a origem da umbanda

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UMBANDA - ORIGEM A ORIGEM DA UMBANDA Por: Eder Longas Garcia, Lucília Guimarães e Sociedade Espiritualista Mata Virgem "Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados.” Caboclo das Sete Encruzilhadas – 15/11/1908 A primeira manifestação de Umbanda, com registro histórico é a do "Caboclo das Sete Encruzilhadas" em seu médium Zélio Fernandino de Moraes, dia 15 de Novembro de 1.908. Assim como a "Tenda Nossa Senhora da Piedade” fundada por Zélio é o primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil. Por isso os fatos que ali aconteceram são de fundamental importância a todos nós, como fatos que marcam profundamente o nascimento da Umbanda no plano material. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fernandino Costa (oficial da Marinha) e Leonor de Moraes. Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, foi quando fatos estranhos começaram a acontecer em sua vida. Em alguns momentos Zélio era visto falando em tom manso, com a postura de um velho, em sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, chamando a atenção da família, preocupada com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar, tornando as manifestações cada vez mais freqüentes. Assim Zélio foi encaminhado a seu Tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação, não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse endemoniado. Foi chamado um outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livrá-lo da possível presença do demônio e saná-lo dos ataques, não resolvendo o problema. Algum tempo depois Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiam entender sua origem. Um belo dia Zélio levantou-se de seu leito e disse: "amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.Um amigo sugeriu encaminhá-lo a recém fundada Federação Espírita de Niterói, município vizinho a São Gonçalo onde residia a Família Moraes. A Federação era então presidida pelo Sr.José de Sousa, chefe de um departamento da marinha. Zélio Fernandino de Moraes então foi conduzido a esta Federação no dia 15 de Novembro de 1908, na presença do Sr.José de Sousa, foi convidado a sentar-se à mesa logo em seguida levantou-se, contrariando as normas do culto estabelecido pela instituição, afirmando que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local ele

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Page 1: A Origem Da Umbanda

UMBANDA - ORIGEM

A ORIGEM DA UMBANDAPor: Eder Longas Garcia, Lucília Guimarães e Sociedade Espiritualista Mata Virgem

"Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados.”

Caboclo das Sete Encruzilhadas – 15/11/1908

A primeira manifestação de Umbanda, com registro histórico é a do "Caboclo das Sete Encruzilhadas" em seu médium Zélio Fernandino de Moraes, dia 15 de Novembro de 1.908. Assim como a "Tenda Nossa Senhora da Piedade” fundada por Zélio é o primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil. Por isso os fatos que ali aconteceram são de fundamental importância a todos nós, como fatos que marcam profundamente o nascimento da Umbanda no plano material. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fernandino Costa (oficial da Marinha) e Leonor de Moraes. Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, foi quando fatos estranhos começaram a acontecer em sua vida. Em alguns momentos Zélio era visto falando em tom manso, com a postura de um velho, em sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, chamando a atenção da família, preocupada com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar, tornando as manifestações cada vez mais freqüentes. Assim Zélio foi encaminhado a seu Tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação, não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse endemoniado. Foi chamado um outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livrá-lo da possível presença do demônio e saná-lo dos ataques, não resolvendo o problema. Algum tempo depois Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiam entender sua origem.

Um belo dia Zélio levantou-se de seu leito e disse: "amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.Um amigo sugeriu encaminhá-lo a recém fundada Federação Espírita de Niterói, município vizinho a São Gonçalo onde residia a Família Moraes. A Federação era então presidida pelo Sr.José de Sousa, chefe de um departamento da marinha. Zélio Fernandino de Moraes então foi conduzido a esta Federação no dia 15 de Novembro de 1908, na presença do Sr.José de Sousa, foi convidado a sentar-se à mesa logo em seguida levantou-se, contrariando as normas do culto estabelecido pela instituição, afirmando que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Sr.José de Sousa, que possuía também a clarividência, verificou a presença de um espírito manifestado através de Zélio e passou ao dialogo a seguir:

O espírito: Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?

Sr.José: Porque o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?

O espírito: Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.

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Sr.José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?

O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.

Sr.José: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes clericais.

O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.

Sr.José: E qual é seu nome?

O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos. E no desenrolar da conversa Sr.José pergunta ainda se já não existem religiões suficientes, fazendo inclusive menção ao espiritismo.

O espírito: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus? Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos com aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é a vontade do Pai.

Sr.José: E que nome darão a esta Igreja?

O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem em nossa Tenda.

SrJosé: Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?

O espírito: Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei. 

No dia seguinte, na Rua Floriano Peixoto, 30 – Neves – São Gonçalo – RJ, próximo das 20:00 horas, estavam presentes membros da federação espírita, parentes, amigos, vizinhos e uma multidão de desconhecidos e curiosos. Pontualmente as 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e com as palavras abaixo iniciou seu culto: “Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos de nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto” Após trabalhar fazendo previsões, cura a um paralítico, passe e doutrina e responder em latim e alemão a perguntas de sacerdotes presentes, informou que devia se retirar pois outra entidade precisava se manifestar. Após a “subida” do Caboclo incorporou uma entidade reconhecida como “preto-velho”, saindo da mesa se dirigiu a um canto da sala onde permaneceu agachado. Sendo questionado o porquê de não ficar na mesa respondeu: “_ Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arrespeitá”. Após insistência ainda completou: “_ Num carece preocupa não. Nego fica no toco que é lugar de nego” E assim continuou dizendo outras coisas mostrando a simplicidade, humildade e mansidão daquele que trazendo o estereótipo do preto-velho se fez identificar como Pai Antônio. Logo cativou a todos com seu jeito, ainda lhe perguntaram se ele não aceitava nenhum agrado, ao que respondeu:“_ Minha caximba, nego qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca”. Surgindo então o primeiro ponto de Umbanda. Todos ficaram perplexos, estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento material de trabalho dentro da Umbanda. Na semana seguinte todos trouxeram cachimbos que sobraram diante da necessidade de apenas um para Pai Antônio. Assim o cachimbo foi instituído na linha de pretos-velhos, sendo também ele a primeira entidade a pedir uma guia

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(colar) de trabalho; até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

O pai de Zélio freqüentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo isso que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma em tom de brincadeira respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco. No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dados como loucos foram curados. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam. Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebendo ordens do astral fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia de Oxóssi;Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição;Tenda Espírita Santa Bárbara;Tenda Espírita São Pedro;Tenda Espírita Oxalá;Tenda Espírita São Jorge;Tenda Espírita São Jerônimo.As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda e utilizadas na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade até hoje foram: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu.Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Enquanto Zélio esteve encarnado foram fundadas mais de 10.000 tendas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples. Não utilizavam atabaques ou quaisquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda fazem a ligação com a vibração dos seus guias.

Após 55 anos de atividade entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia de Moraes Lacerda, médium do Caboclo Sete Flechas que já realizou sua passagem também ao mundo espiritual e Zilméia de Moraes Cunha, aparelho do Caboclo Branca Lua, que com sua fé e perseverança dirige os trabalhos até hoje. Mais tarde junto com sua esposa Maria Izabel de Moraes, médium ativa da tenda e aparelho do Caboclo Roxo, fundou a Cabana de Pai Antônio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macau – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam, esta cabana funciona até hoje tendo seus trabalhos dirigidos por D. Zilméia.Em 1971, a senhora Lilian Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. "A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.

Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse

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a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 03 de outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação através de suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela Umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.Suas filhas deram continuidade ao trabalho e a “Tenda Nossa Senhora da Piedade” existe até hoje sob a direção de Zilméia de Moraes sua filha que aos 12 anos iniciou sua vida mediúnica e hoje aos 92 anos de idade se mostra ainda muito lúcida e ativa na frente dos trabalhos.

   

FREI GABRIEL MALAGRIDA - O JESUÍTA 

No ano de 1689, as margens do rio Como, na Vila de Monagio, nascia um menino que recebeu o nome de Gabriel Malagrida (cujo nome significa ''As Vozes Harmoniosas de Deus"). Desde cedo Gabriel demonstrou tendências místicas. Entrou para o seminário de Milão onde foi ordenado e professou na Companhia de Jesus em 1711. Gabriel desejava cumprir sua missão no Brasil, porém Tamborini, o Geral da Companhia de Jesus, havia lhe reservado a cadeira de Humanidades no Colégio de Bastis, na Córsega. Mais tarde conseguiu se transferir para Lisboa, em 1721, onde depois de algum tempo conseguia embarcar para o Maranhão. 

Gabriel e o Brasil 

Nessas terras, Gabriel pregou internando-se no sertão, enfrentando sérios perigos e vencendo com a fibra de quem se julgava destinado a cumprir uma missão superior no Planeta, uma missão de conquistar almas para o Céu. Apresentava evidentes sintomas mediúnicos ouvindo vozes misteriosas e chegou mesmo a pensar que operava milagres.

Em 1727 começou a árdua tarefa de catequizar os índios no Maranhão, conseguindo nessa mesma ocasião amansar a feroz tribo dos Barbassos. Fundou no Maranhão uma missão que teve grande desenvolvimento, sustentando uma peregrinação apostólica. Foi em seguida, em 1730, para a Bahia e Rio de Janeiro onde continuou a pregar, alcançando grande ascendência sobre os índios. Apareceu então, convertido no apóstolo do Brasil. Dizia que conversava com Deus e que lhe aparecia a Virgem Maria, e para completar seus feitos, descrevia os "milagres" que operava.

Em 1749 partiu para Lisboa, onde foi recebido com fama de santo por muitos fiéis. Nessa época Dom João V se encontrava muito doente e Gabriel, a seu pedido, o assistiu nos seus últimos momentos. Em 1751 retornou ao Brasil onde ficou ate 1754, ano em que foi chamado a Lisboa pela Rainha Dona Mariana da Áustria. Encontrou no poder Sebastião José, o terrível Marquês de Pombal, que não permitiu sua presença por muito tempo junto à Rainha. Por esse motivo, Gabriel se isolou durante algum tempo em Setúbal.

Gabriel e a Inquisição 

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No dia 1° de novembro de 1755, Lisboa foi destruída por um terremoto. Correu o boato que a catástrofe era castigo do céu. Pombal mandou publicar um folheto escrito por um padre, explicando o fenômeno e as causas naturais que o determinaram. Gabriel apareceu em público com um opúsculo, onde procurava corrigir o teor da publicação. Nesse opúsculo, Gabriel afirmava que o terremoto era verdadeiramente um castigo do céu. Pombal enfurecido mandou queimar o opúsculo e desterrou Gabriel para Setúbal.

Em setembro de 1758, ocorreu um atentado contra a vida de Dom José. Algumas semanas antes, Gabriel havia escrito uma carta ameaçadora ao Marquês de Pombal. Gabriel foi preso, em 11 de dezembro, como responsável pelo atentado e encarcerado nas prisões do Estado. Pombal vasculhou seus livros e nessa oportunidade lhe atribuiu passagens que pareciam pouco ortodoxas, e foi entregue a Inquisição.

Gabriel foi condenado a pena de garrote e fogueira, sendo executado na Praça do Rossio em 21 de setembro de 1761. Uma comprovação destes fatos pode ser encontrada na Biblioteca de Amsterdam, onde existe uma copia do seu famoso processo, traduzida da edição de Lisboa. Nesse processo pode-se ler que Malagrida foi acusado de feitiçaria e de manter pacto com o Diabo que lhe havia revelado o futuro!...

Gabriel Malagrida reencarnou no Brasil (talvez para se refazer da árdua encarnação como jesuíta) se preparando para a importante missão que lhe estava reservada dentro do Movimento Umbandista no século XX, como Caboclo das Sete Encruzilhadas.

O Pastor de Umbanda!

Por José Álvares Pessoa

Extraído de "Noções Elementares de Umbanda"

(Editado pelo CONDU - Conselho Nacional Deliberativo de Umbanda, pág. 33, 1980)

Homenagem prestada ao Caboclo das Sete Encruzilhadas em cerimônia realizada na Tenda São Jerônimo, rua Visconde de Itaboraí, 8 - Rio de Janeiro,em 30 de setembro de 1942.

 " Bem-aventurados os que têm fé, porque esses verão a Deus. São palavras de Jesus num dos seus maravilhosos sermões aos fiéis que o acompanhavam.

A fé é uma das virtudes fundamentais de todas as religiões. Sublime por excelência, sem ela nada se poderá realizar no terreno espiritual e é por seu intermédio, dependendo da sua maior ou menor intensidade, que as almas se habilitam a levar avante a missão de que se incumbiram.

A fé remove montanhas, cura as enfermidades do corpo e da alma, transforma os criminosos em cordeiros, faz o milagre do ladrão subir aos céus com Jesus Cristo.

Foi a fé que levou uma grande alma a realizar em nossa terra uma formidável obra de reforma religiosa, com a implantação, em nosso meio, da Umbanda. E esta realização é tanto maior quando todos nós sabemos que, no Brasil de uns quarenta anos passados,era quase um crime pensar-se em fazer modificações de ordem espiritual.

A realização da tarefa, por isso mesmo espinhosíssima, que sobre os seus ombros tomou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, de organizar a Umbanda no Brasil, é um verdadeiro milagre de fé que nos leva a um sentimento de grande amor e de profundo respeito por essa entidade, que se faz pequenina e que procura velar-se sob a capa de uma humildade perfeita.

É a ele - ao Caboclo das Sete Encruzilhadas - , o Pastor de Umbanda, que se deve a purificação dos trabalhos nos terreiros; é a ele que espiritualmente está entregue a direção de todos as Tendas de Umbanda no Brasil.

O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS é o verdadeiro Guia de Umbanda, aquele com que todos os outros Guias, lá no alto, combinam para realizar a maravilhosa obra da implantação da Umbanda, como religião tipicamente brasileira. Foi ele quem assumiu o compromisso de expurgar a religião do rito essencialmente africanista que se vinha praticando desde as primeiras levas de escravos trazidos pelos portugueses. Foi ele quem, provocando uma guerra mortal com os espíritos das travas, diretamente interessados com a implantação dos trabalhos de magia negra, não vacilou em seguir o programa traçado e arrebanhado as suas ovelhas - verdadeiro Pastor de Umbanda - vai continuando a sua obra de propagação com a

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constante criação de Tendas que, filiadas ou não à tenda de Nª. Sª. da Piedade, são realmente suas, pois estão debaixo de sua orientação espiritual.

Que todos os adeptos de Umbanda não se esqueçam dessa verdade: o Caboclo das Sete Encruzilhadas é o legítimo Senhor de Umbanda no Brasil, pois percebeu a missão de organizá-la. O que afirmo não tem outro sentido a não ser que foi ele realmente o comissionado para esse fim; não veio inovar, veio apenas purificar o que já se fazia no país algumas centenas de anos.

Ele não destruiu o ritual; antes deu-lhe força e método e o propagou com a sua organização maravilhosa. Verdadeiro Mestre da Magia Branca, responsável pela pureza do ritual, ele não poderia abandoná-lo, porque o considera sagrado; ao contrário, ele nos ensinou a amá-lo e a respeitá-lo , porque não há religião sem ritual. O que ele deseja, entretanto, é este ritual de Umbanda, humilde mas cheio de luz, seja nivelado ao das grandes religiões e isento de toda inferioridade, da prática de atos inúteis e perniciosos. O que deseja é que este ritual seja praticado apenas por Guias autorizados, porque não são todos os espíritos que baixam nos Terreiros que se acham à altura de praticá-lo.

Estas minhas declarações são tanto mais insuspeitas quanto todos sabem o amor que eu e todos os que fazem parte desta Casa de São Jerônimo temos ao Caboclo da Lua, que é por nós considerado uma entidade de grande poder e elevada espiritualidade. Todavia, por muito grande que seja, não hesitou em trabalhar sob a chefia do Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi este que organizou e lhe entregou a Tenda São Jerônimo - a Casa de Xangô – que espero será sempre um dos esteios de sua obra.

 Há cinco anos, mais ou menos, previmos que Umbanda seria futura religião do Brasil. Então, Umbanda era perseguida e considerada no nível de magia negra. Hoje, começamos a ver a alvorada da Umbanda, porque são as próprias autoridades que nos convocam para uma confissão pública de Umbanda como credo religioso, permitindo que, com essa designação, os Templos de Umbanda sejam assim registrados. É nossa vitória, ou antes , a grande vitória do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

O que todos nós devemos a essa grande Entidade é de valor inestimável; jamais poderemos esquecer os benefícios espalhados às mancheias por ele e pelos espíritos que acorreram ao seu chamado para ajudá-lo no cumprimento de sua missão.

Esse espírito de eleição, cuja a fé é um incentivo para os nossos espíritos entibiados, cheios de irresoluções, fracos no cumprimento do dever, rebeldes, se não vemos as coisas marcharem ao saber dos nossos desejos – este espírito de luz, cuja a fé o levou a não ver os espinhos que o feriam ao longo da penosa jornada que teria de percorrer durante tão duros anos, bem merece ser enaltecido por todos os que se sente felizes no ambiente humilde da Umbanda e nem de leve suspeitam de seu verdadeiro valor, da sua singular grandiosidade. E muitos ainda o confundem com o Exú das Sete Encruzilhadas, que é apenas um dos seus humildes trabalhadores.

As injustiças, as ingratidões que lhe têm sido feitas, nessa luta de há quase 40 anos, jamais contribuíram para um desfalecimento de sua parte, em levar avante a sua missão. Assim como a tremenda campanha feita contra Jesus por aqueles que desejavam o aniquilamento de sua obra e o desaparecimento de sua doutrina, só contribuiu para que ela, com mais rapidez e segurança, se propagasse pelo mundo inteiro, assim também toda a campanha urdida contra a obra do Caboclo das Sete Encruzilhadas só tem contribuído – é cada vez mais contribuirá – para o seu engrandecimento.

Foi a fé que o ajudou a realizar esta obra, que um dia será gigantesca e se espalhará também pelos confins do mundo; é pela fé que ele pretende nos levar aos pés do doce Nazareno, de quem é um humilde devoto.

Verdadeiro Pastor de Umbanda, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, vela constantemente pela suas ovelhas e sereno, como só os grandes podem ser, ele sorri confiante na vitória de sua obra, porque sabe que a fé, que é seu alicerce, a sustentará pelos séculos a fora”.