br/ultimas_noticias.php?codnoticia=4397. Acessado em 29.09.11. 17

http://www.odiario.com/blogs/josepedriali/2011/08/09/e-o-pcdob-atucanou/. Acessado em 29.09.11

Page 108: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

108

(49) Você está cansado de filmes sobre vampiros como Crepúsculo que

‘afeminaram’ os vampiros de uma forma tão grotesca que não são nem

mais conhecidos como seres das trevas? Então fique de olho nesse

filme, ele será a nossa salvação! 18

No exemplo em (49), percebemos que os vampiros – hospedeiro do processo

ativado pelo verbo ‘afeminar’ – não viraram mulheres, mas ganharam características

que os afastaram dos protótipos masculinos. Nesse grupo de (42), ainda se incluem

todos os verbos que têm por base gentílicos, como ‘abrasileirar’, ‘abaianar’,

‘apaulistar’, ‘amineirar’, ‘acastelhanar’, entre outros.

O subesquema [a [x]Nj ar]Vi também pode instanciar verbos com significado

relacionado à espacialidade, como os que se apresentam em (50) e (51).

(50) Abalsar, alojar, aprisionar, agrupar, alistar

(51) Abarrotar, amordaçar, achocolatar, amanteigar, apimentar

Esses exemplos refletem a discussão abordada anteriormente sobre as duas

possibilidades de conceptualização: com ajuste focal no elemento colocado ou no

recipiente (v. Figura 4). Nos verbos de (50), focaliza-se o recipiente, que, por relações

vitais de identidade e unicidade (FAUCONNIER & TURNER, 2002), é mapeado com o SR

interno de cada verbo. Em ‘abalsar’, ‘alojar’ e ‘aprisionar’, os SRs internos (‘balsa’, ‘loja’

e ‘prisão’) se referem a espaços físicos no mundo real, o que favorece a oposição fora-

18

http://portaldomagao.blogspot.com/2011/01/trailer-legendado-do-filme-deixe-me.html. Acessado em 29.09.11.

Page 109: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

109

dentro e a relação com um recipiente, pois sabemos que são todos locais em que se

podem “armazenar” coisas ou pessoas. Ainda que as bases de ‘agrupar’ (grupo) e

‘alistar’ (lista) não sejam espaços físicos, podemos compreender uma ‘lista’ como um

estoque de palavras, ou um ‘grupo’ como um estoque de elementos. Atuam, nesse

caso, operações metafóricas que relacionam o nosso conhecimento enciclopédico de

que podemos reunir nomes em uma lista à conceptualização de inserção de um objeto

em um recipiente.

Os exemplos de (51), ao contrário, focalizam o SR interno como o elemento

colocado, visto que ‘achocolatar’ é ‘colocar chocolate em pó em alguma substância

líquida’ e ‘amordaçar’ é ‘colocar a mordaça em alguém ou algum animal’.

Observamos também que a metáfora e a metonímia operam na compreensão

desses verbos, pois os vocábulos ‘apimentar’ e ‘abarrotar’, por exemplo, apresentam

extensões de sentido, de acordo com o contexto sociodiscursivo em que são

empregados. Vejamos exemplos com o verbo ‘abarrotar’.

(52) Patrocinado pela Camisaria Varca, Ronaldinho ‘abarrotou’ os estádios

com milhares de torcedores, além de engordar a audiência dos jogos na

TV. 19

(53) E o conseguiu graças à cumplicidade visceral e sensual que seu líder,

Adam Levine, teve com a multidão que ‘abarrotou’ a Cidade do Rock no

sexto dia do evento. 20

19

http://oglobo.globo.com/cultura/agamenon/posts/2011/02/20/onde-ja-civil-363937.asp. Acessado em 03.10.11. 20

http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/arte/noticias/mana-marron-five-e-coldplay-agitam-penultimo-dia-do-rock-in-rio. Acessado em 03.10.11.

Page 110: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

110

(54) Funcionários do supermercado chamaram a polícia depois que viram o

casal ‘abarrotar’ um carrinho com mantimentos e, depois, passar direto

pela porta de saída, sem pagar por nada. 21

(55) Megaleilão ‘abarrota’ aeroporto de Água Boa com 74 aviões. 22

‘Abarrotar’ pode ser parafraseado como ‘por barrote em excesso’23. Nos

exemplos de (52) a (55), contudo, o subesquema contém uma integração conceptual

que nos permite compreender elementos físicos por barrotes: pessoas em (52) e (53);

comida em (54); e aviões em (55). Na frase em (52), por exemplo, o estádio de futebol

ficou cheio de torcedores, que no esquema correspondem à base ‘barrote’ do verbo

‘abarrotar’. Da mesma forma, em (54), o carrinho de mercado estava cheio de

mantimentos, que é mapeado com o SR interno ‘barrote’ do verbo ‘abarrotar’. A

seguir, demonstramos que o significado do subesquema admite um elemento [+ físico]

na posição do SR interno.

(56) [a [barrote]Nj ar]Vi [por [+ físico]Ni em excesso]Vi

O verbo ‘apimentar’ também apresenta extensões de sentido, além do

significado central de ‘colocar pimenta em comida’.

21

http://gerufm.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=106. Acessado em 03.10.11. 22

http://www.matogrossonoticias.com.br/.Acessado em 03.10.11. 23

Pode ser que o significado do verbo ‘abarrotar’ (‘por em barrotes’) não seja tão facilmente depreendido por todos os falantes, já que, sincronicamente, é entendida como ‘superlotar’.

Page 111: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

111

(57) Bobó de camarão vai bem com arroz branco, do tipo agulhinha. Quem

gosta também pode ‘apimentar’ o prato com um molho de pimenta

malagueta ou outra preferida. 24

(58) A banda Red Hot Chili Peppers ‘apimentou’ a noite paulistana nessa

quarta-feira, com a turnê I’m With You. 25

(59) Sexting - conversinhas quentes para ‘apimentar’ a relação. 26

(60) Valdivia ‘apimenta’ polêmica: Respeito o adversário até começar a

partida, depois não. 27

Em (57), percebe-se o sentido básico de condimentar um prato, tomado aqui

como metonímia de comida. A compreensão de que apimentar uma comida é dar mais

sabor a ela permite um mapeamento com outros elementos não comestíveis, como a

noite paulistana (exemplo (58)). Neste, bem como em (59), entende-se ‘apimentar’ por

melhorar alguma coisa, tornar mais picante. Já em (60), vemos que ‘apimentar’ sugere

uma ideia de estímulo com intenções provocativas ou maliciosas, que estão

relacionadas à fala do jogador de futebol Valdívia sobre a polêmica do seu estilo

debochado de atuar em campo.

Havíamos previsto que o esquema de circunfixação poderia instanciar verbos

com sentido de atributo ou de espaço, sendo esses sentidos relacionados

hierarquicamente à noção de resultatividade. A polissemia, logo, se instaura pela

possibilidade de verificarmos em um esquema morfossintático vários sentidos que

emergem a partir das bases experienciais e culturais.

24

http://acarajecompamonha.blogspot.com/2011_01_01_archive.html. Acessado em 05.10.11. 25

http://www.rockbrigade.com.br/. Acessado em 05.10.11. 26

http://vilamulher.terra.com.br/. Acessado em 05.10.11. 27

http://esportes.br.msn.com/futebol/.Acessado em 05.10.11.

Page 112: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

112

Como confirmação de que os dois sentidos estão relacionados, podemos

observar um grupo de verbos que guarda semelhanças tanto com a resultatividade de

atributo, quanto com a de local.

(61) Acabar, afundar, arrasar, aprofundar

Nos verbos de (61), percebemos que há uma relação com o sentido de

aproximação, embora não seja mais a aproximação conceptual de características ou

traços do SR interno. É uma aproximação física, na qual o hospedeiro se torna mais

próximo fisicamente do SR interno – justificada pelo conteúdo de resultatividade

espacial. Em outras palavras, perde-se o traço de atributo, mas se ganha a noção de

local, mantendo o valor de aproximação. Em ‘acabar’, tornar-se mais próximo do cabo

(fim) implica mudança de posição. Da mesma forma, compreende-se ‘afundar’ como

uma aproximação e um deslocamento de uma posição X para uma posição mais ao

fundo.

(62) Um torpedo disparado de um submarino da Coreia do Norte ‘afundou’

uma corveta sul-coreana no dia 26 de março, no Mar Amarelo,

matando 46 marinheiros. 28

Em (62), compreende-se o mar como um recipiente através de relações de

identidade e analogia (FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que permite a visualização do

esquema imagético de conteúdo: a corveta é um objeto que é inserido no mar,

28

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,coreia-do-norte-afundou-navio-sul-coreano-diz-pericia,554047,0.htm. Acessado em 29.09.11.

Page 113: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

113

conceptualizado como um recipiente. Assim, a embarcação da Coreia do Sul torna-se

próxima do fundo do mar por conta do torpedo do país vizinho. Há uma aproximação e

um deslocamento espacial evocado no verbo ‘afundar’, demonstrando que os

esquemas morfológicos comportam relações polissêmicas.

5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi

Apontamos, na subseção anterior, que o subesquema [a [x]Nj ar]Vi apresenta

como protótipo o sentido de resultatividade atributiva, que figura em uma relação

polissêmica com o sentido de resultatividade espacial. Paralelamente, na análise dos

dados de [en [x]Nj ar]Vi, identificamos uma distribuição similar, sendo que há uma

maior correlação com o sentido de resultatividade espacial. Defendemos, assim, que a

diferença que existe entre esses dois subesquemas é a de prototipicidade dos

conteúdos evocados, pois enquanto em [a[x]Nj ar]Vi prevalece o significado de atributo,

em [en [x]Nj ar]Vi o significado de espaço é mais recorrente.

Nota-se, no circunfixo [en [x]Nj ar]Vi, uma influência do significado da preposição

‘em’, herdada do latim ‘in’, que significa “dentro de”. Nas palavras de Martins (1991:

68), esse sentido seleciona “os traços de dimensionalidade que permitem trazer para o

significado da formação a oposição continente/ contido”. Essa noção, de fato, está

presente no escaneamento cognitivo exposto na figura 4, na qual o objeto trapezoidal

representa um recipiente, que remete à oposição dentro/ fora.

O significado de espacialidade é ativado por cerca de 62% dos verbos

instanciados pela construção, como nos exemplos abaixo:

Page 114: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

114

(63) Embotijar, empacotar, encarcerar, encenar, engavetar

(64) Embalsamar, emplacar, engraxar, engravatar, envenenar

Embora tanto as palavras de (63), quanto as de (64) façam referência à noção

de resultatividade espacial, há diferentes focalizações no escaneamento cognitivo.

Podemos ajustar o foco no recipiente, como nos exemplos de (63), ou perspectivizar o

elemento colocado, como nos exemplos de (64).

A paráfrase <[colocar em [x]Nj]Vi> traduz satisfatoriamente verbos como

‘embotijar’, ‘encarcerar’ e ‘engavetar’: ‘colocar em botija’, ‘colocar em cárcere’,

‘colocar em gaveta’, respectivamente. Entretanto outros sentidos podem ser ativados

por essas unidades lexicais em função de operações metafóricas e metonímicas.

‘Engavetar’ pode significar ‘arquivar’, devido à relação metonímica do uso de gavetas

como arquivos, como em (65), e ‘empacotar’ pode ser entendido como falecer pela

ligação entre caixão e pacote (exemplo (66)).

(65) Rumores indicam que Sony ‘engavetou’ projeto de Playstation 4. 29

(66) Michael Jackson ‘empacotou’ mas sua obra vive. 30

A base do verbo ‘encenar’ – ‘cena’ – não possui as características necessárias

para ser caracterizada como um recipiente. Todavia, por mesclagem conceptual,

projetam-se para o domínio da ‘cena’ os elementos do palco teatral, cujos traços

limítrofes de interioridade/ exterioridade são ativados no subesquema. Assim, o

29

http://gostodetecnologia.com.br/noticias/playstation/playstation_0001.htm.Acessado em 06.10.11. 30

http://www.detestogenteinteligente.com.br/2009/06/michael-jackson-empacotou-mas-sua-obra-vive.html. Acessado em 06.10.11.

Page 115: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

115

exemplo de (67), a seguir, nos permite compreender que o corpo teatral (atores,

objetos cenográficos etc) não será posto em cena enquanto um dos atores, que passa

por tratamento contra uma doença, não puder atuar.

(67) Elias Andreato, diretor da peça Cruel, que estava em cartaz com

Reynaldo Gianecchini antes de o astro iniciar o tratamento contra um

câncer no sistema linfático, não vai ‘encenar’ a peça sem o ator. 31

(68) Wagner Moura vem ao Recife para ‘encenar’ Hamlet no Teatro da

UFPE.32

(69) ENQUETE! Rogério Ceni está certo em dizer que Neymar ‘encena’ nas

faltas? 33

Na frase de (68), o ato de representar é perspectivizado do centro prototípico

‘colocar em cena’. Já em (69) nota-se uma extensão do sentido do verbo ‘encenar’,

que por associação metafórica deixa de ser compreendido como atuação teatral e

passa a ser visto como simulação. Nesse caso, é perfilada uma das características da

atuação, o fingimento, possibilitando a polissemia do item ‘encenar’.

(70) ωi 9 σ σ σ 4 4 4

/eN /se na/Nj R/Vi

[en [cena]Nj ar]Vi [colocar em [cena]Ni]Vi

3 representar simular

31

http://entretenimento.r7.com. Acessado em 07.10.11. 32

http://pe360graus.globo.com. Acessado em 07.10.11. 33

http://www.lancenet.com.br/minuto/Rogerio-Ceni-faltas-Neymar-simulacao_0_553744709html#ixzz1a6WYICSx. Acessado em 07.10.11.

Page 116: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

116

No diagrama em (70), são demonstradas as extensões polissêmicas do verbo

‘encenar’, além das representações fonológicas e morfológicas, nas quais um índice

relaciona os elementos nas interfaces semântica, fonológica e morfológica. A base é

sempre indexicada pelo símbolo subscrito ‘Nj’, que representa a categoria nominal

(substantivos e adjetivos), e o produto por um ‘Vi’, que representa a classe dos verbos.

A palavra é representada por um ω e cada uma das três sílabas pelo σ.

Retomando os exemplos de (64), cujo escaneamento cognitivo foi representado

na figura 4, percebemos que o foco se mantém no elemento colocado, i.e., o SR

interno é inserido no recipiente, que funciona como pano de fundo para a

conceptualização da cena. O sentido de ‘embalsamar’ é, então, ‘colocar bálsamo em’;

‘engraxar’ é ‘por graxa em (sapato)’; e ‘engravatar’ é ‘por gravata em (alguém)’.

O subesquema [en [x]Nj ar]Vi pode evocar também os conceitos de

resultatividade atributiva, como em:

(71) Embebedar, embelezar, embonecar, encrespar, enfear

Os verbos de (71) podem ser parafraseados por ‘tonar-se bêbedo’, ‘tornar-se

crespo’ e ‘tonar-se feio’, por exemplo. Em ‘embonecar’, mapeiam-se os traços da

boneca nos traços de uma pessoa por relações vitais de similaridade e unicidade

(FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que nos permite produzir e compreender uma frase

como a de (72), a seguir. Contamos, também, com nosso conhecimento enciclopédico,

que seleciona os tipos de bonecas mais representativos da categoria beleza, em vez de

qualquer tipo de boneca.

Page 117: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

117

(72) Entendida de moda, a tia se ‘embonecou’ com brincos de praia, rasgou

uma luvinha com as garras e se embrulhou para presente com uma

fitinha amarela! 34

O próprio verbo ‘empacar’, discutido nos exemplos de (21) a (24), se insere no

grupo das palavras geradas com o sentido prototípico de resultatividade de atributo,

visto que são selecionadas características do animal ‘paca’, que ocupa a posição do SR

interno, e mapeadas num outro elemento, que funciona como hospedeiro da

mudança.

Verificamos, pois, que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi é polissêmico, já que ativa

sentidos relacionados a um centro comum, a noção de resultatividade. Há um

espraiamento desta para os significados de atributo e espaço, que se subdivide em

recipiente ou objeto colocado, como vemos na representação abaixo.

(73) [en [x]Nj ar]Vi [resultativo de [x]Ni ]Vi 3

atributo espaço 3

recipiente elemento colocado

Essa hierarquia na interface semântica do subesquema indica os vários sentidos

que podem ter expressão no uso das palavras instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi , mas não

se refere às relações de prototipia entre os vários sentidos elencados dentro da

construção. Em outras palavras, o diagrama indica as relações polissêmicas que podem

ocorrer em qualquer construção lexical ou sintática, tendo sempre como base o uso

34

http://wp.clicrbs.com.br/holofote/tag/fafa-de-belem/. Acessado em 07.10.11.

Page 118: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

118

discursivo dos elementos instanciados. Não captura, entretanto, as relações de

categorização que são estabelecidas entre os sentidos.

5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi

Esse subesquema instancia apenas 11 palavras na língua portuguesa,

configurando um baixo grau de produtividade se comparado com os demais

subesquemas. Conforme defendemos no próximo capítulo, há indícios de que

mudanças ocorreram no percurso histórico da língua, fazendo com que alguns

circunfixos fossem mais produtivos do que outros.

Interessa-nos, nesta subseção, observar o conceito evocado pelo subesquema e

as percepções do falante com relação à transparência dos itens.

Todos os verbos instanciados compartilham o aspecto incoativo, i.e., o sentido

de início de ação, mesmo que em algumas palavras essa noção esteja mais

obscurecida. Seguem os exemplos:

(74) Abastecer, aborrecer, adoecer, adormecer, agradecer, amanhecer,

amadurecer, amolecer, amortecer, anoitecer, apodrecer

Todos os verbos elencados em (78) apresentam, em maior ou menor grau, uma

relação semântica de [tornar-se [x]Nj]Vi. Assim, ‘agradecer’ pode ativar o sentido de

‘tornar-se grato’; ‘amanhecer’, ‘tornar manhã’; e ‘apodrecer’, ‘tornar-se podre’. No

entanto, verbos como ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ dificultam essa leitura,

porque são palavras herdadas do latim que não sofreram modificações

Page 119: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

119

morfofonológicas. Essas mudanças analógicas permitem que palavras de origem

estrangeira fiquem mais semelhantes a palavras do léxico do português35. A palavra

‘amanhecer’, por exemplo, se origina de ‘admanescere’; porém, ao ser introduzida na

língua portuguesa, passou por mudanças morfofonológicas motivadas pela analogia

com a palavra ‘manhã’. Aplica-se a mesma explicação para ‘anoitecer’, que vem de

‘adnoctescere’: estabelecida a relação analógica com uma provável base do português,

‘noite’, a palavra sofre mudanças. Com ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ não houve

mudanças, o que as tornou opacas. Nesse caso, os limites entre a base e o circunfixo

são menos perceptíveis aos falantes do português do que os de palavras como

‘amolecer’ e ‘amadurecer’, que são transparentes.

Pode-se, todavia, organizar ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ em torno do

sentido aspectual incoativo, que nos permite inferir ‘o início da chateação’, ‘o início da

doença’ e ‘o início do sono’. Trabalhamos com significados associativos – já que nem

‘chateação’, ‘doença’, ou ‘sono’ eram as bases das formações latinas –, mas que estão

diretamente ligados ao significado da construção.

Muito embora as palavras ‘amortecer’ e ‘abastecer’ sejam relativamente

transparentes para o falante, pois podemos recuperar as bases ‘morte’ e ‘basto’, o uso

semântico as distanciou da paráfrase [tornar-se [x]Nj]Vi. ‘Amortecer’ não é

simplesmente ‘tornar morto’, mas uma extensão metafórica em que concebemos a

redução da intensidade pela redução da vida. Similarmente ocorre com ‘abastecer’,

35

Demonstramos, no próximo capítulo, que fatores de frequência de uso e frequência de tipo estão envolvidos na manutenção ou reorganização de um paradigma lexical.

Page 120: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

120

que não significa apenas ‘tornar basto’36, mas, segundo o Houaiss (2009), “guarnecer-

(se) do necessário” e “ser fonte de determinado(s) recurso(s)”:

(75) ‘Abasteça’ seu carro num posto Ipiranga.

(76) Vazamento de óleo contamina rio que ‘abastece’ cidade no Paraná. 37

Nas frases acima, a base ‘basto’ está conectada a outros elementos que não

estão expressos na superfície textual, mas que podem ser inferidos pelo contexto

discursivo. Em (79), as palavras ‘carro’ e ‘posto Ipiranga’ remetem ao combustível e,

em (80), a palavra ‘rio’ remete à água. Da mesma maneira que foi percebido para os

exemplos de ‘abarrotar’, de (52) a (55), perpassa à construção [a [basto]Nj ecer]Vi uma

integração conceptual que mapeia a base com outros elementos, que compartilham

com ‘basto’ traços de similaridade, permitindo uma nova leitura a partir da

compressão dos elementos de domínios diferentes.

Na sentença de (80), podemos propor dois domínios cujos elementos são

mapeados por relações vitais, como as de propriedade, similaridade ou unicidade, por

exemplo. Um dos domínios se refere à compreensão da construção [a [basto]Nj ecer]Vi

como “tornar basto”. O outro, que é alimentado pelo contexto de uso, tem o sistema

de abastecimento de água de uma cidade. São conectados, então, a base ‘basto’ e o

elemento ‘água’, que por unicidade são comprimidos em outro domínio que se

desenvolve de acordo com nossas bases de conhecimento. Em outras palavras, o

espaço-mescla, esse terceiro domínio, comporta informações que não existiam nem

36

Os significados primários de ‘abastecer’ e ‘amortecer’ eram, respectivamente, ‘tornar basto’ e ‘ficar parecido com um morto’. 37

http://g1.globo.com/jornal-nacional. Acessado em 09.10.11.

Page 121: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

121

no domínio da construção morfológica, nem no domínio do abastecimento de água. É

a partir de todo esse aparato cognitivo que compreendemos uma frase como a de (80).

Ainda que haja todos esses desdobramentos semântico-pragmáticos e um

desbotamento do significado primário [tornar-se [x]Nj]Vi, podemos postular para

‘abastecer’ e ‘amortecer’ a construção [a [x]Nj ecer]Vi, visto que as bases são,

minimamente, recuperáveis. Isto quer dizer que esses verbos, ao lado de outros mais

transparentes, como ‘amanhecer’, ‘amolecer’ e ‘anoitecer’, são diretamente

instanciados pelo subesquema [a [x]Nj ecer]Vi.

Não podemos predizer a mesma situação para palavras mais opacas, como

‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’, visto que, no atual estágio da língua, suas bases

não são recuperadas pelos falantes do português brasileiro. Booij (2010: 30) atesta

que, em casos de formações opacas, há uma base formal (representada por um x) que

não é portadora de um índice categorial, consequência de não ter uma entrada lexical

independente. Diferentemente de ‘amanhecer’ ou ‘anoitecer’, por exemplo, cujas

bases podem aparecer livremente, em ‘aborrecer’ a base formal não tem livre-curso.

Com isso, devemos acrescentar à construção [a [x]Nj ecer]Vi, o subesquema em (81):

(77) [a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi

É previsto na construção em (81) que o significado tenha alguma relação com o

aspecto incoativo que é compatibilizado pelo circunfixo. No mais, o significado será

associado com Y, uma variável semântica que representa o caráter da aproximação

conceptual. Em ‘aborrecer’, essa variável pode ser substituída por chateação, como em

(82).

Page 122: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

122

(78) [aborrecer]Vi [associação incoativa com CHATEAÇÃO]Vi

Nos verbos ‘adoecer’ e ‘adormecer’, a variável Y assume as ideias de doença e

sono/dormir, respectivamente38. Conforme ressalta Booij (2010), ao contrário das

regras, as formações opacas são demonstrações de que os esquemas possibilitam uma

orientação no produto. Regras são baseadas na categoria gramatical e nas

especificações sintáticas, fonológicas e semânticas da base. Em formações menos

transparentes, cujos elementos internos não são facilmente recuperáveis pelos

falantes, não há propriamente uma base, o que impede a postulação de uma regra. Ao

contrário, na Linguística Cognitiva, há uma análise voltada para a percepção do

produto construcional.

Esse subesquema, por ser mais específico, deve ser diagramado como uma

extensão do subesquema geral do circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, que instancia unidades

transparentes, como ‘amolecer’, ‘apodrecer’ e ‘amadurecer’. Em (83), verificamos que

[a – x – ecer]Vi está vinculado ao subesquema mais genérico [a [x]Nj ecer]Vi por um link

de instanciação (LI), uma vez que aquele é um padrão mais específico deste, herdando

parte das suas informações fonológicas, morfológicas e semânticas.

38

Dados como ‘adoecer’ e ‘adormecer’ poderiam ter outra análise, na qual derivariam das bases verbais ‘doer’ e ‘dormir’, respectivamente. Entretanto, seria necessário indicar a possibilidade de instanciar verbos parassintéticos a partir de outros verbos, e não apenas a partir de nomes (substantivos e adjetivos).

Page 123: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

123

(79) [a [x]Nj ecer]Vi [tornar-se [x]Ni ]Vi

[a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi

A princípio, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi não apresenta um subesquema

para palavras opacas, já que todas as bases podem ser facilmente recuperadas pelos

falantes, como veremos na próxima subseção. Os demais circunfixos, ao contrário,

apresentam um subesquema estendido que acomoda os dados não segmentáveis,

pois, em geral, estes entraram no léxico do português por empréstimo, ou

diretamente do latim. A seguir, exemplificamos em um quadro alguns dados de cada

circunfixo que podem ser analisados por esse tipo de subesquema.

Subesquemas Exemplos

a – x – ar ‘apertar’, que vem da palavra latina appectorāre

‘abarcar’, que vem da palavra latina abbrachicāre (a

base é brachĭum, ‘braço’)

en – x – ar ‘empatar’, que vem da palavra italiana impattare (patta

é plural de pactum, ‘acordo’)

‘emperrar’, que vem da palavra espanhola emperrarse

(a base é perro, ‘cachorro’)

‘empenar’, que vem da palavra latina pīnus

a – x – ecer ‘aborrecer’, que vem da palavra latina abhorrēscere

‘adoecer’, que vem da palavra latina addollescēre

L I

Page 124: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

124

‘adormecer’, que vem da palavra latina addŏrmīscĕre

Quadro 1: subesquemas de palavras opacas

5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi

Conforme abordamos, esse subesquema é caracterizado por apresentar

unidades lexicais maximamente transparentes e ativar o aspecto incoativo através do

circunfixo ‘en...ecer’. Não se observa o valor de resultatividade espacial nas suas

instanciações, mas apenas o de resultatividade atributiva, tornando-o menos

polissêmico que os circunfixos ‘a...ar’ e ‘en...ar’. Alguns exemplos de verbos

instanciados pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi são apresentados em (84).

(80) emagrecer, embranquecer, emburrecer, empobrecer, emputecer,

emudecer, encarecer, endurecer, enlouquecer, enriquecer,

enrouquecer, entardecer, entristecer, envelhecer

O significado [tornar-se [x]Nj]Vi se aplica a todos os verbos instanciados por esse

subesquema, já que ‘emagrecer’ é ‘tornar-se magro’; ‘empobrecer’, ‘tornar-se pobre’;

e ‘enlouquecer’, ‘tornar-se louco’.

O exemplo ‘emburrecer’ demonstra o perfilamento de apenas um dos sentidos

da base ‘burro’, que é o de falta de inteligência, tolo (HOUAISS, 2009). O verbo, então,

significa ‘tornar-se tolo, estúpido’. Não se deve tomar o exemplo de ‘empacar’, citado

anteriormente, por essa explicação, já que este envolve um diferente tipo de

perfilamento. Em ‘empacar’, a base ‘paca’ não significa lentidão, uma vez que essa

Page 125: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

125

informação advém do nosso conhecimento enciclopédico. O perfilamento da

característica de morosidade do animal se dá apenas no subesquema [en [paca]Nj ar]Vi,

enquanto a palavra ‘burro’ já ativa o sentido de não inteligente, independentemente

do subesquema [en [burro]Nj ecer]Vi. No caso de ‘empacar’, o processo metafórico

opera na construção, enquanto no caso de ‘emburrecer’ a extensão de sentido operou

apenas sobre a palavra ‘burro’.

Notamos, também, que o significado evocado pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi

é o mesmo de [a [x]Nj ecer]Vi, o que remonta ao Princípio da Não Sinonímia (Goldberg,

1995), que sinaliza a distinção semântica ou pragmática entre duas construções, no

caso de serem formalmente distintas. Como esses dois subesquemas selecionam

diferentes circunfixos, i.e., são formalmente diferentes, esperava-se que evocassem

diferentes noções semânticas ou pragmáticas. Todavia, ambas ativam a resultatividade

atributiva e o valor aspectual de incoativo, ao contrário do par [a [x]Nj ar]Vi e [e [x]Nj ar]Vi

que apresenta os significados de resultatividade atributiva e espacial, em distribuição

prototípica de acordo com a construção: [a [x]Nj ar]Vi seleciona majoritariamente o

conteúdo de atributo e [en [x]Nj ar]Vi,, o de espaço.

Entre [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, porém, observamos que o primeiro tem

baixo índice de produtividade, satisfazendo, em parte, o Princípio da Não Sinonímia.

No próximo capítulo, ao investigarmos a produtividade de cada circunfixo, veremos

que [a [x]Nj ecer]Vi tem força lexical baixa e a probabilidade de que venha a instanciar

novos itens é quase nula. Com isso, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi, caracterizado

pela resultatividade atributiva e pelo aspecto incoativo, permanece capaz de produzir

novas palavras em português.

Page 126: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

126

5.3. Rede de subesquemas

Na seção anterior, discutimos as ligações estabelecidas entre as construções

lexicais e as palavras instanciadas, analisando os dados por meio de subesquemas, que

são responsáveis pela interface entre fonologia, morfologia e semântica. Cabe, nesta

seção, salientar as características menos específicas das construções a fim de

obtermos um esquema geral que acomode todos os dados.

No esquema geral, exposto abaixo em (85), os circunfixos são substituídos pelas

variáveis Circ que ficam em torno da variável x, que pode ter entrada lexical ou não. No

caso de ter, será coindexado e terá a categoria N (nome), que pode se realizar como

um adjetivo (A) ou um substantivo (S). O produto é sempre marcado pela categoria V,

de verbo.

(85)

ωi | σ | / /

[Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S

[Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado

No polo fonológico, é feita a representação arbórea da palavra (ω), através do

índice subscrito i, do número de sílabas (σ) e da representação fonológica. Já no polo

semântico, expressa-se o conceito mais genérico do esquema de circunfixação, o de

resultatividade, que, de modo polissêmico, pode ser entendido como uma referência

ao atributo ou ao espaço.

Page 127: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

127

Diante disso, é possível postular uma rede esquemática que teria esse esquema

genérico de (85) como centro prototípico, do qual se espraiariam os demais

subesquemas, com suas particularidades formais e semânticas. Essa rede permite que

os subesquemas não sejam estruturas isoladas, mas estejam interconectados,

favorecendo, inclusive, a mudança construcional. Por exemplo, quando uma palavra

como ‘amarelecer’ deixa de ser identificada com o subesquema [a [x]Nj ecer]Vi e passa a

ser observada como uma instanciação de [a [x]Nj ar]Vi, há uma mudança de construção

que não pode ser explicada, a menos que se visualize uma rede de conexões entre os

subesquemas. Assim, a mudança de ‘amarelecer’ para ‘amarelar’ se efetiva tanto pelo

fato de as construções estarem conectadas, quanto pela analogia com outras palavras

do paradigma de [a [x]Nj ar]Vi, como veremos no próximo capítulo.

Podemos providenciar outro exemplo: o verbo ‘abranquecer’ passou a

‘embranquecer’, sendo, então, instanciado pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi. Essa

mudança só pode ser explicada se esses subesquemas estiverem conectados de

alguma maneira. Do mesmo modo, temos casos em que dois subesquemas selecionam

sentidos distintos de uma mesma base fonológica, como ‘afiar’ e ‘enfiar’, ou ‘aterrar’ e

‘enterrar’. Esses subesquemas devem, necessariamente, estar relacionados por links

de subparte ao esquema mais genérico [Circ – x(Nj) - Circ]Vi.

Page 128: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

128

ωi | σ | / /

[Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S

[Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado

[a [x]Nj ar]Vi

[a – x – ar]Vi

[en [x]Nj ar]Vi

[en – x – ar]Vi

[a [x]Nj ecer]Vi

[a – x – ecer]Vi

[en [x]Nj ecer]Vi

Figura 5: rede de esquemas de circunfixação

5.4. Resumindo

Neste capítulo, verificamos como ocorre o processamento cognitivo de verbos

de circunfixação e enfatizamos que o escaneamento dinâmico é responsável pela

conceptualização de verbos em português. Discutimos o tratamento que a literatura

tem despendido ao processo de resultatividade, apontado por Leite (2006) como uma

marca da parassíntese. Com base nos estudos de Goldberg & Jackendoff (2004),

estabelecemos que os significados processuais envolvendo um atributo podem dar

origem aos que envolvem mudança de lugar, promovendo, assim, uma relação

polissêmica na construção gramatical.

Esperamos ter demonstrado como se organizam os subesquemas de

circunfixação e como a aplicação dos verbos parassintéticos no discurso possibilita

LS LS LS LS

L I L I L I

Page 129: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

129

ganhos semântico e pragmático, já que são alimentados por nossas bases de

conhecimento e por operações cognitivas, como metáfora, metonímia e ajustes focais.

Além disso, a rede esquemática favorece uma investigação que perceba as

construções como estruturas de processamento online que podem compartilhar

informações. Essa perspectiva será crucial para verificarmos, no próximo capítulo, a

influência das frequências de tipo e de ocorrência na compreensão dos subesquemas

parassintéticos.

Page 130: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

130

ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DOS

CIRCUNFIXOS

A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.

Gunnar Myrdal

Sabemos que um determinado processo morfológico considerado produtivo

em um estágio da língua pode sofrer mudanças e ser caracterizado improdutivo, ou

menos produtivo, em um período de tempo posterior (BAUER, 2001). O inverso

também pode acontecer: processos mais marginais tomando a dianteira e se tornando

produtivos em outro período. Essa mudança na construção lexical pode ser motivada

pela competição com outra construção que tenha propriedades bastante similares e

maior difusão no léxico. Nesse caso, o uso pode ser uma das causas da mudança

construcional, dilatando ou restringido o poder de instanciação de unidades. Cabe ao

linguista tentar descrever e analisar os dados através de ferramentas que deem um

tratamento adequado ao poder de criatividade do falante, à probabilidade de

ampliação lexical e ao princípio da economia da linguagem.

Neste capítulo, estamos interessados em investigar a probabilidade de os

subesquemas [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi criarem novos

itens. Em especial, observaremos o que os índices de frequência de tipo e de

frequência de uso indicam sobre a produtividade e o grau de entrincheiramento das

construções. Para tanto, utilizamos uma ampla amostragem de textos escritos em

português para colher as frequências de uso, cobrindo três períodos da história do

6

Page 131: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

131

português, nas delimitações propostas por Galves et alii (2006): Português Arcaico,

Português Clássico e Português Contemporâneo. Foi necessário consultar também

dicionários etimológicos a fim de tornar claras a origem e a data de entrada das

palavras, conforme destacado ao longo do capítulo 3.

É importante notar que grande parte dos dados é instanciada a partir de

construções parassintéticas do português, sendo, assim, unidades do léxico da língua

portuguesa. Contudo, uma pequena parcela provém de empréstimos de outras línguas

românicas, como o espanhol (‘emperrar’ e ‘enaltecer’) e o italiano (‘empatar’), ou tem

origem latina (que é a maioria neste grupo, como ‘acenar’, ‘embargar’ e ‘emagrecer’).

O caso de [a [x]Nj ecer]Vi é exemplar dessa origem externa, posto que muitos dos

verbos passam ao português via latim, como ‘aborrecer’, de ‘abhorrescere’, ‘adoecer’,

de ‘addolescere’, e ‘adormecer’, de ‘addormiscere’. Como vimos no capítulo anterior,

os únicos casos de formação desse subesquema no português seriam ‘abastecer’ e

‘amortecer’. Outra peculiaridade que deve ser somada a isso é o fato de

encontrarmos, nos dicionários consultados, verbos formados por construções

diferentes, mas que apresentam a mesma base (em alguns casos, a base é a mesma

apenas em termos formais, como veremos mais à frente):

(1) ‘abranquecer’ e ‘embranquecer’ de ‘branco’

‘emordaçar’ e ‘amordaçar’ de ‘mordaça’

‘abalsar’ e ‘embalsar’ de ‘balsa’

‘empossar’ e ‘apossar’ de ‘posse’

Page 132: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

132

Temos de investigar se todos esses verbos veiculam o mesmo sentido e se suas

frequências apresentam alguma divergência. Assim, diante do quadro que foi

esboçado, pretendemos responder algumas hipóteses que nortearam a análise dos

dados:

a. quais construções de circunfixação são produtivas no português

contemporâneo? Como ocorre a distribuição em uma escala de produtividade?

b. Todas as construções sempre foram produtivas? Qual foi o percentual de

instanciação no percurso da língua?

c. Quão importante é a noção de entrincheiramento para a força lexical de um

esquema? Como ocorre o armazenamento de itens no léxico?

d. Os resultados da frequência de ocorrência podem indicar o entrincheiramento

das construções? E quanto ao entrincheiramento de palavras?

e. Palavras que entraram no léxico do português como empréstimo sugerem

menor força lexical ou apontam para uma reanálise?

6.1. Análise dos resultados de frequência

6.1.1. Resultados da frequência de tipo

Iniciamos a análise por um dos fatores que mais determina a produtividade de

um esquema: a frequência de tipo. Com base no corpus coletado no dicionário

Houaiss, apresentamos, no gráfico 1, os valores percentuais de como cada construção

se distribuiu em relação aos verbos parassintéticos, ou seja, quantos tipos existem

para cada construção, como [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo. Percebemos

Page 133: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

133

que, de um total de 726 verbos, há maior quantidade de dados instanciados por

[a[x]Njar]Vi, com 57% das formações. Em seguida, aparecem as construções [en[x]Njar]Vi,

com 35% dos dados, e [en [x]Nj ecer]Vi, com 6%. A construção [a[x]Nj ecer]Vi responde

pela menor parcela de dados: 2% (apenas 11 palavras). O gráfico abaixo sintetiza essas

informações.

Gráfico 1: distribuição dos dados no corpus coletado no dicionário Houaiss

Uma vez que as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi apresentam uma alta

frequência de tipo, podemos inferir, com base no que é proposto no modelo cognitivo

de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010), que estas são mais produtivas que os

circunfixos terminados por ‘-ecer’. A construção [a [x]Nj ecer]Vi, por sua vez,

representaria um caso de produtividade nula ou extremamente baixa, pois tem poucos

itens lexicais instanciados.

No entanto, embora esses dados nos indiquem qual a proporção que cada

construção teve na formação de verbos parassintéticos, não nos revelam por que

caminhos de produtividade seguiram durante o curso da língua. Em outras palavras,

2% 6%

57%

35% [a[x]ecer]

[en[x]ecer]

[a[x]ar]

[en[x]ar]

Page 134: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

134

sabemos quais construções são consideradas mais produtivas nos dias atuais, mas

esses resultados não apontam até que período cada construção foi rentável e a partir

de quando seus índices de produtividade começaram a cair.

Diante disso, as palavras do corpus foram separadas de acordo com a data de

primeira entrada fornecida pelo dicionário Houaiss, para que pudéssemos calcular os

valores percentuais de cada circunfixo através da fórmula abaixo, exibida

anteriormente na subseção 4.1. Vale relembrar que P é o índice de produtividade de

um processo lexical, levando em conta a quantidade de tipos instanciados pelo

processo em um determinado tempo (n1) e o total de palavras que surgiram no mesmo

período (N).

P = n1 x 100

N

Os resultados de cada circunfixo, distribuídos entre os séculos XII e XX, são

apresentados na tabela 1.

[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi

XII 0 0 0,881057 0,220264

XIII 0,127877 0,170503 0,660699 0,29838

XIV 0,073314 0,293255 0,83089 0,537634

XV 0 0,011067 0,658288 0,5386

XVI 0,022134 0,011067 0,564409 0,498008

XVII 0 0,26699 0,41383 0,20024

XVIII 0 0,035655 0,499168 0,130734

XIX 0 0,013317 0,181111 0,101209

XX 0 0,008065 0,096786 0,112917

Tabela 1: distribuição cronológica dos dados encontrados no Houaiss

Page 135: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

135

Os primeiros vocábulos registrados pelo dicionário (‘acamar’, ‘acertar’ e

‘enforcar’) são instanciados por [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi no século XII, ao passo que

não há ainda palavras de [a [x]Nj ecer]Vi ou [en [x]Nj ecer]Vi. Os índices de produção dos

verbos terminados em ‘-ar’ – principalmente os do subesquema [a [x]Nj ar]Vi – são

sempre muito altos se comparados com os subesquemas terminados por ‘-ecer’. A

construção [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo, só produziu unidades lexicais em três séculos

(XIII, XIV e XVI), enquanto [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi retornaram valores de frequência

durante todo o período pesquisado. No que tange ao subesquema [en [x]Nj ecer]Vi,

percebemos que apresenta índices consideravelmente mais baixos que os das

construções [a[x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, ainda que não se aproxime da nulidade

representada por [a[x]Nj ecer]Vi.

Essas considerações reforçam nossas hipóteses e parecem confirmar a

distribuição apresentada no gráfico 1. Haveria, portanto, uma produtividade escalar,

em que cada circunfixo se diferenciaria dos demais pelos seus respectivos índices de

frequência de tipo numa sequência temporal determinada. O gráfico comparativo,

ilustrado abaixo, evidencia nossa hipótese de que os dois circunfixos terminados por

‘-ar’ seriam mais produtivos que aqueles terminados por ‘-ecer’, sendo que

[a[x]Njecer]Vi apresentaria produtividade nula desde o século XVII.

Page 136: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

136

Gráfico 2: comparação diacrônica entre os circunfixos

O gráfico 2, elaborado com os valores apresentados na tabela 1, aponta para a

maior produtividade de [a[x]Nj ar]Vi e [en[x]Nj ar]Vi, principalmente entre os séculos XII e

XVIII. Vejamos, na próxima subseção, os resultados da frequência de uso.

6.1.2. Resultados da frequência de uso

Como um dos fatores que influenciam a produtividade de um esquema é a

frequência de uso, já que determina o grau de entrincheiramento da construção,

computamos os valores da frequência de cada palavra parassintética em textos

escritos entre os séculos XIV e XX1. Utilizamos a fórmula exibida no capítulo 4, com a

qual é calculado o número de ocorrências de uma palavra (n2) pelo número total de

ocorrências no corpus (N) (valor que foi apresentado na Tabela 3).

P = n2 x 100

N’

1 Como já abordamos, não foram encontrados dados significativos no período anterior ao século XIV.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX

[a[x]ecer]

[en[x]ecer]

[a[x]ar]

[en[x]ar]

Page 137: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

137

Abaixo, descrevemos os resultados das cinco palavras mais frequentes de cada

subesquema, iniciando pelo século XIV2. Na primeira coluna da tabela 2, especificamos

os subesquemas; na segunda, distribuímos as palavras; na terceira, estão dispostos os

valores absolutos de frequência de cada verbo em relação ao total de palavras do

corpus; na quarta coluna, por fim, são apresentados os valores percentuais de

frequência dos verbos pesquisados.

Século XIV

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 43/504183 0,008529

Adoecer 34/504183 0,006744

Abastecer 6/504183 0,00119

Adormecer 3/504183 0,000595

Aborrecer 3/504183 0,000595

[en [x]Nj ecer]Vi Enriquecer 3/504183 0,000595

Ensoberbecer 1/504183 0,000198

Enfraquecer 1/504183 0,000198

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 133/504183 0,026379

Apoderar 44/504183 0,008727

Aguardar 41/504183 0,008132

Apartar 26/504183 0,005157

Aportar 21/504183 0,004165

[en [x]Nj ar]Vi Enterrar 22/504183 0,004363

Encaminhar 5/504183 0,000992

Enforcar 4/504183 0,000793

Embarcar 2/504183 0,000397

Emprazar 2/504183 0,000397

Tabela 2: frequência de ocorrência no século XIV

Os valores da Tabela 2 indicam uma alta frequência das palavras de [a [x]Nj ar]Vi,

seguidas pelos dados de [a [x]Nj ecer]Vi. No século XIV, foram encontrados apenas três

dados de [en[x]Nj ecer]Vi (‘enriquecer’, ‘ensoberbecer’ e ‘enfraquecer’). 2 Os resultados completos podem ser encontrados no Anexo III.

Page 138: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

138

Cabe ressaltar que, nos casos de [a [x]Nj ecer]Vi, as palavras mais bem

classificadas em relação à sua ocorrência são as menos recuperáveis pelo falantes, isto

é, as palavras menos transparentes morfológica e semanticamente retornam

frequências maiores. Buscamos observar, deste ponto em diante, se esse

comportamento se repete nos demais séculos.

Século XV

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 29/590942 0,004907

Aborrecer 22/590942 0,003723

Adormecer 19/590942 0,003215

Adoecer 16/590942 0,002708

Amanhecer 6/590942 0,001015

[en [x]Nj ecer]Vi Ensoberbecer 7/590942 0,001185

Entristecer 5/590942 0,000846

Enegrecer 4/590942 0,000677

Endurecer 3/590942 0,000508

Enfraquecer 3/590942 0,000508

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 172/590942 0,029106

Apertar 78/590942 0,013199

Aproveitar 64/590942 0,01083

Abraçar 51/590942 0,00863

Apartar 46/590942 0,007784

[en [x]Nj ar]Vi Enterrar 21/590942 0,003554

Encaminhar 16/590942 0,002708

Envergonhar 13/590942 0,0022

Endireitar 6/590942 0,001015

Encostar 5/590942 0,000846

Tabela 3: frequência de ocorrência no século XV

Na tabela 3, os índices de [a [x]Nj ar]Vi, cujo verbo ‘acabar’ aparece como o mais

frequente mais uma vez, são bastante altos. Já em relação aos dados de [a [x]Nj ecer]Vi,

percebemos que os mais frequentes correspondem aos itens mais opacos, como

Page 139: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

139

‘agradecer’, ‘aborrecer’ e ‘adormecer’. É interessante notar que os dados de

[en[x]Njecer]Vi têm valores baixos se comparados aos demais subesquemas.

Século XVI

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 25/574042 0,004355

Amanhecer 12/574042 0,00209

Aborrecer 10/574042 0,001742

Adoecer 2/574042 0,000348

Adormecer 2/574042 0,000348

[en [x]Nj ecer]Vi Encarecer 21/574042 0,003658

Enriquecer 21/574042 0,003658

Engrandecer 20/574042 0,003484

Enobrecer 11/574042 0,001916

Entristecer 4/574042 0,000697

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 233/574042 0,040589

Apontar 123/574042 0,021427

Aproveitar 97/574042 0,016898

Acertar 52/574042 0,009059

Apartar 47/574042 0,008188

[en [x]Nj ar]Vi Embarcar 92/574042 0,016027

Encaminhar 14/574042 0,002439

Enterrar 9/574042 0,001568

Entesourar 6/574042 0,001045

Enforcar 4/574042 0,000697

Tabela 4: frequência de ocorrência no século XVI

No século XVI, o comportamento observado nos séculos anteriores se repete

com a construção [a [x]Nj ar]Vi na liderança. Em geral, os dados de [en [x]Nj ecer]Vi e

[en[x]Nj ar]Vi ocupam as posições de menor frequência. No entanto, na tabela 4, o

verbo ‘embarcar’ aparece com alta frequência, o que pode ser uma influência de o

período coincidir com as primeiras publicações sobre as navegações e descobertas

portuguesas no além-mar. Abaixo, exibimos alguns exemplos retirados dos textos que

corroboram essa hipótese.

Page 140: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

140

Dom Estevão da Gama como estava tomado, e não corria com o Governador, passou-

se pera a Ilha de João Pereira, donde se ‘embarcou’ na entrada de Janeiro na náo

Burgaleza.

(Décadas, de Diogo do Couto)

Acabados êstes negócios, se ‘embarcou’ o Governador pera Goa, onde começou a

entender com as cousas d’ElRei de Maluco, que estava nela.

(Décadas, de Diogo do Couto)

E ‘embarcando-se’ oitenta portugueses dos trezentos que então havia na terra, em

duas fustas, e um navio redondo, bem aparelhados de todas as coisas necessárias à

empresa que levavam, se partiram dali a três dias com grande pressa, por se temerem

que se fossem sentidos pelos mouros da terra dessem aviso aos outros mouros que

eles iam buscar.

(Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto)

É certo, todavia, que não há, necessariamente, uma regularidade na colocação

das palavras, porque nem sempre uma palavra que aparece bem colocada em uma

sincronia tem o mesmo comportamento em outras épocas. Nesse sentido, as

características de cada texto analisado podem influenciar a distribuição dos itens

lexicais. Um documento que verse sobre experiências medicinais favorecerá a seleção

de palavras do domínio medicinal, da mesma forma que textos sobre feitos heroicos

ativarão unidades lexicais relacionadas aquele domínio semântico. Entretanto, uma

verificação mais detalhada do assunto foge ao escopo deste trabalho. Vejamos os

resultados do século XVII.

Século XVII

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

Page 141: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

141

[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 48/563636 0,008516

Aborrecer 31/563636 0,0055

Adoecer 16/563636 0,002839

Amanhecer 16/563636 0,002839

Adormecer 5/563636 0,000887

[en [x]Nj ecer]Vi Enfraquecer 22/563636 0,003903

Encarecer 13/563636 0,002306

Enriquecer 12/563636 0,002129

Entristecer 8/563636 0,001419

Emudecer 7/563636 0,001242

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 320/563636 0,056774

Aproveitar 82/563636 0,014548

Apartar 54/563636 0,009581

Assegurar 54/563636 0,009581

Acertar 51/563636 0,009048

[en [x]Nj ar]Vi Encaminhar 23/563636 0,004081

Embarcar 20/563636 0,003548

Envergonhar 19/563636 0,003371

Engrossar 12/563636 0,002129

Enterrar 8/563636 0,001419

Tabela 5: frequência de ocorrência no século XVII

Na tabela 5, nota-se que o verbo ‘acabar’, o mais bem colocado entre os itens

de [a [x]Nj ar]Vi com 320 ocorrências, diferencia-se de ‘apartar’ (54 ocorrências) e

‘assegurar’ (54 ocorrências), por exemplo, pelo alto número de frequência. Essa

diferença também é percebida entre ‘acabar’ e os verbos mais bem colocados dos

outros subesquemas, como ‘agradecer’ (48 ocorrências), ‘enfraquecer’ (22

ocorrências) e ‘encaminhar’ (23 ocorrências). A unidade lexical ‘acabar’ vem se

mostrando, desde os resultados dos textos do século XIV, a mais recorrente entre

todos os itens parassintéticos, apresentando, em alguns casos, quase o triplo do

número de ocorrências do segundo colocado (‘agradar’) entre os verbos formados por

[a [x]Nj ar]Vi. Sobre isso, verifiquemos os resultados da tabela abaixo:

Page 142: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

142

Século XVIII

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 43/508567 0,008455

Aborrecer 27/508567 0,005309

Adormecer 5/508567 0,000983

Apodrecer 5/508567 0,000983

Amanhecer 4/508567 0,000787

[en [x]Nj ecer]Vi Enobrecer 17/508567 0,003343

Enternecer 7/508567 0,001376

Enfraquecer 6/508567 0,00118

Enriquecer 6/508567 0,00118

Entristecer 6/508567 0,00118

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 330/508567 0,064888

Agradar 111/508567 0,021826

Apontar 71/508567 0,013961

Aproveitar 51/508567 0,010028

Apresentar 44/508567 0,008652

[en [x]Nj ar]Vi Embarcar 19/508567 0,003736

Envergonhar 13/508567 0,002556

Encaminhar 11/508567 0,002163

Endireitar 8/508567 0,001573

Envenenar 7/508567 0,001376

Tabela 6: frequência de ocorrência no século XVIII

Com os resultados expostos nas tabelas 5 e 6, percebemos que o

comportamento dos circunfixos se manteve inalterado até o fim do Português Clássico:

os dados menos transparentes de [a [x]Nj ecer]Vi têm maior frequência de uso que os

mais transparentes; verbos como ‘acabar’, ‘aproveitar’ e ‘aconselhar’, por exemplo,

obtiveram valores bastante elevados muitas das vezes; e as palavras das construções

[en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi não apresentam, por sua vez, altas taxas de frequência.

Vejamos agora os dados recolhidos em textos do português brasileiro no século XIX.

Século XIX

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi Amanhecer 32/530754 0,006029

Agradecer 29/530754 0,005464

Page 143: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

143

Aborrecer 19/530754 0,00358

Adormecer 15/530754 0,002826

Adoecer 11/530754 0,002073

[en [x]Nj ecer]Vi Empalidecer 12/530754 0,002261

Enfurecer 8/530754 0,001507

Entristecer 8/530754 0,001507

Enriquecer 6/530754 0,00113

Envelhecer 5/530754 0,000942

[a [x]Nj ar]Vi Acabar 457/530754 0,086104

Atirar 213/530754 0,040132

Aproximar 162/530754 0,030523

Apresentar 149/530754 0,028073

Aproveitar 106/530754 0,019972

[en [x]Nj ar]Vi Encaminhar 49/530754 0,009232

Enfiar 28/530754 0,005276

Embarcar 22/530754 0,004145

Encarar 21/530754 0,003957

Enterrar 17/530754 0,003203

Tabela 7: frequência de ocorrência no século XIX

Novamente, repete-se o padrão observado nos períodos anteriores: há um alto

percentual de uso das palavras de [a [x]Nj ar]Vi, enquanto [en [x]Nj ecer]Vi retorna

valores baixos. Além disso, as palavras opacas de [a [x]Nj ecer]Vi aparecem bem

colocadas, pois das cinco primeiras apenas ‘amanhecer’ é semântica e

morfologicamente transparente.

Temos verificado que o percentual de frequência de ocorrência pode

influenciar no entrincheiramento de construções, que é um dos fatores a que devemos

estar atentos enquanto analisarmos a força lexical de esquemas3 (CROFT & CRUSE,

2004; BYBEE, 2010, 2003; LANGACKER, 1987). Nesse sentindo, a análise de dados

colhidos ao longo do século XX pode revelar uma fotografia do fenômeno linguístico

em um estágio da língua próximo ao atual. Assim, apresentamos, na tabela 8, os

resultados que obtivemos nos textos do ECI-EBR.

3 Para maiores detalhes, ver o capítulo 3 desta dissertação.

Page 144: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

144

Século XX

Construção Verbos Quantidade Porcentagem

[a [x]Nj ecer]Vi

Agradecer 65/724008 0,008978

Amanhecer 22/724008 0,003039

Adormecer 14/724008 0,001934

Amadurecer 12/724008 0,001657

Apodrecer 12/724008 0,001657

[en [x]Nj ecer]Vi

Envelhecer 16/724008 0,00221

Enriquecer 15/724008 0,002072

Enlouquecer 11/724008 0,001519

Enfraquecer 10/724008 0,001381

Engrandecer 8/724008 0,001105

[a [x]Nj ar]Vi

Acabar 328/724008 0,045303

Apresentar 235/724008 0,032458

Acreditar 156/724008 0,021547

Aproveitar 85/724008 0,01174

Apontar 80/724008 0,01105

[en [x]Nj ar]Vi

Enfrentar 84/724008 0,011602

Enterrar 47/724008 0,006492

Encarar 32/724008 0,00442

Encostar 30/724008 0,004144

Enfiar 27/724008 0,003729

Tabela 8: frequência de ocorrência no século XX

O comportamento observado na diacronia se repete aqui com os dados de

[a[x]Nj ar]Vi retornando os valores mais altos de uso. No tocante aos demais

subesquemas, verificamos a manutenção de um padrão que havia sido observado nos

outros séculos. Notamos que os verbos de [en [x]Nj ecer]Vi apresentam um padrão

baixo de frequência e que todos os dados de [a [x]Nj ecer]Vi apresentam índices de uso.

6.2. Análise dos resultados do experimento

Participaram deste experimento duzentos informantes, dos quais cento e vinte

e três eram do sexo feminino (61,5%) e setenta e sete do sexo masculino (38,5%).

Page 145: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

145

Outra informação que tivemos o cuidado de selecionar foi a faixa etária dos nossos

informantes, que se distribuíram da seguinte forma: sete adolescentes (3,5%), oitenta

e seis jovens (43%), cento e seis adultos (53%) e um idoso (0,5%).

Além disso, dos duzentos entrevistados, dois declararam ter Ensino

Fundamental (1%), vinte e três cursaram até o Ensino Médio (11,5%), cinquenta

estavam cursando algum curso de Ensino Superior (25%), sessenta e quatro tinham

concluído o nível superior (32%) e sessenta e um possuíam curso de pós-graduação

(30,5%).

Na tabela abaixo, observamos os resultados do fator Gênero em relação à

ativação de determinados subsesquemas.

[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a[x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total

Feminino 39% 31% 10% 20% 100%

Masculino 37% 33% 11% 19% 100%

Tabela 9: resultado do fator gênero em relação aos circunfixos

Como se percebe, a variação na escolha de um circunfixo é equiparada tanto

para os homens quanto para as mulheres. Logo, o fator gênero não se mostra

relevante na análise morfológica empreendida neste trabalho, pois não há um mesmo

subesquema que seja selecionado mais recorrentemente por pessoas do mesmo

gênero. Um dado interessante, no entanto, é que tanto homens como mulheres

reconhecem proporcionalmente mais dados formados por [a [x]Nj ar]Vi, o subesquema

mais produtivo, e menos dados formados por [a [x]Nj ecer]Vi, a construção menos

produtiva. Não à toa que a distribuição ocorre da mesma maneira que foi evidenciada

Page 146: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

146

no gráfico 1: os circunfixos [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi são mais facilmente acessados,

enquanto os circunfixos [a[x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornam índices mais baixos.

Na tabela 10, são apresentados os valores do fator faixa etária em relação aos

quatro subesquemas parassintéticos.

[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total

Adolescente 37% 29% 14% 20% 100%

Jovem 40% 32% 9% 19% 100%

Adulto 39% 31% 11% 19% 100%

Idoso 36% 37% 7% 20% 100%

Tabela 10: resultado do fator idade em relação aos subesquemas

Novamente, verificamos que a variável idade não é relevante na seleção de um

determinado subesquema, ou seja, não há casos em que jovens selecionem mais

palavras de uma construção do que os sujeitos das outras faixas etárias. Nesse sentido,

a escolha de um determinado esquema parassintético parece não ser sensível aos

fatores extralinguísticos. A variação de cada circunfixo em função das diferentes faixas

etárias é restrita, quase nula, podendo citar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi, cujos índices são

de 19% ou 20% (ou seja, uma margem de 1%) em todos os grupos. Esse fator não nos

indica, portanto, nenhuma particularidade da manipulação das construções

parassintéticas pelos falantes. Contudo, como salientamos com relação aos dados da

tabela 9, o fato de os circunfixos mais produtivos terem valores percentuais maiores

(i.e., serem evocados mais recorrentemente) aproxima os resultados obtidos aos que

foram diagramados no gráfico 1. Na tabela 10, enquanto o percentual de acesso

mental ao subesquema [a[x]Nj ar]Vi varia de 36% a 40%, o índice de escolha de

[a[x]Njecer]Vi varia de 7% a 14%.

Page 147: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

147

Esse comportamento nos permite indiciar – como apontaremos com

argumentos mais sólidos na próxima seção – que qualquer falante do português

brasileiro ativa mais facilmente as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, já que são

mais produtivas. O inverso, com relação aos circunfixos [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi,

também parece verdadeiro: esses subesquemas são menos produtivos, portanto,

menos facilmente acessados. A seguir, são expostos os índices do fator Escolaridade.

[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total

Fundamental 44% 22% 14% 20% 100%

Médio 43% 28% 11% 18% 100%

Superior (cursando) 40% 31% 10% 19% 100%

Superior (completo) 37% 33% 11% 19% 100%

Pós-graduação 39% 32% 10% 19% 100%

Tabela 11: resultado do fator escolaridade em relação aos circunfixos

Com os resultados da tabela 11, confirmamos que as variáveis sociais não

influenciam a seleção de nenhuma das construções de parassíntese, pois a flutuação

dos índices de escolaridade é pequena. Não podemos afirmar, baseados nos

resultados apresentados na tabela 11, que o grau de instrução do falante tenha

relação direta com a escolha de um determinado circunfixo. Assim, nos dados tratados

neste trabalho, a formação de palavras parece ser um terreno pouco dependente de

fatores extralinguísticos.

No mais, o mesmo panorama que já havia sido desenhado se mostra pertinente

na análise da tabela 11, visto que [a [x]Nj ar]Vi tem valores maiores (variando de 37% a

44%) que [a[x]Nj ecer]Vi (variando de 10% a 14%), independentemente da escolaridade

do indivíduo.

Page 148: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

148

Excluindo as variáveis sociais, que não se mostraram relevantes, o experimento

teve três diferentes focos, como explicamos no capítulo sobre a metodologia:

averiguar o modo como o falante (i) reage diante de palavras inventadas; (ii) processa

as palavras que foram substituídas por palavras semelhantes em razão da frequência

de uso (‘amarelecer’ > ‘amarelar’); e (iii) comporta-se com relação às palavras de

diferentes subesquemas que coexistem, embora tenham sentidos diferentes

(‘enterrar’ e ‘aterrar’). Com isso, analisamos, primeiramente, os resultados das

palavras que criamos. Comecemos com as formas inventadas a partir da base

‘banguela’:

[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi

abangueleceu embangueleceu Total

1. Meu avô _______ quando fez 60 anos. 9,5% 90,5% 100%

Tabela 12: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi

As construções parassintéticas [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornaram, nas

consultas ao dicionário Houaiss (2009), baixos índices de frequência de tipo, indicando

uma baixa probabilidade de formarem novas unidades lexicais4. Entretanto, buscamos

investigar, no teste, qual subesquema o falante adotaria diante da necessidade de criar

uma palavra. Os resultados indicaram um favorecimento de [en [x]Nj ecer]Vi, que

obteve 90,5%, em face de [a [x]Nj ecer]Vi, que teve apenas 9,5%. Já era esperado que a

construção [en [x]Nj ecer]Vi fosse mais evocada, porque, comparativamente, tem mais

força lexical que [a [x]Nj ecer]Vi. Na próxima tabela, estão dispostos os resultados para

os dados de [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, construções mais produtivas.

4 Ver subseção 6.1.1.

Page 149: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

149

[a[x]Njar]Vi [en[x]Njar]Vi

apalmitou empalmitou Total

2. Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha

costuma ________ a salada. 38,5% 61,5% 100%

abonitou embonitou Total

3. Clarinha __________ depois que passou a

frequentar a academia. 6,5% 93,5% 100%

alixeirados enlixeirados Total

4. Os resíduos hospitalares foram ____________

pela equipe da clínica médica. 7,5% 92,5% 100%

Tabela 13: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi

Os resultados das frases 2 e 4, na tabela 13, estão mais relacionados à

semântica veiculada pelas construções do que com a noção de produtividade, uma vez

que ambos os subesquemas são produtivos (ver tabela 1). No capítulo anterior,

argumentamos que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi apresenta como protótipo o domínio

semântico de resultatividade de espaço, ao passo que a construção [a [x]Nj ar]Vi se

caracteriza pelo sentido de resultatividade de atributo. Portanto, se o sentido

pretendido na aplicação da palavra no discurso faz referência à noção de local, é de

esperar que as novas instanciações partam do subesquema [en [x]Nj ar]Vi, como foram

os casos das frases 2 e 4. O foco da palavra parassintética, na frase 2, é o palmito, ou,

em termos cognitivistas, o SR interno se comporta como o elemento colocado. Na

frase 4, perfila-se o recipiente (o SR interno ‘lixeira’), sendo altamente produtivo com

[en [x]Nj ar]Vi, o que permite a instanciação de ‘enlixeirar’.

Discutimos, nas próximas tabelas, os resultados das palavras cujo mesmo

sentido da base é perfilado por subesquemas diferentes (‘abrutecer’ e ‘embrutecer’,

por exemplo).

Page 150: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

150

[a[x]Njecer]Vi [en[x]Njecer]Vi Sem

resposta

abruteceu embruteceu Total

5. As pessoas acham que Horácio

____________ com o passar dos

anos.

2,5% 95,5% 2% 100%

Tabela 14: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi

Na frase 5, visualizamos que a frequência de ‘abrutecer’ não é forte o suficiente

para impedir a emergência de ‘embrutecer’. Por ser instanciado por uma construção

com baixa força lexical, [a [x]Nj ecer]Vi, a palavra ‘abrutecer’ precisaria de alta

frequência de uso para não ser substituída por outra com as mesmas especificações

sintáticas, semânticas e pragmáticas. Os dados revelam que não parece ser o caso, já

que ‘embrutecer’ é majoritariamente reconhecido, em detrimento de ‘abrutecer’, que

resulta em apenas 2,5%. Isso tem importantes consequências para todo um grupo de

palavras de [a [x]Nj ecer]Vi que foi substituído por itens correspondentes de outras

construções de parassíntese, como ‘abranquecer’, que foi substituído por

‘embranquecer’, por exemplo. Mais à frente, retomaremos essa questão.

Os resultados da tabela abaixo foram obtidos para as formas derivadas do

adjetivo ‘brando’:

[a[x]Nj ar]Vi [en[x]Njecer]Vi Sem

resposta

abrandou embrandeceu Total

6. O mar ___________ depois que a

ressaca acabou. 91% 8% 1% 100%

Tabela 15: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi

Page 151: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

151

A unidade ‘abrandar’ é reconhecida por 91% dos informantes, o que sugere,

também nesse caso, que a palavra da construção com mais força lexical é mais

facilmente acessada pelos falantes. Isso é um efeito da conjugação da frequência de

uso com a frequência de tipo, que amplia a capacidade de construções com maior

força lexical “atraírem” unidades lexicais de outras construções com menor poder

(CROFT & CRUSE, 2004). Na tabela seguinte, vemos que isso nem sempre é verdade,

porque se, por um lado, o comportamento se repete com ‘amarelar’, mais reconhecido

pelos falantes do PB, por outro, ‘amadurar’ tem reconhecimento quase nulo.

[a[x]Njar]Vi [a[x]Njecer]Vi Sem

resposta

amadurar amadurecer Total

7. Horácio começou a ________ quando

passou a trabalhar 2% 98% 0% 100%

amarela amarelece Total

8. A luz solar é branca, mas __________

por causa da atmosfera. 70% 28% 2% 100%

Tabela 16: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi

Seria natural que ‘amadurar’, por ser instanciado por [a [x]Nj ar]Vi, a construção

mais forte, tivesse vantagem sobre ‘amadurecer’, que é instanciado pela construção

com menor poder lexical. No entanto, os dados da tabela 16 nos mostram que a alta

frequência de uso pode cooperar para manter, no léxico, palavras formadas por

esquemas com produtividade baixa ou nula. Vale lembrar que nos resultados da

frequência de ocorrência na diacronia dos textos portugueses, apresentados na

subseção 6.1.2, o verbo ‘amadurecer’ sempre esteve entre os mais frequentes, o que

favoreceu sua preservação. Assim, a frequência de ocorrência de um dado funciona

Page 152: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

152

tanto para que novos itens sejam incorporados a uma construção, quanto para inibir a

substituição de itens frequentes no léxico.

Nos exemplos da tabela 17, a seguir, temos exemplos de palavras diferentes

que evocam o mesmo significado, em função de terem a mesma base.

[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Sem

resposta

atarraxar entarraxar Total

9. Horácio usou uma chave de

fenda para ___________ o

parafuso.

97,5% 1,5% 1% 100%

amordaçaram emordaçaram Total

10. Os bandidos _____________ o

homem que foi sequestrado. 98,5% 1% 0,5% 100%

aprisionou emprisionou Total

11. Clarinha ____________ o

canário numa gaiola de vime. 97,5% 2,5% 0% 100%

Tabela 17: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi

Percebemos que todos os vocábulos de [a [x]Nj ar]Vi são mais bem avaliados em

comparação com os itens de [en [x]Nj ar]Vi. Por ser o subesquema mais produtivo, os

dados de [a [x]Nj ar]Vi acabam sendo mais facilmente interpretados pelos sujeitos.

Nesse sentido, a frequência não atua apenas nos mecanismos de ampliação lexical,

mas, principalmente, na compreensão e decodificação que o falante tem/faz das

palavras.

Na próxima tabela, são exibidos os valores das palavras que, embora

selecionem a mesma base fonológica, compatibilizam sentidos diferentes no discurso.

Por exemplo, ‘afiar’ tem o significado diferente de ‘enfiar’, ainda que, em termos

sonoros, a base seja a mesma. Justamente por perfilarem sentidos diferentes, essas

palavras podem coexistir. Difere, assim, dos exemplos da tabela 17, porque somente

Page 153: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

153

as palavras ‘atarraxar’, ‘aprisionar’ e ‘amordaçar’ foram reconhecidas, enquanto suas

correspondentes instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi (‘entarraxar’, ‘emprisionar’ e

‘emordaçar’) não gozaram de prestígio.

Voltemos à tabela 18. Como dissemos no capítulo sobre a metodologia, nessa

parte do experimento, o informante deveria decidir se (i) apenas uma das palavras

fazia parte do seu léxico internalizado, (ii) as duas eram reconhecidas, ou (iii) nenhuma

das palavras era de seu conhecimento.

[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Os dois subesquemas Sem resposta

12 Afiar Enfiar Afiar / Enfiar Total

4% 1% 95% 0% 100%

13 Acampar Encampar Acampar/ Encampar Total

61% 1% 38% 0% 100%

14 Apossar Empossar Apossar/ Empossar Total

7,5% 21% 70% 1,5% 100%

15 Abaular Embaular Abaular/ Embaular Total

49,5% 3,5% 5,5% 41,5% 100%

Tabela 18: resultados das palavras coexistentes

Qualquer resultado acima de 25% é significativo, na medida em que os

informantes podiam escolher entre quatro opções: somente palavras instanciadas por

[a [x]Nj ar]Vi; as instanciadas apenas por [en [x]Nj ar]Vi; as instanciadas pelas duas

construções; ou não apresentar nenhuma resposta. Em 12 e 14, os pares ‘afiar’ e

‘enfiar’ e ‘apossar’ e ‘empossar’ tiveram os maiores índices – 95% e 70%,

respectivamente. Percebemos, também, que os informantes tinham diferentes graus

de familiaridade com as palavras em 13, o que pode ter favorecido apenas uma delas,

uma vez que ‘acampar’ tem mais livre-curso do que ‘encampar’.

Page 154: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

154

Ainda na tabela 18, 41,5% dos informantes não souberam responder se

reconheciam os verbos ‘abaular’ e ‘embaular’, o que demonstra que gozam de menor

familiaridade entre os falantes entrevistados, ao contrário dos outros pares (‘afiar’/

‘enfiar’, e ‘apossar’/ ‘empossar’, por exemplo) que foram facilmente acessados.

Mesmo assim, ‘abaular’ teve quase a metade da porcentagem (49,5%) no cômputo

geral, demonstrando que, mesmo não conhecendo a palavra, o falante ativa mais

facilmente as estruturas instanciadas pelo subesquema [a [x]Nj ar]Vi. Em 16, na tabela

abaixo, o favorecimento se dá para o par ‘emburrecer’ / ‘emburrar’ (53%), mas

também para ‘emburrecer’ separadamente, que tem 41%.

[en [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Os dois subesquemas Sem resposta

16 Emburrar Emburrecer Emburrar/ Emburrecer Total

5,5% 41% 53% 0,5% 100%

Tabela 19: resultados das palavras coexistentes

Na próxima seção, tentaremos reunir as informações obtidas até então para

termos um panorama da relação construída entre a Frequência e a Produtividade de

unidades lexicais.

6.3. Desatando os nós

Recapitulando as observações discutidas até aqui, assumimos, com base nos

resultados da frequência de tipo, que [a [x]Nj ecer]Vi já não é produtivo, ao contrário

das demais construções de circunfixação. Além disso, os dados da frequência de uso

Page 155: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

155

nos revelam que [a [x]Nj ar]Vi apresenta os dados mais recorrentes, enquanto

[en[x]Njecer]Vi retorna baixos índices.

Conforme foi revelado no gráfico 1, o fato de [a[x]Njar]Vi e [en[x]Njar]Vi serem

entrincheirados faz com que tenham o poder de capitalizarem o maior número de

palavras.

Embora o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi seja menos produtivo, ainda é capaz de

instanciar material lexical, como demonstram as recentes formações ‘emburrecer’ e

‘emputecer’, que, segundo o Houaiss (2009), foram registradas apenas no século XX.

Além disso, nota-se que todas as suas formações são transparentes, o que torna

menos reduzida sua força lexical.

O circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, por outro lado, poderia ter sua produtividade

caracterizada como nula, posto que as últimas instanciações (‘abastecer’ e ‘amolecer’)

foram no século XVI, ainda no Português Clássico. O fato de as palavras mais

frequentes de [a [x]Nj ecer]Vi serem necessariamente as mais opacas corrobora essa

hipótese, isto é, aquelas precisam ter um alto grau de entrincheiramento para não

serem reanalisadas, como veremos na próxima subseção.

Assim, [a [x]Nj ecer]Vi parece estar no polo marcado pela menor produtividade

no continuum de força lexical. Tomando os números de frequência, podemos

estabelecer uma escala, ilustrada no quadro 2, para os subesquemas parassintéticos:

como [a [x]Nj ar]Vi tem maior frequência de tipo estaria à frente de [en [x]Nj ar]Vi, porém

ambos estariam localizados próximos ao polo de maior força lexical, com alta

produtividade e forte entrincheiramento; [en [x]Nj ecer]Vi estaria no meio da gradação;

e [a [x]Nj ecer]Vi mais próximo do polo de [- força lexical].

Page 156: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

156

Quadro 2: continuum de produtividade dos circunfixos

6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi

Voltamos aqui a uma importante questão, mencionada na introdução do

capítulo, sobre a etimologia dos verbos instanciados pelo esquema [a [x]Nj ecer]Vi.

Podemos agora traçar um paralelo entre a origem latina da maioria desses vocábulos e

a sua frequência. Das onze palavras formadas, nove são latinas e duas são formações

do português, como se vê no quadro a seguir.

Palavras latinas Palavras portuguesas

Aborrecer

Adoecer

Adormecer

Agradecer

Amadurecer

Amanhecer

Amolecer

Anoitecer

Apodrecer

Abastecer

Amortecer

Quadro 3: distribuição das palavras quanto à etimologia

A maioria das palavras de origem latina é totalmente transparente, como

‘apodrecer’, de ‘putrescere’, e ‘amanhecer’, de ‘admanescere’, não representando

problemas no reconhecimento das partes internas, por parte do falante do português

brasileiro contemporâneo. No entanto, essas palavras não foram instanciadas no

[-FORÇA LEXICAL] [+FORÇA LEXICAL]

[a[x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi

Page 157: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

157

português, mas no latim como foi demonstrado pela origem etimológica. Nesse caso,

houve uma reanálise de algumas palavras que foram incorporadas ao léxico do

português, de modo que suas bases se assemelhassem a unidades recorrentes nessa

língua. Podemos explicar de outra maneira: ‘putrescere’ foi instanciado, no latim, por

um esquema que compatibilizava uma base e um sufixo, [x]Nj escere]Vi, enquanto

‘admanescere’ derivou de um esquema de circunfixação, [ad [x]Nj escere]Vi. Dadas as

relações de similaridade simbólica (de forma e sentido) entre as duas construções, as

palavras foram reanalisadas, no português, sob o subesquema parassintético

[a[x]Njecer]Vi. Na nova compatibilização, ativaram-se as palavras ‘podre’ e ‘manhã’ – e

não ‘pŭtris’ e ‘maneāna’, já que pertencem ao léxico latino –, permitindo a maior

transparência das partes constitutivas das unidades resultantes ‘amanhecer’ e

‘apodrecer’.

Na distribuição do quadro 3, observamos, também, que algumas palavras de

origem latina são menos recuperáveis pelo falante, como ‘aborrecer’, de

‘abhorrēscere’ e ‘adormecer’, de ‘addŏrmīscĕre’, pois não passaram pela reanálise que

aconteceu com as demais formações latinas. Como foi evidenciado por meio dos

resultados da frequência de ocorrência, os dados mais opacos responderam pelas

taxas mais altas de uso, as quais são indicativas da manutenção de itens menos

regulares no léxico. Em ‘aborrecer’, não se reconhece uma base do português que

tenha sido compatibilizada na construção, o que desencadeia o surgimento do

subesquema [a - x - ecer]Vi a partir de [a [x]Nj ecer]Vi. Naquele subesquema, a variável x

não é indexicada, nem recebe a etiqueta de uma categoria gramatical, porque não

funciona como uma palavra do português. Com isso, verbos como ‘aborrecer’ e

‘adormecer’, que retornam índices maiores de uso, não reforçam diretamente o

Page 158: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

158

subesquema [a[x]Njecer]Vi a cada nova ocorrência, pois estão conectados,

primeiramente, ao subesquema [a - x - ecer]Vi, como vemos no diagrama a seguir.

[a [x]Nj ecer]Vi

LI

[a - x - ecer]Vi

O uso reforçou as palavras opacas, como ‘aborrecer’ ou ‘adormecer’, de tal

maneira que as pressões analógicas não conseguiram se manifestar, isto é, por serem

mais frequentes, foram armazenadas no léxico como um todo indivisível e estão, dessa

forma, menos sujeitas às pressões por regularização paradigmática.

As palavras que sofreram reanálise, ao contrário, eram as menos frequentes

nos primeiros séculos pesquisados (ver tabelas 5 e 6), sendo, portanto, mais

suscetíveis às pressões por um paradigma mais uniforme. Na tabela 2, por exemplo,

vemos que os cinco primeiros vocábulos de [a [x]Nj ecer]Vi são menos transparentes

(‘abastecer’ é opaco semanticamente). Ao contrário, as palavras mais transparentes,

como ‘amanhecer’ e ‘apodrecer’, vêm sempre nas posições mais periféricas nas

tabelas 5 e 6. Isso fica claro também em ‘amadurecer’, de ‘maturescere’, ‘amolecer’,

de ‘emollescere’, e ‘anoitecer’, de ‘adnoctescere’, que foram reanalisadas pelas

semelhanças fonológicas e semânticas com as palavras ‘maduro’, ‘mole’ e ‘noite’,

respectivamente. Como essas palavras latinas (‘maturescere’, ‘emollescere’, e

‘adnoctescere’) compartilhavam relações fonológicas e semânticas, estabeleceu-se

uma construção [a [x]Nj ecer]Vi, sob o domínio da qual foram instanciadas, permitindo

que outras duas palavras fossem criadas no português: ‘abastecer’ e ‘amortecer’.

Page 159: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

159

Capturamos, aqui, um dos postulados centrais do modelo de uso (BYBEE, 2010), que

indica que as construções emergem a partir da percepção de semelhanças

compartilhadas por um grupo de palavras. Assim, o subesquema [a [x]Nj ecer]Vi só

passou a existir em português a partir do momento em que palavras herdadas do latim

foram reanalisadas no português, permitindo a criação de material lexical em língua

portuguesa (‘abastecer’ e ‘amortecer’).

É importante salientar que a reanálise não se deu de forma abrupta, mas

gradual. No século XIII, são registradas as palavras de origem latina ‘aborrecer’,

‘adoecer’, ‘adormecer’, ‘agradecer’, ‘anoitecer’ e ‘apodrecer’. Desse conjunto, apenas

as últimas duas (‘anoitecer’ e ‘apodrecer’) são transparentes, o que indica que a

maioria das palavras mais antigas tem um maior grau de opacidade. No século

seguinte, são registradas ‘amadurecer’ e ‘amanhecer’, que têm origem no latim, além

de ‘amortecer’, que é o primeiro item instanciado no português. Desde a entrada das

primeiras palavras opacas até a formação de novo material lexical, houve um período

em que as informações semânticas e formais foram mapeadas para que pudesse haver

a reanálise dos itens menos frequentes e a posterior unificação do esquema. Por isso,

acreditamos, nos termos de Bybee (2010: 120), que há fortes evidências de uma

reanálise contínua nos dados de [a [x]Nj ecer]Vi.

Alguns outros verbos chegaram a ser instanciados pelo esquema [a [x]Nj ecer]Vi,

como ‘abranquecer’, ‘abrutecer’, ‘amarelecer’, entre outros. Conforme se disse

anteriormente, a formação de palavras em Linguística Cognitiva caracteriza-se, em

linhas gerais, pela seleção de um sentido de uma palavra-base que é compatibilizado

com um dos sentidos dos afixos. No caso das palavras citadas, há, registradas no

léxico, outras palavras com o mesmo sentido servindo de base para a formação, como

Page 160: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

160

‘embranquecer’, ‘embrutecer’ e ‘amarelar’. Um dos princípios da Construção

Gramatical, defendido por Goldberg (1995), é conhecido por Princípio da Economia

Maximizada, que opera com o objetivo de restringir a variedade de construções

(GOLDBERG, 1995: 69). Esse princípio pode ser aplicado no léxico para delimitar o

número de itens que atuam semântica e pragmaticamente da mesma maneira. Por

exemplo, não é econômico, linguisticamente, dispor de ‘abranquecer’ e

‘embranquecer’, instanciados a partir do perfilamento do mesmo sentido de ‘branco’;

ou de ‘embrutecer’ e ‘abrutecer’, que derivam de ‘bruto’. Nessa direção, os

experimentos realizados nos mostraram que os falantes do português reconhecem

mais facilmente palavras como ‘embranquecer’ e ‘amarelar’ do que ‘abranquecer’ e

‘amarelecer’. Explicamos, a seguir, essa preferência nos termos estatísticos da

frequência.

Palavras como ‘abranquecer’, ‘abolorecer’, ‘abrutecer’ e ‘amarelecer’ têm em

comum o fato de terem sido instanciadas por um esquema que não é mais produtivo,

ou seja, com baixa força lexical. Além do mais, as poucas palavras desse subesquema

se mantiveram na língua por terem maior frequência de uso, o que gera um maior grau

de entrincheiramento das palavras. Não foi a construção que se entrincheirou, mas sim

as palavras isoladamente, o que acarretou na perda de alguns itens menos frequentes.

No caso, as palavras com frequência baixa ou nula (‘abranquecer’, ‘abrutecer’ e

‘amarelecer’) passaram por uma mudança de subesquemas de circunfixação. Embora

essas palavras sejam registradas em dicionários etimológicos, não gozam de

reconhecimento dos falantes, que preferem suas contrapartes ‘embranquecer’,

‘embrutecer’ e ‘amarelar’, instanciadas por construções produtivas que apresentam

níveis médio ([en [x]Nj ecer]Vi) e alto ([a [x]Nj ar]Vi) na escala de produtividade (ver

Page 161: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

161

gráfico 1). Essa mudança da construção foi propiciada pela alta frequência de tipo das

demais construções e pelo baixo contingente de [a [x]Nj ecer]Vi. Os dados em (2),

abaixo, indicam que a maioria das palavras instanciadas pela construção [a [x]Nj ecer]Vi

“migrou” para o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi, que tem força lexical média.

(2) abranquecer embranquecer

abrutecer embrutecer

abolorecer embolorecer

Dos vocábulos a que tivemos acesso pelos dicionários etimológicos,

‘amarelecer’ é a única palavra que competiu com a construção [a [x]Nj ar]Vi, ‘amarelar’.

Nesse caso, prevaleceu a noção de analogia, pois existe, como identificou Kehdi (1992)

e Martins (1993), um conjunto de palavras que faz referência a cores na construção

[a[x]Nj ar]Vi, como ‘avermelhar’, ‘acinzentar’, ‘azular’, ‘alaranjar’, entre outros. Assim, o

vocábulo ‘amarelar’ parece ter sido favorecido por um processo analógico com as

palavras de [a [x]Nj ar]Vi 5.

Cabe dizer que uma das mudanças não se realizou devido à alta frequência da

palavra. No par ‘amadurecer’ e ‘amadurar’, a primeira palavra, embora esteja em uma

construção não produtiva, tem um uso muito elevado, razão pela qual ‘amadurar’ não

é fortemente aceita pelos falantes. Desse modo, observamos que, se por um lado, a

frequência pode ampliar o número de unidades lexicais instanciadas por uma

construção (exemplos em 2), por outro, pode impedir que uma palavra frequente seja

substituída por outra com menor frequência (‘amadurecer’ x ‘amadurar’).

5 Kehdi explica que ocorre uma crase entre o /a/ do circunfixo e a vogal que inicia a base ‘amarelo’. Por

essa razão, acreditamos que ‘amarelar’ e ‘azular’ sejam parassintéticos.

Page 162: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

162

Muitas outras palavras têm a mesma forma de base – ou, em termos

cognitivistas, o perfilamento do mesmo sentido da base – mas são instanciadas por

construções distintas. Majoritariamente, essa distribuição ocorre de [en [x]Nj ar]Vi para

[a [x]Nj ar]Vi, como vemos em (3).

(3) emadeirar amadeirar

emordaçar amordaçar

emprisionar aprisionar

entarraxar atarraxar

Nos exemplos de (3), uma mesma palavra serviu de base para a instanciação de

novas palavras com o mesmo sentindo, pois, segundo o Houaiss ‘emordaçar’ e

‘amordaçar’ se traduzem por ‘colocar a mordaça em’; ‘emprisionar’ e ‘aprisionar’

significam ‘por na prisão’; e assim sucessivamente. Nesse caso, não é propriamente a

força das palavras que permite a sua manutenção no léxico, mas a força da construção

em que estão inseridas que acaba por influenciar a incorporação de mais unidades

lexicais. Em outras palavras, o esquema [a [x]Nj ar]Vi, por razões de alto

entrincheiramento e, consequentemente, maior força lexical, tem vantagens na

competição entre palavras. O experimento linguístico realizado com falantes do

português brasileiro vem ao encontro dessa hipótese, pois mostramos que o falante

prefere, por exemplo, ‘aprisionar’, ‘amordaçar’ e ‘atarraxar’ às suas contrapartes em

[en [x]Nj ar]Vi (‘emprisionar’, ‘emordaçar’ e ‘entarraxar’).

Nem sempre essa distribuição em termos de entrincheiramento prevalece. Em

alguns casos, as palavras de [en [x]Nj ar]Vi parecem ser mais facilmente acessadas que

Page 163: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

163

suas contrapartes de [a [x]Nj ar]Vi, como nos itens em (4). Verificamos que estes verbos

podem ser agrupados em função do sentido locativo que se traduz por (i) ‘colocar em

x’, nos três primeiros pares de (4), ou (ii) ‘colocar x em’, nos dois últimos pares de (4).

(4) abrenhar embrenhar

abalsar embalsar

abainhar embainhar

abandeirar embandeirar

abalsamar embalsamar

Conforme foi argumentado no capítulo anterior, [a [x]Nj ar]Vi tem o centro

prototípico de resultatividade de atributo, enquanto [en [x]Nj ar]Vi se caracteriza pela

resultatividade de espaço – mesmo que as duas construções possam veicular os dois

sentidos. Da mesma forma que aconteceu com o par ‘amarelecer’ / ‘amarelar’, as

relações analógicas entre o sentido das palavras em (4) e o significado evocado pelo

esquema [en [x]Nj ar]Vi levam a uma compatibilização semântica que culmina com a

estocagem dos itens ‘embrenhar’, ‘embalsar’, ‘embainhar’, ‘embandeirar’ e

‘embalsamar’.

6.3.2. Unidades lexicais coexistentes

Dissemos que, pelo Princípio da Economia Maximizada, palavras que têm a

mesma base e veiculam o mesmo sentido tendem a entrar em competição, pois seus

usos estão vinculados aos mesmos contextos pragmáticos e semânticos. Entretanto,

Page 164: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

164

um grupo de palavras que tem a mesma base pode conviver desde que se especialize

em contextos semânticos e/ou pragmáticos distintos. É o caso das unidades

apresentadas em (5), em que diferentes subesquemas são ativados pela mesma base

fonológica.

(5) enterrar ≠ aterrar

empossar ≠ apossar

enfiar ≠ afiar

emburrecer ≠ emburrar

encavalar ≠ acavalar

enfunilar ≠ afunilar

encarneirar ≠ acarneirar

enflorar ≠ aflorar

embotijar ≠ abotijar

embarrancar ≠ abarrancar

embaular ≠ abaular

emalhar ≠ amalhar

embarrilar ≠ abarrilar

Nos exemplos de (5), embora haja – em termos formais – a mesma base,

sentidos diferentes são selecionados para cada par. Por exemplo, da base ‘funil’ pode

ser perfilada a ideia de um instrumento pelo qual escoam líquidos ou a ideia de seu

formato, a depender do subesquema com o qual a base será compatibilizada. Como o

subesquema [a [x]Nj ar]Vi tem por sentido prototípico a informação de resultatividade

Page 165: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

165

de atributo, seleciona-se o formato do objeto ‘funil’ para que haja uma aproximação

conceitual na unidade ‘afunilar’, que, de acordo com o Houaiss (2009), significa ‘dar ou

tomar a forma de funil’. Já [en [x]Nj ar]Vi, cujo sentido prototípico está relacionado à

questão de espaço, evoca a ideia de escoamento. O verbo ‘enfunilar’ significa, então,

‘fazer passar por um funil’.

O verbo ‘embarrilar’, por exemplo, mapeia o esquema imagético de conteúdo,

pois significa ‘colocar em barril’, enquanto ‘abarrilar’ seleciona o formato do barril,

indicando uma ‘transformação em algo parecido com um barril’. Apesar de ‘aterrar’ e

‘enterrar’ ativarem o sentido de resultatividade de espaço, o elemento focalizado deve

ser distinto para que as construções sejam semanticamente diferentes. Em ‘aterrar’,

perfila-se a porção de solo (o elemento colocado), enquanto em ‘enterrar’, o buraco

no solo (o recipiente).

6.3.3. Os empréstimos

Os exemplos de palavras que têm origem latina ou de outra língua românica

são escassos, somando 3,8% (ou 27 itens) do conjunto de palavras. Grande parte

desses dados vem do latim (86%), seguido do espanhol (11%) e do italiano (3%), como

se apresenta no gráfico abaixo.

Page 166: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

166

Gráfico 3: distribuição das palavras que entraram por empréstimo linguístico

Como dissemos, algumas palavras são reanalisadas pelos falantes como um

item instanciado na língua portuguesa. É o caso de ‘emudecer’, ‘emagrecer’ e

‘endurecer’, que têm origem latina, mas apresentam forte similaridade semântica e

fonológica com as palavras ‘mudo’, ‘magro’ e ‘duro’. Outras como ‘emperrar’, do

espanhol ‘emperrar’, e ‘empatar’, do italiano ‘impattare’, tornam-se opacas, pois o

falante não recupera suas bases. Em outras palavras, o primeiro grupo de itens lexicais

é instanciado por um subesquema em que [x]Nj é uma entrada lexical da língua e, com

isso, o falante consegue recuperar as partes que constituem a formação. O segundo

grupo de palavras apresenta um subesquema de opacidade, cujo elemento x não é

indexicado, nem tem categoria gramatical, i.e., não é uma entrada lexical do

português. O falante do português, por exemplo, não recupera a base ‘perro’, que

significa cachorro, da palavra ‘emperrar’. ‘Empatar’ e ‘emperrar’ são, portanto,

instanciados pelo subesquema [en - x - ar]Vi.

Demonstra-se, no seguinte quadro, a lista de palavras que entraram como

empréstimo no português. Mostramos, além do mais, a qual subesquema as palavras

estão vinculadas.

3% 11%

86%

Italiano

Espanhol

Latim

Page 167: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

167

Origem Subesquemas Palavras

Latim [a [x]Nj ecer]Vi Agradecer, Amadurecer, Amanhecer, Amolecer, Anoitecer, Apodrecer

[a - x - ecer]Vi Aborrecer, Adoecer, Adormecer

[a [x]Nj ar]Vi Aguardar

[a - x - ar]Vi Acenar, Achincalhar, Apertar, Arrecadar

[en [x]Nj ecer]Vi Emagrecer, Emudecer, Endurecer

[en - x - ar]Vi Embargar, Emborcar, Embriagar, Embrulhar, Empenhar, Engasgar

Espanhol [en - x - ar]Vi Emperrar, Enaltecer, Entornar Italiano [en - x - ar]Vi Empatar

Quadro 4: distribuição das palavras quanto à língua de origem

6.4. Resumindo

Argumentamos, neste capítulo, que, em vez de observarmos a produtividade

de construções isoladamente, devemos estar atentos a um conjunto de fatores que

reúne as noções de entrincheiramento e produtividade, bem como os reflexos da

frequência no acesso e armazenamento lexical. Nessa direção, a frequência de uso e a

frequência de tipo têm importantes papéis, pois auxiliam na expansão do grupo de

palavras e na manutenção dos itens opacos que têm alta frequência.

A pesquisa em corpora diacrônicos revelou uma fotografia de como os falantes

compreendem as unidades lexicais e os subesquemas de parassíntese ao longo do

curso da língua, desde o Português Antigo ao Português Brasileiro. Pudemos, com isso,

estabelecer limites claros de entrincheiramento em vários períodos e cotejar com os

dados de produtividade diacrônica. Outro importante mecanismo foi analisar, através

de um experimento linguístico, a conceptualização que os falantes do Português

Brasileiro fazem de alguns fatos da parassíntese, como a substituição de uma palavra

Page 168: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

168

menos frequente por outra que tenha maior taxa de frequência, ou a coexistência de

palavras com a mesma base.

Demonstramos também que, em vez de enfraquecer os esquemas de

circunfixação, casos de empréstimos geram força lexical às construções por possibilitar

a reanálise de itens, devendo ser analisados sob o escopo de uma construção mais

específica.

Concluímos, então, que (i) a construção [a [x]Nj ecer]Vi tem baixa força lexical e

a probabilidade de instanciar novos itens é reduzida, quase nula; (ii) [en [x]Nj ecer]Vi

tem força lexical próxima à média e ainda pode gerar novas unidades, mesmo que em

pouca quantidade (‘emputecer’ e ‘emburrecer’, por exemplo); e (iii) o grau de força

lexical das construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi é elevado, caracterizando um forte

entrincheiramento e uma alta probabilidade de instanciação de novos itens, como foi

evidenciado nos experimentos.

Page 169: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

169

CONCLUSÃO

Nesta dissertação, tivemos como proposta investigar a produtividade e o

comportamento morfossemântico de construções parassintéticas no português

brasileiro. Duas premissas que nos conduziram durante a produção do trabalho foram

a observação da mudança categorial como mudança de processamento cognitivo e a

relevância da frequência de tipo e da frequência de ocorrência para a manutenção e

formação de unidades lexicais.

Uma vez que essas unidades lexicais não são estruturas ad hoc, mas vinculadas

a esquemas genéricos, pudemos constatar que o entrincheiramento de construções

contribui para sua maior produtividade, ao passo que o entrincheiramento de palavras

impede sua reanálise pela força paradigmática.

A análise das operações cognitivas (metáfora, metonímia, ajuste focal) que

atuam nos fenômenos linguísticos possibilitou que verificássemos as extensões

semânticas decorrentes da aplicação das palavras em diferentes contextos discursivos.

Da mesma maneira, a organização dos subesquemas em uma rede indica o modo pelo

qual a categorização por protótipos age na nossa mente: figura no centro o esquema

mais genérico e radialmente se espraiam os subesquemas mais específicos.

Naturalmente, não se pretendeu esgotar o assunto, cabendo, pois, apontar

alguns caminhos que ainda não foram explorados nos estudos do léxico do português.

Na perspectiva construcional (GOLDBERG, 1995), assume-se que morfologia e sintaxe

têm muitas propriedades em comum, já que são tratadas como pareamentos de forma

e significado. Falta, então, verificar se a transitividade dos diversos verbos

7

Page 170: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

170

parassintéticos influencia o agrupamento semântico entre resultatividade de atributo

e resultatividade de espaço. Além disso, como tangenciamos no capítulo 5, a

causatividade parece estar correlacionada ao lugar que o hospedeiro ocupa na

construção resultativa. Retomando os exemplos de (13) e (14), aqui apresentados

como (1), o verbo ‘amolecer’ pode compatibilizar com uma estrutura de um lugar ou

dois lugares, o que interfere na causatividade ou não causatividade da construção.

(1) O chocolate amoleceu.

O calor amoleceu o chocolate.

Outra importante questão é o processo de prótese do [a] em verbos não

parassintéticos, como ‘amostrar’, ‘atropeçar’, ‘assujeitar’ e ‘alembrar’. Tidos como

arcaísmos pela gramática tradicional, esses verbos podem revelar, ao contrário, uma

mudança de subesquemas. O processo inverso, o apagamento de uma das frações do

circunfixo (a aférese), parece ser um caso semelhante, como em ‘paixonar’, ‘noitecer’

e ‘cabar’. É necessário verificar quais são as motivações extralinguísticas para tais

processos fonológicos e se há implicações nas representações semânticas e formais.

Esperamos, em suma, ter contribuído para o desenvolvimento dos estudos em

Linguística Cognitiva no português e, mais especificamente, para o refinamento

daqueles que versam sobre os fenômenos do léxico.

Page 171: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

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ANEXO I

TABELA 1: [a [X] ar] = 418 palavras

TABELA 1: [a [X]Nj ar]Vi

Vocábulo Base Categoria Datação Ababadar babado Adjetivo s.XIX Ababelar babel Substantivo 1949 Ababosar baboso Adjetivo - Abacalhoar bacalhau Substantivo 1949 Abaciar bacia Substantivo s.XX Abadalar badalo Substantivo - Abafar bafo Substantivo s. XV Abagaçar bagaço Substantivo - Abaianar baiano Adjetivo - Abainhar bainha Substantivo s. XV Abairrar bairro Substantivo 1783 Abaixar baixo Adjetivo s. XIII Abalançar balança Substantivo 1596 Abalizar baliza Substantivo - Abaloar balão Substantivo 1913 Abalofar balofo Adjetivo 1783 Abalsamar bálsamo Substantivo s. XIX Abalsar balsa Substantivo 1783 Abananar banana Substantivo 1899 Abandar bando Substantivo s.XX Abandejar bandeja Substantivo 1612 Abandidar bandido Substantivo s. XX Abaquetar baqueta Substantivo 1783 Abarbarar bárbaro Adjetivo 1899 Abarcar brachium Latim s. XV Abaritonar barítono Substantivo 1913 Abaronar barão Substantivo 1942 Abarracar barraca Substantivo 1777 Abarrancar barranco Substantivo s. XV Abarricar barrica Substantivo s. XIX Abarrilar barril Substantivo s. XIX Abarrotar barrote Substantivo 1532 Abastardar bastardo Adjetivo 1678 Abatatar batata Substantivo 1837 Abatinar batina Substantivo 1783 Abaular baú Substantivo s.XVII Abaunilar baunilha Substantivo s. XX Abeatar beato Adjetivo 1783 Abecar beca Substantivo s.XIX

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Abeirar beira Substantivo 1750 Abençoar bênção Substantivo 1562 Abendiçoar bendição Substantivo 1562 Abengalar bengala Substantivo 1783 Abesourar besouro Substantivo 1899 Abestar besta Adjetivo s. XX Abexigar bexiga Substantivo - Abezerrar bezerro Substantivo - Abibliotecar biblioteca Substantivo 1783 Abicar bico Substantivo 1552 Abigodar bigode Substantivo - Abilolar bilola Substantivo - Abiombar biombo Substantivo - Abiqueirar biqueira Substantivo - Abiscoitar biscoito Substantivo 1783 Abisonhar bisonho Adjetivo - Abobar bobo Adjetivo 1647 Abocadar bocado Substantivo - Abocetar boceta Substantivo 1450 Abodegar bodega Substantivo s. XIV Aboemiar boêmio Adjetivo 1986 Abofetar bofete Substantivo - Abolachar bolacha Substantivo 1986 Aboletar boleto Substantivo 1712 Abolhar bolha Substantivo - Abonançar bonança Substantivo 1532 Abordar borda Substantivo s. XV Abordoar bordão Substantivo 1697 Abotijar botija Substantivo - Abotinar botina Substantivo 1830 Abotoar botão Substantivo s. XIV Abraçar braço Substantivo 1255 Abrandar brando Adjetivo s. XIV Abrasar brasa Substantivo s. XIV Abrasileirar brasileiro Adjetivo 1872 Abrasilianar brasiliano Adjetivo - Abrasonar brasão Substantivo 1879 Abrecar breque Substantivo - Abrejar brejo Substantivo 1783 Abrejeirar brejeiro Substantivo 1938 Abrilhantar brilhante Adjetivo 1789 Abrumar bruma Substantivo 1710 Abrutar bruto Adjetivo - Aburguesar burguês Substantivo 1888 Acabanar cabana Substantivo 1783 Acabar cabo Substantivo s. XIII Acabelar cabelo Substantivo 1621

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Acaboclar caboclo Substantivo 1872 Acacetar cacete Substantivo - Acachaçar cachaça Substantivo 1918 Acachafundar cachafundo - Acachoeirar cachoeira Substantivo 1912 Acacifar cacifo Substantivo 1783 Acafajestar cafajeste Adjetivo 1926 Acafetar café Substantivo 1899 Acaixeirar caixeiro Substantivo - Acajadar cajado Substantivo 1783 Acalmar calmo Adjetivo s. XV Acalorar calor Substantivo 1864 Acamar cama Substantivo 1136 Acamaradar camarada Adjetivo 1783 Acambraiar cambraia Substantivo - Acampainhar campainha Substantivo - Acampar campo Substantivo s. XIII Acamurçar camurça Substantivo 1704 Acanalar canal Substantivo 1670 Acanalhar canalha Adjetivo 1879 Acanastrar canastra Substantivo 1986 Acancelar cancela Substantivo 1845 Acanelar canela Substantivo 1621 Acangaceirar cangaceiro Substantivo - Acanhar canho Substantivo 1543 Acanivetar canivete Substantivo - Acanoar canoa Substantivo 1986 Acanteirar canteiro Substantivo - Acapachar capacho Substantivo/Adjetivo 1891 Acapangar capanga Substantivo 1928 Acariciar carícia Substantivo 1559 Acarinhar carinho Substantivo 1813 Acarneirar carneiro Substantivo - Acarrancar carranca Substantivo s. XVIII Acarrapatar carrapato Substantivo s. XVIII Acarretar carreta Substantivo s. XIV Acartolar cartola Substantivo - Acasalar casal Substantivo 1881 Acasmurrar casmurro Adjetivo - Acastanhar castanho Adjetivo 1783 Acastelhanar castelhano Adjetivo 1596 Acavalar cavalo Substantivo 1569 Acavaleirar cavaleiro Substantivo s.XIX Acavaletar cavalete Substantivo - Acebolar cebola Substantivo 1783 Acenar accinare, de cinnus Latim XIV Acerejar cereja Substantivo 1647

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Acertar certo Adjetivo 1118 Acevadar cevada Substantivo 1562 Achatar chato Adjetivo 1858 Achincalhar chinquilho Substantivo 1833 Achinelar chinelo Substantivo - Achinesar chinês Substantivo 1537 Achocolatar chocolate Substantivo - Acidrar cidra Substantivo - Acinzentar cinzento Adjetivo 1851 Aclimar clima Substantivo 1836 Acobertar coberta Substantivo s. XV Acocorar cócora(s) Substantivo 1553 Acoicear coice Substantivo - Acolchetar colchete Substantivo 1783 Acolchoar colchão Substantivo 1522 Acoletar colete Substantivo - Acomadrar comadre Substantivo 1871 Acomodar cômodo Adjetivo 1570 Acompadrar compadre Substantivo s. XIX Acompridar comprido Adjetivo 1871 Aconfradar confrade Substantivo 1899 Aconselhar conselho Substantivo s. XIII Acorcundar corcunda Adjetivo 1913 Acorrentar corrente Substantivo 1836 Acortinar cortina Substantivo 1871 Acostumar costume Substantivo 1255 Acotovelar cotovelo Substantivo 1532 Acovar cova Substantivo 1899 Acovardar covarde Adjetivo s. XV Acreditar crédito Substantivo s. XVI Acriançar criança Substantivo - Acrioular crioulo Adjetivo - Aculturar cultura Substantivo 1930 Adamar dama Substantivo 1712 Adamascar damasco Substantivo 1570 Adelgadar delgado Adjetivo - Adelicadar delicado Adjetivo - Adentrar dentro Advérbio 1817 Adestrar destro Adjetivo 1189 Adiamantar diamante Substantivo - Adiar dia Substantivo 1572 Adietar dieta Substantivo - Adoçar doce Adjetivo s. XIV Adoentar doente Adjetivo 1831 Adonar dono Substantivo - Afaçanhar façanha Substantivo - Afamar fama Substantivo s.XIII

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Afandangar fandango Substantivo - Afedorentar fedorento Adjetivo - Afeminar femin- Adjetivo s. XV Aferar fera Adjetivo - Aferrar ferro Substantivo s.XV Aferrenhar ferrenho Adjetivo 1899 Afervorar fervor Substantivo 1619 Afiançar fiança Substantivo 1623 Afiar fio Substantivo s. XIV Afidalgar fidalgo Adjetivo 1543 Afinar fino Adjetivo s. XV Afivelar fivela Substantivo 1783 Aflamengar flamengo Substantivo - Aflorar flor Substantivo 1783 Afofar fofo Adjetivo 1712 Afolhar folha Substantivo s. XVI Afrancesar francês Adjetivo 1783 Afranzinar franzino Adjetivo - Afreguesar freguês Substantivo 1562 Afrescar fresco Adjetivo 1610 Afronhar fronha Substantivo - Afrontar fronte Substantivo s. XIII Afrouxar frouxo Adjetivo s. XV Afundar fundo Substantivo s. XIII Afunilar funil Substantivo 1665 Agaitar gaita Substantivo - Agalegar galego Adjetivo 1540 Agalhar galho Substantivo - Agalinhar galinha Substantivo - Agarotar garoto Substantivo 1871 Agarrar garra Substantivo s. XVI Agigantar gigante Adjetivo 1612 Agradar gratus Latim s. XV Agraudar graúdo Adjetivo 1871 Agrisalhar grisalho adjetivo - Agrosseirar grosseiro Adjetivo - Agrupar grupo Substantivo 1818 Aguardar guardare Latim 1288 Aguitarrar guitarra Substantivo - Ajeitar jeito Substantivo s. XVI Ajesuitar jesuíta Adjetivo - Ajoelhar joelho Substantivo s. XIII Ajuizar juiz Substantivo 1647 Ajustar justo Adjetivo s. XIV Aladainhar ladainha Substantivo - Alagar lago Substantivo s. XIV Alaranjar laranja Substantivo 1516

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Alarar lar Substantivo 1899 Alargar largo Adjetivo 1294 Aletradar letrado Adjetivo - Alinhar linha Substantivo s. XIII Alisar liso Adjetivo s. XVI Alisboetar lisboeta Adjetivo - Alistar lista Substantivo s. XVIII Alojar loja Substantivo s. XIV Alongar longo Adjetivo s. XIII Alourar louro Adjetivo - Amaciar macio Adjetivo 1789 Amadeirar madeira Substantivo 1645 Amadrinhar madrinha Substantivo - Amalaguetar malagueta Substantivo - Amaldiçoar maldição Substantivo 1344 Amalhar malha Substantivo s.XVII Amanequinar manequim Substantivo 1899 Amansar manso Adjetivo s. XIII Amantar manta Substantivo 1836 Amanteigar manteiga Substantivo 1619 Amarasmar marasmo Substantivo - Amarfinar marfim Adjetivo - Amaricar maricas Adjetivo - Amarinheirar marinheiro Substantivo - Amarotar maroto Adjetivo - Amassar massa Substantivo 1258 Amatilhar matilha Substantivo 1858 Amatronar matrona Substantivo - Amazelar mazela Substantivo s.XIV Ameigar meigo Adjetivo 1789 Amelaçar melaço Substantivo 1882 Amembranar membrana Substantivo - Ameninar menino Substantivo 1657 Amentar mente Substantivo s.XIV Amesquinhar mesquinho Adjetivo 1575 Amestrar mestre Substantivo s.XV Ametalar metal Substantivo 1647 Amilhar milho Substantivo 1899 Amineirar mineiro Adjetivo 1913 Amoçar moço Adjetivo - Amochilar mochila Substantivo - Amodernar moderno Adjetivo 1899 Amoedar moeda Substantivo s.XIV Amofinar mofina Adjetivo 1536 Amoitar moita Substantivo 1844 Amontanhar montanha Substantivo 1870 Amontoar montão Substantivo s. XIV

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Amordaçar mordaça Substantivo 1881 Amorenar moreno Adjetivo 1899 Amornar morno Substantivo s.XV Amortalhar mortalha Substantivo 1553 Amostardar mostarda Substantivo 1873 Amuar mu Substantivo 1543 Amulatar mulato Adjetivo 1699 Amulherar mulher Substantivo - Amulherengar mulherengo Adjetivo - Amumiar múmia Substantivo - Amunhecar munheca Substantivo - Ananicar nanico Adjetivo 1836 Anatar nata Substantivo 1716 Anegrar negro Adjetivo - Aninhar ninho Substantivo 1619 Anotar nota Substantivo s. XV Apadrinhar padrinho Substantivo 1589 Apainelar painel Substantivo 1632 Apaiolar paiol Substantivo 1918 Apaisanar paisano Adjetivo - Apaixonar paixão Substantivo s. XV Apalaçar palác(i)o Substantivo 1899 Apalacetar palacete Substantivo - Apalacianar palaciano Adjetivo 1712 Apalancar palanque Substantivo s.XV Apalavrar palavra Substantivo 1597 Apalhaçar palhaço Adjetivo - Apantufar pantufa Substantivo 1543 Aparabolar parábola Substantivo 1871 Aparceirar parceiro Substantivo - Aparentar parente Substantivo s. XIV Aparoquiar paróquia Substantivo - Apartar parte Substantivo 1214 Apascoar páscoa Substantivo - Apassivar passivo Adjetivo 1858 Apatetar pateta Adjetivo 1858 Apatifar patife- Adjetivo 1755 Apaulistar paulista Adjetivo - Apavorar pavor Adjetivo 1585 Apear pé Substantivo 1540 Apeçonhentar peçonhento Adjetivo - Apedantar pedante Adjetivo - Apepinar pepino Substantivo 1783 Aperfeiçoar perfeição Substantivo 1611 Apertar pectus Latim s.XIII Apiedar piedade Substantivo 1532 Apimentar pimenta Substantivo 1789

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Apinhar pinha Substantivo 1619 Apiramidar pirâmide Substantivo - Apoderar poder Substantivo s. XIII Apolentar polenta Substantivo 1562 Apoliticalhar politicalha Substantivo - Apoltronar poltrona Substantivo - Apontar ponta Substantivo s. XV Aportar porto Substantivo 1211 Aportuguesar português Adjetivo 1666 Apossar posse Substantivo 1567 Apreçar preço Substantivo 1209 Apresentar presente Substantivo s. XIII Apressar pressa Adjetivo 1344 Apresuntar presunto Substantivo - Aprimorar primor Substantivo 1550 Aprincesar princesa Substantivo - Aprisionar prisão Substantivo s. XIV Aprofundar profundo Adjetivo 1836 Aprontar pronto Substantivo 1793 Apropriar próprio Adjetivo s. XIV Aprovar prova Substantivo s. XIV Aproveitar proveito Substantivo s. XIII Aproximar próximo Adjetivo 1619 Aprumar prumo Substantivo 1851 Apunhalar punhal Substantivo 1642 Apurar puro Adjetivo s. XIV Aquadrilhar quadrilha Substantivo 1459 Aquilombar quilombo Substantivo 1899 Arrapazar rapaz Substantivo - Arrasar raso Adjetivo 1344 Arrastar rastro Substantivo s. XIII Arrebanhar rebanho Substantivo 1597 Arrebatar rebate Substantivo 1269 Arrecadar recaptare Substantivo 1174 Arredondar redondo Adjetivo s. XIV Arregaçar regaço Substantivo 1562 Arregalar regalo Substantivo s. XV Arreganhar reganho Substantivo s. XIII Arregimentar regimento Substantivo - Arrematar remate Substantivo 1504 Arremessar remesso Substantivo s. XIV Arrendar renda Substantivo 1258 Arriscar risco Substantivo s. XV Arrombar rombo Substantivo s. XV Arruinar ruína Substantivo s. XIV Arrumar rumo Substantivo 1456 Assalariar salário Substantivo s. XV

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Assanhar sanha Substantivo s. XIII Assedentar sedento Adjetivo - Assegurar seguro Substantivo s. XIV Assenhorar senhor Substantivo 1344 Assenzalar senzala Substantivo - Assinalar sinal Substantivo 1279 Assingelar singelo Substantivo - Assoberbar soberba Substantivo s.XIV Assobradar sobrado Substantivo s.XIII Assombrar sombra Substantivo s. XIV Assovinar sovina Adjetivo - Assustar susto Substantivo 1655 Atabernar taberna Substantivo 1899 Atamancar tamanco Substantivo 1836 Atapetar tapete Substantivo 1828 Atarefar tarefa Substantivo 1789 Atarraxar tarraxa Substantivo 1793 Atartarugar tartaruga Substantivo 1899 Atear teia Substantivo s. XV Atenorar tenor Substantivo - Aterrar terra Substantivo s. XV Atiçar titio Latim s. XV Atigrar tigre Substantivo - Atijolar tijolo Substantivo 1899 Atinar tino Substantivo 1543 Atirar tiro Substantivo s. XV Atoalhar toalha Substantivo 1507 Atomatar tomate Substantivo 1838 Atormentar tormento Substantivo s. XIII Atoucinhar toucinho Substantivo Atraiçoar traição Substantivo 1552 Atrapalhar trapalh- Substantivo 1727 Atravancar travanca Substantivo 1553 Atrelar trela Substantivo s. XV Atropelar tropel Substantivo s. XIV Atucanar tucano Substantivo 1898 Avaliar valia Substantivo 1322 Avampirar vampiro Substantivo - Avarandar varanda Substantivo 1913 Avassalar vassalo Adjetivo 1600 Aveludar veludo Substantivo 1452 Avermelhar vermelho Substantivo 1500 Avinhar vinho Substantivo 1575 Avistar vista Substantivo 1644 Avivar vivo Substantivo 1344 Avizinhar vizinho Substantivo 1543 Avolumar volume Substantivo 1552

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Avultar vulto Substantivo 1553 Axicarar xícara Substantivo - Azabumbar zabumba Substantivo -

TABELA 2: [a [X] ecer] = 11 palavras

TABELA 2: [a [X]Nj ecer]Vi

Vocábulo Base Categoria Datação Abastecer Basto Adjetivo 1513 Aborrecer Abhorrescere Latim s.XIII Adoecer Addolescere Latim s.XIII Adormecer Addormiscere Latim s.XIII Agradecer Gratus, gratescere Latim s.XIII Amadurecer Maduro/ Ematurescere Adjetivo 1344 Amanhecer Manhã/ Admanescere Substantivo 1344 Amolecer Mole/ Emollescere Adjetivo 1552- 1570 Amortecer Morte Substantivo s.XIV Anoitecer Noite, de adnoctescere Substantivo s.XIII Apodrecer Podre, de putrescere Adjetivo s.XIII

TABELA 3: [en [X] ar] = 257 palavras

TABELA 3: [en [X]Nj ar]Vi

Vocábulo Base Categoria Data Emaçar maço Substantivo 1622 Emadeirar madeira Substantivo - Emadeixar madeixa Substantivo - Emagotar magote Substantivo - Emalar mala Substantivo - Emalhar malha Substantivo - Emalhetar maleta Substantivo - Emanocar manoca Substantivo - Emantar manta Substantivo -

Emascular másculo (do latim) Adjetivo 1926 Emassar massa Substantivo 1881 Embabacar babaca Adjetivo 1634 Embaçar baço Adjetivo s. XVI Embacelar bacela Substantivo - Embagar bago Substantivo - Embagulhar bagulho Substantivo 1950 Embainhar bainha Substantivo 1532 Embalar bala (balanço) Substantivo s. XVI Embalsamar bálsamo Substantivo s. XVI

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Embalsar balsa Substantivo 1601

Embananar banana Substantivo - Embandeirar bandeira Substantivo 1512 Embaraçar baraço Substantivo s. XV Embaralhar baralho Substantivo 1664 Embarbascar barbasco Substantivo 1552 Embarbelar barbela Substantivo 1899 Embarbilhar barbilho Substantivo 1899 Embarcar barca Substantivo s. XIV Embargar do latim s.XIII Embarrancar barranco Substantivo - Embarrar barro Substantivo s.XIV Embarreirar barreira Substantivo -

Embarricar barrica Substantivo - Embarrigar barriga Substantivo - Embarrilar barril Substantivo - Embasar base Substantivo 1928

Embasbacar orig.controv. 1634 Embatucar batocar 1816 Embaular baú Substantivo 1981 Embebedar bêbedo Adjetivo s. XIV Embeiçar beiço Substantivo 1858 Embelecar orig.controv. s.XV Embelezar beleza Substantivo 1548 Embernar berne Substantivo 1958

Embestar besta substantivo s. XV Embetesgar betesga Substantivo 1553 Embezerrar bezerro Substantivo 1713 Embicar bico Substantivo s.XV Embiocar bioco Substantivo 1713 Embirutar biruta Adjetivo - Embocar boca Substantivo 1539 Embocetar boceta Substantivo - Embodegar bodega Substantivo - Embolar bola Substantivo s. XV Embolorar bolor Substantivo - Embolotar bolota Substantivo -

Embolsar bolso/a Substantivo s. XIV Embonecar boneca Substantivo 1562 Emborcar do latim s.XIV Emborrachar borracha Substantivo - Emborralhar boralho Substantivo - Emborrascar borrasca Substantivo - Embostar bosta Substantivo - Embotijar botija Substantivo - Embraçar braço Substantivo s. XIV

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Embrechar brecha Substantivo

Embrenhar brenha Substantivo s. XV Embriagar do latim embriago s.XIII Embrincar brinco Substantivo Embruacar bruaca Substantivo 1899 Embrulhar do latim s.XIII Embrumar bruma Substantivo Embruxar bruxa Substantivo Embuchar bucho Substantivo 1977 Embuizar origem duvidosa Emburacar buraco Substantivo s. XX Emburrar burro Substantivo 1647 Embuzinar buzina Substantivo -

Emelar mel Substantivo - Emoldurar moldura Substantivo 1844 Empacar paca Substantivo 1873 Empaçocar paçoca Substantivo -

Empacotar pacote Substantivo 1715 Empalar palo (pau) Substantivo 1531 Empalhar palha Substantivo s. XV Empalheirar palheiro Substantivo - Empalmar palma Substantivo 1836 Empampanar pâmpano Substantivo - Empenachar penacho Substantivo 1931 Empanar pano Substantivo s. XVI

Empantanar pântano Substantivo 1953 Empanturrar panturra Substantivo 1552 Empapar papa Substantivo 1588 Empapelar papel Substantivo 1515 Empapuçar orig. controv. 1836 Emparceirar parceiro Substantivo 1881 Emparedar parede Substantivo s. XIII Emparelhar parelha Substantivo s. XV Empastar pasta Substantivo 1644 Empastelar pastel Substantivo 1899 Empatar patta, ita. Substantivo 1655 Empauapicar pau-a-pique Substantivo -

Empavonar pavão Substantivo - Empeçonhar peçonha Substantivo s.XIII Empedrar pedra Substantivo 1562 Empelotar pelota Substantivo - Empenar pinus Substantivo s. XV Empenhar penhor Substantivo s. XV Emperiquitar periquito Substantivo s. XX Empernar perna Substantivo s. XX Emperrar do espanhol 1532

Page 192: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

192

Empestear peste Substantivo 1697

Empetecar peteca Substantivo - Empilecar pileque Substantivo - Empilhar pilha Substantivo s. XV Empinar pino Substantivo s. XV Empipocar pipoca Substantivo s. XV Empistolar pistolão Substantivo - Emplacar placa Substantivo 1958 Emplumar pluma Substantivo 1662 Empoar pó Substantivo 1536 Empoçar poço/a Substantivo 1562 Empocilgar pocilga Substantivo - Empoeirar poeira Substantivo 1817

Empoleirar poleiro Substantivo 1562 Empomadar pomada Substantivo - Empombar pomba Substantivo s. XX Empossar posse Substantivo 1537

Emprateleirar prateleira Substantivo - Emprazar prazo Substantivo s. XIII Empreguiçar preguiça Substantivo s.XIV Empreitar preito (pacto) Substantivo s. XV Emprenhar prenhe Adjetivo s. XIII Empunhar punho Substantivo s. XIV Empurpurar púrpura Adjetivo - Emundar mundo Substantivo 1938

Encabeçar cabeça Substantivo 1543 Encabular orig.controv. Substantivo s. XX Encaçapar caçapa Substantivo - Encadear cadeia Substantivo s. XV Encadernar caderno Substantivo s. XIV Encafifar cafifa Substantivo 1899 Encaixar caixa Substantivo s. XV Encaixotar caixote Substantivo 1789 Encalacrar calacre (dívida) Substantivo 1858 Encalhar calha Substantivo s. XV Encaminhar caminho Substantivo s. XV Encaminhar caminho Substantivo s.XV

Encampar campo Substantivo s.XIV Encanar cano Substantivo 1649 Encapar capa Substantivo 1842 Encapuzar capuz Substantivo 1996 Encaracolar caracol Substantivo 1858 Encarar cara Substantivo 1553 Encarcerar cárcere Substantivo s. XIV Encaretar careta Adjetivo - Encarnar carne Substantivo s. XIII

Page 193: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

193

Encarneirar carneiro Substantivo XIX

Encarniçar carniça Substantivo 1543 Encaroçar caroço Substantivo 1913 Encasacar casaca Substantivo 1867 Encasquetar casquete Substantivo s. XVI Encastelar castelo Substantivo s. XIV Encatarrar-se catarro Substantivo s. XX Encavalar cavalo Substantivo - Encavernar caverna Substantivo 1899 Enceleirar celeiro Substantivo - Encenar cena Substantivo 1899 Encerar cera Substantivo 1540 Encerebrar cérebro Substantivo 1899

Encharcar charco Substantivo 1529 Enciumar ciúme Substantivo 1939 Enclausurar clausura Substantivo 1881 Encorajar coragem Substantivo 1858

Encorpar corpo Substantivo 1713 Encorujar coruja Substantivo 1899 Encostar costa Substantivo s. XIV Encravar cravo Substantivo s. XV Encrespar crespo Adjetivo s. XIV Encristar-se crista Substantivo - Encucar cuca Substantivo - Encurralar curral Substantivo 1559

Encurtar curto Adjetivo s. XIV Endeusar deus Substantivo 1622 Endinheirar-se dinheiro Substantivo 1713 Endireitar direito Adjetivo s. XIV Endividar dívida Substantivo s. XIII Endoidar doido Adjetivo 1913 Enervar nervo Substantivo s. XIV Enevoar névoa Substantivo s. XV Enfaixar faixa Substantivo s. XV Enfear feo (<feio) Adjetivo 1913 Enfeitiçar feitiço Substantivo s. XV Enferrujar ferrugem Substantivo 1727

Enfezar fezes Substantivo 1687 Enfiar fio Substantivo s. XIII Enfileirar fileira Substantivo s.XVIII Enflorar flor Substantivo XIX Enfocar foco Substantivo XX Enforcar forca Substantivo 1152 Enfrentar frente Substantivo 1899 Enfronhar fronha Substantivo 1910 Enfunilar funil Substantivo 1713

Page 194: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

194

Engaiolar gaiola Substantivo 1713

Engarrafar garrafa Substantivo 1836 Engasgar -gasg (goela) Substantivo s. XVI Engatar gato Substantivo 1563 Engatilhar gatilho Substantivo 1881 Engatinhar gatinho Substantivo 1543 Engavetar gaveta Substantivo 1913 Engessar gesso Substantivo 1562 Englobar globo Substantivo 1836 Engomar goma Substantivo 1562 Engordar gordo adjetivo s.XIV Engordurar gordura Substantivo 1858 Engraçar graça Adjetivo s.XIV

Engravatar gravata Substantivo 1871 Engravidar grávido Adjetivo 1958 Engraxar graxa Substantivo 1543 Engrinaldar grinalda Substantivo 1635

Engrossar grosso Adjetivo s. XIII Enjaular jaula Substantivo 1706 Enlaçar laço Substantivo s. XIV Enlatar lata Substantivo s. XVI Enlerdar lerdo Adjetivo - Enlodar lodo Substantivo s.XV Enluarar luar Substantivo s.XX Enlutar luto Substantivo 1860

Enquadrar quadro Substantivo 1899 Enrabar rabo Substantivo 1986 Enrabichar rabicho Substantivo 1881 Enraizar raiz Substantivo 1836 Enredar rede Substantivo 1543 Enricar rico Adjetivo - Enrijar rijo Adjetivo - Enrolar rolo Substantivo 1536 Enroscar rosca Substantivo 1524 Enrugar ruga Substantivo s. XIII Ensaboar sabão Substantivo 1562 Ensacar saco Substantivo 1548

Ensanduichar sanduíche Substantivo 1995 Ensopar sopa Substantivo s. XV Entalar tala Substantivo 1562 Entediar tédio Substantivo 1865 Enterrar terra Substantivo s. XIII Entoar tom Substantivo s.XV Entornar torno (cast.) Substantivo s.XIV Entortar torto Adjetivo 1562 Entrincheirar trincheira Substantivo 1596

Page 195: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

195

Entubar tubo Substantivo 1958

Entulhar tulha Substantivo 1507 Enturmar turma Substantivo - Envasilhar vasilha Substantivo 1727 Envenenar veneno Substantivo 1858 Envergonhar vergonha Substantivo s. XIII Envernizar verniz Substantivo s. XV Enviuvar viúvo Adjetivo 1543

TABELA 4: [en [X] ecer] = 40 palavras

TABELA 4: [en [X]Nj ecer]Vi

Vocábulo Base Categoria Datação Emagrecer magro Adjetivo s. XIII Embambecer bambo Adjetivo - Embarbecer barba Substantivo s. XIII Embrabecer brabo Adjetivo s. XIV Embrandecer brando Adjetivo s. XIX Embranquecer branco Adjetivo s. XIV Embravecer bravo Adjetivo s. XIV Embrutecer bruto Adjetivo s. XVIII Emburrecer burro Adjetivo s. XX Emouquecer mouco Adjetivo 1557 Empalidecer pálido Adjetivo s. XVII Empardecer pardo Adjetivo s. XIX Empequenecer pequeno Adjetivo - Empobrecer pobre Adjetivo s. XIII Emputecer puto Adjetivo s. XX Emudecer mudo Adjetivo s. XV Enaltecer (do espanhol) alto Adjetivo s. XIX Encalecer calo Substantivo - Encalvecer calvo Adjetivo s.XVIII Encarecer caro Adjetivo s. XIV Endoidecer doido Adjetivo s. XV Endurecer duro Adjetivo s. XIV Enegrecer negro Adjetivo s. XIV Enfraquecer fraco Adjetivo s. XIII Enfurecer rad. de fúria Substantivo s. XVII Engrandecer grande Adjetivo s. XV Enlouquecer louco Adjetivo s. XIII Enobrecer nobre Adjetivo s. XIV Enraivecer raiva Substantivo s. XVIII Enrijecer rijo Adjetivo s. XIII

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196

Enriquecer rico Adjetivo s. XIII Enrouquecer rouco Adjetivo s. XIV Ensoberbecer soberba Substantivo s. XIV Ensurdecer surdo Adjetivo s. XIV Entardecer tarde Substantivo s. XIX Enternecer terno Adjetivo s. XVI Entristecer triste Adjetivo s. XIV Envaidecer vaidade Substantivo s. XIX Envelhecer velho Adjetivo s. XIII Enverdecer verde Adjetivo s. XIV

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197

ANEXO II

Textos utilizados dos corpora diacrônicos

CIPM

Lista de textos utilizados CIPM Data

Crônica de Afonso X (MsP) in Crônica Geral de Espanha

XIV

Dos Costumes de Santarém XIV Crônica de Afonso X (MsL) in Crônica Geral de Espanha

XIV

Crônica Geral de Espanha XIV Castelo Perigoso XV Leal Conselheiro XV Orto do Esposo XV Crônica dos Reis de Bisnaga XVI

TYCHO BRAHE

Lista de textos utilizados CIPM Data

Crônica del-Rei Dom João I, Fernão Lopes XIV Gramática, João de Barros XV Crônica del-Rei Dom Afonso Henriques, Duarte Galvão

XV

Monarchia Lusitana, António Brandão XVI Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito XVI Décadas, Diogo Couto XVI Cartas, Dom João III XVI Discursos vários políticos, Manuel Severim de Faria

XVI

História da Província de Santa Cruz, Pero Magalhães de Gandavo

XVI

Da pintura antiga, Francisco de Holanda XVI Corte na Aldeia e Noites de Inverno, F. Rodrigues Lobo

XVI

Perigrinação, de Fernão Mendes Pinto XVI A vida de Frei Bartolameu dos Mártires, Luis de Sousa

XVI

Manuscritos das Mãos Inábeis XVI Vida do apostólico padre Antonio Vieira, André de Barros

XVII

Nova Floresta, Manuel Bernardes XVII Cartas, José da Cunha Brochado XVII Cartas Espirituais, Antonio das Chagas XVII A arte de furtar, Manuel da Costa XVII Obras Completas, Correia Garção XVII

Page 198: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

198

Cartas, Alexandre de Gusmão XVII

Cartas Familiares, Francisco Manuel de Melo XVII Tácito Português, Francisco Manuel de Melo XVII História Sebástica, Manuel dos Santos XVII Historia do futuro, Padre A. Vieira XVII Sermões, Padre A. Vieira XVII Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, Matias Aires

XVIII

Cartas, Marquesa de Alorna XVIII Cartas, Cavaleiro de Oliveira XVIII Cartas, Antonio da Costa XVIII Entremezes de Cordel, Jose Daniel Rodrigues da Costa

XVIII

Cartas, Almeida Garret XVIII Teatro, Almeida Garret XVIII Viagens na minha terra, Almeida Garret XVIII Cartas, Pina Manique XVIII Aventuras de Diófanes, Teresa Margarida da Silva e Orta

XVIII

Verdadeiro Método de Estudar, L. Antonio Verney XVIII Atas dos Africanos XVIII Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna XIX Maria Moisés, Camilo Castelo Branco XIX Cartas, Eça de Queirós e Oliveira Martins XIX Cartas a Emília, Ramalho Ortigão XIX Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira e Souza

XIX

Portal Domínio Público

Lista de textos utilizados Data Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

XIX

O Sertanejo, de José de Alencar XIX

O Cortiço, de Aluísio de Azevedo XIX

A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães XIX

Memórias de um sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida

XIX

A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo XIX

O Ateneu, Raul Pompéia XIX

O Matuto, de Franklin Távora XIX

Page 199: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

199

ANEXO III

Frequência de uso do século XIV

[a[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/504183 0,008529 Adoecer 34/504183 0,006744 Abastecer 6/504183 0,00119 Acaecer 3/504183 0,000595 Adormecer 3/504183 0,000595 Avorrecer 3/504183 0,000595 Amanhecer 2/504183 0,000397 Apodrecer 2/504183 0,000397 Amadurecer 1/504183 0,000198 Anoytecer 1/504183 0,000198

[en[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Enriquecer 3/504183 0,000595 Ensoberbecer 1/504183 0,000198 Enfraquecer 1/504183 0,000198

[en[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 22/504183 0,004363 Encaminhar 5/504183 0,000992 Enforcar 4/504183 0,000793 Embarcar 2/504183 0,000397 Emprazar 2/504183 0,000397 Emprenhar 1/504183 0,000198 Enfamar 1/504183 0,000198 Enlaçar 1/504183 0,000198 Encarnar 1/504183 0,000198

[a[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 133/504183 0,026379 Apoderar 44/504183 0,008727 Aguardar 41/504183 0,008132 Apartar 26/504183 0,005157 Aportar 21/504183 0,004165 Abraçar 19/504183 0,003768 Alongar 15/504183 0,002975 Apresentar 12/504183 0,00238 Apressar 12/504183 0,00238 Abaixar 9/504183 0,001785 Acertar 9/504183 0,001785 Apontar 7/504183 0,001388

Page 200: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

200

Afrontar 5/504183 0,000992 Assanhar 5/504183 0,000992 Atormentar 5/504183 0,000992 Apedrar 4/504183 0,000793 Apertar 4/504183 0,000793 Arrastar 4/504183 0,000793 Apedrar 3/504183 0,000595 Aproveitar 3/504183 0,000595 Assenhorar 3/504183 0,000595 Acevadar 2/504183 0,000397 Aprovar 2/504183 0,000397 Arrecadar 2/504183 0,000397 Assegurar 2/504183 0,000397 Avivar 2/504183 0,000397 Abrandar 1/504183 0,000198 Acostumar 1/504183 0,000198 Agradar 1/504183 0,000198 Arrasar 1/504183 0,000198 Atropelar 1/504183 0,000198

Page 201: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

201

Frequência de uso do século XV

[a[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 29/590942 0,004907 Aborrecer 22/590942 0,003723 Adormecer 19/590942 0,003215 Adoecer 16/590942 0,002708 Amanhecer 6/590942 0,001015 Apodrecer 5/590942 0,000846 Aquecer 5/590942 0,000846 Anoitecer 4/590942 0,000677 Abastecer 2/590942 0,000338

[en[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Ensoberbecer 7/590942 0,001185 Entristecer 5/590942 0,000846 Enegrecer 4/590942 0,000677 Endurecer 3/590942 0,000508 Enfraquecer 3/590942 0,000508 Enverdecer 3/590942 0,000508 Embranquecer 2/590942 0,000338 Emudecer 1/590942 0,000169 Engrandecer 1/590942 0,000169 Enobrecer 1/590942 0,000169 Enriquecer 1/590942 0,000169 Envelhecer 1/590942 0,000169

[en[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 21/590942 0,003554 Encaminhar 16/590942 0,002708 Envergonhar 13/590942 0,0022 Endireitar 6/590942 0,001015 Encostar 5/590942 0,000846 Engordar 2/590942 0,000338 Embarcar 1/590942 0,000169 Embicar 1/590942 0,000169 Empossar 1/590942 0,000169 Empunhar 1/590942 0,000169 Engalhar 1/590942 0,000169 Enlaçar 1/590942 0,000169 Entornar 1/590942 0,000169

[a[x]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 172/590942 0,029106 Apertar 78/590942 0,013199 Aproveitar 64/590942 0,01083 Abraçar 51/590942 0,00863

Page 202: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

202

Apartar 46/590942 0,007784 Alongar 34/590942 0,005754 Abaixar 31/590942 0,005246 Acertar 30/590942 0,005077 Aguardar 28/590942 0,004738 Apresentar 23/590942 0,003892 Apropriar 19/590942 0,003215 Assanhar 18/590942 0,003046 Atormentar 15/590942 0,002538 Aportar 12/590942 0,002031 Alagar 11/590942 0,001861 Aprovar 9/590942 0,001523 Assenhorar 8/590942 0,001354 Aconselhar 7/590942 0,001185 Apontar 7/590942 0,001185 Apressar 6/590942 0,001015 Abrandar 5/590942 0,000846 Avivar 5/590942 0,000846 Acarretar 3/590942 0,000508 Afrontar 3/590942 0,000508 Alargar 3/590942 0,000508 Amansar 3/590942 0,000508 Arrecadar 3/590942 0,000508 Arrebatar 3/590942 0,000508 Afigurar 2/590942 0,000338 Afundar 2/590942 0,000338 Apedrar 2/590942 0,000338 Arrastar 2/590942 0,000338 Arremessar 2/590942 0,000338 Arrematar 2/590942 0,000338 Abafar 1/590942 0,000169 Afrouxar 1/590942 0,000169 Afiar 1/590942 0,000169 Acovardar 1/590942 0,000169 Apiedar 1/590942 0,000169 Apurar 1/590942 0,000169 Avantajar 1/590942 0,000169

Page 203: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

203

Frequência de uso do século XVI

[a[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 25/574042 0,004355 Amanhecer 12/574042 0,00209 Aborrecer 10/574042 0,001742 Aquecer 4/574042 0,000697 Adoecer 2/574042 0,000348 Adormecer 2/574042 0,000348 Amadurecer 1/574042 0,000174 Anoitecer 1/574042 0,000174

[en[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Encarecer 21/574042 0,003658 Enriquecer 21/574042 0,003658 Engrandecer 20/574042 0,003484 Enobrecer 11/574042 0,001916 Entristecer 4/574042 0,000697 Emudecer 2/574042 0,000348 Empobrecer 2/574042 0,000348 Endurecer 2/574042 0,000348 Enfraquecer 2/574042 0,000348 Emagrecer 1/574042 0,000174 Enfurecer 1/574042 0,000174 Enternecer 1/574042 0,000174

[en[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 92/574042 0,016027 Encaminhar 14/574042 0,002439 Enterrar 9/574042 0,001568 Entesourar 6/574042 0,001045 Enforcar 4/574042 0,000697 Encarar 3/574042 0,000523 Encostar 3/574042 0,000523 Enojar 3/574042 0,000523 Entornar 3/574042 0,000523 Envergonhar 3/574042 0,000523 Encampar 2/574042 0,000348 Encurtar 2/574042 0,000348 Embicar 1/574042 0,000174 Empredar 1/574042 0,000174 Encadear 1/574042 0,000174 Emparelhar 1/574042 0,000174 Encaixar 1/574042 0,000174 Encapelar 1/574042 0,000174 Enforcar 1/574042 0,000174 Endireitar 1/574042 0,000174 Engordar 1/574042 0,000174

Page 204: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

204

Enroscar 1/574042 0,000174 Entulhar 1/574042 0,000174 Embebedar 1/574042 0,000174 Embostar 1/574042 0,000174

[a[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 233/574042 0,040589 Apontar 123/574042 0,021427 Aproveitar 97/574042 0,016898 Acertar 52/574042 0,009059 Apartar 47/574042 0,008188 Aconselhar 46/574042 0,008013 Apertar 26/574042 0,004529 Apresentar 26/574042 0,004529 Arrecadar 24/574042 0,004181 Aprovar 22/574042 0,003832 Acreditar 19/574042 0,00331 Assegurar 18/574042 0,003136 Apurar 15/574042 0,002613 Alargar 13/574042 0,002265 Assombrar 13/574042 0,002265 Acomodar 12/574042 0,00209 Assinalar 12/574042 0,00209 Avaliar 12/574042 0,00209 Acostumar 11/574042 0,001916 Apressar 11/574042 0,001916 Abaixar 10/574042 0,001742 Atirar 10/574042 0,001742 Abrasar 9/574042 0,001568 Alagar 9/574042 0,001568 Apear 9/574042 0,001568 Apoderar 9/574042 0,001568 Aremessar 9/574042 0,001568 Arriscar 9/574042 0,001568 Acarretar 8/574042 0,001394 Agradar 8/574042 0,001394 Arrendar 7/574042 0,001219 Atinar 7/574042 0,001219 Arruinar 6/574042 0,001045 Alojar 5/574042 0,000871 Aperfeiçoar 5/574042 0,000871 Atormentar 5/574042 0,000871 Abrandar 4/574042 0,000697 Afigurar 4/574042 0,000697 Afrontar 4/574042 0,000697 Aguardar 4/574042 0,000697 Alongar 4/574042 0,000697 Arrematar 4/574042 0,000697 Avivar 4/574042 0,000697 Afrouxar 3/574042 0,000523

Page 205: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

205

Ajustar 3/574042 0,000523 Arrasar 3/574042 0,000523 Atear 3/574042 0,000523 Abarcar 2/574042 0,000348 Acalmar 2/574042 0,000348 Amansar 2/574042 0,000348 Arrastar 2/574042 0,000348 Arrebatar 2/574042 0,000348 Acanhar 1/574042 0,000174 Adestrar 1/574042 0,000174 Anotar 1/574042 0,000174 Amuar 1/574042 0,000174 Alarar 1/574042 0,000174 Amortalhar 1/574042 0,000174 Amassar 1/574042 0,000174 Aproximar 1/574042 0,000174 Atenuar 1/574042 0,000174 Atemorizar 1/574042 0,000174

Page 206: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

206

Frequência de uso do século XVII

[a[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 48/563636 0,008516 Aborrecer 31/563636 0,0055 Adoecer 16/563636 0,002839 Amanhecer 16/563636 0,002839 Adormecer 5/563636 0,000887 Abastecer 3/563636 0,000532 Amolecer 2/563636 0,000355 Anoitecer 2/563636 0,000355 Amadurecer 1/563636 0,000177 Amortecer 1/563636 0,000177 Aquecer 1/563636 0,000177

[en[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Enfraquecer 22/563636 0,003903 Encarecer 13/563636 0,002306 Enriquecer 12/563636 0,002129 Entristecer 8/563636 0,001419 Emudecer 7/563636 0,001242 Enobrecer 6/563636 0,001065 Engrandecer 5/563636 0,000887 Endurecer 4/563636 0,00071 Envilecer 4/563636 0,00071 Empobrecer 2/563636 0,000355 Encruecer 2/563636 0,000355 Embravecer 1/563636 0,000177 Emagrecer 1/563636 0,000177 Endoidecer 1/563636 0,000177 Enfurecer 1/563636 0,000177 Enlouquecer 1/563636 0,000177 Enternecer 1/563636 0,000177

[en[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Encaminhar 23/563636 0,004081 Embarcar 20/563636 0,003548 Envergonhar 19/563636 0,003371 Engrossar 12/563636 0,002129 Enterrar 8/563636 0,001419 Enforcar 4/563636 0,00071 Engatinhar 3/563636 0,000532 Ensacar 3/563636 0,000532 Embaraçar 2/563636 0,000355 Embalsamar 2/563636 0,000355 Empunhar 2/563636 0,000355 Encorporar 2/563636 0,000355 Engolfar 2/563636 0,000355

Page 207: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

207

Embainhar 1/563636 0,000177 Embalsar 1/563636 0,000177 Empenhar 1/563636 0,000177 Enceleirar 1/563636 0,000177 Encostar 1/563636 0,000177 Encravar 1/563636 0,000177 Endireitar 1/563636 0,000177 Endividar 1/563636 0,000177 Engordar 1/563636 0,000177 Ensopar 1/563636 0,000177 Enredar 1/563636 0,000177 Entoar 1/563636 0,000177 Entortar 1/563636 0,000177 Entulhar 1/563636 0,000177 Entrouxar 1/563636 0,000177

[a[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 320/563636 0,056774 Aproveitar 82/563636 0,014548 Apartar 54/563636 0,009581 Assegurar 54/563636 0,009581 Acertar 51/563636 0,009048 Aprovar 44/563636 0,007806 Aconselhar 43/563636 0,007629 Agradar 42/563636 0,007452 Apontar 42/563636 0,007452 Ajustar 38/563636 0,006742 Acomodar 32/563636 0,005677 Apertar 24/563636 0,004258 Apresentar 24/563636 0,004258 Arruinar 17/563636 0,003016 Arrastar 15/563636 0,002661 Avaliar 15/563636 0,002661 Arrebatar 14/563636 0,002484 Atormentar 13/563636 0,002306 Avistar 12/563636 0,002129 Acreditar 11/563636 0,001952 Apurar 11/563636 0,001952 Arriscar 11/563636 0,001952 Assustar 11/563636 0,001952 Abrasar 10/563636 0,001774 Assombrar 10/563636 0,001774 Agravar 9/563636 0,001597 Alargar 9/563636 0,001597 Apressar 9/563636 0,001597 Abaixar 8/563636 0,001419 Aguardar 8/563636 0,001419 Atear 8/563636 0,001419 Atropelar 8/563636 0,001419 Amansar 7/563636 0,001242

Page 208: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

208

Aperfeiçoar 7/563636 0,001242 Arrasar 7/563636 0,001242 Avultar 6/563636 0,001065 Abarcar 5/563636 0,000887 Agarrar 5/563636 0,000887 Atirar 5/563636 0,000887 Abrandar 4/563636 0,00071 Afrontar 4/563636 0,00071 Ajoelhar 4/563636 0,00071 Aportar 4/563636 0,00071 Atenuar 4/563636 0,00071 Acarretar 3/563636 0,000532 Acovardar 3/563636 0,000532 Alistar 3/563636 0,000532 Alojar 3/563636 0,000532 Alongar 3/563636 0,000532 Amontoar 3/563636 0,000532 Apoderar 3/563636 0,000532 Arremessar 3/563636 0,000532 Assinalar 3/563636 0,000532 Atinar 3/563636 0,000532 Acanhar 2/563636 0,000355 Acariciar 2/563636 0,000355 Adestrar 2/563636 0,000355 Afinar 2/563636 0,000355 Agigantar 2/563636 0,000355 Alagar 2/563636 0,000355 Apadrinhar 2/563636 0,000355 Apropriar 2/563636 0,000355 Arrecadar 2/563636 0,000355 Avivar 2/563636 0,000355 Avizinhar 2/563636 0,000355 Acalmar 1/563636 0,000177 Afigurar 1/563636 0,000177 Afrouxar 1/563636 0,000177 Ajuizar 1/563636 0,000177 Alinhar 1/563636 0,000177 Aligeirar 1/563636 0,000177 Arrematar 1/563636 0,000177 Aprofundar 1/563636 0,000177 Arrebanhar 1/563636 0,000177 Arrombar 1/563636 0,000177 Arrumar 1/563636 0,000177 Aterrar 1/563636 0,000177

Page 209: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

209

Frequência de uso do século XVIII

[a[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/508567 0,008455 Aborrecer 27/508567 0,005309 Adormecer 5/508567 0,000983 Apodrecer 5/508567 0,000983 Amanhecer 4/508567 0,000787 Amortecer 4/508567 0,000787 Adoecer 3/508567 0,00059 Anoitecer 3/508567 0,00059

[en[X]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem Enobrecer 17/508567 0,003343 Enternecer 7/508567 0,001376 Enfraquecer 6/508567 0,00118 Enriquecer 6/508567 0,00118 Entristecer 6/508567 0,00118 Emudecer 5/508567 0,000983 Enfurecer 4/508567 0,000787 Engrandecer 4/508567 0,000787 Envelhecer 4/508567 0,000787 Envilecer 4/508567 0,000787 Endoidecer 3/508567 0,00059 Encarecer 2/508567 0,000393 Emagrecer 1/508567 0,000197 Empalidecer 1/508567 0,000197 Endurecer 1/508567 0,000197 Enlouquecer 1/508567 0,000197 Enraivecer 1/508567 0,000197 Enrouquecer 1/508567 0,000197 Ensoberbecer 1/508567 0,000197 Entontecer 1/508567 0,000197

[en[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 19/508567 0,003736 Envergonhar 13/508567 0,002556 Encaminhar 11/508567 0,002163 Endireitar 8/508567 0,001573 Envenenar 7/508567 0,001376 Enforcar 5/508567 0,000983 Enterrar 4/508567 0,000787 Enredar 4/508567 0,000787 Entoar 3/508567 0,00059 Embaraçar 3/508567 0,00059 Embainhar 3/508567 0,00059 Enrolar 2/508567 0,000393 Engrossar 2/508567 0,000393

Page 210: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

210

Encostar 2/508567 0,000393 Encasquetar 2/508567 0,000393 Entortar 1/508567 0,000197 Entalar 1/508567 0,000197 Engordar 1/508567 0,000197 Enervar 1/508567 0,000197 Encrespar 1/508567 0,000197 Encarquilhar 1/508567 0,000197 Encarcerar 1/508567 0,000197 Encaixar 1/508567 0,000197 Empunhar 1/508567 0,000197 Empastar 1/508567 0,000197 Embaralhar 1/508567 0,000197

[a[X]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 330/508567 0,064888 Agradar 111/508567 0,021826 Apontar 71/508567 0,013961 Aproveitar 51/508567 0,010028 Apresentar 44/508567 0,008652 Aprovar 44/508567 0,008652 Aconselhar 41/508567 0,008062 Apertar 40/508567 0,007865 Acertar 38/508567 0,007472 Acreditar 34/508567 0,006685 Apartar 34/508567 0,006685 Abrandar 28/508567 0,005506 Arrastar 24/508567 0,004719 Ajustar 21/508567 0,004129 Arruinar 21/508567 0,004129 Assegurar 21/508567 0,004129 Acomodar 20/508567 0,003933 Abaixar 19/508567 0,003736 Arriscar 17/508567 0,003343 Aproximar 14/508567 0,002753 Assustar 14/508567 0,002753 Atirar 14/508567 0,002753 Avaliar 14/508567 0,002753 Avivar 14/508567 0,002753 Apurar 12/508567 0,00236 Atormentar 12/508567 0,00236 Aperfeiçoar 11/508567 0,002163 Apear 9/508567 0,00177 Aprontar 8/508567 0,001573 Apressar 8/508567 0,001573 Arrebatar 8/508567 0,001573 Alargar 6/508567 0,00118 Atemorizar 6/508567 0,00118 Abrasar 5/508567 0,000983 Acostumar 5/508567 0,000983

Page 211: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

211

Ajoelhar 5/508567 0,000983 Ajuizar 5/508567 0,000983 Atropelar 5/508567 0,000983 Afrontar 4/508567 0,000787 Avultar 4/508567 0,000787 Afiançar 3/508567 0,00059 Agarrar 3/508567 0,00059 Aportuguesar 3/508567 0,00059 Arrecadar 3/508567 0,00059 Arrematar 3/508567 0,00059 Arrombar 3/508567 0,00059 Arrumar 3/508567 0,00059 Avistar 3/508567 0,00059 Afigurar 2/508567 0,000393 Alojar 2/508567 0,000393 Aportar 2/508567 0,000393 Apropriar 2/508567 0,000393 Assinalar 2/508567 0,000393 Aterrar 2/508567 0,000393 Atinar 2/508567 0,000393 Abafar 1/508567 0,000197 Abrilhantar 1/508567 0,000197 Acalmar 1/508567 0,000197 Acanhar 1/508567 0,000197 Acenar 1/508567 0,000197 Afiar 1/508567 0,000197 Afrouxar 1/508567 0,000197 Agalegar 1/508567 0,000197 Agravar 1/508567 0,000197 Ajeitar 1/508567 0,000197 Aligeirar 1/508567 0,000197 Alistar 1/508567 0,000197 Alongar 1/508567 0,000197 Amassar 1/508567 0,000197 Aninhar 1/508567 0,000197 Apadrinhar 1/508567 0,000197 Apaixonar 1/508567 0,000197 Apiedar 1/508567 0,000197 Apoderar 1/508567 0,000197 Aprofundar 1/508567 0,000197 Apunhalar 1/508567 0,000197 Arrasar 1/508567 0,000197 Arredondar 1/508567 0,000197 Arregalar 1/508567 0,000197 Arreganhar 1/508567 0,000197 Assenhorar 1/508567 0,000197 Assoberbar 1/508567 0,000197 Assombrar 1/508567 0,000197 Atelhar 1/508567 0,000197 Atrapalhar 1/508567 0,000197 Avizinhar 1/508567 0,000197

Page 212: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

212

Frequência de uso do século XIX

[a[x]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem

Amanhecer 32/530754 0,006029

Agradecer 29/530754 0,005464

Aborrecer 19/530754 0,00358

Adormecer 15/530754 0,002826

Adoecer 11/530754 0,002073

Anoitecer 10/530754 0,001884

Apodrecer 5/530754 0,000942

Amolecer 2/530754 0,000377

Amadurecer 1/530754 0,000188

Amortecer 1/530754 0,000188

Abastecer 0/530754 0

[en[x]ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem

Empalidecer 12/530754 0,002261

Enfurecer 8/530754 0,001507

Entristecer 8/530754 0,001507

Enriquecer 6/530754 0,00113

Envelhecer 5/530754 0,000942

Emagrecer 4/530754 0,000754

Encarecer 4/530754 0,000754

Enlouquecer 4/530754 0,000754

Enegrecer 3/530754 0,000565

Enfraquecer 3/530754 0,000565

Enobrecer 2/530754 0,000377

Enternecer 2/530754 0,000377

Entontecer 2/530754 0,000377

Embrutecer 1/530754 0,000188

Emudecer 1/530754 0,000188

Endoidecer 1/530754 0,000188

Engrandecer 1/530754 0,000188

Enraivecer 1/530754 0,000188

Ensandecer 1/530754 0,000188

[en[x]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem

Encaminhar 49/530754 0,009232

Enfiar 28/530754 0,005276

Embarcar 22/530754 0,004145

Encarar 21/530754 0,003957

Enterrar 17/530754 0,003203

Encostar 16/530754 0,003015

Page 213: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

213

Entornar 14/530754 0,002638

Empunhar 13/530754 0,002449

Endireitar 13/530754 0,002449

Engrossar 12/530754 0,002261

Empenhar 11/530754 0,002073

Engomar 11/530754 0,002073

Embalar 9/530754 0,001696

Enrolar 8/530754 0,001507

Entoar 8/530754 0,001507

Empinar 7/530754 0,001319

Envergonhar 7/530754 0,001319

Embaraçar 6/530754 0,00113

Enfeitiçar 6/530754 0,00113

Embaçar 5/530754 0,000942

Empacar 5/530754 0,000942

Embolsar 4/530754 0,000754

Emborcar 4/530754 0,000754

Encurtar 4/530754 0,000754

Envenenar 4/530754 0,000754

Embebedar 3/530754 0,000565

Encrespar 3/530754 0,000565

Enforcar 3/530754 0,000565

Engordar 3/530754 0,000565

Enlaçar 3/530754 0,000565

Enroscar 3/530754 0,000565

Ensaboar 3/530754 0,000565

Empoar 2/530754 0,000377

Encadear 2/530754 0,000377

Encarcerar 2/530754 0,000377

Encerar 2/530754 0,000377

Enfronhar 2/530754 0,000377

Embainhar 1/530754 0,000188

Embandeirar 1/530754 0,000188

Embeiçar 1/530754 0,000188

Embelezar 1/530754 0,000188

Embrenhar 1/530754 0,000188

Embruxar 1/530754 0,000188

Empoeirar 1/530754 0,000188

Empoleirar 1/530754 0,000188

Encaixar 1/530754 0,000188

Encaracolar 1/530754 0,000188

Encarnar 1/530754 0,000188

Encharcar 1/530754 0,000188

Endividar 1/530754 0,000188

Enfrentar 1/530754 0,000188

Engaiolar 1/530754 0,000188

Page 214: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

214

Enrijar 1/530754 0,000188

Enrugar 1/530754 0,000188

Entalar 1/530754 0,000188

Entrincheirar 1/530754 0,000188

Enviuvar 1/530754 0,000188

Enflorar 1/530754 0,000188

[a[x]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem

Acabar 457/530754 0,086104

Atirar 213/530754 0,040132

Aproximar 162/530754 0,030523

Apresentar 149/530754 0,028073

Aproveitar 106/530754 0,019972

Apertar 101/530754 0,01903

Apontar 92/530754 0,017334

Acreditar 80/530754 0,015073

Arrastar 77/530754 0,014508

Abraçar 68/530754 0,012812

Avistar 62/530754 0,011681

Agarrar 60/530754 0,011305

Assustar 47/530754 0,008855

Arrebatar 43/530754 0,008102

Ajoelhar 39/530754 0,007348

Abaixar 39/530754 0,007348

Agradar 39/530754 0,007348

Arremessar 36/530754 0,006783

Apear 29/530754 0,005464

Afrontar 28/530754 0,005276

Acomodar 28/530754 0,005276

Acostumar 27/530754 0,005087

Assegurar 27/530754 0,005087

Abafar 26/530754 0,004899

Apaixonar 25/530754 0,00471

Assanhar 25/530754 0,00471

Acenar 25/530754 0,00471

Apoderar 24/530754 0,004522

Arriscar 23/530754 0,004333

Apressar 22/530754 0,004145

Apurar 22/530754 0,004145

Alagar 21/530754 0,003957

Aconselhar 21/530754 0,003957

Alongar 21/530754 0,003957

Apartar 20/530754 0,003768

Acariciar 20/530754 0,003768

Assombrar 20/530754 0,003768

Page 215: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

215

Acertar 19/530754 0,00358

Atinar 19/530754 0,00358

Ajustar 17/530754 0,003203

Abençoar 17/530754 0,003203

Arrumar 15/530754 0,002826

Aprontar 14/530754 0,002638

Aprovar 14/530754 0,002638

Arregaçar 14/530754 0,002638

Aterrar 14/530754 0,002638

Atormentar 13/530754 0,002449

Afundar 12/530754 0,002261

Avaliar 12/530754 0,002261

Afrouxar 11/530754 0,002073

Arrasar 11/530754 0,002073

Avultar 11/530754 0,002073

Afiançar 11/530754 0,002073

Acalmar 10/530754 0,001884

Alinhar 9/530754 0,001696

Apossar 9/530754 0,001696

Avivar 9/530754 0,001696

Arregalar 9/530754 0,001696

Abrasar 8/530754 0,001507

Adiar 8/530754 0,001507

Aguardar 8/530754 0,001507

Amaldiçoar 8/530754 0,001507

Apinhar 8/530754 0,001507

Abrandar 7/530754 0,001319

Arrematar 7/530754 0,001319

Atropelar 7/530754 0,001319

Avassalar 7/530754 0,001319

Amassar 6/530754 0,00113

Amofinar 6/530754 0,00113

Arredondar 6/530754 0,00113

Atear 6/530754 0,00113

Avizinhar 6/530754 0,00113

Aperfeiçoar 6/530754 0,00113

Acovardar 5/530754 0,000942

Afiar 5/530754 0,000942

Afinar 5/530754 0,000942

Ajuizar 5/530754 0,000942

Alargar 5/530754 0,000942

Alisar 5/530754 0,000942

Amansar 5/530754 0,000942

Amuar 5/530754 0,000942

Apavorar 5/530754 0,000942

Aprumar 5/530754 0,000942

Page 216: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

216

Abarcar 4/530754 0,000754

Abicar 4/530754 0,000754

Aclimar 4/530754 0,000754

Amaciar 4/530754 0,000754

Amontoar 4/530754 0,000754

Arreganhar 4/530754 0,000754

Assenhorar 4/530754 0,000754

Assinalar 4/530754 0,000754

Avermelhar 4/530754 0,000754

Acarinhar 4/530754 0,000754

Abordar 3/530754 0,000565

Acocorar 3/530754 0,000565

Agrupar 3/530754 0,000565

Alojar 3/530754 0,000565

Alourar 3/530754 0,000565

Ameigar 3/530754 0,000565

Amesquinhar 3/530754 0,000565

Amordaçar 3/530754 0,000565

Aparentar 3/530754 0,000565

Atrapalhar 3/530754 0,000565

Atravancar 3/530754 0,000565

Arruinar 3/530754 0,000565

Abrasileirar 2/530754 0,000377

Abrilhantar 2/530754 0,000377

Acampar 2/530754 0,000377

Acanalhar 2/530754 0,000377

Acarretar 2/530754 0,000377

Afamar 2/530754 0,000377

Ajeitar 2/530754 0,000377

Amoitar 2/530754 0,000377

Aninhar* 2/530754 0,000377

Aprofundar 2/530754 0,000377

Apunhalar 2/530754 0,000377

Arrombar 2/530754 0,000377

Assoberbar 2/530754 0,000377

Atraiçoar 2/530754 0,000377

Aveludar 2/530754 0,000377

Abalançar 1/530754 0,000188

Acobertar 1/530754 0,000188

Afivelar 1/530754 0,000188

Agigantar 1/530754 0,000188

Amorenar 1/530754 0,000188

Apropriar 1/530754 0,000188

Arrecadar 1/530754 0,000188

Abotoar 1/530754 0,000188

Apiedar 1/530754 0,000188

Page 217: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

217

Frequência de uso do século XX

[a [X] ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem

Agradecer 65/724008 0,008978

Amanhecer 22/724008 0,003039

Adormecer 14/724008 0,001934

Amadurecer 12/724008 0,001657

Apodrecer 12/724008 0,001657

Abastecer 11/724008 0,001519

Aborrecer 11/724008 0,001519

Adoecer 8/724008 0,001105

Amolecer 5/724008 0,000691

Anoitecer 3/724008 0,000414

Amortecer 1/724008 0,000138

[en [X] ecer]

Unidade Quantidade Porcentagem

Envelhecer 16/724008 0,00221

Enriquecer 15/724008 0,002072

Enlouquecer 11/724008 0,001519

Enfraquecer 10/724008 0,001381

Engrandecer 8/724008 0,001105

Encarecer 7/724008 0,000967

Endurecer 7/724008 0,000967

Empobrecer 6/724008 0,000829

Empalidecer 5/724008 0,000691

Emudecer 5/724008 0,000691

Embrutecer 4/724008 0,000552

Emagrecer 3/724008 0,000414

Enobrecer 3/724008 0,000414

Enfurecer 3/724008 0,000414

Embranquecer 3/724008 0,000414

Envaidecer 3/724008 0,000414

Enaltecer 2/724008 0,000276

Enternecer 2/724008 0,000276

Entristecer 1/724008 0,000138

Enrijecer 1/724008 0,000138

Endoidecer 1/724008 0,000138

Enraivecer 1/724008 0,000138

Embravecer 1/724008 0,000138

Emurchecer 1/724008 0,000138

Ensurdecer 0/724008 0

Entardecer 0/724008 0

Enegrecer 0/724008 0

Page 218: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

218

Emburrecer 0/724008 0

Enrouquecer 0/724008 0

Encalvecer 0/724008 0

Embambecer 0/724008 0

Embarbecer 0/724008 0

Embrabecer 0/724008 0

Embrandecer 0/724008 0

Emouquecer 0/724008 0

Empardecer 0/724008 0

Empequenecer 0/724008 0

Emperdenecer 0/724008 0

Emputecer 0/724008 0

Encalecer 0/724008 0

Ensoberbecer 0/724008 0

Enverdecer 0/724008 0

[en[x]ar]

Unidade Quantidade Porcentagem

Enfrentar 84/724008 0,011602

Enterrar 47/724008 0,006492

Encarar 32/724008 0,00442

Encostar 30/724008 0,004144

Enfiar 27/724008 0,003729

Encaminhar 26/724008 0,003591

Embarcar 19/724008 0,002624

Enquadrar 14/724008 0,001934

Empenhar 12/724008 0,001657

Englobar 12/724008 0,001657

Embrulhar 9/724008 0,001243

Engordar 9/724008 0,001243

Envergonhar 9/724008 0,001243

Empunhar 8/724008 0,001105

Enrolar 8/724008 0,001105

Encaixar 7/724008 0,000967

Encarnar 7/724008 0,000967

Encurtar 7/724008 0,000967

Enforcar 7/724008 0,000967

Embalar 6/724008 0,000829

Embaralhar 6/724008 0,000829

Engrossar 6/724008 0,000829

Enlaçar 6/724008 0,000829

Embaraçar 5/724008 0,000691

Encampar 5/724008 0,000691

Enroscar 5/724008 0,000691

Entoar 5/724008 0,000691

Embasar 4/724008 0,000552

Page 219: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

219

Emparelhar 4/724008 0,000552

Empatar 4/724008 0,000552

Encabeçar 4/724008 0,000552

Engatinhar 4/724008 0,000552

Envenenar 4/724008 0,000552

Embelezar 3/724008 0,000414

Embargar 2/724008 0,000276

Embolar 2/724008 0,000276

Embuchar 2/724008 0,000276

Empacotar 2/724008 0,000276

Empalmar 2/724008 0,000276

Encadear 2/724008 0,000276

Encasquetar 2/724008 0,000276

Encenar 2/724008 0,000276

Encurralar 2/724008 0,000276

Endireitar 2/724008 0,000276

Enferrujar 2/724008 0,000276

Engraçar 2/724008 0,000276

Ensopar 2/724008 0,000276

Entediar 2/724008 0,000276

Entulhar 2/724008 0,000276

Embalsamar 1/724008 0,000138

Embananar 1/724008 0,000138

Embeiçar 1/724008 0,000138

Embolsar 1/724008 0,000138

Emborcar 1/724008 0,000138

Embriagar 1/724008 0,000138

Emoldurar 1/724008 0,000138

Empanar 1/724008 0,000138

Empastelar 1/724008 0,000138

Emperrar 1/724008 0,000138

Empinar 1/724008 0,000138

Empreitar 1/724008 0,000138

Emprenhar 1/724008 0,000138

Encadernar 1/724008 0,000138

Enciumar 1/724008 0,000138

Enclausurar 1/724008 0,000138

Encorajar 1/724008 0,000138

Encravar 1/724008 0,000138

Encrespar 1/724008 0,000138

Enfear 1/724008 0,000138

Engarrafar 1/724008 0,000138

Engatar 1/724008 0,000138

Engessar 1/724008 0,000138

Engomar 1/724008 0,000138

Engraxar 1/724008 0,000138

Page 220: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

220

Enraizar 1/724008 0,000138

Enredar 1/724008 0,000138

Ensaboar 1/724008 0,000138

Entornar 1/724008 0,000138

Entrincheirar 1/724008 0,000138

Emaçar 0/724008 0

Emadeirar 0/724008 0

Emadeixar 0/724008 0

Emagotar 0/724008 0

Emagrar 0/724008 0

Emalar 0/724008 0

Emalhar 0/724008 0

Emalhetar 0/724008 0

Emanocar 0/724008 0

Emantar 0/724008 0

Emascular 0/724008 0

Emassar 0/724008 0

Ematilhar 0/724008 0

Embabacar 0/724008 0

Embaçar 0/724008 0

Embacelar 0/724008 0

Embagar 0/724008 0

Embagulhar 0/724008 0

Embainhar 0/724008 0

Embalsar 0/724008 0

Embandeirar 0/724008 0

Embarbascar 0/724008 0

Embarbelar 0/724008 0

Embarbilhar 0/724008 0

Embarrancar 0/724008 0

Embarrar 0/724008 0

Embarreirar 0/724008 0

Embarricar 0/724008 0

Embarrigar 0/724008 0

Embasbacar 0/724008 0

Embatucar 0/724008 0

Embaular 0/724008 0

Embebedar 0/724008 0

Embelecar 0/724008 0

Embernar 0/724008 0

Embestar 0/724008 0

Embetesgar 0/724008 0

Embezerrar 0/724008 0

Embicar 0/724008 0

Embiocar 0/724008 0

Embirutar 0/724008 0

Page 221: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

221

Embocar 0/724008 0

Embocetar 0/724008 0

Embodegar 0/724008 0

Embolorar 0/724008 0

Embolotar 0/724008 0

Embonecar 0/724008 0

Emborrachar 0/724008 0

Emborralhar 0/724008 0

Emborrascar 0/724008 0

Embostar 0/724008 0

Embotijar 0/724008 0

Embraçar 0/724008 0

Embrancar 0/724008 0

Embrechar 0/724008 0

Embrenhar 0/724008 0

Embrincar 0/724008 0

Embruacar 0/724008 0

Embrumar 0/724008 0

Embruxar 0/724008 0

Embuizar 0/724008 0

Emburacar 0/724008 0

Emburrar 0/724008 0

Embuzinar 0/724008 0

Emelar 0/724008 0

Empacar 0/724008 0

Empaçocar 0/724008 0

Empalar 0/724008 0

Empalhar 0/724008 0

Empalheirar 0/724008 0

Empampanar 0/724008 0

Empanachar 0/724008 0

Empantanar 0/724008 0

Empanturrar 0/724008 0

Empapar 0/724008 0

Empapelar 0/724008 0

Empapuçar 0/724008 0

Emparceirar 0/724008 0

Emparedar 0/724008 0

Empastar 0/724008 0

Empauapicar 0/724008 0

Empavonar 0/724008 0

Empeçonhar 0/724008 0

Empedrar 0/724008 0

Empelotar 0/724008 0

Empenar 0/724008 0

Emperiquitar 0/724008 0

Page 222: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

222

Empernar 0/724008 0

Empestear 0/724008 0

Empetecar 0/724008 0

Empilecar 0/724008 0

Empilhar 0/724008 0

Empipocar 0/724008 0

Empistolar 0/724008 0

Emplacar 0/724008 0

Emplumar 0/724008 0

Empoar 0/724008 0

Empoçar 0/724008 0

Empocilgar 0/724008 0

Empoeirar 0/724008 0

Empoleirar 0/724008 0

Empomadar 0/724008 0

Empombar 0/724008 0

Empossar 0/724008 0

Emprateleirar 0/724008 0

Emprazar 0/724008 0

Empreguiçar 0/724008 0

Empurpurar 0/724008 0

Emundar 0/724008 0

Encabular 0/724008 0

Encaçapar 0/724008 0

Encachaçar 0/724008 0

Encafifar 0/724008 0

Encaixotar 0/724008 0

Encalacrar 0/724008 0

Encalhar 0/724008 0

Encanar 0/724008 0

Encapar 0/724008 0

Encapuzar 0/724008 0

Encaracolar 0/724008 0

Encarcerar 0/724008 0

Encaretar 0/724008 0

Encarniçar 0/724008 0

Encaroçar 0/724008 0

Encasacar 0/724008 0

Encastelar 0/724008 0

Encatarrar-se 0/724008 0

Encavalar 0/724008 0

Encavernar 0/724008 0

Encerar 0/724008 0

Encerebrar 0/724008 0

Encharcar 0/724008 0

Encorpar 0/724008 0

Page 223: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

223

Encorujar 0/724008 0

Encristar-se 0/724008 0

Encucar 0/724008 0

Endeusar 0/724008 0

Endinheirar 0/724008 0

Endividar 0/724008 0

Endoidar 0/724008 0

Enervar 0/724008 0

Enevoar 0/724008 0

Enfaixar 0/724008 0

Enfeitiçar 0/724008 0

Enfezar 0/724008 0

Enfileirar 0/724008 0

Enfocar 0/724008 0

Enfronhar 0/724008 0

Engaiolar 0/724008 0

Engasgar 0/724008 0

Engatilhar 0/724008 0

Engavetar 0/724008 0

Engordurar 0/724008 0

Engravatar 0/724008 0

Engravidar 0/724008 0

Engrinaldar 0/724008 0

Enjaular 0/724008 0

Enlatar 0/724008 0

Enlodar 0/724008 0

Enluarar 0/724008 0

Enlutar 0/724008 0

Enrabar 0/724008 0

Enrabichar 0/724008 0

Enricar 0/724008 0

Enrijar 0/724008 0

Enrugar 0/724008 0

Ensacar 0/724008 0

Ensanduichar 0/724008 0

Entalar 0/724008 0

Entortar 0/724008 0

Entubar 0/724008 0

Enturmar 0/724008 0

Envasilhar 0/724008 0

Envernizar 0/724008 0

Enviuvar 0/724008 0

[a[x]ar]

Page 224: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

224

Unidade Quantidade Porcentagem

Acabar 328/724008 0,045303

Apresentar 235/724008 0,032458

Acreditar 156/724008 0,021547

Aproveitar 85/724008 0,01174

Apontar 80/724008 0,01105

Aproximar 77/724008 0,010635

Atirar 71/724008 0,009807

Arrumar 62/724008 0,008563

Assegurar 55/724008 0,007597

Apertar 54/724008 0,007458

Arrastar 42/724008 0,005801

Agarrar 41/724008 0,005663

Aprovar 37/724008 0,00511

Abraçar 35/724008 0,004834

Assustar 35/724008 0,004834

Avaliar 35/724008 0,004834

Assinalar 34/724008 0,004696

Acertar 32/724008 0,00442

Aguardar 31/724008 0,004282

Aconselhar 26/724008 0,003591

Abordar 24/724008 0,003315

Afundar 24/724008 0,003315

Ajustar 21/724008 0,002901

Arriscar 21/724008 0,002901

Acenar 20/724008 0,002762

Agradar 19/724008 0,002624

Apurar 19/724008 0,002624

Apressar 18/724008 0,002486

Acariciar 17/724008 0,002348

Avistar 17/724008 0,002348

Abaixar 16/724008 0,00221

Acomodar 16/724008 0,00221

Acostumar 16/724008 0,00221

Anotar 16/724008 0,00221

Atrapalhar 15/724008 0,002072

Ajeitar 14/724008 0,001934

Aprofundar 13/724008 0,001796

Ajoelhar 11/724008 0,001519

Acarretar 10/724008 0,001381

Agrupar 9/724008 0,001243

Aprontar 9/724008 0,001243

Arrebatar 9/724008 0,001243

Alargar 8/724008 0,001105

Amassar 8/724008 0,001105

Apoderar 8/724008 0,001105

Page 225: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

225

Acalmar 7/724008 0,000967

Abençoar 6/724008 0,000829

Abrandar 6/724008 0,000829

Adiar 6/724008 0,000829

Aparentar 6/724008 0,000829

Aperfeiçoar 6/724008 0,000829

Atropelar 6/724008 0,000829

Avolumar 6/724008 0,000829

Abafar 5/724008 0,000691

Afinar 5/724008 0,000691

Afrontar 5/724008 0,000691

Afrouxar 5/724008 0,000691

Alongar 5/724008 0,000691

Apartar 5/724008 0,000691

Arrombar 5/724008 0,000691

Assombrar 5/724008 0,000691

Apaixonar 4/724008 0,000552

Apossar 4/724008 0,000552

Arregaçar 4/724008 0,000552

Arremessar 4/724008 0,000552

Abotoar 3/724008 0,000414

Adoçar 3/724008 0,000414

Afiançar 3/724008 0,000414

Alisar 3/724008 0,000414

Apavorar 3/724008 0,000414

Aprumar 3/724008 0,000414

Arregalar 3/724008 0,000414

Atiçar 3/724008 0,000414

Avultar 3/724008 0,000414

Abarcar 2/724008 0,000276

Abarrotar 2/724008 0,000276

Acobertar 2/724008 0,000276

Ajuizar 2/724008 0,000276

Alistar 2/724008 0,000276

Aportar 2/724008 0,000276

Arrasar 2/724008 0,000276

Arrecadar 2/724008 0,000276

Arrendar 2/724008 0,000276

Arruinar 2/724008 0,000276

Aterrar 2/724008 0,000276

Atinar 2/724008 0,000276

Atormentar 2/724008 0,000276

Abrilhantar 1/724008 0,000138

Acalorar 1/724008 0,000138

Achincalhar 1/724008 0,000138

Acovardar 1/724008 0,000138

Page 226: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

226

Adestrar 1/724008 0,000138

Afiar 1/724008 0,000138

Agigantar 1/724008 0,000138

Alagar 1/724008 0,000138

Alinhar 1/724008 0,000138

Amaldiçoar 1/724008 0,000138

Amansar 1/724008 0,000138

Aninhar 1/724008 0,000138

Aprimorar 1/724008 0,000138

Aprisionar 1/724008 0,000138

Arrebanhar 1/724008 0,000138

Arredondar 1/724008 0,000138

Arreganhar 1/724008 0,000138

Assanhar 1/724008 0,000138

Atear 1/724008 0,000138

Avassalar 1/724008 0,000138

Avivar 1/724008 0,000138

Avizinhar 1/724008 0,000138

Ababadar 0/724008 0

Ababelar 0/724008 0

Ababosar 0/724008 0

Abacalhoar 0/724008 0

Abaciar 0/724008 0

Abadalar 0/724008 0

Abagaçar 0/724008 0

Abaianar 0/724008 0

Abainhar 0/724008 0

Abairrar 0/724008 0

Abalançar 0/724008 0

Abalizar 0/724008 0

Abaloar 0/724008 0

Abalofar 0/724008 0

Abalsamar 0/724008 0

Abalsar 0/724008 0

Abananar 0/724008 0

Abandar 0/724008 0

Abandejar 0/724008 0

Abandidar 0/724008 0

Abaquetar 0/724008 0

Abarbarar 0/724008 0

Abaritonar 0/724008 0

Abaronar 0/724008 0

Abarracar 0/724008 0

Abarrancar 0/724008 0

Abarricar 0/724008 0

Abarrilar 0/724008 0

Page 227: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

227

Abastardar 0/724008 0

Abatatar 0/724008 0

Abatinar 0/724008 0

Abaular 0/724008 0

Abaunilar 0/724008 0

Abeatar 0/724008 0

Abecar 0/724008 0

Abeirar 0/724008 0

Abendiçoar 0/724008 0

Abengalar 0/724008 0

Abesourar 0/724008 0

Abestar 0/724008 0

Abexigar 0/724008 0

Abezerrar 0/724008 0

Abibliotecar 0/724008 0

Abicar 0/724008 0

Abigodar 0/724008 0

Abilolar 0/724008 0

Abiombar 0/724008 0

Abiqueirar 0/724008 0

Abiscoitar 0/724008 0

Abisonhar 0/724008 0

Abobar 0/724008 0

Abocadar 0/724008 0

Abocetar 0/724008 0

Abodegar 0/724008 0

Aboemiar 0/724008 0

Abofetar 0/724008 0

Abolachar 0/724008 0

Aboletar 0/724008 0

Abolhar 0/724008 0

Abonançar 0/724008 0

Abordoar 0/724008 0

Abotijar 0/724008 0

Abotinar 0/724008 0

Abrasar 0/724008 0

Abrasileirar 0/724008 0

Abrasilianar 0/724008 0

Abrasonar 0/724008 0

Abrecar 0/724008 0

Abrejar 0/724008 0

Abrejeirar 0/724008 0

Abrumar 0/724008 0

Abrutar 0/724008 0

Aburguesar 0/724008 0

Acabanar 0/724008 0

Page 228: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

228

Acabelar 0/724008 0

Acaboclar 0/724008 0

Acacetar 0/724008 0

Acachaçar 0/724008 0

Acachafundar 0/724008 0

Acachoeirar 0/724008 0

Acacifar 0/724008 0

Acafajestar 0/724008 0

Acafetar 0/724008 0

Acaixeirar 0/724008 0

Acajadar 0/724008 0

Acamar 0/724008 0

Acamaradar 0/724008 0

Acambraiar 0/724008 0

Acampainhar 0/724008 0

Acampar 0/724008 0

Acamurçar 0/724008 0

Acanalar 0/724008 0

Acanalhar 0/724008 0

Acanastrar 0/724008 0

Acancelar 0/724008 0

Acanelar 0/724008 0

Acangaceirar 0/724008 0

Acanhar 0/724008 0

Acanivetar 0/724008 0

Acanoar 0/724008 0

Acanteirar 0/724008 0

Acapachar 0/724008 0

Acapangar 0/724008 0

Acarinhar 0/724008 0

Acarneirar 0/724008 0

Acarrancar 0/724008 0

Acarrapatar 0/724008 0

Acartolar 0/724008 0

Acasalar 0/724008 0

Acasmurrar 0/724008 0

Acastanhar 0/724008 0

Acastelhanar 0/724008 0

Acavalar 0/724008 0

Acavaleirar 0/724008 0

Acavaletar 0/724008 0

Acebolar 0/724008 0

Acerejar 0/724008 0

Acevadar 0/724008 0

Achatar 0/724008 0

Achinelar 0/724008 0

Page 229: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

229

Achinesar 0/724008 0

Achocolatar 0/724008 0

Acidrar 0/724008 0

Acinzentar 0/724008 0

Aclimar 0/724008 0

Acocorar 0/724008 0

Acoicear 0/724008 0

Acolchetar 0/724008 0

Acolchoar 0/724008 0

Acoletar 0/724008 0

Acomadrar 0/724008 0

Acompadrar 0/724008 0

Acompridar 0/724008 0

Aconfradar 0/724008 0

Acorcundar 0/724008 0

Acorrentar 0/724008 0

Acortinar 0/724008 0

Acotovelar 0/724008 0

Acovar 0/724008 0

Acriançar 0/724008 0

Acrioular 0/724008 0

Aculturar 0/724008 0

Adamar 0/724008 0

Adamascar 0/724008 0

Adelgadar 0/724008 0

Adelicadar 0/724008 0

Adentrar 0/724008 0

Adiamantar 0/724008 0

Adietar 0/724008 0

Adoentar 0/724008 0

Adonar 0/724008 0

Afaçanhar 0/724008 0

Afamar 0/724008 0

Afandangar 0/724008 0

Afedorentar 0/724008 0

Afeminar 0/724008 0

Aferar 0/724008 0

Aferrar 0/724008 0

Aferrenhar 0/724008 0

Afervorar 0/724008 0

Afidalgar 0/724008 0

Afivelar 0/724008 0

Aflamengar 0/724008 0

Aflorar 0/724008 0

Afofar 0/724008 0

Afolhar 0/724008 0

Page 230: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

230

Afrancesar 0/724008 0

Afranzinar 0/724008 0

Afreguesar 0/724008 0

Afrescar 0/724008 0

Afronhar 0/724008 0

Afunilar 0/724008 0

Agaitar 0/724008 0

Agalegar 0/724008 0

Agalhar 0/724008 0

Agalinhar 0/724008 0

Agarotar 0/724008 0

Agraudar 0/724008 0

Agrisalhar 0/724008 0

Agrosseirar 0/724008 0

Aguitarrar 0/724008 0

Ajesuitar 0/724008 0

Aladainhar 0/724008 0

Alaranjar 0/724008 0

Alarar 0/724008 0

Aletradar 0/724008 0

Alisboetar 0/724008 0

Alojar 0/724008 0

Alourar 0/724008 0

Amaciar 0/724008 0

Amadeirar 0/724008 0

Amadrinhar 0/724008 0

Amalaguetar 0/724008 0

Amalhar 0/724008 0

Amanequinar 0/724008 0

Amantar 0/724008 0

Amanteigar 0/724008 0

Amarasmar 0/724008 0

Amarfinar 0/724008 0

Amaricar 0/724008 0

Amarinheirar 0/724008 0

Amarotar 0/724008 0

Amatilhar 0/724008 0

Amatronar 0/724008 0

Amazelar 0/724008 0

Ameigar 0/724008 0

Amelaçar 0/724008 0

Amembranar 0/724008 0

Ameninar 0/724008 0

Amentar 0/724008 0

Amesquinhar 0/724008 0

Amestrar 0/724008 0

Page 231: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

231

Ametalar 0/724008 0

Amilhar 0/724008 0

Amineirar 0/724008 0

Amoçar 0/724008 0

Amochilar 0/724008 0

Amodernar 0/724008 0

Amoedar 0/724008 0

Amofinar 0/724008 0

Amoitar 0/724008 0

Amontanhar 0/724008 0

Amontoar 0/724008 0

Amordaçar 0/724008 0

Amorenar 0/724008 0

Amornar 0/724008 0

Amortalhar 0/724008 0

Amostardar 0/724008 0

Amuar 0/724008 0

Amulatar 0/724008 0

Amulherar 0/724008 0

Amulherengar 0/724008 0

Amumiar 0/724008 0

Amunhecar 0/724008 0

Ananicar 0/724008 0

Anatar 0/724008 0

Anegrar 0/724008 0

Apadrinhar 0/724008 0

Apainelar 0/724008 0

Apaiolar 0/724008 0

Apaisanar 0/724008 0

Apalaçar 0/724008 0

Apalacetar 0/724008 0

Apalacianar 0/724008 0

Apalancar 0/724008 0

Apalavrar 0/724008 0

Apalhaçar 0/724008 0

Apantufar 0/724008 0

Aparabolar 0/724008 0

Aparceirar 0/724008 0

Aparoquiar 0/724008 0

Apascoar 0/724008 0

Apassivar 0/724008 0

Apatetar 0/724008 0

Apatifar 0/724008 0

Apaulistar 0/724008 0

Apear 0/724008 0

Apeçonhentar 0/724008 0

Page 232: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

232

Apedantar 0/724008 0

Apepinar 0/724008 0

Apiedar 0/724008 0

Apimentar 0/724008 0

Apinhar 0/724008 0

Apiramidar 0/724008 0

Apolentar 0/724008 0

Apoliticalhar 0/724008 0

Apoltronar 0/724008 0

Aportuguesar 0/724008 0

Apreçar 0/724008 0

Apresuntar 0/724008 0

Aprincesar 0/724008 0

Apropriar 0/724008 0

Apunhalar 0/724008 0

Aquadrilhar 0/724008 0

Aquilombar 0/724008 0

Arrapazar 0/724008 0

Arregimentar 0/724008 0

Arrematar 0/724008 0

Assalariar 0/724008 0

Assedentar 0/724008 0

Assenhorar 0/724008 0

Assenzalar 0/724008 0

Assingelar 0/724008 0

Assoberbar 0/724008 0

Assobradar 0/724008 0

Assovinar 0/724008 0

Atabernar 0/724008 0

Atamancar 0/724008 0

Atapetar 0/724008 0

Atarefar 0/724008 0

Atarraxar 0/724008 0

Atartarugar 0/724008 0

Atenorar 0/724008 0

Atigrar 0/724008 0

Atijolar 0/724008 0

Atoalhar 0/724008 0

Atomatar 0/724008 0

Atoucinhar 0/724008 0

Atraiçoar 0/724008 0

Atravancar 0/724008 0

Atrelar 0/724008 0

Atucanar 0/724008 0

Avampirar 0/724008 0

Avarandar 0/724008 0

Page 233: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

233

Aveludar 0/724008 0

Avermelhar 0/724008 0

Avinhar 0/724008 0

Axicarar 0/724008 0

Azabumbar 0/724008 0

Page 234: A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE

234

ANEXO IV Experimento linguístico “LexQuest” Sexo: _________________ Escolaridade: _____________________ Idade: ____________

Neste experimento, estamos interessados na sua intuição, enquanto falante nativo do

português, sobre os itens que serão listados. Basta marcar a opção que melhor completa os espaços nas frases.

Não há respostas certas ou erradas, portanto, não será necessário consultar dicionários ou sites da Internet. Conte APENAS com sua intuição.

Não leve muito tempo pensando; marque os itens de acordo com a sua primeira impressão. Obrigado pela ajuda! Meu avô _______ quando fez 60 anos. abangueleceu embangueleceu

Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha costuma ________ a salada.

apalmitou empalmitou

Clarinha __________ depois que passou a frequentar a academia. abonitou

embonitou

Os resíduos hospitalares foram ____________ pela equipe da clínica médica.

alixeirados enlixeirados

As pessoas acham que Horácio ____________ com o passar dos anos.

abruteceu embruteceu

O mar ___________ depois que a ressaca acabou. abrandou embrandeceu

Horácio começou a ________ quando passou a trabalhar amadurar amadurecer

A luz solar é branca, mas __________ por causa da atmosfera. amarela amarelece

Horácio usou uma chave de fenda para ___________ o parafuso. atarraxar entarraxar

Os bandidos _____________ o homem que foi sequestrado. amordaçaram emordaçaram

Clarinha ____________ o canário numa gaiola de vime. aprisionou emprisionou

Marque a(s) palavra(s) que você conhece1 afiar enfiar

Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ acampar encampar

Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ apossar empossar

Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ abaular embaular

1 No caso de não conhecer nenhuma das palavras, deixe em branco.