a origem física do Ângulo de brewster
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308 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 19, n
o
.
3, setembro, 1997
A Origem Fsica do
^
Angulo de Brewster
(The Physical Origin of the Brewster Angle)
M.L. Bedran
, B. Lesche
Instituto de Fsica, Universidade Federal do Rio de Janeiro
C.P. 68528, 21945-970, Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Trabalho recebido em 6 de setembro de 1996
O feno^meno de Brewster pode ser explicado pelas caractersticas de emiss~ao de um dipolo
oscilante. Mostra-se que esta interpretac~ao tambeme valida no caso de materiais magneticos,
se tanto os dipolos eletricos como os magneticos forem considerados. Este calculo pode ser
dado como exerccio num curso de Eletrodina^mica.
The Brewster phenomenon can be explained by the emission characteristics of an oscillating
dipole. It is shown that this interpretation is also valid in the case of magnetic materials if
both electric and magnetic dipoles are considered. The corresponding calculation may be
given as an exercise in an electrodynamics course.
Quando a luz incide na superfcie de um dieletrico
com seu vetor eletrico oscilando no plano formado pelo
raio incidente e a normal a superfcie, existe um a^ngulo
de incide^ncia tal que a luz e completamente transmi-
tida para o material dieletrico. Este unico a^ngulo de
incide^ncia, que anula o feixe reetido, e conhecido como
a^ngulo de Brewster. Em alguns livros de Graduac~ao
[1;2]
encontra-se uma explicac~ao para a falta do feixe ree-
tido em termos da caracterstica de emiss~ao de um di-
polo eletrico oscilante. O argumento usado e o seguinte:
Qualquer onda reetida deve-se a alguma emiss~ao dos
dipolos induzidos no material dieletrico.
E um fato bem
conhecido que um dipolo eletrico oscilante n~ao emite na
direc~ao do eixo do dipolo. Portanto, se a direc~ao de re-
ex~ao coincidir com a direc~ao deste eixo, n~ao havera luz
reetida. Correspondendemente, o a^ngulo de Brewster
e aquele para o qual a direc~ao de reex~ao e perpendicu-
lar ao feixe transmitido. A Fig. 1 ilustra esta situac~ao.
De fato, para o caso de materiais n~ao magneticos e
isotropicos, o a^ngulo de Brewster e caracterizado cor-
retamente por esta condic~ao. Entretanto, poder-se-ia
argumentar que, no caso de materiais magneticos, o
a^ngulo de Brewster n~ao mais seria dado pela condic~ao
de ortogonalidade entre o feixe transmitido e a direc~ao
de reex~ao. De fato, resolvendo as equac~oes de Max-
well com as condic~oes de contorno apropriadas na in-
terface vacuo-dieletrico, encontra-se para o a^ngulo de
Brewster
[3]
(sin
B
)
2
=
n
2
(1
2
)
1 n
2
2
)
(1)
onde
n =
r
0
0
e = n
0
: (2)
Para o a^ngulo '
B
entre o feixe transmitido e a direc~ao
de reex~ao na condic~ao de Brewster, obtem-se (veja a
g. 2):
cos'
B
= cos( (
B
+
T
)) =
cos
B
cos
T
+ sin
B
sin
T
(3)
Combinando a equac~ao (3) com a lei de Snell (sin
B
=
nsin
T
), obtem-se apos algumas passagens algebricas:
cos'
B
=
n
1 n
: (4)
Isto e zero ('
B
= =2) somente se n = , ou seja, para
materiais n~ao-magneticos. Neste trabalho mostraremos
que, mesmo para materiais magneticos, a explicac~ao do
feno^meno de Brewster em termos das caractersticas de
emiss~ao dos dipolos e correta. Entretanto, no caso de
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M.L. Bedran e B. Lesche 309
materiais magneticos, deve-se tambem levar em conta
a contribuic~ao da emiss~ao dos dipolos magneticos.
Figure 1. Luz incidindo numa superfcie dieletrica na
condic~ao de Brewster. As setas no feixe transmitido in-
dicam os dipolos eletricos oscilantes. A gura em forma de
8 representa a caracterstica de emiss~ao de um dos dipolos.
Figure 2. Denic~ao dos a^ngulos
B
, '
B
,
T
e dos eixos y, z.
A projec~ao ortogonal do vetor ~r no eixo y ilustra a equac~ao
(14): cos'
B
=
y
r
= :
Para calcular os campos criados pelos dipolos osci-
lantes induzidos, vamos orientar os eixos coordenados
x; y; z de tal modo que o eixo y aponte na direc~ao de
propagac~ao do feixe transmitido e o eixo z que no
plano de incide^ncia. Suporemos que o campo eletrico
da onda transmitida oscile na direc~ao z e o campo
magnetico na direc~ao x. O campo eletrico de um di-
polo eletrico oscilante ~p(t) = p
0
z^cos(!t) e dado por
~
E
p
=
^
0
p
0
!
2
4
sin
r
cos
!
t
r
c
(5)
onde z^ e
^
s~ao vetores unitarios nas direc~oes z e respec-
tivamente e r, s~ao duas das coordenadas esfericas usu-
ais. Em coordenadas Cartesianas esta express~ao tem a
forma:
~
E
p
=
0
p
0
!
2
4
f(t; r)
r
3
[z(xx^+yy^)(x
2
+y
2
)z^] (6)
onde
f(t; r) = cos
!
t
r
c
(7)
O campo eletrico de um dipolo magnetico oscilante
~m
0
= m
0
z^cos(!t) e dado por
~
E
0
m
= '^
0
m
0
!
2
4c
sin
r
cos
!
t
r
c
(8)
que, em coordenadas Cartesianas, tem a forma:
~
E
0
m
=
0
m
0
!
2
4c
f(t; r)
r
2
[yx^+ xy^] (9)
No material transparente, o dipolo magnetico induzido
estara de fato perpendicular ao dipolo eletrico. Por isso
calcularemos agora o campo de radiac~ao de um dipolo
magnetico na direc~ao x, ~m(t) = m
0
x^cos(!t). O resul-
tado pode ser lido facilmente da equac~ao 9 permutando-
se x; y; e z ciclicamente:
~
E
m
=
0
m
0
!
2
4c
f(t; r)
r
2
[zy^ + yz^] (10)
Em seguida, precisamos relacionar o momento de di-
polo magnetico induzido com o correspondente eletrico.
Sabemos que as amplitudes dos dipolos est~ao relaciona-
das com as amplitudes dos campos eletrico e magnetico
atraves das susceptibilidades:
p
0
=
0
e
E
T
e
m
0
=
1
m
H
T
=
1
m
B
T
(11)
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onde e a densidade de dipolos,
e
e
m
s~ao as suscepti-
bilidades eletrica e magnetica e E
T
, B
T
s~ao as amplitu-
des dos campos da onda transmitida. Por outro lado,
tem-se da equac~ao de Maxwell r
~
E = (@
~
B=@t),
relac~ao bem conhecida entre as amplitudes: B
T
=
n
c
E
T
: Combinando esta ultima relac~ao com as equac~oes
11 obtem- se que
m
0
c
=
m
n
e
c
2
0
p
0
=
n
n 1
p
0
p
0
(12)
A equac~ao 12 nos permite combinar as equac~oes 6 e 10
para encontrar o campo eletrico total de radiac~ao de
um unico dipolo induzido:
c
~
E =
~
E
e
+
~
E
m
=
0
p
0
!
2
4
f(t; r)
r
3
[z(y + r)y^ + y(y + r)z^] (13)
d
Este campo e zero se y+r = 0. Ent~ao o a^ngulo que a
direc~ao de emiss~ao zero faz com o eixo y (a direc~ao do
feixe transmitido) satisfaz a relac~ao
cos'
B
=
y
r
= =
n
1 n
(14)
Ela e ide^ntica a condic~ao de Brewster (equac~ao 4) para
materiais magneticos. O calculo acima pode ser dado
como exerccio num curso de Eletrodina^mica e fornece
uma abordagem interessante ao feno^meno de Brewster.
Agradecimentos
B.L. agradece ao CNPq pela ajuda nanceira.
Refere^ncias
1. P.A. Tipler, Physics, Vol. 2b Worth Publishers
Inc. 1982.
2. Chr. Gerthsen, H.O. Kneser, Physik, Springer-
Verlag Berlin, Heidelberg, New York, 1971.
3. D.J. Griths, Introduction to Electrodynamics,
2nd ed. Prentice-Hall, Englewood Clis, 1981.