a parassÍntese em portuguÊs: as relaÇÕes entre
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E
FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA
CAIO CESAR CASTRO DA SILVA
2012
Faculdade de Letras/ UFRJ
A PARASSÍNTESE EM PORTUGUÊS: AS RELAÇÕES ENTRE CULTURA, LÉXICO E
FREQUÊNCIA NA LINGUÍSTICA COGNITIVA
CAIO CESAR CASTRO DA SILVA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua
Portuguesa).
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2012
A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na
Linguística Cognitiva
Caio Cesar Castro da Silva
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Examinada por:
_______________________________________________________________________
Presidente, Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves – UFRJ
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Margarida Maria de Paula Basilio – PUC-Rio
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Helena Franco Martins – PUC-Rio
_______________________________________________________________________
Professor Doutora Hanna Jakubowicz Batoréo – Universidade Aberta de Lisboa
_______________________________________________________________________
Professor Doutora Lilian Vieira Ferrari – UFRJ
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Maria Lucia Leitão de Almeida – UFRJ
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2012
CASTRO da SILVA, Caio Cesar.
A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na
Linguística Cognitiva/ Caio Cesar Castro da Silva. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de
Letras, 2012.
XIII, 234f.: il.; 31cm.
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Coorientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida
Dissertação (Mestrado) - UFRJ/ Faculdade de Letras / Programa de Pós-
Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2012.
Referências bibliográficas: p.171-179.
1. Parassíntese. 2. Léxico cognitivo. 3. Produtividade e frequência de esquemas.
4. Escaneamento cognitivo. I. Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio; Almeida, Maria
Lucia Leitão de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras,
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título.
RESUMO
A parassíntese em português: as relações entre cultura, léxico e frequência na
Linguística Cognitiva
Esta dissertação investiga a instanciação de verbos parassintéticos em português a
partir de quatro diferentes subesquemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar, acalmar), [en[x]Nj ar]Vi
(embarcar, encostar), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer, apodrecer, amadurecer), [en[x]Nj
ecer]Vi (ensurdecer, enriquecer). À luz dos pressupostos cognitivistas, principalmente o
modelo cognitivo de uso, argumentamos que esses subesquemas teriam diferentes
níveis de produtividade, o que acarreta em diferenças no armazenamento e acesso
lexical por parte dos falantes. Em consequência disso, analisamos as frequências de
tipo e de ocorrência dos dados, a fim de encontrar indícios para a hipótese de que o
subesquema [a[x]Nj ecer]Vi teria deixado de ser produtivo ao longo do percurso da
língua, ao passo que os demais teriam se mantido produtivos. Assumimos, também,
que as construções parassintéticas, embora compartilhem a noção semântica de
resultatividade, distinguem-se pela seleção de perspectivas diferentes, como as noções
de locativo (processo em relação a um local) ou atributo (processo em relação a uma
característica). Como esses subesquemas permanecem conectados por um significado
em comum (a resultatividade), é possível postular uma rede esquemática, cujas
estruturas estejam relacionadas por links de herança, permitindo, então, um léxico
mais econômico.
Palavras-chave: parassíntese; léxico; frequência; extensão semântica; produtividade.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2012
ABSTRACT
Circumfixation in Portuguese: the relationship between culture, lexicon and frequency
in Cognitive Linguistics
This work investigates the instantiation of verbs in Portuguese on the basis of four
circumfix subschemas: [a[x]Nj ar]Vi (abaixar ‘to lower’, acalmar ‘to calm’), [en[x]Nj ar]Vi
(embarcar ‘to board’, encostar ‘to lean’), [a[x]Nj ecer]Vi (amanhecer ‘to dawn’,
apodrecer ‘to rot’, amadurecer ‘to mature’), [en[x]Njecer]Vi (ensurdecer ‘to deafen’,
enriquecer ‘to enrich’). In the light of cognitive assumptions, especially the usage-
based model, we argue that these subschemas have different levels of productivity,
which leads to differences in mental storage and lexical access. As a result, we analyze
the token and type frequencies of data in order to provide evidences for the
hypothesis that the subschema [a[x]Nj ecer]Vi has ceased to be productive over the
time, while the other subschemas are still productive. We also assume that the
circumfix subschemas distinguish from each other by the selection of different
perspectives of the same scene, although they share the same semantic notion of
resultativity. As these subschemas are joined by this semantic notion, we suggest that
they are connected by inheritance links in a prototypical network, which supports an
economic lexicon.
Key-words: circumfixation; lexicon; frequency; semantic extensions; productivity.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2012
SINOPSE
Análise de subesquemas verbais de
parassíntese. Exame das frequências de
tipo e de ocorrência na diacronia do
português. Proposta de uma rede
esquemática.
Esta pesquisa foi integralmente financiada pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
DEDICATÓRIA
A dois homens de caráter, que fizeram de mim uma pessoa
melhor: Antônio Vianna de Castro (in memoriam) e Iacyr José
de Araújo (in memoriam), meus avôs.
Meu pensamento é um rio subterrâneo
Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Para que terras vai e donde vem?
Não sei… Na noite em que o meu ser o tem
Emerge dele um ruído subitâneo
De origens no Mistério extraviadas
De eu compreendê-las…, misteriosas fontes
Habitando a distância de ermos montes
Onde os momentos são a Deus chegados…
De vez em quando luze em minha mágoa,
Como um farol num mar desconhecido,
Um movimento de correr, perdido
Em mim, um pálido soluço de água…
E eu relembro de tempos mais antigos
Que a minha consciência da ilusão
Águas divinas percorrendo o chão
De verdores uníssonos e amigos,
E a ideia de uma Pátria anterior
À forma consciente do meu ser
Dói-me no que desejo, e vem bater
Como uma onda de encontro à minha dor.
Escuto-o… Ao longe, no meu vago tato
Da minha alma, perdido som incerto,
Como um eterno rio indescoberto,
Mais que a ideia de rio certo e abstrato…
E pra onde é que ele vai, que se extravia
Do meu ouvi-lo? A que cavernas desce?
Em que frios de Assombro é que arrefece?
De que névoas soturnas se anuvia?
Não sei… Eu perco-o… E outra vez regressa
A luz e a cor do mundo claro e atual,
E na interior distância do meu Real
Como se a alma acabasse, o rio cessa…
Fernando Pessoa
AGRADECIMENTOS
Agradecer é como se desculpar, pois, em geral, são atos que ficam perdidos no
mar de coisas vagas do cotidiano. Não se agradece no tempo certo, nem ao ato certo,
mas ao feito mais vão e com as palavras mais gastas. Nem sempre nos damos conta
de quando estamos meramente cumprindo um ritual que se espera na sociedade
civilizada ou de quando estamos expressando um sentimento que já não podemos
conter. Minha intenção é aproveitar este breve espaço para apresentar minha sincera
gratidão a todas as pessoas que atravessaram, de alguma forma, o meu caminho.
Colho, então, as palavras certas para que esses agradecimentos ecoem como palavras
que carregam histórias.
Em favor da alma, faço um primeiro agradecimento a todos os deuses que me
guiam e fazem com que eu sempre esteja percorrendo o caminho da luz e da paz.
Devoto meus sentimentos aqueles que, por me trazerem ao mundo e me
proporcionaram a melhor criação possível, já mereceriam todo o meu respeito: meus
pais, Carlos e Regina. Ainda que tentasse, jamais poderia retribuir o amor, o carinho, as
broncas e os mimos que me deram.
Igualmente importantes são meus irmãos Thainá e Lupi, ainda que possam me
apontar que este é apenas um cachorro (entretanto, para mim, é um garoto gordo,
levado e mal-humorado). Se não fosse por vocês, sorriria menos e seria menos feliz.
Agradeço aos meus tios, primos, avó, vizinhos e amigos por compreenderem
que nem sempre posso comparecer aos eventos (mea culpa) e pelas palavras de
incentivo.
Ao professor Carlos Alexandre Gonçalves, que me aceitou como orientando
muitos anos atrás e confiou no meu trabalho, só posso tecer elogios pelo
profissionalismo, pela ética que guia seus atos e pela inteligência que não se pauta em
vaidades.
Outra pessoa importante na minha jornada acadêmica é a professora Maria
Lucia Leitão, que me ajudou a descobrir as metáforas que se escondem na vida
cotidiana. A confiança que sempre depositou em mim e a paixão com que trata a
pesquisa acadêmica me estimulam a prosseguir.
Um percurso acadêmico que se preze não pode ser feito apenas de estudos,
mas de amizades também. Portanto, dedico este espaço a três meninas que me
acompanham desde o início da graduação e passaram comigo os momentos de alegria
e os de tristeza: à Ana, porque sei que se eu for imitar o Chaves e cair, alguém vai me
ajudar a levantar (e vai rir de mim também); à Elaine, porque se ficar sem guarita, terei
sempre uma porta aberta para me abrigar; e à Érica, porque se um dia me perder e
passar mal, alguém estará ao meu lado para me guiar.
Lembro, também, dos amigos que estão presentes na minha caminhada: Katia
Emmerick, Hayla Thami, Rosângela Gomes, Vitor Vivas, André Faria, Rafael Cardoso,
Marisandra Rodrigues, Mário Freitas, Bruno Faber, Carolina Gomes, Úrsula Antunes,
Mayara Nicolau, Rachel Pereira e Janaina Pedreira. Um muito obrigado a todos vocês!
Aos professores Roberto Rondinini, Janderson Lemos e Mauro Rocha agradeço
por todas as conversas, principalmente as não acadêmicas, e pelas diversas
contribuições para o meu amadurecimento profissional.
Aos professores da pós-graduação, pela disponibilidade e pelo respeito com o
qual sempre me trataram: Silvia Cavalcante, Dinah Callou, Filomena Rodrigues, Maria
Eugenia Lamoglia, Mônica Orsini, Célia Lopes, Lilian Ferrari e João Moraes.
Às professoras Margarida Basilio, Helena Martins, Hanna Batoréo e Lilian
Ferrari por terem aceitado o convite e me darem o privilégio de participarem da banca
desta dissertação.
Devo agradecimentos, também, aos meus alunos da UFRJ, que sempre me
fazem ir além. Obrigado por me mostrarem que lecionar é um laboratório em
constante construção.
Sou grato também às leituras atentas e precisas do Carlos Alexandre Gonçalves
e da Ana Carolina Mrad. Os erros que surgirem são, é claro, de minha
responsabilidade.
Há, por fim, dois agradecimentos de cunho técnico, porém indispensáveis para
que o trabalho rendesse frutos: ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos, o que
me proporcionou uma dedicação exclusiva à pesquisa e diversas participações em
eventos da área; e ao Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia pela disponibilidade
em me ajudar e pelos dados que me foram apresentados.
14
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................................. 16
2. Os caminhos já desbravados ...................................................................................... 21
2.1. A perspectiva usual .............................................................................................. 22
2.2. As perspectivas do zero e do afixo único ............................................................ 25
2.3. O fator semântico na parassíntese ...................................................................... 29
2.4. A circunfixação ..................................................................................................... 32
2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese ........................................................ 37
2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação ......................................... 41
2. 7. Resumindo .......................................................................................................... 45
3. Linguística Cognitiva ................................................................................................... 47
3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva........................................................... 48
3.2. O léxico ................................................................................................................ 54
3.3. A relação entre uso e léxico ................................................................................ 59
3.4. Operações de conceptualização no léxico .......................................................... 64
3.4.1. Ajuste Focal .................................................................................................. 65
3.4.2. Metáfora ....................................................................................................... 67
3.4.3. Metonímia .................................................................................................... 69
3.5. Resumindo ........................................................................................................... 70
4. Métodos e corpora ..................................................................................................... 71
4.1. O corpus coletado no Houaiss ............................................................................. 71
4.2. Os corpora de língua escrita ................................................................................ 75
4.3. O experimento linguístico ................................................................................... 80
4.3.1. Método do questionário .............................................................................. 80
4.3.2. Conteúdo do questionário ............................................................................ 82
4.4. Resumindo ........................................................................................................... 84
5. Construções parassintéticas ....................................................................................... 85
5.1. Operações de conceptualização e resultatividade .............................................. 86
5.2. Subesquemas de circunfixação ......................................................................... 102
5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi ......................................................................... 103
15
5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi ....................................................................... 113
5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ..................................................................... 118
5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi ................................................................... 124
5.3. Rede de subesquemas ....................................................................................... 126
5.4. Resumindo ......................................................................................................... 128
6. Análise da produtividade dos circunfixos ................................................................. 130
6.1. Análise dos resultados de frequência ................................................................ 132
6.1.1. Resultados da frequência de tipo ............................................................... 132
6.1.2. Resultados da frequência de uso ............................................................... 136
6.2. Análise dos resultados do experimento ............................................................ 144
6.3. Desatando os nós .............................................................................................. 154
6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi ................................................. 156
6.3.2. Unidades lexicais coexistentes ................................................................... 163
6.3.3. Os empréstimos .......................................................................................... 165
6.4. Resumindo ......................................................................................................... 167
7. Conclusão .................................................................................................................. 169
8. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 171
16
INTRODUÇÃO
Recentes estudos das vertentes cognitiva (CROFT & CRUSE, 2004) e
funcionalista (BYBEE, 2010) têm demonstrado que o uso modela e renova o léxico
mental, como um efeito da interação entre os conhecimentos linguístico e
enciclopédico. Desse modo, a formação de uma nova palavra não corresponde apenas
a regras, mas a padrões gerais que se reforçam na mente do falante a partir da
ativação e instanciação de novas unidades lexicais.
Nesta dissertação, objetivamos analisar verbos parassintéticos que são
instanciados por quatro construções básicas do português: (i) [a[x]Nj ar]Vi, que forma
verbos como ‘abaixar’, ‘abafar’, ‘apaixonar’, ‘acalmar’, ‘afiar’, ‘ajoelhar’, ‘alagar’; (ii)
[en[x]Njar]Vi, com os exemplos ‘embarcar’, ‘empacotar’, ‘embolar’, ‘empoçar’,
‘encaminhar’, ‘encostar’; (iii) [a[x]Nj ecer]Vi, que forma itens como ‘amanhecer’,
‘apodrecer’, ‘amolecer’, ‘amadurecer’, ‘amortecer’; e (iv) [en[x]Nj ecer]Vi, que instancia,
por exemplo, ‘ensurdecer’, ‘emburrecer’, ‘envelhecer’, ‘enriquecer’, ‘entristecer’.
As abordagens de Croft & Cruse (2004) e Bybee (2010) sobre a relação entre
uso e léxico respaldam a motivação deste trabalho, que se pauta no questionamento
de qual seria o papel da frequência na instanciação dos verbos parassintéticos. Em
outras palavras, pretendemos mensurar o grau de produtividade de cada construção
de parassíntese na diacronia do português e cotejar os resultados com a força lexical
que cada uma delas apresenta no português brasileiro atual.
1
17
Com base no exame dos dados do corpus, que foi coletado no dicionário
Houaiss (2009), levantamos, a princípio, duas hipóteses. A primeira estaria relacionada
à improdutividade da construção [a[x]Nj ecer]Vi, visto que apresentava uma baixo
número de palavras, enquanto a segunda se referia à produtividade das demais
construções, [a[x]Nj ar]Vi, [en[x]Njar]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. No entanto, a identificação do
conceito de produtividade com a frequência de tipo (CROFT & CRUSE, 2004) nos levou
a verificar a força lexical como uma categoria escalar, na qual duas ou mais
construções concorrentes se diferenciariam a partir do número de itens gerados (i.e.,
graus de produtividade), e não por uma oposição produtivo/ improdutivo (BOOIJ,
1977). Com isso, reformulam-se as hipóteses: (i) pretendemos investigar quais são os
níveis de produtividade de cada construção de parassíntese; e (ii) qual a probabilidade
de cada uma instanciar novas palavras.
Nosso segundo – mas não menos importante – objetivo é descrever de que
modo operações cognitivas que atuam no léxico, como a metáfora, a metonímia e o
ajuste focal (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; LANGACKER, 1987; COULSON, 2001;
FAUCONNIER & TURNER, 2002) atualizam e modelam as construções parassintéticas.
Observaremos, igualmente, como essas construções específicas se organizam na
mente do falante por meio de estruturas simbólicas que evocam conhecimento
(BASILIO, 2010; BOOIJ, 2010; GOLDBERG, 1995) e se relacionam com outras mais
genéricas.
Outra indagação diz respeito aos significados ativados pelas construções
parassintéticas, que podem indicar uma mudança de estado (‘apaixonar’,
‘enlouquecer’, ‘amadurecer’ e ‘enviuvar’) ou mudança de local (‘empacotar’,
18
‘envasilhar’, ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’). É preciso verificar, portanto, se estão
relacionados por elos polissêmicos ou se são significados diferentes.
Assumimos, neste trabalho, a posição de Gonçalves (2005), Rio-Torto (1994) e
Henriques (2007) que interpretam os casos de parassíntese como morfes
descontínuos, isto é, um mesmo afixo que se desmembra para a inserção de uma base
no seu interior. Em decorrência desse posicionamento, optamos por adotar a
nomenclatura ‘circunfixação’ ao lado do termo mais difundido ‘parassíntese’, sem que
implique mudança de significado, pois, em ambos os casos, estamos pressupondo a
descontinuidade morfêmica.
Esta dissertação está organizada em oito capítulos, ao término dos quais
seguem breves resumos das informações discutidas ao longo do texto. No capítulo 2,
traçamos um panorama sobre as diversas abordagens do processo de parassíntese em
português. Aprofundamos a discussão com a noção de morfes descontínuos que será
adotada como método de análise. Nesse mesmo capítulo, resenhamos dois
importantes trabalhos acadêmicos sobre o tema: (i) a análise de Bassetto (1993) dos
derivados parassintéticos, resgatando seu sentido na etimologia grega; e (ii) a análise
gerativista de Martins (1991), com a qual manteremos um intenso diálogo durante
nossa investigação, sobre a regularidade semântica nas formações de parassíntese.
Debruçamo-nos no capítulo 3 sobre o arcabouço teórico da Linguística
Cognitiva, que nos permitiu analisar os dados sob o escopo semântico por meio de
operações cognitivas, como a metáfora, a metonímia e o ajuste focal. As principais
referências são o trabalho de Langacker (1987) e as propostas do modelo baseado no
uso das palavras no discurso (CROFT & CRUSE, 2004). Como assumimos uma
19
perspectiva lexicalista, recorremos a Booij (2010) e Basilio (2011) para representar os
esquemas responsáveis pela instanciação de unidades do léxico.
No capítulo 4, lançamos mão das ferramentas metodológicas empregadas para
o exame dos dados. Descrevemos a constituição do corpus a partir do dicionário
eletrônico Houaiss (2009), bem como os métodos de seleção de textos escritos na
diacronia da língua portuguesa que serviram de base para a análise da frequência de
uso. Controlamos os dados através de cálculos estatísticos propostos por Lieber
(2010), que permitem capturar o grau de produtividade de cada subesquema nos
diferentes estágios da língua. Comentamos, ainda nesse capítulo, o teste de
aceitabilidade que aplicamos em falantes nativos do português para confirmar nossa
hipótese de que uma das construções ([a[x]Nj ecer]Vi) teria produtividade baixa se
comparada com as demais.
No capítulo 5, observamos os esquemas parassintéticos [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj
ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi com base na proposta de Booij (2010). Propomos
uma rede esquemática, em que os subesquemas estariam conectados através de links
de herança (GOLDBERG, 1995). A investigação semântica dos dados pautou-se no
conceito de resultatividade (LEITE, 2006; GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF,
2004), i.e., a mudança de estado de um elemento. Com Langacker (1987), expressamos
que o escaneamento cognitivo dinâmico é responsável pela conceptualização dos
verbos do corpus e que ajustes focais, metáforas e metonímias organizam as extensões
de sentido das palavras.
Verificamos, no capítulo 6, a produtividade de cada uma das construções de
circunfixação com base em dados sincrônicos e diacrônicos. Pudemos confirmar a
hipótese de que houve a manutenção de um padrão fraco do subesquema
20
[a[x]Njecer]Vi, enquanto os demais subesquemas se mantiveram produtivos, mas com
diferentes graus de força lexical. Valemo-nos também dos resultados de um teste de
aceitabilidade aplicado a duzentos falantes nativos do português, que apontaram que
palavras com alta frequência de ocorrência tendem a ser mais facilmente
reconhecidas, mesmo que sejam instanciadas por construções pouco produtivas, como
é o caso de ‘amadurecer’, que vem de [a [x]Nj ecer]Vi. Nos capítulos 7 e 8,
apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas, respectivamente.
21
OS CAMINHOS JÁ DESBRAVADOS
O linguista tem de decidir com qual tipo de problemas conviver. 1
Laurie Bauer
No rol dos tradicionais processos formadores de novos itens lexicais, figura um
considerado mais complexo por envolver a aplicação simultânea de um prefixo e um
sufixo a uma base, em dados como ‘amanhecer’, ‘enrouquecer’, ‘abrandar’ e
‘embolar’. Alguns autores preferem designá-lo circunfixação (RIO-TORTO, 1994;
HENRIQUES, 2007, SILVA & KOCH, 2005), enquanto outros adotam a nomenclatura
mais difundida, derivação parassintética (SANDMANN, 1997; BASILIO, 2004).
Não tendo sido considerada na NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) “para
simplificar”, conforme explicou Nascentes (1959: 12), a parassíntese carece ainda de
estudos mais detalhados que aprofundem os tratamentos formais que vêm se
desdobrando nos últimos tempos e que destrinchem os sentidos subjacentes à
construção morfológica.
Neste capítulo, são apresentadas as várias propostas que vêm sendo discutidas
no âmbito da tradição gramatical e da literatura morfológica, bem como faremos um
breve panorama sobre os trabalhos mais significativos na área. A revisão que
propomos não seguirá os moldes clássicos que separam as obras gramaticais das
pesquisas linguísticas, já que, em alguns casos, observamos que autores de diferentes
1 The linguist has to decide which set of problems to live with. (BAUER, 2001)
2
22
perspectivas abordam posições similares. Dessa maneira, agrupamos os estudos em
relação à semelhança das propostas defendidas.
O capítulo está assim dividido: apresentamos em 2.1 o ponto de vista mais
tradicional e usual sobre o processo, subentendendo uma anexação simultânea; na
subseção seguinte, observamos as propostas que preveem um sufixo foneticamente
nulo nos casos das terminações em ‘-ar’ e um prefixo semanticamente nulo (‘a-‘), ou
seja, abordamos as análises que levam a um distúrbio na relação de um-para-um entre
forma e significado em morfologia; em 2.3 argumentamos, com Basilio (1987) e Kehdi
(1992), a relevância do fator semântico na análise dos processos morfológicos; em 2.4
atentamo-nos para a hipótese de as partes que compõem a parassíntese se
comportarem como morfemas descontínuos. Fazemos também uma revisão mais
acurada de dois importantes trabalhos acerca do assunto aqui discutido em 2.5; e, por
fim, expomos as razões que nos guiaram a adotar uma dessas perspectivas,
nomeadamente, a derivação circunfixal.
2.1. A perspectiva usual
Cunha & Cintra (2007) e Rocha Lima (2008) referem-se ao processo como
parassíntese, ponderando o fato de serem formados, em geral, mais verbos, como
‘acorrentar’, ‘embainhar’, ‘amanhecer’ e ‘ensandecer’, do que adjetivos. Esses
parassintéticos não verbais, mais escassos na língua, podem ser ilustrados pelas
palavras ‘desalmado’, ‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’ e ‘desnaturado’. Rocha Lima afirma
ainda que as bases disponíveis ao processo são, invariavelmente, substantivos
(‘gaveta’ em ‘engavetar’) ou adjetivos (‘rijo’ em ‘enrijecer’).
23
A ação combinada de prefixo e sufixo (DUBOIS, 1973) constitui parte do estudo
de Sandmann (1988) acerca das novas formações em português. Com base em um
corpus coletado de textos jornalísticos, o autor informa que a parassíntese ainda é
produtiva, principalmente com os sufixos ‘-ar’, ‘-izar’ e ‘-ecer’. Alguns dados
encontrados foram ‘acaudilhar’, ‘ensombrecer’ e ‘desfavelar’, em que se percebem os
sufixos citados acompanhados dos prefixos ‘a-‘, ‘en-‘ e ‘des-‘. Rocha (1998) afirma que
essa produtividade é esporádica, pois, se comparada às derivações prefixal e sufixal, o
número de novas palavras parassintéticas é relativamente baixo (o exemplo
institucionalizado mais recentemente seria ‘desfavelar’2).
Vilela (1994) e Laroca (1994) têm o mesmo posicionamento dos outros teóricos
já citados, embora se baseiem em um quadro estruturalista para classificar a
parassíntese. No recorte de Vilela (1994), o prefixo é visto como um modificador
semântico que se anexa a uma base portadora de significado literal e a um
categorema. Já Schwindt (2001) e Lee (1995) abordam o tema através da ótica
gerativista – mais especificamente, a Fonologia Lexical.
Lee (1995) prevê que a anexação do prefixo e do sufixo à base ocorra no
primeiro nível do léxico, a que chama de nível α. Já Schwindt propõe que a junção dos
afixos se dê no mesmo nível, mas em estratos diferentes para justificar sua oposição à
hipótese tradicional de simultaneidade, dado que esta pressupõe uma divisão ternária,
não acolhida pela Hipótese da Ramificação Binária (ARONOFF, 1976). De acordo com
Aronoff, uma regra de formação de palavras deve envolver apenas uma base e um
afixo; nunca três elementos, como ocorre na parassíntese. Schwindt, então, apresenta
um diagrama arbóreo que pretende reparar essas questões através da concepção de
2 Acreditamos que o verbo mais usual é ‘desfavelizar’, derivado de ‘favelizar’, não sendo, portanto, um
caso de parassíntese.
24
um estrato intermediário. Justamente por argumentar que a afixação ocorra em
estratos diferentes, torna-se possível a criação de um estrato intermediário que
satisfaria, de acordo com o autor, a simultaneidade do processo, ao mesmo tempo em
que asseguraria que a ramificação não fosse ternária. Nesse caso, em um estrato
superior haveria a adjunção do sufixo seguida de uma forma sem status prosódico com
a posterior inclusão do prefixo em outro estrato. Exemplificamos essa proposta com a
árvore na Figura 1, adaptada de Schwindt (2001):
V 3
pref V
en 3
N suf
caro ecer
Figura 1: diagrama arbóreo da parassíntese adaptado de Schwindt (2001)
Por sua vez, Bechara (2009) ressalta que, embora alguns autores adotem a
noção de circunfixação ou façam uso do critério de simultaneidade, é mais econômico
excluir a parassíntese dos processos de formação de palavras, uma vez que se preserva
a linearidade do signo linguístico. A derivação se daria à semelhança do que ocorre
com os dados em (2):
(2) letrando (o estudante de Letras) < *letrar
farmacolando (o estudante de Farmácia) < *farmacolar
prefeitável (passível de exercer cargo de prefeito) < * prefeitar
25
Nesses casos, a formação se apoia nas bases virtuais *letrar, *farmacolar e *prefeitar,
respectivamente. Por analogia, casos de parassíntese, como ‘envelhecer’ e
‘emburacar’, teriam como bases virtuais *envelho e *emburaco, ou *velhecer e
*buracar. A derivação poderia ser prefixal, como nos esquemas em (3), ou sufixal,
como em (4).
(3) envelhecer [ en [*velhecer]V ]V
emburacar [ em [*buracar]V ]V
(4) envelhecer [[*envelho]A ecer]V
emburacar [[*emburaco]S ar]V
2.2. As perspectivas do zero e do afixo único
Algumas descrições morfológicas sobre a parassíntese levam a crer que a
posição sufixal de alguns verbos parassintéticos em ‘-ar’ seja ocupada por um
constituinte sem representação fonética. É o caso de Monteiro (1987), que opõe
verbos parassintéticos de dois tipos: uns formados pela adição de um sufixo
derivacional (exemplo em (5)) e outros, muito mais comuns, gerados pela indexação
de um morfema zero (exemplo em (6)).
(5) adocicar a- + doce + -ic + -a + -r
(6) adoçar a- + doce + Ø + -a + -r
26
Para o autor, a sequência morfêmica ‘-ar’ é flexional e, portanto, não seria
responsável pela mudança categorial. O uso do morfema zero na posição de sufixo
parte da disposição em manter o paradigma derivacional mais regular, visto que em (5)
há uma sequência com valor de sufixo, ‘-ic’. O mesmo pode ser verificado nos
exemplos em (7).
(7) esquartejar es- + quarto + -ej + -a + -r
amolecer a- + mole + -ec + -e + -r
encalvecer en- + calvo + -ec + -e + -r
(8) entornar en- + torno + Ø + -a + -r
abaixar a- + baixo + Ø + -a + -r
empoeirar em- + poeira + Ø + -a + -r
Nos dados de (7), a formação se dá através de sufixos que apresentam
propriedades fonéticas, ao contrário dos dados de (8), que necessitariam de um sufixo
zero, porque, segundo Monteiro, a sequência ‘-ar’ não pode acumular características
flexionais e derivacionais.
Camara Jr. (1976: 226) alude à parassíntese como um mecanismo que atribui
“ao nome a flexão verbal concomitantemente com um dos prefixos ‘en-‘ (prep. em) ou
‘a-‘ (prep. a)”, ou seja, desprovido de qualquer sufixo derivacional. Seguem o mesmo
raciocínio Freitas (1997) e Corbin (1980), que lançam mão de um prefixo com poderes
heterocategoriais. Esse prefixo seria capaz de transformar um nome em verbo a partir
da geração de uma vogal temática verbal.
27
Villalva (2003) sugere que os parassintéticos verbais em ‘-ar’, como os de (6) e
(8), sejam formados por conversão de uma forma virtual em uma forma possível e
existente no léxico. Isso resulta do fato de os afixos não serem um “componente
nuclear” nas derivações regressiva, imprópria e parassintética, nas quais o radical ou a
palavra são as partes afetadas, afastando-se, logo, dos processos canônicos de
derivação, como a prefixação e a sufixação. Em (9), apresentamos exemplos de
derivação regressiva e em (10) de derivação imprópria, evidenciando, de acordo com o
esquema proposto por Villalva (2003), quais partes são núcleos das formações3.
(9) comprar RV compra RN
beijar RV beijo RN
gritar RV grito RN
(10) O ‘azul’ N do mar foi enegrecido pela mancha de óleo. (azul A azul N)
O ‘olhar’ N da bailarina encantou o público. (olhar V olhar N)
A autora se posiciona contrariamente à adoção de ‘-ar’ como um sufixo
derivacional, o que acarreta a geração de palavras parassintéticas a partir da alteração
da categoria gramatical por conversão seguida da prefixação, não sofrendo, assim,
mudança na forma. A única diferença entre os dados de conversão em (9) e (10) e os
de parassíntese em (11), a seguir, seria a presença do prefixo, que aparece como um
assegurador da derivação parassintética, embora tenha, segundo Villalva, uma simples
função fática.
3 As siglas RV, RN e RA se referem, respectivamente, a Radical Verbal, Radical Nominal e Radical
Adjetival.
28
(11) torn RN en torn ar
brilhant RA a brilhant ar
poeir RN em poeir ar
Ainda na esteira dos que interpretam os prefixos parassintéticos apenas como
marcadores de expressão, podemos citar Sandmann (1988; 1997), que credita ao
prefixo somente a função semântica. A acepção do prefixo seria, então, incorporada à
da base, caracterizando uma composicionalidade do significado, como se pode ver no
esquema em (12), adaptado de Sandmann (1997).
(12) en- para dentro (encaixar, empacotar)
ex- para fora (expatriar, exportar)
re- de volta (repatriar, remembrar)
des- afastamento (desmatar, desossar)
Por sua vez, o sufixo exerceria as funções sintática e semântica, podendo optar
ora por uma, ora por outra, ou, em alguns casos, por ambas. Os dados mais
exemplares são dos verbos terminados em ‘-ecer’ (exemplos em (13)), nos quais o
prefixo teria não somente o significado aspectual de incoatividade, mas também
atuaria na mudança categorial da base (de substantivo ou adjetivo para verbo).
(13) amanhecer início da manhã
entardecer início da tarde
29
Dentre os afixos que participam da parassíntese, o ‘a-‘ seria o único
completamente desprovido de conteúdo semântico (SANDMANN, 1997; MONTEIRO,
1987; HENRIQUES, 2007, VILLALVA, 2003), ao contrário dos demais prefixos
apresentados em (12). Sandmann opõe dois pares sinônimos em (14), a seguir, para
reforçar a sua opinião de que o prefixo ‘a-’ é assemântico, além de recorrer a exemplos
do francês que, segundo Wandruszka (apud Sandmann, 1988), apresentaria
parassintéticos com prefixo assemântico (15).
(14) avermelhar ~ vermelhar
acasalar ~ casalar
(15) agrandir ‘ampliar’
arrondir ‘arredondar’
2.3. O fator semântico na parassíntese
O critério da simultaneidade, no qual se apoia a tradição gramatical
portuguesa, não é o que define a parassíntese. Basilio (1987) e Kehdi (1992) apontam
que a estrutura de formação deve ser analisada, e não a ocorrência simultânea de
prefixo e sufixo. Essa estrutura de formação nos revela que o prefixo e o sufixo devem
ser acoplados à base simultaneamente, já que a mera existência de prefixo e sufixo
não garante a parassíntese, como se percebe nos exemplos em (16).
(16) desvalorização
30
recadastrar
No primeiro exemplo de (16), a nominalização em ‘-ção’ se dá com base no
verbo ‘desvalorizar’, que é formado da união do prefixo ‘des-’ à forma verbal
‘valorizar’. Já em ‘recadastrar’, observa-se que à base ‘cadastrar’ se aplica o prefixo
‘re-’; e o verbo ‘cadastrar’ tem como base o substantivo ‘cadastro’. Nesses casos,
verifica-se que a presença do prefixo e do sufixo não assegura que os itens em (16)
sejam palavras parassintéticas, pois a formação se dá em níveis diferentes; logo, não
há simultaneidade.
No entanto, esses autores percebem que, em muitos casos, a adoção do
critério da simultaneidade não é suficiente para precisar se uma palavra é derivada por
parassíntese ou por prefixação e sufixação. É o caso dos pares demonstrados em (17),
cujos verbos têm as mesmas bases, mas são formados por processos distintos.
(17) anotar x notar
esbarrar x barrar
embolar x bolar
abaixar x baixar
Considerando apenas a questão da simultaneidade, os verbos da primeira
coluna não poderiam ser caracterizados como parassintéticos, uma vez que existem
formas sem o prefixo (verbos da segunda coluna). Diante desse quadro, Kehdi (1992) e
Basilio (1987) questionaram o critério e atribuíram ao traço semântico maior
funcionalidade na constituição do processo.
31
Nota-se que os dados expostos na primeira coluna de (17) veiculam significados
distintos de seus pares correlatos. De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss
(2009), ‘anotar’ é ‘tomar nota’, enquanto ‘notar’ é ‘perceber’, ‘observar’; ‘esbarrar’ é
‘chocar-se fisicamente’, ao contrário de ‘barrar’, que designa ‘impedir’, ‘bloquear’. Da
mesma forma, observam-se diferenças entre ‘embolar’ e ‘bolar’, de um lado, e
‘abaixar’ e ‘baixar’, de outro. Ainda que as bases fonológicas sejam as mesmas (‘nota’,
‘barra’, ‘bola’ e ‘baixo’, respectivamente), as construções morfológicas das quais se
originam guardam assimetrias. A partir dos exemplos em (18) e (19)4, pode-se verificar
essa distinção de maneira mais clara.
(18) A prefeitura ‘alargou’ a avenida da orla.
?A prefeitura ‘largou’ a avenida da orla.
(19) Pedro é ‘descarnado’.
A fome deixou Pedro ‘descarnado’.
?João foi ‘descarnado’ pela fome.
Na primeira sentença de (18), dizemos que a avenida se tornou mais larga,
enquanto na segunda percebemos o sentido estendido do verbo (a prefeitura teria
parado de manter os cuidados com a tal avenida, como limpar as calçadas, podar as
árvores etc), embora essa leitura possa parecer estranha para alguns falantes.
Também é necessário que, nos exemplos em (19), o fator semântico seja
ativado juntamente ao fator simultaneidade para identificarmos os derivados
parassintéticos. Na primeira frase de (19), informa-se que Pedro é magro; na segunda,
4 Os exemplos de (18) foram adaptados de Kehdi (1992) e os de (19), de Basilio (1987).
32
que a fome é a causa de Pedro ser magro; e na terceira que Pedro é o paciente do ato
de descarnar. Nos dois primeiros exemplos de (19), aparecem formas adjetivais
parassintéticas, enquanto, no terceiro, tem-se o particípio passado do verbo
‘descarnar’. Mesmo com a estranheza causada pela última frase, poderíamos verificar
dois tipos morfológicos (um adjetival e um verbal), que são licenciados na gramática
por apresentarem significados diferentes.
Seguindo Basilio, esses exemplos revelam a insuficiência da hipótese tradicional
para acomodar a parassíntese, pois, ao considerar que a existência de um vocábulo
sem um dos afixos implica a interpretação da forma derivada como não parassintética,
faz-se necessário excluir as formas exemplificadas na primeira sentença de (18) e nas
duas primeiras de (19). Uma verificação que leve em conta o aspecto semântico se
mostraria, então, relevante não só para explicar a ocorrência de determinados
vocábulos, mas também para entender a natureza morfossemântica do processo.
2.4. A circunfixação
A circunfixação, ao que parece, é um processo de caráter tipológico, com dados
registrados em diversas línguas não relacionadas entre si, como o alemão, o hebreu, o
italiano, o indonésio e o eslavo, por exemplo. Pode ser entendida como o
desmembramento de um afixo para a inserção da base/ radical no seu interior
(MEL’ČUK, 2006; COHEN-SYGAL & WINTNER, 2006; GUEVARA, 2007, JENSEN, 1991).
Guevara lembra ainda que é comum que alguns autores não façam distinção entre
circunfixação e parassíntese, já que, em tese, ambas pressupõem a junção de um
33
segmento inicial e um final a uma base. Entretanto, só no primeiro processo esses
segmentos se comportam como um único afixo.
Mel’čuk apresenta alguns exemplos do Malaio (dispostos em (20)), em que o
circunfixo /ke...an/ significa “ser parecido com”. Já Lieber (2010) traz alguns exemplos
do Tagalog, língua também da família malaio-polinésia, em que o circunfixo /ka...an/
se junta a bases nominais para indicar coletividade – exemplos de (21).
(20) cina ‘chinês’ ke-cina-an ‘ser como um chinês’
anak-anak ‘boneca’ ke-anak-anak-an ‘ser como uma boneca’
anakangkat ‘filho adotivo’ ke-anakangkat-an ‘ser como um filho
adotivo’
(21) Intsik ‘pessoa chinesa’ ka-intsik-an ‘pessoas chinesas’
pulo ‘ilha’ ka-pulu-an ‘arquipélago’
Tagalog ‘pessoa de Tagalog’ ka-tagalog-an ‘pessoas de Tagalog’
No holandês, também encontramos um circunfixo indicando coletividade, de
acordo com Booij (2002), ainda que o circunfixo /ge...te/ não seja mais produtivo.
Percebe-se, nos exemplos em (22), assim como nos de (20) e (21), que a palavra base
não existe sem o prefixo e nem sem o sufixo, o que confere o caráter de dependência
entre as partes.
(22) Berg ‘montanha’ ge-berg-te ‘(cadeia de) montanhas’
vogel ‘ave’ ge-vogel-te ‘bando’
34
Em outras línguas, esse processo também pode ser verificado com bases
verbais. Bauer (1988) apresenta alguns dados do alemão (23), cujo circunfixo /ge...t/
tem características flexionais, pois atua na formação do particípio passado de verbos
fracos. Booij (2005) nota que em holandês há um sistema flexional semelhante ao do
alemão, no que concerne ao uso de circunfixos para expressar o passado (24).
(23) film-en ‘filmar’ ge-film-t ‘filmado’
frag-en ‘perguntar’ ge-frag-t ‘perguntado’
lob-en ‘louvar’ ge-lob-t ‘louvado’
zeig-en ‘mostrar’ ge-zeig-t ‘mostrado’
(24) fiets ‘andar de bicicleta’ ge-fiets-t ‘andou de bicicleta; pedalou’
No árabe, o tempo presente nos verbos é formado pelo radical de presente do
verbo e um circunfixo. O radical isolado não funciona como uma palavra, ou seja,
precisa do prefixo, que indica marca de pessoa, e do sufixo, que marca modo e
número, para veicular um significado completo. O quadro abaixo (retirado de RYDING,
2005) ilustra a formação do presente do radical verbal -ktub- ‘escrever’.
35
Quadro 1: circunfixos no tempo presente do árabe (RYDING, 2005)
Há ainda estudos sobre esse fenômeno no japonês (BOECKX & NIINUMA, 2004)
e no guarani, línguas em que os circunfixos serviriam a indicar negação (/nd...i/) ou
negação futura (/nd...mo’ãi/) (ZERROUKI & BALLA, 2009).
Voltando nosso foco para o português, alguns autores (RIO-TORTO, 1994;
HENRIQUES, 2007; GONÇALVES, 2005; ROSA, 2006; GONÇALVES & ALMEIDA, 2008)
propõem que a circunfixação seja compreendida como um processo de formação de
palavras, com características que acarretam na sua distinção da sufixação e da
prefixação.
Luft (1979) manifesta aquilo – que começaria a ser percebido mais adiante por
outros pesquisadores – de mais característico na parassíntese: terem as partes
derivacionais apenas um significado. Com isso, o autor indica, assim como Lopes
(2003) e Silva & Koch (2005), que se trata de um morfema descontínuo, i.e., uma
36
unidade formal expressiva que é desmembrada para a inserção de outra unidade no
seu interior.
Henriques (2007), por razão diversa, se posiciona favorável a essa ideia5. O
teórico aborda também a formação de adjetivos circunfixais, que se dividiriam em dois
grupos: o primeiro reúne os derivados que apresentam um prefixo que, se isolado, não
possui valor semântico (‘abobado’, ‘achocolatado’); e um segundo grupo que se
subdivide em outros dois: (i) prefixo ‘des-‘ (negação) e sufixo ‘-ado’. (‘desalmado’,
‘descampado’, ‘desnaturado’); e (ii) prefixo ‘con-‘ (simultaneidade) ou ‘sub-‘
(inferioridade) e sufixo ‘-âneo’ (‘conterrâneo’, ‘subterrâneo’).
Sobre a circunfixação, Rio-Torto (1998: 214) adiciona ainda o fato de as partes
que compõem o circunfixo não se comportarem de maneira autônoma, ou seja,
“deixam de ter o estatuto de verdadeiros prefixo e sufixo, para adquirirem o de
constituintes circunfixais, um ocorrendo em posição prefixal, outro em posição
sufixal”. Outro ponto importante, a recategorização sintática, é tratado pela autora
como uma função do circunfixo, e não apenas do sufixo, uma vez que se consideram
derivados circunfixais os vocábulos formados pelo processo.
No que diz respeito aos verbos terminados em ‘-ar’, Rio-Torto (1998; 1994)
adota uma posição que concilia flexão e derivação, ou seja, o sufixo é responsável
também pela mudança categorial. Contudo, ela informa que outras duas propostas são
igualmente viáveis: a de Villalva, para quem verbos como os em (11) são derivados por
conversão, ou a de Freitas (1997), que prevê um prefixo heterocategorial.
5 Como já foi dito, o autor não credita significado ao prefixo parassintético a- (que se origina do latino
ad-), o que o faz distinguir este do prefixo grego a- (amoral, acéfalo e anarquia). Nesse contexto, de acordo com Henriques, ganha força a análise circunfixal, pois se privilegia o significado do todo.
37
2.5. Trabalhos específicos sobre a parassíntese
Cabe aqui, mais do que uma breve menção, fazer uma resenha sobre dois
importantes trabalhos que têm foco exclusivamente na parassíntese. Um deles é o de
Bassetto (1993), que empreende um estudo sobre a conceituação dada ao tema desde
a tradição greco-latina aos compêndios gramaticais mais recentes. O autor reúne em
cinco capítulos informações recolhidas em textos originais com o claro objetivo de
obter uma definição precisa para a parassíntese, visto que algumas das percebidas nos
manuais de morfologia parecem desencontradas. Além disso, faz uso de um corpus
constituído de palavras retiradas de obras de Guimarães Rosa para amparar e
demonstrar a proposta que recupera dos pensadores gregos.
O conceito de parassíntese remonta ao pensamento aristotélico, porém é
Dionísio Trácio (170-90 a.C.) quem o transmite à tradição gramatical ocidental, pois
“foi nesse documento [a primeira gramática grega] que se empregou, ao que tudo
indica pela primeira vez, o termo” (BASSETTO: 1993: 24). O autor defende que a
proposta dos gregos acomoda mais satisfatoriamente a análise derivacional, pois, em
sua origem, parassíntese designa a anexação de uma partícula a um síndeto, sendo
este qualquer palavra composta que tenha significação na língua. Choeroboscus (fins
do século VI d.C.) diz que “simplesmente a tudo quanto se origina de um sintético
chamamos parassintético, seja de nomes seja de verbos” (BASSETTO: 1993, 38). O
trecho esclarece e amplia a noção estabelecida pelos gramáticos gregos anteriores,
dado que qualquer palavra formada a partir de um síndeto é parassintética, seja
formada por prefixação ou por sufixação.
38
Pela proposta, palavras como ‘contentamento’ e ‘inexplicável’ seriam
parassintéticas, posto que encerram a anexação de uma partícula, ‘-mento’ e ‘in-’, a
um síndeto, ‘contentar’ e ‘explicável’, respectivamente. Isso representa uma forte
quebra de paradigma com a ideia imputada pelos autores latinos, principalmente
Prisciano (século V d.C.), em quem a nossa tradição se fundamenta para designar a
parassíntese. Conforme nos expõe Bassetto (1993:68),
os elementos no interior de parênteses formam um conjunto que deve ser levado em conta em todas as operações subsequentes, assim os formantes de um sintético constituem um todo inseparável em relação a sufixações ou prefixações posteriores, sob pena de se chegar a formas absurdas. O esquema de magnanimitas é: (N + N) + SD ou (magn(-us) + animus) + itas.
Baseado na conceituação grega, o autor passa, então, a uma análise dos
vocábulos formados por parassíntese em português, levantando em conta a frequência
com que os prefixos e sufixos ocorrem no processo. Na formação de verbos, o prefixo
mais utilizado é ‘a-‘, com 21% das ocorrências, seguido de ‘des-‘ (15,2%), ‘en-‘ (12,4%)
e uma lista de outros vinte e nove prefixos. O sufixo nominal mais comum é ‘-do’
(32,8%), enquanto na formação de verbos levam majoritária vantagem ‘-ar’ (morfema
zero para o autor) e ‘-ecer’ (7,6%).
O segundo trabalho com foco na parassíntese é o de Martins (1991) que, por
sua vez, se apoia na distinção entre regularidade e irregularidade semântica nas
formações lexicais, questionando até que ponto esse é um critério suficiente para
acomodar os dados, uma vez que contraexemplos surgem em abundância. É o caso do
verbo ‘encharcar’ que pode significar (i) ‘por em charco’, em que charco é entendido
não literalmente, à semelhança de encher-se de água; (ii) ‘tornar um charco’, embora
os verbos que façam parte desse grupo tenham por base um adjetivo e, assim, o
39
substantivo ‘charco’ teria que ser tomado por adjetivo; e (iii) ‘por charco em’, que é
menos comum, embora mais regular. A autora argumenta que os significados mais
usuais ajudam o falante a compreender e avaliar as regularidades do léxico, o que a faz
optar pelo sentido irregular (i).
A adoção do modelo de Jackendoff (1975) não dirime o desconforto em relação
à insuficiência da intuição do falante em estabelecer a regularidade e a irregularidade
das formações frente a processos6 que perpassam o léxico, mas não são tratados no
escopo do modelo gerativista (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]). Por efeito dessa
percepção, Martins assume que as irregularidades são sempre regularidades parciais,
já que a irregularidade é estabelecida em relação a um significado regular.
O trabalho é um grande salto nas poucas pesquisas que tinham se desenvolvido
até então sobre o assunto, pois insere a derivação parassintética em um quebra-
cabeça muito mais amplo e complexo: a formação de verbos em português. A
recategorização dos itens lexicais teria, de acordo com Martins, motivação no uso das
funções semânticas de adjetivos e substantivos para veicular um processo ou ação.
Isso se reflete na divisão entre predicados accionais/ causativos e processuais. Esses
teriam relação com bases adjetivais e a participação do sufixo ‘-ecer’, que veicula o
aspecto de incoatividade; aqueles estão mais relacionados ao significado causativo dos
verbos em ‘-ar’, anexados, principalmente, a bases substantivas.
No segundo capítulo da dissertação, Martins serve-se de regras de redundância
(JACKENDOFF, 1975) – que têm “a função de relacionar entradas lexicais umas às
outras, na base de regularidades fonológicas e sintático-semânticas” (BASILIO: 1980,
6 Fala-se aqui, notadamente, de processos cognitivos, como a metáfora, a metonímia, a polissemia etc.
40
11)7 – para dar conta dos itens do corpus. Para tanto, propõe uma regra geral para os
dados e outras específicas a cada simulfixo8. No caso específico do simulfixo a-X-ecer,
como só foram encontradas sete formações e algumas não são previsíveis (‘abastecer’
não é tornar basto e ‘amortecer’ não é fazer algo relacionado à morte), não foi possível
analisar esses dados com base em uma regra.
No terceiro capítulo, apresentam-se os pilares que sustentam a pesquisa, a
teoria semântico-cognitiva de Jackendoff (1983), que corrige as falhas do modelo
anterior ao não considerar os processos cognitivos que atuam no léxico, embora se
admita não haver um aparato bem equipado a fim de explicar completamente
fenômenos comuns ao léxico, como, por exemplo, a metáfora (MARTINS, 1991: 79).
São estabelecidos alguns critérios com o objetivo de reconhecer as
regularidades da expansão lexical: um necessário, que diz respeito à percepção de uma
estrutura para que uma formação seja considerada semanticamente regular, e seis
preferenciais, cuja atuação depende do que Jackendoff designou por “estímulo
experienciado”; no trabalho de Martins, esse estímulo seria a formação de verbos a
partir de dois afixos. A Teoria da Metáfora, elaborada por George Lakoff e Mark
Johnson (2002 [1980]), um dos marcos (talvez o primeiro) da Linguística Cognitiva,
serve de base para entender os casos irregulares, o calcanhar de Aquiles dos estudos
gerativistas.
Diante das informações que foram apresentadas até aqui, assumiremos, na
próxima subseção, nosso ponto de vista acerca do objeto estudado, bem como
apresentaremos os argumentos que corroboram nossa posição e aqueles que nos
levaram a rejeitar as demais.
7 Para maiores informações sobre regras de redundância lexical, ver Basilio (1980).
8 Para maiores detalhes, ver Martins (1991).
41
2.6. É preciso tomar partido: em defesa da circunfixação
A proposta de Bechara (2009) – que pressupõe a geração de verbos a partir de
formas virtuais, acarretando na exclusão da parassíntese do conjunto de processos
formadores de palavras – esbarra em problemas que vêm sendo apontados na
literatura especializada. Um deles é que, conforme indicam Basilio (1993; 1987),
Aronoff (1976) e Booij (2002), a formação de palavras nas línguas naturais se dá a
partir de uma palavra já disponível no léxico, seguindo os pressupostos da Morfologia
de Base Vocabular. Assim, temos formas recentes como ‘corpitcho’ de ‘corpo’,
‘micareteiro’ de ‘micareta’ e ‘mensalão’ de ‘mensal’, por exemplo, em que as bases
são reconhecidas por qualquer falante brasileiro do português. Do mesmo modo, no
caso de ‘enquadrar’, o substantivo ‘quadro’ faz parte do léxico internalizado do falante
do português, ao contrário das formas virtuais *enquadro e *quadrar. Por isso, prever
que os verbos parassintéticos sejam formados a partir de itens não existentes no léxico
seria contraditório com a teoria que estamos adotando aqui (ver Capítulo 4).
Além disso, a proposta pretende transformar casos excepcionais em regra, pois
formas como ‘letrando’ ou ‘prefeitável’, que partiriam das formas virtuais *letrar e
*prefeitar (BECHARA, 2009), não constituem um grupo robusto nem homogêneo. Ao
contrário, exemplos de parassintéticos são abundantes, principalmente na categoria
verbal, e não devem, portanto, ser tratados como desvio.
Outra proposta arrolada é a que postula um zero morfêmico na formação dos
verbos em -ar (ver 2.2). Esse morfema é, nas palavras de Bybee (1985: 4), “um tipo de
distúrbio no mapeamento de um-para-um entre som e significado”.
42
Bybee (1985) e Gonçalves (2005) assinalam que o zero é um artifício utilizado
para tentar uniformizar as descrições estruturais. Por isso mesmo, está vinculado a
categorias mais básicas e não marcadas do ponto de vista cognitivo. Em português,
aparece com frequência no gênero masculino, no número singular de nomes, na
terceira pessoa do singular dos verbos e no tempo presente, ou seja, em categorias
que não possuem representação fonética por seu caráter mais genérico, o que é
comum nas línguas do mundo (BYBEE, 1985). Além disso, esses significados gramaticais
tendem a se manifestar via flexão, o que leva à proposição de um morfema zero
apenas para a morfologia flexional.
Assim, a aplicação do zero, que tem forte valor gramatical, à derivação
representaria um risco, uma vez que a toda entidade sem valor morfológico e sem
massa fônica seria possível postular um morfema zero. Em outras palavras, seria
atribuir poderes lexicais a uma entidade sem representação morfofonológica.
Ademais, como bem salienta Freitas (1997: 153), as construções parassintéticas
que mais apresentam derivados são as terminadas por ‘-ar’, “não constituindo, assim,
a exceção, mas a regra geral, o que comprova a deficiência do critério”.
Em verbos como ‘arriscar’, ‘amassar’, ‘enroscar’ e ‘entortar’, a terminação ‘-ar’
é responsável por reenquadrar, nos termos propostos por Nascimento (2006), a base
nominal à categoria verbal. Como indica Basilio (1993), ‘-ar’ é um sufixo derivacional
justamente por fazer a mudança de classe, além de apresentar a propriedade flexional
resguardada na vogal temática e no morfema de infinitivo.
Conforme foi abordado anteriormente, Villalva (2003) analisa os derivados em
‘-ar’ como resultados de um processo de conversão. Há, nessa proposta, um
argumento que nos faz questionar sua aplicação, que é o fato de postular a adjunção
43
do prefixo a bases nominais antes de se tornarem verbos por conversão. Sobre isso,
Bechara (2009) e Kehdi (1999) afirmam que, em português, é um traço dos prefixos se
coadunarem, geralmente, a verbos ou a adjetivos, como em (25) e (26), a seguir,
respectivamente. São parcos os exemplos de prefixos que se juntam a substantivos:
normalmente, isso se verifica com deverbais (desempate, desagrado, retorno).
(25) refazer, deter, reter, conter, pospor, sobrepor;
(26) infeliz, desrespeitoso, impensável, antiaderente.
Os verbos parassintéticos em ‘-ar’, que seriam formados por conversão na
proposta de Villalva (2003), apresentam a seguinte distribuição categorial de suas
bases: 80% vêm de adjetivos e 20% de substantivos, num total de 418 dados do nosso
corpus. Esse resultado corrobora o que foi dito por Kehdi (1999) e Bechara (2009).
Assim, caso optássemos por essa proposta, teríamos de explicar o porquê de prefixos
se anexaram a bases substantivas, quando esse é um processo marginal. A alternativa
para contornar esse obstáculo seria compreender que, primeiramente, as bases
substantivas e adjetivas sofrem conversão e, em seguida, se anexam aos prefixos. No
entanto, por acreditarmos que o sufixo ‘-ar’ é também derivacional, não adotaremos
essa proposta.
Dessa maneira, uma análise que se paute em elementos descontínuos evita
esse (e outros) problemas, tendo em vista que se considera um único afixo
derivacional. Já que o circunfixo não é vazio de significado, furtamo-nos, pois, a uma
discussão sobre o prefixo ‘a-’ ser portador ou não de conteúdo semântico. Pela mesma
44
razão, acreditamos que o circunfixo acumule mais de uma função (semântica, sintática
etc.), o que vai de encontro ao que afirmam Sandmann (1997) e Quadros (2009):
No caso do verbo parassintético, temos, por exemplo, em- + cano mais o sufixo
formador de verbo -ar: encanar. O fato é que o sufixo muda a classe da palavra a
que pertence a base (cano), enquanto o prefixo tem apenas função semântica e
essa semântica é muitas vezes vaga ou imprecisa, senão inexistente (SANDMANN,
1997: 73-74)
seria difícil oferecer suporte a uma análise de circunfixação, já que ela implicaria a
identidade morfológica entre o segmento que se encontra à esquerda e o que se
encontra à direita da base – isto é, eles teriam de exercer a mesma função
(QUADROS, 2009: 14).
Como argumentamos, porém, o circunfixo é responsável pela evocação de um
conceito (nos termos de Basilio [2011]) e pela mudança categorial da base, nada
impedindo que acumule ambas as funções e a essas se reúnam outras, a depender dos
contextos sociocomunicativos. Corroborando nosso ponto de vista, Basilio (1987)
aponta que as construções lexicais podem apresentar mais de uma função, como é o
caso da composição verbo + substantivo (‘porta-luvas’, ‘porta-malas’, ‘porta-níqueis’),
em que atuam a função sintática e a semântica.
Por fim, ao compreendermos esse tipo de derivação como baseada em
circunfixos, nos isentamos de abordar o fator simultaneidade, visto que estamos
lidando com apenas um elemento derivacional descontínuo, e não mais com um
prefixo e um sufixo simultâneos. Nesse sentido, concordamos com Rio-Torto
45
(1998:90), que afirma que algumas definições (VILLALVA, 1994; LEE, 1995; SCHWINDT,
2001) apresentam o problema de identificar uma “sucessividade afixal”, seja sufixação
seguida de prefixação (Figura 2) ou prefixação seguida de sufixação (Figura 3).
V 3 pref. V a 3
N suf. mole ecer
Figura 2: esquema arbóreo de prefixação precedida de sufixação
V 3 N suf. 3 ecer
pref. N a mole
Figura 3: esquema arbóreo de sufixação precedida de prefixação
Diante do que foi argumentado, embora seja criado um tipo especial de
elemento morfológico, ampliando o inventário de processos derivacionais, adotaremos
aqui a noção de derivação circunfixal, pois parece acomodar mais satisfatoriamente os
dados de que dispomos, além dos outros motivos já expostos.
2. 7. Resumindo
Neste capítulo, expusemos as posições adotadas pela gramática tradicional e
pela literatura morfológica a respeito da parassíntese. Como dissemos na introdução,
46
embora tenhamos assumido um tratamento dos dados pela análise de morfemas
descontínuos, por vezes, adotaremos o rótulo parassíntese e, em outras ocasiões, o
nome circunfixação. Para alguns teóricos, essa perspectiva de circunfixação, contudo,
não está isenta de divergências, pois carreia o fato de ampliar o inventário de afixos do
português9.
O enfoque mais habitual, por sua vez, não acomoda satisfatoriamente todos os
dados, pois leva em consideração apenas o fator de simultaneidade, deixando à
margem a significação. Outras abordagens não preveem o significado do prefixo ‘a-’, o
que sabotaria o ideal de univocidade. Em suma, qualquer análise dos aspectos
morfológicos dos dados aponta para uma necessidade de investigação semântica, que
motiva todas as formações lexicais. Verificamos, nos próximos capítulos, de que modo
o significado pode contribuir para a formação de novo material lexical e a influência do
uso na manutenção das construções em que os circunfixos ocorrem no português
brasileiro.
9 Esse fato não constitui um problema, nesta dissertação, uma vez que temos por base a teoria
cognitivista, que se insere em uma perspectiva maximalista.
47
LINGUÍSTICA COGNITIVA
Nós tendemos a assumir que o significado emana de sua representação
formal, (...), quando na verdade está sendo ativamente construído por
operações mentais incrivelmente complexas no cérebro. 1
Gilles Fauconnier & Mark Turner
Apresentamos, neste capítulo, o arcabouço teórico com o qual tentaremos
confirmar as hipóteses levantadas durante a análise dos dados. Traçamos um breve
panorama dos principais postulados da Linguística Cognitiva e do tratamento
dispensado ao léxico nessa vertente, adotando, portanto, uma perspectiva lexicalista,
na qual processos referentes à análise e à criação de novas palavras ocorrem num
domínio específico da gramática, o léxico. Não prevemos, todavia, uma separação
entre esse domínio e os demais domínios gramaticais, como a sintaxe ou a fonologia:
todos fazem parte de um mesmo contínuo.
Assumimos a posição de Basilio (2011), que define o léxico como
um espaço de formas simbólicas, isto é, formas se associam a conceitos. Estas
formas, as unidades lexicais, cujas possibilidades de evocação são infinitas,
dependendo das circunstâncias que podem envolver desde a história da língua e a
história dos falantes envolvidos numa situação linguística e sociocultural, até
relações entre formas e suas potenciais evocações.
1 we tend to take the meaning as emanating from its formal representation, (...), when in fact it is being
actively constructed by staggeringly complex mental operations in the brain (FAUCONNIER & TURNER, 2002: 5).
3
48
Percebe-se, nesse trecho, uma orientação para a possibilidade de uma unidade
lexical ser polissêmica, o que constitui um efeito de mudanças no âmbito da língua, já
que a ativação de novos sentidos surge da necessidade de elaborar um mundo
dinâmico. Essa ativação de novos sentidos pode ser operada por inúmeros processos
conceptuais, como metáfora, ajuste focal e metonímia, aos quais daremos ênfase
durante a descrição teórica.
3.1. Noções gerais sobre Linguística Cognitiva
A insurgência de um pensamento relativista no último quartel do século XX
pretendeu romper com um paradigma cartesiano que se instaurou na linguística
contemporânea, presente, principalmente, na concepção gerativista de linguagem.
Não se assumiu, nesse novo construto teórico, simplesmente uma tese relativista –
que, apesar de remontar aos gregos antigos, ganhou contornos mais nítidos com os
trabalhos de Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf – cujo preceito se refere à
determinação do pensamento a partir da linguagem. O relativismo que decorre com a
Linguística Cognitiva se reveste de um caráter experiencialista, que permite perceber
uma forte influência da cultura na relação entre a linguagem e o pensamento.
Salomão (1997: 34), ao comentar a revisão da hipótese de Sapir-Whorf no
âmbito cognitivista, argumenta que não há mais o cotejo entre línguas
descontextualizadas, pois
neste campo será possível distinguir entre restrições cognitivas, possivelmente do
escopo universal (estratégias de categorização, da acessibilidade a espaços
49
epistêmicos, de difusão, projeção e mesclagem de domínios conceptuais), e
informações sócio-situacionais específicas (modelos cognitivos idealizados,
funções-enquadre, táticas de enquadramento), que sempre constituíram o objeto
de estudo da antropologia linguística de todos os matizes.
A Linguística Cognitiva se caracteriza por não ser uma corrente teórica bem
delimitada, mas por ter assunções convergentes. A esse movimento teórico, Geeraerts
(2006: 2) atribui a metáfora de um arquipélago conceptual, cujas ilhas interagem
através da experiência humana no meio social. Na verdade, a gramática cognitiva
(Langacker, 1986), a teoria da integração conceptual (FAUCONNIER & TURNER, 2002),
a estrutura radial e os protótipos (LAKOFF, 1987), a construção gramatical (GOLDBERG,
1995; BOOIJ, 2010) e o modelo de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010) se
relacionam a partir da hipótese de que a linguagem é um produto cognitivo de
conceptualização.
Segundo a hipótese da motivação conceptual da gramática, as estruturas
gramaticais estão diretamente relacionadas à maneira como as pessoas pensam e
entendem qualquer situação do mundo. Logo, para os cognitivistas, a linguagem é
compreendida como uma habilidade interligada às demais habilidades da cognição
humana – tanto que alguns pesquisadores (FAUCONNIER & TURNER, 2002;
TOMASELLO, 2003) argumentam que a origem da linguagem ocorreu no mesmo
intervalo de tempo em que outros produtos cognitivos surgiram, como as artes, o uso
de ferramentas e a religião, por exemplo. Fauconnier & Turner destacam o fato de que
todos esses produtos da cognição são sociais, ou seja, mantêm fortes relações com o
meio que os fomenta. Rejeita-se, portanto, a tese de que a linguagem é autônoma,
50
carreada pelo estruturalismo e pelo gerativismo. O primeiro aponta a linguagem como
uma estrutura descontextualizada (SAUSSURE, 2006) e o segundo entende a linguagem
como uma faculdade independente de outros conhecimentos (CHOMSKY, 1986). Na
Linguística Cognitiva, ao contrário, o conhecimento da linguagem se alinha ao
conhecimento de outras habilidades, como a percepção e o raciocínio matemático, do
mesmo modo que o conhecimento enciclopédico se equipara ao conhecimento
linguístico.
Anula-se, na Linguística Cognitiva, a concepção modular da gramática, cujas
partes passam a ser compreendidas como segmentos de um contínuo, tornando-as
bases flexíveis e prototípicas, em vez de átomos isolados. Nesse sentido, o léxico, a
morfologia, a fonologia e a sintaxe interagem através de operações que moldam o
processamento cognitivo. Em outras palavras, por ser uma teoria não modular, a
Linguística Cognitiva não admite divisões entre os vários domínios constituidores da
linguagem: morfologia, sintaxe e fonologia são vistas como categorias contínuas, e não
como módulos separados. Não se constata, sobretudo, a superioridade da sintaxe
sobre os demais domínios da linguagem: todos são dependentes de uma necessidade
conceptual da cognição humana.
Conforme Goldberg (1995) defende, elementos do léxico não são totalmente
diferentes de elementos da sintaxe, porque um morfema é um pareamento de forma e
conteúdo da mesma maneira que uma oração simples o é. A inexistência de fronteiras
entre esses vários domínios favorece o entendimento de que mudanças em um
domínio podem afetar outras partes da gramática, porque há interação na passagem
da morfologia para a fonologia, ou da morfologia para a sintaxe, por exemplo.
51
Com os postulados cognitivistas de não modularidade da linguagem, perde-se
também a dicotomia saussuriana entre sincronia e diacronia. Saussure (2006 [1916])
estabelece a distinção entre dois tipos de Linguística, uma interessada no estado da
língua em um determinado período de tempo (sincrônica) e outra, na evolução da
língua ao longo do tempo (diacrônica). A ênfase na sincronia, que prevê o estudo “das
relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam
sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva” (SAUSSURE, 2006 [1916]:
116), afasta a investigação de fenômenos linguísticos dos efeitos do tempo. Na
Linguística Cognitiva, ao contrário, sincronia e diacronia passam a ser analisados como
dimensões temporais complementares, uma vez que muitos fenômenos diacrônicos
apresentam reflexos na sincronia. Podemos, então, buscar explicações para fatos da
linguagem que se desenvolvem no presente em ocorrências do passado. Sobre isso,
Sweetser (1990: 9) declara que a “polissemia sincrônica e a mudança histórica de
significado realmente fornecem os mesmos dados em diversos aspectos” 2. Isso
evidencia que a mudança diacrônica não deve ser abrupta, mas deve acontecer
gradualmente em diferentes estágios de tempo. Como demonstraremos no capítulo 6,
a mudança ocorrida no subesquema [a [x]Nj ecer]Vi respeitou as variações sincrônicas,
já que perdeu produtividade ao longo de séculos (do século XII ao século XVI).
A ruptura com a hipótese da modularidade da gramática não pressupõe,
entretanto, um afastamento das assunções cognitivas. De acordo com Ferrari (2011),
embora tenha havido uma negação da ideia de que a linguagem se constitui como um
módulo independente de outras habilidades cognitivas, manteve-se o compromisso
cognitivista. Continua, com relação à cognição, filiada aos mesmos princípios regentes
2 Synchronic polysemy and historical change of meaning really supply the same data in many ways.
52
da gramática gerativa, de que a linguagem tem origem nas estruturas mentais: a
característica compartilhada pelas duas empreitadas teóricas é a mediação da mente
entre o indivíduo e o mundo. No entanto, Silva (1997: 65) relata que essa herança
mentalista aponta para dois caminhos:
a gramática gerativa interessa-se pelo conhecimento da linguagem (tomando-a,
portanto, não como meio, mas como objecto da relação epistemológica) e
procura saber como é que esse conhecimento é adquirido, ao passo que a
linguística cognitiva interessa-se pelo conhecimento através da linguagem e
procura saber como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo.
Seguem também caminhos diferentes em razão dos focos de análise adotados
serem distintos, visto que a forma, representada pela sintaxe, ocupa o centro dos
estudos gerativistas e a semântica sobressai nos trabalhos cognitivistas. É uma
influência da origem gerativista dos primeiros pesquisadores (George Lakoff, Ronald
Langacker, Gilles Fauconnier, entre outros) que, insatisfeitos com o modelo, se
voltaram para a integração entre sintaxe e semântica numa perspectiva não modular.
Não é, contudo, uma continuação da semântica praticada no âmbito da Linguística
Gerativa. Como explica Langacker (1987: 4), “a gramática cognitiva não é em nenhum
sentido possível uma consequência da semântica gerativa, mas compartilha com esta
concepção uma preocupação em lidar explicitamente com o significado” 3.
Esse movimento teórico baseia-se no fato de que mecanismos conceptuais
desempenham um importante papel nas estruturas gramaticais, havendo, portanto,
3 “Cognitive grammar is not in any significant sense an outgrowth of generative semantics, but it does
share with that conception a concern for dealing explicitly with meaning” (LANGACKER, 1987: 4)
53
uma relação entre linguagem e significado conceptual. Esse postulado se espraia em
quatro concepções, que são complementares (GEERAERTS, 2006): o significado
linguístico é perspectivizado; o significado é flexível e dinâmico; o significado é
enciclopédico e não autônomo; e o significado é baseado no uso e na experiência.
O significado é um meio de modelar o mundo, que está sempre em constante
transformação, a partir da perspectiva que adotamos. Como esse mundo construído é
dinâmico, nem o significado nem a linguagem podem ser estáveis, mas sempre
atualizáveis nos diferentes contextos sociodiscursivos. Assim, nossa experiência está
intrinsecamente relacionada à flexibilidade do significado, uma vez que emerge das
nossas relações empíricas.
Essa flexibilidade do significado tem origem na dinamicidade dos processos
constitutivos da linguagem, que nos possibilita transferir a atenção da estrutura
gramatical para a atuação dos aparatos cognitivos no uso da linguagem. A
representação linguística, que, em perspectivas estruturalistas e gerativistas, era a
única responsável pela representação na mente do falante, não interessa, como
mecanismo isolado, aos cognitivistas. Prevalece a ideia de que processos que atuam
em outras áreas da cognição, como a metáfora e os esquemas imagéticos, podem
moldar a representação linguística na mente do falante, porque emergem do uso.
Entende-se, portanto, que (i) a metáfora compõe a arquitetura do pensamento
cotidiano (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]); (ii) a frequência altera o padrão de
estocagem e ativação dos subesquemas (CROFT & CRUSE, 2004); e (iii) as experiências
sensório-motoras dos sujeitos são ativadas nos mecanismos cognitivos.
54
A partir dessas premissas previstas num modelo, acima de tudo, de
conceptualização, delineamos, na próxima subseção, a concepção de léxico que
norteará este trabalho.
3.2. O léxico
O surgimento de novos verbos no português, como ‘twittar’, ‘blogar’ ou
‘deletar’ não são casos de neologismos, mas demonstrações de que há um padrão que
todo falante nativo do português pode capturar. A entrada de bases estrangeiras por
empréstimo tem a ver com a mudança tecnológica que se impõe no mundo atual,
conectando sociedades e catapultando um sem número de informações por segundo.
O desempenho da nossa mente e, por consequência, o funcionamento do léxico
acontecem do mesmo modo, que devem ser organizados, então, para modelar um
espaço que está em constantes revoluções.
As bases das formações acima, ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’, respectivamente,
estão relacionadas à área da informática e, com o empréstimo, são indexadas no léxico
do português, i.e., tornam-se entradas lexicais. A necessidade dos falantes do
português brasileiro em expressar ações que envolvam essas unidades lexicais faz com
que elas sejam unificadas em uma construção particular da língua, a saber [[x]Nj ar]Vi.
No caso, [x] é uma variável que representa as palavras que instanciam novo material
lexical. Interessante notar que no caso de ‘delete’ apaga-se a informação de que era
um verbo em inglês, mas focaliza-se a função da tecla ‘delete’, que é a de apagar
alguma informação no computador. Por operações cognitivas, como a metonímia e a
55
integração conceptual, o sentido de ‘deletar’ é expandido, possibilitando seu uso em
outros contextos, como o da frase abaixo.
(1) Coluna Neura: Os homens que deletei da minha vida depois dos 20. 4
Os três verbos citados anteriormente, ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’, têm em
comum o esquema do qual são instanciados. Esse esquema se caracteriza por ser o
mais produtivo na formação de verbos no português, o que aumenta a probabilidade
de que novos itens venham a ser formados a partir de sua unificação.
Inconscientemente, o falante nativo do português brasileiro reconhece que um
considerável grupo de verbos do português se caracteriza por ativar o esquema
[[x]Njar]Vi, o que o torna mais entrincheirado no léxico. Assim, sempre que surge a
necessidade de instanciar um novo verbo, esse esquema é acessado mais
rapidamente, pelo fato de já estar programado na nossa mente como o mais
produtivo.
Cabe destacar que essas operações aconteceram com base em palavras, e não
em morfemas, remetendo-nos ao modelo palavra-paradigma, um dos vieses pelos
quais a morfologia pode ser analisada. A linguística pós-bloomfieldiana se ocupou em
verificar os itens morfológicos a partir de morfemas, posição que foi abandonada, com
o avanço dos estudos gerativistas, em favor de um modelo que atribuísse a significação
à palavra e às relações entre os itens do léxico (ARONOFF, 1976). Basilio (1980: 42)
endossa essa proposta de processos que ocorrem no léxico ao afirmar que
4 http://opeixefresco.com/. Acessado em 23.10.11
56
dentro de uma abordagem gerativa, palavras são formadas por regras e/ou
analisadas por regras, de modo que o estabelecimento de entidades como
morfemas ou afixos, como elementos separados de regras e bases, constitui uma
repetição desnecessária e, provavelmente, indesejável.
No modelo construcionista em que nos baseamos (BOOIJ, 2010; BYBEE, 2010;
GOLDBERG, 1995), a palavra também é o centro das investigações, tanto que é
marcada com um índice subscrito que a identifica no léxico. Os afixos, ao contrário,
não recebem marcação, por não serem livres, mas aparecerem vinculados a uma
construção. Isso reforça que, em um modelo baseado em palavras, os afixos não são as
unidades analisadas, mas atuam na instanciação de novos itens através de construções
ou esquemas.
Tomasello (2003) declara que a aquisição de esquemas acontece a partir do
uso, ou seja, através do armazenamento em nossa mente de casos concretos de uso. O
falante é capaz de realizar generalizações sobre representações com propriedades
similares e adquirir esquemas genéricos que subjazem os dados relacionados. Vemos
essa propriedade de generalização atuando nos exemplos ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’,
uma vez que o falante armazenou dados isolados terminados por ‘-ar’, percebeu as
similaridades entre as unidades e as particularizou no esquema genérico [[x]Nj ar]Vi.
Os esquemas são, de acordo com Rumelhart (1980: 34), estruturas simbólicas
de representação de conceitos genéricos que são estocados na memória. Em vez de
representar definições, esquemas representam conhecimento, que pode ser de
qualquer ordem (linguístico, enciclopédico ou compartilhado). Um esquema pode
incluir sob seu domínio outros subesquemas, que, por sua vez, podem se desdobrar
57
em outros subesquemas. Esses dispositivos de conhecimento operam de maneira
dinâmica na nossa mente, sendo fomentados pelas nossas bases de conhecimento e
ativados por conexões de herança e entrincheiramento.
Segundo Goldberg (1995), as construções (ou esquemas5) não são estruturas
aleatórias, mas motivadas e organizadas a partir de generalizações que são feitas de
suas regularidades. As informações são, pois, compartilhadas pelos vários esquemas e
seus possíveis subesquemas, fazendo com que o custo de processamento seja menor
do que se for especificado em cada esquema. A autora diz que “ao postular hierarquias
gerais nas quais os níveis mais baixos herdam informação dos níveis mais altos, a
informação é armazenada eficientemente e de fácil mutação” (GOLDBERG, 1995: 72).
Podemos exemplificar essas relações de herança, que permitem a troca de
informações entre as construções, por meio do esquema genérico para a formação de
nomes em ‘-eiro’ no português. Gonçalves, Yacovenco & Costa (1998) demonstram
que o sufixo apresenta várias possibilidades de significação, como, por exemplo,
agente profissional (sapateiro, carteiro, pipoqueiro), agente habitual (funkeiro,
maconheiro, romeiro), recipiente (galinheiro, cinzeiro, açucareiro) e árvore (cajueiro,
mamoeiro, abacateiro). Pizzorno (2010), numa abordagem cognitiva, defende que
esses vários domínios conceptuais estariam relacionados a um centro prototípico com
a função de agente, do qual, por operações metafóricas e metonímicas, se projetariam
os demais sentidos, como a acepção de vegetal (palmeira, amendoeira). Gentílicos
como ‘mineiro’ e ‘brasileiro’ se relacionam metonimicamente com o centro agentivo
devido ao fato de designarem originariamente a pessoa que trabalhava nas minas e na
5 Os termos ‘construção’ e ‘esquema’ não fazem referência ao mesmo conceito, mas há uma extensa
discussão sobre qual seria a melhor nomenclatura para fazer referência a uma estrutura simbólica da mente humana. Não faremos, neste trabalho, distinção entre os dois usos, embora saibamos sobre as controvérsias. Para mais detalhes, ver Booij (2010).
58
colheita de pau-brasil, respectivamente. Por metonímia, passaram a nomear os nativos
de um local. Paralelamente, o sentido de árvores se relaciona ao centro agentivo por
metáfora, já que o ‘abacateiro’ é uma árvore que produz abacate, a ‘jabuticabeira’,
uma árvore que dá jabuticaba, e assim por diante.
Há, portanto, entre as projeções dominiais, relações de herança, que fazem
com que os vários sentidos da construção [[x]Nj eiro]Ni estejam interligados. Em outras
palavras, os níveis mais baixos desse esquema geral podem herdar informações dos
níveis mais altos. No caso, são compartilhadas as informações semânticas do domínio
prototípico, que se caracteriza pela instanciação de agentivos.
De acordo com Goldberg (1995), ao menos, quatro links de herança fazem a
correspondência entre as construções.
(a) Links por polissemia, nos quais as extensões herdam informações sintáticas
e/ou morfológicas do centro;
(b) Links por subparte, em que uma construção é uma subparte de outra, existindo
de maneira independente;
(c) Links por instanciação, nos quais uma construção tem funções mais específicas
que a outra que a domina;
(d) Links por extensão metafórica, em que se capturam as relações metafóricas do
mapeamento entre as construções, explicitando que a construção dominante
projeta o sentido metafórico na construção dominada.
Esses links são necessários por estabelecerem que as conexões entre as várias
construções apresentam uma organização gramatical interna, em vez de projeções
59
aleatórias. Assim, uma construção será motivada à medida que suas informações são
herdadas de outras construções da língua. Os verbos ‘deletar’ e ‘twittar’, por exemplo,
herdam as informações da construção [[x]Nj ar]Vi, da qual são instâncias.
Concomitantemente, a ativação dessas palavras reforça a produtividade desse
esquema no léxico, aumentando a probabilidade de formar novas palavras. Dito isso,
examinaremos, na próxima subseção, o entrincheiramento e a frequência, noções
diretamente relacionadas à questão da produtividade.
3.3. A relação entre uso e léxico
Demonstramos anteriormente que a criança apreende palavras isoladas e, a
partir das similaridades que são encontradas entre os itens armazenados, é feita uma
generalização, que possibilita o surgimento de um esquema geral. Uma vez instaurada
a categoria, os exemplos que embasaram a sua formação não são descartados, mas
permanecem armazenados na memória (BYBEE, 2010; LANGACKER, 1987).
Essa representação cognitiva é sensível a fatores externos, como a frequência
de uso (ou frequência de ocorrência), que corresponde ao número de ocorrências de
uma palavra em um dado texto (BAUER, 2001). A cada nova ocorrência de um item
lexical, o esquema que o instanciou é reforçado no léxico, pois sua ativação é
necessária para o processamento das contrapartes formal e semântica. Um indivíduo
adulto tem um estoque lexical relativamente estável, visto que as representações
mentais são construídas com base na experiência. As crianças em fase de aquisição, ao
contrário, sofrem um impacto maior a cada nova ocorrência, pois os esquemas ainda
não estão completamente institucionalizados.
60
Outra consequência da alta frequência de uso é a manutenção de itens
irregulares na língua, como os particípios ‘feito’ (de ‘fazer’), ‘escrito’ (de ‘escrever’) e
‘aberto’ (de ‘abrir’). A permanência dessas formas na língua se deve à alta frequência,
que impediu a regularização do paradigma por analogia. Esse fenômeno é chamado de
Efeito de Conservação (BYBEE, 2010), que indica que dados altamente frequentes são
menos prováveis de serem reanalisados, ao passo que os menos frequentes, por serem
menos acessados, são regularizados. No período de aquisição, a criança ainda não
acumulou informação suficiente para distinguir um dado mais frequente de outro
menos, o que faz com que a maioria dos dados irregulares seja reanalisada por força
do paradigma (diante disso, é natural escutarmos ‘fazido’, ‘escrevido’ ou ‘abrido’).
Por serem altamente frequentes, as palavras irregulares não são acessadas
pelos esquemas, sendo armazenadas isoladamente. As formas participiais acima
citadas não são instanciadas pelo esquema de particípio do português [[x]Vj do]Vi, ao
contrário dos itens ‘amado’ (de ‘amar’), ‘vendido’ (de ‘vender’) e ‘partido’ (de ‘partir’).
Os particípios ‘feito’, ‘escrito’ e ‘aberto’ são, então, entrincheirados no léxico. Croft &
Cruse (2004) lembram que, de acordo com o modelo de uso, as formas irregulares
estão entre as palavras mais frequentes no léxico, pois serão regularizadas, se seus
índices de frequência não forem altos o bastante. Nesse aspecto, percebe-se que a
frequência interfere na manutenção de formas irregulares no léxico, porque no caso
de uma forma irregular ter baixa frequência “sua representação não será
suficientemente entrincheirada e reforçada pelo uso, e, então, o esquema regular
assume o controle de produção da flexão relevante” 6 (CROFT & CRUSE, 2004: 293).
6 its representation will not be sufficiently entrenched and reinforced through use, and so the regular
schema will take over in the production of the relevant inflection.
61
Um esquema também pode ser entrincheirado, pois, como dissemos, a cada
nova ocorrência de uma palavra em diferentes contextos sociodiscursivos, a
representação mental é reforçada. Portanto, um esquema entrincheirado é,
necessariamente, produtivo, visto que a sua recorrência favorece o recrutamento de
novas palavras. Verbos terminados por ‘-ar’, por exemplo, são recorrentes em grau
máximo no português, fazendo com que, consequentemente, o esquema que os
instancia seja entrincheirado. Como o esquema [[x]Nj ar]Vi é reforçado na memória, o
acesso de suas propriedades é mais rápido, ou seja, o falante leva menos tempo para
processar todas as informações necessárias para analisar uma palavra de [[x]Nj ar]Vi.
Assim, novas palavras tendem a ser instanciadas por esse esquema no português,
como foi demonstrado com ‘twittar’, ‘blogar’ e ‘deletar’.
A criação dessas novas palavras parte de um processo analógico, cujos
mecanismos de processamento permitem que posições esquemáticas sejam usadas
produtivamente. As palavras ‘twitter’, ‘blog’ e ‘delete’ são unificadas em um padrão
estocado na mente do falante por analogia com um grupo frequente de palavras que
compartilham a terminação em ‘-ar’ e a ideia de causatividade, entre outras
propriedades. Essa abordagem difere, portanto, do modelo de regras (ANDERSON,
1992; ARONOFF, 1976) por ser fortemente baseada na similaridade entre as várias
unidades do léxico. Uma palavra é provável de existir na língua, e não possível: a
formação de palavras é mais bem vista em termos de probabilidade, uma categoria
escalar, do que em termos de possibilidade, uma categoria discreta. Um esquema não
é medido, então, na ótica dicotômica de produtividade ou improdutividade, mas sob
um olhar gradiente do fenômeno.
62
Vários pré-requisitos para um processo ser considerado produtivo foram
estabelecidos nas diferentes correntes dos estudos linguísticos, como demonstra
Bauer (2001). No modelo de uso (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004), são levadas em
consideração a frequência de uso e a frequência de tipo. Um embrião dessa proposta
já estava presente no trabalho de Nyrop (1908: 73), que afirma que “a vitalidade de
um sufixo depende acima de tudo de sua frequência de uso (...) Quanto mais um sufixo
é usado, mais ele pode dar origem a extensões analógicas” 7. A principal diferença
dessa noção para a do modelo capitaneado por Bybee é a existência de esquemas.
Para Bybee, os esquemas – e não os afixos – são mais produtivos ou menos produtivos,
já que afixos estão sempre vinculados a uma construção gramatical.
O segundo fator considerado ao tratar de produtividade, a frequência de tipo,
refere-se ao número de palavras numa língua que são instanciadas por um
determinado esquema sob análise. A produtividade é diretamente afetada pelo
número de itens participantes, pois quanto mais palavras uma construção instancia,
mais ela se torna produtiva. É um paralelo à questão da similaridade: se novos itens
são formados por analogia com um grupo já existente no léxico, esse grupo tem de ser
robusto o bastante para que a probabilidade de um esquema formar novos itens seja
maior.
Enquanto regras são determinadas por uma situação default, esquemas são
moldados pelo número de tipos, visto que o falante só consegue conceptualizar um
esquema linguístico a partir da percepção de semelhanças entre alguns dados. A
produtividade de um processo seria, então, o resultado da conjugação entre os valores
de frequência de tipo e o número de ocorrências no discurso. Um esquema com baixa
7 La vitalité d’un suffixe dépend surtout de la fréquence de son emploi (…) Plus un suffixe est employé,
plus il est capable d’extensions analogiques.
63
frequência de uso e alta frequência de tipo será mais produtivo, como é demonstrado
no gráfico abaixo. Tal esquema teria, com isso, maior força lexical, que corresponde à
probabilidade de instanciar novos itens.
Gráfico 1: maior grau de produtividade
Ao contrário, um esquema com alto índice de frequência de ocorrência e baixo
valor de frequência de tipo será menos produtivo, porque o esquema não será
entrincheirado no léxico, nem terá força para produzir novos itens. Esse padrão, que
tem baixa força lexical, é apresentado no gráfico 2.
0
0,5
1
[+ produtivo]
Frequência de tipo
Freq
uên
cia
de
uso
64
Gráfico 2: menor grau de produtividade
3.4. Operações de conceptualização no léxico
A Linguística Cognitiva tem se preocupado em descrever e analisar como
compreendemos alguns usos linguísticos da forma como o fazemos, muito embora não
tenhamos, como falantes, consciência desses fenômenos. Os mecanismos que
habilitam nossa cognição a atuar em quaisquer áreas, como a linguística, a matemática
ou a artística, surgem de nossa relação com o meio que nos cerca. Sendo assim,
mecanismos como a metáfora e a metonímia são estruturadores do nosso
pensamento, e não apenas floreios literários. Igualmente, as posições que adotamos
no mundo definem a perspectiva como observamos o mesmo.
A seguir, pretendemos delinear algumas, dentre as inúmeras, operações
cognitivas que ocorrem nos fenômenos linguísticos, apontando sua correspondência
com o léxico.
0
0,5
1
[- produtivo]
Frequência de tipo
Freq
uên
cia
de
uso
65
3.4.1. Ajuste Focal
Langacker (1987) define ajuste focal (do inglês ‘focal adjustment’) como as
variações pelas quais uma mesma situação pode ser concebida. Em uma cena de
roubo, por exemplo, pode-se adotar a perspectiva do ladrão, a da vítima, ou ainda
focalizar o objeto que está sendo roubado. O significado que o falante pretende expor
pode se modificar, dependendo de qual elemento seja posto no foco, podendo,
inclusive, indicar a ideologia do locutor.
O clássico estudo de Sweetser (1999) sobre a modificação adjetival demonstra
que a linguagem é moldada pelas operações de ajuste focal, pois um mesmo adjetivo
pode ativar sentidos diferentes de acordo com o elemento modificado da construção.
Na construção ‘maçã vermelha’, ativa-se a parte externa da fruta, mas em ‘goiaba
vermelha’ focaliza-se o interior da fruta. Os diferentes sentidos ativados pelo mesmo
adjetivo têm a ver com o perfilamento que é feito da cena, ou seja, qual propriedade é
posta em evidência. Em ‘caneta vermelha’, por exemplo, pode-se pensar tanto na cor
do plástico do objeto, quanto na cor da tinta da caneta.
Os ajustes que são feitos de uma mesma situação podem ser de três ordens:
através de seleção, que determina quais aspectos da cena são evidenciados; por
perspectivização, na qual a posição adotada pelo falante determina a visão de cena; e
por abstratização, que se refere ao grau de especificidade da cena. Interessa-nos,
nesta dissertação, o ajuste focal por seleção.
Almeida et aii (2009) recorrem ao exemplo da hipotenusa para explicar o
conceitos de base e perfil. Para entendermos o que representa uma hipotenusa,
devemos saber previamente o que é um triângulo retângulo. Na figura fornecida pelos
66
autores, a hipotenusa é perfilada (linha mais grossa), enquanto o ângulo reto do
triângulo figura como a base, ou o pressuposto da cena.
Figura 1: perfilamento da hipotenusa (retirado de ALMEIDA et alii, 2009)
Na formação de ‘carcereiro’ e ‘prisioneiro’, temos bases (cárcere e prisão,
respectivamente) que, em princípio, ativam o mesmo conceito, um lugar de detenção.
No entanto, as instanciações que resultam da unificação de ‘cárcere’ e ‘prisão’ no
esquema [[x]Nj eiro]Ni evocam diferentes significados. Enquanto ‘carcereiro’ faz
referência à pessoa responsável por vigiar o lugar, ‘prisioneiro’ corresponde ao
indivíduo cuja liberdade foi cerceada. A diferença reside no modo como a mesma cena
foi perfilada, ou seja, se o foco é em quem fica fora ou dentro do lugar. Com isso,
percebemos que o mecanismo de ajuste focal opera no léxico através da seleção de
que sentido será compatibilizado na construção.
Essa é uma alternativa para verificar casos que foram classificados como
quebra de bloqueio8 na literatura morfológica, pois acontece, na realidade, a seleção
de diferentes sentidos de uma mesma palavra. No par contação/ contagem (LEMOS DE
SOUZA, 2010), por exemplo, há diferentes perfilamentos do verbo contar:
8 Noção proposta por Aronoff (1976) que prevê que uma forma não ocorrerá dada à existência de outra.
Para maiores informações sobre o assunto, consulte Aronoff (1976), Basilio (1980) e Rocha (2008).
67
(2) Naquela escola, há um projeto de contação de histórias.
(3) A contagem de votos terminou de madrugada.
Como afirma Soares da Silva (2006: 304), devemos nos lembrar do “impacto
destes ajustamentos na extensão semântica e polissemia de uma palavra ou outra
unidade linguística: a formação de sentidos diferentes correlaciona-se com a variação
de seleção de facetas e de domínios cognitivos de uso”. Nas formações de novas
palavras, então, serão selecionados sentidos das palavras para se compatibilizarem ao
sentido do esquema, reforçando a proposta de verificar os fenômenos linguísticos sob
a ótima do significado, desenvolvida nos trabalhos da Linguística Cognitiva.
3.4.2. Metáfora
Um dos pilares de sustentação do pensamento cognitivista, a metáfora
ressurgiu como uma operação que permeia a cognição, e não apenas a linguagem. Isso
se reflete na defesa que Lakoff & Johnson (2002 [1980]: 19) fazem sobre o tema: “nós
descobrimos, ao contrário, que a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não
somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação”.
Em linhas gerais, a metáfora é o entendimento de um domínio em termos de
outro. A direcionalidade do mapeamento é, majoritariamente, de um domínio mais
concreto para um mais abstrato (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]; SWEETSER, 1990),
já que compreendemos um evento mais abstrato a partir de uma experiência. O
consagrado exemplo da metáfora AMOR É UMA VIAGEM (LAKOFF & JOHNSON, 2002
[1980]) ilustra a projeção entre os dois domínios, pois temos um domínio-fonte mais
68
concreto, VIAGEM, que nos permite compreender um conceito mais abstrato presente
no domínio-alvo, AMOR.
(4) Veja a que ponto chegamos.
Teremos que simplesmente seguir caminhos separados.
Eu acho que nossa relação não vai dar em lugar nenhum.
O nosso casamento está encalhado.
Tem sido uma estrada longa e esburacada.
A metáfora também repercute nos fenômenos lexicais, à semelhança do ajuste
focal. As várias extensões de sentido do verbo ‘botar’ (exemplos em (5)) são motivadas
por metáfora (BATORÉO & CASADINHO, 2009), bem como a polissemia da preposição
‘até’, que relaciona os domínios de espaço, tempo, quantidade e qualidade
metaforicamente, como nos exemplos em (6) (ÁLVARO, 2009).
(5) Botar discurso.
Botar a alma para fora.
(6) Eliana viaja até Juiz de Fora, sempre.
Seu pai volta até domingo.
Edu ganha até R$3.000,00 nesses trabalhos.
Até juízes reconhecem que a demora é o principal fator de impunidade.
Na próxima subseção, tratamos da metonímia, outro processo cognitivo que
tem sido bastante explorado pelos estudos cognitivistas.
69
3.4.3. Metonímia
Os comentários feitos para a metáfora podem ser estendidos para os casos de
metonímia, pois ambos são mecanismos de conceptualização do mundo e
estruturadores do nosso pensamento.
A metonímia se caracteriza como uma operação cognitiva em que uma
entidade se refere à outra, sendo ambas relacionadas. Na frase ‘o Paulo Coelho ainda
não chegou às livrarias’, não pressupomos a presença física do escritor Paulo Coelho,
mas tomamos o sentido como os livros escritos por ele.
Nos processos de formação de palavras do português, podemos citar o caso do
sufixo ‘-ão’ (GONÇALVES et alii, 2009) que apresenta a relação continente/ conteúdo,
como nos exemplos em (7).
(7) E o único ‘copão’ de refrigerante está inacessível. Todos estão pela metade e só
aquele está mais cheio.
Meteu a mão no bolso e tirou o ‘carteirão’ de dinheiro.
Bateu um ‘pratão’.
A palavra ‘copão’ em (7) não representa necessariamente um copo grande, mas
um copo repleto do conteúdo (refrigerante). Em ‘carteirão’ e ‘pratão’, percebe-se a
mesma relação, uma vez que não designam elementos grandes, mas com dinheiro e
comida em excesso, respectivamente.
70
3.5. Resumindo
Neste capítulo, traçamos um panorama das noções mais caras às pesquisas em
Linguística Cognitiva. O movimento de confluência de teorias, pelo qual se caracteriza,
permite o diálogo com outros campos de estudo sobre a cognição, como a
antropologia e a psicologia. A consequência disso é a observação de operações, antes
definidas como estritamente linguísticas, atuando em outras áreas do pensamento
humano.
71
MÉTODOS E CORPORA
Se uma das formas possui algum tipo de vantagem sobre a outra na luta
evolutiva (...), este fato deve resultar em seu favorecimento durante o processo
de mudança.
Anthony Julius Naro1
Pesquisar a produtividade de um processo morfossemântico que atua na
ampliação do léxico possibilita lidar com fórmulas probabilísticas e observar como o
falante processa, armazena e utiliza essas unidades lexicais. É preciso, pois, lançar mão
de uma metodologia capaz de apresentar resultados confiáveis que permitam a
confirmação dos questionamentos feitos durante a análise dos dados. Também é
necessário contar com amostras de textos nas quais possam ser coletados dados que
corroborem essas hipóteses. Este capítulo tem, portanto, a finalidade de explicar que
percursos trilhamos para tentar responder as principais questões deste trabalho. Em
4.1, comentamos nosso principal corpus, composto de verbos colhidos no Houaiss, as
consultas que foram feitas a dicionários etimológicos e o cálculo estatístico da
frequência de tipo. Em 4.2, falamos da frequência de ocorrência e quais corpora foram
utilizados. Já em 4.3, estamos interessados em descrever a metodologia empregada no
preparo e na análise do experimento linguístico. Finalmente, em 4.4, são sumarizadas
as principais informações discutidas no capítulo.
4.1. O corpus coletado no Houaiss
1 Mollica & Braga (2008: 22).
4
72
A amostra de dados utilizada neste trabalho foi coletada na versão eletrônica
do Dicionário Houaiss e contém 726 verbos distribuídos por 4 construções de
circunfixação: [a [x]Nj ar]Vi (‘abafar’ e ‘acabar’), [en [x]Nj ar]Vi (‘embaçar’ e ‘enroscar’),
[a[x]Nj ecer]Vi (‘abastecer’ e ‘amortecer’) e [en [x]Nj ecer]Vi (‘emudecer’ e ‘endoidecer’).
Pode-se perceber que, nos circunfixos [en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, uma vogal nasal
pode ocupar o onset da segunda sílaba (‘enaltecer’ e ‘emudecer’) ou a coda da
primeira (‘entortar’ e ‘empobrecer’) e ter diferentes representações grafemáticas.
Assumimos, então, uma única representação abstrata, que foi demonstrada entre
colchetes, para as variantes ortográficas.
Durante essa etapa da pesquisa, foram anotados o ano de primeiro registro da
palavra, as bases que participaram na derivação dos verbos e as categorias gramaticais
das bases. Essas informações estão dispostas em tabelas no Anexo I desta dissertação.
Esse corpus foi o ponto de partida para a análise dos circunfixos sob a ótica
construcional (capítulo 5) e para o estudo sobre a relação entre a frequência de tipo e
a produtividade morfológica (capítulo 6).
Nesse sentido, como estamos interessados em mensurar a produtividade de
cada construção, devemos investigar quais estão disponíveis no léxico do falante, nos
termos de Bauer (2001), ou quais estão mais entrincheiradas, nos termos de Bybee
(2010) e Croft & Cruse (2004). Isso requer um refinamento da noção de produtividade
(como foi abordado no Capítulo 3) que inclua não só a sincronia, mas também os
dados diacrônicos. Utilizamos, assim, a amostra composta de dados coletados no
dicionário Houaiss a fim de mapear a datação dos circunfixos ao longo da história da
língua.
73
Na maioria dos casos, as informações empíricas, como a data do primeiro
registro de uma palavra ou sua etimologia, foram encontradas no Houaiss. Quando
essas informações não eram fornecidas pelo Houaiss, consultamos alguns dicionários
etimológicos (CUNHA, 1999; NASCENTES, 1955; SILVEIRA BUENO, 1967; e,
principalmente, MACHADO, 1973) para precisar a data de entrada dos itens lexicais ou
dirimir quaisquer dúvidas em relação à sua origem. Percebemos algumas divergências
entre os períodos registrados pelos dicionários para uma mesma palavra, o que nos
levou a adotar a datação mais antiga. Como exemplo, podemos citar o verbo
‘acostumar’, que, segundo o Houaiss, data de 1255, porém, de acordo com Machado
(1973), o registro é de 1358. Ou ainda o exemplo de ‘empunhar’, em que Machado
registra como de 1813, mas o Houaiss, do século XIV. Nesses casos, adotamos sempre
a data mais antiga.
Com o objetivo de medir a produtividade de um processo ao longo de vários
períodos, Lieber (2010) propõe uma fórmula matemática que consiste em verificar, em
um dicionário, quantas palavras de um determinado formativo são citadas pela
primeira vez em um determinado século e a quantidade de palavras que tiveram a
primeira datação no século correspondente, independentemente de terem sido
formadas por esse processo. Esses valores devem ser divididos a fim de encontrar uma
porcentagem que corresponderia à produtividade do processo morfológico naquele
século. O cálculo pode ser resumido na frequência de tipo de um processo X num
período de tempo Y com base numa mesma amostra. Após obtermos os resultados do
tempo Y, é feita a comparação com os resultados do tempo Y’. A fórmula adotada por
Lieber (op. cit.) é a seguinte:
74
(1) P = n1 x 100 N
em que P é o valor da produtividade de um processo morfológico, n1 é o número de
palavras formadas pelo processo em uma determinada data e N é o número total de
palavras que o dicionário registra no mesmo período.
Para exemplificar, podemos observar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi no século XVIII.
São registradas 3 palavras (‘embrutecer’, ‘encalvecer’ e ‘enraivecer’) no dicionário
Houaiss com o circunfixo em questão e 8414 palavras têm a primeira datação no
mesmo período. O valor resultante deve ser multiplicado por 100, no qual o percentual
calculado é 0,013. Esse valor encontrado no século XVIII com base no dicionário
Houaiss deve ser, então, comparado com os valores do século XVII, XIX e assim por
diante, para visualizarmos um quadro de mudança na produtividade diacrônica.
Para realizar os cálculos estatísticos que serão apresentados no capítulo 6, foi
necessário saber a quantidade de palavras que tinham a primeira datação em cada
século. Esses números foram, gentilmente, disponibilizados pelo Instituto Antônio
Houaiss, responsável pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Um problema encontrado nessa proposta de Lieber (2010) é não haver
restrições ou especificações no número total de tipos (N), uma vez que não é feita
distinção entre palavras simples, como ‘parque’, e derivadas, como ‘embelezar’
(ambas do século XVI). Como o número representado por N, na fórmula em (1), abarca
tanto palavras simples como as não simples (formadas por derivação, composição,
cruzamento vocabular, truncamento etc), os resultados podem ser enviesados, pois
estaríamos cotejando dados que passaram por um processo derivacional (n1) e dados
75
que podem ou não ser resultados de processos de formação de palavras (N). O mais
adequado seria excluir todas as palavras simples, incluindo apenas itens que passaram
por algum processo de formação de palavras. No entanto, esses valores não estão
disponíveis na plataforma eletrônica do dicionário Houaiss, nem estão registrados no
Instituto Antônio Houaiss. Diante dessa impossibilidade, assumimos o cálculo proposto
por Lieber, embora saibamos de suas limitações.
4.2. Os corpora de língua escrita
A partir dos resultados obtidos nos cálculos de produtividade dos processos de
circunfixação, é necessário confirmar as hipóteses levantadas com base em
frequências de ocorrência em corpora de textos escritos. Foram utilizadas três
amostras, duas com textos produzidos em sincronias passadas e uma com textos
literários do final do século XX.
Os dados diacrônicos foram obtidos a partir de dois diferentes projetos, um
português e um brasileiro, que estão disponíveis para consulta na Internet: o Corpus
Informatizado do Português Medieval (CIPM) e o Corpus Histórico do Português Tycho
Brahe (CHPTB). Esses corpora foram escolhidos por apresentarem uma robustez de
dados e serem disponibilizados por meio do acesso à Internet. Como foi necessário
verificar uma vasta quantidade de textos para obtermos resultados mais confiáveis,
seria indispensável o uso de textos disponíveis eletronicamente. Além disso, essas
amostram são bastante interessantes, pois reúnem textos de diversos tipos e de
diferentes autores num longo espaço de tempo. Para a análise da frequência, todos os
textos foram salvos em arquivos .txt.
76
O CIPM é resultado de um projeto português que reúne textos escritos em
língua portuguesa do século XII ao XVI, além de textos do romance que vão do século
IX ao XII. O período anterior ao século XIV não apresentou dados significativos; logo,
selecionamos apenas alguns textos produzidos entre os séculos XIV e XVI2. Já a
plataforma virtual do CHPTB, da qual selecionamos textos que correspondem ao
período do século XIV ao XVIII, apresenta a possibilidade de o usuário buscar os textos
cronologicamente ou pela diferença de gênero textual, além de disponibilizá-los com
anotações sintáticas ou morfológicas.
Os pesquisadores que trabalham com dados retirados de corpus costumam
apontar que um dos fatores que pode influenciar os resultados é o tipo de texto ou
gênero textual. Como o CHPTB reúne cartas, atas, textos narrativos e dissertativos,
levantamos a hipótese, a princípio, de que a diferença no tipo de texto pudesse indicar
uma distribuição diferente dos circunfixos. Entretanto, os resultados a que chegamos
não se mostraram relevantes na seleção de determinada construção parassintética por
um tipo específico de texto. Comparemos, para exemplificar, os dados de [a[x]Nj ecer]Vi
e [en [x]Nj ecer]Vi em cartas. As cartas escritas por D. João III selecionaram apenas
verbos formados por [a [x]Nj ecer]Vi, mas as cartas trocadas entre Eça de Queirós e
Oliveira Martins não apresentam uma seleção categórica. Há, também, exemplos de
correspondências que apresentam preferência pelos verbos de [en [x]Nj ecer]Vi,
conforme indicam os valores da frequência de ocorrência nas cartas do missionário
Antônio Vieira:
2 A relação com os textos escolhidos está no Anexo II.
77
[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi
Cartas, D. João III 100% 0%
Cartas, Eça de Queirós e Oliveira
Martins
71% 29%
Cartas, Pe. Antônio Vieira 22% 78%
Tabela 1: comparativo da frequência de palavras em relação à carta
Os dados na tabela 1 são uma pequena amostra de um comportamento
observado em todos os documentos do gênero carta, visto que não houve uma seleção
categórica por nenhum dos subesquemas analisados. Na verdade, em algumas cartas,
percebem-se mais palavras de um mesmo subesquema, e em outras, observam-se
mais dados de outro subesquema, sem que haja uma distribuição homogênea.
A análise de textos narrativos, como apresentado na tabela abaixo, tampouco
contribuiu para delinear um padrão de que construções seriam mais evocadas por
cada tipo de texto. Por exemplo, o texto do Marquês da Fronteira e d’Alorna
preferencia a construção [a [x]Nj ar]Vi, enquanto o de Bernardo Brito seleciona somente
a construção [en [x]Nj ecer]Vi. Assim, não foi percebido nenhum padrão de como as
formas se organizam nos textos, ou se algum texto poderia evocar alguma forma
específica. Neste trabalho, portanto, o fator textual não será abordado durante a
análise dos corpora, uma vez que não influencia diretamente o comportamento dos
subesquemas de circunfixação.
[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi
Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, Marquês da
Fronteira e d'Alorna
100% 0%
Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito 0% 100%
Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira de
Souza
65% 35%
Tabela 2: comparativo da frequência de palavras em relação ao texto narrativo
78
A questão cronológica nos pareceu ser um fator mais relevante à análise à
medida que se relaciona à noção de produtividade diacrônica e implica entender como
o falante conceptualiza as construções de circunfixação em diferentes épocas. É
importante, pois, que adotemos uma perspectiva quanto às fronteiras que dividem os
períodos da língua portuguesa.
Galves et alii (2006) sintetizam as discussões em torno da periodização do
português, identificando três grandes fases: o Português Antigo, o Português Clássico e
o Português Moderno. O Português Antigo, também nomeado de Medieval,
corresponderia desde os primeiros documentos escritos até o século XVI. O segundo
período, quando algumas características encontradas em textos de hoje começam a
surgir, abarcaria desde o século XVI até o início do XIX. Já o Português Moderno é, em
geral, dividido entre Português Europeu e Português Brasileiro. O marco do PB seria o
processo de desenvolvimento de uma nova sociedade que, de acordo com Tarallo
(1993), apresenta as primeiras divergências entre o português de Portugal e o do
Brasil.
Dessa maneira, as amostras colhidas no CIPM e no CHPTB correspondem ao
Português Antigo e ao Português Clássico. Quanto ao Português Moderno, optamos
por selecionar textos escritos por falantes do português brasileiro, pois uma de nossas
intenções é compreender o processamento da parassíntese por falantes de português
brasileiro. Buscamos, para o século XIX, textos da literatura brasileira que
representaram um retrato da época e gozaram de prestígio na sociedade.
Por serem recentes, os textos literários produzidos no século XX estão
protegidos legalmente por direitos autorais, o que impede a sua consulta eletrônica no
79
sítio do Domínio Público. Diante disso, utilizamos o banco de dados do European
Corpus Initiative - Brasil (doravante ECI-BR) – que integra o projeto eletrônico AC/DC,
reconhecido pela sua metodologia eficiente – para buscar os dados produzidos em
português brasileiro ao longo do século XX. O ECI-BR disponibiliza uma amostra de
fragmentos de textos escritos que conta com 724.008 palavras.
Para que não houvesse discrepâncias em relação ao tamanho dos textos,
estabelecemos uma margem entre 500.000 e 600.000 palavras por século, conforme
pode ser visto na tabela a seguir. A única ressalva se deve ao século XX, porque, como
dissemos, não conseguimos encontrar um corpus que mantivesse a margem
estabelecida. Essa decisão, entretanto, não enviesou os resultados.
Quantidade de palavras nas amostragens
XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX
504183 590942 574042 563636 508567 530754 724008
Tabela 3: tamanho das amostras diacrônicas utilizadas do PE e do PB
Utilizamos como ferramenta de busca o programa computacional AntConc
versão 3.2.1, que retorna a frequência das palavras a partir de uma seleção feita com
base na terminação desejada. O software, desenvolvido por Laurence Anthony, da
Universidade de Waseda, no Japão, pode gerar listas de concordância, que permitem
comparar os diferentes usos de uma mesma palavra, além da frequência desse item.
Como foi dito, os textos dos corpora citados acima tiveram de ser salvos em arquivos
.txt para que o programa os identificasse. O programa Excel 2010, que faz parte do
pacote do Microsoft Office, foi utilizado como ferramenta de cálculos estatísticos,
80
porque comporta uma grande quantidade de dados e possibilita a confecção de
gráficos e tabelas comparativas.
Calculamos o percentual dos verbos de circunfixação em relação ao número
total de ocorrências em cada amostra separadamente. Isso nos permitiu observar
isoladamente dados de cada circunfixo no período do século XIV ao XX. A fórmula
utilizada foi a seguinte:
(2) P = n2 x 100 N’
em que n2 é o número da frequência de ocorrência de uma palavra em um dado
tempo e N’ é o número total de ocorrências no corpus.
4.3. O experimento linguístico
Nossas principais hipóteses estão ancoradas, como será visto no capítulo 6, na
relação escalar de produtividade dos circunfixos, diacrônica e sincronicamente.
Elaboramos, portanto, um experimento linguístico, com base em Lima (1999),
objetivando confirmar os resultados encontrados nas frequências de tipo e de uso.
4.3.1. Método do questionário
Duzentos sujeitos, falantes do português brasileiro, participaram do estudo.
Uma de nossas preocupações foi controlar as variáveis não linguísticas que poderiam
estar correlacionadas ao emprego de uma determinada construção parassintética
81
(MOLLICA & BRAGA, 2008). Para isso, observamos o gênero, a idade e a escolaridade
dos nossos informantes. Em relação à idade, a divisão estabelecida previa que os
informantes com até 18 anos seriam agrupados sob o rótulo de Adolescentes; aqueles
que tinham entre 18 e 25 anos foram considerados Jovens; os que tinham até 60 anos
foram rotulados de Adultos; e de 61 em diante, Idosos.
Quanto à escolaridade, utilizamos cinco fatores: Ensino Fundamental, Ensino
Médio, Ensino Superior (cursando), Ensino Superior (completo), Pós-graduação. Caso o
informante marcasse as opções Ensino Superior (cursando), Ensino Superior
(completo) ou Pós-graduação, era solicitado que informasse também a área de
formação acadêmica: Letras, Direito, Astrofísica, entre outros.
Contamos com o auxílio da ferramenta JotForm, que possibilitou a confecção
de formulários online através de uma série de comandos e recursos de programação. O
questionário, depois de pronto, foi, então, enviado aos informantes por correio
eletrônico. Resolvemos utilizar a Internet como meio de difusão do experimento por
permitir o controle de um maior número de participantes, além de as escolhas dos
informantes serem enviadas à minha caixa de e-mail assim que respondidas, o que
facilitou a análise dos resultados e possibilitou o acompanhamento do experimento
quase instantaneamente.
Nenhuma informação foi passada aos informantes sobre o conteúdo da
pesquisa, assim como a participação dos mesmos se deu de forma voluntária e
anônima. No questionário, foi pedido que não fossem consultados dicionários ou sítios
de Internet e que avaliassem cada item de acordo com sua intuição de falante nativo.
Havia, também, dez distratores que foram eliminados na contabilidade do resultado
final.
82
Para contabilizar os resultados, adotamos o procedimento de aplicar um valor
para cada um dos fatores que compunham o grupo de fatores, bem próximo ao que se
encontra em trabalhos de sociolinguística de orientação variacionista (MOLLICA &
BRAGA, 2008). Submetemos essas informações ao software Goldvarb X (LAWRENCE et
alii, 2001) para darmos um tratamento estatístico aos resultados, possibilitando o
cotejo dos diferentes subesquemas em relação às variáveis sociais adotadas (gênero,
idade e escolaridade).
4.3.2. Conteúdo do questionário
O experimento foi dividido em três grupos para que o sujeito não ficasse
condicionado a dar sempre as mesmas respostas. O grupo I consiste em uma escolha-
forçada do tipo 1x2, em que eram dadas sentenças incompletas para que o informante
escolhesse a opção que melhor se ajustasse ao sentido da frase. Um exemplo se
encontra em (3):
(3) Os resíduos hospitalares foram __________ pela equipe da clínica médica.
o alixeirados
o enlixeirados
Sem mencionar aos “informantes” os verdadeiros propósitos do experimento,
testamos, nesta parte, como ocorre o processamento lexical dos circunfixos em
palavras inventadas. Buscamos compreender quais subesquemas seriam mais
acessados se os falantes tivessem de criar novo material lexical. Assim, teremos mais
83
dados que nos habilitem a indiciar quais construções são mais produtivas no atual
estágio da língua.
No grupo II, apresentamos dados que passaram por uma concorrência entre
construções de parassíntese, mas que a frequência tornou apenas um membro do par
acessível pelo falante do século XXI. É o caso de ‘amadurar’ e ‘amadurecer’, por
exemplo, que são as opções para completar a frase em (4):
(4) Horácio começou a ___________ quando passou a trabalhar.
o amadurar
o amadurecer
O grupo III, por fim, visa a corroborar o fato de que nada impede que dois
esquemas diferentes instanciem palavras com a mesma base, como ‘empossar’ e
‘apossar’. Verificamos, então, se o falante percebe que são focalizados sentidos
diferentes da base. Foi solicitado, nessa etapa, que os informantes marcassem a(s)
palavra(s) de cada par que fazia(m) parte de seu léxico internalizado, como no exemplo
em (5). Poderiam ser marcadas ambas as palavras, apenas uma delas, ou nenhuma, de
acordo com o conhecimento lexical de cada falante.
(5) Marque a(s) palavra(s) que você conhece
□ Encampar
□ Acampar
84
4.4. Resumindo
Neste capítulo, relatamos o modo como foram colhidos os dados no Houaiss e
em três corpora de textos em português (CIPM, CHPTB e ECI-EBR). Discutimos também
cálculos estatísticos, formulados com base no trabalho de Lieber (2010), que nos
viabilizaram encontrar os percentuais de frequência de cada construção ou unidade
lexical em um determinado período de tempo. Abordamos também os métodos
empregados na confecção de um experimento linguístico e quais foram nossos
objetivos em cada etapa do teste.
85
CONSTRUÇÕES PARASSINTÉTICAS
o estudo do significado é o estudo de como as palavras surgem no contexto de
atividade humana e como são usadas para evocar representações mentais.
Seana Coulson1
Neste capítulo, investigamos o comportamento dos subesquemas de
circunfixação através do prisma da semântica cognitivista. Para tanto, recorremos, em
5.1, aos conceitos de mecanismos de conceptualização, ajuste focal (LANGACKER,
1987), metáfora e metonímia (LAKOFF & JOHNSON, 2002 [1980]).
Partindo de estudos anteriores, identificamos que as características
subjacentes ao processo de circunfixação são a instanciação de novos verbos
(MARTINS, 1991) e a ideia de resultatividade veiculada pela construção lexical (LEITE,
2006). Explicamos, em 5.2, cada um dos subesquemas examinados neste trabalho,
nomeadamente [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi. São
observados, também, os diferentes sentidos ativados em função de fatores
sociodiscursivos e a recuperabilidade das formas pelos falantes.
Por fim, propomos a conexão entre os vários subesquemas que compõem a
circunfixação através de uma rede esquemática (BYBEE, 2010; CROFT & CRUSE, 2004),
por meio da qual as unidades instanciadas se reforçam através do uso em textos, orais
1 the study of meaning is the study of how words arise in the context of human activity, and how they
are used to evoke mental representations (COULSON: 2001, p. 17).
5
86
ou escritos. Haveria, assim, um núcleo prototípico do qual espraiariam subesquemas
mais específicos, que manteriam o fluxo de informação com o esquema central por
meio de links de herança (GOLDBERG, 1995).
5.1. Operações de conceptualização e resultatividade
Martins (1991), ao examinar a regularidade de verbos parassintéticos, destaca
um traço semântico que tem reflexos no formalismo, mas que, muitas vezes, não
recebe o devido tratamento em análises morfológicas: a formação de novos verbos na
língua a partir de nomes. Esse fato – que perpassa a parassíntese, a sufixação e a
conversão, por exemplo – estaria, para a autora, diretamente relacionado à nossa
necessidade de expressar ações a partir de eventos. Essa proposição, com a qual
concordamos, reflete o modo como ocorrem os processamentos cognitivos, ou seja,
indica a motivação que leva os falantes a expressarem propriedades de adjetivos e
substantivos por meio de processos. Em termos cognitivistas, a pergunta que deve ser
feita diz respeito a conceptualizarmos uma cena holisticamente ou em partes que se
sucedem.
Langacker (1987, 1991, 2008a, 2008b) defende que o traço de dinamicidade é
um dos mecanismos que compõe as operações de conceptualização, pois, nesse caso,
a saliência de aspectos referentes à conceptualização da cena é mutável e, por isso,
dinâmica. Em outras palavras, “o escaneamento (...) se relaciona a de que modo os
aspectos da cena são percebidos, se visualmente ou de outra maneira, e como dão
origem a representações conceptuais” 2 (EVANS, 2007: 186, 187). Esse traço dinâmico
2 scanning (...) relates to how the aspects of a scene are perceived, visually or otherwise, and give rise to
a conceptual representation.
87
estaria presente na nossa capacidade de apreender relações e compreender eventos
através de escaneamentos, que são mecanismos que permitem a integração dos
trechos constitutivos de uma cena em uma representação aproximada do real
(LANGACKER, 2008b: 110). O escaneamento pode ser de dois tipos: estático ou
processual.
O exemplo, providenciado por Langacker (2008a), de uma bola rolando um
declive, pode ilustrar os dois modos de processamento, a depender do escaneamento
que estiver sendo mapeado. Em uma das perspectivas, podemos conceptualizar essa
cena como uma sequência de imagens que se sucedem e permitem compreender a
trajetória do objeto, como na figura 4.
Figura 1: escaneamento dinâmico (LANGACKER, 2008a)
O evento de a bola rolar é representado, em cada retângulo, no tempo ti em
uma determinada posição, enquanto a conceptualização acontece no tempo Ti. Não
necessariamente o acontecimento de um evento e a sua conceptualização se dão no
mesmo intervalo de tempo, o que possibilita que ti e Ti tenham valores de aplicação
diferentes. Por exemplo, podemos conceptualizar, em um tempo futuro (Ti), uma ação
que ocorreu no passado (ti). Na figura acima, o estímulo (o movimento da bola) é
88
escaneado sequencialmente, tal que no instante Ti o único trecho acessado
corresponde a ti, o que nos permite ter uma concepção muito próxima do evento que
se desenrolou em ti. Temos, então, o escaneamento dinâmico.
Não é isso o que acontece no escaneamento estático, como é exemplificado na
figura 2, retirada de Langacker (2008a).
Figura 2: escaneamento estático (LANGACKER, 2008a)
No escaneamento estático, cada trecho da cena não é acessado
separadamente, mas cumulativamente, i.e., no tempo Ti todas as configurações da
cena que se desenrolaram até então (t1 – ti) são sintetizadas, de modo que a sua
representação se torne holística.
Como estamos lidando com um léxico concebido a partir da interação de
símbolos, ou seja, elementos formais que evocam significados (BASILIO, 2011), todo
esse aparato cognitivo é refletido no ambiente lexical. Se, conforme Langacker (2008a)
prediz, a semântica não for apenas o estudo das relações de condição de verdade, mas
também das operações de conceptualização, o léxico torna-se o locus de manifestação
da experiência, do uso e das habilidades cognitivas. Faz sentido, então, compreender
89
que os diferentes tipos de escaneamento correspondem a diferentes estruturas da
gramática, como o verbo, o adjetivo, ou o substantivo, por exemplo.
De acordo com Langacker (2008a), o escaneamento dinâmico está diretamente
relacionado ao perfilamento realizado por verbos, visto que a relação processual é
consequência do acesso sequencial de elementos de uma cena. Ao contrário, o
escaneamento estático está para nomes, que, em geral, não perfilam relações, nem
mudanças de estado.
Com isso, percebemos que a motivação semântica que subjaz processos de
formação de verbos se relaciona à necessidade de expressar conceptualizações
dinâmicas a partir de mapeamentos estáticos de um estímulo, uma vez que
instanciamos construções verbais a partir de nomes (substantivos e adjetivos).
Sobre a característica processual dos verbos, que captura seu traço dinâmico,
vale citar Langacker (1991: 81), que afirma que:
uma predicação processual envolve uma contínua série de estados (...) e emprega
um escaneamento dinâmico para acessar essa estrutura complexa. Um processo
contrasta com sua correspondente relação atemporal ao elaborar um
‘perfilamento temporal’, definido como a duração do tempo concebido [ti] pelo
qual a relação perfilada é escaneada sequencialmente3.
Similarmente, argumenta Lemos de Souza (2010), com exemplos da formação
de nomes deverbais no português, em favor da distinção dos dois tipos de
escaneamento cognitivo. De acordo com o autor, essa diferença justifica, junto a
3 a processual predication involves a continuous series of states (…) and it employs sequential scanning
for accessing this complex structure. A process contrasts with the corresponding atemporal relation by having a ‘temporal profile’, defined as the span of conceived time through which the profiled relationship is scanned sequentially.
90
outros fatores, a ocorrência de ‘ligação’ e ‘ligamento’, ‘armação’ e ‘armamento’, e
‘apartação’ e ‘apartamento’, como vemos abaixo.
(1) ‘ligação’ ‘ato de ligar’, interpretação verbal
‘ligamento’ ‘articulação entre os ossos’, interpretação nominal
(2) ‘armação’ ‘ato de armar’, interpretação verbal
‘armamento’ ‘conjunto de armas’, interpretação nominal
(3) ‘apartação’ ‘ato de apartar’, interpretação verbal
‘apartamento’ ‘tipo de moradia’, interpretação nominal
Nos itens instanciados pelo esquema [[x]Vi – ção]Nj, percebemos que o
escaneamento ocorre sequencialmente, enquanto nas palavras de [[x]Vi – mento]Nj
compreendemos a cena holisticamente. Esse seria um dos fatores que contribuiria
para impedir o bloqueio das formas que selecionam a mesma base.
Nem sempre a mudança categorial implica em mudança no tipo de
conceptualização, pois, como vimos nos casos de [[x]Vi – ção]Nj, tanto o verbo-base
como o substantivo resultante perfazem um escaneamento dinâmico. Da mesma
forma, os exemplos demonstrados em (4), a seguir, indicam que a mudança de classe
não altera a conceptualização, pois se percebe a mudança do verbo ‘correr’ para o
substantivo ‘corre-corre’ com a manutenção do escaneamento dinâmico. Casos em
que não há mudança categorial podem, ao contrário, apresentar mudança de
escaneamento, como em (5), no qual a base ‘carta’ e a palavra derivada ‘cartada’
ativam o escaneamento estático e dinâmico, respectivamente. Com isso, observamos
91
que não há, necessariamente, uma correspondência entre mudança categorial e
diferença no escaneamento cognitivo.
(4) correrV corre-correN
aprenderV aprendizagemN
(5) cartaN cartadaN
Nos casos de verbos parassintéticos, entretanto, a mudança de escaneamento
está correlacionada à mudança categorial. Há, em todos os casos, substantivos ou
adjetivos como base para uma construção verbal e, consequentemente, a passagem
de uma conceptualização estática para dinâmica. Em (6), apresentamos alguns
exemplos.
(6) calmoA acalmarV
justoA ajustarV
dívidaN endividarV
moleA amolecerV
burroA emburrecerV
raivaN enraivecerV
Em comum aos verbos parassintéticos de (6), o escaneamento dinâmico expõe,
mais detalhadamente, o traço durativo, processual, desses itens – além do caráter
aspectual de incoatividade, reforçado em palavras terminadas por ‘-ecer’, como, por
exemplo, ‘amolecer’, ‘emburrecer’ e ‘enraivecer’.
92
Desse traço processual, é possível generalizar um significado do tipo ‘tornar-se
X’, em que a mudança dos vários estados constitutivos da cena é mapeada
sequencialmente. Em outras palavras, esse significado mais geral nos permite
visualizar os processos de ‘tornar-se calmo’, ‘tornar-se mole’, ‘tornar-se burro’
desenrolando-se em um período de tempo ti e a nossa compreensão da cena num
tempo Ti equivalente. Podemos relacionar isso à proposta de que verbos
parassintéticos sejam tratados como casos de resultatividade (LEITE, 2006), um
fenômeno bastante difundido e estudado na área da sintaxe.
As construções resultativas, que têm sido analisadas sob diferentes
perspectivas (no campo funcionalista, LEVIN & RAPPAPORT, 1999; no quadro
cognitivista, GOLDBERG, 1995; GOLDBERG & JACKENDOFF, 2004; LEITE, 2006; e no
arcabouço gerativista, LOBATO, 2004; HOEKSTRA, 1988), indicam a mudança de estado
de um objeto a partir da ação expressa no verbo (X faz com que Y se torne Z). Alguns
exemplos de resultatividade são apresentados abaixo.
(7) João pintou a casa [bem amarelinha]SAdv. (LOBATO, 2004)
(8) Maria deixou o quarto [limpo]SA.
(9) Eles partiram o bolo [em pedaços]SPrep. (LEITE, 2006)
(10) Crise de energia tornou brasileiro mais [consciente]SA. (LEITE, 2006)
Nos exemplos (8) e (10), percebemos que a mudança de estado é indicada por
meio dos sintagmas adjetivais [limpo] e [consciente], enquanto na frase em (9) é
expressa no sintagma preposicional [em pedaços]. Em (7), não é apenas o adjetivo
93
referente à cor que caracteriza a resultatividade, uma vez que a retirada do advérbio
‘bem’ acarreta a mudança de sentido da frase (LOBATO, 2004), como em (11).
(11) ≠ João pintou a casa amarelinha.
Em (11), a casa possui a propriedade de ser amarela, enquanto em (7) passa a
ter essa característica Z (cor amarela) a partir da ação (pintar) de X (João). Em (7), o
sintagma adverbial [bem amarelinha] é responsável por ativar a mudança de estado.
Os constituintes destacados entre colchetes nos exemplos de (7) a (10)
exprimem a ideia de transformação e, por isso, são identificados como sintagmas
resultativos (de agora em diante, SR). Entretanto, para que haja mudança de estado, é
necessário que um elemento assuma a transformação. Goldberg & Jackendoff (2004)
chamam-no de hospedeiro, que nos exemplos de (7) a (10) se identifica com os
constituintes que recebem caso acusativo (em negrito). Nessas frases, percebe-se a
correlação entre o papel de agente e o elemento que recebe caso nominativo, porém
este também pode ser o hospedeiro do processo de resultatividade, deixando de ser o
agente, como em (12), a seguir.
(12) O chocolate amoleceu.
(13) O calor amoleceu o chocolate.
Na verdade, o constituinte sintático responsável por hospedar o papel do agente
corresponde à distinção entre estruturas causativas e não causativas. Os exemplos de
(7) a (10) representam estruturas causativas, pois um agente é responsável para que o
94
hospedeiro assuma a propriedade expressa pelo SR. Já em (12), não há um elemento
agentivo que caracterize uma estrutura causativa. Contudo, o mesmo exemplo pode
ser reescrito, como em (13), de modo que inclua a noção de causatividade. Ainda que
seja um tema bastante relevante, não nos aprofundaremos na discussão de considerar
a causatividade no âmbito da Gramática das Construções, uma vez que não é esse o
nosso foco 4.
Nos casos de circunfixação, o indicador da mudança do estado não pode ser
externo, já que estamos lidando com unidades do léxico. Esse indicador, que é
compatibilizado num esquema mais geral, funcionando como a base para instanciar a
palavra parassintética, é chamado de SR interno (LEITE, 2006). Nos exemplos de (14) a
(20), apresentamos casos de parassíntese cujos subeventos indicam que um
hospedeiro (X) passará a ter a propriedade indicada pelo SR interno, representado
pelas bases.
(14) [a [cafajeste]Ai ar]Vj ‘X tornar-se cafajeste’
(15) [em [bebedo]Ai ar]Vj ‘X tornar-se bêbedo’
(16) [a [podre]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se podre’
(17) [en [magro]Ni ecer]Vj ‘X tornar-se magro’
(18) [em [pálido]Ai ecer]Vj ‘X tornar-se pálido’
(19) [em [paca]Ni ar]Vj ‘X tornar-se semelhante a uma paca’
(20) [a [bandido]Ni ar]Vj ‘X tornar-se um bandido’
4 Os interessados no assunto podem consultar McCawley (1971), Levin & Rappaport (1999), Goldberg &
Jackendoff (2004), Goldberg (1995, 2006).
95
Goldberg & Jackendonff propõem a terminologia ‘resultativas de propriedade’
para casos em que são focalizados um processo de mudança e uma propriedade desse
subevento, como nos itens exemplificados acima. Em geral, adjetivos indicam o valor
semântico de propriedade, o que favorece a compatibilização entre adjetivos e
subesquemas de circunfixação que exprimem ‘mudança de estado relacionada a um
atributo’, como [a[x]Nj ecer]Vi e [en[x]Nj ecer]Vi. Substantivos também podem servir à
instanciação de novas unidades, conforme visto nos exemplos (19) e (20), porém
como, normalmente, não indicam um atributo, é perfilada uma característica do
substantivo base. Por exemplo, em (19) não se concebe a transformação do
hospedeiro em uma paca. Ao contrário, um atributo do animal, a lentidão, é perfilado
e compatibilizado na construção, o que nos permite identificar alguém ou alguma coisa
que age de forma lenta como uma paca através da palavra ‘empacar’. Os exemplos
abaixo ilustram esse perfilamento.
(21) Meu cachorro ‘empaca’ na hora de passear... Por que (sic)?5
(22) O ônibus ‘empacou’ várias vezes no caminho porque os corintianos
invadiam as ruas para saudar o time.6
(23) Minha carreira ‘empacou’.7
(24) Lançado há três meses, projeto social de Adriano ‘empaca’.8
5 http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100417173909AAXpe2c. Acessado em 11
ago.2011. 6 http://www.loucosporti.com.br/content/view/207/47/. Acessado em 11 ago.2011.
7 http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/max-gehringer/2011/08/03/MINHA-CARREIRA-
EMPACOU.htm. Acessado em 11 ago.2011. 8 http://www1.folha.uol.com.br/esporte/888204-lancado-ha-tres-meses-projeto-social-de-adriano-
empaca.shtml. Acessado em 11 ago.2011.
96
Percebemos, nos exemplos de (21) a (24), que o atributo de ‘lentidão’ é
perfilado na base ‘paca’ e relacionado aos hospedeiros ‘cachorro’ (21), ‘ônibus’ (22),
‘carreira’ (23) e ‘projeto social’ (24).
Em (20), do mesmo modo, um traço da base ‘bandido’ é perfilado para
compatibilizar com a construção parassintética. Não interessam os atributos físicos do
bandido, mas os psicológicos e/ou sociais: ‘abandidar’ é ‘agir inescrupulosamente’,
‘participar de alguma facção criminosa’, ‘ter atitudes que se assemelhem à
representação de um bandido’, entre outros.
Como o termo ‘propriedade’, traduzido de Goldberg & Jackendoff, é muito
genérico, adotamos o termo ‘atributo’, que acreditamos ser mais preciso por se referir
especificamente a uma característica. Adaptando a cena utilizada por Langacker para
representar o escaneamento dinâmico (figura 1), apresentamos, na figura 3, um
diagrama que concentra esse modo de processamento cognitivo, a mudança de estado
e o perfilamento de um atributo, característicos do esquema que expressa a
‘resultatividade atributiva’.
Figura 3: representação dos esquemas que expressam a resultatividade atributiva
T1 T2 T3 T4 T5
> > > >
>
97
Na figura 3, há um evento representado na forma de um círculo, cuja
tonalidade se modifica a cada intervalo ti. Nem todos os verbos parassintéticos se
conformam a esse diagrama, já que alguns não se referem à mudança de atributo, mas
de local, como os exemplos abaixo:
(25) [a[prision]Ni ar]Vj ‘por X em prisão’
(26) [a[fund]Ni ar]Vj ‘por X no fundo’
(27) [en[caixot]Ni ar]Vj ‘por X em caixote’
(28) [en[moldur]Ni ar]Vj ‘por X em moldura’
Nos itens acima, compreendemos uma mudança de estado como uma
mudança de local, já que ambas as mudanças pressupõem uma mudança no tempo.
Goldberg (1995: 83) explicita que essa operação é recorrente e “envolve compreender
uma mudança de estado nos termos de um movimento para um novo local” 9. Os
exemplos de circunfixação expostos neste trabalho descrevem eventos e a forma
como os representamos através de operações cognitivas. Levin & Rappaport (1999)
destacam uma condição primordial debatida na literatura linguística sobre a
identidade dos eventos: apresentarem as mesmas características espaciais e
temporais. Isso explica a metáfora, abordada por Goldberg, que nos permite
compreender uma mudança no espaço a partir de uma mudança no tempo/estado. Na
direção contrária, Lakoff & Johnson (2002 [1980]) demonstram que também podemos
compreender o tempo a partir da movimentação de objetos, o que pode ser
9 “[the metaphor] involves understanding a change of state in terms of movement to a new location”
98
evidenciado pela produtividade da metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO
em expressões do tipo:
(29) O tempo virá quando... (The time will come when...)
O tempo para agir chegou. (The time for action has arrived.)
Nas semanas seguintes… (In the following weeks…)
O mapeamento entre a categoria de tempo e a sua orientação não estática na
metáfora TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO nos habilita conceptualizar uma
mudança de espaço em termos de uma mudança de estado, porque, culturalmente,
uma mudança de espaço implica o movimento de um objeto de um local X para um
local Y, que, por sua vez, está relacionada à passagem de tempo. Autores como Basilio
(2004) e Leite (2006) já haviam notado a produtividade de verbos de circunfixação com
a semântica de resultatividade espacial, veiculada pelas palavras de (25) a (29). Cabe
notar que o SR interno (‘caixote’, de ‘encaixotar’, por exemplo) é conceptualizado
como um recipiente para o qual o hospedeiro (um objeto qualquer) se move, como
ilustrado no diagrama abaixo.
99
Figura 4: representação dos esquemas que expressam a resultatividade espacial
No digrama da figura 4, o evento é representado por um objeto elíptico
inserido em um objeto trapezoidal. É, como argumentamos, a configuração de uma
mudança no espaço, visto que em t1 o objeto elíptico está em um local externo e em t4
no interior do trapézio. Bastante difundida na literatura cognitivista (LAKOFF &
JOHNSON, 2002 [1980]), a metáfora do contêiner perpassa a representação da figura
4, pois compreendemos o objeto trapezoidal como um recipiente, em razão dos seus
limites espaciais, o que provoca uma orientação dentro-fora. Em (27), a base ‘caixote’
funciona como um recipiente devido ao seu formato e à possibilidade de colocar um
objeto no seu interior. Já em (28), a base ‘moldura’ não é um representante exemplar
da categoria ‘recipiente’, o que não nos impede de a compreendermos como um
recipiente a partir de nossa experiência no mundo: não armazenamos objetos
tridimensionais em molduras, mas planos, como pinturas, fotografias, certificados etc.
Observamos, pois, que a cultura tem um papel decisivo na nossa compreensão
e estruturação do léxico, uma vez que molda a forma pela qual pensamos e agimos no
mundo. A relação entre mudança de estado e passagem de tempo não é fortuita, mas
> > >
t1 t2 t3 t4
T1 T2 T3 T4
100
tem a ver com o modo como experienciamos o meio. Da mesma maneira, conceber
uma mudança de lugar nos termos de uma mudança de estado, já que implicam
passagem no tempo, é altamente motivado por estabelecermos uma ligação entre a
nossa condição de existência e o mundo que nos cerca. O diagrama representado na
figura 4, provavelmente, pode não ser significativo em outras culturas, pois foi
estruturado a partir da apreensão de como falantes do português brasileiro concebem
a linguagem.
Até agora, vimos que o conteúdo de resultatividade espacial envolve a
conceptualização de um elemento como recipiente. Entretanto, Basilio (2004) destaca
que esquemas de circunfixação também podem estar vinculados a ‘elementos
colocados’, como os dos exemplos abaixo:
(30) [a[cebol]Ni ar]Vj ‘por cebola em X’
(31) [a[piment]Ni ar]Vj ‘por pimenta em X’
(32) [a[tapet]Ni ar]Vj ‘por tapete em X’
(33) [em[balsam]Ni ar]Vj ‘por bálsamo em X’
(34) [en[cer]Ni ar]Vj ‘por cera em X’
(35) [em[palh]Ni ar]Vj ‘por palha em X’
As palavras de (30) a (35) também podem ser explicadas pela metáfora do
contêiner por se enquadrarem no domínio das resultativas espaciais. A diferença
reside no ajuste focal da cena, ou seja, no fato de o SR interno ser conceptualizado
como o elemento colocado, e não como o recipiente. Os verbos de (30) a (35) ativam o
escaneamento processual das resultativas espaciais (figura 4), sendo que o SR interno
101
é representado pelo objeto elíptico. Convém lembrar que os verbos de (25) a (28)
retomavam o mesmo escaneamento, porém o SR interno era representado pelo
objeto trapezoidal. Essa diferença na conceptualização do SR interno tem uma grande
importância para o estudo apresentado aqui, porque, como assinalam Almeida et alii
(2009), substancia a natureza conceptual da gramática. Há, nos verbos apresentados
de (25) a (28) e de (30) a (35), uma mesma cena (ato de armazenar) que envolve os
mesmos elementos (um recipiente e um objeto colocado), porém diferentes ajustes
focais resultam em significados diferentes. Langacker (1987) foi o primeiro a propor o
termo ‘ajuste focal’ para designar os mecanismos que nos permitem descrever uma
mesma situação de diferentes maneiras. Em palavras como ‘aprisionar’ e ‘encaixotar’,
o SR interno (‘prisão’ e ‘caixote’) é o recipiente, o que ocasiona a sua focalização e o
esmaecimento do objeto colocado. Já em ‘acebolar’ e ‘encerar’ o SR interno (‘cebola’ e
‘cera’) se comporta como o objeto colocado, que é destacado, enquanto o recipiente é
ofuscado.
Percebemos, por exemplo, maneiras distintas de conceptualização de uma
mesma cena básica nos verbos ‘aterrar’ e ‘enterrar’. Na primeira palavra, o objeto
elíptico é o elemento realçado (‘terra’) e o recipiente é a base da cena, ou seja, o
elemento que fica esmaecido e funciona como hospedeiro. Isso porque em ‘aterrar’
colocamos terra em algum local, ou seja, ‘terra’ é o elemento colocado, e não o
recipiente. Em (36), a seguir, o SN ‘o mangue’ é o hospedeiro da mudança e o SR
interno ‘terra’ é perfilado como objeto a ser inserido em algum local. Já o verbo
‘enterrar’ tem o SR interno compreendido como o recipiente, elemento perfilado na
situação. Nesse caso, ‘terra’ não é o objeto colocado, mas o local onde algo será
102
inserido. Em (37), o SN ‘ossos’ fica no plano de fundo como o objeto colocado,
enquanto o SR interno (‘terra’) aparece como o recipiente do evento.
(36) Para ampliar porto, Estado quer ‘aterrar’ manguezal. 10
(37) Se seu cachorro adora fazer buracos para ‘enterrar’ ossos ou se
refrescar, construa um pequeno tanque de areia em uma parte isolada11
Foi demonstrado, até aqui, que a noção semântica de resultatividade está
ligada aos esquemas de circunfixação por meio de operações de conceptualização, tais
como metáforas, metonímias e ajustes focais, que são operações básicas que nos
servem a manipular quaisquer estruturas de conhecimento (CROFT & CRUSE, 2004).
Alguns exemplos da atuação desses mecanismos, que foram abordados
anteriormente, são (i) a compreensão de uma mudança de lugar a partir de uma
mudança de estado e (ii) as diferentes perspectivas que se adotam em relação à
mesma situação de mudança de local, i.e., a possibilidade de se focalizar o objeto
colocado ou o recipiente na resultatividade espacial.
Nas seguintes seções, exploramos de que maneira se desenvolve a relação
entre os significados – dinâmicos e modificáveis no desenrolar do discurso – e os
subesquemas que os evocam – estáveis e armazenados no léxico.
5.2. Subesquemas de circunfixação
10
http://www.intelog.net/site/default.asp?TroncoID=907492&SecaoID=508074&SubsecaoID=948063&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=940817&Titulo=Para%20ampliar%20porto%2C%20Estado%20quer%20aterrar%20manguezal. Acessado em 14 ago.2011. 11
http://dogdicas.com.br/373/enterrando-ossos. Acessado em 14 ago.2011.
103
A circunfixação, como vimos, ativa um conceito principal – o da resultatividade
– que se desdobra em dois: a mudança relacionada ao atributo e a mudança
relacionada ao espaço. Cabe, então, definirmos a maneira como se distribuem os
significados com referência aos subesquemas que os evocam.
A instanciação de verbos parassintéticos tem por base unidades adjetivais ou
substantivais, como foi visto nos exemplos de (15) a (20). Etiquetamos essas categorias
através do índice N, de nome, que pode representar tanto adjetivos quanto
substantivos. As características dos subesquemas serão representadas, conforme
abordado no capítulo 3, através de um diagrama tripartido (BOOIJ, 2010), em que
sejam consideradas as informações fonológicas, morfológicas e semânticas.
Nas próximas subseções, discutimos os subesquemas que constituem o
esquema mais geral, entendido por circunfixação ou parassíntese. Iniciamos a análise
pelo subesquema [a [x]Nj ar]Vi.
5.2.1. O subesquema [a [x]Nj ar]Vi
Grande parte dos verbos de [a [x]Nj ar]Vi tem substantivos como base, embora
haja muitos exemplos instanciados a partir de adjetivos. No primeiro caso, podemos
citar ‘abarrotar’ (de ‘barrote’), ‘acariciar’ (de ‘carícia’) e ‘agarrar’ (de ‘garra’), enquanto,
no segundo, apresentam-se ‘acalmar’ (de ‘calma’), ‘alargar’ (de ‘largo’) e ‘amansar’ (de
‘manso’).
O valor semântico de resultatividade de atributo é prototípico nesse
subesquema, pois uma quantidade expressiva de dados evoca esse conceito (64% dos
itens). Verbos como ‘acalmar’, ‘adoçar’ e ‘ajustar’, por exemplo, podem ser
104
parafraseados por < [tornar-se [x]Nj]Vi >, em que [x]Nj é uma variável que pode ser
substituída pelas bases ‘calma’, ‘doce’ e ‘justo’, respectivamente. O circunfixo ativa,
além do valor de resultatividade, o sentido de aproximação ao que é expresso pela
base. Observemos nos dados abaixo de que maneira a metáfora opera nos
significados.
(38) abandejar, abaciar, abarrilar, afunilar
(39) afofar, alisar, amaciar, alongar, aveludar
(40) abatatar, atomatar, abaunilhar, acerejar, assenzalar, assobradar
(41) abesourar, atartarugar, atucanar, agalinhar
(42) abaronar, afrancesar, aburguesar, afeminar, aportuguesar, abeatar
Nos exemplos de (38), focaliza-se a forma do objeto representado pela base,
pois ‘abarrilar’ é tornar-se próximo da forma de um barril e ‘afunilar’, tornar-se
próximo a um funil. Há um processo metaforização do esquema imagético entre o
objeto que ocupa a posição de SR interno e o elemento que venha a ocupar a posição
do hospedeiro, que vai assumir as mudanças expressas na unidade parassintética.
Vejamos alguns exemplos:
(43) Sim, mantive parte dos dutos de admissão. Esse duto vai ‘afunilando’
até o TB. Só vi um Intake com essa característica, mas era uma fortuna.
Só acrescentei o filtro com o acelerador. Ficou bom. 12
12
http://forum.civicclub.com.br/smf/index.php?topic=3298.15. Acessado em 28.09.11.
105
(44) Após algum tempo, com a reforma já feita, o telhado ‘abaulou’ e, aos
poucos, a estrutura da casa foi cedendo. 13
(45) John Henry Menton tirou o chapéu, ‘abaulou’ o amassado e alisou a
penugem de seu paletó. Recolocou rapidamente o chapéu em sua
cabeça. 14
Em (43), o SN [o duto] funciona como hospedeiro para o processo de
resultatividade da forma verbal ‘afunilando’, ou seja, compreende-se que o duto
aproxime sua forma a de um funil. Já em (45), o amassado do chapéu assume um
formato convexo que se assemelhe à tampa de um baú. Os hospedeiros [o telhado],
em (44), e [o chapéu], em (45), assumem a forma de baú expressa pelo SR interno.
Diferentemente, os verbos de (39) são menos concretos que os de (38) pelo
fato de aqueles ressaltarem uma característica, e não apenas o formato, do elemento
da base. Em ‘afofar’, por exemplo, interessa-nos a qualidade do hospedeiro, e não
propriamente sua forma.
A diferença entre os dados de (39) e (40) é mais difusa. Basicamente, os itens
de (39) ainda guardam algum resquício da forma, enquanto em (40) se destaca uma
característica do elemento que ocupa o SR interno, que não esteja, necessariamente,
relacionada à forma. Em ‘atomatar’ e ‘acerejar’, focaliza-se a cor avermelhada da
cereja e do tomate maduros, e não propriamente seu formato.
Os exemplos de (40) foram agrupados em razão de perfilarem uma
característica do elemento-base. Em ‘atomatar’, por exemplo, o significado construído
seria algo como ‘tornar-se próximo da cor vermelha de um tomate’; em ‘abaunilhar’,
13
http://www.trgconstrucoes.com.br. Acessado em 28.09.11. 14
JOYCE, JAMES. Ulisses. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.150.
106
‘tornar-se próximo do sabor de baunilha’; e em ‘assenzalar’, ‘tornar-se próximo da
característica de uma senzala’. Na unificação entre a base ‘senzala’ e o esquema, como
demonstrado em (46), a seguir, nosso conhecimento enciclopédico participa na
construção do significado através de frames estruturados15, já que sabemos que uma
senzala não é um ambiente agradável ou acolhedor. Vemos, com isso, que na
instanciação de um novo item lexical não só o conhecimento linguístico deve ser
considerado, mas também as bases experienciais e as informações compartilhadas
pelos membros de uma mesma sociedade.
(46)
[a [senzala]Nj ar]Vi [tornar-se próximo a uma característica da [senzala]Ni]Vi
Os exemplos em (41) se comportam semelhantemente ao verbo ‘empacar’, que
discutimos no início deste capítulo (v. exemplos (21) a (24)), na medida em que
perfilam uma característica do elemento que ocupa o SR interno e mapeiam essas
características com as do elemento que ocupa a posição do hospedeiro. Na frase ‘O
João abesourou a Maria com histórias de fantasmas’, selecionamos o zumbido
incômodo do besouro, que é representado no SR interno, e mapeamos com o
hospedeiro João. Sabemos, logo, que as histórias de fantasmas incomodam Maria.
15
Seguindo a representação proposta por Fauconnier & Turner (2002), os frames serão diagramados, nesta dissertação, como formas retangulares relacionadas a expressões por meio de uma seta.
Lugar de maus tratos, sujo,
sem conforto
107
Vale notar que o verbo ‘atucanar’ ganhou extensões de sentido devido ao novo
sentido da base ‘tucano’: membro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
em referência à ave-símbolo do partido. Nesse contexto, ‘atucanar’ é ser filiado ao
PSDB ou compartilhar ideologias parecidas com as do partido, como nos exemplos
abaixo:
(47) Marina ‘atucanou’ e apoiará Aécio em Minas Gerais, diz coluna. 16
(48) Quem diria: o outrora fogoso PCdoB, que há muito tempo já não é mais
aquele, deu de ‘atucanar’. 17
Nos exemplos em (47) e (48), percebe-se que o sentido metafórico de
‘atucanar’ pode passar por novas extensões e compatibilizar o novo perfilamento da
base ‘tucano’ (membro do PSDB) com o padrão instanciado pelo subesquema
[a[x]Njar]Vi (o de resultatividade em relação a um atributo), pois nessas frases são
destacadas características dos partidários do PSDB. A ex-senadora Marina Silva não se
filiou ao PSDB, tampouco o PCdoB se fundiu ao outro partido; houve uma atualização
discursiva.
Retomando os exemplos em (42), percebe-se o foco no modo, nos costumes e
nos hábitos dos elementos que servem de base para a formação dos verbos. Desse
modo, ‘afrancesar’ é tornar-se mais próximo do que se julga ser uma característica dos
franceses; ‘abaronar’ relaciona-se a como concebemos um barão. Não é exatamente
se tornar aquilo expresso na base, mas adquirir traços que aproximem o hospedeiro
das características ativadas pelo SR interno.
16
http://www.alemdanoticia.com.br/ultimas_noticias.php?codnoticia=4397. Acessado em 29.09.11. 17
http://www.odiario.com/blogs/josepedriali/2011/08/09/e-o-pcdob-atucanou/. Acessado em 29.09.11
108
(49) Você está cansado de filmes sobre vampiros como Crepúsculo que
‘afeminaram’ os vampiros de uma forma tão grotesca que não são nem
mais conhecidos como seres das trevas? Então fique de olho nesse
filme, ele será a nossa salvação! 18
No exemplo em (49), percebemos que os vampiros – hospedeiro do processo
ativado pelo verbo ‘afeminar’ – não viraram mulheres, mas ganharam características
que os afastaram dos protótipos masculinos. Nesse grupo de (42), ainda se incluem
todos os verbos que têm por base gentílicos, como ‘abrasileirar’, ‘abaianar’,
‘apaulistar’, ‘amineirar’, ‘acastelhanar’, entre outros.
O subesquema [a [x]Nj ar]Vi também pode instanciar verbos com significado
relacionado à espacialidade, como os que se apresentam em (50) e (51).
(50) Abalsar, alojar, aprisionar, agrupar, alistar
(51) Abarrotar, amordaçar, achocolatar, amanteigar, apimentar
Esses exemplos refletem a discussão abordada anteriormente sobre as duas
possibilidades de conceptualização: com ajuste focal no elemento colocado ou no
recipiente (v. Figura 4). Nos verbos de (50), focaliza-se o recipiente, que, por relações
vitais de identidade e unicidade (FAUCONNIER & TURNER, 2002), é mapeado com o SR
interno de cada verbo. Em ‘abalsar’, ‘alojar’ e ‘aprisionar’, os SRs internos (‘balsa’, ‘loja’
e ‘prisão’) se referem a espaços físicos no mundo real, o que favorece a oposição fora-
18
http://portaldomagao.blogspot.com/2011/01/trailer-legendado-do-filme-deixe-me.html. Acessado em 29.09.11.
109
dentro e a relação com um recipiente, pois sabemos que são todos locais em que se
podem “armazenar” coisas ou pessoas. Ainda que as bases de ‘agrupar’ (grupo) e
‘alistar’ (lista) não sejam espaços físicos, podemos compreender uma ‘lista’ como um
estoque de palavras, ou um ‘grupo’ como um estoque de elementos. Atuam, nesse
caso, operações metafóricas que relacionam o nosso conhecimento enciclopédico de
que podemos reunir nomes em uma lista à conceptualização de inserção de um objeto
em um recipiente.
Os exemplos de (51), ao contrário, focalizam o SR interno como o elemento
colocado, visto que ‘achocolatar’ é ‘colocar chocolate em pó em alguma substância
líquida’ e ‘amordaçar’ é ‘colocar a mordaça em alguém ou algum animal’.
Observamos também que a metáfora e a metonímia operam na compreensão
desses verbos, pois os vocábulos ‘apimentar’ e ‘abarrotar’, por exemplo, apresentam
extensões de sentido, de acordo com o contexto sociodiscursivo em que são
empregados. Vejamos exemplos com o verbo ‘abarrotar’.
(52) Patrocinado pela Camisaria Varca, Ronaldinho ‘abarrotou’ os estádios
com milhares de torcedores, além de engordar a audiência dos jogos na
TV. 19
(53) E o conseguiu graças à cumplicidade visceral e sensual que seu líder,
Adam Levine, teve com a multidão que ‘abarrotou’ a Cidade do Rock no
sexto dia do evento. 20
19
http://oglobo.globo.com/cultura/agamenon/posts/2011/02/20/onde-ja-civil-363937.asp. Acessado em 03.10.11. 20
http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/arte/noticias/mana-marron-five-e-coldplay-agitam-penultimo-dia-do-rock-in-rio. Acessado em 03.10.11.
110
(54) Funcionários do supermercado chamaram a polícia depois que viram o
casal ‘abarrotar’ um carrinho com mantimentos e, depois, passar direto
pela porta de saída, sem pagar por nada. 21
(55) Megaleilão ‘abarrota’ aeroporto de Água Boa com 74 aviões. 22
‘Abarrotar’ pode ser parafraseado como ‘por barrote em excesso’23. Nos
exemplos de (52) a (55), contudo, o subesquema contém uma integração conceptual
que nos permite compreender elementos físicos por barrotes: pessoas em (52) e (53);
comida em (54); e aviões em (55). Na frase em (52), por exemplo, o estádio de futebol
ficou cheio de torcedores, que no esquema correspondem à base ‘barrote’ do verbo
‘abarrotar’. Da mesma forma, em (54), o carrinho de mercado estava cheio de
mantimentos, que é mapeado com o SR interno ‘barrote’ do verbo ‘abarrotar’. A
seguir, demonstramos que o significado do subesquema admite um elemento [+ físico]
na posição do SR interno.
(56) [a [barrote]Nj ar]Vi [por [+ físico]Ni em excesso]Vi
O verbo ‘apimentar’ também apresenta extensões de sentido, além do
significado central de ‘colocar pimenta em comida’.
21
http://gerufm.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=106. Acessado em 03.10.11. 22
http://www.matogrossonoticias.com.br/.Acessado em 03.10.11. 23
Pode ser que o significado do verbo ‘abarrotar’ (‘por em barrotes’) não seja tão facilmente depreendido por todos os falantes, já que, sincronicamente, é entendida como ‘superlotar’.
111
(57) Bobó de camarão vai bem com arroz branco, do tipo agulhinha. Quem
gosta também pode ‘apimentar’ o prato com um molho de pimenta
malagueta ou outra preferida. 24
(58) A banda Red Hot Chili Peppers ‘apimentou’ a noite paulistana nessa
quarta-feira, com a turnê I’m With You. 25
(59) Sexting - conversinhas quentes para ‘apimentar’ a relação. 26
(60) Valdivia ‘apimenta’ polêmica: Respeito o adversário até começar a
partida, depois não. 27
Em (57), percebe-se o sentido básico de condimentar um prato, tomado aqui
como metonímia de comida. A compreensão de que apimentar uma comida é dar mais
sabor a ela permite um mapeamento com outros elementos não comestíveis, como a
noite paulistana (exemplo (58)). Neste, bem como em (59), entende-se ‘apimentar’ por
melhorar alguma coisa, tornar mais picante. Já em (60), vemos que ‘apimentar’ sugere
uma ideia de estímulo com intenções provocativas ou maliciosas, que estão
relacionadas à fala do jogador de futebol Valdívia sobre a polêmica do seu estilo
debochado de atuar em campo.
Havíamos previsto que o esquema de circunfixação poderia instanciar verbos
com sentido de atributo ou de espaço, sendo esses sentidos relacionados
hierarquicamente à noção de resultatividade. A polissemia, logo, se instaura pela
possibilidade de verificarmos em um esquema morfossintático vários sentidos que
emergem a partir das bases experienciais e culturais.
24
http://acarajecompamonha.blogspot.com/2011_01_01_archive.html. Acessado em 05.10.11. 25
http://www.rockbrigade.com.br/. Acessado em 05.10.11. 26
http://vilamulher.terra.com.br/. Acessado em 05.10.11. 27
http://esportes.br.msn.com/futebol/.Acessado em 05.10.11.
112
Como confirmação de que os dois sentidos estão relacionados, podemos
observar um grupo de verbos que guarda semelhanças tanto com a resultatividade de
atributo, quanto com a de local.
(61) Acabar, afundar, arrasar, aprofundar
Nos verbos de (61), percebemos que há uma relação com o sentido de
aproximação, embora não seja mais a aproximação conceptual de características ou
traços do SR interno. É uma aproximação física, na qual o hospedeiro se torna mais
próximo fisicamente do SR interno – justificada pelo conteúdo de resultatividade
espacial. Em outras palavras, perde-se o traço de atributo, mas se ganha a noção de
local, mantendo o valor de aproximação. Em ‘acabar’, tornar-se mais próximo do cabo
(fim) implica mudança de posição. Da mesma forma, compreende-se ‘afundar’ como
uma aproximação e um deslocamento de uma posição X para uma posição mais ao
fundo.
(62) Um torpedo disparado de um submarino da Coreia do Norte ‘afundou’
uma corveta sul-coreana no dia 26 de março, no Mar Amarelo,
matando 46 marinheiros. 28
Em (62), compreende-se o mar como um recipiente através de relações de
identidade e analogia (FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que permite a visualização do
esquema imagético de conteúdo: a corveta é um objeto que é inserido no mar,
28
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,coreia-do-norte-afundou-navio-sul-coreano-diz-pericia,554047,0.htm. Acessado em 29.09.11.
113
conceptualizado como um recipiente. Assim, a embarcação da Coreia do Sul torna-se
próxima do fundo do mar por conta do torpedo do país vizinho. Há uma aproximação e
um deslocamento espacial evocado no verbo ‘afundar’, demonstrando que os
esquemas morfológicos comportam relações polissêmicas.
5.2.2. O subesquema [en [x]Nj ar]Vi
Apontamos, na subseção anterior, que o subesquema [a [x]Nj ar]Vi apresenta
como protótipo o sentido de resultatividade atributiva, que figura em uma relação
polissêmica com o sentido de resultatividade espacial. Paralelamente, na análise dos
dados de [en [x]Nj ar]Vi, identificamos uma distribuição similar, sendo que há uma
maior correlação com o sentido de resultatividade espacial. Defendemos, assim, que a
diferença que existe entre esses dois subesquemas é a de prototipicidade dos
conteúdos evocados, pois enquanto em [a[x]Nj ar]Vi prevalece o significado de atributo,
em [en [x]Nj ar]Vi o significado de espaço é mais recorrente.
Nota-se, no circunfixo [en [x]Nj ar]Vi, uma influência do significado da preposição
‘em’, herdada do latim ‘in’, que significa “dentro de”. Nas palavras de Martins (1991:
68), esse sentido seleciona “os traços de dimensionalidade que permitem trazer para o
significado da formação a oposição continente/ contido”. Essa noção, de fato, está
presente no escaneamento cognitivo exposto na figura 4, na qual o objeto trapezoidal
representa um recipiente, que remete à oposição dentro/ fora.
O significado de espacialidade é ativado por cerca de 62% dos verbos
instanciados pela construção, como nos exemplos abaixo:
114
(63) Embotijar, empacotar, encarcerar, encenar, engavetar
(64) Embalsamar, emplacar, engraxar, engravatar, envenenar
Embora tanto as palavras de (63), quanto as de (64) façam referência à noção
de resultatividade espacial, há diferentes focalizações no escaneamento cognitivo.
Podemos ajustar o foco no recipiente, como nos exemplos de (63), ou perspectivizar o
elemento colocado, como nos exemplos de (64).
A paráfrase <[colocar em [x]Nj]Vi> traduz satisfatoriamente verbos como
‘embotijar’, ‘encarcerar’ e ‘engavetar’: ‘colocar em botija’, ‘colocar em cárcere’,
‘colocar em gaveta’, respectivamente. Entretanto outros sentidos podem ser ativados
por essas unidades lexicais em função de operações metafóricas e metonímicas.
‘Engavetar’ pode significar ‘arquivar’, devido à relação metonímica do uso de gavetas
como arquivos, como em (65), e ‘empacotar’ pode ser entendido como falecer pela
ligação entre caixão e pacote (exemplo (66)).
(65) Rumores indicam que Sony ‘engavetou’ projeto de Playstation 4. 29
(66) Michael Jackson ‘empacotou’ mas sua obra vive. 30
A base do verbo ‘encenar’ – ‘cena’ – não possui as características necessárias
para ser caracterizada como um recipiente. Todavia, por mesclagem conceptual,
projetam-se para o domínio da ‘cena’ os elementos do palco teatral, cujos traços
limítrofes de interioridade/ exterioridade são ativados no subesquema. Assim, o
29
http://gostodetecnologia.com.br/noticias/playstation/playstation_0001.htm.Acessado em 06.10.11. 30
http://www.detestogenteinteligente.com.br/2009/06/michael-jackson-empacotou-mas-sua-obra-vive.html. Acessado em 06.10.11.
115
exemplo de (67), a seguir, nos permite compreender que o corpo teatral (atores,
objetos cenográficos etc) não será posto em cena enquanto um dos atores, que passa
por tratamento contra uma doença, não puder atuar.
(67) Elias Andreato, diretor da peça Cruel, que estava em cartaz com
Reynaldo Gianecchini antes de o astro iniciar o tratamento contra um
câncer no sistema linfático, não vai ‘encenar’ a peça sem o ator. 31
(68) Wagner Moura vem ao Recife para ‘encenar’ Hamlet no Teatro da
UFPE.32
(69) ENQUETE! Rogério Ceni está certo em dizer que Neymar ‘encena’ nas
faltas? 33
Na frase de (68), o ato de representar é perspectivizado do centro prototípico
‘colocar em cena’. Já em (69) nota-se uma extensão do sentido do verbo ‘encenar’,
que por associação metafórica deixa de ser compreendido como atuação teatral e
passa a ser visto como simulação. Nesse caso, é perfilada uma das características da
atuação, o fingimento, possibilitando a polissemia do item ‘encenar’.
(70) ωi 9 σ σ σ 4 4 4
/eN /se na/Nj R/Vi
[en [cena]Nj ar]Vi [colocar em [cena]Ni]Vi
3 representar simular
31
http://entretenimento.r7.com. Acessado em 07.10.11. 32
http://pe360graus.globo.com. Acessado em 07.10.11. 33
http://www.lancenet.com.br/minuto/Rogerio-Ceni-faltas-Neymar-simulacao_0_553744709html#ixzz1a6WYICSx. Acessado em 07.10.11.
116
No diagrama em (70), são demonstradas as extensões polissêmicas do verbo
‘encenar’, além das representações fonológicas e morfológicas, nas quais um índice
relaciona os elementos nas interfaces semântica, fonológica e morfológica. A base é
sempre indexicada pelo símbolo subscrito ‘Nj’, que representa a categoria nominal
(substantivos e adjetivos), e o produto por um ‘Vi’, que representa a classe dos verbos.
A palavra é representada por um ω e cada uma das três sílabas pelo σ.
Retomando os exemplos de (64), cujo escaneamento cognitivo foi representado
na figura 4, percebemos que o foco se mantém no elemento colocado, i.e., o SR
interno é inserido no recipiente, que funciona como pano de fundo para a
conceptualização da cena. O sentido de ‘embalsamar’ é, então, ‘colocar bálsamo em’;
‘engraxar’ é ‘por graxa em (sapato)’; e ‘engravatar’ é ‘por gravata em (alguém)’.
O subesquema [en [x]Nj ar]Vi pode evocar também os conceitos de
resultatividade atributiva, como em:
(71) Embebedar, embelezar, embonecar, encrespar, enfear
Os verbos de (71) podem ser parafraseados por ‘tonar-se bêbedo’, ‘tornar-se
crespo’ e ‘tonar-se feio’, por exemplo. Em ‘embonecar’, mapeiam-se os traços da
boneca nos traços de uma pessoa por relações vitais de similaridade e unicidade
(FAUCONNIER & TURNER, 2002), o que nos permite produzir e compreender uma frase
como a de (72), a seguir. Contamos, também, com nosso conhecimento enciclopédico,
que seleciona os tipos de bonecas mais representativos da categoria beleza, em vez de
qualquer tipo de boneca.
117
(72) Entendida de moda, a tia se ‘embonecou’ com brincos de praia, rasgou
uma luvinha com as garras e se embrulhou para presente com uma
fitinha amarela! 34
O próprio verbo ‘empacar’, discutido nos exemplos de (21) a (24), se insere no
grupo das palavras geradas com o sentido prototípico de resultatividade de atributo,
visto que são selecionadas características do animal ‘paca’, que ocupa a posição do SR
interno, e mapeadas num outro elemento, que funciona como hospedeiro da
mudança.
Verificamos, pois, que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi é polissêmico, já que ativa
sentidos relacionados a um centro comum, a noção de resultatividade. Há um
espraiamento desta para os significados de atributo e espaço, que se subdivide em
recipiente ou objeto colocado, como vemos na representação abaixo.
(73) [en [x]Nj ar]Vi [resultativo de [x]Ni ]Vi 3
atributo espaço 3
recipiente elemento colocado
Essa hierarquia na interface semântica do subesquema indica os vários sentidos
que podem ter expressão no uso das palavras instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi , mas não
se refere às relações de prototipia entre os vários sentidos elencados dentro da
construção. Em outras palavras, o diagrama indica as relações polissêmicas que podem
ocorrer em qualquer construção lexical ou sintática, tendo sempre como base o uso
34
http://wp.clicrbs.com.br/holofote/tag/fafa-de-belem/. Acessado em 07.10.11.
118
discursivo dos elementos instanciados. Não captura, entretanto, as relações de
categorização que são estabelecidas entre os sentidos.
5.2.3. O subesquema [a [x]Nj ecer]Vi
Esse subesquema instancia apenas 11 palavras na língua portuguesa,
configurando um baixo grau de produtividade se comparado com os demais
subesquemas. Conforme defendemos no próximo capítulo, há indícios de que
mudanças ocorreram no percurso histórico da língua, fazendo com que alguns
circunfixos fossem mais produtivos do que outros.
Interessa-nos, nesta subseção, observar o conceito evocado pelo subesquema e
as percepções do falante com relação à transparência dos itens.
Todos os verbos instanciados compartilham o aspecto incoativo, i.e., o sentido
de início de ação, mesmo que em algumas palavras essa noção esteja mais
obscurecida. Seguem os exemplos:
(74) Abastecer, aborrecer, adoecer, adormecer, agradecer, amanhecer,
amadurecer, amolecer, amortecer, anoitecer, apodrecer
Todos os verbos elencados em (78) apresentam, em maior ou menor grau, uma
relação semântica de [tornar-se [x]Nj]Vi. Assim, ‘agradecer’ pode ativar o sentido de
‘tornar-se grato’; ‘amanhecer’, ‘tornar manhã’; e ‘apodrecer’, ‘tornar-se podre’. No
entanto, verbos como ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ dificultam essa leitura,
porque são palavras herdadas do latim que não sofreram modificações
119
morfofonológicas. Essas mudanças analógicas permitem que palavras de origem
estrangeira fiquem mais semelhantes a palavras do léxico do português35. A palavra
‘amanhecer’, por exemplo, se origina de ‘admanescere’; porém, ao ser introduzida na
língua portuguesa, passou por mudanças morfofonológicas motivadas pela analogia
com a palavra ‘manhã’. Aplica-se a mesma explicação para ‘anoitecer’, que vem de
‘adnoctescere’: estabelecida a relação analógica com uma provável base do português,
‘noite’, a palavra sofre mudanças. Com ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ não houve
mudanças, o que as tornou opacas. Nesse caso, os limites entre a base e o circunfixo
são menos perceptíveis aos falantes do português do que os de palavras como
‘amolecer’ e ‘amadurecer’, que são transparentes.
Pode-se, todavia, organizar ‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’ em torno do
sentido aspectual incoativo, que nos permite inferir ‘o início da chateação’, ‘o início da
doença’ e ‘o início do sono’. Trabalhamos com significados associativos – já que nem
‘chateação’, ‘doença’, ou ‘sono’ eram as bases das formações latinas –, mas que estão
diretamente ligados ao significado da construção.
Muito embora as palavras ‘amortecer’ e ‘abastecer’ sejam relativamente
transparentes para o falante, pois podemos recuperar as bases ‘morte’ e ‘basto’, o uso
semântico as distanciou da paráfrase [tornar-se [x]Nj]Vi. ‘Amortecer’ não é
simplesmente ‘tornar morto’, mas uma extensão metafórica em que concebemos a
redução da intensidade pela redução da vida. Similarmente ocorre com ‘abastecer’,
35
Demonstramos, no próximo capítulo, que fatores de frequência de uso e frequência de tipo estão envolvidos na manutenção ou reorganização de um paradigma lexical.
120
que não significa apenas ‘tornar basto’36, mas, segundo o Houaiss (2009), “guarnecer-
(se) do necessário” e “ser fonte de determinado(s) recurso(s)”:
(75) ‘Abasteça’ seu carro num posto Ipiranga.
(76) Vazamento de óleo contamina rio que ‘abastece’ cidade no Paraná. 37
Nas frases acima, a base ‘basto’ está conectada a outros elementos que não
estão expressos na superfície textual, mas que podem ser inferidos pelo contexto
discursivo. Em (79), as palavras ‘carro’ e ‘posto Ipiranga’ remetem ao combustível e,
em (80), a palavra ‘rio’ remete à água. Da mesma maneira que foi percebido para os
exemplos de ‘abarrotar’, de (52) a (55), perpassa à construção [a [basto]Nj ecer]Vi uma
integração conceptual que mapeia a base com outros elementos, que compartilham
com ‘basto’ traços de similaridade, permitindo uma nova leitura a partir da
compressão dos elementos de domínios diferentes.
Na sentença de (80), podemos propor dois domínios cujos elementos são
mapeados por relações vitais, como as de propriedade, similaridade ou unicidade, por
exemplo. Um dos domínios se refere à compreensão da construção [a [basto]Nj ecer]Vi
como “tornar basto”. O outro, que é alimentado pelo contexto de uso, tem o sistema
de abastecimento de água de uma cidade. São conectados, então, a base ‘basto’ e o
elemento ‘água’, que por unicidade são comprimidos em outro domínio que se
desenvolve de acordo com nossas bases de conhecimento. Em outras palavras, o
espaço-mescla, esse terceiro domínio, comporta informações que não existiam nem
36
Os significados primários de ‘abastecer’ e ‘amortecer’ eram, respectivamente, ‘tornar basto’ e ‘ficar parecido com um morto’. 37
http://g1.globo.com/jornal-nacional. Acessado em 09.10.11.
121
no domínio da construção morfológica, nem no domínio do abastecimento de água. É
a partir de todo esse aparato cognitivo que compreendemos uma frase como a de (80).
Ainda que haja todos esses desdobramentos semântico-pragmáticos e um
desbotamento do significado primário [tornar-se [x]Nj]Vi, podemos postular para
‘abastecer’ e ‘amortecer’ a construção [a [x]Nj ecer]Vi, visto que as bases são,
minimamente, recuperáveis. Isto quer dizer que esses verbos, ao lado de outros mais
transparentes, como ‘amanhecer’, ‘amolecer’ e ‘anoitecer’, são diretamente
instanciados pelo subesquema [a [x]Nj ecer]Vi.
Não podemos predizer a mesma situação para palavras mais opacas, como
‘aborrecer’, ‘adoecer’ e ‘adormecer’, visto que, no atual estágio da língua, suas bases
não são recuperadas pelos falantes do português brasileiro. Booij (2010: 30) atesta
que, em casos de formações opacas, há uma base formal (representada por um x) que
não é portadora de um índice categorial, consequência de não ter uma entrada lexical
independente. Diferentemente de ‘amanhecer’ ou ‘anoitecer’, por exemplo, cujas
bases podem aparecer livremente, em ‘aborrecer’ a base formal não tem livre-curso.
Com isso, devemos acrescentar à construção [a [x]Nj ecer]Vi, o subesquema em (81):
(77) [a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi
É previsto na construção em (81) que o significado tenha alguma relação com o
aspecto incoativo que é compatibilizado pelo circunfixo. No mais, o significado será
associado com Y, uma variável semântica que representa o caráter da aproximação
conceptual. Em ‘aborrecer’, essa variável pode ser substituída por chateação, como em
(82).
122
(78) [aborrecer]Vi [associação incoativa com CHATEAÇÃO]Vi
Nos verbos ‘adoecer’ e ‘adormecer’, a variável Y assume as ideias de doença e
sono/dormir, respectivamente38. Conforme ressalta Booij (2010), ao contrário das
regras, as formações opacas são demonstrações de que os esquemas possibilitam uma
orientação no produto. Regras são baseadas na categoria gramatical e nas
especificações sintáticas, fonológicas e semânticas da base. Em formações menos
transparentes, cujos elementos internos não são facilmente recuperáveis pelos
falantes, não há propriamente uma base, o que impede a postulação de uma regra. Ao
contrário, na Linguística Cognitiva, há uma análise voltada para a percepção do
produto construcional.
Esse subesquema, por ser mais específico, deve ser diagramado como uma
extensão do subesquema geral do circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, que instancia unidades
transparentes, como ‘amolecer’, ‘apodrecer’ e ‘amadurecer’. Em (83), verificamos que
[a – x – ecer]Vi está vinculado ao subesquema mais genérico [a [x]Nj ecer]Vi por um link
de instanciação (LI), uma vez que aquele é um padrão mais específico deste, herdando
parte das suas informações fonológicas, morfológicas e semânticas.
38
Dados como ‘adoecer’ e ‘adormecer’ poderiam ter outra análise, na qual derivariam das bases verbais ‘doer’ e ‘dormir’, respectivamente. Entretanto, seria necessário indicar a possibilidade de instanciar verbos parassintéticos a partir de outros verbos, e não apenas a partir de nomes (substantivos e adjetivos).
123
(79) [a [x]Nj ecer]Vi [tornar-se [x]Ni ]Vi
[a – x – ecer]Vi [associação incoativa com Y]Vi
A princípio, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi não apresenta um subesquema
para palavras opacas, já que todas as bases podem ser facilmente recuperadas pelos
falantes, como veremos na próxima subseção. Os demais circunfixos, ao contrário,
apresentam um subesquema estendido que acomoda os dados não segmentáveis,
pois, em geral, estes entraram no léxico do português por empréstimo, ou
diretamente do latim. A seguir, exemplificamos em um quadro alguns dados de cada
circunfixo que podem ser analisados por esse tipo de subesquema.
Subesquemas Exemplos
a – x – ar ‘apertar’, que vem da palavra latina appectorāre
‘abarcar’, que vem da palavra latina abbrachicāre (a
base é brachĭum, ‘braço’)
en – x – ar ‘empatar’, que vem da palavra italiana impattare (patta
é plural de pactum, ‘acordo’)
‘emperrar’, que vem da palavra espanhola emperrarse
(a base é perro, ‘cachorro’)
‘empenar’, que vem da palavra latina pīnus
a – x – ecer ‘aborrecer’, que vem da palavra latina abhorrēscere
‘adoecer’, que vem da palavra latina addollescēre
L I
124
‘adormecer’, que vem da palavra latina addŏrmīscĕre
Quadro 1: subesquemas de palavras opacas
5.2.4. O subesquema [en [x]Nj ecer]Vi
Conforme abordamos, esse subesquema é caracterizado por apresentar
unidades lexicais maximamente transparentes e ativar o aspecto incoativo através do
circunfixo ‘en...ecer’. Não se observa o valor de resultatividade espacial nas suas
instanciações, mas apenas o de resultatividade atributiva, tornando-o menos
polissêmico que os circunfixos ‘a...ar’ e ‘en...ar’. Alguns exemplos de verbos
instanciados pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi são apresentados em (84).
(80) emagrecer, embranquecer, emburrecer, empobrecer, emputecer,
emudecer, encarecer, endurecer, enlouquecer, enriquecer,
enrouquecer, entardecer, entristecer, envelhecer
O significado [tornar-se [x]Nj]Vi se aplica a todos os verbos instanciados por esse
subesquema, já que ‘emagrecer’ é ‘tornar-se magro’; ‘empobrecer’, ‘tornar-se pobre’;
e ‘enlouquecer’, ‘tornar-se louco’.
O exemplo ‘emburrecer’ demonstra o perfilamento de apenas um dos sentidos
da base ‘burro’, que é o de falta de inteligência, tolo (HOUAISS, 2009). O verbo, então,
significa ‘tornar-se tolo, estúpido’. Não se deve tomar o exemplo de ‘empacar’, citado
anteriormente, por essa explicação, já que este envolve um diferente tipo de
perfilamento. Em ‘empacar’, a base ‘paca’ não significa lentidão, uma vez que essa
125
informação advém do nosso conhecimento enciclopédico. O perfilamento da
característica de morosidade do animal se dá apenas no subesquema [en [paca]Nj ar]Vi,
enquanto a palavra ‘burro’ já ativa o sentido de não inteligente, independentemente
do subesquema [en [burro]Nj ecer]Vi. No caso de ‘empacar’, o processo metafórico
opera na construção, enquanto no caso de ‘emburrecer’ a extensão de sentido operou
apenas sobre a palavra ‘burro’.
Notamos, também, que o significado evocado pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi
é o mesmo de [a [x]Nj ecer]Vi, o que remonta ao Princípio da Não Sinonímia (Goldberg,
1995), que sinaliza a distinção semântica ou pragmática entre duas construções, no
caso de serem formalmente distintas. Como esses dois subesquemas selecionam
diferentes circunfixos, i.e., são formalmente diferentes, esperava-se que evocassem
diferentes noções semânticas ou pragmáticas. Todavia, ambas ativam a resultatividade
atributiva e o valor aspectual de incoativo, ao contrário do par [a [x]Nj ar]Vi e [e [x]Nj ar]Vi
que apresenta os significados de resultatividade atributiva e espacial, em distribuição
prototípica de acordo com a construção: [a [x]Nj ar]Vi seleciona majoritariamente o
conteúdo de atributo e [en [x]Nj ar]Vi,, o de espaço.
Entre [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi, porém, observamos que o primeiro tem
baixo índice de produtividade, satisfazendo, em parte, o Princípio da Não Sinonímia.
No próximo capítulo, ao investigarmos a produtividade de cada circunfixo, veremos
que [a [x]Nj ecer]Vi tem força lexical baixa e a probabilidade de que venha a instanciar
novos itens é quase nula. Com isso, apenas o circunfixo [en [x]Nj ecer]Vi, caracterizado
pela resultatividade atributiva e pelo aspecto incoativo, permanece capaz de produzir
novas palavras em português.
126
5.3. Rede de subesquemas
Na seção anterior, discutimos as ligações estabelecidas entre as construções
lexicais e as palavras instanciadas, analisando os dados por meio de subesquemas, que
são responsáveis pela interface entre fonologia, morfologia e semântica. Cabe, nesta
seção, salientar as características menos específicas das construções a fim de
obtermos um esquema geral que acomode todos os dados.
No esquema geral, exposto abaixo em (85), os circunfixos são substituídos pelas
variáveis Circ que ficam em torno da variável x, que pode ter entrada lexical ou não. No
caso de ter, será coindexado e terá a categoria N (nome), que pode se realizar como
um adjetivo (A) ou um substantivo (S). O produto é sempre marcado pela categoria V,
de verbo.
(85)
ωi | σ | / /
[Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S
[Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado
No polo fonológico, é feita a representação arbórea da palavra (ω), através do
índice subscrito i, do número de sílabas (σ) e da representação fonológica. Já no polo
semântico, expressa-se o conceito mais genérico do esquema de circunfixação, o de
resultatividade, que, de modo polissêmico, pode ser entendido como uma referência
ao atributo ou ao espaço.
127
Diante disso, é possível postular uma rede esquemática que teria esse esquema
genérico de (85) como centro prototípico, do qual se espraiariam os demais
subesquemas, com suas particularidades formais e semânticas. Essa rede permite que
os subesquemas não sejam estruturas isoladas, mas estejam interconectados,
favorecendo, inclusive, a mudança construcional. Por exemplo, quando uma palavra
como ‘amarelecer’ deixa de ser identificada com o subesquema [a [x]Nj ecer]Vi e passa a
ser observada como uma instanciação de [a [x]Nj ar]Vi, há uma mudança de construção
que não pode ser explicada, a menos que se visualize uma rede de conexões entre os
subesquemas. Assim, a mudança de ‘amarelecer’ para ‘amarelar’ se efetiva tanto pelo
fato de as construções estarem conectadas, quanto pela analogia com outras palavras
do paradigma de [a [x]Nj ar]Vi, como veremos no próximo capítulo.
Podemos providenciar outro exemplo: o verbo ‘abranquecer’ passou a
‘embranquecer’, sendo, então, instanciado pelo subesquema [en [x]Nj ecer]Vi. Essa
mudança só pode ser explicada se esses subesquemas estiverem conectados de
alguma maneira. Do mesmo modo, temos casos em que dois subesquemas selecionam
sentidos distintos de uma mesma base fonológica, como ‘afiar’ e ‘enfiar’, ou ‘aterrar’ e
‘enterrar’. Esses subesquemas devem, necessariamente, estar relacionados por links
de subparte ao esquema mais genérico [Circ – x(Nj) - Circ]Vi.
128
ωi | σ | / /
[Circ – x(Nj) - Circ]Vi 3 x=A x=S
[Resultatividade em relação a x(Nj)]Vi 3 atributo espaço 3 recipiente elemento colocado
[a [x]Nj ar]Vi
[a – x – ar]Vi
[en [x]Nj ar]Vi
[en – x – ar]Vi
[a [x]Nj ecer]Vi
[a – x – ecer]Vi
[en [x]Nj ecer]Vi
Figura 5: rede de esquemas de circunfixação
5.4. Resumindo
Neste capítulo, verificamos como ocorre o processamento cognitivo de verbos
de circunfixação e enfatizamos que o escaneamento dinâmico é responsável pela
conceptualização de verbos em português. Discutimos o tratamento que a literatura
tem despendido ao processo de resultatividade, apontado por Leite (2006) como uma
marca da parassíntese. Com base nos estudos de Goldberg & Jackendoff (2004),
estabelecemos que os significados processuais envolvendo um atributo podem dar
origem aos que envolvem mudança de lugar, promovendo, assim, uma relação
polissêmica na construção gramatical.
Esperamos ter demonstrado como se organizam os subesquemas de
circunfixação e como a aplicação dos verbos parassintéticos no discurso possibilita
LS LS LS LS
L I L I L I
129
ganhos semântico e pragmático, já que são alimentados por nossas bases de
conhecimento e por operações cognitivas, como metáfora, metonímia e ajustes focais.
Além disso, a rede esquemática favorece uma investigação que perceba as
construções como estruturas de processamento online que podem compartilhar
informações. Essa perspectiva será crucial para verificarmos, no próximo capítulo, a
influência das frequências de tipo e de ocorrência na compreensão dos subesquemas
parassintéticos.
130
ANÁLISE DA PRODUTIVIDADE DOS
CIRCUNFIXOS
A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.
Gunnar Myrdal
Sabemos que um determinado processo morfológico considerado produtivo
em um estágio da língua pode sofrer mudanças e ser caracterizado improdutivo, ou
menos produtivo, em um período de tempo posterior (BAUER, 2001). O inverso
também pode acontecer: processos mais marginais tomando a dianteira e se tornando
produtivos em outro período. Essa mudança na construção lexical pode ser motivada
pela competição com outra construção que tenha propriedades bastante similares e
maior difusão no léxico. Nesse caso, o uso pode ser uma das causas da mudança
construcional, dilatando ou restringido o poder de instanciação de unidades. Cabe ao
linguista tentar descrever e analisar os dados através de ferramentas que deem um
tratamento adequado ao poder de criatividade do falante, à probabilidade de
ampliação lexical e ao princípio da economia da linguagem.
Neste capítulo, estamos interessados em investigar a probabilidade de os
subesquemas [a [x]Nj ar]Vi, [en [x]Nj ar]Vi, [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi criarem novos
itens. Em especial, observaremos o que os índices de frequência de tipo e de
frequência de uso indicam sobre a produtividade e o grau de entrincheiramento das
construções. Para tanto, utilizamos uma ampla amostragem de textos escritos em
português para colher as frequências de uso, cobrindo três períodos da história do
6
131
português, nas delimitações propostas por Galves et alii (2006): Português Arcaico,
Português Clássico e Português Contemporâneo. Foi necessário consultar também
dicionários etimológicos a fim de tornar claras a origem e a data de entrada das
palavras, conforme destacado ao longo do capítulo 3.
É importante notar que grande parte dos dados é instanciada a partir de
construções parassintéticas do português, sendo, assim, unidades do léxico da língua
portuguesa. Contudo, uma pequena parcela provém de empréstimos de outras línguas
românicas, como o espanhol (‘emperrar’ e ‘enaltecer’) e o italiano (‘empatar’), ou tem
origem latina (que é a maioria neste grupo, como ‘acenar’, ‘embargar’ e ‘emagrecer’).
O caso de [a [x]Nj ecer]Vi é exemplar dessa origem externa, posto que muitos dos
verbos passam ao português via latim, como ‘aborrecer’, de ‘abhorrescere’, ‘adoecer’,
de ‘addolescere’, e ‘adormecer’, de ‘addormiscere’. Como vimos no capítulo anterior,
os únicos casos de formação desse subesquema no português seriam ‘abastecer’ e
‘amortecer’. Outra peculiaridade que deve ser somada a isso é o fato de
encontrarmos, nos dicionários consultados, verbos formados por construções
diferentes, mas que apresentam a mesma base (em alguns casos, a base é a mesma
apenas em termos formais, como veremos mais à frente):
(1) ‘abranquecer’ e ‘embranquecer’ de ‘branco’
‘emordaçar’ e ‘amordaçar’ de ‘mordaça’
‘abalsar’ e ‘embalsar’ de ‘balsa’
‘empossar’ e ‘apossar’ de ‘posse’
132
Temos de investigar se todos esses verbos veiculam o mesmo sentido e se suas
frequências apresentam alguma divergência. Assim, diante do quadro que foi
esboçado, pretendemos responder algumas hipóteses que nortearam a análise dos
dados:
a. quais construções de circunfixação são produtivas no português
contemporâneo? Como ocorre a distribuição em uma escala de produtividade?
b. Todas as construções sempre foram produtivas? Qual foi o percentual de
instanciação no percurso da língua?
c. Quão importante é a noção de entrincheiramento para a força lexical de um
esquema? Como ocorre o armazenamento de itens no léxico?
d. Os resultados da frequência de ocorrência podem indicar o entrincheiramento
das construções? E quanto ao entrincheiramento de palavras?
e. Palavras que entraram no léxico do português como empréstimo sugerem
menor força lexical ou apontam para uma reanálise?
6.1. Análise dos resultados de frequência
6.1.1. Resultados da frequência de tipo
Iniciamos a análise por um dos fatores que mais determina a produtividade de
um esquema: a frequência de tipo. Com base no corpus coletado no dicionário
Houaiss, apresentamos, no gráfico 1, os valores percentuais de como cada construção
se distribuiu em relação aos verbos parassintéticos, ou seja, quantos tipos existem
para cada construção, como [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo. Percebemos
133
que, de um total de 726 verbos, há maior quantidade de dados instanciados por
[a[x]Njar]Vi, com 57% das formações. Em seguida, aparecem as construções [en[x]Njar]Vi,
com 35% dos dados, e [en [x]Nj ecer]Vi, com 6%. A construção [a[x]Nj ecer]Vi responde
pela menor parcela de dados: 2% (apenas 11 palavras). O gráfico abaixo sintetiza essas
informações.
Gráfico 1: distribuição dos dados no corpus coletado no dicionário Houaiss
Uma vez que as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi apresentam uma alta
frequência de tipo, podemos inferir, com base no que é proposto no modelo cognitivo
de uso (CROFT & CRUSE, 2004; BYBEE, 2010), que estas são mais produtivas que os
circunfixos terminados por ‘-ecer’. A construção [a [x]Nj ecer]Vi, por sua vez,
representaria um caso de produtividade nula ou extremamente baixa, pois tem poucos
itens lexicais instanciados.
No entanto, embora esses dados nos indiquem qual a proporção que cada
construção teve na formação de verbos parassintéticos, não nos revelam por que
caminhos de produtividade seguiram durante o curso da língua. Em outras palavras,
2% 6%
57%
35% [a[x]ecer]
[en[x]ecer]
[a[x]ar]
[en[x]ar]
134
sabemos quais construções são consideradas mais produtivas nos dias atuais, mas
esses resultados não apontam até que período cada construção foi rentável e a partir
de quando seus índices de produtividade começaram a cair.
Diante disso, as palavras do corpus foram separadas de acordo com a data de
primeira entrada fornecida pelo dicionário Houaiss, para que pudéssemos calcular os
valores percentuais de cada circunfixo através da fórmula abaixo, exibida
anteriormente na subseção 4.1. Vale relembrar que P é o índice de produtividade de
um processo lexical, levando em conta a quantidade de tipos instanciados pelo
processo em um determinado tempo (n1) e o total de palavras que surgiram no mesmo
período (N).
P = n1 x 100
N
Os resultados de cada circunfixo, distribuídos entre os séculos XII e XX, são
apresentados na tabela 1.
[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi
XII 0 0 0,881057 0,220264
XIII 0,127877 0,170503 0,660699 0,29838
XIV 0,073314 0,293255 0,83089 0,537634
XV 0 0,011067 0,658288 0,5386
XVI 0,022134 0,011067 0,564409 0,498008
XVII 0 0,26699 0,41383 0,20024
XVIII 0 0,035655 0,499168 0,130734
XIX 0 0,013317 0,181111 0,101209
XX 0 0,008065 0,096786 0,112917
Tabela 1: distribuição cronológica dos dados encontrados no Houaiss
135
Os primeiros vocábulos registrados pelo dicionário (‘acamar’, ‘acertar’ e
‘enforcar’) são instanciados por [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi no século XII, ao passo que
não há ainda palavras de [a [x]Nj ecer]Vi ou [en [x]Nj ecer]Vi. Os índices de produção dos
verbos terminados em ‘-ar’ – principalmente os do subesquema [a [x]Nj ar]Vi – são
sempre muito altos se comparados com os subesquemas terminados por ‘-ecer’. A
construção [a [x]Nj ecer]Vi, por exemplo, só produziu unidades lexicais em três séculos
(XIII, XIV e XVI), enquanto [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi retornaram valores de frequência
durante todo o período pesquisado. No que tange ao subesquema [en [x]Nj ecer]Vi,
percebemos que apresenta índices consideravelmente mais baixos que os das
construções [a[x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, ainda que não se aproxime da nulidade
representada por [a[x]Nj ecer]Vi.
Essas considerações reforçam nossas hipóteses e parecem confirmar a
distribuição apresentada no gráfico 1. Haveria, portanto, uma produtividade escalar,
em que cada circunfixo se diferenciaria dos demais pelos seus respectivos índices de
frequência de tipo numa sequência temporal determinada. O gráfico comparativo,
ilustrado abaixo, evidencia nossa hipótese de que os dois circunfixos terminados por
‘-ar’ seriam mais produtivos que aqueles terminados por ‘-ecer’, sendo que
[a[x]Njecer]Vi apresentaria produtividade nula desde o século XVII.
136
Gráfico 2: comparação diacrônica entre os circunfixos
O gráfico 2, elaborado com os valores apresentados na tabela 1, aponta para a
maior produtividade de [a[x]Nj ar]Vi e [en[x]Nj ar]Vi, principalmente entre os séculos XII e
XVIII. Vejamos, na próxima subseção, os resultados da frequência de uso.
6.1.2. Resultados da frequência de uso
Como um dos fatores que influenciam a produtividade de um esquema é a
frequência de uso, já que determina o grau de entrincheiramento da construção,
computamos os valores da frequência de cada palavra parassintética em textos
escritos entre os séculos XIV e XX1. Utilizamos a fórmula exibida no capítulo 4, com a
qual é calculado o número de ocorrências de uma palavra (n2) pelo número total de
ocorrências no corpus (N) (valor que foi apresentado na Tabela 3).
P = n2 x 100
N’
1 Como já abordamos, não foram encontrados dados significativos no período anterior ao século XIV.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX
[a[x]ecer]
[en[x]ecer]
[a[x]ar]
[en[x]ar]
137
Abaixo, descrevemos os resultados das cinco palavras mais frequentes de cada
subesquema, iniciando pelo século XIV2. Na primeira coluna da tabela 2, especificamos
os subesquemas; na segunda, distribuímos as palavras; na terceira, estão dispostos os
valores absolutos de frequência de cada verbo em relação ao total de palavras do
corpus; na quarta coluna, por fim, são apresentados os valores percentuais de
frequência dos verbos pesquisados.
Século XIV
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 43/504183 0,008529
Adoecer 34/504183 0,006744
Abastecer 6/504183 0,00119
Adormecer 3/504183 0,000595
Aborrecer 3/504183 0,000595
[en [x]Nj ecer]Vi Enriquecer 3/504183 0,000595
Ensoberbecer 1/504183 0,000198
Enfraquecer 1/504183 0,000198
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 133/504183 0,026379
Apoderar 44/504183 0,008727
Aguardar 41/504183 0,008132
Apartar 26/504183 0,005157
Aportar 21/504183 0,004165
[en [x]Nj ar]Vi Enterrar 22/504183 0,004363
Encaminhar 5/504183 0,000992
Enforcar 4/504183 0,000793
Embarcar 2/504183 0,000397
Emprazar 2/504183 0,000397
Tabela 2: frequência de ocorrência no século XIV
Os valores da Tabela 2 indicam uma alta frequência das palavras de [a [x]Nj ar]Vi,
seguidas pelos dados de [a [x]Nj ecer]Vi. No século XIV, foram encontrados apenas três
dados de [en[x]Nj ecer]Vi (‘enriquecer’, ‘ensoberbecer’ e ‘enfraquecer’). 2 Os resultados completos podem ser encontrados no Anexo III.
138
Cabe ressaltar que, nos casos de [a [x]Nj ecer]Vi, as palavras mais bem
classificadas em relação à sua ocorrência são as menos recuperáveis pelo falantes, isto
é, as palavras menos transparentes morfológica e semanticamente retornam
frequências maiores. Buscamos observar, deste ponto em diante, se esse
comportamento se repete nos demais séculos.
Século XV
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 29/590942 0,004907
Aborrecer 22/590942 0,003723
Adormecer 19/590942 0,003215
Adoecer 16/590942 0,002708
Amanhecer 6/590942 0,001015
[en [x]Nj ecer]Vi Ensoberbecer 7/590942 0,001185
Entristecer 5/590942 0,000846
Enegrecer 4/590942 0,000677
Endurecer 3/590942 0,000508
Enfraquecer 3/590942 0,000508
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 172/590942 0,029106
Apertar 78/590942 0,013199
Aproveitar 64/590942 0,01083
Abraçar 51/590942 0,00863
Apartar 46/590942 0,007784
[en [x]Nj ar]Vi Enterrar 21/590942 0,003554
Encaminhar 16/590942 0,002708
Envergonhar 13/590942 0,0022
Endireitar 6/590942 0,001015
Encostar 5/590942 0,000846
Tabela 3: frequência de ocorrência no século XV
Na tabela 3, os índices de [a [x]Nj ar]Vi, cujo verbo ‘acabar’ aparece como o mais
frequente mais uma vez, são bastante altos. Já em relação aos dados de [a [x]Nj ecer]Vi,
percebemos que os mais frequentes correspondem aos itens mais opacos, como
139
‘agradecer’, ‘aborrecer’ e ‘adormecer’. É interessante notar que os dados de
[en[x]Njecer]Vi têm valores baixos se comparados aos demais subesquemas.
Século XVI
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 25/574042 0,004355
Amanhecer 12/574042 0,00209
Aborrecer 10/574042 0,001742
Adoecer 2/574042 0,000348
Adormecer 2/574042 0,000348
[en [x]Nj ecer]Vi Encarecer 21/574042 0,003658
Enriquecer 21/574042 0,003658
Engrandecer 20/574042 0,003484
Enobrecer 11/574042 0,001916
Entristecer 4/574042 0,000697
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 233/574042 0,040589
Apontar 123/574042 0,021427
Aproveitar 97/574042 0,016898
Acertar 52/574042 0,009059
Apartar 47/574042 0,008188
[en [x]Nj ar]Vi Embarcar 92/574042 0,016027
Encaminhar 14/574042 0,002439
Enterrar 9/574042 0,001568
Entesourar 6/574042 0,001045
Enforcar 4/574042 0,000697
Tabela 4: frequência de ocorrência no século XVI
No século XVI, o comportamento observado nos séculos anteriores se repete
com a construção [a [x]Nj ar]Vi na liderança. Em geral, os dados de [en [x]Nj ecer]Vi e
[en[x]Nj ar]Vi ocupam as posições de menor frequência. No entanto, na tabela 4, o
verbo ‘embarcar’ aparece com alta frequência, o que pode ser uma influência de o
período coincidir com as primeiras publicações sobre as navegações e descobertas
portuguesas no além-mar. Abaixo, exibimos alguns exemplos retirados dos textos que
corroboram essa hipótese.
140
Dom Estevão da Gama como estava tomado, e não corria com o Governador, passou-
se pera a Ilha de João Pereira, donde se ‘embarcou’ na entrada de Janeiro na náo
Burgaleza.
(Décadas, de Diogo do Couto)
Acabados êstes negócios, se ‘embarcou’ o Governador pera Goa, onde começou a
entender com as cousas d’ElRei de Maluco, que estava nela.
(Décadas, de Diogo do Couto)
E ‘embarcando-se’ oitenta portugueses dos trezentos que então havia na terra, em
duas fustas, e um navio redondo, bem aparelhados de todas as coisas necessárias à
empresa que levavam, se partiram dali a três dias com grande pressa, por se temerem
que se fossem sentidos pelos mouros da terra dessem aviso aos outros mouros que
eles iam buscar.
(Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto)
É certo, todavia, que não há, necessariamente, uma regularidade na colocação
das palavras, porque nem sempre uma palavra que aparece bem colocada em uma
sincronia tem o mesmo comportamento em outras épocas. Nesse sentido, as
características de cada texto analisado podem influenciar a distribuição dos itens
lexicais. Um documento que verse sobre experiências medicinais favorecerá a seleção
de palavras do domínio medicinal, da mesma forma que textos sobre feitos heroicos
ativarão unidades lexicais relacionadas aquele domínio semântico. Entretanto, uma
verificação mais detalhada do assunto foge ao escopo deste trabalho. Vejamos os
resultados do século XVII.
Século XVII
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
141
[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 48/563636 0,008516
Aborrecer 31/563636 0,0055
Adoecer 16/563636 0,002839
Amanhecer 16/563636 0,002839
Adormecer 5/563636 0,000887
[en [x]Nj ecer]Vi Enfraquecer 22/563636 0,003903
Encarecer 13/563636 0,002306
Enriquecer 12/563636 0,002129
Entristecer 8/563636 0,001419
Emudecer 7/563636 0,001242
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 320/563636 0,056774
Aproveitar 82/563636 0,014548
Apartar 54/563636 0,009581
Assegurar 54/563636 0,009581
Acertar 51/563636 0,009048
[en [x]Nj ar]Vi Encaminhar 23/563636 0,004081
Embarcar 20/563636 0,003548
Envergonhar 19/563636 0,003371
Engrossar 12/563636 0,002129
Enterrar 8/563636 0,001419
Tabela 5: frequência de ocorrência no século XVII
Na tabela 5, nota-se que o verbo ‘acabar’, o mais bem colocado entre os itens
de [a [x]Nj ar]Vi com 320 ocorrências, diferencia-se de ‘apartar’ (54 ocorrências) e
‘assegurar’ (54 ocorrências), por exemplo, pelo alto número de frequência. Essa
diferença também é percebida entre ‘acabar’ e os verbos mais bem colocados dos
outros subesquemas, como ‘agradecer’ (48 ocorrências), ‘enfraquecer’ (22
ocorrências) e ‘encaminhar’ (23 ocorrências). A unidade lexical ‘acabar’ vem se
mostrando, desde os resultados dos textos do século XIV, a mais recorrente entre
todos os itens parassintéticos, apresentando, em alguns casos, quase o triplo do
número de ocorrências do segundo colocado (‘agradar’) entre os verbos formados por
[a [x]Nj ar]Vi. Sobre isso, verifiquemos os resultados da tabela abaixo:
142
Século XVIII
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi Agradecer 43/508567 0,008455
Aborrecer 27/508567 0,005309
Adormecer 5/508567 0,000983
Apodrecer 5/508567 0,000983
Amanhecer 4/508567 0,000787
[en [x]Nj ecer]Vi Enobrecer 17/508567 0,003343
Enternecer 7/508567 0,001376
Enfraquecer 6/508567 0,00118
Enriquecer 6/508567 0,00118
Entristecer 6/508567 0,00118
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 330/508567 0,064888
Agradar 111/508567 0,021826
Apontar 71/508567 0,013961
Aproveitar 51/508567 0,010028
Apresentar 44/508567 0,008652
[en [x]Nj ar]Vi Embarcar 19/508567 0,003736
Envergonhar 13/508567 0,002556
Encaminhar 11/508567 0,002163
Endireitar 8/508567 0,001573
Envenenar 7/508567 0,001376
Tabela 6: frequência de ocorrência no século XVIII
Com os resultados expostos nas tabelas 5 e 6, percebemos que o
comportamento dos circunfixos se manteve inalterado até o fim do Português Clássico:
os dados menos transparentes de [a [x]Nj ecer]Vi têm maior frequência de uso que os
mais transparentes; verbos como ‘acabar’, ‘aproveitar’ e ‘aconselhar’, por exemplo,
obtiveram valores bastante elevados muitas das vezes; e as palavras das construções
[en [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi não apresentam, por sua vez, altas taxas de frequência.
Vejamos agora os dados recolhidos em textos do português brasileiro no século XIX.
Século XIX
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi Amanhecer 32/530754 0,006029
Agradecer 29/530754 0,005464
143
Aborrecer 19/530754 0,00358
Adormecer 15/530754 0,002826
Adoecer 11/530754 0,002073
[en [x]Nj ecer]Vi Empalidecer 12/530754 0,002261
Enfurecer 8/530754 0,001507
Entristecer 8/530754 0,001507
Enriquecer 6/530754 0,00113
Envelhecer 5/530754 0,000942
[a [x]Nj ar]Vi Acabar 457/530754 0,086104
Atirar 213/530754 0,040132
Aproximar 162/530754 0,030523
Apresentar 149/530754 0,028073
Aproveitar 106/530754 0,019972
[en [x]Nj ar]Vi Encaminhar 49/530754 0,009232
Enfiar 28/530754 0,005276
Embarcar 22/530754 0,004145
Encarar 21/530754 0,003957
Enterrar 17/530754 0,003203
Tabela 7: frequência de ocorrência no século XIX
Novamente, repete-se o padrão observado nos períodos anteriores: há um alto
percentual de uso das palavras de [a [x]Nj ar]Vi, enquanto [en [x]Nj ecer]Vi retorna
valores baixos. Além disso, as palavras opacas de [a [x]Nj ecer]Vi aparecem bem
colocadas, pois das cinco primeiras apenas ‘amanhecer’ é semântica e
morfologicamente transparente.
Temos verificado que o percentual de frequência de ocorrência pode
influenciar no entrincheiramento de construções, que é um dos fatores a que devemos
estar atentos enquanto analisarmos a força lexical de esquemas3 (CROFT & CRUSE,
2004; BYBEE, 2010, 2003; LANGACKER, 1987). Nesse sentindo, a análise de dados
colhidos ao longo do século XX pode revelar uma fotografia do fenômeno linguístico
em um estágio da língua próximo ao atual. Assim, apresentamos, na tabela 8, os
resultados que obtivemos nos textos do ECI-EBR.
3 Para maiores detalhes, ver o capítulo 3 desta dissertação.
144
Século XX
Construção Verbos Quantidade Porcentagem
[a [x]Nj ecer]Vi
Agradecer 65/724008 0,008978
Amanhecer 22/724008 0,003039
Adormecer 14/724008 0,001934
Amadurecer 12/724008 0,001657
Apodrecer 12/724008 0,001657
[en [x]Nj ecer]Vi
Envelhecer 16/724008 0,00221
Enriquecer 15/724008 0,002072
Enlouquecer 11/724008 0,001519
Enfraquecer 10/724008 0,001381
Engrandecer 8/724008 0,001105
[a [x]Nj ar]Vi
Acabar 328/724008 0,045303
Apresentar 235/724008 0,032458
Acreditar 156/724008 0,021547
Aproveitar 85/724008 0,01174
Apontar 80/724008 0,01105
[en [x]Nj ar]Vi
Enfrentar 84/724008 0,011602
Enterrar 47/724008 0,006492
Encarar 32/724008 0,00442
Encostar 30/724008 0,004144
Enfiar 27/724008 0,003729
Tabela 8: frequência de ocorrência no século XX
O comportamento observado na diacronia se repete aqui com os dados de
[a[x]Nj ar]Vi retornando os valores mais altos de uso. No tocante aos demais
subesquemas, verificamos a manutenção de um padrão que havia sido observado nos
outros séculos. Notamos que os verbos de [en [x]Nj ecer]Vi apresentam um padrão
baixo de frequência e que todos os dados de [a [x]Nj ecer]Vi apresentam índices de uso.
6.2. Análise dos resultados do experimento
Participaram deste experimento duzentos informantes, dos quais cento e vinte
e três eram do sexo feminino (61,5%) e setenta e sete do sexo masculino (38,5%).
145
Outra informação que tivemos o cuidado de selecionar foi a faixa etária dos nossos
informantes, que se distribuíram da seguinte forma: sete adolescentes (3,5%), oitenta
e seis jovens (43%), cento e seis adultos (53%) e um idoso (0,5%).
Além disso, dos duzentos entrevistados, dois declararam ter Ensino
Fundamental (1%), vinte e três cursaram até o Ensino Médio (11,5%), cinquenta
estavam cursando algum curso de Ensino Superior (25%), sessenta e quatro tinham
concluído o nível superior (32%) e sessenta e um possuíam curso de pós-graduação
(30,5%).
Na tabela abaixo, observamos os resultados do fator Gênero em relação à
ativação de determinados subsesquemas.
[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a[x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total
Feminino 39% 31% 10% 20% 100%
Masculino 37% 33% 11% 19% 100%
Tabela 9: resultado do fator gênero em relação aos circunfixos
Como se percebe, a variação na escolha de um circunfixo é equiparada tanto
para os homens quanto para as mulheres. Logo, o fator gênero não se mostra
relevante na análise morfológica empreendida neste trabalho, pois não há um mesmo
subesquema que seja selecionado mais recorrentemente por pessoas do mesmo
gênero. Um dado interessante, no entanto, é que tanto homens como mulheres
reconhecem proporcionalmente mais dados formados por [a [x]Nj ar]Vi, o subesquema
mais produtivo, e menos dados formados por [a [x]Nj ecer]Vi, a construção menos
produtiva. Não à toa que a distribuição ocorre da mesma maneira que foi evidenciada
146
no gráfico 1: os circunfixos [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi são mais facilmente acessados,
enquanto os circunfixos [a[x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornam índices mais baixos.
Na tabela 10, são apresentados os valores do fator faixa etária em relação aos
quatro subesquemas parassintéticos.
[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total
Adolescente 37% 29% 14% 20% 100%
Jovem 40% 32% 9% 19% 100%
Adulto 39% 31% 11% 19% 100%
Idoso 36% 37% 7% 20% 100%
Tabela 10: resultado do fator idade em relação aos subesquemas
Novamente, verificamos que a variável idade não é relevante na seleção de um
determinado subesquema, ou seja, não há casos em que jovens selecionem mais
palavras de uma construção do que os sujeitos das outras faixas etárias. Nesse sentido,
a escolha de um determinado esquema parassintético parece não ser sensível aos
fatores extralinguísticos. A variação de cada circunfixo em função das diferentes faixas
etárias é restrita, quase nula, podendo citar o caso de [en [x]Nj ecer]Vi, cujos índices são
de 19% ou 20% (ou seja, uma margem de 1%) em todos os grupos. Esse fator não nos
indica, portanto, nenhuma particularidade da manipulação das construções
parassintéticas pelos falantes. Contudo, como salientamos com relação aos dados da
tabela 9, o fato de os circunfixos mais produtivos terem valores percentuais maiores
(i.e., serem evocados mais recorrentemente) aproxima os resultados obtidos aos que
foram diagramados no gráfico 1. Na tabela 10, enquanto o percentual de acesso
mental ao subesquema [a[x]Nj ar]Vi varia de 36% a 40%, o índice de escolha de
[a[x]Njecer]Vi varia de 7% a 14%.
147
Esse comportamento nos permite indiciar – como apontaremos com
argumentos mais sólidos na próxima seção – que qualquer falante do português
brasileiro ativa mais facilmente as construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, já que são
mais produtivas. O inverso, com relação aos circunfixos [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi,
também parece verdadeiro: esses subesquemas são menos produtivos, portanto,
menos facilmente acessados. A seguir, são expostos os índices do fator Escolaridade.
[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi [a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Total
Fundamental 44% 22% 14% 20% 100%
Médio 43% 28% 11% 18% 100%
Superior (cursando) 40% 31% 10% 19% 100%
Superior (completo) 37% 33% 11% 19% 100%
Pós-graduação 39% 32% 10% 19% 100%
Tabela 11: resultado do fator escolaridade em relação aos circunfixos
Com os resultados da tabela 11, confirmamos que as variáveis sociais não
influenciam a seleção de nenhuma das construções de parassíntese, pois a flutuação
dos índices de escolaridade é pequena. Não podemos afirmar, baseados nos
resultados apresentados na tabela 11, que o grau de instrução do falante tenha
relação direta com a escolha de um determinado circunfixo. Assim, nos dados tratados
neste trabalho, a formação de palavras parece ser um terreno pouco dependente de
fatores extralinguísticos.
No mais, o mesmo panorama que já havia sido desenhado se mostra pertinente
na análise da tabela 11, visto que [a [x]Nj ar]Vi tem valores maiores (variando de 37% a
44%) que [a[x]Nj ecer]Vi (variando de 10% a 14%), independentemente da escolaridade
do indivíduo.
148
Excluindo as variáveis sociais, que não se mostraram relevantes, o experimento
teve três diferentes focos, como explicamos no capítulo sobre a metodologia:
averiguar o modo como o falante (i) reage diante de palavras inventadas; (ii) processa
as palavras que foram substituídas por palavras semelhantes em razão da frequência
de uso (‘amarelecer’ > ‘amarelar’); e (iii) comporta-se com relação às palavras de
diferentes subesquemas que coexistem, embora tenham sentidos diferentes
(‘enterrar’ e ‘aterrar’). Com isso, analisamos, primeiramente, os resultados das
palavras que criamos. Comecemos com as formas inventadas a partir da base
‘banguela’:
[a [x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi
abangueleceu embangueleceu Total
1. Meu avô _______ quando fez 60 anos. 9,5% 90,5% 100%
Tabela 12: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi
As construções parassintéticas [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi retornaram, nas
consultas ao dicionário Houaiss (2009), baixos índices de frequência de tipo, indicando
uma baixa probabilidade de formarem novas unidades lexicais4. Entretanto, buscamos
investigar, no teste, qual subesquema o falante adotaria diante da necessidade de criar
uma palavra. Os resultados indicaram um favorecimento de [en [x]Nj ecer]Vi, que
obteve 90,5%, em face de [a [x]Nj ecer]Vi, que teve apenas 9,5%. Já era esperado que a
construção [en [x]Nj ecer]Vi fosse mais evocada, porque, comparativamente, tem mais
força lexical que [a [x]Nj ecer]Vi. Na próxima tabela, estão dispostos os resultados para
os dados de [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi, construções mais produtivas.
4 Ver subseção 6.1.1.
149
[a[x]Njar]Vi [en[x]Njar]Vi
apalmitou empalmitou Total
2. Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha
costuma ________ a salada. 38,5% 61,5% 100%
abonitou embonitou Total
3. Clarinha __________ depois que passou a
frequentar a academia. 6,5% 93,5% 100%
alixeirados enlixeirados Total
4. Os resíduos hospitalares foram ____________
pela equipe da clínica médica. 7,5% 92,5% 100%
Tabela 13: resultados das palavras inventadas em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi
Os resultados das frases 2 e 4, na tabela 13, estão mais relacionados à
semântica veiculada pelas construções do que com a noção de produtividade, uma vez
que ambos os subesquemas são produtivos (ver tabela 1). No capítulo anterior,
argumentamos que o subesquema [en [x]Nj ar]Vi apresenta como protótipo o domínio
semântico de resultatividade de espaço, ao passo que a construção [a [x]Nj ar]Vi se
caracteriza pelo sentido de resultatividade de atributo. Portanto, se o sentido
pretendido na aplicação da palavra no discurso faz referência à noção de local, é de
esperar que as novas instanciações partam do subesquema [en [x]Nj ar]Vi, como foram
os casos das frases 2 e 4. O foco da palavra parassintética, na frase 2, é o palmito, ou,
em termos cognitivistas, o SR interno se comporta como o elemento colocado. Na
frase 4, perfila-se o recipiente (o SR interno ‘lixeira’), sendo altamente produtivo com
[en [x]Nj ar]Vi, o que permite a instanciação de ‘enlixeirar’.
Discutimos, nas próximas tabelas, os resultados das palavras cujo mesmo
sentido da base é perfilado por subesquemas diferentes (‘abrutecer’ e ‘embrutecer’,
por exemplo).
150
[a[x]Njecer]Vi [en[x]Njecer]Vi Sem
resposta
abruteceu embruteceu Total
5. As pessoas acham que Horácio
____________ com o passar dos
anos.
2,5% 95,5% 2% 100%
Tabela 14: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ecer]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi
Na frase 5, visualizamos que a frequência de ‘abrutecer’ não é forte o suficiente
para impedir a emergência de ‘embrutecer’. Por ser instanciado por uma construção
com baixa força lexical, [a [x]Nj ecer]Vi, a palavra ‘abrutecer’ precisaria de alta
frequência de uso para não ser substituída por outra com as mesmas especificações
sintáticas, semânticas e pragmáticas. Os dados revelam que não parece ser o caso, já
que ‘embrutecer’ é majoritariamente reconhecido, em detrimento de ‘abrutecer’, que
resulta em apenas 2,5%. Isso tem importantes consequências para todo um grupo de
palavras de [a [x]Nj ecer]Vi que foi substituído por itens correspondentes de outras
construções de parassíntese, como ‘abranquecer’, que foi substituído por
‘embranquecer’, por exemplo. Mais à frente, retomaremos essa questão.
Os resultados da tabela abaixo foram obtidos para as formas derivadas do
adjetivo ‘brando’:
[a[x]Nj ar]Vi [en[x]Njecer]Vi Sem
resposta
abrandou embrandeceu Total
6. O mar ___________ depois que a
ressaca acabou. 91% 8% 1% 100%
Tabela 15: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ecer]Vi
151
A unidade ‘abrandar’ é reconhecida por 91% dos informantes, o que sugere,
também nesse caso, que a palavra da construção com mais força lexical é mais
facilmente acessada pelos falantes. Isso é um efeito da conjugação da frequência de
uso com a frequência de tipo, que amplia a capacidade de construções com maior
força lexical “atraírem” unidades lexicais de outras construções com menor poder
(CROFT & CRUSE, 2004). Na tabela seguinte, vemos que isso nem sempre é verdade,
porque se, por um lado, o comportamento se repete com ‘amarelar’, mais reconhecido
pelos falantes do PB, por outro, ‘amadurar’ tem reconhecimento quase nulo.
[a[x]Njar]Vi [a[x]Njecer]Vi Sem
resposta
amadurar amadurecer Total
7. Horácio começou a ________ quando
passou a trabalhar 2% 98% 0% 100%
amarela amarelece Total
8. A luz solar é branca, mas __________
por causa da atmosfera. 70% 28% 2% 100%
Tabela 16: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [a [x]Nj ecer]Vi
Seria natural que ‘amadurar’, por ser instanciado por [a [x]Nj ar]Vi, a construção
mais forte, tivesse vantagem sobre ‘amadurecer’, que é instanciado pela construção
com menor poder lexical. No entanto, os dados da tabela 16 nos mostram que a alta
frequência de uso pode cooperar para manter, no léxico, palavras formadas por
esquemas com produtividade baixa ou nula. Vale lembrar que nos resultados da
frequência de ocorrência na diacronia dos textos portugueses, apresentados na
subseção 6.1.2, o verbo ‘amadurecer’ sempre esteve entre os mais frequentes, o que
favoreceu sua preservação. Assim, a frequência de ocorrência de um dado funciona
152
tanto para que novos itens sejam incorporados a uma construção, quanto para inibir a
substituição de itens frequentes no léxico.
Nos exemplos da tabela 17, a seguir, temos exemplos de palavras diferentes
que evocam o mesmo significado, em função de terem a mesma base.
[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Sem
resposta
atarraxar entarraxar Total
9. Horácio usou uma chave de
fenda para ___________ o
parafuso.
97,5% 1,5% 1% 100%
amordaçaram emordaçaram Total
10. Os bandidos _____________ o
homem que foi sequestrado. 98,5% 1% 0,5% 100%
aprisionou emprisionou Total
11. Clarinha ____________ o
canário numa gaiola de vime. 97,5% 2,5% 0% 100%
Tabela 17: resultados das palavras concorrentes em relação a [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi
Percebemos que todos os vocábulos de [a [x]Nj ar]Vi são mais bem avaliados em
comparação com os itens de [en [x]Nj ar]Vi. Por ser o subesquema mais produtivo, os
dados de [a [x]Nj ar]Vi acabam sendo mais facilmente interpretados pelos sujeitos.
Nesse sentido, a frequência não atua apenas nos mecanismos de ampliação lexical,
mas, principalmente, na compreensão e decodificação que o falante tem/faz das
palavras.
Na próxima tabela, são exibidos os valores das palavras que, embora
selecionem a mesma base fonológica, compatibilizam sentidos diferentes no discurso.
Por exemplo, ‘afiar’ tem o significado diferente de ‘enfiar’, ainda que, em termos
sonoros, a base seja a mesma. Justamente por perfilarem sentidos diferentes, essas
palavras podem coexistir. Difere, assim, dos exemplos da tabela 17, porque somente
153
as palavras ‘atarraxar’, ‘aprisionar’ e ‘amordaçar’ foram reconhecidas, enquanto suas
correspondentes instanciadas por [en [x]Nj ar]Vi (‘entarraxar’, ‘emprisionar’ e
‘emordaçar’) não gozaram de prestígio.
Voltemos à tabela 18. Como dissemos no capítulo sobre a metodologia, nessa
parte do experimento, o informante deveria decidir se (i) apenas uma das palavras
fazia parte do seu léxico internalizado, (ii) as duas eram reconhecidas, ou (iii) nenhuma
das palavras era de seu conhecimento.
[a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi Os dois subesquemas Sem resposta
12 Afiar Enfiar Afiar / Enfiar Total
4% 1% 95% 0% 100%
13 Acampar Encampar Acampar/ Encampar Total
61% 1% 38% 0% 100%
14 Apossar Empossar Apossar/ Empossar Total
7,5% 21% 70% 1,5% 100%
15 Abaular Embaular Abaular/ Embaular Total
49,5% 3,5% 5,5% 41,5% 100%
Tabela 18: resultados das palavras coexistentes
Qualquer resultado acima de 25% é significativo, na medida em que os
informantes podiam escolher entre quatro opções: somente palavras instanciadas por
[a [x]Nj ar]Vi; as instanciadas apenas por [en [x]Nj ar]Vi; as instanciadas pelas duas
construções; ou não apresentar nenhuma resposta. Em 12 e 14, os pares ‘afiar’ e
‘enfiar’ e ‘apossar’ e ‘empossar’ tiveram os maiores índices – 95% e 70%,
respectivamente. Percebemos, também, que os informantes tinham diferentes graus
de familiaridade com as palavras em 13, o que pode ter favorecido apenas uma delas,
uma vez que ‘acampar’ tem mais livre-curso do que ‘encampar’.
154
Ainda na tabela 18, 41,5% dos informantes não souberam responder se
reconheciam os verbos ‘abaular’ e ‘embaular’, o que demonstra que gozam de menor
familiaridade entre os falantes entrevistados, ao contrário dos outros pares (‘afiar’/
‘enfiar’, e ‘apossar’/ ‘empossar’, por exemplo) que foram facilmente acessados.
Mesmo assim, ‘abaular’ teve quase a metade da porcentagem (49,5%) no cômputo
geral, demonstrando que, mesmo não conhecendo a palavra, o falante ativa mais
facilmente as estruturas instanciadas pelo subesquema [a [x]Nj ar]Vi. Em 16, na tabela
abaixo, o favorecimento se dá para o par ‘emburrecer’ / ‘emburrar’ (53%), mas
também para ‘emburrecer’ separadamente, que tem 41%.
[en [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ecer]Vi Os dois subesquemas Sem resposta
16 Emburrar Emburrecer Emburrar/ Emburrecer Total
5,5% 41% 53% 0,5% 100%
Tabela 19: resultados das palavras coexistentes
Na próxima seção, tentaremos reunir as informações obtidas até então para
termos um panorama da relação construída entre a Frequência e a Produtividade de
unidades lexicais.
6.3. Desatando os nós
Recapitulando as observações discutidas até aqui, assumimos, com base nos
resultados da frequência de tipo, que [a [x]Nj ecer]Vi já não é produtivo, ao contrário
das demais construções de circunfixação. Além disso, os dados da frequência de uso
155
nos revelam que [a [x]Nj ar]Vi apresenta os dados mais recorrentes, enquanto
[en[x]Njecer]Vi retorna baixos índices.
Conforme foi revelado no gráfico 1, o fato de [a[x]Njar]Vi e [en[x]Njar]Vi serem
entrincheirados faz com que tenham o poder de capitalizarem o maior número de
palavras.
Embora o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi seja menos produtivo, ainda é capaz de
instanciar material lexical, como demonstram as recentes formações ‘emburrecer’ e
‘emputecer’, que, segundo o Houaiss (2009), foram registradas apenas no século XX.
Além disso, nota-se que todas as suas formações são transparentes, o que torna
menos reduzida sua força lexical.
O circunfixo [a [x]Nj ecer]Vi, por outro lado, poderia ter sua produtividade
caracterizada como nula, posto que as últimas instanciações (‘abastecer’ e ‘amolecer’)
foram no século XVI, ainda no Português Clássico. O fato de as palavras mais
frequentes de [a [x]Nj ecer]Vi serem necessariamente as mais opacas corrobora essa
hipótese, isto é, aquelas precisam ter um alto grau de entrincheiramento para não
serem reanalisadas, como veremos na próxima subseção.
Assim, [a [x]Nj ecer]Vi parece estar no polo marcado pela menor produtividade
no continuum de força lexical. Tomando os números de frequência, podemos
estabelecer uma escala, ilustrada no quadro 2, para os subesquemas parassintéticos:
como [a [x]Nj ar]Vi tem maior frequência de tipo estaria à frente de [en [x]Nj ar]Vi, porém
ambos estariam localizados próximos ao polo de maior força lexical, com alta
produtividade e forte entrincheiramento; [en [x]Nj ecer]Vi estaria no meio da gradação;
e [a [x]Nj ecer]Vi mais próximo do polo de [- força lexical].
156
Quadro 2: continuum de produtividade dos circunfixos
6.3.1. A reanálise do subesquema [a [x]Nj ecer]Vi
Voltamos aqui a uma importante questão, mencionada na introdução do
capítulo, sobre a etimologia dos verbos instanciados pelo esquema [a [x]Nj ecer]Vi.
Podemos agora traçar um paralelo entre a origem latina da maioria desses vocábulos e
a sua frequência. Das onze palavras formadas, nove são latinas e duas são formações
do português, como se vê no quadro a seguir.
Palavras latinas Palavras portuguesas
Aborrecer
Adoecer
Adormecer
Agradecer
Amadurecer
Amanhecer
Amolecer
Anoitecer
Apodrecer
Abastecer
Amortecer
Quadro 3: distribuição das palavras quanto à etimologia
A maioria das palavras de origem latina é totalmente transparente, como
‘apodrecer’, de ‘putrescere’, e ‘amanhecer’, de ‘admanescere’, não representando
problemas no reconhecimento das partes internas, por parte do falante do português
brasileiro contemporâneo. No entanto, essas palavras não foram instanciadas no
[-FORÇA LEXICAL] [+FORÇA LEXICAL]
[a[x]Nj ecer]Vi [en [x]Nj ecer]Vi [a [x]Nj ar]Vi [en [x]Nj ar]Vi
157
português, mas no latim como foi demonstrado pela origem etimológica. Nesse caso,
houve uma reanálise de algumas palavras que foram incorporadas ao léxico do
português, de modo que suas bases se assemelhassem a unidades recorrentes nessa
língua. Podemos explicar de outra maneira: ‘putrescere’ foi instanciado, no latim, por
um esquema que compatibilizava uma base e um sufixo, [x]Nj escere]Vi, enquanto
‘admanescere’ derivou de um esquema de circunfixação, [ad [x]Nj escere]Vi. Dadas as
relações de similaridade simbólica (de forma e sentido) entre as duas construções, as
palavras foram reanalisadas, no português, sob o subesquema parassintético
[a[x]Njecer]Vi. Na nova compatibilização, ativaram-se as palavras ‘podre’ e ‘manhã’ – e
não ‘pŭtris’ e ‘maneāna’, já que pertencem ao léxico latino –, permitindo a maior
transparência das partes constitutivas das unidades resultantes ‘amanhecer’ e
‘apodrecer’.
Na distribuição do quadro 3, observamos, também, que algumas palavras de
origem latina são menos recuperáveis pelo falante, como ‘aborrecer’, de
‘abhorrēscere’ e ‘adormecer’, de ‘addŏrmīscĕre’, pois não passaram pela reanálise que
aconteceu com as demais formações latinas. Como foi evidenciado por meio dos
resultados da frequência de ocorrência, os dados mais opacos responderam pelas
taxas mais altas de uso, as quais são indicativas da manutenção de itens menos
regulares no léxico. Em ‘aborrecer’, não se reconhece uma base do português que
tenha sido compatibilizada na construção, o que desencadeia o surgimento do
subesquema [a - x - ecer]Vi a partir de [a [x]Nj ecer]Vi. Naquele subesquema, a variável x
não é indexicada, nem recebe a etiqueta de uma categoria gramatical, porque não
funciona como uma palavra do português. Com isso, verbos como ‘aborrecer’ e
‘adormecer’, que retornam índices maiores de uso, não reforçam diretamente o
158
subesquema [a[x]Njecer]Vi a cada nova ocorrência, pois estão conectados,
primeiramente, ao subesquema [a - x - ecer]Vi, como vemos no diagrama a seguir.
[a [x]Nj ecer]Vi
LI
[a - x - ecer]Vi
O uso reforçou as palavras opacas, como ‘aborrecer’ ou ‘adormecer’, de tal
maneira que as pressões analógicas não conseguiram se manifestar, isto é, por serem
mais frequentes, foram armazenadas no léxico como um todo indivisível e estão, dessa
forma, menos sujeitas às pressões por regularização paradigmática.
As palavras que sofreram reanálise, ao contrário, eram as menos frequentes
nos primeiros séculos pesquisados (ver tabelas 5 e 6), sendo, portanto, mais
suscetíveis às pressões por um paradigma mais uniforme. Na tabela 2, por exemplo,
vemos que os cinco primeiros vocábulos de [a [x]Nj ecer]Vi são menos transparentes
(‘abastecer’ é opaco semanticamente). Ao contrário, as palavras mais transparentes,
como ‘amanhecer’ e ‘apodrecer’, vêm sempre nas posições mais periféricas nas
tabelas 5 e 6. Isso fica claro também em ‘amadurecer’, de ‘maturescere’, ‘amolecer’,
de ‘emollescere’, e ‘anoitecer’, de ‘adnoctescere’, que foram reanalisadas pelas
semelhanças fonológicas e semânticas com as palavras ‘maduro’, ‘mole’ e ‘noite’,
respectivamente. Como essas palavras latinas (‘maturescere’, ‘emollescere’, e
‘adnoctescere’) compartilhavam relações fonológicas e semânticas, estabeleceu-se
uma construção [a [x]Nj ecer]Vi, sob o domínio da qual foram instanciadas, permitindo
que outras duas palavras fossem criadas no português: ‘abastecer’ e ‘amortecer’.
159
Capturamos, aqui, um dos postulados centrais do modelo de uso (BYBEE, 2010), que
indica que as construções emergem a partir da percepção de semelhanças
compartilhadas por um grupo de palavras. Assim, o subesquema [a [x]Nj ecer]Vi só
passou a existir em português a partir do momento em que palavras herdadas do latim
foram reanalisadas no português, permitindo a criação de material lexical em língua
portuguesa (‘abastecer’ e ‘amortecer’).
É importante salientar que a reanálise não se deu de forma abrupta, mas
gradual. No século XIII, são registradas as palavras de origem latina ‘aborrecer’,
‘adoecer’, ‘adormecer’, ‘agradecer’, ‘anoitecer’ e ‘apodrecer’. Desse conjunto, apenas
as últimas duas (‘anoitecer’ e ‘apodrecer’) são transparentes, o que indica que a
maioria das palavras mais antigas tem um maior grau de opacidade. No século
seguinte, são registradas ‘amadurecer’ e ‘amanhecer’, que têm origem no latim, além
de ‘amortecer’, que é o primeiro item instanciado no português. Desde a entrada das
primeiras palavras opacas até a formação de novo material lexical, houve um período
em que as informações semânticas e formais foram mapeadas para que pudesse haver
a reanálise dos itens menos frequentes e a posterior unificação do esquema. Por isso,
acreditamos, nos termos de Bybee (2010: 120), que há fortes evidências de uma
reanálise contínua nos dados de [a [x]Nj ecer]Vi.
Alguns outros verbos chegaram a ser instanciados pelo esquema [a [x]Nj ecer]Vi,
como ‘abranquecer’, ‘abrutecer’, ‘amarelecer’, entre outros. Conforme se disse
anteriormente, a formação de palavras em Linguística Cognitiva caracteriza-se, em
linhas gerais, pela seleção de um sentido de uma palavra-base que é compatibilizado
com um dos sentidos dos afixos. No caso das palavras citadas, há, registradas no
léxico, outras palavras com o mesmo sentido servindo de base para a formação, como
160
‘embranquecer’, ‘embrutecer’ e ‘amarelar’. Um dos princípios da Construção
Gramatical, defendido por Goldberg (1995), é conhecido por Princípio da Economia
Maximizada, que opera com o objetivo de restringir a variedade de construções
(GOLDBERG, 1995: 69). Esse princípio pode ser aplicado no léxico para delimitar o
número de itens que atuam semântica e pragmaticamente da mesma maneira. Por
exemplo, não é econômico, linguisticamente, dispor de ‘abranquecer’ e
‘embranquecer’, instanciados a partir do perfilamento do mesmo sentido de ‘branco’;
ou de ‘embrutecer’ e ‘abrutecer’, que derivam de ‘bruto’. Nessa direção, os
experimentos realizados nos mostraram que os falantes do português reconhecem
mais facilmente palavras como ‘embranquecer’ e ‘amarelar’ do que ‘abranquecer’ e
‘amarelecer’. Explicamos, a seguir, essa preferência nos termos estatísticos da
frequência.
Palavras como ‘abranquecer’, ‘abolorecer’, ‘abrutecer’ e ‘amarelecer’ têm em
comum o fato de terem sido instanciadas por um esquema que não é mais produtivo,
ou seja, com baixa força lexical. Além do mais, as poucas palavras desse subesquema
se mantiveram na língua por terem maior frequência de uso, o que gera um maior grau
de entrincheiramento das palavras. Não foi a construção que se entrincheirou, mas sim
as palavras isoladamente, o que acarretou na perda de alguns itens menos frequentes.
No caso, as palavras com frequência baixa ou nula (‘abranquecer’, ‘abrutecer’ e
‘amarelecer’) passaram por uma mudança de subesquemas de circunfixação. Embora
essas palavras sejam registradas em dicionários etimológicos, não gozam de
reconhecimento dos falantes, que preferem suas contrapartes ‘embranquecer’,
‘embrutecer’ e ‘amarelar’, instanciadas por construções produtivas que apresentam
níveis médio ([en [x]Nj ecer]Vi) e alto ([a [x]Nj ar]Vi) na escala de produtividade (ver
161
gráfico 1). Essa mudança da construção foi propiciada pela alta frequência de tipo das
demais construções e pelo baixo contingente de [a [x]Nj ecer]Vi. Os dados em (2),
abaixo, indicam que a maioria das palavras instanciadas pela construção [a [x]Nj ecer]Vi
“migrou” para o subesquema [en [x]Nj ecer]Vi, que tem força lexical média.
(2) abranquecer embranquecer
abrutecer embrutecer
abolorecer embolorecer
Dos vocábulos a que tivemos acesso pelos dicionários etimológicos,
‘amarelecer’ é a única palavra que competiu com a construção [a [x]Nj ar]Vi, ‘amarelar’.
Nesse caso, prevaleceu a noção de analogia, pois existe, como identificou Kehdi (1992)
e Martins (1993), um conjunto de palavras que faz referência a cores na construção
[a[x]Nj ar]Vi, como ‘avermelhar’, ‘acinzentar’, ‘azular’, ‘alaranjar’, entre outros. Assim, o
vocábulo ‘amarelar’ parece ter sido favorecido por um processo analógico com as
palavras de [a [x]Nj ar]Vi 5.
Cabe dizer que uma das mudanças não se realizou devido à alta frequência da
palavra. No par ‘amadurecer’ e ‘amadurar’, a primeira palavra, embora esteja em uma
construção não produtiva, tem um uso muito elevado, razão pela qual ‘amadurar’ não
é fortemente aceita pelos falantes. Desse modo, observamos que, se por um lado, a
frequência pode ampliar o número de unidades lexicais instanciadas por uma
construção (exemplos em 2), por outro, pode impedir que uma palavra frequente seja
substituída por outra com menor frequência (‘amadurecer’ x ‘amadurar’).
5 Kehdi explica que ocorre uma crase entre o /a/ do circunfixo e a vogal que inicia a base ‘amarelo’. Por
essa razão, acreditamos que ‘amarelar’ e ‘azular’ sejam parassintéticos.
162
Muitas outras palavras têm a mesma forma de base – ou, em termos
cognitivistas, o perfilamento do mesmo sentido da base – mas são instanciadas por
construções distintas. Majoritariamente, essa distribuição ocorre de [en [x]Nj ar]Vi para
[a [x]Nj ar]Vi, como vemos em (3).
(3) emadeirar amadeirar
emordaçar amordaçar
emprisionar aprisionar
entarraxar atarraxar
Nos exemplos de (3), uma mesma palavra serviu de base para a instanciação de
novas palavras com o mesmo sentindo, pois, segundo o Houaiss ‘emordaçar’ e
‘amordaçar’ se traduzem por ‘colocar a mordaça em’; ‘emprisionar’ e ‘aprisionar’
significam ‘por na prisão’; e assim sucessivamente. Nesse caso, não é propriamente a
força das palavras que permite a sua manutenção no léxico, mas a força da construção
em que estão inseridas que acaba por influenciar a incorporação de mais unidades
lexicais. Em outras palavras, o esquema [a [x]Nj ar]Vi, por razões de alto
entrincheiramento e, consequentemente, maior força lexical, tem vantagens na
competição entre palavras. O experimento linguístico realizado com falantes do
português brasileiro vem ao encontro dessa hipótese, pois mostramos que o falante
prefere, por exemplo, ‘aprisionar’, ‘amordaçar’ e ‘atarraxar’ às suas contrapartes em
[en [x]Nj ar]Vi (‘emprisionar’, ‘emordaçar’ e ‘entarraxar’).
Nem sempre essa distribuição em termos de entrincheiramento prevalece. Em
alguns casos, as palavras de [en [x]Nj ar]Vi parecem ser mais facilmente acessadas que
163
suas contrapartes de [a [x]Nj ar]Vi, como nos itens em (4). Verificamos que estes verbos
podem ser agrupados em função do sentido locativo que se traduz por (i) ‘colocar em
x’, nos três primeiros pares de (4), ou (ii) ‘colocar x em’, nos dois últimos pares de (4).
(4) abrenhar embrenhar
abalsar embalsar
abainhar embainhar
abandeirar embandeirar
abalsamar embalsamar
Conforme foi argumentado no capítulo anterior, [a [x]Nj ar]Vi tem o centro
prototípico de resultatividade de atributo, enquanto [en [x]Nj ar]Vi se caracteriza pela
resultatividade de espaço – mesmo que as duas construções possam veicular os dois
sentidos. Da mesma forma que aconteceu com o par ‘amarelecer’ / ‘amarelar’, as
relações analógicas entre o sentido das palavras em (4) e o significado evocado pelo
esquema [en [x]Nj ar]Vi levam a uma compatibilização semântica que culmina com a
estocagem dos itens ‘embrenhar’, ‘embalsar’, ‘embainhar’, ‘embandeirar’ e
‘embalsamar’.
6.3.2. Unidades lexicais coexistentes
Dissemos que, pelo Princípio da Economia Maximizada, palavras que têm a
mesma base e veiculam o mesmo sentido tendem a entrar em competição, pois seus
usos estão vinculados aos mesmos contextos pragmáticos e semânticos. Entretanto,
164
um grupo de palavras que tem a mesma base pode conviver desde que se especialize
em contextos semânticos e/ou pragmáticos distintos. É o caso das unidades
apresentadas em (5), em que diferentes subesquemas são ativados pela mesma base
fonológica.
(5) enterrar ≠ aterrar
empossar ≠ apossar
enfiar ≠ afiar
emburrecer ≠ emburrar
encavalar ≠ acavalar
enfunilar ≠ afunilar
encarneirar ≠ acarneirar
enflorar ≠ aflorar
embotijar ≠ abotijar
embarrancar ≠ abarrancar
embaular ≠ abaular
emalhar ≠ amalhar
embarrilar ≠ abarrilar
Nos exemplos de (5), embora haja – em termos formais – a mesma base,
sentidos diferentes são selecionados para cada par. Por exemplo, da base ‘funil’ pode
ser perfilada a ideia de um instrumento pelo qual escoam líquidos ou a ideia de seu
formato, a depender do subesquema com o qual a base será compatibilizada. Como o
subesquema [a [x]Nj ar]Vi tem por sentido prototípico a informação de resultatividade
165
de atributo, seleciona-se o formato do objeto ‘funil’ para que haja uma aproximação
conceitual na unidade ‘afunilar’, que, de acordo com o Houaiss (2009), significa ‘dar ou
tomar a forma de funil’. Já [en [x]Nj ar]Vi, cujo sentido prototípico está relacionado à
questão de espaço, evoca a ideia de escoamento. O verbo ‘enfunilar’ significa, então,
‘fazer passar por um funil’.
O verbo ‘embarrilar’, por exemplo, mapeia o esquema imagético de conteúdo,
pois significa ‘colocar em barril’, enquanto ‘abarrilar’ seleciona o formato do barril,
indicando uma ‘transformação em algo parecido com um barril’. Apesar de ‘aterrar’ e
‘enterrar’ ativarem o sentido de resultatividade de espaço, o elemento focalizado deve
ser distinto para que as construções sejam semanticamente diferentes. Em ‘aterrar’,
perfila-se a porção de solo (o elemento colocado), enquanto em ‘enterrar’, o buraco
no solo (o recipiente).
6.3.3. Os empréstimos
Os exemplos de palavras que têm origem latina ou de outra língua românica
são escassos, somando 3,8% (ou 27 itens) do conjunto de palavras. Grande parte
desses dados vem do latim (86%), seguido do espanhol (11%) e do italiano (3%), como
se apresenta no gráfico abaixo.
166
Gráfico 3: distribuição das palavras que entraram por empréstimo linguístico
Como dissemos, algumas palavras são reanalisadas pelos falantes como um
item instanciado na língua portuguesa. É o caso de ‘emudecer’, ‘emagrecer’ e
‘endurecer’, que têm origem latina, mas apresentam forte similaridade semântica e
fonológica com as palavras ‘mudo’, ‘magro’ e ‘duro’. Outras como ‘emperrar’, do
espanhol ‘emperrar’, e ‘empatar’, do italiano ‘impattare’, tornam-se opacas, pois o
falante não recupera suas bases. Em outras palavras, o primeiro grupo de itens lexicais
é instanciado por um subesquema em que [x]Nj é uma entrada lexical da língua e, com
isso, o falante consegue recuperar as partes que constituem a formação. O segundo
grupo de palavras apresenta um subesquema de opacidade, cujo elemento x não é
indexicado, nem tem categoria gramatical, i.e., não é uma entrada lexical do
português. O falante do português, por exemplo, não recupera a base ‘perro’, que
significa cachorro, da palavra ‘emperrar’. ‘Empatar’ e ‘emperrar’ são, portanto,
instanciados pelo subesquema [en - x - ar]Vi.
Demonstra-se, no seguinte quadro, a lista de palavras que entraram como
empréstimo no português. Mostramos, além do mais, a qual subesquema as palavras
estão vinculadas.
3% 11%
86%
Italiano
Espanhol
Latim
167
Origem Subesquemas Palavras
Latim [a [x]Nj ecer]Vi Agradecer, Amadurecer, Amanhecer, Amolecer, Anoitecer, Apodrecer
[a - x - ecer]Vi Aborrecer, Adoecer, Adormecer
[a [x]Nj ar]Vi Aguardar
[a - x - ar]Vi Acenar, Achincalhar, Apertar, Arrecadar
[en [x]Nj ecer]Vi Emagrecer, Emudecer, Endurecer
[en - x - ar]Vi Embargar, Emborcar, Embriagar, Embrulhar, Empenhar, Engasgar
Espanhol [en - x - ar]Vi Emperrar, Enaltecer, Entornar Italiano [en - x - ar]Vi Empatar
Quadro 4: distribuição das palavras quanto à língua de origem
6.4. Resumindo
Argumentamos, neste capítulo, que, em vez de observarmos a produtividade
de construções isoladamente, devemos estar atentos a um conjunto de fatores que
reúne as noções de entrincheiramento e produtividade, bem como os reflexos da
frequência no acesso e armazenamento lexical. Nessa direção, a frequência de uso e a
frequência de tipo têm importantes papéis, pois auxiliam na expansão do grupo de
palavras e na manutenção dos itens opacos que têm alta frequência.
A pesquisa em corpora diacrônicos revelou uma fotografia de como os falantes
compreendem as unidades lexicais e os subesquemas de parassíntese ao longo do
curso da língua, desde o Português Antigo ao Português Brasileiro. Pudemos, com isso,
estabelecer limites claros de entrincheiramento em vários períodos e cotejar com os
dados de produtividade diacrônica. Outro importante mecanismo foi analisar, através
de um experimento linguístico, a conceptualização que os falantes do Português
Brasileiro fazem de alguns fatos da parassíntese, como a substituição de uma palavra
168
menos frequente por outra que tenha maior taxa de frequência, ou a coexistência de
palavras com a mesma base.
Demonstramos também que, em vez de enfraquecer os esquemas de
circunfixação, casos de empréstimos geram força lexical às construções por possibilitar
a reanálise de itens, devendo ser analisados sob o escopo de uma construção mais
específica.
Concluímos, então, que (i) a construção [a [x]Nj ecer]Vi tem baixa força lexical e
a probabilidade de instanciar novos itens é reduzida, quase nula; (ii) [en [x]Nj ecer]Vi
tem força lexical próxima à média e ainda pode gerar novas unidades, mesmo que em
pouca quantidade (‘emputecer’ e ‘emburrecer’, por exemplo); e (iii) o grau de força
lexical das construções [a [x]Nj ar]Vi e [en [x]Nj ar]Vi é elevado, caracterizando um forte
entrincheiramento e uma alta probabilidade de instanciação de novos itens, como foi
evidenciado nos experimentos.
169
CONCLUSÃO
Nesta dissertação, tivemos como proposta investigar a produtividade e o
comportamento morfossemântico de construções parassintéticas no português
brasileiro. Duas premissas que nos conduziram durante a produção do trabalho foram
a observação da mudança categorial como mudança de processamento cognitivo e a
relevância da frequência de tipo e da frequência de ocorrência para a manutenção e
formação de unidades lexicais.
Uma vez que essas unidades lexicais não são estruturas ad hoc, mas vinculadas
a esquemas genéricos, pudemos constatar que o entrincheiramento de construções
contribui para sua maior produtividade, ao passo que o entrincheiramento de palavras
impede sua reanálise pela força paradigmática.
A análise das operações cognitivas (metáfora, metonímia, ajuste focal) que
atuam nos fenômenos linguísticos possibilitou que verificássemos as extensões
semânticas decorrentes da aplicação das palavras em diferentes contextos discursivos.
Da mesma maneira, a organização dos subesquemas em uma rede indica o modo pelo
qual a categorização por protótipos age na nossa mente: figura no centro o esquema
mais genérico e radialmente se espraiam os subesquemas mais específicos.
Naturalmente, não se pretendeu esgotar o assunto, cabendo, pois, apontar
alguns caminhos que ainda não foram explorados nos estudos do léxico do português.
Na perspectiva construcional (GOLDBERG, 1995), assume-se que morfologia e sintaxe
têm muitas propriedades em comum, já que são tratadas como pareamentos de forma
e significado. Falta, então, verificar se a transitividade dos diversos verbos
7
170
parassintéticos influencia o agrupamento semântico entre resultatividade de atributo
e resultatividade de espaço. Além disso, como tangenciamos no capítulo 5, a
causatividade parece estar correlacionada ao lugar que o hospedeiro ocupa na
construção resultativa. Retomando os exemplos de (13) e (14), aqui apresentados
como (1), o verbo ‘amolecer’ pode compatibilizar com uma estrutura de um lugar ou
dois lugares, o que interfere na causatividade ou não causatividade da construção.
(1) O chocolate amoleceu.
O calor amoleceu o chocolate.
Outra importante questão é o processo de prótese do [a] em verbos não
parassintéticos, como ‘amostrar’, ‘atropeçar’, ‘assujeitar’ e ‘alembrar’. Tidos como
arcaísmos pela gramática tradicional, esses verbos podem revelar, ao contrário, uma
mudança de subesquemas. O processo inverso, o apagamento de uma das frações do
circunfixo (a aférese), parece ser um caso semelhante, como em ‘paixonar’, ‘noitecer’
e ‘cabar’. É necessário verificar quais são as motivações extralinguísticas para tais
processos fonológicos e se há implicações nas representações semânticas e formais.
Esperamos, em suma, ter contribuído para o desenvolvimento dos estudos em
Linguística Cognitiva no português e, mais especificamente, para o refinamento
daqueles que versam sobre os fenômenos do léxico.
171
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180
ANEXO I
TABELA 1: [a [X] ar] = 418 palavras
TABELA 1: [a [X]Nj ar]Vi
Vocábulo Base Categoria Datação Ababadar babado Adjetivo s.XIX Ababelar babel Substantivo 1949 Ababosar baboso Adjetivo - Abacalhoar bacalhau Substantivo 1949 Abaciar bacia Substantivo s.XX Abadalar badalo Substantivo - Abafar bafo Substantivo s. XV Abagaçar bagaço Substantivo - Abaianar baiano Adjetivo - Abainhar bainha Substantivo s. XV Abairrar bairro Substantivo 1783 Abaixar baixo Adjetivo s. XIII Abalançar balança Substantivo 1596 Abalizar baliza Substantivo - Abaloar balão Substantivo 1913 Abalofar balofo Adjetivo 1783 Abalsamar bálsamo Substantivo s. XIX Abalsar balsa Substantivo 1783 Abananar banana Substantivo 1899 Abandar bando Substantivo s.XX Abandejar bandeja Substantivo 1612 Abandidar bandido Substantivo s. XX Abaquetar baqueta Substantivo 1783 Abarbarar bárbaro Adjetivo 1899 Abarcar brachium Latim s. XV Abaritonar barítono Substantivo 1913 Abaronar barão Substantivo 1942 Abarracar barraca Substantivo 1777 Abarrancar barranco Substantivo s. XV Abarricar barrica Substantivo s. XIX Abarrilar barril Substantivo s. XIX Abarrotar barrote Substantivo 1532 Abastardar bastardo Adjetivo 1678 Abatatar batata Substantivo 1837 Abatinar batina Substantivo 1783 Abaular baú Substantivo s.XVII Abaunilar baunilha Substantivo s. XX Abeatar beato Adjetivo 1783 Abecar beca Substantivo s.XIX
181
Abeirar beira Substantivo 1750 Abençoar bênção Substantivo 1562 Abendiçoar bendição Substantivo 1562 Abengalar bengala Substantivo 1783 Abesourar besouro Substantivo 1899 Abestar besta Adjetivo s. XX Abexigar bexiga Substantivo - Abezerrar bezerro Substantivo - Abibliotecar biblioteca Substantivo 1783 Abicar bico Substantivo 1552 Abigodar bigode Substantivo - Abilolar bilola Substantivo - Abiombar biombo Substantivo - Abiqueirar biqueira Substantivo - Abiscoitar biscoito Substantivo 1783 Abisonhar bisonho Adjetivo - Abobar bobo Adjetivo 1647 Abocadar bocado Substantivo - Abocetar boceta Substantivo 1450 Abodegar bodega Substantivo s. XIV Aboemiar boêmio Adjetivo 1986 Abofetar bofete Substantivo - Abolachar bolacha Substantivo 1986 Aboletar boleto Substantivo 1712 Abolhar bolha Substantivo - Abonançar bonança Substantivo 1532 Abordar borda Substantivo s. XV Abordoar bordão Substantivo 1697 Abotijar botija Substantivo - Abotinar botina Substantivo 1830 Abotoar botão Substantivo s. XIV Abraçar braço Substantivo 1255 Abrandar brando Adjetivo s. XIV Abrasar brasa Substantivo s. XIV Abrasileirar brasileiro Adjetivo 1872 Abrasilianar brasiliano Adjetivo - Abrasonar brasão Substantivo 1879 Abrecar breque Substantivo - Abrejar brejo Substantivo 1783 Abrejeirar brejeiro Substantivo 1938 Abrilhantar brilhante Adjetivo 1789 Abrumar bruma Substantivo 1710 Abrutar bruto Adjetivo - Aburguesar burguês Substantivo 1888 Acabanar cabana Substantivo 1783 Acabar cabo Substantivo s. XIII Acabelar cabelo Substantivo 1621
182
Acaboclar caboclo Substantivo 1872 Acacetar cacete Substantivo - Acachaçar cachaça Substantivo 1918 Acachafundar cachafundo - Acachoeirar cachoeira Substantivo 1912 Acacifar cacifo Substantivo 1783 Acafajestar cafajeste Adjetivo 1926 Acafetar café Substantivo 1899 Acaixeirar caixeiro Substantivo - Acajadar cajado Substantivo 1783 Acalmar calmo Adjetivo s. XV Acalorar calor Substantivo 1864 Acamar cama Substantivo 1136 Acamaradar camarada Adjetivo 1783 Acambraiar cambraia Substantivo - Acampainhar campainha Substantivo - Acampar campo Substantivo s. XIII Acamurçar camurça Substantivo 1704 Acanalar canal Substantivo 1670 Acanalhar canalha Adjetivo 1879 Acanastrar canastra Substantivo 1986 Acancelar cancela Substantivo 1845 Acanelar canela Substantivo 1621 Acangaceirar cangaceiro Substantivo - Acanhar canho Substantivo 1543 Acanivetar canivete Substantivo - Acanoar canoa Substantivo 1986 Acanteirar canteiro Substantivo - Acapachar capacho Substantivo/Adjetivo 1891 Acapangar capanga Substantivo 1928 Acariciar carícia Substantivo 1559 Acarinhar carinho Substantivo 1813 Acarneirar carneiro Substantivo - Acarrancar carranca Substantivo s. XVIII Acarrapatar carrapato Substantivo s. XVIII Acarretar carreta Substantivo s. XIV Acartolar cartola Substantivo - Acasalar casal Substantivo 1881 Acasmurrar casmurro Adjetivo - Acastanhar castanho Adjetivo 1783 Acastelhanar castelhano Adjetivo 1596 Acavalar cavalo Substantivo 1569 Acavaleirar cavaleiro Substantivo s.XIX Acavaletar cavalete Substantivo - Acebolar cebola Substantivo 1783 Acenar accinare, de cinnus Latim XIV Acerejar cereja Substantivo 1647
183
Acertar certo Adjetivo 1118 Acevadar cevada Substantivo 1562 Achatar chato Adjetivo 1858 Achincalhar chinquilho Substantivo 1833 Achinelar chinelo Substantivo - Achinesar chinês Substantivo 1537 Achocolatar chocolate Substantivo - Acidrar cidra Substantivo - Acinzentar cinzento Adjetivo 1851 Aclimar clima Substantivo 1836 Acobertar coberta Substantivo s. XV Acocorar cócora(s) Substantivo 1553 Acoicear coice Substantivo - Acolchetar colchete Substantivo 1783 Acolchoar colchão Substantivo 1522 Acoletar colete Substantivo - Acomadrar comadre Substantivo 1871 Acomodar cômodo Adjetivo 1570 Acompadrar compadre Substantivo s. XIX Acompridar comprido Adjetivo 1871 Aconfradar confrade Substantivo 1899 Aconselhar conselho Substantivo s. XIII Acorcundar corcunda Adjetivo 1913 Acorrentar corrente Substantivo 1836 Acortinar cortina Substantivo 1871 Acostumar costume Substantivo 1255 Acotovelar cotovelo Substantivo 1532 Acovar cova Substantivo 1899 Acovardar covarde Adjetivo s. XV Acreditar crédito Substantivo s. XVI Acriançar criança Substantivo - Acrioular crioulo Adjetivo - Aculturar cultura Substantivo 1930 Adamar dama Substantivo 1712 Adamascar damasco Substantivo 1570 Adelgadar delgado Adjetivo - Adelicadar delicado Adjetivo - Adentrar dentro Advérbio 1817 Adestrar destro Adjetivo 1189 Adiamantar diamante Substantivo - Adiar dia Substantivo 1572 Adietar dieta Substantivo - Adoçar doce Adjetivo s. XIV Adoentar doente Adjetivo 1831 Adonar dono Substantivo - Afaçanhar façanha Substantivo - Afamar fama Substantivo s.XIII
184
Afandangar fandango Substantivo - Afedorentar fedorento Adjetivo - Afeminar femin- Adjetivo s. XV Aferar fera Adjetivo - Aferrar ferro Substantivo s.XV Aferrenhar ferrenho Adjetivo 1899 Afervorar fervor Substantivo 1619 Afiançar fiança Substantivo 1623 Afiar fio Substantivo s. XIV Afidalgar fidalgo Adjetivo 1543 Afinar fino Adjetivo s. XV Afivelar fivela Substantivo 1783 Aflamengar flamengo Substantivo - Aflorar flor Substantivo 1783 Afofar fofo Adjetivo 1712 Afolhar folha Substantivo s. XVI Afrancesar francês Adjetivo 1783 Afranzinar franzino Adjetivo - Afreguesar freguês Substantivo 1562 Afrescar fresco Adjetivo 1610 Afronhar fronha Substantivo - Afrontar fronte Substantivo s. XIII Afrouxar frouxo Adjetivo s. XV Afundar fundo Substantivo s. XIII Afunilar funil Substantivo 1665 Agaitar gaita Substantivo - Agalegar galego Adjetivo 1540 Agalhar galho Substantivo - Agalinhar galinha Substantivo - Agarotar garoto Substantivo 1871 Agarrar garra Substantivo s. XVI Agigantar gigante Adjetivo 1612 Agradar gratus Latim s. XV Agraudar graúdo Adjetivo 1871 Agrisalhar grisalho adjetivo - Agrosseirar grosseiro Adjetivo - Agrupar grupo Substantivo 1818 Aguardar guardare Latim 1288 Aguitarrar guitarra Substantivo - Ajeitar jeito Substantivo s. XVI Ajesuitar jesuíta Adjetivo - Ajoelhar joelho Substantivo s. XIII Ajuizar juiz Substantivo 1647 Ajustar justo Adjetivo s. XIV Aladainhar ladainha Substantivo - Alagar lago Substantivo s. XIV Alaranjar laranja Substantivo 1516
185
Alarar lar Substantivo 1899 Alargar largo Adjetivo 1294 Aletradar letrado Adjetivo - Alinhar linha Substantivo s. XIII Alisar liso Adjetivo s. XVI Alisboetar lisboeta Adjetivo - Alistar lista Substantivo s. XVIII Alojar loja Substantivo s. XIV Alongar longo Adjetivo s. XIII Alourar louro Adjetivo - Amaciar macio Adjetivo 1789 Amadeirar madeira Substantivo 1645 Amadrinhar madrinha Substantivo - Amalaguetar malagueta Substantivo - Amaldiçoar maldição Substantivo 1344 Amalhar malha Substantivo s.XVII Amanequinar manequim Substantivo 1899 Amansar manso Adjetivo s. XIII Amantar manta Substantivo 1836 Amanteigar manteiga Substantivo 1619 Amarasmar marasmo Substantivo - Amarfinar marfim Adjetivo - Amaricar maricas Adjetivo - Amarinheirar marinheiro Substantivo - Amarotar maroto Adjetivo - Amassar massa Substantivo 1258 Amatilhar matilha Substantivo 1858 Amatronar matrona Substantivo - Amazelar mazela Substantivo s.XIV Ameigar meigo Adjetivo 1789 Amelaçar melaço Substantivo 1882 Amembranar membrana Substantivo - Ameninar menino Substantivo 1657 Amentar mente Substantivo s.XIV Amesquinhar mesquinho Adjetivo 1575 Amestrar mestre Substantivo s.XV Ametalar metal Substantivo 1647 Amilhar milho Substantivo 1899 Amineirar mineiro Adjetivo 1913 Amoçar moço Adjetivo - Amochilar mochila Substantivo - Amodernar moderno Adjetivo 1899 Amoedar moeda Substantivo s.XIV Amofinar mofina Adjetivo 1536 Amoitar moita Substantivo 1844 Amontanhar montanha Substantivo 1870 Amontoar montão Substantivo s. XIV
186
Amordaçar mordaça Substantivo 1881 Amorenar moreno Adjetivo 1899 Amornar morno Substantivo s.XV Amortalhar mortalha Substantivo 1553 Amostardar mostarda Substantivo 1873 Amuar mu Substantivo 1543 Amulatar mulato Adjetivo 1699 Amulherar mulher Substantivo - Amulherengar mulherengo Adjetivo - Amumiar múmia Substantivo - Amunhecar munheca Substantivo - Ananicar nanico Adjetivo 1836 Anatar nata Substantivo 1716 Anegrar negro Adjetivo - Aninhar ninho Substantivo 1619 Anotar nota Substantivo s. XV Apadrinhar padrinho Substantivo 1589 Apainelar painel Substantivo 1632 Apaiolar paiol Substantivo 1918 Apaisanar paisano Adjetivo - Apaixonar paixão Substantivo s. XV Apalaçar palác(i)o Substantivo 1899 Apalacetar palacete Substantivo - Apalacianar palaciano Adjetivo 1712 Apalancar palanque Substantivo s.XV Apalavrar palavra Substantivo 1597 Apalhaçar palhaço Adjetivo - Apantufar pantufa Substantivo 1543 Aparabolar parábola Substantivo 1871 Aparceirar parceiro Substantivo - Aparentar parente Substantivo s. XIV Aparoquiar paróquia Substantivo - Apartar parte Substantivo 1214 Apascoar páscoa Substantivo - Apassivar passivo Adjetivo 1858 Apatetar pateta Adjetivo 1858 Apatifar patife- Adjetivo 1755 Apaulistar paulista Adjetivo - Apavorar pavor Adjetivo 1585 Apear pé Substantivo 1540 Apeçonhentar peçonhento Adjetivo - Apedantar pedante Adjetivo - Apepinar pepino Substantivo 1783 Aperfeiçoar perfeição Substantivo 1611 Apertar pectus Latim s.XIII Apiedar piedade Substantivo 1532 Apimentar pimenta Substantivo 1789
187
Apinhar pinha Substantivo 1619 Apiramidar pirâmide Substantivo - Apoderar poder Substantivo s. XIII Apolentar polenta Substantivo 1562 Apoliticalhar politicalha Substantivo - Apoltronar poltrona Substantivo - Apontar ponta Substantivo s. XV Aportar porto Substantivo 1211 Aportuguesar português Adjetivo 1666 Apossar posse Substantivo 1567 Apreçar preço Substantivo 1209 Apresentar presente Substantivo s. XIII Apressar pressa Adjetivo 1344 Apresuntar presunto Substantivo - Aprimorar primor Substantivo 1550 Aprincesar princesa Substantivo - Aprisionar prisão Substantivo s. XIV Aprofundar profundo Adjetivo 1836 Aprontar pronto Substantivo 1793 Apropriar próprio Adjetivo s. XIV Aprovar prova Substantivo s. XIV Aproveitar proveito Substantivo s. XIII Aproximar próximo Adjetivo 1619 Aprumar prumo Substantivo 1851 Apunhalar punhal Substantivo 1642 Apurar puro Adjetivo s. XIV Aquadrilhar quadrilha Substantivo 1459 Aquilombar quilombo Substantivo 1899 Arrapazar rapaz Substantivo - Arrasar raso Adjetivo 1344 Arrastar rastro Substantivo s. XIII Arrebanhar rebanho Substantivo 1597 Arrebatar rebate Substantivo 1269 Arrecadar recaptare Substantivo 1174 Arredondar redondo Adjetivo s. XIV Arregaçar regaço Substantivo 1562 Arregalar regalo Substantivo s. XV Arreganhar reganho Substantivo s. XIII Arregimentar regimento Substantivo - Arrematar remate Substantivo 1504 Arremessar remesso Substantivo s. XIV Arrendar renda Substantivo 1258 Arriscar risco Substantivo s. XV Arrombar rombo Substantivo s. XV Arruinar ruína Substantivo s. XIV Arrumar rumo Substantivo 1456 Assalariar salário Substantivo s. XV
188
Assanhar sanha Substantivo s. XIII Assedentar sedento Adjetivo - Assegurar seguro Substantivo s. XIV Assenhorar senhor Substantivo 1344 Assenzalar senzala Substantivo - Assinalar sinal Substantivo 1279 Assingelar singelo Substantivo - Assoberbar soberba Substantivo s.XIV Assobradar sobrado Substantivo s.XIII Assombrar sombra Substantivo s. XIV Assovinar sovina Adjetivo - Assustar susto Substantivo 1655 Atabernar taberna Substantivo 1899 Atamancar tamanco Substantivo 1836 Atapetar tapete Substantivo 1828 Atarefar tarefa Substantivo 1789 Atarraxar tarraxa Substantivo 1793 Atartarugar tartaruga Substantivo 1899 Atear teia Substantivo s. XV Atenorar tenor Substantivo - Aterrar terra Substantivo s. XV Atiçar titio Latim s. XV Atigrar tigre Substantivo - Atijolar tijolo Substantivo 1899 Atinar tino Substantivo 1543 Atirar tiro Substantivo s. XV Atoalhar toalha Substantivo 1507 Atomatar tomate Substantivo 1838 Atormentar tormento Substantivo s. XIII Atoucinhar toucinho Substantivo Atraiçoar traição Substantivo 1552 Atrapalhar trapalh- Substantivo 1727 Atravancar travanca Substantivo 1553 Atrelar trela Substantivo s. XV Atropelar tropel Substantivo s. XIV Atucanar tucano Substantivo 1898 Avaliar valia Substantivo 1322 Avampirar vampiro Substantivo - Avarandar varanda Substantivo 1913 Avassalar vassalo Adjetivo 1600 Aveludar veludo Substantivo 1452 Avermelhar vermelho Substantivo 1500 Avinhar vinho Substantivo 1575 Avistar vista Substantivo 1644 Avivar vivo Substantivo 1344 Avizinhar vizinho Substantivo 1543 Avolumar volume Substantivo 1552
189
Avultar vulto Substantivo 1553 Axicarar xícara Substantivo - Azabumbar zabumba Substantivo -
TABELA 2: [a [X] ecer] = 11 palavras
TABELA 2: [a [X]Nj ecer]Vi
Vocábulo Base Categoria Datação Abastecer Basto Adjetivo 1513 Aborrecer Abhorrescere Latim s.XIII Adoecer Addolescere Latim s.XIII Adormecer Addormiscere Latim s.XIII Agradecer Gratus, gratescere Latim s.XIII Amadurecer Maduro/ Ematurescere Adjetivo 1344 Amanhecer Manhã/ Admanescere Substantivo 1344 Amolecer Mole/ Emollescere Adjetivo 1552- 1570 Amortecer Morte Substantivo s.XIV Anoitecer Noite, de adnoctescere Substantivo s.XIII Apodrecer Podre, de putrescere Adjetivo s.XIII
TABELA 3: [en [X] ar] = 257 palavras
TABELA 3: [en [X]Nj ar]Vi
Vocábulo Base Categoria Data Emaçar maço Substantivo 1622 Emadeirar madeira Substantivo - Emadeixar madeixa Substantivo - Emagotar magote Substantivo - Emalar mala Substantivo - Emalhar malha Substantivo - Emalhetar maleta Substantivo - Emanocar manoca Substantivo - Emantar manta Substantivo -
Emascular másculo (do latim) Adjetivo 1926 Emassar massa Substantivo 1881 Embabacar babaca Adjetivo 1634 Embaçar baço Adjetivo s. XVI Embacelar bacela Substantivo - Embagar bago Substantivo - Embagulhar bagulho Substantivo 1950 Embainhar bainha Substantivo 1532 Embalar bala (balanço) Substantivo s. XVI Embalsamar bálsamo Substantivo s. XVI
190
Embalsar balsa Substantivo 1601
Embananar banana Substantivo - Embandeirar bandeira Substantivo 1512 Embaraçar baraço Substantivo s. XV Embaralhar baralho Substantivo 1664 Embarbascar barbasco Substantivo 1552 Embarbelar barbela Substantivo 1899 Embarbilhar barbilho Substantivo 1899 Embarcar barca Substantivo s. XIV Embargar do latim s.XIII Embarrancar barranco Substantivo - Embarrar barro Substantivo s.XIV Embarreirar barreira Substantivo -
Embarricar barrica Substantivo - Embarrigar barriga Substantivo - Embarrilar barril Substantivo - Embasar base Substantivo 1928
Embasbacar orig.controv. 1634 Embatucar batocar 1816 Embaular baú Substantivo 1981 Embebedar bêbedo Adjetivo s. XIV Embeiçar beiço Substantivo 1858 Embelecar orig.controv. s.XV Embelezar beleza Substantivo 1548 Embernar berne Substantivo 1958
Embestar besta substantivo s. XV Embetesgar betesga Substantivo 1553 Embezerrar bezerro Substantivo 1713 Embicar bico Substantivo s.XV Embiocar bioco Substantivo 1713 Embirutar biruta Adjetivo - Embocar boca Substantivo 1539 Embocetar boceta Substantivo - Embodegar bodega Substantivo - Embolar bola Substantivo s. XV Embolorar bolor Substantivo - Embolotar bolota Substantivo -
Embolsar bolso/a Substantivo s. XIV Embonecar boneca Substantivo 1562 Emborcar do latim s.XIV Emborrachar borracha Substantivo - Emborralhar boralho Substantivo - Emborrascar borrasca Substantivo - Embostar bosta Substantivo - Embotijar botija Substantivo - Embraçar braço Substantivo s. XIV
191
Embrechar brecha Substantivo
Embrenhar brenha Substantivo s. XV Embriagar do latim embriago s.XIII Embrincar brinco Substantivo Embruacar bruaca Substantivo 1899 Embrulhar do latim s.XIII Embrumar bruma Substantivo Embruxar bruxa Substantivo Embuchar bucho Substantivo 1977 Embuizar origem duvidosa Emburacar buraco Substantivo s. XX Emburrar burro Substantivo 1647 Embuzinar buzina Substantivo -
Emelar mel Substantivo - Emoldurar moldura Substantivo 1844 Empacar paca Substantivo 1873 Empaçocar paçoca Substantivo -
Empacotar pacote Substantivo 1715 Empalar palo (pau) Substantivo 1531 Empalhar palha Substantivo s. XV Empalheirar palheiro Substantivo - Empalmar palma Substantivo 1836 Empampanar pâmpano Substantivo - Empenachar penacho Substantivo 1931 Empanar pano Substantivo s. XVI
Empantanar pântano Substantivo 1953 Empanturrar panturra Substantivo 1552 Empapar papa Substantivo 1588 Empapelar papel Substantivo 1515 Empapuçar orig. controv. 1836 Emparceirar parceiro Substantivo 1881 Emparedar parede Substantivo s. XIII Emparelhar parelha Substantivo s. XV Empastar pasta Substantivo 1644 Empastelar pastel Substantivo 1899 Empatar patta, ita. Substantivo 1655 Empauapicar pau-a-pique Substantivo -
Empavonar pavão Substantivo - Empeçonhar peçonha Substantivo s.XIII Empedrar pedra Substantivo 1562 Empelotar pelota Substantivo - Empenar pinus Substantivo s. XV Empenhar penhor Substantivo s. XV Emperiquitar periquito Substantivo s. XX Empernar perna Substantivo s. XX Emperrar do espanhol 1532
192
Empestear peste Substantivo 1697
Empetecar peteca Substantivo - Empilecar pileque Substantivo - Empilhar pilha Substantivo s. XV Empinar pino Substantivo s. XV Empipocar pipoca Substantivo s. XV Empistolar pistolão Substantivo - Emplacar placa Substantivo 1958 Emplumar pluma Substantivo 1662 Empoar pó Substantivo 1536 Empoçar poço/a Substantivo 1562 Empocilgar pocilga Substantivo - Empoeirar poeira Substantivo 1817
Empoleirar poleiro Substantivo 1562 Empomadar pomada Substantivo - Empombar pomba Substantivo s. XX Empossar posse Substantivo 1537
Emprateleirar prateleira Substantivo - Emprazar prazo Substantivo s. XIII Empreguiçar preguiça Substantivo s.XIV Empreitar preito (pacto) Substantivo s. XV Emprenhar prenhe Adjetivo s. XIII Empunhar punho Substantivo s. XIV Empurpurar púrpura Adjetivo - Emundar mundo Substantivo 1938
Encabeçar cabeça Substantivo 1543 Encabular orig.controv. Substantivo s. XX Encaçapar caçapa Substantivo - Encadear cadeia Substantivo s. XV Encadernar caderno Substantivo s. XIV Encafifar cafifa Substantivo 1899 Encaixar caixa Substantivo s. XV Encaixotar caixote Substantivo 1789 Encalacrar calacre (dívida) Substantivo 1858 Encalhar calha Substantivo s. XV Encaminhar caminho Substantivo s. XV Encaminhar caminho Substantivo s.XV
Encampar campo Substantivo s.XIV Encanar cano Substantivo 1649 Encapar capa Substantivo 1842 Encapuzar capuz Substantivo 1996 Encaracolar caracol Substantivo 1858 Encarar cara Substantivo 1553 Encarcerar cárcere Substantivo s. XIV Encaretar careta Adjetivo - Encarnar carne Substantivo s. XIII
193
Encarneirar carneiro Substantivo XIX
Encarniçar carniça Substantivo 1543 Encaroçar caroço Substantivo 1913 Encasacar casaca Substantivo 1867 Encasquetar casquete Substantivo s. XVI Encastelar castelo Substantivo s. XIV Encatarrar-se catarro Substantivo s. XX Encavalar cavalo Substantivo - Encavernar caverna Substantivo 1899 Enceleirar celeiro Substantivo - Encenar cena Substantivo 1899 Encerar cera Substantivo 1540 Encerebrar cérebro Substantivo 1899
Encharcar charco Substantivo 1529 Enciumar ciúme Substantivo 1939 Enclausurar clausura Substantivo 1881 Encorajar coragem Substantivo 1858
Encorpar corpo Substantivo 1713 Encorujar coruja Substantivo 1899 Encostar costa Substantivo s. XIV Encravar cravo Substantivo s. XV Encrespar crespo Adjetivo s. XIV Encristar-se crista Substantivo - Encucar cuca Substantivo - Encurralar curral Substantivo 1559
Encurtar curto Adjetivo s. XIV Endeusar deus Substantivo 1622 Endinheirar-se dinheiro Substantivo 1713 Endireitar direito Adjetivo s. XIV Endividar dívida Substantivo s. XIII Endoidar doido Adjetivo 1913 Enervar nervo Substantivo s. XIV Enevoar névoa Substantivo s. XV Enfaixar faixa Substantivo s. XV Enfear feo (<feio) Adjetivo 1913 Enfeitiçar feitiço Substantivo s. XV Enferrujar ferrugem Substantivo 1727
Enfezar fezes Substantivo 1687 Enfiar fio Substantivo s. XIII Enfileirar fileira Substantivo s.XVIII Enflorar flor Substantivo XIX Enfocar foco Substantivo XX Enforcar forca Substantivo 1152 Enfrentar frente Substantivo 1899 Enfronhar fronha Substantivo 1910 Enfunilar funil Substantivo 1713
194
Engaiolar gaiola Substantivo 1713
Engarrafar garrafa Substantivo 1836 Engasgar -gasg (goela) Substantivo s. XVI Engatar gato Substantivo 1563 Engatilhar gatilho Substantivo 1881 Engatinhar gatinho Substantivo 1543 Engavetar gaveta Substantivo 1913 Engessar gesso Substantivo 1562 Englobar globo Substantivo 1836 Engomar goma Substantivo 1562 Engordar gordo adjetivo s.XIV Engordurar gordura Substantivo 1858 Engraçar graça Adjetivo s.XIV
Engravatar gravata Substantivo 1871 Engravidar grávido Adjetivo 1958 Engraxar graxa Substantivo 1543 Engrinaldar grinalda Substantivo 1635
Engrossar grosso Adjetivo s. XIII Enjaular jaula Substantivo 1706 Enlaçar laço Substantivo s. XIV Enlatar lata Substantivo s. XVI Enlerdar lerdo Adjetivo - Enlodar lodo Substantivo s.XV Enluarar luar Substantivo s.XX Enlutar luto Substantivo 1860
Enquadrar quadro Substantivo 1899 Enrabar rabo Substantivo 1986 Enrabichar rabicho Substantivo 1881 Enraizar raiz Substantivo 1836 Enredar rede Substantivo 1543 Enricar rico Adjetivo - Enrijar rijo Adjetivo - Enrolar rolo Substantivo 1536 Enroscar rosca Substantivo 1524 Enrugar ruga Substantivo s. XIII Ensaboar sabão Substantivo 1562 Ensacar saco Substantivo 1548
Ensanduichar sanduíche Substantivo 1995 Ensopar sopa Substantivo s. XV Entalar tala Substantivo 1562 Entediar tédio Substantivo 1865 Enterrar terra Substantivo s. XIII Entoar tom Substantivo s.XV Entornar torno (cast.) Substantivo s.XIV Entortar torto Adjetivo 1562 Entrincheirar trincheira Substantivo 1596
195
Entubar tubo Substantivo 1958
Entulhar tulha Substantivo 1507 Enturmar turma Substantivo - Envasilhar vasilha Substantivo 1727 Envenenar veneno Substantivo 1858 Envergonhar vergonha Substantivo s. XIII Envernizar verniz Substantivo s. XV Enviuvar viúvo Adjetivo 1543
TABELA 4: [en [X] ecer] = 40 palavras
TABELA 4: [en [X]Nj ecer]Vi
Vocábulo Base Categoria Datação Emagrecer magro Adjetivo s. XIII Embambecer bambo Adjetivo - Embarbecer barba Substantivo s. XIII Embrabecer brabo Adjetivo s. XIV Embrandecer brando Adjetivo s. XIX Embranquecer branco Adjetivo s. XIV Embravecer bravo Adjetivo s. XIV Embrutecer bruto Adjetivo s. XVIII Emburrecer burro Adjetivo s. XX Emouquecer mouco Adjetivo 1557 Empalidecer pálido Adjetivo s. XVII Empardecer pardo Adjetivo s. XIX Empequenecer pequeno Adjetivo - Empobrecer pobre Adjetivo s. XIII Emputecer puto Adjetivo s. XX Emudecer mudo Adjetivo s. XV Enaltecer (do espanhol) alto Adjetivo s. XIX Encalecer calo Substantivo - Encalvecer calvo Adjetivo s.XVIII Encarecer caro Adjetivo s. XIV Endoidecer doido Adjetivo s. XV Endurecer duro Adjetivo s. XIV Enegrecer negro Adjetivo s. XIV Enfraquecer fraco Adjetivo s. XIII Enfurecer rad. de fúria Substantivo s. XVII Engrandecer grande Adjetivo s. XV Enlouquecer louco Adjetivo s. XIII Enobrecer nobre Adjetivo s. XIV Enraivecer raiva Substantivo s. XVIII Enrijecer rijo Adjetivo s. XIII
196
Enriquecer rico Adjetivo s. XIII Enrouquecer rouco Adjetivo s. XIV Ensoberbecer soberba Substantivo s. XIV Ensurdecer surdo Adjetivo s. XIV Entardecer tarde Substantivo s. XIX Enternecer terno Adjetivo s. XVI Entristecer triste Adjetivo s. XIV Envaidecer vaidade Substantivo s. XIX Envelhecer velho Adjetivo s. XIII Enverdecer verde Adjetivo s. XIV
197
ANEXO II
Textos utilizados dos corpora diacrônicos
CIPM
Lista de textos utilizados CIPM Data
Crônica de Afonso X (MsP) in Crônica Geral de Espanha
XIV
Dos Costumes de Santarém XIV Crônica de Afonso X (MsL) in Crônica Geral de Espanha
XIV
Crônica Geral de Espanha XIV Castelo Perigoso XV Leal Conselheiro XV Orto do Esposo XV Crônica dos Reis de Bisnaga XVI
TYCHO BRAHE
Lista de textos utilizados CIPM Data
Crônica del-Rei Dom João I, Fernão Lopes XIV Gramática, João de Barros XV Crônica del-Rei Dom Afonso Henriques, Duarte Galvão
XV
Monarchia Lusitana, António Brandão XVI Da Monarchia Lusitana, Bernardo de Brito XVI Décadas, Diogo Couto XVI Cartas, Dom João III XVI Discursos vários políticos, Manuel Severim de Faria
XVI
História da Província de Santa Cruz, Pero Magalhães de Gandavo
XVI
Da pintura antiga, Francisco de Holanda XVI Corte na Aldeia e Noites de Inverno, F. Rodrigues Lobo
XVI
Perigrinação, de Fernão Mendes Pinto XVI A vida de Frei Bartolameu dos Mártires, Luis de Sousa
XVI
Manuscritos das Mãos Inábeis XVI Vida do apostólico padre Antonio Vieira, André de Barros
XVII
Nova Floresta, Manuel Bernardes XVII Cartas, José da Cunha Brochado XVII Cartas Espirituais, Antonio das Chagas XVII A arte de furtar, Manuel da Costa XVII Obras Completas, Correia Garção XVII
198
Cartas, Alexandre de Gusmão XVII
Cartas Familiares, Francisco Manuel de Melo XVII Tácito Português, Francisco Manuel de Melo XVII História Sebástica, Manuel dos Santos XVII Historia do futuro, Padre A. Vieira XVII Sermões, Padre A. Vieira XVII Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, Matias Aires
XVIII
Cartas, Marquesa de Alorna XVIII Cartas, Cavaleiro de Oliveira XVIII Cartas, Antonio da Costa XVIII Entremezes de Cordel, Jose Daniel Rodrigues da Costa
XVIII
Cartas, Almeida Garret XVIII Teatro, Almeida Garret XVIII Viagens na minha terra, Almeida Garret XVIII Cartas, Pina Manique XVIII Aventuras de Diófanes, Teresa Margarida da Silva e Orta
XVIII
Verdadeiro Método de Estudar, L. Antonio Verney XVIII Atas dos Africanos XVIII Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna XIX Maria Moisés, Camilo Castelo Branco XIX Cartas, Eça de Queirós e Oliveira Martins XIX Cartas a Emília, Ramalho Ortigão XIX Maria ou a menina roubada, Antônio Gonçalves Teixeira e Souza
XIX
Portal Domínio Público
Lista de textos utilizados Data Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
XIX
O Sertanejo, de José de Alencar XIX
O Cortiço, de Aluísio de Azevedo XIX
A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães XIX
Memórias de um sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida
XIX
A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo XIX
O Ateneu, Raul Pompéia XIX
O Matuto, de Franklin Távora XIX
199
ANEXO III
Frequência de uso do século XIV
[a[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/504183 0,008529 Adoecer 34/504183 0,006744 Abastecer 6/504183 0,00119 Acaecer 3/504183 0,000595 Adormecer 3/504183 0,000595 Avorrecer 3/504183 0,000595 Amanhecer 2/504183 0,000397 Apodrecer 2/504183 0,000397 Amadurecer 1/504183 0,000198 Anoytecer 1/504183 0,000198
[en[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Enriquecer 3/504183 0,000595 Ensoberbecer 1/504183 0,000198 Enfraquecer 1/504183 0,000198
[en[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 22/504183 0,004363 Encaminhar 5/504183 0,000992 Enforcar 4/504183 0,000793 Embarcar 2/504183 0,000397 Emprazar 2/504183 0,000397 Emprenhar 1/504183 0,000198 Enfamar 1/504183 0,000198 Enlaçar 1/504183 0,000198 Encarnar 1/504183 0,000198
[a[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 133/504183 0,026379 Apoderar 44/504183 0,008727 Aguardar 41/504183 0,008132 Apartar 26/504183 0,005157 Aportar 21/504183 0,004165 Abraçar 19/504183 0,003768 Alongar 15/504183 0,002975 Apresentar 12/504183 0,00238 Apressar 12/504183 0,00238 Abaixar 9/504183 0,001785 Acertar 9/504183 0,001785 Apontar 7/504183 0,001388
200
Afrontar 5/504183 0,000992 Assanhar 5/504183 0,000992 Atormentar 5/504183 0,000992 Apedrar 4/504183 0,000793 Apertar 4/504183 0,000793 Arrastar 4/504183 0,000793 Apedrar 3/504183 0,000595 Aproveitar 3/504183 0,000595 Assenhorar 3/504183 0,000595 Acevadar 2/504183 0,000397 Aprovar 2/504183 0,000397 Arrecadar 2/504183 0,000397 Assegurar 2/504183 0,000397 Avivar 2/504183 0,000397 Abrandar 1/504183 0,000198 Acostumar 1/504183 0,000198 Agradar 1/504183 0,000198 Arrasar 1/504183 0,000198 Atropelar 1/504183 0,000198
201
Frequência de uso do século XV
[a[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 29/590942 0,004907 Aborrecer 22/590942 0,003723 Adormecer 19/590942 0,003215 Adoecer 16/590942 0,002708 Amanhecer 6/590942 0,001015 Apodrecer 5/590942 0,000846 Aquecer 5/590942 0,000846 Anoitecer 4/590942 0,000677 Abastecer 2/590942 0,000338
[en[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Ensoberbecer 7/590942 0,001185 Entristecer 5/590942 0,000846 Enegrecer 4/590942 0,000677 Endurecer 3/590942 0,000508 Enfraquecer 3/590942 0,000508 Enverdecer 3/590942 0,000508 Embranquecer 2/590942 0,000338 Emudecer 1/590942 0,000169 Engrandecer 1/590942 0,000169 Enobrecer 1/590942 0,000169 Enriquecer 1/590942 0,000169 Envelhecer 1/590942 0,000169
[en[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Enterrar 21/590942 0,003554 Encaminhar 16/590942 0,002708 Envergonhar 13/590942 0,0022 Endireitar 6/590942 0,001015 Encostar 5/590942 0,000846 Engordar 2/590942 0,000338 Embarcar 1/590942 0,000169 Embicar 1/590942 0,000169 Empossar 1/590942 0,000169 Empunhar 1/590942 0,000169 Engalhar 1/590942 0,000169 Enlaçar 1/590942 0,000169 Entornar 1/590942 0,000169
[a[x]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 172/590942 0,029106 Apertar 78/590942 0,013199 Aproveitar 64/590942 0,01083 Abraçar 51/590942 0,00863
202
Apartar 46/590942 0,007784 Alongar 34/590942 0,005754 Abaixar 31/590942 0,005246 Acertar 30/590942 0,005077 Aguardar 28/590942 0,004738 Apresentar 23/590942 0,003892 Apropriar 19/590942 0,003215 Assanhar 18/590942 0,003046 Atormentar 15/590942 0,002538 Aportar 12/590942 0,002031 Alagar 11/590942 0,001861 Aprovar 9/590942 0,001523 Assenhorar 8/590942 0,001354 Aconselhar 7/590942 0,001185 Apontar 7/590942 0,001185 Apressar 6/590942 0,001015 Abrandar 5/590942 0,000846 Avivar 5/590942 0,000846 Acarretar 3/590942 0,000508 Afrontar 3/590942 0,000508 Alargar 3/590942 0,000508 Amansar 3/590942 0,000508 Arrecadar 3/590942 0,000508 Arrebatar 3/590942 0,000508 Afigurar 2/590942 0,000338 Afundar 2/590942 0,000338 Apedrar 2/590942 0,000338 Arrastar 2/590942 0,000338 Arremessar 2/590942 0,000338 Arrematar 2/590942 0,000338 Abafar 1/590942 0,000169 Afrouxar 1/590942 0,000169 Afiar 1/590942 0,000169 Acovardar 1/590942 0,000169 Apiedar 1/590942 0,000169 Apurar 1/590942 0,000169 Avantajar 1/590942 0,000169
203
Frequência de uso do século XVI
[a[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 25/574042 0,004355 Amanhecer 12/574042 0,00209 Aborrecer 10/574042 0,001742 Aquecer 4/574042 0,000697 Adoecer 2/574042 0,000348 Adormecer 2/574042 0,000348 Amadurecer 1/574042 0,000174 Anoitecer 1/574042 0,000174
[en[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Encarecer 21/574042 0,003658 Enriquecer 21/574042 0,003658 Engrandecer 20/574042 0,003484 Enobrecer 11/574042 0,001916 Entristecer 4/574042 0,000697 Emudecer 2/574042 0,000348 Empobrecer 2/574042 0,000348 Endurecer 2/574042 0,000348 Enfraquecer 2/574042 0,000348 Emagrecer 1/574042 0,000174 Enfurecer 1/574042 0,000174 Enternecer 1/574042 0,000174
[en[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 92/574042 0,016027 Encaminhar 14/574042 0,002439 Enterrar 9/574042 0,001568 Entesourar 6/574042 0,001045 Enforcar 4/574042 0,000697 Encarar 3/574042 0,000523 Encostar 3/574042 0,000523 Enojar 3/574042 0,000523 Entornar 3/574042 0,000523 Envergonhar 3/574042 0,000523 Encampar 2/574042 0,000348 Encurtar 2/574042 0,000348 Embicar 1/574042 0,000174 Empredar 1/574042 0,000174 Encadear 1/574042 0,000174 Emparelhar 1/574042 0,000174 Encaixar 1/574042 0,000174 Encapelar 1/574042 0,000174 Enforcar 1/574042 0,000174 Endireitar 1/574042 0,000174 Engordar 1/574042 0,000174
204
Enroscar 1/574042 0,000174 Entulhar 1/574042 0,000174 Embebedar 1/574042 0,000174 Embostar 1/574042 0,000174
[a[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 233/574042 0,040589 Apontar 123/574042 0,021427 Aproveitar 97/574042 0,016898 Acertar 52/574042 0,009059 Apartar 47/574042 0,008188 Aconselhar 46/574042 0,008013 Apertar 26/574042 0,004529 Apresentar 26/574042 0,004529 Arrecadar 24/574042 0,004181 Aprovar 22/574042 0,003832 Acreditar 19/574042 0,00331 Assegurar 18/574042 0,003136 Apurar 15/574042 0,002613 Alargar 13/574042 0,002265 Assombrar 13/574042 0,002265 Acomodar 12/574042 0,00209 Assinalar 12/574042 0,00209 Avaliar 12/574042 0,00209 Acostumar 11/574042 0,001916 Apressar 11/574042 0,001916 Abaixar 10/574042 0,001742 Atirar 10/574042 0,001742 Abrasar 9/574042 0,001568 Alagar 9/574042 0,001568 Apear 9/574042 0,001568 Apoderar 9/574042 0,001568 Aremessar 9/574042 0,001568 Arriscar 9/574042 0,001568 Acarretar 8/574042 0,001394 Agradar 8/574042 0,001394 Arrendar 7/574042 0,001219 Atinar 7/574042 0,001219 Arruinar 6/574042 0,001045 Alojar 5/574042 0,000871 Aperfeiçoar 5/574042 0,000871 Atormentar 5/574042 0,000871 Abrandar 4/574042 0,000697 Afigurar 4/574042 0,000697 Afrontar 4/574042 0,000697 Aguardar 4/574042 0,000697 Alongar 4/574042 0,000697 Arrematar 4/574042 0,000697 Avivar 4/574042 0,000697 Afrouxar 3/574042 0,000523
205
Ajustar 3/574042 0,000523 Arrasar 3/574042 0,000523 Atear 3/574042 0,000523 Abarcar 2/574042 0,000348 Acalmar 2/574042 0,000348 Amansar 2/574042 0,000348 Arrastar 2/574042 0,000348 Arrebatar 2/574042 0,000348 Acanhar 1/574042 0,000174 Adestrar 1/574042 0,000174 Anotar 1/574042 0,000174 Amuar 1/574042 0,000174 Alarar 1/574042 0,000174 Amortalhar 1/574042 0,000174 Amassar 1/574042 0,000174 Aproximar 1/574042 0,000174 Atenuar 1/574042 0,000174 Atemorizar 1/574042 0,000174
206
Frequência de uso do século XVII
[a[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 48/563636 0,008516 Aborrecer 31/563636 0,0055 Adoecer 16/563636 0,002839 Amanhecer 16/563636 0,002839 Adormecer 5/563636 0,000887 Abastecer 3/563636 0,000532 Amolecer 2/563636 0,000355 Anoitecer 2/563636 0,000355 Amadurecer 1/563636 0,000177 Amortecer 1/563636 0,000177 Aquecer 1/563636 0,000177
[en[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Enfraquecer 22/563636 0,003903 Encarecer 13/563636 0,002306 Enriquecer 12/563636 0,002129 Entristecer 8/563636 0,001419 Emudecer 7/563636 0,001242 Enobrecer 6/563636 0,001065 Engrandecer 5/563636 0,000887 Endurecer 4/563636 0,00071 Envilecer 4/563636 0,00071 Empobrecer 2/563636 0,000355 Encruecer 2/563636 0,000355 Embravecer 1/563636 0,000177 Emagrecer 1/563636 0,000177 Endoidecer 1/563636 0,000177 Enfurecer 1/563636 0,000177 Enlouquecer 1/563636 0,000177 Enternecer 1/563636 0,000177
[en[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Encaminhar 23/563636 0,004081 Embarcar 20/563636 0,003548 Envergonhar 19/563636 0,003371 Engrossar 12/563636 0,002129 Enterrar 8/563636 0,001419 Enforcar 4/563636 0,00071 Engatinhar 3/563636 0,000532 Ensacar 3/563636 0,000532 Embaraçar 2/563636 0,000355 Embalsamar 2/563636 0,000355 Empunhar 2/563636 0,000355 Encorporar 2/563636 0,000355 Engolfar 2/563636 0,000355
207
Embainhar 1/563636 0,000177 Embalsar 1/563636 0,000177 Empenhar 1/563636 0,000177 Enceleirar 1/563636 0,000177 Encostar 1/563636 0,000177 Encravar 1/563636 0,000177 Endireitar 1/563636 0,000177 Endividar 1/563636 0,000177 Engordar 1/563636 0,000177 Ensopar 1/563636 0,000177 Enredar 1/563636 0,000177 Entoar 1/563636 0,000177 Entortar 1/563636 0,000177 Entulhar 1/563636 0,000177 Entrouxar 1/563636 0,000177
[a[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 320/563636 0,056774 Aproveitar 82/563636 0,014548 Apartar 54/563636 0,009581 Assegurar 54/563636 0,009581 Acertar 51/563636 0,009048 Aprovar 44/563636 0,007806 Aconselhar 43/563636 0,007629 Agradar 42/563636 0,007452 Apontar 42/563636 0,007452 Ajustar 38/563636 0,006742 Acomodar 32/563636 0,005677 Apertar 24/563636 0,004258 Apresentar 24/563636 0,004258 Arruinar 17/563636 0,003016 Arrastar 15/563636 0,002661 Avaliar 15/563636 0,002661 Arrebatar 14/563636 0,002484 Atormentar 13/563636 0,002306 Avistar 12/563636 0,002129 Acreditar 11/563636 0,001952 Apurar 11/563636 0,001952 Arriscar 11/563636 0,001952 Assustar 11/563636 0,001952 Abrasar 10/563636 0,001774 Assombrar 10/563636 0,001774 Agravar 9/563636 0,001597 Alargar 9/563636 0,001597 Apressar 9/563636 0,001597 Abaixar 8/563636 0,001419 Aguardar 8/563636 0,001419 Atear 8/563636 0,001419 Atropelar 8/563636 0,001419 Amansar 7/563636 0,001242
208
Aperfeiçoar 7/563636 0,001242 Arrasar 7/563636 0,001242 Avultar 6/563636 0,001065 Abarcar 5/563636 0,000887 Agarrar 5/563636 0,000887 Atirar 5/563636 0,000887 Abrandar 4/563636 0,00071 Afrontar 4/563636 0,00071 Ajoelhar 4/563636 0,00071 Aportar 4/563636 0,00071 Atenuar 4/563636 0,00071 Acarretar 3/563636 0,000532 Acovardar 3/563636 0,000532 Alistar 3/563636 0,000532 Alojar 3/563636 0,000532 Alongar 3/563636 0,000532 Amontoar 3/563636 0,000532 Apoderar 3/563636 0,000532 Arremessar 3/563636 0,000532 Assinalar 3/563636 0,000532 Atinar 3/563636 0,000532 Acanhar 2/563636 0,000355 Acariciar 2/563636 0,000355 Adestrar 2/563636 0,000355 Afinar 2/563636 0,000355 Agigantar 2/563636 0,000355 Alagar 2/563636 0,000355 Apadrinhar 2/563636 0,000355 Apropriar 2/563636 0,000355 Arrecadar 2/563636 0,000355 Avivar 2/563636 0,000355 Avizinhar 2/563636 0,000355 Acalmar 1/563636 0,000177 Afigurar 1/563636 0,000177 Afrouxar 1/563636 0,000177 Ajuizar 1/563636 0,000177 Alinhar 1/563636 0,000177 Aligeirar 1/563636 0,000177 Arrematar 1/563636 0,000177 Aprofundar 1/563636 0,000177 Arrebanhar 1/563636 0,000177 Arrombar 1/563636 0,000177 Arrumar 1/563636 0,000177 Aterrar 1/563636 0,000177
209
Frequência de uso do século XVIII
[a[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Agradecer 43/508567 0,008455 Aborrecer 27/508567 0,005309 Adormecer 5/508567 0,000983 Apodrecer 5/508567 0,000983 Amanhecer 4/508567 0,000787 Amortecer 4/508567 0,000787 Adoecer 3/508567 0,00059 Anoitecer 3/508567 0,00059
[en[X]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem Enobrecer 17/508567 0,003343 Enternecer 7/508567 0,001376 Enfraquecer 6/508567 0,00118 Enriquecer 6/508567 0,00118 Entristecer 6/508567 0,00118 Emudecer 5/508567 0,000983 Enfurecer 4/508567 0,000787 Engrandecer 4/508567 0,000787 Envelhecer 4/508567 0,000787 Envilecer 4/508567 0,000787 Endoidecer 3/508567 0,00059 Encarecer 2/508567 0,000393 Emagrecer 1/508567 0,000197 Empalidecer 1/508567 0,000197 Endurecer 1/508567 0,000197 Enlouquecer 1/508567 0,000197 Enraivecer 1/508567 0,000197 Enrouquecer 1/508567 0,000197 Ensoberbecer 1/508567 0,000197 Entontecer 1/508567 0,000197
[en[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Embarcar 19/508567 0,003736 Envergonhar 13/508567 0,002556 Encaminhar 11/508567 0,002163 Endireitar 8/508567 0,001573 Envenenar 7/508567 0,001376 Enforcar 5/508567 0,000983 Enterrar 4/508567 0,000787 Enredar 4/508567 0,000787 Entoar 3/508567 0,00059 Embaraçar 3/508567 0,00059 Embainhar 3/508567 0,00059 Enrolar 2/508567 0,000393 Engrossar 2/508567 0,000393
210
Encostar 2/508567 0,000393 Encasquetar 2/508567 0,000393 Entortar 1/508567 0,000197 Entalar 1/508567 0,000197 Engordar 1/508567 0,000197 Enervar 1/508567 0,000197 Encrespar 1/508567 0,000197 Encarquilhar 1/508567 0,000197 Encarcerar 1/508567 0,000197 Encaixar 1/508567 0,000197 Empunhar 1/508567 0,000197 Empastar 1/508567 0,000197 Embaralhar 1/508567 0,000197
[a[X]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem Acabar 330/508567 0,064888 Agradar 111/508567 0,021826 Apontar 71/508567 0,013961 Aproveitar 51/508567 0,010028 Apresentar 44/508567 0,008652 Aprovar 44/508567 0,008652 Aconselhar 41/508567 0,008062 Apertar 40/508567 0,007865 Acertar 38/508567 0,007472 Acreditar 34/508567 0,006685 Apartar 34/508567 0,006685 Abrandar 28/508567 0,005506 Arrastar 24/508567 0,004719 Ajustar 21/508567 0,004129 Arruinar 21/508567 0,004129 Assegurar 21/508567 0,004129 Acomodar 20/508567 0,003933 Abaixar 19/508567 0,003736 Arriscar 17/508567 0,003343 Aproximar 14/508567 0,002753 Assustar 14/508567 0,002753 Atirar 14/508567 0,002753 Avaliar 14/508567 0,002753 Avivar 14/508567 0,002753 Apurar 12/508567 0,00236 Atormentar 12/508567 0,00236 Aperfeiçoar 11/508567 0,002163 Apear 9/508567 0,00177 Aprontar 8/508567 0,001573 Apressar 8/508567 0,001573 Arrebatar 8/508567 0,001573 Alargar 6/508567 0,00118 Atemorizar 6/508567 0,00118 Abrasar 5/508567 0,000983 Acostumar 5/508567 0,000983
211
Ajoelhar 5/508567 0,000983 Ajuizar 5/508567 0,000983 Atropelar 5/508567 0,000983 Afrontar 4/508567 0,000787 Avultar 4/508567 0,000787 Afiançar 3/508567 0,00059 Agarrar 3/508567 0,00059 Aportuguesar 3/508567 0,00059 Arrecadar 3/508567 0,00059 Arrematar 3/508567 0,00059 Arrombar 3/508567 0,00059 Arrumar 3/508567 0,00059 Avistar 3/508567 0,00059 Afigurar 2/508567 0,000393 Alojar 2/508567 0,000393 Aportar 2/508567 0,000393 Apropriar 2/508567 0,000393 Assinalar 2/508567 0,000393 Aterrar 2/508567 0,000393 Atinar 2/508567 0,000393 Abafar 1/508567 0,000197 Abrilhantar 1/508567 0,000197 Acalmar 1/508567 0,000197 Acanhar 1/508567 0,000197 Acenar 1/508567 0,000197 Afiar 1/508567 0,000197 Afrouxar 1/508567 0,000197 Agalegar 1/508567 0,000197 Agravar 1/508567 0,000197 Ajeitar 1/508567 0,000197 Aligeirar 1/508567 0,000197 Alistar 1/508567 0,000197 Alongar 1/508567 0,000197 Amassar 1/508567 0,000197 Aninhar 1/508567 0,000197 Apadrinhar 1/508567 0,000197 Apaixonar 1/508567 0,000197 Apiedar 1/508567 0,000197 Apoderar 1/508567 0,000197 Aprofundar 1/508567 0,000197 Apunhalar 1/508567 0,000197 Arrasar 1/508567 0,000197 Arredondar 1/508567 0,000197 Arregalar 1/508567 0,000197 Arreganhar 1/508567 0,000197 Assenhorar 1/508567 0,000197 Assoberbar 1/508567 0,000197 Assombrar 1/508567 0,000197 Atelhar 1/508567 0,000197 Atrapalhar 1/508567 0,000197 Avizinhar 1/508567 0,000197
212
Frequência de uso do século XIX
[a[x]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem
Amanhecer 32/530754 0,006029
Agradecer 29/530754 0,005464
Aborrecer 19/530754 0,00358
Adormecer 15/530754 0,002826
Adoecer 11/530754 0,002073
Anoitecer 10/530754 0,001884
Apodrecer 5/530754 0,000942
Amolecer 2/530754 0,000377
Amadurecer 1/530754 0,000188
Amortecer 1/530754 0,000188
Abastecer 0/530754 0
[en[x]ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem
Empalidecer 12/530754 0,002261
Enfurecer 8/530754 0,001507
Entristecer 8/530754 0,001507
Enriquecer 6/530754 0,00113
Envelhecer 5/530754 0,000942
Emagrecer 4/530754 0,000754
Encarecer 4/530754 0,000754
Enlouquecer 4/530754 0,000754
Enegrecer 3/530754 0,000565
Enfraquecer 3/530754 0,000565
Enobrecer 2/530754 0,000377
Enternecer 2/530754 0,000377
Entontecer 2/530754 0,000377
Embrutecer 1/530754 0,000188
Emudecer 1/530754 0,000188
Endoidecer 1/530754 0,000188
Engrandecer 1/530754 0,000188
Enraivecer 1/530754 0,000188
Ensandecer 1/530754 0,000188
[en[x]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem
Encaminhar 49/530754 0,009232
Enfiar 28/530754 0,005276
Embarcar 22/530754 0,004145
Encarar 21/530754 0,003957
Enterrar 17/530754 0,003203
Encostar 16/530754 0,003015
213
Entornar 14/530754 0,002638
Empunhar 13/530754 0,002449
Endireitar 13/530754 0,002449
Engrossar 12/530754 0,002261
Empenhar 11/530754 0,002073
Engomar 11/530754 0,002073
Embalar 9/530754 0,001696
Enrolar 8/530754 0,001507
Entoar 8/530754 0,001507
Empinar 7/530754 0,001319
Envergonhar 7/530754 0,001319
Embaraçar 6/530754 0,00113
Enfeitiçar 6/530754 0,00113
Embaçar 5/530754 0,000942
Empacar 5/530754 0,000942
Embolsar 4/530754 0,000754
Emborcar 4/530754 0,000754
Encurtar 4/530754 0,000754
Envenenar 4/530754 0,000754
Embebedar 3/530754 0,000565
Encrespar 3/530754 0,000565
Enforcar 3/530754 0,000565
Engordar 3/530754 0,000565
Enlaçar 3/530754 0,000565
Enroscar 3/530754 0,000565
Ensaboar 3/530754 0,000565
Empoar 2/530754 0,000377
Encadear 2/530754 0,000377
Encarcerar 2/530754 0,000377
Encerar 2/530754 0,000377
Enfronhar 2/530754 0,000377
Embainhar 1/530754 0,000188
Embandeirar 1/530754 0,000188
Embeiçar 1/530754 0,000188
Embelezar 1/530754 0,000188
Embrenhar 1/530754 0,000188
Embruxar 1/530754 0,000188
Empoeirar 1/530754 0,000188
Empoleirar 1/530754 0,000188
Encaixar 1/530754 0,000188
Encaracolar 1/530754 0,000188
Encarnar 1/530754 0,000188
Encharcar 1/530754 0,000188
Endividar 1/530754 0,000188
Enfrentar 1/530754 0,000188
Engaiolar 1/530754 0,000188
214
Enrijar 1/530754 0,000188
Enrugar 1/530754 0,000188
Entalar 1/530754 0,000188
Entrincheirar 1/530754 0,000188
Enviuvar 1/530754 0,000188
Enflorar 1/530754 0,000188
[a[x]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem
Acabar 457/530754 0,086104
Atirar 213/530754 0,040132
Aproximar 162/530754 0,030523
Apresentar 149/530754 0,028073
Aproveitar 106/530754 0,019972
Apertar 101/530754 0,01903
Apontar 92/530754 0,017334
Acreditar 80/530754 0,015073
Arrastar 77/530754 0,014508
Abraçar 68/530754 0,012812
Avistar 62/530754 0,011681
Agarrar 60/530754 0,011305
Assustar 47/530754 0,008855
Arrebatar 43/530754 0,008102
Ajoelhar 39/530754 0,007348
Abaixar 39/530754 0,007348
Agradar 39/530754 0,007348
Arremessar 36/530754 0,006783
Apear 29/530754 0,005464
Afrontar 28/530754 0,005276
Acomodar 28/530754 0,005276
Acostumar 27/530754 0,005087
Assegurar 27/530754 0,005087
Abafar 26/530754 0,004899
Apaixonar 25/530754 0,00471
Assanhar 25/530754 0,00471
Acenar 25/530754 0,00471
Apoderar 24/530754 0,004522
Arriscar 23/530754 0,004333
Apressar 22/530754 0,004145
Apurar 22/530754 0,004145
Alagar 21/530754 0,003957
Aconselhar 21/530754 0,003957
Alongar 21/530754 0,003957
Apartar 20/530754 0,003768
Acariciar 20/530754 0,003768
Assombrar 20/530754 0,003768
215
Acertar 19/530754 0,00358
Atinar 19/530754 0,00358
Ajustar 17/530754 0,003203
Abençoar 17/530754 0,003203
Arrumar 15/530754 0,002826
Aprontar 14/530754 0,002638
Aprovar 14/530754 0,002638
Arregaçar 14/530754 0,002638
Aterrar 14/530754 0,002638
Atormentar 13/530754 0,002449
Afundar 12/530754 0,002261
Avaliar 12/530754 0,002261
Afrouxar 11/530754 0,002073
Arrasar 11/530754 0,002073
Avultar 11/530754 0,002073
Afiançar 11/530754 0,002073
Acalmar 10/530754 0,001884
Alinhar 9/530754 0,001696
Apossar 9/530754 0,001696
Avivar 9/530754 0,001696
Arregalar 9/530754 0,001696
Abrasar 8/530754 0,001507
Adiar 8/530754 0,001507
Aguardar 8/530754 0,001507
Amaldiçoar 8/530754 0,001507
Apinhar 8/530754 0,001507
Abrandar 7/530754 0,001319
Arrematar 7/530754 0,001319
Atropelar 7/530754 0,001319
Avassalar 7/530754 0,001319
Amassar 6/530754 0,00113
Amofinar 6/530754 0,00113
Arredondar 6/530754 0,00113
Atear 6/530754 0,00113
Avizinhar 6/530754 0,00113
Aperfeiçoar 6/530754 0,00113
Acovardar 5/530754 0,000942
Afiar 5/530754 0,000942
Afinar 5/530754 0,000942
Ajuizar 5/530754 0,000942
Alargar 5/530754 0,000942
Alisar 5/530754 0,000942
Amansar 5/530754 0,000942
Amuar 5/530754 0,000942
Apavorar 5/530754 0,000942
Aprumar 5/530754 0,000942
216
Abarcar 4/530754 0,000754
Abicar 4/530754 0,000754
Aclimar 4/530754 0,000754
Amaciar 4/530754 0,000754
Amontoar 4/530754 0,000754
Arreganhar 4/530754 0,000754
Assenhorar 4/530754 0,000754
Assinalar 4/530754 0,000754
Avermelhar 4/530754 0,000754
Acarinhar 4/530754 0,000754
Abordar 3/530754 0,000565
Acocorar 3/530754 0,000565
Agrupar 3/530754 0,000565
Alojar 3/530754 0,000565
Alourar 3/530754 0,000565
Ameigar 3/530754 0,000565
Amesquinhar 3/530754 0,000565
Amordaçar 3/530754 0,000565
Aparentar 3/530754 0,000565
Atrapalhar 3/530754 0,000565
Atravancar 3/530754 0,000565
Arruinar 3/530754 0,000565
Abrasileirar 2/530754 0,000377
Abrilhantar 2/530754 0,000377
Acampar 2/530754 0,000377
Acanalhar 2/530754 0,000377
Acarretar 2/530754 0,000377
Afamar 2/530754 0,000377
Ajeitar 2/530754 0,000377
Amoitar 2/530754 0,000377
Aninhar* 2/530754 0,000377
Aprofundar 2/530754 0,000377
Apunhalar 2/530754 0,000377
Arrombar 2/530754 0,000377
Assoberbar 2/530754 0,000377
Atraiçoar 2/530754 0,000377
Aveludar 2/530754 0,000377
Abalançar 1/530754 0,000188
Acobertar 1/530754 0,000188
Afivelar 1/530754 0,000188
Agigantar 1/530754 0,000188
Amorenar 1/530754 0,000188
Apropriar 1/530754 0,000188
Arrecadar 1/530754 0,000188
Abotoar 1/530754 0,000188
Apiedar 1/530754 0,000188
217
Frequência de uso do século XX
[a [X] ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem
Agradecer 65/724008 0,008978
Amanhecer 22/724008 0,003039
Adormecer 14/724008 0,001934
Amadurecer 12/724008 0,001657
Apodrecer 12/724008 0,001657
Abastecer 11/724008 0,001519
Aborrecer 11/724008 0,001519
Adoecer 8/724008 0,001105
Amolecer 5/724008 0,000691
Anoitecer 3/724008 0,000414
Amortecer 1/724008 0,000138
[en [X] ecer]
Unidade Quantidade Porcentagem
Envelhecer 16/724008 0,00221
Enriquecer 15/724008 0,002072
Enlouquecer 11/724008 0,001519
Enfraquecer 10/724008 0,001381
Engrandecer 8/724008 0,001105
Encarecer 7/724008 0,000967
Endurecer 7/724008 0,000967
Empobrecer 6/724008 0,000829
Empalidecer 5/724008 0,000691
Emudecer 5/724008 0,000691
Embrutecer 4/724008 0,000552
Emagrecer 3/724008 0,000414
Enobrecer 3/724008 0,000414
Enfurecer 3/724008 0,000414
Embranquecer 3/724008 0,000414
Envaidecer 3/724008 0,000414
Enaltecer 2/724008 0,000276
Enternecer 2/724008 0,000276
Entristecer 1/724008 0,000138
Enrijecer 1/724008 0,000138
Endoidecer 1/724008 0,000138
Enraivecer 1/724008 0,000138
Embravecer 1/724008 0,000138
Emurchecer 1/724008 0,000138
Ensurdecer 0/724008 0
Entardecer 0/724008 0
Enegrecer 0/724008 0
218
Emburrecer 0/724008 0
Enrouquecer 0/724008 0
Encalvecer 0/724008 0
Embambecer 0/724008 0
Embarbecer 0/724008 0
Embrabecer 0/724008 0
Embrandecer 0/724008 0
Emouquecer 0/724008 0
Empardecer 0/724008 0
Empequenecer 0/724008 0
Emperdenecer 0/724008 0
Emputecer 0/724008 0
Encalecer 0/724008 0
Ensoberbecer 0/724008 0
Enverdecer 0/724008 0
[en[x]ar]
Unidade Quantidade Porcentagem
Enfrentar 84/724008 0,011602
Enterrar 47/724008 0,006492
Encarar 32/724008 0,00442
Encostar 30/724008 0,004144
Enfiar 27/724008 0,003729
Encaminhar 26/724008 0,003591
Embarcar 19/724008 0,002624
Enquadrar 14/724008 0,001934
Empenhar 12/724008 0,001657
Englobar 12/724008 0,001657
Embrulhar 9/724008 0,001243
Engordar 9/724008 0,001243
Envergonhar 9/724008 0,001243
Empunhar 8/724008 0,001105
Enrolar 8/724008 0,001105
Encaixar 7/724008 0,000967
Encarnar 7/724008 0,000967
Encurtar 7/724008 0,000967
Enforcar 7/724008 0,000967
Embalar 6/724008 0,000829
Embaralhar 6/724008 0,000829
Engrossar 6/724008 0,000829
Enlaçar 6/724008 0,000829
Embaraçar 5/724008 0,000691
Encampar 5/724008 0,000691
Enroscar 5/724008 0,000691
Entoar 5/724008 0,000691
Embasar 4/724008 0,000552
219
Emparelhar 4/724008 0,000552
Empatar 4/724008 0,000552
Encabeçar 4/724008 0,000552
Engatinhar 4/724008 0,000552
Envenenar 4/724008 0,000552
Embelezar 3/724008 0,000414
Embargar 2/724008 0,000276
Embolar 2/724008 0,000276
Embuchar 2/724008 0,000276
Empacotar 2/724008 0,000276
Empalmar 2/724008 0,000276
Encadear 2/724008 0,000276
Encasquetar 2/724008 0,000276
Encenar 2/724008 0,000276
Encurralar 2/724008 0,000276
Endireitar 2/724008 0,000276
Enferrujar 2/724008 0,000276
Engraçar 2/724008 0,000276
Ensopar 2/724008 0,000276
Entediar 2/724008 0,000276
Entulhar 2/724008 0,000276
Embalsamar 1/724008 0,000138
Embananar 1/724008 0,000138
Embeiçar 1/724008 0,000138
Embolsar 1/724008 0,000138
Emborcar 1/724008 0,000138
Embriagar 1/724008 0,000138
Emoldurar 1/724008 0,000138
Empanar 1/724008 0,000138
Empastelar 1/724008 0,000138
Emperrar 1/724008 0,000138
Empinar 1/724008 0,000138
Empreitar 1/724008 0,000138
Emprenhar 1/724008 0,000138
Encadernar 1/724008 0,000138
Enciumar 1/724008 0,000138
Enclausurar 1/724008 0,000138
Encorajar 1/724008 0,000138
Encravar 1/724008 0,000138
Encrespar 1/724008 0,000138
Enfear 1/724008 0,000138
Engarrafar 1/724008 0,000138
Engatar 1/724008 0,000138
Engessar 1/724008 0,000138
Engomar 1/724008 0,000138
Engraxar 1/724008 0,000138
220
Enraizar 1/724008 0,000138
Enredar 1/724008 0,000138
Ensaboar 1/724008 0,000138
Entornar 1/724008 0,000138
Entrincheirar 1/724008 0,000138
Emaçar 0/724008 0
Emadeirar 0/724008 0
Emadeixar 0/724008 0
Emagotar 0/724008 0
Emagrar 0/724008 0
Emalar 0/724008 0
Emalhar 0/724008 0
Emalhetar 0/724008 0
Emanocar 0/724008 0
Emantar 0/724008 0
Emascular 0/724008 0
Emassar 0/724008 0
Ematilhar 0/724008 0
Embabacar 0/724008 0
Embaçar 0/724008 0
Embacelar 0/724008 0
Embagar 0/724008 0
Embagulhar 0/724008 0
Embainhar 0/724008 0
Embalsar 0/724008 0
Embandeirar 0/724008 0
Embarbascar 0/724008 0
Embarbelar 0/724008 0
Embarbilhar 0/724008 0
Embarrancar 0/724008 0
Embarrar 0/724008 0
Embarreirar 0/724008 0
Embarricar 0/724008 0
Embarrigar 0/724008 0
Embasbacar 0/724008 0
Embatucar 0/724008 0
Embaular 0/724008 0
Embebedar 0/724008 0
Embelecar 0/724008 0
Embernar 0/724008 0
Embestar 0/724008 0
Embetesgar 0/724008 0
Embezerrar 0/724008 0
Embicar 0/724008 0
Embiocar 0/724008 0
Embirutar 0/724008 0
221
Embocar 0/724008 0
Embocetar 0/724008 0
Embodegar 0/724008 0
Embolorar 0/724008 0
Embolotar 0/724008 0
Embonecar 0/724008 0
Emborrachar 0/724008 0
Emborralhar 0/724008 0
Emborrascar 0/724008 0
Embostar 0/724008 0
Embotijar 0/724008 0
Embraçar 0/724008 0
Embrancar 0/724008 0
Embrechar 0/724008 0
Embrenhar 0/724008 0
Embrincar 0/724008 0
Embruacar 0/724008 0
Embrumar 0/724008 0
Embruxar 0/724008 0
Embuizar 0/724008 0
Emburacar 0/724008 0
Emburrar 0/724008 0
Embuzinar 0/724008 0
Emelar 0/724008 0
Empacar 0/724008 0
Empaçocar 0/724008 0
Empalar 0/724008 0
Empalhar 0/724008 0
Empalheirar 0/724008 0
Empampanar 0/724008 0
Empanachar 0/724008 0
Empantanar 0/724008 0
Empanturrar 0/724008 0
Empapar 0/724008 0
Empapelar 0/724008 0
Empapuçar 0/724008 0
Emparceirar 0/724008 0
Emparedar 0/724008 0
Empastar 0/724008 0
Empauapicar 0/724008 0
Empavonar 0/724008 0
Empeçonhar 0/724008 0
Empedrar 0/724008 0
Empelotar 0/724008 0
Empenar 0/724008 0
Emperiquitar 0/724008 0
222
Empernar 0/724008 0
Empestear 0/724008 0
Empetecar 0/724008 0
Empilecar 0/724008 0
Empilhar 0/724008 0
Empipocar 0/724008 0
Empistolar 0/724008 0
Emplacar 0/724008 0
Emplumar 0/724008 0
Empoar 0/724008 0
Empoçar 0/724008 0
Empocilgar 0/724008 0
Empoeirar 0/724008 0
Empoleirar 0/724008 0
Empomadar 0/724008 0
Empombar 0/724008 0
Empossar 0/724008 0
Emprateleirar 0/724008 0
Emprazar 0/724008 0
Empreguiçar 0/724008 0
Empurpurar 0/724008 0
Emundar 0/724008 0
Encabular 0/724008 0
Encaçapar 0/724008 0
Encachaçar 0/724008 0
Encafifar 0/724008 0
Encaixotar 0/724008 0
Encalacrar 0/724008 0
Encalhar 0/724008 0
Encanar 0/724008 0
Encapar 0/724008 0
Encapuzar 0/724008 0
Encaracolar 0/724008 0
Encarcerar 0/724008 0
Encaretar 0/724008 0
Encarniçar 0/724008 0
Encaroçar 0/724008 0
Encasacar 0/724008 0
Encastelar 0/724008 0
Encatarrar-se 0/724008 0
Encavalar 0/724008 0
Encavernar 0/724008 0
Encerar 0/724008 0
Encerebrar 0/724008 0
Encharcar 0/724008 0
Encorpar 0/724008 0
223
Encorujar 0/724008 0
Encristar-se 0/724008 0
Encucar 0/724008 0
Endeusar 0/724008 0
Endinheirar 0/724008 0
Endividar 0/724008 0
Endoidar 0/724008 0
Enervar 0/724008 0
Enevoar 0/724008 0
Enfaixar 0/724008 0
Enfeitiçar 0/724008 0
Enfezar 0/724008 0
Enfileirar 0/724008 0
Enfocar 0/724008 0
Enfronhar 0/724008 0
Engaiolar 0/724008 0
Engasgar 0/724008 0
Engatilhar 0/724008 0
Engavetar 0/724008 0
Engordurar 0/724008 0
Engravatar 0/724008 0
Engravidar 0/724008 0
Engrinaldar 0/724008 0
Enjaular 0/724008 0
Enlatar 0/724008 0
Enlodar 0/724008 0
Enluarar 0/724008 0
Enlutar 0/724008 0
Enrabar 0/724008 0
Enrabichar 0/724008 0
Enricar 0/724008 0
Enrijar 0/724008 0
Enrugar 0/724008 0
Ensacar 0/724008 0
Ensanduichar 0/724008 0
Entalar 0/724008 0
Entortar 0/724008 0
Entubar 0/724008 0
Enturmar 0/724008 0
Envasilhar 0/724008 0
Envernizar 0/724008 0
Enviuvar 0/724008 0
[a[x]ar]
224
Unidade Quantidade Porcentagem
Acabar 328/724008 0,045303
Apresentar 235/724008 0,032458
Acreditar 156/724008 0,021547
Aproveitar 85/724008 0,01174
Apontar 80/724008 0,01105
Aproximar 77/724008 0,010635
Atirar 71/724008 0,009807
Arrumar 62/724008 0,008563
Assegurar 55/724008 0,007597
Apertar 54/724008 0,007458
Arrastar 42/724008 0,005801
Agarrar 41/724008 0,005663
Aprovar 37/724008 0,00511
Abraçar 35/724008 0,004834
Assustar 35/724008 0,004834
Avaliar 35/724008 0,004834
Assinalar 34/724008 0,004696
Acertar 32/724008 0,00442
Aguardar 31/724008 0,004282
Aconselhar 26/724008 0,003591
Abordar 24/724008 0,003315
Afundar 24/724008 0,003315
Ajustar 21/724008 0,002901
Arriscar 21/724008 0,002901
Acenar 20/724008 0,002762
Agradar 19/724008 0,002624
Apurar 19/724008 0,002624
Apressar 18/724008 0,002486
Acariciar 17/724008 0,002348
Avistar 17/724008 0,002348
Abaixar 16/724008 0,00221
Acomodar 16/724008 0,00221
Acostumar 16/724008 0,00221
Anotar 16/724008 0,00221
Atrapalhar 15/724008 0,002072
Ajeitar 14/724008 0,001934
Aprofundar 13/724008 0,001796
Ajoelhar 11/724008 0,001519
Acarretar 10/724008 0,001381
Agrupar 9/724008 0,001243
Aprontar 9/724008 0,001243
Arrebatar 9/724008 0,001243
Alargar 8/724008 0,001105
Amassar 8/724008 0,001105
Apoderar 8/724008 0,001105
225
Acalmar 7/724008 0,000967
Abençoar 6/724008 0,000829
Abrandar 6/724008 0,000829
Adiar 6/724008 0,000829
Aparentar 6/724008 0,000829
Aperfeiçoar 6/724008 0,000829
Atropelar 6/724008 0,000829
Avolumar 6/724008 0,000829
Abafar 5/724008 0,000691
Afinar 5/724008 0,000691
Afrontar 5/724008 0,000691
Afrouxar 5/724008 0,000691
Alongar 5/724008 0,000691
Apartar 5/724008 0,000691
Arrombar 5/724008 0,000691
Assombrar 5/724008 0,000691
Apaixonar 4/724008 0,000552
Apossar 4/724008 0,000552
Arregaçar 4/724008 0,000552
Arremessar 4/724008 0,000552
Abotoar 3/724008 0,000414
Adoçar 3/724008 0,000414
Afiançar 3/724008 0,000414
Alisar 3/724008 0,000414
Apavorar 3/724008 0,000414
Aprumar 3/724008 0,000414
Arregalar 3/724008 0,000414
Atiçar 3/724008 0,000414
Avultar 3/724008 0,000414
Abarcar 2/724008 0,000276
Abarrotar 2/724008 0,000276
Acobertar 2/724008 0,000276
Ajuizar 2/724008 0,000276
Alistar 2/724008 0,000276
Aportar 2/724008 0,000276
Arrasar 2/724008 0,000276
Arrecadar 2/724008 0,000276
Arrendar 2/724008 0,000276
Arruinar 2/724008 0,000276
Aterrar 2/724008 0,000276
Atinar 2/724008 0,000276
Atormentar 2/724008 0,000276
Abrilhantar 1/724008 0,000138
Acalorar 1/724008 0,000138
Achincalhar 1/724008 0,000138
Acovardar 1/724008 0,000138
226
Adestrar 1/724008 0,000138
Afiar 1/724008 0,000138
Agigantar 1/724008 0,000138
Alagar 1/724008 0,000138
Alinhar 1/724008 0,000138
Amaldiçoar 1/724008 0,000138
Amansar 1/724008 0,000138
Aninhar 1/724008 0,000138
Aprimorar 1/724008 0,000138
Aprisionar 1/724008 0,000138
Arrebanhar 1/724008 0,000138
Arredondar 1/724008 0,000138
Arreganhar 1/724008 0,000138
Assanhar 1/724008 0,000138
Atear 1/724008 0,000138
Avassalar 1/724008 0,000138
Avivar 1/724008 0,000138
Avizinhar 1/724008 0,000138
Ababadar 0/724008 0
Ababelar 0/724008 0
Ababosar 0/724008 0
Abacalhoar 0/724008 0
Abaciar 0/724008 0
Abadalar 0/724008 0
Abagaçar 0/724008 0
Abaianar 0/724008 0
Abainhar 0/724008 0
Abairrar 0/724008 0
Abalançar 0/724008 0
Abalizar 0/724008 0
Abaloar 0/724008 0
Abalofar 0/724008 0
Abalsamar 0/724008 0
Abalsar 0/724008 0
Abananar 0/724008 0
Abandar 0/724008 0
Abandejar 0/724008 0
Abandidar 0/724008 0
Abaquetar 0/724008 0
Abarbarar 0/724008 0
Abaritonar 0/724008 0
Abaronar 0/724008 0
Abarracar 0/724008 0
Abarrancar 0/724008 0
Abarricar 0/724008 0
Abarrilar 0/724008 0
227
Abastardar 0/724008 0
Abatatar 0/724008 0
Abatinar 0/724008 0
Abaular 0/724008 0
Abaunilar 0/724008 0
Abeatar 0/724008 0
Abecar 0/724008 0
Abeirar 0/724008 0
Abendiçoar 0/724008 0
Abengalar 0/724008 0
Abesourar 0/724008 0
Abestar 0/724008 0
Abexigar 0/724008 0
Abezerrar 0/724008 0
Abibliotecar 0/724008 0
Abicar 0/724008 0
Abigodar 0/724008 0
Abilolar 0/724008 0
Abiombar 0/724008 0
Abiqueirar 0/724008 0
Abiscoitar 0/724008 0
Abisonhar 0/724008 0
Abobar 0/724008 0
Abocadar 0/724008 0
Abocetar 0/724008 0
Abodegar 0/724008 0
Aboemiar 0/724008 0
Abofetar 0/724008 0
Abolachar 0/724008 0
Aboletar 0/724008 0
Abolhar 0/724008 0
Abonançar 0/724008 0
Abordoar 0/724008 0
Abotijar 0/724008 0
Abotinar 0/724008 0
Abrasar 0/724008 0
Abrasileirar 0/724008 0
Abrasilianar 0/724008 0
Abrasonar 0/724008 0
Abrecar 0/724008 0
Abrejar 0/724008 0
Abrejeirar 0/724008 0
Abrumar 0/724008 0
Abrutar 0/724008 0
Aburguesar 0/724008 0
Acabanar 0/724008 0
228
Acabelar 0/724008 0
Acaboclar 0/724008 0
Acacetar 0/724008 0
Acachaçar 0/724008 0
Acachafundar 0/724008 0
Acachoeirar 0/724008 0
Acacifar 0/724008 0
Acafajestar 0/724008 0
Acafetar 0/724008 0
Acaixeirar 0/724008 0
Acajadar 0/724008 0
Acamar 0/724008 0
Acamaradar 0/724008 0
Acambraiar 0/724008 0
Acampainhar 0/724008 0
Acampar 0/724008 0
Acamurçar 0/724008 0
Acanalar 0/724008 0
Acanalhar 0/724008 0
Acanastrar 0/724008 0
Acancelar 0/724008 0
Acanelar 0/724008 0
Acangaceirar 0/724008 0
Acanhar 0/724008 0
Acanivetar 0/724008 0
Acanoar 0/724008 0
Acanteirar 0/724008 0
Acapachar 0/724008 0
Acapangar 0/724008 0
Acarinhar 0/724008 0
Acarneirar 0/724008 0
Acarrancar 0/724008 0
Acarrapatar 0/724008 0
Acartolar 0/724008 0
Acasalar 0/724008 0
Acasmurrar 0/724008 0
Acastanhar 0/724008 0
Acastelhanar 0/724008 0
Acavalar 0/724008 0
Acavaleirar 0/724008 0
Acavaletar 0/724008 0
Acebolar 0/724008 0
Acerejar 0/724008 0
Acevadar 0/724008 0
Achatar 0/724008 0
Achinelar 0/724008 0
229
Achinesar 0/724008 0
Achocolatar 0/724008 0
Acidrar 0/724008 0
Acinzentar 0/724008 0
Aclimar 0/724008 0
Acocorar 0/724008 0
Acoicear 0/724008 0
Acolchetar 0/724008 0
Acolchoar 0/724008 0
Acoletar 0/724008 0
Acomadrar 0/724008 0
Acompadrar 0/724008 0
Acompridar 0/724008 0
Aconfradar 0/724008 0
Acorcundar 0/724008 0
Acorrentar 0/724008 0
Acortinar 0/724008 0
Acotovelar 0/724008 0
Acovar 0/724008 0
Acriançar 0/724008 0
Acrioular 0/724008 0
Aculturar 0/724008 0
Adamar 0/724008 0
Adamascar 0/724008 0
Adelgadar 0/724008 0
Adelicadar 0/724008 0
Adentrar 0/724008 0
Adiamantar 0/724008 0
Adietar 0/724008 0
Adoentar 0/724008 0
Adonar 0/724008 0
Afaçanhar 0/724008 0
Afamar 0/724008 0
Afandangar 0/724008 0
Afedorentar 0/724008 0
Afeminar 0/724008 0
Aferar 0/724008 0
Aferrar 0/724008 0
Aferrenhar 0/724008 0
Afervorar 0/724008 0
Afidalgar 0/724008 0
Afivelar 0/724008 0
Aflamengar 0/724008 0
Aflorar 0/724008 0
Afofar 0/724008 0
Afolhar 0/724008 0
230
Afrancesar 0/724008 0
Afranzinar 0/724008 0
Afreguesar 0/724008 0
Afrescar 0/724008 0
Afronhar 0/724008 0
Afunilar 0/724008 0
Agaitar 0/724008 0
Agalegar 0/724008 0
Agalhar 0/724008 0
Agalinhar 0/724008 0
Agarotar 0/724008 0
Agraudar 0/724008 0
Agrisalhar 0/724008 0
Agrosseirar 0/724008 0
Aguitarrar 0/724008 0
Ajesuitar 0/724008 0
Aladainhar 0/724008 0
Alaranjar 0/724008 0
Alarar 0/724008 0
Aletradar 0/724008 0
Alisboetar 0/724008 0
Alojar 0/724008 0
Alourar 0/724008 0
Amaciar 0/724008 0
Amadeirar 0/724008 0
Amadrinhar 0/724008 0
Amalaguetar 0/724008 0
Amalhar 0/724008 0
Amanequinar 0/724008 0
Amantar 0/724008 0
Amanteigar 0/724008 0
Amarasmar 0/724008 0
Amarfinar 0/724008 0
Amaricar 0/724008 0
Amarinheirar 0/724008 0
Amarotar 0/724008 0
Amatilhar 0/724008 0
Amatronar 0/724008 0
Amazelar 0/724008 0
Ameigar 0/724008 0
Amelaçar 0/724008 0
Amembranar 0/724008 0
Ameninar 0/724008 0
Amentar 0/724008 0
Amesquinhar 0/724008 0
Amestrar 0/724008 0
231
Ametalar 0/724008 0
Amilhar 0/724008 0
Amineirar 0/724008 0
Amoçar 0/724008 0
Amochilar 0/724008 0
Amodernar 0/724008 0
Amoedar 0/724008 0
Amofinar 0/724008 0
Amoitar 0/724008 0
Amontanhar 0/724008 0
Amontoar 0/724008 0
Amordaçar 0/724008 0
Amorenar 0/724008 0
Amornar 0/724008 0
Amortalhar 0/724008 0
Amostardar 0/724008 0
Amuar 0/724008 0
Amulatar 0/724008 0
Amulherar 0/724008 0
Amulherengar 0/724008 0
Amumiar 0/724008 0
Amunhecar 0/724008 0
Ananicar 0/724008 0
Anatar 0/724008 0
Anegrar 0/724008 0
Apadrinhar 0/724008 0
Apainelar 0/724008 0
Apaiolar 0/724008 0
Apaisanar 0/724008 0
Apalaçar 0/724008 0
Apalacetar 0/724008 0
Apalacianar 0/724008 0
Apalancar 0/724008 0
Apalavrar 0/724008 0
Apalhaçar 0/724008 0
Apantufar 0/724008 0
Aparabolar 0/724008 0
Aparceirar 0/724008 0
Aparoquiar 0/724008 0
Apascoar 0/724008 0
Apassivar 0/724008 0
Apatetar 0/724008 0
Apatifar 0/724008 0
Apaulistar 0/724008 0
Apear 0/724008 0
Apeçonhentar 0/724008 0
232
Apedantar 0/724008 0
Apepinar 0/724008 0
Apiedar 0/724008 0
Apimentar 0/724008 0
Apinhar 0/724008 0
Apiramidar 0/724008 0
Apolentar 0/724008 0
Apoliticalhar 0/724008 0
Apoltronar 0/724008 0
Aportuguesar 0/724008 0
Apreçar 0/724008 0
Apresuntar 0/724008 0
Aprincesar 0/724008 0
Apropriar 0/724008 0
Apunhalar 0/724008 0
Aquadrilhar 0/724008 0
Aquilombar 0/724008 0
Arrapazar 0/724008 0
Arregimentar 0/724008 0
Arrematar 0/724008 0
Assalariar 0/724008 0
Assedentar 0/724008 0
Assenhorar 0/724008 0
Assenzalar 0/724008 0
Assingelar 0/724008 0
Assoberbar 0/724008 0
Assobradar 0/724008 0
Assovinar 0/724008 0
Atabernar 0/724008 0
Atamancar 0/724008 0
Atapetar 0/724008 0
Atarefar 0/724008 0
Atarraxar 0/724008 0
Atartarugar 0/724008 0
Atenorar 0/724008 0
Atigrar 0/724008 0
Atijolar 0/724008 0
Atoalhar 0/724008 0
Atomatar 0/724008 0
Atoucinhar 0/724008 0
Atraiçoar 0/724008 0
Atravancar 0/724008 0
Atrelar 0/724008 0
Atucanar 0/724008 0
Avampirar 0/724008 0
Avarandar 0/724008 0
233
Aveludar 0/724008 0
Avermelhar 0/724008 0
Avinhar 0/724008 0
Axicarar 0/724008 0
Azabumbar 0/724008 0
234
ANEXO IV Experimento linguístico “LexQuest” Sexo: _________________ Escolaridade: _____________________ Idade: ____________
Neste experimento, estamos interessados na sua intuição, enquanto falante nativo do
português, sobre os itens que serão listados. Basta marcar a opção que melhor completa os espaços nas frases.
Não há respostas certas ou erradas, portanto, não será necessário consultar dicionários ou sites da Internet. Conte APENAS com sua intuição.
Não leve muito tempo pensando; marque os itens de acordo com a sua primeira impressão. Obrigado pela ajuda! Meu avô _______ quando fez 60 anos. abangueleceu embangueleceu
Mesmo sabendo que não gosto, a Clarinha costuma ________ a salada.
apalmitou empalmitou
Clarinha __________ depois que passou a frequentar a academia. abonitou
embonitou
Os resíduos hospitalares foram ____________ pela equipe da clínica médica.
alixeirados enlixeirados
As pessoas acham que Horácio ____________ com o passar dos anos.
abruteceu embruteceu
O mar ___________ depois que a ressaca acabou. abrandou embrandeceu
Horácio começou a ________ quando passou a trabalhar amadurar amadurecer
A luz solar é branca, mas __________ por causa da atmosfera. amarela amarelece
Horácio usou uma chave de fenda para ___________ o parafuso. atarraxar entarraxar
Os bandidos _____________ o homem que foi sequestrado. amordaçaram emordaçaram
Clarinha ____________ o canário numa gaiola de vime. aprisionou emprisionou
Marque a(s) palavra(s) que você conhece1 afiar enfiar
Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ acampar encampar
Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ apossar empossar
Marque a(s) palavra(s) que você conhece¹ abaular embaular
1 No caso de não conhecer nenhuma das palavras, deixe em branco.