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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Zilá Ferreira A PARAFISCALIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

Zilá Ferreira

A PARAFISCALIDADE

NO DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA

FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS

São Paulo

2010

Zilá Ferreira

RA 003200600623

A PARAFISCALIDADE

NO DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA

FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação do Curso de Direito da

Universidade São Francisco, como requisito

parcial para a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, orientada pelo Professor Ms.

Sérgio Gabriel

São Paulo

2010

F444p Ferreira, Zilá

A Parafiscalidade no Direito Tributário como Instrumento

de Política em prol dos Direitos Humanos /Zilá Ferreira– São Paulo: USF,

2010. 45 p.

Monografia (graduação) – Universidade São Francisco,

2010

Orientador : Sérgio Gabriel

1. Contribuições parafiscais; 2. Instrumento de política

fiscal 3. Direitos Humanos. Universidade São Francisco.

Zilá Ferreira

RA 003200600623

A PARAFISCALIDADE

NO DIREITO TRIBUTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA

FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado no

curso de direito, da Universidade São Francisco,

como requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel em direito.

Data da Aprovação____/____/____

Banca Examinadora:

...........................................................

Profº Ms. Sérgio Gabriel

USF

.............................................................

Profº Me. Alessandro Urbano Rodrigo Sanchez

USF

...............................................................

Profº Especialista Rúbia Maria Ferrão

USF

Aos mestres todo respeito e carinho, pelo

estímulo na conquista e realização desse

sonho.

A Deus pelo dom da vida, aos meus pais pela

criação, dedicação e apoio durante minha vida

universitária e a toda minha família, que

através de seu apoio e incentivo se mostraram

verdadeira fortaleza nos momentos mais

difíceis, fazendo com que eu continuasse

minha jornada. A EDUCAFRO, na pessoa do

Frei David, pela oportunidade oferecida para

que eu pudesse chegar até aqui.

"A mais bela coragem é a confiança que

devemos ter na capacidade de nossos

esforços.” (autor desconhecido)

FERREIRA, Zilá. A Parafiscalidade no Direito Triutário como Instrumento de Política

Fiscal em prol dos Direitos Humanos, 45 pp., TCC, Curso de Direito, São Paulo: USF,

2010.

RESUMO

Originário da França, a partir do Inventário de Schuman, o termo parfiscalidade teve como

objetivo nominar tributos que ora eram verdadeiros impostos, ora taxas e às vezes um misto

destas duas categorias e atribuído o poder fiscal a entidades de caráter autônomo, com

investiduras de competência para o desempenho de alguns fins públicos, beneficiárias. O

tributo parafiscal tem o intuito de embasar a arrecadação de recursos para o custeio de

atividades que, em princípio não integram funções próprias do Estado, mas ele mesmo as

desenvolve através de entidades específicas, denominadas paraestatais. A União tem a

competência para legislar, porém, outorga esta competência a outro, à exemplo o INSS que se

tornou sujeito ativo da obrigação tributária. Evidentemente, neste caso, o INSS é quem

arrecada dos contribuintes, e, este pode ser utilizado somente pelo INSS, como também em

certos casos de prioridade o Poder Executivo redireciona para outras áreas. A necessidade de

controle das contribuições parafiscais é similar aos demais tributos, e feito quanto à

instituição dos pressupostos materiais e formais, qualificados constitucionalmente. Este

estudo demonstrará de que forma são instituídas tais contribuições e como elas cumprem sua

função social em prol dos direitos humanos. O objetivo deste trabalho é através da

investigação científica identificar no direito tributário os reflexos práticos aplicados em prol

dos direitos humanos como instrumento de política fiscal.

Palavras - chave: Parafiscalidade. Instrumento de Política Fiscal. Direitos Humanos. Direito

Tributário. Contribuições Parafiscais.

LISTA DE SIGLAS

Siglas

AC Ato Complementar

CF Constituição Federal

CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

CTN Código Tributário Nacional

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

INSS Imposto Nacional do Seguro Social

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IR Imposto de Renda

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11

SEÇÃO 1 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO .................................................. 12

1.1Conceito ................................................................................................................................... 12

1.2Breve evolução histórica dos tributos ...................................................................................... 13

1.3Tributos e suas Especies .......................................................................................................... 17

1.3.1 Especies de tributos ......................................................................................................... 17

1.3.2 Impostos .......................................................................................................................... 18

1.3.3 Taxas ................................................................................................................................ 19

1.3.3.1 Serviços .................................................................................................................... 19

1.3.3.2 Poder de Policia ........................................................................................................ 20

1.3.3.4 Contribuição de Melhoria ......................................................................................... 21

1.3.3.5 Emprestimo Compulsorio ......................................................................................... 21

1.3.3.6 Contribuições Sociais ............................................................................................... 21

1.4 Princípios constitucionais tributários...................................................................................... 21

1.4.1 Principio da Estrita legalidade ......................................................................................... 22

1.4.2 Principio da legalidade e das medidas provisórias .......................................................... 22

1.4.3 Principio da Anterioridade............................................................................................... 23

1.4.4 Principio da Irretroatividade ............................................................................................ 23

1.4.5 Principio da Uniformidade .............................................................................................. 23

1.4.6 Principio da isonomia ...................................................................................................... 23

1.4.7 Principio da capacidade contribtiva ................................................................................. 24

1.4.8 Principio da não-cumulatividade ..................................................................................... 24

1.5Função dos tributes .................................................................................................................. 25

SEÇÃO 2 CONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL .......................................................................... 26

2.1 Conceito histórico ................................................................................................................... 26

2.2 Natureza juridical ................................................................................................................... 27

2.3 Classificação das contribuições parafiscais ............................................................................ 27

SEÇÃO 3 CONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL COMO INTRUMENTO DE POLÍTICA

FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................ 37

3.1 Conceito histórico e filosófico dos direitos humanos ............................................................. 37

3.2 O direito e os direitos humanos .............................................................................................. 38

3.3 As contribuições parafiscais na atual ordem cnstitucional: espécie tributária autônoma de

caráter instrumental implementador de política fiscal em prol dos direitos humanos ................. 39

3.4 Regra-matriz constitucional de incidência da contribuição parafiscal: a norma tributária e

a norma administrativo-financeira ................................................................................................ 40

3.5 O controle de constitucionalidade da afetação pelo poder judiciário ..................................... 41

CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 45

11

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso pretende demonstrar como foi instituído o

tributo parafiscal e a relevância deste instrumento para a abordagem da implementação de

política fiscal em prol dos direitos humanos e o papel fundamental no cumprimento da função

social para o qual foi designado.

Para o cumprimento dos objetivos propostos, adota-se a técnica da pesquisa

bibliográfica, baseada em estudos realizados na legislação específica, em livros, revistas,

artigos científicos, dentre outros meios que tratem do assunto. Na fase de relato, com o intuito

de atender à melhor sistematização do assunto, optou-se pela divisão de três seções, assim

dispostas:

Na primeira seção será evidenciado o sistema Constitucional Tributário no qual será

descrito seu conceito, os diversos tipos de tributos e suas espécies, bem como os princípios

tributários e a sua função.

Na segunda seção será abordado o conceito histórico, delineando em que época surgiu

fundamentar sua natureza jurídica, com base na Constituição Federal, Código Nacional de

Direito Tributário, Doutrinas e outros. Pretende-se ainda classificar as diversas formas de

contribuições especiais, demonstrando assim quais as finalidades.

Na terceira seção a abordagem parte do pressuposto constitucional voltado para a

espécie tributária autônoma de caráter instrumental que tem como foco Direitos Humanos.

Em razão disso, vale ressaltar a questão de evidenciar o controle de constitucionalidade da

afetação pelo poder Judiciário, explicitando através de exemplos práticos o funcionamento

para além da teoria.

Por fim, a abordagem do tema em tela é reunir, através deste estudo, elementos que

comprovem a verdadeira eficácia do Direito Tributário no que tange ao cumprimento da

efetiva função social, que se dá por meio da arrecadação de seus tributos, titulados como

especiais.

Contudo, este trabalho de pesquisa não se pretende esgotar o assunto, mas sim,

contribuir para maior compreensão do tema exposto.

12

SEÇÃO 1 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO

Na primeira seção o assunto trás o conceito do sistema Constitucional Tributário, de

forma a descrever os diversos tipos de tributos e suas espécies, bem como os princípios

tributários e a sua função.

1.1 Conceito

Um sistema é constituído por um conjunto de elementos organizados e que a alteração

em um deles conseqüentemente causa alteração no todo. O nome que se dá ao conjunto de

normas agrupadas pelo conceito tributo é sistema tributário. A palavra tributo vem do latim

tibutum que significa dividir ou repartir entre a tribo.

Ao longo da história, os tributos foram impostos aos povos saqueados ou vencidos em

conseqüência das guerras e das conquistas, as transformações se deram de forma gradativa,

até, se tornar no sistema de impostos, taxas e contribuições da atualidade.

Ives Gandra da Silva Martins oferece o seguinte apanhado da evolução histórica do

Sistema Constitucional brasileiro:

“O Direito Tributário brasileiro principiou a ganhar consistência sistêmica a

partir da Emenda Constitucional nº. 18/65. Anteriormente, apesar de já se ter

desenvolvido, com razoável densidade, a técnica impositiva no concernente

a alguns tributos, o certo é que faltava arcabouço capaz de harmonizar as

diversas tendências, aspirações e necessidades dos diversos entes com

competência para tributar. (apud BASTOS, 2001, p. 106).”

Diferentemente dos demais países, com idêntica forma de Estado, o Brasil, por

outorgar competência impositiva aos Municípios, criava tríplice ordem de atuação autônoma.

Essa peculiaridade gerou elementos suficientes para a referida reforma, que com o objetivo de

regulá-la, assim como permitir que suas virtualidades crescessem e fossem corretamente

aproveitadas, nasceu a Emenda Constitucional n°. 18/65.

Certamente, tal Emenda Constitucional foi a semente que preconizou o CTN

divulgado, à época, como lei ordinária e posteriormente recebeu a eficácia de lei

complementar, quando da promulgação da Constituição de 1967.

13

1.2 Breve evolução histórica dos tributos

A idade da pedra polida, também conhecida como período neolítico, na pré-história, oi

marco histórico no qual o homem começou a cultivar a terra, estocar alimentos e ainda criar e

domesticar animais.1

Começa então a surgir as primeiras aldeias, e consecutivamente surge em tais

comunidades a necessidade e união de todos os indivíduos envolvidos para que haja satisfação

de interesses comuns coma a busca de proteção e defesa contra os predadores e tribos

inimigas, isso fez surgir as primeiras figuras de lideres, cuja a característica se dava para

aquele que era o mais respeitado por todos, por sua força, ou por sua coragem, sabedoria, ou

pela magia da crença.

As funções destinadas aos lideres era de administração, liderança do grupo, solução de

conflitos e de garantia de paz. A partir do momento em que um individuo coloca-se u é

colocado a serviço do interesse coletivo, tende a crer que foi daí que surgiu uma primitiva

idéia de Estado. Os membros do grupo, voluntariamente, a principio, procuravam retribuir ao

líder os favores prestados em torno de interesse de todos, oferecendo presente ou garantindo

seu sustento, fazendo aparecer a idéia de tributo, por representar aquilo que se entrega ao

chefe.

Em outro momento primitivo da história da humanidade lideres tribais governantes

procuram legitimar a cobrança de tributos vinculando o caráter divino do poder político ou de

outro modo, justificando a necessidade de captação de recursos para fazer face proteção que o

soberano oferecia aos seus súditos em caso de conflitos armados com outros povos.

A evolução histórica dos tributos passa pelas diversas formas de Estado, ora como

oferendas em homenagem ou sacrifício à divindade, ou como indenização de guerras ou

imposição do vencedor ao vencido, satisfazendo interesse e necessidades do soberano ou

financiando determinadas atividades indispensáveis à coletividade.

A compreensão rudimentar de que o Estado decorre do pacto realizado entre indivíduos,

aos quais delegam uma parte de sua liberdade a um determinado ente que assume a

responsabilidade de gerencia e manutenção da sociedade, exige uma movimentação de

despesas, em razão do que se impo a geração de receitas para fazer face tais despesas. É nesse

contexto que o tributo passa a ser imposto.

1Disponívelm:<http://www.diritto.it/system/docs/28896/original/Artigo_Evolucao_Historica_do_Tributo_Emanuelle_Correia

.pdf>Acesso em 19/nov/2010

14

Antigamente, o tributo cobrado como imposição dos vencedores aos vencidos, visando

arrecadar para a nação vencedora, os recursos retirados dos vencidos, não constituía a única

forma de tributo. Por exemplo, no Egito, o agricultor era obrigado a entregar parte das

colheitas, a trabalhar nas construções de templos, palácios ou algo no gênero da construção

civil.

Na Grécia, surgiu o que denominamos hoje de imposto com finalidade social. Isto

significou que o tributo deixa de ser usado para atender as necessidades e conveniências de

um governante para ser usado em benéfico do povo. Os gregos geriam o que poderia chamar

precocemente de sistema tributário, de forma muito intuitiva e incipiente, mas procurando

manter equilíbrio contábil entre a receita e a despesa identificando assim o modelo ateniense.

Não foram capazes de determinar a natureza do tributo, das taxas, e das contribuições levadas

a efeitos pelos cidadãos, apesar de arrecadá-las.

Importante ressaltar que o tributo administrado pelo Estado que é conhecido nos dias

de hoje, foi instituído na Grécia.

Moraes Godoy relata que:

Aparentemente não há racionalidade no modelo tributário helênico, que não

alcançou objetivamente patrimônio, renda, serviços. Verificase uma prática

intuitiva. Não há gritantes problemas de aceitação (exceto nas imposições de

guerra, bem entendido), o que indica provável sintonia entre a arrecadação e

a despesa, embora convém que se lembre tratar-se de uma sociedade

escravocrata. Mesmo na época dos tiranos (cujo conceito diverge do

sentindo moderno da expressão), não há claras referencias a tributação

excessiva. O equilíbrio contábil entre a entrada e a saída parece informar à

essência do modelo tributário ateniense. E, a adotarmos uma posição

ciceroniana , esse equilíbrio faz as vezes de lição da história, um exemplo a

ser seguido.( (GODOY,apud,< http://www.diritto.it/system/docs/28896/original/Artigo_Evolucao_Historica

_do_Tributo_Emanuelle_Correia.pdf>. Acessado em 19/11/2010)

Pelo sendo de organização demonstrada pelas instituições, marcadas por inúmeras

conquistas e ampliação territorial de seu domínio. Após conquistar os gregos descobriram que

poderia conquistar outros povos sem impor a eles sua cultura, crenças e costume, utilizando

da instituição e cobrança de impostos para sustentar suas legiões de soldados e conquistar

mais terras e povos.

A atividade expansionista do império romano ocasionou gastos de tal magnitude que,

ao serem repassados aos contribuintes tronava a carga tributária excessiva e até certo ponto

espoliativa, provocando significativa rejeição social e estimulando a sonegação, que passo a

exigir mecanismos inibitórios.

15

Os romanos cobravam impostos diretos sobre as pessoas, a propriedade incluindo sobre

a terras conquistadas e também impostos indiretos incidentes sobre as heranças, as vendas, os

litígios, e ainda sobre as indústrias, as profissões e outros atividades humanas produtivas.

Enfim, foram criados impostos e taxas numerosos e variados inclusive, sobre colunas,

portas, janelas, ruínas bens e serviços, etc. Contudo, cada um dos tributos e taxas tiveram sua

própria história, sua origem, evolução e dificuldades de sustentabilidade.

Em que pese o exemplo da prática intuitiva grega de imprimir aos tributos mesmo que

de forma incipiente um fim socialmente justo progressivo, uma vez que consistem na forma

mais prática e efetiva de arrecadação de numerários para o estado, os governantes não raro

tendiam a tributar em excesso e de forma arbitrária. Com a queda do império romano, a noção

de Estado, ainda rudimentar, na Europa medieval perdeu-se completamente.

Os nobres detentores de grandes extensões de terras constituíram-se em feudos, onde se

fizerem senhores absolutos fazendo surgir o que se chamou de sistema feudal. Os feudos

possuíam cercas que davam segurança a quem vivessem dentro, em virtude do que era

cobrado do servo ou camponês o período de 3 dias de serviços em favor do senhor feudal,

essa forma de imposto era denominada de corvéia, e quem não pagava era colocado para fora

do feudo ou podia ser preso ou morto.

O senhor feudal detinha poder de vida e morte sobre seus vassalos. Como não havia

Estado, a circulação de moedas era escassa. Desse modo os servos sujeitavam ao pagamento

de tributos quer por meio da corvéia ou entregando ao senhor feudal a melhor parte de suas

colheitas.

Num primeiro momento da idade média houve um significativo declínio das atividades

produtivas uma vez que a produção se restringia às atividades exclusivamente rurais,

suficientes apenas para garantir a subsistência das famílias e o comércio ou sistema de trocas

que era insignificante, uma vez que não havia excesso de produção, a moeda precária e a

outrora bem conservadas estradas romanas tornaram-se intransitáveis, em razão do que se

iniciou a formação de feudos.

Após um longo período de estagnação o comercio renasce, fazendo aparecer mascates

que aos poucos iam se estabelecendo e formando núcleos comercias, integrados por artesões

de família que abandonavam o campo, de servos fugitivos ou libertos e também de homens

livres atraídos pelo comercio e pelo sonho de melhoria da qualidade de vida.

Embora coexistindo relações feudais e relações capitalistas mercantis, ainda persistia o

sistema feudal que permitia os senhores feudais a cobrança de impostos elevados e pedágios

sob o fundamento de que as cidades de que formaram se estabeleceram dentro de seus feudos.

16

Isto favoreceu o surgimento de lutas pela libertação de suas cidades, também denominadas de

burgos,estabelecendo governos próprios.

Em alguns casos, essa liberdade era obtida gratuitamente ou comprada, mas em outros

casos, era conseguida através de batalhas entre exércitos formados pelos seus moradores, e

pelo nobre dominador. Tal necessidade de formação de um mercado nacional liberto dos

entraves feudais,levou os burgueses a apoiar a realeza em suas pretensões centralizadoras

contra a poderosa nobreza feudal possuidora de privilégios seculares, dando lugar ao

surgimento do que se chamou de Estado Moderno.

A idéia do poder unitário e soberano surgiu com o aparecimento do estado moderno,

mesmo que monárquico, conforme esclarece a doutrina que o disciplinamento legal do tributo

remonta a carta magna da Inglaterra assinada por João sem terra em 1215 instituindo deveres

do soberano para com seus súditos e admitindo a possibilidade do monarca de instituir

tributos e ao mesmo tempo impondo limites ao poder soberano e trazendo garantias ao

contribuinte, ainda que minimamente. Vê-se ai o surgimento do principio da legalidade e da

anualidade tributária. Na necessidade de um solido e unificado passou a ser reclamada.

Mesmo no período contemporâneo, se constata a exação de impostos provocando

descontentamentos e revoltas populares a exemplo da rejeição de taxas nos EUA que permitiu

desencadear a luta pela independência norte-americana e no Brasil, a exemplo da revolta

tributária motivadora da inconfidência mineira, de modo a concluir que a regulação do tributo

deve se da tão somente pelo direito.

A diversidade de situação que decorreram do liberalismo econômico levou, no século

seguinte, ao surgimento, segundo Andre Brugni de Aguiar, ao que chamou de Era do Estado.

Isto é ao surgimento de três modelos estatais reclamando maior influência governamental na

economia, digladiando na arena política mundial: o fascismo, o comunismo e o democrático-

interventor.

A influência liberal estimulou o investimento privado na atividade industrial que gerava

valor agregado superior ao do comercio e consequentemente um grande avanço industrial, que

aos poucos foi revelando nocivo ao ambito social, porque passou a apresentar um signficativo

passivo social, gerando desemprego e multiplicando a pobreza.

Em que pese o tributo tenha suas origens centradas tanto na contribuição voluntária do

indivíduo à sociedade, decorrente da convivência humana, a exemplo da sociedade grega,

como também tem sua existência justificada pela violência, a exemplo da cobrança de tributos

no império romano, no Estado Medieval e ainda no Estado Moderno.

17

1.3 Tributos e suas espécies

O CTN, em seu art. 3º, define tributo como: “toda prestação pecuniária compulsória, em

moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída

em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente veiculada.”

É importante, antes de investigar a classificação dos tributos, averiguar o que seja o ato

classificatório. Pois bem, classificar significa reunir coisas em grupos em razão de

uniformidades que apresentem.

Desta forma, existe uma limitação de critérios, em função dos quais as coisas podem ser

classificadas, exemplos: grandes; pequenas; pesadas; leves; valiosas ou sem valor. Assim, a

classificação se propõe a um melhor estudo dos objetos classificados, cem como a fins de

natureza didática.

1.3.1 Espécies de tributos

A maneira como se classificam os tributos no Direito Brasileiro ganha importância

suplementar. A própria Constituição enuncia quais são as categorias de tributos do sistema

vigente. Somente dessa forma assegura-se uma competência tributária mínima a cada uma das

pessoas políticas.

Segue o que diz o art. 145 da Constituição Federal:

“A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os

seguintes tributos:

I – impostos;

II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,

efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados

ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.”

Como aludido no artigo supracitado, do estrito ponto de vista do Direito Constitucional,

daria a entender que os tributos previstos seriam os únicos, tendo em vista que os demais não

estão enumerados. Entretanto, os arts. 148 e 149 contemplam respectivamente os empréstimos

compulsórios e as contribuições sociais de interesse das categorias profissionais ou

econômicas. Conforme disposto em lei:

“art. 148, CF: A União, mediante lei complementar, poderá instituir

empréstimos compulsórios:

18

I – para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade

pública, de guerra externa ou sua iminência;

II – no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante

interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b.

“Parágrafo único: A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo

compulsório será vinculada a despesa que fundamentou sua instituição.”

“art. 149, CF: Compete exclusivamente à União instituir contribuições

sociais, de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como

instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos

arts. 146, III e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, §6º,

relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

§ 1º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição

cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime

previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da

contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União.

§ 2º - As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de

que trata o caput deste artigo:

I – não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;

II – incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou

serviços;

III – poderão ter alíquotas:

a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da

operação e, no caso de importação o valor aduaneiro;

b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada.

§ 3º A pessoa natural destinaria das operações de importação poderá ser

equiparada a pessoas jurídica, na forma da lei.

§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única

vez.

Destarte, fica demonstrado a partir dos artigos expostos que existe uma concordância,

ou seja, na medida em que a Constituição conferiu regimes próprios a cinco modalidades

tributárias diferentes, cabe conhecer o respectivo regime jurídico.

1.3.2 Impostos

Há diversas definições existentes de impostos, de todas elas o objetivo é extrair algumas

características em comum, o que permite constatar a essência impositiva dessa modalidade. O

publicista francês, Gaston Jeze (apud BASTOS, 2001) trás uma definição bem próxima

desses elementos presentes em todas as demais, ele diz que imposto é “aquela prestação

pecuniária exigida aos particulares por via de autoridade a título definitivo e sem

contrapartida, com o fim de cobrir as obrigações públicas. Com isso, se ressalta os seguintes

elementos:

19

a) caráter obrigatório do imposto;

b) ausência de qualquer relação de correspondência entre a exação tributária

e qualquer sorte de compensação do Estado ao contribuinte;

c) o imposto exigido não é acompanhado de qualquer promessa de

reembolso, o que lhe confere qualidade de definitivo.

A definição legal do que seja imposto está inserida no art. 16 do CTN: “o tributo cuja

obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal,

relativa ao contribuinte”.

Fundamentalmente, no dizer de Roque Carazza, (apud BASTOS, 2001) o imposto é

válido essencialmente no poder de império estatal, ou seja, para que ele seja instituído não

existe a necessidade de o Poder Público desenvolver qualquer atividade específica, em relação

ao contribuinte.

Os impostos podem ser classificados doutrinariamente de diretos e indiretos.

O primeiro é aquele que toma em linha de conta a situação patrimonial do contribuinte,

por exemplo, Imposto de Renda (IR), sendo sua imposição tributária pode graduar de acordo

com a capacidade contributiva da pessoa acolhida pela exação.

O segundo tem seu fato gerador constituído por um evento jurídico ou material

desprendido da condição patrimonial de quem o pratica, por exemplo, o Imposto Sobre

Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS), o imposto de importação, etc.

Certamente, independe da condição social de um indivíduo que compra uma mercadoria

o quantum a pagar será o mesmo. Posto isso, o legislador tentou corrigir esse aspecto por

meio de não incidência, isenções, imunidades ou graduação das alíquotas de incidência.

1.3.3 Taxas

Em função de uma atividade praticada pelo Estado, essa modalidade foi escolhida pelo

Constituinte para permitir a cobrança. São duas as ordens dessas despesas: ou ocorridas em

razão da prestação de um serviço público, ou com a prestação do poder de polícia.

1.3.3.1 Serviço

As taxas fundadas em serviços públicos estão juridicamente conformadas ao nível do

direito positivo, pelo art. 79 do Código Tributário Nacional, que dispõe:

20

“art. 79. Os serviços públicos a que se refere, consideram-se

I – utilizados pelo contribuinte:

a) efetivamente quando por ele usufruído a qualquer título;

b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à

sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento;

II – específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de

intervenção, de utilidade ou de necessidade públicas;

III – divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de

cada um de seus usuários”.

Por fim, é importante ressaltar que, nas taxas, o elemento base de cálculo,tem caráter

determinante do quantum devido. Sendo que, a base de cálculo mal escolhida, faz com que

desapareça a figura da taxa, em seu lugar, surgir a do imposto.

1.3.3.2 Poder de polícia

Toda atividade, preventiva ou representativa, exercida pela Administração com o

propósito de disciplinar o exercício dos direitos individuais, de molde a compatibilizá-la com

o exercício de outros direitos dessa natureza, ou até mesmo com igual direito de outras

pessoas, denomina-se Poder de Polícia.

O CTN, no escopo de seu art. 78, cuja redação foi alterada pelo Ato Complementar nº.

31, de 28 de dezembro de 1996, traz a seguinte definição:

“ Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,

limitando ou disciplinando direto interesse ou liberdade, regula a prática de

ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à

segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do

mercado, ao exercício de atividades econômicas dependendo de concessão

do Poder Público, à tranqüilidade pública ou do respeito, a propriedade e aos

direitos individuais ou coletivos.

Parágrafo único: Considera-se regular o exercício ao poder de polícia

quando desempenhada pelo órgão competente nos limites da lei aplicável

com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha

como discricionária sem abuso ou desvio de poder”.

Por oportuno, vale ressaltar que o poder de polícia está sob a égide da administração

pública, a qual regulamenta e disciplina o interesse público que diz respeito à segurança, à

higiene, à ordem, aos costumes, à tranqüilidade pública, entre outros. Dessa forma, o aludido

artigo, expõe que o exercício de atividade em tela, desde que não havendo o abuso ou desvio

21

de poder, seja considerado regular quando desempenhar a função pelo órgão competente nos

limites da lei.

1.3.3.4 Contribuição de melhoria

A Contribuição de Melhoria é um tributo cobrado em decorrência de obras públicas. É

um tributo da modalidade vinculada, porém indireta, pois além da atuação do Estado,

necessário se faz que se interponha uma conseqüência desta – a ocorrência da valorização

imobiliária.

1.3.3.5 Empréstimo compulsório

O Empréstimo Compulsório é um tributo privativamente criado pela União Federal, ou

seja, não é o tipo de tributo que do qual possam se valer os Estados e Municípios.

Essencialmente por Lei complementar é que pode ser instituído o empréstimo compulsório

que deverá ser destinado para atender as despesas extraordinárias decorrentes de calamidade

pública, de guerra externa ou sua iminência. Só será permitido investimento público de caráter

urgente e de relevante interesse nacional, caso seja observado o disposto no artigo 150, III, b,

CF.

1.3.3.6 Contribuições sociais

Embora não exista uma Lei Maior que esboce as contribuições sociais, elas integram o

sistema tributário e, em razão disso, estão submetidas aos princípios que os regem, de forma

que têm natureza tributária totalmente agregada ao sistema e não a margem dele.

1.4 Princípios constitucionais tributários

A palavra princípio está relacionada com a idéia de origem, início de alguma coisa ou

um estudo. Vários doutrinadores tem se esforçado ao longo dos anos para conceituar tal tema,

optou-se por extrair duas vertentes: princípios são dotados de grande abstração e, pode-se

dizer que são os alicerces de todo ordenamento jurídico em que se encontram.2

2Disponível em: < http://www.derechoycambiosocial.com/revista002/tributos.htm >Acesso em 10/set/2010

22

Nas palavras de Celso Antonio Bandeira de Mello:

Princípio é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce deste,

disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-

lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e

inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema

normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.

(MELLO, 2000, p. 747-748)

Dessa forma fica explícito que os princípios, estão no topo da estrutura normativa e

maioria deles se encontra na Carta Constitucional. Embora muitos princípios foram elevados a

categoria de normas constitucionais, o que não quer dizer que um princípio será

necessariamente uma norma.

Merecem considerações neste estudo a investigação analítica dos princípios da estrita

legalidade, da legalidade e das medidas provisórias, da anterioridade, da irretroatividade, da

uniformidade geográfica, da isonomia, da capacidade contributiva e o da não-cumulatividade.

1.4.1 Princípio da estrita legalidade

Conforme o artigo 150, I, da Constituição Federal, é vedado à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios: exigir ou aumentar tributo sem lei que estabeleça. Para que

isso ocorra, a lei deverá delinear o fato cuja ocorrência fará surgir o dever de pagar o tributo;

estabelecer a base de cálculo sobre o qual incidirá a alíquota.

1.4.2 Princípio da legalidade e das medidas provisórias

O Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, em

casos de relevância urgência, devendo submetê-las imediatamente ao Congresso Nacional,

caso esteja de recesso, será convocado no prazo de cindo dias para reunião extraordinária. É

importante ressaltar que as medidas provisórias perderão sua eficácia se não forem

convertidas em lei no prazo de trinta dias, desde a sua edição. Diante dessa dilação temporal,

notam-se profundos impedimentos à veiculação de medida provisória em sede de tributação.

23

1.4.3 Princípio da anterioridade

O princípio em questão estabelece que nenhum tributo poderá ser cobrado no mesmo

exercício financeiro em que foi instituído ou aumentado. Por exemplo, um tributo criado em

junho deste ano, terá que aguardar o mês de janeiro do próximo ano para ser cobrado. O

entendimento que se chegou é que toda lei que cria ou aumenta um tributo fica com sua

eficácia sustada, obstada, até o início do exercício financeiro subseqüente.

1.4.4 Princípio da irretroatividade

Embora produtora de efeitos imediatos, a lei nova, em determinadas situações poderá

retroagir no passado sem quebra de segurança para o indivíduo, que é a razão principal de ser

da irretroatividade. Todas as vezes que for imposto por lei ônus ou penas para

comportamentos que eram livres, ou até, aligeirar essas penas no caso de já previstas. Isso faz

com que as leis se tornem retroativas, ou por disposição constitucional ou por estatuição da lei

ordinária.

1.4.5 Princípio da uniformidade geográfica

À luz do artigo 151, I, da CF, é vedado à União instituir tributo que não seja uniforme

em todo território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao

Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro. Significa dizer que os tributos

quando instituídos pela União devem ser uniformes e qualquer tratamento desigual das

unidades federadas deve ser repelido.

1.4.6 Princípio da isonomia

É consagrado solenemente pelo escopo do artigo 5º, caput, e seu inciso I, o princípio da

isonomia, que traz a seguinte redação:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

Constituição”.

24

Certamente, em matéria fiscal, a igualdade diante dos impostos não deve ser entendida

que todos os contribuintes devam ser tratados da mesma maneira, ou seja, todos os

contribuintes que se encontrem na mesma situação devem ser tratados igualmente, tal como

os que se encontram em situação desigual, deverão ser tratados desigualmente.

1.4.7 Princípio da capacidade contributiva

É característico o dever de o princípio ser atuante, embora seja parte integrante dos

princípios gerais de direito, fica evidente a existência de dois elementos que interferem na

matéria em tela. Primeiro, é conferido ao Estado à obrigação de modular a sua carga tributária

segundo a maior aptidão do contribuinte para suportá-la. Assim, uma visão panorâmica do

sistema tributário vigente demonstra que essa maior operação daqueles que tem mais

capacidade contributiva é uma imposição expressa em Lei Maior. Trata-se do art. 145, § 1º,

da Constituição Federal:

“A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os

seguintes tributos:

§1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados

segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração

tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,

identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o

patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.

Em certas hipóteses de tributação o Estado assume um autêntico compromisso com a

desequiparação, na qual a oneração maior fica a cargo daqueles que tem mais recursos para

suportá-la.

1.4.8 Princípio da não-cumulatividade

Encontra-se previsto em Lei Maior que a União no exercício da competência residual,

instituirá impostos não-cumulativos, mediante lei complementar e não tenham fato gerador ou

base de cálculos próprios dos discriminados na Constituição Federal.

25

1.5 Função dos tributos

Quanto à função dos tributos a pesquisa demonstra que podem ser fiscais, extrafiscais e

parafiscais. Esses termos são utilizados usualmente em matéria científica de direito para

representar valores finalísticos que o legislador imprime na lei tributária.

O tributo fiscal tem como objetivo principal a arrecadação de recursos financeiros para

o Estado, para que possa coibir os seus gastos, por exemplo, IR – Imposto de Renda.

Já o tributo extrafiscal visa à correção de anomalias, além da arrecadação. Seu principal

objetivo é a intervenção do domínio econômico, onerando ou desonerando a importação de

determinados bens. Por exemplo, no caso de produtos nocivos a saúde, tal como o cigarro a

tributação ocorre de forma mais gravosa.

Finalmente, o tributo parafiscal atua com arrecadação de recursos para o custeio de

atividade que, em princípio, não integram funções próprias do Estado, mas esta atividade e

desenvolvida através de entidades específicas, denominadas paraestatais, como as que cuidam

da previdência social (INSS) e da fiscalização de profissões regulamentadas (CREA, OAB,

etc.).

Por existirem algumas peculiaridades na matéria de Direito Tributário, torna-se

instigante analisar de forma um pouco mais profunda o que entende-se por parafiscalidade,

este termo surgiu na França, logo após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de designar

certas contribuições fiscais. Sendo assim, segue na próxima seção um estudo mais

aprofundado do assunto.

26

SEÇÃO 2 CONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL

Esta seção trará a tona uma abordagem contextual de como se deu origem o termo

parafiscal, bem como, sua classificação, competência e explicitar sua natureza jurídica.

2.1Conceito

De acordo com a pesquisa, chegou-se ao entendimento que, na Alemanha de Bismark

foi elaborada uma série de leis de previdência e seguro sociais protetoras dos trabalhadores,

reunidas, posteriormente no Código. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, na França, o

inventário de Schumann, criou uma nova classe na Ciência das Finanças, classificando as

várias espécies de receitas destinadas a previdência social, o qual designou parafiscalidade.

Ruy Barbosa Nogueira informa que:

A expressão parafiscal apareceu na linguagem financeira, no inventário

Schumann, para designar certos tributos que ora são verdadeiros impostos,

ora taxas e às vezes um misto dessas duas categorias e que por delegação são

arrecadados por entidades beneficiárias.

(apud MELEGA, 1980, p.181)

Para Aliomar de Andrade Baleeiro (1972), político e jurista brasileiro, ex-presidente do

STF, a parafiscalidade não deve ser encarada como uma nova categoria tributária, nas simples

técnicas e sistema financeiro, sendo assim, ele a caracteriza da seguinte forma:

- delegação do poder fiscal do Estado a órgão oficial ou semi-oficial

autônomo;

- destinação especial da receita arrecadada por essa entidade paraestatal

investida da delegação, aos fins específicos que lhe são cometidos por lei,

com a derrogação do princípio geral da não afetação das receitas;

- a exclusão dessas receitas, de destinação especificamente do âmbito do

orçamento gerado pelo Estado, contrariando ao que ocorre de referências às

receitas fiscais propriamente ditas;

- excluídas do orçamento geral, tais receitas escapariam a fiscalização do

Tribunal de Contas ou órgão de controle de execução do orçamento.3

Segundo o professor Emmanuelle Morselli (1952), a parafiscalidade é uma

modalidade nova de finanças públicas, embora com antecedentes histórico, próprio do Estado

3 Disponível em < http://www.unifor.br/joomla/images/pdfs/pdfs_notitia/2716.pdf>. Acessado em 24/08/2010

27

intervencionista, visando instituir e utilizar receitas de aplicação específica, fora do orçamento

estatal de assistência e previdência sociais, arrecadadas diretamente pelas entidades

aplicadoras ou por meios indiretos, inclusive pelas próprias repartições fiscais do Estado.

Assim, podemos completar que a legislação parafiscal, desde o início de seu surgimento

tornou-se objeto de controvérsia quanto a sua natureza jurídica, pois tem estado presente, sob

as mais diversas formas em conformidade com o ordenamento jurídico de cada país.

2.2 Natureza jurídica

Os aspectos formais e materiais da contribuição especial têm como instrumento

legislativo para instituí-la, a Lei Complementar, que tem o dever de estabelecer normas gerais

em matéria de legislação tributária.

Tal contribuição se sujeita ao princípio da legalidade e irretroatividade. A sujeição ao

princípio da anterioridade é reduzida, de forma que somente é exigida a lei que instituiu ou

aumentou a contribuição especial tenha sido publicada (90) noventa dias antes da exigência.

Para Ylves J. de Miranda Guimarães (apud, BASTOS, 2000), a natureza jurídica da

contribuição decorre da presença de determinados elementos que integram a norma jurídica

instituidora:

"... Assim, norma que tendo por hipótese de incidência uma atuação estatal

não representativa de acordo de vontades como a intervenção no domínio

econômico, o interesse da previdência social ou de categoria profissional –

instaurando uma relação jurídica entre uma pessoa pública ou privada de fins

públicos, dando a esta o direito de exigir do contribuinte uma prestação em

dinheiro – com a característica daquela atuação só dizer respeito indireta e

mediatamente ao mesmo contribuinte, terá natureza jurídica de contribuição"

(GUIMARÃES,apud,<http://www.unifor.br/joomla/images/pdfs/pdfs_notitia

/2716.pdf>. Acessado em 24/08/2010)

Torna-se evidente que a natureza jurídica de contribuição está atrelada ao termo

parafiscalidade, tendo como justificativa a prestação pecuniária cobrada pelos órgão

paraestatais de seus contribuintes.

2.3 Classificação das contribuições parafiscais

Por se tratar de um ato de autoridade, sem que o contribuinte tenha qualquer adesão

voluntária, as contribuições parafiscais podem ser consideradas gênero de tributos ou

ingressões coativos.

28

Os tributos para aplicação especial aos fins dos órgãos aos quais o Estado os delegou

são exigidos exclusivamente dos grupos ou indivíduos que se beneficiam com as atividades

de tais órgãos parestatais. Dessa forma poderão ser consideradas como taxas, as contribuições

dos trabalhadores e profissionais para institutos de seguro social, sindicatos e órgãos de

interesse de classe.

É notório que se a cotização parafiscal recai sobre o custo da mercadoria,ou qualquer

elemento desse custo (material, mão de obra, etc.), não existe nexo entre o contribuinte e o

destino desta arrecadação estar vinculado ao fomento da produção daquela mercadoria,

educação profissional ou técnica de futuros operários para fabricá-la. Nesse caso, existe a

figura do imposto.

Elementar raciocínio convence de que, a contribuição parafiscal em alguns casos se

identifica como taxas e em outros casos com os impostos com destinação especial a um fim.

A Ordem dos Advogados do Brasil, um órgão parestatal, sua natureza jurídica esta

assentada na jurisprudência firme dos tribunais superiores (STF e STJ). O serviço por ela

prestado tem natureza pública federal, para tanto fiscaliza a função do advogado indispensável

à administração da Justiça, nos termos do art. 133 da Constituição Federal, conseqüentemente

as contribuições compulsórias que recolhe têm natureza parafiscal e submetem-se ao regime

tributário, salvando o que pertine aos impostos.

Ocorre que alguns de seus associados, deixaram de contribuir com a anuidade referente

a habilitação para o exercício da profissão expedida pelo órgão, alegando a

inconstitucionalidade de tal tributo, porém, a jurisprudência negou o recurso. Segue o

entendimento do referido acórdão, expedido pelo Superior Tribunal de Justiça de Santa

Catarina:

RECURSO ESPECIAL Nº 463.258 - SC (2002/0114690-8) RELATOR :

MINISTRO LUIZ FUX RECORRENTE : ORDEM DOS ADVOGADOS

DO BRASIL - SECCIONAL DE SANTA CATARINA ADVOGADO :

CYNTHIA DA ROSA MELIM E OUTROSRECORRIDO : DEONILDO

GAGGION EMENTA PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO.

EXECUÇÃO. ANUIDADES DA OAB. CONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL.

APLICAÇÃO DA LEI N.° 6.830/80. COMPETÊNCIA DA VARA DE

EXECUÇÕES FISCAIS DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. A ordem dos advogados do Brasil - OAB é uma autarquia profissional de

regime especial, cuja natureza jurídica resta assentada na jurisprudência

firme dos tribunais superiores (STF e STJ). 2. Deveras,

29

o serviço que presta tem natureza pública federal, porquanto fiscaliza a

profissão de advogado, indispensável à administração da Justiça, nos termos

do art. 133 da Constituição Federal, conseqüentemente ascontribuições

compulsórias que recolhe têm natureza parafiscal e subsumem-se ao regime

tributário, salvante o que pertine aos impostos.

3. Consectariamente, pela sua natureza, seus interesses quando

controvertidos são apreciados e julgados pela Justiça Federal, consoante

entendimento do STJ.

4. Tratando-se de dívida derivada da contribuição compulsória, dispõe o

Estatuto da OAB, Lei nº 8.036/94, que a certidão do conselho acerca do

crédito da entidade consubstancia título executivo, o que implica exigí-lo em

juízo via processo satisfativo da execução por quantia certa.

5. Decorrência dessas premissas é o fato de que a execução de título

extrajudicial das autarquias, processa-se sob o rito especial Lei de Execuções

Fiscais, porquanto esse diploma estabelece que se subsume às suas regras a

cobrança judicial das dívidas ativas das autarquias.

6. Dívida ativa e tributo não se confundem, por isso que, uma vez inscrita

adívida, desaparece a sua origem para dar ensejo à exigibilidade judicial,

segundo as leis do processo. 7.

Deveras, a parte não pode dispor dos procedimentos, cujo estabelecimento

deriva de normas processuais imperativas e de direito público. Outrossim, o

rito da execução fiscal é mais benéfico quer pela sua desinformalização quer

pelos privilégios processuais que atingem o momento culminante do

processo satisfativo que é a fase de pagamento. 8. Recurso

desprovido, para submeter a cobrança das contribuições para a OAB ao

Juízo Federal das execuções fiscais.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto

Gomes de Barros, José Delgado, Francisco Falcão e Paulo Medina votaram

Documento: 392182 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ:

05/05/2003 Página 1 de 10 Superior Tribunal de Justiça com o Sr. Ministro

Relator. Brasília (DF), 06 de fevereiro de 2003(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIZ FUX Relator Documento: 392182 - Inteiro Teor do

Acórdão - Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página 2 de 10 Superior

30

Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 463.258 - SC (2002/0114690-

8) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX(Relator): Trata-se

de recurso especial interposto pela ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL, SECCIONAL DE SANTA CATARINA - OAB/SC (fls. 62/79),

com fulcro no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal,

visando reformar o acórdão (fls. 45/49), proferido pelo Tribunal Regional

Federal da 4ª Região, assim ementado: "AGRAVO REGIMENTAL

CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA DE AGRAVO DE

INSTRUMENTO. 1. Forte no disposto no art. 557 do CPC, possível ao

Relator negar seguimento a recurso em confronto com jurisprudência

dominante do respectivo tribunal, como no caso dos autos.

2. A decisão denegatória de seguimento de recurso substitui o decisum

colegiado, não representando por isso, óbice à interposição de recurso

especial e/ou extraordinário." (fl. 49) Depreende-se dos autos que a

recorrente interpôs Agravo de Instrumento contra decisão que - nos autos de

Ação de Execução proposta com base em título extrajudicial - declinou da

competência em favor da Vara Federal especializada em execuções fiscais

(fl.11). O Relator do agravo de instrumento, por decisão monocrática, negou

seguimento ao recurso, sob o fundamento de que a decisão agravada estava

em consonância com a jurisprudência do TRF da 4ª Região (fl. 27/29).

Irresignada a OAB/SC interpôs agravo regimental sustentado, em síntese,

que a anuidade da OAB não é espécie tributária, razão pela qual não há que

se falar em cobrança por meio de execução fiscal. Todavia, o Tribunal a quo

negou provimento ao agravo, consoante ementa de fls. 49. Foram opostos

embargos de declaração, suscitando a omissão quanto aos dispositivos de lei

suscitados como violados no agravo, os quais restaram parcialmente

acolhidos, para fins de prequestionamento (fls. 57/60).Em sede de recurso

especial, alega o recorrente violação ao art. 46, da Lei n.° Documento:

392182 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página

3 de 10 Superior Tribunal de Justiça 8.906/94, in verbis : "Art. 46. Compete

à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de serviços e

multas. Parágrafo único. Constitui título executivo extrajudicial a certidão

passada pela diretoria do Conselho competente, relativa a crédito previsto

neste artigo." Sustenta a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de

Santa Catarina - OAB/SC que as execuções por ela propostas seguem o rito

do CPC, referente às execuções fundadas em título extrajudicial, por

imposição da Lei n.° 8.906/94, sob o fundamento de que a execução de

31

serviços denominados públicos, não tem o condão de enquadrar a OAB

como Autarquia, de forma que as suas receitas não podem ser consideradas

tributos e, portanto, o rito previsto para executar as anuidades em atraso não

é previsto na Lei n° 6.830/80, ou seja, a sua execução não pode ser fiscal.

Alega, ainda, a existência de dissídio jurisprudencial entre o acórdão

recorrido e o proferido pelo TRF 2ª Região, no AG nº 10888/ES, Relator

Desembargador Paulo Freitas Barata, publicado no DJ de 08.08.2000, no

sentido de que com a edição da Lei n.° 8.906/94, restou superada a discussão

sobre a natureza das anuidades da OAB, aplicando-se às execuções o art. 46,

parágrafo único da referida lei. Sem contra-razões, o recurso foi admitido

pelo Tribunal a quo, consoante despacho de fl. 105. É o relatório.

Documento: 392182 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ:

05/05/2003 Página 4 de 10 Superior Tribunal de Justiça RECURSO

ESPECIAL Nº 463.258 - SC (2002/0114690-8) PROCESSUAL CIVIL.

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO. ANUIDADES DA OAB. CONTRIBUIÇÃO

PARAFISCAL. APLICAÇÃO DA LEI N.° 6.830/80. COMPETÊNCIA DA

VARA DE EXECUÇÕES FISCAIS DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A ordem

dos advogados do Brasil - OAB é uma autarquia profissional de regime

especial, cuja natureza jurídica resta assentada na jurisprudência firme dos

tribunais superiores (STF e STJ). 2. Deveras, o serviço que presta tem

natureza pública federal, porquanto fiscaliza a profissão de advogado,

indispensável à administração da Justiça, nos termos do art. 133 da

Constituição Federal, conseqüentemente as contribuições compulsórias que

recolhe têm natureza parafiscal e subsumem-se ao regime tributário, salvante

o que pertine aos impostos. 3.

Consectariamente, pela sua natureza, seus interesses quando controvertidos

são apreciados e julgados pela Justiça Federal, consoante entendimento do

STJ. 4. Tratando-se de dívida derivada da contribuição compulsória,

dispõe o Estatuto da OAB, Lei nº 8.036/94, que a certidão do conselho

acerca do crédito da entidade consubstancia título executivo, o que implica

exigí-lo em juízo via processo satisfativo daexecução por quantia certa.

5. Decorrência dessas premissas é o fato de que a execução de título

extrajudicial das autarquias, processa-se sob o rito especial Lei de Execuções

Fiscais, porquanto esse diploma estabelece que se subsume às suas regras a

cobrança judicial das dívidas ativas das autarquias.

6. Dívida ativa e tributo não se confundem, por isso que, uma vez inscrita a

dívida, desaparece a sua origem para dar ensejo à exigibilidade judicial,

32

segundo as leis do processo. 7.

Deveras, a parte não pode dispor dos procedimentos, cujo estabelecimento

deriva de normas processuais imperativas e de direito público. Outrossim, o

rito da execução fiscal é mais benéfico quer pela sua desinformalização quer

pelos privilégios processuais que atingem o momento culminante do

processo satisfativo que é a fase de pagamento. 8. Recurso

desprovido, para submeter a cobrança das contribuições para a OAB ao

Juízo Federal das execuções fiscais. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO

LUIZ FUX(Relator): Preliminarmente, impõe-se destacar que o dispositivo

tido por violado foi devidamente ventilado no acórdão recorrido, pelo que

restou cumprido o requisito do prequestionamento, imprescindível à análise

do recurso especial, pelo que merece ser conhecido. No mérito, alega a OAB

violação ao art. 46, da Lei n.° 8.036/94, sob o Documento: 392182 - Inteiro

Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página 5 de 10 Superior

Tribunal de Justiça fundamento de que as execuções por ela propostas

seguem o rito do CPC, referente às execuções fundadas em título

extrajudicial, por imposição da referida lei. Sustenta que a execução de

serviços denominados públicos, não tem o condão de enquadrar a OAB

como Autarquia, de forma que as suas receitas não podem ser consideradas

tributos e, portanto, o rito previsto para executar as anuidades em atraso não

é o da Lei n° 6.830/80, que regula a execução fiscal. Consoante festejada

doutrina do tema, a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB é um autarquia

de regime especial, que, segundo Hely Lopes Meirelles, in "Direito

Administrativo Brasileiro", p. 333, "é toda aquela que a lei instituidora

conferir privilégios específicos e aumentar sua autonomia comparativamente

com as autarquias comuns, sem infringir os preceitos constitucionais

pertinentes a essas entidades de personalidade pública ." Deveras, a atividade

da OAB não se limita apenas ao serviço de fiscalização de profissão

regulamentada, haja vista que atua, inclusive, na defesa da Constituição, da

ordem jurídica do estado democrático de direito, dos direitos humanos ... ",

como bem sustenta a recorrente no seu recurso especial (fl.53), prestando

serviço público federal de natureza indireta. Nesse sentido, o seguinte

precedente da 1ª Turma: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE

COMPETÊNCIA. OAB. MANDADO DE SEGURANÇA

1. A Ordem dos Advogados do Brasil é autarquia profissional especial, com

perfil de serviço publico federal de natureza indireta.

2. A competência para processar e julgar ações do interesse ativo ou passivo

33

e da justiça federal. 3. Os efeitos da medida provisoria num. 1549-39, de

06.11.97, não atingem a estrutura originária da OAB. 4. A

medida provisoria num. 1.654/98, em seu art. 8., determinou ser a justiça

federal competente para processar e julgar as causas do interesse das

entidades de fiscalização do exercício profissional. 5. Conflito

conhecido para determinar a competência da Justiça Federal." (CC

21255/ES, Min. Rel. JOSÉ DELGADO, DJ: 03/08/1998)

Conseqüentemente, a OAB enquadra-se nessa categoria sui generis,

submetida tanto ao direito público como ao direito privado. Nesse contexto,

sendo federal o serviço que esta patrocina, a competência para julgar as

causas em que figura como autora, ré ou interveniente é da Justiça Federal,

de acordo com o disposto no art. 109, I, da Constituição Federal, o que,

inclusive já foi sumulado pela Corte (Súmula 66/STJ): "Compete à Justiça

Federal processar e julgar Documento: 392182 - Inteiro Teor do Acórdão -

Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página 6 de 10 Superior Tribunal de Justiça

execução fiscal promovida por conselho de fiscalização profissional." Subjaz

a indagação pertinente à natureza das anuidades devidas à OAB, sobre se

ostenta caráter tributário, submetida à Lei de Execuções Fiscais a sua

cobrança, ou constitui-se título executivo judicial tout court regido pelas

normas gerais do CPC. Sob esse ângulo as anuidades dessa autarquia

especial são classificadas pelos tributaristas como contribuições parafiscais,

como, v.g., leciona Sacha Calmon Navarro Coêlho, in "Manual de Direito

Tributário", p. 51, porquanto as referidas contribuições têm o fim de

"garantir o financiamento dos órgãos corporativos, tais como sindicatos e

órgãos de representação classista ." Ora, se é verossímil que a OAB é uma

autarquia de regime especial e que as suas anuidades têm caráter de tributo

com finalidades parafiscais, e conseqüente natureza de contribuição

parafiscal; espécie gênero "tributo", de natureza compulsória, inegável que

se aplica o disposto no art. 1°, da Lei n.° 6.830/80, que submete a execução

ao Juízo da Vara Federal de Execuções Fiscais. Nesse sentido dispõe o

referido diploma: "Art 1º A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa

da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas

autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de

Processo Civil." Ora, se a OAB é Autarquia, e se o seu crédito é dívida ativa

consubstanciado em título executivo, a execução só pode ser regida pela Lei

nº 6.830/80. Neste diapasão confiram-se julgados, desta Corte, assim

ementados: "CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DE SÃO

34

PAULO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DIREITO COMUM.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

1. A Caixa de Assistência dos Advogados, como órgão da Ordem dos

Advogados do Brasil, está na esfera da competência da Justiça Federal.

2. Recurso especial conhecido e provido." RESP 299.030/SP, Relator

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 25.02.2002 CONFLITO

NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS DE DIREITO E FEDERAL.

REPETIÇÃO DE INDÉBITO MOVIDA CONTRA A CAIXA DE

ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-CAARJ. ÓRGÃO DA OAB. Nos termos do artigo 45, inciso IV, da Lei n.

8.906/94, Documento: 392182 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado -

DJ: 05/05/2003 Página 7 de 10 Superior Tribunal de Justiça as Caixas de

Assistência dos Advogados são órgãos da OAB, o que as colocam dentro da

competência da justiça federal." (CC 29904/RJ, Relator Ministro Cesar

Asfor Rocha, DJ de 12.08.2002) Com efeito, o Supremo Tribunal Federal

considera a OAB como sendo autarquia, que exerce serviço público. Neste

sentido julgado na ADIn nº 1.707/MT, Relator Ministro Moreira Alves, DJ

de 01.07.98: "Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 5.607, de 31 de

maio de 1990, do Estado de Mato Grosso que atribui em favor da OAB,

Seção daquele Estado, parcela de custas processuais. - Exercendo a OAB,

federal ou estadual, serviço público, por se tratar de pessoa jurídica de

direito público (autarquia), e serviço esse que está ligado à prestação

jurisdicional pela fiscalização da profissão de advogado que, segundo a parte

inicial do artigo 133 da Constituição, é indispensável à administração da

justiça, não tem relevância, de plano, a fundamentação jurídica da argüição

de inconstitucionalidade da lei em causa no sentido de que o serviço por ela

prestado não se vincula à prestação jurisdicional, desvirtuando-se, assim, a

finalidade das custas judiciais, como taxa que são. - Ausência, também, do

"periculum in mora" ou da conveniência em suspender-se, liminarmente, a

eficácia dessa Lei estadual. Pedido de liminar indeferido. Deveras, é assente

tanto no STJ quanto no STF que o serviço prestado pela OAB tem natureza

pública federal, porquanto fiscaliza a profissão de advogado, indispensável à

administração da Justiça, nos termos do art. 133 da Constituição Federal,

conseqüentemente as contribuições compulsórias que recolhe têm natureza

parafiscal e subsumem-se ao regime tributário, salvante o que pertine aos

impostos. Destarte, tratando-se de dívida derivada da contribuição

compulsória, dispõe o Estatuto da OAB, Lei nº 8.036/94, que a certidão do

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conselho acerca do crédito da entidade consubstancia título executivo, o que

implica exigí-lo em juízo via processo satisfativo da execução por quantia

certa. Decorrência dessas premissas é o fato de que a execução de título

extrajudicial das autarquias, processa-se sob o rito especial Lei de Execuções

Fiscais, porquanto esse diploma estabelece que se subsume às suas regras a

cobrança judicial das dívidas ativas das autarquias. Com efeito, dívida ativa

e tributo não se confundem, po r isso que, uma vez inscrita a dívida,

desaparece a sua origem para dar ensejo à exigibilidade judicial, segundo as

leis do processo. Ademais, a parte não pode dispor dos procedimentos, cujo

estabelecimento deriva de normas processuais imperativas e de direito

público. Outrossim, o rito da execução Documento: 392182 - Inteiro Teor do

Acórdão - Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página 8 de 10 Superior

Tribunal de Justiça fiscal é mais benéfico quer pela sua desinformalização

quer pelos privilégios processuais que atingem o momento culminante do

processo satisfativo que é a fase de pagamento. Ante o exposto, NEGO

PROVIMENTO ao recurso especial. É como voto. Documento: 392182 -

Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/05/2003 Página 9 de 10

Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA

TURMA Número Registro: 2002/0114690-8 RESP 463258 / SC Números

Origem: 200204010090043 200272000010513 9520114920 PAUTA:

06/02/2003 JULGADO: 06/02/2003 Relator Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX

Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO

Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. MARIA CAETANA

CINTRA SANTOS Secretária Bela. MARIA DO SOCORRO MELO

AUTUAÇÃO RECORRENTE : ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL - SECCIONAL DE SANTA CATARINA ADVOGADO :

CYNTHIA DA ROSA MELIM E OUTROS RECORRIDO : DEONILDO

GAGGION ASSUNTO: Administrativo - Exercício Profissional - Anuidades

/ Contribuições CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA,

ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a

seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto

Gomes de Barros, José Delgado, Francisco Falcão e Paulo Medina votaram

com o Sr. Ministro Relator. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 06 de

fevereiro de 2003 MARIA DO SOCORRO MELO Secretária.

36

Conforme, Aliomar Balieiro, (2006, p.292) o conceito parafiscalidade é útil, do ponto

de vista exclusivamente didático, metodológico ou terminológico, para designar impostos ou

taxas que se distinguem dos demais pela delegação a um órgão para estatal a fim de serem

aplicados aos fins destes.

A discussão a que se refere o tema em tela traz uma indagação que suscita uma

angústia pertinente ao assunto. Para isso, será abordado na próxima seção de que forma a

contribuição parafiscal poderá servir de instrumento de política fiscal em prol dos Direitos

Humanos.

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SEÇÃO 3 CONTRIBUIÇÃO PARAFISCAL COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA

FISCAL EM PROL DOS DIREITOS HUMANOS

3.1 Conceito histórico e filosófico dos direitos humanos

Impossível tratar o tema proposto sem fazer, ainda que brevemente, algumas

considerações sobre o que são Direitos Humanos. A Declaração Universal dos Direitos

Humanos da Organização das Nações Unidas, em seu artigo 1º, afirma:

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.

Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros com

espírito de fraternidade.”

Historicamente os Direitos Humanos surgiram como resultado de diversos debates

entre juristas e filósofos, ao longo dos séculos. Ficou evidenciado que seu surgimento se a

partir da necessidade dos cidadãos serem titulares de certos direitos em relação a seu Estado

soberano e, futuramente, em relação a sociedade internacional.

Antigamente, diversos princípios embasavam sistemas de valores humanos marcados

pelo humanismo ocidental judaico-cristão e greco-romano e pelo humanismo oriental, através

das tradições hindu, chinesa e islâmica.

Conceituar direitos humanos é uma tarefa nada fácil, pois varia de acordo com a

concepção política ideológica que se tenha. Não existe uma uniformidade conceitual, embora

a teimosia de alguns indivíduos tente apresentar uma única e definitiva maneira de defini-los.

Filosoficamente existem três possibilidades de fundamentar os direitos da pessoa

humana. A primeira das concepções parte do pressuposto de uma visão metafísica e abstrata

pontuando que os Direitos Humanos são inerentes ao homem, ou nascem pela força da

natureza humana, manifesta pela vontade divina.

A segunda concepção demonstra que os direitos são fundamentais e essenciais desde

que reconhecidos pelo Estado através de sua orem jurídica positiva. Posto isso, os direitos

seriam um produto que emana da força do Estado através de seu processo de legitimação e

reconhecimento legislativo, e não como produto advindo de uma força divina. Sendo assim,

sua efetividade depende de um reconhecimento do poder público.

A terceira concepção surgiu a partir de uma explicação de caráter histórico-estrutural

para fundamentá-los. A crítica ao pensamento liberal levou ao entendimento de que os

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direitos humanos, não passavam de expressão formal de um processo político-social e

ideológico realizado por lutas sociais no momento da ascensão da burguesia ao poder político.

Baseado nestas três concepções é que ao longo dos séculos se desenvolveram as

diferentes explicações sobre os direitos humanos, marcando profundamente o processo de

formulação e evolução conceitual sobre o tema.

No prisma desta escala evolutiva, chega-se ao entendimento que os direitos humanos,

posteriormente foi positivados, porém, sua valoração individualista fez-se necessário para que

assim, em seguida chegasse ao alcance da positivação coletiva, voltada para uma proteção

mais universal e global.

3.2 O Direito e os direitos humanos

Socialmente os interesses sociais chocam entre si4. As leis surgem necessariamente com

o intuito de harmonizar o equilíbrio da convivência humana.

O estudo em tela demonstra que cada sociedade tem a sua cultura e sua moral própria.

As tendências dos comportamentos sociais se reiteram no meio social, o valor que recebe,

depende da época e cultura que poderá ser aceitável ou reprovável socialmente. Para chegar

nesta analise, não precisa ir muito longe, basta fazer uma retrospectiva nas histórias, tanto

econômica, política e social.

A dinamicidade social leva a constatação de que as sociedades não são estáticas e se

modificam com o tempo. Com isso existe mudança de valores, necessitando de uma

atualização normativa. Assim, as leis precisam ser feitas levando em conta as necessidades da

vida comum, as disparidades, o modo de pensar e agir e a cultura existente.

Para que as regras sejam ordenadas de forma efetivas, fazendo com que os membros da

sociedade vivam de forma harmônica e passiva, é necessário que exista um poder central que

faça as normas, aplique-as e controle a sua eficiência. Surge daí o contrato social, nascendo o

Estado que faz com que os homens entreguem esse poder de controlar a sociedade a um ente

abstrato, que se responsabiliza pela paz intersubjetiva.

No período da Idade Média, não existia um poder centralizado e as regras eram ditadas

pelos senhores feudais, sendo que o rei era mera “figura” decorativa. Deve-se destacar que a

Igreja tinha total poderio e controlava a sociedade em nome de Deus.

4Disponível em <http://www.ufsm.br/direito/artigos/constitucional/direitos-evolucao.htm>. Acessado em 05/10/2010

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Posteriormente, a Idade Moderna, através de um Rei Absoluto, controlava os súditos,

com sua autoridade detentora do poder. Não se tinha escolha, tudo era resolvido

arbitrariamente e o poder estava centralizado em uma única pessoa. As idéias de liberdade do

homem frente ao soberano surgiram mais tarde, isso possibilitou que o homem conquistasse a

sua liberdade negativa, caracterizada pela não intervenção do Estado em suas atitudes, esse

evento foi marcado pela Revolução Francesa.

Os direitos humanos são de grande importância e devem prevalecer frente aos demais

direitos, pois, acredita-se que a efetividade da harmonização social depende de sua essência.

3.3 As contribuições parafiscais na atual ordem constitucional: espécie tributária

autônoma de caráter instrumental implementador de política fiscal em prol dos direitos

humanos

À luz do Diploma Legal, de 1988, estão assegurados em seus artigos, 1º, 3º, 6º ao 8º,

diversos direitos sociais que consagram o primado da justiça social, destacados dentre eles o

valor social do trabalho, a igualdade e a solidariedade. Com isso o Estado Democrático de

Direito tem inegável dimensão social o qual se vincula a dignidade da pessoa humana de fato.

Cabe ao Estado não apenas respeitar os direitos humanos, conduta essa considerada

omissiva, é seu dever atuar ativamente na formulação de políticas públicas voltadas para a

realização desses direitos.

A função social do tributo, no Estado Democrático de Direito, é a promoção do

desenvolvimento econômico como liberdade, que venha favorecer a concretização da justiça

social, seja por meio de políticas, facilidades econômicas e oportunidades sociais.

Antes do advento da contribuição parafiscal, para atender os direitos básicos e

fundamentais dos cidadãos o Estado utilizava recursos financeiros provenientes dos impostos.

Dessa forma, com o objetivo específico de promover direito social ou econômico, seja

assistência social, à saúde, a seguridade social, a educação, entre outros, o legislador

acrescentou a seguinte redação no caput do art. 149, da CF:

“Compete exclusivamente a União instituir contribuições sociais, de

intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias

profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas

respectivas áreas, observada o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e II, e sem

prejuízo do previsto no art.195, §6º., relativamente às contribuições a que

alude o dispositivo.”

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É sustentado majoritariamente por alguns juristas brasileiros que a diferença específica

que este tributo trás dos demais, consiste na afetação uma vinculação da receita a certo campo

ou atividade socioeconômica indicada no texto jurídico constitucional.

De acordo com o Sérgio Gabriel (2005), o Estado para sua manutenção e a de seu povo

depende da arrecadação de tributos para atingir essa finalidade considerada essencial,

portanto, a disposição por parte do Estado em arrecadar é primordial para todos, e a

disposição do contribuinte, ainda que nem sempre espontânea, é necessária. Ele afirma ainda

que:

“uma vez que essa limitação de tributar em razão da inviabilização

econômica não se limita à atividade empresarial ou profissional do

contribuinte, pois a vida pessoal do mesmo contribuinte não pode

economicamente se tornar mitigada em razão específica do arbítrio do fisco

na atividade arrecadadora de tributos. Assim é que se baliza o Direito

Tributário no Princípio da Legalidade que apesar de advir do poder

coercitivo que tem o Estado para tributar, estabelece que só podem ser

exigidos tributos com previsão legal, garantindo que nenhum tributo será

instituído, aumentado, ou cobrado a não ser através de lei. Porém, chama-nos

a atenção o fato da disposição do Estado no poder de cobrar esses tributos

legalmente instituídos. Tem o Estado disponibilidade ilimitada nesta

cobrança ? Na realidade não, se o contribuinte tem prazo para cumprir suas

obrigações tributárias sob pena de sofrer as reprimendas legais, o Estado

também sofre uma sanção caso não cobre os tributos no prazo legalmente

previsto.” (GABRIELl, apud,http://www.fiscosoft.com.br/a/2613/tributos-

decadencia-e-prescricao-sergio-gabriel>.Acessado em 05/11/2010).

Embora as contribuições parafiscais tenham suas atividades desempenhadas por uma

terceiro delegado pela União Federal, isso pouco importa, o que está em questão é a função

social desta contribuição em promover especifico direito humano, a seguridade social e o

comprometimento da política fiscal da União em direção ao seu implemento e a conseqüente

mudança na realidade deste campo social.

Atualmente o ordenamento jurídico brasileiro, considera que a interpretação mais

adequada às normas jurídicas tributárias, essencialmente as contribuições parafiscais, consiste

naquela que reconheça seu caráter instrumental de efetiva implementação de política fiscal em

favor dos direitos humanos.

3.4 Regra-matriz constitucional de incidência da contribuição parafiscal: a norma

tributária e a norma administrativo-financeiro

Entende-se por normas jurídicas procedimentais, aquelas que estabelecem o modo de

produção das normas jurídicas tributárias. Considera-se norma de competência tributária ou

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regra-matriz de competência tributária aquelas que os entes políticos devem observar ao

instituir seus tributos.

Diferentemente das normas de competência dos impostos, fica determinado pela União

uma afetação de sua receita que a legitima constitucionalmente, a regra-matriz de incidência

da contribuição parafiscal se preocupa apenas em identificar o aspecto material da hipótese de

incidência dos fatos presuntivos da capacidade contributiva, o qual não admite a sua

vinculação do produto a sua arrecadação.

Dessa forma, vale observar que a regra matriz de incidência constitucional da

contribuição parafiscal exige que a União elabore, além da norma jurídica tributária, outra

norma jurídica (afetação), a qual possui as características de ser administrativo-financeira,

visto que se refere a uma ação realizada pelo ente político ou terceiro delegatário, concernente

a uma atividade financeira, de aplicação da receita à específica atividade ou área social.

Destarte, a investigação nos leva a crer que trata-se de uma norma dupla, condicionada

no seu pressuposto um critério que consiste na determinação da criação da norma jurídica

tributária e no seu conseqüente, um critério finalístico que se constitui na exigência de

instituição de uma norma jurídica administrativo-financeira (afetação).

Finalmente, para seja expresso em sua integridade constitutiva a norma constitucional

de competência da contribuição parafiscal é essencial que a União institua uma norma jurídica

tributária, na qual o cumprimento da obrigação implica a realização da norma jurídica

administrativo-financeira.

3.5 O controle de constitucionalidade e da afetação pelo Poder Judiciário

Fundamentalmente, a validade das normas administrativa financeira e orçamentária está

baseada nos primados constitucionais do Estado Democrático do Direito, da dignidade da

pessoa humana, da máxima eficácia constitucional, da eficiência, da transparência fiscal e da

justiça tributária, bem como, a norma constitucional de competência tributária.

Caso não aconteça o cumprimento da afetação, ou seja, a destinação dos recursos

provenientes das contribuições parafiscais implica diretamente na violação dos princípios

constitucionais provenientes das contribuições parafiscais e da regra constitucional de

competência tributária.

Antigamente, na Alemanha, a Lei Orçamentária era considerada uma lei formal, sendo

delimitado do domínio funcional entre o Legislativo e o Executivo, entre o principio

democrático e o principio monárquico. Em conseqüência disso, tal lei, tinha como objetivo

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evitar a interferência do Legislativo (burguesia) na matéria orçamentária exclusiva do

Executivo.

Atualmente o contexto jurídico-político não pode prevalecer, pois o orçamento não é

mais compreendido como um mero registro de despesas e receitas do Estado,

consubstanciando-se em um programa de governo voltado para a implementação de políticas

públicas em prol dos direitos humanos.

Nessa perspectiva, defende-se que a norma orçamentária deve estar em sintonia com a

Lei que cria a contribuição parafiscal e determina a sua afetação, com a norma de

competência tributária, e, por conseqüência, com os princípios constitucionais que a orientam,

sob pena de inconstitucionalidade, podendo ser objeto de controle difuso ou concentrado de

inconstitucionalidade pelo Poder Judiciário.

Deve ser levado em consideração, em tão relevante discussão que, torna-se primordial o

controle de constitucionalidade da Lei Orçamentária e da Lei Ordinária ou Complementar que

institui a contribuição parafiscal, para que exista a efetividade da regra-matriz de incidência

tributária, bem como o cumprimento de sua função social balizada pelo Estado Democrático

de Direito.

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CONCLUSÃO

Com a investigação minuciosa para dirimir o aspecto tributário da parafiscalidade como

instrumento de política fiscal em prol dos Direitos Humanos, leva a crer que vários são os

elementos jurídicos, embasados no diploma legal, que possibilitam o cumprimento prático da

função social de tal tributo e quais os caminhos para a eficácia direta e indireta sobreposta aos

direitos humanos.

A pesquisa tece como ponto de partida exploração de uma linguagem mais simples,

ainda que técnica e jurídica, sem perder de vista a intenção de que tal instrumento seja

divulgado de forma objetiva e direta, fazendo com que o termo seja mais explorado e

popularizado, principalmente para os contribuintes, que apenas cumprem com a obrigação da

contribuição parafiscal.

O objetivo desta pesquisa foi verificar as diversas espécies de tributos, partindo desde

os princípios constitucionais; funções e também suas espécies. O uso do termo parafiscal teve

sua origem após a segunda guerra mundial, na Alemanha e foi instituído para designar as mais

variadas palavras que por vezes não se encaixavam de forma adequada, naquela época, a

nenhum outro termo já existente.

Dessa forma, ressalta-se que durante a pesquisa realizada, os interesses sociais chocam-

se entre si, desde os primórdios, para tanto, surgem leis com o intuito de harmonizar o

equilíbrio da convivência humana. Demonstra-se com isso que cada sociedade tem sua cultura

e sua moral própria e que as divergências e conflitos são necessárias para exista mudança de

valores, quebra de paradigmas, necessitando de uma atualização normativa.

Nessa perspectiva, a parafiscalidade, embora seja um tributo arrecadado por terceiro em

nome da União Federal, chamados de órgãos paraestatais, fica evidenciado que os Direitos

Humanos infelizmente não são as primícias de tal ordenamento, e os cofres públicos são

recheados, a custo da máquina fiscal. Lamentavelmente, o que se tem na teoria, não condiz

com a realidade vivenciada pelos contribuintes, que ficam desguarnecidos de seus direitos,

diante de uma necessidade eventual e sentem-se aviltados caso não cumpram com seus

deveres.

Toda pesquisa tende buscar respostas objetivas, ainda que não haja essa possibilidade de

forma integral. A partir do estudo em tela, percebe-se que existe uma possibilidade futura de

que seja colocada em prática a melhoria dos métodos utilizados pela política fiscal, que égide

de sua construção tinha como meta alcançar os objetivos por ela propostos e que ao longo dos

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anos e, com as diversas mutações globais que ocorram, fizeram com que a essência proposta

pelo método fosse perdida.

Certamente a contribuição que este trabalho pode trazer para a sociedade, com base no

direito tributário, é uma visão mais humana para além da teoria e as demonstrar as várias

possibilidades que estão introjetadas na tributação parafiscal. Para tanto, acredita-se que essa

visão macro, poderá afetar positivamente o contribuinte que esteja ou não, ligado a um órgão

paraestatal. Sendo assim os Direitos Humanos passarão a ter, de fato, um amparo legal sob a

égide de tal instrumento.

45

REFERÊNCIAS

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Forense, 1969.

CASSIONE, Vittorio, Direito tributário: fundamentos constitucionais da tributação:

classificação dos tributos: interpretação da legislação tributaria: doutrina, pratica e

jurisprudência.13 ed. São Paulo:Atlas, 2003.

CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 11 ed. São

Paulo: Malheiros, 1998.

COMPARATO, Fábio Konder, Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 5 ed. São

Paulo: Saraiva, 2008.

DORNELLES, J.R.W. O que são Direitos Humanos. São Paulo, Brasiliense, 1989.

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http://www.diritto.it/system/docs/28896/original/Artigo_Evolucao_Historica_do_Tributo_Em

anuelle_Correia.pdf> Acessado em 19/11/2010