a paisagem geogrÁfica no entorno da escola: aproximando conteÚdos escolares da realidade do aluno

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE Dayane Henrique de Sousa Emilly Cherque Esterquine Mirella Barbosa Müller Ricardo Souza Brezinski Wallace Cupertino A PAISAGEM GEOGRÁFICA NO ENTORNO DA ESCOLA: APROXIMANDO CONTEÚDOS ESCOLARES DA REALIDADE DO ALUNO. VITÓRIA – ES 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    CENTRO DE EDUCAO

    DEPARTAMENTO DE EDUCAO, POLTICA E SOCIEDADE

    Dayane Henrique de Sousa

    Emilly Cherque Esterquine

    Mirella Barbosa Mller

    Ricardo Souza Brezinski

    Wallace Cupertino

    A PAISAGEM GEOGRFICA NO ENTORNO DA ESCOLA: APROXIMANDO

    CONTEDOS ESCOLARES DA REALIDADE DO ALUNO.

    VITRIA ES

    2014

  • Dayane Henrique de Sousa

    EmillyCherqueEsterquine

    Mirella Barbosa Mller

    Ricardo Souza Brezinski

    Wallace Cupertino

    A PAISAGEM GEOGRFICA NO ENTORNO DA ESCOLA: APROXIMANDO

    CONTEDOS ESCOLARES DA REALIDADE DO ALUNO.

    Trabalho de Concluso de Curso, apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade, do Centro de Educao, da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito para a obteno do grau de licenciado em Geografia, sob orientao do Prof. Dr. Vilmar Jos Borges.

    VITRIA ES

    2014

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecemos primeiramente a Deus por nos possibilitar a realizao deste sonho que a

    concluso do curso de licenciatura em geografia, aos nossos familiares e amigos de poca e

    aos novos amigos que conquistamos ao longo da nossa jornada na Universidade que

    acompanharam o dia-a-dia dos nossos desafios e sempre permaneceram ao nosso lado.

    Gostaramos de agradecer a todos os professores que contriburam para nossa formao no

    decorrer do curso. Todos foram muito importantes para nossa formao profissional. Em

    especial, a nossa querida professora e amiga Marisa Valladares que sempre nos inspirou e

    mostrou que quando fazemos o que amamos o resultado ser sempre excelente.

    Em especial agradecemos tambm ao nosso professor orientador Dr. Vilmar Jos Borges,

    que esteve sempre disposto a nos auxiliar a qualquer hora, sempre nos estimulando e

    orientando em meio s dvidas e dificuldades.

    Agradecemos a E.E.E.F.M. Almirante Barroso por ter nos recebido e contribudo com

    nosso trabalho, a professora Isaura Cabacinha que tambm colaborou para o

    desenvolvimento de nossa pesquisa.

    Enfim agradecemos a todos que contriburam direta ou indiretamente para que esse

    trabalho pudesse ser concludo com xito.

  • SUMRIO

    PALAVRAS INICIAIS........................................................................................................ CAPTULO I ESTUDANDO OS PASSOS E PROCESSOS HISTRICOS QUE RESULTARAM EM UMA GEOGRAFIA DA ATUALIDADE VIVIDA POR TODOS NS.......................

    1.1. A Paisagem........................................................................................................... 1.1.1. A Paisagem no ensino de Geografia..........................................................

    1.2. A Escola................................................................................................................ 1.2.1. Localizao e arquitetura da escola........................................................... 1.2.2. A importncia do ensino de Geografia e sua contribuio na formao do

    aluno cidado........................................................................................

    CAPTULO II O COTIDIANO, A PRTICA, A TEORIA E AS POSSIBLIDADES NA EDUCAO: UMA PESQUISA EM FIM.......................................................................................................

    2.1. Proposta Curricular de Ensino Bsico Estadual............................................................ 2.1.1. Propostas metodolgicas......................................................................................

    2.2. O PPP Projeto Poltico Pedaggico como instrumento de interao da comunidade e de interveno na realidade escolar..........................................................................

    2.2.1. As demandas da escola e o perfil do pblico escolar.......................................... 2.2.2. O perfil da comunidade local.............................................................................. 2.2.3. Espao Fsico e equipamentos disponveis......................................................... 2.2.4. Relaes ou parcerias a serem estabelecidas com a comunidade.......................

    2.3. A importncia de se observar os elementos extra-muros da escola e o uso do livro didtico............................................................................................................ 2.3.1. Uso do livro didtico...........................................................................................

    2.4. Dirio de Campo: uma investigao do/no/com o cotidiano........................................

    CAPTULO III CONTEDOS GEOGRFICOS E O ENTORNO DA ESCOLA: FRUTOS DE UMA PESQUISA......................................................................................................................... 3.1. A importncia do planejamento.................................................................................. 3.2. Se aproximando do espao escolar: relao contedo de ensino e a realidade do aluno..................................................................................................................................

    3.2.1. Trabalhando urbanizao associada ao espao de vivncia do aluno...............................................................................................................................

    3.2.2. Correlacionando contedos sobre o meio ambiente e o Manguezal presente na paisagem vivenciada pelo aluno....................................................................................

    3.2.3. O Patrimnio Cultural Imaterial das Paneleiras e a Escola.................................

    3.3. Aspectos sociais no entorno da escola.......................................................................

    3.4. Sarau: resultados e apresentao para a comunidade escolar.............................................. PALAVRAS FINAIS................................................................................................................ REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................................

    06 10 10 12 15 18 20 27 27 29 31 31 32 33 34 35 36 39 44 45 48 48 53 58 64 69 71 73

  • 5

    RESUMO

    Ns vivemos diariamente a Geografia, ela nos circunda a todo tempo e em qualquer lugar,

    porm nem sempre se aproveitada ou percebida essa estreita relao. Com isso, percebe-

    se a necessidade de dar luz a essa relao aluno e geografia-diria com o intuito de

    facilitar a compreenso e intimar as duas partes. Este trabalho pretende abordar uma forma

    de aprendizado que permita, atravs da observao geogrfica, destacar as particularidades

    que existem prximo escola E. E. E. F. M. Almirante Barroso e que poderiam ser mais

    bem utilizadas pelo corpo docente, de maneira que facilite o ensino de Geografia e que

    ajude o professor a trabalhar as diferentes manifestaes geogrficas existentes na

    comunidade. Acredita-se que assim, os alunos conheceriam melhor os espaos aos quais

    esto inseridos. Dessa maneira, procuramos como o prprio tema do trabalho sugere,

    observar a paisagem geogrfica no entorno da escola para contribuir com a construo e o

    entendimento do contedo didtico geogrfico juntamente com o cotidiano do aluno. So

    enormes os desafios no mbito escolar, porm deve ser maior a vontade por mudana,

    vitria e inovao, com isso, trazemos neste trabalho algumas propostas pesquisadas que

    desejamos contribuir educao.

    Palavras chave: geografia, paisagem, observao, cotidiano e ensino.

  • 6

    ABSTRACT

    We live daily geography, it surrounds us at all times and in Quaker place, but it is not

    always perceived or grasped this close relationship. With this, we feel the need to give

    birth to this student ratio and "geography-daily" in order to facilitate the understanding and

    summon both parties. This study addresses a form of learning that enables, through

    geographical observation, highlight the peculiarities that exist near the school EEEFM

    "Almirante Barroso" and that could be better used by faculty in a way that facilitates the

    teaching of Geography and help the teacher to work the different geographical

    manifestations in the community. It is believed that way, students would know better the

    spaces which they are inserted. Thus, we seek to work as the theme suggests, observe the

    geographical landscape surrounding the school to help with the construction and

    understanding of the geographic educational content along with the everyday student. Are

    huge challenges in the school, but must be greater the will for change, innovation and win

    with it, bring some proposals surveyed in this paper we wish to contribute to education.

    Keywords:Geography, landscape, observation, daily and teaching.

  • 7

    PALAVRAS INICIAIS...

    Esta pesquisa tem por objetivo socializar reflexes e alternativas acerca de propostas de

    metodologias de ensino, que auxiliem o professor a trabalhar diversos aspectos da cincia

    geogrfica, aproximando o contedo da realidade dos alunos. Para tanto, nosso foco foi a

    proposta de utilizao do entorno da escola no ensino de geografia, aliando esse ensino

    realidade do aluno, como pressuposto de se deixar a cincia um pouco mais ldica e

    presente no dia-a-dia dos mesmos. Buscamos ressaltar para o professor a importncia do

    espao fora de sala de aula, principalmente o entorno da escola, como ferramenta para

    melhorar o entendimento do aluno.

    Para implementao das atividades alternativas propostas, tomamos como campo de

    pesquisa a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Mdio Almirante Barroso, localizada

    no bairro Goiabeiras, na cidade de Vitria-ES. Apoiamos, para tanto, na proposta

    curricular para o ensino fundamental, explcita tanto nos Parmetros Curriculares

    Nacionais, como na Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais, e no livro didtico

    adotado pela referida escola campo.

    O que nos motivou na realizao da presente pesquisa foi a percepo, durante o

    desenvolvimento do Estgio Supervisionado, das dificuldades de muitos alunos em

    assimilar o contedo passado pelo professor em sala de aula, pois esses contedos esto

    quase sempre muito distantes de seu cotidiano, no possibilitando, assim, ao aluno

    condies de estabelecer uma conexo entre o que estudado na escola e o que se

    vivido.

    A opo por delimitar os sujeitos e campo da pesquisa se deu pelo fato da escola se

    localizar em um territrio onde diversos caracteres geogrficos se fazem presentes em seu

    entorno, e assim facilitar a realizao de propostas que propiciassem reflexes acerca da

    interao dos contedos escolares, explcitos no livro didtico em uma escala maior,

    realidade vivenciada pelo aluno diariamente em sua escala menor.

    Buscando embasar teoricamente nossas reflexes, no primeiro captulo, intitulado

    Estudando os passos e processos histricos que resultaram em uma geografia da

    atualidade vivida por todos ns, realizamos uma pesquisa de carter bibliogrfico onde

    buscamos estudar os processos histricos que resultaram na geografia atual que

  • 8

    vivenciamos. Destacamos elementos fundamentais como a paisagem e suas aplicaes no

    ensino de Geografia, alm de fazer um reconhecimento da funo da escola com nfase em

    seu carter social e cultural. Obtivemos tambm uma caracterizao geral da estrutura

    educacional escolar, buscando enfatizar a importncia do ensino de Geografia e sua

    contribuio na formao do aluno cidado.

    No segundo captulo O Cotidiano, a prtica, a teoria e as possibilidades na educao: uma

    pesquisa sem fim, ensaiamos uma rpida anlise da Proposta Curricular de Ensino Bsico

    Estadual, buscando explicitar o que proposto como subsdio ao trabalho docente, o que

    traz e como planejado o currculo das escolas no Estado, e tambm as propostas

    metodolgicas que o prprio traz. Neste captulo apresentamos nosso campo de pesquisa, a

    E.E.E.F.M Almirante Barroso, e, para tanto, nosso enfoque foi o seu Projeto Poltico

    Pedaggico. Fizemos ainda uma descrio do ambiente fsico da escola, assim traamos um

    perfil da comunidade local. Atravs da anlise do Projeto Poltico Pedaggico, nos foi

    possvel entender a insero da comunidade no meio escolar, estimulado com o

    desenvolvimento de projetos. Ressaltamos tambm a importncia de se observar os

    elementos extra-muros da Escola e o uso do livro didtico, onde reconhecemos a

    importncia do seu uso com o respectivo cuidado a ser tomado para que ele no se torne o

    nico e exclusivo material didtico. Finalizamos o captulo com a socializao de anotaes

    constantes no dirio de campo, onde registramos nossas atividades e observaes no campo

    escola, assim como a entrevista que realizamos com a professora Isaura Cabacinha sobre

    as atividades que ela realiza com os alunos.

    No terceiro e ltimo captulo, Contedos Geogrficos e o Entorno da Escola: Frutos de

    uma Pesquisa., apresentamos os frutos de nossa pesquisa, ou seja, as possibilidades

    alternativas de trabalhar o contedo geogrfico com a realidade do aluno, tomando como

    ponto de partida as paisagens presentes no entorno da escola.

    Por fim, apresentamos nossas Palavras Finais, porm, sem a pretenso de concluir as

    discusses aqui propostas e iniciadas. Aqui, apresentamos nossas consideraes e

    percepes possveis, parciais e provisrias. Conclumos por no concluir...

  • 9

    CAPTULO I

    ESTUDANDO OS PASSOS E PROCESSOS HISTRICOS QUE RESULTARAM

    EM UMA GEOGRAFIA DA ATUALIDADE VIVIDA POR TODOS NS.

    Neste captulo vamos tratar dos processos histricos que entrelaam a geografia, buscando

    entender aspectos atuais junto com seus conflitos e resultados. Os acontecimentos e

    registro histricos nos trazem explicaes e ocorrncia de fatos vivenciados no presente,

    que entendendo junto aos surgimentos desses fatos o manuseio e a busca por novas

    alternativas se tornam mais fceis.

    praticamente consenso entre professores e pesquisadores da rea (CAVALCANTI, 2002;

    CASTROGIOVANI, 2002;1998; KAERCHER, 2002; VESENTINI, 1995), a necessidade

    de esforos no sentido de tornar a Geografia e seu ensino mais atraente e significativo para

    seus estudantes. Tambm consenso entre tais profissionais que um dos caminhos para se

    conseguir tal feito, passa pela aproximao dos contedos geogrfico-escolares da

    realidade prxima dos discentes, do que eles veem e vivem no dia-a-dia. nesse cenrio

    que se insere a presente pesquisa que objetiva desenvolver reflexes e propor alternativas,

    visando explorao da paisagem geogrfica do entorno escolar como possibilidade para a

    construo e entendimento do contedo escolar.

    Assim, perseguindo tal objetivo, no presente captulo nos propomos a desenvolver uma

    reflexo terica acerca da categoria geogrfica de paisagem, suas influncias e

    importncias j adquiridas h tempos atrs por milhares de profissionais da educao e por

    educandos. Alm da paisagem vamos retratar sobre o ambiente escolar, suas estruturas e

    entrelaar todos esses pontos junto disciplina de Geografia.

    1.1.A PAISAGEM

    De acordo com Cavalcanti (2007), a paisagem a fisionomia, a morfologia ou a expresso formal

    do espao refletindo a viso que a populao tem sobre a rea a sua volta, tendo com funo

    suportar uma identidade e servir de apoio para instigar a coeso existente na sociedade e sendo o

  • 10

    fundamento da formao das identidades, agregando a linguagem cientfica com o emocional e

    tambm entre o saber geogrfico e a identidade cultural. A esse respeito Christofoletti,

    Observa que a abordagem e valorizao do quadro natural; os movimentos relacionados com a crise ambiental; a difuso das perspectivas sistmicas e das tcnicas de anlise multivariada e a preocupao em fornecer bases necessrias para o planejamento socioeconmico contribuem para a caracterizao, estrutura e dinmica das paisagens naturais. (1979, apud CAVALCANTI, 2007, p.31)

    A paisagem no esttica, estando em constante mudana e transformao. Ora essa

    transformao pode ser por causa natural, ora por causa antrpica, fazendo assim com que

    haja tambm diferentes tipos de relaes entre o homem e a paisagem. A paisagem

    modificada pelo homem seria uma paisagem de segunda natureza, visto que modificada

    pela ao do homem de acordo com suas necessidades de existncia.

    Ao analisar uma paisagem podemos ir muito alm de uma mera observao. possvel

    perceber a paisagem nos seus mais variados enfoques promovidos pelos sentidos (a viso,

    o tato, o olfato, ou at mesmo o paladar). Podemos, por exemplo, analisar uma paisagem

    que apresenta um crrego poludo e que, portanto, no apenas vemos tal paisagem, como

    tambm podemos sentir e cheirar os elementos constitutivos desta. Essas sensaes nos

    permite ampliar nossa observao espacial com um olhar mais crtico e no apenas

    meramente descritivo.

    Podemos afirmar que a paisagem nos rodeia nos mais diversos ambientes e, como tal,

    existe sempre uma possibilidade de interao homem-paisagem. Assim a paisagem, uma

    categoria de estudo geogrfica que podemos analisar nas suas mais variveis formas, e

    nesse sentido, sua anlise nas atividades educacionais torna-se de maior importncia para a

    compreenso do espao e das relaes de espacialidades na constituio da cidadania

    discente.

    Para uma melhor compreenso da Paisagem, enquanto categoria de estudo geogrfico faz-

    se necessrio uma reflexo acerca de sua constituio enquanto categoria de estudo e

    anlise da Geografia.

    1.1.1. A Paisagem no ensino de Geografia

  • 11

    Apesar de a cincia geogrfica se legitimar no sculo XIX, o estudo da paisagem datado

    muito antes. Seu uso pode ser observado nas obras de grandes pintores clssicos, podendo-

    se dizer ento que inicialmente a paisagem estava mais ligada arte do que a geografia. De

    acordo com Myanaki (2003), a paisagem foi associada cincia geogrfica a partir das

    grandes expedies, quando o trabalho de retratar o territrio desconhecido era realizado

    atravs de pinturas, e esse material era usado como base nos estudos cientficos.

    A imagem a baixo um exemplo da insero do carter geogrfico nas obras de artes em

    tempos onde muitas pessoas, inclusive Reis, conheciam o territrio atravs da pintura de

    paisagens.

    Figura 01: Presena Geogrfica em obra de Artes

    Foto da obra Aquarela Quilombo, distrito de Chapada, por Adrien-Aime Taunay, em exposio na mostra Expedio Langsdorff. Fonte: portal r7

    A imagem retratada na obra de arte acima representa uma paisagem natural. Uma breve

    anlise desta nos permite visualizar que trata-se de uma regio de solos hidromrficos,

    onde se destaca os buritizais, que so plantas caractersticas desse tipo de solo. Percebe-se

    tambm, mesmo se tratando de uma regio inspita devido qualidade do solo, a presena

    do ser humano extraindo matria prima, demonstrando a ao antrpica na natureza para

    fins de subsistncia. Essa ao antrpica altera a paisagem tornando-a dinmica. Podemos

    perceber a riqueza que esse tipo de arte pode trazer consigo se tornando uma ferramenta de

    grande poder a ser utilizada em sala de aula, onde o professor pode mostrar para os alunos

  • 12

    como eram as paisagens, como elas eram representadas em outras pocas e como o homem

    identificava seu territrio.

    Ainda segundo Myanaki (2003), com a sistematizao da geografia, como cincia, no

    incio do sculo XX, o conceito de paisagem passa a ser parte integrante em suas

    pesquisas, e, portanto, assume a caracterstica de categoria de estudo para a compreenso

    do espao.

    Segundo Myanaki (2003) o conceito de paisagem adotado pela geografia no fim do sculo

    XIX era como sendo uma rea fisicamente e culturalmente reconhecvel com algum grau

    de homogeneidade, podendo ser cartografvel, e com extenso alm de onde a vista

    alcana (p.16). Depreende-se da que, a paisagem era considerada o espao onde o

    homem realizava suas relaes fsicas e culturais, considerando que essa paisagem poderia

    ser mapeada (cartografada). Ainda de acordo com a referida autora, a geografia ao passar

    por modificaes, outros aspectos e categorias de estudo e anlise, como territrio, espao

    e regio, ganham maior destaque nas discusses, deixando a paisagem em segundo plano.

    O estudo da paisagem s volta a ter destaque com a ascenso da geografia cultural,

    aproximadamente na dcada de 1970, onde a paisagem passa a ser considerada como

    produto cultural, passivo de sofrer modificaes antrpicas, ou seja, o homem como pea

    fundamental para a compreenso da paisagem, e a partir de suas aes a paisagem se

    altera.

    De acordo com Santos (1988) a paisagem :

    Tudo aquilo que ns vemos, o que nossa viso alcana, a paisagem. Esta pode ser definida como o domnio do visvel, aquilo que a vista abarca. No formada apenas de volumes, mas tambm de cores, movimentos, odores, sons etc.(p.21)

    Podemos considerar a paisagem como sendo tudo que nos rodeia, todos os componentes

    que fazem parte do nosso cotidiano.

    Segundo Myanaki (2003), assim como o conceito de paisagem foi deixado de lado nas

    investigaes cientficas, o mesmo aconteceu com a geografia estudada pelos alunos do

    ensino fundamental, o estudo da paisagem se resumia na descrio do espao visvel,

    ignorando seu carter dinmico. Em decorrncia, no obstante sua relevncia para a

  • 13

    compreenso das relaes de espacialidades, o conceito de paisagem que vem sendo, via

    de regra, trabalhado nas escolas de ensino mdio e fundamental, acaba sendo explorado

    superficialmente, muitas vezes limitando-se em diferenciar paisagem natural e paisagem

    urbana a partir de ilustraes nos livros didticos.

    No entanto, os Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Geografia, explicitam a

    relevncia dessa categoria geogrfica para a compreenso do espao, conforme se observa

    pelo excerto abaixo:

    A compreenso geogrfica das paisagens significa a construo de imagens vivas dos lugares que passam afazer parte do universo de conhecimentos dos alunos, tornando-se parte de sua cultura. Os trabalhos prticos com maquetes, mapas e fotografias areas e imagens de satlite podem tambm ser utilizados. (PCNS, p.136, 1998).

    E ainda,

    O desenvolvimento da leitura da paisagem possibilita ir ao encontro das necessidades do mundo contemporneo, no qual o apelo s imagens constante. No processo de leitura, um aspecto fundamental a aquisio de habilidades para ler diferentes tipos de imagens, tais como a fotografia, o cinema, os grafismos, as imagens da televiso e a prpria observao a olho nu tomada de diferentes referenciais (angulares e de distncia). Uma mesma imagem pode ser interpretada de muitas maneiras. Por exemplo, a imagem de um condomnio de prdios pode ser lida de modo diferente por um engenheiro construtor, um engenheiro de trfego, um ecologista, um poltico, um favelado ou, ainda, por uma criana do meio rural. Ao se introduzir a leitura da paisagem, a comparao das diferentes leituras de um mesmo objeto muito importante, pois permite o confronto de ideias, interesses, valores socioculturais, estticos, econmicos, enfim, das diferentes interpretaes existentes e a constatao das intencionalidades e limitaes daquele que observa. (PCNS, p.136, 1998).

    De acordo com Puntel (2007) a geografia uma rea do conhecimento cujo estudo visa

    permitir ao aluno a capacidade de refletir, compreender e, pensar sobre o espao

    geogrfico, despertando uma leitura de mundo diferenciada em cada um. E o estudo da

    paisagem o caminho para a compreenso dessa leitura de mundo. Em suas palavras:

  • 14

    Acredita-se que seja importante desenvolver, nas crianas e nos adolescentes, a capacidade de compreenso das diferentes paisagens, reconhecendo seus elementos, sua histria, suas prticas sociais, culturais e suas dinmicas naturais, assim como a interao existente entre eles. (PUNTEL, 2007, p.288)

    Uma alternativa que contribui para facilitar a compreenso e o entendimento do conceito

    de paisagem pelo aluno buscar uma aproximao de tal conceituao com o seu

    cotidiano, instrumentalizando-o a desvendar os componentes da paisagem que fazem parte

    do seu dia-a-dia, visto que tais componentes, no tem sido devidamente compreendidos

    pelos alunos e, ainda, so pouco explorados na maioria dos livros didticos.

    Vale aqui a contribuio de Cavalcanti (2004), citada por Puntel (2007, p.289), ao afirmar

    que cabe ao ensino da geografia aproximar o conceito de paisagem para a realidade do

    aluno, buscando o seu local de vivncia; e, assim, por intermdio do estudo da paisagem

    possibilitar ao mesmo compreender melhor o mundo ao seu redor. Segundo a referida

    autora, ao ser percebido a relao do contedo didtico e dos contedos programticos

    estudos em sala de aula, com sua realidade, o interesse do aluno aumenta, podendo

    fortalecer a ligao da criana com seu territrio.

    Assim, ao propormos uma alternativa de ensino da Geografia, tomando por base as

    paisagens do entorno escolar, justifica-se uma reflexo a respeito da Escola.

    1.2.A ESCOLA

    A instituio escolar um, espao scio-cultural. Portanto, sua compreenso se faz pela

    tica da cultura, exigindo um olhar que leva em considerao a dimenso do dinamismo,

    do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e

    trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres

    humanos concretos, sujeitos sociais e histricos, presentes na histria, atores na histria.

    Falar da escola como espao scio-cultural implica, assim, resgatar o papel dos sujeitos na

    trama social que a constitui, enquanto instituio (DAYRELL 1996).

    Este ponto de vista expressa um eixo de anlise que surge na dcada de 1980. At ento,

    conforme bem salienta Dayrell (1996) a instituio escolar era pensada nos marcos das

    anlises macro-estruturais, englobadas, de um lado, nas teorias funcionalistas (Durkheim,

  • 15

    TalcottParsons, Robert Dreeben, entre outros), e de outro, nas "teorias da reproduo"

    (Bourdieu e Passeron; Baudelot e Establet; Bowles e Gintis; entre outros).

    Essas abordagens, umas mais deterministas, outras evidenciando as necessrias mediaes,

    expem a fora das macro-estruturas na determinao da instituio escolar. Em outras

    palavras, analisam os efeitos produzidos na escola, pelas principais estruturas de relaes

    sociais, que caracterizam a sociedade capitalista, definindo a estrutura escolar e exercendo

    influncias sobre o comportamento dos sujeitos sociais que ali atuam (DAYRELL, 1992).

    Segundo Santos (1991), ao referir-se ao movimento iniciado na dcada de 1980, que surge

    como uma vertente de anlise da instituio escolar, que buscava superar os determinismos

    sociais e a dicotomia criada entre homem-circunstncia, ao-estrutura, sujeito-objeto,

    afirma que o sujeito, que a cincia moderna lanara na dispora do conhecimento

    irracional, regressa investido da tarefa de fazer erguer sobre si uma nova ordem cientfica

    (p.43).

    Ainda seguindo o referido autor, essa vertente se inspira num movimento existente nas

    cincias sociais, direcionado por um paradigma emergente que, no seu dizer, tem como

    caracterstica a superao do conhecimento dualista, expresso na volta do sujeito s

    cincias.

    Nessa perspectiva, Ezpeleta e Rockwell (1986), em suas reflexes acerca da escola e de

    seu papel scio-cultural, desenvolvem uma anlise em que privilegiam a ao dos sujeitos,

    na relao com as estruturas sociais. Assim, a instituio escolar seria resultado de um

    confronto de interesses: de um lado, uma organizao oficial do sistema escolar, que

    "define contedos da tarefa central, atribui funes, organiza, separa e hierarquiza o

    espao, a fim de diferenciar trabalhos, definindo idealmente, assim, as relaes sociais."

    (Idem. p.58). De outro lado, tm-se, os sujeitos - alunos, professores, funcionrios, que

    criam uma trama prpria de inter-relaes, fazendo da escola um processo permanente de

    construo social. Para as autoras,

    em cada escola interagem diversos processos sociais: a reproduo das relaes sociais, a criao e a transformao de conhecimentos, a conservao ou destruio da memria coletiva, o controle e a apropriao da instituio, a resistncia e a luta contra o poder estabelecido. (Idem. p. 58)

  • 16

    Apreender a escola como construo social implica, assim, compreend-la no seu fazer

    cotidiano, relacionando-a com o espao social no qual se insere, onde os sujeitos no so

    apenas agentes passivos diante da estrutura. Ao contrrio, trata-se de uma relao em

    contnua construo, de conflitos e negociaes em funo de circunstncias determinadas.

    A escola, como espao scio-cultural, entendida, portanto, como um espao social

    prprio, ordenado em dupla dimenso. Institucionalmente, por um conjunto de normas e

    regras, que buscam unificar e delimitar a ao dos seus sujeitos. Cotidianamente, por uma

    complexa trama de relaes sociais entre os sujeitos envolvidos, que incluem alianas e

    conflitos, imposio de normas e estratgias individuais, ou coletivas, de transgresso e de

    acordos (DAYRELL, 1992).

    No obstante a sua dinamicidade e complexidade, a escola , via de regra, vista como uma

    instituio nica, com os mesmos sentidos e objetivos, tendo como funo garantir a todos

    o acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente acumulados pela sociedade. Tais

    conhecimentos, porm, so reduzidos a produtos, resultados e concluses, sem se levar em

    conta o valor determinante dos processos. Materializado nos programas e livros didticos,

    o conhecimento escolar se torna "objeto", "coisa" a ser transmitida. Ensinar se torna

    transmitir esse conhecimento acumulado e aprender se torna assimil-lo.

    Nessa perspectiva, como a nfase centrada nos resultados da aprendizagem, o que

    valorizado so as provas e as notas e a finalidade da escola se reduz ao "passar de ano".

    Nessa lgica, no faz sentido estabelecer relaes entre o vivenciado pelos alunos e o

    conhecimento escolar, entre o escolar e o extraescolar, justificando-se a desarticulao

    existente entre o conhecimento escolar e a vida dos alunos.

    Vale aqui, considerarmos as contribuies de Enguita (1990), para explicarmos a

    existncia de uma outra concepo, que trata das interaes dos indivduos na vida social

    cotidiana, com suas prprias estruturas, com suas caractersticas prprias. o nvel do

    grupo social, onde os indivduos se identificam pelas formas prprias de vivenciar e

    interpretar as relaes e contradies entre si e com a sociedade, o que produz uma cultura

    prpria. onde, conforme explicita o referido autor, os jovens percebem as relaes em

    que esto imersos se apropriam dos significados que se lhes oferecem e os reelaboram, sob

    a limitao das condies dadas, formando, assim, sua conscincia individual e coletiva.

    Nesse sentido, conforme pesquisa desenvolvida por Dayrell (1996), os alunos relatam

    experincias de novas relaes na famlia, experimentam morar em diferentes bairros, num

  • 17

    constante reiniciar as relaes com grupos de amigos e formas de lazer. Alguns passam a

    trabalhar muito cedo em ocupaes as mais variadas. Alguns ficam com o salrio, outros, a

    maioria, j o dividem com a famlia. Aderem a religies diferentes, pentecostais, catlicos,

    umbandistas, etc. O lazer bem diferenciado, quase sempre restrito, devido falta de

    recursos. A referida pesquisa de Deyrell (1992-1996), em muito contribui para

    visualizarmos a dinamicidade e complexidade da instituio Escola.

    Esses jovens que chegam escola so o resultado de um processo educativo amplo, que

    ocorre no cotidiano das relaes sociais, quando os sujeitos fazem-se uns aos outros, com

    os elementos culturais a que tm acesso, num dilogo constante com os elementos e com as

    estruturas sociais onde se inserem e a suas contradies.

    Nessa perspectiva, embora com objetivos e propsitos comuns, cada escola nica. Isso se

    evidencia ainda mais se considerarmos a escola concreta, real, tendo em vista a mxima

    dialtica que nos ensina que O concreto concreto porque a sntese de mltiplas

    determinaes e, por isso, a unidade do diverso (Marx, 1859). Portanto, justifica-se

    reflexes acerca da localizao e arquitetura da escola.

    1.2.1. Localizao e arquitetura da escola

    A localizao, arquitetura e a ocupao do espao fsico no so neutras. Desde a forma da

    construo at a localizao dos espaos, tudo delimitado formalmente, segundo

    princpios racionais, que expressam uma expectativa de comportamento dos seus usurios.

    Nesse sentido, a arquitetura escolar interfere na forma da circulao das pessoas, na

    definio das funes para cada local. Salas, corredores, cantina, ptio, sala dos professores,

    cada um destes locais tem uma funo definida "a priori". O espao arquitetnico da escola

    expressa uma determinada concepo educativa.

    Um primeiro aspecto, que chama a ateno, o seu isolamento do exterior. Os muros

    demarcam claramente a passagem entre duas realidades: o mundo da rua e o mundo da

    escola, como que a tentar separar algo que insiste em se aproximar. A escola tenta se fechar

    em seu prprio mundo, com suas regras, ritmos e tempos.

    O espao escolar construdo de uma maneira em que se tenha uma locomoo rpida, ou

    seja, os corredores, em geral, so destinados s salas de aula, o que d a sua estrutura um

    vis disciplinado. O que percebemos a falta de espaos livres para interao dos alunos,

  • 18

    poderiam utilizar outros locais dentro e fora do espao fsico escolar para prticas

    pedaggicas.

    A pobreza esttica, a falta de cor e de estmulos visuais permitem que a interao ocorra

    somente nas salas de aula, o que caracterizamos como uma estreita concepo educativa.

    Os alunos, porm, se apropriam dos espaos, que a rigor no lhes pertencem, recriando

    neles novos sentidos e suas prprias formas de sociabilidade. Assim, as mesas do ptio se

    tornam arquibancadas, pontos privilegiados de observao do movimento. O ptio se torna

    lugar de encontro, de relacionamentos. O corredor, pensado para locomoo, tambm

    utilizado para encontros, onde muitas vezes os alunos colocam cadeiras, em torno da porta.

    O corredor do fundo se torna o local da transgresso, onde ficam escondidos aqueles que

    "matam" aulas. O ptio do meio re-significado como local do namoro. a prpria fora

    transformadora do uso efetivo sobre a imposio restritiva dos regulamentos. Fica evidente

    que essa mudana da significao do espao, levada a efeito pelos alunos, expressa sua

    compreenso da escola e das relaes, com nfase na valorizao da dimenso do encontro

    (DAYRELL, 1996).

    Existe outro elemento fundamental na escola, que so as atividades extra-classe. O prprio

    nome j indica que so atividades realizadas fora dos marcos do que so considerados

    efetivamente pedaggicos. Talvez por isso mesmo, nelas, o prazer e o ldico so permitidos.

    Nessas atividades, nem todos os alunos, e muito menos o conjunto dos professores,

    participam. So momentos quando fica mais explcita a noo de uns e outros a respeito da

    escola, sua funo, suas dimenses educativas. Para muitos alunos, e tambm professores,

    as atividades extra-classe so perda de tempo, "penduricalhos" pedaggicos, que pouco

    acrescentam dimenso educativa central, que a transmisso de contedos, o "ensino

    forte", no dizer de muitos alunos. Parte dessa problemtica se d atravs da viso que alguns

    professores, nem todos na verdade, tem do aluno, ou seja, uma viso homognea, viso essa

    que no capaz de identificar a caracterstica individual do aluno, enquanto membro da

    comunidade escolar (DAYRELL, 1996).

    O conhecimento aquele consagrado nos programas e materializado nos livros didticos. O

    conhecimento escolar se reduz a um conjunto de informaes j construdas, cabendo ao

    professor transmiti-las e, aos alunos, memoriz-las.

  • 19

    1.2.2. A importncia do ensino de Geografia e sua contribuio na formao do aluno

    cidado

    A origem da geografia pode ser retomada desde a Antiguidade Clssica. Ela nasce entre os

    gregos que so os primeiros a de fato registrar de uma forma mais sistemtica os saberes

    ligados a esse ramo especfico do conhecimento humano. De acordo com Pereira (1999), a

    Geografia Moderna teve sua gnese na Alemanha (com Humboldt e Hitter) e seu

    amadurecimento e aperfeioamento somente ocorreu no sculo XIX, devido s alteraes

    que sofreram os modos de produo capitalista e ao desenvolvimento das tcnicas

    cartogrficas assim como dos vrios campos das cincias em geral.

    Especificamente com relao insero da Geografia, como disciplina autnoma no

    currculo escolar brasileiro, de acordo com Rocha, podemos

    identificar o aparecimento da geografia, enquanto disciplina autnoma no

    currculo escolar brasileiro, a partir de 1837 quando o Decreto de 2 de

    dezembro daquele ano, expedido pela Regncia Interina, criava o Imperial

    Colgio de Pedro II, localizado no Rio de Janeiro (p. 01).

    O sistema educacional era implantado, naquele momento histrico brasileiro, para atender

    uma pequena parcela da corte e tinha como objetivo ser o modelo para as demais escolas

    que fossem criadas posteriormente. Assim, segundo Rocha (p.02) como grande parte da

    cultura brasileira, o modelo curricular tambm foi importando da Europa, mais

    especificamente da Frana, e assim a maior parte dos contedos tericos e dos grandes

    autores estudados, naquele perodo, no s na geografia mas como em outras cincias

    vinham de fora do Brasil. No caso da geografia eram estudado os assuntos que fossem de

    interesse dos pensadores franceses. Segundo Rocha

    a geografia escolar que passou a se ensinada no Brasil, mas no s ela

    reproduziu quase que na ntegra o que estava sendo estudado nos liceus

    franceses. Transplantaram, sem expressivas alteraes, tanto a forma

    como o contedo que caracterizavam a geografia escolar (p.02).

  • 20

    Com o passar dos anos a geografia e seu ensino passou por mudanas, porm ainda

    mantinha seu carter de subordinao ao Estado, sendo usada como ferramenta ideolgica

    em defesa do patriotismo dentro de sala de aula, onde os alunos recebiam um contedo que

    no estava presente em sua realidade, sendo estudado apenas os aspectos positivos do pas,

    deixando os acontecimento da vida cotidiana de fora.

    Uma rpida revisita a histria do pensamento geogrfico nos permite visualizar que houve

    duas correntes deste pensamento, bastante caractersticas, que ao se consolidarem na

    academia trouxeram mudanas ao ensino da Geografia na escola bsica brasileira: a

    Geografia Tradicional (meados do sculo XIX) e a Geografia Crtica (final da dcada de

    1970). No entanto, no incio dos anos 1990 o discurso da Geografia Crtica abalado,

    surgindo novos enfoques de explicaes e interpretaes da realidade (CAVALCANTI,

    1998, p.15) que se faziam necessrias em sala de aula, mas, infelizmente no conseguiu

    alcanar seu objetivo, gerando uma gerao de alunos com objetivos, teorias e

    metodologias ultrapassadas de geografias que no cabem mais em nosso tempo.

    Quando Yves Lacoste, no ano de 1977, afirmou que de todas as disciplinas na escola [...],

    a geografia , ainda hoje, a nica que surge como um saber sem a mnima aplicao prtica

    fora do sistema de ensino (p.38) parecia que estava prevendo a realidade do ensino em

    escolas do sculo XXI. Essa a realidade nos dias atuais, na grande maioria das nossas

    escolas: a ausncia das aulas de campo para se estudar a geografia vivida.

    No ensino da Geografia escolar da atualidade ainda podemos encontrar traos do passado

    histrico dessa disciplina, que por muito tempo esteve desconectada com o real, com o

    cotidiano e experincias vividas pelos alunos, tornando-a sem sentido e sem aplicabilidade

    prtica para a vida.

    Foi a partir desse ponto que se intensificou os esforos para voltar o olhar para o

    desenvolvimento do ensino da Geografia no cenrio escolar. Verificando o seu papel no

    cenrio educacional brasileiro desde a sua gnese at a atualidade. Ento percebe-se que

    seu objetivo central foi negligenciado durante longos anos nas salas de aulas, uma vez que

    servia a ideologia poltica e econmica vigente, afastando-se do papel, enquanto cincia

    social que tem como objetivo, formar habilidades e competncias no aluno voltadas para o

    exerccio tico da cidadania, a partir da leitura e compreenso do mundo, a comear por

    seus espaos de vivncia, compreendendo entre outros aspectos, que as paisagens que

  • 21

    podemos ver so resultados da vida em sociedade (CALLAI, 2005, p.228) unindo o

    homem ao meio ambiente.

    Conforme explicitado anteriormente gnese da Geografia como um dos componentes do

    currculo da Educao Bsica teve incio na primeira metade do sculo XIX, sob a

    perspectiva da Geografia Tradicional, cujo fundamento terico-metodolgico era pautado

    no positivismo, quando a Geografia priorizou a descrio de fenmenos, fatos e

    acontecimentos, pautando-se em aspectos visveis da realidade e na neutralidade cientfica.

    Fazendo uma ponte com os estudos de Morin (1999), poderamos dizer que a Geografia

    Tradicional produz pensamentos com base no paradigma simplificador.

    Nesse perodo, primeira metade do sculo XIX, o ensino da Geografia caracterizou-se por

    um processo de aprendizado extremamente conteudista, que preocupava-se com a

    quantidade de contedos ensinados nas escolas, os quais deveriam ser meramente

    memorizados pelos alunos, a fim de que pudessem ser repetidos e reproduzidos por eles. O

    ensino da Geografia introduz-se na escola como um ensino decorativo e mecnico,

    despreocupado com o entendimento e a compreenso do mundo por parte dos alunos,

    destacando-se como um instrumento de aprisionamento ao pensamento vigente, impedido

    que o aluno tivesse a liberdade de formar sua prpria opinio a partir do desenvolvimento

    de um raciocnio crtico e reflexivo.

    Foi analisando o currculo da Geografia Tradicional e da Escola Tradicional, que Straforini

    (2006), reparou no casamento perfeito entre essas duas, pois na escola tradicional o

    objetivo do processo de ensino tambm era a transmisso de contedos, onde o professor

    era visto como o detentor da verdade e de todo conhecimento que deveria ser passado para

    os alunos, que por sua vez eram vistos como algo vazio e sem luz (a-{no}-luno {luno}),

    devendo ser preenchidos e iluminados com os contedos depositados em suas memrias

    pelos seus professores.

    Em direo similar, encontramos os estudos de Vesentini(1985, 1992), que assevera que o

    ensino da Geografia tradicional, em escolas com prticas pedaggicas igualmente

    tradicionais, serviu aos interesses do Estado, criando uma ideologia nacionalista, a qual

    contribuiu com a formao de Estados-Naes, bem como para aceitao dos modelos

    impostos sociedade de desenvolvimento e progresso, que alienam o indivduo e

    mascaram seu papel na (re) produo do habitat. O referido autor ainda afirma que o

    objetivo da geografia escolar era: difundir uma ideologia patritica e nacionalista,

  • 22

    implantar a ideia de que a forma Estado-nao natural e eterna; e apagar da memria

    coletiva as formas anteriores de organizao da sociedade (p.11).

    Tambm Straforini corrobora com essa percepo ao enfatizar que A Geografia e a

    Educao, de uma forma ou de outra buscava o entendimento da realidade pelo mtodo

    analtico dedutivo-indutivo, ou seja, pela fragmentao, estaticidade e descrio das formas

    e aparncias (2006, p.62).

    Por essa razo, que se acreditou sobre o casamento perfeito entre a Geografia

    Tradicional e a Educao Tradicional, pois a primeira no encontrou barreiras na escola

    para desenvolver-se segundo sua base terico-metodolgica, e ainda contribua com a

    alienao do indivduo necessria sob o ponto de vista do Estado, tendo ambas como

    objetivo principal a apreenso de contedos prontos por parte dos alunos, que

    simplesmente reproduziam o que os professores ditavam.

    Todavia, esse casamento perfeito foi abalado, e entrou em processo de separao,

    quando se iniciou um movimento de crtica Geografia Tradicional, por parte de gegrafos

    insatisfeitos com as anlises restritas e pouco elucidativas que o mtodo positivista

    permitia-lhes realizar. Ou seja, percebeu-se que as anlises e descries superficiais

    realizadas pela Geografia Tradicional no seriam capazes de explicar o mundo, sua

    realidade unificada e suas transformaes, nem to pouco conseguiram transformar o

    quadro social que se agravava com o aumento constante das desigualdades sociais.

    Nesse cenrio ficou perceptvel que o antigo no funcionava mais, o escopo tinha se

    perdido. Ento se fez necessria a mudana, renovar o pensamento geogrfico, e o escolar

    buscando agora uma forma de renovao, de deixar para traz o reprodutivismo e dar lugar

    ao novo.

    Esse movimento de renovao do pensamento geogrfico ficou conhecido com Geografia

    Crtica, uma vez que criticava os fundamentos tericos e metodolgicos da Geografia

    Tradicional e desejava um posicionamento crtico frente aos questionamentos do saber

    geogrfico por parte dos gegrafos, dos professores de geografia e alunos. Tal movimento

    buscou no mtodo materialista histrico, com base principalmente no marxismo, os

    fundamentos para suas anlises, onde o centro das preocupaes passa a ser a relao

    entre a sociedade, o trabalho e a natureza na produo do espao (STRAFORINI, 2006,

    p.67).

  • 23

    Contudo, ironicamente essa Geografia Crtica recebeu inmeras crticas ao fundamento

    terico-metodolgico at a forma como foi difundida pelas diversas reas da cincia

    geogrfica. Segundo alguns estudiosos, como Silva (2004),

    tal movimento que gerou forte crtica ideolgica, sinalizando as relaes desse saber [cincia geogrfica] com o Estado, no teve uma repercusso instantnea em todos os setores envolvidos com as discusses em torno da cincia geogrfica. O distanciamento entre o que se discutia na academia e o que orientava o cotidiano do professor a tradio geogrfica ainda permaneceu muito forte (SILVA, 2004, p.314).

    Em direo similar, Cavalcanti (1998) tambm afirma que os efeitos da Geografia Crtica

    na prtica de ensino da Geografia foram muito modestos se comparados com o que esta

    renovao da cincia desenvolveu em nvel terico. Isso, segundo a referida autora, devido

    a pouca difuso das propostas da Geografia Crtica a professores do ensino fundamental e

    mdio, as quais mantiveram quase que restritamente ao ambiente universitrio, e aos

    aspectos pedaggico-didticos das propostas de ensino de Geografia. Conforme enfatiza a

    referida autora, os professores da educao bsica, se mantiveram centrados no contedo,

    sendo importante, que esses fossem trabalhados de forma crtica e com base nos

    fundamentos metodolgicos dessa cincia. Mas claro que ela teve contribuies

    benficas para o ensino da Geografia dando a ela o status de cincia social, onde o espao

    geogrfico concebido como espao socializado, construdo, pleno de lutas e conflitos

    sociais como explica Vesentini(1985). E sem mencionar no desenvolvimento do senso

    crtico por parte dos alunos, ainda que estes continuassem a reproduzir contedos

    fornecidos pelos professores, os conhecimentos ganharam carter mais politizado, e

    visavam uma aproximao com a realidade vivida.

    Segundo Rocha um trao marcante na geografia Brasileira a baixa produo cientfica

    voltada para a rea educacional, e isso dificulta a compreenso dos caminhos percorridos

    pela disciplina no decorrer dos anos e, enfatiza:

    As consequncias provocadas por esta displicncia so, entre outras, o quase que total desconhecimento do por que da presena desta disciplina no currculo escolar brasileiro, bem como dos caminhos por ela percorrido desde sua insero nas grades curriculares at os dias de hoje [...]

  • 24

    A prtica de ensinar Geografia nos coloca diante de dois importantes caminhos a serem

    discutidos: o primeiro refere-se relao da aprendizagem enquanto protagonista deste

    trabalho, e o segundo dizem respeito prpria Geografia enquanto cincia, sendo fonte e

    objeto de uma srie muito peculiar de discusses, principalmente no que se refere a seus

    pressupostos terico-metodolgicos.

    Os currculos escolares juntamente com o corpo docente devem preocupa-se em considerar

    as realidades vivenciadas pelos alunos no ensino de Geografia, evidenciando sempre que o

    espao dinmico e a todo instante sofre alteraes em funo das aes antrpicas. Assim

    sendo, o aluno deve ser orientado pelo professor aperceber-se como elemento ativo na

    construo dos espaos geogrficos e de seus processos histricos.

    Atualmente o ritmo das transformaes tecnolgicas ocorre de forma acelerada e

    impressionante. Neste cenrio de constantes mudanas, a escola, e em especial as prticas

    do ensino em Geografia, se deparam com o desafio de terem que se renovar constantemente

    para acompanhar este novo ritmo, que por sua vez, j est socialmente estabelecido. neste

    contexto que devemos basear nossas discusses no o verdadeiro papel do ensino de

    Geografia, que antes de qualquer coisa deve ser uma ferramenta de contribuio para

    formao do aluno enquanto cidado que seja capaz de compreender o mundo e suas

    singularidades pensando de forma de crtica e questionadora.

    Conforme buscamos explicitar acima, no decorrer dos anos a geografia vem perdendo seu

    carter decorativo, em que os alunos deveriam decorar capitais, nomes de rios, modelo de

    bandeira e entre outros. Diante disso, o grande desafio gravita em torno da necessidade de se

    aproximar a geografia dos alunos. Uma forma de conseguir esse objetivo o estudo do

    cotidiano interligado com o ensino de geografia, quando o professor consegue transportar o

    contedo didtico para a vida cotidiana do aluno o aprendizado acontece de maneira mais

    natural.

    Segundo Andrade (1989), para que a Geografia possa evidenciar a cidadania, preciso

    realizar algumas mudanas significativas, como por exemplo, as aulas devem ser dadas de

    forma que o aluno sinta-se como parte constituinte do que est sendo aprendido. O

    professor por sua vez deve orientar o aluno a pensar criticamente, devem-se utilizar os

    conhecimentos e as vivencias do aluno e resgatar valores indispensveis para a convivncia

    tolerante e respeitosa em sociedade. Por fim, o professor deve se atentar os educandos

  • 25

    sobre certos conjuntos ideolgicos existentes que interferem nas relaes cotidianas dos

    alunos e que vo desde um comercial de televiso at o prprio livro didtico.

    Diante das inmeras ocorrncias e dificuldades encontradas pelo professor no mbito

    escolar, buscaremos mostrar propostas didticas de aproximao dos contedos geogrfico

    com a realidade do aluno, tendo como objetivo principal atingir a paisagem do entorno

    escolar.

    Todos ns sabemos dos inmeros desafios que encontramos na educao, a final, diante da

    enorme responsabilidade que se tm quando assumimos a profisso de educar devemos

    estar preparados para tais desafios e dificuldades, que cabe a ns tambm, profissionais da

    rea, pesquisar e buscar alternativas que nos possibilitam vencer esses desafios. Seguindo

    esse pensamento, damos continuidade nossa pesquisa com o prximo captulo no intuito de

    ajudar e adicionar educao.

  • 26

    CAPTULO II

    O COTIDIANO, A PRTICA, A TEORIA E AS POSSIBILIDADES NA

    EDUCAO: UMA PESQUISA SEM FIM.

    Neste segundo captulo busca-se desenvolver uma reflexo acerca das propostas existentes

    e que se constituem na base fundamentada para a educao a fim de se buscar

    possibilidades em inovao. Parte-se do pressuposto de que para modificar algo,

    melhorando ou no, necessrio entender e se apropriar dos meios que j existem, que j

    foram propostos, testados, validados ou no, por outras pessoas que j esto empenhados a

    muito mais tempo. Nenhum trabalho em vo e no pode ser desconsiderado, devemos

    sempre buscar adicionar educao, nunca minimizar.

    Vamos ento analisar a Proposta Curricular do ensino bsico do Estado do Esprito Santo,

    e, ainda, o Projeto Poltico Pedaggico da Escola E.E.E.F.M. Almirante Barroso, aqui

    tomada como campo da presente pesquisa, para justamente entendermos a base, as

    polticas, normas e projetos j existentes.

    2.1. Proposta Curricular de Ensino Bsico Estadual

    Para compreendermos como so planejados e sistematizados os contedos e suas

    respectivas propostas de trabalho junto aos do ensino fundamental nas escolas estaduais do

    Esprito Santo, se faz necessrio, em um primeiro momento, uma anlise da Proposta

    Curricular que fornecida pela Secretaria Estadual de Educao (SEDU).

    Especificamente no que se refere ao Ensino de Geografia, de acordo com a referida

    Proposta Curricular,

    a Geografia que hoje se ensina nas escolas, derivada do corpo terico-prtico da cincia geogrfica, se produz com marcas de sua historicidade e se projeta com desejos de um tempo presente que se quer melhor no futuro (ESPRITO SANTO, 2009, p.83)

  • 27

    Assim a geografia escolar deve trazer consigo suas importantes teorias cientficas que

    permitam aos alunos entender o passado, mas que tambm sirva de ferramenta para estudar

    o futuro e as transformaes que ocorrem no mundo. As diversas reas da geografia devem

    ser exploradas pelo professor sempre buscando articula-las, seja a geografia descritiva,

    quantitativa, crtica fsica, humana e outras tantas classes.

    A Proposta Curricular Estadual afirma que:

    A Geografia desejada pelo grupo, para se ensinar e aprender na escola, se baseia na intensa relao com outros campos do conhecimento para promover: a competncia investigativa sobre o espao geogrfico, o territrio, o lugar, a paisagem, a expresso do raciocnio geogrfico por meio da cartografia escolar [...] (ESPRITO SANTO, 2009, p.83)

    Depreende-se da que a relao de ensinar e aprender Geografia devem estar associadas a

    outros saberes, que podem e devem ser desenvolvidos em outras disciplinas ou at mesmo

    serem construdos nas diferenas. Ou seja, as diversidades e diferenas apresentadas pelos

    alunos tencionam o campo do conhecimento permitindo troca de informaes e assim

    proporcionam o aprendizado de todos os alunos.

    Segundo a referida proposta curricular, o tema lugar, uma das categorias de estudo e

    anlise da Geografia, foi selecionado para ser trabalhado na sries inicias, e aprofundado

    nas demais, devido [...] a proximidade do seu conceito com a expectativa de cognio

    inicial na Geografia [...] (ESPRITO SANTO, 2009, p.107). Sendo assim, de

    conformidade com o implcito na proposta, essa temtica deve ser trabalhada com os

    alunos de maneira que busque valorizar seus locais de vivncia, como por exemplo, sua

    cidade, bairro ou escola. Vale destacar que ao se trabalhar conceitos geogrficos fazendo

    referncia ao lugar do aluno o entendimento ocorre de maneira mais natural.

    Para trabalhar com cotidiano, o professor enfrenta diversos fatores, como a multiplicidade

    existente dentro de sala de aula, a escola formada por alunos de diferentes realidades

    sociais, econmicas, ideolgicas e culturais. Assim, cabe ao professor trazer essas

    problemticas e tentar no sobrepor uma outra, atendendo ao que preceitua a Proposta

    Curricular do Estado para a escola Bsica...

  • 28

    a Geografia escolar, na concepo ensejada pelo grupo, pretende contribuir com a formao humana dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem numa perspectiva de valorizao de suas vivncias, afirmao das aes individuais e coletivas na transformao de situaes locais e globais... (ESPRITO SANTO, 2009, p.86)

    Um caminho possvel e vivel para se estudar a categoria Lugar, na Educao Bsica,

    conforme previsto na Proposta Curricular do Estado do Esprito Santo, o de associar essa

    categoria a uma outra categoria de anlise da Geografia: a Paisagem. Essa associao se

    justifica pelas inmeras possibilidades que o estudo das paisagens e suas constantes e

    dinmicas transformaes contribuem para educar os olhares dos alunos na compreenso

    do Lugar e das relaes de espao e espacialidades que so travadas pelos cidados no seu

    cotidiano e na busca por sua existncia.

    As paisagens auxiliam a materializao da compreenso dos lugares, assim atravs da

    compreenso da paisagem ao seu redor o aluno consegue entender a concepo do lugar

    dentro da cincia geogrfica.

    2.1.1. Propostas metodolgicas.

    Na proposta curricular para o ensino bsico estadual so fundamentadas vrias

    possibilidades metodolgicas que o professor pode utilizar em suas aulas. Dentre as quais

    destacam-se a prtica do dilogo, onde o professor deve buscar estabelecer uma ligao

    entre o conhecimento cientfico e as vivncias dos alunos, ou seja, trazer os conhecimentos

    geogrficos para a vida do aluno e permitir que seus saberes sejam levados em

    considerao,

    alm disso, dever se efetivar como um permanente exerccio de vivencias reflexivas sobre as relaes entre pessoas e entre essas e a natureza, numa perspectiva de solidariedade, de dignidade, de produo de saberes que contribuam para uma vida melhor para todos (ESPRITO SANTO, 2009, p.87)

    A Proposta Curricular do Estado do Esprito Santo, para a educao bsica, tambm se

    referencia ao uso do livro didtico, como recurso de ensino, no entanto, ao ressaltar sua

    importncia em sala de aula, categrica ao insistir que o professor no o tome como

  • 29

    nico recurso de estudo. O uso do livro didtico, de acordo com tal documento, sugerido

    para as leituras seguidas por explicaes do professor e que os exerccios dos mesmos em

    sala de aula sejam substitudos por leituras problematizadoras, realizadas em grupos ou

    individuais, alm da utilizao de outros recursos como textos da internet, revistas, jornais

    e etc.

    A Proposta Curricular do Estado sugere que nas pesquisas desenvolvidas na escola o

    professor deve buscar problematizar aspectos da comunidade local ou global, tentando

    relacionar elementos tericos da geografia com os problemas sociais, ambientais e

    econmicos que ocorrem ao seu redor e no mundo.

    Outra metodologia proposta a pratica de aulas de campo, que permite ao aluno visualizar

    os contedos aprendidos nos livros fora de sala de aula, podendo o professor fazer uso de

    instrumento de carter geogrfico como bssolas, cata-vento, fotografias areas,

    termmetros, entre outros.

    A proposta curricular nos apresentam diretrizes de como trabalhar em sala de aula,

    apontando direcionamentos, propostas e possibilidades que os professores devem tentar

    sempre utilizar durante suas aulas. Isso tudo evidencia que o planejamento um recurso de

    extrema importncia para o professor. No entanto, necessrio se ter a conscincia de que

    cada aula, cada turma diferente e s vezes o que planejado, o que proposto acaba no

    funcionando da maneira desejada. Assim o professor deve se preparar para trabalhar com o

    inesperado, pois durante uma aula podem ocorrer imprevistos, tais como uma pergunta,

    uma interferncia externa, que faa com que a aula tome outro rumo, fora do planejado.

    So aspectos da dinamicidade do trabalho docente que exigem do professor a criatividade

    de tentar trazer esse elemento surpresa para o assunto da aula.

    Inmeros so os desafios do trabalho docente. O enfrentamento desses desafios torna-se

    mais eficaz, assim como se torna mais fcil o trabalho do professor, se o mesmo procurar

    conhecer a realidade na qual ir implement-lo. No caso especfico da presente

    investigao: a E.E.E.F.M. Almirante Barroso.

    Um caminho para se conhecer a realidade da unidade escolar o de voltar nossos olhares

    para o Projeto Poltico Pedaggico da escola, buscando conhecer a escola, seus objetivos,

    sua clientela e seu cotidiano.

  • 30

    2.2. O PPP Projeto Poltico Pedaggico como instrumento de interao da

    comunidade e de interveno na realidade escolar.

    praticamente consenso entre os estudiosos e pesquisadores da rea que o Projeto Poltico

    Pedaggico (PPP) deve ter por caracterstica a contnua proposta de mudanas e

    atualizaes, baseando-se, para tanto, em reflexes das vivncias cotidianas que podem

    gerar novas formas de organizao. Por isso, torna-se evidente o seu permanente

    acompanhamento, que propicia a interveno na realidade escolar. Alm disso, o Projeto

    Poltico Pedaggico um imprescindvel instrumento de interao entre escola, alunos e

    comunidade.

    Partindo desta perspectiva, entendemos que o PPP pode ser uma importante ferramenta

    para o aprendizado, para autonomia intelectual e para construo de uma identidade

    institucional, visto que a sua gesto democrtica, visa ser caracterizada pela tomada de

    deciso coletiva, envolvendo funcionrios da escola, alunos, pais e membros da

    comunidade local e tambm pela contnua reflexo em torno das demandas, das

    necessidades, das fragilidades e das potencialidades que surgem no cotidiano escolar.

    Nessa perspectiva que nos propomos analisar o Projeto Poltico Pedaggico da Escola

    Estadual de Ensino Fundamental e Mdio Almirante Barroso, situada no bairro Goiabeiras,

    no municpio de Vitria-ES, destacando as principais informaes que esto diretamente

    ligadas ao tema da presente investigao.

    2.2.1. As demandas da escola e o perfil do pblico escolar

    Conforme explicita em seu Projeto Poltico Pedaggico, aprovado no ano de 2013, a

    instituio E.E.E.F.M. Almirante Barroso oferta o Ensino Fundamental, Ensino Mdio,

    Educao Especial, Educao de Jovens e Adultos no Nvel Mdio, Educao Profissional

    Tcnica de Nvel Mdio em Informtica, Ensino Mdio Integrado ao Tcnico em Meio

    Ambiente e Ensino Mdio Integrado ao Tcnico em Recursos Humanos.

    O referido Projeto destaca que devido a estas variadas modalidades de ensino, o pblico

    atendido pela unidade escolar tambm bastante diversificado, pertencendo a diferentes

    nveis sociais e econmicos e de diferentes faixas etrias. Neste caso, a escola atende desde

    crianas, adolescentes, jovens e adultos que residem em comunidades circunvizinhas da

    escola e de todo o municpio de Vitria, alm dos municpios de Serra, Vila Velha,

  • 31

    Cariacica e Fundo. Atualmente a escola atende aproximadamente 1498 (um mil,

    quatrocentos e noventa e oito) alunos do Ensino Fundamental ao ltimo ano do Ensino

    Mdio, incluindo os alunos matriculados na modalidade de Educao de Jovens e Adultos,

    nvel mdio e da Educao Profissional subsequente e Integrada. Os alunos so

    distribudos nos turnos matutino, vespertino e noturno.

    O PPP da escola tambm evidencia problemas sociais, que acabam por interferir direta e

    indiretamente no cotidiano escolar. Isso se evidencia no excerto abaixo:

    Muitos alunos de nossa unidade de ensino trazem para dentro da escola atitudes que so reflexo da complexidade social em que vivem, onde podemos citar: as baixas condies de acesso a bens culturais; altos ndices de violncia; desestrutura familiar; crescimento do envolvimento das novas geraes com o uso de entorpecentes; etc. Todos esses fatores, aliados a vrios fatores internos da realidade escolar, vm propiciando que os alunos, a cada ano cheguem unidade trazendo consigo graves problemas de comportamento, que vo desde pequenas atitudes de rebeldia, prprias da faixa etria com que lidamos, at graves atitudes de violncia, verbal e fsica (Projeto Poltico Pedaggico, p.15, 2013)

    Os pais, segundo a instituio, exercem diversas atividades econmicas, tais como:

    pescadores, funcionrios-pblicos, catadores de caranguejo, autnomos, artesos,

    comerciantes, pequenos empresrios, industriais, etc. H, tambm, registro de muitos pais

    de famlia que fazem os chamados bicos para garantir o sustento da famlia, alm de

    muitos na condio de desempregados.

    2.2.2.. O perfil da comunidade local

    A escola pesquisada, conforme j explicitado anteriormente, est situada no Bairro de Goiabeiras, em Vitria-ES. Trata-se de um bairro que, de acordo com o Projeto Poltico Pedaggico da unidade escolar : ... considerado de classe mdia residencial com ampla rea comercial. A regio famosa internacionalmente pelo artesanato das Paneleiras de Goiabeiras, onde diversas famlias vivem do artesanato e por estar dentro do Ecossistema de Manguezal, a intensa cata de caranguejos, outros so pescadores, trabalham ainda em pequenas empresas comerciais e de servios do municpio (Projeto Poltico Pedaggico, p.16, 2013).

  • 32

    Dentre os bairros vizinhos atendidos pela escola podemos citar bairros considerados como

    nobres como Bairro Repblica, Mata da Praia e Jabour, alm de reas de classe mdia

    como o Conjunto Habitacional do Antnio Honrio, Solon Borges, Segurana do Lar e,

    ainda, os bairros de classe mdia-baixa como Maria Ortiz e Boa Vista.

    Assim, fica bastante configurada a heterogeneidade da clientela atendida pela referida

    unidade escolar.

    2.2.3. Espao fsico e equipamentos disponveis

    A escola apresenta 15 salas distribudas em um prdio de dois pavimentos, dois

    laboratrios de informticas, biblioteca cozinha, refeitrio cantina e quadra. O espao

    apresenta tambm um ambiente aonde os alunos desenvolveram a radio da escola. Na

    entrada os alunos fizeram um bicicletrio improvisado com as grades das janelas da escola.

    A escola est passando por uma reforma onde todas as salas de aula, sala dos professores,

    laboratrios de informtica e a biblioteca esto recebendo pinturas e portas novas e

    futuramente a quadra tambm estar sendo reformada. Diante disso, no podemos ter uma

    observao mais crtica e profunda sobre o ambiente em questo, j que a atual situao

    de mudana. A biblioteca recebeu uma pintura. No salo, onde os alunos ficam durante o

    recreio, o piso era de cimento queimado e agora foi colocado o porcelanato, as salas esto

    recebendo cmeras de vdeo monitoramento, os laboratrios de informtica possuem um

    bom nmero de computadores, sendo raras as situaes em que os alunos tenham que

    dividir uma mquina com outro colega. Essa reforma j perdura por alguns meses e no

    tem uma previso de entrega das obras.

    A descrio do espao fsico da unidade escolar, tambm pode ser visualizada na descrio

    constante em seu PPP:

    O prdio escolar foi construdo em alvenaria, com dois pavimentos, piso de cimento, em rea do Governo do Estado, com rea externa da quadra e com um bloco cedido pelo Governo do Estado para Associao dos Autistas. A rea livre de 48 m, rea construda de 4275,42 m e rea total de 6047,52 m. Possui salas amplas, com boa ventilao, entretanto necessita de reformas para melhor atender a demanda de alunos e de profissionais. As necessidades de reforma vo desde a estrutura, a parte eltrica, que no atende bem a demanda de equipamentos, bem como a

  • 33

    quadra que suas estruturas metlicas e alambrados necessitam de trocas emergenciais. Apesar dos problemas apresentados a estrutura fsica boa, entretanto a reforma faz-se necessria, pois o prdio bastante antigo (Projeto Poltico Pedaggico, p.247, 2013)

    2.2.4. Relaes ou parcerias a serem estabelecidas com a comunidade

    Como uma de suas metas, bastante explicitada em seu Projeto Poltico Pedaggico, a

    escola define a realizao de projetos que visam interao com a comunidade e

    consequentemente com o entorno da escola, como destacado no trecho a seguir:

    Os professores, pedagogas e diretora planejam no incio de cada ano, os projetos institucionais e interdisciplinares que sero desenvolvidos no decorrer do ano letivo. Procuramos selecionar temas que despertem o interesse dos alunos e que visem formao social, intelectual e que tambm despertem a solidariedade, o respeito mtuo, resgatando assim valores ticos e morais dos educandos (Projeto Poltico Pedaggico, p.250, 2013)

    Segundo dados constantes na secretaria da instituio, os Projetos j realizados e em

    execuo pela escola, que visam interagir com a comunidade e os ambientes ao seu

    entorno so: O projeto de Meio Ambiente e A Cidade e Seus Espaos. O projeto de Meio

    Ambiente consiste em realizar palestras, seminrios, aulas de campo, programas de

    conscientizao que visam preservao da rea de Manguezal, ecossistema da regio,

    atravs do Projeto Mangueando na Educao (Projeto Poltico Pedaggico, p.250, 2013).

    Esse projeto possui parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitria.

    J o projeto A Cidade e Seus Espaos, que, segundo informaes da prpria unidade

    escolar, foi realizado pela primeira vez em 2012, buscou desenvolver junto aos alunos, a

    partir da observao dos espaos da cidade de Vitria, o conhecimento do processo de

    urbanizao, de seus espaos de vivncia e a importncia de sua preservao considerando

    a sustentabilidade questo irreversvel no processo histrico da humanidade. Esse projeto

    tambm realiza parcerias com empresas, atravs de projetos educacionais, visando

    estimular o interesse dos alunos pelas aulas, realizar aulas de campo, visitas tcnicas, etc.

    Dentre as empresas parceiras, nos foram citadas a CESAN, Arcelor-Mithal, IEMA, dentre

    outras.

  • 34

    No que se refere implementao desse tipo de projeto, o PPP da escola tambm prev

    que:

    Outros projetos tambm so desenvolvidos na escola, a partir do envolvimento dos professores, como o grupo de dana, de canto, e de iniciao cientfica/PIBID (parceria com a UFES). importante registrar tambm os projetos de eventos culturais como a festa do brega, festa caipira, gincana estudantil e Semana do RH /MA (Recursos Humanos e Meio Ambiente). (Projeto Poltico Pedaggico, p.253, 2013)

    A anlise do Projeto Poltico Pedaggico da escola pesquisada, bem como a relao de

    projetos de parceira e formao continuada de alunos e professores, como os acima

    citados, nos revelam uma constante busca por aprimoramento e melhoria na qualidade do

    ensino e da formao cidad de sua clientela.

    2.3. A importncia de se observar os elementos extra-muros da Escola e o uso do

    livro didtico

    De acordo com Forquin (1993), na escola lidamos basicamente com trs tipos de culturas:

    a) a cultura escolar, que se refere seleo arbitrria do repertrio cultural da humanidade,

    conjunto dos contedos cognitivos e simblicos que, organizados, constitui o objeto de

    uma transmisso deliberada na escola; b) cultura da escola, aquela desenvolvida no

    cotidiano da escola, constituda pelo conjunto de saberes e prticas da escola, seus ritmos e

    seus ritos, sua linguagem; e, c) cultura dos alunos e professores, construda pelos agentes

    do processo escolar em sua experincia cotidiana, fora da escola, juntamente com os

    grupos sociais aos quais pertencem.

    Em suas atividades dirias, no cotidiano escolar, ao transitar nessa trade cultural defendida

    por Forquin (1993), alunos e professores constroem geografia, pois, ao circularem,

    brincarem, trabalharem pela escola, pela cidade, pelos bairros, constroem lugares,

    produzem espao, delimitam seus territrios; vo formando, assim, espacialidades

    cotidianas em seu mundo vivido e vo contribuindo para a produo de espaos

    geogrficos mais amplos (CAVALCANTI, 1998).

    Conforme bem explicita Cavalcanti (1998), ao construrem geografia, eles tambm

    constroem conhecimentos sobre o que produzem, que so conhecimentos geogrficos.

  • 35

    Ento, ao lidar com as coisas, fatos, processos, na prtica social cotidiana, os indivduos

    vo construindo e reconstruindo uma geografia e um conhecimento dessa geografia.

    Importante, aqui a contribuio de Damiani (1999) acerca de uma discusso sobre um

    projeto educativo para a Geografia voltado construo da cidadania. A referida autora

    formula a preocupao em considerar a experincia do aluno e, pelo ensino, ampli-la:

    possvel, embora este no seja o nico objetivo, realizar um trabalho educativo, visando esclarecer os indivduos sobre sua condio de cidados, quando se apropriam do mundo, do pas, da cidade, da casa e ao mesmo tempo, decifrando os inmeros limites decorrentes das alienaes. O trabalho consiste em discernir as experincias sociais e individuais e, assim, potencializ-las (DAMIANI, 1999. p.58)

    Nessa mesma direo, outro autor que demonstra preocupao com a incluso da

    Geografia do cotidiano em sala de aula Kaercher (1997), que afirma:

    [...] os conceitos e vivncias espaciais (geogrficas) so importantes, fazem parte de nossa vida a todo instante. Em outras palavras: Geografia no s o que est no livro ou o que o professor fala. Voc a faz diariamente. Ao vir para a escola a p, de carro ou de nibus, por exemplo, voc mapeou, na sua cabea, o trajeto. Em outras palavras: o homem faz Geografia desde sempre (p.74)

    Importante aqui ressaltar que no estamos defendendo a abolio do livro didtico. Mesmo

    porque, concordamos com o que preceitua a Proposta Curricular para o Ensino Bsico do

    Estado do Esprito Santo, ao enfatizar as contribuies do livro didtico. O que

    reafirmamos que o mesmo no pode ser encarado como o nico recurso para efetivao

    das atividades de ensino. No entanto, o mesmo tem suas contribuies. O que se deve

    questionar a forma como o livro didtico vem sendo utilizado.

    2.3.1. Uso do livro didtico

    Na distribuio do contedo da Geografia para o ensino fundamental e mdio, cria-se certa

    confuso para os alunos, pois, verificando a seleo do contedo apresentado na maioria

  • 36

    dos livros didticos, no se percebe, via de regra, uma clareza de sequncia e seleo de

    contedo.

    Enquanto, segundo a grande maioria dos livros didticos de Geografia, destinados ao

    Ensino Fundamental, a definio do que ensinar se estabelece por Geografia do Brasil, dos

    Continentes e da Amrica, no Ensino Mdio ficam entre Geografia Geral e Geografia do

    Brasil. Como no h uma definio do que caberia em cada srie, muitas vezes a mesma

    feita, pelos professores, apoiados na seleo apresentada pelo prprio livro didtico. Ora,

    sabemos da dimenso territorial do Brasil e de sua grande heterogeneidade. Tambm

    sabemos que a seleo/delimitao do que deve ser abordado deveria obedecer a critrios

    claros, decorrentes dos objetivos que se tm com a aprendizagem desta matria no ensino

    bsico.

    Em outras palavras, no o caso de se ter uma determinao de contedos a serem

    ministrados por srie, explicitada no livro didtico. Pelo contrrio, acreditamos que esta

    seleo de contedo deve ser feita pela escola, pelos professores, de acordo com a

    realidade em que esto.

    Muitas vezes, o livro didtico inadequado pela irrelevncia do que diz, pela monotonia

    dos exerccios que prope, pela falta de sentido das atividades que sugere. Nesta situao,

    cabe ao professor substituir exerccios e atividades, ou simplesmente apontar a irrelevncia

    do tpico.

    Substituio e comentrio sero educativos, na medida em que estar fazendo o aluno

    participar, de forma consciente, de uma situao de leitura crtica e ativa de um texto, e

    colocaro o aluno em situao mais participativa dos contedos que sero por eles

    apreendidos.

    Especificamente no que se refere escola E.E.E.F.M. Almirante Barroso, vimos que

    existem no entorno da mesma, diversos elementos que podem ser utilizados no ensino de

    Geografia. Elementos estes que, caso utilizados juntamente com os contedos do livro

    didtico, podem proporcionar uma pluralidade de situaes que possam resgatar o interesse

    do aluno, pois ele estar diretamente conectado com seu entorno, seus costumes e

    vivncias.

    Um exemplo claro de contedo que pode ser facilmente ministrado com o meio social do

    aluno o crescimento populacional, proposto como contedo no livro didtico. Para uma

  • 37

    maior clareza e interesse do aluno pode-se, por exemplo, comparar o contedo de

    crescimento populacional com fotos antigas e atuais que demonstram o crescimento do

    bairro no entorno da escola junto com o desenvolvimento econmico local, utilizando uma

    escala local, o que pode contribuir para que a assimilao do contedo se torne mais fcil e

    garantida.

    fundamental que se tenha critrios claros a partir do que seja o bsico da Geografia, e

    para tanto se precisa ter a clareza que permita saber o que uma anlise geogrfica. Esta

    anlise de suma importncia, pois, alm de ficar estudando fatos que esto distantes

    fisicamente, so fatos que parecem mais abstratas do que reais. o problema tradicional da

    Geografia, que trabalha com dados que ficam na abstrao e com espaos que parecem no

    ser territrios, com gente e acontecimentos que afetam a sociedade particularizada deles e

    muitas vezes o conjunto da sociedade global.

    Ainda podemos explorar outro vis em relao ao ensino da Geografia, que a sua ligao

    como auxiliar da Histria, por permitir a descrio dos lugares em que os acontecimentos

    se passam.

    O esquema de estudo da Geografia, baseada na caracterizao das paisagens e dos lugares

    em seus dados naturais para depois situar o homem neste espao e ver o que ele

    transforma, ainda hoje tentador. Isto se deve ao fato de que so informaes observveis

    e possveis de serem descritas, o que d Geografia uma segurana de estar trabalhando

    com algo concreto.

    Todos esses componentes deveriam nortear o livro didtico, pois este deve estar em funo

    da aprendizagem que ele patrocina. Como um livro no se constitui apenas de linguagem

    verbal preciso que todas as linguagens de que ele se vale sejam igualmente eficientes. O

    que significa que a impresso do livro deve ser ntida, a encadernao resistente, e que suas

    ilustraes, diagramas e tabelas devem refinar, matizar e requintar o significado dos

    contedos e atitudes que essas linguagens ilustram, diagramam e tabelam (LAJOLO,

    1996).

    Reafirmamos: no se trata aqui de condenar ou abolir o uso do livro didtico. Mas, ao

    contrrio, o que se prope a sua utilizao buscando uma aproximao do mesmo com a

    realidade prxima, com o lugar e as paisagens do entorno escolar, subsidiando os alunos

    para que os mesmos no fiquem somente na escala local, mas faam o movimento

    proposto por Santos (1978) de no entender a realidade local de maneira isolada e

  • 38

    fragmentada, mas compreender o espao como uma totalidade, onde o local est submetido

    influncia das relaes globais. Uma alternativa para se buscar a aproximao da

    realidade imediata e dos lugares e paisagens de vivncia dos estudantes aos saberes e

    estudos da geografia escolar e contedos dos livros didticos a realizao de trabalhos de

    campo, utilizando dos respectivos dirios de campos para registros e anlises das

    percepes e vivncias dos educandos. Essa alternativa passa, necessariamente, pelos

    princpios da pesquisa qualitativa.

    2.4. Dirio de Campo: uma investigao do/no/com o cotidiano

    Conforme explicita Neves (1996), as investigaes do campo seguiram os pressupostos da

    pesquisa qualitativa, utilizando como recurso metodolgico a elaborao de um dirio de

    campo. De acordo com referido autor, a pesquisa qualitativa se d de maneira direcionada,

    no buscando medir ou enumerar eventos somente pautados em clculos estatsticos e em

    anlises de resultados, levando em considerao dados descritivos diretamente entre o

    pesquisador e o objeto de pesquisa, permitindo assim um contato mais direto com os

    sujeitos da pesquisa.

    Partindo da concepo da importncia de uma descrio qualitativa, que leve em

    considerao no somente termos tcnicos, mas tambm nossas percepes, sentimentos e

    experimentaes, evidencia-se, a importncia de registrar nossa interveno com os

    sujeitos da pesquisa atravs de um dirio de campo. Segundo Lewgoy e Arruda (2004, p.

    123-124 apudPinho, Molon, 2011) o dirio de campo possibilita o exerccio acadmico na

    busca da identidade profissional j que atravs de sua prtica feito um exerccio de

    reflexo da ao profissional cotidiana, revendo seus limites e desafios. Sendo assim o

    dirio de campo se caracteriza como uma forte ferramenta no auxlio de anlise de

    pesquisas, permitindo ao pesquisador compartilhar situaes da pesquisa que no poderiam

    ser expressos de maneira quantitativa. Atravs do dirio o pesquisador consegue organizar,

    refletir, sistematizar suas ideias, concepes, observaes, opinies, e pensamentos. Pinho

    e Lewgoy (2011) ressaltam que:

    sempre haver o vis do pesquisador, o registro daquilo que lhe chamou mais ateno, impregnado da forma singular com que esse pesquisador faz o seu registro, das palavras que escolheu para faz-lo e do sentido que pretendeu expressar. Sero dignos de registro, para o pesquisador,

  • 39

    aqueles aspectos que o sensibilizaram e o fizeram captar a essncia do momento no qual ele prprio est inserido e faz parte (p.03-04 )

    Nesse sentido, perseguindo o objetivo proposto na presente investigao e no intuito de

    subsidiar a elaborao das propostas apresentadas no terceiro captulo, que definimos o

    dirio de campo como o instrumento que nos permite demonstrar nosso envolvimento com

    a pesquisa, descrevendo e analisando cada etapa, trazendo nossas observaes de uma

    maneira mais pessoal, como conseguimos sentir e enxergar a escola.

    Vale aqui registrar que a temtica sobre as potencialidades do entorno da escola no ensino

    de geografia j haviam adentrado em nossos questionamentos acadmicos h algum tempo

    atrs. O grupo de pesquisadores j apresentava interesse e afinidade com o tema, e,

    portanto, j realizamos diversas pesquisas, conversas, discusses e at a confeco de um

    artigo na disciplina de Pesquisa e Prticas Pedaggicas. Assim, mediante o nvel de

    importncia que atribumos ao tema, decidimos estender a pesquisa para o trabalho de

    concluso de curso.

    A primeira dvida que nos surgiu foi a definio do universo da pesquisa, ou seja, a escola

    campo para desenvolvimento da pesquisa. Incialmente pensamos na E.M.E.F.

    Experimental de Vitria, localizada no campus Goiabeiras da UFES, onde j era um

    territrio conhecido por ns e que, de certa maneira, possua caractersticas do entorno

    parecidas com as que havamos pensado em trabalhar, como por exemplo, a presena do

    manguezal, alm do fato de estar dentro de uma universidade federal, entre outros. Porm,

    ao pararmos para pensar mais a fundo no assunto chegamos concluso de que a escola se

    encontra localizada em um ambiente de certa forma, considerado privilegiado, alm do fato

    de termos o conhecimento de que a escola realiza muito projetos que envolvem a temtica

    aqui proposta. Houve, portanto, a necessidade de definir um outro campo.

    Nosso critrio de seleo, ento, foi o de encontrar uma escola cuja realidade revelasse a

    realidade de tantas outras escolas, que atendem a populao da periferia da Grande Vitria.

    Uma escola com o perfil prximo ao da grande maioria das escolas pblicas do Brasil. A

    partir da, propor atividades didtico-pedaggicas que possibilitem a explorao das

    potencialidades geogrficas ao seu redor. Mediante tais critrios de definio do nosso

    universo, optamos por trabalhar com a E.E.E.F.M. Almirante Barroso, localizada no

    bairro Goiabeiras, Vitria-ES, conforme pode-se visualizar pela imagem abaixo:

  • 40

    Figura 02: Mapa de localizao da escola-campo

    Fonte: Google Earth 2014. Elaborado por Mirella Mller

    A referida escola, conforme j explicitado anteriormente, atende muitos alunos de outros

    bairros, e na maioria das vezes bairros mais carentes. A mesma est passando por reformas

    em suas estruturas fsicas. Trata-se de uma unidade escolar que, entre outros recursos,

    possui rdio, laboratrio de informtica, salas de msicas e de idiomas. Trabalha com a

    proposta de atividades de contra turno1onde oferecido aos alunos, uma oportunidade de

    se manterem longe das ruas e do trfico local presente nos bairros arredores.

    A poltica da equipe pedaggica da escola busca estabelecer algumas regras de vestimentas

    e comportamentos para se seguir uma linha de trabalho e convvio harmonioso entre alunos

    e professores/coordenadores.

    Ao contactarmos a referida escola, solicitando permisso para realizao dos trabalhos de

    pesquisa, fomos recebidos com muita ateno e tivemos todos os esclarecimentos

    1 Projeto com atividades diversas desenvolvida pelo aluno no turno oposto do seu ensino regular. Entre as atividades oferecidas esto: oficinas de artes, aula de msica, curso de lnguas estrangeiras, entre outros.

  • 41

    necessrios, onde eles se preocuparam em nos mostrar a realidade e o cotidiano da escola

    para no cairmos no vcio de certos autores de acharem que tudo que se l possvel de se

    encontrar e realizar em um cotidiano com crianas e adolescentes.

    Umas das primeiras informaes que recebemos foi a de que o ensino fundamental

    ofertado na escola est sendo gradativamente extinto, seguindo a poltica de

    municipalizao da educao bsica. Esse fato est gerando um certo abandono s sries

    do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental. Diante desse fato, obtivemos algumas

    justificativas e explicaes acerca de no se trabalhar com certas metodologias com as

    turmas. Ouvimos, tambm, algumas desculpas, o que nos leva a crer que alguns

    profissionais esto se apoiando no acontecimento (extino na oferta do Ensino

    Fundamental), para no terem que trabalhar alternativas mais atraentes e qualitativas.

    Nessa visita tivemos contato com uma professora do ensino fundamental e mdio atuante

    na escola.

    Em um primeiro momento buscamos saber se havia algum projeto em desenvolvimento na

    escola que pudesse ter relao com o nosso tema, pois como j salientamos anteriormente,

    nenhum trabalho em educao em vo, devemos sempre adic